análise macroeconomica - uma introdução metodológica

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Economia

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Revista de Economia Poltica, Vol. 1, n. 4, outubro-dezembro/1981Anlise macroeconmica: uma introduo metodolgicaEDMAR LISBOA BACHA Publicaremos em breve um novo texto de macroeconomia,1 concebido para ser utilizado em cursos iniciais de macroeconomia em nvel de ps graduao e em cursos terminais desta disciplina em nvel de graduao. O texto est voltado para a discusso de temas macroeconmicos de interesse para pases semi-industrializados, como o Brasil.As polticas macroeconmicas so avaliadas por seus impactos em quatro variveis-chave, a saber, o crescimento da capacidade produtiva, a taxa de inflao, o saldo do balano de pagamentos e o grau de utilizao da capacidade instalada.O problema central considerado a acumulao de capital, embora em alguns captulos se suponha a constncia da capacidade produtiva, a fim de se introduzirem didaticamente alguns conceitos e tcnicas de anlise qUe so necessrias para o estudo, necessariamente mais complexo, de uma economia em crescimento.A inflao discutida no contexto de uma economia em crescimento. O texto recoloca a controvrsia entre "monetaristas" e "estruturalistas", analisando, entre outros temas, a possibilidade da existncia de uma relao positiva entre a taxa de inflao e a taxa de crescimento do produto potencial, pela via de uma poupana forada dos trabalhadores. Tambm se considera a controvrsia a respeito da existncia de uma relao positiva entre a variao da taxa de inflao e o grau de utilizao da capacidade instalada. De uma* Professor da PUC do Rio de Janeiro.1 Edmar L. Bacha. Anlise Macroeconmica: Uma Perspectiva Brasileira, Rio de Janeiro, PUC/RI, mimeog.. 1981. A pesquisa que deu origem a esse texto foi financiada pelo PNPE do IPEA.103

nmero de variveis, e em parte a nossa crena em que, no caso brasileiro, a taxa de juros funcione mais como um mecanismo de transferncia de renda, sendo o crdito racionado primordialmente atravs de mecanismos de natureza quantitativa.)A distino entre curto e mdio prazos metodolgica, no se estabelecendo em princpio qualquer presuno sobre o tempo necessrio para que se efetivem os processos de ajuste. No curto prazo, persiste o desequilbrio de mercado (no caso acima, do mercado monetrio). Depois de um certo tempo, ceteris paribus, alcana-se o mdio prazo, em que se restabelece o equilbrio de mercado. Distines metodolgicas semelhantes so feitas para o mercado de bens: no curto prazo, os preos so rgidos; no mdio prazo, eles so flexveis. Conseqiientemente, no curto prazo, h desequilbrio no mercado de bens, enquanto que no mdio prazo alcana-se uma utilizao normal da capacidade instalada.No h qualquer semelhana entre esta classificao de prazos e os tradicionais curto e longo prazos marshallianos, j que estes presumem respectivamente constncia e variabilidade da capacidade instalada. Em nosso caso, nos modelos "estticos" dos captulos 2, 3 e 5, a capacidade instalada est dada; enquanto que, nos modelos "dinmicos" dos captulos 4 e 6, a capacidade instalada est variando todo o tempo. Sem embargo, em ambas as circunstncias, os mercados podem estar em equilbrio ("esttico" ou "dinmico", respectivamente) ou no, definindo-se, portanto, num caso como noutro, nossos curto e mdio prazos.Com este artifcio analtico, entendemos ser possvel entender com mais clareza certos aspectos do debate entre "estruturalistas" e "monetaristas". Dentro de certos limites, podemos tratar este debate como sendo derivado de distintas percepes sobre as velocidades dos processos de ajuste de mercados. Para os "monetaristas" mais ferrenhos, o curto prazo aqui considerado seria irrelevan-temente diminuto, enquanto que os hiper-"estruturalistas" estariam postulando um tempo infinito para os mercados alcanarem suas posies de equilbrio.O texto tem uma posio ecltica neste debate. Nossa percepo que os mecanismos de mercado so inoperantes no que concerne ao mercado de trabalho. Neste caso, mesmo no mdio prazo, continuamos a postular a eficcia da poltica salarial para a determinao dos salrios nominais. (Ocorre-nos que qui tenha sido esta a razo de havermos deixado o longo prazo em aberto, reservando-o eventualmente para uma situao de equilbrio no mercado de trabalho.) No que se refere ao mercado de moeda, nossa posio oposta. Desde que haja condies polticas para se exercer uma poltica monetria ativa, acreditamos que seja bastante elevada a velocidade de ajuste do mercado monetrio, no caso brasileiro. Ou seja, uma contrao monetria implica numa queda da taxa de investimento num curto espao de tempo. J sobre o105

A curva de Phillips obtida nos textos tradicionais a partir da hiptese de que, para uma dada taxa de inflao esperada, h uma relao inversa entre a taxa de variao dos salrios nominais e a taxa de desemprego aberto. Nesse texto, tendo em vista 1) a situao de excesso estrutural de mo-de-obra e 2) a existncia de uma poltica salarial compulsria, postulamos que seja a frmula salarial do governo que determina o curso dos salrios nominais na economia, no se definindo, portanto, uma curva^de Phillips sobre os salrios, no caso brasileiro.O pressuposto da eficcia da poltica salarial obviamente controverso, mas no estgio atual de conhecimento emprico no Pas entendemos apropriado explorar as consequncias macroeconmicas de sua adoo. No necessrio, entretanto, superenfatizar esta controvrsia, j que pouco da estrutura do texto teria que ser modificado para acomodar uma viso ecltica que adicionasse a taxa de desemprego aberto (desde que esta fosse aproximada pelo grau de utilizao da capacidade instalada) s regras da poltica salarial, para determinar a evoluo do salrio nominal.DISTRIBUIO DA RENDA E ACUMULAO DE CAPITALUma diferenciao terica importante entre esse texto e os livros correntes de macroeconomia refere-se aos mecanismos de determinao da distribuio funcional da renda e seu papel na acumulao de capital.Nos textos ditos "keynesianos", o salrio real igualado produtividade marginal do trabalho para o nvel de emprego determinado pela demanda efetiva. A margem de lucros por unidade produzida sai ento como resduo, sendo igual diferena entre as produtividades mdia e marginal do trabalho. Aparentemente, a distribuio de renda determinada pelas caractersticas tcnicas da produo. Entretanto, depois dos trabalhos de Clower e Barro-Grossman,2 sabemos haver uma inconsistncia lgica neste esquema. Pois, se o emprego determinado pela demanda efetiva e esta exgena, o valor do produto gerado por um trabalhador adicional igual a zero, j que para ele no h mercado. Portanto, nesse mundo keynesiano, o salrio real de fato indeterminado e no igual ao valor do produto marginal do trabalho, como querem os livros-texto tradicionais.Dada esta indeterminao, no que concerne distribuio de renda irrelevante adotarmos ou no uma funo de produo neoclssica, pelo menos2 Cf. R. Barro, e H. Grossman, "A General Equilibrium Model of Income and Employmeht", in American Economic Review, maro de 1971; e R. W. Clower, "The Keynesian Counter-revolution: a Theoretical Appraisal", in R. W. Clower (org.), Monetary Theory, Penguin Books, 1969.107no curto prazo (j veremos a situao no mdio prazo). Nesse texto, por simplicidade, utilizamos uma funo de produo com coeficientes fixos, para a qual so: idnticas as produtividades mdia e marginal da mo-de-obra. A distribuio funcional da renda ento determinada de acordo com princpios distintos, dependendo de se tratar de situaes de curto ou mdio prazos. No curto prazo, simplesmente postulamos a existncia de um mark-up convencional sobre os custos unitrios variveis de produo. Dado o mark-up, definem-se as parcelas dos salrios e dos lucros no produto. No mdio prazo, entretanto, o mark-up cumpre uma funo determinada, a saber, a proviso de recursos para a formao de capital. A cada taxa de acumulao corresponde ento um valor preciso para o mark-up e, portanto, um padro determinado de distribuio funcional da renda.Trata-se de uma viso conforme economia poltica clssica, em que aos lucros cabe a funo de reproduo ampliada do capital, destinando-se os salrios reproduo da ora de trabalho. Assim, nesse texto, a distribuio da renda entre lucros e salrios est intimamente ligada acumulao de capital. De um ponto de vista formal, o suposto crtico que se adota que parte dos lucros so poupados, enquanto que os salrios so integralmente consumidos. Dada a taxa de acumulao, esta caracterstica permite-nos fechar o modelo de produo de bens, distribuio de renda e gerao de demanda que caracteriza o texto. Note-se apenas que, conforme demonstrado por Pasinetti,3 supostos mais flexveis sobre a repartio dos salrios entre consumo e poupana poderiam ter sido adotados, sem afetar as concluses da anlise.Cabem ainda duas observaes. Em primeiro lugar, o texto fala quase sempre em "capitalistas" e "trabalhadores". Sem prejuzo da anlise, estas expresses podem ser substitudas por "empresas" e "indivduos" (ou: famlias), desde que rejeitemos o pressuposto neoclssico, segundo o qual a repartio do excedente empresarial entre lucros retidos e dividendos apenas uma instncia a mais do processo de decises individuais a respeito da distribuio de sua renda permanente entre consumo presente e consumo futuro. Ou seja, em nossa anlise, as empresas no funcionam como alteregos dos indivduos, mas por assim dizer so dotadas de uma vontade prpria, no podendo, portanto, suas decises de acumulao serem reduzidas a meras consequncias de processos de maximizao intertemporal da utilidade dos consumidores.O segundo ponto relacionado ao anterior. Por simplicidade analtica, tambm no mdio prazo pressupomos que no existam opes tecnolgicas. Portanto, variaes nas remuneraes dos fatores no afetam a tcnica utilizada. Entretanto, poderamos tambm ter utilizado uma funo de produo agregativa3 Cf. L. Pasinetti, Growth and Income Distribution, Cambridge U. Press, 1974. 108