anarcossindicalismo básico/tradução sindivarios piracicaba sp

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    ANARCOSSINDICALISMO BSICO

    CNT-AIT Sevilha

    Ateneu Diego Gimnez2010

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    Edio original:Anarcosindicalismo BsicoFederacin Local de SevillaCNT-AIT

    Sevilha, 1994

    Traduo e diagramao:Ateneu Diego Gimnez

    FOSP/COB-AIT

    Piracicaba, 2010

    http://fosppiracicaba.wordpress.com/ateneu-diego-gimenez

    http://cob-ait.net

    http://www.iwa-ait.org

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    NDICE

    Duas palavras prvias ....................................................................................................1

    Assim comeou tudo .......................................................................................................2

    Introduo ........................................................................................................................5

    I. O que o anarcossindicalismo? ...............................................................................6Em que se diferencia de outros sindicatos e movimentos sociais?

    II. A estrutura bsica do anarcossindicalismo: o sindicato de ramo ..............7O Sindicato nico de Ramo a estrutura bsica da anarcossindicalComo funciona o Sindicato nico de Ramo?

    Funes dos anarcossindicatosConstituio de um sindicato de ramoMeios humanos e tcnicos

    As assessorias jurdicas da CNTO que o comit do sindicato?

    III. Funcionamento da CNT nas empresas: a Seo Sindical ..........................13As eleies sindicais Atividade cotidiana da anarcosseoRelao da seo com o anarcossindicato

    Empresas e setores nos quais no existem comits de empresa

    IV. Relao de seu sindicato com outros sindicatos da CNT ..........................22A Federao LocalComo se nomeia o comit local?Mecanismos de relao e coordenao entre federaes locais: a Confederao RegionalRelaes entre as diferentes confederaes regionais: a Confederao NacionalPor que a eleio de comits se realiza desta maneira?Como os sindicatos da CNT decidem entre eles?

    Como se coordenam as diferentes anarcossindicais do mundo?

    A gesto e a administrao dos diferentes comits: as plenrias e as limitaes doscargos na CNT

    As ConfernciasA Federao de Indstria A imprensa confederal

    A Fundao Anselmo LorenzoA afiliao

    V. Os princpios do anarcossindicalismo .............................................................30

    As tticas do anarcossindicalismoA Ao DiretaA finalidade da anarcossindical

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    DUAS PALAVRAS PRVIAS

    Para todo movimento que seja portador de uma intencionalidade terico-prticade transformao social, se faz necessrio aquilo que recebe entre ns a denominaode caderneta de formao militante. Esta necessidade de compendiar de forma breve e

    simples o contedo de discursos mais largos e complexos est provada pelo menosdesde as Cartas de Epicuro. a necessidade de alcanar com a palavra aquelxs que, sem estar muito longe

    de ns esto, todavia, fora do alcance fsico de nossa voz, e a@s que, por ele, nopodemos catequizar, no sentido etimolgico do termo. Ou seja, no lhes podemosagitar, fazendo-lhes retumbar em seus ouvidos a fora de nossos argumentos.

    O sublinhar a necessidade desta tarefa no deve obscurecer a dificuldade e osperigos que isso pode entranhar. Se o prprio d@ libertri@ denunciar todas as travasalienantes externas e internalizadas e tratar de elimin-las na mente e na realidade,est mais do que claro que qualquer proposta formativa de carter libertrio deve

    contar desde o incio com estes pressupostos para no incorrer em uma dinmica deproselitismo a qualquer preo na qual, segundo a j velha denncia evanglica, a mcondio do evangelizante piora ainda mais a condio d@ evangelizad@.

    Em toda proposta de formao libertria deve haver ao menos trs condiesessenciais, a saber:

    - O dado terico;- A contrastao com a realidade;- A chamada participao crtica ativa daquelx que o destinatrio da

    proposta formativa.

    Sem o respeito a estas trs condies mnimas, o feito formativo corre o risco deconverter-se em uma estril multiplicao do tpico. A proposta formativa no deveser, pois, um catecismo, mas tampouco deve dar a impresso de ser um campo acessvela qualquer voluntarismo, e sim, pelo contrrio, ser um atrativo na linha do discurso eum incentivo para o despertar contnuo da razo comum.

    Neste presente livro, so passados dados que iluminam a esperana de um feitoformativo produtivo, no sentido comentado. Pode ter de catecismo o que pretende ter

    de anticatecismo, se desenvolve na oferta permanente de teoria e ao, valoriza todosos aspectos de globalidade social congruentes com o carter revolucionrio doanarcossindicalismo, se move no campo da cotidianidade e maneja a linguagem do dia

    a dia. Finalmente, evita o pedantismo e o enfatismo, assume o tom de descontrao ede uma saudvel desmistificao.

    Jos Luis Garcia Ra

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    ASSIM COMEOU TUDO

    Me encontrava em um domingo noite com meu amigo Manuel Cano no caf LaLuna, e Morago se apresentou a ns dizendo:

    - Venho busc-los.

    - O que aconteceu?- Tm notcias da Internacional?Cano disse que no. Eu sim havia lido algo e tinha vagas notcias desta

    associao.- Pois continuou Morago trata-se de organizar os trabalhadores do mundo

    para destruir a explorao capitalista.Cano e eu, ainda jovens e dispostos a admitir facilmente o que se apresentasse

    com carteres de nobreza e grandiosidade, atrasamos a contestao favorvel. QuandoMorago se achava possudo pelo entusiasmo e o contrariavam ele sentia uma clerasublime, e era uma pena que tanta eloquncia se desperdiasse na persuaso de dois

    convencidos.- Trata-se de assistir a uma reunio em que, junto com outros amigos, seremos

    apresentados a Fanelli, deputado italiano e delegado da Aliana da DemocraciaSocialista, que tem a misso de deixar constitudo um ncleo da seo espanhola da

    AIT.

    No dia seguinte todos os citados comparecemos no local de encontro menos

    Morago, que devia nos apresentar, e esta falta, motivada pelo fato de ter se deitado

    para dormir algumas horas antes e no ter se levantado na hora correta, como disseum dos presentes que vinha de sua casa, um trao caracterstico dos muitos que oseu modo de ser oferecia. Isto no foi obstculo para que a reunio se celebrasse.

    Na casa de Rubau Donadeu nos reunimos ento com Fanelli.Este era um homem perto dos quarenta anos, alto, de rosto srio e amvel,

    barba negra e abundante, olhos grandes, negros e expressivos, segundo os sentimentos

    que o dominavam. Sua voz tinha um timbre metlico e era suscetvel a todas asinflexes apropriadas ao que expressava, passando rapidamente do tom da clera e daameaa contra os exploradores e os tiranos, para adotar o sofrimento, a lstima e oconsolo, quando falava das penrias do explorado, do que sem sofr-las diretamente ascompreende ou do que por um sentimento altrusta se compadece em apresentar umideal ultrarrevolucionrio de paz e fraternidade.

    O incomum do caso que no sabia falar espanhol, e falando francs, queentendamos medianamente, ou em italiano que s compreendamos um pouco poranalogia, mais ou menos, no s nos identificvamos com seus pensamentos, masgraas sua mmica expressiva chegamos a nos sentir possudos do maior entusiasmo.Tinha que v-lo e ouvi-lo descrevendo o estado do trabalhador privado dos meios desubsistncia, por falta de trabalho por causa do excesso de produo! Depois de exporcom riqueza de detalhes o desespero da misria, com traos que me recordavam otrgico Rosi, dizia Coisa horrvel!, Absurdo!, e sentamos calafrios eestremecimentos de horror...

    Fanelli nos deu trs ou quatro sesses de propaganda e, antes de se despedir dens, quis que nos fotografssemos em grupo, o que assim se fez, reunindo-nos todos no

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    dia combinado, menos Morago, que novamente teve sono e no pde recobrar a vontadede acordar, apesar de todos termos ido sua casa e o prprio Fanelli t-lo convidado anos acompanhar, por isso no grupo fotogrfico no h seu retrato e sim somente seunome.

    ( Anselmo Lorenzo: O proletariado militante. 1868)

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    Advertncia

    Este livro est em linguagem no sexista, com exceo das citaes. Pode havergente que no goste, mas a ns no nos d trabalho faz-lo assim. As terminaes emos que se refiram a homens e mulheres mudam para @s. Exemplo amigos e

    amigas fica amig@s. As terminaes em es mudam para xs. Exemplo trabalhadores e trabalhadoras muda para trabalhadorxs. No ponha as mos nacabea porque se acostuma rapidamente a ler assim. Tudo para chamar a ateno paraa igualdade. Diversxs linguistas nos contam que o que fazemos uma aberraoortogrfica. Como voc ver, com todos os problemas da vida, o das aberraes no nospreocupa em nada.

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    INTRODUO

    Se passou muito tempo desde 1868. Os discursos de Fanelli noimpressionariam hoje a ningum, acostumados como estamos a filmes de efeitosespeciais. Os tempos e as formas mudaram, ainda que a essncia da explorao seja a

    mesma.Hoje, assim como ontem, seguimos resistindo, seguimos destruindo o Estado e o

    capital, e nos preparamos para provocar a chegada de tempos melhores. As profundas

    injustias e crimes do capitalismo, que condena a maioria da humanidade a uma vidainsalubre, desnutrida, enferma, explorada... no lhe preveem fim melhor que o quetm tido as ditaduras das oligarquias chamadas comunistas.

    Este folheto foi preparado para os companheiros e as companheiras que chegam,

    para as pessoas que no nos conhecem e que mais de uma vez se perguntam o quepodem fazer. Pretende dar-lhes uns esclarecimentos bsicos sobre o que oanarcossindicalismo espanhol em seu grau de desenvolvimento atual, como funciona,

    como luta, como se estrutura, que fins persegue e, por fim, por que seguimosobstinando como nossa gente do sculo passado agora que nos dizem que vivemos omelhor dos mundos possveis. @s que querem um trabalho mais erudito, tm suadisposio extensa bibliografia. Tentamos faz-lo em uma linguagem plana, amena esimples, para que qualquer pessoa a entenda.

    Queremos mostrar que o anarcossindicalismo no algo enfadonho, do passado,mas sim uma forma viva e dinmica de ao, profundamente original e inovadora emseus planejamentos. Sua proposta a no institucionalizao e o funcionamento margem do Estado-capital. Sua alternativa, a transformao da sociedade. Este umlivro sobre anarcossindicalismo bsico, no um manual de estilo, nem um conjunto denormas imveis. Queremos falar-lhes de criatividade, de amor, de alegria, deliberdade, de tolerncia... no de regulamentos. Cada situao requer uma atividadealerta e nova para ser superada. Somente @s oferecemos o resumo de um sculo e umquarto de experincia antiautoritria, de luta contra o poder, de ilusotransformadora.

    Esperamos que pessoas de todo tipo tenham em considerao nossas propostas.O velho, o ruim, o arcaico representam o capital e o Estado. O mundo novo est naanarcossindical.*

    SEVILHA, 1994

    *Anarcossindical, anarcossindicato: diz-se da organizao anarcossindicalista, aConfederacin Nacional del Trabajo (CNT).

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    I. O QUE O ANARCOSSINDICALISMO?

    O anarcossindicalismo uma corrente de pensamento que aparece no final dosculo XIX e no princpio deste. Tem como caractersticas fundamentais:

    - A inteno de agrupar o mundo do trabalho para a defesa de seus interesses

    imediatos e obter melhoras em sua qualidade de vida. Para isso forma sindicatos;- A criao de uma estrutura na qual no h dirigentes nem poder executivo;- O desejo de transformao radical da sociedade, transformao qual se chega

    por meio da revoluo social. Sem finalidade transformadora no existe oanarcossindicalismo.

    Outro nome que o anarcossindicalismo recebe sindicalismo revolucionrio.

    Em que se diferencia de outros sindicatos e movimentos sociais?

    O anarcossindicalismo tem a convico de que as causas da desigualdade social

    e a injustia se baseiam na no poder, no princpio da autoridade, que faz com que umaminoria mande, disponham da riqueza que gera a sociedade e mantenha seus

    privilgios por meio da violncia, e a maioria obedea, no tenha mais que o queprecisa para sobreviver e sofra a violncia deste grupo majoritrio.

    Consequentemente, o anarcossindicalismo, para eliminar a injustia, se ope aoprincpio da autoridade, deciso das elites e representao mxima do poder, oEstado.

    Frente Organizao hierrquica e autoritria do Estado-capital e de seuaparato repressivo, o anarcossindicalismo ope a sua No-Organizao. Esta supe um

    processo no qual as decises so tomadas a partir da base, em que as pessoasparticipam, em que no h liderana (ou ela est muito limitada), no h represso eexiste plena liberdade e igualdade na troca de ideias, opinies e iniciativas. Oanarcossindicalismo procura se parecer o menos possvel com o Estado-capital. portanto a maior antiorganizao em comparao com o modelo organizativo existentehoje: o autoritrio.

    Seja pela espada, pela recompensa ou pela religio, muitas foram aschefias que sentiram a chamada, mas poucas as que lograram a transio ao

    Estado. Antes de obedecer as ordens de trabalhar e pagar tributos, as

    pessoas comuns tentavam fugir para terras de ningum ou territriosinexplorados. Outros resistiam e tentavam lutar contra a milcia. A maioriadas chefias que tentaram impor quotas agrrias, impostos, presta es detrabalho pessoal e outras formas de redistribuio coercivas sobre umaclasse plebeia voltaram para formas mais igualitrias ou foram totalmentedestrudas. Por que umas triunfaram enquanto outras fracassaram? Os

    primeiros Estados evoluram a partir de chefias, mas nem todas as chefiaspuderam evoluir at se converterem em Estados. Para que pudesse se dar atransio teriam que ocorrer duas condi es: a populao no s teria que

    ser numerosa (de 10 000 a 30 000 pessoas), mas tambm teria que estar

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    cincunscrita, ou seja, estar confrontada com uma falta de terras para as

    quais as pessoas que no queriam suportar recrutamentos, impostos e ordenspudessem fugir. ( Marvin Harris: Chefes, Cabeas e Abusadores)

    II. A ESTRUTURA BSICA DO ANARCOSSINDICALISMO:

    O SINDICATO DE RAMO

    Esta pode parecer a parte mais tediosa do texto, e a que se refere a comofunciona a anarcossindical. Lhe pedimos pacincia. A estrutura e forma de tomada dedecises do anarcossindicalismo original, ningum mais a usa e foi pensada de modoa limitar ao mximo a apario de burocracias e lideranas. Se voc aprender comofunciona a CNT, ningum poder nunca te manipular nem te dirigir dentro dela.

    A CNT um sindicato. Uma confederao de sindicatos de ramo. Um sindicatode ramo uma agrupao de pessoas que trabalham no mesmo ramo de produo eque defendem seus interesses. Os sindicatos da CNT so sindicatos de ramo emoposio aos chamados sindicatos de profisso.

    Sindicatos de profisso seriam, por exemplo, o sindicato de auxiliares deenfermagem (SPAX), o de ajudantes tcnicos sanitrios (SATSE), o de mdicos(CEM)... Ao invs disso, a CNT no ramo de sade formaria o Sindicato de Sade, semdistino de categorias profissionais. Esta estrutura se adotou no congresso de Sans de1918. E se chegou a ela porque ela foi vista como a mais prtica nos enfrentamentoscom o capital.

    No terreno ttico, no final de 1917 foi apresentada a ns uma greve de

    talharineiros e ebanistas (sindicatos de profisso) que se estendeu at 1918. Aburguesia de ambos os ramos (alimentao e madeira) decide-se a no ceder em nada, e os trabalhadores, a ganhar em tudo. O governador do momento

    quer mediar e fracassa. E se passam 10 semanas. Os patr es comeam aperder a tranquilidade, aceitam a mediao do governador e a nomeao deuma comisso mista para chegar a um acordo. Mas os talharineiros senegam a qualquer trato. Desejam triunfar pela ao direta, cara a cara comos burgueses, e dizem que a autoridade ali um elemento estranho que est

    sobrando. E o governador ferve de raiva; detm um bando de grevistas. O que por sua vez provoca uma terrvel onda de sabotagens. Os caminh es que faziam a entrega de talharins e macarr es eram assaltados por um pelotode grevistas, que os derrubam e danam um xote em cima da massa, ou lhe

    jogam cido fnico. Ou ento a comiam depois. E penetravam nas tendas doramo, quebravam os cristais e inutilizavam toda a mercadoria com cido. Aburguesia do talharim se alarmou poderosamente. Os ebanistas faziam o

    mesmo, quebrando mveis e espelhos com enorme barulho. As detenes ficavam mais violentas em ambos os ramos, de maneira que no dos

    talharineiros, que englobava quatrocentos oficiais, foi impossibilitado de

    atuar por falta de gente. Mas ento todo o ramo de alimentao se

    solidariza: os padeiros, os pasteleiros, moleiros, cobrem as baixas de seus

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    companheiros detidos. E os carpinteiros, torneiros, envernizadores, todo o

    ramo da madeira se mobiliza para substituir os sabotadores. A greve dos

    ebanistas durou dezessete semanas. At que os patres afrouxaram... Foi umtriunfo esmagador. E a lio de solidariedade foi realmente o queimpulsionou a criao do Sindicato nico da Madeira o famoso Ram de

    la Fusta, e o da alimentao, agrupando todos os sindicatos setoriais.(Joan Ferrer: A Revolta Permanente)

    O Sindicato nico de Ramo a estrutura bsica da anarcossindical

    Toda a CNT gira em torno do sindicato. Um sindicato do ramo da sade, porexemplo, seria formado pelas pessoas que trabalham na sade em uma mesma cidade,que teriam seu ponto de reunio na sindical local. Ali discutiriam os problemasprprios de seu ramo. Podem ser formados sindicatos do ramo do metal, da construo,da madeira, da alimentao... Se no existem pessoas suficientes (25) para formar umsindicato de ramo, o que algo bastante frequente, se constitui um Sindicato deOfcios Vrios (S.O.V. ou Sindivrios) com simplesmente 5 pessoas. medida que oSindivrios cresce e agrupa pessoas de diferentes ramos em nmero suficiente, pode irse desmembrando em sindicatos de ramo. Por exemplo, um Sindivrios de 300cotizantes pode ter 30 de construo, 50 de metal, 200 de servios pblicos e 20variados. Poderiam se assim o desejassem formar trs sindicatos de ramosindependentes (construo, metal e servios pblicos) e deixar o Sindivrios comsomente 20 cotizantes.

    Como funciona o Sindicato nico de Ramo?

    O sindicato decide suas questes por meio da Assembleia de Sindicato. Aassembleia o seu rgo mximo de deciso. assembleia assistem pessoas concretas.No se admite que comits, delegaes etc. se intrometam na assembleia.

    A maior parte das organizaes sindicais e, em geral, qualquer organizaoassim o afirma , baseia suas decises na assembleia, mas com uma grande diferenacom respeito ao anarcossindicato. Consideram a assembleia como um rgo mximo dedeciso, mas se d assembleia a periodicidade de um ano, por exemplo. Logo seescreve nos estatutos a criao de outro organismo, pleno de sindicato, reunio decomit, junta diretiva ou qualquer outra denominao, que decide entre assembleias,de forma que o poder executivo passa na prtica a esse organismo.

    Na anarcossindical, no sindicato de ramo, quem decide sempre aassembleia. No existe junta, nem comit, nem pleno de delegaes, nem direo,nem executiva... que possa decidir entre assembleias. Mais adiante se explicar melhoras funes dos comits da CNT. Outros nomes que recebe o sindicato de ramo so os desindicato nico ou sindicato nico de indstria.

    Cada vez que se celebra uma assembleia importante que algum tome ata doque ali se diz. Na ata se refletem as opinies das pessoas que intervm, os debates, os

    acordos que so firmados e quem os assume. Ao escrever e guardar a ata, escrevemos

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    nossa histria.

    A submisso, o trabalho forado, a fome, so o lote da classe operria. Por ele, o inferno assalariado um inferno l gubre: a grande maioria dosseres humanos vegeta ali, privada de bem-estar e liberdade. E nesse inferno,

    apesar da decorao democrtica e de sua m scara, florescem montes demisria e dor. O sindicato traa sem equvoco possvel a demarcao entreassalariados e amos. Graas a ele, a sociedade aparece tal como : por umlado os trabalhadores, os roubados; por outro, os exploradores, os ladres.( Emile Pouget: O Que o Sindicato?)

    Funes dos AnarcossindicatosO sindicato existe fisicamente por meio do local, que o ponto de reunio das

    pessoas do ramo.

    Quando um proletrio medita sobre sua triste sorte, no h dvida:vai ao local do sindicato. ( Emile Pouget)

    Os sindicatos da CNT se ocupam de todas as questes relativas defesa daafiliao, e para isso se equipam de meios humanos, tcnicos, econmicos e jurdicos.Planejam as aes contra o patronato, elaboram estudos sobre as condies detrabalho, reivindicaes sobre problemas de segurana e higiene no mesmo e coletamtodas as informaes possveis a respeito do funcionamento das empresas(abastecimento, fornecedores, lucro, empresas subsidirias, empreitadas, poltica

    laboral, planos de converso...). Isto importante para, por um lado, fazer frente aosplanos capitalistas com xito e sem sobressaltos, e, por outro, para o caso de tomarmosa empresa. Tem a capacidade de convocar greves, assistir a reunies com a autoridadee negociar em nome de seus membros. Preparam cursos de formao, jornadas deestudo, conferncias. Realizam a defesa jurdica laboral e penal da afiliao. Osindicato a escola do povo. Nele devemos nos acostumar a ver nos problemas dosdemais nossos prprios problemas, a desenvolver o gosto pela conversa, pela reflexo epelo debate, a ser polivalentes, a ter iniciativa... Dependendo do nmero e da atividadedas pessoas que compem o sindicato este estar melhor ou pior equipado.

    O Conhece a ti mesmo, de Scrates, completado no sindicato com am xima Atua por ti mesmo. ( Emile Pouget: O Sindicato, Escola deVontade)

    Constituio de um Sindicato de Ramo

    25 pessoas podem formar um sindicato deste tipo. Se no existe nmerosuficiente, cinco podem constituir um Sindicato de Ofcios Vrios (Sindivrios), no qualcabem todos os ramos.

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    Meios Humanos e Tcnicos

    A primeira coisa que os membros de um anarcossindicato devem fazer valorizar as foras que possuem, e, em seguida, planejar atividades que possam serlevadas a cabo. Realizando o possvel, se poder chegar ao impossvel. Isto

    importante porque a inatividade ou o fracasso conduzem sempre desmoralizao. Sonecessrios no sindicato tambm meios tcnicos na medida do possvel, como telefone,FAX, fotocopiadora, mquinas de escrever, computador e impressora, um local paracelebrar reunies, manter o arquivo, etc. Uma recordao emocionada para nossagente da poca gloriosa, quando tudo se fazia a mo e no lombo de mulas velhas. Comcerteza, para alcanar todos os anteriores, se requer desenvolvimento.

    Para conseguir afiliao, que o mais importante, cada membro tem que buscarfazer com que o sindicato cresa. O que certeza de maneira absoluta que aanarcossindical s cresce onde h problemas e conflitos, e que funo da militnciabusc-los e provoc-los. H um sculo atrs, o companheirismo era muito forte. As

    pessoas queriam estar sindicadas apesar da represso. Ali onde havia um peridico surgiam sindicatos, e o desejo de transformao

    social rondava muitas cabeas. Hoje em dia isso no existe, e foi substitudo por umforte individualismo, ceticismo e desejo de consumo fomentado pelo capital. Devemos

    saber que nossa mensagem nesta sociedade no compartilhada no momento -, e quegrande parte de nossas iniciativas se chocaro com a indiferena. No deve-se perder onimo.

    As Assessorias Jurdicas da CNT

    A assessoria jurdica da CNT no tem porque ser gestionada por juristas. Bastauma pessoa companheira que tenha um pouco de experincia na legislao laboral ouque se comprometa a estud-la. Em caso de dvida, consulta-se ento com o servio

    jurdico, com aquele que tenha contato com a assessoria da CNT.Dever dispor da legislao atual quando convir, por meio dos boletins oficiais

    provinciais, do conselho do estado ou da regio correspondente e de toda a informaosobre as empresas que conseguir.

    Neste mundo hostil e de leis injustas para ns, temos que defender nossosdireitos e quanto melhor os conheamos mais conscientes seremos e melhor o faremos.

    Menor necessidade de advocacia teremos com mais conhecimentos jurdicos. Mas amenor interveno judicial vir da fora maior do sindicato.

    Queremos esclarecer que a finalidade de toda a legislao laboral no outraque a de beneficiar o capital em geral, defender seus privilgios e permitir que roubelivremente, impedindo a confrontao direta entre o mundo do trabalho e ocapitalismo. O Estado impe regras de jogo que beneficiam sempre o patronato, j queo sistema judicial:

    - caro. Para funcionar dentro dele deve-se pagar taxas muito elevadas. Essagente, por abrir a boca, no te cobra menos que 1 000 reais. Muito mais para aceitarum caso, ou tramitar questes que te correspondem por direito, que so suas semnecessidade de nenhuma magistratura ter que decidi-lo.

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    - Sua linguagem extremamente difcil para as pessoas normais. feita assimpara aumentar a ignorncia da gente, pois conhecer uma coisa e compreend-lasignifica poder domin-la, e o que o interessa no isso, mas sim que uma casta

    jurdica possa impor sua vontade sem discusses.- lento. Alonga processos que, por meio da negociao direta, poderiam ser

    solucionados com rapidez.

    - Considera as partes em conflito como menores de idade, incapazes de

    solucionar por si mesmas seus problemas.

    - muito complexo. Necessita de grande quantidade de conhecimentos para semover dentro dele. Muitas de suas partes so contraditrias, com armadilhas, e nuncah realmente segurana de que se tem ou no a razo.

    Recorrer a juizados um recurso que favorece sempre a patronal, pois aindaquando a pessoa que julga d razo ao trabalho e sanciona o capital, a nica coisa quefaz nos dar o que nosso, e o que triunfa a ideia de que preciso um sistema lento,intil, caro, pernicioso, prepotente, corrupto e incompreensvel, nas mos do qual

    temos que pr nossa soberania.Conhecer as leis permite exigir que se cumpram no caso de elas no serem

    efetuadas, o que acontece em muitas ocasies. Mas alm disso deve-se saber pular asleis, empregar o senso comum e perguntar-se sempre qual o caminho mais curto,simples e barato para fazer algo. Ao usar mtodos jurdicos, rompemos todavia nossaforma particular de ser, que nega as instituies do Estado. Por isso no se recorre smagistraturas para nada mais que para feitos concretos.

    Segundo os acordos da CNT, a nica ttica assumvel por sua militncia aAo Direta (mais adiante se falar dela). A assessoria jurdica da CNT gestiona, pois,casos determinados nos quais, por falta de foras, no se pode chegar a solucionar oassunto pela Ao Direta. As assessorias jurdicas entram dentro das contradies emque se move o anarcossindicalismo.

    O Que o Comit de Sindicato?

    A assembleia do sindicato nomeia pessoas para que abram os locais,

    mantenham relaes com os outros sindicatos, recebam e enviem correspondncias,arrecadem fundos, cuidem da imprensa, faam pedidos de livros... Tarefas simples queem geral no precisam de uma reunio da assembleia para serem levadas a cabo.

    Estas pessoas formam que se chama de comit sindical, que se divide por secretarias,que so as de:

    - Organizao: encarregada das relaes internas, das listas de afiliao...- Propaganda, cultura e arquivo: redige os materiais didticos, prepara a

    biblioteca...

    - Imprensa e informao: se ocupa de se relacionar com os meios decomunicao.

    - Tesouraria e assuntos econmicos: conduz as contas.- Jurdica e pr-pres@s: rene os boletins oficiais, a legislao, os contratos,

    informa sobre problemas jurdico-laborais, dispe de fundos para ajuda em caso dedetenes, encarceramentos, se relaciona com os gabinetes jurdicos...

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    - Ao sindical: elabora planos gerais de atuao nas empresas, haja ou noafiliao.

    - Ao social: o mesmo mas em questes no sindicais, como ecologia,antimilitarismo...

    - Secretaria geral: representa a confederao.Todas formam o comit

    do sindicato, junto com as delega

    es das diferentes

    sees sindicais das empresas do ramo de que se ocupa o sindicato. Isto em teoria,porque se o sindicato achar que pode se virar com menos comits, as secretarias sofundidas (por exemplo, imprensa e propaganda). E se quiser inventar alguma

    secretaria, tambm possvel. Mas o que realmente importante que os membrosdo comit do sindicato, e, por extenso, de todos os comits da CNT, nopodem receber nenhum salrio por sua militncia.

    Todos os comits so mecanismos de gesto e coordenao, no possuem opinioprpria, logo no podem tomar decises. S podem desenvolver as decises dasassembleias do sindicato e de seus encargos. No caso de por imperiosa urgncia ou

    necessidade terem que decidir algo, tero de prestar contas da gesto assembleia,que decidir se sua atitude foi ou no correta. Todos os cargos so revogveis aqualquer momento. A assembleia livre para exigir a demisso de seu/suarepresentante se consider-lo oportuno. A durao de um cargo de dois anos,podendo ser reeleito para outro ano no mximo. necessrio que os cargos sejamrotatrios. O comit, como tal comit, no pode fazer propostas assembleia dosindicato. Todo comit ter que ser confirmado em outra assembleia aps sua eleio.Todos os cargos esto sempre disposio da assembleia. Os membros de partidospolticos no podem ter cargos na confederao.

    Em todas as assembleias os comits devem explicar as gestes realizadas pelassecretarias. Os comits da CNT no possuem opinio prpria. Quando abrem a boca, ofazem em nome da totalidade da organizao e de seus acordos.

    Estas limitaes garantem que toda pessoa que acesse um cargo de gesto o faadesinteressadamente. uma barreira para evitar a apario de uma burocracia, elimitar ao mximo possveis lderes, dirigentes e autoridade no seio do sindicato. Ocomit na CNT deve ser um mecanismo de relao, administrao e coordenao. Noum grupo de poder.

    A limitao a membros de partidos polticos pertencerem aos comitsconfederais foi adotada nos anos 30 sobretudo como meio de impedir os sindicatos de

    serem dirigidos pelo Partido Comunista Espanhol. Nada impede que comunistasautoritrios militem na confederao enquanto sejam trabalhadorxs e respeitem suaforma de funcionamento. Mas estas pessoas pertencem a partidos que aspiram a se

    converter em vanguardas e guias do proletariado, e uma de suas tticas consiste em seinfiltrar em quantas organizaes independentes existirem para poder control-las.Por isso so limitadas desde a entrada as suas aspiraes ao comando.

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    III. FUNCIONAMENTO DA CNT NAS EMPRESAS:

    A SEO SINDICAL

    O conjunto de cenetistas de uma empresa forma o que chamado de SeoSindical. A seo sindical funciona por sua vez por meio das assembleias, nas quais se

    decide sobre os problemas concretos do centro. No enfrentamento com a patronal, aseo sindical deve conseguir liberdade de movimentos, propaganda, afiliao e defesada mesma, direito a convocatria de assembleia, e direito a assinar acordos em seunome. Tal como est a legislao e o panorama sindical hoje em dia, a CNT tem quelutar dia a dia para lograr os pontos expostos anteriormente, pois as empresas se

    negam a reconhecer o anarcossindicato por sua ttica de boicote s eleies sindicais.

    As eleies sindicais: o que so?

    Neste pas, @s trabalhadorxs ativ@s so legalmente representad@s perante apatronal atravs do comit de empresa. Para constitui-lo, se realiza a cada quatro anosum processo de eleio nas empresas. Nele participam os sindicatos apresentandocandidaturas, listas de pessoas elegveis atravs do voto individual e secreto d@empregad@ depositado em uma urna no dia eleitoral. As listas que se apresentam solistas fechadas, ou seja, so votadas por completo e na ordem em que o sindicato asapresenta. @ votante no pode priorizar @s candidat@s de sua preferncia, ou votar emcandidat@s de listas distintas. Definitivamente, a lei determina de forma minuciosa o

    desenvolvimento e o calendrio da campanha eleitoral. Tudo culmina no dia daseleies, que quando se vota. Posteriormente, feita a contagem dos votos, e o

    nmero de delegad@s sindicais correspondentes repartido de forma proporcional aoobtido em cada lista. Estxs delegad@s constituem, logo, o comit de empresa.

    As eleies sindicais: sua origem

    As atuais eleies sindicais derivam das eleies para enlace sindical que eramcelebradas durante a ditadura franquista no seio de seus Sindicatos Verticais. As

    eleies sindicais durante o franquismo se diferenciavam das atuais em que no eramapresentados sindicatos nem candidaturas, mas pessoas como independentes. Mas

    deve ficar claro que as eleies sindicais so perfeitamente compatveis com um regimeditatorial. Tanto membros da CCOO como da USO durante o franquismo a partir dosanos 60 participavam individualmente das eleies nos sindicatos franquistas.

    A UGT e a CNT as boicotavam, e promoviam um enfrentamento radical contra a

    ditadura que as deixou esgotadas e desarticuladas. Pode-se dizer que, durante os anos

    60 at a morte de Franco em 1975, a UGT e a CNT tiveram uma existncia mnima,clandestina e perseguida sindicalmente falando.

    Em contraste, a CCOO e a USO tambm clandestinas atuavam com maistranquilidade graas s posies institucionalizadas que ocupavam seus delegados noSindicato Vertical franquista. Especialmente a CCOO e o Partido Comunista da

    Espanha esperavam converter-se, graas participao no sindicato franquista, nos

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    nicos representantes do movimento operrio espanhol, j que dispunham de quadrossindicais ativos eleitos democraticamente e tolerados pelos fascistas. Os lderes doCCOO e do PCE pensavam que era impossvel derrubar o regime enquanto Francovivesse. Sua estratgia era esperar que morresse, promover uma democracia econverter-se nas foras hegemnicas da esquerda espanhola colocando sua gente noaparato do Estado. Para conseguir isto, necessitavam de uma transi

    o tranquila. Por

    consequncia, fizeram todo tipo de concesses para alcanar o poder: aceitaram ossmbolos da monarquia, o chefe de Estado designado por Franco (o rei), o sistemacapitalista e a economia de mercado, a continuidade dos fascistas em seus postos, e

    que no houvesse ajuste de contas com os assassinos e os ladres do regime. A eles se uniram finalmente outras formaes respeitveis da esquerda como o

    PSOE e a UGT, que no queriam perder sua fatia do bolo. Com Franco morto e osSindicatos Verticais dissolvidos, o governo da Unio de Centro Democrtico, apoiadopor estas foras da oposio, implementam o sistema eleitoral com voto secreto nasempresas at 1978.

    Em resumo: as eleies sindicais so herana da ditadura franquista, dosfalangistas e fascistas reconvertidos a democratas, e dos comunistas, socialistas e

    liberais que os apoiaram para fazer a transio para a dita democracia, de formapacfica e sem rupturas. Esta herana responde necessidade do governo e dapatronal de dispor de interlocutores vlidos e agentes sociais responsveis. O poder e ocapitalismo para nada precisam de um povo consciente de seus direitos, massas em

    mobilizao permanente e dissidentes que pretendam derrubar o sistema.

    O circo eleitoral

    Diro para voc que mediante as eleies xs trabalhadorxs de uma empresaelegem seus/suas representantes. Isto falso. As eleies tm uma misso principal,que a de conceder a representatividade s centrais sindicais que disputam. Osindicato que representativo o que se senta para negociar com o governo e apatronal, e o que recebe milhares de milhes em subsdios. Se voc vota em umsindicato, o que faz outorgar legitimidade s pessoas que dirigem esse sindicato paraque atuem em seu nome. Voc lhes d poder e direito, as capacita, lhes transferesegurana para que quando tomarem uma deciso possam dizer por meio da magiaeleitoral que voc participou. A legitimidade algo que busca sempre o poder, e

    significa que quem est dominad@ possui confiana em quem manda e pensa que temrazo ou que tem suas razes para fazer o que faz. Na Espanha, a legitimidade dossindicatos muito escassa. As pessoas os identificam com o governo e com a patronal,e em geral pensam que a corrupo dentro deles algo generalizado. A pesquisa feitaem 1995/1996 pela Universidade Complutense de Madrid sobre a sociedade espanhola,

    expressava que no campo de sindicatos as pessoas pensam em geral que sindicalistas

    so funcionrios, e os sindicatos, emanao do Estado; que 63 % da populao tinhapior imagem dos sindicatos que dos grandes empresrios; que esta opinio era maisfrequente entre pessoas de esquerda que de direita; e que a imagem mais positiva

    sobre os sindicatos era manifestada pelas pessoas que apoiavam o governo. H muitosoutros estudos que possuem resultados similares.

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    Voc pode pensar que ser diferente deles, que voc far as coisas de outraforma, que voc pode se apresentar s eleies e ser melhor que essa gente, queconverter o sindicato em outra coisa. Bom, pois voc muito presunos@. NaEspanha, h uma pluralidade sindical incrvel, e muito duvidoso que voc consigasuperar as dezenas de milhares de sindicalistas que andam por a dando voltas comsuas pastas. Quando todos o fazem t

    o mal, n

    o se pode pensar que isso seja porque

    todos eles so maus, perversos, traidores... H outros motivos.

    O caminho eleitoral

    No to simples se apresentar para as eleies. No to fcil quanto dizer lvou eu. Voc tem que apresentar uma candidatura e desenvolver um processoeleitoral. Isso significa que voc precisa: primeiro, buscar gente que queira seapresentar; segundo, conhecer as normas legais e cumprir suas exigncias dentro dosprazos legais; terceiro, brigar com as outras candidaturas; quarto, ter dinheiro para

    fazer propaganda; e por ltimo, conseguir votos. Se fizer tudo isso, se conseguir chegarao final de sua carreira, voc se dar conta de que se converteu em outra coisa e que jno mais voc, porque no caminho voc ter tido que prometer, mentir, enganarseu/sua rival. Ter feito loucuras tantas vezes que agora ser realmente outra pessoa.

    Buscar gente para a candidatura muito complicado. A maioria de teus/tuasrecrutas aceitaro ir como candidat@s sempre que isso no implicar compromisso. Evoc aceitar estxs candidat@s suprflu@s, passiv@s, para poder apresentar a ditosalista. Porque a candidatura tem que estar completa. Se tiver que apresentar dez

    candidat@s, no podem ser nove.Voc deve ainda ter um programa. Pode perceber que todos os discursos

    eleitorais so iguais: todos proclamam honradez, transparncia, eficcia, participao,combatividade, e poder assembleirio... Todos juram que faro isto e aquilo. Todosreivindicam direitos, salrios, plataformas, trinios, segurana... Todos distribuemisqueiros, canetas e chaveiros. Todos soltam embustes. E voc no ser diferente,porque no est em sua mo individual conseguir o que h de ser fruto da ao coletivade tod@s @s trabalhadorxs.

    As normas jurdicas so importantes, porque se voc se esquecer de apresentarum papel, um documento, uma assinatura... se no ltimo dia e na ltima hora umcandidato renunciar, ou voc se der conta de que seu/sua recruta se apresenta por dois

    sindicatos, adeus lista. Ademais, teus competidores buscaro o mnimo deslize para teimpugnar, te derrubar e te anular. Acusaro as pessoas de sua candidatura,empregaro todos os meios a seu alcance para impedir que voc se apresente. Comcerteza voc far o mesmo com eles, porque quanto mais sindicatos se apresentarem emais gente votar, menos delegad@s voc obter.

    E por ltimo, para conseguir com que votem em voc, ter que se passar pelaempresa mendigando este voto, puxando seus/suas colegas pelo brao para tomarcerveja, eu me pergunto se no iriam querer mais do que isso e colocar-lhes diantede uma urna com um papel na mo.

    Ou seja, voc ter se metido em um processo que no controla. o processo quedirige voc e que faz com que voc faa o que deve ser feito. E assim, o mesmo consegue

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    sair, o mesmo ganha, vence. Mas voc j sabe que agora j no voc. Agora voc umidiota.

    Os membros dos comits de empresa

    Agora voc membro de um comit de empresa. Voc est submetido a umanorma jurdica. Voc tem que lidar com outros sindicatos, com a empresa, e comtrabalhadorxs. E voc at tem que lutar com teu prprio sindicato.

    Porque voc agora diferente, voc no trabalha mais como antes. Voc seespecializou em problemas. Teus/tuas colegas esperam que faa algo, que lhes resolvasuas pequenas confuses individuais, que lhes arrume questes de quadrante,uniformes, trocas de posto, turnos melhores... Te contaro histrias longussimas Vejaque injustia! Veja quanta razo eu tenho!, e se dar conta de que no te dizem todaa verdade, que te ocultam dados e que muitas vezes seus pedidos so absurdos. Seusindicato se o tem tentar fazer com que os recursos que obtm das eleies horas

    sindicais fundamentalmente se revertam para a estrutura sindical, e tentarofragilizar sua posio voc deve a quem vota em voc, que quem te coloca no comit,e no ao sindicato ao qual pertence , e comprovar que se choca uma ou outra vez comteus/tuas supost@s aliad@s, ou que tem que se render s suas exigncias. Ter quededicar uma parte importante de suas energias para conspirar, selar alianas contrafulan@, para depois de amanh lutar contra ciclan@. Os outros sindicatos procurarotornar sua vida impossvel e voc, a deles , porque, se no, por que a divisosindical? Por ltimo, voc ter que se sentar com a empresa. E perceber que naverdade a direo no to mal, que seus problemas so reais, e pouco a pouco acompreender melhor, ter uma atitude mais construtiva. E a partir dosconhecimentos e relaes que vai adquirindo, far carreira profissional, serpromovido, obter melhores postos.

    E se por um milagre d@s mrtires do panteo sindicalista voc tentar se manterfiel ao seu programa e aos seus princpios, ver que uma e outra vez se espatifa com apassividade de seus/suas colegas de trabalho. Elxs sentem que voc @s est usandocomo pretexto, como libi, como suporte. Elxs no fundo sabem que voc um/aimpostor/a, que um/a farsante, que usa um disfarce: o disfarce que oculta a sede depoder, o af de protagonismo, o desejo de privilgios que emanam de sua posioinstitucional... e portanto, te olham como um ser estranho, como algum que lcito

    usar para fins particulares. No gostam de voc: te contrataram, e normal que sejaassim. Ademais, suspeitam de voc. Voc se separou d@s trabalhadorxs por: primeirobarreiras fsicas, o local do comit, ao qual peregrina @ trabalhador/a com suasdemandas; em segundo, pelo trabalho que realiza, que j distinto do de seus/suascompanheir@s; em terceiro lugar, h barreiras mentais, porque sua perspectiva agorano a mesma que quando estava apertando parafusos, e v as coisas de outramaneira; em quarto lugar, h uma separao estrutural, j que est em um posto deonde recebe informao privilegiada, interage com diretores...; tambm dispe de maispoder, pode tomar por conta prpria decises que afetam @s trabalhadorxs sem queelxs possam intervir; e, por ltimo, adquire um saber, aprende legislao, normas evias para a realizao de trapaas, conciliaes e tramoias. Como seus/suas colegas vo

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    gostar de voc, se agora no um/a delxs? E, igualmente, voc considerar @strabalhadorxs de outra forma. @s ver como egostas, covardes, vagabund@s...

    totalmente impossvel que isto seja de outra forma. inconcebvel que,atravs de um sistema eleitoral desenhado para converter a democracia em uma farsa,ns participemos e apoiemos um sindicato.

    Algumas caractersticas do processo eleitoral

    Se voc passou por este ritual eleitoral, ter comprovado como todo o processo deeleio se realiza de costas para @s trabalhadorxs. As pessoas a quem voc pede o votono leem os programas, no escutam a propaganda, no participam das suas reunies,e muit@s no votam. Em segundo lugar, visvel que o processo levado adiante pelosliberados (j falaremos deles), os profissionais do sindicalismo que vivem daorganizao que supostamente deve defender a classe operria. Estes elementos,metade polticos, metade burocratas, criaram uma mquina de mentir, uma postura

    em cena para reprimir qualquer tipo de participao de quem no apoie a sua pequenaoligarquia. Os especialistas sindicais procuram sobre todas as coisas defender sua

    organizao, seus cargos e seus interesses, e isto se consegue sendo conservadores. Aterceira questo, que na campanha no h confronto de ideias, por que @trabalhador/a concebid@ como um/a cliente, uma conscincia a seduzir, um mero votoa arrastar para as urnas. E por isso @ trabalhador/a transformad@ tambm em umproduto, em um objeto de consumo que voc deve adquirir. Ter que definir o perfil deseu/sua votante, e como chegar mais facilmente a elx. E isso no se consegue atravsdas ideias. Os discursos sobre participao e democracia tornam frias as relaespessoais a estas alturas. Eles incidiro especialmente no mal que os outros fazem, e nobem que voc faz ou far.

    Como quarto ponto, h uma ausncia de moralidade no processo vale tudo , amentira, o suborno e a coero mais ou menos evidente, para lidar com seu/suaoponente. Esta falta de honestidade percebida pel@s trabalhadorxs e contribui ainda que tente manter-se margem destas tticas para o seu prprio descrdito.

    Em quinto lugar, seu programa se articular em torno do politicamenteinofensivo, at que esteja extirpado de todo e qualquer resqucio de desejo detransformao social. Os programas refletem a imagem de um/a trabalhador/aretificad@, bem educad@ e amante do sistema, e, ao mesmo tempo, contribuem para

    sua generalizao. No vontade d@s trabalhadorxs o que se pe no programa. Noso seus interesses sem mudar @s que se defendem. E isso assim porque elxs noparticipam na definio de qual esse interesse.

    No esquea que voc provavelmente pertence a um sindicato. Todos seapresentam como blocos compactos, sem fissuras, harmnicos. Mas durante o processoeleitoral so alimentadas as disputas internas, a guerra de faces por poder no seioda organizao. Uma guerra manipulada que no pe em questo o funcionamento doSindicalismo de Estado, mas que serve para distribuir poderes e influncias em seuseio. Para sustentar os grupos dominantes, derrub-los ou levantar outros.

    E, por ltimo, como desprendimento de todo o processo, voc ter se convertidoem uma figura nova, em outra coisa, em um/a sindicalista de Estado, isto : voc

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    um/a criad@, um/a servidor/a, um/a empregad@, um/a lacai@ a servio de um artefatoempresarial. assim que perceber o repdio de seus/suas companheir@s, ou o seudissimulado interesse particular. Ver que nem as pessoas de sua prpria candidaturanem importantes quantidades da afiliao do sindicato votam em voc. Voc sequeixar da passividade proletria. Mas, na verdade, se queixa do disfarce to mal quecarrega, de sua m

    atua

    o. Porque n

    o h

    nada estranho no le

    o que se nega a saltar

    pelo aro do domador. S por um processo de domesticao o bicho obedece. E o mesmopassa com @ trabalhador/a, que no participa, que no se mobiliza entre outrosfatores porque voc existe. muito importante que compreenda isso. @strabalhadorxs no participam porque voc@s representa.

    Responsabilidade do sindicalista de Estado

    Voc que l isto, abra os olhos: no vale dizer que, tal como esto as coisas,fiquemos como estamos; no vale pensar que este sistema invencvel; no vale aceitar

    a moral do mal menor. Ao colaborar com um sindicato de Estado, ao se apresentar seleies sindicais, ao se libertar de teu trabalho, voc se torna cmplice de um sistemade controle d@s trabalhadorxs, desenhado para impedir que suas vozes se ouam; seconverte em um agente da represso, um capataz, um cabo, um colaborador, um/apres@ que vigia outr@s pres@s. Voc sabe que impossvel que o sindicalismo de Estadomude. impossvel que renuncie aos fundos de formao ocupacional, s subvenes e sua presena institucional, porque desta renncia deriva sua desapario. Voc sabeque um/a funcionri@ liberad@ no pode consertar a poltica laboral, nem aprecariedade, nem o desemprego... Voc sabe que suas reivindicaes so ridculas:carreira profissional, oposies, cursinhos de formao, salrios dos liberados, pactospelo desenvolvimento no interessam a ningum mais que a quem desenha e assinaestas coisas. Voc, como sindicalista de Estado, mais um peo da violncia simblica.No est fart@ de ser recriminad@ pel@s trabalhadorxs? No se cansa de ver seusdirigentes vivendo de mentiras? No te parecem absurdas essas concentraesrealizadas com horas sindicais? No so idiotas essas greves gerais destinadas a salvara imagem dos dirigentes? No so indignantes estes congressos nos quais te limitam avotar no que manda o chefe de sua faco?... Voc sabe melhor que ningum, noimporta que seja da UGT, da CCOO ou da CGT. Os sindicatos de Estado s podemmelhorar de uma maneira: morrendo.

    O boicote s eleies sindicais

    A CNT rejeita o princpio da autoridade, e, consequentemente, representantescom poder e imveis. Nas eleies de 1978, a CNT teve que optar entre se meter nocirco eleitoral ou se manter parte deste sistema de representao buscando outra viapara sua ao sindical. Se a CNT entrasse neste sistema de eleies sindicais,delegados executivos, funcionrios assalariados e subsdios do Estado e da patronal,reproduziria exatamente aquilo que est tratando de evitar. E (no poderia ser deoutra forma) foi feito um acordo de boicotar as eleies sindicais igual a como se fezdurante o franquismo. O preo que a CNT pagou para que se mantivesse um pouco

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    coerente (a pureza e a coerncia total no existem) foi o das excises de pessoas quepreferiram ir embora ante as dificuldades que tm ao levar adiante uma aoanarcossindical deste tipo, e apostaram em um tipo de sindicalismo baseado nas

    eleies-subvenes-liberados. Estas excises formaram o que hoje a ConfederaoGeral do Trabalho (CGT). Na prtica, a CGT, apesar de ter contado com maismobilidade ao dispor de alguns fundos para pagar seus funcion

    rios, obteve at

    o

    momento resultados eleitorais insignificantes. E, o mais importante, a CGT se

    institucionalizou, forma uma parte do sistema, funciona atravs de seus oligarcaspagos pelo Estado e pelas empresas, monta seu negcio de cursos de formao (como oresto dos sindicatos), e igual a todo o sindicalismo de Estado converteu a

    democracia em uma tragicomdia, uma pantomima, em uma palavra vazia, semsignificado. O papel geral da CGT, da CCOO, da UGT, da USO e de seus liberados

    institucionais, vergonhoso. certo que a CNT tem uma existncia escassa e precria, no momento. Mas a

    fora de uma ideia no proporcionada pelo nmero de seus/suas adept@s, mas pela

    validade de seus pensamentos. E a misso d@s dissidentes mostrar como funcionamas coisas, e abrir novos caminhos que possam dar lugar revoluo social, noconseguir muit@s afiliad@s atravs dos cursinhos de formao. Como se conseguem ascoisas extremamente importante para um sindicato libertrio.

    Somos um sindicato. Temos uma organizao. No se preocupe porque somospouca gente. A CNT no ineficaz, no est antiquada. A CNT uma mquinareluzente, um artefato recm inventado que serve para lutar contra o capitalismo. Ses houvesse neste planeta duas pessoas que a empregassem, no mudaria o fato de queesto lutando, esto se organizando, definindo problemas, demarcando objetivos,desenvolvendo tticas e estratgias e obtendo solues e vitrias at na derrota.Porque essas duas pessoas esto aqui, lutam contra o sistema. E isso d pnico aosistema e a seus servidores. Isso irrita os colaboradores e os traidores. Isso perturba os

    covardes e vendidos. Isso chateia enganadores, vira-casacas, trambiqueiros,

    trapaceiros, puxa-sacos e oportunistas. Isso assusta tambm as pessoas de boavontade que trabalham porque no se pode fazer outra coisa para os sindicatos deEstado. Isso lhes inquieta, porque sabem no fundo que seus interesses, seus

    subsdios, suas liberaes, seus discursos, sua eficcia, seus grandes aparatos, suasONGs e seu voluntariado... no so mais que mentiras que justificam a opresso e aganncia capitalista. Que haja dissidentes que esto dispost@s a adotar outras formas

    de ao, disso no gostam, isso lhes d medo porque pe em xeque o estilo de vida queassociam ao capitalismo. Por isso tentam inculcar-te a ideia de que tudo intil, queno se pode fazer nada fora do marco de suas regras e de seu jogo. Mas sempre, semprese pode fazer algo, aqui, agora, neste momento. O amor liberdade, a assembleia, ofederalismo, o apoio mtuo, a ao direta, jamais essas palavras podem ser dbeis.Tenha conscincia deste fato, e ser forte ainda que esteja a ss. Queremos ser muit@s,mas no como criad@s do sistema.

    Atividade cotidiana da anarcosseo

    Quando uma seo comea a andar, ou seja, quando trs, duas ou uma pessoa de

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    uma empresa qualquer decidem que j esto fartas de aguentar, devem procurar:- Conhecer os pequenos problemas das pessoas e se sintonizarem com eles,

    resolver reclamaes simples e criar uma corrente de simpatia ao redor da seo. Aresoluo de questes se leva a cabo em primeiro lugar por meio da ao direta, ouseja, falando diretamente com o chefe, o capataz, etc. Se isso no possvel, fazer comque o sindicato intervenha com o seu arsenal cl

    ssico (negocia

    o-press

    o-boicote-

    sabotagem-greve-etc.), e se por qualquer motivo isto no funcionar, ou se por relao deforas isto for impossvel, ou se for necessrio colocar em prtica um gasto energticoao qual no estamos dispost@s, pode-se realizar uma reclamao jurdica atravs daassessoria jurdica do sindicato. (Para isto existe esta secretaria.)

    - Legalizar uma seo perante o CEMAC e a empresa. A legalizao no supe aprincpio a entrada de nenhuma garantia ou direito. Mas permite que em um casohipottico a seo possa convocar uma greve legal e outras atividades, ao terpersonalidade jurdica.

    - Localizar o inimigo, que por um lado a empresa, e por outro, em 99 % dos

    casos, o comit de empresa e o resto dos sindicatos que colaboram com ele. Deve-seaumentar as contradies e no deixar passar uma. Mas no percamos nunca de vistao inimigo real, que a empresa, j que nestes sindicatos pode haver gente e militantescom boas intenes.

    - A seo deve estar presente no Comit de Segurana e Higiene do centro. Seele no existe, promover sua criao. Quer esteja nele ou no, a seo elaborar seusplanos de segurana no trabalho, em preveno de enfermidades ou acidentes.

    - Coletar o mximo de dados sobre a empresa, lucros que obtm, planoseconmicos, reconverses, planilhas, salrios dos diretores, composio dos conselhosde administrao, fornecedores, empresas subsidirias, costumes e comportamentos dapatronal... Isto serve sobretudo para se antecipar a seus planos repressivos, e tambmpara, em um caso hipottico, poder gestionar a empresa.

    - Editar boletins, folhetos informativos sobre os temas que vo saindo,mostrando as opes da CNT. Ressaltar sempre a opinio de que quem deve decidir soas assembleias.

    - A anarcosseo tentar fazer com que a empresa reconhea a personalidadecoletiva e jurdica de seus/suas trabalhadorxs, ou seja, que @s representantes queforem eleit@s na assembleia tenham capacidade negociativa, que hoje em dia estsomente nas mos dos comits de empresa.

    - Quando o Comit de Empresa convocar alguma assembleia geral, falar nelascomo CNT e procurar fazer com que assumam nossas propostas. Negar que as votaessejam secretas. O voto secreto sempre reacionrio. Na assembleia acontece s vezesda gente se dar conta de que no tem nada para esconder, perder o medo e adquirir osenso comum que nos faz ver as coisas com claridade.

    - Se as assembleias decidem coisas que vo contra os acordos da seo da CNT,se respeitar o acordo se no contraditrio com o que pensamos, mas no oratificaremos se no quisermos, e sempre defenderemos nossas posturas.

    - Se chegar o momento em que a lerdeza e a traio do comit ou dos sindicatosinstitucionalizados se fizer muito evidente, deve-se tentar derrubar o comit deempresa e propor que a representao se leve a cabo pelas sees sindicais e

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    empresa no preciso nem ser fix@ nela, incluindo a estada em perodo probatrio. Ademisso determinada por atividade sindical demisso nula radical, nico caso emque a empresa obrigada a readmitir (se for possvel demonstr-lo). A maioria dasrecomendaes anteriores so vlidas aqui, ou ainda melhores, porque s vezes no hnem outros sindicatos.

    IV. A RELAO DE SEU SINDICATO COM OUTROS SINDICATOS DA CNT

    A Federao Local

    No caso de diferentes sindicatos da CNT (construo, metal, ofcios vrios,gastronomia, servios pblicos etc.) conviverem em uma mesma cidade, este conjuntoforma o que se chama uma Federao Local (F.L.), que coordenada por meio de umcomit. Este comit tem os mesmos cargos que existem no sindicato e as mesmasatribuies. O comit local portanto um organismo de relao, administrao edesenvolvimento de acordos que lhe encomendam. Em nenhum caso um grupoexecutivo.

    Como nomeado o comit local?

    O comit local se nomeia em uma Plenria Local de Sindicatos, uma reunio qual os diferentes sindicatos locais (Ofcios Vrios, Sade, Construo...) mandamdelegaes com acordos por escrito tomados anteriormente em assembleia. Estaassembleia de delegaes nomeia a secretaria geral e a tesouraria. O resto dos cargos

    (imprensa, formao, arquivo, jurdica etc.) so cobertos com uma pessoa de cadasindicato de ramo.As plenrias locais de sindicatos tomam decises no mbito local. Para isso,

    necessrio que os sindicatos celebrem suas respectivas assembleias e assinemacordos previamente. A plenria local convocada por petio de um sindicato pormeio do comit local.

    O que acontece se h mais de um sindicato de ofcios vrios em umalocalidade? O sindicato em questo pode se relacionar com outros de localidadesprximas e formar uma federao comarcal, com as mesmas atribuies da federaolocal.

    Mecanismos de relao e coordenao entre federaes locais: aConfederao Regional

    Quando vrios sindicatos de um determinado entorno geogrfico estabelecem relaes,formam uma Confederao Regional do Trabalho. Por exemplo, a ConfederaoGeral do Trabalho de Andaluzia-Canrias. O entorno geogrfico pode ser modificado vontade dos sindicatos e as regionais podem tanto se fundir, para o que precisam da

    concordncia de ambas as regionais, como se dividir, se 75 % dos sindicatos assim o

    desejar.

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    Os sindicatos da Confederao Regional decidem em comum por meio daPlenria Regional de Sindicatos. A ela comparecem as delegaes diretas dosdiferentes sindicatos da regio com seus acordos tomados por escrito e em assembleia.

    A Plenria Regional de Sindicatos a encarregada de decidir sobre todas as questesde seu mbito geogrfico. Para as atividades de coordenao, a plenria nomeia uma

    pessoa que representa a confederao regional, que exerce a secretaria geral de umcomit regional. Elege ademais uma localidade que ser sua sede fsica. O resto dassecretarias do comit regional (tesouraria, jurdica, pr-pres@s) eleito em umaplenria local de sindicatos para a federao local sobre a qual recai a nomeao, ecada sindicato nomeia uma pessoa para cobri-las. Como isso um pouco tedioso, talvezum exemplo esclarea as coisas: os Sindicatos de Ofcios Vrios de Cdis, Sevilha,Granada, Crdoba, Jan e cinquenta mais sindicatos de ramo de diferentes localidadesse renem na Plenria Regional e nomeiam Juana Prez, do Sindivrios de Cdis,como secretria regional da Confederao Regional do Trabalho de Andaluzia-Canrias, e designam como sede do comit a Federao Local de Cdis. A Federao

    Local de Cdis composta pelos sindicatos de Metal, Construo, Artes Grficas,Ofcios Vrios, Servios Pblicos, Qumicas e Aposentad@s. Estes sindicatos, reunidosna Plenria Local, elegem o resto das secretarias, propondo uma pessoa cada um. Oconjunto destas secretarias (geral, organizao, jurdica, informao, arquivos etc.)forma o que denominado Secretariado Permanente, o qual, junto com assecretarias locais da regio, forma a totalidade do Comit Regional.

    O Comit Regional um rgo de coordenao, gesto e administrao. Nopode tomar decises nem acordos. S desenvolver as tarefas que lhe encomendarem.Ser revogvel a qualquer momento, em toda plenria regional se poder questionar acontinuidade do comit. Ter uma durao consecutiva de trs anos no mximo, esempre que se eleger um novo este ter que ser confirmado em uma plenria regionalposterior. Os membros dos comits no podem fazer propostas s plenrias eassembleias. Deve ficar bem claro que a soberania da Confederao Regional pertencesempre aos sindicatos de ramo. As funes do comit regional so as mesmas de outroscomits, exceto pela maior amplitude geogrfica que abarcam.

    Relaes entre as distintas confederaes regionais: a ConfederaoNacional

    As diferentes confederaes regionais que operam dentro do mbito de poderdominado pelo chamado Estado espanhol formam a Confederao Nacional doTrabalho. As confederaes regionais fazem seus acordos na Plenria Nacional deRegionais, da qual suas delegaes participam com acordos tomados por escrito nasPlenrias Regionais de Sindicatos. A Plenria Nacional de Regionais tem capacidadepara firmar acordos em seu mbito geogrfico e nomear um/a secretri@ geral nacionale uma federao local que ser sede fsica do Comit Nacional.

    Por exemplo: as confederaes galega, murciana, astur-leonesa etc. reunidas emplenria nacional de regionais elegem Belinda Fernandz, do Metal de Barcelona,como secretria geral da CNT. A sede do Comit Nacional recai na Federao Local deSindicatos de Barcelona, que composta por 32 sindicatos que reunidos em plenria

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    local elegem o resto das secretarias. Estas pessoas, Berlinda Fernandz e as eleitas emBarcelona formam o Secretariado Permanente do Comit Nacional da ConfederaoNacional do Trabalho (SP da CNT). O resto do Comit Nacional coberto com asecretaria geral de cada regional. As funes deste comit so as mesmas que asexpostas at agora para outros comits e ele sofre as mesmas limitaes.

    Por que a eleio de comits realizada desta maneira?

    Ela feita desse modo para evitar que os comits sejam homogneos. Em outrasorganizaes so eleitas listas, candidaturas, equipes e programas, so estabelecidasalianas para ocupar cargos e dali levar adiante a poltica da tendncia vencedora. Oanarcossindicalismo considera que seus comits no devem ter programas nempoltica. A eleio direta por parte dos sindicatos garante a heterogeneidade evariedade do comit. Qualquer tipo de representao tem uma carga de poderexecutivo, mas na CNT se procura fazer com que este poder em mos de pessoas maisativas e informadas seja mnimo.

    Como os sindicatos da CNT decidem entre eles?

    Por meio do Congresso da CNT. Do congresso participam as representaesdiretas dos sindicatos independentemente da regional ou da local a que pertenam,com seus acordos assinados por escrito e em assembleia prvia. O congresso tentadecidir sobre a atividade geral da CNT para evitar que diferentes confederaesregionais atuem contraditoriamente. O congresso pode tambm nomear um novocomit nacional e quantas questes sejam consideradas oportunas por parte dos

    sindicatos. Desde sua fundao em 1910, a anarcossindical celebrou sete congressos, ostrs ltimos depois da morte de Franco.O congresso convocado pelo Comit Nacional quando existe necessidade,

    quando surgiram situaes novas ou contraditrias que pedem esclarecimento. Entoela convocada com um ano de antecedncia, ratificada a convocatria em umaPlenria Nacional de Regionais, so apresentados os temas de discusso e comea odebate no seio dos sindicatos uns sete meses antes da determinao do incio.

    Os congressos da CNT sempre foram muito tempestuosos. tradicional quesejam perdidas as primeiras sesses em assuntos tcnicos, como se vota, como sediscute, que delegaes so aceitas, saudaes. Tambm tradicional que as pessoas se

    repitam e defendam seus acordos at a exausto, e que haja um ambiente apaixonado.

    Para presidir a primeira sesso eleita (a federao local de) Sant Feliu de Gu xols (Catalunha). Formada a mesa de discusso, o presidente faz uso da palavra. Presidente. Recordo que no congresso de 31 tambm presidi a primeira sesso. Naquele congresso, as sess es transcorreram emum ambiente carregado de paixo. Faltou controle e as primeiras sesses

    foram andinas. Convm que neste no ocorra o mesmo.Ferrovirios Madri Norte pergunta se possvel que as federaes

    locais, que so delega es indiretas, possam presidir e ser secretrias do

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    congresso.

    Presidente lhe esclarece que ele representa todos os sindicatos de suas

    localidade porque foi convocada uma assembleia geral e nela se discutiram

    pontos da ordem do dia, por isso uma delegao indireta.Vidro de Sevilha entende que no se pode ter delegao sem ser do

    sindicato ao qual pertence, porque as locais so representaes indiretas e asdelegaes devem ser diretas. Presidente esclarece a situao destacando que foram os sindicatos

    que assim decidiram ao discutir conjuntamente a ordem do dia.

    Torrevieja: O delegado deve representar sua assembleia e no outrossindicatos.

    Hospitalet de Llobregat: Precisamos nos dar conta da discussoanmala que mantemos e nos lembrar dos acordos do congresso anterior...

    Ferrovirios Madri Norte: A pergunta era saber se as delega es quevm com carter informativo podem presidir. Ele entende que no.

    Construo de Valncia: Deve-se proceder nomeao da comissorevisora de credenciais...

    Presidente: Ser melhor resolver o debate agora. Lembrem osdelegados que o congresso comea igual o de 31 e se se pretende que prevaleao prprio critrio, como pode a mesa encaminhar os debates?

    Ferrovirios Madri Norte insiste que so informativas e no podempresidir.

    O secretrio de palavras intervm para pedir que no se aglomerem para pedir a palavra porque impossvel de se entender. Logo diz que

    delegao direta... (Atas do Congresso de Saragoa de 1936)

    Este foi o incio do histrico congresso de Saragoa de 1936. O presidente, querepresenta a federao local de sindicatos de Sant Feliu de Guxols, pede serenidadenos debates, e a primeira interveno para questionar ao prprio presidente, porrepresentar uma federao local e no seu sindicato. A transcrio da ata anterior um exemplo entre centenas nos quais @s delegad@s s faltam puxarem-se pelos cabelos.Outro congresso divertidssimo foi o da AIT em Saragoa, em abril de 1872...

    ...Absolutamente cheio o teatro de Novedades; cheia ainda a calada por quem no cabia no teatro; quando Morago declarou aberto o congresso eapresentou Conlandrea (chefe de ordem pblica de Saragoa) com seuajudante (Braulio Bello, inspetor de ordem pblica) a suspender o ato, foi ummomento solene. Os delegados no cenrio permaneceram sentados etranquilos. Os funcionrios governistas, com uma repreenso semelhante natimidez, deram seus nomes ante o pedido do presidente, exposto com

    dign ssima superioridade. O pblico ansioso e silencioso, disposto a ser atorquando se inciasse a tragdia, escutou o dilogo entre o presidente e o

    policial.

    Toms e eu estvamos perto da porta, e vimos que, no momento em que

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    entrou a autoridade no cenrio, o clamor e o movimento da multido,consequncia natural de nosso sucesso, foi interpretado por um homem que

    se encontrava ao nosso lado como tentativa de fugir do pblico. De um salto,aquele homem, que parecia um colosso rural, com as mangas da camisa

    arregaadas exibindo braos de musculatura herclea, disse descrevendo

    uma linha diante de si com um enorme garrote... Maldito o que passar poraqui! Lhe arrebento a cabea!

    Por sorte no houve necessidade de provar a seriedade da ameaa.Todos permaneceram em seus postos e quando a sonora e bem timbrada voz

    de Morago gritou: Viva a Internacional!, ressoou um estrondoso... Viva!

    ( Anselmo Lorenzo , O Proletrio Militante)

    Resumo

    At aqui vimos formas de deciso na CNT, que giram basicamente em torno da Assembleia de Sindicato. Outros rgos decisrios com representao direta pormeio de delegaes dos sindicatos so as Plenrias; plenrias locais, regionais econgressos, das quais participam os sindicatos com os acordos assinados previamente

    em assembleia e por escrito. Esta regra vlida tambm para aPlenria Nacionalde Regionais, da qual participam as delegaes das diferentes confederaes regionais,com acordos assinados previamente e por escrito em uma Plenria Regional deSindicatos.

    Como so coordenadas as diferentes anarcossindicais do mundo?

    Por meio da AIT, a Associao Internacional d@s Trabalhadorxs. Em umcongresso mundial do qual participam as delegaes das distintas sees eleito umsecretariado internacional. A AIT pode se estruturar por continentes.

    A gesto e a administrao dos diferentes comits: as plenrias e aslimitaes dos cargos na CNT

    J falamos das diferentes limitaes que possuem os comits na anarcossindical

    para evitar a apario de uma burocracia e de novas formas de poder. Em resumo so:- As pessoas que fazem parte dos comits no podem receber salrios por seusservios. Estas atividades so sempre voluntrias e desinteressadas.

    - Os cargos so de gesto (desenvolvimento de tarefas encomendadas) eadministrao. No podem decidir por cima dos sindicatos.

    - Os cargos so revogveis e questionveis a qualquer momento.- Tm uma durao mxima consecutiva de trs anos.- So rotativos.- Esto disposio de cada assembleia.- Os comits no podem fazer propostas anarcossindical. Estas partem sempre

    dos sindicatos.

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    - Os comits representam a anarcossindical em seu conjunto. No possuemopinio prpria. Suas manifestaes pblicas tm que coincidir com os acordos geraisda confederao.

    - Todo comit tem que ser confirmado em outro comcio posterior sua eleio.- Os membros de partidos polticos no podem ser membros dos comits.- Os comit

    s t

    m que prestar contas de sua gest

    o em cada assembleia.

    As reunies dos diferentes comits (locais, regionais, nacionais) sodenominadas Plenrias (locais, regionais, nacionais). Nelas no so assinadosacordos. So gerenciadas questes tcnicas e so desenvolvidos os acordos dossindicatos e as tarefas que so encomendadas ao comit.

    Exemplos (todos eles discutveis)Seu sindicato resolve fazer uma conferncia cultural. Encarregam a Secretaria

    de Imprensa de buscar @ conferencista X. Em conversa com X, a Secretaria de

    Imprensa marca a conferncia para um dia concreto em que esta pessoa possa

    participar. A gesto est correta, pois no necessrio convocar uma assembleia paradecidir uma data quando se desenvolve uma gesto se no foi dito nada contra.

    Seu sindicato elabora um plano de segurana e higiene e encarrega a Secretariade Ao Sindical para coletar informao. A Secretaria de Ao Sindical decide porlivre iniciativa entrevistar o Delegado de Segurana e Higiene no Trabalho parasolicitar a este organismo documentao sobre o tema. Este o desenvolvimento deuma gesto encomendada. A secretaria tem iniciativa e capacidade para organizar suagesto.

    Despediram uma companheira. O secretrio de jurdica realiza gestes frente empresa para conseguir sua readmisso, de acordo com o sindicato e a pessoa afetada.

    A Secretaria de Jurdica no faz mais do que desenvolver uma gesto que estimplcita em seu cargo.

    O comit local de seu sindicato prope assembleia um novo horrio deabertura de local. Errado. No se deve consentir que nenhum comit faa propostascomo tal comit por mais andinas que sejam assembleia do sindicato, que umareunio de afiliadas e afiliados.

    O comit local descobre que encarceraram trs companheiras que ocupavam umlocal. parte das gestes jurdicas e diante da falta de tempo para convocarassembleias, o comit local decide convocar uma manifestao pedindo a liberdade

    das companheiras, j que elas vo ser transportadas para outro local. A deciso estcorreta. Um comit tem capacidade para decidir em casos de extrema, imperiosa eurgente necessidade. Na assembleia seguinte, a afiliao decidir se a deciso seencaixou nestas condies e se o comit deve seguir em seu cargo.

    Com certeza os exemplos so milhares, e as solues possveis que lhes damosaqui no agradaro muitas pessoas, e surgiro outras, to ou mais vlidas quanto asque aqui se oferecem. complexo em certas ocasies determinar o que gesto e o que deciso. Se surgem as dvidas e polmicas que com absoluta certeza surgiro sobre se a gesto encomendada est correta ou se a pessoa se excedeu em suasatribuies, para isso existem as assembleias, que so o organismo de deciso daanarcossindical.

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    celebram, com voz mas sem voto.

    Na poca em que vivemos, as federaes de indstria da CNT levam umaexistncia frustrada por falta de recursos econmicos e humanos. Nossas F.I. nodeixam de ser um desejo e na atualidade no temos bem definido como financi-las, eas que temos existem graas muita vontade que lhes dedicam as pessoas que as

    compem. So denominadas tambm com o nome mais modesto de coordenadoras deramo.

    A imprensa confederal

    tradicional que todos os organismos da anarcossindical tendam a criar suasprprias publicaes nas quais expressam nossa forma particular de ver as coisas. Anvel nacional, o rgo da CNT o CNT. No se pude dizer que as pessoas queinventaram o nome foram muito originais, mas j estamos acostumad@s a ele. O CNTfunciona de forma autnoma. Em um congresso ou uma plenria nacional de regionais

    eleito o endereo e um local de residncia que se encarregar de tudo relacionadocom o mesmo: distribuio, assinaturas, venda, impresso, recepo de artigos etc. OCNT est sempre aberto ao debate e expresso de opinies contrrias e ele se nutredas contribuies dos sindicatos, de pessoas simpatizantes, grupos etc. Seu editorial redigido pela secretaria geral da CNT. @ diretor/a do CNT participa das reunies doComit Nacional, com voz mas sem voto, e pode ser requerid@ para efeitos informativospelas diferentes confederaes.

    O peridico confederal mais antigo Solidaridad Obrera, rgo da ConfederaoRegional do Trabalho da Catalunha, fundado em 1907.

    A Fundao Anselmo Lorenzo

    A FAL a fundao cultural da CNT. Nela so armazenados seus materiaishistricos e arquivos. Ela se encarrega tambm da edio de livros e atividadesculturais. O funcionamento da FAL autnomo, e seu/sua presidente tambm eleit@na plenria nacional de regionais ou no congresso. Recebe o nome de Anselmo Lorenzoporque ele foi um d@s primeir@s introdutorxs da AIT na Espanha.

    A afiliao

    anarcossindical pode pertencer qualquer pessoa que quiser, com a nicaexceo de policiais, militares, corpos armados e cargos repressivos. No necessrioter nenhuma ideologia para participar da CNT. E isto assim porque a CNT anarcossindicalista, isto , uma estrutura na qual as decises so tomadas naassembleia, a partir da base. Uma estrutura autnoma, federalista que no dependede partidos polticos, de subsdios estatais, de burocracias profissionais etc. A nicacoisa que a anarcossindical pede respeito a estas regras de jogo, e, deste ponto devista, nela podem conviver pessoas de diferentes opinies, tendncias e ideologias.Ecologistas, pacifistas, membros de partidos pol

    ticos... podem entrar na CNT.

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    Existiro diferentes opinies, enfoques, formas de ver problemas concretos... O comum,o que une no anarcossindicato, o seu funcionamento original, sua estruturaantiautoritria.

    Do que o sindicalismo revolucionrio se defende de manobras que pretendemconvert-lo em um sindicato que seja usado por partidos polticos, ou em benefcio depessoas concretas, ou da apari

    o de lideran

    as, ou do culto

    personalidade, ou da

    criao de estruturas ideolgicas fechadas. Por isso so autoexcludas normalmente aspessoas, sejam anarquistas ou autoritrias. A CNT uma estrutura aberta, mas agente deve saber onde se mete e para qu.

    V. OS PRINCPIOS DO ANARCOSSINDICALISMO

    A anarcossindical se baseia em trs princpios bsicos: a Autogesto, oFederalismo e a Ajuda Mtua.

    A Autogesto significa autogoverno. A anarcossindical deseja que as pessoas, as

    fbricas, os bairros, os povos, as cidades e as demais entidades gestionem seusprprios assuntos sem a interveno de autoridade alguma.

    O Federalismo supe autonomia e o nexo que articula a unio livre de todos osgrupos criados, tanto econmicos quanto humanos. O Federalismo o princpio bsicoque rege a estrutura da CNT, que no outra coisa alm de uma confederao deorganizaes soberanas, no sujeitas a nenhum poder central.

    A Ajuda Mtua vista como um melhor sistema de desenvolvimento, emcontraposio competncia existente no sistema capitalista. A Ajuda Mtua supever o mundo como um todo por cima de raas, idiomas e culturas.

    Como consequncia, o anarcossindicalismo antiautoritrio, anticapitalista,antimilitarista, anticentralista, antitesta, antinacionalista... Ou, se preferir,libertrio, comunista, pacifista, laico, internacionalista...

    As tticas do anarcossindicalismo

    A Ao Direta A palavra ttica significa atuar no terreno dos casos concretos. A Ao Direta

    supe ao sem intermediri@s, a soluo direta dos problemas por parte das partesinteressadas. A Ao Direta rechaa portanto a atividade dos parlamentos, dos

    magistrados, dos comits, dos governos etc. nos assuntos do povo.

    Exemplo

    - Voc leva um ms em greve pedindo diferentes melhoras no contrato e a noentrada dos planos empresariais de produtividade. A mesma greve com a mesma

    convocatria pode ser levada adiante por meio da Ao Direta, o que supe umprocesso assembleirio de tod@s @s trabalhadorxs e @s representantes que elegem paraas diferentes gestes frente empresa, ou por Ao Mediada, se a greve for convocadapelo comit de empresa, que negocia sem informar nem pedir opinio da assembleia ecom a interveno da autoridade laboral que pode ditar laudo.

    - Te despediram. Ao Direta quando seu problema tomado como prprio

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    pela anarcossindical e por seus/suas companheir@s e so realizadas gestes, conversas,presses, sabotagens etc. para conseguir sua readmisso. Ao Mediada seria voc irimediatamente a uma assessoria jurdica que cuidasse da demisso na magistratura.

    O nico tipo de ao aprovado na anarcossindical a ttica de Ao

    Direta em todos os seus congressos desde 1910. Todavia, para sermos sincer@s,temos que reconhecer que tal como os tempos e as nossas foras esto, recorremos svezes a um tipo de ao mediada por meio de nossos gabinetes jurdicos e dasmagistraturas de trabalho. Sempre tentamos resolver os problemas sem recorrer a

    advogad@s, o que supe deixar nossa soberania nas mos do sistema judicial, alongarprocessos que obteriam resposta contundente mais rpido e gastar grande quantidadede fundos para manter um sistema legal caro, parasita, pernicioso e intil. Mas hocasies em que, por falta de deciso, de apoio, de gente... no resta alternativa a noser recorrer a um/a advogad@, o u no fazer nada. Por este motivo, em algunsmomentos foi proposto admitir nos acordos dos congressos o uso, parte da ao direta

    preferentemente, a ao mediada quando no h alternativa. No foi assim porqueenquanto se mantiver a Ao Direta como ttica nica assumvel pela militnciaanarcossindicalista manteremos nosso compromisso com ela, e cada vez que atuarmos

    contra a Ao Direta saberemos que estamos rompendo um acordo. Se admitirmos umtipo de ttica contra nossa estrutura e digerirmos o indigervel, possvel que quandotivermos fora e gente suficiente para levar adiante nossos pontos de vista semnecessidade de recorrer a normas jurdicas no saibamos v-lo e por rotina recorramosa tribunais.

    A Ao Direta sempre mais rpida, barata e eficaz que o recurso

    mediao. Tem a desvantagem de requerer mais energia e valor para serlevada adiante.

    A finalidade da anarcossindical

    ... Depois deste congresso no ser mais po que reclamaremos. A partir de hoje reclamaremos justia, reclamaremos equidade. Lutamos comdesvantagem, mas afirmo que temos o direito vida, e para conquistar estedireito s nos resta o recurso legal e supremo de nos rebelar. Devemos nos

    preparar para lutas cruis. O mundo burgu s se arruna por si mesmo. No precisaremos empurrar muito para derrubar o pilar carcomido que o

    sustenta. O princ pio da autoridade est to distendido...(O delegado do governo e as foras da represso tentam suspender o encontro e

    provoca um bom conflito.) ...No pretendo dar espao para que aautoridade cometa uma lerdeza; mas tenho o dever e o direito de manifestar

    que o princ pio da autoridade est podre at a pr pria medula. preciso quenos demos conta do momento atual. Quando o mundo burgu s cair, quandotoda a escria social injusta e desumana for arruinada para sempre, ser necessrio mostrar para o mundo que ele foi aniquilado pelo peso de suas

    prprias falhas. No somos nada, somos escravos; quando homens e quando

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    ancios exprimidos pelo privilgio e pela desigualdade, durante toda a nossavida de misrias e sofrimentos levamos, at descermos tumba, o estigmadesta sociedade inqua e cruel. Se faz necessrio, ento, companheiros, queno dia da liquidao das injustias o povo derrube os restos do regimedecr pito assoprando as cinzas para que ele jamais possa se reconstruir.

    (Angl Pestaa , no encontro de encerramento do congresso de 1918, emBarcelona)

    O anarcossindicalismo quer transformar a sociedade. Quer acabar com o

    sistema capitalista e com o Estado. Considera que no h direito de umas pessoasimporem sua vontade sobre outras, as roubar e explorar por meio do trabalho e se

    manterem apoiadas pelo aparato de violncia e terror organizado que o Estado e seusistema policial. Existe grande quantidade de literatura dedicada crtica dasociedade capitalista, ento no iremos insistir muito neste tema.

    Sobre como chegar a esta transformao, a anarcossindical afirma que no

    existe outro meio alm da Revoluo Social, isto , uma mudana brusca pela qual asestruturas autoritrias so derrubadas. o final de um processo e o comeo de umnovo. A revoluo se produz quando o pensamento coletivo dos povos a v comonecessria, quando as bases morais, ticas, filosficas e econmicas do sistema entramem bancarrota. No um fenmeno predizvel, nem realizvel por uma minoria, masque se prepara, chega um momento em que simplesmente possvel, algo adesencadeia, e ento ela acontece. O papel da anarcossindical aumentar ascontradies do sistema, esclarecer aos povos a mentira, o engodo, a explorao a queso submetidas pela minoria governante, e estar presente durante o processo

    revolucionrio para inici-la se possvel, e para evitar, por um lado, que a revoluoseja aproveitada por minorias, vanguardas, partidos etc. em seu benefcio, e, por outro,para que quando for produzida a contrarrevoluo, o povo retroceda o mnimo possvelnas conquistas obtidas. A revoluo deve acabar com a propriedade, o Estado, ogoverno, as polcias, o exrcito, as universidades, as igrejas, os bancos, as indstrias, amentalidade competitiva e individualista... e estabelecer novas estruturas e formas de

    vida. A revoluo pensamento, liberdade e desejo em ao. As pessoas que viverammomentos revolucionrios os descrevem como uma embriaguez de luzes, sons ealegria. No o banho de sangue e violaes com que nos ilustra a televiso. A gentese para na rua e conversa, isto acontece sempre e muito importante. Se fala de tudo,

    se fala com pessoas de outros idiomas e as entende, porque quer se comunicar. Se falade coisas sobre as quais nunca se havia refletido e que agora afloram com

    naturalidade, sem esforo. So realizadas coisas que alguns dias antes teriam sidoinconcebveis... Quem tiver vivido estes instantes em alguma ocasio no os esquecer

    jamais.

    O italiano levantou a cabea e se apressou em perguntar:- Italiano?

    Eu neguei em meu espanhol ruim:

    - No, ingls. E voc?- Italiano.

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  • 8/8/2019 Anarcossindicalismo Bsico/Traduo Sindivarios Piracicaba SP

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    Ao sair, ele cruzou a sala e me esticou energicamente a mo. Que estranho esse afeto que algum pode sentir por um desconhecido! Era como se o seu esprito e o meu haviam conseguido, momentaneamente, superar oabismo da lngua e da tradio e unir-se na maior das intimidades...

    Pelo que poderia se julgar, as pessoas pareciam contentes e

    esperanosas. Por cima de tudo se acreditava na Revoluo e no Futuro, setinha a sensao de haver entrado subitamente em uma era de igualdade eliberdade. Os seres humanos tratavam de comportar-se como seres humanos,

    e no como engrenagens da mquina capitalista. Nas barbearias havialetreiros anarquistas explicando enfaticamente que os barbeiros haviam

    deixado de ser escravos. Nas ruas havia cartazes coloridos estimulando as

    prostitutas a deixarem seu ofcio. Para algum que procedia da zombadora e endurecida civilizao inglesa, havia algo quase pattico na literalidade comque aqueles espanhis idealistas interpretavam os gastados lemas darevoluo. (George Orwell , Homenagem Catalunha. 1937)

    O ato revolucionrio um ato popular. Ele realizado pelas pessoas atuais comtodos seus defeitos. Existe uma polmica que dura sculos sobre se a revoluo podeser levada a cabo por seres normais, isto , machistas, autoritrios, violentos comosomos mais ou menos nesta sociedade enferma, ou por pessoas mais formadas e que

    levam em si a forma do funcionamento futuro e que mudaram pela educao ou poroutros meios. Em geral, porque opinies na anarcossindical h tantas quanto hpessoas, na CNT se acredita que a revoluo realizada pela gente de hoje em dia, eque o passo prvio para formar outras pessoas na liberdade e na responsabilidade