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promove a transdisciplinaridade Fórum Presença Anamt 2008 Jornal da Ano XX • Dezembro/200 Felipe Massa, da Ferrari, é a esperança da torcida brasileira em Interlagos (SP) foto: Daniel Gomes Aguilar ANAMT Dr. Bernardo Bedrikow A Medicina do Trabalho perde um dos seus mais dignos representantes pág. 3 Entrevista António Uva fala sobre os avanços da União Européia para a saúde do trabalhador págs. 12 e 13 págs. 6 a 9 Mesa de abertura: Dr. Zuher Handar, Dr. João Cavalieri, Dr. Aizenaque Grimaldi, Dr. Carlos Campos, Dr. Mario Bonciani e Dr. René Mendes

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promove a transdisciplinaridadeFórum Presença Anamt 2008

J o r n a l d a

Ano XX • Dezembro/200�

Felipe Massa, da

Ferrari, é a esperança da

torcida brasileira em Interlagos (SP)

foto: Daniel G

omes A

guilar

ANAMTJ o r n a l d a

ANAMT

Dr. Bernardo Bedrikow

A Medicina do Trabalho perde um dos seus mais dignos representantes

pág. 3

Entrevista

António Uva fala sobre os avanços da União Européia para a saúde do trabalhador

págs. 12 e 13

págs. 6 a 9

Mesa de abertura: Dr. Zuher Handar, Dr. João Cavalieri, Dr. Aizenaque Grimaldi, Dr. Carlos Campos, Dr. Mario Bonciani e Dr. René Mendes

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almente somos 2,4 mil associados — salvo engano, acre-dito que nunca tivemos este número), como nos eventos científi cos presenciais ou não e, principalmente, no pro-cesso de divulgação de nossa entidade. Foram seis jor-nais, um Documento Especial, diversas newsletters, nosso portal e, agora, o privilégio de somente os associados da Anamt poderem acessar nossos arquivos sobre palestras, documentos científi cos etc. por meio de nosso site. Para isso, cada um terá uma senha. Trata-se de um compro-misso meu, da Diretoria e das Federadas para aqueles associados que estão quites com a nossa anuidade.

O compromisso assumido em minha posse em Vi-tória de não medir esforços para infl uenciar e motivar sufi cientemente toda a Diretoria para a realização de nossos dez propósitos de gestão continua, mesmo que já tenhamos realizados todos as nossas promessas. Os próximos meses serão dedicados, prioritariamente, a eventos científi cos, com uma programação que continue valorizando o médico do trabalho e a sua interface com a multidisciplinaridade, aliás, uma agenda já iniciada no Fórum Presença Anamt deste ano.

Para 2009, já temos uma série de eventos sendo pre-parados, como o tradicional IX Fórum Presença Anamt, que acontecerá pela primeira vez em Salvador, juntamen-te com o IX Congresso Iberoamericano de MT. Além de seminários regionais e, principalmente, dos preparativos para o 14º Congresso Nacional da Anamt, que será reali-zado em maio de 2010, na cidade de Gramado (RS).

Desejo um feliz Natal e um próspero ano-novo a todos que nos acompanham e nos apóiam desde que começamos nossa jornada frente à Anamt.

Como vocês podem ver, nosso jornal está de cara nova. As mudanças vieram para tornar um dos nossos principais canais de comunicação mais atraente e a lei-tura mais prazerosa. Esperamos que gostem.

O ano de 2008 foi marcado por diversos eventos em nossa área e muito movimentado para a Anamt: o aniversário de 40 anos e suas festividades, a inaugu-ração do Espaço Ramazzini em São Paulo e da nossa sede patrimonial, o lançamento do Documento Espe-cial com a história da Medicina do Trabalho (MT) no Brasil e no mundo, diversas atividades científi cas e participações em inúmeras reuniões em ministérios, fundações, universidades e entidades de classe. Entre-tanto, foi um ano de perda. Um grande homem muito querido nos deixou, o professor Bernardo Bedrikow. Mas fi cou a certeza de que ele e seus primorosos feitos permanecerão na lembrança de milhares de pessoas amigas e de admiradores por este país afora.

Estamos na metade do meu mandato na Presidên-cia da Anamt e, ao longo destes 18 meses, procurei promover o mais rápido possível as mudanças neces-sárias para o nosso crescimento associativo. Para con-solidar os resultados esperados e assumidos com todos vocês, tivemos que enfrentar desafi os com certa dose

estratégica de ousadia e, principalmente, com a forte parceria e comprometimento de toda a Diretoria para cumprirmos as metas estabelecidas. Valeu a pena.

Tenho que compartilhar a minha alegria em poder dizer que crescemos (e muito!), tanto em número de as-sociados que acreditam na Anamt e contribuem com a sua anuidade (atu-

Feliz Natal e próspero ano-novo!

O Jornal da Anamt é uma publicação trimestral, de circulação nacional, distribuída a seus associados. Os textos assinados não representam necessariamente a opinião da Anamt, sendo seu conteúdo de inteira responsabilidade dos autores. Não é permitida a reprodução total ou parcial das matérias publicadas neste jornal sem a autorização da Anamt.

Ano XX • Dezembro 2008

Presidente Dr. Carlos Campos • Diretora de Divulgação Dra. Marcia BandiniProdução Editorial Cajá – Agência de Comunicação

Jornalista responsável Alessandra Vale (Mtb 21.215) • Editora Lilian Stramandinoli • Reportagem Conrado Arias e Lilian Stramandinoli Estagiários Felipe Siqueira e Gabriel Schmidt • Fotos Arquivo Anamt e Daniel Gomes Aguilar • Diagramação Marcio Franco • Revisão Carlos Nougué

www.caja.com.br • [email protected]

Jornal da ANAMT Uma publicação da Associação Nacional de Medicina do Trabalho

DEZEMBRO 20082 Jornal da ANAMT

Dr. Carlos CamposDr. Carlos Campos

m e n s a g e m d o p r e s i d e n t e

Cartas para a redação

Edifício Offi ce Flamboyant • Av. Dep. Jamel Cecílio, 3.310, sala 610 – Jardim Goiás – CEP: 74810-100 – Goiânia/GO • Telefax: (62) [email protected] • www.anamt.org.br

EXPEDIENTE

vocês, tivemos que enfrentar desafi os com certa dose estratégica de ousadia e, principalmente,

com a forte parceria e comprometimento de toda a Diretoria para cumprirmos as metas estabelecidas. Valeu a pena.

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Jornal da ANAMT

“Meu pai nos deixou. Nos deixou muita sabedoria e exemplos de postura ética, abnegação e dedicação à família e ao trabalho (...).”

Rubens Bedrikow, filho

“O que fica é a imagem alegre e participativa do Bernardo durante o Congresso em Goiânia. Suas pala-vras me encheram de orgulho e força para continuar lutando por uma Anamt forte e integradora (...).”

Dr. Carlos Campos, presidente da Anamt

“Conheci o Bernardo em 1969. Desde então, manti-vemos uma ligação muito fraterna. Sempre tive motivos para admirá-lo. Tive o privilégio de integrar seu círculo de amizades (...).”

Dr. Jorge da Rocha Gomes, ex-presidente da Anamt

“Apesar de instigado pelo Dr. Diogo, pelo seu di-namismo e simplicidade, dispensou títulos acadêmicos, mas sempre demonstrou ser um mestre no mais verda-deiro sentido da palavra, e assim será lembrado (...).”

Dr. Sérgio Colacioppo, USP

“A naturalidade com que sempre agiu foi um dife-rencial pessoal gritante. Sempre atento às pessoas, pa-recia que não fazia nada mais do que o dever. Um ho-mem generoso e sábio que nos faz muita falta (...).”

Dr. Eduardo Algranti, Fundacentro

“Bernardo se destacou pelo alto grau de compromis-so com as condições de saúde das pessoas. Como chefe e colega de trabalho, sempre foi muito equilibrado. Como amigo, sempre esteve presente em horas difíceis (...).”

Dr. Luiz Carlos Morrone, USP e Santa Casa de SP

“Do mestre Ramazzini, Bernardo aprendeu, viveu e ensinou os passos da MT: estudar previamente os pro-cessos; revisar a literatura; visitar os locais de trabalho e ouvir os trabalhadores. A MT seria outra se mais médicos seguissem o exemplo de Bernardino e Bernardo (...).”

Dr. René Mendes, ex-presidente da Anamt

“Acompaño el sentimiento ante tan sensible pér-dida; científico importante de la Medicina, especiel-mente de la Medicina del Trabajo.”

Dr. Luis Eligio Quero, Argentina

Homenagem ao Dr. Bernardo BedrikowNo dia 6 de outubro, morreu, aos 84 anos, em São Paulo, um dos maiores

médicos do trabalho da história brasileira, Dr. Bernardo Bedrikow. Com mais de meio século dedicado à Medicina do Trabalho (MT), o prevencionista atuou como um mestre na área de Segurança e Saúde no Trabalho. Sua atuação foi fundamental para a criação e desempenho da Anamt. Como despedida, prestamos esta homenagem, publicando depoimentos de alguns de seus muitos amigos.

“A lembrança que fica é da figu-ra franzina, voz firme, idéias lúcidas, uma generosidade sem fim e um eter-no otimismo.”

Dra. Maria Maeno, do Centro de Referência em Saúde do Trabalhador e da

Fundacentro

“Gostava imenso do Bernardo, era um homem com uma grande sensibilidade humana e trabalhador. Paz à alma do Bernardo Bedrikow!“

Dr. Alvaro Durão, Portugal

“Um homem brilhante! Conviver com o Dr. Ber-nardo foi muito especial. Em muitas das minhas atitu-des está presente uma pequena parte da sua sabedo-ria, que jamais deixou de compartilhar (...).”

Dra. Mirian Pastana, Sesi

“A perda do Dr. Bernardo nos deixa muito entris-tecidos. Sua vida foi pautada por grandes esforços para construir um campo de atuação voltado para a saúde dos trabalhadores. Nossa missão é continuar o trabalho dele (...).”

Dra. Frida Fisher, presidente da Comissão Técnica Ergonomia Ocupacional da Anamt

“Nosso mestre guardava com a APMT um cuidado especial, principalmente por ter sido fundador do De-partamento de MT. Sua vida será sempre um exemplo a ser seguido. Obrigado, Prof. Bernardo (...).”

Dr. Aizenaque Grimaldi, vice-presidente da RegiãoSudeste da Anamt

“Além de ser um dos responsáveis pela criação do Curso de Higiene do Trabalho, foi professor da Santa Casa e coordenava a Residência do Serviço de Doenças Profissionais do Sesi, serviço este dirigido com rara sensibilidade e eficiência (...).”

Dr. Álvaro Frigério, ex-presidente da Anamt

“Não foi só um dos pioneiros em MT no Brasil, mas sempre soube dar a devida importância para o caráter multidisciplinar da Saúde Ocupacional. Sua amizade sempre foi muito valiosa para mim (...).”

Dra. Berenice Goelzer, amiga

e s p e c i a l

DEZEMBRO 2008 �Jornal da ANAMT

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4 DEZEMBRO 20084 Jornal da ANAMTJornal da ANAMT

A Diretoria de Ética e Defesa Profi ssional da Anamt acolhe denúncias contra propagandas fora dos padrões recomendados pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), consultas realizadas por não médicos, falta de responsável técnico que seja médico do trabalho, prática de preços vis caracterizando concorrência desleal, entre outras irregularidades. Caso seja necessário, a Diretoria encaminha a denúncia ao Conselho Regional de Medicina (CRM) do estado para fi scalização da suspeita ou indício de irregularidade. A denúncia poderá ser feita pelo [email protected], colocando no assunto “Diretoria de Ética e Defesa Profi ssional” e identifi cando nome e dados para contato.

A Associação Matogrossense de Medicina do Trabalho (Amamt) juntamente com a Anamt promoveu em Cuiabá, nos dias 22, 23 e 24 de maio, o I Seminário de MT do Centro-Oeste. Participaram do evento cerca de 170 profi ssionais da área de SST. No primeiro dia do evento, os médicos de todo o estado representaram 50% do total de presentes, já que a programação era exclusiva para a classe. Renomados profi ssionais da medicina brasileira prestigiaram o seminário e ministraram palestras. Foram debatidos temas relacionados ao trabalho, mas voltados para a preservação do meio ambiente, como alternativas para diminuir a agressão à natureza e atenção à saúde e segurança dos trabalhadores dos setores sucroalcooleiro e madeireiro.

Congresso Nacional da Anamt 2010

O XIV Congresso Nacional da Anamt será real izado na localidade da Serra Gaúcha conhecida como Região das Hortênsias, em Gramado. Além das belas paisagens naturais, o local possui forte infra-estrutura, com grande oferta de hospedagem e restaurantes. Gramado, a cidade mais turística do Rio Grande do Sul, foi colonizada por italianos e alemães, infl uência que se refl ete especialmente na culinária e na arquitetura. Com caminhos cercados por hortênsias, é um dos destinos mais procurados para o turismo de eventos. Para obter mais informações sobre a região, acesse o site www.conventionbureau.com.br.

Combate a irregularidades

Mato Grosso do Sul realiza I Seminário de Medicina do Trabalho

Substâncias perigosas Líquidos, gases ou sólidos que põem em risco os

trabalhadores estão presentes em quase todos os locais de trabalho. Se os riscos decorrentes da utilização de substâncias perigosas não forem geridos de forma adequada, a saúde dos trabalhadores pode ser afetada de diversas formas, desde ligeiras irritações oculares e cutâneas a asma, problemas reprodutivos, defi ciências congênitas e cancro. Na União Européia, os empregadores são obrigados, por lei, a proteger os seus trabalhadores dos riscos decorrentes da utilização dessas substâncias no local de trabalho. Existe legislação que regula a identifi cação e rotulagem de milhares de substâncias registradas no mercado europeu. Reduzir os riscos também traz vantagens comerciais. Se um trabalhador fi car doente ou se acidentar, a produtividade poderá cair e a empresa estará exposta a ações judiciais. Lá, empregadores e trabalhadores são bem orientados sobre a utilização de substâncias perigosas. Se forem adotadas medidas adequadas, é possível garantir a segurança dos trabalhadores.

O XIV Congresso

Avaliação de riscosNa União Européia, a avaliação de riscos constitui a base da abordagem

comunitária para prevenir acidentes e problemas de saúde profi ssionais. Todos os anos, milhões de pessoas lesionam-se no local de trabalho ou sofrem de problemas de saúde graves. É por esse motivo que a avaliação de riscos é tão importante para um local de trabalho saudável. É fundamental que todas as empresas, independentemente da categoria ou dimensão, realizem avaliações regulares. Uma análise adequada inclui, entre outros aspectos, a garantia de que todos os riscos relevantes serão levados em consideração, a verifi cação da efi cácia das medidas de segurança adotadas, o registro dos resultados e a revisão do processo em intervalos regulares.

n o t í c i a s

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Jornal da ANAMTJornal da ANAMT DEZEMBRO 2008 5Jornal da ANAMT

CBHPM, TUSS e Tabela do SUSO progresso da ciência exige a contínua reavaliação da

prática clínica, de sorte a eliminar os procedimentos obsoletos e incorporar aqueles que, em razão das melhores evidências disponíveis, trazem benefícios aos cuidados da saúde.

A Classifi cação Brasileira Hierarquizada de Procedimentos Médicos (CBHPM), um processo desenvolvido pela Associação Médica Brasileira (AMB) e suas Sociedades de Especialidade, com apoio do Conselho Federal de Medicina (CFM) e Federação Nacional dos Médicos (Fenam), tem como objetivo primário a definição dos procedimentos médicos apropriados para uso clínico.

Na elaboração da CBHPM, o trabalho se desenvolve em duas vertentes: na Câmara Técnica decide-se quais procedimentos médicos constantes da Classifi cação devem ser reavaliados e quais procedimentos novos, que porventura devam nela ser incluídos, merecem avaliação. Dessa forma, eles são submetidos primeiramente a uma análise de evidência, de forma a manter a CBHPM permanentemente atualizada.

A segunda parte do trabalho consiste em hierarquizar o procedimento e discutir com os pagadores e a agência regulatória sua valorização. A atualização da CBHPM é um processo complexo e extenso, fatores esses que não afetam sua dinâmica. Atualmente, a AMB edita a 5ª edição da CBHPM, que representa a integralidade dos procedimentos diagnósticos e terapêuticos apropriados para uso clínico.

Espera-se para novembro o lançamento da Terminologia Unifi cada da Saúde Suplementar (TUSS), que foi elaborada pelo Comitê de Padronização das Informações em Saúde Suplementar (COPISS), do qual faz parte a AMB. Este grupo, por unanimidade, entendeu que a terminologia e a codifi cação da CBHPM deveriam ser incorporadas ao TUSS e encarregou a Associação Médica Brasileira de sugerir inclusões e exclusões. Ainda que tenha concordado em fazê-lo, a AMB entende que seria melhor e muito mais fácil a adoção direta da CBHPM. Os procedimentos constantes na TUSS fazem parte da CBHPM, porém, na CBHPM há cerca de 500 que não constam da TUSS.

A Tabela do Sistema Único de Saúde (SUS) contém os procedimentos indicados pelo Ministério da Saúde que compõem a cobertura do sistema público. A AMB acredita que seria também mais acertado para o SUS incorporar a CBHPM. Somente assim seriam respeitadas às fi nalidades do SUS, isto é, oferecer assistência médica integral e universal.

Seminário atualiza profi ssionais

A Associação Brasi leira de Medicina do Trabalho (ABMT) promoveu, no período de 30 de agosto a 2 de setembro, o Seminário de Medicina do Trabalho da Região Sudeste. “A MT atuando em conjunto com as demais especialidades médicas” foi o tema central do evento que teve apoio da Associação Paulista de Medicina do Trabalho (APMT), da Associação Mineira de Medicina do Trabalho (Amimt) e da Associação Nacional de Medicina do Trabalho do Espírito Santo (Anamt–ES).

O seminário, destinado exclusivamente a médicos, teve o formato de mesas-redondas, com a possibilidade de debate entre os palestrantes e o público. A conferência de abertura foi sobre responsabilidade civil do médico. Os palestrantes abordaram temas atuais como exames médicos admissionais e os rumos da MT. Convidados de outras áreas, como representantes sindicais, advogados e gerentes de Recursos Humanos tiveram uma participação importante para discutir o que esperam dos médicos do trabalho. Foi destinado espaço para a apresentação de temas-livre e sessão de pôsteres. Os participantes também puderam visitar a exposição.

c o l u n a A M B

DEZEMBRO 2008 5

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6 DEZEMBRO 20086 Jornal da ANAMTJornal da ANAMT

fi rmamos esta parce-ria. Nosso objetivo é falar sobre prevenção de doenças, o que tem tudo a ver com saúde do trabalha-dor”, assinalou.

No evento, foi distribuído o Docu-mento Especial em comemoração aos 40 anos da Anamt, publicação que traz a história da Associação e da MT no país e traça um panorama da MT hoje no mundo.

Avanços da União Européia para a saúde do trabalhador

Para falar sobre a MT na União Européia, a Anamt convidou o médi-co português António Uva, da Escola Nacional de Saúde Pública — Univer-sidade Nova de Lisboa. Dr. Zuher foi o responsável pela coordenação da palestra. Confi ra ainda nesta edição detalhes sobre a conferência em en-trevista especial com o Dr. Uva.

Gestão transdisciplinar LER/DORTEsta mesa-redonda foi coorde-

nada pelo Dr. Carlos Campos. A psi-cóloga Maria Luiza Schmidt, da Uni-versidade Estadual de São Paulo, ex-plicou que a psicologia do trabalho identifi ca os fatores de risco que fa-vorecem a ocorrência de LER/DORT, busca evidências na ocupação, res-gata a história de vida e ocupacional do trabalhador e estuda o contexto

Este ano, o Fórum teve uma co-notação nova, em que a transdisci-plinaridade esteve presente. Partici-param vários profi ssionais da área de

saúde do trabalho, como médicos, fi sioterapeu-tas, psicólogos, fono-audiólogos, psiquiatras,

entre outros. A vi-são da Anamt é ser referência téc-nico-científi ca em saúde do trabalho e também contri-buir na elabora-ção de implemen-tação de políticas de saúde.

O diretor Cien-tífico da Anamt, Dr. Zuher Handar, explicou que a pro-gramação deste ano foi ampliada, com o objetivo de atender às neces-

sidades dos médicos do trabalho de todo Brasil. “Procura-mos abordar temas que são discus-sões da realidade, e, para isso, o Fó-rum foi estendido de um para dois dias e meio”, acrescentou.

Mônica Aragão, gerente de Grupo de Produtos da Unidade de Negócios da Sanofi -Pasteur, marcou presença no primeiro dia do evento e falou da rela-ção da empresa com a Anamt. “Desde 2001, quando foi criado o Fórum, nós

do trabalho. “Para compreender a dor crônica ligada à LER/DORT, é necessário ampliarmos nossa visão, porque, ao abordarmos a dor de uma forma total, é possível enten-dê-la e tratá-la.” O fi sioterapeuta Alison Klein, presidente da Associa-ção Nacional de Fisioterapia do Tra-balho, disse que essa especialidade se propõe a sair da clínica e ir para dentro da empresa diagnosticar, in-

vestigar, atuar junto com os demais profi ssionais da saúde que estão in-seridos neste contexto, conhecendo a causa do problema e investigando so-luções. “Os fi sioterapeutas são os pro-fi ssionais que mais chegam perto do processo produtivo nas empresas que têm programa de ginástica laboral. Isso faz com que eles ouçam os tra-balhadores.” Dr. Sérgio Nicoletti, da Escola Paulista de Medicina, alertou que é preciso considerar a intersub-jetividade das pessoas que adoecem.

A 8ª edição do Fórum, que teve como tema “Anamt: 40 anos em defesa da saúde do trabalhador”, aconteceu de 2 a 4 de outubro, em São Paulo. Cerca de 300 pessoas, entre médicos do trabalho e estudantes universitários de todo Brasil, participaram do evento, que contou com palestras de renomados profi ssionais nacionais e internacionais ligados à Medicina do Trabalho (MT). “A formatação do Fórum contemplou várias especialidades e o resultado foi muito favorável para a saúde do trabalhador”, analisou o presidente da Associação, Dr. Carlos Campos. Criado em 2001, o evento acontece anualmente e já se tornou tradição no calendário dos médicos do trabalho brasileiros. O objetivo é contribuir para a atualização profi ssional dos associados.

Fórum Presença Anamt 2008: a saúde do trabalhador em debate

c a p a

Cerca de 300 pessoas prestigiaram o evento, em São Paulo

Dr. Carlos Campos (acima) e Dr. Zuher Handar na abertura do Fórum

comemoração aos 40 anos da

do trabalho. “Para compreender a dor crônica ligada à LER/DORT, é necessário ampliarmos nossa visão, porque, ao abordarmos a dor de uma forma total, é possível enten-dê-la e tratá-la.” O fi sioterapeuta Alison Klein, presidente da Associa-ção Nacional de Fisioterapia do Tra-balho, disse que essa especialidade se propõe a sair da clínica e ir para dentro da empresa diagnosticar, in-

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Jornal da ANAMTJornal da ANAMT DEZEMBRO 2008 �Jornal da ANAMT

Fórum Presença Anamt 2008: a saúde do trabalhador em debate

“Nós precisamos de ferramentas para identificar questões voltadas para a área subjetiva. Promoção de saúde no Brasil é um instrumento de avaliação e de melhoria da vida das pessoas no trabalho e fora dele”, assinalou.

Saúde dos trabalhadores que manipulam alimentos

Ainda na manhã do primeiro dia, o médico Hugo Dibarboure, da Uni-versidade da República do Uruguai, apresentou palestra coordenada pelo ex-presidente da Anamt Dr. Pedro Elias Makaron. Dr. Hugo falou de sua experiência no Uruguai em relação às iniciativas de prevenção que envolvem a vacinação contra doenças transmis-síveis por alimentos.

Ele esclareceu que o médico ocu-pacional tem a responsabilidade de sa-ber da existência dos riscos e de como preveni-los. Alertou o público de que o risco da transmissão de doenças infec-ciosas por agentes, desde o manipula-dor de alimento, não estava totalmen-te avaliado como um problema real de saúde. “E o mais triste é que temos armas eficazes para prevenir estas do-enças, como a vacina, e muitas vezes não a utilizamos”, observou.

O manipulador participa de toda a cadeia alimentar e pode transmitir ou contaminar de forma acidental ou ne-gligente. Ele convive com a sociedade, por isso pode contaminar alimentos quando fica doente e transmitir à co-munidade. O médico esclareceu que, como a vacinação não é obrigatória, o manipulador de alimentos tem que ser sensibilizado. ELe precisa entender a importância do procedimento.

Saúde do trabalhador viajanteA palestra do infectologista José

Geraldo Leite, professor de Medicina Preventiva da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais, alertou que os profissionais viajantes devem se pro-teger em todas as viagens e não ape-nas nas viagens para o exterior. Hoje, segundo dados da Organização Mun-dial de Turismo, cerca de 136 milhões de pessoas viajam a trabalho por ano. De cada 100 mil indivíduos que via-jam para um local subdesenvolvido ou em desenvolvimento, por um período maior que 30 dias, 50% têm problema de saúde durante a viagem; 5% têm algo grave o suficiente para deixá-los de cama; cerca de 1% fica incapacitado para o trabalho temporariamente; e um morre durante a viagem.

Com a globalização e o conse-qüente aumento de viagens a traba-lho, cresce a preocupação das em-presas em proteger seus funcionários contra os riscos de contrair doenças em viagens ao exterior. O médico apontou como saída buscar informa-ções atualizadas do local de destino. O primeiro passo para uma boa prote-ção do adulto é estar com sua vacina-ção em dia. As principais vacinas indi-cadas para viajantes são: contra diar-réia, hepatite A, cólera, febre amare-la e febre tifóide. Da mesa-redonda, também participou o infectologista Jessé Alves, do Núcleo de Medicina de Viajantes do Instituto Emílio Ribas e responsável pelo setor de Consul-tas a Viajantes do laboratório Fleury.

Fotos: Daniel Gomes Aguilar

Ele declarou que no Brasil as empre-sas já estão terceirizando o serviço de diagnóstico de saúde e prevenção de doenças de profissionais viajan-tes. Quando o setor de Consultas a Viajantes foi criado, há três anos, a equipe atendia a uma consulta por semana. Agora são cerca de 100 por mês. O serviço envolve a avaliação do estado de saúde do profissional, itine-rário, atribuições e tempo de perma-nência. “Tanto o executivo que viaja para uma reunião como a pessoa que vai trabalhar no campo está sujeito a riscos. Por isso, cada situação merece uma análise e uma abordagem dife-renciada”, concluiu Dr. Jessé.

Depressão relacionadaao trabalho

O médico Edson Hirata, do Institu-to de Psiquiatria do Hospital das Clíni-cas da Faculdade de Medicina da USP (HC/FMUSP), apresentou as caracterís-ticas clínicas da depressão e chamou a atenção para o fato de que 30% da população adulta têm ou tiveram a doença. Ele expôs alguns números importantes: uma em cada quatro mu-lheres e um em cada dez homens tem ou terá depressão. O primeiro episódio da doença ocorre entre os 25 e 45 anos de idade. Em relação ao suicídio, 70% dos casos são decorrentes de de-pressão. O médico disse ainda que de 25% a 30% dos deprimidos não tra-tados se suicidam e que 50% dos pa-cientes que se suicidam passaram no mês anterior por um clínico geral.

O Dr. Duílio de Camargo, do mes-mo Instituto, tratou da depres-

são na visão da Psiquiatria Ocupacional. Ele explicou que esta área examina os trans-tornos mentais relacionados ao trabalho sob o ponto de vista preventivo, com a fina-lidade da promoção e prote-ção da saúde mental do tra-balhador. Abordou itens das síndromes orgânicas relacio-nadas ao trabalho, como o alcoolismo crônico. “Cerca de

Dr. Hugo Dibarboure (Uruguai) falou sobre doenças transmissíveis por alimentos

Dr. Jessé Alves, Dr. Mario Bonciani e Dr. José Geraldo Leiteem discussão sobre o trabalhador viajante

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� DEZEMBRO 2008� Jornal da ANAMTJornal da ANAMT

os cuidados no ambiente de traba-lho, a fim de que não desenvolvam doenças. “Nós temos muito pouco investimento no Brasil em pesquisa. As indústrias que se instalam no país já trazem a tecnologia pronta, com seus devidos segredos.” Para ela, é importante que os profissionais dos países de onde são originados esses

estudos tragam informação sobre prevenção.

Radiações A Anamt também

contou com palestran-tes internacionais, desta vez da Itália, para tro-car experiências com os profissionais brasileiros. O professor Fabrizioma-ria Gobba, da Universi-tà di Modena e Reggio Emilia, falou sobre as

Radiações Eletromagnéticas, e o Dr. Bruno Piccoli, da Universidade Católi-ca Sacro Cuore de Roma e da Comis-são Internacional de Saúde no Traba-lho (ICOH), expôs sobre Diretiva do Parlamento Europeu e do Conselho. Eles apresentaram pontos importan-tes sobre a exposição dos trabalha-dores aos riscos devidos aos agentes físicos. Coordenando a mesa, estava o assessor da Presidência da Anamt, Dr. Ruddy Facci.

Promoção da saúde Participaram dessa mesa de dis-

cussão a Dra. Marta da Silva, o Dr. David dos Santos, a Dra. Rosa Ro-cha e a Dra. Marcia Bandini. Repre-sentante do Ministério da Saúde, a médica do trabalho com residência

e comunicação”, enumerou. A mesa contou ainda com a participação do Dr. David dos Santos, do Grupo Votoran-tim, que abordou o tema no contexto de sua experiência no setor industrial. Ele alertou que, para haver um bom SG com melhoria contínua, são fundamen-tais quatro pilares: higiene ocupacional, controle de saúde, promoção da saúde e epidemiologia.

Câncer ocupacional A Anamt convidou

a Dra. Fátima Sueli Ri-beiro, do Instituto Na-cional do Câncer (Inca), para falar sobre o cân-cer nos dias atuais e a ocupação como fator de risco desconhecido. Segundo a médica, há um silêncio estatístico e epide-miológico. “Estamos tra-balhando pouco com a capacidade de prevenção e o cenário é muito desas-troso. Há um número explosivo de ca-sos em contraponto à capacidade que temos de prevenção.” A Dra. Fátima considerou que a função do médico

do trabalho é registrar a ocupação como atividade capaz de gerar fator de risco para o câncer, pois isso não existe nos siste-mas de informação, como atestado de óbito ou re-gistro de vida e saúde.

Nanotecnologia Essa conferência foi ministrada pela Dra. Ar-line Arcuri, da Fundacen-tro. O ponto mais impor-

tante desse tema, para ela, é que existe um grande investimento em novos produtos e pouquíssimos in-vestimentos em estudos e pesquisas nos impactos que os nanoprodutos podem provocar, seja na saúde do trabalhador, seja no meio ambiente. Ela considerou que, tendo em vista a evolução tecnológica que estamos vivendo, é fundamental a capacita-ção dos profissionais e que eles sejam alertados para o reconhecimento dos desafios que essas novas tecnologias estão trazendo. Segunda a médica, é necessário alertar o profissional para

30% a 40% das pessoas com trans-torno relacionado ao álcool reúnem os critérios diagnósticos para o trans-torno depressivo em algum momento da vida”, afirmou Dr. Duílio.

O médico também falou das sín-dromes psiquiátricas não-orgânicas rela-cionadas ao trabalho, como o Transtor-no de Estresse Pós-Traumático (TEPT); das síndromes psiquiátricas relacionadas aos acidentes de trabalho e/ou doen-ças ocupacionais, como LER/DORT e depressão; e ainda sobre aquelas re-lacionadas aos fatores psicossociais no trabalho, como assédio moral e suicídio. Ainda nesse painel, a Dra. Débora Gli-na, também da USP, falou sobre a do-ença na visão da Psicologia. Ela apon-tou o assédio moral no trabalho como uma das causas da depressão que mais aparece no contexto das doenças ocu-pacionais. Também mencionou um es-tudo cuja conclusão aponta que a de-pressão aumenta a probabilidade de desenvolver incapacidade física.

Sistema de Gestão Nesta mesa-redonda, o Dr. Valker

Lacerda, vice-presidente da Região Nor-deste da Anamt, expôs os pré-requisitos para implantação do Siste-ma de Gestão (SG) nas empresas. “Considero como mais importante a formação da equipe, pois ela tem que estar harmônica, motivada, integrada e com conhe-cimento nivelado.”

Dr. Gilmar Trivela-to, pesquisador da Fun-dação Jorge Duprat Fi-gueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho (Fundacentro), também participou da mesa e falou sobre as ca-racterísticas básicas de um SG bem-su-cedido, que tem sido a principal estraté-gia para atacar o sério problema social e econômico dos acidentes e doenças relacionados ao trabalho, além de ser usado pelas empresas como fator para aumentar a competitividade no mer-cado. Ele apontou as etapas necessá-rias para a adoção deste sistema por organizações brasileiras. “São cinco as características do SG: comprometimen-to, conteúdo, cooperação, verificação

c a p a

Os médicos italianos Fabriziomaria Gobba e Bruno Piccoli em palestra sobre os riscos de agentes físicos

Dr. David dos Santos (Votorantim) relatou sua experiência no setor industrial

Dra. Fátima Sueli (Inca) abordou o câncer nos setores produtivos

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Jornal da ANAMTJornal da ANAMT DEZEMBRO 2008 �Jornal da ANAMT

em Medicina Preventiva e Social, Dra. Marta analisou a Política Nacional de Promoção da Saúde.

Já a visão acadêmica foi aborda-da pala diretora de Divulgação da Anamt, Dra. Mar-cia. Ela apresentou sua tese de douto-rado, defendida na USP, em que mos-trou os motivos que levam os emprega-dores a investir em programas de Pro-moção da Saúde. O estudo sugere

que intervenções simples podem mo-tivar pessoas para a adoção de hábitos e comportamentos saudáveis; mudan-ças na motivação precedem mudanças comportamentais propriamente ditas; e mais estudos devem ser conduzidos para avaliar o impacto de ações de pro-moção aplicadas à saúde ocupacional.

A médica do trabalho Rosa Rocha analisou a experiência do sistema to-tal de saúde com promoção de saú-de em pequenas e médias empresas. “Nosso objetivo é mudar o enfoque, que antes era dado à doença, e agora passamos a ver o lado da saúde”, dis-se. O Dr. David, do Grupo Votorantim, participou da discussão apresentando a experiência da empresa na área.

Análise ergonômica do trabalhoEste foi outro tema importante de-

batido, coordenado pelo médico Jorge Morales. Participaram da mesa-redon-da a diretora de Título de Especialis-ta da Anamt, Dra. Lys Esther Rocha, que falou sobre Auditoria fiscal da Nor-ma Regulamentadora n° 17 (NR-17), o Dr. Mario Vidal, da Federação Latino- Americana de Ergonomia, que apontou como avaliar os fatores organizacionais do trabalho, e a médica Renata Mats-moto, do Ministério do Trabalho e Em-prego (MTE), que apresentou um tema bastante atual falando sobre a organi-zação do trabalho em teleatendimento.

Dr. Morales anunciou uma nova profis-são que merece atenção: as telefonistas dos call centers. “Cada vez mais profis-sionais dessa área estão tendo proble-mas de saúde, já que é um trabalho que só cresce no mundo.”

Ele alertou sobre a importância de uma investigação para entender os ris-cos a que essas pessoas estão expostas. Em relação à NR-17, no seu ponto de vista, é a melhor regulamentação sobre ergonomia da América, pois permite que os profissionais da saúde do tra-balho intervenham de alguma forma. O médico defendeu que os países devem ter um suporte legal do Estado para exercer melhor sua função e não só tratar de punir as empresas. “É muito difícil para um ergonomista fazer seu trabalho sem ter um marco legal de apoio, sobretudo em companhias pe-quenas que não têm muito dinheiro para investimento.”

Nexo Técnico Epidemiológico Remigio Todeschini, do Ministério

da Previdência Social (MPS); Plínio Pa-vão, da Central Única dos Trabalhadores (CUT); Clovis Veloso Neto, da Confe-deração Nacional da Indústria (CNI); e Dr. Mario Bonciani (que participou des-sa mesa como representante do MTE) abordaram a visão dos trabalhadores, dos empregadores e do governo.

Dra. Marta da Silva abordou a questão política de promoção da saúde do MS

Os trabalhadores de telemarketing foram o temada palestra da Dra. Renata Matsmoto (MTE)

Remigio Todeschini (MPS) apresentou palestra sobre o Nexo Técnico Epidemiológico

Plínio Pavão acha que não há por parte das empresas uma real intenção de investimento em prevenção. Ele dis-se que o adiamento do Fator Acidentá-rio de Prevenção (FAP) ocorreu grande parte em função dos empresários, pois, durante anos, as empresas subnotifica-ram os acidentes / doenças do trabalho e agora, com o advento do FAP, as es-tatísticas mostrarão a real situação. “O FAP e o NTEP não são perfeitos, mas

devem ser avaliados na prática. O que não podemos é ficar discutindo os pon-tos falhos e adiar todo ano”, avaliou.

Por outro lado, o advogado Clovis Neto disse que as empresas não são desfavoráveis ao bônus versus malus. Ou seja: a empresa que apresentar mais adoecimento vai pagar mais e a que apresentar menos adoecimento vai pa-gar menos. O ponto onde há discór-dia é na metodologia. “Achamos vá-lido esse adiamento do FAP pela Pre-vidência, pois rever a metodologia é dar oportunidade para os atores sociais, sejam eles trabalhadores, sejam empre-sários, opinarem ativamente.”

Atuação transdisciplinarDr. Carlos encerrou

o ciclo de palestras coordenando a últi-ma mesa-redonda. Para isso, convidou entidades, como a Associação Na-cional de En-fermagem do Trabalho, re-presentada por Eliana Fittipal-di, a Associa-ção Brasileira de Fisioterapia do Trabalho, representada pelo seu presidente, Dr. Alison Klein, e a Academia Brasileira de Audiologia, representada pela presidente Dra. Ana Claudia Fiorini.

Dr. Carlos compartilhou seu orgu-lho com o sucesso do tema transdisci-plinaridade. “A Anamt pensa que neste momento a MT tem que sair da forma isolada de atuação das especialidades e começar a pensar em integrar todas as ações e entidades brasileiras que atuam junto à saúde do trabalhador.”

Dr. Alison Klein e Dra. Ana Claudia Fiorini em mesa-redonda sobre transdisciplinaridade

Dra. Marcia Bandini e a visão acadêmica da promoção da saúde

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10 DEZEMBRO 200810 Jornal da ANAMTJornal da ANAMT

“Tenho muitos anos de Medicina do Trabalho, mas é muito bom ouvir coisas atuais. Os assuntos estão muito inte-ressantes. O tema LER/DORT foi muito bem colocado. Tam-

bém gostei da palestra sobre mani-pulação de alimentos.”Sonia Maria Luchin, médica do tra-balho – Rio Claro e Capivari (SP).

“Trazer palestrantes de ou-tros países é genial, pois eles agregam valores.”Mariana Luchin, estudante de medicina da Universidade de Marília (SP).

Durante o Fórum Presença Anamt 2008, foi inaugurada a sede patrimonial da Anamt, com a implantação do Espaço Ramazzini, em São Paulo. O objetivo é disponibilizar para todos os associados um local de discussão e pesquisa de te-mas relativos à Segurança e Saúde no Trabalho. “Tudo isso começou como um pequeno sonho e agora virou realidade.

Com a inauguração, disponibi l izamos um espaço científi-co e resgatamos o nome do Dr. Ber-nardino Ramazzini, o pai da Medicina do Trabalho”, decla-rou o presidente Dr. Carlos Campos.

Para o ex-presi-

c a p a

Público avalia o Fórum

Fórum Presença Anamt 2009

O próximo Fórum será em Salvador, de 2 a 4 de outu-bro de 2009. A associação terá o apoio da Sociedade Baiana de Medicina do Trabalho (SBMT), além de pro-fissionais e instituições de Portugal, Espanha e Argen-tina, já que o Congresso Ibero-Americano de Medici-na do Trabalho acontecerá concomitantemente.

“Os temas estão bem atuais e os debates esclarecem nossas dú-vidas, como foi a palestra sobre o NTEP. Eu venho todo ano e o cres-cimento é notável.”Tatiana Amaral, médica do trabalho – São José dos Campos (SP).

Além da extensa programação, o Fórum foi sucesso de público. Médicos do trabalho e estudantes uni-versitários mostraram-se satisfeitos com a variedade dos temas abordados e com o progresso da Anamt. Veja abaixo os depoimentos de alguns participantes:

“Sempre participo dos eventos da Anamt, pois novos temas são apresentados e a qualidade dos pa-lestrantes é ótima.”Ivan Souza Castro, médico do traba-lho – São Paulo (SP).

“O Fórum é muito impor-tante para estarmos sempre atu-alizados, trabalhando próximo à realidade, praticando em nosso dia-a-dia. Também serve para encontrarmos colegas e com esta troca melhoramos profis-sionalmente.”Mirna Glauce Falcão, médica do trabalho – Araraquara (SP).

dente da Anamt Dr. Jorge da Rocha Gomes, este deve ser um espaço onde os aspectos ideológicos e políticos deverão ficar de fora. “A minha expectativa é que seja um local onde se reúnam médicos do trabalho de todas as áreas onde a MT esteja envolvida”, declarou.

A sede patrimonial, localizada no bairro Jardim Paulista, disponibiliza bibliotecas física e virtual, além do espaço para reuniões e encontros. “A localização é estratégica e o espa-ço está aconchegante. Dá vontade de vir aqui participar de reuniões e estudos. A semente foi lançada e irá frutificar”, en-fatizou outro ex-presidente, o Dr. Pedro Elias Makaron.

Foram convidados para a inauguração os médicos italianos Fabriziomaria Gobba e Bruno Piccoli, que estavam participando do Fórum, como forma de homenagear o conterrâneo Rama-zzini e valorizar ainda mais a MT. “Criar este espaço para a história da MT é uma excelente iniciativa. É o primeiro passo para um longo caminho”, ressaltou Dr. Piccoli.

Fotos: Arquivo Anamt

Espaço Ramazzini é inaugurado em São Paulo

DEZEMBRO 2008 Jornal da ANAMT10

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Jornal da ANAMTJornal da ANAMT DEZEMBRO 2008 11Jornal da ANAMT

l e g i s l a ç ã o

RESOLUÇÃO SOBRE ATESTADOS MÉDICOS É ALTERADA

Foi publicada no Diário Ofi cial da União de 18 de agos-to de 2008 a Resolução nº 1851, que altera o Artigo 3º da Resolução CFM nº 1658, de 13 de fevereiro de 2002, o qual normatiza a emissão de atestados médicos e dá outras pro-vidências. A resolução tem como objetivo acabar com inter-pretações confl itantes, especialmente acerca da atuação do médico perito frente ao médico assistente do paciente.

O médico assistente é o profi ssional que acompanha o paciente em sua doença e evolução e, quando necessário, emite o devido atestado médico. De outro lado, o médico perito é o profi ssional que avalia a condição de trabalho do examinado, para fi ns legais, sendo que o motivo mais fre-qüente é a habilitação a um benefício por incapacidade.

Visto isso, a Resolução altera o artigo 3º e acrescenta um parágrafo único no mesmo artigo, determinando que o médico assistente não pode sugerir ao paciente condutas inerentes e específi cas da atuação do médico perito.

XV Jornada GaúchaO Rio Grande do Sul reuniu médicos do trabalho entre

os dias 10 e 13 de setembro para falar sobre saúde mental, estresse, depressão e transtorno bipolar. Outros temas de-batidos foram doenças osteomusculares e doenças da voz. Palestras abordaram ainda questões do NTEP que dizem res-peito à Previdência Social, trabalhadores e empresários. Já na esfera da prevenção, foi dado enfoque aos itens álcool e tabaco. “Estamos muito satisfeitos e continuamos dispostos a melhorar nossos eventos”, avaliou o presidente da Socieda-de Gaúcha de Medicina do Trabalho (Sogamt), Dr. João Luiz Cavalieri Machado.

FAP SÓ ENTRA EM VIGOR EM 2010

A entrada em vigor do Fator Acidentário de Prevenção (FAP), que seria adotado a partir de janeiro de 2009, foi adiada pelo Ministério da Previdência Social (MPS) para ja-neiro de 2010. O FAP pode mudar as alíquotas de contri-buição das empresas ao Seguro de Acidente de Trabalho (SAT), dependendo do grau de risco de cada uma delas.

O governo adiou a implementação com o objetivo de aperfeiçoar a metodologia para a defi nição das alíquotas do Fator Acidentário, que passariam a incidir sobre a con-tribuição das empresas à Previdência Social. Além disso, o maior prazo fará com que a Comissão Tripartite criada em maio deste ano — com a participação do governo, empre-sários e trabalhadores — possa fi nalizar seus trabalhos.

Para o ministro José Pimentel, o debate da comissão poderá garantir as condições para estabelecer um marco legal ainda mais seguro para a defi nição de políticas que reduzam os índices de acidentes e doenças do trabalho no Brasil. O ministro também anunciou uma nova medida do MPS contra o impacto dos acidentes e doenças do trabalho sobre o mercado de trabalho e a previdência social.

FILTROS SOLARES PODEM SE TORNAR OBRIGATÓRIOS

O Senado aprovou no dia 14 de outubro projeto de lei que defi ne o protetor, bloqueador ou o fi ltro solar como equipamento de proteção compulsório aos trabalhadores que exercem atividades sob o sol. Transformado em lei, o texto determinará que o Ministério do Trabalho inclua os produtos na legislação de proteção aos trabalhadores e que o Sistema Único de Saúde (SUS) distribua protetores solares às vítimas de doenças causadas ou agravadas pelo sol, como o câncer de pele. O texto propõe também a criação

da Campanha Nacional de Prevenção da Exposição Indevida ao Sol, por meio da qual o governo veicularia propaganda sobre o tema pelos meios de comunicação durante as férias escolares.

Ciclo de PalestrasA Sogamt organizou, no dia 20 de outubro, palestra

com ênfase na interface com a ergonomia. O tema abor-dado foi “Controlando o ruído — As melhores práticas na prevenção das perdas auditivas para o século XXI.” Ao longo do ano, a entidade realizou quatro palestras sobre assuntos atuais de Segurança e Saúde no Trabalho. Aque-les que participaram de pelo menos três eventos receberão Certifi cados de Comparecimento à Atividade de Extensão Universitária. Nessa edição, o palestrante foi Lee Hager, de Porto Alegre, especialista nas mais modernas tecnologias de Proteção Auditiva.

SOGAMT PROMOVE ATUALIZAÇÃO

f e d e r a d a s

Jornal da ANAMT DEZEMBRO 2008 11Jornal da ANAMT

FILTROS SOLARES PODEM SE TORNAR OBRIGATÓRIOS

propaganda sobre o tema pelos meios de comunicação durante as férias escolares.

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12 DEZEMBRO 200812 Jornal da ANAMTJornal da ANAMT

António Uva avalia os avanços da Medicina do Trabalho na União Européia

A União Européia tem investido de alguma forma para reduzir os acidentes e doenças de trabalho?

António Uva – A União Européia tem sim investido muito na redução dos acidentes e doenças de trabalho. Dados da Fundação Européia para a Melhoria das Condições de Vida e do Trabalho (FEMCVT) mostram que, entre 2000 e 2004, a redução dos acidentes foi de quase 20%. Outra informação importante é que aproximadamente um terço das pessoas acreditam que o trabalho envolve riscos a sua saúde. A maioria dos problemas que os trabalhadores detectam não são doenças, mas estados de espírito, sentimentos. Por toda experiência na área de segurança e saúde do trabalho que tenho em Portugal, posso afirmar que lá os médicos do trabalho não sabem como lidar com isso. Apenas seguem rotinas e atividades inúteis para a MT. Para mim, os exames mais importantes não são os periódicos, e sim os ocasionais. Mas, infelizmente, o empregador não paga esse exame, pois é feito à parte. Hoje sabemos que o melhor exame para avaliar a relação do trabalhador com seu trabalho é o ocasional e não o admissional ou o periódico.

O que a Europa tem feito em relação aos riscos profissionais?

AU – Em Portugal, por exemplo, existem muitas normas que não são aplicadas. Lá, a inspeção do trabalho não funciona. Mas a maioria dos países da União Européia tem investido em MT, com grandes campanhas de saúde no trabalho. O lado negativo é que as melhorias não chegam a todos os extratos sociais. Alguns trabalhadores até perderam saúde e segurança, como é o caso dos imigrantes. Mas, por outro lado, há um ponto muito positivo: na Europa, mais de 80% das pessoas estão satisfeitas com o trabalho. E isso é muito bom e relevante para a saúde do trabalhador.

Durante a 8ª edição do Fórum Presença Anamt, o médico do trabalho António Uva, presidente do Conselho Científico da Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade Nova de Lisboa, apresentou palestra sobre “Os avanços da União Européia na prevenção, avaliação e gestão dos riscos à saúde do trabalhador”. Para o Dr. Uva, que é professor de saúde ocupacional e coordenador do grupo de disciplinas de saúde ambiental e ocupacional, a maior parte dos problemas que envolvem a Medicina do Trabalho (MT) não se refere a doenças e acidentes, como, segundo ele, a mídia costuma destacar. “Um dos maiores problemas da área é a sobrecarga mental e física, o que não é propriamente uma doença, mas nos dá uma indicação de como está o mundo do trabalho na Europa”. Ele acredita que as pessoas têm cada vez menos tempo para descansar e se recuperar da grande intensidade de trabalho que existe hoje. E os riscos que surgem são de natureza psicossocial. Não só o estresse ligado ao trabalho, mas também os distúrbios da ansiedade e o assédio moral. O Dr. António Uva destacou que na Europa, de uma maneira geral, os trabalhadores têm uma relação estável com o trabalho.

A maioria dos países da União Européia tem investido em MT, com grandes campanhas

de saúde

e n t r e v i s t a

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Jornal da ANAMTJornal da ANAMT DEZEMBRO 2008 1�Jornal da ANAMT

Dr. António Uva ministrou palestra sobre a MT na Europa

no Fórum Presença Anamt

António Uva avalia os avanços da Medicina do Trabalho na União Européia

Foto: Daniel Gom

es Aguilar

Como o senhor avalia a iniciativa da Anamt em convidar palestrantes de outros países para participar de seus eventos, como foi o caso deste Fórum?

AU – Ninguém se desenvolve e evolui sem trocar experiências com o outro, pois a natureza e a intelectualidade humanas têm enorme riqueza e permitem aprendizados diversos em contextos sócio-culturais variados. Portanto, a troca de experiências é uma obrigatoriedade de qualquer setor do conhecimento. É nesse sentido que a MT vai inovar e se desenvolver. Temos que centrá-la no trabalhador e não no médico do trabalho. E é dessa forma que eu acho que a Anamt caminha.

Qual sua análise sobre a relação da Anamt com países da Europa, neste caso especialmente Portugal?

AU – A minha relação com Anamt é muito antiga. Conhecia Dr. Oswaldo Paulino há 25 anos. Nosso primeiro contato regular foi feito quando o Dr. Casimiro Junior era presidente, em 1989. Sou fundador do comitê ibero-americano de MT, onde fui presidente durante dois anos, no início dos anos 90. Tenho um conhecimento profundo de troca de experiências com países da América Latina e da Península Ibérica. Mantemos encontros periódicos, como, por exemplo, o congresso ibero-americano. O último foi realizado em Lisboa, no ano passado. Aceito com muito prazer os convites para participar de eventos como o Fórum Presença Anamt, pois compartilho formas de olhar para a MT. Não há outra maneira de se desenvolver se não for assim.

Como os brasileiros lidam com o fato de trocar experiência na área de saúde ocupacional com profi ssionais internacionais?

AU — Os brasileiros sempre me receberam de braços abertos. Sempre interagi com a Anamt, por meio dos seus ex-presidentes. Tenho muito contato com o Dr. René Mendes, talvez por ser do meio acadêmico como eu. Encontrar pessoas que querem compartilhar experiências e fazer refl exões é fundamental.

Sendo um estrangeiro participativo dos eventos que ocorrem no Brasil, como o senhor vê o crescimento da MT no país?

AU – Nos últimos quatro anos, houve uma mudança na organização baseada na componente tripartite, como já acontece na União Européia. É preciso haver uma gestão que inclua políticos, sindicatos e empresários. Acredito que a MT no Brasil tem os mesmo problemas, as mesmas dificuldades que a mundial. Não é melhor nem pior. Os caminhos é que, às vezes, acontecem de forma diferente.

E a evolução do trabalho que vem sendo realizado pela Anamt, qual é a sua impressão?

AU – A Anamt é diferente da minha congênere em Portugal, que é uma sociedade exclusivamente científi ca. A Anamt tem duas preocupações: a realização profi ssional, como o controle do exercício da profissão; e um comprometimento técnico-científico, a fim

de melhorar a qualidade do conhecimento. O que tenho visto ultimamente é que o Brasil tem feito um esforço muito grande para o enriquecimento desses dois componentes. Portanto, a minha avaliação é bastante positiva, principalmente em relação às pessoas envolvidas com a entidade, que respeitam a história da Associação e, apesar dos problemas inerentes a qualquer área, sempre fi zeram o melhor.

Aceito com muito prazer os convites para participar de eventos como o Fórum Presença Anamt, pois compartilho formas de olhar para a MT. Não há outra maneira de se desenvolver se não for assim

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14 DEZEMBRO 200814 Jornal da ANAMTJornal da ANAMT

espaço do associado

* Dr. Carlos Alberto Pereira

Perdas auditivas: 30 anos depois

Tive o privilégio de participar da implantação e desenvolvimento de um Programa de Proteção Auditiva na década de 1970, em empresa me-talúrgica, junto com o colega médico do trabalho Dr. Darlove Vaz de Olivei-ra. Recomendou-se a diretoria e ge-rências o controle de ruído na fonte e na trajetória. O uso de protetores auditivos foi precedido por palestras a pequenos grupos de operários acom-panhados por encarregados. Para in-terpretação das audiometrias foram considerados anamnese ocupacional, exame clínico e aspecto da curva au-diométrica. A classifi cação proposta

Em 1978, apresentei dissertação de mestrado à Faculdade de Saúde Pública da USP com o título “Surdez profi ssional em trabalhadores metalúrgicos – estudo epidemiológico em uma indústria da grande São Paulo”. O saudoso professor Diogo Pupo Nogueira, do Departamento de Saúde Ambiental, foi meu orientador. O apoio do Dr. René Mendes foi fundamental para a conclusão do trabalho. Na ocasião, não havia estudos epidemiológicos sobre Perdas Auditivas Induzidas pelo Ruído (PAIR) no Brasil. As Normas Regulamentadoras (NR) relativas à Segurança e Medicina do Trabalho tinham sido estabelecidas pela Portaria 3214 do Ministério do Trabalho em 1978. Portanto, nem as grandes empresas eram obrigadas a manter Serviço Especializado em Segurança e Medicina do Trabalho (SESMT).

baseou-se em trabalho de LAFON, publicado em 1975 no Cahiers d’O.R.L. e na História Natural da Doença. Possibilita a adoção de medidas pre-ventivas antes do aparecimento de sintomas e no início da doença.

O tratamento estatístico dos re-sultados comprovou associação entre perdas auditivas e exposição profi ssio-nal a ruído excessivo. O autor propôs a realização de estudos epidemiológi-cos semelhantes em outras empresas, possibilitando estudos comparativos entre as diversas categorias profi ssio-nais e uma referência para o futuro. Outros trabalhos foram publicados nos anos seguintes, cujos resultados confi rmaram o acerto do método epi-demiológico adotado.

Paralelamente, vigorava em nos-sa legislação trabalhista a obrigato-riedade, de triste lembrança, do uso da Tabela de Fowler para avaliação de perdas auditivas, imposta de for-ma autoritária pelo governo militar. Em 1994, participei de reunião da Anamt sobre a Portaria 3214 – NR 7: Exames Médicos. Foi discutida e aprovada proposta de alteração da legislação sobre PAIR, em substitui-ção à Tabela de Fowler. Em 1995, o Comitê Nacional de Ruído e Conser-vação Auditiva publicou o Boletim nº 3: “Condutas na perda auditiva indu-zida pelo ruído”. Em 1996, participei da elaboração de Norma Técnica so-bre PAIR. Trabalhadores e empresá-rios participaram democraticamen-

te do Grupo de Trabalho Tripartite (Portaria Nº 5, de 1997). Finalmente, após consulta pública por 90 dias, a Portaria Nº 19, de 1998, aprovou as “Diretrizes e Parâmetros Mínimos para Avaliação e Acompanhamento da Audição em Trabalhadores Expos-tos a Níveis de Pressão Sonora Eleva-dos”, atualmente em vigor.

O que mudou? Além da atualiza-ção de conceitos, destacamos os avan-ços tecnológicos e organizacionais na produção industrial; a conscientização dos empresários sobre sua responsabi-lidade em saúde ocupacional; a forma-ção de equipes multiprofi ssionais em Saúde do Trabalhador; recursos técni-cos para controle de ruído ambiental e diagnóstico otológico; a participação dos trabalhadores na prevenção de do-enças, através de ações sindicais; e a legislação sobre Segurança e Medicina do Trabalho.

Grau 0: Audiometria normal 25 dB nas freqüências de 0,5- 1- 2- 3- 4- 6 e 8 kHz

Grau I: Limiares auditivos entre 30 e 40 dB apenas nas freqüências de 4 e 6 kHz

Grau II: Idem entre 45 e 55 dB

Grau III: Idem de 60 dB e mais

Obs: Nos graus I, II e III não seria ultrapassado o limiar de 25 dB para 0,5 - 1 e 2 kHz

Grau IV: Defi ciência para comunica-ção oral, com limiar acima de 25 dB para 0,5- 1 e 2 kHz

D.A.N.O.: Distúrbio auditivo não ocupacional

* Dr. Carlos Alberto PereiraMédico do Trabalho – SP

O texto na íntegra poderá ser solicitado pelo e-mail [email protected]

a r t i g oA

rquivo pessoal

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Jornal da ANAMTJornal da ANAMT DEZEMBRO 2008 15Jornal da ANAMT

CURSO TÉCNICO O Senai de Santa Catarina vai promover, em sua uni-

dade de São José, o Curso de Técnico em Segurança do Trabalho. As inscrições podem ser feitas até o dia 16 de janeiro e as aulas terão início no dia 2 de fevereiro. O ob-jetivo do curso é possibilitar a formação de profissionais que compreendam o processo de trabalho específico e o processo global de trabalho da área de Saúde e Seguran-ça no Trabalho. Detalhes sobre o curso pelo telefone (48) 3381-9200 ou pelo e-mail [email protected].

ENCONTRO INTERNACIONALEntre os dias 2 e 6 de fevereiro de 2009, será realizado o

16° encontro anual IEEE IAS Electrical Safety Workshop. Com sede na cidade de St. Louis, no estado americano de Missouri, o evento tem como objetivo o desenvolvimento de estratégias para a descoberta de recursos para a redução de riscos e o incentivo à formação da cultura da segurança na manipulação com equipamentos elétricos. Informações sobre a inscrição, os trabalhos técnicos e a programação estão disponíveis no site www.ieee.org.

PROMOÇÃO DA SAÚDEDe 2 de março a 15 de dezembro de 2009, será realizado

o curso Práticas de Promoção da Saúde. Oferecido pela Facul-dade de Medicina da USP, as aulas são voltadas para profis-sionais de saúde, gestores e colaboradores de programas de qualidade de vida. As inscrições estão abertas até 30 de de-zembro. Informações pelo telefone (11) 3069-7690/7692.

CONGRESSO DA ICOHA cidade de Cape Town, na África do Sul, será sede

entre os dias 22 e 27 de março de 2009 do 29th ICOH In-ternational Congress on Occupational Health. O evento vai reunir especialistas de todo o mundo para discutir a quali-dade da Medicina do Trabalho no presente e no futuro. O tema principal será a saúde ocupacional como direito básico e recurso valioso da sociedade. Mais informações no site www.icoh2009.co.za.

QUALIDADE DE VIDAEntre os dias 19 e 24 de junho, será realizado o 9º Con-

gresso de Stress da ISMA-Brasil e o 11º Fórum Internacional de Qualidade de Vida no Trabalho. O evento acontecerá no Centro de Eventos Plaza São Rafael, em Porto Alegre, e vai abordar o tema “Trabalho, stress e saúde: investindo no po-tencial humano – da teoria à ação”. O objetivo do encontro é discutir ações para tornar o dia-a-dia corporativo mais produ-tivo e sem prejuízos para a saúde física e mental. Mais infor-mações estão disponíveis no site www.ismabrasil.com.br.

PROGRAME-SESão Luís (MA) será a sede da I Jornada Nordestina de

Medicina do Trabalho, que acontecerá entre os dias 16 e 18 de abril de 2009. Em breve, mais informações no site da Anamt (www.anamt.org.br).

a g e n d a

Envie suas dúvidas, opiniões e sugestões para o Jornal da Anamt. Acesso o site da Anamt: http://www.anamt.org.br/espaco_associado.php

Como se associar?Conheça todos os benefícios de se associar e preencha a proposta on-line em http://www.anamt.org.br/associar.php

espaço do associado

No Atestado de Saúde Ocupacional (ASO) do trabalhador rural, que trabalha em céu aberto, deve-se colocar risco físico igual a calor do sol ou apenas seguir orientação da NR-21?

Ildefonso Cardoso, médico do trabalho — Itapetininga (SP)

No ASO deve constar os riscos no ambiente de trabalho a que estão expostos os trabalhadores. A NR-21 fala de insolação excessiva (devido a raios UVa e UVb), inclusive separada de calor (IBUTG). Ultrapassar os limites de tolerância para exposição ao calor (NR-15 anexo 3 ) na atividade rural é pouco provável que ocorra, devido ao trabalho ser realiza-do a céu aberto. No entanto, insolação excessiva é possível que ocorra. Portanto, no ASO deveria cons-tar como risco desta atividade: Risco Físico – Calor Radiante Não Ionizante.

Dr. Charles Amoury, diretor de Legislação da Anamt

No caso de uma empresa com matriz em São Paulo e filiais em outros estados — filiais com o mesmo CNPJ e filiais com CNPJ diferentes —, como ficaria o dimensionamento do SESMT?

Gessé Barbosa, médico do trabalho — Itatiba (SP)

Conforme a portaria nº 3.214, de 1978 do MTE, atualizada na NR-4 item 4.2 subitem 4.2.4, temos: “em havendo na empresa estabelecimentos que se enquadrem no quadro II, desta NR, e outros que não se enquadrem, a assistência a estes será feita pelos serviços especializados daqueles dimensiona-dos conforme os subitens 4.2.5.1 e 4.2.5.2 e des-de que localizados no mesmo estado, território ou território federal.” Portanto o dimensionamento do SESMT tem que ser, no máximo, nos limites de cada unidade federativa. Cada empregador tem uma personalidade jurídica, conseqüentemente, cada empregador (matriz e filiais constantes do mesmo contrato social) deve ter o seu SESMT constituído de acordo com a NR-4.

Dr. Charles Amoury, diretor de Legislação da Anamt

Page 16: anamt dez 0711 lilian · Para 2009, já temos uma série de eventos sendo pre-parados, ... o aniversário de 40 anos e suas festividades, a inaugu- ... Feliz Natal e próspero ano-novo!

16 DEZEMBRO 200816 Jornal da ANAMT

A hepatite A é uma do-ença infectoconta-

giosa que acomete milhares de pesso-as mundialmente, de acordo com os

inquéritos epidemioló-gicos, embora em apenas cer-ca de 1,5 milhão de pessoas se manifeste clinicamente, se-gundo a OMS¹. O Vírus da He-patite A é transmitido pela via fecal-oral, tanto pelo consumo de água ou de alimentos con-taminados como também pelo contato de pessoa para pessoa. A prevalência da infecção está relacionada a precárias condi-ções socioeconômicas devido à falta de higiene e à ausência de condições sanitárias ade-quadas. Até o início deste sé-culo as recomendações para profi laxia contra hepatite A res-tringiam-se a grupos de risco: viajantes internacionais, homens que amam homens, usuários de drogas, crianças em comunida-des com maior risco de hepatite A. Pacientes com doenças crô-nicas do fígado, particularmente aqueles com hepatites B e C,

Falência hepática aguda e hepatite A também têm sido aconselhados a se prevenir contra uma infec-ção concomitante. Entretanto, diferentes estudos epidemioló-gicos constatam que cerca de 50% dos casos de hepatite A ocorrem em pessoas fora des-ses grupos de risco, invalidando esse tipo de orientação². A pro-fi laxia ativa, por meio de vacina, vem atingindo níveis de exce-lência cada vez mais elevados. Preparadas a partir de vírus ina-tivados, atinge níveis protetores de anti-VHA entre 99% e 100% dos casos. Administrada em duas doses, é altamente imu-nogênica em indivíduos a partir de um ano de idade. Em alguns países como Israel e, mais re-centemente, nos Estados Uni-dos, já existe a orientação de vacinação universal para todas as crianças a partir de um ano de vida³. Esta conduta, além de eliminar a possibilidade de he-patite nos vacinados, tem feito decrescer a incidência de he-patite A em outras faixas etárias infantis4. Na Argentina, adotou-se uma recomendação de va-cinação universal com apenas

Referências bibliográfi cas

1. Hepatitis A vaccines. Wkly Epidemiol Rec 2000;75:38-44. • 2. Koff RS. Fulminant hepatitis A: Disappearing, but not soon enough. Hepatology 2006;44:1397-1399. • 3. Fiore AE, Wasley A, Bell BP. Prevention of hepati-tis A through active or passive immunization: recommendations of the Advisory Committee on Immunization Practices (ACIP). MMWR Recomm Rep 2006;55:1-23. • 4. Belmaker I, Dukhan L, Yosef Y, Leventhal A, Dagan R. Elimination of hepatitis a infection outbreaks in day care and school settings in southern Israel after intro-duction of the national universal toddler hepatitis a immunization program. Pediatr Infect Dis J 2007;26:36-40. • 5. Vitral CL, Gaspar AM, Souto FJ. Epidemiological pattern and mortality rates for hepatitis A in Brazil, 1980-2002--a review. Mem Inst Oswaldo Cruz 2006;101:119-127.

Edna Strauss** Professora livre docente da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Hepatologia, atual pre-sidente da Associação Paulista para o Estudo do Fígado

uma dose para todas as crian-ças de um ano de idade. Es-tima-se que menos de 1% de crianças e adultos jovens pos-sam ir a óbito por hepatite A, enquanto esse valor sobe para 2,5% nos indivíduos com mais de 50 anos. Além da idade, ou-tros fatores de mau prognóstico são: o grau de encefalopatia he-pática e o concomitante acome-timento de outros órgãos vitais, constituindo a falência de múl-tiplos órgãos. Assim como os demais países da América Lati-na, apesar de ser o Brasil con-siderado como área de alta en-demicidade para a hepatite A, já existem algumas evidências de que a endemicidade tem se tornado intermediária, devido à diminuição da circulação viral por melhora das condições hi-giênico-sanitárias5. As grandes defi ciências em sua notifi cação aos serviços de Saúde Pública, assim como na disponibilida-de dos meios para diagnósti-co etiológico da doença, cons-tituem sério obstáculo à correta avaliação da extensão do pro-blema em nosso meio.

SANOFI - PASTEURi n f o r m e p u b l i c i t á r i o