anÁlise do revestimento das fachadas do colÉgio … · 1. professor doutor na universidade...

14
ANÁLISE DO REVESTIMENTO DAS FACHADAS DO COLÉGIO SANTO AGOSTINHO E DA APLICABILIDADE DAS ARGAMASSAS COM MICA CORTIZO, EDUARDO CABALEIRO (1); GAUER, DANIELLA (2); MACHADO, LARISSA VECCHI (3) 1. Professor Doutor na Universidade Federal de Minas Gerais, Departamento de Tecnologia de Arquitetura e Urbanismo Rua Paraíba, 697, Funcionários, sala 319 CEP 30130-140, Belo Horizonte, Minas Gerais [email protected] 2. Bolsista voluntária na Universidade Federal de Minas Gerais, Departamento de Tecnologia de Arquitetura e Urbanismo Rua Paraíba, 697, Funcionários, sala 319 CEP 30130-140, Belo Horizonte, Minas Gerais [email protected] 3. Bolsista voluntária na Universidade Federal de Minas Gerais, Departamento de Tecnologia de Arquitetura e Urbanismo Rua Paraíba, 697, Funcionários, sala 319 CEP 30130-140, Belo Horizonte, Minas Gerais [email protected] RESUMO Este relatório tem como objetivo principal caracterizar a existência e estado físico das fachadas das edificações do colégio Santo Agostinho, das ruas Aimorés e Araguari, no bairro Santo Agostinho no Município de Belo Horizonte, em Minas Gerais. Concomitantemente, objetivou-se analisar a aplicabilidade de mica em argamassa de revestimento, tendo em vista que foram encontrados minerais, com possibilidade de serem micas, em parte de uma das fachadas do edifício. O método utilizado foi um estudo exploratório, em que foram realizadas visitas às obras análogas ao colégio, com o intuito de obtenção de material para estudo das patologias, causadas pela presença desse tipo de mineral na argamassa. A partir desse estudo, foi concluído que o uso da mica na restauração das fachadas do colégio Santo Agostinho não é recomendado, por causar a redução da vida útil do revestimento, que além de ir contra o conceito de Sustentabilidade, pode ser substituída por outros materiais menos prejudiciais, favorecendo, assim, ao meio ambiente e à saúde do revestimento. Palavras-chave: Colégio Santo Agostinho; Mica em Argamassas; Fachadas

Upload: duongminh

Post on 10-Nov-2018

222 views

Category:

Documents


1 download

TRANSCRIPT

Page 1: ANÁLISE DO REVESTIMENTO DAS FACHADAS DO COLÉGIO … · 1. Professor Doutor na Universidade Federal de Minas Gerais, Departamento de Tecnologia de Arquitetura e Urbanismo Rua Paraíba,

ANÁLISE DO REVESTIMENTO DAS FACHADAS DO COLÉGIO SANTO

AGOSTINHO E DA APLICABILIDADE DAS ARGAMASSAS COM MICA

CORTIZO, EDUARDO CABALEIRO (1); GAUER, DANIELLA (2); MACHADO,

LARISSA VECCHI (3)

1. Professor Doutor na Universidade Federal de Minas Gerais, Departamento de Tecnologia de Arquitetura e Urbanismo

Rua Paraíba, 697, Funcionários, sala 319 – CEP 30130-140, Belo Horizonte, Minas Gerais [email protected]

2. Bolsista voluntária na Universidade Federal de Minas Gerais, Departamento de Tecnologia de Arquitetura e Urbanismo

Rua Paraíba, 697, Funcionários, sala 319 – CEP 30130-140, Belo Horizonte, Minas Gerais [email protected]

3. Bolsista voluntária na Universidade Federal de Minas Gerais, Departamento de Tecnologia de Arquitetura e Urbanismo

Rua Paraíba, 697, Funcionários, sala 319 – CEP 30130-140, Belo Horizonte, Minas Gerais [email protected]

RESUMO

Este relatório tem como objetivo principal caracterizar a existência e estado físico das fachadas das edificações do colégio Santo Agostinho, das ruas Aimorés e Araguari, no bairro Santo Agostinho no Município de Belo Horizonte, em Minas Gerais. Concomitantemente, objetivou-se analisar a aplicabilidade de mica em argamassa de revestimento, tendo em vista que foram encontrados minerais, com possibilidade de serem micas, em parte de uma das fachadas do edifício. O método utilizado foi um estudo exploratório, em que foram realizadas visitas às obras análogas ao colégio, com o intuito de obtenção de material para estudo das patologias, causadas pela presença desse tipo de mineral na argamassa. A partir desse estudo, foi concluído que o uso da mica na restauração das fachadas do colégio Santo Agostinho não é recomendado, por causar a redução da vida útil do revestimento, que além de ir contra o conceito de Sustentabilidade, pode ser substituída por outros materiais menos prejudiciais, favorecendo, assim, ao meio ambiente e à saúde do revestimento.

Palavras-chave: Colégio Santo Agostinho; Mica em Argamassas; Fachadas

Page 2: ANÁLISE DO REVESTIMENTO DAS FACHADAS DO COLÉGIO … · 1. Professor Doutor na Universidade Federal de Minas Gerais, Departamento de Tecnologia de Arquitetura e Urbanismo Rua Paraíba,

4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação

Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro

1 INTRODUÇÃO

O estilo Art Déco, da década de 30 e 40, foi marcado pela utilização de pó-de-pedra nas

fachadas dos edifícios, dando um caráter decorativo, capaz de conferir cintilação à estrutura. O

revestimento consiste na substituição da areia por pó-de-pedra, que é um material resultante da

britagem de rochas, podendo conter partículas de mica.

Considerando a presença de mica nas fachadas do Colégio Santo Agostinho, do município de

Belo Horizonte, Minas Gerais, diante da necessidade de restauração delas, visto que foi

tombado pelo Conselho Deliberativo de Patrimônio Cultural de Belo Horizonte, em 2009, o foco

desse relatório é caracterizar a existência e estado físico das fachadas das edificações do

colégio e analisar a utilização de mica em argamassas de revestimento, o que pode ser

prejudicial à vida útil do material, aumentando a frequência de manutenções.

1.1 MICA

Mica, derivado do latim micare, cujo significado atribui-se a “brilho” característico desse mineral

(LOBATO, 2009, p. 03), termo também genericamente utilizado ao referenciar o grupo dos

minerais constituídos por silicatos tetraédricos hidratados de alumínio, potássio, sódio, ferro,

magnésio e lítio, cristalizados num sistema que confere à ela diferentes composições químicas

e propriedades físicas. A mica é composta por seis anéis interconectados responsáveis por

uma estrutura simétrica pseudo-hexagonal monoclínica ou triclínica com destacado plano de

clivagem paralelo às superfícies maiores, ou seja, as micas são compostas por lâminas de

silicatos. Sua estrutura se semelha à das esmectitas que, comparativamente, no entanto,

apresentam menor quantidade de cátions de compensação e maior quantidade de água entre

as lamelas, o que resulta na propriedade de inchamento, característica dessas argilas

(CAVALCANTE, 2005, p. 531-534).

O grupo das micas possui mais de 30 minerais e são classificados em verdadeiros, frágeis e de

intercamadas deficientes. São eles a moscovita, a biotita, a lepiodolita, a glauconita, a

paragonita, a flogopita, dentre outros e destacam-se a moscovita, ou mica branca, e a biotita,

mica preta, talvez por contar com maior gama de usos industriais, cuja primeira tem caráter

hidrofílico, ou seja, que tem afinidade com a água, e a segunda hidrofóbico, que tem aversão à

água. Todas as micas são compostas por lâminas de silicatos tetraédricos e, justamente estas

Page 3: ANÁLISE DO REVESTIMENTO DAS FACHADAS DO COLÉGIO … · 1. Professor Doutor na Universidade Federal de Minas Gerais, Departamento de Tecnologia de Arquitetura e Urbanismo Rua Paraíba,

4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação

Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro

lâminas de silicatos, permitem o desfolhamento do mineral em espessuras tão finas que podem

chegar a 1 (um) µm.

As características relevantes desse silicato são a fácil clivagem, que permite a separação em

lâminas muito finas, flexibilidade, baixa condutividade térmica e elétrica, baixa dureza (LEINZ,

V.; AMARAL. S. E. 1989) e resistência a mudanças abruptas de temperatura.

As propriedades das micas moscovitas, bem como suas diferentes distribuições

granulométricas, conferem a esse mineral inúmeras aplicações, das quais

destacam-se:

1. Reforço Mecânico em compostos poliméricos promovido pela alta

Razão de Aspecto, modificação das propriedades mecânicas isotrópicas;

2. Resistência Química às intempéries e a ataques químicos, protegido

pelos tetraedros de silicato de baixíssima reatividade;

3. Resistência Térmica pela sua estruturação atômica e pela sua

composição química gera uma estabilidade térmica até 110°C em resinas de

silicone;

4. Isolamento Elétrico devido à distância entre os cátions livres,

separados pelas camadas silicatos, isolantes naturais.

5. Revestimento Superficial em tintas industriais, promovendo cobertura e

fechamento do substrato, auxiliando a resina na proteção contra corrosão;

6. Pigmentos em tintas automotiva, mobiliária, eletro-eletrônicos, bicicletas,

etc., com propriedades superiores como estabilidade química, alto brilho e

efeito perolado promovido pelo aumento no ângulo de reflexão, maior pureza e

definição da cor.

7. Composto de Borracha promove a diminuição do índice de tempo de

cura, aumento da densidade de ligações cruzadas (melhor vulcanização),

aumento no módulo, aumento da rigidez, mas ocorre diminuição da resistência

à abrasão. (SENA, 2007)

1.2 A MICA NA ARGAMASSA

Ao longo do tempo, diferentes formas de ataques físicos, mecânicos, químicos e biológicos,

causam a deterioração dos revestimentos de argamassa e, geralmente, os problemas nesses

revestimentos se manifestam através de efeitos físicos nocivos, tais como, desagregação,

desprendimento, vesículas, manchamentos fissuração e aumento da porosidade e

permeabilidade (CARASEK, 2010), sendo necessária a sua manutenção.

Page 4: ANÁLISE DO REVESTIMENTO DAS FACHADAS DO COLÉGIO … · 1. Professor Doutor na Universidade Federal de Minas Gerais, Departamento de Tecnologia de Arquitetura e Urbanismo Rua Paraíba,

4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação

Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro

A deterioração das argamassas pode ser originada tanto por fatores externos ao revestimento,

como por causas internas à própria argamassa, como a má qualidade dos materiais

constituintes da argamassa, a composição (ou traço) da argamassa ou erros nos processos de

execução.

Os agregados devem ser escolhidos com cuidado, pois representam 60% a 80% dos materiais

da argamassa pronta e influenciam significativamente no desempenho dessa. Os problemas

dos revestimentos atribuídos as areias podem ser relacionadas a granulometria e a composição

química e mineralógica, com destaque à presença de impurezas, nessas ultimas se encaixam

as micas.

Por ser um mineral que se cristaliza em forma de lâminas delgadas, durante o sarrafeamento e

desempeno da argamassa, as placas de mica presentes podem se orientar paralelamente à

superfície da base, atuando como superfícies diminutas de deslocamento, reduzindo a

aderência no interior da massa ou na interface argamassa/substrato, causando esfoliação,

deslocamento do revestimento, desprendimento (FIGURA 1) e desagregação. (CARASEK,

2010)

Figura 1: Desprendimento do revestimento

Fonte: MILITO, p.197

Outro comportamento desse material é sua expansão em contato água, seja essa ascendente

por capilaridade ou incidente através de chuvas, o que pode ocasionar manchamentos ou pode

repercutir na quebra dos cristais responsáveis pela fixação da argamassa, causando também a

Page 5: ANÁLISE DO REVESTIMENTO DAS FACHADAS DO COLÉGIO … · 1. Professor Doutor na Universidade Federal de Minas Gerais, Departamento de Tecnologia de Arquitetura e Urbanismo Rua Paraíba,

4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação

Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro

perda de aderência e formação de vesículas (fístulas), que constituem pequenos buracos na

argamassa, devido ao desprendimento dos fragmentos de mica (FIGURA 2).

Figura 2: Vesícula no revestimento

Fonte: MILITO, p.196

Estes são dados como motivos para fácil danificação e desprendimento das camadas de tinta e

argamassa em fachadas históricas, o que exige frequente manutenção.

2 MATERIAIS E MÉTODOS

Para o estudo exploratório de obras análogas ao Colégio Santo Agostinho em Belo Horizonte,

Minas Gerais, foram realizadas duas visitas às edificações que servirão como embasamento

para esse relatório.

2.1 Edifício José Anchieta da Silva Advocacia – JASA

A casa que abriga a empresa José Anchieta da Silva Advocacia está localizada na Praça

Tiradentes, Avenida Brasil 1433, e possui revestimento com características que indicam a

presença de mica. Aparentemente possui argamassa tingida de vermelho ocre, argamassa em

cor natural e uma parte pintada em cinza. Apresenta fragmentos de minerais que conferem

cintilação à fachada, vesículas em diversos pontos (FIGURAS 3) e alguns locais de

deslocamento e desprendimento do revestimento (FIGURAS 4).

Page 6: ANÁLISE DO REVESTIMENTO DAS FACHADAS DO COLÉGIO … · 1. Professor Doutor na Universidade Federal de Minas Gerais, Departamento de Tecnologia de Arquitetura e Urbanismo Rua Paraíba,

4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação

Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro

Figura 3: Vesícula presente no revestimento

Fonte: retirada in loco

Figura 4: Destacamento do revestimento

Fonte: retirada in loco

2.2 Primeira Igreja Batista

O edifício da Primeira Igreja Batista, inaugurado em 1941, se localiza na Praça Raul Soares 203

e, também possui a cintilação em pequenos pontos, indicando a presença de mica. O

revestimento dessa fachada era, aparentemente, na cor original da argamassa e nele, também

foram encontrados vesículas em muitos pontos (FIGURA 5) e manchamentos (FIGURA 6).

Page 7: ANÁLISE DO REVESTIMENTO DAS FACHADAS DO COLÉGIO … · 1. Professor Doutor na Universidade Federal de Minas Gerais, Departamento de Tecnologia de Arquitetura e Urbanismo Rua Paraíba,

4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação

Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro

Figura 5: Vesículas no revestimento

Fonte: retirada in loco

Figura 6: Manchamentos no revestimento da fachada

Fonte: retirada in loco

2.3 Palácio Cristo Rei

O edifício do Palácio Cristo Rei, construído na década de 40, localizado na Praça da liberdade

263, apresentou bastantes pontos diminutos com cintilação ao longo de toda a sua fachada e

no muro em torno dele. Aparentemente, o revestimento está na cor natural da argamassa e

nele observamos as mesmas patologias: vesículas (FIGURA 7) e desprendimentos (FIGURA 8).

Page 8: ANÁLISE DO REVESTIMENTO DAS FACHADAS DO COLÉGIO … · 1. Professor Doutor na Universidade Federal de Minas Gerais, Departamento de Tecnologia de Arquitetura e Urbanismo Rua Paraíba,

4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação

Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro

Figura 7: Vesículas presentes no revestimento

Fonte: retirada in loco

Figura 8: Desprendimento do revestimento

Fonte: retirada in loco

Page 9: ANÁLISE DO REVESTIMENTO DAS FACHADAS DO COLÉGIO … · 1. Professor Doutor na Universidade Federal de Minas Gerais, Departamento de Tecnologia de Arquitetura e Urbanismo Rua Paraíba,

4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação

Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro

3 DESENVOLVIMENTO

Foram realizadas inspeções de campo nos dias 10/11/2014 a 12/11/2014, para identificar a

composição da estrutura do revestimento e acabamento do Colégio Santo Agostinho, bem

como anomalias presentes nesse. Essas anomalias encontradas foram: desprendimento ou

destacamento da argamassa de revestimento, que não foram consideradas graves e

aparentemente decorrem do uso e do tempo, e ainda a presença de vesículas. (MOTA, 2014)

Estudo de caso Colégio Santo Agostinho: fachadas das ruas Araguari e Aimorés

Figura 9: Fachadas Rua Araguari e Rua Aimorés

Fonte: Retirada in loco

O estudo em questão é embasado no processo de reforma da fachada do Colégio Santo

Agostinho, em Belo Horizonte, fundado em 1934 e, hoje, considerado patrimônio histórico.

Constatou-se que a edificação foi feita tendo como material de revestimento a argamassa

contendo mica, assim, em seu processo de restauração, foi exigido manter esse material. No

entanto, existem questionamentos a respeito da qualidade do processo de restauração caso

tais exigências sejam cumpridas.

As fachadas das Ruas Araguari e Aimorés (FIGURA 9) são bastante similares. Constituídas por

faixas horizontais pintadas em vermelho ocre com beirais na cor amarelo e, em torno da

entrada, existe uma estrutura maior que o restante da construção em cor azul claro, contendo,

também, o mesmo tipo de beirais.

Page 10: ANÁLISE DO REVESTIMENTO DAS FACHADAS DO COLÉGIO … · 1. Professor Doutor na Universidade Federal de Minas Gerais, Departamento de Tecnologia de Arquitetura e Urbanismo Rua Paraíba,

4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação

Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro

De acordo com o laudo da Elis Marina Mota, Bacharel em Conservação e Restauração de Bens

Culturais Móveis pela UFMG, que fez um estudo analisando as camadas estratigráficas na

fachada externa do Colégio Santo Agostinho, a pintura externa da fachada aponta uma

uniformidade de configurações, não sendo possível encontrar camadas de tinta antiga

subjacentes, apenas a camada nova (com textura) e suas camadas de preparação, onde foi

observada uma camada inferior à camada com textura de cor em tom parecido, possivelmente

um selador, seguido de base de preparação branca e em seguida o reboco. (MOTA, 2014)

(FIGURA 10)

Figura 10: Fachada em cor ocre apresentando as camadas de textura, o possível selador de

mesma cor, a base branca e o revestimento e fachada em cor azul apresentando as camadas

de textura, o possível selador de mesma cor, a base branca e o revestimento

Fonte: MOTA, Elis Marina, 2014

Ainda de acordo com o laudo, no revestimento da fachada da Rua Araguari, foram

encontrados, esporadicamente, pontos com brilho, que se adaptam às características de mica,

já citadas nesse relatório. Assim, é possível aferir que a mica esteja presente no revestimento,

entretanto, como não foi encontrada por toda a fachada, sua presença pode ser por mero acaso

ou mesmo esses minerais podem ser outros com características similares que estavam

presentes nas areias constituintes do agregado da argamassa. Foram encontradas muitas

patologias nessa fachada, como vesículas, desprendimentos (FIGURA 11) e deslocamentos do

revestimento.

Page 11: ANÁLISE DO REVESTIMENTO DAS FACHADAS DO COLÉGIO … · 1. Professor Doutor na Universidade Federal de Minas Gerais, Departamento de Tecnologia de Arquitetura e Urbanismo Rua Paraíba,

4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação

Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro

Por outro lado, ainda de acordo com o laudo, não foram encontrados indícios da presença de

mica na fachada da Rua Aimorés, apesar de também ocorrerem alguns desprendimentos e

deslocamentos de partes da argamassa em menor quantidade e não houve presença de

vesículas.

Figura 11: Vesícula e desprendimento do revestimento

Fonte: MOTA, Elis Marina, 2014

4 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Pode-se estratificar da análise dos resultados dos trabalhos explorativos que a fachada da Rua

Aimorés apresenta uma composição diferente da fachada da Rua Araguari. Os problemas

encontrados naquela da Rua Araguari caracterizam a impropriedade do uso de mica na

argamassa de revestimento, observação esta que corrobora com as afirmações de Carasek

(2010) e com as explorações das obras análogas já citadas.

O processo patológico decorrente do uso de mica já está verificado e consolidado no meio

científico, acadêmico e técnico. Pode-se comparar o uso de mica na argamassa com a gordura

de porco na culinária, que já foi muito utilizada antigamente, quando não eram conhecidos os

malefícios que ela causa à saúde, mas ainda existem aqueles dispostos de arcar com as

consequências de sua utilização. No caso da mica, seus malefícios, como deslocamentos,

desprendimentos e vesículas, são à saúde do revestimento, que apesar de ganhar certa

cintilação estética, tem sua vida útil diminuída, deteriorando-se com mais facilidade. Devido a

Page 12: ANÁLISE DO REVESTIMENTO DAS FACHADAS DO COLÉGIO … · 1. Professor Doutor na Universidade Federal de Minas Gerais, Departamento de Tecnologia de Arquitetura e Urbanismo Rua Paraíba,

4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação

Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro

esses malefícios, se faz necessário o aumento da frequência de manutenções, o que,

consequentemente, leva a um consumo maior de materiais para a reforma, indo contra o

preceito de Sustentabilidade, uma vez que, se fossem adotados novos métodos de

revestimento, a durabilidade da argamassa contribuiria para a saúde da construção e do meio

ambiente.

5 CONCLUSÃO

Por meio do relatado e das constatações visuais e técnicas a respeito do desempenho e da

durabilidade do revestimento das edificações, é conveniente afirmar que a utilização das micas

em argamassas não é recomendada. Tendo por base que é um material que causa diversos

problemas, diminuindo a vida útil do revestimento, pode se afirmar que o uso de mica na

restauração e recomposição não atende aos aspectos técnicos de durabilidade e

sustentabilidade. Recomenda-se a adoção de outros sistemas de revestimento, dentre eles

sugere-se:

pintura com pigmento brilhante;

argamassa com tingimento;

argamassa com pintura;

revestimento de pedra (granito).

A mica não é, dessa forma, o componente de revestimento mais recomendado para aplicação

em locais nos quais se pretende manter a integridade da fachada sob uma vida útil elevada.

Contudo a adoção do sistema deverá atender aos quesitos de restauração, histórico,

durabilidade, custo e manutenção do revestimento.

Page 13: ANÁLISE DO REVESTIMENTO DAS FACHADAS DO COLÉGIO … · 1. Professor Doutor na Universidade Federal de Minas Gerais, Departamento de Tecnologia de Arquitetura e Urbanismo Rua Paraíba,

4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação

Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro

REFERÊNCIAS

ArqBH: Guia de arquitetura online de Belo Horizonte - Colégio Santo Agostinho. Disponível em:

<http://www.arqbh.com.br/2010/03/colegio-santo-agostinho.html> Acesso em: 15 de Julho de

2015

CARASEK, Helena. Argamassas, Patologia das Argamassas de Revestimento. In:______

ISAIA, Geraldo Cechella (Org.). Materiais de Construção Civil e princípio de ciência e

engenharia de materiais., 2010. Vol. II, 2 ed. IBRACON.

CAVALCANTE, Patrícia M. T.; BALTAR, Carlos A. M.; SAMPAIO, João Alves. Mica, Rochas e

Minerais Industriais, 2005. Ed. Cetem. Disponível para download em:

<http://mineralis.cetem.gov.br/bitstream/handle/cetem/1082/25.MICA%20ok.pdf?sequence=1>

CORTIZO, Eduardo C.; Laudo de vistoria e relatório técnico, 2014.

Da LUZ, Adão B.; LINS, Fernando A. F. Rochas e Minerais Industriais: usos e especificações.

690p. CETEM/MCT. 2ª ed., Rio de Janeiro, 2008. 690p.

FARIAS, J.; MENEZES, R. R.; FERREIRA, H. S.; SANTANA, L. N. L.; NEVES, G. A.;

FERREIRA H. C. Estudo da durabilidade de argamassas alternativas contendo residuos.

TOPOS: Cerâmica, Vol 57. São Paulo, 2011. Disponível em:

<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0366-69132011000400004> Acesso

em: 10 de Julho de 2015.

Google Maps. Disponível em: < https://www.google.com.br/maps> Acessado em: 15 de julho de

2015

LEINZ, V.; AMARAL, S. E. Geologia geral. 11. ed. São Paulo: Nacional, 1989. 399p.

LOBATO, Emílio. A Mineração Brasileira - Relatório Técnico 51: Perfil da Mica. Ministério de

Minas e Energia - MME. J. Mendo Consultoria, 2009. P. 03.

Page 14: ANÁLISE DO REVESTIMENTO DAS FACHADAS DO COLÉGIO … · 1. Professor Doutor na Universidade Federal de Minas Gerais, Departamento de Tecnologia de Arquitetura e Urbanismo Rua Paraíba,

4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação

Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro

MILITO, José Antonio de. Técnicas de construção civil e construção de edifícios, 2011; cap. 9:

Manifestações, aspectos, causas prováveis e reparos em revestimentos. 333f. Notas de Aula.

Digitado.

MOTA, Elis Marina. Relatório Técnico de estudos estratigráficos. Belo Horizonte: 2014

NASCIMENTO, Gizela B.; CARVALHO JUNIOR, Antônio N.; GUMIERI, Adriana G.

Caracterização de argamassas de pó-de-pedra para restauração de fachadas no estilo art decó.

Revista Construindo. Faculdade de Engenharia e Arquitetura da Universidade FUMEC. Volume

3. Número 1. Belo Horizonte. JUN. 2011. Disponível em:

<http://www.fumec.br/revistas/construindo/article/view/1761>. Acesso em: 15 de Julho de 2015

PERONI, Rodrigo. Mineralogia - Estudo dos Minerais. 2003. Universidade Federal do Rio

Grande do Sul. Apostila. 11p.

SEGAT, Gustavo T. Manifestações Patológicas observadas em revestimentos de argamassas:

Estudo de caso em conjunto habitacional popular em Caxias do Sul (RS). Trabalho de

Conclusão de Mestrado. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Escola de Engenharia.

Porto Alegre, 2005.

SENA, Sila. Mica e o agalmatolito, 2007. Pesquisa Mineral. LAMIL Lage Minérios Ltda.

Disponível em: <http://www.paintshow.com.br/artigos/art_tec_mica.pdf> Acesso em: 15 de

Julho de 2015