++++anÁlise de pch no rio juruena

142
UNIVERSIDADE CATÓLICA DE BRASÍLIA Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Planejamento e GestãoAmbiental CONFLITOS INSTITUCIONAIS EM EMPREENDIMENTO DO SETOR ELÉTRICO: ESTUDO DE OITO PEQUENAS CENTRAIS HIDRELÉTRICAS/PCHs NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO JURUENA, NO ESTADO DE MATO GROSSO. Brasília 2007

Upload: ncfengenharia

Post on 21-Jan-2016

39 views

Category:

Documents


1 download

TRANSCRIPT

Page 1: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

UNIVERSIDADE CATÓLICA DE BRASÍLIA

Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Planejamento e GestãoAmbiental

CONFLITOS INSTITUCIONAIS EM EMPREENDIMENTO DO SETOR ELÉTRICO: ESTUDO DE OITO PEQUENAS CENTRAIS HIDRELÉTRICAS/PCHs NA BACIA

HIDROGRÁFICA DO RIO JURUENA, NO ESTADO DE MATO GROSSO.

Brasília

2007

Page 2: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

ii

IANE ANDRADE NEVES

CONFLITOS INSTITUCIONAIS EM EMPREENDIMENTO DO SETOR ELÉTRICO: ESTUDO DE OITO PEQUENAS CENTRAIS HIDRELÉTRICAS/PCHs NA BACIA

HIDROGRÁFICA DO RIO JURUENA, NO ESTADO DE MATO GROSSO.

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Planejamento e Gestão Ambiental da Universidade Católica de Brasília, como requisito para obtenção do Título de Mestre em Planejamento e Gestão Ambiental. Orientador: Prof. Dr. Paulo Jorge Rosa Carneiro

Brasília 2007

Page 3: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

iii

Dissertação de autoria de Iane Andrade Neves, intitulada Conflitos Institucionais em Empreendimento do Setor Hidrelétrico: Estudo de Oito Pequenas Centrais Hidrelétricas/PCHs na Bacia Hidrográfica do rio Juruena, no Estado de Mato Grosso, requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Planejamento e Gestão Ambiental, defendida e aprovada, em seis de dezembro de 2007, pela banca examinadora constituída por:

____________________________________________________________

Prof. Dr. Paulo Jorge Rosa Carneiro - Orientador

____________________________________________________________

Dra. Rosangela de Souza Biserra - Examinadora Externa

____________________________________________________________

Profª. Ph.D. Renata Marson Teixeira de Andrade - Examinadora Interna

Brasília 2007

Page 4: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

iv

DEDICATÓRIA

A Deus, ao meu pai Ivo Antônio Neves e a

todos aqueles que, de alguma forma,

acreditaram e contribuíram para a

realização deste estudo.

Page 5: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

v

AGRADECIMENTOS

Agradeço ao Programa de Pós-Graduação em Planejamento e Gestão Ambiental da Universidade Católica de Brasília (UCB);

Aos professores Paulo Jorge Rosa Carneiro (Orientador) e Antônio José Andrade Rocha, professor e ex-diretor do Programa de Pós-Graduação em Planejamento e Gestão Ambiental da UCB a quem devo valiosos momentos de trabalho e amizade;

Aos colaboradores diretos e indiretos, seja pela disponibilidade de materiais ou em conversas, especialmente os colegas da Mappa Engenharia e Consultoria; da Juruena Participações e Investimentos S.A; representada pelo técnico Frederico G. Muller; da Agência Nacional de Energia Elétrica; da Fundação Nacional do Índio; da Secretaria Estadual de Meio Ambiente de Mato Grosso.

Aos parceiros de reflexão sobre o objeto desta pesquisa José Francisco Rodrigues Furtado, Robson Cândido da Silva e minha irmã Isis Andrade Neves;

Aos professores e funcionários do Curso de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Planejamento e Gestão Ambiental, pela convivência harmônica, apoio e amizade;

À amiga, comadre e professora Ida Claudia Pessoa Brasil pela atenção, carinho e toques durante os diferentes momentos do mestrado;

À estimada turma de 2005, pelo jeito de estudar e trabalhar, agregando esforços e estimulando a aprendizagem entre todos.

Page 6: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

vi

RESUMO

O estudo desta dissertação refere-se à avaliação da relação entre as instituições envolvidas no processo de licenciamento de oito Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) projetadas para serem implementadas na bacia hidrográfica do rio Juruena, em Mato Grosso (MT), a partir da visão propiciada pelo conjunto de normas ambientais, em especial do setor elétrico, sobre os recursos naturais, as comunidades indígenas residentes na região de influência, a sociedade nacional e o Estado. O modelo de geração de energia no Brasil está baseado, principalmente, em fontes hidráulicas, e quando houve uma redução na construção de novas usinas hidrelétricas, foram estabelecidas novas referências para o setor elétrico brasileiro, com claros incentivos pelo governo para a construção de PCHs. Os estudos exigidos para um empreendimento hidrelétrico servem de cenário para a relação entre as instituições envolvidas que tratam da análise dos impactos ambientais e socioeconômicos, tendo em conta as práticas públicas do setor elétrico e sua relação com os diferentes órgãos públicos: Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), Secretaria do Estado de Meio Ambiente do Mato Grosso (SEMA/MT) e Fundação Nacional do Índio (FUNAI). A FUNAI representando as comunidades indígenas; a SEMA/MT representando o Estado de Mato Grosso e seus recursos naturais; e a ANEEL responsável pelo recurso hidrelétrico. O tema trata do levantamento dos dispositivos legais e procedimentos em torno de empreendimentos hidrelétricos, que acabam sendo o centro de conflitos entre instituições públicas. Esse tema justifica-se pela necessidade de equacionamento da questão ambiental sobre empreendimentos de infra-estrutura para o país e o fato da aplicação da legislação ambiental ser passível de diferentes interpretações pelos vários entes públicos envolvidos.

Palavras-chaves: Questão ambiental; meio ambiente; setor elétrico; conflitos =institucionais; PCH.

Page 7: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

vii

ABSTRACT

The study refers to the evaluation of the relationship between the institutions involved in the process of licensing of eight Small Powerplants (PCH in Portuguese) designed to be implemented in the basin of the river Juruena, on the state of Mato Grosso (MT). This consider the vision provided by the set of environmental standards, particularly electric sector, on the natural resources, indigenous communities living in the region of influence, the national society and the state. The model of energy generation in Brazil is based mainly on hydraulic sources. When there was a reduction in the construction of new hydroelectric plants, have been established new references for the brazilian electric sector, with clear incentives by the government for the construction of PCH. The studies required for a Hydroelectric plant serve as a backdrop to the relationship between the institutions involved with the analysis of the socioeconomic and environmental impacts, considering the public practice of Electric Sector and its relationship with the different public agencies: Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), Secretaria de Meio Ambiente do Mato Grosso (SEMA/MT) and Fundação Nacional do Índio (FUNAI). The FUNAI representing indigenous communities, the SEMA/MT representing the State of Mato Grosso and its natural resources, and ANEEL is responsible for hydroelectric resource. The issue identifies the legal norms and procedures of hydroelectric plants which have just been the center of conflicts between public institutions. This theme is justified by the need for resolution of environmental matter about infrastructure’s implementation for the country and the different interpretations of environmental legislation by the various public areas involved.

Keywords: Environmental Issue; environment; electricity sector; institutional conflicts; PCH.

Page 8: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

viii

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Estado de Mato Grosso e hidrografia........................................................31

Figura 2 - Trecho do rio Juruena e tributários...........................................................32

Figura 3 - PCHs no rio Juruena, terras indígenas e municípios................................38

Figura 4 - Hidrografia, rodovia e terras indígenas no Estado de Mato Grosso.........39

Figura 5 - Trecho do rio Juruena, municípios, malha viária e terras indígenas.........43

Figura 6 - Grupos indígenas na região do Alto Rio Juruena.....................................45

Figura 7 - Área do estudo da Avaliação Ambiental Integrada/AAI............................80

Figura 8 - Imagem de satélite da área do estudo de AAI..........................................81

Page 9: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

ix

LISTA DE FOTOGRAFIAS

Foto 1 - Margem do rio Juruena................................................................................30

Foto 2 - Índio Nambikwara em traje de banho...........................................................52

Foto 3 - Índia Nambikwara confeccionando adorno..................................................52

Foto 4 - Índio Rikbaktsa.............................................................................................52

Foto 5 - Índios Enawenê-Nawê em dança tradicional...............................................52

Foto 6 - Índios Paresi em reunião..............................................................................52

Foto 7 - Índios Menky desenhando mapa..................................................................52

Page 10: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

x

LISTA DE MAPAS

Mapa 1 - Bacia Hidrográfica do alto e médio Juruena, PCHs e terras indígenas......92

Mapa 2 – Localização dos eixos dos barramentos em relação a TI Nambikwara................................................................................................................96

Mapa 3 - Imagem de satélite da bacia hidrográfica do alto e médio Juruena..........103

Page 11: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

xi

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Bacias Hidrográficas do Estado de Mato Grosso.....................................29

Tabela 2 - PCHs quanto à potência instalada e quanto à queda de projeto.............34

Tabela 3 - Caracterização das Terras Indígenas na região das oito PCHs...............46

Tabela 4 - Informações relacionadas às entidades governamentais no caso das oito PCHs da Bacia do Alto rio Juruena............................................................................90

Tabela 5 - Distância das oito PCHs às onze Terras Indígenas.................................95

Page 12: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

xii

LISTA DE ANEXOS

Anexo 1 - Termo de Referência da FUNAI..............................................................109

Anexo 2 - Informação sobre o uso dos recursos hídricos.......................................115

Anexo 3 - Termo de Referência da AAI...................................................................116

Anexo 4 - Oficialização da não incidência das oito PCHs em terras indígenas......134

Anexo 5 – Licenças de Instalação das oito PCHs...................................................135

Page 13: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

xiii

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AAI Avaliação Ambiental Integrada

AER Administração Executiva Regional

AHE Aproveitamento hidrelétrico

AIA Avaliação de Impacto Ambienta

ANA Agência Nacional de Águas

ANEEL Agência Nacional de Energia Elétrica

ART Artigo

BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

CCC Conta de Consumo de Combustível

CF Constituição Federal

CGPIMA Coordenação Geral de Patrimônio Indígena e Meio Ambiente

CMAM Coordenação de Meio Ambiente

CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente

DAF Diretoria de Assuntos Fundiários

DNAEE Departamento Nacional de Águas e Energia Elétrica

ELETROBRÁS Centrais Elétricas Brasileiras S/A

EIA/RIMA Estudo de Impacto Ambiental/Relatório de Impacto Ambiental

FEMA Fundação Estadual do Meio Ambiente

FUNAI Fundação Nacional do Índio

FUNDEPAN Fundação de Desenvolvimento do Pantanal/

Hd Queda de Projeto

Page 14: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

xiv

IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis

LI Licença de Instalação

LO Licença de Operação

LP Licença Prévia

MJ Ministério da Justiça

MMA Ministério do Meio Ambiente

MP Ministério Público

MT Mato Grosso

MW Megawatt

NAL Núcleo de Apoio Local

PCE Projetos e Consultoria de Engenharia

PCH Pequena Central Hidrelétrica

PNMA Política Nacional de Meio Ambiente

PPA Acordo de Compra de Energia (Power Purchase Agreement)

PROINFA Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica

RAS Relatório Ambiental Simplificado

SEMA Secretaria de Estado do Meio Ambiente

SIN Sistema Interconectado Nacional

SINGREH Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos

SISNAMA Sistema Nacional de Meio Ambiente

TCU Tribunal de Contas da União

TI Terra Indígena

TR Termo de Referência

UHE Usina Hidrelétrica

Page 15: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

xv

SUMÁRIO RESUMO.................................................................................................................................vi ABSTRACT.............................................................................................................................vii LISTA DE FIGURAS...............................................................................................................viii LISTA DE FOTOGRAFIAS......................................................................................................ix LISTA DE MAPAS....................................................................................................................x LISTA DE TABELAS................................................................................................................xi LISTA DE ANEXOS.................................................................................................................xii LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS..................................................................................xii INTRODUÇÃO........................................................................................................................16 CAPÍTULO 1 – MARCO CONCEITUAL.................................................................................20 1.1 - Conflito................................................................................................................23

1.2 - Bacia Hidrográfica...............................................................................................27 1.3 - Empreendimento do Setor Hidrelétrico...............................................................32 1.4 - Pequenas Centrais Hidrelétricas/PCHs..............................................................33 CAPÍTULO 2 – DESCRIÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO...........................................................39 2.1 - Situação político-administrativa da região das oito PCHs..................................39 2.2 - Situação dos grupos indígenas da região das oito PCHs..................................44 2.2.1 - Territorialidade dos cinco grupos indígenas na região do empreendimento.....................................................................................................................46 CAPÍTULO 3 - METODOLOGIA.............................................................................................53 CAPÍTULO 4 - IDENTIFICAÇÃO DOS DISPOSITIVOS LEGAIS...........................................56 4.1 - ANEEL................................................................................................................62 4.2 - SEMA/MT............................................................................................................67 4.3 - FUNAI.................................................................................................................69 CAPÍTULO 5 – IDENTIFICAÇÃO DOS PROCEDIMENTOS LEGAIS DAS OITO PCHS EMPREENDIMENTO COMPLEXO JURUENA......................................................................74 5.1 - ANEEL................................................................................................................74 5.2 - SEMA/MT............................................................................................................77 5.2.1 - Responsabilidade dos estudos e exigibilidade de EIA.........................79 5.2.2 - Renovação das licenças de instalação e AAI.......................................80 5.3 – FUNAI.................................................................................................................83 CAPÍTULO 6 – ANÁLISE ENTRE DISPOSITIVOS LEGAIS, PROCEDIMENTOS E CONFLITOS DO PROCESSO DE NEGOCIAÇÃO INSTITUCIONAL...................... .............91 CONCLUSÃO.......................................................................................................................100 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.....................................................................................106 ANEXOS...............................................................................................................................109

Page 16: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

16

INTRODUÇÃO

Cada vez mais a questão ambiental se insere no cotidiano da população,

assim como nas políticas públicas, tornando-se um assunto de interesse nacional e

mundial. As discussões que cercam a realização de empreendimentos de

significativo impacto na natureza, sejam por interesse e demandas de setores da

sociedade, sejam por resultado de implementação de políticas do setor público,

acabam por integrar diferentes grupos (sociedade, empresários, comunidades

indígenas, entes federados, e órgãos que representam cada setor) e interesses na

gestão dos recursos naturais.

A utilização dos recursos hídricos, sendo um de seus usos a geração de

energia elétrica, passou a ser uma questão vital para o país em virtude do aumento

da demanda por energia e possíveis situações que envolvem outros interesses

(irrigação, transporte, lazer, e outros). Há também a possibilidade de racionamentos,

como o ocorrido em 2001, que se deu em função de que a disponibilidade de

energia, naquele momento, não atendia as necessidades decorrentes do

crescimento do país.

O modelo de geração de energia no Brasil está baseado, principalmente, em

fontes hidráulicas, e a partir dos anos 1990, quando houve uma redução na

construção de novas usinas hidrelétricas, foram estabelecidas novas referências

para o Setor Elétrico Brasileiro, com claros incentivos pelo governo, para a

construção de Pequenas Centrais Hidrelétricas – PCHs.

Na década de noventa, e mesmo antes, foram também estabelecidos outros

instrumentos legais, regulamentares e normativos para a proteção dos recursos

ambientais (recursos hídricos inclusive), assim como se desenvolveram

procedimentos mais precisos para os estudos técnicos que visualizam as

conseqüências ambientais de um empreendimento dessa natureza. O Estudo de

Impacto Ambiental/EIA é um desses instrumentos, que incluem os diagnósticos e

prognósticos ambientais e o plano básico para implementação de medidas de

controle (mitigação) e compensação de impactos.

Page 17: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

17

Os órgãos de meio ambiente, responsáveis pela definição das diretrizes que

regem os estudos, condição elementar para a concessão das licenças, são

obrigados por lei a considerar o entendimento de outras entidades e segmentos da

sociedade o que nem sempre se dá sob condições ideais ou adequadas de

conhecimento dos problemas que envolvem empreendimentos de geração

hidrelétrica, gerando conflitos de interesse.

Os estudos exigidos para um empreendimento hidrelétrico servem de cenário

para a relação entre as instituições envolvidas que tratam da análise dos impactos

ambientais e socioeconômicos, tendo em conta as práticas públicas do Setor Elétrico

e sua relação com os diferentes órgãos públicos (ANEEL, SEMA/MT e FUNAI).

Desse modo, a presente dissertação tem como tema o levantamento dos

dispositivos legais e procedimentos em torno de empreendimentos hidrelétricos, que

acabam sendo o centro de conflitos entre instituições públicas: de um lado a que tem

por competência regular e fiscalizar a produção de energia elétrica, e do outro os

órgãos responsáveis por outros grupos da sociedade. Neste caso, a FUNAI

representando as comunidades indígenas; a SEMA/MT representando o Estado de

Mato Grosso e seus recursos naturais e, também, a sociedade nacional; e a ANEEL

responsável pelo recurso hidrelétrico.

Constatou-se o fato da aplicação da legislação ambiental ser passível de

diferentes interpretações pelos vários entes públicos envolvidos, como no caso de

algumas pequenas centrais hidrelétricas do Estado de Mato Grosso. A própria

definição do limite da área impactada é analisado e considerado diferentemente pela

ANEEL, SEMA/MT e FUNAI, no caso específico das oito PCHs do Complexo

Energético Juruena.

Buscou-se neste estudo analisar de que forma os conflitos entre os diferentes

órgãos da administração pública interferem, ou não, no desenvolvimento de infra-

estrutura do país, mesmo que atuando em consonância com o cumprimento das leis

ambientais e em sintonia com a utilização sustentável dos recursos naturais.

A hipótese levantada é de que, os Órgãos Públicos (ANEEL, SEMA/MT e

FUNAI) trabalham individualmente para a realização de um empreendimento, sendo

a legislação ambiental palco de conflitos pela diferente interpretação dada às

Page 18: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

18

normas do licenciamento ambiental, devido ao ethos1 de cada entidade. A

elaboração de diferentes instrumentos de gestão ambiental para a aprovação de um

empreendimento, definida por cada entidade pública acaba por alongar o processo

legal, devido às análises não integradas realizadas administrativamente.

O objetivo geral do estudo é avaliar a relação entre as instituições envolvidas

no processo que trata da análise dos impactos ambientais e socioeconômicos de

oito PCHs projetadas para serem implementadas na bacia hidrográfica do rio

Juruena (MT), a partir da visão propiciada pelo conjunto de normas ambientais, em

especial do Setor Elétrico, sobre os recursos naturais, as comunidades indígenas

residentes na região de influência, a sociedade nacional e o Estado.

Os objetivos específicos do estudo são:

1. Identificar as normas da ANEEL, SEMA/MT e FUNAI adotadas para

implementação de empreendimento denominado de Pequena Central

Hidrelétrica/PCH;

2. Identificar os procedimentos institucionais de gestão adotados por cada

órgão público definido nesse estudo para a realização do empreendimento

Complexo Juruena;

3. Analisar a relação entre os dispositivos legais e seus

encaminhamentos nas três esferas públicas, com avaliação dos conflitos e

contradições do processo de negociação institucional entre a ANEEL, SEMA/MT e

FUNAI, com proposição de medidas de diminuição de conflitos.

As análises realizadas foram alicerçadas, metodologicamente, em pesquisas

bibliográficas, em relatórios técnicos oficiais, legislação, páginas institucionais e em

trabalhos acadêmicos; e em pesquisas empíricas por meio de relatos com

informantes envolvidos na questão ambiental; e pesquisa documental, legislação e

documentos institucionais e organizacionais. Fez-se a identificação de como estão

sendo realizados os procedimentos necessários para os estudos ambientais de cada

um dos três órgãos alencados.

1 Ethos (antrop): Característica comum a um grupo de indivíduos pertencentes a uma mesma sociedade (www.kinghost.com.br/dicionário/ethos.htlm, acessado em 22.11.2007. Nesse caso, a forma como cada órgão público define seus procedimentos acaba pro caracterizá-lo.

Page 19: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

19

Esse tema justifica-se pela necessidade de equacionamento da questão

ambiental sobre empreendimentos de infra-estrutura para o país, resultando em um

processo lento muitas vezes decorrente das divergências de aplicação da legislação

pertinente. Se durante o processo houvesse uma estruturação de trabalho entre os

diversos entes públicos no sentido de uma solução que atendesse a todos os

interesses envolvidos, sobretudo os configurados como conflitos sócios ambientais,

o ganho seria de todos.

No Capítulo 1, o marco conceitual apresenta os principais temas desta

dissertação: os conflitos socioambientais, o que são empreendimentos do setor

hidrelétrico, e as pequenas centrais hidrelétricas na bacia hidrográfica do rio

Juruena.

O Capítulo 2 descreve a área de estudo, sua posição político-administrativa

na região do empreendimento e a situação dos grupos indígenas na área do entorno

das PCHs.

O Capítulo 3 apresenta a metodologia utilizada para o desenvolvimento do

trabalho.

O Capítulo 4 trata da identificação da legislação dos três órgãos levantados

neste processo de construção de PCH, a ANEEL, a SEMA/MT e a FUNAI.

O Capítulo 5 aponta os procedimentos institucionais de gestão adotados por

cada um dos três órgãos públicos para a realização do empreendimento na bacia

hidrográfica do rio Juruena.

Já o Capítulo 6 analisa a relação entre os dispositivos legais e os

procedimentos nas três esferas públicas do empreendimento denominado

“Complexo Juruena”, com avaliação dos conflitos do processo institucional entre a

ANEEL, a SEMA/MT e a FUNAI, com proposição de medidas de diminuição de

conflitos interinstitucionais que incidem sobre questões socioambientais. E por fim a

conclusão do trabalho.

Page 20: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

20

CAPÍTULO 1 – MARCO CONCEITUAL

Diante dos diferentes encaminhamentos, na esfera federal e estadual, sobre a

implantação das oito PCHs, ao longo da bacia hidrográfica do Alto Rio Juruena - MT,

provavelmente o monitoramento e equacionamento das atividades é ineficiente.

Diferenças de procedimentos e de esferas de competência, que acabam por

configurar conflitos de gestão para o assunto em destaque.

Na verdade, a resolução dos diferentes questionamentos dos órgãos

responsáveis pela análise da iniciativa que determina a implementação de

empreendimentos hidrelétricos no Brasil, se deve a própria questão ambiental ser

relevante e exigir, dos órgãos públicos, uma postura conservadora no que se refere

à gestão dos recursos naturais. Por isso, tornam-se necessárias articulações entre

os diversos setores participantes da construção de um empreendimento, para que,

de fato, não se perca de vista os preceitos Constitucionais do Art. 225 sobre a

conservação para um meio ambiente ecologicamente equilibrado:

Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

Ocorre, entretanto que por apresentarem histórias e objetivos institucionais

distintos, a ANEEL, a SEMA/MT e a FUNAI acabam por não estabelecer uma

referência comum em relação aos termos, conceitos e interesses envolvidos,

entrando, naturalmente em conflito.

Nos últimos anos a questão ambiental passou a ser mais bem apreciada nos

projetos de infra-estrutura e outros setores da sociedade. Novos métodos e técnicas

de exploração dos recursos naturais passaram a ser discutidos. Novos investimentos

em tecnologias vêm sendo alcançados, sempre com o objetivo de atender aos

interesses das gerações presentes sem o comprometimento das gerações futuras

(MMA, 2000).

Page 21: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

21

Em 2003, passou-se a exigir, no âmbito do licenciamento ambiental de usinas

hidrelétricas, que os estudos de impactos ambientais se reportassem à bacia

hidrográfica, em conformidade com a Resolução CONAMA № 001/86 (MMA, 2006):

No entanto a incorporação das diretrizes gerais dos instrumentos de avaliação

para fins de licenciamento ambiental vem se consolidando de forma diferente nos

diversos organismos envolvidos gerando certa defasagem na interpretação dos

instrumentos de gestão disponíveis.

No Estado de Mato Grosso ainda não se está exigindo estudos integrados e

estratégicos das bacias hidrográficas como instrumento precedente à liberação de

licenças, autorizações e concessões, mas parece ser apenas uma questão de

tempo, pois as dificuldades de entendimento e diálogo entre os grupos de interesse

e organismos gestores está exigindo um esforço mais efetivo. Ocorre que o MP

propôs um estudo de gestão integrado de bacia, sendo que a SEMA/MT condicionou

ao processo de licenciamento um estudo desta natureza, sendo exposto no capitulo

de procedimentos.

O Programa Nacional de PCHs encontra-se em vigor como alternativa não

concorrente com as grandes usinas hidrelétricas/UHEs. O programa de dinamização

de infra-estrutura do BNDES trata as PCHs como alternativas de energia renovável,

recebendo incentivo diferencial para sua implementação, por se tratar, igualmente de

condição impar de utilização da energia em regiões afastadas dos grandes sistemas

de transmissão.

E talvez por isso interpretou-se erradamente que nestes casos a problemática

ambiental deveria ser mais facilmente equacionada, atraindo-se o setor privado a

assumir os riscos inerentes a este tipo de investimento (FELICIDADE; MARTINS;

LEME, 2006). O incentivo do poder público, em que o Estado modifica sua

compreensão acerca de suas funções econômicas não altera o nível de importância

atribuído pelo Art. 10 da Lei 6.938/81:

A construção, instalação, ampliação e funcionamento de estabelecimentos e atividades utilizadoras de recursos ambientais, considerados efetiva e potencialmente poluidoras bem como os capazes, sob qualquer forma, de causar degradação ambiental, dependerão de prévio licenciamento de órgão estadual competente, integrante do Sistema Nacional do Meio Ambiente – SISNAMA, e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis/IBAMA, em caráter supletivo, sem prejuízo de outras licenças exigíveis.

Page 22: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

22

O investidor privado, certamente deve contar com algum atrativo econômico,

ou as possibilidades de abastecimento de energia elétrica em regiões ainda não

atendida não se materializarão. Todavia incentivo não confere facilidades e o

entendimento da Lei para o uso de recursos naturais não pode ter peso ou

interpretações diferentes.

Devendo-se considerar, ainda, que mesmo que as PCHs apresentem

vantagens, deve-se considerar que custos e benefícios de um aproveitamento

hidrelétrico dependem das condições específicas de cada aproveitamento e não da

escala do projeto; e que é inadequado classificar as hidrelétricas como renováveis

ou não em função de seu porte (TOLMASQUIM, 2005).

Ocorre que o sistema elétrico brasileiro tem se pautado na produção de

energia a partir dos recursos hídricos, por ser considerada a mais abundante

alternativa brasileira de energia, além de ser segura, tanto economicamente como

ambientalmente, mesmo que o assunto seja considerado, de fato, controverso.

Historicamente o governo brasileiro privilegiou essa forma de produção de energia,

em detrimento de outras formas de produção porque em essência, e independente

de qualquer discussão mais acalorada é a forma mais barata e limpa de gerar

energia em grande escala.

E quando se busca o entendimento das políticas públicas dos diferentes

órgãos federais, estaduais e municipais envolvidos para a efetivação de

empreendimentos, como pequenas centrais hidrelétricas, constata-se que a

diferenciação das ações governamentais acaba por criar animosidades quanto a sua

implementação. E a produção de energia, acaba por potencializar impacto

(antrópico, uso de recursos naturais, dentre outros) e ações sobre a região.

Observam-se duas questões principais: a ambiental e a socioeconômica.

A problemática na questão ambiental deve ser entendida e analisada dentro

das políticas adotadas no processo de implantação de empreendimentos pela esfera

federal, estadual e grupos sociais. Assim, procurou-se apresentar o referencial legal

da questão energética, ambiental e indígena e como se entrelaçam para a

implementação de PCH, focando nas visões desses diferentes agentes do processo

acerca dos recursos naturais e sua relação com a sociedade.

Page 23: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

23

1.1 Conflito

O Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa (HOUAISS, 2001) apresenta

diferentes conceitos para “conflito”, sendo uma linha de entendimento baseada nas

definições de conflito de competência e conflito de direitos. Conflito de competência

1: discordância a respeito de jurisdição contenciosa entre órgãos da administração

governamental e entidades jurídicas; e conflito de direitos jur: concorrência de

direitos antagônicos de dois ou mais indivíduos, que obriga a que nenhum deles

tenha exercício pleno ou exerça gozo exclusivo do direito do qual se arroga titular,

colisão de direitos.

Podemos ainda conceituar conflito pela esfera social, em que a definição seria

uma forma de interação social, em que o conflito garante uma unidade social e

renovação, uma construção do sujeito social. E nesse início do Século XXI, um novo

tipo de conflito tem estado em diferentes esferas sociais e em diversas etapas do

setor público: o conflito sócio ambiental.

O que se observa é que a área ambiental está estruturada em mais de um

setor da administração governamental, na condição de gestora de um conjunto

específico e próprio de políticas. Na verdade o planejamento ambiental deveria se

integrar setorialmente e entre escalas de governo, cujas ações perpassam diferentes

políticas públicas (MORAES, 2005). Tal nível de planejamento ainda não ocorre nos

licenciamentos ambientais atuais, como das oito PCHs da bacia hidrográfica do rio

Juruena.

Conflito socioambiental ocorre quando dois ou mais atores não estão de

acordo com a distribuição de determinados elementos materiais ou simbólicos com

relação ao controle, uso e acesso dos recursos naturais de determinado ambiente.

Para Frota (2001), a definição para conflitos socioambientais são os

resultados produzidos ao meio antrópico devido a uma perturbação nos meios físico

e biótico, decorrentes da implantação de um empreendimento. Já segundo Litlle

(2001), conflitos socioambientais podem ser definidos como disputas entre grupos

sociais derivados dos tipos de relação mantida com o seu meio natural, inserido no

campo de ação política. O conceito socioambiental engloba três dimensões: o

Page 24: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

24

mundo biofísico e seus ciclos naturais; o mundo humano e suas estruturas sociais; e

o relacionamento dinâmico e interdependente entre esses dois mundos.

Os conflitos sociambientais apresentam a seguinte tipologia: 1) os conflitos

em torno do controle sobre os recursos naturais; 2) os conflitos em torno dos

impactos ambientais e sociais gerados pela ação humana e natural; e 3) os conflitos

em torno do uso dos conhecimentos ambientais (LITLLE, 2001, p.108).

1) Os conflitos em torno do controle sobre os recursos naturais partem da

iniciativa de grupos sociais definirem que uma matéria-prima encontrada na natureza

é um recurso, e que tem um uso específico. Além da definição dos recursos naturais

como de domínio social, há outra dimensão, a geográfica; isso porque o recurso se

encontra em um lugar específico (LITLLE, 2001, p. 109). No caso do rio Juruena,

este se encontra geograficamente localizado no estado do Mato Grosso, sendo

palco de interesses do estado por estar em seu território; do empreendedor que

definiu o espaço da bacia hidrográfica como local de aproveitamento econômico de

seus recursos; e as comunidades indígenas que têm terras nessa região geográfica,

utilizando os recursos naturais existentes.

Portanto, a geografia do rio Juruena, com suas nascentes na Chapada dos

Parecis e foz no rio Tapajós não apresenta divergência. A questão é sua distribuição

social, onde é preciso decisões políticas para definição de suas utilidades. As

dimensões social e política destes conflitos são expressas por meio das disputas

sobre o acesso aos recursos naturais (LITLLE, 2001, p. 110). No caso das oito PCHs

do rio Juruena, o empreendimento encontra-se fora das terras indígenas, mas o rio

insere-se no território histórico dessas comunidades, entendido como de uso

cotidiano, portanto, sobreposta ao uso requerido pelo empreendedor ao estado.

Assim, os índios querem o rio para seus usos tradicionais, em contraponto ao

empreendedor que solicita acesso a esse recurso natural para produção de energia

elétrica.

Além das dimensões geográfica, social e política, os conflitos socioambientais

contam com uma outra dimensão, a jurídica. Como define Litlle (2001, p. 110), a

dimensão jurídica destes conflitos é expressa por meio das disputas do controle

formal sobre os recursos. Ocorre que cada ator social apresenta seus propósitos e

interesses para a área geográfica cujos recursos naturais estão em disputa, com

Page 25: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

25

base em dispositivos legais de seus Órgãos públicos, como da própria legislação

ambiental brasileira.

2) Os conflitos em torno dos impactos gerados pela ação humana e natural,

podem contribuir negativamente para o ambiente, gerando impactos diferentes para

a população da região onde ocorre, e de outra beneficiada. E ainda a possibilidade

de esgotamento dos recursos naturais que geram impactos diferenciados nos

variados grupos sociais (LITLLE, 2001, p. 112).

3) E há os conflitos em torno do uso dos conhecimentos ambientais, onde

cada grupo social tem conhecimentos ambientais específicos que utiliza para se

adaptar a seu ambiente e desenvolvimento de sua própria tecnologia (LITLLE 2001,

p. 113). Nesta dissertação trabalhou-se com os conhecimentos ambientais utilizados

pelos atores sociais ANEEL, SEMA/MT e FUNAI, em que suas interpretações dos

procedimentos legais para licenciamento ambiental acabam por gerar conflitos.

A questão para a resolução de conflitos socioambientais deve passar por uma

análise específica de cada situação, visto que os ambientes naturais são diferentes,

como os grupos sociais e suas relações geográficas, sociais, políticas e jurídicas.

Geograficamente é preciso determinar sua escala de alcance e depois analisar sua

rede de relações sociais e naturais (LITLLE, 2001, p. 116), caso desta dissertação

em que a escala observada é regional, localizada no estado do Mato Grosso.

Já as mudanças sociais e políticas são entendidas em um contexto histórico,

como as mudanças na esfera jurídica, com novas leis ambientais e novas condutas

legais. Mas acabaram por não unificar os modelos de encaminhamentos dos

procedimentos ambientais a serem praticados dos Órgãos Públicos, visto que muitas

vezes agências governamentais entram em conflito porque cada uma promove os

diferentes interesses de distintos segmentos da sociedade brasileira (LITLLE 2001,

p. 117). Isso porque cada órgão público interpreta a legislação com base no seu

entendimento próprio.

Apesar das particularidades de cada empreendimento, e dos conflitos

advindos de cada processo, com base nos contextos geográfico, social, político,

histórico e ambiental, três procedimentos podem ser delineados para analisar

qualquer um. O primeiro procedimento é a identificação e análise dos principais

atores sociais envolvidos no conflito, onde deve ser entendido com base nos seus

Page 26: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

26

interesses econômicos e ambientais. O segundo procedimento é a identificação e a

análise dos principais agentes naturais envolvidos no conflito, e o terceiro é a análise

sintética e global do conflito específico (LITLLE, 2001. p. 119).

Os atores sociais participantes deste empreendimento são representados

pelas instituições públicas que os defendem, o foco está na esfera governamental e

não nos grupos da sociedade civil. Na verdade, a sociedade civil é um espaço de

relações de poder de fato em que está em contínuo e estreito relacionamento com o

Estado, que é o poder legitimado pelas instituições vigentes e do controle de um

território geopolítico (BERNARDO, 2001, p. 43).

E os conflitos socioambientais podem ser trabalhados, também, pelo conceito

de governança. Porque trata da capacidade governativa, com a garantia de

continuidade e implementação de decisões, e a capacidade de ação do Estado na

execução efetiva de políticas públicas; sãos os instrumentos e procedimentos que

garantem a participação, no processo de tomada de decisões, da pluralidade de

interesses e idéias existentes na sociedade (BERNARDO, 2001, p. 47).

A governança é a decorrência de um processo compartilhado de tomada de

decisão que envolve diferentes instâncias (recursos hídricos, energia elétrica,

comunidades indígenas, meio ambiente, infra-estrutura e economia) e espaços de

intervenção pública (ANEEL, SEMA/MT e FUNAI) e contém as políticas do

governo.Tenta captar a riqueza do processo de construção de nexos entre essas

instâncias e espaços, delimitando a política de governo como parte da

materialização de uma política pública (BERNARDO, 2001).

Page 27: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

27

1.2 Bacia Hidrográfica

A Lei Federal № 9.433/1997, conhecida também como Lei das Águas,

apresentou princípios e regras para a fixação de parâmetros ambientais e sociais.

No seu Art 1°, inciso V: a bacia hidrográfica é a unidade territorial para

implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos e atuação do Sistema

Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos. Assim, o marco territorial de

efetivação para empreendimentos é a bacia hidrográfica.

Trata-se de um espaço ambiental e social preferencial de análise e

planejamento, por comportar-se qual um sistema “multinível”, no qual todas as ações

e práticas políticas, econômicas, culturais e outros, sejam elas locais ou mesmo

externas ao sistema, refletem em sua totalidade espacial. Como ressaltam Barbosa,

Paula e Monte-Mór (1997, p. 258 apud ALVARENGA, 2007):

Uma “bacia” tem considerável mérito enquanto unidade física e econômica de análise. (...) Ações ou políticas externas às “bacias” (políticas de preços, por exemplo) podem ter efeitos importantes dentro de um sistema definido nestas, e uma análise econômica, mesmo que incorpore a questão do bem-estar social, pode captar apenas uma parte das interações relevantes dentro do sistema. O gerenciamento adequado requer, assim, que as bacias sejam consideradas como sistemas ‘multiníveis’ que incluam água, solo e componentes sócio-políticos internos e externos. Dessa forma, uma “bacia” característica seria a sobreposição de sistemas naturais e sociais. O sistema natural estaria definido nas bases aquáticas e terrestres (fauna, flora, recursos aquáticos e minerais). O sistema social determinará como essas bases serão utilizadas. Políticas governamentais enquanto uma extensão da organização social e institucional influenciam padrões locais de utilização dos recursos naturais.

Do ponto de vista da hidrologia, segundo Tucci (apud CALASANS et al, 2003,

p. 588-589 apud ALVARENGA, 2007), a bacia hidrográfica pode ser entendida como

“uma área de captação natural da água da precipitação que faz convergir os

escoamentos para um único ponto de saída, seu exutório. A bacia hidrográfica

compõe-se, basicamente, de um conjunto de superfícies vertentes e de uma rede de

drenagem formada por cursos de água que confluem até resultar um leito único no

exutório (...). A bacia hidrográfica pode ser considerada um sistema físico onde a

Page 28: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

28

entrada é o volume de água precipitado e a saída é o volume de água escoado pelo

exutório”.

Por não coincidir com a divisão político-administrativa do País, a implementação da gestão de recursos hídricos por bacia cria um conflito potencial entre os entes que integram o SINGREH. Os chamados órgãos gestores de recursos hídricos devem agora abrir mão de sua autonomia administrativa sobre a gestão dos recursos hídricos em território estadual para compartilhá-la com a nova instância deliberativa representada pelos Comitês de Bacia (ALVARENGA, 2007).

Podemos definir bacia hidrográfica ou bacia imbrífera como um curso d’água

cuja área da superfície do solo é capaz de coletar a água das precipitações

meteorológicas e conduzi-las ao curso d’água. A determinação é feita por cartas

topográficas com curvas de nível e identificação dos espigões, e consideração das

áreas a montante do local onde se analisa o aproveitamento (REIS, 2003).

No Estado de Mato Grosso, os rios possuem características específicas e

ligações com os locais por onde drenam que acabam representando, por si só, uma

unidade hidrográfica, denominada de sub-bacia, caso da sub-bacia do rio Juruena.

Trabalhando com a questão de sustentabilidade, uma sub-bacia constitui-se

em uma unidade menor da bacia hidrográfica, composta por um rio principal, rios e

córregos que a formam, além de lagos, solos, subsolo, atmosfera, fauna, flora e

atividades humanas, cujas relações determinam o seu efetivo uso e interferem na

qualidade e quantidade de água disponível (MORENO; HIGA, 2005).

Adicionalmente, a bacia hidrográfica, além de se apresentar como novo

cenário da gestão ambiental é também palco da gestão de conflitos, relacionados

com os aspectos quantitativos e qualitativos da água (RIO; MOURA, s.d.: 15 apud

ALVARENGA 2007). Nesse contexto, ao lado dos chamados conflitos institucionais,

interagem os conflitos sociais, decorrentes, por um lado, das diferentes pretensões

setoriais quanto ao uso da água e, por outro, da compreensão do meio ambiente

como uma construção social (ALVARENGA, 2007).

A área deste estudo é a sub-bacia hidrográfica do rio Juruena,

especificamente do Alto rio Juruena, onde se localizam as propostas das oito

Pequenas Centrais Hidrelétricas, inclusas no empreendimento denominado

Page 29: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

29

“Complexo Energético Juruena”. A área para licenciamento foi a definida pelo Estudo

de Inventário Hidrelétrico da Bacia do Rio Juruena: Consórcio Juruena.

Tabela 1 – Bacias Hidrográficas do Estado de Mato Grosso CÓDIGO NOME CÓDIGO NOME CÓDIGO NOME CÓDIGO NOME

151.0 RIO MAMORÉ 151.1 RIO GUAPORÉ157.0 RIO ARIPUANÃ 157.0 RIO ARIPUANÃ158.0 RIO ROOSEVELT 158.0 RIO ROOSEVELT171.0 171.1 ALTO JURUENA

171.2 RIO DO SANGUE171.3 COMPLEMENTAR171.4 MÉDIO JURUENA171.5 BAIXO JURUENA

174.0 174.1 TELES PIRES ALTO174.2 TELES PIRES MÉDIO174.3 TELES PIRES BAIXO

184.0 184.1 RIO XINGU184.2 RIO RONURO / RIO BATOVI184.3 COMPLEMENTAR

185.0 MÉDIO XINGU 185.1 COMPLEMENTAR240.0 ALTO ARAGUAIA 240.0 ALTO ARAGUAIA

24 250.0 MÉDIO ALTO ARAGUAIA 250.0 MÉDIO ALTO ARAGUAIAA 260.0 260.1 COMPLEMENTAR/CRISTALINO26 260.2 RIO DAS MORTES

260.3 COMPLEMENTAR/TAPIRAPÉ270.0 MÉDIO BAIXO ARAGUAIA 270.0 MÉDIO BAIXO ARAGUAIA660.0 RIO PARAGUAI ALTO 660.0 RIO PARAGUAI ALTO661.0 RIO CUIABÁ ALTO 661.0 RIO CUIABÁ ALTO663.0 AFLUENTES RIO CUIABÁ-ME 662.0 AFLUENTES RIO CUIABÁ-ME664.0 CUIABÁ/PARAGUAI-PANTANAL 663.0 CUIABÁ/PARAGUAI-PANTANAL

FONTE: CNEC, 2000

RIO ARAGUAIA

17

ALTO PARAGUAI

RIO XINGU

RIO TAPAJÓS

RIO JURUENA

RIO TELES PIRES

ALTO XINGU

MÉDIO ARAGUAIA

15 RIO MADEIRA

6 RIO PARANÁ

1 RIO AMAZONAS

2 RIO TOCANTINS

66

18

O rio Juruena (foto 1) é afluente pela margem esquerda do rio Teles Pires,

tributário do rio Tapajós, pertencente à sub-bacia № 17, bacia hidrográfica do rio

Amazonas, (bacia № 1), desenvolvendo-se no sentido Sul-Norte. Com uma área de

drenagem total de cerca de 193.000 km² e extensão de cerca de 970 km, seus

principais cursos d’água são os rios Juína Mirim, Camararé e Juína, pela margem

esquerda, e os rios Arinos, do Sangue e Papagaio, pela margem direita. Tem suas

nascentes na vertente norte da Chapada dos Parecis, no município de Pontes e

Lacerda, a 750 m de altitude, e sua foz no rio Teles Pires, no município de Apiacás,

a 50 m de altitude aproximadamente (PCE, 2002).

Page 30: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

30

Foto 1 - Margem do rio Juruena2

Fonte: Foto da JGP (JGP, 2007).

Conforme dados da SEMA/MT, o Alto Rio Juruena tem ainda como tributários

os rios Iquê, Juína, e Vermelho. A área total de 64.309,44 km² compreende, no total

ou em parte, aos municípios de Castanheira, Juara, Juína, Brasnorte, Sapezal,

Comodoro, Campos de Júlio, Conquista do Oeste, Pontes e Lacerda, Aripuanã,

Campo Novo dos Parecis, Nova Lacerda, Vale de São Domingos e Tangará da

Serra. O Baixo Rio Juruena faz a divisa do Estado de Mato Grosso com o Estado do

Amazonas. Neste setor seus principais tributários são os rios São Tomé, Santana, e

Matrinxã. A área total da bacia que drena para o Baixo Juruena está estimada em

29.490,08 Km² e compreende, no total ou em parte, aos municípios de Juara, Nova

Monte Verde, Nova Bandeirante, Juruena, Cotriguaçú e Apiacás.

O rio Juruena apresenta expressivo potencial hidrelétrico, devido às

características que o compõem, como as duas cachoeiras naturais com grande

desnível (Cachoeirão e Juruena), além de ser um rio cujo leito apresenta-se bem 2 Planície de inundação alagadiça na margem do rio Juruena com formações pioneiras fluviais arbustivas com palmeiras e herbáceas, no trecho entre Juruena e Cahoeirão.

Page 31: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

31

“encaixado” na topografia da região (toponímia), e, em condições ambientais pouco

afetadas. As águas são limpas, pois o rio não tem outra utilização que não aquela

dada pela natureza. E segundo a ANEEL, as PCHs possibilitam melhor atendimento

às necessidades de pequenos centros urbanos e regiões rurais, devido,

principalmente, no caso de Mato Grosso, a uma vasta e complexa rede hidrográfica

com vazões e outras circunstâncias adequadas a esse tipo de empreendimento.

Fato observado para a implantação de empreendimento como o Complexo

Juruena, segundo a ANEEL, em virtude da vazão regularizada dos rios do Mato

Grosso que nascem no Planalto dos Parecis, os quais possuem muitas quedas e

bom desnível entre a nascente e a foz, facilitando a construção de PCHs, sem a

necessidade de grandes reservatórios (ALMEIDA, 2004).

Figura 1 - Estado de Mato Grosso e hidrografia

Fonte: http: //monitoramento.sema.mt.gov.br/website/MTSAT/viewer.htm

Page 32: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

32

Figura 2 - Trecho do rio Juruena e tributários/MT

Fonte: http: //monitoramento.sema.mt.gov.br/website/MTSAT/viewer.htm

1.3 Empreendimento do Setor Hidrelétrico

A energia elétrica de origem hidráulica é uma das mais utilizadas no mundo,

representando cerca de 20% da eletricidade gerada no planeta e sendo a segunda

maior fonte de geração de energia elétrica (TOLMASQUIM, 2005). No caso brasileiro

representa cerca de 90% e é a principal fonte geradora da eletricidade produzida.

A produção de energia elétrica depende de diferentes fatores, como a vazão

de água efetivamente usada para produzir a energia mecânica que acionará o

gerador elétrico. Esta vazão recebe o nome da vazão turbinável (ou turbinada), pois

deverá acionar a turbina que transmitirá energia ao gerador. O valor da vazão

turbinável e suas características ao longo do tempo estarão relacionados com o tipo

de aproveitamento (a fio d´água ou com reservatório), com regularização (se

existente) e com a utilização da água e do aproveitamento totalmente voltado à

Page 33: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

33

produção de energia elétrica. Com a produção apenas para a produção de energia

elétrica, toda a vazão poderá ser turbinada. Já em um aproveitamento que

contemple irrigação, navegação e geração de energia elétrica, a vazão turbinável

poderá ser apenas parte da vazão regularizada total (REIS, 2003).

Em uma central hidrelétrica, a água aciona uma turbina hidráulica, um gerador

elétrico para produção de energia elétrica. A turbina hidráulica efetua a

transformação de energia hidráulica em mecânica, sendo o mesmo princípio da roda

d’água que movimentada pela água, faz gira um eixo mecânico (REIS, 2003).

Usinas hidrelétricas possuem um custo de investimento bastante variável em

função do tamanho do reservatório, caso dos custos baseados nas obras civis de

grandes reservatórios (REIS, 2005).

1.4 Pequenas Centrais Hidrelétricas/PCHs

PCHs3 são aproveitamentos que tem potência entre 1 e 30 MW e área

inundada até 3,0 km², delimitada pela cota d’água associada à vazão de cheia com

tempo de recorrência de 100 anos (TOLMASQUIM, 2005).

As principais características das PCHs são: possuir rápida entrada no sistema

de potência e flexibilidade para mudar rapidamente a quantidade de energia

fornecida ao sistema devido às mudanças na demanda (uma característica útil para

aumentar o rendimento e melhorar o desempenho de um sistema elétrico

interligado); apresentar baixos custos de operação e manutenção, como de

produção de energia; e apresentar características mais suaves de inserção

ambiental (REIS, 2003).

Assim, em janeiro de 2000, a ELETROBRÁS lançou as diretrizes para

“Estudos e Projetos de Pequenas Centrais Hidrelétricas”, com as atividades

necessárias para a viabilização dos projetos de pequenas centrais hidrelétricas,

3 A definição e legislação sobre PCHs encontra-se no capítulo 4, referente à ANEEL.

Page 34: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

34

desde sua fase de identificação até sua implantação, incluindo também os aspectos

metodológicos (TOLMASQUIM, 2005).

A classificação de PCHs proposta pela ELETROBRÁS são: 1. quanto à

capacidade de regularização; 2. quanto ao sistema de adução; quanto à potência

instalada e quanto à queda de projeto.

Quanto à capacidade de regularização do reservatório podem ser: a fio

d’água; de acumulação, com regularização diária do reservatório; e de acumulação,

com regularização mensal de reservatório (TOLMASQUIM, 2005).

Quanto ao sistema de adução existem dois tipos: adução em baixa pressão

com escoamento livre em canal/alta pressão em conduto forçado; e adução em

baixa pressão por meio de tubulação/alta pressão em conduto forçado. A escolha de

um ou outro tipo dependerá das condições topográficas e geológicas que o local do

aproveitamento apresente, como do estudo econômico comparativo (TOLMASQUIM,

2005).

Quanto à potência instalada e quanto à queda de projeto, a tabela a seguir

classifica as PCHs. Deve-se considerar, no entanto, os dois parâmetros

conjuntamente, pois isoladamente não permitem uma classificação adequada

(TOLMASQUIM, 2005).

Tabela 2 - PCHs quanto à potência instalada e quanto à queda de projeto

CLASSIFICAÇÃO POTÊNCIA – P QUEDA DE PROJETO - Hd (m)

DAS CENTRAIS (kW) BAIXA MÉDIA ALTA

MICRO P < 100 Hd < 15 15 < Hd < 50 Hd > 50

MINI 100 < P < 1.000 Hd < 20 20 < Hd < 100 Hd > 100

PEQUENAS 1.000 < P < 30.000 Hd < 25 25 < Hd < 130 Hd > 130

Fonte: ELETROBRÁS, 2000.

Page 35: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

35

Nas oito PCHs4 que serão implantadas no rio Juruena e estudadas nessa

dissertação, o tipo de PCH a ser desenvolvida será a fio d’água, de adução em baixa

pressão por meio de tubulação em conduto forçado e pequena (entre 1 e 30 MW).

Esse tipo de PCH é empregado quando as vazões de estiagem do rio são

iguais ou maiores que a descarga necessária à potência a ser instalada para atender

à demanda máxima prevista. Nesse caso, despreza-se o volume do reservatório

criado pela barragem. O sistema de adução deverá ser projetado para conduzir a

descarga necessária para fornecer a potência que atenda à demanda máxima. O

aproveitamento energético local será parcial e o vertedouro funcionará na quase

totalidade do tempo, extravasando o excesso de água. Uma PCH a fio d’água

dispensa estudos de regularização de vazões, estudos de sazonalidade da carga

elétrica do consumidor, e facilita os estudos e a concepção da tomada d’água

(ELETROBRÁS, 2000).

A usina a fio d’água tem uma capacidade de armazenamento muito pequena

e, em geral, dispõe somente da vazão natural do curso do rio. Podem ter um

pequeno reservatório para represar água durante as horas que não são de pico para

utilizá-la nas horas de pico do mesmo dia (REIS, 2003).

As oito PCHs são:

A PCH Cidezal com potência de 17,1 MW, reservatório de 0,70 km² e 2,7 km

de extensão. A usina deve operar em nível d’água normal de 416,50 m, com uma

barragem e 690 m de largura total e 22,25 m de altura máxima, vazão média mensal

de 158,6 3m/s e queda bruta de 11,5 m.

A PCH Parecis com potência de 15,4 MW, reservatório de 2,88 km² e 8,50

km de extensão. A usina deve operar em nível d’água normal de 346 m, com uma

barragem de 400 m de largura total e 15,40 m de altura máxima, vazão média

mensal de 187,5 3m/s e queda bruta de 9 m. O circuito hidráulico de geração,

posicionado na margem leste da calha, consiste de tomada d’água no corpo da

barragem, conectada à casa de força ao pé da barragem por uma câmara

intermediária.

4 O Complexo Juruena trata na verdade de onze empreendimentos (8 PCHs, 2 UHEs e 1 PCH com um reservatório que exigiu estudos de EIA/RIMA como as duas UHEs). Este estudo definiu as usinas que exigiram um estudo ambiental simplificado.

Page 36: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

36

A PCH Rondon com potência de 13,1 MW, com reservatório de 1,68 km2 e

11,5 km de extensão. A usina deve operar em nível d’água normal de 296,50 m, com

uma barragem 420 m de largura total e 18,30 m de altura máxima, vazão média

mensal de 198,7 3m/s e queda bruta de 7 m. O circuito hidráulico de geração,

posicionado na margem oeste da calha, consiste de tomada água no corpo da

barragem, conectada à casa de força como a PCH Parecis.

A PCH Telegráfica com potência de 30 MW, reservatório de 1,07 km² e 5,9

km de extensão. A usina deve operar em nível d’água normal de 289,50 m, com uma

barragem de 335 m de largura total e 17,25 m de altura máxima. A vazão média

mensal será de 04,4 3m/s e a queda bruta de 18,2 m O circuito hidráulico de

geração localiza-se na margem leste do rio e consiste de um canal de derivação com

aproximadamente 1,05 km com seção trapezoidal com 20 m de largura na base. No

extremo de jusante, o canal alimenta uma câmara de carga e condutos forçados que

conduzem a vazão derivada até a casa de força na margem do rio.

A PCH Ilha Comprida esta situada no rio Juruena, divisa dos municípios de

Campos de Júlio e Sapezal (MT), terá potência de 18,7 MW, com reservatório de

2,26 km² e 8,7 km de extensão. A usina deve operar em nível d’água normal de 364

m, com uma barragem de 465 m de largura total e 20,90 m de altura máxima, vazão

média mensal de 170,5 3m/s e queda bruta de 12 m. O circuito hidráulico de geração

será posicionado na margem oeste da calha. A casa de força será posicionada ao

pé da barragem.

A PCH Sapezal terá potência de 16,2 MW, com reservatório de 2,90 km2 e

7,2 km de extensão. A usina deve operar em nível d’água normal de 390 m, com

uma barragem de 346 m de largura total e 19,60 m de altura máxima, vazão média

mensal de 165,7 3m/s e queda bruta de 10,5 m. A casa de força será posicionada ao

pé da barragem e na margem leste da calha do rio.

A PCH Segredo terá potência de 21,0 MW, com reservatório de 2,24 km2 e

7,6 km de extensão. A usina deve operar em nível d’água normal de 379,50 m, com

uma barragem de 580 m de largura total e 24,20 m de altura máxima, vazão média

mensal de 167,7 3m/s e queda bruta de 15,5 m. O projeto viabiliza um canal de

derivação para aproveitamento de uma pequena queda concentrada de

Page 37: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

37

aproximadamente 6 m a jusante. Esse canal terá cerca de 950 m de comprimento

em seção trapezoidal com 16 m de largura na base.

A PCH Divisa5 está localizada no rio Formiga, a uma distância de 94,9 km de

sua foz no rio Juína, formador do rio Juruena, por sua margem direita, no município

de Campos de Júlio (MT). Terá potência de 9,5 MW, com reservatório de 0,26 km² e

2,1 km de extensão. A usina deve operar em nível d’água normal de 364 m, com

uma barragem de 465 m de largura total e 20,90 m de altura máxima, vazão média

mensal de 34,2 3m/s e queda bruta de 37 m. O circuito hidráulico de geração será

posicionado na margem oeste da calha. A casa de força será posicionada ao pé da

barragem.

A seguir, o posicionamento das PCHs ao longo do rio Juruena conforme

figura 3:

5 PCH Divisa está localizada em um tributário do rio Juruena, e não no curso do rio como as outras sete. Mas foi considerada no Complexo Juruena e no estudo do componente indígena.

Page 38: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

38

Figura 3 - PCHs no rio Juruena, terras indígenas e municípios

Fonte: Inventário, 2002.

Page 39: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

39

CAPÍTULO 2 – DESCRIÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

2.1 Situação político-administrativa da região das oito PCHs

O trecho do Alto Juruena, com potencial para a construção de vários

aproveitamentos hidrelétricos, está na região da chapada dos Parecis e faz a divisa

entre os municípios de Sapezal e Campos de Júlio. Assim, os oito aproveitamentos

hidrelétricos localizam-se integralmente nestes municípios (JGP, 2007). Mas

próximos aos municípios de Campo Novo dos Parecis, Brasnorte, Tangará da Serra,

Diamantino e Juína, e o porquê também, da descrição desses municípios,

importantes para integração da região.

Figura 4 – Hidrografia, rodovia e terras indígenas no Estado de Mato Grosso

Fonte: http: //monitoramento.sema.mt.gov.br/website/MTSAT/viewer.htm

Page 40: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

40

A região geográfica de influência do Alto Juruena tem mostrado uma grande

vocação agroindustrial, com uma produção agrícola importante, especialmente de

grãos. Há pouco mais de dez anos a soja difundiu-se velozmente, na chapada dos

Parecis, com uma área plantada de mais de 500 mil hectares, nos municípios e

cidades pioneiras de Sapezal, Juina, Campos Novos e Tangará da Serra, e com

uma produtividade média de 3.000 ton/ha, significativamente maior que as das

regiões sudeste e sul do país (JGP, 2007).

Além da soja, são destaques econômicos da região a produção de arroz, a

indústria de madeira e a criação de gado. Esta é uma das regiões de rápido

crescimento no país, principalmente por causa das atividades de exportação

baseadas na agroindústria, o que impacta diretamente o mercado de energia elétrica

regional, para o qual é previsto um crescimento superior a media do Mato Grosso

(JGP, 2007).

A base econômica dos municípios nesta região está representada pela

agricultura mecanizada, do plantio de soja, algodão, milho, arroz e milheto, onde

ocorrem os solos do tipo Latossolos Vermelho-Escuro e Vermelho-Amarelo

distróficos, de textura argilosa à média, localizados nos patamares mais elevados

dos interflúvios fluviais entre os rios Formiga, Juruena e Sapezal. Em Sapezal, o

escoamento da produção de grãos é feito de Itacoatiara, no estado do Amazonas,

por meio de hidrovia, utilizando-se o rio Madeira. No caso de indústrias, são aquelas

vinculadas as produções de grãos na região, como as de beneficiamento de arroz,

de sementes e de algodão (PCE, 2002).

A região do município de Sapezal foi utilizada por viajantes e aventureiros

desde o século XVIII, mas apenas ocupada e desenvolvida a partir da abertura da

fronteira agrícola mato-grossense. O núcleo urbano de Sapezal se formou com as

famílias de agricultores que se instalaram na década de 70 nas fazendas adquiridas

em diversas regiões do município. Os agricultores foram colonos sulistas, a maioria

oriunda do norte do Rio Grande do Sul, oeste de Santa Catarina e sudoeste do

Paraná, que, embora tenham vindo para a região na época da política

governamental de colonização dos anos denominados pelos historiadores de "Febre

de Colonização", entre 1970 e 1980 não foram instalados pelas instituições

governamentais ou privadas de colonização (PCE, 2002).

Page 41: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

41

A zona urbana começou a ser povoada com a abertura da estrada MT-235

(Estrada Nova Fronteira) e do Loteamento da Cidezal Agrícola, de propriedade de

André Antônio Maggi, em meados de 1987. Com a construção do primeiro armazém

graneleiro de Sapezal: "Amaggi Armazéns Gerais", a família Ghedin foi a primeira a

se instalar na área urbana de Sapezal em 1987, Estas iniciativas do empresário

André Antônio Maggi geraram neste mesmo ano, os primeiros sinais de vida do

comércio de Sapezal e estimulou a vinda de famílias para povoar o município. (PCE,

2002).

A Lei № 6.534, de 19 de setembro de 1994, criou o município. O município de

Sapezal conta com uma população total de 7.889 habitantes, população urbana de

5.506 e população rural de 2383 habitantes, sendo a população flutuante de 1.500

habitantes. A população economicamente ativa é de 6.500 trabalhadores (PCE,

2002).

A organização da colonização e povoamento da região de Campos de Júlio

deu-se por ocasião da abertura da “fronteira agrícola mato-grossense”, ocorrida a

partir da década de setenta, no sentido sul/norte/oeste. A Lei Estadual № 5.000, de

13 de maio de 1986, criou o distrito de Campos de Júlio, com território no município

de Comodoro. Após oito anos no estágio de distrito, o povoado de Campos de Júlio

reuniu condições de reivindicar a emancipação política e administrativa,

conquistando-a no dia 28 de novembro de 1994, através da Lei Estadual № 6.561/94

(PCE, 2002).

A colonização de Juína começou a partir de 1978, quando inúmeras famílias,

especialmente do centro-sul do país, migraram para a região. Em 23 de janeiro de

1976, ocorreu uma reunião no distrito de Fontanilhas, às margens do Juruena, tendo

como palco o hotel Fontanilhas. Em 10 de junho de 1979, foi criado o distrito de

Juína, com território jurisdicionado ao município de Aripuanã. Juína passou a

município em 09 de maio de 1982, com área de quase 30 mil quilômetros

quadrados, desmembrado do município de Aripuanã (PCE, 2002).

O Município de Campo Novo do Parecis foi criado por desmembramento do

Município de Diamantino. Do povo Paresi, toma o nome do município. Também do

nome paresi tem origem a denominação do grande planalto da região: Planalto dos

Page 42: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

42

Parecis, também denominada Chapada dos Parecis. A lei nº 5.315, de 04 de julho

de 1988, criou o município (PCE, 2002).

Do estado do Paraná vieram os primeiros trabalhadores de Brasnorte. A

maioria dos migrantes procedia de cidades e zonas rurais que foram inundadas

pelas águas do rio Paraná, por ocasião do fechamento das comportas da Usina de

Itaipu, que alagou áreas de terras. A região de Brasnorte sempre pertenceu ao

município de Diamantino. A Lei nº 4.239, de 4 de novembro de 1980, criou o distrito

de Brasnorte e a Lei nº 5.047, de 05 de Setembro de 1986 criou o município (PCE,

2002).

O povoamento da região do município de Tangará da Serra se deu a partir

do loteamento das glebas Santa Fé, Esmeralda e Justino. Em 1960, Joaquim Oléas

e Wanderley Martinez fundaram a empresa Sociedade Imobiliária Tupã para

Agricultura Ltda - SITA. O objetivo era a implantação de um pólo agrícola, face à

fertilidade do solo e clima propício da região.

A região de cabeceiras do rio Juruena, com relação ao uso está protegida

pelas Terras Indígenas Paresi e Utiariti. O entorno das cabeceiras e do curso do rio

não protegidas pelas terras indígenas estão ocupadas por atividades agrícolas e

secundariamente pela pecuária, principalmente de corte, cria e recria. Atualmente,

os agricultores e pecuaristas da região estão utilizando técnicas de manejo do solo,

tais como: plantio direto, terraceamentos, plantio em curvas de nível e rotação de

culturas (PCE, 2002).

Quanto ao suprimento de energia elétrica para estes municípios, inicialmente

foi feito através de geradores termelétricos, constituindo vários novos sistemas

isolados. Progressivamente, alguns deles passaram a ser supridos com a energia

elétrica produzida em PCHs e, mais recentemente, foram sendo interligados ao

Sistema Nacional (JGP, 2007).

O caso do município de Sapezal, criado em 1994, é atípico nesse contexto.

Inicialmente o município foi atendido pela PCH Santa Lúcia I. A partir de 1999,

passou a ser atendido também pela Usina Térmica de Sapezal, com capacidade

instalada de 9,9 MW, composta por sete geradores a diesel que queimavam uma

média de 8.000 m3 de óleo diesel por ano. Com a construção da PCH Santa Lúcia II,

seguida pela interligação da região ao SIN em 2005, foi possível interromper a

Page 43: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

43

geração termelétrica, reduzindo custos e a emissão de gases de efeito estufa (JGP,

2007).

Com o exemplo de Sapezal, muitos outros municípios da região passaram a

ser atendidos por PCHs. Numa etapa seguinte à progressiva substituição das

termelétricas por PCHs, a região está sendo progressivamente interligada ao SIN –

Sistema Interligado Nacional. A área é atendida pela CEMAT, através do Sistema

Comodoro. Segundo dados da CEMAT, de janeiro de 2005 a agosto de 2006 foram

registrados os seguintes valores de demanda máxima nas subestações do sistema

interligado (JGP, 2007): SE Campo Novo: 11,75 MW em março de 2005; SE

Brasnorte: 2,16 MW em agosto de 2006; SE Tangará da Serra: 22,37 MW em junho

de 2006; SE Juina: 9,38 MW em junho de 2006; e SE Sapezal + SE Campos de

Júlio: 13,88 MW em março de 2005.

Figura 5 - Trecho do rio Juruena, municípios, malha viária e terras indígenas

Fonte: http: //monitoramento.sema.mt.gov.br/website/MTSAT/viewer.htm

Page 44: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

44

2.2 Situação dos grupos indígenas da região das oito PCHs

A área do Alto e Médio Rio Juruena é historicamente ocupada por diferentes

grupos indígenas. Analisando a área que será direta e indiretamente afetada pela

construção das oito PCHs, projetadas para o rio Juruena, são cinco grupos com

organização, línguas, troncos e famílias lingüísticas distintas. Ao sul, em uma

extensa faixa que segue em direção a Rondônia, estão os Nambikwara que fazem

parte de uma família lingüística com três línguas e com variações dialetais internas.

Das cabeceiras do Juruena, seguindo a norte pelo rio Buriti até a foz no rio

Papagaio, uma ampla faixa de terra a leste, habitada pelos Paresi, que falam o

Paresi, tronco lingüístico Aruak (MAPPA, 2007).

A faixa de terra ao norte do território Paresi, tendo como limite oeste o Rio

Papagaio e seguindo para leste, era ocupada pelos Menky (Manoki/Irantxe).

Descendo o rio Juruena em direção ao norte, o território dos Rikbaktsa, que se

estendia nas duas margens do rio até próximo à atual divisa do estado do

Amazonas, e que falam uma língua específica dentro do tronco lingüístico Macro-jê.

E ao norte da área dos Nambikwara, estão os Enawenê-Nawê, de tronco Aruak, e

tal como os Paresi, mas com uma língua própria (MAPPA, 2007).

As descrições mostram que há entre os grupos um território próprio com

estratégias distintas de sobrevivência que os diferenciam, e isto ocorre por ser esta

uma região com área de cerrado, de floresta amazônica e outras de transição de um

para outro bioma. É, portanto, possível identificar grupos que ocupam mais

definidamente o Cerrado, caso dos Paresi e alguns subgrupos dialetais Nambikwara;

e ao norte os Rikbaktsa que ocupam a área de várzea e floresta. Cada um

desenvolvendo técnicas próprias nas roças, caça e coleta. A localização territorial

dessas etnias na região da bacia hidrográfica do rio Juruena está representada na

figura 7 a seguir:

Page 45: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

45

Figura 6 - Grupos Indígenas na região do Alto Rio Jurena

Fonte: www.geocities.com/juliomelatti/ias-i/mpjuruena.

Page 46: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

46

Na região desses cinco grupos indígenas, são onze terras indígenas definidas

pela FUNAI: TI Nambikwara, TI Tirecatinga, TI Pirineus de Souza, TI Paresi, TI

Juininha, TI Uirapuru, TI Utiariti, TI Erikbaktsa, TI Japuíra, TI Enawenê-Nawê e TI

Menku conforme Tabela 3:

Tabela 3 – Caracterização das Terras Indígenas na região das oito PCHs

Terra Indígena Área (ha) Situação Jurídica

Sociedade Iindígena

Índios (07/2006)

Administração Funai

Enawenê-Nawê* 742.088,7 Regularizada Enawenê-Nawê 490 JuinaJuininha 70.537,5 Regularizada Paresi 90 Tangará da SerraParesi 563.586,5 Regularizada Paresi 913 Tangará da SerraUirapuru 21.680,0 Identificada Paresi 23 Tangará da SerraUtiariti 412.304,2 Regularizada Paresi 318 Tangará da SerraNambikwara 1.011.961,0 Regularizada Nambikwara 388 Vilhena (RO)Pirineus de Souza* 28.212,0 Regularizada Nambikwara 372 Vilhena (RO)Tirecatinga 130.575,2 Regularizada Nambikwara 177 Tangará da SerraMenku* 47.094,9 Regularizada Menky 105 Tangará da SerraErikbaktsa 79.934,8 Regularizada Erikbaktsa 729 JuinaJapuira 152.509,9 Regularizada Erikbaktsa 301 Juina

TOTAL 3.260.484,7 - - 3.906 - Fonte FUNAI, 2006 / MAPPA, 2007.

2.2.1 Territorialidade dos cinco grupos indígenas envolvidos na região do empreendimento6:

Nambikwara

Os Nambikwara, do grupo lingüístico Nambikwara, também conhecidos como

Cabixis tinham grande território localizado entre o noroeste do Mato Grosso e o sul

de Rondônia. Hoje os Nambikwara estão na região do vale do Guaporé e em parte

da Chapada dos Parecis, onde as TIs Nambikwara, Pirineus de Souza e Tirecatinga

6 O texto referente às cinco etnias envolvidas no empreendimento das oito PCHs do Complexo Juruena, é parte integrante do “Estudo Complementar do Diagnóstico Antropológico das oito Pequenas Centrais Hidrelétricas/PCHs: Telegráfica, Sapezal, Rondon, Parecis, Cidezal, Segredo, Ilha Comprida e Divisa”, da Empresa Mappa Engenharia e Consultoria, 2007.

Page 47: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

47

se inserem. A região que se inicia a leste com o Rio Papagaio, ao sul pelo Rio

Guaporé - no noroeste do estado do Mato Grosso, e adentrando a oeste em direção

ao atual estado de Rondônia foi descrita por viajantes durante o período colonial e

do império como habitada pelos Nambikwara (MAPPA, 2007).

A situação de ocupação deste grupo sofreu alterações a partir da implantação

das linhas telegráficas de Cuiabá a Porto Velho de 1907 a 1909, e das estradas para

suprir os postos. As estações passam a ser pontos de contato mais regulares de

alguns grupos, embora muitos ainda sequer tivessem sido contactados, e neste

processo o posto criado em Pirineus de Souza passa a agrupar vários índios

reduzidos na região (Proc. FUNAI 3169/81 apud MAPPA, 2007).

E em 1960, a construção da estrada Cuiabá-Porto Velho (BR-29, depois BR-

364) dividiu o território Nambikwara e trouxe um grande fluxo de pessoas para a

região. A abertura da estrada colocou em um período muito curto de tempo um

grande número de trabalhadores contratados pelas empreiteiras na região, que

derrubavam a floresta e abriam pistas de pouso para o serviço de construção da

estrada. Com a rodovia vieram madeireiros, fazendeiros e o próprio Estado do Mato

Grosso passou a colonizar a área, causando um grande impacto sobre a população

Nambikwara (MAPPA, 2007).

Em 1968, o governo cria a reserva Nambikwara, com a intenção de transferir

para dentro desta os outros subgrupos Nambikwra da região. Apenas na década de

1980, com a alteração do trajeto e asfaltamento da BR-364, novas terras começam a

ser estudadas e definidas. Durante o estudo da terra indígena, constatou-se que

parte da área ao norte, próximo ao rio Camararé, não era ocupada pelos

Nambikwara do Campo, mas pelos Enawenê-Nawê (Salumã), grupo Aruak que

havia sido contactado anos antes pela Missão Anchieta.

Embora tenha sido proposta uma pequena alteração no limite oeste da área,

foi mantido os mesmos limites. A demarcação ocorreu em 1985 sob pressão do

Banco Mundial, que financiava o asfaltamento da BR-364, resultando uma área de

1.011.961 ha. Esta demarcação só seria homologada em 1990, pelo Decreto №

98814, de 10.1.1990.

Page 48: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

48

Paresi

Os Paresi se autodenominam Halití que significa gente, povo; são integrantes

do tronco lingüístico Aruak, ramo central, e a partir do século XIX, a denominação a

esses índios passou a ser Paresi. O território tradicional Paresi concentra-se na área

das cabeceiras dos rios Arinos, Sangue, Papagaio, Juruena e alto Paraguai, no

centro-oeste do Mato Grosso, onde permanecem até os dias atuais. Esta região, do

divisor de águas da bacia amazônica e paraguaia, é composta por um planalto

arenoso que recebeu o nome desta sociedade indígena (MORENO e HIGA, 2005).

Os Paresi tradicionalmente ocupam a região do Planalto do Mato Grosso, no divisor

de águas que separa a Bacia Amazônica e a Bacia do Paraguai, uma região de

cerrado (MAPPA, 2007).

Parte do grupo Paresi foi atingida pela extração de minérios no século XIX, e

depois pelo ciclo da borracha, em que alguns deles seriam empregados. No início do

século XX, concomitante à expansão da seringa, a “Comissão Rondon”7, cortaria o

território Paresi e estabeleceria várias estações ao longo das linhas telegráficas e

com elas veio a instituição de postos, escolas e emprego de índios como

trabalhadores dos postos telegráficos.

A região leste de seu território, mais próxima ao rio Juruena, foi à última a ser

atingida, apesar de ser a rota de passagem para a região norte. Cortada pela linha

telegráfica e com vários postos de telégrafos, a área leste de seu território teve a

presença intensa e estratégica das missões religiosas, sobretudo dos Jesuítas, que

instalaram em Utiariti uma missão para onde seriam levados índios, sobretudo

crianças, de várias etnias. O trabalho de pacificação e catequese, ou a assistência

oficial, não significava obrigatoriamente a definição de áreas de reservas. Foram os

primeiros índios da região a ser contatados, mas a definição de suas terras ocorreu

apenas a partir do final da década de 1960.

7 Comissão das Linhas Telegráficas do Mato Grosso ao Amazonas, chefiada depois pelo Marechal Rondon.

Page 49: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

49

Rikbaktsa

Os Rikbaktsa, também chamados Canoeiros, pela habilidade na canoagem,

e/ou Erikbaktsa, pertencem ao tronco lingüístico Macro-Jê e habitam a bacia do rio

Juruena, no norte e noroeste de Mato Grosso. Mais raramente são chamados de

“Orelhas de Pau”, pelo uso de enormes botoques feitos de caixeta, introduzidos nos

lóbulos alargados das orelhas (ISA, 2006 apud MAPPA, 2007).

Os Rikbaktsa ocupavam tradicionalmente a região compreendida pela

margem direita do rio Aripuanã até a margem esquerda do rio Juruena, e entre o rio

Juruena e o rio Arinos, em uma linha das imediações da foz do rio Juína-Mirim,

afluente da margem esquerda do rio Juruena, até a foz do Jacutinga, no rio Arinos.

Hoje, estão concentrados em espaços definidos pelas TIs Erikibaktsa, Japuira e

Escondido. Os Rikbaktsa têm o idioma classificado dentro do tronco linguístico

Macro-Jê e seu território tradicional estaria compreendido ao longo do Juruena, a

norte da confluência do Rio Papagaio com o Rio Juruena (MAPPA, 2007).

Diferentemente dos Paresi e dos Nambikwara, que estavam na rota de

passagem que levava de Cuiabá ao Amazonas, esta região permaneceu

praticamente isolada até meados do século XX, sendo visitada apenas

esporadicamente por expedições que desciam o rio Juruena, sem, contudo,

existirem referências explícitas ao grupo. Apenas no final dos anos 1940 é que

começam a aparecer notícias, à medida que os seringueiros iam avançando sobre

seu território (MAPPA, 2007).

Alguns anos após os primeiros contatos, os jesuítas, por meio da Missão

Anchieta, iniciam um processo de pacificação dos Rikbaktsa que durou entre 1957 e

1962, abrindo diversos postos na região. De 1961 a 1974 os índios continuaram

dispersos pelo seu território habitando várias aldeias entre o Sangue e o Juruena,

entre o Arinos e Juruena (Japuíra) e entre o Aripuana e o Juruena. Hoje os índios

estão localizados em três áreas regularizadas que incidem sobre o território

tradicional: a área da Reserva Rikbaktsa, denominada Erikbaktsa, Japuíra e

Escondido, todas pressionadas pela rápida expansão e desflorestamento da região

(MAPPA, 2007).

Page 50: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

50

Menky (Manoki)

Os Menky são classificados como grupo isolado, não fazendo parte de

nenhum tronco lingüístico. Não se sabe há quanto tempo esse povo se desmembrou

de outro grupo indígena, os Irantxe, tendo suas línguas apenas diferenças dialetais

(MORENO e HIGA, 2005 apud MAPPA, 2007).

Seu território está localizado no oeste do Mato Grosso, na região do rio

Papagaio, afluente da margerm direita do Juruena e pouco mais de 50 km do

município de Brasnorte. Os Menky fazem parte do grupo Manoki, também conhecido

como Irantxe, e habitam a área do rio Papagaio próxima à confluência com o rio

Juruena. Segundo Arruda, em seu estudo para a revisão da área Irantxe, a leste e a

sudoeste desta área Menky seria território tradicional, o que seria comprovado por

viajantes e pesquisadores (MAPPA, 2007).

Na virada do século XIX para o século XX, passam a ser atingidos pelo

avanço dos seringueiros sobre seu território. A partir de 1909, segue-se a

aproximação com os Manoki (Irantxe), que começam a visitar as Estações

Telegráficas criadas por Rondon. Mas é a partir da década de 1930, com a

instalação da Missão Utiariti e com o maior afluxo de seringueiros na região, que o

seu território passa a ser atingido, com conflitos e epidemias que resultou em uma

redução da população Irantxe (MAPPA, 2007).

Depois de extinta a Missão Utiariti e da transferência destes índios para a

Reserva Irantxe, criada em 1968, em 1971 os membros da Missão Anchieta em

expedição por terra junto com dois Manoki fizeram contato com um grupo que se

identificou como Menky, que falavam a mesma língua dos Manoki. Este grupo teria

se separado dos demais Irantxe (Manoki) quando do massacre do córrego Tapuru,

no começo do Século XX (MAPPA, 2007).

Page 51: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

51

Enawenê-Nawê

Enawenê-Nawê, como os índios se autodenominam, significa “os que

possuem o espírito”. Esse povo tem seu território tradicional localizado entre o rio

Juruena e a Serra do Norte, em Mato Grosso. Área que se estende do rio Preto, ao

norte, até a TI Nambikwara, no sul do estado; e dos rios Papagaio e Sapezal, a

leste, e ao rio Doze de Outubro, a oeste (MORENO e HIGA, 2005 apud MAPPA,

2007).

O grupo Enawenê-Nawê foi o último contatado na região do Alto Juruena.

Habitantes da região do rio Camararé, norte da reserva Nambikwara e seus

afluentes da margem esquerda, seu território ficou protegido do contato das frentes

de expansão e das missões que atuaram durante a primeira metade do século XX

na região. Comumente se identificam os Enawenê-Nawê como os Salumã, que eram

referidos como um grupo originário dos Paresi, citado por Rondon e Roquete Pinto,

cuja língua específica é do tronco Aruak, como a língua dos Paresi (MAPPA, 2007).

O grupo foi contatado em 1974, e além da aldeia principal, havia alguns

acampamentos com malocas menores, que eram ocupados em determinados

períodos para pesca e roça. Sua dieta não inclui carne de caça, o que faz com que a

pesca tenha grande importância. A demarcação da terra e o trabalho de assistência

fizeram com que o grupo voltasse a crescer, dobrando de tamanho em 20 anos.

Sem a ameaça dos Cinta-Larga, puderam voltar a ocupar áreas mais ao norte

(MAPPA, 2007).

A seguir fotos das cinco etnias na região das PCHs da bacia

hidrográfica do rio Juruena:

Page 52: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

52

Fotos das cinco etnias na região das PCHs na bacia do rio Juruena

Fonte: Fotos da MAPPA Engenharia e Consultoria, 2007.

Page 53: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

53

CAPÍTULO 3 - METODOLOGIA

A pesquisa, tal como o objeto da presente dissertação, é “um procedimento

formal com método de pensamento reflexivo que requer um tratamento científico e

se constitui no caminho para se conhecer a realidade ou para descobrir verdades

parciais” que, segundo Marconi e Lakatos (2001, p. 43) requer levantamento de

dados de diferentes fontes, cujos processos podem ser a documentação direta e a

indireta.

A documentação direta trata do levantamento de dados no próprio local,

sendo que podem ser obtidos de duas maneiras: pela pesquisa de campo ou pela

pesquisa de laboratório. Marconi e Lakatos (2006) relata que no caso da pesquisa

de campo ela é utilizada com o objetivo de conseguir informações e/ou

conhecimentos acerca de um problema para o qual se procura uma resposta, ou de

uma hipótese que se queira comprovar, ou ainda descobrir novos fenômenos ou

relações entre eles. Já a pesquisa de laboratório é um procedimento de investigação

mais difícil, porém mais exato. Ela descreve e analisa o que será ou ocorrerá em

situações controladas. Exige instrumental específico, preciso, e ambientes

adequados.

Nos dois casos são utilizadas a observação direta intensiva (observação e

entrevista) e a observação direta extensiva (questionário, formulário, medidas de

opinião e atitudes técnicas mercadológicas) (MARCONI; LAKATOS, 2001).

Quanto a documentação indireta esta se serve de fonte de dados coletados

por outras pessoas, constituindo-se de material elaborado ou não, dividindo-se em

pesquisa documental (ou de fontes primárias) e pesquisa bibliográfica (ou de fontes

secundárias) (MARCONI; LAKATOS, 2001).

Portanto, a presente dissertação será realizada com base em pesquisa de

campo (no caso específico do levantamento do componente indígena, não ocorrido

para os outros estudos analisados), pesquisa documental e pesquisa bibliográfica.

A pesquisa de campo se utilizou do processo de observação direta intensiva

(índios e funcionários da FUNAI), cuja técnica da observação “utiliza os sentidos na

Page 54: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

54

obtenção de determinados aspectos da realidade, que não consiste apenas em ver e

ouvir, mas também em examinar fatos ou fenômenos que se deseja estudar” que

podem ser: Sistemática, Assistemática; Participante, Não-participante; Individual, em

Equipe; na Vida Real, em Laboratório (MARCONI; LAKATOS, 2006, p. 224).

E assim, essa dissertação utilizou as técnicas da observação sistemática,

participante e realizada na vida real. Sistemática8 por se realizar em condições e

propósitos preestabelecidos (na bacia do rio Juruena e no Termo de Referência

definido pelo órgão indigenista); Participante9 por estar em contato com o grupo

estudado (FUNAI e comunidades indígenas); e realizada na Vida Real, no ambiente

do estudo/in loco (na bacia do rio Juruena no Estado de Mato Grosso). As

informações foram alcançadas durante as realizações da coleta de dados para a

confecção de relatório técnico para a FUNAI, peça fundamental para o processo

administrativo do licenciamento ambiental das oito PCHs no rio Juruena.

A pesquisa documental se baseou nos documentos dos órgãos públicos e

particulares responsáveis pela realização das observações. São materiais

elaborados ou não, escritos ou não-escritos10, que nessa dissertação compõem os

documentos oficiais dos órgãos públicos federais ANEEL e FUNAI, e estadual

SEMA/MT. Da ANEEL constam os estudos de Inventário Hidrelétrico, o Plano Básico

e outros escritos referentes às PCHs; da FUNAI, o Processo referente ao

empreendimento das PCHs no rio Juruena, Estudos de Identificação e Delimitação

das terras indígenas impactadas, Ofícios, Memorandos, Diagnóstico Antropológico e

Estudo de Complementação/Componente Indígena; e da SEMA/MT, os diagnósticos

ambientais, o AAI do Complexo Juruena e demais materiais que fazem menção ao

Complexo Juruena.

A pesquisa bibliográfica ou de fontes secundárias se dá com base nas

legislações pertinentes à ANEEL, SEMA/MT e FUNAI, que fornecem a base para o

entendimento do contexto administrativo e legal das questões abordadas referentes

8 Na observação sistemática, o observador sabe o que procura e o que carece de importância em determinada situação; deve ser objetivo, reconhecer possíveis erros e eliminar sua influência sobre o que vê ou recolhe (MARCONI; LAKATOS, 2006, p. 195). 9 Na observação participante, o pesquisador fica tão próximo quanto um membro do grupo que está estudando e participa das atividades normais deste (MARCONI; LAKATOS, 2006, p. 196). 10 Fontes não escritas são fotografias, gravações, imprensa falada (televisão e rádio), desenhos, pinturas, canções, indumentárias, objetos de arte, folclore dentre outros (MARCONI; LAKATOS, 2001, p. 43).

Page 55: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

55

ao seu objeto. Além da legislação federal e estadual concernente ao licenciamento

ambiental de PCH, é levantada a bibliografia já publicada em livros, revistas dentre

outros acerca do assunto estudado.

Tendo-se a legislação federal e estadual referente ao licenciamento ambiental

como base, parte-se para identificar e caracterizar os principais encaminhamentos e

procedimentos de realização de análises sobre estudos ambientais de usinas

hidrelétricas nos diferentes agentes públicos. O método utilizado é o de análise

textual, temática e interpretativa.

E a partir da avaliação dos estudos realizados para o licenciamento ambiental

da construção de oito PCHs na bacia do Alto Rio Juruena, é realizada uma análise

sobre o cumprimento dos estudos exigidos no processo de aprovação dos projetos e

dos encaminhamentos junto aos órgãos competentes. Verificam se os aspectos

informados e considerados na elaboração de cada um consideram a questão do

impacto ambiental sob a mesma ótica. A análise considera a política implementada

por meio da apropriação dos conteúdos de relatórios e processos.

Por fim, são revisitados os objetivos propostos com a finalidade de se

certificar o seu alcance e pertinência à presente dissertação.

Page 56: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

56

CAPÍTULO 4 – IDENTIFICAÇÃO DOS DISPOSITIVOS LEGAIS

O Licenciamento Ambiental, de utilização compartilhada entre a União e os

estados da federação, o Distrito Federal e os municípios, em conformidade com as

respectivas competências, têm o objetivo de regular as atividades e os

empreendimentos que utilizam os recursos naturais e podem causar degradação

ambiental (TCU, 2007).

A constituição da República Federativa do Brasil de 1988, Título VIII, do Meio

Ambiente, em seu artigo 225, diz:

Todos têm direito ao Meio Ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e a coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

E referente aos estudos ambientais, o inciso IV, parágrafo 1º do artigo acima

citado define que: “o poder público deve exigir, na forma da lei, para instalação de

obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação ao meio

ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade”.

Assim foi instituído o licenciamento ambiental, um procedimento

administrativo, instrumento da Política Nacional do Meio Ambiente/PNMA,

obrigatório para autorizar e regulamentar as atividades ambientais, cujo objetivo é

agir preventivamente sobre a proteção do meio ambiente, bem comum do povo, e

compatibilizar sua preservação com o desenvolvimento econômico e social. Ambos,

direitos constitucionais para a sociedade brasileira (TCU, 2007).

A Lei № 6.938, de 31 de agosto de 1981, da Política Nacional de Meio

Ambiente, institui o conceito de licenciamento ambiental entre os instrumentos da

política brasileira no setor e que em seu art. 10 estabelece:

Page 57: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

57

A construção, instalação, ampliação e funcionamento de estabelecimentos e atividades utilizadoras de recursos ambientais, considerados efetiva ou potencialmente poluidores, bem como os capazes, sob qualquer forma, de causar degradação ambiental, dependerão de prévio licenciamento por órgão estadual competente, integrante do Sistema Nacional do Meio Ambiente - SISNAMA, e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis - Ibama, em caráter supletivo, sem prejuízo de outras licenças exigíveis.

A Lei 6.938/81 determina a necessidade de licenciamento para as atividades

que se utilizam de recursos ambientais, consideradas efetiva e potencialmente

poluidoras, bem como as capazes, sob qualquer forma, de causar degradação

ambiental.

Portanto, os conceitos de poluição e degradação trazem termos abstratos que

deixam abertura para a determinação da necessidade, ou não, de licenciamento. A

definição legal do termo poluição é a degradação da qualidade ambiental resultante

de atividades humanas. O termo degradação é traduzido pela legislação como a

alteração adversa das características do meio ambiente. Considerando que não há

como fixar, de forma definitiva, as atividades que causam degradação ou mesmo o

grau de alteração adversa ocasionado, caberá consulta ao órgão ambiental para

determinar se o empreendimento necessita de licenciamento (TCU, 2007).

Há, porém, atividades que, conforme a legislação vigente, já se sabe que

devem ser necessariamente licenciadas, e parâmetros pré-estabelecidos, caso de

PCHs.

A Lei 6.938/81 englobou normas estaduais existentes e, instituiu o Sistema

Nacional do Meio Ambiente/SISNAMA.

Em 1983, a Lei № 6.938/81 foi regulamentada pelo Decreto 88.851, de 01 de

junho, vinculando a avaliação de impactos ambientais aos sistemas de

licenciamento, possibilitando ao CONAMA competência para fixar os critérios

básicos exigidos para estudos de impacto ambiental para licenciamento, com

poderes para baixar as resoluções que entender necessária. O Decreto 99.274, de

06 de junho de 1990, sucedeu ao Decreto 88.851/1983, então revogado.

Então em 1986, o CONAMA publica a Resolução № 001, de 23 de janeiro,

instituindo a obrigatoriedade de Estudos de Impacto Ambiental/EIA, documento

técnico exigido pelos órgãos competentes, necessário para o licenciamento de

Page 58: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

58

empreendimentos com significativo impacto ambiental. Mas em 1997, há a

publicação da Resolução 237, que em seu art. 1º, inciso I diz sobre licenciamento:

Procedimento administrativo pelo qual o órgão ambiental competente licencia a localização, instalação, ampliação e a operação de empreendimentos e atividades que utilizam recursos ambientais, consideradas efetiva e potencialmente poluidoras ou daqueles que, sob qualquer forma, possam causar degradação ambiental, considerando as disposições legais e regulamentares e as normas aplicáveis ao caso.

Cabe destacar que o inciso IV, § 1º do art. 225 da Constituição Federal de

1988 não tornou o EIA exigível em todos os casos, permitindo àqueles relacionados

a empreendimento ou atividade não “potencialmente causadora de significativa

degradação ambiental” a possibilidade de dispensa da realização desse estudo. O

que não significa que a CF tenha dispensado o órgão licenciador competente de

proceder à Avaliação do Impacto Ambiental (AIA) do empreendimento a ser

licenciado por meio de outros estudos ambientais (TCU, 2007).

Nos casos em que o impacto ambiental de determinada atividade for

considerado não-significativo, o órgão ambiental competente poderá demandar,

como subsídio ao processo decisório, outros estudos ambientais que não o EIA, tais

como relatório, plano e projeto de controle ambiental, relatório ambiental preliminar,

diagnóstico ambiental, plano de manejo, plano de recuperação de área degradada e

análise preliminar de risco. Assim, a Resolução CONAMA 237/97, no parágrafo

único de seu art. 3º, assevera que “o órgão ambiental competente, verificando que a

atividade ou empreendimento não é potencialmente causador de significativa

degradação do meio ambiente, definirá os estudos ambientais”.

Há que considerar outras resoluções, como a Resolução № 6 de 16/09/1987

e a Resolução № 279, de 27/06/2001, que tratam de procedimentos ambientais

referentes a licenciamento ambiental e energia elétrica. Já a Resolução CONAMA №

6 de 16/09/1987 obriga as concessionárias de exploração, geração e distribuição de

energia elétrica, a submeterem seus empreendimentos ao licenciamento ambiental

pelos procedimentos nela definidos.

A Resolução CONAMA № 279, de 27/06/2001, estabelece procedimento

simplificado para o licenciamento ambiental dos empreendimentos com impacto

Page 59: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

59

ambiental de pequeno porte, necessários ao incremento da oferta de energia elétrica

no País, nos termos do Artigo 8º, inciso 3º, da Medida Provisória № 2152-2, de 1º de

junho de 2001. Em seu Artigo 2º está definido que Relatório Ambiental

Simplificado/RAS é:

Estudos relativos aos aspectos ambientais relacionados à localização, instalação, operação e ampliação de uma atividade ou empreendimento. Estes devem ser apresentados como subsídio para a concessão da Licença Prévia requerida, que conterá informações relativas ao diagnóstico ambiental da região de inserção do empreendimento, sua caracterização, a identificação dos impactos ambientais e medidas de controle, mitigação e compensação.

O que se pode verificar é que para o licenciamento, a definição do tipo de

impacto e empreendimento definirá o tipo de estudo a ser realizado.

O licenciamento é composto por três tipos de licença: Prévia, de Instalação e

de Operação. Cada uma refere-se a uma fase distinta do empreendimento, não

eximindo o empreendedor da obtenção de outras autorizações ambientais

específicas junto aos órgãos competentes, como atividades que se utilizam de

recursos hídricos, por exemplo, também necessitarão da outorga de direito de uso

desses, conforme os preceitos constantes da Lei 9.433/97, ou no caso de PCHs da

concessão da agência reguladora, para autorização da exploração de centrais

hidrelétricas até 30 MW, Resolução ANEEL 395/98 (TCU, 2007).

Ocorre que as licenças não são exigidas para todo e qualquer

empreendimento. E nessa exigência ou não, os diferentes agentes públicos ou

privados divergem, como também na identificação do órgão ambiental competente

para licenciar.

Na obtenção do licenciamento de empreendimento ou atividade

potencialmente poluidora, o interessado deverá dirigir sua solicitação ao órgão

ambiental competente para emitir a licença, podendo esse ser o Instituto Brasileiro

do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis/IBAMA, os órgãos de meio

ambiente dos estados (caso da SEMA no Mato Grosso) e do Distrito Federal ou os

órgãos municipais de meio ambiente. De acordo com o art. 23, incisos III, VI e VII da

Constituição Federal, é competência comum da União, dos estados, do Distrito

Page 60: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

60

Federal e dos municípios proteger o meio ambiente, combater a poluição em

qualquer de suas formas e preservar as florestas, a fauna e a flora. No âmbito do

licenciamento, essa competência comum foi delimitada pela Lei 6.938/81. Esse

normativo determinou que a tarefa de licenciar é em regra, dos estados, cabendo ao

IBAMA uma atuação supletiva, substituir o órgão estadual (TCU, 2007);

A solicitação de Licença Prévia/LP deve ser feita na fase preliminar do

planejamento das atividades. A LP dependerá da aprovação dos estudos

ambientais11 que devem ser apresentados como condição para a concessão de

licença. De posse da LP, o próximo passo do empreendedor é elaborar o Projeto

Básico12 do empreendimento (projeto de engenharia). O projeto deve possibilitar a

avaliação do custo da obra e a definição dos métodos e do prazo de execução

(TCU, 2007).

As licitações de obras, instalações e serviços que demandem licença

ambiental somente devem ocorrer após a obtenção da Licença de Instalação/LI,

porque após a LI, o empreendimento já tem sua viabilidade ambiental atestada pelo

órgão competente bem como sua concepção, localização e projeto de instalação

devidamente aprovados.

Mas foram somente nos últimos vinte anos que as principais normas do setor

elétrico brasileiro passaram por uma série de transformações normativas, como o

processo de desestatização e a criação de uma agência reguladora, bem com por

normas voltadas ao meio ambiente, quanto à proteção e conservação dos recursos

naturais (REIS, 2006).

Os três órgãos do Estado definidos no estudo apresentam história e forma de

atuação que os diferencia em seus procedimentos.

A ANEEL, autarquia em regime especial, vinculada ao Ministério de Minas e

Energia - MME foi criada pela Lei № 9.427 de 26 de Dezembro de 1996. Tem como

11 Por estudos ambientais entende-se aqueles que avaliam os aspectos ambientais relacionados a localização, instalação, operação e ampliação de uma atividade ou empreendimento, apresentado como subsídio para a análise da licença requerida. 12 O projeto básico é o conjunto de elementos necessários e suficientes, com nível de precisão adequado para caracterizar a obra, o serviço, o complexo de obras ou o complexo de serviços objeto da licitação. Ele é elaborado com base nas indicações dos estudos técnicos preliminares, de forma a assegurar a viabilidade técnica e o adequado tratamento do impacto ambiental do empreendimento (TCU, 2007).

Page 61: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

61

atribuições: regular e fiscalizar a geração, a transmissão, a distribuição e a

comercialização da energia elétrica, atendendo reclamações de agentes e

consumidores com equilíbrio entre as partes e em beneficio da sociedade; mediar os

conflitos de interesses entre os agentes do setor elétrico e entre estes e os

consumidores; conceder, permitir e autorizar instalações e serviços de energia;

garantir tarifas justas; zelar pela qualidade do serviço; exigir investimentos; estimular

a competição entre os operadores e assegurar a universalização dos serviços.

A missão da ANEEL é proporcionar condições favoráveis para que o mercado

de energia elétrica se desenvolva com equilíbrio entre os agentes e em benefício da

sociedade

A FUNAI foi criada por meio da Lei № 5.371, de 5/12/1967, em substituição

ao Serviço de Proteção aos Índios/SPI. Quando o SPI foi criado, pelo Decreto-Lei №

8.072, de 20 de junho de 1910, o seu objetivo foi de executar a política indigenista,

com a proteção dos índios e assegurar a implementação de uma estratégia de

ocupação territorial do País.

Já a FUNAI tem as seguintes finalidades: estabelecer as diretrizes da política

indigenista e garantir o seu cumprimento; gerir o patrimônio indígena; fomentar

estudos sobre as populações indígenas que vivem em território brasileiro e garantir

sua proteção; demarcar, assegurar e proteger as terras tradicionalmente ocupadas

pelos índios, exercendo o poder de polícia dentro de seus limites, para evitar

conflitos, invasões e ações predatórias que representem riscos para a vida e a

preservação cultural e do patrimônio indígena.

Em 19/12/1973, a Lei № 6.001, conhecida como Estatuto do Índio, formalizou

os procedimentos a serem adotados pela Funai para proteger e assistir as

populações indígenas, especialmente no que diz respeito à definição de suas terras

e ao aprimoramento do processo de regularização.

A SEMA foi inicialmente instituída pelo poder público do Estado de Mato

Grosso através da Lei № 4559, de 07/06/1983, com o nome de Fundação de

Desenvolvimento do Pantanal/FUNDEPAN, após várias alterações para adaptação

as novas metodologias, têm sua estrutura definida para Fundação Estadual do Meio

Ambiente/FEMA pelo Decreto Estadual № 393 de 12 de agosto de 1999. E em 2005,

Page 62: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

62

a Lei Complementar № 214, de 23 de junho, cria a Secretaria de Estado do Meio

Ambiente/SEMA.

Os objetivos da SEMA/MT são a elaboração, gestão, coordenação e

execução de políticas do meio ambiente e de defesa civil, no âmbito do Estado de

Mato Grosso.

4.1 ANEEL

Apesar das Pequenas Centrais Hidrelétricas/PCHs terem surgido no final do

século XIX, a sua definição somente foi mencionada na legislação do setor elétrico

pela Portaria DNAEE № 109, de 24 de novembro de 1982, que possuíssem potência

instalada total de, no máximo, 10 MW, e apresentassem as seguintes características

cumulativas: operarem a fio d’água ou com regularização diária; provisão de

barragens e vertedouros com altura máxima de 10 m; sistema adutor formado

apenas por canais a céu aberto e/ou tubulações, não utilizando túneis; com

estruturas hidráulicas no circuito de geração para vazão turbinável de, no máximo,

20 m³/s; dotadas de unidades geradoras com potência individual de até 5 MW

(TOLMASQUIM, 2005).

Mas como eram exigidas muitas condicionantes e não havia incentivo do

mercado, em virtude das tarifas serem controladas pelo governo federal, sendo elas

um instrumento de controle da inflação e a falta de linha de crédito para o setor,

acabaram por provocar dificuldades no desenvolvimento de um programa para

implantação de PCHs, o que levou a redefinição do conceito por nova portaria do

DNAEE, a Portaria № 136, de 6 de outubro de 1987, que manteve apenas as

características associadas à potência total de 10 MW e com unidades geradoras de,

no máximo, 5 MW (UMBRIA, 2006).

No entanto, a simplificação adotada não gerou os resultados esperados, e

não houve aumento desses empreendimentos, mostrando que havia uma

necessidade de revisão do critério de enquadramento de empreendimentos

Page 63: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

63

hidrelétricos na condição de pequenas centrais hidrelétricas, que não considerassem

apenas a potência instalada (TOLMASQUIM, 2005).

No final de 1997, por meio de sucessivas medidas provisórias, o limite para

autorização para centrais hidrelétricas aumentou de 10 MW para 25 MW, até a Lei

№ 9.648, de 2 de maio de 1998, em que esse limite foi fixado em 30 MW, por meio

de uma alteração no art. 26, da Lei № 9.247, de 26 de dezembro de 1996, que criou

a Agência Nacional de Energia Elétrica/ANEEL (UMBRIA, 2006).

A Lei № 9.648/98 autorizou a dispensa de licitações para empreendimentos

hidrelétricos de até 30 MW de potência instalada, para Autoprodutor e Produtor

Independente. Além disso, a concessão passou a ser outorgada mediante

autorização, até o limite de 30 MW, desde que os empreendimentos mantivessem as

características de PCHs.

Em 1998, a Resolução da ANEEL № 394, de 04 de dezembro, estabelece o

conceito de PCH. As características para esses aproveitamentos são de que a

potência deve ser entre 1 e 30 MW e a área inundada até 3 km², delimitada pela

cota d’água associada à vazão de cheia com tempo de recorrência de 100 anos.

Ainda na Resolução ANEEL № 394, no art. 3º, prevê-se que o

empreendimento que não atender a condição de área máxima inundada poderá

consideradas as especificidades regionais, ser também enquadrado na condição de

PCH, desde que deliberado pela Diretoria da ANEEL, com base em parecer técnico,

que contemple aspectos econômicos e sócios ambientais (TOLMASQUIM, 2005).

Assim, em 9 de dezembro de 2003, por meio da Resolução № 652, a ANEEL

estabeleceu as diretrizes para os casos em que a área do reservatório fosse superior

a 3 km². Esta resolução, no seu art. 3º estabeleceu que será considerado com

características de PCH o aproveitamento hidrelétrico que:

Será considerado com caracrterísiticas de PCH o aproveitamento hidrelétrico com potência superior a 1.000 kw e igual ou inferior a 30.000 kw, destinado a produção independente, autoprodução ou produção independente autônoma, com área de reservatório inferior a 3,0 km².

Page 64: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

64

E no seu art. 4º, o aproveitamento hidrelétrico que não atender a condição para a

área do reservatório, respeitada os limites de potência e modalidade de exploração, será

considerado com características de PCH, caso se verifique pelo menos uma das seguintes

condições:

I - atendimento à inequação: A ≤ 14,3 x P

Hb

sendo:

P = potência elétrica instalada em MW;

A = área do reservatório em km², que é a área da planta à montante do

barramento, delimitada pelo nível d’água máximo normal de montante;

Hb = queda bruta em m, definida pela diferença entre os níveis d’água máximo

normal de montante e normal de jusante (TOLMASQUIM, 2005).

II – reservatório cujo dimensionamento, comprovado, foi baseado em outros

objetivos que não a geração de energia elétrica.

Para a inequação do inciso I, ficou estabelecido adicionalmente, que a área

do reservatório não poderá ser superior a 13 km². Na verificação da condição do

inciso II, a ANEEL articulará com a Agência Nacional de Águas/ANA, os Comitês de

Bacia Hidrográfica, os Estados e o Distrito Federal, conforme o caso, de acordo com

a respectiva competência quanto aos objetivos para definir as dimensões do

reservatório destinado ao uso múltiplo (TOLMASQUIM, 2005).

Para exploração de PCH, a ANEEL exige uma autorização, outorgada em

processo não-oneroso e sem licitação, após a aprovação do projeto básico. Quando

o processo de exploração de determinado trecho de um rio apresentar um

solicitante, o prazo de conclusão deverá ser de até 135 dias corridos; quando

apresentar mais de um, o prazo será de 165 dias corridos (Lei № 9.074/95 e Lei №

9.427/96).

Para a instalação de PCH, o processo definido pela ANEEL inicia com pedido

de registro, contendo informações do estudo de inventário hidrelétrico13, potência a

13 O inventário hidrelétrico é um estudo do potencial hidroenergético, de partição de quedas e definição prévia do aproveitamento energético, de forma a particionar o rio em vários pontos favoráveis, considerando dados técnicos, econômicos e ambientais (TOLMASQUIM, 2005).

Page 65: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

65

ser instalada e o prazo para desenvolvimento do projeto básico. A Resolução da

ANEEL № 393/98, estabelece os procedimentos gerais para registro e aprovação

dos estudos de inventário do potencial hidrelétrico de bacias hidrográficas.

A Resolução ANEEL № 393/98 estabelece procedimento simplificado para

aproveitamentos de até 50 MW, ou imponham a segmentação natural da bacia em

sub-bacias com o aproveitamento no limite de 50 MW. E devendo ser apresentado à

ANEEL relatório de reconhecimento da bacia ou sub-bacia, justificando a

simplificação adotada para os estudos de inventário hidrelétrico.

Segundo Tolmasquim (2005), o registro dos estudos de inventário hidrelétrico

assume caráter de registro ativo quando a ANEEL o considerar subsistente e válido,

com o acompanhamento contínuo do andamento dos estudos. O processo seguinte

é a consulta aos órgãos ambientais para a definição dos estudos ambientais (esfera

federal e/ou estadual); e consulta aos órgãos públicos responsáveis pelos recursos

hídricos (federal ou estadual) para definição do aproveitamento ótimo e garantia do

uso múltiplo dos recursos hídricos.

O estudo que se segue, para o caso das PCHs é o Projeto Básico14. Os

estudos de Projeto Básico são implementados segundo autorização dada pela

ANEEL ao empreendedor, referente ao seu processo, em conformidade com o

disposto na Resolução ANEEL № 395, de 04/12/98, e das Normas e Procedimentos

para a Realização de Estudos e Projetos Hidrelétricos, de Agosto de 1999, da

ANEEL.

A Resolução da ANEEL № 395/98 estabelece os procedimentos gerais

registro e aprovação de estudos de viabilidade e projeto básico de empreendimentos

de geração hidrelétrica, assim como da autorização para exploração de centrais

hidrelétricas até 30 MW. O Projeto Básico toma como base os estudos de Inventário

Hidrelétrico do rio, no caso trecho do rio Juruena, já aprovados pela ANEEL, e se

refere às informações das áreas de geologia, hidrologia, cartografia, hidráulica,

estruturas, hidroenergia, elétrica, mecânica e meio ambiente.

Com a análise e aceitação do primeiro projeto, e havendo mais de um

solicitante para o mesmo aproveitamento, a ANEEL informará aos outros 14 O projeto básico deve ser compatível com a complexidade do empreendimento e com as articulações e licenças legais necessárias.

Page 66: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

66

interessados que possuam registro ativo, com prazo de noventa dias para

apresentação do projeto básico. Após o prazo, e existindo projetos adequados, a

ANEEL, visando aumentar o número de agentes produtores de energia elétrica e

assegurar competitividade para a outorga de autorização, dará preferência ao menor

empreendedor ou proprietário da terra e condições determinadas15 (TOLMASQUIM,

2005).

Após a definição do vencedor e por exigência da ANEEL, deverão ser

apresentados, no prazo de trinta dias, documentos que comprovem a regularidade

jurídica e fiscal do empreendedor, como qualificação técnica e capacidade de

investimento para a execução do empreendimento, nos termos do art. 19, da

Resolução da ANEEL № 395/98. E após essa comprovação, a ANEEL outorga a

autorização.

O Estado ainda dá outros incentivos às PCHs como o PPA/Acordo de Compra

de Energia, PROINFA e BNDES.

A própria legislação proporciona condições de incentivo aos empreendedores

de PCH como:

- autorização não-onerosa para explorar o potencial hidráulico (Lei № 9.074,

de 7 de julho de 1995, e Lei № 9.427, de 26 de dezembro de 1996);

- descontos superiores a 50% nos encargos de uso dos sistemas de

transmissão e distribuição (Resolução 281, de 10 de outubro de 1999);

- livre comercialização de energia para consumidores de carga igual ou

superior a 500 kW (Lei № 9.648, de 27 de maio de 1998);

- isenção relativa à compensação financeira pela utilização de recursos

hídricos (Lei № 7.990, de 28 de dezembro de 1989, e Lei № 9.427, de 26 de

dezembro de 1996);

15 Os critérios são: possuir participação na produção de energia elétrica do sistema interligado inferior a 1%; não seja distribuidor de energia elétrica na área de concessão ou subconcessão onde o empreendimento se localiza; proprietário ou dispor da maior área a ser atingida pelo aproveitamento, comprovado por documentação; e possuir participação na comercialização de energia elétrica no território nacional inferior ao volume de 3000 GWh/ano.

Page 67: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

67

- participação no rateio da Conta de Consumo de Combustível/CCC, quando

substituir geração térmica a óleo diesel, nos sistemas isolados (Resolução 245, de

11 de agosto de 1999); e

- comercialização da energia gerada pelas PCHs com concessionárias de

serviço público, tendo como limite tarifário o valor normativo estabelecido na

Resolução 22, de 1 de fevereiro de 2001 (TOLMASQUIN, 2005).

4.2 SEMA/MT

A Constituição Federal estabeleceu uma conexão necessária e específica

entre o comando de preservação do meio ambiente com as competências dos entes

federados para esse fim ser alcançado. Depreende-se, portanto, que a repartição

constitucional de competências em matéria ambiental vem ao encontro do princípio

da autonomia dos entes federados, previsto nos artigos 1° e 18 da CF, segundo os

quais os Estados-Membros possuem autonomia político-administrativa nos termos

definidos pelo texto constitucional (MILARÉ, 2006).

É nesse sentido que se pode concluir que o Estado de Mato Grosso têm

competência, que lhe foi constitucionalmente atribuída, para legislar sobre a matéria

ambiental afeta ao seu interesse regional. O que está de acordo com o que

estabelece a Constituição Federal, o artigo 263 da Constituição Estadual, que prevê

que é dever do estado (como dos municípios e da coletividade) defender e proteger

o meio ambiente ecologicamente equilibrado em prol das presentes e futuras

gerações (MILARÉ, 2006).

E, no exercício de sua competência, constitucionalmente atribuída, é que o

Estado de Mato Grosso instituiu o seu Código Ambiental Estadual, por meio da Lei

Complementar 38, de 21 de novembro de 1995, estabelecendo os princípios e as

diretrizes que devem ser observados para a consecução da preservação ambiental

(MILARÉ, 2006).

Page 68: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

68

Nessa esfera estadual, o órgão é a Secretaria de Meio Ambiente do Estado

de Mato Grosso/SEMA16, área da região da Amazônia legal. São tratados os

estudos exigidos pelo Código Ambiental do Estado, analisando-se os critérios para a

concessão das licenças e as próprias licenças já concedidas.

Quanto ao Diagnóstico Ambiental, que deve ser encaminhado a Secretaria de

Meio Ambiente, este contém os resultados dos estudos executados no local de

implantação das PCHs, para obtenção da Licença Prévia, conforme determina o

Artigo 18 do Código Ambiental do Estado de Mato Grosso, Lei Complementar №

38/95.

O diagnóstico ambiental apresenta os estudos dos meios físico, biótico e

sócio-econômico e de uma avaliação dos principais impactos ambientais que

poderão ocorrer nas fases de implantação e operação do empreendimento. A opção

por usina de pequeno porte, no caso do rio Juruena, está de acordo com as

características hidrológicas, topográficas e geológicas/geotécnicas local.

Na esfera da SEMA/MT trabalha-se com o Código Ambiental do Estado do

Mato Grosso (Lei Complementar 38, de 21/11/1995), em que na seção IV, do

Licenciamento Ambiental, Art. 18, define:

As pessoas físicas ou jurídicas, inclusive as entidades da administração pública, que vierem a construir, instalar, ampliar e funcionar no Estado de Mato Grosso, cujas atividades possam ser causadoras de poluição ou degradação ambiental, dependerão de prévio licenciamento ambiental. E que os pedidos de licenciamento serão objeto de publicação resumida no Diário Oficial do Estado e na imprensa local ou regional.

Já o inciso 4º, do Artigo 19, do mesmo código define que as atividades de

pequeno nível de poluição e/ou degradação ambiental poderão ser licenciadas

mediante a apresentação de um projeto Executivo simplificado, a critério do órgão

ambiental.

Em 2000, a Lei Complementar № 70, de 15/09, altera dispositivos da Lei

Complementar № 38 de 21/11/1995, que passam vigorar:

16 A SEMA era anteriormente denominada Fundação Estadual de Meio Ambiente/FEMA.

Page 69: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

69

Art. 3°, Inciso XII: Opinar sobre o Licenciamento ambiental das usinas

termoelétricas ou hidrelétricas com capacidade acima de 30 MW, para o que,

obrigatoriamente, seja exigida a prévia elaboração de Estudo de Impacto

ambiental/EIA e apresentação do respectivo Relatório de Impacto Ambiental/RIMA,

dependendo a validade da Licença de aprovação pela Assembléia Legislativa.

Art. 24, Inciso VII: Obras hidráulicas para exploração de recursos hídricos,

com área de inundação acima de 300 ha (trezentos hectares), de saneamento ou de

irrigação, abertura de canais para navegação, drenagem, retificação de cursos

d’água, abertura de barras e embocadura, transposição de bacias e diques. Inciso

XI: Usinas de geração de eletricidade, qualquer que seja a fonte de energia primária

acima de 30 MW.

Ocorre, então, em 2002, uma adaptação do Código Ambiental de Mato

Grosso. Na verdade faz-se uma adaptação às normas da ANEEL, modificando, em

seu art.24, as regras de licenciamento ambiental e eliminando a obrigatoriedade do

EIA/RIMA para as PCHs com até 30 MW e 3 km² de reservatório. Mas com a

solicitação de outros estudos de avaliação dos meios físico, biótico e sócio-

econômico para averiguação dos impactos ambientais e medidas de controle

(ALMEIDA, 2004).

O que se verifica é que os empreendimentos hidrelétricos ou termoelétricos,

com potência até a 30 MW e área inundação abaixo de 300 ha são tidos como de

pequeno e/ou médio impacto ambiental, e o licenciamento é feito por diagnóstico

ambiental.

4.3 FUNAI

Quanto ao papel da Fundação Nacional do Índio – Funai, este é o de

estabelecer diretrizes e garantir o cumprimento da política indigenista nacional, mas

como se percebe hoje, a questão indígena se insere em vários empreendimentos e

em vários órgãos estatais. E o tratamento legal dado, por exemplo, a questão de

energia, é interpretada de forma diferente entre o órgão indigenista oficial e os

Page 70: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

70

outros órgãos públicos e setores privados da sociedade. A questão ambiental foi

apropriada pela legislação indigenista, somente nos últimos vinte anos, pois antes a

questão da integração do índio a sociedade nacional e mesmo a busca pela

definição e garantia de terras, ocupavam o centro da política indigenista.

A Constituição de 1891 não fez referência direta à questão indígena. Mas, em

seu artigo 64, transferiu ao domínio pleno dos estados as terras devolutas em seus

respectivos territórios. Isso, porque um dos primeiros decretos do Governo

Provisório mantivera na alçada dos estados a promoção da “catequese e civilização

dos índios e o estabelecimento de colonos”. Situação que se modificaria em 1906,

com o decreto n° 1606, que criou o Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio,

em que as funções de colonização, catequese e civilização saíram do âmbito

estadual e foram para a esfera federal (CORDEIRO, 1999).

Nos textos constituições de 1934, 1946 e 1967, a questão indígena foi

abordada, mas tratando da questão fundiária.

A Emenda Constitucional № 1, de 17 de outubro de 1969, estabeleceu a

competência legislativa da União no que dizia respeito à incorporação dos silvícolas

à comunhão nacional (art. 8º, XVII, alínea o). A mesma Emenda, por seu artigo 198

dispôs sobre as terras indígenas. De todas as Constituições que o Brasil teve até

1969, foi a E.C. № 1 que dedicou maior espaço à questão indígenas (ANTUNES,

2006).

Já a Constituição de 1988 dedica um capítulo aos índios, artigos 231 e 232.

Nesses dois artigos encontram-se os elementos essenciais para a definição jurídico-

constitucional do que diz respeito aos indígenas e seus direitos coletivos e

individuais (ANTUNES, 2006).

Art. 231:

São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens.

Page 71: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

71

Ainda no Art. 231, § 3° sobre aproveitamentos de recursos naturais em terras

indígenas:

Os aproveitamentos dos recursos hídricos, incluídos os potenciais energéticos, a pesquisa e a lavra das riquezas minerais em terras indígenas só podem ser efetivados com autorização do Congresso Nacional, ouvidas as comunidades afetadas, ficando-lhes assegurada participação nos resultados da lavra, na forma da lei .

No art. 232:

Os índios, suas comunidades e organizações são partes legítimas para ingressar em juízo em defesa de seus direitos e interesses, intervindo o Ministério Público em todos os atos do processo.

A questão ambiental passa a ser um item levantado nos estudos com a

publicação do Decreto 1775/96 (que dispõe sobre o procedimento administrativo de

demarcação das terras indígenas) e da Portaria MJ 14, de 9/1/1996 (que regula a

elaboração do relatório circunstanciado de identificação e delimitação das terras

indígenas). Nos estudos com base nessa portaria há um item que trata do meio

ambiente.

Quanto aos empreendimentos que podem interferir em terras indígenas, a

FUNAI via Coordenação Geral de Patrimônio Indígena e Meio Ambiente/CGPIMA

estabelece critérios descritos em Termo de Referência/TR. No Termo de Referência,

a FUNAI define o que o estudo deverá apresentar, além da definição da área

considerada como impactada e as terras indígenas. Trata-se do norteador dos

trabalhos técnicos. Mas a FUNAI utiliza também em seus estudos, o Decreto №

1.141, de 5 de maio de 1994, que dispõe sobre as ações de proteção ambiental,

saúde e apoio às atividades produtivas para as comunidades indígenas.

No Decreto № 1.141/94, Capítulo II, que trata da proteção ambiental, o art. 9°

assim determina:

Page 72: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

72

Art. 9° As ações voltadas à proteção ambiental das terras indígenas e seu entorno destinam-se a garantir a manutenção do equilíbrio necessário à sobrevivência física e cultural das comunidades indígenas, contemplando: I - diagnóstico ambiental, para conhecimento da situação, como base para as intervenções necessárias; II - acompanhamento e controle da recuperação das áreas que tenham sofrido processo de degradação de seus recursos naturais; III - controle ambiental das atividades potencial ou efetivamente modificadoras do meio ambiente, mesmo aquelas desenvolvidas fora dos limites das terras indígenas que afetam; IV - educação ambiental, dirigida às comunidades indígenas e à sociedade envolvente, visando à participação na proteção do meio ambiente nas terras indígenas e seu entorno; V - identificação e difusão de tecnologias indígenas e não-indígenas, consideradas apropriadas do ponto de vista ambiental e antropológico.

A FUNAI interpreta que as atividade no entorno de terras indígenas interferem

na reprodução física e cultural das etnias, e, portanto, havendo empreendimentos

nessa área, há impacto para as comunidades indígenas. A distância é fator

relevante para a determinação de impactos ambientais e antrópicos, em que os

impactos antrópicos causados por um empreendimento são muitas vezes, mais

determinantes que os ambientais. Por isso, o raio de impacto definido pela FUNAI

ser sempre muito mais amplo que o definido pelo órgão licenciador ou mesmo pelos

estudos técnicos da obra.

Houve ainda uma tentativa de definição de critérios por meio da Instrução

Executiva № 02/PRES/FUNAI, de 21 de março de 2007, publicada no DOU de 16 de

abril de 2007 que estabelecia normas sobre a participação da FUNAI no processo de

licenciamento ambiental de empreendimentos ou atividades potencialmente

causadoras de impacto no meio ambiente das Terras Indígenas, na cultura e povos

indígenas.

Entretanto, essa normatização foi revogada pela Instrução Normativa № 3, de

27 de abril de 2007 por considerar que:

(...) a publicação da Instrução Normativa no- 02/PRES/FUNAI, de 21 de março de 2007, foi realizada de modo extemporâneo; Que os órgãos envolvidos no processo de licenciamento ambiental de obras e empreendimentos que afetem povos e Terras Indígenas não foram consultados sobre a formulação da Instrução Normativa № 02/PRES/FUNAI, de 21 de março de 2007.

Page 73: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

73

E o Termo de Referência/TR estabelece a metodologia a ser seguida, e itens

a serem contemplados como: caracterização físico-biótica das TIs presentes na

bacia hidrográfica; caracterização do modo de vida dos grupos indígenas com

ênfase na importância dos recursos hídricos; relações sociopolíticas, econômicas e

culturais com a sociedade envolvente; saúde e educação; identificação dos impactos

ambientais e medidas mitigadoras e compensatórias, dentre outras exigências.

A caracterização do empreendimento e seus impactos são aprovados ou não

por meio de relatório entregue com base nas solicitações do Termo de Referência

(Anexo 1).

Page 74: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

74

CAPÍTULO 5 – IDENTIFICAÇÃO DOS PROCEDIMENTOS LEGAIS DAS OITO PCHS DO COMPLEXO JURUENA

Os dispositivos legais que dão diretriz a atuação das entidades públicas foram

descritos no capítulo anterior. Com base nessa legislação, este capítulo identifica os

procedimentos adotados por esses órgãos para o empreendimento das oito PCHs

denominado Complexo Juruena. A seguir, linha do tempo dos três órgãos e seus

procedimentos. *As datas se referem à entrega dos estudos nos órgãos e sua

aprovação.

1- Inventário 5- Avaliação Ambiental Integrada Hidrelétrico/ANEEL 4- Estudo do AAI/SEMA 2- Plano Básico/ANEEL Componente 6- Complementação do 3- Diagnóstico Ambiental/SEMA Indígena/FUNAI Componente Indígena/FUNAI __________|_________________|_______|______|______|___________|________ 2002* 2003* 2004 2005 2006 2007*

5.1 ANEEL

Os procedimentos exigidos pela ANEEL para as oito PCHs do Complexo

Juruena iniciaram com o Inventário Hidrelétrico17, para a Agropecuária Maggi Ltda e

para Linear Participações e Incorporações Ltda, cujo trecho inventariado foi o segmento entre a foz do rio Juína, a jusante, e a ponte da rodovia MT-235, a montante.

Na verdade, o trecho do rio Juruena denominado Alto Juruena teve dois

estudos de inventário encaminhado a ANEEL. No primeiro, a Maggi Energia S/A

desenvolveu os Estudos de Inventário Hidrelétrico do rio Juruena, no trecho a

17 No inventário havia mais duas PCHs, Travessão e Cristalina, mas foram encontrados custos índices superiores ao Custo Marginal de Expansão no Horizonte Decenal 2000 – 2009 (US$ 36,00/MWh), o que indicou a inconveniência da continuidade de seus estudos na fase de Projeto Básico.

Page 75: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

75

montante da rodovia MT-235, consubstanciado no documento: “Bacia Hidrográfica

do Alto Juruena - Estudo de Inventário Hidrelétrico – Trecho MT-235 – Nascentes”

elaborado pela Rischbieter Engenharia Indústria e Comércio Ltda., em 2001.

Portanto, das nascentes (cabeceira do rio Juruena) até a rodovia MT-235

(RISCHBIETER, 2001).

No segundo estudo, a PCE Engenharia realizou os Estudos de Inventário

Hidrelétrico no segmento do rio Juruena considerado nesta dissertação, compreendido entre a foz do rio Juína no rio Juruena e a antiga rodovia MT-235, em

abril de 2002. Os estudos do inventário da PCE Engenharia foram aprovados pela

ANEEL conforme publicado no Diário Oficial da União – № 193, de 04 de outubro de

2002. O rio Juruena, no trecho definido no segundo inventário, entre a foz do rio

Juína e a ponte da rodovia MT-235, desenvolve-se no sentido sul-norte e constitui o

limite dos municípios de Sapezal e Campos de Júlio, ambos no Estado do Mato

Grosso. O trecho estudado é apenas parte da bacia do alto rio Juruena, não sendo

considerado o trecho a montante da rodovia MT-235.

Os dados referentes às oito Pequenas Centrais Hidrelétricas/PCHs foram

retirados além do Inventário, do Diagnóstico Ambiental, Plano Básico e Avaliação

Ambiental Integrada da Bacia do Alto Juruena, esta última de autoria da Empresa

JGP Consultoria Participações Ltda, fornecido pelos empreendedores. As PCHs

Cidezal, Sapezal, Parecis, Rondon, Telegráfica, Segredo, Ilha Comprida, estão

localizadas no próprio rio Juruena, no sentido das nascentes à foz, e nessa ordem

(MAPPA, 2007). A PCH Divisa está localizado no rio Formiga, tributário do rio

Juruena.

Esses estudos foram implementados segundo autorização da ANEEL à

Agropecuária Maggi Ltda e à Linear Participações e Incorporações Ltda, datada de

16 de março de 2001, Processo no 48500.002970/00-72, e em conformidade com o

disposto na Resolução ANEEL № 393/98 de 04.12.98, bem como nas Normas e

Procedimentos para a Realização de Estudos e Projetos Hidrelétricos, de Agosto de

1999, desta mesma Agência (PCE, 2002).

Os estudos energéticos da bacia hidrográfica do rio Juruena revelaram um

potencial hidroenergético para implantação de aproveitamentos, com potências P

inferior a 50 MW e com uma potência superior. Os Estudos de Inventário de

Page 76: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

76

engenharia definidos foram referentes ao “Inventário Simplificado18” e não o

“Inventário Pleno”, devido às características geomorfológicas locais que

determinaram aos aproveitamentos características semelhantes a de PCH:

barragem de pequena altura, reservatório de reduzida dimensão (inferior a 3,0 km2)

e a fio d’água (PCE, 2002).

No caso da PCH Divisa, que encontra-se no rio Formiga, tem inventário

próprio. O estudo de inventário das atividades de Engenharia Consultiva foram

desenvolvidas pela PCE Engenharia para Linear Participações e Incorporações

Ltda. O objetivo foi o mesmo do inventário do rio Juruena, o de inventariar a vocação

hidroenergética do rio Formiga.

O rio Formiga é afluente pela margem direita do rio Juína, que é afluente do

rio Juruena, formador do rio Tapajós. O rio Formiga pertencente à sub-bacia № 17,

bacia hidrográfica do rio Amazonas (Bacia № 1), no Estado de Mato Grosso.

Os estudos do inventário do rio Formiga19 foram implementados segundo

autorização da ANEEL, datada de 27 de novembro de 2000, Processo №

48500.007466/00-50, e em conformidade com o disposto na Resolução ANEEL №

393/98 de 04.12.98, e as Normas e Procedimentos para a Realização de Estudos e

Projetos Hidrelétricos, de Agosto de 1999 (PCE, 2002).

Como no manual para confecção do inventário exige-se informações sobre as

terras indígenas próximas ao empreendimento, o inventário as apresenta. O estudo

concluiu que o trecho inventariado na bacia do alto rio Juruena “está contornada por

terras indígenas, embora não estejam inseridas nas mesmas”.

E as terras indígenas compreendidas pelo estudo são apenas as Terras

Indígenas Nambikwara e Enawenê-Nawê, a jusante dos barramentos/ao norte, e a

montante as Terras Indígenas Paresi e Juininha/oeste, pela porção sul das Terras

18 Os estudos de engenharia seguiram às diretrizes para “Estudos de Inventários Hidrelétricos Simplificados”, da ANEEL, minuta de 27.08.1999.

19 O potencial hidroenergético do rio Formiga foi estimado em 25,5 MW, em cinco pequenos aproveitamentos: PCH Formiga, PCH Campos de Júlio, PCH Ilhotas, PCH Nordeste e PCH Divisa. Mas dentre os aproveitamentos indicados, a PCH Divisa é a mais atrativo, em razão do pequeno reservatório (área de reservatório igual a 25,6 ha) e do pequeno porte das obras civis, compatível com a motorização indicada. E assim, após registro e aprovação, pela ANEEL, do estudo de inventário, foi desenvolvido o projeto básico apenas da PCH Divisa.

Page 77: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

77

Indígenas Nambikwara. Diferentemente do entendimento do órgão indigenista. As

informações tratadas no inventário são apenas uma descrição da situação

político/fundiária, como dado para avaliação do empreendimento, conforme texto:

Em geral, podemos afirmar que existe uma convivência sadia e harmoniosa entre a população indígena e fazendeiros da região permitindo que essas comunidades indígenas tenham a garantia do seu território, mantendo suas culturas e tradições.

Os dados do inventário a respeito da identificação dos impactos ambientais

sobre os aproveitamentos nas alternativas de divisão de queda propostas foi

realizada por uma matriz de interferências. A partir das ações dos empreendimentos

foram estabelecidas análises das interações através da relação de causas e efeitos,

sem nenhuma qualificação ou hierarquização, considerando-se apenas a relação

com a causalidade (PCE, 2002).

Os fatores ambientais foram escolhidos por se tratarem de componentes do

meio ambiente que irão sofrer transformações com a implantação e operação dos

empreendimentos. Para confeccionar a matriz de interferências analisou-se cada

fator ambiental e a magnitude das transformações que sofrerá com a implantação

(PCE, 2002).

5.2 SEMA/MT

Os estudos de avaliação do potencial energético e do Diagnóstico Ambiental

das PCHs Cidezal, Rondon, Telegrafia, Divisa, Ilha Comprida, Parecis, Sapezal e

Segredo foram realizados pela empresas PCE Projetos e Consultoria de Engenharia

e TD Engenharia Ltda, de acordo com as normas da ANEEL para projetos de

Pequenas Centrais Hidrelétricas/PCHs. O Diagnóstico Ambiental contempla a área das cabeceiras do rio Juruena a foz do rio Juína.

O Relatório do Projeto Básico das PCHs abrangem as áreas de geologia,

hidrologia, cartografia, hidráulica, estruturas, hidroenergia, elétrica, mecânica e meio

Page 78: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

78

ambiente. Os estudos de engenharia foram desenvolvidos pela PCE – Projetos e

Consultorias de Engenharia Ltda., sendo os Estudos Ambientais implementados

pela TD Engenharia Ltda.

Há outro fato referente às PCHs Telegráfica, Rondon, Parecis, Sapezal e

Cidezal. Essas PCHs foram contempladas com Decreto de Utilidade Pública. Os

procedimentos para aquisição das áreas de implantação dos aproveitamentos e

áreas a serem inundadas, acrescidas de faixa de 50 metros, conforme determina a

legislação estadual (Lei Complementar № 232/05), já foram concluídos e incluíram a

realização de reuniões públicas conforme estipulado na Resolução ANEEL Nº

259/03 (JGP, 2007).

O conjunto de aproveitamentos tem previsão de interconexão com o Sistema

Interconectado Nacional/SIN em Jauru, a aproximadamente 290 km do AHE

Juruena. No entanto, outras alternativas de interconexão encontram-se em estudo

(JGP, 2007).

Para o diagnóstico ambiental é necessário ainda, dados sobre as outras

utilizações dos recursos hídricos na bacia do rio Jureuna. E de acordo com as

informações no inventário e da FEMA20, não há dados referentes a estudos

detalhados do uso da água no rio Juruena e seus afluentes. O uso das águas do rio

Juruena e de seus afluentes a montante dos eixos dos barramentos destina-se,

principalmente, à dessedentação de animais e secundariamente à recreação e lazer

dos moradores das áreas adjacentes e a outros usos não consultivos. Na área das

oito PCHs estudadas não existem práticas de irrigação. Além disso, o rio Juruena

não recebe efluente doméstico e a preservação das matas ciliares ao longo do seu

curso indica que o mesmo recebe pouco lixiviamento de partículas sólidas,

explicando assim a boa qualidade da água detectada no levantamento de campo

(PCE, 2002). No anexo 2, documento da SEMA/MT sobre o assunto.

O abastecimento de água da população da área urbana e rural dos

municípios citados anteriormente é realizado através de poços tubulares profundos

localizados fora das áreas diretamente afetadas pelos aproveitamentos.

20 A época do inventário, 2002, o órgão de meio ambiente do Mato Grosso SEMA era denominado FEMA.

Page 79: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

79

5.2.1 Responsabilidade dos estudos e exigibilidade de EIA/RIMA

A responsabilidade pelo órgão competente para licenciamento ambiental é

fator de conflito. Devido a isso, os empreendedores das oito PCHs consultaram o

IBAMA sobre a competência do licenciamento do Complexo Juruena. Assim, por

meio do Ofício Nº 382/05, de 02 de junho de 2005, o IBAMA informou estar de

acordo com que o licenciamento ambiental das PCHs fosse conduzido pela

SEMA/MT. Quanto as duas UHEs que fazem parte do Complexo Juruena e não

foram estudadas nesta dissertação, foi emitido o Ofício IBAMA Nº 747/05, de 30 de

novembro de 2005, com o mesmo teor. A competência para licenciar os

empreendimentos na bacia do alto rio Juruena são de responsabilidade estadual, ou

seja, da SEMA/MT.

Quanto a exigibilidade de EIA/RIMA, no caso de licenciamento ambiental de

obras de aproveitamento hidráulico de pequeno impacto no Estado do Mato Grosso,

este pode se valer de modalidades diversas do EIA/RIMA, tendo em vista o disposto

no Código Ambiental Estadual vigente, que autoriza a sua dispensa mediante a

realização de outros estudos, nos termos em que orientou a Resolução CONAMA

237/97, em seu artigo 1°, inciso III, e a Lei Complementar 38/95. (MILARÉ, 2006).

Assim, conforme o parágrafo único do artigo 3° da Resolução CONAMA

237/97, o órgão ambiental competente, verificando que a atividade ou

empreendimento não é potencialmente causador de significativa degradação do

meio ambiente, definirá os estudos ambientais pertinentes ao respectivo processo de

licenciamento.

Page 80: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

80

5.2.2 Renovação das licenças de instalação e Avaliação Ambiental Integrada/AAI

Os aproveitamentos foram licenciados pela SEMA/MT21, com base na

apresentação dos Diagnósticos Ambientais (fase de Licença Prévia/LP) e

posteriormente dos Projetos Básicos Ambientais (fase de Licença de Instalação/LI).

As Licenças de Instalação foram inicialmente emitidas em 2002, com validade de um

ano. Elas foram renovadas em 2004, com validade de dois anos. No entanto, um

segundo pedido de renovação, encaminhado no início de 2006, foi indeferido com

base em pareceres técnicos que formularam exigências complementares, como a

confecção de um AAI (JGP, 2007).

AAI é uma Avaliação Ambiental integrada e refere-se à interação dos efeitos

diferentes empreendimentos, desenvolvimento econômico e social na bacia e à

interação entre os diferentes processos, representado pelas variáveis que

caracterizam os impactos ambientais, no tempo e no espaço (MMA, 2006).

No caso foi solicitação do Ministério Público Federal para a realização de

Estudo Integrada de Bacia Hidrográfica abrangendo dez aproveitamentos

planejados. A SEMA/MT acatou essa recomendação e emitiu Termo de

Referência/TR para um AAI o qual se encontra no Anexo 3. No caso da PCH

Jesuíta, o Diagnóstico Ambiental não foi aceito, pelo entendimento da SEMA/MT do

tamanho do reservatório estar fora dos padrões de uma PCH. Por isso, TR foi

elaborado para a confecção de EIA/RIMA. Também foram emitidos pela SEMA/MT

os termos de referência para elaboração dos EIA/RIMAs das UHEs Cachoeirão e

Juruena.

A AAI do Alto Juruena, conforme solicitação da SEMA/MT propôs-se a avaliar

a situação ambiental atual da bacia do Alto Juruena (figuras 7 e 8) e sua condição

futura, considerando os empreendimentos hidroelétricos já implantados, aqueles

licenciados sem a implantação e os demais empreendimentos propostos e/ou

possíveis, considerando a utilização total do potencial hidroelétrico para este trecho

do rio. O objetivo da realização do AAI foi à análise de alternativas de partição de 21 A época da aprovação dos diagnósticos ambientais, a secretária de meio ambiente era FEMA/MT.

Page 81: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

81

queda e na identificação e avaliação de impactos ambientais sinérgicos e/ou

cumulativos decorrentes da implantação do conjunto de aproveitamentos,

contemplando cenários prognósticos para horizontes de 10 e 20 anos (JGP, 2007).

Figura 7 - Área do estudo da AAI

Fonte: JGP, 2007

Page 82: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

82

Figura 8 – Imagem de satélite da área do estudo do AAI

Fonte JGP, 2007.

Page 83: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

83

5.3 FUNAI

O histórico dos fatos ocorridos de 2003 a 2007, do Processo/FUNAI №

08620.0407/2003, referente aos Estudos de Complementação dos Impactos Sócio-

ambientais e Sócio-culturais das oito Pequenas Centrais Hidrelétricas (Telegráfica,

Sapezal, Rondon, Parecis, Cidezal, Segredo, Ilha Comprida e Divisa) caracterizam a

linha de trabalho da FUNAI e mostram os procedimentos adotados pelo órgão

indigenista frente a um empreendimento do setor elétrico. A área definida para estudo contempla a bacia do alto e médio rio Juruena.

Trata-se de ofícios e informações acerca do empreendimento, e para a

produção do estudo complementar do componente indígena, o Termo de

Referência.

O texto a seguir, referente aos procedimentos adotados pela FUNAI e fatos

decorrentes destas é parte integrante do “Estudo Complementar do Diagnóstico

Antropológico das oito Pequenas Centrais Hidrelétricas/PCHs: Telegráfica, Sapezal,

Rondon, Parecis, Cidezal, Segredo, Ilha Comprida e Divisa”, da Empresa Mappa

Engenharia e Consultoria, 2007.

Em 2003, no mês de fevereiro, a empresa Documento Arqueologia e

Antropologia, solicita à FUNAI autorização para antropólogo realizar levantamento

da situação das sociedades indígenas nas terras dos índios Nambikwara, Enawenê-

Nawê e Menky. A autorização para realização do levantamento é concedida pela

Administração da FUNAI em Cuiabá-MT.

Em março do mesmo ano, a Fundação Estadual do Meio Ambiente do Estado

do Mato Grosso/FEMA/MT, comunica à FUNAI a tramitação dos processos de

licenciamento ambiental identificado como Complexo Juruena e, ressalta que, os

processos serão submetidos ao órgão indigenista para manifestação quanto aos

estudos antropológicos a serem realizados. E em outubro, a empresa Documento

Arqueologia e Antropologia encaminha à FUNAI relatório final referente ao Programa

de Diagnóstico Antropológico e de Patrimônio Arqueológico, Histórico e Cultural do

Complexo Juruena.

Page 84: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

84

Em abril de 2004, a FEMA/MT solicita à FUNAI posicionamento quanto à

incidência das UHEs, denominadas Cachoeirão e Juruena em terras indígenas. E

em julho, a FUNAI solicita ao órgão ambiental estadual plantas cartográficas

detalhadas com a posição do barramento e os contornos dos reservatórios e destaca

que os impactos diretos nas sociedades indígenas, não se restringem à construção

de empreendimentos no interior das terras indígenas e/ou a inundação de parte de

suas terras.

Em 2005, no mês de janeiro, com base nas plantas das áreas de influência

direta e indireta das UHEs Cachoeirão e Juruena, fornecidas pela FEMA/MT a

Diretoria Fundiária/DAF da FUNAI constata que o projeto da UHE Cachoeirão dista

aproximadamente 24, 85 km da terra indígena Nambikwara, 28,23 km da terra

indígena Enawenê-nawê e 40,14 da terra indígena Tirecatinga, e que a UHE

Juruena a ser implantada está localizada a 34,63 km da terra indígena Nambikwara,

38,17 km da terra indígena Tirecatinga e 56,16 km da terra indígena Utiariti.

Em fevereiro/2005, o Coordenador-Geral do CGPIMA encaminha

correspondência à FEMA/MT na qual: destaca que a viabilidade da implantação dos

referidos empreendimentos só poderá ser avaliada a partir dos EIA/RIMA, e dos

Estudos Etnoecológicos das comunidades indígenas atingidas direta e

indiretamente; solicita cópia do Termo de Referência utilizado pela FEMA/MT na

elaboração dos Estudos Ambientais; questiona a competência do órgão ambiental

estadual para licenciar empreendimentos que afetam terras indígenas; e solicita

informações sobre os licenciamentos ambientais das PCHs Telegráfica, Segredo,

Sapezal, Rondon, Parecis, Jesuíta, Ilha Comprida, Divisa e Cidezal, planejadas para

serem implantadas ao longo do rio Juruena.

Em março/2005, a FEMA/MT encaminha o Ofício № 139/COIF/DIMI,

contendo os seguintes expedientes: carta georreferenciada com os dados referentes

à posição dos empreendimentos em relação às terras indígenas; e, cópias das

licenças de instalações/LIs, concedidas juntamente com o parecer técnico de cada

uma das nove PCHs - Telegráfica LI № 044/2004, Segredo LI № 045/2004, Sapezal

li № 1.071/2004, Rondon LI № 040/2004, Parecis LI № 039/2004, Jesuíta (em

estudo) , Ilha Comprida LI № 043/2004, Divisa LI № 102/2004 e Cidezal LI №

041/2004. Com referência as UHEs Cachoeirão e Juruena, informa-se que estão

Page 85: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

85

sendo realizados novos estudos ambientais. Também são encaminhados a FUNAI

pelos empreendedores - Consórcio Juruena, os Ofícios LP20, LP21, LP22, LP23 e

LP24, dando conhecimento da chamada da Eletrobrás para contratação das PCHs e

solicitando o parecer sobre o Diagnóstico Antropológico protocolado pela Empresa

Documento Arqueologia e Antropologia em 17.10.2003.

Em junho de 2005, em atenção ao pedido do Consórcio Juruena a CGPIMA

comunica que a anuência do Diagnóstico Antropológico dependerá dos resultados

da análise e posicionamento da FUNAI em relação “aos processos de licenciamento

e documentos pertinentes”. O Consórcio Juruena encaminha à FUNAI, Ofício

№382/2005, da Coordenação-Geral de Licenciamento Ambiental do IBAMA, no qual

é ressaltada a competência da FEMA/MT para licenciar as PCHs em função da não

interferência dos empreendimentos em terras indígenas.

Em agosto/2005, representante do Consórcio Juruena, em função da ameaça

de cancelamento do contrato das PCHs pela Eletrobrás, solicita à CGPIMA,

prioridade absoluta na análise do Diagnóstico Antropológico vinculado às licenças

das PCHs. E em outubro é realizada reunião entre os técnicos do CGPIMA e a

Empresa Linear com o objetivo de obter a anuência da FUNAI para o início das

obras de cinco PCHs Telegráfica, Rondon, Sapezal, Cidezal e Parecis, sendo

deliberados os seguintes encaminhamentos:

1) A FUNAI sente necessidade de complementação de estudos,

encaminhamentos e ações, que uma vez solicitadas à Linear, esta se compromete a

atender prontamente;

2) Em razão da necessidade da Linear de iniciar imediatamente as obras,

será firmado entre esta e a FUNAI, Termo de Compromisso assegurando que tais

obras não impedirão a vazão do rio;

3) A assinatura do Termo de Compromisso caracterizará a anuência da

FUNAI, para o início das obras;

4) A Linear enviará minuta de Termo de Compromisso à FUNAI, para

análise e assinatura;

5) A FUNAI fará a análise dos estudos já apresentados e solicitará

eventuais complementações, e que a Linear compromete-se a atender.

Page 86: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

86

Concomitantemente com a realização dos estudos complementares e das obras a

serem implantadas, na forma do Termo de Compromisso, a FUNAI solicitará a

realização de programas e ações de mitigação ou compensação, em razão dos

eventuais impactos nas terras indígenas na região do empreendimento.

Ainda em outubro de 2005, por meio da informação CGPIMA/FUNAI № 285,

de 21.10.2005 e do Ofício № 449, de 4.11.2005, a FUNAI encaminha aos

empreendedores o Termo de Referência/TR, para a realização de estudos

complementares do Diagnóstico Antropológico. E em novembro a FUNAI encaminha

o Ofício № 504/CMAM/CGPIMA/05 à SEMA/MT, concedendo anuência para

implantação das cinco PCHs Telegráfica, Sapezal, Rondon, Parecis e Cidezal,

autorizando sob condicionantes o início das seguintes obras:

(...) abertura de acessos; implantação dos canteiros de obras; construção de estruturas de concreto; obras de terra e terraplanagem sobre as margens do Rio Juruena; construção de obras de concreto da tomada d’água e casa de força sob o Rio Juruena e outras obras que não afetam a vazão natural do Rio Juruena.

Em janeiro de 2006 é encaminhado à SEMAM/MT o Ofício №

02/CMAM/CGPIMA/06, ratificando a anuência concedida pela FUNAI sob o Ofício №

504/CMAM/CGPIMA/05 para o início das obras da cinco PCHs. A Coordenadora-

Geral Substituta da CGPIMA, Maria Janete Albuquerque de Carvalho, em resposta

ao Ofício PRDC/MT/C/№ 027, de 3.2.2003, encaminha à Procuradoria-Geral da

República o Ofício № 054/CMAN/CGPIMA/06, de 26.1.2006, informando que as

PCHs Segredo, Sapezal, Jesuíta, Parecis, Cidezal, Ilha Comprida, Telegráfica e

Rondon, não estão localizadas em terras indígenas.

Em maio/2006 é realizada na sede da Administração Executiva Regional da

FUNAI/AER em Cuiabá, reunião com a equipe técnica da Empresa MAPPA

Engenharia e Consultoria Ltda e funcionários do órgão indigenista para tratar das

consultas às comunidades indígenas sobre a realização dos Estudos

Complementares para o Licenciamento Ambiental das PCHs do Complexo Juruena,

MEMO № 83/GAB/AERCGB/06.

Page 87: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

87

Em junho de 2006 com a anuência das comunidades indígenas Enawenê-

nawê, Menky, Nambikwara, Paresi e Rikbaktsa e autorização da Coordenação-Geral

do Patrimônio Indígena e Meio Ambiente - CGPIMA - MEMOS/NAL Juína N°s

081/06 e 89/06; MEMOS/AER Tangará da Serra №s 145/06 e 156/06;

MEMO/SEMAN/AER/Cuiabá N°180/06 e MEMOS/CGPIMA №s 507/06, 543/06,

635/06, e 670/06, os técnicos da empresa MAPPA ingressaram nas terras indígenas

Enawenê-nawê, Menky, Nambikwara, Pirineus de Souza, Tirecatinga, Juininha,

Paresi, Uirapuru, Utiariti, Erikbaktsa e Japuíra, para realizarem os levantamentos de

campo referentes à implantação de apenas cinco PCHs Telegráfica, Sapezal,

Rondon, Parecis e Cidezal. Conforme Relatório Simplificado da Empresa MAPPA, os

objetivos principais dos trabalhos de campo foram:

1) coletar informações detalhadas sobre as comunidades e terras

indígenas da Bacia do Alto Rio Juruena; e,

2) apresentar aos índios o processo de licenciamento ambiental do setor

elétrico, os possíveis impactos sócio-ambientais e sócio-culturais gerados com a

implantação das oito PCHs, e as medidas mitigadoras, compensatórias e

indenizatórias de responsabilidade do empreendedor. Durante os trabalhos de

campo foram georrefenciadas 11 terras indígenas, 88 aldeias e vários pontos no rio

Juruena, totalizando 283 pontos georreferenciados. Todas as reuniões realizadas

nas terras indígenas e nas Administrações Regionais da FUNAI foram formalizadas

por meio de lavratura de atas.

Em dezembro/2006 realizou-se reunião na Aldeia Sacre II da Terra Indígena

Utiariti com presença das lideranças das etnias Enawenê-nawê, Paresi, Erikbaktsa e

Nambikwara, dos representantes das Administrações da FUNAI de Cuiabá e

Tangará da Serra e dos Núcleos de Apoio Local/NAL, de Juína e Vilhena/RO, do

técnico do CGPIMA/FUNAI, dos empreendedores Juruena Participações e

Investimentos e Maggi Energia e dos técnicos da empresa MAPPA Engenharia e

Consultoria Ltda. A reunião foi para apresentação dos Estudos de Avaliação dos

Impactos Ambientais e Antrópicos das cinco PCHs Telegráfica, Sapezal, Rondon,

Parecis, e Cidezal e visita técnica à PCH Salto Belo, implantada na margem direita

do Rio Sacre limite leste da Terra Indígena Utiariti.

Page 88: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

88

Ainda em dezembro é realizada na Administração Central da FUNAI, reunião

entre os técnicos da CGPIMA, os representantes da Empresa MAPPA e os

empreendedores para deliberar sobre o andamento dos trabalhos de licenciamento

do Complexo Juruena, sendo deferidas as seguintes medidas:

1) Agendar reunião para o dia 10.1.2007, na Administração da FUNAI em

Juína/MT, para com a presença das lideranças indígenas, representantes do

CGPIMA/FUNAI, da Empresa Mappa Engenharia e Consultoria Ltda, da Jurena

Participações e Investimentos S/A, Maggi Energia S/A e do Público em geral, e

reapresentar os Estudos de Avaliação Geral dos Impactos Ambientais das cinco

PCHs: Telegráfica, Sapezal, Rondon, Parecis e Cidezal;

2) Aprovar preliminarmente os estudos sobre os Impactos Antrópicos e

Ambientais, as Medidas Mitigadoras e Compensatórias e o Programas e

Subprogramas, Elaborados pela Empresa MAPPA Engenharia e Consultoria Ltda,

apresentados em 2.12.06, na Aldeia Sacre II, na Terra Indígena Utiariti (MT),

referentes às PCHs Telegráfica, Sapezal, Rondon, Parecis e Cidezal; e,

3) Ratificar, para fins de renovação das LIs, das PCHs Telegráfica LI № 044,

Rondon LI № 040, Parecis LI № 039, Sapezal LI № 042 e Cidezal LI № 041, nos

termos dos Ofícios № 504/CMAM/CGPIMA/05, de 22.11.2005, №

02/CMAM/CGPIMA/06, de 02/01/2006 e № 97/CMAM/CGPIMA/06, de 16.2.2006,

encaminhados à Superintendência de Infra-Estrutura, Mineração, Indústria e Serviço

do Estado do Mato Grosso.

Em janeiro de 2007 realizou-se nova reunião técnica no auditório do Serviço

Nacional de Aprendizagem Industrial/SENAI, na cidade de Juína/MT, com a

presença dos técnicos do CGPIMA/MT, representantes da FUNAI das

Administrações de Cuiabá e Tangará da Serra, dos Núcleos de Apoio de Juína e

Vilhena/RO, das Empresas Juruena Participações e Investimento S.A e Maggi

Energia SA, dos técnicos da MAPPA Engenharia Consultoria Ltda, das lideranças

das terras indígenas Menku, Nambikwara, Enawenê-Nawê, Pirineus de Souza,

Uirapuru, Erikbaktsa, Japuira, Paresi, Tirecatinga, Utiariti e Juininha, sendo

aprovado:

1) Programas e Subprogramas das Medidas de Compensação e Mitigação

e Indenização elaborados pela Empresa MAPPA;

Page 89: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

89

2) Renovação das Licenças de Instalações - LIs -, das oito PCHs; e,

3) Autorização para realização dos estudos de impactos das PCHs

Segredo, Ilha Comprida e Divisa.

Ainda em janeiro/2007 por meio do Ofício n°.018/CMAM/CGPIMA/07, de

29.1.2007, encaminhado ao Superintendente de Infra-Estrutura, Mineração, Indústria

e Serviço do Estado do Mato Grosso, a FUNAI manifesta-se favorável à renovação

das licenças de Instalação das oito PCHs - Telegráfica, Rondon, Sapezal, Cidezal,

Parecis, Ilha Comprida, Divisa e Segredo.

Em fevereiro/2007, a equipe técnica da Empresa MAPPA realizou reuniões

nas TIs Enawenê-nawê, Menky, Utiariti, Tirecatinga, Paresi, Juininha, Uirapuru,

Nambikwara e Erikbatsa, solicitada pelas comunidades indígenas para

complementação das informações a respeito das oito PCHs que integram o

Complexo Juruena e dos Estudos de Complementação dos Impactos Sócio-

ambientais e Sócio-culturais, objeto do Termo de Referência da FUNAI.

Em março é realizada reunião entre os funcionários da Administração da

FUNAI em Cuiabá/MT, técnicos da Empresa MAPPA e representante dos

empreendedores MAGGI Energia S.A e Juruena Participações e Investimentos para

apresentação da versão preliminar do Plano de Gestão Integrada das Terras

Indígenas da Bacia do Alto Juruena, resultante dos Estudos de Avaliação dos

Impactos Ambientais da implantação das oito Pequenas Centrais Elétricas que

integram o Complexo Juruena, sendo deferidas as seguintes medidas:

1) Aprovação dos Planos de Sustentabilidades Organizacional, Sócio-

ambiental, Sócio-econômica e Etnodesenvolvimento, Cultural e de Áreas Naturais

Protegidas;

2) Realização de reunião entre FUNAI Empreendedores e a Empresa

MAPPA para entendimento do custo do Plano; e,

3) Apreciação do Plano pelas comunidades indígenas.

Ainda em março/2007, a Presidência da FUNAI, por meio da Portaria №

160/PRES/2007, de 8.3.2007, constitui um Grupo de Trabalho com a finalidade de

acompanhar os Processos de Licenciamento Ambiental incidentes nas Terras

Indígenas da Bacia do Alto Juruena. Nesse mês, a Secretaria de Estado do Meio

Page 90: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

90

Ambiente - SEMA/MT renovou as Licenças de Instalação das PCHs Parecis,

Rondon, Telegráfica, Sapezal, Cidezal, Ilha Comprida, Divisa e Segredo.

Em maio/2007, a empresa MAPPA Engenharia e Consultoria encaminha ao

Coordenador do Grupo de Trabalho instituído pela Portaria № 160/PRES/2007, o

Relatório Simplificado do Estudo Complementar do Diagnóstico Antropológico das

PCHs: Telegráfica, Sapezal, Rondon, Parecis, Cidezal, Segredo, Ilha Comprida e

Divisa, juntamente com o Plano de Gestão Integrada das Terras Indígenas da Bacia

do Alto Rio Juruena.

Em junho/2007 é realizada reunião na Administração da FUNAI na cidade de

Cuiabá/MT, em que o Grupo de Trabalho instituído pela Portaria № 160/PRES/2007,

aprova os eixos temáticos do Plano de Gestão Integrada da Bacia do Alto Juruena.

Em agosto é protocolado na DAF a entrega do relatório e esse anexado ao

processo.

Em outubro o estudo é analisado e aprovado por meio da Informação

327/CEMAN/CGPIMA/FUNAI.

Page 91: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

91

CAPÍTULO 6 – ANÁLISE ENTRE OS DISPOSITIVOS LEGAIS, PROCEDIMENTOS E CONFLITOS DO PROCESSO DE NEGOCIAÇÃO INSTITUCIONAL

Conflitos sócio-ambientais são aqueles:

“[...] que tem elementos da natureza como objetivo e que expressam relações de tensão entre interesses coletivos e interesses privados”. [...] Em geral, eles se dão pelo uso ou apropriação de espaços e recursos coletivos por agentes econômicos particulares, pondo em jogo interesses que disputam o controle dos recursos naturais e o uso do meio ambiente comum, sejam esses conflitos implícitos ou explícitos (GUIMARÃES J; LIMONCIC, 2005, p. 27 apud SCOTTO, 1997, p. 58)”.

Com relação ao caso das oito PCHs projetadas para a bacia do Alto rio

Juruena, verifica-se interesses conflitantes pelo recurso natural: o empreendedor

interessado no uso dos recursos hídricos do rio Juruena na esfera econômica; o

Estado de Mato Grosso e os municípios na construção da obra e desenvolvimento

da região, portanto interesses sociais e econômicos; e a preocupação dos recursos

naturais na esfera cultural para as comunidades indígenas. O respeito à legislação

pertinente se verifica em relação aos interesses próprios de cada agente, na

utilização dos dispositivos legais em relação ao seu entendimento quanto ao uso de

espaços e o controle dos recursos ambientais existentes (tabela 4):

Tabela 4 – Informações relacionadas às entidades governamentais no caso das oito PCHs da Bacia do Alto rio Juruena

Agente Público

Documentos exigidos

Contexto Político Área de impacto considerada

Processo Aprovado

ANEEL

Inventário Hidrelétrico

Simplificado e Plano Básico

Suprimento de energia

Bacia do alto Juruena (da ponte da rodovia MT 235 a foz do rio

Juína)

2002

SEMA/MT

Diagnóstico Ambiental

(simplificado) e AAI

Questão ambiental Bacia do alto Juruena (das nascentes a foz

do rio Juína)

2002

e 2007

FUNAI

Estudo do Componente Indígena e

Complemento do Componente

Indígena

Proteção de minoria/comunidades

indígenas

Bacia do alto e médio Juruena

2003

e 2007

Page 92: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

92

A própria definição da área a ser impactada (direta e indiretamente) é

diferente para a ANEEL, SEMA/MT e FUNAI. Como trabalham com áreas distintas,

dados e levantamentos não são realizados em todos os percursos considerados.

Para a ANEEL, a área do estudo é o trecho inventariado: o segmento entre a foz do rio Juína, a jusante, e a ponte da rodovia MT-235, a montante (na bacia do alto Juruena). Para a SEMA/MT a área de estudo é a contemplada no

Diagnóstico Ambiental: a área das cabeceiras do rio Juruena à foz do rio Juína (bacia do alto Juruena). E para a FUNAI, a área do estudo a ser considerada é a área da bacia do alto e médio rio Juruena, das cabeceiras até a foz com o rio Arinos, conforme mapa 1 a seguir:

Page 93: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

93

MAPA A3 DOS TRAÇADOS

Page 94: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

94

Os conflitos são contínuos e evolutivos, como a permanência das PCHs

depois da construção e a solicitação das comunidades indígenas por “royalts” sobre

a energia produzida. Isso porque estão baseados no contexto social em que se

encontram.

Observa-se que os três agentes públicos (ANEEL, FUNAI e SEMA/MT)

apresentam diferentes níveis de conhecimento e entendimento acerca da utilização

dos recursos naturais e trabalham também, de forma distinta as informações

disponíveis. Os níveis de comando de cada um desses agentes demonstram a

diferença de poder existente entre eles e o que representam. E há ainda a questão

cultural, com valores distintos para o uso dos recursos naturais, uma visão de mundo

diferente das comunidades indígenas/FUNAI, em contraponto com a sociedade

nacional e seus representantes/ANEEL e SEMA/MT.

E a representatividade ligada a real competência de cada agente público: a

questão da legalidade dos interesses da ANEEL, FUNAI e SEMA/MT e a correta

interpretação/cumprimento da legislação vigente.

Quanto à definição do instrumento para o licenciamento ambiental, a

Resolução CONAMA 237/97 leva em consideração a competência discricionária do

órgão ambiental para valoração e apreciação tendente a exigir ou descartar o

EIA/RIMA, podendo substituí-lo por modalidade mais simples de Avaliação de

Impacto, como o Diagnóstico Ambiental (MILARÉ, 2006).

Portanto, no caso concreto da 8 PCHs da bacia do alto rio Juruena, com a

verificação dos pressupostos legais e os objetivos (considerando o não significativo

impacto ambiental) estabeleceu o diagnóstico ambiental como espécie de avaliação.

Já o caso do estudo do inventário: os aproveitamentos estudados não

definem impactos ambientais significativos nas comunidades indígenas regionais

tendo em vista as distâncias dos futuros empreendimentos em relação a estas

áreas, o pequeno porte das hidrelétricas a serem implantadas e a pequena

dimensão das áreas de inundação destes empreendimentos.

Fato esse contestado pela FUNAI e demonstrado no estudo complementar

solicitado pelo órgão indigenista. A proximidade dos barramentos em relação a TI

Nambikwara (mapa 2) e a intensa relação do grupo indígena Enawenê-Nawê com o

Page 95: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

95

ciclo hidrológico do rio Juruena, são impactos ambientais a serem considerados.

Mesmo estando fora dos limites das terras indígenas, 20 km, 30 km devem ser

analisados segundo a FUNAI. É preciso considerar ainda os impactos antrópicos, de

valoração importante para essa entidade, que acaba por abarcar um território maior

que as terras indígenas consideradas, diferentemente do que avaliam a ANEEL e a

SEMA/MT.

Muito da divergência sobre a área de estudo e/ou impactada se deve a

utilização, muitas vezes, por parte do órgão indigenista, da amplitude do conceito de

território22, que não se restringe ao conceito de limites de terras indígenas23. Caso

não apenas dos Nambikwara, etnia mais próxima às PCHs, conforme mapa 2 ilustra,

mas que pela ótica da FUNAI se estende aos demais povos indígenas.

A importância da territorialidade e do domínio dos limites das terras pode ser

percebido, pelo território tradicional (mais extenso) e a área identificada e

demarcada, no caso dos Nambikwara da TI Nambikwara, fato este de conhecimento

da FUNAI, descrito no Relatório de Identificação e delimitação da Reserva Indígena

Nambikwara:

Os índios têm plena consciência das terras que a eles foram reservadas, sabendo inclusive que as terras que eles ainda utilizam, entre os rios Formiga e Juína, não mais lhes pertencem (FUNAI, PROCESSO 0832/82, p. 23 apud MAPPA, 2007).

Os Nambikwara da Reserva tem plena consciência dos limites da mesma e do que esta representa em termos legais. Se perguntados sobre a extensão de suas terras, eles respondem que estas vão do Doze de Outubro até o Juína e subindo este até o rio Caraná, ou seja, os limites exatos da Reserva. Quando falam da questão da terra, expressam em suas palavras, um misto de revolta e resignação pelo “pedacinho de terra” que o governo decretou para eles. Sabem que aquilo que ficou fora da reserva não mais lhes pertence muito embora continuem visitando antigas aldeias, onde seus antepassados estão enterrados, e caçando em lugares tradicionais de caça. Dizem que, “enquanto der”, ou seja, enquanto deixarem continuarão se utilizando de tais áreas (FUNAI, PROCESSO 0832/82, p. 20).

22 Vivência, culturalmente variável, de relação entre uma sociedade específica e seu espaço (ALMEIDA, 2004). 23 Processo jurídico conduzido sob a égide do Estado (ALMEIDA, 2004). Neste processo há a definição de limites dos espaços tradicionais indígenas, definidas com o terras indígenas.

Page 96: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

96

Mesmo utilizando espaços no rio Formiga, não há pedido dos índios para

reestudo dessa terra indígena. A própria Coordenação-Geral de Meio Ambiente e do

Patrimônio Indígena - CGPIMA/FUNAI -, em resposta à consulta da Procuradoria-

Geral da República (Anexo 4), reconhece a não incidência dos projetos de geração

de energia no Estado do Mato Grosso em terras indígenas.

Conforme coordenadas geográficas fornecidas pela SEMA-MT e posterior plotagem realizada pela Diretoria de Assuntos Fundiários desta Fundação, informamos que nenhum dos empreendimentos citados estão localizados dentro de Terras Indígenas do Estado do Mato Grosso.

Quando se analisa as distâncias de cada PCH às onze terras indígenas

(tabela 4), os dados revelam a preocupação da FUNAI com o entorno e o

entendimento de que os impactos antrópicos de um empreendimento tem um raio

muito maior que o considerado pelos outros órgãos.

Tabela 5 - Distância das oito PCHs às onze Terras Indígenas

Telegráfica Rondon Parecis Sapezal Cidezal Segredo Ilha Comprida

Divisa Terra Indígena

30,00 MW 13,1 MW 15,4 MW 16,2 MW 17,1 MW 21,0 MW 18,6 MW 9,5 MWNambikwara 16,7 21,1 29,2 34,4 40,7 30,7 33,1 27,3

Enawenê-Nawê

19,6 24,8 44,2 66,1 77,3 64,2 57,9 79,8

Tirecatinga 51,2 47,9 45,9 45,4 45,1 47,0 42,0 58,6 Pirineus de

Souza 103,0 105,2 102,6 106,8 113,5 102,8 105,6 102,2

Paresi 126,6 121,3 102,6 81,3 69,7 85,2 88,7 71,2 Juininha 158,3 153,2 133,7 112,2 100,8 116,1 120,3 101,5 Uirapuru 170,1 165,7 145,6 124,0 113,4 77,4 71,3 74,5 Utiariti 69,6 67,5 74,3 73,5 64,2 118,1 123,0 101,3 Menku 76,6 80,0 99,6 120,4 130,0 120,9 113,8 138,4

Erikbaktsa 167,0 171,0 191,0 212,5 223,0 209,3 204,0 227,2 Japuíra 215,0 219,8 239,9 261,0 272,0 258,2 253,1 275,8

Fonte: MAPPA, 2007.

Page 97: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

97

Mapa 2 – Localização dos Eixos dos Barramentos em relação à TI Nambikwara

Fonte: MAPPA, 2007

Page 98: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

98

Por outro lado, deve-se considerar o fator Interesse Público. O Estado é o

agente principal e obrigatório no processo de resolução de conflitos gerados por um

empreendimento. A questão é: o Estado é o definidor dos requisitos para o uso

consciente dos recursos naturais, e deseja o seu uso. A ANEEL (esfera federal) com

o cumprimento das normas para autorização de PCH, tem interesse na produção de

energia, incluso incentivos fiscais e facilidades. Neste sentido entra em conflito com

a FUNAI (esfera federal), responsável pelas comunidades indígenas que também

utilizam os recursos naturais, nesse caso os recursos hídricos do rio Juruena. E a

SEMA/MT representa a esfera estadual que tem interesse na construção das PCHs

em benefício da sua federação.

O ponto comum é que em caso de eventuais impactos, estes poderão ser

minimizados com a implantação de programas ambientais como medidas

compensatórias.

No inventário, os estudos e a avaliação dos impactos ambientais, a

possibilidade de impactos ambientais pela implantação dos empreendimentos foi

definida como de baixo grau de intensidade, com benefícios regionais que

favorecem o desenvolvimento dos municípios na área de inserção dos

empreendimentos (PCE, 2002).

Uma justificativa apresentada é que o grau de impacto das alternativas é

significativamente pequeno, quando comparado a outros empreendimentos de

geração de energia a partir de potencial hidráulico inseridos em áreas de maior

desenvolvimento (inventário). Porque baseados em arranjos simples, barramentos

de pequena altura e equipamentos de geração de energia fundamentados no

aproveitamento dos desníveis naturais dos rios, ao invés da formação de extensos

reservatórios de acumulação, o contexto ambiental se mostrou extremamente

favorável (PCE, 2002).

Assim, segundo à ótica da ANEEL, os aproveitamentos estudados e

aprovados apresentaram baixos índices de impacto ambiental devido ao porte,

localização e alternativa de implantação. Destaca-se, do ponto de vista ambiental,

que não há nenhuma restrição marcante à implantação dos mesmos, tendo-se

registrado apenas graus de impacto diferenciados.

Page 99: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

99

E a SEMA/MT com base na legislação ambiental e diagnóstico ambiental

apresentado expediu as LIs do empreendimento. Mas em janeiro de 2006, as

Licenças de Instalação das PCHs venceram e não foram renovadas. Foi quando se

estabeleceu a necessidade de elaboração do AAI como condição para a renovação

das mesmas. Emitiu-se um TR, que focou principalmente a análise de alternativas

de partição de queda e a identificação e avaliação dos impactos ambientais

sinérgicos e/ou cumulativos decorrentes da implantação do conjunto de

aproveitamentos, com prognósticos de cenários para horizontes de 10 e 20 anos. As

novas LIs (Anexo 5) ficaram condicionadas a um estudo do conjunto das oito PCHs,

diferentemente das primeiras que consideraram cada uma individualmente.

Page 100: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

100

CONCLUSÃO

A pesquisa buscou atender o objetivo de identificar os dispositivos legais e os

procedimentos para empreendimentos do setor hidrelétrico e os conflitos entre

instituições públicas que têm por competência a defesa de recursos naturais, onde a

energia hidrelétrica é vista como bem público, e de órgãos responsáveis por outros

grupos da sociedade, relacionados aos três agentes públicos ANEEL, SEMA/MT e

FUNAI, com base em um estudo concreto: das oito PCHs inseridas na bacia

hidrográfica do alto rio Juruena.

Para isso foi realizada a caracterização dos processos exigidos pela

legislação e com base nos documentos/estudos para os três Órgãos, uma análise

legal referente aos conflitos e proposição de recomendações.

O argumento inicialmente levantado foi que os Órgãos Públicos (ANEEL,

SEMA/MT e FUNAI) trabalham individualmente para a realização de um

empreendimento, sendo a legislação ambiental palco de conflitos. Confirmou-se que

as instituições possuem diferentes pontos de vista das normas do licenciamento

ambiental e modos de interpretação/adequação de estudos de impacto ambiental,

devido a sua cultura e sua herança de atuação política na esfera de implementação

de projetos ambientais.

A elaboração de diferentes instrumentos de gestão ambiental para a

aprovação de um empreendimento, definida por cada entidade pública acaba por

alongar o processo legal, devido às análises não integradas realizadas

administrativamente. O processo iniciado em 2002 com o inventário e tendo a

aprovação dos estudos indígenas aprovados apenas no fim de 2007, perfazem na

verdade, cinco anos de negociação para o início das obras, considerando que foi um

estudo ambiental simplificado.

Um dos grandes conflitos detectado foi a definição do tipo de estudo, atrelado

ao significativo impacto do empreendimento. Ocorre que o EIA só é exigido quando

houver significativo impacto ambiental e que as outras modalidades de avaliação de

impacto ambiental, como o diagnóstico, encontram-se em condições de igualdade

Page 101: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

101

com o EIA, e que o objetivo de um estudo é o de avaliar e quantificar, previamente, o

grau de impacto que determinado empreendimento possa causar.

Com a análise legal detectou-se que o setor elétrico atende a uma legislação

especifica para PCHs, com critérios para o licenciamento ambiental. Cartilha para

apresentação de inventário, definição de uma PCH, dentre outros.

A SEMA/MT também define seus critérios por meio de termos de referência

para diagnósticos ambientais e/ou EIA/RIMA. Mas, anteriormente, há dispositivos

para a definição do estudo apropriado para o licenciamento.

A FUNAI, entretanto, não apresenta dispositivos legais para licenciamento,

sendo sua legislação voltada principalmente, para a questão fundiária. A CF/88

define no Art. 231, no § 3°que os aproveitamentos dos recursos hídricos em terras

indígenas só podem ser realizados com autorização do Congresso Nacional.

O texto constitucional trata de empreendimentos dentro das terras indígenas,

dentro dos limites físicos demarcados pela FUNAI. No entorno não há menção na

CF, sendo o Decreto № 1.141/1994, que trata da proteção ambiental, saúde, e apoio

às atividades produtivas das comunidades indígenas, a determinar o controle

ambiental das atividades potencial ou efetivamente modificadoras do meio ambiente,

mesmo aquelas desenvolvidas fora dos limites das terras indígenas que afetam. Mas não estipula quanto fora dos limites, sendo os critérios abrangentes, com o

espaço definido pelo CGPIMA/FUNAI à época do empreendimento.

Em 2003, no primeiro estudo do componente indígena, a área de impacto

definida estava apenas na região do alto Juruena. Em 2005, definiu-se o alto e o

médio Juruena com a inclusão da etnia Rikbaktsa e mais duas terras indígenas.

Assim, o licenciamento de empreendimentos e atividades potencialmente

poluidores, que utilizam a Avaliação de Impactos Ambientais/AIA em suas análises,

subsidia apenas as decisões de aprovação de projetos individuais. Isso porque as

PCHs são estudadas uma a uma e não em conjunto.

Atualmente os estudos exigidos para licenciamento levam em conta os efeitos

locais dos empreendimentos, em que cada entidade tem interpretado essa condição

de forma particular, o que não deveria estar acontecendo. Em geral, ainda não se

está exigindo estudos integrados e estratégicos das bacias hidrográficas como

Page 102: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

102

instrumento precedente à liberação de licenças. Entretanto, tal procedimento está

começando a mudar.

Com as PCHs da bacia do Alto rio Juruena, o Ministério Público Federal

solicitou estudo integrado dos empreendimentos no rio Juruena e a SEMA/MT

acatou, como condicionante para a renovação das licenças de instalação.

Mas a metodologia da AAI também parece ser palco de diferentes

interpretações. Isto pode ser observado no Estudo de Avaliação Ambiental Integrada

da Bacia do Alto Juruena, de autoria da Empresa JGP Consultoria Participações

Ltda, exigido pela SEMA/MT ao empreendedor. Isso, porque a análise dos impactos

foi feita apenas no trecho do rio Juruena, desconsiderando, inclusive uma PCH do

Complexo que tem seu projeto no rio Formiga, tributário do rio Juína e posterior

tributário do Juruena. Não foram consideradas outros empreendimentos hidrelétricos

na bacia do rio Juruena, mas apenas os que necessitavam de licença.

Observou-se, portanto, que ainda não há uma análise do efeito cumulativo

(sinérgico) das PCHs em toda a bacia, e sua relação com o ambiente para um

desenvolvimento sustentável da região. Considera-se apenas o curso do rio onde

está o empreendimento, e não os seus tributários e outros empreendimentos como

rodovias neste espaço definido.

Outro fator observado com os estudos é a constatação de que a bacia do rio

Juruena não apresenta projeto para utilização das águas, que não o uso

hidroenergético. Mas para a sociedade no entorno dos empreendimentos, as PCHs

representam possibilidades de melhorias. Com a formação dos reservatórios dos

aproveitamentos existe a possibilidade de usos múltiplos da água, um impulso para

outros usos dos recursos hídricos como: captação de água para irrigação de

pequenas áreas, piscicultura, manutenção das vazões mínimas para operação das

usinas, atividades de recreação e lazer.

Uma estruturação do comitê da bacia do rio Juruena para discussão do

possíveis usos da água (hoje o potencial é voltado para a produção de energia

hidroelétrica) representa a viabilização de outras praticas de uso, economicamente

viáveis e sustentáveis para outros atores sociais.

Page 103: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

103

No caso da piscicultura, após a implantação dos reservatórios pode-se

estabelecer um uso compartilhado com atividades de pesca utilizando-se das águas

dos lagos para criar espécies adequadas ao ambiente lótico. Esta possibilidade

deverá ser discutida com lideranças locais para a existência de interesse na região,

e caso afirmativo, deve-se proceder com estudos.

E quanto a considerações sobre o aspecto sócio-econômico, é possível

afirmar que apesar do elevado investimento inicial, esse é compensado pelo

reduzido custo de operação e manutenção ao longo da vida útil de uma usina24.

Outro fator já comprovado em estudos é o de que os países desenvolvidos são os

que apresentam os maiores índices de aproveitamento de seu potencial hidrelétrico.

E que onde é maior a pobreza, menor é o desenvolvimento do potencial hidrelétrico

disponível25.

Assim, o que é preciso entender é que aproveitamentos hidrelétricos, quando

consideradas as questões legais, ambientais e sociais se mostram como um vetor

de desenvolvimento para o ser humano.

Para um uso conjunto da bacia do rio Juruena, o empreendedor pode se

associar às comunidades indígenas como um parceiro na preservação dos recursos

hídricos. Como as cabeceiras do rio Juruena estão em terras indígenas, espaço

esse preservado, a manutenção da qualidade da água passa a ser positivo,

diferentemente do entorno degradado conforme ilustra o mapa 3:

24 Vida útil que pode ir muito além dos 50 anos normalmente considerados nos estudos de avaliação econômica de projetos (Tolmasquim, 2005, p. 20). 25 Estudo apresentado pelo Banco Mundial, na International Conference for Renewable Energies, realizada em Bonn, em junho de 2004 (Tolmasquim, 2005, p. 20).

Page 104: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

104

Imagem de satélite

Page 105: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

105

O mapa 3 é a prova da situação real a ser trabalhada. Reconhecidamente a

região foi historicamente território de diferentes etnias, que nos dias de hoje tem

suas terras reconhecidas e demarcadas. Na época da realização dos estudos de

identificação, a região passou a ser o pólo de expansão agrícola e seu povoamento

intensificado pela sociedade nacional.

Pela imagem de satélite percebe-se a ocupação ao longo e entorno do rio

Juruena bem como de seus tributários por propriedades agropecuárias, base da

economia do Estado de Mato Grosso. Ainda assim, os recursos hídricos do rio

Juruena não são usados para irrigação ou mesmo abastecimento. Fato que o setor

elétrico, com a construção das PCHs pretende modificar, com programas de

integração para a bacia hidrográfica.

É preciso, portanto, uma maior integração entre os Órgãos Públicos, como o

reconhecimento de uma estrutura de ocupação já consolidada na região, e um

trabalho em conjunto, como a definição de um Termo de Referência único, como da

própria área direta e indireta do empreendimento.

Outra medida a ser levantada é da integração de projetos de produção de

energia e comunidades indígenas. Um fato, por exemplo, que deve estar presente

nos processos de licenciamento é de que a própria Lei Brasileira reconhece a

importância dos índios e suas terras indígenas para a preservação do meio

ambiente. Essa preservação, como no caso das nascentes do rio Juruena, é uma

garantia da matéria-prima de uma central hidrelétrica.

Page 106: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

106

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA, Soraya Campos de. Conflito em Torno da Implantação da Pequena Central Hidrelétrica de Ponte de Pedra no Território Indígena Paresi (Estado do Mato Grosso). Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade de Brasília, Brasília, 2004. ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. 9ª Edição revista, ampliada e atualizada. Rio de Janeiro: Lúmen Júris Editora, 2006. ALVARENGA, Luciano j; CASTRO, Frederico do Valle F.; GUERRA, Amanda E.; RODRIGUES, Ludmila A; LAGES, Simone G. A Nova Territorialidade sobre a Ótica da Política de Recursos Hídricos. Disponível em: http://www.anppas.org.br/encontro_anual/encontro2/GT03/luciano_alvarenga.pdf. Acesso em: 4 nov.2007. BERNARDO, Maristela. Políticas Públicas e Sociedade Civil. In: BURSZTYN, Marcel. A Difícil Sustentabilidade. Política energética e conflitos ambientais. Rio de Janeiro: Garamond Universitária, 2001. BRASIL, COMASE - Comitê Coordenador das Atividades de Meio Ambiente do Setor Elétrico. Legislação Ambiental de Interesse do Setor Elétrico: Nível Federal. Atualização de Carlos Frederico S. Menezes e Claudia Blanco de Dios. 3 ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Eletrobrás, Departamento de Meio Ambiente, 2005. BRASIL, ELETROBRÁS. Diretrizes para Estudos e Projetos de Pequenas Centrais Hidrelétricas, 2000. BRASIL, MMA – Ministério do Meio Ambiente. Avaliação Ambiental Integrada de Bacia Hidrográfica. TUCCI, Carlos E. M; MENDES, Carlos André. Brasília, 2006. 302 p. ______________________________________. MUNÕZ, Héctor Raúl (Org). Interfaces da Gestão de Recursos Hídricos: Desafios da Lei de Águas de 1997. 2 ed. Brasília: Secretaria de Recursos Hídricos, 2000. 422 p. BRASIL, TCU - Tribunal de Contas da União. Cartilha de licenciamento ambiental/Tribunal de Contas da União; com colaboração do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis. - 2.ed. Brasília: TCU, 4ª Secretaria de Controle Externo, 2007. CASTRO, Adriana Matta de. Contradições e conflitos presentes no discurso oficial para a expansão das PCHS: O caso do Estado de Minas Gerais. Brasília: UNB/CDS, Pós-Graduação em Desenvolvimento Sustentável. Brasília, 2003.

Page 107: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

107

CORDEIRO, Enio. Política indigenista brasileira e promoção internacional dos direitos das populações indígenas. Brasília: Instituto Rio Branco; Fundação Alexandre Gusmão; Centro de Estudos Estratégicos, 1999.171 p. FROTA, Ivaldo. O Setor Elétrico e seus Conflitos: os Novos e os Velhos Desafios. In: BURSZTYN, Marcel. A Difícil Sustentabilidade. Política energética e conflitos ambientais. Rio de Janeiro: Garamond Universitária, 2001. GUIMARÃES JÚNIOR, José Carlos. Conflitos sócio-ambientais na faixa de preservação permanente da Lagoa Formosa, em Planlatina de Goiás-GO. UCB: Brasília, 2005. JGP Consultoria e Participação Ltda. Avaliação Ambiental Integrada da Bacia do Alto Juruena. São Paulo, 2007. LITLLE, PAUL E. Os Conflitos Socioambientais: um Campo de Estudo e de Ação Política. In: BURSZTYN, Marcel. A Difícil Sustentabilidade. Política energética e conflitos ambientais. Rio de Janeiro: Garamond Universitária, 2001. MAPPA Engenharia e Consultoria. Estudo Complementar do Diagnóstico Antropológico das Oito PCHs do Complexo Juruena. Brasília, 2007. MARCONI, Marina de A; LAKATOS, Eva M. Fundamentos de Metodologia Científica. 6ª ed. São Paulo: Atlas, 2006. _______________________________________. Metodologia do Trabalho Científico. 6ª ed. São Paulo: Atlas, 2001. MELATTI, Julio C. Mapa Juruena. Disponível em: http://www.geocities.com/juliomelatti/ias-i/mpjuruena. Acesso em: 10 set. 2007. MILARÉ Edis. Parecer Consulentes: FIEMT – Federação das Indústrias do Estado de Mato Grosso e APMPE – Associação Brasileira dos Pequenos e Médios Produtores de Energia Elétrica. São Paulo, Milaré Advogados Consultoria em Meio Ambiente, 2006. MORAES, Antonio Carlos Robert. Meio Ambiente e Ciências Humanas. 4. ed. São Paulo: Annablume, 2005. MORENO, Gislaene; HIGA, Tereza Cristina Souza (Orgs). Geografia de Mato Grosso. Território – Sociedade – Ambiente. 1 ed.Cuiabá: Entrelinhas, 2005. 296 p. PCE Engenharia. Estudos de Inventário Rio Juruena – Jusante MT 235 à foz do rio Juína, 2002. REIS, Lineu Bélico dos. Energia Elétrica e Sustentabilidade. Aspectos tecnológicos, socioambientais e legais. Barueri, São Paulo: Manole. 2006.

Page 108: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

108

______________________. Geração de energia elétrica: tecnologia, inserção ambiental, planejamento, operação e análise de viabilidade. 3 ed. Barueri, SP: Manole, 2003. ______________________; FADIGAS, Eliane A. Amaral; e CARVALHO, Cláudio Elias. Energia, recursos naturais e a prática do desenvolvimento sustentável. Barueri, São Paulo: Manole. 2005. SEMA. MTSAT: o Estado Visto do céu. Disponível em: http: //monitoramento.sema.mt.gov.br/website/MTSAT/viewer.htm. Acesso em set. 2007. RISCHBIETER Engenharia Indústria e Comércio Ltda. Estudo de Inventário Hidrelétrico Alto Rio Juruena – Trecho MT – 235 – Nascentes, 2001. TOLMASQUIM, Maurício Tiomno (coord). Geração de Energia Elétrica no Brasil. Rio de Janeiro: Interciência: CENERGIA, 2005.

Page 109: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

109

ANEXOS

Page 110: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

110

Anexo 1 – Termo de Referência da FUNAI

Page 111: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

111

Page 112: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

112

Page 113: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

113

Page 114: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

114

Page 115: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

115

Page 116: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

116

Anexo 2 – Informação sobre uso dos recursos hídricos

Fonte: PCE, 2007.

Page 117: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

117

Anexo 3 – Termo de Referência da AAI

Page 118: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

118

Page 119: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

119

Page 120: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

120

Page 121: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

121

Page 122: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

122

Page 123: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

123

Page 124: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

124

Page 125: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

125

Page 126: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

126

Page 127: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

127

Page 128: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

128

Page 129: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

129

Page 130: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

130

Page 131: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

131

Page 132: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

132

Page 133: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

133

Page 134: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

134

Page 135: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

135

Anexo 4 – Oficialização da não incidência das oito PCHs em terras indígenas

Fonte: MAPPA, 2007.

Page 136: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

136

Anexo 5 - Licenças de Instalação das oito PCHs

Page 137: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

137

Page 138: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

138

Page 139: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

139

Page 140: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

140

Page 141: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

141

Page 142: ++++ANÁLISE DE PCH NO RIO JURUENA

142