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Diogo Araujo – Med 92
Anestesiologia
Primeiro Módulo
Fundamentos e técnicas da anestesiologia
Prof. Luís Henrique
Anestesia geral: consiste na perda reversível da consciência, sensibilidade, reflexos e
tônus muscular. Os quatros itens têm de estarem presentes.
Portanto, ao induzirmos a anestesia, fornecemos 4 ações reversíveis:
o Hipnose
o Analgesia
o Relaxamento muscular
o Bloqueio neurovegetativo (bloqueio de reflexos autonômicos)
Para isso, usamos alguns tipos de anestesia geral:
o Intravenosa
o Inalatória
o Balanceada ou combinada (mistura dos dois métodos anteriores; é a tendência
atual)
A anestesia pode também ser do tipo regional (ao invés de ser geral). Ela se divide em:
o Bloqueios do neuroeixo
Epidural: nela, o anestésico é colocado no espaço epidural (ou seja,
entre o arco vertebral e a dura-máter).
Pode ser usada em vários níveis ao longo do neuroeixo.
Raquianestesia (bloqueio subaracnoideo): o anestésico é colocado
dentro do espaço subaracnoideo (onde está o líquor), entre a
aracnoide e a pia-máter (anestesia intratecal).
Somente é realizado abaixo do nível da vértebra L2.
o Bloqueios periféricos: aplica-se o anestésico diretamente sobre a região de um
nervo periférico.
Pode ser feito para anestesia (com vistas a um procedimento
cirúrgico), analgesia pós-operatória ou para
diagnóstico/tratamento de dor crônica.
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Existem também as anestesias locais, que são feitas com a infiltração do anestésico
diretamente no local de interesse.
Resumindo:
o Anestesia geral
Inalatória
Venosa
Balanceada ou combinada
o Anestesia regional
Bloqueio de neuroeixo
Peridural
Raquimedular
Bloqueio periférico
o Anestesia local
Visita pré-anestésica
Prof. Luís Henrique
Toda anestesia possui algum efeito adverso.
Em qualquer cirurgia eletiva, o paciente tem de ser avaliado pelo anestesiologista
(preferencialmente em uma visita anterior ao momento da cirurgia). Isso não se aplica
às cirurgias de urgência.
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A avaliação pré-operatória deve ser idealmente feita no contexto de consulta
ambulatorial. Isso porque:
o Reduz o tempo médio de permanência e de internação pré-operatória;
o Ocorre redução do número de cirurgias suspensas;
o Redução atraso do início das cirurgias;
o Melhor documentação das informações sobre os pacientes.
Quando acontece essa avaliação anestésica pré-operatória, seja num contexto
ambulatorial ou não, quais são os objetivos do médico anestesista?
o Obter informações pertinentes a respeito da história clínica e das condições
físicas e mentais do paciente;
o Informar ao paciente sobre a anestesia a que será submetido, reduzindo a
ansiedade;
o Escolha da técnica anestésica;
o Obter o consentimento devido (isso é obrigatório).
Na anamnese, é importante observar:
a. Registros hospitalares
i. Idade, peso, altura, temperatura corporal, PA e diagnóstico atual;
b. Anestesias anteriores
i. Verificar se houve intercorrências na última anestesia como náuseas,
vômitos, agitação, despertar demorado, etc.
ii. Se a consciência foi mantida durante a cirurgia;
iii. História de hipertermia maligna na família ou história de cefaleia pós-
punção;
iv. Complicação neurológica de anestesia regional.
c. Tabagismo
i. Maior incidência de complicações respiratórias no pós-operatório;
ii. A nicotina aumenta FC, PA e resistência vascular periférica. O ideal é
suspender o tabagismo seis semanas antes da cirurgia.
iii. A maconha pode causar taquicardia e hipertensão. Além disso, a CAM
(concentração alveolar mínima, que será estudada adiante) é menor
para os pacientes usuários de maconha, sendo que o paciente
necessita menos anestésico no procedimento cirúrgico.
d. Cocaína
i. Inibe a recaptação de noradrenalina, sendo que o paciente está mais
predisposto a arritmias e resposta exagerada a vasopressores.
Observação: o uso da cocaína está vinculado a grande parte
dos casos em que há morte súbita de origem cardíaca em
indivíduos jovens (abaixo de 40 anos).
e. Alergias
i. Alergias a medicamentos e materiais hospitalares;
f. Exame do sistema cardiovascular;
g. Exame do sistema respiratório;
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i. A ocorrência de anormalidades respiratórias pode resultar em
broncoespasmo no intraoperatório;
h. Avaliação dos sistemas endócrino, hematológico, gastrointestinal;
i. Avaliação da constituição física do indivíduo
i. Avaliar se há obesidade, elementos que poderiam dificultar a
intubação, etc.
ii. Ver a dentição do paciente! Muito importante.
iii. É necessário prever se haverá dificuldade de intubação.
j. Fazer o Mallampati
Classe I – palato mole, úvula e pilares visíveis
Classe II – palato mole e úvula visíveis
Classe III – palato mole e base da úvula
Classe IV – palato duro
* O professor comentou que alguns denominam como Classe 0 de Mallampati aquele paciente
que apresenta epiglote visível além do palato mole + úvula + pilares amigdalianos.
Exames de laboratório necessários:
Idade (anos) Homens Mulheres
Abaixo de 40 Nenhum exame HB e HTC 40 a 50 ECG
Glicemia Função renal
ECG Glicemia Função renal HB e HTC
Acima de 60 ECG Glicemia Função renal HB e HTC RX tórax
ECG Glicemia Função renal HB e HTC RX tórax
Regrinha:
o Para indivíduos com menos de 40 anos, a tendência é não pedir nada.
Para homens: não pede nada!
Para mulheres: pede só hemograma pela questão da menstruação e
do maior risco de anemia.
o Para indivíduos com mais de 40 anos, pedir sempre função renal + glicose +
ECG. Adicionar o hemograma nas mulheres (porque elas ainda menstruam).
o Para indivíduos com mais de 60 anos, a rotina vai ser igual entre homens e
mulheres. O que acrescenta é só o RX de tórax.
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A ASA classifica o paciente segundo o seu estado físico:
o Estado I: nenhuma alteração
o Estado II: alteração sistêmica leve ou moderada controlada (ex: diabético
controlado)
o Estado III: alteração sistêmica grave ou descompensada (ex: diabetes
descompensado)
o Estado IV: alteração sistêmica grave com perigo de morte (ex: coma diabético)
o Estado V: paciente moribundo, com pouca chance de sobrevida;
o Estado VI: paciente doador de órgãos (ou seja, é o indivíduo com morte
cerebral confirmada e que será submetido a cirurgia para extração de órgão
que será doado).
Existe também a classificação da NYHA, que avalia o paciente segundo a sua limitação
à atividade física.
Existem também os critérios de Goldman para avaliar a chance de complicações
cardíacas no intraoperatório de cirurgias de grande porte. Pode ser feito por outro
médico que não o cardiologista.
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O tempo de jejum pré-operatório em cirurgia eletiva:
Deve-se também pensar na profilaxia de vômito e aspiração. É necessário reduzir o
volume de líquido no estômago e aumentar o pH.
Medicamentos pré-anestésicos
Prof. Cláudio
Os medicamentos pré-anestésicos consistem basicamente em:
o Ansiolíticos: sedação (tranquilidade) e amnésia o Analgésicos o Diminuir secreções respiratórias o Prevenção de respostas autonômicas reflexas o Reduzir volume do conteúdo gástrico e elevar o pH o Reduzir necessidade de anestésicos o Facilitar indução suave da anestesia o Profilaxia de reações alérgicas o Prevenção de náuseas e vômitos pós-operatórios
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São observações:
o Idosos requerem a substituição do clonazepam por diazepam, além de
redução da dose;
o Não devem receber depressores do sistema nervoso central os pacientes que
tiverem:
Baixa reserva fisiológica
Depressão
Hipovolemia
Extremos de idade
Os benzodiazepínicos são os mais populares como medicamento pré-anestésico. O
midazolam seda mais que o diazepam. Faz ansiólise, amnésia e sedação. Contudo,
alguns pacientes apresentam o efeito paradoxal (agitação, confusão mental, delírios).
Quando o paciente não pode usar benzodiazepínico como ansiolítico, podemos usar:
o Difenidramina (Dramin)
É anti-histamínico H1.
É antiemético, mas tem como efeito adverso a sedação (que, nesse
caso, acaba sendo terapêutica).
o Clonidina
É agonista alfa-2.
Possui efeito sedativo e analgésico leve, além de ser hipotensor.
o Opióides
Podem ser usado para reduzir desconforto durante realização da
anestesia regional ou para colocar a monitorização (de PA) invasiva.
A dose deve ser reduzida em idosos.
Em si, os opioides já causam depressão respiratória. Por isso, já deve
ser prescrito algum grau de suplementação de oxigênio.
Os pacientes, uma vez inconscientes, podem ter pneumonia por aspiração de
conteúdo gástrico. Por isso deve-se evitar que o paciente esteja com o estômago cheio
(ou seja, sem fazer jejum ou com alguma condição de aumento do volume de
conteúdo gástrico).
A maior parte dos casos de aspiração se dá durante a indução da anestesia. A
profilaxia é feita no sentido de reduzir a acidez gástrica e/ou esvaziar o estômago. Para
isso, usam-se antagonistas H2, inibidores da bomba de prótons, antiácidos não
particulados (como o citrato de sódio) e procinéticos.
o Mas por que a redução da acidez gástrica ajuda a não desenvolver
pneumonia?
Porque o ideal é que, se houver alguma aspiração de conteúdo
gástrico, que ele tenha pH superior a 2,5 para evitar pneumonite
química.
Observação: inibidor de bomba de próton não tem efeito imediato!
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Com relação ao jejum, ele é aplicado a todo paciente que será submetido a uma
cirurgia eletiva. (ver a tabela com os tempos de jejum na aula anterior).
Pacientes gestantes, obesos, diabéticos, com hérnia hiatal ou com DRGE têm
dificuldade de esvaziamento gástrico. Por isso, deve-se ajustar o tempo de jejum e/ou
usar procinético (se puder).
Pacientes vítimas de trauma e que precisam ser operados são sempre considerados
com pacientes com estômago cheio!
A maior parte dos casos de aspiração se dá durante a indução anestésica. Isso
acontece porque, quando o paciente está sendo ventilado com máscara (antes da
intubação), parte do ar vai para o esôfago/estômago, aumentando a pressão
intragástrica e facilitando a regurgitação/aspiração.
Hoje em dia, não se suspendem os anti-hipertensivos antes da operação.
o Contudo, os iECAs e os inibidores do receptor de angiotensina II devem ser
suspensos 24h antes da operação porque eles têm efeito hipotensor mais
acentuado. Podem causar hipotensão no intraoperatório.
Os betabloqueadores jamais podem ser suspensos: se o fizer, haverá aumento da FC,
com risco de isquemia miocárdica.
Nos pacientes heparinizados, não se pode fazer bloqueio regional para não haver risco
de sangramento. Nesse caso, faz-se a anestesia geral.
Nos pacientes diabéticos, devem-se suspender os medicamentos de uso oral
(hipoglicemiantes) e devem-se manter os níveis glicêmicos com a insulina regular.
No intraoperatório, ter hipoglicemia é pior do que hiperglicemia porque, devido à
anestesia, o paciente não apresenta os sinais de hipoglicemia e pode ter morte
neuronal.
No intraoperatório, a glicemia deve ser colhida e a insulina ajustada conforme
necessidade. Pode-se usar uma bomba de infusão de insulina também. Se apresentar
hipoglicemia, tratar com glicose 50% IV.
Regra geral (para todos os pacientes): não se usa soro glicosado no intraoperatório
porque o paciente já vai apresentar hiperglicemia como resposta metabólica ao
trauma no pós-operatório.
Os anticolinérgicos têm efeito antisialagogo (diminuem salivação). Por isso, podem ser
usados como medicamentos pré-anestésicos em operações de boca ou broncoscopia.
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Os opioides podem causar muitas náuseas e vômitos no pós-operatório.
São os fatores de risco para náuseas e vômitos no pós-operatório (NVPO):
o Relacionados ao paciente
Sexo feminino
História de náuseas e vômitos em operações anteriores
História de náuseas de movimento (cinetose)
Não ser tabagista (!)
o Relacionados ao anestésico
Uso de anestésicos inalatórios (como o óxido nitroso) e de opióides
(tanto no intra quanto no pós-operatório).
o Relacionados à operação
Risco de NVPO aumenta quanto maior for o tempo de operação
o Relacionados ao tipo de operação
Oferecem mais risco: laparoscopia, cirurgia de mama, cirurgia de
estrabismo
São sempre utilizadas duas classes de fármacos diferentes para profilaxia de NVPO.
Geralmente, são usadas a dexametasona no pré-operatório e a ondansetrona no pós-
operatório.
Monitorização Intra-Operatória
Prof. Larissa
Monitorização básica:
o ECG
o Oximetria de pulso
o Pressão arterial não invasiva ou invasiva
o Temperatura
o Capnografia (para cirurgia para anestesia geral)
FUNÇÃO RESPIRATÓRIA
A oximetria de pulso é feita com oxímetro comum. Ele mede a porcentagem de
hemoglobinas oxigenadas em relação a todas as outras.
É colocado no dedo ou no lóbulo da orelha.
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Ele emite ondas em região de infravermelho.
Ele só mede a saturação das hemoglobinas no sangue arterial porque ele só mede as
hemoglobinas que estão submetidas à pulsação arterial.
A pO2 mínima para oxigenação adequada é de 60mmHg. Para isso, a saturação tem de
ser, no mínimo, 90%.
A oximetria de pulso também vai dar a pletismografia. Ou seja, a avaliação da
frequência cardíaca e do fluxo sanguíneo (para ver se há circulação nas extremidades
dos membros).
A carboxi-hemoglobina absorve no mesmo comprimento de luz. Portanto, em
pacientes que passaram por incêndios, por exemplo, podem apresentar uma
saturação alta, porém, errônea.
Acontece o mesmo para a metemoblogina. Ela é formada muito em casos de
intoxicação com detergente ou outros produtos.
o Nesses casos em que não dá pra confiar na saturação fornecida pelo oxímetro
comum, podem ser utilizados tipos especiais de oxímetro que vão discriminar
qual é a saturação de cada tipo de hemoglobina presente no sangue.
Observação: a metemoglobina é uma hemoglobina oxidada. Ela está presente
fisiologicamente, em níveis de até 2%. Contudo, intoxicação por agente oxidante ou
algumas doenças genéticas podem elevar esses níveis e causar cianose central que não
responde à administração de O2.
A oximetria deve ser usada no perioperatório (pré, intra e pós-operatório), em
pacientes com uso de opióides (porque causam depressão respiratória) ou pacientes
críticos.
A capnometria é a medida do CO2 no ar expirado. A capnografia é esse dado
representado em uma curva.
O valor normal para a PaCO2 é de 35 a 45mmHg.
A capnografia será dada por monitor. A curva será assim:
A fase IV é a de inspiração. Representa uma queda franca da PaCO2 no ar expirado
justamente por ser inspiração (com pouco CO2), e não expiração.
No início da expiração, há eliminação de gás do espaço morto. Por isso, forma-se um
platô próximo à linha de base (fase I).
Quando começa a sair gás alveolar, o CO2 aumenta (fase II), até chegar a um platô
(fase III).
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Nos pacientes anestesiados, há um aumento do espaço morto fisiológico (ou seja, uma
redução da troca de gases em nível alveolar). Portanto, a pressão parcial de CO2
mostrada na capnografia pode ser de 5 a 10 mmHg menor do que a realidade.
O que faz o CO2 diminuir no ar expirado? São condições que diminuem a perfusão
pulmonar!
o Hipoperfusão pulmonar
o Embolia pulmonar
o Parada cardíaca
o Uso de PEEP
Que diabos é isso?
PEEP é a pressão positiva no final da expiração. É a pressão
dentro dos alvéolos que os mantém abertos (não colabados).
Se aumenta a PEEP, reduz o retorno venoso por aumento da
pressão intratorácica, com menor perfusão pulmonar.
Consequentemente, sai pouco CO2 do interior dos capilares
pulmonares).
o Outros fatores:
Baixa eliminação de CO2: hipotermia, hipotensão;
Aumento da ventilação alveolar: hiperventilação (com uma “diluição”
do CO2 no ar expirado);
Equipamento; desconexão com o ventilador, intubação esofágica,
obstrução completa de vias aéreas.
O que aumenta o CO2 no ar expirado?
o Alta produção de CO2: febre, sepse, aumento de metabolismo, convulsão;
o Baixa ventilação alveolar: depressão respiratória, hipoventilação, DPOC;
o Equipamento com falhas.
Pacientes com obstrução para a saída do fluxo expiratório não apresentam um platô
na fase III, mas uma rampa que envolve as fases II e III. Ex: asma.
Quando a fase 1 não chega no 0, o paciente está reinalando o CO2 expirado.
São indicações de capnografia:
o Anestesia geral (sempre!)
o Confirmação de intubação traqueal (ao menos 3 incursões com padrão
adequado para confirmar que a intubação está correta)
o Cirurgias laparoscópicas (para confirmar se o paciente não está absorvendo
muito CO2 pelo pneumoperitôneo confeccionado)
o Histeroscopias
o Paciente crítico
o Cirurgia cardiovascular
o Ajustes ventilatórios (paciente que precisa de ajustes ventilatórios)
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FUNÇÃO CARDIOVASCULAR
O ECG de monitorização conta com as derivações: D2 (para ver arritmias) e V3 ou V5
(para ver isquemias na alteração de segmento ST).
A pressão arterial não invasiva (PANI) é feita pelo monitor com medições automáticas
da PA. Ele mede a pressão arterial média (PAM) baseando-se na oscilação do pulso
arterial.
A PAM normal é > 60mmHg.
o Abaixo de 60mmHg, há prejuízo da perfusão renal.
o Abaixo de 50mmHg ou acima de 150mmHg, há prejuízo da perfusão cerebral.
O intervalo de medição é sempre menor que 5 minutos.
São complicações da PANI quando a frequência de medição é muito alta:
o Dor
o Petéquia
o Edema do membro
o Estase venosa ou tromboflebite
o Neuropatia periférica
o Síndrome compartimental (muito raro)
A pressão arterial invasiva também pode ser feita. Nela, a pressão é medida de modo
contínuo.
Pode ser feita em qualquer artéria, sendo a mais comum a radial. Para isso, o teste de
Allen deve apresentar reperfusão em até 10 segundos para garantir que haja uma boa
perfusão da mão pela artéria ulnar.
o Mas há controvérsias sobre usar ou não a artéria radial caso o teste de Allen
não apresente boa reperfusão.
Ela é indicada:
o Cirurgias com previsão de instabilidade hemodinâmica (cirurgia de grandes
vasos, por exemplo)
o Cirurgias com manipulação torácica
o Necessidade de gasometrias seriadas
o Incapacidade de medida indireta
o Avaliação de resposta volêmica
o Avaliação da curva arterial
São complicações:
o Isquemia do local
o Pseudo-aneurisma
o Fístula arteriovenosa
o Hemorragia ou hematoma
o Embolia arterial
o Infecção
o Neuropatia periférica
A punção venosa central é importante para algumas situações. É mais comum fazer na
jugular interna e na subclávia (principalmente direita para acessar o coração direito).
São indicações:
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o Monitorização de pressão venosa central/pressão da artéria pulmonar
o Passagem de marcapasso transcutâneo
o Hemodiálise temporária
o Administração de fármacos
o Administração rápida de fluidos
o Aspiração de embolia gasosa (se, na cirurgia, a cabeceira da cama ficou
elevada, a aspiração do gás pode ser feita pelo acesso central)
o Acesso venoso periférico inadequado
o Amostragem de sangue repetida
São complicações:
o Lesão vascular
o Hemotórax
o Compressão de via aérea, lesão tranqueal ou laríngea, pneumotórax
o Lesão nervosa
o Arritmia (na verdade, essa arritmia provocada pelo acesso central é usada
como confirmação de que você está no lugar certo; quando o catéter bate na
parede do átrio direito, há uma arritmia)
o Trombose venosa
o Embolia pulmonar
o Infecção local, sepse, endocardite
A pressão venosa central pode ser mensurada a partir de um cateter que vai até a
junção da VCS com o AD. Valores de 1 – 7 mmHg ou 6 – 12 cmH2O.
Essa pressão está relacionada com o enchimento do AD. Quanto mais ele se enche,
maior a força de ejeção. Além disso, ele vê também a pré-carga do coração. Se um
paciente está hiperidratado, por exemplo, essa pressão ficará muito alta.
O cateter de Swan-Ganz é capaz de ir além do AD. Ele passa pelo AD, pelo VD, pela
artéria pulmonar e só para quando obstrui um vaso pulmonar pequeno. Com isso, ele
consegue fornecer todas as pressões: AD, VD, artéria pulmonar e pressão de
enchimento de AE.
o Ele vê a pressão de enchimento do AE porque, quando obstrui o vaso
pulmonar, ele passa a medir a pressão que está presente dentro do AE.
Ele é importante para (indicações):
o Disfunção de VE
o Doença valvar
o ICC
o Insuficiência respiratória
o Choque
o Sepse
o IRA
o Queimaduras
o Pancreatite hemorrágica
o Revascularização miocárdica/cirurgia valvar
o Pericardiectomia
o Clampeamento aórtico
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o Craniotomias sentadas
Ele é capaz de avaliar diretamente:
o PVC
o PAP
o PA oclusão de artéria pulmonar
o Débito cardíaco
o Temperatura
o Sat venosa de O2
Indiretamente:
o Índice cardíaco
o RVS (?)
o RVP
o Volume sistólico
o Trabalho VE/VD
o Volume de O2
o DO2 (?)
São complicações:
o Arritmias, fibrilação ventricular
o BRD, BAVT (se o catéter bate no septo interventricular)
o Nó no cateter
o Tromboembolismo
o Infarto pulmonar
o Infecção, endocardite
o Ruptura de artéria pulmonar
o Pseudoaneurisma de artéria pulmonar
Manuseio de vias aéreas
Prof. Luis Claudio
[não deu pra acompanhar essa aula]
24% das complicações em anestesiologia:
o Ventilação inadequada;
o Intubação esofágica;
o Intubação traqueal difícil.
Quando o paciente é anestesiado, a língua e os músculos caem sobre a via aérea.
A lâmina deve ser colocada na valécula ou na porção posterior da epiglote.
Diogo Araujo – Med 92
A laringe é inervada pelos nn. larígeos superior e inferior (laríngeo recorrente).
o Superior: possui o ramo interno, que é sensitivo para o 1/3 superior e médio
da laringe. E o externo, que é motor para o músculo cricotireoideano.
o Inferior: sensitivo para o 1/3 inferior da laringe e motor para todos os
músculos (exceto o cricotireoideano).
Isso é importante porque eles são os responsáveis pelos reflexos.
Além disso, os músculos cricotireoideos fazem a abdução das cordas vocais (verificar
essa informação). Quando há lesão, esses músculos relaxam, as cordas ficam aduzidas
e há fechamento da via aérea.
São critérios para prever a dificuldade da intubação
o Distância interincisivos
o Distância tireomentoniana (deve ser maior que 6 cm)
o Mobilidade cervical (o paciente tem de ser capaz de fazer esse movimento)
o Protrusão mandibular adequada (os incisivos inferiores devem ultrapassar os
inferiores)
o Classificação de mallampatti.
1 e 2 – intubação fácil. Para os demais, intubação difícil.
Contudo, para cada um desses parâmetros, a sensibilidade e a especificidade para vias
aéreas difíceis são pequenas.
Na ventilação sob mascara, o ideal é que a ela seja transparente para ver se o paciente
está apresentando regurgitação.
Diz-se que há ventilação difícil sob máscara quando:
o Impossibilidade de manter a saturação de 02 acima de 92%
o Perda de fluxo significante pela máscara facial;
o Necessidade de fluxos de gases > 4 litros;
o Ausência de movimento torácico;
Está indicada intubação traqueal quando:
o Anestesia com o paciente em posição cirúrgica adversa;
o Risco de aspiração com conteúdo gástrico;
o Aspiração traqueal intermitente;
o Cirurgia em locais próximos de vias aéreas superiores;
o Manutenção das vias aéreas com ventilação sob máscara;
o Ventilação dos pulmões com pressão positiva intermitente;
o Cirurgias prolongadas;
o Via aérea permeável.
A sonda gástrica pode ser passada antes ou depois da indução. Se passar antes, ela
deve ser retirada durante a indução (para que o EEI não fique aberto durante a
indução).
Para crianças: (16 + idade)/4 para descobrir o calibre do tubo.
Diogo Araujo – Med 92
Em situações de emergência, pode ser feita a cricotireoidostomia.
o Em alguns casos, a intubação retrógrada também pode ser aplicada. Um guia é
passado da membrana cricotireoideana para o nariz. O tubo passa pelo guia e
chega até a laringe, sendo feita a intubação.
São complicações:
o Lesões de dente e boca
o Hipertensão e taquicardia
o Arritmias cardíacas
o Isquemia miocárdica
[não consigo copiaaaar ]
Anestesia geral inalatória
Prof. Cátia
A anestesia geral é um estado reversível de depressão da função neurológica
proporcionada por fármacos que modulam a comunição no SNC.
Ela pode ser feita com anestésicos depressores dos neurotransmissores excitatórios ou
por estimulação dos receptores inibitórios (principalmente o GABA).
São componentes da anestesia geral:
o Inconsciência (hipnose + amnésia)
o Analgesia
o Bloqueio de reflexos autonômicos
o Imobilidade (bloqueio motor)
Os anestésicos podem ser inalatórios ou venosos. Os inalatórios já conseguem
fornecer os quatro componentes num só fármaco.
Os inalatórios são utilizados para a indução da anestesia e/ou para a manutenção.
Na maioria das vezes, utilizamos a anestesia balanceada (ou mista), em que se usa
tanto o anestésico inalatório quanto venoso.
o Geralmente, aquele utilizado para a manutenção é que dá o nome para a
anestesia.
De maneira geral, quando a anestesia é mista em paciente adulto, fazemos a indução
com anestésico venoso e a manutenção com inalatório.
Se for criança, podemos fazer a indução com anestésico inalatório (para não ter que
puncionar a veia da criança agitada).
Diogo Araujo – Med 92
Os primeiros anestésicos inalatórios descobertos foram o gás hilariante (óxido nitroso)
e o éter.
Os anestésicos inalatórios atualmente são aqueles presentes na classe dos agentes
halogenados: isoflurando, sevoflurano e desflurano. O halotano e o enflurano estão
em desuso.
ABSORÇÃO
Quando o anestésico inalatório é administrado, estabelece-se um gradiente do gás
entre os compartimentos alvéolo/sangue/líquor, com um delta P. Esse gradiente de
pressão impulsiona o anestésico pelas membranas, fazendo, então, com que ele seja
absorvido.
A pressão gasosa é maior entre o administrado > inspirado > alveolar > arterial >
tecidual.
Quando há equilíbrio entre esses compartimentos, podemos inferir o quanto há de
anestésico inalatório no SNC de acordo com a pressão parcial do anestésico no espaço
alveolar (gás expirado).
São fatores que determinam a oferta do agente inalatório:
o Pressão parcial inspirada (quanto maior a concentração administrada, maior a
oferta);
o Ventilação alveolar (quanto maior a ventilação, mais rápida é a indução);
o Características do sistema de ventilação (existem vários sistemas de ventilação
artificial; o aparelho tem em torno de 8 a 12 litros de espaço para gases em
seu interior; logo, a quantidade de anestésico administrado vai ser diluída no
interior do aparelho, sendo que a quantidade real ofertada é menor);
São fatores que determinam a captação do anestésico:
o Solubilidade do anestésico: a solubilidade é dada pelo coeficiente de partição.
Os anestésicos inalatórios são muito solúveis em lipídeos. Contudo, o
coeficiente de partição os classifica RELATIVAMENTE de acordo com a
solubilidade. Então, eles são divididos em muito solúveis, solúveis ou pouco
solúveis.
Os muito solúveis entram rapidamente e se distribuem muito para os
outros tecidos que não só o SNC (alto volume de distribuição). Como o
volume de distribuição é alto, é pouco o anestésico que vai para o
SNC; assim, o paciente demora a dormir.
Do mais solúvel para o menos solúvel: halotano > enflurano >
isoflurano > sevoflurano > óxido nitroso > desflurano
Daquele que mais rapidamente induz a anestesia para o mais
lento: desflurano > óxido nitroso > sevoflurano > isoflurano >
enflurano > halotano
o Diferença do gradiente de pressão parcial alvéolo-sangue: quanto maior for o
delta P, maior vai ser a captação do anestésico.
o Débito cardíaco: para os muito solúveis, quanto maior for o débito cardíaco,
mais lenta vai ser a indução. Para os insolúveis, o DC não interfere na indução.
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DISTRIBUIÇÃO
São fatores que interferem na distribuição:
o Solubilidade: os muito solúveis se distribuem mais;
o Fluxo tissular: quanto maior o fluxo, maior a distribuição. Especialmente entre
os fármacos muito solúveis.
o Gradiente arterial-tissular: expressa o equilíbrio entre os anestésicos entre os
compartimentos. Quanto maior o gradiente, mais o anestésico tende a ser
distribuído (desde que a concentração seja maior no compartimento
intravascular).
ELIMINAÇÃO
Para a recuperação da anestesia, é necessária a eliminação do anestésico.
São fatores que aumentam a eliminação:
o Solubilidade: quanto mais solúvel, mais lenta é a recuperação;
o Duração da exposição: saturação dos tecidos ricos em gordura com o passar
do tempo de uso do medicamento;
o Metabolismo: os medicamentos são eliminados pelo própria via respiratória,
sendo pouco disponíveis para a metabolização.
METABOLISMO
Depende sempre do tipo de anestésico e do indivíduo. A maior parte deles sofre
metabolização hepática e renal.
Os mais solúveis ficam mais tempo em circulação e, por isso, são mais metabolizados.
O produto do metabolismo causa efeitos colaterais. Os principais são: brometo
(halotano), fluoreto (a maioria) e ácido trifluoroacético.
o Em altas concentrações, podem causar toxicidade hepática ou renal potencial.
o Isso é importante em nefropatas ou hepatopatas.
FARMACODINÂMICA
A potência dos anestésicos está relacionada com o conceito de concentração alveolar
mínima, que é análoga à DE 50%.
A CAM é a concentração de anestésico necessária para impedir a movimentação do
paciente (muscular) em resposta a um estímulo doloroso supramáximo (incisão
cirúrgica na pele) em 50% dos pacientes. Contudo, para anestesiar 95% dos pacientes,
usamos 1,3xCAM do anestésico.
São fatores que afetam a CAM:
Diogo Araujo – Med 92
o Maior necessidade de anestésico para pacientes que têm aumento do
metabolismo: hipertermia, hipernatremia, uso de fármacos que elevam
estoques de catecolaminas no SNC;
o Menor necessidade de anestésico e menor CAM: hiponatremia, hipotermia,
gravidez, hipoxemia, idade avançada, administração conjunta de opioides (e é
esse o princípio da anestesia mista: a administração de anestésico opiode
venoso reduz a necessidade de uso do anestésico inalatório), óxido nitroso ou
lidocaína.
o Não alteram a CAM: gênero, duração da anestesia, níveis séricos de potássio.
São as CAMs (em mmHg na pressão parcial no gás inalado):
o Halotano: 0,76 mmHg
o Isoflurano: 1,15 mmHg
o Enflurano: 1,68 mmHg
o Sevo: 1,76 mmHg
o Desflurano: 7,0 mmHg
o Óxido nitroso: 104 mmHg
Logo, o halotano é muito mais potente do que o desflurano e o óxido nitroso, por
exemplo.
De modo geral, os anestésicos mais solúveis são os mais potentes (menor a CAM).
Contudo, a indução anestésica é mais prolongada.
MECANISMOS DE PRODUÇÃO DA ANESTESIA GERAL
Os anestésicos inalatórios são muito lipossolúveis e promoveriam um desarranjo na
bicamada lipídica além de atuar nos canais da membrana celular. Logo, a anestesia é
um mecanismo multifatorial da membrana celular.
De modo geral, a anestesia causa uma redução na transmissão sináptica em vias
polissinápticas multineurais: principalmente no sistema reticular ativador ascendente
e na medula.
o O SRAA é o canal de liga e desliga do sistema sono/vigília, além de modular a
distribuição dos estímulos que são mandados para todo o córtex.
o Já a medula está muito relacionada com as vias de transporte da dor.
Os efeitos primários da anestesia inalatória são:
o Hipnose
o Analgesia
o Diminuição dos reflexos autonômicos
Todos os demais efeitos são ditos secundários e são dose-dependentes.
Observação: Todos os agentes voláteis causam relaxamento da musculatura
esquelética. Mas isso só ocorre com concentrações altas. Por isso que, na maior parte
das vezes, deve-se associar com anestésico venoso (bloqueador neuromuscular).
De maneira geral, há irritação da musculatura brônquica, com broncoespasmo leve.
Mas, à medida que a sua concentração aumenta, ele vai causando broncodilatação
(por ação direta e central).
Diogo Araujo – Med 92
A inibição do controle ventilatório pelo SNC geralmente ocorre quando se usa 1,5 x
CAM.
Os anestésicos inalatórios são depressores potentes do miocárdio (por ação direta):
diminuem a PAM por queda do DC, da RVP e do tônus simpático.
Há possibilidade de que o sistema imunológico seja inibido pelo anestésico.
O sistema hematológico sofre com os anestésicos inalatórios se a exposição for
prolongada. Há um potencial de que o óxido nitroso seja capaz de interferir na síntese
do DNA.
Todos os anestésicos inalatórios causam relaxamento da musculatura uterina.
Portanto, após o parto, não é interessante manter o anestésico inalatório.
o Mas na síndrome da cabeça derradeira, pode-se administrar rapidamente o
anestésico inalatório para haver relaxamento uterino e saída da cabeça da
criança.
Os rins sofrem por queda do DC. Assim, a TGF também cai. Além disso, se houver
acúmulo de fluoretos (vindos dos anestésicos utilizados por muito tempo), pode haver
nefrotoxicidade.
O fígado sofre por alteração hemodinâmica (redução da PA). O halotano pode sofrer
até 20% de metabolização, resultando em formação de ácido trifluoroacético, pro qual
é formado um anticorpo. Quando o medicamento é administrado novamente, pode
ocorrer a hepatite do halotano, que é fulminante (devido ao ataque dos anticorpos
contra antígeno). Mas é diagnóstico de exclusão.
Observação: A administração de anestésicos inalatórios e amiodarona pode resultar
em bradicardia e hipotensão que são refratários a infusão de adrenalina em bomba de
infusão.
Anestesia geral venosa
Profa. Cátia
São componentes:
o Hipnose
o Analgesia
o Bloqueio dos reflexos autonômicos
o Bloqueio neuromuscular
Diogo Araujo – Med 92
Não existe o fármaco intravenoso ideal (ou seja, que forneça os 4 componentes).
Portanto, usamos vários fármacos para oferecer os 4 componentes da anestesia
separadamente.
Considerações gerais:
o Quando um fármaco é administrado por via IV, ele atinge um pico de
concentração máxima logo após a administração. Em seguida, ele sofre queda
das concentrações séricas devido a dois fatores:
Distribuição rápida pelos tecidos: faz com que haja uma queda
acentuada do fármaco.
Segunda fase de distribuição e metabolismo lento: ocorrem depois da
distribuição rápida pelos tecidos; fazem com que haja uma queda mais
suave.
o Juntos, esses dois fatores reduzem as concentrações séricas do fármaco e o
colocam abaixo da faixa terapêutica, com o término da ação (hipnose) do
fármaco.
o Então, a curva de concentração plasmática tem:
Fase de queda rápida (por causa da distribuição nos tecidos). É o
tempo alfa. O t1/2 alfa é o tempo que o fármaco leva para cair em
50% a sua concentração.
Fase de queda lenta (metabolismo e eliminação). É o tempo beta.
A meia-vida contexto sensitiva é o tempo de redução de 50% dos níveis
plasmáticos da droga após interrupção de sua administração. Ele é diferente
dos demais t1/2 porque ele varia de acordo com o tempo de exposição ao
fármaco (e com o grau de acúmulo nos tecidos).
Exemplo: após 300 minutos de infusão do alfentanil, teríamos de esperar cerca
de 50 minutos pra que a sua concentração plasmática caísse pela metade.
Diogo Araujo – Med 92
Baseando-se na meia vida contexto sensitiva (MVCS), escolhemos o fármaco
para ser usado em bolus ou em infusão, para anestesia de procedimento
cirúrgico ou para indução de coma, etc. O ideal seria para:
o Usar em bolus para anestesia: MVCS alta ou baixa; tanto faz;
o Usar como infusão em anestesia: MVCS baixa;
o Usar em bolus para indução de coma: MVCS alta ou baixa; tanto
faz.
o Usar como infusão em paciente em coma induzido: MVCS alta.
HIPNÓTICOS
São eles:
o Tiopental
o Benzodiazepínicos
o Propofol
o Etomidato
o Droperidol
o Cetamina (é um hipnótico que possui propriedades analgésicas
também)
Tiopental
O tiopental foi o primeiro fármaco venoso a ser utilizado para anestesia.
É um barbitúrico que provoca hipnose e tem ação anticonvulsivante.
Causa depressão importante do aparelho cardiovascular.
Logo após a administração em bolus do tiopental, o paciente acorda. E isso se dá
porque há uma queda rápida do fármaco pela sua distribuição tecidual, ficando
abaixo da sua faixa terapêutica (e não porque o fármaco foi metabolizado e
eliminado).
Quando o tiopental é administrado por infusão, ele sofre uma distribuição inicial, e
se acumula nos tecidos gordurosos. Portanto, depois, o despertar é prolongado,
porque há liberação aos poucos do fármaco.
o Portanto, a meia vida contexto-sensitiva do tiopental é muito alta.
O tiopental atua em sinapses de neurônios inibitórios (GABA) e bloqueia sinapses
de neurotransmissores excitatórios (glutamato e ACh).
A ligação do tiopental no GABAa (canal de cloro) faz com que haja maior ligação do
GABA ao receptor e ele também por si só já abre o canal também. O influxo de
cloreto hiperpolariza a membrana e inibe a formação do potencial de ação.
Diogo Araujo – Med 92
Propofol
O propofol é um fármaco muito lipossolúvel com metabolismo hepático rápido.
Também tem metabolismo pulmonar e renal. Então, se injeção em bolus, o
despertar é muito rápido tanto pela distribuição do fármaco quanto pelo seu
metabolismo rápido.
Contudo, quando em infusão, ele possui sempre uma concentração baixa, sendo
rápido o despertar após a interrupção. Ou seja, ele possui uma meia vida contexto
sensitiva baixa.
Ele é hipnótico com mecanismo de ação pouco elucidado. Parece estar envolvida
com o receptor GABA, inibição de ACh e atuação em alfa-2.
Ele também é depressor do sistema cardiovascular.
Benzodiazepínicos
Para uso parenteral no Brasil, existem o midazolam e o diazepam.
São muito lipossolúveis com rápido efeito no SNC. O metabolismo é hepático.
Contudo, forma metabólitos ativos que podem sofrer acúmulo. O paciente, então,
pode ficar muito sonolento após o uso desses fármacos (principalmente o
diazepam).
Eles atuam em receptor GABAa, com dois subtipos:
o Alfa-1: hipnose, amnésia e ação anticonvulsivante.
Midazolam
o Alfa-2: ansiólise e relaxamento muscular.
Diazepam, ciclobenzaprina, carisoprodol
Por isso, o midazolam é muito mais hipnótico e o diazepam ser muito mais
sedativo.
Pode-se prescrever um benzodiazepínico mais “GABAa alfa-2” para ansiólise (como
diazepam) no dia pré-cirúrgico e, para indução, um “GABAa alfa-1” para hipnose
(como o midazolam).
Na anestesia, não se usa a infusão contínua de midazolam (porque ele demoraria a
acordar segundo a curva de meia vida contexto sensitiva; MVCS alta). Contudo,
para um paciente no contexto de UTI, pode-se usá-lo porque o despertar não
precisa ser rápido.
São seguros do ponto de vista cardiovascular e respiratório.
Etomidato
O etomidato tem um perfil espetacular para a infusão contínua (por ter uma MVCS
baixa). Ele não causa instabilidade hemodinâmica e nem liberação de histamina.
o Contudo, o etomidato causa supressão suprarrenal, porque ele
inibe a 17-OH e a 11-OHase, fazendo quadros de hipotensão (e
Diogo Araujo – Med 92
sendo necessário usar vasopressina). Por isso, esse fármaco não
pode ser usado em infusão. Só em bolus.
Cetamina
A cetamina é um derivado da fenciclidina. O metabolismo é hepático. As vias de
administração são muito variáveis (quaisquer vias) porque ela tem baixo peso
molecular, pKa próximo ao fisiológico, lipossolubilidade alta (o que faz com que a
absorção seja adequada por qualquer via).
Ela não pode ser usada em infusão no intraoperatório (apesar de ter uma meia
vida contexto-sensita) porque ela causa depressão seletiva de algumas áreas do
SNC e estimulação do sistema límbico. Por isso, o paciente pode ter sonhos (bons
ou ruins; estado dissociativo) e alucinações durante a anestesia.
Quando se deseja fazer administração em bolus, para evitar o efeito desagradável,
associa-se a cetamina com um benzodiazepínico.
Além de hipnótica, ela também é analgésica porque atua em receptores opioides
do tipo kappa e bloqueia os receptores NMDA (que estão relacionados com a dor).
Regras gerais:
Todos os hipnóticos fazem uma indução do sono suave (com exceção da
cetamina).
Todos os hipnóticos (com exceção da cetamina) são teoricamente adequados para
a infusão contínua em paciente de UTI.
o Porque, nesses pacientes, não importa se o despertar será
imediato ou mais tardio após a suspensão do medicamento. E
porque todos eles reduzem a pressão intracraniana e o consumo
de ATP no SNC.
o Contudo, o etomidato não é usado porque causa supressão da
suprarrenal.
o O propofol também não é dado em infusão durante dias seguidos
porque pode causar a “síndrome da infusão contínua do propofol”.
Nela, o paciente apresenta rabdomiólise e acidose grave.
o A cetamina aumenta o consumo de ATP no SNC e, por isso, não é
indicada.
o Então, na prática, só se utilizam os benzodiazepínicos e o tiopental
para esse fim.
O tiopental é o único que libera histamina, não sendo adequado para
pneumopatas. Já a cetamina e o propofol fazem broncodilatação.
O tiopental e o propofol são depressores do sistema cardiorespiratório. Já os
benzodiazepínicos e o etomidato tem um perfil sem interferência no sistema
Diogo Araujo – Med 92
cardiorrespiratório. Já a cetamina aumenta o tônus do sistema cardiorrespiratório
e, portanto, é adequada para pacientes que estão em choque.
ANALGÉSICOS OPIÓIDES
Os opióides são os responsáveis pelo efeito analgésico da anestesia. Eles são
classificados segundo o seu grau de atividade intrínseca (capacidade de
desencadear um efeito fisiológico ligando-se ao seu receptor; pode ser agonista,
antagonista competitivo, agonista parcial e agonista inverso).
São tipos de receptores opioides: kappa, mi, delta e épsilon.
o Mi: analgesia potente e depressão respiratória, prurido intenso, retenção
urinária.
o Kappa: analgesia potente, mas menor que o mi.
São tipos de opióides:
o Agonistas
Morfina, fentanil, sulfentanil, remifentanil, codeína, metadona.
o Agonista parcial
Buprenorfina
o Antagonista
Naloxona
o Antagonista Mi e agonista Kappa
Pentazocina
O fentanil tem uma MVCS inadequada para infusão contínua no transoperatório,
mas pode ser usado para infusão contínua em paciente de UTI.
O alfentanil e sulfentanil possuem uma MVCS intermediária, que permite infusão
contínua.
Mas a MVCS do remifentanil é a mais baixa entre os 4. Isso porque ele é
rapidamente metabolizado pelas esterases plasmáticas, sendo que a ação dura
Diogo Araujo – Med 92
enquanto for infundido. Portanto, deve haver um plano de analgesia para o pós-
operatório.
Nas células nervosas, o receptor opioide é acoplado à proteína Gs, com aumento
do AMPc, influxo de cálcio e efluxo de potássio, causando hiperpolarização de
membrana. Portanto, eles inibem a transmissão da informação nociceptiva.
Com isso, causam analgesia muito potente, diminuem a taxa metabólica do
cérebro, aumentam o tônus do parassimpático (podendo causar bradicardia) e
geram prurido/náuseas/vômitos.
Lembrando dos fatores de risco para náuseas e vômitos no pós-operatório:
o Sexo feminino
o Não ser tabagista
o História de náuseas e vômitos
o Uso de opoides
Os opioides podem ser usados como coadjuvantes em anestesias inalatórias. Isso
porque eles reduzem a necessidade do uso de anestésico inalatório.
Os opioides causam depressão respiratória potente! Cuidado com parada
respiratória. (a professora deu muita ênfase! Deve cair na prova :P )
Eles conferem estabilidade hemodinâmica. Mas, em pacientes hipovolêmicos,
podem gerar hipotensão arterial.
Os opioides causam elevação do tônus do parassimpático e redução do simpático.
O uso de naloxona causa o contrário e, por isso, pode causar hipertensão de difícil
controle e edema agudo de pulmão.
BLOQUEADORES NEUROMUSCULARES
A junção neuromuscular é composta por:
o Terminal nervoso: síntese e metabolismo de acetilcolina (ACh)
o Fenda sináptica: altas concentrações de acetilcolinesterase (AChase)
o Fibra muscular (placa motora): mecanismo contrátil
Quando vem um potencial de ação no neurônio pré, as vesículas de ACh se fundem
na membrana e há liberação de ACh na fenda. Ela pode: difundir-se para o
extracelular, ser degradada pela enzima ou se ligar ao receptor (do tipo
nicotínico).
A ligação ao receptor aumenta a condutância de sódio e potássio pelo canal
nicotínico na membrana pós-sináptica. Então, entra sódio e sai potássio,
despolarizando a membrana pós-sináptica e causando um potencial de ação. Esse
PA promove a liberação de cálcio pelo retículo sarcoplasmático, que se liga à
Diogo Araujo – Med 92
troponina (ela impedia a ligação do complexo actina-miosina; a ligação do cálcio à
troponina destrava esse impedimento e há contração muscular).
Quando se usa um bloqueador neuromuscular, pode-se agir de dois modos:
o Utilizar um agente que produz despolarização prolongada: succinilcolina.
Ela é formada por duas moléculas de ACh. Então, ela é capaz de se ligar ao
receptor e despolarizar a membrana, mas não é degradada rapidamente
pela AChase. Logo, o canal fica aberto, a membrana não se repolariza e o
paciente tem uma paralisia flácida. Há uma fase de fasciculação antes da
paralisia. 5 a 8 minutos são suficientes para que a succinilcolina seja
degradada pelas esterases plasmáticas, com o retorno da motricidade.
o Utilizar um agente não despolarizante, que é um antagonista do receptor
nicotínico. Podem ser:
Aminoesteróides
Pancurônio (duração de ação muito longa! )
Vecurônio
Rocurônio
Benzilisoquinolinas
Atracúrio
Cisatracúrio
Mivacúrio
A succinilcolina tem uma latência muito curta pós-administração (ou seja, depois
de administrada, o efeito vem logo em seguida). Por isso, ela é ideal em pacientes
com DRGE ou em pacientes com estômago cheio (visto que o risco de aspiração é
menor se a indução e a intubação forem rápidas).
Pelo mesmo motivo, paciente com via aérea difícil pode ter o bloqueio feito pela
succinilcolina porque, se o paciente não conseguir ser intubado, é só aguardar que
ele volta rapidamente a ventilar sozinho.
Observação: um agente não despolarizante também pode ser usado nesses casos
se administrado em altas doses!
Os principais efeitos adversos estão relacionados à histamina.
o Efeitos cardiovasculares e de liberação da histamina (que causa
broncoespasmo).
o A succinilcolina libera muito K na circulação. É, então, contraindicada em
pacientes renais crônicos e queimados!
A reversão do bloqueio pode ocorrer de modo espontâneo (por metabolismo) ou
por uso de antagonista. São tipos de antagonistas:
o Ciclodextrinas (Sugamadex): ele funciona como um envoltório para a
molécula de rocurônio, sendo eliminado.
o Bloqueio da enzima que degrada a ACh (para aumentar a disponibilidade
da ACh na fenda sináptica e deslocar o antagonista competitivo). Só que
isso vai acontecer tanto nas sinapses muscarínicas quanto nas nicotínicas.
Diogo Araujo – Med 92
Para evitar que isso aconteça nas sinapses muscarínicas, administramos
um antagonista muscarínico (como a atropina). Por isso, quase sempre a
dupla é neostigmina + atropia.
Observação: a neostigmina é metabolizada mais rapidamente que
o bloqueador neuromuscular. Portanto, se administramos a
neostigmina para reveter um bloqueio neuromuscular, pode ser
que ela seja metabolizada e eliminada mais rapidamente do que o
próprio bloqueador neuromuscular. Assim, o paciente até voltaria
a ter os movimentos, mas, em seguida, poderia sofrer paralisia
novamente (recurarização).
Observação: não confundir! Relaxante muscular é aquele que atua no SNC para
relaxamento muscular. O bloqueador neuromuscular atua na junção
neuromuscular.