anÁlise do livro o caso dos exploradores de cavernas

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Page 1: ANÁLISE DO LIVRO O CASO DOS EXPLORADORES DE CAVERNAS

INSTITUTO PARAIBANO DE ENSINO

CENTRO UNIVERSITÁRIO DE JOÃO PESSOA

CURSO DE BACHARELADO EM DIREITO

HALICIA KETTILY DE LIMA CLEMENTINO; IANNY CRISTINY DE AVELAR

BARBOSA TEIXEIRA; IGOR RIBEIRO DANTAS; JOHN VINICIUS DA SILVEIRA;

JULIANA TARGINO NÓBREGA; NAYANNE HERENA PEREIRA ABRANTES; RUI

BARBOSA MACIEL FILHO; TAYNÁH DO NASCIMENTO LIMA

ANÁLISE DA OBRA “O CASO DOS EXPLORADORES DE CAVERNAS”

JOÃO PESSOA – PB

2013.1

Page 2: ANÁLISE DO LIVRO O CASO DOS EXPLORADORES DE CAVERNAS

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.........................................................................................................3

2 RESUMO DA OBRA “O CASO DOS EXPLORADORES DE

CAVERNAS”...........................................................................................................5

3 ACUSANDO OS RÉUS PELA MORTE DE ROGER WHETMORE........................9

3.1 Da descrição do fato..............................................................................................9

3.2 Da apenação........................................................................................................10

4 REFERÊNCIAS.................................................................................................... .14

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1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho busca fazer uma análise do livro “O Caso dos

Exploradores de Cavernas”. Em seguida, busca fazer uma acusação¹ dos réus

(personagens do livro), que segundo o autor do livro, são responsáveis pela morte

seguida da prática de antropofagia² de Roger Whetmore como forma de

sobrevivência enquanto se encontravam presos numa caverna.

O livro foi escrito por Lon L. Fuller, que nasceu em 1906, na cidade de

Hereford no Texas. Formou-se em Economia em 1924 e em Direito em 1926, ambos

na universidade de Standford. Foi professor de Teoria do Direito e de Jurisprudência

em Harvard. Ganhou fama após a publicação do livro “O Caso dos Exploradores de

Cavernas” em 1949. Este foi e ainda é estudado e comentado por estudantes e

professores da área jurídica no mundo inteiro. Além da publicação desta obra, Fuller

publicou estudos sobre direito civil, filosofia e teoria do Direito. Defendia uma “versão

moderada do jusnaturalismo³ procedimental, indicando as condições sem as quais o

Direito deixa de ser correto e válido” (Wikipedia, 2012).

O livro “O Caso dos Exploradores de Cavernas” foi inspirado em dois casos

reais e que geraram polêmicas sobre a interpretação e aplicação do Direito Natural e

do Direito Positivo. Os casos inspiradores, U.S. v. Holmes (1842) e Regina v.

Duldley & Stephens (1884), tratam de naufrágios em alto mar deixando

sobreviventes que praticam a antropofagia em busca da sobrevivência. A presente

obra é uma forma de se introduzir o estudante de direito nas preocupações que

cercam o estudo daquela que é a mais importante ciência social, seja pelo seu papel

e escopo fundamental, sejam pela importância das demais em suas investigações,

caracterizando uma obra saudável e necessária.

Durante a análise do caso, percebemos o quão o Código Penal brasileiro é

vago quando se trata, por exemplo, da prática de antropofagia. Alguns

doutrinadores, como Bastos (2006) diz em seu artigo:

“Entendeu o legislador pátrio (e isto persiste em pleno século

XXI) de consignar, na Lei de Introdução ao Código Civil,

diretrizes sobre o preenchimento das lacunas. Dispõe o art. 4º :

_________¹ acusação: forma de análise solicitada pela professora da disciplina de Introdução ao Direito I.² antropofagia: prática de canibalismo entre o ser humano.³ jusnaturalista: conjunto de princípios e normas considerados primordiais e baseados na natureza humana, considerados anteriores à teoria jurídica. Direito Natural.

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“Quando a lei for omissa, o juiz decidirá de acordo com a

analogia, os costumes e os princípios gerais do direito”.

Se o princípio se estende aos demais ramos do direito não

mais se discute na doutrina. A Lei de Introdução ao Código

Civil, em razão da natureza de seus dispositivos, interessa a

todos os setores do direito e a eles se aplica indistintamente, a

menos que norma específica estabeleça de forma diversa.”

Logo, foi enfrentada dificuldade quanto à interpretação da fundamentação que

melhor se adequasse na acusação dos réus a luz do Direito Penal brasileiro, da

Declaração Universal dos Direitos Humanos (principalmente), da Constituição

Federal de 1988, Estatuto do Índio (Lei 6001/73) e do Direito Civil brasileiro.

No tópico seguinte deste trabalho, será apresentado um resumo sobre a obra

estudada, “O Caso dos Exploradores de Cavernas”. No terceiro tópico deste trabalho

será apresentada ficticiamente, uma acusação penal aos réus apontados pelo livro

de forma fundamentada, de acordo com a legislação vigente no Brasil atualmente,

com a visão da doutrina e da jurisprudência (quando possível) em relação à

antropofagia em casos extremos (por exemplo) e, fazer alguns comparativos com

casos reais que fizeram história no mundo, como é o caso semelhante que ocorreu

em 1884 quando aconteceu o naufrágio do iate La Mignonette (Regina v. Duldley &

Stephens). No quarto e último tópico, serão apresentadas as referências

bibliográficas pesquisadas para fundamentar a acusação do tópico três.

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2 RESUMO DO LIVRO “O CASO DOS EXPLORADORES DE CAVERNAS”

A obra relata a estória do resgate de cinco espeleólogos (exploradores de

cavernas) que ficam presos numa caverna durante uma expedição na cidade de

Newgarth após um deslizamento de terra, obstruindo assim a única entrada da

caverna conhecida pela equipe. Quando percebida essa situação por parte dos

espeleólogos, os mesmos aguardaram a chegada do resgate.

O resgate foi acionado quando as famílias dos exploradores perceberam que

eles não haviam voltado no tempo estimado, e assim, comunicaram a Sociedade

Espeleológica na qual os exploradores faziam parte. Todos os recursos disponíveis

da Sociedade Espeleológica foram usados para a grande operação de resgate que

fora montada diante entrada da caverna. Várias foram às tentativas de resgate pelo

fato da equipe de resgate encontrar dificuldades extremas. Em uma das frustradas

tentativas de resgate, dez operários morreram soterrados quando estavam limpando

a entrada da caverna.

Inicialmente, não era possível manter qualquer tipo de comunicação com

ninguém de fora da caverna. Foi então que, no vigésimo dia de prisão, os

exploradores recordam que haviam levado consigo uma máquina sem fio que era

capaz de estabelecer essa comunicação.

Quando estabelecida a comunicação, os espeleólogos receberam a

informação dos engenheiros que, em pelo menos dez dias, eles poderiam ser

libertados. Diante dessa situação, os espeleólogos solicitaram contatar um médico

que estivesse presente no grupo de resgate. Roger Whetmore, que se tornou uma

espécie de porta-voz do grupo, passou a informação para o médico sobre as

condições em que se encontravam naquele momento: quantidade de comida que

ainda havia disponível (ele e os companheiros sabiam que a quantidade era escassa

desde o primeiro dia de prisão). Whetmore pergunta ao médico se eles poderiam

sobreviver sem comida por durante dez dias, já que não estava disponível água,

animais ou vegetação que pudessem ser usados como fonte de hidratação e

alimentação, respectivamente. O médico então respondeu que havia poucas

chances de sobrevivência para eles. Passado um tempo, Whetmore novamente

solicita contatar com o médico perguntando a ele se seria possível sobreviverem se

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alimentando de carne humana de um deles. Com relutância, o médico responde

que sim.

Com essa resposta, Whetmore sugere e os outros concordam que o

sacrifício de um deles seja decidido através da sorte arremessando dois dados.

Após um tempo de análise sobre como seria o sorteio, decidem iniciar os

arremessos. Com receio, Whetmore desiste do sorteio e sugere que esperem por

mais uma semana pelo resgate. Os outros companheiros exigem a participação de

Whetmore no sorteio alegando “quebra de boa vontade” (traição). Os companheiros

de Whetmore iniciam os arremessos dos dados. Ao chegar à vez Whetmore, sem o

seu consentimento, os dados são arremessados e Whetmore é compelido de

levantar quaisquer objeções sobre o arremesso dos dados e os resultados. Assim

ele o fez. Whetmore então é morto e consumido por seus companheiros. Três dias

depois da morte de Whetmore (no 23º dia de prisão na caverna), a equipe de

resgate é informada da morte de Roger Whetmore.

Os espeleólogos são resgatados após trinta dias de prisão e tratados no

hospital por desnutrição e choque. Em seguida, eles são indiciados, julgados e

condenados à forca pela morte de Roger Whetmore. Mas, mesmo diante da decisão

do magistrado, todo o corpo de jurados e o juiz que presidiu o julgamento em

primeira instância enviam comunicação ao Chefe do Executivo para comutação

(substituição) da pena imputada para uma prisão de seis meses.

Neste momento do livro o autor faz uma breve pausa na narração da estória

tecendo comentários sobre o último ato do corpo de jurados e do juiz presidente do

julgamento: a apelação para o Chefe do Executivo sobre a absolvição ou

condenação dos réus segundo as normas vigentes em Commonwealth. Segundo

ele, por se tratar de um fato de delicado julgamento, é cabível apelação em Cortes

superiores para melhor entendimento da aplicabilidade da legislação vigente,

respeitando as margens do Direito Natural e do Direito Positivo.

Na volta à narração da estória, o autor apresenta o voto de cada Ministro da

Suprema Corte, iniciando com o voto do Ministro Foster. Este propõe a absolvição

dos réus baseando-se numa posição jusnaturalista, alegando que quando Whetmore

foi morto eles não se encontravam em um estado de sociedade civil, mas em um

estado natural e por isso a lei não poderia ser aplicada. A fundamentação de seu

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voto se dá na jurisdição onde o fato ocorreu e nas circunstâncias do ocorrido. Em

sua visão ele teoriza que qualquer grupo de pessoas reunido em um determinado

espaço territorial é capaz de impor ordem legal naquele espaço delimitando assim a

sua jurisdição. Alegou ainda que o fato ocorreu com o consentimento de todos que

estavam presos na caverna, inclusive da própria vítima.

Já o Ministro Tatting se mostrou totalmente contrário às alegações do

Ministro Foster. Tatting levanta questionamentos como: em qual momento os réus

estavam em estado natural; se estavam em estado natural, como seria a aplicação

da lei natural por eles Ministros. Mas, ao final de seu voto, se mostra completamente

confuso em relação a que decisão tomar diante de um caso que se mostra tão

delicado de ser analisado perante a moral e a legislação vigente naquele condado.

Diante dessa situação, o Ministro Tatting se declara incapaz de decidir sobre o caso

e pede despensa de seu voto, mesmo depois de questionado sobre sua decisão.

O Ministro Keen é completamente a favor da condenação dos réus alegando

que eles usaram de brechas na norma para defenderem-se. Keen destaca também

as dificuldades de se julgar o caso por existir muitos fatores que apontam falhas na

legislação de se distinguir os aspectos morais dos legais. Destaca também que não

é de competência do Chefe do Executivo proferir decisões judiciais quando já tenha

sido proferida, neste caso a condenação dos réus.

Por fim, o Ministro Handy tem seu voto inspirado em uma pesquisa de

opinião pública que foi realizada entre os moradores daquele condado sobre a

condenação ou não dos réus. A pesquisa apresentou resultado favorável à

absolvição dos réus (90% dos votos).

Os sobreviventes são processados e condenados à forca, pelo assassinato

de Roger Whetmore. Os acusados recorrem da decisão. Foram julgados então por

mais quatro juízes, que expuseram seus argumentos, deram dois votos a favor da

absolvição (Foster e Handy), um os condenou (Keen) e outro se recusou a participar

da decisão do caso (Tatting), contando com o voto do presidente do Tribunal de

Primeira Instância (Truepenny), dá-se o empate e a sentença condenatória foi

confirmada.

A suprema corte, estando igualmente dividida, a convicção e sentença do

Tribunal de apelações foi mantida. E foi ordenada a execução da sentença as

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06h00min da manhã de sexta, no dia 02 de abril de 4300 quando o carrasco foi

intimado a proceder com o enforcamento dos réus pelo pescoço até a morte.

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3. ACUSANDO OS RÉUS PELA MORTE DE ROGER WHETMORE

2.1 Da descrição do fato

No início de maio de 4299 cinco espeleólogos, que fazem parte de uma

organização intitulada de Sociedade Espeleológica, composta por pessoas

amadoras que resolvem explorar uma caverna de pedras calcárias, localizada na

cidade de Newgarth. Ao adentrar no interior da caverna, os exploradores são

surpreendidos com um desmoronamento de terra que provoca a obstrução da única

entrada conhecida da caverna.

Quando da falta dos exploradores por parte de seus respectivos familiares, o

resgate é acionado e uma espécie de “operação de guerra” é montada em frente a

esta entrada da caverna com a finalidade de resgatar os exploradores que estavam

presos ali.

A partir deste ponto, tudo que fora descrito abaixo está de acordo com a única

prova apresentada neste tribunal: o testemunho dos réus.

Passados vinte dias (ou seja, no vigésimo dia) da “prisão” dos exploradores

na caverna, segundo testemunhos apresentados pelos réus (única fonte de prova),

foi recordado que um equipamento sem fio capaz de transmitir mensagens foi levado

por eles na expedição. Rapidamente, este equipamento foi ligado possibilitando o

sucesso na comunicação com a equipe de resgate que se encontrava no exterior da

caverna.

O Senhor Roger Whetmore (a vítima do caso), tomou para si a posição de

porta-voz do grupo de exploradores presos na caverna e iniciou a comunicação com

a equipe de resgate perguntando a um dos engenheiros qual seria a previsão de

resgate. Este mesmo engenheiro respondeu-lhe que, em no máximo dez dias, o

grupo poderia ser resgatado. Em seguida, o Sr. Whetmore solicitou um médico para

que pudesse ter conhecimento sobre as chances de sobrevivência do grupo diante

daquela situação. Era sabido pelo grupo, que a quantidade de comida levada para a

expedição não era o suficiente para uma situação imprevisível como essa. Ainda

assim, o S.r. Whetmore informou ao médico sobre suas rações4 e em seguida

perguntou a este se era possível eles sobreviverem sem comida por dez dias. O

médico afirmou que havia poucas possibilidades de sobrevivência.

_________4 rações: porção de alimento

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Passado oito horas, o S.r. Whetmore solicita comunicar-se com o médico

novamente. Desta vez, aquele pergunta se há chance deles sobreviverem

alimentando-se de carne humana. Com relutância, o médico responde que sim.

Diante dessa informação, o Sr. Whetmore sugere que um deles seja

sacrificado para servir de alimento para o restante do grupo. Sugere ainda, que a

escolha se dê através do arremesso de dados. Após discursões ao redor da

sugestão do Sr. Whetmore, ficou acordado entre todos os exploradores como se

daria a computação os resultados. Antes de iniciarem os arremessos dos dados, o

S.r. Whetmore desiste da ideia e sugere que todos esperem pelo sucesso do

resgate por mais uma semana. Seus companheiros acusam-no de quebra de

contrato e iniciam o arremesso dos dados. Ao chegar à vez do Sr. Whetmore, os

dados são arremessados por um dos exploradores e todos inquirem o Sr. Whetmore

alegando que o mesmo não teria o direito de levantar quaisquer objeções sobre a

justiça do arremesso e seu respectivo resultado.

O Sr. Whetmore é morto e sua carne é consumida por seus companheiros.

2.2 Da apenação

Diante do fato narrado pelos réus, o Ministério Público apela a Vossa

Excelência pela condenação dos réus fundamentando-se de acordo com a análise

apresentada abaixo.

a) Pessoas amadoras: como é possível que espeleólogos decidam realizar

expedição em uma caverna sem a presença de alguém que tenha mais

experiência sobre o assunto? Este ato se mostra de inteira

irresponsabilidade por parte de toda a organização intitulada de

“Sociedade Espeleológica”.

b) Por toda essa organização ser composta por pessoas amadoras, elas não

tiveram a capacidade de encontrar outra saída da caverna, já que segundo

eles, aquela que fora obstruída era a única conhecida pela equipe.

c) Quanto à quantidade de ração levada para a expedição, se torna mais um

por menor que demonstra a falta de experiência dos exploradores. Diante

desse, fica a pergunta: por que ainda no vigésimo dia de “prisão” eles não

fizeram o racionamento da comida?

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d) Que nível de experiência possui o médico que afirma que havia poucas

possibilidades de sobrevivência deles diante daquelas circunstâncias

quando temos pesquisas realizadas pela sociedade científica afirmando

que uma pessoa pode sobreviver sem ingerir alimento e líquidos por, pelo

menos trinta dias. Além das pesquisas científicas, há casos reais de

pessoas que sobreviveram sem nenhuma ingestão de alimento ou líquido

como é o caso do ativista Barry Horne (na época com dezoito anos) que

em 1998 passou quarenta e nove dias comida. Outro caso que é cabível

citar no momento é o do estudante James Scott, na época com vinte e

dois anos, se perdeu a caminho do Nepal após uma tempestade. Este

conseguiu sobreviver durante quarenta e três dias se alimentando apenas

de uma lagarta e de bolas de neve derretidas.

e) No momento em que os quatro réus inquiriram a vítima sobre ela levantar

quaisquer objeções em relação ao arremesso dos dados e seus

resultados, aqueles feriram o que o Art. 121, § 2º, inciso IV do Código

Penal (Decreto-Lei 2.848/40) que versa:

“Art. 121 Matar alguém:§ 2º Se o homicídio é cometido:IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível à defesa do ofendido;”

f) A prática de antropofagia no Brasil não pode ser considerada crime

quando praticada por índios considerados inimputáveis. Segundo a Carta

Magna de 1988, em seu Art. 231, caput:

“São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens.”

Ainda no Estatuto do Índio (Lei 6001/73), temos os seguintes ditames:

Art. 4º Os índios são considerados:

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I - Isolados - Quando vivem em grupos desconhecidos ou de que se possuem poucos e vagos informes através de contatos eventuais com elementos da comunhão nacional;(...)Art. 7º Os índios e as comunidades indígenas ainda não integrados à comunhão nacional ficam sujeito ao regime tutelar estabelecido nesta Lei.

§ 1º Ao regime tutelar estabelecido nesta Lei aplicam-se no que couber, os princípios e normas da tutela de direito comum, independendo, todavia, o exercício da tutela da especialização de bens imóveis em hipoteca legal, bem como da prestação de caução real ou fidejussória.(...)Art. 8º São nulos os atos praticados entre o índio não integrado e qualquer pessoa estranha à comunidade indígena quando não tenha havido assistência do órgão tutelar competente.

Parágrafo único. Não se aplica a regra deste artigo no caso em que o índio revele consciência e conhecimento do ato praticado, desde que não lhe seja prejudicial, e da extensão dos seus efeitos.”

Portanto, não é cabível o disposto no Art. 23, do Código Penal por não se

encontrar justificativa plausível para o sacrifício de alguém em detrimento da vida de

outros.

Para fundamentarmos ainda mais nossa apelação, cito como referência de

jurisprudência, mesmo que a legislação da época e da localidade não seja a mesma

vigente em nosso país, os seguintes casos: Voo da Força Aérea do Uruguai em

1972 e o La Mignonette em 1884.

No primeiro, os sobreviventes do voo não praticou antropofagia em seu

sentido literal. Eles alimentaram-se da carne humana de pessoas que já haviam

morrido por desnutrição. O ato de comer carne humana é tão repugnante para a

sociedade (hoje ainda o é) que as autoridades uruguaias pediram sigilo sobre como

eles conseguiram sobreviver diante das circunstâncias do fato.

Já no segundo, após o naufrágio do iate La Mignonette, os sobreviventes

que estavam em um bote salva-vidas em alto mar, praticou a antropofagia em seu

sentido literal. Este caso se torna ainda mais grave que o caso que está sendo

analisado neste momento, quando um dos sobreviventes é morto

surpreendentemente e sua carne servida de alimento para os demais. O juiz

responsável por esse caso deu a seguinte declaração:

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"Conservar a própria vida é, falando em geral, um dever: mas sacrificá-la pode ser o mais claro e alto dever. A necessidade moral impõe deveres dirigidos não à conservação mas ao sacrifício da sua vida pelos outros. Não é justo dizer que há uma incondicionada e ilimitada necessidade de conservar a própria vida. Necesse est ut eam, non ut viram (é necessário que eu caminhe, não que eu viva) disse Lord Bacon. Quem deve julgar o estado de necessidade? Com que critério deve ser medido a relação de valor entre as diversas vidas humanas? O critério é o da força física, o intelecto ou outro? É claro que este princípio deixa a favor de quem é invocado, decidir sobre o estado de necessidade que deve justificá-lo, para tirar a vida de outrem e salvar a própria. "

Logo, pede-se condenação dos réus baseando nos seguintes dispositivos:

Art. 5º, caput da Carta Magna de 1988; Art. 121, § 2º, incisos II e IV do Código Penal

sob pena de trintas anos e; Art. 212 do Código Penal sob pena de três anos mais

uma multa de sete salários mínimos a serem pagos a família da vítima, somando

assim, uma pena de trinta e três anos de reclusão em regime fechado.

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REFERÊNCIAS

CUNHA, Rogério Sanches. Código Penal para Concursos. São Paulo: JusPodivm. 2012.

GHX Comunicação. Por quanto tempo podemos sobreviver sem comer? Veja casos. 2012. Disponível em: <http://noticias.terra.com.br/educacao/voce-sabia/por-quanto-tempo-podemos-sobreviver-sem-comer-veja-casos,c718aaccde6da310VgnCLD200000bbcceb0aRCRD.htmt>. Acesso em: 26 fev. 2013.

GRECO, Rogério. Código Penal Comentado. Niterói: Impetus. 2009.

SOS Estagiários. Caso Mignonette: Estado de necessidade. 2008. Disponível em: <http://www.sosestagiarios.com/decisoespolemicasler.php?iddeci_polemicas=1>. Acesso em: 26 fev. 2013.

WIKIPEDIA. Lon Fuller. 2012. Disponível em: < http://pt.wikipedia.org/wiki/Lon_Fuller>. Acesso em: 26 fev. 2013.