análise da (auto) sustentabilidade do perímetro irrigado baixo acaraú. um estudo de...

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7/23/2019 Análise Da (Auto) Sustentabilidade Do Perímetro Irrigado Baixo Acaraú. Um Estudo de Caso_OLIVEIRA_2008. http://slidepdf.com/reader/full/analise-da-auto-sustentabilidade-do-perimetro-irrigado-baixo-acarau-um 1/127  UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS DEPARTAMENTO DE ECONOMIA AGRÍCOLA CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECONOMIA RURAL JOSIANE APARECIDA DE LIMA OLIVEIRA ANÁLISE DA (AUTO) SUSTENTABILIDADE DO PERÍMETRO IRRIGADO BAIXO ACARAÚ: UM ESTUDO DE CASO FORTALEZA – CE 2008

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    UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEAR

    CENTRO DE CINCIAS AGRRIAS

    DEPARTAMENTO DE ECONOMIA AGRCOLACURSO DE PS-GRADUAO EM ECONOMIA RURAL

    JOSIANE APARECIDA DE LIMA OLIVEIRA

    ANLISE DA (AUTO) SUSTENTABILIDADE DO PERMETRO IRRIGADO BAIXOACARA: UM ESTUDO DE CASO

    FORTALEZA CE2008

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    JOSIANE APARECIDA DE LIMA OLIVEIRA

    ANLISE DA (AUTO) SUSTENTABILIDADE DO PERMETRO IRRIGADO BAIXOACARA: UM ESTUDO DE CASO

    Dissertao submetida Coordenao do Curso de Ps-Graduao em Economia Rural (mestrado), daUniversidade Federal do Cear, como requisito parcialpara a obteno do ttulo de Mestre.

    Orientador: Prof. Ph.D Maria Irles Oliveira Mayorga

    FORTALEZA - CE2008

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    Margareth de Figueiredo Nogueira Mesquita Bibliotecria/UFC- CRB-543

    O48a Oliveira, Josiane Aparecida de Lima

    Anlise da (auto) sustentabilidade do Permetro Irrigado BaixoAcara: Um estudo de caso. Fortaleza, 2008.

    127fl. il. 21 cm.

    Orientador Prof. Ph.D Maria Irles de Oliveira Mayorga.

    Mestrado (Dissertao) em Economia Rural.

    1.Sustentabilidade. 2.ndices. 3.Desenvolvimento local e regional.4. Permetro Irrigado Baixo Acara. I.Ttulo.

    CDD- 363.7

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    JOSIANE APARECIDA DE LIMA OLIVEIRA

    ANLISE DA (AUTO) SUSTENTABILIDADE DO PERMETRO IRRIGADO BAIXOACARA: UM ESTUDO DE CASO

    Dissertao submetida Coordenao do Curso de Ps-Graduao em Economia Rural

    (mestrado), da Universidade Federal do Cear, como requisito parcial para a obteno dottulo de Mestre.

    Aprovada em 30/05/2008

    BANCA EXAMINADORA

    ____________________________________________Prof. Ph.D Maria Irles Oliveira Mayorga (Orientadora)

    Universidade Federal do Cear UFC

    _________________________________________

    Prof. Dra. Patrcia Vernica Pinheiro Sales LimaUniversidade Federal do Cear UFC

    __________________________________Prof. Dr. Jos Sydrio de Alencar Junior

    Superintendente do ETENEBNB Banco do Nordeste do Brasil

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    DEDICO

    A Deus, que me conduziu frente aos obstculos

    encontrados ao longo do caminho;aos meus pais, pessoas fundamentais na minha formao;ao meu marido, companheiro e incentivador;aos meus familiares, que me apoiaram em todos osmomentos;aos meus amigos do curso de mestrado e professores, quecontriburam para esta conquista.

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    AGRADECIMENTOS

    A Deus, que guia meus passos, pela sade e fora em todos os momentos da minha vida.

    Aos meus pais, Nivaldo e Maria Aparecida, aos meus irmos, Srgio e Silvnia, e a toda a

    minha famlia, por acreditarem na minha capacidade e por me incentivarem a concluir este

    trabalho.

    Ao meu marido Fabrcio, pelo companheirismo, amor, pacincia e compartilhamento em

    todos os momentos no decorrer do curso.

    minha orientadora, Professora Dr. Maria Irles Oliveira Mayorga, pelo apoio na minha

    deciso de ingressar no mestrado em Economia Rural e pela confiana e ensinamentosimportantes.

    Professora Dr. Patrcia Vernica Pinheiro Sales Lima, co-orientadora, e ao

    Superintendente do Banco do Nordeste do Brasil e membro da banca, Dr. Jos Sydrio de

    Alencar Junior, pelas contribuies na elaborao deste trabalho.

    Aos Professores do Departamento de Economia Agrcola da Universidade Federal do Cear,

    pelas oportunidades, conselhos e ensinamentos transmitidos.

    Aos Funcionrios do Departamento de Economia Agrcola da Universidade Federal do Cear,pelo auxlio e ateno no decorrer do curso.

    A todos os colegas da ps-graduao, especialmente Izabel e Rachel, pelos bons momentos de

    estudo e auxlios.

    Ao Diretor do Centro de Cincias Agrrias, Prof. Sebastio Medeiros Filho, e sua esposa,

    Rosa, pelo apoio em todos os momentos.

    Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico (CNPq), pela concesso

    da bolsa de estudos e por acreditar e investir nas possibilidades de crescimento intelectual doser humano e do pas.

    Ao Banco do Nordeste do Brasil, pelo apoio financeiro oferecido para realizao deste

    trabalho.

    Aos gerentes, tcnicos e funcionrios do DIBAU (Distrito Irrigado Baixo Acara), pelo

    atendimento s solicitaes a respeito das informaes sobre o Permetro.

    Universidade Federal do Cear e ao Departamento de Economia Agrcola, pela

    oportunidade de concretizao desta etapa da minha vida.

    A todos que, de alguma forma, colaboraram para a realizao e finalizao deste trabalho.

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    RESUMO

    Em vrias partes do territrio nacional pode-se perceber a preocupao com a questo

    da insuficincia de recursos hdricos, que se tornam mais escassos medida que a populao,a indstria e a agricultura se ampliam. No semi-rido brasileiro, a questo ainda maisdelicada, pois h a importante interferncia de fatores climticos, como ocorrncia de secas eirregular distribuio de chuvas, que comprometem a disponibilidade de gua. A utilizao dairrigao torna-se essencial para que os indivduos possam exercer atividades agrcolas emregies como esta, embora seja a atividade que mais desperdice gua. necessrio que seutilizem mtodos de irrigao que permitam o maior aproveitamento desse precioso lquido.Com o objetivo de possibilitar ao agricultor meios para produzir, de promover a melhoria devida do produtor rural e de gerar desenvolvimento local e regional, surgem os programas deirrigao implantados pelo Governo atravs do Departamento Nacional de Obras Contra asSecas (DNOCS), como o projeto do Permetro Irrigado Baixo Acara. No entanto, o

    desempenho destes projetos precisa ser avaliado, j que se constituem num custo deoportunidade muito grande para a sociedade. Desta forma, conduziu-se este trabalho, com oobjetivo de analisar a (auto) sustentabilidade do Permetro Irrigado Baixo Acara, avaliandoquestes econmico-financeiras, as dimenses social, ambiental, econmica e institucional,por meio de um conjunto de ndices de sustentabilidade capazes de possibilitar oentendimento da realidade da regio, alm de observar as caractersticas dos irrigantes destepermetro e sua integrao rumo ao desenvolvimento sustentvel. O procedimentometodolgico adotado iniciou-se com a coleta dos dados primrios, que foram tratados eorganizados. A seguir, foram construdos o ndice de sustentabilidade e os ndices individuaisde sustentabilidade para as dimenses social, ambiental, econmica e institucional. Os ndicesresultantes deste estudo so apresentados e os resultados indicam que a sustentabilidade noPermetro Irrigado Baixo Acara pode ser questionada, uma vez que o ndice desustentabilidade apresenta grau mdio e os ndices individuais para as dimenses apresentamndices de sustentabilidade de grau mdio ou ruim, o que sinaliza que esta atividade ainda nose traduziu em melhores condies vida e desenvolvimento para a populao local.

    Palavras-Chaves: Sustentabilidade, ndices, Desenvolvimento local e regional, PermetroIrrigado Baixo Acara.

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    ABSTRACT

    All across the national territory a preoccupation with the insufficiency of the hydric

    resources can be noticed, such resources become scarcer as the population, industry andagriculture grows. This issue is even more complicated in the Brazilian semi arid, becausethere is the interference of the climate factors, such as droughts and irregular rain distributionthat compromise the water availability. The use of irrigation becomes essential for theindividuals to perform agricultural activities in such regions, although those activities are theones that waste water the most. Irrigation methods that allow the greatest use of this preciousliquid should be adopted. With the objective of giving the cropper ways to produce and a lifeimprovement and to generate both local and regional development, arise irrigation programsimplanted by the Government through the National Department of Works Against theDrought (DNOCS), such as the Baixo Acara Irrigation Perimeter project. However, theexecution of those projects need to be evaluated they are a large opportunity cost for society.

    This current research will analyze the (auto) sustainability of the Baixo Acara IrrigationPerimeter, evaluating economical and financial matters, social, environmental, economicaland institutional dimensions through a group of sustainability indexes capable of providing anunderstanding of the reality of the region, in addition to observing the characteristics of thisperimeters irrigators and their integration towards sustainable development. Themethodological procedure adopted started with the gathering of the primary data, which weretreated and organized. Hereinafter, were built the levels of sustainability and the individualsustainability indexes for the social, environmental, economical and institutional dimensions.The resulting indexes from this studies are presented and the results indicate that thesustainability in the Baixo Acara Irrigation Perimeter can be questioned, once thesustainability index shows a medium or poor degree, which indicates that this activities hasnot translated itself into better life conditions and development to the local population yet.

    Key-words: Sustainability, Indexes, Local and Regional Development, Baixo AcaraIrrigation Perimeter

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    LISTA DE FIGURAS

    Figura 01- Pirmide de Informaes....................................................................... 38Figura 02- Mapa de localizao do Permetro Irrigado Baixo Acara no

    Estado do Cear...................................................................................... 54Figura 03- Escopos e seus indicadores contextualizados para o Permetro

    Irrigado Baixo Acara........................................................................... 65Figura 04- Ocupao da terra de propriedade dos produtores do Permetro

    Irrigado Baixo Acara........................................................................... 90

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    LISTA DE TABELAS

    Tabela 01- Valores dos ndices de sustentabilidade obtidos por Rabelo (2007)......... 51Tabela 02- Distribuio de freqncia dos produtores do Permetro Irrigado BaixoAcara segundo o nmero de moradores no domiclio.............................. 86

    Tabela 03- Distribuio de freqncia dos moradores do Permetro Irrigado BaixoAcara segundo a relao de parentesco com o produtorentrevistado.................................................................................................... 87

    Tabela 04- Distribuio de freqncia dos produtores do Permetro Irrigado BaixoAcara segundo o gnero.............................................................................. 87

    Tabela 05- Distribuio de freqncia dos produtores do Permetro Irrigado BaixoAcara segundo a idade................................................................................ 88

    Tabela 06- Distribuio de freqncia dos produtores do Permetro Irrigado Baixo

    Acara segundo a escolaridade.................................................................... 88Tabela 07- Distribuio de freqncia dos produtores do Permetro Irrigado Baixo

    Acara segundo a alfabetizao................................................................... 89Tabela 08- Distribuio de freqncia dos produtores do Permetro Irrigado Baixo

    Acara segundo o exerccio de outra ocupao no perodocompreendido entre 01/01/2007 e 31/12/2007.............................................. 89

    Tabela 09- Distribuio de freqncia dos produtores do Permetro Irrigado BaixoAcara segundo os tipos de lotes.................................................................. 90

    Tabela 10- Distribuio de freqncia dos produtores do Permetro Irrigado BaixoAcara segundo a principal moradia........................................................... 91

    Tabela 11- Distribuio de freqncia dos produtores do Permetro Irrigado BaixoAcara segundo a fonte de gua utilizada para beber............................... 93

    Tabela 12- Distribuio de freqncia dos produtores do Permetro Irrigado BaixoAcara segundo os mtodos de controle de pragas utilizados naunidade produtiva.......................................................................................... 94

    Tabela 13- Distribuio de freqncia dos produtores do Permetro Irrigado BaixoAcara segundo a utilizao de fogo na unidade produtiva...................... 94

    Tabela 14- Distribuio de freqncia dos produtores do Permetro Irrigado BaixoAcara segundo a realizao de plantio de rvores para fins deconservao do solo........................................................................................ 94

    Tabela 15- Distribuio de freqncia dos produtores do Permetro Irrigado Baixo

    Acara segundo a adoo de prticas de plantio para evitardegradao do solo.................................................................................. 95Tabela 16- Distribuio de freqncia dos produtores do Permetro Irrigado Baixo

    Acara segundo a rea total irrigada na propriedade............................... 96Tabela 17- Distribuio de freqncia dos produtores do Permetro Irrigado Baixo

    Acara segundo a solicitao de crdito ou outros financiamentos paraas atividades desenvolvidas........................................................................... 97

    Tabela 18- Distribuio de freqncia dos produtores do Permetro Irrigado BaixoAcara segundo o tipo de assistncia tcnica recebido.............................. 98

    Tabela 19- Escolaridade dos produtores do Permetro Irrigado Baixo Acara commais de 25 anos............................................................................................... 101

    Tabela 20- Acesso educao pelos produtores do Permetro Irrigado BaixoAcara............................................................................................................. 101

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    Tabela 21- Taxa de escolarizao de pessoas entre 7 e 14 anos residentes nodomiclio dos produtores do Permetro Irrigado Baixo Acara................ 102

    Tabela 22- Taxa de alfabetizao de pessoas maiores de 15 anos no domiclio dosprodutores do Permetro Irrigado Baixo Acara....................................... 103

    Tabela 23- Tipologia da moradia referente estrutura e piso existentes nodomiclio dos produtores do Permetro Irrigado Baixo Acara................ 103Tabela 24- Tipologia da moradia referente cobertura e nmero de cmodos

    existentes no domiclio dos produtores do Permetro Irrigado BaixoAcara............................................................................................................. 104

    Tabela 25- Abastecimento de energia utilizado no domiclio dos produtores doPermetro Irrigado Baixo Acara................................................................ 104

    Tabela 26- Servios de sade disponveis aos produtores do Permetro IrrigadoBaixo Acara.................................................................................................. 105

    Tabela 27- Freqncia das visitas de agentes de sade aos produtores doPermetro Irrigado Baixo Acara................................................................ 105

    Tabela 28- Opes de lazer disponveis aos produtores do Permetro IrrigadoBaixo Acara.................................................................................................. 105

    Tabela 29- Principal forma de abastecimento de gua utilizada na propriedadepelos produtores do Permetro Irrigado Baixo Acara............................. 106

    Tabela 30- Acesso a esgotamento sanitrio pelos produtores do Permetro IrrigadoBaixo Acara.................................................................................................. 107

    Tabela 31- Principal destinao dada aos dejetos pelos produtores do PermetroIrrigado Baixo Acara................................................................................... 107

    Tabela 32- Disponibilidade de coleta de lixo no domiclio dos produtores doPermetro Irrigado Baixo Acara................................................................ 107

    Tabela 33- Principal destinao dada ao lixo do domiclio dos produtores doPermetro Irrigado Baixo Acara................................................................ 108

    Tabela 34- Classificao da qualidade da gua destinada ao consumo humanopelos dos produtores do Permetro Irrigado Baixo Acara....................... 108

    Tabela 35- Tratamento dado gua utilizada para consumo humano pelosprodutores do Permetro Irrigado Baixo Acara....................................... 108

    Tabela 36- Utilizao de agrotxicos/fertilizantes qumicos nas atividades agrcolaspelos produtores do Permetro Irrigado Baixo Acara............................. 109

    Tabela 37- Conhecimento dos produtores do Permetro Irrigado Baixo Acarasobre a legislao a respeito do uso de agrotxico/fertilizantes nasatividades agrcolas........................................................................................ 109

    Tabela 38- Renda mdia anual dos produtores do Permetro Irrigado BaixoAcara proveniente de atividades no Permetro......................................... 110Tabela 39- Consumo de bens durveis pelos produtores do Permetro Irrigado

    Baixo Acara.................................................................................................. 112Tabela 40- Participao de organizao social, poltica ou outra pelos produtores

    do Permetro Irrigado Baixo Acara........................................................... 112Tabela 41- Recebimento de assistncia tcnica para orientar os produtores do

    Permetro Irrigado Baixo Acara sobre tcnicas de cultivo, preos eproblemas de ciclo de oferta......................................................................... 113

    Tabela 42- Freqncia da prestao de servio de assistncia tcnica aosprodutores do Permetro Irrigado Baixo Acara....................................... 113

    Tabela 43- Acesso dos produtores do Permetro Irrigado Baixo Acara informaes capazes de auxiliar em processos de tomada de decisoa respeito de assunto de interesse da comunidade...................................... 114

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    Tabela 44- Recebimento de apoio/informaes a respeito de comercializao pelosprodutores do Permetro Irrigado Baixo Acara....................................... 114

    Tabela 45- Valores do ndice de sustentabilidade do Permetro Irrigado BaixoAcara............................................................................................................. 115

    Tabela 46- Valores do ndice de sustentabilidade do Permetro Irrigado BaixoAcara considerando somente a varivel rendimento como indicadoreconmico....................................................................................................... 115

    Tabela 47- Graus de sustentabilidade do Permetro Irrigado Baixo Acara.............. 116Tabela 48- Graus de sustentabilidade do Permetro Irrigado Baixo Acara -

    considerando somente a varivel rendimento como indicadoreconmico....................................................................................................... 116

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    LISTA DE QUADROS

    Quadro 01- Caractersticas necessrias para a construo de sistemas de

    indicadores adequados................................................................................ 43Quadro 02- Princpios de Bellagio.................................................................................. 47Quadro 03- Indicadores de desenvolvimento sustentvel utilizados por Melo e

    Lustosa (2005).............................................................................................. 50Quadro 04- Indicadores de desenvolvimento sustentvel selecionados por Rabelo

    (2007)............................................................................................................ 51Quadro 05- Importncia e pesos relativos dos indicadores de sustentabilidade....... 61Quadro 06- Graus de sustentabilidade........................................................................... 64Quadro 07- Quadro do ndice Social, indicadores utilizados e variveis e

    escores........................................................................................................... 66Quadro 08- Quadro do ndice Ambiental, indicadores utilizados e variveis e

    escores........................................................................................................... 71Quadro 09- Quadro do ndice Econmico, indicadores utilizados e variveis e

    escores........................................................................................................... 75Quadro 10- Quadro do ndice Institucional, indicadores utilizados e variveis

    e escores........................................................................................................ 77

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    LISTA DE SIGLAS

    APAFG- Associao de Produtores de Algas das Comunidades de Flecheiras e Guajir

    BIRD- Banco Internacional para Reconstruo e Desenvolvimento

    BNB- Banco do Nordeste do Brasil

    CAGECE- Companhia de gua e Esgoto do Cear

    CDS- Comisso de Desenvolvimento Sustentvel

    CEPAL- Comisso Econmica para a Amrica Latina e o Caribe (CEPAL)

    CLT- Consolidao das Leis Trabalhistas

    CNUCED- Conferncia das Naes Unidas sobre Meio Ambiente e DesenvolvimentoCOELCE- Companhia Energtica do Cear

    DIBAU- Distrito de Irrigao do Baixo Acara

    DNOCS- Departamento Nacional de Obras Contra as Secas

    ECOSOC- Conselho Econmico e Social das Naes Unidas

    EIA- Estudo de Impactos Ambientais

    EMATERCE- Empresa de Assistncia Tcnica e Extenso Rural do Cear

    ETENE- Escritrio Tcnico de Estudos do NordesteIBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica

    ISI - Industrializao Via Substituio de Importaes

    MIT- Massachusetts Institute of Technology

    ONG- Organizao No-Governamental

    ONU- Organizao das Naes Unidas

    PAPP -Programa de Apoio ao Pequeno Produtor

    PCAV- Projeto Cultivo das Algas VermelhasPIB - Produto Interno Bruto

    PIN- Plano de Irrigao Nacional

    PNUD- Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento

    PROINE- Programa de Irrigao do Nordeste

    PROTERRA- Programa de Redistribuio de Terras

    RIMA- Relatrio de Impactos Ambientais

    SEAGRI- Secretaria de Desenvolvimento Agrrio

    SEEBLA- Servios de engenharia Emlio Baumgart Ltda.

    SEMACE - Superintendncia Estadual do Meio Ambiente

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    SIM- Servio de Informaes de Mercado

    SPSS- Statistical Package for Social Sciences

    SRH - Secretaria de Recursos Hdricos do Cear

    SUDENE Superintendncia de Desenvolvimento do Nordeste

    UFC - Universidade Federal do Cear

    UNB- Universidade de Braslia

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    SUMRIO

    1 INTRODUO..................................................................................................... 181.1 O Problema e sua Importncia............................................................................ 191.2 Hiptese.................................................................................................................. 211.3 Objetivos................................................................................................................ 211.3.1 Objetivo Geral......................................................................................................... 211.3.2 Objetivos Especficos.............................................................................................. 22

    2 REVISO BIBLIOGRFICA............................................................................. 232.1 As Vulnerabilidades da Atividade Rural............................................................ 23

    3 FUNDAMENTAO TERICA....................................................................... 293.1 Evoluo do Conceito de Desenvolvimento Sustentvel.................................... 293.2 Desenvolvimento do Capitalismo no Brasil e seus Elementos de No

    sustentabilidade..................................................................................................... 323.3 Conceito de Auto-Sustentabilidade...................................................................... 343.4 Conceito de Sustentabilidade............................................................................... 353.5 Indicadores de Desenvolvimento Sustentvel..................................................... 363.5.1 Indicadores: Principais Aspectos............................................................................ 363.5.2 Componentes e Caractersticas de Indicadores de Sustentabilidade....................... 393.5.3 Formulao e Aplicao de Indicadores de Sustentabilidade................................. 423.5.4 Limitaes dos Indicadores de Sustentabilidade..................................................... 443.5.5 Aspectos Relevantes na Formulao de Sistemas de Indicadores para a

    Avaliao de Sustentabilidade................................................................................ 463.6 Sistemas de Indicadores Relacionados ao Desenvolvimento Sustentvel........ 49

    4 MATERIAL E MTODOS.................................................................................. 534.1 rea Geogrfica de Estudo................................................................................... 534.1.1 Justificativa da rea Geogrfica de Estudo............................................................ 544.1.2 Permetro Irrigado Baixo Acara............................................................................ 554.2 rea Cientifica de Estudo..................................................................................... 584.2.1 Mtodos de Anlise................................................................................................. 59

    4.3 Avaliao da (Auto) Sustentabilidade................................................................. 604.3.1 AnliseEx-Post....................................................................................................... 604.3.2 Anlise Em Processo............................................................................................... 604.3.2.1 Clculo dos ndices de Sustentabilidade para as Dimenses Social, Ambiental,

    Econmica e Institucional....................................................................................... 614.3.2.2 Clculo do ndice de Sustentabilidade.................................................................... 624.3.2.3 Identificao do Grau de Sustentabilidade.............................................................. 634.3.2.4 Definio e Classificao dos Indicadores de Sustentabilidade.............................. 644.3.3 AnliseEx-Ante...................................................................................................... 794.4 Fontes de Dados..................................................................................................... 804.5 Estudo de Caso...................................................................................................... 81

    5 RESULTADOS...................................................................................................... 83

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    5.1 AnliseEx-Post...................................................................................................... 835.2 Anlise Em Processo Anlise da Sustentabilidade.......................................... 865.2.1 Caractersticas dos Produtores de Permetro Irrigado Baixo Acara...................... 865.2.2 ndice de Sustentabilidade para as Dimenses Social, Ambiental, Econmica e

    Institucional............................................................................................................. 1005.2.3 ndice de Sustentabilidade....................................................................................... 1155.3 AnliseEx-Ante Anlise da Auto-Sustentabilidade........................................ 116

    6 CONCLUSO....................................................................................................... 118

    BIBLIOGRAFIA CONSULTADA...................................................................................... 124

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    I INTRODUO

    A gua, um recurso natural renovvel, um elemento indispensvel vida de todos os

    seres humanos e manuteno dos ecossistemas. Propicia diversos tipos de usos que podemser consuntivos e no consuntivos. No primeiro caso, ocorrem perdas ou consumo entre o que

    retirado e o que retorna ao curso natural, como o uso domstico, industrial e irrigao. O uso

    no consuntivo aquele em que no h perdas, consumo ou desperdcio, como, por exemplo,

    a utilizao da gua para gerao de energia eltrica, navegao, pesca e composio

    paisagstica (MOTA, 1988).

    Cerca de 97,5% de toda a gua mundial est nos oceanos (gua salgada), 2,49% estnas regies polares, subterrneas ou em aqferos de difcil e alto custo de extrao. Somente

    0,007% de toda a gua no planeta potvel, apropriada para uso (MENCONI, 2002).

    Este recurso renovvel apresenta-se de maneira irregular no planeta, ou seja,

    abundante em algumas regies e escasso em outras. Segundo Leal; Guimares (1997) apud

    Lima (1999), o Brasil, embora possua 12% dos recursos hdricos de escorrimento superficial

    de todo o mundo, apresenta heterogeneidade na sua distribuio entre as regies, estando a

    maior parte desta gua (72%) na bacia do rio Amazonas, regio com baixo ndice

    populacional.

    Verifica-se a importncia do gerenciamento dos recursos hdricos como meio de

    suavizar os impactos da m distribuio das fontes de gua, por meio da gesto integrada das

    guas, do planejamento, regulao e controle de seu uso, bem como da conservao,

    reaproveitamento e recuperao destes recursos naturais.

    Em regies onde h escassez de gua, ocorrncia de secas, deficincias,

    irregularidades e m distribuio das chuvas, a utilizao da irrigao torna-se meio essencial

    para que se possa produzir, pois estes fenmenos climticos, como se observa no nordeste

    brasileiro, so capazes de comprometer safras e dizimar rebanhos, atingindo a populao que

    depende dessas atividades e deixando-a em estado de pobreza (OLIVEIRA, 1994).

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    Embora a irrigao seja necessria, considerando as condies apresentadas, seu uso

    deve ser racional, pois a agricultura um dos setores que mais usa e consome gua e a

    irrigao a atividade que apresenta maior desperdcio.

    A agricultura responsvel, anualmente, por 65% do uso e 87% do consumo1total de

    gua no mundo, enquanto para a indstria esses valores so de 24% e 6%, respectivamente

    (ALMEIDA, 2001).

    Este setor tambm o que mais desperdia gua, j que a irrigao deixa de aproveitar

    cerca de metade da gua utilizada, que no atinge as plantaes, perdida pela infiltrao no

    solo. Alm disso, sistemas de irrigao mal planejados e/ou mal operados podem provocar asalinizao e degradao dos solos. A melhoria da eficincia dos sistemas de irrigao e sua

    correta utilizao so condies essenciais para se atingir o desenvolvimento sustentvel.

    Nesse contexto, percebe-se a importncia dos programas de irrigao implantados pelo

    Governo, atravs do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS), com o

    objetivo, entre outras finalidades, de promover a melhoria da qualidade de vida do produtor

    rural e distribuir mais equitativamente a renda. essencial, tambm, se fazer avaliaes eanlises acerca do desempenho destes projetos no que diz respeito sustentabilidade em seus

    escopos social, ambiental, econmico e institucional, j que representam custo de

    oportunidade muito grande para a sociedade.

    1.1 O Problema e Sua Importncia

    O Estado do Cear, situado no Nordeste do Brasil, ocupa uma rea geogrfica de

    148.825,602km2, contendo 184 municpios divididos em sete mesorregies. O seu territrio

    equivale a 9,4% da rea do Nordeste e a 1,7% da rea do Brasil. Com 93% de seu territrio

    inserido no semi-rido, o Estado apresenta as caractersticas comuns a esse tipo de regio, que

    so: a baixa precipitao mdia anual, de cerca de 750 mm, grandes variaes pluviomtricas

    intra e interanuais, solos cristalinos, impermeveis, rasos e pedregosos (FIGUEROA, 1977

    apudPINHEIRO, 1998).

    1Uso e consumo de gua no so sinnimos. Segundo Pereira (2005), o uso da gua corresponde mobilizaode uma certa quantidade de gua para determinado fim. Parte dessa gua retorna ao ambiente e a parte que noretorna corresponde ao consumo.

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    Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE, 2007), sua

    populao estimada no ano de 2007 era de 8.185.250 habitantes.

    As bacias hidrogrficas do Estado, de acordo com a Secretaria de Recursos Hdricos

    do Cear (SRH, 2007) so: Corea, Acara, Litoral, Curu, Metropolitana, Parnaba, Banabui,

    Baixo Jaguaribe, Mdio Jaguaribe, Alto Jaguaribe e Salgado.

    O carter intermitente a caracterstica principal dos rios do Cear. A ocorrncia

    peridica de secas e a dependncia da gua da chuva fazem com que os rios estaduais sequem

    nos perodos de estiagem.

    De acordo com Lima (2002), as principais caractersticas do recurso gua no Estado

    so: rios intermitentes, guas subterrneas limitadas, baixa precipitao e escoamento

    superficial pequeno, altas temperaturas e altas taxas de evaporao (acarretando baixa

    eficincia hidrolgica dos reservatrios e um desperdcio das guas das chuvas em torno de

    75%). Alm disso, o Estado apresenta grande parte de seu subsolo com baixa capacidade de

    armazenamento de gua. Segundo Pinheiro (1998), 70% do territrio do Estado composto

    por rochas cristalinas e o baixo poder de reteno de gua desses solos impossibilita aformao de reservas significativas de gua nos perodos de estiagem.

    O fato de o Cear no possuir rios perenes incentivou, ao longo de dcadas, a

    construo de reservatrios de pequeno, mdio e grande porte, tanto pela iniciativa privada,

    como pelo governo, visando regularizao da oferta de gua nos perodos secos

    (PINHEIRO, 1998).

    Informaes da SRH (2007) indicam que no Estado existem atualmente 8.000 audes,

    com capacidade total de acumulao de cerca de 18 bilhes de metros cbicos de gua. As

    condies climticas do Estado conferem irrigao importncia fundamental como

    instrumento para viabilizar uma agricultura mais produtiva.

    De acordo com o DNOCS (2007), existem no Cear 14 permetros Irrigados: Araras

    Norte, Ayres de Souza, Baixo Acara, Curu-Paraipaba, Curu-Pentecoste, Ema, Forquilha, Ic-

    Lima Campos, Jaguaribe-Apodi, Jaguaruana, Morada Nova, Quixabinha, Tabuleiros de

    Russas e Vrzea do Boi.

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    Estes projetos de irrigao implantados pelo Governo, pelo DNOCS, so importantes

    meios para possibilitar a melhoria das condies de cultivo, da qualidade de vida do produtor,

    gerar emprego e renda e, conseqentemente, promover o crescimento e desenvolvimento

    local. Porm, observa-se que, nos quatro maiores permetros irrigados implantados pelo

    governo federal no Estado (Baixo Acara, Tabuleiros de Russas, Jaguaribe-Apodi e Araras-

    Norte), o ndice de ocupao no chega a 20% (CASTRO, 2007).

    A baixa utilizao destas reas compromete a consecuo dos objetivos dos projetos

    de irrigao. No Permetro Irrigado Baixo Acara, a relao entre os custos de manuteno e a

    baixa arrecadao, que se deve acanhada ocupao, sugerem que o mesmo no consiga

    atingir a sustentabilidade e a auto-sustentabilidade.

    Anlises acerca do andamento do projeto, bem como de seus resultados, devem ser

    realizadas em razo no somente da importncia da alocao eficiente de recursos como a

    gua, que um dos fatores determinantes do sucesso das atividades agrcolas, mas tambm do

    fato de que um projeto pblico acarreta um custo de oportunidade para a sociedade, sendo

    essencial, portanto, sua avaliao como objeto de polticas pblicas.

    Desta forma, pode-se perceber a necessidade da realizao deste estudo.

    1.2 Hiptese

    O Permetro lrrigado Baixo Acara pode apresentar sustentabilidade, porm no

    apresenta auto-sustentabilidade.

    1.3 Objetivos

    1.3.1 Objetivo Geral

    Analisar a (auto) sustentabilidade do Permetro Irrigado Baixo Acara, numa

    abordagem ex-post,em processo e ex-ante.

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    1.3.2 Objetivos Especficos

    Especificamente pretende-se:

    a) Realizar anlise ex-postdo Permetro Irrigado Baixo Acara;

    b) Realizar anlise em processo do Permetro Irrigado Baixo Acara, atravs de:

    i. Caracterizao do perfil do irrigante do Permetro Irrigado Baixo Acara;

    ii. Clculo dos ndices de sustentabilidade para as dimenses social, ambiental,

    econmica e institucional;

    iii. Clculo do ndice de sustentabilidade do Permetro Irrigado Baixo Acara;

    c) Realizar anlise ex-ante do Permetro Irrigado Baixo Acara quanto sua auto-sustentabilidade econmico-financeira.

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    2 REVISO BIBLIOGRFICA

    2.1 As Vulnerabilidades da Atividade Rural

    De acordo com a literatura, uma das maiores fragilidades da economia brasileira a

    vulnerabilidade externa. Na dcada de 1940, j se observava que a entrada de divisas

    dependia das exportaes de poucos produtos primrios, caracterizando o Brasil como

    tradicional exportador de produtos primrios e importador de produtos industrializados, fato

    que sinalizava que a regio estava condenada ao subdesenvolvimento caso algo no fosse

    feito para reverter essa situao (CARVALHO; SILVA, 2005).

    De acordo com Carvalho; Silva (2005), o governo passou ento a interferir na

    economia com a adoo de prticas protecionistas e investimento em infra-estrutura para

    impulsionar a industrializao, visando ao chamado desenvolvimento por substituio de

    importaes. Desta forma, o pas se converteu de uma economia primrio-exportadora para

    uma sociedade urbana e industrial. No entanto, a estratgia gerou grande endividamento

    externo, forando o rompimento do modelo em direo abertura comercial na dcada de

    1990.

    Segundo os mesmos autores, a partir de 1995, a balana comercial brasileira comeou

    a registrar dficits, situao que somente foi revertida em 2001. Estes dficits agravaram o

    dficit em transaes correntes, que acabou sendo financiado por emprstimos,

    financiamentos e investimentos estrangeiros, o que originou, como conseqncia, remessas de

    lucros e pagamentos de juros, desencadeando novos dficits. Para no alimentar esse ciclo

    vicioso, as exportaes devem prover divisas suficientes para efetuar essas remessas, para queo endividamento no se agrave e que novas crises no balano de pagamentos no ocorram. A

    gerao de divisas no se destina somente ao pagamento das despesas com importaes, mas

    tambm a equilibrar o saldo de todas as transaes correntes do balano de pagamentos que

    englobam o balano de servios, o balano de rendas e as transferncias, alm da balana

    comercial.

    A partir de 2001, o pas voltou a ter supervit comercial, chegando a apresentarsupervit em transaes correntes de US$ 4 bilhes em 2003. O crescimento das exportaes

    agrcolas contribuiu significativamente para esses supervits e aumentou a importncia

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    relativa do setor no Produto Interno Bruto (PIB). A taxa de crescimento do PIB agropecurio

    tem sido superior do PIB total, apresentando diferenas mais acentuadas nos ltimos anos

    (CARVALHO; SILVA, 2005).

    Segundo Teixeira (2007), alguns nmeros do agronegcio mostram o seu desempenho

    no perodo recente, como a participao de mais de 30% no PIB, o aumento da produo de

    gros, entre 1995 e 2005, de 80 para 120 milhes de toneladas, o crescimento de 40% da

    produtividade agrcola, entre 1990 e 2004, o aumento das exportaes agrcolas, entre 2000 e

    2006, de US$ 20,5 bilhes para US$ 50 bilhes, o aumento da participao do Brasil no

    comrcio agrcola mundial de 5,7% contra a mdia histrica de 3%, entre outros.

    Os resultados sobre o desempenho da atividade podem ser entendidos como sucesso

    para o setor. Contudo, sob o enfoque do conjunto da economia, esse progresso caracteriza

    aumento da vulnerabilidade externa do pas (CARVALHO; SILVA, 2005).

    Os autores afirmam que, embora tenha contribudo significativamente para a gerao

    de divisas, o setor agrcola no deve assumir papel de principal fonte fornecedora, sob pena de

    colocar o pas numa situao de vulnerabilidade, por vrias razes. A primeira a grandeconcentrao das exportaes agrcolas em poucos produtos, o que aumenta a variabilidade do

    ingresso de divisas e, um aspecto bsico da sustentabilidade do crescimento econmico de um

    pas , justamente, sua garantia com relao aos ingressos de divisas para honrar os

    compromissos externos. A segunda diz respeito ao crescimento da participao dos produtos

    primrios na composio do PIB, tornando o pas dependente de produtos agrcolas como

    fonte de divisas, o que um obstculo ao desenvolvimento. Outra razo, ainda, que a taxa

    de crescimento das importaes agrcolas mundiais menor que a dos demais produtos e ospases mais desenvolvidos apresentam tendncia de reduo ainda mais acentuada, enquanto

    as exportaes brasileiras aumentam e mais crescem para os mercados dos pases em

    desenvolvimento, que nem sempre tm capacidade sustentada de pagamentos.

    Alm destas razes, ainda citam o fato de que a demanda mundial por produtos

    primrios relativamente decrescente e cresce menos que a dos produtos industrializados, de

    que a variabilidade dos preos e quantidades do comrcio agrcola bem maior que a dos

    produtos industrializados, de que o relativo sucesso das exportaes brasileiras mais se deve

    ao aumento das quantidades exportadas e de que as relaes de troca das exportaes

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    agrcolas tm declinado nas ltimas dcadas e tm sido desfavorveis ao Brasil pelo fato de

    que a evoluo dos preos dos produtos manufaturados foi bem mais favorvel que a dos

    agrcolas, que apresentaram queda. Isso contribui para salientar a condio de vulnerabilidade

    do setor.

    De acordo com Teixeira (2007), a queda dos preos agrcolas vem sendo

    acompanhada pelo aumento dos custos de produo. Diante deste cenrio, os pases ricos

    recorrem prticas protecionistas e subsdio aos seus agricultores, mas nos pases em

    desenvolvimento, perante as suas impossibilidades financeiras de recorrerem s mesmas

    estratgias, os grandes agricultores se amparam em fatores como a cultura da inadimplncia

    no crdito rural, desonra da remunerao e condies do trabalho, explorao intensiva eextensiva dos recursos naturais, entre outros, para a sobrevivncia na atividade. Na origem do

    processo de queda dos nveis de rentabilidade econmica da atividade agrcola primria,

    estariam os seguintes fatores: protecionismo e os subsdios agrcolas praticados pelos pases

    ricos; a caracterstica de superproduo do modelo agrcola produtivista; a concentrao e a

    centralizao econmica dos capitais industrial, financeiro e comercial no entorno da

    atividade agrcola e a estabilizao relativa do consumo alimentar no mundo.

    O desenvolvimento econmico tem como uma de suas conseqncias a queda da

    importncia relativa da agricultura na atividade econmica. No Brasil, esse processo ocorreu

    entre 1950 e 1990, em razo da adoo do modelo de substituio de importaes, quando a

    participao do setor no PIB caiu taxa mdia anual de 2,3%. Na dcada de 1950, a

    agricultura representava 25% do PIB brasileiro e chegou ao mnimo de 7,6% em 1993. A

    partir de ento, o setor voltou a crescer mais que o restante da economia (CARVALHO;

    SILVA, 2005).

    Segundo Carvalho; Silva (2005), o crescimento econmico tambm tem como

    resultado o aumento das importaes, mas as exportaes devem gerar as divisas necessrias

    para pagar pelas importaes, para no agravar o endividamento externo.

    Os autores afirmam ainda que o aumento das quantidades exportadas de produtos

    primrios no significa essencialmente melhoria do bem estar da sociedade brasileira e que a

    dependncia das exportaes agrcolas, o que crescente, pe em risco a capacidade de

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    gerao de divisas do pas, bem como a possibilidade de alcanar o crescimento econmico

    sustentado.

    Alm destes aspectos macroeconmicos, outras podem ser as vulnerabilidades do

    setor, como o fato de que, alm de a demanda por produtos agrcolas estar diminuindo pelo

    mundo, o Brasil ainda tem que se submeter tarifas de proteo que dificultam a entrada de

    produtos brasileiros em muitos pases.

    Outro elemento que faz com que o pas permanea na situao de vulnerabilidade o

    endividamento do setor agrcola, influenciado, em alguns casos, pelas adversidades climticas

    e planos econmicos. Segundo Stephanes (2007), o valor do endividamento do setor foiestimado em R$ 100 bilhes em 2007.

    Stephanes (2007) cita ainda a infra-estrutura e a logstica como preocupaes, sendo

    necessrios investimentos em rodovias, hidrovias, ferrovias e portos, para tornar mais vivel e

    competitiva a comercializao dos produtos.

    No se pode deixar de mencionar ainda os efeitos adversos do clima, que so capazesde comprometer safras inteiras. A atividade agrcola depende intensamente de fatores

    climticos, como temperatura, umidade, pluviosidade, entre outros, que podem afetar a

    produo.

    Segundo Teixeira (2007), a agricultura influenciada por fenmenos naturais, ao

    mesmo tempo em que tem influncia sobre os mesmos. Como exemplo, o autor cita o fato de

    a agricultura ser responsvel por cerca de 30% das emisses globais de CH4, CO2, CO e N2O eque os gases N2O e CH4, que apesar de liberados em menor quantidade pelo solo, apresentam

    um efeito em massa equivalente a cerca de 270 e 25 vezes, respectivamente, em relao ao do

    CO2no aquecimento do planeta. A utilizao de fertilizantes qumicos , ento, um grande

    fator de contribuio da agricultura para o aquecimento global. Porm, sem a utilizao desses

    recursos, a agricultura produtivista pode ser inviabilizada.

    Muitos pesquisadores, em discusso sobre qual seria o modelo ideal para a atividade

    agrcola no Brasil, tm sugerido o modelo agroecolgico como alternativa para que a

    agricultura no pas seja sustentvel.

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    De acordo com Barbosa (2007), a agroecologia surge como a alternativa mais vivel

    para um novo modelo agrcola sustentvel e, por meio dela, possvel se obter

    agroecossitemas que influenciam os aspectos ecolgicos, ambientais, econmicos e culturais

    de maneira positiva, pela reduo da vulnerabilidade s pragas, menor dependncia de insumo

    externo, maior eficincia no uso da terra, entre outros aspectos.

    Romeiro (2003) afirma que para que o modelo seja possvel, deve haver mais

    investimentos e pesquisas, alm de assistncia e crdito aos agricultores que queiram

    substituir as prticas predatrias. Assegura, ainda, que a trajetria de modernizao seguida

    pela agricultura brasileira se deu por ser a alternativa mais produtiva e lucrativa, no entantooutra trajetria, eficiente e menos agressiva ao meio ambiente, poderia ter sido seguida. Nesse

    caso, a produtividade do trabalho teria sido menor, j que a agricultura ecolgica mais

    complexa e intensiva nesse recurso.

    No possvel falar em equilbrio ecolgico com a monocultura, pois a agricultura

    agroecolgica demanda um mnimo de biodiversidade, que deve se compatvel com a

    mecanizao, para que no se retroceda no tempo, ou seja, o sistema deve ser complexo emecanizvel. Para tanto, alguns artifcios existem, como a rotao de culturas, obedecendo a

    regras agronmicas de complementaridade. Do ponto de vista ecolgico, o ideal seria que

    houvesse a associao de vrias plantas complementares, todavia, esse sistema no permite a

    mecanizao, pois cada cultura tem um tipo de crescimento e de colheita diferente.

    (ROMEIRO, 2003).

    O autor ainda alega que necessrio que a pesquisa se volte para a possibilidade demecanizao de um sistema mais complexo para que a produtividade do trabalho no caia.

    Ainda assim, a produtividade do trabalho num sistema complexo no alcanaria a

    produtividade do trabalho num sistema de monocultura, mas traria o benefcio da proteo do

    meio ambiente, da sustentabilidade do ecossistema agrcola, e tambm traria benefcio aos

    consumidores, que teriam acesso a alimentos com valor nutricional e sem resqucios de

    agroqumicos.

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    A agricultura ecolgica pode ser adotada em qualquer escala, porm, por exigir mais

    cuidados e ser mais complexa, exige mais trabalho, sendo, ento, mais adaptada agricultura

    familiar (ROMEIRO, 2003).

    No entanto, segundo o autor, h alguns bloqueios do lado da oferta, como a falta de

    incentivo no mercado, o tempo e o custo de converso para a agricultura agroecolgica. O

    solo, que anteriormente recebia agrotxico, precisa descansar para descontaminar. Alm

    disso, existe a barreira causada pela falta de informao e tambm o problema da certificao,

    j que estes produtos precisam ser certificados e poucas instituies o fazem.

    Este modelo, bastante defendido por especialistas na atualidade, resolveria alguns dosproblemas que do agricultura condio de vulnerabilidade, no entanto um conjunto de

    decises e medidas precisam ser tomadas pelas autoridades governamentais para que o

    objetivo da sustentabilidade na atividade agrcola brasileira seja alcanado.

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    3 FUNDAMENTAO TERICA

    3.1 Evoluo do Conceito de Desenvolvimento Sustentvel

    A partir da segunda metade do sculo XIX, a deteriorao ambiental e suas

    conseqncias originaram as primeiras inquietaes, estudos e reaes com o objetivo de se

    conseguir mtodos e tcnicas de reduo dos danos ao ambiente.

    Diagnsticos mostraram que a degradao ambiental provm, sobretudo, do

    crescimento populacional descontrolado e da excessiva explorao dos recursos naturais e que

    preciso haver estabilidade populacional, econmica e ecolgica, para que tudo no futuro nose acabe. Esses estudos lanaram subsdios para a idia de desenvolvimento aliado

    conservao (UNB, 2007).

    Embora essa idia de desenvolvimento estivesse presente nas diferentes concepes

    dos estudiosos das cincias econmicas, a Teoria do Desenvolvimento originou-se,

    efetivamente, logo aps a Segunda Guerra Mundial.

    possvel identificar duas correntes diferentes de pensamento na literatura: uma que

    considera o crescimento como sinnimo de desenvolvimento e outra que afirma que o

    crescimento condio necessria, porm no suficiente, para o desenvolvimento

    (MORETTO; GIACCHINI, 2005).

    Nesta ltima corrente, a idia a de se buscar uma combinao coerente entre a escala

    de produo econmica e a capacidade de suporte do meio ambiente. Alm disso, ocrescimento deve ser orientado, melhor distribudo, visando a atender as necessidades

    humanas essenciais e a erradicar a pobreza (MELO; LUSTOSA, 2005).

    Iniciada na dcada de 1950, essa distino entre os conceitos de crescimento e de

    desenvolvimento econmico foi caracterizada por questes referentes distribuio de renda

    e qualidade de vida dos indivduos. Na dcada de 1970, foram acrescentadas concepes em

    que havia a preocupao com a questo ecolgica. O documento publicado naquele perodo,

    Os limites para o crescimento, do Massachusetts Institute of Technology (MIT), alertava

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    sobre os riscos gerados por um modelo de crescimento econmico que no levava em

    considerao a capacidade dos recursos naturais (MORETTO; GIACCHINI, 2005).

    Com a inteno de discutir e encontrar solues para a problemtica ambiental, a

    Organizao das Naes Unidas (ONU) promoveu a Conferncia de Estocolmo, em 1972, que

    teve como resultado a criao da Declarao sobre o Ambiente Humano que, entre outros

    aspectos, introduziu ao mundo que tanto as geraes presentes como as futuras devem ter

    reconhecido como direito fundamental a vida num ambiente saudvel e no degradado (UNB,

    2007).

    Para que o desenvolvimento sustentvel seja alcanado, todas as relaes do homemcom a natureza devem acontecer com o menor dano possvel ao ambiente. Tudo deve existir

    preservando a biodiversidade (UNB, 2007).

    A ONU criou, em 1983, a Comisso Mundial sobre Meio Ambiente e

    Desenvolvimento, presidida por Gro Harlem Brundtland, ex-primeira-ministra da Noruega. A

    comisso tinha como objetivos reexaminar as questes crticas relativas ao meio ambiente e

    reformular propostas para abord-las, alm de sugerir novas formas de colaboraointernacional, visando a orientar as polticas e aes no sentido das mudanas necessrias e

    tambm possibilitar uma maior compreenso sobre estes temas, incentivando a uma atuao

    mais firme (UNB, 2007).

    A comisso sugeriu a elaborao de uma nova declarao universal sobre a proteo

    ambiental e o desenvolvimento sustentvel e, em 1987, foi criado o Relatrio Brundtland, que

    props agregar o desenvolvimento econmico questo ambiental.

    Em 1992, prevista no Relatrio Brundtland, foi realizada, no Rio de Janeiro, a

    Conferncia das Naes Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUCED),

    tambm conhecida como ECO-92. O encontro reuniu representantes de 175 pases e de

    organizaes no-governamentais (UNB, 2007).

    Os acordos realizados na ECO-92 incluem trs convenes: uma sobre mudana do

    clima, uma sobre biodiversidade e uma declarao sobre florestas. A Conferncia tambm

    aprovou outros documentos que defendem o conceito fundamental de desenvolvimento

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    sustentvel, que combina a evoluo econmica com a necessidade de uma conscincia

    ecolgica. Estes documentos so: a Declarao do Rio e a Agenda 21 (UNB, 2007).

    A Agenda 21,principal documento produzido na ECO-92, um programa de ao que

    concilia mtodos de proteo ambiental, justia social e eficincia econmica, viabilizando o

    novo padro de desenvolvimento ambientalmente racional. Foi aprovada por todos os pases

    presentes na ECO-92 e a aceitao do seu formato e contedo favoreceu a criao da

    Comisso de Desenvolvimento Sustentvel (CDS), vinculada ao Conselho Econmico e

    Social das Naes Unidas (ECOSOC), que tem como objetivo acompanhar e contribuir com

    os pases na elaborao e implementao das agendas nacionais (UNB, 2007).

    Em 2002, ocorreu em Johanesburgo, na frica do Sul, outro evento mundial para

    discutir o meio ambiente e desenvolvimento sustentvel. Promovida pela ONU, a Rio +10, ou

    Eco-2002, teve como objetivo discutir e avaliar os acertos e falhas nas aes referentes ao

    meio ambiente nos ltimos dez anos (UNB, 2007).

    Entre os temas debatidos esto o acesso a energia limpa e renovvel, o efeito estufa, a

    conservao da biodiversidade, a proteo e uso das fontes de gua, o acesso gua potvel, osaneamento e o controle de substncias qumicas nocivas. Na ocasio, foram estabelecidas

    metas para os prximos dez anos, sendo o empenho dos pases participantes em reduzir pela

    metade a populao sem acesso gua potvel e saneamento bsico, at 2015, a principal

    delas (UNB, 2007).

    possvel perceber, portanto, que o estudo sobre desenvolvimento econmico passou

    por diversas fases. A primeira refere-se ao perodo em que no havia diferenciao entrecrescimento e desenvolvimento econmico, quando esses conceitos eram vistos como

    sinnimos. A segunda fase, iniciada aps a Segunda Guerra Mundial, foi marcada pela teoria

    do desenvolvimento que analisou a diferena entre crescimento e desenvolvimento

    econmico. J na dcada de noventa, surge uma nova abordagem relacionada ao

    desenvolvimento sustentvel que considera o equilbrio do ecossistema (MORETTO;

    GIACCHINI, 2005).

    O desenvolvimento sustentvel deve ser um objetivo de toda a sociedade para que possa

    ser alcanado. Desde os indivduos, empresas, instituies, no que diz respeito discusses

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    como: exploso demogrfica, controle da natalidade, desenvolvimento industrial e

    depredao, at o Estado brasileiro que, por sua vez, deve gerir programas e projetos

    condizentes com as deliberaes mundiais ambientais, levando as diretrizes sociedade, que

    ter assim a oportunidade de participar mais confiante de que o desenvolvimento sustentvel

    possvel.

    3.2 Desenvolvimento do Capitalismo no Brasil e Seus Elementos de No

    Sustentabilidade

    At a II Guerra Mundial, o desenvolvimento era entendido como sinnimo de

    crescimento, ou seja, do aumento da capacidade produtiva de uma economia e do volume debens e servios ofertados. A partir da observao da desigualdade existente entre os pases

    subdesenvolvidos (no-industrializados) e os pases desenvolvidos (industrializados), o

    conceito de desenvolvimento passou a abordar, alm do aumento da capacidade produtiva da

    economia, a melhor distribuio de renda e melhoria na qualidade de vida da populao.

    Assim, os processos de desenvolvimento se voltaram para polticas de promoo da

    industrializao e em polticas sociais assistencialistas (MELO; LUSTOSA, 2007).

    O processo de industrializao, conhecido como Industrializao via Substituio de

    Importaes (ISI), ganha fora na Amrica Latina, estando o Brasil inserido neste padro de

    desenvolvimento.

    Em 1948, o ECOSOC criou a Comisso Econmica para a Amrica Latina e o Caribe

    (CEPAL), com o objetivo de (...) monitorar as polticas direcionadas promoo do

    desenvolvimento econmico da regio latino-americana, assessorar as aes encaminhadaspara sua promoo e contribuir para reforar as relaes econmicas dos pases da rea, tanto

    entre si como com as demais naes do mundo (CEPAL, 2008).

    Em seguida, alm de ampliar seu trabalho para os pases do Caribe, incorporou o

    objetivo de promover o desenvolvimento social e sustentvel.

    Segundo Melo; Lustosa (2005), a Amrica Latina, de acordo com o esquema centro-

    periferia, tese lanada por Ral Prebisch, em 1950, funcionava como uma constelao, cujo

    centro eram os pases industrializados e a periferia era a Amrica Latina. Este sistema de

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    relaes econmicas internacionais beneficiava o centro, que produzia manufaturas e era

    responsvel pelo desenvolvimento tecnolgico, enquanto a periferia fornecia matrias primas,

    dada sua riqueza de recursos naturais.

    A distribuio dos ganhos era desigual entre centro e periferia, ficando o primeiro com

    a gerao e disseminao do progresso tecnolgico. O sistema se organizava de maneira a

    atender aos interesses do primeiro, realimentando um ciclo vicioso, no qual a dependncia da

    periferia era cada vez maior. Esse padro de desenvolvimento no Brasil reforou uma

    estrutura social heterognea, na qual uma grande parte da populao os no-exportadores -

    ficou margem do processo de desenvolvimento, aprofundando a excluso social, j que as

    outras atividades no se beneficiaram do progresso tecnolgico, permanecendo com aprodutividade e a capacidade de gerar renda, muito baixas (MELO; LUSTOSA, 2005).

    Os ganhos econmicos dos pases da periferia, como o Brasil, concentraram-se nas

    mos das elites diretamente beneficirias as classes exportadora e poltica.

    Entretanto, de acordo com Furtado (1974), citado por Melo; Lustosa (2005), os

    excedentes gerados com as exportaes de caf, no caso do Brasil, no eram empregados paraa formao de capital, mas destinados a financiar a propagao dos novos padres de

    consumo que surgiam no centro do sistema econmico mundial em constituio.

    Desta maneira, o pas passou por um processo de modernizao, em que uma

    pequena parte da populao, que concentrava a maior parte da renda, passou a adotar padres

    de consumo sofisticados, causando uma dependncia cultural do pas em relao ao centro,

    levando criao e ampliao de mercados para os novos produtos gerados pelodesenvolvimento tecnolgico do centro, o que era de interesse das classes dirigentes locais e

    dos grupos estrangeiros controladores da economia internacional (MELO; LUSTOSA, 2005).

    Com as sucessivas crises da economia cafeeira, o Brasil inicia seu processo de ISI,

    que comea com a produo de produtos consumidos pela classe mais abastada, de

    acordo com os padres de consumo do centro. Para a implantao deste tipo de

    indstria, foi necessria a importao de tecnologia dos pases desenvolvidos, que

    eram intensivas em capital (MELO; LUSTOSA, 2005, p.5).

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    A baixa capacidade de absoro da mo-de-obra, abundante no pas, desencadeou o

    desemprego, ao mesmo tempo em que a periferia passou a adotar os padres do centro e a

    revelar incongruncias e transformaes importantes, visto que no acompanharam sua

    evoluo. Estes padres de consumo adotados foram possveis em razo do aumento da renda

    gerada pela explorao de recursos naturais no renovveis e pela realocao de recursos,

    tendo em vista uma especializao num sistema de diviso internacional do trabalho (Furtado,

    1974, apud Melo; Lustosa, 2005). Estas formas de ampliao da renda esto inter-

    relacionadas, j que a incluso brasileira no comrcio internacional baseada na exportao

    de recursos naturais, energia e produtos industrializados de baixo contedo tecnolgico e de

    alto potencial poluidor (MELO; LUSTOSA, 2005).

    Assim, o desenvolvimento capitalista no Brasil, aprofundado pela ISI, trouxe consigo

    elementos de no-sustentabilidade que vo sendo sentidos pela sociedade (MELO;

    LUSTOSA, 2005).

    3.3 Conceito de Auto-Sustentabilidade

    A auto-sustentabilidade um termo mais denso em relao sustentabilidade, poispressupe a participao do indivduo, o que pode ser percebido atravs do prefixo auto.

    Trata-se de uma questo no somente semntica, mas ideolgica. uma questo que faz

    referncia a sustentao, contedo, suporte e segurana.

    A auto-sustentabilidade a condio pela qual um indivduo, empresa ou instituio

    mantm seu equilbrio, sua existncia. Do contrrio, haveria a queda, o processo de morte.

    Desta forma, para que uma organizao possa existir e manter-se, necessrio que

    esteja saudvel em suas vrias dimenses: econmica, financeira, social, ambiental, entre

    outros aspectos.

    A auto-sustentabilidade condicionada a uma srie de conquistas, de condies que a

    favorecem, como a capacidade de busca; a viso estratgica, orientada pelas questes de como

    fazer, como captar recursos, como motivar etc; os recursos humanos; o projeto institucional; a

    infra-estrutura fsica e tcnica; a comunicao com a sociedade; a oferta de servios e

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    produtos. possvel perceber, ento, que a sustentabilidade pluri-dimensional (RIBEIRO,

    2007).

    3.4 Conceito de Sustentabilidade

    Nas ltimas dcadas, numerosas mudanas ocorreram na compreenso das relaes

    entre o desenvolvimento econmico, social e a conservao dos recursos naturais, exigindo,

    este assunto, ateno cada vez maior. Neste cenrio, ganha espao o conceito de

    sustentabilidade, que tem seus alicerces em trs dimenses bsicas: a dimenso social, a

    econmica e a ambiental (TAVARES, 2001).

    Segundo Tavares (2001), esta maneira de ver o desenvolvimento est baseada na

    percepo de que necessrio agir de forma associada, multidisciplinar e participativa.

    preciso ter conscincia de que a sustentabilidade est intimamente ligada reduo das

    desigualdades sociais e que o primeiro compromisso do desenvolvimento sustentvel,

    portanto, o compromisso social.

    Outro elemento necessrio a um projeto de desenvolvimento sustentvel o processo

    participativo de construo, no qual as instituies polticas, a sociedade civil e os grupos de

    interesse organizados encontrem espao para exercer o seu papel de representao poltica e

    institucional (TAVARES, 2001).

    Este autor afirma que a dimenso econmica um aspecto essencial da

    sustentabilidade e que a competitividade a condio necessria para assegurar a

    continuidade do desenvolvimento. Afirma tambm que, apesar da importncia das dimenses

    social e econmica, o aspecto mais difundido do desenvolvimento sustentvel a dimenso

    ambiental, que tem como objetivo o uso mais eficiente dos recursos naturais, resguardando a

    capacidade da natureza de renovar-se.

    O conceito de desenvolvimento sustentvel implica, portanto, num equilbrio dessas

    trs dimenses. Porm, isso no suficiente. preciso colocar o modelo em prtica. Criar os

    mecanismos e instrumentos capazes de implementar polticas e programas segundo o modelo

    idealizado, com ferramentas de planejamento e gesto apropriadas (TAVARES, 2001).

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    Outra condio imperiosa para a implementao de polticas e programas a avaliao

    permanente dos resultados, visando a corrigir rumos e redefinir aes. Os agentes econmicos

    devem cumprir os compromissos assumidos e a sociedade precisa saber onde e como o

    governo aplica os recursos pblicos para poder cobrar resultados e exercer o controle social

    (TAVARES, 2001).

    Os atores do desenvolvimento sustentvel, ou seja, as ONGs, Estados, o Poder

    Judicirio, o empresariado e a coletividade, tm, portanto, papel fundamental e somente com a

    participao efetiva destes importantes atores em cooperao mtua e com os mesmos

    objetivos que se torna possvel alcanar um desenvolvimento sustentvel e cumprir o anseio

    de preservar a qualidade de vida agora e para as geraes futuras.

    3.5 Indicadores de Desenvolvimento Sustentvel

    De acordo com Cherchye; Kuosmanen (2002), desenvolvimento sustentvel um

    conceito complexo e multidisciplinar e, embora a necessidade de quantificar o

    desenvolvimento sustentvel seja amplamente aceita, a definio vaga deste conceito deixa

    margem para diferentes interpretaes e, portanto, para diferentes ndices.

    O conceito de sustentabilidade est longe de possuir significado consensual. um

    conceito em permanente construo e reconstruo, cujas diferentes verses, porm, tm em

    comum o fato de ter como alicerce as dimenses social, ambiental e econmica do ambiente

    (BRAGA et al., 2003). Apesar de no haver consenso acerca do conceito de desenvolvimento

    sustentvel, h a necessidade de se obter instrumentos que procurem mensurar a

    sustentabilidade.

    3.5.1 Indicadores: Principais Aspectos

    O indicador, termo originrio do Latim indicare, que significa apontar, anunciar,

    estimar, pode informar sobre o progresso em direo a uma determinada meta, mas tambm

    pode ser visto como um recurso que deixa mais perceptvel algo que no seja prontamente

    detectvel (HAMMOND et al., 1995, apudBELLEN, 2002).

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    Embora tambm no haja consenso, tanto em relao definio de indicadores, como

    em relao a outros conceitos associados, como ndice, meta e padro, o indicador pode ser

    definido, de maneira geral, como uma medida que resume informaes sobre o estado de um

    fenmeno, tendo como principal caracterstica sua relevncia para o processo de tomada de

    deciso. Seu principal objetivo o de agregar e quantificar informaes de modo que sua

    significncia fique mais evidente (BELLEN, 2002).

    Gallopin (1996), citado por Bellen (2002), afirma que os indicadores mais almejados

    so os que resumam ou simplifiquem as informaes relevantes, que faam com que certos

    fenmenos se tornem mais perceptveis.

    Entretanto, Braga et al. (2003) afirmam que o processo de busca por um ndice

    sinttico de desenvolvimento sustentvel se torna difcil pela impossibilidade de contar com

    um elenco restrito de variveis, dada a complexidade e a diversidade das questes envolvidas,

    sem comprometer o retrato do grau de sustentabilidade medido.

    Mensurar a sustentabilidade requer a integrao de uma srie de informaes

    provenientes de um conjunto de disciplinas e reas de conhecimento e comunicar essasinformaes ao pblico no especialista se torna um grande desafio: o de produzir um sistema

    de indicadores enxutos ou ndices sintticos, capazes de comunicar realidades complexas de

    forma resumida (BRAGA et al., 2003).

    Os indicadores, segundo Tunstall (1994), citado por Bellen (2002), tm como

    principais funes: avaliao de condies e tendncias; comparao entre lugares e

    situaes; avaliao de condies e tendncias em relao s metas e aos objetivos;provimento de informaes de advertncia e antecipao de futuras condies e tendncias.

    Os indicadores podem ser qualitativos ou quantitativos e podem ser definidos como

    variveis individuais ou uma varivel que funo de outras variveis.

    A funo pode ser simples como uma (a) relao, que mede a variao da varivel

    em relao a uma base especfica, um (b) ndice, um nmero simples que uma

    funo simples de duas ou mais variveis, ou (c) complexa, como o resultado de um

    grande modelo de simulao (BELLEN, 2002, p.30).

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    Na Figura 1 apresenta-se a relao entre dados primrios e indicadores, no que

    denominada pirmide de informaes (HAMMOND et al., 1995, apud BELLEN, 2002).

    Figura 1: Pirmide de InformaesFonte: HAMMOND et al.(1995), apudBELLEN (2002).

    Os indicadores podem ter diferentes significados. So utilizados termos como norma,

    padro, meta e objetivo, entre outros. Quando se trata de indicadores de desenvolvimento

    sustentvel, pode-se dizer que os conceitos de padro e norma so semelhantes e se referembasicamente a valores estabelecidos ou desejados pelas autoridades ou pela sociedade. So

    utilizados tendo um valor tcnico de referncia. J as metas, representam valores especficos a

    serem alcanados. So normalmente estabelecidas a partir do processo decisrio, dentro de

    uma expectativa de que sejam atingveis. Os objetivos, por sua vez, so comumente

    qualitativos, indicando mais uma direo do que um estado particular (BELLEN, 2002).

    Os indicadores so uma maneira de apresentar a realidade, por isso, devem serconstrudos por uma metodologia coerente de mensurao.

    Segundo Hardi; Barg (1997), citados por Bellen (2002), os indicadores so sinais

    relativos a eventos e sistemas complexos e so utilizados para tornar mais simples e claras

    informaes acerca de fenmenos densos e para tornar a comunicao sobre estes fenmenos

    mais acessvel e quantificvel.

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    3.5.2 Componentes e Caractersticas de Indicadores de Sustentabilidade

    Grande parte dos sistemas de indicadores utilizados atualmente foi criada por razes

    peculiares: so indicadores ambientais, econmicos e sociais e no podem ser considerados

    indicadores de sustentabilidade por si s. Porm, estes indicadores possuem um potencial

    representativo dentro do contexto do desenvolvimento sustentvel (BELLEN, 2002).

    Ainda de acordo com o autor, os problemas do desenvolvimento sustentvel requerem

    indicadores inter-relacionados e, at mesmo, a agregao de diferentes indicadores.

    Existem poucos sistemas de indicadores que lidam especificamente com o

    desenvolvimento sustentvel, sendo em sua maioria em carter experimental, e estes

    sistemas foram desenvolvidos com o propsito de melhor compreender os

    fenmenos relacionados sustentabilidade (BELLEN, 2002, p.32).

    Em alguns casos, admite-se que indicadores devem ser desenvolvidos a partir da

    associao de dados ou variveis de nvel mais baixo, como a abordagem da pirmide de

    informaes apresentada na Figura 1. Mas esta estratgia no deve ser exclusiva, j que pode

    rejeitar conceitos importantes sobre a potencialidade de outras metodologias e tipos de

    indicadores envolvidos (GALLOPIN, 1996, apudBELLEN, 2002).

    Outro aspecto referente aos indicadores relacionados ao desenvolvimento sustentvel

    a dimenso tempo. Segundo Dahl (1997), apud Bellen (2002), os indicadores podem ser

    escalares ou vetoriais. denominado vetor um nmero de indicadores apresentados ao mesmo

    tempo, mas no agregado, para mostrar um perfil das condies ambientais. De outra forma,um ndice escalar consiste num nmero gerado da agregao de dois ou mais valores.

    Os adeptos das medidas vetoriais argumentam que a complexidade do sistema pode

    ser melhor compreendida a partir de medidas vetoriais, enquanto outros estudiosos alegam

    que a utilizao de medidas escalares tem entre as principais vantagens a simplificao

    (BELLEN, 2002).

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    Ao se discutir a sustentabilidade e seus indicadores, deve-se estar ciente de que

    julgamentos de valor esto presentes nos sistemas de avaliao e podem ser implcitos, que

    provm de aspectos no facilmente observveis e que so inconscientes e relacionados a

    caractersticas pessoais e de uma determinada sociedade, ou explcitos, que so tomados

    conscientemente e compreendem uma parte fundamental do processo de criao de

    indicadores. necessrio ter em vista, tambm, que h diferena entre os diversos domnios

    em que se mede a sustentabilidade: esfera mundial ou global, nacional, regional, local ou

    comunitria, que resultado dos mais diversos fatores que influenciam os valores que

    predominam nestes ambientes (BELLEN, 2002).

    Wall et al. (1995), citado por Bellen (2002), argumentam, a respeito da questo daagregao dos dados na formulao de indicadores, que, embora indicadores agregados sejam

    teis para aumentar o grau de conscincia a respeito de certas questes, indicadores

    desagregados so fundamentais para que se possa tomar iniciativas peculiares de ao, pois, a

    partir de uma informao fornecida pelo indicador agregado, no possvel adotar medidas de

    correo dentro de reas especficas.

    Os indicadores agregados apresentam o obscurecimento de informaes, o que ameaaa visualizao da situao efetiva do sistema, disfarando alguns setores e realando outros.

    Entretanto, h a necessidade de indicadores com um certo grau de agregao para

    acompanhamento da questo da sustentabilidade, porm os dados devem ser estratificados em

    termos de grupos, setores ou regies. A generalizao deve, ento, atender regra de que o

    indicador consiga apanhar eventuais problemas de uma maneira clara e concisa (BELLEN,

    2002).

    No que diz respeito s funes dos indicadores, Hardi; Barg (1997), citados por Bellen

    (2002), afirmam que estes podem ser indicadores sistmicos ou indicadores de performance.

    Os primeiros descrevem um grupo de medidas individuais para diferentes questes e

    comunicam as informaes mais relevantes para os tomadores de deciso. J os indicadores

    de performance, incorporam indicadores sistmicos e referncias a um objetivo poltico

    especfico e so instrumentos para comparao. Eles provem os tomadores de deciso de

    informaes a respeito do sucesso no cumprimento de metas.

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    Segundo Bellen (2002), no processo de desenvolvimento de um ndice, os diversos

    indicadores que fazem parte do mesmo devem ser ponderados, porm, quando se consideram

    aspectos ambientais e sociais, esta monetarizao ou ponderao no muito simples.

    (...) a crescente utilizao de indicadores mostra que estes so importantes

    ferramentas para a tomada de deciso e para melhor compreender e monitorar as

    tendncias, sendo, portanto, teis na identificao dos dados mais relevantes e no

    estabelecimento de sistemas conceituais para a compilao e anlise de dados

    (BELLEN, 2002, p.36).

    Outro aspecto importante, atentado por Gallopin (1996), citado por Bellen (2002),

    que a grande heterogeneidade entre os pases e grandes regies se torna uma barreira para a

    utilizao de indicadores em escalas generalizadas. Sendo assim, os maiores empenhos, no

    que diz respeito ao desenvolvimento de indicadores, tm sido concentrados em tcnicas

    aplicveis nos nveis subnacional, regional e local.

    O mesmo autor sugere, ainda, que sistemas de indicadores de desenvolvimento

    sustentvel devem seguir algumas condies: os valores dos indicadores devem ser

    mensurveis, deve existir disponibilidade dos dados, a metodologia utilizada deve sertransparente e padronizada, os meios para construir e acompanhar os indicadores devem estar

    disponveis, os indicadores devem ser financeiramente viveis e deve existir aceitao poltica

    dos indicadores no nvel adequado.

    Bellen (2002) cita ainda Jesinghaus (1999), que levanta a questo da importncia da

    seleo dos indicadores, que deve seguir trs estgios: o preparatrio, o de estabelecimento de

    objetivos e cronogramas e o que se refere a institucionalizao do grupo de indicadores, desua atualizao, revises, alocao de recursos, entre outros aspectos. Para o autor, a seleo

    pode ser feita a partir de duas abordagens: a top-down e a bottom-up. De acordo com a

    primeira abordagem, o grupo de indicadores e o sistema so definidos pelos especialistas e

    pesquisadores, enquanto na abordagem bottom-up h a participao da sociedade envolvida

    na seleo dos indicadores. Ambas possuem vantagens e desvantagens.

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    A partir desta discusso, verifica-se que os indicadores devem ser holsticos,

    representando a viso do todo, devem ter embasamento cientfico, devem ser confiveis e

    transmitir informaes claras para os tomadores de deciso e a quem mais interessar.

    3.5.3 Formulao e Aplicao de Indicadores de Sustentabilidade

    Segundo Braga et al. (2003), as tentativas de construo de indicadores de

    sustentabilidade seguem trs vertentes principais: a vertente biocntrica, que consiste

    principalmente na busca por indicadores de equilbrio ecolgico de ecossistemas, a vertente

    econmica, que consiste em avaliaes monetrias do capital natural e do uso de recursos

    naturais e uma terceira vertente, que busca construir indicadores de sustentabilidade quecombinem aspectos do ecossistema natural, econmico e da qualidade de vida humana,

    levando em considerao, tambm, aspectos dos sistemas poltico, cultural e institucional.

    A CNUCED, realizada no Rio de Janeiro, criou a Comisso de Desenvolvimento

    Sustentvel (CSD Comission on Sustainable Development) que tem como principal objetivo

    monitorar tudo o que feito a caminho de um futuro sustentvel. Nesses encontros, levantou-

    se a questo da necessidade de criar padres, bases comuns, que sirvam como referncia paramedir o grau de sustentabilidade e os avanos em direo a um futuro sustentvel (BELLEN,

    2002).

    Um dos obstculos, porm, como mencionado, o de se chegar a um consenso a

    respeito do conceito de sustentabilidade e de quais e como devem ser seus indicadores. A

    CDS estabeleceu elementos bsicos que devem ser considerados para o desenvolvimento e

    emprego de indicadores de sustentabilidade no nvel nacional. J para Meadows (1998),citada por Bellen (2002), bons indicadores devem ter as seguintes caractersticas, apresentadas

    no Quadro 1.

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    1. Devem ser claros nos valores. No so desejveis incertezas nas direes que so consideradas corretas ouincorretas.

    2. Devem ser claros em seu contedo, devem ser entendveis, com unidades que faam sentido.

    3. Devem ser suficientemente elaborados para impulsionar a ao poltica.

    4. Devem ser relevantes politicamente, para todos os atores sociais, mesmo para aqueles menos poderosos.

    5. Devem ser factveis, isto , mensurveis dentro de um custo razovel.

    6. Devem ser suficientes, ou seja, preciso achar um meio-termo entre o excesso de informaes e asinformaes insuficientes, para que se fornea um quadro adequado da situao.

    7. Deve ser possvel a sua compilao sem necessidade excessiva de tempo.8. Devem estar situados dentro de uma escala apropriada, nem super nem subagregados.9. Devem ser democrticos; as pessoas devem ter acesso seleo e s informaes resultantes da aplicao daferramenta.

    10. Devem ser suplementares; devem incluir elementos que as pessoas no possam medir por si prprias.

    11. Devem ser participativos, no sentido de se utilizar elementos que as pessoas, os atores, possam mensurar porsi prprios, alm da compilao e divulgao dos resultados.

    12. Devem ser hierrquicos, para que os usurios possam descer na pirmide de informaes se desejarem, mas,ao mesmo tempo, transmitir a mensagem principal rapidamente.

    13. Devem ser fsicos, uma vez que a sustentabilidade est ligada em grande parte a problemas fsicos, comogua, poluentes, florestas, alimentos. desejvel, na medida do possvel, que se mea a sustentabilidade atravsde unidades fsicas (toneladas de petrleo e no seu preo, expectativa de vida e no gastos com sade).

    14. Devem ser condutores, ou seja, devem fornecer informaes que conduzam a ao.15. Devem ser provocativos, levando discusso, ao aprendizado e mudana.

    Quadro 1- Caractersticas necessrias para a construo de sistemas de indicadores adequadosFonte: Meadows, 1998, apudBellen , 2002.

    Para esta autora, so necessrios, alm dos indicadores, sistemas de informaes

    coesos e apropriados para informar sobre a sustentabilidade de um sistema. Os indicadores

    fazem parte de um sistema de informao que deve recolher e gerenciar informaes e

    fornec-las para a ferramenta de avaliao (BELLEN, 2002).

    Bossel (1999) afirma queo sistema total do qual a sociedade faz parte formado por

    uma srie de sistemas componentes e que o sistema somente funciona corretamente, vivel e

    sustentvel, se os sistemas individuais tambm forem. Desta forma, para que o

    desenvolvimento sustentvel seja atingido, necessrio identificar os sistemas componentes

    essenciais e definir indicadores que podem prover informaes confiveis sobre cada sistema

    individual e sobre o sistema total.

    Cherchye; Kuosmanen (2002) discutem a aplicao do benchmarkinga vrios tipos de

    projetos de desenvolvimento sustentvel, principalmente no campo da administrao pblica,em nvel de comunidade local.

  • 7/23/2019 Anlise Da (Auto) Sustentabilidade Do Permetro Irrigado Baixo Acara. Um Estudo de Caso_OLIVEIRA_2008.

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    Benchmarking uma ferramenta bem sucedida de mensurar e comparar o desempenho

    de organizaes pblicas e privadas que geralmente comea com a identificao de parceiros

    que exemplificam a melhor prtica em alguma atividade, funo ou processo. So comparadas

    empresas em um mesmo setor ou outras unidades organizacionais comparveis

    (CHERCHYE; KUOSMANEN, 2002).

    De acordo com estes autores, o benchmarking pode promover desenvolvimento

    sustentvel atravs da difuso de experincia e tcnica de naes que esto frente em

    sustentabilidade aos pases menos desenvolvidos e com performances inferiores.

    A prtica do benchmarking, para a construo de ndices de desenvolvimento

    sustentvel, tipicamente baseada em ndices de desempenho que agregam vrias dimenses

    em uma nica figura numrica. Conseqentemente, uma literatura completa tem emergido na

    construo de um ndice operacional de desenvolvimento sustentvel que deve ser de fcil

    compreenso e uso no contexto das decises polticas. Porm, embora se reconhea a

    importncia de um ndice de sustentabilidade bem d