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    Processo n 02/06647-1

    Conflito e insegurana escolar na Zona Sul de So Paulo

    Relatrio Final

    Projeto CEPID IV Identificao dos conceitosde justia, direito e punio relacionados comdireitos humanos na populao urbana de SoPaulo

    Orientadora Dra. Nancy CardiaBolsista Telma Falco de Melo

    Data de concesso da bolsa 10 de julho de 2002Data de entrega do relatrio final 10 de julho de 2003

    (prorrogado para 31 de agosto de 2003)

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    Sumrio

    1 - Resumo do projeto ................................................................................................................... 3

    2- Descrio das atividades ......................................................................................................... 7

    3 Estudos sobre violncia e escola.......................................................................................... 14

    4 Resultados finais ..................................................................................................................... 25

    5- Concluso .................................................................................................................................. 82

    6- Bibliografia................................................................................................................................. 93

    Anexo 1 Roteiro Levantamento de infra-estrutura e recursos humanos nas

    escolas.......................................................................................................................................... 96

    Anexo 2 Roteiro Levantamento dos conflitos escolares.................................................... 108

    Anexo 3 Dados obtidos durante o primeiro semestre de pesquisa...................................... 113

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    1- Resumo do Projeto

    O projeto Conflito e insegurana escolar na Zona Sul de So Paulo explora alguns aspectos

    do acesso educao nos distritos censitrios do Campo Limpo, Capo Redondo, Jardim ngela e

    Jardim So Lus. Sero levantados especificamente os seguintes aspectos: nmero de escolas na

    rea selecionada; nmero de alunos matriculados versus demanda existente; nmero de alunos sob

    Conselho Disciplinar; nmeros de alunos expulsos; nmero de alunos que cabulam aulas; nmero

    de alunos envolvidos em infraes criminais (tipo e perfil de ofensas:contra pessoas, propriedade ou

    incolumidade pblica) e nmero e tipo de atos violentos dentro das escola. Este projeto insere-se

    dentro de um projeto mais amplo, o Projeto CEPID IV, o qual descrevemos mais abaixo e no qual nos

    situaremos no decorrer deste resumo.

    O projeto CEPID IV, Identificao dos conceitos de justia, direitos e punio relacionados

    com direitos humanos na populao urbana do Estado de So Paulo, tem como objetivo examinar de

    que maneira as representaes compartilhadas pela populao em relao aos direitos humanospodem influenciar nos conflitos interpessoais e entre grupos. Para isso so exploradas e analisadas

    as concepes dos grupos sociais a respeito do que so graves violaes dos direitos humanos.

    A partir da identificao destes conceitos, sero iniciadas duas atividades de interveno na Zona

    Sul, sob a forma de projetos-piloto, mais especificamente no distrito censitrio do Jardim ngela,

    onde so constatadas algumas das piores taxas de qualidade de vida do municpio de So Paulo,

    conforme levantamentos oficiais e relatrios do Ncleo de Estudos da Violncia, cujos dados

    referentes situao escolar apresentamos neste relatrio. Estas intervenes instituem os sub-

    projetos: de Mediao de Conflitos e Administrao Local de Justia.O sub-projeto Administrao Local de Justia explora formas de se implementar contratos

    locais de segurana, um pouco semelhana das experincias adotadas recentemente na Frana1.

    O sub-projeto Mediao de Conflitos pretende implementar programas na sociedade civil que

    inaugurem canais de intercmbio e de soluo de desavenas diversas, em especial nas relaes

    interpessoais com o objetivo de criar alternativas ao desfecho violento, fenmeno que parece ter se

    agravado nesta dcada. Este projeto partiu de uma reviso da literatura especializada, e do

    levantamento das experincias existentes, sobretudo na frica do Sul, Canad e na Argentina.

    O objetivo primordial dos projetos-piloto criar condies - atravs da articulao dosmovimentos sociais, das organizaes da sociedade civil e das instituies do poder pblico - para a

    implementao de alternativas para a gesto local dos conflitos interpessoais, bem como contribuir

    1 Cf. IHESI Institut ds Hautes tudes de la Securit Interieure. Guide pratique pour les Contrats locaux descurit. La Documentation Franaise. Paris, 1998.

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    para o melhoramento da segurana pblica atravs da alterao do processo de tomada de deciso

    em nvel local.

    O primeiro sub-projeto enfatiza a importncia de considerar e usar como princpio bsico a

    definio que a populao tem sobre insegurana, quais suas causas e como esta pode ser reduzida.

    Deve ser ressaltado ainda que a sensao de insegurana da populao no determinada apenas

    pela veiculao das estatsticas policiais ou pela sua percepo das taxas de crime, os sinais de

    decadncia urbana, de desorganizao social e de incivilidade tambm produzem medo e

    insegurana.

    O direito educao, analisado pelo projeto Conflito e insegurana escolar na zona sul de

    So Paulo, insere-se neste contexto em vrios sentidos: a educao um direito fundamental,

    presente, inclusive, na Declarao Universal dos Direitos Humanos; o grupo etrio mais vulnervel da

    populao violncia, em especial a fatal, est presente no espao escolar (Ensino Fundamental II e

    Ensino Mdio), fator agravado quando se considera a defasagem idade/srie escolar; a escola

    palco de inmeros conflitos, podendo estes desembocar para resolues violentas; finalmente, o

    acesso ou a falta de acesso educao, em especial diante do panorama desolador da periferia

    paulistana, um componente a mais na excluso social, gerando conflitos vrios.

    Sobre este ltimo aspecto, levando em conta as excluses sobrepostas na periferia

    paulistana, em especial na regio do distrito do Jardim ngela, centro especfico de nossas

    investigaes, a falta de vagas em creches e em escolas de Ensino Fundamental e mdio,

    configuram-se como um fator a mais de insegurana, tendo em vista a necessidade de os pais

    estarem distantes dos filhos na maior parte do tempo, no trabalho ou em busca deste. Aqueles que

    no so absorvidos pela escola so, no final das contas, os excludos dos excludos, privados da

    escola ela mesma uma instituio em crise , em especial os jovens adolescentes e pr-

    adolescentes formam um grupo numeroso.

    A escola, como veremos na reviso bibliogrfica, palco de numerosos conflitos e situaes

    de insegurana. As escolas selecionadas para o estudo atendem ao pblico que tem maior

    envolvimento em situao de conflitos, ou seja, jovens entre 15 e 24 anos que correspondem ao

    grupo mais vulnervel da populao. Alm disso, tendo em vista os projetos de preveno violncia

    desenvolvidos pelo NEV/USP, foi levada em conta a faixa de idade imediatamente anterior a esta, ou

    seja, os adolescentes entre 11 e 14 anos, compreendidos no ciclo fundamental II da rede pblica deensino. importante ressaltar que no estamos, neste momento, levando em conta a questo da

    defasagem srie-idade, a qual insere alunos com idade superior a 15 anos no ciclo fundamental.

    Alm destes aspectos, h que se considerar que nas ltimas dcadas houve uma mudana do

    perfil das causas de mortalidade. No Brasil, anteriormente as taxas eram maiores na infncia, em

    decorrncia de doenas contagiosas ou epidemias. Atualmente, devido a violncia, as taxas so

    maiores entre os jovens, especialmente os compreendidos entre os 15 e 24 anos, como ressalta

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    Mello Jorge (1998), em relao aos homicdios no municpio de So Paulo a situao chama mais a

    ateno no grupo de 15 a 19 anos: os meninos passaram de um coeficiente igual a 9,6 para 186,7

    por 100 mil habitantes, representando um aumento de mais de 1.800% no perodo de 35 anos

    (1960/1995). A mesma situao repete-se no grupo etrio de 20 a 24 anos, quando as taxas passam

    de 12,9 para 262,2 por 100 mil habitantes (aumento de quase 2.000%). No sexo feminino, os

    aumentos foram tambm elevados, embora em valores menores (Mello, 1998: p. 109-110).

    importante ressaltar que uma parcela destes jovens ainda so atendidos pela escola, inclusive o

    grupo etrio de 20 a 24 anos, devido alta defasagem idade/srie nos ensinos fundamental e mdio

    no municpio de So Paulo e em especial nos distritos da Zona Sul aqui analisados, o que torna

    essencial uma investigao e interveno que possam minimizar os efeitos de insegurana entre a

    populao jovem.

    Esta , portanto, a justificativa para a insero do projeto de Iniciao Cientfica Conflito e

    insegurana escolar na Zona Sul de So Paulo no projeto CEPID IV. O objetivo central deste projeto,

    ao fornecer um quadro mais completo das condies educacionais e do impacto que estas tm sobre

    a segurana e insegurana da comunidade escolar, o de prover informaes para os projetos de

    interveno tanto de Mediao de Conflitos quanto aos Contratos Locais de Segurana.

    O perfil das escolas nos distritos selecionados: Jardim ngela, Jardim So Lus, Campo Limpo

    e Capo Redondo, foram coletados neste projeto e esto presentes neste relatrio (anexos):

    a) Distribuio das escolas por rede de ensino So Paulo e distritos municipais (p. 113);

    b) Nmero de matrculas versus demanda em creches (p. 113);

    c) Nmero de matrculas versus demanda em pr-escola (p. 114);

    d) Informaes oficiais sobre o ensino fundamental (matrculas versus demanda, aprovao,

    reprovao, evaso e defasagem) (p. 114-115);

    e) Informaes oficiais sobre o ensino mdio (matrculas versus demanda, aprovao,

    reprovao, evaso e defasagem) (p. 116-1117);

    f) Informaes oficiais sobre ensino de jovens e adultos alfabetizao e supletivos (matrculas

    versus demanda) (p. 118-119)

    g) Nmeros de matrculas para escolas de educao especial (pessoas com necessidades

    especiais) (p. 120);h) Nmero de matrculas em cursos profissionalizantes (p. 120-121);

    i) Nmero de no alfabetizados (p. 122) .

    Os dados abaixo so o objetivo final de nossa pesquisa e foram obtidos atravs da aplicao

    de roteiros de observao e de questionrios aplicados nas 30 escolas da regio. Estes roteiros e

    questionrios buscaram identificar as condies de infra-estrutura fsica e de recursos humanos das

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    escolas da regio e o levantamento dos principais conflitos/disputas que ocorrem nas escolas, bem

    como as medidas disciplinares adotadas.

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    2 - DESCRIO DAS ATIVIDADES

    2.1 - RESUMO DO RELATRIO ANTERIOR

    Como uma forma de identificar o perfil da violncia nas escolas nos distritos estudados,

    coletamos durante o 1 semestre de pesquisa informaes referentes aos eventos violentos e

    ocorrncias disciplinares durante os anos de 2000, 2001 e 2002 junto a Secretaria de Estado da

    Educao, Secretaria Municipal de Educao, Guarda Civil Metropolitana, UDEMO (Sindicato dos

    Especialistas de Educao do Magistrio Oficial do Estado de So Paulo) e CNTE (Confederao

    Nacional dos Trabalhadores em Educao), alm das informaes obtidas a partir das notcias da

    imprensa escrita inseridas no Banco de Dados Escola NEV/USP. Alm desses dados, foram

    coletados dados em 30 escolas da regio, dados estes relativos estrutura fsica e humana. Essas

    informaes sero descritas e analisadas no presente relatrio.

    Perfil da violncia nas escolas da regio

    Atravs da anlise dos dados obtidos, foi possvel identificar que existe uma diferena nos

    enfoques dados ao tema pelos rgos consultados. Embora esses dados sejam, por vezes,

    conflitantes entre si, caracterizam as escolas da regio estudada como repletas de conflitos e

    violncia e num contexto de excluso em relao s outras regies do municpio. De modo geral,

    essas fontes apresentam como principais problemas a presena do trfico de drogas e o consumo de

    drogas e lcool no interior ou no entorno da escola.

    Dentro de um contexto de altas taxas de criminalidade na Zona Sul, a escola representada

    nas fontes consultadas como reprodutora dos conflitos externos a ela, absorvendo todos os

    problemas do seu entorno e refm da situao vivida por toda a periferia. Ou seja, relaciona-se a

    violncia escolar automaticamente como desdobramento de um ambiente violento.

    Alm disso, as informaes coletadas representam os alunos como elementos causadores de

    conflitos ou vtimas de pessoas externas escola, como os traficantes. Os professores e funcionrios

    so ausentes ou vtimas das agresses dos alunos, mas no o contrrio.

    Diante dessas representaes, tornou-se fundamental compreender a estrutura escolar e o

    seu entorno. Tais dados corresponderam ao nosso primeiro Relatrio de Iniciao Cientfica enviado

    Fapesp (janeiro de 2003). Com base nesses dados e confrontando-os com o levantamento feito no

    segundo semestre da pesquisa, tornou-se possvel examinar as relaes entre as condies

    materiais e os recursos humanos presentes na escola com os tipos de conflitos, e deste modo se

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    explorou a escola absorve os problemas externos a ela ou se, de algum modo, resiste e atua em um

    caminho de mudana.

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    2.2 - PLANO DE TRABALHO

    2.2.1 - Plano inicial para o 2 semestre de pesquisa

    O plano inicial de pesquisa enviado FAPESP previa a realizao das seguintes atividades

    para o 2 semestre da bolsa de Iniciao Cientfica:

    entrevista com professores, coordenadores pedaggicos, diretores ou outros profissionais que

    atuem nas escolas;

    elaborao de questionrio e a aplicao junto aos alunos;

    estudo de casos especficos de alunos envolvidos em situaes conflituosas e identificados

    durante a pesquisa.

    Atravs do levantamento de dados realizado durante o 1 semestre de pesquisa foi possvelverificar, contudo, que a representao da violncia nas escolas no homognea mas varia de

    acordo com as fontes consultadas, apresentando vrias imagens contraditrias. Foi possvel agrupar

    os dados coletados em dois blocos, que de certo modo so conflitantes entre si:

    A) A imprensa representa a escola como palco de conflitos, agresses, consumo e trfico de

    drogas, embora exista a interveno do poder pblico por meio de projetos oficiais e da presena de

    policiamento. O CNTE, Confederao Nacional dos Trabalhadores em Educao, em pesquisa

    realizada em mbito nacional, visando retratar a violncia escolar, priorizou em sua analise aproblemtica do consumo e trfico de drogas. Assim, nas escolas em que h a presena de drogas a

    porcentagem de agresses fsicas, verbais e contra o patrimnio maior nestas escolas: as drogas

    seriam responsveis pela violncia.

    B) Segundo o relatrio de ocorrncias criminais dos anos 2000, 2001 e 2002 fornecidos pela

    Polcia Militar, o nmero de ocorrncias policiais nas escolas pequeno se comparado ao nmero de

    escolas da regio, e dos casos noticiados pela imprensa, havendo pouca variao entre os anos

    2000, 2001 e 2002. Por meio dos dados fornecidos pela GCM, Guarda Civil Metropolitana, foi

    possvel verificar que a maior parte das ocorrncias atendidas so referentes a desacato, resistncia,auxlio pblico, agresso, acidente pessoal e irregularidade material ou administrativa, havendo um

    pequeno nmero de casos de roubo, furto, disparo de armas de fogo e entorpecentes. Estes dados

    indicam que a presena de violncia nas escolas no constitui uma situao to alarmante quanto o

    noticiado pela imprensa e pelos rgos de classe.

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    Se de um lado temos a viso de que a escola sofreu uma degradao nos ltimos anos,

    adquirindo uma imagem de territrio livre para as mazelas que afligem a populao (sendo uma delas

    a violncia), de outro lado observamos que, embora a situao vivida tenha se complicado nos

    ltimos tempos, a escola ainda um local razoavelmente preservado da violncia considerada mais

    grave, presente no seu entorno.

    Diante dessa constatao fez-se necessrio retornar s 30 escolas contatadas durante o 1

    semestre de pesquisa para observar: quais os conflitos e a freqncia com que ocorrem, qual o

    acompanhamento e o registro das ocorrncias indisciplinares e o papel desempenhado pela polcia

    no cotidiano escolar. Os dados levantados, portanto, no 2 semestre de pesquisa possibilitaram fazer

    a relao entre os dados coletados no 1 Semestre a estrutura fsica e recursos humanos nas

    escolas e as violncias e os conflitos que se verificam no espao escolar.

    Os dados da estrutura fsica da escola, bem como os recursos humanos, ainda que tenham

    sido coletados durante o 1 semestre de pesquisa e foram digitalizado em um banco de Dados

    Access e seu tratamento consumiu um tempo considervel, no permitindo que fossem apresentados

    no relatrio anterior. Estes dados esto presentes no atual relatrio.

    Estes dados, portanto, justificam o redirecionamento dado ao nosso projeto de pesquisa de

    Iniciao Cientfica, conforme o plano de trabalho abaixo reestruturado.

    2.2.2 - Plano reestruturado para o segundo semestre de pesquisa

    Como indicado em nosso 1 Relatrio de Pesquisa de Iniciao Cientfica, o plano inicial de

    atividades a ser desenvolvido foi alterado e a pesquisa efetivamente realizada preencheu osseguintes objetivos:

    Mapeamento das escolas junto Secretaria de Educao e a sistematizao dos dados

    obtidos: nmero de escolas (Municipais, Estaduais, Particulares), grupos atendidos

    (Fundamental, Mdio, Tcnico, Educao para grupos com necessidades especiais); nmeros

    de alunos; nmero de professores, nmero de funcionrios, demanda da regio; porcentagem

    de evaso escolar;

    Levantamento do nmero e dos tipos de delitos cometidos por alunos no interior das escolasou nas imediaes (durante o perodo de aula, na entrada ou sada dos alunos e no trajeto).

    Fonte dos dados: Polcia Militar e Guarda Civil Metropolitana. Esse levantamento permitiu

    definir as demandas que chegam s polcias e padro dos conflitos subjacentes s

    demandas;

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    Levantamento de notcias na mdia impressa para traar um perfil dos casos (conflito e

    insegurana escolar) expressos na imprensa escrita, segundo tipos de ocorrncia e o padro

    dos conflitos subjacentes aos casos;

    Elaborao, tendo em vista os levantamentos efetuados, de um roteiro de coleta de dados nas

    escolas da regio selecionada;

    Coleta de dados nas escolas da regio.2 Essa coleta teve por objetivo traar um perfil de 30

    escolas da rede pblica: escolas municipais e estaduais, de ensino fundamental, fundamental

    e mdio e apenas mdio. Este levantamento explorou, de forma detalhada a infra-estrutura

    fsica e os recursos humanos na escola;

    Elaborao de um segundo roteiro de coleta de dados nas mesmas 30 escolas da regio

    selecionada;

    Nova coleta de dados nas mesmas 30 escolas da regio. Neste segundo momento foram

    coletados dados sobre situaes de conflito dentro do espao escolar. As situaes de

    violncia e de incivilidade escolar foram aprofundadas, buscando-se identificar quais

    situaes dentro do espao escolar que propiciam o surgimento/ecloso de conflitos. O

    levantamento contemplou os seguintes aspectos: definio segundo os responsveis pela

    escola; como e por quem so tratadas as questes disciplinares dentro da escola; definio

    de punio utilizada pelos responsveis pela escola; quem determina os tipos de punio,

    quais tipos de punio so utilizadas para quais tipos de indisciplina; levantamentos e

    encaminhamentos de atos criminais ocorridos no ambiente escolar; levantamento dos

    conflitos envolvendo os vrios atores da escola (alunos, professores e funcionrios);

    encaminhamentos dados a tais conflitos; finalmente a identificao do tipo e freqncia de

    ocorrncia de situaes criminais ou de incivilidades que podem ocorrer no ambiente escolar;

    Leitura dos textos ligados ao projeto, participao nas reunies do grupo CEPID IV e a

    apresentao dos resultados obtidos para o grupo.

    Elaborao do relatrio final.

    2 Na amostra de escolas buscou-se uma maior representao das escolas do Jardim ngela por ser esta aprimeira rea selecionada para a interveno.

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    2.3 - Descrio de Atividades Realizadas durante o segundo semestre depesquisa

    Sumrio das atividades:

    - Levantamento de dados primrios

    Para retornar s 30 escolas visitadas durante o 1 semestre de pesquisa foi necessrio

    realizar, num primeiro momento, contato telefnico para marcar uma entrevista. Deu-se

    preferncia em realiz-la com a mesma pessoa contatada durante a realizao do primeiro

    levantamento das condies de infra-estrutura e de recursos humanos.

    O objetivo das entrevistas foi o de coletar informaes sobre os casos de indisciplinaocorridos no interior da escola, a presena e a ao do policiamento, assim como as

    definies utilizadas pelos responsveis pela escola de indisciplina e punio. Alm dessas

    informaes, levantaram-se os casos criminais envolvendo o pblico escolar. Procurou-se

    verificar o modo como ocorrem os registros sobre os casos de indisciplina, assim como o

    acompanhamento e tratamento dado aos casos existentes.

    Nessa etapa da pesquisa houve uma maior colaborao dos entrevistados pelo fato de j

    conhecerem a pesquisadora. Um maior problema enfrentado foi o da rotatividade de

    funcionrios, fato que ocorre no incio do ano motivado pelos prprios funcionrios ou porpromoes, ou por remanejamentos.

    Os dados obtidos, tanto nas primeiras, como nas segundas visitas s escolas, foram

    registrados em formulrios impressos. Posteriormente essas informaes foram inseridas num banco

    de dados no formato Access. Esse programa possibilita a realizao de buscas, contagens e

    consultas aos dados inseridos.

    - Levantamentos de dados secundrios

    - Imprensa escrita

    Houve a continuidade de insero das notcias da imprensa no banco de dados de violncia

    escolar no formato Access, possibilitando realizar as seguintes consultas:

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    a) Tipos de ocorrncias;

    b) Nveis de Ensino da escola envolvida;

    c) Localizao no municpio;

    d) Datas.

    - Atualizao bibliogrfica e elaborao do relatrio final

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    3 - Estudos sobre violncia e escola

    3.1 - Introduo: A educao pblica no Brasil

    Os objetivos e aes das polticas pblicas em relao educao no Brasil sofreram grandestransformaes principalmente no sculo XX, em consonncia com o contexto mundial 3.

    O processo de industrializao brasileiro ganha grande impulso no perodo entre guerras

    (dcada de 20 e 30). Esse crescimento necessitava de uma grande massa de mo de obra

    especializada e, para suprir tal demanda, em 1930 criado o Ministrio da Educao e Sade e nos

    anos seguintes so organizados o ensino secundrio e as universidades que ainda no existiam. Na

    Constituio de 1934 fica assegurado que a educao direito de todos, devendo ser ministrada pela

    famlia e pelos poderes pblicos.

    A Constituio seguinte (1937) fortalece a idia de preparar mo de obra para o mercado,enfatizando o ensino profissionalizante, alm de marcar uma distino entre o trabalho intelectual,

    destino das classes mdias e altas e o trabalho manual (em decorrncia do ensino profissionalizante)

    para as classes populares. A se inserem os objetivos para a criao do SENAI em 1942. Essa

    Constituio prope que arte e cincia sejam de iniciativa individual, estando o Estado ausente

    dessas obrigaes, e mantida sob responsabilidade deste a obrigatoriedade e gratuidade do ensino

    primrio.

    Com o fim do Estado Novo, a poltica ganha contornos liberais e democrticos. O ideal de

    educao direito de todos contido no Manifesto dos Pioneiros da Educao Nova (1932)

    retomado, assim como as discusses sobre a questo da responsabilidade do Estado quanto a

    educao.

    A partir da dcada de 50 so vrias as iniciativas para a democratizao do ensino com a

    criao de programas de educao popular, como, por exemplo, o trabalho desenvolvido por Paulo

    Freire com a campanha de alfabetizao De p no cho tambm se aprende a ler no Rio Grande do

    Norte em 1961.

    Em 1953 criado o Ministrio da Educao e Cultura e em 1962 criado o Programa

    Nacional de Alfabetizao inspirado no mtodo empregado por Paulo Freire.

    Mas todo esse movimento para a renovao e democratizao do ensino sofre uma ruptura no

    perodo da Ditadura Militar (19641985). Sabe-se que a educao e a cultura so eficientes mtodos

    3 Sobre as bruscas transformaes sofridas no sculo XX no contexto mundial ver Sevcenko, Nicolau. A corridapara o sculo XXI No loop da montanha russa. So Paulo: Cia das Letras, 2001.

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    para a propaganda poltica e ideolgica e foram usados exausto pelo regime autoritrio 4. Exemplo

    disso foi a insero no currculo escolar dos cursos de Educao Moral e Cvica (EMC) e

    Organizao Social e Poltica do Brasil (OSPB), alm da ampla rede de controle dos livros didticos e

    dos discursos dos professores. A Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional de 1971 foi

    marcada pela nfase dada ao ensino profissionalizante que auxiliaria no aumento da produo,

    visando o crescimento econmico do pas.

    A dcada de 80 inicia-se com grave crise econmica que, entre outras, est associada ao

    aumento da inflao e do desemprego, notadamente nas reas mais industrializadas do pas, como

    demonstra Fausto (2001) a recesso de 1981-1983 teve pesadas conseqncias. Em 1981 - pela

    primeira vez desde 1947 quando os indicadores do PIB comearam a ser estabelecidos - o resultado

    foi negativo, assinalando queda de 31%. Nos trs anos, o PIB teve um declnio mdio de 16%. Os

    setores mais atingidos foram as indstrias de bens de consumo durvel e de capital, concentradas

    nas reas mais urbanizadas do pas, gerando o desemprego5(p.163).

    Nesse contexto de crise e desemprego nota-se um aumento da criminalidade urbana. Estudo

    realizado por Mello Jorge (1998) mostra que nos anos 80 houve um brutal crescimento do nmero de

    mortes por causa violenta, a maior parte de jovens entre 15 e 24 anos: nas idades de 15 a 19 anos,

    a mortalidade proporcional por homicdios, nos homens, passou de 21% a 71% no perodo estudado;

    na faixa de 20 a 24 anos, de 41% para 72% (perodo de 1965 a 1995). Desse modo foi possvel

    detectar que o grupo mais vulnervel violncia nesse perodo o de jovens entre 15 e 24 anos.

    Temos no bojo dessa crise econmica a derrocada do regime autoritrio e a redemocratizao

    do pas, em que as discusses sobre educao assumem um carter acentuadamente mais poltico

    do que pedaggico.

    Em documentos como a Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional de 1992 (com texto

    original proposto por Darcy Ribeiro) fica explcita a postura do governo federal em democratizar o

    ensino, de modo que todos tenham acesso escola. A expanso da taxa de escolarizao e

    atendimento segundo o MEC esto presentes na tabela abaixo.

    4 Cf. Capelato, Maria Helena. Multides em cena: propaganda poltica no varguismo e no peronismo. Campinas:Papirus, 1998.5 Fausto, Boris. Histria Concisa do Brasil. So Paulo: Edusp, 2002.

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    Tabela 1 - Taxas de Escolarizao Lquida e Bruta para os Ensinos Fundamental e Mdio eTaxas de Atendimento de 7 a 14 e de 15 a 17 anosBrasil1980-1999

    AnoEnsino Fundamental Ensino Mdio Taxa de

    AtendimentoTaxa de

    EscolarizaoLquida

    Taxa de

    EscolarizaoBruta

    Taxa de

    EscolarizaoLquida

    Taxa de

    EscolarizaoBruta

    7 a 14

    anos

    15 a 17

    anos

    1980 80,1 98,3 14,3 33,3 80,9 49,71991 83,8 105,8 17,6 40,8 89,0 62,31994 87,5 110,2 20,8 47,6 92,7 68,71998 95,3 128,1 30,8 68,1 95,8 81,11999 95,4 130,5 32,6 74,8 97,0 84,5

    Fonte:MEC/INEP/SEEC

    Embora tenha aumentado o nmero de vagas oferecidas, a qualidade do ensino ainda

    discutvel e esta pauta de discusso, principalmente, a partir da segunda metade da dcada denoventa, ter como acrscimo o tema da progresso continuada, por muitos denominada de

    aprovao automtica. Como exemplos disso, temos os seguintes ttulos de notcias, constantes do

    Banco de dados sobre educao NEV/USP: 8,2 milhes de alunos passam automaticamente (O

    Estado de So Paulo, 27/09/2000), Sistema de ciclos esconde baixa qualidade (O Estado de So

    Paulo, 28/09/2000), Professores paulistas reprovam sistemas de ciclos (O Estado de So Paulo,

    12/05/2001), Aprovao reprovada (Folha de So Paulo, 18/04/2002).

    Como uma maneira de ilustrar a situao de violncia na regio pesquisada, reportar-nos-

    emos, ainda, a uma matria publicada pela revista Carta Capital.

    Um grupo de rap realiza, no Capo Redondo, as filmagens de um videoclipe, no qual os

    atores so jovens moradores da regio: na fico, quatro personagens morrem assassinados devido

    ao envolvimento com o trfico de drogas. Na vida real, o saldo assustador: um ano depois das

    filmagens, trs dos jovens que interpretaram os personagens acima citados so executados com

    vrios tiros na cabea e um est preso, todos envolvidos com o trfico. atravs da histria desses

    jovens que a reportagem da revista Carta Capital (2003: p.12-18) expe dados sobre a Zona Sul de

    So Paulo e a situao vivida pelos moradores.

    Pesquisa realizada na Zona Sul de So Paulo pelo Departamento de Servio Social da PUC-

    SP e citada pela mesma reportagem da revista Carta Capital, mostra que 81% dos bairros

    pesquisados no tm bibliotecas pblicas, 98% no dispem de teatros, em 96% no h cinemas.

    Bancas de jornal tambm so raras. Das famlias entrevistadas, 39% reclamam que seus bairros no

    contam com delegacias e 46% dizem que no existe ronda policial e ainda das casas visitadas, 78%

    apresentavam mais de quatro bares nas proximidades (p.14).

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    Pesquisa de iniciao cientfica do Ncleo de Estudos da Violncia demonstrou que os

    equipamentos culturais - como anfiteatros, arquivos, auditrios, bibliotecas, centros culturais,

    cinemas, cineteatros, conchas acsticas, coretos, museus e teatros existentes na cidade de So

    Paulo encontram-se concentrados em regies prximas do centro da cidade, enquanto os distritos

    municipais ao sul do distrito do Morumbi (como Campo Limpo, Jardim ngela, Jardim So Lus e

    Capo Redondo) praticamente no contam com qualquer destes equipamentos. Segundo a pesquisa,

    a desigualdade no acesso aos direitos sociais (e o direito cultura, ao esporte, e ao lazer apenas

    parte destes) somada a pobreza da populao parece aumentar os riscos destas reas serem os

    contextos preferenciais de crimes violentos (2002: p. 39) 6. Nesse contexto de ausncias, os conflitos

    e assassinatos ocorrem devido, em muitos casos, a pequenos desentendimentos, brigas para a

    utilizao do que escasso: reas de lazer, espaos para realizaes culturais. No se pode, ainda,

    esquecer a ao dos traficantes, matadores de aluguel e dos grupos de extermnio que

    representariam mais uma ameaa populao j fragilizada.

    nesse ambiente depauperado, onde o Estado no se faz presente, que os jovens da Zona

    Sul crescem. Onde a morte freqente e h a ausncia de opes de cultura e lazer, e as

    oportunidades de trabalho so poucas, no resta aos jovens muitas possibilidades para o futuro.

    Pesquisa realizada pela UNESCO e divulgada recentemente 7 revela as habilidades em leitura,

    matemtica e cincia dos estudantes na faixa de 15 anos em 43 paises. Os estudantes brasileiros

    apresentam um dos piores desempenhos (penltima colocao), alm de pssimos nveis, no que

    tange a questo da repetncia: No Brasil, por exemplo, cerca de 25% por estudantes da escola

    primria e 15% da secundria repetem a srie durante o ano da pesquisa.

    Diante desse dado vem tona o problema da qualidade da educao oferecida,

    principalmente pela rede pblica. Ora, se os estudantes apresentaram tais resultados preciso

    averiguar quais os fatores desencadeariam tal desempenho. De modo geral, a imprensa identifica no

    ambiente escolar a fonte dos problemas e, em ltima instancia, no professor: a crise da educao

    brasileira que tem como uma das faces o no aprendizado. Seriam, alm disso, as escolas que no

    receberiam verbas e no teriam estrutura suficiente para atender ao nmero de alunos, fatos que se

    somariam aos baixos salrios e pouca valorizao da rea docente. Tais elementos, combinados,

    acabariam por formar os alunos com baixo rendimento escolar.

    Contudo, nessa anlise simplista, no encontramos uma discusso mais profunda queprivilegie outros tantos aspectos do problema. A qualidade da educao passa pela formao do

    6Relatrio final da bolsa de pesquisa Projeto Os locais de cultura, esporte e lazer destinados a juventude e aviolncia da Regio Metropolitana de So Paulo - concedida pela FAPESP a Ana Carolina Vila Ramos Santos,sob orientao da Prof. Nancy Cardia, como parte do Projeto de Monitoramento de Violaes de DireitosHumanos - NEV-USP/CEPID. (ver relatrios, site NEV-USP: www.nev.prp.usp.br)7 Cf. http://www.unesco.org.br/noticias/releases/estudos_desigualdades.asp

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    professor, pela capacidade da escola em discutir, negociar e se adaptar s situaes e demandas e,

    por fim, passa por aes do poder pblico que garantam a qualidade.

    No panorama da crise econmica e social, no qual o ndice de desemprego na regio

    metropolitana de So Paulo de cerca de 20%, o conhecimento pouco valorizado, pois no s

    atravs dele que ocorre a ascenso social: o trfico pode representar uma alternativa por propiciar

    aparentemente remunerao rpida e acima da que se obtm trabalhando dentro da lei.

    neste contexto amplo que queremos inserir o tema da violncia, o qual principalmente na

    dcada de noventa, ocupa o espao principal das discusses sobre o tema.

    3.2 - Literatura acadmica sobre o tema

    Conforme vimos, nas dcadas de cinqenta e sessenta, a discusso fundamental era a

    incluso de classes populares na rede pblica de ensino com objetivos de adestramento de mo de

    obra, estruturando-se de acordo com os interesses do capital e do controle patrimonialista e

    oligrquico do Estado8(p.6). Com o advento da ditadura militar h um rompimento da tentativa de

    efetuar uma educao de cunho democrtico e popular. Com o fim do regime autoritrio e o processo

    de democratizao de ensino, so duas as vertentes que ocupam a pauta principal na dcada de

    oitenta e noventa: a qualidade de ensino e a violncia escolar, profundamente imbricadas entre si.

    Atravs do levantamento das publicaes nacionais sobre a violncia escolar observa-se que,

    ao longo dos anos 80 e 90, as anlises comeam a indicar a existncia de novos problemas no

    ambiente escolar. Assim, temos uma mudana na perspectiva de como entendida a prpria

    violncia escolar, indcio das transformaes sociais e educacionais brasileiras descritas

    anteriormente.

    possvel notar, principalmente nas pesquisas realizadas nos anos oitenta, a identificao da

    presena da violncia contra o patrimnio, interpretada como uma reao dos alunos autoridade

    escolar imposta. Esse panorama difere do revelado pelas pesquisas realizadas nos anos 90, em que

    as aes do crime organizado e do trfico, mais acentuados nos bairros perifricos das grandes

    cidades, surgem como principais fatores para o agravamento dos casos de violncia nas escolas.

    Na bibliografia consultada perceptvel uma clara diviso nas discusses sobre a essncia da

    violncia no ambiente escolar: uma de natureza pedaggica, que responsabiliza o professor e a

    estrutura escolar, ambos imbudos de autoritarismo e alheios s necessidades do estudante; outra,

    de carter sociolgico, analisando o aumento da criminalidade sofrido pela sociedade em geral como

    influenciador no aumento da violncia no interior da escola.

    8 IOKOI, Zilda Mrcia Grcoli e BITENCOURT, Ana Maria (org.) (1996) Educao na Amrica Latina. Rio deJaneiro: Expresso e Cultura/So Paulo: EDUSP.

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    Como representantes da primeira vertente podemos citar Queluz (1986) que, em um artigo

    sobre o cotidiano escolar de uma creche, descreve a violncia psicolgica sofrida pelos alunos,

    atravs de ameaas, ridicularizaes e humilhaes, por parte dos professores e funcionrios, que

    impediam a prpria expresso das crianas. Em 1992, La Taille, Maiorino, Storto e Roos

    desenvolveram uma pesquisa sobre a punio no ambiente escolar e constataram que a confisso

    pblica, a partir dos oito anos, considerada a punio mais penosa para os alunos e que a

    humilhao decorrente desta punio pode causar grandes danos ao desenvolvimento das crianas

    menores.

    Em 1999, Aquino, expe a questo da autoridade docente na escola, ou seja, a existncia de

    uma estrutura hierrquica de poder, alm da negligncia dos professores com as atividades

    escolares, os preconceitos, desigualdades e injustias que permeiam o ambiente escolar. Candau,

    Lucinda e Nascimento, tambm em 1999, realizaram uma pesquisa com professores e funcionrios

    da rede pblica do Rio de Janeiro, na qual so abordados os problemas de trfico, gangues,

    depredaes e desrespeito aos professores. Constatando que 13% dos entrevistados confessam ser

    verbalmente violentos com os alunos e negligentes com o ensino e a aprendizagem.

    Em 2000, Aquino rediscute os problemas da violncia e indisciplina na rotina escolar,

    abordando as questes do consumo de drogas e lcool, alm das dificuldades concretas da

    escolarizao brasileira, diante de um quadro reiterado de excluso escolar.

    Em 2001, Menezes (2001) reflete sobre a funo e as mudanas do Ensino Mdio

    (modalidade de ensino que concentra maior nmero de jovens). Segundo ele, o Ensino Mdio tinha

    como funo principal preparar os jovens da elite cultural ou das camadas em ascenso para o

    ingresso na universidade. Mas, devido ao crescente processo de urbanizao, uma grande parcela

    dos indivduos das classes populares passou a ingressar na escola pblicas que, despreparada para

    a nova realidade, mantm os antigos mtodos de ensino9. Diante dessa nova realidade fez-se

    necessria a adequao dos contedos e da prtica educativa para realizar as propostas da Lei de

    Diretrizes e Bases da Educao Nacional de promover a preparao bsica para o trabalho e a

    cidadania..., a formao tica e o desenvolvimento da autonomia intelectual... (Menezes, 2001:

    p.204).

    Tambm relacionado s transformaes sofridas pela educao brasileira nos ltimos tempos

    temos o estudo de Paiva (s/d10), que fez um breve panorama histrico mundial do processo dedemocratizao das oportunidades de educao. Alm disso, fez estudo de campo em trs escolas

    9 A demografia escolar tem refletido mudanas sociais e econmicas, e o Ensino Mdio especialmente temvivido essas alteraes de forma exponencial, ao receber um publico novo e crescente, para o qual a escolaprecisa se adequar em escala e qualidade.(Menezes, 2001: p.206)10 Cf. Textos da autora apresentados no site do Instituto de Estudos da Cultura e Educao Continuadahttp://www.iec.org.br/vanilda_paiva_2.htm.

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    pblicas do Rio de Janeiro, definidas, segundo a autora, em trs categorias: a primeira, tradicional,

    localizada numa regio rural, de postura conservadora e elitista, em que a estrutura fsica da escola

    conservada por uma comunidade atuante; a segunda, de transio, na qual j esto presentes alguns

    elementos da periferia, mas ainda h a tentativa de conservar o passado tradicional; a ltima, Escola

    Popular de Massas, em que a maioria dos alunos provm das classes populares e a estrutura fsica

    danificada e deteriorada. Nesse estudo a autora analisa as razes da reprovao e da repetncia

    apoiada nos depoimentos de alunos, pais e professores diante do processo de universalizao e

    massificao da educao.

    Como representantes da segunda vertente ressaltamos Adorno, que em 1991 realiza

    investigaes, atravs de entrevistas com jovens delinqentes expulsos da escola, levantando suas

    trajetrias de vida. Assim, o autor indica que estes jovens apresentavam problemas socioeconmicos

    que os levaram a uma insero precoce no mercado de trabalho. Em relao escola, os jovens

    expressavam descrena quanto a sua utilidade, sendo que esta retratada como um espao de

    violncia, pois h a imposio de um aprendizado desvinculado da realidade e o estabelecimento de

    uma disciplina que deflagra formas de controle agressivas. Com a participao desse autor, entre

    outros, foi publicado em 1991 um documento intitulado Segurana nas Escolas Estaduais da Grande

    So Paulo realizado por iniciativa da Fundao para o Desenvolvimento da Educao (FDE). Esse

    trabalho consiste em apresentar as medidas de segurana adotadas pela Secretaria de Educao do

    Estado frente ao crescimento da criminalidade. Alm da anlise ampla da questo da segurana

    escolar, foram selecionadas quatro escolas para a realizao de estudos de caso. A partir dos

    depoimentos, percebe-se que a presena do policial na escola nem sempre suficiente para a

    resoluo dos conflitos, e que a ao do professor, que conhece a comunidade e a clientela, mais

    eficiente para promover um ambiente pacifico. Em consonncia com o que foi descrito anteriormente,

    esse estudo, do inicio da dcada de 90, enfatiza questes relacionadas com a violncia contra o

    patrimnio pblico: a depredao e pichao.

    Zaluar discute, em 1992, o descaso do poder pblico para com os problemas da educao, do

    processo de excluso social e da criminalidade, enfatizando os problemas do trfico, assassinatos e

    depredaes nas escolas. A mesma autora, em 1994 retorna questo das drogas e afirma: A

    escola diretamente atingida, porque as prticas violentas estabelecidas pelas quadrilhas j esto

    dentro dela e os seus alunos cada vez mais afetados pelo fascnio exercido pelos seus chefes (dotrfico) (p. 264-5).

    Em 1997 foi realizado, no Rio de Janeiro, o seminrio A Realidade das Escolas nas Grandes

    Metrpoles: Fluxo e Cotidiano Escolar, organizado pelo Instituto de Estudos da Cultura e Educao

    Continuada (IEC). Esse seminrio correspondeu a uma das ltimas etapas de um estudo em trs

    escolas municipais do Ensino Fundamental no Rio de Janeiro, em reas com clientelas diferentes. O

    resultado deste seminrio foi o livro Violncia e Vida Escolar, com a participao de vrios

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    especialistas sobre o assunto, inclusive de pases como Frana e EUA. Entre outros assuntos,

    discutido o papel do professor e a sua desvalorizao, assim como a repetncia e a influncia da

    violncia urbana na escola. Neste seminrio, aquelas duas vertentes para a considerao da

    violncia nas escolas um de cunho mais pedaggico e outro mais sociolgico so levadas em

    conta. Deste seminrio resultou a publicao de um nmero especial da Revista Contemporaneidade

    e Educao (Ano II, Set/97, n 2) que coligiu as contribuies dos conferencistas presentes. No seu

    texto A violncia urbana e a escola, Cardia defende que a violncia na escola tem suas origens na

    violncia do bairro e da famlia, e tambm em variveis estruturais como a pobreza e a privao.

    Assim, a violncia do meio influi nas relaes estabelecidas no interior da escola, aumentando as

    possibilidades de fracasso escolar. Sob um ponto de vista semelhante, considerando a violncia

    escolar dentro da realidade de grandes centros urbanos, temos o texto de Peralva, Escola e

    violncia nas periferias urbanas francesas e de Lucas, Pequeno relato sobre a cultura da violncia

    no sistema escolar pblico de Nova York. Levando a discusso para o ponto de vista mais

    pedaggico, centrado na ao do professor, temos os textos de Junqueira e Muls, O processo de

    pauperizao docente e de Weber, A desvalorizao social do professorado. Partindo para anlises

    mais na rea da Psicologia, h o estudo de Schweidson, Educao de massas e psicanlise e de

    Barros, Subjetividade repetente. Centrando suas atenes na questo da reforma do sistema

    educacional, sob o ponto de vista da realidade mexicana, temos o estudo de Ezpeleta, Reforma

    Educativa y Zonas de Turbulencia.

    3.3 - Pesquisas recentes sobre o tema

    Silva, em 2002, desenvolveu um trabalho de pesquisa em escolas pblicas do Ensino Mdio

    na Grande So Paulo, relatando especificamente a experincia de uma escola localizada em um

    bairro carente da Zona Sul do municpio de So Paulo. Foram constatados vrios problemas de

    violncia escolar como trfico de armas e drogas, presena de bombas caseiras, agresses fsicas

    entre alunos, agresses verbais dos professores aos alunos, falta constante de professores. Mas este

    trabalho tambm ressalta experincias exitosas, como expresso do esforo de alguns professores

    em motivar os alunos no desenvolvimento de seus talentos.

    digna de nota a preocupao da UNESCO com o tema da violncia escolar. De fato nos

    ltimos trs anos foram publicados vrios estudos sobre o assunto. Podemos citar como um primeiro

    exemplo o livro Fala Galera (1999) que o resultado de uma pesquisa realizada com jovens de

    diferentes distritos do municpio do Rio de Janeiro, trabalhando com as percepes que os jovens de

    diferentes classes sociais tm em relao aos temas violncia, juventude e cidadania. Este trabalho

    dedica-se tambm algumas questes relacionadas ao ambiente escolar: o perfil escolar (total de

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    alunos matriculados por srie e camada social), as percepes dos jovens sobre a escola, inclusive

    no que diz respeito avaliao do ensino, a existncia da violncia neste cotidiano, alm da

    avaliao dos educadores sobre o ensino. Alm disso, h o estudo Escolas de Paz (2001), que

    descreve o projeto Programa Escolas de Paz implantado em escolas da rede estadual de ensino do

    Rio de Janeiro e faz uma avaliao do mesmo a partir das opinies dos jovens participantes e no

    participantes. O livro Violncia nas Escolas (2002) realizado com a iniciativa da UNESCO e de vrios

    outros rgos, Abramovay e Rua tm por objetivo oferecer uma reflexo terica sobre o tema. O livro

    consiste numa ampla pesquisa realizada em 14 grandes cidades brasileiras, nas escolas de Ensino

    Fundamental e mdio com entrevistas dos vrios atores envolvidos na comunidade escolar e visa

    avaliar o impacto que a violncia tem sobre a vida dos jovens. Essa pesquisa identifica e prope

    medidas para o combate a violncia, tendo por base bibliografia nacional e internacional, alm dos

    dados obtidos atravs das entrevistas dos envolvidos na escola, auxiliando na formulao de polticas

    pblicas. E, finalmente, o livro Drogas nas Escolas (2002) resultado de um estudo realizado com

    crianas e jovens de escolas do Ensino Fundamental e mdio de 14 capitais brasileiras, priorizando a

    viso de mundo dos alunos e outros envolvidos no processo educativo, com o objetivo de fazer um

    diagnostico e auxiliar na formulao de polticas pblicas para os jovens. Este estudo procura

    detectar a presena de drogas nas imediaes e no interior das escolas, o uso de drogas pelos

    alunos, a interferncia das drogas no rendimento e no ambiente escolar.

    Sob outros aspectos, a Rede de Observatrios de Direitos Humanos publicou trs relatrios:

    Relatrio de Cidadania: Os jovens e os Direitos Humanos (2000), Relatrio de Cidadania II: Os

    jovens, a Escola e os Direitos Humanos (2002), e Relatrio de Cidadania III: Os jovens e os Direitos

    Humanos (2002, esse ultimo em mbito nacional). Esses trabalhos visam o monitoramento dos

    direitos humanos pelos jovens em suas respectivas regies a partir do cotidiano vivido, os quais so

    importantes por revelarem observaes para alm das discusses tericas e acadmicas, mostrando

    os problemas e as solues encontradas pelas comunidades pesquisadas para contornarem esses

    problemas11.

    Por fim h o relatrio Situao da Adolescncia Brasileira (2002), elaborado pela UNICEF, que

    apresenta indicadores sociais e tem por objetivo conhecer a realidade da adolescncia brasileira.

    Alm das iniciativas bem sucedidas em diferentes comunidades no Brasil entre outros dados, esse

    relatrio demonstra como essa faixa etria sofre excluso. Alguns dados fornecidos so os seguintes:

    11 Como um prolongamento dos trabalhos do Observatrio temos o jornal LUPA, elaborado por jovens queparticiparam do projeto de monitoramento dos direitos humanos, com edies de maio de 2001 e outubro de2002. Esses jornais contm artigos que tratam das violncias vividas pelos participantes do projeto em suascomunidades e algumas iniciativas para amenizar tais ocorrncias e a ao de associaes que agem nessascomunidades.

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    analfabetismo (1,3 milho de adolescentes entre 12 e 17 anos so analfabetos);

    abandono escolar (12% no freqentam a escola na faixa etria de 10 a 17 anos, ou seja, 3,3

    milhes);

    trabalho infantil (1,9 milho de crianas e adolescentes entre 10 e 14 anos trabalham).

    Diante da bibliografia consultada possvel tecer algumas consideraes. A crise econmica

    que assolou o pas gerou ou aumentou, principalmente nas grandes cidades, bolses de misria e de

    excluso. Nesse quadro possvel perceber com clareza o aumento da criminalidade e dos

    homicdios, mais acentuadamente entre os jovens. Associados a isso esto o processo de

    crescimento das cidades e a democratizao do ensino, com as camadas populares tendo acesso

    escola, estando essa, contudo, despreparada para a nova realidade. Remetendo-nos a Menezes

    (2001) para quem o Ensino Mdio, modalidade de ensino que mais concentra jovens, perdeu sua

    funo histrica de formar os jovens para o mercado de trabalho e para o ingresso na universidade, j

    que diante da crise econmica a taxa de desemprego entre os jovens altssima e a possibilidade de

    ingresso na universidade pblicas difcil, temos ento um panorama desolador, em que os jovens

    das camadas populares no tm muitas alternativas a seguir.

    Entretanto, h o efeito cascata desta realidade: no s os jovens do Ensino Mdio, mas os

    adolescentes estudantes do Ensino Fundamental so, tambm, contaminados pela desesperana na

    educao como meio para algum tipo de ascenso social, seja pela estrutura mesma do ensino, com

    professores mal remunerados e escolas em situao de abandono, seja pelo grau de extrema

    excluso dos bolses de pobreza das periferias, tal como na regio sul do municpio de So Paulo,

    centro referencial de nossas investigaes.

    Os dados que apresentaremos a seguir, obtidos a partir de rgos oficiais, representaes de

    classe, levantamentos da imprensa, entrevistas in loco, corroboram a hiptese, apresentada nesta

    reviso bibliogrfica, de que a excluso social nos seus vrios nveis seja a depauperao do

    docente e da escola, seja o abandono das comunidades nas quais as escolas esto inseridas so a

    causa mais imediata das violncias praticadas dentro da realidade escolar.

    3.4 - Insero dessa pesquisa no campo de estudos sobre violncia nas escolas

    O tema violncia na escola tem marcado, portanto, presena na opinio pblica a partir,

    principalmente, dos anos 90, tornando-se objeto de estudo de vrias pesquisas sob o ngulo da

    sade pblica, sociologia e pedagogia. Podemos notar, a partir da bibliografia consultada e da anlise

    das informaes contidas no Banco de Dados Escola NEV-USP, uma mudana significativa na

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    configurao dos delitos: as agresses, que eram principalmente contra o patrimnio escolar,

    estendem-se queles que esto no interior da escola.

    Verifica-se que a imprensa relata com avidez os casos policiais que envolvem a escola. A

    abordagem, de cunho sensacionalista, permanece nas discusses rotineiras dos indivduos. Ao tratar

    da escola, a imprensa enfatiza principalmente dois pontos: a violncia presente na escola ou

    praticada pelos alunos e a falta de qualidade da educao oferecida populao.

    possvel afirmar, com base no levantamento de dados realizado durante esta pesquisa, que

    h uma espcie de horror imaginrio no que se refere violncia nas escolas. Se comparado ao

    nmero geral atendido pela GCM e pela PM, as ocorrncias policiais no interior ou prximas s

    escolas representam uma pequena parcela. Porm, tais casos isolados quando colocados sob

    holofotes sofrem uma amplificao, causando grande alarde. Acreditamos, portanto, que o problema

    da insegurana percebida pela populao, no se centra nos fatos ocorridos, mas no sentimento de

    insegurana que as conseqncias dos eventos violentos noticiados gera.

    Ao analisar o binmio violncia e escola podemos diferenciar, segundo Fukui (1992) os delitos

    em dois tipos, que so distintos, mas que se relacionam. So eles:

    Violncia na escola: quando os problemas do entorno invadem o cotidiano escolar,

    mas no envolvem necessariamente os seus atores;

    Violncia da escola: quando nasce no interior do espao escolar, da ao de seus

    atores: a escola como produtora de violncia.

    Tendo em vista, desse modo, a relevncia do tema violncia e escola, nossa contribuio se

    pauta no relacionamento entre os dados fornecidos pelas fontes, conforme apresentaremos a seguir

    e que foram coletados no primeiro semestre de nosso projeto de Iniciao Cientfica, com os conflitos

    e violncias registrados nas escolas pesquisadas, bem como medidas tomadas pelas escolas,

    levantados no segundo semestre da mesma pesquisa. No conjunto, os dados tanto os levantados

    no primeiro como no segundo semestre correspondem ao nosso resultado final de Iniciao

    Cientfica.

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    4 - Resultados finais

    4.1 - Banco de Dados Escolas NEV/USP - Atualizado

    Os dados aqui apresentados so oriundos do Banco de Dados Escola NEV/USP, querene notcias sobre educao publicadas nos jornais Folha de So Paulo, O Estado de So Paulo, O

    Globo, Dirio de So Paulo e Dirio Popular a partir de julho de 2000. Correspondem, portanto,

    atualizao dos dados apresentados no nosso primeiro relatrio (Relatrio Parcial, referente ao

    primeiro semestre da pesquisa - VER ANEXO 3). Nesse banco de dados esto inseridas todas as

    notcias que fazem referncia ao tema educao no Estado de So Paulo. As informaes inseridas

    correspondem aos seguintes itens:

    Informaes gerais: ttulo da notcia, fonte, data; Localidade: municpio, regio, distrito, bairro;

    Nvel de ensino: infantil, fundamental, mdio, superior e supletivo;

    Assunto da notcia: trfico e consumo de drogas, depredao, tiroteio, agresso a

    aluno, professor ou funcionrio, ameaa a aluno, professor ou funcionrio, homicdio

    de aluno, professor ou funcionrio, presena ou ausncia de policiamento, projetos

    oficiais, experincias exitosas e voluntariado;

    Escola: nome da escola e a ocorrncia.

    Na leitura do acervo foi possvel verificar que raramente citado o nome da escola, assim

    como os envolvidos nos acontecimentos. A maioria das notcias no especifica o bairro ou distrito

    envolvido nas ocorrncias e, em muitos casos, encontramos a citao de vrios locais e nveis de

    ensino. A identificao das escolas citadas possibilita a insero dessa informao no aplicativo

    MapInfo. Desse modo ser possvel visualizar a distribuio geogrfica das ocorrncias nos poucos

    casos em que houver um registro preciso.

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    As Zonas Sul e Leste so mais citadas pelas notcias analisadas. Se considerarmos que osextremos do municpio so excludos do acesso cultura e lazer, e nesses locais h a concentrao

    de famlias de baixa renda e escolaridade, a presena dessas regies no noticirio coerente com a

    excluso sofrida por tais reas. Podemos ver a extenso dessa afirmao no fato de que os distritos

    mais citados so da Zona Leste e Sul.

    Grfico 1 - Regio citada nas notcias*So Paulo2000-2003

    * Notcias que fazem referncia a alguma regio do municpio

    48%

    41%

    6%

    4%

    1%

    sul leste norte centro oeste

    Grfico 2 - Distritos citados nas notciasSo Paulo2000-2003

    0

    2

    4

    6

    8

    Artur Alvim Bom Retiro Brasilandia Campo LimpoCapao Redondo Casa Verde Graja Guaianazes

    Helipolis Itaim Paulista Itaquera Jardim AngelaJardim So Luis Lapa Marsilac MorumbiPedreira So Mateus Sao M. Paulista TatuapTucuruvi Vila Mariana Vila Prudente Vila Snia

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    A imprensa cita com maior freqncia o ensino fundamental, pois esse o nvel de ensino que

    absorve a faixa etria dos que mais se envolve em conflitos e nesse nvel que se concentram as

    preocupaes do poder pblico: so as escolas de lata, a ao do voluntariado e outras.

    Percebe-se com este grfico que a maior parte das notcias faz referncia a projetos oficiais

    desenvolvidos pelo poder pblico, assim como grande o nmero de notcias sobre a presena de

    Grfico 3 - Nvel de ensino presente nas notcias*

    * Das notcias que fazem referncia a algum nvel de ensino

    43%

    17%14%

    11%

    5%

    4%

    2%

    2%

    1%

    1%

    Ensino Fundamental Completo Ensino FundamentalEducao Infantil Ensino Fundamental e Ensino MdioEducao Infantil e Ensino Fundamental Ensino MdioSupletivo Educao Infantil, Ensino Fundamental e MdioEducao Profissionalizante Ensino Superior

    174

    42 3830 28 27 21 19

    11 10 10 7 5 4 4 4 2 2 2 1 1 10

    20

    40

    60

    80

    100

    120

    140

    160

    180

    200

    projetos oficiais presena de policiamento briga entre alunos agresso a professor depredaes

    trfico e consumo de drogas voluntariado ausncia de policiamento trfico de drogas experincias exitosas

    agresso a aluno consumo de drogas ameaa a professor tiroteio trafico de drogashomicdio de aluno ameaa a aluno porte de armas furto/roubo ausencia de policiamento

    homicdio de professor homicdio de diretora ameaa a funcionario

    Grfico 4 - Assunto dos casos noticiados pela imprensaSo Paulo2000-2003

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    policiamento. Agresso a professor, depredaes, trfico e consumo de drogas representam tambm

    altos nmeros.

    Mas preciso fazer um esclarecimento sobre as informaes: como trabalhamos com cinco

    jornais diferentes, muitas vezes temos a mesma notcia que se repete em todos os jornais ou por dias

    seguidos. Desse modo, o resultado final mostra a importncia dada pelos jornais ao tema da violncia

    escolar, acompanhando cotidianamente casos de maior comoo popular. De qualquer modo,

    possvel pesquisar o banco de dados por caso e levantar os temas por jornais isoladamente.

    Mesmo com essa informao percebemos que o nmero de notcias que mostram a escola

    como um ambiente conflituoso pequeno se comparado as de cunho positivo. Porm o espao e a

    importncia dada mudam com os diferentes assuntos: casos policiais, homicdios ou trfico e

    consumo de drogas recebem mais nfase e um maior espao grfico nos jornais. Esse modo de

    apresentao influencia profundamente as opinies, e o sentimento de insegurana torna-se superior

    s ocorrncias verificadas.

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    4.2 - A estrutura das escolas

    Para a seleo das trinta escolas, foi assegurada uma representatividade de ambas as redes

    pblicas: 20 escolas estaduais e 10 municipais, visto que estas ltimas so em menor nmero.

    Quanto ao nmero das escolas municipais, no houve problemas porque elas so, nesta pesquisa,

    todas de ensino fundamental completo (Fundamental I e II). Para a seleo das escolas estaduais,

    buscou-se uma representao de escolas com ensino Fundamental Completo (I e II) e escolas com

    ensino Fundamental II e Mdio. Contudo, como no foi possvel conseguir um nmero de escolas que

    se dispusessem a participar da pesquisa com estas caractersticas, buscou-se adaptar os nmeros

    incluindo, tambm, as escolas que possuam Ensino Fundamental Completo e Mdio.

    Os dados que sero apresentados a seguir correspondem tabulao do primeiro

    questionrio aplicado durante o primeiro semestre de pesquisa nas trinta escolas selecionadas para o

    levantamento das questes relativas estrutura fsica e humana. Conforme j dissemos

    anteriormente, retornamos s mesmas trinta escolas para aprofundarmos as questes relacionadas

    com a conflitualidade, indisciplina e violncia registradas nas escolas, bem como as medidas

    educativas ou punitivas tomadas pelas escolas. Juntamente com as tabulaes, apresentamos

    interpretaes das tabelas, cruzando primariamente as informaes e permitindo uma anlise mais

    substancial dos dados obtidos durante a segunda entrevista aplicada.

    4.2.1 - Descrio dos recursos humanos

    Optamos por apresentar os dados em tabelas, agrupando as escolas por faixa de alunos

    atendidos (escolas de at 1500 alunos; de 1501 a 2000; de 2001 a 2500) e por nvel de ensino,

    colocando lado a lado as escolas municipais e estaduais com as caractersticas anteriormente

    semelhantes descritas, possibilitando uma melhor visualizao das comparaes:

    Tabela 2 - Nmero de alunos atendidos pela escola, por rede e nvel de ensinoDistritos de Campo Limpo, Capo Redondo, Jardim ngela e Jardim So Lus2002Rede Estadual Municipal

    Nvel de ensino Fundamentalcompleto Fundamentalcompleto e mdio Fundamental IIe mdio FundamentalcompletoNmero de alunos N de escolas N. de escolas N. de escolas N. de escolasAt 1.500 5 - 1 4De 1.501 a 2.000 2 4 4 2De 2.001 a 2.500 - - 4 4Total 7 4 9 10

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    na municipal temos o professor titular e o adjunto, ambos titulares de cargo; j na rede estadual

    temos os professores efetivos e os contratados (o ACT: admitido em carter temporrio). Todos os

    professores que no so efetivos so contratados, inclusive os professores eventuais. Assim, os

    dados coletados referentes ao nmero de professores varia, como esperado, nas duas

    administraes.

    O municpio de So Paulo realizou h pouco tempo concurso pblico para provimento de

    cargos na rea de educao, diferente da Secretaria de Estado da Educao que no realiza

    concurso publico h vrios anos. a esse fator que se deve o grande nmero de professores efetivos

    na rede municipal de ensino, diferente do grande nmero de contratados (ACT) da rede estadual.

    As tabelas mostram que assim como funcionrios de limpeza e de cozinha, o nmero de

    professores no parece ser proporcional ao nmero de alunos atendidos. Porm no possvel

    dimensionar se o nmero de professores suficiente ou no pois no coletamos dados sobre a

    quantidade de aulas ministrada pelos professores ou a carga horria que eles dedicam escola (em

    aulas ou em projetos). Durante a atribuio de aulas, que ocorre todo incio de ano, os professores

    escolhem, segundo diferentes critrios (localizao, conhecimento prvio da clientela ou da direo,

    etc), as escolas onde pretendem trabalhar. Assim no possvel controlar a quantidade de

    professores em relao ao nmero de alunos, mas podemos notar a preferncia atravs da

    concentrao de professores por determinadas escolas.

    O cargo de bibliotecrio tambm de difcil definio: na rede municipal no existe tal funo,

    pois o responsvel pela sala de leitura um professor eleito pelos colegas, que desempenha o cargo

    de POSL (Professor orientador de sala de leitura). Esse professor, que passa a trabalhar apenas na

    sala de leitura, recebe formao especfica para tal funo e tem por objetivo desenvolver projetos de

    incentivo leitura.

    Desse modo, quando perguntados sobre o nmero de bibliotecrios na escola, os diretores da

    rede municipal argumentaram que tal funo e funcionrio no existem nessa rede: esses foram

    includos no nmero total de professores efetivos, assim como outros professores que, devido a

    problemas de sade, foram afastados da sala de aula e desempenham outras funes, como na

    secretaria ou na cozinha13.

    Na rede estadual existem poucos bibliotecrios. Nas escolas onde h tal funcionrio, seu

    nmero insuficiente para atender toda a escola durante o perodo de funcionamento e no existe aobrigatoriedade de ele desenvolver algum trabalho pedaggico. Isto explica porque vrias escolas

    estaduais com bibliotecas cujo acervo apesar de variado e amplo pouco ou no utilizado. Na

    13 Os professores efetivos titulares de cargo (concursados, e por isso contratados em regime estatutrio)

    quando apresentam problema de sade que impea ou prejudique o pleno desenvolvimento de suas funesso afastados de seus cargos, porm, devido estabilidade, permanecem na escola em outra funo: esse tipode profissional denominado professor readaptado.

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    ausncia do profissional especfico temos a biblioteca da escola depende de voluntrios e outros

    funcionrios da escola que, no improviso, atendam aos alunos que desejem utilizar a biblioteca.

    As tabelas tambm sugerem que no h uma distribuio racional de funcionrios por escola,

    pois vrias funes passam pela iniciativa e preferncias individuais. No h nenhuma regra

    institucional que garanta uma quantidade mnima de funcionrios em relao ao nmero de alunos.

    Temos em algumas escolas funcionrios sobrecarregados, e esse fator impede o pleno desempenho

    das suas funes.

    Tabela 3a - Nmero de funcionrios por escola14 e por rede de ensinoEnsino fundamental completoDistritos de Campo Limpo, Capo Redondo, Jardim ngela e Jardim So Lus2002

    Escolas com at 1500alunos

    Estadual(5 escolas)

    Municipal(4 escolas)

    Cargos A B C D E F G H I

    Diretoria 2 2 5 6 4 2 6 6 5Secretaria 3 2 4 2 1 3 5 2 5Coordenao 1 1 2 1 1 1 2 2 2Bibliotecrio 0 0 0 0 0 0 0 1 1Professores efetivos 8 6 36 29 10 5 80 34 35Professores contratados 26 38 15 10 27 29 0 21 16Professores eventuais15 3 5 * * * 0 0 0 0Funcionrios da cozinha 3 3 4 4 4 3 4 11 0Funcionrios da limpeza 2 2 3 6 2 3 5 7 3Nmero de alunos 1100 1200 1500 1200 1500 1100 1390 1400 1300

    14Optamos aqui por designar cada escola com uma letra do alfabeto, sendo um instrumento meramente

    didtico, pois essas letras no correspondem a qualidade ou outro fator. O nome da escola a qual o dado serefere foi omitido na tentativa de preserv-la.15 Em alguns casos o nmero de professores eventuais foi fornecido somado ao nmero de professorescontratados. Esse fato ocorre tambm em outras funes e, nesses casos, nota-se o smbolo *.

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    Tabela 3b - Nmero de funcionrios por escola e por rede de ensinoEnsino fundamental completoDistritos de Campo Limpo, Capo Redondo, Jardim ngela e Jardim So Lus2002Escolas de 1501 a 2000 Estadual

    (2 escolas)Municipal

    (2 escolas)

    Cargos A B C DDiretoria 5 6 6 5Secretaria 3 3 2 4Coordenao 2 2 2 2Bibliotecrio 2 3 * 2Professores efetivos 44 74 52 43Professores contratados 30 10 0 17Professores eventuais * * * *Funcionrios da cozinha 6 6 7 5Funcionrios da limpeza 7 12 6 3Nmero de alunos 1730 2000 1600 1800

    Tabela 3c - Nmero de funcionrios por escola da rede municipalEnsino fundamental completoDistritos de Campo Limpo, Capo Redondo, Jardim ngela e Jardim So Lus2002Escolas de 2001 a 2500 Municipal

    (4 escolas)Cargos A B C DDiretoria 2 6 6 5Secretaria 3 3 6 1Coordenao 2 1 2 2Bibliotecrio 1 3 2 *Professores efetivos 55 59 50 60Professores contratados 25 26 20 18Professores eventuais * * * 10Funcionrios da cozinha 4 6 4 6Funcionrios da limpeza 5 6 7 13Nmero de alunos 2100 2500 2400 2200

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    Tabela 3d - Nmero de funcionrios por escola na rede estadual de ensinoEnsino Fundamental ll e MdioDistritos de Campo Limpo, Capo Redondo, Jardim ngela e Jardim So Lus2002Escolas de at 1500 alunos Fundamental ll e mdio

    (1escola)Cargos A

    Diretoria 2Secretaria 3Coordenao 1Bibliotecrio 0Professores efetivos 18Professores contratados 27Professores eventuais 3Funcionrios da cozinha 2Funcionrios da limpeza 3Nmero de alunos 1500

    Tabela 3e - Nmero de funcionrios por escola e por nvel de ensino na rede estadual deensinoEnsino Fundamental completo e Fundamental II e MdioDistritos de Campo Limpo, Capo Redondo, Jardim ngela e Jardim So Lus2002

    EstadualEscolas de 1501 a 2000alunos Fundamental completo e mdio

    (4 escolas)Fundamental ll e mdio

    (4 escolas)Cargos C D E F G H I JDiretoria 3 2 2 3 3 3 3 2

    Secretaria 3 3 5 6 5 6 6 3Coordenao 2 1 2 2 2 2 1 *Bibliotecrio 0 0 0 0 1 1 0 0Professores efetivos 27 13 17 19 21 17 27 8Professores contratados 23 32 35 35 25 48 38 44Professores eventuais 5 10 * 6 9 * 10 4Funcionrios da cozinha 2 4 3 4 2 2 4 3Funcionrios da limpeza 1 2 2 3 3 5 4 3

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    Tabela 3f - Nmero de funcionrios por escola na rede estadual de ensinoEnsino Fundamental lI e MdioDistritos de Campo Limpo, Capo Redondo, Jardim ngela e Jardim So Lus2002Escolas de 2001 a 2500 alunos Estadual fundamental ll e mdio

    (4 escolas)Cargos A B C D

    Diretoria 3 3 1 1Secretaria 4 5 3 3Coordenao 2 2 2 2Bibliotecrio 0 0 1 1Professores efetivos 13 19 73 80Professores contratados 28 38 20 20Professores eventuais 7 6 7 7Funcionrios da cozinha 2 2 2 4Funcionrios da limpeza 4 8 5 3Nmero de alunos 2200 1700 2400 2400

    4.2.2 - Descrio das instalaes da escola

    Perodo de construo da escola:

    A tabela 4 (abaixo) apresenta as escolas da regio de acordo com a dcada na qual foram

    construdas16.

    Tabela 4- Perodo de construo das escolas por nvel e rede de ensinoDistritos de Campo Limpo, Capo Redondo, Jardim ngela e Jardim So Lus2002

    Rede Estadual MunicipalNvel de ensino Fundamental

    completoFundamental completo

    e mdioFundamental II

    e mdioFundamental

    completoPerodo deconstruo

    N de escolas N. de escolas N. de escolas N. de escolas

    Dcada de 60 - 1 1 1Dcada de 70 2 1 4 4Dcada de 80 3 1 2 1Dcada de 90 - 1 - 3Depois de 2000 1 - - -No sabe 1 - 2 1Total de escolas 7 4 9 10

    16O ano especfico de construo da escola pode ser encontrado no banco de dados no qual os dados foram

    inseridos.

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    A maior parte das escolas foi construda na dcada de setenta. Esse fator no representaria

    grandes problemas se reformas e manutenes ocorressem com freqncia, mas esse no o caso,

    conforme os dados que sero apresentados mais adiante.

    Os objetivos e o pblico atendido pela escola pblica sofreram grandes mudanas desde a

    dcada de setenta: a poltica oficial tem como meta incluir no interior da escola todas as camadas da

    populao. Temos alunos de diversas origens e camadas sociais sendo atendidos por uma escola

    que parece no estar preparada estruturalmente para receb-los, ou seja, alunos com necessidades

    especiais de locomoo, com deficincias visuais ou auditivas, entre outros.

    Condies fsicas

    Quanto ao material construtivo, conforme as tabelas abaixo, temos que a maior parte das

    escolas de alvenaria. Isso propicia uma maior qualidade do prdio escolar em relao s de outros

    materiais, como madeira e lata. Essas ltimas apresentam um aquecimento superior s de alvenaria

    nos dias quentes, alm de serem barulhentas nos dias de chuva.

    As salas de madeira e de lata so construdas em carter emergencial em decorrncia do

    grande nmero de alunos e do espao insuficiente para acomod-los, porm em muitos casos o

    improviso permanece por mais tempo que o previsto.

    Tabela 5 - Material construtivo utilizado na edificao escolarDistritos de Campo Limpo, Capo Redondo, Jardim ngela e Jardim So Lus2002

    Rede Estadual MunicipalNvel de ensino Fundamental

    completoFundamental completo e

    mdioFundamental II

    e mdioFundamental

    completoMaterial N de escolas N. de escolas N. de escolas N. de escolas

    Alvenaria 5 3 9 8Alvenaria e pr- fabricado:lata

    1 - - -

    Alvenaria e pr- fabricado:madeira/madeirite

    - 1 - 2

    Alvenaria e pr- fabricado:lata e madeira

    1 - - -

    Total de escolas 7 4 9 10

    A escola de madeira ou de lata so, conforme declarao do responsvel entrevistado, um

    resqucio e est sendo substituda. A maior parte das escolas , portanto, de alvenaria, o que no

    significa uma grande qualidade, pois as manutenes destas construes no so freqentes.

    rea construda da escola

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    A ausncia de dados das tabelas 11 e 12 demonstra o desconhecimento dos diretores em

    relao a escola que administram. Quando questionados sobre a rea da escola e do terreno, os

    entrevistados argumentavam que tais informaes estariam em documentos inexistentes ou de difcil

    acesso. Desse modo, h um desconhecimento sobre as dimenses do espao no qual trabalham.

    A dificuldade em acessar os dados referentes estrutura da escola demonstra tambm a

    relao dos funcionrios com os documentos, que no recebem manuteno e no so conservados:

    no h a preocupao com a histria da escola e com o seu desenvolvimento no decorrer do tempo.

    Tabela 6 - rea construda da escola (em metros) por rede e nvel de ensinoDistritos de Campo Limpo, Capo Redondo, Jardim ngela e Jardim So Lus2002

    Rede Estadual MunicipalNvel de ensino Fundamental

    completoFundamental completo

    e mdioFundamental

    II e mdioFundamental

    completo*rea da escola N de escolas N. de escolas N. de

    escolas

    N. de escolas

    At 1.500m - - - 1De 1.501m a 2.000m - - - -De 2.001m a 2.500m - 1 - -De 2.501m a 3.000m - - - -De 3.001m a 3.500m - - - -No tinha informao 7 3 9 9Total de escolas 7 4 9 10

    Tabela 7 - rea do terreno escolar (em metros) por rede e nvel de ensino

    Distritos de Campo Limpo, Capo Redondo, Jardim ngela e Jardim So Lus2002

    Rede Estadual MunicipalNvel de ensino Fundamental

    completoFundamental

    completo e mdioFundamental

    II e mdioFundamental

    completo*rea do terreno escolar N de escolas N. de escolas N. de

    escolasN. de escolas

    De 2.001m a 3.000m - - - -De 4.001m a 5.000m - - - 1De 5.001m a 6.000m - - - -De 6.001m a 7.000m - - - -De 7.001m a 8.000m - - 1 -Acima de 10.000m - - - -No tinha informao 7 4 8 9Total de escolas 7 4 9 10

    Os dados, apesar de esparsos, sobre as reas construdas das escolas em relao s suas

    reas totais mostram que o terreno construdo foi bem aproveitado, ao mesmo tempo, tais

    informaes demonstram que existe pouco espao nas escolas para uma reforma estrutural que

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    permita novos ambientes, de acordo com o aumento da demanda. Contudo tal observao tem mais

    a ver com nossa observao de campo, do que propriamente com os dados fornecidos formalmente

    pelos responsveis das escolas.

    Pavimentos e acessibilidade

    A maior parte das escolas de construo trrea, conforme a tabela 8 abaixo. Esse um fator

    que favorece o acesso daqueles alunos especiais. Porm, so poucas as escolas que apresentam

    todos os ambientes acessveis.

    A preocupao com a incluso de alunos com deficincias fsicas recente, tem como marco

    a Declarao de Salamanca sobre Princpios, Poltica e Prtica em Educao Especial de 1994, mas,

    embora exista esta postura no mbito mundial, esta incluso, nas escolas pesquisadas, no ocorre

    na sua totalidade.

    Tabela 8 - Pavimentos da escola por rede e nvel de ensinoDistritos de Campo Limpo, Capo Redondo, Jardim ngela e Jardim So Lus2002

    Rede Estadual MunicipalNvel de ensino Fundamental

    completoFundamental completo

    e mdioFundamental II

    e mdioFundamental

    completoTipo de

    construoN de escolas N. de escolas N. de escolas N. de escolas

    Trrea 4 2 4 32 pavimentos 2 1 2 53 pavimentos 1 1 3 2

    Total de escolas 7 4 9 10

    Tabela 9 - Acessibilidade por rede e nvel de ensino, por rede e nvel de ensinoDistritos de Campo Limpo, Capo Redondo, Jardim ngela e Jardim So Lus2002

    Rede Estadual MunicipalNvel de ensino Fundamental

    completoFundamental

    completo e mdioFundamental II

    e mdioFundamental

    completoEstrutura fsica Sim No Sim No Sim No Sim NoAcesso a deficientesfsicos

    3 4 1 3 2 7 3 7

    Banheiro adaptado 4 3 1 3 1 8 6 4

    Os ambientes da escola

    O processo educativo se d de vrios modos e importante que a escola oferea uma

    diversidade de ambientes que favorea as diversas habilidades. Todas as escolas tm quadras

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    poliesportivas (com exceo de duas escolas), embora o estado de conservao no seja satisfatrio:

    as demarcaes da quadra, para a prtica de diferentes esportes, muitas vezes encontram-se

    apagadas, as tabelas e as traves enferrujadas e sem rede. Em algumas escolas h mais de uma

    quadra, assim como outros espaos que, no improviso, so utilizados para a prtica de esportes e

    lazer. Encontramos tambm algumas quadras cobertas, mas essas so menos freqentes (tabelas 10

    e 11).

    Bibliotecas e salas de leitura tambm so freqentes nas escolas (s no h biblioteca em

    uma escola), mas, mais importante que a existncia dessa sala, o seu uso: nas escolas municipais,

    devido existncia de um profissional especfico para o desenvolvimento de projetos, todas as

    turmas obrigatoriamente freqentam a sala de leitura no mnimo uma vez por semana. J nas escolas

    estaduais a freqncia depende do interesse do aluno ou da disposio do professor em acompanhar

    a turma biblioteca, j que, como apresentamos anteriormente, o nmero de funcionrios para essa

    funo nas escolas da rede estadual insuficiente.

    O espao destinado as artes mnimo, j que presente em apenas 5 escolas.

    Especificamente consideramos sala de artes todo espao destinado a algum tipo de atividade

    artstica: das 5 escolas citadas, 2 tem sala para a fanfarra e 3 tm sala especial para as aulas de

    educao artstica, com bancadas, pias, torneiras e espao para exposio da produo artstica.

    Outro dado importante observado nas tabelas que h mais salas de vdeo do que

    laboratrios de cincias nas escolas. Ou seja, aparentemente a formao mais tcnica dos alunos

    nas reas de cincias, nas escolas pesquisadas, deixada de lado. As salas de vdeo, ainda tendo

    em vista aspectos de nossa observao pessoal quando de nossas investigaes no ambiente

    escolar, no so to usadas. Isso significa que, alm de haver uma carncia de espaos para

    prticas de cincias, h um sub-aproveitamento de um espao de aprendizado dentro do ambiente

    escolar.

    A sala de informtica, muito mais acessvel para os alunos da rede municipal de ensino,

    utilizada muito menos do que seria necessrio para uma efetiva incluso digital dos alunos. Os

    nmeros so sempre insuficientes para o uso freqente dos alunos, propiciando-lhes, no mximo,

    introdues rudimentares sobre o uso de editores de texto.

    Quanto a sala de sade, necessrio esclarecer que nas escolas estaduais e municipais

    proibido oferecer qualquer tipo de medicamento ao aluno que apresentar qualquer sintoma dedoena. Essa proibio se deve a ausncia de profissional de sal de no interior da escola, pois s

    esse habilitado a fazer diagnsticos e receitar medicao. Por isso no existe medicamentos ou kit

    de primeiros socorros: em caso de doenas ou ferimentos o aluno encaminhado ao posto de sade

    mais prximo e a famlia notificada. A nica escola que possui uma sala de sade tem um dentista

    pago pela APM que oferece tratamento dentrio aos alunos gratuitamente mediante autorizao do

    responsvel.

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    Tabela 10 - Nmero de salas de aula, por rede e nvel de ensinoDistritos de Campo Limpo, Capo Redondo, Jardim ngela e Jardim So Lus2002

    Rede Estadual MunicipalNvel de ensino Fundamental

    completo

    Fundamental

    completo e mdio

    Fundamental II

    e mdio

    Fundamental

    completoNmero de salas deaula

    N de escolas N. de escolas N. de escolas N. de escolas

    Menos que 10 salas 2 - - 210 a 11 salas - - - 112 a 13 salas 2 1 1 114 a 15 salas 2 2 3 516 a 17 salas 1 1 2 118 a 19 salas - - - -20 a 21 salas - - 3 -22 a 23 salas - - - -30 salas - - - -

    Total de escolas 7 4 9 10

    Tabela 11 - Nmero de salas de apoio, por rede e nvel de ensinoDistritos de Campo Limpo, Capo Redondo, Jardim ngela e Jardim So Lus2002

    Rede Estadual MunicipalNvel de ensino Fundamental

    completoFundamentalcompleto e

    mdio

    Fundamental II emdio

    Fundamentalcompleto

    Estrutura fsica Sim No Sim No Sim No Sim NoQuadra 5 2 4 0 9 0 10 0Biblioteca/Sala de leitura 6 1 4 0 9 0 10 0Laboratrio de Cincias 2 5 1 3 7 2 5 5Sala de informtica 5 2 4 0 9 0 9 1Sala de vdeo 4 3 3 1 8 2 7 3Sala de sade 0 7 0 4 1 9 0 10Sala de artes 1 6 0 4 2 7 2 8Lanchonete/cantina 7 0 4 0 9 0 0 10Total de escolas 7 4 9 10

    4.2.3 - Descrio das condies de manuteno da escola

    Estado de manuteno e conservao do prdio

    Os dados da tabela abaixo indicam que as escolas so pichadas externamente e

    internamente, em todos os nveis e redes. Tais pichaes esto presentes nos muros, paredes das

    salas de aula e carteiras, mas principalmente no interior dos banheiros, sendo essa a rea mais

    deteriorada da escola. A no conservao da escola por parte dos alunos e da comunidade pode ter

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    vrios significados: a falta de estima e de sentimento de preservao do bem pblico; a pichao

    como forma de identidade, de marcar territrio, a falta de trabalhos de conscientizao, ao no

    sentimento de pertena ao espao utilizado. Algumas escolas encontram solues criativas para

    diminuir ou acabar com as pichaes: encontramos a grafitagem dos muros pela comunidade ou a

    definio (junto com os alunos) de um espao especfico apenas para as pichaes.

    Tabela 12- Estado de conservao da escola, por rede e nvel de ensinoDistritos de Campo Limpo, Capo Redondo, Jardim ngela e Jardim So Lus2002Rede Estadual MunicipalNvel de ensino Fundamental

    completoFundamentalcompleto e

    mdio

    Fundamental II emdio

    Fundamentalcompleto

    Estado de conservao Sim No Sim No Sim No Sim NoPichao externa 5 2 3 1 8 1 8 2Pichao interna 4 3 1 3 8 1 8 2

    Dedetizao 5 2 4 0 8 1 10 0Total de escolas 7 4 9 10

    Todas as escolas passaram por reformas nos ltimos 10 anos, porm so raras as que

    ampliaram as suas reas construdas, criando novas salas de apoio ou novos ambientes. Embora o

    nmero de alunos atendidos pela escola pblica tenha aumentado nos ltimos anos, apenas trs

    escolas ampliaram o nmero de salas