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A NATUREZA,

A NATUREZA

NO MERCADO

E

A ANGSTIA

SUA MESA

Sebastio Pinheiro

2001

NDICE:4PREFCIO

4DA REVOLUO VERMELHA SNDROME VERDE

13CAPTULO I

13DO MODERNISMO AO SUSTENTVEL, PASSANDO PELO DESENVOLVIMENTO

22CAPTULO II

22A SADE AMBIENTAL E A COERNCIA CREMATSTICA

27CAPTULO III

27SABER E FAZER A ESCASSEZ

32CAPTULO IV

32BIODIVERSIDADE: DILOGO COM O MEIO AMBIENTE*

37CAPTULO V

37RESGATE DE BIODIVERSIDADE: O "FEIJO SOPINHA"

38BRIGADAS PEDAGGICAS

42CAPTULO VI

42O SUJEITO EM UMA NOVA ALIANA

54CAPTULO VII

54AGRICULTURA ECOLGICA E A NOVA ORDEM HISTRICA DOS CDIGOS

65CAPTULO VIII

65DRENAGEM DE CREBROS in situ E ex situ OU POR QUE E PARA QUEM BIOTECNOLOGIAS E TRANSGNICOS?

68CAPTULO IX

68O que comemos. Da domesticao das espcies aos geneticamente modificados

68ENERGIA

69GENTICA

71EUGENIA

75CONTAMINAO QUIMICA DE ALIMENTOS

78DOMESTICAO

79FERTILIZANTES:

81AGROTXICOS E AFINS

85RESDUOS

91TOXICOLOGIA

95MICOTOXINAS: O ATENTADO INVISVEL

98CONTAMINAO POR ADITIVOS CONSENTIDOS

99CONTAMINAO AMBIENTAL

99RADIONUCLDEOS

99DIOXINAS E FURANOS

102DISRUPTORES ENDCRINOS

109BIOSSEGURANA

115ENFERMIDADE CREUTZFELD-JAKOB (CJD)

116"DOENA DA VACA LOUCA" (BSE)

118CARNE DE GADO

118EQUIVALNCIA SUBSTANCIAL

119CAPTULO X

119TRANSGNICOS, BOM PARA QUEM?

121QUADRO I

122IMPACTOS

124QUADRO II

124PBLICAS

124CONFIDENCIAIS

125DIFICULDADES

141QUADRO III

141PROJEES PARA AS QUESTES COM ORGANISMOS GENETICAMENTE MODIFICADOS

143CAPTULO XI

143HUGO1: O EFMERO NEOLOMBROSIANISMO

152BOV ESPIATRIO

PREFCIO

DA REVOLUO VERMELHA SNDROME VERDE

No Brasil, nos exigem saber tudo sobre um determinado ser vivo ou objeto, suas patas, antenas, asas, metabolismo, reproduo, etc. Mas, formados temos um grande choque, quando o referido nos mostrado.

(brasileira aluna de ps-graduao

no exterior).

Este livro, no muito diferente dos outros, talvez um pouco mais grave, pois as coisas pioraram nos ltimos tempos. Neste simulacro de mundo, fica cada vez mais difcil saber-se o que real e o que virtual (Baudrillard), como tal, este incio uma introduo ao mesmo.

As imagens acima so para a anlise do leitor/a. comum termos a viso nostlgica ou emotiva da rea rural. Muitas vezes, at por saudade ou razes familiares de uma infncia ou frias na casa de avs ou parentes. Talvez, por isso, vejamos a agricultura e atividades agropastoris como idlicas, buclicas e picas.

Uma outra razo pode ser que as reas rurais, geralmente, esto defasadas no tempo e espao e cheguemos a elas em viagem de recordao da juventude, liberdade e inocncia sentimental.

Imagens so imagens e muitas vezes, com o tempo, deixamos de ter a humildade da viso emotiva nostlgica e at passemos viso da arrogncia ignorante, prepotncia racional. A formao academicista brasileira, espelhada na opinio do estudante logo acima, na maioria das vezes, tem muito a ver com isto.

Contudo, ambos submetem-se ao poder. E o poder exercido sobre o consciente e o inconsciente dos homens e da sociedade.

Um dos perodos mais marcantes da atual sociedade industrial o modernismo. Ele surge entre o final do sculo retrasado e incio do sculo passado. Trazia em seu bojo uma srie de mudanas marcantes na sociedade industrial que j cumprira seu primeiro centenrio. A figura dos teares caseiros com as rocas era uma lembrana nostlgica ou idlica de um mundo no mais existente ou relegado s periferias dos grandes imprios francs, britnico e seus satlites, com suas mazelas.

A figura, agora, da Inglaterra, eram teares industriais movidos a vapor ou os mais modernos, eltricos, onde milhares de pessoas trabalhavam como semi-escravos 16 horas por dia. Tempos Modernos.

O homem passa a venerar a velocidade, as mquinas, como vale a pena ser relido no manifesto futurista de Felippo Tommaso Marinetti (1876-1944):

" - Ns queremos cantar o amor ao perigo, o hbito energia e temeridade.

- Os elementos essenciais de nossa poesia sero a coragem, a audcia e a revolta.

- Tendo a literatura at aqui enaltecido a imobilidade pensativa, o xtase e o sono, ns queremos exaltar o movimento agressivo, a insnia febril, o passo ginstico, o salto perigoso, a bofetada, o soco.

- Ns queremos glorificar a guerra - nica higiene do mundo -, o militarismo, o patriotismo, o gesto destrutor dos anarquistas, as belas idias que matam...".Em todo o planeta, o modernismo grassa como uma epidemia voraz. Na arquitetura alem, surgem novas formas e amplos espaos com cores. Entre ns, brasileiros, uma literatura comea a encontrar um Brasil e um brasileiro que poucos conheciam, como o narrado por Euclides da Cunha no massacre de Canudos, ou o Jeca Tatu ignorado e perdido no interior do pas.

A agricultura e o agricultor brasileiros no modernismo, comearam a dispor de escolas, educao, infra-estrutura adotada para facilitar o escoamento, comercializao, armazenamento, fomento, dentro da viso futurista do manifesto acima, por um movimento revolucionrio, militarista nos anos 30.

Nas sociedades industriais, onde a agricultura ainda no era industrial, por esta poca uma grande transformao internacional comeava a ocorrer e a economia conhecia sua grande crise. Acelerou-se a modernizao da agricultura.

Anos antes, a revoluo sovitica sacudira a Europa, agitava os trabalhadores e as elites capitalistas, obrigando medidas modernistas ou reformistas em todas as frentes e planos.

No Brasil, a agricultura tambm estava em crise, pois era voltada principalmente para o mercado externo.

Vamos buscar em nossa obra-prima do modernismo, "Macunama" de Mrio de Andrade, algo sobre agricultura:

"O heri teve raiva. Pegou uma colher, virou-a num bichinho e falou: - Agora voc fica sovertida no p do caf. Quando o mano Maanape vier beber, morda a lngua dele!

Ento pegando num cabaceiro de algodo, virou-o numa taturana branca e falou: - Agora voc fica sovertida na maqueira. Quando o mano Jigu vier dormir, chupe o sangue dele!

Maanape j vinha entrando na penso para beber caf outra vez. O bichinho picou a lngua dele. (...) Maanape teve raiva. Atirou o bichinho para muito longe falando: - Sai praga! (...) O bichinho caiu em Campinas.

Ento Jigu entrou na penso pra tirar um sono. O mandarov branquinho tanto chupou sangue dele que at virou rosado. (...) Jigu teve raiva e atirou a taturana longe falando: - Sai praga! A taturana caiu por a.

Foi assim que Maanape inventou a broca-do-caf, Jigu a lagarta-rosada..."(do algodo)Estas duas grandes pragas da agricultura brasileira, j, em 1920, preocupavam e obrigavam a medidas modernas dentro da situao tropical.

O brasileiro ser desafiado a tropicalizar sua agricultura.

Para combater a broca-do-caf, a agricultura do modernismo trouxe da frica a "vespinha de Uganda", para controle biolgico, que era criada em todas as propriedades rurais do Brasil cafeeiro j, em 1920.

A adubao verde e o uso intenso de matria orgnica mantinha afastada ou sob tutela a lagarta rosada do algodo. As moscas do berne eram combatidas com as "Armadilhas Mac Lean".

Lembremos a lgica do manifesto futurista de Marinetti e o avano do amor as mquinas, temeridade e, etc.

Aps a Segunda Guerra Mundial, a discusso mundial que a luta de classes permitir a revoluo onde elas estiverem organizadas. Mas s os operrios estavam organizados e eles eram urbanos, o que ocorria em poucas naes industriais.

Contudo, o sucesso da revoluo chinesa em 1949 aponta para um novo futuro para a grande maioria de pases agrcolas. Os capitalistas imediatamente o pressentem e antecipam-se. Assim surgem as guerras da Coria, de libertao da Indochina, Indonsia e todos os movimentos africanos e latino-americanos.

A resposta uma "contra-revoluo capitalista" denominada de Revoluo Verde.

Ela vai ser implantada para impedir a (r)evoluo modernista, mas vai usar o modernismo como um sujeito e transformar o homem em objeto do mesmo, pois assim poucos dar-se-o conta da dominao, o que pode ser inibido com uma boa dose de autoritarismo e represso.

A contra-revoluo verde trouxe os agrotxicos como a nica alternativa broca-do-caf e lagarta rosada e berne, pois vinham de forma subsidiada e no interesse das empresas vendedoras de agrotxicos. Conhecemos a morte moderna, devastao moderna e contaminao moderna. E cada vez mais proliferaram broca-do-caf, lagartas rosadas e moscas e bernes.

A frase: "Muita sava e pouca sade os males do Brasil so", todos conhecemos, embora poucos compreendam o seu contedo modernista. Deixou-se de combater as causas (sujeito) e passou-se a tentar eliminar os efeitos (objetos).

A agricultura moderna importada tem suas plantaes em fileiras como exrcitos, alinhamentos exagerados obtidos por mquinas e esmero. A uniformidade que gera a eficincia ser o ponto alto. O emprego de energia e insumos ser intensificado ao extremo.

O culto morte das pragas ser visto como uma guerra santa e higinica. Este o prottipo da agricultura norte-americana. Nos trpicos e regies sub-tropicais, jamais teriam sustentabilidade por mais de dez anos. O "Testamento de Howard" uma denncia pblica.

A evoluo modernista tropical efervescente e educadora fenece entre ns. Brota a represso, impondo o uso inquestionvel contra o prvio conhecimento e domnio da tecnologia importada.

Assim sendo, ser diferente discutir um assunto nos pases livres ou autnomos e nos pases heteronmicos.

Por exemplo, questionar a qualidade dos alimentos na Europa e nos Estados Unidos diferente de faz-lo entre ns. Pois l, embora com os mesmos problemas, os alimentos so sujeitos de polticas pblicas, mas entre ns so meros objetos.

Alis, como est a qualidade dos nossos alimentos, com respeito contaminao?

Na questo dos agrotxicos, antibiticos e hormnios, chegamos muito tempo depois do deslumbramento do governo, seus tcnicos e populao em geral.

Era perodo de ditadura e foi rdua a batalha de sensibilizao e mobilizao dos agricultores e populao em geral para os perigos, riscos e impactos sanitrios, ambientais e econmicos dos mesmos. A f o instrumento de luta pela liberdade.

Em todas as civilizaes, mulheres e homens juntam-se, organizam-se e estruturam-se em funo do poder, assim constituem sociedades e aquilo que no compreendem e temem transformam em crenas.

Para entender a diferena entre o modernismo (r)evolucionrio e a contra-revoluo verde preciso repetir que o primeiro aplicava a educao e o segundo a represso.

A agricultura que era a geradora de riqueza e criadora de indstrias passou a ser enfraquecida pelo xodo rural e excluso dos sujeitos, agora transformados em objetos. Os municpios empobreceram e perderam a capacidade de gerar o crescimento autgeno e endgeno.

As empresas multinacionais trouxeram as pragas, como ferrugem do caf, bicudo do algodo, para agilizar o setor bilionrio de venda de agrotxicos. Agora, elas trazem os transgnicos.

Na questo dos transgnicos e organismos geneticamente modificados, no conseguimos chegar antes, mesmo traduzindo o livro "Muito Alm da Revoluo Verde", em 1988. Por qu?

A resposta simples e fcil: Embora exista uma academia, no h, nos pases perifricos, autonomia para se pensar o saber.

Este um produto enlatado e enviado das sedes centrais para seus prepostos na estrutura de proteo cincia, tecnologia e formao.

Agora nos damos conta de que nossos questionamentos no campo dos agrotxicos antibiticos e hormnios no tm espao dentro das universidades latino-americanas, onde somente houve uma academia de estudo com alabao aos mesmos, com os representantes da Biologia e Ecologia calados consentidos e inconseqentes.

O fato se repete agora com os OGMs, e a situao torna-se escandalosa, pois as informaes viajam na velocidade da eletricidade e se dispersam por toda parte.

Depois da traduo, acima referida, da obra de Henk Hobbelink, do livro "A Agricultura Ecolgica e a Mfia dos Agrotxicos no Brasil", escrevemos "Ladres de Natureza", mas foi com nossa "Cartilha dos Transgnicos" que coroamos a situao de no haver massa crtica nas elites do pensamento burocrtico, como diz Paul Feyerabend, quanto questo dos OGMs, embora, nos cartrios governamentais, ela fosse priorizada com recursos, etc.

Como respostas, publicamos, em espanhol, "Transgnicos, Transnacionales e un gene llamado Terminator" pelo acordo GIPAS - UITA e, em portugus, logo em seguida, "Transgnicos: O fim do Gnesis".

Estamos contentes, mas h ainda muito o que fazer, por isso queremos oferecer este livro, onde o enfoque, agora, similar ao europeu: a questo dos alimentos transgnicos. Voltamos ao pargrafo inicial.

Todo poder se exerce sobre seres humanos.

A questo dos alimentos, agora pode ser tratada entre ns, sem ser uma caricatura europia, pois ela a nova sndrome. Entretanto, a commodity transgnica boa para o agricultor estabelecido, pois o libera do domnio e dependncia da terra...

O vnculo de poder determinou compromisso para a obteno de alimentos, para estes, logo a terra passa a compor uma necessidade para o exerccio do mesmo, o que gera cobia e a necessidade de defend-la, pois ela, quando abundante e frtil, propcia a criao de riqueza, atravs do trabalho do homem (livre ou escravo).

Para o capital, todos os trs fatores acima so importantes, porm ele atua objetivamente sobre o homem e assim exerce o seu poder, atravs dos tempos, com marcante presena na evoluo da sociedade.

Uma anlise dessa evoluo nos mostra que: Nas sociedades primitivas, a ordem histrica predominante a ritual e se impe sobre o medo atravs da violncia mtica. Esta a forma mais bruta de controle e poder sobre o homem e sociedade.

Quando esta sociedade acumula saber e riqueza, a fora das crenas diminui, mas o capital refora seus poderes evoluindo para uma ordem histrica superior, a Ordem Imperial, onde crenas, mitos, dogmas so substitudos por leis escritas e costumes mundanos.

Quando uma sociedade evolui para outro patamar de mais saber e riqueza, a ordem histrica imperial, com sua represso torna-se inaplicvel, logo a nova ordem histrica a mercantil, e a violncia crematstica, e, tambm, as religies as acompanham.

Em todas as sociedades o saber que gera riquezas. Ele atua sobre os homens atravs do trabalho, sobre a terra atravs da produo e sobre o poder atravs da riqueza.

Todo e qualquer saber pode alterar as ordens histricas e a estrutura de poder, portanto o controle do saber o estimular ou conter ao sabor dos interesses do poder e isto sempre foi manipulado pelo capital e suas elites, que controlam o fluxo de comportamentos.

Saber e conhecimento so rigidamente controlados, para evitar seus roubos ou transferncias clandestinas, pois deles depende a manuteno da liberdade, riqueza e poder.

A histria nos mostra o valor do fogo e as possibilidades de transformao atravs dele. Assim, tivemos as idades dos metais do cobre fuso nuclear ou a fibra de ao-carbono.

O saber e conhecimento so alavancas que alteram a ordem e importncia dos trs fatores: TRABALHO, TERRA, CAPITAL atravs dos tempos e evoluo das sociedades.

Quando Galileu afirmou que a terra no era o centro do "universo" e, sim, o Sol, no interessava ao poder a verdade da descoberta, mas a possvel alterao da crena e a perda do poder sobre o saber (sacro subordinado). Ele ser punido exemplarmente, para evitar situaes mais crticas, no futuro. Agora na questo dos transgnicos a OMC e FMI que tomam tal deciso em nome da "cincia", embora eles sejam a "nova igreja".

A velocidade de acmulo de saber e riqueza gera a insatisfao social, econmica e religiosa, que propiciam mudanas em todos os sentidos: A reforma religiosa, os grandes descobrimentos, o renascimento cultural e outras situaes levam a um grande acmulo de riquezas.

Quando pressente perda de homens, terra e riqueza, a reao do capital denominada de contra reforma ou contra revoluo. Isto a Revoluo Verde.

Grandes transformaes passam a ocorrer entre os pases industriais: O trabalho passa a valer mais e isto um dos fatores que impulsionam a (r)evoluo industrial, que a sua vez gera mais riquezas e d um contedo social a terra e a riqueza gerada.

Os pases onde h a contra-revoluo verde ficam ultrapassados, pois as transnacionais passam a controlar o saber, conhecimento e criatividade. V-se o que aconteceu com o Brasil e Amrica hispnica.

No Brasil, no h uso social da terra, nem saber inerente a ela, apenas e unicamente o valor patrimonial, com um pequeno vis de ordem mercantil, em reas mais industriais.

No h valor no trabalho, tampouco saber autctone, logo os baixos salrios criam uma situao de violncia ritual atualizada ou com modernidade.

No h distribuio social de riqueza, nem saber nela, somente seu acmulo, principalmente, atravs do destino de dinheiro pblico dos impostos, pelo Estado Nacional, para uns poucos empresrios, latifundirios ou correligionrios polticos.

O saber, conhecimento e riqueza sendo as alavancas que alteram as ordens histricas e determinam a importncia de: TRABALHO, TERRA e CAPITAL, mostram o nvel de nossa defasagem poltica.

Quando outros pases procuraram suprir a carncia de terra (mesmos os dotados de grandes reas geogrficas), para a produo de bens e riquezas, com um alto agregado de saber e conhecimento, da nova matriz industrial substituindo a matriz fisiocrtica na agricultura, ns mantivemos a ignorncia patrimonial e devastao da natureza, amparada em preceito constitucional.

Assim fcil entendermos por que a modernizao da agricultura (mal denominada por alguns de Revoluo Verde) um salto fantstico entre os pases industriais e uma catstrofe entre ns, com todos os danos e males de nossa atualidade.

Agora, a ordem social voar sobre os campos e reas rurais, para organizar as massas de seus excludos e tentar restaurar a ordem anterior e o tempo perdido.

A Ordem Mercantil (violncia do dinheiro) sobre a pequena propriedade rural familiar nos pases perifricos, as impeliu para a inviabilizao econmica, ao sabor da tecnologia e polticas pblicas dos bancos internacionais, de favorecimento s empresas transnacionais, onde a concentrao das mesmas um mecanismo para baixar custos de produo e agregar o uso de tecnologias.

H o choque bilateral, de um lado o governo, latifundirios e transnacionais e do outro, os movimentos sociais, entre eles os propugnadores de uma Reforma Agrria pela terra patrimnio.

Desde o sucesso - pioneiro dos EUA - da transferncia de um gene de um organismo para outro, muitos pases comearam a se preparar para a evoluo tecnolgica. Dois pases so apontados pelos defensores da engenharia gentica como exemplos, por adotaram polticas pblicas sobre a nova e promissora tecnologia: Cuba e China.

Quanto ao primeiro, a revoluo cubana de 26 de julho de 1959 tornou-se, em final de 1960, pr-sovitica e os cubanos se viram, imediatamente, s voltas com ataques de doenas fngicas s suas monoculturas: de fumo, o "mofo azul"; e, na cana-de-acar, o "carvo", alm de epizootias animais como, a peste suna africana e epidemias humanas (hepatites), sem explicao aparente, a no ser a ao do vizinho desafeto. A resposta do governo cubano foi priorizar solues para proteo sade, principalmente humana e animal, pois a agrcola contaria com os perniciosos agrotxicos soviticos. Da o grande desenvolvimento cubano, perante o mundo, no campo da biotecnologia. Estas notcias muitas vezes ficam no limbo da espionagem, propaganda poltica, desinformao e contra-informao, sendo difcil de ser comprovado.

No caso chins, a situao semelhante, visto que o governo determina que toda e qualquer informao sobre organismos geneticamente modificados de Segurana de Estado.

Isto facilmente explicvel, pois a China assombrou os EUA e o mundo, quando estes perceberam que milhares de hectares de cultivo de fumo eram de plantas transgnicas. Os chineses, assim como toda a fumicultura do mundo, tm um problema srio com as viroses.

Em rpidas palavras, os vrus que atacam o fumo so constitudos de uma capa protica de proteo, no seu interior de RNA, que invade as clulas do fumo e impe a sua mensagem, levando destruio da planta.

Os chineses isolaram, atravs de plasmdios, o gene responsvel pela fabricao da capa de protena protetora do vrus e o introduziram nas clulas de plantas de fumos que foram clonadas. Estas plantas transgnicas (continham genes de vrus), ao serem infectadas pelos vrus, reconheciam a parte de seu corpo e a fagocitavam, o vrus sem proteo no podia infectar as plantas.

de se imaginar o desespero do governo norte-americano e dos demais pases industriais perante tal avano. Que fazer?

A nica e rpida forma de proteger o deus "Capital" impedir que o dogma "TECNOLOGIA" mudasse de lado, ainda no perodo de guerra fria, era dar "luz verde", para que as empresas ocidentais, principalmente as norte-americanas, recuperassem o terreno nesta corrida tecnolgica. As empresas aceitaram o desafio, mas pediram, simplesmente, que o Estado yankee bloqueasse a ao de seus cartrios OTA, FDA, EPA e outros. Todas elas empresas experientes na petroqumica, no queriam a "regulamentao" exaustiva, vultuosa e, principalmente, melindrosa dos ensaios bromatolgicos e ecotoxicolgicos. Assim nasceu a desregulamentao dos organismos geneticamente modificados em todo o mundo...

Aqui temos de fazer referncia a duas situaes:

No caso cubano, o organismo produtor da vacina, quando geneticamente modificado, est contido em recipientes de mxima segurana. A vacina ou produto farmacolgico usado no contm DNA recombinante. Apenas pode haver acidente no laboratrio, o que no deixa de ser um risco, porm pode ser relativamente bem calculado e preservado.

J, no caso chins, mais interessante, pois a capa do vrus foi introduzida em um p de fumo e, se houver uma mutao deste gene, os chineses necessitam de um estoque com a estrutura das novas capas e inseri-las continuamente. O que no garante segurana ambiental, mas afasta o risco de impacto econmico. Do ponto de vista de sade, h uma situao interessante, pois o fumo no um alimento, nem sequer ingerido. Ele fumado, se destri pelo calor antes de entrar no organismo e no h produto diferente em contato com o organismo humano. Tambm pode haver um acidente, no s em laboratrio.

Imediatamente, as empresas norte-americanas com a "luz verde" passaram a investir gigantescas quantidades de capital nas "commodities" (soja, milho, colza), at ento controladas por Chicago, agora controladas pela NASDAQ.

Nos poucos alimentos em que introduziram a tecnologia, o fizeram copiando, plagiando e guiando-se pelo pensamento chins, com a inverso e "bricolagem de genes" (non sense) em tomates e abboras (squash).

Esta prioridade "yankee" surpreendeu seus vizinhos e aliados. Como os europeus no so ingnuos ou bobos, logo perceberam que, se as "novas commodities transgnicas" chegassem ao mercado, haveria dois produtos os naturais e os transgnicos e puseram as "barbas de molho".

Como os europeus, unidos economicamente, estavam se preparando desde o incio dos anos oitenta, para criar dois tipos de agricultura: a ecolgica (orgnica ou sustentvel), j formatada em seus laboratrios sociais e institutos de pesquisas, em substituio agricultura industrial, pois o lucrativo negcio dos venenos estava retornando para os seus cidados, atravs das importaes de matrias primas.

A agricultura sustentvel teria um novo marco ou matriz tecnolgica (paradigma?) que substituiria os venenos e outros insumos por servios. Assim os pases produziriam sob a orientao deles que venderiam servios (certificaes, anlises, garantias de qualidade e saber, principalmente saber), sem a necessidade de produzir dixido de enxofre, gs carbnico ou gastar comprando energia para transformar matrias primas dos pases "em desenvolvimento" ou "no desenvolvidos". Contudo, foram surpreendidos pelos OGMs?

Com o instrumental da engenharia gentica, a resposta dos estrategistas yankees foi simples: Os EUA o grande produtor de matrias primas agrcolas. Havendo um produto natural e um produto transgnico, os EUA tm a condio de produzi-los (ambos), enquanto que a Unio Europia no tem esta condio para nenhum.

Compete, ento, aos EUA determinarem no s a produo, mas tambm o preo de cada um. Se a Unio Europia no tiver onde buscar a alternativa, ver-se- obrigada a pagar o preo que Chicago, ou melhor, a NASDAQ determinar, pelo alimento que desejar: transgnico ou natural. de se imaginar como ser caro este ltimo.

A situao era somente impor a soja e o milho para os pases sditos grandes produtores: Canad, Argentina, Brasil, frica do Sul, Tailndia entre outros que aceitassem incondicionalmente os transgnicos. Em menos de trs anos, os EUA teriam estes pases s com transgnicos. E ainda com a vantagem de que as pequenas produes locais de matrias-primas naturais seriam suficientemente caras para no competirem com os EUA, abrindo at um mercado para a elite local consumir produtos naturais norte-americanos.

Dizem que o diabo faz a panela, mas no faz a tampa. As empresas norte-americanas no esperavam que a arrogncia dos governos britnicos tropeasse na sndrome da vaca louca, e o temor fosse pano de fundo contra a nova tecnologia, nem que os sditos de um longnquo e remoto Rio Grande do Sul pudessem questionar com propriedade e autenticidade os transgnicos, fora do prisma europeu ou yankee.

Hoje h uma srie de matizes:

A certificao de produtos naturais, um negcio inicialmente europeu, tem uma srie de sditos, interessados em serem "terceirizados", de forma global; Agncias de governos federal e estadual, na esteira da propaganda, das sustentabilidades, esto criando este mecanismo (de certificao), sem uma avaliao de seu impacto sobre a agricultura, agricultor e economia. Isto ir encarecer o produto na mesa do trabalhador brasileiro, pois haver uma corrida para produzir o de melhor qualidade, que tem melhor preo, mas tem os custos de certificao embutido, o que aumentar a necessidade de fiscalizao, pois o nvel de corrupo neste pas institucional, o que tambm diminui as margens do Estado, Governo e Agricultor. E assim por diante...

Nesta conjuntura, os europeus, necessitam, mortalmente, serem aliados dos pases "em desenvolvimento", para no ter o estmago sob as ordens de Tio Sam.

Contudo, entre ns, a mediocridade tanta que vemos os governos e pecuaristas com olhos gordos no mercado e se esquecem, de que, em uma regio onde existe porcos selvagens, cervos selvagens e muitos outros animais portadores do vrus da febre aftosa, no se pode declarar "zona livre de febre aftosa sem vacinao", nem por brincadeira.

Por outro lado, onde as empresas no mercado querem vender vacinas e no h eficincia governamental, para control-las impossvel se adotar medidas sanitrias. E, ainda mais, as crises internacionais de preo da carne necessitam de sadas estratgicas. A corda sempre arrebenta no lado mais fraco.

Da mesma forma no se pode declarar "zona livre de transgnicos" sem fronteiras vigiadas, s com a retrica de polticos e ativistas caricatos, de pouca memria sobre a introduo da ferrugem do caf, bicudo do algodo e do extermnio dos sunos, com a falsa entrada da peste suna africana.

Mas o contexto que h, neste momento, uma nova matriz tecnolgica, na agricultura, onde o trabalho dos pases centrais ir competir internacionalmente e conta com a engenharia gentica, como o seu instrumental. Os transgnicos contam com esta estrutura, que parece conjuntura, para situar-se e impor-se.

O capital, concentrado e ultrapassando fronteiras ideolgicas disputado loucamente, dentro de uma globalizao de mercados. As transnacionais fusionam-se para suprir a ausncia do Estado e garantir ao cidado o direito de consumir, embora de acordo com o seu poder crematstico. Assim, se elimina o poder supremo e a opresso do Estado Nacional, que passa a ser um representante cultural, como a figura decorativa da Rainha da Inglaterra, contudo exacerba-se a servido.

Nestas condies, trs perguntas preliminares: Para que Reforma Agrria se ela antiestrutural? Por que Agroecologia, se a sustentabilidade estrutural? Como manter a Pequena Propriedade Rural se ela inadequada escala do mercado e antagnica OMC e FMI?

Tristemente, estas so as sndromes, que nos afetam.

Com este registro, no queremos que a incompetncia e falta de tica sejam consideradas doenas no futuro.

Porm, continuamos construindo as respostas, certos da vitria.

Sebastio Pinheiro, outono austral, 2.001.

CAPTULO I

DO MODERNISMO AO SUSTENTVEL, PASSANDO PELO DESENVOLVIMENTO

No incio, tudo era natureza, e o homem fazia parte indivisvel dela. No grfico-bandeira, abaixo, e seguintes deve-se fazer a leitura da esquerda para a direita como se fossem perodos de anos.

Ento ocorreu uma grande transformao a agricultura.

A agricultura marca a primeira revoluo da humanidade, que deixou de ser andarilha (nmade) e tornou-se sedentria. Para tal, ela necessitava de espao geogrfico onde predominassem condies ambientais peridicas ou cclicas (climticas) dentro de parmetros e certa estabilidade.

O espao agrcola ocupou o espao da natureza virgem, lenta e paulatinamente atravs do trabalho. A remoo da vegetao para o plantio e/ou atrao de animais, feito manualmente e posteriormente com o uso de pequenos utenslios, teve um salto incalculvel com o descobrimento do fogo, um instrumento impactante, transformador e criador de uma era, a Era da Pirotecnia.

A Humanidade com sua percepo, memria e transmisso de conhecimentos aos mais novos acumulou experincias e um acervo, criando uma agricultura e imitando a natureza, mas sempre, alterando seus ciclos atravs dos conhecimentos de que dispunha (tecnologia).

Assim, tudo que praticava era uma imitao exagerada da natureza. Podemos dizer que esta era uma agricultura biolgica e isto perdurou por mais de dez mil anos e sua fantstica inovao foi levar artificialmente a gua aos cultivos, suprindo uma deficincia impeditiva aos mesmos.

Antes de continuar nossa anlise sobre a agricultura, faamos uma anlise da natureza, neste momento.

Quando dos grandes descobrimentos, o homem europeu chega s novas latitudes na Amrica, frica e sia, dentro de uma nova realidade econmica, busca de riquezas. A natureza in situ do nativo passar a ter um valor para o recm-chegado, pelo valor alimentcio, farmacolgico, esttico, pecunirio, abundncia da nova flora, fauna e minrios.

Assim, as economias locais se estabelecero sobre uma base de natureza econmica (utilitria) ex situ. As expedies de conquista, no Brasil (portugueses, entradas, bandeiras, jesutas, Hans Staden, Von Martius, Humboldt, Darwin e as atuais) foram e so meios para transformar a natureza em recurso pecunirio utilitrio sem maior compromisso ou cuidado, mantendo a realidade filosfica: "a natureza invarivel e so os meios de produo" . Tanto na natureza quanto na agricultura, viveremos neste labirinto.

O grande salto na sociedade ser dado com a utilizao de energia produzida para a movimentao de mquinas, substituindo a fora animal. Isto causar um crescente impacto, tambm na agricultura. o surgimento da Sociedade Industrial e agricultura homnima. A liberao de mo-de-obra do campo para as cidades ser estimulada.

O agricultor, ao dominar a produo de energia, passa com ela a controlar de forma mais efetiva os produtos de que necessita para suprir a necessidade de sua agricultura.

O uso de energia externa possibilitar de forma crescente que, a cada dia, o homem se liberte mais e mais dos ciclos e limitaes da Natureza, mas pagar um preo, pois cada vez mais a Vida artificializada.

A industrializao da agricultura, principalmente, com a qumica de sntese orgnica dar um grande salto econmico, primeiro substituindo produtos antes da natureza, agora, agrcolas que sero substitudos pelos orgnicos-sintticos. Posteriormente, uma cincia ser desenvolvida, determinando que os organismos vivos (microorganismos, vegetais e animais) sejam selecionados industrialmente para responderem a estas condies, afastando ainda mais, embora de forma insustentvel, o agricultor do equilbrio da natureza.

Este tipo de agricultura ter propaganda e incentivo poltico e procurar sobrepor-se s formas remanescentes. Para tal, ela ser chamada de agricultura moderna, contra-restando a outra que ser chamada depreciativamente de agricultura de subsistncia.

A agricultura moderna entre ns, a cada dia, ser mais uma atividade econmica, controlada a distncia e menos uma ao natural ou poltica in situ. As grandes empresas internacionais, com filiais em muitos pases (multinacionais) a transformaro em atividade econmica subordinada ex situ, sem se importarem com os impactos. Logo, os suportes biolgicos (natureza, solo, gua) e os culturais sentiro o peso do uso da energia, obrigando o incremento desta para a obteno de resultados similares, acelerando a crise. a insustentabilidade!

Esta agricultura em crise passar a ser questionada, contestada, abrindo espao para uma nova leitura do conhecimento anterior com proposies, em vrios graus, de uma nova relao entre o "moderno" e o "biolgico", em acordo com o nvel scio-cultural-econmico.

Esta proposta ser formatada e cuidadosamente analisada em laboratrios sociais nos pases formadores de tecnologia e cincia. Nas periferias, ser ridicularizada e contestada.

Com o final da Guerra Fria, em 1989, a agricultura consolidada ser somente atividade econmica globalizada e estar presa s malhas de agentes financeiros, indstria, servios das empresas, que no sero mais multinacionais e, sim, transnacionais, e suas modificaes ocorrero ao sabor dos interesses dessas. Nela, o agricultor ex situ apenas objeto nas polticas pblicas, principalmente nos pases subordinados.

Nesta situao, passa a ser necessrio racionalizar-se o uso de energia para garantir os suportes vitais em colapso, entretanto, uma mudana tecnolgica incubada nos laboratrios de cincia dos pases centrais estar pronto, para o mercado. a agricultura em nova matriz, a natureza ex situ, calcada na energia do gene.

As transnacionais se fusionaro para ter capacidade competitiva neste mercado seleto de tara-investidores.

As giga-transnacionais da agroqumica com a nova tecnologia constituiro o "complexo agro-alimentar-industrial-financeiro", que cumpriro todas as etapas ex situ, ficando para o agricultor apenas os riscos das atividades in situ, que no tm quase nenhum valor. Esta ser a nova forma de contrao social na agricultura, uma forma de servido, franqueamento ou terceirizao, onde os ndices e cdigos esto sob o controle das empresas.

o "taylorismo" no sistema e o "fordismo" na produo. Como resultado, no futuro, o agricultor receber bnus do seu complexo contratante e conforme sua produtividade, ter direito de adquirir um bem ou servio, por exemplo: passar alguns dias de frias na rede hoteleira do complexo, ao qual est vinculado, onde o acesso estar indicado pelo seu nvel de produtividade ou eficincia. Por exemplo, um plantador de soja, criador de frangos ou plantador de fumo para o sistema que tenha rendimentos de eficincia baixa no poder freqentar um balnerio destinado aos que tem mdia produtividade, muito menos aos que tm alta. Mas, ascender se aumentar seus ndices.

O mesmo ocorrer para os hospitais, escolas, universidades e outros produtos do complexo...

Nele, o agricultor ps-moderno, sempre, ser levado a buscar a sua sustentabilidade in situ, ou seja, no do sistema, e a natureza ser cada vez mais ex situ. Contudo, aqueles com altssima eficincia podero ter a acessibilidade natureza, pagando o valor determinado e ela estar para ele in situ.

de se comparar os impactos da "Revoluo Verde", em sua segunda fase agroqumica, e imaginar-se ou projetar-se os resultados de sua fase biotecnolgica na terceira fase.

Por isso cremos que a estrutura capaz de evitar estes impactos e enfrentar o poder do complexo agroindustrial-alimentar-financeiro (OMC, FMI, OCDE, Banco Mundial) a pequena propriedade rural familiar, existente j h muitos e muitos anos e conhecida em todos os continentes e regies.

Ela muito anterior, mas foi fortalecida com o Estado Nacional, aps os diferentes perodos feudais ou coloniais dos povos.

A "pequena propriedade rural familiar" mais que uma unidade produtiva e j se tornou um fetiche, um sonho.

Mais que um sonho de todo e qualquer mortal, ela a nostalgia idlica, lembrana dos avs ou de uma infncia de felicidade, liberdade e contato com a natureza in situ.

Como tal, ela identidade cultural comunitria e embrio de organizao industrial.

Pode-se dizer que, sem a pequena propriedade rural familiar, no haveria o "complexo agro-alimentar industrial financeiro", que agora a ameaa de aniquilamento. Por isso importante resgatar, quando ela deixou de estar in situ e passou a ex situ. Pois a anlise de seus valores, significados, smbolos, muitas vezes, no compreensveis, em uma anlise reducionista ou academicista, permitir construir a trincheira para a luta contra o "complexo agro-alimentar-financeiro-transnacional".

O conceito de pequena propriedade rural, dos nossos sonhos, muito parecido ao de liberdade, que todos sabemos o que , mas ningum sabe definir. Serve de bandeira utpica para os militantes polticos e nvoa de devaneio para as quimeras profissionais dos cientistas "antropo-economistas" e "agro-scio-economistas".

Mas como trazer das alturas est pequena propriedade rural e entend-la. Niels Bohr, o fsico nuclear disse: " paradoxal, que, para entender totalmente a vida de um co, preciso mat-lo."

Entre ns, ela j est moribunda, mas no temos esta pretenso, ento vamos usar de uma lembrana para situar o valor que a identifica e elevar a auto-estima dos que esto nesta trincheira, chamada pequena propriedade rural familiar.

A palavra "lavagem" para os jovens filhos da agricultura moderna no tem qualquer significado. Lavagem, contudo, uma palavra mgica para a compreenso de nossa abordagem.

A lavagem so os restos de comida, casca de alimentos, caldas do cozimento destes alimentos, que sempre eram juntadas nas cozinhas para serem destinadas aos porcos. Lavagem, com melancia de porco, abbora, batata-doce era o principal alimento dos porcos na agricultura, at a agricultura moderna. A lavagem, muitas vezes, era juntada por todos na comunidade tanto rural como urbana e distribuda, conforme os vnculos de amizade. Na maioria das vezes, eram as crianas que recolhiam a lavagem.

Aqueles porquinhos criados com a lavagem tinham um dono proprietrio e vrios "donos sociais". Quando chegava o sacrifcio, havia uma festa, confraternizao at mesmo mutiro, pois haveria tambm uma partilha, com pedaos distribudos entre os que contriburam com sua lavagem-alimentao.

Os norte-americanos, com seus silos repletos de gros, queriam dar um destino aos mesmos. Procuraram um consultor que lhes indicou o caminho: prender os animais e aves, at ento soltos, e aliment-los intensiva e exclusivamente com gros em forma de rao. Assim surgiu a suinocultura norte-americana, a avicultura norte-americana, os confinamentos de gado norte-americanos.

Para a Amrica do Norte, isto significou mais que uma sada para os estoques, significou uma nova poltica mundial na produo de alimentos. Para ns, pela no avaliao e projeo de impacto, a perda de uma srie de valores e seus transtornos.

Em algumas comunidades, era muito comum, em todo o Brasil, o criador de "porcos meeiro". Ele recebia do "capitalista" um nmero de bcoros para criar. Recolhia a lavagem entre os vizinhos e na, hora do abate, ele entregava a banda limpa (meia carcaa sem as vsceras) e dividia com os participes comunitrios os pedaos e os produtos feitos com as vsceras (morcela, chourio, orelha, rabo, lingia, torresmo, banha, toucinho, queijo-de-porco e uma srie de produtos, que seria at difcil list-los todos.

No uma questo de nostalgia, mas, de economia, resgatar o valor do trabalho e da auto-organizao de uma comunidade. Hoje, quando matamos um porco, ele tambm fatiado, mas quem fica com os grandes pedaos so as fbricas de rao, produtos veterinrios, energia tarifada, frigorficos, prestadores de servios, etc., e isto no a "banda limpa" muito mais, quase o porco inteiro. S d lucro o frigorfico que abate acima de 120 porcos dia... S tem retorno, quem produz acima de 25.000 frangos....

Qual a diferena, para o PIB, que duzentas mil pessoas criem um porco cada ou um criador crie cem mil porcos? Incrivelmente, para a economia perifrica, h diferena, e criador dos cem mil sunos mais importante. No se leva em conta os meios intermedirios e muito menos o fim supremo da Sociedade, apenas o mercado!

Mas a questo de fundo tica, cultural e no econmica: A lavagem era importante do ponto de vista de sade, pois diminua os resduos orgnicos, que, no lixo, provocavam a proliferao de vetores de doenas e pestes.

Entretanto, tambm a questo de fundo no esta. Para haver lavagem era necessrio que houvesse fartura. Esta era a caracterstica principal da mesa da pequena propriedade rural familiar. Seria possvel hoje ajuntarmos lavagem, melancias de porco, abboras no meio do milharal? Evidentemente que no!

Quando se fala em economia, citam-se valores de PIB, PNB, renda per capita, etc., mas no h critrios ou parmetros econmicos para indicar a "felicidade", a "fartura", podemos at tripudiar e dizer que ambas atrapalham o processo econmico.

Agora creio que se pode entender que comer um doce de abbora ou de melancia de porco feito pela av, me, esposa ou ns mesmos, no faz crescer o PIB, se for feito em fogo de lenha, adoado com melao, pois no gira a economia do dinheiro.

Aps este intrito, cremos que se pode tecer comentrios sobre a pequena propriedade familiar sem nostalgia ou motivao vazia de argumentos.

Agora, podemos afirmar: a pequena propriedade rural , tambm, um ser vivo, no vamos esquartej-la, lembrando o fsico Niels Bohr.

Podemos tomar o exemplo do Japo aps o xogunato e a reforma agrria da Dinastia Meiji, ou podemos tomar o exemplo da Inglaterra e Autria-Hungria ou Alemanha e toda a Unio Europia. Pases que se industrializam sem perder sua identidade, com a agricultura familiar, pois ela est na base do desenvolvimento scio-econmico. O segredo deles que, onde os preos agrcolas so altos, os salrios industriais so muito altos.

Podemos ir Costa Leste dos EUA, Nova Inglaterra e veremos as mesmas ansiedades, sonhos e lutas, que no so muito diferentes da Costa Oeste, mais recente dos mesmos EUA. Ela est inclume

Todos estes Estados Nacionais basearam sua constituio e fortalecimento na capacidade de produo e abastecimento de matrias-primas em quantidades e qualidade para a Indstria transformar em produtos. Esta liberdade e igualdade foi a grande alavanca usada para a transformao da sociedade industrial, que no teria lugar no feudalismo e colonialismo ultrapassados.

Somente onde no havia estrutura do Estado Nacional forte, como nas colnias inglesas (ndia, sia, frica) francesas, portuguesas, espanholas e por conseguinte, no havia clulas de pequena propriedade familiar e que prosperaram as grandes monoculturas, desde mo-de-obra escrava ou semi-escrava que perduram em nossos dias.

A destruio dos "sulistas" nos Estados Unidos da Amrica se d na luta entre a pequena propriedade rural da Nova Inglaterra e as grandes plantaes do Sul e Centro Oeste de aspecto medievo-feudal. Mas a vitria yankee garantida pela pequena propriedade rural familiar. Isto pode ser lido em "A Terceira Onda" .

A industrializao na Europa e depois em todo o mundo teve seu nascedouro e sustentculo na agricultura. a produo de PEQUENA PROPRIEDADE RURAL FAMILIAR que garante este funcionamento.

A Alemanha, o Japo e a Itlia, aps o fim da Segunda Guerra Mundial, conseguem se reorganizar em funo da estrutura de pequena propriedade que no foi abalada pela conflito e destruio quase total das cidades e infra-estrutura.

melhor ficarmos nas alturas e l, embora seja pensada de modos diferentes pelos individualistas ou coletivistas ela uma s e representa a segurana do lar, a felicidade da famlia, a riqueza no trabalho e tranqilidade para as anteriores e geraes futuras.

Aqui cabe a primeira pergunta: Quando a propriedade passou a ser pequena?

No sejamos ingnuos em acreditar que os anos setenta foram maravilhosos, pois foi ali que o capitalismo fordista, que imps a ordem histrica mercantil e sua violncia repressora, reciclou-se e incorporou os valores espirituais de natureza, rebeldia, paz, tica, etc., para transform-los em "mais valia" aps o advento do Ps-Natural.

Lembremos de Schumacher, autor do livro "Small is beatyfull", muito bem traduzido para: "O negcio ser pequeno", mas fiquemos com o sentido do original. Sim, a pequena propriedade rural familiar passou a ser bonita a.

Talvez por isso ela tenha sido induzida a perder a identidade, como unidade econmica autgena, pois, na periferia, a violncia "fordista" impunha "o negcio ser moderno".

As emateres e suas congneres de pesquisas fizeram isso e ainda no apresentaram sua autocrtica ou "mea culpa".

Fa-lo-o se responderem para o "complexo agro-industrial-alimentar-financeiro": "a biodiversidade agrcola dispersa na mo de pequenos agricultores familiares um risco inaceitvel?"

Se avaliarmos a estrutura agrria de pequena propriedade rural familiar no Brasil, vemos que ela a criadora de riqueza e principal formadora da industrializao autgena. Por exemplo, quantas cervejarias existiam em Santa Rosa ou Santa Cruz do Sul no incio deste sculo? Dezenas!

Por que, no estado de Santa Catarina, foi criada uma empresa area (Sadia) para transportar produtos sunos, em uma cidade do interior, que posteriormente se transformou na Transbrasil?

Qual a origem do parque industrial de Bento Gonalves e Caxias do Sul ou So Leopoldo e Novo Hamburgo?

A resposta sempre a pequena propriedade rural familiar. E sabemos que tambm na Europa muitos bancos surgiram no meio destas comunidades de agricultores como os maiores bancos dos Pases Baixos.

Hoje, em poca de neoliberalismo, em mercado globalizado e economia de grande escala, nos deparamos com situaes muito estranhas: A criao de frangos e sunos desloca-se do sul, local tradicional para o Brasil Central, sob a alegao de menores custos de matrias primas, insumos e energia, alm das isenes de tributos e impostos.

Tudo isto pode ser verdade, mas o principal argumento que a escala de pequena propriedade familiar, hoje, o principal entrave para a consolidao da integrao do complexo agro-industrial-alimentar-financeiro.

Quando um agricultor do Brasil Central pede um financiamento para integrar-se em um complexo de sunos ou frangos, ele, atravs da informatizao e robtica, pode dispensar grande contigente de mo-de-obra e ter uma escala fantstica, o que no poderia acontecer na pequena propriedade rural familiar.

Por outro lado, quando pequenos agricultores se integram, fica muito clara esta forma de terceirizao, com o aproveitamento do seu trabalho familiar, usurpando os impostos, tributos previdencirios, salrios, frias, descanso remunerado, impacto ambiental, etc. Isto pode trazer uma conscientizao e bandeira de luta contra os interesses do complexo agro-industrial-alimentar-financeiro, o que subversivo ao sistema.

Da a grande proposta para que a pequena propriedade se viabilize rapidamente para a produo de agricultura e criao ecolgica, pois a escala econmica vivel somente dentro dos parmetros da "sustentabilidade" e "comrcio justo".

Com isto fcil entender-se o porqu da imposio da certificao dos produtos ecolgicos, pois o servio de certificao um sobrepreo que inviabiliza indiretamente a pequena propriedade, apenas dentro de uma linha especial do conglomerado agro-alimentar-industrial-financeiro.

Esta a outra faceta maquiavlica, pois os ingnuos no tm uma viso desta dimenso, embora ela traga a ideologia embutida de destruio da estrutura agrria da pequena propriedade rural familiar.

O acesso ou permanncia na terra para sua famlia liberdade, independncia, fartura, felicidade. Isto uma questo econmica ou poltico-estratgica?

a unio em torno de novos valores que estimulam o progresso e a industrializao endgena ou a relao de preos internacionais?

Hoje, o nosso cenrio confuso: neoliberalismo, FMI, OMC, Syngenta, Monsanto, transgnicos, MST, MMTR, MPA, privatizao da gua, reforma agrria, globalizao, privatizao das florestas, etc.

Tudo isto mostra um choque, um antagonismo, pois o que para uns sujeito, para os outros objeto. nesta situao que est a pequena propriedade rural familiar.

Quando vemos as universidades, as emateres, as congneres de pesquisa dizendo que agora a hora da sustentabilidade, agroecologia ou certificao, sentimos a sensao de j ter visto este filme antes e saber qual o trgico final. Ainda mais sabendo que impossvel fazer um po diferente com a mesma farinha, ingredientes, forno e forma que fizeram o po ruim!

No seria oportuno perguntar cartesianamente: Quem so os sujeitos e os objetos nelas?

Isto seria o bsico, mas no o tudo, fora do contexto do complexo agroindustrial-alimentar-financeiro, pois h uma proposta de "nova aliana" e "tica da vida".

Temos a obrigao e pretenso de uma resposta.

CAPTULO II

A SADE AMBIENTAL E A COERNCIA CREMATSTICA

Sade ambiental um tema interessante, pois para haver sade necessrio um corpo, j que impossvel sade sem o corpo correspondente. Sobre sade do meio ambiente, podemos tomar a natureza como seu corpo e o "equilbrio" como o estado de higidez, contudo este estado no ordem, nem esttico e tampouco equilibrado, ao contrrio, desordenado e dinamizado.

Sade estado que todo corpo busca incansavelmente, temporal e no espao pode ser qualificado como uma utopia a ser alcanada.

Entretanto, o contexto de sade ambiental no tem qualquer significado separado do homem, seja em um local, em equilbrio ou fora dele. A sade ambiental evolui desde desconhecida, ignorada, respeitada, tratada at chegar ao ponto atual de ser visto como uma "escuta potica".

O homem criou, em sua evoluo social, alguns mecanismos interessantes, pois s considera algo valioso, quando escasseia.

Sabemos que a economia a cincia cujo postulado mximo diz que os produtos no mercado (mercadorias) valem mais quando escasseiam (e h procura), logo a escassez regula tudo pelos preos, valores e determina interesses. A natureza est no mercado.

Podemos entender que a sade da natureza ter valor quando escassear. Segundo Oscar Carpintero Redondo, isso crematstico, no econmico.

Este autor espanhol recorreu a Aristteles, para explicar o que crematstico. - O filsofo grego diferencia a economia da crematstica, sendo a primeira a arte de administrar a casa e a Segunda, de adquirir bens, de mero aspecto pecunirio, porm intimamente ligada primeira. Uma est ligada a outra contudo, so diferentes.

No difcil entender o oikos domstico aristotlico como algo que pode razoavelmente estender ao entorno ou meio ambiente. J a crematstica, segundo o pensador, refere-se a aquisio de bens atravs de dinheiro, o que muito diferente. Nossa sociedade atual est tentando, atravs do dinheiro, resolver os problemas ambientais e isto um erro grosseiro.

Ento, quando a natureza comea a escassear, ou melhor, quando o homem se conscientiza de sua finitude, elabora no uma equao econmica, como deveria ser, mas apenas uma equao crematstica, tentando atravs do valor pecunirio remediar a situao, repito um erro fatal.

A sade ambiental ganha status e valor pecunirio, o que uma contradio econmica, pois a natureza no pode perder fora/energia. Da mesma forma como um corpo para ter sade necessita de alimento suficiente.

Alis todos os seres vivos, incluindo os humanos, necessitam de fora/energia, que retirada da natureza na forma de alimentos (animais, vegetais, microorganismos, etc.) ou os elementos: ar, gua, minerais, Sol.

Contudo, os alimentos para humanos no esto disponveis na natureza, so regulados pelo mercado, conforme a escassez/abundncia ditada pela crematstica, mal chamada de economia. Em alguns pases, a crematstica est muito prxima natureza, assim o homem pode se alimentar quase da mesma forma que o macaco. Em outros, h uma crematstica quase totalmente industrial, e o alimento natural muito raro, devido escassez, o que bastante coerente.

Em uma sociedade, a riqueza e sade humana dependem do aproveitamento de sua natureza, que perde equilbrio (sade) atravs da transformao dela pelo trabalho. Contudo, hoje, quanto mais rica uma sociedade mais e mais sade tem a sua natureza. O que seria uma contradio, mas devemos entender, que cada vez menos a natureza explorada para constituir o PIB deste pas. No Japo e na Alemanha, h florestas preservadas e no as h na Indonsia ou Gabo que so pases que as deveriam ter. Por qu?

Para mantermos a coerncia, necessrio dizer: uma sociedade pobre, com natureza devastada e com o corpo poludo no tem autonomia, pois no sujeito, apenas um objeto. Ao no ter autonomia, para transform-la em trabalho, riqueza ou manter o seu "equilbrio". Est dependente do centro de decises de outros.

Este o problema da realidade da natureza utilitria e disponvel para os corpos centrais de sociedades hegemnicas. Observem a histria e os exemplos saltam vista.

Quando o casal Meadows escreveu o relatrio "A impossibilidade de um crescimento infinito em um planeta finito", para o Clube de Roma, nos anos 60, uma grande mudana se delineou. Comeou, oficialmente, a escassez de natureza e o melindre de sua sade, antes no. Por qu?

Relembremos: Escassez o postulado mximo da economia.

No sejamos ingnuos em pensar que as questes de sade ambiental so novas ou recentes.

Lembremos Hesodo em "Trabalhos e Dias", escrito sete sculos antes de Cristo:

"A humanidade passaria por cinco idades: a do ouro, como um paraso sem trabalho nem morte; a da prata, em que os homens eram como umas crianas sem inteligncia, reduzidos finalmente a deuses subterrneos; a do bronze, com outros homens bem diferentes, violentos e robustos, mas injustos, pelo que so aniquilados; a quarta idade, a dos semideuses, que chegam a Tria em naves e pervivem nas ilhas Bem-aventuradas e, por fim, nossa idade, a do ferro, idade dos trabalhos e misrias, mistura de bens e de males, porm na que se pode fazer valer a justia e o trabalho, assentando-se assim as razes de uma poca esforada por alcanar a sociedade democrtica e legal, com leis estabelecidas pela razo, que tambm escruta a ordenao do mundo fsico (a natureza)".

Os gregos, j naquela poca, destruram suas florestas, perderam seu solo e sua cultura foi subjugada; da mesma forma que o Frtil Crescente e muitas outras naturezas tornadas enfermas pela ao do homem.

Em nosso tempo tivemos a Conferncia de Estocolmo, em junho de 1972, e, aps ela iniciou-se a ordem internacional de tratar a sade da natureza como um problema crematstico, ou seja, pecunirio. Naquele momento, a doena ambiental era denominada de poluio industrial e cingia-se a meia dzia de pases industriais hegemnicos, onde a inverso e gasto de energia eram extremamente absurdos.

A preocupao, em Estocolmo, no era fraterna, nem tica, era uma preocupao crematstica, mas no sentido econmico.

Entre ns, a partir de 72, comearam os governos industriais hegemnicos a impor a ordem internacional e a usar a crematstica como se fosse ordem econmica. Esta grande confuso chega aos pases perifricos primeiro como descaso, em funo da no escassez de natureza e necessidade de usar o patrimnio natural como meio para a transformao criao de riqueza para a elite e os pases centrais.

Mais tarde, com a imposio do consumo de tecnologias antipoluentes dos pases centrais, financiadas pelo Banco Mundial e, por fim, como um negcio mundial, atravs de escassez globalizada e comrcio dos bens da natureza via FMI e OMC, com maior avidez. o caso presente da privatizao da gua.

Nos idos de 72, alemes, japoneses, americanos e outros comeavam a se preocupar com as emisses gs carbnico e enxofre de suas fbricas qumicas (agrotxicos, adubos, petroqumica, siderurgia, etc.), contudo impuseram, por meio de corrupo, um comrcio irreal de grandes quantidades de agrotxicos, adubos solveis e plsticos, para os pases em desenvolvimento, sem importarem-se com as mortes e intoxicaes, com as quais tambm lucravam.

estranho que no se aborde o tema energia ou agrotxicos na Conferncia de Estocolmo. Compreensvel, pois j estava a pleno vapor a "Revoluo Verde". Contudo, em 1973, tivemos a Crise do Petrleo e a constituio da OPEP, que paralisou o mundo industrial.

Quando comeamos a lutar, para que os venenos proibidos em seus pases de origem fossem proibidos entre ns, tivemos de lutar contra o nosso governo, mas o governo alemo mudou rapidamente sua legislao e os produtos proibidos l deixaram de ser registrados, sendo produzidos sem registro para exportao. Quantos morreram devido a isto. Mas eles lucram.

bom ter isso em mente para entender o Relatrio Nosso Futuro Comum, da norueguesa Gro Bruntland e toda sua benemerncia. Foi assim que os alemes e outros continuaram vendendo fungicidas mercuriais para os inescrupulosos governantes nativos continuarem a registr-los, comercializ-los e us-los em tomates.

Memria muito importante, pois na sade ambiental h o componente denominado paisagem.

Os testes com os artefatos nucleares, bombas atmicas, na atmosfera, que contaminavam pelo "fallout" as guas, solos, ar, cultivos e animais e s foram levadas para as exploses subterrneas porque as anlises de amostras de ar e alimentos permitiam analisar e saber os tipos de avanos tecnolgicos nas bombas dos inimigos. Uma razo sem qualquer valor sanitrio humano ou ambiental. No percamos a dimenso da guerra e da paz.

O relatrio Rasmussen dizia que um acidente nuclear com derretimento do reator somente poderia ocorrer a cada um bilho de anos, mas em menos de cinqenta anos tivemos vrias situaes, inclusive em Embalse na Argentina. Mas, Three Miles Island, onde faltaram apenas 30 minutos para que tal ocorresse. Os agricultores ficaram revoltados com as notcias sobre a radiatividade, pois no podiam vender seus queijos contaminados por Iodo radiativo (I 127).

Depois do acidente em Chernobyl passou a ser comum na Alemanha a venda de um papel especial para a anlise de cogumelos apanhados nos bosques germnicos, para constatar se estavam ou no contaminados pela radioatividade, porm os mesmos no eram vendidos para uso em batatinhas, cenouras, alfaces, com igual nvel de contaminao. A sade ambiental do solo alemo, onde cresciam as hortalias da crematstica, no podiam ser comparada sade dos cogumelos da economia, da o tratamento diferenciado, pois as hortalias eram to saudveis quanto o possvel. O homem est na natureza antropocentricamente e submetido ao poder.

ramos obrigados a comprar leite em p e carne de porco contaminado por radiatividade da Unio Europia, com nosso governo como cmplice. Logo depois, conhecemos a caricatura de Goinia e o Csio.

Durante este perodo agravou-se a enfermidade da natureza mundial, j que um modelo internacional de desenvolvimento era imposto pelo Banco Mundial. Isto fez com que a devastao atingisse nveis absurdos em todas as latitudes, principalmente nos pases agrcolas, dependentes da sade da natureza.

Nas universidade e faculdades por toda parte, ensinava-se que o solo era inerte e que necessitava de macias quantidades de sais qumicos de alta solubilidade e patenteados, para produzir, e os agrotxicos eram santos, milagrosos, pois iam acabar com a Fome do Mundo. Assim foi-se matando lentamente os solos, a biodiversidade, os homens em todos os continentes e novas doenas surgindo.

A contaminao invisvel e insensvel de guas superficiais, subterrneas e oceanos levou ao desespero e caos. No pas, utilizam-se anualmente 80 milhes de litros de gliphosate, grande poluidor das guas. Com a soja RR, se ir usar muito mais.

O buraco na camada de Oznio passou a amedrontar, embora seus causadores impusessem, aps a Conferncia de Montreal, que os pases sem autonomia aumentassem o consumo de Brometo de Metila e CFC, para alcanar o valor mximo possvel, para ento iniciar o controle decrescente de suas cotas. Pura viso crematstica, quando ela deveria ser ao econmica na acepo aristotlica.

Agora, h uma mudana fantstica: a matriz tecnolgica no mais a pirotecnia do petrleo, carvo mineral ou similares. Ela a biotecnologia e seu instrumental de engenharia gentica. Quais sero os riscos para o corpo cansado e doente da natureza, levando em conta que ela trabalha com genes resistentes a antibiticos e partes de vrus que podem se recombinar na natureza, criando quimeras e aberraes de alto risco. A questo para as empresas crematstica no econmica, mas deveria ser econmica para a sade ambiental.

Novamente uma conferncia internacional das Naes Unidas chamada: A Rio 92 e sua paralela a Eco 92, pois o cidado necessita ser ouvido, participar, preferencialmente de forma virtual e aparente, nas periferias do mundo.

A palavra de ordem, agora, no mais poluio, nem devastao, mas biopirataria, embora seja mais uma contradio, pois quando comea a escassear a natureza e ficar mais doente o meio ambiente quando deveria haver mais valor crematstico, mas, no isso que ocorre.

As naes sujeito, responsveis pela devastao alm-mar, nos pases perifricos, determinam que os mesmos parem a devastao e comecem a preservao da biodiversidade. Os pases objetos passam a discutir isto como se fosse um grande avano. Seus profissionais egressos dos cursos diferenciados nas universidades da elite passam a estudar os modelos de gesto ambiental crematsticos e preservao dos recursos naturais de forma crematstica, com a viso econmica, que os pases industriais usam dentro de suas fronteiras, pois no sabem que no so sujeitos.

Ningum se preocupa em prevenir que o objetivo deles o acesso biodiversidade. Que a natureza no est ganhando sade, mas est, apenas, mudando sua matriz de explorao, pois agora todos os seres vivos da natureza so passveis de serem patenteados. Logo, a eroso na biodiversidade um pecado crematstico.

Agora, com a globalizao de bom gosto, que se pague pelo acesso natureza (gene-matria-prima), pois, no preo final do produto biotecnolgico, estar embutido o valor da mesma. E o pagamento torna mais ntimo e indissolvel o vnculo entre o sujeito e objeto.

Para que a biodiversidade tenha sade e valor, necessrio que o seu conhecedor: as comunidades tradicionais, indgenas e remanescentes sejam, agora, protegidas e tenham direitos, agora, reconhecidos. Quantas tribos foram dizimadas com agrotxicos misturados a acar na Amaznia, frica, sia, nos anos 70? Entre ns o genocdio de 110 lnguas extintas no interessa nem crematstica nem economia, pois somos objetos, no sujeitos.

O aceno com o valor crematstico aristotlico para o acesso biodiversidade, para as grandes empresas um passaporte para o desenvolvimento, no garantia de preservao ou identidade cultural de uma comunidade tradicional. Percebam qual o valor crematstico de um gene que cure a AIDS ou controle a hipertenso?

assim que a onda que rola agora a sustentabilidade.

Este o canto da sereia do maior e mais estratgico complexo industrial do planeta - o complexo agroindustrial-alimentar-financeiro (CAIAF).

CAPTULO III

SABER E FAZER A ESCASSEZ

Sabemos que a economia a cincia, cujo postulado mximo diz que os produtos no mercado (mercadorias) valem mais quando escasseiam (e h procura), logo a escassez regula tudo pelos preos, valores e determinados interesses.

Aos governos cabe controlar os limites, abusos e excessos, para melhor fluir seu poder e equilbrio, pois sabem que os extremos de escassez ou fartura so insustentveis.

Os alimentos so frutos da natureza e to inerentes aos seres vivos (e humanos), quanto o ar, a gua, o Sol, contudo os alimentos, para humanos so regulados pelo mercado, conforme a escassez/abundncia ditada pela economia. Em alguns pases, a economia muito prxima natureza, em outros, uma economia quase totalmente industrial e o alimento natural muito caro.

A indstria de alimentos propiciou a oferta contnua das mercadorias, atravs de estoques, com preos praticamente constantes ou mais uniformes e isto viabilizou a pequena propriedade rural familiar na Europa, EUA e Japo, o que levou a polticas pblicas decisivas nos pases industrializados, onde os governos se aliaram s empresas. Nestes pases, h a mxima de que, onde os alimentos so escassos ou caros, h rebelio.

A indstria de alimentos, desta forma, um dos segmentos que mais evoluiu dentro da economia no ltimo sculo. Seu grande mrito, nos pases industrializados, repetimos, foi manter uma oferta constante de alimentos industriais, com preos homogneos relativamente baixos; aumentar as reas desses cultivos de forma organizada com valor agregado pela transformao de produtos agrcolas naturais em matria prima para as indstrias.

Internacionalmente, estas empresas logo cresceram e transformaram-se em conglomerados industriais multinacionais. Nos pases em desenvolvimento, a indstria de alimentos internacional chegou para se instalar, muitas vezes atrada, incentivada e subsidiada pelo governo, vido por empregos, impostos industriais e venda de energia tarifada, servios e infra-estrutura.

Em muitos pases em desenvolvimento, esta foi a nica poltica pblica existente, pois o tamanho das empresas inibia ou impedia qualquer poltica similar s dos pases industrializados.

Assim, as indstrias de alimentos, entre ns, passaram a influir diretamente nos preos, na produo, nas transformaes agrcolas e agrrias, no consumo de insumos, no crdito, ensino e pesquisa, at na concentrao do tamanho das propriedades, o que levou a impor as polticas das empresas como forma de baratear custos.

Com o seu crescimento, a indstria internacional de alimentos transformou-se em transnacional e tornou-se to ou mais poderosa que os governos. Estes, dentro da ordem imperial, passaram a tributar os alimentos industriais encarecendo-os e tornando-os inacessveis para uma parcela expressiva da populao, oprimida pela fome, no ritual, mas imperial.

A evoluo internacional da indstria de alimentos a integrou com outros setores, como o produtor de energia e combustveis, com o de qumica, embalagens, marketing e insumos para a agricultura. Hoje, este o maior e mais estratgico complexo industrial do planeta - o complexo agroindustrial-alimentar-financeiro (CAIAF).

Nos pases pobres e em desenvolvimento, o CAIAF defronta-se com a poltica pblica dos governos que usam a ordem histrica de violncia ritual, atravs dos espectros da fome e epidemia acompanhada pela ordem histrica imperial com sua violncia, represso (fora), aplicada pelo governo interessado, para disciplinar o mercado e consumo, pois, h, tambm, uma alta porcentagem de consumo de alimentos naturais, que no chegam ao mercado e isto choca com os interesses das empresas, o que impede o interesse ou artifcio da oferta gigantesca de alimentos, pois, h escassez na procura por alimentos industriais, devido ao baixo poder aquisitivo.

Eliminar a concorrncia dos alimentos naturais e aumentar o consumo dos industriais passam a ser a poltica pblica.

Concomitante, h ilhas de desenvolvimento da ordem histrica posterior, a mercantil e sua violncia, o dinheiro, o que provoca mais desequilbrios.

Esta mistura de trs tipos de ordens histricas e suas violncias no sentida nos pases industrializados ou, tambm, nos atrasados, onde predomina quase hegemnica apenas um tipo de ordem e sua violncia. Contudo, entre ns, a situao confusa e varia de um momento para outro e de um ambiente a outro.

Na esteira da globalizao e mdia do neoliberalismo, deparamo-nos com mais uma realidade: uma nova ordem histrica estabelece-se, a ordem dos cdigos.

Para que esta nova ordem estabelea-se necessrio que tudo aquilo que ainda no tiver valor de mercado, seja agora pautado por um preo, seja um comportamento, uma vontade, a qualidade de um alimento ou vesturio, um patrimnio da natureza, como o ar, a gua, ou a paisagem. As transformaes sero maiores onde houver a mistura de ordens.

A principal caracterstica desta nova ordem que sua violncia controlada inconscientemente pelo prprio indivduo (consumidor), que se sujeita a ela e simultaneamente seu prprio algoz e vtima conformada.

Em uma sociedade industrial, a presena desta forma de ordem no to notada, mas em uma sociedade "em desenvolvimento", a situao fica mais calamitosa que a anterior, pela mistura de ordens, agora mais complicada.

Repassemos: na primeira ordem histrica (ritual), sacerdotes amedrontavam os fiis com o respeito ao sagrado; na segunda, mandatrios determinavam, atravs da fora e violncia de represso (lei, punio) e controle; na terceira (mercantil), era o dinheiro que organizava, com um pouco de interveno do Estado, a violncia da escassez/abundncia e mantinha o controle; na quarta ordem histrica (cdigo), o cidado conformado que se autoviolenta por no ter os meios (informao e outros) para o acesso aos mesmos.

por isso que, nas transies de ordens, muitas vezes, no entendemos o que est se passando e pensamos em nos enquadrarmos em uma ordem, mas j estamos com valores da outra e vice-versa. Isto usado pelo marketing, mdia e propaganda oficial dos governos de todos os matizes.

Os empresrios, polticos e governantes sabem que as bandeiras populares so fruto das insatisfaes, e as nicas causas que levam greves, rebelies, revoltas, etc. , que tanto prejuzos causam aos negcios de suas empresas privadas ou pblicas respectivamente.

Como tal, na ordem dos cdigos, no deve haver qualquer tipo de cerceamento liberdade individual. Todas as causas de insatisfaes e possibilidades de litgios devem ser eliminadas na raiz, para se evitar sua repercusso nas relaes sociais. Este o dogma implcito na nova ordem.

por isso que vemos, agora, um grande rebolio, com muitas bandeiras populares serem seqestradas (violncia) pela ordem dos cdigos, em uma transio vertiginosa. Os movimentos sociais, atnitos, no conseguem articular o que est acontecendo e quais as correes de rumo necessrias.

Bandeiras (cdigos) como a da "solidariedade" (lembrem-se de Lech Walesa e seu sindicato na Polnia, que derrubou no s os sindicatos do regime ttere dos soviticos, mas a estrutura orgnica do pas).

A "poluio" desencadeou o movimento de "defesa ambiental", que nos trouxe novos valores, desde a conferncia de Estocolmo, e logo um segmento bilionrio para a economia, pela escassez de meio ambiente.

A conferncia do Rio/92 trouxe-nos a "sustentabilidade" como novo nicho "econmico", biotecnologia e organismos geneticamente modificados, uma nova forma de desenvolvimento econmico (cdigo) tentando estancar a devastao e comprometimento dos suportes vitais, de forma globalizada.

Esta globalizao tambm atual no campo social, e temos a "integrao de todas minorias" e a "liberdade em todos os sentidos".

A "agricultura alternativa", rejeitada no passado, ganhou status e se denomina de "ecolgica" nos programas oficiais dos pases industriais, com crescimento vertiginoso.

Hoje, na tica dos negcios, tudo "terceiro setor" e os governos, mesmo perifricos, conduzem as polticas pblicas comandadas pela juno de governo e empresrios dentro da nova ordem histrica.

Assim, todas estas bandeiras, ontem agitadas pelos movimentos populares e sociedade civil organizada, hoje so programas de governos de qualquer matiz poltico com polpudos recursos.

dogmtica a no permisso que bandeiras de movimentos populares e sociedade civil organizada sejam levantadas e possam causar questionamentos, rebelio, insatisfao e prejuzos s empresas, suas metas e marcas.

Mas como isto vai afetar a produo de alimentos?

O gigantismo do CAIAF tornar o agricultor seu servidor integrado em um sistema globalizado mundialmente. Os hbitos e dietas alimentares sero o que interessar s empresas e com a qualidade que pode ser acessada pelo consumidor, conforme sua informao e poder aquisitivo.

Hoje vemos os movimentos populares em estertores tentarem levar a bandeira da agricultura ecolgica e transgnicos. dramtico, no nos damos conta, mas esta bandeira (agricultura ecolgica) no pertence mais aos movimentos ecologistas, ambientalistas, popular ou sociedade civil organizada. Ela j foi furtada, agora um cdigo que pertence ao mercado.

Aquele agricultor, no terceiro mundo, que lutava contra os insumos da Revoluo Verde e procurava usar alternativas para produzir de acordo aos preceitos da natureza, agora est vendo todos os valores da natureza se tornarem valores de mercado. Pior, sua postura tica foi absorvida pela grande procura e pouca oferta, conforme o interesse de transio do CAIAF.

Em pases onde estes agricultores teriam a esperana de poder produzir diferenciadamente para enfrentar a ameaa da excluso, vemos que, agora, eles esto sendo enquadrados nos cdigos, para que a sua excluso se d como um cdigo e ele se torne um ser conformado, no excludo, mas em servido econmica para o sistema (CAIAF).

Isto alcanado atravs da normatizao, certificao e outros mecanismos e servios ideolgicos ou mercadolgicos.

A presso faz com que os pequenos agricultores sejam obrigados a um tipo de organizao empresarial, que os torna refns de um sistema extremamente caro, onde os custos s podem ser suportados por redes de grandes conglomerados, condenando os pequenos a uma vida efmera.

No lemos o significado dos cdigos, logo o CAIAF ter absorvido o nicho dos produtos ecolgicos, pois no possvel que um pequeno agricultor possa pagar sete mil dlares para a certificao de sua pequena produo. A presso inicial obriga que ele se associe, mais que isso, se conglomere, para enfrentar a nova realidade, mas isto uma transio.

Por outro lado, mesmo as redes organizadas para o enfrentamento desta situao tm pouca sobrevivncia pela falta de competitividade em uma escala de mercado globalizado. Por exemplo, no Brasil, um pas exportador, h apenas um certificador internacional. A quem interessa este monoplio (cdigo)? Ao CAIAF unicamente.

Mas quem est percebendo esta manobra, quando h cdigos sendo dispersos de que a "agroecologia" (autodenominada "base cientfica da agricultura ecolgica") tornou-se bandeira popular e poltica de movimentos exangues, que o que fazem criar mecanismos para acelerar a implantao dos cdigos da nova ordem.

Assim, os alimentos inerentes ao ser humano como o ar, gua e Sol tornam-se mais caros; os naturais ou ecolgicos s so acessveis aos mais ricos; restam aos pobres os alimentos industriais e de menor qualidade, com o conformismo (violncia) da nova ordem.

Todas as alternativas levam a somente uma situao: O complexo agroindustrial-alimentar-financeiro um s, e tudo.

No passado, a indstria de alimentos, atravs do governo, criava as barreiras zoosanitrias e fitossanitrias para impedir uma competio de produtos naturais (ou matrias primas) de pases em desenvolvimento ou com polticas fora de seu sistema.

Vimo-la, tambm, determinar infra-estruturas fora do alcance dos pequenos para evitar uma concorrncia, atravs de associaes e cooperativas. Assim, se destruiu a estrutura de moinhos coloniais; a indstria colonial de vinho e bebidas locais e regionais; frigorficos e a indstria de embutidos e lacticnios. Agora, com a novssima ordem, os mecanismos so as certificaes, normatizaes, servios, cartrios globalizados ou pedgios nas estradas e onde est a lucidez para enxergar o cdigo.

A cada dia que passa, mais um bem natural torna-se bem econmico; um comportamento social torna-se disponvel ao mercado. assim que economicamente se cria e impe a escassez, que deve ficar no inconsciente coletivo.

Para que isto flua com segurana, necessrio que, a cada dia, algo se torne escasso, como agora, por exemplo, a gua.

Toda uma lgica de valor e escassez montada para o negcio de mercado da gua. As discusses so formatadas psicossocialmente, para que se discuta a escassez e o valor, como forma de se poupar, preservar, privatizar, etc.

Os tecnocratas ou teleguiados logo passam a propalar a necessidade de mudar o enfoque e criam o novo cdigo.

Assim, a gua passa a ser um negcio, um novo negcio e pensamos que isto fruto do neoliberalismo ou da globalizao, quando, na verdade, isto fruto original da implantao da nova ordem dos cdigos.

Em Minas Gerais, um grupo de engenheiros agrnomos, antes amantes de agrotxicos, descobriu o novo filo e resolveram fazer um Seminrio de gua-negcios... No usaram a terminologia que lhes peculiar, fruto da Revoluo Verde: "Water Business", por ser algo inovador e que teria pouca compreenso, contraditando com o j personificado Agribusiness.

assim que vemos os conglomerados, entre eles Carrefour, Novartis, Monsanto investindo em agricultura ecolgica. Devemos perguntar: Que diferena h entre a agricultura ecolgica de um Carrefour e a de uma ONG? Para a economia ou para o Estado nenhuma. O incrvel que muitas ONGs no percebem o cdigo e passam a construir a transio como se fosse a mesma coisa.

Mas a resposta questo, agora, demonstra que para o PIB a agricultura ecolgica do Carrefour superior pela dimenso de seus negcios e poder gerado.

H uma abissal diferena: a questo tica entre ambas, que se no for levada em conta far com que se confundam e pensem que ambas posturas so uma s.

Os movimentos polticos tm pautado por apropriar-se do termo "agroecologia", como a resposta poltica s pretenses do CAIAF. No compreendem que ela de interesse (cdigo) do Departamento de Estado dos EUA; assim como a "agricultura orgnica", do IFOAM, interesse da Unio Europia e os japoneses tentam correr por fora em uma tentativa de conseguir o seu nicho de mercado.

Recentemente, vimos muitos lderes da agricultura alternativa dos anos oitenta, agora se apresentando como empresrios "verdes", felizes, inocentes e satisfeitos...

Isto no nos espanta, pois vemos que a transio para a nova ordem est em curso, por exemplo a erva mate ecolgica do MST, que vai para a Europa, certificada por um Instituto e ningum estranha est situao. Ele detm o monoplio de certificao no pas, embora no seja um organismo de Estado, nacional ou sob controle da Sociedade.

No RS, em recente edital pblico dirigido e encomendado para "doce de frutas adoado com acar mascavo ecolgico", ficou o escrnio, pois somente existe, no pas, uma associao que produz este tipo de mercadoria.

Isto no sustentvel, logo, o CAIAF ser o senhor supremo da nova ordem e todos estaremos alinhados em servido conformados. Os dois exemplos acima demonstram esta realidade, que a cada dia vemos mais e mais dentro de ns mesmos.

Quando lemos uma publicao dos movimentos internacionais sobre agricultura alternativa, agrotxicos, transgnicos e organismos geneticamente modificados ou questes de gnero e outras, deparamo-nos com uma mensagem monoltica, seja a publicao do continente que for.

A tica, a concepo, os exemplos, as proposies de campanhas, tudo unitrio e unssono, como sado de uma mesma massa e de um mesmo forno. crtica consentida, que formata opinies, para servir de modelo de discusso e reao. pasteurizada e nunca fermentar, alm de para o que foi preparada.

Na questo dos transgnicos, ao levarmos uma luta independente, logo percebemos que os documentos que chegavam eram todos eles "clones" sem uma diversidade maior, com um alto grau de colonialismo. O fato de uma ativista uruguaia ter chegado ao desplante de dizer: - "afastem-se, pois agora chegaram os profissionais", leva-nos a questionar se esta homogeneidade ou hegemonia no , tambm, fruto de um cdigo da nova ordem, na qual somos induzidos e conduzidos, para evitar surpresas desagradveis ao sistema e poder.

Reavaliemos as mobilizaes e bandeiras, aparentemente sob nosso controle, como as dos agrotxicos e a dos transgnicos: A quem beneficia a inrcia do governo gacho neste setor, aliado com palestras de sensibilizao e motivao, que no vm acompanhadas de aes concretas de capacitao e formao dos agricultores?

Parece incrvel, mas, na nova ordem, estamos fazendo o jogo do inimigo, como ele quer.

bem verdade que h escassez de talentos nas periferias do mundo, em funo do aculturamento das estruturas de poder, que deveriam ser de "saber", mas foram transformadas em aparelhos ideolgicos de "fazer".

Mas a subverso e sedio nova ordem histrica, bem que seria um bom momento para se iniciar o exerccio de pensar, criar e refletir, agregando valores locais ticos, rituais, imperiais e mercantis, pois estes so cdigos antagnicos aos interesses do CAIAF e dos outros organismos internacionais e governos tteres.

Devemos decifrar a convenincia entre:

O ser ideal do Estado e o estado ideal do Ser.

uma questo de opo, somente de opo.

Alis, a economia uma cincia?

CAPTULO IV

BIODIVERSIDADE: DILOGO COM O MEIO AMBIENTE*

O antroplogo R.V.D. Steinem registrou, quando esteve no Brasil, que ficou fascinado com o carinho com que um indgena plantava um palito de fsforo, que ele recm utilizara. Interpretou que deveria ser de imensa importncia, no raciocnio do silvcola, que aquela planta crescesse e frutificasse, produzindo novos palitos. Por outro lado, dolorosa foi a experincia de um mdico francs, hspede de uma famlia nordestina, que vendo todos "chupando" caju, desatenciosamente deu uma dentada na castanha do fruto e sentiu as queimaduras provocadas pelo cido contido na mesma.

Mundos diferentes exigem aprendizados diferentes, assim, surpresas e temores sempre enriqueceram o aprendizado sobre o meio ambiente.

O fascnio pela natureza acompanha a humanidade em sua evoluo.

O aprimoramento deste conhecimento um processo educativo e evolutivo, de tal forma que a dimenso da natureza a dimenso da Vida, embora muitos freios sociais impeam esta realidade e ela, erroneamente, continue sendo mostrada ou ensinada antropocentricamente, nos moldes do Sculo XIV e XV, aps os grandes descobrimentos, como o novo extico e bizarro, sempre de forma utilitria e no holstica.

A natureza no mais "os meios de produo", a matriz de onde o homem copia suas criaes, perpetua suas conquistas, seu progresso e conhecimento ou retira sua subsistncia, surpreendente ou dolorosamente.

A natureza muito mais, um vnculo de memria com seu passado e tica com o futuro.

Nos ltimos anos, aps termos, j, alcanado todas as fronteiras fsicas, expande-se a percepo espiritual da natureza, como um novo fator aglutinante, cimento psicossocial.

Nossa formao escolar, de ontem, adquirida dos relatos fantasiados dos exploradores ou aguados com os trabalhos disfarados das expedies cientficas de Darwin, Humbold, Von Martius, Stanley, Cook e tantos outros maravilhando a todos, pela aventura e desafios, com o ignoto, bizarro, extico, est incompleta, hoje, pois totalmente "marketizada" como produto de consumo.

Nossa percepo ambiental insuficiente, falta-lhe algo de qualidade: a identidade cultural com o meio em que se vive.

Utilitariamente a natureza vinha sendo apresentada no mesmo diapaso com a economia, procurando ampliar seus negcios "ecolgicos", um novo filo ou segmento.

As sociedades atuais (ricas) instalam o segmento ambiental dentro de suas complexas economias, para explor-lo, porm, agora, o homem passa a exigir algo mais que um filo comercial, pois o vnculo se consolida e se delineia como um rasgo de identidade, principalmente para os povos transplantados para o novo e novssimo mundo, onde a devastao foi mais clere e gigantesca, pelo aventureirismo, amplitude do espao e falta de uma identidade com o espao (geogrfico) ocupado.

H um mundo angustiado com incertezas diante dos desequilbrios, mudana climtica, buraco na camada de Oznio, envenenamento dos oceanos, acidentes e catstrofes que ultrapassam fronteiras.

A comoo alcana a todos. O planeta apresenta sintomas dos desequilbrios de catstrofes vindouras, sinais de deteriorao de suportes vitais, com devastaes e extines.

Os meios de comunicao do poder usam os formadores de opinio, procurando manter o "status quo econmico-social" e tudo mais sobre total controle.

A formao educacional do passado, via conhecimento atravs de colees de insetos, herbrios ou visita a jardins botnicos, zoolgicos, a Parques Nacionais e Reservas Ecolgicas, no satisfaz ou insuficiente para a comunidade diante do interesse e volpia da mdia diante da realidade de resciso do vnculo tico com o futuro.

O homem ultrapassou as clulas vivas no seu conhecimento sobre a natureza, manipula DNA, podendo transferir caractersticas do peixe linguado para uma variedade de milho patenteada ou para mais rpida engorda de uma raa de sunos biotecnolgicos.

Estar o homem to preparado quanto o mercado? Evitar o choque cultural preciso, para no impedir o(s) negcio(s) do progresso.

A identidade do cidado com a natureza, j que os genes j podem ser comercializados para a formao de novos produtos, novas vidas, atravs da engenharia gentica, no pode ser atingida, acione-se a Educao...

A mdia eletrnica j percebe esta faceta tecnolgica e quo poderosa ela . Assim nos trar sua interpretao tendenciosa do indgena plantando o palito de fsforo ou o mdico mastigando a castanha de caju, nossa telenovela cotidiana, para que no venhamos a ter o mesmo choque que o silvcola ou mdico ao conhecer os novos engendros patenteados da engenharia gentica, nem alcancemos um padro tico de compreenso disto.

Vimos, boquiabertos, uma menina norte-americana, de Kansas City, com dezessete anos, extasiada, pois nunca tinha visto algum descascar uma laranja, embora ela se contrapusesse orgulhosa por ter comido "Big Mac" em Estocolmo, Sevilha, Bangcoc e Hong Kong...

Pode parecer provocao banal, mas recentemente, em Cuba, um grupo de profissionais universitrios, chineses maostas, cubanos castristas e guevaristas, russos comunistas, angolanos socialistas discutiam acaloradamente a telenovela "A Escrava Isaura" da Rede Globo de Televiso, brasileira.

Algum que conhece seu meio no facilmente "manipulado", por mais ingnuo que possa ser, o difcil mesmo saber o que seu meio ambiente, qual o rasgo de identidade cultural do mesmo ou qual o vnculo espiritual da memria dele, com o passado e qual sua tica com o futuro da natureza.

Qual o padro tico de Vida que nos est sendo transferido cotidianamente?

Passamos a duvidar que ele nos levar, sempre, a querer plantar uma rvore de palitos de fsforos ou deliciar com uma desconhecida castanha de caju (crua).

Necessitaremos da informao dirigida da mdia para aceitar fazer o que o mercado necessita, pois ele, finalmente, ser a nossa derradeira escola ou instituiremos a restaurao da educao como sujeitos da cidadania?

O resgate do "feijo sopinha" foi um exerccio.

Qualquer msero mortal com um conhecimento mdio de tecnologia saberia que o petrleo seria em alguns anos substitudo por uma nova matriz, a biotecnologia.

Esta biotecnologia tem na biologia molecular a sua base e instrumental. Contudo os genes no so "chips", que podem ser fabricados em laboratrios ou linha de montagem. Eles compe o germoplasma dos seres vivos e esto na natureza, como tal no tm qualquer valor. Entretanto com a biologia molecular possvel controlar os caracteres dos seres vivos com alta definio, e at mesmo controlar sua reproduo, ento o que antes no tinha valor, passa a ter um valor fantstico e estar exclusivo para um grupo seleto de pouqussimas empresas.

Logo, onde houver maior quantidade de genes h maior procura, cobia e possibilidades de sucesso.

No sejamos ingnuos em pensar que as questes de biotecnologia so novas ou histricas lembrando o vinho, o po, a cerveja e outras desinformaes e alienaes, polticas sociais ou econmicas.

A busca pelos genes muito antiga, antes se conseguia o produto criado pelo gene. Assim o ndigo, a seringueira, a batatinha, o morango eram introduzidos em outras regies e cultivados. Os grandes descobrimentos possibilitaram a criao de jardins zoolgicos e botnicos, para o estudo do efeito dos genes.

Eles depois serviam de molde para a sntese qumica em uma imitao grosseira, porm exclusiva do produto da natureza. Exclusividade preservada por uma patente, que garantia valores e mercados.

Depois, com os cruzamentos de "eugenia vegetal e animal" se conseguiu produzir novas variedades e raas, que logo foram protegidas pelo grande negcio que representavam, como hbridos ou apenas marcas registradas.

Desde a descoberta da estrutura do DNA se sabe que um dia se conseguiria transferir caractersticas de um ser para o outro, a transgenia. Mas, para que isto tivesse o valor correspondente era necessrio criar a utilidade protegida.

No de hoje, que a Ordem Internacional "formatar" tudo o concernente biodiversidade, preparando os centros de decises, poder e saber para preservao, comercializao, patenteamento