análise de conteúdo (maria laura puglisi barbosa franco) josiele

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Maria Laura Puglisi Barbosa Franco

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  • Maria Laura Puglisi Barbosa Franco

  • Copyright 0 2005 Liber Livro Edltora Ltda.

    E proibida a reproduqio total ou parcial desta publica~io, por quaisquer meios, sem autoriza~io prPvia, por escrito, da e&tora.

    Assessoria Edttorial: Walter Garcia

    Capa e Edttoraqio eletrhica: Marcus Polo R Dziarte

    Impressiio e acabamento:

    Dados Internacionais de Cataloga@o na l'ublica+io - CIP/Brasil

    Franco, Maria Laura Puglisi Barbosa. F825 Anilise de conte~do / Maria Laura Puglisi

    Barbosa Franco. - Brasiha, 2" edtqio : hber Lvro Edttora, 2005. 79p.

    ISBN: 85-9884-332-6

    1. Anilise de contelido. 2. Anilise contextual. I. Titulo.

    CDU 37.012.85

    Impresso no Brasil

    Lber Livro Edltora Ltda. SCLA Quadra 15, Conj. 5, Lote 18/Parte A

    Guari/DF - 71250-025 - Brasilia-DF Fone/Fax: (61) 3363-8225 e&[email protected]. br

    CAPITULO 1 ..... ...... . .. ... ...... ..... . ... ... ... . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13

    Algumas idkias sobre as Bases te6ricas da Anilise de Conteudo . ...... . . . .. . . . . .. . . . . . . . .. . . . . .. . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . 13

    CAPITULO 2 .. ..... . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19 Caractensticas definidoras ................................................... 19 X polimica conteudo manifesto versus conte6do latente ..... ........ 23

    0 conceit0 de inferhcia ..... ... ... . . . ... .. . ... ... .. ... .. . . . . . . . . . . . 25

    CAP~TULO 3 29 0 s campos da Anilise de Conteudo ..................................... 29 0 delineamento de urn plano de pesquisa ................................ 33

    UPITULO 4 ........................................................................................... 37

    As Unidades de Andlise ....................................................... 37 As unidades de registro 37

    As unidades de context0 43

    C ~ P I T U L O 5 ... . . ... ... ... ... ... . ... . . . ... . .. . . . . . . . . . . . . , . , . . . . . . . . . . , , . . . , . , . . . . , . . . . . . . . , . . . . . . , . . 47 A organiza~iio da anilise ..................................................... 47

    , . A PrC-Analise .................................................................... . . 47

  • CAP~TULO 6 .......................................................................................... 57 ..................................................... As Categorias de Andlise 57

    Categorias criadas apriori .................................................................... 58 Categorias niio definidas apriori .................................................. 59

    ........................................................... Implicagdes de ambas opgbes 60 Principais requisites para a criaglo de categorias .............................. 65

    Um Exemplo da utiliza@o da Andlise de A preocupaq50 com a Anilise do Conteiido das Conte6do na realiza$o de uma Pesquisa em Educa~Ho ........ 67 mensagens, dos enunciados do discurso e das A pesquisa e seus objetivos .......................................................... 6 7 informaq6es i muito mais antiga do que a reflex50 0 s procedimentos, a prC-anase e a criagzo de categorias ............... 68 cientifica que se ocupa da formalizaqiio de seus

    pressupostos epistemol6gicos, te6ricos e de seus . . 77 procedmentos operacionais.

    A definiq50 dos simbolos, sinais e "mensagens de Deus", marca a prirneira tentativa de responder i quest50 c c o que essa mensagem significa?", que teve como foco a exegese dos textos biblicos para que fosse possivel compreender e interpretar as metiforas e as paribolas.

    Para alCm desta maneira de interpretar as mensagens contidas nos textos, cuja tradqiio i longinqua, a tradq50 registra alguns casos, geralrnente isolados, em que a anhlise do conteiido das mensagens ou dos enunciados verbais pode ser considerada inadequada. Por exemplo: a pesquisa realizada na Suicia, por volta de 1640, sobre os hmos religiosos, com o objetivo de saber se esses hmos, em niimero de noventa, poderiam ter efeitos nefastos nos Luteranos, foi efetuada uma anilise dos dferentes temas religosos, dos valores neles embutidos, sobre suas modalidades de apariqiio, bem como sobre usa complexidade hguistica (Bardm,1977, p.14). E certo que tais componentes nZo deixam de ser irnportantes

  • quando se fala do conteiido das mensagens ou dos enunciados expressos por um grupo particular. No entanto, saber se esses hinos "poderiam ter efeitos nos Luteranos" estamos adentrando em uma nova h e n s g o da anilise dos conteudos das mensagens, que se localiza no impact0 social que esti duretamente vinculado a uma orientaqiio para a aqgo. Dai os procehentos deveriam ser mais seletivos e melhor planejados e mais adequadamente drrecionados.'

    Mais recentemente, mas ainda no skulo dezenove, o Franc& Bourbom (1 888-1 892) tentou captar a expressgo das emoq6es e das tendgncias da linguagem. Para isso, trabalhou sobre uma parte da Biblia, o ~ x o d o , de uma maneira rigorosa, valendo-se, inclusive, de uma classificaqgo temitica e de sua respectiva quantificaqiio.

    Estava, entgo, aberto o campo da sistematizaqgo da anilise do conteiido das mensagens, de seus enunciados, de seus locutores e de seus interlocutores. Dentre as manifestaq6es do comportamento humano, a expressiio verbal, seus enunciados e suas mensagens, passam a ser vistos como indicadores indispensiveis para a compreensiio dos problemas ligados i s priticas educativas e a seus componentes psicossociais.

    Surge, inicialmente, a Xnilise de Conteiido em uma perspectiva de sondagem de opini6es colhidas, de acordo com os te6ricos da ipoca, a partir de experirnentos muito bem planejados na tentativa de serem os mais objetivos possiveis e de sofisticados procedimentos de coleta. Todavia, como era de se esperar, essas sondagens de opiniGes, que foram

    I Aspectos que discutiremos, corn mais dctalhes, nos Itens subseqiientes

    divulgadas pela imprensa e, principalmente, direcionadas aos fatos relativos i la Guerra Mundial, redundaram em anilises predominantemente descritivas sem que os fundamentais recursos analiticos e interpretativos fossem incorporados.

    Por volta de 1930, uma nova pressgo se exerce sobre os estudiosos em metodologia de anilise de conteudo; por um lado, devido ao progress0 das formas de documentaqiio e, por outro lado, devido ao desenvolvimento da lingiiistica aplicada.

    Apesar de uma considerivel quantidade de trabalhos sobre o tema, a Anilise de ConteGdo mostrou-se, e mostra-se ainda hoje, envolta em muita controvkrsia.

    E m 1981, Serge Moscovici tentou explicar os fundamentos desta controv0rsia. Dizia ele, "ztm dos maiom problemas reside, justamente, no fato de qze os mitodos de anhlise de contezido se situam nu encru$bada entre os lingiiiistas e a Psicologia Social. E s m d m dis~@linas, em verdade, se dZo as costas... os lingiiistas a rei~ndicam, corn toda ra~2o; ospsi~-dogos assirnilam a lingzagem como zm conjzlnto de indicadores de

    fenhzenos nZo-lingiiisti6-0s. A l'si~*ologia Social se introdq comodamente no camp0 da sign$~.a@o; a lingiiis'sca n2o ddispo"e de m a teoria da comzmcajiio. No entanto, na medida em qtte a anhlise de contezido se interessapela linguugem, 0s lingiiistas reivindicam a ex~iusividade do temtdmo " (Moscovici, 1981, p. 172).

    Niio pretendemos entrar no iimbito dessa problemitica, o que nos levaria a dscutir o conflito entre lmgiiistas e psicdogos. No entanto, a este respeito, cabe sinalizar um breve comentirio. Aparentemente, a lingiiistica e a anilise de contefido tSm o mesmo objeto: a linguagem. E m verdade, porkm, a distinq2o

  • Maria Laura Pug& Barhosa Franco

    fundamental proposta por F. de Saussure, que fundou a lingiiistica, entre lingua e palavra, marca a diferenqa: "0 objeto da lingiiistica e' a lingua, quer diyer, o aspeeto coletivo e virtual da linguagem, enquanto gue o da analise de contezido e' a palavra, isto 6, o aspect0 indim'duale atual (em ato) da linguagem. A lingiiistica trabalha com uma lingz~a tebrica, encarada como um coyknto de sistemas gue autoriyam combina@s e substitui~0"es regulamentadas por elementos deJZnidos.. . 0 seu papel resume-se, independentemente do sentido deixado, a sem2ntica, 2 desm@o de fundonamento da lingua, para ale'm das varia@es individuais ou so~iais tratadas pela psicolingiiistica ou sodolingiiistica. Pelo contrario, a analise de contezido trabalha apalavra, quer diyer, a prdtica da lingua realixada por emissores ident$~ziveis. A lingiiistica estuda a lingua para desmver seu$mionamento. A analise de contezidoprocura conhecer agdo gzie estapor trhs das palavras sobre as quais se debru~a'"(Picheux, p. 43).

    Como ji debate, uma

    dissemos, niio vamos aprofundar este vez que o objetivo deste livro C oferecer

    um material d~ditico e pritico para que pesquisadores em educaqiio possam se orientar no estudo da comunicaqiio oral, escrita e figurativa, bem como nas tarefas de descriqiio, anilise e interpretaqgo das mensagens/enunciados emitidos por diferentes indlviduos ou grupos.

    Alkm Isso, pretendemos ampliar a dIscussiio acerca da Anilise de Conteiido levando em conta suas bases te6ricas e metodol6gicas, a complexidade de sua manifestaqiio que envolve a interaqiio entre interlocutor e locutor, o context0 social de sua produqiio, a influencia inanipu-ladora, ideol6gica e idealizada presentes em muitas mensagens, os impactos que provocarn, os efeitos que orientam dferentes comportamentos e a ~ d e s e as

    condqoes hlst6ricas, sociais, mutiveis que influenciam crenqas, conceitos e representaqoes sociais elaboradas e transmitidas via mensagens, dIscursos e enunciados.

    Finalmente, k precis0 levar em conta que os usos iniciais da anilise de contelSldo estiveram limitados, principalmente, a anilises de dados "naturais" ou "dIsponiveis" - isto 6, dados que existem sem qualquer participaqiio ativa do investigador, como, por exemplo, jornais, livros, docurnentos oficiais e docurnentos pessoais. Dados esses que se colocarn no tip0 de anilise documental.

    Cada vez mais, porkm, a anilise de conteiido passou a ser uuhzada para produzir inferhcias acerca de dados verbais e/ou simb61icos7 mas, obtidos a partir de perguntas e observaqoes de interesse de urn deterrninado pesquisador. Observa-se, entiio:

    uso crescente da utilizaqiio de anilise de conteiido;

    crescente interesse por questoes te6ricas e metodol6gicas;

    aplicaqiio da anilise de conteiido a um espectro mais amplo de problemas, especialrnente hqueles relativos aos antecedentes e efeitos da comunicaqiio, das mensagens e dos dscursos;

    uso crescente para testar hp6teses em oposi+o a pesquisas meramente descritivas;

    maior dwersidade no que se refere aos materiais a serem estudados;

    uso em conexiio com outras ticnicas de pesquisa; utilizaqiio de computadores para anilise de

    conteiido, principalmente mediante o recurso a programas computacionais.

  • 0 ponto de partida da Anilise de Conteiido 6 a mensagem, seja ela verbal (oral ou escrita), gestual, silenciosa, figurativa, documental ou diretamente provocada. Necessariamente, ela expressa um sipficado e urn sentido. Sentido que niio pode ser considerado um ato isolado, pois, 'bs dftentes mohspehs quah o syiito toe insmw no texto corre.pondem a dftentes representaj-Ges que tem de simesmo como syeito e do controh que tem dospmcessos discurssivos textuais com que esta' lidando quanh@Lz ou escreve " (Varlo tta, 2002).

    AlCm dlsso, torna-se indispensivel considerar que a relaqiio que vincula a emissiio das mensagens (que podem ser uma palavra, um texto, um enunciado ou at6 mesmo urn discurso)' estiio, necessariamente, vinculadas i s conlq6es contextuais de seus produtores.

    Condl~$es contextuais que envolvem a evoluqiio hst6rica da humanidade; as situaqjes econ6micas e socioculturais nas quais os emissores estiio inseridos, o acesso aos c6dgos hgiiisticos, o grau de competgncia para saber deco&fic&los, o que resulta em express6es verbais I Sornente pas citar alpmas de suas rnodalidades

  • Ailaria Laura Pughi Barbosa Franco

    (ou mensagens) carregadas de componentes coptivos, afetivos, valorativos e hstoricamente mutheis. Sem contar com os componentes ideokgicos impregnados nas mensagens socialmente construidas, via objetiva@o do dscurso, mas com a possibhdade de serem ultrapassadas ou cCde~c~n~trUida~~' , medante um processo trabalhoso (mas, niio impossivel) e dialktico, tendo em vista a explicitaqiio do processo de ancoragem e estabelecendo como meta h a l o Desenvolvirnento da Conscikia.

    Neste sentido, a Anilise de ConteGdo assenta-se nos pressupostos de uma concepqiio critica e dinimica da linguagem. Linguagem, aqui entendida, como uma construqiio real de toda a sociedade e como express20 da existhcia humana que, em diferentes momentos hst6ricos, elabora e desenvolve representaqoes sociais no dinamismo interacional que se estabelece entre linguagem, pensamento e aqiio.

    Pressupostos, estes, que se afastam de uma concepqiio formalista da linguagem no bojo da qua1 se atribui um valor exagerado dspalavras @em como i associaqiio entre elas) negligenciando muitos aspectos seminticos que somente os pesquisadores criativos, informados, competentes e devidamente esclarecidos podem ser capazes de analisar e interpretar as mensagens (explicitas ou latentes), evidentemente levando em conta toda a complexidade que acompanha esse processo.

    Assim, concordamos com Mucchelli quando nos alerta. "Nu lingziistica tmdi~ional, a condena@o de todo recurso ao sentido das mensagens ebvou apahvra como um dos componentes indipensaveis para o tiio alm+do rigor ~ient$co em relqiio a desmgiio das estmturas da lingztd'. (Muccielli, 1977, p. 26). Todavia, a semintica, assim excluida, C justamente o piio

    coti-diano da anilise de conteudo. Semintica, aqui entendda niio apenas como o estudo da lingua, em geral, mas, como a busca descritiva, analitica e interpretativa do sentido que urn indviduo (ou dferentes grupos) atribuem is mensagens verbais ou simbdicas.

    0 significado de um objeto pode ser absorvido, compreen&do e generahado a part+ de suas caractensticas dehdoras e pel0 seu corpu~ de significaqiio. Ji, o sentido irnplica a auibui@o de um sipficado pessoal e objetivado, que se concretiza na pritica social e que se madesta a partir das Representaqoes Sociais, cognitivas, valorativas e emocionais, necessariamente contextuahadas.

    Por exemplo, a palavra "livro" assume um determinado sentido por parte de leitores alfabetizados e implica, igualmente, graduaqoes de sentido dlferenciadas entre os leitores, dgamos, ccerudtos" e os leitores cccomuns". Ji quando transportada para individuos ou grupos nao-alfabetizados, a mesma palavra, "livro", pode atk ser compreendda medlante o mesmo sipficado que h e k atribuido universalmente, porCm seu sentido assume uma conotaqiio diferenciada entre os alfabetizados e os ngo-alfabetizados2.

    2 Eu gosto de usar o t m o "ndo-alfabetizados" em rez de "analfabetos" para mostrar a diferenqa que esiste entre oposiqio e contradiqjlo. Como um parintesis, e por isso coloco em nota de rodapt, quero relatar urna proroca$io que, em p a l , faco aos meus alunos quando estamos discutindo os conceltos de Representac6t.s Sociais, Ideo lop e Desenvolrimento da Consci?nc~a. Pergunto: ''Qua1 C: o contririo de alfabetizados!" Quase que, inrariavelmente, surge a resposta "analfabetos". Ora, corn isso estarcmos lidando apenas corn uma oposigdo como se ela fosse natural. Em wrdade o que eslste 6 uma contradiqio intema que se esplicita no p a r a d ~ p a da totalidade. Ou seja, em princi~io todos teriam @or hipbtese) o dlreito de ser alfabetizados, de saber ler, escrever e de espressar convenientemente suas idtias. Portm, desde que persista o ~ 6 1 0 oposto e a contradqdo intcma da totalidadc, nio deremos deslgnar detenninados W p o s como "analfabetos", mas sim como "nio-dfabetizados". Uma rez que a eles, Po1 condi~6es histbricas, econ6micas e sociais, foi negada a possibilidade de, Contraditoriamente (e por negagio da totalidade), pertencer ao grupo daqueles que ~ a b e m ler e que, sem dlirida, ati-ibuem um significado diferente ao oblcto "lirro".

  • Reiterando, diriamos que essa caracteristica e h n a , claramente, anilises nas quais apenas os materiais que ap6iem as hp6teses do investigador sejam admitidos como evidkcias. Todos os enunciados que suportem a tese da desigualdade devem ser analisados, mesmo que corroborativos de teses contririas.

    Alim disso, a anilise de conteudo requer que as descobertas tenham releviincia te6rica. Uma informaqiio puramente descritiva niio relacionada a outros atributos ou As caracteristicas do ernissor i de pequeno valor. Um dado sobre o contefido de uma mensagem dew, necessariamente, estar relacionado, no minitno, a outro dado. O liame entre este tipo de rela520 deve ser representado por alguma forma de teoria. Assim, toda a anilise de contebdo., irnplica compara~oes contestuais. 0 s tipos de comparaq6es podem ser multivariados. Mas, devem, obrigatoriamente, ser direcionados a partir da sensibilidade, da intencionalidade e da compettncia te6rica do pesquisador.

    As operaqdes de compara$?io e de classifica@o implicam o entendunento de sernelhanps e dferenps. Quando mais simples, como, por exemplo, classificar objetos geomitricos e de dferentes cores, por parte de crianps das primeiras siries do ensino, podem ser consideradas como aprendizagens condicionadas e transformadas em hibitos cotidmnos (Orelon, 1974). J i quando se trata da atividade de classificar objetos mais complexos @or exemplo, os enunciados verbais), esta atividade extrapola um simples condcionamento e niio pode mais ser considerada como a express20 de um comportamento habitual. Isto porque ela exige um

    jk&ento comparative "e mesmo anteriomente a ea.ejz&ento,

    e' necqessano haver a cwnpreensiio dos ennn~iudos a serem L ~ ~ J I I ' $ ~ Z I ~ O J; a abstruj-20 do sign$cado e do sentido dus mensagens e a infergnc.ia (on intztzjzo) das cutegorias ~.Iass$~uto'nas" (Mucchielh, 1 974).

    A operaq2o classificat6ria, para Piaget (1967) pressupGe, necessariamente, urna atividade intelectual de abstraq2o e agrupamento que pode ser considerada como um corolirio da atividade intelectual dos homens. Vejamos, diz ele, quantas questaes se colocam no momento que estamos tentando classificar, objetivar e organizar um discurso."Sem duvida esta empreitada i tipicamente intelectual". E a partir dessas coloca@es exemplifica sua posiq2o colocando-nos algumas provocaqd& indagativas:

    'V+mos o royknto deproblemas con~~etos qzte se ~*olocam, sem cessar no iimbito do e~pimto deste movimento: o qzte t? E, e' mais ou menos? Onde?Qnando? Por que motivo? Com que oLyetivo? Como? etc. No's mnstatumos que nenhuma debsas quest~espossam ser repondidas de um agmpamentopredeteminado e/onprevisiveL Portanto, esses agrzlpamentos devem ser eluborados apart+ d m imgens dadas separadamente, de modo que possa urgir suas sucesso"es.. . apesar de suas limita&r.. . esta e' a maneim de reconhecer $etivamente a atztude do analirta no sentido de saber rompreender m a situaj-20. E nee-essdnb que o pesqztisador compreenda e ussnma a id& du hi~Yo'nu, antes de investir nu realip$io da tarefa!" @. 1 47)

  • CAPITULO 2

    Alkm das consideraq6es j i arroladas e que podem contribuir para uma melhor compreensiio do que C Anilise de Conteiido, outras devem ser acrescentadas e explicitadas para urn entendunento mais efetivo de suas caracteristicas definidoras.

    I PARA FAZER INFERENCIAS 2

    Analise de contelido e urn ~rocedimento

    Identificando - objetiva e sistematicamente - caracteristicas

    especificas da mensagem

    " f"' I I COM QUE PARA QUEM? EFEITO? I I I Figura 1: Caraceristicas definidoras \ da Anilise de Contehdo

  • Afuriu b r a Png/isi Barbom Frunco

    Como se observa na Figura 1, a anilise de conteudo 6 um procedxnento de pesquisa que se situa em urn delineamento mais amplo da teoria da comunicaq20 e tem como ponto de partida a mensagem.

    Com base na mensagem que responde i s perguntas: o que se fala? o que se escreve? com que intensidade? corn que frequhcia? que tip0 de simbolos figurativos s2o utilizados para expressar idCias? e os silincios? e as entrelinhas? ... e assim por diante, a anilise de conteudo permite ao pesquisador fazer inferincias sobre qualquer um dos elementos da comunicaqiio.

    Neste sentido, concordarnos com Bardm quando ~ I Z "A analise de mntezido pode ser con.riderada como um coyknto de te'irzicds de analises de e'omunic'a~o"es, qzte utz'li~aproc.edimentos sistematicos e obetz'vos de descnj.20 do contezido dm mensagens. .. A intenq.20 da anblise de mntezido e'ain ferincia' de cnnhe~imentos relatives 2s condij0"e.r de produg20 e de rectpq.20 das mensagens, infehzza estu que recorre a indizzdores (quantitatz'ws, ou nZo)"(Bardm, 1977, p. 38).

    Toda comunicaqiio C composta por cinco elementos bisicos: umafonte ou emiss2o; umprocesso c.odZJ;cador que resulta em urna mensagem e se utiliza de um canal de trasrnissgo; um receptor, ou detector da mensagem, e seu respec tivo proezsso decod$e~ador (ver Figural).

    A clissica formulaqao dessas quest6es "quem diz o que, a quem, como e com que efeito?" acrecentariamos urna a mais: "Por que?" Cada uma dessas quest6es pode ser considerada, em termos de uma pesquisa planejada, para tris diferentes prop6sitos. 0 investigador pode (e, muitas vezes, deve) analisfir mensagens a fim de produzir inferincias sobre:

    as caracteristicas do texto; as causas e/ou antecedentes das mensagens; e os efeitos da comunicaqiio.

    Apesar de muito dlfundda, em aniMse de contehdo, a mera descriqao das caracteristicas das mensagens contribui muito pouco para a compreen@o das caracteristicas de seus produtores.

    Por outro lado, quando du-ecionada i indagaqgo sobre as causas ou os efeitos da mensagem, a anhlise de contehdo cresce em significado e exige maior bagagem te6rica do analista.

    J i quando, partindo de uma mensagem, procuramos indagaqdes acerca de "quem" e acerca do "por que" de determinado conteudo estamos trabalhando com o ponto de vista do produtor. E, neste caso, trGs pressupostos bisicos garantem relevincia a esse enfoque:

    I . Toda mensagem falada, e s m h ou sensorial conte'm, potenkulmente, umagrande qgztantidade de infamzag0"es sobre sen agtor: sztasjlia&?es te6nkas) c'onc'ep&r de mundo, interesses de classe, tragos psicoldgicos, representag&s sociais, [email protected], e~pe~.tativa.r, etc.

    2. 0 produtor/azttor e; antes de tudo, ztm selecionador e essa selegiio nio i a r b i t h a . Da multipli~idade de manzji.rta@s da vida hztmana, sele~iona o que cconsidera mais importantepara (( dar o seu recado )> e as interprets de ac'ordo corn sen guadro de refere"ncia. Obvz'amente, essa selefio e'preroncebina. Sendo opmdutor, ebpnjprio, ztm produto so~al, esta mzdicionado pelos interesses de suu $o~cd, ou da classe u gzepelztence. E,prin~zpalmente, ele i 'mzado no e p i d o de zma teoria da guulpassa a ser o

  • Maria h r a Paglisi Barbosa Franco

    expositor. Teoria que n2o s&n$~'a

  • hlaria Laclra Pugliri Barbosa Franco

    em um exercicio equivocado e que pode redundar na situaqao de uma mera projeqiio subjetiva. 0 s resultados da anilise de contelido devem refletir os objetivos da pesquisa e ter como apoio indicios manifestos e capturiveis no iimbito das comunica@es emitidas.

    Neste caso, consideramos oportuno recuperar a analogia divulgada por Mucchelli: "0 conteado para o zlssurario da ana'lise de conteado e' como o liqz~ido para o qzlimico analista. Tgdo esta' la' e n2o ha' nada fora. 0 s componentes qzliinicos est2o dentro epresentespor dejhijGo. Nada mais ha' o qzle se fa~er do qzle analicar o que se dip&. . ." (Mucchelli, 1 977, p. 78). E, portanto, com base no conterido manifesto e explicito que se inicia o processo de anilise.

    Isso niio significa, porim, descartar a possibilidade de se realizar uma s6lida anilise acerca do contelido "oculto'~ das mensagens e de suas entrelmhas, o que nos encaminha para alim do que pode ser identificado, quantificado e classificado para o que pode ser decifrado mechante c6d1gos especiais e simbdicos.

    h i s , esse procedunento tende a valorizar o material a ser anahsado, especlalmente se a interpretaqiio do conteiido "latente" estipular, como parhetros, os contextos sociais e hst6ricos nos quais forarn produzidos.

    Resumindo: o que esti escrito, falado, mapeado, figurativamente desenhado e/ou simbolicamente explicitado sempre seri o ponto de partida para a identificaqiio do conteiido manifesto (seja ele explicito e/ou latente). A anilise e a interpretaqiio dos conteiidos obtidos enquadram-se na condiqao dos passos (ou processos) a serem seguidos. Reiterando, diriamos que, para o efetivo "caminhar neste processo", a

    contextualizaqiio deve ser considerada como um dos principais requisitos, e, mesmo, "o pano de fundo" no sentido de garantir a relevincia dos resultados a serem dvulgados e, de preferencia, socializados.

    0 conceit0 de inferencia

    Diferente da estocagem e da indexaqiio de informa@es, da leitura interpretativa ou da critica literiria, uma importante finalidade da anilise de conteudo 6 produzir inferencias sobre qualquer um dos elementos bisicos do processo de comunicaqiio: a fonte emissora; o processo codificador que resulta em uma mensagem; o detectador ou recipiente da mensagem; e o processo decochficador. (Ver Figural)

    Uduando-se de analogias, Bardm nos leva a concordar que ... o analista 6 como um arquedogo. Trabalha com vest&ios ... mas, os vestigios siio as manifestac6es de estados, de dados e de fenbmenos. H i mais alguma coisa a descobrir por e grasas a eles ... Tal como a etnografia necessita da etnologa, para interpretar suas descriq6es minuciosas, o analista tira partido do tratamento das mensagens que manipula, para inferir (de maneira l6gica) conhecimentos que extrapolem o conterido manifesto nas mensagens e que podem estar associados a outros elementos (corno o emissor, suas condiq6es de produqiio, seu meio abrangente etc.) Tal como um detetive, o anahsta

    aha com indices cuidadosamente postos em evidincia procedunentos mais ou menos complexos.

    Se a desn@o (a enurnera@o das caracteristicas do texto, resurnida ap6s um tratarnento inicial) 6 a prirneira etapa

  • Maria Laura Pzlg(si Barbosa Franco

    necessaria e se a interpretacio (a significaqiio concedda a essas caracteristicas) C a ultirna fase, a infercncia k o procedmento intermedhrio que vai perrnitir a passagem, explicita e controlada, da descriqiio i interpretaqao.

    Produzir inferincias 6, pois, la rai~on d'etre da anilise de conteudo. E ela que confere a ease procedmento reledncia tebrica, urna vez que implica, pelo menos, urna comparaqiio, ji que a informaqiio puramente descritiva, sobre conteudo, i de pequeno valor. Um dado sobre o conteudo de urna mensagem (escrita, falada e/ou figurativa) i sem sentido at6 que seja relacionado a outros dados. 0 vinculo entre eles C representado por alguma forma de teoria. Assim, toda anilise de conteudo implica comparaq6es; o tip0 de comparaqZo k dmdo pela cornpetencia do investigador no que du respeito a seu inaior ou menor conhecimento acerca de dferentes abordagens tebricas.

    Exemplificando: o investigador, ao ler ou ouvir um chscurso sobre opapeldo edzlcador, deve ser capaz de poder compatibilizar o contebdo do discurso @do ou ouvido) com alguma, ou algumas teorias explicativas. Assim, poderi descobrir se esti lidando com abordagens do tip0 "construtivistas", "neoliberalistas", "behavioristas"; "positivistas", c'estruturalistas", "dialkticas", "criticas" ... e vai por ai a fora!

    0 investigador pode, tambkm, comparar mensagens de uma unica fonte ernitidas em dferentes situaqGes, em dferentes momentos, e para diferentes audcncias.

    Comparaqoes de conteudo das comunicaqGes atravks do tempo, situaqao ou audkncia podem ser concebidas como anilises, interpretaqoes e inferlincias produzidas intermensagens.

    Hpjteses, tambkm, podem ser testadas comparando as mensagens produzidas por mais de uma fonte referente. Neste caso, o objetivo seri sempre relacionar os atributos teoricamente significativos dos emissores i s dstorqoes embutidas nas mensagens que produzem.

    Alim disso, os dados obtidos, mediante a anilise de conteiido, podem ser comparados a algum padriio de adequasiio ou desempenho. Muitas anilises dos meios de comunica@o de massa empregam padr6es definidos a priori. Uma alternativa para produzir inferkncias acerca dessas abordagens aprioristicas seria derivar padroes indutivamente consubstanciados a partir da anilise das mensagens emitidas. E certo que apenas essa providcncia nao permitiri ao analista determinar se o desempenho preenche algum absoluto padriio de adequaqiio, mas pode indicar c o m o o material analisado se expressa e m comparaqiio a outras fontes similares.

    Um terceiro tip0 de padriio, frente ao qua1 os dados de conteudo podem ser comparados, diz respeito ao que se denomina como indices de nao- conteudo. 1ndices de niio-contelido aqui entendidos (entre outros) como a opiniiio de especialistas. Principalmente quando o assunto k controvertido, o recurso a um grupo de especialistas pode-se constituir em um excelente indicador, no sentido de garantir a fidedignidade e validade do conteudo analisado, via comparaqao entre pares.

    Reiterando, ditiamos que produzir inferkncias em anase d( conteudo tem urn significado bastante explicit0 e pressupoe a comparaqiio dos dados, obtidos mechante dscursos e simbolos, com os pressupostos tebricos de

  • Alaria Laura Pughi Barbosa Franco

    dderentes concepq6es de mundo, de indrviduo e de sociedade. Situaqio concreta que se expressa a partir das condiq6es da prixis de seus produtores e receptores acresuda do momento hstbrico/socd da produqio e/ou recepqao.

    De acordo com Mucchelli (1977), sio tris os campos dos mktodos de an6lise de conteudo que, embora expressem entre si h t e s bastante fluidos, podem ser representados na figura 2, a seguir:

    Figura 2: 0 s campos de Anilise de Contebdo

    Metodos Logico-Esteticos

    e Forrnais

    Metodos Logico-

    Sernlnticos

    Metodos Serninticos

    e Semintico- Estruturais

    Na fronteira corn a lingiiistica trahcional, o territbrio dos mktodos de aniilise de conteudo incorpora os rnktodos lbgicos estkticos que buscam os aspectos

    do autor ou do texto.

  • Nesse territbrio, o estudo dos efeitos do sentido, da ret6rica da lingua e da palavra evolui, na lingiiistica moderna, para a anilise do discurso.

    Do outro lado, na fronteira com a hermentutica, os mCtodos siio puramente seminticos, dvidndo-se em mitodos psicol6gico-seminticos, que investigam as conotaq6es que formam o campo semintico de uma imagem ou de um enunciado, em mktodos l6gico- semhticos-estruturais, que se aplicam a universos psicossocios-semhticos ou sociossemkticos mais arnplos.

    Fundamentada na tradiqiio hermentutica, essa metodologia de anilise deve ser considerada como uma das dimens6es do exercicio de compreensiio e interpretaqiio a ser enfrentado pel0 analista social, uma vez que niio exclui radcalrnente uma anilise 16gica, formal e objetiva. Embora esses ultimos requisitos devam ser necessariamente respeitados, 6 preciso levar em conta, quando se trata de uma investigaqiio social, uma outra dimensgo igualmente importante e fundamental, qua1 seja:

    ('0 campo-objeto que esta alipara ser o bservado, ele e' tam- be'm um -0-szljeito que e' constmido, em pa fie, por su-

    jeitos que, no curso rotineiro de suas vidas cotidianas, est20 e~nstantementepreoezpados em ~*o.ompreender a si mesmos e aos outros e em interpretar as apk , falas e aconte&entos que se d2o ao seu redor". (Thompson, 2000, p. 358)

    Reiterando e acrescentando, diriamos que a vida cotidana niio se resume no aqui e agora. Ao contririo, 6, sobretudo, fruto de um longo, confitivo e complexo process0 hist6rico e social. Portanto, para compreender as situaqaes que ocorrem cotidanamente, 6 indspensivel

    considerar que essas situaq6es ocorrem em determinado arnbiente (situaq6es, espaqos temporais especificos) e no bojo de certos campos de interaqiio pessoal e institucional que, por sua vez, Go medados por modalidades tCcnicas de construqiio e transrnissiio de mensagens, cada vez mais complexas nos &as atuais.

    No centro do territ6ri0, localm-se o grupo dos mktodos l6gico-seminticos. Por que ldgco-seminticos? Porque o alcance da anihse de conteudo esti, tarnbirn, vinculada i funqgo de urn classificador. E sua classificaqiio i: urna classifica@o l6gica dos conteudos manifestos, ap6s a anihse e interpretaqiio dos valores seminticos desses mesmos conteudos. De uma ou de outra maneira, o analista se vale de definiq6es, e dehq6es Go problemas da l6gica.

    Esta dirnensiio central da anilise de conteudo inclui importantes componentes que devem ser considerados, principalmente se levarmos em conta a l6gica embutida nos recentes programas computadorizados que podem ser utilizados como auxilio para uma eficiente anilise de conteudo.

    Vejamos, pois, os aspectos que se referem ao campo central da anilise de conteudo e definidos como 16gico-seminticos:

    Eles n2o se vinculam &spesquisas qze se dedicam a analire da es~turafomalde zm texto, como, por exem- plo, o procedimento de sua construj-20 ou de seu estilo. Embora n20 sepreoczpem, aprine$io, com o desvelar do 'kegundo sentido" de um texto e l ou corn szas impli- ca,cCes, inicidm sua leitzlra, basimente, a partir do contezido manzj2sto e econsiderando como emdtne.za (e como pon&departida) o contezido imediatamente acessivel.

  • Maria Laura Ptlglisi Barbosa Franco

    Aplicam-se as mais variadas modalidades de textos, apds o 'fndex" dos diversos conceitos utilizados (sua enume- ra@o simples e seas desdobramentos) e a class$ca@o dos elementos de infomaq fio (reagrpamento por categorias) . . .dude a pesquisa, acerca d a s j m a s utilizadas para a apresenta@o dos dados, ate' a andhe e intelpreta@o das tendtncias, co.ompara~o"es e evolu@?o das tendtncias explia2adas. Neste sentido, a reda@o de u m a j ~ h a ou de um resztmo analitco, as anhlises uei~zladaspekz midia, aspesqaisas gue .re zrtilizpvz de lzltegorias ozc de temas, as 0pinio"e.r emitidas sobre d$ren&dos asst~ntos, as repre- senta@es so&s elaboradaspor d$rentesgmpos, as res- postasforne~.idas a partir de questo"es abertus.. . utilipm esses me'todos ... ditos e vistos como ldgi~v-semZnti.0.r. E m suma, esses me'todos (0s lbgi~-o-sem6nti~-os), con- centram semelhanps comuns em relag20 aqueles que os precedem: inventarios, desdo bramentos, caracteri- .ya@o, codzJ;;c@o, pesgai~a de eventuais correla@es, ... mas sempre, e ao mesmo tempo, a partir da com- preens iio do sentido. Sentido das palavras, sentido express0 naspalavras, imagem e simbolos, sentido das percep@es e analogias das mensagens (base de todos os reag~amentos e classZf;~~a~o"es) e sentido das hierar- quius dos sentidos, o que impli~zz diagnosticar d$ren- tes valores das mensagens e das ide'ias em uma hierar- quia que vai do particular ate' o mais geral. .

    A partir das informaq6es ji contidas neste livro, e antes de discutirmos problemas, digamos, "mais priticos", consideramos oportuno reiteri-las, complementi-las e correlacioni-las aos principais elementos que definem a fun550 de delineamentos de pesquisas em anilise de conteiido.

    0 delineamento de urn plano de pesquisa

    0 delineamento de pesquisa k um plano para coletar e analisar dados a fim de responder i pergunta do investigador. Um bom plano de pesquisa explicita e integra procedunentos para selecionar uma amostra de dados para anilise, categorias de contehdo e unidades de registro a serem enquadradas nas categorias, comparaq6es entre categorias e as classes de inferihcia que podem ser extraidas dos dados. Isto quer dizer que o investigador deve ter uma idkia muito clam da rationah de sua pesquisa, deve ser capaz de especificar o tip0 de evidincia necessirio ao teste de suas idiias, bem como deve saber as anilises que teri de fazer, uma vez que os dados tenham sido colhidos e co&ficados, para alkm das inferincias que eles lhe permitiriio estabelecer. Em suma, um bom plano garante que teoria, coleta, anilise e interpretaqiio de dados estejam integrados.

    E aqui, pode ser colocada, em termos mais concretos, nossa advertincia contra "expediq6es de pesca". A ausincia de um plano e de estratkgias pressup6e que os documentos a serem analisados siio escolhidos, mas as raz6es para sua seleczo niio siio claras para o analista ... Documentos szo codificados, porkm niio existe teoria para guiar a seleqiio de categorias e de unidades de anilise. Tais condiq6es fundamentais siio tomadas na base do "que k mais ficil". Comparaq6es entre categorias podem ser empreendidas e podem mesmo envolver anilises estatisticas sofisticadas, mas ngo estando ligadas sequer a uma teoria primitiva, provavelmente serviriio mais para copJundir do que para esclarecer.

    .

  • Maria Laura Pughi Barbosa Franco

    Esse ponto pode ser visto de forma algo &versa, mediante a analogia entre urn plano de pesquisa e o projeto de uma construqiio de urna casa. Sem um projeto, materiais de construqiio poderiio ser reunidos, mas niio haveri orientaqiio alguma quanto ao tip0 ou quantidade necessirios. Carpinteiros, pedreiros e encanadores poderiio reunir tais materiais, mas cada um deles teri uma concep~iio &versa da estrutura que deveriio erigir.

    A casa resultante de gastos talvez inuteis, de esforqos desnecessirios e de materiais inadequados k muito provivel que venha a ser dsfuncional. Tanto na casa, quanto em anilise de conteudo sem um bom plano, antecipado e consistente, pode ser dificil descobrir qualquer uso para o produto final.

    Tendo em vista a importincia da elaboraqiio de urn plano de investigaqiio, que anteceda a anilise do conte~do dos dados a serem obtidos, apresentaremos, no Quadro 1, a s e w , os principais elementos para seu deheamento.

    I I N ~ , I S I ~ DE CONTE~~DO

    Quadro 1: Principais elementos para o deheamento de urn plano de pesquisa

    -

    V) P. w r 10 z P' W 0 3 $ 5 r u

    o 86 z h 0 6 O 2: (0 = ,

    v l m o m .g.+ ' ?%.::: 9Ug Ue

    "Q g $ l a , c " ; = u = - & & " a ,a E . q . f S m n *

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    x x x v l = K i i i @ g ;;;gig; .=o :P L L L L g a :P :m :m E g g . Z ? Z

    0 2 3 9 3 3 ~ g I Z 9 5 8 9

  • Definidos os objetivos da pesquisa, delineado o referencial te6rico e conhecido o tip0 de material a ser analisado, o pesquisador comeqa a se defrontar corn problemas tkcnicos. Surge, entiio, o primeiro desafio ao pesquisador que utiliza a anilise de conteiido, qua1 seja: definir Unidades de Anilise. Desafio que n2o pode ser enfrentado sem que alguns problemas tkcnicos sejam esclarecidos.

    Em prirneiro lugar, 6 necessirio considerar a seguinte dlscrirninaq20:

    As Unidades de Anilise dvidem-se em: a) Unidades de Registro b) Unidades de Contexto

    As Unidades de Registro

    A Unidade de Registro 6 a menor parte d o conteGdo, cuja ocorrEncia k registrada de acordo corn as categorias levantadas.

    As Unidades de Registro: \ 37

  • Seus Tipos, Caracterizaciio, Campos de atuaciio e algumas de suas Limitagdes s8o apresentadas a seguir.

    TIPOS: 1. A Palavra: k a menor unidade de registro usada

    em Anilise de Conteudo. Pode ser uma simples palavra (oral e/ou escrita), um simbolo ou um termo.

    Tem sido utilizada em quarro conjunto de pesquisas:

    - Algumas limitap?es:

    0 emprego desta unidade acarreta um grande volume de dados. Atualmente, com o advento dos programas de cornputador, essa dhculdade fica, de certa forma, atenuada.

    2. 0 Tema: 0 Tema 6 uma assere80 sobre determinado assunto. Pode ser uma simples sentenca (sujeito e predicado), um conjunto deias ou um parigrafo. Uma quest20 temhtica incorpora, coin maior ou menor intensidade, o aspect0 pessoal atribuido pel0 respondente acerca do significado de =ma palavra e/ou sobre as conota~des atribuidas a urn conceito.

    E isso, com certeza, envoive niio apenas componentes racionais, mas, tambim, ideologicos, afetivos e emocionais. Elementos que podem ser percebidos, por exemplo, em respostas 2s questoes do tipo: "0 que representa para V O C ~ a paiavm FERIAS? ou "0 que significa para vocE SER Uhl BOM ALUNO?" ou "0 que voc@ entende VIOL EN CIA?^

    Pelo fato de que, mediante a utilizaciio do tema como unidade de a&lise, para a interpretaqiio das respostas de determinados grupos de pessoas, acabamos obtendo um grande numero de respostas permeadas por diferentes significados. Por isso, antes da tarefa de recodifici-las e analisi-las, s e r i necessirio analisar e interpretar o conteudo de cada resposta em seu sentido individual e unico" (Mucchielli, 1974, p. 51).

    0 Tema 6 considerado como a mais uul unidade de registro em anilise de conte3o. Indqenshvel em estudos sobre propaganda, representagoes sociais, opinides, expectativas, valores, conceitos, atitudes e crencas.

    - Algumas limitaq6es:

  • Alaria Laura Pzlglii B a r h a Franco

    Outra e' que seus limites nio sio faci'lmente ident$cdveis, como apa~avra, opardgr.fo ou o item.

    Por exemplo, suponhemos estar diante da seguinte informas50 temitica e com o compromisso de analisi- la a partir de seus indlcadores manifestos: "0s alzlnos do Ensino Me'dio, demonstrando agressividade, inconzrmismo e descontentamento contra a resolu@o de coolocargrades nus escolas,

    forum, com muita d$~zldade, ~'onven~dos de sua nec~essidade,pela babilidade de didlogo demonstradaporparte dosprofe~xores cpelos integrantes da equ@ degestio ':

    Ou, como quer Holsti: "0s rebeldes, em sua firia sanguindma,foram facilmente contidospela babilidade e tirocinio militar das fay amzadas ".

    Estas informaloes (entre outras) contGm asserq6es a respeito de duas forqas em confhto. 0 analista precisa ser capaz de reduzir essa sentenp em seus temas componentes para poder classifici-las em suas respectivas categorias. "Esse pm~.esso de redu@o de unidades de sentido em unidades temati~zzs, desde qne niio st@ bemfeito,podepvkdi~zzr seriamente a Jidedigndade da analise. l'ara evitar equivocos,prt$ui~os e limita@es e'importante qz~e aspropnedadees estn~turais das unidades temati~zs estty&zpre~.isamente defL;nidas " (Holsti, 1 969).

    3. 0 Personagem: Refere-se a pessoas particulares passiveis de serem classificadas de acordo com dferentes indlcadores: nivel socioecon6rnico, seso, etnia, educaqiio, escolaridade, nacionalidade, religi- ao etc.

    Esta caracteriaaq50, embora n5o apresente h t a ~ 6 e s e/ou dificuldades adicionais i indispenshvel para a contextualizaq50 dos dados. Mais ainda, i particularmente bul em anilises de autores de hstbrias, de dramas, de biografias, de programas de televisiio, de

    filmes e das mbltiplas modalidades que podem ser enquadradas nos veiculos de comunica~iio de massa.

    4. 0 Item: E a unidade de registro a ser utilizada quando um texto, um artigo literirio, um livro ou um programa de ridio siio caracterizados a partir de alguns atributos definidores. Por exemplo: "que assunto i privilegiado no livro?" "do que se trata?" economia domistica? turismo? educa@o? trabalho? drogas? ..." e assim por diante.

    Quando usada conjuntamente com categorias complementares e bem articuladas, permite julgamentos extremamente bteis e valiosos para validaqiio dos atributos implicitos em dlferentes mensagens, e pode-se constituir em um irnportante guia de referhcia para a anilise e interpretaqgo do contefido e dos dados privilegiados em livros, cursos, filmes etc.

    esta e' uma unidade muito ampla quepode upresentar problemas de cla.rszJ;ca&io dos atn3uto.s em duas ou mais categorias. Por exemplo: umjlme ~.6mico de Carlitos e intitzllado ('Tempos Modernos': como poderia ser class$cado e categonpdo? CCoi~'o? Come'dia? Cn'ti~-a? Resisttncia? Desconforto ? Explicitagio da desvalon~a@o da miio-de-obra a partir da introdu@o de prdticas Tayloristas? Domina@o? Triste~a? Conformismo em relagio a uma nova ordem internacional? Enfim, busquemos as respostas re~eitundo as inevitdveis vanaj-0"es contidas em toda e qualquer mensagem. .. Isto porque, se desavisados so bre as implicap?es politi~~as e sociais de mensagens

  • produzidas, corremos o m?co de ualeditur que umJilme considerado cwno c6mico e alienado, ou como uma come'diu ino'cztu, pone esc.onder uma intenyiio, propositalmente, interessadu em cumzfflar os c~.omponentes reais de uma realidade concretu, u aser desvelucla apartir de compreens20, analise e interpretu&io LT^Z '~~LZE desta mesma realidade, qzLe somente pode ser desenvolvida e adyuimdu mediunte o Desenvolvimento du Conscitn~ia; e' apropriadu quando us vuria@s u serem encontrudus no 2mDito das categomar, mesmo qzte sutis, possum se tornar relevanles a partir du andise critics do pe.squisador. No entunto, se ztnz grade nzimero de subcategorias for neces.r~rioparu identzfi~w vumayCes, e' prq%ivel combinar as unidudes n% reystro ancorudus no tema com aquelus defZnidorus do item.

    Quase no encerramento deste capitulo, resta tecer algumas considera~oes importantes. Embora, para fins dditicos, os tipos de Unidades dc Registro tenham sido apresentados como unidades estanques e, provavelrnente, interpretadas como independentes, vale levar em conta que niio esiste nenhuma raziio plausivel para endossar que urn estudo particular se uuhze, apenas, de um tip0 de unidade de registro.

    Xo contririo, elas podem e devem ser combinadas, compartilhadas e inter-relacionadas para garantir a possibilidade de realizaciio de anilises e interpretqoes mais amplas e que leoem em conta as variadas instincias de sentido e de significados irnplicitos nas comunicac6es orais, escritas ou simb6licas.

    XNAI,ISI< IE C O N I ' E U I ~ As Unidades de Contexto

    A Unidades de Contexto podem ser consideradas como o "pano de fundo" que imprime significado i s Unidades de Anilise. Podem ser obtidas mediante o recurso a dados que explicitem a caracterizaqiio dos informantes; suas c o n d i ~ o e s de subsisttncia; a especificidade de suas inserq6es em grupos sociais dwersificados: na familia de origem, no mercado de trabalho, em Institui@es consagradas e reconhecidas, sejam elas: religiosas, benemkritas, concebidas para divulgaq50 de programas voltados ao apoio pessoal, ligadas a organismos do Sistema Nacional ou direcionadas para o intercimbio a ser efetuado junto a organismos Internacionais e assirn por diante.

    A Unidade de Contexto 6 a parte mais ampla do conteiido a ser analisado, porkm k indispensiivel para a necessiria anilise e interpretas50 dos textos a serem decodificados (tanto do ponto de vista do ernissor, quanto do receptor) e, principalrnente, para que se possa estabelecer a necessiria diferenciaqiio resultante dos conceitos de "significado" e de "sentido" os quais devem ser consistentemente respeitados, quando da anilise e interpretasiio das mensagens disponiveis. Di fe renc ia~ao esta que ainda niio tem sido suficientemente incorporada pelos modernos autores que dscutem Anilise de Conteiido e muito menos junto iquelas registradas nos antigos manuais, que abordam este tema, com a pretensiio de fornecer procedimentos (muitas vezes importantes e Citeis, mas, ao mesmo tempo, iniciantes e restritos) a serem utilizados quando a tarefa que se coloca 6 Xnalisar o Conteiido das Mensagens.

  • A unidade de contexto deve ser considerada e tratada como a unidade bisica para a cornpreens20 da codificaqiio da unidade de registro e corresponde ao segrnento da mensagem, cujas dunens6es (superiores i s da unidade de registro) siio excelentes para a compreensiio do significado exato da unidade de registro. "Istopode, por exemplo, sera frasepara apalavra e o paragrajiopara o tema" (Barhn, 1977, p. 107).

    Reiterando o que ji foi colocado, Mamos que se torna, inlscutivelmente, necessjrio fazer referkncias ao contexto pr6ximo ou longinquo da unidade a registrar. Se virios co&ficadores trabalham em urn mesmo corpus, ou se lferentes corpus siio objetos de anilise k irnprescindivel ou um acordo prkvio entre os cbferentes coddicadores ou uma anilise contextual que recupere os lferentes contextos das mensagens, levando em conta as caractensticas prkvias das mensagens a serem emitidas por hferentes grupos a serem analisados. "l'or exemplo, no caso da anahe de mensagens politi~zs, palams, tais mmo liberdade, ordem, pmgresso, demo~mciu, so~iedade ..., ttm necessidade de mntexto para serem cornpreendidas em seu verdadeiru signZJ;mdo'' (Bardm, 1977, p. 107). Da mesma forma, o sipficado de

    < < "processes educativos", avaliagiio educacional", "capacitagiio profissional", "projetos", "autonomia da Escola", "aquisigiio de competincias", "participagiio da comunidade" - entre tantos outros slogans embutidos no vocabulirio educacional - devem levar em conta e esclarecer, melante a uthag2o das unidades do contesto, as contingincias contextuais em que foram produzidos, urna vez que as anilises das mensagens emitidas (sejam elas opinGes, representag6es sociais e/ou espectauvas) podem variar, sensivelmente, segundo as dferentes e lversificadas dunens6es de urna unidade de contexto.

    A determina~iio das unidades de contesto t. presidda por dois critkrios: "o au~to e apertine"n~ia. E evident6 gue i*ma unidade de contexto alargada, exge uma releitura do meio, mais vasta. Por outv-o lado, eh-iste uma dimens20 dtima, no nivel do sentido: se a midude de ~contexto for demasiado pequena ou demasiado gratzde, ja' n2o .re encantra an'aptada; tambe'm, aqui, s2o determinantes, quer o t$o de material, quer o quadro tedrico. De qualquer modo, e'possivel testar as unidades de mntexto em pequenas amostms, a@ de que nos assegzlremos que operamos corn instrumentos rnais adequados " (B ardin, 1 9 7 7, p. 1 08).

    Incorporando as Unidades de Registro, as Unidades de Contexto podem ser explicitadas via confecg6es de tabelas de Caracterizag20 (sempre acompanhadas de suas devidas anilises); podem ser relatadas sob forma de hist6rias de vida, de depoimentos pessoais, de um conjunto de palavras, de um parigrafo ou mesmo de algumas sentengas. 0 importante k ressaltar que qualquer que seja a forma de explicitagiio, fique claro o contexto a partir do qua1 as informag6es foram elaboradas, concretamente vivenciadas e trans'formadas em mensagens personalizadas, socialmente construidas e expressas via linguagem (oral, verbal ou simbdica) que permitam identificar o contesto especifico de vivkncia, no bojo do quai foram construidas, inicialmente, e, com certeza, passives de transformag6es e reconstrug6es.

  • Definidas as unidades analiticas, chega o momento da organizaqiio da anilise e da definiqiio de categorias. Vejamos, em uma prirneira instincia, os componentes previstos para sua Pri-Ana'Iise

    A prk-anilise O a fase de organizaqiio propriamente dm. Corresponde a urn de buscas iniciais, de intuiqoes, de prirneiros contatos com os materiais, mas tem por objetivo sistematizar os "preimbulos" a serem incorporados quando da constituiqiio de um esquema preciso para o desenvolvirnento das operaq6es sucessivas e com vistas i elaboraqiio de um plano de anilise.

    Geralmente, esta primeira fase possui t r i s incumbincias: a escolha dos do~mentos a serem submetidos h anilise; a formulaqiio das hipdteses e/ou dos objeetiuos, e a elaboraqiio de indicadons que fundamentem a interpretaqiio final. (Bardm, 1977). Continuando recorrendo a Bardin, acrescentamos: estes tr&s fatores n2o se sucedem, obrigatoriamente, segundo uma ordem cronol6gica,

  • embora se mantenham estreitamente ligados uns aos outros; a escolha dos documentos depende dos objetivos da investigaqiio, o alcance dos objetivos s6 seri possivel a partir da Qsponib&dade dos documentos; os inlcadores seriio construidos em funqiio das hp6teses, ou pode at6 ser que as hp6teses venham a ser construidas em funqiio da identificaqiio de certos inlcadores.'

    E m suma, a prC-anilise tem por objetivo a organizaqiio, embora ela pr6pria possa se constituir em um momento nZo estruturado, por oposiqiio i exploraqiio sistemitica dos documentos e das mensagens.

    As atividades da Prk-Anilise

    Inclui-se aqui:

    a) A leitzlra Tlutuante "- A primeira atividade da Pr6- Anilise consiste em estabelecer contatos com os documentos a serem analisados e conhecer os testos e as mensagens neles contidas, deisando-se invadx por irnpressGes, representaqGes, emoqGes, conhecimentos e expectativ No duer de Bardm, 'h ta fase e'chamada de hitura

    flutuante, por analogia corn a atitude do psicanalirta. Pouco a pouco, a leittlra vai-se tornando mais preczsa, em fun@o das h$dteses emergentes, da proj@o de teorias adaptadas sobre o matekale dapossivel aplica@o de te'~ni~.as utili~adas com matenais andlogos" (Bardm, 1977. p. 96).

    b) A escolha dos domrnentos. A escolha dos documentos pode ser definida apriori, ou o objetivo k deterrninado pel0 pesquisador e, por conseguinte, convkm colher o

    I Este item seri aprofundado, posteriormente, quando da discussio do levantamento de hip6tcscs e da construgPo de categorias.

    universo de narrativas adequadas para fornecer informaqGes sobre o problema levantado.

    Exemplo: ztma secretaria de estado solicits a zmgmlpo de e.peeialistas que eyblorem e atzalise os rec~rtes divtt&ado.s pelu inzprensa acenu dos dados referentes is evndi,c.o"e.r i~fra-estmtztrais das ins/i/z~i,e.o'es de eizsirzo pzibho, ou so- bre os dados e as mensagem cornentadas sobre os incli~es de euas2o e repetincia de ztm determinudo 2'ozivel de ensi~zo. Exemplo: o objetiuo e' deteefur as qbre.senta@es sociai~. que profissores e alztnos desenvolvem sobre as 1Mtil-a.s Edzt~*atiuas (em gerul) e sobre a Avalia@o Edz~cmio- rial. Opta-.re, ent20, pela anilise dos clir~w~.os e das mensagens qzie ineidanz sobre o tema escolhido.

    Estando o miverso deinarcado (o gknero de docurnentos sobre os quais se vai efetuar a anilise), Bardin nos alerta

    'C qzte e; mz~itas veTe.s) neces.sirio pmader-.re a c~nstitz+?o de z~m corpus. 0 corpus e'o ewyitnto de doezmentos tdos em cmtaparu senm submetidos aospmc.edin~entos unalzhm. A szu c~nstitzt'~?~ imp& e.sc.ol/k; sele@es e regras " (Ba rb , 1977, p. 96).

    Eis as principais regras:

    Regra de Esaustividadc

    Uma vez definido o campo do ev~pz~s (entrevistas, respostas a um questionirio, editoriais, noticias da imprensa, emiss6es de televisiio e ctc.) sobrc determinado assunto, 6 preciso considerar todos os elementos desse col-pus. Mesmo que se apresentem dificuldades de acesso a importantes informac6es complementares, senipre seri necessirio direcionar todos os esforcos para busc6-las, com o objetivo de

  • configurar e esclarecer o contest0 e as condc6es sociais e politicas presentes e, historicamente, contidas nas mensagens emitidas.

    Rcgra dc Representatiridade

    A anilise pode efetuar-se em uma amostra, desde que o material a ser analisado seja dcmasiadamente volumo s o. '2 umostragenz pode ser considemdu n0goro.s~ .re u unzos/ra)r z~;l;zupa?-te rep?-eese~ztutiua do zuziver.ro itzicial, Neste tuso, os reszdtados obtidos poder2o ser generali;ados uo todo" (Bardin,1977, p. 97).

    Para sc recorrer i amostragem, C preciso identificar a distribui~iio das caracteristicas dos elementos da amostra. Um univcrso heterogtneo requer uma amostra maior do que quando sc trata de um unirerso homogi.neo. Se estivermos trabalhando com alunos de dferentes segmentos econbmicos, tercmos necessidade de uma amostra maior do que aqucla que prert um trabalho direcionado, apenas, a alunos de um mcsmo segment0 econbmico e social. Tal como para a sondagcm, a amostragem pode fazer-se ao acaso ou por quotas (scndo conhecidas as freqiicncias das caracteristicas da popula~iio em estudo), retomando-as na amostra, em propore6cs reduzidas.

    N o entanto, k preciso lembrar quc nem todo o material a ser analisado i susceptive1 i obtenciio de uma amostragem. E, nesse caso, i prefcrivel reduzir o pr6prio universe (e, portanto, o alcance da anilise) para garantir maior relevincia, maior significado e maior consistcncia daqdo quc 6 realrnente importante dcstacar e aprofundar no estudo em questiio.

    Regra da Homogeneidade

    0 s documentos a serem analisados dcvem ser homogtneos. Isto i , devcm obedeccr a critirios precisos de escolha e niio apresentar demasiada singularidade que extrapo!e os critirios e os objetiros definidos. O u seja, por esemplo, as cntrevistas real izadas para cap ta r mcnsagens sob re urn de te rminado tema devem (todas elas) con te r quest6es que se refiram ao tema escolhido; as respostas dadas i s quest6es formuladas derem ser obtidas mediante a utilizaciio dc tkcnicas semelhantes em situa@es, igualmente, semelhantes; e derem, tambim, ser realizadas por individuos similares. (i Estu regru e; sohretztdo, u/ili;udu quando .re de.ryu ohter resultadas ~ l0hu i . r e / o u ~.o~?zpu?*ur entre si resztltudo~~ individz~ais" (Bardin, 1977, p. 101).

    Todavia, 6 importante l e n r cm conta o fato de que se, por urn lado, a dcfini~iio dc um corpus passa a ser uma fase habitual em anilise dc conteudo, por outro lado, a fase ou regra de homogeneidade niio sc impoc quando se trata da anilise d o conteudo de um documento unico e singular, como, por csemplo, a anilise de certas anilises monogrificas (uma entrerista aprofundada, a estrutura de um sonho, a simbologia de uma imagem ou a temitica dc urn limo).

    c) A ~forr;ttzila@o das 1-Jipdtese.c: uma hip6tese i uma afirmaciio provis6ria que nos propomos mrificar (confirmar, ou 1120) recorrendo aos procedimcntos de anilise. Trata-se de uma suposi~iio quc permanece em suspenso enquailto niio for submetida i prom de dados fidedignos. Sua origem C fornecida por uma insthcia

  • esterior: o quadro te6rico/pragmitico no qual nos apoiamos e no iimbito do qual os resultados seriio utilizados. Trata-se, pois, de hip6teses levantadas apriori

    Simplificando, diz Bardin: "levantar uma hipdtese e' interrogarmo-nos: seru' verdade qm, tulmno i szgendo pela andise a priori do problema e pelo conhecimento que dele possuo, ou c.omo as minhas primeiras leitz~ras me levam a pensar, qzte.. . ? " (Bardin, 1977, p. 98).

    Mas, as hp6teses nem sempre siio estabelecidas quando da prk-anilise. Da mesma forma, niio i obrigat6rio ter-se como guia um curpzts de lipbteses, para se proceder anilise dos dados. Algumas aniliscs podem ser efetuadas sem hip6teses preconcebidas. Porim, isso niio significa deixar de udzar ticnicas adequadas e sistemiticas para fazer "falar" o material selecionado para an i l i~e .~

    X prop6sito do problema da primazia do quadro de anilise sobre as ticnicas, e vice-versa, parece-nos oportuno recuperar o que P. Henry e S. h/loscovici deisaram registrado no texto "Probl6mes de l'analyse de contenu" em La~zgage, Bulletin du CERI', no 11, Setembro, 1968.

    Muitos autores parecem privilegiar os procedimentos e-~ploratdrios (nos quais "o quadro de anilisc niio esti determinado" embora levem em conta a evidhcia das propricdades dos testos") em rcla~iio ao que estes autores chamam de procedimentos fechados.

    Xo comentar os desdobramentos dos procehentos fechados I? Henry e S. Afoscovici dnem: '>or em evin'e"nc.iu z~mprocedimentojc fiado, s~nzjea i n i ~ z h zma inve.rt;Sa@o apadir

    - I s to i. r) quc succde, muitns vczcs, quando rccorrcmos i informiticn.

    de z ~ m qz~adro empikm ou tedrico de anu'lise de certos estados psicoldgieus, psic~osso~.ioldgicos ou bi~Ydni:o-sociai~; que se tentam parti~ulan~ar, ozt, entzo, a pmpdsito dos qzfah se fornularam h$dteses ou .re levantaram questiies. Rezinem-se textos ... Depois, observam-se esses textos mecliante o referend de zon deternzinado qztadro tedricopreestabeIe~ido qzte ~Zopode sermodzj~z~do.. . " (up. at ) .

    Enquanto que o s procetlimentos de ehplorajGo niio apenas podem como devem incluir ticnicas sistemiticas de anilise, permitem, a partir dos pr6prios testos, apreender as ligaq6es entre as diferentes variiveis, funcionam segundo o processo dedutivo e facilitam a constru@o de novas hipbteses.

    Uma minuciosa leitura do testo dos autores mencionados nos permite concluir que insistem na e justificam, muito bem, a necessidade de investir quer nas ~.ondi$e.s deprodzqGo - ou campo de determina@es - dos testos no sentido lato (situaqiio de comunica~iio, meio sociocultural, psicologia individual, valores cognitivos e/ou afetivos etc.), quer nas rela56es entre os pr6prios documentos e as suas condiq6es de produciio. Acrescentam, ainda, que os mitodos esplorat6rios sistemAticos concentram a vantagem de poder servir de introduqiio "uos zini~vspro~-edimentos e~perimentais capa7e.s n'c apreender as ~ga~o"esfitnziomaisona- entre o qz~e estes azttores cbamum de plano vertical (nivel de c.o~zdij.o"es deprodz~qio, c.omo variu'veis independentex) e o plano honkontal (nivel dos textos unahados como vanaveis clependentes'y (up. I.&.).

    No entanto, em muitos casos, o trabalho do analista i orientado por hip6teses implicitas. Dai, i precis0 destacar a importiincia que as interpretaqoes latentes passam a ter no iimbito do processo da anilise de conteudo. Siio interpretaq6es que niio estiio, estritamente,

  • A Iarla L m r a Pz/shst Bar bosa Frmco

    ancoradas nas mensagens ernitidas. Mas, mesmo niio estando presentes nas mensagens a serem analisadas, devem ser consideradas como informac6es estremamente relevantes, uma vez que, alkm do recurso

    dedqiio e, muitas vezes, i hermen&tica dos sentidos dos textos, concentram a possibilidade de fornecer interpretaq6es complementares valiosas e na junqiio que se estabelece entre a dedu@o c os mecanismos de indu@o, passam a se constituir em elementos uteis para a experimentasgo de novas hipbteses.

    d ) A refertncia aos in&w e a thbora$u"o de intliluttores. 0 indicc pode ser a men@o esplicita, ou subjacente, de um tema em uma mensagem.

    E m grande parte das investiga@es, qualquer que seja o tema explicitado, o mesmo passa a ter mais importiincia para a anilise dos dados, quanto mais frequentemente for mencionado. Neste caso, o indi~.adorcorrespondente seri a fi-equtnuu observada acerca do tema em questgo. Para tal, deoe-se recorrer a uma anilise quantitativa sistemitica para que seja possivel identificar a frcquincia relativa o u absoluta d o tema escolhido e a proporcionalidade de sua inenqiio em relacgo a outros temas igualmente presentes.

    Da mesma forma do que ocorre com o contefido latente, podem existir temas niio esplicitamente mencionados, mas subjacentes is mensagens, passiveis de observaqGo por parte do in~resugador e cuja freqiiincia de ocorrincia passa a ser, tambkm, um elemento indlspensioel para que se possa efetuar uma anilise mais consistente e uma interpretasiio mais significativa.

    1( Por emmplo: szpo"e-se qz/e a emof20 e a ansiedade se man$.stanzporpertz~rbu~6es dapalavru, dz~runte z ~ z a entrevista.

    54

    Uma 17ez escohdos os indlces, procede-sc i constru~iio de indicadores seguros e precisos. Geralmente, certificamo-nos da eficicia e pertinincia dos idcadores testando-os em alguns recortes de testos ou em alguns elementos dos documentos, via prk-teste da anilise.

  • AS CATEGORIAS DE A N ~ I S E

    Definidas as unidades de anilise, chega o momento da definiqiio das categorias.

    A categonp@o 6 uma operaqiio de classifica~iio de elementos constitutivos de um conjunto, por dderenciaqiio seguida de urn reagrupamento baseado em analogias, a partir de critirios definidos.

    "0 ~rz'te'mo de cutegon'pa~a"~ pode ser semintico (categorias tematica:por exemplo, todos os temas que signzfqzlem ansiedade

    &-am agrtlpados nu categorid "ansiedade", enquanto que os que signzJquem a descontra@o jicam agmpados sob o t i t d o conceitzlal Yescontraqiio" (Bardin, 1977). Alim disso, o critirio de categorizaqiio tambim pode ser sintdtica (0s verbos, os adjetivos) ou lixico (classificaqiio das palavras segundo seu sentido, com emparelhamento dos sin6nimos e dos sentidos pr6simos) ou, ainda, eapres~~ivo (por exemplo, categorias que podem ser classificadas como diversas perturbaqaes da linguagem) (op. cit.).

    Em verdade, a cria@o de categorias i o ponto crucial da anilise de contefido. No Qzer de Holsti, "A analise de conteido se sustenta ou niioporsuas categorias" (Holsti, 1969).

  • Alaria Laura Pugli~i B a r h a Franco

    Formular categorias, em anilise de contetido, 6, por via de regra, um processo longo, dlficil e desafiante.

    Mesmo quando o problema esti claramente definido e as hp6teses (explicitas ou implicitas) satisfatoriamente delineadas, a criaqiio das categorias de anilise exige grande dose de esforqo por parte do pesquisador. Niio existem "f6rmulas migicas" que possam orienti-lo, nem 6 aconselhivel o estabelecimento de passos apressados ou muito rigidos. Em geral, o pesquisador segue seu pr6prio carninho baseado em seus conhecimentos e guiado por sua compettncia, sensibilidade e intui~iio.

    Esse longo processo - o da defini~iio das categorias - , na maioria dos casos, implica constantes idas e vindas da teoria ao material de anilise, do material de anilise B teoria, e pressup6e a elabora@o de virias vers6es do sistema categ6rico. As primeiras, quase sempre aprosimativas, acabam sendo lapidadas e enriquecidas para dar origem B versiio final, mais completa e mais satisfat6ria.

    Para a elaboraqZo de categorias existem dois carninhos que podem ser seguidos:

    1. Categorias criadas apriori. Neste caso, as categorias e seus respectivos indicadores siio predeterminados em f u n ~ i i o da busca a uma resposta especifica do investigador. Por exemplo, vamos supor que urn duretor de escola esteja interessado, apenas, em saber at6 que ponto seus professores ap6iam-se na proposta &hn&da por Tyler e seus seguidores sobre Avaliaqiio Educacional. Para tal, solicita aos professores que respondam, por escrito, a seguinte quest20 'Quale'a fun;iio da avaliap?~?". ou 'l'ara que serve a a~alia~iio?" Concomitantemente, recorrendo aos pressupostos que indiquem urna avalia4Go

    58

    centrada em objetivos, define categorias que atribuem B avalia~iio o papel de:

    - venjmr se os objetivos edumionais estiio sendo atzngidos pelo programa de ensino;

    -fornecer informaji?es quanto ao desempenho do ahno em face dos objeetivos esperados;

    - verrfiar o quanto as experie"ncias de aprendiaagem, tal coma previstas e exe~ztadas, fauorecem o almnce dos resultados desejados;

    - efetuar um jztlgamento de desempenho tendo como par2metms o~etivos educa~ionaisjajxados e em ra@o dos qzlais seriio @redados os resultados a s e m o bticlos.. . e assimpor diante.

    As respostas que expressarem esta postura (ji desmembrada em categorias) seriio classificadas em uma ou mais delas e seriio indlcativas (indcadoras) da presenca de urna concepqiio pr6xima i de Tyler entre os professores pesquisados. Se o diretor quiser saber o quanto dessa aproxima@o, pode quantificar em termos de freqiitncias absolutas ou relativas, conforme o n h e r o dos enunciados que couberem nas categorias. Afirrnq6es e respostas de outros tipos seriio desprezadas, por niio se encaixarem em nenhuma das categorias criadas para responder a urn interesse bastante especifico do investigador.

    2. As categorias niio siio definidas apriori. Emergem da "fala", do Iscurso, do contetido das respostas e implicarn constante ida e volta do material de anilise i teoria.

    Seriio tanto mais ricas quanto maior for a clareza conceitual do pesquisador e seu respectivo dominio acerca de diferentes abordagens tebricas.

  • Maria b r a Pughi Barbosa Franco

    Nesse processo, inicia-se pela descriqiio do sipficado e do sentido atribuido por parte dos respondentes, salientando-se todas as nuanqas observadas.

    Prossegue-se com a classificagiio das converghcias e respectivas dlvergtncias.

    Feito isto com algumas respostas (uma amostra), come~a-se a criar um c6dgo para a leitura (sempre aberto a novas categorias) dos demais respondentes.

    As categorias viio sendo criadas, i medlda que surgem nas respostas, para depois serem interpretadas i luz das teorias explicativas. Em outras palavras, o conteiido, que emerge do dlscurso, C cornparado com a l p tip0 de teoria. Infere-se, pois, das dlferentes "falas", dlferentes concepg6es de mundo, de sociedade, de escola, de indlviduo etc.

    No primeiro caso (categorias criadas a priom), a tendincia k levar a uma simplificaqiio e a uma fragmentagiio muito grande do conteiido manifesto. Alim dlsso, o pesquisador, muitas vezes, se v i induzido a imprimir uma "camisa-de-for~a" na fala dos respondentes, procurando indicios daqui e dali para classificar as respostas em seu sistema categbrico.

    Por outro lado, trabalhar com um sistema aberto (categorias criadas aposterion), como ji dissemos, exige maior bagagem te6rica do investigador.

    AS vezes, principalmente os iniciantes abrem uma categoria para cada resposta. Isso, tambim, fragmenta o dscurso e prejudica a aniilise das convergtncias.

    Redunda uma grande quantidade de dados e prejudca a anilise do todo.

    Quando isto ocorrer, k importante encontrar alguns principios organizat6riosY que seriam as categorias mais amplas ou molares, para depois classificar os indlcadores (categorias moleczllares) em m6dulos interpretativos menos fragmentados.

    Por exemplo, em pesquisa por n6s desenvolvida junto a egressos de tris escolas agrotkcnicas e dentre uma boa quantidade de perguntas, indagamos "pais teriam sido os prin~$aisproblemas vivenkados L - O ~ O ex-alzlnos dessas escolas" (Franco, 1998).

    Inicialrnente, classificamos as respostas em categorias de menor amplitude e, em seguida, sem nos afastar dos significados e dos sentidos atribuidos pelos respondentes, criamos marcos interpretativos mais amplos para reagrupi-las.

    Medlante este procedmento, as categorias iniciais, fragmentadas e extremamente analiticas, passaram a ser indicadoras de categorias mais amplas que, ao serem formuladas, passaram, igualmente, a incorporar pressupostos te6ricos.

    A Tabela 1, a seguir, ilustra o resultado do procedimento que acabamos de relatar.

    Do ponto de vista operacional, gera uma tendtncia de se iniciar o trabalho, criando-se uma grande quantidade de categorias.

  • Alaria h r a Pugli~i Barbosa Frarico

    Tabela 1: Exemplo para a classificaqiio de problemas vivenciados Uma outra vantagem implicita na elaboraqZo de urn sistema categ6rico niio-aprioristico diz respeito i grande quantidade de dados novos e diversificados que podem surgir.

    por ex-alunos de tris escolas pe uisadas

    guisa de esemplificaqZo, damos um esemplo de pesquisa por n6s realizada (Franco,l998) para ilustrar o que acabamos de esplicitar.

    A pesquisadora, ao elaborar seu projeto de pesquisa, d e h u como urn dos objetivos: "avakar~~mo e em q u qttantz'nlade o dismrso do aluno e'rexbdor du estmtt~ra depoder ehzj-tente na esmb':

    Decidiu eleger, como sistemitica para a coleta de dados, o uso de entrevistas semi-estruturadas. Dentre outras questdes, solicitou a cada urn dos alunos a serem entrevistados o seguinte: "Pense em a&um probha que a~~onteceu em sua escola e diga como foi resohido':

    Para descobrir se, na escola, os problemas eram (I

    resolvidos de uma forma, dgamos, mais demo~niti~a", criou uma categoria que recebeu a seguinte denominaqZo: Yresenga dapurti~ipagiio do uhno elou deprojessores epais, na solztgiio dos problemus da esco la".

    Como estava trabalhando corn tema como unidade de anilise, urn dos indicadores dessa presenp poderia ser: toda e qualquer afurmaqao que indcasse urna participaqao compartilhada e/ou comunitiria.

    E m contrapartida, a auskncia de soluqdes compartilhadas tornar-se-ia evidente quando os indi~udores pudessem ser identificados como: toda e qualquer airma@o que indicasse solu@es udaterais. Por exemplo, apenas da diretoria; ou toda afurnaqzo que indicasse soluqdes impostas de "cima para baixo" sob forma de comunicados, circulares etc.

    Obs.: As porccntagens foram calculadas a partir do total de problcmas csplcitados (c n5o a partir do n6mcro de alunos) e, postcriormcntc, registradas nas catcgorias criadas (com seus rcspcctivos significados) obscn-ando-se, t a m b h , a distnbuiq50 por cscolas.

    62

  • A partir dessas preocupaq6es comeqou a entrevistar os alunos, retomando a questiio nodal de sua pesquisa no sentido de induzi-10s a pensar em um problema ocorrido na escola e . 0 encaminhamento dado em busca de sua soluqiio.

    J i de inicio, um dos primeiros entrevistados respondeu:

    'Somos alunos da la sirie do curso noturno do Ensino Mkdto. Outro l a , resolveram abrir classes noturnas para as 7" e 8" siries do Ensino Fundamental. Dai, como niio havia espaqo suficiente, nos tiraram de nossas salas de aula e nos colocaram em barracaes sem janelas, ma1 iluminados, sem lousa e sem nada. Fomos chegando na escola e fomos comunicados que deveriamos ir para os barracaes. Niio gostamos da hist6ria e decidunos protestar. Escrevemos urn manifesto, mandamos para a drretora, mas niio deu em nada! Entiio, resolvemos fazer greve. Combinamos que todo mundo deveria comparecer na escola, no horirio certo, mas ninguim poda entrar nos barracaes para assistir i s aulas. A gente tinha que ficar de fora, sentados no phtio, quietos e sem fazer bagunqa ... Isto tambim foi combinado. Recebemos, entiio, a visita da drretora que falou que se a gente continuasse a ficar de fora, niio ir para as aulas e niio aceitar a decisiio da coordena@o e da Secretaria, iria haver suspensiio em rnassa e n6s tinhatnos que ir embora da escola, ficariamos reprovados, por falta, e nossos pais seriarn avisados ... , ,

    A partir desse relato a pesquisadora ji consegue saber que a participaqiio dos alunos na soluqiio do problema foi nula, na me&da em que o entrevistado diz 'jromos mmunicados de que deveriamos ir para us barrac6e.r". No

    entanto, descobre, tambkm, novos dados: houve rea@o: ' 6 escrevemos urn manifesto, jizemos grew ". E , finalmente,

    percebe a existkncia autoritiria da repress20 quando os alunos foram ameapdos de suspensiio em massa, de expulsiio, de reprovaqiio e de envolvimento com os pais. %o novas categorias que emergem da "fala" dos entrevistados e que devem ser incorporadas i anilise que se torna, em conseqiikncia, mais rica e relevante.

    Principais requisitos para a criac$o de categorias

    Existem boas e mis categorias. Assim como para a constitui@o do co.orpus de anilise, torna-se necessirio respeitar algumas regras, um conjunto de categorias satisfat6rias deve possuir as seguintes qualidades:

    A exclzs2o mitzla o principio de exclusiio mutua depende da homogeneidade das categorias. Um ljnico principio de classificaqiio deve orientar sua organiza@o. %m ztm mesmo coyhnto categomaI, sd sepode fun~ionar com am rzgistra e LWZ u rn dimens20 de anbh'se. D$rentes niveis de anblise devem ser separados em outras tantas anbh'ses sum-sivas " (Bardin, 1 977). A pertine"ncia: Uma categoria C considerada pertinente

    quando es6 adaptada ao material de anhltse escohdo e ao quadro te6rico d e h d o . 0 sistema de categorias deve, tarnbim, refletir as inten@es da invesagaqiio, as quest6es do anahsta e/ou corresponder is caractensticas das mensagens.

    A objeetividade e a jdedignidade: Estes principios, tidos como muito importantes no inicio da hist6ria da anilise de conteudo, continuam sendo vilidos. A esse respeito, os comentirios de virios autores siio esclarecedores. As dferentes partes de urn mesmo material, ao qua1 se aplica

  • uma determinada matriz de categorias, devem ser codificadas da mesma maneira, mesmo quando submetidas a virias anilises. "Aspossiveis distor@es devidas 2 extrapolu@o da subjetividade dos cod$cadores e 2 vama@o individualde juipes n20 ser2oprodu~idas se a es~.olha e a defL;ni@o das ~uttgomasforem bem estabeleadas " Phi t e , 1 97 1 p. 12 1).

    Finalrnente, gostariamos de acrescentar i s condq6es geralmente prescritas para a constru@o de "boas" categorias, uma qualidade mais pragmitica, qua1 seja: a produtividade. Um conjunto de categorias k produtivo desde que concentre a possibilidade de fornecer resultados fkrteis. Fkrteis em inhces de infertncias, em hip6teses novas e em dados relevantes para o aprofundamento de teorias e para a orientaqiio de uma pritica critica, construtiva e transformadora.

    UM EXEMPLO DA UTILIZAC~O DA A N ~ I S E DE CONTEUDO N A

    REALIZACAO DE UMA PESQUISA EM EDUCACKO

    Apesquisa e seus objetivos

    0 exemplo que escolhemos para ilustrar a utiliza~ao do procedimento de Anilise de Conteiido foi um trabalho de pesquisa de Carelli (2002) realizado durante o prirneiro semestre de 2001, com 20 alunos da 3" skrie do Ensino Fundamental com idade variando de 9 e 11 anos, sendo 12 do sex0 masculino e oito do sexo feminino. Na sua maioria, filhos de migrantes nordestinos em busca de trabalho e/ou trabalhando no litoral norte do Estado de Siio Paulo.

    Podendo ser enquadrada na modalidade de C c pesquisa/intervenqiion, teve por objetivo propor estratkgias diversificadas (no caso, "contar iust6rias") e sempre respeitando e incluindo a participaqao da professora da classe, pretendeu promover, no imbito escolar, o increment0 do prazer de Ler e, conseqiientemente, a aquisi@o mais qualificada da

  • Alaria h r a Pnglisi Barbosa Franco

    Habhdade de saber Ler e Escrever, por parte dos alunos das prirneiras siries do Ensino Fundamental.

    -w 0 s procedimentos, a prC-anhlise e a cria@o de categorias

    Entre outras atividade e de acordo com o previsto para a coleta de dados, a pesquisadora, inicialmente, udzou-se do recurso de urna entrevista semi-estruturada para obter respostas i s seguintes quest6es:

    C

    Voct gosta de ouvir hlst6rias? Por qut?

    Pergunta feita com o objetivo de inferir at6 que ponto o contar e ouvir hist6rias poderia significar um p r o c e h e n t o adequado para despertar o interesse pela leitura e escrita.

    procedimentos de agrupamentos, de classifica@s, de prk-anilise, procedimentos, estes, vistos como indispensiveis e fundamentais para ausiliar a posterior criaG5o de categorias e, conseqiientemente, a efetiva possibhdade de inferir, analisar e interpretar os dados a serem submetidos B urna Anilise de Conte6do.

    Vejamos os quadros elaborados:

    Quadro 2: Respostas das crianps i quest20: Voci. gosta de ouvir hist6rias e por qut? ( A h n o s registradoos pelos ,r~imeros de 1 a 201,

    -l segunh a o d m mno/dgica h s entnvistaos.)

    Alunos 1

    aprender mais coisas

    mim eu conto para outra. Quando eu escuto uma historia depois wnto para minha irma, para minhas colegas. So que eu n io falo com as mesmas letras porque eu esqueco Gosto, porque e muito importante. Historia e muito boa para a gente aprender alguma coisa Gosto, porque as historias s l o muito legais para mim

    Quem conta hist6rias para vock e onde? 7 1 Gosto, porque a gente aprende mais 8 1 ~ o s t o . Doraue e leaal

    Pergunta feita para identificar outros possiveis espa- qos e/ou outras pessoas que preencham esta lacuna, para alim da professora e do ambiente escolar

    l'or quepre~isamos saber ler?

    Quest50 importante para identificar os motivos, as finalidades e a importincia da leitura, na condiqiio de atributos, explicitados pelas crianqas, que dmem respeito h aquisiqiio da habilidade de saLer ler e escrever.

    A partir das respostas obtidas, a pesquisadora passou a construir quadros ilustrativos para facilitar os

    1 9 1 Gosto, porque e legal I 10 1 Gosto, porque e legal 11 1 Gosto. Doraue eu acho muito bonito

    1 12 1 Gosto, porque e legal I Gosto, porque e legal. Porque a professora conta e gostoso Gosto, porque e legal Gosto, para a~render a ler

    1 16 1 Gosto, porque eu acho interessante I

    1 20 1 Gosto, porque a gente fica escutando enquanto o outro 18 I

    17

    18

    19

    1 0 cuidado corn a identificagio de rcgistro 6 um importante facilitador para

    associagio e interpretagio dos dados cm contesto.

    Gosto, porque eu acho legal Gosto, porque eu acho legal Gosto, porque e legal

  • Afaria h z i r a Pt&si B a r h a Franco E, dai: Prosseguindo, a pesquisadora elaborou o:

    Quadro 4: "Por que precisamos saber ler?" (Segtlido o mesmo procedimento e a elaborapio de mai~. ~~mQtradro)

    Quadro 3: Transcrevendo as respostas dos alunos e relativas i quest50 "Quem conta hst6rks para voci: e onde!"

    I Alunos I Respostas I ( Alunos ( Respostas I 1 Porque sen20 a gente vem para a escola e a professora pee a gente na frente para I I ler e a gente nao sabe e passa o maior carlo. Eu ja passel por isso. Eu nSo sabla ler na primeira (serie).

    ~ ~ ~-

    para ela de volta, 0 meu tio, o meu primo, a minha irmB. No quarto deles. De vez em quando. A professora. Em casa ninguem conta. Amlnha avo e a minha mBe. Contam de vez em quando. Na minha casa ou quando eu vou na casa da minha avo. E quando tem dia de chuva, a gente fica 18 em casa. Dai a minha m8e conta historia. Mais a minha professora, mas em casa o meu pai e mais chegado em historia. De vez em quando, ele conta como era a vida dele, assirn diferente, como era a vlda dele antes.

    Tern vezes que e a rn~nha prima que conta para mim. Agora ela nSo nesta mais contando Doraue ela foi embora. Agora e a professora que me conta historias.

    I

    Porque a gente pode estar perdido em uma cidade, passa o 6nlbus a gente perde porque nBo sabe ler. Tambem auando os outros mandam a aente ler e a oente n l o I

    Tem algumas vezes que a minha m l e me conta e ai eu peg0 o caderninho e conto de volta para ela. Do livrinho, em casa. Ela conta todos os dias e depois eu conto

    I I fazer umaassinatura que precisar. ~ e ' v o c 6 nBo souber ler V O C ~ tambem n i o vai I 3 4

    1 5 Por exemplo, se eu chego em um lugar a pessoa manda eu ler e eu n l o sei, ai eu I I passo vergonha. Porque muitas pessoas perguntam, voce esta andando na rua e te perguntam "olha 18 aquela placa para mim", ai a gente fica com a maior cara de pau se disser que n l o sabe. Ate minha m l e aue n l o sabe ler nada, diz oue e sabe. Para aprender as coisas. Porque a qente pode ir aue. por exem~lo. se voc6 n l o souber ler voce nBo oode

    I muito dificil viver sem saber ler. Coitada. Mas, eu vou saber ler e escreler. ' 6 1 Para poder ir a0 banco e fazer coisas. Ler urn cheaue, o aue esta escrito. Quando

    -

    Minha avo, meu pai e a minha mBe. Quando a gente val dormir, eles contam histmas. De vez em quando. porque, As vezes, eles chegam cansados e d o r m I . . I voc6 for professor, vote save muitas coisas.

    7 1 Para a gente aprender e poder ser alauem na vida. ta rnbh. A professora. Em casa os meus irmBos me contam historias. As vezes. Meus irmios, rneu pai, meus primos. Quando meu primo vai dormir la em casa, ele cnnta no ouarto.

    1 8 1 Para n l o ser burro 7 -. .- . 7.-

    A professora Em casa me4 pal, rnlnha mae e a mmha Irma De vez em quando 9

    10 11 Meu oai mora em SBo Paulo. Entlo, de vez em auando, e a minha mBe. I

    Para poder trabalhar em algum lugar que preclsa saber ler e tem que estudar Para aprender Para aprender, porque quando a professora ped~r para a qente ler a aente sabe ler I

    12 1 Mmha mBe, mlnha avo, meu pal Eles contarn sempre Na mmha casa ou quando 1 12 1 Para contar historias. I 13 1 Para q-an00 preclsarmos asslnar a g4ma colsa Saoer o qLe estamos ass nanoo 14 1 Para trabalhdr oe aovoqado, no Exerc~to, na Marmha na POI c.a 13 14

    15 16

    15 ( Para qbanoo a professora oer a h ~ a o eL pooer fazer 16 1 Senao q-anoo a qente for trabalnar e a Dessoa Derauntar voce sabe ler? AI odem

    vou na casa da minha avo. Na minha casa ninguem. Eu leio para o meu irmBo. Na escola, a professora. Eu mesmo. So a professora. A professora. Minha irmB. A professora. Na minha casa, ninguem conta historias. . 1 n i o souber n l o &i poder trabalhar. '

    17 1 N l o sei para aue serve. Acho aue e Doraue a orofessora ouer. 18 1 A professors. Na minha casa ninguem me conta historias. 19 I A orofessora. Maira e. as vezes, a Diretora. Na minha casa, minha irmB me conta

    I . . . . . .

    18 1 Para a onntn saber mnis I historias.

    20 1 Minha mBe. NBo na hota de dormir ela reza. Ela conta todos os dlas. 1 l9 1 Para poder tirar carta de motorista e para quando tiver alguma coisa para ler a gente conseguir ler. 1 20 1 Para aprender a passar de serie. 1 Conhecidas as respostas dos alunos, elas passam a se

    constituir em iizdi~ado~es para a pmr6sirna tarefa: qua1 seja, a cria@o de categorias.

    Para isso, a pesquisadora que estava trabalhando com o tema como unidade de registro, foi em busca do sipficado e do sentido das asserqjes explicitadas e, valendo-se de seu referencia1 te6ric0, buscou classifici-las em ~'ategonkmohres.

  • Na medtda em que, tambkm, estava interessada em saber a intensidade do aparecirnento dos dtferentes sipficados 16gico-semhticos, decidtu quantifici-los, uthando-se de freqiitncias absolutas e relativas.

    Foram, pois, elaborados as Tabelas que se seguem e que esplicitam as categorias criadas e alguns de seus indicadores ilustrativos.

    Obs.: XlCm disso, ap6s a aprese-ntaqiio de cada urna das Tabelas, k recomendivel redigir urna anilise p r e h n a r de seus respectivos contefidos, para auxiliar em urna posterior anilise contextualizada e para urna efetiva interpretaqiio dos dados, bem como para a redaqiio de urna sintese conclusiva, com vistas i compatibilizaqiio intra e entre dados e sua necessiria adequaqiio em relaqiio aos objetivos propostos pela pesquisa e pel0 pesquisador.

    Vejamos, pois, as Tabelas.

    Tabela 2: Distribuiqiio dos mouvos explicitados pelos alunos para justificar porque gostam de ouvir list6rias

    ALUNOS No MOTIVOS EXPLICITADOS RELACIONADOS A S I T U A ~ ~ O DE ENSINO/APRENDIZAGEM

    e muito importante para aprender alguma coisa. i porque a gente aprende mais coisas. i para aprender a ler. I O4 RELACIONADOS A SITUACbES DE ENTRETENIMENTO E PRAZER i porque eu acho interessante i porque eu acho born i porque as historias s i o multo legais para mim i porque eu acho muito bonito i porque a professora conta e e gostoso

    MOTIVOS LIGADOS A INTERACdO ENTRE PARES I gosto, porque depo~s que uma pessoa conta uma h~stor~a para mlm eu conto para

    outra i quando eu escuto uma h~stor~a depols eu conto par mlnha lrml.para m~nhas

    colegas, s6 que eu n l o falo com as mesmas letras, porque eu esque$o I. porque a gente fica escutando enquanto o outro 18 I porque eu escuto e depo~s conto como eu sel

    Como pode ser observado, em sua maioria (70%), o ouvir hst6ria esti ligado ao prazer, ao lfidlco, e em 10/o das respostas acrescentam-se a este prazer a relaqiio entre pares: a escuta e a fala, o ouvir e o contar. Esta constataqiio pode, a principio e erroneamente, levar o leitor a inferir que 'b contar histo'rias" apresenta-se como urna atividade desvinculada das reais necessidades de aprendzado stnktu sensu, uma vez que, neste caso, ela aparece em apenas 20% dos casos. No entanto, em nosso entender, o prazer, o lfidico, a interaqiio e o diilogo concentram urna grande possibilidade no que diz respeito ao desenvolvimento efetivo do aluno em sua caminhada em busca da aquisiqiio das habilidades e competkcias de ler e escrever.

    Tabela 3: Distribuiqiio das respostas (no e YO) explicitadas nas entrevistas em rela@o a quem conta list6rias, onde e

    corn que freqiiencia.

    ALUNOS SlTUAG6ES EXPLICITADAS t- Sl TUACbES RELACIONADAS A 0 CON TEXT0 FAMILIAR (FREQOEN TE) i Minha mie, ela wnta todos 0s dias e depois em wnto para ela a historia i Minha mie, minha avo, meu pai, eles contam sernpre, na minha casa ou quando

    eu vou na casa da minha avo. 3 Minha mie, ela conta quase todos os dias.

    SlTUACdES RELACIONADAS A 0 CONTEXT0 FAMILIAR (ESPORADICO) i Mnha avo e minha mie, quando tem dia de chuva a gente fica la em casa ouvindo

    historas. i 0 meu pai e mais chegado em historias, de vez em qu