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ANÁLISE DA QUALIDADE DO GASTO NA EDUCAÇÃO SUPERIOR LEVANDO EM CONSIDERAÇÃO A EVASÃO: CASOS DE ALGUNS CURSOS DA UFRN COM INGRESSO EM 2009 Mayany Cleyses Morais de Souza Resumo O presente artigo teve como objetivo analisar a qualidade do gasto público na educação, que é desperdiçado com a evasão escolar. A evasão é um problema constante na educação do Brasil, atingindo em grandes escalas o nível superior, é um tema muito importante e bastante discutido de várias formas. É necessário estudos aprofundados sobre a evasão no ensino superior, pois é de grande valia observar o quanto do investimento público está sendo desperdiçado mediante a evasão. Baseando-se nas informações supracitadas, o presente trabalho visa obter os resultados dos gastos públicos empregados na educação superior da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Através de um levantamento quantitativo de dados referentes ao custo por estudante em determinados cursos disponibilizado pela Pró-Reitoria de Planejamento e Coordenação Geral (PROPLAN) e dos dados disponibilizados pelo Observatório da Vida do Estudante Universitário (OVEU), pretende-se realizar uma análise estatística do gasto público e demográfica em cima das informações dos discentes. Uma das estratégias a ser utilizada neste estudo será a aplicação dos dados coletados ao método do Índice de qualidade do gasto (IQ). O método IQ consiste no resultado da razão entre o indicador de desempenho e o indicador de despesa. Palavras-chave: Evasão, índice de qualidade do gasto, ensino superior, UFRN. Trabalho apresentado no VII Congreso de la Asociación LatinoAmericana de Población e XX Encontro Nacional de Estudos Populacionais, realizado em Foz do Iguaçu/PR – Brasil, de 17 a 22 de outubro de 2016. Atuária. Mestranda em Demografia/UFRN. Orientada por Moisés Alberto Calle Aguirre, docente do Departamento de Demografia e Ciências Atuariais da UFRN e do Programa de Programa de Pós-Graduação em Demografia da UFRN (PPGDEM).

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ANÁLISE DA QUALIDADE DO GASTO NA EDUCAÇÃO SUPERIOR

LEVANDO EM CONSIDERAÇÃO A EVASÃO: CASOS DE ALGUNS CURSOS

DA UFRN COM INGRESSO EM 2009

Mayany Cleyses Morais de Souza

Resumo

O presente artigo teve como objetivo analisar a qualidade do gasto público na

educação, que é desperdiçado com a evasão escolar. A evasão é um problema

constante na educação do Brasil, atingindo em grandes escalas o nível

superior, é um tema muito importante e bastante discutido de várias formas. É

necessário estudos aprofundados sobre a evasão no ensino superior, pois é de

grande valia observar o quanto do investimento público está sendo

desperdiçado mediante a evasão. Baseando-se nas informações supracitadas,

o presente trabalho visa obter os resultados dos gastos públicos empregados

na educação superior da Universidade Federal do Rio Grande do Norte

(UFRN). Através de um levantamento quantitativo de dados referentes ao custo

por estudante em determinados cursos disponibilizado pela Pró-Reitoria de

Planejamento e Coordenação Geral (PROPLAN) e dos dados disponibilizados

pelo Observatório da Vida do Estudante Universitário (OVEU), pretende-se

realizar uma análise estatística do gasto público e demográfica em cima das

informações dos discentes. Uma das estratégias a ser utilizada neste estudo

será a aplicação dos dados coletados ao método do Índice de qualidade do

gasto (IQ). O método IQ consiste no resultado da razão entre o indicador de

desempenho e o indicador de despesa.

Palavras-chave: Evasão, índice de qualidade do gasto, ensino superior,

UFRN.

Trabalho apresentado no VII Congreso de la Asociación LatinoAmericana de Población e XX Encontro Nacional de Estudos Populacionais, realizado em Foz do Iguaçu/PR – Brasil, de 17 a 22 de outubro de 2016. Atuária. Mestranda em Demografia/UFRN. Orientada por Moisés Alberto Calle Aguirre, docente do Departamento de Demografia e Ciências Atuariais da UFRN e do Programa de Programa de Pós-Graduação em Demografia da UFRN (PPGDEM).

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ANÁLISE DA QUALIDADE DO GASTO NA EDUCAÇÃO SUPERIOR

LEVANDO EM CONSIDERAÇÃO A EVASÃO: CASOS DE ALGUNS CURSOS

DA UFRN COM INGRESSO EM 2009

Mayany Cleyses Morais de Souza

1. INTRODUÇÃO

O presente estudo diz respeito ao investimento público feito no Ensino

Superior, tendo como enfoque observar a qualidade do gasto público em

educação de nível superior em alguns cursos oferecidos na Universidade

Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), a fim de analisar como encontram-se

os cursos através deste indicador; a ineficiência do índice tem relação, em

grande parte, pela evasão dos alunos nos cursos de graduação, observada

através da taxa de concluintes conhecida como taxa de sucesso, pois, quando

os estudantes evadem, isto acarreta na não conclusão do curso e em

consequência no desperdício do investimento empregado, fazendo com que a

eficiência da qualidade do gasto público seja reduzida.

A evasão no ensino superior é um problema que ocorre de modo geral

nas instituições tanto públicas quanto privadas, como também no ensino

fundamental e médio. Busca-se tentar encontrar quais são as causas dessa

evasão e como evitá-la, pois no setor público, os investimentos feitos são

descartados e não trarão retorno. Levando em consideração que o

investimento que o governo faz na educação de nível superior é alto e o

mesmo espera que haja mais profissionais qualificados e que irão contribuir

para o desenvolvimento do país, no momento em que a evasão no ensino

superior é alta tem-se um grande problema em questão, pois o desempenho do

curso acaba sendo comprometido.

Diante de vários estudos feitos e observados, percebeu-se o quanto a

evasão está presente no ensino superior. Isso é algo relevante e muito

preocupante, levando em consideração que quando ocorre à evasão, existe um

grande gasto financeiro, pois o aluno não conclui o curso e assim deixa de

existir mais um profissional no mercado devidamente formado pela

universidade. Diante destes problemas, os objetivos do presente trabalho são

3

analisar a evasão dos estudantes de oito cursos selecionados da educação

superior da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, que ingressaram no

ano de 2009 que é considerado pela taxa de concluintes em 2012.2 e,

concomitantemente, determinar a qualidade do gasto público nos cursos

selecionados.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Inicialmente, esta seção aborda sobre a evasão no ensino superior do

Brasil. E em sequência os investimentos financeiros e a qualidade do gasto na

educação superior.

2.1 EVASÃO NO ENSINO SUPERIOR

Pelos autores Biurrum e Nunes (2010), evasão em um curso de ensino

superior é entendida como a diferença entre o número de ingressantes e o

número de concluintes naquele curso, ou seja, é analisado o período de

formação, que é desde a data de entrada até a data de saída.

Para a Comissão Especial de Estudos sobre a Evasão nas

Universidades Públicas Brasileiras, a evasão é definida como a saída definitiva

do aluno de seu curso de origem, sem concluí-lo.

De acordo com Kotler e Fox (1994), a manutenção de alunos é crucial

para as instituições de ensino, pois os alunos são a razão de “ser” dessas

instituições. Sem alunos as escolas fechariam suas portas. Garantir que os

alunos se re-matriculem é tão importante quanto matricular novos alunos. E,

complementando a ideia deles, é essencial que os alunos continuem, pois o

investimento feito para um aluno é completo e engloba todo o período de

formação, ou seja, se algum aluno evadir vão ter prejuízos financeiros,

educacionais e estruturais, pois se uma sala comporta 50 alunos e tem apenas

25 alunos, 50% do espaço físico foi inutilizado da mesma forma que o dinheiro

empregado para que a sala estivesse totalmente completa de alunos e o

conhecimento que poderia ter sido adquirido pelos demais estudantes que

evadiram.

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2.2 QUALIDADE DO GASTO NA EDUCAÇÃO SUPERIOR

A análise da qualidade do gasto público é de extrema importância, pois

é necessário saber se o investimento feito está produzindo resultados

favoráveis e eficazes. Segundo Borges (2011), no que tange o “processo de

análise de políticas públicas é importante verificar não somente se as questões

de atendimento ao cidadão foram totalmente alcançadas, mas também se

foram alcançadas com eficiência e eficácia”. Faz-se necessário levar sempre

em consideração a melhor utilização dos recursos públicos, para que se evitem

desperdícios financeiros e que, assim, o investimento tenha uma qualidade

eficiente para a sociedade.

Segundo Riani (2002, p. 80), o gasto público é a escolha que os

governantes fazem para aplicar os recursos públicos em setores importantes

para a sociedade. Ainda assim, Rezende (2001) argumenta que, os gastos

representam o custo da quantidade e da qualidade dos serviços oferecidos

pelos governos e que são classificados por ação, programa, finalidade e

natureza, e podem ser de custeio, investimentos, transferências e inversões.

Almeida (2001) declara que um dos maiores desafios é “produzir a

melhoria da qualidade do aprendizado que, afinal, é o que qualquer governo

deve almejar como resultado da oferta dos serviços públicos educacionais para

a população”. Desta forma, observamos o quanto é importante que não haja

evasão, a fim de que os objetivos do governo sejam alcançados e o

investimento seja eficaz.

Na literatura encontram-se alguns trabalhos que mensuram a qualidade

do gasto público através do método do Índice de Qualidade do Gasto Público

(IQGP), que faz uso do valor da despesa orçamentária e, através de

indicadores socioeconômicos, assim, observa o desempenho dos

investimentos empregados.

Segundo Borges (2012 p. 44), a qualidade da saúde e educação,

representa a “relação entre os gastos que foram realizados nessas áreas com

a eficiência do mesmo através dos resultados, no caso, representado pelos os

indicadores sociais de resultado”.

Borges (2012) declara que o IQGP é uma alternativa para tentar

mensurar a qualidade do gasto público, para os casos em que se é possível

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comparar os valores empregados juntamente com os indicadores sociais e

assim obter os resultados da eficiência do gasto público.

Desta forma, cabe ressaltar a importância de analisar a qualidade do

gasto público e de que formas estão sendo realizados estes gastos, a fim de

saber quais os retornos que estes gastos estão produzindo em benefícios para

a sociedade.

3. METODOLOGIA

A pesquisa realizada neste trabalho teve como objetivo analisar a

qualidade do gasto público no ensino superior da UFRN. Podemos classificar a

pesquisa como uma análise exploratória e descritiva. Ela é exploratória na

medida em que se obtêm informações sobre as funções orçamentárias no

gasto de cada estudante do ensino superior. E descritiva, tendo em vista que

procura descrever e entender as características acerca da temática abordada.

Foram utilizados dois bancos de dados para as análises. O primeiro é o

Observatório da Vida do Estudante Universitário, disponibilizado pelo site do

Núcleo Permanente de Concursos (COMPERVE). Trata-se de um centro de

informações estatísticas sobre os estudantes que ingressam na UFRN e os

documentos sobre o acesso ao Ensino Superior, objetivando, disponibilizar um

conhecimento maior sobre a população desta instituição.

Em segundo o banco de dados disponibilizado pela Pró-Reitoria de

Planejamento e Coordenação Geral (PROPLAN), mas, especificamente foi

utilizado apenas o custo por aluno de cada ingressante nos cursos de

graduação estudados, o qual serve para demonstrar o quanto que o setor

público da UFRN investe em cada estudante do ensino superior da instituição,

sendo apresentados os valores conforme o custo dos alunos integrais, que leva

em consideração o peso do curso que está inserido, desta maneira os que

possuem maiores pesos, possuem maiores custos.

No vestibular da COMPERVE sucedido em 2009, para o campus de

Natal, foram oferecidas, aos novos ingressantes, 4948 vagas, distribuídos em

88 cursos. Para o estudo, foram analisados os cursos que possuem a mesma

quantidade de vagas no primeiro semestre e a mesma duração de curso, foram

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escolhidos os cursos com 40 (quarenta) vagas e com 4 (quatro) anos de

duração para a análise do IQ.

3.1 CARACTERÍSTICAS DO MODELO

Segundo Brunet, Bertê e Borges (2008), a qualidade do gasto público

em educação pode ser medida através do indicador:

𝑰𝑸 =𝑰𝒏𝒅𝒊𝒄𝒂𝒅𝒐𝒓 𝒅𝒆 𝒅𝒆𝒔𝒆𝒎𝒑𝒆𝒏𝒉𝒐

𝑰𝒏𝒅𝒊𝒄𝒂𝒅𝒐𝒓 𝒅𝒆 𝒅𝒆𝒔𝒑𝒆𝒔𝒂

O IQ representa o índice de qualidade do gasto em educação superior,

sendo assim, representa o resultado da razão entre o indicador de

desempenho e o indicador de despesa, ambos com a referência ao mesmo

ano, para cada curso da instituição.

Os mesmos autores, após o resultado do IQ, fazem uso de um método

estatístico chamado de “escore padronizado”, pelo método da função da

distribuição acumulada normal.

Para o cálculo do indicador de desempenho é utilizado à fórmula

abaixo:

𝑫 =𝟏

𝒏∑

(𝝏𝒊 − 𝝁)

𝜹𝒊

𝒏

𝒊=𝟏

Onde cada variável representa:

D é o indicador de desempenho;

∂ é o escore bruto da variável desempenho;

µ e δ são, respectivamente, a média e o desvio-padrão dos escores brutos de

desempenho de todos os cursos da UFRN.

Este indicador de desempenho serve para ver, de forma clara, quais

cursos possuem um melhor desempenho, que é analisado no intervalo entre 0

e 1. Ou seja, os cursos que apresentam os valores mais próximos a 1, melhor

será o desempenho dos estudantes do nível superior.

Outro índice que é necessário à fórmula do IQ de Brunet, Bertê e

Borges (2008), é o indicador de despesa, o qual se comporta de forma inversa

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ao indicador anterior, dado pela fórmula:

𝑮 =[

𝒔𝒎 − 𝝁𝒕]

𝜹𝒕

Onde cada variável representa:

G é o indicador de despesa por curso;

s é a despesa em educação superior na UFRN;

m é o total de matrículas no curso superior;

μt e δt são, respectivamente, a média e o desvio-padrão da despesa por aluno

de todos os cursos da UFRN no mesmo período de tempo.

No indicador para a despesa, os valores também estão entre 0 e 1,

porém a interpretação é diferente do indicador de desempenho, pois quanto

mais próximo de 1, maior será a despesa utilizada.

O indicador de qualidade do gasto no ensino superior possibilita um

estudo entre os cursos da UFRN, a fim de analisar a relação ao quanto se

retorna em termos de desempenho escolar, a partir da despesa realizada em

cada curso. O desejável, é que o Índice de Qualidade do Gasto no Ensino

Superior, seja no mínimo, 1, a qual demonstra que a despesa realizada está

sendo retornada em termos de desempenho.

Através desses resultados pode-se fazer as análises sobre o

investimento, se está sendo bem utilizado ou não. Para tanto, neste trabalho foi

utilizado o software Office Excel, disponibilizado pela Microsoft, o qual permite

a análise dos dados, bem como a elaboração de gráficos, tabelas e os

resultados.

4. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

A população considerada na pesquisa é composta pelos ingressantes

na UFRN para o semestre de 2009.1, referentes aos cursos de Artes Visuais

(L) manhã e tarde, Ciências Atuariais (B) noturno, Dança (L) noturno, Educação

Física (L) manhã e tarde, Fonoaudiologia (F) manhã e tarde, Gestão em

Sistemas e Serviços de Saúde (F) noturno, Geografia (B) manhã e Geografia

(L) noturno, esta amostra corresponde a 12% das vagas ofertadas para o 1°

8

semestre de 2009.1 para a UFRN no Campus de Natal.

Neste ponto, através dos gráficos de barras, analisou-se as variáveis

demográficas dos cursos em estudo, pelo Gráfico 1 visualiza-se os sexos dos

ingressantes que estão divididos em 43,1% para o sexo masculino e 56,9%

para o sexo feminino. O percentual feminino é maior principalmente nos cursos

das áreas de humanas e biomédica, como Artes Visuais, Dança,

Fonoaudiologia e Gestão em Sistemas e Serviços de Saúde.

Gráfico 1. Sexo dos ingressantes dos cursos em estudo da UFRN, 2009

Fonte: Elaboração própria com base nos dados do OVEU – UFRN (2009)

Através do Gráfico 2, nota-se que 87,2% dos estudantes que

ingressaram em 2009.1 na UFRN possuem o estado civil de solteiro; 8,8% são

casados e 4,1% tem um outro tipo de estado civil que não é especificado.

Gráfico 2. Estado Civil dos ingressantes dos cursos em estudo da UFRN, 2009

Fonte: Elaboração própria com base nos dados do OVEU – UFRN (2009)

0% 20% 40% 60% 80% 100%

Artes Visuais (L-MT)

Ciências Atuariais (B - N

Dança (L - N

Educação Física (L - MT)

Fonoaudiologia (F - MT)

Geografia (B - M

Geografia (L - N)

Gestão em Sistemas e Serviços de Saúde (F - N)

FemininoMasculino

0% 50% 100% 150%

Artes Visuais (L-MT)

Ciências Atuariais (B - N

Dança (L - N

Educação Física (L - MT)

Fonoaudiologia (F - MT)

Geografia (B - M

Geografia (L - N)

Gestão em Sistemas e Serviços de Saúde (F - N)

Outro

Casado(a)

Solteiro(a)

9

Já no Gráfico 3, observa-se as faixas etárias na qual os estudantes

ingressaram nos cursos da UFRN em 2009, a faixa etária com o maior

percentual de estudantes foi a de 18 a 19 anos com 28,13%, seguidas das

faixas etárias de 20 a 21 (24,69%); 25 a 29 anos (15,31%); 22 a 24 anos

(14,69%); 30 a 39 anos (7,81%); 40 a 72 anos (5,31%) e 15 a 17 anos (4,06%).

São ingressantes jovens, que devem ter concluído o ensino médio

recentemente e logo em seguida ingressam na universidade.

Gráfico 3. Faixa etária dos ingressantes dos cursos em estudo da UFRN,

2009

Fonte: Elaboração própria com base nos dados do OVEU – UFRN (2009)

Pela Tabela 1, observa-se os dados básicos das despesas totais em

educação para cada curso, com a duração de 4 anos, através dos dados

disponibilizados pela PROPLAN. Os cursos estão com as cores definidas por

áreas como foram divididos na Tabela 2. O curso de Ciências Atuariais foi o

que apresentou maior indicador bruto de despesa por estudante entre os oito

cursos analisados, com o valor de R$135.606,72, o que demonstra que a

despesa é alta neste curso.

0% 10% 20% 30% 40% 50%

Artes Visuais (L - MT)

Ciências Atuarias (B - N)

Dança (L - N)

Educação Física (L - MT)

Fonoaudiologia (F - MT)

Geografia (B - M)

Geografia (L - N)

Gestão em Sistemas e Serviços deSaúde (F - N)

40 a 72 anos

30 a 39 anos

25 a 29 anos

22 a 24 anos

20 a 21 anos

18 a 19 anos

15 a 17 anos

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Tabela 1. Dados brutos das despesas no ensino superior, ingressos e despesa

por aluno para os cursos analisados da UFRN, 2009

Curso

Dados Brutos de Despesa Indicador Bruto

de Despesa por

estudante

Despesa em

educação

Ingressantes

2009.1

Artes Visuais (L) (MT) 4.068.201,60 40,00 101.705,04

Ciências Atuariais (B) (N) 5.424.268,80 40,00 135.606,72

Dança (L) (N) 4.068.201,60 40,00 101.705,04

Educação Física (L) (MT) 4.068.201,60 40,00 101.705,04

Fonoaudiologia (F) (MT) 4.068.201,60 40,00 101.705,04

Geografia (B) (M) 2.712.134,40 40,00 67.803,36

Geografia (L) (N) 2.712.134,40 40,00 67.803,36

Gestão em Sistemas e

Serviços de Saúde (F) (N) 2.712.134,40 40,00 67.803,36

Média 93229,62

Desvio padrão 23972,11

Fonte de dados básicos: Despesa em educação – PROPLAN. Ingressantes - OVEU

2009/UFRN

Este indicador bruto de despesa por estudante é obtido pela razão

entre a despesa em educação e o número de ingressantes para o respectivo

curso.

Cabe ressaltar que os cursos de Aquicultura e Turismo não serão

analisados. O primeiro, tendo em vista que não houve nenhum formando, já o

segundo, levando-se em consideração que os dados dos ingressantes do

primeiro e do segundo semestre de 2009 estão agrupados no banco de dados

do OVEU. Sendo assim, a análise dos dados seria para uma turma de 80

alunos, não se enquadrando no critério de análise adotado..

Para encontrar o indicador de despesa, fez-se uso do escore

padronizado calculado pelo método da função de distribuição acumulada

normal. Ainda assim, foi necessário a utilização do software Excel para obter os

resultados. Para o cálculo da função acumulada normal, utiliza-se os dados do

Indicador de Despesa Bruta por Curso, a média e o desvio-padrão e o

acumulativo de todos os cursos analisados na amostra. Repetindo a função

11

para os demais cursos e em cada curso utilizando o indicador bruto de despesa

por estudante.

O indicador de despesa varia entre 0 e 1, quanto mais próximo de 1 o

valor se encontre, significa que maior será a despesa utilizada. Pela Tabela 2

encontramos que o curso de Ciências Atuariais é o que apresenta o maior

indicador de despesa, seguido de Artes Visuais, Dança, Educação Física,

Fonoaudiologia, Geografia (licenciatura e bacharelado) e Gestão em Sistemas

e Serviços de Saúde.

Tabela 2. Indicador de despesa dos cursos analisados da UFRN, 2009

Curso Indicador de

Despesa

Artes Visuais (L) (MT) 0,64

Ciências Atuariais (B) (N) 0,96

Dança (L) (N) 0,64

Educação Física (L) (MT) 0,64

Fonoaudiologia (F) (MT) 0,64

Geografia (B) (M) 0,14

Geografia (L) (N) 0,14

Gestão em Sistemas e Serviços de Saúde (F) (N) 0,14

Fonte: Elaboração própria com base nos dados da PROPLAN – UFRN (2009)

É necessário calcular o indicador de desempenho e para isso as

variáveis utilizadas para os indicadores brutos de desempenho foram à taxa

formandos em 2012.2, dos estudantes com ingresso em 2009.1. O mesmo

método estatístico utilizado no indicador de despesa será utilizado para o

indicador de despesa com base nos dados brutos da taxa de concluintes em

2012.2. O indicador de desempenho também varia entre 0 e 1, porém, é

desejável que o valor esteja mais próximo de 1, significando que possui um

bom desempenho.

Segundo Silva (2011), que também faz uso da fórmula do IQ, os dados

para os indicadores brutos de desempenho utilizados foram as 4 médias em

português e matemática coletadas dos microdados da Prova Brasil 2009, para

12

os municípios utilizados na sua pesquisa. Neste caso, foi necessário a média

das 4 variáveis de indicadores brutos de desempenho para então poder

calcular o modelo estatístico da função de distribuição acumulada normal.

Como nos cursos da UFRN está sendo utilizada apenas uma variável para o

cálculo, aplicamos diretamente no método. Pela Tabela 3 obtemos que o curso

com o melhor indicador de desempenho é o de Fonoaudiologia com (0,95) e

em sequência os cursos de Gestão em Sistemas e Serviços de Saúde (0,82),

Educação Física (0,76), Dança (0,54), Artes Visuais (0,34), Geografia

licenciatura (0,20) e Ciências Atuariais e Geografia bacharelado (0,15).

Tabela 3. Indicador de desempenho dos cursos analisados da UFRN, 2009.

Curso

Indicadores Brutos de

Desempenho Indicadores de

Desempenho Taxa de concluintes

em 2012.2

Artes Visuais (L) (MT) 0,25 0,34

Ciências Atuariais (B) (N) 0,10 0,15

Dança (L) (N) 0,38 0,54

Educação Física (L) (MT) 0,53 0,76

Fonoaudiologia (F) (MT) 0,75 0,95

Geografia (B) (M) 0,10 0,15

Geografia (L) (N) 0,15 0,20

Gestão em Sistemas e

Serviços de Saúde (F) (N) 0,58 0,82

Média 0,35

Desvio padrão 0,24

Fonte: Elaboração própria com base nos dados do OVEU – UFRN (2009)

Após obtidos os resultados dos indicadores de desempenho e despesa

podemos calcular o índice de qualidade do gasto público em educação (IQ),

que é a razão entre o indicador de desempenho e o indicador de despesa.

Espera-se que o Índice de Qualidade do Gasto seja de pelo menos 1, pois isso

demonstra que a despesa realizada está sendo retornada em termos de

13

desempenho.

Conforme Brunet, Bertê e Borges (2008), podemos classificar a

qualidade do gasto em três tipos de intervalos, conforme os critérios adotados

por eles, consideram que os valores abaixo de 1 (um) são ineficazes; já a

média da amostra somada ao desvio-padrão é eficaz e acima desse valor é

altamente eficaz. Utilizando esses critérios para a qualidade do gasto público

nos cursos da UFRN, temos o Quadro 1 abaixo:

Quadro 1. Classificação da qualidade do Gasto Público

Intervalos Classificação

0,16 - 0,99 Ineficaz

1,00 - 3,26 Eficaz

3,27 - 5,67 Altamente eficaz

Fonte: Elaboração própria.

Silva (2011) adota a classificação da qualidade do gasto público

através da descrição abaixo:

IQ < 1 – é ineficiente, isso ocorre quando o indicador de desempenho é menor

que o indicador de despesa;

IQ = 1 – é eficiente, pois retorna o valor mínimo esperado;

IQ > 1 – é eficiente, pois retorna mais que o valor esperado.

De acordo com a Tabela 4, obtemos o resultado do indicador de

qualidade do gasto para os cursos analisados. Observa-se que, segundo a

classificação dos autores Brunet, Bertê e Borges (2008), o curso de Gestão em

Sistemas e Serviços de Saúde é o único considerado altamente eficaz, já os

cursos de Fonoaudiologia Educação Física, Geografia licenciatura e

bacharelado são classificados como eficazes e os cursos de Artes Visuais,

Ciências Atuariais e Dança como ineficazes.

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Tabela 4. Indicador de despesa, desempenho e da qualidade do gasto dos

cursos analisados na UFRN, 2009

Curso

Indicador de

qualidade do

gasto

Classificação

Artes Visuais (L) (MT) 0,53 Ineficaz

Ciências Atuariais (B) (N) 0,16 Ineficaz

Dança (L) (N) 0,84 Ineficaz

Educação Física (L) (MT) 1,19 Eficaz

Fonoaudiologia (F) (MT) 1,49 Eficaz

Geografia (B) (M) 1,04 Eficaz

Geografia (L) (N) 1,40 Eficaz

Gestão em Sistemas e

Serviços de Saúde (F) (N) 5,67

Altamente

eficaz

Fonte: Elaboração própria.

Pelo Gráfico 4, verifica-se uma linha, que representa a fronteira de

desempenho mínimo para que a qualidade da despesa em educação dos

cursos da UFRN sejam eficazes. Segundo a classificação utilizada por Silva

(2011), através do Quadro 1 observa-se que tem quatro cursos que possuem a

mesma despesa de 0,64, no entanto, o curso de Fonoaudiologia é o que

apresentou maior desempenho de 0,95. Existem outros três cursos com a

mesma despesa de 0,14, contudo o curso de Gestão em Sistemas e Serviços

de Saúde tem o melhor desempenho. Quando compara-se os dois cursos com

desempenhos melhores, observa-se que o curso de Gestão em Sistemas e

Serviços de Saúde possui uma despesa bem menor comparado ao curso de

Fonoaudiologia e como a diferença de desempenho de ambas não é grande,

tem-se então o IQ maior para o curso de Gestão em Sistemas e Serviços de

Saúde.

15

Gráfico 4. Relação entre os indicadores de despesa e desempenho, nos cursos

da UFRN, 2009

Fonte: Elaboração própria.

Levando em consideração os resultados obtidos nos cálculos

anteriores para o IQ, nota-se que o curso de Ciências Atuariais (B – N)

apresentou o menor indicador entre os cursos analisados. É necessário

ressaltar que o curso de Ciências Atuariais é novo e foi criado em 2009 na

UFRN. Sendo assim, a ineficiência do curso pode ter relação direta com a

despesa que foi empregada para implantá-lo através do Programa de Apoio a

Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni), e

que tem como principal objetivo ampliação do acesso e a permanência na

educação superior, e por essa razão, apresentou maior valor, já o desempenho

do curso está baixo, levando-se em consideração que é a primeira experiência

do curso, ou seja, primeira turma formada, desta forma, o desempenho é

considerado baixo por está em fase de desenvolvimento e adaptação da grade

curricular, além de ser considerado como um curso de segunda opção.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Artes Visuais (L) (MT)

Ciências Atuariais (B) (N)

Dança (L) (N)

Educação Física (L) (MT)

Fonoaudiologia (F) (MT)

Geografia (B) (M) Geografia (L) (N)

Gestão em Sistemas e Serviços

de Saúde (F) (N)

0,00

0,10

0,20

0,30

0,40

0,50

0,60

0,70

0,80

0,90

1,00

0,00 0,10 0,20 0,30 0,40 0,50 0,60 0,70 0,80 0,90 1,00

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Dentre os cursos analisados na UFRN que ingressaram em 2009,

observa-se que a população estudada possui predominância do sexo feminino

e com estado civil de solteiro, além de tratar-se de uma população jovem.

Percebeu-se que a qualidade do gasto público em três cursos são

considerados ineficientes e nos demais possuem o indicador eficiente ou

altamente eficiente.

Enfim, observa-se que, através do método utilizado, não é necessário

que o investimento seja o mais alto possível, mas que sim o desempenho dos

estudantes seja alto para que acompanhe o investimento feito, de maneira a

tornar os cursos com indicadores eficientes. Como o curso de Ciências

Atuariais é recente, não pode-se fazer análises concretas da qualidade do

gasto, levando em consideração que os estudantes podem concluir o curso

posteriormente, mesmo que em atraso. Porém, o estudo foi uma maneira

parcial de análise para identificar a situação dos cursos dentre os estudados

com o mesmo número de ingressos e com o mesmo período de curso, para o

mesmo ano, e levando em consideração que a taxa de concluintes foi baixa no

curso de Ciências Atuariais, houve uma tendência maior para que a qualidade

do curso fosse ineficaz.

Contudo, é importante que se tenha uma preocupação em melhorar a

qualidade dos cursos, de maneira a fazer com que os estudantes se sintam

motivados a continuar no curso e não a evadirem, pois são altos os

investimentos empregados e é de extrema importância que tenham resultados

positivos para a sociedade e o governo.

6. REFERÊNCIAS

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gasto com educação. Em Aberto, v. 18, n. 74, p. 121-135, 2001.

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