uso de geotecnologias na definição da localização de uma
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Uso de geotecnologias na definição da localização de uma barragem e suas implicações legais
Adriano Lima Troleis1
Pedro Antônio Roehe Reginato2
Siclério Ahlert3
Jaqueline Renata Schlindwein4
Raquel Rosa Duranti5
ResumoDados de sensoriamento remoto e técnicas de geoprocessamento foram empregados para analisar a viabilidade e a melhor localização de uma barragem para o abastecimento público na cidade de Caxias do Sul – RS, subsidiando um Estudo de Impacto Ambiental (EIA). Uma ampla variedade de dados espaciais foi empregada, assim como uma diversidade de técnicas de análise espacial, objetivando atender os critérios do termo de referência da Fundação Estadual de Proteção Ambiental Henrique Luiz Roessler (FEPAM) e alcançar a escala necessária, a fim de propor efetivamente um local adequado para a locação do empreendimento. O mesmo decorre da necessidade da cidade em prover um maior volume de água em função da expansão populacional e as atividades agroindustriais que constituem a base econômica da região. Sob o viés socioambiental, convém buscar um local onde se gere o menor impacto ao ambiente, preservando as características naturais e intervir pouco na dinâmica social das pessoas que serão afetadas pela barragem. Inevitavelmente, alguns conflitos são gerados pela diversidade de interesses, e o uso das geotecnologias é uma ferramenta importante para tomada de decisões, buscando a conciliação de todos os interesses.Palavras-Chave: Geotecnologias; EIA-RIMA; Barragens.
Introdução
O crescimento populacional e o aumento das atividades econômicas na
cidade de Caxias do Sul têm gerado uma demanda crescente por água, sendo este
1 Doutor, Docente da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Contato: [email protected]
2 Doutor, Docente da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Contato: [email protected]
3 Mestre, Docente da Universidade de Caxias do Sul (UCS). Contato: [email protected]
4 Licenciada em Geografia (UCS). Contato: [email protected]
5 Licenciada em Geografia (UCS). Contato: [email protected]
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um recurso já bastante limitado em grande parte do mundo e merecendo atenção especial
no Brasil. A região da serra gaúcha constituiu-se numa área de elevada taxa de crescimento
econômico, sendo o município de Caxias do Sul, um polo regional, atraindo a atenção de
muitos migrantes, bem como de indústrias que buscam aproveitar as características
econômicas da região para alavancar suas atividades. Esse contexto aparentemente positivo
sob o aspecto econômico implica também numa demanda maior de recursos naturais,
especialmente a água. Com uma população de 399.038 habitantes (IBGE, 2007), a cidade é
abastecida por cinco sistemas de barragens, denominadas de complexo Dal Bó; barragem
de Galópolis, barragem da Maestra, barragem do Samuara e, barragem do Faxinal (Figura
1)6.
Dessas barragens, três são de pequeno porte. Somente a barragem da Maestra e
principalmente a barragem do Faxinal armazenam grande volume de água. Além destes
reservatórios, a cidade conta com a exploração de poços, tanto de aquífero livre como de
água subterrânea, feita pelo poder público e também por empresas privadas que necessitam
de muita água para suas atividades. Para atender a demanda por água, a prefeitura conta
com uma autarquia, o Serviço Autônomo Municipal de Água e Esgoto (SAMAE), responsável
pelo abastecimento público de água e tratamento dos efluentes.
A cidade de Caxias do Sul está localizada sobre o divisor hídrico dos rios Caí e Antas,
numa altitude próxima dos 700 metros. Em decorrência dessa condição topográfica, não
existem cursos d’água de grande porte ou lagos naturais nas proximidades da área urbana
que pudessem suprir as demandas hídricas da cidade. Essa condição natural obriga a
construção de barragens e o armazenamento de grandes volumes de água para suprir as
necessidades, especialmente nos períodos mais críticos de secas ocasionais.
6 As figuras apresentadas neste artigo foram simplificadas a partir dos seus originais e visam ilustrar os principais procedimentos e resultados obtidos durante o trabalho. Dessa forma são mencionados as escalas originais e contextos técnicos dos mapas, mas algumas informações cartográficas originais como escala, selo e algumas informações foram suprimidas para proporcionar uma visualização mais adequada no âmbito deste artigo.
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Figura 1: Localização e contexto de Caxias do Sul
Fonte: Elaborado pelos autores em 2007, baseado em: HASENACK, H. e WEBER, E. (Org.). Base cartográfica digital da região da Serra Gaúcha. 1: 50.000. Porto Alegre: UFRGS - Centro de Ecologia, 2007. 1 CD-ROM. (Série Geoprocessamento, 2); IBGE. Brasil - Malha municipal. Rio de Janeiro: IBGE, 2001; Imagens de satélite SPOT 4 - cena 709407 de 22/05/2005.
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Com a estrutura que o SAMAE opera na atualidade, o volume das cinco barragens é
crítico ou até mesmo insuficiente para fazer o abastecimento da cidade, especialmente
quando da ocorrência de um período de secas, ocasionando eventual racionamento. Os
poços que exploram as águas do aquífero guarani (formação Serra Geral/Formação
Botucatu) fornecem um volume muito baixo diante da demanda necessária. Além da
demanda quantitativa da água, também percebemos uma situação crítica quanto à qualidade
da água, considerando a expansão urbana que ocorreu no entorno dos mananciais (Figura
1).
O esgotamento da capacidade desse sistema de abastecimento obrigou a
necessidade da construção de mais uma barragem, considerando a crescente demanda por
água. Em estudos prévios contratados pelo SAMAE, já havia sido concluído que o melhor
manancial a ser explorado seria o do Arroio Marrecas, localizado no setor nordeste da
cidade. Alguns dos principais fatores que levaram a escolha desse manancial é sua relativa
proximidade com a área urbana, e evitar que uma progressiva ocupação do local
inviabilizasse o empreendimento no futuro, principalmente pelos custos de desapropriação. E
também com uma ocupação mais densa, até mesmo a qualidade da água poderia ser
comprometida. A figura 2 mostra o sistema hídrico de Caxias do Sul, com a localização da
área urbana sobre o divisor hídrico das bacias do Rio Caí ao Sul e o Taquari-Antas ao norte.
Também são apresentadas as várias outras possibilidades de barramento estudadas pelo
SAMAE e que poderão servir para barramentos futuros no município.
O objetivo deste artigo é apresentar a metodologia desenvolvida para analisar a
viabilidade e o melhor local de instalação de uma barragem de abastecimento público
utilizando dados de sensoriamento remoto e os recursos de geoprocessamento para
sistematizar as informações coletadas, tendo como finalidade subsidiar um Estudo de
Impacto Ambiental (EIA) e seu respectivo Relatório de Impacto no Meio Ambiente (RIMA).
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Figura 2: Sistema hídrico de Caxias do Sul
Fonte: Elaborado pelos autores em 2007, baseado em: HASENACK, H. e WEBER, E. (Org.). Base cartográfica digital da região da Serra Gaúcha. 1: 50.000. Porto Alegre: UFRGS - Centro de Ecologia, 2007. 1 CD-ROM. (Série Geoprocessamento, 2); IBGE. Brasil - Malha municipal. Rio de Janeiro: IBGE, 2001; Imagens de satélite SPOT 4 - cena 709407 de 22/05/2005.
Dentre os objetivos específicos, pretendemos mostrar quais produtos geotecnológicos
são aptos para atender as exigências do termo de referência para licenciamento, como obtê-
los, as bases de dados utilizáveis, os métodos de análise e a elaboração dos produtos
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cartográficos exigidos.
Metodologia
A metodologia aqui descrita e os resultados subsequentes apresentados constituem-
se numa das várias etapas de um EIA-RIMA. Neste artigo, apresentam-se sistematizadas as
técnicas e métodos empregados para atender as exigências relacionadas com o campo de
conhecimento das geotecnologias. Não serão abordados quesitos, méritos ou circunstâncias
relacionadas com o empreendimento em si. Os resultados, discussões e opiniões aqui
apresentadas, dizem respeito à participação dos autores nas suas especialidades no
contexto do trabalho, que foi constituído de uma equipe ampla e multidisciplinar, com
profissionais de várias áreas do conhecimento.
Nesse sentido, e considerando as exigências do termo de referência editado pela
Fundação Estadual de Proteção Ambiental (FEPAM) e dadas às características do
empreendimento, buscou-se organizar e estruturar a base de dados necessária para a
elaboração de todos os mapas que atendessem as exigências do mesmo, além de subsidiar
as análises dos diferentes grupos temáticos relacionados com o estudo.
A elaboração dos mapas foi feita utilizando os seguintes softwares: Envi 4.1, Cartalinx
1.2, Idrisi 32, ArcGIS 9.1 e Suíte de aplicativos Corel, todos disponíveis no laboratório de
Geoprocessamento da Universidade de Caxias do Sul. A impressão dos mesmos foi feito no
Laboratório de Planejamento Ambiental da UCS.
Implicações legais: o termo de referência da FEPAM e o uso das geotecnologias
O termo de referência é o instrumento legal elaborado pelo órgão ambiental
licenciador de determinado empreendimento e se constitui numa espécie de guia para o
empreendedor atender as exigências técnicas e estruturar o Estudo de Impacto Ambiental e,
seu referido relatório. O termo de referência para a barragem do Arroio Marrecas foi
elaborado pela FEPAM e é baseado nas resoluções do Conselho Nacional do Meio
Ambiente (CONAMA).
O termo de referência da barragem do Arroio Marrecas foi encaminhado ao SAMAE
de Caxias do Sul e, a Universidade de Caxias do Sul, como instituição de ensino, pesquisa e
extensão com forte atuação regional e instituição de notório saber, foi contratada para
desenvolver o EIA-RIMA.
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Dentre os diversos tópicos que o termo de referência exige, vários têm uma relação
direta com o conjunto das geotecnologias, dos quais o presente trabalho trata.
Dentre os tópicos do termo de referência, selecionamos as exigências que tem
relação com as geotecnologias. Por geotecnologias, entendemos como incluídas em algum
âmbito, todas as ciências relacionadas com o conjunto das ciências de mapeamento e de
análise do espaço geográfico, como a cartografia, a topografia, a geodésia, a
aerofotogrametria, o sensoriamento remoto, o geoprocessamento, etc.
A seguir, são apresentadas de forma resumida, as exigências do termo de referência
da FEPAM. Subsequente, é apresentada a solução geotecnológica implementada pela
equipe para atender cada um dos tópicos solicitados, baseado nas informações fornecidas
pelo IBGE em Manuais Técnicos em Geociências nº 8, Noções Básicas de Cartografia,
1999.
CARACTERIZAÇÃO DO EMPREENDIMENTO
Localização do empreendimento
Mapa de localização georreferenciado em escala mínima 1:50.000 delimitando limites
políticos(municipais) e bacias hidrográficas em que se insere o empreendimento, bem como
delimitação da Bacia do Arroio Marrecas e localização do barramento, identificação clara das
toponímias (nomes de rios, estradas, localidades).
O mapa de localização foi composto usando um amplo conjunto de dados. Espacialmente,
recortamos uma área que abrangesse a área urbana de Caxias do Sul (onde existe a demanda pela
água) e a bacia do Arroio Marrecas (manancial hídrico de interesse). O mapa foi construído
utilizando como referência, o trabalho de Hasenack, H. & Weber, E. (2007): Base cartográfica digital
da região da Serra Gaúcha (Série Geoprocessamento 2), onde foram extraídas as curvas de nível, a
rede hídrica e o sistema viário. A locação do empreendimento foi baseada nos dados derivados da
restituição aerofotogramétrica feita pela empresa Aerogeo Aerofotogrametria Geoprocessamento e
Engenharia Ltda (empresa terceirizada). Os limites municipais foram obtidos junto ao IBGE.
Alternativas Locacionais
Mapa em escala mínima 1:50.000 indicando o traçado de cada uma dessas alternativas.
Para atender esse tópico, foram elaborados dois mapas: o primeiro deles apresenta as quatro
possibilidades de locação do empreendimento. A alternativa A está localizada numa área onde o
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vale se apresenta de forma bem encaixada e a alternativa B, a jusante, numa posição onde também
ocorre um estreitamento no vale. Para cada uma das alternativas, foram consideradas duas
possibilidades de barramento: a primeira na altitude de 770 metros e a segunda na altitude de 780
metros, tendo um impacto direto na área a ser inundada e também no volume de água represada.
Esse mapa foi elaborando locando as duas possibilidades de barramento sobre a base cartográfica
produzida pela empresa Aerogeo, onde as curvas de nível de 5 em 5 metros e a delimitação
detalhada dos elementos hídricos possibilitaram o estabelecimento preciso dos elementos de
interesse, como a área a ser alagada.
Para o mapa da bacia, foi utilizada um mosaico de imagens QuickBird de várias datas e sobre a
mesma, foram locadas os locais possíveis de barramento e respectiva área inundada.
ÁREA DE INFLUÊNCIA DO EMPREENDIMENTO
O termo de referência destaca que deverão ser apresentados com clareza os critérios utilizados para
a definição das áreas de influência e incidência dos impactos e mapeamento em escala apropriada
das superfícies geográficas referentes às variáveis estudadas. As áreas de influência deverão ser
apresentadas em escala mínima 1:50.000 em mapa georreferenciado.
A área de influência de um empreendimento deve ser indicada seguindo três níveis de influência:
Meio Físico, Meio Biológico e Meio Antrópico. Também devem ser diferenciadas as influências
diretas e indiretas, conforme determinada o CONAMA.
Para o meio físico e biológico, foi considerada a área da bacia hidrográfica como área indiretamente
afetada, subdividida em área a montante e área a jusante, na medida em que os impactos serão
diferentes nesses dois setores. Como área de impacto direto, foi considerada a área de alague,
acrescido da sua faixa de preservação de 100 metros no entorno da barragem.
No caso do meio antrópico, foi considerada como impacto direto, a área da bacia hidrográfica. O
impacto indireto abrange todo o território do município de Caxias do Sul. Esses mapas foram
elaborados pelos presentes autores, no entanto, as informações foram obtidas através das sínteses
derivadas dos grupos multidisciplinares que discutiam o meio físico, meio antrópico e meio biológico.
CARACTERIZAÇÃO E DIAGNÓSTICO AMBIENTAL
A caracterização e o diagnóstico ambiental é uma das etapas mais extensas em termos de volume
de trabalho em um EIA-RIMA. A caracterização de todos os elementos que constituem um
determinado espaço requer uma ampla revisão bibliográfica, levantamentos de campo, análises de
laboratório, entrevistas e interpretações.
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Meio Físico
Geologia e Geotecnia
Mapa geológico georreferenciado da área de influência do empreendimento em escala mínima de
1:25.000;
Mapa geotécnico georreferenciado da área de influência do empreendimento em escala mínima de
1:25.000, apontando: áreas suscetíveis à ocorrência de processos erosivos, áreas suscetíveis à
ocorrência de instabilidade de taludes e afloramentos rochosos.
A geologia da área do empreendimento faz parte da formação Serra Geral, constituída de rochas
efusivas datadas do Mesozoico. Na área ocorrem algumas rochas de composição básica e um
extenso maciço de vidros vulcânicos, sendo que os dois tipos de rochas aparecem estratificados
altimetricamente. O mapeamento geológico foi apresentado através de dois mapas:
Mapa Geológico da bacia do Arroio Marrecas: Elaborado a partir da delimitação dos patamares
altimétricos da base cartográfica da Serra Gaúcha de Hasenack & Weber (2007), e complementados
com interpretação direta de cartas topográficas na escala 1:50.000, interpretação de fotografias
aéreas na escala 1:30.000 e a verificação em campo de diversos afloramentos em vários níveis
altimétricos.
Mapa Geológico detalhado da área do empreendimento: com dados altimétricos mais adequados, foi
feito o mesmo processo de delimitação altimétrica das formações rochosas, interpretação de
fotografias aéreas em escala 1:15.000, além das atividades de reconhecimento em campo e
identificação de lineamentos estruturais.
O mapa geotécnico foi elaborado pela empresa Neocorp (terceirizada) que executou os
levantamentos de geofísica da área e as análises de suscetibilidade da área do empreendimento.
Geomorfologia
A caracterização geomorfológica da área potencialmente atingida pelo empreendimento, incluindo-
se:
Caracterização topográfica:
- Apresentação das características planialtimétricas em escala mínima de 1:25.000 na área de
influência do empreendimento com apresentação de modelo numérico do terreno.
- Apresentação de levantamento topográfico cadastral no local do barramento em escala mínima de
1:5.000.
O modelo numérico do terreno da bacia foi elaborado a partir da interpolação das curvas de nível
equidistanciadas em 20 metros através de uma técnica geoestatística denominada de TIN
(Triangular Irregular Network). Para a área de alague da barragem, foi apresentado um mapa na
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escala de detalhe com as características topográficas e a declividade da área, usando os mesmos
métodos geoestatísticos.
O mapeamento geomorfológico apresenta as formas do relevo predominantes na área de alague, na
medida em que o empreendimento localiza-se numa área de transição paisagística, mesclando a
estrutura de vales encaixados florestados para áreas de colinas recobertas com campos. Foram
mapeadas as áreas de talvegue, de encosta, de colinas e de topos de morros para a área próxima
ao empreendimento.
Recursos Hídricos
Hidrologia: segundo o termo de referência, a rede hídrica deverá ser mapeada em escala mínima de 1:25.000.
Hidrogeologia: o termo solicita a apresentação de um mapa hidrogeológico georreferenciado da área
de influência do empreendimento, em escala mínima de 1:10.000.
A rede hídrica e o conjunto de banhados foram mapeados através de levantamento topográfico feito
em campo pela empresa Aerogeo e complementados com a interpretação do mosaico de imagens
QuickBird.
Mapa Hidrogeológico: Sobre o mapa geológico da bacia foram identificados, os lineamentos
estruturais com maior potencial de produção de água em função da sua orientação geográfica.
Solos
O termo solicita a apresentação do mapa de solos georreferenciado em escala mínima de 1:10.000
com descrição das unidades.
Toda a região do Conselho Regional de Desenvolvimento Serra (COREDE) dispõem de um
mapeamento semidetalhado de solos, na escala 1:50.000, realizado pelas unidades da Embrapa
Clima Temperado e pela UFRGS com o apoio do Instituto Brasileiro do Vinho (IBRAVIN) e do
Governo do Estado do Rio Grande do Sul. Este mapeamento foi usado como base e sobre este foi
feito um detalhamento no local. Este trabalho foi desenvolvido por um engenheiro agrônomo
participante da equipe de trabalho, utilizando a base cartográfica padrão.
Capacidade de Uso das Terras
O termo solicita a apresentação do mapa de Capacidade de uso das terras georreferenciado em
escala mínima de 1:10.000 com descrição das unidades.
A capacidade de uso do solo considera o potencial da área para o desenvolvimento de atividades
agropastoris. Para a elaboração do mesmo, foram usadas as informações de tipos de solos e a
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declividade para determinar a capacidade de uso do solo de um determinado local.
Meio Biótico
O termo solicita a apresentação da área de estudo em foto aérea ou imagem de satélite e mapa das
formações vegetais, georreferenciado em escala mínima de 1:10.000. Minimamente, deverão ser
diferenciados no mapa: áreas de vegetação rasteira, áreas de vegetação arbustiva, áreas de
vegetação arbórea em seus diferentes estágios sucessionais, solo exposto, áreas de agricultura.
Deve ser indicado também no mapa de vegetação a ocorrência de áreas de preservação legal:
Áreas de Preservação Permanente, Unidades de Conservação (para UC’s considerar um raio de 10
km do empreendimento). Descrição e caracterização da cobertura vegetal considerando: extensão e
distribuição das formações vegetais; identificação das espécies endêmicas, raras, ameaçadas de
extinção, imunes a corte, indicadoras da qualidade ambiental, de interesse econômico e científico,
bem como a localização das áreas de ocorrência das mesmas.
O mapeamento das formações vegetais, foi baseada na interpretação visual de imagens do satélite
de alta resolução QuickBird, identificando os diferentes ecossistemas que ocorrem na área. A partir
do mapa de uso e cobertura do solo (abaixo), foram extraídas as áreas de interesse para compor
um segundo mapa de aspectos da cobertura do solo. Não existem áreas sucessionais significativas
no local, no entanto, grande parte da área apresenta extensa cobertura de floresta ombrófila mista
(mata de Araucárias) que inevitavelmente serão retirados para efetivar o empreendimento.
Meio Antrópico
População
A caracterização fundiária e mapeamento em escala mínima de 1:5.000, das propriedades
diretamente atingidas, deve incluir a descrição de posse, uso e benfeitorias.
A caracterização fundiária e o respectivo mapeamento das atividades produtivas dos lotes foram
feitas por equipe multidisciplinar de especialistas ligados a essa área do conhecimento. O
mapeamento das propriedades atingidas foi baseado no levantamento planimétrico e o seu cadastro
por levantamento de campo feito pela empresa Aerogeo. Posteriormente, foram sobrepostas as
informações cadastrais, as áreas que futuramente serão inundadas, assim como, os lotes atingidos
pela área de preservação permanente e o contexto topográfico do terreno. Cada lote foi cadastrado e
tem suas informações disponibilizadas através de um banco de dados.
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Patrimônio Histórico e Cultural
Para a identificação e caracterização do patrimônio foi necessário um mapeamento em escala
mínima de 1:10.000 dos sítios arqueológicos, bem como os locais de relevante beleza cênica ou
consideradas como patrimônio da população.
Um mapa de sítios arqueológicos foi produzindo usando o mosaico de fotografias aéreas como base
e sobre o mesmo foram alocados os pontos dos sítios arqueológicos encontrados, levantados por
técnica de posicionamento GPS, pela equipe de antropólogos integrantes da equipe de trabalho do
EIA-RIMA Arroio Marrecas.
Uso do Solo
Mapa de uso do solo georreferenciado em escala mínima de 1:10.000.
Instabilidade de encostas naturais pela execução de cortes e exploração de jazidas e/ou
empréstimos.
O mapeamento de uso e cobertura do solo foi dividido em duas partes: Um mapeamento detalhado
na escala exigida para a área do empreendimento, baseado na interpretação visual das feições
sobre uma imagem de satélite QuickBird. A mesma metodologia foi empregada para a área da
bacia, numa escala menor. Foram identificadas as áreas de lavoura permanente, lavoura temporária,
mata nativa, reflorestamento, campo, açudes, ocupações e estradas, banhados. Esse procedimento
foi feito através da digitalização direta em tela.
DOCUMENTOS
Documento de autorização do(s) órgão(s) responsável(s) pela administração das Unidades de
Conservação existentes num raio de 10 km do empreendimento;
Nenhuma Unidade de Conservação existente no raio de 10 km, o que dispensa a realização de
mapeamentos.
MAPAS
Os principais resultados obtidos serão apresentados na forma de figuras, simplificadas a partir dos
mapas originais, analisados e discutidos na sequência. Como um dos elementos do termo de
referência para obtenção do licenciamento, bem como uma decisão importante para o próprio
SAMAE está relacionado com a escolha de um local no contexto de várias possibilidades,
apresentamos a figura 3, que deriva de um mapa originalmente elaborado na escala 1:10.000,
apresentando as quatro possibilidades de locação do barramento. Essas possibilidades de locação
decorrem da adequabilidade de dois locais com topografia encaixada no contexto da bacia e
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também a possibilidade de inundar até a cota 770 metros ou 780 metros de altitude.
Figura 3: Possibilidades de locação da barragem na bacia do Arroio Marrecas
Fonte: Elaborado pelos autores em 2007, baseado nos dados do aerolevantamento executado pela empresa Aerogeo Aerofotogrametria, Geoprocessamento e Engenharia e pelas opções, com definições fornecidas pelo SAMAE.
Conforme pode ser percebido na figura 3, entre as quatro possibilidades de
barramento possíveis, existem grandes diferenças em termos da área que será inundada e
por consequência na extensão do dano ambiental causado e número de propriedades
atingidas. Ao longo do estudo, conclui-se que dadas as características de vazão do Arroio
Marrecas e os próprios custos de construção da barragem, seria mais viável a alternativa 1
(a montante) e no nível 770 metros (mais baixa), fazendo com que dentre as opções, fosse
escolhido o local com menor área inundada e atendendo tecnicamente a demanda de água
que a cidade de Caxias do Sul precisa.
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Essa escolha foi pautada por vários elementos, como por exemplo, a preservação de
uma densa e extensa área de florestas que existe no trecho entre as duas alternativas. Outro
aspecto importante está na relação entre o volume de água armazenado, a vazão do arroio e
o tamanho da barragem. Dessa maneira, não adianta um barramento enorme para um
córrego que tem uma vazão relativamente baixa, visto que a área de captação da bacia é
relativamente pequena.
A área de captação está concentrada numa região de campos (campos de cima da
serra), onde são desenvolvidas poucas atividades agrícolas. A região está embasada por
rochas efusivas da formação Serra Geral, com variações em decorrência das características
dos sucessivos derrames (ácidas e vítreas) e também apresentam uma enormidade de
falhas com diferentes sentidos de orientação. A figura 4 apresenta uma síntese geológica da
bacia com o potencial hidrogeológico, apresentando a estimativa de vazão dos diferentes
lineamentos desse aquífero.
As áreas com rochas vítreas apresentam uma espessura do solo reduzida, em função
da resistência desse tipo de rocha ao intemperismo. Ao mesmo tempo, essas rochas têm
baixo grau de fraturamento, fazendo com que a água precipitada não percole para níveis
mais profundos, dando origem aos banhados, pela saturação rápida do solo. Esses locais
também têm limites para o estabelecimento de uma vegetação arbórea, sendo recobertos
por herbáceas, gramíneas e a vegetação típica de campos. A figura 5 ilustra as
características desses ambientes.
As variações geológicas e o contexto ambiental da região fizeram com que a região
apresentasse um potencial paisagístico variado e atraente, variado desde: vales encaixados
com talvegues, áreas de colinas, encostas íngremes e alguns topos de morros. Através da
interpretação de fotografias aéreas na escala 1:15.000 obtidas pela empresa Aerogeo,
juntamente com as curvas de nível do local do empreendimento, foram definidas quatro
classes de morfologia do relevo, conforme é apresentado na figura 6.
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Figura 4: Hidrogeologia da bacia do Arroio Marrecas
Fonte: Mapa elaborado pelos autores (2007), baseado em: HASENACK, H. e WEBER, E. (Org.). Base cartográfica digital da região da Serra Gaúcha. 1: 50.000. Porto Alegre: UFRGS - Centro de Ecologia, 2007. 1 CD-ROM. (Série Geoprocessamento, 2); Levantamento em campo e interpretação de fotografias aéreas na escala 1:30.000 de maio de 1998 (disponíveis no laboratório).
Figura 5: Nível de vidro vulcânico aflorando em superfície. Solo pouco espesso e formação de área alagada (Banhado), recoberta com vegetação herbácea
Autor: Siclério Ahlert, obtida em 12 de junho de 2007.
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Através da interpretação de imagens do satélite Quickbird e com a experiência de
campo, foram mapeadas as classes de uso e cobertura do solo da bacia. Esse tipo de
mapeamento é essencial no contexto do empreendimento, na medida em que, a exploração
de determinada atividade agropecuária, pode comprometer a qualidade da água. Nesse
contexto, estão considerados os contaminantes eventuais advindos de dejetos orgânicos e
principalmente, o uso de agrotóxicos nas lavouras dentro da bacia de captação. Isso requer,
portanto, uma gestão mais direta nas atividades ou mesmo um redirecionamento das
atividades desenvolvidas no local, para que a qualidade da água não seja comprometida. As
figuras 7 e 8 ilustram respectivamente, o mapa de uso e cobertura do solo e uma fotografia
com a paisagem típica do local próximo ao barramento.
Figura 6: Formas do relevo na bacia do Arroio Marrecas
Fonte: Elaborado pelos autores (2007), baseado nos dados altimétricos e na interpretação de fotos aéreas obtidas pela AEROGEO Aerofotogrametria, Geoprocessamento e Engenharia.
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Figura 7: Mapa de uso e cobertura do solo da bacia do Arroio Marrecas
Fonte: Elaborado pelos autores (2007), baseado em: HASENACK, H. e WEBER, E. (Org.). Base cartográfica digital da região da Serra Gaúcha. Escala 1: 50.000. Porto Alegre: UFRGS - Centro de Ecologia, 2007. 1 CD-ROM. (Série Geoprocessamento, 2); AEROGEO AEROFOTOGRAMETRIA, GEOPROCESSAMENTO E ENGENHARIA (Levantamento Aerofotogramétrico); Mosaico de imagens do satélite QuickBird.
Figura 8: Paisagem típica da bacia do Arroio Marrecas – Caxias do Sul. Mata Ombrófila Mista (Araucárias) e campos
Autor: Siclério Ahlert, obtida em 12 de junho de 2007.
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Ressalta-se que o contexto do trabalho é técnico, no sentido de atender uma
exigência legal junto a um órgão licenciador. No entanto, devemos estar atentos para o
aspecto que nossas ações técnicas têm para o ecossistema e para as populações que nela
estão inseridas. Dessa forma, salientamos que o futuro empreendimento terá severas
consequências sobre o ambiente, na medida em que uma grande área será alagada e tudo
que há neste local será inundado, incluindo extensas áreas de floresta ombrófila mista.
Também haverá fortes impactos sociais, pois algumas famílias estão presentes neste local
há gerações, tem lá seus meios de produção e sua forma de viver.
No entanto, uma população urbana crescente em Caxias do Sul, requer cada vez mais
água, e que pelos modelos atuais de abastecimento público, serão retirados de algum
manancial natural. O papel como profissionais, nos remete no meio de um conflito de
interesses pelo uso desse local e que deve ser mediado pelo empreendedor, para que seja
possível compatibilizar o desenvolvimento econômico da região, sem comprometer a
integridade natural e a dignidade das pessoas afetadas pelo empreendimento.
Como até o momento, o processo de construção ainda não foi concluído, esperamos
que efetivamente sejam cumpridos os propósitos do empreendimento com o devido respeito
a natureza e o comprometimento social do empreendimento.
Conclusões
As geotecnologias se constituem em ferramentas indispensáveis para o
desenvolvimento de estudos de viabilidade de empreendimentos, sejam eles de serviços
públicos ou privados. O conjunto de ferramentas como fotografias aéreas, imagens de
satélite, levantamentos topográficos cadastrais e o uso das técnicas de posicionamento por
satélites como o GPS, constituíram-se num conjunto indispensável para as análises de um
determinado espaço, suas relações com o entorno e o planejamento de intervenções.
Através do conjunto de exigências extraídas do termo de referência para o EIA-RIMA
e contextualizadas com o campo das geotecnologias, pudemos encontrar meios técnicos de
atender tais exigências legais através das geotecnologias, e que puderam efetivamente ser
cumpridas com a elaboração dos referidos mapas.
Essa experiência comprova que a inserção das tecnologias na análise espacial é
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contundente e indispensável para a inserção dos profissionais de Geografia no mercado de
trabalho, atendendo com o seu campo de conhecimento, as demandas da sociedade.
Qualquer tipo de atividade, se não devidamente planejada, é potencialmente impactante
tanto na natureza quanto na estrutura social e o uso das geotecnologias se constitui numa
ferramenta para fazer escolhas mais consistentes.
Referências
AEROGEO AEROFOTOGRAMETRIA, GEOPROCESSAMENTO E ENGENHARIA, 2007 Levantamento Aerofotogramétrico no Arroio Marrecas. (meio digital, dados de uso restrito).
CONSELHO NACIONAL DE MEIO AMBIENTE, 2009. Resolução 302 de 2002. Dispõe sobre os parâmetros, definições e limites de Áreas de Preservação Permanente de reservatórios artificiais e o regime de uso do entorno. Disponível em http://www.mma.gov.br/conama. Consultado em agosto de 2007.
CONSELHO NACIONAL DE MEIO AMBIENTE, 2009. Resolução 303 de 2002. Dispõe sobre parâmetros, definições e limites de Áreas de Preservação Permanente.. Disponível em http://www.mma.gov.br/conama. Consultado em agosto de 2007.
FUNDAÇÃO ESTADUAL DE PROTEÇÃO AMBIENTAL HENRIQUE LUIZ ROESSLER (FEPAM), 2007.
Termo de Referência para Estudo de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto no Meio Ambiente da barragem de abastecimento público do Arroio Marrecas.
HASENACK, H. e WEBER, E. (Org.). Base cartográfica digital da região da Serra Gaúcha. Escala 1: 50.000. Porto Alegre: UFRGS - Centro de Ecologia, 2007. 1 CD-ROM. (Série Geoprocessamento, 2).
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2009. Disponível em http://www.ibge.gov.br (@cidades). Consultado em 25 de março de 2009.
_____. Brasil - Malha municipal. Rio de Janeiro: IBGE, 2001.
_____. Manuais Técnicos em Geociências nº 8 Noções básicas de Cartografia. Rio de Janeiro, 1999, 130 p.
Imagens de satélite SPOT 4 - cena 709407 de 22/05/2005.
PREFEITURA MUNICIPAL DE CAXIAS DO SUL, 1998. Levantamento Aerofotogramétrico. 1: 30.000 (fotografias disponíveis no laboratório de Geoprocessamento da UCS).
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PREFEITURA MUNICIPAL DE CAXIAS DO SUL, 2006. Mosaico de imagens do satélite QuickBird da bacia do Arroio Marrecas (meio digital, não publicado).
SERVIÇO AUTÔNOMO MUNICIPAL DE ÁGUA E ESGOTO. Disponível em http://www.samaecaxias.com.br. Acessado em 05 de abril de 2009.
Recebido em Julho de 2012.
Publicado em Julho de 2012.
Sociedade e Território, Natal, v. 24, nº 2, p. 189 - 208, jul./dez. 2012.