ana maría valverde sancho análise dinâmica de fluxos de detritos em regiões tropicais resumo ....

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Ana María Valverde Sancho Análise dinâmica de fluxos de detritos em regiões tropicais Dissertação de Mestrado Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Engenharia Civil da PUC-Rio como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Engenharia Civil. Orientador: Prof. Alberto de Sampaio Ferraz Jardim Sayão Co-Orientadora: Profª. Anna Laura Lopes da Silva Nunes Rio de Janeiro Fevereiro de 2016

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Ana María Valverde Sancho

Análise dinâmica de fluxos de detritos em regiões tropicais

Dissertação de Mestrado

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil da PUC-Rio como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Engenharia Civil.

Orientador: Prof. Alberto de Sampaio Ferraz Jardim Sayão

Co-Orientadora: Profª. Anna Laura Lopes da Silva Nunes

Rio de Janeiro Fevereiro de 2016

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Ana María Valverde Sancho

Análise dinâmica de fluxos de detritos em regiões tropicais

Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil da PUC-Rio. Aprovada pela Comissão Examinadora abaixo assinada.

Prof. Alberto de Sampaio Ferraz Jardim Sayão Orientador

Departamento de Engenharia Civil – PUC-Rio

Profa. Anna Laura Lopes da Silva Nunes Co-Orientadora

Departamento de Engenharia Civil – UFRJ

Prof. Milton Assis Kanji Departamento de Engenharia Civil – USP

Prof. José Tavares Araruna Departamento de Engenharia Civil – PUC-Rio

Prof. Rogério Luiz Feijó Departamento de Engenharia Civil – UERJ

Prof. Márcio da Silveira Carvalho Coordenador Setorial do

Centro Técnico Científico – PUC-Rio

Rio de Janeiro, 26 de Fevereiro de 2016

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Todos os direitos reservados. É proibida a

reprodução total ou parcial do trabalho sem

autorização da universidade, do autor e do

orientador.

Ana María Valverde Sancho

Graduou-se em Engenharia Civil pela Universidad

de Costa Rica – UCR (Costa Rica) em 2013.

Principais áreas de interesse: estabilidade de

taludes, mecânica de solos, dinâmica de solos,

métodos numéricos.

Ficha Catalográfica

Valverde Sancho, Ana María

Análise dinâmica de fluxos de detritos em

regiões tropicais / Ana María Valverde Sancho; orientador: Alberto de Sampaio Ferraz Jardim Sayão. – Rio de Janeiro, 2016.

v., 160 f.: il. ; 30 cm Dissertação (mestrado) – Pontifícia

Universidade Católica do Rio de Janeiro, Departamento de Engenharia Civil.

Inclui bibliografia

1. Engenharia civil - Teses. 2. Fluxos de detritos. 3. Análise dinâmica. 4. Modelagem numérica. 5. Movimentos de massa I. Sayão, Alberto II. Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Departamento de Engenharia Civil. III. Análise dinâmica de fluxos de detritos em regiões tropicais.

CDD: 624

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Aos meus pais, pelo apoio e amor incondicional

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Agradecimentos

Aos meus pais, pelo apoio, carinho e confiança. Por ser um exemplo de trabalho e

dedicação e sempre terem me incentivado e facilitado o caminho para que eu

consiga conquistar meus sonhos.

Ao meu irmão e a minha família, que sempre ficaram na torcida pelo meu sucesso.

Aos meus orientadores Anna Laura e Alberto, pelo carinho e preocupação por meu

bem estar, por acreditarem em mim e ter me introduzido no mundo dos fluxos de

detritos. Pela revisão detalhada de meu trabalho e as valiosas contribuições que

fizeram para o sucesso desta pesquisa.

Aos membros da banca examinadora, pelas sugestões e críticas construtivas feitas

a este trabalho. Ao professor Milton, pela constante preocupação por meu bem estar

no Brasil.

Aos professores da PUC-Rio, pelos conhecimentos transmitidos. Ao professor

Sergio, pela preocupação e apoio durante o mestrado.

À Capes, pelos auxílios concedidos, sem os quais este trabalho não poderia ter sido

realizado.

Ao prof. Oldrich Hungr, por disponibilizar os programas DAN-W e DAN3D.

Ao professor Erik Eberhardt, por ter permitido minha visita no Departamento de

Engenheira Geológica da Universidade de British Columbia.

Ao Scott McDougall, pelas valiosas contribuições nas modelagens numéricas

realizadas para os casos de estudo.

Ao Jordan Aaron pela companhia, paciência e apoio nas modelagens numéricas

realizadas para os casos de estudo.

Ao Danilo, pelas longas conversas de geotecnia e pela companhia e apoio durante

os cursos de mestrado e desenvolvimento desta pesquisa.

As minhas amigas e colegas de sala: Mariana, Natalia T., Gabrielle, Nathalia L.,

Natalia D., por terem me proporcionado o melhor ambiente de trabalho. Pelo

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carinho e apoio que sempre me deram e ficarem comigo nos momentos críticos

desta pesquisa.

Agradeço especialmente a Mariana, Gabrielle, Natalia T. e Danilo pelas

contribuições na revisão final deste documento.

Aos meus amigos que conheci no Brasil e no Canada, que se tornaram minha

família e fizeram desta etapa uma experiência inesquecível.

As minhas amigas da Costa Rica, que residem no Rio: Daniela, Katalina, Priscilla

e Rebeca por terem me feito sentir em casa. Pelo apoio e carinho.

Aos meus amigos da Costa Rica, que sempre torceram por meu sucesso apesar da

distância. Agradeço especialmente a Alexandra e ao Luís Diego por sempre

preocuparem com meu bem estar.

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Resumo

Valverde Sancho, Ana María; Sayão, Alberto de Sampaio Ferraz Jardim

(orientador). Análise dinâmica de fluxos de detritos em regiões tropicais.

Rio de Janeiro, 2016. 160 p. Dissertação de Mestrado - Departamento de

Engenharia Civil, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.

Os fluxos de detritos são perigosos riscos naturais, que afetam países com

intensas precipitações e terrenos montanhosos. Tais eventos configuram alto perigo

para a vida humana e danificação de infraestrutura, resultando em importantes

perdas econômicas. O estudo de fluxos de detritos envolve um mecânismo complexo

e suas técnicas de previsão são baseadas na calibração de modelos, que devem ser

delimitados por tentativa e erro de eventos anteriores. Tais previsões são ferramentas

valiosas para delimitar as potenciais áreas de risco e, dessa forma, projetar medidas

de mitigação e convivência. O principal objetivo deste trabalho foi analisar o

comportamento de quatro fluxos de detritos deflagrados por precipitações de alta

intensidade em regiões tropicais utilizando modelagem numérica em 2D e 3D.

Foram analisados os casos de Lajas e Llano de la Piedra na Costa Rica e os casos de

Córrego D’Antas e Hospital São Lucas no Rio de Janeiro. Os principais parâmetros

utilizados, na avaliação do risco deste tipo de movimentos de massa, são: a distância

percorrida, a área de impacto, a velocidade e profundidade do fluxo. Os casos foram

calibrados utilizando a reologia de Voellmy. A definição dos parametros na

calibração é vital, pois oferece a possibilidade de previsões de primeira ordem, feita

sobre escorregamentos acontecendo em condições semelhantes. Os resultados da

análise dinâmica mostram valores consistentes entre os valores observados e as

modelagens numéricas em 2D e 3D para os principais parâmetros avaliados,

corroborando o uso destas ferramentas para análises de risco e projeção de medidas

de mitigação e convivência.

Palavras – chave

Movimentos de massa; Fluxos de detritos; Modelagem numérica; Análise

dinâmica.

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Abstract

Valverde Sancho, Ana María; Sayão, Alberto de Sampaio Ferraz Jardim

(advisor). Dynamic analysis of debris flows in tropical regions. Rio de

Janeiro, 2016. 160 p. MSc. Dissertation – Departamento de Engenharia Civil,

Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.

Debris flows are dangerous natural hazards affecting countries with steep

terrains and heavy rainfall. They are associated with serious risks to human lives

and infrastructure leading to important economic losses and fatalities. Debris flows

involve complex mechanics and prediction techniques that are based on the

calibration of models that must be constrained by trial-and-error back-analysis of

previous landslides. Such predictions are a valuable tool for outlining potential

hazard areas and the development of mitigation strategies and design of protective

structures. The main goal of this work was to analyze the behavior of four debris

flows triggered by heavy rainfall in tropical regions with numerical modelling. The

Voellmy rheology was used to calibrate the cases occurred in Lajas and Llano de la

Piedra in Costa Rica, and Córrego D’Antas and Hospital São Lucas in Rio de

Janeiro. The main parameters used for landslide risk assessment are runout distance,

potential impact area, flow velocity and flow depth. The definition of appropriate

calibrating parameters is important because it provides the possibility of first order

predictions to be made about the motion of future landslides happening under similar

conditions. The results of the dynamic analysis showed that consistent values were

obtained for the main parameters evaluated in the 2D and 3D runout models,

verifying the usefulness of these tools for landslide risk assessment and the project

of protection structures.

Keywords

Landslides; Debris flows; Numerical modeling; Dynamic analysis.

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Sumário

1. Introdução 21

1.1. Motivação da pesquisa 21

1.2. Objetivos da pesquisa 23

1.2.1. Objetivo geral 23

1.2.2. Objetivos específicos 23

1.3. Organização da pesquisa 23

2. Considerações sobre os movimentos de massa 25

2.1. Movimentos de massa 25

2.1.1. Definição de movimento de massa 25

2.1.2. Classificação dos movimentos de massa 27

2.2. Fluxo de detritos 34

2.2.1. Definição 34

2.2.2. Características 36

2.2.3. Classificação 39

2.2.4. Mecanismos deflagradores 41

2.2.5. Principais parâmetros 42

2.3. Técnicas de mitigação e convivência 52

2.3.1. Medidas ativas 52

2.3.2. Medidas passivas 54

2.4. Análise de risco 56

3. Modelagens numéricas de fluxos de detritos 58

3.1. Abordagem dos fluxos de detritos 58

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3.2. Programas disponíveis no mercado 60

3.2.1. KANAKO 61

3.2.2. TITAN2D 62

3.2.3. FLO-2D 62

3.2.4. RAMMS 63

3.3. Programas DAN-W e DAN3D utilizados na pesquisa 64

3.3.1. Equações governantes do DAN-W e DAN3D 65

3.3.2. Reologia dos materiais 67

3.3.3. Características do DAN-W 69

3.3.4. Características do DAN3D 70

4. Metodologia das análises e casos de estudo 71

4.1. Metodologia das análises 71

4.1.1. Descrição do caso de estudo 72

4.1.2. Calibração preliminar dos parâmetros 72

4.1.3. Construção do modelo numérico 74

4.1.4. Seleção final dos parâmetros 75

4.2. Casos de estudo 76

4.2.1. Fluxo de detritos, Calle Lajas, San José, Costa Rica 76

4.2.2. Fluxo de Detritos, Llano de la Piedra, San José, Costa Rica

82

4.2.3. Fluxo de Detritos, Hospital São Lucas, Rio de Janeiro, Brasil

87

4.2.4. Fluxo de Detritos, Córrego D’Antas, Rio de Janeiro, Brasil 91

5. Apresentação e análise dos resultados 97

5.1. Calle Lajas, San José, Costa Rica 97

5.1.1. Calibração preliminar dos parâmetros 97

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5.1.2. Resultados da modelagem em 3D 98

5.1.3. Resultados da modelagem em 2D 103

5.1.4. Análise dos resultados 105

5.2. Llano de la Piedra, San José, Costa Rica 108

5.2.1. Calibração preliminar dos parâmetros 108

5.2.2. Resultados da modelagem em 3D 109

5.2.3. Resultados da modelagem em 2D 113

5.2.4. Análise dos resultados 114

5.3. Córrego D’Antas e Hospital São Lucas, Rio de Janeiro, Brasil

118

5.3.1. Calibração preliminar dos parâmetros 118

5.3.2. Resultados da modelagem em 3D 119

5.3.3. Resultados da modelagem em 2D 122

5.3.4. Análise dos resultados 128

6. Conclusões e recomendações para futuras pesquisas 140

6.1. Conclusões 140

6.2. Recomendações para futuros trabalhos 143

Referências bibliográficas 144

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Lista de figuras

Figura 2.1 - Estágios dos movimentos de massa (Mod. Leroueil et al.,1996).

26

Figura 2.2 – Classificação dos movimentos de massa em encostas íngremes como função da fração sólida e do tipo de material (Mod. Coussot e Meunier,1996).

33

Figura 2.3 - Configuração de um fluxo de detritos (Nunes e Sayão, 2014).

36

Figura 2.4 - Esquema de uma onda de corrida de detritos com frente rochosa. (Mod. Pierson, 1986).

38

Figura 2.5 – Classificação de fluxos de detritos de acordo à magnitude do movimento (Mod. Jakob, 2005, Nunes e Sayão, 2014).

39

Figura 2.6 - Tipos de deposição de um fluxo de detritos. a. Deposição livre, b. Deposição canalizada. (Nunes e Sayão, 2014, adapt. Nettheton et al., 2005).

41

Figura 2.7 – Diagrama da deflagração de um fluxo de detritos devido a um carregamento rápido (Mod. Sassa, 1985).

42

Figura 2.8 – Definição e comparação de ângulo fahrböschung e ângulo de viagem

47

Figura 2.9 – Esquema para: (a) arrastre nas margens e erosão na base. (b) seção transversal do canal erodido (Modificado de McDougall, 2006 e McDougall e Hungr, 2005).

51

Figura 2.10 – Medidas ativas para fluxos de detritos: (a) Túnel de desvio, França (Huebl e Fiebiger, 2005); (b) Check dams, Espanha (Corominas, 2013); (c) Debris racks, Colorado, USA (deWolfe et al., 2008); (d) Barreiras tubulares, Japão (Ishikawa, 2008); (e) e (f) Barragem, BC, Canadá (Wieczorek et al., 1997); (g) Barreira flexível, Japão (Volkwein et al (2011); (h) Túneis falsos (Corominas, 2013).

55

Figura 3.1. Diagrama esquemático do conceito de fluxo equivalente (Mod. Hungr, 1995).

64

Figura 3.2 - Interpretação do SPH em um marco de profundidade média (Mod. McDougall, 2006).

66

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Figura 3.3. Relação entre os parâmetros utilizados no modelo de atrito McDougall (2006).

68

Figura 4.1 - Exemplo de trimline definida para um evento.

73

Figura 4.2 - Exemplo de compilação de resultados para seleção dos parâmetros reológicos de melhor ajuste.

74

Figura 4.3 - Localização do evento Calle Lajas.

77

Figura 4.4 – Rochas da área de Calle Lajas: (a) Afloramento de cornubianitas; (b) Afloramento de brechas (CNE, 2010).

78

Figura 4.5 – Materiais do canal: (a) Na base do canal; (b) Nas paredes do canal.

78

Figura 4.6 – Aspectos da bacia: (a) Morfologia do canal com pequenos desprendimentos das paredes; (b) Sistema de drenagem (CNE, 2010).

79

Figura 4.7 – Início do fluxo de detritos: (a) Ruptura em Salto de los Caballos; (b) Zona de iniciação do movimento.

80

Figura 4.8 – Detalhes dos blocos de Cornubianita depositados ao longo do setor de “La Catarata”.

80

Figura 4.9 – Vista aérea do fluxo de detritos Calle Lajas: (a) Zona de iniciação; (b) Zona de transporte (Google Earth, 2010).

81

Figura 4.10 – Perfil e parâmetros geométricos do evento de Calle Lajas.

81

Figura 4.11 – Localização do evento Llano de la Piedra.

83

Figura 4.12 – Fluxo de detritos Llano de la Piedra: (a) Material erodido no canal; (b) Material na zona de deposição.

84

Figura 4.13 – Detalhe da cicatriz de deslizamento antigo no topo da encosta (Bermudez,1997).

84

Figura 4.14 – Fluxo de detritos de Llano de la Piedra: (a) Vista frontal do movimento; (b) Vista superior do movimento.

85

Figura 4.15 – Perfil e parâmetros geométricos do caso de Llano de la Piedra.

86

Figura 4.16 – Localização do evento Hospital São Lucas.

87

Figura 4.17 – Fluxo de detritos Hospital São Lucas: (a) Vista aérea; (b) Vista frontal do Morro Duas Pedras. 88

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Figura 4.18 – Vistas aéreas do fluxo de detritos do Hospital São Lucas.

90

Figura 4.19 – Perfil e características geométricas do evento do Hospital São Lucas.

91

Figura 4.20 – Localização do evento Córrego D’Antas em Nova Friburgo, Rio de Janeiro.

92

Figura 4.21 – Fraturas subverticais do maciço destacadas na ortofoto (Geomecânica, 2011).

93

Figura 4.22 – Fluxo de detritos Córrego D´Antas: (a) Vista aérea por satélite; (b) Vista das trajetórias para Córrego D’Antas e Hospital São Lucas.

94

Figura 4.23 – Detalhes do fluxo de detritos: (a) Zona de iniciação do movimento; (b) Vista do escorregamento principal na escarpa rochosa (Geomecânica, 2011).

94

Figura 4.24 – Fluxo de detritos dividido em 4 canais em Córrego D’Antas.

95

Figura 4.25 – Perfil e características geométricas do evento do Hospital São Lucas.

96

Figura 5.1 – Calibração preliminar dos parâmetros: (a) trimline adotada, (b) Níveis de ajuste dos valores de coeficiente de atrito – Calle Lajas.

98

Figura 5.2 – Distribuição espacial de velocidades estimadas pelo programa DAN3D – Calle Lajas

100

Figura 5.3 – Distribuição espacial de: (a) altura máxima do fluxo; (b) profundidade máxima de deposição – Calle Lajas.

101

Figura 5.4 – Intensidade de fluxo de detritos: (a) Zoneamento do nível de ameaça de danos segundo (CNE, 2010); (b) Índice de intensidade calculado segundo Jakob et al. (2011) gerado pelo DAN3D.

102

Figura 5.5 – Principais caraterísticas do fluxo no DAN-W - Calle Lajas.

103

Figura 5.6 – Variação da velocidade com a distância percorrida obtida da modelagem com o programa DAN-W - Calle Lajas.

104

Figura 5.7 – Comparação das velocidades estimadas e calculadas em função da distância percorrida - Calle Lajas. 106

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Figura 5.8 – Calibração preliminar dos parâmetros: (a) Trimline adotada; (b) Níveis de ajuste dos valores de coeficiente de atrito - Llano de la Piedra.

109

Figura 5.9 – Resultados da simulação de distância percorrida: (a) Calibração preliminar e (b) Calibração final.

111

Figura 5.10 – Distribuição espacial de velocidades estimadas pelo programa DAN3D.

111

Figura 5.11 – Distribuição espacial de: (a) Altura máxima do fluxo; (b) Profundidade máxima de deposição - Llano de la Piedra.

112

Figura 5.12 – Principais caraterísticas do fluxo no DAN-W – Llano de la Piedra.

113

Figura 5.13 – Variação da velocidade com a distância percorrida obtida da modelagem com o programa DAN-W - Calle Lajas.

114

Figura 5.14 – Comparação das velocidades estimadas e calculadas em função da distância percorrida - Llano de la Piedra.

116

Figura 5.15 – Calibração preliminar de coeficiente de atrito: (a) Córrego D’Antas; (b) Hospital São Lucas.

118

Figura 5.16 - Distribuição espacial de velocidades estimadas pelo programa DAN3D – Córrego D’Antas e Hospital São Lucas.

120

Figura 5.17 – Distribuição espacial de: (a) Altura máxima do fluxo e (b) Profundidade máxima de deposição - Córrego D’Antas e Hospital São Lucas.

120

Figura 5.18 – Fluxos de detritos de Córrego D’Antas divididos em duas zonas para a realização das modelagens.

121

Figura 5.19 – Principais caraterísticas do fluxo no DAN-W – Zona 1 de Córrego D´Antas.

123

Figura 5.20 – Variação da velocidade com a distância percorrida obtida da modelagem com o programa DAN-W – Zona 1 de Córrego D´Antas.

124

Figura 5.21 – Principais caraterísticas do fluxo no DAN-W – Zona 2 de Córrego D´Antas.

125

Figura 5.22 – Variação da velocidade com a distância percorrida obtida da modelagem com o programa DAN-W – Zona 2 de Córrego D´Antas. 126

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Figura 5.23 – Principais caraterísticas do fluxo no DAN-W – Hospital São Lucas.

127

Figura 5.24 – Variação da velocidade com a distância percorrida obtida da modelagem com o programa DAN-W – Hospital São Lucas.

128

Figura 5.25 – Comparação das velocidades máximas calculadas com DAN-W e DAN3D em função da distância percorrida - Zona 1 de Córrego D’Antas.

130

Figura 5.26 – Comparação das velocidades máximas calculadas com DAN-W e DAN3D em função da distância percorrida - Zona 2 de Córrego D’Antas.

133

Figura 5.27 – Modelagens do fluxo de detritos do Hospital São Lucas mostrando material depositado no meio da encosta: (a) Resultados do DAN-W; (b) Resultados do DAN3D; (c) Vista aérea.

136

Figura 5.28 – Comparação das velocidades máximas calculadas com DAN-W e DAN3D em função da distância percorrida – Hospital São Lucas.

137

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Lista de tabelas

Tabela 2.1 – Resumo da classificação de Varnes (1978).

28

Tabela 2.2 – Velocidade de corridas de massa WP/WLI (1995) e Cruden e Varnes (1996).

29

Tabela 2.3 – Resumo da classificação proposta por Hungr et al. (2014).

30

Tabela 2.4 – Classificação de fluxos de detritos de acordo com a magnitude do movimento (Mod. Jakob, 2005, Nunes e Sayão, 2014).

40

Tabela 2.5 – Correlações empíricas para estimativa de volume final (adapt. Nunes e Sayão, 2014).

44

Tabela 2.6 – Correlações empíricas para estimativa da velocidade (mod. Nunes e Sayão, 2014).

45

Tabela 2.7 – Correlações empíricas para a estimativa da vazão de pico (mod. Nunes e Sayão, 2014).

46

Tabela 2.8 – Correlações empíricas para estimativa da distância total percorrida (Mod. Nunes e Sayão, 2014).

47

Tabela 2.9 – Correlações empíricas para estimativa da extensão da área de deposição.

48

Tabela 2.10 – Correlações empíricas para estimar a área da seção transversal (Nunes e Sayão, 2014).

49

Tabela 2.11 – Correlações empíricas para estimar a área planimétrica (Nunes e Sayão, 2014).

50

Tabela 2.12 – Relação do índice de intensidade com a probabilidade de dano.

57

Tabela 5.1 – Comparação de resultados numéricos do DAN-W e DAN3D e valores reais observados no fluxo de detritos - Calle Lajas.

105

Tabela 5.2 – Comparação de velocidades instantâneas numéricas e estimadas - Calle Lajas.

107

Tabela 5.3 – Valores numéricos de altura máxima do fluxo e profundidade máxima de deposição – Calle Lajas. 108

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Tabela 5.4. Comparação de resultados numéricos do DAN-W e DAN3D e valores reais observados no fluxo de detritos - Llano de la Piedra.

115

Tabela 5.5 - Comparação de velocidades instantâneas numéricas - Llano de la Piedra.

117

Tabela 5.6 - Valores numéricos de altura máxima do fluxo e profundidade máxima de deposição - Llano de la Piedra.

117

Tabela 5.7 – Comparação de resultados numéricos do DAN-W e DAN3D e valores reais observados no fluxo de detritos - Zona 1 de Córrego D’Antas.

129

Tabela 5.8 – Comparação de velocidades instantâneas numéricas - Zona 1 de Córrego D’Antas.

130

Tabela 5.9 – Valores numéricos de altura máxima do fluxo e profundidade máxima de deposição - Zona 1 de Córrego D’Antas.

131

Tabela 5.10 – Comparação de resultados numéricos do DAN-W e DAN3D e valores reais observados no fluxo de detritos - Zona 2 de Córrego D’Antas.

132

Tabela 5.11 – Comparação de velocidades instantâneas numéricas - Zona 2 de Córrego D’Antas.

133

Tabela 5.12 – Valores numéricos de altura máxima do fluxo e profundidade máxima de deposição - Zona 2 de Córrego D’Antas.

134

Tabela 5.13 – Comparação de resultados numéricos do DAN-W e DAN3D e valores reais observados no fluxo de detritos - Hospital São Lucas.

135

Tabela 5.14 – Comparação de velocidades instantâneas numéricas - Hospital São Lucas.

137

Tabela 5.15 – Valores numéricos de altura máxima do fluxo e profundidade máxima de deposição – Hospital São Lucas.

138

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Lista de símbolos

𝐴𝐶 - Área de contribuição

𝐸 - Valor do elemento em risco

𝐸 - Arrastre gerado pelo movimento

𝐸 - Taxa de erosão

𝑓 - Coeficiente de atrito

𝑔 - Aceleração da gravidade

ℎ - Espessura do fluxo

𝛥ℎ - Altura de superelevação

𝐻 - Diferença entre a cota de saída do movimento e a cota final de

deposição

𝑘 - Pressão interna

𝐾 - Fator de forma do canal

𝐿 - Distância percorrida

𝑃 - Probabilidade

𝑃(𝐿) - Probabilidade anual de ocorrência

𝑃(𝑆:𝐿) - Probabilidade espacial do fluxo atingir um local específico

𝑃(𝑇:𝑆) - Probabilidade temporal que um individuo seja afetado pelo

fluxo

𝑃𝐿𝑂𝐿 Probabilidade especifica de perda de vida

𝑄𝑝 - Vazão de pico

𝑅 - Risco

𝑟 - Raio de curvatura do canal

𝑟𝑢 - Coeficiente de poropressão

𝑆 - Inclinação do canal

𝑆̅ - Distância percorrida

𝑆𝑑 - Declividade de deposição

𝑇 - Tempo

𝑣 - Velocidade

𝑉 - Volume final

𝑉𝑆𝐸𝐷 - Volume de sedimentos

𝑉𝑀 - Volume de agua

𝑉𝑓 - Volume final

𝑉𝑖 - Volume inicial

𝑉(𝑝𝑟𝑜𝑝:𝑇) - Vulnerabilidade do elemento em risco na localização

especifica

𝑉𝑚𝑎𝑥 - Velocidade máxima

𝑉(𝐷:𝑇) - Vulnerabilidade do fluxo atingir uma pessoa em um local

especifico

𝑦 - Altura média do fluxo

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𝛼 - Inclinação do canal (fahrbӧschung)

𝛾 - Peso específico do material

𝛳 - Gradiente de superelevação

𝜇 - Viscosidade dinâmica do fluxo

𝜉 - Parâmetro de turbulência

𝜎 - Tensão normal

𝜏 - Tensão cisalhante

𝜑 - Ângulo de atrito dinâmico

𝜑𝑏 - Ângulo de atrito da base

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21

1. Introdução

1.1. Motivação da pesquisa

Movimentos de massa são eventos que representam um alto risco para a vida

humana e danificação de estruturas, resultando em importantes perdas econômicas.

Os movimentos de tipo fluxo, ou flow-like landslides, são os mais destrutivos dentre

todos os tipos de movimentos de massa (Hungr, 2003). Geralmente, acontecem de

forma natural em locais com uma topografia íngreme, além de caracterizar-se por

ter uma alta velocidade e uma grande área de impacto, razões pelas quais sua

previsão é muito complexa (McDougall, 2006). O inicio dos movimentos de tipo

fluxo está associado com um rápido processo de perda da resistência ao

cisalhamento, deflagrado principalmente por eventos extremos de precipitação ou

sismos. Alguns exemplos deste tipo de movimentos de massa são os fluxos de

detritos, os fluxos de terra e as avalanches.

De acordo com Santi et al. (2011) os fluxos de detritos são o tipo de ameaça

natural mais comum nas regiões montanhosas, vulcânicas, semi-áridas ou sub-

polares. Por exemplo, Li (2004) e Xu et al. (2011), reportaram a ocorrência de letais

e destrutivos fluxos de detritos na China. Segundo Hewitt (2004), os fluxos de

detritos são o tipo de movimento de massa mais frequente e destrutivo na parte alta

das montanhas no Paquistão, no Afeganistão e na Índia. De acordo com Selby

(1993), os fluxos de detritos são a ameaça natural mais comum nas zonas altas de

Nova Zelândia. Nakano (1974) classificou os fluxos como o tipo de movimento de

massa mais prejudicial que acontece na zona montanhosa no Japão. Nos EUA, os

movimentos de massa, incluindo os fluxos de detritos, provocam entre 25-50 mortes

por ano e mais de 2 bilhões de dólares em perdas em infraestrutura (National

Reseach Council, 2004). No mundo, em geral, são reportadas em torno de 1.000

mortes por ano devido aos movimentos de massa (Dilley et al., 2005). Além disso,

de acordo com Jakob e Hungr (2005), os fluxos são o tipo de movimento de massa

que gera a maior quantidade de mortes e perdas materiais.

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No caso específico da América Latina, a geografia, morfologia, clima e

condições geológicas e geotécnicas fazem com que este local seja especialmente

vulnerável ante este tipo de ameaças. Além disso, o desenvolvimento não planejado

das zonas urbanas, no pé ou nos taludes das encostas, gera uma condição de alto

risco ante qualquer tipo de movimento de massa. Segundo Schuster et al. (2002), a

maior quantidade das mortes associadas a movimentos de massa na América Latina

foi ocasionada por fluxos de avalanches, fluxos de detritos ou fluxos de lodos, todos

de média-alta velocidade. Dentre os eventos mais notáveis na região pode-se

mencionar o acontecido em dezembro de 1999 no povoado de Vargas na Venezuela,

onde chuvas de alta intensidade deflagraram uma série de fluxos de detritos que

causaram aproximadamente 30.000 mortes e perdas econômicos de 1,79 bilhões de

dólares (Wieczorek et al., 2002). Outra grande catástrofe na América do Sul

aconteceu no Peru no ano 1970, onde um sismo liberou um grande bloco de gelo

no cume do Monte Huascarán, provocando um fluxo de detritos com um volume de

aproximadamente 50 milhões de m3, causando a morte de mais de 25.000 pessoas

(Nunes e Sayão, 2014).

Os principais desafios no estudo dos fluxos de detritos incluem estimar as

zonas de risco, prever a probabilidade de ocorrência de um evento e determinar os

parâmetros para projetar estruturas de proteção, como por exemplo: magnitude,

velocidade, distância percorrida, força de impacto, entre outros. Porém, pelas

características dos fluxos, sua simulação utilizando métodos analíticos ou

numéricos é muito complexa, dependente do atrito da base, da reologia da massa

deslizada e da topografia do local analisado, entre outros. As suposições padrão de

hidrostática, tensões internas isotrópicas e homogeneidade de material não são

aplicáveis neste tipo de eventos. Além disso, os materiais envolvidos podem

apresentar reologias não newtonianas (Hungr e McDougall (2009). Por isto, ainda

não se pode falar de um modelo cem por cento confiável para realizar a predição

deste tipo de movimentos massa.

Neste trabalho, foram realizadas as retroanálises de quatro ocorrências de

fluxos de detritos, dois localizados na Costa Rica e dois localizados no Brasil. As

retroanálises dos casos foram realizadas através de simulações numéricas utilizando

os softwares DAN-W e DAN3D, desenvolvidos pela Universidade de British

Columbia no Canadá. Foram determinados a partir das modelagens os parâmetros

que melhor descrevem o comportamento deste tipo de eventos, levando em conta

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que estes parâmetros tentam representar tanto as propriedades reológicas e a

interação do fluxo e do material da base. Esta pesquisa procura contribuir para

ampliar o conhecimento existente sobre os movimentos de massa, além de gerar,

em conjunto com outros trabalhos de pesquisa, uma base de dados sólida que possa

chegar a ser utilizada no futuro para predizer movimentos de massa através de

simulações numéricas.

1.2. Objetivos da pesquisa

1.2.1. Objetivo geral

Analisar o comportamento de fluxos de detritos deflagrados por precipitações

de alta intensidade em regiões tropicais utilizando a modelagem numérica.

1.2.2. Objetivos específicos

1. Caracterizar 4 eventos de fluxos de detritos deflagrados por precipitações

de alta intensidade acontecidos na Costa Rica e no Brasil;

2. Determinação dos principais parâmetros dos fluxos de detritos estudados

através da análise dinâmica, em 2D e 3D; e

3. Comparar os resultados obtidos das retroanálises realizadas em 3D com as

modelagens realizadas em 2D e as observações registradas para cada um

dos eventos estudados

1.3. Organização da pesquisa

O presente trabalho encontra-se organizado em sete capítulos. Neste primeiro

capítulo apresenta uma introdução que inclui a importância e os objetivos da

pesquisa. No Capítulo 2 é realizada uma revisão das principais bases teóricas

relacionadas com movimentos de massa e fluxos de detritos. Inclui-se, a definição

e a classificação dos movimentos de massa, ampliando o item referente às

caraterísticas dos fluxos de detritos. Igualmente são apresentados os mecanismos

deflagradores e os principais parâmetros utilizados para sua caraterização. Também

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foi apresentada uma introdução aos principais conceitos relacionados com a análise

de risco. Finalmente, se mostra a revisão das principais medidas de mitigação e

convivência deste tipo de movimentos.

No Capítulo 3 são apresentados os principais conceitos para a modelagem

numérica de fluxos e avalanches de detritos, que inclui uma lista dos programas

computacionais disponíveis no mercado, uma revisão da abordagem teórica dos

programas escolhidos e, finalmente, a descrição geral dos dados de entrada e saída

dos programas utilizados. A metodologia utilizada para a calibração preliminar dos

parâmetros, a construção do modelo e a seleção final dos parâmetros para as

modelagens é apresentada no Capítulo 4.

O detalhe dos quatro casos de estudo é apresentado no Capítulo 5, onde se

inclui a localização, a geologia, a geomorfologia, a descrição e a caracterização de

cada evento. No Capítulo 6 são apresentados os resultados obtidos das análises

numéricas e sua interpretação segundo a metodologia descrita no Capítulo 4. Além

disso, é apresentada a comparação dos resultados obtidos das análises numéricas

com os valores dos eventos medidos no campo.

Finalmente, no Capítulo 7, são apresentadas as conclusões e recomendações

para pesquisas futuras.

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2. Considerações sobre os movimentos de massa

O presente capítulo tem como objetivo apresentar um resumo da bibliografia

consultada para o desenvolvimento desta pesquisa sobre os movimentos de massa.

Os principais tópicos para um bom entendimento dos fluxos de detritos (debris

flows) são apresentados, destacando-se as definições básicas dos movimentos de

massa, as principais classificações, os principais mecanismos deflagradores e os

parâmetros utilizados usualmente para caracterizar o movimento. Ao final do

capitulo é realizada uma breve descrição das principais medidas de mitigação e

convivência disponíveis para fluxos de detritos, além de análises de risco sucintas

referentes a este tipo de movimento.

2.1. Movimentos de massa

São apresentadas as definições e classificações clássicas e mais utilizadas na

literatura internacional para os movimentos de massa. Sabe-se que a bibliografia

existente em relação a os movimentos de massa é extensa e complexa, portanto o

presente tópico apresenta uma tentativa de unificação da linguagem técnica dos

conceitos mais relevantes para um melhor entendimento deste trabalho.

2.1.1. Definição de movimento de massa

A literatura apresenta várias discussões sobre a terminologia utilizada para

denominar os movimentos de massa, o que conduz a uma grande quantidade de

definições e classificações. Segundo Cruden (2003) o termo “movimento de massa”

foi registrado pela primeira vez em 1838 pelo Sharpe em seu livro Landslides and

related phenomena: A study of mass movements of soil and rocks.

Cruden (1991) declara que terminologicamente não é correto traduzir

landslide de modo literal como “escorregamento de terra”, sugerindo para o termo

uma definição mais ampla que englobe um movimento de massa rochoso, terroso

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ou de detritos encosta abaixo. Nesta tentativa de unificação de termos foi lançado

um glossário de terminologia relacionada a movimentos de massa (Multilingual

Landslide Glossary) onde a definição de movimento de massa corresponde à de

Cruden (1991). Este glossário encontra-se disponível em seis línguas (chinês,

francês, alemão, espanhol, russo e inglês) e apresenta cerca de 50 termos com

ilustrações esquemáticas (WP/WLI, 1993).

Leroueil et al. (1996) sugerem que os movimentos de massa são sistemas

físicos que se desenvolvem no tempo através de vários estágios mostrados na Figura

2.1, dividindo-se em:

i) Estágio pré-ruptura: Inclui todo e qualquer processo de deformação

que pode levar a ruptura. Estágio controlado por mudanças na

resistência, rastejo ou ruptura progressiva;

ii) Estágio de ruptura: É a fase mais significativa na história do

movimento de massa e se caracteriza pela formação de uma superfície

de cisalhamento na massa de solo;

iii) Estágio pós-ruptura: Inclui desde a ruptura até o termino da

movimentação. Há um aumento da razão de deslocamento, seguido da

diminuição progressiva de velocidade;

iv) Estágio de reativação: Acontece quando uma massa de solo desliza ao

longo de uma superfície de ruptura pré-existente.

Figura 2.1 – Estágios dos movimentos de massa (Mod. Leroueil et al.,1996).

Dentre os principais fatores naturais que contribuem para a geração de

movimentos de massas nas encostas, destacam-se a geometria e geomorfologia do

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27

local, a duração e intensidade de precipitações, a geologia do material que compõe

o maciço susceptível à movimentação, cobertura vegetal, ocupação do solo, sismos

entre outras situações incomuns tais como rompimento de barragens (Nunes, 2009).

2.1.2. Classificação dos movimentos de massa

Segundo Cruden (2003), o trabalho de Dana (1876) é um dos primeiros a

apresentar uma simples, porém incompleta, classificação de movimentos de massa.

A classificação só apresenta três tipos de movimentos de massa: corridas de

detritos, espalhamentos de terra e escorregamentos de rocha. Hungr et al. (2014)

reportou que Baltzer (1875) na Suécia foi um dos primeiros pesquisadores que

distinguiram os vários tipos de ruptura (quedas, escorregamentos e fluxos). Esta

subdivisão permanece até hoje somada ao tombamento e expansões laterais.

Posteriormente avanços nesta classificação foram apresentados por Sharpe (1938)

e Terzagui (1950).

A primeira classificação de Varnes (1954) é considerada muito clara em suas

definições, porem pouco detalhada. Em contrapartida, a classificação de

Hutchinson (1988) é mais extensa e detalhada, abrangendo maior quantidade de

tipos de movimentos.

Apresar da grande variedade de classificações internacionais, a maioria dos

pesquisadores e profissionais da área tem adotado as propostas de Varnes (1954,

1978), apresentadas na Tabela 2.1. Nesta classificação o autor subdivide os

movimentos de massa em 6 tipos e são classificados de acordo com a superfície de

ruptura e do tipo de material movimentado (rocha, detrito, terra).

Mais recentemente foi apresentada uma escala de velocidades (Tabela 2.2)

pela Sociedade Internacional de Geotecnia da UNESCO (WP/WLI, 1995) e Cruden

e Varnes (1996).

Como mencionado anteriormente, um movimento de massa pode ser

composto por diversas etapas. Desta forma, Cruden e Varnes (1996) sugerem

nomes distintos para cada movimento acontecido durante cada etapa. Contudo, essa

especificidade resulta em detalhamentos e complexidades, os quais são

negligenciados na prática, resultando na adoção de nomes simples que sejam

compatíveis com a terminologia das classificações.

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Hungr et al. (2014) indicam que o termo selecionado para um movimento de

massa específico deve representar o foco particular do pesquisador, e que, por

exemplo, uma classe definida como complexa não tem utilidade porque quase todos

os movimentos de massa são complexos. Assim em presença de um movimento

complexo, a terminologia utilizada deve incluir a maior parte da informação sem

precisar mencionar outro tipo de movimento.

Tabela 2.1 – Resumo da classificação de Varnes (1978). Tipo de

movimento

Rocha Detrito Terra

Queda 1. Queda de rochas 2. Queda de detrito 3. Queda de terra

Tombamento 4. Tombamento de

rocha

5. Tombamento de

detrito

6. Tombamento de

terra

Escorregamento

rotacional

7. Escorregamento

rotacional de

rocha

8. Escorregamento

rotacional de

detrito

9. Escorregamento

rotacional de terra

Escorregamento

translacional

10. Deslizamento

translacional de

blocos de rocha

11. Deslizamento

translacional de

detrito

12. Deslizamento

translacional de

terra

Espalhamentos

laterais

13. Espalhamento de

rocha

14. Espalhamento de

terra

Corridas 15. Rastejo de rocha 16.

17.

18.

19.

20.

Corrida de tálus

Corrida de

detritos

Avalancha de

detritos

Solifluxão

Rastejo de solo

21.

22.

23.

24.

25.

26.

Corrida de areia

seca

Corrida de areia

úmida

Corrida de argila

sensitiva

Corrida de terra

Corrida rápida de

terra

Corrida de loess

Complexos 27. Escorregamento

de rocha -

avalanche de

detritos

28.

Arqueamento –

abulgamento do

vale

29. Escorregamento

rotacional de terra

– corrida de terra

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Tabela 2.2 – Velocidade de corridas de massa WP/WLI (1995) e Cruden e

Varnes (1996).

Classificação Descrição Velocidade

(mm/s)

Velocidade

típica

Respostaa

7 Extremadamente rápido 5X103 5 m/s Nula

6 Muito rápido 5X101 3m/min Nula

5 Rápido 5X10-1 1.8 m/h Evacuação

4 Moderado 5X10-3 13 m/mês Evacuação

3 Devagar 5X10-5 1.6m/ano Manutenção

2 Muito devagar 5X10-7 16mm/ano Manutenção

1 Extremadamente devagar Nula

a Baseado em Hungr (1981)

Desta forma, baseando-se na classificação de Varnes (1978), Hungr et al.

(2014) apresentam uma atualização motivada pela necessidade de uma classificação

compatível com terminologia geológica e com classificações geotécnicas baseadas

em propriedades mecânicas. Esta classificação apresenta definições claras e

completas para cada uma das 32 categorias, além de exemplos ocorridos ao redor

do mundo para cada evento (Tabela 2.3).

Dentre os diferentes tipos de movimentos de massa apresentados, encontram-

se os movimentos de tipo corridas ou fluxos, principal foco deste trabalho. Na

literatura encontram-se diversas classificações para este tipo de movimento

(Varnes, 1978; Cruden e Varnes 1996; Croussot e Meunier, 1996; Hungr et al.,

2001; Hungr et al., 2014). As principais classificações são decorrentes dos

diferentes tipos da massa mobilizada e velocidade do movimento.

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Tabela 2.3 – Resumo da classificação proposta por Hungr et al. (2014). Tipo de movimento Rocha Solo

Queda 1. Queda de rochas/gelo* 2. Queda de

pedregulho/detrito/silte*

Tombamento 3.

4.

Tombamento de bloco de

rocha*

Tombamento a flexão de

rocha

5. Tombamento de

cascalho/areia/silte*

Escorregamento ou

deslizamento

6.

7.

8.

9.

10.

Escorregamento rotacional

de rocha

Escorregamento planar de

rocha*

Escorregamento em cunha

de rocha*

Escorregamento de rocha

Escorregamento irregular de

rocha*

11.

12.

13.

14.

Escorregamento rotacional de

argila/silte

Escorregamento planar de

argila/silte

Escorregamento de

pedregulho/areia/detrito*

Escorregamento composto de

argila/silte

Espalhamento lateral 15. Espalhamento de talude de

rocha

16.

17.

Espalhamento de areia/silte

liquefeito*

Espalhamento de argila*

sensitiva

Fluxo 18. Avalanche de rocha/gelo* 19.

20.

21.

22.

23.

24.

25.

26.

27.

Fluxo seco de areia/silte/detrito

Corrida úmida de

areia/silte/detrito*

Fluxo úmido de argila

sensitiva*

Corrida de detritos*

Corrida de lodos*

Inundação de detritos

Avalanche de detritos*

Fluxo de terra

Fluxo de turfa

Deformação de

talude

28.

29.

Deformação de talude de

montanha

Deformação de talude de

rocha

30.

31.

32.

Deformação de talude de solo

Rastejo de solo

Solifluxão

*Movimentos que usualmente atingem velocidades extremadamente altas Cruden e Varnes (1996).

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Hungr et al. (2001) propõe as seguintes definições para os materiais de fluxo:

i) Terra: material coluvionar argiloso (plástico) derivado de argilas ou

rochas meteorizadas, com consistência mais próxima do limite

plástico que do limite liquido;

ii) Lama: material mole, solos de argila remodelada cuja matriz tem

índice de plasticidade superior a 5% e índice líquido maior do que 0,5

no movimento. Bates e Jackson (1984) definem lodo como um

material argiloso liquido ou semi-líquido;

iii) Detrito: material solto de baixa plasticidade sendo uma mistura de

areia, cascalho, pedras, pedregulho e uma proporção variável de silte

e um pouco de argila, às vezes com material orgânico.

Baseando-se nas definições dos materiais anteriores, Hungr et al. (2001)

definem os diferentes tipos de fluxos da seguinte forma:

i) Corrida de detritos: fluxo através de um canal íngreme que apresenta

velocidades rápidas a extremadamente rápidas, composto por detritos

não plásticos saturados. Em areias e partículas finas o índice de

plasticidade é menor que 5%;

ii) Corrida de lama: fluido em um canal que apresenta velocidades

rápidas a extremadamente rápidas, composto por detritos plásticos

saturados envolvendo grande quantidade de água com índice de

plasticidade maior que 5%;

iii) Inundação de detritos: fluxo em um canal íngreme que apresenta

velocidades muito rápidas com uma crescente quantidade de água

carregada de detritos;

iv) Avalanche de detritos: fluxo em uma encosta íngreme, sem a presença

de um confinamento estabelecido por um canal, que apresenta

velocidades extremadamente rápidas composto por detritos,

parcialmente ou totalmente saturado.

Hungr (2005) destaca que a importância dos conceitos reside na aplicação

prática. Assim a importância de diferenciar um fluxo de detritos de uma avalanche

de detritos se concentra na gestão do risco para a projeção de medidas de mitigação

e convivência. Por exemplo, no caso de fluxos de detritos o estudo deve se

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concentrar em uma trajetória específica, enquanto que para avalanches de detritos,

o estudo deve se concentrar em toda uma área com encostas íngremes e não em uma

trajetória especifica. Outro ponto destacado é a dificuldade de classificar e

distinguir este tipo de evento pela concentração de sedimentos. Este parâmetro

apresenta variações temporais e espaciais, o que torna difícil a adoção de uma

classificação em função da concentração de sedimentos.

Takahashi (2007) propõe uma classificação baseada em eventos acontecidos

na China e no Japão, diferenciando os movimentos pela natureza da massa

escorregada, tal como:

i) Corrida de detritos grosseiros (Stony-type debris flow): Fluxo com

presença elevada de grandes blocos rochosos e materiais mais

grossos;

ii) Fluxo turbulento de lama (turbulent-muddy-type debris flow): Fluxo

proveniente de erupções vulcânicas, formado por cinzas de erupções

vulcânicas;

iii) Corrida de detritos viscosos (viscous debris flow): Fluxo característico

de depósitos em lugares de atividade intermitente que resultam na

suavização do relevo e no equilíbrio do depósito.

Coussot e Meunier (1996) apresentam uma atualização da classificação

francesa proposta por Meunier (1991) para movimentos de massa do tipo fluxo. A

classificação proposta baseia-se na fração sólida (comportamento do material

coesivo e não coesivo) e o tipo de material (Figura 2.2). Embora esta classificação

seja conceitual e qualitativa, fornece uma ideia geral dos fatores que influenciam

na transição de um movimento para outro.

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33

Figura 2.2 – Classificação dos movimentos de massa em encostas íngremes

como função da fração sólida e do tipo de material (Mod. Coussot e Meunier,1996).

Em adição às classificações anteriores, mais recentemente, Hungr et al (2014)

apresentam uma nova classificação que inclui dez movimentos de massa tipo fluxo,

correspondentes a:

1) Avalanche seca de areia/silte/detrito: Movimento extremadamente rápido e

massivo, formado por rocha e/ou neve fragmentada;

2) Fluxo seco de areia/silte/pedregulho/detrito: Movimento com velocidade

lenta a rápida, formado por material solto, seco e granular, sem excesso de

poropressão;

3) Fluxo de areia/silte/detrito: Movimento com velocidade rápida a

extremamente rápida, formado por material granular envolvendo liquefação

ou excesso de poropressão do material que gerou o movimento;

4) Corrida de argila sensitiva: Movimento com velocidade a extremamente

rápida, formado por argila sensitiva liquefeita devido à remodelagem

durante uma ruptura progressiva;

5) Fluxo de detritos: Movimento com velocidade rápida a extremamente

rápida, formado por um fluxo crescente de detrito saturado através de um

canal íngreme. Apresenta alto arrastamento de material e água ao longo do

canal;

6) Corrida de lama: Movimento com velocidade rápida a extremamente rápida,

formado por um fluxo crescente de solo plástico saturado através de um

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canal íngreme. Envolve uma significativa porcentagem de água em relação

ao material da origem. Apresenta alto arrastamento de material e água ao

longo do canal;

7) Inundação de detritos: Movimento com velocidades muito rápidas, formado

por um fluxo de água, altamente carregado de detritos descendo por um

canal íngreme. Vazão de pico comparável com a de uma inundação de água;

8) Avalanche de detritos: Movimento com velocidades muito rápidas a

extremamente rápidas, formado por um fluxo superficial de detritos

parcialmente ou totalmente saturados, descendo através de uma encosta

íngreme sem confinamento de um canal definido;

9) Fluxo de terra: Movimento com velocidade rápida ou lenta intermitentes,

formado por material plástico, argiloso. O movimento é facilitado pela

combinação do material ao longo das fraturas e pelas deformações de

cisalhamento. Longos períodos de relativa inatividade alternam com ondas

mais rápidas;

10) Fluxo de turfa: Movimento de velocidade rápida composto de turfa

liquefeita causada por ruptura não drenada.

2.2. Fluxo de detritos

2.2.1. Definição

O termo de fluxo de detritos tem sido definido desde o início do século XX

por inumeráveis autores. Dentre os primeiros autores destaca-se Stiny (1910), que

define fluxo de detritos como uma torrente escoando em uma montanha carregando

sólidos suspensos e transportando determinada quantidade de massa erodida. Como

a quantidade de massa transportada aumenta, em determinado momento ela se

transforma em uma massa viscosa contendo, água, solo, areia, rocha e madeira

misturadas.

Nos EUA é comum uma definição similar à proposta por Sharpe (1938), na

qual os fluxos de detritos correspondem a fluxos rápidos saturados de detritos

indiferenciados em um canal íngreme. Varnes (1978) descreve que um fluxo de

detritos é uma forma rápida de movimento de massa com um corpo granular

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contendo sólidos, água e ar; o termo detrito denota materiais que possuem uma alta

porcentagem relativa de fragmentos grosseiros.

Com fins hidrológicos, Costa e Jarett (1981) propuseram distinguir fluxos de

detritos de fluxos hiperconcentrados baseando-se na concentração de sedimentos.

Costa (1984) define que os fluxos de detritos são uma forma de movimento de

massa rápido, induzidos pela ação da gravidade, intermediário entre deslizamentos

e inundações. Fluxos de detritos se formam a partir de um ou mais deslizamentos,

nos quais detritos de rocha e solo são mobilizados, sendo que o transporte ocorre

através de canais fluviais íngremes e fechados.

Iverson e Denlinger (1987) definem fluxo de detritos como um fluxo de

partículas sólidas de rocha, solo e matéria orgânica, formando uma matriz de fluido

que inclui água no estado líquido, partículas finas carreadas em suspensão, sólidos

dissolvidos e bolhas de gás.

Hungr et al. (2001) propõem definições para diversos tipos de corridas, com

o principal objetivo de conciliar a terminologia e estabelecer as principais

diferenças entre os movimentos de massa de tipo fluxo. De acordo com Hungr et

al. (2001), um fluxo de detritos possui uma velocidade rápida a extremadamente

rápida e é formado de detritos não plásticos (areias e partículas finas com um índice

de plasticidade menor que 5%) saturados que se movimentam por um canal

íngreme.

Pelas implicações que envolvem este movimento, o fluxo de detritos sempre

é classificado como um movimento de massa catastrófico. Rodine (1984) destaca

que o material mobilizado é precedido por um forte rugido e Takahashi (2007) o

descreve como um Desastre Fantasma por seu potencial de destruição. Na mais

recente classificação de movimentos de massa presentada por Hungr et al. (2014),

os fluxos de detritos são definidos como um fluxo com velocidades muito rápidas

a extremadamente rápidas, composto por detritos saturados em um canal íngreme

com forte arrastamento de material e água ao longo do canal. Este movimento

diferencia-se de outros movimentos de massa porque acontece periodicamente ao

longo de canais estabelecidos.

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2.2.2. Características

Os fluxos de detritos geralmente apresentam uma configuração na qual se

identificam três zonas na trajetória de movimento sendo elas (i) zona de iniciação,

(ii) zona de transporte e (iii) zona de deposição (Figura 2.3).

Figura 2.3 – Configuração de um fluxo de detritos (Nunes e Sayão, 2014).

a. Zona de iniciação de movimento ou ruptura:

Na zona de iniciação acontece a ruptura e geralmente é localizada na parte

alta da encosta ou na lateral de um talude ou canal principal. VanDine (1996)

reporta inclinações maiores que 25° para esta zona e Rocha (2011) apresenta uma

tabela resumo de declividades da zona de ruptura para vários casos de estudo. A

mobilização representa o processo pelo qual uma massa aparentemente rígida de

solo, sedimento ou rocha passa de um estado estático para um fluxo de detritos. A

mobilização requer o deslocamento da massa, água suficiente para saturá-lo, e a

conversão de energia potencial gravitacional para energia cinética capaz de mudar

o tipo do movimento de deslocamento para fluxo (Costa, 1984; Takahashi, 1991;

Shelby, 1993; Iverson, 1997).

Segundo Takahashi (1991), um fluxo de detritos pode ser iniciado de três

maneiras, (i) um deslizamento de solo adquire maior mobilidade e se transforma

em um fluxo de detritos, (ii) o colapso de uma estrutura ou barreira de solo e

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sedimento gera um fluxo de detritos e (iii) quando as margens do canal se tornam

instáveis a partir da ocorrência ou aumento de escoamento superficial. De acordo

com Iverson (1997), o critério de Mohr-Coulomb descreve adequadamente o estado

das forças na superfície de ruptura.

b. Zona de transporte:

Corresponde ao local percorrido pelo fluxo de detritos onde o mesmo

permanece em movimento. No percurso, o movimento pode incrementar seu

volume, erodindo o material nesta zona ou carregando o material depositado de

movimentos anteriores. A taxa de erosão irá depender das características geológicas

e das condições dos materiais na zona de trajetória do fluxo (Hungr, 2005).

Segundo Costa (1984), a grande mobilidade dos fluxos de detritos está ligada

à presença de argilas na mistura água-solo, pois a argila reduz a permeabilidade

aumentando a poropressão e assim a mobilidade da massa. Geralmente esta zona

de transporte possui locais com declividades maiores que 10° (Bathurst et al., 1997;

Hungr, 2005). De acordo com Iverson (1997), a conversão de energia durante o

movimento do fluxo pode ser demonstrada pela transformação da energia potencial

em energia perdida para formas não recuperáveis pelas forças de resistência

aplicadas em uma distância, L, até fazer o movimento parar.

Os fluxos de detritos se movimentam através de uma onda (surge) ou várias

ondas sucessivas (Costa, 1984; Hungr, 2005; Gostner et al., 2008). VanDine (1996)

indica declividades maiores a 15° para esta zona. Pierson (1986) reporta que a

configuração interna do fluxo é dividida em três zonas de acordo com a Figura 2.4.

i) Frente rochosa (cabeça): Composta de partículas de maior diâmetro

como pedregulhos, blocos de rochas e material não liquefeito sendo

capazes de transportar grandes blocos de rocha (Hungr, 2005; Costa,

1984; Gostner et al., 2008). O aumento de material grosso como

pedregulhos na frente do movimento causa um aumento no nível de

fluxo resultando em um aumento na vazão de pico (Iverson, 1997;

Hungr 2000);

ii) Corpo principal: Composto de uma massa de material fino e detritos

liquefeitos (Hungr, 2005);

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iii) Cauda: É um fluxo turbulento composto por uma carga de sedimentos

dissolvidos em água, similar a uma inundação de detritos (Hungr,

2005).

Figura 2.4 – Esquema de uma onda de corrida de detritos com frente rochosa.

(Mod. Pierson, 1986).

c. Zona de deposição

Corresponde à zona onde a massa mobilizada inicia seu processo de

deposição. A área de deposição normalmente ocorre no formato de um leque,

conhecido como leque de detritos, debris fan (Hungr, 2005).

A deposição normalmente resulta da combinação da redução da declividade

e da perda do confinamento (Hungr, 2005). Segundo Iverson (1997), a deposição

ocorre quando toda a energia cinética é transformada em outra energia. Têm sido

observados diversos ângulos de declividade onde se inicia a deposição do fluxo,

mas geralmente ocorre em declividades próximas a 15° (Rocha, 2011).

Segundo VanDine (1996), a zona de deposição é dividida em zona de

deposição parcial com declividades menores que 15° e em zona de deposição final

com declividades menores que 10°.

Nota-se que existem diversas propostas de declividades típicas para cada

zona, porém deve-se destacar que estes valores são característicos e dependentes de

cada evento e função do tipo de material, geologia e geomorfologia do local.

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2.2.3. Classificação

Jakob (2005) apresenta uma classificação baseada na magnitude do

movimento onde divide os fluxos de detritos em 9 classes de acordo com o potencial

de dano. As classes são catalogadas em função do volume, a vazão de pico, a área

inundável, a área afetada e possíveis consequências. A Figura 2.5 ilustra as

primeiras seis classes propostas por Jakob (2005).

A Tabela 2.4 descreve as principais características para cada classe. Jakob

(2005) também descreve os principais mecanismos deflagradores e condições

hidrológicas e topográficas para cada classe.

Figura 2.5 – Classificação de fluxos de detritos de acordo à magnitude do

movimento (Mod. Jakob, 2005, Nunes e Sayão, 2014).

Nettleton et al (2005) dividem os fluxos de detritos de acordo com o tipo de

deposição que apresentaram. Quando há formação de um leque ou cunha

dependente da topografia, é chamado de deposição livre e encontra-se representado

na Figura 2.6a. Quando a deposição é canalizada e o depósito tende a assumir a

forma do canal, chama-se de deposição canalizada como apresentado na Figura

2.6b.

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Tabela 2.4 – Classificação de fluxos de detritos de acordo com a magnitude

do movimento (Mod. Jakob, 2005, Nunes e Sayão, 2014).

Tipo Volume

(m3)

Vazão de

pico

(m3/s)

Área

inundada

(m2)

Consequências

1 < 102 <5 <4x103 Dano localizado, já ocasionou morte de

trabalhadores florestais em pequenos talvegues,

danos em construções pequenas.

2 102-103 5 - 30 4x102 –

2x103

Soterramento de carros, destruição de construções

menores e árvores, descarrilamento de trens.

3 103-104 30-200 2x103 –

9x103

Destruição de edifícios de maior porte, danos em

pilares de pontes de concreto, rodovias e dutos.

4 104-105 200-1500 9x103 –

4x104

Destruição de aldeias, corredores de infraestrutura,

pontes, obstrução de riachos.

5 105-106 1500 – 12

000

4x104 –

2x105

Destruição de partes das cidades e florestas de

2km2 de área. Obstrução de riachos e pequenos

rios.

6 105-106 N/A > 2x105 Destruição de cidades e obstrução de vales até

várias dezenas de km2 de área. Bloqueio de rios.

7 106-107 N/A N/A Destruição de cidades e obstrução de vales até

várias dezenas de km2 de área. Bloqueio de

grandes rios.

8 107-108 N/A N/A Destruição de grandes cidades e inundação de

vales até 100 km2 de área. Bloqueio de grandes

rios.

9 >108 N/A N/A Vasta e completa destruição de centenas de km2.

Esta classificação proposta por Nettleton et al. (2005) é análoga a outras

propostas apresentadas anteriormente por Sharpe (1938) que distinguiu fluxos de

detritos e avalanches de detritos, ressaltando que esta classificação foi mantida por

Varnes (1978). Hutchinson (1968) também dividiu os fluxos de detritos como

canalizados e não canalizados.

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Figura 2.6 – Tipos de deposição de um fluxo de detritos. a. Deposição livre,

b. Deposição canalizada. (Nunes e Sayão, 2014, adapt. Nettheton et al., 2005).

2.2.4. Mecanismos deflagradores

Existem diversos mecanismos deflagradores de fluxos de detritos

mencionados na literatura, porém o mais estudado se relaciona com a elevação da

poropressão devido às precipitações intensas ou desgelo. A elevação da poropressão

resultante de precipitações intensas e de longa duração ao longo de superfícies de

ruptura existentes diminui a resistência ao cisalhamento (Campbell, 1974; Costa,

1984) e diminui a coesão do solo (Costa, 1984; Thomas, 1994) fazendo com que o

solo se liquefaça transformando-se em um fluido viscoso (Costa, 1984).

Starkel (1979) aponta que a chuva capaz de provocar uma corrida de massa

resulta da combinação de intensidade com duração. Foram propostas várias relações

empíricas entre intensidade e duração de chuva e a ocorrência de fluxos de detritos

(Caine, 1980; Govi e Sorzana, 1980; Wieczorek e Sarmiento, 1983 e 1988; Crozier,

1997; Kanji et al., 1997; Marchi et al., 2002; Bacchini e Zannoni, 2003; Jakob e

Weatherly, 2003; Motta, 2014; Nunes e Sayão, 2014).

Sassa e Wang (2005) reportam que em condições climáticas normais, sem ou

com pouca chuva, não ocorre uma ruptura por carregamento não drenado e

consequentemente, não acontecerá um fluxo de detritos. Isto foi comprovado com

ensaios de ring shear que revelaram que a saturação da massa ao longo da trajetória

é um pré-requisito para deflagrar o movimento.

Na maioria dos casos os fluxos de detritos acontecem pela mobilização de

outro movimento de massa, o qual é mobilizado e canalizado encosta abaixo

incorporando detritos em sua trajetória e resultando em um fluxo de detritos

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(Johnson, 1984; Sassa, 1985; Ellen e Fleming 1987; Iverson et al., 1997). Quando

a massa transportada atinge um depósito de material, há um processo de

carregamento não drenado que resulta na elevação da poropressão do depósito,

ajudando a incorporar esse depósito no material movimentado (Sassa, 2000).

Este fenômeno é mostrado na Figura 2.7, onde depósitos de material solto e

com estrutura instável colapsam quando submetidos a um carregamento rápido e,

com isto a massa rompida se desliza por uma camada liquefeita (Figura 2.7a). O

material começa a fluir, causando liquefação na frente do movimento e aumentando

seu volume (Figura 2.7b).

Figura 2.7 – Diagrama da deflagração de um fluxo de detritos devido a um

carregamento rápido (Mod. Sassa, 1985).

Iverson et al. (1997) reportam que os principais mecanismos deflagradores

dos fluxos de detritos são: i) ruptura generalizada da massa rompida; ii) liquefação

da massa de solo pela elevação da poropressão e iii) transformação da energia de

um deslizamento translacional em energia interna da massa deslizante.

Observa-se que os mecanismos deflagradores são originados por fenômenos

naturais como chuvas ou sismos. Porém, é importante notar que ações antrópicas

como a ocupação desorganizada e o uso do solo influenciam indiretamente no

desencadeamento deste tipo de movimentos.

2.2.5. Principais parâmetros

Diversos parâmetros são utilizados para descrever quantitativamente os

fluxos de detritos, destacando-se o volume, a velocidade, a descarga de pico, a

distância total percorrida, o ângulo de viagem e a área de deposição. A estimativa

destes parâmetros é de suma importância para a seleção e dimensionamento de

obras de mitigação e convivência. São apresentadas equações empíricas utilizadas

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para a estimativa de cada parâmetro. Importante ressaltar que a estimativa destes

parâmetros por meio de equações empíricas não é objeto desta pesquisa.

2.2.5.1.Volume total

O volume ou magnitude de um fluxo de detritos é definido como o volume

total de material movimentado para a área de deposição durante um evento. Sua

quantificação é importante, pois é um parâmetro que pode ser correlacionado com

outros, tais como vazão de pico e distância percorrida. Segundo Rickenmann

(1999), o volume é o parâmetro mais importante do ponto de vista do potencial

destrutivo.

Tem-se várias relações empíricas para estimar o volume total de um fluxo de

detritos apresentadas na Tabela 2.5. Recentemente a técnica de fotogrametria tem

sido utilizada para a obtenção do volume a partir de fotos aéreas, sendo esta

particularmente influenciada pela cobertura vegetal. Radares de penetração e outras

técnicas sísmicas também são empregados, porém necessitam ser calibrados a partir

de um deslizamento observado e bem documentado. Recomenda-se a determinação

do volume diretamente na área do fluxo de detritos, cujo valor pode ser comparado

ao estimado pelas agências de monitoramento e informados logo após o evento

(Nunes e Sayão, 2014).

A magnitude do volume envolvido em um fluxo de detritos dificilmente será

igual ao volume inicial deflagrador do movimento (Hungr, O; McDougall, S; Bovis,

M; 2005). Um exemplo deste fato é o caso histórico de Tsing Shan observado em

Hong Kong onde um volume inicial igual de 400 m3 foi incrementado ao longo de

sua trajetória até atingir um volume final de 20.000 m3, devido à erosão e arrastre

do material (King, 1996). A eficiência do mecanismo de arrastre e erosão são os

fatores mais importantes para determinar o volume total de um fluxo de detritos.

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Tabela 2.5 – Correlações empíricas para estimativa de volume final (adapt.

Nunes e Sayão, 2014).

Referência Equação Região

Takahashi (1991) 𝑉 = (665 ∙ 𝑄𝑝)0,85 Japão

Corominas (1996) 𝑉 = (

𝐿

𝐻 ∙ 1,03)0,105

Espanha

Rieckenmann (1999) 𝑉 = (

𝐿

1,19 ∙ 𝐻0,83)

10,16⁄

Mundial

Gramani (2001) 𝑉 = (

1,87 ∙ 𝐿

𝐻)

10,105⁄

Brazil

Marchi e D´Agostino

(2004)

𝑉 = 70 000 ∙ 𝐴𝑐 Alpes italianos (Volume

máximo)

Marchi e D´Agostino

(2004)

𝑉 = 1 000 ∙ 𝐴𝑐0,3 Alpes italianos (Volume

mínimo)

Polanco (2010) 𝑉 = 252,84 ∙ (

𝐿

𝐻)4,72

Mundial

Motta (2014) 𝑉 = (

𝐿

2,72)

10,37⁄

∙1

𝐻

Mundial

Ac: área de contribuição; VSED: volume de sedimentos; L: distância total percorrida (m); Qp: vazão de pico

(m3/s); H: altura ou diferença entre a cota de saída do movimento e a cota final de deposição (m).

2.2.5.2.Velocidade

A velocidade apresenta difícil medição durante um evento de fluxo de

detritos, sua aproximação pode ser realizada em visitas de campo após o evento,

mas geralmente é estimada por meio de correlações empíricas e medidas de ensaios

realizados em laboratório (Rickermann,1999).

De acordo com a classificação proposta por Varnes (1978) e Cruden e Varnes

(1996), os fluxos de detritos geralmente são movimentos com velocidades muito

rápidas, por tanto este parâmetro é muito importante, pois se relaciona diretamente

com a intensidade de perigo.

Considerando as relações utilizadas na mecânica de fluidos, a velocidade

pode ser diretamente estimada usando-se a superelevação, calculada a partir do

impacto causado em estruturas, ou através de características do canal (Jakob, 2005).

Estas equações assumem que: (i) o quadrado da velocidade numa área de seção

transversal média pode ser substituído pela velocidade média; (ii) a inclinação é

constante e (iii) a altura do canal é muito menor que o raio de curvatura do mesmo.

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Resultados obtidos de ensaios de calha (flume tests) de Iverson et al. (1992) indicam

que estas equações permitem estimativas razoáveis (Tabela 2.6).

Tabela 2.6 – Correlações empíricas para estimativa da velocidade (mod.

Nunes e Sayão, 2014). Referência Equação Observações

Chow (1959) 𝑣 = (𝑔 ∙ 𝑟 ∙ cos 𝜃 ∙ tan 𝛼)0,5

𝑣 = (2 ∙ 𝑔 ∙ ∆h)0,5

Expressão com inclinação do canal

constante, estreito

Fairchield e Wigmosta

(1983)

𝑣 = (1,21 ∙ 𝑔 ∙ ∆h)0,5 Expressão semi empírica baseada em

ensaios de flume e teoria de fluxo

laminar viscoso

Hungr et al. (1985) 𝑣 = (

𝛾 ∙ 𝑆

𝐾 ∙ 𝜇) ∙ h2

Expressão baseada no modelo de fluxo

newtoniano

Rickenmann (1999) 𝑣 = 2,1 ∙ 𝑄0,33 ∙ 𝑆0,33 Expressão baseada em fluxo de água

turbulento em leitos pedregulhos e

casos históricos

McClung (2001) 𝑣 =

𝑟 ∙ 𝑔

𝑘∙∆ℎ

𝑏

-

Motta (2014) 𝑣𝑀𝐴𝑋 = 120,99 ∙ 𝑉−0,20 Fluxo de detritos, mundiais, 56 eventos,

R2=0,78, limite superior

Motta (2014) 𝑣𝑀𝐴𝑋 = 0,15 ∙ 𝑉−0,25 Fluxo de detritos, mundiais, 56 eventos,

R2=0,97, limite inferior

r: raio de curvatura do canal (m); a: inclinação do canal (graus); θ: gradiente de superelevação (graus); Δh:

altura da superelevação (m); S: inclinação do canal (graus); ϒ: peso específico do material (kN/m3); h:

espessura do fluxo (m); K: fator de forma do canal; V: volume de fluxo de detritos (m3); g: gravidade (m2/s);

y: altura média do fluxo (m); μ: viscosidade dinâmica da corrida; k: fator de correção; b:largura do canal.

2.2.5.3.Descarga de pico

Conhecer a descarga máxima e a velocidade associada a esta descarga é

importante para avaliar o problema em alguns pontos críticos ou de interesse

específico, por exemplo, para projeto de estruturas de proteção. Jakob (2005) define

a descarga de pico (Qp) como a área máxima de seção transversal do fluxo

multiplicada pela velocidade durante a fração de tempo (t), em que o fluxo percorre

a seção de análise.

Hungr (2000) reporta que a descarga de pico é a característica mais

importante de um fluxo de detritos, sendo a causa principal do surgimento de

grandes ondas de arrastre.

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Pela natureza do fenômeno de fluxo de detritos raramente é possível

conseguir medidas durante o evento de velocidade ou área máxima. Portanto a

estimativa da descarga de pico é geralmente obtida por meio de relações empíricas

como as mostradas na Tabela 2.7.

Tabela 2.7 – Correlações empíricas para a estimativa da vazão de pico (mod.

Nunes e Sayão, 2014). Referência Relação Observações

Costa (1988) 𝑄𝑝 = 0,293 ∙ 𝑉𝑀0,56 Ruptura de barragens

Costa (1988) 𝑄𝑝 = 0,016 ∙ 𝑉𝑀0,64 Degelo

Takahashi (1991) 𝑉 = 665 ∙ 𝑄𝑝0,85 Fluxo de detritos, Japão

Mizuyama e Kobashi (1992) 𝑄𝑝 = 0,0188 ∙ 𝑉0,790 Fluxo de lama

Mizuyama e Kobashi (1992) 𝑄𝑝 = 0,0135 ∙ 𝑉0,780 Fluxo de detritos

Massad et al. (1997) 𝑉 = 500 ∙ 𝑄𝑝 Fluxo de detritos, Japão e Canadá

Bovis e Jakob (1999) 𝑄𝑝 = 0,04 ∙ 𝑉0,90 Fluxo de detritos granular

Bovis e Jakob (1999) 𝑄𝑝 = 0,003 ∙ 𝑉1,01 Fluxo de detritos vulcânicos

Rickenmann (1999) 𝑄𝑝 = 0,1 ∙ 𝑉0,83 Fluxo de detritos

Motta (2014) 𝑄𝑝 = 0,29 ∙ 𝑉0,51 Fluxo de detritos brasileiros

Motta (2014) 𝑄𝑝 = 0,14 ∙ 𝑉0,59 Fluxo de detritos, mundiais, 34

eventos, R2=0,71

V: volume (m3); VM: volume de água (m3); Qp: vazão de pico (m3/s).

2.2.5.4.Distância total percorrida

A distância total percorrida é representada pela projeção horizontal que une o

primeiro ponto da zona de iniciação do movimento com o ponto mais afastado do

material depositado durante o movimento. A distância total percorrida é a soma de

(i) comprimento da zona de iniciação; (ii) comprimento da zona de transporte e (iii)

comprimento da zona de deposição.

Este parâmetro pode ser determinado por meio de medições em campo,

fotogrametria e a partir de coordenadas obtidas com GPS.

Na Tabela 2.8 são apresentadas correlações empíricas para a estimativa da

distância final percorrida.

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A extensão da área de deposição também é importante para a projeção de

medidas de proteção e para a análise de risco. Na Tabela 2.9 são apresentadas

correlações empíricas para estimativa deste parâmetro.

Tabela 2.8 – Correlações empíricas para estimativa da distância total

percorrida (Mod. Nunes e Sayão, 2014). Referência Equação Observações

Heim (1932) 𝐿 =

𝐻

tan𝛼

Fluxo de detritos

Rickenmann (1995) 𝐿 = 350 ∙ 𝑉0,25 Valor máximo

Rickenmann (1995) 𝐿 = 3,6 ∙ 𝑉0,45 Valor mínimo

Corominas (1996) 𝐿 = 1,03 ∙ 𝑉0,105 ∙ 𝐻 Fluxo de detritos, Espanha

Corominas (1996) 𝑡𝑎𝑛

𝐻

𝐿= 0,9256 ∙ 10−0,1006∙𝐿∙𝑉

Fluxo de detritos não canalizados,

Espanha

Rickenmann (1999) 𝐿 = 1,9 ∙ 𝑉0,16 ∙ 𝐻0,83 Fluxo de detritos, Suíça

Garcia-Ruiz et al. (1999) 𝐿 = 7,13 ∙ (𝑉 ∙ 𝐻)0.271 Fluxo de detritos, Itália

Crosta et al. (2001) 𝐿 = 7,136 ∙ 𝑉0,215 Fluxo de detritos, Itália

Budetta e Riso (2004) 𝐿 = 1711,5 ∙ log 𝑉 − 6094,1 Fluxo de detritos, Itália

Budetta e Riso (2004) log

𝐻

𝐿= −0,18 ∙ log 𝑉 − 1,19

Fluxo de detritos, Itália

Polanco (2010) 𝐻

𝐿= 3,23 ∙ 𝑉−0,212

Fluxo de detritos, Brasil

Polanco (2010) 𝐿 = 106,61 ∙ 𝑉0,2591 Fluxo de detritos, Brasil

Motta (2014) 𝐿 = (

𝐻

3,55)

10,69⁄

Fluxo de detritos, Brasil, R2=0,76

Motta (2014) 𝐻

𝐿= −0,83 ∙ ln 𝑉 + 11,20

Limite superior, fluxo de detritos,

mundiais, 160 eventos, R2=0,91

Motta (2014) 𝐻

𝐿= −0,06 ∙ ln 𝑉 − 0,52

Limite inferior, fluxo de detritos,

mundiais, 160 eventos, R2=0,92

Motta (2014) 𝐿 = 2,29 ∙ 𝑉0,17 ∙ 𝐻0,75 Fluxo de detritos, mundiais, 136

eventos, R2=0,71 V: volume (m3); α: ângulo de fahrbӧschung; H: altura ou diferença entre a cota de saída do movimento e a cota final de

deposição.

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Tabela 2.9 – Correlações empíricas para estimativa da extensão da área de

deposição. Referência Equação

Rickenmann (1999) 𝐿𝑑 = 15 ∙ 𝑉1 3⁄

Crosta et al. (2001) 𝐿𝑑 = 7 ∙ 𝑉1 3⁄

Lorente et al. (2003) 𝐿𝑑 = 7,13 ∙ (𝑉 ∙ 𝐻)0,271

V: volume (m³); H: altura (m).

2.2.5.5.Ângulo de viagem

Apesar dos movimentos serem estudados pela medição direta da distância

curvilínea percorrida, a mobilidade é geralmente comparado utilizando ângulos ou

razões.

O ângulo de fahrbӧschung (α) é definido como a diferença entre o ponto mais

alto na zona de iniciação e o ponto mais baixo na zona de deposição (Heim, 1932):

tan𝛼 =𝐻

𝐿 (2.1)

O ângulo de viagem também pode ser utilizado, mas este depende do centro

de massa do material em sua configuração inicial e final como mostrado na Figura

2.8. Desta forma, torna-se mais fácil obter o ângulo fahrbӧschung de observações

de campo.

Figura 2.8 – Definição e comparação de ângulo fahrböschung e ângulo de

viagem.

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2.2.5.6.Área de deposição

Estudos desenvolvidos por Iverson et al. (1998) para lahars (fluxos de detritos

originados por vulcões) definem:

(i) Área de seção transversal (A) como a área do canal de fluxo de detritos

que é inundada pelo fluxo na descarga de pico e varia ao longo do

canal em função da força de arrastre dos detritos, velocidade do fluxo

e quantidade de água da mistura (Berti e Simoni, 2007)

(ii) Área planimétrica de deposição (B) representada pela área coberta

pela deposição do fluxo de detritos e medida por fotos aéreas e com

auxílio de GPS.

A Tabela 2.10 e Tabela 2.11 apresentam correlações empíricas da literatura

para a estimativa das áreas de seção transversal e planimétrica de deposição,

respectivamente.

Tabela 2.10 – Correlações empíricas para estimar a área da seção transversal

(Nunes e Sayão, 2014). Referência Equação Observações

Iverson et al. (1998) 𝐴 = 0,05 ∙ 𝑉23⁄ Lahars, EUA

Berti e Simoni (2007) 𝐴 = 0,08 ∙ 𝑉23⁄

Fluxo de detritos, Alpes, Itália 𝐴 = 0,19 ∙ 𝑉0,57

Griswold e Iverson (2007) 𝐴 = 0,10 ∙ 𝑉23⁄

Fluxo de detritos 𝐴 = 0,22 ∙ 𝑉0,59

Motta (2014) 𝐴 = 0,23 ∙ 𝑉0,57 Fluxos de detritos, mundiais, 69

eventos, R2=0,87

V: volume do fluxo de detritos

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Tabela 2.11 – Correlações empíricas para estimar a área planimétrica (Nunes

e Sayão, 2014). Referência Equação Observação

Iverson et al. (1998) 𝐵 = 200 ∙ 𝑉23⁄ Lahars, EUA, R2=0,90

Waytomas et al. (2000) 𝐵 = 91,8 ∙ 𝑉23⁄ Fluxo de lama vulcânica (Alasca), 10

eventos, R2=0,90

Capra et al. (2003) 𝐵 = 55 ∙ 𝑉23⁄ Fluxo de detritos e deslizamento,

México, 6 eventos, R2=0,79

Crosta e Dal Negro

(2003) 𝐵 = 6,2 ∙ 𝑉

23⁄ Fluxo de detritos granular, Alpes,

Itália, 91 eventos, R2=0,96

Griswold (2004) 𝐵 = 19,9 ∙ 𝑉23⁄ Fluxo de detritos, 44 eventos, R2=0,91

Yu et al. (2006) 𝐵 = 28,8 ∙ 𝑉23⁄ Fluxo de detritos, Tailândia, 6 eventos,

R2=0,94

Berti e Simoni (2007) 𝐵 = 17 ∙ 𝑉23⁄ Fluxo de detritos, Alpes, Itália, 24

eventos

𝐵 = 6,8 ∙ 𝑉0,76 Fluxo de detritos, Alpes, Norte da

Itália, 24 eventos

Griswold e Iverson

(2007) 𝐵 = 20 ∙ 𝑉

23⁄ Fluxo de detritos, 44 eventos, R2=0,91

𝐵 = 10 ∙ 𝑉0,73 Fluxo de detritos, 44 eventos, R2=0,92

Scheidl e Rickernmann

(2010) 𝐵 = 17,3 ∙ 𝑉

23⁄ Fluxo de detritos granular, Alpes,

Alemanha, 44 eventos, R2=0,59

𝐵 = 28,1 ∙ 𝑉23⁄ Fluxo de detritos granular, Alpes,

Suíça, 34 eventos, R2=0,70

𝐵 = 32 ∙ 𝑉23⁄ Fluxo de detritos, Alpes, Suíça, 8

eventos, R2=0,42

𝐵 = 44,7 ∙ 𝑉23⁄ Fluxo de detritos, fluxos de detritos,

Alpes, Áustria, 12 eventos, R2=0,67

𝐵 = 56,1 ∙ 𝑉23⁄ Sedimentos fluviais e fluxo de detritos,

Alpes, Áustria, 27 eventos, R2=0,85

𝐵 = 13,5 ∙ 𝑉0,79 Fluxo de detritos, Alpes, Suíça (1987),

12 eventos, R2=0,68

𝐵 = 323,8 ∙ 𝑉0,44 Fluxo de detritos, Alpes, Suíça (2005),

8 eventos, R2= 0,58

𝐵 = 47,8 ∙ 𝑉0,68 Fluxo de detritos, Alpes, Sul da

Alemanha, 27 eventos, R2=0,85

𝐵 = 57,2 ∙ 𝑉0,59 Fluxo de detritos, Alpes, Áustria, 34

eventos, R2=0,72

𝐵 = 7,4 ∙ 𝑉0,77 Fluxo de detritos, Alpes, Áustria, 44

eventos, R2=0,60

Polanco (2010) 𝐵 = 7 ∙ 𝑉0,66 Fluxo de detritos, mundiais

Motta (2014) 𝐵 = 187,67 ∙ 𝑉23⁄ Fluxo de detritos, mundiais, 118

eventos, R2=0,90

𝐵 = 24,37 ∙ 𝑉0,77 Fluxo de detritos, mundiais, 118

eventos, R2=0,79

V: volume do fluxo de detritos

2.2.5.7.Taxa de erosão

O material incorporado a um fluxo de detritos depende principalmente da

capacidade de erosão do material nas margens e no leito do canal. A erosão e o

arraste do material do canal resultam em aumento do volume final, alteração da

composição e, às vezes, melhora a mobilidade do movimento (Hungr et al., 2005).

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Os canais onde se mobilizam os fluxos de detritos estão normalmente

cobertos por depósitos superficiais com altos conteúdos de água, como mostrado na

Figura 2.9. Cargas rápidas atingem estes depósitos gerando uma perda da sua

resistência e incorporando-se ao fluxo. Porém estes depósitos podem ser

significativamente diferentes da massa mobilizada mudando a reologia interna do

material que se movimenta.

O arrastre de material predomina na frente da onda e nas margens do canal, e

a erosão ocorre no leito do canal, como mostrado na Figura 2.9a. Ambos os

mecanismos implicam na mistura do material no canal com o material que se

movimenta (McDougall e Hungr, 2005).

Figura 2.9 – Esquema para: (a) arrastre nas margens e erosão na base. (b)

seção transversal do canal erodido (Modificado de McDougall, 2006 e McDougall

e Hungr, 2005).

A área de impacto de um fluxo de detritos depende diretamente do grau de

erosão dos materiais ao longo do canal, pois o volume final é influenciado pela

capacidade de erosão destes materiais. Assim, conhecer a profundidade de erosão

de cada material é importante para a construção de estruturas de proteção de

estruturas como dutos que atravessam canais típicos de fluxos de detritos (Jakob et

al., 2014).

Segundo Hungr et al. (1984), a taxa de erosão irá depender da inclinação da

encosta, da largura e profundidade do canal, do material no leito do canal, da

inclinação das margens laterais do canal, da altura e material das margens laterais,

da estabilidade das margens e da área tributária de drenagem. Porém as equações

encontradas na literatura baseiam-se em simplificações destes fenômenos. Autores

como Rickenmann e Zimmermann (1993) propõem uma relação entre a declividade

de deposição (𝑆𝑑) em porcentagem e a taxa de erosão média do percurso (E) em

m3/m expressa por:

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𝐸 = 110 − 250 ∙ 𝑆𝑑 (2.2)

McDougall e Hungr (2005) também apresentam uma relação que estima taxa

de erosão cujos resultados são semelhantes aos de Takahashi (1992), expressa por:

𝐸 =ln(𝑉𝑓 ∕ 𝑉𝑖)

𝑆̅ (2.3)

Onde 𝑉𝑓 denota o volume final, 𝑉𝑖 o volume inicial e 𝑆̅ a distância percorrida.

Hotta et al (2015) apresentam mais três relações para o cálculo da taxa de

erosão formuladas por Takahashi e Kuang (1986), Egashira et al. (1988) e Suzuki

et al. (2009), sendo as mais utilizadas no Japão. Estas equações assumem que o

fluxo de detritos atinge um estado de equilíbrio e a erosão ocorre entre esse estado

de equilíbrio e o estado atual do movimento. Porém, as equações precisam de outros

parâmetros que são obtidos de forma empírica, como a concentração do sedimento

transportado e a concentração do sedimento depositado e, portanto, não serão

avaliadas nesta pesquisa.

2.3. Técnicas de mitigação e convivência

Parte essencial da gestão de risco é o projeto de medidas de mitigação para

reduzir o elevado risco existente para um nível de risco aceitáivel. Dois tipos de

medidas de mitigação podem se distinguir (Zollinger, 1985): i) medidas ativas e ii)

medidas passivas.

2.3.1. Medidas ativas

Medidas ativas focam diretamente na ameaça do evento. Segundo Huebl e

Fiebiger (2005), estas medidas influenciam na iniciação, transporte ou deposição

de um fluxo de detritos, alterando sua magnitude e/ou frequência. A alteração é

causada por meio de: i) modificação da probabilidade de ocorrência do evento ou

ii) controle do evento.

As principais medidas ativas que conseguem alterar a probabilidade de

ocorrência do evento são apresentadas pela redução do escoamento e redução da

erosão.

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A redução do escoamento é atingida pela diminuição da descarga de pico por

meio de medidas florestais, gestão de bacias hidrográficas e desvio de escoamento

para outras bacias. Na Áustria, por exemplo, foi realizado um projeto de arborização

de 1580 mil m2 para aumentar a capacidade de absorção do solo, e assim limitar a

erosão devido a eventos de alto escoamento. A arborização resultou em uma

diminuição do escoamento superficial em cerca de 42% (Huebl e Fiebiger, 2005).

A redução da erosão é alcançada diminuindo-se a erosão superficial, por meio

do aumento da estabilidade das encostas, diminuição da erosão vertical e lateral no

canal e redução da descarga de água na parte alta do canal. Estes tratamentos

requerem medidas florestais, bioengenharia de solos, sistemas de drenagem,

alteração da geometria das encostas, estabilização de taludes, alargamento dos

talvegues, construção de estruturas transversais (check dams, rampas, etc),

estruturas by-pass entre outras.

Na França, por exemplo, foi projetado um canal com 202 m de cumprimento

e 44 m2 de largura para desviar o fluxo (Figura 2.10a). O material do fluxo de

detritos foi desviado dentro do canal artificial por meio de estruturas transversais

diminuindo o impacto do evento na zona de deposição.

As principais medidas ativas para controle do evento consistem na regulação

da descarga, por meio de armazenamento de água, aumentando a largura do canal

e/ou aumentando a seção transversal nos cruzamentos do canal (pontes).

Para o controle do evento propriamente dito, são utilizadas barreiras ou

diversas estruturas que geralmente retêm os blocos maiores e permitem a passagem

do fluido e dos blocos menores. Também são utilizadas estruturas para reduzir a

energia do fluxo de detritos, retardando a frente da onda do movimento e assim, as

estruturas na parte baixa do evento recebem um menor impacto dinâmico.

Estruturas de deflexão são utilizadas para desviar o fluxo para zonas inabitadas e

sem estruturas civis importantes.

VanDine (1996) classifica as estruturas de controle de fluxos de detritos em

dois tipos: abertas e fechadas. As estruturas abertas confinam e restringe o

movimento do fluxo, enquanto que as estruturas fechadas retêm o material do

evento.

As estruturas abertas incluem áreas de deposição não confinadas, baffles

(obstáculos de fluxo), check dams (Figura 2.10b), bermas laterais, bermas de

deflexão e bermas ou barreiras terminais.

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As estruturas fechadas são adotadas como medidas complementares e

incluem debris racks (Figura 2.10c), estruturas tubulares (Figura 2.10d), barragens

impermeáveis (Figura 2.10e/f), estruturas vazadas (Figura 2.10g) que funcionam

como barreiras resistentes aos detritos, projetadas para coletar e depositar os

detritos grosseiros, permitindo a passagem da água e materiais finos. Túneis falsos

também são utilizados para a convivência com fluxos de detritos, protegendo

estradas e infraestrutura localizadas na zona atravessada pelo fluxo (Figura 2.10h).

Os parâmetros de projeto a serem considerados dependem da estrutura

selecionada, e são específicos para cada local. Estes devem incluir parâmetros do

fluxo de detritos assim como do talvegue e da zona de deposição. Os parâmetros a

serem considerados geralmente incluem; frequência e intensidade ou volume do

evento, trajetória preferencial, granulometria dos detritos, distância total percorrida,

vazão de pico, espessura na proximidade das estruturas, ângulo de deposição

provável e forças de impacto (VanDine et al, 1997).

2.3.2. Medidas passivas

Medidas passivas focam na redução do potencial de dano e são essenciais

para a redução dos riscos, apesar de não atuarem diretamente no movimento como

as medidas ativas (Nunes e Sayão, 2014). A vulnerabilidade de um evento pode ser

alterada de maneira preventiva pelo planejamento urbano ou pela resposta imediata

após o desastre (Aulitzky, 1972).

A prevenção por meio de regulamentação de uso da terra reduz o dano à

infraestrutura, porém, a utilização de sistemas de monitoramento e alerta para este

tipo de eventos constitui um importante elemento da gestão do risco. Sistemas de

alerta são utilizados desde os anos 80 no Japão e na China e mais recentemente nos

Estados Unidos e na Europa.

A resposta imediata após o desastre inclui a escavação de estruturas

soterradas, reconstrução e restauração de infraestrutura e limpeza das áreas

inundadas. Estas medidas asseguram o bom funcionamento das estruturas em

futuros eventos.

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Figura 2.10 – Medidas ativas para fluxos de detritos: (a) Túnel de desvio,

França (Huebl e Fiebiger, 2005); (b) Check dams, Espanha (Corominas, 2013); (c)

Debris racks, Colorado, USA (deWolfe et al., 2008); (d) Barreiras tubulares, Japão

(Ishikawa, 2008); (e) e (f) Barragem, BC, Canadá (Wieczorek et al., 1997); (g)

Barreira flexível, Japão (Volkwein et al (2011); (h) Túneis falsos (Corominas,

2013).

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2.4. Análise de risco

As análises quantitativas do risco são cada vez mais utilizadas na tomada de

decisões associadas com a gestão territorial. Os fluxos de detritos e os movimentos

de massa em geral são fenômenos com alto potencial destrutivo, portanto estudos

de risco em zonas vulneráveis são vitais para a prevenção de acidentes.

O risco pode ser definido, de forma genérica, como uma probabilidade

multiplicada pelo impacto (R = P × I). McDougall (2006), propõe para a avaliação

do risco de perda de vida devido a um fluxo de detritos a seguinte expressão:

𝑅(𝑝𝑟𝑜𝑝) = 𝑃(𝐿) ∙ 𝑃(𝑆:𝐿) ∙ 𝑃(𝑇:𝑆) ∙ 𝑉(𝑝𝑟𝑜𝑝:𝑇) ∙ 𝐸 (2.4)

Onde:

P(L): probabilidade anual de ocorrência, determinada utilizando uma análise

estatística de eventos anteriores no local estudado;

P(S:L): probabilidade espacial do fluxo atingir um local especifico, definida através

de mapas de eventos anteriores, análises empíricas, análises numéricas, ou uma

combinação das anteriores;

P(T:S): probabilidade temporal de que um indivíduo seja afetado pelo fluxo quando

este ocorra, estimado de estudos de ocupação por tipo de edificação;

V(prop:T): vulnerabilidade do elemento em risco na localização especifica (o grau de

perda em caso de impacto, em uma escala crescente de 0 até 1);

E: valor do elemento em risco.

De forma semelhante, McDougall (2006) definiu a probabilidade especifica

de perda de vida, P(LOL), expressada por:

𝑃𝐿𝑂𝐿 = 𝑃(𝐿) ∙ 𝑃(𝑆:𝐿) ∙ 𝑃(𝑇:𝑆) ∙ 𝑉(𝐷:𝑇) (2.5)

Onde V(D:T) é a vulnerabilidade do fluxo atingir uma pessoa em um local

específico (a probabilidade de morte por ser impactado por um fluxo).

Esta última equação é semelhante à proposta por Jakob et al. (2011) para a

avalição de risco de morte.

McDougall (2006) esclarece que a modelagem numérica é uma importante

ferramenta na previsão das áreas de impacto, devido a movimentos do tipo fluxo.

Este tipo de análise, permite estimar a probabilidade espacial de impacto (P(S:L)),

assim como a vulnerabilidade (V(prop:T) e V(D:T)).

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De todos os parâmetros relacionados às equações de risco, a vulnerabilidade

é o elemento mais difícil de ser estimado, principalmente porque as mortes que

acontecem durante os fluxos de detritos estão associadas aos danos ou colapso de

estruturas. Além disto, a estimativa do tipo e magnitude dos danos nas estruturas é

muito complexa (Jakob et al., 2011).

Hungr (1997) definiu a intensidade como uma medida do potencial destrutivo

de um fluxo. Os parâmetros básicos necessários para estimar a intensidade são

velocidade do fluxo, densidade do fluxo, profundidade do fluxo, profundidade de

erosão e profundidade de deposição. Estes parâmetros básicos permitem estimar

parâmetros adicionais muito importantes para a avaliação da vulnerabilidade, tais

como vazão, pressões de impacto e energia cinética. Recentemente, Jakob et al.

(2011) desenvolveram uma metodologia para quantificar a intensidade de fluxo em

um local específico com base nos resultados dos parâmetros básicos obtidos de

modelagem numérica.

Segundo Jakob et al. (2011), o dano de uma estrutura pode ser determinado

pelo índice de intensidade (IDF), calculado como o produto da profundidade máxima

esperada pela velocidade máxima do fluxo ao quadrado. Considerando o tipo de

estrutura e calculando o índice de intensidade em 68 eventos documentados na

literatura técnica, foram definidas quatro classes de danos em estruturas. Os danos

observados nas estruturas analisadas incluem desde inundação ou sedimentação até

completa destruição.

A Tabela 2.12 apresenta a proposta de Jakob et al. 2001, baseada no índice

de intensidade calculado, o qual permite a determinação da probabilidade de dano.

Por exemplo, para um índice de intensidade calculado entre 100 e 1000, há uma

probabilidade de 67% da zona afetada sofrer destruição total e de 28% da zona

sofrer elevados danos estruturais.

Tabela 2.12 – Relação do índice de intensidade com a probabilidade de dano. Índice de intensidade (IDF) 0-1 1-10 10-100 100-1000 >1000

Alguma sedimentação (I) 70 22 0 0 0

Algum dano estrutural (II) 30 50 37 5 0

Maiores danos estruturais (III) 0 22 38 28 0

Completa destruição (IV) 0 6 25 67 100

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3. Modelagens numéricas de fluxos de detritos

Devido à complexidade dos movimentos de massa surgiu a necessidade de se

utilizar ferramentas como a modelagem numérica para seu estudo. Foram propostos

diversos programas, e outros se encontram em desenvolvimento para estudar o

comportamento destes movimentos. O presente capítulo apresenta uma revisão das

diferentes abordagens deste fenômeno, e uma compilação dos programas mais

utilizados na modelagem de fluxos de detritos. Finalmente apresenta-se uma

descrição detalhada dos programas computacionais utilizados nesta pesquisa.

3.1. Abordagem dos fluxos de detritos

O estudo da previsão de movimentos de massa e seus efeitos, também

chamado de runout analysis pode ser avaliado do ponto de vista qualitativo ou

quantitativo (McDougall, 2006). A análise qualitativa pode ser feita através de

observações topográficas seguindo as maiores declividades encontradas no local, e

requer experiência para estimar as demais variáveis envolvidas no estudo. Análises

quantitativas são menos subjetivas, e podem ser classificadas como empíricas ou

analíticas.

Os métodos empíricos são baseados em dados históricos resultando em

correlações empíricas. Algumas correlações para encontrar os principais

parâmetros foram apresentadas no Capítulo 2. Esta abordagem é utilizada para

estimar valores de pico ou instantâneos, entretanto, não fornece informação sobre a

distribuição espacial dos parâmetros estudados. Estes métodos são simples, porém

mostram um nível de confiança discutível, uma vez que são resultantes de dados

coletados em diferentes locais com diferentes topografias, geologia e reologia dos

materiais (McDougall, 2006).

Os métodos analíticos são baseados na solução de um sistema de equações

com soluções fechadas ou numéricas (modelagem numérica). Por exemplo, o

método analítico mais simples é o modelo do bloco deslizante que se baseia na

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teoria de trabalho e energia. Deformações internas e energia de dissipação são

ignoradas e trata o fenômeno como uma massa concentrada (lumped mass). Este

modelo pode ser resolvido por soluções fechadas ou métodos numéricos e já foi

utilizado por pesquisadores para realizar a modelagem de movimentos de massa

(Körner 1975; Pariseau 1980; Perla et al. 1980; McLellan e Kaiser 1984; McEwen e

Malin 1989; Salm et al. 1990; Voellmy 1995; Salm, 1996).

Outros métodos descontínuos que utilizam o método dos elementos discretos

têm sido utilizados na modelagem 2D e 3D de movimentos de massa. Entretanto,

tem-se dado mais atenção ao emprego de métodos contínuos para movimentos de

massa do tipo fluxo, pois consideram a deformação interna dos elementos baseados

na teoria da hidrodinâmica.

Os fluxos de detritos são modelados de forma semelhante ao fluxo em canais

abertos, utilizando a solução das equações de Saint-Venant. Estas equações

correspondem ao caso especifico da integração das equações de Navier-Stokes

usadas para descrever o movimento geral dos fluxos viscosos.

Desta forma, a modelagem dinâmica dos meios contínuos é mais precisa do

que os métodos empíricos tradicionais, pois a geometria e o mecanismo envolvido

em cada caso podem ser levados em conta explicitamente (McDougall, 2006).

Modelos com base na dinâmica dos meios contínuos são classificados por

McDougall (2006) em: i) modelos através de topografia 2D vs 3D; ii) modelos com

enfoque euleriano vs lagrangiano e iii) modelos que requerem parâmetros medidos

vs modelos que utilizam parâmetros calibrados.

Os modelos dinâmicos contínuos consideram equações de conservação de

massa, momento e energia da mecânica dos fluidos. Estas equações, que descrevem

o movimento dinâmico de fluxos de detritos, são integradas em função da

profundidade média de fluxo (depth averaged) e combinadas com as formulações

para fluxos rasos (shallow flow) eliminando uma dimensão. Assim, as

terminologias 2D ou 3D denotam que o movimento é simulado ao longo da

topografia em duas ou três dimensões.

Na abordagem euleriana o marco de referência encontra-se fixo no espaço,

resultando na solução de equações mais complexas. Na abordagem lagrangeana,

apesar do marco de referência se movimentar com a velocidade local, simplificando

as equações governantes, estas são susceptíveis a distorções devido a grandes

deformações.

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A distinção entre modelos que requerem parâmetros medidos e modelos que

utilizam parâmetros calibrados se concentra na forma de encontrar os parâmetros

que descrevem a reologia dos materiais envolvidos no movimento. A abordagem

de parâmetros medidos é utilizada por pesquisadores que acreditam que o

movimento pode ser descrito por relações constitutivas, que são função das

propriedades intrínsecas dos materiais. Por outro lado, modelos com parâmetros

calibrados, requerem retroanálises, realizadas por meio de tentativa e erro para

encontrar os parâmetros adequados para cada reologia.

McDougall (2006) propõe que a abordagem dos parâmetros medidos poderia

ser considerada como idealista, pois não existem ensaios padronizados para avaliar

as propriedades de, por exemplo, uma avalanche de rocha com detritos viajando a

rápidas velocidades. Por outro lado, o processo de calibração dos parâmetros pode

consumir muito tempo e requer de bases de dados e informação de eventos

anteriores, que geralmente são de acesso restrito ou mesmo inexistentes.

3.2. Programas disponíveis no mercado

Diversos programas baseados na dinâmica dos meios contínuos têm sido

desenvolvidos. A primeira tentativa foi proposta por Lang et al. (1979),

modificando um modelo euleriano em 2D para incluir a resistência de atrito no

programa AVALNCH.

Outro modelo euleriano em 2D foi modificado por Dent e Lang (1980) para

incluir várias combinações de resistência de atrito, viscosa e turbulenta. Dent e Lang

(1983) também incluem uma resistência bi-viscosa similar à reologia de Bingham

no programa BVSMAC. Jeyapalan (1981) e Jeyapalan et al. (1983) propõem um

modelo euleriano em 2D que inclui a reologia de Bingham.

O’Brien et al. (1993) apresentam um modelo euleriano em 3D que adota uma

reologia quadrática no programa FLO2D, ainda utilizado por diversos

pesquisadores.

Hungr (1995) apresenta um modelo lagrangiano em 2D que considera as

caraterísticas das tensões internas, do arrastre e as diversas reologias no modelo

DAN-W. Chen e Lee (2000) propõem o modelo lagrangeano em 3D no programa

comercial MADFLOW, que incorpora a reologia de atrito.

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Sailer et al. (2002) apresentam um modelo lagrangiano em 3D que considera

o arrastre do movimento no programa SAMOS. Mangeney-Castelnau et al (2003)

desenvolveram um modelo em 3D baseado na teoria de Savage-Hutter para simular

fluxos granulares no programa SHWCIN. Pirulli (2005) propôs modificações para

aprimorar o modelo de SHWCIN e criou o modelo RASH3D.

Pitman et al. (2003) apresentam um modelo euleriano em 3D baseado na

teoria de Savage-Hutter para fluxos granulares no programa TITAN2D. McDougall

(2006) criou o programa DAN3D, como uma atualização do programa DAN-W,

utilizando uma formulação lagrangeana em 3D e incorporando o método numérico

de SPH (Smooth Particle Hydrodinamics).

Nakatani et al. (2007) oferecem o programa KANAKO, que utiliza o método

das diferencias finitas. O Instituto Federal Suíço para pesquisas de avalanche de

neve (WLS/SLF, 2010) desenvolveu o programa RAMMS, inicialmente para

avalanches de neve e atualmente incorpora uma rotina específica para fluxos de

detritos.

Nesta pesquisa são apresentadas as principais características dos programas

mais utilizados atualmente para a modelagem de fluxos de detritos.

3.2.1. KANAKO

KANAKO foi desenvolvido pelo Laboratório de Controle de Erosão da

Universidade de Kyoto. O programa inicialmente foi proposto como uma

ferramenta para avaliar o desempenho de barragens tipo sabo dams para o controle

de erosão e contenção de sedimentos.

A primeira versão do programa simula fluxos de detritos unidimensionais

(Nakatani et al., 2007) e utiliza as formulações de Takahashi et al. (1987) e

Takahashi e Nakagawa (1991) para resolver as equações de quantidade de

movimento e conservação da massa, bem como as equações de erosão e deposição.

Na versão 2D são utilizadas as equações propostas por Takahashi et al. (2001) e

Takahashi (2007) e o efeito de barragens de controle pode ser simulado pelo modelo

desenvolvido por Satofuka e Mizuyama (2005, 2006).

O modelo numérico utilizado é o método das diferenças finitas. O programa

precisa de 16 parâmetros de controle para a modelagem numérica, entre eles: tempo

de simulação, diâmetro do material, peso específico do material da base, peso

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específico do fluxo, coeficiente de erosão, coeficiente de Manning, entre outros

(Liu et al., 2013). Outros dados de entrada como topografia e parâmetros

hidrológicos são necessários para realizar as simulações.

3.2.2. TITAN2D

TITAN2D foi desenvolvido pelo Geophysical Mass Flow Group da

Universidade Estadual de Nova Iorque em Buffalo. O programa foi desenvolvido

para o estudo de fluxos granulares, deslocados sobre a superfície natural do terreno.

Combina a simulação numérica com um modelo digital do terreno (DEM)

vinculado a interface de um sistema de informação geográfica (GIS).

O programa requer dados de entrada tais como volume inicial do movimento,

ângulo de atrito da base e ângulo de atrito interno do fluxo granular. Como

resultados diretos, obtêm-se representações dinâmicas da profundidade do fluxo e

momento, e pode-se derivar a velocidade, profundidade de deposição e área de

impacto.

O programa é baseado nas equações de profundidade média para um fluxo

incompressível contínuo do tipo Coulomb para águas rasas. As equações de

conservação e momento são resolvidas com um termo de atrito tipo Coulomb para

avaliar a interação interna da massa deslizada e a interação entre a massa deslizada

e a superfície da base.

O programa tem sido mais utilizado para simular movimentos iniciados por

atividade vulcânica como lahares ao redor do mundo (Pitman et al, 2003; Palacios

et al., 2004; Procter et al., 2004; Sheridan et al., 2005; Williams et al., 2008; Murcia

et al., 2010;).

3.2.3. FLO-2D

O FLO-2D foi desenvolvido por O’Brien et al. (1993) e baseia-se em um

modelo bidimensional de diferenças finitas capaz de simular fluxos sobre

topografias complexas em zonas urbanas. O programa exige dados de entrada tais

como geometria, hidrologia e reologia. É baseado nas equações de profundidade

para águas rasas e nas equações de conservação da massa e quantidade de

movimento. As equações de conservação de momento são resolvidas com um termo

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de atrito tipo Coulomb para avaliar a interação interna da massa deslizada e a

interação entre a massa deslizada e a superfície da base.

O modelo já foi utilizado para modelar diversos casos internacionais de fluxos

de detritos (Julien e O’Brien, 1997; Lin et al., 2005; Garcia e Lopez, 2005;

Rickenmann et al., 2006; Tecca et al., 2006; Segato et al., 2006; Cetina et al., 2006;

Barrios e Olaya, 2007; Armento et al., 2008; Gentile et al., 2008; Stolz e Huggel,

2008; Hsu et al., 2010 e Boniello et al., 2010).

3.2.4. RAMMS

Ramms (Rapid Mass MovementS) é um programa de modelagem numérica

em 3D desenvolvido pelo Centro de Pesquisas de Avalanches de Neve do Instituto

Federal da Suíça (WSL / SLF). Originalmente desenvolvido para modelar

avalanches de neve, também é utilizado para modelar outros tipos de movimentos

de massa como fluxos de detritos (Cesca e D'Agostino, 2006; Kowalski, 2008; Graf

e McArdell, 2011; Hussin et al., 2012).

O programa RAMMS se fundamenta na solução numérica de equações de

profundidade média de segunda ordem, utilizadas para movimento de fluxos

granulares. Códigos para levar em conta a influência da erosão e do material de

arrastre estão em desenvolvimento (Christen et al., 2012).

O modelo é uma generalização quase unidimensional. O programa Ramms

utiliza o modelo contínuo de fluxo de Voellmy-Salm (Salm, 1993) baseado na lei

de fluxo de Voellmy (1955), e descreve os fluxos de detritos como um modelo

contínuo de profundidade média. Este modelo incorpora os parâmetros de atrito e

turbulência para simular os eventos. Para a obtenção destes parâmetros devem ser

realizadas retroanálises de eventos bem documentados.

Dentre os principais dados de entrada, destacam-se: (i) a topografia, por meio

de um modelo de elevação digital; (ii) informação sobre o início do movimento,

seja do volume da área desprendida ou um hidrograma do evento; e (iii) os

parâmetros reológicos dos materiais.

Como dados de saída o programa RAMMS fornece imagens de altura de

fluxo, velocidade de fluxo, pressão de fluxo, forças de impacto, assim como perfis

da altura, velocidade e pressão de fluxo em determinados locais para projeção de

estruturas.

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Os métodos numéricos têm a grande vantagem de serem capazes de calcular

o movimento do fluxo sobre terrenos topográficos irregulares. Além disso, eles

podem calcular os parâmetros relacionados como a profundidade de fluxo e pressão

de impacto em cada ponto do trajeto e os resultados serem acoplados a funções de

vulnerabilidade para avaliação quantitativa do risco (Quan Luna et al., 2011).

3.3. Programas DAN-W e DAN3D utilizados na pesquisa

O DAN-W e o DAN3D foram desenvolvidos para modelagem prática de

movimentos de massa reais e, assim, prover de soluções através de um número

mínimo de parâmetros que requerem calibração. Porém, consideram caraterísticas

importantes como a complexidade da reologia, a heterogeneidade, a rigidez interna

e a capacidade de incluir o material arrastrado no trajeto. Ambos os modelos são

baseados em formas lagrangianas da integração da profundidade das equações de

Saint Venant aplicadas a coordenadas curvilíneas.

A abordagem semi-empírica consiste em uma abordagem por um lado

empírica, porque requer a calibração de eventos anteriores e, por outro lado

analítica, pois utiliza diferentes soluções analíticas para avaliar as propriedades dos

materiais e os mecanismos do movimento. Esta abordagem semi-empírica é

baseada no conceito de “fluxo equivalente” definida por Hungr (1995) onde a

heterogeneidade e complexidade dos materiais são reduzidas a um material

hipotético governado por relações reológicas. Na Figura 3.1, observa-se a

abordagem de fluxo equivalente aplicado a uma avalanche de rocha.

Figura 3.1 – Diagrama esquemático do conceito de fluxo equivalente (Mod.

Hungr, 1995).

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O material em movimento e o material da base podem ser governados por

reologias diferentes. No caso destes programas a reologia interna é assumida

sempre como de atrito, governada pelo ângulo de atrito e a reologia da base é uma

combinação das reologias de atrito, turbulentas e viscosas (open reological kernel)

que atuam na base do movimento. Isto permite uma abordagem mais real, visto que,

geralmente os movimentos de massa consistem de um material mais rígido que flui

sob um material que possui maior mobilidade (Hungr e McDougall, 2009).

Logo, a reologia da base e seus parâmetros associados, são selecionados

baseando-se na calibração empírica através da retroanálise de movimentos de massa

acontecidos que representem o movimento em estudo. Portanto os parâmetros

obtidos são considerados aparentes e não podem ser estimados em laboratório

(Hungr e McDougall, 2009).

3.3.1. Equações governantes do DAN-W e DAN3D

A continuidade do modelo é assegurada pelo balanço de massa. O modelo

DAN-W assegura a continuidade através de um sistema de blocos deformáveis de

volume fixo interpolando a partir de funções de suavização (smoothing functions).

O volume de controle é de forma trapezoidal, representando o material carregado

entre cada coluna de referência.

Por outro lado o DAN3D utiliza o método numérico de SPH (smooth particle

hydrodynamics). O SPH é um método numérico sem malha baseado em

formulações lagrangianas (Liu e Liu, 2010) e foi originalmente desenvolvido para

estudar fenômenos astrofísicos (Lucy, 1977; Gingold e Monaghan, 1997). Este

método divide o volume total em partículas distribuídas em colunas de referência

que podem incrementar seu volume devido ao arraste.

No SPH todos os cálculos são feitos no centro das partículas e a distribuição

é dada pela função de Gauss. Portanto, o volume de controle pode ser visualizado

com o formato de sino. A implementação do SPH no DAN3D é esquematizada na

Figura 3.2.

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Figura 3.2 – Interpretação do SPH em um marco de profundidade média

(Mod. McDougall, 2006).

Considerando o equilíbrio dinâmico de uma coluna de referência, as equações

de balanço de momento são baseadas nas equações de profundidade média de Saint-

Venant e de águas rasas para a coluna de referência. Assim, nas direções x e y,

respetivamente, tem-se:

𝜌h𝐷𝑣𝑥𝐷𝑡

= 𝜌h𝑔𝑥 − 𝑘𝑥𝜎𝑧𝜕h

𝜕𝑥− 𝑘𝑥𝑦𝜎𝑧

𝜕h

𝜕𝑦+ 𝜏𝑧𝑥 − 𝜌𝑣𝑥𝐸 (3.1)

𝜌h𝐷𝑣𝑦

𝐷𝑡= 𝜌h𝑔𝑦 − 𝑘𝑦𝜎𝑧

𝜕h

𝜕𝑦− 𝑘𝑥𝑦𝜎𝑧

𝜕h

𝜕𝑥 (3.2)

Onde, os termos à esquerda da equação são acelerações locais da coluna de

referência. Os termos à direita das equações são: i) primeiro termo: componente da

força da gravidade; ii) segundo e terceiro termo: relacionados com as pressões; iii)

quarto termo: só aparece na direção de x (direção do fluxo) e corresponde à

resistência ao cisalhamento na base e o arrastre gerado pelo movimento.

No caso do programa DAN-W estas colunas de referência representam blocos

com um volume fixo. Para o programa DAN3D, as colunas de referência são

distribuídas ao longo da massa que se movimenta.

Ambos os modelos permitem considerar o material erodido pela passagem do

fluxo no canal na modelagem. O programa DAN-W simula o material de arraste

através do dado de entrada referente à profundidade de erosão. Desta forma, o

programa determina a taxa de erosão levando em conta a profundidade de fluxo e a

velocidade para cada ponto do movimento. O programa DAN3D simula o material

de arrastre por meio da taxa de erosão estabelecida como dado de entrada, que pode

ser obtida por tentativa e erro, conforme já apresentado no item 2.2.5.

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Os dois modelos não consideram a micromecânica interna, pois se

concentram em aspectos externos do comportamento. O software só consegue

modelar fluxo paralelo à base, simplificando os movimentos internos.

3.3.2. Reologia dos materiais

Os programas DAN-W e DAN3D supõem uma reologia de atrito no material

que se movimenta, governada pelo ângulo de atrito. Para o material da base, o

DAN-W inclui as reologias: atrito, plástico, newtoniano, turbulento, atrito de

Coulomb, Bingham e Voellmy. No caso do programa DAN3D pode-se utilizar:

atrito, plástico, Newtoniano, Bingham e Voellmy. Nesta pesquisa foram adotadas

as reologias de atrito e Voellmy para o desenvolvimento das modelagens de eventos

de fluxos de detritos.

Reologia de Atrito

A resistência é proporcional à tensão efetiva normal à base da camada, que é a

diferença entre a tensão total (𝜎) e a poro pressão na base, expressa por:

𝜏𝑧𝑥 = −𝜎´ ∙ tan𝜑 (3.3)

Onde 𝜑 é o ângulo de atrito dinâmico da base.

A determinação de poropressões em um movimento de massa é extremamente

complexa e, portanto, em estabilidade de taludes é comum assumir que a

poropressão se relacionada com a tensão total pela razão 𝑟𝑢 =𝑢

𝜎𝑧, a qual poder ser

substituída na Equação 3.3:

𝜏𝑧𝑥 = −𝜎 ∙ (1 − 𝑟𝑢) ∙ tan𝜑 (3.4)

A Equação 3.4 pode ser simplificada para incluir somente variáveis

dependentes, introduzindo o termo de ângulo de atrito da base (𝜑𝑏):

𝜏𝑥𝑧 = −𝜎𝑧 ∙ tan𝜑𝑏 (3.5)

O uso do ângulo de atrito da base (𝜑𝑏) constante representa a adoção de uma

hipótese de carregamento intermediário entre drenado e não drenado. Porém, esta

aproximação precisa ser validada no processo de calibração do modelo. McDougall

(2006) reporta que os modelos governados por atrito acarretam valores maiores de

velocidade e, geralmente, uma diminuição da frente de depósitos (tapering).

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Na Figura 3.3 apresentam-se as relações entre os parâmetros de atrito

descritos nas Equações 3.3, 3.4 e 3.5.

Figura 3.3 – Relação entre os parâmetros utilizados no modelo de atrito

(McDougall, 2006).

Para utilizar o modelo de atrito é necessário conhecer os seguintes

parâmetros: peso específico (kN/m3), ângulo de atrito (graus), coeficiente de

poropressão (ru), ângulo de atrito interno (graus) e profundidade máxima de erosão

(m).

Reologia de Voellmy

O modelo de resistência de Voellmy combina os modelos de atrito e

turbulência e a resistência é calculada por:

𝜏𝑧𝑥 = −(𝜎𝑧 ∙ 𝑓 +𝜌 ∙ 𝑔 ∙ 𝑣𝑥

2

𝜉) (3.6)

Onde 𝑓 é o coeficiente de atrito e 𝜉 é o parâmetro de turbulência. O primeiro

termo da equação considera as componentes do atrito e o segundo termo,

introduzido por Voellmy em 1955, é utilizado nos programas para considerar

qualquer possível resistência dependente da velocidade. As condições de curvatura

do trajeto do fluxo e de transferência do momento causada pela erosão do canal são

consideradas explicitamente nos programas (Hungr e McDougall, 2009).

Esta reologia tem sido muito utilizada para modelar vários movimentos de

massa como avalanches de neve, avalanches de rochas, fluxos de detritos e

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avalanches de detritos (Kӧrner, 1976; Perla et al., 1980; Rickenmann e Koch, 1997;

Hungr et al., 2002; Revellino et al., 2004).

Em comparação com o modelo de Atrito, o modelo de Voellmy fornece

melhores resultados de velocidade e distribuição da área de deposição (McKinnon

et al., 2008). Para utilizar este modelo é necessário conhecer e/ou aproximar os

parâmetros de peso específico (kN/m3), tensão cisalhante (kPa), viscosidade (kPa-

s), ângulo de atrito interno (graus) e profundidade máxima de erosão (m).

A reologia do material afeta diretamente os parâmetros de velocidade e

distribuição da área de deposição. Por exemplo, um modelo de atrito produz

velocidades relativamente altas e áreas de deposição que vão se estreitando na

frente. Em contraste, um modelo de atrito-turbulento como o de Voellmy, prevê

velocidades menores e áreas de deposição que vão se acumulando na frente (Hungr

e McDougall, 2009).

3.3.3. Características do DAN-W

O programa DAN-W utiliza um modelo lagrangiano unidimensional para a

solução das equações de fluxo ao longo de um canal bidimensional definido pelo

usuário. Os dados de entrada (inputs) requeridos são:

- Parâmetros de controle: número de materiais, número de elementos e fator

de forma de acordo com a seção transversal do canal;

- Topografia: perfil de elevação-distância que inclua duas linhas: i) o trajeto

do movimento de massa; e ii) a superfície do material definindo o topo da camada

instável. O perfil inserido no programa deve ser razoavelmente simplificado e

conter entre 15 e 25 pontos para evitar instabilidade do modelo resultando em

estimativas erradas dos parâmetros. A largura do canal também pode ser indicada

para cada distância ou selecionar um canal unitário;

- Materiais: indicação da localização de cada material e suas propriedades de

acordo com a reologia selecionada em cada caso.

Como saída (output), o programa DAN-W gera um relatório com dados sobre

o número de elementos, intervalo de tempo utilizado, tempo transcorrido desde o

início da corrida, tipo de configuração e fator de forma inserido. Também gera

arquivos com informações de velocidade máxima, velocidade máxima na frente,

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deslocamento na frente, deslocamento traseiro, centro de gravidade, ângulo de

viagem, fahrbӧschung, volume final, área inicial e área final. Todos estes resultados

podem ser utilizados para gerar gráficos que representam a simulação do

movimento.

3.3.4. Características do DAN3D

O DAN3D utiliza um modelo lagrangiano bidimensional para a solução das

equações de fluxo ao longo de um modelo de elevação digital (MED) definido pelo

usuário. Nesta pesquisa foi utilizada a versão atualizada em 01-29-2009. Os dados

de entrada (inputs) requeridos são:

- Parâmetros de controle: número de materiais, número de partículas, taxa de

erosão, tempo máximo da simulação, número de elementos computacionais,

coeficiente de suavização, coeficiente de suavização de velocidade e coeficiente de

resistência;

- Topografia: Modelo de elevação digital (MED) do local de estudo e a

profundidade e localização da massa que se desloca. Estes arquivos devem ser

inseridos com extensão .grd. Nesta dissertação foi utilizado o programa Surfer V9

para a criação destes arquivos;

- Materiais: Inserção de arquivo com extensão .grd com a localização dos

materiais escolhidos na análise e as respectivas propriedades reológicas.

O programa DAN3D fornece uma série de arquivos com extensão .grd para

análise do problema. Estes gráficos incluem: espessura local do fluxo no nó

analisado, erosão, espessura máxima de deposição, velocidades máximas, vazão de

pico, entre outros. Também, são obtidos gráficos de velocidade, vazão e

profundidade para cada intervalo de tempo definido na simulação, assim como da

área de impacto. Adicionalmente são gerados relatórios que indicam o incremento

do volume a cada intervalo de tempo, volume final, ângulo de viagem e distância

percorrida.

Nesta pesquisa, foram utilizados os parâmetros de N=4000 (número de

elementos) e B=4 (coeficiente de suavização), pois produziram os resultados com

menor dispersão, conforme analisado na pesquisa de Silva (2015).

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4. Metodologia das análises e casos de estudo

4.1. Metodologia das análises

Os fluxos de detritos são fenômenos de difícil previsão e modelagem. Os

estudos sobre este fenômeno encontram-se em aumento e, atualmente, têm sido

desenvolvidos modelos de fluxo de detritos baseados em retroanálise. Retroanálise

é o processo mediante o qual a reologia e os parâmetros para um determinado

fenômeno são variados até que o fenômeno modelado represente uma boa

aproximação do evento atual.

A retroanálise dos casos selecionados para estudo desta pesquisa foi realizada

por meio de modelagem numérica através de programas que se baseiam na

calibração dos parâmetros que governam a reologia da base e do material

escorregado. Desta forma, a calibração destes parâmetros representa um dos

maiores obstáculos no uso do modelo adotado para o estudo de eventos.

Os modelos são hipóteses da relação entre parâmetros e uma série de

variáveis. Para a modelagem de movimentos de massa, as principais variáveis são:

a distância percorrida, a espessura de deposição, as velocidades e os parâmetros

reológicos que dependem diretamente da propriedade do material da base e das

propriedades de atrito do material em movimento.

Geralmente, as variáveis tais como a distância são reportadas, mas as

espessuras de deposição e velocidades geralmente não são medidas no evento,

tendo que ser aproximadas após o evento. Desta forma, os parâmetros necessários

para realizar as modelagens oferecem maiores dificuldades para serem

determinados, pois não podem ser medidos diretamente de ensaios de campo ou de

laboratório. Estes devem ser encontrados diretamente por meio de retroanálise.

Assim, a metodologia seguida nesta pesquisa inclui a descrição dos casos de

estudo, a calibração preliminar de parâmetros, a construção do modelo numérico e,

por último, a seleção final dos valores de parâmetros.

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4.1.1. Descrição do caso de estudo

Para a realização de uma retroanálise é necessário compilar as informações

referentes a cada caso de estudo. Estas informações incluem a topografia antes e

após o evento e as observações dos materiais envolvidos, tanto do material que se

desloca, quanto do material na base do canal. No caso do material da base, também

é importante conhecer o potencial para erodir, pois o volume final do evento vai se

relacionar diretamente com o material erodido ao longo do canal.

A topografia pode ser obtida através de curvas de nível, modelos de elevação

digital, informações do Google Earth ou topografia detalhada realizada no local de

estudo. As informações dos materiais envolvidos no evento são obtidas de

observações pós-evento realizadas por profissionais da área ou por mapeamentos

das zonas afetadas.

4.1.2. Calibração preliminar dos parâmetros

Segundo Aaron et al. (in press), a calibração dos parâmetros na retroanálise

era geralmente realizada por meio da técnica de tentativa e erro. Porém esta técnica

possui as desvantagens de: i) alta demanda de tempo; ii) resultados obtidos

subjetivamente interpretados por cada pesquisador; iii) sem garantia de sucesso

para a combinação de grande quantidade de parâmetros, podendo existir outros

parâmetros mais representativos para o caso analisado; iv) geralmente os

parâmetros de melhor ajuste não são únicos. A retroanálise baseada em tentativa e

erro é subjetiva (McDougall (2006); Galas et al. (2007); Cepeda et al. (2010)).

As análises de sensibilidade em este trabalho foram executadas utilizando o

módulo SENSAN do pacote de estimação de parâmetros PEST (Doherty, 2010),

usando uma versão do DAN3D modificada para calcular os parâmetros de

calibração (Aaron et al., in press)

A calibração dos parâmetros pode ser feita em função de parâmetros adotados

como limites, tais como: i) área de impacto; ii) distribuição de velocidades; e iii)

distribuição das profundidades de deposição (Aaron et al., in press).

Em consequência, é necessário introduzir a área de impacto no programa

através de um arquivo com extensão .grd, indicando a área afetada, medida ou

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observada após o evento. Este arquivo chama-se de trimline e um exemplo é

apresentado na Figura 4.1. Neste trabalho as trimlines foram definidas por meio de

observação de fotografias aéreas após o evento e mapeamentos das áreas atingidas

pelos movimentos de massa, realizados por profissionais.

Figura 4.1 – Exemplo de trimline definida para um evento.

Uma vez delimitadas as áreas impactadas, utilizou-se o módulo SENSAN

para encontrar a faixa dos parâmetros de ajuste que apresentam a melhor

aproximação para os dados fornecidos. O módulo SENSAN compara os valores em

cada nó do arquivo da zona de impacto (trimline) inserida com a saída da zona de

impacto do programa DAN3D para todas as combinações de parâmetros possíveis.

Se o nó não coincide com a trimline gerada e a área de impacto obtida no programa,

ele ganha um valor unitário (igual a 1). Portanto um valor igual a 0 indica um ajuste

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perfeito. Na Figura 4.2 pode-se observar este ajuste, onde as cores mais escuras

indicam os parâmetros de melhor ajuste.

A Figura 4.2 apresenta o exemplo de um resultado obtido na primeira

estimativa, o qual estabeleceu que o coeficiente de atrito aproxima-se de 0.3. Os

valores obtidos pelo SENSAN são validados com simulações no programa DAN3D

para assegurar que o valor obtido corresponde a uma aproximação real do caso.

Figura 4.2 – Exemplo de compilação de resultados para seleção dos

parâmetros reológicos de melhor ajuste.

Neste caso só o coeficiente de atrito foi ajustado, pois não foi inserida

informação de velocidade. O ajuste encontrado corresponde a um ajuste preliminar

de parâmetros que deve ser validado como será indicado no item 4.1.4.

4.1.3. Construção do modelo numérico

Para realizar as modelagens numéricas escolheu-se trabalhar com os

programas DAN-W e DAN3D desenvolvidos por Hungr (1995) e McDougall

(2006).

No programa DAN-W deve-se inserir um perfil aproximado do canal pelo

qual houve o movimento de massa, a geometria da massa que se desloca e a largura

do canal. Nos casos estudados na Costa Rica, foram utilizadas as informações

fornecidas pelo Centro Nacional de Informação Geoambiental (CENIGA, 1998),

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representadas por curvas de elevação na escala 1:25 000 permitindo a geração do

MED. Pelo programa ArcGIS 10.3, obtém-se os perfis e as medidas de largura dos

canais em cada caso. Nos casos estudados no Brasil, utilizaram-se os MED com

resolução espacial de 30 m fornecidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e

Estadística (IBGE, 2000).

O próximo passo é a inserção dos parâmetros da reologia da base e do material

que se movimenta. Eles são escolhidos baseados nos procedimentos explicados nas

seções 4.1.2 e 4.1.4.

No caso do programa DAN3D é necessário inserir três arquivos em formato

.grd. Estes foram obtidos pelo programa Surfer 9, a partir de um arquivo xyz.dat

preparado no programa ArcGIS através dos MED. Os arquivos necessários

correspondem à topografia do local, zona de iniciação e localização das reologias

basais em caso de se utilizar mais de um material. Em ambos os programas são

inseridos os parâmetros reológicos devidamente calibrados.

Finalmente, deve-se indicar o grau de erodibilidade, introduzindo a

profundidade de erosão sofrida por cada material. No programa DAN-W basta

indicar uma profundidade de erosão para cada material. No programa DAN3D o

grau de erodibilidade é calculado por meio da taxa de erosão aproximada pela

equação 2.3 e o valor máximo de profundidade de erosão é definido pelo usuário.

4.1.4. Seleção final dos parâmetros

Os parâmetros foram calibrados preliminarmente pelo módulo SENSAN, mas

uma vez construído o modelo, deve-se verificar se os resultados obtidos

correspondem às características observadas e medidas nos casos reais em estudo.

O coeficiente de atrito é ajustado observando se a área de impacto inserida

(trimline) apresenta uma boa aproximação com as observações de campo. O ajuste

do coeficiente de turbulência considera os resultados do módulo SENSAN em

função dos dados de velocidade. Porém, é difícil ter essa informação documentada.

Neste trabalho o coeficiente de turbulência foi calibrado por meio de comparação

de resultados obtidos de simulações de diferentes cenários no DAN3D com

resultados medidos/observados nos eventos reais de fluxos de detritos. Finalmente,

os parâmetros assim obtidos são inseridos no programa DAN-W e os resultados são

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comparados. Os resultados das análises realizadas e sua comparação se encontram

no Capítulo 5.

4.2. Casos de estudo

Nestas pesquisas foram selecionados um total de quatro eventos de fluxo de

detritos ocorridos em zonas tropicais, deflagrados por chuvas intensas. Dois eventos

são fluxos de detritos da Costa Rica, especificamente na província de San José:

i. Calle Lajas;

ii. Llano de la Piedra.

Os outros eventos de fluxo de detritos ocorreram em Nova Friburgo, Região

Serrana do Rio de Janeiro, Brasil:

i. Córrego D´Antas;

ii. Hospital São Lucas.

4.2.1. Fluxo de detritos, Calle Lajas, San José, Costa Rica

4.2.1.1. Localização

O caso de estudo se localiza no bairro de Escazú, distrito San Antonio,

província de San José na Costa Rica, conforme mostrado na Figura 4.3. A área de

estudo corresponde à parte média e alta da micro-bacia Lajas. A área de estudo foi

definida no fuso 16K entre as coordenadas UTM 483500 e 484900 Leste, e 1091800

e 1094700 Norte com Datum WGS84.

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Figura 4.3 – Localização do evento Calle Lajas.

4.2.1.2. Geologia local

A região de Lajas caracteriza-se pela presença de rochas sedimentares e

vulcânicas. Na parte alta da colina Pico Blanco (acima de 1720 metros),

correspondente à zona de iniciação encontra-se um afloramento de rochas

cornubianitas, produto do metamorfismo de contato. Descendo pelo canal, na

elevação de 1185 m. encontram-se brechas de matriz siltosa na base e nas paredes

do canal. Os materiais descritos são ilustrados na Figura 4.4.

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Figura 4.4 – Rochas da área de Calle Lajas: (a) Afloramento de cornubianitas;

(b) Afloramento de brechas (CNE, 2010).

Na parte inferior do canal com elevação aproximada de 1025 m encontram-

se formações de arenito alterado e aluvião com matriz siltosa pouco plástica nas

paredes e na base do canal, assim como blocos angulosos com tamanho máximo de

1,0 m ao longo do canal. Os materiais descritos são observados na Figura 4.5.

Figura 4.5 – Materiais do canal: (a) Na base do canal; (b) Nas paredes do

canal.

4.2.1.3. Geomorfologia do local

Na parte alta da colina Pico Blanco encontra-se um afloramento de rochas

cornubianitas que correspondem a rochas muito resistentes ao intemperismo

resultando em encostas íngremes de até 35° de inclinação. Há evidências da

presença de escarpas secundárias a cerca de 15 m atrás da escarpa principal, onde

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se observa material instável que poderia produzir um evento de magnitudes

similares ao evento ocorrido no ano 2010.

Descendo da parte mais alta para a parte intermediária da bacia, as margens

do canal são arredondadas e as encostas caracterizam-se por apresentar cicatrizes

de instabilidade antigas, com pequenos desprendimentos de material (Figura 4.6a).

O sistema de drenagem é do tipo subdendritico, de ordem 2 (Figura 4.6b) e

caracterizado pela presença de canais em forma de “V”.

Figura 4.6 – Aspectos da bacia: (a) Morfologia do canal com pequenos

desprendimentos das paredes; (b) Sistema de drenagem (CNE, 2010).

Na zona média e baixa encontra-se uma zona plano-ondulada que apresenta

inclinações de cerca de 10° e canal de fluxo de seção reduzida com largura inferior

a 2,5 m e profundidade inferior a 0,7 m, portanto representa um canal de pequena

vazão. Na zona baixa, as encostas apresentam inclinações entre 12 e 15% e a seção

transversal do canal principal aumenta até alcançar 3,5 m de largura.

4.2.1.4. Descrição do evento

As chuvas continuas e intensas ocorridas durante as duas últimas semanas de

outubro no ano 2010, juntamente com as fortes chuvas da noite de 3 de Novembro

de 2010, levaram à saturação das encostas da região do evento estudado. Os

materiais perderam resistência e se colapsaram na parte alta da encosta da área

conhecida como Salto de los Caballos (Figura 4.7a). O desprendimento teve sua

origem na parte superior da bacia na cota 2085 m. A massa instável (rochas,

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sedimentos, árvores) se movimentou até encaixar no talvegue (Figura 4.7b) da

vertente Lajas, gerando um fluxo de detritos.

Figura 4.7 – Início do fluxo de detritos: (a) Ruptura em Salto de los Caballos;

(b) Zona de iniciação do movimento.

Foram transportados blocos de rocha ígnea e sedimentar com diferentes

tamanhos. A granulometria predominante foi grosseira, incluindo troncos de

árvores e restos de detritos da infraestrutura que foi destruída pela massa

movimentada. O movimento envolveu blocos de cornubianita de até 4.10 x 2.40 x

0.70m (Figura 4.8).

Figurta 4.8 – Detalhes dos blocos de Cornubianita depositados ao longo do

setor de “La Catarata”.

A maior elevação da zona de iniciação do movimento foi na cota 2085 m. O

movimento começou como uma massa escorregada lateralmente que atingiu o

talvegue da vertente Lajas como mostrado na Figura 4.9a. Esta massa desceu pela

encosta conforme indicado na Figura 4.9b, até atingir a comunidade de Lajas, local

onde o material foi depositado.

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Figura 4.9 – Vista aérea do fluxo de detritos Calle Lajas: (a) Zona de

iniciação; (b) Zona de transporte (Google Earth, 2010).

4.2.1.5. Caracterização do evento

A topografia antes do evento foi obtida da base topográfica disponibilizada

pelo CENIGA (1998) levantada com escala de 1:25 000. A partir desta informação

foi gerado um modelo de elevação digital através do sistema de informação

geográfica, ArcGIS versão 10 e foi obtido um perfil do canal do fluxo de detritos

conforme apresentado na Figura 4.10.

Figura 4.10 – Perfil e parâmetros geométricos do evento de Calle Lajas.

Segundo as inspeções de campo realizadas pela CNE após do evento, foi

estimado um volume de deposição de 65.000 m3 de material com espessura variável

igual a 6,0 m no setor de La Catarata, 1,8 m na área de El Roque e 0,5 a 1,0 m no

setor de El Zapote. No entanto, o material deslocado no topo da encosta

corresponde, no máximo, a 10 – 20 % do volume total de deposição. (CNE, 2010).

Assim, foi definido um volume inicial de 9.000 m3 para realizar as análises

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numéricas. Foi evidente o poder erosivo do fluxo através do canal facilitando a

incorporação de material e aumentando consideravelmente o volume final (65.000

m3) depositado na comunidade de Lajas.

A CNE (2010) estimou as velocidades ao longo da trajetória utilizando a

equação 𝑣 = √2𝑔ℎ onde g é a força da gravidade (9,81 𝑚/𝑠2) e ℎ corresponde à

altura alcançada pelo fluxo em cada seção. Foi calculada uma velocidade máxima

de 12,5 m/s a uma distância de 1.020 m a partir da zona de iniciação do movimento.

A distância percorrida pelo movimento foi medida desde a zona de iniciação

do movimento até o ponto mais distante atingido pelo movimento de massa,

identificando que a massa foi deslocada por um único canal por uma distância de

2,5 km.

A área plana de deposição foi estimada em função do mapeamento após o

evento realizado pela CNE (2010). A área de deposição estimada corresponde a

aproximadamente 39.800 m3.

4.2.2. Fluxo de Detritos, Llano de la Piedra, San José, Costa Rica

4.2.2.1. Localização

O caso de estudo se localiza no bairro El Llano de la Piedra, entre as

localidades Santa Maria de Dota e San Marcos de Tarrazú. A área de estudo

localiza-se na parte alta da ravina Concha e o rio Mesa Figura 4.11. A área de estudo

foi definida no fuso 16K entre as coordenas UTM 171288 e 172848 Leste, e

1067750 e 1068860 Norte com Datum WGS84.

4.2.2.2. Geologia do local

A zona onde aconteceu o movimento pertence à formação geológica

Caraigres e caracteriza-se pela presença de rochas sedimentares (arenitos e

argilitos). Estas rochas formam solos residuais lateriticos (siltes argilosos

vermelhos) com espessuras de intemperismo entre 2,0 e 10,0 m. Segundo Sáenz

(1997), o mergulho dos diferentes estratos de rocha são paralelos à topografia.

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Figura 4.11 – Localização do evento Llano de la Piedra.

Bermudez (1997) reporta que, na primeira capa do perfil do solo, encontra-se

um material vermelho com muitas raízes e espessura variando até 2,7 m. Em

seguida há um silte arenoso de cor vermelho-amarela entre as profundidades de 1,5

m a 4,0 m. Depois, encontra-se uma camada de silte-argiloso com estruturas de

rocha alterada a partir de 2,5 até 7,0 m de profundidade. No quarto estrato, encontra-

se rocha intemperada com presença de material arenoso e alguns afloramentos de

rocha sã. Este estrato encontra-se entre 7,0 e 24,0 m. Finalmente, a última camada

apresenta rocha intemperada e altas porcentagens de rocha sã. A zona de transporte

com o material erodido no canal é mostrada na Figura 4.12.

O pé do talude consiste em uma zona de depósitos de coluviões (Figura

4.12b), devido à acumulação de detritos de eventos anteriores. O Rio Pirrís

encontra-se na base do talude e, portanto a zona de deposição é de origem colúvio-

aluvial, produto da combinação dos materiais provenientes do rio e da encosta

(Bermudez, 1997).

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Figura 4.12 – Fluxo de detritos Llano de la Piedra: (a) Material erodido no

canal; (b) Material na zona de deposição.

4.2.2.3. Geomorfologia do local

A zona onde aconteceu o fluxo de detritos é uma região montanhosa com

ocupações do solo inadequadas. Na parte alta da encosta encontra-se a cicatriz de

um escorregamento pretérito, acontecido em 1955 (Figura 4.13). Após o primeiro

movimento de massa a cicatriz na crista do talude desceu cerca de 5 m

(comunicação pessoal: Marco Valverde) e parte do material deslizado foi

depositado na margem esquerda do Rio Pirrís mudando a morfologia do local. As

encostas possuem inclinações constantes na faixa de 25° e 30°.

Figura 4.13 – Detalhe da cicatriz de deslizamento antigo no topo da encosta

(Bermudez,1997).

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4.2.2.4. Descrição do evento

O dia 27 de julho foi o dia mais chuvoso do ano 1996 na zona do Llano de la

Pedra, com registros de 271 mm de chuva na estação pluviométrica mais próxima

do local do evento. Consequentemente, foi desencadeado o fluxo de detritos no dia

28 de julho.

Em 1955 foi registrado outro evento com magnitude similar, mas são poucas

as referências documentais que ainda podem ser consultadas com informações deste

fluxo de detritos. No segundo evento, estudado nesta pesquisa a água se infiltrou

nas antigas fraturas e pela cunha instabilizada elevando as poropressões que

resultou na perda de resistência no material da encosta.

O movimento iniciou-se na cota 1660 m onde um grande bloco de material

deslizou e parte dele ficou no setor médio da encosta devido às condições

topográficas do local, como mostrado na Figura 4.14a. O evento pode ser

caracterizado como um movimento típico rotacional no topo da encosta, seguido

por uma avalancha de detritos que erodiu um canal e espalhou-se na zona de

deposição. Uma vista aérea após o movimento é apresentada na Figura 4.14b.

Figura 4.14 – Fluxo de detritos de Llano de la Piedra: (a) Vista frontal do

movimento; (b) Vista superior do movimento.

De acordo com o perfil de solo descrito anteriormente, o movimento

mobilizou praticamente todas as camadas de solo residual, atingindo até a quarta

camada de material (rocha alterada). A permeabilidade desta camada é alta, logo

favoreceu a infiltração de água. O evento resultou em 11 mortos, 7 casas destruídas

e perdas da infraestrutura pública.

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4.2.2.5. Caracterização do evento

A topografia antes do evento foi obtida da base topográfica disponibilizada

pelo CENIGA (1998) levantada com escala de 1:25 000. A partir desta informação

foi gerado um modelo de elevação digital através do programa de sistemas de

informação geográfica, o programa ArcGIS versão 10, e foi obtido um perfil do

canal percorrido pelo fluxo de detritos como mostrado na Figura 4.15.

Figura 4.15 – Perfil e parâmetros geométricos do caso de Llano de la Piedra.

A superfície de ruptura foi determinada mediante ensaios de refração sísmica

e topografia a cada metro, realizados após o evento. A partir destes resultados e

observações de campo, estimou-se que o material rompido tem uma espessura

média de 15 m e um volume inicial de 40.000 m3 e volume final de 100.000 m3. A

distância percorrida foi medida em 580 m e a extensão de deposição em 300 m.

Não foram estimadas velocidades do evento, mas os vizinhos indicam que a

rapidez do movimento não permitiu que várias pessoas fugissem, embora tendo

percebido que o material estava se aproximando do local. Portanto, foi estimado

que o movimento ocorreu com velocidades de rápidas a muito rápidas. A distância

percorrida pelo movimento foi medida desde a zona de iniciação do movimento até

o ponto mais distante atingido pelo fluxo. A massa foi deslocada por um único canal

até atingir o Rio Pirrís.

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4.2.3. Fluxo de Detritos, Hospital São Lucas, Rio de Janeiro, Brasil

4.2.3.1. Localização

O caso de estudo localiza-se na região serrana do estado de Rio de Janeiro,

especificamente no bairro de Duas Pedras, da cidade de Nova Friburgo, no estado

de Rio de Janeiro em Brasil (Figura 4.16). A área de estudo foi definida no fuso

23K entre as coordenadas UTM 752540 e 753900 Leste e, 7535500 e 7537200

Norte com Datum WGS84. O evento foi assim denominado devido a sua

proximidade do Hospital São Lucas, grande centro de excelência de atendimento

de pacientes cardíacos da região serrana.

Figura 4.16 – Localização do evento Hospital São Lucas.

4.2.3.2. Geologia do local

O Morro Duas Pedras é formado por rochas graníticas do Proterozóico

pertencentes a suíte Serra dos Órgãos.

A zona de iniciação do movimento é constituída por um maciço rochoso

alterado e o talvegue onde o material se transladou (zona de transporte) é composta

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por um maciço rochoso competente. Já na zona de deposição onde se localiza o

hospital e os prédios anexos encontra-se um depósito antigo de tálus. O depósito de

talús tem espessura variando entre 5,0 m e 8,0 m, e é capeado por um aterro com

espessura média de 3,0 m a 4,0 m. Abaixo, do tálus encontra-se um solo residual de

granito, com textura arenoso-argilosa, no qual foram registrados valores elevados

de SPT e alta permeabilidade (CSCF, 2007).

4.2.3.3. Descrição do evento

As fortes chuvas ocorridas nos dias 10 e 11 de Janeiro de 2011 geraram

grandes movimentos de massa na Região Serrana de Rio de Janeiro,

especificamente no Morro Duas Pedras. A encosta sofreu vários deslizamentos

translacionais, sendo um deles o que resultou no início do fluxo de detritos atingiu

o Hospital São Lucas localizado na zona leste do Morro de acordo com a Figura

4.17a e Figura 4.17b.

Figura 4.17 – Fluxo de detritos Hospital São Lucas: (a) Vista aérea; (b) Vista

frontal do Morro Duas Pedras.

O fluxo de detritos do Hospital São Lucas começou no topo da escarpa

rochosa, aproximadamente na cota 1310 m no contato solo/rocha. Ressalta-se que

o movimento que atingiu o hospital foi acompanhado de outro fluxo de detritos

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paralelo como se mostra na Figura 4.17b. Além disto, o fluxo de detritos do Hospital

São Lucas também apresentou duas zonas de iniciação, sendo que uma delas foi

bifurcada, resultando em outro movimento de massa na parte norte da escarpa

conforme mostrado na Figura 4.17a e Figura 4.18a. Este movimento também será

analisado e descrito no item 4.2.4 deste trabalho.

Na zona de iniciação do evento do Hospital São Lucas a declividade média

da encosta é de 40° e tem uma extensão de 25 m. O movimento começou pela

mobilização de vários blocos, que misturados com solo, desceram pela escarpa

rochosa sem uma canalização definida (avalanche de detritos) até atingir o talvegue

no meio da encosta, transformando-se em um fluxo de detritos. A Figura 4.18b

apresenta a zona de iniciação do movimento.

Descendo da parte mais alta para a parte intermediária (zona de transporte)

aflora a escarpa rochosa com declividade aproximada de 33° e comprimento de 425

m. Neste setor o material atingiu o tálus depositado no talvegue e erodiu de forma

importante o canal conforme mostrado na Figura 4.18c. Esta zona contribuiu com

a maior parte do material depositado.

Finalmente foi depositado o material devido à interrupção parcial do fluxo e

à mudança da inclinação da encosta reduzida a 18°. Nesta zona foram depositados

blocos de rocha, conforme mostrado na Figura 4.18d.

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Figura 4.18 – Vistas aéreas do fluxo de detritos do Hospital São Lucas.

4.2.3.4. Características do evento

O volume inicial do evento foi calculado a partir das observações de campo

e fotografias aéreas. Estimou-se uma massa mobilizada de 1000 m3 descendo pela

escarpa rochosa. O material atingiu o talvegue e erodiu o canal resultando em um

volume final de aproximadamente 12.000 m3.

A distância percorrida pelo movimento foi medida desde a zona de iniciação

até o ponto mais distante atingido pelo fluxo de detritos. Inicialmente, o material se

movimentou pela escarpa rochosa até atingir o talvegue por uma distância total de

830 m e com diferença de elevações de 435 m. Desta forma, foi obtido um ângulo

de fahrbӧschung de 29,3° para o evento (Figura 4.19).

Não foi possível estimar valores de velocidade no local, apesar de

testemunhas reportarem a elevada rapidez do movimento. A área planimétrica de

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deposição foi estimada em função das imagens aéreas antes e após o evento

obtendo-se assim uma área de 25.000 m2.

Figura 4.19 – Perfil e características geométricas do evento do Hospital São

Lucas.

4.2.4. Fluxo de Detritos, Córrego D’Antas, Rio de Janeiro, Brasil

4.2.4.1. Localização

O caso de estudo localiza-se no bairro de Córrego D’Antas, na cidade de Nova

Friburgo, no estado de Rio de Janeiro, Brasil. Conforme mostrado na Figura 4.20 a

área de estudo corresponde à parte alta da encosta do Morro Duas Pedras e foi

definida no fuso 23K entre as coordenadas UTM 752540 e 753900 Leste e, 7535500

e 7537200 Norte com Datum WGS84.

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Figura 4.20 – Localização do evento Córrego D’Antas em Nova Friburgo,

Rio de Janeiro.

4.2.4.2. Geologia do local

O Morro Duas Pedras é formado por rochas graníticas do Proterozóico

pertencentes a suíte Serra dos Órgãos. O talvegue por onde deslocou a massa na

trajetória inicial é formado por duas famílias de fraturas subverticais, mergulhando

para o sudoeste segundo a direção 238°/75° e para o nordeste segundo a direção

320°/80°, persistentes em todo o maciço, indicadas na Figura 4.21.

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Figura 4.21 – Fraturas subverticais do maciço destacadas na ortofoto

(Geomecânica, 2011).

Durante o mapeamento geológico foram observados pontos de surgência de

água nas juntas de alívio e fraturas. Essas descontinuidades condicionam o

caminhamento das águas pluviais e favorecem o desconfinamento e deslocamento

das lascas rochosas através da infiltração e aumento da poropressão. A base da

encosta apresenta um depósito de material colúvional e tálus, originados de

movimentos pretéritos, que se estendem desde a base da escarpa rochosa até a

rodovia RJ-130 e possui mais de 10 m de espessura (Portella et al, 2013).

4.2.4.3. Descrição do evento

As fortes chuvas ocorridas nos dias 10 e 11 de Janeiro de 2011 geraram

grandes escorregamentos na região serrana de Rio de Janeiro, especificamente no

Morro Duas Pedras. O desprendimento teve sua origem na face norte da escarpa

rochosa com a cota máxima atingindo aproximadamente 1360 m. Parte do material

colapsado se deslocou na direção Norte para Córrego D’Antas e parte na direção

leste para o Hospital São Lucas conforme mostrado na Figura 4.22a e Figura 4.22b.

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Figura 4.22 – Fluxo de detritos Córrego D´Antas: (a) Vista aérea por satélite;

(b) Vista das trajetórias para Córrego D’Antas e Hospital São Lucas.

O Morro Duas Pedras sofreu vários deslizamentos na vertente norte, sendo

que o escorregamento principal teve seu início no topo do maciço, no contato

solo/rocha, e prosseguiu orientado por uma linha de fraturas, erodindo a camada de

solo residual e expondo o topo rochoso alterado (Portella et al. 2013). O movimento

foi originado como consequência do acréscimo da poropressão na camada de solo

localizada no topo da escarpa. Os blocos de grande volume da zona de iniciação

tiveram pequeno deslocamento e não foram agregados ao fluxo de detritos, como

observado na Figura 4.23a. A Figura 4.23b apresenta uma vista geral do maciço

com as cicatrizes da passagem do fluxo sobre o afloramento rochoso e os depósitos

na parte média da encosta.

Figura 4.23 – Detalhes do fluxo de detritos: (a) Zona de iniciação do

movimento; (b) Vista do escorregamento principal na escarpa rochosa

(Geomecânica, 2011).

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Na zona de iniciação a declividade média da encosta é de 45°. Descendo da

parte mais alta para a parte média (zona de transporte), aflora a escarpa rochosa

com declividade entre 40° e 60°, na qual o fluxo de detritos se encaixou por mais

de 300 m até chegar à zona de deposição com redução da inclinação para 26°.

O material na zona de transporte é dividido em três canais como mostrado na

Figura 4.24. O canal 1 possui trechos íngremes e o volume menos significativo

oriundo da encosta rochosa. A maior parte do material colapsado prossegue pelos

canais 2 e 3. No caso do canal 2 o fluxo atingiu a Rua Mario Pinto, destruindo casas

e fazendo vítimas fatais. O canal de erosão 3 concentrou o maior volume atingindo

a Rua Vazante e destruindo o maior número de casas. Houve um movimento

secundário, na cabeceira d´água existente, que percorreu o canal 4. Apesar da

erosão profunda sofrida pelas margens do talvegue em forma de “V” e da

proximidade do fluxo de detritos em relação às casas lindeiras, os danos sofridos

foram pouco significativos nesta área.

Figura 4.24 – Fluxo de detritos dividido em 4 canais em Córrego D’Antas.

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4.2.4.4. Características do evento

Segundo as inspeções de campo realizadas no local estima-se que cerca de

1.000 m3 de material contendo solo e blocos de rocha tenham sido inicialmente

mobilizados, originando o movimento que foi agregando mais massa ao se encaixar

no talvegue. Um volume final entre 7.000 m3 e 16.000 m3 foi estimado por Motta

(2014) baseado em relações empíricas.

A distância percorrida pelo movimento foi medida desde a zona de iniciação

do movimento até o ponto mais distante atingido pelo fluxo de detritos. Foram

evidenciados 3 canais, mas a distância percorrida foi calculada a partir do canal

mais extenso e estimou-se que a massa deslocada percorreu uma distância

aproximada de 780 m. A Figura 4.25 apresenta o perfil com as principais

características do fluxo de detritos no canal principal.

Uma área plana de deposição foi estimada em função do mapeamento após o

evento por Pelizone (2014) e Motta (2014) correspondente a 35.000 m2 e 31.000

m2 respectivamente. A velocidade do fluxo de detritos não foi medida, porém

sobreviventes da tragédia reportaram a extrema rapidez e violência do evento.

Figura 4.25 – Perfil e características geométricas do evento do Hospital São

Lucas.

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5. Apresentação e análise dos resultados

Neste capítulo são apresentados os resultados obtidos para os quatro casos de

fluxos de detritos, selecionados para estudo. Mostram-se os resultados da calibração

preliminar de parâmetros e os resultados obtidos das modelagens 2D e 3D

realizadas com os programas DAN-W e DAN3D respectivamente. Finamente, os

valores observados e/ou medidos são comparados com os valores obtidos das

modelagens. Também são comparados os resultados das modelagens numéricas em

2D e 3D para verificação de desempenho dos dois programas.

Parte das analises realizadas nesta pesquisa, foram feitas numa visita

realizada ao Laboratório de Modelagem Numérica da Faculdade de Engenharia

Geológica da Universidade de British Columbia em Vancouver, Canadá.

5.1. Calle Lajas, San José, Costa Rica

5.1.1. Calibração preliminar dos parâmetros

O evento de Calle Lajas trata-se de um fluxo de detritos que iniciou como um

pequeno escorregamento de terra na parte alta da encosta e se encaixou no talvegue

se transformando em um fluxo de detritos. Este evento foi modelado utilizando a

reologia de Voellmy, pois vários autores sugerem a utilização deste modelo

reológico para a análise de fluxos de detritos (Hungr et al., 1998; Ayotte e Hungr,

2000; Jakob et al., 2000; Hürlimann et al., 2003; Revellino et al., 2004; Bertolo e

Wieczorek, 2005; McDougall 2006; McKinnon et al., 2008). O modelo baseia-se

nos parâmetros de coeficiente de atrito e coeficiente de turbulência, conforme já

apresentado no Capítulo 3.

A calibração preliminar destes parâmetros foi realizada com o auxilio do

módulo SENSAN, de acordo com a metodologia descrita Capítulo 4. Na Figura

5.1a observa-se a trimline utilizada para a calibração dos parâmetros e na Figura

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5.1b uma representação gráfica dos resultados obtidos de parâmetros de melhor

ajuste.

De acordo com a metodologia de trabalho, o melhor ajuste corresponde aos

valores compreendidos na zona de cores mais escuras do gráfico da Figura 5.1b.

Desta forma, o coeficiente de atrito para este evento encontra-se próximo a 0,13.

Ressalta-se que ainda não é possível calibrar e/ou definir o coeficiente de

turbulência, pois não foi inserida informação de velocidade na calibração.

Figura 5.1 – Calibração preliminar dos parâmetros: (a) trimline adotada, (b)

Níveis de ajuste dos valores de coeficiente de atrito – Calle Lajas.

5.1.2. Resultados da modelagem em 3D

A análise dinâmica em 3D do evento foi realizada através do programa

DAN3D. Utilizou-se a reologia de Voellmy e o coeficiente de atrito foi calibrado

preliminarmente através do módulo SENSAN. O coeficiente de atrito foi verificado

com as observações de campo da área de impacto e foi mantido igual a 0,13.

O coeficiente de turbulência foi calibrado de acordo as velocidades estimadas

pela CNE (2010). Para isto, foram comparadas as velocidades obtidas pelo DAN3D

com as observações em campo, variando o coeficiente de turbulência até se obter o

melhor ajuste entre eles. O coeficiente de turbulência foi inicialmente variado de

500 em 500 m/s2 na faixa de valores entre 0 e 2.000 m/s2 e, finalmente, ajustado

variando-se de 100 em 100 m/s2. O valor de melhor ajuste foi obtido igual a 600

m/s2.

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Para a modelagem do fluxo de Calle Lajas foram adotados dois materiais. Um

material na zona de iniciação e deposição; e outro material na zona de transporte.

O material na zona de transporte foi definido com uma profundidade máxima de

erosão de 1,0 m, em função da presença de rocha intemperizada e depósitos aluviais

e colúvios nesta zona. A taxa de erosão foi adotada igual a 0,0012.

Na simulação do fluxo de detritos com o DAN3D foi adotado um volume

inicial de material de 9.000 m3, resultando em um volume final de 67.000 m3, valor

similar ao estimado pela CNE (2010). Os resultados da simulação numérica

também forneceram valores de área de deposição igual a 53.000 m2, distância

percorrida de 2.600 m e extensão da área de deposição de 1.275 m.

Valores de velocidades em pontos específicos ao longo da trajetória são

importantes para a projeção de estruturas de mitigação e convivência. Velocidades

em diferentes pontos foram medidas para realizar uma comparação pontual com os

valores medidos pela CNE (2010). As velocidades determinadas pela simulação a

250, 500, 1.000, 1.500, 2.000 e 2.500 m da zona de iniciação são respectivamente

iguais a 23, 20, 14, 8, 4 e 2 m/s.

A Figura 5.2 apresenta a distribuição espacial das velocidades estimadas pelo

DAN3D, onde se observa a redução da velocidade com a diminuição da inclinação

do canal principal e o acréscimo da distância da zona de iniciação, local das

menores velocidades (cor azul). Este comportamento representa um dos indicadores

da localização da zona de deposição.

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Figura 5.2 – Distribuição espacial de velocidades estimadas pelo programa

DAN3D – Calle Lajas.

A altura máxima do fluxo e a profundidade máxima do fluxo também foram

calculadas com o DAN3D em pontos específicos da trajetória do fluxo de detritos

e correspondentes a 250, 500, 1.000, 1.500, 2.000 e 2.500 m da zona de iniciação.

Desta forma os valores de altura máxima do fluxo são iguais a 2,2, 1,9, 1,9, 2,6, 1,8

e 0,6 m, respectivamente e os valores de profundidade máxima de deposição são

respectivamente iguais a 0,0, 0,0, 0,0, 1,0, 1,5 e 0,5 m. A distribuição espacial destes

valores é apresentada na Figura 5.3a para a altura máxima do fluxo e Figura 5.3b

para profundidade máxima de deposição.

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Figura 5.3 – Distribuição espacial de: (a) altura máxima do fluxo; (b)

profundidade máxima de deposição – Calle Lajas.

A CNE (2010) documentou os danos das estruturas afetadas pelo fluxo de

detritos e propôs um mapa que delimita zonas por seu nível de ameaça, dividindo

em: ameaça baixa (verde), ameaça média (amarelo) e ameaça alta (vermelho),

conforme mostrado na Figura 5.4a. Visando comparar estes resultados, calculou-se

o índice de intensidade segundo Jakob et al. (2011). Os resultados obtidos são

apresentados na Figura 5.4b, onde o índice de intensidade igual a 1000 (cor

vermelha) corresponde ao maior dano que resulta na destruição total das moradias

ou infraestrutura do local. Observa-se a excelente consistência de resultados entre

as duas metodologias de avaliação de possíveis danos provocados por fluxos de

detritos.

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Figura 5.4 – Intensidade de fluxo de detritos: (a) Zoneamento do nível de

ameaça de danos segundo (CNE, 2010); (b) Índice de intensidade calculado

segundo Jakob et al. (2011) gerado pelo DAN3D.

Na Figura 5.4, a zona onde a CNE (2010) reporta baixa ameaça de danos, os

valores de índice de intensidade calculados variam de 1 a 10. Segundo Jakob et al.

(2001) estes valores sugerem apenas 30% de probabilidade de danos mínimos danos

em estruturas e 70% de probabilidade de ocorrência de leve sedimentação de lama.

A zona de ameaça de nível médio indicada pela CNE correspondeu a inundações

de lama que invadiram casas. Isto coincide com os resultados de intensidade de

Jakob et al. (2001), variando entre 10 e 100, correspondendo a 50% de

probabilidade de mínimos danos estruturais. Na zona vermelha da Figura 5.4a, a

CNE (2010) reporta que a maior parte das casas foram completamente destruídas,

o que coincide com as aproximações obtidas pelo índice de intensidade entre 100 e

1000 de Jacob et al. (2001), que sugere 67% de probabilidade das estruturas

sofrerem completa destruição.

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5.1.3. Resultados da modelagem em 2D

A simulação do fluxo de detritos com o programa DAN-W foi realizada

considerando o perfil e dados de geometria obtidos de topografia, conforme

apresentado no capítulo anterior.

Para manter a consistência com as análises realizadas em 3D, foi utilizada a

reologia de Voellmy com coeficiente de atrito de 0,13 e fator de turbulência de 600

m/s2. A Figura 5.5 apresenta um resumo dos dados topográficos e características do

fluxo modelado.

Legenda: Linha preta: perfil topográfico; Linha verde: superfície superior do movimento; Linha laranja:

perfil de erosão definida em cada local; Linha azul: largura do canal; Cruzes vermelhas: centros de gravidade

inicial e final do material.

Figura 5.5 – Principais caraterísticas do fluxo no DAN-W - Calle Lajas.

A simulação com o DAN-W forneceu a distância percorrida pelo fluxo de

2.300 m e extensão da área de deposição igual a 1.055 m. Partiu-se de um volume

inicial de 9.000 m3 que erodiu o canal em função da profundidade de erosão

inserida, e resultou num volume final de 62.650 m3 e uma área de deposição de

58.025 m2.

As velocidades obtidas na modelagem 2D são apresentadas na Figura 5.6.

Também foi realizada uma comparação análoga à análise de resultados realizada

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com o programa DAN3D em função das velocidades em diferentes pontos da

trajetória do fluxo, estimadas pela CNE (2010). Os pontos de controle de

velocidades foram estabelecidos a 250, 500, 1.000, 1.500, 2.000 e 2.500 m de

distância da zona de iniciação do movimento, resultando em velocidades de 30, 19,

13, 7, 5, 2 m/s, respectivamente.

Legenda: Linha azul: velocidade da frente do movimento; Linha rosa: velocidade da parte traseira do

movimento; Linha vermelha: velocidade máxima; Linha preta: velocidade mínima.

Figura 5.6 – Variação da velocidade com a distância percorrida obtida da

modelagem com o programa DAN-W - Calle Lajas.

A altura máxima do fluxo e a profundidade máxima de deposição também foram

calculadas a 250, 500, 1.000, 1.500, 2.000 e 2.500 m de distância da zona de

iniciação, obtendo-se valores de 2,1, 2,1, 1,9, 2,3, 2,0 e 0,0 m, respectivamente para

a altura máxima do fluxo. Para a profundidade da área de deposição foram obtidos

valores nulos até 1.000 m de distância e para 1.500, 2.000 e 2.500 m, foram

encontrados valores de 1,5, 2,0, e 0,0 m, respectivamente.

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5.1.4. Análise dos resultados

Apresenta-se uma comparação entre os principais parâmetros obtidos das

simulações realizadas com o DAN-W e o DAN3D. Os valores calculados com cada

programa são comparados com os valores reais observados e/ou medidos após o

evento e, seguidamente são comparados os resultados obtidos da modelagem em

2D com os obtidos da modelagem em 3D. A Tabela 5.1 apresenta os valores obtidos

nos principais parâmetros nas análises realizadas.

Tabela 5.1 – Comparação de resultados numéricos do DAN-W e DAN3D e

valores reais observados no fluxo de detritos - Calle Lajas.

Parâmetro

Valores observados e

calculados Diferenças Percentuais

Observado DAN-W DAN3D DAN-W

Observado

DAN3D

Observado

DAN-W

DAN3D

Distância percorrida (m) 2.500 2.300 2.600 8 4 12

Extensão da área de deposição (m) 1.200 1.055 1.275 12 6 17

Volume final (m3) 65.000 62.650 67.000 4 3 6

Área de deposição (m2) 39.800 58.000 53.000 46 33 9

Os valores de distância percorrida obtidos pelas modelagens numéricas

resultaram satisfatórios, pois a diferença percentual ficou entre 4 e 8% comparado

com o valor observado. Este parâmetro é de grande importância, pois deve ser

levado em conta em projetos de medidas de proteção e convivência.

A extensão da área de deposição foi aproximada pelas simulações com

diferenças percentuais entre 6 e 12%. Para a extensão da área de deposição, o

DAN3D superestimou a distância em 75 m e, portanto, este valor é favor da

segurança, ao contrário do valor obtido com o DAN-W que subestima a extensão

da área de deposição em 145 m.

O volume final calculado pelos programas DAN-W e DAN3D mostrou

resultados que diferem de apenas 3 e 4% do valor observado. Ressalta-se que este

parâmetro é muito sensível à taxa de erosão adotada para cada material, indicando

que os valores selecionados representam adequadamente o evento de fluxo de

detritos.

Valores da área de deposição obtidos com as modelagens apresentaram as

maiores diferenças percentuais em relação à área observada e iguais a 33 e 46%. A

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diferença percentual entre os valores obtidos com os dois programas é de 9%, o que

sugere que os resultados observados em campo podem apresentar algum erro de

medição. Nota-se também que a diferença percentual dos valores obtidos com o

DAN-W é maior quando comparada ao DAN3D. Isto era esperado tendo em vista

as limitações nos dados de entrada topográficos de um programa em 2D em relação

ao programa 3D.

As diferenças porcentuais entre as simulações com DAN-W e DAN3D

ficaram entre 6 e 17 %, evidenciando que os modelos são consistentes entre si,

principalmente quando são adotados os mesmos modelos reológicos para as

modelagens 2D e 3D.

A Figura 5.7 apresenta a variação de velocidade com a distância da zona de

iniciação estimada pela CNE (2010) e calculada com as modelagens numéricas 2D

e 3D. Vários pontos de controle foram selecionados ao longo do canal de fluxo para

realizar uma comparação quantitativa dos valores estimados e calculados.

Figura 5.7 – Comparação das velocidades estimadas e calculadas em função

da distância percorrida - Calle Lajas.

Observa-se na Figura 5.7 que os resultados numéricos do DAN-W e DAN3D

apresentam a mesma tendência. A maior variação se encontra no trecho inicial, onde

o DAN-W estimou velocidades maiores do que as do DAN3D. Isto pode estar

relacionado ao tipo de construção da zona de iniciação de cada programa. No caso

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do DAN-W insere-se um volume formado por um sólido (bloco ou pirâmide) e no

DAN3D insere-se a topografia do material de origem.

Ao comparar as velocidades obtidas das modelagens com as calculadas pela

CNE (2010), pode-se observar que nos primeiros 1.000 m os valores são

significativamente diferentes. Porém, no trecho após os 1.000 m mostram uma

tendência similar às modelagens numéricas. Considera-se que os valores estimados

pela CNE (2010) neste trecho inicial foram calculados grosseiramente devido ao

difícil acesso ao local, além de utilizar uma metodologia válida para fluxo

permanente quando na realidade o problema corresponde a um fluxo não

permanente com frequentes alterações de regime.

Tabela 5.2 – Comparação de velocidades instantâneas numéricas e estimadas

- Calle Lajas.

Distância da

zona de

iniciação (m)

Velocidade máxima instantânea

estimada e calculada (m/s) Diferenças percentuais

Estimado DAN-W DAN3D DAN-W

Estimado

DAN3D

Estimado

DAN-W

DAN3D

250 4 30 23 650 475 30

500 7 19 20 171 186 5

1000 12 13 14 8 17 7

1500 8 7 8 13 0 13

2000 2 5 4 150 100 25

2500 - 2 2 - - 0

Analisando os pontos de controle na Tabela 5.2, observa-se que as maiores

diferenças percentuais entre velocidades calculadas pelo DAN-W e DAN3D e as

velocidades estimadas pela CNE (2010) encontram-se nos pontos a 250 e 500 m da

zona de iniciação. No trecho intermediário, pontos a 1.000 e 1.500 m, os valores

estimados pela CNE (2010) e os obtidos das modelagens são consistentes, assim

como os valores das modelagens 2D e 3D. No trecho final (2.000 m) a velocidade

estimada de 2m/s é menor que as calculadas pelas modelagens numéricas, porém

na mesma ordem de grandeza. É interessante notar que os resultados consistentes

são os obtidos nas zonas de transporte e deposição, podendo ser utilizados em

projetos de obras de mitigação e convivência nestes locais.

Na Tabela 5.3 são apresentados os resultados numéricos de altura máxima do

fluxo e a profundidade máxima de deposição, as quais são parâmetros importantes

para medidas de proteção como barreiras ou diques.

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Os resultados da Tabela 5.3 mostram que os valores de altura máxima do

fluxo são consistentes, apresentando diferenças percentuais entre 0 e 12 %. Já no

caso das profundidades de deposição, as diferenças porcentuais são maiores,

variando de 33 a 50%. Deve-se lembrar de que as comparações de valores em locais

pontuais às vezes apresentam diferenças percentuais altas, devido à elevada

dispersão intrínseca ao ponto de controle.

Tabela 5.3 – Valores numéricos de altura máxima do fluxo e profundidade

máxima de deposição – Calle Lajas.

Parâmetro Distância da zona de iniciação (m) DAN-W DAN-3D Diferença percentual

DAN-W e DAN3D

Altura máxima

do fluxo (m)

250 2,1 2,2 5

500 2,1 1,9 11

1000 1,9 1,9 0

1500 2,3 2,6 12

2000 2,0 1,8 11

2500 - 0,6 -

Profundidade

máxima de

deposição (m)

250 0,0 0,0 0

500 0,0 0,0 0

1000 0,0 0,0 0

1500 1,5 1,0 50

2000 2,0 1,5 33

2500 - 0,5 -

5.2. Llano de la Piedra, San José, Costa Rica

5.2.1. Calibração preliminar dos parâmetros

O evento de Llano de la Piedra, consistiu de um escorregamento rotacional

na parte alta da encosta que atingiu um depósito pretérito de coluvião e foi

transformado em um fluxo de detritos. Modelou-se utilizando a reologia de atrito

na parte inicial e a reologia de Voellmy na zona do fluxo de detritos.

Para simular a parte inicial do movimento foi utilizado uma rotina numérica

do DAN3D chamada Dan3D Flex. Este plugin permite levar em conta a condição

do movimento de uma massa coerente em um plano de deslizamento da base sem a

presença de pressões laterais (Aaron e Hungr, 2016). Assim, a massa inicial é

tratada como um bloco rígido que se desloca e, finalmente, transforma-se em fluido

a partir de uma distância indicada ao programa.

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109

O Dan3D Flex foi utilizado para obter uma melhor aproximação da parte

inicial do movimento e assim um melhor ajuste da zona de deposição do evento.

Importante comentar que foram realizadas análises sem o Dan3D Flex, as quais

mostraram uma tendência do material se dispersar muito mais do que o observado

no evento, resultando em áreas de deposição maiores que as observadas.

A calibração preliminar foi realizada com o módulo SENSAN de acordo com

a metodologia descrita no item 4.1. A Figura 5.8a apresenta a trimline utilizada para

a calibração e a Figura 5.8b uma representação gráfica dos resultados obtidos como

parâmetros de melhor ajuste para o modelo de Voellmy. De acordo com a

metodologia de trabalho o melhor ajuste corresponde aos valores na região de cores

mais escuras do gráfico da Figura 5.8b. Portanto, o coeficiente de atrito encontra-

se próximo a 0,35.

Figura 5.8 – Calibração preliminar dos parâmetros: (a) Trimline adotada; (b)

Níveis de ajuste dos valores de coeficiente de atrito - Llano de la Piedra.

5.2.2. Resultados da modelagem em 3D

Para a modelagem do fluxo de Llano de la Piedra foram utilizados três

materiais. Um material na zona de iniciação, outro na zona de transporte e outro

material na zona de deposição. O material na zona de transporte foi definido com

uma profundidade máxima de erosão de 5,0 m, pois trata-se de um material argilo-

siltoso e a taxa de erosão foi definida em 0,0045.

Uma vez realizada a calibração preliminar, foram verificados os parâmetros

escolhidos. Os resultados mostraram uma distância percorrida muito menor do que

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a distância observada (Figura 5.9a), sendo necessário modificar o coeficiente de

atrito previamente adotado.

O SENSAN procura semelhanças entre nós específicos do arquivo trimline

inserido e um arquivo gerado pelo DAN3D chamado de maxthick.grd . Este arquivo

inclui os valores de profundidade máxima atingida em cada localização espacial.

A primeira aproximação mostrada na Figura 5.9a não resultou satisfatória,

pois se considera que a obtenção de uma boa calibração para a distância percorrida

é mais importante do que a dispersão mostrada pelo material na parte média do

evento.

Desta forma, foram processadas várias simulações variando-se o coeficiente

de atrito até se obter uma melhor aproximação da distância percorrida pelo fluxo de

detritos, atingida com coeficiente de atrito igual a 0,2.

Entretanto observa-se na Figura 5.9b, que esta calibração apresenta algumas

diferenças na zona de transporte e deposição. Estas diferenças podem ser explicadas

por limitações dos dados de topografia, com menor precisão que a esperada.

A calibração do coeficiente de turbulência foi realizada baseada em valores

estimados de relatórios do evento e em calibrações realizadas para eventos

similares, pois não foram tomadas medidas para aproximar as velocidades do

evento. O coeficiente de turbulência foi adotado igual a 100 m/s. Os resultados da

distribuição espacial de velocidades calculadas pelo DAN3D são mostrados na

Figura 5.10.

Valores de velocidades em pontos específicos ao longo da trajetória são

importantes para projetos de estruturas de mitigação e convivência. Assim, foram

estimadas velocidades em pontos de controle a 100, 200, 300, 400, 500 e 550 m de

distância da zona de iniciação, resultando em velocidades de 16, 25, 19, 11, 6 e 3

m/s, respectivamente.

Também foram calculadas com o DAN3D as alturas máximas do fluxo e as

profundidades máximas de deposição após o evento, apresentadas na Figura 5.11.

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Figura 5.9 – Resultados da simulação de distância percorrida: (a) Calibração

preliminar e (b) Calibração final.

Figura 5.10 – Distribuição espacial de velocidades estimadas pelo programa

DAN3D.

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112

Figura 5.11 – Distribuição espacial de: (a) Altura máxima do fluxo; (b)

Profundidade máxima de deposição - Llano de la Piedra.

A altura máxima do fluxo e a profundidade máxima de deposição também

foram obtidas para pontos de controle ao longo do canal percorrido. Os valores de

altura máxima do fluxo e profundidade máxima de deposição foram estimados a

distâncias de 100, 200, 300, 400, 500 e 600 m da zona de iniciação, obtendo valores

de 7,0, 10, 10,5, 6,0, 4,0 e 1,3 m, respectivamente para a altura máxima do fluxo e

0,0, 0,0, 3,7, 4,6, 2,7 e 1,2 m, respectivamente para altura máxima de deposição.

O movimento começou com um volume de material de 40.000 m3, resultando

após a simulação com o DAN3D em um volume final de 100.000 m3 e uma área de

deposição de 27.000 m2. A distância percorrida calculada pelo DAN3D foi de 575

m e a extensão da área de deposição de 338 m.

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113

5.2.3. Resultados da modelagem em 2D

A modelagem 2D do fluxo utilizando o programa DAN-W foi realizada

considerando os dados de perfil e geometria, em função da topografia descrita na

caracterização do evento no item 4.2.

Para manter a consistência com as análises realizadas em 3D, foi utilizada a

reologia de atrito para simular o movimento rotacional e a reologia de Voellmy na

zona de transporte e deposição, com coeficiente de atrito de 0,2 e fator de

turbulência de 100 m/s2. Erosão no canal foi modelada como se só acontecesse na

zona de transporte do movimento, assim na zona de iniciação e deposição se supõe

que seu valor é nulo. Mesmo assim às vezes acontece que o canal erode na zona de

deposição aumentando o volume final do evento. Neste caso foi definida uma

profundidade de erosão máxima de 5,0 m na zona de transporte devido a que o

material corresponde a um solo argilo-siltoso.

A Figura 5.12 apresenta um resumo das principais características do evento

modelado representadas pelo perfil do caso, superfície superior do evento, perfil de

erosão definida para cada ponto, largura do canal e centros de gravidade inicial e

final da corrida.

Legenda: Linha preta: perfil topográfico; Linha verde: superfície superior do movimento; Linha laranja:

perfil de erosão definida em cada local; Linha azul: largura do canal; Cruzes vermelhas: centros de gravidade

inicial e final do material.

Figura 5.12 – Principais caraterísticas do fluxo no DAN-W – Llano de la

Piedra.

A modelagem no DAN-W indicou uma distância percorrida pelo fluxo de 590

m e extensão da área de deposição de 335 m. Partiu-se de um volume inicial de

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114

40.000 m3 que erodiu o canal e resultou num volume final de 100.800 m3 e uma

área de deposição de 21.500 m2.

As velocidades obtidas na modelagem são apresentadas na Figura 5.13 e

correspondem a velocidade da frente do movimento, velocidade da parte traseira do

movimento, velocidade máxima e velocidade mínima. Foram estabelecidos pontos

de controle a diferentes distâncias da zona de iniciação do movimento: 100, 200,

300, 400, 500 e 550 m, nos quais foram obtidas as velocidades de 21, 18, 17, 14, 8

e 4 m/s, respectivamente.

Legenda: Linha azul: velocidade da frente do movimento; Linha rosa: velocidade da parte traseira do

movimento; Linha vermelha: velocidade máxima; Linha preta: velocidade mínima.

Figura 5.13 – Variação da velocidade com a distância percorrida obtida da

modelagem com o programa DAN-W - Calle Lajas.

5.2.4. Análise dos resultados

Apresenta-se uma comparação dos principais parâmetros obtidos das

simulações realizadas com o DAN-W e o DAN3D. Os valores calculados com cada

programa são comparados com os valores observados após o evento. Também são

comparados entre si os resultados obtidos das duas modelagens para verificação de

desempenho dos programas 2D e 3D.

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A Tabela 5.4 apresenta os valores obtidos das análises realizadas. Os valores

de distância percorrida obtidos das modelagens numéricas resultaram ser

satisfatórios, pois a diferença percentual ficou entre 1 e 2% em comparação com o

valor observado.

A extensão da área de deposição foi calculada pelas simulações

satisfatoriamente, com diferenças porcentuais entre 12 e 13%. Para a extensão da

área de deposição, o DAN3D superestimou a distância em 38 m e o DAN-W em 35

m, portanto os valores se situam a favor da segurança no caso de projetos de obras

de convivência.

Os valores numéricos de volume final mostraram diferenças do valor

observado que variam entre 1 e 3%, sendo esta diferença desprezível para fins de

projeto de estruturas de proteção de fluxos de detritos ou para análises de risco.

Valores da área de deposição obtidos com as modelagens apresentaram

diferenças entre 4 e 14 %. Estes resultados demostram que o DAN3D por ser um

programa que utiliza um MED consegue obter melhores aproximações da

distribuição final do material em comparação com o DAN-W que utiliza

informação limitada de topografia, resultando em uma estimativa mais grosseira da

área de deposição. Entretanto, devido à magnitude de evento considera-se que

ambas as aproximações são razoáveis para um estudo de análise de risco.

De forma geral as diferenças percentuais entre os resultados das simulações

são consistentes entre si, ressaltando que foram adotados os mesmos materiais e

propriedades para as modelagens 2D e 3D.

Tabela 5.4 – Comparação de resultados numéricos do DAN-W e DAN3D e

valores reais observados no fluxo de detritos - Llano de la Piedra.

Parâmetro

Valores observados e

calculados Diferenças Percentuais

Observado DAN-W DAN3D DAN-W

Observado

DAN3D

Observado

DAN-W

DAN3D

Distância percorrida (m) 580 590 575 2 1 3

Extensão da área de deposição (m) 300 335 338 12 13 1

Volume final (m3) 100.000 100.800 97.500 1 3 3

Área de deposição (m2) 25.000 21.500 26.000 14 4 17

Os valores calculados pelas modelagens 2D e 3D para velocidade são

apresentados no gráfico da Figura 5.14 e os valores para vários pontos de controle

ao longo da trajetória na Tabela 5.17.

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Figura 5.14 – Comparação das velocidades estimadas e calculadas em função

da distância percorrida - Llano de la Piedra.

A análise da Figura 5.14 indica que os resultados das simulações em 2D e 3D

são consistentes. No trecho inicial a maior variação de valores deve ser causada

pelo tipo de abordagem de cada programa para construir a zona de iniciação, pois

no caso do DAN-W insere-se a geometria de um sólido em 2D e para o DAN3D

insere-se a topografia real do material de origem que foi deslocado.

Em relação às velocidades instantâneas em cada ponto de controle, a Tabela

5.5 mostra que os erros entre os valores calculados pelas modelagens variam de 11

a 33 %, com maior dispersão no trecho final da trajetória de fluxo, a 500 e 550 m

da zona de iniciação.

Em relação aos valores calculados numericamente pelo DAN-W e DAN3D

de altura máxima do fluxo, a Tabela 5.6 mostra erros que variam de 3 e 131 %. Os

resultados reportam uma maior dispersão no último ponto de controle, trecho final

da trajetória de fluxo, onde o DAN-W fornece valores de 3,0 m de altura e o

DAN3D valores de 1,3 m. Para os resultados das profundidades de deposição, as

porcentagens de erro variaram na faixa de 0 a 150 %, conforme indicado na Tabela

5.6 e novamente com a maior dispersão correspondente ao trecho final da viagem

do fluxo de detritos.

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Tabela 5.5 – Comparação de velocidades instantâneas numéricas - Llano de

la Piedra.

Distância da

zona de

iniciação (m)

Velocidade máxima instantânea (m/s) Diferenças percentuais

DAN-W e DAN3D DAN-W DAN-3D

100 21 16 31

200 18 25 28

300 17 19 11

400 14 11 27

500 8 6 33

550 4 3 33

Tabela 5.6 – Valores numéricos de altura máxima do fluxo e profundidade

máxima de deposição - Llano de la Piedra.

Parâmetro Distância da zona de iniciação (m) DAN-W DAN-3D Diferença percentual

DAN-W e DAN3D

Altura máxima

do fluxo (m)

100 5,5 7,0 21

200 10,3 10,0 3

300 15,0 10,5 43

400 9,0 6,0 50

500 5,0 4,0 25

600 3,0 1,3 131

Profundidade

máxima de

deposição (m)

100 0,0 0,0 -

200 0,0 0,0 -

300 3,7 3,7 0

400 6,6 4,6 43

500 5,5 2,7 104

600 3,0 1,2 150

Deve-se lembrar que os parâmetros instantâneos (localizados) de velocidade,

altura de fluxo ou profundidade máxima de deposição são importantes para o

dimensionamento de estruturas de proteção em um local especifico. Porém, é usual

obter-se valores com muita dispersão e, portanto, porcentagens de erro altas.

Em geral as aproximações do DAN-W fornecem maiores valores que o

DAN3D, porém considera-se que os valores do DAN3D são mais realistas pois

baseiam-se num MED, enquanto as análises do DAN-W são baseadas no perfil do

local que não consegue representar a dispersão real do material mobilizado no

terreno. Isto também pode indicar maiores cuidados com as modelagens do DAN-

W, pois seus resultados podem subestimar valores de altura de fluxo e profundidade

de deposição.

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5.3. Córrego D’Antas e Hospital São Lucas, Rio de Janeiro, Brasil

5.3.1. Calibração preliminar dos parâmetros

O evento do morro Duas Pedras consiste de dois fluxos de detritos que

aconteceram simultaneamente nas encostas leste e norte do morro em direção ao

Hospital São Lucas e Córrego D’Antas, onde ambos os eventos foram deflagrados

por intensas precipitações. Para a modelagem destes eventos foi utilizada a reologia

de Voellmy como nos outros eventos analisados nesta pesquisa.

Esta reologia baseia-se na calibração de dois parâmetros principais, o

coeficiente de atrito e o coeficiente de turbulência. A calibração preliminar destes

parâmetros foi realizada com o auxílio do módulo SENSAN, conforme metodologia

descrita no item 4.1.

Neste caso foram inseridas duas trimlines diferentes e a avaliação destes

parâmetros foi realizada individualmente. A Figura 5.15a mostra o ajuste preliminar

para o caso de Córrego D’Antas com um coeficiente de atrito de 0,30 e para o caso

do Hospital São Lucas apresentado na Figura 5.15b um coeficiente de atrito

aproximado de 0,34.

Figura 5.15 – Calibração preliminar de coeficiente de atrito: (a) Córrego

D’Antas; (b) Hospital São Lucas.

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5.3.2. Resultados da modelagem em 3D

A análise dinâmica em 3D do evento foi realizada com o programa DAN3D.

Trabalhos pioneiros na modelagem do evento de Córrego D’Antas no programa

DAN3D foram realizados por Pelizoni (2014).

Nesta pesquisa a modelagem foi realizada para os dois eventos

simultaneamente, pois eles aconteceram ao mesmo tempo e os resultados da

calibração preliminar sugerem que os coeficientes de atrito são similares. Após

realizar várias simulações, foi estabelecido um coeficiente de atrito de 0,30 e o

coeficiente de turbulência foi ajustado baseado em observações após o evento com

um valor de 600 m/s2.

Foi utilizada uma taxa de erosão de 0,0035, calculada a partir da Equação 3.2

com diferentes profundidades máximas de erosão. Foram considerados 5 materiais;

2 exclusivos para o caso de Córrego D´Antas, 2 exclusivos para o caso de Hospital

São Lucas e 1 em comum para os dois casos.

Para a zona de iniciação foram adotadas profundidades máximas de erosão de

0,1 m para Córrego D’Antas e 0,5 m para Hospital São Lucas, pois foi constatado

um maior arrastre de material na face leste do Morro. Na zona de transporte, foram

estabelecidas profundidades de erosão de 0,5 m para Córrego D’Antas e 2,0 m para

Hospital São Lucas, visto que o talvegue formado na encosta leste é mais

proeminente do que a erosão sofrida pela encosta norte. Na zona de deposição a

profundidade de erosão foi definida como nula.

Velocidades em diferentes pontos foram calculadas para realizar uma

comparação com a calibração 2D. As velocidades foram obtidas a cada 100 m desde

a zona de iniciação até atingir a distância percorrida total. Os resultados obtidos das

modelagens são apresentados na Tabela 5.8 e Tabela 5.11 para Córrego D’Antas e

na Tabela 5.14 para o Hospital São Lucas.

A distribuição espacial das velocidades resultantes da modelagem com o

DAN3D é mostrada na Figura 5.16.

A distribuição de altura máxima do fluxo e a altura máxima de deposição após

o evento, calculadas com DAN3D para toda a trajetória do fluxo são apresentadas

na Figura 5.17.

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Os valores pontuais destas simulações são apresentados na Tabela 5.9 e

Tabela 5.12 para o caso de Córrego D’Antas, e Tabela 5.15 para o caso do Hospital

São Lucas.

Figura 5.16 – Distribuição espacial de velocidades estimadas pelo programa

DAN3D – Córrego D’Antas e Hospital São Lucas.

Figura 5.17 – Distribuição espacial de: (a) Altura máxima do fluxo e (b)

Profundidade máxima de deposição - Córrego D’Antas e Hospital São Lucas.

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Com a finalidade de conseguir realizar uma comparação entre as análises realizadas

em 2D e as análises realizadas em 3D o evento de fluxo de detritos de Córrego

D’Antas foi simulado como dois canais diferentes. A Figura 5.18 apresenta a

estratégia desta simulação com duas zonas: i) Zona 1 corresponde aos canais 1 e 4,

e ii) Zona 2 corresponde aos com os canais 2 e 3.

Figura 5.18 – Fluxos de detritos de Córrego D’Antas divididos em duas zonas

para a realização das modelagens.

Para o fluxo de Córrego D’Antas, a distância percorrida foi calculada em 790

m para a Zona 1 e 770 m para a Zona 2. A extensão da área de deposição foi

determinada igual a 110 e 190 m para a Zona 1 e Zona 2, respectivamente. O volume

final foi calculado igual a 10.500 m3 e 7.500 m3 para a Zona 1 e Zona 2,

respectivamente. A área de deposição resultou em 19.750 m2 para a Zona 1 e

14.900 m2 para a Zona 2.

No caso do evento do Hospital São Lucas, a distância total percorrida foi

calculada em 840 m, a extensão da área de deposição em 190 m, o volume final em

12.500 m3 e a área de deposição em 23.580 m2.

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5.3.3. Resultados da modelagem em 2D

As simulações com o programa DAN-W foram realizadas considerando os

parâmetros reológicos adotados no programa DAN3D e o perfil e dados de

geometria de acordo com a informação de topografia descrita na caracterização do

evento no item 4.2.3.

Os resultados da modelagem com o programa DAN-W são divididos para

cada caso, tendo assim resultados para Córrego D’Antas e resultados para Hospital

São Lucas. Isto se deve às limitações da entrada de topografia do software DAN-

W, que não permite inserir ambos eventos simultaneamente.

5.3.3.1. Córrego D’Antas

Como explicado anteriormente, o fluxo de detritos de Córrego D’Antas

apresentou três canais preferenciais e um canal secundário (Figura 5.18). Portanto,

para a modelagem 2D, foi utilizada a estratégia de agrupar os canais nas Zonas 1 e

2. Desta forma, os canais 1 e 4 são analisados em uma mesma modelagem 2D e os

canais 2 e 3 em uma outra modelagem.

Para ambas as modelagens do evento foram utilizados três materiais para

manter a consistência com a modelagem realizada em 3D, na qual foi utilizado um

material para cada zona. Os valores de coeficiente de atrito de 0,3 e coeficiente de

turbulência de 600 m/s2 foram mantidos. A profundidade de erosão foi definida em

0,5 m para a zona de transporte da Zona 1 e de 0,3m para a zona de transporte da

Zona 2.

A Figura 5.19 apresenta os principais parâmetros de entrada do DAN-W para

o fluxo de detritos da Zona 1, correspondentes ao perfil, superfície superior do

evento, perfil de erosão, largura do canal e centros de gravidade inicial e final da

corrida.

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Legenda: Linha preta: perfil topográfico; Linha verde: superfície superior do movimento; Linha laranja:

perfil de erosão definida em cada local; Linha azul: largura do canal; Cruzes vermelhas: centros de gravidade

inicial e final do material.

Figura 5.19 – Principais caraterísticas do fluxo no DAN-W – Zona 1 de

Córrego D´Antas.

Os resultados da modelagem no DAN-W para a Zona 1 indicaram uma

distância percorrida pelo fluxo de 850 m e extensão da área de deposição de 90 m.

O movimento começou com um volume inicial de 1.000 m3, que erodiu o canal e

resultou em um volume final de 11.800 m3 e uma área de deposição de 15.000 m2.

As velocidades obtidas na modelagem 2D são apresentadas na Figura 5.20 e

representam a velocidade da frente do movimento, velocidade da parte traseira do

movimento, velocidade máxima e velocidade mínima. Foram estabelecidos pontos

de controle a diferentes distâncias da zona de iniciação do movimento: 100, 200,

300, 400, 500, 600, 700 e 750 m, para as quais foram determinadas velocidades de

9,9, 6,2, 3,2, 3,5, 4,7, 3.5, 3,6 e 3,5 m/s, respectivamente.

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Legenda: Linha azul: velocidade da frente do movimento; Linha rosa: velocidade da parte traseira do

movimento; Linha vermelha: velocidade máxima; Linha preta: velocidade mínima.

Figura 5.20 – Variação da velocidade com a distância percorrida obtida da

modelagem com o programa DAN-W – Zona 1 de Córrego D´Antas.

A altura máxima do fluxo foi obtida nos pontos de controle colocados a cada

100 m desde a zona de iniciação até a zona de deposição, correspondendo a 100,

200, 300, 400, 500, 600, 700 e como último ponto a distância de 750 m. O DAN-

W estimou valores de altura máxima de fluxo iguais a 0,37, 0,16, 0,15, 0,15, 0,3,

0,2, 0,6 e 0,8 m, respectivamente.

A profundidade máxima de deposição também foi determinada a cada 100 m,

obtendo resultados de 0,0 m de profundidade até 500m de distância e 0,2, 0,6 e 0,6

m de profundidade para 600, 700 e 750 m de distância, respectivamente.

A Figura 5.21 apresenta os principais parâmetros de entrada do DAN-W para

o fluxo de detritos da Zona 2, referentes ao perfil do caso, superfície superior do

evento, perfil de erosão, largura do canal e centros de gravidade inicial e final da

corrida.

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125

Legenda: Linha preta: perfil topográfico; Linha verde: superfície superior do movimento; Linha laranja:

perfil de erosão definida em cada local; Linha azul: largura do canal; Cruzes vermelhas: centros de gravidade

inicial e final do material.

Figura 5.21 – Principais caraterísticas do fluxo no DAN-W – Zona 2 de

Córrego D´Antas.

Os resultados da modelagem no DAN-W para a Zona 2 indicaram uma

distância percorrida pelo fluxo de 750 m e extensão da área de deposição de 250 m.

Partiu-se de um volume inicial de 500 m3, que erodiu o canal e resultou num volume

final de 7.540 m3 e uma área de deposição de 13.500 m2.

As velocidades obtidas na modelagem são mostradas na Figura 5.22 e

correspondem às velocidade da frente do movimento, da parte traseira do

movimento e velocidades máxima e mínima. Foram estabelecidos pontos de

controle a diferentes distâncias da zona de iniciação do movimento: 100, 200, 300,

400, 500, 600, 700 e 750 m, para as quais foram obtidas velocidades de 6,8, 4,6,

2,8, 5,5, 8,0, 4,5, 1,0 e 0,0m/s, respectivamente.

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126

Legenda: Linha azul: velocidade da frente do movimento; Linha rosa: velocidade da parte traseira do

movimento; Linha vermelha: velocidade máxima; Linha preta: velocidade mínima.

Figura 5.22 – Variação da velocidade com a distância percorrida obtida da

modelagem com o programa DAN-W – Zona 2 de Córrego D´Antas.

A altura máxima do fluxo também foi obtida para cada ponto de controle, a a

cada 100 m desde a zona de iniciação até a zona de deposição, referentes a 100,

200. 300, 400, 500, 600, 700m e, como último ponto, 750 m. O DAN-W estimou

valores de altura máxima de fluxo iguais a 0,25, 0,15, 0,15, 0,15, 0,3, 0,6, 0,49 e

0,0 m, respectivamente.

A profundidade máxima de deposição também foi determinada para cada 100

m, obtendo resultados de 0,0 m de profundidade até 500 m de distância e 0,17, 0,40

e 0,0 m de profundidade para 600, 700 e 750 m de distância, respectivamente. Na

Tabela 5.12, estes valores são comparados com os obtidos pela modelagem 3D.

5.3.3.2. Hospital São Lucas

Para a modelagem do fluxo de detritos do Hospital São Lucas foram

utilizados três materiais para manter a consistência com a modelagem realizada em

3D. Os valores de coeficiente de atrito de 0,3 e coeficiente de turbulência de 600

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127

m/s2 foram mantidos e profundidades de erosão de 0,1 e 0,5m foram utilizadas para

a zona de iniciação e transporte, respectivamente.

A Figura 5.23 apresenta os principais parâmetros de entrada do DAN-W para

o fluxo de detritos representados pelo perfil e superfície superior do evento, perfil

de erosão, largura do canal e centros de gravidade inicial e final da corrida.

Legenda: Linha preta: perfil topográfico; Linha verde: superfície superior do movimento; Linha laranja:

perfil de erosão definida em cada local; Linha azul: largura do canal; Cruzes vermelhas: centros de gravidade

inicial e final do material.

Figura 5.23 – Principais caraterísticas do fluxo no DAN-W – Hospital São

Lucas.

Os resultados da modelagem no DAN-W indicaram uma distância percorrida

pelo fluxo de 815 m e extensão da área de deposição de 200 m. O movimento

começou com um volume de 1.000 m3, que erodiu o canal e resultou num volume

final de 16.440 m3 e uma área de deposição de 22.500 m2.

As velocidades obtidas na modelagem são apresentadas na Figura 5.24 e se

referem à velocidade da frente do movimento, da parte traseira do movimento,

máxima e mínima. Foram estabelecidos pontos de controle a diferentes distâncias

da zona de iniciação do movimento: 100, 200, 300, 400, 500, 600, 700 e 800 m,

para os quais foram determinadas velocidades de 11,4, 9,5, 8,7, 5,6, 3,6, 2,0, 2,1 e

1,5 m/s, respectivamente.

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128

Legenda: Linha azul: velocidade da frente do movimento; Linha rosa: velocidade da parte traseira do

movimento; Linha vermelha: velocidade máxima; Linha preta: velocidade mínima.

Figura 5.24 – Variação da velocidade com a distância percorrida obtida da

modelagem com o programa DAN-W – Hospital São Lucas.

A altura máxima do fluxo foi obtida nos pontos de controle localizados a 100,

200, 300, 400, 500, 600, 700 e 800m de distância da zona de iniciação, resultando

em alturas máximas de fluxo iguais a 0,42, 0,25, 0,25, 0,82, 1,46, 0,30 e 0,95 m,

respectivamente.

A profundidade máxima de deposição também foi determinada a cada 100 m,

obtendo resultados de 0 m de profundidade até 400m de distância e 0,8, 0,3, 0,95 e

1,5 m de profundidade para 500, 600, 700 e 800 m de distância, respectivamente.

5.3.4. Análise dos resultados

Apresenta-se uma comparação dos principais parâmetros obtidos das

simulações realizadas com o DAN-W e DAN3D. Os valores calculados com cada

programa são comparados com os valores observados e medidos após o evento.

Seguidamente comparam-se os resultados obtidos da modelagem em 2D com os

obtidos da modelagem em 3D.

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129

A encosta de Córrego D’Antas foi dividida em duas zonas para fazer as

análises. A zona 1 corresponde com os canais de fluxo 1 e 2 e a zona 2 com os

canais 3 e 4 mostrados na Figura 5.18.

5.3.4.1. Córrego D’Antas – Zona 1

A Zona 1 de Córrego D’Antas compreende uma zona de iniciação com

aproximadamente 1.000 m3 de volume inicial. A Tabela 5.7 apresenta os valores

obtidos das análises realizadas na Zona 1 de Córrego D’Antas.

Figura 5.7 – Comparação de resultados numéricos do DAN-W e DAN3D e

valores reais observados no fluxo de detritos - Zona 1 de Córrego D’Antas.

Parâmetro

Valores observados e

calculados Diferenças Percentuais

Observado DAN-W DAN3D DAN-W

Observado

DAN3D

Observado

DAN-W

DAN3D

Distância percorrida (m) 780 850 790 9 1 8

Extensão da área de deposição (m) 115 90 110 22 4 18

Volume final (m3) 10.000 11.800 10.500 18 5 12

Área de deposição (m2) 20.000 15.000 19.750 25 1 24

As diferenças percentuais para a distância percorrida obtidas numericamente

em relação ao valor observado no evento variam entre 1 e 9%. A extensão da área

de deposição foi aproximada pelas simulações numéricas com diferença percentual

entre 4 e 22%. Estes parâmetros são considerados de grande importância para as

medidas de proteção e convivência.

As simulações reportam resultados de volume final com variação porcentual

entre 5 e 18% e as áreas de deposição entre 1 e 25%.

Em geral, as diferenças percentuais entre os resultados das simulações 2D,

3D e os valores observados ficaram entre 1 e 25 %, reforçando que os modelos são

consistentes entre si. Naturalmente, as maiores diferenças percentuais são referentes

aos resultados do programa DAN-W, pois os dados de entrada topográficos são

mais limitados do que o DAN3D que trabalha com o MED do local.

A Figura 5.25 apresenta a variação de velocidade com a distância da zona de

iniciação calculada com as modelagens numéricas 2D e 3D ao longo da trajetória

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130

do fluxo de detritos. A Tabela 5.8 apresenta um resumo destes resultados e os erros

percentuais.

Figura 5.25 – Comparação das velocidades máximas calculadas com DAN-

W e DAN3D em função da distância percorrida - Zona 1 de Córrego D’Antas.

Tabela 5.8 – Comparação de velocidades instantâneas numéricas - Zona 1 de

Córrego D’Antas.

Distância da

zona de

iniciação (m)

Velocidade máxima instantânea (m/s) Diferenças percentuais

DAN-W e DAN3D DAN-W DAN-3D

100 9,9 10,5 6

200 6,2 7,9 22

300 3,2 5,5 42

400 3,5 4,3 19

500 4,7 4,5 4

600 3,5 2,5 40

700 3,6 2,6 38

750 3,5 2,0 75

A Figura 5.25 indica a mesma tendência dos resultados em ambas as

modelagens. Entretanto, no trecho inicial, entre os 0 e 400 m de distância

percorrida, as velocidades calculadas pelo DAN-W são inferiores às calculadas pelo

DAN3D. Por sua vez, no trecho final, entre os 400 e 500 m de distância percorrida,

as velocidades calculadas pelo DAN3D são inferiores às calculadas pelo DAN-W.

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131

A Tabela 5.8 permite uma melhor comparação dos resultados, considerando

as velocidades instantâneas nos pontos de controle a cada 100 m. Observa-se que

as diferenças percentuais variam de 4 a 75%, com as maiores diferenças

correspondentes ao trecho final da trajetória do fluxo de detritos.

A Tabela 5.9 apresenta os valores numéricos obtidos com Dan-W e DAN3D

referentes à altura máxima do fluxo e profundidade máxima de deposição. As

diferenças percentuais entre os resultados das duas modelagens variam de 5 e 50 %.

Tabela 5.9 – Valores numéricos de altura máxima do fluxo e profundidade

máxima de deposição - Zona 1 de Córrego D’Antas.

Parâmetro Distância da zona de iniciação (m) DAN-W DAN-3D Diferença percentual

DAN-W e DAN3D

Altura máxima

do fluxo (m)

100 0,37 0,40 8

200 0,16 0,26 38

300 0,15 0,23 35

400 0,15 0,17 12

500 0,3 0,20 50

600 0,2 0,16 25

700 0,6 0,70 14

750 0,8 0,60 33

Profundidade

máxima de

deposição (m)

100 0,0 0,0 0

200 0,0 0,0 0

300 0,0 0,0 0

400 0,0 0,0 0

500 0,0 0,0 0

600 0,2 0,0 0

700 0,6 0,46 30

750 0,6 0,57 5

5.3.4.2. Córrego D’Antas – Zona 2

A Zona 2 de Córrego D’Antas compreende uma zona de iniciação com

aproximadamente 500 m3 de volume inicial. A Tabela 5.10 apresenta os valores

obtidos das análises realizadas na Zona 2 de Córrego D’Antas.

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132

Tabela 5.10 – Comparação de resultados numéricos do DAN-W e DAN3D e

valores reais observados no fluxo de detritos - Zona 2 de Córrego D’Antas.

Parâmetro

Valores observados e

calculados Diferenças Percentuais

Observado DAN-W DAN3D DAN-W

Observado

DAN3D

Observado

DAN-W

DAN3D

Distância percorrida (m) 770 750 770 3 0 3

Extensão da área de deposição (m) 200 250 190 25 5 32

Volume final (m3) 7.000 7.540 7.500 8 7 1

Área de deposição (m2) 15.000 13.500 14.900 10 1 9

Os valores de distância percorrida obtidas com as modelagens numéricas

variam de 0 a 3% em reação aos valores observados no evento. A extensão da área

de deposição foi aproximada pelas simulações numéricas com diferença percentual

entre 5 e 25%. As simulações numéricas reportam resultados de volume final com

variação percentual entre 7 e 8% do valor observado e as áreas de deposição entre

1 e 10%. Estes valores são importantes para a realização de análises de risco.

Em geral, as diferenças percentuais entre os resultados das simulações 2D,

3D e os valores observados variaram entre 1 e 32 %, reforçando que os modelos

são consistentes entre si. Naturalmente, as maiores diferenças porcentuais são

obtidas com os resultados do programa DAN-W, pois o input de topografia é mais

limitado do que o DAN3D que trabalha com um MED do local.

A Figura 5.26 apresenta a variação de velocidade com a distância da zona de

iniciação calculada com as modelagens numéricas 2D e 3D ao longo da trajetória

do fluxo de detritos. Observa-se que a mesma tendência dos resultados em ambas

as modelagens. Note-se que acontece o mesmo que na Zona 1, onde no trecho

inicial, entre os 0 e 400 m de distância percorrida, as velocidades calculadas pelo

DAN-W são inferiores as calculadas pelo DAN3D. No trecho final, entre os 400 e

500 m de distância percorrida, as velocidades calculadas pelo DAN3D são

inferiores às calculadas pelo DAN-W.

A Tabela 5.11 apresenta um resumo destes resultados e os erros percentuais,

considerando as velocidades obtidas nos pontos de controle a cada 100 m. As

diferenças percentuais se encontram no intervalo de 10 a 42%. Nota-se ainda que

no último ponto de controle não é possível comparar os valores, pois a distância

percorrida pelo DAN-W foi inferior à calculada pelo DAN3D.

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133

Figura 5.26 – Comparação das velocidades máximas calculadas com DAN-

W e DAN3D em função da distância percorrida - Zona 2 de Córrego D’Antas.

Tabela 5.11 – Comparação de velocidades instantâneas numéricas - Zona 2

de Córrego D’Antas.

Distância da

zona de

iniciação (m)

Velocidade máxima instantânea (m/s) Diferenças percentuais

DAN-W e DAN3D

DAN-W DAN-3D

100 6,8 10,4 35

200 4,6 7,9 42

300 2,8 4,8 42

400 5,5 6,1 10

500 8,0 5,7 40

600 4,5 3,4 32

700 1,0 1,5 33

750 - 0,6 -

Em relação aos valores determinados numericamente pelo Dan-W e DAN3D

referentes à altura máxima do fluxo e a profundidade máxima de deposição, a

Tabela 5.12 resume os resultados e os compara entre si. As diferenças percentuais

variam de 0 a 32 % para estes parâmetros.

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134

Tabela 5.12 – Valores numéricos de altura máxima do fluxo e profundidade

máxima de deposição - Zona 2 de Córrego D’Antas.

Parâmetro Distância da zona de iniciação (m) DAN-W DAN-3D Diferença percentual

DAN-W e DAN3D

Altura máxima

do fluxo (m)

100 0,25 0,35 29

200 0,15 0,20 25

300 0,15 0,22 32

400 0,15 0,20 25

500 0,30 0,25 20

600 0,60 0,49 22

700 0,49 0,51 4

750 - 0,20 -

Profundidade

máxima de

deposição (m)

100 0,00 0,00 -

200 0,00 0,00 -

300 0,00 0,00 -

400 0,00 0,00 -

500 0,00 0,00 -

600 0,17 0,23 26

700 0,40 0,40 0

750 - 0,20 -

5.3.4.3. Hospital São Lucas

No caso do Hospital São Lucas foi considerado um volume inicial de 1.000

m3 de material. A Tabela 5.13 apresenta os valores obtidos das análises realizadas

para o fluxo de detritos.

Os valores de distância percorrida obtidos pelas modelagens numéricas

resultaram ser satisfatórios, pois as diferenças percentuais variam entre 1 e 2 % em

relação ao valor observado/medido após o fluxo de detritos.

A extensão da área de deposição foi aproximada pelas simulações numéricas

com diferença percentual entre 5 e 10 %, correspondendo a uma variação de apenas

10 m em relação ao valor observado no evento. A Figura 5.27 mostra a capacidade

dos dois programas de modelar um depósito de material que ficou no meio da

encosta, conforme constatado em campo.

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135

Tabela 5.13 – Comparação de resultados numéricos do DAN-W e DAN3D e

valores reais observados no fluxo de detritos - Hospital São Lucas.

Parâmetro

Valores observados

e calculados Diferenças Percentuais

Observado DAN-W DAN3D DAN-W

Observado

DAN3D

Observado

DAN-W

DAN3D

Distância percorrida (m) 830 815 840 2 1 3

Extensão da área de deposição (m) 200 180 190 10 5 5

Volume final (m3) 12.000 16.440 12.500 37 4 32

Área de deposição (m2) 25.000 22.500 23.580 10 6 5

As modelagens numéricas forneceram valores de volume final que variam

entre 4 e 37% do valor estimado para o evento. O programa DAN-W superestimou

o valor em 4.440 m3 e o DAN3D subestimou o valor em 500 m3. Estes resultados

evidenciam a importância dos dados de topografia e comprovam a maior

capacidade do DAN3D, visto que fornece uma melhor aproximação ao utilizar um

MED, ao contrário do DAN-W que utiliza apenas um perfil baseado em dados

topográficos.

Valores da área de deposição obtidos com as modelagens apresentaram

diferenças percentuais entre 6 e 10% em relação ao valor observado no evento. O

DAN3D apresentou a melhor aproximação, porém subestimou o valor observado

em 1.420 m3. Estes resultados comprovam novamente que o DAN3D consegue

obter melhores aproximações da distribuição final do material em comparação com

o DAN-W. Porém, pela magnitude de evento considera-se que ambas as

aproximações são razoáveis para um estudo de análise de risco.

Em geral, as diferenças percentuais entre os resultados das simulações 2D e

3D ficaram entre 3 e 32 %, reforçando que os modelos são consistentes entre si.

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136

Figura 5.27 – Modelagens do fluxo de detritos do Hospital São Lucas

mostrando material depositado no meio da encosta: (a) Resultados do DAN-W; (b)

Resultados do DAN3D; (c) Vista aérea.

A Figura 5.28 apresenta a variação de velocidade instantânea com a distância

da zona de iniciação calculada com as modelagens numéricas 2D e 3D ao longo da

trajetória do fluxo de detritos. Observa-se que a mesma tendência dos resultados

em ambas as modelagens. Entretanto, no trecho inicial, há uma variação relevante,

a qual pode ser relacionada à forma de construção da zona de iniciação de cada

programa.

A Tabela 5.14 apresenta um resumo destes resultados e os erros percentuais,

considerando as velocidades obtidas nos pontos de controle a cada 100 m. As

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137

diferenças percentuais se encontram no intervalo de 3 a 60%, sendo maiores no

trecho final, após os 600 m.

Figura 5.28 – Comparação das velocidades máximas calculadas com DAN-

W e DAN3D em função da distância percorrida – Hospital São Lucas.

Tabela 5.14 – Comparação de velocidades instantâneas numéricas - Hospital

São Lucas.

Distância da

zona de

iniciação (m)

Velocidade máxima instantânea (m/s) Diferenças percentuais

DAN-W e DAN3D DAN-W DAN-3D

100 11,4 9,5 20

200 9,5 7,7 23

300 8,7 7,3 19

400 5,6 5,1 10

500 3,6 3,7 3

600 2,0 3,8 47

700 2,1 5,3 60

800 1,5 2,9 48

A Figura 5.15 apresenta os valores numéricos obtidos do DAN-W e DAN3D

para altura máxima do fluxo e a profundidade máxima de deposição em função dos

pontos de controle a cada 100 m de distância da zona de iniciação. As modelagens

2D e 3D apresentam diferenças percentuais entre 5 e 33 % para estes parâmetros.

Ressalta-se que a comparação de valores locais geralmente mostra grandes

dispersões.

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138

Tabela 5.15 – Valores numéricos de altura máxima do fluxo e profundidade

máxima de deposição – Hospital São Lucas.

Parâmetro Distância da zona de iniciação (m) DAN-W DAN-3D Diferença percentual

DAN-W e DAN3D

Altura máxima

do fluxo (m)

100 0,42 0,35 20

200 0,25 0,21 19

300 0,25 0,20 25

400 0,82 0,78 5

500 1,46 1,20 22

600 0,30 0,45 33

700 0,95 1,00 5

800 1,50 2,00 25

Profundidade

máxima de

deposição (m)

100 0,00 0,00 0

200 0,00 0,00 0

300 0,00 0,00 0

400 0,00 0,00 0

500 0,80 0,70 14

600 0,30 0,00 -

700 0,95 1,00 5

800 1,50 2,00 25

Deve-se considerar que realizar comparações instantâneas de velocidade,

altura de fluxo ou profundidade máxima de deposição é importante para a projeção

de medidas de proteção, visto que é necessário conhecer o comportamento do

movimento em um local especifico. Porém, é possível encontrar diferenças

porcentuais entre os resultados, pois os valores obtidos às vezes apresentam grande

dispersão num mesmo local.

5.3.4.4. Considerações finais

Este capítulo apresenta a metodologia para calibração dos parâmetros

utilizada para encontrar uma primeira aproximação dos parâmetros reológicos de

cada material. Também apresenta os resultados das análises realizadas no DAN3D,

com as quais foram definidos os parâmetros a utilizar para cada material de acordo

com a reologia escolhida. Também são apresentados os resultados das modelagens

no programa DAN-W que utilizam os parâmetros definidos após a calibração no

DAN3D. Finalmente, são comparados os resultados obtidos em cada modelagem

(2D e 3D) com os valores medidos ou observados em campo e os valores obtidos

das modelagens 2D com os obtidos das modelagens 3D.

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De forma geral os valores entre as modelagens são consistentes, apresentando

o mesmo comportamento qualitativo nos eventos. Porém, são encontradas variações

significativas de até 50% em alguns casos de valores instantâneos. Desta forma,

deve-se verificar o propósito da modelagem. Para a seleção e dimensionamento de

medidas de proteção e convivência, os valores instantâneos são importantes e as

diferenças devem ser estudadas com cuidado. Por sua vez, as análises de risco

requerem a obtenção de diferentes cenários para um mesmo evento e aproximações

de valores como distância percorrida e área de deposição se tornam prioritárias.

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6. Conclusões e recomendações para futuras pesquisas

Esta pesquisa procurou contribuir para ampliar o conhecimento existente

sobre os movimentos de massa do tipo fluxo de detritos, além de gerar, em conjunto

com outros trabalhos de pesquisa do Grupo de Pesquisa sobre Debris Flow da

COPPE-UFRJ e PUC-Rio, uma base de dados sólida que possa ser utilizada no

futuro para prever estes movimentos através de simulações numéricas.

A pesquisa consistiu de diferentes atividades, destacando-se as seguintes:

Foram caracterizados 4 eventos de fluxos de detritos deflagrados por

precipitações de alta intensidade acontecidos na Costa Rica e no Brasil.

Foram determinados os principais parâmetros dos fluxos de detritos

estudados através da análise numérica dinâmica, em 2D e 3D;

Foram comparados os resultados obtidos das retroanálises realizadas em 3D

com as modelagens realizadas em 2D e as observações registradas para cada

um dos eventos estudados.

O objetivo deste capítulo é apresentar as conclusões do trabalho realizado e

recomendações que sirvam como guia para futuros trabalhos.

6.1. Conclusões

As conclusões desta pesquisa são divididas em conclusões gerais e específicas

sobre a modelagem numérica e os casos de estudo.

Em relação à análise dinâmica, destacam-se as seguintes:

Das modelagens numéricas realizadas foi corroborado que o modelo de Voellmy é

apropriado para simular eventos de fluxos de detritos;

A melhor forma de estimar os parâmetros reológicos do modelo de Voellmy é

utilizando ferramentas que permitam realizar análises de sensibilidade, como por

exemplo o módulo SENSAN do programa PEST. Em caso de não contar com uma

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ferramenta como o SENSAN, o programa o DAN-W apresenta-se como uma boa

opção para determinar os parâmetros reológicos do modelo de Voellmy, pois a

introdução dos dados de entrada é fácil e o tempo de simulação é relativamente

curto quando comparado com o DAN3D;

Foi encontrada boa correspondência entre os resultados obtidos pelo DAN-

W e o DAN3D, indicando que ambos os programas podem ser utilizados

para a simulação de fluxos de detritos;

Foi corroborado que o DAN3D é um programa que apresenta melhores

aproximações com os eventos reais do que o DAN-W, pois é um programa em 3D

que apresenta a distribuição espacial dos resultados e permite um melhor

entendimento do fenômeno;

A análise dinâmica no DAN3D mostrou alta sensibilidade à correta

bifurcação da zona de iniciação observada nos fluxos de detritos de Córrego

D’Antas e Hospital São Lucas;

A inserção dos dados de entrada do DAN-W é mais fácil e o tempo de computação

é inferior quando comparados com os do programa DAN3D, fazendo dele um

programa mais amigável;

O parâmetro de velocidade, obtido por meio de simulação numérica, diminui com

o aumento da trajetória do movimento. Porém, os parâmetros de altura do fluxo e

profundidade de deposição aumentam com o aumento da trajetória do movimento.

Em relação aos eventos de fluxo de detritos analisados, destacam-se as principais

conclusões:

i. Fluxo de detritos Calle Lajas

O evento foi iniciado como um pequeno escorregamento lateral de terra na

parte alta da encosta que se encaixou num talvegue existente, deflagrando

um segundo movimento de fluxo de detritos;

O programa DAN3D forneceu diferenças percentuais menores em

comparação ao DAN-W, exceto no caso de distância percorrida;

A maior diferença porcentual entre as modelagens no DAN-W e no DAN3D

foi de 17% para a extensão da área de deposição.

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ii. Fluxo de detritos Llano de la Piedra

O evento consistiu de um escorregamento rotacional na parte alta da encosta

que atingiu um depósito pretérito de colúvio, transformando-se em um fluxo

de detritos;

Este foi o único caso em que o programa DAN-W forneceu menores

diferenças porcentuais que os resultados do programa DAN3D ao se

comparar com os dados observados do evento;

A maior diferença porcentual entre as modelagens realizadas no DAN-W e

no DAN3D corresponde à área de deposição.

iii. Fluxo de detritos Córrego D’Antas

O evento de Córrego D’Antas teve seu início no topo do maciço rochoso,

no contato no contato solo/rocha, onde aconteceu um desprendimento de

material que prosseguiu orientado por uma linha de fraturas, gerando o fluxo

de detritos;

A maior diferença percentual entre as observações e a modelagem

corresponde à área de deposição com um valor de 25% e utilizando o

programa DAN-W;

A maior diferença percentual entre as modelagens realizadas no DAN-W e

no DAN3D também se refere à extensão da área de deposição.

iv. Fluxo de detritos Hospital São Lucas

O evento do Hospital São Lucas começou pela mobilização de vários blocos

de rocha que, misturados com solo, desceram pela escarpa rochosa na forma

de uma avalanche de detritos até atingir um talvegue no meio da encosta,

transformando-se num fluxo de detritos;

A maior diferença porcentual foi encontrada com o programa DAN-W para

o volume final com um valor de 37%;

A maior diferença porcentual entre as modelagens 2D e 3D corresponde ao

volume final com um valor de 32%.

De maneira geral, para os casos de estudo, é possível concluir que:

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A principal causa do início destes escorregamentos está associada com a

diminuição da resistência ao cisalhamento pelo aumento da poropressão, produto

da saturação do material da encosta;

Em todos os casos os fluxos de detritos foram iniciados por escorregamentos

de solo ou rocha, que se transformaram em fluxos de detritos, confirmando

que estes eventos são comuns em encostas íngremes em processo de

intemperismo;

A maior diferença percentual encontrada entre os programas DAN-W e

DAN3D foi para a extensão da área de deposição e para a área de deposição.

Porém, a comparação dos resultados obtidos das simulações pelo DAN-W

e o DAN3D é consistente e pode ser considerada razoável.

6.2. Recomendações para futuros trabalhos

Indicam-se como sugestões para futuros trabalhos:

Calibração de outros casos de estudo para aumentar a base de dados de

parâmetros reológicos;

Desenvolvimento de métodos para correlacionar os dados de saída dos

programas com as forças de impacto para o dimensionamento de estruturas

de mitigação e convivência;

Monitoramento e registro de eventos considerando os dados de entrada

necessários para realizar uma modelagem numérica;

Análise da susceptibilidade do modelo à taxa de erosão no programa

DAN3D;

Análises comparativas mediante simulações com os programas DAN-W e

DAN3D e outros programas disponíveis no mercado como RAMMS ou

MADFLOW;

Análises comparativas das simulações realizadas com equações empíricas

encontradas na literatura;

Desenvolvimento de técnicas para estimar a profundidade de erosão

máxima e taxa de erosão baseadas em observações de campo.

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