análise de documentos/fontes - portoeditora.pt · o massacre de quios é um magnífico exemplo de...

3
Analisar uma pintura Eugène Delacroix, O Massacre de Quios, óleo sobre tela, 1824. TEHA11-P2 © Porto Editora Análise de documentos/fontes

Upload: buikhanh

Post on 24-Jan-2019

213 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Analisar uma pintura

Eugène Delacroix, O Massacre de Quios, óleo sobre tela, 1824.

TE

HA

11-P2 ©

Porto E

ditora

Análise de documentos/fontes

TE

HA

11-P

2 ©

Por

to E

dito

ra

Identificar a pintura:

– Titulo / Tema (religioso, mitológico, histórico, retrato, «cenade género», paisagem, natureza-morta);

– Técnica (aguarela, guache, pastel, fresco, têmpera, óleo…) /Suporte (papiro, pergaminho, papel, parede, madeira, tela,acrílico…);

– Dimensões;

– Data/Local de produção;

– Autor/Comanditário;

– Local de exposição.

Identificar o contexto histórico em que a pintura foi produzida.

Discriminar os elementos representados e as suas inter-rela-ções:

– Conteúdo (personagens principais e secundárias – suas atitu-des e trajos; paisagem; plantas; animais; edifícios; outros ele-mentos);

– Forma (planos; linhas estruturantes – horizontais; verticais,obliquas, curvas; perspetiva; geometrização das figuras e doespaço; existência ou não de simetria e proporção; existênciaou não de desenho prévio; predomínio da linha/desenho ou dacor; cores dominantes – quentes ou frias; zonas de luz e som-bra; pincelada fluida, espessa, contínua, entrecortada; estilofigurativo, abstrato…).

Interpretar/Descodificar a pintura:

– Sentido simbólico; relação entre a obra e o contexto histórico;intenções do autor e/ou comanditário;

– Corrente artística.

Regras de análise

1. Identifique a pintura apresentada.

2. Que episódio histórico está documentado na pintura? Em que contexto pintou Delacroix O Massacre de

Quios?

3. Que sentimentos transmite o pintor na obra? De que recursos se serviu?

4. Por que se considera O Massacre de Quios uma obra paradigmática do Romantismo?

1. A pintura apresentada, com o título de O Massacre de Quios, explora um tema histórico. Trata-se de um

grande óleo sobre tela, com as dimensões de 4,20 m x 3,50 m, pintado em 1824 pelo francês Eugène

Delacroix (1798-1863) e exposto, nesse mesmo ano, no Salão. Pode ser admirado no Museu do Louvre,

em Paris.

2. O Massacre de Quios documenta um episódio violento e cruel da guerra de independência grega (1821--1830). Submetidos desde o século XV ao Império Otomano, os Gregos revoltaram-se e proclamaram, em

1822, a sua independência. Os Turcos responderam com uma repressão feroz, tendo o sultão requerido o

apoio do Egito, que dispunha de um bem apetrechado exército e de uma potente frota naval. Em 1822, uma

força de dez mil homens desembarcou na ilha de Quios, onde assassinou cerca de vinte mil civis e reduziu à

escravatura mulheres e crianças, logo enviadas para abastecer os mercados de África.

A guerra de independência grega teve, como pano de fundo, a agitação liberal e nacionalista que var-

reu a Europa na primeira metade do século XIX. Colheu a simpatia e o empenho das potências euro-

peias, que se indignaram com as atrocidades cometidas pelos Turcos e se solidarizaram com os Gregos.

Comentário

Questões

TEHA11_P2_11

Análise de documentos/fontes

TE

HA

11-P2 ©

Porto E

ditora

A Rússia, a França e a Inglaterra intimaram o sultão turco à negociação e, ao derrotarem as suas forças

na batalha de Navarino em 1827, abriram caminho para a independência da Grécia, concretizada três

anos depois.

Particularmente envolvidos e emocionados com a causa grega estiveram os liberais e românticos, como

Delacroix, para quem a vitória do nacionalismo helénico significava a recuperação da identidade civiliza-

cional europeia. Byron, poeta inglês, perdeu a vida em 1824, durante o cerco de Missolonghi. Os seus

colegas franceses Victor Hugo e Chateaubriand escreveram páginas inflamadas a propósito da luta e do

massacre do povo grego.

3. E. Delacroix consegue transmitir a violência e o dramatismo do acontecimento histórico, excitando a

emoção e a indignação do espectador.

Para o efeito, a composição da cena processa-se em dois planos distintos. Ao fundo, avista-se a povoa-

ção consumida pelo fogo, uns vultos vagos parecem lutar ainda mas a impressão que resta é a da ruína

e derrota dos Gregos. Esta impressão transforma-se em certeza quando nos detemos nas personagens

do primeiro plano, agrupadas em pirâmides humanas particularmente elucidativas.

Assim:

– à esquerda, uma mulher jovem ampara-se, desfalecida, no ombro do marido moribundo;

– ao centro, dois corpos abraçam-se com desespero;

– à direita, uma idosa de olhar perdido parece esperar a morte, enquanto uma criança, bebé ainda, busca

o seio da mãe falecida e, do alto do cavalo, o janízaro arrasta com frieza e impiedade um homem e

uma mulher.

Os corpos apresentam-se, na generalidade, semidespidos, expressando uma grande vulnerabilidade.

Representam seres a quem, mais do que as vestes, se retirou a liberdade.

Para a carga dramática da cena, contribui, igualmente, a paleta cromática rica e os efeitos de luz/som-bra utilizados pelo pintor. Do amarelo emergem manchas violetas, o vermelho tinge-se de verde. Uma

luminosidade, de influência veneziana, banha o quadro. Zonas de luz contrastam com outras envoltas na

penumbra. Estes jogos de cor e de luz/sombra imprimem dinamismo e movimento, imprescindíveis ao

conteúdo trágico da cena.

4. O Massacre de Quios é um magnífico exemplo de Romantismo artístico pelas seguintes razões:

1.° A temática, que documenta a luta dramática e atroz de um povo pela liberdade, mostrando que o

Romantismo pode ser a expressão da ideologia liberal.

2.° A intensa emoção que transparece da cena e sensibiliza o espectador.

3.° A cor ou, melhor, as cores sumptuosas e misturadas em tons matizados, que estruturam o quadro e

moldam as figuras. Delacroix colocou-se em absoluta rutura com o estilo neoclássico, que usava

cores claras e límpidas e definia os contornos das figuras com um desenho preciso e rigoroso. Tam-

bém ao contrário dos neoclássicos, que aplicavam uma pincelada fina e fluida, Delacroix apresenta

uma pincelada espessa, feita com sobreposições. Uma pincelada que sugere mais do que descreve,

que provoca impressões, anunciando a futura técnica impressionista.

Análise de documentos/fontes