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ANÁLISE DE BIOMARCADORES BIOQUÍMICOS NO CARANGUEJO UCA MORDAX EXPOSTO A DIFERENTES CONDIÇÕES DE SALINIDADE E FONTES DE CONTAMINAÇÃO NA BACIA DO MARAJÓ i Carla Carolina Miranda dos Santos ii Lílian Lund Amado iii Universidade Federal do Pará Resumo Os estuários são ambientes de grande relevância ecológica e biológica importantes para o desenvolvimento humano através do crescimento populacional e de atividades econômicas em seu entorno. Dentre os fatores abióticos deste ambiente destaca-se a salinidade em virtude de suas constantes variações. O estuário da Bacia de Marajó, PA recebe a descarga de uma grande variedade de compostos tóxicos oriundos dos rios que compõem sua bacia de drenagem, além dos contaminantes liberados durante operações portuárias.Os biomarcadores são variações induzidas por xenobióticos em moléculas, componentes celulares, estruturas ou funções que configuram-se ferramentas de diagnóstico precoce da saúde ambiental. O objetivo deste trabalho é avaliar a qualidade ambiental do ponto de vista biológico, utilizando biomarcadores bioquímicos em caranguejos Uca mordax oriundos de diferentes pontos da bacia de Marajó levando em conta o gradiente de salinidade e a influência antrópica. Neste contexto foram selecionados quatro pontos: Abaetetuba, PA (referência dulciaquícola), Barcarena, PA (área portuária dulciaquícola), Vigia, PA (referência estuarina) e Baía do Guajará-Belém, PA (área urbana estuarina). Foram analisados três biomarcadores nas brânquias e músculo: capacidade antioxidante contra radicais peroxil (ACAP- biomarcador de exposição), atividade da glutationa-s-transferase (GST- biomarcador de exposição) e a lipoperoxidação (LPO- biomarcador de efeito). No período de transição a capacidade antioxidante em brânquias apresentou maiores valores de indução diferenciando-se (p<0,05) do período seco e chuvoso. No músculo os animais coletados no período chuvoso apresentaramvalores superiores (p<0,05) em relação aos coletados no período seco. Percebe-se o mesmo padrão de atividade da GST para ambos os órgãos com maior atividade no período chuvoso e menor no período de transição. Nas brânquias oscaranguejos coletados no período de transição diferenciaram-se (p<0,05) doscoletados no período chuvoso apresentando os menores valores de lipoperoxidação enquanto no músculo no período chuvoso não houve diferenças entre os caranguejos dos distintos pontos (p>0,05). Conclui-se que os animais de todos os pontos amostrados demonstraram que suas defesas antioxidantes variam com sazonalidade e que o período de transição parece configurar um maior desafio metabólico para os animais induzindo suas defesas antioxidantes.Não houve diferenças expressivas entre os ambientes com e sem histórico de poluição. Palavras-chave: Poluição aquática, Salinidade, Uca mordax.

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ANÁLISE DE BIOMARCADORES BIOQUÍMICOS NO CARANGUEJO UCA

MORDAX EXPOSTO A DIFERENTES CONDIÇÕES DE SALINIDADE E

FONTES DE CONTAMINAÇÃO NA BACIA DO MARAJÓi

Carla Carolina Miranda dos Santosii

Lílian Lund Amadoiii

Universidade Federal do Pará

Resumo

Os estuários são ambientes de grande relevância ecológica e biológica importantes para

o desenvolvimento humano através do crescimento populacional e de atividades

econômicas em seu entorno. Dentre os fatores abióticos deste ambiente destaca-se a

salinidade em virtude de suas constantes variações. O estuário da Bacia de Marajó, PA

recebe a descarga de uma grande variedade de compostos tóxicos oriundos dos rios que

compõem sua bacia de drenagem, além dos contaminantes liberados durante operações

portuárias.Os biomarcadores são variações induzidas por xenobióticos em moléculas,

componentes celulares, estruturas ou funções que configuram-se ferramentas de

diagnóstico precoce da saúde ambiental. O objetivo deste trabalho é avaliar a qualidade

ambiental do ponto de vista biológico, utilizando biomarcadores bioquímicos em

caranguejos Uca mordax oriundos de diferentes pontos da bacia de Marajó levando em

conta o gradiente de salinidade e a influência antrópica. Neste contexto foram

selecionados quatro pontos: Abaetetuba, PA (referência dulciaquícola), Barcarena, PA

(área portuária dulciaquícola), Vigia, PA (referência estuarina) e Baía do Guajará-Belém,

PA (área urbana estuarina). Foram analisados três biomarcadores nas brânquias e

músculo: capacidade antioxidante contra radicais peroxil (ACAP- biomarcador de

exposição), atividade da glutationa-s-transferase (GST- biomarcador de exposição) e a

lipoperoxidação (LPO- biomarcador de efeito). No período de transição a capacidade

antioxidante em brânquias apresentou maiores valores de indução diferenciando-se

(p<0,05) do período seco e chuvoso. No músculo os animais coletados no período

chuvoso apresentaramvalores superiores (p<0,05) em relação aos coletados no período

seco. Percebe-se o mesmo padrão de atividade da GST para ambos os órgãos com maior

atividade no período chuvoso e menor no período de transição. Nas brânquias

oscaranguejos coletados no período de transição diferenciaram-se (p<0,05) doscoletados

no período chuvoso apresentando os menores valores de lipoperoxidação enquanto no

músculo no período chuvoso não houve diferenças entre os caranguejos dos distintos

pontos (p>0,05). Conclui-se que os animais de todos os pontos amostrados demonstraram

que suas defesas antioxidantes variam com sazonalidade e que o período de transição

parece configurar um maior desafio metabólico para os animais induzindo suas defesas

antioxidantes.Não houve diferenças expressivas entre os ambientes com e sem histórico

de poluição.

Palavras-chave: Poluição aquática, Salinidade, Uca mordax.

Abstract

Estuaries are environments of great ecological and biological relevance and important for

human development through the population growth and economic activities in its

surroundings. Among the abiotic factors of this environment, salinity stands out because

of its constant variations. The estuary of Marajó Bay, PA receives the discharge of a

variety of toxic compounds from the rivers that compose its drainage basin, beside the

contaminants released during port operations. Biomarkers are changes induced by

xenobiotics in molecules, cellular components, structures or features that works as tools

for early diagnosis of environmental health. The objective is to evaluate the

environmental quality from a biological perspective, using biochemical biomarkers in

crabs Uca mordax from different point of Marajó Bay considering the salinity gradient

and the anthropogenic influence. In this context, four sampling sites were

selected:Abaetetuba, PA (freshwater reference); Barcarena, PA (freshwater portuary

area); Vigia, PA (estuarine reference) and the Guajará Bay-Belém, PA (estuarine urban

area). Three biomarkers were analyzed in gills and muscle: antioxidant capacity against

peroxyl radicals (ACAP- biomarker of exposure), glutathione-s-transferase activity

(GST- biomarker of exposure) and lipid peroxidation (LPO – effect biomarker). During

the transition period the antioxidant capacity in gills showed higher induction values

differing (p < 0.05) of dry and rainy season while muscle showed higher values on rainy

season (p < 0.05) when compared to dry season. There is the same pattern of GST activity

for both tissues with greater activity in the rainy season and shorter during the transition

season. Gills in the transition season differed (p< 0.05) of the rainy season presenting the

lowest lipid peroxidation values while in the muscle during the rainy season there were

no differences between the sampling sites (p> 0.05). We conclude that animals of all

sampling sites showed that their antioxidant defenses vary with seasonality and the

transition period seems to be an important metabolic challenge for animals inducing its

antioxidant defenses. There were no significant differences between environments with

and without history of pollution.

Keywords: Aquatic Pollution, Salinity, Uca mordax.

Os estuários são áreas de grande

importância ecológica, econômica e

social, por serem ambientes de produção,

criação e reprodução de várias espécies

biológicas incluindo espécies de

importância comercial (ASMUS,1996)

dando suporte ao estabelecimento de

cadeias alimentares complexas

(BRAGA, 2000).

O estuário da Bacia de Marajó recebe a

descarga de uma grande variedade de

compostos tóxicos oriundos dos rios que

compõem sua bacia de drenagem, além

dos contaminantes liberados durante

operações portuárias (PEREIRA FILHO

et al., 2001).

A poluição de ambientes estuarinos é

considerada como um problema

ambiental crítico devido à alta variação

dos fatores abióticos, que não só impõem

severas restrições à vida dos organismos

nessas áreas como também alteram

constantemente a biodisponibilidade de

contaminantes (AMADO et al.,2006).

Dentre os fatores abióticos, destaca-se a

salinidade como parâmetro ambiental

importante em virtude de suas altas e

constantes variações, as quais afetam a

fisiologia e a ecologia dos organismos

(ANGER, 2001).Como uma das

adaptações fisiológicas fundamentais de

organismos estuarinos podemos destacar

a osmorregulação que é a habilidade de

manter ativamente a concentração

osmótica dos fluidos extracelulares,

apesar das variações na osmolaridade

do ambiente (MONSERRAT et al.,

2007).

O efeito combinado das atividades

antrópicas com as flutuações marcantes

de salinidade podem gerar condições de

estresse ambiental para os organismos

uma vez que contribuem

significativamente com a

biodisponibilidade de poluentes e

promove a realocação da energia que

seria utilizada para detoxificação para a

iono e osmorregulação, ou vice-versa

(MONSERRAT et al., 2007).

Neste contexto, variações induzidas por

xenobióticos em moléculas,

componentes celulares, estruturas ou

funções são utilizadas como

biomarcadores (DEPLEDGE et al.,

1995). Biomarcadores são capazes de

informar se um organismo foi exposto à

um xenobiótico (biomarcador de

exposição),as consequências danosas

dessa exposição no organismo

(biomarcadores de efeito) ou a

susceptibilidade do organismo ao

xenobiótico (SOGORB et al, 2014).

Essas alterações em respostas biológicas

quando um determinado organismo está

fora de suas condições fisiológicas

normais, seja devido à presença de

poluentes ou devido a modificações

físico-químicas de seu habitat

(AMORIM, 2003) configuram-se como

excelentes ferramentas de diagnóstico

precoce na saúde ambiental por

representarem respostas em baixo nível

de organização biológica

(CARAJAVILLE et al., 2000),

permitindo a identificação precoce de

mudanças antes que alcancem níveis

mais complexos de organização

(MONSERRAT et al., 2003a) e de

maior relevância ecológica.

A análise de biomarcadores é feita em

órgãos de organismos residentes nos

ambientes em que se pretende avaliar sua

qualidade do ponto de vista biológico,

tais organismos são chamados de

biomonitores.

Estudos têm demonstrado que as

populações de caranguejos chama-marés

podem chegar à extinção local devido à

degradação crescente dos hábitats

intertidais por poluição, dragagem e

aterro o que demonstra a sensibilidade

destes organismos a estresses ambientais

(BARNWELL, 1986)

O presente estudo tem como objetivo

fazer uma abordagem do ambiente

estuarino utilizando biomarcadores

bioquímicos em caranguejos daespécie

Uca mordax sujeitos à diferentes

condições de salinidade e de influência

antrópica. Estes resultados serão

comparados em tempo e espaço com

fatores ambientais como salinidade, pH e

oxigênio dissolvido além de identificar

possíveis alterações devido ao impacto

antropogênico.

Materiais e Métodos

1.1 Área de estudo

A área escolhida para o estudo é a Bacia

do Marajó formada pela junção dos rios

Pará/Tocantins e, posteriormente

somada as águas da Baía de Guajará, que

circunda a cidade de Belém, e todos os

demais afluentes que irão formar a Baía

de Marajó antes de atingir o oceano.

Assim, os pontos de coleta são (Figura

1):

A) Referência dulciaquícola: localizado

no município de Abaetetuba, em uma

ilha às margens do rio Campumpema,

consiste de um local sem histórico de

contaminação e de água doce ao longo de

todo o ano.

B) Área portuária dulciaquícola:

localizado no município de Barcarena,

consiste em uma área portuária com

ambientes semelhantes ao ponto “a” nas

suas mediações, com a diferença de ter

um grande histórico de impacto

antropogênico.

C) Área urbana estuarina: nas margens

da Baía de Guajará, próximo ao canal do

Tucunduba na cidade de Belém, área

com leve influência de águas estuarinas

e com alto grau de impacto urbano.

D) Referência estuarina: localizado no

município de Vigia, próximo ao mercado

de pescados do município, área sob forte

influência estuarina e baixo histórico de

poluição,

1.2 Atividades de campo

Para coleta dos caranguejos (apenas

machos) foi utilizada a catação manual,

logo em seguida a maré de baixa-mar.

Foram realizadas 3 coletas em cada

ambiente: uma no período de transição

(Julho/2014), uma no período menos

chuvoso(Outubro/2014) e outra no

período chuvoso (Fevereiro/2015). No

momento da coleta foram registrados os

dados ambientais de cada ponto, junto

com uma descrição do ecossistema. Os

dados abióticos mensurados foram:

salinidade, pH, oxigênio dissolvido,

temperatura da superfície da água,

condutividade.

Os organismos coletados, foram

devidamente etiquetados em relação ao

local e dados ambientais obtidos e

imediatamente crioanestesiados, mortos

e armazenados em gelo (0°C) até a

dissecação, o que ocorreu no mesmo dia

da captura.

1.3 Atividades Laboratoriais

-Biometria e dissecação dos caranguejos

Em laboratório, no mesmo dia da coleta,

os animais foram biometrados com o

auxílio de um paquímetro (0,01 mm)

sendo medidas a maior largura da

carapaça em vista dorsal, alturae

comprimento. Os organismos também

foram pesados em balança semianalítica

(0,01g) para que em seguida as brânquias

e porções do músculo fossem retirados e

acondicionados em tubos tipo eppendorf

para armazenamento em ultra-freezer (-

80ºC) até as análises bioquímicas.

-Preparo dos homogeneizados para

dosagens bioquímicas

As amostras de músculo e brânquias são

homogeneizadas (1:4, p/v) em tampão

contendo 20 mM Tris–Base, 1 mM

EDTA, 1 mM ditiotreitol (Sigma, St.

Louis, MO), 500 mM sacarose, 150 mM

KCl, e 0,1 mM fenilmetilsufonil fluoride

(PMSF; Sigma), com pH ajustado para

7,6 (BAINY et al., 1996). A seguir os

homogeneizados foram centrifugados a

20.000 x g por 20 min a 4ºC. O

sobrenadante foi retirado, aliquotado e

acondicionado a -80ºC até o momento

das dosagens.

-Determinação de Proteínas Totais

A análise de proteínas totais foi realizada

com kit comercial (Doles Ltda, Brazil)

baseado no teste Biureto (citrato

trissódico 0,114M, carbonato de sódio

0,21M e sulfato de cobre 0,01M) para

proteínas, as leituras foram realizadas em

leitor de microplacasmultimodal (Victor

X3, Perkin Elmer) a 550 nm. Os

resultados foram expressos em

miligramas de proteínas/mL.

-Determinação da atividade da

glutationa-S-transferase (GST)

A dosagem de GST foi baseada nos

trabalhos de Habig et al. (1974) e Habig

& Jakoby (1981). A metodologia

consiste em avaliar a conjugação de

1mM de GSH (Sigma) com 1mM do

reagente 1-cloro-2,4 dinitrobenzeno

(CDNB,Sigma),processo catalisado pela

GST. O complexo conjugado formado

possui absorbância máxima em 340 nm

(ε = 9,6 mM -1.cm-1). Como meio de

reação é utilizado tampão fosfato 0,1 M,

pH 7,00. As leituras foram realizadas em

espectrofluorímetro (Victor 2, Perkin

Elmer) com leitora de microplacas. Os

resultados são expressos em UGST/ mg

de proteína que representa a quantidade

Figura 1: Figura1: Pontos de coleta (círculos escuros) em cada município para a Bacia de Marajó, Pará: A) referência dulciaquícola, Abaetetuba; B) área portuária dulciaquícola, Barcarena; C) área urbana estuarina, Belém e D) referência estuarina,Vigia.

necessária da enzima para conjugar 1

µMol de CDNB/ min/mg de proteína, a

25ºC e pH 7,0.

-Determinação da capacidade

antioxidante total contra radicais peroxil

A capacidade antioxidante total contra

radicais peroxil foi analisada através da

determinação da concentração de

espécies ativas de oxigênio (EAO) nas

amostras com e sem exposição a um

gerador de radicais peroxil. O princípio

deste método é que amostras com maior

capacidade antioxidante terão menor

formação de radicais.

Os radicais peroxil são produzidos por

decomposição termal (35°) de 2’2’-

azobis-2-metilpropiamidina

dihidrocloreto (ABAP, 4mM; Aldrich)

(Winston et al., 1998). As leituras

foram realizadas em leitora de

microplaca de fluorescência (485 e 530

para excitação e emissão

respectivamente) durante uma hora

(Victor 2, Perkin Elmer), em um meio

contendo 30 mM de HEPES (pH 7,2),

200 mM KCl, 1 mM MgCl2, 40 µM

H2DCF-DA com e sem a adição de

ABAP. O incremento de fluorescência

de cada amostra ao longo de uma hora de

leitura foi plotado e área sob a reta

formada foi calculada. A diferença

relativa entre as áreas de uma mesma

amostra exposta e não exposta ao ABAP

foram consideradas como medida da

capacidade antioxidante total. Os

resultados são expressos como inverso

da área relativa.

-Lipoperoxidação (LPO) - Ensaio FOX

modificado

A lipoperoxidação foi determinada de

acordo com Hermes-Lima et al. (1995)

adaptada para microplacas segundo

Monserrat et al. (2003). Esse método se

baseia na oxidação do Fe2+ a Fe 3+ por

hidroperóxidos lipídicos presentes na

amostra. Sob condições de pH ácido o

Fe3+ formado se complexa ao corante

laranja de xilenol. As amostras foram

homogeneizadas (1:6 m/v) em metanol

100% à frio (4ºC). Os homogeneizados

foram centrifugados a 1000x g, durante

10 min à 4°C. A presença de

hidroperóxidos lipídicos nas amostras é

avaliada espectrofotometricamente em

550 nm. O hidroperóxido de cumeno

(CHP) foi utilizado como padrão. O

conteúdo de peróxidos lipídicos foi

expresso como equivalentes de 1nM

CHP/g de tecido úmido.

-Integração dos dados e análise

estatística

Foi montada uma base de dados, com os

resultados das variáveis nas áreas

selecionadas para estudo. Após

avaliação da distribuição normal e da

homocedasticidade destas variáveis

foram empregados testes estatísticos

paramétricos para comparação das

médias (ANOVA). Havendo diferença

significativa estas são determinadas pelo

teste post-hoc de Tukey. Para os dados

de biometria foi realizado o teste não

paramétrico de Kruskal-Wallis (ZAR,

1984). O nível de significância aceito é

de 5%.

1.4 Resultados

- Dados de precipitação

Observa-se na Figura 2 o padrão de

variação de precipitação para a região de

Belém ao longo de 2 anos. Com base

nesses padrões que foram selecionados

os meses de coleta. Dentre os meses em

que as coletas ocorreram o maior valor

de precipitação foi no mês de

Fevereiro/15 com 397mm, enquanto

Outubro/14 apresentou o menor valor 78

mm. Julho/14 apresentou valor

intermediário de 188 mm.

-Parâmetros Físico-Químicos

Os parâmetros físico-químicos foram

medidos na maré baixa e maré alta

respectivamente como mostra a Tabela

1.

Não houve diferenças expressivas

quanto a temperatura entre os pontos e

nem entre as estações. O pH manteve-se

na faixa de 5-7 em todos os pontos para

todos os períodos.

Percebe-se grande diferença na faixa de

oxigênio dissolvido entre a maré-baixa

com predominância de baixos valores e

maré-alta com predominância de valores

maiores para todos os pontos ao longo

dos três períodos (com exceção de

Abaetetuba e Vigia no período chuvoso).

Em ambos os períodos de estiagem e

transição percebe-se que os ambientes

dulciaquícolas apresentam valores de

OD superiores aos ambientes estuarinos.

Nos períodos de estiagem e chuvoso

observa-se que os ambientes estuarinos

Belém e Vigia possuem condutividades

maiores em relação aos ambientes

dulciaquícolas. No período de transição

Vigia, Belém e Abaetetuba apresentaram

altos valores de condutividade.

Abaetetuba, Barcarena e Belém não

apresentaram variação na salinidade para

nenhum dos períodos amostrados. Vigia

apresentou alta variação de salinidade

entre maré alta e baixa no entanto, sem

diferenças marcantes entre os períodos

amostrados.

-Biometria

Como mostra a Tabela 2 Os animais de

Abaetetuba não diferenciaram-se

(p>0,05) entre os períodos amostrados

para peso, comprimento total e largura.

Para o peso os organismos de Vigia e

Belém tiveram diferenças (p<0,05) entre

os três períodos amostrados com maior

valor no período de estiagem (3,54±0,07

cm e 3,37±0,07 cm respectivamente) e

menor no período de transição

(1,36±0,01 cm e 1,35±0,002 cm).

No período de estiagem e de transição os

animais de Abaetetuba e Barcarena não

diferenciaram-se (p>0,05) para o peso e

largura. Organismos de Barcarena e

Belém apresentaram diferenças (p>0,05)

para o comprimento total entre os

períodos de estiagem (1,42±0,008 cm e

1,41±0,009 cm) e transição, onde neste

último apresentaram menores valores

(1,35±0,002 cm e 1,35±0,002 cm) não

diferenciando-se (Tabela 2).

Caranguejos de Vigia, Belém e

Barcarena apresentaram diferenças

(p<0,05) para a largura entre os períodos

de estiagem (1,99±0,01 cm, 1,97±0,01

cm e 1,94±0,01 cm) e transição onde

apresentaram valores menores

(1,87±0,06 cm, 1,83±0,003 cm e

1,80±0,004 cm) (Tabela 2).

No período de estiagem os caranguejos

de Abaetetuba diferenciaram-se dos

animais dos demais pontos para largura

apresentando o menor valor (1,84±0,01

cm). No período de transição os animais

dos ambientes estuarinos diferenciaram-

se (p<0,05) dos animais dos ambientes

dulciaquícolas. (Tabela 2)

Não houve diferença entre os

organismos de Belém e Vigia em

nenhum dos períodos amostrados e nem

entre os períodos para altura (p>0,05).

Os animais de Barcarena diferenciaram-

se dos animais dos demais pontos

amostrados para altura nos períodos de

transição e chuvoso apresentando os

maiores valores (1,23±0,003 cm e

1,25±0,11 cm) (Tabela 2).

Figura 2: Precipitação registrada para Belém do período de Janeiro/13 à Junho/2015 (dados obtidos do site

do INMET)

Tabela 1: Parâmetros físico-químicos dos ambientes amostrados ao longo de três períodos sazonais. Os

dados são apresentados como os valores registrados na maré baixa –maré alta.

Tabela 2: Biometria de Uca mordax para todos os pontos amostrados ao longo de três períodos sazonais.

Os dados estão expressos em mediana ± quartil. As letras maiúsculas diferentes representam diferenças

entre períodos para um mesmo local e as letras minúsculas diferentes representam diferenças entre locais

em um mesmo período.

PERÍODO LOCAL TEMPERATURA DA ÁGUA(ºC) pH OXIGÊNIO DISSOLVIDO(mg/L) CONDUTIVIDADE (µS/cm) SALINIDADE

ABAETETUBA 25,1 - 30,7 7,2 - 6,99 4,08 - 7,15 378,4 - 34,1 0 - 0

VIGIA 27,4 - 28,3 7,1 - 7,56 2,4 - 5,54 136,6 - 90,2 0 - 12

BARCARENA 28,6 - 29,8 6,95 - 7,33 5,2 - 9,0 44,1 - 60,9 0 - 0

BELÉM 26,6 - 28,5 7,17 - 6,7 2,71 - 6,8 219,9 - 25,2 0 - 0

ABAETETUBA 28,9 - 30,4 7,92 - 6,87 4,72 - 7,18 40,9- 34,1 0 - 0

VIGIA 27,6 - 30,8 6,9 - 7,28 2,58 – 6,93 58,6 – 4,4 0 - 13

BARCARENA 28,9 - 29,4 6,81 - 7,28 4,99 - 8,7 46,7 – 59,6 0 - 0

BELÉM 26,3 - 29,5 7,12 – 6,99 3,17 - 6,47 296,6 – 37,1 0 - 0

ABAETETUBA 28,1 - 38,5 5,49 - 6,5 5,8 - 1,38 143,8 - 201 0 - 0

VIGIA 24,9 - 26,8 7,38 - 7,5 6,2 - 5 992 - 2520 4--13

BARCARENA 27,6 - 30 7,2 - 6,84 5,65 - 6,71 66,5 - 75,8 0 - 0

BELÉM 27,4 - 28,5 7,42 - 7,22 1,3 - 6,32 303 - 64,4 0 - 0

TRANSIÇÃO

ESTIAGEM

CHUVOSO

PERÍODO LOCAL PESO(cm) COMPRIMENTO TOTAL(cm) LARGURA(cm) ALTURA(cm)

ABAETETUBA 2,33±1,12 Aab 1,33±0,02 Aa 1,82±0,03 Aa 1,01±0,01 Aa

VIGIA 2,63±0,07Ba 1,36±0,01 Ba 1,87±0,06 Ba 1,00±0,008 Aa

BELÉM 2,44±0,01 Bab 1,35±0,002 Ba 1,83±0,003 Ba 1,01±0,01 Aa

BARCARENA 2,31±0,01 Bb 1,35±0,002 Ba 1,80±0,004 Ba 1,23±0,003 Bb

ABAETETUBA 2,49±0,04 Aa 1,36±0,01 Ab 1,84±0,01 Aa 1,13±0,09 Bb

VIGIA 3,54±0,07 Ab 1,44±0,007 Aa 1,99±0,01 Ab 1,00±0,008 Aa

BELÉM 3,37±0,07 Ab 1,41±0,009 Aab 1,97±0,01 Ab 1,00±0,008 Aa

BARCARENA 3,11±0,06 Aa 1,42±0,008 Aa 1,94±0,01 Ab 1,00±0,007 Aa

ABAETETUBA 2,48±0,03 Ab 1,34±0,08 Aa 1,84±0,007 Aa 1,05±0,04 Aa

VIGIA 3,09±0,07 Ca 1,40±0,009 Ab 1,94±0,01 Ab 1,04±0,007 Aa

BELÉM 3,04±0,06 Ca 1,39±0,009 Bb 1,92±0,01 Ab 1,01±0,008 Aa

BARCARENA 2,78±0,04 Aba 1,38±0,007 ABb 1,88±0,008 Ba 1,25±0,11 Bb

TRANSIÇÃO

ESTIAGEM

CHUVOSO

-Biomarcadores

Brânquias

Capacidade antioxidante total-

Biomarcador de exposição.

Os animais de Barcarena diferenciaram-

se (p<0,05) dos animais dos demais

pontos no período de estiagem

apresentando a menor capacidade

antioxidante (0,24 ± 0,05), enquanto no

período chuvoso não houve diferença

entre os organismos dos pontos

amostrados (p>0,05). No período de

transição os organismos de Belém

(3,16±0,28) diferenciaram-se dos de

Abaetetuba (0,74±0,13) apresentando

maior indução das defesas antioxidantes

(Figura 3).

Organismos de Barcarena, Belém e

Vigia apresentaram no período de

transição maior capacidade antioxidante

(2,53±0,39; 3,16±0,28 e 2,16 ±0,06

respectivamente) quando comparados

aos períodos chuvoso (0,38±0,09; 0,68 ±

0,06 e 0,41±0,03) e de estiagem

(0,24±0,05; 1,03±0,26 e 0,65±0,16) que

apresentam-se iguais com capacidades

antioxidantes menores (Figura 3).

Atividade da glutationa-s-transferase-

Biomarcador de exposição.

A atividade da GST nas brânquias de

caranguejos de Abaetetuba (140,25±8,32

UGST/ mg proteína) diferenciou-se das

de organismos de Belém (102,01±7,05

UGST/ mg proteína) no período de

estiagem apresentando maior atividade

desta enzima, não houve diferenças

(p>0,05) entre os pontos amostrados

para o período de transição. No período

chuvoso os animais de Belém

(147,08±9,66 UGST/ mg proteína)

diferenciaram-se dos de Vigia

(108,94±6,32 UGST/ mg proteína) e

Barcarena (102,57±5,80 UGST/ mg

proteína) com maiores níveis de

atividade (Figura 4).

As brânquias de caranguejo de

Abaetetuba, Barcarena e Vigia

apresentaram no período de transição

menores atividades da GST (40,50 ±2,05

UGST/ mg de proteína; 51,73 ± 1,85

UGST/ mg de proteína e 49,93±2,51

UGST/ mg de proteína respectivamente)

diferenciando-se de ambos os períodos

de estiagem (140,25±8,32 UGST/ mg de

proteína; 121,12 ± 7,04 UGST/ mg de

proteína e 128,24±8,55 UGST/ mg de

proteína) e chuvoso (122,41±3,93

UGST/ mg de proteína; 102,57±5,80

UGST/ mg de proteína e 108,94±6,32

UGST/ mg de proteína) que por sua vez

apresentaram-se iguais e com níveis

maiores de atividade.(Figura 4)

Houve diferenças (p<0,05) entre todos

os períodos climáticos para caranguejos

de Belém, com maior atividade da

enzima no período chuvoso

(147,08±9,66 UGST/ mg de proteína) e

menor no período de transição

(39,01±2,64 UGST/ mg de proteína

(Figura 4).

Figura 3: Capacidade Antioxidante Total em brânquias de Uca mordax

(n=5-10).Valores expressos em média±erro padrão. As letras maiúsculas

diferentes representam diferenças (p<0,05) entre períodos para um

mesmo local e letras minúsculas diferentes representam diferenças (p<

0,05) entre os locais no mesmo período.

Lipoperoxidação- Biomarcador de

efeito.

A lipoperoxidação nas brânquias de

caranguejos de Vigia (25,01±5,10 nM

CHP/ g de tecido úmido) diferenciou-se

das de animais de Belém (16,03 ± 2,73

nM CHP/ g de tecido úmido) e

Abaetetuba (19,56 ± 1,67 nM CHP/ g de

tecido úmido) no período de estiagem

apresentando maiores quantidades de

lipídeos peroxidados. Não houve

diferença (p>0,05) entre os pontos

amostrados nos períodos de transição e

chuvoso (Figura 5).

Os animais de Abaetetuba, Barcarena e

Belém apresentaram diferenças entre o

período chuvoso (27,65±0,94nM CHP/ g

de tecido úmido; 29,39±1,05 nM CHP/ g

de tecido úmido e 26,82±1,44 nM CHP/

g de tecido úmido respectivamente) e o

período de transição (15,30±1,50 nM

CHP/ g de tecido úmido; 19,5±1,78 nM

CHP/ g de tecido úmido e 14,56±0,96

nM CHP/ g de tecido úmido) onde o

primeiro apresentou maiores

quantidades de lipoperoxidação. O

período de estiagem não diferenciou-se

dos demais períodos para os organismos

de todos os pontos amostrados (p>0,05)

mas percebe-se quantidades de lipídeos

peroxidados superiores ao período de

transição (Figura 5).

O período de estiagem para os animais

de Vigia (25,01±5,10nM CHP/ g de

tecido úmido) diferenciou-se do período

de transição (18,88±1,31 nM CHP/ g de

tecido úmido) com maiores níveis de

LPO, enquanto o período chuvoso não

diferenciou-se (p>0,05) dos demais. No

entanto, suas quantidades de lipídeos

peroxidados mostram-se maiores que a

do período de transição (Figura 5).

Músculo

Capacidade antioxidante total-

Biomarcador de exposição.

Não houve diferenças (p>0,05) entre os

organismos de todos os pontos

amostrados no período de estiagem

enquanto no período chuvoso

organismos dos pontos estuarinos Belém

(0,30±0,04) e Vigia (0,30±0,05)

apresentaram maior indução das defesas

antioxidantes diferenciaram-se dos

organismos dos pontos dulciaquícolas

Abaetetuba (0,11±0,01) e Barcarena

(0,14±0,01) (Figura 6)

A capacidade antioxidante total em

músculo de caranguejos de

Barcarena,Vigia e Belém apresentaram

diferenças entre os períodos chuvoso

(0,14±0,01; 0,30±0,05 e 0,30±0,04

respectivamente) e de estiagem

(0,04±0,01; 0,04±0,02 e 0,03±0,01) onde

o primeiro demonstra maiores níveis de

Figura 4: Atividade da Glutationa-s-transferase em brânquias de Uca

mordax (n=5-10). Valores expressos em média ± erro padrão. As

letras maiúsculas diferentes representam diferenças (p<0,05) entre

períodos para um mesmo local e letras minúsculas diferentes

representam diferenças (p< 0,05) entre os locais no mesmo período.

Figura 5: Lipoperoxidação em brânquias de Uca mordax (n=5-10) Valores

expressos em média±erro padrão. As letras maiúsculas diferentes

representam diferenças (p<0,05) entre períodos para um mesmo local e

letras minúsculas diferentes representam diferenças (p< 0,05) entre os

locais no mesmo período.

indução do sistema de defesa

antioxidante. Enquanto músculo de

animais de Abaetetuba não apresentou

diferenças (p>0,05) entre os períodos

sazonais (Figura 6)

Atividade da glutationa-S-transferase-

Biomarcador de exposição.

Não houve diferenças (p>0,05) entre os

animais dos pontos amostrados para

nenhum dos períodos. Os organismos de

Abaetetuba não apresentaram diferenças

(p>0,05) entre os períodos sazonais

enquanto que os de Vigia, no período de

transição, (15,03±0,82 UGST/ mg

proteína) apresentaram maior atividade

da GST diferenciando-se dos períodos

chuvoso (52,64±5,85 UGST/ mg

proteína) e de estiagem (32,20±3,22

UGST/ mg proteína). O período chuvoso

para os animais de Belém (67,07±11,22

UGST/ mg proteína) e Barcarena

(46,09±5,18 UGST/ mg proteína)

apresentou também altos níveis de

atividade desta enzima diferenciando-se

do período de transição em ambos os

pontos (28,15±3,31 UGST/ mg proteína

e 16,95±1,40 UGST/ mg proteína,

respectivamente) e também do período

de estiagem para animais de Belém

(28,04±2,62 UGST/ mg proteína.

(Figura 7).

Lipoperoxidação- Biomarcador de

efeito.

No período chuvoso não houve diferença

na lipoperoxidação no músculo entre

caranguejos de todos os pontos

amostrados (p>0,05).

1.5 Discussão

1.5 Discussão

-Parâmetros Físico-Químicos

Todos os pontos amostrados

apresentaram temperaturas 25º-30ºC.

Esse comportamento é típico de

estuários tropicais caracterizados por

baixas variações na insolação e

temperatura apresentando média de

27ºC. (MONTEIRO et al., 2015). O pH

Figura 6: Capacidade Antioxidante Total em músculo de Uca mordax

(n=5-10). Valores expressos em média ± erro padrão. As letras

maiúsculas diferentes representam diferenças (p<0,05) entre períodos

para um mesmo local e letras minúsculas diferentes representam

diferenças (p< 0,05) entre os locais no mesmo período.

Figura 7: Atividade da Glutationa-s-transferase em músculo de Uca

mordax (n=5-10). Valores expressos em média±erro padrão. As letras

maiúsculas diferentes representam diferenças (p<0,05) entre períodos

para um mesmo local e letras minúsculas diferentes representam

diferenças (p< 0,05) entre os locais no mesmo período.

Figura 8: Lipoperoxidação em músculo de Uca mordax (n=5)

no período chuvoso. Localidades em cor de rosa

representam ambientes dulciaquícola, as localidades em

azul representam estuários. Texturas com barras verticais

simbolizam ambientes referências e barras horizontais

representam ambientes com histórico de poluição.Valores

expressos em média±erro padrão. As letras minúsculas

diferentes representam diferenças (p< 0,05) entre os locais

no mesmo período.

de levemente ácido ao neutro é típico das é típico de águas brancas da Amazônia

(GAILLADERT et al., 1997).

Abaetetuba e Barcarena apresentaram

pH em torno de 6,0, sendo este valor

esperado em ambientes com alta taxa de

matéria orgânica (CONAMA, 2005) Os

valores mais elevados de oxigênio

dissolvido durante a maré alta se dá pelo

maior influxo que promove maior

agitamento e aeração das águas.

Os ambientes estuarinos naturalmente

apresentam altas quantidade de oxigênio

dissolvido devido à grande

produtividade primária destes ambientes

costeiros. Assim, os valores encontrados

no presente estudo estão na faixa normal,

superiores a 5mg/L (CONAMA, 2005) e

podem auxiliar na elucidação de

mudanças da qualidade do estuário

(CHAPMAN, 1992). Os ambientes

dulciaquícolas apresentam faixa normal

para os valores de OD não inferiores a

6mg/L (CONAMA,2005).

A condutividade maior nos ambientes

estuarinos pode ser atribuída às

variações mais expressivas de salinidade

(principalmente em Vigia) que leva à

variação da composição iônica

(MILLERO, 1984).

A variação dos parâmetros abióticos

parecem ter dinâmicas mais relacionadas

à natureza dos ambientes sem apresentar

variações expressivas entre as estações,

uma vez que, na Amazônia as estações

não são bem delimitadas e apresenta

pluviosidade regular durante o ano todo

(SOUZA et al, 2009).

-Biometria

No período chuvoso os animais de todos

os pontos amostrados mostram maiores

valores de peso em relação aos animais

coletados nos outros períodos, isso pode

ocorrer devido maiores demandas

alimentares que são intensificadas em

principalmente em ambientes costeiros

com o aumento da pluviosidade

(MARTINS, 2006).

Os animais de Vigia diferenciaram-se de

Abaetetuba apresentando maiores

valores para peso, comprimento e largura

em todos os períodos amostrados

podendo demonstrar que animais de

ambientes estuarinos apresentam

melhores condições sugerindo assim

menor impacto antrópico e/ou um

ambiente mais favorável ao

desenvolvimento desta espécie. Segundo

AMARAL & JABLONSKI (2005) em

estudo com caranguejos Ucides

chordatus alterações no tamanho das

populações e dos espécimes podem ser

atribuídas a destruição das áreas de

manguezal.

As diferenças nas dimensões corporais

de uma mesma espécie estão

relacionadas a variados fatores, dentre os

quais pode-se citar a quantidade de

matéria orgânica presente no substrato

(MASUNARI & DISSENHA, 2005)

maior em ambientes de manguezais,

assim, animais estuarinos apresentam

maior porte físico devido à alta

produtividade de seu habitat.

Os animais de Barcarena, Belém e Vigia

mostraram aumento dos valores de quase

todas as medidas (exceto altura para

Belém e Vigia) do período de transição

para o período de estiagem. Uma vez que

o período de transição pode apresentar

oscilações diárias de salinidade menos

regulares em relação aos outros períodos

os animais podem estar redirecionando

seu investimento energético em proteção

do organismo e não mais em alimentação

e crescimento como evidenciados nos

períodos chuvoso e seco que

apresentaram maiores valores para todas

as medidas.

Não percebe-se influência direta dos

históricos de contaminação no

desenvolvimento dos animais, isso pode

ser explicado pela dinâmica das águas

amazônicas que de um modo geral são o

ricas em nutrientes e íons, o que se sabe,

interfere na biodisponibilidade para

muitos compostos tóxicos

(MONSERRAT et al., 2007). Todos os

animais amostrados em cada um dos

pontos já estavam em maturação sexual

uma vez que todos apresentaram valores

superiores a 1,19 cm de largura da

carapaça (FRANSOZO et al., 2009).

-Biomarcadores

Brânquias:

A capacidade antioxidante total

apresentou-se maior para o período de

transição em relação às estações de

estiagem e chuvosa. No período de

transição, que equivale a diminuição

gradual das chuvas e início de estiagem,

os organismos enfrentam uma menor

constância nas condições do meio.

Assim, necessitam constantemente

adaptarem-se á essas variações, o que

demanda grande gasto energético. Sabe-

se que o aumento do gasto energético

está diretamente relacionado com o

aumento da geração de espécies reativas

de oxigênio (SILVEIRA, 2008) o que

induz um aumento das defesas

antioxidantes (HOLMGREN, 1985).

Concomitantemente, nota-se menor

valores de peso, comprimento e largura

nesta estação sugerindo novamente

alocação energética também para a

defesa do organismo através da indução

das defesas antioxidantes. Segundo

CHEN et al. (1997) os crustáceos

decápodos apresentam desajuste no

balanço osmótico quando submetidos à

variações na salinidade do meio uma vez

que o reajuste da concentração osmótica

requer muita energia. Durante os

períodos chuvoso e de estiagem onde

existe maior constância nos valores de

salinidade e demais características

abióticas, nos ambientes estuarinos

(Belém e Vigia) observou-se maior

indução da GST, uma enzima de

detoxificação. Isso pode estar associado

ao aumento da biodisponibilidade de

compostos xenobióticos na água que

mudam sua dinâmica de complexação

conforme a variação na composição

iônica e de matéria orgânica no meio, o

que pode levar à indução desta enzima.

Este fato é corroborado por uma maior

atividade da GST encontrada em Belém

(ambiente estuarino com histórico de

contaminação) quando comparada a

Vigia (ambiente estuarino referência).

Além disso, a realocação de energia para

crescimento (elucidada por maiores

valores de peso, comprimento, largura e

altura para todos os ambientes no

período de estiagem e chuvoso) podem

fragilizar os sistema de defesa

antioxidante potencializando a geração

de espécies reativas de oxigênio.

MYUNG et al(2010) em experimento

com o bivalve Scapharca broughtonii

submetidos à estresse térmico e osmótico

observou que ambos estresse hipo e

hiperosmótico aumentam a expressão e

atividades de enzimas antioxidantes

como catalase e superóxido dismutase

bem como o tempo de exposição

prolongado às salinidades experimentais

(25, 35 e 45) levava também ao aumento

da atividade destas enzimas. Assim, no

período de transição os altos níveis de

defesa antioxidante parecem ter caráter

compensatório não levando à indução da

GST, isso se expressa nos baixos valores

de lipoperoxidação encontrados para

esta estação.

Os altos valores de lipoperoxidação para

o período chuvoso podem estar

associados ao processo de ressuspensão

de poluentes com a maior hidrodinâmica

somados à investimento energético em

alimentação e reprodução. Segundo

DIAS-FILHO (2006) sobretudo no

período chuvoso há aumento da

comunidade planctônica, principalmente

de algas Clorofíceas, que levam a

maiores níveis de produtividade neste

período aumentando assim a demanda

alimentar para os consumidores da teia

alimentar.

Músculo:

No músculo visualiza-se aumento da

capacidade antioxidante no período

chuvoso e o mesmo padrão na atividade

para GST, sendo o menor valor

registrado para o período de transição.

Observa-se que os níveis de atuação da

enzima foram muito menores no

músculo quando comparados ás

brânquias isso se dá principalmente pelas

brânquias serem o principal órgão de

contato com o meio aquático estando

exposta às suas variações abióticas

inerentes (PAITAL et al., 2010).

A lipoperoxidação não mostrou

diferenças entre os pontos no período

chuvoso. Assim, o aumento da atividade

da GST no período chuvoso para todos

os ambientes pode ser um mecanismo

inerente dos animais que se preparam

para maiores demandas metabólicas e

consequentemente maiores danos

oxidativos.

Assim, tanto os biomarcadores

analisados quanto os valores biométricos

apontam que o período de transição

impõe condições mais severas aos

animais do que os períodos de estiagem

e chuvoso havendo investimento em

defesa do organismo. Os períodos

chuvoso e estiagem parecem não

oferecer adversidades metabólicas e os

animais parecem encontrar condições de

alimentação e desenvolvimento

adequado. Não se observa relação direta

entre a natureza dos ambientes

(estuarinos ou dulciaquícolas) e nem a

presença de xenobióticos no

comportamento metabólico dos animais.

A sazonalidade se configura como fator

determinante no direcionamento do

metabolismo dos animais.

1.6 Referências

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____________________

ii Graduando do curso de Licenciatura

em Biologia da Universidade Federal do

Pará. Bolsista PRODOUTOR. E-mail:

[email protected]

iiiDocente do Instituto de Ciências

Biológicas, Universidade Federal do

Pará. E-mail: [email protected].

Parecer do orientador

A aluna apresenta perfil de pesquisadora, apresentando rendimento extremamente satisfatório ao longo do desenvolvimento de suas atividades relacionadas ao plano de trabalho. Neste período atuou conjuntamente em outros projetos de pesquisa em desenvolvimento no grupo BIOPAQ sem prejuízo algum para com seu plano PIBIC.

Belém, 09 de agosto de 2015

Profa. Dra. Lílian Lund Amado

iTrabalho desenvolvido com o apoio do

Programa PRODOUTOR.