anÁlise da implantaÇÃo e implementaÇÃo do … · anped associação nacional de...
TRANSCRIPT
-
LEISE CRISTINA BIANCHINI
ANLISE DA IMPLANTAO E IMPLEMENTAO DO
PROGRAMA MAIS EDUCAO EM LONDRINA-PR:
CONCEPO, LIMITES E POSSIBILIDADES DO
MACROCAMPO ESPORTE E LAZER
Londrina
2016
-
LEISE CRISTINA BIANCHINI
ANLISE DA IMPLANTAO E IMPLEMENTAO DO PROGRAMA
MAIS EDUCAO EM LONDRINA-PR: CONCEPO, LIMITES E
POSSIBILIDADES DO MACROCAMPO ESPORTE E LAZER
Relatrio de Pesquisa apresentado ao Programa de Ps Graduao em Educao da Universidade Estadual de Londrina, como requisito obteno do ttulo de Mestre em Educao. (rea de concentrao: Educao Escolar Ncleo: Polticas Educacionais) Orientadora: Profa. Dra. Eliane Cleide da Silva Czernisz
Londrina 2016
-
Ficha de identificao da obra elaborada pelo autor, atravs do Programa de GeraoAutomtica do Sistema de Bibliotecas da UEL
BIANCHINI, LEISE CRISTINA.
ANLISE DA IMPLANTAO E IMPLEMENTAO DO PROGRAMA MAISEDUCAO EM LONDRINA-PR : CONCEPO, LIMITES E POSSIBILIDADES DOMACROCAMPO ESPORTE E LAZER / LEISE CRISTINA BIANCHINI. - Londrina, 2016.182 f. : il.
Orientador: Eliane Cleide da Silva Czernisz.Dissertao (Mestrado em Educao) - Universidade Estadual de Londrina, Centro de
Educao Comunicao e Artes, Programa de Ps-Graduao em Educao, 2016.Inclui bibliografia.
1. Polticas Pblicas Educacionais - Teses. 2. Programa Mais Educao - Teses. 3.Macrocampo Esporte e Lazer - Teses. 4. Educao Fsica - Teses. I. Czernisz, ElianeCleide da Silva. II. Universidade Estadual de Londrina. Centro de Educao Comunicao eArtes. Programa de Ps-Graduao em Educao. III. Ttulo.
-
LEISE CRISTINA BIANCHINI
ANLISE DA IMPLANTAO E IMPLEMENTAO DO PROGRAMA
MAIS EDUCAO EM LONDRINA-PR: CONCEPO, LIMITES E
POSSIBILIDADES DO MACROCAMPO ESPORTE E LAZER
Relatrio de Pesquisa apresentado ao Programa de Ps Graduao em Educao da Universidade Estadual de Londrina, como requisito obteno do ttulo de Mestre em Educao. (rea de concentrao: Educao Escolar Ncleo: Polticas Educacionais)
BANCA EXAMINADORA
____________________________________ Profa. Dra. Eliane Cleide da Silva Czernisz Universidade Estadual de Londrina - UEL
____________________________________ Profa. Dra. Isaura Monica Souza Zanardini
Universidade Estadual do Oeste do Paran - UNIOESTE
____________________________________ Profa. Dra. Maria Jos Ferreira Ruiz
Universidade Estadual de Londrina - UEL
____________________________________ Profa. Dra. Marleide Rodrigues da Silva
Perrude Universidade Estadual de Londrina - UEL
Londrina, 29 de Fevereiro de 2016.
-
DEDICATRIA
Dedico este trabalho pessoa que a razo dos meus dias, pelo apoio incondicional, acreditando sempre nos meus sonhos.
-
AGRADECIMENTOS
Meus sinceros agradecimentos a minha orientadora Prof. Dr. Eliane Cleide
da Silva Czernisz, por compartilhar seus conhecimentos, pelo exemplo de respeito,
seriedade, rigor terico e humanidade. Seu apoio e confiana possibilitaram-me
desenvolver este estudo. Registro a ela meu respeito e admirao.
s professoras, Prof. Dr. Isaura Monica Souza Zanardini, Prof. Dr. Maria
Jos Ferreira Ruiz e Prof. Dr. Marleide Rodrigues da Silva Perrude que
constituram as Bancas de Qualificao e de Defesa, pela leitura deste trabalho e
valiosas sugestes para redao final.
Secretaria Estadual de Educao do Estado do Paran e ao Ncleo
Regional de Assis Chateaubriand, pelo afastamento das atividades para a realizao
deste trabalho.
s pessoas que compem o Ncleo Regional de Educao de Londrina e
entrevistados das Escolas analisadas, pelas entrevistas concedidas, que permitiram
a realizao e concluso do presente estudo.
Aos meus pais, Carlos Bianchini e Ivone Buranello Bianchini (in memorian)
por investirem todos os esforos possveis na minha educao e por acreditarem no
meu potencial, deixando-me livre para realizar minhas escolhas.
minha irm Elaine e ao meu sobrinho Carlos Antho pelo apoio, realizando
as transcries das entrevistas.
Aos amigos Vilma Rinaldi Bisconsini, Tnia Regina Casado e Aguinaldo
Romanini, os quais me incentivaram no somente com palavras, mas tambm, em
momentos oportunos, com seus conhecimentos, contribuindo para o meu
crescimento acadmico e profissional.
Aos meus amigos, simplesmente pela amizade. Isso me basta.
A todos os professores que acreditam em uma educao que possibilite a
emancipao humana e lutam por isso.
Enfim, ao meu bom Deus.
-
BIANCHINI, Leise Cristina. Anlise da implantao e implementao do Programa Mais Educao em Londrina-Pr: concepo, limites e possibilidades do Macrocampo Esporte e Lazer. 2016. 182f. Dissertao (Mestrado em Educao) Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2016.
RESUMO
Nesta pesquisa, discute-se a implantao da educao integral e em tempo integral, um constante desafio, com o objetivo de analisar de que maneira ocorreram a implantao e a implementao do Programa Mais Educao em duas escolas estaduais da cidade de Londrina, no Estado do Paran. Para tanto, procurou-se responder seguinte problemtica: Como ocorreu a implantao e implementao do Programa Mais Educao nestas escolas de Londrina-Pr? Como foi desenvolvido o Macrocampo Esporte e Lazer? Que papel tem assumido? Quais as condies reais da escola para a implantao e implementao deste macrocampo no Programa Mais Educao? Que relao este macrocampo estabelece com a Educao Fsica? Buscou-se, a partir da anlise do Programa Mais Educao, discutir as intencionalidades, concepes e condies concretas de realizao do Programa como poltica pblica nacional, especificamente no que se refere s aes do Macrocampo Esporte e Lazer neste contexto. O estudo se faz importante, visto que a proposta de educao integral um assunto polmico e contraditrio na sociedade capitalista, considerando o atual contexto de exigncia de mudanas da condio de um pas pouco desenvolvido para a posio de em desenvolvimento, o qual pressupe investimento em educao. Trata-se de uma investigao com abordagem qualitativa, na qual foram realizadas pesquisa bibliogrfica, anlise documental e entrevista, com base em um roteiro semiestruturado, com as equipes diretiva, pedaggica, e professores graduados em Educao Fsica que atuam em atividades do Macrocampo Esporte e Lazer no Programa Mais Educao de duas escolas pblicas estaduais que, desde 2010, desenvolvem experincias de jornada ampliada com o Programa Mais Educao no municpio de Londrina-PR. Pelos resultados obtidos, observa-se que o Programa Mais Educao e, consequentemente, seu Macrocampo Esporte e Lazer, e as aulas de Educao Fsica denotam uma viso salvacionista da educao e do esporte, como soluo para os problemas sociais, escamoteando suas causas. Depreende-se, ainda, que a escola, no neoliberalismo, tornou-se um local para resoluo de questes sociais abandonadas pelo Estado. Os dados nos mostram que as atividades do Macrocampo Esporte e Lazer do Programa Mais Educao, na grande maioria das vezes, so as atividades preferidas por parte dos alunos, uma vez que proporcionam maior adeso, auxiliam na no evaso e frequncia dos mesmos ao Programa, dando-lhe sustentao. Foi possvel perceber, tambm, que as atividades do Macrocampo Esporte e Lazer se distanciam da Cultura Corporal como objeto de estudo e ensino, conforme preconizado nas Diretrizes Curriculares Orientadoras da Educao Bsica para a Rede Estadual de Ensino do Estado do Paran, aspecto que refora diferenas entre as aulas do turno regular e as atividades do Macrocampo Esporte e Lazer do Programa Mais Educao. PALAVRAS-CHAVE: Polticas Pblicas Educacionais. Programa Mais Educao. Macrocampo Esporte e Lazer. Educao Fsica.
-
BIANCHINI, Leise Cristina. Analysis of implantation and implementation of the Mais Educao Program in Londrina-PR: conception, limits and possibilities of the Sports and Leisure Macrocampo. 2016. 182f. Dissertation (Education Masters) State University of Londrina, Londrina, 2016.
ABSTRACT
This research argues the implantation of integral education and in full time, a constant challenge. It aims to analyse in which way implantation and implementation of the Mais Educao Program occur in two state schools in the city of Londrina in the state of Paran. Therefore, we searched to answer the following problematic: How did the implantation and implementation of the Mais Educao Program in schools of Londrina-PR? How was the Macrocampo Sport e Leisure developed? What role has it taken? What are the real conditions of the school for the implantation and implementation of this Macrocampo in the Mais Educao Program? What relation does this Macrocampo establishes with the Physical Education? It has searched from the analysis of the Mais Educao Program to discuss the intentions, conceptions and concrete conditions of realization of the Program as a national public policy, specificly regarding the actions of the Sport and Leisure Macrocampo in this context. The study is made important since the full time education proposition is a controversial and contradictory in capitalist society, considering the current context of the demand for changes in conditions of a underdeveloped country into the status of in develepment, which presupposes an investment in education. It is an investigation with a qualitative approach. Bibliographic research was made, documental analysis and interview, based in a semi structured script, with the principal staff, the pedagogical and teachers trained in Physical Education who perform activities in the Sports and Leisure Macrocampo within the Mais Educao Program of two state public schools which since 2010 have been developing experiences with extended hours with the Mais Educao Program in the city of Londrina-PR. With the obtained results it is noted that the Mais Educao Program and consequently its Sport and Leisure Macrocampo as well as Physical Education lessons show a salvationistic view of education and sports as solution to social problems, pilfering its causes, and that the school, within neoliberalism, has become a place for the resolution of social matters which the government has abandoned. Data has shown that activities of the Sport and Leisure Macrocampo of the Mais Educao Program most of the times are the students favourite activities since they provide greater adhesion, aid in non-circumvention and their frequency to the Program, giving it support. It was also possible to realize that the activities of the Sport and Leisure Macrocampo distant themselves of the Body Culture as object of study and teaching as recommended by the Curriculum Guidelines of Basic Education for the State Network of Paran State Education, aspect which reinforces differences between lessons of the regular shift and the activities of the Sport and Leisure Macrocampo of the Mais Educao Program. KEY WORDS: Public Educational Policies. Mais Educao Program. Sport and Leisure Macrocampo. Physical Education.
-
LISTA DE ILUSTRAES
Figura 1 Mapa das regies e bairros da cidade de Londrina ...............................128
-
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Dissertaes e Teses utilizadas ...........................................................27
Quadro 2 - Macrocampos Escolas Urbanas (2010 2014) ....................................86
Quadro 3 - Macrocampos Escolas do Campo (2010 2014) ................................87
Quadro 4 - Instrues para regulamentao da Educao Integral .......................121
Quadro 5 - Escolas Estaduais do Ncleo Regional de Educao de Londrina que
aderiram ao Programa Mais Educao em 2010......................................... ...........125
Quadro 6 Atividades do Macrocampo Esporte e Lazer desenvolvidas pelas
Escolas Estaduais do NRE de Londrina no ano de 2010 ........................................126
Quadro 7 Macrocampos e Atividades ofertadas pela Escola 2 no ano de 2010..142
-
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ANPED Associao Nacional de Ps-Graduao e Pesquisa em Educao
BNCC Base Nacional Curricular Comum
CAPES Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior
CEE/PR Conselho Estadual de Educao do Paran
CELEM Centro de Lnguas Estrangeiras Modernas
CMEI Centros Municipais de Educao Infantil
CONAE Conferncia Nacional de Educao
CONFEF Conselho Federal de Educao Fsica
DCE Diretrizes Curriculares Estaduais
DCN Diretrizes Curriculares Nacionais
DCOEB/PR Diretrizes Curriculares Orientadoras da Educao Bsica para a Rede
Estadual de Ensino do Paran
DEIDHUC Diretoria de Educao Integral, Direitos Humanos e Cidadania
ECA Estatuto da Criana e do Adolescente
EDF Educao Fsica
FHC Fernando Henrique Cardoso
FUNDEB Fundo de Manuteno e Desenvolvimento da Educao Bsica e de
Valorizao dos Profissionais da Educao
FUNDEF Fundo de Manuteno e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e
de Valorizao do Magistrio
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica
IDEB ndice de Desenvolvimento da Educao Bsica
IDHM ndice de Desenvolvimento Humano Municipal
IES Instituies de Ensino Superior
IFMS Instituto Federal de Educao, Cincia e Tecnologia de Mato Grosso
do Sul
LDBEN Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional
MARE Ministrio da Administrao e Reforma do Estado
MCT Ministrio da Cincia e da Tecnologia
ME Ministrio do Esporte
MEC Ministrio da Educao
MEL Macrocampo Esporte e Lazer
-
MDS Ministrio do Desenvolvimento Social e Combate Fome
MINC Ministrio da Cultura
MMA Ministrio do Meio Ambiente
NRE Ncleo Regional de Educao
ONGs Organizao No-Governamental
OSCIP Organizaes da Sociedade Civil de Interesse Pblico
PBF Programa Bolsa Famlia
PCN Parmetros Curriculares Nacionais
PDE Plano de Desenvolvimento da Educao
PDDE Programa Dinheiro Direto na Escola
PME Programa Mais Educao
PNAE Programa Nacional de Alimentao Escolar
PNE Plano Nacional de Educao
PPP Projeto Poltico Pedaggico
PROUNI Programa Universidade para Todos
PSS Processo Seletivo Simplificado
PST Programa Segundo Tempo
QPM Quadro Prprio do Magistrio
RCNEI Referencial Curricular Nacional para Educao Infantil
SECAD Secretaria de Educao Continuada, Alfabetizao e Diversidade
SAEB Sistema de Avaliao da Educao Bsica
SAEP Sistema de Avaliao da Educao Bsica do Paran
SEB Secretaria de Educao Bsica
SEED Secretaria Estadual de Educao do Estado do Paran
SINAES Sistema Nacional de Avaliao do Ensino Superior
UEL Universidade Estadual de Londrina
UEM Universidade Estadual de Maring
UERJ Universidade do Estado do Rio de Janeiro
UFMG Universidade Federal de Minas Gerais
UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro
UFPR Universidade Federal do Paran
UnB Universidade de Braslia
UNIOESTE Universidade Estadual do Oeste do Paran
UNIRIO Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro
-
SUMRIO
1 INTRODUO .......................................................................................... 16
2 POLTICAS PARA A EDUCAO: O PAPEL DO ESTADO E OS
PLANOS DE GOVERNO .......................................................................... 36
2.1 O Estado e a Educao ............................................................................ 37
2.2 Planos de Governo Federais ..................................................................... 48
2.3 Planos de Governo do Estado do Paran ................................................. 55
3 PROGRAMA MAIS EDUCAO ............................................................. 70
3.1 O PME: surgimento e adeso ................................................................... 70
3.2 Desenvolvimento histrico do PME: principais documentos ..................... 74
3.2.1 Plano de Desenvolvimento da Educao: Razes, Princpios e Programas
2007 .......................................................................................................... 75
3.2.2 Portaria Normativa Interministerial n 17, de 24 de Abril de 2007 ............. 76
3.2.3 Decreto Presidencial n 7.083, de 27 de Janeiro de 2010......................... 78
3.2.4 Educao integral/educao integrada e(m) tempo integral: concepes e
prticas na educao brasileira - Mapeamento das experincias de
jornada escolar ampliada no Brasil - Srie Mais Educao/2010.............. 79
3.2.5 Manual Operacional da Educao Integral/MEC 2010-2014 .................... 80
3.2.6 Programa Mais Educao Passo a Passo/2011 .................................... 88
3.2.7 Financiamento do PME e o Plano Nacional de Educao (2014-2024) .... 90
4 O MACROCAMPO ESPORTE E LAZER E SUA RELAO COM A
EDUCAO FSICA ................................................................................. 92
4.1 Panorama Histrico da Educao Fsica .................................................. 92
4.2 A Educao Fsica e as Diretrizes Curriculares Orientadoras da Educao
Bsica para a Rede Estadual de Ensino do Paran (DCOEB/PR) ......... 102
4.2.1 A Educao Bsica nas Diretrizes Curriculares Orientadoras da Educao
Bsica para a Rede Estadual de Ensino do Paran (DCOEB/PR) ......... 104
4.2.2 Diretrizes Curriculares Orientadoras da Educao Bsica para a Rede
Estadual de Ensino do Paran da disciplina de Educao Fsica ........... 107
4.2.2.1 Contedos Estruturantes da Educao Fsica segundo as DCOEB/PR . 111
-
4.3 O Macrocampo Esporte e Lazer do PME: concepo e aproximao com a
disciplina de Educao Fsica ................................................................. 115
5 O PROGRAMA MAIS EDUCAO EM ESCOLAS DE LONDRINA-PR120
5.1 Os Programas de ampliao da jornada escolar no Estado Paran ....... 120
5.2 Programa Mais Educao em Londrina .................................................. 123
5.3 Levantamento de dados nas escolas ...................................................... 127
5.3.1 Caracterizao da Escola Estadual 1 ...................................................... 128
5.3.1.1 Dados da Entrevista com a Equipe Diretiva da Escola 1 ........................ 129
5.3.1.2 Dados da Entrevista com a Equipe Pedaggica da Escola 1 .................. 132
5.3.1.3 Dados da Entrevista com o Professor que atuou na atividade do
Macrocampo Esporte e Lazer no PME da Escola 1 ................................ 137
5.3.2 Caracterizao da Escola Estadual 2 ...................................................... 141
5.3.2.1 Dados da Entrevista com a Equipe Diretiva da Escola 2 ........................ 142
5.3.2.2 Dados da Entrevista com a Equipe Pedaggica da Escola 2 .................. 148
5.3.2.3 Dados da Entrevista com o Professor que atuou na atividade do
Macrocampo Esporte e Lazer no PME da Escola 2 ................................ 160
CONSIDERAES FINAIS .................................................................................... 165
REFERNCIAS ....................................................................................................... 169
ANEXOS ................................................................................................................ 178
ANEXO A Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ..................................... 179
ANEXO B Roteiro de Entrevista ........................................................................... 181
-
16
1 INTRODUO
O texto da Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional, Lei n 9394/96
(LDBEN), prev a ampliao da jornada escolar, em seus Artigos 34 e 87. No Artigo
34, aponta que [...] a jornada escolar no ensino fundamental incluir pelo menos
quatro horas de trabalho efetivo em sala de aula, sendo progressivamente ampliado
o perodo de permanncia na escola. No pargrafo 2, afirma que, [...] o ensino
fundamental ser ministrado progressivamente em tempo integral, a critrio dos
sistemas de ensino. J no Artigo 87, em seu pargrafo 5, conclama para que sejam
[...] conjugados todos os esforos objetivando a progresso das redes escolares
pblicas urbanas de ensino fundamental para o regime de escolas de tempo
integral (BRASIL, 1996, p. 124).
A lei aborda e aponta sobre uma progressiva ampliao do tempo de
permanncia dos estudantes nas escolas no sentido de ofertar escolas de tempo
integral. Passados quase 20 anos aps a promulgao da LDBEN o assunto
continua sendo discutido a partir de programas que so encaminhados pelo governo
federal e desenvolvidos em redes de ensino estaduais e municipais. Como exemplo,
destacamos um Programa criado no ano de 2007, momento do segundo governo de
Lus Incio Lula da Silva. Ressalta-se no contexto recente o Plano Nacional de
Educao Lei N 13005/2014 (PNE) que destaca na Meta 6 a ampliao da
jornada escolar, sendo o Programa Mais Educao (PME), objeto de estudo da
presente dissertao o principal indutor.
Observa-se no PME que muitos termos so encontrados nos documentos
adjetivando a ampliao do tempo e permanncia escolar como: jornada ampliada,
ampliao da jornada escolar, escola em tempo integral, escola integral, escola
integral e em tempo integral, educao em tempo integral, educao integral. Tais
termos nos levam a uma compreenso equivocada deles ou at compreendendo-os
como sinnimos. Comentaremos sobre tais termos com o intuito de discern-los.
Entendemos que os termos jornada ampliada e ampliao da jornada escolar
possuem o mesmo significado. Silva em sua tese de doutorado faz uma discusso
ampla e importante sobre o assunto e relata: Diferentes autores trabalham com
diferentes terminologias, sendo possvel depreender que, ao se referirem
educao integral, fazem referncia ao aspecto da formao de sujeitos (SILVA,
2014, p. 93), e que:
-
17
Cabe enfatizar que estas terminologias no so utilizadas isoladamente. No geral, um mesmo autor as usa em um nico texto, por vezes justificando suas opes e outras de forma indistinta, considerando a impossibilidade em abordar a discusso sobre a ampliao da jornada escolar e desconsiderar os aspectos referentes a um determinado tipo de formao. No s a literatura do universo acadmico apresenta esta caracterstica, como as propostas e documentos norteadores ao abordarem o tema deixam transparecer certa dubiedade entre o que se pretende em termos de concepo (educao integral) e o que diz respeito forma para a implantao da proposta (escola de tempo integral) (SILVA, 2014, p. 94).
A autora afirma,
[...] a ampliao da jornada escolar est relacionada a um aumento da carga horria a ser ofertada pela escola pblica brasileira tradicionalmente sedimentada na oferta de turnos parciais, enquanto que a educao integral est diretamente relacionada a uma ideia de formao plena dos sujeitos (SILVA, 2014, p. 22).
Entende-se que ampliar o tempo de permanncia do aluno na escola equivale
a criar as condies de tempo e de espaos para efetivar o conceito de formao
integral dele. preciso, porm, ressaltar que a inteno da poltica de educao
integral deve seguir para alm da ampliao de tempos, espaos e oportunidades
educacionais. Ela deve buscar favorecer a aprendizagem na perspectiva da
cidadania, da diversidade, do respeito aos direitos humanos e da garantia de acesso
aos conhecimentos cientficos, historicamente elaborados, e que necessitam ser
trabalhados pela escola pblica, como condio de superao das diferenas
sociais, dando aos estudantes possibilidade de transformao desta realidade. Para
isso, preciso que a escola tenha condies fsicas, materiais e humanas para
atender a proposta.
O Governo Federal, para induzir a ampliao da jornada escolar e a
organizao curricular, na perspectiva da Educao Integral, instituiu, por meio da
Portaria Normativa Interministerial n 17, de 24 de abril de 2007, e pelo Decreto
Presidencial 7083/2010, o PME, que, integra as aes do Plano de Desenvolvimento
da Educao (PDE).
O PME, direcionado para redes pblicas de educao bsica de Estados,
Distrito Federal e Municpios, objetiva contribuir para a formao integral de
crianas, adolescentes e jovens. Para tanto, o documento Manual Operacional
(2014) prope a implementao de atividades socioeducativas. Este mais um
-
18
termo encontrado num documento orientador do PME. Concordamos com Silva
(2014), que discutindo o assunto, entende por atividades socioeducativas, aquelas
[...] que se desenvolvem por meio de aes e processos no vinculados ao sistema de mritos e nveis tpico do sistema escolar formal e possibilita aprendizagens articuladas que contribuem para o desenvolvimento pessoal e social de crianas e adolescentes, atualizando e complementando conhecimentos j trazidos por estes de sua vivncia familiar e experincia cultural (SILVA, 2014, p. 19).
De acordo com o Manual Operacional (BRASIL, 2013) essas atividades que
sero desenvolvidas no contraturno escolar so organizadas a partir de
macrocampos1, visto que so sete para as escolas urbanas2: Acompanhamento
pedaggico; Comunicao, uso de mdias e cultura digital e tecnolgica; Cultura,
artes e educao patrimonial; Educao ambiental, desenvolvimento sustentvel e
economia solidria e criativa/educao econmica (educao financeira e fiscal);
Esporte e lazer; Educao em direitos humanos; Promoo da sade. E, sete para
as escolas rurais:
[...] Acompanhamento pedaggico; Agroecologia; Iniciao cientfica; Educao em direitos humanos; Cultura, artes e educao patrimonial; Esporte e lazer; Memria e histria das comunidades tradicionais (BRASIL, 2013, p. 25-26).
Cada um deles agrega suas atividades especficas e cada estabelecimento de
ensino faz sua opo de atividade de acordo com o interesse de sua comunidade
escolar, obedecendo claro, aos critrios estabelecidos pelo Manual Operacional do
Programa. Considerando-se a especificidade deste trabalho, que discute o
Macrocampo Esporte e Lazer e sua relao com a Educao Fsica no PME,
entendemos ser necessrio, apresent-lo. Sua ementa diz tratar-se de:
Atividades baseadas em prticas corporais, ldicas e esportivas, enfatizando o resgate da cultura local, bem como o fortalecimento da diversidade cultural. As vivncias trabalhadas na perspectiva do esporte educacional devem ser voltadas para o desenvolvimento integral do estudante, atribuindo significado s prticas desenvolvidas com criticidade e criatividade. O acesso prtica
1 Entende-se, conforme os documentos do PME, que os macrocampos so grupos de atividades
afins. 2 Alteraes ocorreram no Manual Operacional de 2012, o qual estipulou macrocampos especficos e
diferenciados para as escolas rurais. J no Manual Operacional de 2013, alguns macrocampos das escolas urbanas foram acoplados, unidos, passando de dez para sete. O detalhamento desta questo ser feito no captulo 2.
-
19
esportiva por meio de aes planejadas, inclusivas e ldicas visa incorpor-la ao modo de vida cotidiano (BRASIL, 2014, p. 15)
A escolha das atividades que sero desenvolvidas no PME de suma
importncia, pois, como preconiza o documento Passo a Passo (BRASIL, 2011)3,
estas devem estar pautadas no PPP da escola e ter relao com o que a escola j
realiza, devendo considerar os diferentes saberes [...] sem ficar restrito ao ambiente
de sala de aula e aos contedos que representam os conhecimentos cientficos
(BRASIL, 2011, p. 24). Portanto, essas atividades consideram os diferentes saberes
e podem ser desenvolvidas extra muros escolares, alm de ter relao com a cultura
local e com as experincias j desenvolvidas pela escola, preconizando as
concepes adotadas pelo PPP da mesma.
O interesse em compreender o Macrocampo Esporte e Lazer e sua relao
com a Educao Fsica no processo de implantao e implementao do PME tem
origem na minha trajetria como professora da disciplina na rede estadual pblica,
no ensino fundamental - sries finais e ensino mdio (2000/2006), e na atuao
como coordenadora pedaggica disciplinar da Equipe de Educao Bsica do
Ncleo Regional de Educao (NRE) de Assis Chateaubriand do Estado do Paran
(2006/2014).
Como professora da disciplina de Educao Fsica, percebi que, na maioria
dos estabelecimentos de ensino estaduais pblicos, esta disciplina ocupava uma
posio inferiorizada frente as demais disciplinas escolares, pois, era vista como
uma atividade de lazer, como disciplina coadjuvante, auxiliar das outras disciplinas
escolares, como uma disciplina destituda de objeto de estudo e ensino, e por fim
sem importncia na formao dos alunos, pois seus contedos no so
considerados pelas avaliaes de larga escala e vestibulares. Na coordenao
pedaggica disciplinar, minhas inquietaes como professora se multiplicaram, pois
pude constatar que a Educao Fsica fazia-se presente como uma disciplina
importante na oferta dos projetos de atividades curriculares complementares em
contraturno4, como se fosse a disciplina que d sustentao e que proporciona a
adeso dos alunos a estas atividades. Portanto, o interesse por tal investigao
3 O documento Programa Mais Educao: Passo a Passo foi produzido pelo Ministrio da Educao
sob a organizao de Jaqueline Moll. Este documento orienta e esclarece sobre o funcionamento do PME e sua organizao no contexto escolar. 4 Como os Programas Estaduais Viva a Escola e Programa de Atividade Complementar Curricular em
Contraturno e com o Programa Federal Mais Educao.
-
20
surgiu pela observao da prtica educativa da disciplina de Educao Fsica e das
tentativas de contemplar atividades dessa rea na implantao do PME.
Em vista do exposto, espera-se que este estudo possibilite compreender, na
implantao e implementao do PME, como foram desenvolvidas as atividades do
Macrocampo Esporte e Lazer, buscando-se entender o papel assumido pela
Educao Fsica, para alm da atividade fsica, como algo ou ao coerente com a
proposio da organizao escolar e inteno de formao integral. Nesse desafio,
preciso entender os determinantes polticos e as necessidades reais para a devida
implementao de um projeto educativo brasileiro de que emerja uma perspectiva
capaz de ressignificar os tempos e os espaos escolares, por intermdio de uma
proposta pedaggica que tenha como ponto de partida o desenvolvimento humano,
em sua integralidade, na direo de uma proposta efetiva de educao integral e em
tempo integral.
PROBLEMA
Percebe-se, no discurso do MEC, que a implantao da educao integral e
em tempo integral no Brasil um desafio, dado sua tradio poltica e econmica
de escasso investimento em educao. H que se considerar que o contexto atual
de exigncia de mudanas da condio de um pas pouco desenvolvido para a
posio de em desenvolvimento pressupe investimento em educao. Isso porque
os investimentos realizados tm ocorrido no sentido de ampliar o tempo para
formao com a extenso do que entendido como educao bsica. Por outro
lado, a proposta de educao integral tambm um assunto polmico, se
considerarmos a perspectiva do PME em contraposio perspectiva de busca da
omnilateralidade que procura a superao da educao pensada para distintas
classes sociais, um assunto que pode ser visto em Lombardi (2012) quando aborda
a proposta comunista de educao. possvel verificar, desde a defesa feita em
Jomtien no ano de 1990, que o que era considerado bsico era o ensino
fundamental. Com a LDBEN 9394/96, a educao bsica passa a englobar a
educao infantil, ensino fundamental e ensino mdio, ocorrendo, portanto, uma
ampliao das etapas que compem o que passa a ser considerado bsico. Com a
Emenda Constitucional n. 059/2009, surge a exigncia do oferecimento de educao
escolar para os alunos de 04 a 17 anos, o que refora a obrigatoriedade da
-
21
escolarizao, assim como a necessidade de educao bsica, novamente um
aspecto ressaltado nas Metas 1, 2, 3 e 4 do PNE.
Percebe-se que, para alm desta ampliao do tempo para formao, tem
sido bastante discutida a ampliao do tempo de permanncia na escola, porque se
considera necessrio, nos dias atuais, aliar educao a um papel protetivo,
aumentando o tempo em que crianas e adolescentes permanecem na escola. Este
tem sido tambm o objetivo do PME, desenvolvido pelo MEC e operacionalizado
pela Secretaria de Educao Bsica (SEB), por meio do Programa Dinheiro Direto
na Escola (PDDE) do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educao (FNDE).
Por ser um programa do Governo Federal, o PME vem sendo encaminhado pelos
entes federados de formas variadas, j que a oferta das atividades fica a critrio da
escolha de escolas e mantenedoras conforme suas especificidades.
No Estado do Paran, o PME vem sendo desenvolvido desde [...] 2008, em
17 escolas, nos NRE da rea Metropolitana Norte, rea Metropolitana Sul e
Curitiba. (PERRUDE, 2013, p.174). Ainda conforme a autora, em 2008, primeiro
ano de programa, devido ao seu carcter inicial, apenas trs Ncleos Regionais de
Educao (NRE) do Estado do Paran aderiram inicialmente ao PME. Nos anos
posteriores, a adeso foi se expandindo para os outros NRE do Estado,
contemplando um nmero tambm maior de escolas.
Com base em levantamento de dados junto ao NRE, percebe-se que, no
municpio de Londrina-Pr, desde 2010, quando ocorreram as primeiras tentativas de
implantao de projetos de ampliao da jornada escolar na rede estadual, so
evidentes as fragilidades de susteno de estrutura fsica, material e de concepo
em busca de uma formao integral dos sujeitos que frequentam tais projetos.
Nesse contexto, constata-se que as atividades esportivas e ldicas
prevalecem na oferta dos projetos de educao em tempo integral, que propem a
ampliao da jornada escolar com atividades complementares no contraturno para
alm das quatro horas do turno regular. De modo geral, estas atividades esportivas
e ldicas de cunho socioeducativas proporcionam a adeso dos alunos aos
programas e projetos ofertados no contraturno.
Estes elementos nos levam a questionar: Como ocorreram a implantao e
implementao do PME nas escolas de Londrina-Pr? Como foi desenvolvido o
Macrocampo Esporte e Lazer? Que papel tem assumido? Quais as condies reais
da escola para a implantao e implementao deste macrocampo no PME? Que
-
22
relao este macrocampo estabelece com a Educao Fsica?
Visando a responder aos questionamentos apresentados, traamos, como
objetivo geral deste estudo, analisar de que maneira ocorreram a implantao e a
implementao do PME em duas escolas estaduais da cidade de Londrina-Pr. Como
objetivos especficos, prope-se a:
. Discutir o PME, destacando, a partir da proposta de educao integral em
tempo integral, suas intencionalidades e concepes;
. Analisar o Macrocampo Esporte e Lazer no PME;
. Discutir o Macrocampo Esporte e Lazer e sua relao com a EDF;
. Levantar os limites e possibilidades do PME enquanto proposta de educao
integral em tempo integral.
DESCRIO DA METODOLOGIA DE PESQUISA
Nesta pesquisa, que se vincula ao ncleo de Polticas Educacionais da linha
Pressupostos Filosficos, Histricos e Polticos da Educao, ser analisado o PME
como parte de uma poltica educacional desenvolvida a partir de 2007. Conforme
mencionaram as autoras Shiroma, Moraes e Evangelista, (2011, p.7), a utilizao do
termo poltica tem recebido [...] uma multiplicidade de significados, presentes nas
mltiplas fases histricas do Ocidente. Elas, ainda, concebem a poltica como [...] a
atividade ou conjunto de atividades que, de uma forma ou de outra, so imputadas
ao Estado moderno capitalista ou dele emanam. No entanto, isso no se d sem
serem observadas as contradies presentes na sociedade, j que, conforme as
autoras: As polticas pblicas, particularmente as de carter social, so
mediatizadas pelas lutas, presses e conflitos entre elas (SHIROMA; MORAES;
EVANGELISTA, 2011, p. 9).
Shiroma, Campos e Garcia (2005, p. 431) dizem que: Apesar do acesso
facilitado aos documentos proporcionados pela internet, ainda carecemos de
ferramentas diversificadas de conceitos e teorias para analisar os textos que prope
mudanas nas polticas. Verifica-se que tais polticas so permeadas pelo contexto
referido por Gamboa (2010) e tm como objetivo nortear aes direcionadas ao
homem que vive neste contexto. De acordo com Frigotto (2006, p.77), na
-
23
perspectiva materialista histrica, [...] o mtodo est vinculado a uma concepo de
realidade, de mundo e de vida no seu conjunto.
A anlise do PME, assim como de sua implantao e implementao a partir
do Macrocampo Esporte e Lazer, ser desenvolvida com base em categorias de
anlise que permitem compreender, de forma ampla, as relaes estabelecidas
entre o fenmeno pesquisado e as questes sociais, polticas, econmicas e
educacionais. Cury (1986) desenvolve uma reflexo sobre como analisar o
fenmeno educativo, utilizando a abordagem dialtica e, para que possamos
compreender a especificidade deste fenmeno, pertinente utilizar algumas
categorias de anlise, como: totalidade, contradio, mediao, reproduo e
hegemonia, as quais permitem uma leitura mais compreensiva do real, visto que
entendemos que a educao se desenvolve numa realidade ampla e, como nos diz
Cury, (1986, p. 9) necessrio [...] permitir a compreenso do fenmeno educativo
dentro de uma abrangncia maior.
No caso desta pesquisa, em que se objetiva uma anlise por meio das
categorias, imprescindvel coloc-las numa relao historicizante (CURY, 1986,
p.14). Por isso faz-se necessrio analisar o PME no seu desenvolvimento histrico,
pois, como afirma Cury, (1986, p. 14-15) preciso [...] um referencial terico-
metodolgico que instrumentalize a compreenso dos mecanismos da sociedade e
dos interesses sociais que conduzem a prpria dinmica social.
As categorias, para Cury (1986, p. 21), [...] so conceitos bsicos que
pretendem refletir os aspectos gerais e essenciais do real, suas conexes e
relaes. O autor observa ainda que: As categorias possuem simultaneamente a
funo de intrpretes do real e de indicadoras de uma estratgia poltica (CURY,
1986, p. 21). Este aspecto importante, pois possibilitar compreender o sentido
assumido pelo PME e pelo Macrocampo Esporte e Lazer. Para Cury (1986, p. 14):
As categorias da contradio, totalidade, mediao, reproduo e hegemonia so mutuamente implicadas e de tal forma que a exposio e explicao de uma j e exige a explicao e exposio das outras. Dessa forma, pretendem-se categorias dialetizadas que se mediem mutuamente. A categoria da contradio, para no se tornar cega, s se explicita pelo recurso da totalidade. Essa, por sua vez, para no se tornar vazia, necessita recuperar a da contradio em uma sntese mais abrangente. Consequentemente, exige a superao dos dualismos ou reducionismos. A categoria da totalidade, por sua vez, exige uma cadeia de mediaes que articule o movimento histrico e os homens concretos. Semelhantemente s
-
24
cadeias de mediaes, numa totalidade concreta e contraditria (como a sociedade capitalista), necessitam explicitar o que mediar. Nesse caso necessrio o recurso categoria da reproduo, porque o sistema vigente, ao tentar se reproduzir para se manter, reproduz as contradies dessa totalidade, revelada em seus instrumentos e enlaces mediadores. E por fim a manuteno desse mesmo sistema, especialmente no caso da educao, implica a busca de um consentimento coletivo por parte das classes sociais. Da o recurso noo de hegemonia. Mas essa uma noo dialetizada, e por isso mesmo ela no compreensvel sem a referncia s contradies que a prpria direo hegemnica busca atenuar. (CURY, 1986, p. 13)
possvel perceber, a partir da obra de Cury (1986), que a contradio uma
categoria imprescindvel para a metodologia dialtica, a qual no considera a
realidade como algo esttico. Concordamos com Cury (1986, p.78), pois [...] a
questo central da educao a contradio, e podemos questionar a efetividade
da proposta de educao integral, j que a educao pode nos levar em direo
transformao social, mas tambm, perpetuao de relaes de dominao. O
importante que:
A educao pode tornar-se um saber-instrumento que possibilite o caminho do visvel ao invisvel, do fenmeno ao estrutural e, com isso, superar o carter ambguo dessa contradio. Depende da funo poltica que ela assumir (CURY, 1986, p.81).
A categoria hegemonia nos remete a uma estratgia poltica, a qual busca a
consolidao dos interesses das classes dominantes por meio do consentimento da
classe que dominada. Como assegura Cury (1986, p.58): Assim a educao,
escolar ou no, nutre-se de uma ambivalncia: o veculo possvel de desocultao
da desigualdade real se torna tambm veculo de dominao de classe, sendo que,
para compreender o papel hegemnico da educao, necessrio [...] coloc-la
referida ao processo de produo, s relaes sociais e polticas. Neste sentido,
cumpre destacar a importncia do questionamento ao PME numa proposta de
educao integral, que direcionada s escolas pblicas localizadas em regies de
pobreza e vulnerabilidade social. Tratando-se de uma proposta emanada do MEC,
imprescindvel questionar seus fundamentos para, ento, compreender as intenes
educativas nesta viso amplamente divulgada de educao integral, a partir da
ampliao da jornada escolar.
Desse modo, a categoria reproduo traz contribuies, pois denuncia o
carter de auto conservao da sociedade e, segundo Cury (1986, p.59): No se
-
25
trata apenas de relacionar a educao com a reproduo dos meios de produo,
mas, fundamentalmente, com a reproduo das relaes de produo. O autor
destaca que nas relaes de produo que se [...] forma a fora de trabalho e
pretende disseminar um modo de pensar consentneo com as aspiraes
dominantes. Percebe-se aqui a formao de sociabilidades que norteiam a forma de
ser do homem. Portanto,
A educao, ao se produzir e reproduzir no seio da prxis social, varia em sua funo poltica segundo o tipo de formao social e, dentro dessa, segundo a correlao de foras existentes entre as classes em um momento historicamente considerado (CURY, 1986, p.62).
A categoria mediao permite reconhecer os fios que do sentido a uma
trama histrica e concreta. Possibilita estabelecer os elos presentes nas relaes
sociais, visto que, de acordo com Cury (1986, p.66): A educao como mediao
tanto funciona, embora em graus diferentes, para a aflorao da conscincia, como
para impedi-la, tanto para difundir, como para desarticular. Para a anlise aqui em
curso, faz-se necessrio pensar, com base nas contribuies desta categoria, o
papel assumido pelo Macrocampo Esporte e Lazer no PME, pois, conforme
explicaes de Cury, pela mediao possvel perceber as intenes no
desveladas que visam manter uma realidade social ou um projeto de sociedade.
Considerando-se a sequncia das categorias explicitadas, cumpre entender,
no todo mais amplo ao qual est vinculado o projeto de sociedade e o projeto
educativo, um passo importante para questionar as aes neste todo. No nosso
caso, relacionamos o PME como uma ao num amplo projeto para a educao.
A totalidade uma categoria que proporciona investigar a tenso das
contradies na relao todo-parte e entender o real como histrico. De acordo com
Cury (1986, p.70): [...] uma viso de totalidade a respeito da educao implica a
contnua dialetizao entre as relaes sociais de produo e (re)produo de
(velhas) relaes sociais. O autor tambm acrescenta que: A contradio e sua
relao com a educao torna-se fundamental para a compreenso dessa ltima, a
fim de represent-la de modo dialtico e com uma viso de conjunto. Percebe-se
que as anlises que contemplam a educao requerem ser desenvolvidas na
totalidade, rompendo com a parcialidade que impede, inclusive, a percepo dos
elementos da contradio presentes na sociedade capitalista.
-
26
A totalidade permite ao homem perceber-se enquanto ser no mbito das
relaes sociais. Neste sentido, adquire importncia a categoria prxis, por
intermdio da qual podemos [...] apreender a riqueza do ser social desenvolvido
[...] (NETTO; BRAZ, 2012, p. 56). De acordo com Netto e Braz (2012, p.55): O
desenvolvimento do ser social implica o surgimento de uma racionalidade, de uma
sensibilidade e de uma atividade que, sobre a base necessria do trabalho, criam
objetivaes prprias. Com essas objetivaes os homens produzem e atribuem
significados para suas vidas. No entanto, dependendo das condies histrico-
sociais em que se constituem as atividades humanas, [...] a prxis pode produzir
objetivaes que se apresentam aos homens no como obras suas, como sua
criao, mas ao contrrio, como algo em que eles no se reconhecem, como algo
que lhes estranho e opressivo (NETTO; BRAZ, 2012, p. 56).
INSTRUMENTOS DE PESQUISA
Os instrumentos de pesquisa aqui utilizados visam a alcanar o objetivo geral
da pesquisa, que analisar de que maneira vm ocorrendo a implantao e a
implementao do PME em duas escolas de Londrina-Pr, verificando de forma
especfica a relao entre o Macrocampo Esporte e Lazer e a Educao Fsica.
Para tanto, utilizamos pesquisa bibliogrfica, mapeando os materiais j
elaborados de autores que vm discutindo a questo no cenrio nacional,
constitudos principalmente de livros, artigos de livros e artigos de revistas
cientficas. Tambm utilizamos teses e dissertaes que contriburam para
compreender como o assunto vem sendo tratado. Num primeiro momento,
pesquisamos trabalhos do banco de dados da CAPES, por entender que nesse
acervo encontraramos os trabalhos desenvolvidos sobre o tema de pesquisa e
sobre a questo de interesse especfico: o Macrocampo Esporte e Lazer. Como no
encontramos muitos trabalhos que trouxessem a discusso da temtica, e como a
base de dados em que se encontram as teses e dissertaes da Capes estava em
fase de manuteno, e tambm pelo fato de que a pesquisa abordaria o
Macrocampo Esporte e Lazer no PME de forma especfica seu desenvolvimento no
Paran, passamos a buscar tambm teses e dissertaes nas pginas de ps-
graduao stricto sensu em educao do Paran nas seguintes universidades:
-
27
Universidade Estadual de Londrina (UEL), Universidade Estadual de Maring (UEM),
Universidade Estadual do Oeste do Paran (UNIOESTE).
Recorremos tambm base de dados da ANPED, pois entendemos ser um
acervo de pesquisas que foram comunicadas em forma de trabalhos completos ou
pster, passando por uma anlise rigorosa e ao mesmo tempo se constituindo como
pesquisa recente. Na ANPED, buscamos os dados nos GTs: GT02 Histria da
Educao, GT04 Didtica, GT05 Estado e Poltica Educacional, GT12
Currculo e GT13 Educao Fundamental.
No levantamento de teses e dissertaes, utilizamos os descritores:
Macrocampo Esporte e Lazer, Histria da Educao Fsica, Educao Fsica e
Diretrizes Curriculares, Corpo e Educao Fsica, Polticas Pblicas e Esporte,
Educao Integral, Programa Mais Educao, Educao Integral e Programa Mais
educao, Polticas Pblicas e Programa Mais Educao. Tais descritores foram
selecionados para que pudssemos levantar a maior quantidade possvel de
trabalhos que trouxessem contribuio para a pesquisa. Os descritores utilizados
podem ser divididos em trs grupos: 1. Descritores relacionados histria da
Educao Fsica e seu desenvolvimento no campo escolar; 2. Descritores
relacionados ao conceito de educao integral, sua concepo e desenvolvimento
por meio do PME; 3. Descritores que relacionam o Macrocampo Esporte e Lazer e a
Educao Fsica.
Abaixo, segue quadro referente s dissertaes e teses selecionadas, das
muitas encontradas durante o processo de seleo das obras, aps leitura dos
resumos. No total, foram vinte e cinco obras selecionadas, dezenove dissertaes e
seis teses, porm apresentaremos apenas aquelas que foram utilizadas na
composio do texto desta dissertao devido especificidade do assunto, sendo
elas:
Quadro 1: Dissertaes e Teses utilizadas
Data Autor Ttulo
2008 Leisi Fernanda Moya
O Ensino da Educao Fsica no Ensino Mdio:
Aproximaes sobre a Atuao dos Profissionais da rea em Escolas Estaduais de Londrina
2013 Bruno Adriano Rodrigues da
Silva
Interesses, Dilemas e a Implementao do Programa Mais
Educao no Municpio de Maric (RJ)
-
28
2013 Gabriel Pereira Paes Neto
O Programa Mais Educao em Abaetetuba:
Anlise do Macrocampo Esporte e Lazer na Escola Esmerina Bou Habib (2008/2012)
2013 Marleide Rodrigues da Silva
Perrude
Poltica Educacional e Incluso Social: Um Estudo dos
Programas de Ampliao da Jornada Escolar
2013 Silmara Eliane de Sousa
A Gesto Educacional no Paran 2011-2013
2014 Ana Lucia Ferreira da Silva
Polticas para a ampliao da jornada escolar: estratgia
para a construo da educao integral?
2014 Camila Aparecida Pio
A poltica pblica brasileira de educao integral
implementada pelos governos Lula (2003/2010): O Programa Mais Educao
2015 Tiago Amaral Silva
A Educao Fsica no contexto dos cursos de educao profissional tcnica de nvel mdio integrado do Instituto
Federal de Educao, Cincia e Tecnologia de Mato Grosso do Sul
Fonte: Elaborao da autora com base nas dissertaes e teses selecionadas e utilizadas na composio do texto desta dissertao.
A dissertao de mestrado de Leisi Fernanda Moya, intitulada O ensino da
Educao Fsica no ensino mdio: aproximaes sobre a atuao dos profissionais
da rea em escolas estaduais de Londrina, foi apresentada ao Programa de Ps-
Graduao em Educao da Universidade Estadual de Londrina em 2008. O foco
central da pesquisa foi averiguar se os professores de educao fsica, atuantes no
nvel de Ensino Mdio de escolas pblicas estaduais do Estado do Paran,
conheciam as Diretrizes Curriculares Orientadoras da Educao Bsica para a Rede
Estadual de Ensino do Paran (DCOEB/PR)5 de maneira suficiente e se, na prtica,
os mesmos as utilizavam como meio norteador e facilitador para a ao docente.
Esta dissertao foi importante para nosso estudo, pois nos auxiliou no
entendimento do processo de elaborao das DCOEB/PR. Neste seu trabalho,
foram utilizados os pressupostos da pesquisa qualitativa, com dois instrumentos de
5 Utilizaremos, nesta pesquisa, a nomenclatura Diretrizes Curriculares Orientadoras da Educao
Bsica para a Rede Estadual de Ensino do Paran (DCOEB/PR), de acordo com o PARECER CEE/CEB N. 130/10 sobre o Pedido da SEED de apreciao das Diretrizes Curriculares da Educao Bsica do Paran. Como o CEE entende que as Diretrizes Curriculares Nacionais j foram traadas pelo Conselho Nacional, relata e aprova a substituio da expresso: Diretrizes Curriculares da Educao Bsica por Diretrizes Curriculares Orientadoras da Educao Bsica para a Rede Estadual de Ensino.
-
29
coleta de dados: a entrevista semiestruturada e a observao. A autora tambm
realizou anlises dos documentos oficiais, estadual e federal: Parmetros
Curriculares Nacionais (PCN), as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN), a LDBEN,
Currculo Bsico do Paran e as DCOEB/PR. Concluiu, com sua pesquisa, que os
professores no esto plenamente preparados para ensinar sob a tica dos
pressupostos da DCOEB/PR, posto que a capacitao ofertada deixou a desejar e
no contemplou a totalidade dos professores. Faz, porm, uma anlise positiva
quanto concepo de educao fsica abordada na DCOEB/PR, realizando
apontamentos para que a utilizao das mesmas se efetive nas escolas.
A tese de doutorado de Bruno Adriano Rodrigues da Silva, com ttulo:
Interesses, Dilemas e a Implementao do Programa Mais Educao no Municpio
de Maric (RJ), foi apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Educao da
Universidade Federal do Rio de Janeiro em 2013. Seu foco central foi analisar a
implementao do PME no municpio de Maric no estado do Rio de Janeiro, no ano
de 2011. O problema norteador buscou verificar qual a relao existente entre os
caminhos e dificuldades observados na implementao do PME e a concepo de
educao integral e de escola de horrio integral deste programa, visto que sua
formulao teve forte participao de setores privados, includo os de natureza
empresarial. Seu estudo demonstrou que a proposta do programa vem interferindo
negativamente no processo de universalizao da escola pblica brasileira, pois as
concepes educacionais da esfera privada a respeito da escola pblica
prevaleceram e mostraram sua incompatibilidade com o direito educao das
classes sociais desfavorecidas.
A dissertao O Programa Mais Educao em Abaetetuba: Anlise do
Macrocampo Esporte e Lazer na Escola Esmerina Bou Habib (2008/2012), de
Gabriel Pereira Paes Neto (2013), apresentada Universidade Estadual do Par,
teve relevncia para este estudo, visto que trilhou caminhos semelhantes ao nosso,
pois tambm focalizamos o contexto e as caractersticas do PME e sua relao com
as polticas pblicas no Brasil, alm de discutir sobre a aproximao entre as
atividades do Macrocampo Esporte e Lazer do PME e as aulas de Educao Fsica
do ensino regular.
O foco central da pesquisa desenvolvida por Paes Neto (2013) foi analisar os
limites e as possibilidades na implementao do Esporte e do Lazer no PME na
poltica local, nacional e na referida escola. O autor optou por realizar a pesquisa
-
30
documental e de campo, seguindo a linha terica e metodolgica do materialismo
histrico dialtico.
Em linhas gerais, ele conclui que o PME ainda no atingiu seu objetivo
[...] em avanar na superao da escola de um turno para a construo de uma escola de dois turnos, os investimentos no so suficientes, a lgica da produtividade est presente no programa, inclusive na prioridade dada ao Esporte de rendimento. Percebeu-se que o Macrocampo Esporte e Lazer muito solicitado pelos alunos e que h uma aproximao entre as atividades deste macrocampo e as aulas de educao fsica, sendo que esta aproximao no deve ocasionar a substituio das aulas de educao fsica, caso que foi percebido durante a pesquisa de campo (PAES NETO, 2013, p. 11).
Tambm pontuou que a Educao Integral e em tempo integral ser
importante,
[...] para o processo educativo ser mais qualitativo, crtico e dialtico para a formao da classe trabalhadora. Contudo, entende-se que o Esporte deve ser tratado, a partir do paradigma da cultura corporal, como um elemento cultural humano deve ser socializado na escola no contexto da formao do novo homem e da nova mulher (PAES NETO, 2013, p. 11).
A tese da Marleide Rodrigues da Silva Perrude - Poltica Educacional e
Incluso Social: Um Estudo dos Programas de Ampliao da Jornada (2013),
desenvolvida na Unicamp, foi importante por possibilitar a compreenso da
ampliao da jornada escolar no sentido de fomentar a escola em tempo integral,
por abordar as implicaes do PME na gesto escolar e por esclarecer o modo
como o Programa foi implantado e implementado no Estado do Paran. Perrude
(2013, p. V) faz uma discusso sobre [...] a escola e a ampliao de sua oferta no
contexto das contradies vivenciadas pelo Brasil e papel do Estado na adoo da
poltica nacional desenvolvimentista [...], alm de discorrer sobre as [...] polticas
sociais, em especial a educacional, em estreita vinculao com os programas de
combate pobreza [...], analisa detalhadamente o PEA e PME. Por meio de sua
pesquisa, a autora chegou concluso de que: [...]os diferentes sujeitos, nos seus
espaos estadual, municipal e escolar, atriburam novos significados aos Programas,
em decorrncia de suas avaliaes pessoais ou institucionais (PERRUDE, 2013, p.
V).
Tambm foi analisada a dissertao de Silmara Eliane de Sousa: A Gesto
Educacional no Paran 2011-2013, pesquisa desenvolvida na Unioeste, em
-
31
Cascavel/Pr. A partir da anlise da poltica de gesto educacional, sob a perspectiva
da reforma do Estado brasileiro, a autora nos auxiliou na compreenso da poltica de
gesto Educacional do Governo Beto Richa, esclarecendo os encaminhamentos
polticos neoliberais de tal gestor. O foco central da pesquisa foi analisar:
[...] a poltica de gesto educacional do governo Beto Richa no perodo de 2011 a 2013, inquirindo a confluncia com as orientaes e os direcionamentos do Banco Mundial presentes a partir da dcada de 90 na Reforma do Estado no Brasil (SOUSA, 2013, p. 5).
Aps a realizao da pesquisa, a autora concluiu que,
[...] o governo Beto Richa retomou de forma mais diligente e implicativa a concepo poltica e os encaminhamentos do governo Jaime Lerner que j apresentava os mesmos elementos da Reforma do Estado no Brasil, sobretudo, correlato com os direcionamentos do grupo Banco Mundial (SOUSA, 2013, p. 5).
A tese de doutorado de Ana Lucia Ferreira da Silva, sob o ttulo Polticas para
a ampliao da jornada escolar: estratgia para a construo da educao integral?,
foi apresentada Faculdade de Educao da Universidade de So Paulo no ano de
2014 e teve por objetivo central analisar as polticas pblicas de ampliao da
jornada escolar em curso no Brasil nas esferas federal, estadual do Paran e
municipal de Londrina, no perodo de 2007 a 2013. Relevante para nosso estudo,
esta pesquisa desvelou as concepes de educao, expressas em documentos de
mbitos federal, estadual do Paran e municipal de Londrina, as quais do
sustentao ao desenvolvimento das propostas de ampliao da jornada escolar.
Com seu estudo, foi possvel observar as contradies relativas ao processo de
implementao da poltica de ampliao da jornada escolar e a evidncia da
interface educao-proteo.
Camila Aparecida Pio concluiu no ano de 2014, na Universidade Estadual de
Londrina, a pesquisa A poltica pblica brasileira de educao integral implementada
pelos governos Lula (2003/2010): O Programa Mais Educao. Seu foco central foi a
anlise desta poltica, para a qual realizou discusso bibliogrfica e anlise de
documentos. A autora concluiu que a poltica pblica de educao integral,
assumida pelos governos Lula e expressa por meio do PME, foi desenvolvida em
articulao com as estratgias de reduo da pobreza, encaminhamento que
demarca, alm da preocupao governamental, as exigncias do sistema capitalista
para a regulao social.
-
32
Por analisar o desenvolvimento do neoliberalismo no Brasil e a poltica pblica
de educao integral implementada por meio do PME, sua pesquisa foi relevante
para o nosso estudo.
A dissertao de Tiago Amaral Silva - A Educao Fsica no contexto dos
cursos de educao profissional tcnica de nvel mdio integrado do Instituto
Federal de Educao, Cincia e Tecnologia de Mato Grosso do Sul (IFMS) -,
desenvolvida na Unioeste/Pr em 2015, contribuiu para uma melhor compreenso do
contexto da Educao Fsica como rea do conhecimento e como disciplina
curricular, alm de ter possibilitado uma anlise das teorias pedaggicas para a
rea. Para tanto, Silva (2015) percorre o processo histrico da educao profissional
ofertada dentro da Rede Federal de Educao Profissional, Cientifica e Tecnolgica,
como tambm historiciza os aspectos polticos e pedaggicos da Educao Fsica
no Brasil, alm de fazer uma anlise da disciplina Educao Fsica nos cursos de
educao profissional tcnica de nvel mdio integrado do IFMS. Conclui que os
resultados alcanados com a pesquisa superam as suas expectativas em alguns
aspectos, como, por exemplo:
[...] a possibilidade de a educao fsica ser desenvolvida por meio de projetos de pesquisas e extenso; e indcios do rompimento com as prticas tradicionais que marcaram a educao fsica desde o incio do sculo XIX (SILVA, 2015, p. 6).
Apontou, porm, tambm,
[...] que a rea ainda est aqum de uma efetiva contribuio para caminharmos em direo integrao curricular, pois, tanto no discurso oficial como nas perspectivas dos professores, a fundamentao e a prtica desta modalidade da educao esto distantes da perspectiva sustentada na educao politcnica ou omnilateral (SILVA, 2015, p. 6).
Alm das teses e dissertaes, foram analisados, ainda, os documentos de
implantao e regulamentao do PME e tambm sero avaliados documentos das
duas escolas selecionadas para a pesquisa. Por eles, buscamos a compreenso do
contexto em que est se dando a implantao progressiva do PME, pois, como
defende Olinda Evangelista (2009, p. 06), trabalhar com os documentos [...] supe,
portanto, consider-los resultado de prticas sociais e expresso da conscincia
humana possvel em um dado momento histrico. Analisar fontes primrias muito
importante, pois:
-
33
As fontes primrias trazem as marcas da sua produo original, de seu tempo de produo, de sua histria. necessrio, ento, captar as mltiplas determinaes da fonte e da realidade que a produz; significa dizer captar os projetos litigantes e os interesses que os constituem, que tampouco sero percebidos em todos os seus elementos (EVANGELISTA, 2009, p. 08).
Concordando com a autora, acrescentamos: Documentos oferecem pistas,
sinais, vestgios e compreender os significados histricos dos materiais encontrados
sua tarefa (EVANGELISTA, 2009, p. 06).
Para a pesquisa, analisamos os seguintes documentos do MEC:
1) Plano de Desenvolvimento da Educao: Razes, Princpios e Programas
2007;
2) Portaria Normativa Interministerial n 17, de 24 de Abril de 2007;
3) Decreto Presidencial n 7.083, de 27 de Janeiro de 2010;
4) Educao integral/educao integrada e(m) tempo integral: concepes e
prticas na educao brasileira - Mapeamento das experincias de
jornada escolar ampliada no Brasil - Srie Mais Educao/2010;
5) Manual Operacional da Educao Integral/MEC 2010-2014;
6) Programa Mais Educao Passo a Passo/2011;
7) Resoluo n 34 de 6 de Setembro de 2013;
8) Lei n 13.005, de 25 de Junho de 2014 Plano Nacional de Educao
(2014-2024).
Acredita-se que os documentos contribuam para a anlise do sentido do
PME, assim como nos podero nortear sobre as intencionalidades da ampliao da
jornada escolar e o sentido da chamada educao integral no Programa.
Os documentos citados foram lidos, sistematizados e analisados. Este
procedimento nos permite compreender no s a implantao e implementao do
PME, como tambm os interesses que norteiam o desenvolvimento do Macrocampo
Esporte e Lazer como parte do PME. Assim, os:
[...] documentos so relevantes tanto porque fornecem pistas sobre como as instituies explicam a realidade e buscam legitimar suas atividades, quanto pelos mecanismos utilizados para sua publicizao, uma vez que muitos dos documentos oficiais, nacionais e internacionais so, hoje, facilmente obtidos via internet. (SHIROMA; CAMPOS; GARCIA, 2005, p. 429 grifo das autoras)
-
34
Segundo observao das autoras Shiroma, Campos e Garcia (2005, p. 431),
[...] textos devem ser lidos com e contra outros, ou seja, compreendidos em sua
articulao ou confronto com outros textos. Percebe-se, pelas orientaes para
anlise de documentos das autoras, que tal estratgia um procedimento
importante.
Utilizamos entrevistas, visando a obter uma descrio e avaliao pelo
entrevistado da experincia vivida no PME, no municpio de Londrina-Pr. Fontes
primrias, documentos da Secretaria Estadual de Educao do Paran, do NRE de
Londrina e demais normativas e documentos orientadores do PME na escola
tambm faro parte de nosso estudo e posterior anlise.
Valemo-nos de entrevistas semiestruturadas para alcanar descrio e
avaliao pelo entrevistado da experincia vivida no PME, no municpio de Londrina-
Pr. As entrevistas so consideradas, aqui, uma forma de obteno de dados que
complementam as informaes que no podem ser analisadas apenas pelo estudo
de documentos e pela discusso bibliogrfica. Para Ludke e Andr (1986, p. 9), a
entrevista uma das principais formas de obteno de dados no mbito das cincias
sociais e [...] permite um maior aprofundamento das informaes obtidas. Isso se
d pelo fato de que [...] o entrevistado discorre sobre o tema proposto com base nas
informaes que ele detm e que no fundo so a verdadeira razo da entrevista
(LUDKE, ANDR, 1986, p. 33-34). No caso da pesquisa em questo, interessou-nos
saber aspectos especficos da implantao e implementao do PME. A
compreenso desse processo e o estabelecimento de relao com os documentos e
as discusses tericas j realizadas, permitem reflexes importantes para os
resultados da pesquisa. As entrevistas foram realizadas com membros da equipe
diretiva, da equipe pedaggica e professor do PME no Macrocampo Esporte e
Lazer.
O relatrio de pesquisa est organizado em quatro captulos, conforme
apresentao a seguir:
Na Seo 2 / Captulo 1: Polticas para a educao: o papel do Estado e os
planos de governo, tratamos das polticas para a educao, do papel do Estado e
dos planos de governo federal e estadual do Paran visando a esclarecer seus
pressupostos e intenes no desenvolvimento das polticas educacionais,
considerando o debate sobre o neoliberalismo e a Reforma do Estado Brasileiro.
-
35
Pontuamos na Seo 3 / Captulo 2: Programa Mais Educao, a implantao
e implementao do PME como fomento educao integral em tempo integral. A
partir da anlise dos documentos, abordamos no s seu desenvolvimento histrico,
como tambm seus critrios de adeso, implantao e implementao.
J na Seo 4 / Captulo 3, O Macrocampo Esporte e Lazer e sua relao
com a Educao Fsica, realizamos um levantamento histrico de como a Educao
Fsica foi concebida como disciplina e os papis que desenvolveu neste contexto,
bem como relacionamos a perspectiva adotada para tal disciplina nas Diretrizes
Curriculares Orientadoras da Educao Bsica para a Rede Estadual de Ensino do
Paran (DCOEB/PR) com o desenvolvimento das atividades do Macrocampo
Esporte e Lazer do PME.
Abordamos na Seo 5 / Captulo 4: O Programa Mais Educao em escolas
de LondrinaPr, o PME apresentando a coleta e anlise dos dados referentes s
entrevistas realizadas com o(a) diretor(a), pedagogo(a) e professor(a) em duas
escolas estaduais do municpio de Londrina-Pr.
-
36
2 POLTICAS PARA A EDUCAO: O PAPEL DO ESTADO E OS PLANOS DE
GOVERNO
Este captulo tem como objetivo abordar a forma como a sociedade se
organizou, mais especificamente, a partir dos anos noventa do sculo XX at o
presente momento, para entendermos os modos de produo, os planos de governo
e o papel do Estado no desenvolvimento das polticas educacionais e sociais, na
tentativa de evidenciar as intenes para com a educao.
Busca-se refletir sobre a educao ofertada com a educao que desejamos,
aquela que nos proporciona o desenvolvimento da nossa emancipao humana.
Portanto, alcanar a emancipao humana , sem dvida, uma grande meta para
todos e faz-lo pela educao um grande ideal, o que exige que esta seja de
qualidade e extensiva a todos os segmentos da sociedade. Entendemos, com base
em Duarte, que emancipao humana,
[...] se d em linhas gerais, com o rompimento do homem com todas as formas de alienao e dominao do sistema capitalista, com o encontro do homem com ele mesmo e com o desenvolvimento pleno de todas as suas potencialidades (DUARTE, 2013, p. 97).
Para tanto, a emancipao que almejamos, se dar por meio de uma
educao que busca desenvolver [...] uma identidade de classe dos alunos, sendo
esta indispensvel para a construo de sua conscincia de classe e para o seu
engajamento na luta pela transformao social (DUARTE, 2013, p. 93). A
emancipao da qual falamos uma emancipao para alm da emancipao
poltica, a emancipao da classe trabalhadora, portanto,
O projeto de emancipao da classe trabalhadora no pode se reduzir s reformas no seio do capitalismo. O projeto de emancipao da classe trabalhadora envolve a superao das condies de produo da existncia postas no capitalismo, com a revoluo, com a tomada das foras produtivas (PEIXOTO, 2013, p. 26).
Esses argumentos justificam que, para se verificar de que forma tem sido
implantado e implementado o PME, necessrio empreender-se anlises das
polticas governamentais, imprescindveis nos estudos de polticas educacionais, j
que estas so tecidas pelas proposituras dos programas de governo que, por sua
vez, esto amalgamados s noes de Estado e vinculados, de forma intrnseca, s
-
37
exigncias de perpetuao da sociedade capitalista. Entende-se, neste estudo, que
um plano de governo contm objetivos que devem ser desvelados visando a
esclarecer seus pressupostos e intenes. Para tanto, sero analisados os Planos
de Governo Federais: Programa de Governo Coligao Lula Presidente 2002 e
Plano de Governo Lula Presidente: programa de governo 2007-2010. A anlise dos
planos de governo federal no perodo de 2003-2010 importante pelo surgimento do
PME no governo Lula. J as anlises do governo estadual correspondem ao perodo
de implantao e implementao do PME no Estado do Paran 2008 2014.
Desta forma corresponde aos planos de governo: Plano de Metas 2011-2014 Beto
Richa (Primeiro mandato) e do Plano de Metas 2015-2018 Beto Richa (Segundo
mandato). Tambm comentamos dados do governo Requio que no mbito
paranaense desenvolveu-se paralelo ao governo Lula.
Com tal proposta, discutiremos as polticas educacionais adotadas pelos
governos federal e estadual do Paran, situando neste meio o PME.
2.1 O Estado e a Educao
O sculo XX foi um perodo marcado por grandes e significativas mudanas
polticas, econmicas e sociais, sobretudo no que se refere ao modo como os
indivduos se compreendem e vivem no mundo. De acordo com Netto e Braz (2012,
p. 223 grifo dos autores), [...] o capitalismo contemporneo constitui a terceira
fase do estgio imperialista e [...] inicia-se nos anos setenta do sculo XX,
caracterizando-se pelo desmonte do Estado intervencionista e de bem-estar. Alm
disso, [...] particulariza-se pelo fato de, nele, o capital estar destruindo as
regulamentaes que lhe foram impostas como resultado das lutas do
movimento operrio e das camadas trabalhadoras (NETTO; BRAZ, 2012, p. 237
grifo dos autores). Esta estratgia do capital, segundo os autores, [...] prioriza a
supresso dos direitos sociais arduamente conquistados (apresentados como
privilgios de trabalhadores) e a liquidao das garantias ao trabalho em nome da
flexibilizao (NETTO; BRAZ, 2012, p. 236 grifo dos autores). E ainda:
[...] o grande capital fomentou e patrocinou a divulgao macia do conjunto ideolgico que se difundiu sob a designao de neoliberalismo a disseminao das teses, profundamente conservadoras, originalmente defendidas desde os anos quarenta do
-
38
sculo XX pelo economista austraco F. Hayek [...] (NETTO; BRAZ, 2012, p. 238).
Tal pensador, entre outros que radicalizaram o liberalismo econmico,
primava pela defesa do livre mercado e da propriedade privada. A ento ideologia
neoliberal, disseminada pelos meios de comunicao, o neoliberalismo como
podemos denominar, concebe uma concepo peculiar de homem, de sociedade e a
[...] ideia da natural e necessria desigualdade entre os homens e uma noo
rasteira de liberdade (vista como funo da liberdade de mercado) (NETTO; BRAZ,
2012, p. 238 grifos dos autores). Portanto, para que a ideologia neoliberal se
sustentasse, foram necessrias algumas intervenes, dentre elas a reforma do
Estado,
[...] o Estado foi demonizado pelos neoliberais e apresentado como um trambolho anacrnico que deveria ser reformado e, pela primeira vez na histria do capitalismo, a palavra reforma perdeu o seu sentido tradicional de conjunto de mudanas para ampliar direitos; a partir dos anos oitenta do sculo XX, sob o rtulo de reforma(s) o que vem sendo conduzido pelo grande capital um gigantesco processo de contra-reforma(s), destinado supresso ou reduo de direitos e garantias sociais (NETTO; BRAZ, 2012, p. 238 grifos dos autores).
O historiador Eric Hobsbawm (1995, p. 15) comenta que o Sculo XX, no
perodo [...] que se estendeu de 1914 at depois da Segunda Guerra Mundial,
seguiram-se cerca de 25 ou trinta anos de extraordinrio crescimento econmico e
transformao social [...]. Esse perodo, como analisa o autor, foi caracterizado
como Era de Ouro, seguido logo aps, de uma [...] era de decomposio, incerteza
e crise (HOBSBAWM, 1995, p. 15). Isso fica mais claro quando o autor comenta as
dcadas de 1980 e 1990:
Na dcada de 1980 e incio da de 1990, o mundo capitalista viu-se novamente s voltas com problemas da poca do entre guerras que a Era de Ouro parecia ter eliminado: desemprego em massa, depresses cclicas severas, contraposio cada vez mais espetacular de mendigos sem teto a luxo abundante, em meio a rendas limitadas do Estado e despesas ilimitadas de Estado. Os pases socialistas, agora com suas economias desabando, vulnerveis, foram impelidos a realizar rupturas igualmente ou at mais radicais com seu passado e, como sabemos, rumaram para o colapso (HOBSBAWM, 1995, p. 19).
Embora esta pesquisa no tenha como objetivo desenvolver uma anlise
histrica aprofundada, mas trazer os elementos necessrios para a discusso da
-
39
poltica educacional, tomamos a reflexo realizada por Hobsbawm (1995), que trata
de alguns momentos imprescindveis para a anlise que aqui vamos desenvolver, e,
entre eles, destacamos a fase urea do capitalismo e sua relao com um modelo
de Estado provedor, bem como os tempos de crise como a fase de desenvolvimento
de polticas contencionistas de investimentos pblicos e, consequentemente, de
benefcios sociais.
A promulgao da Constituio Federal de 1988 e a ocorrncia de outros
fatos relevantes que contriburam para a formao da atual sociedade brasileira
marcaram o sculo XX no Brasil. Mas, para alm do cenrio nacional, o Brasil,
considerado um pas em desenvolvimento, sofreu e sofre as interferncias dos
pases desenvolvidos, considerados detentores do poder, permitindo-se ser apenas
mais uma pea no quebra-cabeas deste jogo, desta nova ordem mundial,
direcionada expanso do capitalismo e de seus mecanismos de mercado. Como
nos confirma Paes Neto:
Nessa nova ordem, tem-se um bloco de poder ligado por uma rede global, liderada pelos Estados Unidos da Amrica, que defendem a liberdade poltica e econmica, mas que contraditoriamente exploram demasiadamente o trabalhador (PAES NETO, 2013, p. 30).
Assim, de acordo com Martins (2009), com o intuito de atender aos interesses
da classe empresarial, um padro de sociabilidade construdo na segunda metade
do sculo XX,
[...] no mbito do Estado de bem-estar social foi definido um padro de sociabilidade que se tornou capaz de ordenar a subjetividade coletiva dos trabalhadores durante o perodo, adaptando suas lutas ao horizonte histrico oferecido pelo capitalismo do ps-guerra (MARTINS, 2009, p.10).
O modelo econmico, conhecido por capitalismo contemporneo, [...] inicia-
se nos anos setenta do sculo XX e caracteriza-se pelo desmonte do Estado
intervencionista e de bem-estar [...] particulariza-se pelo fato de, nele, o capital
estar destruindo as regulamentaes que lhe foram impostas como resultado
das lutas do movimento operrio e das camadas trabalhadoras (NETTO;
BRAZ, 2012, p. 237 grifo dos autores), na dcada de 1980, com maior evidncia,
na dcada de 1990,
[...] o pas comeou a passar pela incidncia do neoliberalismo, que primava pela liberalizao dos servios, desregulamentao do
-
40
aparato legal que protegia os trabalhadores, enxugamento do Estado, criao de polticas sociais para amenizar a situao de caos social, etc. (PAES NETO, 2013, p. 38).
O neoliberalismo traz em sua essncia a ideologia liberal, sendo Friedrich
Hayek considerado o guru do neoliberalismo, como esclarece Martins (2009, p. 33):
Entre as vrias ideias e proposies, existem aquelas que mais contriburam para a
definio do projeto neoliberal, particularmente para a reviso da sociabilidade
capitalista. Uma de suas ideias diz respeito concepo de Estado, e afirma, de
acordo com Martins (2009, p. 43) [...] que o mercado definidor do Estado por ser
superior a ele. Suas ideias tomaram corpo e foram absorvidas de forma global pelos
governos neoliberais, sendo evidente em alguns governos, como os de Margareth
Thatcher, Ronald Reagan, Khol e Schluter. Segundo afirma Anderson (2005):
Na Inglaterra, foi eleito o governo Thatcher, o primeiro regime de um pas de capitalismo avanado publicamente empenhado em pr em prtica o programa neoliberal. Um ano depois, em 1980, Reagan chegou presidncia dos Estados Unidos. Em 1982, Khol derrotou o regime social liberal de Helmut Schimidt, na Alemanha. Em 1983, a Dinamarca, Estado modelo do bem-estar escandinavo, caiu sob o controle de uma coalizo clara de direita, o governo de Schluter (ANDERSON, 2005, p. 11).
Apesar de o neoliberalismo se apresentar de forma visvel a partir de 1990, j
em meados de 1940 ele surge com os ideais de Friedrich Hayek, os quais se
apresentavam contrrios ao Estado de bem-estar.
O neoliberalismo nasceu logo depois da II Guerra Mundial, na regio da Europa e da Amrica do Norte onde imperava o capitalismo. Foi uma reao terica e poltica veemente contra o Estado intervencionista e de bem-estar. Seu texto de origem O Caminho da Servido, de Friedrich Hayek, escrito j em 1944. Trata-se de um ataque apaixonado contra qualquer limitao dos mecanismos de mercado por parte do Estado, denunciadas como uma ameaa letal liberdade, no somente econmica, mas tambm poltica (ANDERSON, 2005, p. 9).
Porm, a hegemonia neoliberal ficou patente na dcada de 1980, nos pases
capitalistas centrais, mas [...] no foi capaz de resolver a crise do capitalismo nem
alterou os ndices de recesso e baixo crescimento econmico, conforme defendia
(BEHRING; BOSCHETTI, 2008, p. 127).
Entretanto, com esta onda neoliberal teve incio um processo de
reestruturao do Estado, e, conforme comentaram Neves e SantAnna (2005, p.
-
41
33): O Estado de bem-estar social perdeu espao para o Estado neoliberal. Isso
pode ser observado tambm nos campos econmico e poltico brasileiro, haja vista a
Reforma do Estado nos anos de 1990, no governo do presidente Fernando Henrique
Cardoso (FHC), a qual atribuiu ao Estado um novo papel, como expe Martins
(2009, p. 49): [...] fiscalizar e conceder contratos de explorao, sem maiores
restries, aos interesses privados ao invs de atuar diretamente na produo e
controle de mercadorias, de servios e de transaes financeiras. Portanto:
Os anos 1990 correspondem ao perodo de introduo, aprofundamento e consolidao do padro de desenvolvimento neoliberal no Brasil. Essa dcada foi palco da reorganizao poltica da burguesia e da redefinio das relaes de poder no pas. Entre os anos 1990 e 1994, foram mantidas as tenses polticas vividas pela burguesia na fase final do desenvolvimentismo. Superada essa fase, a burguesia brasileira conseguiu transformar a tenso em unidade poltica em torno de um nico projeto de sociabilidade, alcanando no sculo XXI a condio de se manter como classe dominante e dirigente (MARTINS, 2005, p. 138-139).
Por meio de alguns documentos brasileiros, podemos perceber a influncia
das ideologias neoliberais. bastante evidente a presena neoliberal marcante no
s na poltica educacional, mas tambm nas polticas pblicas como pode ser
comprovado no Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado, elaborado pelo
Ministrio da Administrao Federal e Reforma do Estado (MARE)6.
O documento supracitado foi aprovado pela Cmara da Reforma do Estado e
pelo ento presidente da Repblica Fernando Henrique Cardoso, no ano de 1995.
De acordo com o prprio documento (BRASIL, 1995, p.6): O grande desafio
histrico que o Pas se dispe a enfrentar o de articular um novo modelo de
desenvolvimento que possa trazer para o conjunto da sociedade brasileira a
perspectiva de um futuro melhor. E, segue afirmando que, para isso, foi necessria
a elaborao deste Plano Diretor o qual, [...] define objetivos e estabelece diretrizes
para a reforma da administrao pblica brasileira. O documento ainda acrescenta
a necessidade de [...] criar condies para a reconstruo da administrao pblica
em bases modernas e racionais. O Plano Diretor da Reforma do Aparelho do
Estado sugere a substituio de uma Administrao Pblica Burocrtica por uma
Administrao Pblica Gerencial. De acordo com o referido Plano, o problema da
Administrao Pblica Burocrtica [...] a ineficincia, a auto-referncia, a
6 Neste perodo do governo de Fernando Henrique Cardoso, o Ministro Bresser Pereira quem
comandava o MARE.
-
42
incapacidade de voltar-se para o servio aos cidados vistos como clientes
(BRASIL, 1995, p. 15), ao passo que a Administrao Pblica Gerencial,
[...] atravs da definio clara de objetivos para cada unidade da administrao, da descentralizao, da mudana de estruturas organizacionais e da adoo de valores e de comportamentos modernos no interior do Estado, se revelou mais capaz de promover o aumento da qualidade e da eficincia dos servios sociais oferecidos pelo setor pblico (BRASIL, 1995, p. 18).
Outro documento considerado importante A Reforma do Estado dos Anos
90: Lgica e Mecanismos de Controle, produzido pelo Ministrio da Administrao
Federal e Reforma do Estado (MARE), concebido sob influncia neoliberal, que
apontava para a descentralizao dos programas sociais em parceria com o terceiro
setor. Este documento oficial, segundo Pereira (1997, p.8), aborda [...] o processo
de reforma do Estado em curso e a sua fundamentao prtica e terica. De acordo
com Silva:
O Governo identificou quatro grandes problemas que o Estado brasileiro devia enfrentar para cumprir a meta da reconstruo do Estado: o tamanho do Estado; a necessidade de redefinio do papel regulador do Estado; a recuperao da governana e da governabilidade. Com o objetivo de sanar estes problemas e de quebrar com o clientelismo e o burocratismo, a interveno do governo nos programas de infra-estrutura foram realizados em parceria com a iniciativa privada; os programas sociais foram descentralizados administrativamente para as esferas subnacionais e em parceria com o terceiro setor; e o controle das polticas sociais tem ocorrido atravs das agncias reguladoras. Assim, o projeto de reforma do Estado brasileiro est ancorado sob trs eixos bsicos: a privatizao, a publicizao e a terceirizao. (SILVA, s/d, p.5 grifos da autora).
As polticas de carter neoliberal, por intermdio destes documentos,
difundiam uma ideologia que visava ao consenso coletivo e aos interesses
dominantes dos capitalistas, o qual importante, pois, por meio dele, se assegura e
se tenta validar a dominao.
Diante da crise econmica dos anos 1980, para perpetuar as formas de
explorao e dominao, algumas estratgias de enfrentamento foram
encaminhadas, como por exemplo, [...] a desregulamentao, a privatizao, a
flexibilizao, o estado mnimo [...] (SHIROMA; MORAES; EVANGELISTA, 2011, p.
45). Portanto:
-
43
Entre os anos de 1990 a 1994, as resistncias s reformas neoliberalizantes exigiram da classe empresarial mais empenho poltico tanto no nvel organizacional quanto no refinamento ideolgico (Martins, 2009, p. 119 grifo nosso).
Nesse sentido, ainda de acordo com Martins (2009, p. 94): As metas, os
princpios e as estratgias da Terceira Via vo se constituindo base da nova
pedagogia da hegemonia burguesa. Para o autor
[...] visa assegurar a dinmica do capital e promover a educao poltica das massas no sentido de criar uma nova sociabilidade que d sustentao a um amplo consenso poltico e uma slida coeso social dirigida pela classe empresarial (Martins, 2009, p. 94).
Para que isso se efetive, o discurso da classe dominante/hegemnica oculta a
diviso de classes, nega a explorao, reproduz as relaes de produo e tenta
uma representao homognea da sociedade e da educao, como nos afirma
Cury, (1986, p. 13) [...] a classe dominante, para se manter como tal, necessita
permanentemente reproduzir as condies que possibilitam as suas formas de
dominao, sem o que as contradies do prprio sistema viriam luz do dia.
Entende-se, pelos elementos da anlise em questo, que a educao tem sido
utilizada para a formao de sociabilidades que buscam atender s necessidades de
um determinado momento histrico e, portanto, de um projeto de sociedade.
No caso do PME, que foco desta pesquisa, percebe-se haver um projeto de
sociedade que visa incluso social, o qual, porm, influenciado pelas polticas
neoliberais, que imputam para a escola algumas responsabilidades, entre elas a de
trabalhar em tempo integral com alunos de escolas situadas em regies pobres,
numa tentativa de suprir as ausncias e/ou deficincias deixadas pelo Estado
neoliberal. Tais ausncias e/ou deficincias podem ser exemplificadas com a falta de
polticas pblicas que envolvem as reas de esporte e lazer, cultura, sade,
assistncia social que deveriam ser garantidas pelo Estado, como mencionado no
Estatuto da Criana e do Adolescente como direitos fundamentais. A escola, por sua
vez, incumbe-se deste papel, o de ser responsvel pelo desenvolvimento de aes
diferenciadas, no tempo ampliado, e a funo que fica escamoteada por trs disso: a
de gerenciar a pobreza. Ento:
Essa reconfigurao do pa