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1 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DO MAPA DE USO DO SOLO DO MUNICÍPIO DE IJACI-MG: RECURSO PARA INVESTIGAÇÃO DO ESPAÇO AGRÁRIO Cassiano Gustavo Messias Análise Geoespacial de Dados Ambientais e de Saúde - GEODAS Instituto de Geociências - Unicamp - SP [email protected] Larissa Chiulli Guida Grupo de Estudos Regionais e Socioespaciais – GERES Instituto de Ciências da Natureza – UNIFAL-MG [email protected] Raphael Casagrande Guida Universidade Federal de Alfenas – MG [email protected] Danilo Francisco Garófalo Trovó Análise Geoespacial de Dados Ambientais e de Saúde – GEODAS Instituto de Geociências – Unicamp – SP [email protected] Resumo O uso de geotecnologias como instrumento para análise espacial vem sendo adotado em diversas áreas do conhecimento. Cabe à Geografia, mais especificamente ao Geógrafo, a análise totalizante do espaço. Assim, sendo geógrafos, propusemo-nos analisar o espaço agrário do município de Ijaci/MG, dedicando para a metodologia desta análise a utilização dos recursos que a geografia dispõe: arcabouços teóricos e conceituais da Geografia Agrária e Geotecnologias, tendo o sensoriamento remoto como principal técnica norteadora da investigação. A pesquisa se divide em duas fases, sendo este trabalho resultado da primeira, que visa demonstrar a análise através da elaboração do Mapa de Uso do Solo de Ijaci/MG, a segunda fase ainda em desenvolvimento, contemplará uma investigação de caráter qualitativo. Contudo, acreditamos que o objetivo central do trabalho seja a investigação integrando as áreas subdivididas da Geografia (Humana e Física), na tentativa de alcançar uma análise final sob a ótica holística do geógrafo. Palavras-chave: Mapa de Uso do Solo. Geotecnologias. Ijaci-MG. Introdução A prática da agricultura, de acordo com Diniz (1984), se caracteriza como diversificada por ocorrer em diferentes meios ecológicos na superfície terrestre, e como dispersa, por atender diferentes necessidades sociais, econômicas e políticas. Sendo esta prática fundamental para garantir a subsistência de uma população, e/ou impulsionar a

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ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DO MAPA DE USO DO SOLO DO MUNICÍPIO DE IJACI-MG: RECURSO PARA INVESTIGAÇÃO DO ESPAÇO

AGRÁRIO

Cassiano Gustavo Messias Análise Geoespacial de Dados Ambientais e de Saúde - GEODAS

Instituto de Geociências - Unicamp - SP [email protected]

Larissa Chiulli Guida

Grupo de Estudos Regionais e Socioespaciais – GERES Instituto de Ciências da Natureza – UNIFAL-MG

[email protected]

Raphael Casagrande Guida Universidade Federal de Alfenas – MG

[email protected]

Danilo Francisco Garófalo Trovó Análise Geoespacial de Dados Ambientais e de Saúde – GEODAS

Instituto de Geociências – Unicamp – SP [email protected]

Resumo O uso de geotecnologias como instrumento para análise espacial vem sendo adotado em diversas áreas do conhecimento. Cabe à Geografia, mais especificamente ao Geógrafo, a análise totalizante do espaço. Assim, sendo geógrafos, propusemo-nos analisar o espaço agrário do município de Ijaci/MG, dedicando para a metodologia desta análise a utilização dos recursos que a geografia dispõe: arcabouços teóricos e conceituais da Geografia Agrária e Geotecnologias, tendo o sensoriamento remoto como principal técnica norteadora da investigação. A pesquisa se divide em duas fases, sendo este trabalho resultado da primeira, que visa demonstrar a análise através da elaboração do Mapa de Uso do Solo de Ijaci/MG, a segunda fase ainda em desenvolvimento, contemplará uma investigação de caráter qualitativo. Contudo, acreditamos que o objetivo central do trabalho seja a investigação integrando as áreas subdivididas da Geografia (Humana e Física), na tentativa de alcançar uma análise final sob a ótica holística do geógrafo. Palavras-chave: Mapa de Uso do Solo. Geotecnologias. Ijaci-MG. Introdução A prática da agricultura, de acordo com Diniz (1984), se caracteriza como diversificada

por ocorrer em diferentes meios ecológicos na superfície terrestre, e como dispersa, por

atender diferentes necessidades sociais, econômicas e políticas. Sendo esta prática

fundamental para garantir a subsistência de uma população, e/ou impulsionar a

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economia de uma nação quando aliada à produção industrial, por exemplo. Assim, a

análise do espaço agrário envolve vários aspectos que se inter-relacionam, se tornando

complexa, por isso se faz necessário frisar que a agricultura é uma atividade, por si só

não explica e elucida as diversas transformações pertencentes ao mundo rural.

Neste sentido, cabe à Geografia Agrária analisar este vasto mosaico de inter-relações

que sucedem no espaço rural, e as constantes transformações (oriundas das inter-

relações de diversos agentes) neste espaço. Segundo Andrade (p. 13, 2010)

“naturalmente essas transformações vão refletir na orientação do estudo tanto do ponto

de vista teórico quanto metodológico; o geógrafo tem necessidade de acompanhar as

transformações para fazer uma Geografia Rural e não História Rural”.

Dessa forma, compreende-se que a metodologia da investigação no estudo da Geografia

Agrária deve utilizar de todos os recursos disponíveis abrangendo desde os arcabouços

teóricos e conceituais, aos levantamentos e observações in loco aos instrumentos

técnicos para análise espacial, ou melhor, os Sistemas de Informações Geográficas

(SIG’s). Afinal, a ordem e/ou ordenamento espacial e as relações dos diversos agentes

neste meio, consiste na base da pesquisa do geógrafo, recorrem-se logo às

geotecnologias como instrumento de análise.

As Geotecnologias são hoje ferramentas essenciais para a análise do espaço geográfico.

Utilizando técnicas de Sensoriamento Remoto, Geoprocessamento e Análise Espacial,

podem-se obter dados de maneira rápida, além de interagir diferentes informações. Uma

aplicação das técnicas nesta abordagem é a análise de uso do solo, que pode nos levar a

informações importantes, tais como a caracterização das propriedades, fragmentação do

solo, tipos de produção, quantificação de áreas agrícolas e proximidade destas com

aglomerados urbanos, entre outras.

Diante desta exposição acerca da Geotecnologia no estudo da Geografia Agrária,

apresenta-se este trabalho, que tem como objetivo específico investigar o espaço rural

do município de Ijaci-MG, a partir da interpretação e análise do Mapa de Uso do Solo,

correlacionando com a dinâmica econômica municipal, a fim de verificar a estrutura da

agropecuária numa região de exploração mineral.

Área de estudo O município de Ijaci-MG está situado na mesorregião do Vale das Vertentes, às

margens do Rio Grande, afluente do Rio Paraná, entre as coordenadas geográficas

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21º14’26’’ e 21º06’39’’ de latitude sul e 44º59’31” e 44º51’27’’ de longitude oeste

(Figura 1).

Conforme Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) (2010), o município

abrange uma área de 10.525ha, com uma população de 5.859 habitantes, sendo que

5.605 vivem na área urbana e apenas 254 na zona rural. A principal atividade

econômica está voltada para a indústria, representada pela mineração. A atividade

agrícola está ligada basicamente a pequenos produtores, tendo representatividade de

culturas permanentes, como o café e de culturas anuais, tais como milho, cana-de-

açucar e feijão. A barragem da Hidrelétrica do Funil, situada no Rio Grande, configura-

se como um limítrofe ao norte do município.

Figura 1: Localização do município de Ijaci.

Mapa de localização da área estudada

Elaboração: Cassiano Gustavo Messias

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Materiais e métodos Para a realização desta pesquisa dividiu-se a investigação em duas fases, caracterizando

a primeira em levantamentos de dados secundários, e a segunda, ainda em

desenvolvimento, levantamento de dados primários.

Inicialmente realizou-se um levantamento bibliográfico referente à Geografia Agrária e

ao uso das Geotecnologias para análise do espaço agrário e à utilização de produtos de

sensoriamento remoto para a interpretação do uso do solo.

A realização da primeira fase se baseou em uma investigação de caráter quantitativo,

com o objetivo final de gerar um mapa de uso do solo, cuja análise permitiu detalhar e

nortear o método da segunda fase, esta em desenvolvimento e de caráter qualitativo,

incluindo aplicação de questionários e entrevistas.

A respeito do método quantitativo na investigação da Geografia Agrária, Ceron e

Gerardi (2007, p. 13) apontam que “a quantificação deva ser encarada como técnica

auxiliar da análise com grandes vantagens, particularmente para a solução de problemas

de natureza complexa”. Neste sentido, realizaram-se na primeira fase levantamentos e

análise de dados secundários do município de Ijaci (população, PIB - Produto Interno

Bruto, PAM - Produção Agrícola Municipal, Estatística do Cadastro Central de

Empresas, número e área dos estabelecimentos agropecuários, índice de Gini), todos

coletados nos bancos de dados do IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas.

Para a geração do Mapa de Uso do Solo de Ijaci, utilizaram-se como materiais

cartográficos as cartas topográficas, folha Lavras (SF-23-X-C-I-1) e Nepomuceno (SF-

23-V-D-III-2), na escala 1:50.000 do ano de 1973. Utilizou-se como produto de

Sensoriamento Remoto, interpretou-se a imagem do satélite CBERS 2B/HRC

(CB2BHRC153_C124_120080713), de 26/04/2008 e resolução espacial de 2,5m.

Executou-se o processamento digital da imagem CBERS 2B/HRC, utilizando o

software Ilwis 3.4. Trabalhou-se o contraste, correção atmosférica, registro – tomando

como base as cartas topográficas (IBGE, 1973) e recorte da região de interesse.

Posteriormente, a imagem processada foi importada para o ArcGIS 10, no qual foram

criadas classes de uso do solo – baseando-se no Manual de Técnico de Uso da Terra

(IBGE, 1999), estas foram vetorizadas e classificadas manualmente.

Contudo, a partir da análise do Mapa de Uso do Solo gerado, foi possível estruturar os

métodos para a análise do território rural de Ijaci, que será realizado através da

elaboração e aplicação de questionários e entrevistas com os moradores da área rural,

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apoiados em questões cuja finalidade é conhecer os tipos de produção, modo de vida,

analisar o êxodo rural do campo de Ijaci, impactos da mineradora.

Geotecnologias para a análise do espaço agrário Conforme Pires (2010), Geotecnologias “é um conjunto de tecnologias que possibilita a

obtenção, a representação de dados e o tratamento de informações georreferenciadas a

serem empregadas para a análise geográfica [...]”. Para o autor, tais tecnologias são

redes sociais colaborativas, que utilizam Softwares, SIGs, GPS, imagens de satélite,

entre outros instrumentos. Ressaltou-se ainda que, a utilização tem sido dificultada

pelos custos de hardwares e softwares, o que tem levado as nações que desejam se

inserir minimamente na era digital a utilizarem softwares livres.

Ceron e Diniz (1966) estudaram os elementos de identificação das culturas em

fotografias aéreas (chaves de interpretação). Analisaram-se diferentes usos nos

municípios de Limeira e Araras, verificando-os tanto em fotografias aéreas, como em

trabalhos de campo. O objetivo se tratava da criação de elementos que identificassem as

classes de uso em fotografias aéreas, para a posterior classificação de uso da terra.

Os elementos identificados foram cor, textura, forma da parcela, dimensão da área

cultivada, dimensão dos campos de cultivo, altura, espaçamento, restos de colheita e

arranjo espacial. Consoante a Ceron e Diniz (1966), os elementos dependem da época

do ano em que a fotografia foi extraída, além das técnicas agrícolas empregadas na área.

Castanho e Teodoro (2010) afirmam que um dos meios pragmáticos para estudar o

espaço agrário, é através da espacialização utilizando Geotecnologias, através dos

Sistemas de Informações Geográficas (SIGs), onde é possível espacializar dados

quantitativos e qualitativos para a Geografia. O estudo do espaço agrário desempenha

um papel importante não só para a produção de alimentos para o Brasil, mas também no

papel da economia do país. Acredita-se então, que os estudos do uso e da ocupação do

solo se configuram como importante análise do espaço geográfico e agrário, quando os

autores apontam que: A modificação do meio natural decorrente da intensificação da modernização da agricultura, impõe a adequação de técnicas para avaliação e diagnóstico que acompanham as modificações do espaço rural e consequentemente o uso e sua ocupação (CASTANHO e TEODORO, 2010, p. 149).

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Leite (2009) corrobora com Castanho e Teodoro (2010) quando infere que, ao se tratar

de questões agrárias, deve-se remeter à análise de uso da terra e transformações

antrópicas no meio ambiente. De acordo com o autor, a terra é a fonte de trabalho do

pequeno produtor, que atribui a ela atividades agropecuárias, turismo, lazer, serviços,

entre outras relacionadas à agricultura familiar. Portanto, para se analisar um

desenvolvimento rural sustentável, não se devem dispensar as Geotecnologias, que

oferecerão informações espaciais sobre a forma com que o homem utiliza o espaço.

Em uma concepção agrícola, Moreira et. al. (2008, p. 102) afirmam que “o

conhecimento da distribuição espacial da cultura é imprescindível tanto para a previsão

de safras quanto para o planejamento agrícola em escala municipal, estadual e federal”.

Análise do Mapa do Uso do Solo de Ijaci-MG O Mapa de Uso do Solo do Município de Ijaci (Figura 2) nos permite visualizar a

distribuição espacial das classes de uso do solo do município e a Tabela 1 caracteriza

quantitativamente a área ocupada por cada classe.

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Mapa de Uso do Solo do Município de Ijaci-MG

Elaboração: Cassiano Gustavo Messias

Tabela 1: Área ocupada pelas classes de uso do solo no município de Ijaci-MG.

Classe Área (Km²) Área (ha) Área (%) Urbano 1 1,20 120,0 1,13 Urbano 2 1,56 156,0 1,47

Mata 5,94 594,0 5,63 Capoeira 8,07 807,0 7,65 Pastagem 65,87 6587,0 62,44

Silvicultura 1,16 116,0 1,09 Solo Exposto 1,43 143,0 1,35

Culturas Permanentes 3,53 353,0 3,34 Culturas Anuais 4,78 478,0 4,53

Mineração 1,73 173,0 1,63 Corpos d’água 10,16 1016,0 9,63

Total 105,43 10543,0 100 Elaboração: Cassiano Gustavo Messias

Realizando primeiramente uma análise da distribuição espacial das classes do uso do

solo do município, verificou-se que maior parte de Ijaci é ocupada por pastagem sendo

65,87km² do total da área municipal de 105,43 km², correspondendo a 62,44%. Estas

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áreas estão relacionadas à pecuária, introduzida juntamente com a cultura do café no

século XIX. De acordo com Oliveira-Filho e Fluminhan-Filho (1999), na região do alto

Rio Grande a cobertura vegetal primitiva foi reduzida pela pecuária extensiva, retirada

seletiva de madeira e pelas queimadas. As matas e capoeiras representam,

respectivamente, 5,63% e 7,65%, relacionando-se, em grande parte, às margens de

cursos d’água.

A extração do calcário é a principal atividade industrial, sendo que a Mineração retrata

1,63%. São visíveis os impactos causados pela mineradora, tais como a poluição visual,

sonora e ambiental. Pelo Mapa de Uso do Solo (Figura 2) é possível observar que as

mineradoras foram instaladas sobre nascentes de córregos alterando a qualidade da água

dos mesmos, o que nos permite concluir que prejudica a produções que utilizam a

irrigação.

A classe Culturas Anuais ocupa 4,53%, a classe Culturas Permanentes representam

3,34%. As áreas agrícolas estão muitas vezes próximas de córregos e ribeirões, o que

facilita a irrigação. Além disso, muitas das áreas de Solo Exposto, que ocupam 1,35%,

estão relacionadas a solos arados, em preparação para o cultivo. Há ainda o uso

relacionado à Silvicultura, representada pela eucaliptocultura, configurando-se com

1,09% da área municipal.

As áreas urbanas foram subdivididas em Urbano 1 – urbanização consolidada, sendo

1,13% da área municipal e Urbano 2 – loteamentos e urbanização não consolidada,

1,47%. Deve-se ressaltar que, a proximidade com córregos e ribeirões, tem gerado

problemas de ordem social, como as enchentes ocorridas em janeiro de 2012 em certos

pontos no município.

Análise da produção agrícola de Ijaci-MG De acordo com os dados do SIDRA (IBGE, 2006), a respeito da estrutura fundiária do

município, são 128 estabelecimentos agropecuários correspondendo a uma área de

4.576 hectares, dos quais aproximadamente 93% são considerados pequenas

propriedades segundo o módulo do INCRA.

A partir da análise do Mapa de uso do solo, observa-se que a produção agrícola se

divide em classes de culturas permanentes e anuais. Segundo os dados da PAM

(Produção Agrícola Municipal) do IBGE (2010), analisamos a produção do município

de Ijaci (Quadro 1).

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Quadro 1 – Produção Agrícola Municipal de Ijaci-MG em 2010.

Fonte: IBGE, 2010

Sendo 86,36% dos estabelecimentos agropecuários minifúndios (SIDRA, IBGE, 2006)

espera-se uma produção agrícola de caráter familiar, mais diversificada e voltada para

abastecimento (produtos alimentícios), como apresenta o quadro 1, sendo milho, café e

o feijão principais culturas que ocupam maiores áreas, respectivamente.

Como relatado, a pesquisa sobre a dinâmica do espaço agrário envolve uma série de

variáveis. A análise da variável do desenvolvimento econômico municipal é

fundamental para compreendermos a importância da agricultura neste setor. O PIB

(Produto Interno Bruto) municipal e setorial (agropecuário, indústria e serviços) de Ijaci

está representado no quadro 2.

Quadro 2 - PIB municipal e por setores de Ijaci-MG em 2009.

PIB municipal (R$) Agropecuário (R$) Indústria (R$) Serviços (R$) 231.447.000,00 8.731.000,00 134.701.000,00 53.899.000,00

Fonte: IBGE, 2009.

Analisando os valores agregados aos setores do PIB municipal temos a seguinte

distribuição: o setor de serviços participa com 23,28%, setor da indústria com 58,19%, e

o setor agropecuário com 3,77%.

Tem-se que a base para o desenvolvimento econômico do município é o setor industrial,

conforme IBGE (2010b) há no município 144 empresas, as quais ocupam um total de

1.664 trabalhadores, com um salário mensal médio de 2,6 salários mínimos. As

principais empresas geradoras de renda para o município estão relacionadas à

PRODUÇÃO AGRÍCOLA Cultura Quantidade produzida (t) Valor da produção (R$)

Agricultura Permanente Café em grão 432 2.203.000,00 Laranja 108 32.000,00 Banana 90 45.000,00 Goiaba 16 10.000,00

Agricultura Anual Cana-de-açúcar 800 28.000,00 Feijão (em grão) 73 110.000,00 Mandioca 108 54.000,00 Milho 2.500 800.000,00 Arroz (em casca) 102 41.000,00

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mineração, na exploração de rochas calcárias e produção de cimento. O trabalho de

extração, moagem e comercialização é realizado pelas cimenteiras Cauê – Grupo

Camargo Corrêa e Indústria de Cal SN – Grupo SN.

O PIB agropecuário é o de menor valor agregado ao PIB municipal, comparando aos

dados do quadro 1, entre as principais atividades que mais agregam valor a este setor

tem-se uma participação de 25,23% da produção de café e 9,16% da produção de milho

do total de R$ 8.731.000,00 (PIB agropecuário). Considerando que a cafeicultura seja

uma commodity agrícola, mesmo sendo a produção que mais agrega valor ao setor

agropecuário, não corresponde a 50% do total agregado, podendo-se inferir que esta não

seja a principal atividade econômica das famílias rurais.

Associado à variável econômica, a análise populacional do município também conduz

às considerações da Geografia Agrária. O quadro 3 demonstra a população de Ijaci-MG

segundo o censo demográfico de 2010.

Quadro 3 - População total, rural e urbana de Ijaci-MG em 2010.

População Total Rural Urbana 5.859 254 5.605

Fonte: IBGE, 2010XX

Com aproximadamente seis mil habitantes, Ijaci é considerado um município pequeno.

Esta pequena população justifica o alto valor do PIB per capta de R$ 38.344,45 (IBGE,

2009). Analisando integralmente os dados econômicos e populacionais temos que

28,40% da população municipal têm vínculo empregatício junto ao setor de empresas

(1.664 trabalhadores em empresas. IBGE, 2010b). Agregando esta informação, e

considerando que 95,66% da população de Ijaci é urbana, chama a atenção para a

questão do êxodo rural, considerando que a atividade mineradora é a principal no setor

econômico do município

Análise do espaço agrário de Ijaci: breves considerações na relação entre população rural, produção agrícola e a atividade mineradora Como relatado, a extração, beneficiamento e comercialização do calcário é a principal

atividade econômica do município de Ijaci-MG. As áreas de mineração se configuram

como visíveis alterações ambientais causadas pelo homem. As cavas são locais de

extração de matéria, enquanto o bota-fora o destino dos rejeitos da mineração, sendo

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considerado um depósito tecnogênico. Os impactos da mineração não se restringem

somente aos ambientais, mas também aos visuais e à população instalada no entorno.

Elaborou-se um questionário baseado no trabalho de Yhoshida (2005), indagando quais

os impactos visíveis para a população do entorno. Foram entrevistados moradores de

oito casas da zona rural de Ijaci, os quais se situam ao redor das cavas pertencentes ao

Grupo Camargo Corrêa.

Ao serem questionados se a mineradora acarreta algum tipo de perturbação, 62,5% dos

entrevistados afirmam que sim (Gráfico 1).

Gráfico 1: Moradores rurais perturbados pela mineração em Ijaci – MG

Fonte: Cassiano Gutavo Messias, 2011 - Trabalho de campo Esta perturbação se dá de diferentes formas, sendo tanto ao morador, como ao meio

ambiente. Os entrevistados afirmaram que há poluição visual, sonora, do ar, vibrações,

desmatamento, assoreamento de córregos e alteração na qualidade da água (no caso do

Córrego da Serrapilheira). Alguns moradores afirmaram ainda que a mineradora faz

estudos e medições em seus terrenos sem pedir autorização.

Com relação ao beneficiamento aos moradores, somente 37,5% afirmam que alguém de

sua família é beneficiado pela mineradora (Gráfico 2).

Gráfico 2: Moradores rurais de Ijaci-MG beneficiados pela mineração

Fonte: Cassiano Gutavo Messias, 2011 - Trabalho de campo

Os beneficiados são em grande maioria pessoas que trabalham para as mineradoras, visto

que houve a geração de empregos com a instalação. Além disso, moradores afirmam que

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o Grupo Camargo Corrêa implantou creches, playground, parques e destina uma verba

para a prefeitura de Ijaci, que deve ser destinada ao desenvolvimento do município.

Figura 3 – Fotografias do espaço agrário de Ijaci-MG.

Fonte: Cassiano Gustavo Messias, 2011 - Trabalho de campo. Através das análises das fotografias, evidenciam-se as relações que ocorrem no espaço

agrário de Ijaci, entre a atividade mineradora, a população rural e a produção agrícola.

Na foto A, tem-se a estrutura externa de uma cava e a infraestrutura de beneficiamento e

processamento do calcário, da mineradora do grupo Cuaê (à direita), revelando o que

Rua (2006) considera ser a urbanidades no campo, retratando a manifestação do

seguimento urbano-industrial no campo.

A foto B é a estrutura interna de uma cava de extração mineral. Interessante observar a

produção de eucaliptocultura que ocorre nas proximidades da cava, talvez faça parte de

um programa de reflorestamento da empresa, como ocorre em situações semelhantes.

Contudo, não se dá esta afirmativa por esta foto.

A foto C registra a proximidade da atividade mineradora com os sítios dos bairros

rurais. Observam-se nesta foto os impactos negativos que a exploração mineral ocasiona

aos produtores rurais, principalmente os ambientais. A imagem trata-se do “bota fora”

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(lixo) da atividade mineradora, que pode poluir os cursos d’água bem como corre risco

de desmoronamento.

Contudo, o que se tem desta análise prévia da relação da mineradora com o espaço

agrário de Ijaci é que em consequência desta, a produção agrícola ao entorno das cavas

é praticamente inexistente. Além dos impactos negativos gerados pela atividade

mineradora, que vão desde os danos ambientais, à perturbação na qualidade de vida dos

produtores rurais, além de implicar na produtividade da produção agrícola. No entanto,

se faz necessário ressaltar, que conforme analisado pela entrevista, a atividade

mineradora tem feito a população se fixar no campo, através da oferta de empregos,

evitando o êxodo rural. Podendo-se afirmar, com base em Rua (2006), que se trata da

discussão acerca das urbanidades no campo, como colocado por Graziano da Silva

(1999), é o vínculo empregatício em uma atividade não agrícola no campo.

Considerações finais Concluindo a primeira parte da investigação sobre o espaço rural do município de Ijaci-

MG, foi possível inferir algumas considerações e selecionar algumas questões

recorrentes à pesquisa da Geografia Agrária que será trabalhada na segunda fase da

pesquisa.

A partir da interpretação e análise do Mapa do Uso do Solo de Ijaci e da comparação

com os dados econômicos, populacionais e da produção agrícola, verifica-se que a

principal atividade econômica do município está vinculada à extração de calcário, fator

que eleva o PIB industrial e é o responsável por grande parte dos empregos. Dessa

forma, concordamos com Rua (2006) quando aponta sobre as urbanidades no rural,

evidenciando a participação econômica de atividades industriais no cotidiano das

populações residentes no campo.

Relacionando-se com este fato, tem-se que a população urbana representa 95,66% da

população municipal, justificando talvez um êxodo rural pela oferta de empregos

provenientes da cidade. Ainda a respeito da atividade mineradora, esta ocorre próxima a

bairros rurais fato este que nos permite questionar alguns assuntos pertinentes à

temática da Geografia Agrária: 1) Questão ambiental: fatores que prejudicam os

moradores locais através dos impactos da poluição (dos córregos e nascentes, sonora,

visual); 2) Questão territorial: disputa por terras para cultivo e terras para exploração

mineral; 3) Questão da permanência no campo: se ocorre vínculo empregatício entre

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população rural e mineradora, tem sido motivo de fixação desta população no campo, o

que implica em outra questão, sobre a atividade não agrícola no campo, neste caso,

extensão de atividades industriais.

Dos dados obtidos da pesquisa sobre produção agrícola municipal, desenvolvimento

econômico e espacialidade dos usos do solo, conclui-se que em Ijaci a produção agrária

tem premissas da agricultura familiar, pois verificou-se que 86,36% dos

estabelecimentos agropecuários são pequenas propriedades com produção diversificada.

A respeito da produção agrícola e do desenvolvimento econômico, tem-se que a cultura

que mais agrega valor ao PIB agropecuário é a cafeeira, embora não muito significante

(corresponde a 25,23% do PIB agropecuário), sobressai sobre a segunda maior

participação de 9,16% atribuídos à produção de milho. Sabe-se que o café é uma das

principais commodities agrícolas exportadas pelo Brasil, portanto responde às

exigências do mercado internacional, fato que dificulta a participação de pequenos

proprietários. Assim, com estes dados inserimos as seguintes discussões: A)

Multifuncionalidade e Pluriatividade no espaço rural de Ijaci: a inserção destas

atividades no campo como alternativas econômicas diante da produção excludente da

cafeicultura, e/ou pequenos bazares, feiras que comercialize a produção aos

trabalhadores da mineradora; B) Produção econômica da pecuária: verificado que a área

da pastagem corresponde a 62,44% da área municipal, verificar a rentabilidade da

atividade pecuária e por consequência a existência de laticínios.

Contudo, para o desenvolvimento da segunda fase da pesquisa foi possível através da

interpretação e análise do Mapa de Uso do Solo de Ijaci-MG e dos demais dados

levantados, nortear os pontos que serão inseridos nos questionários e entrevistas, bem

como os demais bancos de dados para coleta de informações secundárias e primárias,

possibilitando compreender e conhecer o espaço rural do município através do uso da

Geotecnologia.

Conclui-se então, estar alcançando o objetivo central da pesquisa, que consiste na

elaboração de um estudo que extingue “barreiras” entre Geografia Humana, Física e

Geotecnologias. Compreende-se então que [...] o geógrafo deve permanecer sempre um humanista, sempre preocupado com a totalidade, mesmo quando utiliza as tecnologias mais sofisticadas. O uso dos computadores, das imagens de satélites, das operações matemático-estatísticas, deve ser valorizado, mas sem esquecer que, por maior que seja a importância destes recursos, eles não substituem o cérebro humano (ANDRADE, p.19, 2010).

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