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13. A implementação do IVA Líquido deverá fazer crescer a dívida interna uma vez que o Governo cará obrigado a sanear o stock de dívida do IVA ao sector privado. E conforme referido pelo Ministro da Economia e Finanças, citado pela imprensa nacional, o Governo irá recorrer ao endividamento interno para saldar a dívida do IVA. 14. Prevê-se um aumento das exportações de bens na ordem de 7% contra um aumento de importações de 5%. Isto signica que a Balança Comercial (saldo entre exportações e importações) deverá continuar negativa. IV. PRINCIPAIS CONSTATAÇÕES NAS PROPOSTAS DO PES E OE 15. A Proposta do OE refere (pág. 25) que ano de 2015 marca o início da implementação do Programa Integrado de Investimento (PII) e enumera projectos considerados prioritários conforme se apresenta no Quadro 1 abaixo. Quadro 1: Projectos Prioritários do Programa Integrado de Investimento Fonte: Proposta do OE 2015; pág. 25 RECOMENDAÇÕES DO FMO: i. As prioridade denidas no PQG, nos seus cinco eixos estratégicos, não estão demonstradas em detalhe no PES e no OE. Que a Assembleia da República (AR) inste o Governo a, na elaboração tanto do Plano Económico e Social (PES) como do Orçamento do Estado (OE), detalhar as prioridades nacionais que respondam aos principais problemas dos moçambicanos: saúde, educação, protecção social, emprego e habitação. ii. Que o Governo dê mais prioridade à produção de comida e o agro-processamento, à adição de valor aos minérios e processamento da madeira dentro do território nacional ao invés de priorizar mais os mega-projectos de mineração e produção de monoculturas para exportação. iii. Que o Governo aloque muito mais recursos à área da protecção social com vista a abranger o maior número de beneciários do que os 475,097 actualmente previstos que não chegam sequer à metade das pessoas vulneráveis no país. iv. Que o Governo aumente as alocações orçamentais para o sector de saúde. Os 10.2% propostos, estão longe de satisfazer ANÁLISE DAS PROPOSTAS DO PLANO ECONÓMICO E SOCIAL (PES) E DO ORÇAMENTO DO ESTADO (OE) 2015 possam interessar; terceiro, propor recomendações de melhoraria do PES e do OE como garantes do desenvolvimento nacional. 5. Os resultados da análise feita aos documentos referidos acima são apresentados neste único documento como forma de facilitar a canalização da mensagem à Comissão do Plano e Orçamento (CPO) da Assembleia da República, aos Deputados bem como à opinião pública. III. COMENTÁRIOS GERAIS SOBRE AS PROPOSTAS DO PES E OE 2015 6. Das propostas em apreciação deverão resultar o primeiro Plano Económico e Social (PES) e Orçamento do Estado do presente Governo. Por essa razão, aqueles dois documentos irão determinar o grau de continuidade ou de ruptura entre o actual Governo em relação ao anterior. 7. A proposta do OE prevê uma arrecadação de receitas totais situadas em 160.7 mil milhões de Meticais contra uma despesa superior à receita: 226.4 mil milhões de Meticais, resultando num déce de 65,7 mil milhões de Meticais – um valor superior às despesas a serem feitas em sectores como Educação, Saúde ou Infraestruturas. 8. Verica-se uma deterioração (aumento) do déce orçamental referido no ponto anterior, que passa de 10,6% do PIB em 2014 para 11% em 2015. O FMO está preocupado com o facto de o Governo continuar a preferir nanciar o déce donativos externos, crédito externo e interno, ao invés de apostar mais na tributação dos grandes projectos e no combate à evasão scal. 9. As alocações orçamentais aos chamados “principais sectores económicos e sociais”, anteriormente designados sectores prioritários – deverão crescer no total em 10,8% face ao ano de 2014. No entanto, esse aumento não vai resultar num impacto signicativo na vida dos moçambicanos por ser demasiado pequeno. 10. Ao contrário do vericado nos últimos anos onde houve decréscimo da dependência externa, prevê-se que em 2015 a dependência do Estado a recursos externos cresça de 23,3% (em 2014) para 25,0%. 11. Prevê-se uma queda do nanciamento das despesas de investimento de 14,4% do PIB em 2014 para 14,0% em 2015. 12. A despesa do Estado deverá continuar a decrescer devendo situar- se em 38,0% do PIB em 2015 contra 39,4% vericados em 2014. de 27%, em 2014 para 29%, em 2015; aumento da taxa de cobertura de crianças completamente vacinadas de 81%, em 2014 para 87,5% em 2015; colocação de 2,429 técnicos de saúde, dos quais 226 médicos. 22. No entendimento do FMO, a área da saúde em Moçambique continua a ser o parente pobre do Orçamento do Estado, embora nos discursos políticos, se fale do sector da saúde como uma das maiores prioridades nacionais. Por isso, preocupa ao FMO que as prioridades para 2015 estejam limitadas à promoção da contracepção moderna e à vacinação de crianças, excluindo o combate a doenças endémicas como a Tuberculose, HIV/SIDA e outras. 23. O Governo propõe-se a contratar apenas 226 médicos para o ano de 2015. O FMO entende que com uma redenição de prioridades, e realocações orçamentais, seria possível contratar muito mais médicos de que o Serviço Nacional da Saúde precisa. 24. No sector de abastecimento de água, o Governo pretende elevar o acesso dos moçambicanos à água potável de 64% em 2014 para 66% em 2015. Por outras palavras, o Governo está a dizer a 34% de moçambicanos, cerca de 8 milhões de pessoas, que irão continuar sem acesso à água potável. Essa situação deveria ser considerada inaceitável por todos os Deputados independentemente da bancada a que pertençam. Por isso, o FMO insta aos Deputados que recomende ao Governo a fazer alterações das suas projecções sobre o abastecimento de água aos moçambicanos. 25. Considerando a taxa de crescimento do abastecimento de água assumida pelo Governo, de 2014 para 2015, situada na ordem de 2%, para estar em 66% no nal de 2015, pode-se concluir que o Governo pretende resolver esse problema em denitivo num horizonte temporal de 15-16 anos o que é absolutamente inaceitável. 26. O Governo decidiu juntar o sector da Acção Social com o Trabalho (no OE) e Saúde com Acção Social no PES sem nenhuma explicação. O aumento previsto para o número de beneciários da Acção Social é demasiado pequeno (de 433,433 para 475,097). Considerando o facto de que mais de metade da população moçambicana vive na pobreza, ter um sistema de acção social que não procura proteger a maioria dessa camada vulnerável, é simplesmente inaceitável. 27. O FMO considera importante que os Deputados instem o Governo a aumentar as dotações orçamentais destinadas à Acção Social. os desaos do sector e continuam longe dos compromissos assumidos pelo governo, ao nível do continente, de destinar 15% do seu orçamento para área de saúde. v. Que o Governo considere o abastecimento da água como uma das prioridades essenciais do país, ao contrário do proposto crescimento de 2% para cobrir apenas 66% da população no nal de 2015 que é inaceitável. vi. Que o Governo inclua nos projectos prioritários uma alternativa sustentável de ligação do país de norte a sul, para fazer face à vulnerabilidade da Estrada Nacional n o 1 que se corta todos os anos em que temos cheias. vii. Que o Parlamento exija do Governo, a explicação sobre quando terá início a aplicação do IVA líquido conforme se propõe no Orçamento do Estado (OE) de 2015 e, até à aprovação do PES e do OE terão passado, pelo menos, quatro meses. I. INTRODUÇÃO 1. Este documento apresenta a análise do Fórum de Monitoria do Orçamento (FMO) sobre as propostas do PES e do OE submetidos pelo Governo à Assembleia da República (AR) para apreciação e aprovação. 2. A análise foi feita tomando como base os principais desaos dos moçambicanos, o recém aprovado Plano Quinquenal do Governo (PQG) em comparação com as propostas do PES e do OE que são documentos que devem operacionalizar o PQG. 3. Esta análise incide sobre determinados sectores dentro do PES e do OE que incluem: Saúde, Educação, Abastecimento de Água, Protecção Social. II. OBJECTIVOS E METODOLOGIA 4. Com esta análise, o FMO pretende atingir três objectivos: primeiro, identicar aspectos críticos na relação entre o Plano Quinquenal do Governo (PQG) como estratégia de governação com a sua operacionalização ao nível do PES e OE; segundo, com base nesses aspectos críticos, construir uma agenda de advocacia nas áreas de trabalho das Organizações da Sociedade Civil (OSC) que fazem parte do Fórum de Monitoria do Orçamento (FMO) e outras que se ii. Segundo, o facto da fonte de nanciamento daqueles projectos ser o endividamento público, que resulta em hipoteca de rendimentos desta geração e das futuras também. iii. Terceiro, ca difícil perceber, de que forma este OE vai operacionalizar algumas metas propostas no PQG. Por exemplo, na área de infraestruturas, o PQG prevê implantar 6 infraestruturas de resíduos sólidos até 2019. Aquelas infraestruturas que requerem grandes obras de engenharia signicam sempre grandes volumes de investimento e tempo para a sua efectivação. 17. As áreas de saúde e educação deveriam ter as maiores dotações orçamentais fazendo com que se acabe de uma vez por todas com situações inaceitáveis de alunos que se sentam no chão, por falta de carteiras escolares, ou doentes que dormem no chão por falta de camas nos hospitais e sem medicamentos. A dotação orçamental para saúde, por exemplo, continua bastante baixa e longe do compromisso assumido pelo Estado moçambicano, no contexto da declaração de Abuja, de alocar 15% para este sector. 18. As dotações orçamentais para os principais sectores económicos e sociais, quando comparadas com dotações de outros sectores, revelam desaos em termos de foco dos principais problemas vividos pelos moçambicanos. O quadro 2 abaixo apresenta as dotações previstas para 2015 Quadro 2: Despesas nos Principais Sectores Económicos e Sociais F o n t e: P r opo s t a do OE 2015; pág. 28 À primeira vista, os dados do quadro acima mostram um aumento das despesas com os sectores económicos e sociais face a 2014, o que pode parecer em si um aspecto positivo. No entanto, uma leitura mais detalhada das Propostas do PES e do OE mostra aspectos que preocupam ao FMO, tais como: Enquanto ao sector de Águas e Obras Públicas deverão ser alocados pouco mais de 10 mil milhões de Meticais, a Força de Intervenção Rápida deverá contar com uma dotação orçamental superior a 18 mil milhões de Meticais para o seu funcionamento em 2015 (ver Mapa E da Proposta do OE 2015); O Serviço Nacional de Bombeiros (uma unidade de socorro de vidas humanas a nível nacional) deverá funcionar com cerca de 9,4 mil milhões de Meticais, por volta de metade do que será alocado à unidade de repressão (FIR). A dotação orçamental do sector da educação é a maior de todas, conforme se pode ver no quadro acima. Estranhamente, a meta denida na proposta do PES 2015 para o rácio aluno/professor no Ensino Primário do 1º Grau (EP1) é a mesma de 2014, situada em 61 alunos por cada professor. A questão do rácio aluno/professor é crucial porque afecta directamente a qualidade de ensino e aprendizagem. 19. Na componente da educação, a proposta do PES 2015 centra a sua atenção para o aumento do acesso à escola, que deverá ser de 12,8% no Ensino Geral do 2º Ciclo, seguido de 8% no Ensino Primário do 2º Grau. Nenhuma referência é feita à necessidade de melhoria da qualidade de ensino numa altura em que toda a sociedade, incluindo o próprio Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano, se desdobra em “reexões” com vista a recolher subsídios de melhoria da qualidade de ensino. 20. A alocação de mais recursos para a componente de formação de professores visando continuar a apostar na formação de professores de baixo nível (chamados 10ª classe + 1) que não contribuem para elevar o nível de qualidade do nosso sistema de ensino de que tanto se reclama. 21. Na componente da saúde, o Governo pretende elevar a taxa de cobertura das vacinações completas em crianças menores de 12 meses de idade para 87,5%. Pretende-se igualmente um aumento da cobertura de novos utentes de métodos de contracepção moderna 1 2 3 4 5 6 7 8 V.CONCLUSÃO 27. Tanto a proposta do PES como do OE sugerem uma situação económico-nanceira do Estado para 2015 que pode ser resumida no seguinte: Crescimento das seguintes componentes orçamentais face a 2014: ce orçamental em 0,4 pontos percentuais; despesas dos sectores económico e social em 10,8%; dependência externa (de 23,3% para 25%); exportações de Bens (em 7%) e importações (em 5%) – traduzindo- se numa Balança Comercial (saldo entre exportações e importações) negativa; divida interna para nanciar a liquidação do IVA. Decréscimo das seguintes componentes orçamentais face a 2014: nanciamento das despesas de investimento em 0,4 pontos percentuais; despesas do Estado em proporção do produto interno bruto (PIB) de 39,4% para 38%. Estará o país melhor ou pior no nal de 2015 com as propostas do PES e OE apresentadas pelo Governo? 28. A resposta à pergunta acima dependerá da decisão dos Deputados da AR após análise e discussão das Propostas do PES e do OE. Se as aprovarem tal como elas estão, sem mudanças de fundo, terão prestado um mau serviço público aos moçambicanos. Se os Deputados optarem por alterações de fundo, várias das quais indicámos nas nossas recomendações no começo deste documento, o país poderá esperar por melhores dias no decurso do presente ano. Essas alterações de fundo deverão implicar o alinhamento das prioridades nacionais previstas no PQG com o PES e o OE; mais ousadia do Governo na melhoria do ensino (sobretudo básico; redução do rácio aluno/professor; aposta séria na qualidade do ensino); mais e melhor cobertura dos serviços de saúde; garantia da segurança social ao máximo de cidadãos carenciados; mais e melhor abastecimento de água e saneamento do meio para a população. 16. Os projectos listados no quadro acima apresentam três problemas fundamentais: i. Primeiro, a prioridade nacional de alguns deles é absolutamente refutável. Por exemplo, a Construção da Estrada Circular e da Ponte Maputo Ka-Tembe, que juntos deverão representar uma despesa total de 194,9 mil milhões de Meticais, vão beneciar apenas aos residentes da Cidade e Província de Maputo. MEMBROS Documento submetido à Comissão de Plano e Orçamento da Assembleia da República

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13. A implementação do IVA Líquido deverá fazer crescer a dívida interna uma vez que o Governo fi cará obrigado a sanear o stock de dívida do IVA ao sector privado. E conforme referido pelo Ministro da Economia e Finanças, citado pela imprensa nacional, o Governo irá recorrer ao endividamento interno para saldar a dívida do IVA.

14. Prevê-se um aumento das exportações de bens na ordem de 7% contra um aumento de importações de 5%. Isto signifi ca que a Balança Comercial (saldo entre exportações e importações) deverá continuar negativa.

IV. PRINCIPAIS CONSTATAÇÕES NAS PROPOSTAS DO PES E OE

15. A Proposta do OE refere (pág. 25) que ano de 2015 marca o início da implementação do Programa Integrado de Investimento (PII) e enumera projectos considerados prioritários conforme se apresenta no Quadro 1 abaixo.

Quadro 1: Projectos Prioritários do Programa Integrado de InvestimentoFonte: Proposta do OE 2015; pág. 25

RECOMENDAÇÕES DO FMO:

i. As prioridade defi nidas no PQG, nos seus cinco eixos estratégicos, não estão demonstradas em detalhe no PES e no OE. Que a Assembleia da República (AR) inste o Governo a, na elaboração tanto do Plano Económico e Social (PES) como do Orçamento do Estado (OE), detalhar as prioridades nacionais que respondam aos principais problemas dos moçambicanos: saúde, educação, protecção social, emprego e habitação.

ii. Que o Governo dê mais prioridade à produção de comida e o agro-processamento, à adição de valor aos minérios e processamento da madeira dentro do território nacional ao invés de priorizar mais os mega-projectos de mineração e produção de monoculturas para exportação.

iii. Que o Governo aloque muito mais recursos à área da protecção social com vista a abranger o maior número de benefi ciários do que os 475,097 actualmente previstos que não chegam sequer à metade das pessoas vulneráveis no país.

iv. Que o Governo aumente as alocações orçamentais para o sector de saúde. Os 10.2% propostos, estão longe de satisfazer

ANÁLISE DAS PROPOSTAS DO PLANO ECONÓMICO E SOCIAL (PES) E DO ORÇAMENTO DO ESTADO (OE) 2015

possam interessar; terceiro, propor recomendações de melhoraria do PES e do OE como garantes do desenvolvimento nacional.

5. Os resultados da análise feita aos documentos referidos acima são apresentados neste único documento como forma de facilitar a canalização da mensagem à Comissão do Plano e Orçamento (CPO) da Assembleia da República, aos Deputados bem como à opinião pública.

III. COMENTÁRIOS GERAIS SOBRE AS PROPOSTAS DO PES E OE 2015

6. Das propostas em apreciação deverão resultar o primeiro Plano Económico e Social (PES) e Orçamento do Estado do presente Governo. Por essa razão, aqueles dois documentos irão determinar o grau de continuidade ou de ruptura entre o actual Governo em relação ao anterior.

7. A proposta do OE prevê uma arrecadação de receitas totais situadas em 160.7 mil milhões de Meticais contra uma despesa superior à receita: 226.4 mil milhões de Meticais, resultando num défi ce de 65,7 mil milhões de Meticais – um valor superior às despesas a serem feitas em sectores como Educação, Saúde ou Infraestruturas.

8. Verifi ca-se uma deterioração (aumento) do défi ce orçamental referido no ponto anterior, que passa de 10,6% do PIB em 2014 para 11% em 2015. O FMO está preocupado com o facto de o Governo continuar a preferir fi nanciar o défi ce donativos externos, crédito externo e interno, ao invés de apostar mais na tributação dos grandes projectos e no combate à evasão fi scal.

9. As alocações orçamentais aos chamados “principais sectores económicos e sociais”, anteriormente designados sectores prioritários – deverão crescer no total em 10,8% face ao ano de 2014. No entanto, esse aumento não vai resultar num impacto signifi cativo na vida dos moçambicanos por ser demasiado pequeno.

10. Ao contrário do verifi cado nos últimos anos onde houve decréscimo da dependência externa, prevê-se que em 2015 a dependência do Estado a recursos externos cresça de 23,3% (em 2014) para 25,0%.

11. Prevê-se uma queda do fi nanciamento das despesas de investimento de 14,4% do PIB em 2014 para 14,0% em 2015.

12. A despesa do Estado deverá continuar a decrescer devendo situar-se em 38,0% do PIB em 2015 contra 39,4% verifi cados em 2014.

de 27%, em 2014 para 29%, em 2015; aumento da taxa de cobertura de crianças completamente vacinadas de 81%, em 2014 para 87,5% em 2015; colocação de 2,429 técnicos de saúde, dos quais 226 médicos.

22. No entendimento do FMO, a área da saúde em Moçambique continua a ser o parente pobre do Orçamento do Estado, embora nos discursos políticos, se fale do sector da saúde como uma das maiores prioridades nacionais. Por isso, preocupa ao FMO que as prioridades para 2015 estejam limitadas à promoção da contracepção moderna e à vacinação de crianças, excluindo o combate a doenças endémicas como a Tuberculose, HIV/SIDA e outras.

23. O Governo propõe-se a contratar apenas 226 médicos para o ano de 2015. O FMO entende que com uma redefi nição de prioridades, e realocações orçamentais, seria possível contratar muito mais médicos de que o Serviço Nacional da Saúde precisa.

24. No sector de abastecimento de água, o Governo pretende elevar o acesso dos moçambicanos à água potável de 64% em 2014 para 66% em 2015. Por outras palavras, o Governo está a dizer a 34% de moçambicanos, cerca de 8 milhões de pessoas, que irão continuar sem acesso à água potável. Essa situação deveria ser considerada inaceitável por todos os Deputados independentemente da bancada a que pertençam. Por isso, o FMO insta aos Deputados que recomende ao Governo a fazer alterações das suas projecções sobre o abastecimento de água aos moçambicanos.

25. Considerando a taxa de crescimento do abastecimento de água assumida pelo Governo, de 2014 para 2015, situada na ordem de 2%, para estar em 66% no fi nal de 2015, pode-se concluir que o Governo pretende resolver esse problema em defi nitivo num horizonte temporal de 15-16 anos o que é absolutamente inaceitável.

26. O Governo decidiu juntar o sector da Acção Social com o Trabalho (no OE) e Saúde com Acção Social no PES sem nenhuma explicação. O aumento previsto para o número de benefi ciários da Acção Social é demasiado pequeno (de 433,433 para 475,097). Considerando o facto de que mais de metade da população moçambicana vive na pobreza, ter um sistema de acção social que não procura proteger a maioria dessa camada vulnerável, é simplesmente inaceitável.

27. O FMO considera importante que os Deputados instem o Governo a aumentar as dotações orçamentais destinadas à Acção Social.

os desafi os do sector e continuam longe dos compromissos assumidos pelo governo, ao nível do continente, de destinar 15% do seu orçamento para área de saúde.

v. Que o Governo considere o abastecimento da água como uma das prioridades essenciais do país, ao contrário do proposto crescimento de 2% para cobrir apenas 66% da população no fi nal de 2015 que é inaceitável.

vi. Que o Governo inclua nos projectos prioritários uma alternativa sustentável de ligação do país de norte a sul, para fazer face à vulnerabilidade da Estrada Nacional no 1 que se corta todos os anos em que temos cheias.

vii. Que o Parlamento exija do Governo, a explicação sobre quando terá início a aplicação do IVA líquido conforme se propõe no Orçamento do Estado (OE) de 2015 e, até à aprovação do PES e do OE terão passado, pelo menos, quatro meses.

I. INTRODUÇÃO

1. Este documento apresenta a análise do Fórum de Monitoria do Orçamento (FMO) sobre as propostas do PES e do OE submetidos pelo Governo à Assembleia da República (AR) para apreciação e aprovação.

2. A análise foi feita tomando como base os principais desafi os dos moçambicanos, o recém aprovado Plano Quinquenal do Governo (PQG) em comparação com as propostas do PES e do OE que são documentos que devem operacionalizar o PQG.

3. Esta análise incide sobre determinados sectores dentro do PES e do OE que incluem: Saúde, Educação, Abastecimento de Água, Protecção Social.

II. OBJECTIVOS E METODOLOGIA

4. Com esta análise, o FMO pretende atingir três objectivos: primeiro, identifi car aspectos críticos na relação entre o Plano Quinquenal do Governo (PQG) como estratégia de governação com a sua operacionalização ao nível do PES e OE; segundo, com base nesses aspectos críticos, construir uma agenda de advocacia nas áreas de trabalho das Organizações da Sociedade Civil (OSC) que fazem parte do Fórum de Monitoria do Orçamento (FMO) e outras que se

ii. Segundo, o facto da fonte de fi nanciamento daqueles projectos ser o endividamento público, que resulta em hipoteca de rendimentos desta geração e das futuras também.

iii. Terceiro, fi ca difícil perceber, de que forma este OE vai operacionalizar algumas metas propostas no PQG. Por exemplo, na área de infraestruturas, o PQG prevê implantar 6 infraestruturas de resíduos sólidos até 2019. Aquelas infraestruturas que requerem grandes obras de engenharia signifi cam sempre grandes volumes de investimento e tempo para a sua efectivação.

17. As áreas de saúde e educação deveriam ter as maiores dotações orçamentais fazendo com que se acabe de uma vez por todas com situações inaceitáveis de alunos que se sentam no chão, por falta de carteiras escolares, ou doentes que dormem no chão por falta de camas nos hospitais e sem medicamentos. A dotação orçamental para saúde, por exemplo, continua bastante baixa e longe do compromisso assumido pelo Estado moçambicano, no contexto da declaração de Abuja, de alocar 15% para este sector.

18. As dotações orçamentais para os principais sectores económicos e sociais, quando comparadas com dotações de outros sectores, revelam desafi os em termos de foco dos principais problemas vividos pelos moçambicanos. O quadro 2 abaixo apresenta as dotações previstas para 2015

Quadro 2: Despesas nos Principais Sectores Económicos e SociaisFonte: Proposta do OE 2015; pág. 28

À primeira vista, os dados do quadro acima mostram um aumento das despesas com os sectores económicos e sociais face a 2014, o que pode parecer em si um aspecto positivo. No entanto, uma leitura mais detalhada das Propostas do PES e do OE mostra aspectos que preocupam ao FMO, tais como:

• Enquanto ao sector de Águas e Obras Públicas deverão ser alocados pouco mais de 10 mil milhões de Meticais, a Força de Intervenção Rápida deverá contar com uma dotação orçamental superior a 18 mil milhões de Meticais para o seu funcionamento em 2015 (ver Mapa E da Proposta do OE 2015);

• O Serviço Nacional de Bombeiros (uma unidade de socorro de vidas humanas a nível nacional) deverá funcionar com cerca de 9,4 mil milhões de Meticais, por volta de metade do que será alocado à unidade de repressão (FIR).

• A dotação orçamental do sector da educação é a maior de todas, conforme se pode ver no quadro acima. Estranhamente, a meta defi nida na proposta do PES 2015 para o rácio aluno/professor no Ensino Primário do 1º Grau (EP1) é a mesma de 2014, situada em 61 alunos por cada professor. A questão do rácio aluno/professor é crucial porque afecta directamente a qualidade de ensino e aprendizagem.

19. Na componente da educação, a proposta do PES 2015 centra a sua atenção para o aumento do acesso à escola, que deverá ser de 12,8% no Ensino Geral do 2º Ciclo, seguido de 8% no Ensino Primário do 2º Grau. Nenhuma referência é feita à necessidade de melhoria da qualidade de ensino numa altura em que toda a sociedade, incluindo o próprio Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano, se desdobra em “refl exões” com vista a recolher subsídios de melhoria da qualidade de ensino.

20. A alocação de mais recursos para a componente de formação de professores visando continuar a apostar na formação de professores de baixo nível (chamados 10ª classe + 1) que não contribuem para elevar o nível de qualidade do nosso sistema de ensino de que tanto se reclama.

21. Na componente da saúde, o Governo pretende elevar a taxa de cobertura das vacinações completas em crianças menores de 12 meses de idade para 87,5%. Pretende-se igualmente um aumento da cobertura de novos utentes de métodos de contracepção moderna

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V.CONCLUSÃO

27. Tanto a proposta do PES como do OE sugerem uma situação económico-fi nanceira do Estado para 2015 que pode ser resumida no seguinte:Crescimento das seguintes componentes orçamentais face a 2014: défi ce orçamental em 0,4 pontos percentuais; despesas dos sectores económico e social em 10,8%; dependência externa (de 23,3% para 25%); exportações de Bens (em 7%) e importações (em 5%) – traduzindo-se numa Balança Comercial (saldo entre exportações e importações) negativa; divida interna para fi nanciar a liquidação do IVA.Decréscimo das seguintes componentes orçamentais face a 2014: fi nanciamento das despesas de investimento em 0,4 pontos percentuais; despesas do Estado em proporção do produto interno bruto (PIB) de 39,4% para 38%.

Estará o país melhor ou pior no fi nal de 2015 com as propostas do PES e OE apresentadas pelo Governo?

28. A resposta à pergunta acima dependerá da decisão dos Deputados da AR após análise e discussão das Propostas do PES e do OE. Se as aprovarem tal como elas estão, sem mudanças de fundo, terão prestado um mau serviço público aos moçambicanos. Se os Deputados optarem por alterações de fundo, várias das quais indicámos nas nossas recomendações no começo deste documento, o país poderá esperar por melhores dias no decurso do presente ano. Essas alterações de fundo deverão implicar o alinhamento das prioridades nacionais previstas no PQG com o PES e o OE; mais ousadia do Governo na melhoria do ensino (sobretudo básico; redução do rácio aluno/professor; aposta séria na qualidade do ensino); mais e melhor cobertura dos serviços de saúde; garantia da segurança social ao máximo de cidadãos carenciados; mais e melhor abastecimento de água e saneamento do meio para a população.

16. Os projectos listados no quadro acima apresentam três problemas fundamentais:

i. Primeiro, a prioridade nacional de alguns deles é absolutamente refutável. Por exemplo, a Construção da Estrada Circular e da Ponte Maputo Ka-Tembe, que juntos deverão representar uma despesa total de 194,9 mil milhões de Meticais, vão benefi ciar apenas aos residentes da Cidade e Província de Maputo.

MEMBROS

Documento submetido à Comissão de Plano e Orçamento da Assembleia da República