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ANAIS ELETRÔNICOS DO II ENCONTRO ESTADUAL DE POLÍTICA E ADMINISTRAÇÃO DA EDUCAÇÃO DA BAHIA I SEMINÁRIO DE ESTUDOS PESQUISAS EM EDUCAÇÃO DE CAMAÇARI Organizadores: Almerinda Luedy Maria Couto Cunha Penildon Silva Filho

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  • ANAIS ELETRÔNICOS DO

    II ENCONTRO ESTADUAL DE POLÍTICA E ADMINISTRAÇÃO DA EDUCAÇÃO DA BAHIA

    I SEMINÁRIO DE ESTUDOS PESQUISAS EM

    EDUCAÇÃO DE CAMAÇARI

    Organizadores:

    Almerinda Luedy Maria Couto Cunha Penildon Silva Filho

  • ANAIS ELETRÔNICOS DO II ENCONTRO ESTADUAL DE POLÍTICA

    E ADMINISTRAÇÃO DA EDUCAÇÃO DA BAHIA

    e

    I SEMINÁRIO DE ESTUDOS E

    PESQUISAS EM EDUCAÇÃO DE CAMAÇARI

    Universidade Federal da Bahia

    29 e 30 de julho de 2016

    Almerinda Luedy

    Maria Couto Cunha

    Penildon Silva Filho

    (Org.)

    Salvador

    2016

  • ANAIS ELETRÔNICOS DO II ENCONTRO ESTADUAL DE POLÍTICA E ADMINISTRAÇÃO DA EDUCAÇÃO DA BAHIA e I SEMINÁRIO DE ESTUDOS E

    PESQUISAS EM EDUCAÇÃO DE CAMAÇARI

    Organização Geral

    Almerinda Luedy

    Maria Couto Cunha

    Penildon Silva Filho

    Apoios

    Realização

    Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)

    Elaboração: Fábio Andrade Gomes - CRB-5/1513

    E56 Encontro Estadual de Política e Administração da Educação da Bahia (2. : 2016 : Salvador, BA)

    Anais Eletrônicos do II Encontro Estadual de Política e Administração da Educação da Bahia e I Seminário de Estudos e Pesquisas em Educação de Camaçari [recurso eletrônico], 29 e 30 de julho de 2016 / Almerinda Luedy, Maria Couto Cunha, Penildon Silva Filho, organização ; Almerinda Luedy, coordenação geral. -- Dados eletrônicos (1 arquivo). -- Salvador : UFBA, 2016.

    584 p. Acesso em: < https://repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/21190>.

    1. Educação - Bahia - Congressos. 2. Educação - Camaçari (BA) - Congressos. I. Luedy, Almerinda, org. II. Cunha, Maria Couto, org. III. Silva Filho, Penildon, org. IV. Título. V. Seminário de Estudos e Pesquisas em Educação de Camaçari (1. : 2016: Salvador, BA).

    CDU: 37(813.8)

  • ANAIS ELETRÔNICOS DO II ENCONTRO ESTADUAL DE POLÍTICA E ADMINISTRAÇÃO DA EDUCAÇÃO DA BAHIA e I SEMINÁRIO DE ESTUDOS E

    PESQUISAS EM EDUCAÇÃO DE CAMAÇARI

    UFBA, ANPAE, SEDUC

    Coordenação Geral

    Almerinda Luedy (UFBA) Ana Paula Nunes Melo (EDUREGE/UNEB)

    Cláudia Bailão Opa (SEDUC) Juipurema Sandes (SEDUC) Maria Couto Cunha (UFBA)

    Olenêva Sanches Sousa (SEC/BA) Penildon Silva Filho (UFBA)

    Comissão Organizadora

    Almerinda Luedy (UFBA) Ana Paula Nunes Melo (EDUREGE/UNEB)

    Cláudia Bailão Opa (SEDUC) Josileide dos Anjos (UFBA) Juipurema Sandes (SEDUC) Maria Couto Cunha (UFBA)

    Olenêva Sanches Sousa (SEC/BA) Penildon Silva Filho (UFBA)

  • Comissão Científica e Avaliadora

    Almerinda Luedy Ana Paula Nunes Melo Antonia Almeida Silva Cecilia Maria Ghedini

    Christiane Andrade Regis Tavares Cláudia Bailão Opa

    Claudio Reynaldo Barbosa De Souza Cristina Elyote

    Daélcio Ferreira Campos Mendonça Diva Conceição Ribeiro Emília Peixoto Vieira Eudes Oliveira Cunha Fábio Lisboa Barreto Fernanda Lima Souza

    Gabriela Sousa Rego Pimentel Gilvanice Barbosa Da Silva Musial

    Gláucia Maria Costa Trinchão Jacqueline Nunes Araújo Jean Mário Araújo Costa

    Jesusa Rita Fidalgo Sanchez Jocelma Rios

    José Jackson Reis Dos Santos Josefa Sônia Pereira Da Fonseca

    Katia Siqueira De Freitas Leandro Gileno Militao Nascimento

    Leila Pio Mororó Maria Amélia Silva Nascimento

    Maria Aparecida Rodrigues Da Silva Cézar Maria Luiza Heine

    Marta Lícia Teles Brito De Jesus Maura Da Silva Miranda

    Micaela Balsamo De Mello Nádia Fialho

    Nilton De Oliveira Oliveira Olenêva Sanches Sousa

    Paula Arcoverde Cavalcanti Penildon Silva Filho

    Roberto Da Cruz Melo Rosane Souza Vilaronga

    Rosemeire Baraúna Meira de Araújo Silvia Maria Leite

    Suede Mayne Pereira Araújo Tereza Kelly Carneiro

    Ubirajara Couto Lima Uilma Rodrigues De Matos

    Vanessa De Oliveira Santana

  • SUMÁRIO

    PREFÁCIO

    11

    APRESENTAÇÃO

    13

    A EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DO DEFICIENTE FÍSICO, SENSORIAL E MENTAL: A INTEGRAÇÃO PELO TRABALHO NA SOCIEDADE DA EXCLUSÃO Maiusa Ferraz Pereira Santos e Arlete Ramos dos Santos

    15

    A RELEVÂNCIA DA AFETIVIDADE PARA O TRABALHO PEDAGÓGICO Leandro de Assis Duarte

    28

    CONSTRUINDO MATERIAL DIDÁTICO APOIADO NA CULTURA DO CORDEL Adriana Leite Campos, Rosângela da Luz Matos e Lucimeire Barbosa Santos

    36

    DIMENSÃO MULTIRREFERENCIAL DA FORMAÇÃO: A EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA DA UFBA Uilma Rodrigues de Matos e Regina Lucia Portela

    43

    EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE: MATERIAL ADAPTADO PARA O ENSINO DE ALUNOS CEGOS - RELATO DE EXPERIÊNCIA NO SUL DA BAHIA Silmária Andrade dos Santos e Silvana Sousa Andrade

    55

    EDUCAÇÃO INCLUSIVA E SAÚDE MENTAL NO CONTEXTO ESCOLAR: UM ESTUDO NA REDE MUNICIPAL DE LAURO DE FREITAS – BA……… Nataly Farias de Goes e Rosângela da Luz Matos

    67

    O ELO ENTRE O DISCURSO OFICIAL E O DISCURSO PEDAGÓGICO NO PROCESSO DE IMPLANTAÇÃO DA LEI 10.639/03 NO MUNICÍPIO DE JEQUIÉ/BA Janyne Barbosa de Souza

    79

    POLÍTICA EDUCACIONAL PARA AS CRIANÇAS DO CAMPO: ELEMENTOS ESTRATÉGICOS PARA A ORGANIZAÇÃO E ACOMPANHAMENTO DAS TURMAS MULTISSERIADAS Maria Fernanda Lima Souza e Elizabete Conceição dos Santos

    92

  • UM ESTUDO SOBRE AS ESCOLAS DO CAMPO DO MUNICIPIO DE VALENÇA - BAHIA. Débora Pereira dos Santos e Jeanes Martins Larchert

    104

    ALFABETIZAÇÃO: RUMO A LIBERDADE DO SER SOCIAL Isabel Maria Ramos Souza

    115

    ATIVIDADES SOCIOCULTURAL EDUCATIVAS DE EDUCAÇÃO INTEGRAL: A QUEM PODE INTERESSAR? Olenêva Sanches Sousa

    123

    A PRODUÇÃO SOBRE GESTÃO DEMOCRÁTICA E COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: O QUE DIZEM OS ARTIGOS, TESES E DISSERTAÇÕES NACIONAIS Isabel Cristina Rodrigues Brito da Silva

    135

    CONTEÚDO MUSICAL NA EDUCAÇÃO BÁSICA: A IMPORTÂNCIA DA LEI 11.769/2008 Isamar Marques Cândido Pales

    147

    COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: ESPAÇO DE EXERCICIO DEMOCRÁTICA E PARTICIPATIVO NA ESCOLA Glassuede Venesa dos Santos Silva e Luciene Matos de Souza

    160

    ESTRATÉGIAS PEDAGÓGICAS E A CONSTRUÇÃO DE COMPETÊNCIAS NA ÁREA DE LINGUAGENS: O LETRAMENTO E AS PRÁTICAS DE ESCRITA NO ENSINO MÉDIO Lucimere Barbosa Santos, Rosângela da Luz Matos e Adriana Leite Campos

    168

    O ATO DE LER: PAPEL DA ESCOLA NA FORMAÇÃO DO CIDADÃO-LEITOR-CRÍTICO Fabiola Chafin Gomes de Pinho

    178

    OBRIGATORIEDADE, REALIDADE LOCAL, ESPAÇOS PRÉ-EXISTENTES: A EXPERIÊNCIA DE GESTÃO EM UMA ESCOLA PÚBLICA DO SUL DA BAHIA Érico José dos Santos, Neísa Pereira dos Santos Castro e Cândida Maria Santos Daltro Alves

    185

  • OS DESAFIOS DA GESTÃO PEDAGÓGICA: OBJETIVOS E PRINCÍPIOS PARA CONSTRUÇÃO DE UMA GESTÃO DEMOCRÁTICA E PARTICIPATIVA Zângela Bomfim Moço, Daiane Soares Santos e Luciene Matos de Souza

    197

    “TODOS CUIDAM, TODOS EDUCAM”: UMA EXPERIÊNCIA IMPACTANTE NO MUNICÍPIO DE UNA – SUL DA BAHIA Carla dos Reis Santos, Geane Silva dos Santos de Andrade e Emília Peixoto Vieira

    209

    UMA REFLEXÃO ACERCA DA INFRAESTRUTURA ESCOLAR NAS UNIDADES ESCOLARES DO SUL DA BAHIA Louise Lamony Gomes Ramos e Emília Peixoto Vieira

    220

    EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA NO BRASIL E A POLÍTICA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES: o Sistema Universidade Aberta do Brasil (UAB) em foco Jussara Borges da Silva

    232

    FATORES INFLUENCIADORES DA EVASÃO DISCENTE NA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA: IDENTIFICANDO O PAPEL DO TUTOR NESSA MODALIDADE DE ENSINO AO PROPOR ESTRATÉGIAS DE PREVENÇÃO Angelo Mendes Ferreira, Ismael Oliveira de Araújo e Maria Luiza Figueiredo Heine

    243

    O GESTOR ESCOLAR LÍDER: UMA NECESSIDADE DA EDUCAÇÃO NA CONTEMPORANEIDADE Raniéri Rodrigues Leal

    255

    O USO DE PORTFÓLIO DIGITAL COMO PROCESSO DE AVALIAÇÃO DA LICENCIATURA EM MATEMÁTICA NO IFBA CAMPUS CAMAÇARI Lidiane Santana Fraga, Milena Vergne de Abreu Oliveira e Sousa e Sheila Anjos do Carmo Santos

    267

    A EQUALIZAÇÃO E O REGIME DE COLABORAÇÃO: DUAS EXPERIÊNCIAS DE ARRANJOS TERRITORIAIS COLABORATIVOS NA ÁREA DE EDUCAÇÃO Ubirajara Couto Lima

    277

    A POLÍTICA DE FINANCIAMENTO DA EDUCAÇÃO BÁSICA NO BRASIL E SEUS EFEITOS NO FINANCIAMENTO DA EDUCAÇÃO PÚBLICA DO ESTADO DA BAHIA (2009-2013) Jean Mário e Maria Couto Cunha

    290

  • A PRODUÇÃO ACADÊMICA EM POLÍTCAS EDUCACIONAIS PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL NO BRASIL (2000 – 2005) Manuela Monteiro dos Santos Macêdo e Faní Quitéria Nascimento Rehem

    303

    FINANCIAMENTO DA EDUCAÇÃO NO BRASIL: LIMITES E OSSIBILIDADES DE CUMPRIMENTO DO PISO SALARIAL NACIONAL Eliara Cristina Nogueira da Silva e Cláudio Pinto Nunes

    315

    O DISCURSO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL NO BRASIL EM INSTRUMENTOS PÚBLICOS DE PLANEJAMENTO: O PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO (PNE) 2014-2024 E O PLANO PLURIANUAL (PPA) 2016-2019 Luzinete Barbosa Lyrio, Renata Lorena Ribeiro e Wheliton Chiang Shung M. Ferreira

    327

    O PAPEL DO CONSELHO MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO NA FORMULAÇÃO, ACOMPANHAMENTO, CONTROLE E AVALIAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS Clarice Santos Ferraz Araújo

    340

    O PLANO DE AÇÕES ARTICULADAS (PAR) EM SERRINHA-BA: DIFICULDADES NA DEFINIÇÃO DE SUAS POLÍTICAS EDUCACIONAIS Maria Aparecida Rodrigues da Silva Cézar

    349

    O PROCESSO DE IMPLANTAÇÃO DOS INDICADORES DA QUALIDADE NOS CENTROS MUNICIPAIS DE EDUCAÇÃO INFANTIL DE SALVADOR: UMA EXPERIÊNCIA DE GESTÃO DEMOCRÁTICA Roberta Carmo

    361

    O REGIME DE COLABORAÇÃO E O REGIME DE COOPERAÇÃO NO FEDERALISMO BRASILEIRO NO CONTEXTO DO PLANO DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO: CONFLITOS CONCEITUAIS Maura da Silva Miranda

    273

    O SIMEC (MÓDULO PAR) A PARTIR DE UMA ANÁLISE DO PODER DISCIPLINAR Vanusa Ruas Freire Viana e Sandra Márcia Campos Pereira

    380

    POLÍTICAS PÚBLICAS DE ESPORTE NO GOVERNO DE LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA (2003 A 2010): CONTRADIÇÕES E POSSIBILIDADES DE SUPERAÇÃO Paulo José Riela Tranzilo

    389

  • ESTRATÉGIAS DE PERMANÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR: UM ESTUDO DE CASO SOBRE OS ESTUDANTES DO CURSO DE PEDAGOGIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA Jane Mara Ferreira e Uilma Rodrigues de Matos

    401

    GESTÃO DE PESSOAS EM IES PÚBLICAS: A PROPOSTA DA GESTÃO POR COMPETÊNCIA EM DISCUSSÃO Márcio Alessandro Teles Fonseca

    412

    UM OLHAR PRELIMINAR SOBRE A PERMANÊNCIA DE ESTUDANTES COTISTAS DE PEDAGOGIA DA UFBA. Uilma Rodrigues de Matos e Idenilton Mário de Jesus Barbosa

    423

    JOVENS DE ESCOLAS PÚBLICAS E A PREPARAÇÃO PARA O ENEM: O caminhar de um Projeto de Extensão da Faculdade de Educação/UFBA Marta Lícia Brito de Jesus e Tailson Lima Bomfim

    436

    UMA REFLEXÃO SOBRE A PRÁXIS PEDAGÓGICA DA EDUCAÇÃO INFANTIL INDÍGENA TUPINAMBÁ DE OLIVENÇA, ILHÉUS/BA Marcineia Vieira de Almeida Santos, Emília Peixoto Vieira e Flávia Cristina de Mello

    446

    A IMPORTÂNCIA DE GRUPOS DE PESQUISA PARA FORMAÇÃO DE PROFESSORES/PESQUISADORES: O GRUPO DE POLÍTICAS PÚBLICAS E GESTÃO EDUCACIONAL PPeGE DA UESC Maricélia de Souza Pereira Moreira

    460

    A PRODUÇÃO ACADÊMICA EM POLÍTICAS EDUCACIONAIS PARA FORMAÇÃO DE PROFESSORES DA EDUCAÇÃO INFANTIL NO BRASIL (2000-2005). Andressa Cerqueira Gonçalves e Faní Quitéria Nascimento Rehem

    468

    BASES INSTITUCIONAIS PARA O DESENVOLVIMENTO DAS POLÍTICAS DE FORMAÇÃO E VALORIZAÇÃO DOS PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO BÁSICA NO BRASIL Maria Couto Cunha e Jean Mário Araújo Costa

    473

    EXPERIÊNCIA NA GESTÃO DA ESCOLA MUNICIPAL ALTO DE COUTOS Cássia Silva Santos Góes

    485

  • GESTÃO DO ENSINO SUPERIOR: DETERMINANTES DA FIXAÇÃO DE VAGAS DE DOCENTES NOS CURSOS DE LICENCIATURA E BACHARELADO NA UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB Lília Maria Carvalho Mattos, Angelo Mendes Ferreira e Maria Luiza Heine

    495

    GRADUAÇÃO DE MONITORAS DE CRECHES PÚBLICAS: O IMPACTO DO PARFOR NA FORMAÇÃO DOCENTE Geaní Oliveira Motta

    502

    O ESTÁGIO SUPERVISIONADO ENQUANTO PRÁTICA DOCENTE INTEGRADORA COM A COMUNIDADE: RELATO DE EXPERIÊNCIA DA LICENCIATURA EM MATEMÁTICA DO IFBA CAMPUS CAMAÇARI Édila Rodrigues Rocha Barreto, Eneida Santana Baumann e Tereza Kelly Gomes Carneiro

    511

    O MONITORAMENTO DOS PROGRAMAS DE FORMAÇÃO DO GESTOR ESCOLAR NO MUNICÍPIO DE SALVADOR/BA Leandro Gileno Militão Nascimento

    524

    POLÍTICAS PÚBLICAS DE FORMAÇÃO CONTINUADA DE DOCENTES: DOS MARCOS LEGAIS À REALIDADE DA REDE PÚBLICA MUNICIPAL DE ENSINO DE VITÓRIA DA CONQUISTA-BA Margareth Pinheiro Carvalho e Leila Pio Mororó

    537

    O PLANO DE CARREIRA DO MUNICÍPIO DE CANAVIEIRAS/BA: primeiros apontamentos Emília Cristina Augusto dos Santos e Emília Peixoto Vieira

    546

    POLÍTICAS EDUCACIONAIS COM ÊNFASE NO PACTO NACIONAL PELA ALFABETIZAÇÃO NA IDADE CERTA (PNAIC) EM JAGUAQUARA/BA Regivane dos Santos Brito e Claudio Pinto Nunes

    558

    O PARFOR COMO POLÍTICA EMERGENCIAL DE FORMAÇÃO PARA PROFESSORES EM EXERCÍCIO Silvana Sousa Andrade

    570

    INICIAÇÃO CIENTÍFICA E FORMAÇÃO ACADÊMICA: RELATOS DE EXPERIÊNCIA SOBRE A PARTICIPAÇÃO NO GRUPO DE PESQUISA POLÍTICAS PÚBLICAS E GESTÃO EDUCACIONAL – PPeGE DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ – UESC Stephanie Santana Oliveira, Thamilles Chaves Santos e Fabrine Ferreira

    578

  • 11

    PREFÁCIO

    A realização do IIº Encontro Estadual da ANPAE na Bahia foi bem-sucedida ao

    apresentar as pesquisas feitas por professores, pesquisadores e gestores da Educação baianos,

    relatos de casos de professores da rede pública e concomitantemente no sentido de uma

    aproximação da entidade com as secretarias municipais de Educação.

    O Encontro transcorreu em um momento ímpar da conjuntura nacional e estadual,

    assistimos a uma onde conservadora no plano da Política, com a posse de um presidente após

    um processo controverso de impeachment; no plano da Economia, com a concatenação de

    esforços de setores das elites econômicas para promover a diminuição do Estado e do

    financiamento das políticas públicas visando especificamente aumentar o comprometimento

    do orçamento com o pagamento dos dividendos rentistas no país; e finalmente no plano

    cultural e comportamental, com o crescimento de campanhas de criminalização dos

    movimentos sociais, banimento do debate nas escolas através de uma lei da mordaça com o

    projeto do Escola sem Partido, e uma reação fundamentalista muito forte contra o debate

    sobre as diversidades, de gênero, étnico-raciais, de orientação social, cultural. Some-se a isso

    um processo de escalada da intolerância e da violência no debate público nacional, que em

    nada contribuem para a Democracia e para o espaço público que deveria ser aberto às

    diferenças.

    A Educação, na acepção mais ampla de formar o indivíduo e o ser político a viver em

    Sociedade, de sedimentar os direitos humanos de forma geral, é convocada a refletir sobre

    essa conjuntura, que afeta as políticas públicas de Educação e demais políticas sociais com a

    proposta enviada ao Congresso Nacional de congelamento dos gastos em todas as políticas

    sociais, o que destrói o preceito constitucional duramente conquistado em 1988, que

    estabelecia a vinculação orçamentária aos gastos com a Educação. No Brasil, tivemos um

    período de aumento dos investimentos em Educação, do Fundeb às universidades, que ainda

    precisavam de aprimoramentos, entretanto mais recentemente os recursos das políticas

    públicas foram sangrados pela proposta da volta da Desvinculação de Receitas da União (a

    DRU), contingenciamentos foram diminuindo o ritmo das políticas sociais, mas agora

    estamos num novo patamar, com a apresentação de uma proposta de emenda constitucional

    que muda o essencial da manutenção das políticas públicas de Saúde, Educação, Assistência

    Social, habitação e estímulo ao crescimento econômico, congelando os gastos sociais e

    provocando uma paulatina diminuição do percentual investido ao longo de 20 anos.

  • 12

    O Encontro da ANPAE, além de contar com trabalhos de qualidade acadêmica e

    promover a integração da academia com o mundo da Educação Básica, teve diversas

    contribuições que abordaram todas essas temáticas: financiamento, inclusão e diversidade,

    papel dos movimentos sociais no controle social, especialmente nos conselhos, currículo,

    planos estadual e municipal de Educação, cumprimento das metas do PNE e outros.

    Esperamos que a partir desse encontro possamos ter uma repercussão nas

    universidades, secretarias de Educação e comunidades sobre essa temática das políticas

    públicas, com debates, seminários e simpósios sobre todos esses temas, o que está também no

    escopo de atuação da ANPAE. Esse tema deve ser socializado para o conjunto da Sociedade

    e permitir que a contribuição acadêmica e científica possa ser também para a promoção de

    uma Educação e uma Sociedade mais inclusivas e democráticas.

    Prof. Dr. Penildon Silva Filho

  • 13

    APRESENTAÇÃO

    A Associação Nacional de Política e Administração da Educação (ANPAE) - Seção

    Estadual ANPAE/Bahia, em parceria com a União Nacional dos Dirigentes Municipais de

    Educação (Undime), as Universidades Públicas do Estado da Bahia e seus Programas de Pós-

    Graduação em Educação e a Secretaria de Educação de Camaçari (SEDUC) realizaram nos

    dias 29 e 30 de julho de 2016, no município de Camaçari, o II Encontro Estadual de Política

    e Administração da Educação da Bahia e o I Seminário de Estudos e Pesquisas em Educação

    de Camaçari.

    A Associação Nacional de Política e Administração da Educação (ANPAE) é uma

    associação civil de utilidade pública e natureza acadêmica no campo da política e da gestão

    da educação, que congrega pesquisadores, docentes e estudantes de educação superior;

    dirigentes e técnicos dos sistemas de ensino; e professores e diretores de escolas e outros

    espaços sociais de educação e formação cidadã.

    Tem como missão “lutar pelo efetivo exercício do direito à educação de qualidade

    para todos, assegurada ao longo da vida, através de sua participação na formulação e

    execução de políticas públicas de educação e na concepção e adoção de práticas de gestão

    democrática, alicerçadas nos valores da justiça social, da liberdade e da igualdade de direitos

    e deveres na educação e na sociedade”.

    Buscando atender a missão institucional o evento teve como

    objetivo geral promover reflexões sobre as políticas educacionais e de gestão da educação,

    tendo em vista o atual momento político e educacional, com a discussão sobre a Base

    Comum Curricular, e a implantação do Sistema de Colaboração na Educação e como

    objetivos específicos: a) Divulgar a Associação Nacional de Política e Administração da

    Educação (Anpae) nos ambientes universitários e junto aos gestores públicos, principalmente

    da Educação, buscando ampliar o quadro de associados/as do nosso Estado; b) Promover

    debates, encontros e seminários sobre as políticas públicas educacionais e os desafios da

    Educação no Brasil de hoje; c) Discutir sobre a relação com os gestores públicos federais,

    estaduais e municipais para a constituição de fóruns sobre as políticas públicas de Educação

    e, e) Estimular o diálogo com gestores e instituições públicas, no sentido de promover e

    planejar propostas de cursos de formação em Política e Administração da Educação.

    Neste sentido, temas como política e gestão da educação básica, política e gestão da

    educação superior, políticas e práticas de formação e valorização dos docentes e dirigentes

    escolares, planejamento da educação, cooperação federativa e regime de colaboração entre

  • 14

    sistemas na educação, políticas públicas e financiamento da educação, gestão pedagógica,

    organização curricular e qualidade da educação, educação e direitos humanos, diversidade

    cultural e inclusão social, educação no campo, educação especial, dentre outros foram

    abordados e discutidos em conferências, mesas redondas e apresentações de trabalhos

    científicos.

    O evento contou com a participação de Secretários Municipais de Educação,

    docentes, estudantes, servidores, além de autoridades e convidados nacionais.

    Neste anais, gostaríamos de disponibilizar ao público leitor uma parte do que fora

    produzido durante o evento.

    Profª Drª Almerinda Luedy

    Profª Drª Maria Couto Cunha

    Prof. Dr. Penildon Silva Filho

  • 15

    A EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DO DEFICIENTE FÍSICO, SENSORIAL E MENTAL: A INTEGRAÇÃO PELO TRABALHO NA SOCIEDADE DA EXCLUSÃO

    Maiusa Ferraz Pereira Santos1

    Arlete Ramos dos Santos2

    Resumo Este artigo tem como escopo analisar as dificuldades enfrentadas pelas pessoas com deficiência e sua inserção no mundo do trabalho, tendo em vista, os mecanismos de produção do sistema capitalista. Para tanto, com base em uma revisão bibliográfica, discute a interface existente entre educação, trabalho e deficiência partindo do ponto de vista histórico, procurando compreender os entraves e as possibilidades que foram apresentados neste processo de inclusão pelas diversas sociedades ao longo do tempo. Como resultado ficou evidente que garantir a formação básica da pessoa com deficiência, é condição principal para sua inclusão no mercado de trabalho e, portanto propõe que o Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade de Educação e Jovens e Adultos - PROEJA, seja uma alternativa para a formação profissional do jovem e adulto com deficiência, porque o mesmo sugere uma relação direta entre teoria e prática, e com isso supera a dicotomia saber e saber fazer tão presente na educação apresentada pelo capitalismo. Palavras-chave: Deficiente. Educação Profissional e Trabalho.

    INTRODUÇÃO

    Este artigo partiu das inquietações que foram surgindo ao longo da nossa atuação

    profissional na Educação Básica, na docência em classes de Jovens e Adultos, na Escola

    Estadual Armando Ribeiro Carneiro e como pedagoga do Instituto Federal de Ciência e

    Tecnologia, IFBA, no município de Eunápolis, no Estado da Bahia. Ao observarmos essas

    instituições de ensino que atuamos, no convívio cotidiano com esses estudantes, percebemos

    que existem alguns alunos com deficiência, geralmente, adultos, desempregados, com um

    histórico de inclusão tardia na educação e com muitas dificuldades de se inserirem no mundo

    do trabalho.

    O problema da inclusão deste público é preocupante porque apesar de existir uma rica

    legislação que garante a inclusão da pessoa com deficiência na educação e no mercado de

    trabalho, tais como o Artigo 71, inciso 31, da Constituição Federal de 1988, a Lei nº 8.213, de

    1991, que estabeleceu as cotas de contratação de pessoas com deficiência para empresas com

    mais de cem funcionários e mesmo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº

    1 Mestranda em Educação pelo programa PPGE – UESC/BA. Pedagoga do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia. [email protected] 2 Doutora em Educação pela FAE/UFMG [email protected]

  • 16

    9.394/96. A desinformação e o consequente estigma associado ao deficiente e a deficiência

    tem se constituído um obstáculo de tal modo cristalizado, que as conquistas nesse campo,

    embora significativas, continuam tímidas.

    O pressuposto do qual partimos para a compreensão desta problemática é de que as

    sociedades ao organizarem as formas de trabalho produzem e sustentam ideias e diferenças

    entre os homens, emergindo com isso, um paradigma educacional que atende as demandas

    das relações de produção provenientes de cada momento histórico, ratificando, na maioria das

    vezes, uma exclusão daqueles indivíduos que não se enquadram no perfil social aceito para

    manutenção do modo de produção instituído.

    Ao observar a história da humanidade, percebemos que o indivíduo deficiente sofreu

    muito preconceito e, durante muito tempo, a sociedade buscou extirpá-lo do convívio social,

    e mesmo quando ela colaborou para sua inclusão o fez por uma demanda das relações de

    produção, para sustentar o sistema econômico vigente.

    Nesta perspectiva, garantir a formação básica da pessoa com deficiência é condição

    principal para sua inclusão no mercado de trabalho. Partindo desta premissa, buscou neste

    estudo, compreender os mecanismos que foram utilizados ao longo dos anos, pelas

    sociedades, para incluir o deficiente físico, sensorial e mental no mundo do trabalho por meio

    da educação.

    Para tanto, buscaremos, inicialmente, traçar um percurso histórico de como se deu a

    conexão entre deficiência, trabalho e educação desde a constituição das primeiras sociedades,

    posteriormente, procuraremos entender o processo de inclusão na sociedade moderna e, por

    fim, será apresentado o PROEJA como uma alternativa de inclusão do deficiente na educação

    profissional, porque entendemos que esse fosso existente entre a inclusão no mundo do

    trabalho e a formação prévia do deficiente pode ser amenizado com uma formação integral

    destes sujeitos.

    O PERCURSO HISTÓRICO DA INTERFACE EDUCAÇÃO, TRABALHO E

    DEFICIÊNCIA

    A sociedade contemporânea atribui muito valor ao sucesso profissional, muitas vezes,

    este êxito está vinculado a formação educacional e a conhecimentos específicos adquiridos

    em instituições formais de ensino ou no convívio das relações sociais e de trabalho.

    Entretanto, muitos indivíduos são excluídos socialmente, privados desta dimensão de

  • 17

    construção existencial, impedidos de adquirirem qualificação profissional e acesso ao mundo

    do trabalho porque apresentam alguma deficiência física, sensorial ou mental.

    O trabalho constitui-se como um determinante nas relações estabelecidas entre os

    homens, a representação social, a valorização do indivíduo, as oportunidades educacionais e

    as relações econômicas dependem da capacidade em que o indivíduo possui em se apropriar

    dos meios de produção. Portanto, analisando as relações de trabalho é possível compreender

    as propostas educacionais que as diversas sociedades implementaram para a pessoa com

    deficiência. Nas comunidades primitivas o trabalho era coletivo, mas havia uma necessidade

    individual do homem prover seu sustento e defesa, o sujeito que apresentava alguma

    deficiência era um incômodo, e, naturalmente havia uma tendência de eliminar estes

    membros que não participavam ou não poderiam vir a participar das atividades que

    assegurassem a vida material da comunidade (GUHUR, 1992).

    Com o desenvolvimento de novas técnicas de trabalho e descoberta de uso de metais

    para fabricação de instrumentos, o homem deixou de ser nômade e passou a instituir uma

    relação direta com a terra, estabelecendo novas formas de realização social, promovendo uma

    transição do modo comunitário para a sociedade de classes. A maioria das organizações

    sociais antigas, a exemplo da espartana, que valorizava os atributos físicos e a estética,

    praticava o extermínio de crianças que apresentavam deformidades, o infanticídio era comum

    nesse período, isso ocorria porque o deficiente não atendia aos padrões sociais atribuídos ao

    homem na época (SILVA, 1987).

    Com o advento do cristianismo houve uma alteração na forma de pensamento do

    homem, a igreja que definia ideologicamente os rumos econômicos e sociais da época, tinha

    como filosofia a propagação da compaixão, da tolerância e do amor ao próximo, portanto, a

    prática do abandono ou extermínio da pessoa com deficiência passou a ser condenada, já que

    elas passaram a ser donas de almas e filhas de Deus como todos os outros indivíduos.

    Salienta-se, contudo, que esta atitude da igreja visava, primordialmente, conter os

    indivíduos para que mantivessem o modo de produção feudal que se baseava no sistema de

    servidão, isto quer dizer que, a Igreja, aliada ideológica do modo de produção da ocasião,

    difundia princípios morais e sanções religiosas que mantinham subordinadas as massas

    camponesas num mundo assolado por injustiças e desigualdades sociais.

    Desta forma, ao preconizar como comportamento cristão a tolerância, a prática de

    boas obras e a caridade aos menos afortunados, tais como: miseráveis, doentes, deficientes e

    idiotas, buscava enfatizar a ideologia religiosa que consistia na aceitação e predestinação dos

    desígnios divinos para os fiéis, esta era uma forma de fazer com que os indivíduos aceitassem

  • 18

    suas mazelas e não contestassem a divisão econômica e social que a eles era imputada

    (PESSOTI,1984, p. 5).

    Com essa nova concepção as pessoas deficientes passaram a ser segregadas em

    igrejas, orfanatos e abrigos, onde recebiam teto e alimentação, e isolados, livravam a

    sociedade de suas presenças incômodas devido suas condutas indecorosas e antissociais.

    Neste sentido, estes locais não passavam de prisões, sem tratamento especializado e sem

    programas educacionais, com um único fim assistencialista, a atitude ambígua de proteção-

    segregação indicava a rejeição e o isolamento dos indesejáveis.

    Por volta dos séculos XIV e XV ocorreu um processo de desintegração do feudalismo,

    o crescimento do comércio com seus desdobramentos de postos de trabalho, atrelado ao

    desenvolvimento da ciência, impulsionaram o êxodo rural e demarcaram uma nova

    constituição de produção, pautada na acumulação de riquezas, uma prática muito condenada

    na idade média pela igreja, e, que passa a ser a essência deste novo regime econômico,

    chamado de capitalismo.

    Nesse mesmo regime, o homem é livre e tem seu pensamento transformado no campo

    religioso, político e moral. Portanto, a ordem não é mais estabelecida pelos princípios

    religiosos, pelo sobrenatural, mas é demarcada pelo pensamento científico racional, assim, as

    deficiências físicas e mentais deixam de ser explicadas por teorias teológicas e passa a ser um

    problema médico digno de tratamento.

    No início desse sistema econômico, a produção era manufatureira, onde um indivíduo

    era responsável por todo processo de construção do produto e detinha o ritmo e o tempo de

    trabalho, por conseguinte havia valorização excessiva do trabalho e da produtividade, neste

    sentido, tinha-se uma censura a ociosidade, aqueles sujeitos que eram incapazes de

    produzirem eram combatidos por esta nova formação social, e assim, mais uma vez o

    deficiente foi segregado porque tinha limitações.

    Num segundo momento, houve a introdução da máquina na produção gerando

    mudanças nas relações de trabalho, o homem fica destituído do controle do que produz,

    porque há o parcelamento de tarefas e ele passa a ser um acessório nesse processo. Este

    mecanismo mais barato e rápido, dispensa a resistência física do trabalhador adulto,

    mobilizando mão de obra não qualificada, inserindo, consequentemente, mulheres, crianças e

    deficientes na produção.

    Neste sentido, o deficiente tornou-se uma força de trabalho disponível ao capital,

    justificando uma formação educacional destes sujeitos, porque com este novo parâmetro de

  • 19

    trabalho, os mesmos seriam capazes de produzirem. Por conseguinte, foi nesse período que

    nasceu a educação especial, fruto desta necessidade da sociedade.

    É o nascimento da educação especial em nome da educabilidade dos idiotas e deficientes, com o objetivo de torná-los úteis á sociedade, ou seja, fazê-los produtivos: “O idiota deverá ganhar seu pão com o suor de sua fronte. Como? Aprendendo os bons costumes e algum tipo de trabalho no estabelecimento especial chamado asilo-escola. (PESSOTTI, 1980, p.184)

    Entretanto, esta educação profissional para deficientes, consistia basicamente em um

    aprendizado restrito, com o fim principal de atender a indústria, sendo assim, a maioria do

    tempo escolar era destinado ao trabalho manual. Este tipo de formação profissional,

    promovida em oficinas, assumia um caráter de adestramento da mão de obra e de adaptação

    do produtor direto ao posto de trabalho. Nestes termos, a formação profissional oferecida ao

    deficiente em oficinas, foi e ainda pode ser identificada como uma via de estigmatização

    porque limita o trabalho à reprodução, impedindo que o sujeito promova sua efetiva inclusão

    social. Glat faz a seguinte referência a este tipo educação.

    A segregação do indivíduo com deficiências, em escolas ou instituições especiais, pode reduzir sua participação na vida da comunidade e excluí-los das relações tecidas nas várias instâncias sociais, inclusive de lazer, uma vez que a maioria das pessoas, de fato, tem pouca oportunidade de interagir com esse indivíduo e vice-versa. Consequentemente, quando ele chega ao mercado de trabalho, mesmo que esteja tecnicamente capacitado, socialmente é um estrangeiro. (GLAT, 1998, p, 98).

    Assim, como no resto do mundo, aqui no Brasil também foi implantada esta

    concepção de educação especial institucionalizada atrelada a uma educação profissional.

    Entre 1854 e 1857 foram criadas as instituições que tinham como parâmetro esta filosofia. O

    Imperial Instituto dos Meninos Cegos, em 1854 (hoje, Instituto Benjamin Constant – IBC), e

    o Instituto dos Surdos Mudos, em 1857, (hoje, Instituto Nacional da Educação dos Surdos –

    INES), ambos na cidade do Rio de Janeiro, foram as primeiras instituições com este perfil.

    Nestes termos, até o início do século XX, a educação especial foi marcada pela

    institucionalização, entretanto, com o final da 2ª Guerra Mundial surgiram inúmeros

    indivíduos deficientes, oriundos de mutilações adquiridas durante o período de guerra, isto é,

    uma nação de deficientes que também queria uma colocação na sociedade e que não se

    enquadrava no ideal de indivíduo proposto pela ideologia capitalista. Essa insatisfação social

    encadeou a promulgação da Declaração Universal dos Direitos Humanos, que em sua

    essência pronunciava o direito a ter direitos.

  • 20

    Na década de 60, do século XX, resultados de pesquisas científicas mudaram a ótica

    do determinismo com relação as deficiências, propuseram que distúrbios físicos e mentais

    também poderiam ser oriundos de fatores socioculturais. Essa visão diferenciada pautava-se,

    principalmente, nos indivíduos que adquiriam deficiência por fatores ambientais, um

    exemplo disto era o grande número de deficientes produzidos por guerras mundiais.

    E com isso, iniciaram-se mudanças nos paradigmas de reabilitação destes indivíduos,

    que a partir da década de 1970, inspiraram movimentos de individualização, normalização e

    integração que buscavam oferecer um convívio destas pessoas em ambientes menos

    segregadores, iniciando um profícuo processo de inclusão social, na educação e no trabalho.

    No campo educacional houve um significativo aumento do número de classes

    especiais em escolas regulares e de alunos especiais em classes regulares, inseridos,

    principalmente, por força das leis, provocadas pelos movimentos de integração, compostos

    pelas minorias sociais que avançavam no processo de democracia e exigiam um tratamento

    mais humanitário com direitos de acesso e participação, assim como, requisitavam suporte

    social, econômico, físico e instrumental para o processo de inclusão.

    Ressalta-se, contudo, que a partir da década de 1980 inúmeros documentos legais em

    todo o mundo foram criados para garantir a efetivação desta tão solicitada inclusão. No

    Brasil, o precursor jurídico legal foi a Constituição de 1988, que aponta que o atendimento

    educacional especializado do deficiente deve ser, preferencialmente, na rede regular de

    ensino. Em seguida, há a aprovação do Estatuto da Criança e do Adolescente em 1990 e da

    Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB, em 1996, que aponta novos caminhos

    para a Educação Inclusiva e traça um percurso progressivo da educação infantil ao ensino

    superior.

    No contexto mundial, destacam-se: a Conferência Mundial sobre Educação para

    Todos, realizada na cidade de Jomtien, na Tailândia, que solicita a universalização de acesso

    e promoção de igualdade a Educação Básica. A Declaração de Salamanca, na Espanha, em

    1994, da qual o Brasil é signatário, que reafirma a necessidade de educação para todos e

    defende a criação de escolas integradoras para atender as especialidades dos alunos; e em

    1999, a Convenção Interamericana para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação

    contra as Pessoas Portadora de Deficiência, realizada pela Organização dos Estados

    Americanos -OEA, na Guatemala, que foi promulgada no Brasil, em 2001, e, cuja finalidade

    foi reforçar medidas para redução de barreiras físicas e atitudinais enfrentadas pelas pessoas

    com deficiência.

  • 21

    No entanto, é uma visão ingênua acreditar que a igualdade conquistada apenas no

    plano jurídico seria suficiente para sua efetivação no meio social, as representações sobre a

    deficiência que permeiam tanto os ambientes educacionais quanto os profissionais não são e

    nem serão desconstruídas unicamente por força de bases legais, mas, devem ser repensadas e

    resignificadas cotidianamente nos contextos sociais, porque também foram construídas,

    historicamente, com base nos parâmetros em que a sociedade estabeleceu por meio das

    relações de trabalho.

    A INCLUSÃO EXCLUDENTE DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA E O PROEJA

    COMO ALTERNATIVA DE INCLUSÃO

    A aparente inclusão proposta pela sociedade ao deficiente é engodo, visto que ao se

    analisar, ideologicamente, a trajetória da humanidade, foi possível observar que em todos os

    momentos a aparente inclusão educacional e profissional destinada ao deficiente serviu

    mesmo para a manutenção das relações de produção. Sendo assim, toda vez que se

    propunham inclusão ao indivíduo com deficiência, na verdade, o que delineava-se era um

    pano de fundo de exclusão, e, quanto mais se deflagrou inclusão social mais se excluiu.

    Contemporaneamente, o processo de inclusão, está pautado na democratização da

    educação e dos postos de trabalho, que são idealizados pelo sistema capitalista, com base na

    política de mundialização do capital, nascida da liberalização quase total do capital que para

    desenvolver-se e valorizar-se, não tem regulamentação e consequentemente tende a promover

    polarizações e desigualdades de distribuição a nível mundial. Estas diferenças de distribuição

    de riquezas no mundo tende a acirrar o discurso em torno da integração, da equidade, da

    tolerância e do respeito às diferenças, isto é, quanto mais excluídos do processo de

    valorização do capital, maior é a retórica a favor da promoção de oportunidades educativas a

    todos e do respeito à diversidade e da inclusão social.

    Entretanto, outro fator a ser considerado é que o desenvolvimento da ciência e da

    tecnologia trouxe uma acentuada automação dos processos produtivos, e assim, o que no

    início do capitalismo foi uma alternativa para inserção do deficiente físico nos postos de

    trabalho, devido a facilidade na manipulação das máquinas, agora, tornou-se uma justificativa

    para redução do número de vagas nas indústrias e consequentemente a exclusão de inúmeros

    trabalhadores da produção, porque há uma exigência maior de qualificação e conhecimento

    específico para atender a demanda do capital. Produzindo consequentemente uma força de

  • 22

    trabalho excedente, aumentando o desemprego e gerando uma precarização do trabalho em

    todo o mundo.

    Estas profundas alterações no mundo do trabalho, cria uma barreira intransponível aos

    deficientes, dificultando o ingresso destes sujeitos no meio trabalhista, porque no confronto,

    força de trabalho e capital é atribuída à educação o papel de qualificação para o mercado,

    colocando a certificação e escolarização como fator preponderante de mudança de vida destes

    indivíduos.

    Segundo Frigotto, houve uma significativa alteração no sistema educacional, no que

    tange a formação técnico-profissional. Essa mudança ocorreu no plano organizativo e no

    político-pedagógico, suas consequências foram manifestadas nas forças econômicas e

    políticas.

    Nas décadas de 1970 e 1980 o que preponderava era teoria do capital humano:

    Assim como no mundo da produção todos os homens são “livres” para ascenderem socialmente, e esta ascensão depende única e exclusivamente do esforço, da capacidade, da iniciativa, da administração racional dos seus recursos, no mundo escolar a não-aprendizagem, a evasão, a repetência são problemas individuais. Trata-se de falta de esforço, da “não-aptidão”, da falta de vocação. Enfim, a ótica positivista que a teoria do capital humano assume no âmbito econômico justifica as desigualdades de classe, por aspectos individuais; no âmbito educacional, igualmente mascara a gênese da desigualdade no acesso, no percurso e na qualidade de educação que tem as classes sociais (FRIGOTTO 2001, p .67)

    No entanto, a partir dos anos 90, o que prepondera não é mais essa teoria, cujo

    objetivo era buscar a integração de todos que fossem preparados e qualificados, e quando

    estes obtivessem estes atributos garantiriam o posto de trabalho e ascensão numa determinada

    carreira. Hoje, a ordem capitalista é outra, a perspectiva ideológica é de não buscar a inserção

    de todos os qualificados, mas daqueles que obtiverem competência específica reconhecida

    pelo mercado, é a chamada educação pautada na pedagogia das competências, a qual valoriza

    aquilo que os indivíduos aprendem por si mesmos, tem-se como foco os processos de

    aprendizagem, em detrimento dos conteúdos, o mais importante é o como e não o que se

    aprende (RAMOS, 2002).

    Esta ideologia educacional deu sustentação à teoria neoliberal capitalista, que

    direcionava políticas públicas ajustando os critérios para os interesses das imposições do

    capital internacional. A educação como um instrumento de poder do capital para sustentação

    do modo de produção vigente utilizou e ainda utiliza do discurso ideológico da pedagogia das

    competências para excluir a maioria da população dos bens socialmente produzidos.

  • 23

    Logo, a onda de acordos internacionais, entre eles, a Conferência Mundial de

    Educação par todos, a Declaração de Salamanca, entre outros, que já foram citados no texto,

    foram intensificados na década de 1990 com a justificativa de preparação dos sistemas

    educacionais para inserção no mundo globalizado, mas que, de fato, foram utilizados como

    instrumentos para disseminação da manutenção do capitalismo, observem o que diz o Parecer

    CNB/CEB n. 17/2001 sobre a educação profissional do aluno com necessidades educacionais

    especiais:

    A educação profissional é um direito do aluno com necessidades educacionais especiais e visa à sua integração produtiva e cidadã na vida em sociedade. Deve efetivar-se nos cursos oferecidos pelas redes regulares de ensino públicas ou pela regular de ensino privada, por meio de adequações e apoios em relação aos programas de educação profissional e preparação para o trabalho, de forma que seja viabilizado o acesso das pessoas com necessidades educacionais especiais aos cursos de nível básico, técnico e tecnológico, bem como a transição para o mercado de trabalho (BRASIL, 2001, p.60).

    Este documento elaborado pelo MEC, está calcado claramente nos 4 pilares propostos

    por Delors (1998) para educação do século XXI, estes princípios são os pilares da pedagogia

    das competências, são eles: Aprender a Conhecer, aprender fazer, aprender a ser e aprender a

    conviver. Segundo Duarte, trata de um lema que sintetiza uma concepção educacional voltada

    à formação, nos indivíduos, da disposição para uma constante e infatigável adaptação à

    sociedade regida pelo capital (2003, p.11).

    No discurso capitalista, a educação torna um remédio para o desemprego, isto é,

    ideologicamente, atribui a responsabilidade ao indivíduo pela falta de sucesso profissional,

    pois aqueles que não conseguem se inserir no mercado de trabalho, devido há vários motivos

    e inclusive pela falta de qualificação, são considerados os próprios culpados por sua situação.

    Ressalta-se ainda, que este fenômeno é agravante no que diz respeito aos deficientes,

    porque historicamente a formação a eles proposta limitava-se as oficinas de trabalhos

    manuais, o que Kuenzer denomina de “certificação vazia”, estratégias de escolarização

    constituídas em modalidades aparentes de inclusão que fornecerão a justificativa, pela

    incompetência, para a exclusão do mundo do trabalho, dos direitos e das formas dignas de

    existência (2002, p.93).

    Em outros termos, é falsear a educação, ou seja, democratiza o processo de inserção

    do indivíduo deficiente, através da matrícula, mas não garante uma formação ampla

    intelectual para que este sujeito tenha uma efetiva inclusão profissional.

  • 24

    Nesta perspectiva, a busca pela equidade e pela responsabilidade passa a ser uma

    responsabilidade de cada indivíduo. Assim, se é difícil para uma pessoa dita normal, ingressar

    no mundo do trabalho, neste contexto, a pessoa com deficiência enfrenta de forma mais

    acentuada essa inserção enquanto trabalhador, haja vista que não tem as mesmas

    oportunidades que os outros indivíduos têm em relação a formação intelectual e profissional,

    assim como, não atende aos padrões de “beleza” comumente aceitos e valorizados.

    Esta realidade, consequência de concepções teóricas, construídas com base no projeto

    burguês de educação, impôs a dicotomia social do capital, embasada no conflito trabalhador

    X capital ao meio educacional, disseminando, portanto, uma educação para o trabalhador,

    submetida à necessidade do capital de reproduzir a força de trabalho como mercadoria, e de

    uma educação de caráter geral, clássico e científico destinada à formação das elites dirigentes.

    A dualidade, destas relações de produção, permeou não apenas a educação

    apresentada ao deficiente, mas, este caráter excludente do ensino, colaborou para que uma

    imensa gama de pessoas fossem excluídas da educação formal, marcando a vida de inúmeros

    trabalhadores que não estão no perfil de normalidade física e psicológica, instituídos na

    sociedade isto é, durante séculos muitos indivíduos foram privados de acesso à escola, e,

    quando esta estava disponível, tinha o objetivo de manter os mecanismos econômicos

    vigentes, porque apesar de permitir o acesso não garantia a permanência.

    E foi neste ínterim, que a Educação de Jovens e Adultos, surgiu como uma política

    compensatória para estes sujeitos que tiveram seu direito privado durante muitos anos. Esses

    jovens retornam, por meio da EJA, certos da falta que faz a escolaridade em suas vidas,

    acreditando que não conseguem postos de trabalho e lugares de emprego pela baixa

    escolaridade, desobrigando o sistema capitalista da responsabilidade que lhe cabe pelo

    desemprego estrutural. Entretanto, esta característica de compensação que marcou esta

    modalidade de ensino, trouxe mais malefícios que benefícios, no afã de incluir esses jovens e

    adultos, não houve a preocupação de oferecer uma educação apropriada para este público,

    que possui peculiaridades educativas e sociais muito distintas da educação regular.

    É nítida a semelhança de exclusão que tanto a Educação destinada ao deficiente como

    a Educação proposta aos Jovens e Adultos sofreram em suas trajetórias históricas, já que

    ambas vivenciaram uma realidade social de marginalidade, cujos direitos básicos foram

    negados.

    Desta forma, o PROEJA despontou como uma alternativa para uma efetiva inclusão,

    cuja finalidade, é articular teoria-prática, entre o saber e o saber fazer. O pressuposto

    referencial do Programa é preparar o aluno para uma formação integral em todos os níveis e

  • 25

    não apenas um técnico para ingressar no trabalho. Pretende ser uma formação integral, focada

    não no mercado produtivo, mas, em uma concepção de educação que possibilite o

    desenvolvimento cultural, social e que atenda as exigências de ordem familiar, do mundo do

    trabalho e do exercício da cidadania.

    Salienta-se, que este programa busca atender a todos os indivíduos que foram

    excluídos do sistema de educação ou a ele não tiveram acesso nas faixas etárias denominadas

    regulares, seja por demandas socioeconômicas ou por outras especificidades, é o que diz o

    documento.

    ...a construção de uma identidade própria para novos espaços educativos, inclusive de uma escola de/para jovens e adultos. Em função das especificidades dos sujeitos da EJA (Jovens, adultos, terceira idade, trabalhadores, população do campo, mulheres, negros, pessoas com necessidades educacionais especiais, dentre outros), a superação das estruturas rígidas de tempo e espaço presentes na escola é um aspecto fundamental. (BRASIL, 2007, p. 41).

    Portanto, o PROEJA, apresenta-se como uma alternativa de inclusão para o deficiente

    físico, sensorial e mental, que foi excluído do processo de educação, ou quando nele foi

    incluído, desistiu, e tem uma formação apenas parcial, porque, por conta do próprio processo

    de exclusão sofrido desde o início da humanidade, existe uma parcela muito grande destes

    sujeitos que são jovens e adultos e não possuem formação básica, sendo assim, o PROEJA,

    por apresentar uma característica integradora nasce como uma opção a estes sujeitos.

    CONSIDERAÇÕES FINAIS

    Diante do exposto neste estudo, foi possível constatar que existe uma complexa teia de

    elementos que interferem na relação deficiência e mundo do trabalho.

    Embora se veicule o discurso da inclusão educacional e profissional para as pessoas

    com deficiência, observa-se ao analisar os fatos históricos, que há uma continuidade na

    situação de exclusão social que é acentuada pela política dos meios de produção que a

    sociedade vem instituindo.

    Apesar da relevante alteração quantitativa na inserção destes indivíduos ao processo

    educacional e profissional, principalmente após o movimento mundial que se delineou em

    torno da democratização da educação, há um fosso entre a abertura educacional e a efetiva

    ascensão social destes sujeitos.

    A democratização do ensino e do campo profissional não significa apenas o acesso

    dos estudantes à escola, configurada em uma matrícula em um estabelecimento de ensino, ou

  • 26

    mesmo a implantação de legislação que institui cotas para a entrada destes indivíduos nos

    mecanismos de produção do capital, mas, sobretudo, democratizar é promover a permanência

    destes sujeitos nos estudos e no mundo do trabalho, dando-lhes acessibilidade e

    oportunidade de interferência para que possam promover mudanças sociais, econômicas e

    culturais na sociedade.

    Neste sentido, muitas propostas na educação profissional tidas como inclusivas,

    serviram como mecanismos para reforçar a exclusão porque não consideraram o contexto

    social em que as relações de produção se deram e não descortinaram para os alunos os

    conflitos existentes na sociedade do capital.

    Sendo assim, diante destes inúmeros equívocos que nossa sociedade impôs ao

    deficiente é nossa responsabilidade assegurar ao jovem e adulto deficiente físico, sensorial ou

    mental, mecanismos de permanência e ascensão social e profissional é uma obrigação legal e

    histórica que a sociedade tem com esse indivíduo.

    Portanto, o desafio deste estudo foi mostrar que a luta do trabalhador com deficiência

    física, sensorial ou mental não deve ser compreendida em separado do processo de educação

    e de construção dos mecanismos de produção, em que a sociedade esteve inserida, ao

    contrário, deve ser entendida a partir desta lógica, favorecendo uma maior reflexão sobre as

    contradições sociais e contribuindo para a elevação da consciência sobre o trabalho nesta

    sociedade capitalista.

    REFERÊNCIAS

    BRASIL. CNE/CEB. Parecer nº 17. Dispõe sobre as Diretrizes Nacionais para a Educação Especial em Educação Básica. Brasília, 2001. _______. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília. DF, Senado Federal, 1988. _______. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei número 9394, 20 de dezembro de 1996. _______.MEC/SETEC. Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos: Ensino Médio/Técnico – PROEJA: Documento Base. Brasília, 2007. DUARTE, Newton. Sociedade do conhecimento ou sociedade das ilusões? Quatro ensaios crítico-dialéticos em filosofia d educação. Campinas, SP: Autores Associados, 2003. FRIGOTTO, Gaudêncio. A produtividade da escola improdutiva. 6 ed. São Paulo: Cortez, 2001.

  • 27

    KUENZER, Acácia. Exclusão includente e inclusão excludente: a nova forma de dualidade estrutural que objetiva as novas relações entre educação e trabalho. In: LOMBARDI, José Claudinei; SAVIANI, Dermeval; SANFELICE, José Luis (Org.). Capitalismo, trabalho e educação. Campinas, SP: Autores Associados, HISTEDBR, 2002. GUHUR, M.L.P. Representação da deficiência mental: esboço de uma abordagem histórica. 1992. Dissertação (Mestrado em Educação) - Universidade Metodista de Piracicaba, Piracicaba. GLAT, Rosana. Pesquisa em Educação Especial na Pós-Graduação. Viveiros de Castro Editora Ltda.: Rio de Janeiro, 1998. PESSOTTI, Isaias. Deficiência Mental: da Superstição à Ciência. São Paulo: Queiroz/EDUSP. 1984. RAMOS. Marise. A educação profissional pela pedagogia das competências e a superfície dos documentos oficiais. Educ. Soc., Campinas, vol. 23, n. 80, setembro/2002, p. 401-422. SILVA, Otto Marques da. A Epopéia Ignorada – a pessoa deficiente na história do mundo de ontem e de hoje – São Paulo: CEDAS, 1986.

  • 28

    A RELEVÂNCIA DA AFETIVIDADE PARA O TRABALHO PEDAGÓGICO

    Leandro de Assis Duarte3

    Resumo

    Este trabalho propõe uma revisão bibliográfica a respeito da afetividade vinculada ao trabalho docente e discente, sua relevância no tocante a suas implicações para com a educação em seus processos pedagógicos; em tempos de evolução tecnológica e cientifica sem precedentes na história, ainda ocorrem falhas quanto ao papel da educação e do fazer pedagógicos como elementos de efetiva humanização, de socialização positiva para promoção da justiça e consequente paz social enquanto totalidade. Para isso revisamos obras dos autores: Freire, Dussel, Vygotsky e Wallon; pensadores da educação, da filosofia e da psicologia; que são referenciais indiscutíveis na concepção de uma educação plena, pautada no objetivo de emancipação e libertação do homem; no contexto de uma situação ainda vigente de opressão e dominação do homem pelo homem na presente organização social; visão de educação como processo social e histórico libertador, do qual a afetividade não pode ser negada, e sim deve servir de mediação nas relações pedagógicas pautadas pela alteridade, vislumbrando a exterioridade e na busca dialética de uma nova totalidade. Palavras-chave: Afetividade. Pedagogia. Educação.

    Falar da possível relação entre o trabalho pedagógico e o campo das relações afetivas

    ou afetividade, não é algo de menor importância, ou um tema movido por certa ingenuidade

    ou sentimentalismo. Parte da convicção de que o homem é um ser total, em seus aspectos:

    biológico, psicológico, e social; ou seja, um ser integral; dotado de toda uma complexidade e

    singularidade, totalidade e substantividade, ao considerarmos a diversidade apresentada por

    cada ser. A educação deve contemplar essa integralidade do ser e não negligenciar nenhum

    aspecto do desenvolvimento humano, incluindo a afetividade como fenômeno também

    verificável no cotidiano das escolas e outros espaços de intervenção educacionais.

    Nos últimos tempos temos observado um desenvolvimento científico e tecnológico

    extraordinários, sem precedentes na história, a ciência tem conquistado inúmeros avanços,

    novas descobertas com imenso potencial para benefício da humanidade, aumento da

    capacidade de produção, avanços na medicina, uma verdadeira revolução na área de

    tecnologias da informação. Vivemos na era digital, do compartilhamento de conhecimentos,

    da comunicação de massa, do uso das redes sociais. Mas observamos também na atualidade

    algumas mazelas graves, tais como: a incidência de doenças, com destaque para as patologias

    da mente, tais como depressão, ansiedade e estresse; outras questões de saúde como o abuso

    de drogas, tanto as lícitas como as ilícitas. Socialmente, a condição de pobreza persistente nas

    periferias do mundo, também se faz presente. As questões de saúde decorrem de um estilo de 3 Prefeitura Municipal de Camaçari / CEPEC. [email protected]

  • 29

    vida patológico, a chamada vida moderna, da correria, da falta de tempo. As questões sociais

    emergem principalmente no campo das necessidades materiais, para o provimento das

    condições de vida satisfatórias para grande parte da população mundial, que ainda não foram

    resolvidas, não por uma condição de escarces, por deficiência econômica, e sim, por uma

    questão de negação da possibilidade de uma divisão social da produção; e não temos

    indicadores de esforços políticos com essa intencionalidade, de sanar tais questões, que teriam

    como consequência um mundo mais justo, mais humano.

    O mundo mudou, ou melhor, o modo de vida das pessoas mudou, é a questão do ter

    ou ser? Mais enfática; determinada pelo sistema econômico dominante, o capitalismo. É a

    situação de desvalorização do homem, o homem antes produtor, passa a condição de produto,

    de mercadoria, e isso não se constitui uma novidade histórica, pois fomos marcados pela

    prática da escravidão. Numa sociedade capitalista e tecnocrata, o homem é visto como um

    abundante elemento; que compõe uma macroestrutura econômica, e, portanto, elemento de

    fácil descarte e substituição. Anda muito em voga o discurso da humanização na educação, na

    saúde, entre outros campos de atuação social. Mas será que o homem deixou de ser humano e

    necessita ser humanizado novamente? Ou será que nunca chegamos a desenvolver todo nosso

    potencial humano, na essência do termo? Tais questões possuem implicações para a educação

    e passam pela esfera da afetividade como referência básica do ser humano.

    A educação reflete sempre a sociedade que a estabelece, e que determina suas

    demandas prioritárias, pois a educação não é hermética, os atores sociais que fazem a

    educação, participam da vida social em geral. Além do fato da educação tradicional fazer

    parte do aparelho ideológico do estado, e visar à manutenção de um modelo de sociedade;

    numa perspectiva mais atualizada, o mercado é o grande determinante do ponto de vista

    ideológico; da definição do modelo de educação e sociedade.

    Dentro de uma análise mais sociológica, o mercado não educa, condiciona as pessoas,

    objetivando a determinação de comportamentos, no âmbito do consumo prioritariamente. A

    educação crítica, resultante de um trabalho concretamente pedagógico, deve superar tais

    condicionamentos, oportunizando a dialogicidade, a livre escolha, a emancipação,

    possibilitando o pleno desenvolvimento do ser, dentro de uma coletividade ou meio social.

    Promover o debate sobre a relevância da afetividade no trabalho pedagógico, e

    consequentemente na educação, é antes de tudo, potencializar a formação integral da pessoa

    humana, em toda sua riqueza, subjetividade, diversidade, liberdade e beleza. O

    desenvolvimento de relações afetivas no contexto das práticas pedagógicas se faz necessário

    não apenas como aprendizagem de cunho socializante e vivencial, mas como opção

  • 30

    pedagógica, que promove um elemento de mediação para a eficácia e eficiência do processo

    de ensino aprendizagem. Mesmo quando o ensino é de cunho técnico e científico.

    Outra ideia é tornar o ambiente da sala de aula mais harmônico, no que tange a

    convivência dos atores envolvidos no fazer pedagógico, por um fator até mesmo fisiológico,

    onde o gostar seja uma realidade presente, gostar do outro, gostar da escola, gostar das

    atividades, gostar de estudar, gostar de debater, gostar de conhecer, gostar de si; gostar de

    viver; gostar de estar junto com o outro. Aprendizagem afetiva que implique em benefícios

    não apenas individuais, mas coletivos; com a promoção do bem-estar social, de tal forma que,

    o conhecimento e a ciência estejam a serviço do homem, da melhoria do modo de vida das

    pessoas, de uma vida mais salubre; educação convergente para a emancipação das pessoas, e

    construção de uma nova realidade social de âmbito mundial; os meios já se encontram

    disponíveis, falta à vontade, vontade política, vontade humanística, vontade afetiva.

    A dimensão humana da educação deve ter como base a consideração da relevância e

    papel da afetividade como gênese da própria categoria humana. A afetividade deve ser a base

    para a formação do senso ético e moral do ser; pois não se trata de um mero conhecimento

    procedimental; como um estudante pode fazer escolhas éticas, sem antes ter vivenciado a

    dimensão afetiva? A promoção de uma educação que considere o aspecto afetivo constitui

    uma premissa de uma pedagogia que busca a totalidade e substantividade do ser (DUSSEL,

    1997); educação não fragmentada ou dicotômica, como os condicionamentos mercadológicos,

    mas uma pedagogia completa. O aspecto social da educação, a escola como um

    desdobramento da vida social, a educação como processo histórico e social, percorre o

    caminho da vida afetiva dos seus agentes. A afetividade como condição natural do homem, é

    mais que uma questão de desenvolvimento fisiológico, pois o homem em suas interações com

    o mundo, culturalmente, constrói todo um repertorio de conhecimento no que tange as

    relações afetivas, as suas escolhas afetivas.

    Segundo a psicologia do desenvolvimento, a construção inicial da afetividade ocorre

    preliminarmente ao desenvolvimento cognitivo, sendo constante durante toda a vida humana,

    e colaborando com o desenvolvimento motor e cognitivo em condição plena (WALLON,

    2007). E ao considerarmos a dimensão sociointeracionista da educação (VYGOTSKY, 1991);

    a experiência afetiva é condição para que tal processo seja executado, pois dela decorrem os

    vínculos sociais, tão importantes para possibilitar interações, que resultam em aquisição de

    conhecimentos. A afetividade serve como possibilidade de mediação para o próprio trabalho

    pedagógico, e não se trata de uma estratégia metodológica, ou conteúdo procedimental; mas

    se trata de uma práxis própria; cunhada para além da ética educacional, se trata de uma

  • 31

    concepção de valorização humana, do ser em relação ao outro ser, da exterioridade como

    defende (DUSSEL, 1997); da valorização da vida, da biofilia defendida por (FREIRE, 2013),

    tais pressupostos indicam uma busca pela libertação do homem. Libertação no sentido mais

    amplo; do oprimido, do opressor, do homem que deve ter o direito de ser feito humano.

    A afetividade é uma ampla possibilidade no contexto educacional, além de servir como

    meio, deve também ser objetivo da práxis pedagógica, como um dos fins da educação, o

    desenvolvimento afetivo pleno das pessoas. Devemos ensinar afetividade nas escolas, educar

    para além do conhecimento instrumental, como substancialidade da própria educação. No

    Brasil, nas realidades sociais de severas condições de vida, dentro de um contexto de

    desagregação familiar, até mesmo de violência doméstica; o educador de escola pública deve

    estar atento a essas circunstancias, que demandam sim um trato mais humano, práxis

    pedagógica que seja elemento gerador de emoções positivas, de satisfação do estudante em

    sua tarefa de aprendizagem. Em muitos casos a escola constitui uma importante referência na

    vida social do estudante, que constrói a sua identidade social, e define os elementos

    constitutivos da sua personalidade. O foco na formação da pessoa humana deve extrapolar o

    cognitivo, pois através da formação integral, supera-se a fragmentação da formação escolar

    pela lógica do mercado. O discurso da inteligência emocional traz uma abordagem mais

    psicológica, como recurso instrumental para a eficiência do processo de ensino e

    aprendizagem, todavia não enfatiza a construção de uma saúde emocional, a partir das

    relações sociais e afetivas, que devem ser ampliadas em todas as possibilidades e

    potencialidades educacionais.

    A sociedade capitalista foca o esforço individual, a competitividade; não educa para as

    possibilidades de construções pautadas na cooperação, lastreadas na solidariedade, enquanto

    um dos valores característicos da humanidade, valores por excelência. A competitividade

    típica do mercado se faz presente na escola, competição institucionalizada de um sistema

    seletivo e excludente, é a negação da própria justiça social. Educação dos processos seletivos

    é a negação de oportunidades, pois não considera a diversidade pessoal. Uma educação

    inclusiva, efetiva socialmente, deve ser pautada não numa tentativa de estabelecer a igualdade,

    mas sim uma ideia de equidade, dentro da diversidade, numa tentativa de evitar grandes

    distorções no que se refere ao desenvolvimento das pessoas, vai além da paz social, para o

    estabelecimento de sociedades mais harmônicas. A educação é um campo de projetos, e,

    portanto, deve objetivar intervenções de grandes proporções na estrutura social; a educação

    sozinha não muda a sociedade, mas sem sua contribuição à sociedade não é modificada

    (FREIRE, 2013).

  • 32

    Quanto ao fazer pedagógico, a salubridade do meio é fundamental para a eficácia do

    processo. Um ambiente de sala de aula deve favorecer a criação de situações de aprendizagens

    mais agradáveis; e isso tem a ver com afetividade. A relação com o outro, também é muito

    importante na construção dessa ambiência pedagógica; pois o outro constitui o objeto

    principal dos afetos; cabe aos agentes pedagógicos, valorizar as atitudes de amizade,

    cordialidade, respeito, solidariedade, cooperação, altruísmo. As relações interpessoais são

    elemento-chave numa pedagogia afetiva, o tratamento que o professor dispensa ao aluno, a

    receptividade, o acolhimento, a atenção, o interesse, o comprometimento; são percebidos

    pelos alunos, e geralmente resulta numa maior proximidade, e no estabelecimento de uma

    relação professor-aluno diferenciada; no sentido de um apuramento da percepção que o

    professor tem dos alunos, e de uma maior atenção e interesse por parte dos alunos; elementos

    inegavelmente convergentes para o sucesso do trabalho pedagógico. A dimensão afetiva no

    contexto do trabalho pedagógico, contribui para o processo de ensino-aprendizagem; como já

    dissemos, serve como mediação da própria ação educativa; e para além da mediação, constitui

    também objeto do fazer pedagógico. A educação como fator de socialização e consequente

    humanização, deve oportunizar a construção de relações afetivas. Essa abordagem não

    desconsidera a finalidade técnica ou mesmo científica da educação, mas coloca a afetividade

    como possibilidade indispensável na construção coletiva de conhecimentos, e não mera

    instrução, como um dos objetivos da educação, enquanto processo histórico e social.

    Quando o professor passa a dar mais atenção à questão da afetividade, não ocorre a

    negação do caráter técnico do fazer pedagógico; e sim a criação de uma ambiência realmente

    motivacional, estimulante, para a apreensão de saberes, incluindo os saberes relacionados à

    vida afetiva. A essência da questão pedagógica é conhecer o que desperta o interesse de

    aprender dos alunos; podemos inferir que os vínculos afetivos trazem essa possibilidade. O

    despertar da aprendizagem abrange tanto o conteúdo, como também a forma. O compromisso

    com o fazer pedagógico não é gerado pela pura disciplina, pela noção da importância da

    formação escolar, a motivação deve ser antes de tudo, afetiva. A educação deve ser

    estabelecida além da obrigatoriedade, escolhas devem ser oportunizadas dentro das

    possibilidades curriculares, desertar o real interesse de aprender ainda constitui uma questão

    central da pedagogia contemporânea.

    É claro que o elenco dos conteúdos a serem estudados não pode ficar a critério dos

    discentes, por não terem conhecimento suficiente para tal escolha; mas cabe estimular, o

    despertar pelo real interesse de estudar; o que (FREIRE, 2013) chama de curiosidade

    epistemológica, que pode ter a afetividade como um elemento desencadeador de tal situação.

  • 33

    Muitos alunos relatam dificuldade em relação à determinada disciplina ou professor; outros

    relatam facilidade em aprender determinada matéria ou com determinado professor, seria uma

    questão apenas metodológica? A didática certamente percorre o caminho da dimensão afetiva

    da educação, dos sujeitos da educação, dos educandos e educadores que todos somos

    simultaneamente e constantemente. Cabe à pedagogia contemplar a totalidade e exterioridade,

    conforme (DUSSEL, 1997), respaldando a opção pela ênfase na dimensão afetiva da

    educação.

    Quanto as nuances do trabalho pedagógico, o embasamento técnico e metodológico da

    tarefa docente, devem ser completados pela construção de uma situação de caráter afetivo,

    vale frisar que a vinculação afetiva entre os agentes pedagógicos, não se resume a criação de

    um ambiente escolar mais harmônico, pois essa construção deve ser objeto constitutivo da

    própria educação. A escola é o desdobramento social da família, e dentro de um contexto

    atual, de crise da família, com as novas configurações; a escola deve estar mais atenta a sua

    imediata função, ou função prioritária, a preparação para a vida em sociedade. A concepção

    de escola está interligada ao modelo de sociedade. Dentro da dialética própria da pedagogia,

    consta a base para a reformulação das próprias estruturas sociais. A educação tecnológica

    contribuiu sim para o progresso mundial, embora esse progresso não se encontra ao alcance de

    todos, falta a justa distribuição dos recursos decorrentes desses avanços. Uma questão ainda

    por resolver, é a questão do desenvolvimento social, principalmente no contexto das periferias

    do mundo, tendo como exemplos: a América latina, a África, e Ásia. Em um mundo

    globalizado, constatamos que tal processo não ocorreu ainda no plano dos benefícios sociais

    para a maioria da população do mundo, vale enfatizar, a periferia do mundo, os que se

    encontram a margem das nações desenvolvidas.

    A educação afetiva é ecológica e busca o equilíbrio das relações humanas, numa

    tentativa de superação das meras relações de poder, da exploração do homem pelo homem;

    tendo a cooperação e solidariedade como valores balizadores. O pleno desenvolvimento social

    tem por decorrência, a contribuição para o enfrentamento de questões tais como

    marginalização e desigualdade social. Outra possibilidade é um olhar mais próximo sobre o

    outro, o outro que integra a nossa realidade social, o outro que sendo ajudado, pode colaborar

    mais intensamente para a promoção do bem-estar social, que deveria ser objetivo primeiro da

    sociedade. No Brasil, verificamos ainda um grande atraso no desenvolvimento social, e a

    educação deve ter participação ativa para a superação desta realidade. O progresso deve estar

    a serviço do homem, e não o homem a serviço do progresso. O progresso educacional efetivo

    passa pelo desenvolvimento do homem, sua humanização, e, portanto, sua vinculação afetiva

  • 34

    com os demais sujeitos da vida social. A opção pela atenção a afetividade no contexto

    educacional, constitui uma educação de cunho social, o que vai de encontro ao sistema

    vigente, o capitalismo, o neoliberal. As demandas sociais são gritantes, e os educadores por

    terem acesso à base da sociedade, se deparam no dia a dia, com suas problemáticas, e suas

    consequências imediatas, como a marginalidade e a violência extremas.

    A educação não deve se prender a abordagens fixas, há a necessidade de reformulação

    da práxis pedagógica sempre, cabe ao professor estar atento e sensível à realidade que emana

    socialmente, reconstruindo a sua ação em prol de ganhos sociais e coletivos, que por

    consequência beneficiam a cada sujeito em sua subjetividade enquanto indivíduos. Dentro do

    contexto da escola pública, de realidades sociais tão graves, os educadores têm muito a

    contribuir, com a formação humana plena das pessoas, pois o professor não é um mero

    instrutor de técnicas e procedimentos pedagógicos, pautados pelo conhecimento científico. A

    construção coletiva do conhecimento, pautada pela dimensão afetiva das relações sociais,

    deve ser o grande referencial da educação. A educação inclusiva não se estabelece apenas ao

    possibilitar o acesso de todos a escola, mas a inclusão efetiva deve ser condicionada pela

    oportunidade de pleno desenvolvimento dos indivíduos, considerando suas especificidades, e

    suas potencialidades diversas. A educação deve incluir também os indivíduos em situação de

    vulnerabilidade social, a escola deve significar inclusão social de fato, não na perspectiva do

    mero assistencialismo, mas dentro de uma conduta crítica e emancipatória da educação. A

    condução da educação dentro de uma abordagem afetiva, potencializa o protagonismo dos

    sujeitos, dos atores do processo educativo, rompendo com a caracterização dos sujeitos como

    meros objetos do sistema educacional.

    A construção coletiva do conhecimento, em uma concepção critica emancipatória,

    pautada por uma abordagem afetiva; possibilita o dialogo efetivo entre toda a comunidade

    escolar, considerando uma gestão escolar democrática e participativa. Sair do formato passivo

    de educação e do modelo de apenas reprodução dos conhecimentos produzidos socialmente e

    historicamente transmitidos, é afirmar o grau ativo dos sujeitos, dentro do cenário

    educacional, é incentivar a própria dialética educacional, não se trata de um repertório teórico

    novo, mas da aplicação desses pressupostos; tendo como elemento motivacional especial, a

    referida afetividade.

    A práxis pedagógica é eminentemente afetiva, o fazer diário do professor requer

    dedicação, atenção, real interesse pelos alunos e suas realidades, dentro de uma finalidade

    realmente educacional; não se trata de mera instrução científica, de condicionar

    comportamentos; mas de educar, educação plena, totalizante. A escola constitui um

  • 35

    microcosmos social, muito importante para o exercício da socialização e valorização dos

    educandos, que muitas vezes apresentam situação de vulnerabilidade social; a educação

    representa alternativas de vida para as pessoas. A educação como efetiva inclusão social,

    promotora da justiça social e do bem-estar social, deve ter a dimensão do afeto entre os seres,

    como elemento de mediação em toda atividade humana; colaborando com o processo de

    conscientização das pessoas e da constante busca de uma vida melhor para todos, de afeto, de

    amor!

    REFERÊNCIAS

    DUSSEL, Enrique. Filosofia da Libertação na América Latina. São Paulo: Loyola, 1997. FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 2005. ______. Pedagogia do Oprimido. São Paulo: Paz e Terra, 2013. VYGOTSKY, Lev Semyonovich. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1991. WALLON, Henri. A evolução psicológica da criança / Henri Wallon; com introdução de Èmile Jalley; tradução Claudia Berliner; revisão técnica Izabel Galvão. São Paulo: Martins Fontes, 2007. – (Coleção psicologia e pedagogia)

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    CONSTRUINDO MATERIAL DIDÁTICO APOIADO NA CULTURA DO CORDEL

    Adriana Leite Campos4

    Rosângela da Luz Matos5

    Lucimere Barbosa Santos6 Resumo Projeto de intervenção desenvolvido com alunos 6º ano do Ensino Fundamental II, com o objetivo metodológico desenvolvido por cinco oficinas, trabalhando respectivamente a cultura Nordestina; exposição conceitual do cordel, origens, características, estrutura poética, elementos alegóricos e variações escrita; elaboração de poemas em cordel e xilogravuras que acompanhariam os poemas; finalizando com a produção de folhetos, poesias de cordel e xilogravuras. Deste projeto resultou a Revista dinâmica Cordel Encantado. Atualmente sou estudante do mestrado profissional Gestão e Tecnologias Aplicadas à Educação, no qual desenvolvendo materiais didáticos em forma de cordel, apoiados na cultura e história local fortalecendo o ensino de linguagens e literatura na rede de ensino fundamental II. Palavras-chave: Material didático. Cultura. Cordel.

    JUSTIFICATIVA

    Este projeto de intervenção pretende desenvolver materiais didáticos na forma de

    Revista, utilizando a Literatura de Cordel como prática educacional nas disciplinas de

    Português e Literatura Brasileira com a finalidade de trabalhar os conteúdos gramaticais,

    variações e preconceitos linguísticos no ensino fundamental II do Colégio Estadual Juracy

    Magalhães Junior na localidade de Chacha Pregos.

    A pesquisa surgiu durante o primeiro estágio da disciplina de literatura do curso de

    Letras7 e consistia na observação e desenvolvimento de projetos da Cultura Nordestina na

    Escola Municipal Margarida Moreira no ano de 2011. Já no ano de 2012 cumpri um segundo

    estágio complementar no Colégio Estadual Juracy Magalhães Junior, ambos situado na

    localidade de Cacha Pregos em Vera Cruz – BA. Lá também foram desenvolvidas atividades

    com a Cultura Nordestina.

    O projeto Cultura Nordestina foi desenvolvido em duas etapas. A etapa um teve por

    público alvo os professores das áreas de Português e Literatura e a etapa dois incluía alunos e

    4 UNEB. [email protected] 5 UNEB. [email protected] 6 UNEB. [email protected] 7 FACE - Faculdade de Ciências Educacionais, 2010.1. Valença - BA.

  • 37

    professores. As estratégias didáticas desenvolvidas foram: oficinas, seminários e outras

    atividades dinâmicas que visavam à construção de rimas, folhetos de cordel e xilogravuras.

    O objetivo do projeto Cultura Nordestina pretendia aproximar de alunos e professores

    a cultura popular registrada na literatura de cordel, ressaltando a importância da oralidade,

    bem como o olhar poético, artístico e crítico sem deixar de incorporar os aspectos sociais às

    práticas de leituras e produção textual.

    Esses professores e estudantes tiveram acesso a aulas de literatura envolvendo a

    prática de construção de cordel, enfatizando a criatividade e recriação poética na utilização de

    recursos tecnológicos diversificados, entre esses o cordel, a música popular nordestina, a rima

    sertaneja e a arte na produção de xilogravura. Essas experiências foram recebidas por alunos e

    professores com desenvoltura, principalmente na produção de folhetos e xilogravuras,

    considerada uma inovação no contexto da sala de aula.

    Desta experiência, deixo em anexo, o trabalho de uma aluna que produziu um folheto

    de cordel com xilogravura com o título ´´A AIDS``8. Neste a jovem abre sua xilogravura com

    um preservativo e desenvolve seu cordel apoiada na poética de Patativa do Assaré, um dos

    autores apresentados aos alunos. Patativa usava de sua poética para citar fatos do cotidiano de

    um povo de forma criativa.

    Se analisarmos o cordel desta estudante percebe-se que a dinâmica desenvolvida na

    produção da xilogravura, complementam-se com a vida e experiência cotidiana de um jovem,

    e que o cordel elaborado por ela não descuidou dos aspectos ligados com a aprendizagem da

    língua portuguesa, seja gramática sintática e variável. Este era um dos objetos do projeto

    Cultura Nordestina, levar o estudante a interagir literariamente com a língua normativa

    utilizando-se da produção de folhetos, cordéis e xilogravuras.

    Esta prática resultou na elaboração de uma Revista de Cordel já no formato de material

    didático instrucional e que pode ser utilizado junto ao fundamental l e II, e que agora

    apresento como produto tecnológico a ser desenvolvido no mestrado profissional GESTEC.

    8 Bárbara Caroline dos Santos. Título: ´´A AIDS``, ano 2013.

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    OBJETIVOS

    Objetivo Geral

    Desenvolver materiais didáticos para o ensino de Língua Portuguesa e Literatura

    Brasileira com alunos do ensino fundamental II utilizando a cultura do cordel.

    Específicos

    • Desenvolver oficinas de sensibilização com professores das disciplinas de Língua

    Portuguesa e Literatura Brasileira do ensino fundamental II para fomentar a construção de

    materiais didáticos apoiados na cultura do cordel.

    • Desenvolver oficinas de construção de materiais didáticos com professores e alunos

    das disciplinas de Língua Portuguesa e Literatura Brasileira do ensino fundamental II tendo a

    cultura do cordel como referências: construção de rimas, folhetos de cordel e xilogravuras.

    • Desenvolver uma Revista de Cordel no formato de material didático para integrar o

    ensino de Língua Portuguesa e Literatura Brasileira no ensino fundamental II.

    PROPOSIÇÃO DA PROPOSTA DE TRABALHO

    Este projeto de intervenção tem seus fundamentos na literatura de cordel que pode ser

    definida por Cascudo (1994) e Araújo (2007) como uma crônica poética da história popular.

    Uma narrativa, em verso, na qual um povo fala de seus modos de vida, suas experiências

    históricas e origens.

    Outro teórico que inspira o uso da literatura popular nos processos de ensino

    aprendizagem é Paulo Freire, especialmente nos aspectos metodológicos. Este autor refere

    que ´´educar é como viver, exige a consciência do inacabado`` e do mundo vivo, de modo tal

    que a história e o cotidiano sejam contemplados nas metodologias e didáticas do ensino

    praticadas.

    Para Freire o aspecto central no processo educativo é a afirmação da liberdade e

    autonomia e para alcança-lo é preciso apoiar-se na história, memória e cultura viva de um

    povo. Para atingir estes objetivos, diz o autor, a prática educativa deve observa