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Anais do XX Encontro de Iniciação Científica ISSN 1982-0178 Anais do V Encontro de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação ISSN 2237-0420 22 e 23 de setembro de 2015 ANÁLISE DA VIABILIDADE DE INCORPORAÇÃO DE AGREGADOS RECICLADOS PROVENIENTES DO BENEFICIAMENTO DE RESÍDUO CLASSE A NA PRODUÇÃO DE CONCRETOS C20 E C30 Samara Correa Gomes Pontifícia Universidade Católica de Campinas CEATEC [email protected] Lia Lorena Pimentel Tecnologia do Ambiente Construído CEATEC [email protected] Resumo: A construção civil é responsável pela geração dos resíduos de construção e demolição (RCD). A Política Nacional de Resíduos Sólidos preconiza que somente depois de esgotadas todas as possibilidades de tratamento e recuperação os resíduos devam ser encaminhados aos aterros, estimulando, dessa maneira, a reutilização e reci- clagem de materiais. Os resíduos classificados co- mo “resíduos recicláveis” são os Classe A. Contudo, apesar de estudos revelarem que é possível produ- zir concreto com classe de resistência para função estrutural utilizando agregados reciclados, sua utili- zação no Brasil é permitida por norma técnica ape- nas para concreto não estrutural e pavimentação. Busca-se, então, produzir um concreto utilizando agregados reciclados mantendo os requisitos de durabilidade, de forma a possibilitar execução de estruturas que atendam às condições ambientais previstas em projeto e que mantenham estabilidade e aptidão em serviço durante o prazo correspondam à sua vida útil. Para a análise da durabilidade de concretos com ARC foram determinadas, inicialmen- te, as características dos agregados naturais e reci- clados e posteriormente feito estudo de dosagem pelo método IPT/EPUSP. O teor de substituição do agregado natural por ARC foi definido em 30% e os fatores controláveis definidos inicialmente são a relação a/c, idade do ensaio e teor de substituição de agregados naturais por reciclados. As caracterís- ticas analisadas foram capacidade de absorção de água por imersão e por capilaridade além de propri- edades mecânicas como resistência à compressão axial, resistência à tração por compressão diametral e módulo de elasticidade. Os resultados mostram-se favoráveis e apontam a viabilidade do uso do ARC na produção do concreto estrutural. Palavras-chave: Resíduo de construção, concreto, durabilidade. Área do Conhecimento: Engenharias I CNPq. 1. INTRODUÇÃO Segundo a Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental [1] os resíduos de construção e demoli- ção (RCD) representam de 40 a 70% dos resíduos sólidos totais gerados. Segundo Ângulo [2] a solu- ção mais comum para a problemática gerada pelos RCD no meio urbano era a deposição em aterros. Surgiram, porém, problemas relacionados ao uso do solo e também ao gasto para a coleta, transporte e transbordo e para a deposição deste resíduo no aterro que chega, na cidade de São Paulo, a R$ 45x10 6 /ano [3]. A grande geração desses resíduos tem por base a falta de gerenciamento, planejamento e inovação da obra além de falta de políticas ambientais que, Se- gundo Ângulo [2], não se limitam a ações de pre- venção na geração de resíduos, englobando tam- bém a avaliação de impacto ambiental de produtos, reciclagem de resíduos (que podem dar origem a agre-gados reciclados mistos ou cinza), melhoria da qualidade de produtos e projetos voltados para sus- tentabilidade. Nas obras de reforma, segundo Silva Filho [4], a falta de uma cultura de reutilização e reciclagem e o desconhecimento da potencialidade do entulho reciclado como material de construção pelo meio técnico do setor são as principais causas do alto volume gerado nas diversas etapas. Este trabalho teve como objetivo a análise da dura- bilidade de concretos produzidos utilizando um teor de substituição de 30% de agregado graúdo natural por agregado graúdo reciclado de concreto (ARC), proveniente do beneficiamento de resíduos classe A. A análise da durabilidade baseia-se nas caracte- rísticas dos concretos produzidos. Foram determi- nadas a capacidade de absorção de água, resistên- cia à compressão axial, resistência à tração por compressão diametral e módulo de elasticidade nas idades de 7 e 28 dias e também após processo de envelhecimento acelerado.

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Page 1: ANÁLISE DA VIABILIDADE DE INCORPORAÇÃO DE … · sulfato, reação álcali-agregado, despassivação por ... A perda de abatimento também é mais rápida em concretos com agregados

Anais do XX Encontro de Iniciação Científica – ISSN 1982-0178

Anais do V Encontro de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação – ISSN 2237-0420

22 e 23 de setembro de 2015

ANÁLISE DA VIABILIDADE DE INCORPORAÇÃO DE AGREGADOS RECICLADOS PROVENIENTES DO

BENEFICIAMENTO DE RESÍDUO CLASSE A NA PRODUÇÃO DE CONCRETOS C20 E C30

Samara Correa Gomes Pontifícia Universidade Católica de Campinas

CEATEC [email protected]

Lia Lorena Pimentel Tecnologia do Ambiente Construído

CEATEC [email protected]

Resumo: A construção civil é responsável pela geração dos resíduos de construção e demolição (RCD). A Política Nacional de Resíduos Sólidos preconiza que somente depois de esgotadas todas as possibilidades de tratamento e recuperação os resíduos devam ser encaminhados aos aterros, estimulando, dessa maneira, a reutilização e reci-clagem de materiais. Os resíduos classificados co-mo “resíduos recicláveis” são os Classe A. Contudo, apesar de estudos revelarem que é possível produ-zir concreto com classe de resistência para função estrutural utilizando agregados reciclados, sua utili-zação no Brasil é permitida por norma técnica ape-nas para concreto não estrutural e pavimentação. Busca-se, então, produzir um concreto utilizando agregados reciclados mantendo os requisitos de durabilidade, de forma a possibilitar execução de estruturas que atendam às condições ambientais previstas em projeto e que mantenham estabilidade e aptidão em serviço durante o prazo correspondam à sua vida útil. Para a análise da durabilidade de concretos com ARC foram determinadas, inicialmen-te, as características dos agregados naturais e reci-clados e posteriormente feito estudo de dosagem pelo método IPT/EPUSP. O teor de substituição do agregado natural por ARC foi definido em 30% e os fatores controláveis definidos inicialmente são a relação a/c, idade do ensaio e teor de substituição de agregados naturais por reciclados. As caracterís-ticas analisadas foram capacidade de absorção de água por imersão e por capilaridade além de propri-edades mecânicas como resistência à compressão axial, resistência à tração por compressão diametral e módulo de elasticidade. Os resultados mostram-se favoráveis e apontam a viabilidade do uso do ARC na produção do concreto estrutural. Palavras-chave: Resíduo de construção, concreto, durabilidade.

Área do Conhecimento: Engenharias I – CNPq.

1. INTRODUÇÃO Segundo a Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental [1] os resíduos de construção e demoli-ção (RCD) representam de 40 a 70% dos resíduos sólidos totais gerados. Segundo Ângulo [2] a solu-ção mais comum para a problemática gerada pelos RCD no meio urbano era a deposição em aterros. Surgiram, porém, problemas relacionados ao uso do solo e também ao gasto para a coleta, transporte e transbordo e para a deposição deste resíduo no aterro que chega, na cidade de São Paulo, a R$ 45x10

6/ano [3].

A grande geração desses resíduos tem por base a falta de gerenciamento, planejamento e inovação da obra além de falta de políticas ambientais que, Se-gundo Ângulo [2], não se limitam a ações de pre-venção na geração de resíduos, englobando tam-bém a avaliação de impacto ambiental de produtos, reciclagem de resíduos (que podem dar origem a agre-gados reciclados mistos ou cinza), melhoria da qualidade de produtos e projetos voltados para sus-tentabilidade. Nas obras de reforma, segundo Silva Filho [4], a falta de uma cultura de reutilização e reciclagem e o desconhecimento da potencialidade do entulho reciclado como material de construção pelo meio técnico do setor são as principais causas do alto volume gerado nas diversas etapas.

Este trabalho teve como objetivo a análise da dura-bilidade de concretos produzidos utilizando um teor de substituição de 30% de agregado graúdo natural por agregado graúdo reciclado de concreto (ARC), proveniente do beneficiamento de resíduos classe A. A análise da durabilidade baseia-se nas caracte-rísticas dos concretos produzidos. Foram determi-nadas a capacidade de absorção de água, resistên-cia à compressão axial, resistência à tração por compressão diametral e módulo de elasticidade nas idades de 7 e 28 dias e também após processo de envelhecimento acelerado.

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2. DURABILIDADE DO CONCRETO Segundo Vieira [5], a vulnerabilidade do concreto diante das condições de agressividade do meio à que está submetido é um fator preocupante na aná-lise de vida útil das estruturas. Ela compromete a utilidade das mesmas em relação aos estados limi-tes de serviço ou até aos estados limites últimos.

Dentre os mecanismos de envelhecimento e deteri-oração que exercem influência na durabilidade do concreto pode-se citar: lixiviação, expansão por sulfato, reação álcali-agregado, despassivação por carbonatação e por ação de cloretos. É possível observar, portanto, que a durabilidade está direta-mente ligada à permeabilidade do material. [6]

A durabilidade do concreto, fator de análise crucial, não pode ser medida diretamente. Então se utiliza de análise indireta, estudando fatores como perme-abilidade, porosidade e absorção de água. A poro-sidade do agregado reciclado está vinculada ao concreto de origem e depende da quantidade de argamassa aderida aos grãos. Quanto maior a ca-mada aderida, mais poroso será o agregado. A po-rosidade afeta todas as propriedades do concreto fresco e também interfere no comportamento mecâ-nico do concreto no estado endurecido, ainda mais considerando a heterogeneidade do material. [7] Quando utilizados agregados muito porosos a capa-cidade de absorção de água do concreto é muito mais influenciada pela porosidade dos agregados do que pela porosidade da pasta de cimento endu-recida. [8] A permeabilidade do concreto está dire-tamente ligada à qualidade da matriz do concreto. A porosidade da matriz, por sua vez, é fator determi-nante para as características de resistência mecâni-ca do concreto. [7] Se a matriz for pouco permeável não permitirá a penetração da água. Contudo, se-gundo Cabral [9], a matriz do concreto não costuma ter alta qualidade, fazendo com que a qualidade do agregado adquira papel importante no concreto como um todo.

Outro fator de extrema importância na análise do concreto é sua resistência mecânica à compressão. O desempenho mecânico de um concreto está vin-culado ao desempenho dos materiais utilizados para sua produção, bem como as proporções de empre-go desses materiais. A resistência à tração dos con-cretos geralmente se apresenta como uma caracte-rística secundária, visto que o concreto não é um material apropriado para resistir a esse tipo de es-forço. Contudo, como propriedade do material, é de análise importante.

Além das resistências tem-se o módulo de elastici-dade ou módulo de deformação, outra propriedade do concreto essencial para a análise e previsão de seu comportamento. O módulo de elasticidade do concreto está relacionado à massa específica, fra-ção volumétrica e ao módulo de elasticidade do agregado e da pasta de cimento.

3. CONCRETO COM AGREGADOS RECICLADOS De forma geral, os agregados reciclados possuem massa específica menor do que a massa específica dos agregados naturais. Consequentemente o con-creto com esse tipo de agregado é um concreto mais leve ou de menor massa específica. A massa específica diminui gradualmente conforme se au-menta o teor de substituição dos agregados. Auto-res observaram redução entre 4% e 10% em rela-ção a concretos com agregados naturais. [6] Alguns estudos apontam que o teor de ar incorporado nes-ses concretos também é maior. A massa específica de um concreto convencional gira em torno de 2.250 g/cm

3. Já a de um com agregado reciclado fica entre

2.000 e 2.170 g/cm3, o que sugere que esse tipo de

concreto possa ser empregado quando o peso pró-prio da estrutura é um problema. [9]

Em relação à trabalhabilidade, de maneira geral, os concretos com agregados reciclados são menos trabalháveis que os com agregados naturais para uma mesma relação teor de materiais secos/pasta. Isso porque a trabalhabilidade é governada pelo volume de água fora dos poros dos agregados utili-zados, ou seja, água livre na mistura. O agregado reciclado, se adicionado seco à mistura, absorve parte considerável da água de amassamento, preju-dicando, dessa forma, a trabalhabilidade do concre-to. [7] Outro fator é que, devido ao processo de bri-tagem, os agregados reciclados tornam-se mais angulares com razão superfície/volume maior que a dos naturais. Há também a possibilidade de geração de finos por desprendimento da argamassa aderida ao agregado, diminuindo a trabalhabilidade. Quando há substituição de agregados graúdos e miúdos naturais por reciclados a trabalhabilidade sofre um decréscimo ainda maior. A perda de abatimento também é mais rápida em concretos com agregados reciclados. Isso se deve, em parte, à contínua ab-sorção de água por parte dos agregados, mesmo após a mistura terminada. Contudo, apesar da ten-dência, esse decréscimo pode ser contornado com uma adição controlada de água ou aditivo (respei-tando a relação a/c estabelecida). Algumas possibi-lidades para amenização da diminuição da traba-lhabilidade causada pelos agregados reciclados são

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pré-molhagem, saturação ou compensação da taxa de absorção, ou então a utilização de aditivos plasti-ficantes ou superplastificantes ou fíler (como cinza volante) [9, 6, 10]

Geralmente os concretos confeccionados com a-gregados reciclados também possuem alta porcen-tagem de meso e macro poros sendo, assim, com maior tendência à absorção de água e lixiviação. A porosidade e a mudança na disposição dos poros aumentam conforme se aumenta o teor de substitui-ção do agregado natural pelo reciclado. E a maior porosidade reflete num aumento proporcional da absorção de água. [9]

4. MATERIAIS E MÉTODOS Visando a produção de concreto C20 e C30 utili-zando agregado reciclado cinza foi feita a caracteri-zação dos agregados e, através da determinação da massa unitária compactada (MU) de diversas pro-porções de agregado natural (B1) e reciclado (RCD), determinou-se a proporção mais adequada de subs-tituição do agregado natural pelo reciclado cinza. Observou-se que a proporção que se mostrou mais vantajosa de MU foi de 30% de agregado cinza e 70% de agregado natural, sendo essa a adotada na substituição de B1 por ARC.

A caracterização dos agregados foi feita deter-minando-se a granulometria (NBR NM 248); o índice de absorção (NBR NM 53); a massa específica (NBR NM 53) e a massa unitária (NBR 7251).

Na sequência foi feito o estudo de dosagem pelo método IPT/EPUSP para o traço referência C30, gerando o diagrama de dosagem.

A caracterização do concreto no estado fresco foi feita determinando-se a consistência pelo abatimen-to de cone (NBR NM 67) e sua massa específica. No estado endurecido foi determinada a resistência à compressão axial (NBR 5739); a resistência à tração por compressão diametral (NBR 7222); o módulo de elasticidade (NBR 8522) e a absorção de água por imersão e por capilaridade (NBR 9778).

Todos os ensaios foram executados na idade de 28 dias e após serem submetidos a um processo de envelhecimento acelerado por sete semanas que consistiu em colocar os corpos de prova, após atin-girem 28 dias, na estufa a temperatura de 100°C ± 5°C por três dias, resfriá-los por um dia e submergi-los em água a temperatura ambiente por três dias, sendo um ciclo equivalente a uma semana.

A partir dos resultados fez-se uma análise compara-tiva entre os resultados obtidos para concretos pro-duzidos com agregados naturais e os produzidos

com substituição parcial do agregado natural por agregado reciclado, abrangendo todas as pro-priedades estudadas com foco na questão de dura-bilidade do material em foco: o concreto.

5. RESULTADOS E DISCUSSÕES

5.1. Características dos Agregados Utilizou-se nesse estudo apenas agregado miúdo natural, cujo módulo de finura obtido foi de 2,63mm, classificando o material como areia média (zona ótima). As curvas granulométricas sobrepostas, expressas na Figura 1, são um comparativo entre os agregados naturais e reciclados. Pode-se observar o maior teor de finos no agregado reciclado, o que é explicado pela camada de argamassa aderida à superfície desses agregados, que se desprende ao longo do tempo, aliada a componentes cerâmicos que por ventura tenham permanecido junto aos agregados cinza durante o processo nas usinas de reciclagem.

Figura 1. Curvas Granulométricas - Agreg Graúdos.

Os cálculos da massa específica e capacidade de absorção de água referentes aos agregados graú-dos foi feita conforme a NBR NM 53:2009. Determi-nou-se a massa específica (ɣ) através da equação 1 e a absorção de água dos agregados (A) através da equação 2. Os resultados obtidos são expostos na Tabela 1.

(1)

(2)

O cálculo da massa unitária compactada do agre-gado foi utilizado para a determinação do teor ideal

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de substituição dos agregados naturais pelos reci-clados, de forma a adotar a substituição mais vanta-josa em termos de emprego de material e massa unitária da combinação dos agregados. A partir dos resultados obtidos adotou-se como a proporção ideal a substituição de 30% do agregado natural por reciclado.

Tabela 1. Resultados da Massa Específica e Absorção

Massa específica (g/cm

3)

Absorção de água (%)

Agregado Natural

2,72 0,10

Agregado Reciclado

2,30 5,84

5.2. Estudo de Dosagem O estudo de dosagem foi feito conforme o método IPT/EPUSP. Traçou-se um diagrama de dosagem e, a partir das curvas obtidas, determinou-se os traços necessários para a confecção dos concretos C20 e C30 utilizando apenas agregados naturais. Após essa determinação e considerando a diferença de densidade entre o agregado natural e o reciclado, pesou-se o material. A Tabela 2 apresenta a massa específica do concreto no estado fresco. A adição de 30% de agregado reciclado reduziu a massa específica para o concreto C30 em 2,2%, contudo, aumentou para o concreto C20 em 2,6%. Esse au-mento não característico da massa específica no concreto C20 deve-se à presença mais acentuada de finos presentes na composição dos agregados reciclados.

Tabela 2 – Massa Específica

Concreto ɣconcr (Kg/l)

C20ref 2,286

C20ar 2,347

C30ref 2,416

C30ar 2,364

5.3. Características Mecânicas do Concreto no Estado Endurecido Para os ensaios de resistência à compressão utili-zou-se quatro corpos de prova cilíndricos 10x20 para cada traço para cada idade. Os ensaios foram feitos em idades de 7 e 28 dias e após processo de envelhecimento acelerado. Então, após os resulta-dos, obteve-se as médias de resistência à compres-são apresentados na Figura 2. Observou-se a que-da de resistência dos concretos C20 com agregados reciclados em todas as idades, a queda foi de apro-ximadamente 14,7% aos 7 dias, 21,3% aos 28 dias e de 28,2% após processo de envelhecimento. Já

para o concreto C30 observa-se que a substituição do agregado graúdo natural pelo ARC trouxe uma elevação da resistência de 7,3% aos 7 dias e de 4,4% após o processo de envelhecimento, aos 28 dias ocorreu uma queda de 0,5%.

Figura 2. Resistência à Compressão dos Concretos.

Os ensaios de resistência à tração também foram feitos em idades diferentes. Então, após os resulta-dos, obteve-se as médias de resistência à tração por compressão diametral apresentados na Figura 3. Observou-se a queda na resistência à tração em todos os concretos para todas as idades de ensaios.

Figura 3. Resistência à Tração dos Concretos.

Tabela 3. Módulo de Elasticidade Médio

C20Ref C20ar C30Ref C30ar

28 dias 52,11 44,24 44,37 40,25

após env. 34,01 31,87 28,55 30,42

Os ensaios para a determinação do módulo de elas-ticidade foram feitos apenas para as idades de 28 dias e após processo de envelhecimento, cujos resultados estão apresentados na tabela 3. Obser-vou-se a queda na idade de 28 dias no módulo de elasticidade em ambos os concretos, sendo mais

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acentuada para o concreto C20. Também se obser-vou redução do módulo de elasticidade do concreto C20 após envelhecimento. Contudo, para o concre-to C30 após envelhecimento observou-se um au-mento no módulo.

5.4. Características Físicas do Concreto no Es-tado Endurecido Para os ensaios de absorção de água por capilari-dade utilizou-se de uma bandeja metálica e dois suportes também metálicos. Foram utilizados 4 cor-pos de prova de cada traço para a idade de 28 dias e após processo de envelhecimento acelerado. Colocou-se, dentro da bandeja, os corpos de prova sobre os apoios horizontais metálicos. Então foi adicionada água até atingir uma altura de 5±1 mm em todos os cilindros. O ensaio, tanto para o con-creto aos 28dias quanto para o concreto após enve-lhecimento, teve duração de 72 horas e durante esse tempo teve-se o cuidado de manter o nível da água constante. Mediu-se a massa seca e após 3, 6, 24, 48 e 71 horas de contato. Após as 72 horas os cilindros foram rompidos e mediu-se a altura da água em cada um deles. A partir dos resultados obteve-se um coeficiente médio de capilaridade para cada idade para cada traço, obtido através da equação 3. As tabelas 4 e 5 apresentam os coefici-entes médios de capilaridade a 72 horas e a respec-tiva altura média de percolação obtida.

(3)

Tabela 4. Absorção Média por Capilaridade - 28 dias

Tempo (h)

72

Classe de Resistência

Coeficiente Médio

Altura de Percolação

C20ref 0,1967 2,32

C20ar 0,2416 2,25

C30ref 0,2040 2,25

C30ar 1,3796 5,62

Tabela 5. Absorção Média por Capilaridade - processo de envelhecimento

Tempo (h)

72

Classe de Resistência

Coeficiente Médio

Altura de Percolação

C20ref 0,9686 8,14

C20ar 1,2576 8,38

C30ref 1,1991 8,93

C30ar 0,9938 8,76

Para o ensaio de absorção por imersão utilizou-se de quatro corpos de prova de cada traço à idade de 28 dias e após processo de envelhecimento acele-rado. Os corpos de prova foram imersos em uma caixa de água dentro da câmara úmida por quatro dias, após esse período eles foram retirados da

banheira e pesados, obtendo-se a massa saturada Msat. Depois foram levados à estufa por mais quatro dias, medindo-se a massa seca Mseca. A absorção foi calculada pela equação 4.

(4)

Observa-se uma redução da capacidade de absor-ção de água quando há utilização do agregado reci-clado para 28 dias. Contudo, após processo de en-velhecimento observou-se um aumento considerá-vel de aproximadamente 24% na capacidade de absorção para o concreto C20, enquanto, para o C30, observou-se uma leve queda de aproximada-mente 2%. Os resultados médios são expressos na figura 4.

Figura 4. Absorção por Imersão

6. CONCLUSÕES A partir das propriedades avaliadas conclui-se, de forma geral, que os agregados reciclados são viá-veis de serem incorporados a concretos estruturais, desde que em proporções adequadas. A resistência à compressão dos concretos produzi-dos com a utilização de ARC apresentou um de-créscimo aos 28 dias, o que já era esperado con-forme as literaturas estudadas. Porém, para o con-creto de classe C30, a queda foi mínima aos 28 dias e, após processo de envelhecimento, o concreto utilizando agregado reciclado obteve uma vantagem de aproximadamente 4% em relação ao com agre-gados naturais apenas. Do ponto de vista normati-vo, a resistência à compressão tanto dos confeccio-nados com agregados naturais como dos confec-cionados com agregados reciclados satisfizeram as condições de resistência à compressão estabeleci-da por norma para os concretos de classes de resis-tência C20 e C30. A resistência à tração dos concretos, como uma análise secundária, teve um decréscimo, o que era esperado e confirma as literaturas pesquisadas.

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O módulo de elasticidade também apresentou de-créscimo aos 28 dias, o que também era esperado segundo as literaturas analisadas. O decréscimo foi mais evidente no concreto de menor resistência. Contudo, após envelhecimento acelerado, o concre-to de classe de resistência C30 com a utilização de agregado reciclado apresentou um aumento de cerca de 6% no módulo de elasticidade em relação ao produzido apenas com agregados naturais. Os coeficientes de absorção dos concretos feitos com a utilização de RCD, no ensaio de absorção por capilaridade, apresentaram um aumento, como esperado. Sendo mais evidente para o concreto de maior resistência. A absorção por imersão à idade de 28 dias, contudo, apresentou os concretos pro-duzidos com a utilização de ARC como os de menor absorção quando comparados aos concretos produ-zidos apenas com agregados naturais. Após o pro-cesso de envelhecimento observou-se um aumento na absorção para o concreto de classe C20 e um pequeno decréscimo para o de classe C30. Além das propriedades mecânicas também existem questões de economia e sustentabilidade, conside-rando que o agregado reciclado por si só é de me-nor preço em relação ao natural e que, com a reci-clagem de RCD os aterros terão grande alívio e a coleta desse material passará a ser mais controla-da, gerando economia em relação ao transporte e deposição em aterros. Fatores esses aliados à di-minuição considerável de espaço necessário para a deposição e de impactos ao meio ambiente, pou-pando recursos minerais e diminuindo a possível contaminação do meio.

AGRADECIMENTOS Agradecemos à FAPESP pelo auxílio à pesquisa – Projeto 2014/20486-8 e ao CNPq pela bolsa de Iniciação Científica.

REFERÊNCIAS [1] Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental.

Ministério das Cidades. Resíduos Sólidos: geren-ciamento de resíduos da construção civil: guia do profissional em treinamento: nível 2. 2008, 68p. Disponível em:<http://www.cidades.gov.br/images/stories/ArquivosSNSA/Arquivos_PDF/recsa/gerenciamento ereciclagemderesiduosdaconstrucaocivil-nivel2.pdf>

[2] Ângulo, Sérgio Cirelli. Variabilidade de agregados graúdos de resíduos de construção e demolição reciclados. São Paulo – SP, 2000. Dissertação (Mestrado). Escola Politécnica da Universidade de São Paulo.

[3] Ângulo, Sérgio Cirelli. Caracterização de agrega-dos de resíduos de construção e demolição reci-clados e a influência de suas características no comportamento de concretos. São Paulo – SP, 2005. Tese (Doutorado). Escola Politécnica da U-niversidade de São Paulo.

[4] Silva Filho, A. F. Gestão doa Resíduos Sólidos das Construções Prediais na Cidade de Natal – RN. UFRN, 2005.

[5] Vieira, G. L. Estudo do Processo de Corrosão sob a Ação de Íons Cloreto em Concretos Obtidos a Partir de Agregados de Resíduos de Construção e Demolição. Porto Alegre, 2003. 150p. Dissertação (Mestrado). Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

[6] Leite, M. B. Avaliação de Propriedades Mecânicas de Concretos Produzidos com Agregados Recicla-dos de Resíduos de Construção e Demolição. Por-to Alegre, 2001. 290p. Tese (Doutorado). Universi-dade Federal do Rio Grande do Sul.

[7] Carrijo, P. M. Análise da Influência da Massa Específica de Agregados Graúdos Provenientes de Resíduos de Construção e Demolição no De-sempenho Mecânico do Concreto. São Paulo – SP, 2005. 146p. Dissertação (Mestrado). Escola Politécnica da Universidade de São Paulo.

[8] Moreira, L. H. H. Avaliação da Influência da Ori-gem e do Tratamento dos Agregados Reciclados de Resíduos de Construção e Demolição no De-sempenho Mecânico do Concreto Estrutural. São Paulo, 2010. 92p. Dissertação (Mestrado). Escola Politécnica da Universidade de São Paulo.

[9] Cabral, A.E. B. Modelagem de propriedades mecânicas e de durabilidade de concretos produ-zidos com agregados reciclados, considerando-se a variabilidade da composição do RCD. São Car-los – SP, 2007. 280p. Tese (Doutorado). Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo.

[10] Leite, Mônica Batista; Monteiro, Paulo José Melaragno. Avaliação da influencia do concreto de origem na produção de concretos reciclados. A-nais do 56° Congresso Brasileiro do Concreto. Ou-tubro / 2014. IBRACON.

[11] MMA (Ministério do Meio Ambiente). Política Nacional de Resíduos Sólidos. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/pol%C3%ADtica-de-res%C3%ADduos-s%C3%B3lidos> Acesso em: /3/3146/tde-19012011-144053/pt-br.php>