análise do uso da energia elétrica em estádios de futebol - tiago marcante pinto

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1 ANÁLISE DO USO DA ENERGIA ELÉTRICA EM ESTÁDIOS DE FUTEBOL Aluno: Tiago Marcante Pinto Professor: Odilon Francisco Pavón Duarte Resumo Tendo em vista a execução de construções e reformas dos estádios brasileiros, que buscam atender as necessidades apresentadas pela Copa do Mundo de Futebol, em 2014, este artigo executa uma análise no uso da eletricidade nos estádios em dias de jogo, avaliando seu reflexo na fatura de energia elétrica. Tratando de um tema com informações pouco acessíveis, o estudo propõe uma metodologia de análise das características deste tipo de instalação. Além disso, avalia- se o potencial de geração de energia elétrica através de fontes renováveis, solar e eólica, indicando a viabilidade de estudos específicos do uso dessas nos estádios. Palavras-chave: Análise do Uso da Eletricidade, Estádios de Futebol, Fontes Renováveis. ANALISYS OF THE USE OF ELECTRICITY IN SOCCER STADIUMS Student: Tiago Marcante Pinto Professor: Odilon Francisco Pavón Duarte Abstract Given the execution of construction and remodeling of stadiums Brazilians, seeking to meet the needs presented by the World Cup Soccer in 2014, this paper performs an analysis

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Page 1: Análise do Uso da Energia Elétrica em Estádios de Futebol - Tiago Marcante Pinto

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ANÁLISE DO USO DA ENERGIA ELÉTRICA EM ESTÁDIOS DE FUTEBOL

Aluno: Tiago Marcante PintoProfessor: Odilon Francisco Pavón Duarte

Resumo

Tendo em vista a execução de construções e reformas dos estádios

brasileiros, que buscam atender as necessidades apresentadas pela Copa do

Mundo de Futebol, em 2014, este artigo executa uma análise no uso da eletricidade

nos estádios em dias de jogo, avaliando seu reflexo na fatura de energia elétrica.

Tratando de um tema com informações pouco acessíveis, o estudo propõe uma

metodologia de análise das características deste tipo de instalação. Além disso,

avalia-se o potencial de geração de energia elétrica através de fontes renováveis,

solar e eólica, indicando a viabilidade de estudos específicos do uso dessas nos

estádios.

Palavras-chave: Análise do Uso da Eletricidade, Estádios de Futebol, Fontes

Renováveis.

ANALISYS OF THE USE OF ELECTRICITY IN SOCCER STADIUMS

Student: Tiago Marcante PintoProfessor: Odilon Francisco Pavón Duarte

Abstract

Given the execution of construction and remodeling of stadiums Brazilians,

seeking to meet the needs presented by the World Cup Soccer in 2014, this paper

performs an analysis on the use of electricity in the stadiums on match days,

evaluating its reflection in the electricity bill. Treating a subject with little information

available, the study proposes a methodology for analyzing the characteristics of this

type of installation. Furthermore, we evaluate the potential of electricity generation

from renewable sources, solar and wind energy, indicating the feasibility of using

these specific studies in stadiums.

Key-words: Analisys of the Use of Electricty, Soccer Stadiums, Renewable Sources.

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1 INTRODUÇÃO

Nas últimas décadas, o uso eficiente da energia e a proposição de geração

através de fontes renováveis, têm ganhado espaço nos projetos de investimento de

governos em todo o mundo. A previsão de escassez de energia dependente de

combustíveis fósseis tem preocupado a sociedade, pois encarece a mesma e leva a

degradação do meio ambiente. Diante deste cenário, o mundo volta a sua atenção

para buscar uma maneira mais limpa e confiável de continuar usufruindo daquilo que

a energia que move o avanço tecnológico lhe oferece (HOLM, 2005). A expectativa é

de que em 2035 o consumo mundial de energia tenha um acréscimo de 53% em

relação ao ano de 2008. Contudo, as energias renováveis são a fonte mundial que

mais crescem, aumentando 2,8% ao ano (EIA 2011).

Com a iminência da Copa do Mundo no Brasil, a questão da sustentabilidade

dos novos estádios que estão sendo construídos ou reformados tem sido pauta

constante na mídia. Na Copa do Mundo na Alemanha, a FIFA (2006) estabeleceu o

Green Goal, documento com políticas de compensação de emissões de gases do

efeito estufa, e lançou um marco no que tange o uso consciente dos recursos

energéticos no futebol. Aproveitando a vitrine proporcionada por este evento, o

Brasil, que é conhecido como uma liderança na área do desenvolvimento

sustentável, conforme o ministro Laudemar Aguiar, pretende realizar uma copa

marcada pela sustentabilidade, focando na gestão energética destas novas arenas

(Portal da Copa, 2012).

Dentro deste contexto, o presente artigo se propõe a estudar o atual perfil de

consumo da eletricidade nos estádios de futebol, nos dias em que esses são

utilizados para jogos das equipes profissionais. Esta avaliação tem como principal

objetivo mensurar o reflexo na fatura de energia elétrica. Além disso, entendendo o

perfil de uso desse insumo, torna-se possível explorar métodos de gestão de energia

para essas instalações. Finalizando, o uso de fontes alternativas como forma de

mitigar o impacto energético dessas construções é esboçado, indicando a

viabilidade de análises mais aprofundadas sobre o tema.

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2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 CONTEXTO ENERGÉTICO

“Sem energia não há desenvolvimento (Luiz Inácio Lula da Silva, 2010)”. A

afirmação do então presidente, em 13 de agosto de 2010, em visita à obra de

construção da Usina Hidrelétrica de Jirau (RO), expressa uma verdade com a qual o

mundo convive mais intensamente desde a revolução industrial. O que antes era

produzido de modo artesanal passou a ser feito através de máquinas, e em grandes

quantidades. Nos últimos séculos, o desenvolvimento tecnológico e econômico da

humanidade deu um salto em relação à história antiga e, para que isto pudesse

acontecer, o consumo de energia acompanhou este ritmo. Na passagem do século

XIX para o XX o consumo mundial de energia era de 911 milhões de tep, em 2008

este número subiu para 12,7 bilhões de tep (EIA 2011).

A revolução industrial trouxe consigo crescente demanda da energia e matérias-primas que o mundo nunca tinha visto; e o fantástico ritmo de expansão continuou através do século XX. Foi estimado, por exemplo, que nas primeiras duas décadas do século XX a humanidade consumiu mais energia do que havia feito em todos os séculos anteriores da sua existência. Durante as duas décadas subsequentes nós de novo utilizamos mais energia do que na totalidade do passado. Além disso, uma constatação similar manteve-se para cada período subsequente de 20 anos (Baumol, 1989).

Em 1960 houve uma desaceleração no crescimento do consumo de energia,

contudo ele permanece crescendo, conforme visto na Tabela 1.

Tabela 1 - Consumo Mundial de Energia(em bilhões de toneladas equivalentes de petróleo - tep)

ANO 1960 1965 1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000

CONSUMO 3,4 4,41 5,63 6,49 7,45 8,08 9,09 9,55 10,2

Fonte: Leite (2007, p.36)

Destaca-se, portanto o aumento no consumo de eletricidade. Sendo que de

1973 a 2004 foi de 68% na média mundial. No Brasil, este crescimento foi

extremamente superior. Em 1973 a eletricidade participava com 6% do consumo

final, já em 2004 sua participação foi de 16%, apresentando um aumento de 166%

no período (EPE, 2007, p.95). Em 2011, o consumo de energia elétrica no país foi

de 415,3 TWh (EPE, 2011, p.65).

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Com o progressivo aumento na demanda por energia, as nações têm se

preocupado em como manter a oferta. Como a maior parte desse insumo vem de

fontes esgotáveis, dois pontos são essenciais para a segurança no fornecimento: a

eficiência energética e a geração a partir de fontes renováveis (FGV, 2011, p.3). A

projeção é de que, seguindo o que já vem acontecendo, os investimentos em fontes

de energia renováveis tenha um crescimento percentual maior que qualquer outra

até 2035 – cerca de 2,8% ao ano (EIA 2011, p.2). Isso pode ser visto no Gráfico 1.

Gráfico 1 - Geração Mundial de Eletricidade por fonte.Fonte: International Energy Outlook 2011 (2011).

O Brasil, apesar de ter sua matriz energética fundamentada em

hidroelétricas, segue a tendência mundial de investimentos na promoção de outros

vetores sustentáveis. Através de fomentos, como o Programa de Incentivo às Fontes

Alternativas de Energia Elétrica (PROINFA) e os Leilões para Energias Renováveis,

o país tem estimulado a expansão do uso destas fontes. Além disto, o BNDES

(Banco Nacional do Desenvolvimento) financia empreendimentos de geração de

energia a partir de fontes alternativas. Em um estudo desenvolvido pelo Instituto de

Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI), em conjunto com o Centro de

Estudos em Sustentabilidade (GVces), é feita uma análise dos desafios que podem

ser encontrados pelo Brasil para o desenvolvimento de fontes energéticas

alternativas e propostos meios que visam viabilizar a expansão do uso destes

sistemas.

De acordo com pesquisa elaborada pelo The Boston Consulting Group

(BCG) em parceria com o MIT Sloan Management Review, com mais de 4 mil

Histórico Projeções

Carvão

Gás Natural

Nuclear

HídricaOutras RenováveisLiquidos

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gerentes, em 113 países, evidenciou-se que a cada ano as empresas têm dado

maior atenção ao termo sustentabilidade. Em 2010, 55% dos entrevistados

responderam estar buscando a sustentabilidade como estratégia para serem

competitivos. No ano seguinte esse índice aumentou para 67%. Quando

questionados sobre quais os fatores que os levaram a mudar seu modelo de negócio

(se referindo à sustentabilidade), 41% citou a preferência dos clientes por

produtos/serviços sustentáveis e 28% que seus clientes estão dispostos a pagar

mais por ofertas sustentáveis.

2.2 ENERGIA NOS ESTÁDIOS DE FUTEBOL

O setor da indústria de entretenimento e mídia prospecta um crescimento de

5% na média mundial, sendo que o Brasil é o segundo país em taxa de crescimento,

com 8,7%, ficando atrás apenas da China (BBC, 2010). Inseridos nesse cenário

estão os estádios de futebol, que há muito tempo deixaram de ser um simples

espaço onde torcedores se reúnem para acompanhar seu time e passaram a

grandes centros multiusos, abrigando as mais diversas atividades. Sendo assim, o

impacto gerado pelo seu consumo energético é algo que deve ser levado em

consideração. Na última Copa do Mundo, realizada na África, em 2010, foram

utilizados 253 geradores temporários, somando um total de 56 MW de potência

instalada (FIFA, 2011, p.9).

De acordo com o Cadastro Nacional de Estádios de Futebol (CNEF, 2009), o

Brasil possui 634 estádios de futebol cadastrados. Sendo que a grande maioria

possui iluminação, possibilitando receber jogos tanto durante o dia quanto à noite,

como pode ser visto no Gráfico 2.

Gráfico 2 - Quantidade de estádios cadastrados no Brasil (Divididos de acordo com a existência de iluminação).Fonte: CNEF (2009).

Sem Ilu-mi-nação 216

Com Ilu-mi-nação 418

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Este dado é importante, pois evidencia a quantidade de estádios que podem

ser atuantes durante qualquer horário. Dentre os estádios que possuem sistema de

iluminação, 50 deles são de capacidade igual ou superior a 20.000 pessoas (CNEF,

2009). Um número bastante considerável.

Visualizando este cenário, evidencia-se a necessidade de acompanhar o uso

da eletricidade neste tipo de edificação, para que haja um consumo eficiente. A dita

eficiência energética, refere-se à com um menor consumo chegar ao mesmo produto

final, seja através de novas tecnologias ou melhor gestão dos recursos disponíveis

(EPC, 2011, p.4). Para obter-se uma gestão eficiente dos insumos utilizados, é

necessário conhecer quais são seus os usos finais. Uma das formas de interpretar

como a energia elétrica está sendo consumida é através da análise da curva de

carga do consumidor (Cobenge 2011, p.7). O estádio de Wembley, em Londres,

utiliza um software de gestão de energia e, desde sua reinauguração, em 2007, a

cada ano sua economia em energia elétrica vem aumentando, atingindo 28,5% em

2011 (Going Green 2011, p.15). Outros estádios como o National Indoor Stadium,

em Pequim, o Cornellà-El Prat, na Espanha, e o Luz de Benfica, em Portugal,

também possuem soluções que ajudam a gerir a energia consumida, como

automação de ar-condicionado e gerenciamento de equipamentos por software

(Schneider Electric, 2012).

Na comparação dos estádios construídos nas décadas passadas com os

empreendimentos atuais, a diferença do uso final fica evidente. Estádios quase

cinquentenários do nosso país tinham o propósito de receber seu público apenas em

dias de jogo, enquanto no novo modelo, convencionalmente chamado de arena

multiuso, propõem-se o uso do estádio durante o ano inteiro. Em sua tese de

doutorado, fazendo menção ao estádio do Manchester United, clube da Inglaterra,

Marvio P. Leoncini diz:

Old Trafford gera receita 365 dias por ano, apesar de ser utilizado para o futebol apenas entre 20 e 30 dias. Camarotes “prestige”, alugados para empresas, restaurantes das mais variadas categorias que acomodam até 4.000 pessoas sentadas e uma loja de produtos excepcional são apenas alguns exemplos deste potencial de geração de recursos. Vale notar que o estádio, apesar de ter passado por várias reformas é antigo. Fica fácil imaginar o que pode acontecer com uma arena construída para ser multi-uso (Leoncini, p.83).

Inclusive a gestão da arena multiuso é citada por Leoncini como um dos

pilares da gestão do clube, relacionado à maximização de receitas (Leoncini, p.62).

Porém, para que possam ser viáveis, entre diversos outros fatores, as instalações

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das arenas necessitam incorporar novas tecnologias (BNDES, 1997, p.11). Em todo

o mundo, novos estádios tem feito uso de formas alternativas de geração de

energia, agregando valor ao empreendimento. Todavia, o principal atrativo continua

sendo o futebol. Sendo assim, seja em um estádio antigo ou em um novo, que

segue o conceito de arena esportiva, é relevante entender o consumo que ocorre

durante a realização do evento futebolístico.

Seguindo a ideia do emprego de tecnologias inovadoras, um dos modos de

geração a ser apresentado neste artigo é o solar fotovoltaico. Este sistema, ao

contrário do que muitos pensam, não necessita que a luz radiante incida diretamente

sobre os módulos, podendo gerar eletricidade também em dias nublados (FGV,

2011, p.12). Dentre os estádios que já fazem uso desta tecnologia, o maior exemplo

é o Stade de Suisse, em Berna, capital suíça. São 12.000 m² de painéis solares que

geram 1,13 GWh de energia por ano (Stade de Suisse). Outro exemplo é o

Nuremberg Soccer Stadium, na Alemanha. Com 758 módulos cobrindo 1.000 m², o

estádio tem uma alimentação com potência instalada de 140 kW (SANTOS, 2008,

p.46). No Brasil esta ideia vem dando seus primeiros passos, mas já é uma

realidade no Estádio Governador Roberto Santos, mais conhecido como Pituaçu, em

Salvador, o primeiro estádio da América Latina a gerar energia utilizando um sistema

fotovoltaico (Neoenergia, 2012). Com um investimento de R$ 5,5 milhões, divididos

entre o Governo do Estado da Bahia e a Coelba, a usina que ocupa cerca de 5.500

m² e utiliza dois tipos de módulos fotovoltaicos, tem capacidade de gerar 400kWp e

geração anual estimada em 630 MWh (Cogen, 2012). Cabe aqui salientar a

afirmação do governador Jaques Wagner, ao se referir ao tempo de retorno do

investimento - aproximadamente 45 anos e 10 meses, de que preservação

ambiental não se mensura apenas financeiramente. Motivados pela Copa do Mundo

2014, diversos estádios brasileiros estão desenvolvendo seus projetos de geração

de eletricidade a partir de painéis fotovoltaicos. A Arena Pernambuco, em Recife,

pretende com um investimento de R$ 13 milhões ter 1 MWp de potência instalada.

Em Curitiba, foi anunciado um projeto com capacidade de 2,2 MW para o Estádio

Joaquim Américo, mais conhecido como Arena da Baixada (Portal da Copa, 2012).

Em Belo Horizonte, o estádio Governador Magalhães Pinto, popularizado como

Mineirão, com um investimento de R$ 27 milhões da Cemig, terá entre 650 kWp e

1.400 kWp de potência instalada, dependendo da tecnologia utilizada (Jornal da

Energia, 2011).

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Outra fonte alternativa a ser analisada é a energia eólica, que vem obtendo

grande incentivo do governo brasileiro. Poucas referências a sua utilização nos

estádios são encontradas, contudo, em alguns locais do mundo seu uso já vem

sendo implantado. Na Filadélfia, Estados Unidos, o Lincoln Financial Field lança um

projeto pioneiro para ser o primeiro estádio esportivo do mundo autossustentável

através de energia renovável (Ideal, 2011). Com um investimento de US$ 30

milhões, o estádio contará com 2.500 painéis solares, 80 turbinas eólicas e uma

central de cogeração alimentada por gás natural e biodiesel. Os aerogeradores

somados aos painéis fotovoltaicos atenderão cerca de 25% do consumo do estádio

(New York Times, 2010). A parcela de energia gerada através deles pode ser

pequena, mas Jeffrey Lurie, proprietário do clube, considera a visibilidade que estes

investimentos trazem. Segundo o mesmo, atingem além daqueles que vão aos

jogos, milhões de pessoas que assistem pela televisão, ou passam pelo estádio,

seja pela estrada ou de avião (Investments and acquisitions, 2011). O Apogee

Stadium, com capacidade para 31.000 espectadores, na Universidade do Norte do

Texas, é outro exemplo do uso de energia eólica. Com 3 turbinas de 100 kW

instaladas o estádio consegue suprir 6% de sua demanda por eletricidade (Earth

Techling, 2011).

Uma inovação cuja nenhuma referência quanto a sua existência em estádios

foi encontrada durante a realização deste artigo, é a geração através da

piezoeletricidade. A piezoeletricidade é a capacidade encontrada em alguns

materiais de converter energia mecânica em energia elétrica (Azevedo, 2010, p.41).

Ainda distante dos estádios, esta tecnologia já se encontra implementada, em fase

de testes, em outras construções. A Sakura Bridge, ponte localizada em Tóquio, tem

seu sistema de iluminação alimentado através de sensores piezoelétricos que

convertem as vibrações da ponte em energia elétrica (UFSCAR, 2010, p.2).

Instalado em 1 m² do chão, em uma das ruas que dá acesso a estação de trens

Shibuya, também em Tóquio, um sistema piezoelétrico, em 20 dias, gerou energia

suficiente para manter ligados 1.422 televisores por uma hora (Superinteressante,

2009). Em Roterdã, a boate Sustainable Dance Club possui instaladas no piso

placas de 65 x 65 cm que podem gerar entre 5 W e 10 W, de acordo com a pressão

aplicada (Planeta Sustentável, 2008). A instalação de sensores piezoelétricos nas

arquibancadas, assentos, corredores de passagem, portões de entrada, escadarias

e diversos outros locais aproveitaria a energia do torcedor para alimentar o estádio.

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Dois pesquisadores da escola de arquitetura do MIT, em Boston, EUA, estão desenvolvendo sistemas para tornar a energia piezoelétrica viável comercialmente: “Um simples passo humano pode manter acesas duas lâmpadas de 60 watts durante um segundo. Se pensarmos no movimento de 30 mil pessoas teríamos 3,6 milhões de watts por segundo”, explicam James Graham e Thaddeus Jusczyk, jovens estudantes do MIT que trabalham no projeto (Portal 2014, 2009).

O escritório de arquitetura Populous se encontra engajado em encontrar

uma maneira de aproveitar o uso deste sistema nos estádios de futebol (Portal 2014,

2009).

Pode-se entender, portanto, que para uma escolha consciente, tanto das

fontes de energia a serem empregadas quanto da maneira mais eficiente de utilizá-

las, é necessário primeiramente analisar a infraestrutura do estádio e compreender

seus usos finais.

3 METODOLOGIA

Para que se possa analisar o perfil de consumo de qualquer instalação, é

obrigatório tomar conhecimento de seu sistema energético, o que engloba suas

fontes de energia, sistema de tarifação, usos finais e hábitos de utilização. No que

se refere aos requisitos mínimos que o estádio deve atender, o padrão considerado

será o exigido pela FIFA para transmissão de jogos internacionais (FIFA, 2011).

Como primeira etapa, este artigo apresenta uma metodologia prática que orienta a

execução dos procedimentos de obtenção destas informações, através de uma

análise energética. Posteriormente, são explanados os métodos de cálculo para

projetos de sistemas fotovoltaicos e eólicos.

3.1 ANÁLISE ENERGÉTICA

A análise energética é realizada com o intuito de avaliar como a energia é

utilizada em uma determinada instalação. A mesma é efetuada tanto de maneira

global, referente a todas as fontes que fazem parte do sistema, quanto específica,

levantando dados relativos a cada uso final. Neste artigo, a análise se limitará ao

uso da eletricidade.

Conforme demonstrado na Figura 1, a análise é composta por quatro etapas

principais: a visita ao local da instalação, o planejamento, o levantamento de dados

e a análise e tratamento de dados.

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Figura 1 - Ilustração das etapas que compõem a análise energética.Fonte: Alvarez (2000).

3.1.1 Visita à Instalação

Nesta etapa ocorre o primeiro contato com a instalação. São conhecidos os

ambientes, os equipamentos utilizados e suas finalidades, as necessidades do local

e os responsáveis por fornecer documentos e informações necessárias para a

análise. Na visita inicial se tem uma visão geral de toda a instalação, permitindo um

planejamento para a realização das próximas etapas.

3.1.2 Planejamento

Após conhecer o local e suas peculiaridades, é feito um plano de ação que

inclui itens como o cronograma de execução, agrupamento de setores ou usos

finais, definição de tarefas e etapas e orçamento. Desta forma têm-se uma

perspectiva da maneira como será desenvolvida a análise.

3.1.3 Levantamento de Dados

Todos os dados à serem avaliados são obtidos nesta etapa, portanto deve-

se primar pela precisão, objetivando fidelidade na avaliação final. É importante fazer

uso de todos os recursos cabíveis e, quando necessário, confrontá-los.

Visita à Instalação

Faz-se o reconhecimento do local onde realizar-se-á a análise, dos seus equipamentos e dos seus ambientes;

Planejamento Execução do cronograma e agrupamentos;

Levantamento de Dados

Obtenção de informações como fatura de energia eletrica, memória de massa, medições e inspeções;

Análise e Tratamento de

Dados

Avaliação das informações através de indicadores, gráficos e planilhas.

Page 11: Análise do Uso da Energia Elétrica em Estádios de Futebol - Tiago Marcante Pinto

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As principais fontes de informação são:

Fatura de energia elétrica: É emitida mensalmente pela concessionária.

Através dela obtém-se qual o consumo e demanda de energia elétrica

(ativa e reativa) da instalação nos horários de ponta e fora de ponta,

entre outros. Em posse das contas de um determinado período é

possível avaliar características como a evolução ou redução do consumo

e sua sazonalidade;

Memória de massa: O relatório da memória de massa deve ser solicitado

formalmente à concessionária. Nele encontram-se medições periódicas,

de 15 em 15 minutos, da demanda exigida pela instalação no período de

30 dias. Com os dados fornecidos neste documento, é possível traçar

curvas de carga que possibilitam visualizar a oscilação no consumo de

energia elétrica ao longo do dia;

Medição direta: Consiste em monitorar determinado ponto de interesse,

seja um setor, unidade ou equipamento específico, para conhecer suas

características de consumo. Como na conta de energia elétrica e no

relatório de memória de massa os dados são globais, este procedimento

é necessário para evidenciar particularidades da instalação. A medição

direta é realizada com o uso de um equipamento eletrônico que mede

continuamente as grandezas elétricas de interesse (tensão e corrente,

por exemplo) e fornece registros a cada intervalo de tempo, de acordo

com programação prévia do usuário (Alvarez, p.7). Assim como acontece

com o relatório de memória de massa, os registros gerados pela medição

direta proporcionam a confecção de curvas de carga para posterior

análise;

Inspeção: Corresponde à aquisição de informações sobre características

físicas dos ambientes, dados técnicos dos equipamentos e hábitos de

uso dos mesmos. Para análise de instalações não concluídas, em fase

de ampliação, processo de retrofit ou então operando há pouco tempo,

esta acaba sendo a única forma de adquirir as informações pretendidas.

Neste caso, elas são obtidas nos projetos ou por amostragem, caso parte

do sistema já esteja em uso, sendo necessário repetir os dados

levantados simulando o ambiente futuro. Servem como uma maneira de

Page 12: Análise do Uso da Energia Elétrica em Estádios de Futebol - Tiago Marcante Pinto

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complementar os dados obtidos nos itens anteriores e de base para

possíveis propostas de eficientização do sistema utilizado.

3.1.4 Análise e Tratamento de Dados

Estudando os dados levantados na etapa anterior determina-se o potencial

de conservação de energia, avaliando a necessidade da troca de equipamentos ou

readequação no emprego dos mesmos. Outra possibilidade é a criação de

indicadores do uso da energia elétrica, os quais representam o perfil de consumo da

instalação, tornando possível realizar estimativas de uso futuro, projetando a

demanda da planta para os próximos anos. Desta forma, as características de

utilização em instalações que possuam sistema semelhante podem ser

representadas. Como é esperado que estádios de futebol, de modo geral, sigam

determinado padrão, é possível quantificar a parcela do consumo a ser abatida

gerando a própria energia (após dimensionar o sistema que será utilizado na

geração).

3.2 GERAÇÃO FOTOVOLTAICA

Um sistema fotovoltaico pode ser tanto autônomo, quanto interligado a rede

pública. No caso do primeiro, este tipo é comumente utilizados em regiões isoladas,

cuja rede elétrica não chega até o usuário. Por este motivo, são dependentes da

existência de um banco de baterias, que garantirá o fornecimento de eletricidade nos

momentos onde a geração dos painéis for inferior a necessidade da instalação ou

até mesmo nula. No caso dos sistemas interligados à rede pública, estes não fazem

uso de banco de baterias e entregam a rede a máxima potência que podem produzir

em cada instante (Carneiro, 2009).

Como a intenção deste artigo não é dimensionar com precisão um sistema

de geração fotovoltaico, mas sim quantificar a possível geração de energia

(utilizando-se a área disponível da cobertura do estádio) e avaliar o impacto desta no

consumo final da instalação, a metodologia proposta pode ser utilizada para ambos

os tipos de sistema. Pelo mesmo motivo algumas etapas, como o dimensionamento

de inversores e cabos a serem utilizados na instalação, assim como as ligações do

sistema, serão suprimidas. As etapas deste processo são vistas na Figura 2.

Page 13: Análise do Uso da Energia Elétrica em Estádios de Futebol - Tiago Marcante Pinto

Levantamento do Índice de

Radiação Solar

Dimensionamento da Área Útil

Escolha dos Painéis

Fotovoltaicos

Cálculo do Potencial de Geração de

Energia Elétrica

13

Figura 2 - Etapas do cálculo de geração por energia fotovoltaica. Fonte: O autor (2012).

3.2.1 Levantamento do Índice de Radiação Solar

A aquisição do índice de radiação solar no local a serem instalados os

painéis fotovoltaicos é imprescindível para estimar a máxima potência gerada por

este sistema. Tal procedimento é realizado através de medições, utilizando um

piranômetro. Como há variação nesta grandeza ao longo de cada dia do ano, o

índice médio diário dos últimos anos pode ser extraído do banco de dados

solarimétricos de grupos de pesquisa que o disponibilizam. Um exemplo é o Atlas

Solarimétrico do Brasil (2000), que traz as médias mensais e anuas do índice de

radiação solar de cada região. Neste artigo, será utilizado o software RadiaSol 2,

desenvolvido e disponibilizado gratuitamente pelo Laboratório de Energia Solar da

UFRGS, o qual utiliza o banco de dados da SWERA (Solar and Wind Energy

Resource Assessment) e informa os valores em kWh/m²/dia.

3.2.2 Dimensionamento da Área Útil

A área total da cobertura pode ser obtida através da planta baixa, fornecida

pelos responsáveis por gerir o estádio. Para otimizar a precisão nos cálculos do

projeto, o ideal é que a área seja medida setorialmente, definindo o comprimento e a

largura de cada setor. Assim, detalhes como sua inclinação e as obstruções que

impeçam a instalação podem ser considerados. Como forma de simplificação do

cálculo, a cobertura do estádio será levada em conta como plana e horizontal e 80%

da área total considerada como área útil. Esta metodologia é utilizada no Relatório

Estádios Solares - Opção Sustentável para a Copa 2014 no Brasil (GTZ, 2010).

Page 14: Análise do Uso da Energia Elétrica em Estádios de Futebol - Tiago Marcante Pinto

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3.2.3 Escolha dos Painéis Fotovoltaicos

Os painéis fotovoltaicos são constituídos por células, normalmente

fabricadas utilizando silício. Estas podem ser constituídas de cristais

monocristalinos, cristais policristalinos ou silício amorfo. Células de cristais

monocristalinos são a primeira geração. São as mais utilizadas e comercializadas e

se caracterizam por um alto rendimento (cerca de 18%). Contudo sua produção

exige alto controle e pureza do material, o que a torna mais cara. As células

policristalinas, em relação a sua antecessora, possuem um custo inferior, bem como

seu rendimento (aproximadamente 16%). Ambas passam por processos de

fabricação similares. Por fim, as células de silício amorfo são as que apresentam

custo mais reduzido, mas novamente o índice de rendimento acompanha essa

redução (em torno de 8%). Porém seu processo de fabricação é mais simples e

consome menos energia (CRESESB, 2008). A Tabela 2 indica esses dados,

enquanto a Figura 3 evidencia módulos com materiais citados.

Tabela 2 – Eficiência e custo dos módulos fotovoltaicos de acordo com o material da célula.

Material Eficiência Custo

Silício Monocristalino ≈ 18% Superior

Silício Policristalino ≈ 16% Médio

Silício Amorfo ≈ 8% Inferior

Fonte: CRESESB (2008).

Figura 3 – Células fotovoltaicos de silício monocristalino, policristalino e amorfo, respectivamente (a partir da esquerda).Fonte: CRESESB (2008).

Além do material constituinte, que influencia no rendimento e preço do

equipamento, outras características devem ser levadas em consideração. É

fundamental conhecer a potência do painel, pois é ela quem limita a quantidade de

Page 15: Análise do Uso da Energia Elétrica em Estádios de Futebol - Tiago Marcante Pinto

15

energia a ser gerada. Vale salientar que a grande maioria dos fabricantes informa

essa potência como sendo o valor máximo de geração, quando recebida incidência

solar de 1.000 W/m² (sol pleno), que equivale a um dia de sol forte sem nuvens

(Serrão, 2010). Um painel de 135 Wp, por exemplo, caso receba 4 horas de

insolação nestas condições, desconsiderando perdas do sistema, poderia manter

ligada por 9 horas uma lâmpada incandescente de 60 W. Também deve-se dar

atenção à variação desta potência de acordo com a temperatura. Normalmente os

valores dados pelos fabricantes consideram a temperatura da célula à 25ºC. Estima-

se que em um dia com temperatura ambiente de 20ºC a temperatura das células

seja em torno de 42°C (Prestenergia, 2000).

Não obstante, com o intuito maximizar a ocupação da área de instalação, as

dimensões do painel também precisam ser conhecidas. É importante que a

documentação técnica do equipamento a ser escolhido seja consultada, para

verificar as condições de teste (como temperatura e insolação) em que foi

determinado o desempenho do painel.

3.2.4 Cálculo do Potencial de Geração de Energia Elétrica

Executados os passos anteriores, para quantificar a energia possível de ser

gerada pelo sistema fotovoltaico do estádio, o primeiro cálculo a ser feito é o do

número de painéis a serem instalados. Este cálculo é demonstrado na Equação 1.

Np =AuAp

Sendo,

Np: Número de painéis fotovoltaicos;Au: Área útil;Ap: Área de 1 painel.

(Equação 1)

Com o número de painéis, calcula-se a potência de pico do sistema, que é a

potência nominal total da instalação, conforme Equação 2.

Pft = Np x Pp

Sendo,

Pft: Potência nominal total do sistema fotovoltaico;Pp:Potência nominal de 1 painel.

(Equação 2)

Page 16: Análise do Uso da Energia Elétrica em Estádios de Futebol - Tiago Marcante Pinto

16

Para calcular a energia máxima que o sistema pode produzir aplica-se a

Equação 3.

Em = Pft x NSP

Sendo,

Em: Energia máxima;NSP: Número de horas de sol pleno.

(Equação 3)

Como toda instalação é passível de perdas, existem diversos fatores que

ocasionam redução no rendimento do sistema. O Manual de Engenharia para

Sistemas Fotovoltaicos (CEPEL - CRESESB, 2004) indica os seguintes valores de

fatores de correção:

Inversor de frequência CC-CA: 0,80;

Fiação: 0,98;

Módulo (cristalino): 0,9

A multiplicação destes índices resulta em um fator de rendimento do sistema

de 70,6%. No entanto, hoje é comum inversores com um rendimento superior, por

isso, adotar-se-á um índice de 0,95 para tais equipamentos (CARNEIRO, 2009).

Assim, o fator de rendimento passa a ser de 84%. Vale salientar que o fator

de redução do módulo se refere a perdas que ocorrem por acúmulo de poeira, perda

entre módulos mal conectados e degradação com o tempo (CEPEL - CRESESB,

2004). Devido a isto, em uma instalação nova e verificada, com manutenção

constante, ele tende a ser reduzido nos primeiros anos. Aplicando o fator de

rendimento na Equação 4, chega-se ao valor esperado de geração de energia

elétrica.

Et = Em x 0,84

Sendo,

Et: Energia total.

(Equação 4)

3.3 GERAÇÃO EÓLICA

A utilização da energia eólica como fonte para geração de energia elétrica,

em escala comercial, iniciou há pouco mais de 30 anos (NASCIMENTO). Seu

princípio de funcionamento é através do uso de um aerogerador, que absorve

Page 17: Análise do Uso da Energia Elétrica em Estádios de Futebol - Tiago Marcante Pinto

Estimar a Energia Gerada no Parque Eólico

Definir o "Lay-Out" dos Aerogeradores

Escolha dos Aerogeradores

Estudar os Dados de Vento Obtidos

Medir o Vento no Local

17

parcialmente a energia cinética do vento através de um rotor aerodinâmico,

transformando-a em potência mecânica, que é convertida em eletricidade.

A Figura 4 descreve os principais passos da metodologia de implementação

de um parque eólico no estádio.

Figura 4 - Etapas do cálculo de geração de energia eólica.Fonte: Custódio (2009).

3.3.1 Medir o Vento no Local

A mensuração da velocidade do vento é realizada através de anemômetros,

com período mínimo de medições é de um ano. Nota-se a importância que os

equipamentos utilizados sejam precisos, não haja obstáculos que interfiram nas

medições e exista um acompanhamento com inspeções e manutenção (se

necessária), em prol da confiabilidade dos dados. Pelo caráter deste artigo, não

serão realizadas medições. A informação será extraída do Atlas Eólico: Rio Grande

do Sul (2002).

3.3.2 Estudar os Dados de Vento

Os dados obtidos na etapa anterior devem ser tratados estatisticamente e

analisados, visando identificar a distribuição da velocidade do vento local. Esta

distribuição pode ser representada através de uma função de densidade de

probabilidade, comumente Rayleigh ou Weibull. Este estudo é incrementado

consultando o registro de bancos de dados com medições em regiões próximas.

Page 18: Análise do Uso da Energia Elétrica em Estádios de Futebol - Tiago Marcante Pinto

18

3.3.3 Escolha dos Aerogeradores

A escolha dos aerogeradores a serem instalados no estádio deve levar em

consideração a arquitetura do local. Como a análise da instalação será feita no

próprio estádio e não em seus arredores, há maior limitação nos modelos a

serem avaliados. Os dados técnicos referentes ao seu desempenho em relação

aos ventos locais devem ser avaliados nesta etapa.

3.3.4 Definir o “Lay-Out” dos Aerogeradores

Como a proposta deste artigo é que a instalação seja realizada sobre o

estádio, esta definição baseia-se em seu formato. Sendo necessário então,

conhecer o perímetro da área da instalação, pois o único ponto que deve ser levado

em conta é a distância entre os aerogeradores. Considerar-se-á esta distância como

sendo de quatro vezes o diâmetro do rotor da turbina (DABIRI, 2012).

3.3.5 Estimar a Energia Gerada no Parque Eólico

Baseado na curva de potência do aerogerador escolhido estima-se qual o

seu potencial de geração, levando em conta os dados tratados no item 3.3.2. Para

obter tal resultado, deve-se realizar o cálculo dado na Equação 5.

Pea = ∑n

Frn x Pn

Sendo,

Pea: Potência de geração de 1 aerogerador;Frn: Frequência relativa do vento em n;

Pn : Potência de 1 aerogerador em n;n : velocidade do vento.

(Equação 5)

A Tabela 3 mostra um exemplo desta etapa com valores hipotéticos, para a

determinação da etapa 3.3.5.

Page 19: Análise do Uso da Energia Elétrica em Estádios de Futebol - Tiago Marcante Pinto

19

Tabela 3 - Cálculo do potencial de geração de energia elétrica de uma turbina em uma hora.

Fonte: O autor (2012).

Seguindo-se a Equação 6, tem-se o potencial de geração do parque eólico

instalado no Estádio.

Pet = Pea x N

Sendo,

Pet : Potencial total do parque eólico;N : Número de turbinas.

(Equação 6 )

Por fim, seguindo-se a Equação 7 tem-se a capacidade de geração mensal

do parque eólico.

G = Pe t x 720

Sendo,

720: Quantidade de horas mensais. Considerando um mês de 30 dias.

(Equação 7 )

Dados da Análise Dados do Aerogerador

Velocidade do vento [m/s]

Frequência Potência Energia

[%] Relativa [W]

1 1,5 0,015 0

2 2,5 0,025 50

3 7 0,07 120

4 15 0,15 250

5 17 0,17 400

6 16 0,16 600

7 15 0,15 880

8 12 0,12 1000

9 8 0,08 1100

10 6 0,06 1220

Potencial de 1 aerogerador

624,35

Page 20: Análise do Uso da Energia Elétrica em Estádios de Futebol - Tiago Marcante Pinto

20

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Com o objetivo de validar a metodologia proposta, foi tomado como amostra

um estádio na cidade de Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Para incremento do

estudo, levantaram-se também dados de outro estádio da mesma cidade. Estes

dados extras foram utilizados com o objetivo de comparação do perfil de consumo.

O estádio sob estudo, doravante será denominado Estádio Principal, enquanto o

segundo será chamado de Estádio Extra. De maneira geral, os itens referentes à

analise energética foram realizados em ambos os estádios, e devem ser entendidos

dessa forma, exceto quando houver menção que indique o contrário. Infelizmente,

alguns dados não puderam ser obtidos. O fato de o ano corrente ser de eleição para

a presidência dos clubes donos dos estádios, tornou ainda mais difícil o acesso a

documentos que necessitam de autorização do presidente do clube. O caso mais

relevante se refere ao relatório de memória de massa, o qual não foi fornecido por

falta de tempo viável. Assim sendo, executaram-se as etapas propostas na

metodologia dentro das condições possíveis.

4.1 ANÁLISE ENERGÉTICA

Seguindo os passos indicados, a análise se iniciou com visitas às

instalações dos estádios considerados. Nesta fase, depois de conversar com alguns

funcionários recebeu-se a informação de que os dados necessários poderiam ser

obtidos contatando o setor de patrimônio do clube, que ficou definido como principal

contato. Durante esta etapa foram levantadas informações como os tipos de

equipamentos utilizados, forma de acesso aos documentos, existência de

dependências que são utilizadas apenas em dias em que há a realização de partidas

de futebol e definidos os contatos que auxiliaram na obtenção dos dados. É

importante salientar que ambos os estádios recebem visitação durante os dias em

que não há jogos, o que faz com que parte de suas instalações faça uso dos

sistemas de iluminação e climatização. Da mesma forma, possuem espaços

específicos que atendem aos torcedores, como museus e setor de ouvidoria. As

áreas administrativas funcionam, na sua maioria, em horário comercial, entre 8h e

18h. Porém, é comum que diversos setores estendam suas atividades após este

horário, permanecendo atuantes inclusive durante os jogos que ocorrem à noite.

Page 21: Análise do Uso da Energia Elétrica em Estádios de Futebol - Tiago Marcante Pinto

21

Após inserir-se no contexto de utilização dos estádios, partiu-se para o

planejamento da análise em questão. Primou-se por realizar um agrupamento dos

principais usos finais, visando facilitar o levantamento de dados, bem como a análise

dos mesmos. Este agrupamento é indicado na Tabela 4.

Tabela 4 - Agrupamento de Equipamentos Verificados.

Usos finais

Iluminação Ar-condicionado Força motriz Outros

Lâmpadas de uso geral e refletores do campo.

Equipamentos dos mais diversos tipos.

Bombas e elevadores.Televisões, geladeiras, roletas eletrônicas, etc.

Fonte: O autor (2012).

Foram planejadas 4 visitas para levantamento de todos equipamentos em

cada instalação. No Estádio Principal, dois dias antes da realização de jogos não há

disponibilidade de representante da equipe de manutenção elétrica para

acompanhar o levantamento, sendo que sem acompanhamento não há acesso

liberado à determinada parte das dependências. Isto restringiu o número de datas

possíveis para este processo, contudo não o impediu. O Estádio Extra passa por

reformas significativas, tendo muitos de seus ambientes extintos e outros

temporariamente descaracterizados. Nestes casos, os dados foram obtidos através

de levantamentos existentes, realizados pelo próprio clube.

É importante citar alguns fatores que influem diretamente no

levantamento de dados. Como já mencionado, houve indisponibilidade no relatório

de memória de massa. Porém, conforme contato com os setores de patrimônio dos

clubes, foi identificado que o comportamento no uso da energia é extremamente

similar. Partindo desta informação, trabalhos já publicados, que disponibilizam as

curvas de carga dos estádios Mário Filho (Maracanã), indicado no Gráfico 3

(SANTOS, 2008), e Governador Roberto Santos (Pituaçu), indicado no Gráfico 4

(GTZ, 2010), foram considerados para estudo. Analisando estas curvas, a mesma

similaridade é encontrada, respeitando os quantitativos de consumo devido às

proporções das instalações. Isto leva a entender que há um padrão no uso da

energia elétrica nos estádios de futebol, que será considerado neste artigo. Apesar

de ambos os estádios serem de tamanho maior que o Pituaçu e menor que o

Maracanã, a semelhança com o segundo é ainda maior. Isto explica-se por estes 3

Page 22: Análise do Uso da Energia Elétrica em Estádios de Futebol - Tiago Marcante Pinto

22

estádios possuírem grande volume de setores administrativos, os quais impactam

diretamente no consumo de energia.

Gráfico 3 - Curvas de carga típica do Maracanã para dias de evento e dias normais.Fonte: SANTOS (2008, p.69).

Gráfico 4 - Curvas de carga do Pituaçu para dias de evento e dias normais.Fonte: GTZ (2010, p.47).

Do mesmo modo, nenhum dado foi obtido através do processo de medição

direta. Isto se deve ao fato de que dentro do escopo deste artigo o uso desta

ferramenta seria inviável. Para obterem-se dados confiáveis através deste processo

k W

Hora

Page 23: Análise do Uso da Energia Elétrica em Estádios de Futebol - Tiago Marcante Pinto

23

seriam necessários alguns meses de medições, tempo este indisponível. Muitos

equipamentos de uso comum, como refrigeradores e televisões, tiveram seu valor de

potência extraídos dos sites do PROCEL e ELETROBRÁS e, quando não

encontrados nestes, em consulta ao fabricante. Visto que o consumo de aparelhos

deste tipo pode variar de acordo com características do usuário, estes valores se

tornam mais confiáveis até mesmo do que os que poderiam ser obtidos durante uma

medição. Quanto às contas de energia das instalações, ambos os clubes

forneceram-nas referente ao período de 12 meses, para que assim fosse possível

avaliar o comportamento ao longo de um ano. O Gráfico 5 apresenta o consumo

mensal dos dois estádios Porto Alegrenses, onde fica claro a semelhança no perfil

de uso ao longo do ano.

Gráfico 5 - Consumo mensal dos estádios.Fonte: Faturas de energia elétrica (2011 e 2012).

Durante a inspeção, algumas informações obtidas já na visita inicial foram

corroboradas, como a existência de ambientes utilizados apenas em dias de jogos.

Contudo, foram testemunhados alguns equipamentos destes ambientes ligados

mesmo fora do horário de uso esperado, como roletas eletrônicas, lâmpadas em

locais vazios e os frigobares dos camarotes.

A apuração do uso de eletricidade para força motriz resumiu-se aos

elevadores que atendem os camarotes e a tribuna de honra do estádio. As bombas,

que fazem parte deste grupo, tem seu uso estritamente ligado a fatores não

previsíveis em longo prazo. Como a drenagem do campo, que só ocorre quando há

precipitação considerável de chuva ou então bombas de recalque que só entram em

Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez0

50,000

100,000

150,000

200,000

250,000

300,000

PrincipalExtra

kWh

Page 24: Análise do Uso da Energia Elétrica em Estádios de Futebol - Tiago Marcante Pinto

24

atividade caso as bombas que operam fora do horário de jogo não sejam suficientes

para atender a demanda, o que normalmente ocorre apenas em dias de intenso

calor. Devido à isto, durante a análise e tratamento, os dados do grupo Força Motriz

foram estudados juntamente com o grupo Outros.

A potência instalada dos equipamentos de ar-condicionado foi levantada

através da inspeção em campo, e seu fator de uso considerado como 70%. Este

valor foi obtido através da tabela de eficiência energética do PROCEL, disponível no

site do INMETRO. É um valor de uso médio, sendo que de acordo com a

temperatura e umidade do dia em questão, pode ser muito maior ou menor. Para

precisar a diferença no impacto deste uso de acordo com a sazonalidade em

questão, deve-se recorrer ao processo de medição direta que, como já dito, não foi

possível aplicar no desenvolvimento deste artigo.

Outra informação necessária para esta análise é a que se refere às datas de

realização de jogos em cada estádio, para que assim possa ser avaliada a influência

das partidas no consumo e fatura da energia elétrica. Estas informações seguem

indicadas na Tabela 5, e foram extraídas do site Futebol na Rede, que disponibiliza

os calendários das principais competições nacionais e internacionais, com

participação dos clubes brasileiros.

Tabela 5 – Quantidade de jogos de acordo com mês da fatura de energia elétrica.

Mês Quantidade de Jogos

Principal Extra

Janeiro 0 0

Fevereiro 3 4

Março 3 3

Abril 1 4

Maio 4 5

Junho 3 2

Julho 4 2

Agosto 3 3

Setembro 4 4

Outubro 4 3

Novembro 1 3

Dezembro 3 2

Fonte: Futebol na Rede (2012).

Page 25: Análise do Uso da Energia Elétrica em Estádios de Futebol - Tiago Marcante Pinto

25

Confrontando-se o Gráfico 5 com a Tabela 5, pode-se perceber que

isoladamente a quantidade de jogos em um mês não é fator determinante para o

consumo mensal de eletricidade. Pois, no Estádio Principal, apesar do mês com

menos jogos (novembro) coincidir com o menor consumo, esta tendência não se

repete nos demais meses, sendo que Abril, outro mês com apenas um jogo, tem seu

consumo acima da média. Para uma análise mais precisa, a Tabela 6 indica o

horário de início dos jogos em cada mês, de acordo com o seguinte agrupamento:

grupo A - Jogos que iniciam às 16h ou 17h, grupo B – jogos que iniciam entre 18h e

19h30min e grupo C – jogos que iniciam das 20h em diante.

Tabela 6 - Quantidade de jogos de acordo com o horário de início do jogo e mês da fatura de energia elétrica.

A B C

Mês/Estádio Principal Extra Principal Extra Principal Extra

Janeiro 0 0 0 0 0 0

Fevereiro 0 2 2 1 1 1

Março 2 1 0 2 1 0

Abril 0 3 0 0 0 1

Maio 0 2 1 2 1 1

Junho 1 1 1 1 2 0

Julho 1 0 1 2 1 0

Agosto 1 2 1 1 2 0

Setembro 2 2 2 0 0 2

Outubro 1 2 1 1 2 0

Novembro 1 2 0 1 0 0

Dezembro 2 1 1 0 0 1

Fonte: Futebol na Rede (2012).

Como pode-se perceber no Gráfico 6, o custo da fatura de energia elétrica

não é um simples reflexo do consumo mensal, ocorrendo de meses com maior

consumo terem uma fatura mais baixa. Cruzando as informações da Tabela 6 com

as do Gráfico 6, vê-se que os meses em que há maior quantidade de jogos nos

grupos B e C tendem a encarecer a conta. A explicação é o uso prolongado da

instalação, que tem sua iluminação das áreas de circulação ligada ainda no início da

noite, para receber os torcedores e imprensa. Além do mais, isto se dá durante o

Page 26: Análise do Uso da Energia Elétrica em Estádios de Futebol - Tiago Marcante Pinto

26

horário de ponta (das 18h às 21 ou das 19h às 22h durante o horário de verão),

onde o preço do kWh é maior que no restante do dia (cerca de 7,5 vezes maior).

Entretanto, outros fatores como variação no custo do kWh de acordo com os

impostos, multa por atraso no pagamento e multa por ultrapassagem da demanda

contratada impactam diretamente na fatura. Demanda esta que é influenciada pela

importância da partida para o clube e torcida. Jogos mais importantes tendem a

aumentar a ocupação do estádio, fazendo com que haja maior demanda por

eletricidade, resultante de maior fluxo nos elevadores, aumento na frequência aos

bares e uso contínuo dos banheiros, baixando o nível de armazenamento das caixas

d’água e consequentemente acionando bombas de recalque, entre outros.

Gráfico 6 - Consumo mensal e valor da fatura do Estádio Principal.

Fonte: Faturas de energia elétrica (2011 e 2012).

É importante citar que as faturas do Estádio Principal não são todas do

mesmo ano corrente, sendo a mais antiga referente ao mês de setembro. Portanto,

os meses de setembro a novembro possuíam valor de tarifação mais baixo que os

demais. Não obstante, ambas as instalações fazem parte da classificação tarifária

Horo-Sazonal Verde, subgrupo A4. Partindo disto e para melhor entendimento, os

Gráficos 7, 8 e 9 representam a curva de carga dos grupos A, B e C,

respectivamente.

Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez0

20,000

40,000

60,000

80,000

100,000

120,000

140,000

160,000

180,000

kWhR$

Page 27: Análise do Uso da Energia Elétrica em Estádios de Futebol - Tiago Marcante Pinto

27

Gráfico 7 - Curva de carga representativa dos jogos do grupo A.Fonte: O autor (2012).

Gráfico 8 - Curva de carga representativa dos jogos do grupo B.Fonte: O autor (2012).

Gráfico 9 - Curva de carga representativa dos jogos do grupo C.Fonte: O autor (2012).

0

100

200

300

400

500

600

OutrosAr-CondicionadoIluminação

Hora

De

ma

nd

a [k

W]

0

100

200

300

400

500

600

OutrosAr-CondicionadoIluminação

Hora

De

ma

nd

a [k

W]

0

100

200

300

400

500

600

OutrosAr-CondicionadoIluminação

Hora

De

ma

nd

a [k

W]

Page 28: Análise do Uso da Energia Elétrica em Estádios de Futebol - Tiago Marcante Pinto

28

Integrando a área dos gráficos, pode-se obter o consumo do Estádio Principal

durante o horário de jogo e analisar qual a porcentagem do consumo mensal é

devido ao dia do evento esportivo. Este consumo é indicado na Tabela 7, juntamente

com a demanda máxima de cada grupo.

Tabela 7 - Demanda máxima e consumo por jogo, de acordo com o grupo de horário.

Fonte: O autor (2012).

Percebe-se que o consumo realizado no dia do evento futebolístico pelo

estádio e suas dependências é um pequeno percentual em frente ao consumo

mensal de toda a instalação. Contudo, em qualquer horário convencional de jogo,

parte da eletricidade é consumida durante o horário de ponta, principalmente quando

as partidas ocorrem durante a noite, e isto é refletido no valor da fatura. Além disto,

através de consulta as faturas, sabe-se que nos meses em que há partidas no

estádio, a demanda máxima foi de 837 kW contra 457 kW no único mês que não

recebeu nenhuma partida de futebol, um acréscimo de aproximadamente 83% na

demanda lida. Isto evidencia um custo alto para uma atividade que ocorre poucos

dias no mês.

Tomando como exemplo o mês de julho, onde há um evento de cada grupo

realizado no mês, podemos estimar que o impacto destes no consumo é de menos

de 9%. Porém, seu custo na fatura do Estádio Principal é de aproximadamente 29%

do total.

4.2 GERAÇÃO FOTOVOLTAICA

Visando estimar o potencial de geração de energia elétrica através de

painéis fotovoltaicos, iniciou-se levantando o índice de radiação solar média de Porto

Alegre. O Gráfico 10 mostra a informação adquirida através do software Radiasol 2.

A B C

Demanda Máxima [kWh] 419,58 497,27 497,27

Consumo por jogo [MWh] 2,6 3,08 3,54

Page 29: Análise do Uso da Energia Elétrica em Estádios de Futebol - Tiago Marcante Pinto

29

Gráfico 10 - Índice mensal de irradiação média global em Porto Alegre.

Fonte: Radiasol 2 (2010).

A maior irradiação média ocorre no mês de dezembro (6,49 kWh/m²/dia),

enquanto a menor se dá no mês de julho (2,41 kWh/m²/dia). A média anual é de

4,44 kWh/m²/dia. Como os dois estádios sob análise se localizam na mesma cidade,

estes valores serão considerados para ambos.

Utilizando o software Google Maps Area Calculator Tool (Daft Logic, 2012),

que efetua o cálculo de áreas através de imagens por satélite, estimou-se uma

cobertura fictícia de acordo com a área real ocupado pelo estádio de futebol

analisado. A área total, bem como a área útil são descritas na Tabela 8.

Tabela 8 - Área total do estádio e de sua cobertura.

Área total do estádio Área total da cobertura Área útil da cobertura

39.957 m² 13.423 m² 10.738 m²

Fonte: O autor (2012).

O painel fotovoltaico utilizado neste artigo é o KD210GX-LPU da Kyocera,

cuja ficha técnica disponibilizada pelo fabricante encontra-se em anexo. Este painel

possui potência máxima de 210 W, dimensões de 1,5 m de comprimento por 0,99 m

de largura. Seu índice de variação de tensão é de 0,12 V a cada grau Celsius,

enquanto a corrente varia na casa dos mA. Portanto, para se calcular a variação de

Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

Irra

diaç

ão

méd

ia g

loba

l (kW

/m²/

dia)

Page 30: Análise do Uso da Energia Elétrica em Estádios de Futebol - Tiago Marcante Pinto

30

potência será considerada apenas a variação de tensão. Como a média histórica da

temperatura em Porto Alegre é muito próxima a 20°C, sendo de 19,4°C entre 1990 e

1999 e de 19,6°C entre 2000 e 2009 (PMPA), considerar-se-á a temperatura do

módulo fotovoltaico em 42°C, como descrito na metodologia. Este valor equivale a

um acréscimo de 17°C na temperatura padrão do módulo. Sendo assim, sua

potência máxima cai de 210 W para 194 W.

Em posse destes dados, pode-se calcular o potencial de geração de energia

elétrica para os estádios propostos conforme descrito em 3.2.4.

Na Tabela 9 são indicados os valores gerais obtidos para o estádio em

questão, a partir das Equações 1 e 2. Utilizando-se as Equações 3 e 4, chega-se

aos resultados mensais demonstrados no Gráfico 11.

Tabela 9 - Dados da usina solar do estádio.

Área de 1 Painel 1,485 m²

Potência de pico de 1 painel 194 W

Área útil da Cobertura 10.738 m²

Número de painéis 7231 unidades

Potência de pico total 1.402.814 Wp

Fonte: O autor (2012).

Gráfico 11 - Capacidade de geração fotovoltaica mensal.Fonte: O autor (2012).

Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

MWh/mês

217.7144882976

181.1380771872

170.2264287696

136.1010142

8

106.3001947896

85.19569984

8

103.0125598992

121.2771981792

143.878215096

191.4134091744

212.812495056

237.0750048744

25

75

125

175

225

Page 31: Análise do Uso da Energia Elétrica em Estádios de Futebol - Tiago Marcante Pinto

31

Através do somatório mensal, tem-se a geração média de aproximadamente

1,9 GWh/ano, cerca de 68% superior ao Stade de Suisse. Deve-se salientar o fato

de que a cobertura do estádio sob estudo não cobre totalmente a área dos assentos

dos torcedores. Na grande maioria das arenas que hoje estão em construção no

Brasil a área útil da cobertura é muito superior, proporcionando maior capacidade de

geração por meio deste sistema.

4.3 GERAÇÃO EÓLICA

Conforme o Atlas Eólico: Rio Grande do Sul (2002), o vento médio anual na

região onde se encontra o estádio sob análise tem a velocidade de

aproximadamente 5 m/s 50 metros de altura. Salientando que para haver precisão

no estudo de viabilidade do uso de geradores eólicos é necessário que uma

medição constante no local onde se pretende realizar a instalação seja executada e

os dados obtidos sejam tratados e analisados com as devidas ferramentas. Contudo,

como já explicado na metodologia deste artigo, as etapas 3.3.1 e 3.3.2 serão

suprimidas, fazendo-se uso apenas dos valores mencionados na literatura citada.

Na escolha dos aerogeradores, optou-se por realizar a escolha de um

modelo de turbina eólica de eixo vertical (TEEV). Comumente, as literaturas sobre

geração eólica apresentam as turbinas de eixo horizontal (TEEH) como possuidoras

de maior eficiência. Contudo, alguns fatores importantes levaram a ser feita opção

pelas TEEV. Por tratar-se de um local que atrai atenção de milhões de pessoas

sejam aquelas que frequentam aos jogos ou acompanham pela televisão ou mesmo

as que simplesmente passam pelo local ou tomam conhecimento do mesmo através

da mídia, o sistema eólico deve estar em harmonia estética com o contexto da

construção. Além das questões visuais, as TEEVs não dependem de um sistema

que as oriente na direção do vento, pois o movimento que rotaciona o rotor

independe dessa orientação, podem ser instaladas com maior proximidade entre as

turbinas, são muito mais silenciosas e possuem maior facilidade na manutenção do

gerador, pois o mesmo fica na base do aerogerador (Carmo, 2012). O modelo

escolhido foi o qr5, da quietrevolution, o mesmo instalado no Parque Olímpico de

Londres nas olimpíadas de 2012. As informações técnicas fornecidas pelo

fabricante se encontram em anexo a este artigo.

Page 32: Análise do Uso da Energia Elétrica em Estádios de Futebol - Tiago Marcante Pinto

32

Através da mesma ferramenta utilizada para cálculo da área de cobertura do

estádio, estimou-se o perímetro da região de instalação dos aerogeradores,

obtendo-se o valor de 698 m.

As turbinas podem ser instaladas em qualquer região viável na área em

torno do estádio, mas visando aproveitar a altura das estruturas e não ocupar um

espaço que pode ser utilizado para outros propósitos, será considerado que as

mesmas serão instaladas sobre os estádios, nos moldes do projeto existente do

Lincoln Financial Field. Sendo o diâmetro do rotor das turbinas selecionadas 3,1 m,

a distância entre uma turbina e outra, deve ser de 12,4 m. Dividindo o perímetro do

estádio pela distância necessária entre os equipamentos, é obtida a quantidade de

aerogeradores possíveis de serem instalados, 56.

Para aplicação da Equação 5 deve-se utilizar Frn=1, pois os dados aqui

trabalhados se referem apenas ao vento médio anual. Considera-se assim, que

ocorrem durante 100% do tempo. Consultando-se as especificações técnicas do

aerogerador, para descobrir qual sua potência quando trabalha nestas condições de

vento, encontra-se apenas que sua produção anual de energia, com ventos à 5 m/s,

é de 4.197 kWh. Contudo, ao se realizar uma divisão simples deste valor pela

quantidade de dias em um ano obtém-se sua capacidade de geração de energia

elétrica diária, 11,5 kWh. Dividindo-se este montante pelo número de horas de um

dia conclui-se que ele gera em torno de 419 Wh. Sendo assim, sua potência nesta

situação é de 419 W. Através da Equação 6, é determinado a potência total do

parque eólico instalado no estádio, enquanto a Equação 7 informa a capacidade de

geração mensal. Ambos os dados são indicados na Tabela 10.

Tabela 10 - Dados do parque eólico do estádio.

Potência de 1 aerogerador 0,419 kW

Número de aerogeradores 56

Potência do parque eólico 23,464 kW

Capacidade de geração mensal 16,834 MWh

Fonte: O autor (2012).

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33

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pode-se concluir que, apesar das partidas de futebol serem o principal

motivo da existência dos estádios, atualmente o consumo de eletricidade realizado

durante o evento representa uma parcela relativamente pequena no montante final.

Entretanto, o fato de grande parte deste consumo ocorrer durante o horário de ponta

impacta consideravelmente no custo da fatura de energia elétrica. Tendo em vista

que, com o advento das novas arenas multiuso, a tendência é de que haja um

aumento no consumo de eletricidade nos dias de jogos, principalmente fora do

horário de realização do evento, é de suma importância atentar-se para que estas

instalações sejam eficientes energeticamente em sua totalidade. Quanto ao uso das

fontes de energia alternativa abordadas, tem-se que a geração solar fotovoltaica

encontra plenas condições de atender tanto a demanda quanto o consumo da atual

instalação. Porém, como seu funcionamento ocorre apenas durante o dia, para um

estudo de viabilidade desta fonte interligada à rede depende-se ainda de regulação

normativa ou acordo com a concessionária local para definição de como tratar a

energia excedente, que não é consumida pelo estádio. Já a geração por energia

eólica tem um potencial reduzido, podendo atender entre 10% e 15% do consumo

mensal e ficando muito distante de atingir a demanda da instalação. Entretanto,

dado o momento, o qual grande atenção têm sido dada à sustentabilidade, um

estudo aprofundado do uso destes sistemas não deve se restringir a uma análise de

retorno direto do investimento pela economia na fatura de eletricidade, mas levar em

conta fatores sociais e de marketing.

6 AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, autor da vida, pelas condições dadas para

chegar até aqui. Deixo também meus agradecimentos à minha família e amigos por

todo auxílio e compreensão e ao Prof. Odilon Duarte pela orientação dedicada, não

apenas a este artigo.

7 REFERÊNCIAS

ALVAREZ, André Luiz Montero. Metodologia de Diagnóstico Energético: Fundamentos Básicos. Escola Politécnica da USP, São Paulo, [ca. 2000].

Page 34: Análise do Uso da Energia Elétrica em Estádios de Futebol - Tiago Marcante Pinto

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ANEXO A – CARACTERÍSTICAS ELÉTRICAS DO MÓDULO FOTOVOLTAICO

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ANEXO B – ESPECIFICAÇÕES DO AEROGERADOR