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ANÁLISE AO PROJETO DE LEI COMPLEMENTAR (PLP) Nº 257/16, QUE TRATA DO
REFINANCIAMENTO DE DÍVIDAS DOS ESTADOS E DO DISTRITO FEDERAL COM A
UNIÃO, COM PROFUNDOS AJUSTES NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA, EM ESPECIAL
PARA OS SERVIDORES PÚBLICOS E PARA A CONSECUÇÃO DO PLANO NACIONAL DE
EDUCAÇÃO
O PLP 257/16, de autoria do Poder Executivo, foi enviado à Câmara dos Deputados no último dia 22 de
março, com o objetivo de conceder prazo adicional de 20 anos para pagamento das dívidas refinanciadas
pelos entes estaduais perante a União e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social –
BNDES, mediante celebração de aditivo contratual, com possível redução de até 40% no valor das
prestações nos 24 meses posteriores à celebração do aditivo, no caso das dívidas com o ente federal.
Denominado de “Estímulo ao Reequilíbrio Fiscal”, o PLP 257 aborda basicamente 4 áreas: (i)
refinanciamento da dívida, propriamente, com previsão de amplo ajuste na administração pública e
possibilidade de privatização de empresas para pagamento dos débitos; (ii) alterações na Lei de
Responsabilidade Fiscal, denominadas “Medidas de Reforço à Responsabilidade Fiscal”; (iii) incentivo às
exportações por meio da criação do Certificado de Garantia de Cobertura do Seguro de Crédito à
Exportação; e (iv) intervenção na política monetária visando controlar as condições de liquidez da
economia, implantando política de “depósitos remunerados” via Banco Central, o que não deixa de
beneficiar o setor financeiro.
A matéria tramitará em regime de urgência na Câmara dos Deputados e no Senado, com prazo para
aprovação de até 45 dias em cada uma das Casas Legislativas. Neste momento, o PLP 257 encontra-se na
Câmara dos Deputados aguardando a votação formal do pedido de urgência. Em sendo aprovado esse
regime excepcional, a matéria seguirá para apreciação das comissões de (1) Constituição e Justiça; (2)
Finanças e Tributação; (3) Trabalho, Administração e Serviço Público, retornando ao plenário para votação
final, antes de ser remetido ao Senado.
A presente análise se atém às duas medidas que afetam diretamente a vida de milhões de servidores
públicos de estados, do DF e dos municípios brasileiros.
I – DOS AJUSTES NO SERVIÇO PÚBLICO EXIGIDOS PARA REFINANCIAR AS DÍVIDAS
PÚBLICAS ESTADUAIS E DO DF
As exigências para o refinanciamento das dívidas se dividem em duas etapas.
A primeira, de caráter vinculante, exige que, num prazo de até 180 dias, a contar da assinatura dos termos
aditivos, os Estados e o DF que, porventura, aderirem à renegociação, sancionem e publiquem leis
determinando a adoção durante os 24 meses subsequentes de medidas para “auxiliá-los a reduzir suas
despesas”. Tais medidas encontram-se descritas no art. 3º do PLP 257, in verbis:
Art. 3º. A União poderá celebrar os termos aditivos de que trata o
art. 1º desta Lei Complementar, cabendo aos Estados e ao
Distrito Federal sancionar e publicar leis que determinem a
adoção, durante os 24 meses seguintes à assinatura do termo
aditivo, das seguintes medidas:
I - não conceder vantagem, aumento, reajustes ou adequação de
remunerações a qualquer título, ressalvadas as decorrentes de
atos derivados de sentença judicial e a revisão prevista no inciso
X do art. 37 da Constituição Federal;
II - limitar o crescimento das outras despesas correntes, exceto
transferências a Municípios e Pasep , à variação da inflação,
aferida anualmente pelo Índice Nacional de Preços ao
Consumidor Amplo - IPCA ou por outro que venha a substituí-lo;
III - vedar a edição de novas leis ou a criação de programas que
concedam ou ampliem incentivo ou benefício de natureza
tributária ou financeira;
IV - suspender admissão ou contratação de pessoal, a qualquer
título, inclusive por empresas estatais dependentes, por
autarquias e por fundações instituídas e mantidas pelo Poder
Público, ressalvadas as reposições decorrentes de vacância,
aposentadoria ou falecimento de servidores nas áreas de
educação, saúde e segurança, bem como as reposições de cargos
de chefia e de direção que não acarretem aumento de despesa, em
qualquer caso sendo consideradas apenas as vacâncias ocorridas
a partir da data de assinatura do termo aditivo; e
V - reduzir em 10% (dez por cento) a despesa mensal com cargos
de livre provimento, em comparação com a do mês de junho de
2014.
Sobre o art. 3º supratranscrito, consideramos o seguinte:
a. As medidas de ajuste são obrigatórias por no mínimo 2 anos, podendo o prazo ser estendido de
acordo com as mudanças propostas na Lei de Responsabilidade Fiscal (LC 101/00), as quais
comentamos mais adiante.
b. Pela interpretação da CNTE, a medida prevista no inciso I não afeta o critério vigente no art. 5º da
Lei 11.738 – inclusive do ponto de vista da “supremacia” de Leis Complementares sobre Leis
Ordinárias –, uma vez que o reajuste tem amparo constitucional (art. 60, III, “e” do ADCT/CF).
Contudo, seu impacto nos planos de carreira deverá ficar restrito ao patamar definido pela política
de reajuste geral para os servidores públicos, de cada ente federado, à luz do que estabelece o art.
37, X da Constituição Federal e as novas regras do PLP 257/16. A partir de agora, o impacto do piso
na carreira dependerá significativamente da aprovação de lei federal estabelecendo as diretrizes
nacionais para os planos de carreira dos profissionais da educação (além do piso salarial para todos
os educadores públicos), com aporte financeiro da União, tal como propõe a minuta de projeto da
CNTE.
c. Os incisos II, III e IV representam barreiras quase intransponíveis à consecução das metas do Plano
Nacional de Educação, sobretudo daquelas que visam a ampliar e qualificar o atendimento
educacional e a valorizar as carreiras dos profissionais da educação. E a saída desse cenário
restritivo, na área educacional, consiste em aprovar o CAQi, a fim de realinhar a política de
financiamento sob a égide do regime de cooperação federativa, amparado pelo Sistema Nacional de
Educação (União, Estados, DF e municípios).
d. O inciso IV, embora permita repor as vacâncias decorrentes de aposentadoria ou falecimento de
servidores das áreas de educação, saúde e segurança, condiciona a reposição a partir da data de
assinatura do contrato de revisão da dívida, ou seja, “congela” a contratação de pessoal e de serviços
de infraestrutura e melhoria dos sistemas educacionais por no mínimo 2 anos.
e. Ademais, como veremos na análise da nova redação proposta ao art. 18 da LRF, não há mais
nenhuma garantia de reposição de quadros de servidores públicos para as áreas de ensino, pesquisa
científica, desenvolvimento tecnológico, proteção e preservação do meio ambiente, cultura e saúde.
O PLP 257 regulamenta a decisão do Supremo Tribunal Federal na Ação Direta de
Inconstitucionalidade à Lei 9.637/98 (ADI 1.923/98), e estabelece que os serviços terceirizados de
empresas privadas ou repassados para organizações da sociedade civil (OSs) devam ser
contabilizados como Outras Despesas de Pessoal, ficando, assim, excluídos do limite imposto ao
gasto com folha dos servidores pelo art. 19 da LRF.
f. Esse artigo do PLP 257 mantém correlação com a redação que se pretende incluir na LRF, através
do art. 24-A (ver análise mais à frente), o qual aprofunda as medidas de ajuste aos servidores
públicos.
Também como parte obrigatória para aderir às renegociações de suas dívidas, os entes federados deverão se
enquadrar, num prazo de até 180 dias, a algumas “medidas de reforço à responsabilidade fiscal”, conforme
dispõe o art. 4º do PLP 257, transcrito abaixo:
Art. 4º Além do requisito de que trata o art. 3º, os Estados e o
Distrito Federal sancionarão e publicarão lei que estabeleça
normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na
gestão fiscal do ente, com amparo no Capítulo II do Título VI,
combinado com o disposto no art. 24, todos da Constituição
Federal, e na Lei Complementar nº 101, de 2000, e que contenha,
no mínimo, os seguintes dispositivos:
I - instituição do regime de previdência complementar a que se
referem os §§ 14, 15 e 16 do art. 40 da Constituição, caso ainda
não tenha publicada outra lei com o mesmo efeito;
II - instituição de monitoramento fiscal contínuo das contas do
ente, de modo a propor medidas necessárias para a manutenção
do equilíbrio fiscal;
III - instituição de critérios para avaliação periódica dos
programas e dos projetos do ente, com vistas a aferir a qualidade,
a eficiência e a pertinência da sua manutenção, bem como a
relação entre
custos e benefícios de suas políticas públicas, devendo o resultado
da avaliação ser tornado público;
IV - elevação das alíquotas de contribuição previdenciária dos
servidores e patronal ao regime próprio de previdência social
para 14% (quatorze por cento) e 28% (vinte e oito por cento)
respectivamente, podendo ser implementada gradualmente em até
3 (três) anos, até atingir o montante necessário para saldar o
déficit atuarial e equiparar as receitas das contribuições e dos
recursos vinculados ao regime próprio à totalidade de suas
despesas, incluindo as pagas com recursos do Tesouro;
V - reforma do regime jurídico dos servidores ativos e inativos,
civis e militares, para limitar os benefícios, as progressões e as
vantagens ao que é estabelecido para os servidores da União;
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Sobre o art. 4º supratranscrito, consideramos o seguinte:
a. Embora a previdência complementar para os servidores públicos seja uma regra institucional em
vigor, os estados e municípios podem (ou não) implementá-la de acordo com as realidades objetivas
(atuariais) de seus fundos previdenciários próprios. A determinação do PLP 257 suprime a
prerrogativa da conveniência e impõe, na forma de contrato particular (da dívida) e sob o manto de
competências concorrentes, expressas no art. 24 da CF, a regulamentação desse instituto
previdenciário aos entes renegociadores. Tal medida pode ser considerada “leonina” e passível de
ação direta de inconstitucionalidade, até porque contrapõe a nova redação proposta para o parágrafo
único do art. 69 da LRF, o qual assegura certo nível autonomia aos entes que possuem fundos
previdenciários e que, eventualmente, não queiram optar pela previdência complementar. Diz o
referido texto aditivo à LRF: “É nulo de pleno direito qualquer ato legal ou administrativo de
aumento da despesa com pessoal que ocasione impacto negativo no equilíbrio atuarial ou
incremento real da insuficiência financeira do regime próprio de previdência social, salvo se
recomposto por aumento de alíquota de contribuição ou revisão de regras de concessão de
benefícios.” (grifo nosso)
b. Os incisos II e III estão em consonância com a nova sistemática de fiscalização e adequação fiscal
que se pretende atribuir à LRF, conforme dispõe as redações sugeridas no PLP 257, especialmente
aos arts. 4º, 5º, 48, entre outros.
c. O inciso IV obriga os entes renegociadores a aumentar de imediato suas alíquotas previdenciárias
laborais e patronais para 14% e 28%, respectivamente, com a finalidade de desonerar os recursos do
Tesouro com essa rubrica. A medida, no entanto, não sugere nenhuma auditoria ou encontro de
contas para averiguar as causas dos rombos previdenciários. Ou seja: legitima as irregularidades do
passado e sobrecarrega os servidores e a sociedade com a quitação de bandalheiras que são
responsáveis em grande parte pelos déficits previdenciários.
d. No inciso V, o projeto de lei complementar condiciona os entes federados que negociarem suas
dívidas com o governo federal a adotarem regras de regime jurídico estabelecidas para os servidores
da União, no que diz respeito, exclusivamente, a concessões de benefícios, progressões e vantagens
pecuniárias. Desse modo, num curto prazo de tempo, e sem que sejam parametrizados os
vencimentos de carreira, é possível que os planos de carreira de grande parte dos servidores
estaduais convirjam para as regras da Lei Federal 8.112/90, no que diz respeito às “vantagens dos
cargos”.
A segunda etapa de medidas é voluntária, podendo proporcionar aos entes contratantes um abatimento de
até 40% sobre as prestações da dívida, num prazo de 24 meses seguintes à assinatura do aditivo contratual
com a União. Para ter este benefício, os estados (e o DF) optantes terão que editar leis, num prazo de até 6
meses, observado os preceitos do art. 7º do PLP 257, in verbis:
Art. 7º A redução de que trata o art. 6º fica condicionada à
sanção e à publicação, pelos Estados e pelo Distrito Federal, de
leis que determinem a adoção de:
I - redução em 20% (vinte por cento) da despesa mensal com
cargos de livre provimento, em comparação com a do mês de
junho de 2014;
II - vedação à contratação de operação de crédito por prazo
equivalente ao dobro do prazo constante do requerimento de que
trata o art. 6º; e
III - limitação das despesas com publicidade e propaganda a 50%
(cinquenta por cento) da média dos empenhos efetuados nos
últimos três exercícios, por prazo em que for acordada a redução
extraordinária.
§ 1º O não cumprimento da obrigação de que trata este artigo, no
prazo de 180 dias contados da data de assinatura do termo
aditivo, implicará a revogação da redução a que se refere o
caput.
§ 2º Revogada a redução, ficam afastados seus efeitos
financeiros, devendo o Estado ou Distrito Federal restituir à
União os valores reduzidos nas prestações subsequentes à
proporção de 1/12 (um doze avos) por mês, aplicados os encargos
contratuais de adimplência.
Com relação às medidas do art. 7º, todas parecem coerentes, porém não amenizam os efeitos drásticos que
o PLP 257 impõe às carreiras e remunerações dos servidores públicos de Estados e do DF (com
consequências para os municípios) e sobre os compromissos estatais assumidos, no caso da educação,
através das metas e estratégias do PNE e dos planos decenais de educação de estados, DF e municípios.
II – DA PRIVATIZAÇÃO DE EMPRESAS PÚBLICAS
Conforme dispõe a exposição de motivos do PLP 257, “o art. 9º do projeto autoriza a União a receber bens,
direitos e participações acionárias em sociedades empresárias, controladas por estados e Distrito Federal,
como contrapartida à amortização, em caráter provisório, dos contratos de refinanciamento celebrados com
o ente. A valoração desses ativos será atestada em laudo de avaliação produzido por empresa especializada.
A União, por sua vez, deverá adotar as providências necessárias para a alienação dos bens, direitos e
participações acionárias recebidos em até 24 meses após a respectiva recepção, podendo o prazo ser
prorrogado por até 12 meses.”
Art. 9º Fica a União autorizada a receber bens, direitos e
participações acionárias em sociedades empresárias, controladas
por Estados e pelo Distrito Federal, com vistas à sua alienação,
nos termos de regulamentação por ato do Poder Executivo.
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§ 4º A União deverá adotar as providências necessárias para a
alienação dos bens, direitos e participações acionárias recebidos
do Estados e do Distrito Federal em até 24 meses após a
respectiva recepção, podendo o prazo ser prorrogado por até 12
meses, a critério do Ministro de Estado da Fazenda.
.........................................................................
§ 7º Fica a União autorizada a aumentar o capital social da
sociedade empresária cujo controle acionário vier a ser assumido
nos termos desta Lei
Complementar, com vistas ao saneamento econômico-financeiro
que se fizer necessário à venda.
§ 8º O montante aportado pela União na forma do § 7º terá como
contrapartida lançamento correspondente no saldo devedor do
contrato de refinanciamento do ente.
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Em suma, esse artigo autoriza ampla e irrestrita privatização de empresas públicas estaduais e do DF para
fins de quitação de suas dívidas com a União, e condiciona os devedores a pagamento de eventuais
encargos para saneamento das empresas, a fim de torná-las mais “atrativas” ao mercado (sem que os
compradores tenham quaisquer custos adicionais). Na verdade, o que está proposto no PLP 257 é a
repetição do modelo de privatização das estatais federais, levado a cabo na década de 1990, com enorme
prejuízo para o ente público e para a sociedade, que é obrigada a abrir mão de um patrimônio para,
futuramente, ficar refém de sobretaxas impostas pela iniciativa privada, que passará a controlar inúmeros
serviços estratégicos e de interesse público.
III – PRINCIPAIS ALTERAÇÕES PROPOSTAS NA LEI DE RESPONSABILIDADE FISCAL
Numa outra frente de ajuste das contas públicas, válida para todos os entes da federação (e não mais apenas
para os que renegociarem suas dívidas), o Projeto da União propõe alterações na Lei de Responsabilidade
Fiscal (LC nº 101/00), com destaque para o seguinte:
a. Art. 18: as alterações sugeridas enfatizam que serão computadas como “Outras Despesas de
Pessoal” (sem incidência no limite de gasto com a folha de pessoal) os valores dos contratos de
terceirização de mão-de-obra ou qualquer espécie de contratação de pessoal de forma direta ou
indireta, inclusive para substituir postos de trabalho de servidores públicos, bem como os
repassados para organizações da sociedade civil (OS), relativos à contratação de mão-de-obra por
tais entidades para a consecução de finalidades de interesse público. Ou seja: a medida representa
verdadeiro convite à terceirização do serviço público e coaduna-se com a decisão do STF na ADI
1.923/98.
Art. 18 ...........................................................
§ 1º Serão computados como “Outras Despesas de Pessoal” os
valores:
I - dos contratos de terceirização de mão-de-obra ou qualquer
espécie de contratação de pessoal de forma direta ou indireta,
inclusive por posto de trabalho, que atue substituindo servidores e
empregados públicos; e
II - repassados para organizações da sociedade civil, relativos à
contratação de mão-de-obra por tais entidades para a
consecução de finalidades de interesse público e recíproco,
mediante a execução de atividades ou de projetos em mútua
cooperação com o Poder Público.
.......................................................................
b. Sob o argumento de que em momentos de choques econômicos adversos, os efeitos da
desaceleração na arrecadação de impostos torna o cumprimento das metas fiscais uma tarefa
altamente desafiadora, propõe-se no PLP 257 alterações na LRF com o objetivo de condicionar o
gasto público a percentuais do PIB nacional (no caso da União) e à receita primária total anual para
Estados, Distrito Federal e Municípios (art. 3-A). Porém, quando as previsões orçamentárias não se
concretizarem, ficam os entes públicos obrigados a contingenciarem suas receitas (integralmente,
com algumas exceções) de acordo com os critérios dos arts. 9º, 9-A e 24-A, de forma sequencial:
Art. 9º Se verificado, ao final de um trimestre, que a realização da
receita poderá não comportar o cumprimento das metas de
resultado primário ou nominal estabelecidas no Anexo de Metas
Fiscais, os titulares dos Poderes e dos órgãos de que trata a
alínea “a” do inciso I do § 3º do art. 1º promoverão, por ato
próprio e nos montantes necessários, nos trinta dias
subsequentes, limitação de empenho e movimentação financeira,
segundo os critérios fixados pela lei de diretrizes orçamentárias.
.............................................................................
.............................................................................
§ 6º Poderá ser decretado pelos Poderes e pelos órgãos de que
trata a alínea “a”, inciso I, § 3º do art. 1º a adoção de Regime
Especial de Contingenciamento no caso de crescimento real
baixo ou negativo do Produto Interno Bruto - PIB nacional,
regional ou estadual por período igual ou superior a quatro
trimestres, nos termos dos §§ 1º e 2º do art. 66.
§ 7º Durante o Regime Especial de Contenção de Despesas, serão
contingenciadas todas as despesas, exceto:
I - as previstas no § 2º deste artigo;
II - as relativas a investimentos em fase final de execução ou que
sejam considerados prioritários; e
III - aquelas consideradas essenciais pelos órgãos para a
manutenção das suas atividades e prestação de serviços públicos.
§ 8º Adotado o Regime Especial de Contingenciamento, em caso
de não cumprimento das metas fiscais estabelecidas pela Lei de
Diretrizes Orçamentárias, o Poder Executivo do ente federativo
encaminhará mensagem ao Chefe do Poder Legislativo dispondo
sobre o caráter estratégico e essencial das despesas realizadas
com amparo nos incisos II e III do § 7º deste artigo, e sobre as
razões que levaram ao descumprimento das metas e sobre as
medidas corretivas adotadas.” (NR)
Art. 9º-A. Verificado, ao final de um trimestre, que a despesa
empenhada poderá exceder o limite de que trata a alínea “g” do
inciso I do art. 4º, cada Poder e os órgãos a que se refere a alínea
“a”, inciso I, § 3º do art. 1º aplicará sequencialmente, no que
couber e no montante do excesso, as limitações descritas no art.
24-A, observada a ordem de precedência.
.Art. 24-A. Quando, na elaboração do Projeto de Lei de
Diretrizes Orçamentárias, verifique-se a possibilidade de
extrapolação do limite a que se refere o art. 3º-A, cada Poder e
órgão a que se refere a alínea “a”do inciso I do § 3º do art. 1º
respeitará as seguintes restrições para a fixação da despesa na
elaboração do Projeto de Lei Orçamentária anual, dentro de suas
competências e nos montantes necessários para a adequação ao
limite:
I - vedação da criação de cargos, empregos e funções ou
alteração da estrutura de carreiras, que impliquem aumento de
despesa;
II – suspensão da admissão ou contratação de pessoal, a
qualquer título, ressalvadas a reposição decorrente de
aposentadoria ou de falecimento de servidores, as reposições de
cargos de chefia e de
direção que não acarretem aumento de despesa e as contrações
por tempo determinado para atender necessidade temporária de
excepcional interesse público;
III - vedação de concessão de aumento de remuneração de
servidores acima da previsão de variação do Índice de Preços ao
Consumidor Amplo - IPCA para o ano de elaboração da Lei de
Diretrizes Orçamentárias ou outro índice que venha a substituí-
lo;
IV - correção da despesa de custeio, exceto despesa obrigatória,
limitada ao valor empenhado no ano anterior acrescido da
previsão de variação do IPCA para o ano de elaboração da Lei
de Diretrizes Orçamentárias ou outro índice que venha a
substituí-lo;
V - correção da despesa sujeita à limitação de empenho e
movimentação financeira de que trata o art. 9º restrita ao valor
empenhado no ano anterior acrescido da previsão de variação do
IPCA para o ano de elaboração da Lei de Diretrizes
Orçamentárias ou outro índice que venha a substituí-lo; e
VI - redução em pelo menos dez por cento das despesas com
cargos de livre provimento.
§1º Caso as restrições indicadas no caput não sejam suficientes
para conduzir as despesas ao limite, as seguintes medidas
deverão ser adotadas para a elaboração do Projeto de Lei
Orçamentária;
I- vedação de aumentos nominais de remuneração dos servidores
públicos, ressalvado o disposto no inciso X do art. 37 da
Constituição;
II - vedação da ampliação de despesa com subsídio ou com
subvenção em relação ao valor empenhado no ano anterior,
exceto se a ampliação for decorrente de operações já
contratadas;
III - limitação da despesa de custeio, exceto despesa obrigatória,
ao valor empenhado no ano anterior;
IV - manutenção da despesa sujeita à limitação de empenho e
movimentação financeira de que tra
ta o art. 9º, no máximo, no valor empenhado no ano anterior; e
V - redução adicional em pelo menos dez por cento das despesas
com cargos de livre provimento.
§ 2º Caso as ações indicadas no caput e no § 1º não forem
suficientes para restringir as despesas ao limite, as seguintes
medidas deverão ser adotadas para a elaboração do Projeto de
Lei Orçamentária:
I - vedação do reajuste do salário mínimo acima da previsão de
variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor - INPC
para o ano de elaboração da Lei de Diretrizes Orçamentárias ou
outro índice que venha a substituí-lo;
II - redução em até 30% dos gastos com servidores públicos
decorrentes de parcelas indenizatórias e
de vantagens de natureza transitória; e
III - implementação de programas de desligamento voluntário e
de licença incentivada de servidores e empregados, que
representem redução de despesa.
§ 3º As medidas adotadas na forma deste artigo poderão ser
suspensas no segundo semestre do ano quando a verificação a
que se refere o art. 9º-A e a elaboração do Projeto de Lei
Orçamentária Anual referente ao ano seguinte indicarem que o
gasto público primário total, descontado o efeito destas medidas,
permanecerá abaixo do limite no exercício fiscal corrente e no
subsequente.
§ 4º O aumento da despesa decorrente da aplicação do § 3º deste
artigo ficará condicionado à deliberação dos órgãos das áreas
econômica e de planejamento, nos termos do regulamento de
cada ente federativo e Poder, no âmbito da elaboração da Lei
Orçamentária Anual.
§ 5º Os reajustes de salários e benefícios a servidores que forem
concedidos estarão condicionados, integralmente ou em suas
parcelas, aos limites referidos na alínea “g”do inciso I do art. 4º.
§ 6º Aumentos de remuneração dos servidores suspensos ou
cancelados na forma deste artigo não serão devidos em hipótese
ou em tempo algum aos potenciais beneficiários.
§ 7º Enquanto o limite a que se refere a alínea “g”, inciso I, do
art. 4º não for atendido, ficam suspensos os efeitos de novas
alterações na legislação tributária que impliquem queda na
arrecadação e a implementação das propostas legislativas que
resultem em aumento de despesas primárias.
§ 8º As restrições dispostas no inciso VI do caput deste artigo e
no inciso V do § 1º serão aplicadas, quando necessário, uma
única vez ao longo do período a que se refere o Plano Plurianual.
§ 9º Poderá ser enviado ao Poder Legislativo o Projeto de Lei
Orçamentária Anual com o gasto público primário total fixado
acima do limite a que se refere a alínea “g”, inciso I, do art. 4º,
desde que seja autorizada a extrapolação deste limite na Lei de
Diretrizes Orçamentárias e que sejam adotadas as medidas
indicadas no caput e nos §§ 1º e 2º..” (NR)
c. Para o orçamento vigente, o PLP sugere diminuir o limite prudencial de gastos com pessoal de 95% para
90% (ampliando assim o ajuste sobre os salários), devendo-se aplicar as seguintes medidas restritivas em
caso de extrapolação desse limite:
Art. 22. ............................................................................................
§ 1º Se a despesa total com pessoal exceder a 90% (noventa por
cento) do limite, são vedados ao Poder ou ao órgão referido no
art. 20 que houver incorrido no excesso: (g.n)
I - concessão de vantagem, aumento, reajuste ou adequação de
remuneração a qualquer título, salvo os derivados de sentença
judicial ou de determinação legal ou contratual, ressalvada a
revisão prevista no inciso X do art. 37 da Constituição;
II - criação de cargo, emprego ou função;
III - alteração de estrutura de carreira que implique aumento de
despesa;
IV - provimento de cargo público, admissão ou contratação de
pessoal a qualquer título, ressalvada a reposição decorrente de
aposentadoria ou de falecimento de servidores das áreas de
educação, saúde e segurança e as reposições de cargos de chefia
e de direção que não acarretem aumento de despesa; e
V - contratação de hora extra, salvo no caso do disposto no inciso
II do § 6º do art. 57 da Constituição e as situações previstas na lei
de diretrizes orçamentárias.
§ 2º A concessão de vantagem, aumento, reajuste ou adequação
de remuneração derivada de determinação legal ou contratual
ficará suspensa enquanto a despesa total com pessoal se mantiver
acima dos 90% (noventa por cento) do limite, ressalvado o
previsto no inciso X do art. 37 da Constituição.
§ 3º Caso o limite máximo constante no art. 19 tenha sido
ultrapassado, o Poder ou o órgão estabelecido no art. 20 desta
Lei Complementar deverá estabelecer plano de implementação
das medidas estabelecidas no § 3º do art. 169 da Constituição.
§ 4º O Poder ou o órgão estabelecido no art. 20 desta Lei deverá
apresentar o plano constante no § 3° deste artigo ao respectivo
tribunal de contas, que ficará responsável pela fiscalização de
cumprimento do mesmo. (NR)
d. Como forma de aliviar as finanças públicas e de incentivar a criação do regime de previdência
complementar em todos os entes que dispõem de fundos próprios de previdência social, o PLP 257
propõe excluir dos limites para despesa total com pessoal, definidos no art. 19 da LRF, a
contribuição patronal previdenciária. Eis a proposta de redação para o art. 19 da LRF:
Art. 19. ..........................................................................................
§ 1º.................................................................................................
VII - de contribuição patronal devida pelo ente federativo
instituidor de regime de previdência complementar vinculada
àquela devida pelos respectivos participantes.” (NR)
e. Entre as nulidades previstas no atual art. 21 da LRF, propõe-se acrescentar outra:
Art. 21. É nulo de pleno direito:
.......................................................................
III - o ato de que resulte aumento da despesa com pessoal que
preveja parcelas a serem implementadas em períodos posteriores
ao final do mandato do titular do respectivo Poder ou órgão
referido no art. 20.
IV - CONCLUSÃO
Para a CNTE, o equilíbrio das contas públicas deve pautar sempre a garantia de melhores serviços à
população e mais investimentos do Estado no processo de desenvolvimento com inclusão social. Daí
porque não será atacando direitos dos servidores públicos – numa lógica essencialmente neoliberal e
contraproducente para a qualificação do serviço público – que se alcançarão os melhores resultados numa
equação com duas variáveis importantes para o País, a fiscal e a social. Porém, o PLP 257 dá supremacia ao
componente fiscal, pura e simplesmente, repetindo tentativas de ajustes inoperantes e recessivos realizados
décadas atrás na economia brasileira, e, pior, mantém uma estrutura de Estado injusta na medida em que:
1. Não ataca o problema estrutural das finanças públicas, que provém da histórica concentração da
riqueza em detrimento da classe trabalhadora e dos desempregados.
2. Não avança rumo à justiça tributária, pois mantém o sistema regressivo de tributação onde,
proporcionalmente, quem ganha menos paga mais impostos. Pior: sequer incorpora a
regulamentação do Imposto sobre Grandes Fortunas, previsto no art. 153, VII da CF-1988, que, ao
lado de outros impostos patrimoniais, com alíquotas subvalorizadas, poderia alavancar as receitas
dos entes públicos.
3. Omite a necessidade de reforma tributária para, além de rever a estrutura da receita fiscal no País,
reordenar a partilha dos tributos e reorientar suas destinações, visto que as Contribuições Sociais
tornaram-se majoritárias no bolo tributário, em prejuízo dos impostos que financiam a maioria das
políticas públicas.
4. Mantém omisso o debate sobre os regimes de cooperação e colaboração previstos na Constituição
para financiar solidariamente as políticas públicas. Em momento algum são tratados os problemas
da concentração da arrecadação tributária em poder da União e da descentralização dos serviços
públicos para estados e municípios, sem a devida correspondência de receita tributária, o que,
certamente, agrava a oferta de serviços públicos com qualidade e equidade.
5. Não propõe acabar com as desonerações fiscais concedidas pela União, que continuam
comprometendo o financiamento das políticas públicas.
6. Prioriza o superávit primário para pagamento de dívidas.
7. Dispõe do patrimônio público para honrar dívidas em detrimento do bem estar do povo brasileiro.
8. Incentiva a terceirização e a privatização de serviços públicos em benefício de Organizações
Sociais, comprometendo a qualidade dos serviços e beneficiando grupos empresariais.
9. Ataca direitos dos atuais servidores públicos, elegendo essa categoria, a exemplo do que ocorreu nas
décadas de 1980-90, como “bode expiatório” da crise.
10. Inviabiliza a maioria das metas e estratégias do Plano Nacional de Educação, em especial as
que demandam novos investimentos públicos, como a expansão das matrículas em todos os
níveis, etapas e modalidade; a implementação do Custo Aluno Qualidade Inicial e a
valorização dos profissionais da educação.
Com relação ao reajuste anual do piso nacional do magistério, regido pela Lei Federal 11.738, o
entendimento da CNTE é de que as medidas propostas no PLP 257 não afetam o critério vigente no art. 5º
da referida norma – inclusive do ponto de vista da “supremacia” de Leis Complementares sobre Leis
Ordinárias –, uma vez que o reajuste tem amparo constitucional (art. 60, III, “e” do ADCT/CF). Contudo,
seu impacto nos planos de carreira deverá ficar restrito ao patamar definido pela política de reajuste geral
para os servidores públicos, de cada ente federado, à luz do que estabelece o art. 37, X da Constituição
Federal e as novas regras do PLP 257. A partir de agora, o impacto do piso na carreira dependerá
significativamente da aprovação de lei federal estabelecendo as diretrizes nacionais para os planos de
carreira dos profissionais da educação (além do piso salarial para todos os educadores públicos), com
aporte financeiro da União, tal como propõe a minuta de projeto da CNTE.
Diante dessas considerações, a CNTE se posiciona contra o PLP 257/16 e sugere sua imediata retirada da
pauta do Congresso Nacional, com o consequente arquivamento.
Brasília, 28 de março de 2016
Diretoria Executiva da CNTE