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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE EDUCAÇÃO
PROA-06 - METODOLOGIA DA PESQUISA Profs. Drs. Marie Jane Soares Carvalho e Leonardo Sartori Porto
Análise de dados na pesquisa
Marie Jane Soares Carvalho
Leonardo Sartori Porto
Alguns pesquisadores qualitativos
preferem não utilizar o termo dado na
pesquisa qualitativa e sim fenômenos ou
fatos, sejam estes de orientação sociológica,
antropológica, histórica ou de outra área das
ciências humanas. Aqui falaremos em dados
de modo amplo e inespecífico.
Os dados na pesquisa qualitativa são
definidos pelo pesquisador; estes não
comportam precisões amostrais (tal como na
pesquisa quantitativa). Os dados são
reconstruções da experiência, portanto os
dados não são a experiência original.
Quando definimos que algo é um dado
já o fazemos a partir de uma lente, isto é, de
uma teoria que informa o nosso olhar – o que
ver e como ver. Então, nossos dados contêm a
orientação teórica que defendemos. Isso
significa que quando elegemos os dados já
iniciamos a organização da análise.
Via de regra, os pesquisadores elegem
como dados na pesquisa qualitativa:
entrevistas, registros de observação em
campo, questionários abertos preenchidos
pelos pesquisados, anotações estruturadas ou
não, protocolos de observação, discursos ou
excertos de fontes como jornais, revistas,
livros (literários, didáticos ou paradidáticos),
diários particulares, cadernos escolares,
programas de televisão, correspondências
eletrônicas ou não, audiências de qualquer
natureza (jurídica, acadêmica, religiosa etc.)
sítios da rede, blogs, fóruns, ambientes
virtuais de aprendizagem etc.
A definição de dados na pesquisa
depende da teoria e da criatividade do
pesquisador. O importante na pesquisa
qualitativa é que o pesquisador esclareça o que
ele considera como fonte de dados.
Tão importante quanto a definição do
que sejam os dados de pesquisa é o que o
pesquisador considera como unidade de
dado. Esta é definida como a menor parte
sobre a qual o pesquisador se debruça na
investigação, que podem ser palavras, frases,
discursos inteiros, excertos de entrevistas,
citações, correspondências eletrônicas, fatos
históricos, acontecimentos presentes, gestos e
expressões etc; as possibilidades são infinitas.
Tenha presente que “falas, conversações
e interações humanas são sistemas abertos,
cujos elementos são as palavras e os
movimentos, em um conjunto infinito de
seqüências possíveis. [...] Seus elementos
podem ser no máximo tipificados, mas não
listados.”(BAUER e AARTS, 2003, p. 43).
O que é dado na sua pesquisa diz
respeito a teoria que sustenta o seu trabalho. A
mesma premissa subjaz à forma de coleta,
(Como será realizada a coleta? Com quem?
Onde?), ao tipo de dado que será coletado
(Quais informações são imprescindíveis?) e à
análise (ou seja, a relação entre a teoria e as
informações que a pesquisa dispõe).
A definição do que sejam dados na
pesquisa e as formas de buscá-los são
considerados procedimentos e são parte do
método. Procedimentos de pesquisa não se
confundem com método de pesquisa.
Procedimentos são as operacionalizações
possíveis ou necessárias do método.
O método de pesquisa se define tão-
somente no escopo da teoria com a qual
estamos trabalhando. O método e as técnicas
nunca são separados da teoria que anima a
pesquisa em desenvolvimento.
Referências bibliográficas
BAUER, Martin W. e AARTS, Bas. A construção do corpus:
um princípio para a coleta de dados qualitativos. In: BAUER,
Martin W. e GASKELL, George. Pesquisa qualitativa com
texto, imagem e som – um manual prático. Petrópolis:
Editora Vozes, 2003, p. 39-63.