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ELERSON CARLOS COSTALONGA Análise do efeito do ácido valpróico no modelo experimental de fibrose peritoneal em ratos São Paulo 2017 Tese apresentada à Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo para a obtenção do título de Doutor em Ciências Programa de Nefrologia Orientadora: Profa. Dra. Irene de Lourdes Noronha

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ELERSON CARLOS COSTALONGA

Análise do efeito do ácido valpróico no modelo

experimental de fibrose peritoneal em ratos

São Paulo

2017

Tese apresentada à Faculdade de Medicina da

Universidade de São Paulo para a obtenção do título de

Doutor em Ciências

Programa de Nefrologia

Orientadora: Profa. Dra. Irene de Lourdes Noronha

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Preparada pela Biblioteca da

Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo

reprodução autorizada pelo autor

Costalonga, Elerson Carlos

Análise do efeito do ácido valpróico no modelo experimental de fibrose

peritoneal em ratos / Elerson Carlos Costalonga. -- São Paulo, 2017.

Tese(doutorado)--Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

Programa de Nefrologia.

Orientador: Irene de Lourdes Noronha.

Descritores: 1.Diálise peritoneal 2.Fibrose peritoneal 3.Ácido valpróico

4.Histona desacetilases 5.Fator de crescimento transformador beta 6.Ratos Wistar

USP/FM/DBD-314/17

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Este trabalho foi desenvolvido no Laboratório de Nefrologia Celular,

Genética e Molecular – Laboratório de Investigação Médica 29, Disciplina

de Nefrologia, Departamento de Clínica Médica, da Faculdade de Medicina

da Universidade de São Paulo, com apoio financeiro da CAPES através de

concessão de bolsa.

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Aos meus exemplos de vida, de onde eu tirei força para

concluir essa jornada, minha mãe, meu pai

e minha querida irmã.

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AGRADECIMENTOS

Aos meus pais, Elida e José Carlos, agradecimentos não bastam para retribuir por todo

esforço para me proporcionar condições de chegar até aqui. À minha mãe, professora e

pesquisadora de alma, filósofa nas horas vagas, com quem aprendi a ter prazer no

aprendizado e no saber, puro e simples. Ao meu pai, que com seu dia a dia na

marcenaria e suas atitudes me ensinou que trabalhar duro e humildemente é o caminho a

ser seguido, pelo menos, sem dúvida, é o meu.

À minha irmã Everlayny, meu maior exemplo de dedicação e bondade, minha principal

influência para eu seguir esse caminho.

À minha esposa, obrigado pelo companheirismo, por cuidar de mim e por fazer minha

vida mais alegre.

À Professora Dra Irene Noronha, pela liberdade para desenvolviver minhas idéias, pelo

incentivo de tentar sempre fazer a mais e por ter me ensinado a valorizar os detalhes.

Agradeço tanto as orientações no doutorado quanto na “vida de médico”.

Imenso obrigado a todos do LIM 29 que de alguma forma contribuíram para o

desenvolvimento desse trabalho, em especial à Cleo, Priscila, Margoth e ao Rafael pela

ajuda na execução e discussão dos experimentos. Ao Filipe Miranda, que atualmente

não faz mas parte do time, mas que esteve presente em praticamente todas as etapas

desse trabalho.

Page 6: Análise do efeito do ácido valpróico no modelo ... · Este trabalho foi desenvolvido no Laboratório de Nefrologia Celular, Genética e Molecular – Laboratório de Investigação

Às alunas de iniciação científica, Deise e Luiza Justini, que em muitos momentos foram

meus dois braços no laboratório, agradeço muito a dedicação e comprometimento de

ambas. Espero que tenha conseguido ensinar algo a vocês, biologia molecular que não

foi...

Não poderia deixar de lembrar de pessoas importantes na minha formação como médico

e incentivadores para os meus primeiros passos na pesquisa dentro do HCFMUSP. Dr

Luis Estevam Ianhez, exemplo de liderança tão em falta hoje em dia e primeiro

incentivador durante a residência para realização pesquisa científica e Dra Viktoria

Woronik com quem aprendi a transformar as dúvidas do dia a dia em trabalhos

científicos “simples” mas muito relevantes para o cuidado com os nossos pacientes.

Essa tese de doutorado encerra um capítulo de anos de dedicação aos estudos e à

medicina. Agradeço a todos que de alguma maneira me ajudaram ou atrapalharam, tudo

na vida é aprendizado.

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“A instrução liberta”

Fiódor Dostoiévski

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Esta tese está de acordo com as seguintes normas, em vigor no momento desta publicação:

Referências: adaptado de International Committee of Medical Journals Editors (Vancouver).

Universidade de São Paulo. Faculdade de Medicina. Divisão de Biblioteca e Documentação.

Guia de apresentação de dissertações, teses e monografias. Elaborado por Anneliese

Carneiro da Cunha, Maria Julia de A. L. Freddi, Maria F. Crestana, Marinalva de Souza Aragão,

Suely Campos Cardoso, Valéria Vilhena. 3a ed. São Paulo: Divisão de Biblioteca e

Documentação; 2011.

Abreviaturas dos títulos dos periódicos de acordo com List of Journals Indexed in Index

Medicus.

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SUMÁRIO

Lista de Figuras

Lista de Tabelas

Lista de Siglas

Lista de Símbolos

Resumo

Summary

1. Introdução .......................................................................................................................... 1

1.1. Histórico da diálise peritoneal........ ................................................................................................ 2

1.2 Diálise peritoneal – Epidemiologia ....................................................................................... 4

1.3. Anatomia e fisiologia da membrana peritoneal .................................................................... 5

1.4. Modificações da membrana peritoneal durante a diálise peritoneal............................................... 8

1.4.1. Alterações no transporte de solutos e ultrafiltração ......................................................... 9

1.4.2. Inflamação e neoangiogênese.................................................................................. 10

1.4.3. Fibrose peritoneal .................................................................................................. 12

1.5. Peritonite esclerosante encapsulante...................................................................................... 16

1.6. Modelo experimental de fibrose peritoneal........................................................................... 17

1.7. Histona desacetilases e a fibrogênese ............................................................................................. 19

1.8. Ácido valpróico (VPA) ................................................................................................................. 23

2. Racional..................................................................................................................... 26

3. Objetivos ............................................................................................................................. 28

4. Materiais e Métodos .......................................................................................................... 30

4.1. Animais ......................................................................................................................................... 31

4.2. Modelo experimental ...................................................................................................................... 31

4.3. Administração do ácido valpróico .................................................................................................. 31

4.4. Grupos experimentais e desenho do estudo ................................................................................... 32

4.5. Análise da espessura da membrana peritoneal ............................................................................... 33

4.5.1. Coloração Tricrômio de Masson.......................................................................... 33

4.5.2. Histomorfometria................................................................................................... 34

4.6. Imuno-histoquímica ...................................................................................................................... 34

4.6.1. Macrófagos .................................................................................................................... 34

4.6.2. Miofibroblastos .............................................................................................................. 36

4.6.3. Smad3 fosforilada ........................................................................................................... 37

4.7. Imunofluorescência................................................................................................................ 39

4.7.1. Smad7...................................................................................................................... 39

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4.7.2. Isolectina-B4 ........................................................................................................... 39

4.7.3. Quantificação da densidade capilar da membrana peritoneal................................ 40

4.8. Expressão de citocinas no peritôneo por Multiplex............................................................... 40

4.9. PCR em tempo real................................................................................................................ 41

4.9.1. Extração de RNA................................................................................................... 41

4.9.2. Síntese de cDNA.................................................................................................... 42

4.9.3. PCR em tempo real................................................................................................ 42

4.10. Análise da função peritoneal................................................................................................ 44

4.11. Análise estatística ......................................................................................................................... 45

5. Resultados........................................................................................................................... 46

5.1. Mortalidade e evolução do peso dos animais ................................................................................. 47

5.2. O VPA preveniu a fibrose peritoneal e preservou a função peritoneal .......................................... 48

5.3. O VPA atenuou o aumento da expressão de fatores pró-fibróticos e e miofibroblastos no

peritôneo.....................................................................................................................................

50

5.4. O VPA protegeu contra a fibrose peritoneal interferindo na via TGF-β/Smad...................... 54

5.5. O VPA reduziu a inflamação e neoangiogênese da membrana peritoneal............................ 59

5.5.1. Inflamação ...................................................................................................................... 59

5.5.2. Neoangiogênese...................................................................................................... 64

6. Discussão............................................................................................................................. 66

7. Conclusão ........................................................................................................................... 74

8. Referências ......................................................................................................................... 76

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Lista de figuras

Figura 1. Proporção de pacientes em diálise peritoneal em relação ao total de pacientes

dialíticos…………….. ..................................................................................... 5

Figura 2. Estrutura da membrana peritoneal .................................................................... 6

Figura 3. Modificações da membrana ao longo da diálise peritoneal .............................. 8

Figura 4. Mecanismos envolvidos nas modificações da membrana peritoneal induzidas

pela diálise peritoneal .................................................................................... 11

Figura 5. Via de sinalização TGF-β/Smad. .................................................................... 15

Figura 6. Evolução para peritonite esclerosante encapsulante. ...................................... 16

Figura 7. Controle da conformação da cromatina. ......................................................... 20

Figura 8. Papel dos inibidores das histona desacetilases na fibrose ............................... 21

Figura 9. Estrutura química do ácido valpróico ............................................................. 23

Figura 10. Desenho do estudo ......................................................................................... 32

Figura 11. Efeito do VPA no espessamento da membrana peritoneal. ........................... 49

Figura 12. Expressão de genes pró-fibróticos e BMP-7 no peritôneo. ............................ 52

Figura 13. Efeito do VPA na expressão de miofibroblastos na membrana peritoneal ... 54

Figura 14. Efeito do VPA na expressão peritoneal de Smad3 fosforilada (pSmad3) e

mRNA Smad3 ............................................................................................... 55

Figura 15. Expressão de Smad7 na membrana peritoneal. .............................................. 58

Figura 16. Infiltração da membrana peritoneal por macrófagos ..................................... 61

Figura 17. Concentração de fatores quimiotáticos para macrófagos no peritôneo .......... 62

Figura 18. Expressão gênica e concentração das citocinas pró-inflamatórias na

membrane peritoneal ..................................................................................... 63

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Figura 19. Densidade capilar e expressão gênica do VEGF na membrana

peritoneal ....................................................................................................... 64

Figura 20. Possível efeito do VPA sobre a degradação da Smad7 .................................. 71

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Lista de tabelas e quadros

Tabela 1. Efeitos dos inibidores das histona desacetilases na fibrose. ............................ 22

Tabela 2. Primers utilizados para os experimentos de PCR em tempo real. ................... 43

Tabela 3. Evolução do peso dos animais. ........................................................................ 47

Tabela 4. Quantificação da espessura da membrana peritoneal. ..................................... 48

Tabela 5. Análise da função da membrana peritoneal. .................................................... 50

Tabela 6. Expressão gênica de fatores pró-fibróticos e BMP-7 no peritôneo. ................ 51

Tabela 7. Quantificação da expressão de miofibroblastos (α-SMA) no peritôneo .......... 53

Tabela 8. Expressão gênica da Smad3 e quantificação das células positivas para Smad3

fosforilada no peritôneo.. ............................................................................... 56

Tabela 9. Expressão gênica e proporção de células marcadas para Smad7 no

peritôneo.... ..................................................................................................... 57

Tabela 10. Quantificação dos macrófagos e densidade capilar na membrana

peritoneal.... ................................................................................................... 60

Tabela 11. Análise da concentração de quimiocinas de macrófagos e citocinas pró-

inflamatórias no tecido peritoneal ................................................................. 60

Tabela 12. Expressão gênica de citocinas pró-inflamatórias ........................................... 62

Tabela 13. Expressão gênica do VEGF ........................................................................... 65

Quadro 1. Resumo dos mecanismos de ação do ácido valpróico na prevenção da fibrose

peritoneal experimental... .............................................................................. 73

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Lista de Siglas

AEC Aminoetilcarbazol

BMP Bone-Morphogenic Protein

cDNA DNA complementar

CAPD Diálise peritoneal ambulatorial contínua

CT Threshold Cycle

CTGF Connective tissue growth factor

dATP Deoxyadenosine triphosphate

dCTP Deoxycytidine triphosphate

dGTP Deoxyguanosine triphosphate

DAPI 4,6-diamidino-2-fenilindol

DP Diálise peritoneal

DRC Doença renal crônica

DTT Dithiothreitol

dTTP Deoxythymidine triphosphate

EMT Epithelial-Mesenchymal Transition

EUA Estados Unidos da América

FITC isotiocianato de fluoresceína

FSP-1 Fibroblast Specific Protein-1

FP Fibrose Peritoneal

GC Gluconato de clorexidina

GDP Produtos de degradação da glicose

HAT Histona acetiltransferase

HD Hemodiálise

HDAC Histona desacetilase

HDACi Inibidor da histona desacetilase

HGF Hepatocyte Growth Factor

IF Imunofluorescência

IH Imuno-histoquímica

IL-1β Interleucina 1β

IL-6 Interleucina 6

iHDAC Inibidor das Histona desacetilases

LSAB-AP Labeled Streptavidin-Biotin Alcaline Phosphatase

MCP-1 Monocyte Chemoattractant Protein-1

MEC Matriz extracelular

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MgCl2 Cloreto de Magnésio

MIP-2 Macrophage inflammatory protein-2

M-MLV Moloney Murine Leukemia Virus

MP Membrana peritoneal

mRNA RNA mensageiro

pb pares de base

PBS Phosphate buffered saline

PCR-RT Reação em cadeia de polimerase em tempo real

PEE Peritonite esclerosante encapsulante

PET Teste de equilíbrio peritoneal

pH Potencial de hidrogênico

pmp por milhão de população

RNA Ribonucleic Acid (ácido ribonucleico)

RPM Rotações por minuto

SAHA Ácido hidroxâmico suberoilanilida

SMA Smooth muscle actin

TBS Tris buffered saline

TGF-β Transforming Growth Factor beta

TNF-α Tumor Necrosis Factor-alfa

TTSP Taxa de transporte de soluto peritoneal

Tris 2-Amino-2-hydroxymethyl-propane-1,3-diol

Tris-HCL TRIS hydrochloride

TβR Transforming Growth Factor beta Receptor

UF Ultrafiltração

VEGF Vascular endothelial growth factor

VPA Ácido valpróico

vs Versus

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Lista de símbolos

cél/mm2 Células por milímetro quadrado

cm2

Centímetro quadrado

dL decilitro

Delta

g Grama

°C Graus centígrados

kg Kilograma

L Litro

µg Micrograma

µL Microlitro

mg Miligrama

mL Mililitro

M Molar

nM nanoMolar

% Porcentagem

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RESUMO

Costalonga EC. Análise do efeito do ácido valpróico no modelo experimental de fibrose

peritoneal em ratos [Tese]. São Paulo: Faculdade de Medicina, Universidade de São

Paulo; 2017.

Pacientes submetidos por longos períodos à diálise peritoneal (DP) podem evoluir com

fibrose e redução da capacidade de ultrafiltração da membrana peritoneal (MP). Essas

alterações da MP são desencadeadas pela exposição prolongada às soluções de diálise

peritoneal, peritonites de repetição e irritantes químicos que induzem inflamação,

neoangiogênese e fibrose da MP. A ativação da via Transforming Growth Factor (TGF-

β)/Smad é um fundamental mecanismo mediador da fibrogênese peritoneal. Sendo

assim, drogas que inibam a via TGF-β/Smad são de especial interesse no tratamento da

FP. O ácido valpróico (VPA) é um inibidor das histona desacetilases (iHDAC), enzimas

que regulam a conformação da cromatina e a expressão gênica, com atividade anti-

inflamatória e antifibrótica. O presente estudo tem como objetivo principal avaliar o

efeito do VPA em um modelo experimental de fibrose peritoneal em ratos. Vinte e

quatro ratos Wistar machos (peso inicial de 280 - 320g) foram dividos em 3 grupos

experimentais: CONTROLE (n=8), animais normais que receberam injeções de salina

intraperitoneal (IP); FP (n=8), animais que recereberam injeções IP de gluconato de

clorexidina (GC) diariamente por 15 dias para indução de fibrose peritoneal; FP+VPA

(n=8), animais com FP e tratados com VPA. O ácido valpróico (300mg/kg) foi

administrado por gavage diariamente por 15 dias, simultaneamente à indução de fibrose

peritoneal. Ao fim dos experimentos, amostras do tecido peritoneal foram coletadas

para realização de histologia, imunho-histoquímica (IH), imunofluorescência (IF) e

biologia molecular. A análise da MP dos animais do grupo FP revelou um espessamento

significativo da camada submesotelial devido ao acúmulo de matriz extracelular e

infiltrado inflamatório. O tratamento com VPA foi capaz de prevenir significativamente

o espessamento da MP, mantendo a espessura do peritôneo do grupo FP+VPA similar a

do grupo CONTROLE. Com relação à função peritoneal, a administração de VPA

evitou a queda da ultrafiltração e aumento do transporte peritoneal de glicose induzidos

pelo GC. Além disso, o VPA impediu o aumento da expressão de miofibroblastos e de

fatores associados à fibrose (TGF-β, FSP-1 e fibronectina) induzidos pelo GC.

Interessantemente, o VPA reduziu de maneira significativa a expressão da Smad3,

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mediador intracelular crítico da sinalização TGF-β/Smad, em relação ao grupo FP. Por

outro lado, os animais tratados com VPA apresentaram um aumento da expressão

peritoneal de fatores antifibróticos como a BMP-7 e Smad7, proteínas que

contrarregulam as ações do TGF-β. Além de atenuar a fibrose peritoneal, o VPA

apresentou efeitos anti-inflamatório e antiangiogênico, demonstrado pela menor

expressão de citocinas pró-inflamatórias, fatores quimiotáticos para macrófagos (MCP-

1) e VEGF no grupo FP+VPA quando comparado ao grupo FP. Em resumo, o VPA foi

capaz de bloquear o espessamento por fibrose da MP e preservar a sua função, além de

proteger o peritônio contra a neoangiogênese e inflamação. Além disso, o VPA induziu

um aumento da expressão de fatores antifibróticos na MP. Os resultados apresentados

neste trabalho chamam a atenção para mecanismos envolvidos nas modificações da MP

induzidas pela DP ainda pouco explorados e que podem constiuir potenciais alvos na

prevenção do desenvolvimento da fibrose peritoneal associada à DP.

Descritores: Diálise peritoneal; Fibrose peritoneal; Ácido valpróico; Histona

desacetilases; Fator de crescimento transformador beta; Ratos Wistar.

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SUMMARY

Costalonga EC. Analysis of the effect of valproic acid in the experimental model of

peritoneal fibrosis in rats [Thesis]. São Paulo: “Faculdade de Medicina, Universidade

de São Paulo”; 2017.

Long term peritoneal dialysis (PF) can induce peritoneal fibrosis and loss of

ultrafiltration capacity of peritoneal membrane (PM). These peritoneal changes are due

to prolonged exposure to peritoneal dialysis solutions, chemical irritants and acute

peritonitis episodes that induce inflammation, neoangiogenesis and PM fibrosis. The

Transforming Growth Factor (TGF-β) is the main mediator involved in the development

of peritoneal fibrosis. Thus, drugs that inhibit the TGF-β/Smad pathway or

inflammation are of particular interest in the treatment of PF. Valproic acid (VPA) is an

histone deacetylase (HDAC) inhibitor. HDACs are enzymes that regulate chromatin

conformation and gene expression. Recent studies have described HDACi as promising

drugs in the treatment of inflammatory and fibrotic diseases. The main aim of this study

was to evaluate the effect of VPA in an experimental model of peritoneal fibrosis in

rats. Twenty four Wistar rats (initial weight of 280-320g) were divided into three

experimental groups: CONTROL (n = 8), normal animals that received only saline ip;

FP (n = 8), peritoneal fibrosis was induced by daily Gluconate Clorhexedine (GC)

intraperitoneal (IP) injections for 15 days; FP+VPA (n = 8), animals with peritoneal

fibrosis and treated with VPA. Daily valproic acid (300mg/kg) doses were administered

by gavage simultaneously with the induction of peritoneal fibrosis in the FP+VPA

group. At the end of experiments, the animals were submitted to euthanasia and samples

of peritoneal tissue were collected for histology, immunocytochemistry,

immunofluorescence, and molecular biology. Also, a functional peritoneal test was

performed. The FP group showed a significant thickening of PM due to the

accumulation of extracellular matrix and inflammatory cellular infiltration. VPA

treatment was able to significantly prevent PM thickening, maintaining the peritoneal

thickness of the VPA group similar to that of the CONTROL group. The VPA

administration also preserved peritoneal function in the FP+VPA group, avoiding the

reduction of ultrafiltration and increasing of peritoneal glucose transport induced by

GC. According to the histological changes mentioned above, the VPA hampered the

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upregulation of the pro-fibrotic genes (TGF-β, FSP-1, and fibronectin) and increase in

the myofibroblasts expression induced by GC injections. Interestingly, the peritoneal

expression of phosphorylated Smad3 detected by immunohistochemistry and Smad3

mRNA was significantly higher in the FP group. However, this effect was attenuated by

VPA treatment. On the other hand, VPA was able to induce an increase in the

expression of the antifibrotic factors, such as BMP-7 and Smad7, in the peritoneal

membrane. Besides its antifibrotic activity, VPA also showed anti-inflammatory and

anti-angiogenic effects. Animals of the FP+VPA group showed a significant reduction

of the PM expression of pro-inflmmatory cytokines, macrophage chemoattractants and,

VEGF expression when compared with FP group. In conclusion, we have shown that

VPA inhibits the progression of peritoneal fibrosis in a CG-induced peritoneal fibrosis

model in rats. VPA inhibited different and important mechanisms involved in peritoneal

membrane modifications induced by PD, as activation of TGF-β/Smad pathway,

inflammation, and angiogenesis. Notably, VPA induced the expression of antifibrotic

factors. Our results are very interesting and shed lights on a new perspective for the

treatment of peritoneal fibrosis. However, this is an exploratory study and future studies

are needed before to translate this experimental finding into clinical application.

Descriptors: Peritoneal dialysis; Peritoneal fibrosis; Valpróic Acid; Histone

deacetylases; Transforming growth factor beta; Wistar, rats.

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INTRODUÇÃO

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INTRODUÇÃO

_______________________________________________________________

2

1. INTRODUÇÃO

A doença renal crônica (DRC) dialítica afeta um grande número de pacientes.

Segundo o último censo brasileiro de diálise publicado, o número total estimado de

pacientes em diálise no país em 1 de julho de 2014 foi de 112.004. Este número

representa um aumento de 20 mil pacientes em um período de 4 anos (92.091 em 2010).

Nesse mesmo período, houve um aumento anual médio no número de pacientes de 5%.

A taxa de prevalência de tratamento dialítico em 2014 foi de 552 pacientes por milhão

da população (pmp), variando por região entre 364 pacientes pmp na região Norte e 672

pacientes pmp na região Sudeste. O número estimado de pacientes que iniciaram diálise

em 2014 no Brasil foi de 36.548, correspondendo a uma taxa de incidência de 180

pacientes pmp (1). Apesar de significativos, esses números ainda podem estar

subestimados. Nos Estados Unidos (EUA), no final de 2014, estimava-se uma

prevalência 6 vezes maior que a brasileira e um número absoluto de 678.000 pacientes

em diálise. Os gastos acompanham a magnitude dos números de pacientes, em 2014

foram gastos nos EUA 32 bilhões de dólares com pacientes em diálise (2). Embora a

hemodiálise (HD) seja mais utilizada do que a diálise peritoneal (DP) como terapia de

substituição renal, o número absoluto de pacientes em DP ainda assim é significativo.

Atualmente estima-se em cerca de 270.000 o número de pacientes que realizam DP no

mundo, representando 11% da população global em diálise (3).

1.1. Histórico da diálise peritoneal

O primeiro registro da utilização do peritôneo como membrana de troca para

tratamento de uremia em humanos data de 1923, quando na Universidade de Würzburg,

Georg Ganter infundiu solução fisiológica na cavidade peritoneal de uma paciente com

uropatia obstrutiva (4). Diversas adaptações técnicas no tipo e no modo de infusão do

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INTRODUÇÃO

_______________________________________________________________

3

fluido permitiram o desenvolvimento da DP, de modo que ao final da década de 60

alguns centros utilizavam a DP de forma intermitente para o tratamento da uremia,

principalmente em casos de injúria renal aguda. No entanto, a necessidade de punção

peritoneal a cada sessão para instalação do cateter dificultava a aplicação mais ampla da

DP para pacientes com DRC. Foi somente a partir do desenvolvimento de um cateter de

silicone por Tenckhoff (5) em 1973 que a DP intermitente passou a ser mais utilizada

como terapia de substituição renal de longo prazo.

Em 1978 Robert Popovich e cols descreveram uma nova técnica, a diálise

peritoneal ambulatorial contínua (CAPD). No entanto, elevadas taxas de peritonite

foram observadas uma vez que era necessário desconectar e conectar o paciente dos

frascos de vidro onde as solucões de DP eram armazenadas (6). No mesmo ano,

Oreopoulos descreveu uma técnica de CAPD utilizando bolsas plásticas contendo

solução de DP, o que permitiu a expansão da DP como uma forma de terapia de

substituição renal domiciliar (7).

Nas últimas décadas, o aprimoramento técnico permitiu a padronização e

disseminação mundial da DP. A melhora da sobrevida e manutenção dos pacientes em

DP por longos períodos fez com que surgissem novos desafios. Em 1981, Dobbie e cols

foram os primeiros a relatar alterações da membrana peritoneal em pacientes

submetidos à CAPD. Desde então diversos estudos clínicos e experimentais tem

investigado as alterações inflamatórias e fibróticas da membrana peritoneal que ocorrem

no curso da terapia. Atualmente, grande parte do esforço científico no campo da DP é

dirigido no sentido do desenvolvimento de drogas ou novas soluções de diálise menos

bioincompatíveis que atenuem a inflamação e fibrose peritoneal com o objetivo final de

aumentar a sobrevida da técnica e do paciente (8).

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INTRODUÇÃO

_______________________________________________________________

4

1.2. Diálise peritoneal - Epidemiologia

Em comparação com a HD, a DP oferece algumas vantagens como uma

melhor qualidade de vida, uma maior independência do paciente e a preservação dos

acessos venosos e da função renal residual (9, 10). Mais importante ainda, estudos

epidemiológicos têm demonstrado que a mortalidade nos primeiros dois anos dos

pacientes incidentes submetidos à DP pode ser inferior quando comprada à HD (11, 12).

No entanto, a permanência dos pacientes na DP está limitada por diversos fatores. Por

exemplo, dados brasileiros apontam que somente cerca de 40% dos pacientes

conseguem se manter em DP ao fim dos primeiros 3 anos. Dentre as principais causas

de falha de técnica estão peritonites recorrentes (65%) e a falha de ultrafiltração (19%)

(13).

Apesar das vantagens já demonstradas na literatura, de maneira geral a DP

ainda é subutilizada. Melhorias contínuas nos desfechos clínicos e demonstração de

vantagens socioeconômicas da DP em relação à HD resultaram na adoção por alguns

países de políticas que favoreceram o uso da DP como modalidade inicial de terapia de

substituição renal, de modo que os regimes de reembolso e políticas governamentais são

atualmente os principais determinantes da taxa de utilização da DP em determinados

países. Em decorrência disso, o uso desta terapia está aumentando na China, nos EUA e

na Tailândia, mas diminuindo proporcionalmente em partes da Europa e no Japão.

Atualmente Hong Kong e México, com taxa de utilização da DP em torno de 70 %, são

os países em que a modalidade está mais difundida (3). No Brasil, em julho de 2014,

91,4% dos pacientes em diálise crônica realizavam hemodiálise e 8,6% DP (Figura 1).

Uma porcentagem maior de pacientes pagos pela saúde suplementar faziam diálise

peritoneal, particularmente a DPA, em relação àqueles reembolsados pelo Sistema

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INTRODUÇÃO

_______________________________________________________________

5

Único de Saúde (SUS). No SUS 8,4% dos pacientes faziam diálise peritoneal contra

9,9% dos planos de saúde suplementar (1).

Figura 1. Proporção de pacientes em diálise peritoneal em relação ao total de pacientes

dialíticos (3).

1.3. Anatomia e fisiologia da membrana peritoneal

O peritônio é a maior membrana serosa do corpo humano com uma área de

superfície de aproximadamente 1,8 m2. O peritôneo parietal recobre a superfície interna

da parede abdominal enquanto que o visceral integra-se com as camadas serosas

externas de órgãos viscerais. O fornecimento de sangue do peritônio parietal é derivado

das artérias da parede abdominal pélvicas enquanto que o peritôeno visceral é irrigado

pelas artérias mesentérica e celíaca principalmente. Do ponto de vista da diálise

peritoneal o peritôneo parietal é mais importante. Aproximadamente 80% de toda a

drenagem linfática da cavidade abdominal é realizada pelo ducto torácico esquerdo e

ducto linfático direito condutor (14).

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INTRODUÇÃO

_______________________________________________________________

6

A membrana peritoneal (MP) é composta por 3 camadas: o mesotélio, a

lâmina basal e a camada submesotelial (Figura 2). O mesotélio, de origem

mesodérmica, é formado por uma monocamada de células epiteliais sobreposta à lâmina

basal. A camada submesotelial, que suporta as anteriores, consiste em fibras de

colágeno, particularmente tipo I, fibronectina, proteoglicanos, raros fibroblastos,

adipócitos, vasos linfáticos e sanguíneos. Geralmente, as células da camada

submesotelial estão em baixo número e estão inativas, mas em condições

fisiopatológicas específicas são activadas, proliferam e ativam a angiogênese (14).

Figura 2. Estrutura da membrana peritoneal. (A) Membrana peritoneal formada pelo mesotélio

e camada submesotelial composta basicamente por matriz extracelular (15). (B) Fotomicrografia

representativa de uma secção da parede anterior abdominal corado por Tricrômio de Masson,

com identificação das células mesoteliais pelas setas e coloração da camada submesotelial em

azul.

Mesotélio

CamadaSubmesotelial

Cavidade PeritonealA B

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INTRODUÇÃO

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7

O peritônio é uma membrana semipermeável que permite o transporte de

fluidos e solutos por gradiente de concentração (difusão), pressão hidrostática e

osmótica. Em situações normais, a resistência para o transporte de fluidos e solutos

entre o sangue e fluido intracavitário é dada pelo endotélio dos vasos peritoneais (14).

Esse transporte ocorre através de poros de diferentes tamanho. De acordo Rippe e cols.,

poros de três tamanhos regulam a passagem de moléculas através da MP: os poros

grandes (raio 250 angstron) representam menos de 0,01% e permitem a passagem de

moléculas como proteínas; os poros pequenos que regulam o transporte de 99,7% dos

solutos de baixo peso molecular; e os ultraporos (aquaporina-1) que são responsáveis

pelo transporte de água livre (16).

Na DP, o transporte de eletrólitos, toxinas urêmicas e outros solutos ocorre

entre o sangue contido nos capilares peritoneais e a solução de diálise infundida na

cavidade peritoneal do paciente. Os principais processos que permitem a utilização da

DP como método de diálise são a difusão e a ultrafiltração (UF). Na difusão, ocorre a

passagem das toxinas urêmicas em maior concentração no sangue através da MP para a

solução de diálise. Substâncias cuja concentração na solução de diálise estão em maior

concentração (por exemplo, glicose) do que no sangue, se difundem para o sangue no

sentido inverso. A capacidade de difusão está diretamente relacionada à área de

superfície vascular peritoneal efetiva que tem contato direto com a solução de diálise.

Na UF ocorre a passagem de água do intravascular para a cavidade peritoneal

promovida principalmente por gradiente osmótico que é estabelecido pela elevada

concentração de glicose ou outros agentes osmóticos presentes na solução de diálise. A

estrutura morfológica da MP deve ser mantida saudável para o funcionamento adequado

desses mecanismos (17).

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INTRODUÇÃO

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8

1.4. Modificações da membrana peritoneal durante a DP

Apesar dos avanços e benefícios observados em relação à DP, alterações

morfofuncionais da membrana peritoneal que se desenvolvem ao longo da terapia

comprometem sua eficácia. Tais alterações ocorrem de forma progressiva e se

expressam clinicamente por aumento do transporte de solutos bem como por falha de

ultrafiltração e, histologicamente, por perda da camada mesotelial, inflamação,

neoangiogênese e fibrose peritoneal (Figura 3). Essas alterações estão associadas a um

aumento da morbimortalidade dos pacientes e falência deste método dialítico (18, 19).

Portanto, estudos que explorem os mecanismos envolvidos nas modificações da MP

induzidas pela DP, bem como estratégias que possam impedi-las, são importantes para

estender a sobrevida da técnica.

Figura 3. Modificações da membrana peritoneal ao longo da diálise peritoneal. Ao longo dos

anos os pacientes evoluem com redução da capacidade de ultrafiltração, desnudamento do

mesotélio, transição epitélio mesquenquimal (EMT), inflamação e fibrose da membrana

peritoneal.

Tempo em DP (anos)

0 2,5 5 7,5 10

Integridade mesotelial

Inflamação

EMT

Fibrogênese

Ultrafiltração

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INTRODUÇÃO

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9

1.4.1. Alterações no transporte de solutos e ultrafiltração

A velocidade com que pequenos solutos atravessam a MP, denominada taxa

de transporte de soluto peritoneal (TTSP), é uma medida chave da permeabilidade da

MP. Classicamente avaliada através do Teste de Equilíbrio Peritoneal (PET), permite

determinar a permeabilidade da membrana de cada paciente longitudinalmente e tem

valor prognóstico. Pacientes com alta permeabilidade da membrana, denominados alto

transportadores, tendem apresentar menor sobrevida comparados aos outros pacientes,

principalmente quando submetidos à CAPD (20).

Admite-se que o aumento da TTSP seja a primeira indicação funcional do

prejuízo da DP à MP. Embora a ocorrência desse fenômeno seja variável entre os

pacientes, os principais fatores desencadeantes parecem ser a duração da exposição à

diálise, exposição à glicose e produtos de degradação da glicose (GDPs) e episódios de

peritonite (21). Esses fatores induzem inflamação crônica da MP e neoangiogênese

(20). Uma vez que o principal determinante do transporte peritoneal de solutos é a

densidade de capilares em contato com a solução de diálise intraperitoneal, a

neoangiogênese induzida por inflamação tende a aumentar a difusibilidade dos solutos

através da MP (22). O estudo GLOBAL suporta esta conjectura, mostrando fortes

evidências para a produção local de citoquinas na MP, especialmente da interleucina-6

(IL-6), do Fator de necrose tumoral-α (TNF-α) e da interleucina-1β (IL-1β), e que esta

produção está positivamente correlacionada com TTSP de maneira mais significativa do

que com qualquer outra variável clínica (23).

Pacientes submetidos à DP por tempo superior a dois anos, tendem a evoluir

com perda da capacidade de ultrafiltração (24, 25). O aumento da TTSP tem papel

fundamental nesse processo. O aumento da velocidade de transporte da glicose da

solução de diálise intraperitoenal para o sangue do paciente dissipa o gradiente osmótico

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INTRODUÇÃO

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10

reduzindo assim a taxa de ultrafiltração. Outro fator importante, principalmente após 5

anos de DP, é a formação de fibrose peritoneal que leva a redução da área efetiva da

MP bem como aumenta o espaço intersticial dificultando o movimento das moléculas

de água entre o capilar e a cavidade peritoneal (26). Evidências recentes sugerem que a

redução do transporte de água livre através da MP, aferida por meio de medidas de

sieving de sódio, é um importante fator preditor de ocorrência de peritonite esclerosante

encapsulante (27).

1.4.2. Inflamação e neoangiogênese

Inflamação e fibrose peritoneal são processos que se estimulam

bidirecionalmente. As soluções de DP são consideradas bioincopatíveis pela sua

hipertonicidade, baixo pH, elevada concentração de glicose e produtos de degradação de

glicose. A exposição prolongada a essas soluções induz lesão das células mesoteliais,

resultando em um desaparecimento gradual da camada serosa. Progressivamente a zona

submesotelial se espessa pela deposição de matriz extracelular (MEC) e infiltração por

células inflamatórias. Paralelamente, também ocorre formação progressiva de novos

vasos no peritôneo (Figura 4) (24). A transdiferenciação das células mesoteliais que

passam a se comportar como células mesenquimais ativadas e migram para a camada

submesotelial, num processo de transição epitélio-mesenquimal (EMT), tem papel

importante nesse processo (28). Tantos as células mesoteliais quanto os miofibroblastos

sintetizam citocinas pró-inflamatórias (TNF-α, IL-1β e MCP-1) e fatores angiogênicos

como o Vascular endothelial growth factor (VEGF) (29). Além disso, episódios de

peritonite induzem a infiltração da MP inicialmente por neutrófilos e,

subsequentemente, por macrófagos (24). Essas alterações inflamatórias têm impacto

direto na capacidade dialítica da MP. Pecoits e colaboradores, no nosso laboratório,

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INTRODUÇÃO

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11

demonstraram que existe relação direta entre inflamação e a situação de alto transporte

em DP. Nesse estudo, pacientes com características de transporte alto e médio-alto da

membrana peritoneal apresentaram níveis plasmáticos e no fluido peritoneal mais

elevados de IL-6 (30).

Figura 4. Mecanismos envolvidos nas modificações da membrana peritoneal induzidas pela

diálise peritoneal (18). DP = diálise peritoneal; EMT = transição epitélio mesenquimal; MEC =

matriz extracelular; IL = interleucina; TGF = Transforming growth factor; TNF = Tumoral

necrosis factor; VEGF = Vascular endothelial growth factor.

Neoangiogênese, inflamação e fibrose peritoneal parecem estar intimamente

relacionados através de fatores de crescimento e citocinas inflamatórias que atuam

nesses processos (24). A análise de biópsias peritoneais de pacientes em DP tem

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INTRODUÇÃO

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12

demonstrado um aumento do número de vasos associado às alterações fibróticas (25,

31). O VEGF parece ter um papel central nessas alterações. Um estudo em humanos

demonstrou uma correlação positiva entre os níveis de VEGF no efluente peritoneal,

aumento do transporte de solutos e o tempo em DP (32). Estudos in vitro suportam

esses achados ao demonstrar que células mesoteliais transdiferenciadas (processo de

transição mesotélio mesenquimal) produzem grandes quantidades de VEGF (33). Além

disso, a redução da expressão do VEGF (34) ou seu bloqueio farmacológico (35)

preservou a estrutura da membrana peritoneal em animais submetidos à indução de

fibrose peritoneal. Portanto, entender a interação entre a vasculogênese e fatores de

crescimento que a promovem com o desenvolvimento de fibrose, pode auxiliar no

desenvolvimento de estratégias terapêuticas.

1.4.3. Fibrose peritoneal

Sem dúvida um aspecto marcante nos estudos de biópsias peritoneais de

pacientes em DP é o acúmulo de matrix extracelular (MEC) na camada submesotelial

levando a um espessamento da MP. Alterações estruturais de todas camadas da MP

ocorrem em todos os pacientes com tempo de tratamento maior que 2 anos, sendo que

alterações fibróticas mais significativas são mais frequentes após o 4º. ano de terapia.

Essas alterações compreendem principalmente desnudação das células mesoteliais e

fibrose submesotelial. As áreas fibróticas contém colágeno I, colágeno IV e

miofibroblastos (18). Estudos experimentais têm auxiliado o entendimento dos

mecanismos envolvidos nessas alterações e, notadamente, a origem dos miofibroblastos

e as vias de sinalização do Transforming Growth Factor (TGF-β) têm sido foco de

diversos trabalhos.

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INTRODUÇÃO

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13

Fibroblastos, miofibroblastos e outras células inflamatórias são responsáveis

pelas fibrose da MP. A perda de células mesoteliais com espessamento de matriz

extracelular submesotelial tem sido interpretada na última década como consequência

da transformação das células mesoteliais em células fibroblastóides (miofibroblastos) e

migração para a camada submesotelial através da EMT. Os miofibroblastos derivados

do mesotélio seriam as responsáveis pela produção de colágeno e fibronectina

resultando na fibrose peritoneal (28, 36). No entanto, estudos in vivo não foram capazes

de demonstrar esse fenômeno e recentemente, Chen YT e cols, demonstraram

elegantemente que os miofibroblastos da camada submesotelial peritoneal se originam

dos fibroblastos residentes predominantemente (37). A ativação desses fibroblastos

resultaria na produção de fatores prófibróticos bem como no aumento da expressão

VEGF que contribui para a neoangiogênese (38).

A superfamília TGF-β consiste em uma grande variedade de proteínas de

sinalização, incluindo as isoformas de TGF-β, Bone morphogenic protein (BMP) e

ativinas. Essas proteínas exercem diversas atividades biológicas como proliferação

celular, desenvolvimento embrionário e fibrogenese. A produção de TGF-β1 induzida

pela glicose e seus produtos de degradação presentes nas soluções de DP é passo

fundamental para o estabelecimento da fibrose peritoneal (18, 19, 24). Por exemplo,

pacientes com peritonite encapsulante esclerosante apresentam expressão peritoneal do

TGF-β 24 vezes maior comparado com os controles (39). Esse fator de crescimento atua

induzindo a síntese e inibindo a degradação dos componentes da MEC e, juntamente

com o TNF-α, regula a transformação de fibroblastos e células mesoteliais em

miofibroblastos (18, 24). Diversas estratégias de tratamento da fibrose peritoneal

experimental que bloquearam a expressão do TGF-β foram eficazes em proteger a

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INTRODUÇÃO

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14

membrana peritoneal (40, 41). A maioria das ações fibróticas do TGF-β1 são mediadas

pelas proteínas Smads.

Os membros da família TGF-β são capazes de estimular a expressão de genes

pró-fibróticos (Fibronectina, colágeno e FSP-1) através dos fatores de transcrição

conhecidos como Smad. Das oito Smads identificadas, apenas cinco – Smad1, Smad2,

Smad3, Smad5 e Smad8 – atuam como sinalizadores dos receptores TGF-β. As Smad2

e Smad3 são as principais envolvidas na fibrose, sendo a Smad3 mais importante na

fibrose peritoneal (42). As Smads 1, 5 e 8 atuam como mediadores intracelulares da

BMP, proteína com funções antagônicas ao TGF-β. Além da BMP, a Smad7 exerce

uma ação de feedback negativo da via TGF-β/Smad. A Smad7 é induzida por um

mecanismo dependente de Smad3 e, por sua vez, inibe a fosforilação da Smad2/3 pelo

receptor de TGF (43).

Resumidamente, o TGF-β se liga a receptores serina/kinase, conhecidos como

TGF-β tipo I (TβR-I) e tipo II (TβR-II). O TβR-II fosforila a região GS localizada na

parte N-terminal do TβR-I. A fosforilação do TβR-I transforma a região GS deste

receptor em um sítio de ligação para Smad2/3. Logo após, as Smads2/3 são fosforiladas

pelo TβR-I. A Smad3 fosforilada, forma um heterodímero com a Smad4, que transloca-

se para o núcleo e ativa regiões promotoras de genes indutores de fibrose (43) (Figura

5).

Dados da literatura indicam uma importante participação da via

TGF-β/Smad na FP. Por exemplo, animais knockout para Smad3 não desenvolvem

fibrose peritoneal induzida por soluções de diálise (42). Em outro estudo, Hong Guo e

cols demonstraram um aumento da expressão do TGF-β associado à ativação das

Smad2 e 3 como mecanismos responsáveis pela fibrose peritoneal em um modelo

experimental utilizando animais urêmicos. Interessanmente, ratos transfectados e

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INTRODUÇÃO

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15

hiperexpressando o gene da Smad7 tiveram a estrutura da membrana peritoneal

protegida, abrindo perspectivas de que a manipulação da expressão das Smads poderia

se tornar uma estratégia terapêutica para fibrose peritoneal (44).

Figura 5. Via de sinalização TGF-β/Smad. TGF-β ativa cascata de sinalização intracelular em

que a Smad3 fosforilada liga-se à Smad4, transloca-se para o núcleo e ativa genes relacionadas à

fibrose. A Smad7 inibe a fosforilação da Smad3 e atua como um feedback negativo dessa

cascata (45). CTGF = Connective Tissue Growth Factor; p = fosforilação.

Fibronectina

Colágeno IIICTGF

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INTRODUÇÃO

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16

1.5. Peritonite esclerosante encapsulante

A peritonite esclerosante encapsulante (PEE) foi definida pela Sociedade

Internacional de Diálise Peritoneal como "uma síndrome com sintomas de obstrução

intestinal causadas por adesões de um peritôneo difusamente espessado e que o

diagnóstico é puramente clínico” (46). As alterações histológicas observadas em

pacientes com PEE são similares as descritas anteriormente em pacientes submetidos à

diálise peritoneal por longo tempo, sugerindo que a PEE faz parte de um espectro de

alterações da MP induzidas por inflamação. No entanto, a PEE é evento raro. A teroria

mais aceita atualmente como justificativa para o desenvolvimento de PEE (two hit

theory), admite que a além da inflamação peritoneal crônica induzida pela DP (first hit),

a exposição a um segundo fator (peritonites e irritantes químicos) seria necessário como

gatilho para desencadear um processo fibrosante mais intenso (Figura 6).

Figura 6. Evolução para peritonite esclerosante encapsulante. Além da inflamação peritoneal

crônica induzida pela DP (first hit), a exposição a um segundo fator (second hit – peritonites,

irritantes químicos, interrupção da DP) seria o gatilho necessário para o desencadear um

processo fibrosante mais intenso levando à peritonite esclerosante encapsulante (46).

Mesotélio

Camada submesotelial

Proliferaçãovascular

Espessamento peritonealEncapsulamento

Segundo “Hit”

-Peritonite

-Irritante químico

- Interrupção da DP

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INTRODUÇÃO

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17

Esclerose peritoneal simples desenvolve-se no maioria dos pacientes que

realizam DP por um longo período (47). PEE é rara antes dos 5 anos e considerada

praticamente inexistente antes dos 3 anos de DP. Em um estudo de registro australiano,

a incidência de PEE foi de 19,4% após 8 anos de DP (48). Resultados semelhantes

foram relatados em um estudo prospectivo, em que a incidência de PEE foi de 0,7%

após 5 anos, 5,9% depois de 10 anos, e 17,2% após 15 anos de terapia (49). Apesar de

estudos recentes sugerirem que a utilização de soluções de diálise com pH neutro

podem reduzir a incidência de PEE (50), essa doença persiste com alta taxa de

morbidade e mortalidade (25-50%). As medicações atualmente utlizadas no tratamento

dessa condição, tamoxifeno, corticosteróides e azatioprina, possuem eficácia limitada e

estão associadas a efeitos adversos graves como trombose venosa profunda, aumento do

risco de câncer e imunossupressão (49). Dado o impacto na mortalidade e limitações

terapêuticas, o desenvolvimento de novas estratégias que auxiliem no controle dessa

doença são muito relevantes.

1.6. Modelo experimental de fibrose peritoneal

O peritôneo humano é estruturalmente igual ao dos roedores (24). Em virtude do

tempo necessário para o desenvolvimento das alterações peritoneais em humanos e

dificuldade de se obter amostras de tecido peritoneal nos pacientes, grande parte do

conhecimento acerca da fibrose peritoneal induzida pela diálise deriva de estudos

experimentais. Dentre os diversos modelos descritos, um dos mais utilizados é o que

simula a fibrose peritoneal através da exposição crônica do peritôneo ao gluconato de

clorexidina (GC) (51, 52).

Uma forte associação foi descrita entre o uso de clorexedina, antisséptico

utilizado para esterilizar os sistemas de tubos para DP na década de 80, e o

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INTRODUÇÃO

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18

desenvolvimento de PEE em pacientes (53). Suga e colaboradores foram os primeiros a

descrever o desenvolvimento de fibrose peritoneal em ratos através da administração

intermitente de GC (52). O modelo é essencialmente baseado na irritação química e

peritonite asséptica através da injeção intraperitoneal de solução salina contendo 0,1%

de gluconato de clorexidina em 15% etanol. O GC induz a lesão da membrana

peritoneal através do rompimento das junções entre as células mesoteliais, com dano

subsequente ao tecido subseroso causando uma resposta inflamatória que, quando

perpetuada, leva à fibrose. Histologicamente os animais evoluem com infiltrado

inflamatório, aumento do número de vasos e progressivo espessamento e fibrose da

zona compacta submesotelial. Na imuno-histoquímica, evidencia-se infiltração por

macrófagos predominantemente, acompanhada de uma maior expressão de VEGF. Os

achados histológicos são semelhantes aos observados nas biópsias peritoneais de

pacientes submetidos à DP (52, 54).

Outros modelos como a lesão mecânica de peritônio por raspagem e utilização

de solução de diálise a 4,25% através de cateter peritoneal requerem anestesia para

processo o cirúrgico e, mesmo após longo período experimental, não induzem fibrose

peritoneal intensa como observado no modelo induzido pelo GC. Além disso, a taxa de

retirada do estudo por complicações infecciosas e mecânicas associadas ao cateter é

elevada (51), gerando uma grande perda de animais. A capacidade de induzir fibrose

peritoneal intensa em um curto período de tempo e com baixa mortalidade dos animais

faz o modelo de PF induzido pela clorexedina ser adequado para o estudo de fibrose

peritoneal e da peritonite esclerosante encapsulante. Por estas razões, o modelo de

indução de fibrose peritoneal por GC foi utilizado no presente estudo.

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INTRODUÇÃO

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19

1.7. Histona desacetilases e a fibrogênese

Além das vias que classicamente levam à fibrose, nos últimos anos tem crescido

o interesse a respeito do papel das histona desacetilases na fibrogênese (55).

Nas células eucarióticas, a interação entre a dupla hélice de DNA e os

nucleossomos formados pelas histonas forma a cromatina, que por sua vez, permite a

compactação do material genético no núcleo celular. Além da seqüência primária de

nucleotídeos do DNA, a conformação da cromatina exerce função chave na

determinação de padrões de expressão gênica: regiões menos compactadas

(eucromatina) são mais acessíveis à transcrição. Assim, a mesma seqüência gênica pode

ser expressa normalmente ou transcricionalmente silenciada dependendo da

conformação da cromatina. A acetilação das histonas controla a conformação da

cromatina e constitui-se em importante mecanismo epigenético de regulação da

expressão gênica. As histona acetiltransferases (HATs) e histona deacetilases (HDACs)

são as principais enzimas envolvidas nesse processo. As HDACs removem grupos

acetila das histonas, levando à compactação e inatividade da cromatina (Figura 7).

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INTRODUÇÃO

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20

Figura 7. Controle da conformação da cromatina. A acetilação das histonas controla a

conformação da cromatina. As histona acetiltransferases (HATs) e histona deacetilases

(HDACs) são as principais enzimas envolvidas no remodelamento da cromatina. As HDACs

removem grupos acetila das histonas, levando à compactação da cromatina e silenciamento

gênico. H = histonas, Ac = radical acetil.

Doenças fibróticas se caracterizam por um aumento da expressão das HDACs,

levando a um estado de repressão transcripcional e, consequentemente, silenciamento

genético (55, 56). Recentemente, diferentes inibidores das HDACs tem demonstrado

efeito antifibrótico em doenças cardíacas (57), hepáticas e renais (56). Essas drogas

previnem a desacetilação das histonas, induzindo a descompactação da cromatina que

por sua vez pode facilitar a expressão de alguns genes antifibróticos como o BMP-7 e o

Fator de Crescimento do Hepatócito (HGF) (58) (Figura 8). Durante o desenvolvimento

do nosso estudo foi publicado um artigo demonstrando que o ácido hidroxâmico

Histona Acetiltransferase

(HAT)

Histona Desacetilase(HDAC)

DNA

DNA

H

H

H H H

HH

Cromatina Condensada inativa

Cromatina Descompactada Ativa

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INTRODUÇÃO

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suberoilanilida (SAHA, Vorinostat), um inibidor das HDACs, foi capaz de previnir o

desenvolvimento de fibrose peritoneal em camundongos através do aumento da

expressão da BMP-7 (59).

Figura 8. Papel dos inibidores das histona desacetilases na fibrose. (1) Um aumento da

expressão das HDACs foi demonstrado nas doenças fibróticas com consequente compactação

da cromatina e repressão transcripcional. (2) Inibidores das HDAC impedem a desacetilação das

histonas, induzindo a descompactação da cromatina, que por sua vez pode facilitar a expressão

de alguns genes antifibróticos como o BMP-7 e HGF (3). BMP = Bone Morphogenic Protein;

HDACi = inibidor da HDAC; HGF = Hepatocyte Growth Factor; H = histonas, Ac = radical

acetil.

Além da regulação da expressão gência, a inibição das HDAC pode modular

diretamente a atividade de proteínas envolvidas na inflamação e fibrose, como por

expemplo a IL-6, STAT3 (57, 60) e Smad7 (61). A Smad7, um antagonista do TGF-β,

quando acetiladada se torna mais resistente à degradação (61). Logo a inibição das

H

H

H H H

HH

HDACiHDACHAT

↑ BMP-7

↑ HGF

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INTRODUÇÃO

_______________________________________________________________

22

HDACs pode favorecer a acetilação da Smad7, prevenir sua degradação e promover a

inibição da fibrose.

Os inibidores das histona desacetilases (Tabela 1) podem ser classificados em

inibidores específicos das HDACs classe I (p. ex. ácido valpróico e vorinostat) ou pan-

inibidores das HDACs (p. ex. tricostatina A) (56). Embora inibidores das HDAC sejam

majoritariamente estudados como agentes antineoplásicos, muitos estudos

demonstraram sua capacidade de suprimir a fibrose e também a atividade inflamatória.

Por exemplo, em um modelo de artrite reumatóide experimental, a Tricostatina A inibiu

a expressão do TNF-α e reduziu a translocação nuclear NF-kB (62).

Uma vez que os inibidores das HDAC são capazes de inibir os processos de

fibrose e inflamação, essas drogas podem se tornar alternativas para o tratamento das

modificações da MP induzidas pela DP.

Tabela 1. Efeito dos inibidores das histona desacetilases na fibrose.

HDACi Especificidade Modelo Mecanismo

Ácido Valpróico HDAC Classe I NDM, Nefropatia

por adriamicina

↓ TGF-β, ↓ MCP-1

↓ Macrófagos

↓ TNF-α

SAHA HDAC Classe I Fibrose peritoneal ↑ BMP-7

TSA Paninibidor UUO ↓ EMT, ↓ SMA

Legenda: BMP = Bone morphogenic protein; EMT = transição epitélio mesenquimal; HDAC =

histona desacetilase; HDACi = inibidor de histona desacetilase; MCP = Monocyte

chemoattractant protein; SMA = alfa actina de músculo liso; SAHA = ácido hidroxâmico

suberoilanilida, TSA = tricostatina A, UUO = obstrução ureteral unilateral, NDM = nefropatia

diabética.

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INTRODUÇÃO

_______________________________________________________________

23

1.8. Ácido valpróico

O ácido valpróico (ácido 2-propilvalérico, VPA), um ácido graxo de cadeia curta

(Figura 9) derivado do ácido valérico, foi sintetizado inicialmente em 1882 e foi

utilizado como um solvente para compostos orgânicos por quase um século (63, 64).

Em 1963, durante um estudo de moléculas com potencial anti-convulsivante, no qual o

VPA foi utilizado como uma molécula carreadora, foi incidentalmente descoberta a

propriedade anti-epiléptica do VPA (65). O VPA, na forma do valproato de sódio, vem

sendo utilizado clinicamente como anti-convulsivante e estabilizador do humor pela sua

capacidade de aumentar a atividade do neurotransmissor inibitório ácido gama-amino-

butírico (63). Apesar de preocupações quanto à indução de infertilidade e

hepatoxicidade, o VPA é uma droga segura, com janela terapêutica ampla, disponível

no mercado e barato (66).

Figura 9. Estrutura química do ácido valpróico.

A descoberta recente de que o valproato é um inibidor efetivo das HDACs abriu

novas perspectivas para utilização dessa droga em situações clínicas como as

neoplasias, doenças inflamatórias e doenças fibrosantes crônicas (63). O VPA é capaz

de alterar a expressão de diversos genes envolvidos no controle do ciclo celular,

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INTRODUÇÃO

_______________________________________________________________

24

apoptose e reparo do DNA de células tumorais, sendo capaz de induzir morte,

diferenciação e/ou interrupção do ciclo celular dessas células. Além de modular a

expressão gênica através de modificações das histonas, o VPA regula a atividade de

proteínas não histonas por promover a acetilação destas. (66). Atualmente existem mais

de 100 ensaios clínicos registrados e abertos no Clinical trials.gov avaliando a eficácia

anti-neoplásica de inibidores das HDACs incluindo o VPA (67).

O efeito antifibrótico dos inibidores das HDACs já foi demosntrado em modelos

experimentais de uropatia obstrutiva unilateral (68), nefropatia diabética induzida por

estreptozotocina (69) e nefropatia por adriamicina (70). Van Beneden et al.

demonstraram que o VPA pode prevenir a lesão renal e a proteinúria no modelo de

nefropatia induzida por adriamicina por inibir a apoptose e atenuar a expressão de genes

pró-fibróticos (TGF-β) e pró-inflamatórios (TNF-α e MCP-1) (70). Além disso, a

capacidade do VPA de inibir a infiltração por macrófagos (71) e bloquear a transição

epitélio mesenquimal (58) já foi demonstrada previamente. Além da ação antifibrótica,

o VPA possui efeito anti-inflamatório. Em trabalho desenvolvido no nosso laboratório,

o VPA foi capaz de prevenir a lesão renal aguda induzida por isquemia e reperfusão em

ratos bloqueando a expressão de TNF-α bem como reduzindo a migração de macrófagos

e linfócitos (72).

Para inibição das HDACs doses elevadas do VPA são necessárias. Em trabalhos

experimentais, administração de VPA 300 mg/kg promove uma rápida e intensa

elevação do nível de acetilação das histonas (73). Em outros estudos experimentais, as

doses utilizadas para obtenção da inibição das HDACs variaram entre 300 mg/kg/dia a

600 mg/kg/dia por até 8 semanas (72, 74-76). Em humanos, a dose máxima tolerada

descrita é de 140 mg/kg por via endovenosa (77).

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INTRODUÇÃO

_______________________________________________________________

25

Até o momento nenhum estudo utilizando o VPA no tratamento da fibrose

peritoneal foi publicado e o mecanismo molecular envolvido no efeito antifibrótico

dessa droga ainda não está completamente elucidado. Sabendo das atividades anti-

inflamatórias e antifibróticas do ácido valpróico foi formulada a hipótese de que essa

droga poderia ser efetiva na prevenção da fibrose peritoneal experimental.

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RACIONAL

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RACIONAL

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27

2. RACIONAL

A DP é uma modalidade estabelecida de terapia de substituição renal com

vantanges em relação à hemodiálise, incluindo melhor sobrevida nos primeiros dois

anos. No entanto, fatores como peritonites de repetição e a exposição prolongada às

soluções de DP levam a modificações da membrana peritoneal que determinam a

falência da técnica. Essas alterações compreendem graus variados de inflamação,

neoangiogênse e, principalmente, fibrose peritoneal. Portanto, estratégias que previnam

ou bloqueiem a progressão dessas complicações e a perda da função da MP são de

grande relevância.

O ácido valpróico é uma droga classicamente utilizada para tratamento de

epilepsia e amplamente disponível no mercado. Além do efeito anticonvulsivante,

estudos recentes têm demonstrado que essa droga possui atividades anti-inflamatória e

antifibrótica decorrente da sua capacidade de inibição das histona desacetilases. Com

base nisso, foi formulada a hipótese de que a administração do ácido valpróico poderia

ser eficaz em bloquear o processo de fibrose peritoneal experimental.

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OBJETIVOS

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OBJETIVOS

_______________________________________________________________

29

3. OBJETIVOS

O objetivo central do presente estudo foi analisar o efeito do ácido valpróico na

fibrose peritoneal experimental em ratos.

Os seguintes objetivos específicos foram delineados:

1. Avaliação histológica do efeito do ácido valpróico no peritônio de ratos

submetidos ao modelo de fibrose peritoneal induzido quimicamente,

analisando o grau de espessamento peritoneal e a fibrose da camada

submesotelial do peritônio (coloração com Tricrômio de Masson);

2. Análise da expressão de fatores envolvidos na fibrogênese peritoneal

(fibronectina, TGF-β1 e FSP-1) no peritônio, através de PCR em tempo

real;

3. Análise da via de sinalização das Smads no processo de fibrogênese no

peritônio, através de PCR em tempo real para Smad3 bem como imuno-

histoquímica para Smad3 fosforilada;

4. Análise da expressão de fatores antifibróticos (BMP-7 e Smad7) no

peritôneo através de PCR em tempo real e imunofluorescência.

5. Análise imuno-histoquímica do peritôneo para identificar e quantificar a

infiltração por macrófagos (ED1) e miofibroblastos (α-actina);

6. Análise da expressão de citocinas pró-inflamatórias (TNF-α, IL-6 e IL-

1β) e quimiocinas (MCP-1 e MIP-2) no peritônio, através de PCR em

tempo real e Multiplex;

7. Análise da neoangiogênese e expressão do VEGF por PCR no peritôneo;

8. Avaliação da função peritoneal através da medida do transporte de

glicose e ultrafiltração peritoneal.

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MATERIAIS E MÉTODOS

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MATERIAIS E MÉTODOS

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31

4. MATERIAIS e MÉTODOS

4.1. Animais

Os experimentos foram realizados em ratos Wistar machos pesando entre 280 e

320g obtidos do Biotério Central da Faculdade de Medicina da Universidade de São

Paulo. Os animais foram mantidos em gaiolas para roedores, a uma temperatura de 22ºC

e com livre acesso à água e ração padrão. Toda a metodologia aplicada para o estudo foi

aprovada pela Comissão de Ética em Pesquisa da FMUSP (protocolo 145/14).

4.2. Modelo experimental

A fibrose peritoneal foi induzida através de injeções intraperitoneais de

gluconato de clorexidina (GC) a 0,1% em etanol a 15% dissolvido em salina, como

descrito previamente (54). Os ratos receberam injeções de GC na dose de 1 mL/100g de

peso diariamente do 15º ao 30º dia do protocolo.

4.3. Administração do ácido valpróico

O ácido valpróico (Depakene, Abbott, Illinois, EUA) foi administrado

diariamente via gavage na dose de 300 mg/kg/dia do 15º ao 30º dia, ou seja,

concomitante com a indução da fibrose peritoneal.

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MATERIAIS E MÉTODOS

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32

4.4. Grupos experimentais e desenho do estudo

Depois de um período de adaptação de 15 dias foram formados 3 grupos com 8

animais cada. Esses animais foram divididos da seguinte forma (Figura 10):

Grupo Controle: animais que receberam veículo por gavage (salina) e injeções

intraperitoneais de salina;

Grupo FP: animais que receberam injeções intraperitoneais de GC e veículo;

Grupo FP+VPA: animais com FP tratados com VPA;

Figura 10. Desenho do estudo. Após 15 dias de adaptação os animais foram divididos em 3

grupos: Controle, FP e FP+VPA. No 30º. dia os animais foram submetidos à eutanásia para

coleta de material biológico. GC = injeções diárias de gluconato de clorexedine;

IP = intraperitoneal; VPA = administração de ácido valpróico diariamente 300 mg/kg via

gavage; PCR = reação em cadeia de polimerase; † = eutanásia dos animais.

†Dia 30Dia 0

Controle(n=8)

FP(n=8)

FP+VPA(n=8)

Dia 30Dia 0

Ácido Valpróico

Dia 30Dia 0

Salina

HistologiaFunção peritoneal

ImunohistoquímicaImunofluorescência

MultiplexPCR

Dia 15

Dia 15

Dia 15

Salina IP

Salina

GC IP

GC IP

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MATERIAIS E MÉTODOS

_______________________________________________________________

33

Um grupo (Controle + VPA, n=5) de animais controles foram tratados com

ácido valpróico para avaliar o efeito da medicação no peso, morfologia e função

peritoneal na ausência do estímulo da fibrose pelo GC.

Após o período do protocolo experimental, os animais foram submetidos à

eutanásia através de injeção intraperitoneal de pentobarbital sódico 100 mg/kg.

Amostras da parede abdominal anterior contralateral ao local das injeções foram

coletadas. Amostras do peritôneo foram cuidadosamente dissecadas e imediatamente

congeladas em nitrogênio líquido e, posteriormente, armazenadas em freezer -70 ºC.

Uma secção da parede abdominal permaneceu 45 minutos em solução de Duboscq-

Brazil, sendo em seguida transferida para solução de formol 10% em tampão fosfato até

a inclusão em blocos de parafina.

4.5. Análise da espessura da membrana peritoneal

4.5.1. Coloração Tricômio de Masson

Para a realização da coloração histológica, lâminas com fragmentos peritoneais

de 3µm de espessura passaram por um processo de desparafinização. Após 30 minutos

em estufa a 60C, as lâminas foram imersas em xilol durante 9 minutos, por 3 vezes.

Em seguida, as lâminas foram mergulhadas em etanol absoluto (Merck, Darmstadt,

Alemanha) por 5 minutos (2 vezes), em etanol 96% por 3 minutos (2 vezes) e em água

destilada.

Para analisar o espessamento e o grau de fibrose na membrana peritoneal foi

empregada a técnica de Tricrômio de Masson. Após a desparafinização, as lâminas

foram incubadas em Hematoxilina de Harris (Merck, Darmstadt, Alemanha) por 3

minutos e 30 segundos e, em seguida, em solução de Cromotrop (Cromotrop + Azul de

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MATERIAIS E MÉTODOS

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Anilina + Ác. Fosfotungstico) por 25 minutos. As lâminas foram então lavadas em água

destilada e imediatamente desidratadas na sequência de banhos de etanol e xilol a partir

do etanol 96%.

4.5.2. Histomorfometria

Para cada animal, fotos de campos microscópicos (aumento 200 x) de toda a

extensão peritoneal foram obtidas. Em cada campo, a espessura da membrana peritoneal

foi medida em três locais diferentes e a média do campo foi calculada. A média de todos

os campos de cada animal foi determinada e utilizada para as análises estatísticas. Para

este procedimento utilizamos imagens digitalizadas e software de análise de imagens

(Image Pro Plus Software 7.0, Media Cybernetics Inc, Bethesda, EUA). A medida da

espessura da MP foi expressa em μm.

4.6. Imuno-histoquímica

4.6.1. Macrófagos

Os macrófagos foram identificados no peritônio através do anticorpo

monoclonal anti-monócito/macrófago de rato (anti-CD68, clone ED-1) (Serotec,

Raleigh, EUA), produzido em camundongo.

O método de imuno-histoquímica (IH) utilizado para a marcação deste anticorpo

foi o LSAB-AP (Labeled Streptavidin-Biotin Alcaline Phosphatase – Dako, Carpinteria,

EUA). Todo o processo foi realizado em câmara úmida.

Com o objetivo de aumentar a expressão antigênica, após a desparafinização, as

lâminas foram imersas em tampão citrato 10 mM, pH=6,0 e levados em forno micro-

ondas com potência de 2400 watts durante 15 minutos. Após atingir a temperatura

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MATERIAIS E MÉTODOS

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35

ambiente as lâminas foram lavadas com água destilada para a retirada do tampão citrato

e transferidas para Tris buffered saline (TBS) pH=7.

Para o bloqueio da biotina endógena os cortes foram incubados com solução de

avidina D (Vector, Burlingame, EUA) durante 15 minutos, sendo posteriormente

lavadas com TBS durante 5 minutos. Em seguida, os cortes foram incubados com uma

solução de biotina (Vector, Burlingame, EUA) durante 15 minutos e posteriormente

lavados com TBS por 5 minutos. O bloqueio de ligações inespecíficas foi realizado

incubando o tecido com albumina sérica bovina a 1% por 15 minutos e, após a retirada

do excesso, os cortes foram incubados com o anticorpo primário anti-ED-1 (1:200),

durante a noite a 4ºC.

No dia seguinte, os cortes foram lavados em TBS por 5 minutos e incubados

com o pool de anticorpos biotinilados anti-camundongo, anti-coelho e anti-cabra (Dako,

Carpinteria, EUA) por 30 minutos. Após lavagem com TBS, para completar a reação, os

cortes foram incubados com o complexo estreptavidina-biotina-fosfatase alcalina

(Dako, Carpinteria, EUA) por 30 minutos e lavados novamente com TBS e destinados à

revelação.

Para a revelação, os cortes foram incubados com uma solução contendo

substrato para a enzima fosfatase e o corante fast-red (Sigma Chemical Co, Saint Louis,

EUA), preparada da seguinte maneira: 1 mg de fosfato de naftol AS-MX (Sigma

Chemical Co, Saint Louis, EUA) foram diluídos em 100 μL de dimetilformamida

(Merck, Darmstadt, Alemanha). Em seguida, a solução foi diluída em 4,9 mL de tampão

Tris 0,1M (pH=8,2) e 10 μL de levamisol 1M (Sigma Chemical Co, Saint Louis, EUA)

foram acrescentados. Esta solução ficou armazenada a –20ºC e, no momento da

revelação foi misturada com 5 mg do corante fast-red.

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MATERIAIS E MÉTODOS

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A revelação foi realizada sob microscopia em aumento de 100 X e as células

positivas apresentaram coloração avermelhada. O tempo de revelação foi de

aproximadamente 15 minutos. As lâminas foram contra coradas com hemalunbre de

Mayer (Merck, Darmstadt, Alemanha) durante 2 minutos, lavadas em água destilada e

montadas com glicergel (Merck, Darmstadt, Alemanha).

As células com marcação positiva para ED-1 (coloração vermelha) presentes

na membrana peritoneal foram quantificadas no aumento microscópico de 200 x e o

número ajustado pela área da membrana peritoneal analisada. Fotos de toda a extensão

do peritôneo de cada animal foram avaliadas e uma média final de todos os campos foi

determinada. A área da membrana peritoneal foi calculada usando o software Image-Pro

Plus 7.0 (Media Cybernetics Inc., Bethesda, EUA). A quantificação foi expressa como

células/mm2.

4.6.2. Miofibroblastos (α-SMA, actina de músculo liso)

Para a realização da técnica de IH, os fragmentos de tecido aderidos às lâminas

foram desparafinizados, e em seguida foram transferidas para tampão citrato 10 mM pH

6,0 e levadas ao forno de micro-ondas com potência de 2400 watts durante 15 minutos

para a exposição antigênica. Ao término, as lâminas foram resfriadas lentamente até

atingir a temperatura ambiente, lavadas com água destilada para a retirada do tampão

citrato e transferidas para TBS.

Em seguida foi realizado o bloqueio da biotina endógena do tecido, incubando-o

por 15 minutos com solução de avidina e por 15 minutos com solução de biotina

(Vector, Burlingame, EUA). O bloqueio de ligações inespecíficas foi realizado

incubando o tecido com albumina sérica bovina a 1% por 15 minutos. Os cortes foram

então incubados com o anticorpo monoclonal de camundongo anti-alfa-actina de

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MATERIAIS E MÉTODOS

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músculo liso (Sigma Chemical CO, St. Louis, EUA) na diluição de 1:800, durante à

noite a 4°C e em câmara úmida.

A seguir, os fragmentos foram incubados com o pool de imunoglobulinas

biotiniladas anti-camundongo, anti-coelho e anti-cabra (LSAB Biotinylated Llink

Universal, Dako Carpenteria, EUA) por 30 minutos, seguida pela incubação com o

complexo estreptavidina-biotina/fosfatase alcalina (LSAB Streptavidin-AP, Dako,

Carpenteria, EUA) por 30 minutos.

A revelação foi realizada incubando o tecido por cerca de 10 minutos em

solução de substrato para fosfatase alcalina (naftol fosfato 0,54 mM, dimetilformamida

0,005%, Tris 0,098 M e levamisol 0,002M) contendo o corante fast-red a 0,01%. A

contra coloração foi feita com hemalumbre de Mayer (Merck, Darmstadt, Alemanha)

por 1 minuto. As lâminas foram montadas com glicergel (Merck, Darmstadt,

Alemanha).

A área marcada para α-SMA (%) relativa à toda a área peritoneal de cada campo

microscópico foi realizada usando o software Image-Pro Plus 7.0 (Media Cybernetics

Inc., Bethesda, EUA). Fotos de toda a extensão do peritôneo de cada animal foram

avaliadas e uma média final de todos os campos foi determinada. A quantificação foi

expressa percentual da área peritoneal.

4.6.3. Smad3 fosforilada

A detecção da proteína Smad3 fosforilada foi realizada através do anticorpo

Rabbit anti-Smad3 fosforilada (Abcam, Cambridge, Reino Unido), utilizando o kit

NovoLink (Leica Biosystems Newcastle LTDA, Newcastle, Reino Unido). Após a

desparafinização, as lâminas foram colocadas no tampão citrato 10 mM pH 6,0 para

recuperação do antígeno e levadas ao forno de micro-ondas com potência de 2400 watts

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MATERIAIS E MÉTODOS

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38

durante 15 minutos para a exposição antigênica. Ao término, as lâminas foram

resfriadas lentamente até atingir a temperatura ambiente, lavadas com água destilada

para a retirada do tampão citrato e transferidas para TBS. Em seguida foi realizado o

bloqueio da peroxidase por 5 minutos. Ao término, foram realizadas duas lavagens com

TBS por 5 minutos cada. O próximo passo foi incubação por 5 minutos também com

Protein Block pertencente ao kit. A lavagem com TBSfoi realizada novamente por duas

vezes para posterior incubação overnight a 4ºC com o anticorpo anti-Smad3 fosforilada

na diluição 1:1000.

No outro dia, as lâminas foram lavadas duas vezes no TBS por 5 minutos. Após

isso foram incubadas com bloqueio pós-primário por 30 minutos, seguido por lavagens

com TBS. Em seguida foi realizada a incubação com polímero por 30 minutos. Após a

última incubação, as lâminas foram lavadas mais duas vezes com TBSpor 5 minutos.

Por fim, foi realizada a revelação com Aminoetilcarbazol (AEC) por 6 minutos e contra

coloração com banho na hemalunbre de Mayer (Merck, Darmstadt, Alemanha) e

montadas com glicergel (Merck, Darmstadt, Alemanha).

As células com marcação positiva para Smad3 fosforilada presentes na

membrana peritoneal foram quantificadas no aumento microscópico de 200 x e o

número ajustado pela área da membrana peritoneal. Fotos de toda a extensão do

peritôneo de cada animal foram avaliadas e uma média final de todos os campos foi

determinada. A área da membrana peritoneal foi calculada usando o software Image-Pro

Plus 7.0 (Media Cybernetics Inc., Bethesda, EUA). A quantificação foi expressa como

células/mm2.

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MATERIAIS E MÉTODOS

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4.7. Imunofluorescência

4.7.1. Smad7

Após desparafinização e recuperação antigênica por calor em tampão citrato

(pH 6,0), as secções foram permeabilizadas com Triton x-100 a 0,2% em solução

tamponada com fosfato (PBS), seguido de bloqueio com albumina sérica bovina a 5%

por 30 minutos. Após lavagem, as lâminas foram incubadas a 4 ºC durante a noite com

anticorpo anti-Smad7 policlonal de coelho (Abcam, Cambridge, Reino Unido) diluído a

1:100. No dia seguinte, as secções foram então incubadas com IgG de cabra anti-coelho

marcada com FITC (Sigma-Aldrich, St Louis, EUA) diluída a 1:50 durante 1 hora e

coradas com 4,6-diamidino-2-fenilindol (DAPI, Thermo Scientific, Waltham, EUA)

durante 7 min, e montado em glicerol. Os controles foram tratados por omissão do

anticorpo primário. As secções foram examinadas sob o microscópio Nikon Eclipse 80i

(Tóquio, Japão). Pelo menos dez campos microscópicos foram obtidos de cada rato sob

ampliação 400 x. A proporção de células Smad7 positivas (Smad7+) em relação à todas

as células coradas pelo DAPI no peritôneo em cada campo microscópico foi calculada.

Estabeleceu-se então a proporção (Smad7+/DAPI

+) média de todos os campos para cada

rato a fim de se realizar as análises estatísticas.

4.7.2. Isolectina-B4

A imunofluorescência (IF) para isolectina-B4 foi realizada para estudar a

neoangiogênese na MP. Após desparanifinização e recuperação antigência, as laminas

foram incubadas com albumina sérica bovina a 5% em PBS-Tween (pH 7,4) durante 60

minutos. As lâminas foram então incubadas a 4ºC durante a noite com anti-isolectina-B4

conjugada com Dy Ligth 594 Griffonia Simplicifolia (Vector Laboratories, Burlingame,

EUA) diluída a 1: 100. No dia seguinte, após lavagem, as seções foram montadas com

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MATERIAIS E MÉTODOS

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reagente ProlongGold anfifade com DAPI (Life Technologies, Carlsbad, EUA). No

mínimo 10 campos microscópicos foram retirados de cada rato sob ampliação x 400

utilizando com filtro de 594 nm para isolectina e 540 nm para DAPI (microscópio

Nikon Eclipse 80i, Tóquio, Japão).

4.7.3. Quantificação da densidade capilar da membrana peritoneal

Para avaliação da neoangiogênese na membrana peritoneal foi utilizado um

índice de densidade vascular composto pelo número de vasos sanguíneos na camada

submesotelial dividido pela área da membrana peritoneal. Em cada campo microscópico

o número de vasos corados pela isolectina na zona submesotelial foram contados e

ajustados pela área. Um índice de densidade capilar foi calculado e expresso em número

de vasos/mm2. A média de cada animal foi calculado a partir dos índices de densidade

vascular de todos os respectivos campos microscópicos. Essa média foi utilizada para

análise estatística.

4.8. Expressão de citocinas no peritôneo por Multiplex

As amostras de tecido peritoneal foram lisadas em tampão RIPA (EMD

Millipore, Billerica, EUA) com inibidor de protease. Utilizou-se um kit de ensaio de

citocinas / quimiocinas para ratos MILLIPLEX (EMD Millipore, Billerica, EUA) para

medir a concentração de TNF-α, IL-1β, IL-6, Monocyte chemoattractant protein-1

(MCP-1) e Macrophage inflammatory protein-2 (MIP-2) no homogeneizado de

amostras do peritôneo. O ensaio foi lido no sistema de matriz de suspensão Bio-Plex e

os dados foram analisados utilizando o software Bio-Plex Manager versão 4.0 (Life

Science, Hercules, EUA). Os resultados foram expressos como pg/mg de proteína.

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MATERIAIS E MÉTODOS

_______________________________________________________________

41

4.9. PCR em tempo real

4.9.1. Extração de RNA

Todas as soluções utilizadas para a extração de RNA foram feitas com água

deionizada através do sistema Milli-Q (Millipore, Milli-Q Element A10 System,

Billerica, EUA) e tratada com dietilpirocarbonato (Sigma, St Louis, EUA). Para cada

litro de água deionizada, foram adicionados 1,0 mL de dietilpirocarbonato e a solução

foi mantida a 60ºC sob agitação por aproximadamente 12 horas, sendo em seguida

autoclavada (121ºC por 20 minutos). RNA total foi extraído da membrana peritoneal

com o reagente Trizol (Invitrogen, Carlsbad, EUA), seguindo-se o protocolo sugerido

pelo fabricante. Cada 100 mg de tecido foi homogenizado com 1 mL de Trizol com

auxílio de um dispersador de tecidos (IKA – Labortechnik Ultra Turrax T25 Janke &

Kunkel, Alemanha). A cada mL de homogenato, foram adicionados 200µL de

clorofórmio (Merck, Darmstadt, Alemanha), a mistura foi novamente homogeneizada e

mantida por 3 minutos em temperatura ambiente. Após a incubação, a mistura foi

centrifugada a 12.000 g a 4°C por 20 minutos. A fase superior contendo RNA foi

transferida para um microtubo de 2 mL contendo o mesmo volume de isopropanol

gelado (Sigma Chemical Co, Saint Louis, EUA). As amostras foram centrifugadas a

12.000g durante 10 minutos, o sobrenadante foi descartado, o pellet de RNA foi

ressuspendido em 1 mL de etanol 70% (Merck, Darmstadt, Alemanha) e centrifugado

novamente a 12.000g por 10 minutos. Este procedimento foi repetido e o pellet foi

ressuspendido com 50 µL de água previamente tratada com dietilpirocarbonato.

A quantificação do RNA foi feita em espectrofotômetro (NanoDrop, Thermo

Fisher Scientific, Marietta, EUA) medindo-se absorbância nos comprimentos de onda

260 e 280 nm. Foi feito o cálculo da concentração de RNA expresso em µg/mL a partir

da absorbância a 260 nm. A leitura de 1 OD corresponde a uma solução pura de RNA

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MATERIAIS E MÉTODOS

_______________________________________________________________

42

em fita-simples na concentração de 40 µg/mL. A leitura a 280 nm foi utilizada para

determinar a contaminação das amostras com proteínas. A análise foi feita baseando-se

na razão entre as absorbâncias a 260 e 280 nm e o valor aceitável foi de 1,7 a 2,0.

4.9.2. Síntese de cDNA

Todos reagentes utilizados para a reação de síntese do DNA complementar

(cDNA) foram da marca Promega (Promega, San Luis Obispo, EUA). Um microlitro de

oligo dT primer (500 µg/ml) foi misturado a 11 µl de uma solução de RNA a 50 ng/µl.

A solução foi aquecida a 70ºC por 10 minutos e resfriada em gelo por 5 minutos. Em

seguida, foi acrescentado 4 µl de tampão [5X] (Tris-HCl 250 mM pH=8,3, KCL 375

mM, MgCl2 15 mM) , 2 µl de DTT 0,1M, 1 µl de dNTP Mix (10mM de dATP, dGTP,

dCTP e dTTP) e 1 µl (200u) da enzima transcriptase reversa M-MLV (Moloney Murine

Leukemia Virus). A reação foi realizada a 42ºC por 50 minutos, passando

posteriormente por um período de 15 minutos a 70ºC para a inativação da enzima. O

cDNA foi mantido em freezer a –20ºC até a realização da reação em cadeia de

polimerase (PCR) em tempo real.

4.9.3. PCR em tempo Real

Para esta etapa foram confeccionados pares de primers para a obtenção de

amplicons com no máximo 250 pb (pares de base), conforme a recomendação para PCR

em tempo real. Os primers utilizados estão representados na Tabela 2.

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MATERIAIS E MÉTODOS

_______________________________________________________________

43

Tabela 2. Primers utilizados para os experimentos de PCR em tempo real

Para a PCR em tempo real foi utilizado o kit SYBR GreenEr qPCR SuperMix

Universal (Invitrogen, Carlsbad, EUA). Um microlitro de cDNA foi acrescido de 7,5 µL

de mix do kit, 0,6 µL de primer foward (10 µM), 0,6 µL de primer reverse (10 µM),

5,75 µl de água deionizada e 0,15 µl de Rox. Todas as reações foram realizadas em

triplicatas. A mistura foi aquecida a 50ºC por 10 minutos e depois a 95ºC por 5 minutos,

seguindo 40 ciclos de 95ºC por 15 segundos, 60ºC por 30 segundos e 72ºC por 30

segundos. A curva de melting foi feita à 65ºC com variação de 1ºC.

Gene alvo Primers

β-Actina Sense 5’ AGGAGTACGATGAGTCCGGCCC 3’

Antisense 5’ GCAGCTCAGTAACAGTCCGCCT3’

IL-1β Sense 5’CCTTGTGCAAGTGTCTGAAGCAGC3’

Antisense 5’GCCACAGCTTCTCCACAGCCA3’

TNF-α Sense 5’TGGCCCAGACCCTCACACTCA3’

Antisense 5’GGCTCAGCCACTCCAGCTGC3’

Fibronectina Sense 5’TGACCCAGACTTACGGTGGCA3’

Antisense 5’GGAGTAGAAGGTCCTACCGTTGTAGTG3’

TGF-β Sense 5’CAACCCGGGTGCTTCCGCAT3’

Antisense 5’TGCTCCACCTTGGGCTTGCG3’

VEGF Sense 5’ACTGTGAGCCTTGTTCAGAGCGG3’

Antisense 5’TCAAGCTGCCTCGCCTTGCA3’

FSP-1 Sense 5’GGCAACGAGGGTGACAAGTT3’

Antisense 5’CCCTGGTCAGTAGTCCCTTGA3’

Smad3 Sense 5’TCAACGGAACTTGGGAATGAG3’

Antisense 5’GTAGTGCGGAGCTCTCCTTCA3’

Smad7 Sense 5’CCTGGCCGGTGTAAATGTCT3’

Antisense 5’GCGGATCCCTTGGAAAGG3’

BMP-7 Sense 5’TGGCGGTGGAGGAGAGTGGG3’

Antisense 5’CTGCAGGCTGGCCAAAGGGG3’

Smad5 Sense 5’GGGCTGCTGTCCAACGAA3’

Antisense 5’GATGTGCCGCCTGGTGTT’

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MATERIAIS E MÉTODOS

_______________________________________________________________

44

O equipamento utilizado foi o StepOnePlus™ Real-Time PCR System (Applied

Biosystems, Singapura, Singapura). A expressão gênica foi determinada como a

expressão relativa entre o gene alvo e o gene housekeeping β-actina, calculadas pelo

software do aparelho StepOnePlus™ Real-Time PCR System (Applied Biosystems,

Singapura, Singapura), a partir dos cycle threshold (CT) das reações.

4.10. Análise da função peritoneal

Um teste de equilíbrio peritoneal (PET) modificado de 2 horas foi realizado

em todos os ratos no final dos experimentos. Cada rato recebeu injeção intraperitoneal

de 0,09 ml/g de peso de solução de diálise peritoneal a 4,25% de glicose (Baxter,

Dianeal PD-2) e, 2 horas após da permanência da solução na cavidade peritoneal, os

animais foram anestesiados. A cavidade abdominal foi então aberta ao longo da linha

alba para coleta do líquido remanescente com seringa descartável em condições estéreis

para a dosagem da glicose e sódio. As amostras do efluente peritoneal foram

centrifugadas a 2.000 rpm por 10 minutos e armazenadas a – 20 ºC. Determinou-se o

volume de ultrafiltração (UF) subtraindo o volume drenado do volume infundido. A

concentração de glicose no efluente drenado da cavidade após 2 horas de permanência

(D2) divida pela concentração da glicose na solução infundida (D0) – razão D2/D0 – foi

utilizada como uma medida para avaliação do transporte de solutos pela MP. O gap de

sódio (Na gap), determinado subtraindo a concentração de sódio do efluente peritoneal

coletado ao fim da permanência da concentração sódio do fluido infundido, foi usado

como um marcador substituto do transporte de água livre pelo peritônio. A concentração

de glicose e sódio foi analisada utilizando o aparelho Cobas C111 analyzer (Roche,

Indianápolis, EUA).

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MATERIAIS E MÉTODOS

_______________________________________________________________

45

4.11. Análise estatística

A análise estatística foi realizada para comparação de grupos utilizando para os

cálculos o software GraphPad Prism versão 5.0 (Graphpad Software, La Jolla, EUA).

Inicialmente as diversas variáveis foram testadas para normalidade e então o teste

ANOVA com pós-teste de Tukey foi aplicado. Em relação aos resultados de PCR em

tempo real, após a obtenção dos valores de cicle treshold (CT) de cada amostra

referente ao gene alvo, foi determinado a diferença de CT entre o gene constitutivo e o

gene de interesse. Após, foi realizada a normalização destes valores, sendo que para o

resultado final é calculado o logarítmo da média dos valores normalizado. O desvio

padrão foi calculado a partir dos valores normalizados de CT. Todos os resultados

foram apresentados como média ± erro padrão. A significância estatística foi

considerada a partir do p<0,05.

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RESULTADOS

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RESULTADOS

_______________________________________________________________

47

5. RESULTADOS

5.1. Mortalidade e evolução do peso dos animais

Não ocorreu nenhum óbito antes do dia da eutanásia em todos os grupos. Os

dados relativos ao peso dos animais durante os experimentos estão demonstrados na

Tabela 3. A administração do VPA aos animais normais (Grupo Controle+VPA) não

resultou em perda de peso ou alteração do comportamento. O grupo FP apresentou um

ganho de peso significativamente menor comparado com o grupo Controle (p<0,01). O

tratamento com VPA (grupo FP + VPA) resultou em ganho ponderal normal dos ratos.

Tabela 3. Evolução do peso dos animais

Dia 0

(g)

Dia 15

(g)

Dia 30

(g)

Δ

(g)

Controle 296 ± 4 352 ± 1 392 ± 11 96 ± 5

Controle+VPA 292 ± 3 356 ± 3 384 ± 2 91 ± 3

FP 291 ± 7 353 ± 7 347 ± 11* 56 ± 8

**

FP+VPA 295 ± 7 350 ± 1 376 ± 14† 81 ± 7††

Dados apresentados como média ± erro padrão médio. *p<0,05,

**p<0,01

comparado com grupo

Controle; †p<0,05,

††p<0,01

comparado com grupo FP. Δ = ganho de peso durante os

experimentos; FP = fibrose peritoneal; VPA = ácido valpróico.

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RESULTADOS

_______________________________________________________________

48

5.2. O ácido valpróico preveniu a fibrose peritoneal e preservou a

função de peritoneal

Conforme Tabela 4 e Figura 11, na análise histomorfométrica das lâminas

coradas pela técnica de Tricrômio-Masson, foi observado que o peritôneo dos animais

do grupo Controle era formada por uma camada de células mesoteliais sobreposta a uma

fina camada de tecido conjuntivo, a camada submesotelial. De outro modo, a MP do

grupo FP apresentou espessamento acentuado da zona submesotelial (26,2 ± 3 µm vs

123,8 ± 18 µm, respectivamente, p<0,001). Em contraste, o tratamento com VPA

reduziu significativamente o espessamento peritoneal (38,9 ± 5 µm, p<0,001). A

espessura da MP não foi afetada pela administração de VPA no grupo Controle+VPA

(21,0 ± 5 µm) em relação ao grupo Controle.

Tabela 4. Quantificação da espessura da membrana peritoneal

Espessura

(µm)

Controle 26,2 ± 3

Controle+VPA 21,0 ± 5

FP 123,8 ± 18***

FP+VPA 38,9 ± 5†††

Dados apresentados como média ± erro padrão médio. ***

p<0,001 comparado ao grupo

Controle; †††

p<0,001 comparado ao grupo FP. FP = fibrose peritoneal; VPA = ácido valpróico.

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RESULTADOS

_______________________________________________________________

49

Controle FP VPA

0

50

100

150***

†††

Es

pe

ss

ura

Pe

rito

ne

al

( m

)

Figura 11. Efeito do VPA no espessamento da membrana peritoneal. (A-C) Fotomicrografias

representativas de amostras de peritôneo parietal corado com Tricrômio de Masson (x200). (A)

Secção da parede abdominal anterior de uma rato normal demonstrando uma fina camada

submesotelial. (B) A membrana peritoneal do Grupo FP demonstrando espessamento

importante da camada submesotelial. (C) Tratamento com VPA impediu a progressão do

espessamento peritoneal. (D) Análise da quantificação do efeito do VPA sobre o espessamento

peritoneal. FP = fibrose peritoneal; VPA = ácido valpróico.

Para avaliar se a preservação estrutural da MP pelo tratamento com VPA se

traduziu na preservação da função peritoneal, foram analisadas a ultrafiltração (UF), a

relação de glicose D2/D0 e o transporte de água livre no peritônio (Na gap). A função

peritoneal foi significativamente afetada no grupo FP demonstrado pelos valores de UF,

D2/D0 e Na gap significativamente menores do que nos animais do grupo Controle

(p<0,001). O tratamento com VPA manteve esses parâmetros no grupo FP+VPA

semelhantes aos do grupo Controle. A função peritoneal não foi afetada no grupo

Controle+VPA (Tabela 5).

Controle FP FP+VPA

A B C

*** p<0,001 vs Controle †††

p<0,001 vs FP

D

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RESULTADOS

_______________________________________________________________

50

Tabela 5. Análise da função da membrana peritoneal

UF

(mL)

D2/D0

Na gap

(meq/L)

Controle 15,9 ± 3 0,18 ± 0,01 9,8 ± 0,7

Controle+VPA 15,2 ± 1 0,2 ± 0,01 10 ± 0,6

FP -1,0 ± 1***

0,11 ± 0,02***

1,8 ± 2,1**

FP+VPA 11,2 ± 2†††

0,21 ± 0,01†††

9,4 ± 0,5†††

Dados apresentados como média ± erro padrão médio. **

p<0,01, ***

p<0,001 comparado ao

grupo Controle; †††

p<0,001 comparado ao grupo FP. FP = fibrose peritoneal; VPA = ácido

valpróico; UF = volume de ultrafiltrado; D2/D0 = razão entre a concentração de glicose no

efluente peritoneal após 2 horas de permanência na cavidade peritoneal pela concentração da

glicose inicial; Na gap = redução da concentração do sódio no efluente peritoneal após 2 horas

de permanência na cavidade peritoneal em relação à concentração do sódio inicial.

5.3. O VPA atenuou o aumento da expressão de fatores pró-fibróticos e

miofibroblastos no peritôneo

A expressão de marcadores pró-fibróticos, tais como fibronectina, TGF-ß e

proteína-1 específica de fibroblastos (FSP-1) foi analisada no peritônio por meio de

qPCR. A expressão do mRNA destes genes foi significativamente aumentada no grupo

FP quando comparada com os controles normais (p<0,001). O tratamento com VPA

reduziu significativamente a expressão de todos eles para níveis iguais aos dos animais

controle (Figura 12, Tabela 6). Por outro lado, verificou-se que a expressão de BMP-7,

um fator antifibrótico que neutraliza a ação do TGF-β, foi significativamente maior no

grupo FP+VPA comparado ao grupo FP (p<0,05, Figura 12, Tabela 6). Em paralelo ao

comportamento observado pela BMP-7, observamos uma maior expressão do mRNA da

Smad 5, uma das Smads mediadoras do sinal intracelular de ativação dos receptores de

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RESULTADOS

_______________________________________________________________

51

BMP, no grupo FP+VPA em relação ao FP (expressão relativa Grupo FP 0,5 ± 0,2 vs

1,6 ± 0,1; p<0,01).

Tabela 6. Expressão gênica de fatores pró-fibróticos e BMP-7 no peritôneo.

TGF-β

Fibronectina FSP-1

BMP-7

Controle 1 ± 0,2 1 ± 0,2 1 ± 0,2 1,0 ± 0,1

FP 2,2 ± 0,1

*** 3,1 ± 0,2

*** 2,2 ± 0,1

** 0,3 ± 0,5

FP+VPA 1,1 ± 0,2

††† 1,0 ± 0,2

††† 1,3 ± 0,2

†† 1,0 ± 0,2

Dados apresentados como média ± erro médio padrão. **

p<0,01, ***

p<0,001 comparado com

o grupo Controle; †p<0,05,

††p<0,01,

†††p<0,001 comparado com o grupo FP. BMP-7 =

Bone Morphogenic Protein; FP = fibrose peritoneal; VPA = ácido valpróico; TGF =

Transforming Growth Factor; FSP = Fibroblast Specific Protein.

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RESULTADOS

_______________________________________________________________

52

Controle FP VPA0

1

2

3

4

5

†††

***

TG

F-

(exp

ressã

o r

ela

tiva

)

Controle FP VPA0

1

2

3

4

5

†††

***

Fib

ron

ecti

na

(exp

ressã

o r

ela

tiva

)

Controle FP VPA0

1

2

3

4

5

††

**

FS

P-1

(exp

ressã

o r

ela

tiva

)

Controle FP VPA0

1

2

3

4

5

BM

P-7

(exp

ressã

o r

ela

tiva

)

Figura 12. Expressão de genes pró-fibróticos e BMP-7 no peritôneo. O tratamento com VPA

impediu o aumento da expressão de genes pró-fibróticos observado no grupo FP e aumentou a

expressão de BMP-7. Dados apresentados como média ± erro médio padrão. BMP-7 = Bone

morphogenic protein; FP = fibrose peritoneal; VPA = ácido valpróico; TGF = Transforming

Growth Factor; FSP = Fibroblast Specific Protein.

** p<0,01 vs Controle

*** p<0,001 vs Controle † p<0,05 vs FP †† p<0,01 vs FP ††† p<0,001 vs FP

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RESULTADOS

_______________________________________________________________

53

A expressão de α-SMA, que é um marcador de miofibroblastos, foi avaliada por

imuno-histoquímica. No grupo Controle, poucas células positivas para α-SMA foram

observadas no peritôneo. O grupo FP apresentou um siginificativo aumento da

expressão de α-SMA. O tratmento com VPA reduziu significativamente a área marcada

para α-SMA de 4,2 ± 0,4% no grupo FP para 0,8 ± 0,1% no grupo VPA (p<0,001;

Tabela 7; Figura 13).

Tabela 7. Quantificação da expressão de miofibroblastos (α-SMA) no peritôneo

α-SMA

(% área)

Controle 0 ± 0

FP 4,2 ± 0,4**

FP+VPA 0,8 ± 0,1††

Dados apresentados como média ± erro padrão médio. **

p<0,01 comparado com grupo

Controle; ††

p<0,01 comparado com grupo FP. FP = fibrose peritoneal; VPA = ácido valpróico;

SMA = actina de músculo liso.

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RESULTADOS

_______________________________________________________________

54

Controle FP VPA0

1

2

3

4

5

**

††

Exp

ressão

de

-SM

A(á

rea

em

%)

Figura 13. Efeito do VPA na expressão de miofibroblastos na membrana peritoneal. (A-C)

Fotomicrografias representativas da imuno-histoquímica para α-SMA no peritôneo parietal

(x200). (A) Ratos do grupo Controle com poucas células positivas. (B) Grupo FP demonstrando

acúmulo de miofibroblastos (coloração vermelha) na membrana peritoneal. (C) Redução da

expressão de α-SMA nos animais tratados com VPA. (D) Análise da quantificação do efeito do

VPA na expressão de α-SMA (% da área). Dados apresentados como média ± erro padrão

médio. SMA = actina do músculo liso; FP = fibrose peritoneal; VPA = ácido valpróico.

5.4. O VPA protegeu contra a fibrose peritoneal interferindo na via

TGF-β/Smad

As Smad3 e Smad7 são mediadores intracelulares críticos envolvidos na

sinalização de TGF-β. Enquanto que a fosforilação intracelular de Smad3 conduz à

transcrição de genes pró-fibróticos, a regulação positiva de Smad7antagoniza a

sinalização de TGFβ/Smad. A expressão peritoneal de Smad3 fosforilada (pSmad3)

detectada por imuno-histoquímica e Smad3 mRNA foi significativamente maior no

Controle FP FP+VPA

A B C

** p<0,01 vs Controle ††

p<0,01 vs FP

D

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RESULTADOS

_______________________________________________________________

55

grupo FP em comparação com o grupo Controle. Contudo, o tratamento com VPA

reduziu significativamente o número de células positivas para pSmad3 e a sua

expressão gênica na MP (Figura 14, Tabela 8).

Controle FP VPA0

50

100

150

***

†††

pS

mad

3(c

élu

las/m

m2)

Figura 14. Efeito do VPA na expressão peritoneal de Smad3 fosforilada (pSmad3) e

mRNA Smad3. (A-C) Fotomicrografias representativas da imuno-histoquímica para pSmad3

no peritôneo parietal (x200). (A) Somente algumas poucas células positivas foram observadas

na membrana peritoneal do grupo Controle. (B) Grupo FP com aumento importante de células

marcadas para pSmad3 (coloração marrom) infiltrando o peritôneo. (C) Expressão de pSmad3

significativamente reduzida pelo tratamento com VPA. (D-E) Análise da quantificação do efeito

do VPA na expressão de células positivas para pSmad3 (D) e mRNA do Smad3 (E). Dados

apresentados como média ± erro médio padrão. FP = fibrose peritoneal; VPA = ácido valpróico.

Controle FP FP+VPA

A B C

Controle FP VPA0

1

2

3

4

5

*

Sm

ad

3(e

xpre

ssã

o r

ela

tiva

)

* p<0,05 vs Controle

*** p<0,001 vs Controle †

p<0,05 vs FP †††

p<0,001 vs FP

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RESULTADOS

_______________________________________________________________

56

Tabela 8. Expressão gênica da Smad3 e quantificação das células positivas para Smad3

fosforilada no peritôneo.

Smad3 mRNA

(expressão relativa)

pSmad3

(células/mm2)

Controle 1,0 ± 0,1 30,1 ± 5

FP 2,3 ± 0,5* 118 ± 17***

FP+VPA 1,0 ± 0,2† 34 ± 7†††

Dados apresentados como média ± erro padrão médio. *p<0,05,

***p<0,001 comparado ao grupo

Controle; †p<0,05,

†††p<0,001 comparado ao grupo FP. FP = fibrose peritoneal; pSmad3 =

Smad3 fosforilada; VPA = Ácido valpróico.

Por outro lado, os animais tratados com VPA demonstraram uma expressão de

Smad7 aumentada, detectada por imunofluorescência e PCR (Tabela 9 e Figura 15). No

grupo Controle e no grupo FP apenas algumas células Smad7+ foram detectadas (3,9 ±

2,8% e 19,8 ± 3,6%, respectivamente). No entanto, a proporção de células Smad7+ em

relação a todas as células coradas pelo DAPI na membrana peritoneal dos ratos tratados

com VPA foi significativamente aumentada (56,2 ± 3,4%, p <0,001). Paralelamente, os

níveis do mRNA de Smad7 foram mas significativamente aumentados no grupo

FP+VPA em comparação ao grupo FP (Tabela 9, Figura 15).

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RESULTADOS

_______________________________________________________________

57

Tabela 9. Expressão gênica e proporção de células marcadas para Smad7 no peritôneo.

Smad7 mRNA

(expressão relativa)

Smad7+

(%)

Controle 1,0 ± 0,1 3,9 ± 2,8

FP 0,2 ± 0,2*** 19,8 ± 3,6***

FP+VPA 1,7 ± 0,2††† 56,2 ± 3,4†††

Dados apresentados como média ± erro padrão médio. ***

p<0,001 comparado ao grupo

Controle; †††

p<0,001 comparado ao grupo FP. FP = fibrose peritoneal; Smad7+ = células

positivas para Smad7; VPA = ácido valpróico.

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RESULTADOS

_______________________________________________________________

58

Controle FP FP+VPA

0

20

40

60

80

100

***

***

†††

Sm

ad

7(%

lula

s p

osit

iva

s)

Figura 15. Expressão de Smad7 na membrana peritoneal. (A-I) Fotomicrografias

representativas da imunofluorescência para células Smad7+ (coradas em verde) e células DAPI

+

(coradas em azul) na membrana peritoneal (x400). Quase nenhuma expressão de Smad7 foi

detectada no grupo Controle (A) e somente algumas células Smad7+ foram observadas no grupo

FP (B). (C) No grupo FP+VPA, mais da metade das células na membrane peritoneal

apresentaram positividade para Smad7 (setas brancas). (J) Quantificação das células Smad7+ em

relação a todas as células DAPI+ na membrane peritoneal. (L) Efeito do VPA na expressão do

mRNA da Smad7 por qPCR. Dados apresentados como média ± erro médio padrão. FP =

fibrose peritoneal; VPA = ácido valpróico.

Controle FP

Dapi

Smad 7

Smad 7/Dapi Smad 7/Dapi Smad 7/Dapi

Smad 7 Smad 7

Dapi Dapi

FP+VPA

A B C

D E F

G H I

J L *** p<0,001 vs Controle †††

p<0,001 vs FP

Controle FP VPA0

1

2

3

4

5

†††

***

***Sm

ad

7(e

xp

ressã

o r

ela

tiva

)

Page 79: Análise do efeito do ácido valpróico no modelo ... · Este trabalho foi desenvolvido no Laboratório de Nefrologia Celular, Genética e Molecular – Laboratório de Investigação

RESULTADOS

_______________________________________________________________

59

5.5. O VPA reduziu a inflamação e neoangiogênese na membrana

peritoneal

5.5.1. Inflamação

Para analisar os possíveis efeitos anti-inflamatórios do VPA na membrana

peritoneal, os macrófagos foram analisados por imuno-histoquímica e as citoquinas pró-

inflamatórias e quimiocinas foram analisados por qPCR e Multiplex. No peritônio do

grupo FP, o número de macrófagos (células ED1+, Tabela 10, Figura 16) e a

concentração de fatores quimiotáticos para macrófagos MCP-1 e MIP-2 (Tabela 11,

Figura 17), aumentaram em relação ao grupo controle. Foi observada uma tendência não

significativa de redução no número de macrófagos na membrana peritoneal dos animais

do grupo FP+VPA em relação ao FP. Entretanto, os níveis aumentados de MCP-1 e

MIP-2 observados no grupo FP foram significativamente reduzidos pela administração

de VPA (Tabela 11, Figura 17). De forma semelhante, os animais tratados com VPA

demonstratam uma expressão significativamente menor da proteína (Tabela 11) e do

mRNA (Tabela 12) do TNF-α no tecido peritoneal quando comparados com o grupo FP

(Figura 18). Apesar da atenuação da expressão do mRNA da IL-1β observada no grupo

FP+VPA em relação ao FP (Tabela 12), não houve diferença estatística na concentração

dessa interleucina entre os dois grupos quando avaliada pelo Multiplex. Também na

análise por Multiplex não foi possível demonstrar diferença estatísticamente signficativa

entre os grupos com relação às concentrações de IL-6 no peritôneo (Controle = 78 ± 20,

FP = 692 ± 282, FP+VPA = 158 ± 80 pg/mg de proteína).

Page 80: Análise do efeito do ácido valpróico no modelo ... · Este trabalho foi desenvolvido no Laboratório de Nefrologia Celular, Genética e Molecular – Laboratório de Investigação

RESULTADOS

_______________________________________________________________

60

Tabela 10. Quantificação dos macrófagos e densidade capilar na membrana peritoneal.

ED1+

(células/mm2)

Densidade capilar

(vasos/mm2)

Controle 133 ± 90 12,5 ± 10

FP 826 ± 375** 671 ± 63***

FP+VPA 443 ± 222 120 ± 49†††

Dados apresentados como média ± erro padrão médio. **

p<0,01, ***

p<0,001 comparado ao

grupo Controle; †††

p<0,001 comparado ao grupo FP. FP = fibrose peritoneal; VPA = ácido

valpróico; ED1+ = macrófagos.

Tabela 11. Análise da concentração de quimiocinas de macrófagos e citocinas pró-

inflamatórias no tecido peritoneal.

MCP-1

(pg/mg)

MIP-2

(pg/mg)

TNF-α

(pg/mg)

IL1-β

(pg/mg)

Controle 13,5 ± 2,5 23 ± 10 3,8 ± 0,6 10,4 ± 3

FP 158 ± 45* 774 ± 319 71 ± 23* 255,5 ± 124

FP+VPA 11 ± 2,5† 31 ± 10† 3,9 ± 0,8† 6,5 ± 0,7

Dados apresentados como média ± erro médio padrão. *p<0,05 comparado ao grupo Controle;

†p<0,05 comparado ao grupo FP. MIP-2 = Macrophage inflamatory protein-2; MCP-1 =

Monocyte Chemoattractant Protein-1; TNF = Tumoral necrosis factor; FP = fibrose peritoneal;

VPA = ácido valpróico.

Page 81: Análise do efeito do ácido valpróico no modelo ... · Este trabalho foi desenvolvido no Laboratório de Nefrologia Celular, Genética e Molecular – Laboratório de Investigação

RESULTADOS

_______________________________________________________________

61

Controle FP FP+VPA0

250

500

750

1000

1250

1500

**

Macró

fag

os

(célu

las/m

m2)

Figura 16. Infiltração da membrana peritoneal por macrófagos. (A-C) Fotomicrografias

representativas da imuno-histoquímica para macrófagos (x200). Comparado com grupo

Controle (A), o grupo FP apresentou um aumento do número de macrófagos (células com

coloração vermelha) infiltrando a membrana peritoneal (B). A expressão de macrófagos foi

reduzida pelo tratamento com VPA de maneira não significativa (C). (D) Quantificação do

número macrófagos na membrana peritoneal. Dados apresentados como média ± erro médio

padrão. FP = fibrose peritoneal; VPA = ácido valpróico.

Controle FP FP+VPA

A B C

D ** p<0,01 vs Controle

Page 82: Análise do efeito do ácido valpróico no modelo ... · Este trabalho foi desenvolvido no Laboratório de Nefrologia Celular, Genética e Molecular – Laboratório de Investigação

RESULTADOS

_______________________________________________________________

62

Figura 17. Concentração de fatores quimiotáticos para macrófagos no peritôneo. Dados

apresentados como média ± erro médio padrão. MIP-2 = Macrophage inflammatory protein-2;

MCP-1 = Monocyte Chemoattractant Protein-1; FP = fibrose peritoneal; VPA = ácido

valpróico.

Tabela 12. Expressão gênica de citocinas pró-inflamatórias.

TNF-α

(expressão relativa)

IL-1β

(expressão relativa)

Controle 1 ± 0,4 1 ± 0,4

FP 2,6 ± 0,4* 3,8 ± 0,6*

FP+VPA 0,9 ± 0,3† 2,1 ± 0,2†

Dados apresentados como média ± erro médio padrão. TNF = Tumoral necrosis factor; IL =

interleucina; FP = fibrose peritoneal; VPA = ácido valpróico. *p<0,05 comparado com o

grupo Controle; †p<0,05 comparado com o grupo FP.

Controle FP FP+VPA0

50

100

150

200

250

*

MC

P-1

(pg/m

g p

rote

ína)

Controle FP FP+VPA0

500

1000

1500

MIP

-2(p

g/m

g p

rote

ína)

* p<0,05 vs Controle † p<0,05 vs FP

Page 83: Análise do efeito do ácido valpróico no modelo ... · Este trabalho foi desenvolvido no Laboratório de Nefrologia Celular, Genética e Molecular – Laboratório de Investigação

RESULTADOS

_______________________________________________________________

63

Controle FP FP+VPA0

1

2

3

4

5

*

TN

F-

(exp

ressã

o r

ela

tiva

)

Controle FP FP+VPA0

20

40

60

80

100*

TN

F-

(pg

/mg p

rote

ína

)

Controle FP FP+VPA0

1

2

3

4

5

*

IL -

1

(exp

ressã

o r

ela

tiva

)

Controle FP FP+VPA

0

100

200

300

400

IL -

1

(pg

/mg

pro

teín

a)

Figura 18. Expressão gênica e concentração das citocinas pró-inflamatórias na membrana

peritoneal. Dados apresentados como média ± erro médio padrão. FP = grupo fibrose peritoneal;

TNF = tumoral necrosis factos; VPA = grupo ácido valpróico; TNF = tumoral necrosis factor.

* p<0,05 vs Controle †

p<0,05 vs FP

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RESULTADOS

_______________________________________________________________

64

5.5.2. Neoangiogênese

O VPA também apresentou efeito antiangiogênico. No grupo FP observamos um

aumento da densidade capilar da membrana peritoneal em relação aos outros dois

grupos. O tratamento com VPA foi capaz de atenuar significativamente a

neoangiogênse peritoneal induzida pelo GC (Tabela 10, Figura 19). Os resultados para a

expressão gênica do VEGF acompanharam os encontrados para densidade vascular

(Figura 19E, Tabela 13).

Controle FP FP+VPA0

200

400

600

800

**

†††

***

Den

sid

ad

e c

ap

ilar

(vasos/m

m2)

Figura 19. Densidade capilar e expressão gênica do VEGF na membrana peritoneal. (A-C)

Fotomicrografias representativas da imunofluorescência para Isolectina-B4 (corada em

vermelho), um marcador de endotélio, e células DAPI+ (coradas em azul) na membrana

peritoneal (x400). Enquanto praticamente nenhum vaso foi identificado no grupo de Controle

(A), observou-se uma neoangiogênese intensa (setas brancas) na zona submesotelial no grupo

FP (B). (C) O tratamento com VPA atenuou a neoformação vascular. (D) Quantificação da

densidade capilar na membrana peritoenal. (E) Expressão do mRNA do VEGF no tecido

peritoneal por qPCR. Dados apresentados como média ± erro médio padrão. FP = fibrose

peritoneal; VPA: ácido valpróico; VEGF: Vascular Endothelial Growth Factor.

Controle FP FP+VPA

A B C

** p<0,01 vs Controle

*** p<0,001 vs Controle †† p<0,01 vs FP ††† p<0,001 vs FP

Controle FP FP+VPA0

1

2

3

4

5

††

**

**

VE

GF

(expre

ssão r

ela

tiva)

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RESULTADOS

_______________________________________________________________

65

Tabela 13. Expressão gênica do mRNA do VEGF.

VEGF

(expressão relativa)

Controle 1 ± 0,3

FP 4 ± 0,7**

FP+VPA 2,2 ± 0,5** ††

Dados apresentados como média ± erro médio padrão. VEGF = Vascular endothelial growth

factor; FP = fibrose peritoneal; VPA = ácido valpróico. **

p<0,01 comparado com o grupo

Controle; ††

p<0,01 comparado com o grupo FP.

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DISCUSSÃO

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DISCUSSÃO

_______________________________________________________________

67

6. DISCUSSÃO

Neste trabalho, a administração de ácido valpróico preveniu a progressão da

fibrose peritoneal induzida por gluconato de clorexedine em ratos. O tratamento com

VPA preservou a função peritoneal, reduziu o espessamento da camada submesotelial,

limitou a infiltração por miofibroblastos e atenuou o aumento da expressão dos fatores

pró-fibróticos. Esses achados estão de acordo com outros trabalhos que demonstraram o

efeito antifibrótico do VPA e outros inibidores das HDACs (56, 70, 78). Por exemplo, o

tratamento de ratos diabéticos com VPA 300 mg/kg por via oral por um período de 8

semanas consecutivas impediu a fibrose renal, reduzindo a expressão de TGF-β1, α-

SMA e fibronectina renal (76). Além disso, Io e cols. demonstraram o efeito protetor

do SAHA, um inibidor das HDACs, na progressão da fibrose peritoneal em

camundongos (59). O VPA é um inibidor das HDACs atrativo pois já vem sendo

utilizado na prática clínica há décadas e é facilmente obtido no mercado. O presente

estudo foi o primeiro a demonstrar o efeito antifibrótico do ácido valpróico na fibrose

peritoneal.

A exposição prolongada às soluções não-fisiológicas de DP induz

neoangiogênese resultando no aumento da área de superfície vascular da membrana

peritoneal, e consequentemente, no aumento da velocidade de absorção de glicose pela

MP. A dissipação precoce do gradiente osmótico de glicose leva por fim à falha de

ultrafiltração (79). O transporte peritoneal de glicose (Dt\D0) tem sido utilizado

classicamente no teste de equilíbrio peritoneal para monitorização da função da

membrana peritoneal de pacientes em diálise. A relação é calculada dividindo-se a

concentração de glicose do efluente peritoneal pela concentração da glicose na solução

de DP infundida. Uma relação Dt\D0 baixa indica uma elevada permeabilidade à

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DISCUSSÃO

_______________________________________________________________

68

glicose. O grupo FP apresentou valores mais baixos de D2\D0, indicando um transporte

de glicose mais rápido pela membrana peritoneal. Nos animais tratados com VPA o

aumento do transporte de glicose foi evitada, provavelmente devido ao fato do VPA ter

bloqueado a neoangiogênse. Além da área de superfície capilar, a distância para difusão

entre a solução de DP intraperitoenal e o lúmen capilar também influencia as

características de transporte da MP. Um aumento da densidade e da estrutura do

colágeno no interstício peritoneal tem sido sugerido como uma barreira restritiva ao

transporte de água livre que não depende do transporte de solutos (79). O processo de

ultrafiltração peritoneal na primeira hora após a infusão do dialisato na cavidade

peritoneal se dá principalmente através de ultraporos que permitem a passagem de água

livre somente, levando a uma redução da concentração sódio intraperitoneal. O sieving

de sódio, que é a queda na concentração intraperitoneal de sódio nas primeiras horas da

permanência com solução hipertônica, é utilizado para monitorizar o transporte de água

livre através da MP. A ausência dessa queda inicial da concentração de sódio no

dialisato intraperitoneal, indica redução da condutância osmótica, e tem sido sugerido

como um marcador de fibrose peritoneal. Em alguns estudos, o sieving de sódio, foi

apontado como o principal preditor da ocorrência de peritonite esclerosante, mais

importante até que o alto transporte da MP (27). Nesta tese, diferentemente dos grupos

FP+VPA e Controle, foi observada uma menor redução do sódio (Na Gap, Tabela 1) no

efluente peritoneal, refletindo menor transporte de água livre, no grupo FP. Portanto, a

perda da capacidade de ultrafiltração no grupo FP pode ser explicado como decorrente

tanto do aumento do transporte de glicose e dissipação do gradiente osmótico em

virtude do aumento da vasculatização da MP, bem como secundário ao aumento da

resistência ao transporte de água imposto pelo espessamento fibroso da camada

submesotelial da MP. Ambos fatores foram melhorados com a administração de VPA.

Page 89: Análise do efeito do ácido valpróico no modelo ... · Este trabalho foi desenvolvido no Laboratório de Nefrologia Celular, Genética e Molecular – Laboratório de Investigação

DISCUSSÃO

_______________________________________________________________

69

Embora o potencial antifibrótico e anti-inflamatório do VPA e outros inibidores

de HDACs esteja estabelecido na literatura (57, 68, 71, 76), os mecanismos subjacentes

a essas ações ainda não estão determinados. O espessamento fibroso da MP e a

expressão de α-actina, um marcador para miofibroblastos, foram reduzidos pelo

tratamento com VPA em comparação com os animais que somente receberam injeções

intraperitoneais de GC. A administração de VPA também resultou no bloqueio da up-

regulation de fatores pró-fibróticos, notadamente do TGF-β e fibronectina. De maneira

similar, Van Beneden e cols demonstraram que o efeito antifibrótico do VPA na

nefropatia induzida pela adriamicina resultou da redução da expressão do TGF-β e α-

actina (56, 70). Além disso, a Tricostatina A, um outro inibidor das HDACs, suprimiu a

EMT induzida pelo TGF-β em cultura de células epiteliais renais humanas (58).

Embora, o papel da transição epitélio-mesenquimal na fibrose peritoneal tenha sido

recentemente questionado (37), o efeito inibidor do VPA sobre a EMT, demonstrado

pela redução da expressão de α-actina no grupo FP+VPA, pode ser responsável em

parte por seu efeito antifibrótico. Além do efeito supressor da expressão de fatores pró-

fibróticos, o VPA induziu um aumento na expressão do mRNA da BMP-7 e da Smad5

no grupo FP+VPA. A BMP-7 contraregula a ação do TGF-β1 e essa inibição é mediada

pela fosforilação das Smads 1/5/8 (80). Estados pró-fibróticos são caracterizados por

silenciamento gênico e repressão da expressão do BMP-7 (81). Sendo assim, o VPA ao

inibir as HDACs poderia estar facilitando a expressão do BMP-7 pela descompactação

da cromatina. Corroborando nossos resultados, Io e cols. demonstraram que um inibidor

das HDACs (SAHA) induziu uma maior expressão do BMP-7 e preveniu a FP

experimental em camundongos (59).

A via de sinalização do TGF/Smad tem um papel central na fisiopatologia da

fibrose peritoneal. A transferência do gene TGF-β1 através de adenovirus para as

Page 90: Análise do efeito do ácido valpróico no modelo ... · Este trabalho foi desenvolvido no Laboratório de Nefrologia Celular, Genética e Molecular – Laboratório de Investigação

DISCUSSÃO

_______________________________________________________________

70

células mesoteliais peritoneais induz aumento de matriz extracelular e infiltração por

fibroblastos, demonstrando a capacidade do TGF-β isoladamente induzir FP (41). A

fosforilação da Smad3 é uma das características marcantes da ativação do receptor de

TGF-β (43). Duan e cols. demonstraram a importância da Smad3 na patogênese da FP

ao verificar que camungos knockout para Smad3 não desenvolvem FP quando expostos

à soluções de DP (42). No presente estudo, o bloqueio da via TGF-β/Smad foi

evidenciado pela menor expressão do mRNA do TGF-β e da Smad3, bem como pelo

menor número de células marcadas para Smad3 fosforilada na imuno-histoquímica, no

grupo FP+VPA em relação ao grupo FP.

A ação do TGF-β induz o aumento da Smad7, que por sua vez inibe a

fosforilação da Smad3, antagonizando as ações do TGF-β numa alça de feedback

negativo (44). Guo Hong et al. demonstraram que em ratos cujas células mesoteliais

foram transfectados com gene da Smad7 e, portanto, hiperexpressavam essa proteína, a

fibrose peritoneal induzida por solução de diálise foi bloqueada e a ativação da Smad3

inibida (44). O tratamento com VPA induziu uma maior expressão gênica da Smad7 no

grupo FP+VPA comparado ao grupo FP. Além disso, foi detectado por

imunofluorescência um número maior de células positivas para Smad7 no peritôneo dos

animais tratados com VPA. A degradação da Smad 7 é regulada por um balanço entre

acetilação, desacetilação e ubiquitinação. A acetilação da Smad7 impede a sua

ubiquitinização e degradação (82). A Smad7 interage com as HDACs sendo

desacetilada por essas enzimas, facilitando a sua degradação (61, 83). Ao inibir as

HDACs, o VPA pode ter mantido a Smad7 acetilada, protegendo-a contra degradação e

aumentando a sua ação inibitória sobre o TGF-β (Figura 20).

Page 91: Análise do efeito do ácido valpróico no modelo ... · Este trabalho foi desenvolvido no Laboratório de Nefrologia Celular, Genética e Molecular – Laboratório de Investigação

DISCUSSÃO

_______________________________________________________________

71

Figura 20. Possível efeito do VPA sobre a degradação da Smad7. A inibição das HDACs pelo

ácido valpróico impede a desacetilação e degradação da Smad7, favorecendo a inibição da

fosforilação da Smad3 diante do estímulo do TGF-β e bloqueio do processo de fibrogênese. Ac

= radical acetil; HDAC = histona desacetilase; TGF = Transforming growth factor; VPA =

ácido valpróico.

Existe crescente evidência sobre o efeito anti-inflamatório do VPA (63). Uma

tendência de redução no número de macrófagos infiltrando a MP acompanhado de uma

redução significativa na concentração das quimiocinas para macrófagos foi observado

no grupo FP+VPA comparado ao grupo FP. Através de mecanismos ainda não

determinados, o VPA reduziu a expressão de MCP-1 e a infiltração por macrófagos em

diferentes modelos experimentais (70, 84). Em um estudo prévio do nosso laboratório, a

administração do VPA preveniu a lesão renal aguda isquêmica em ratos através de

mecanismos anti-inflamatórios como inibição da expressão do TNF-α, MCP-1 e

infiltração por macrófagos no tecido renal (72). Portanto, a inibição do MCP-1 e MIP-2

pelo VPA pode ter atenuado a infiltração macrofágica e inflamação da MP. Além disso,

o tratamento com VPA impediu o aumento dos níveis de TNF-α e IL-1β induzidos pelo

GC no peritôneo. A ação do VPA e outros inibidores das HDACs como inibidor das

citocinas anti-inflamatórias já foi previamente demonstrada. Por exemplo, o VPA inibe

Ac

HDAC

VPA

DEGRADAÇÃO

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DISCUSSÃO

_______________________________________________________________

72

a produção TNF-α por macrófagos estimulados com lipopolissacáride (85). Além disso,

em um modelo de artrite reumatóide experimental, a Tricostatina A inibiu a expressão

do TNF-α e reduziu a translocação nuclear NF-kB (62). Portanto, a inibição da

produção do TNF-α pelo VPA pode ter contribuído para o efeito anti-inflamatório

observado no presente estudo.

No grupo FP, as injeções de GC induziram um signficativo aumento da

vascularização peritoneal e expressão do mRNA do VEGF e ambas alterações foram

atenuadas no grupo tratado com VPA. Esse efeito pode em parte explicar a preservação

do transporte de glucose (D2/D0) e da capacidade de UF no grupo FP+VPA, uma vez

que são dependentes da área vascular efetiva peritoneal. Como a neoangiogênese está

intimamente relacionada inflamação, o bloqueio da neoangigênse podem ser decorrente

do efeito anti-inflamatório do VPA. No entanto, um efeito direto do VPA na ação do

VEGF não pode ser descartado. Trabalhos prévios demonstraram que os inbidores das

HDAC em geral possuem efeito antiangiogênico em diversas linhagens de células

tumorais. Por exemplo, o VPA foi capaz de bloquear a expressão gênica e proteica do

VEGF em células leucêmicas transplantadas em ratos, prevenindo a neoangiogênse e o

crescimento tumoral (86). Além disso, o VPA reduz a meia vida dos receptores do

VEGF (VEGFR-2) em células endoteliais (87). Como a fibrose peritoneal e a

neoangiogênese estão intimamente relacionadas (24), terapias que reduzam a atividade

do VEGF são promissoras.

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DISCUSSÃO

_______________________________________________________________

73

Quadro 1. Resumo dos mecanismos de ação do ácido valpróico na prevenção da

fibrose peritoneal experimental.

Antifibrótico

Redução da expressão de TGF-β e fibronectina

Redução da expressão de Smad3 fosforilada

Redução da expressão de miofibroblastos

Aumento da expressão de BMP-7 e Smad7

Anti-inflamatório

Redução da expressão de fatores quimiotáticos para macrófagos

Redução da expressão de citocinas pró-inflamatórias (TNF-α e IL-1β)

Antiangiogênico

Redução da expressão de VEGF

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CONCLUSÃO

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CONCLUSÃO

_______________________________________________________________

75

7. CONCLUSÃO

Concluindo, a administração do ácido valpróico concomitantemente à indução

de injúria peritoneal inibiu a progressão para fibrose peritoneal em um modelo

experimental em ratos. O VPA inibiu diferentes mecanismos envolvidos nas alterações

funcionais e morfológicas da membrana peritoneal induzidas pelo GC. O VPA inibiu a

inflamação por reduzir a expressão de citocinas e quimiocinas, atenuou a angiogênese

reduzindo a expressão do VEGF e preveniu a fibrose modulando a atividade da via

TGF-β/Smad. No que diz respeito à esse último mecanismo, o VPA atenuou a

expressão do TGF-β e a fosforilação da Smad3. Notadamente, o VPA tanto por

modificações da expressão gênica quanto por regulação pós traducional da atividade

protéica, induziu um aumento da expressão de BMP-7 e Smad7, ambos relevantes

fatores antifibróticos e reguladores negativos da sinalização do TGF-β. Os resultados

apresentados nesse trabalho apontam para mecanismos envolvidos no dano à MP

associado à DP ainda pouco explorados e que podem constiuir novos alvos terapêuticos.

Entretanto, esse é um estudo experimental exploratório e outros estudos são necessários

para que os resultados sejam transportados para a prática clínica.

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REFERÊNCIAS

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REFERÊNCIAS

_______________________________________________________________

77

8. REFERÊNCIAS

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2. U.S. Renal Data System: USRDS 2016 Annual Data Report: Atlas of Chronic

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