anais jornada 2013

120
Anais XII Jornada Médico-Literária Paulista VII Jornada Nacional da Sobrames Organização: Sociedade Brasileira de Médicos Escritores SOBRAMES - Regional do Estado de São Paulo Botucatu - São Paulo - Brasil 26 a 29 de setembro de 2013

Upload: marcos-gimenes-salun

Post on 27-May-2015

463 views

Category:

Documents


41 download

TRANSCRIPT

Page 1: Anais Jornada 2013

Anais

XII Jornada Médico-Literária PaulistaVII Jornada Nacional da Sobrames

Organização:Sociedade Brasileira de Médicos Escritores

SOBRAMES - Regional do Estado de São Paulo

Botucatu - São Paulo - Brasil26 a 29 de setembro de 2013

Page 2: Anais Jornada 2013

SOCIEDADE BRASILEIRA DE MÉDICOS ESCRITORESRegional do Estado de São Paulo

SOBRAMES - SPDiretoria Gestão 2013/2014

Cargos EletivosPresidente: Josyanne Rita de Arruda Franco

Vice-presidente: Carlos Augusto Ferreira GalvãoPrimeiro secretário: Márcia Etelli Coelho

Segundo secretário: Maria do Céu Coutinho LouzãPrimeiro tesoureiro: Jorge Alberto Vieira

Segundo tesoureiro: Aída Lúcia Pullin Del Sasso Begliomini

Conselho FiscalEfetivos:

Helio BegliominiLuiz Jorge Ferreira

Marcos Gimenes Salun

Suplentes:José Jucovsky

Rodolpho CivileJosé Rodrigues Louzã

A XII Jornada Médico-Literária Paulista é uma realização da SOBRAMES - SPSociedade Brasileira de Médicos Escritores - Regional do Estado de São Paulo

Endereço para correspondência (SOBRAMES-SP):Rua Francisco Pereira Coutinho 290, 121 AVila Municipal Jundiaí, SP. - CEP 13201-100

[email protected]

Copyright 2013 © dos Autores

Comissão Organizadora da XII Jornada Médico-Literária Paulista Os integrantes da Diretoria da Regional São Paulo

Os conceitos emitidos nos textos literários deste evento representam exclusivamentea opinião de seus autores, não sendo de responsabilidade da SOBRAMES-SP.

Projeto Gráfico e Diagramação: Marcos Gimenes SalunProdução: Rumo Editorial Produções e Edições Ltda.

E-mail: [email protected](11) 2331-1351 / 99182-4815

II

Page 3: Anais Jornada 2013

Apresentação

III

A XII Jornada Médico-Literária Paulista está mais rica e frescacom os ares interioranos de Botucatu. Em pleno início deprimavera, não somente desabrocham flores, mas tambémexultam e se regozijam os sons e as palavras, polinizados pelocálido vento que traz verso e prosa talentosos dos vários cantosda amada terra brasileira.

O acontecimento bienal mais aguardado da SociedadeBrasileira de Médicos Escritores Regional São Paulo (SobramesSP), nesta edição oferece o abraço que acolhe a arte de escreverque vem de outras paragens, trazida na bagagem de médicosescritores de variados estados do nosso imenso país, irmanadosem uma jornada de abrangência nacional. Um paraíso particularque por alguns dias se descola do mundo globalizado de conversase encontros virtuais, onde não existe o calor do contato, o apertode mãos, o abraço fraterno. Confraternização, amizade e talentoliterário, eis o convite! Ouçamos a voz e o eco das tantas belaspalavras que reverberam -cordiais e indeléveis- em coletânea deextraordinárias e memoráveis composições nas páginas que sedescortinam a seguir: uma aventura para compartilhar e nuncamais esquecer!

Dra. Josyanne Rita de Arruda FrancoPresidente da SOBRAMES-SP (2013-2014)

Page 4: Anais Jornada 2013
Page 5: Anais Jornada 2013

Queridas amigas e amigos,confrades e confreiras da SOBRAMES e ABRAMES,

Sempre vivemos intensamente a poesia de todos os momentosque passamos juntos. E essa nova oportunidade não será diferente.Todos nós estamos empenhados em manter viva a chama que nos une,o amor à palavra e o amor ao caminho rumo à sabedoria.

Atualmente experimentamos um período totalmente inacreditávelcomo médicos. Há uma inversão de valores nos quais sempreacreditamos. Servir, atender, curar, aliviar com o melhor de nossoconhecimento. Estes preceitos tem sido motivo de “ajustes” políticos,contrários ao que temos proferido desde os nossos bancos frios doanfiteatro de anatomia, no começo de nosso curso de Medicina. É uma“nova ordem” que infelizmente nivela por níveis muito baixos os padrõesde excelência que buscamos no dia-a-dia de nossa profissão.

De fato, perseveramos com aquele ideal inato de “ser”. Poetas,cronistas, contistas, ensaístas e outros artistas que compõem estasnossas egrégoras são uma força necessária, porém, às vezes, ausentesna construção de um pensamento consistente para o país. Divergênciashá e são necessárias para que se possa encontrar um Norte, uma soluçãoe um bem comum. Nestes dias do começo da Primavera, florescerãomomentos de renovação das amizades e de aprendizado e reflexão.

Botucatu nos receberá com carinho nos dias 26 à 29 de Setembro.Foram meses de dedicação e empenho, junto à Diretoria da RegionalSP, sob a batuta da Presidente Josyanne Rita de Arruda Franco. Hojetemos certeza que a decisão durante o XXIV Congresso Nacional emCuritiba foi acertada. Realizar a XII Jornada Médico-Literária Paulistaem conjunto com a VII Jornada Nacional da SOBRAMES e com aparticipação da Academia Brasileira de Médicos Escritores. Somamos.Multiplicamos. Este é o caminho. 

Dr.Sérgio Augusto de Munhoz PitakiPresidente Nacional SOBRAMESAcadêmico Titular da Cadeira no. 21 - ABRAMES

Mensagem do Presidente

V

Page 6: Anais Jornada 2013
Page 7: Anais Jornada 2013

VII

Índice Geral

ProgramaSessões LiteráriasAutores ParticipantesTextos Literários

Letra de EstudanteA cidade de BotucatuConheça a Sobrames

IIIIIIIVVVIVII

913172195

105109

Page 8: Anais Jornada 2013
Page 9: Anais Jornada 2013

9

IPrograma

XII Jornada Médico Literária PaulistaVII Jornada Nacional Sobrames

Os organizadores reservam-se o direito de efetuareventuais alterações nesta programação,

sempre visando o bom andamento do evento,e desde que estas sejam absolutamente necessárias

ou convinientes aos participantes.Qualquer alteração será informadaa todos com a devida antecedência.

Botucatu - São Paulo25 a 29 de setembro de 2013

Primar Plaza Hotel

Page 10: Anais Jornada 2013

Dia 26/09/2013 (Quinta-Feira)14h00 – Check-in no Primar Plaza Hotel (à partir de 14h00)19h00 - Recepção aos participantes e convidados19h30 – Abertura oficial (Teatro Municipal de Botucatu)

Presidente da Sobrames - Dr.Sérgio Augusto de Munhoz Pitaki Presidente Sobrames São Paulo - Dra.Josyanne Rita de Arruda Franco

Apresentação de Autoridades20h15 – Apresentação do Coral da Prefeitura21h00 - Coquetel no hall do Teatro

Dia 27/09/2013 (Sexta-Feira)06h30 – Café da Manhã08h15 – Primeira Sessão literária - Sala de Eventos do Hotel – Prosa e Verso de autores da Sobrames10h15 – Coffe-Break Lançamento da IX Antologia Paulista11h00 – Segunda Sessão Literária - Sala de Eventos do Hotel - – Prosa e Verso de autores da Sobrames12h30 – Almoço no Restaurante do Primar Plaza Hotel13h45 – Terceira Sessão Literária - Sala de Eventos do Hotel

– Prosa e Verso de autores da Sobrames15h15 - Coffee Break16h00 - Quarta Sessão Literária - Sala de Eventos do Hotel

- Prosa e Verso de autores da Sobrames17h30 - Encerramento das sessões literárias19h15 - Saída para o Teatro Municipal de Botucatu20h00 - Apresentação de Camerata de Botucatu21h15 - Saída para o Restaurante Celeiro21h30 - Jantar no Restaurante Celeiro23h00 - Retorno para Primar Plaza Hotel

10

Page 11: Anais Jornada 2013

Dia 28/09/2013 (Sábado)06h30 – Café da Manhã08h15 – Fórum da Academia Brasileira de Médicos Escritores (ABRAMES) – Prosa e Verso de autores da ABRAMES - Homenagem ao Acadêmico Emérito Dr.Evanil Pires de Campos10h00 – Coffe-Break10h30 – Saída para Barra Bonita - Passeio no Navio Ciudad de Cuesta até eclusa de Barra Bonita no Rio Tietê - Almoço a bordo do navio17h00 - Retorno ao Primar Plaza Hotel19h45 - Saída para o restaurante Sinhô Sinhá20h15 - Apresentação de Grupo Folclórico Regional - Premiação dos concursos literários com entrega do “Troféu O Bandeirante”21h00 - Jantar de confraternização e Encerramento23h00 - Retorno ao Primar Plaza Hotel

Dia 29/09/2013 (Domingo)06h15 - Café da manhã – Manhã Livre para os que viajaram de automóvel - Check-out e translado de Botucatu para aeroporto Viracopos (Campinas) após o café da manhã para aqueles que tiverem interesse.

11

Page 12: Anais Jornada 2013
Page 13: Anais Jornada 2013

13

IISessões Literárias

XII Jornada Médico-Literária PaulistaVII Jornada Nacional da Sobrames

Para o bom andamento dos trabalhos recomenda-seque os autores cumpram rigorosamente os horários

de apresentação de seus textos nas sessões literárias programadas.

Solicita-se que não haja explicações preliminares sobre otexto a ser apresentado, visando um melhor aproveitamento

do tempo para a leitura do texto.Se houver manifestações da plateia após

a apresentação dos textos caberá ao presidenteda mesa determinar a quantidade de

intervenções e sua duração, visando manteros horários previstos na programação.

Botucatu - São Paulo25 a 29 de setembro de 2013

Primar Plaza Hotel

Page 14: Anais Jornada 2013

Primeira Sessão LiteráriaDia 27/09/2013 (Sexta-feira)8h15 às 10h00

1- Alcione Alcântara Gonçalves / Poesia: “Ode a Botucatu”2- Josemar Otaviano Alvarenga / Prosa: “Significados da palavra”3- Aida Lucia Pullin Dal Sasso Begliomini / Prosa: “Vida interrompida”4- Sérgio Augusto de Munhoz Pitaki / Poesia: “Azul”5- José Warmuth Teixeira / Poesia: “Amando e poetando”6- Jacyra da Costa Funfas / Prosa: “Balada no Céu”7- Marcos Gimenes Salun / Prosa: “Viver é fazer opções”8- Carlos Augusto Ferreira Galvão / Poesia: “Companhia”9- Sônia Andruskevicius de Castro / Poesia: “Crianças”10- Rodolpho Civile / Prosa: “A presença daquele homem”11- Arquimedes Viegas Vale / Prosa: “A vingança dos inocentes”12- Helena Natalícia Rocha de Alvarenga / Prosa: “Esperança”13- Evanil Pires de Campos / Prosa: “A medicina e a educação”

Segunda Sessão LiteráriaDia 27/09/2011 (Sexta-feira)10h30 às 12h00

1- Nelson Jacintho / Prosa: “Noite de inverno”2- Celina Corte Pinheiro de Sousa / Prosa: “Renascimento”3- Luiz Jorge Ferreira / Poesia: “My name”4- José Arlindo Gomes de Sá / Poesia: Amargo regresso”5- Josyanne Rita de Arruda Franco / Prosa: “Plano de voo”6- José Maria Chaves / Prosa: “O aviso do vento”7- Ligia Terezinha Pezzuto / Poesia: “Sublime amor”8- Márcia Etelli Coelho / Poesia: “Começar de novo”9- Helio Moreira / Prosa: “Caminhar pelas ruas de Paris no verão”10- Roberto Antonio Aniche / Prosa: “Meu marido foi para a guerra”11- Juçara Regina Viegas Valverde / Poesia: “Apelo”12- José Carlos Serufo / Poesia: “Perla fina”13- Helio Begliomini / Prosa: “Ciranda da vida”

14

Page 15: Anais Jornada 2013

Terceira Sessão LiteráriaDia 27/09/2013 (Sábado)13h45 às 15h15

1- Marcos Gimenes Salun / Poesia: “Aldravias improvisadas”2- Josemar Otaviano Alvarenga / Poesia: “Despedère”3- Márcia Etelli Coelho / Prosa: “A moça de cinza”4- Carlos Augusto Ferreira Galvão / Prosa: “Momento delicado”5- Jacyra da Costa Funfas / Poesia: “Brasil”6- Sérgio Augusto de Munhoz Pitaki / Poesia: “Conselho”7- Rodolpho Civile / Prosa: “O Papai-noel ladrão”8- José Maria Chaves / Prosa: “Lauro Maia, um poeta que também é rua”9- Aida Lúcia Pulin Dal Sasso Begliomini / Poesia: “Andanças”10- José Arlindo Gomes de Sá / Poesia: “Inventário sertanejo”11- José Warmuth Teixeira / Prosa: “A mitologia greco-romana e a obstetrícia”12- Celina Corte Pinheiro de Sousa / Prosa: “Solidão”13- José Jucovsky / Poesia: “Tropicalismo-concretismo”

Quarta Sessão LiteráriaDia 27/09/2013 (Sexta-feira)16h00 às 17h30

1- Luiz Jorge Ferreira / Prosa: “Pintassilgo Mariadocarmo”2- Helio Moreira / Prosa: “Ver não é o mesmo que enxergar”3- Juçara Regina Viegas Valverde / Poesia: “Demarcações”4- Nelson Jacintho / Poesia: “Se não é verdade”5- Ligia Terezinha Pezzuto / Prosa: “Bodas de Diamente - uma história real”6- Roberto Antonio Aniche / Poesia: “Feche a porta”7- Arquimedes Viegas Vale / Poesia: “Eu e você”8- Sônia Andruskevicius de Castro / Poesia: “Pescador”9- Helio Begliomini / Prosa: “Se não fosse a minha fé”10- José Carlos Serufo / Prosa: “Por quê”11- Josyanne Rita de Arruda Franco / Poesia “Fogueira celestial”12- Alcione Alcântara Gonçalves / Poesia “Gratidão, o que é?”

15

Page 16: Anais Jornada 2013
Page 17: Anais Jornada 2013

17

IIIAutores Participantes

XII Jornada Médico Literária PaulistaVII Jornada Nacional da Sobrames

Botucatu - São Paulo25 a 29 de setembro de 2013

Primar Plaza Hotel

Os organizadores dão as boas vindas aos autoresdas várias regionais da Sociedade Brasileira

de Médicos Escritores e agradecem aparticipação nestes eventos.

Page 18: Anais Jornada 2013

CEARÁCelina Corte Pinheiro de SousaJosé Maria Chaves

GOIÁSHélio Moreira

MARANHÃOArquimedes Viegas Vale

MINAS GERAISHelena Natalícia Rocha de AlvarengaJosé Carlos SerufoJosemar Otaviano de Alvarenga

PARANÁSérgio Augusto de Munhoz Pitaki

18

Page 19: Anais Jornada 2013

SÃO PAULOAída Lúcia Pullin Dal Sasso BegliominiAlcione Alcântara GonçalvesCarlos Augusto Ferreira GalvãoEvanil Pires de CamposHelio BegliominiJacyra da Costa FunfasJosé JucovskyJosyanne Rita de Arruda FrancoLigia Terezinha PezzutoLuiz Jorge FerreiraMárcia Etelli CoelhoMarcos Gimenes SalunNelson JacinthoRoberto Antonio AnicheRodolpho CivileSônia Regina Andruskevicius de Castro

PERNAMBUCOJosé Arlindo Gomes de Sá

RIO DE JANEIROJuçara ReginaViegas Valverde

SANTA CATARINAJosé Warmuth Teixeira

19

Page 20: Anais Jornada 2013
Page 21: Anais Jornada 2013

21

IVTextos Literários

XII Jornada Médico Literária PaulistaVII Jornada Nacional da Sobrames

Botucatu - São Paulo25 a 29 de setembro de 2013

Primar Plaza Hotel

A autoria dos textos a seguir publicados e apresentadosdurante as sessões literárias deste evento, bem como as opiniões

emanadas são de exclusiva responsabilidade dos autores,não representando a opinião dos organizadores.

Page 22: Anais Jornada 2013

Arquimedes Viegas ValeA vingança dos inocentes / Eu e você

32

Alcione Alcântara GonçalvesGratidão, o que é? / Ode a Botucatu

28

Celina Corte Pinheiro de SousaSolidão / Renascimento

38

Carlos Augusto Ferreira Galvão Companhia / Delicado momento

35

Aida Lucia Pullin Dal Sasso BegliominiAndanças / A vida interrompida

25

Helena Natalícia Rocha de AlvarengaEsperança

42

Helio Begliomini Ciranda da vida / Se não fosse a minha fé

43

Hélio MoreiraCaminhar pelas ruas de Paris no verão /

Ver não é o mesmo que enxergar

47

Evanil Pires de CamposA medicina e a educação

40

Jacyra da Costa FunfasBalada no céu / Brasil

51

José Carlos SerufoPerla fina / Por quê

54

José Arlindo Gomes de SáInventário sertanejo / Amargo regresso

52

56José JucovskyTropocalismo - Concretismo /

Centenário do nascimento de Jorge Amado - Nó górdio brasileiro

José Maria ChavesO aviso do vento /

Lauro Maia - um poeta que também é rua

61

22

Page 23: Anais Jornada 2013

José Warmuth TeixeiraA mitologia greco-romana e a obstetrícia /

Amando e poetando

65

Josemar Otaviano de AlvarengaSignificados da palavra / Despedere

67

Josyanne Rita de Arruda FrancoPlano de voo / Fogueira celestial

68

Juçara Regina Viegas ValverdeDemarcações / Apelo

71

Ligia Terezinha PezzutoBodas de Diamante - uma história real / Sublime amor

73

Luiz Jorge FerreiraPintassilgo Mariadocarmo / My name

75

Márcia Etelli CoelhoA moça de cinza / Começar de novo

78

Marcos Gimenes SalunAldravias improvisadas / Viver é fazer opções

81

Nelson JacinthoNoite de inverno / Se não é verdade

85

Roberto Antonio AnicheFeche a porta / Meu marido foi para a guerra

87

Rodolpho CivileO Papai-Noel ladrão / A presença daquele homem

89

Sérgio Augusto de Munhoz PitakiAzul / Conselho

92

Sônia Regina Andruskevicius de CastroCrianças / Pescador

93

23

Page 24: Anais Jornada 2013
Page 25: Anais Jornada 2013

25

VIDA INTERROMPIDA

Minha alma de tão pequenina quase desapareceu nesse imenso mundo em que fui conduzida.Tudo é tão grande, luminoso, cheio de sons e cores. Nada vejo, mas tudo sinto como se visse eouvisse. Como estou feliz, alias nunca estive tão feliz como hoje. Um imenso amor transborda einunda totalmente o meu ser. Eu faço parte de tudo isso, dessa grandeza toda.

Sou tão leve, flutuo no plasma. Integro-me a ele de forma continua. Sei que não estousozinha, mas ao mesmo tempo tudo é muito confuso, isso me deixa completamente perdida.Estou sem referencias, não sei o que fazer, nem para onde ir. Deixo-me levar novamente.

Quando me formaram e pela primeira vez tive consciência de minha existência a minhaforma era diferente, solida, apesar de infinitamente menor do que agora. Estava em um localdiferente deste, mas muito grande também. Puxa, era grande demais.Rapidamente eu fui aumentando de tamanho e adquirindo formas distintas.

Que divertido. La eu estava quentinha e protegida. Nadava, virava cambalhotas, davapiruetas e escutava uns ruídos estranhos, que a principio não me incomodavam, pois tudo eranovo e eu estava impressionada com o que estava acontecendo comigo.

Conforme eu fui crescendo, meu espaço e minha mobilidade começaram a diminuir. Devez em quando sentia sensações diferentes, não sei o que eram. De repente tudo estremecia, eume sentia jogada de um lado para outro de forma muito agressiva. Sentia baques cada vez maisfortes. Já não era tão feliz e não me divertia tanto, como no inicio. Alguma coisa muito seriaestava acontecendo e eu não sabia o que era. Estava muito assustada. Comecei a me sentirculpada sem saber o por que. Eu estava com muito medo e muito triste.

Cada vez mais eu percebia que tudo estava se transformando e ficando bem difícil. Aomesmo tempo eu já podia brincar com meus dedinhos das mãos e dos pés, minhas orelhinhas,narizinho, boquinha e olhinhos. Corpo perfeito, maravilhoso e eu adorava tudo isso.

De repente fui sugada e brutalmente arrancada através de um túnel grande e muito escuro.Meu corpinho nu foi molestado, rasgado, mutilado e a dor que senti foi extremamente cruel. Fuiarrebatada daquele mundo quentinho, agradável e atirada sem piedade em uma lata de lixoimunda e gelada. Tossi, esperneei, tentei respirar, gritar, chorar, mas ninguém me viu ou escutou.Eu estava só, definitivamente só e abandonada. Completamente indefesa. Assim permaneci porum curto espaço de tempo ate chegar aqui.

Estou começando a entender o que aconteceu comigo e isso me deixou extremamentemagoada e ofendida. Ao meu redor já começo a observar outros serezinhos que compartilhamcomigo iguais emoções. A minha vida material foi interrompida, mas ela esta viva no planoinfinito e isso será para sempre. Compartilho com meus novos amiguinhos novas emoções,brincadeiras e neste paraíso sentimos o amor incondicional a que teríamos direito caso tivessemnos permitido o direito a vida.

***

Aida Lucia Pullin Dal Sasso BegliominiSão Paulo - SP

Page 26: Anais Jornada 2013

26

ANDANÇAS

Nasci no topo do Maranhão,Na pequena Atins, beirando o mar.Quando criança lá vivi,Vagando solitária pelas dunas áridasDo alto observando sonhadora, o vasto oceano.Pensando, ate aonde vai?

Em tenra idade para o Delta me mudeimeus pais passivamente segui.Vaguei ate não mais poder.Cresci ao sabor do vento e do mar.Das dunas e dos rios me fartei

Já adolescente me transferi.Em Jericoacoara por um tempo me fixei.Nas areias brancas, descalça caminhei,Encantei-me com belos pôr de sois.A cada dia, mais alto eu pensavaNada mais me satisfazia.Queria a grande cidade alcançar,Perto do mar, mas com outros encantos.

Já adulta e sozinha fui então para Fortaleza.Nela conheci os prazeres e os desprazeres,O anonimato e o desconhecido.Gostei e me deixei seduzirE por outros caminhos quis seguir.Outra vez mais pelo mar, enfeitiçada fiquei.

Um dia, um mapa enorme encontrei.Nele maravilhada, percebiO real tamanho da minha terra.Convencida resolvi,Que tinha muito que conhecer.Meu objetivo então seria,Para o Rio me dirigir.Conhecer o Cristo e o Pão de açúcar,Copacabana e Ipanema.

Quando chegueiPor tudo me encantei.Nas areias do Arpoador me estiqueiLá me abandonei.Ao anoitecer dormi com as estrelas,Embalada pelas ondas do mar.

Aida Lucia Pullin Dal Sasso Begliomini

Page 27: Anais Jornada 2013

27

De repente percebi que o mar que viaEra exatamente o mesmo que la de cima eu enxergara.Descobri que precisava a São Paulo chegar.Sem praia, com rios poluídos e transito ruim,Mas com uma pujante vitalidade.Uma vez mais, me mudei.

Vivi por algum tempoE a tudo me acostumei.Apaixonei-me e uma família formei.Por anos a fio me apascentei,Deixando adormecidos antigos sonhos.

Um dia percebi que deveria,Para as minhas origens retornar.Descalça caminhar nas areias quentesE as altas dunas escalar.E o que fiz?Juntei o pouco que conseguira,Nas malas empilhei também alguns sonhos,Ainda não realizadosE para minha Atins voltei.

***

Aida Lucia Pullin Dal Sasso Begliomini

Page 28: Anais Jornada 2013

28

GRATIDÃO, O QUE É?

Gratidão é virtude, que precisa ser cultivada,E desenvolvida diariamente, num eterno agradecer.É mudança de atitude, substituindo as reclamações,Por agradecimentos; os lamentos por ungüentos,Olhando com o coração e superando a vitimização,Buscando o atendimento e descobrindo as bênçãos,Disponíveis, para o seu uso no dia a dia.Perceba, as graças invisíveis que não tinhas notado.Sinta a proteção, o amparo e ajuda que lhe foi dado.Acalme e liberte-se da preocupação através da gratidão.Relaxe-se, descanse seu coração, aquiete sua mente.Sinta-se livre das tensões diuturnas e durma melhor.A gratidão serve como terapia,Para nossas doenças psicossomáticas;E cura depressão, tristeza, solidãoE ansiedade: nossas dores da alma.Seja grato e demonstre sua gratidão aos que lhe ajudam.A gratidão é atributo da mente,Força poderosa voltada para a prosperidade.Habituando-se em agradecer,Estará mobilizando o fluido curativo,Esta energia cósmica, que muda o ambienteE circunstâncias em sua volta.As graças recebidas, deverão serem lembradas,Com sincero agradecimento.Purifique sua mente, limpe seu coração,Com a prática da meditação,Eliminando sentimentos e emoções negativasQue lhe impedem de sentir gratidão.Agradeça à natureza por toda sua beleza,Esplendor e maravilhas.Não polua o nosso planeta e agradeça pela moradaQue ele nos dá, sem nada exigir de nós.Agradeça a vida, dádiva divina,Que permite a nossa evolução espiritual.Agradeça até as dores, doenças e maledicênciasQue nos atingem e fustiga,Como lições e remédios amargos,Para nos purificar e desenvolver nossas virtudes.

Alcione Alcântara GonçalvesTupã - SP

Page 29: Anais Jornada 2013

29

Faça o bem! e a luz emanada deste bem,Atinge o teu coração, como gratidãoDaquele que foi beneficiado.

As energias boas e positivas devem ser usadasE distribuídas a quem necessita.A prece, a oração, pode ser feitaPara ajudar os necessitados,Os doentes do corpo e, ou da alma.Ajudando ao próximo, é você, o maior beneficiado.Não o faça, contudo, esperando recompensas.Porque assim agindo, a recompensa já é o seu pagamento.No entanto, se o faz desinteressadamente,Sem visar recompensa para você,Ai sim, você será merecedor da gratidão de Deus.Servir desinteressadamente é um ato perfeito,Porque ajuda a quem necessita e,O reconhecimento espiritual, você receberá.A boa vontade e o amor, deverá prevalecer,Quando você tiver oportunidade de servir.Há uma frase usada pelo Rotary Internacional que diz: “ Mais se beneficia quem melhor serve”.Isto é o espelho do que acabamos de falar.O Lema Rotário: “ Dar de si sem pensar em si”,Mostra muito bem o exercício da bondade desinteressada.Complementa São Francisco de Assis dizendo:“ É dando que se recebe”.Vejam, portanto, que a Gratidão,É o reconhecimento por aquilo que fazes desinteressadamente.Gratidão é isto! ...

Gratidão é virtude, que precisa ser cultivada!

***

Alcione Alcântara Gonçalves

Page 30: Anais Jornada 2013

30

ODE A BOTUCATU

Em Botucatu, pela segunda vez,Os médicos Escritores vieram se reunir,Na décima segunda Jornada Médico-Literária,Da Sobrames de São Paulo.

Botucatu significa: bons ares, bom clima,Ou bom vento; de origem Tupi-Guarani,Ybitu-Katu indica terra em ponta, montanha,Vento bom, saudável e clima agradável.

Frei Fidélis Maria de Primiero, Frade Capuchinho,Afirmava: Botucatu em Sumério significa:“Templo da Serpente entre as Pedras”,E as Tres Pedras: o Gigante deitado,Era antigo Templo de Adoração à Satã.

Região Mística e lendária é Botucatu,Rota de passagem para os Incas,Conhecido como caminho do Peabiru,Lugar de Rituais e Retiros Espirituais.

O Saci: Lenda Clássica do Folclore brasileiro,Em Botucatu encontrou o seu Lar; SedeDa Associação Nacional de Criadores de Saci,E conhecida como: Capital Nacional do Saci.

Para valorizar mais o folclore nacional,O “Dia do Saci” foi criado,Em caráter nacional, no ano 2005,E “31 de outubro” lhe foi consagrado.

O Saci-Pererê surgiu no sul do país,Como menino indígena, com rabo e travesso;Transformou-se num negrinho, no norte do país,Com uma perna, cachimbo e gorro vermelho.

Alcione Alcântara Gonçalves

Page 31: Anais Jornada 2013

31

Seu comportamento divertido, brincalhão e profundo conhecedorDas ervas: medicamentos da Floresta que é o controlador.Retratado brilhantemente por Lobato em dois livrosDa literatura infantil e Histórias em Quadrinhos,Saltou para a televisão, espalhando-se pelo Brasil.

Fato curioso em Botucatu, é a passagem por aqui,Do maior manancial de água doce subterrânea do mundo,Estendendo-se pelo Brasil, Uruguai, Paraguai e Argentina,Este gigantesco reservatório: O Aquífero Guarani;Protegido na sua superfície pela Rocha Sedimentar,O Arenito Botucatu, onde aflora, serve para sua água o recarregar.

Na educação, Botucatu se destaca no ensino superior,Com excelente Faculdade de Medicina da UNESP; Do Instituto de Biociências; Veterinária; Zootecnia e Agronomia;Com ênfase também, no ensino tecnológico, pela FATEC.

Botucatu da lenda do Saci,Tu és servida pelo Aquífero Guarani,E pelo caminho do PeabiruPassagem dos incas do Peru

Oh! Cidade dos bons ares,Tu tens um gigante deitado,Símbolo místico da tua proteção,Contra Satã e seu Templo de Adoração.

***

Alcione Alcântara Gonçalves

Page 32: Anais Jornada 2013

32

A VINGANÇA DOS INOCENTES

Ali, na porta da quitanda, dois frondosos pés de azeitona preta faziam a amenidade de umasombra ventilada, que acolhia toscos bancos feitos com um tronco fino, de madeira ordinária,enganchado por suas extremidades, sobre duas forquilhas fincadas no chão. Rodeavam asazeitoneiras gêmeas e estavam sempre ocupados por vizinhos que convergiam para trocas sociais.

Acontecia tudo, sabia-se tudo, planejava-se tudo. Era o passado, o presente e o futurodaquele povo periférico. Era o ponto luminoso na escuridão material daquele povoado perdidono meio do mundo dos matagais, onde o lombo das montarias ainda era a condução obrigatória.Havia promessa de estrada vicinal que era o mote de todo candidato que dali queria votos, masos igapós das invernadas tornavam essa ligação com a sede muito difícil.

Martinha fazia poeira varrendo o terreiro com um cacho seco de juçara e espantava asgalinhas que comiam o catarro despregado da bronquite dos fumadores de cigarro de maço oudos charutos intoleráveis. Na lucidez da manhã as palavras eram escassas e comedidas, contandoum caso, quase sempre sobre roça invadida por porco ou gado, moça solteira, assombração ouhomem traído pela mulher. Mais tarde quando a cachaça escorria pela língua e cortava a censurada consciência, corria solto um palavreado chulo, dissensões de ideias e cobranças de atos eocorrências. Mas, tudo terminava sempre ali mesmo. Se tinha alguma alteração, Dona Silvéria,que era a dona da quitanda, falava grosso e punha tudo de novo no caminho do entendimento.Só que uma vez não conseguiu controlar dois brigões que terminaram no Posto de Saúde, riscadosde faca.

— Ela foi na Vila e vai demorar.Martinha respondia para Joca Pé de Galho que veio decretado para falar com a comerciante.— Mas hoje? Domingo?— É seu Joca, Veveca foi ver o filho que se furou num espinho de tucum e não pode nem

encostar o pé no chão. O Doutor de lá fez de tudo pra tirar o espinho mas não conseguiu . Deixouum buraco na sola do pé dele. Ela me deixou tomando conta da quitanda, mas eu não gostoporque eu não sei fazer conta assim direitinho. As vezes sai tudo errado e dou troco demais. Elabriga comigo com toda razão. Gosto de estar é lá na cozinha que é onde eu sei fazer de tudo.

Desolação marcou aquele rosto já marcado por tantas dificuldades que, como campônio,vivia delas. Saiu de casa logo cedo para ultimar com D. Silvéria o negócio de uns porcos quequeria vender-lhe para com o dinheiro preparar um pedaço de terra para plantar a sua roça,pois já estava atrasado. Já estavam aparecendo nuvens pesadas e já tinha dado uns chuviscos.

Pé de Galho com o dedo indicador da mão direita apontando para o céu empurrou a aba dochapéu pra cima, franziu o cenho na claridade do meio dia e decidiu esperar.

— Me dá uma cachaça aí!

Arquimedes Viegas ValeSão Luiz - MA

Page 33: Anais Jornada 2013

33

Do jeito que jogou a cachaça na garganta parecia que estava lavando suas contrariedades.Entrou no papo coletivo falando baixo com a sensação de fracasso. Vivia de roça. Mulher, filhos,mãe, tudo comia no calo das suas mãos. Já estava atrasado!

Bateu forte com o fundo do copo no balcão e pediu:— Me dá outra!— Mais outra!A ameaça de falhar lhe assustava e nesses momentos procurava refúgio na cachaça que o

tirava da seriedade das responsabilidades. Considerava-se injustiçado pois mesmo com seusdefeitos nunca deixara a família em falta.

— Mais uma!Seu Joca, o senhor já bebeu muito e ainda vai esperar um bocado. O senhor não quer

comer um sarrabulho, que sobrou de ontem?Forrou-se de sarrabulho vencido, com farinha seca. Estava até na tampa de comida e de

bebida e nada de Dona Silvéria.— Lá vem sua mulher!Escutou ainda no cochilo, recostado no tronco da azeitoneira.— Valha-me Deus! Tatinha vai me esganar.Ajeitou-se , limpou a boca, abotoou a camisa, e encomendou um sorriso logo que percebeu

o seu humor desagradável.— Tatinha do meu coração estou só esperando a comadre para ir pra casa.A mulher, com a ira em borbotões tirava os adjetivos de todos os malandros, infiéis,

estelionatário, ladrões, assassinos, traficantes, psicopatas, e tudo que ela se lembrou, jogousobre ele num discurso lança-chamas que o queimou por uns dez minutos.

Enquanto ele se contraia para tornar-se surdo, veio-lhe a repulsa na forma de náuseas.cólicas e vômitos. Ali mesmo, na frondosidade sombria daquele terreiro, lançou um jato desarrabulho mastigado misturado na farinha seca inchada, embalado pelo azedume das secreçõesestomacais, seguido de um repugnante bolo de lombrigas, que desorientadas, faziam uma dançanojenta naquele palco de terra.

Tatinha reforçou a sua munição dialética, destacando a vergonha diante daquele insólitoespetáculo. Para municiar-se de argumento em futuras contendas maritais pegou um graveto ecomeçou a contar as lombrigas:

— Meu Deus, esse homem me mata de vergonha! Uma, duas, três,.......... nove..........treze......... quinze! Quinze lombrigas! Que criação sebosa para quem só quer ser o que nãomarca na folhinha.

Enquanto Tatinha remexia o bolo de lombrigas com o graveto começou a sentir nojo quese manifestou em engulhos e por fim em um vômito franco de pouco conteúdo alimentar mastambém com um respeitável bolo de lombrigas.

Joca Pé de Galho, até então cabisbaixo pelo massacre em curso, levantou-se meiocambaleante, pega o mesmo graveto e começa a contagem:

— Um, dois, três, ........nove,........treze,.........quinze,.........dezenove.........vintee cinco....

***

Arquimedes Viegas Vale

Page 34: Anais Jornada 2013

34

Arquimedes Viegas Vale

EU E VOCÊ

Eu sou feliza ponto de sertão feliz.Tudo o que eu vejoestá sorrindo.Tudo o que eu ouçoestá cantando.Tudo o que eu tocoestá vibrando.Tudo o que eu abraçoaconchega-se.Tudo o que eu beijosão teus lábios.Tudo o que eu amomeu coração decide:Você.

***

Page 35: Anais Jornada 2013

35

COMPANHIA

Sigo minha vida bem acompanhadoÀs vezes tento trocar, saio, me revoltoProcuro outro alguém, um outro lado,Mas sempre muito me arrependo e volto.

Ela é assim, em nada me atormenta,Fica ao meu lado silente e quieta;Monotonia ninguém quer nem aguenta.Mas o que fazer se não há mais meta?

Ela sempre inspira o pensamento,Agonia que estimula meu coração;Tão forte que repito todo momento:Não vivo senti, minha amada solidão.

***

Carlos Augusto Ferreira GalvãoSão Paulo - SP

Page 36: Anais Jornada 2013

36

Carlos Augusto Ferreira Galvão

MOMENTO DELICADO

O Brasil enfrenta, talvez, o mais delicado momento de sua história. Há pelo menos trêsdécadas, o povo brasileiro vem demonstrando insatisfação, enchendo ruas, derrubando ditaduras,derrubando presidentes, mas de maneira comportada, sempre dirigido por partidos políticos egrupos sociais distintos: igrejas, sindicatos e por aí. Acontece, que de uma forma irritante,embora tenha aprendido a gritar nas ruas, a nação não consegue sentir progressos naquilo que aONU chama de Índice de Desenvolvimento Humano, em escala suficiente para ser notado. Emtodos estes movimentos, os líderes que assumiam o poder, decepcionavam o cidadão; logopraticavam exatamente o que propunham combater. Foi uma constante. Após as “Diretas Já”, ogoverno, então “democrático”, decepcionou bastante e levou o país ao caos financeiro comhiperinflação e estagnação econômica, então surgiu um salvador, o primeiro presidente eleitoapós a ditadura militar. Collor de Mello, um político jovem e desconhecido, apresentava-secomo caçador de marajás (termo na moda da época, que designava funcionários públicos comaltíssimos salários) e prometia combater a corrupção e a inflação; não conseguiu coisa alguma.Dois anos depois, manipulado por vários partidos, e no bojo de uma profunda briga familiarpresidencial, o povo apontou a porta da rua para ele e, vencendo o poder, o pôs para fora.

O novo governo teve o mérito de extinguir a inflação, mas não se moveu (pelo menos napercepção do povo) em direção a melhorias na saúde, na educação; surfando na esteira docombate a inflação conseguiu se manter durante oito anos, mas no final, os cidadãos nãopercebendo as melhoras prometidas e ouvindo insistentes rumores de corrupção, mandou-oembora , dessa vez pelas urnas, elegendo o Partido dos Trabalhadores. O PT, o único partidocriado “de baixo para cima” durante a agonia final da ditadura, tinha a fama de honestíssimo,popular, e apresentou para o jogo político um homem do povo; um humilde operário. Estegoverno pegou o Brasil estabilizado economicamente, sem dúvida que procurou diminuir amiséria com amplos problemas sociais, beneficiando muitas famílias e trazendo-as para a linhade consumo. Desde cedo porém, viu-se que os antigos humildes dirigentes tornaram-se milionários,pipocaram denuncias de corrupção, e um deputado que também fazia parte do esquema,denunciouà nação um sistema político no congresso em que o governo comprava apoio dos parlamentarescom dinheiro público e privado, conseguindo assim uma coalizão de partidos dispares eantagônicos, mas se engrandecia sua bancada parlamentar, apequenava tanto os partidos quantoo próprio parlamento.. Mas por ineficiência política da oposição e anestesia da nação promovidapelos inúmeros programas sociais, este partido consegue segurar-se até hoje no poder, mas ocenário político vem mudando rapidamente nos últimos dois anos. Esgarçaram demais a paciênciada população e, com uma insignificante gota d’água promovido pelo governo estadual de SãoPaulo (agredir um pequeno grupo de pessoas que clamava por transportes mais baratos) a coisaexplodiu. O povo foi em massa para as ruas numa intensidade nunca dantes vista. Parece que oPT foi a última dose de decepção que o povo brasileiro aturou.

O povo nas ruas, e sem nenhuma liderança política ou partido que tivesse coordenado talfenômeno. Entrou em cena na política brasileira as redes sociais, onde a população se autoconvocoude maneira maciça. O povo foi para as ruas sem nenhuma organização, mas portando em seuscartazes exigências profundas, pertinentes e altamente perturbadoras para o poder. Há umadiferença dos eventos similares: não há bandeiras de partidos, e os que tentaram tirar uma“casquinha” das manifestações foram vigorosamente expulsos dela, demonstrando-se assim ovácuo existente entre a vida política nacional e o povo brasileiro, que já não se sentia representadopelos políticos.

O movimento pegou de surpresa o PT, partido que se julgava dono das ruas e de manifestaçõesde massas, e viu que perdeu este domínio ao se acostumar em viver em palácios que ainda

Page 37: Anais Jornada 2013

37

Carlos Augusto Ferreira Galvão

exalam odores odiados pelo povo. O que se vê são autoridades atônitas e temerosas, porque,diferentemente de outrora, não há clima de paz e amor nas ruas e sim paz e raiva.

A reação do governo não tardou. A presidente veio à televisão, disparou promessasrequentadas, e pouco acrescentou além das promessas de acabar com a baderna ( que minoriaspraticavam, solidarizou-se com os movimentos... Falou quase nada, mas nada tinha mesmo afalar. A militância deste partido, com a insuficiência psíquica que lhe é peculiar, e irritadíssimapela saia justa que passou quando foi expulsa das ruas, tratou de procurar quem estava por trásdo “golpe de direita” numa visão arcaica e extemporânea nunca abandonada pela turma damente curta. Então acusaram a Rede Globo, a revista Veja, jornais, coincidentemente os quemais revelaram falcatruas petistas. Um ministro chegou até a dizer que a culpa da convulsãosocial é da imprensa por ser “moralista” demais, mostrando que alguns tentam fazer a naçãoconformar-se com imoralidades. O governo, sob pressão, tratou de anunciar o desmonte devários projetos desde os feitos para perpetuarem-se no poder até à irresponsabilidade de projetosde leis visando proibir investigações na cúpula da república; logo logo veremos também oabandono dos corruptos que, condenados, estão ameaçando a nação, junto com o governo, dedesmoralizar a já nossa pouca acreditada justiça.

O povo brasileiro jogou a primeira carta; que o estado “pise em ovos” porque o jogo émuito delicado. Sem partido, dizem todos, o país cairá na anarquia e gerará nova ditadura. Otermo é este. Aos beócios recomendo prestarem muita atenção no momento político e paremde ver o Brasil e o mundo como no tempo da guerra fria. Se houver outra ditadura, enganam-seos que acham que será ditadura de direita, de generais. O mundo, neste aspecto, depois daguerra fria, involuiu de novo para a equação povo/governo, sem ideologias.

Se houver outra revolução, o povo não vai querer ditadura de generais; já experimentou enão gostou. Não há líderes, mas eles podem surgir sim. Procuremos na história da humanidadecomo se saíram as revoluções humanas antes da guerra fria, vejamos a revolução do México enos acautelemos... Lá quem venceu a revolução, foram quadrilhas de malfeitores. Aqui temosquadrilhas organizadas que o estado não dá conta de desarticular (CV no Rio e PCC em São Paulo,como exemplos); o surgimento de um Zapata ou de um Pancho Vila nestas organizações poderianos jogar no mais sinistro dos pesadelos. Que o estado procure crescer em decência e dignidadee se adaptar ao povo brasileiro que é muito maior que ele, e abandone a visão rasteira dequerer que este gigantesco povo se adapte a um estado doente desde sua criação há 500 anos.

***

Page 38: Anais Jornada 2013

38

SOLIDÃO

Vida solitária, inundada por lembranças do passado. Depressão. Quem sabe devesse secasar novamente... Celeste, a esposa, morrera jovem. Em seu lugar, apenas um enorme vazio.Não haviam tido filhos e não fosse a velha empregada que permanecera na casa, Afrânio estariacompletamente só. Nenhum vizinho ou amigo, sequer um animal de estimação...

Naquela noite, foi impelido a se arrumar um pouco. Vestiu o terno mofado pelo tempo deguardado, escolheu uma entre as poucas gravatas, retirou o chapéu de massa da caixa e seencaminhou até o pequeno espelho do banheiro. Penteou-se, perfumou o rosto e o pescoço comcolônia de aroma já despedido, ajeitou o chapéu na cabeça e saiu. A empregada estranhou queo patrão partisse sem jantar. “Deixa pra lá... Coisa de velho! Mais tarde, ele come...” – pensou.Era discreta. Não se intrometia na vida de patrão.

Na rua, Afrânio olhou para o céu e viu a lua muito redonda, brilhante. Pensando bem, hátanto tempo não olhava para outra direção. Nem para dentro de si mesmo... Encantou-se com aesplendorosa lua parecendo solta no espaço. Sentiu-se seduzido pelo brilho e a liberdade. Tentouaproximar-se dela e caminhou em sua direção, desatento ao resto do mundo. Por mais quetentasse, a distância entre os dois parecia não mudar. Mas ele insistia, insistia... Subiu ruas,desceu ladeiras, atravessou montanhas e rios. Interrompeu sua busca apenas no dia seguintequando a lua desapareceu. Mas já se apaixonara e ali permaneceu até a noite quando ela voltoupara brincar com ele. Brincaram tanto que ele, cansado, virou estrela...

***

Celina Corte Pinheiro de SousaFortaleza - CE

Page 39: Anais Jornada 2013

39

Celina Corte Pinheiro de Sousa

RENASCIMENTO

Cansada por dentro e por fora. A alma padecia de uma terrível solidão e o corpo revelavaseu desconforto diante da vida. Olhar opaco, unhas quebradiças, sem viço, passos pesados,ombros arreados para frente. Vida em branco e preto, sem sonho, nem fantasia. Real demaispara satisfazer. Sob a percepção dos demais, considerada uma pessoa de sucesso. Mas não sesentia assim, face à agrura íntima que a devorava. Pregado na face, um eterno sorriso, emborao olhar fugidio denunciasse o que ela não verbalizava. Em seu espírito, habitava uma vontadede acabar com tudo de vez.

Há anos acompanhava o companheiro em sua saga. Paralisado, não deixava o leito e nãovia o sol nascer todas as manhãs, pois o paredão de um prédio, construído ao lado da casa,impedia até a visão do céu. Mas tanto fazia, pois ele se ausentara do mundo há bastantetempo. A tez alva e fina se assemelhava a um papel de seda enrugado pelas mãos. Um molambohumano, sem graça, sem ternura. Apenas um vivente. “Meu Deus, por que a vida não o leva àmorte?” – pensava e se arrependia. Não queria ter remorso quando ele morresse. Mas,sinceramente desejava ver o sofrimento de ambos chegar ao fim. Sentiria falta daquelapresença após tantos anos de convívio. Quase quarenta... Quase uma vida! Mas não suportavamais a ausência de compartilhamento. O amor se perdera. Em seu lugar, a compaixão... Àsvezes, nem isso! A raiva, a desesperança e a frustração tomavam conta dela e a afogavam.

Ele não percebeu. Impossível! Mas os amigos perceberam que o sorriso de sempre mudara.Agora, Artemísia parecia sorrir de verdade. Não era mais uma máscara de cera. O olhar setornara menos enrijecido. Além do sorriso diferente, brincadeiras com o cachorro, coisa quenão fazia há muito tempo. O animal se sentia igualmente depressivo, pois era apenas mais umelemento dentro da casa tão desiluminada. Artemísia teve a impressão de que quando seolhava no espelho, ele sorria para ela. Sentia-se bonita, atraente e o espelho concordava. Avida sempre solicitara dela um dispêndio de energia muito grande e o tempo se encarregara doresto. Mente brilhante, capaz de comandar o império construído pela família, secara pordentro de si. Os filhos não conseguiam vê-la frágil, pois ela mantinha seu jeito forte mesmo nassituações em que suas emoções eram mais exigidas. Mas, dentro de si, desmoronara pouco apouco, sem que percebessem...

Seu renascimento se dera de uma maneira estranha, meio por acaso. Por força de suaprofissão, tivera contatos com ele através da internet. Uma única vez por telefone. Nem serecordava da voz... A princípio, contatos nada agradáveis. Melhor defini-los como hostis, masela, habituada a lidar com diferentes humores, conseguira contornar tão bem a situação queele se tornara menos agressivo, demonstrando progressiva admiração e simpatia por Artemísia.Ela, por sua vez, apreciou os galanteios que ele lhe fazia através da internet. Sentiu-se desejadafêmea no cio. Trocaram fotos e mensagens, restauradoras de um desejo incontido, que seucorpo pensara já ter esquecido. Tudo aquilo superava o corriqueiro e mexia com ela. Uma novaenergia percorria seu corpo provocando uma excitação inaudita. Voltou à sua juventude, quandosentia aquela pulsação agradável e inconfessável...

Ele também sentia os arroubos de uma paixão desenfreada e virtual. Homem maduro,experiente, delineava o imaginário através das fotos virtuais trocadas entre si... Dirigia palavrasmeigas e doces à Artemísia que, se as ouvira algum dia, há muito esquecera. Ela leu diversasvezes a mensagem em que ele confessava sua paixão: “Você me encanta, me inebria, agitaminha mente e me dá forças para continuar a viver...”. Sentiu um leve arrepio. Sorriu sensual.

Amaram-se profundamente. E sem qualquer culpa! Eram ambos profundamente solitáriose sonhavam com o dia do encontro. Trocaram beijos e mais beijos na rigidez da tela. Amaram-se e repetiram orgasmos imaginários nunca pensados. O amor mais bonito de toda uma vida.Estendiam as mãos e, na virtualidade, chegavam a sentir o toque na pele, um do outro. Ummaravilhoso jogo de faz de conta que valia à pena... Até que um dia... Até que um dia, ambosmergulharam na rede e sonharam o sonho mais lindo, em outra dimensão...

***

Page 40: Anais Jornada 2013

40

A MEDICINA E A EDUCAÇÃO

Na antiguidade, a lenda trata de Apolo que se apaixonou, doentio, por Dafne e era conhecidocomo deus da medicina e das plantas medicinais.

No entanto Dafne, cautelosa, não desejava se entregar de chofre ao impetuoso perseguidore apela ofegante ao seu pai.

Dessa maneira um torpor envolveu seu corpo e de imediato ganha uma delicada casca, seuscabelos transformam-se em folhas, os braços em galhos e os pés cravam-se no chão como raízes.Apolo abraçou e beijou os ramos da árvore, mas estes afastaram os seus lábios.O poeta assimse referiu:

“O sofrimento a música alenta.Os priscos sábios adoravam, assim,A medicina, o canto e a melodia.”

No entanto Platão e Aristóteles propuseram uma educação sistemática e gradual às criançasdesde o início do nascimento, inclusive com amas de leite para que pudessem desenvolver numhedonismo peculiar, ginástica dentro de um ginásio apropriado aos ginastas infantis com gineceue androceu. Outras atividades como a música, literatura, equitação etc. seriam gradualmenteensinadas e implantadas em seu benefício até a juventude.

O melhor exemplo são Atenas e os espartanos; Leônidas e a batalha de Termópilas e odiscípulo Alexandre Magno, de Aristóteles que discorreu sobre os regimes políticos e a verademocracia floriu e se consolidou.

A educação flutuou ora denigrida pelos bárbaros ora pela falta de formação moral nascidades.

A medicina hipocrática enlevou e enobreceu digna carreira que se consolidou nas nações.As escolas médicas se expandiram e se espalharam pelos países europeus a partir do ano mil denossa era. Anterior a elas, a de Alexandria era a mais respeitada e venerada.

No Brasil a pioneira foi a da Bahia, seguida pelo Rio de Janeiro e, assim sucessivamente atéas atuais existentes no nosso amável solo.

Portanto o número de formandos anuais seria ou é suficiente para atender de modo adequadoe ético profissional a toda população presente.

No entanto citarei a fim de esclarecer que nossa imprópria distribuição de médico pelonosso extenso e belo país recai ou repousa na falta de educação e saneamento básico, mínimosdesejáveis às cidades de uma nação.

J.J. Rousseau em o Emilio ou da Educação sugeriu de maneira inteligente e perspicaz que oaluno, o professor e a natureza constituem a tríade indissolúvel do aprendizado, a saber: oprofessor interage com o aluno no ensino e no seio da natureza de tal sorte que o reino animal eo vegetal sejam, dignamente, cultuados e estudados.

Desse modo o aluno se diferencia na percepção cognitiva enquanto o professor se aprimorae se aprofunda em sua formação.

A educação diferencia uma nação visto que o povo saberá escolher e saberá separar o joiodo trigo.

Evanil Pires de CamposBotucatu - SP

Page 41: Anais Jornada 2013

41

Como consequência a grande maioria optaria pelas atividades primitivas ou as diversastécnicas ou tecnologia sem se preocupar com a universidade a exemplo do que ocorre atualmentenas nações desenvolvidas.

Algumas delas abrem ou oferecem a entrada nas cadeiras básicas a quem desejar, no entantode mil alunos que ingressam restam, apenas 70 a 90 deles nas de aplicação. Outras selecionam,criteriosamente.

Claro que a medicina é uma carreira eletiva e, naturalmente seletiva. Logo, não se criamescolas a bel prazer, inclusive os países europeus reduziram-nas. Restam atualmente apenas asmelhores.

Deve-se querer e amar toda nobre atividade humana desde as rurais, toda a extensa gamadas profissionalizantes e inclusive a carreira universitária.

No entanto, a distorção visual dos chefes das nações, em desenvolvimento ou nãodesenvolvidas visa e, vislumbram sonhos, devaneios inerentes a um débil oportunista ou talvezperniciosa visão.

Só a educação privilegia, enobrece e engrandece uma nação.Graças a ela o mal definha ou muito reduz; os governos se qualificam para e pela nação,

pois o povo aprendeu a selecionar e escolher; o saneamento básico será primoroso, inclusivecom a produção nutriente à espécie humana.

As prisões tendem a se esvaziar enquanto a escola enraizada se expande, se dignifica vistoque ensina, cultua, ao enobrecer o ser humano nas espécies existentes na natureza.

***

Evanil Pires de Campos

Page 42: Anais Jornada 2013

42

ESPERANÇA

“E agora José, a festa acabou...” Dizia Carlos Drummond de Andrade em seu poema.Céu cinzento, fumarento, cerúleo, águas penduradas no firmamento, prenúncio de

tempestade.Terras do norte de Minas e do Brasil, natureza pródiga, clima quente e de muita chuva em

solo fértil, calcário, onde se escuta o capim crescer, comida farta, reses multiplicando eengordando, abarrotando frigoríficos e exportando produtos de excelência.

Foi assim durante décadas, propalada prosperidade correu Brasil afora, homens em buscade fortuna, chegaram aos montes à região, terras ainda baratas.

Solo e subsolo de riquezas minerais, em abundância.Homens espoliando o Éden.A avareza, um dos pecados do “capital”, riqueza rápida sem agradecer a terra e aos

trabalhadores, sugando do solo a seiva, matando árvores, vidas, exploração sem ética.De terras prósperas, promissoras formando um bioma rico, o que vemos: só desolação.Quase tudo em derrocada...Briga do homem com Deus.A natureza chora convulsivamente...Homem animal, homem Deus... Homem físico, homem metafísico, como conviver?Nesta luta entre o lobo e o cordeiro.Qual ganhará mais recompensa? Eis o desafio, eis a opção. Escolham.Penso, nem tudo estará perdido, pois tenho a esperança do homem fazer as pazes com

seu Criador...

***

Helena Natalícia Rocha de AlvarengaBelo Horizonte - MG

Page 43: Anais Jornada 2013

43

CIRANDA DA VIDA

Lembram-se das cantigas de ninar e dos meus cochilos no chão, ao lado do berço, tentandofazê-los dormir? Das roupinhas dos super-heróis ou dos vestidos típicos das nações que a mamãecarinhosamente vestia-os? Das mamadeiras e das musiquinhas feitas sob medida que cantávamospara que pudéssemos chantageá-los a comer, como a do marinheiro Popey?

Das noites que passávamos em claro quando a doença vinha ou de nossa ansiedade quandoestavam internados nos hospitais se preparando para cirurgias? Recordam-se dos primeiros passos...das primeiras palavras... dos primeiros dias na escola... dos primeiros professores e amiguinhos...da catequese... da primeira eucaristia... da crisma...?

Lembram-se quando brincávamos fazendo castelos de areia ou jogávamos futebol?Enriquinho “supregente” faça uma careta de bravo! E você sempre fazia; dificilmente explicávelcom palavras, mas jamais esquecível na lembrança.

Onde está o “Brunichelo papá”? E você, que era um toquinho de gente, uma “batatinhavoadora”, vinha sorrateiramente me abraçar nos joelhos, como se eu não soubesse onde estavaescondido.E a “madame Jô” dos laçarotes?! Sempre impecavelmente enfeitada pela mamãe.

Onde estão nossos anjinhos que vieram do céu que por muito tempo quiseram dividirnossa cama por terem medo da escuridão da noite?

Lembram-se da musiquinha!?: “Vou-lhe contar um segredo papai... sou ‘crioncinha’também... sou ‘crioncinha’ também... “. E do grito de guerra!?: “auah! auah! auah”!?

Recordam-se que choravam e disputavam o colo durante o tempo todo que participávamosdas missas? E dos xixis que extravasavam as fraldas e molhavam nossas roupas? E dos banhos nabanheira... juntos no chuveiro... das fraldas trocadas... das mamadeiras carinhosamentepreparadas... !?

Lembram-se quando eu tinha energia para erguer vocês três juntos!? Quando medíamosforça em cima da cama!? Quando saíam correndo para atender ao telefone!?

Recordam-se das nossas orações ao Papai do Céu quando viajávamos... quando deitávamos...quando fazíamos as refeições... quando íamos para a escola ou em algum momento especial!?

Lembram-se das manhãs de domingo quando íamos junto aos hospitais... !? Enquanto euvisitava os pacientes, vocês assistiam desenhos animados no conforto médico...

Recordam-se dos cachorros que tivemos!?: Task, Taba, Babucha, Tobi, Catita, Budge,dentre outros. Eles fizeram de certa forma parte de nossa família e acompanharam os seuscrescimentos, instruindo-os a respeitarem os animais e a natureza.

Lembram-se por ocasião do Advento, quando rezávamos em família, contritos, em frentedo Presépio montado na lareira, e em seguida, vocês depositavam as cartinhas para o PapaiNoel!?

Foram tantos e tão diversos os momentos felizes que tivemos juntos, que escapam emplenitude da nossa memória. Entretanto, tornam-se inapagáveis pelo saldo positivo que fizeramem nossas vidas.

***Era tudo como se fosse um sonho que jamais iria terminar. Mas veio subitamente o momento

mágico e trágico da adolescência, onde em poucos anos deixaram de ser crianças para setornarem adultos e, para nossa tristeza, passaram de dependentes para senhores do mundo,conquistando braçalmente a alforria filial. Essa é inexoravelmente a lei da vida.

Entretanto, nessa etapa talvez seja mais fácil lembrarem-se dos amigos... dosacampamentos... das viagens que fazíamos juntos... das nossas preocupações com relação às

Helio BegliominiSão Paulo - SP

Page 44: Anais Jornada 2013

44

drogas e das más companhias... do nosso estímulo e torcida pelos esportes que faziam... dosestágios e intercâmbios no exterior... da nossa partilha, não somente pelos insucessos dosvestibulares, mas também pelo ingresso nas universidades... ou dos estágios e empregosconseguidos!

Inapagável na lembrança foi a primeira vez que estivemos na paradisíaca cidade deBariloche. Lá, particularmente no Cerro Otto, nos jogávamos no chão e atirávamos bolas deneve uns nos outros, todos com euforia e irradiante candura infantil!

A adolescência foi um momento em que tivemos plena consciência de que eram seresdiferentes e com vida própria. Cada vez mais ausentes fisicamente e, paradoxalmente maispresentes em nossos pensamentos e orações. As suas independências se consolidaram e, com ela,experimentamos diversos matizes dos dissabores da rebeldia e do desrespeito, contrariamenteà educação fornecida.

Achávamos que éramos os mesmos no intelecto e no físico, mas nos decepcionávamosquando não conseguíamos mais competir de igual para igual num jogo de futebol... na subida deuma escada... na compreensão de um pensamento... na agilidade e na vivacidade de umraciocínio. Tivemos a certeza de que tudo começou a acontecer quando começamos a serchamados educadamente de “tios”, “velhos” ou “coroas”. As rugas emolduradas pelos cabelosgrisalhos e os achaques que sofremos depunham contra nós.

Paradoxalmente, na nossa juventude, reclamávamos que nossos pais não queriam dialogarconosco, mas com vocês, queridos filhos, era exatamente o contrário. Apesar do nosso empenhoem conversar, quantos e quantos segredos esconderam de nós?!

***Aproxima-se uma nova etapa onde constituirão outras famílias e protagonizarão o milagre

da multiplicação da vida. Com certeza, vocês continuarão sendo nossa preocupação, masdevotaremos maior atenção aos seus filhos que serão nossa alavanca e motivação na alcunhacarinhosa de terceira idade. Com eles seremos possivelmente mais esbanjadores, não porquequereremos compensar possíveis erros cometidos na educação de vocês, mas porque começamosa perder com os anos, a força para puxar o precioso e imprescindível “freio de mão” quetivemos com vocês.

Teremos a sensação da plenitude em decorrência da experiência acumulada pelo rio deexistência que passou em nossas vidas. Entretanto, ainda aprenderemos e nos alegraremos muito,pois o mundo não parará como tampouco sumirão nossas decepções e temeridades.

***Mas se Deus permitir (!) haverá outro e derradeiro momento quando vierem os filhos de

seus filhos, consolidando assim suas famílias e suas descendências.Quando a trajetória da existência cruzar, lá no horizonte, com as ávidas garras do tempo,

seremos os mesmos, porém quase que irreconhecivelmente metamorfoseados pelas intempériesvividas.

Nessa ocasião, seremos uma vela consumida que se esforçará, agonizando em manter suachama acesa. Personificaremos o anacronismo e poderemos ser embalados como crianças, comternura e afago, assim como fazíamos com vocês.

***Quando o tempo implacavelmente passar... seremos simplesmente um marco histórico

lembrado apenas por vocês e seus filhos. Deixaremos de existir, pois a ciranda da vida deverácontinuar. Certamente seremos tão somente fotografias descoloridas dentro de álbunsembolorados, constituindo-se lembranças cada vez mais fugazes.

A nossa ausência será testemunha de um futuro que engoliu o passado e o fez muitovorazmente.

Quando eventualmente se recordarem de nós, rendam graças a Deus, pois fomos umdiminutíssimo ponto de partida de onde germinou e multiplicou uma linda história de amor.

Com muito carinho... seus “eternos” pais.

***

Helio Beglionimi

Page 45: Anais Jornada 2013

45

SE NÃO FOSSE A MINHA FÉ!

Após dois anos de matérias básicas, estava muito ansioso para o curso voltado à prática damedicina, profissão que me apaixonei desde a minha infância. Dentre elas sobressaía o estudoda semiologia, disciplina que ensina como abordar e examinar os pacientes; inquirir-lhes sobreseus sintomas e detectar sinais que, em conjunto, cooperam para a elaboração de hipótesesdiagnósticas de suas doenças.

As aulas teóricas e práticas eram ministradas no vetusto hospital-escola São Vicente dePaulo, na região central da cidade de Jundiaí.

A ala velha continha enfermarias masculina e feminina que albergavam cada qual cerca devinte pacientes, dispostos em leitos que ficavam lado a lado, em duas fileiras, uma em frente aoutra. As camas antigas eram por vezes mais altas e pouco versáteis. As modificações de seuformato eram obtidas através de alavancas e manivelas que se moviam pela força braçal. Nãoera incomum observar sob cada leito a presença de comadre ou urinol respectivo a cada paciente.

Havia também quartos distribuídos em seus corredores sinuosos que acomodavam duascamas. O pé direito era alto e o piso de madeira preenchido por longas tábuas contíguas debrilho opaco, que rangiam ao se caminhar sobre elas, ruído característico e facilmente perceptível,particularmente no silêncio da noite. As dependências velhas, mas bem conservadas, eramemolduradas com janelas e portas enormes, que acompanhavam a grande altura do teto.

Foi nesse ambiente aparentemente tétrico para a época atual, mas repleto de humanismoe de amor que iniciei meu conhecimento prático da milenar arte de curar. Era sequioso porconhecimentos e sempre almejava saber mais do que era ministrado nas aulas regulares, querteóricas quer práticas. Foram incontáveis as horas extracurriculares que me dediquei nessehospital acompanhando professores e assistentes; bisbilhotando e auxiliando cirurgias; além defrequentar a rotina do pronto-socorro, apenas com a finalidade singela de aprender mais e mais.São inúmeros e inesquecíveis os momentos que guardo desse período mágico de quatro anos emminha formação acadêmica. Dentre eles recordo-me de um episódio que aconteceu no meuterceiro ano, exatamente durante o curso de semiologia.

Corria o ano de 1975. A quantidade de matéria para estudar e absorver era imensa, porémmais prazerosa, pois se correlacionava à parte clínica, ou mais à prática da medicina propriamentedita.

Era comum entre os assistentes, avisarem os alunos quando havia algum paciente queapresentava sinais específicos para aprendizado através dos quatro pontos cardeais da semiologia:inspeção, palpação, percussão e ausculta. Havia um verdadeiro cruzamento de informaçõesorais entre os alunos para o devido aprendizado. Ademais, nem sempre nas aulas práticas todosos alunos dos subgrupos didaticamente formados tinham condições de examinar os pacientesapresentados. Daí, não ser incomum que os interessados procurassem fora das aulas, licença eoportunidade para avaliar individualmente os doentes.

Foi numa dessas trocas de informações que fiquei sabendo haver uma senhora idosa, alojadanum determinado quarto, que apresentava um sinal que deveria ser visto. Procurei-a sozinho,num período que não havia estudantes e que a agitada rotina hospitalar encontrava-se aquietada.

Bati mansamente na porta de seu quarto e adentrei-me lentamente no recinto que estavaocupado por apenas um único leito, coisa rara num hospital-escola. Tratava-se de uma senhorasexagenária que aparentava ser bem mais idosa. Tinha cabelos encanecidos e fácies sulcada derugas. Sua aparência era de uma mulher desgastada não somente pela idade, mas também pelaspoucas condições financeiras e pela doença. Ela estava deitada – sozinha – olhando dispersivamenteo teto e as paredes do quarto. Havia pouca luz no recinto, mas o ambiente era iluminado peloseu olhar e serenidade.

Chamei-a delicadamente pelo nome – como era nosso costume – e perguntei-lhe se poderiaexaminá-la. Ela assentiu meneando a cabeça e esboçando um leve sorriso. Durante o exame fui-lhe perguntando sobre sua vida e sua doença, ao que ela respondia-me prontamente com seu

Helio Beglionimi

Page 46: Anais Jornada 2013

46

linguajar modesto, mas repleto de vivência e sabedoria. Minha presença parecia que amainavaum pouco sua triste solidão. Era portadora de uma extensa carcinomatose peritoneal queprovocava nódulos endurecidos de diversos tamanhos no abdômen, quadro que jamais observariaao largo de minhas atividades profissionais com a mesma exuberância de tristes detalhes. Devidoao seu emagrecimento, os nódulos eram mais fáceis de serem apalpados.

Em nosso diálogo houve uma pergunta que lhe fiz, cuja resposta veio-me de forma indireta– A senhora não tem dor? Ela, um pouco mais descontraída pela minha presença, arfou levementeos pulmões; olhou-me de soslaio, mas de forma penetrante, e num discreto suspiro confidenciou-me: Ah! Meu filho, se não fosse a minha fé!

Sua singela resposta desarmou-me e calou fundo em minha mente, pois constatei quesintetizava uma filosofia de vida, toda pautada na coerência dos que amam e buscam a verdade.

Naquela singular tarde tive um dos mais eloquentes aprendizados. Estava à busca de sinaisclínicos num corpo doente e frágil e encontrei evidências de uma fé inabalável. Foi procurarinformações imediatas e encontrei a transcendência. Minhas mãos examinaram uma enfermacom prognóstico sombrio, mas meu intelecto sentiu que a vida não pode ter um fim inexorávelimpingido pela morte. Fui à procura de um paciente condenado e nele encontrei a presençaimarcescível de Deus!

***

Helio Beglionimi

Page 47: Anais Jornada 2013

47

CAMINHAR PELAS RUAS DE PARIS NO VERÃO

Em Paris, alguns anos atrás, não me lembro com certeza da data, só sei que era uma épocaem que eu vivia a procura de ilusões e era verão; caminhava, imitando um “flâneur” (caminharpor diversão) na companhia de Marília pelo Boulevard Saint-Germain; suas ruas largas e cheiasde luminosidade nesta época do ano transformam o caminhar em verdadeiro prazer.

Normalmente o turista ao caminhar por Paris define com antecedência a rota a ser seguida;o “flâneur” não se submete a esta orientação, sua caminhada não depende de destino, às vezes,durante esta jornada, resolve parar em um café e fica observando o que ocorre na rua à suafrente.

Sabíamos que a Rua L’Odeon deveria estar naquelas imediações, dobramos a esquerda eentramos à procura do local onde existiu, até o inicio da segunda guerra mundial, a livraria“Shakespeare and Company” de propriedade da norte-americana Sylvia Beach.

Não tínhamos pressa; o compasso das nossas passadas era ditado pela nossa ociosidade,discutíamos os acontecimentos ocorridos naquela livraria nas décadas de 1930 e 1940,principalmente a presença constante de incontável número de escritores e pintores, tais comoHemingway, James Joyce, Gertrude Stein, Sherwood Anderson, Picasso, e muitos outros; aopassarmos em frente ao número 12, ecoou, vinda da eternidade da existência a voz de Hemingway:

“Em um frio vento de rua, este era um lugar quente e alegre com um grande fogão noinverno. Mesas e prateleiras de livros, livros novos na janela, e fotografias na parede de famososescritores mortos e vivos – Paris, Uma Festa móvel”.

A temperatura estava começando a diminuir, pois o sol já se escondera por detrás dosprédios; continuamos nossa caminhada e entramos na rue St. Sulpice e, instintivamente, sentamosa uma mesa colocada na calçada de um “café”; sentimos que estávamos em porto seguro, poiso tempo não conta naquelas paragens, desde que o freguês consuma alguma coisa, às vezes umsimples café será o suficiente para se ocupar uma mesa por quantas horas se deseje.

Pedimos uma garrafa de champanha!Ficamos durante algum tempo em silêncio observando as pessoas que subiam e desciam a

rua, do outro lado da calçada, encostados em uma mureta, um casal de namorados trocavamcarícias, davam risadas e, de vez em quando se beijavam, indiferentes ao mundo que continuava,para eles, multicolorido; um pouco mais distante, uma pequena praça toda arborizada , ondecoseguimos ver várias senhoras idosas que caminhavam a passos lentos em sua direção, o sino daigreja de St. Sulpice começou a badalar chamando-as para as preces das 18 horas.

Um homem magro, alto, portando um chapéu de aba estreita, porém, com a copa muitoalta, bigode espesso que tentava entrar nas suas narinas, trajando um terno surrado, porém, bemalinhado, sentou-se a uma mesa bem do nosso lado; tenho “quase que certeza” de que foi ele afigura pintada por Paul Cézanne (Os jogadores de Cartas, 1839-1906) que vi ontem no Louvre; ao

Helio MoreiraGoiânia - GO

Page 48: Anais Jornada 2013

48

retirar o chapéu expôs a calvície que tomava conta de todo o topo da sua cabeça; ao acender ocachimbo, inexplicavelmente de cor branca, não tive mais dúvida, era ele, realmente, o modelopintado por aquele artista.

Colocou sobre a mesa sua pasta “démodé” (fora de moda) modelo James Bond, pediu umcafé, abriu a dita cuja, retirou um livro e começou a lê-lo; o seu título, que consegui ver deonde estávamos “The Greater Journey – David McCullough” traiu-o, se ainda me restava algumadúvida quanto àquela minha suspeita, esta se dissipou; provavelmente ele procurava naquelaleitura, o seu criador, Cézanne, pois o livro conta algumas curiosidades de Paris e de seusmoradores nos anos de 1830-1900.

Um vento frio, porém suave, varria com delicadeza, como se fosse a vassoura conduzidapelas mãos suaves e bondosas da minha mãe limpando o terreiro de frente a nossa casa emGaspar Lopes, as folhas da calçada.

Ficamos ali por algum tempo, quanto tempo? Não sei! Porém este detalhe não temimportância dentro da circunstância do momento vivido; quando resolvemos ir embora, opersonagem de Cézanne continuava “bebendo” a mesma xícara de café, completamente absortona leitura do seu livro. Será que ele nos viu?

A vida, repetindo Hemingway (Paris é uma Festa) “me tinha parecido tão simples naquelatarde! Mas Paris era uma cidade muito antiga, éramos jovens e nada ali era simples”.

Só aquele momento foi simples e não mais se repetirá, pois o minuto que passou não voltamais!

***

Hélio Moreira

Page 49: Anais Jornada 2013

49

VER NÃO É O MESMO QUE ENXERGAR

João Severino, apesar de pouco erado na idade, era bem informado: caboclinha igual àRita da Donana não havia nas redondezas, dizia ele.

Acho que ela sabia disso, era só o sol começar a se esconder, surgia a Rita toda enfeitada,andar delicado e até com certo gingado na cintura, semelhante a uma garça vista de longe. Ovestido era de chita, cor rosa, com alguns enfeites na barra da saia, o ombro era encoberto pelomodelo fofo das mangas; sapatos rasos, parecendo que os pés, que não eram mostrados, tocavamo chão; usava, costumeiramente, meias cor de rosa que se aproximavam dos joelhos.

Não era somente o João Severino que, ao vê-la, suspirava fundo e se punha a imaginaraquela criatura, aquele corpo, sem as vestimentas; toda a rapaziada do lugar tinha o mesmopensar.

João Severino, no entanto, era diferente do restante da turma, ele sabia, certinho, ahora que ela aparecia na rua, justamente quando os sinos davam as primeiras badaladas parainiciar a contagem de seis, ele já estava sentado no costumeiro banco da pracinha; lugarprivilegiado, pois, como ele percebera, ela dobrava a esquina e já entrava na rua principal epassava a poucos metros de distância. Seus olhos a acompanhavam até o final da rua, até que elaentrasse na igreja.

Depois de algum tempo ela voltava, na mesma toada como foi; não é fácil saber se eramais admirada na ida ou na volta; vista quando ia, parecia à silhueta de um violão a procura devioleiro, quando vinha, bambeava o quadril de tal maneira que dava parecença que ia deslocardo corpo; dava lembrança, na gostosura, de rapadura com queijo; os braços eram sacudidos nomesmo compasso que ela fazia com a cabeça: sereno, porém, transmissor de pensamentos quenem é bom lembrar!

João Severino nunca contou isto para ninguém, porém, é quase certo que ele pensou,muitas vezes, na possibilidade de ver aquele corpo do jeito que Deus colocou no mundo, oumelhor, ele daria uma ajuda ao Criador; tiraria primeiro, seus sapatinhos, e depois suas meias eia subindo no mesmo galeio (no pensamento) até o pescoço.

Que ele se lembre, somente uma vez ele teve certeza que ela jogou seus olhos tiranospara cima dele, porém, de um jeito de quem não “tava pondo atenção”; não faz mal, pensavaele, vou persegui-la com os óios, sem parada, um dia ela vai descobrir queJoão Severino está ansiado, enrabichado que não tem mais conta, prá móde dela.

Mais ou menos na metade do caminho que ela percorria, moravam Da. Zina e Sr. Tiburcio,os dois já bem maduros na idade; como tinham pouca ou coisa alguma para fazerem, passavam amaior parte do tempo debruçados na janela, olhando o movimento, se é que se pode chamar demovimento o que viam na rua e, principalmente, matraqueando a vida dos outros.

Como estavam ali todos os dias, não poderia passar despercebido o passeio vespertino daRita da Donana; era só ela apontar lá em baixo, Da. Zina já se manifestava:

— Já vem aquela sirigaita regateira e reboladeira, toda embonecada, acho que ela nãotem o que fazer; parece-me que ela coloca algum enchimento prá aumentar o peito; a saiaquase deixa de fora o joelho, só prá provocar os bestas dos homes.

Senhor Tiburcio, escolado pela vida a dois, não se manifestava, apenas consentia com acabeça; quando falava, não dizia nem tique nem taque, porém, era o primeiro a cumprimentara sirigaita quando ela passava debaixo da janela, como a lembrar de seu tempo de treme-treme.

Quando ela voltava, Da. Zina recomeçava a colocar defeitos na Rita da Donana, agora“por trás” da pobre coitada:

— Seio não, mas acho que ela coloca, também, um enchimento no traseiro, pois, nãoacredito que alguém tenha a poupança deste tamanho e ainda por cima tão bem aprumada;

Hélio Moreira

Page 50: Anais Jornada 2013

50

deve arrochar a cintura até perder o fôlego, porque não é possível alguém ter o pé da barrigacom tanta estreitura. Prá dizer a verdade, num acredito que o empreito diário dela é rezar!

Senhor Tibúrcio, por força das circunstâncias, não falava nada por saber das arengas daDona Zina, porém, utilizava o poder da mente para conversar consigo mesmo:

— Estou meio desguaritado, num sei o que é melhor pros óios: as suas duas mangas rosa,coladas por debaixo da blusa, quando ela vem ou a sua poupança quando ela vai. Não voudesdenhar, mesmo porque, não está na minha condição, mas, se acaso tivesse alguma sobra,acho que daria um adjutório para aumentar o rendimento da sua caderneta; tem outro porém,eu tinha vontade de enxergar e apalpar aquelas mangas, prá ver se já estão maduras. Não voucair no exagero de querer morder, porque meus fiapos de dentes não tem consistência nem parabanana ainda mais para manga rosa, tão grandota e desajeitada prá segurar.

***

Hélio Moreira

Page 51: Anais Jornada 2013

51

BALADA NO CÉU

No crepúsculo sonolento o sol recolheu suas madeixas douradas para, gentilmente, darlugar à lua que já apontava sorridente. Vaidosa, por ser muito admirada, sentiu-se no direito deusar o luar e pratear o que o sol, antes, havia dourado. Amante da noite, convocou as estrelaspara abrilhantar sua trajetória entre as nuvens. Musa, inspiradora dos poetas, apartava comfrequência o empurra-empurra das estrelas que ficavam ao seu redor. Já não sabia mais o quefazer para colocar harmonia no espaço celestial. Ficou a pensar numa alternativa, quando ouviubem distante um galo cantar: cocorocó... Assustada pelo adiantado do tempo e com o pouco quelhe restava para imperar, pensou: “Vou me retirar sozinha, saindo à francesa, estou farta dessabalada! E o sol, também, já está ajeitando suas madeixas douradas para entrar. Tenha um bomdia, sol, vou para o outro lado!”

***BRASIL

Terra CosmopolitaGigante na extensão,Tem sua história escritaSempre em forma de canção.

O índio ao som dos tambores,O negro com seus gemidos,Foram as notas de dores,Nos compassos tão sentidos!

Vem para cá o imigrante,Tem seu filho brasileiro,Chora sua terra distanteMas, canta o samba fagueiro!

No esplendor das suas florestasOs pássaros se unem cantandoA sinfonia das festas,E o coro chegam em bando!

As folhagens batem palmasQuando o vento leve apareceE a beleza doce das almas,Agradece a Deus numa Prece!

***

Jacyra da Costa FunfasSão Paulo - SP

Page 52: Anais Jornada 2013

52

INVENTÁRIO SERTANEJO

Tenho um coro de gestosQue rasgam os ares da caartingaO aboio que viceja os restosDo mandacaru que ainda vinga

Tenho um chão sagradoE muitas pedras ocres do rioCinco gerações do reinadoQue ainda vivem do estio

Tenho a beleza da genteDe caminhada sofridaCom um punhado de sementeUm canto de luz, um fio de vida

Por isso nunca estou sóConservo plantas do carrascalUm casaca-de-couro e um curióQue cantam no meu quintal

***

José Arlindo Gomes de SáRecife - PE

Page 53: Anais Jornada 2013

53

AMARGO REGRESSO

Quem me devolve a goiabeira do meu piãoMeu banho no poço do rio, minha candeiaMeu pífano de ouro, meu jogo de botãoMeu galo de campina, minha bola de meia?Hoje em dia, que é do sol da minha Inhotim?Cansado das mágoas de rotas desatinadas,Que é da luz da vida da caatinga carmesim,Que é da canoa do rio que navega calçadas?Amigo, deixa-me contar-te queixas represadas,O canto turvo, quase esquivo, de sangue e dor.Não queiras saber da face magra, alma-danada,Não perguntes pelo fel e o fado de negro estertor.Atravessei a serra verde para rever a branca florPuxando soluços que o mundo abrasado vai se acabar,O vento norte levando a estrada de amado cultor,Sonhos devastados pelo enigma de cor e de luar.Ainda ontem inquiri seixos miudos do meu andarComo a gente do rio me ensinou o canto melhor,Por entre gestos vestidos de lendas do verdearLimpando a vida do chão de sangue e suor.Quem me devolve a terra de favos castiços,Aquela vida ao léu , sem hora, nunca esquecida,Uma concha de néctar do rio, os rebuliços,O que falha a memória, o estar, a despedida?Antes que a terra dos mares me desfolha a vidaDeixo que cante o céu da estrela e da água sonora.A quem me queixarei, ó céus, dessa alma-perdida,Se o rio seco da cantoria leva meu silencio agora?Além das serestas e assustados das musas da auroraDeixo que escorra das mãos o pó da ventania.A quem me queixarei, ó musas, da minha flora,Que povoa o crepúsculo, encanto do fim do dia?Quem me devolve neste regresso o meu pião,Minha carrapateira colorida, minha candeia,Meu violão afinado, meu jogo de botão,Meu canário da terra, minha bola de meia?

***

José Arlindo Gomes de Sá

Page 54: Anais Jornada 2013

54

PERLA FINA

Brama. As carnes fremem. O esqueleto clama.Gládio de amor urde véus de volúpia. Rubra trama.Quero perpetrar-me neste desmame, doce ama,nesta empiria que de tudo, a verve ruge e flama.

Meu soluço ardente a moira crica arranha.Bruma um langor sob a fímbria de Vênus...Acenos. Encordoam um naco flexível,Retonho, úmido, e nervoso. Chinchado,volve ao luau dos sonhos, amainado.

Perla fina, eu te amo. É chama que chama,Não sei onde começo, onde terminas...Se escuto ou se falo,Falo... entre o regalo de teus seios,entre abraços que prendem o vento no entre-pelos,e aulidos que afloram a nudeza do silêncio.

A noite desmaia a raiva dos músculos,o enigma da paixão aflora, mas abranda,e se ainda te amo? E se tanto?Encanto..., no sangue da madrugada,deitei o olhar, lançei desejos e fiz jurasque muito aprecio...teu encaixe e tua redoma Fremente.Os primeiros raios da manhã sempre escondem osvampiros!Não, não sou, mas fui...

***

José Carlos SerufoBelo Horizonte - MG

Page 55: Anais Jornada 2013

55

POR QUÊ...

Esta não é uma manifestação político-eleitoreira ou um texto fóbico, é um Voto...Porque a distribuição de dinheiro via bolsas, não é de renda, nem sequer é garantia de

comida e não traz dignidade, mas aprofunda o “jeca-tatu” do pouco favorecido. Voto.Porque enquanto o povo recebe 300 para se calar, os “Régios Saltimbancos” embolsam

milhões. O enriquecer da canalha...Porque quando alguém recebe sem trabalhar, alguém está trabalhando e sendo expropriado

para esse custeio. Outra coisa é a melhor distribuição da renda do trabalho, entre os trabalhadores.Dissimulação.

Porque, a cada dia, o trabalhador produtivo sente a mão dos impostos com mais dedosem seus bolsos e os políticos decidindo quanto devem ganhar/ dividir o extorquido do tidopoviléu adormecido. O quarto, ex-quinto, já caminhando para terço...

Porque a infra-estrutura do país contracena com sua riqueza e impostos extremamenteelevados, entre os primeiros do mundo, enquanto portos, aeroportos, transporte, saúde, educaçãoe indústria nativa reluzem no nadir da humanidade, com pedido de vaga na UTI do caos. O caosé o paraíso do esperto. Obra-dinheiro-corrupção.

Porque políticos e partidos, amorais e acima dos princípios, se abraçam ou se ombreiam,face ao toma-lá-dá-cá com o nosso patrimônio. Aos amigos tudo, aos demais a lei e o fogo.Anuviar a corrupção. Garantismo!

Porque a mídia paga mostra apenas o vídeo mais bem pago, alimentando a ignorância eacobertando os parasitas do Estado. A informação/desinformação como instrumento de Poder egerador de Voto.

Porque os direitos humanos não são pela gente de bem!Porque tudo é usado descaradamente como pretexto para afarfalhar, enquanto enchem as

burras, amordaçam/cooptam a concorrência e perpetuam as tetas. Conluiando/violando os TrêsPoderes. Enfraquecer as atalaias indormidas da democracia.

Assim, importam médicos para resolver as graves deficiências da saúde, como se estefosse seu principal componente, ofuscando a intenção de montar células da petralha entre osmenos favorecidos/vulneráveis. Voto certo, encabrestado.

Assim, criam cotas para entrada no ensino superior, esquivando-se ao problema daqualificação de professores e do ensino fundamental e médio. Voto.

Assim, instigam as minorias criando a distensão do nosso povo e aparelham/desmontam asinstituições. Dividir para governar. Poder e Voto

Porque há muitos porquês...Então, Voto pela inspiração, voto pelo despertar do nosso povo, e que cada vez mais

brasileiros captem o espírito das ruas, com febre e indignação, mas também com lucidez eharmonia, tanto quanto com revolução.

Então, de fato, Voto e ouço “do Ipiranga as margens plácidas...”

***

José Carlos Serufo

Page 56: Anais Jornada 2013

56

TROPICALISMO - CONCRETISMO

O filme “Tempos Modernos” chaplinianoarte e roteiro do operário estressadorevela o ambiente do viver cotidianohumor satírico do século passado.

Entre simbólicos sonoros devaneiosorquestrados ritos em paradoxais tonsfestivos cortejos em musicais anseiosafinam inéditas radicais emoções.

Em infinitas expressões estéticasromânticas artes pop a desabrocharvisões éticas em variações poéticasquem sabe faz a hora transformar.

Sintáxicos mitos a dardejar belezascom régua e compasso e aquele abraçoricos trocadilhos sobrepondo proezasdesfilam sociais semióticos traços.

É a Tropicália caminhando contra o ventoporque não, porque não, é José é Joãono sol de dezembro sem lenço sem documento,é pau é pedra, é o resto do toco fechando o verão.

Estilos e símbolos em cognitivas imagensvalorizam figuras como forma de expressão,vanguardas culturais em virtuais linguagensincorporam o Concretismo em temática abstração.

José JucovskySão Paulo - SP

***

Page 57: Anais Jornada 2013

57

CENTENÁRIO DO NASCIMENTO DE JORGE AMADO NÓ GÓRDIO BRASILEIRO

Ao relembrar o panorama da minha juventude na cidade de Salvador na primeira metadedo século passado, fico cada vez mais confortavelmente gratificado diante da moderada esimples vida marcada pelas retóricas políticas e poéticas daquela época.

Hoje, olhando pela janela do passado sinto-me inquieto como um espectador ansioso porpoder relembrar a romântica lírica natureza invadida de sonhos ultrapassados além dos limitesdo cotidiano viver. Em explicito transcender muito além do significado do verbo, podíamossempre alcançar agradáveis amenas noites estreladas que nunca serão pelo tempo apagadas. Vercom novos olhos, descobrir a vida aberta com novas ideias entre simbólicas pontes imperativasde vanguardas tentávamos romper os grilhões do conformismo. Ao mesmo tempo a tropicalSalvador entre louvações, devoções e ladainhas tocando música e recitando poesia ia se destacandocomo um grande centro urbano cultural do nordeste.

Entre convulsões e guerras tento colocar no papel alguns momentos da vida de personagensrevolucionárias que, por fortuitos acasos tive a felicidade de conhecer sem intimidade, delonge, em reuniões acadêmicas e sociais.

A grande mobilidade sociocultural com a marca vinculada à rebeldia estudantil, inteligentee talentosa constituiu um fértil caminho para planejar significativa mudança em busca de umanota só: a liberdade.

Apesar de não ter a menor noção do mundo kafkiano, vivia transtornado com o desesperodiário de meus pais que deixaram de receber notícias da imensa família durante a segundaguerra mundial. Passei a sentir premente necessidade de buscar entender tudo e de possuir ouinventar outro mundo em que todos pudessem viver em paz sem ser vítimas de qualquer tipo deagressão. Só depois do término da guerra que infelizmente aos poucos ficamos sabendo damorte de todos com exceção de uma irmã de minha mãe que, sendo cega foi retirada para aSibéria num comboio com inúmeros outros deficientes.

No início do ano letivo de 1941 na primeira aula de Física do Ginásio da Bahia o professorClemente Guimarães procurando angariar a atenção dos alunos contou um fato ocorrido citandoo nome do estudante poeta Carlos Marighella que respondeu à pergunta sobre as leis da reflexãoda luz, em versos. Os alunos do Ginásio conheciam a história política de Marighella que tinhasido preso em 1932 por ter escrito um poema criticando o interventor Juracy Magalhães e queterminou por abandonar o curso de Engenharia Civil da escola Politécnica da Bahia no terceiroano, para ingressar no PCB. Ficaram na memória acadêmica ecos proféticos declamados emversos de ousar lutar e ousar vencer, escritos sob o impacto de cotidianos existenciais conflitossimbolicamente mágicos como em:

“O Amor é meu companheiro de viagem, junto com a Indignação.”

Marighella escreveu muito ao longo de sua vida. Aos 21 anos divertia os professores ecolegas durante as aulas na Politécnica fazendo as provas em versos. Essa beleza poéticaclaramente transformou-se em intensa luta pela democracia, registrada em dramáticos versos deuma estrofe: “O país de uma nota só”

A passagem subiu, o leite acabou, a criança morreu, o deputado cedeu, a linha dura vetou.

Page 58: Anais Jornada 2013

58

“Liberdade”Queira-te eu tanto, e de tal modo em suma, que não exista força humana alguma que esta paixão embriagadora dome. E que eu por ti, se torturado for, possa feliz, indiferente à dor, morrer sorrindo a murmurar seu nome.

Entre o período de 1942 e 1945 eu frequentava as sabatinas do grêmio recreativo daSociedade Israelita da Bahia, ambiente juvenil com música e danças. Nas reuniões literárias porduas vezes tive a oportunidade de ver e ouvir o jovem escritor Jorge Amado. Apesar da minhatímida presença no salão de conferências hoje me parece ter sido de excepcional importânciapor vir a ler grande parte de seus livros. Na poeira do passado ligando os fios da memória creioque posso citar outros nomes com vozes tão altas quanto Jorge Amado.

Com a aproximação entre Brasil e Estados Unidos, política que foi chamada na época daboa vizinhança resultou nas instalações de bases militares americanas no norte e nordeste doBrasil.

A partir do ano de 1942 submarinos alemães começaram a afundar navios de passageiros nacosta brasileira, levando o Brasil a declarar guerra aos países do eixo. Os estúpidos ataques aosnavios de passageiros desarmados provocaram manifestações da população indignada e revoltadapelo enorme número de vidas inocentes perdidas.

Foi em seguida formada a Força Expedicionária Brasileira disparando impressionantemovimento estudantil e na mídia em geral.

Residindo atualmente em S.P., Jacob Gorender marxista declarado, meu vizinho e amigofoi incorporado na campanha expedicionária na Itália como voluntário. No pós-guerra veementecrítico stalinista sempre focado na trajetória política do Brasil em idealística visão, abandonou amilitância PCB. para participar da fundação do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário(PCBR). Torturado durante o regime militar após 1964, é atualmente considerado o maisimportante historiador “marxista brasileiro”, com imensa e importante produção literária.

A pacata provinciana Salvador durante anos serviu de refúgio para militantes do partidocomunista envoltos em labirínticas políticas que passaram a viver refugiados nos seguros einvioláveis abrigos nos terreiros de candomblé da cidade.

Tentando compreender os desafios da mente, busco homenagear o centenário de nascimentode Jorge Amado falando através minhas nostálgicas lembranças de alguns dos pensamentosreveladores através sua genealogia sertaneja. Complexos conjuntos em variadas linguagensinventivas, interligadas e amarradas em intrigantes “causos”. Essa instigante literaturaprotagonizada pelos sertanejos e grapiúnas lidas e relidas marcaram de forma perene e indelévela vida real do século XX onde d’um copo de água se fazia um oceano. Na realidade o queseriamos sem a fascinante mistura da memória e da humana história?

Quando Jorge Amado tinha apenas dez meses, seu pai sobreviveu a uma tocaia na regiãode Ferradas. Episódio acidentado e multifacetado no imaginário do “Menino Grapiúna” e quesem dúvida inspirou o livro “Tocaia Grande”. Esse romance escrito de déu em déu revela não sóa face obscura dos personagens, como também o paraíso na terra virgem ainda intocada semeandofolclórica política contra a ditadura militar.

A origem não romanceada dos Amados (Amadeus) coloca o primeiro deles Bernabé Amadono começo do século XIX, proprietário e criador de gado estabelecido na cidade Estância doEstado de Sergipe. Um dos seus bisnetos, João Amado de Faria (1880- 1962), pioneiro nocultivo do cacau no sul da Bahia, aproveitou a nova fronteira de expansão geográfica fixando-seem Ferradas junto com outros sergipanos na região de Itabuna no Estado da Bahia. Fundou afazenda Auricídia onde se casou com Eulália Leal (1884-1972), neta de uma índia preada(capturadaa laço por homem branco) tendo quatro filhos deste casamento: Jorge, Jofre falecido aos trêsanos de idade, o médico Joelson e James também escritor e pai da historiadora Janaína

Page 59: Anais Jornada 2013

59

Amado. Nestas informações genéticas pode-se concluir a existência de uma linhagem de escritorestodos empenhados na tentativa entusiasmada para que sejam reconhecidos através seus escritos.

Na verdadeira história acadêmica marcante da literatura no percurso visual dos Amadosfica possível verificar outros escritores com laços afetivos de ancestralidade onde se inclui comdestaque os irmãos Genolino e Gilberto, primos de Jorge, ambos eleitos para a Acadêmia Brasileirade Letras. E ai o fio do destino cria um inédito prelúdio brasileiro, atávica formação cultural deescritas com envolventes vidas em detalhadas linguagens criativas.

Moldando minhas memórias durante o período estudantil, posso afirmar que esse foi marcadona quase totalidade pelo “Estado Novo” getulista de 1937 a 1945. Caracterizado por centralizadore autoritário foi criado o Deparamento de Imprensa e Propaganda o famoso “DIP”. Os prefeitosda época eram nomeados pelos interventores e estes, por sua vez, pelo presidente. Na inclinaçãoesquerdista um novo mundo vivo de enfeitiçada identidade nacionalista imperava entre osjovens e intelectuais, correndo solto na cidade os mais indóceis epigramas com seus corrosivoschistes, envolvendo não só os políticos como também personagens e comerciantes corruptos.

O interventor Landulfo Alves (1938-1942) determinou que a carne do boi tivesse reajustede 2.200 reis. Epigrama em forma de folhetim distribuído durante a noite apesar de perigosamentecomprometedor o epigrafista escreveu agressivos versos, clara alusão critica ao interventorditos picantes sem assinatura, que eram sempre reconhecidos pelos intelectuais.

Depois de tantas tormentas,Dia e noite, noite e dia,Carne de dois e duzentosLandulfo deu à Bahia.

Do Renato Onofre Pinto Aleixo interventor no regime de exceção de 1942 a 1945,completamente desconhecido na cidade ao ser indicado, surgiram versos que fizeram logogrande sucesso:

Renato é nome de gente,Onofre nome de santo éPinto é nome de bicho.E Aleixo, que diabo é?

O período da história republicana denominado Estado Novo durou de 1937 a 1945, quandoGetúlio foi deposto pelas forças armadas.

O salto de identidade no mundo da juventude baiana fez vários caminhos no final dasegunda guerra mundial. Todos os fins de ano instalava-se num terreno baldio do Campo daPólvoraum parque de diversões, incluindo um amplo palco de teatro de revista onde imperava a principalatração, o apresentador Zé Coió.

Era neste alegre ambiente conhecido como “Festa da Mocidade” ramagem abundante deíntima igualdade onde vagavam ideias e ideais políticos de inclinações esquerdistas claramenteantifascista, visível na grande maioria dos estudantes, e entre eles dois personagens que viriama se destacar na política nacional: Milton Santos e Mário Alves.

A trajetória política do Brasil depois da ditadura Vargas, encaminhou-se com certatranquilidade pelos governos Dutra, Juscelino, Jânio e Jango.

Otávio Mangabeira foi o primeiro governador eleito na Bahia após os anos da Era Vargas,tomando posse em abril de 1947, exercendo com plenitude o governo até janeiro de 1951.Durante o seu governo em 1949 comemorou-se o quarto centenário da capital baiana com ainauguração do imponente Fórum Ruy Barbosa. Buscou resgatar as maiores inteligências da Bahiadestacando-se o educador Anísio Spinola Teixeira na Secretaria de Educa,cão e Saúde.

Época de expressivos movimentos sociais influindo no desenvolvimento brasileiro construíainvisível e assustador pesadelo para cair novamente em 1964 num ciclo de violência eautoritarismo, em plena guerra fria mundial. Literalmente o Brasil iria passar a mais longa

Page 60: Anais Jornada 2013

60

ditadura da sua história desaguando, entre altos e baixos, numa inventiva situação intermediariacom a eleição indireta do civil Tancredo Neves pelo Congresso Nacional em 1984.

A diversidade política religiosa no mundo procura também responder às preocupantesperguntas vinculadas ao futuro da vida humana na Terra. Apesar da linguagem criativa em amplashistóricas ambições, a instabilidade universal impõe não deixar para traz sonhos e símbolos naversão de tentar humanizar o mundo, protegendo com clareza a natureza não permitindo que asenormes queimadas continuem devastando a mata na Amazônia brasileira.

O desaparecimento de Mário Alves entre outros companheiros e o assassinato de AnísioEspínola Teixeira jogado no poço do elevador do prédio após fazer uma visita ao amigo AurélioBuarque de Holanda representou a conduta habitual do governo autoritário após 1964.

Em 04 de novembro de 1969 Carlos Marighella foi assassinado em plena madrugada, comtodo aparato bélico conhecido pelos agentes do DOPS próximo ao apartamento onde eu moravana época na cidade de S. P.

Milton Santos sempre presente e criativo atuou intensamente com energia na políticaestudantil; em 1948 formou-se pela Faculdade de Direito da Bahia. Auto exilado, com o apoio deamigos, levou 13 anos para retornar do exterior, passando a ser considerado um dos maiorespensadores brasileiros na atualidade.

Anísio Teixeira propõe e realiza um modelo de educação revolucionário original duranteo período em que foi secretário de educação e Saúde na Bahia de 1947 a 1951. Modelo deeducação brasileira baseado em ideias que ele reproduz no livro “Em marcha para ademocracia”. Inquieto escreve projeta e realiza a inauguração da primeira escola de Educaçãode Tempo Integral para todas as crianças carentes no bairro da Liberdade em Salvador. Esteprojeto do Instituto de Educação de Tempo Integral Carneiro Ribeiro, sem dúvida uma dasprimeiras maiores revoluções vitoriosas da educação no Brasil, vem sendo copiado comsucesso até hoje.

Com todo este labiríntico domínio da evolução técnica científica entramos num caminhoambíguo e desafiador da era nuclear. Atualmente em franco ritmo já na segunda década doséculo XXI vivenciamos um traçado de previsão singular, desenvolvendo além da imaginaçãoíntima relação entre seres humanos e máquinas. Segundo Ray Kurzweil rapidamente as máquinasatingiram a mesma habilidade do cérebro humano adquirindo personalidade e sentimentospassando o seculo XXI a ser denominado de : A ERA DAS MÁQUINAS ESPIRITUAIS. Será possível queeste tipo de transferência da mente humana para um suporte matemático optará sempre pelasmelhores soluções? Estaríamos mesmo contando para os futuros recém-nascidos que estamosdeixando para o futuro uma vida melhor?

Historicamente Alexandre, o Grande resolveu desfazer o Nó Górdio cortando-o com a suaafiadíssima espada. Por sua vez Jorge Amado, Carlos Marighella, Jacob Gorender, Anísio EspínolaTeixeira, Milton Santos e Mario Alves, entre outros, buscaram desenrolar o Nó Górdio brasileiroutilizando revolucionárias, marcantes, renovadoras linguagens criativas tentando, sob pressão,fazer sobreviver as conquistas democráticas através da intelectualidade política brasileira.

S. P. janeiro de 2013.

Jacob Gorender faleceu em S.P. em 11/junho/2013 aos 90 anos de idade.Entre seus trabalhos se destacam: Combate nas trevas, O Escravismo Colonial e A burguesia

brasileira.

***

Page 61: Anais Jornada 2013

61

O AVISO DO VENTO

As horas já avançavam galopante noite adentro, num mês de novembro cálido, para umano de inverno escasso. Indubitavelmente aquele calor obrigava, muitas vezes, dona Nozinhafazer semiaberta, quase de um modo permanente, a janela da frente, em conjugação com aparte superior da porta da cozinha, inteiramente escancarada, com o fito de propiciar umaamena circulação de ar no interior da casa.

Seu verdadeiro nome era Leonor, mas, carinhosamente, desde pequena, todos a tratavampor Nozinha, até mesmo para fazer coerência com sua delicadeza de gesto e nobreza decomportamento sempre mantidos. Ainda não chegara aos trinta anos e já carregava o pesadofardo da administração de uma família constituída por seis filhos menores, com o primogênitohavendo completado nove anos e a caçula, engatinhante, ensaiando os primeiros passos. Seumarido, fruto de um romance sem a aprovação paterna, resolvera tentar a vida nos seringais daAmazônia, e, há mais de dez meses estava ausente. Dificilmente ela recebia notícias dele, issoacontecendo na maioria das vezes através de retirantes que voltavam, quase sempre, paraescapar da malária ou de qualquer outra doença palustre. A última informação, trazida porAbdoral de Sousa, que, com o diagnóstico de filariose tivera que retornar a sua terra a cata detratamento, não era muito alvissareira, pelo contrário a deixara preocupada, pois soubera queseu marido havia baixado a enfermaria do Seringal com muita febre e a pele bem amarelada.Carta mesmo recebera apenas uma, depois de noventa dias do afastamento, trazendo dentro doenvelope a quantia de duzentos mil reis. Simão, quando rapaz, muito bonito é bom que se frize,ficara afamado por seu procedimento rotulado de irresponsável, com a característica de namorador,brincalhão, dado ao jogo de baralho, não se o pretendendo como genro, qualquer patriarca derespeito como era o caso do Coronel Antonio Joaquim. Por isso, se contava a grande decepçãodo abastado comerciante com Nozinha, sua linda e prezada filha caçula, no próprio instante quea impusera o fim do namoro. Destarte, enfrentando momentos de grande necessidade, guardarapara si os problemas, não tendo coragem de levá-los a seu carrancudo pai. Se, ao menos sua mãeestivesse viva, porém uma enfermidade insidiosa causara a sua morte, nem bem passara um anode seu casamento. Conseguira com o Padre Edgard, caridoso pároco da cidadezinha, o empregode zeladora da Igreja Matriz. Tal ocupação viera mesmo a calhar, porquanto fora bem alicerçadana educação cristã, fazendo o seu trabalho de limpeza e cuidados outros com a Matriz amenizaremos seus percalços e por vezes os sublimar. As crianças menores eram cuidadas pelos irmãos maisvelhos, ou, na ausência destes, quando de suas obrigações escolares, pela velha Maria Pêdra,uma descendente de escravos que se arranchara naquela humilde casa. Claro estava, a nãoexistência de formalidade pecuniária, já que implicitamente tudo se traduzia como troca defavores.

Naquela noite, refeita com um salutar banho frio, metida num roupão longo que encobriaa surrada camisola, com todos aninhados – como assim chamava os filhos acomodados em suasredes – já dormindo, Nozinha visando conciliar o sono, também porque escrevendo para Simãolhe servia como ataráxico, descarregando as saudades do seu amado na escrita, adjutorizadapela luz da lamparina de pavio longo, acomodou-se na grande mesa da sala de jantar, fezmergulhar ligeiramente a pena no tinteiro, e, em um papel pautado, começou a carta: QueridoSimão; no silêncio desta noite de 17 de novembro, quando nossos filhos já adormeceram, volto

José Maria ChavesFortaleza - CE

Page 62: Anais Jornada 2013

62

a lhe escrever, pela quarta vez, sem que tenha tido o alento de receber uma segunda cartinhasua. A saudade é infinda e as lágrimas que rolam no meu rosto... Foi obrigada a interromper o seudesabafo escrito, por que uma lufada de vento, sem explicação plausível porquanto o tempoestava parado, apagou a chama que alumiava. Com discreto nervosismo, apalpou o roupão e,sem dificuldade, encontrou a caixa de fósforos. Atritou um palito a caixa, novamente pondoacesa a lamparina. Levantou-se e teve o cuidado de se dirigir a sala, para fechar totalmente ajanela, no sentido de evitar qualquer sopro de vento que viesse interrompê-la de novo. Noentanto, nem sequer continuou a escrita, uma vez que, até de modo assombroso, a tampa dacaixa de sapatos, que estava numa das cadeiras ao redor da mesa, voou e, com o vento produzido,ato contínuo, põe a sala às escuras. Nozinha, em pânico, chorando muito, saiu porta a fora,atravessou a rua, até a casa de seu cunhado, e, freneticamente bateu na sua porta:

– Aniceto, Aniceto...O irmão mais velho de Simão imediatamente atendeu, algo surpreso e preocupado,

levantando o farol acima de sua cabeças:– Que é isso Nozinha? O que aconteceu? Por que você está chorando?– Simão morreu, Aniceto, recebi um aviso.– Que é isso querida cunhada, você está muito nervosa e tudo a impressiona

desfavoravelmente.Após o breve histórico do acontecido, Aniceto procurou acalmá-la, principalmente quando

fez a promessa de tomar providências, imediatamente na manhã seguinte, auscultando o Escritóriode Alistamento em Fortaleza, acerca de noticias do seu irmão e marido de Leonor. Ah, isso elefaria, com certeza, quando exigiria a mais breve comunicação pelo rádio do Escritório com oSeringal.

Com efeito, por volta das dez horas da manhã do dia 18 de novembro, estava sendoatendido pelo gerente de alistamento, mas, de princípio tomou conhecimento que a manutençãoestava tentando corrigir uma pane no transmissor do Seringal. e. em sendo assim, aguardasse emcasa que, quando houvesse a reintegração, colheria noticias do alistado Simão das Chagas.

Finalmente, uma semana depois, Aniceto recebeu uma comunicação telegráfica na qualestava noticiado o falecimento de Simão na noite de 17 de novembro, próximo passado, deimpaludismo, e, que devido as dificuldades óbvias de transporte, o sepultamento já se dera namanhã do dia 19, depois da liberação do corpo, obedecidas as exigências de praxe.

Estava definitivamente explicado o aviso, na noite do vento fatídico, que Nozinha nãoprecisava mais escrever a Simão.

***

José Maria Chaves

Page 63: Anais Jornada 2013

63

LAURO MAIA – UM POETA QUE TAMBÉM É RUA

Deus reprova os arrogantesPois, para engano de alguns,

Sempre esconde os diamantesEntre as pedras mais comuns.

Pois bem, com esta trova desejo retratar LAURO MAIA TELES – COMO POETA E COMPOSITOR– senão a nossa maior expressão literomusical, seguramente, um lapidado e burilado diamante,postado de forma humilde entre grosseiras pedras.

Lauro Maia nasceu na casa de nº 1966 do Boulevard Visconde de Cauype, atual Avenida daUniversidade, em 06 de setembro (Cartório João de Deus) ou 06 de novembro (Verbum adVerbum) do ano da Graça de 1913. Filho do odontólogo Antônio Borges Teles e da professora depiano Laura Maia Teles.

Seu aprendizado musical certamente se inicia no berço, com sua mãe e, já aos 10 anos deidade, vestindo calças curtas, substituía o pianista oficial do Cine Majestic. Além de exímio aopiano, dedicou-se,outrossim, ao estudo da flauta e do acordeon. Como acordeonista foi o maisjovem integrante da orquestra da PRE-9 regida pelo maestro Euclides Silva Novo. Na pioneiraemissora de radiodifusão do Ceará, logo assumiu o cargo de Diretor Artístico e já era umfestejadocompositor. Enquanto criança esteve matriculado no Colégio Marista e, adolescente, transferiu-se para o Liceu onde cumpriu todo o resto da programação ginasial e do científico. A essa alturada vida, já era frequentador da roda boêmia de Fortaleza e, pelo menos duas vezes na semana,acompanhado do seu amigo e parceiro – notável violinista – Aleardo de Freitas, fazia serenatas,conquistando amores diferentes pelos desempenhos poéticos e românticos de suas composições.Aos 25 anos, bacharelando em direito, compõe a “Valsa do Rubi” para a cerimônia de formaturaque, disseram as línguas ferinas, não compareceu por haver esquecido a hora, enquanto festejava,em um bar, bebendo com alguns amigos.

Seu nome, já consagrado como compositor musical, letrista e arranjador, constou da listanegra dos Integralistas de Petrópolis, com vários outros cearenses ilustres, entre os quais o Dr.Bié eo Professor Cláudio Martins.

Em 1940, após dois anos de namoro, casou com Djanira, irmã de Humberto Teixeira (que,por residir no Rio de Janeiro, embora cearense de Iguatu, não o conhecia pessoalmente).Emjunho de 1942 nasceu sua primogênita, Eva, e em dezembro de 1943 veio ao mundo Lauro Filho,já residindo na antiga Capital da República (Rio de Janeiro). De principio entregava suascomposições para a interpretação e gravação pelos Vocalistas Tropicais e/ou 4 Ases e 1 Coringa.Dentre as muitas gravações do início, poderia citar o batuque “Eu vi um leão” e a marcha “ Eu

sei o que é”, além dos sambas “Eis o meu samba” e “ Nosso cruzeiro”. Com os “VocalistasTropicais” – vitorioso e harmonioso conjunto cearense – lançou um novo ritmo,o balanço,com amúsica “Balancê” -”oi balancê, balançá/balança pra lá e pra cá/ eu vou até de manhã só nesse

balanciá”. Com o sambista Ciro Monteiro, deixou a composição”Deus me perdoe”, que foigravada -”Deus me perdoe, mas levar esta vida qu’eulevo é melhor morrer...”.

Com Orlando Silva, o cantor das multidões, gravou muitos sucessos, tais como”Febre de

Amor”, “Poema Imortal” e “Quando dois destinos divergem” – “Acaso poderás dizer qual de

nós é o culpado/ e qual a razão de tudo ter desmoronado/ Nossa vida agora é um verdadeiro

caos/ semeada de incrível solidão/ e pontilhada só de pensamentos maus...”.

José Maria Chaves

Page 64: Anais Jornada 2013

64

Em 1942, volta a Fortaleza, conhece e integra a Escola de Samba, que foi batizada com oseu nome. É bom que frise: A Escola de Samba Lauro Maia foi criada pelo músico Canelinha,obviamente para conquistar o compositor que sempre abiscoitava o 1º prémio, disputando pela“Escola de Samba Prova de Fogo”. Em sua criação, a Escola de Samba Lauro Maia contava emsuas fileiras com o também pianista e compositor Luiz Assunção. Desde a sua fundaçãoaté 1945 aEscola de Samba Lauro Maia sempre foi vitoriosa.

Passada a época carnavalesca, Lauro volta ao Ria de Janeiro onde se emprega na FirmaIrmãos Vitale – Editor de Música - e também foi contratado pela Rádio Tupi, como arranjador eorquestrador dos variados temas musicais dos seus programas de estúdio. Além desses doisestafantes encargos, ainda firmou expediente noturno – como pianista – com o Cassino Atlântico.Fumava muito, bebia em demasia e se alimentava pouco e mal. Confessava para seus amigos deboemia, especialmente Chiquinho da Lapa, seu quase irmão, que morria de saudades da suaterra. Com esse sentimento de ufanismo, compôs:”Eu bem sei que é bem nosso/ o orgulho de

um gesto que eleva e seduz/ um gesto altaneiro de audaz jangadeiro/ mandando que todo

navio negreiro/ passasse bem longe da Terra da Luz”.

Em 1947, ano de sua última visita a Fortaleza, já com a saúde gravemente abalada, os doispulmões invadidos pela tuberculose, teve de retornar ao Rio para um internamento no HospitalSanta Maria em Jacarepaguá, famoso por recuperar pacientes tísicos. Debalde foram os esforços.No dia 05 de janeiro de 1950, por coincidência data do trigésimo quinto aniversário de HumbertoTeixeira, às vinte horas e trinta minutos, Lauro Maia faleceu.

Em 1952 -e eu estava lá - o samba intitulado “Lauro” foi cantado e chorado por todosnós, no desfile de carnaval da Escola de Samba Luiz Assunção:

“Lauro, eu vim lhe homenagear

Ah, se você fosse vivo

Pra ver sua escola passar,

Oh Lauro!’’.

***

José Maria Chaves

Page 65: Anais Jornada 2013

65

AMANDO E POETANDO

Eu sonhava ser poeta.Na vida, uma grande meta.

Rimas sabia fazer, econsonância acontecer.

Só faltava a inspiração,coisa lá do coração.

Seria uma alma gêmea?carinhosa e muito fêmea?

Criaria eu tercetos,ou comporia sonetos?Melhor seria uma ode?

Ou isto é para quem pode?

Então encontrei vocêe fiquei a sua mercê.

Daí, misturei fonemas,logo surgiram poemas.

Você é a minha musa,no meu coração reclusa.E quanto mais eu a vejo,mais seu carinho desejo.

Hoje escrevo poesiacomo nunca eu faria

sem você em minha vida,meu amor, minha querida.

***

José Warmuth TeixeiraTubarão - SC

Page 66: Anais Jornada 2013

66

A MITOLOGIA GRECO-ROMANA E A OBSTETRÍCIA

A mitologia da Grécia e da Roma antigas nos conta histórias deliciosas que deixariamestupefatos quaisquer obstetras e neonatologistas da atualidade:

Zeus, o pai dos deuses, sob a forma de uma chuva de ouro, introduziu-se na torre debronze onde estava reclusa Dânae e assim engravidou-a! Já pensou se nós homens tivéssemosnosso fluido fertilizante assim? Estaríamos todos milionários..

Diz a lenda que os deuses irmãos gêmeos Acrisio e Preto, filhos de Abante e Aglaia jácomeçaram a brigar ainda no interior do útero de sua mãe e assim se comportaram por toda avida.

Zeus era um tremendo transformista: Engravidou Leda, assumindo a forma de um cisne...Caio Julio Cesar, o primeiro dos doze Césares, conta o mito, nasceu pela abertura feita

no ventre de sua mãe. Daí, o nome de cesariana para esta operação. Teria sido um parto post-mortem ou já haveria um anestesista no Monte Olimpo?

Zeus, (ele novamente), que deve ter sido um tremendo mulherengo, partilhou o seu leitocom Mneumóside, a deusa da memória, por dez noites consecutivas. O prodigioso resultado foique um ano depois ela deu luz a dez filhas: as nove musas das artes: Calíope, deusa da eloquência),Clio, da história, Erato, da poesia lírica, Euterpe, da música, Melpomene, da tragédia, Polímnia,da música sacra, Tália, da comédia, Terpsícore, da dança, e Urânia, da astronomia.

Com toda a certeza, a décima foi natimorta, pois ninguém fala nela.Nem com todos os recursos usados hoje nos casos de infertilidade já se produziu um

resultado semelhante!Terpsícore, a musa da dança, segundo alguns autores teria sido a mãe das sereias.

Inseminação com sêmen de peixe?Afrodite nasceu quando Cronos cortou os órgãos genitais de Urano e os arremessou no

mar; da espuma formada ela nasceu. Cuidado, meninas ao banharem-se no mar! Algum bichinhodanado e imortal daqueles, com cauda, ainda pode estar nadando por aí.

Afrodite também, segundo a lenda, portava um cinturão onde estariam todos os seusatrativos. Teria ele inspirado a criação do cinto de castidade, na Idade Média?

Venus, a Afrodite entre os Romanos, deusa do amor e da beleza foi desposada por Vulcano,deus do fogo, o mais feio dos deuses, que era inclusive coxo. Talvez por isso, manteve relaçõesadúlteras com Marte, Mercúrio e Baco. Ela teve oito filhos! De quem? Aí é que está a encrenca.No Olimpo ainda não havia o exame de DNA.

Todos sabemos a história dos irmãos gêmeos Rômulo e Remo, que foram encontrados pelaLoba Romana, recém natos, em um cesto boiando no rio Tibre e por ela foram amamentados.Teria sido o leite de uma loba compatível para com o seu desenvolvimento?

Mas isto já foge ao nosso tema. Com a palavra os neonatologistas.

***

José Warmuth Teixeira

Page 67: Anais Jornada 2013

67

SIGNIFICADOS DA PALAVRA

Saída da escola; meninas atravancaram feio, engalfinhando-se aos arranca-cabelos,arranhões, sopapos. Multidão assistiu pávida e ninguém apartou. Policial findou a turra.

Arranhadas, cortes supercílios e lábios, narizes quebrados, joelhos esfolados, meladas desangue. Uniformes rotos, sujos de asfalto; do Pronto Socorro à delegacia.

Histeria pública convocou e TV reportou a arena. Denunciava bullying contra aluna; umapelido indecente, impróprio!... Não difundido na mídia.

Entrevistadas, adolescentes omitiram a alcunha, sob risinhos angelicais nas carinhas desantas; traquinas amigas das lutadoras.

Pais e diretora do educandário na delegacia. Contendoras se calaram na causa e bullying;ninguém delatou nem se soube o teor do insulto.

No dia seguinte, diretora e vitimada em negaças ao motivo. Oprimida soltou:– As colegas não me chamam de Jesuína, diretora. Principal, a Karina, de iniciar brincadeira

sem graça nem respeito. Não dou liberdades!... Nem gosto. Sou evangélica.– Tudo bem! Mas, chamam-na de quê?– Nem digo. É muito forte. Feio!...– Se não me contar, como punir Karina?– Ah!...– Afinal, chamam-na de quê? Sem saber, como vou castigar?– Elas me chamam de metida, Diretora!... Não suporto nem aceito.– Bobagem, menina! Não aceita? Você é bonita, anda bem vestida, elegante, brilhante.

Não liga não, boba! Elas têm inveja!... Meus melhores amigos me chamam de metida. Não meimporto. O quê tem ser metida? Sou muito metida, sim, senhora! Gosto; adoro ser metida.

– É, mas, a senhora é casada. Né, bébé!...

***DESPEDÈRE

Na praça dos luxuosos estádios:Fontes luminosas jorram; Água, luz e sangue...À terra, aos ventos, ao céu, e, como abusos ideais se perdem nos ares.Enchem as burras, mas, não molham as nuvens nem sequer os pés...Tampouco abrigam sonhos ou iluminam caminhos...Povo sedento, na escuridão social bebe suor e lágrimas.E se perde na escola...Enquanto cativo às promessas alvíssaras, preso e sob a truculência debandidos,almeja futuro promissor ao país.Então, ajoelha e reza.

***

Josemar Otaviano de AlvarengaBelo Horizonte - MG

Page 68: Anais Jornada 2013

68

PLANO DE VÔO

Quando eles se encontraram no movimentado aeroporto da grande capital foi como se tudohouvesse mudado em suas vidas e tudo acontecido. A desenvoltura com que conversaram duranteo percurso até o aluguel do carro demonstrava uma sintonia sutil, jamais ensaiada, de quem já seconhecia há muito tempo.

Os sotaques eram diversos, mas o entendimento perfeito. Ele havia pedido para que elausasse vestido e até escolheu a cor, tendo sido prontamente atendido. Ela sabia que ele usariauma camisa florida para destacá-lo na multidão de pessoas e malas que se atropelavam em risos,lágrimas e bilhetes de passagens aéreas. No entanto, pareceu que reinava um silêncio de reverênciapor todo lado, onde só as vozes deles e os sorrisos de alegria eram capazes de ecoar.

Quem seria o condutor do veículo de aluguel não importava, pois ambos dirigiam. O quefazia a diferença era a mão de direção e ela não estava acostumada com o volante à direita;com mútuo consentimento, ele conduziu o carro até o paradisíaco quarto de hotel na regiãocentral da cidade.

Ora, hotel no centro da cidade não é propriamente um lugar paradisíaco! Para eles foi:entraram como se dali nunca tivessem saído, mexendo-se com desembaraço e familiaridadepelo espaço pequeno e modestamente decorado, encostando as malas em um canto qualquer emetendo-se na chuveirada abundante que despencava todo e qualquer cansaço. E que viagemlonga! Cada um deles vindo de um destino, tendo como ponto de encontro o aeroporto.

Amaram-se como se conhecessem um ao outro desde que nasceram. Havia assunto paranunca terminar, e uma fadiga que não chegava. Repetiam o amor em todos os cantos, por todosos poros e com três argumentos: saudade, desejo e curiosidade. Saudade? Nem se conheciammuito bem. Desejo? Estavam aprendendo a se saberem. Curiosidade? Um homem e uma mulher...Pouco mistério. Mas havia um querer de urgência, um tempo que se esvaía feito água de banhono ralo: por último vai a espuma.

Ele perguntou por que ela tanto olhava a espuma; ela disse ser como aquelas bolhasesbranquiçadas: correria pelo corpo dele perfumando sonhos e luxúria, esvaindo-se ao fim detudo. Ele não gostou, murchou o riso nas faces que rutilaram prazer. Ela ensaiou um ar dedesdém pouco convincente, mas tinha a tristeza estampada na fronte de pele alva. Sentiu amelancolia do que não foi dito: planos de quem sonha o impossível.

Feito morcegos, somente no segundo dia saíram do pequeno quarto para a luz que seescancarava para a manhã num bocejo sem fim: a boca do dia mostrava os dentes brancos.Passeavam nas cidades do entorno, mas logo voltavam, pois queriam se aninhar um no abraço dooutro, comer pão e queijo, tomar vinho. O tempo corria feito lebre e em breve a distância sefaria como o andar da tartaruga. O que se há de fazer?

Como um querer acontece assim? Dezenas de vezes ele fez a mesma pergunta e escondeua cabeça no colo desnudo dela, pedindo amor e afago nos cabelos revoltos.

E quando ele dormiu, vencido pelo cansaço de amar, ela ficou a escutar o som da respiraçãosuave, registrando na memória todo o vivido, tudo o que fora sentido.

Acordaram de repente, com uma batida vigorosa na porta do quarto. Sobressaltados, maltiveram tempo de vestir roupas até ele abrir a porta, ainda se recompondo.

Josyanne Rita de Arruda FrancoJundiaí - SP

Page 69: Anais Jornada 2013

69

Ela não entendeu o que o homem disse a ele, apenas o viu sair do quarto. Ao voltar estavaarrasado, desconcertado e trêmulo. Sentou-se à beira do leito e disse que precisava partir, masque ela poderia ficar e aproveitar o resto da viagem, estava tudo pago, um carro alugado edisponível, muito que visitar, lugares lindos.

Um frio polar atravessou o peito dela e secou lágrimas que não chegaram a cair. Nada maisfez sentido: o quarto era horrível, a cidade estranha, o lugar hostil. Pareceu a ela que ele caíano abismo, que voava para longe... E ela só conseguia olhar, inerte.

Ele chorou e quis amá-la, possuí-la com a sofreguidão do desespero irremediável einatingível. Ele muito sofria... Ela um pouco morria.

Na mesma manhã, partiram em voos diferentes, voltando aos lugares de origem.Ao retornar, ela alugou um apartamento nas proximidades do aeroporto para ver subir e

descer aviões. Passava o fim da tarde a fazer planos de voo, sonhar com o reencontro... e issodurou longo e redivivo tempo.

Há mais de trinta anos ela se lembra daqueles momentos de antanho. Sabe que hoje ele nãomais existe, pois já era muito mais velho... Vinte e seis anos mais velho!

O tempo que passou remediou a dor. Agora o mundo é outro e tudo é mais fácil, até dizeradeus; se eles tivessem e-mail, celular e outras facilidades da vida contemporânea, certamentehaveria menos saudade e mais esperança para eles...

Quem sabe restaria ao menos um pouco de ilusão a acompanhar a solidão dos dias?

***

Josyanne Rita de Arruda Franco

Page 70: Anais Jornada 2013

70

FOGUEIRA CELESTIAL

Caminho ao encontro do tempo!Ali na esquina ele acenaImóvel, quieto, sorriso que esperaO fim desta cena, da vida exauridaQue um dia foi plena,Braseiro celeste chamado destino...

O tempo me espera e corro até eleSem prece, sem vela e sem lamparinaQue mostre o caminho até a clareira,Onde dorme o dia e a culpa descansaSem reza contrita e sem esperança...Na mata de entorno que oferta guarida!

Comigo vão lembranças! Afetos queridos,Diletos amigos, origem, passagem,O viço e a vertigem de tantas viagens,Das muitas andanças por dias felizes,Miragem e oásis de mil ilusõesDeitadas na areia de antigas paixões...

E chego sozinha! Agora não grassaAquela criança que se enternece...Só veio a mulher que viu dissabores,O riso e a graça, a dor que envelheceUm dia sofrida e há muito esquecida.Fogueira divina do tempo que passa!

Caminho ao encontro do tempoLevando o estudo, o vivido e o lutoDe amores fincados em anos passados,Por décadas idos, banais e humanosQuase sem altares, frutos ou pomaresEnquanto sozinha depressa prossigo...

***

Josyanne Rita de Arruda Franco

Page 71: Anais Jornada 2013

71

APELO

A frustração dos perdidos, excluídosagride a calma da noite que se vai

por roubo dos distraídos.

Apelo de uma cidade comprimidaescambo ativo.

Tudo se troca.

A pobreza permeia a riquezaneste caldeirão urbano

sem limites.

Mundo conturbado por valores em desusoque empobrecem o viver.

Perturbam o passar das horas.

Convivem superandoconflitos diários

em busca de soluções prontas.

Reclamoretorno ao meu caminho.

Rebelo-me a indiferença.

***

Juçara Regina Viegas ValverdeRio de Janeiro - RJ

Page 72: Anais Jornada 2013

72

DEMARCAÇÕES

Deixoumeu corpo tatuado.No meu horizonte

o belo mortal.Na minha face

o seu perfume.Na minha bocaseu sussurro.

Nas minhas mãosseus vestígios.

No meu coraçãosua presença.

No meu interiorsua vontade.

Na minha imaginaçãomeus anseios.No meu futuroseu presente.

Na minha imprecisãouma espera.

No meu agoraromance inesperado.

***

Juçara Regina Viegas Valverde

Page 73: Anais Jornada 2013

73

BODAS DE DIAMANTEUMA HISTÓRIA REAL

PrimaveraEla, 11 anos de idade. Ele, 15 e já não se interessava mais em só brincar com o irmão dela.

Passou a notar aquela loirinha graciosa e a tentar uma aproximação. Deu certo, era recíproco.Ambos começaram um inocente namorinho, daqueles de só pegar na mão.

Tinha dias em que ela ficava observando pela janela de sua casa os meninos voltarem daescola e, no meio deles, o seu menino passar. Trocavam acenos e iam embora, levando cadaqual, um pouco de carinho um do outro.

Entre sorrisos, olhares e certezas, os dois, um pouco mais crescidos, iam amadurecendoseu relacionamento e conhecimento mútuo. As conversas no portão, as idas ao cinema, ospasseios pela cidade. Muito proseavam entre si, interessados em seus gostos, sonhos, desejos.

No tom róseo e clima ameno do alvorecer naquela estação, o início de duas vidas que seencontraram, plenas de esperança e encantamento.

VerãoApós quatro anos de namoro responsável, a decisão pelo noivado. Ele, de terno, na casa

dos pais dela. Ela, em outro cômodo com as primas, a esperar. Por fim, a resposta positiva.Festa, alegria, comemoração. Casamento à vista. Preparativos, convites, cerimônia civil ereligiosa, vestido de noiva, terno e gravata.

Início de uma vida a dois, repleta de alegrias, mas também dificuldades. Ele a trabalhar odia todo e estudar à noite. Ela a cuidar da casa e mais tarde, do primeiro filho. Dureza,sacrifícios, mas amenizados pelo amor que ia se aprofundando cada vez mais.

Mudança de emprego, mais um filho, as responsabilidades aumentando, mas ambos apoiando-se um no outro, com dedicação e diálogo crescentes.

Terceiro filho, uma menina. E, após cinco anos, o quarto filho. Mudança para um apartamento,bem maior que a casa onde moravam. Novas oportunidades no trabalho. Dificuldades, sim, masmuita fé também, aliada ao cultivo de atenções e cuidados de um para com o outro.

Bodas de Prata. Vinte e cinco anos comemorados com grande entusiasmo, em cerimôniareligiosa e festa. Alegria, todos juntos, música e detalhes organizados com desvelo.

O calor às vezes forte, outras vezes cálido daqueles dias servira para forjar o relacionamentoe amalgamar dois corações em um só, cada um respeitando a individualidade do outro, mistérioinsondável de bênção celestial.

OutonoEle e ela envolvidos em atividades voluntárias, doando seu tempo para quem mais precisava,

além do cuidado dos quatro filhos, dos negócios, dividindo atenções e multiplicando o amor, até

Ligia Terezinha PezzutoSão Paulo - SP

Page 74: Anais Jornada 2013

74

completarem Bodas de Ouro. Cinquenta anos de uma convivência madura e firme. As refeiçõesfeitas com toda a família, os diálogos constantes, o cuidado mútuo, a renúncia, a doação foramelementos importantes para chegarem até ali.

Quando as folhas começam a amarelar e as árvores se preparam para a grande renovaçãoda natureza, o alimento da fé vem em boa hora solidificar o que já era firme porque construídono terreno sólido da verdade e da abertura ao transcendente.

InvernoDias difíceis. Perda de um filho querido. A morte, entretanto, é vencida pela esperança. É

preciso cultivar a alegria, em lugar de revolver a tristeza. Sessenta anos de união, conquistadadia a dia com respeito, cuidado, atenção, carinho. Diálogo sempre presente e o calor dos filhos,noras, netas e bisnetos. O progresso dos filhos e netas é orgulho sadio que os alimenta derenovada confiança em direção ao futuro vivido pelo presente no dia a dia. As decisões combase em discernimento reto e pleno dão a consistência que uma vida inteira construída juntospossibilitou realizar.

Ao chegar a estação do frio, em que tudo pareceria cinzento, obscurecido pelas chuvas eneblinas dos dias úmidos, o que fora plantado com esmero trouxe o calor do afeto que mudatoda a paisagem graças à fé, ao diálogo, amor, dedicação, renúncia, doação, cuidado, carinho,respeito; ingredientes que, utilizados com sabedoria, fizeram de duas vidas uma só, plena defrutos, sonhos realizados, superação e luz a iluminar outras vidas.

Sonho de muitos, sonho possível...

***

SUBLIME AMOR

Na mansa manhã de moles ondas,cantos de mel encobrem o mar. Sussurar.

Qual dom na espuma infinitade pranto sem fim feito manto. A suavizar.

Nuvens calmas no horizonte,fino caminho de alma e amor. A se entregar.

O ninho entranhacompreensão e encanto.

Sublimar.

***

Ligia Terezinha Pezzuto

Page 75: Anais Jornada 2013

75

PINTASSILGO MARIADOCARMO

Soprasse o vento a noroeste trazendo consigo o cheiro do sal. Ela esperava que caíssem osprimeiros pingos de chuva e os recolhia com as mãos em concha e carinhosamente as depositavadentro da caixa vazia de linhas de cor, ainda muito manchada. De maneira que quando asretirava para matar a sede do casal de pintassilgos que criava lá no pé de Abricó.

Algumas gotas vinham encarnadas, outras esverdeadas e outras roxas brilhantes. Eram estasas que mais lhe chamavam atenção. Com estas costumava enfeitar o chale de renda branca quemuito raramente usava.

O chale ela só usava quando a saudade vinha por detrás dos abacateiros em forma de luanova e machucava seu coração com uma dorzinha que ela comparava com o espetar de umespinho de laranjeira na parte mais fina do pé. Porém doía muito mais, esfriava. Era então queela cobria-se com seu chale bordado de cor branca e para quebrar a limpidez, salpicava-o comaquelas gotas de chuva guardadas na caixa de linhas de cor, agora também coloridas.

Então ela, embriagada do cheiro de sal trazido pelo vento noroeste, descia por todo oquintal até a queda d’água e se deixava ficar horas, acompanhada do barulho das palhas assoviando“um não sei o que” e adormecia.

Soprasse o vento sudeste que trazia consigo um cheiro de queimada, um odor de partida.Ela acabrunhava-se. Despia-se, e desnuda cortava-se com suas unhas ferinas, como se fosse umamalina possuída. Urinava em si. Desesperada. Gritava de Dó a Si. Em tons e semitons. Bastavaameaçar a tarde, menstruava. Espalhava leite pelo quintal satisfazendo, os currupiões, as guaribase os peixes-boi.

Ela plantou centenas de “nãos” e colheu dezenas de “sins” até o derradeiro verão. Naquelejaneiro, envolvida pelo chale branco bordado e apaixonada pela saudade dele, partindo paranunca mais, rio mar-abaixo. Tornou-se grávida de mim. De Braz e de Lafaiete. Anos mais tardefomos para Oriximina pescar tralhotos. Botos e tucunarés. Até que cada um de nós reproduziu eprocriou. Nossos filhos pareciam a avó.

Quando eu voltei, nestes tempos, os outros haviam morrido. Eu era uma mulher velha.Cuidando de um pintassilgo albino vestido de preto e uma pintassilga cega ordenada freira.Todos os relógios que nós tínhamos marcavam meia-noite.

***

Luiz Jorge FerreiraOsasco - SP

Page 76: Anais Jornada 2013

76

MY NAME

Meu nome é Luiz. Poderia ser ódio, poderia ser ócio.Poderia ser ZYE 2... PRC 5... Rádio Difusora de Macapá.Glostora... Antisardina... Q-Suco de tangerina...Zé Raimundo, Bill, Belizário.

Meu nome é latino-americano.Poderia ser Palestina, pele, Pelé, afegão.Poderia ser S.U.S.Yes, Please, Plus.E se Modess, poderia estar Severino... Akai 47.Nitrogringoglicerina.Cancro Mole e Antraz.O outro gole de Whisky.A água d’Água Raz.

Meu nome é Luiz.De uis, e ois, e tchaus.Depois dos vocês.Parei paralelo aos ninguéns, nas margens das Marginais.De Belchior e Quintais(Quadrados virtuais, dentro dos apartamentos). Abrasileirei-me.Quase acolá e ali. Sem casa sem horizonte sem “Para donde?”.PS, IML, por fim “Pés Juntos”.

Como se fosse qualquer coisa, como se coisa qualquer fosse.Como se fome fosse pão, e pão fosse foice.

Meu nome é uivos, e hinos.Poderia ser menino. Boy e Ninõ.Machô, Gay, e E-mail.Mamilo de seios, e labirintos de clitóris.Feto, Zero ou Pi de Pitágoras.Poderia ser agora, momentâneo, indefinido.Silêncio de gritos, e nuncas.Ancas, umbigos, e desejos.Beijos.Meu nome é quase preguiça, carniça, mênstruo, mel, fel, léu, e Zen.Êxtase e soneira.Como se fosse sede.Feita flor de Urtiga, sobre a língua, as ínguas, e as feridas.Meu nome pode ser vida.

Luiz Jorge Ferreira

Page 77: Anais Jornada 2013

77

Morte, algodão nos orifícios, olhos ausentes e sem alma,Karma fria sem corpo. Moscas em redemoinho.Que das bocas caem, nas bocas e narinas, e nunca mais nunca nada.Nem que o Brasil faça um gol na Copa contra a Argentina.Meu nome pode ser talvez, outrossim.Ou encontro por acaso entre espermatozóides míopes, e óvulos afins.Podem ser caos, universo, e átomo.Atônito ato at ô cônico crônico.

Quiçá explodir Bombas de Chocolate saudáveise ou no avesso espalhar Spray(s) coloridos,e latas de laquê nos pelos do pênis.Japonês... Nordestino...Amapaense por destino de vôo do Loide, ou da Panair.Acne, Asma, ou Impingem.Meu nome é Luiz, e não outro que seja este mesmo,a Leste, ou Norte do Oeste.Poderia querer sim, ser o Não.Cárie, flato, e dor.Pus por fim, psiu sem P.Melodia, berro, grito, uivo, grunhido, se lua no céu...Suor! Se sol... Chuvisco.Ainda que Arisco. Poderia ser o amor.Gritando na mão do alfabetizado mudo.Eu cego. Poderia negar tudoE o meu podre olhar de ateu.Só procurar Deus.Para perguntar.- My Name?

***

Luiz Jorge Ferreira

Page 78: Anais Jornada 2013

78

A MOÇA DE CINZA

Pelas ruas tranquilas da Lapa nos anos 60, uma moça vivia cantarolando a música italiana“Santa Lucia”. De cabelos louros lisos e compridos, pele branca e pálida, quase sempre trajavaum vestido cinza cobrindo os joelhos.

– Ela é louca – dizia minha mãe. Fiquem longe dela. Pode ser perigoso.A jovem praticamente não saia de casa, mas ia comprar pão pela manhã bem cedo e ao

findar da tarde. E, de vez em quando, rondava o quarteirão.Tão grande era o medo que minha mãe só deixava que eu fosse para a escola depois que

a jovem regressasse da padaria. Com frequência eu ficava pronta com o uniforme azul marinhoimpecável, lancheira a tiracolo, sapatos lustrosos e permanecia sentada no banco do jardim dafrente, aguardando a liberação da rua. Tudo para evitar que nos cruzássemos pelo caminho.

Acontece que aos nove anos de idade eu ainda não entendia o perigo que ela pudesserepresentar. Seria contagioso? Ninguém me explicava. Apenas sabia que ela era assim devido auma complicação do sarampo. Mas, assim como? Não exatamente louca como tantos casospsiquiátricos que muitos anos depois presenciei na Faculdade de Medicina com delírios, exageradasdesinibições e gritos agressivos. Na verdade ela era simplesmente esquisita e solitária em suaininterrupta cantoria napolitana.

De certo deveria provocar irritabilidade para quem ouvisse o tempo todo a mesma música.Porém, como ela se isolava em sua casa, quem mais sofria provavelmente era sua mãe que, porsinal, também pouco aparecia. Apesar de ser simpática e educada, a matriarca não conversavamuito e limitava suas saídas para compras de sobrevivência. Ambas não trabalhavam e... O queserá que elas faziam o dia inteiro sozinhas dentro de casa?

Não me lembro do nome da jovem. Aliás, pensando bem, eu nunca soube. Sempre atratávamos como a louca da rua debaixo que saia pela manhã e à tarde para comprar pãocantando “Santa Lucia”. E só. O restante do tempo era como se ela não existisse.

Vez ou outra os meninos zombavam dela, se bem que às escondidas.Acho que ela é uma bruxa, supôs um dos garotos. E essa leve hipótese fez com que todos

se afastassem com receio de que seus olhos lançassem algum feitiço.Da minha parte, na época, eu só desejava brincar e estudar. Mesmo porque tinha um

incentivo extra para ir bem na escola. Todo início de mês, ao ver notas altas no boletim, minhamãe, satisfeita com o meu empenho, me recompensava dando algumas moedas para que eucomprasse doces na padaria, dinheiro suficiente para escolher três guloseimas. Como era agradávelver a vitrine repleta de doce de abóbora em forma de coração, pirulito puxa-puxa, caramelo deleite, cigarrinho de chocolate, maria mole, doces em borracha, dadinho além, é claro, dosatraentes potes rotativos de vidros com diversificadas balas. A dúvida para escolher tornava oprêmio mais atraente.

Eis que em uma tarde, na indecisão costumeira, meu coração acelerou ao ouvir uma vozcantando “Santa Lucia”. Sim, era a louca que se aproximava, antecipando seu horário de compra,talvez para fugir de uma chuva que prenunciava desabar a qualquer instante.

Pela primeira vez não tive como fugir do encontro. O curioso foi que ela entrou napadaria exalando um perfume suave de jasmim. Ora, na minha concepção, eu sinceramente aimaginava fedida... Se ela usava quase sempre o mesmo vestido cinza, deveria não tomar

Márcia Etelli CoelhoSão Paulo - SP

Page 79: Anais Jornada 2013

79

banho, não é mesmo? Qual o quê. Seu cabelo estava limpo, bem penteado, usava um discretobatom rosa e pela aparência eu julguei que ela devia ter menos que 30 anos de idade.

Com calma ela entregou para o seu Teixeira, o dono da padaria, um caderninho em que seanotavam as compras para pagar tudo no final do mês. Não disse uma palavra, preferindocontinuar com sua canção. Num relance olhou para mim e eu pude perceber seus grandes olhosverdes que pareciam bolas de gude...Bem que eu tentei puxar alguma conversa para satisfazerminha curiosidade infantil. Mas minha voz travou e não foi por hipnotismo ou maldição e, sim,por pura timidez. Apenas consegui sorrir, mas ela permaneceu alheia e saiu com uma bengala depão debaixo do braço.

Raios e trovões alertavam sobre a chuva, e eu resolvi não esperar e também fui paracasa. Fiquei atrás da moça que andava devagar, arrastando os pés pela rua deserta, marcando oritmo da velha canção.

Assim que se iniciaram as férias de julho eu e minha família viajamos para o litoral e aoretornar soubemos que a jovem havia se mudado com a mãe. Depois de um ano de vizinhançasaíram sem despedidas e sem ter conquistado nenhuma amizade. Nunca mais tivemos notícias.

Até hoje quando lá em casa colocamos um CD e ouvimos Pavarotti ou Andrea Bocellicantar Santa Lucia, minha mãe se inquieta:

– Não gosto dessa música. Ela me lembra da louca.Interessante como passados quase cinquenta anos, grande parte morando em outro bairro

e com tantos acontecimentos já vivenciados, não conseguimos nos esquecer dela. Uma moçaque se isolou da vida e o mundo reforçou esse isolamento.

Ao contrário da minha mãe, eu gosto de ouvir aquela canção. Sem dúvida, pela beleza damelodia. No fundo, talvez por querer acreditar que aquela jovem tenha conseguido, a suamaneira, encontrar um jeito de ser feliz.

***

Márcia Etelli Coelho

Page 80: Anais Jornada 2013

80

Márcia Etelli Coelho

COMEÇAR DE NOVO

Preparo uma andança e nessa travessiarecolho os sonhos, retalhos de cetim.No chão de estrelas, apenas eu e a brisa,coração leviano, caçador de mim.

Corsário de Sampa, guerreiro meninoque na roda viva aprendi a chorar.Saudade chegando , fiquei tão sozinhona ingênua certeza de sempre te amar.

Mas olhos nos olhos, as rosas se calam,o tempo separa, fugaz é o amor.Detalhes, deslizes, nas brigas se exaltam,qual fera ferida ponteando o rancor.

Dos bailes da vida restou acalanto.Dos anos dourados, fascinação.No conto de areia rolou esse pranto.Das velas içadas, porto solidão.

A banda passou em total disparada.E eu, carinhosa não fiz parte do show.Castigo? Ilusão? Fim de caso? Que nada!Risquei a tristeza... E o mar serenou.

Ao ver pastorinhas voltando com floresquis logo enfeitar a noite do meu bem.Brindar primavera que no trem das cores,bem antes das onze, emociona o viver.

A minha aquarela dourou asa branca.No baila comigo são só dois pra cá.Que festa de arromba, feitio, força estranha:o mel do aconchego sem mais carcará.

A chuva de prata das águas de marçoseduz a minha alma, só quer um xodó.Tu estavas tão lindo naquele abraçoque o meu rancho fundo virou luxo só.

Trocando em miúdos: Há séculos te amo!Eu não aprendi a dizer-te adeus.E como eterna onda que ronda o oceano,por ti, começaria tudo outra vez.

***

Page 81: Anais Jornada 2013

81

ALDRAVIAS IMPROVISADAS (*)

(*)Aldrava é uma peça em bronze ou latão fixada na porta de entrada para se usar comobatedor: ao invés de bater com a mão na porta para chamar o morador, utiliza-se a aldrava.Aldravia é um neologismo criado por um grupo de poetas na cidade mineira de Mariana,provavelmente em novembro de 2000, para identificar o movimento poético que iniciaram.

Trata-se de uma forma insólita de fazer poesia, essencialmente minimalista, já que aspalavras se consideram “palavras-versos”, e que são dispostas com um máximo de seis linhas ede um modo aleatório, sem se submeter a qualquer tipo de rima ou número de sílabas, nem ater-se à tônica. O importante é produzir poemas condensando-lhes o sentido com um mínimo devocábulos.

Meu primeiro contato com o “gênero poético” ALDRAVIA foi durante o XXIV CongressoNacional da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores realizado de 11 a 13 de outubro de 2012,em Curitiba, Paraná. Como sou fã do minimalismo poético, após ouvir a apresentação de algunsdesses versos, ousei rabiscar em meu bloco de anotações algumas tentativas, que a seguir lhesapresento:

NOITESINSONESOUÇOSILÊNCIOSPERCORROINFINITOS

QUANDOLEVANTOCOMPÉESQUERDORESGUARDO-ME

MANHÃSAFUGENTAMPESADELOSTRAZEMOUTRAPREOCUPAÇÃO

Aldravias notívagas

Aldravias reticentesTUASPEIASMEUNÓCEGO:ATA-ME!

RECIDIVASDORESD’AMORPRESENÇASEMPREEMERGENCIAL

MINHAVIDATRILHASONORAAPENASINCIDENTAL

Marcos Gimenes SalunSão Paulo - SP

Page 82: Anais Jornada 2013

82

Aldravias contraditóriasVERDADE,ACREDITE:HOJECONTAREIOUTRAMENTIRA

SOUFELINONEGACIANDODISTANTESPRESASINTOCÁVEIS

INSUPORTÁVELSERAVESSODAPRÓPRIACONTRADIÇÃO

Aldravias sem qualquer pudorPERCORROTEUSCAMINHOSDESCUBROTRILHASPARADISÍACAS

CONQUISTOTEUSESPAÇOSSECRETAMENTE,DOCETRANSGRESSÃO

ALDRAVIOTEUCORPOEMSUAVEOUSADIA

Aldravias de alcovaTUDOCONSPIRASECRETAMENTEGOZO,ENTREGA,PROIBIÇÃO

BOCALASCIVADEVORAIGNORAQUALQUERPUDOR

TUDOCONVERGEETERNAMENTEAMOR,LASCIVIA,SOFREGUIDÃO

Aldravias metalinguísticasPALAVRASALGOZESJULGAMENTOSDISTANTESJUSTIÇAIMPERFEITA

DESDEQUANDOSEISPALAVRASSERÃOPOESIA?

PALAVRAS,ETERNOPOTENCIALPARAVIRARPOESIA

Marcos Gimenes Salun

Aldravias ao pé da lareira

DIÁLOGOFEITOPOESIANADAFICAVAZIO

AQUEÇOVERSOSCONTIGOMORANGOCHOCOLATEFOUNDUE

VINHOTINTONESTECÁLICEBRINDANDOVOCÊ

***

Page 83: Anais Jornada 2013

83

VIVER É FAZER OPÇÕES

Um preâmbuloDesde pequeno fui induzido a pensar na vida de forma bastante intuitiva, senão, quase

instintiva. Meus pais, que pouca ou quase nenhuma instrução tiveram para poder me apresentarde forma mais didática o que é a vida, o fizeram pelo método que eles próprios haviamaprendido dela. Talvez pelos mesmos métodos que utilizaram para garantir sua contribuiçãogenética à humanidade: a intuição e o instinto, ao me concederem a vida.

Hoje, após mais de meio século de ter vindo ao mundo, pelo conhecimento inocente,mas extremamente sábio do instinto e da intuição de meus pais, me pego a refletir o quesignifica a vida que eles me deram e o que devo, afinal, fazer com ela. É claro que o tempo mefez conhecer muitas coisas que talvez meus pais jamais pensariam existir. É claro que oscenários que a vida me apresentou me possibilitaram ter contato com muita coisa que a meuspais seriam inconcebíveis, inimagináveis, despropositadas e, na maioria das vezes, ininteligíveispara dois simplórios semialfabetizados como eles foram. Saudosos, muito saudosos! Quanto elesme ensinaram...

Recordo-me que logo no início de minha vida, ali pelos meus oito anos, talvez pouco maisou pouco menos, eu já me julgava um sábio em potencial. Certamente foi nessa época queachei que o conhecimento que meus pais intuitivamente tentavam me transmitir era umaverdadeira porcaria. Ao lidar com o mundo e seus múltiplos ambientes que foram se apresentandodiante de mim a partir desse momento de irreverência e rebeldia, fui entendendo que eupoderia muito bem me livrar do jugo do ensinamento que me queriam dar João e Eunice. Afinal,eu já sabia ler e escrever meu nome, e eles, ainda não!

Foi uma pena, vejo hoje, não ter-lhes dado maior atenção em certas coisas que elestentaram me ensinar desde sempre. Não sabiam, por exemplo, corrigir meus deveres de casa eisso me deixava constrangido. Naquela época eu não sabia exatamente o que era aquele nó nagarganta e aquele aperto no peito quando a professora pedia para apresentar um trabalho com aopinião da mãe ou do pai, e o meu vinha só com um rabisco imitando uma assinatura. Hoje achoque era uma coisa boba: era só constrangimento. Vergonha não, pois eu tinha era um orgulhodanado de meu pai e de minha mãe! Só porque não sabiam ler direito? Ora, ora... Eram meusheróis e nem fazia diferença que fossem semianalfabetos.

Com o tempo eu fui entendendo cada vez mais a “falta de ignorância” de meus pais. Eleseram sábios, sim senhor, no seu jeito de me fazer entender que não se deve fazer “certascoisas”; eram sábios, sim senhor, no seu jeito de me punir pelo que eu já fiz de errado, ouquando fiz as tais “certas coisas”. Eles tinham um código de ética instintivo e também umcódigo moral intuitivo e sábio para equilibrar esses ensinamentos. E por estes códigos secretos eíntimos eles foram me conduzindo.

Uma necessidadeMuito antes de meus pais morrerem, fato, aliás, não tão distante, eu já havia traçado um

rumo para a minha vida, tal era a minha convicção de que já sabia de tudo o que esta mereservava. Sem as regalias proporcionadas por uma condição econômica privilegiada em minhainfância ou juventude, sem quaisquer incentivos familiares diante da condição socioeconômicade meus pais, parti para a luta.

Constituí família, tive filhos e conquistei muitas coisas. Outras ainda não. Sou feliz! Tenhouma família e muito do que nem sequer imaginava conseguir. Sinto falta de algumas coisas. Sintofalta de meus pais. Sinto falta da presença deles para continuarem a me ensinar os caminhos dehoje em dia.

Marcos Gimenes Salun

Page 84: Anais Jornada 2013

84

Uma constataçãoComo sempre dizem, vivendo e aprendendo! Aprender é bom demais! Melhor que ganhar!

Aprendendo se conquista, e conquistar, eu acho, é mais que ganhar. Conquistar é fincar umabandeira de posse! È dominar!

Ao pesquisar algo sobre este tema que me propus a escrever, (coisa que jamais João eEunice, meus pais, fariam com tal consciência) eu me deparei com uma frase atribuída ao atorWoody Allen, dita por um de seus personagens em algum de seus filmes que não sei precisar:“Nós somos a soma de nossas decisões”. Fiquei pensando no que essa frase contribuiria para omeu momento de aprendizado. Achei que seria oportuno salientar alguma coisa sobre a fraseachada ao acaso. De minha reflexão destaquei algumas coisas que talvez possam ser apropriadasao tema.

Dentre elas, entendi que o rumo de nossas vidas está intrinsecamente relacionado às nossasopções e decisões ao longo dela. Por exemplo: quando optei pela faculdade de jornalismo, em1974, abdiquei da engenharia, medicina, direito, astronomia e dezenas de outras opçõesdisponíveis naquela ocasião. No entanto, não excluí tais alternativas definitivamente, enquantopossibilidades de aprendizado e conhecimento. Apenas decidi por um caminho naquele momentoque me pareceu mais oportuno ou interessante. Só que dessa escolha, por mais que fosse algo domomento, fui levado a elaborar cenários, possibilidades e alternativas de uma vida como jornalista,e não como engenheiro, médico, advogado, astrônomo, ou quantas mais carreiras “desprezei”naquele momento, em detrimento do jornalismo. Foi uma opção.

Somei a esta, a decisão de me casar. Poderia ter escolhido ficar solteiro e ser um bon-vivant, o que jamais me propiciaria conhecer e aprender coisas da “vida de casado”. Se assimfosse, não teria minhas amáveis filhas, minha vida regrada (eu acho), o aconchego de meu lar(tenho certeza). Quem sabe eu nem tivesse meu aquário cheio de segredos, nem os meus gatoscheios de mequetrefes, carinhos e frescuras para cuidar e fazer parte de minha vida.

E assim com tantas outras coisas. Uma coisa, a meu ver, quase sempre anula a outra: sercasado anula as possibilidades da vida de solteiro; ser honesto anula largamente a hipótese denão o ser; o mal anula o bem. E vice-versa. Quase sempre é assim. Descobri o mais importante:aprender e tomar decisões são coisas que devem ser feitas a todo o momento, desde o início,até o fim de nossa vida.

Por isso neste instante ocorreu de lembrar-me da sabedoria que meus pais, João e Eunice,sempre me transmitiram sem qualquer técnica ou filosofia, mas a todo o momento, desde oinício da minha vida, e até o fim da vida deles. E mais uma vez, preciso enaltecê-losextremamente, e agradecer eternamente por toda sua inocente “ignorância”.

***

Marcos Gimenes Salun

Page 85: Anais Jornada 2013

85

NOITE DE INVERNO

O inverno passa nervoso e célere sobre o telhado enrugado pelo frio e pela janelatrêmula de medo dos fantasmas da noite de azeviche. Estamos em pleno inverno!

A tarde me pareceu triste e sonolenta na fazenda onde fui passar o fim de semana! Até asvacas leiteiras passavam lentamente tentando apertar suas tetas túrgidas entre os quadris, porcausa do frio.

O sol, talvez com medo do frio, escondeu-se mais cedo, puxando o cobertor da noitesobre seus compridos pés que ainda mostravam os calcanhares na linha do horizonte. Um relâmpagoao longe, demonstrou a inquietação de uma nuvem carregada, que não respeitando o trânsito,bateu em uma colega que passou à sua frente. Foram duas grandes jamantas que se trombaram naestrada mais límpida do universo.

Outras nuvens, não menos pesadas, começaram a se aproximar trazidas pelo vento,curiosas para verem o que estava acontecendo. Curiosas e assustadas foram chegando.

Era inverno! Nos estados da região sudeste não é tempo de brigas entre nuvens, deformação de relâmpagos e de trovões. Alguma coisa deveria estar acontecendo nas alturas docéu. As nuvens mais leves foram se aproximando rapidamente. A natureza parecia ter pressa. Osom dos trovões não demorou a chegar, pelas pequenas trombadas das nuvens apressadas.

Assustados, os pássaros que não acreditavam em tempestades nessa época do ano, aindabrincavam de voar de árvore em árvore, como se brincassem de pique de esconder.

Os galhos que começavam a ficar endoidecidos dificultavam o pouso desses mestres dovoo ao entardecer. Os sabiás e os bem-te-vis que estavam prontos para o desafio do por do sol,tiveram que poupar a garganta sequiosa para saudar a despedida da tarde.

O silêncio da terra permaneceu mudo, enquanto o barulho do céu tomou conta douniverso. A terra ficou entrincheirada enquanto as bombas caíam sobre ela na forma de chuva evento. Dois ou três raios que atingiram a terra destrincharam as árvores mais altas que enfeitavamo vasto capinzal que, por sortilégio do fazendeiro, não tinha gado.

Foram duas horas de ataque aéreo sobre uma infantaria que não tinha forças para revidar.As luzes da terra se apagaram, talvez uma artimanha da própria terra para não ser vista

pelo inimigo, mas, o ataque aéreo tinha holofotes que a todo instante iluminavam a terra comgrande intensidade.

Duas horas de combate onde apenas um litigante atacava, enquanto o outro resignadosuportava tudo com grande paciência.

A grande tempestade passou, algumas estrelas apareceram nas quinas das nuvens parabisbilhotar a terra. Durante a madrugada alguns relâmpagos atrasados, ainda se despediam nosconfins do universo.

Ao amanhecer, o sol nasceu renovado, de olhos límpidos, com a alegria de um recém-nascido que admira a mãe ao seu primeiro olhar da manhã, após acordar.

A terra não se considerou ofendida ou derrotada, mas, agradecida porque tinha noventre milhares de sementes que estavam ansiosas para mostrar a vida.

Assim aconteceu. Uma semana depois, o sorriso das pequenas sementes se abriu parareceber o batismo de uma bela manhã de sol, que fez esquecer todo o tormento daquela noitenervosa que parecia querer destruir tudo o que havia sobre a terra.

***

Nelson JacinthoRibeirão Preto - SP

Page 86: Anais Jornada 2013

86

SE NÃO É VERDADE

Se não é verdade que vejo as estrelasPiscando e brincando à luz do luar!Se não é verdade que a lua me escutaE me conta segredos que me fazem sonhar!

Se não é verdade que o murmúrio das águasDespertam as ninfas e as fazem sonhar!Se não é verdade que o canto que encantaÉ da linda sereia que habita no mar!

Se não é verdade que as musas nos dizem,Enquanto dormimos, segredos de amor!Se não é verdade que os anjos nos levamÀ grandeza do Olimpo, num céu multicor...!

A vida é uma farsa, não há no que crer,Mas, eu acredito que nada é falso,Por que, se assim for, na vida terrena,Não sou mais poeta, prefiro morrer...!

***

Nelson Jacintho

Page 87: Anais Jornada 2013

87

MEU MARIDO FOI PARA A GUERRA

Faz muito tempo que ele partiu. Colocou seu melhor uniforme, botas lustradas e novas,capacete, cinturão, e eu fiquei ali, na porta, orgulhosa e medrosa. Meu Deus, como eu amo estehomem que vai salvar a Pátria de uma guerra suja! Ele está lindo indo para o quartel, tenhocerteza de que logo ele será general, tamanha a coragem que tem.

Sabe, meu marido foi para a guerra e eu sinto falta de ficar em seus braços à noite,quando o vente gemo de frio nas janelas e eu ficava ali, apertada bem junto dele. Às vezes euacordo à noite abraçando o travesseiro que ainda conserva a sua loção de barba, que saudades,meu Deus, que saudades que tenho do meu marido...

Faz tempo, os jornais dizem que a guerra vai demorar, que invadiram Paris, não sei comoconseguiram com meu marido defendendo as pessoas fracas e as crianças, não sei, ele é umguerreiro bravo e valente, não tem medo de nada. Uma noite, faz também muito tempo, ouvibarulho na cozinha à noite. Ele, heroicamente levantou-se e, de arma em punho descobriu queera apenas o vento batendo na vidraça.

Não recebo cartas, faz muito tempo. Ele não deve ter tempo de escrever, a guerra estácada vez pior, deu no rádio, as bombas caem o tempo todo em cima das casas, das escolas, dasestradas de ferro, dos soldados.

As pessoas me perguntam sobre ele. Eu respondo que hoje ele deve ser general, faz tantotempo que foi para a guerra e ele sempre foi muito corajoso, deve estar comandando batalhõesde homens para defender o mundo do comunismo, isso mesmo, do comunismo!

Hoje lavei e passei todas as suas camisas, engomei os colarinhos e punhos, coloquei seuterno de missa no sol, não sei, alguma coisa me diz que ele irá voltar hoje com seu sorriso largoentrando pelo portão. Tenho certeza, as flores abriram, o verde do jardim está mais verde,brilhando. Tinha até um passarinho cantando na goiabeira que até me lembrou o seu assoviochegando em casa...

Já me troquei também, coloquei meu melhor perfume, coloquei a água do café e ummaço de cigarros Kent com o cinzeiro no seu lugar à cabeceira da mesa. Meu coração estáexplodindo de alegria. Batem palmas na minha porta. Tem um carro do exército e dois soldadosmuito elegantes. Devem ser da guarda de honra, afinal, depois de tanto tempo na guerra meumarido deve ser general.

Corro alegre de encontro aos bravos soldados, mas meu marido não está no carro, o queserá que houve? Aonde está meu marido? Recebo um envelope lacrado e ouço apenas algumacoisa tipo “sinto muito” enquanto minhas lágrimas caem.

Meu Deus, como eu amo esse homem...

***

Roberto Antonio AnicheSão Paulo - SP

Page 88: Anais Jornada 2013

88

FECHE A PORTA

Feche a porta...

Antes que eu me arrependa e peça para você ficar.O tecido de nossa vida já está esgarçado,o vaso quebrado, a pele arranhada,a casca grossa de tanto apanhar,e o coração endurecido de tanto bater.

Feche a porta...

Antes que o teu perfume transborde pelo espaçoe eu tenha que respirá-lo,antes que o meu coração batendo rápido se antecipeao golpe e se quebre espalhando pedaços envenenadospara atingir o seu.

Feche a porta...

Antes que o eco de nossa última conversa façacom que nossos pensamentosalimentem o ódio que nos cerca e que nos fere,antes que a nossa voz se faça ouvir novamenteem gritos roucos de paixão e raiva.

Feche a porta...

Porque se eu ouvir sua voz de novo posso esquecer tudo,Porque minhas palavras de cafajeste se tornarãoa poesia de sua vida e você vai se entregarde novo aos mesmos vícios e amores,falando palavras de prazer sem nexo em meu ouvido.

Feche a porta...

Antes que as palavras, o perfume, o coraçãose entreguem totalmente despindo a alma de todos os pudores,antes que o breve esquecimento de nossas vidastraga-nos de volta à paixãodesenfreada, desiludida, impura, sensual.

Feche a porta...

não,primeiro saia sem olhar para trás,sem arrependimentosde tanta discórdia,sem alimentar mais esse amor impossível de existire que deveria ter sido morto no passado distante.

Só depois feche a porta.Não quero ver suas lágrimas misturando-se com as minhas.

***

Roberto Antonio Aniche

Page 89: Anais Jornada 2013

89

O PAPAI-NOEL LADRÃO

Na calada da noite, um vulto, sorrateiramente, pisa na relva ressequida da imponentemansão do Morro dos Ingleses, no Bexiga. Em seguida, o som agudo do estilhaçar de uma janela.A luz bruxuleante de uma lanterna de mão, percorrendo o ambiente. Até que... O encontro comuma cadeira de rodas. Nela, um velhinho de cabelos brancos como a neve.

— Opa! O que o senhor está fazendo aqui?— Eu é que pergunto, afinal esta casa é minha! Qual é o motivo da sua presença, vestido de

Papai Noel, quebrando a vidraça e interrompendo o meu sono? Ainda faltam cinco dias para oNatal!

— Peço desculpas! Não é a minha intenção...— Então, qual é? Entrar na casa dos outros é crime!— O senhor tem razão, mas, eu não sou ladrão. Estou procurando...— Procurando o que?— Uma boneca que vira os olhos e fala “papai e mamãe” e também um trenzinho elétrico

para dar aos meus filhos.— Então, por que não foi procurar numa loja de brinquedos?— Aí é que está o problema... Não tenho dinheiro, estou desempregado.— Qual é a sua profissão?— Coveiro.— Puxa! Bela profissão!— A minha mulher quer que eu mude... Por falar nela, eu gostaria de presenteá-la com um

relógio de pulso, mas, é tudo tão caro... O senhor pode me ajudar, mesmo que seja umempréstimo? Um dia, eu prometo pagar.

— Que piada! Como posso acreditar em você? Entra na minha casa, quebra uma vidraça,vestido de Papai Noel... Afinal, por que escolheu esta casa?

— Nesta região, só dá gente muito rica. Escolhi a sua casa por ser muito bonita!— Demonstra bom gosto!— Que adianta ter bom gosto sem dinheiro? Desempregado como estou... Não encontro

outro emprego...— Isto é verdade... O grande escritor italiano Giovanni Papini disse que “o dinheiro é o

estrume do diabo”. Ninguém vive sem ele...— Por favor, o que quer dizer estrume? Eu só tenho o primário.— Ah! Estrume significa bosta, merda.— Agora, sim, entendi! O senhor fala muito difícil...— Bem... Vamos pular esta parte. Qual é o seu nome?— Dimas.— Que coincidência! O mesmo nome do bom ladrão que foi crucificado com Jesus Cristo,

de acordo com os evangelhos.— Ele deve estar no Paraíso! Enquanto isso, eu estou na Terra, ou melhor, no Bexiga,

tentando conseguir uns brinquedos...— De qualquer maneira, é melhor do que ser crucificado. Mudando de assunto: você está

com fome?

Rodolpho CivileSão José dos Campos - SP

Page 90: Anais Jornada 2013

90

— Muita!— Então, vamos até a cozinha. Apague a sua lanterna.Na cozinha.— Olhando o seu rosto... Você é jovem. Precisa fazer a barba!— Mas, Papai Noel tem barba branca e comprida!— Onde conseguiu esta roupa?— Num brechó. O senhor está sozinho?— A minha filha e o meu genro foram a um baile. São moços. Devem aproveitar a vida,

enquanto ela sorri.— Isto é verdade... Velho só fala em doenças, remédios e morte. Não sei se é o seu caso...— Sou médico aposentado, já com os pés na eternidade. Por força da minha profissão, fiz

da minha vida um rosário, um cordão de contas, alegrias e sofrimentos mesclados, sem explicação.Enquanto isso, ela, a morte, sempre a espreita... Você entende bem disso: é coveiro. Afinal, porque está desempregado?

— Sorte sua que é médico! É duro suportar um coveiro chefe, briguento, implicante emandão. Um chato! Tão chato, que até os mortos perdem a vontade de serem enterrados!

— Nossa! Gostei de sua explicação. Bem original! De qualquer forma, cada Ser tem nestemundo um destino...

— É verdade! O meu é de ser um Papai Noel de saco vazio.— O extraordinário, meu amigo, é saber que num saco pequeno e vazio podem morar os

sonhos, as ilusões, a felicidade...— Principalmente para os meus filhos! Por este motivo, não posso decepcioná-los e estou

aqui, conversando com o doutor.— Não é necessário o título, só o nome: Jorge. A partir de hoje, somos amigos. Você

conseguiu afastar de mim a minha inimiga: a solidão. Velho só vive assoprando as cinzas dopassado. E elas só trazem sofrimento...

— Mas, isto não leva a nada... Tudo acaba na terra... Nisto tenho bastante experiência.— Você tem medo da morte?— Não! Ela me ajuda a ganhar o pão.— Bem, visto deste ângulo, você tem razão! Você é um verdadeiro sábio!— Que exagero! Eu sou um simples coveiro, atualmente desempregado, com o firme

propósito de levar sonhos, naturalmente, dependendo de sua colaboração! Não vai lhe fazerfalta alguns brinquedos...

— Um dia, num futuro bem distante, sem pressa, quando eu bater os “borzeguins” e, poracaso, você for o coveiro...

— Ah, eu o enterrarei, com muito prazer! Considerando a nossa amizade...— Gostei da sua franqueza e solidariedade! Estou profundamente impressionado!— E disposto a me ajudar?— Sim! O que lhe falta, eu tenho aqui encaixotado, sem uso, mofando.— Então, eu vou lhe fazer um favor...— Exatamente! Que faça bom proveito! E, para completar, darei um relógio de pulso que

pertenceu à minha falecida esposa. Estará melhor no pulso de sua amada. Por favor, saia pelaporta da frente, para não quebrar outra vidraça. Apareça sempre! Só não quero vê-lo no cemitério!

Lá fora, uma intensa neblina cobria o Morro dos Ingleses. O passo cadenciado do guarda darua... Ao vê-lo:

— Boa noite, Papai Noel!— Boa noite! Feliz Natal para você e sua família!Com um ligeiro aceno, Papai-Noel sumiu na densa bruma.

***

Rodolpho Civile

Page 91: Anais Jornada 2013

91

Rodolpho Civile

A PRESENÇA DAQUELE HOMEM

Dois de novembro, Finados. O dia que se homenageia os mortos. A ida aos cemitérios. Portradição religiosa, a visita aos túmulos, as flores, as velas, as orações, a lembrança daqueles quepartiram para a eternidade. Dia para reflexão: “Tu és pó e ao pó voltarás” – diz a Bíblia.“Nascemos para morrer e morremos para viver” – acreditam os hindus.

Cemitério: lugar onde se enterram os mortos. Crematório: lugar onde se reduzem emcinzas os cadáveres. Duas opções a escolher, de acordo com a vontade, a crença e a sensibilidadeda mente humana... É obrigatório o uso, quer queira ou não...

Nesta data, eu fico constrangido, tristonho, sempre desejoso de saber alguma coisa.Pretensão minha, querer conhecer e decifrar os mistérios do imponderável, da essência dascoisas, do início e do fim, da vida e da morte. Pensar... Pensar... Para que? A razão não explica,mas a religião conforta, ilude, dá forças para prosseguir no sinuoso nevoeiro e inexplicávelcaminho da vida. Viver! Viver! Sem perguntar!

Levando flores, encaminhei-me ao cemitério. Túmulos abandonados, sujos, abertos,roubados... Tenebroso... Esquecidos pelas autoridades... Também... Nem cuidam dos vivos, porque iriam se preocupar com os mortos? Esquecem o homem, que cedo ou tarde, estará lá. No“Livro dos Mortos” dos antigos egípcios consta: “O que restou das poderosas mansões e palácios?Abateram-se suas fortes muralhas, ruíram as casas no pó. E ninguém volta do reino escuro paradizer-nos como está, até que também nós chegamos lá onde todos desaparecem... Olhe, ninguémlevou consigo as suas coisas. Olhe, ninguém que foi até hoje voltou.”

Cheguei ao túmulo da família. Espoliado... A lápide suja. Das fotos incrustadas nos latõesde bronze, só as marcas. Foram roubadas. Até a portinhola de entrada tinha sumido. Que tristeza...Encontrei somente a fotografia de um homem. Um verdadeiro milagre! Olhei para ele... Meupai! Roubaram tudo, só a foto dele ficou! Muito emocionado, caí de joelhos. Chorei, chorei,chorei muito! Até que senti no meu ombro a mão calosa e carinhosa de um ser que muito amei.

— Não chore meu filho, não chore! Eu não estou só: a sua querida mãe está ao meu lado!Você foi e sempre será muito amado por nós.

— Trouxe flores, querido pai.— Obrigado! Elas enfeitam a vida e a morte.— Tenho muitas saudades... Sinto muito a falta de vocês...— Nós também sentimos a falta de você! Mas, querido filho, é a Vontade Divina! Levante,

levante, meu filho! Que o anjo da guarda o proteja sempre!— A bênção, meu pai!Ele estendeu a mão e eu a beijei com respeito e amor.

***

Page 92: Anais Jornada 2013

92

AZUL

Confirmaram-me o conflito de um certo vazioOutros, um excesso de essência e não de floresDe ambos, no mundo, somam-se todas as doresSobrando aos poetas as rimas por um fio

Enfim, faça-se o amor, não a guerraDêem um fim aos enigmas e mistériosCom ardentes cantos em saltériosQue engalanam todo o azul da terra

De peito aberto com muita dorOs pássaros ainda cantam à almaE assim encantam a flor

As flores, os pássaros, doces seresDizem com muita calma:Ressonância em paz é só quereres

***

CONSELHO

Antes pulávamos de galho em galho.Daí andamos nas matas e pradarias.Hoje, vamos de carro às padarias!

Amigo, busque a vida saudável,Com muito amor, sol e ar.Troque o abrir por descascar!

***

Sérgio Augusto de Munhoz PitakiCuritiba - PR

Page 93: Anais Jornada 2013

93

CRIANÇAS

Empoeiradas crianças nos faróisEsfarrapado viver de esquinasMergulhadas em metálicos ruídosSinistras criaturas de sedução selvagemCambaleiam argumentosDeglutindo a própria fome.Na latitude de seu mundoExtensível a poucos metros

Rogam o pão de cada diaSuplicam a infância perdidaAmaldiçoam o verde do semáforo.

***

PESCADOR

Com os olhos do corpo eu viVindo do mar o pescadorNum barco antigo, incolor.E na areia a mulher que riCom os pés descalços no chãoAgitando, em aceno, a mão.

Com os olhos do espirito eu viHumildade no corpo sem jeitoA fé na medalha do peito.No riso redondo alegriaA saudade no abraço apertadoE um amor descabelado.

***

Sônia Regina Andruskevicius de CastroSão Paulo - SP

Page 94: Anais Jornada 2013
Page 95: Anais Jornada 2013

95

VLetra de Estudante

XII Jornada Médico Literária PaulistaVII Jornada Nacional da Sobrames

Botucatu - São Paulo25 a 29 de setembro de 2013

Primar Plaza Hotel

ARIANE GARCIA | 97BRUNO GUERRETA BELMONTE | 99GABRIEL BERG DE ALMEIDA | 100NATANAEL S.ADIWARDANA | 102

Textos de estudantes da Faculdade de Medicina de Botucatuselecionados pelos membros da Academia Botucatuense de Letras

 

Page 96: Anais Jornada 2013
Page 97: Anais Jornada 2013

97

AO QUE EU DARIA O NOME DE AMOR

quis você por inteiro,o dia todo, todo diauma vontade louca, arritmiasquis relatos, fatos,nada exatos, olharesquis sorrisos, risos,idéias loucas,trocas, roucasroupasazuisquis vocêque me confunde a almaque derrubou meu ser , sem calmaquis por horas, bolasquem desviou minhas sinapsese criou lapsosem minha memóriaquis, procurei,me perdiem cores e doresamores?que jamais vivique mal conheciloucura?que é curade minha sanidade infelizque é curade uma vida sem raizde dias sufocadose atados

quis, quero vocêdia, noiteinteiroquero tocar, sentirvocê

só.basta-me

***

(sem titulo 1)

Decidi por afastar-meTentar olhar de longeDe outros ângulosDe fora de mimAssimSem tentar ultrapassarOs edifícios construídos entre nósMuros, barreiras, edifíciosÉ difícilSão nósDúvidasVidasÁvidas(de amor)

***

Ariane Garcia(Aluna do 4º ano de Medicina)

Page 98: Anais Jornada 2013

98

Ariane Garcia

MÚSICA

A música liberta, a música intensifica emoções, une e reúne pessoas, a música é a arte derepresentar, de sentir, de exprimir. Música é forma de linguagem, é comunicação, é sensação, éidentificação. A música inspira, e também nasce da inspiração. A música não permite conceitos esignificados fechados, a música é... MÚSICA! Quem sabe música seja a própria vida e se confundacom ela. A música de nossos próprios sons, dos sons que nos circundam, e também daqueles quenem sempre nos permitimos escutar - aquela melodia diária dos lugares em que passamosusualmente e que já deixamos há muito de ouvir. Muitos dizem inclusive que a história da músicaconfunde-se com a própria história do desenvolvimento da inteligência e da cultura humana.Enfim, a música é um fenômeno social, certamente é um pouco, ou melhor, é “um muito” denós.

***

(sem título 2)

olhar baixoombros cansadoscoração infartadopensamentospreocupados

caminhos fechadoscabeças prontasafrontam-me

perguntas sem respostafugas sem coragemparadas sem vontadevontades inibidasboicotadas pelo espaçopelo tempo

tempo presenteque tão pouco me dá de presenteque não o pânico, o surto,o cansaço e o descaso

o que fazer?como viver enquanto há apenas a sobrevida?como lutar quando os ombros cansados paralisam a pernas?como abrir caminhos quando os olhos não enxergam o horizonte?

então,revolto-me rebeldee o coração já infartadoinsiste em bater por um longo caminho aberto:a revolução para este tempo presente.

***

Page 99: Anais Jornada 2013

99

PALAVRAS Palavra imundasujaintensa.Palavra que não saide mim.Palavra que entracom a fumaça do meu cigarro,me invade,corrói,me destrói.Palavra que me mudaque expõe,que me torna frágil.Palavra do rubor,da dor,do caos.Palavra da redenção,do amor,do tesão.Palavra que mata,que me vive.Palavra que traz à superfícieo raso onde me afoguei.Palavra sua,que me lava,enxáguao meu ea almaminha.

*** 

Bruno Guerreta Belmonte(Aluno do 4º ano de Medicina)

Page 100: Anais Jornada 2013

100

Gabriel Berg de Almeida(Aluno do 4º ano de Medicina)

CRÔNICA DE AGUDOS

Não tenho muitas claras lembranças da minha infância, mas tem imagens nítidas que nãome saem da cabeça. Aquele vai e vem do interior do Mato Grosso do Sul deixou cenas inconfundíveisna memória daquela criança desajeitada. Pessoas vestindo vermelho, morando em barracosmuito pobres na beira da estrada, sempre carregando bandeiras no mesmo tom de vermelho dovestuário. Crianças correndo no acostamento. Panelas por cima de tábuas e fogueiras.

Barracos, muitos barracos. Mas aquela criança que eu era nunca se perguntou o que tudoaquilo significava. Aliás, nunca ninguém havia perguntado a ela o que ela pensava daquilo tudo.Só se ouvia o senso comum, o preconceito. Aquilo é o MST. Aquilo rouba terra. Aquilo não quertrabalhar. Quando cheguei à universidade, pude olhar melhor ao meu redor. Fui presenteadocom colegas dos mais diversos pensamentos e atitudes e, ainda, tive a oportunidade de ver odiferente, aquilo que eu não estava acostumado, que fugia do meu padrão.

Quando o meu centro acadêmico me propôs que fôssemos ao acampamento do Movimentodos Trabalhadores Sem Terra, confesso que hesitei. Senti certa insegurança de ir atrás de algotão diferente e que, falo sem vergonha, eu estava completamente tomado pelo preconceito.Meio a contragosto, mas indo na onda dos meus amigos, topei. Vamos ver o que a gente encontranesse lugar.

Bom, de começo, já adianto que não encontramos, não, gente que rouba terra e genteque não quer trabalhar. Fui surpreendido por um grupo sério de pessoas que lutam por um ideal.O ideal da reforma agrária e mais, o ideal de uma sociedade diferente. Fui surpreendido poruma receptividade sem tamanho. Fui surpreendido por pessoas inteligentes e que pensam alémdo nosso cotidiano. Fui surpreendido por pessoas que querem um projeto maior que oindividualismo sem limites ao qual estamos submetidos hoje em dia.

O assentamento Rosa Luxemburgo abriga um total de 66 famílias, distribuídas por lotespreviamente sorteados entre os integrantes do movimento. Uns geram bons frutos, outros aindavivem o estigma dos longos anos de empobrecimento do solo pelas florestas de eucalipto. Mas omais interessante foi ver a relação daquelas famílias com a terra. Eles plantam, eles colhem,eles respeitam o pedaço de chão que têm. As famílias que a gente visitou tem muita dificuldadefinanceira, sofrem com falta de saúde e dificuldade para educação, mas eles têm algo de valorinestimável: consciência. O nível de entendimento de mundo e de como ele funciona é semigual.

Eu vi, eu conversei, eu visitei, eu fui até a casa deles e posso afirmar sem medo que tudoaquilo que eu pensava ou tudo aquilo que me falavam estava errado. O movimento não éhomogêneo? O movimento não é homogêneo. Mas assim como tem gente errada no MST, temgente errada na polícia, tem gente errada na universidade, tem gente errada no comércio, temgente errada no legislativo, no executivo e no judiciário. Tem gente errada por todo Brasil. E sea luta desse povo não tiver seus objetivos concretos alcançados, tenho a plena certeza de quetodo o esforço já valeu para, pelo menos, manter viva a ideia de uma sociedade mais justa,igualitária e humana para todos nós.

***

Page 101: Anais Jornada 2013

101

CONFISSÃO

Não sei se já o fiz,Mas confesso minha problemática poética.Faço poesia torta,sem rima,sem musicalidade,sem simetria, sem métrica.

E não é que de repente,como em um surto prosaico,meus dedos se deslizam para a prosa?

Os versos, lentamente, viram frases completas. As estrofes?Transformam-se em parágrafos descomportados. Tenho prazer emescrever assim: de maneira livre, sem proporcionalidade,despreocupado em rebuscar a linguagem. Tenho prazer em escrever oque querem ler: cotidiano, sentimentos, filosofias... Tenho prazer emescrever o que sai da minha cabeça, verdadeiras gaivotas migrandopara o papel. E a poesia... Ah, a poesia foi-se tarde! Devo admitir quesou eternamente entregue à minha querida prosa nada romântica!

***

Gabriel Berg de Almeida

Page 102: Anais Jornada 2013

102

Natanael S.Adiwardana(Aluno do 5º ano de Medicina)

ÁGUA DE SONHOS

Quero mil anos num lapsoCem histórias num brilhoSer históriaSem demora

Mas a vidanão passaSe arrasta.

Não me aguento,precisoser

Tenho pressa.Conta as horasNão aguento

Pois os segundossão águaricade sonhos

Se demorarTemome afogar.

***

A VIDA COMO ELA NÃO É(aos soberbos)

Deixa o mato secar,Deixa o rio morrer,Deixa o boi pastar,Deixa o dinheiro crescer.

Vê o mato secar,Vê o rio morrer,Vê o homem suar,Vê o dinheiro crescer.

Sente o mato secar,Sente o rio morrer,Sente o boi engordar,Sente o dinheiro crescer.

Morre com o mato a secar,Morre com o rio a morrer,Morre com o homem a chorar,Morre com o dinheiro a crescer...

Veja o mato a expirar,Sinta o rio fenecer,Mate o homem a pastar,Cadê o dinheiro?

***

CONFISSÃO

Desejode falar com a boca fechada, o peito aberto, Pelas janelas da alma.

***

Page 103: Anais Jornada 2013

103

O MEDO DOS PÁSSAROS

Dentro,Abaixo de tua peleSentee sabe que sente.

No olhar de cada dorVisão de todo ódioPrisão de cada medoTremenas pontas de teus dedos.

Fundo,nas entranhas, escutaO arrepio da almaPor cada sofrer.

Abismoa revolta contida,Volta a mão estendidaSangra o choro a pedir.

Lembraque só saindo de dentro,indo ao redor,subindo do fundoe voando do abismoÉ que verás o sorrir.

Sai do penhascoResgata tuas lágrimasTraga tuas forçasDescubra-se não invencívelMas inabalável sobre as derrotas.

Pois valerá uma vidaprofunda?Adiantará não conhecer o céue os ventos sob suas asas?

Liberta-te pássaro jovem!Voa sobre o medo da quedaJoga-te de cabeçanos teus sonhos de ventos.

Ensina também teus amigosPara que juntos sigam mais levesTrocando frentes e brisasSem jamais desistir do caminho.

Você nasceupara muito alémda superfície.

***

CONCLUI

Toma tua bandeiracontra o senso comum.Pois tu tens,mais que ninguém,a juventude do corpo,o conhecimento do saber,a paixão pelo que virá.

Anseiao que sonhasCrêsnos teus desejosLibertatua pelepara o toqueda vida.

Não tenha pressade conhecerou passarpor sua história

Gasta teus diascom experiênciasde alegriaDa justiçae da dificuldade.

Sente intensasas maravilhasde querer EstudarAmarTu próprioEu,Outrem.

A liberdadede amare viveronde quer quepensee vá.

***

Natanael S.Adiwardana

Page 104: Anais Jornada 2013
Page 105: Anais Jornada 2013

105

VIA Cidade de Botucatu

XII Jornada Médico Literária PaulistaVII Jornada Nacional da Sobrames

Botucatu - São Paulo25 a 29 de setembro de 2013

Primar Plaza Hotel

Algumas informações sobre a cidade-sede do evento

Page 106: Anais Jornada 2013
Page 107: Anais Jornada 2013

107

A CIDADE DOS BONS ARES

O nome da cidade vem de Ibytu-katu, que em tupi significa “bons ares”. Em 1720 era adesignação dada às terras atribuídas em sesmarias no interior paulista. Os mistérios e lendas queainda envolvem Botucatu datam do período pré-cabralino, quando teria sido ponto de passagemno caminho para o Peabirú, trilha lendária que ligava o litoral atlântico à terras peruanas. Opovoamento, de fato, teve inicio entre o Ribeirão Lavapés e a Praça Coronel Moura, onde seconcentrava parte da tribo dos índios caiuás.

Os primeiros sinais do crescimento vieram em 1830, quando fazendeiros decidiram subira cuesta e povoar as terras ainda desabitadas. Em 23 de dezembro de 1843 – doação de terraspara a criação do Patrimônio da Freguesia de SantAnna de Botucatu, pelo Capitão José GomesPinheiro Vellozo, considerada, para efeitos históricos, a data de Fundação de Botucatu. Em 19de fevereiro de 1846 – criação da Freguesia do Distrito do Cimo da Serra de Botucatu. Em 14 deabril de 1855 – elevação da freguesia à categoria de vila e emancipação político-administrativa.Em 20 de abril de 1866 – criação da comarca de Botucatu. Em 16 de março de 1876 – elevação davila à categoria de cidade. (Lei nº 4.370 de 07 de abril de 2003).

Botucatu, que no passado chegou a representar ¼ da extensão territorial do Estado deSão Paulo, está localizada na região centro sul do Estado, ocupando hoje uma área de 1.486,4km2. Faz limites com os municípios de Anhembi, Bofete, Pardinho, Itatinga, Avaré, Pratânia, SãoManuel, Dois Córregos e Santa Maria da Serra.

Localizada a 224,8 Km da capital, a ligação é feita pelas rodovias Marechal Rondon eCastelo Branco.

O Marco Zero está localizado na Praça Emílio Pedutti (Bosque). A cidade possui climaameno (temperaturas médias de 22º C) e altitude relativamente elevada, que varia de 756 m nabaixada (antigo matadouro) a 920 m no Morro de Rubião Júnior (ponto mais alto).

Conhecida como “A Cidade dos Bons Ares, das Boas Escolas e das Boas Indústrias”, acidade conta com um sistema de ensino reconhecido internacionalmente.

O destaque é o Campus da Unesp, que oferece vários cursos de graduação e pós-graduaçãonas áreas de Biomédicas, Veterinária, Zootécnica e Agrárias. O Hospital das Clínicas da Faculdadede Medicina é um dos mais conceituados do país e atende pacientes de todas as regiões brasileiras. 

Botucatu é uma ótima cidade para quem pretende investir. O perfil industrial é bastantediversificado, oferecendo oportunidades em todos os setores. Algumas das principais empresasbrasileiras estão situadas em Botucatu: Duratex S/A, Indústria Aeronáutica Neiva/Embraer, Induscar/Caio, Hidroplás, Bras-Hidro, Staroup,  Café Tesouro, Eucatex S/A, e Centro Flora/Anidro doBrasil, entre outras.

O comércio também tem crescido bastante nos últimos anos. Além de empresas locais detradição, as principais lojas de rede também estão instaladas na cidade. Na área agrícola, aatividade que está em pleno desenvolvimento é a citricultura. Como diz o slogan “Bons Ares”, Botucatu possui temperatura agradável (média 22ºC). A brisa constante é uma característica,pois a cidade localiza-se no alto da serra (Cuesta de Botucatu).

Quem vem a Botucatu não pode deixar de conhecer suas belezas naturais: o Rio Tietê, emcujas margens formam-se bairros pitorescos (Rio Bonito, Mina, etc.); a Fazenda Lageado (UNESP),a Igreja de Rubião Júnior; as dezenas de Cascatas e Cachoeiras, entre elas a “Véu da Noiva”; asformações geográficas que geram lendas como as Três Pedras, Gigante Adormecido e Cuesta e oMorro do Peru.

(Fonte: Site oficial da Prefeitura de Botucatu: http://www.botucatu.sp.gov.br/)

Page 108: Anais Jornada 2013
Page 109: Anais Jornada 2013

109

VIIConheça a Sobrames

XII Jornada Médico Literária PaulistaVII Jornada Nacional da Sobrames

Botucatu - São Paulo25 a 29 de setembro de 2013

Primar Plaza Hotel

Algumas informações sobre a sociedadepromotora do evento

Page 110: Anais Jornada 2013
Page 111: Anais Jornada 2013

111

REGIONAIS E SEUS PRESIDENTES

SOBRAMES NACIONAL(Sede atual no Estado do Paraná)Presidente: Dr.Sérgio Augusto de Munhoz Pitaki (PR)

REGIONAIS PRESIDENTESAlagoas Dr.José MedeirosAmapá Dra.Ana Higina Pereira AgraAmazonas *** Dr.Simão Arão PecherBahia Dr.Bruno da Costa RochaCeará   Dr.Celina Corte Pinheiro de SousaDistrito Federal *** Dr.Cláudio Luiz ViegasEspírito Santo *** Dr.José P.Di Cavalcanti JuniorGoiás Dr.Fausto GomesMaranhão Dr.Arquimedes Viegas ValeMato Grosso *** Dr.Odoni GröhsMato Grosso do Sul Dr.Hugo Costa FilhoMinas Gerais Dr.Ernesto Lentz de Carvalho MonteiroPará Dr.Alfredo Pereira da CostaParaíba *** Dr.José Ribeiro Faria SobrinhoParaná Dr.Sérgio Augusto de Munhoz Pitaki Pernambuco Dr.Cláudio Renato Pina Moreira Piauí Dra.Kátia Marabuco SouzaRio Grande do Norte *** Dr.Francisco Edilson Leite Pinto JuniorRio Grande do Sul Dr.Luiz Alberto Fernandes SoaresRio de Janeiro Dra.Rosicléia MatukRondônia *** Dr.Viriato MouraSanta Catarina Dr.José Warmuth TeixeiraSão Paulo Dra.Josyanne Rita de Arruda FrancoSergipe Dr.Lúcio Antonio Dias PradoTocantins *** Dr.Odir Rocha

*** Nestas regionais não foi possível identificar e/ou confirmar os atuais presidentes. Os nomes indicadosacima foram obtidos no site Wikepédia em 05 agosto de 2013 e podem se referir às pessoas de contato ouque já exerceram a presidência, mas que no momento não respondam pela regional.(http://pt.wikipedia.org/wiki/ Sociedade_Brasileira_de_M%C3%A9dicos_Escritores)

PRESIDENTE DA ABRAMES(Academia Brasileira de Médicos Escritores)Dra.Juçara Regina Viegas Valverde (RJ)

Page 112: Anais Jornada 2013
Page 113: Anais Jornada 2013

113

REGIONAL DO ESTADO DE SÃO PAULO

A Sociedade Brasileira de Médicos Escritores, Regional do Estado de São Paulo, foi fundadaem 16 de setembro de 1988 e congrega mais de cem membros titulares, acadêmicos,colaboradores, eméritos, honorários e beneméritos.

Basicamente a sociedade é constituída por médicos escritores de literatura NÃO-CIENTÍFICA, além de escritores de outras formações profissionais (advogados, engenheiros,jornalistas, dentistas, arquitetos, etc..).

PIZZAS LITERÁRIASEm 1989 surgiu a idéia de se reunir os colegas ao redor de uma mesa de pizza, como acontecera

por ocasião da fundação da entidade. A reunião mensal tornou-se uma tradição e foi intitulada“Pizza Literária”. Desde então é realizada em uma pizzaria de São Paulo, com uma freqüênciaque costuma beirar trinta pessoas. Nesta, além de se saborear uma deliciosa pizza, tomar umchope e bater papo com os amigos, tem-se a oportunidade de ouvir os trabalhos dos colegas etambém apresentar os seus. Tem-se, também, a possibilidade de encontrar colegas de outrasespecialidades e formados nas mais diversas faculdades, além de sócios não médicos das maisvariadas profissões. Todos com uma paixão em comum: a literatura. As reuniões de 2013 têmacontecido na terceira quinta-feira de cada mês, na pizzaria BONDE PAULISTA, na Rua OscarFreire, 1597 – à partir de 19h30.

JORNADAS E CONGRESSOSA cada dois anos a Regional de São Paulo promove uma Jornada Médico-literária. Estas já

se realizaram em diversas cidades do interior paulista, e em 2009 na própria capital do Estado:Jundiaí – de 27 a 29 de setembro de 1991Bragança Paulista – de 28 a 30 de maio de 1993Santos – de 24 a 26 de novembro de 1995Campos do Jordão – de 28 a 30 de agosto de 1997Águas de São Pedro – de 16 a 19 de setembro de 1999Botucatu – de 27 a 30 de setembro de 2001Campos do Jordão – de 25 a 28 de setembro de 2003Serra Negra - de 22 a 25 de setembro de 2005Jundiaí – de 27 a 29 de setembro de 2007São Paulo - de 17 a 19 de setembro de 2009Itu - de 22 a 25 de setembro de 2011Em 2013 a XII Jornada Médico Literária Paulista está sendo realizada em Botucatu-SP.Nos anos pares é realizado um Congresso Nacional da SOBRAMES. Em 1994 e 1998, este

ocorreu em São Paulo, organizado por nossa regional. O XXIII Congresso Brasileiro aconteceu emjunho de 2012 na cidade Curitiba – PR. O próximo congresso será realizado no Estado dePernambuco, em 2014.

EVENTOS INTERNACIONAISAlém da existência de regionais da SOBRAMES na maioria dos estados brasileiros, seus membros

também participam em algumas associações em outros países, como é o caso da LISAME - LigaSul Americana de Médicos Escritores, com sede em Buenos Aires – Argentina; UMEM – União

Page 114: Anais Jornada 2013

114

Mundial de Escritores Médicos, com sede em Lisboa – Portugal, cujo congresso se realizou emViana de Castelo - Portugal, de 27 de setembro a 3 de outubro de 2004, contando com representaçãoda SOBRAMES paulista; UMEAL – União de Médicos Escritores e Artistas de Língua Lusófona, comsede em Lisboa – Portugal, dentre outras.

PUBLICAÇÕESJornal - Desde 1992 a SOBRAMES-SP publica o informativo mensal “O Bandeirante” que é

distribuído aos membros da regional paulista, diversos confrades de outras regionais, além deentidades culturais no Brasil e no exterior. Por vários anos publicou o suplemento literário, as“Páginas Sobrâmicas”, trazendo textos literários dos membros da Regional de São Paulo. À partirde 2001 a publicação ganhou o título de “Suplemento Literário”, e continua sendo publicadomensalmente, como encarte do jornal “O Bandeirante”. Desde janeiro de 2007 o jornal “OBandeirante” passou a ser distribuído pela internet, para mais de 1000 destinatários no Brasil eno Exterior. As edições virtuais são publicadas no BLOG da Sobrames-SP.

Coletâneas - A Sociedade já editou doze coletâneas com trabalhos dos membros:“Por um Lugar ao Sol” (1990)“A Pizza Literária” (1993) “A Pizza Literária - segunda fornada” (1995) “Criação” (1996)“A Pizza Literária - quinta fornada” (1998)“A Pizza Literária - sexta fornada” (2000)“A Pizza Literária – sétima fornada” (2002)“A Pizza Literária – oitava fornada” (2004)“A Pizza Literária – nona fornada” (2006)“A Pizza Literária - décima fornada” (2008)“A Pizza Literária - décima primeira fornada” (2010)“A Pizza Literária - décima segunda fornada” (2012)

Antologias - Em 1999, editou-se a “I Antologia Paulista”, contendo todos os trabalhosdas “Páginas Sobrâmicas” nos seus dois primeiros anos de publicação (abril 1997 a março de1999). Em 2000 foi publicada a II Antologia Paulista, desta vez com trabalhos inéditos dos sócios.A série de antologias continuou e já conta com oito volumes, tendo os demais sido publicadosem 2001, 2003, 2005, 2007, 2009 e 2011. Em setembro de 2013 está sendo lançada a IX AntologiaPaulista.

CONCURSOS LITERÁRIOSEm 1997, foi instituído o concurso para A Melhor Poesia do Ano, Prêmio “Bernardo de

Oliveira Martins” e, a partir de 1999, o concurso para A Melhor Prosa do Ano, Prêmio “FlertsNebó”, dos quais participam todos os membros da SOBRAMES-SP que apresentam seu textos nasPizzas Literárias. Estes certames visam dar estímulo à criatividade dos autores membros daSOBRAMES, tendo em vista a característica meramente diletante de seus participantes.Trimestralmente acontece um desafio literário intitulado SUPERPIZZA, onde os escritores sãoconvidados a produzir um texto em prosa ou verso sobre um tema sugerido.

Em janeiro de 2007 foram introduzidos dois novos concursos que têm como objetivoincentivar os integrantes da sociedade a participar de suas atividades. Trata-se do “PrêmioRodolpho Civile”, de Assiduidade e o “Prêmio Aldo Mileto” de Melhor Desempenho.

INTERNET - BLOGA Sociedade Brasileira de Médicos Escritores tem um Blog onde publica informações, notícias

e textos literários de seus autores.Visite e participe:http:/sobramespaulista.blogspot.com

Page 115: Anais Jornada 2013

115

DIRETORIAA cada dois anos a Sociedade Brasileira de Médicos Escritores, regional do Estado de São

Paulo elege em assembléia uma nova diretoria. Na atual gestão (biênio 2013/2014) a diretoriaestá assim composta:

Presidente: Josyanne Rita de Arruda Franco;Vice-presidente: Carlos Augusto Ferreira Galvão;Primeiro-secretário: Márcia Etelli Coelho;Segundo-secretário: Maria do Céu Coutinho Louzã;Primeiro-tesoureiro: José Alberto Vieira;Segundo-tesoureiro: Aída Lúcia Pullin Del Sasso Begliomini;Conselho Fiscal Efetivos: Helio Begliomini, Luiz Jorge Ferreira e Marcos Gimenes Salun;Conselho Fiscal Suplentes: José Kucovsky, Rodolpho Civile e José Rodrigues Louzã.

COMO PARTICIPARPodem tornar-se membros da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores todos os médicos,

de qualquer especialidade, e todos os acadêmicos de medicina, em qualquer ano do curso,mediante simples solicitação de sua inscrição, e bastando que sejam também escritores deliteratura NÃO-CIENTÍFICA, em qualquer gênero literário (romance, crônica, conto, poesia, ensaios,etc.). Também podem tornar-se membros da SOBRAMES-SP os ESCRITORES de qualquer outraformação profissional, apresentados por outros membros da sociedade. A solicitação será aprovadamediante análise da diretoria e existência de quorum na forma de seu estatuto. Os membroscontribuem financeiramente com uma anuidade de pequeno valor. Os custos de algumas atividadesda SOBRAMES-SP são pagos pelos participantes, como por exemplo, despesas de hospedagemem congressos e jornadas e despesas de consumo nas reuniões denominadas Pizzas Literárias.

ASSOCIE-SEPara obter outras informações sobre a SOBRAMES-SP ou para tornar-se membro envie

correspondência para o e-mail [email protected]. (Josyanne) ou ainda para o [email protected] (Márcia).

Pelo correio você poderá obter ficha de inscrição escrevendo para:Sociedade Brasileira de Médicos EscritoresRua Francisco Pereira Coutinho 290, 121 AVila Municipal - Jundiaí, SP.CEP 13201-100

Page 116: Anais Jornada 2013
Page 117: Anais Jornada 2013

117

XII Jornada Médico-Literária PaulistaVII Jornada Nacional da Sobrames

26 a 29 de setembro de 2013 - Botucatu - São Paulo

PRESIDENTES:Sérgio Augusto de Munhoz Pitaki (Jornada Nacional)Josyanne Rita de Arruda Franco (Jornada Paulista)

COMISSÃO ORGANIZADORA:Josyanne Rita de Arruda Franco / Márcia Etelli Coelho

Aida Lucia Pullin Dal Sasso Begliomini / Helio BegliominiEvanil Pires de Campos / Cláudia Esteves Oliveira Pires de Campos

AVALIADORES DOS CONCURSOS LITERÁRIOS:(Membros da Academia Botucatuense de Letras)

Prof.Dr.Antonio Evaldo Klar (Cad.nº 11)Carmem Silvia Martins Guimarães (Cad.nº 09)Maria Amélia Blasi de Toledo Pisa (Cad.nº 06)

Sebastião Pires Mendes (Cad.nº 22)Evanil Pires de Campos (Cad.nº 19)

FÓRUM ABRAMES:Presidente: Juçara Regina Viegas Valverde (Cad.nº 06)

Acadêmicos participantes:Alcione Alcântara Gonçalves (Cad.nº 02) / Arquimedes Vale (Cad.nº 18) / Carlos Augusto

Ferreira Galvão (Cad.nº 37) / Helio Begliomini (Cad.nº 33) / José Carlos Serufo (Cad.nº 10) /José Maria Chaves (Cad.nº 03) / Josemar Otaviano de Alvarenga (Cad.nº 44) / Josyanne Ritade Arruda Franco (Cad.nº 41) / Márcia Etelli Coelho (Cad.nº 34) / Nelson Jacintho (Cad.nº 16)

e Sérgio Augusto Munhoz Pitaki (Cad.nº 21).Homenageado: Evanil Pires de Campos (Membro Emérito - Cad.nº 47)

AGRADECIMENTO A AUTORIDADES:Prefeito de Botucatu: João Cury Neto

Secretário Municipal de Cultura: Osni de Pontes Ribeiro JuniorDiretora da Faculdade de Medicina de Botucatu: Profª. Drª. Silvana Artiori SchellineVice diretor da Faculdade de Medicina de Botucatu: Prof. Dr. José Carlos Peraçoli

TROFÉU “O BANDEIRANTE”:Artista plástica: Eleonora Yoshino

PRODUÇÃO DOS ANAIS:Projeto gráfico e diagramação: Marcos Gimenes Salun (Rumo Editorial)

Impressão e acabamento: Gráfica UNESP (Botucatu)

Page 118: Anais Jornada 2013
Page 119: Anais Jornada 2013

119

XII Jornada Médico-Literária PaulistaVII Jornada Nacional da Sobrames

26 a 29 de setembro de 2013 - Botucatu - São Paulo

Realização:

Sociedade Brasileira de Medicos Escritores- SOBRAMESRegional do Estado de São Paulo

Apoio Institucional:

Prefeitura Municipal de Botucatu

UNESP - Universidade Estadual Paulista - Botucatu

FMB - Faculdade de Medicina de Botucatu.

ABL - Academia Botucatuense de Letras

Primar Plaza Hotel

ABRAMES - Academia Brasileira de Médicos Escritores

Sociedade Brasileira de Médicos Escritores

Construtora Resiplan Ltda.

Caixa Econômica Federal

Rumo Editorial Produções e Edições Ltda.

Page 120: Anais Jornada 2013