anÁlise do comportamento do fluido escoando …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2661/1/maria fernanda e...

60
UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE ESCOLA DE ENGENHARIA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUÍMICA E DE PETRÓLEO CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PETRÓLEO MARIA FERNANDA DEGENRING OLIVEIRA PAULO VITOR MAGALHÃES VELLOZO LOURES ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DO FLUIDO ESCOANDO ATRAVÉS DE DUTOS CURVOS EM FORMATO S COM DIFERENTES GEOMETRIAS Niterói, RJ 2016

Upload: vodan

Post on 22-Nov-2018

213 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DO FLUIDO ESCOANDO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2661/1/Maria Fernanda e Paulo.pdf · resultados, e muitos momentos inesquecíveis. A Capes, que por meio

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

ESCOLA DE ENGENHARIA

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUÍMICA E DE PETRÓLEO

CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PETRÓLEO

MARIA FERNANDA DEGENRING OLIVEIRA

PAULO VITOR MAGALHÃES VELLOZO LOURES

ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DO FLUIDO ESCOANDO ATRAVÉS DE

DUTOS CURVOS EM FORMATO S COM DIFERENTES GEOMETRIAS

Niterói, RJ

2016

Page 2: ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DO FLUIDO ESCOANDO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2661/1/Maria Fernanda e Paulo.pdf · resultados, e muitos momentos inesquecíveis. A Capes, que por meio

MARIA FERNANDA DEGENRING OLIVEIRA

PAULO VITOR MAGALHÃES VELLOZO LOURES

ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DO FLUIDO ESCOANDO ATRAVÉS DE

DUTOS CURVOS EM FORMATO S COM DIFERENTES GEOMETRIAS

Trabalho de conclusão de curso

apresentado ao curso de Engenharia

de Petróleo da Universidade Federal

Fluminense, como requisito parcial

para a obtenção do grau de Bacharel

em Engenharia de Petróleo.

Orientador:

Prof. Dr. Roger Matsumoto Moreira

Page 3: ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DO FLUIDO ESCOANDO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2661/1/Maria Fernanda e Paulo.pdf · resultados, e muitos momentos inesquecíveis. A Capes, que por meio
Page 4: ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DO FLUIDO ESCOANDO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2661/1/Maria Fernanda e Paulo.pdf · resultados, e muitos momentos inesquecíveis. A Capes, que por meio

MARIA FERNANDA DEGENRING OLIVEIRA

PAULO VITOR MAGALHÃES VELLOZO LOURES

ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DO FLUIDO ESCOANDO ATRAVÉS DE

DUTOS CURVOS EM FORMATO S COM DIFERENTES GEOMETRIAS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao

Curso de Graduação em Engenharia de Petróleo

da Escola de Engenharia da Universidade Federal

Fluminense, como requisito parcial para obtenção

do Grau de Bacharel em Engenharia de Petróleo

Aprovado em 24 de novembro de 2016.

BANCA EXAMINADORA

__________________________________________________

Prof. Dr. Roger Matsumoto Moreira

Orientador

__________________________________________________

Prof. Dr. Alfredo Moisés Vallejos Carrasco

__________________________________________________

Prof. João Crisósthomo de Queiroz Neto

NITERÓI, RJ - BRASIL

NOVEMBRO DE 2016

Page 5: ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DO FLUIDO ESCOANDO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2661/1/Maria Fernanda e Paulo.pdf · resultados, e muitos momentos inesquecíveis. A Capes, que por meio

AGRADECIMENTOS

A Deus, que nos deu saúde e a oportunidade de trabalharmos juntos.

Ao Dr. Orlando Ayala, querido professor que idealizou todo esse estudo, nos

orientou e nos ensinou a fazer pesquisa científica na Old Dominion University,

e cujos ensinamentos foram fundamentais para a execução desse projeto.

Aos nossos pais, Liane, Ivan, Terezinha e Flávio pelo amor, carinho e apoio

incondicional de todos os dias.

Aos nossos irmãos, Lucas, Ana Clara, João Felipi, Iasmin e Maria, que nos

servem de exemplos ao mesmo tempo em que se espelham na gente.

A nossa familía como um todo, a ASSOFAFAU, a Lara, a Izabela, tia Janine, tia

Lenilde e em especial aos nossos avós, Itabajara, Anna, José, Neucineia, Elza,

Antônio, Hylda e Murillo.

Aos nossos namorados, Jéssica e Edson, cujo amor, paciência e apoio foram

fundamentais para a elaboração e conclusão desse trabalho.

Aos nossos amigos, em especial, Bruna, Gil, Laís, Lydia, Deborah, Elisa,

Camilla, Lara, Lucas e Ana que sempre estiveram ao nosso lado.

A todos os professores da UFF, em especial ao nosso orientador Roger.

A equipe ODU, Gustavo, Pedro, Igor, Luís, Manuel, Zack e Matt, que

estudaram diferentes geometrias conosco compartilhando métodos e

resultados, e muitos momentos inesquecíveis.

A Capes, que por meio do programa Ciência sem Fronteiras, financiou essa

pesquisa científica realizada nos Estados Unidos.

Page 6: ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DO FLUIDO ESCOANDO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2661/1/Maria Fernanda e Paulo.pdf · resultados, e muitos momentos inesquecíveis. A Capes, que por meio

RESUMO

O mundo é extremamente dependente do transporte de fluidos, seja para escoar

água para as casas, transferir calor ou mesmo para circular o nosso sangue. A

forma mais comum de escoá-los nos processos industriais é por meio de dutos, que

inúmeras vezes possuem curvas, seja por necessidade de dimensionamento

espacial ou mesmo estrategicamente para otimizar transferência de calor. No

entanto, nas indústrias de óleo&gás e energia estima-se que bilhões de dólares são

gastos anualmente quando o fluido conduzido no interior dos dutos curvos possui

partículas sólidas, devido aos efeitos negativos de corrosão e erosão. Esses gastos

são acentuados porque o fluido sofre efeitos de forças centrífugas que geram um

escoamento perpendicular ao escoamento principal, o que leva algumas partículas à

parede do duto, intensificando os efeitos de erosão. O objetivo principal desse

trabalho é entender a formação e o desenvolvimento desses escoamentos

secundários no interior de dutos com formato S para auxiliar em futuros estudos do

escoamento em artérias com formato S e à redução de erosão nos tubos utilizados

na indústria de petróleo devido a produção oleosa de arenitos. As simulações foram

realizadas no software COMSOL Multiphysics 5.1 usando módulo CFD para analisar

a velocidade axial, os fluxos secundários e as vorticidades ao longo das curvas. Os

parâmetros variados foram número de Reynolds, raio de curvatura e ângulo de

curvatura. A validação foi executada no simulador a partir da reprodução do

experimento realizado por Niazmand e Jaghargh (2010), em um duto de três

dimensões em formato S, com ângulo de curvatura de 90°, raio de curvatura de 6,5D

e número de Reynolds de 960. Uma atenção especial foi dada à escolha da malha e

aos comprimentos de dos tubos de entrada e de saída da curvatura S a fim de

minimizar os erros numéricos no domínio de interesse. Os resultados mostram que

os efeitos do escoamento secundário são mais intensos quanto maiores os números

de Reynolds e o ângulo de curvatura. Também é possível concluir que a intensidade

é inversamente proporcional ao raio de curvatura.

Palavras chaves: Escoamento secundário, joelho, formato S, configuração S,

vorticidade, vórtices.

Page 7: ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DO FLUIDO ESCOANDO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2661/1/Maria Fernanda e Paulo.pdf · resultados, e muitos momentos inesquecíveis. A Capes, que por meio

ABSTRACT

The world is extremely dependent on the fluids transportation, whether to flow water

into homes, transfer heat, or even circulate our blood. The most common way to

make them flow in industrial processes is through pipes, which are often curved,

either by spatial dimensioning or even strategically to optimize heat transfer.

However, in the oil & gas and energy industries it is estimated that billions of dollars

are spent annually when the fluid has solid particles and flows through curved pipes,

due to the negative effects of corrosion and erosion. These expenses are

accentuated because the fluid experience centrifugal forces effects, that generate a

flow perpendicular to the main flow, which takes some particles to the wall of the

duct, intensifying the effects of erosion. The main objective of this work is to

understand the formation and development of these secondary flows inside S-

shaped ducts to assist in future studies of the flow in S-shaped arteries and the

reduction of erosion in the tubes used in the oil industry due to oily production of

sandstones. The simulations were performed in the COMSOL Multiphysics 5.1

software using CFD module to analyze the axial velocity, secondary flows and

vorticity along the bends. The parameters analyzed were Reynolds number, radius of

curvature and angle of curvature. The validation was performed in the simulator from

the reproduction of the experiment realized by Niazmand and Jaghargh (2010), in a

duct of three dimensions in format S, with angle of curvature of 90°, radius of

curvature of 6.5D and Reynolds number of 960. Close attention was given to the

mesh and lengths of the inlet and outlet pipes of the bends to minimize numerical

errors in the domain of interest. The results show that the effects of the secondary

flow are more intense the greater the Reynolds numbers and the angle of curvature.

It is also possible to conclude that the intensity is inversely proportional to the radius

of curvature.

Keywords: Secondary flow, bends, S bend, S configuration, vorticity, vortices.

Page 8: ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DO FLUIDO ESCOANDO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2661/1/Maria Fernanda e Paulo.pdf · resultados, e muitos momentos inesquecíveis. A Capes, que por meio

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Duto em formato S no COMPERJ, RJ. ..................................................... 12

Figura 2 - Desenvolvimento do perfil de velocidade axial no interior do tubo ............ 19

Figura 3 - Escoamento secundário ocorrido devido a curva ..................................... 22

Figura 4 - Composição geométrica estudada ............................................................ 26

Figura 5 - Diferentes configurações geométricas estudadas para raios de curvatura

de: ............................................................................................................................. 26

Figura 6 - Comparação com os resultados de Taylor et al. ....................................... 33

Figura 7 - Comparação entre os resultados obtidos por Niazmand & Rajabi Jaghargh

e nossa validação. ..................................................................................................... 35

Figura 8 - Velocidade Axial para diferentes malhas, analisada no final da primeira

curvatura. .................................................................................................................. 36

Figura 9 - Velocidade Axial para diferentes malhas, analisada no final da segunda

curvatura. .................................................................................................................. 37

Figura 10 - Velocidade Axial para diferentes malhas, analisada no final do tubo de

saída. ........................................................................................................................ 37

Figura 11 - Divisão de elementos na malha normal .................................................. 38

Figura 12 - Diferença da Resolução da parede após ajustes. ................................... 39

Figura 13 - Divisão dos elementos da malha com resolução da parede de 11.06. ... 39

Figura 14 - Orientação do corte. ................................................................................ 40

Figura 15 - Tipos de Análise - (A) Velocidade Axial e (B) Vorticidade ....................... 41

Figura 16 - Comparação de diferentes números de Reynolds na primeira curva...... 44

Figura 17 - Comparação de diferentes números de Reynolds na segunda curva. .... 45

Figura 18 - Desaparecimento do primeiro par de vorticidades na segunda curva..... 46

Figura 19 - Comparação entre as seções transversais da primeira curvatura para um

fluido escoando com número de Reynolds de 10,000, em uma geometria com raio

de curvatura de 1,5 D e diferentes ângulos de curvatura. ......................................... 47

Figura 20 - Comparação das seções transversais para tempos de residência iguais,

em diferente ângulos de curvatura. ........................................................................... 48

Page 9: ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DO FLUIDO ESCOANDO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2661/1/Maria Fernanda e Paulo.pdf · resultados, e muitos momentos inesquecíveis. A Capes, que por meio

Figura 21 - Comparação entre as seções transversais para número de Reynolds

igual a 2000, raio de curvatura de 1,5D para diferentes ângulos de curvatura no

interior na segunda curvatura e no tubo de saída. ................................................... 49

Figura 22 - Comparação entre os efeitos de vorticidade e escoamento secundário

para número de Reynolds e ângulo de curvatura constantes para diferentes raios de

curvatura. .................................................................................................................. 51

Figura 23 - Velocidade axial para diferentes raios de curvatura. ............................... 52

Figura 24 - Refluxo na parede externa da segunda curvatura. ................................. 53

Figura 25 - Visualização dos dois pares de vórtices no tubo de saída. ..................... 54

Page 10: ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DO FLUIDO ESCOANDO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2661/1/Maria Fernanda e Paulo.pdf · resultados, e muitos momentos inesquecíveis. A Capes, que por meio

LISTA DE TABELA

Tabela 1 - Fatores de normalização. .................................................................................... 31

Page 11: ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DO FLUIDO ESCOANDO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2661/1/Maria Fernanda e Paulo.pdf · resultados, e muitos momentos inesquecíveis. A Capes, que por meio

SUMÁRIO

CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO ................................................................................. 12

1.1 MOTIVAÇÃO.................................................................................................... 12

1.2 OBJETIVO ....................................................................................................... 13

1.3 METODOLOGIA ADOTADA ............................................................................ 14

CAPÍTULO 2 - REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .............................................................. 15

2.1 FUNDAMENTOS TEÓRICOS .......................................................................... 15

2.1.1 Fluidos e suas propriedades ...................................................................... 15

2.1.2 número de Reynolds .................................................................................. 17

2.1.3 Regimes de escoamento ........................................................................... 18

3.1.4 Vortices e Vorticidade ................................................................................ 21

2.1.5 Escoamento Secundário ............................................................................ 21

2.2 TRABALHOS ANTERIORES ........................................................................... 22

CAPÍTULO 3 - METODOLOGÍA ................................................................................ 25

3.1 MODELO MATEMÁTICO ................................................................................. 25

3.1.1 Geometria do tubo ..................................................................................... 25

3.1.2 Equações governantes para escoamento monofásico .............................. 27

3.1.3 Condições de Contorno ............................................................................. 28

3.2 MODELO NUMÉRICO ..................................................................................... 29

3.2.1 Computational Fluid Dynamics (CFD) ........................................................ 29

3.2.2 COMSOL ................................................................................................... 30

3.2.3 Malha/Grid ................................................................................................. 30

3.3 NORMALIZAÇÃO ........................................................................................... 30

CAPÍTULO 4 - RESULTADOS E DISCUSSÕES ..................................................... 32

4.1 VALIDAÇÃO DO MODELO NUMÉRICO ......................................................... 32

4.1.1 Taylor et al. (1984) ..................................................................................... 32

Page 12: ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DO FLUIDO ESCOANDO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2661/1/Maria Fernanda e Paulo.pdf · resultados, e muitos momentos inesquecíveis. A Capes, que por meio

4.1.2 Niazmand & Rajabi Jaghargh (2010) ......................................................... 34

4.2 SENSIBILIDADE DA MALHA ........................................................................... 36

4.3 RESULTADOS ................................................................................................. 40

4.3.1 Exibição dos resultados ............................................................................. 40

4.3.2 Considerações gerais ................................................................................ 41

4.3.3 Efeitos devido à variação do número de Reynolds. ................................... 43

4.3.4 Variação do Ângulo de Curvatura .............................................................. 46

4.3.5 Variação do Raio de Curvatura .................................................................. 50

4.4 NOVOS VÓRTICES NO TUBO DE SAÍDA ...................................................... 53

CAPÍTULO 5 - CONCLUSÕES E SUGESTÕES ....................................................... 55

CAPÍTULO 6 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................. 57

Page 13: ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DO FLUIDO ESCOANDO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2661/1/Maria Fernanda e Paulo.pdf · resultados, e muitos momentos inesquecíveis. A Capes, que por meio

12

CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO

1.1 MOTIVAÇÃO

Um dos principais focos na indústria é a redução de gastos e otimização de

tempo. O escoamento através de dutos está presente em todos níveis da indústria

do petróleo, seja na explotação, no transporte ou no refino. É fácil reconhecer o

motivo, pois esta é a maneira mais rápida e econômica de se transportar os fluidos.

Dutos com seção circular são os mais comuns em refinarias e até mesmo nas

plataformas que possuem unidades de processamento, e devido à limitação

espacial, as tubulações precisam de conexões, sendo comum o uso de curvas a 45º

e 90º para a mudança de direção. Denomina-se duto em formato S quando duas

curvas se encontram sucessivamente posicionadas, mas com direções oposta (vide

Figura 1).

Figura 1 - Duto em formato S no COMPERJ, RJ.

Fonte: Revista Fator

Page 14: ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DO FLUIDO ESCOANDO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2661/1/Maria Fernanda e Paulo.pdf · resultados, e muitos momentos inesquecíveis. A Capes, que por meio

13

Como algumas artérias humanas possuem formato S, existem estudos

relacionados ao escoamento de sangue nesse tipo de geometria voltados também

para a área médica. Além disso, esse tipo de configuração é utilizado na indústria

automobilística, em usinas nucleares, em otimização de trocas térmica, entre outras.

Apesar da configuração ser bastante empregada, quando há presença de sólidos, o

escoamento contínuo de fluido causa o desgaste da parede interna da tubulação.

Este problema é agravado em tubulações com mudança de direção por dois

motivos. Primeiro, devido à força inercial que age sobre as partículas, há a colisão

destas com a parede interna na curva. Além disso, ocorre a formação de um

escoamento secundário, perpendicular à direção do escoamento principal,

provocado pela ação da força centrífuga. Este fenômeno carrega algumas partículas

para perto da parede interna da curva, o que acarreta em erosão na conexão,

aumentando, assim, o risco de vazamento. Anualmente, bilhões de dólares são

gastos devido à corrosão e erosão.

Os principais parâmetros que influenciam um escoamento monofásico em

dutos curvos são o número de Reynolds, o ângulo e o raio de curvatura. Sabemos

que em tubulações com baixo número de Reynolds, o escoamento é

predominantemente governado por forças viscosas, enquanto que para geometrias

com número de Reynolds elevado, o escoamento sofrerá mais influência das forças

inerciais.

1.2 OBJETIVO

O objetivo deste trabalho é estudar os efeitos do raio (curto, médio e longo) e

ângulo de curvatura (22.5º, 45º e 90º) em curvas presentes em sistemas de

tubulações que conduzem escoamentos monofásicos em diferentes números de

Reynolds, utilizando técnicas de Fluidodinâmica Computacional (CFD). Além disso,

compreender melhor a relação entre esses parâmetros, o escoamento secundário e

a vorticidade em tubulações com formato S. O conhecimento adquirido neste estudo

servirá para desenvolver uma geometria otimizada para tubulação, a fim de diminuir

Page 15: ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DO FLUIDO ESCOANDO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2661/1/Maria Fernanda e Paulo.pdf · resultados, e muitos momentos inesquecíveis. A Capes, que por meio

14

os gastos com a troca de conexões devido à erosão, além de reduzir a perda de

carga dessas linhas.

1.3 METODOLOGIA ADOTADA

Para o desenvolvimento do presente trabalho foram realizadas simulações

computacionais utilizando o software COMSOL 5.1 Multiphysics. Diferentes

configurações de geometria foram criadas, cada uma possuindo múltiplos cortes ao

longo da curva, a fim de oferecer mais informações para análise. Foram feitas três

diferentes análises, considerando-se as mudanças no comportamento do fluido em

relação à variação do número de Reynolds, ângulo de curvatura e raio de curvatura.

Page 16: ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DO FLUIDO ESCOANDO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2661/1/Maria Fernanda e Paulo.pdf · resultados, e muitos momentos inesquecíveis. A Capes, que por meio

15

CAPÍTULO 2 - REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 FUNDAMENTOS TEÓRICOS

O escoamento de fluidos está presente de maneira vasta no nosso cotidiano,

seja na água que sai nas torneiras, no sangue que circula em nosso corpo, no ar

utilizado no acionamento de válvulas pneumáticas ou no petróleo e seus derivados

em uma refinaria. É importante ressaltar que as propriedades dos fluidos que

influenciam em seu comportamento durante o escoamento são agrupados em uma

variável denominada número de Reynolds (Livi, 2004).

2.1.1 Fluidos e suas propriedades

Um fluido é uma substância que não possui forma própria, assume o formato

do recipiente que o contém. É reconhecido por se deformar continuamente quando

submetido a uma tensão de cisalhamento em equilíbrio estático. Além disso, quando

é submetido a uma força tangencial constante, não atinge uma nova configuração de

equilíbrio estático. As principais propriedades que caracterizam um fluido - ao se

tratar de um escoamento monofásico - são a massa específica (ρ) e a viscosidade

(μ) (Livi, 2004).

A massa específica é definida como o quociente entre a massa de uma

determinada substância e o volume por ela ocupado. Sua representação é dada por:

ρ = m/V (1)

Onde:

m = massa (kg)

V = volume (m³)

Page 17: ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DO FLUIDO ESCOANDO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2661/1/Maria Fernanda e Paulo.pdf · resultados, e muitos momentos inesquecíveis. A Capes, que por meio

16

ρ = massa específica (kg/m³)

A viscosidade é a medida da resistência de um fluido ao escoamento, em

uma dada temperatura. Há duas representações para essa propriedade: a

viscosidade dinâmica (μ) e a viscosidade cinemática (ᵥ) (Brunetti, 2008).

A viscosidade dinâmica, ou absoluta como também é conhecida, é definida

como a força tangencial por unidade de área (tensão de cisalhamento) requerida

para mover um plano horizontal em relação a outro plano - a uma unidade de

velocidade - mantendo uma unidade de distância do fluido. No sistema CGS, sua

unidade é dada em poise (P) ou mais comumente em centiPoise (cP). Sua

representação é dada pela expressão:

T = μ dc/dy (2)

Onde em unidades do Sistema Internacional de Unidades:

Τ = tensão de cisalhamento (N/m² = Pa)

μ = viscosidade dinâmica (Pa.s)

dc = unidade de velocidade (m/s)

dy = unidade de distância entre as camadas (m)

A viscosidade cinemática é determinada pelo quociente entre a viscosidade

dinâmica e sua massa específica. Sua unidade é representada no sistema CGS em

Stokes.

𝑣 = 𝜇

𝜌 (3)

Onde em unidades do Sistema Internacional de Unidades:

v = viscosidade cinemática (m²/s)

Page 18: ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DO FLUIDO ESCOANDO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2661/1/Maria Fernanda e Paulo.pdf · resultados, e muitos momentos inesquecíveis. A Capes, que por meio

17

μ = viscosidade dinâmica (Pa.s)

ρ = massa específica (kg/m³)

2.1.2 número de Reynolds

O número de Reynolds (Re) é uma grandeza adimensional que representa a

relação entre as forças inerciais e as forças viscosas atuantes em um fluido, e é

representado por:

𝑅𝑒 = 𝐹𝑜𝑟ç𝑎𝑠 𝐼𝑛𝑒𝑟𝑐𝑖𝑎𝑖𝑠

𝐹𝑜𝑟ç𝑎𝑠 𝑉𝑖𝑠𝑐𝑜𝑠𝑎𝑠=

𝑚𝑎𝑠𝑠𝑎 ⋅ 𝑎𝑐𝑒𝑙𝑒𝑟𝑎çã𝑜

𝑣𝑖𝑠𝑐𝑜𝑠𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑑𝑖𝑛â𝑚𝑖𝑐𝑎 ⋅ (𝑣𝑒𝑙𝑜𝑐𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒𝑑𝑖𝑠𝑡â𝑛𝑐𝑖𝑎

) ⋅ Á𝑟𝑒𝑎

𝑅𝑒 =(⍴𝐿3) ⋅ (𝑣2/𝐿)

𝜇 ⋅ (𝑣/𝐿) ⋅ 𝐿2=

⍴ ⋅ 𝑣 ⋅ 𝐿

𝜇

𝑅𝑒 = ⍴ ⋅𝑣⋅𝐷

𝜇 (4)

Onde no Sistema Internacional de Unidades:

ρ = massa específica (kg/m³)

v = velocidade média do fluido (m/s),

μ = viscosidade dinâmica do fluido (Pa.s)

D = diâmetro interno da tubo (m)

Page 19: ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DO FLUIDO ESCOANDO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2661/1/Maria Fernanda e Paulo.pdf · resultados, e muitos momentos inesquecíveis. A Capes, que por meio

18

2.1.3 Regimes de escoamento

O número de Reynolds determina o regime de escoamento de determinado

fluido dentro de um tubo ou sob uma superfície. Fluidos com mesmo número de

Reynolds apresentam o mesmo comportamento durante o escoamento. Por isso,

diferentes fluidos com diferentes velocidades escoando através de tubos com

diferentes diâmetros podem possuir o mesmo perfil de fluxo.

2.1.3.1 Escoamento Laminar

O escoamento laminar ocorre quando o fluido é governado pelas forças

viscosas e suas partículas seguem uma trajetória ordenada e bem definida, como se

fosse formada por camadas sobrepostas que deslizam sobre as camadas adjacente,

onde as partículas de uma camada não migram para outra. Nesse tipo de

escoamento, não há troca de matéria entre as camadas, apenas há troca de

movimento molecular. Esse tipo de comportamento ocorre quando o número de

Reynolds é menor que 2000 (Re < 2000). As forças viscosas de cisalhamento

amortecem a tendência de surgimento da turbulência (Livi, 2004).

Uma camada limite se forma ao longo da parede interna do duto. Uma força

cisalhante exercida pelo tubo age sobre o escoamento retardando a velocidade do

fluido próximo da parede. O efeito da superfície é sentido até o centro do tubo, e o

escoamento passa a ser totalmente viscoso. A partir deste ponto, a forma do perfil

de velocidades não se altera e o escoamento se encontra completamente

desenvolvido. A distância entre a entrada e o local onde o escoamento se torna

completamente desenvolvido é chamada comprimento de entrada, conforme

ilustrado na figura 2.

Page 20: ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DO FLUIDO ESCOANDO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2661/1/Maria Fernanda e Paulo.pdf · resultados, e muitos momentos inesquecíveis. A Capes, que por meio

19

Figura 2 - Desenvolvimento do perfil de velocidade axial no interior do tubo

Fonte: Livi (2004)

O comprimento de entrada é uma função do número de Reynolds para

escoamentos laminares:

𝐿

𝐷= 0.06

⍴ ⋅𝑣⋅𝐿

𝜇= 0.06×𝑅𝑒 (5)

Onde:

L = comprimento interno (m)

ρ = massa específica (kg/m³)

v = velocidade média do fluido (m/s),

μ = viscosidade dinâmica do fluido (Pa.s)

D = diâmetro interno da tubo (m)

O escoamento laminar completamente desenvolvido apresenta perfil

parabólico e segue a equação:

𝑣 (𝑟) = 2×𝑣𝑚× (1 − (𝑟

𝑅)

2

) (6)

Onde:

Page 21: ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DO FLUIDO ESCOANDO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2661/1/Maria Fernanda e Paulo.pdf · resultados, e muitos momentos inesquecíveis. A Capes, que por meio

20

v = velocidade axial

Vm = velocidade média

R = Raio interno do tubo

r = distância do centro do tubo

2.1.3.2 Escoamento Turbulento

O escoamento turbulento ocorre quando o escoamento do fluido é altamente

governado pelas forças inerciais e suas partículas seguem uma trajetória irregular,

com movimento das partículas não apenas no sentido do escoamento como também

aleatoriamente em outras direções. Esse regime de escoamento ocorre quando o

número de Reynolds é maior que 4000 (LabTermo).

Para escoamentos turbulentos, a camada limite cresce mais rapidamente,

devido a intensa turbulência entre as camadas do fluido. Diversos experimentos

mostram que o comprimento de entrada para o escoamento turbulento se encontra

entre 25 e 40 vezes o diâmetros do tubo.

2.1.3.3 Escoamento de Transição

A mudança de regime do laminar para o turbulento não ocorre de maneira

instantânea e previsível. Para número de Reynolds entre 2000 e 4000, o

escoamento é considerado em transição, não sendo considerados nem regime

laminar ou turbulento. Nesse sentido, introduz-se um novo conceito, o número de

Reynolds crítico, variável que define o exato número o qual valores acima

representam regime turbulento e abaixo, regime laminar. O valor mais utilizado para

Reynolds crítico é 2300, porém outros valores para essa variável também são

utilizados (LabTermo).

Page 22: ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DO FLUIDO ESCOANDO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2661/1/Maria Fernanda e Paulo.pdf · resultados, e muitos momentos inesquecíveis. A Capes, que por meio

21

3.1.4 Vortices e Vorticidade

Vórtice é um escoamento giratório com padrão circular ou espiral ao redor de

um centro, que surge devido a diferença de pressões de regiões adjacentes.

Vorticidade representa a tendência das partículas de um fluido rotacionarem

próximo a uma região. É um campo pseudo vetorial definido como o produto vetorial

do operador ∇ (nabla) e o campo vetorial de velocidade, indicando assim a rotação

existente no escoamento. A vorticidade pode ser duas vezes a velocidade de

rotação:

(7)

(8)

Onde representa medidas de rotação em um escoamento com eixos de

rotação tridimensional.

A vorticidade é orientada seguindo a regra da mão direita, onde o sentido anti

horário representa valores positivos e o sentido horário, valores negativos.

2.1.5 Escoamento Secundário

Nos casos onde há o escoamento através de dutos, o escoamento

secundário, ou fluxo secundário, surge perpendicular ao escoamento principal e é

relativamente menor. Este fenômeno ocorre devido ao efeito de arrasto na camada

limite. Na presença de conexões, a mudança na direção do fluxo provoca o

surgimento do escoamento secundário, como ilustrado pela figura 3.

Durante a curva, existe um gradiente de pressão transversal atuando no

fluido. Este gradiente fornece força centrípeta ao fluido para que ele possa mudar de

Page 23: ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DO FLUIDO ESCOANDO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2661/1/Maria Fernanda e Paulo.pdf · resultados, e muitos momentos inesquecíveis. A Capes, que por meio

22

direção. No entanto, a parte do fluido que se encontra próximo ao centro do tudo, em

maior velocidade, requer mais força para seguir a curva, do que a parcela próxima

às paredes do tubo. Com isso, o fluido que se encontra no centro tende a migrar em

direção da parede externa do tubo, enquanto que a parte próxima a parede se move

em direção ao centro.

Figura 3 - Escoamento secundário ocorrido devido a curva

2.2 TRABALHOS ANTERIORES

Uma extensa busca por artigos que estudam o comportamento de fluidos em

dutos com geometria em formato S foi realizada de forma a fornecer fundamentos

teóricos, entender o fenômeno dos vórtices e comparar os nossos resultados com os

obtidos por outros autores.

O estudo mais antigo que aborda o escoamento em tubulações em formato S

é datado de 1984, onde TAYLOR ET. AL. divulgaram seu trabalho “Developing Flow

in S-shaped duct - II circular Cross-Section Duct”. Taylor formou sua geometria em S

com duas curvas de 22.5° e 336mm de raio de curvatura e analisou o fluxo para

números de Reynolds igual a 790 e 48000.

Em 1996, HOOGSTRATEN ET. AL. publicou “Numerical Simulation of Blood

Flow in an Artery With Two Successive Bends”, onde analisou o escoamento laminar

Page 24: ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DO FLUIDO ESCOANDO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2661/1/Maria Fernanda e Paulo.pdf · resultados, e muitos momentos inesquecíveis. A Capes, que por meio

23

em geometria S, ambos os joelhos de 35° e com raio de curvatura igual a 13 vezes o

raio do tubo (artéria), para Reynolds de 120, 240, 480 e 960.

Mais tarde, em 2007, JOHNSTON & JOHNSTON publicaram sua pesquisa

“Blood flow in S-shaped in-plane and out-of-plane coronary arteries” cujo o objetivo

era analisar a influência da geometria na tensão de cisalhamento da parede, fluxo

secundário e o índice de cisalhamento oscilatório. Nesse mesmo ano, HONG ET.

AL. escreveu seu artigo “Blood Flow and Macromolecular Transport in Complex

Blood Vessels”. Seu objetivo era, a partir de simulação numérica, estudar - para

números de Reynolds de 280 e 700 - a velocidade axial e escoamento secundário

para fluxo pulsante de sangue com fins medicinais.

Em 2008, dois trabalhos relacionados foram publicados “The spectral hp

element modelling of steady flow in non-planar double bends” por K. E. LEE ET. AL.

e “Experimental Investigation of Solid Particle Erosion in S-Bend” por MAZUMDER

ET. AL. O primeiro trabalho estudou o efeito da não planagem nos tubos em formato

S para os casos laminares com números de Reynolds iguais a 125 e 500. O

segundo citado, estudou o lugar de máxima erosão na geometria com formato S

para diferentes velocidades de ar.

Dois anos depois, 2010, H. NIAZMAND & E. RAJABI JAGHARGH

desenvolveram um estudo chamado “Bend Sweep Angle and Reynolds Number

Effects on Hemodynamics of S-Shaped Arteries” onde analisou-se o efeito da

variação do número de Reynolds (Re= 125, 500 e 960) em tubos com geometria S

com ângulos de 45°, 90° e 135° e raio de curvatura de 6.5 vezes o diâmetro com fins

de aplicação dos resultados na área médica. Nesse mesmo ano, KAZUHISA YUKI

ET. AL. escreveu o artigo “Matched refractive-index PIV visualization of complex flow

structure in a three-dimentionally connected dual elbow”, onde também estudou

geometria com formato S, porém a estrutura difere do nosso trabalho pois os dois

tubos que se conectam encontram-se em planos diferentes.

Em 2013, BILLY C. N. NG ET. AL. escreveu e publicou “Experimental and

CFD Study of a Rectangular S-bend Passage With and Without Pressure Recovery

Effects”, estudo experimental e numérico no interior de um tubo com formato S

Page 25: ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DO FLUIDO ESCOANDO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2661/1/Maria Fernanda e Paulo.pdf · resultados, e muitos momentos inesquecíveis. A Capes, que por meio

24

considerando efeitos de pressão. Vale ressaltar que essa geometria difere um pouco

da nossa, por ser quadrangular.

Em 2014, H. MAZHAR ET. AL. publicou “Mass Transfer in Dual Pipe Bends

Arranged in an S-configuration”onde seu foco era estudar a transferência de massa

em geometria S. No mesmo ano, DEBNATH ET. AL. publicou “Numerical Analysis of

Turbulent Fluid Flow and Heat Transfer in a Rectangular Elbow”. Um estudo

numérico foi estudado para o regime de fluxo turbulento, onde o objetivo era analisar

a transferência de calor em uma geometria similar era formada por dois tubos em

formato S, porém o formato dos tubos diferem dos que estudamos por serem

retangulares.

Page 26: ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DO FLUIDO ESCOANDO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2661/1/Maria Fernanda e Paulo.pdf · resultados, e muitos momentos inesquecíveis. A Capes, que por meio

25

CAPÍTULO 3 - METODOLOGÍA

3.1 MODELO MATEMÁTICO

“Modelo matemático é uma estrutura Matemática que descreve

aproximadamente as características de um fenômeno em questão.” (SWETZ, 1992,

p.65). É composto pelas equações governantes do fenômeno, as condições de

contorno existentes e a geometria onde este fenômeno acontece.

3.1.1 Geometria do tubo

Com objetivo de entender melhor os efeitos da geometria sobre o

comportamento do fluido, nove diferentes configurações foram projetadas. Para isso,

foram escolhidos três diferentes ângulos de curvatura (22.5º, 45º e 90º) e três

diferentes raios de curvatura (1.5D, 6.5D e 10D), onde D o diâmetro interno do tubo,

D = 0.00127m.

Para cada uma destas geometrias, o fluxo da água no regime estacionário foi

estudado para quatro números de Reynolds, dois casos laminares, 100 e 1.000, e

dois casos turbulentos, 10.000 e 100.000. O comprimento de entrada do tubo

simulado foi de seis vezes o tamanho do diâmetro (6D). Tanto para os casos

laminares quanto para os casos turbulentos, o comprimento e a velocidade da água

no tubo de entrada foram projetados para garantir fluxo totalmente desenvolvido de

forma que os efeitos do tubo de entrada pudessem ser considerados desprezíveis.

Após as duas curvas, cada geometria contou com um tubo longo de saída,

com comprimento de 25D para os casos laminares e 60D para os casos turbulentos.

O tubo de saída possui duas finalidades: garantir um fluxo desenvolvido e analisar o

comportamento do fluido após as curvas. Vale ressaltar que a força gravitacional

não foi considerada neste modelo.

Page 27: ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DO FLUIDO ESCOANDO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2661/1/Maria Fernanda e Paulo.pdf · resultados, e muitos momentos inesquecíveis. A Capes, que por meio

26

Figura 4 - Composição geométrica estudada

Para os casos laminares, o perfil de velocidade no tubo de entrada foi

determinado a partir da equação 6. Para os casos turbulentos, foi simulado o

escoamento de água através de um tubo com comprimento 39D, com o mesmo

diâmetro e condições de regime permanente para cada número de Reynolds (10.000

e 100.000). A figura 5 mostra as geometrias estudadas para diferentes raios de

curvatura (RC).

Figura 5 - Diferentes configurações geométricas estudadas para raios de curvatura de:

(a) 1.5D (b) 6.5D e (c) 10D.

Page 28: ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DO FLUIDO ESCOANDO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2661/1/Maria Fernanda e Paulo.pdf · resultados, e muitos momentos inesquecíveis. A Capes, que por meio

27

O escoamento é considerado em regime permanente e o fluido (água) como

homogêneo, de fase única, incompressível e Newtoniano (densidade do fluido igual

a 10³ kg/m³ e viscosidade dinâmica de 10-3 Pa.s) em todas as seções (entrada,

joelho e saída).

3.1.2 Equações governantes para escoamento monofásico

A equação de Navier-Stokes para fluidos incompressíveis foi utilizada para

descrever o fluxo de água nas geometrias estudadas.

● Equação da continuidade (conservação da massa):

(7)

● Equação de Navier-Stokes para fluido incompressível:

(8)

Por ser um fluido incompressível, a equação de conservação de massa se

reduz para:

(9)

Onde:

v = vetor tridimensional de velocidade

P = pressão modificada

⍴ = massa específica do fluido (103 kg/m3)

μ = viscosidade dinâmica (10-3 Pa.s)

Page 29: ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DO FLUIDO ESCOANDO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2661/1/Maria Fernanda e Paulo.pdf · resultados, e muitos momentos inesquecíveis. A Capes, que por meio

28

Para os modelos turbulentos foi utilizado o modelo RANS (Reynolds-averaged

Navier-Stokes), mais especificamente o modelo κ-ε.

3.1.3 Condições de Contorno

● Na entrada do tubo:

Um perfil de velocidades foi usado como dado de entrada para cada

simulação. Para os casos laminares, foi considerada aceleração nula, com condição

de fluxo estável e plenamente desenvolvido. A equação 6 definiu a curva do perfil de

entrada para esses casos.

Por não existir equação que represente o perfil de velocidade axial

desenvolvido para os casos turbulentos, foi obtido um perfil de entrada proveniente

de outra simulação, onde um tubo suficientemente longo (39D), com o mesmo

diâmetro e propriedades de fluxo e fluido foi utilizado para gerar um perfil de fluxo

completamente desenvolvido. As informações obtidas desta simulação foram usadas

para gerar uma curva parabólica cuja equação foi utilizada como perfil de velocidade

de entrada.

● Na saída do tubo:

Uma vez que o fluido se comporta como um elemento contínuo, os efeitos

sofridos pelo fluido no final do tubo poderiam afetar os resultados das simulações no

interior dos joelhos. Por isso, uma análise de sensibilidade foi feita para garantir que

o fluxo estava completamente desenvolvido na saída do tubo, após percorrer os dois

joelhos. Por fim, a pressão na saída do tubo foi definida como zero.

Page 30: ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DO FLUIDO ESCOANDO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2661/1/Maria Fernanda e Paulo.pdf · resultados, e muitos momentos inesquecíveis. A Capes, que por meio

29

● Na parede:

A velocidade foi considerada desprezível devido à condição de não

escorregamento na direção tangencial ao fluxo e ao comportamento laminar na

parede rígida.

3.2 MODELO NUMÉRICO

Modelo numérico ou modelo computacional, utiliza-se do uso de programas

específicos para análise e solução de modelos matemáticos utilizando diferentes

métodos, como: Métodos dos Elementos Finitos, Método dos Volumes Finitos,

Métodos das Diferenças Finitas e Métodos dos Elementos de Contorno.

3.2.1 Computational Fluid Dynamics (CFD)

A maneira escolhida para estudar os efeitos da geometria sobre o

escoamento em dutos em formato S foi utilizando fluidodinâmica computacional,

através do software COMSOL 5.1 Multiphysics®.

Fluidodinâmica Computacional (Computational Fluid Dynamics - CFD) é o

termo dado ao grupo de técnicas matemáticas, numéricas e computacionais usadas

para obter, visualizar e interpretar soluções computacionais para as equações de

conservação de grandezas físicas de interesse em um dado escoamento. A origem

destas equações de conservação é a teoria de Fenômenos de Transporte. Assim,

pode-se resumir CFD como o conjunto das técnicas de simulação computacional

usadas para predizer os fenômenos físicos ou físico-químicos que ocorrem em

escoamentos. (Fontes et al., 2005)

Page 31: ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DO FLUIDO ESCOANDO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2661/1/Maria Fernanda e Paulo.pdf · resultados, e muitos momentos inesquecíveis. A Capes, que por meio

30

3.2.2 COMSOL

O COMSOL é um software de engenharia que determina uma solução

aproximada para modelagem multifísica por meio do Método dos Elementos Finitos

(MEF). Com os parâmetros bem definidos e a malha bem construída é possível

alcançar resultados com excelente precisão. Existem diversos módulos dentro do

programa, sendo os principais, escoamentos de fluidos e transferência de calor.

Estes estudos podem ser realizados para cenários estacionários ou transientes

Primeiramente, a geometria a ser estudada é reproduzida no software e as

condições de contorno aplicadas. Após isso, a malha é escolhida e o programa

calcula a solução. Para os casos turbulentos, foi utilizado o modelo de turbulência k-

epsilon (k-ε).

3.2.3 Malha/Grid

Para solucionar simulações multifísicas, o COMSOL utiliza o Método dos

Elementos Finitos, cuja precisão está diretamente relacionada com o grid utilizado.

Sabe-se que quanto menor o tamanho do grid (mais refinado), mais a solução da

simulação se aproxima da solução real. Contudo, há fatores limitantes tais como os

recursos computacionais, capacidade de processamento de dados do computador e

tempo. Dessa forma, a malha é escolhida de forma a assegurar a convergência da

solução da equação para a modelagem multifísica, com os recursos computacionais

e de tempo disponíveis. A ideia é refinar a malha até que que a diferença entre a

solução dada pelo programa e a solução real assuma um valor arbitrário

considerado desprezível. Neste trabalho o valor considerado foi de 5%.

3.3 NORMALIZAÇÃO

Com o objetivo de melhor comparar os efeitos da geometria e do número de

Reynolds sobre o fluido, foi escolhido um padrão para transformar os resultados em

Page 32: ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DO FLUIDO ESCOANDO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2661/1/Maria Fernanda e Paulo.pdf · resultados, e muitos momentos inesquecíveis. A Capes, que por meio

31

valores adimensionais. Com isso, também é possível usar uma mesma escala para

todos os casos. As velocidades e as vorticidades foram normalizados por Vm e

Vm*/D, respectivamente. Para os casos laminares, Vm* é definido como a

velocidade média de entrada, possuindo o mesmo valor de Vm usada na equação

de Reynolds. Para os casos turbulentos, Vm* é a metade da magnitude de

velocidade máxima no sistema. Os valores de Vm* para diferentes números de

Reynolds (Re), ângulos de curvatura (AC) e raios de curvatura (RC) se encontram

na tabela 1.

Tabela 1 - Fatores de normalização.

Page 33: ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DO FLUIDO ESCOANDO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2661/1/Maria Fernanda e Paulo.pdf · resultados, e muitos momentos inesquecíveis. A Capes, que por meio

32

CAPÍTULO 4 - RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.1 VALIDAÇÃO DO MODELO NUMÉRICO

Com o objetivo de garantir que o modelo numérico criado representa com boa

precisão o caso a ser estudado, foram criados dois modelos similares, usando

informações obtidas por Taylor et al. (1984) e Niazmand & Rajabi Jaghargh (2010).

4.1.1 Taylor et al. (1984)

Um dos primeiros, e o mais famoso, estudo realizado em um tubo em formato

S com seção circular é o estudo experimental "Developing Flow in S-shaped ducts: II

- Circular Cross-Section Duct" conduzido por Taylor et al. em 1984. Este estudo

serviu como referência para diversos trabalhos sobre este assunto e consiste de um

estudo experimental com um tubo em formato S, com diâmetro interno 48 mm, raio

de curvatura de 336 mm e duas curvaturas com ângulo de curvatura 22.5º. O

comprimento de entrada foi de 210 mm e o comprimento de saída 1820 mm. O

estudo foi realizado para dois valores de número de Reynolds, um laminar igual a

790 e um turbulento igual a 48.000.

Na figura 6, podemos ver a comparação entre os resultados obtidos no

estudo experimental e nas nossas simulações em três áreas diferentes: em 20.25º

da primeira curvatura, 9º e 20.25º da segunda curvatura, respectivamente.

Page 34: ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DO FLUIDO ESCOANDO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2661/1/Maria Fernanda e Paulo.pdf · resultados, e muitos momentos inesquecíveis. A Capes, que por meio

33

Figura 6 - Comparação com os resultados de Taylor et al.

Foi observado que quanto mais refinada a malha, mais os valores e o formato

da curva se aproximavam dos valores experimentais. Foi utilizada a malha

Sequence type: Physics-controlled e Element size: Extra Finer, uma vez que essa foi

a malha mais refinada que convergia em uma solução.

Page 35: ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DO FLUIDO ESCOANDO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2661/1/Maria Fernanda e Paulo.pdf · resultados, e muitos momentos inesquecíveis. A Capes, que por meio

34

4.1.2 Niazmand & Rajabi Jaghargh (2010)

O estudo conduzido por Niazmand & Rajabi Jaghargh, consiste em um tubo

com dupla curvatura em 90º e um fluxo com número de Reynolds igual à 960. Para

essa configuração, o comprimento do raio de curvatura é igual 6.5D, enquanto que o

tubo de entrada e de saída possuem, respectivamente, 4D e 40D, onde D é o

diâmetro interno do tubo, D=0.006m. Um perfil de entrada parabólico foi utilizado na

entrada do tubo, seguindo a equação 6, onde Vm = 0.46829268 m/s. Além disso,

também foi definida condição de não deslizamento nas paredes do tubo e a pressão

na saída do tubo igual a zero em todas as direções.

Os resultados obtidos foram comparados com os dados presentes no estudo

de Niazmand & Rajabi Jaghargh. Na figura 7, podemos observar a comparação dos

resultados referentes à velocidade axial. Os valores foram normalizados por Vm, de

modo que os resultados obtidos se encontrem entre 0 e 2.

Page 36: ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DO FLUIDO ESCOANDO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2661/1/Maria Fernanda e Paulo.pdf · resultados, e muitos momentos inesquecíveis. A Capes, que por meio

35

Figura 7 - Comparação entre os resultados obtidos por Niazmand & Rajabi Jaghargh e nossa validação.

As diferenças de contorno observadas entre as simulações podem ser

justificadas tanto pela diferença do método numérico de resolução utilizado (não são

os mesmos simuladores) quanto pela malha utilizada em nossa validação. A malha

utilizada foi Sequence type: Physics-controlled e Element size: Finer, uma vez que o

tempo de simulação necessário para malhas mais refinadas convergirem, não eram

viáveis.

Page 37: ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DO FLUIDO ESCOANDO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2661/1/Maria Fernanda e Paulo.pdf · resultados, e muitos momentos inesquecíveis. A Capes, que por meio

36

4.2 SENSIBILIDADE DA MALHA

Uma ferramenta importantíssima para atingir bons resultados em uma

simulação é a construção e escolha da malha. Por esse motivo, definimos o “pior”

caso entre as configurações a serem estudadas. Assim, uma malha que apresentar

bons resultados neste cenário, será boa para os demais casos. Durante esta

análise, foram considerados os tamanhos dos elementos da malha e a resolução da

parede. O caso escolhido foi: Reynolds Number = 100.000; Raio de Curvatura =

1.5D; e Ângulo de Curvatura = 90º.

Inicialmente foi simulado o escoamento pela malha predefinida coarse e a

seguir foram simulados o mesmo caso escoando através de malhas mais refinadas,

até a malha predefinida extra fine, que após 20 horas de simulação, não convergiu.

A sensibilidade da malha foi feita comparando os resultados da velocidade axial

obtidos em cada simulação. Para isso, dois pontos foram os escolhidos para a

análise: no saída da primeira curvatura e na saída da segunda curvatura. As figuras

8, 9 e 10, apresentam três diferentes locais onde foram feitas as comparações dos

valores de velocidade axial entre as diferentes malhas e o resultado mais refinado

(finer).

Figura 8 - Velocidade Axial para diferentes malhas, analisada no final da primeira curvatura.

Page 38: ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DO FLUIDO ESCOANDO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2661/1/Maria Fernanda e Paulo.pdf · resultados, e muitos momentos inesquecíveis. A Capes, que por meio

37

Figura 9 - Velocidade Axial para diferentes malhas, analisada no final da segunda curvatura.

Figura 10 - Velocidade Axial para diferentes malhas, analisada no final do tubo de saída.

Page 39: ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DO FLUIDO ESCOANDO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2661/1/Maria Fernanda e Paulo.pdf · resultados, e muitos momentos inesquecíveis. A Capes, que por meio

38

Após a análise, a malha normal foi considerada a melhor escolha para as

simulações. Os resultados obtidos apresentaram uma diferença média inferior a 5%

ao ser comparada com a melhor malha, em um tempo de simulação muito inferior.

Figura 11 - Divisão de elementos na malha normal

Nos casos turbulentos, foi usado o modelo k-ε. Este modelo é altamente

dependente da malha e por isso foram necessários ajustes nas camadas próximas à

parede, para redução dos valores lift-off. A espessura das camadas próximas à

parede foram reduzidas até que o valor da resolução da parede (“Well Resolution”)

chegasse à 11.06 (unidades de viscosidade).

Em verdade, o escoamento turbulento em um duto com parede plana pode

ser dividido em até quatro regimes: na parede com velocidade nula, em regiões finas

e próximas da parede, uma região de transição e uma região de regime turbulento.

O modelo de Navier-Stokes serve para descrever o escoamento de fluido nessas

quatro regiões. No entanto, o escoamento nas finas camadas coladas à parede, cuja

velocidade varia linearmente com a distância, pode ser calculado por meio de uma

solução analítica através das funções de parede (“wall functions”). Fazer essa

aproximação possui a vantagem de reduzir significativamente os requerimentos

computacionais e diminuir assim o tempo de simulação. Essa é uma uma

abordagem muito útil para aplicações práticas de engenharia. (Fonte: Comsol).

Page 40: ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DO FLUIDO ESCOANDO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2661/1/Maria Fernanda e Paulo.pdf · resultados, e muitos momentos inesquecíveis. A Capes, que por meio

39

A resolução de parede quando muito baixa indica que o simulador está

calculando áreas desnecessariamente, o que eleva o tempo de simulação. Em

contrapartida, valores muito altos indicam que algumas áreas não estão sendo

consideradas, o que compromete a precisão da solução encontrada. A figura 12

apresenta a resolução da parede antes e depois dos ajustes e a figura 13 mostra a

divisão dos elementos após a redução da espessura das camadas próximas à

parede. Percebe-se que após as modificações nas funções de parede a resolução

foi de 11.06 em toda a geometria.

Figura 12 - Diferença da Resolução da parede após ajustes.

Figura 13 - Divisão dos elementos da malha com resolução da parede de 11.06.

Page 41: ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DO FLUIDO ESCOANDO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2661/1/Maria Fernanda e Paulo.pdf · resultados, e muitos momentos inesquecíveis. A Capes, que por meio

40

4.3 RESULTADOS

4.3.1 Exibição dos resultados

● Posicionamento dos cortes

Para facilitar a visualização da evolução do escoamento dentro do tubo, foram

escolhidos 8 pontos de corte: No início, meio e fim da primeira curva; no meio e no

fim da segunda curva; e em distâncias iguais a 2D e 4D após a saída da segunda

curva, onde D é o diâmetro interno do tubo. Assim, nos joelhos, a metade superior

do corte mostra a parte externa da primeira curva ou a seção interna da segunda

curva enquanto a metade inferior ilustra a parte interna da primeira curva ou a seção

externa da segunda curva.

● Posição de referência à geometria

A posição do observador em relação ao fluxo foi feita de maneira com que a

parede externa da primeira curva e a parede interna da segunda curva fiquem na

parte superior do corte, como ilustrado na figura 14.

Figura 14 - Orientação do corte.

Page 42: ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DO FLUIDO ESCOANDO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2661/1/Maria Fernanda e Paulo.pdf · resultados, e muitos momentos inesquecíveis. A Capes, que por meio

41

● Tipos de Corte

Em cada corte, foram feitas duas diferentes análises, uma com a velocidade

axial, representada pelo fundo de cores e a outra, com vorticidade e o escoamento

secundário, onde o fundo colorido representa a vorticidade, onde azul representa a

vorticidade no sentido oposto ao fluxo, enquanto que vermelho simboliza uma

vorticidade no mesmo sentido do fluxo. Em ambos os casos, as setas representam o

escoamento secundário, porém o tamanho das setas não possuem valor

quantitativo, são representadas apenas para visualização do sentido do escoamento

secundário.

Figura 15 - Tipos de Análise - (A) Velocidade Axial e (B) Vorticidade

4.3.2 Considerações gerais

Ao todo foram simulados 36 diferentes casos para 4 diferentes números de

Reynolds e 9 configurações geométricas. Os resultados foram organizados em

figuras-tabelas a exemplo do modo de apresentação utilizado por Niazmand et al.

Pode-se observar comportamento do fluido nas imagens, com maiores ou menores

intensidades, em diferentes pontos.

Page 43: ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DO FLUIDO ESCOANDO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2661/1/Maria Fernanda e Paulo.pdf · resultados, e muitos momentos inesquecíveis. A Capes, que por meio

42

Como o estudo do perfil de velocidade axial no interior de dutos não

demonstrou resultados inovadores, um estudo mais aprofundado e detalhado foi

feito apenas para a vorticidade e o escoamento secundário perpendicular ao

escoamento principal, ou seja, o escoamento no plano de corte analizado. As

figuras-tabelas foram montadas para todos os casos estudados. Nelas, as cores

representam a vorticidades enquanto as setas indicam o sentido do escoamento

secundário.

Nos casos turbulentos foi possível perceber que na entrada da primeira curva

o primeiro par de vorticidade começa a crescer rente à parede, representado pela

fina camada vermelha e azul na periferia do tubo. Como há ausência de forças

centrífugas atuando naquela área, uma vez que aparece anteriormente à curva, a

explicação encontrada que justifique a presença daquela vorticidade é a

continuidade do fluido, isto é, como o fluido é contínuo, as partículas presentes na

área anterior a entrada da primeira curva “sentem” o que está por vir. Essa teoria

pode ser comprovada pelo fato de não haver um padrão de vorticidade em um tubo

reto com as mesmas características de tubo (material, diâmetro, raio e ângulo de

curvatura) e fluido (número de Reynolds).

Quando o fluido entra no primeiro joelho, a força centrífuga começa a atuar

sobre ele, levando à formação do escoamento secundário, representado pelas

setas, que demonstra a translação das partículas. Ao mesmo tempo, a vorticidade,

representada pelas cores, ilustra a rotação das partículas, onde a cor vermelha

indica que as partículas percorrem o sentido horário, enquanto a azul, o sentido anti-

horário. No primeiro joelho, as partículas transladam na mesma direção que

rotacionam.

Ao entrar no segundo joelho, uma força centrífuga no sentido contrário

começa a atuar nas partículas, mudando assim, o sentido do escoamento

secundário. A mudança do sentido da força centrífuga também é responsável pelo

movimento da primeira estrutura de vorticidade para o centro e parte externa da

segunda curva. Ao mesmo tempo, o primeiro par de vorticidade perde força

enquanto o segundo par gerado começa a se afastar da parede e a fortalecer,

envolvendo assim, o primeiro par.

Page 44: ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DO FLUIDO ESCOANDO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2661/1/Maria Fernanda e Paulo.pdf · resultados, e muitos momentos inesquecíveis. A Capes, que por meio

43

Ao sair da segunda curva, as partículas vão para o tubo reto de saída, onde

não há força centrífuga. No entanto, o fluido continua transladando devido à inércia,

o que leva, em alguns casos, à formação de um novo par de vórtices no tubo de

saída.

4.3.3 Efeitos devido à variação do número de Reynolds.

No início da primeira curvatura, para qualquer número de Reynolds, o fluxo no

plano ainda se encontra disperso e não possui nenhum significado físico. Acredita-

se que o intensidade do primeiro par de vorticidades ocorre em função do número de

Reynolds, uma vez que observa-se nos casos turbulentos, esse par mais rente à

parede e com um padrão mais definido, enquanto nos casos laminares, encontra-se

mais disperso ou mesmo inexistente.

A figura 16 apresenta os efeitos de vorticidade e escoamento secundário para

a primeira curva do caso com 1.5D de raio de curvatura e 90 graus de ângulo de

curvatura para diferentes números de Reynolds.

Page 45: ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DO FLUIDO ESCOANDO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2661/1/Maria Fernanda e Paulo.pdf · resultados, e muitos momentos inesquecíveis. A Capes, que por meio

44

Figura 16 - Comparação de diferentes números de Reynolds na primeira curva.

Conforme o fluido percorre a primeira curva, o primeiro par de vorticidades se

intensifica. Para um determinado raio de curvatura e ângulo de curvatura constantes,

ao comparar os resultados das simulações na mesma área dentro do duto (início,

meio ou fim da primeira curva, segunda curva ou outlet) para os diferentes números

de Reynolds, percebe-se que as principais diferenças são: a espessura da camada

entre a vorticidade primária e a parede; e o afastamento das vorticidades do centro

do tubo.

Pode-se observar que quanto maior o número de Reynolds, mais fina será a

camada entre a vorticidade primária e a parede, e maior será a intensidade da

vorticidade primária. Sabe-se que esses efeitos são função do número de Reynolds,

uma vez que ele é diretamente proporcional às forças inerciais, isto é, quanto maior

o número de Reynolds, maior o tempo levará para a vorticidade se afastar da parede

e afetar todas as partículas, que por inércia, tendem a permanecer como antes.

Seguindo para a segunda curvatura, o fluido começa a sofrer os efeitos da

curva no sentido oposto. Isso altera o posicionamento do ponto de maior velocidade

Page 46: ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DO FLUIDO ESCOANDO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2661/1/Maria Fernanda e Paulo.pdf · resultados, e muitos momentos inesquecíveis. A Capes, que por meio

45

do escoamento principal, assim como inverte a direção do escoamento secundário.

Devido a essa maior velocidade, a força centrífuga será maior nos casos com maior

número de Reynolds, e consequentemente, levará mais tempo para a inversão do

sentido do escoamento secundário nestes casos. Além disso, há um

enfraquecimento das vorticidades primárias e um crescimento da camada entre elas

e a parede, criando, assim, um segundo par de vorticidades que gradativamente

envolve o primeiro par e o desloca para a parte externa da curvatura, na mesma

direção do escoamento secundário. A figura 17 mostra o comportamento do fluido

na segunda curvatura para diferentes números de Reynolds.

Figura 17 - Comparação de diferentes números de Reynolds na segunda curva.

Page 47: ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DO FLUIDO ESCOANDO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2661/1/Maria Fernanda e Paulo.pdf · resultados, e muitos momentos inesquecíveis. A Capes, que por meio

46

Quanto menor o número de Reynolds, mais rápido será o crescimento da

vorticidade secundária e o decrescimento da vorticidade primária. Assim, nos casos

de número de Reynolds muito baixos, inferior à 240, a vorticidade secundária anula

a vorticidade primária completamente, e nenhum traço da vorticidade primária é

observado na saída da segunda curvatura. (HOOGSTRATEN ET AL., 1996).

Na segunda curva, ainda podemos observar que para a mesma seção

transversal, quanto maior o número de Reynolds, menor será a espessura do novo

par de vorticidades, e isto ocorre porque a força do primeiro par de vorticidades é

proporcional ao número de Reynolds, sendo assim, leva mais tempo para o segundo

par crescer e expandir.

Para o caso de número de Reynolds igual a 100, o primeiro par de vorticidade

desaparece antes do primeiro quarto da segunda curva, como mostra a figura 18.

Nos demais casos, a vorticidade secundária não consegue extinguir completamente

a primária. Vale a pena ressaltar que o fenômeno descrito ocorre em de forma muito

mais rápida e com muito menos intensidade do que nos casos com maiores

números de Reynolds.

Figura 18 - Desaparecimento do primeiro par de vorticidades na segunda curva.

4.3.4 Variação do Ângulo de Curvatura

Ao analisarmos a influência do ângulo de curvatura sobre o comportamento

do fluido, podemos encontrar algumas semelhanças com a influência do número de

Reynolds. A figura 19 mostra a evolução da vorticidade e do escoamento secundário

Page 48: ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DO FLUIDO ESCOANDO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2661/1/Maria Fernanda e Paulo.pdf · resultados, e muitos momentos inesquecíveis. A Capes, que por meio

47

através do tudo para geometrias com 1,5D de raio de curvatura e número de

Reynolds igual à 10.000.

Na primeira curvatura podemos observar que o escoamento secundário se

comporta de maneira similar em todos os casos. Por outro lado, a vorticidade

apresenta diferenças. A análise pode ser feita sob duas óticas:

1. Análise da mesma seção transversal para diferentes ângulos

2. Análise pelo ângulo percorrido pelo fluido

Figura 19 - Comparação entre as seções transversais da primeira curvatura para um fluido escoando com número de Reynolds de 10,000, em uma geometria com raio de curvatura de

1,5 D e diferentes ângulos de curvatura.

Sob a primeira ótica, a partir da figura 19, percebe-se na seção mediana da

primeira curva um volume e influência muito maiores do primeiro par de vorticidade

Page 49: ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DO FLUIDO ESCOANDO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2661/1/Maria Fernanda e Paulo.pdf · resultados, e muitos momentos inesquecíveis. A Capes, que por meio

48

quanto maior o ângulo de curvatura. Essa análise é feita para todas as seções no

interior do tubo, onde chega-se a essa mesma conclusão. Acredita-se que a

intensidade do primeiro par de vorticidade esteja relacionado ao tempo de residência

no duto, uma vez que o fluido é submetido aos efeitos da força centrífuga por um

tempo maior. Por isso, acredita-se que o primeiro par de vorticidades teve mais

tempo para se intensificar, nos maiores ângulos.

Sob a segunda ótica, podemos comparar a intensidade da vorticidade

baseado no ângulo percorrido pelo fluido, isso é, comparar as seções baseado no

tempo de residência no interior do tubo, como exemplificado na figura 20. Na

primeira curvatura, podemos perceber resultados bastante semelhantes entre a

seção média do caso de 90º com seção de saída do caso de 45º, como também a

seção média do caso de 45º com seção de saída do caso de 22.5º. Porém as

intensidades são maiores e ocupam uma área maior nos pontos de saída de dos

casos com ângulo de curvatura de 22.5º e 45º.

Figura 20 - Comparação das seções transversais para tempos de residência iguais, em diferente ângulos de curvatura.

Page 50: ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DO FLUIDO ESCOANDO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2661/1/Maria Fernanda e Paulo.pdf · resultados, e muitos momentos inesquecíveis. A Capes, que por meio

49

Na segunda curvatura, as diferenças são mais visíveis. A figura 21 mostra a

evolução da vorticidade e do escoamento secundário na segunda curvatura.

Figura 21 - Comparação entre as seções transversais para número de Reynolds igual a 2000, raio de curvatura de 1,5D para diferentes ângulos de curvatura no interior na segunda

curvatura e no tubo de saída.

Em todos os casos, ainda é possível visualizar o primeiro par de vorticidades

no ponto médio da segunda curva, sendo mais intenso e influente quanto maior o

ângulo de curvatura. Isso ocorre porque a vorticidade possui maior intensidade para

este caso. Como a vorticidade gerada na geometria com ângulo de curvatura de

Page 51: ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DO FLUIDO ESCOANDO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2661/1/Maria Fernanda e Paulo.pdf · resultados, e muitos momentos inesquecíveis. A Capes, que por meio

50

22.5º possui baixa intensidade, ela é rapidamente aniquilada pelo segundo par de

vorticidades formado. Assim, no ponto de saída da segunda curvatura não é mais

possível visualizar o primeiro par de vorticidades. Conclui-se que quanto maior o

ângulo de curvatura, mais forte será o primeiro par de vorticidade gerada e por mais

tempo os efeitos da primeira curvatura atuarão no escoamento.

4.3.5 Variação do Raio de Curvatura

A figura 22 mostra a evolução do comportamento do fluido para diferentes

raios de curvatura, com 90º de ângulo de curvatura e 10.000 de número de

Reynolds. Podemos observar que há uma grande diferença na intensidade da

vorticidade para o caso de menor raio de curvatura. Isso ocorre porque a intensidade

da força centrífuga é inversamente proporcional ao raio de curvatura. Portanto,

podemos concluir que quanto menor o raio de curvatura, maior é a intensidade da

vorticidade e mais tempo levará para o escoamento secundário mudar de sentido.

Page 52: ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DO FLUIDO ESCOANDO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2661/1/Maria Fernanda e Paulo.pdf · resultados, e muitos momentos inesquecíveis. A Capes, que por meio

51

Figura 22 - Comparação entre os efeitos de vorticidade e escoamento secundário para número de Reynolds e ângulo de curvatura constantes para diferentes raios de curvatura.

A velocidade máxima dentro do tubo é inversamente proporcional ao raio de

curvatura. Para a simulação com 1,5D de raio de curvatura, temos uma velocidade

máxima 1,6 vezes a velocidade média de entrada. Porém, para o caso 10D, a

Page 53: ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DO FLUIDO ESCOANDO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2661/1/Maria Fernanda e Paulo.pdf · resultados, e muitos momentos inesquecíveis. A Capes, que por meio

52

velocidade máxima encontrada foi 1,1 vezes a velocidade média de entrada. A figura

23 apresenta as linha de contorno para diferentes intensidades da velocidade axial.

Podemos observar que a velocidade tende a se deslocar para a parte interna da

curvatura, e que há uma concentração muito mais elevada na parte interior da

segunda curvatura para o caso com 1.5D de raio de curvatura.

Figura 23 - Velocidade axial para diferentes raios de curvatura.

Nestes casos, ocorre um destacamento do fluido da parede externa da

segunda curva. Para os casos com número de Reynolds igual a 1.000, Raio de

curvatura de 1,5D e ângulo de curvatura iguais a 45º e 90º, ocorre um refluxo nessa

região com baixíssimas velocidades, de módulos iguais a 2,6% e 2,1%,

respectivamente. A figura 24 mostra o perfil de velocidades para o segundo caso

Page 54: ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DO FLUIDO ESCOANDO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2661/1/Maria Fernanda e Paulo.pdf · resultados, e muitos momentos inesquecíveis. A Capes, que por meio

53

mencionado. Para os casos com raios de curvatura mais elevados, o descolamento

da parede externa da segunda curva é mais sutil e não há refluxo.

Figura 24 - Refluxo na parede externa da segunda curvatura.

4.4 NOVOS VÓRTICES NO TUBO DE SAÍDA

Para os casos turbulentos, um novo par de vórtices surgem no tubo de saída

para as geometrias com 1.5D de raio de curvatura e 90º de ângulo de curvatura,

totalizando quatro vórtices. Para o caso de número de Reynolds igual a 100.000,

esses dois vórtices adicionais foram visualizados no tubo de saída a 2D de distância

da saída da curvatura, enquanto para número de Reynolds igual a 10.000 esses

segundo par foi visualizado no tubo de saída a 0,7D de distância da saída da

segunda curvatura, e são mais fracos quando comparados com o primeiro par. Não

há indícios do aparecimento dessas estruturas nos casos laminares, após a saída da

segunda curva. Acredita-se que esse novo par de vorticidades surge devido ao

efeito da vorticidade proveniente e remanescente da primeira curvatura, por isso,

são mais fracos quando comparados ao outro par. A figura 25 mostra os dois pares

de vórtices no corte 2D após o final da segunda curvatura, onde (1) é o par que

Page 55: ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DO FLUIDO ESCOANDO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2661/1/Maria Fernanda e Paulo.pdf · resultados, e muitos momentos inesquecíveis. A Capes, que por meio

54

surge devido a força centrífuga durante a segunda curvatura e (2) é o par que surge

devido à vorticidade remanescente da primeira curvatura.

Figura 25 - Visualização dos dois pares de vórtices no tubo de saída.

Page 56: ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DO FLUIDO ESCOANDO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2661/1/Maria Fernanda e Paulo.pdf · resultados, e muitos momentos inesquecíveis. A Capes, que por meio

55

CAPÍTULO 5 - CONCLUSÕES E SUGESTÕES

As simulações e estudos da literatura nos permitiram concluir que o

comportamento do fluido é fortemente influenciado pelo número de Reynolds, ângulo

de curvatura e raio de curvatura da geometria em que ele escoa. Ao passar por um

duto curvo, o fluido é submetido a forças centrífugas, que geram um escoamento

perpendicular ao escoamento principal. O escoamento gera vorticidades, que

representam a rotação das partículas do fluido.

O comportamento do fluido no interior do duto com formato S pode ser

resumido da seguinte forma: Em algum ponto da segunda curvatura, o primeiro par

de vorticidades cede lugar a um novo par de vorticidades que se intensifica,

envolvendo o primeiro par, que enfraquece sua intensidade, se afastando da parede

e se movimentando no sentido do escoamento secundário.

Constituíram portanto, objeto de estudo do presente trabalho, as influências

do (i) número de Reynolds; (ii) ângulo de curvatura; e (iii) raio de curvatura, além da

(iv) formação dos vórtices após as curvas.

(i) número de Reynolds: há uma relação proporcional entre o número de

Reynolds e o comportamento da vorticidade e do tempo para mudança do sentido

do escoamento secundário. Na primeira curvatura, quanto maior o número de

Reynolds, maior o tempo que o primeiro par de vorticidades levará para se afastar

da parede e maior a sua intensidade. Na segunda curvatura, quanto maior o número

de Reynolds, mais tempo levará para mudar o sentido do escoamento secundário.

Isso ocorre porque o primeiro par de vórtices se mantém de modo mais prolongado

e intenso na segunda curvatura quanto maior o número de Reynolds. Além disso, foi

possível perceber nos cortes do interior da segunda curvatura que para os números

de Reynolds igual a 100, o primeiro par de vorticidade é completamente aniquilado

pelo segundo par. Nos demais casos, a vorticidade secundária não consegue

extinguir completamente a primária.

Page 57: ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DO FLUIDO ESCOANDO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2661/1/Maria Fernanda e Paulo.pdf · resultados, e muitos momentos inesquecíveis. A Capes, que por meio

56

(ii) Ângulo de curvatura: A análise das seções transversais ao longo do duto

permite constatar a relação entre o ângulo de curvatura e os efeitos de vorticidade e

escoamento secundário. Percebe-se que quanto maior o ângulo de curvatura, mais

intensos esses efeitos são, uma vez que o tempo de residência no interior do tubo é

maior, e consequentemente, por mais tempo o fluido é submetido a forças

centrífugas.

(iii) Raio de curvatura: O efeito e intensidade das vorticidade e do escoamento

secundário foram estudados para tubos com diferentes raios de curvatura. O

resultado encontrado foi que quanto menor o raio de curvatura, mais intensos os

efeitos de vorticidade e maior será o tempo de residência necessário para que o

sentido do escoamento secundário mude completamente de direção.

(iv) Vórtices: A ideia principal era estudar as condições de formação dos

vórtices. Foi possível constatar em todos os casos, a existência de pelo menos um

par de vórtices gerados pelo escoamento secundário. No entanto, para alguns casos

turbulentos, há a presença de quatro vórtices no tubo de saída. O primeiro par

gerado foi causado por inércia, enquanto o segundo par foi gerado devido à

translação e rotação em sentidos contrários do primeiro par de vorticidade. Portanto,

é necessário estudos adicionais para rastrear esses vórtices e poder aplicar os

resultados encontrados para a indústria.

Para trabalhos futuros: Recomendamos o estudo da localização do ponto de

máxima vorticidade e do centro dos vórtices formados pelo escoamento secundário

no interior do duto, com o objetivo de determinar uma equação que represente estas

localizações. Ademais, recomendamos o estudo da combinação de curvaturas com

diferentes geometrias, variando raio de curvatura e ângulo de curvatura,

simultaneamente.

Page 58: ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DO FLUIDO ESCOANDO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2661/1/Maria Fernanda e Paulo.pdf · resultados, e muitos momentos inesquecíveis. A Capes, que por meio

57

CAPÍTULO 6 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Brunetti, Franco, Mecânica dos fluidos. São Paulo: Pearson Education, 2008.

448p.

O. Ayala, M.F. Degenring Oliveira e P. Loures. Reynolds Number and Geometry

Configuration Effect on Secondary Flows in S-Shaped Circular Bends. In:

COMSOL Conference. 40662, 2016, Boston.

Debnath, R., Mandal A., Majumder S., Bhattacharjee S. e Roy D.. Numerical

analysis of turbulent fluid flow and heat transfer in a rectangular elbow. Journal

of Applied Fluid Mechanics. 7 abr. 2014. Vol 8 No 2. P.231–241.

Fontes, C. E., Silva, L. F. L. R., Lage, P.L.C., Rodrigues, R. C., Introdução a

Fluidodinâmica Computacional. Escola Piloto Virtual, Universidade Federal do Rio

de Janeiro, Rio de Janeiro, 2005.

Hong, J., L. Wei, C. Fu, and W. Tan. Blood flow e macromolecular transport in

complex blood vessels. Clinical. Biomechanics. 3 jul. 2007. Vol 23. p.125–129

Hoogstraten, H. W., J. G. Kootstra, B. Hillen, J. K. B. Krijger, e P. J. W. Wensing.

Numerical simulation of blood flow in an artery with two successive bends. J.

Biomech. 1996. Vol 29. No 8. p.1075–1083.

Johnston, P. R., e Johnston, B. M.. Blood flow in S-shaped in-plane e out-of-plane

coronary arteries. ANZIAM. 15 jan. 2008. Vol 49. p.341–358.

Page 59: ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DO FLUIDO ESCOANDO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2661/1/Maria Fernanda e Paulo.pdf · resultados, e muitos momentos inesquecíveis. A Capes, que por meio

58

Kazuhisa Yuki. Shunsuke Hasegawa, Tsukasa Sato, Hidetoshi Hashizume, Kosuke

Aizawa, Hidemasa Yamano. Matched refractive-index PIV visualization of

complex flow structure in a three-dimentionally connected dual elbow. Nuclear

Engineering Design. Elsevier. nov. 2011. Vol 241. No 11. p. 4544–4550

LabTermo, UFSC. Experimento de Reynolds - Visualização dos regimes de

escoamento. Disponível em: <www.labtermo.ufsc.br/> Acesso em: 05 nov. 2016.

Lee, K. E., K. H. Parker, C. G. Caro, e S. J. Sherwin. The spectral/hp element

modeling of the steady flow in non-planar double bends. Int. J. Numer. Meth.

Fluids. 8 mar. 2007. Vol 57. p.519–529.

Livi, Celso P. Fundamentos de Fenômenos de Transporte: um texto para cursos

básicos. Rio de Janeiro: LTC, 2004.

Mazhar, H., Ewing, D., Cotton, J. S., e Ching, C. Y., Mass transfer in dual pipe

bends arranged in an S-configuration. Int. J. Heat Mass Transfer. 25 jan. 2014.

Vol 71, p.747–757.

Niazmand H., Jaghargh E.R.. Bend sweep angle and Reynolds number effects on

hemodynamics of s-shaped arteries. Annals of Biomedical Engineering. 29 abr.

2010. Vol. 38. No 9, p.2817–2828.

Ng, Billy C. N. e Birk, A. M.. Experimental and CFD study of a rectangular s-bend

passage with and without pressure recovery effects. Proceedings of the Asme

Turbo Expo: Turbine Technical Conference and Exposition. GT2013-94917. 2013.

San Antonio, Texas, USA. 3-7 jun 2013.

Page 60: ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DO FLUIDO ESCOANDO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/2661/1/Maria Fernanda e Paulo.pdf · resultados, e muitos momentos inesquecíveis. A Capes, que por meio

59

Quamrul H. Mazumder, Siamack A. Shirazi e Brenton S. McLaury. Prediction of

Solid Particle Erosive Wear of Elbows in Multiphase Annular Flow-Model

Development and Experimental Validations. ASME. J. Energy Resour. Technol.

2008

Swets, F. (1992). Quando e como podemos usar Modelação? Lisboa:

Educação e Matemática, n. 23, 3º trimestre.

Taylor, A. M. K. P., J. H. Whitelaw, and M. Yianneskis. Developing flow in S-

shaped ducts 2: circular cross-section duct. NASA. Fev. 1984. NASA Contractor

Report 3759.