análise do desgaste de ferramentas via emissão acústica com aplicações de redes neurais

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1 ANÁLISE DO DESGASTE DE FERRAMENTAS VIA EMISSÃO ACUSTICA COM APLICAÇÕES DE REDES NEURAIS STÉFANO GRANDI BOMBONATO 1 ; AUGUSTO AIRES LUSTOSA 2 ; MÁRCIO BACCI DA SILVA 3 Resumo: Este trabalho apresenta uma proposta de monitoramento do processo de fresamento com o intuito de detectar a necessidade de troca da ferramenta de usinagem, não havendo desperdícios e conseqüente melhorando a produtividade. Foi utilizado o fresamento de topo com apenas um inserto de metal duro montado numa fresa com capacidade para três insertos. Os experimentos foram realizados em aço inoxidável VP-80 endurecido por precipitação. Foi monitorado o desgaste de flanco máximo (VB Bmáx ), admitindo-se três estágios: ferramenta completamente nova (sem nenhum desgaste), em estágio intermediário (desgaste entre 0,20 e 0,30 mm) e ferramenta altamente desgastada (desgaste acima de 0,45 mm). O sinal de emissão acústica (EA) foi adquirido durante a usinagem, com varias repetições, com o sensor fixado na peça. O desgaste de flanco era medido periodicamente e os testes realizados até o final da vida da ferramenta. Foi analisada a correlação de diversos parâmetros estatísticos retirados do sinal de emissão acústica (EA) com o desgaste da ferramenta. Os parâmetros estatísticos analisados foram: skewness, curtose, RMS, pico e fator de crista. Análise gráfica dos parâmetros estatísticos e espectros de freqüência mostram que alguns parâmetros têm uma significativa correlação com os estágios de desgaste. Estes parâmetros podem servir de dados de entrada para treinamento de uma rede neural (RNAs) para o reconhecimento do estágio de desgaste da ferramenta. Palavras chave: fresamento, desgaste, monitoramento, emissão acústica, redes neurais 1 Faculdade de Engenharia Mecânica, Universidade Federal de Uberlândia – Campus Santa Mônica, Av. João Naves de Ávila 2121, Uberlândia/MG, CEP 38408-902, [email protected] 2 Faculdade de Engenharia Mecânica, Universidade Federal de Uberlândia – Campus Santa Mônica, Av. João Naves de Ávila 2121, Uberlândia/MG, CEP 38408-902, [email protected] 3 Faculdade de Engenharia Mecânica, Universidade Federal de Uberlândia – Campus Santa Mônica, Av. João Naves de Ávila 2121, Uberlândia/MG, CEP 38408-902, [email protected]

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Page 1: Análise do desgaste de ferramentas via emissão acústica com aplicações de redes neurais

1

ANÁLISE DO DESGASTE DE FERRAMENTAS VIA EMISSÃO ACUSTICA COM

APLICAÇÕES DE REDES NEURAIS

STÉFANO GRANDI BOMBONATO1 ; AUGUSTO AIRES LUSTOSA2;

MÁRCIO BACCI DA SILVA3

Resumo: Este trabalho apresenta uma proposta de monitoramento do processo de

fresamento com o intuito de detectar a necessidade de troca da ferramenta de usinagem, não

havendo desperdícios e conseqüente melhorando a produtividade. Foi utilizado o fresamento

de topo com apenas um inserto de metal duro montado numa fresa com capacidade para três

insertos. Os experimentos foram realizados em aço inoxidável VP-80 endurecido por

precipitação. Foi monitorado o desgaste de flanco máximo (VBBmáx), admitindo-se três

estágios: ferramenta completamente nova (sem nenhum desgaste), em estágio intermediário

(desgaste entre 0,20 e 0,30 mm) e ferramenta altamente desgastada (desgaste acima de 0,45

mm). O sinal de emissão acústica (EA) foi adquirido durante a usinagem, com varias

repetições, com o sensor fixado na peça. O desgaste de flanco era medido periodicamente e

os testes realizados até o final da vida da ferramenta. Foi analisada a correlação de diversos

parâmetros estatísticos retirados do sinal de emissão acústica (EA) com o desgaste da

ferramenta. Os parâmetros estatísticos analisados foram: skewness, curtose, RMS, pico e

fator de crista. Análise gráfica dos parâmetros estatísticos e espectros de freqüência mostram

que alguns parâmetros têm uma significativa correlação com os estágios de desgaste. Estes

parâmetros podem servir de dados de entrada para treinamento de uma rede neural (RNAs)

para o reconhecimento do estágio de desgaste da ferramenta.

Palavras chave: fresamento, desgaste, monitoramento, emissão acústica, redes neurais 1 Faculdade de Engenharia Mecânica, Universidade Federal de Uberlândia – Campus Santa Mônica, Av. João Naves de Ávila 2121, Uberlândia/MG, CEP 38408-902, [email protected] 2 Faculdade de Engenharia Mecânica, Universidade Federal de Uberlândia – Campus Santa Mônica, Av. João Naves de Ávila 2121, Uberlândia/MG, CEP 38408-902, [email protected]

3 Faculdade de Engenharia Mecânica, Universidade Federal de Uberlândia – Campus Santa Mônica, Av. João Naves de Ávila 2121, Uberlândia/MG, CEP 38408-902, [email protected]

Page 2: Análise do desgaste de ferramentas via emissão acústica com aplicações de redes neurais

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Abstract: This work shows a proposal for tool wear monitoring methodology for milling

operation, aiming the detection of the right moment to change the tool in a production line,

therefore, increasing the productivity. It was used the end milling operation with only one

insert in a tool holder with capacity of three inserts. The experiments were carried out in a

VP-80 stainless steel, precipitated hardened. The maximum flank wear (VBBmáx) were

monitored during the operation, and classified into three stages: new tool (no wear),

intermediate (flank wear between 0.20 and 0.30 mm) and worn tool (flank wear higher than

0.45 mm). During the operation the acoustic emission signal was acquired with a sensor

connected to the workpiece. Tool flank wear was measured periodically during the operation

until the tool reaches the end of life. It was analyzed the correlation between some statistic

parameters extracted from the acoustic emission signal and tool flank wear. The following

parameters were considered: skewness, kurtosis, RMS, pick and crest factor. Graphical

analyses of the correlation between the statistic parameters and flank wear shows that some

of the parameters have good correlation with flank wear. These parameters can be used for

training a neural network for reorganization of the tool wear stages and help the decision to

change the tool.

Keywords: Milling, tool wear monitoring, acoustic emission, neural network

Page 3: Análise do desgaste de ferramentas via emissão acústica com aplicações de redes neurais

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1. Introdução O processo de Usinagem representa

a classe mais largamente empregada na

fabricação de produtos, sendo assim a

pesquisa nessa área tem fundamental

importância frente aos demais processos de

fabricação. Devido ao volume de capital

gasto na área da usinagem, qualquer

aumento da produtividade certamente

causará um impacto econômico

significativo. Dentro desse contexto, o

processo de fresamento é empregado em

larga escala em todo o mundo, sendo um

dos processos de vital importância para a

indústria da fabricação.

O desgaste e eventuais falhas das

ferramentas são fenômenos inevitáveis e a

observação do momento de troca da

ferramenta é um processo complicado, no

qual o operador não tem a possibilidade de

saber com certeza o momento em que a

ferramenta deve ser substituída,

principalmente após a introdução de

processos que ocorrem em câmaras

fechadas, do tipo CNC, onde o operador

não tem boa visualização do processo.

Assim, um dos maiores desafios da

usinagem atual é conseguir utilizar um

processo que faça a previsão do momento

ótimo de troca da ferramenta, otimizando o

processo e gerando o menor prejuízo

possível, ou mesmo eliminando prejuízos.

Um dos desafios dos pesquisadores é

determinar com segurança o momento em

que a ferramenta deve ser substituída. Uma

vantagem seria a determinação durante o

processo de usinagem.

Existem vários campos de pesquisa

para o monitoramento do desgaste em

processo, que vão desde a medição de

vibração, temperatura, força, potência e até

emissão sonora. A medição do sinal de

emissão acústica surge como uma área

relativamente nova e promissora neste

campo de pesquisa. Isto em função do alto

número de fenômenos de usinagem que

emitem este sinal, de sua rapidez de

resposta, baixa interferência de ruídos,

baixa intrusividade, facilidade de operação

de seus equipamentos e custo

relativamente baixo.

Na primeira parte do trabalho

foram coletados sinais de emissão acústica

durante o fresamento de topo de aço

inoxidável VP80. Os resultados foram

analisados estatisticamente e relacionados

com o desgaste da ferramenta. Os dados

foram utilizados para treinamento de uma

rede neural artificial para prever o

momento exato de troca da ferramenta. A

seguir é apresentada uma revisão

bibliográfica sobre os principais temas

abordados neste trabalho.

Page 4: Análise do desgaste de ferramentas via emissão acústica com aplicações de redes neurais

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1.1. Emissão Acústica (EA)

Emissão acústica (EA) pode ser

definida como sendo ondas de tensão

elástica geradas como resultado de rápida

liberação de energia de deformação dentro

de um material submetido a um estímulo

externo (Matsumoto e Diniz, 1997). As

ondas se devem a um rearranjo interno na

estrutura cristalina dos metais e a

freqüência de propagação é acima de 20

kHz (Dolinsk e Kopac, 1999). As ondas de

tensões produzem um deslocamento na

superfície do material que pode ser captado

por sensores piezelétricos, transformando

esses deslocamentos em sinais elétricos.

Os sinais de emissão acústica

podem ser classificados em sinais

contínuos ou de pico (Blum e Inasaki,

1990; Matsumoto e Diniz, 1997). Os sinais

contínuos são aqueles que ocorrem

normalmente em todo o processo e são

provenientes da deformação plástica no

material, já os sinais de pico vêm de

trincas, quebras, impactos, etc., ou seja, de

fenômenos de curta duração que fazem

com que haja um nível elevado de sinal.

A análise do sinal de emissão

acústica não deve ser realizado através da

comparação direta entre os fenômenos que

se estuda, devido a sua alta freqüência de

aquisição, sendo assim, deve-se introduzir

parâmetros que possam realizar essa

relação sem prejuízos ao que se estuda. Os

parêmetos em questão podem ser: desvio

padrão, skewness, curtose, função auto-

correlação, análise da distribuição de

amplitude, entre outros parâmetros

estatísticos.

O atrito cavaco-ferramenta, o atrito

ferramenta-peça, a deformação da peça e a

deformação e quebra do cavaco são as

principais fontes de emissão acústica e

sendo o desgaste da ferramenta uma

influência direta de todos esses parâmetros,

pode-se medir o desgaste indiretamente

por EA (Dornfeld, 1988).

O monitoramento via emissão

acústica tem as seguintes vantagens

(Dornfeld, 1988): custo relativamente

baixo; o sensor de dimensões reduzidas, o

que o torna de fácil instalação e pouco

intrusivo; faixas de freqüência de

aproximadamente 50 a 1000 kHz, nível

muito acima de vibrações mecânicas ou

outros ruídos que estão envolvidos em um

ambiente de manufatura. Algumas

desvantagens, no entanto, podem dificultar

a utilização do sinal de emissão acústica

para monitoramento, como o difícil

controle do sinal, os efeitos de diferentes

tipos de desgaste e fatores simples em

ambiente fabril, como a necessidade da

utilização de lubrificante entre peça e

sensor.

No processo de fresamento os

sinais de pico na ferramenta são causados

principalmente na entrada ou saída da

Page 5: Análise do desgaste de ferramentas via emissão acústica com aplicações de redes neurais

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ferramenta do ciclo ativo, quebra e

lascamento da mesma ou ainda quebra do

cavaco. Assim torna-se de certa forma fácil

a visualização desses fenômenos através de

alterações na intensidade do sinal de EA

(Lan e Dornfeld, 1984).

1.2. Redes Neurais Artificiais

(RNA) A verificação das condições de

desgaste da ferramenta pode ser realizada

via informação sensorial através do

operador. Estas informações podem ser

detectadas através da visão, da audição e

até mesmo pelo olfato. O operador com

boa experiência é capaz de realizar

associações de um ou mais de seus

sentidos com padrões empíricos do

desgaste. Contudo, com o avanço

tecnológico de máquinas ferramentas e

ferramentas de corte, a necessidade de uma

consistente melhoria na produtividade e o

aumento da competitividade entre

fabricantes fez do monitoramento dos

processos e uma posterior tomada de

decisão com rapidez e confiabilidade

tornarem-se fundamentais.

Alguns dos métodos empregados

para a tomada de decisão com relação ao

andamento do processo são:

reconhecimento de padrões, a lógica

“Fuzzy”, árvores de decisão ou Redes

Neurais Artificiais. Destes métodos, a

Rede Neural Artificial (RNA) é um dos

mais utilizados na usinagem.

Através de uma analogia com o

funcionamento do cérebro humano, foram

criadas na década de 40 as Redes Neurais

Artificiais (Jain e Mao, 1996). Na

usinagem, basicamente, uma RNA é

treinada através de informações recebidas

por sensores de monitoramento do

processo acoplados a máquinas

ferramentas, tornando-a capaz de

classificar, por exemplo, a condição de

desgaste de uma ferramenta de corte.

Abordando de uma maneira mais

detalhada, as RNAs consistem de uma rede

de elementos de processamento de

sistemas altamente não lineares em

paralelo. Estes elementos são chamados

neurônios, sendo que alguns são acessíveis

para estímulos de entrada, outros permitem

acessos às suas saídas e outros não são

acessíveis. As redes neurais artificiais têm

tido grande aplicabilidade em sistemas não

lineares de difícil solução por métodos

tradicionais. Seu emprego para

identificação, reconhecimento de padrões,

classificação e modelamento em processos

de corte vem obtendo excelentes

resultados.

O procedimento computacional nas

RNAs tem duas diferenças básicas que o

caracteriza e que o diferencia em relação

aos algoritmos seqüenciais convencionais.

A primeira é a capacidade de aprendizado

Page 6: Análise do desgaste de ferramentas via emissão acústica com aplicações de redes neurais

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através de exemplos e sem percepção

prévia e explícita de conhecimentos

(comportamento físico do processo),

exceto pelo tratamento adequado dos

dados de entrada. A segunda é a

capacidade, após o treinamento, de

generalizar durante a operação, fazendo

com que ela seja capaz de responder

corretamente a novos e desconhecidos

estímulos, desde que pertençam ao mesmo

domínio de estímulos empregados no

treinamento.

1.3. Processo de Fresamento

O fresamento pode ser definido

como um processo mecânico de usinagem

destinado à obtenção de superfícies

complexas, onde o material é removido

pela rotação de ferramentas multicortantes

denominadas fresas, sendo que cada dente

remove uma pequena quantidade de

material em cada revolução (Ferraresi,

1977). A rotação da ferramenta, aliada com

o deslocamento da peça ou da própria

ferramenta, compõem os principais

movimentos do fresamento.

Uma das principais características

do fresamento é a obtenção de cavacos

relativamente curtos, isso traz várias

vantagens, pois o cavaco não prejudica a

superfície gerada. A vantagem principal do

processo segundo Diniz et al. (2001) é que

esta operação é a mais versátil na geração

de superfícies planas não de revolução. A

grande versatilidade vem principalmente

da grande variedade de geometrias que a

ferramenta pode possuir, conferindo

diferentes possibilidades de peças a serem

fabricadas.

A fase ativa e inativa durante o

corte propiciam o aparecimento de

elevados ciclos térmicos de aquecimento e

resfriamento, que fragilizam a ferramenta,

fazendo com que ela na maioria das vezes

sofra uma falha catastrófica devido a

trincas produzidas em sua superfície que

são agravadas com os solicitações

mecânicas durante o corte.

Para este estudo foi utilizado o

fresamento frontal que consiste da

usinagem de superfícies planas em que o

eixo de rotação é perpendicular ao eixo da

ferramenta. O fresamento frontal

apresenta algumas vantagens frente aos

outros processos de usinagem, como maior

rigidez devido ao menor comprimento em

balanço, além da fixação da ferramenta

diretamente no eixo árvore da máquina e

as distribuição uniforme das forças de

corte.

Existem dois motivos que levam a

troca da ferramenta de corte, o primeiro é a

avaria em que há a quebra, lascamento ou

trinca da mesma, isso ocorre

principalmente em processos que tem

como característica o corte interrompido,

Page 7: Análise do desgaste de ferramentas via emissão acústica com aplicações de redes neurais

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como o fresamento. O outro é o desgaste,

que evolui durante todo o processo de

corte chegando a valores que passam a

prejudicar a qualidade da peça usinada e

ocorre em processos contínuos e

descontínuos.

No presente trabalho é considerado

um tipo específico de desgaste, o de flanco

máximo (VBBmáx) pelo fato de ser na

maioria das vezes o fator determinante da

perda da ferramenta e conseqüentemente a

sua troca, além disso, é o que apresenta

melhor evolução durante o corte, de certa

forma linear ao longo do processo. A

figura 1 apresenta um gráfico

representativo da evolução do desgaste de

flanco durante a usiangem.

quebra

*I II III

Tempo

Des

gast

e

Figura 01 - Comportamento do desgaste de

uma ferramenta ao longo de sua vida (Lenz

et all, 1978; Ber, Kaldor, 1982; Harris et

all, 2003).

De acordo com a figura, a evolução

do desgate da ferramenta pode ser dividida

em três estágios. No início do corte o

desgaste da ferramenta aumenta

rapidamente, contudo logo após se

estabiliza e se mantém linear até perto de

seu fim de vida, onde aumenta

rapidamente e ocorre sua quebra.

O fresamento por apresentar como

característica o corte interrompido está

mais sujeito a avarias e quebras de

ferramentas que processos como o

torneamento, ou seja, corte contínuo.

Durante o processo de usinagem por

fresamento, ocorrem variações cíclicas de

temperatura e choques mecânicos, que

podem causar a sua perda por avarias

mecânicas ou térmicas antes do momento

em que teoricamente seria seu fim de vida.

2. Materiais e métodos

Foram realizados experimentos

utilizando o processo de fresamento de

topo para a usinagem de canais. O sinal de

emissão acústica é captado um minuto

após a entrada da ferramenta da peça, com

o sensor de emissão acústica acoplado no

corpo de prova a ser usinado. As figuras 2

e 3 mostram uma ilustração do corpo de

prova e suas dimensões. Devido às

dimensões da peça, foi possível a

usinagem de sete canais, em seguida a

superfície da peça era preparada para

novos testes.

A cada canal feito pela peça durante

o fresamento, a fresa é retirada da máquina

Page 8: Análise do desgaste de ferramentas via emissão acústica com aplicações de redes neurais

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para medição do desgaste de flanco

máximo (VBBmáx) através de estéreo

microscópio com aumento de até 45 vezes

e software de análise de imagens.

Figura 2 – Dimensões do corpo de prova,

vista lateral e superior.

Figura 3 – Ilustração da montagem

experimental.

As barras de aço foram fornecidas

pela Villares Metals S/A. São aços

inoxidáveis martensíticos utilizados para

fabricação de moldes para injeção de

plásticos. O aço específico utilizado foi o

VP80 envelhecido a 550°C, com dureza

média de 46 HRc. Esse tipo de aço

pertence ao grupo de aços inoxidáveis

martensíticos endurecíveis por precipitação

(PH). A composição química do aço é

mostrada na tabela 1.

Tabela 1 – Composição química do aço (Villares Metals S/A).

Material Teor (% em peso) Dureza

C Si Mn Cr Ni Mo Al VP80

0,04 0,25 0,25 12,5 7,5 1,5 1,246 HRc

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Foi utilizada uma fresa de topo

toroidal de 32 mm de diâmetro, com

insertos intercambiáveis, com fixação por

parafuso (referência R390-032A32-11M,

Sandivik, 2004). A fresa possui a

possibilidade do uso de até três insertos.

Nos testes foi utilizado apenas um inserto.

Isto foi necessário para evitar a influencia

do sinal de emissão acústica de outra

aresta. Para o faceamento, foi utilizada

uma fresa com especificação R245

125Q40-12M de 125 mm de diâmetro,

fabricada pela Sandvik Coromant, com

capacidade para oito insertos. Os insertos

de metal duro empregados têm

especificação SEMN 12 04 AZ, também

fabricados pela Sandvik Coromant,

possuem quatro arestas de corte e quatro

arestas alisadoras e são revestidos com

nitreto de titânio (TiN).

As operações de fresamento foram

realizadas em um centro de usinagem CNC

Romi Discovery 760, com potência

máxima de 11 kW (15 cv), variação

contínua de velocidade de corte e avanço,

capacidade máxima de rotação do eixo

árvore de 10.000 rpm e avanço rápido de

até 25.000 mm/min.

A aquisição do sinal de emissão

acústica foi realizada a partir de um sensor

de EA conectado na peça e um

condicionador de sinais DM 42 (com

quatro canais de entrada e um canal de

saída que fornece sinal RMS e outro canal

de saída que fornece o sinal bruto). Estes

equipamentos citados são fabricados pela

Sensis. O sinal de EA é enviado a uma

placa NI-DAQmx PCI-6251M, da National

Instruments, que possui uma taxa de

amostragem de 1,25 MS/s, indicada para a

aquisição do sinal bruto de EA.

O sensor de emissão acústica possui

um núcleo composto por dois cristais

piezelétricos. A freqüência de ressonância

de cada cristal individualmente é de 1

MHz. Os sinais dos cristais são adquiridos

de forma diferencial, a fim de eliminar

ruídos. Posteriormente, o sinal é

amplificado com ganho 200 pelo pré-

amplificador que fica embutido no sensor.

Dessa forma, este sensor fornece um sinal

de baixa impedância e grande sensibilidade

para o monitoramento. A faixa de

freqüência do sinal é de 100 kHz a 500

kHz.

Em todos os testes, as condições de

corte foram mantidas constantes: 151,2

m/min de velocidade de corte (vc), avanço

por dente (fz) de 0,1 mm/dente,

profundidade de corte de 1 mm (ap) e

rotação de 1512 rpm.

3.Resultados

A análise dos resultados será

dividida em três etapas. A primeira etapa

consta na obtenção dos espectros de

freqüência de uma aquisição com

ferramenta nova e uma ferramenta

Page 10: Análise do desgaste de ferramentas via emissão acústica com aplicações de redes neurais

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desgastada para comparar quais

freqüências são mais sensíveis ao desgaste

de flanco e também compreender melhor o

sinal de emissão acústica.

A segunda etapa se baseia na análise

de parâmetros estatísticos representativos

do sinal de emissão acústica com o intuído

de encontrar qual o parâmetro é mais

sensível ao desgaste de flanco da

ferramenta.

Finalmente, a terceira e última etapa

da analise é a realização de treinamento de

uma rede neural artificial para prever como

o desgaste de flanco ocorre com o decorrer

do fresamento do aço inox VP80. Os

valores de entrada (input) da rede neural

serão os parâmetros estatísticos de maior

sensibilidade calculados na segunda etapa

da análise, para cada estágio ou classe de

desgaste de flanco da ferramenta. Para o

treinamento da rede neural serão utilizados

vinte e nove testes de um total de trinta e

dois, onde três destes serão utilizados para

a validação da rede após o treinamento.

Durante o treinamento cada um dos

parâmetros estatísticos será responsável

pelos cálculos que irão definir as

respectivas classes na saída da rede. A

PNN é uma rede de aprendizado

supervisionado, logo durante o treinamento

é fornecido a qual classe pertence os dados

fornecidos (ferramenta nova, desgaste

intermediário ou fim de vida). Os valores

de saída (output) da PNN aparecem em

termos de probabilidade de cada novo

conjunto de dados fornecidos que no caso

em questão são os dados de validação que

não são utilizados no treinamento da rede.

No entanto, para treinamento de uma rede

neural, é necessário um grande número de

resultados, o que significa que este

trabalho deverá ter continuidade em

trabalhos futuros.

A figura 4 mostra um gráfico do

sinal de emissão acústica sem tratamento.

A figura 5 mostra uma ampliação de uma

determinada região do gráfico. A figura 6

mostra dois espectros de freqüência, um

para uma ferramenta nova (obtidos para o

sinal da figura 4) e outro para uma

ferramenta com alto desgaste. O formato

geral do gráfico é semelhante para todos os

ensaios realizados neste trabalho.

Page 11: Análise do desgaste de ferramentas via emissão acústica com aplicações de redes neurais

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Figura 4 – Amostra de uma aquisição de sinais de EA sem tratamento.

Figura 5 – Detalhe do sinal de EA coletado

Page 12: Análise do desgaste de ferramentas via emissão acústica com aplicações de redes neurais

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Figura 6 -Espectros de freqüência para ferramenta nova e desgastada

A figura 4 corresponde a todo o sinal

coletado durante dois segundos, num total

de dois milhões de pontos. É possível

perceber claramente a fase ativa de corte e

fase inativa do corte onde o sinal cai

bruscamente, logo após retornando aos

níveis anteriores. Isso pode ser observado

em melhores detalhes na figura 5, que

representa apenas parte do sinal coletado.

Fazendo uma analise visual do

espectro de freqüência (figura 6), pode-se

determinar algumas bandas de freqüência

para ferramenta nova que difere de forma

significativa do espectro representativo do

sinal de emissão acústica durante a

usinagem utilizando uma ferramenta

desgastada, mostrando o trecho que

poderia melhor caracterizar o desgaste de

ferramenta. Nota-se que para bandas de

freqüências entre 50 e 150 KHz não há

diferenças quanto ao comportamento do

gráfico pois tanto para ferramenta nova

como para a desgastada a banda de

freqüência é um espelho em relação a

outra, porém com amplitudes maiores para

a ferramenta desgastada. Para bandas de

freqüências entre 250 a 300 KHz e 350 a

450 Khz o comportamento do gráfico entre

uma ferramenta nova e desgastada variou

de forma brusca. Provavelmente nestas

bandas esteja caracterizado o efeito do

desgaste de flanco da ferramenta. Sendo

assim fica comprovado que o sinal de

emissão acústica contém dados em bandas

de freqüências específicas sobre a vida da

ferramenta de corte. Este tratamento foi

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realizado por Souto (2007), que utilizou

várias bandas de freqüência para

treinamento de uma rede neural e concluiu

que algumas bandas podem representar

melhor a diferenças entre os sinais de

ferramentas com diferentes níveis de

desgaste.

Na segunda etapa da analise foram

obtidos alguns parâmetros estatísticos do

sinal bruto adquirido no processo. Foram

calculados os seguintes parâmetros:

curtose, skewness, rms, pico e fator de

crista. Os resultados destes cálculos são

mostrados na tabelas 2, 3, 4 e 5. Cada

tabela representa os resultados de insertos

diferentes, ou seja, foram realizados 4

repetições.

Tabela 2- Tabela dos parâmetros estatísticos calculados para a primeira pastilha

Ensaio Tempo Desgaste Skewness Curtose RMS Pico Fator de Crista

1 2,93 62,34 0,1230 3,5397 0,1324 0,6026 4,5517

2 5,86 119,90 0,0658 3,1488 0,1506 0,5759 3,8245

3 8,79 171,40 0,1090 3,8421 0,1276 0,6020 4,7194

4 11,72 171,40 0,0629 3,9050 0,1217 0,6349 5,2163

8 26,37 301,30 0,0116 3,4909 0,1456 0,5933 4,0740

9 29,3 364,00 -0,0021 3,0799 0,1656 0,6194 3,7408

10 32,23 441,70 -0,0269 2,2827 0,2029 0,5878 2,8971

11 35,16 576,70 -0,0056 3,1571 0,1582 0,5946 3,7587

12 38,09 857,10 -0,0430 7,8788 0,1550 0,5914 3,8148

Tabela 3- Tabela dos parâmetros estatísticos calculados para a segunda pastilha

Ensaio Tempo desgaste skewness Curtose RMS Pico Fator de Crista

1 2,93 88,12 0,1457 3,7601 0,1285 0,5840 4,5435

2 5,86 155,8 0,1325 4,0666 0,1008 0,5260 5,2201

3 8,79 171,4 0,0938 4,2423 0,0935 0,5189 5,5522

4 11,72 202,6 0,1077 3,5631 0,1007 0,5598 5,5609

5 14,65 275,3 0,0640 3,5143 0,1048 0,5353 5,1086

6 17,58 368,8 0,0050 2,7442 0,1730 0,6223 3,5963

7 20,51 1055 0,0038 2,8648 0,1782 0,6719 3,7708

Page 14: Análise do desgaste de ferramentas via emissão acústica com aplicações de redes neurais

14

Tabela 4- Tabela dos parâmetros estatísticos calculados para a terceira pastilha

Ensaio Tempo Desgaste Skewness Curtose RMS Pico Fator de Crista

1 2,93 62,34 0,1053 4,3828 0,0982 0,5250 5,3487

2 5,86 135,5 0,1095 3,8915 0,1218 0,5833 4,7873

3 8,79 176,7 0,0964 4,1289 0,1207 0,5511 4,5647

4 11,72 197,4 0,0754 3,0255 0,1487 0,5611 3,7739

5 14,65 244,2 0,0860 3,3778 0,1348 0,5994 4,4453

6 17,58 327,3 0,0088 3,5396 0,1505 0,5872 3,9004

7 20,51 259,7 0,0974 3,9497 0,1085 0,5495 5,0659

8 23,44 389,6 0,1307 4,2034 0,1004 0,5695 5,6716

9 26,37 976,6 -0,0284 2,1819 0,2146 0,5914 2,7554

Tabela 5- Tabela dos parâmetros estatísticos calculados para a quarta pastilha

Ensaio Tempo Desgaste Skewness Curtose RMS Pico Fator de Crista

1 2,93 77,92 0,1654 3,0294 0,1172 0,5392 4,5995

2 5,86 93,51 0,1484 2,9226 0,1146 0,5633 4,9155

3 8,79 98,7 0,0709 3,4274 0,0849 0,5240 6,1731

4 11,72 109,1 0,0354 3,9034 0,0663 0,4128 6,2284

5 14,65 181,8 0,0302 3,8711 0,0652 0,3958 6,0675

6 17,58 187 0,0215 3,7326 0,0650 0,3697 5,6873

7 20,51 249,4 0,0236 3,7703 0,0658 0,4518 6,8635

8 23,44 477,9 0,0383 3,9252 0,0607 0,4483 7,3858

Em seguida foram construídos

gráficos de desgaste em função dos vários

parâmetros obtidos. Foi utilizada uma

curva de ajuste de interpolação quadrática

visando ajustar a melhor curva com o

intuito de entender a correlação dos

parâmetros com o desgaste de flanco. Nos

gráficos são utilizados todos os resultados

obtidos, para todos os quatro insertos. Os

gráficos são mostrados nas figuras 7 a 11 a

seguir.

Page 15: Análise do desgaste de ferramentas via emissão acústica com aplicações de redes neurais

15

Figura 7 –Gráfico Skewness X Desgaste

Figura 8 –Gráfico Rms X Desgaste

Page 16: Análise do desgaste de ferramentas via emissão acústica com aplicações de redes neurais

16

Figura 9 –Gráfico Curtose (achatamento) X Desgaste

Figura 10 –Gráfico Pico X Desgaste

Page 17: Análise do desgaste de ferramentas via emissão acústica com aplicações de redes neurais

17

Figura 11 –Gráfico Fator de Crista X Desgaste

Observa-se na figuras acima que a

correlação entre os parâmetros e o desgaste

das ferramentas não é alta. No entanto, em

se tratando de processos de usinagem,

onde existem inúmeras variáveis, isto é

normal. Os parâmetros de maior

sensibilidade são o skewness e o Rms, com

coeficiente de correlação 0,5865 e 0,5025

respectivamente (este coeficiente depende

da curva de ajuste). A análise se concentra

então no comportamento destes dois

parâmetros. Deve-se primeiramente

entender melhor o que eles representam e o

que significa a correlação com o desgaste

das ferramentas.

O desgaste da ferramenta tem efeito

direta e indiretamente no sinal de emissão

acústica. A seguir será feita uma discussão

considerando os efeitos do desgaste no

processo, como por exemplo: efeito na

profundidade de corte, temperatura e força.

4. Discussão

A profundidade de corte (ap) no

fresamento de topo é determinada pela

aresta principal de corte onde ocorre o

desgaste de flanco, no fresamento de topo

a profundidade de corte não é afetada de

forma significativa, a menos que a

ferramenta sofra uma avaria de origem

mecânica (lascamento) que não é um

desgaste contínuo como o desgaste de

flanco. Na figura 12 pode-se observar o

desgaste de flanco de uma das ferramentas,

no final de vida. O desgaste não é

suficiente para afetar a profundidade de

Page 18: Análise do desgaste de ferramentas via emissão acústica com aplicações de redes neurais

18

corte e, portanto, diminuir o nível do sinal

de emissão acústica. A figura 13 observa-

se ocorrência de um lascamento na

superfície de saída, novamente para uma

ferramenta em fim de vida. Esta avaria

poderia afetar o mecanismo de formação

do cavaco (ângulo de saída, contato cavaco

ferramenta), sem contudo, alterar a

profundidade de corte.

Figura 12 – Desgaste de flanco do teste 9 para o terceiro inserto.

Figura 13 – Lascamento na superfície de saída para o oitavo teste com o inserto 3.

Page 19: Análise do desgaste de ferramentas via emissão acústica com aplicações de redes neurais

19

Durante um corte interrompido como

ocorre no fresamento, a ferramenta de

corte passa por uma fase ativa onde ocorre

a formação do cavaco e uma fase inativa

onde não acontece a formação do cavaco e

consecutivo resfriamento da ferramenta de

corte. A temperatura varia de forma cíclica

aumentando durante a fase ativa e

diminuindo durante a fase inativa. Esse

comportamento onde ocorre uma flutuação

cíclica da temperatura leva a formação de

tensões na região de corte da ferramenta

podendo causar a formação de trincas

térmicas.

As trincas térmicas não variam de

forma considerável com a profundidade de

corte, pois conforme aumenta o desgaste

da ferramenta de corte, maior será a área

de contato da ferramenta, conforme mostra

o exemplo na figura 14. A temperatura ira

se distribuir de forma facilitada pelo

aumento de área logo a temperatura cíclica

não sofre grandes variações.

Portanto, conforme houver um

aumento do desgaste da ferramenta, está

terá uma temperatura mais homogênea,

dificultando a formação de avarias de

origem térmica.

Figura 14 –Aumento da área de contato devido ao desgaste de flanco da ferramenta de corte

De uma maneira geral, quanto maior

a resistência do material a usinar, maior a

resistência nos planos cisalhamento, e

portanto maior será a força de usinagem.

Page 20: Análise do desgaste de ferramentas via emissão acústica com aplicações de redes neurais

20

Com o decorrer do desgaste de flanco há

uma alteração da geometria da ferramenta

de corte com aumento na área de contato

entre a ferramenta e o cavaco e a peça a ser

trabalhada, logo haverá um aumento nas

forças de usinagem. Outro fator que

aumenta a força de usinagem é a

profundidade de corte e avanço, porem

estes fatores se mantém constates em todo

o processo.

No caso em estudo, é realizada a

usinagem de um material muito duro (aço

INOX VP80 ), ao fazer a analise visual do

desgaste de flanco no microscópio óptico

nota-se que há um aumento da área de

corte na ferramenta, logo estes dois fatores

promovem aumento gradual na força de

usinagem pois conforme o processo se

desenvolve a área de contato da ferramenta

com a peça e o cavaco aumentam.

4.1. Relação entre Rms e Desgaste

de Flanco

Conforme evolui o desgaste de

flanco o valor do parâmetro estatístico rms

é crescente. Este parâmetro representa a

medida da energia do sinal de emissão

acústica, conforme mostrado na figura 8,

este aumenta, mostrando que a energia no

processo está crescendo com a perda de

material da ferramenta de corte.

No desgaste de flanco temos um

aumento da área de contato da superfície

de folga principal da ferramenta, com a

peça usinada, isso proporciona um

aumento nos níveis de sinal de emissão

acústica, com o aumento das forças de

usinagem e o atrito na região de contato da

ferramenta com a peça.

Com o progresso do desgaste da

ferramenta, mais difícil será a remoção de

material da peça a ser trabalhada, logo a

operação de fresamento se caracteriza por

uma elevada taxa de deformação plástica,

aumento de atrito e da força de usinagem

ao invés de haver remoção do material da

peça, gerando um crescente aumento da

energia e nos níveis de emissão acústica.

Logo, nota-se que o gráfico que

relaciona os valores de rms com o desgaste

de flanco da ferramenta, figura 8, está

coerente com o a teoria, pois com o

decorrer do tempo o nível de energia

aumenta com o aumento do desgaste de

flanco.

4.2. Relação entre Skewness e

Desgaste de Flanco

No gráfico da figura 7 é mostrado

que o parâmetro estatístico skewness

decresce com o aumento do desgaste. Este

parâmetro indicacse há uma maior

quantidade de valores acima ou abaixo da

média de todos os pontos adquiridos, ou

seja, indica a proporção entre picos e vales

numa distribuição (sinal de emissão

acústica, vibração, rugosidade).

Page 21: Análise do desgaste de ferramentas via emissão acústica com aplicações de redes neurais

21

Um valor de skewness negativo

indica que a maior parte dos pontos se

encontra a abaixo da média, ou seja, que

temos um maior número de vales. Valores

de skewness positivos indicam que a maior

parte dos pontos se encontra acima da

média, ou seja, que temos um maior

número de picos.

Como visualizado na figura 7,

conforme o desgaste de flanco aumenta há

uma diminuição nos valores de skewness,

indicando que o sinal de emissão acústica

contém mais vales do que picos. Não

podemos associar skewness com energia

do sistema, como acontece com os valores

de rms, pois o sensor piezelétrico de

emissão acústica mede deslocamento e este

parâmetro estatístico mostra apenas o

comportamento do sinal.

Provavelmente esta diminuição pode

estar relacionada com a evolução da

temperatura no processo. Como

mencionado anteriormente, conforme o

desgaste de flanco aumenta, as flutuações

de temperatura diminuem, pois esta se

distribui pela ferramenta de corte devido

ao aumento da área de contato da

ferramenta com a peça.

Como mostrado na figura 7, os

valores de skewness, que antes eram

positivos, passam a ser negativos com o

aumento do desgaste. Isto pode ser

atribuído à diminuição do gradiente de

temperatura e diminuição das trincas

térmicas. No entanto, neste trabalho não

foi possível medir as temperaturas durante

a usinagem.

4.3. Aplicação de Rede Neural

Artificial

Os resultados obtidos foram

utilizados para implementar uma rede

neural artificial utilizando o software

Matlab para prever a vida da ferramenta de

corte. A rede neural utilizada é

denominada de PNN (Probabilistic Neural

Network ou Rede Neural Probabilística).

As classes adotadas para treinar e validar a

rede neural são mostradas na tabela 6.

Tabela 6 – Classificação da rede neural

PNN, em micrometros Intervalos do Desgaste de Flanco

Nova (0- 300)

Meia vida (300- 450)

Desgaste

(acima de 450)

Na tabela 7 são apresentados os

valores atribuídos que representam os

estágios de desgaste de flanco da

ferramenta. Portanto, o resultado da rede

neural será apresentado na forma dos

números atribuídos as classes de desgaste.

Os dados utilizados para treinar a

rede e suas respectivas classes estão

dispostos nas tabelas 8 a 11.

Na tabela 12 são apresentados os

valores utilizados para validar a rede

Page 22: Análise do desgaste de ferramentas via emissão acústica com aplicações de redes neurais

22

neural probabilística que não foram

utilizados para treinar a rede.

Tabela 07 – Classe e valores atribuídos a estas classes

Classes Classificação para a rede neural

Ferramenta Nova (0 - 300 microns) 1

Ferramenta Meia vida (300 - 450 microns) 2

Ferramenta Desgastada (acima de 450 microns) 3

Tabela 08 – Dados de treinamento e suas respectivas classes

Skewness 0.0038 0.0658 0.0050 0.0629 0.1457 -0.0269 0.1484 0.0354 0.0236Entrada

Rms 0.1782 0.1506 0.1730 0.1217 0.1285 0.2029 0.1146 0.0663 0.0658

classes classificação 3 1 2 1 1 2 1 1 1

Tabela 09 – Dados de treinamento e suas respectivas classes

Skewness 0.0938 0.1077 0.0383 0.1095 0.0964 -0.0021 0.0215 -0.0430 0.0754Entrada

Rms 0.0935 0.1007 0.0607 0.1218 0.1207 0.1656 0.0650 0.1550 0.1487

classes classificação 1 1 3 1 1 2 1 3 1

Tabela 10 – Dados de treinamento e suas respectivas classes

Skewness 0.0088 0.1654 -0.0284 0.0860 0.1230 0.0709 0.1307 0.1053 0.1325Entrada

Rms 0.1505 0.1172 0.2146 0.1348 0.1324 0.0849 0.1004 0.0982 0.1008

classes classificação 2 1 3 1 1 1 2 1 1

Tabela 11 – Dados de treinamento e suas respectivas classes

Skewness 0.1090 Entrada

Rms 0.1276

classes classificação 1

Tabela 12 – Dados de validação e suas respectivas classes

Skewness -0.0056 0.0302 0.0116Entrada

Rms 0.1582 0.0652 0.1456

Classes Classificação 3 1 2

Page 23: Análise do desgaste de ferramentas via emissão acústica com aplicações de redes neurais

23

Após a implementação das tabelas

mostradas acima e consecutiva aplicação

da PNN , obteve-se os resultados

mostrados na tabela 13.

Tabela 13 – Resultado da rede neural

Saída da

PNN 1 1 1

A tabela 13 mostra que a rede PNN

classificou apenas uma ferramenta de

forma correta e as outras duas foram

classificadas de forma errada, isso se deve

a poucos dados relativo a uma ferramenta

meia vida e desgastada tanto para

treinamento como para a validação, e uma

grande quantidade de dados referentes a

ferramenta nova. A PNN tinha uma gama

maior de informações sobre o que

representa uma ferramenta nova,

atribuindo todos os dados de validação

como ferramenta nova. Este resultado deve

ser melhorado com uma quantidade de

dados iguais que represente os três estágios

de desgaste da ferramenta. Além disso, é

necessário uma quantidade maior de

ensaios para obtenção de mais resultados

para as outras classes.

5. Conclusões

Os resultados mostram que existe

uma boa correlação, em se tratando de

processo de usinagem, entre alguns

parâmetros estatísticos do sinal de emissão

acústica e o desgaste da ferramenta. Os

melhores sintomas do sinal de emissão

acústica são a skweness e o RMS. A

aplicação de uma rede neural artificial não

apresentou resultados confiáveis devido a

pouca quantidade de dados utilizados.

Outro fator importante a ser mencionado,

que justifica a falha na utilização da PNN,

refere-se as freqüências harmônicas da

fresadora utilizada. Na avaliação da

sensibilidade do sinal, deve ser feita

aquisição do sinal de emissão acústica da

maquina em funcionamento em vazio, sem

usinar. Os resultados devem ser utilizados

para construção de filtros para eliminação

das freqüências naturais da fresadora. Os

dados dos ensaios devem ser submetidos a

esses filtros, retirando as freqüências da

máquina. O sinal resultante teria dados

apenas referentes ao processo de usinagem.

6. Agradecimentos

Os autores deste trabalho

agradecem ao Conselho Nacional de

Desenvolvimento Científico e Tecnológico

(CNPq), pelo fornecimento da bolsa

concedida e incentivo à pesquisa através

do processo 309100/2006-2, à empresa

Villares Metal S.A pelo fornecimento do

material dos corpos de prova, à Fapemig

pelo apoio à pesquisa através do processo

APQ-2741-6.01/07, ao IFM e CAPES

Page 24: Análise do desgaste de ferramentas via emissão acústica com aplicações de redes neurais

24

pelos recursos ao desenvolvimento

científico e tecnológico.

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