anestesia e analgesia
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DTAPEP – Diretoria Técnica de Apoio ao Ensino e Pesquisa
Biotério Central da Faculdade de Medicina da USP Av. Dr. Arnaldo, 455 – Cerqueira César – São Paulo – CEP 01246-903
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ANESTESIA E ANALGESIA DE ANIMAIS UTILIZADOS EM
PROTOCOLOS EXPERIMENTAIS
Denise Isoldi Seabra, Eduardo Pompeu, Maria Luiza Guzzo Valenti
O presente documento foi elaborado com a intenção de fornecer informações básicas a
respeito de anestesia e analgesia nas principais espécies animais utilizadas em protocolos
experimentais, considerando as drogas mais utilizadas para cada uma delas e de mais fácil
aquisição.
São também mencionadas algumas informações consideradas relevantes na escolha do
protocolo anestésico, o qual deve ser estabelecido levando-se em conta o tipo de estudo a ser
desenvolvido e seu objetivo, bem como o modelo experimental utilizado.
Os dados apresentados representam uma compilação dos principais guidelines recentemente
publicados e livros de referência.
INTRODUÇÃO
Todas as pessoas envolvidas em pesquisas que utilizam animais são responsáveis pelos
mesmos, devendo mantê-los em condições adequadas, a fim de garantir seu bem-estar e um
tratamento ético e humanitário.
Para tanto, um dos fatores de fundamental importância é o suprimento adequado de
equipamentos, analgésicos e anestésicos durante todo o protocolo experimental, visando minimizar
processos potencialmente dolorosos ou estressantes.
Neste sentido, o pesquisador deverá avaliar desde o uso de uma anestesia geral, até o uso
de analgésicos antes e/ou após o procedimento. Deve-se levar em conta, ainda, os benefícios de um
treinamento prático, garantindo a manipulação segura dos animais a medida que reduz a ocorrência
de traumas, bem como minimiza o estresse e o medo a que os animais poderão ser submetidos e
que podem acarretar em um aumento de intensidade do processo doloroso.
Para a condução de estudos com potencial de causar mais do que uma dor leve ou
momentânea, ou mesmo estresse aos animais, devem ser descritas as providências que serão
adotados no sentido de aliviar tais processos. Nos casos em que não será possível a utilização de
fármacos o pesquisador deverá apresentar uma justificativa com base científica a respeito de como
afetariam os protocolos experimentais e a interpretação de dados, deixando de usá-los somente pelo
período de tempo estritamente necessário.
Deve-se levar em conta que a administração de anestésicos e/ou analgésicos, quando mal
executada, pode produzir efeitos adversos importantes sobre a qualidade dos resultados obtidos.
CUIDADOS BÁSICOS PRÉ E PÓS-ANESTESIA
É importante observar o animal antes do procedimento anestésico a fim de coletar
informações sobre seu estado de saúde. Alguns dos parâmetros a serem verificados são o estado de
hidratação, aspecto geral de pelagem, postura e consistência das fezes. Particularmente com relação
ao peso, deve ser conhecido e comparado com a média esperada para a espécie, linhagem e idade.
Também é um parâmetro fundamental para o cálculo correto do anestésico a fim de evitar uma
overdose e óbito do animal.
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O jejum não é recomendado para pequenos roedores devido seu alto metabolismo associado
à baixa reserva de glicogênio que pode predispor a hipoglicemia. Ainda, essas espécies não
apresentam risco de regurgitação e vômito. O jejum pode ser interessante, desde que por um período
curto de tempo (entre 02 -04 horas) a medida que aumenta a velocidade de absorção do fármaco
permitindo, por vezes, reduzir sua dose.
A manutenção da temperatura é outro fator crítico uma vez que pequenos roedores são muito
suscetíveis a perda de calor. Neste sentido pode ser utilizado colchão térmico ou lâmpada
infravermelha, com o cuidado de não provocar queimaduras no animal.
Até que ocorra a recuperação anestésica total do animal ele deve ser mantido em
observação, com monitoramento constante, em uma caixa/gaiola limpa e isolado de outros para evitar
que se machuquem ou até mesmo sejam asfixiados.
Abaixo encontram-se descritos os valores fisiológicos de algumas das espécies utilizadas. O
peso mencionado refere-se a média de um animal adulto, sendo os machos normalmente mais
pesados que as fêmeas.
Valores fisiológicos de camundongo, rato e coelho
Camundongo Rato Coelho Hamster
Peso corpóreo (g) 25-40 300-500 2.000-6.000 60-100
Temperatura corporal (°C) 37.5 38 38 36.2-38.8
Frequência respiratória (movimentos/min)
80-200 70-115 40-60 30-127
Frequência cardíaca (batimentos/min)
350-600 250-350 135-325 250-500
VIAS DE ADMINISTRAÇÃO
A administração de fármacos pode ser realizada por uma das seguintes vias:via oral (VO),
intraperitoneal (IP), subcutânea (SC), intramuscular (IM), intravenosa (IV) e inalatória (IN).
A via oral pode ser utilizada para a administração de analgésicos aos animais. A substância
pode ser colocada na água de beber ou ser fornecida ao animal por gavagem com sonda de tamanho
apropriado a espécie. A administração por gavagem oferece precisão na quantidade de analgésico
ingerido, porém, envolve manipulação do animal e pode ser considerada uma fonte de estresse
adicional.
A administração intraperitoneal é muito utilizada para pequenos roedores por ser de fácil
acesso e acomodar grandes volumes, e deve ser realizada no quadrante inferior direito do abdômen.
Alguns dos erros mais comuns relacionados a esta via são a punção intravisceral, subcutânea ou no
tecido adiposo. Não é indicada para coelhos.
As injeções intramusculares são realizadas no quadríceps ou músculos posteriores da coxa e
devem ser evitadas em ratos e camundongos devido à massa muscular reduzida.
A veia lateral da cauda é a mais utilizada para a realização de infusão de fluidos e para as
injeções intravenosas em ratos e camundongos. Nos coelhos a administração de fluídos pode ser
realizada pela veia cefálica ou marginal da orelha.
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Administrações injetáveis devem ser realizadas sempre com a agulha posicionada com o seu
bisel voltado para cima. Qualquer que seja a via escolhida, o animal deve estar apropriadamente
contido para evitar traumas a ele e ao operador.
A tabela que segue refere-se aos volumes máximos permitidos a serem administrados aos
animais na dependência da via de eleição. São descritos, ainda, o local de administração e o calibre
apropriado de agulhas.
Volumes e vias de administração
Camundongo
Volume
(ml)
Via de administração
Local de administração Calibre da agulha
0,25 – 1,0 VO ---- 1,25 mm de diâmetro
2,0 - 3,0 SC Inter-escapular <20G
2,0 - 3,0 IP Quadrante abdominal inferior direito <21G
0,05 IM Quadríceps <23G
0,2 IV Veia lateral da cauda <25G
Rato
Volume
(ml)
Via de administração
Local de administração Calibre da agulha
3,0 – 15,0 VO ---- 2,25mm de diâmetro
5,0 – 10,0 SC Inter-escapular <20G
5,0 – 10,0 IP Quadrante abdominal inferior direito <21G
0,3 IM Quadríceps <21G
0,5 IV Veia lateral da cauda <23G
Hamster
Volume
(ml)
Via de administração
Local de administração Calibre da agulha
0,5 – 1,0 VO ---- 1,25 mm de diâmetro
3,0 – 4,0 SC Inter-escapular <20G
3,0 – 4,0 IP Quadrante abdominal inferior direito <21G
0,1 IM Quadríceps <21G
0,3 IV Veia femoral ou jugular <25G
Coelho
Volume
(ml)
Via de administração
Local de administração Calibre da agulha
3,0 – 15,0 VO ---- <20G
5,0 – 10,0 SC Inter-escapular <21G
0,3 IM Quadríceps <21G
0,5 IV Veia Marginal da orelha <23G
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INDUÇÃO ANESTÉSICA
A utilização de medicação pré-anestésica pode ser realizada uma vez que acalma o animal
antes do procedimento e torna sua recuperação anestésica mais tranquila. Ainda, seu uso pode
reduzir a dose anestésica necessária. Entretanto, deve-se levar em conta os potenciais benefícios e
seus efeitos adversos uma vez que sua administração pode ser considerada um fator de estresse
adicional devido a necessidade de manipulação do animal.
As vias mais indicadas são a inalatória e a intravenosa o que muitas vezes dificulta o
procedimento já que é necessário pessoal treinado (intravenosa) e equipamento específico
(inalatória). A via subcutânea não é recomendada pois o tempo de indução anestésica se prolonga
consideravelmente.
ANESTESIA
A anestesia consiste em levar o animal a inconsciência sem perda de suas funções vitais e
deve promover contenção química apropriada, relaxamento no tônus muscular e analgesia suficiente
para impedir que o animal sinta dor durante o procedimento cirúrgico.
Os anestésicos mais recomendados são os inalatórios por serem seguros e rapidamente
reversíveis, entretanto, sua utilização depende de equipamentos específicos e algumas vezes de
intubação endotraqueal o que as vezes os torna inviáveis.
Fármacos anestésicos - Camundongos
Fármaco Dose (mg/kg) Via de administração
Isoflurano 0.08‐1.5% Inalatória
Quetamina/Diazepam 50-75 / 1-10 IP
Quetamina / Midazolam 50-75 / 1-10 IP
Quetamina / Xilazina 90-150 / 7.5-16 IP
Quetamina /Xilazina / Acepromazina 100 / 2.5 / 2.5 IM
Pentobarbital sódico 30 – 90 IP
Tribromoetanol (TBE) 125‐300 IP
Fármacos anestésicos - Ratos
Fármaco Dose (mg/kg) Via de administração
Isoflurano 0.25‐ 2.5% Inalatória
Isoflurano/Morfina 2% / 5 Inalatória, IP
Quetamina/Diazepam 40 / 5 IP
Quetamina / Midazolam 60 / 0.4 IP
Quetamina / Xilazina 40 – 80 / 5-10 IP
Quetamina /Xilazina / Acepromazina 40 / 8.0 / 4.0 IM
Pentobarbital sódico 30 - 60 IP
Tribromoetanol / Medomidina 150 / 0.5 IP
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Fármacos anestésicos - Coelhos
Fármaco Dose (mg/kg) Via de administração
Diazepam 5.0 – 10.0 IM
Acepromazina 0.75 – 1.0 IM
medetomidina 0.25 IM
Tiopental 15 – 30 IV
Pentobarbital 20 - 60 IV
Quetamina / Pentobarbital 10 / 30 IM / IV
Quetamina / Xilazina 50 – 10 IM
Quetamina /Xilazina / Acepromazina 40 / 5 / 0.75 – 1.0 IM / IM / SC
Quetamina /Xilazina / Atropina 40 / 5 / 0.04 IM
Quetamina / Diazepam (*) 60 – 80 / 5 - 10 IM
Quetamina /Acepromazina (#) 75 / 5 IM
(*) Diazepam administrado 30 minutos antes(#) Acepromazina administrada 30 minutos antes
Fármacos anestésicos – Hamsters
Fármaco Dose (mg/kg) Via de administração
Quetamina/Diazepam 70 / 2 IP
Quetamina / Diazepam 70 / 2 IP
Quetamina / Xilazina 200 / 10 IP
Quetamina / Acepromazina 150 / 5 IM
Pentobarbital 50-90 IP
Tiletaminal /Zolacepam/Xilazina 30 / 10 IP
ANALGESIA
Fármacos analgésicos aliviam a dor sem perda da consciência, reduzindo também o
desconforto e o estresse a que os animais estão submetidos.
Apesar de a analgesia ser definida como a ausência completa de um processo doloroso, na
prática, varia entre sua eliminação total (caso de procedimentos cirúrgicos) até seu tratamento a
níveis em que permaneça presente sem comprometer a qualidade de vida do animal.
A completa eliminação do processo doloroso em animais conscientes não é desejável uma
vez que a dor representa um fator de proteção, impedindo que o animal venha a sofrer maiores
traumas por movimentação excessiva ou automutilação.
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Recomenda-se, portanto, buscar atingir um equilíbrio em que o animal seja mantido com o
mínimo de dor possível sem comprometer sua segurança e mantendo sua qualidade de vida.
A utilização de analgésicos antes e após o procedimento experimental é recomendável
sempre que não interfira com o resultado das pesquisas. A escolha do protocolo deve ser adaptada
ao modelo animal e as condições de cada centro. As drogas mais comumente utilizadas são os
opióides e os anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs) que garantem boa analgesia visceral e
somática (pele e músculos).
A fim de aliviar a dor cirúrgica é recomendável que seja administrado um analgésico injetável
antes da recuperação anestésica e durante um período de pelo menos 12 – 24hs após a recuperação
da consciência.
Fármacos analgésicos – Camundongos e Hamsters
Fármaco Dose (mg/kg) Via de administração
Intervalo de administração
Acetaminofen (Tylenol®) 110 - 305 IP, VO 12 hs
Aspirina 20
100 - 120
SC
IP
04 hs
Buprenorfina 2
0.002‐0.055
0.04‐0.13
SC
IV
IP
12 hs
Butorfanol 5 SC 04hs
Carprofen (Rimadyl®) 5‐15 SC 24hs
Diclofenaco (Voltarem®) 9.0‐28 IP 12 hs
Flunixinmeglumine (Banamine®) 4.0‐ 11
2.5
IV
SC
12 hs
12 hs
Ibuprofen (Advil®) 40 - 80 VO 24 hs
Ketoprofen (Ketofen®) 5 SC 24 hs
Morfina 10 SC 04hs
Tramadol 20 – 40 IP 12 hs
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Fármacos analgésicos – Ratos
Fármaco Dose (mg/kg) Via de administração
Intervalo de administração
Acetaminofen (Tylenol®) 110 - 305 IP, VO 12 hs
Aspirina 100
20
100 - 120
VO
SC
IP
12 hs
Buprenorfina 0.05‐0.5
0.4
0.002‐0.055
0.04‐0.13
SC
VO
IV
IP
12 hs
Butorfanol 02 SC 4hs
Carprofen(Rimadyl®) 5‐15 SC 24hs
Diclofenaco (Voltarem®) 50‐600 SC, IP, IV 12 hs
Dipirona 50‐600 SC, IP, IV 08 hs
Flunixinmeglumine (Banamine®) 2.5 SC 12 hs
Ibuprofen (Advil®) 15 VO 24 hs
Ketoprofen (Ketofen®) 5‐15
10‐20
SC
IP
24 hs
24 hs
Morfina 2.0‐10 SC 04 hs
Fármacos analgésicos - Coelhos
Fármaco Dose (mg/kg) Via de administração
Intervalo de administração
Buprenorfina 0,01-0,05 SC, IV 12 hs
Butorfanol 0,1- 0,5 IV 4hs
Carprofen (Rimadyl®) 5,0 SC 24hs
Flunixinmeglumine (Banamine®) 1,1 IM 12 hs
Morfina 2,5 SC 04 hs
Meloxican 0,3-0,6 SC 24 hs
Piroxican 0,2 VO 08 hs
Meperidina 5,0-10,0 SC 04 hs
Tramadol 5,0 SC, IM 04 hs
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REFERÊNCIAS
Gaertner, DJ, TM Hallman, FC Hankenson, MA Batchelder. 2008. Anesthesia and Analgesia in
Laboratory Animals. 2th Edition, Academic Press, CA.
Diehl Karl-Heinz et al. A Good Practice Guide to the Administration of Substances and Removal of
Blood, Including Routes and Volumes. J. Appl. Toxicol. 21, 15-23 (2001).
National Institute of Health, Office of Animal Care and Use: “Guidelines on Use of Analgesic Drugs”
http://oacu.od.nih.gov/ARAC/painresprecall_table2.htm
Huerkamp, Michael J., “The Use of Analgesic in Rodents and Rabbits” Emory University, website,
updated2/16/2000. http://www.emory.edu/WHSC/MED/DAR/Analgesic_drugs.htm
Flecknell P.A. 1996. Anaesthesia and analgesia for rodents and rabbits. In: Handbook of Rodent
and Rabbit Medicine, Laber-Laird K, Swindle MM and Flecknell PA. Pergammon Press, Butterworth-
Heineman, Newton, MA, pp. 219-37.