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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS Programa de Pós-Graduação em Administração Mestrado Acadêmico em Administração O PAPEL DE PRÁTICAS DE ESTRATÉGIA NO APRENDIZADO ORGANIZACIONAL: Um estudo de caso em uma empresa do setor elétrico Ana Thereza Novaes Magalhães Belo Horizonte 2012

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS

Programa de Pós-Graduação em Administração

Mestrado Acadêmico em Administração

O PAPEL DE PRÁTICAS DE ESTRATÉGIA NO

APRENDIZADO ORGANIZACIONAL:

Um estudo de caso em uma empresa do setor elétrico

Ana Thereza Novaes Magalhães

Belo Horizonte

2012

Ana Thereza Novaes Magalhães

O PAPEL DE PRÁTICAS DE ESTRATÉGIA NO

APRENDIZADO ORGANIZACIONAL:

Um estudo de caso em uma empresa do setor elétrico

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Administração da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Administração.

Orientadora: Profª. Drª. Ângela França Versiani.

Belo Horizonte

Pontifícia Universidade Católica - PUC

2012

FICHA CATALOGRÁFICA

Elaborada pela Biblioteca da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais

Magalhães, Ana Thereza Novaes

M188p O papel de práticas de estratégia no aprendizado organizacional: um estudo

de caso em uma empresa do setor elétrico / Ana Thereza Novaes Magalhães.

Belo Horizonte, 2012.

101f.: il.

Orientadora: Ângela França Versiani

Dissertação (Mestrado) – Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.

Programa de Pós-Graduação em Administração.

1. Aprendizagem organizacional. 2. Estratégia. 3. Energia elétrica – Indústria

– Estudo de casos. I. Versiani, Ângela França. II. Pontifícia Universidade

Católica de Minas Gerais. Programa de Pós-Graduação em Administração. III.

Título.

CDU: 658.011.8

Ana Thereza Novaes Magalhães

O PAPEL DE PRÁTICAS DE ESTRATÉGIA NO APRENDIZADO ORGANIZACIONAL:

Um estudo de caso em uma empresa do setor elétrico

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Administração da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Administração. Área de concentração: Gestão estratégica das organizações

Profª. Drª Ângela França Versiani (Orientadora) – PUC Minas

Prof. Dr. Luiz Alex Silva Saraiva - UFMG

Prof. Dr. Sérgio Fernando Loureiro Rezende – PUC Minas

Belo Horizonte

2012

Dedico este trabalho a

Marcos e Waldênia.

AGRADECIMENTOS

À minha orientadora, Professora Doutora Ângela França Versiani, pelo

compromisso e rigor, que sem dúvida tornaram este trabalho mais valioso. Por

todo o aprendizado.

A todos os meus colegas e professores do PPGA, que fizerem desse curso uma

experiência incrível. Em especial, à Maria Luiza, que tive o prazer de reencontrar,

e a Kátia Tofoli, Sarah e Walmor. Ao professor Doutor Sérgio Rezende e

Professora Doutora Liliane Guimarães, cujas contribuições para o projeto de

pesquisa nortearam o aperfeiçoamento deste trabalho.

A meus pais, pelo esforço para minha formação e compreensão nos momentos

de minha ausência ao longo de todo mestrado, por me incentivarem e torcerem

sempre, por todo amor. Aos meus queridos irmãos, Quel e Pedro, por todas as

contribuições para este trabalho, todos os helps (!) e incentivos, pelas longas

conversas...

Ao meu querido Marcos, pela presença marcante e carinhosa nessa trajetória, de

muitos incentivos, generosidade, amor, carinho e paciência, principalmente pelos

tantos momentos de ausência. Mostrando-me que sempre é possível ir além dos

limites e que tudo que se faz na vida tem que valer a pena, tornou minha vida e

essa travessia mais prazerosa e gratificante.

À Pat, pelas discussões, incentivo, pelos textos e amizade. À Rosinha, presença

de muita luz e sabedoria em todos os momentos. À Kamila e Ana Cláudia, pela

amizade e troca de experiências do mundo acadêmico. A Elenice, pelo apoio,

carinho e torcida. A Lúcia e Marcelo, pelos sábios ensinamentos e acolhimento.

Aos colegas e amigos da Cemig. A Débora Lage, Eduardo e Soares pela

oportunidade de realização do mestrado e a pesquisa na empresa; Eldésio, pelas

palavras acolhedoras; Renata Cardoso pelo apoio costumeiro; Débora Alvarenga

e João Paulo, pela valiosa contribuição e por abrirem as portas para a realização

da pesquisa. A todas as pessoas entrevistadas e a Kátia Teixeira, Fernanda,

Gladimir, Rômulo e Rafael Marques, que gentilmente compartilharam comigo o

seu tempo e valioso conhecimento.

A Magda Roquette e Sérgio Mendes, pela realização dos trabalhos de transcrição

e revisão.

A todos, muito obrigada!

RESUMO

Este trabalho teve por objetivo compreender e analisar os efeitos de práticas de implementação de estratégia sobre o aprendizado organizacional. Mediante tal objetivo, foi elaborado um referencial teórico que apresentasse as limitações das abordagens prescritivas em estratégia, os avanços da abordagem processual e o estabelecimento da estratégia como prática. Ao final, buscou-se estabelecer um diálogo entre a perspectiva da estratégia como prática e a temática da aprendizagem organizacional, ressaltando as suas convergências. Foi adotada a pesquisa de natureza qualitativa, com a utilização do método de estudo de caso único, tendo os dados sido coletados por meio de conversas informais, entrevistas semiestruturadas, documentos da empresa e observação direta, adotando-se a técnica de triangulação de dados. Estes foram tratados mediante a construção de narrativa sobre o processo de implementação da estratégia de crescimento da Cemig, por meio de fusões e aquisições no período de 2003 a 2012 e mediante a análise de conteúdo. Os resultados da análise revelaram que, embora a organização tenha aprendido, esse aprendizado não foi oriundo da práxis e implementação da estratégia, mas do processo formal de estratégia. Sendo assim, concluiu-se que as atividades de implementação e práxis de estratégia ainda são tratadas como secundárias para o desenvolvimento e renovação do processo estratégico. Os indivíduos que não são considerados estrategistas exercem pouca influência nas definições da estratégia e na construção de novas práticas para ação. Palavras-chave: Aprendizagem organizacional. Estratégia como prática. Implementação. Strategizing.

ABSTRACT

The purpose of this study was to understand and analyze the strategy implementation effects on the organizational learning. With this goal, a theoretical referential was constructed to present the limitations of the prescriptive approach in strategy, the advances in the procedural approach and the establishment of strategy as practice. Finally, it was sought the establishment of a dialog between the strategy perspective as practice and the theme of the organizational learning, emphasizing their convergences. It was adopted the qualitative research, using the method of the single case study, and the data were collected through informal conversations, semi-structured interviews, the company documents and direct observation, adopting the technique of data triangulation. These data were dealt with through the construction of narrative about the process of implementation of Cemig development strategy through mergers and acquisitions in the period from 2003 to 2012, and through the content analysis. The analysis results showed that, although the organization had learned, this learning was originated not from the praxis and strategy implementation, but from the strategy formal process. Thus, the conclusion was that the activities of strategy implementation and praxis are still treated as secondary for the strategic process development and renewal. The individuals that are not considered strategists have little influence on the strategy definitions and on the construction of new action practices. Keywords: Organizational learning. Strategy as practice. Implementation. Strategizing.

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AO Aprendizagem Organizacional

BOVESPA Bolsa de Valores de São Paulo

BSC Balanced Scoredcard

CEMIG Companhia Energética de Minas Gerais

CN/CE Gerência de Controle Empresarial das Controladas e Coligadas

CPE Comitê de Planejamento Estratégico

CRC Conta de resultado a compensar

DDN Diretoria de Desenvolvimento de Negócios

DFN Diretoria de Finanças e Relações com Investidores

DGT Diretoria de Geração e Transmissão

DPC Diretoria de Projetos de Construção

EATE Empresa Amazonense de Transmissão de Energia S/A.

EBITDA Earnings before interest, taxes, depreciation and amortization

ECP Estratégia como prática

EPM Enterprise Project Management

IAPN Índice de Aderência ao Plano de Negócios

IBGC Instituto Brasileiro de Governança Corporativa

NESA Norte Energia S.A.

PMI Project Management Institute

PMP Project Management Professional

PUC Pontifícia Universidade Católica

RAC Reunião de Análise Crítica

SPE Sociedade de Propósito Específico

TBE Transmissoras Brasileiras de Energia

UNISA União de Transmissoras de Energia Elétrica

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figuras

FIGURA 1 - Moldura da investigação empírica.............................................. 39

FIGURA 2 - Triangulação de técnicas de coletas e fontes de informações ... 45

Quadros

QUADRO 1 - Respondentes e unidades organizacionais............................... 48

QUADRO 2 - Categorias de análise................................................................ 51

QUADRO 3 - Principais aquisições e investimentos em greenfield do

período de 2003 a 2011............................................................................

61

SUMÁRIO1

1 INTRODUÇÃO............................................................................................ 14

2 A PERSPECTIVA DA ESTRATÉGIA COMO PRÁTICA E O

APRENDIZADO ORGANIZACIONAL...........................................................

19

2.1 Abordagens prescritivas em estratégia versus abordagens

processuais...................................................................................................

19

2.2 A perspectiva da estratégia como prática............................................. 25

2.3 A aprendizagem organizacional gerada pelas práticas da estratégia 30

2.4 Síntese da discussão teórica e moldura da investigação empírica.... 38

3 METODOLOGIA.......................................................................................... 42

3.1 Estratégia de pesquisa e unidade empírica de análise........................ 42

3.2 Estratégia de coleta de dados................................................................ 44

3.3 Estratégia de análise de dados.............................................................. 49

4 IMPLEMENTAÇÃO DA ESTRATÉGIA DE CRESCIMENTO DA CEMIG

POR MEIO DE FUSÕES E AQUISIÇÕES.....................................................

52

4.1 Caracterização da empresa e de sua estratégia de crescimento........ 52

4.2 Concepção e primeiros sinais da estratégia de crescimento – 2003

a 2006..............................................................................................................

54

4.3 A consolidação da estratégia de crescimento – 2007 a 2012.............. 59

4.3.1 Estratégia e mudanças organizacionais............................................ 63

4.3.2 Práticas da estratégia: atividades e ferramentas............................. 65

4.4 Discussão dos resultados da pesquisa............................................... 73

4.4.1 Mudanças e o aprendizado organizacional....................................... 74

4.4.2 Práxis de estratégia e aprendizado organizacional.......................... 78

1 Este trabalho foi revisado de acordo com as novas regras ortográficas aprovadas pelo Acordo

Ortográfico assinado entre os países que integram a Comunidade de Países de Língua

Portuguesa (CPLP), em vigor no Brasil desde 2009. E foi formatado de acordo com a ABNT NBR

14724 de 17.04.2011 e com o Manual da PUC, 2006.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................................... 85

5.1 Principais conclusões............................................................................ 85

5.2 Contribuições, limitações e sugestões para pesquisas..................... 87

REFERÊNCIAS.............................................................................................. 89

APÊNDICES E ANEXOS................................................................................ 96

14

1 INTRODUÇÃO

A pesquisa em estratégia denominada de estratégia como prática (ECP) vem se

desenvolvendo nos estudos organizacionais, desde o final da década de 1990,

(CLEGG; KORNBERGER; CARTER, 2009; WALTER; AUGUSTO, 2011) como

uma agenda de pesquisa alternativa às teorizações convencionais de estratégia

formuladas sob a ótica do racionalismo econômico (CLEGG; KORNBERGE;

RHODES, 2005; WHITTINGTON, 2004). A perspectiva da ECP desafia tal

racionalidade ao conceber a estratégia como um movimento não linear,

decorrente da ordem interacional produzida por meio das práticas das pessoas

envolvidas com a sua implementação. Assim, estudos de ECP, como os de Chia

e Mackay (2007), Jarzabkowski (2003; 2004), Jarzabkowski, Balogun e Seidl

(2007), Jarzabkowski e Seidl (2008), Johnson, Melin e Whittington (2003) e

Whittington (1996, 2003a; 2003b; 2004; 2006; 2007), tratam a estratégia como

uma prática social, como algo que é produzido pelas pessoas no dia-a-dia,

imbuído por contextos específicos. Nessa linha, a estratégia refere-se a “uma

construção a partir de ações e interações de múltiplos atores e as práticas a que

recorrem os praticantes” (JARZABKOWSKI; BALOGUN; SEIDL, 2007, p. 8). A

perspectiva da ECP apresenta, então, uma nova concepção da estratégia ao

introduzir a noção do aspecto prático e da relevância da interação entre práticas,

práxis e praticantes para construção da estratégia, denominada strategizing.

A noção de strategizing revela que a formulação e implementação não são pólos

distintos do processo estratégico, mas um conjunto de dinâmicas simultâneas

acessadas em sua própria execução. O strategizing concebe o processo

estratégico como sendo circular, menos analítico e formal, dando atenção aos

elementos que conduzem à criação e renovação da estratégia na prática diária

(CROSSAN; BERDROW, 2003; HEDBERG; WOLFF, 2001; VANTTINEN;

PYHALTO, 2009). Ao valorizar as habilidades não analíticas, imanentes ao

processo estratégico, a noção do strategizing se aproxima muito das referências

da aprendizagem organizacional (AO). A perspectiva da aprendizagem

organizacional reconhece que mudanças organizacionais ocorrem devido ao ciclo

compreendido pelos processos de intuição, interpretação, integração e

15

institucionalização do conhecimento. A partir de loops de feedback desses

processos, o aprendizado pode desencadear-se, elaborando novos

conhecimentos, os quais atuam como causa e efeito da formulação e

implementação da estratégia (CHAKRAVARTHY; WHITE, 2002; CROSSAN;

BERDROW, 2003; CROSSAN; LANE; WHITE, 1999).

Os conceitos de aprendizagem e strategizing reconhecem a justaposição entre

ordem e desordem (WEICK; WESTLEY, 2004) e ressaltam a importância do

compartilhamento de significados e ações entre os níveis do indivíduo, grupo e

organização (CROSSAN et al., 1995; WEICK, 1991) para a efetividade da

estratégia. Por isso, abordar o fenômeno da estratégia sobre a ótica da

aprendizagem organizacional e da estratégia como prática permite o avanço do

campo da estratégia para além dos limites das teorizações convencionais, uma

vez que concebe-se a estratégia como um caminho de descoberta (HEDBERG;

WOLLF, 2001), um processo com descontinuidades, complexo, imbuído de

percepções e interações humanas (HEDBERG; JONSSON, 1977).

Assim, a dicotomia entre formulação e implementação de estratégias, própria das

teorias tradicionais de estratégia, se esvai. Isso porque tais etapas são abordadas

como partes interconectadas de uma mesma dinâmica, a qual possui

desdobramentos para as pessoas, para as organizações e para a sociedade

(WHITTINGTON, 2004). Portanto, a abordagem da estratégia como prática

rompe com a imparcialidade modernista expressa pela teoria tradicional

econômica, em direção a uma abordagem de cunho mais sociológico, em que o

fenômeno da estratégia se caracteriza como uma prática social imbuída de

incertezas e contradições (WHITTINGTON, 2004).

As abordagens da AO e ECP contribuem para o entendimento da estratégia a

partir de um viés social e sobre a importância da institucionalização do

conhecimento. Essas abordagens enfatizam a descrição de micropráticas e de

microprocessos que geram efeitos em contextos mais amplos, os quais por sua

vez, influenciarão novas ações e práticas organizacionais e sociais (CHIA;

MACKAY, 2007; JARZABKOWSKI; BALOGUN; SEIDL, 2007). O diálogo passível

16

entre essas abordagens oferece uma lente mais acurada para se avaliar os

resultados da implementação de estratégias.

Por essa lente, a dinâmica da formulação e implementação pressupõe práticas,

que, por sua vez, podem desencadear aprendizado para que a organização

aumente a sua capacidade de ajustar-se a um ambiente de mudanças rápidas

(FIOL; LYLES, 1985; DOGSON, 1993), alcançando mais competitividade,

produtividade e inovação (DOGSON, 1993). O desenvolvimento da estratégia

possibilita mudanças nas práticas da organização, por meio do aprendizado ou

conhecimento incoporado, produzindo impacto na sobrevivência e sustentação da

organização ao longo do tempo (FIOL; LYLES, 1985).

Embora por um lado seja reconhecido o diálogo entre a abordagem da

aprendizagem organizacional e da estratégia como prática, por outro lado

constata-se a deficiência de investigação empírica aplicando a teoria da

aprendizagem organizacional em observações de renovação estratégica,

conforme relatado por Crossan e Berdrow (2003). Jarzabkowski (2004) também

enumera alguns questionamentos que podem ser respondidos cruzando as duas

abordagens. Entre eles, a autora sugere que ainda precisa ser esmiuçada a

questão de como as “práticas são apropriadas com a finalidade de alcançar as

metas e as necessidades dos atores por uma dada empresa e quais são as

consequências dessa utilização sobre o comportamento adaptativo ou recursivo

da empresa” (JARZABKOWSKI, 2004, p. 550).

A constatação de escassez de estudos acadêmicos que relacionam as duas

abordagens foi confirmada pelos resultados da pesquisa bibliográfica realizada

para este trabalho. Foram consultados, no segundo semestre de 2010, periódicos

internacionais relevantes do campo da estratégia e estudos organizacionais,

como Strategic Management Journal, Management Learning, Organization

Science, Administrative Science Quaterly e Management Decision, com as

palavras-chave “learning and strategy implementation”; “organizational learning

and strategy implementation”; “strategizing”; “learning and strategy”; e

“strategizing, learning”. O número de artigos válidos identificados para a pesquisa

foi reduzido e pouco representativo, não chegando a 1% do resultado obtido na

17

busca, que foi de aproximadamente de 2500 artigos. Nova pesquisa foi realizada

no primeiro semestre de 2011 pelos periódicos mencionados e também em base

de dados como a “Emerald”, “EBSCO”, “Social Science”, sendo o resultado

bastante similar ao da busca anterior.

Nesse mesmo semestre de 2011, foi realizado levantamento bibliográfico em

periódicos e bases de dados nacionais. Foram consultados os periódicos Revista

de Administração de Empresas (RAE), Revista de administração contemporânea

(RAC), Revista de Administração da USP (RAUSP), Revista de Administração do

Mackenzie (RAM), Organizações e sociedade e Gestão.org, a base de dados

Scielo e todos os encontros promovidos pela ANPAD, tais como Encontro de

estudos organizacionais (EnEO) e Encontro da ANPAD (EnANPAD). As palavras-

chaves utilizadas foram “aprendizagem organizacional e implementação de

estratégia”; “aprendizagem e implementação de estratégia”; “strategizing”;

“aprendizagem e estratégia”; “strategizing, aprendizagem”; “Implementação de

estratégia”; “Estratégia como prática”. Com os resultados, constatou-se que as

pesquisas possuem foco em entender a perspectiva da ECP, discutindo as suas

implicações para o ensino de estratégia e institucionalização nos estudos

organizacionais, bem como mapeando os seus possíveis delineamentos

metodológicos, sem estabelecer conexão direta com os referenciais da

aprendizagem organizacional. Exemplos desses estudos são os de Souza Filho e

Rigo (2007); Walter e Augusto (2009, 2011) e Santos e Tureta (2010).

Portanto, a constatação da escassez de pesquisas empíricas capazes de

promover o diálogo entre as abordagens da aprendizagem organizacional e da

estratégia como prática motivou o presente estudo, assim como a relevância

desse vínculo tanto para o campo teórico como para o empírico. Esse diálogo,

estabelecido no referencial teórico, pretendeu responder a indagação assim

formulada: Como práticas de estratégia e o aprendizado organizacional se

relacionam?

18

No sentido de responder tal pergunta foi desenvolvida uma pesquisa na

Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), um dos mais importantes

grupos do segmento de energia elétrica do país. O objetivo desta pesquisa foi o

de compreender e analisar como as práticas de implementação de estratégia

influenciam o aprendizado organizacional. Portanto, foram analisadas as práticas

de implementação de estratégia de crescimento por meio de aquisições da

Cemig, que se constitui um dos principais direcionadores da organização no longo

prazo e traduz os desafios de sua visão de futuro com diversos desdobramentos

em suas unidades organizacionais. Analisou-se o processo de implementação

dessa estratégia durante o período de 2003 a 2012, com o recorte metodológico

da pesquisa qualitativa. Para essa análise adotou-se a triangulação dos dados

obtidos por meio de conversas informais, entrevistas semiestruturadas,

documentos da empresa e do setor, bem como observação direta. Os dados

foram tratados mediante a construção da narrativa sobre a história do processo

de implementação mencionado e promovida a análise de seu conteúdo.

Este trabalho foi estruturado em cinco capítulos, descritos a seguir. O primeiro

refere-se a esta “Introdução”, que situa a discussão proposta. O segundo capítulo

denominado “A Perspectiva da estratégia como prática e o aprendizado

organizacional” apresenta a revisão da literatura, buscando estabelecer o diálogo

entre ECP e AO. No terceiro capítulo “Metodologia”, é descrito o método de

pesquisa, detalhando-se o tipo de estudo, suas unidades de análise; as técnicas

de coleta de dados; e a estratégia adotada na análise dos dados. No quarto

capítulo, intitulado “Implementação da estratégia de crescimento da Cemig por

meio de fusões e aquisições”, expõem-se os dados da pesquisa, bem como sua

discussão mediante procedimentos de análise. Por fim, o quinto capítulo,

intitulado “Considerações finais”, traz as principais conclusões, as contribuições

deste trabalho, suas limitações e sugestões para pesquisas futuras.

19

2 A PERSPECTIVA DA ESTRATÉGIA COMO PRÁTICA E O

APRENDIZADO ORGANIZACIONAL

Este capítulo apresenta a revisão de literatura que guia o quadro teórico da

pesquisa realizada. Nessa revisão busca-se estabelecer o diálogo entre a

perspectiva da estratégia como prática e a temática da aprendizagem

organizacional.

O capítulo é organizado em quatro seções. A primeira seção, intitulada

“Abordagens prescritivas em estratégia versus abordagens processuais”, discute

as limitações das abordagens prescritivas em estratégia e mostra os avanços da

abordagem processual à compreensão da gestão estratégica. A segunda seção,

com a denominação “A perspectiva da estratégia como prática”, detalha os

elementos conceituais próprios dessa abordagem, especificando o que constitui o

fenômeno do strategizing. A terceira seção, com o título “A aprendizagem

organizacional gerada pelas práticas da estratégia”, descreve a relação e

convergência entre as perspectivas da estratégia como prática e da

aprendizagem organizacional, delineando o enfoque teórico utilizado na

investigação empírica. Por fim, a quarta seção sintetiza a discussão teórica e

sumariza tal enfoque.

2.1 Abordagens prescritivas em estratégia versus abordagens processuais

Os estudos sobre gestão estratégica têm sido atualmente classificados em duas

grandes perspectivas. De um lado, a perspectiva normativa ou prescritiva,

identificada com as teorias econômicas ou os enfoques racionais; e de outro a

descritiva, mais próxima das teorias sociológicas ou das abordagens processuais

(JARZABKOWSKI; BALOGUN; SEIDL, 2007; JARZABKOWSKI; SEIDL, 2008;

WHITTINGTON, 2004).

20

Sob a perspectiva normativa, de cunho racional e econômico, a noção de

estratégia está vinculada à definição de objetivos, análise sistemática e técnicas

de planejamento (ANDREWS, 1980; ANSOFF, 1965). As estratégias são

concebidas e planejadas pelos gestores e implementadas pelo nível operacional,

em uma perspectiva na qual a ação é resultado imediato da intenção formalizada

(VANTTINEN; PYHALTO, 2009). O lado racional e prescritivo do processo de

concepção e implementação é destacado e o plano estratégico tratado como

sendo derivado de uma ideia deliberada, formal, que é bem-sucedida se seguir a

ordem formulação, implementação e controle (MINTZBERG; AHLSTRAND;

LAMPEL, 2003). A estratégia é construída e reproduzida em planejamento formal,

a partir de análises e previsão de cenários de longo prazo, por um grupo de

estrategistas distanciado de quem a implementa.

Essas características centrais da perspectiva normativa decorrem das origens da

escola de planejamento estratégico. Ansoff (1965) e Porter (1980) são

considerados autores típicos dessa abordagem, uma vez que promulgam a

necessidade de se planejar o futuro, mediante “análise de uma grande quantidade

de dados de planejamento de longo alcance e decisões racionais” (CLEGG;

KORNBERGER; CARTER, 2009, p. 39; MINTZBERG; AHLSTRAND; LAMPEL,

2003). O pensamento desses autores repercute na concepção moderna de

gestão que considera os executivos do topo da pirâmide executiva como

pensadores estratégicos, cujo papel é conceber e comandar a implementação da

estratégia pelos demais níveis inferiores da hierarquia (CLEGG; KORNBERGER;

CARTER, 2009). Para a visão prescritiva da estratégia existe um plano formal que

será cumprido sem que haja interferências dos processos cognitivos, sociais e

políticos envolvidos na implementação (DE VIT; MEYER; MINTZBERG apud

VANTTINEN; PYHALTO, 2009).

Entretanto, adaptações a situações não previstas e mudanças inesperadas no

desenvolvimento da estratégia não conseguem ao todo ser contempladas no

plano formal. A desconsideração quanto ao processo emergente da estratégia é

considerada uma das limitações das teorias prescritivas e normativas da

estratégia (MINTZBERG, 1994; MINTZBERG; AHLSTRAND; LAMPEL, 2003;

PETTIGREW, 1992). Em seu artigo “A ascensão e queda do planejamento

21

estratégico”, Mintzerg (1994) argumenta que a grande falácia do planejamento

estratégico é considerar o planejamento como a elaboração da estratégia em si.

Essa afirmativa sustenta a ideia de que a corrente normativa não reconhece a

importância dos eventos e interações que acontecem na construção da estratégia

no momento de sua implementação.

Essa limitação é, segundo Mintzberg (1994), resultado da combinação de três

pressupostos equivocados sobre gestão estratégica. O primeiro é a possibilidade

de prever cenários futuros. O autor argumenta ser muito difícil a uma organização

antecipar inovações tecnológicas, variação em preços, descontinuidades de

processos e serviços. Hedberg e Wolff (2001) corroboram as críticas de Mintzberg

(1994) quando afirmam que as previsões feitas em planejamentos estratégicos

sustentam-se em ideologias ou imagens distorcidas sobre o futuro. O segundo

pressuposto incorreto sobre gestão estratégica diz respeito à dicotomia entre

formulação e implementação, segregando dois tipos de estrategistas, de um lado

pensadores e de outro, os executores. O terceiro equívoco é tratar a estratégia

como reificação, contemplando exclusivamente a formulação do plano.

Esses equívocos, de acordo com Mintzberg (1994), devem ser superados. A

elaboração da estratégia é um processo de aprendizagem da organização. No

entanto, cabe relembrar: sistemas formais não podem aprender. A aprendizagem

envolve o desenvolvimento de insights e de conhecimentos provenientes de

associações feitas entre ações passadas e a reflexão sobre a eficácia dessas

ações no presente, bem como de suas projeções ao longo do tempo (FIOL;

LYLES, 1985). A aprendizagem implica observação, reflexão, ação, mudança

cognitiva e comportamental (HEDBERG, 1981). A abordagem prescritiva não

contempla esse movimento, tratando a estratégia de forma dicotômica ao separar

formulação e implementação. Nesse sentido, dissocia o pensamento da ação, a

ação da reflexão e a reflexão da retroalimentação necessária às correções dos

rumos estratégicos (MINTZBERG; AHLSTRAND; LAMPEL, 2003). Essa crítica

requer conceber a gestão estratégica como um processo interativo, não

necessariamente linear, moldado por interesses e compromissos dos indivíduos e

grupos, alterações no meio ambiente e no contexto da tomada de decisões

(PETTIGREW, 1987).

22

As limitações da abordagem prescritiva têm sido gradativamente suprimidas

desde a década de 1970, quando os pesquisadores iniciaram um movimento para

identificar o ajuste entre estratégia, organização e desempenho (HEDBERG;

WOLFF, 2001). Nessa década, evidências empíricas demonstraram que a

implementação e a formação da estratégia estavam descoladas do plano formal,

o que provocou a crítica em relação ao formalismo do planejamento. Nesse

cenário, Mintzberg (1978) introduziu a noção de estratégias emergentes. Para o

autor, diferentemente de estratégias pretendidas e deliberadas, as emergentes

são as que nunca foram planejadas, mas foram obtidas ao longo do caminho

desenvolvido pelas empresas. Implícita nessa noção, portanto, está o fato de que as

estratégias emergem a partir do aprendizado das pessoas a respeito de uma

situação e conforme a capacidade da organização em lidar com as diferentes

situações com as quais deparam em seu ambiente.

Segundo Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2003, p. 199), “as organizações podem

aprender reconhecendo padrões em seus próprios comportamentos, convertendo

estratégias emergentes do passado em estratégias deliberadas para o futuro”. A

estratégia emergente reconhece a capacidade da organização para experimentar

e aproveitar situações não previstas, possibilitando o aprendizado estratégico. A

compreensão retrospectiva de situações que envolveram melhores práticas,

deficiências, falhas ou erros tem o potencial de gerar novas ações estratégicas.

De acordo com Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2003, p. 199), o comportamento

emergente, “que parece ser a própria antítese do planejamento, pode, sob certas

circunstâncias, informá-lo, provendo novas e criativas estratégias para

programar”.

Tais críticas fortaleceram a perspectiva do processo em estratégia. Pettigrew

(1997, p. 337) define processo como “uma sequência de eventos, ações,

atividades individuais e/ou coletivas que se desenrolam ao longo do tempo em um

dado contexto”. A perspectiva de processo examina a emergência da estratégia

organizacional, tendo como elementos de análise questões relacionadas ao

tempo, à estrutura, à emergência e ao desenvolvimento estratégico (CHIA;

MACKAY, 2007). A noção de processo envolve entender como e por que os

eventos evoluem ao longo do tempo e a influência dos indivíduos e grupos no

23

desenvolvimento da estratégia (LANGLEY, 1999). O foco de pesquisa da

perspectiva do processo refere-se às atividades de indivíduos e organizações e à

sequência de eventos e relações causais que conduzem à mudança

organizacional (VAN DE VEN, 1992).

Van de Ven (1992) argumenta que o termo processo é utilizado de três maneiras

na literatura: como uma lógica para explicar a relação causal entre variáveis

dependentes e independentes; como uma categoria de conceitos ou variáveis

referentes a ações de indivíduos e organizações; e como uma sequência de

eventos que descreve as mudanças ao longo do tempo. Para explicar por que

variáveis independentes (inputs) exercem influência sobre variáveis dependentes

(resultados), o processo é apresentado por meio de histórias ou sequências

lógicas.

A perspectiva do processo, de acordo com Van de Ven (1992), nem sempre é

bem compreendida. O objetivo da análise não é apenas descrever a sequência ou

contar a história, mas identificar padrões de eventos no processo que podem ser

significativos para entendimento do fenônemo estudado (LANGLLY, 1999;

PETTIGREW, 1992). A compreensão de padrões de eventos e atividades centrais

em um dado processo de implementação de estratégias ao longo de um perídodo

pode, por exemplo, levar ao entendimento de como a implementação resultou em

aprendizagem organizacional. Dessa forma, a perspectiva do processo avança

conceitualmente ao reconhecer a interligação temporal dos eventos, conectando

passado, presente e futuro; bem como a influência do âmbito na ação estratégica.

Nesse sentido, desenvolve explicações holísticas e não lineares da evolução da

estratégia (PETTIGREW, 1992).

Johnson, Melin e Whittington (2003) argumentam que a perspectiva do processo

abriu a “caixa preta” da organização e a estratégia passou a ser reconhecida

como um fenômeno organizacional em vez de uma questão macro, separada da

dinâmica interna da organização. Com isso, o campo da estratégia passou a ser

humanizado, com os indivíduos sendo responsáveis pela condução da estratégia

(JOHNSON; MELIN; WHITTINGTON, 2003; PETTIGREW et al., 2002),

aumentando, assim, o potencial para captar aspectos das ações estratégicas

24

realizadas pelas pessoas. De acordo com Johnson, Melin e Whittington (2003), a

abordagem do processo legitimou a pesquisa com estudos aprofundados, como

estudos de casos que se revelaram como fonte de visão contextual, rica e

holística, necessária para o entendimento de fenômenos complexos como o

processo estratégico e sua relação com a mudança e estabilidade (JOHNSON;

MELIN; WHITTINGTON, 2003).

As visões sobre estratégia emergente e perspectiva do processo redirecionaram o

campo da estratégia para uma abordagem mais descritiva, que passou a

considerar a influência de fatores culturais, de poder e do aprendizado contínuo,

com uma visão questionadora da possibilidade irrestrita de intervenção do plano

formal e sua racionalidade absoluta na implementação estratégica (MINTZBERG;

AHLSTRAND; LAMPEL, 2003). A perspectiva de processo vai além da

abordagem do planejamento estratégico para lidar com a os desdobramentos e

abstrações do desenvolvimento da estratégia (VANTTINEN; PYHALTO, 2009). Os

avanços das teorias descritivas permitem a compreensão da estratégia como

socialmente construída e, portanto, intrinsecamente sujeita a descontinuidades,

surpresas e diversidades ambientais tanto internas quanto externas à organização

(PETTIGREW, 1992).

A concepção de processo requer reconhecer as organizações como construções

coletivas e torna-se um meio de desvendar, nas análises, como situações

imprevistas ajudam organizações a se prepararem para demandas de mudanças

rápidas (HEDBERG; WOLLF, 2001). Estratégias são conceituadas como

conjuntos integrados de ideias construídas a partir da interpretação dos

problemas e à luz de como as ações para solucioná-los são inventadas e

selecionadas (HEDBERG; JONSSON, 1977). Tal conceituação não significa que

a estratégia se reduza ao plano formal ou que este seja considerado irrelevante. A

ideia é de que a estratégia pode ser renovada na prática, com mais valorização

das habilidades não analíticas requeridas para sua realização (WHITTINGTON et

al., 2006). Dessa ideia surge a noção do caráter prático da estratégia, ou

strategizing, conceito que informa uma nova concepção sobre a estratégia: a

perspectiva da estratégia como prática.

25

2.2 A perspectiva da estratégia como prática

Strategizing refere-se ao “fazer da estratégia”, é “a construção do fluxo de

atividades a partir de ações e interações de múltiplos atores e as práticas a que

recorrem os praticantes” (JARZABKOWSKI; BALOGUN; SEIDL, 2007, p. 8). O

principal objetivo de se utilizar a noção do strategizing é a possibilidade de

revelar a dinâmica simultânea envolvendo formulação e implementação

estratégicas.

A noção de strategizing reorienta a noção de processo para uma concepção mais

centrada nas práticas. Para Johnson, Melin e Whittington (2003), a investigação

da estratégia como prática consegue abordar mais detalhadamente as atividades

desenvolvidas no fazer da estratégia do que permite a perspectiva do processo.

Apesar de Jarzabkowski e Wilson (2002) argumentarem que prática é uma

extensão do processo, Johnson, Melin e Whittington (2003) acreditam que a teoria

do processo não avança o suficiente no interior da “caixa-preta” da estratégia. Daí

a sua definição: “prática é aquilo que está no interior do processo” (JOHNSON;

MELIN; WHITTINGTON, 2003, p. 11). Assim sendo, de acordo com Johnson,

Melin e Whittington (2003), a estratégia como prática sinaliza uma ruptura com a

perspectiva do processo.

Whittington (2007) compartilha dos argumentos de Johnson, Melin e Whittington

(2003) e utiliza um estudo de caso realizado por Mintzberg (MINTZBERG;

WATERS, 1985; MINTZBERG; MCHUGH, 1985), que ele julga um exemplo

clássico da abordagem processual para explicitar os limites da pesquisa de

processo. E salienta como uma das limitações do estudo não considerar os

elementos do strategizing, que são as práticas, a práxis e os praticantes. Na

perspectiva do processo, a estratégia é identificada com os padrões emergentes

de iniciativas organizacionais, avaliada em extensos períodos de tempo e a

prática da estratégia não é levada em conta, visto que a estratégia é considerada

aquilo que a organização possui, e não um tipo de trabalho exercido pelas

pessoas (JARZABKOWSKI; BALOGUN; SEIDL, 2007; WHITTINGTON, 2007).

26

De acordo com Whittington (2007), o trabalho de Minztberg ajuda a definir as

fronteiras entre a pesquisa de processo e a prática: o foco processual diminui a

práxis de estratégia, pois marginaliza práticas e praticantes (WHITTINGTON,

2007) como fatores que influenciam o resultado organizacional. A abordagem da

prática considera esses fatores como críticos e avança na ênfase das minúcias

dos processos, práticas e práxis de estratégias, ou seja, nas atividades do dia-a-

dia das pessoas (CHIA; MACKAY, 2007) imbuídas em contextos específicos

(WHITTINGTON, 2007).

Cabe ressaltar que a estratégia vista como uma prática social, como algo que as

pessoas fazem, tem efeito descentralizador sobre as proposições tradicionais da

finalidade da estratégia. Tradicionalmente, a estratégia se preocupava com o

desempenho e a vantagem competitiva das firmas (BARNEY, 2002) e os estudos

tendiam a focar os resultados e não as atividades que levariam a eles

(JOHNSON; MELIN; WHITTINGTON, 2003). Consideravam, por exemplo, o

alcance de determinada estratégia organizacional como uma ação estratégica

específica, ignorando as ações e atividades que antecedessem o resultado,

limitando o potencial de análise do processo estratégico. Em contrapartida, a

perspectiva da prática desloca o nível de análise para uma instância abaixo do

nível organizacional macro (WHITTINGTON, 2004), para os processos e

atividades pulverizadas na organização que influenciam ou interagem com a

estratégia e para as pessoas que praticam a estratégia (WHITTINGTON, 2004).

Com isso, não se pretende, contudo, minimizar a relevância do resultado

estratégico, mas compreender as atividades do fazer a estratégia, que são

processos e práticas que constituem as atividades do dia-a-dia de uma

organização e que se relacionam aos resultados estratégicos (JOHNSON; MELIN;

WHITTINGTON, 2003).

Em vez de focalizar a competência central da organização como um todo,

estudiosos da prática se voltam para os indíviduos que fazem a estratégia

(WHITTINGTON, 2002), concentram sua atenção no dia-a-dia de atores e de

como esses atores e suas atividades interagem com o tema (JARZABKOWSKI,

2003). Por isso, a compreensão do microcontexto é uma importante questão para

a perspectiva da estratégia como prática, uma vez que pressupõe que as

27

estratégias não são vistas como aquelas que as organizações possuem, mas

como algo que seus membros fazem (JARZABKOWSKI, 2004; JARZABKOWSKI;

BALOGUN; SEIDL, 2007; JARZABKOWSKI; SEIDL, 2008).

O foco de investigação da abordagem prática é sobre os estrategistas envolvidos

no trabalho real de fazer a estratégia (WHITTINGTON 2002, 2003a), uma vez que

as experiências individuais de agência e a identidade dos indíviduos,

influenciadas por um quadro social, afetam as definições da estratégia

(JARZABKOWSKI; BALOGUN; SEIDL, 2007). Os microfenômenos e a práxis são

entendidos em seu panorama social, uma vez que os atores não agem

isoladamente, mas baseados em definições sociais que tornam suas ações e

interações significativas para os outros (JARZABKOWSKI; SEIDL, 2008). Por

isso, a abordagem da estratégia como prática enfatiza ligações entre perspectivas

micro e macro (JARZABKOWSKI, 2004; JARZABKOWSKI; BALOGUN; SEIDL,

2007; WHITTINGTON, 2006). A estratégia, vista sob a ótica da prática

(JARZABKOWSKI; BALOGUN; SEIDL, 2007; WHITTINGTON, 2006), ocorre por

meio da conexão entre práxis, práticas e praticantes (JARZABKOWSKI;

BALOGUN; SEIDL, 2007; WHITTINGTON, 2006), e não como consequência da

intenção isolada de um ator.

As práticas são os hábitos, artefatos e modelos de ação que modelam a

construção de estratégias (BOURDIEU, 1990; GIDDENS, 1984;

JARZABKOWSKI, 2003). Práticas referem-se às rotinas comuns de

comportamento, incluindo tradições, normas e procedimentos para pensar e agir

(WHITTINGTON, 2006). A prática é “um tipo particular de autorreforço de

aprendizagem semelhante a teorias de aprendizagem de circuito único ou de

aproveitamento” (JARZABKOWISKI, 2004, p. 531). Elas “compreendem a

interligação entre as ações de diferentes indivíduos e grupos e as instituições

socialmente, politicamente e economicamente integradas dentro do qual os

indivíduos agem e para os quais contribuem” (JARZABKOWSKI; BALOGUN;

SEIDL, 2007, p. 9).

Para autores como Whittington (2006), as práticas podem ser específicas da

organização, incorporadas nas rotinas, procedimentos operacionais e culturas que

28

formam os modos locais de estratégias. As práticas também podem ser

decorrentes do âmbito externo à organização, como melhores práticas de

comportamento estratégico, tipos de discurso que informam e legitimam formas

de fazer a estratégia e técnicas específicas para a análise estratégica.

Na conexão do strategizing, as práticas possuem a função de moldar a práxis,

que é um termo enfático para descrever toda ação humana. De acordo com

Whittington (2006), praxis é uma palavra grega que se refere à atividade real, o

que as pessoas fazem. E todas as atividades envolvidas na formulação

deliberada ou na implementação da estratégia e todo trabalho da organização

necessário para construir e executar a estratégia são a práxis do processo

estratégico (WHITTINGTON, 2006).

Os episódios de práxis incluem o trabalho, o falar, as atividades, reuniões do

Conselho de Administração, intervenções de consultoria, apresentações e

competências individuais dos gestores como estrategistas (CHIA; MACKAY,

2007; WHITTINGTON, 2006). O domínio da práxis é amplo, abrangendo

atividades rotineiras e não rotineiras, o formal e o informal, atividades principais e

secundárias da organização envolvidas no trabalho de estratégia

(WHITTINGTON, 2006). Em estudos de estratégia, em particular, devem ser

consideradas como práxis atividades que podem ter consequências para os

resultados estratégicos e que influenciem no direcionamento, vantagem

competitiva e sobrevivência da organização (JARZABKOWSKI; BALOGUN;

SEIDL, 2007; JOHNSON; MELIN; WHITTINGTON, 2003), como, por exemplo,

atividades relacionadas a fusões e aquisições (JARZABKOWSKI; BALOGUN;

SEIDL, 2007).

A práxis de estratégia, então, é a ação humana imbuída de improvisação, que se

baseia em práticas socias disponíveis em configurações organizacionais e do

ambiente (WHITTINGTON, 2006). Práticas e práxis são elementos distintos,

porém interdependentes, sendo que os praticantes, que formam em conjunto com

esses elementos o elo do strategizing, ao refletir sobre as suas ações são

capazes de adaptar as práticas existentes e de sintetizar novas práticas,

permitindo, assim, alterar o ingrediente da práxis (WHITTINGTON, 2006).

29

A pesquisa em estratégia como prática busca compreender e explicar essa

conexão: como as pessoas atuam no trabalho de formular e implementar

estratégias e qual a influência de interações sociais e acesso a recursos

específicos do contexto sobre essa atuação (JARZABKOWSKI, 2003;

JARZABKOWSKI; BALOGUN; SEIDL, 2007; WHITTINGTON, 2006).

Como o domínio da práxis é amplo, abrangendo atividades principais e

secundárias da organização (WHITTINGTON, 2006), torna-se importante delimitar

neste estudo as atividades da organização que são significativas para o

desempenho estratégico e que podem efetivamente gerar algum nível de

aprendizado organizacional. A alternativa adotada foi delimitar as práxis de

implementação de estratégias que ocorrem no microcontexto da organização e é

um processo extremamente relevante para a execução da estratégia. Para Clegg,

Kornberger e Carter (2009), a implementação não é uma parte isolada e

sequencial do processo de formulação da estratégia. As etapas – de

planejamento e implementação – se inter-relacionam e se retroalimentam, sendo

complexo separar os objetivos planejados dos resultados emergentes. Ideias para

a implementação podem partir tanto daqueles que as implementam quanto

daqueles que as formulam. Adicionalmente, a implementação e quaisquer

problemas e ajustes que apareçam podem constituir a base da estratégia futura

(CLEGG; KORNBERGER; CARTER, 2009).

Nesse sentido, a implementação pressupõe uma cascata de decisões tomadas

por muitas pessoas envolvidas no processo de estratégia que ocorre ao longo do

tempo (SPROULL; HOFMEISTER, 1986). Planos, políticas e decisões são

colocados em prática e afetam o comportamento de todos os níveis da

organização (NUTT, 1986). A implementação abrange um aprendizado constante

sobre a estratégia. No decorrer da implementação, as pessoas podem se valer da

utilização de dados e fatos disponíveis a partir do desenrolar da estratégia para

conduzir reflexões estruturadas sobre a validade e coerência estratégicas

inicialmente definidas (BONASSI; COUTINHO, 2011; CLEGG; KORNBERGER;

CARTER, 2009). As pessoas podem também se deparar com situações

imprevistas, como mudanças no ambiente que orientem novas definições sobre o

que deve ser feito.

30

Assim sendo, a ótica da prática atribui importância à construção da estratégia no

momento de sua implementação e por todos os envolvidos na formulação e

implementação estratégica. A perspectiva da prática demonstra que é possível

que a estratégia assuma a forma de um processo de aprendizado ao longo do

tempo, no qual formulação e implementação tornam-se complementares,

acarretando aprendizagem organizacional.

2.3 A aprendizagem organizacional gerada pelas práticas da estratégia

Práticas de estratégia permitem o aprendizado organizacional, pois o produto

dessas práticas podem ser a integração e a institucionalização de conhecimentos

que podem ser replicados e elevar o nível de aprendizado organizacional. O

modelo 4 I de Crossan, Lane e White (1999) discorre sobre como esses

processos de integração e institucionalização do conhecimento, aliados aos

processos de intuição e interpretação, proporcionam a aprendizagem nas

organizações. O modelo relaciona-se à perspectiva da estratégia como prática e

pode ser por ela apropriado para melhor compreensão dos efeitos de práticas de

estratégia para as organizações.

O processo de aprendizagem, baseado no modelo 4 I de Crossan, Lane e White

(1999), inicia-se com os processos intermediários de intuição e interpretação

manifestos no nível do indivíduo. A intuição é caracterizada como o

reconhecimento pré-consciente do padrão de uma atividade a partir da

experiência pessoal (CROSSAN; BERDROW, 2003). A intuição é o início da

aprendizagem e, conquanto possa orientar as ações dos indivíduos, o seu

compartilhamento com os outros não é fácil, pela complexidade em descrever a

visão ou explicar a ação pretendida pelo indivíduo (CROSSAN; LANE; WHITE,

1999). Para minimizar essa dificuldade, Crossan, Lane e White (1999) consideram

como elo crucial a utilização de metáforas na evolução da percepção intuitiva para

a comunicação com os demais. Isso porque elas possibilitam a transferência de

informações de um domínio relativamente familiar [...] para um novo domínio e

relativamente desconhecido” (TSOUKAS apud CROSSAN; LANE; WHITE,1999).

31

A interpretação, nível subsequente à intuição, é a explicação de uma ideia a partir

de um processo pré-verbal para verbal, o que requer o desenvolvimento da

linguagem (CROSSAN; BERDROW, 2003). Nessa etapa, os indivíduos

desenvolvem mapas cognitivos sobre o ambiente ou domínio que operam por

meio da linguagem. Os mapas cognitivos permitem aos indivíduos nomear e

explicar o que antes eram sentimentos e sensações para, a partir disso,

estabelecer mais conexões entre eles e compartilhar as realidades

organizacionais (CROSSAN; LANE; WHITE, 1999; SHRIVASTAVA, 1983). Os

mapas são afetados pelo ambiente ou domínio em que os indivíduos se situam e

também funcionam de maneira tautológica, orientando a interpretação desse

domínio. Eles desempenham papel ativo no que um indivíduo vê e faz (KIM,

1993). Assim, o mapa cognitivo representa um “modelo concebido ou elaborado

para representar a maneira de uma pessoa definir um problema particular. É um

modelo geral da maneira de pensar de uma pessoa qualquer” (ENDEN apud

COSSETTE; AUDET, 1994). Nesse processo de interpretação, o indivíduo,

portanto, constrói o seu aprendizado tendo como base regras sociais existentes

na organização, compartilhadas por outros membros e a partir de informações

presentes em seu ambiente (DOGSON, 1993).

Os indivíduos se tornam agentes da aprendizagem organizacional quando

utilizam a reserva de conhecimento da organização para se adaptar e responder

às situações com que se defrontam no presente (SCHON apud WEICK;

WESTLEY, 2004). Essa resposta está relacionada à imagem ou interpretação de

cada indivíduo sobre a situação a qual vivencia (FIOL; LYLES, 1985). Ao

assumirem seu papel como agentes da coletividade, as pessoas imprimem na

ação e na tarefa os pressupostos e valores desses sistemas e fazem com que a

organização aja (SCHON apud WEICK; WESTLEY, 2004). No âmbito do

processo interpretativo, são selecionadas as estratégias viáveis para a

organização e escolhidos elementos que continuarão validando a sua existência

(FIOL; LYLES, 1985; VERSIANI, 2006).

À luz do construto da aprendizagem organizacional, pode-se dizer que o

entendimento sobre a implementação de estratégia deve ser processado a partir

da interpretação do indivíduo, do grupo ou da organização sobre aquilo que está

32

sendo executado e contribui para a estratégia. Para Jarzabkowski e Balogun

(2009), diferentes atores interagem, a fim de fazerem alguma coisa, e cada um

deles tem o seu próprio conceito do objetivo da atividade, com base em suas

compreensões localizadas sobre a maneira de realizá-las. Para elevar ao nível

organizacional e para que a organização aprenda, sobre a ótica da AO, o

aprendizado individual e do grupo decorrente da implementação da estratégia

deve ser compartilhado e institucionalizado.

O compartilhamento da interpretação e do conhecimento entre os indivíduos é o

próximo nível da aprendizagem organizacional: a etapa de integração. Esse

processo caracteriza-se pela tomada de ação coordenada por meio de ajuste

mútuo (CROSSAN; BERDROW, 2003), desenvolvida a partir do diálogo

permanente e pela prática compartilhada entre os membros da comunidade

(CROSSAN; LANE; WHITE, 1999). Em se tratanto da estratégia, Jarzabkowski e

Balogun (2009) argumentam que os entendimentos a esse respeito devem ser

modificados a fim de estabelecer atividade comum para o sistema como um todo.

Para a abordagem da estratégia como prática, atividades como reuniões,

workshops e planejamento são mecanismos de mediação e integração do

conhecimento e de consequente concepção de estratégia, em que ela é trazida à

existência por meio de atores que delas participam (JARZABKOWSKI;

BALOGUN, 2009; JARZABKOWSKI; BALOGUN; SEIDL, 2007; JOHNSON;

MELIN; WHITTINGTON, 2003; WHITTINGTON, 2006). Cabe ressaltar que o

contexto que envolve o processo de integração é fundamental, assim como o de

interpretação.

Autores como Bonassi e Coutinho (2011) enfatizam que é interessante criar

ambientes e fóruns apropriados para que pessoas de diferentes perfis e

interesses consigam discutir abertamente as questões estratégicas. Mais abertura

poderá fazer com que os interesses sejam negociados. De acordo com os

autores, à medida que “os fóruns vão se consolidando, as pessoas enxergam que

as soluções geram valor e que fazem diferença para se alcançar os objetivos da

empresa” (BONASSI; COUTINHO, 2011, p. 20). A integração também pode se

originar de maneira informal e o grupo de trabalho determina quais ações deverão

33

ser replicadas. As ações, tornando-se recorrentes e significativas, podem resultar

em regras formais e incorporação de rotinas (CROSSAN; LANE; WHITE, 1999). A

partir disso, o processo de institucionalização pode ocorrer (CROSSAN; LANE;

WHITE, 1999).

O processo de institucionalização permite que a aprendizagem individual se

transforme em organizacional e o conhecimento compartilhado sobre a estratégia,

por exemplo, se torne parte da memória da organização, que de acordo com Kim

(1993) é o cerne da aprendizagem organizacional. Portanto, a aprendizagem

individual não é a preocupação central, o foco de investigação é no conhecimento

compartilhado, que se manifesta nas práticas de grupos (CROSSAN; LANE;

WHITE, 1999; KIM, 1999). A institucionalização é um fenômeno no nível da

organização e assegura que ações rotineiras e formalmente declaradas ocorram.

Ela é um meio de alavancar e tornar organizacional o aprendizado dos indivíduos

e dos grupos que, com o passar do tempo, se incorpora às organizações em

sistemas, estruturas, procedimentos, estratégia, rotinas e práticas prescritas da

organização (CROSSAN; LANE; WHITE, 1999).

O processo de implementação de estratégia elucida muito bem como a tradução

de estratégias corporativas para os níveis operacionais e táticos podem resultar

em institucionalização de conhecimento. Por exemplo, em uma organização que

pretenda ganhar agilidade para competir em um novo mercado, a implementação

da estratégia “atuar em determinado mercado” pode resultar em alterações de

uma estrutura organizacional hierárquica para matricial, dos processos e políticas

e dos cargos e responsabilidades para cumprir o objetivo organizacional. O

esforço para a implementação da estratégia pode também gerar insights sobre

melhores práticas que nortearão futuras ações e até mesmo identificação de

necessidade de transferência de conhecimento por meio de treinamentos, por

exemplo.

A institucionalização do conhecimento compõe o repositório de conhecimento e a

memória da organização que servirão de base para a tomada de decisão no

futuro (HEDBERG; WOLLF, 2001; SHRIVASTAVA, 1983), norteando as ações e

aprendizagem dos membros (CROSSAN; LANE; WHITE, 1999). Torna-se,

34

portanto, significativo saber como o conhecimento sobre a estratégia é

compartilhado e institucionalizado, enfim, sua manifestação nas estruturas, nos

papéis e nos procedimentos da organização (WEICK; WESTLEY, 2004). É por

meio da codificação e incorporação do aprendizado individual na memória da

organização que o conhecimento passa para uma dimensão coletiva e é

convertido em conhecimento organizacional (KIM, 1993). Dessa forma, admite-se

que o aprendizado organizacional se relaciona à compreensão da ação e sua

renovação pela interação entre o indivíduo, grupo e organização, com reflexos no

direcionamento estratégico.

Estudos de aprendizagem organizacional e estratégia como prática convergem na

ideia de institucionalização do conhecimento. Pesquisadores como Jarzabkowski,

Balogun e Seidl (2007) e Chia e MacKay (2007) destacam que, sem a

incorporação do conhecimento gerado a partir de micropráticas ou

microprocessos, têm-se somente atividades intencionais dos agentes conscientes

e não práticas sociais que transcendem o nível individual e que influenciarão

novas ações. A “inteligência prática é definida por uma ausência de um locus

adequado do arbítrio; individualidade é interpretada como um efeito secundário da

prática principal” (CHIA; MACKAY, 2007, p. 226).

A aprendizagem organizacional e estratégia como prática também mostra a dupla

face da institucionalização: as relações de estabilidade e mudança. Para essas

abordagens, ordem e caos são importantes elementos para a organização mudar

o sentido de suas práticas e aprender, sendo necessário o constante ajuste entre

novas práticas e o conhecimento institucionalizado. O caos e a mudança são

oportunidades para a organização desaprender sobre as suas práticas e a sua

forma de atuação que não geram mais competitivade, por exemplo, e renová-las.

No entanto, para manter o aprendizado decorrente dessa renovação, momentos

de estabilidade e de organização dessas mudanças são necessários para a

organização manter seu direcionamento e obter eficiência. As organizações que

não desenvolvem a capacidade de aprender continuamente e se voltam apenas

para a eficiência – como as burocráticas (WEICK; WESTLEY, 2004) – apenas

aproveitando as oportunidades e os recursos correntes possuem reduzida

capacidade para mudanças rápidas e constantes. Isso pode gerar obsolescência

35

ou estagnação de seus produtos e serviços, por exemplo, fazendo com que eles

não sejam mais bem aceitos no mercado (BURTON; DeSANCTIS; OBEL, 2006).

Por outro lado, as organizações que apenas direcionam suas atividades para a

prospecção de novas oportunidades e para a mudança, sempre renovando a

forma de atuação e questionando o status quo, não conseguem explorar os seus

recursos correntes e podem, com isso, perder investimentos já realizados e

oportunidades existentes (BURTON; DeSANCTIS; OBEL, 2006). Weick e Westley

(2004) afirmam que essa dicotomia leva a crer que as organizações que se

autodesenvolvem aprendem e as burocracias se organizam. Mas, num exame

cuidadoso, a situação é mais complexa, cada forma aprende, mas de maneira

diferente, oscilando entre uma e outra (MARCH; OLSSEN, 1991; WEICK;

WESTLEY, 2004). Para Weick e Westley (2004), o desafio está em encontrar um

ponto intermediário entre essas estruturas que buscam aproveitar os recursos e

prospectar o novo.

Em estudos sobre práticas, existem justificativas para a tendência à estabilidade

das práticas organizacionais. A teoria do habitus, de Bourdieu (1990), e a teoria

da estruturação, de Giddens (1984), na medida em consideram que a prática -

formada pela interação entre estrutura social institucionalizada e atores -

compreende a ordem social, são argumentos sobre a natureza estável da prática

e demonstram como a sua natureza adaptativa é ofuscada. Para Jarzabkowiski

(2004), isso gera a questão da recursividade, que pode ser conceituada como a

reprodução social de sequências em que os atores envolvidos consideram que

um modelo de seu repertório se adaptará a uma nova situação. No entanto,

questões de recursividade podem ser superadas por meio do movimento de

interação entre a prática realizada dentro da organização e a procedida fora.

Jarzabkowski (2004) utiliza os preceitos da teoria da transformação social de

Sztompka (1991) para propor que a interação entre agente e estrutura não

permite a manutenção de comportamentos sedimentados. Ao contrário, as

interações provocam transformações nas práticas e nas ações. Os grupos

possuem interações sociais específicas que constituem configurações singulares.

Por isso se diz que a prática é local e situada, decorrente do "momento a

36

momento das interações entre atores e entre os atores e os ambientes da sua

ação" (SUCHMAN, 1987, p. 179). Novas práticas não vêm somente de fontes

externas, mas do processo social de resolução de problemas na comunidade, em

que os novos significados são altamente contextuais (CHIA, MACKAY, 2004).

Para a abordagem da estratégia como prática, o âmbito interno de uma

organização, por meio das atividades sociais de diálogo e interação, permite à

organização mover-se para além das similaridades institucionais - isomorfismo -

pois gera oportunidades para as adaptações (JARZABKOWISKI, 2004).

A aprendizagem organizacional caracteriza-se pela relação entre o quadro interno

e externo, na medida em que se manifesta pelas interações da organização com

o ambiente. Essa interação permite à organização aumentar sua compreensão da

realidade e observar os resultados de seus atos, o que pode gerar reflexão e

mudanças (HEDBERG, 1981), possibilitando avaliar as estratégias que lhes

sejam viáveis (FIOL; LYLES, 1985). O alinhamento da organização com as

mudanças ocorridas no ambiente resulta em um processo contínuo de fazer

escolhas estratégicas (FIOL; LYLES, 1985). A aprendizagem permite às

organizações construir uma compreensão da organização e do seu ambiente por

meio da interpretação (FIOL; LYLES, 1985) e, no âmbito do processo

interpretativo, escolher os elementos que continuarão validando a sua estratégia.

Isso faz com que a aprendizagem organizacional seja concebida como um

importante meio de conseguir a renovação estratégica da empresa (CROSSAN;

LANE; WHITE, 1999).

As interações da organização com o ambiente e as atuações dos atores no seu

ambiente específico, que permitem a aprendizagem organizacional, possibilitam a

renovação das práticas na organização. Na linha da teoria da transformação

social de Sztompka (1991), a organização é concebida como um processo

contínuo de tornar-se, de constante mutação. As práticas de estratégia são

associadas tanto à estabilidade das atividades, porque elas representam modelos

mentais amplamente aceitos, quanto a micromecanismos de mudança

estratégica, diversas e variáveis, sendo combinado e alterado de acordo com a

utilização na construção de atividade (JARZABKOWSKI; BALOGUN; SEIDL,

2007; JARZABKOWSKI; SEIDL, 2008).

37

Jarzabkowski (2004) sustenta que questões sobre estabilidade e mudança das

práticas constituem um dos principais temas da literatura atual em gestão

estratégica e também são dilemas fundamentais para os praticantes da

estratégia, que precisam conciliar a necessidade de mudança e estabilidade.

Whittington (2006) considera que, ao refletir sobre a experiência, os profissionais

são capazes de adaptar as práticas existentes, explorando sua pluralidade,

podendo levar à síntese de novas práticas.

O constante ajuste entre o novo e o institucionalizado é condição fundamental

para a aprendizagem organizacional. Hedberg e Wollf (2001) ressaltam que, para

aprender, às vezes é necessário que a organização desaprenda o que está

estabelecido e integrado nas estruturas cognitivas, esquecendo o comportamento

passado. Isso significa libertar-se de verdades estabelecidas que muitas vezes

dominam a percepção de novos cenários e dificultam a implementação de novos

modos de comportamento, resultando em mudança organizacional restrita a

deslocamentos nos modos adotados de comportamento e teorias da ação

(HEDBERG; WOLFF, 2001). Portanto, as organizações devem administrar a

tensão entre o conhecimento institucionalizado com as novas demandas de um

ambiente em constante mudança (CROSSAN; LANE; WHITE, 1999). Esse é um

desafio para as organizações, que geralmente não conseguem desaprender de

forma rápida (CROSSAN; LANE; WHITE, 1999; DOGSON; 1993).

A ideia de administrar a tensão entre o novo e o institucionalizado relaciona-se

com a necessidade de equilíbrio entre as atividades de prospecção e exploração

pelas organizações para manter sua sobrevivência (MARCH; OLSEN, 1991). A

prospecção pressupõe a experimentação de novas alternativas, o risco, a

flexibilidade e a inovação. A exploração baseia-se na extensão e refinamento de

competências atuais, tecnologias e paradigmas, em que eficiência e

implementação são pressupostos básicos (MARCH; OLSEN, 1991). Para March e

Olsen (1991), o equilíbrio entre essas atividades é primordial, pois sistemas que

se dedicam exclusivamente à prospecção ou à exploração estão suscetíveis a

não ganharem benefícios com a experimentação ou se manterem presos em

equilíbrios estáveis de qualidade inferior. Portanto, a aprendizagem

38

organizacional envolve a tensão entre assimilar o novo e explorar o que já se

aprendeu (CROSSAN; LANE; WHITE, 1999).

O conceito de aprendizagem organizacional pressupõe a ideia de uma evolução

contínua baseada na redefinição das práticas e significados da organização

(VERSIANI, 2006). Para Clegg, Kornberger e Rhodes (2005), as organizações

não são baseadas em uma visão unidimensional ou estreita, elas não existem

apenas para gerir a incerteza, mas são processos de elevação e redução da

complexidade, em que ordem e estímulo do caos são interdependentes e

complementares em um processo contínuo de aprender e organizar. A

aprendizagem, que se confunde com a organização, pode então ser considerada

uma oscilação entre construção e desconstrução; enquadramento e desordem;

organização e aprendizagem (CLEGG; KORNBERGER; RHODES, 2005, WEICK;

WESTLEY, 2004). Ordem e caos são importantes elementos para a organização

mudar o sentido de suas práticas e aprender e estão presentes na implementação

de estratégias, pois esse processo pressupõe ao mesmo tempo avaliação e

reflexões sobre a validade da estratégia inicialmente definida, com possibilidade

de mudanças dessa primeira orientação (BONASSI; COUTINHO, 2011; CLEGG;

KORNBERGER; CARTER, 2009), como também a retroalimentação do plano que

passará a ser o novo direcionador.

2.4 Síntese da discussão teórica e moldura da investigação empírica

Ao longo do referencial teórico, buscou-se estabelecer um diálogo entre as

perspectivas da estratégia como prática e da aprendizagem organizacional.

Verificou-se que, apesar de não existir uma teoria específica que aborda os dois

temas, existem pontos conceituais convergentes que os aproximam e

possibilitaram a construção de um marco teórico coeso. Com base no diálogo

estabelecido, foi realizado um framework capaz de sintetizar a discussão teórica,

sobretudo os aspectos de convergências das duas literaturas e das definições-

chave para a pesquisa. Esse framework representa a síntese teórica que orientou

conceitualmente a condução da pesquisa e é representado na FIG. 1.

39

FIGURA 1 - Moldura da investigação empírica

Fonte: Elaborado pela autora.

O framework apresenta componentes importantes do processo de estratégia de

uma organização, visto sob a perspectiva da prática e da aprendizagem

organizacional. O primeiro ponto é a relevância do ambiente externo nesse

processo. O ambiente é tudo que está fora do limite da organização e representa

o âmbito externo capaz de afetar o seu desempenho (BURTON; DeSANCTIS;

OBEL, 2006). As organizações interagem constantemente com esse ambiente,

sendo o comportamento organizacional muito influenciado por ele (BURTON;

DeSANCTIS; OBEL, 2006). O ambiente ou o cenário externo em que a

organização está inserida geralmente dispara mudanças organizacionais ou

estratégicas às quais a organização pode se adaptar ou a partir delas

desencadear processos de aprendizagem (BURTON; DeSANCTIS; OBEL, 2006;

HEDBERG, 1981; LEVITT; MARCH; OLSEN, 1991; WEICK; WESTLEY, 2004). A

interação da organização com o ambiente permite mais reflexão dos seus atos e

mudanças (HEDBERG, 1981), principalmente no que diz respeito aos

direcionamentos estratégicos (BURTON; DeSANCTIS; OBEL, 2006; FIOL;

LYLES, 1985). Assim, o alinhamento da organização com as mudanças ocorridas

40

no ambiente resulta em um processo contínuo de fazer escolhas estratégicas

(FIOL; LYLES, 1985). Essas escolhas podem ser apenas adaptações ou podem

resultar em aprendizagem organizacional (CROSSAN; LANE; WHITE, 1999).

A aprendizagem organizacional é caracterizada pelo processo de melhorar as

ações por meio de sua melhor compreensão ou conhecimento, da ação reflexiva,

que desencadeia mudanças e reestruturações dos problemas organizacionais

(FIOL; LYLES, 1985). Para Dogson (1993), ela pode ser descrita como a maneira

pela qual as organizações desenvolvem a sua eficiência com base na construção,

organização e institucionalização do conhecimento. A aprendizagem

organizacional é resultado da incorporação do aprendizado individual na memória

da organização de forma que o conhecimento passe para uma dimensão coletiva

e se torne conhecimento organizacional (KIM, 1993). Essa aprendizagem engloba

as etapas de intuição, interpretação, integração e institucionalização que

compõem o modelo 4I de Crossan, Lane e White (1999). Esse modelo integra-se

conceitualmente ao strategizing, que é a conexão entre práxis, práticas e

praticantes (JARZABKOWSKI; BALOGUN; SEIDL, 2007; WHITTINGTON, 2006).

Dessa integração têm-se duas relações especialmente relevantes: entre práxis de

estratégia e integração do conhecimento; e entre prática e institucionalização do

conhecimento.

As práxis de estratégias ou as atividades envolvidas na formulação deliberada ou

na implementação da estratégia (WHITTINGTON, 2006) incluem o trabalho, o

falar, as atividades, reuniões do Conselho Administrativo, intervenções de

consultoria, apresentações, workshops e reuniões (CHIA; MACKAY, 2007;

WHITTINGTON, 2006), que podem ter consequências para os resultados

estratégicos (JARZABKOWSKI; BALOGUN; SEIDL, 2007; JOHNSON; MELIN;

WHITTINGTON, 2003). É na práxis da estratégia, especialmente na práxis de

implementação, que as etapas de aprendizagem se apresentam (intuição,

interpretação), sendo um momento extremamente determinante para a integração

do conhecimento. As etapas de integração e práxis de estratégia podem resultar

em regras formais e incorporação de rotinas com a institucionalização do

conhecimento e renovação das práticas (CROSSAN; LANE; WHITE, 1999).

41

Assim como a institucionalização do conhecimento compõe o repositório de

conhecimento e a memória da organização que servirão de base para a tomada

de decisão no futuro (HEDBERG; WOLLF, 2001; SHRIVASTAVA, 1983),

norteando as ações e aprendizagem dos membros (CROSSAN; LANE; WHITE,

1999), as práticas são os hábitos, artefatos e modelos de ação que dão forma à

construção de estratégias (BOURDIEU, 1990; GIDDENS, 1984;

JARZABKOWSKI, 2003). Referem-se às rotinas comuns de comportamento,

incluindo tradições, normas e procedimentos para pensar e agir (WHITTINGTON,

2006). Nota-se no modelo que o processo de aprendizagem não se encerra com

a institucionalização e o estabelecimento de novas práticas. Essas orientarão

novas ações, interpretações do ambiente e da práxis de estratégia e por esses

processos serão retroalimentadas; e momentos de estabilidade e mudança serão

alternados. Com base nesse framework, realizou-se a pesquisa que se relata a

seguir.

42

3 METODOLOGIA

No capítulo anterior foram apresentadas as referências conceituais e o quadro

teórico que orientaram a investigação empírica desta dissertação. Neste capítulo,

especifica-se sua metodologia. O capítulo foi organizado em três seções. A

primeira, intitulada “Estratégia de pesquisa e unidade empírica de análise”,

apresenta o método utilizado, detalhando o tipo de estudo e suas unidades de

análise. A segunda seção, denominada “Estratégia de coleta de dados”,

apresenta as técnicas de coleta de dados. Por último, a terceira seção, com o

título “Estratégia de análise dos dados”, demonstra como os dados foram

analisados.

3.1 Estratégia de pesquisa e unidade empírica de análise

Tendo em vista o objetivo de compreender os efeitos das práticas de

implementação estratégica sobre o aprendizado organizacional, optou-se pelo

design metodológico da pesquisa qualitativa. A pesquisa qualitativa refere-se a

investigações sobre a evolução de comportamentos e/ou interações sociais e

ocupa-se em entender o processo e não simplesmente os resultados, verificando,

a partir da perspectiva dos sujeitos, como determinado fenômeno se manifesta

nas atividades, procedimentos e interações diárias (GODOY, 1995a).

Essas características da pesquisa qualitativa a tornam adequada ao estudo aqui

pretendido, uma vez que a implementação estratégica e o aprendizado

organizacional não possuem, necessariamente, nexos causais claros e lineares.

Antes, envolvem sobreposições entre relacionamentos, ações e interpretações

em contextos específicos nos quais as estratégias se desenvolvem. Daí a

necessidade da compreensão aprofundada desse conjunto, somente capturada

pelo método qualitativo, que provê rica fonte de descrições em situações

identificáveis (GODOY, 1995a; GREENWOOD, 1973).

43

A adoção do método qualitativo permite ao pesquisador descobrir “como” e “por

que” a implementação estratégica se desenvolve e quais as práticas imersas

nesse processo que resultam em aprendizagem organizacional. O enfoque desse

método está em revelar contextos específicos e as consequências de seus

eventos para determinados resultados (MILES; HUBERMAN, 1994). Nesse

sentido, é necessário escolher poucos objetos empíricos para serem analisados

em profundidade (GODOY, 1995b; GREENWOOD, 1973; YIN, 2005). Assim,

adotou-se o método de estudo de caso.

Nas palavras de Yin (2005, p. 19), “o método de estudo de caso pode ser

considerado a estratégia de pesquisa mais adequada quando se pretende

responder questões do tipo „como‟ e „por que‟, quando o pesquisador tem pouco

controle sobre os acontecimentos e quando o foco se encontra em fenômenos

contemporâneos em algum contexto da vida real”. O caso único deve ser adotado

quando ele for crítico, representativo ou típico para a análise pretendida, pois

possibilita a descrição completa e satisfatória do problema investigado (YIN,

2005).

Nesta pesquisa foi adotado o estudo de caso único, por se tratar de um caso

representativo do setor elétrico. Escolheu-se como unidade empírica a

Companhia Energética de Minas Gerais (CEMIG), dada a sua importância no

Brasil. A empresa representa um dos mais importantes grupos do segmento de

energia elétrica do país, com participações em mais de 100 empresas, além de

consórcios e fundos de participações. A unidade empírica de análise adotada foi o

processo (GODOY, 1995b; GREENWOOD, 1973; YIN, 2005) de implementação

da estratégia de crescimento e expansão dos negócios por meio de aquisições

durante o período de 2003 a 2012. A estratégia selecionada para a pesquisa

constitui um dos principais direcionadores da organização no longo prazo e traduz

os desafios de sua visão de futuro com diversos desdobramentos em suas

unidades organizacionais.

A Cemig adota o modelo de planejamento estratégico, com definição de sua

missão, a visão e os seus objetivos. Para alcance dos objetivos são definidos

direcionadores estratégicos. Esses desdobramentos e o processo de

implementação resultam em práticas de estratégia, com o envolvimento de áreas

44

distintas da empresa. Entre essas áreas foram escolhidas quatro para compor o

foco de investigação deste estudo, uma vez que são importantes para o

cumprimento da estratégia. A Diretoria de Desenvolvimento de Negócios (DDN)

foi a principal área investigada, porque integra as atividades de avaliação e

estruturação de negócios, bem como a gestão das participações, primordiais para

o cumprimento da estratégia. Também a Gerência de Integração de Novos

Empreendimentos de Geração e Transmissão (EP/IN), por coordenar as

implantações de projetos Greenfield. E, ainda, áreas de apoio importantes como a

Gerência de Direito Societário e Coordenação Jurídica das Sociedades

Controladas (JC/SC) e a Gerência de Operações de Financiamento (GF/OF).

Uma vez escolhidas essas unidades, procedeu-se à coleta de dados relatada a

seguir.

3.2 Estratégia de coleta de dados

Em estudos de casos, as principais fontes de evidências são entrevistas em

profundidade, documentos e arquivos, artefatos físicos e observação direta (YIN,

2005). Recomenda-se, ainda, para pesquisas que utilizam o método de estudo de

caso, combinar o maior número possível dessas fontes de evidências, de modo a

permitir ao pesquisador desenvolver linhas convergentes de investigação (YIN,

2005). Isso possibilita que qualquer descoberta ou conclusão seja mais

convincente ou acurada por se basear em fontes distintas de informações, na

medida em que uma informação corrobora a outra (YIN, 2005).

Por isso, para esta pesquisa, adotou-se a técnica de triangulação dos dados, que

é o emprego de fontes múltiplas de dados e evidências, para obtenção de mais

qualidade, validade, fidedignidade e precisão na análise dos dados (JICK, 1979).

Além de possibilitar mais validade e confiabilidade dos dados, a triangulação

fornece um retrato mais completo, holístico e específico do fenômeno em estudo.

Nesse sentido, ela pode ser usada não só para estudar o mesmo fenômeno sob

várias perspectivas, mas também para enriquecer a compreensão, permitindo

análises mais aprofundadas (ADAMI; KIGER, 2005; JICK, 1979). Os dados foram

45

coletados por meio de conversas informais, entrevistas semiestruturadas,

documentos da empresa e observação direta.

FIGURA 2 - Triangulação de técnicas de coletas e fontes de informações

Entrevista semiestruturada Documentos Observação Direta

Entrevistas informais

Fonte: Elaborada pelo autor – adaptado de Yin (2005).

As entrevistas e conversas informais foram realizadas com informantes-chave e

especialistas na área de estratégia para entendimento da estratégia de

crescimento por meio de fusões e aquisições e auxílio na condução das

entrevistas em profundidade. As conversas informais também foram necessárias

para confirmar dados obtidos nas entrevistas e em documentos da empresa, pois

os informantes conhecem todo o processo de estratégia, participam de sua

formulação e acompanham a implementação. Utilizou-se esse tipo de coleta de

dados devido à expressiva possibilidade de abertura das entrevistas, uma vez que

os respondentes se sentem mais à vontade para expressar suas opiniões, por

não serem constrangidos pela utilização de roteiro e gravação, os quais, na

maioria das vezes, ensejam mais cautela nos relatos.

As entrevistas forneceram os dados básicos para o desenvolvimento da

compreensão das relações e práticas envolvidas no processo de implementação.

De acordo com Gaskell (2003), as entrevistas não revelam dados naturais, sem

problemas, mas informam ativamente como pessoas percebem e atribuem

sentido ao seu cotidiano. Esse instrumento de coleta de dados possibilita

Práticas e implementação da estratégia

46

detalhada compreensão da construção social em que se realiza a estratégia, uma

vez que permite captar as crenças, atitudes, valores e motivações de diferentes

pessoas em contextos sociais específicos (GASKELL, 2003). As entrevistas

semiestruturadas permitem abordagem mais informal, na qual o entrevistado

conduz a discussão subsequente às perguntas iniciadas pelo entrevistador

(MANN, 1970 apud VERSIANI, 2006). Portanto, na aplicação do roteiro de

entrevista, ele vai sendo modificado em função de questões, observações e

ponderações que surgem espontaneamente no decorrer das perguntas e que são

consideradas relevantes para o entendimento do fenômeno pesquisado.

Neste estudo, as entrevistas foram planejadas com base na construção de um

tópico-guia, um roteiro semiestruturado que, segundo Gaskell (2003), é

fundamental para “dar conta” dos fins e objetivos da pesquisa. O roteiro,

estruturado em três blocos (APÊNDICE A), contemplou os seguintes objetivos

específicos de pesquisa: a) compreender as atividades e processos que

permeiam a implementação e práxis de estratégias; b) identificar e analisar os

aspectos que favorecem ou dificultam as práxis de estratégia e a integração do

conhecimento; c) verificar se existe aprendizagem organizacional em decorrência

de práxis de estratégia.

Com esses objetivos, aplicou-se o roteiro a uma amostra previamente escolhida.

Isto é, a amostra do estudo foi selecionada a partir de critérios teóricos, e não

estatísticos, e se constituíram de pessoas representativas do objeto teórico de

discussão (GASKELL, 2003).

Foram entrevistados empregados envolvidos no desdobramento do plano

estratégico selecionado, que atuam nas unidades organizacionais relacionadas

diretamente com a implementação da estratégia de crescimento ou cujo apoio é

imprescindível para a sua realização. No escopo, foram consideradas as

gerências e superintendência da DDN, porque integram as atividades de

avaliação e estruturação de negócios, bem como a gestão das participações; a

EP/IN, por coordenar as implantações de projetos Greenfield; a Gerência de

Direito Societário, JC/SC e GF/OF, por serem áreas importantes de apoio para

47

cumprimento da estratégia. As unidades organizacionais e diretorias, por

entrevistado, estão detalhadas no QUADRO 1.

Ao todo, foram realizadas 11 entrevistas e após seu final verificou-se a existência

de um número limitado de versões do fenômeno, sem o surgimento de novas

surpresas, o que levou à saturação dos dados, em que entrevistas adicionais não

melhorariam necessariamente a qualidade dos dados (GASKELL, 2003). Cabe

ressaltar que o tempo médio das entrevistas foi de 50 minutos, sendo que nove

delas foram transcritas, uma impossibilitada de transcrição, devido à qualidade da

gravação, e outra não autorizada para gravação.

48

QUADRO 1 - Respondentes e unidades organizacionais

Entrevista Setor Diretoria

E1 Gerência de direito societário e coordenação jurídica das sociedades controladas (JC/SC)

Diretoria Jurídica - DJR

E2 Gerência de Controle Empresarial das Controladas e Coligadas (CN/CE)

Diretoria de Desenvol-vimento de Negócios - DDN

E3 Gerência de Coordenação de Gestão de Desenvolvimento de Negócios - CN/CG

Diretoria de Desen-volvimento de Negócios - DDN

E4 Gerência de Avaliação de Negócios – CN/na

Diretoria de Desenvolvi-mento de Negócios - DDN

E5 Superintendência de controle de empresas controladas e coligadas, avaliação e gestão de desenvolvimento de negócios –CN

Diretoria de Desen-volvimento de Negócios - DDN

E6 Gerência de Controle Empresarial das Controladas e Coligadas (CN/CE)

Diretoria de Desenvolvi-mento de Negócios - DDN

E7 Gerência de integração de novos empreendimentos de geração e transmissão (EP/IN)

Diretoria de Geração e Transmissão (DGT)

E8 Gerência de integração de novos empreendimentos de geração e transmissão (EP/IN)

Diretoria de Geração e Transmissão (DGT)

E9 Gerência de Operações de Financiamento - GF/OF

Diretoria de Finanças e Relações com Investidores - DFN

E10 Gerência de Avaliação de Negócios (CN/na)

Diretoria de Desenvolvi-mento de Negócios - DDN

E11 Superintendência de controle de empresas controladas e coligadas, avaliação e gestão de desenvolvimento de negócios (CN)

Diretoria de Desenvolvi-mento de Negócios - DDN

Fonte: elaborado pela autora.

Adicionalmente a esses instrumentos de coleta de dados foi utilizada a técnica de

análise documental, pois os documentos são importantes fontes de dados

secundários que corroboram os dados primários coletados nas entrevistas,

observação direta e conversas informais (GODOY, 1995a). Foram coletados e

procedida a análise: a) informativos que a empresa emite em meio eletrônico

sobre os avanços do planejamento estratégico, denominado Visão e Ação On-

line; b) comunicados ao mercado sobre a estratégia de fusões e aquisições

49

disponíveis no site da empresa; c) documentos de planejamento estratégico.

Foram analisados aproximadamente 50 documentos, sendo 20 referenciados

diretamente no texto. A lista consta no APÊNDICE B.

A observação direta foi outra fonte de evidência utilizada. Segundo Yin (2005),

essa técnica é adequada para verificar fenômenos que não são puramente de

caráter histórico e, portanto, são passíveis de observação em tempo real e no

contexto do evento (YIN, 2005). A observação de reuniões é um tipo de atividade

formal da observação direta, em que se desenvolvem protocolos de observação

(YIN, 2005). Nesta pesquisa foi realizada a observação de uma reunião

denominada reunião de análise crítica (RAC), que tratou sobre os avanços da

implementação da estratégia de crescimento por meio de fusões e aquisições. A

reunião aconteceu no dia 28 de fevereiro de 2012, de 14h30min às 17h10min. Os

dados relevantes para a pesquisa foram registrados por meio de anotações, que

após a reunião foram digitados em meio eletrônico, resultando em cinco páginas

de registro. Os dados coletados pela observação foram relevantes para

corroborar as percepções relatadas nas entrevistas e as informações obtidas por

dados secundários.

3.3 Estratégia de análise dos dados

Visando obter sentido e entendimento das evidências e dados coletados ao longo

da pesquisa, optou-se por utilizar como estratégia de apresentação dos dados a

construção de narrativas mediante procedimentos de análise de conteúdo. As

narrativas são construções analíticas do pesquisador, que agrupam eventos

passados e contemporâneos organizados, após a coleta de dados, em um

conjunto coerente dotado de sentido (ARAÚJO, 2003). As narrativas buscam

retratar a sucessão de acontecimento e estabelecer relação de causalidade entre

eles, baseando-se em uma lógica histórica (ARAÚJO, 2003; RAGIN, 1987). Para

construir uma narrativa robusta, o pesquisador deve selecionar os dados e

eventos que retratam a sequência causal observada de forma que se consiga

explicar o objeto de estudo (ARAÚJO, 2003).

50

A narrativa desta pesquisa refere-se à descrição histórica e cronológica do

processo de implementação da estratégia de crescimento da Cemig por meio de

fusões e aquisições. A lógica da narrativa foi orientada pelas categorias de

análise e pelo modelo teórico desta pesquisa, com o estabelecimento de conexão

e relação de causalidade entre os eventos, sendo estes captados pelas fontes de

dados primários e secundários. Apresenta-se na narrativa a caracterização da

empresa, da estratégia e seu contexto, bem como as mudanças organizacionais

influenciadas pela estratégia e as atividades e ferramentas da prática da

estratégia.

Para discussão e análise dos dados, foi adotada a análise de conteúdo, que é

“[...] um conjunto de técnicas de análise das comunicações que utiliza

procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das

mensagens” (BARDIN, 2002, p. 38). Ela reduz a complexidade de uma coleção de

textos e permite a reconstrução de valores, atitudes, opiniões, preconceitos e

estereótipos e sua comparação a partir de uma classificação sistemática (BAUER,

2003). Sua utilização é interessante, na medida em que possibilita o agrupamento

temático ou categorial, com desmembramento do texto em categorias de análise

que podem ser dedutivas, quando ancoradas primeiro na teoria, ou indutivas,

quando estabelecidas a posteriori da teoria, basicamente pela observação

empírica dos dados (BARDIN, 2002),

Entretanto, no momento da análise deve-se incorporar a seleção teórica do objeto

da pesquisa. A análise de conteúdo precisa, portanto, estar congruente com a

teoria e com os objetivos previamente estipulados (BAUER, 2003). Adotaram-se

nesta pesquisa os seguintes passos: foi elaborado o modelo teórico que sintetizou

a relação entre as perspectivas da estratégia como prática e da aprendizagem

organizacional, de forma a orientar a descrição e análise dos dados. Seguindo a

lógica do modelo teórico e os objetivos de pesquisa, foram coletados dados a

partir de múltiplas fontes, adotando-se a triangulação dos mesmos (JICK, 1979).

A partir dos dados coletados e tendo como referência o modelo teórico de

pesquisa, foram definidas as categorias de análise da pesquisa (EISENHARDT,

1989; GODOY, 1990b), conforme consta no QUADRO 2.

51

QUADRO 2 - Categorias de análise

Objetivos da

pesquisa

Categorias de análise Indicadores

Compreender as atividades e processos

que permeiam a

implementação e práticas de estratégias

Práxis Atividades formais e

informais exercidas na execução da estratégia

Práticas de estratégia

Orientação geral que informa rotinas e

procedimentos que contribuem para a

realização da estratégi.

Identificar e analisar os aspectos que

favorecem ou dificultam as práticas

de estratégia e a integração do conhecimento

Integração da estratégia, contribuição e envolvimento

dos empregados

Orientação para

flexibilização e abertura

para novas ideias

Verificar se existe aprendizagem

organizacional em decorrência de

práticas de estratégia

Institucionalização do conhecimento

Alinhamento da estratégia com o ambiente

Alterações na estrutura organizacional

Alterações em cargos e funções

Alterações em normas e procedimentos

Introjeção da ideia de mudança contínua como

orientador das ações estratégicas. Aprendizado

estratégico.. Fonte: elaborado pela autora.

A análise dos dados seguiu a lógica de verificar: a) a influência do ambiente no

processo de estratégica; b) a influência das práxis de estratégia e da integração

do conhecimento para a renovação das práticas e institucionalização do

conhecimento. Para esclarecer o problema de pesquisa, buscou-se extrair dos

dados elementos capazes de compreender como as práticas e o processo de

implementação de estratégia podem contribuir para o aprendizado organizacional.

52

4 IMPLEMENTAÇÃO DA ESTRATÉGIA DE CRESCIMENTO DA

CEMIG POR MEIO DE FUSÕES E AQUISIÇÕES

Neste capítulo são apresentados os dados da pesquisa realizada, bem como sua

discussão mediante procedimentos de análise. O capítulo foi organizado em

quatro seções. A primeira apresenta a caracterização da empresa e de sua

estratégia de crescimento; a segunda demonstra a concepção e primeiros sinais

da estratégia de crescimento no período de 2003 a 2006. A terceira descreve a

consolidação da estratégia de crescimento – 2007 a 2012, bem como as

mudanças organizacionais decorrentes da estratégia e as práticas da estratégia,

suas atividades e ferramentas. Após a apresentação dos dados nas seções

anteriores, a análise dos dados é realizada, na quarta seção, mediante a

discussão dos resultados da pesquisa.

4.1 Caracterização da empresa e de sua estratégia de crescimento

A Companhia Energética de Minas Gerais (CEMIG) é uma empresa do segmento

de energia elétrica com participações em consórcios, fundo de participações e em

mais de 100 empresas nos segmentos energia elétrica, gás natural,

telecomunicações e eficiência energética (CEMIG, 2012a). Sua atuação estende-

se a 22 estados brasileiros, além do Distrito Federal. Em Minas Gerais, responde

por 96% da área de concessão, com aproximadamente 7 milhões de

consumidores em 774 municípios. Atende, ainda, a 25% do mercado de energia

para clientes livres, sendo a maior fornecedora nesse segmento no país. Está em

terceiro lugar entre as maiores geradoras do Brasil, com 70 usinas em operação

(CEMIG, 2012a). No negócio de transmissão representa o terceiro maior grupo do

Brasil e possui operação internacional no Chile, detendo, naquele país, uma linha

de transmissão. Na distribuição, a Cemig é a maior empresa distribuidora da

América Latina.

53

Toda essa atuação conferiu à Cemig a posição de maior empresa do setor de

energia elétrica em valor mercado da América Latina em 2012 (documento 20,

APÊNDICE B) e a segunda posição do setor de energia em valor de mercado na

Bolsa de Valores de São Paulo (BOVESPA) em 25 de junho de 2012 (documento

21, Apêndice B). Essas posições permitiram à empresa concretizar o seu objetivo

estratégico formulado e revisado nos últimos 10 anos, qual seja, “expandir a

atuação nas Américas” e “estar entre os dois maiores grupos de energia do Brasil

em valor de mercado” (documentos 16 e 17, APÊNDICE B).

O processo de formulação desse objetivo remonta à reforma do setor elétrico

brasileiro, introduzida a partir da segunda metade da década de 1990 pelo

governo federal, por meio do desenvolvimento de um novo modelo institucional. O

principal objetivo da reforma do setor era reduzir a dívida pública e aumentar os

investimentos de capital privado. Um dos caminhos foi a privatização das

concessionárias de energia federais e estaduais e a desverticalização do setor

com a separação das atividades de geração, transmissão e distribuição. Para que

as mudanças fossem viáveis criou-se, em 1996, a primeira agência nacional

reguladora independente do setor, então denominada Agência Nacional de

Energia Elétrica (ANEEL), buscando desenvolver um ambiente regulatório claro e

estável. Foi então que no final da década de 1990 empresas privadas nacionais e

estrangeiras tornaram-se controladoras de mais da metade da atividade de

distribuição, com participações de 10% no setor de geração e participações no

setor de transmissão (XAVIER, 2005).

Entretanto, somente em novembro de 2004 a Cemig informou ao mercado sobre

o seu processo de desverticalização. Os negócios de transmissão, geração e

distribuição seriam geridos por duas empresas distintas a partir de janeiro de

2005. Foi mantida a entidade jurídica Cemig como empresa holding, que

controlaria, com a totalidade das ações, as novas subsidiárias para as atividades

de geração e transmissão de energia elétrica – Cemig Geração e Transmissão

S/A - e distribuição de energia elétrica - Cemig Distribuição S/A (documento 5,

APÊNDICE B). Em atendimento à legislação, a desverticalização implicou a

transferência dos bens (usinas, subestações, linhas de transmissão e distribuição,

54

entre outros), dos direitos e das obrigações da concessionária Cemig para as

novas subsidiárias integrais (documento 5, APÊNDICE B).

O novo marco regulatório do setor elétrico e a desverticalização das empresas em

negócios distintos de geração, transmissão e distribuição de energia acelerou os

processos de fusões, aquisições de empresas (BOLOGNESI, 2005). Conforme

estudo realizado pela empresa de consultoria e auditoria KPMG2 (BARROS, 2003

apud BOLOGNESI, 2005), o número de operações de fusões e aquisições já era

crescente desde 1994. Em 2003, apurou-se substancial aumento dessas

operações, tornando-as estratégia preferencial de crescimento dos negócios

(KPMG, 2003 apud BOLOGNESI, 2005). A Cemig seguiu a tendência do mercado

e estipulou em seu planejamento estratégico crescer por meio de fusões e

aquisições de novas participações e negócios.

4.2 Concepção e primeiros sinais da estratégia de crescimento – 2003 a 2006

A atuação da empresa até 2003 era focada no estado de Minas Gerais, sendo a

gestão de projetos de expansão coordenada pela Diretoria de Projetos de

Construção (DPC). A forma de crescimento dos negócios era por meio da

construção de novos ativos, como usinas hidrelétricas e compra de ativos no

interior de Minas Gerais (entrevistas informais, notas de campo). Não havia

sinalização para mudanças de direcionamento, com expansão dos negócios para

além de Minas Gerais até o ano de 2003 (entrevistas informais, notas de campo).

À época, a Cemig necessitava gerar caixa para amortização integral do contrato

Conta de Resultado a Compensar (CRC), originado de uma dívida que o governo

do estado de Minas Gerais, um dos acionistas da Cemig, havia assumido com a

empresa (entrevista 9, entrevistas informais). A Cemig havia provisionado perdas

em demonstrações financeiras do 2º e 3º trimestres de 2002 de US$ 450.000.000

(taxa de câmbio de 31 de março de 2002) em função do aditivo ao Contrato de

2 KPMG, KPMG Corporate Finance, Financial Advisory Services. Pesquisa de Fusões e

Aquisições Realizadas no Brasil, 2003 e 2004.

55

Cessão de Créditos da CRC assinado em 14 de outubro de 2002 (documento 2,

APÊNDICE B).

Uma das formas para pagamento dessa dívida seria incrementar a geração de

caixa e reter parcela dos dividendos do estado. Expandir a atuação para além das

fronteiras do estado de Minas Gerais emergiu como opção, sendo tomada pelo

presidente do Conselho de Administração que assumiu em 27 de fevereiro de

2003, Wilson Nélio Brumer (entrevista informal, documento 3, APÊNDICE B).

Segundo as entrevistas, com o “respaldo do novo conselho e com o perfil de

executivo de mercado e não mais apenas com atuação política, o novo presidente

do Conselho de Administração lançou um novo desafio para a Cemig, de

crescimento dos negócios com agregação de valor” (entrevista).

No 3º trimestre de 2003, o então presidente do Conselho de Administração,

Wilson Nélio Brumer, apresentou o planejamento estratégico da empresa, cuja

estratégia principal era “propiciar crescimento sustentável e agregar valor ao

investimento atual do acionista” e promover “a expansão do parque gerador e das

redes de transmissão e de distribuição da Cemig”. A visão anunciada era de

“crescimento e criação de valor” (documento 4, APÊNDICE B). Para alcançar a

estratégia pretendida, foram traçados objetivos como participação em leilões e

licitações de transmissão e geração. Também foi criado o Comitê de

Planejamento Estratégico (CPE), com a finalidade de “promover a interação entre

as diversas áreas da Cemig e com o intuito de viabilizar o Plano Plurianual e

Estratégico da Companhia” (documento 1, APÊNDICE B).

Para esse crescimento, a Cemig optou por duas modalidades de investimentos: a

primeira, pela aquisição de empresas já constituídas, com estrutura pronta e em

operação no setor. E a segunda, por investimentos “greenfield”. Esses

investimentos envolvem projetos incipientes, que demandam recursos para a

construção da estrutura necessária para a operação, como, por exemplo,

investimentos em ativos de construção de linha de transmissão. Os investimentos

do tipo greenfiled são viabilizados por processos licitatórios, mais especificamente

por meio de leilões (INVESTIMENTO EM PROJETOS GREENFIELD, 2012)

56

Em 2003, a Cemig iniciou sua participação em leilões de transmissão, sem obter

sucesso. Naquela época concorreram nos leilões empresas estrangeiras, mais

experientes, principalmente as espanholas. Segundo os entrevistados, a Cemig

possuía desvantagens em relação aos concorrentes. Por exemplo, faltava-lhe

“expertise em toda a cadeia de construção e operação de linhas de transmissão,

pois era especialista apenas na operação” (entrevista informal). Outra

desvantagem, informam as entrevistas, estava relacionada à Cemig não

conseguir realizar a mesma negociação agressiva com os seus fornecedores

como as empresas estrangeiras e obter acesso a financiamentos mais baratos

(entrevistas 4, 9, informal).

Também era necessário entender a forma de atuação dos concorrentes. Alguns,

por exemplo, toleravam taxas de retorno do investimento muito baixas (entrevistas

informais, anotações de campo). Apesar da dificuldade na participação em leilões,

a outra vertente do crescimento, a aquisição de ativos, materializou-se em 2004,

com a aquisição de 100% do capital social total e votante da Rosal Energia S.A. -

Usina Hidrelétrica de Rosal. Localizada no Espírito Santo, divisa com o Rio de

Janeiro, Rosal foi a primeira usina da Cemig fora de Minas Gerais (documento 6,

APÊNDICE B).

Em 2005, a estratégia de crescimento foi reafirmada e se tornou mais significativa

para a empresa. Instituiu-se um Plano Diretor que apresentava diretrizes para os

ciclos de planejamento estratégico daquele ano, 2005, até 2035. Os fundamentos

declarados eram de expansão da Cemig até os limites regulatórios, com

crescimento sustentável e agregação de valor; e amortização integral do contrato

CRC, com retenção dos dividendos do estado. Segundo os entrevistados, a

estratégia de crescimento foi definida “em função do Plano Diretor, que deveria

ser revisado anualmente no ciclo de planejamento estratégico” (entrevistas 3, 7).

A visão da Cemig passou a contemplar o mercado, com o estabelecimento de

diretrizes mais estratégicas que consideravam os acionistas, clientes e

fornecedores de forma geral.

Para cumprir as diretrizes do Plano Diretor e do planejamento estratégico de

2005, foi formada, de acordo com os entrevistados, “uma estrutura inicial na

57

Diretoria de Finanças e Relações com Investidores (DFN)” (entrevista 2). Nessa

estrutura inicial, criou-se a superintendência para avaliação financeira de novos

empreendimentos e gestão das participações após as aquisições, com o controle

de empresas coligadas e controladas. Essa estrutura parece ter sido de grande

importância para o processo de crescimento da empresa, uma vez que, após sua

criação, houve duas aquisições importantes – a aquisição da Light e das

Transmissoras Brasileiras de Energia (TBE) em 2006.

No que diz respeito às participações nos leilões, a CEMIG passou a buscar no

mercado parceiros interessados em formar consórcios, devendo as empresas

parceiras ter “experiência em implantação e exploração de empreendimentos e

serem fornecedoras de bens, serviços e equipamentos para a implantação e

exploração de empreendimentos e investidores em empreendimentos de

infraestrutura” (documento 7, APÊNDICE B). Em parceria com a Cia. Técnica de

Engenharia Elétrica - Alusa, de São Paulo, a Cemig venceu, em abril de 2005, a

licitação para concessão da implantação e exploração comercial da linha de

transmissão entre as cidades de Charrúa e Temuco, no Chile, em disputa com

empresas do Chile, Colômbia e Espanha. Conforme anúncio oficial da Cemig,

“essa conquista representou um grande passo para a empresa abrir seu caminho

no mercado internacional” (documento 8, APÊNDICE B). Para executar a obra, foi

constituída uma sociedade de propósito específico (SPE) no Chile, a Transchile

Charrúa Transmisión S/A., com 51% de participação da Alusa e participação

minoritária de 49% da Cemig (documento 8, APÊNDICE B).

A participação minoritária da Cemig nas empresas já refletia a preocupação da

empresa em não ser sócia majoritária das aquisições, para que “as empresas

adquiridas não tivessem a maioria do seu capital integralizado por uma sociedade

controlada por capital público como a Cemig” (entrevista informal, entrevista 9).

Se a participação da Cemig fosse majoritária, as empresas adquiridas ficariam

submetidas ao regime jurídico de uma empresa pública, com todos os seus

entraves de contratação, acesso a financiamento, entre outros, o que poderia lhes

colocar em desvantagem comercial. O que se buscava, segundo os entrevistados,

era garantir o acesso a fontes de financiamento equivalentes às dos concorrentes

e adquirir agilidade na implantação dos empreendimentos. O desafio, portanto,

58

era encontrar parceiros adequados para as aquisições, sendo que, nos moldes do

Acordo de Acionistas, a Cemig deveria preferencialmente “fazer a gestão dos

negócios por possuir expertise” (entrevistas informais). “Construtoras e fundos de

investimento teriam o perfil ideal para a parceria, já que tinham intenção e

possibilidade de ficar nos negócios por longo tempo e eram empresas sem

experiência no mercado de energia, fato que possibilitava à Cemig fazer a gestão

dos negócios” (entrevistas informais).

Em 2006, a repactuação do contrato de repasse dos créditos de CRC entre o

estado de Minas Gerais e a Cemig acarretou, entre outras deliberações, o reforço

da estratégia de crescimento acelerado com a máxima participação de mercado

permitida pela regulamentação. O documento “Pronta para crescer - Estratégias

para assegurar crescimento sustentado” apresentado ao mercado (documento 12,

APÊNDICE B) reafirma a estratégia da empresa de “ampliação da área de

atuação da Cemig”, com foco no setor elétrico, e “crescimento fora da área

geográfica atual” (documento 12, APÊNDICE B). Para o negócio transmissão, o

direcionamento era “rever toda a estratégia de participação nos leilões de

transmissão” (documento 14, APÊNDICE B), pois “a dificuldade da empresa em

competir nos leilões, identificada em 2003, ainda permanecia” (entrevista informal,

entrevistas 7, 9).

A outra vertente do crescimento – as aquisições – apresentava resultados

satisfatórios. A Cemig ampliou de 4 para 5,7% a sua participação no mercado

nacional de transmissão de energia elétrica e passou a estar presente nos

estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Santa Catarina, Rio Grande

do Sul, Pará e Maranhão (documentos 9 e 10, APÊNDICE B).

As aquisições trouxeram novos desafios para a Cemig, segundo os entrevistados,

sendo refletidos em seu planejamento estratégico formal. Surgiram os

questionamentos: “Como fazer a gestão dos empreendimentos adquiridos? Quais

seriam as competências e capacidades necessárias para gerir os novos

negócios?” (entrevistas informais). Portanto, em 2006, a empresa começou a se

preocupar com a “gestão pós-transação”. Necessitava “preparar-se para a gestão

direta ou indireta das empresas adquiridas, buscando maximizar os ganhos

59

previstos durante a negociação da transação” [...] “e aprimorar as habilidades

necessárias à condução do processo de aquisição e da gestão de culturas

diferentes” (entrevista informal, documento 14, APÊNDICE B).

Foi nesse contexto, em 2006, que o assunto das competências requeridas para

cumprimento da estratégia apareceu formalmente pela primeira vez em

workshops semestrais (realizados no período de 2002 a 2006) sobre a estratégia

em que participavam diretores e superintendentes. Os workshops de 2006

orientaram a criação de programas importantes para capacitação de conselheiros,

corpo gerencial e pessoas com potencial de sucessão gerencial. As principais

iniciativas eram a formação de conselheiros vinculados ao Instituto Brasileiro de

Governança Corporativa (IBGC), programa de gestão sucessória, e o programa o

SELIC para capacitação gerencial contínua (entrevista informal).

4.3 A consolidação da estratégia de crescimento – 2007 a 2012

A estratégia de crescimento, por meio de expansão da geração e transmissão e

aquisição de novos ativos, foi mantida e formalizada no documento

“Direcionamento Estratégico Cemig - Ciclo 2007-2011” (documento 15,

APÊNDICE B). Como instrumento de formalização e desdobramento da

estratégia, a empresa passou a adotar, em 2007, a metodologia do Balanced

Scorecard (BSC), ferramenta para acompanhamento e gestão da estratégia, que

pressupõe, além do estabelecimento da visão e missão da empresa, a construção

de mapas estratégicos por negócios e painéis de contribuição das áreas.

Os entrevistados ressaltaram que as “estratégias têm que ser revertidas para todo

o corpo da casa, não basta ficar lá no nível de diretoria, do conselho da empresa,

da presidência” (entrevista 8). A implantação da metodologia BSC possibilitou

esse processo, com a elaboração de mapas estratégicos para os negócios de

geração, distribuição e transmissão e definição da missão e visão da Cemig de

“forma diferenciada, da forma mais estratégica, pensando nos acionistas, nos

clientes e nos fornecedores de forma geral” (entrevista 7). Segundo os

entrevistados, foi a partir de então que houve o entendimento de que o Plano

60

Diretor não deveria ficar guardado na gaveta, como estava sendo feito, tratado

confidencialmente, impossibilitando o entendimento da estratégia e sua efetiva

implementação.

Em 2007 foi criada a DDN para gerenciamento da prospecção e realização de

novos negócios. Sua atuação, por meio das superintendências e gerências

especializadas, envolve a identificação das oportunidades de aquisição de novos

ativos nos mercados nacional e internacional. De acordo com os entrevistados, a

criação da DDN concretizou-se com o intuito de aperfeiçoar o processo de

aquisições, agrupando dentro de um mesmo processo e até mesmo espaço físico

pessoas e capacidades técnicas necessárias para realizar os movimentos de

crescimento demandados pela empresa. Esse agrupamento das atividades,

contudo, não contemplou atividades como apoio jurídico, gestão pós-aquisição,

estruturação de financiamento e avaliação técnica de engenharia. “Essas

atividades continuaram sendo realizadas no âmbito de outras diretorias e a DDN

depende dessas áreas para execução de suas próprias rotinas” (entrevistas 4, 6,

10). A gestão pós-aquisição só passaria a ser realizada na DDN após uma

reestruturação em 2011, que será posteriormente detalhada.

Observa-se que a partir de 2007 a estratégia de crescimento por meio de fusões e

aquisições alavancou-se, permanecendo ascendente nos anos de 2008 e 2009.

Destaca-se, em 2009, a aquisição de 49% do capital total Terna Participações

S/A. A aquisição da Terna, com atuação no segmento de transmissão de energia

elétrica em 11 estados do Brasil, representou para a Cemig uma excelente

oportunidade de investimento, consolidando sua presença no mercado de

transmissão de energia elétrica no país (documento 18, APÊNDICE B).

Nesse mesmo ano de 2009, foi realizado um seminário para a construção da nova

visão de futuro da Cemig, com a participação do Conselho de Administração,

diretoria executiva e superintendentes. A visão criada em 2003 de que “a Cemig

será a melhor empresa de energia do Brasil” foi revisada (documentos 16 e 17,

APÊNDICE B). Estipulou-se a nova visão “Estar, em 2020, entre os dois maiores

grupos de energia do Brasil em valor de mercado, com presença relevante nas

Américas e líder mundial em sustentabilidade do setor”. Essa nova visão foi

61

considerada ampla o suficiente para abranger os diversos negócios de energia

elétrica e gás, bem como indicava um direcionamento para a internacionalização.

Em 2010, os mapas estratégicos foram revisados no sentido de refletir o novo

direcionamento estratégico (documento 19, APÊNDICE B), surtindo exitosos

resultados nas aquisições realizadas pela empresa tanto em 2010 como em 2011.

O QUADRO 3 demonstra esses resultados e a evolução desse crescimento

desde 2003. A estrutura societária da empresa consta no ANEXO B.

QUADRO 3 - Principais aquisições e investimentos em greenfield do período de

2003 a 2011

Ano Aquisições/ Greenfield

2004 ROSAL ENERGIA S.A - 100% do capital social total e votante da primeira usina da Cemig fora de Minas Gerais.

2005 LINHA DE TRANSMISSÃO CHILE - participação de 49 % na SPE Transchile Charrúa Transmisión SA para implantação e exploração comercial da linha de transmissão entre as cidades de Charrúa e Temuco, no Chile.

2006

TRANSMISSORAS BRASILEIRAS DE ENERGIA (TBE) - aquisição de participações de transmissoras controladas da TBE ampliando de 4% para 5,7%, a participação no mercado nacional de transmissão.

LIGHT S.A. - Aquisição de 25% de participação da Light, tornando acionista controladora por meio de Sociedade de Propósito Específico (SPE).

2007 PROJETO HIDRELÉTRICO DE SANTO ANTÔNIO - participação no projeto hidrelétrico de Santo Antônio com 10% da Madeira Energia S.A.

2008

TRANSMISSORAS BRASILEIRAS DE ENERGIA (TBE) - aumento da participação nas transmissoras controladas da TBE, dobrando a já existente.

LUMITRANS e STC - Controlada da TBE - Empresa Amazonense de Transmissão de Energia S/A. (EATE) efetuou a aquisição de (i) 80% do capital social da Lumitrans e (ii)80% do capital social da STC.

2009

TAESA - A Cemig GT adquiriu 49% do capital total da Terna Participações S.A., consolidando sua presença no mercado de transmissão de energia elétrica no país. Em novembro de 2009, houve mudança de titularidade TERNA para TAESA.

PARQUES EÓLICOS CEARÁ - participação societária em três parques eólicos localizados no Ceará - Central Eólica Praia do Morgado, Central Eólica Praias de Parajurú, Central Eólica Volta do Rio.

2010 LIGHT S.A. - Aumento de participação para 26,06%.

TAESA - Aumento de participação.

2011

UNISA - Taesa, coligada da CEMIG – adquiriu participação de 50% do capital social da União de Transmissoras de Energia Elétrica (UNISA), antes pertencente à Abengoa. A aquisição representa aumento de 30% dos negócios de transmissão de energia do grupo Cemig.

RENOVA ENERGIA S.A. - A Cemig, por meio da Light Energia S.A., adquiriu 50% no bloco de controle da companhia.

2011 NORTE ENERGIA S.A. (BELO MONTE) - aquisição de 9,77% do capital social da Norte Energia S.A. (NESA), empresa que detém a concessão da Usina Hidrelétrica de Melo Monte.

Fonte: elaborado pela autora com base em Cemig (2012 b).

62

Embora se reconheçam os resultados da expansão, ainda se ressentem de

melhores posicionamentos, acreditando que o objetivo estratégico não foi

plenamente alcançado. Segundo os entrevistados, o fato de a Cemig ser uma

empresa de economia mista, controlada pelo governo do estado de Minas Gerais,

confere-lhe reduzida agilidade de mercado, dificultando posicionar-se com

agressividade ante a concorrência, sendo, portanto, um desafio o alcance de suas

metas. Essa afirmativa pode ser verificada pelos seguintes depoimentos:

Em relação ao mercado eu entendo que a Cemig ainda precisa fazer muita coisa para alcançar os objetivos dela, até pelo fato das próprias limitações que ela tem, por ser uma empresa de economia mista ela tem suas limitações de agilidade [...]. (entrevista 10). Olha, a empresa está crescendo muito [...] mas ainda um pouco tímida, no sentido assim, nas questões de estrutura, ela não tem a mesma capacidade de decisão, igual a uma empresa privada. E eu acho que isso talvez possa interferir, a gente tem algumas travas, então acho que a gente não é tão agressiva quanto o mercado (entrevista 6).

Continuando sobre as avaliações dos seus resultados, ressalta-se a ainda

presente dificuldade de ganhar os leilões. Conforme os entrevistados, “a

orientação do Conselho de Administração é não realizar o empreendimento a

qualquer custo, não mergulhar demais nos leilões”, aceitando retornos menores

do que o estipulado previamente. Existem empresas que concorrem nos leilões

com a Cemig e oferecem taxa de retorno muito mais baixa, com lance melhor. Os

concorrentes possuem apetite para risco muito mais alto do que a Cemig

(entrevistas 7, 8, 9). Ademais, os negócios são realizados em sociedade com

outras empresas, “existem situações em que os parceiros da Cemig são mais

conservadores do que ela. Esses parceiros também limitam o lance no leilão”

(entrevista 7). Além disso, o “custo do dinheiro”, o financiamento com taxas muito

mais baixas a que empresas estrangeiras têm acesso é um fator externo que

desfavorece a Cemig (entrevista 7, entrevista geral).

Em que pesem essas dificuldades, a Cemig é considerada um dos cinco grandes

players do mercado (entrevista 11, 5), possuindo “posição favorável, pois tem

continuidade e é uma empresa grande e sólida” (entrevista 4). Isso devido às

suas boas condições financeiras, com caixa robusto e estrutura de endividamento

razoável (entrevista 2,4). “Estrategicamente, a Cemig está associada a uma

63

construtora grande e isso tem um peso importante” (entrevista 2). Ainda é uma

empresa que agrega os negócios de distribuição, geração, transmissão, “tudo isso

também ajuda a ela ser competitiva e a ter credibilidade” (entrevista 4). A solidez

da empresa eleva a confiança dos investidores, refletindo no seu desempenho em

aquisições.

4.3.1 Estratégia e mudanças organizacionais

Em 2011 foi contratada a consultoria Mckinsey para análise da saúde,

desempenho organizacional e atualização do planejamento e dos mapas

estratégicos e painéis de contribuição do BSC (entrevistas informais). A

consultoria também ficou responsável por conceber um novo desenho

organizacional para a estrutura da DDN criada em 2007, culminando em sua

reestruturação em 2011 (entrevistas informais). A reestruturação ocorreu sob a

liderança do novo diretor da área e “coincide com o início da atuação do grupo

empresarial Andrade Gutierrez como sócio da Cemig” (entrevista 2). Segundo os

entrevistados, essa reestruturação permitiria a “integração dos processos de

aquisição e gestão pós-aquisição, alcançando mais eficiência operacional”

(entrevistas 2, 4, 10). O intuito era melhorar o processo de aquisição e gestão dos

novos negócios, obtendo mais responsabilização pelo trabalho.

A nova estrutura uniu a atividade de avaliação e estruturação de negócios e a

atividade de gestão das participações. A gestão das participações estava na DFN

e a avaliação e estruturação de novos negócios estavam na DDN. A partir de

2011, a gestão das participações passou a ser conduzida na DDN. A nova

estrutura é completamente diferente do conjunto do desenho estrutural da Cemig

como um todo (entrevistas 2, 3, 6). Isso porque ela alterou “a forma de trabalhar,

com mudança de estrutura hierárquica para matricial” (entrevistas 2, 4, 10). Ainda

ressaltam “a alteração dos cargos e responsabilidades de forma a melhorar o

fluxo de informações entre as pessoas que atuam no processo de aquisições”

(entrevista 4).

64

Um dos principais benefícios dessa reestruturação foi a melhoria no fluxo da

informação na DDN. De acordo com os entrevistados, “as pessoas passaram a

ficar mais integradas em todo o processo: se existe um movimento de aquisição,

por exemplo, a área de participação já o acompanha desde o início (entrevistas

2,6). Segundo os depoimentos, mesmo quando as “aquisições são sigilosas, o

pessoal da gestão de participações tem ideia sobre o novo negócio, o que facilita

a transição para a gestão da participação após efetivação da aquisição”

(entrevistas 2, 6). Também o fato de estar na mesma diretoria “facilita a resolução

de dúvidas” (entrevista 6) e o acesso a “todos os níveis hierárquicos e à

informação em geral” (entrevista 2). Por exemplo, o gestor de um projeto precisa

de uma informação ou de executar um trabalho. Ele geralmente interage

diretamente com os analistas responsáveis por determinados negócios, sem ter

que passar pelos gerentes. O gestor do projeto e o analista desenvolvem o

trabalho, ficando a cargo do analista repassar as informações para a sua gerência

para conhecimento ou deliberação (entrevista 2).

A empresa foi reestruturada para alcançar a estratégia de crescimento. Com isso,

houve mudanças no fluxo de trabalho e na relação entre os empregados para a

execução das atividades. Para os entrevistados, “a estratégia de crescimento

repercute no seu dia-a-dia e no seu trabalho” (entrevistas 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10).

A união das atividades de aquisição e gestão pós-aquisição propiciou mais

responsabilização das áreas e pessoas e o maior compartilhamento na definição

das premissas e dos planos de negócio. A mudança estrutural retirou da área de

gestão de participações, por exemplo, a responsabilidade em assuntos mais

burocráticos, como a elaboração de documentos para aprovação da diretoria

(PRD), execução de pagamentos, aporte de capital, ficando a cargo dos gestores

dos negócios. Isso possibilitou mais tempo para a execução da atividade principal

do grupo, que é “realizar a análise financeira dos negócios” (entrevista 6).

Salienta-se que, ao passo que o gestor responsável pela aquisição passou a ser o

mesmo da gestão pós-aquisição, todo o processo passou a ser integrado e sob a

responsabilidade de uma só diretoria, tornando a equipe mais homogênea e mais

apta a solucionar problemas (entrevistas 2, 3, 6). A centralização da

responsabilidade pelas atividades de aquisição e gestão pós-aquisição em um só

65

gestor faz com que se tenha o “olho do dono na DDN tanto na hora de definir um

negócio quanto depois, para você acompanhar a realização da implantação ou do

negócio” (entrevista 3), “sendo que se alguma coisa der errada serve de

aprendizado para você não repetir o erro no próximo negócio” (entrevistas 2, 3, 4,

6). Ainda conforme relatado em entrevista, “houve uma evolução, de modo que já

se faz negócio de uma forma diferente como se fazia há seis ou sete anos, com a

mesma responsabilidade, mas com capacidade técnica que evoluiu” (entrevista

2).

A reestruturação da DDN em 2011 não abrangeu atividades como apoio jurídico,

estruturação de financiamento e avaliação técnica de engenharia. Essas

atividades continuaram sendo realizadas no âmbito de outras diretorias, como a

DFN e a DGT. Portanto, apesar da DDN trabalhar de forma matricial, para

melhorar o fluxo de informações e tornar as decisões mais ágeis, os entrevistados

argumentaram que “são dependentes de informação de outras áreas da empresa,

como da área de regulatório, tributária, jurídico, financiamento (entrevistas 4, 6,

10)”. Essas áreas são “muitas vezes conservadoras e burocráticas, o que deixa o

processo moroso” (entrevistas 4, 10). De acordo com os respondentes, essas

áreas possuem marcante rotina e com as demandas correntes da empresa; e as

demandas da DDN, de uma forma geral, não são tratadas como prioritárias.

4.3.2 Práticas da estratégia: atividades e ferramentas

Na DDN não “existem indicadores estipulados para o nível mais operacional

(entrevistas 3, 4, 6, 10), apenas os superintendentes têm metas, tais como as

metas de crescimento em megawatts instalado para geração e ampliação das

linhas de distribuição e transmissão” (entrevista 4). Apesar de não existirem

indicadores para o nível operacional, existem reuniões para acompanhamento e

discussão sobre a implementação da estratégia e sobre a experiência de cada um

em projetos distintos.

Essas reuniões podem ser classificadas em dois tipos: as formais, que possuem

periodicidade e públicos definidos, e as informais, em que os empregados se

66

reúnem conforme demanda, após uma aquisição, por exemplo. Como relatam os

entrevistados, “a cada projeto, a cada momento, digamos um pós-leilão, uma pós-

aquisição, a gente se reúne e aqueles analistas que participaram mais

efetivamente do processo relatam como foi a experiência” (entrevista 10). São

reuniões informais para avaliar “o que aconteceu de bom, o que aconteceu de

ruim, o que se pode fazer para melhorar depois, qual é a percepção desse

analista [...]” (entrevista 10) e obter, a partir de então, mais compreensão e

conhecimento para agir em situações semelhantes, como revela o depoimento:

[...] quando o colega relata uma dificuldade que ele teve, alguma percepção que ele tem, quando você está naquela situação você se lembra daquele caso e você já tem uma experiência, você pega um feeling daquele negócio para você evitar o problema, para fazer de uma maneira melhor. Então isso é muito válido, é troca de experiência mesmo, isso não tem como obter nos livros. Isso é só quem fez, quem viveu, é passar um sentimento mesmo (entrevistado 10).

As reuniões ocorrem para “as pessoas conhecerem o projeto de cada um, ver

quem pode agregar, se tem algum comentário, então a gerente reúne para falar

„Ô fulano, fala como está o seu projeto, sicrano fala como está o dele‟” (entrevista

4). No âmbito de uma gerência da DDN, são realizadas reuniões para

compartilhamento de informações que servirão de base para o cumprimento da

estratégia, mas que, de acordo com o entrevistado, “não são tão periódicas como

poderiam ser” (entrevista 6). As reuniões com toda a equipe “são mais raras,

sendo mais comum a ocorrência de reuniões com grupos de trabalho separados

por empresas de cada negócio” (entrevista 6). Esses grupos realizam reuniões

mensais para discutir sobre o resultado das empresas que são objeto de controle

sobre essa gerência, principalmente em relação ao setor financeiro, com detalhe

para a margem de lucro, Earnings before interest, taxes, depreciation and

amortization (EBITDA), receita.

Nessas reuniões são apresentados os problemas das empresas para

conhecimento de todos os empregados da gerência e do gerente. As informações

previamente discutidas nessas reuniões “são levadas para o Conselho de

Administração da Cemig” (entrevista 6). Ainda são discutidas melhorias de

relatórios, como automatização, com o objetivo de se “gastar o menor tempo

possível na sua elaboração, obter informações mais precisas e sobrar mais tempo

67

para realizar as análises financeiras das empresas coligadas e controladas”

(entrevista 6).

Esses relatórios, que são base para as análises financeiras das participações,

estão disponíveis na rede corporativa para todos acessarem e estão sempre

passando por aprimoramentos (entrevistas 2, 6). Constituem-se de modelos que

instrumentalizam o processo e direcionam o trabalho. Conforme depoimento,

“esses modelos já estão em patamar bem mais avançado do que há um ano

anterior, implicando menos erro e retrabalhos” (entrevista 2). Os

aperfeiçoamentos dos modelos de trabalho são frutos de sugestões individuais e

de discussões e consensos em grupos. Quando se tem relatórios muito bons, a

área busca “aplicar e padronizar para todas as empresas do mesmo segmento; a

gente está padronizando, por exemplo, todos os relatórios de orçamento de

transmissão” (entrevista 6).

Desses modelos sai um produto final, que é um relatório com informações

financeiras relevantes das empresas coligadas e controladas, para

acompanhamento do plano de negócio e retorno financeiro previamente

estabelecido e tomada de decisão. De acordo com o entrevistado, “daí para

frente, você precisa fazer análise, tem que enxergar” e requer bagagem de

conhecimento, difícil de ser documentada, pois existem negócios e situações

específicas, que vão desde áreas de concessão a regulações distintas que podem

influenciar na análise (entrevista 2). Adicionalmente, além de entender de

finanças, os analistas precisam conhecer “o setor energético, as resoluções, as

regulamentações, então isso não é uma coisa que você procura na rede, acha e

entende” (entrevista 6). São necessários estudos, treinamentos e experiências.

Como um tipo de reunião formal realizada, tem-se semanalmente o fórum

gerencial chamado “bom dia”, com a presença de gerentes, superintendentes e

diretor da DDN para alinhamento do trabalho e orientação sobre a forma de

atuação e expectativas (entrevistas 2, 3). Também são realizadas reuniões

periódicas em que o núcleo de gerenciamento de projetos apresenta os

desdobramentos dos projetos de crescimento em andamento das áreas de

geração, transmissão e distribuição para os gerentes da DDN. Além disso, esse

68

núcleo de gerenciamento de projetos é responsável pela inteligência competitiva

da DDN, cujas atividades estão relacionadas a acompanhar as tendências do

mercado, monitorar o movimento de crescimento das empresas do setor elétrico,

mapear os passos dos concorrentes e identificar oportunidades de negócio. Nas

reuniões, essas informações de mercado são repassadas aos gerentes, conforme

informam os depoimentos (entrevistas 2, 4, 5). Após essas reuniões, de fórum

gerencial e com o núcleo de gerenciamento de projetos e os gerentes, as

informações sobre o andamento dos projetos são repassadas para os demais

empregados (entrevistas 2, 4), “para que eles tenham consciência e preparem-se

para receber esse novo caso se a Cemig entrar no negócio” (entrevista 2): “e

quando o negócio é muito certo e já começa a maturar, a gente fala, “isso vai

acontecer, vai fechar, já temos a resposta, etc.”. Aí já tem alguém do meu time

bem mais próximo do negócio” (entrevista 2).

Durante o processo de aquisição de empresas ou competição em leilões, existem

situações surpreendentes que demandam tomadas de decisões não planejadas,

por exemplo, alterar uma premissa, uma nova diretriz. Quando isso ocorre, há a

necessidade de consultar o Conselho de Administração para autorização da

mudança (entrevistas 2, 3, 4). Existem decisões, “jogadas de toalha” de última

hora, por exemplo, a Cemig optar por não participar de um leilão ou de uma

aquisição porque o sócio aceita menos retorno do que ela, todas essas decisões

são tomadas e pré-aprovadas pelo Conselho de Administração (entrevista 4).

Adicionalmente, existem situações “no calor da disputa”, que por um passo do

concorrente no leilão, por exemplo, faz-se opção por seguir uma diretriz distinta

daquela que foi prevista, com condições do negócio mais ousadas do que o

previamente autorizado (entrevistas 2, 3) com o intuito de ganhar a disputa.

Quando isso acontece, geralmente realizam um acordo de que a decisão ficará

sujeita a nova aprovação do Conselho de Administração, sem ônus para a Cemig

caso ela opte por sair do negócio.

O Conselho de Administração é denominado pelos entrevistados de “dono do

negócio”. Argumenta-se que na área de negócios quem manda é o dono,

atribuindo toda a decisão sobre as aquisições e participações em greenfiled ao

69

Conselho de Administração. Nas palavras dos entrevistados, “o conselho é

soberano” (entrevistas 2,3), sendo que o poder de decisão está definido, inclusive,

no estatuto da empresa. As áreas proveem condições para viabilização das

aquisições e participações em greenfield (entrevistas 2, 3, 4), por exemplo,

sugerem opções de formatação e estratégia financeira (entrevista 10), de forma a

influenciar nas decisões. A DDN trabalha de acordo com o interesse do dono

(entrevista 3). Mas a decisão, principalmente por envolver investimentos altos e

posição de mercado, é dada pelo acionista. A área pode identificar um bom

negócio e levar para aprovação, também podendo tentar viabilizar um projeto de

interesse dos acionistas (entrevista 3).

Após a viabilização dos projetos greenfield, a engenharia assume a implantação

dos empreendimentos (entrevistas 4, 7), realizando a sua gestão tendo como

base o plano de negócios predefinido. A engenharia, ao assumir a implantação do

empreendimento, adota, assim como a DDN, o papel de olho do dono (entrevistas

7, 8). São designados gestores para um ou mais empreendimentos, sendo que

“esses gestores agem como se fosse o olho do dono durante a implantação,

avaliando o cumprimento de cronogramas, realização financeira compatível com a

física” (entrevista 7). Durante a implantação, são rodados os mapas de riscos

mensalmente para avaliar a evolução dos riscos mapeados e tomar as

providências necessárias para que o retorno do empreendimento fique dentro dos

parâmetros estabelecidos e a estratégia seja cumprida (entrevistas 7, 8).

A área de engenharia atua de forma integrada com a DDN, sendo que o plano de

negócios acompanhado pelos gestores da implantação é validado e alterado em

conjunto pelas duas áreas. Conforme relatado pela entrevista, “eu tomo conta

desse plano de negócio que está estabelecido; se alguma coisa tiver que mudar,

seja na sociedade ou no plano de negócio, a gente volta na DDN e modifica”

(entrevista 7). Os “gestores da engenharia é que acompanham esse físico-

financeiro, o executivo da implantação de empreendimentos. A DDN acompanha

em nível de conselho, como gestor do negócio” (entrevista 7).

Para acompanhamento da implantação dos novos empreendimentos, são

realizadas reuniões de comitê executivo para que o gestor da implantação do

70

empreendimento possa dar “ciência ao pessoal da casa de como o

empreendimento está e ao mesmo tempo ser alimentado das informações deles”

(entrevista 7). De acordo com o entrevistado, “apesar de você ter colocado um

gestor para tomar conta, como se fosse o olho do dono da Cemig naquele

empreendimento, esse gestor não é senhor de todas as informações e não

consegue dar todas as respostas que a sociedade precisa” (entrevista 7).

Existem situações que são muito específicas, como a dificuldade de conseguir um

financiamento ou um problema relacionado à questão ambiental, que demandam

a participação de especialistas de áreas distintas da empresa. Por isso, a

importância de tratar os assuntos pendentes nessas reuniões do comitê

executivo, como tem sido realizado, para que todos tenham informações sobre o

andamento dos empreendimentos. Além do gestor do empreendimento, essa

reunião geralmente conta com a participação de um representante da área de

financiamento, representante da engenharia do proprietário, que é um tipo de

serviço realizado pela Cemig para os empreendimentos, representante da área de

meio ambiente e representante da DDN que faz o acompanhamento do plano

financeiro (entrevista 7).

Para manter as pessoas informadas sobre a estratégia, sobre a sua

implementação e os desdobramentos que estão sendo realizados, a área de

engenharia pesquisada utiliza modelos de reuniões, como a RAC, baseada na

metodologia definida pelo BSC. De acordo com os entrevistados, são realizadas

bimestralmente reuniões de análise crítica. Essas reuniões ocorrem primeiro na

gerência, com gerentes e empregados, e depois na superintendência, com

superintendente e gerentes. Com essas reuniões, as pessoas compartilham as

iniciativas que estão sendo feitas para cumprir a estratégia e passam a

compreendê-la melhor. Assim, “torna mais claro para os envolvidos os seus

papéis, a forma de contribuição para cumprir os indicadores e a estratégia”

(entrevista 7). A transcrição a seguir reflete bem esse entendimento:

[...] então se eu tenho aquilo para mim, que eu faço parte da implantação de projetos e que meu trabalho vai contribuir para o objetivo maior da Cemig, que é geração de caixa, que é aumentar o portfólio dela no mercado, eu estou totalmente dentro da estratégia da Cemig, eu estou implantando a estratégia da Cemig e estou contribuindo para que 2020

71

eu seja uma das duas empresas de energia reconhecida no mercado

(entrevista 7).

Na RAC, os participantes da área de expansão da engenharia comentaram como

é importante “ouvir do presidente qual é o norte da empresa” (observação de

reunião), fazendo referência a uma campanha interna recém-lançada. Nessa

campanha, o presidente da Cemig fala mensalmente para todos os empregados

sobre os assuntos mais relevantes e estratégicos da empresa. A despeito da

existência de reuniões para esclarecer sobre os desdobramentos da estratégia,

os empregados ainda se ressentem da lacuna de comunicação (observação de

reunião) sobre a estratégia em um contexto mais geral, como mudanças ou

manutenção no direcionamento. As pessoas relataram que essa informação não é

muito acessível, mas que é importante para direcionar o trabalho, revelando que o

compartilhamento sobre a estratégia é muito importante (observação de reunião).

Por esse motivo, um gerente propôs na reunião, com anuência dos empregados,

encontro mensal para acompanhamento da estratégia, para falar do que foi

planejado, realizado e os avanços. Uma reunião, segundo ele, para falar da

estratégia de forma mais ampla e não somente em se tratando da

superintendência (observação de reunião).

Na observação da RAC gerencial verificou-se a apresentação dos destaques dos

ambientes externo e interno da empresa, demonstrando a preocupação da

posição da Cemig no mercado. Ainda foram discutidos os resultados dos

indicadores e metas definidos (observação de reunião). De acordo com os

entrevistados, o principal indicador da expansão de engenharia é o Índice de

Aderência ao Plano de Negócios (IAPN). Esse índice mede a conformidade das

ações da área de expansão da engenharia com o plano de negócio e a taxa de

retorno aprovados pelo Conselho de Administração da Cemig para um

empreendimento (entrevistas 7, 8).

Apesar do IAPN ser um indicador importante, foi relatado por analistas e gerente

da EP na RAC que existem inconsistências no método de avaliação ou de

consolidação de determinada atividade, que faz com que o indicador seja

impactado, apresentando resultado abaixo da meta. Em relação a essas

72

inconsistências, houve muita discussão, com diversos questionamentos e

sugestões de melhoria. Verificou-se que o momento de discussão na RAC sobre

os indicadores foi um ponto de interação, negociação, envolvimento para pensar

novas formas de se trabalhar e troca de experiências envolvendo pessoas do

nível operacional e gerencial (observação de reunião). Argumentaram sobre a

necessidade de estabelecer indicadores em conjunto com outras áreas da

empresa, por processo, para facilitar o acompanhamento, uma vez que o

indicador medido internamente na EP é dependente de ações de outras áreas. O

analista da EP enfatiza:

Porque você, ao ter muitos processos, então você segrega muito as coisas, então para juntar isso no final da estratégia é a maior dificuldade. [...] Então todo mundo tem que pensar no final, é o quê? Qual o objetivo da expansão? É crescer, mas não basta eu arrumar mais um ativo, tem que vir agregando valor para a empresa, senão não tem resultado, se essa cadeia não anda em conjunto para chegar nesse objetivo o resultado fica meio... então uma das coisas que tem que ser buscado é se trabalhar com indicadores para medir essa cadeia [...] (entrevista 8).

A falta de integração dos processos pode acarretar, além da dificuldade em

avaliar as metas e indicadores, o aproveitamento inadequado ou até mesmo a

perda de informação. Essa situação pode ser reforçada pela saída das

profissionais da empresa ou da área de atuação, sem que o conhecimento seja

registrado ou repassado aos demais. Segundo depoimento (entrevista 7), na

medida em que a estratégia de crescimento se fortalecia, com o aumento dos

projetos de novos empreendimentos, aumentava também a saída de profissionais

bastante experientes da empresa, que levavam com eles todo o conhecimento

sobre o processo. Adicionalmente, houve aumento no número de projetos em

sociedade, com diminuição do tempo para construção, implicando a realização de

projetos simultâneos e a redução de pessoal da Cemig no acompanhamento das

obras.

Tornou-se necessário, portanto, pensar uma forma de registrar os processos e as

decisões tomadas por essas pessoas e criar um procedimento para documentar

todas as etapas dos empreendimentos, para que todos tivessem informações

sobre eles (entrevista 7). As palavras do entrevistado realçam essa preocupação:

73

[...] nós temos que participar e que todo mundo entenda o processo da participação que isso possa passar de mãos em mãos de uma forma fácil de pegar. E organizar mais os documentos, ter acesso fácil aos documentos e a gente viu que cada vez mais essas sociedades iam aumentando [...]. Não havia mais volta, então foi dentro dessa estratégia, dentro dessa percepção desses movimentos é que essa necessidade apareceu e foi configurado um sistema para acompanhamento desses empreendimentos na sociedade (entrevista 7).

Um dos caminhos para proceder a essa documentação foi a implantação do

software para gerenciamento de projetos – EPM. A área utiliza o EPM desde

2009, no qual são armazenadas as informações dos empreendimentos. Conforme

relato, “tudo o que é relevante, contrato de constituição, de construção, as atas do

conselho, as atas de reunião técnica de engenharia do proprietário, pode ser

acessado pelo gestor do empreendimento pelo EPM” (entrevista 7).

Adicionalmente, de acordo com o entrevistado, os engenheiros gestores de

projetos realizaram treinamento e possuem certificação internacional (Project

Management Institute - PMI - e Project Management Professional - PMP) em

gerenciamento de projetos. Para finalizar, os entrevistados argumentam que o

processo mapeado, o sistema e os treinamentos sobre gestão de projetos

auxiliam as pessoas na tomada de decisão e a assumir projetos já em

andamento, pois conseguem acessar mais facilmente as informações (entrevistas

7, 8).

4.4 Discussão dos resultados da pesquisa

Nesta seção promove-se a análise dos dados mediante a discussão dos

resultados da pesquisa. Essa discussão é realizada em dois grandes blocos. No

primeiro, apreciam-se as relações entre as mudanças ocorridas na evolução da

implementação da estratégia de crescimento e o aprendizado organizacional

para, no segundo bloco, compreender como as atividades e ferramentas da

prática estratégica contribuem para esse aprendizado.

74

4.4.1 Mudanças e o aprendizado organizacional

A primeira análise diz respeito à influência do ambiente no direcionamento

estratégico da Cemig. Conforme demonstram os dados, dois grandes fatores

motivaram a concepção da estratégia de crescimento e expansão de atuação dos

negócios em 2003. A primeira motivação estava relacionada à renovação do

modelo regulatório do setor elétrico, que pressionou a adoção de mudanças

estratégicas e organizacionais. A elaboração da estratégia de crescimento da

Cemig foi reflexo da tendência do ambiente, pois “o setor de energia, como um

todo, estava passando por um processo de reestruturação” (entrevista 9).

Conforme evidenciado, antes do ano de 2003, o foco estratégico de crescimento

da Cemig era Minas Gerais, por meio de construção de novos ativos, como usinas

hidrelétricas e compra de ativos no interior deste estado. A estratégia de

crescimento por meio de fusões e aquisições só veio a ocorrer em 2003, como

uma forma de responder às mudanças do ambiente, alinhando-se às tendências e

perspectivas do setor elétrico e do mercado de energia. Assim sendo, inicialmente

mudanças estratégicas visavam somente adaptações ambientais, sem

necessariamente resultar em aprendizagem organizacional.

No bojo dessa associação entre organização e ambiente, existem diversas

referências à aprendizagem como sinônimo de adaptação, no entanto, é um

equívoco atribuí-la como possuindo o mesmo significado de adaptação

(HEDBERG, 1981; WEICK; WESTLEY, 2004). Aprender é diferente de adaptar

(HEDBERG, 1981; VERSIANI; FISCHER, 2008). A aprendizagem não é apenas

uma mudança de resposta ou do desempenho de uma organização, tendo em

vista a alteração dos estímulos do ambiente (HEDBERG; WOLFF, 2001).

Conquanto a aprendizagem ocorra a partir de interações da organização com o

ambiente, ela significa desenvolver internamente novos conhecimentos

(DOGSON, 1993; FIOL; LYLES, 1985) e geralmente passa a acontecer quando

inferências retiradas da experiência são incorporadas nas rotinas que guiam

comportamentos (FIOL; LYLES, 1985; LEVITT; MARCH, 1991). Já a adaptação é

a “capacidade de fazer ajustes incrementais, como resultado de mudanças

75

ambientais, mudanças de estruturas de meta ou outras alterações" e está

relacionada apenas a ajustes defensivos (FIOL; LYLES, 1985, p. 811).

Essa distinção entre adaptação e aprendizado remete aos diferentes modelos,

behaviorista e cognitivista, nos quais a aprendizagem individual é descrita e que

suportam as referências da aprendizagem organizacional (CROSSAN et al., 1995;

FIOL; LYLES, 1985; VERSIANI, 2006). Os teóricos do modelo behaviorista

assumem que há aprendizado quando existem alterações no comportamento ou

ação e quando são perceptíveis, mesmo que essas alterações não sejam

precedidas por mudanças no pensamento que as tenham impulsionado

(CROSSAN et al., 1995). Para os teóricos do modelo cognitivista o aprendizado

se dá a partir da mudança no processo de pensamento, pela interpretação e

compartilhamento dos significados, mesmo na ausência de comportamento

ajustado (CROSSAN et al., 1995).

Se os dois modelos forem analisados separadamente, tem-se, por um lado, que

mudanças de comportamento podem acontecer sem algum reflexo no

desenvolvimento cognitivo; e, de outro, que o conhecimento pode ser adquirido

sem que mudança no comportamento ocorra (FIOL; LYLES, 1985). As diferenças

entre os modelos de aprendizagem elucidam como nem toda adaptação e

mudança podem gerar aprendizado organizacional, uma vez que este pressupõe

simultaneamente mudança cognitiva e de comportamento. A relação interativa

entre cognição e ação é crítica para a aprendizagem organizacional e não pode

ser dissociada (CROSSAN; LANE; WHITE, 1999; KIM, 1993). A mudança apenas

no comportamento significa adaptação, sem evolução no patamar de

conhecimento da organização, assim como a alteração apenas no nível cognitivo

não permite que o aprendizado seja aproveitado para a organização e não produz

melhorias para sua prática (VERSIANI; FISCHER, 2008).

Como pôde ser observado no caso de implementação da estratégia de

crescimento por meio de fusões e aquisições da Cemig, incialmente a empresa

realizou ajustes defensivos. Se, por um lado, as sinalizações de mudança no

setor se deram a partir dos meados da década de 90, somente em 2003, após

cerca de 10 anos, a empresa desencadeou sua mudança estratégica, optando por

76

crescer com fusões e aquisições. Apenas em 2005, com a instituição do Plano

Diretor, a execução da estratégia acelerou-se e os resultados passaram a ser

mais expressivos.

Em apenas três anos, após a instituição formal do plano estratégico, em 2006, as

mudanças organizacionais passaram a ocorrer de forma mais rápida. Nesse ano,

foram adquiridas várias participações significativas, tais como a TBE e a Light,

que elevaram o patamar de atuação da organização nos segmentos de

transmissão e distribuição, respectivamente. A introjeção da estratégia de

crescimento em diversos níveis organizacionais, melhor dizendo, o

desenvolvimento de uma postura mais agressiva em relação ao ambiente

compartilhada internamente é constatado quando, por exemplo, os entrevistados

afirmam que a empresa “optou deliberadamente pelo crescimento, uma vez que

ela poderia ter ficado quieta” (entrevista 11). Isso demonstra que atitudes mais

proativas e a incorporação de uma visão de concorrência mais acirrada foi sendo

internamente desenvolvida, principalmente em função do plano estratégico

devidamente comunicado e de seus desdobramentos em metas e indicadores

para a empresa. A formalização da visão de futuro e dos objetivos estratégicos e

a revisão anual do planejamento estratégico foram fundamentais para a

consolidação da estratégia por meio de fusões e aquisições, desencadeando a

elaboração de um novo modelo de se pensar a gestão da empresa.

Conforme demonstram os dados, o Plano Diretor foi um instrumento fundamental

para orientação do planejamento da estratégia (entrevistas informais, entrevistas

2, 3, 4, 7, documento 4, APÊNDICE B). Por isso dizer que a institucionalização da

estratégia de crescimento e do processo estratégico em geral se desencadeou

com a instituição do Plano Diretor, que apresentava diretrizes e fundamentos para

os ciclos de planejamento estratégico do ano de 2005 até 2035.

Desde 2005 os planos estratégicos foram anualmente revisados e a estratégia de

crescimento foi sendo reafirmada ao longo do período de análise. Outro marco

importante para a institucionalização da estratégia foi a uniformização do

processo de formalização e desdobramento da estratégia com a adoção da

metodologia do BSC, em 2007, que possibilitou mais divulgação e

77

acompanhamento da implementação. Em 2009, a visão da empresa foi

reformulada, instituindo um novo direcionamento estratégico para a busca de

liderança nacional nos mercados de atuação, preparação para

internacionalização, com foco nas Américas (documentos 16 e 17, APÊNDICE B

entrevistas informais), mantendo-se até a realização desta pesquisa.

O Plano Diretor também orientou mudanças de estrutura, pois se verifica que a

partir de 2005, com a sua instituição, foram realizadas alterações no desenho

organizacional para atender à estratégia de crescimento. Elas foram iniciadas

timidamente com estrutura inicial na DFN, passando pela constituição em 2007 da

DDN e culminando na reestruturação dessa diretoria em 2011.

Em 2007, com a criação da DDN, buscou-se aperfeiçoar a sequência de

aquisições, agrupando em um mesmo processo e espaço físico pessoas e

capacidades técnicas necessárias para operacionalizar os movimentos de

crescimento demandados pela empresa. Já em 2011, as atividades de avaliação

e estruturação de negócios e de gestão das participações que estavam dispersas

em duas diretorias - a DFN e DDN - foram agrupadas em um mesmo processo e

em uma única diretoria.

Observa-se que o processo de alteração da estrutura em decorrência da

estratégia foi gradual, primeiramente como decorrência da estratégia. A partir

dessas mudanças estruturais, desencadearam novas práticas na implementação

da estratégia. Cabe ressaltar que a reestruturação da DDN em 2011 possibilitou

uma evolução do que havia sido feito em 2007, ao integrar os processos de

aquisição e gestão pós-aquisição (entrevista 2, 4, 10) e realizar alterações em

cargos e responsabilidades. Pelos depoimentos, essas mudanças possibilitaram a

melhoria no fluxo de informações entre as pessoas que atuam no processo de

aquisições (entrevistas 2, 3, 4, 6), de forma que permitiu mais integração e melhor

conhecimento de todo o processo (entrevistas 2, 6), que facilitaram a resolução

de dúvidas (entrevista 6) e a execução das atividades (entrevistas 2,6). Isso

porque a equipe tornou-se mais homogênea e apta a solucionar problemas

(entrevistas 2, 3, 6). Adicionalmente, a união das atividades de aquisição e gestão

pós-aquisição na nova estrutura da DDN de 2011 permitiu mais responsabilização

78

das áreas e pessoas e mais comprometimento na definição das premissas e dos

planos de negócio.

A evolução das mudanças organizacionais e as alterações das práticas

decorrentes dessas mudanças parecem resultar em aprendizagem

organizacional. Essa conclusão é bem expressa nos depoimentos, em específico

do entrevistado, o qual ressalta: “houve evolução da empresa, de modo que já se

faz negócio de forma diferente de como se fazia há seis ou sete anos” (entrevista

2). O aprendizado organizacional pode ser identificado pelas mudanças na

estrutura e rotinas da organização na nova concepção que se adquiriu dos

negócios. Cabe ainda destacar a grande responsabilização dos envolvidos na

execução estratégica, cujas ações são identificadas na DDN. De acordo com os

entrevistados, tem-se na nova estrutura “o olho do dono tanto na hora de definir

um negócio como acompanhar a realização da implantação da estratégia”

(entrevista 3). No entanto, alterações significativas e recentes na estrutura, como

a reestruturação da DDN em 2011, em que se adotou o desenho matricial

(entrevistas 2, 4, 10), resultaram de proposta concebida por empresa de

consultoria, não sendo resultado de práxis e práticas internas.

4.4.2 Práxis de estratégia e aprendizado organizacional

O segundo ponto de análise refere-se à compreensão das práxis e

implementação da estratégia, verificando a influência desses processos na

institucionalização do conhecimento e renovação das práticas organizacionais.

Com base nos dados, percebe-se que foi na fase de consolidação da estratégia -

no período de 2007 a 2012 - que os momentos para discussão sobre a

implementação da estratégia de crescimento tornaram-se mais recorrentes. As

ferramentas de gestão, tais como a metodologia do BSC, propiciaram

observações mais objetivas dos processos gerenciais, bem como mais

compartilhamento de conhecimento. Essa metodologia prevê modelos de

reuniões em diversos níveis hierárquicos, no âmbito da gerência, com gerentes e

empregados, no nível de superintendência, com superintendente e gerentes, e na

diretoria, com diretores e superintendentes. Também a partir dela foram criados

79

indicadores para medir a contribuição das áreas no cumprimento da estratégia

(entrevistas informais, entrevistas 7, 8, observação de reunião).

Verifica-se, portanto que, dos órgãos entrevistados, apenas a engenharia utiliza

efetivamente os recursos propostos pela metodologia do BSC, uma vez que na

DDN não “existem indicadores estipulados para o nível mais operacional”

(entrevistas 3, 4, 6, 10) e as reuniões não seguem a metodologia proposta pelo

BSC. A despeito da utilização dos recursos pela engenharia, nota-se que existem

falhas no processo de construção dos indicadores, como segregação das

atividades, que tornam as avaliações de todo o processo e do cumprimento das

metas e indicadores incompletas e até mesmo inconsistentes (entrevistas 7, 8,

observação de reunião). Apesar de as pessoas envolvidas com os indicadores

conhecerem as dificuldades e argumentarem sobre a necessidade de estabelecer

indicadores em conjunto com outras áreas da empresa para facilitar o

acompanhamento, constatou-se que a mediação com essas outras áreas não

ocorre de forma tempestiva (entrevistas 7, 8, observação de reunião). Dessa

forma, o processo se apresenta como moroso e engessado.

Observou-se que em reuniões de RAC gerencial são discutidas questões que

revelam preocupação em relação ao alinhamento da empresa com o ambiente e

preparação para mudança interna. Os exemplos de assuntos discutidos são:

questões sobre a posição da Cemig em relação a outras empresas em valor de

mercado; sobre os lotes de leilões que a Cemig participará em 2012; e sobre a

escolha de parceiros para os negócios (observação de reunião). Mesmo esses

assuntos sendo discutidos em reunião, o resultado das discussões parece se

limitar a proposições mais corriqueiras e operacionais, não gerando proposições

formais para novos rumos da estratégia (observação de reunião).

As pessoas argumentaram que as ações para integração, como as reuniões e

indicadores, promovem mais clareza sobre os papéis dos envolvidos e sobre a

forma de contribuição para cumprir os indicadores e a estratégia (entrevistas 7, 8,

observação de reunião). De acordo com os dados, no entanto, essas ações na

empresa têm permitido apenas mudanças incrementais do que já está sendo

realizado, e não possibilidade de reflexão sobre novos direcionamentos. Isso se

80

torna mais claro quando é proposto na RAC gerencial o estabelecimento de uma

reunião para falar da estratégia de forma mais ampla, em um nível mais

estratégico, como mudanças ou manutenção no direcionamento, uma vez que

essa informação não é muito acessível (observação de reunião).

Jarzabkowski e Seidl (2008) argumentam que esse tipo de reunião, que aborda

assuntos de estratégia, é importante para a evolução das orientações estratégicas

da organização. Para que haja essa evolução, as reuniões precisam transpor o

nível de aprendizado de single loop (ou laço único), como parece ocorrer na

empresa. O aprendizado de single loop ocorre a partir da detecção e correção dos

erros, com melhorias nas rotinas estabelecidas, mas sem alterar o conjunto de

valores e normas estabelecidos (ARGYRIS, 1992; ARGYRIS; SCHÖN, 1978;

HEDBERG; WOLFF, 2001), mantendo as políticas e objetivos correntes

(DOGSON, 1993).

O aprendizado do tipo single loop também foi observado na DDN. Todos os

facilitadores para integração e conhecimento sobre a estratégia, como alteração

de estrutura organizacional para integração de processos, fórum gerencial para

orientação e alinhamento sobre o trabalho, reuniões de alinhamento entre

gerentes e empregados, parecem não gerar proposições, além de operacionais e

mudanças efetivas que possam caracterizar o estágio do aprendizado double

loop. O nível de aprendizado de double loop (ou laço duplo) é mais profundo e

envolve modificações de normas, políticas e objetivos (DOGSON; 1993). A

aprendizagem de laço duplo permite a reformulação de problemas e a

apresentação de respostas inovadoras e diferentes soluções possíveis para

determinadas situações (DOGSON; 1993; HEDBERG; WOLFF, 2001; KIM, 1993).

No aspecto estratégico, a aprendizagem double loop permite a evolução das

orientações estratégicas.

Os dados da pesquisa salientam que as mudanças de estrutura e as reuniões

parecem não redirecionar as práticas para novas concepções (VERSIANI, 2006),

caracterizando o aprendizado double loop. E não geram o que Hedberg e Wolff

(2011) denominam de estímulos estratégicos, que são aqueles que perturbam a

81

ordem estabelecida e contribuem substancialmente para a sobrevivência da

organização por meio do aprendizado estratégico.

Essa situação é, em grande parte, influenciada pela pouca autonomia dos

empregados, pela falha na integração entre o nível operacional e o nível de

diretoria e conselho e pela centralização excessiva das decisões (entrevistas 2, 3,

4, 6). Adicionalmente, não foi descrita a existência de fóruns para discussão e

proposição de novas práticas para alavancar o crescimento, além dos que já

estão sendo realizados, com as aquisições, investimentos em greenfield e busca

de maximização de retorno das empresas coligadas e controladas. Com base nos

dados, percebe-se que os empregados reproduzem as diretrizes dos conselheiros

em um processo bem hierarquizado.

Com a análise do “fazer da estratégia” ou strategizing, buscou-se verificar se as

pessoas, ao exercerem atividades relacionadas à estratégia, conseguem atribuir

sentido aos fluxos de eventos em curso (HEDBERG; WOLLF, 2001;

JARZABKOWSKI; BALOGUN; SEIDL, 2007), transformando o dia-a-dia em novas

práticas e obtendo até mesmo a renovação estratégica. Para cumprir tal objetivo,

o primeiro passo foi verificar a existência de momentos de interação entre as

pessoas envolvidas com a implementação da estratégia para que os

entendimentos sobre a estratégia pudessem estabelecer um norte comum para

todo o grupo (JARZABKOWSKI; BALOGUN, 2009).

Buscou-se, portanto, verificar a existência de atividades como reuniões,

workshops e planejamento, que são mecanismos de mediação e integração do

conhecimento e de consequente concepção de estratégia (JARZABKOWSKI;

BALOGUN; SEIDL, 2007; JOHNSON; MELIN; WHITTINGTON, 2003, 2007;

WHITTINGTON, 2006; JARZABKOWSKI, 2009). A partir da identificação e

análise dessas atividades de práxis de estratégia, buscou-se verificar a influência

do resultado do aprendizado individual e dos grupos na institucionalização que se

manifesta em modificações da estrutura, da estratégia e no conjunto de

procedimentos, rotinas e práticas (CROSSAN; LANE; WHITE, 1999).

82

Considerando as alterações da estratégia e estrutura, a práxis e a implementação

da estratégia por níveis hierárquicos inferiores parecem não ter contribuído ou

influenciado significativamente para essa alteração e institucionalização. No caso

estudado, a institucionalização decorre principalmente do processo formal de

planejamento, de parcerias com empresas de consultoria e por decisão dos

acionistas (entrevistas informais, entrevistas 2, 3, 4), com participação limitada

das pessoas envolvidas na implementação. Existe pouca abertura para novas

proposições sobre a estratégia pelas pessoas que a implementam. Portanto,

parece que o processo de implementação não foi tão bem aproveitado para gerar

avaliação e reflexão sobre a validade da estratégia inicialmente definida, com

possibilidade de mudanças dessa primeira orientação (BONASSI; COUTINHO,

2011; CLEGG; KORNBERGER; CARTER, 2009).

Sobre as modificações de procedimentos, rotinas e práticas decorrentes da

estratégia, notam-se alterações incrementais nas áreas pesquisadas. Na área de

engenharia são realizadas reuniões para análise da estratégia baseadas na

metodologia do BSC, ocorrendo na gerência, superintendência e diretoria.

Também foi implantado software para gerenciamento de projetos, que permite

registrar todos os processos e decisões tomadas pelas pessoas e todas as etapas

de implantação dos empreendimentos, para acesso de todos os empregados da

gerência de modo a facilitar o entendimento e compartilhamento das informações.

Na DDN existem fóruns gerenciais e reuniões informais para alinhamento entre

gerentes e empregados.

Contrariamente aos pressupostos da literatura, de que as experiências e a

identidade dos indíviduos, influenciadas por um contexto social, afetam as

definições da estratégia (JARZABKOWSKI; BALOGUN; SEIDL, 2007), os dados

evidenciam que, apesar de existirem reuniões e as pessoas conhecerem sobre a

estratégia, há separação entre formulação e implementação e os indíviduos que

não são considerados estrategistas exercem pouca influência nas definições da

estratégia e na construção de novas práticas para ação (entrevistas 2, 3, 4,

observação de reunião). A noção de estratégia da empresa tende a se basear na

corrente normativa sobre estratégia, sendo que sua construção, na prática, tem

efeitos pouco significativos no ciclo completo do processo estratégico.

83

Aparentemente não são criados espaços para que a estratégia possa emergir das

práticas cotidianamente exercidas, com espaço limitado para adaptações a

situações não previstas e mudanças.

Uma das consequências do engessamento do processo de construção da

estratégia parece ser a recorrência de alguns pontos fracos desde 2003, quando

a estratégia foi concebida. Como exemplo, tem-se a dificuldade em ganhar os

leilões para atuação em projetos greenfield. Mesmo todas as justificativas sobre a

manutenção dessa dificuldade sendo plausíveis e bem argumentadas, por

exemplo, as falas demonstram que os concorrentes toleram taxas de retorno mais

baixas, possuem acesso a financiamento com taxas de juros mais baixas

(entrevistas informais, entrevistas 4, 9), não foram constatadas ações que

pudessem envolver os empregados para pensarem uma forma de superar as

dificuldades. Com a existência dos processos de formulação e implementação da

estratégia mais integrados, provavelmente as limitações da organização seriam

superadas com mais rapidez e a estratégia assumiria forma de um processo de

aprendizado ao longo do tempo.

Com os resultados até aqui analisados, pode-se dizer que a Cemig aprendeu e

evoluiu seus procedimentos, estrutura e estratégia ao longo do período estudado,

2003 a 2012, pois novas práticas e significados foram institucionalizados, bem

como legitimamente reconhecidos na organização (VERSIANI, 2006). Esse

aprendizado foi evidenciado pelos dados, corroborado pelo fato de ter cumprido

antecipadamente o seu objetivo estratégico no dia 25 de junho de 2012,

alcançando a segunda posição no setor de energia em valor de mercado na BMF

Bovespa.

A exigência de adaptação ao ambiente desencadeou um processo formal de

estratégia, influenciado pelas parcerias formadas com consultores externos, com

desdobramentos nas áreas da empresa. O direcionamento formal da estratégia,

que pode ser considerado uma prática de estratégia, influenciou a práxis da

estratégia. No nível da intuição e interpretação, pode-se dizer que a estratégia

formal direcionou a forma como as pessoas compreendem a estratégia e sua

importância para a organização, fazendo com que adotassem postura em relação

84

à empresa e à estratégia, como se fosse o “olho do dono” (entrevistas 3, 6, 7, 8).

No nível da integração, detectou-se que existem reuniões, workshops sobre a

estratégia e a forma de contribuição das áreas (entrevistas 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 10,

observação de reunião). No entanto, essas atividades parecem não gerar

institucionalização de práticas que contribuam para a renovação estratégica. Isso,

as principais mudanças que se tornaram institucionalizadas, decorrem de

processo formal de estratégia.

85

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste capítulo serão apresentadas as principais conclusões da pesquisa,

buscando responder à pergunta formulada e cumprir o seu objetivo geral.

Também serão apresentadas as contribuições teóricas, as limitações do trabalho,

e sugestões para novas pesquisas que poderão complementar e corroborar os

resultados deste trabalho.

5.1 Principais conclusões

A partir das perspectivas teóricas da aprendizagem organizacional e estratégia

como prática, esta pesquisa buscou compreender e analisar os efeitos de práxis e

implementação de estratégia para o aprendizado organizacional e responder à

pergunta: “como as práticas de implementação de estratégia afetam o

aprendizado organizacional?”. Para tanto, foram traçados os seguintes objetivos

específicos:

1. Compreender as atividades e processos que permeiam a implementação e

a práxis de estratégia.

2. Identificar e analisar os aspectos que favorecem ou dificultam as práxis de

estratégia e a integração do conhecimento.

3. Verificar se existe aprendizagem organizacional em decorrência da

implementação e práxis de estratégia.

Em relação ao primeiro objetivo, constatou-se que as atividades de

implementação e práxis de estratégia ainda são tratadas como secundárias para

o desenvolvimento e renovação do processo estratégico. A relevância dessas

atividades para o aprendizado organizacional e estratégico não é plenamente

admitida por grande parte da organização. Portanto, verifica-se que não é

somente na literatura em pesquisa sobre gestão estratégica que existe a

predominância da noção de estratégia como algo deliberado e formal, em que

formulação e implementação são separadas (CLEGG; KORNBERGER; CARTER,

86

2009; MINTZBERG; AHLSTRAND; LAMPEL, 2003). Os motivos podem ser a

influência do campo teórico e por ser um processo aparentemente mais fácil de

ser conduzido, sem as surpresas e imprevisibilidades inerentes a um processo de

implementação (SPROULL; HOFMEISTER, 1986; VANTTINEN; PYHALTO,

2009).

Essa situação remete à análise do segundo objetivo específico, que é identificar e

analisar os aspectos que favorecem ou dificultam as práxis de estratégia e a

integração do conhecimento. Isso porque a grande relevância atribuída à

formalização da estratégia é um fator que dificulta a práxis e a integração do

conhecimento, uma vez que os empregados nem sempre acessam todas as

informações sobre o direcionamento estratégico e possuem pouca autonomia

para tomada de ação relacionada à estratégia ou para propor novas ideias que

gerem alterações e evolução das práticas organizacionais.

Com isso, ao tentar responder ao terceiro objetivo específico, que é verificar se

existe aprendizagem organizacional e renovação das práticas em decorrência da

implementação e práxis de estratégia, concluiu-se que os indíviduos que não são

considerados estrategistas exercem pouca influência nas definições da estratégia

e na construção de novas práticas para ação. Conforme argumentado, isso

resulta principalmente da centralização excessiva das decisões e segregação

entre formulação e implementação, que gera pouca autonomia para os

empregados tomarem decisões e proporem novas práticas e limita o

conhecimento sobre o processo de estratégia. Sendo assim, as principais

mudanças institucionalizadas são resultado de processo formal de estratégia, de

parcerias com empresas de consultoria (entrevista informal) e de decisões dos

acionistas (entrevista 2, 3, 4), com participação restrita das pessoas envolvidas no

processo de implementação.

Assim, pode-se concluir que, embora a organização tenha aprendido, esse

aprendizado não foi oriundo da descoberta da estratégia posta em prática, mas do

processo formal de estratégia, o que é evidenciado pelo fato de que a empresa

cumpriu antecipadamente seus objetivos estratégicos no dia 25 de junho de

2012".

87

5.2 Contribuições, limitações e sugestões para pesquisas

Acredita-se que esta pesquisa pode contribuir para aumentar a reflexão e

discussão teórica sobre a relevância das práticas e práxis de estratégia, bem

como o seu caráter emergente, na medida em que ressalta a importância desses

processos para o aprendizado organizacional e estratégico. Dessa forma,

permite-se que pesquisadores, gestores e profissionais da estratégia atentem

para o fato de que, apesar da predominância da corrente prescritiva e formal da

estratégia na condução de mudanças e processos estratégicos na organização, é

interessante aproveitar os momentos de práxis e implementação da estratégia,

bem como os de integração como instrumentos efetivos de aprendizado

estratégico. Isso resultará em melhor aproveitamento do conhecimento interno e

emergente que pode ser gerado pela interação das pessoas que trabalham no

dia-a-dia com a implementação da estratégia, uma vez que os profissionais, ao

refletir sobre as suas ações e experiência, podem adaptar as práticas existentes e

levar à síntese de novas práticas (WHITTINGTON, 2006).

Esta pesquisa subsidia a discussão sobre como tratar momentos e estágio de

aprendizagem na organização, ao analisar os efeitos da práxis e implementação

de estratégia para os aprendizados de single loop e double loop. O primeiro não

resulta em alteração de normas e valores da organização, enquanto o segundo é

mais complexo e possibilita a alteração dessas normas e valores, bem como das

orientações estratégicas (ARGYRIS, 1992; ARGYRIS; SCHÖN, 1978; HEDBERG;

WOLFF, 2001).

Do ponto de vista empírico, a compreensão e análise sobre os efeitos da práxis e

implementação de estratégia para o aprendizado organizacional contribui para a

empresa objeto do estudo refletir sobre a importância de aproveitar melhor o

processo de implementação, de forma que ele possa resultar na reflexão sobre a

validade da estratégia inicialmente definida (BONASSI; COUTINHO, 2011;

CLEGG; KORNBERGER; CARTER, 2010) e na renovação das práticas

organizacionais. Para tanto, seria interessante, em primeiro lugar, pensar como a

implementação e práxis de estratégia podem gerar conhecimento interno

relevante para a renovação dessas práticas. Atribuir mais autonomia e abertura

88

aos envolvidos na implementação pode ser uma das formas de auxiliar a

organização a criar mecanismos para antever o futuro e inovar mais, aumentando

assim a ocorrência de aprendizado e reduzindo momentos apenas de adaptação.

Apesar das contribuições teóricas e empíricas desta investigação, ela também

apresenta algumas limitações. Uma delas é que, apesar da relevância do caso

adotado, foi realizado estudo de caso único, de forma que os resultados da

pesquisa se aplicam à empresa pesquisada e não podem ser generalizados para

outras organizações. No entanto, podem indicar uma tendência para nortear

pesquisas futuras. Adicionalmente, no momento da análise dos dados, foram

identificadas questões não previstas no roteiro e na condução das entrevistas e,

por isso, não respondidas, mas que poderiam enriquecer ou dar mais

fidedignidade aos achados.

Considerando as limitações e resultados deste estudo, sugere-se a realização de

novas pesquisas que poderão complementar e corroborar os resultados deste

trabalho.

89

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96

APÊNDICES E ANEXOS APÊNDICE A - ROTEIRO DE ENTREVISTA

Perfil do entrevistado Cargo do entrevistado: Unidade organizacional: Vínculo da UO com a estratégia selecionada: Tempo de atuação no processo: Papel/atribuição relacionado à estratégia selecionada: Bloco 1 – Ambiente e estratégia 1. O que você entende sobre a estratégia de crescimento e expansão de

atuação nos negócios de transmissão, geração e distribuição? 2. Quando surgiu esse objetivo/direcionamento? Quando no seu setor ele

surgiu? O que significa para o seu setor? (ex. não tinha conhecimento em 2003?)

3. Como você percebe a Cemig diante das outras empresas e grupos do setor elétrico? Considera a posição favorável? Por quê?

4. O objetivo estratégico está alinhado com as tendências e perspectivas do setor elétrico e do mercado de energia? Explique.

Bloco 2 – Práticas e práxis de implementação Como o objetivo de crescimento e expansão de atuação nos negócios de transmissão, geração e distribuição repercute no seu setor?

(ex. A partir de quando o objetivo passou a ser implementado? Como avalia a implementação? Como foi? Ex. evolução da implementação desde 2003)

5. O que no dia-a-dia do seu setor tem contribuído para esse objetivo? Dê exemplos. Por que isso contribui?

6. A sua área (UO) possui iniciativas, indicadores ou outro mecanismo para auxiliar no cumprimento do objetivo estratégico? Quais são? Constam formalmente em um documento da empresa, é divulgado?)

(ex. pode ser que somente tenha iniciativas informais, perguntar como são. Solicitar exemplos. A partir da estratégia mais ampla, o que planejam internamente para cumpri-la?)

7. Quem criou essas iniciativas? Como foi a sua participação? 8. Existem reuniões para acompanhamento da implementação da estratégia?

Você participa? Como são as reuniões? São proveitosas, válidas? (ex. Você é envolvido no acompanhamento das iniciativas e indicadores da estratégia? O acompanhamento é realizado pelo

97

nível gerencial? Como e por quem isso é feito? Como isso é divulgado para a equipe?)

9. Como são articuladas as diferentes ideias e interesses na implementação da estratégia em seu setor?

(ex. Vocês conseguem discutir sobre diferentes formas de implementação? Há espaço para discussão de novas propostas? Isso resulta em revisão das iniciativas estratégicas? Ou a orientação é cumprir o determinado pelo nível hierárquico superior?)

10. O que facilita a implementação do objetivo estratégico? Por quê? 11. O que dificulta? Como e por quê? 12. Quais as principais dificuldades de realizar o que é planejado e o que você

faz diante dessas dificuldades? O que não é planejado é aceito? 13. Vocês conseguem cumprir o planejamento original?

(ex. Não o planejado no nível macro, mas no contexto de superintendência/ gerência... Há necessidade de alteração ao longo tempo?)

14. Durante o processo de aquisição de empresas e participação em leilões, houve situações surpreendentes, que demandaram tomadas de decisões não planejadas? Como foram?

15. Na ausência de um plano preestabelecido, houve improvisação? Como? Dê um exemplo?

(ex. Você lembra de alguma situação, algum evento?) (ex. O que acontece quando o que foi planejado não é ou não pode ser executado? Quais ações a empresa poderia adotar para minimizar essas dificuldades?)

16. Você considera que as experiências pessoais afetam a implementação da estratégia e/ou as definições sobre a estratégia (microcontexto)? Como?

Bloco 3 – Aprendizagem organizacional: capacidade de renovação e mudança/ Institucionalização do conhecimento

17. Foram criados programas de treinamento para os empregados? Como foi

isso? Existe um plano de treinamento? 18. Você considera que houve mudanças na CEMIG e na sua área a partir do

momento em que a estratégia começou a ser implementada? 19. Houve mudança, ao longo do tempo, da estrutura organizacional para se

adequar ao objetivo estratégico. Qual a sua avaliação sobre a mudança? (ex. Foi adequada, proporcionou mais integração entre as áreas e mais eficiência? O nível de interação auxilia no desenvolvimento e compartilhamento do conhecimento?)

20. Em sua opinião, de qual conhecimento uma empresa do setor elétrico necessita para aumentar a sua participação no mercado?

21. Em sua opinião, a empresa vem atualizando tais conhecimentos ? De que maneira?

(ex. Quais são as ações utilizadas para documentar novos conhecimentos?)

22. As mudanças implementadas elevaram o nível de conhecimento sobre a estratégia e as práticas de implementação? Houve aprendizado? Que tipo de aprendizado? Dê exemplos.

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(ex. Houve mudanças em políticas, procedimentos, normas para orientar no cumprimento dos objetivos estratégicos? Foram divulgadas? Como avalia o seu grau de conhecimento sobre as políticas, normas, instruções envolvidos com a estratégia?)

23. Quando você tem alguma dúvida sobre como agir, sobre qual decisão tomar, em relação à estratégia em questão, como procede?

(ex. Recorre a procedimentos, orientações formais? Quais?).

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APÊNDICE B – RELAÇÃO DE DOCUMENTOS CONSULTADOS DA CEMIG

Nº Título Tipo de documento Ano documento

1 Norma interna - NO-04.09 - 26/03/2003

Documento Institucional

2003

2 Cemig faz provisão de perda com CRC em atendimento à CVM

Comunicado ao mercado - Página da Web da Cemig

2003

3 Indicado Novo Conselho de Administração da Cemig

Comunicado ao mercado - Página da Web da Cemig

2003

4 Cemig aprova Plano Diretor para 30 anos

Comunicado ao mercado - Página da Web da Cemig

2003

5 Projeto de Desverticalização - comunicado aos fornecedores

Comunicado ao mercado - Página da Web da Cemig

2004

6 Press Release

Comunicado ao mercado - Página da Web da Cemig

2004

7 Cemig busca parceiros para participar de leilão da Aneel

Comunicado ao mercado - Página da Web da Cemig

2005

8 Cemig vai construir linha de transmissão no Chile

Comunicado ao mercado - Página da Web da Cemig

2005

9 BRASCAN Brasil Ltda. exerce opção de compra sobre as ações da Schahin Holding S.A. em Empresas de Transmissão de Energia Elétrica

Comunicado ao mercado - Página da Web da Cemig

2006

10 Cemig adquire, em conjunto com outros parceiros, participações da Schahin em Empresas de Transmissão de Energia Elétrica.

Comunicado ao mercado - Página da Web da Cemig

2006

12 Pronta para crescer – Estratégias para assegurar crescimento sustentado

Comunicado ao mercado - Página da Web da Cemig

2006

13 Fato Relevante

Comunicado ao mercado - Página da Web da Cemig

2007

14 Planejamento Estratégico Ciclo 2006-2010

Documento Institucional

15 Direcionamento Estratégico CEMIG - Ciclo 2007-2011

Documento Institucional

16 Visão e ação junho Documento Institucional 2009

17 Visão e ação julho Documento Institucional 2009

18 Fato relevante

Comunicado ao mercado - Página da Web da Cemig

2009

19 Visão e ação setembro

Comunicado ao mercado - Página da Web da Cemig

2010

20 Visão e ação maio Documento Institucional 2012

21 Comunicado interno Documento Institucional 2012

100

ANEXO A - Estrutura societária da CEMIG em 2003

Fonte: documento 4.

101

ANEXO B - Estrutura societária da CEMIG em janeiro de 2012

Fonte:http://www.cemig.com.br/ACemig/QuemSomos/Documents/organograma_2012_01_23.pdf.