ana - lei das Águas

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Apostila do curso sobre a Lei das Águas oferecido pela Agência Nacional de Águas.

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Page 1: ANA - Lei Das Águas

Autoinstrucional - 20hLei das Águas

Capacitação para o Singreh

Page 2: ANA - Lei Das Águas

1

Módulo 1 – Política Nacional de Recursos Hídricos: fundamentos,

objetivos e diretrizes

Neste módulo você conhecerá a Política Nacional de Recursos Hídricos, seus fundamentos, objetivos e

diretrizes, compreendendo, sobretudo, a importância desses aspectos e a sua aplicação nas diversas

situações existentes. E conhecerá diversos conceitos relativos às águas, como: ciclo da água, bacia

hidrográfica, qualidade da água, dentre outros.

Page 3: ANA - Lei Das Águas

2

Sumário 1.1 Introdução .............................................................................................................................................................................. 3

1.2 Os Fundamentos da Lei das Águas ................................................................................................................................... 6

1.2.1 O primeiro fundamento: A água é um bem de domínio público 7

1.2.2 O segundo fundamento: a água é um recurso natural limitado, dotado de valor econômico. 9

1.2.3. O terceiro fundamento: Em situações de escassez, o uso prioritário dos recursos hídricos é o consumo humano e a dessedentação de animais 13

1.2.4 O quarto fundamento: A gestão dos recursos hídricos deve sempre proporcionar o uso múltiplo das águas 14

1.2.5 O quinto fundamento: A bacia hidrográfica é a unidade territorial para implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos e atuação do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos 20

1.2.6 Sobre o sexto fundamento: A gestão dos recursos hídricos deve ser descentralizada e contar com a participação do Poder Público, dos usuários e das comunidades 23

2. Os Objetivos da Lei das Águas .......................................................................................................................................... 26

2.1 O primeiro objetivo: Assegurar à atual e às futuras gerações a necessária disponibilidade de água, em padrões de qualidade adequados aos respectivos usos 26

2.2 O segundo objetivo: A utilização racional e integrada dos recursos hídricos, incluindo o transporte aquaviário, com vistas ao desenvolvimento sustentável 27

2.3 O terceiro objetivo: A prevenção e a defesa contra eventos hidrológicos críticos de origem natural ou decorrentes de uso inadequado dos recursos naturais 28

2.4 Ainda sobre os Objetivos 29

3. As Diretrizes das Lei das Águas ........................................................................................................................................ 30

3.1 A primeira Diretriz: A gestão sistemática dos recursos hídricos, sem dissociação dos aspectos de quantidade e de qualidade 31

3.2 A segunda Diretriz: A adequação da gestão de recursos hídricos às diversidades físicas, bióticas, demográficas, econômicas, sociais e culturais das diversas regiões do país. 31

3.3 A terceira Diretriz: A integração da gestão de recursos hídricos com a gestão ambiental 33

3.4 A quarta Diretriz: A articulação do planejamento de recursos hídricos com a dos setores usuários e com os planejamentos regional, estadual e nacional 33

3.5 A quinta Diretriz: A articulação da gestão de recursos hídricos com a do uso do solo; 33

3.6 A sexta Diretriz: A integração da gestão das bacias hidrográficas com a dos sistemas estuarinos e zonas costeiras 34

3.7 Ainda sobre as Diretrizes 34

Bibliografia: ................................................................................................................................................................................. 37

Glossário ..................................................................................................................................................................................... 38

Page 4: ANA - Lei Das Águas

3

1.1 Introdução

Estima-se que aproximadamente 12% do total mundial de água doce estão disponíveis no Brasil,

tornando-o, em termos quantitativos, um dos países mais ricos do mundo nesse recurso. Observa-se, no

entanto, grande variação de distribuição da água entre as diferentes regiões brasileiras: 81% do volume

total de águas de superfície se concentra na Região Norte, 8%, na Região Centro-Oeste, enquanto o

restante do país detém apenas 11% da água. É aí, porém, que vive 86% da população brasileira. A região

nordeste, que inclui a maior parte da região semiárida do Brasil, com precipitações médias baixas e

irregulares, é a que tem a menor disponibilidade de água do país.

Por que você acha que o Brasil instituiu uma política

específica para recursos hídricos?

Page 5: ANA - Lei Das Águas

4

Confrontando a contribuição média anual em termos de recursos hídricos das diferentes regiões

hidrográficas com as respectivas populações, é possível perceber claramente essas disparidades entre

disponibilidade de água e população. A região Amazônica, por exemplo, contribui com 4.161 km³/ano e

possui uma população de 9,7 milhões de habitantes, ao passo que a região Atlântico Leste, contribui com

uma parcela bastante inferior, 47 km³/ano, e possui uma população de 15,1 milhões de habitantes.

Situações como essa, onde há alta demanda e baixa disponibilidade de recursos hídricos

requerem uma atenção especial, já que os cuidados em relação aos recursos hídricos em um território

Contribuição média anual das regiões hidrográficas, em Km³

Page 6: ANA - Lei Das Águas

5

são estratégicos para o seu desenvolvimento, pois deles dependem a vida humana, os ecossistemas e

diversas atividades econômicas e sociais.

Nos últimos trinta anos, ocorreu um aumento considerável da pressão sobre os recursos hídricos

em função do crescimento demográfico e econômico do Brasil. Além do aumento da demanda, que tem

gerado conflitos de utilização em várias regiões do país, houve progressiva degradação da qualidade das

águas dos rios em virtude da intensificação das atividades industriais, agropecuárias e de mineração.

Assim, mesmo em situações onde não há restrições de natureza quantitativa, a degradação da qualidade

da água tem inviabilizado o seu uso para fins mais nobres. Essa é a situação nos grandes centros

urbanos brasileiros em diferentes regiões do país.

Para reverter essa situação e garantir a disponibilidade de água aos diferentes usos, não apenas

para a geração atual, mas também para as gerações futuras, é necessário fazer uma adequada gestão

dos recursos hídricos do nosso país.

Com esse objetivo, os legisladores brasileiros aprovaram a Lei nº 9.433, de 8 de janeiro de 1997,

a qual institui a Política Nacional de Recursos Hídricos – PNRH. Esse fato marcou a decisão do país de

enfrentar, com um instrumento moderno e inovador, o desafio de equacionar os potenciais conflitos

gerados pelo binômio disponibilidade-demanda em função do crescimento urbano, industrial e agrícola, e

o preocupante avanço da degradação ambiental de nossos rios e lagos.

E quais são os princípios (as bases, os pilares) que sustentam a PNRH?

É isso que você vai revisar ou conhecer agora, ao estudar os fundamentos da Lei nº 9.433/97,

conhecida como Lei das Águas. Nesse primeiro módulo do curso serão apresentados além dos

fundamentos, também os objetivos e as diretrizes da PNRH.

Vamos lá?

Page 7: ANA - Lei Das Águas

6

1.2 Os Fundamentos da Lei das Águas

A Política Nacional de Recursos Hídricos baseia-se nos seguintes fundamentos:

Paraíba do Sul

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7

d

1.2.1 O primeiro fundamento: A água é um bem de domínio público

Você sabe o que quer dizer um bem de domínio público? Bem de domínio público ou bem de uso comum do povo são aqueles que não pertencem ao

Estado, mas a toda coletividade, sem uma destinação específica, como, por exemplo, os mares, rios, estradas, ruas e praças.

Mas nem sempre a água foi considerada um bem público. No antigo Código de Águas, o Decreto nº 24.643/1934, havia a previsão da existência de “águas

particulares”. Entretanto, com a entrada em vigor da Lei nº 9.433/1997, essa disposição foi revogada. O domínio público da água, garantido pela Lei nº 9.433/1997, não transforma o Poder Público Federal e Estadual em proprietário da água, mas o torna gestor desse bem, no interesse de todos.

Como consequências da conceituação da água como “bem de uso comum do povo”, destacam-se:

I. A água é um bem de domínio público

II. A água é um recurso natural limitado, dotado de valor

econômico

III. Em situações de escassez, o uso prioritário dos recursos

hídricos é o consumo humano e a dessedentação de animais

IV. A gestão dos recursos hídricos deve sempre proporcionar o uso

múltiplo das águas

V. A bacia hidrográfica é a unidade territorial para

implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos e atuação do Sistema Nacional de

Gerenciamento de Recuross Hídricos

VI. A gestão dos recursos hídricos deve ser descentralizada e contar

com a participação do Poder Público, dos usuários e das

comunidades

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8

o uso da água não pode ser apropriado por uma só pessoa, física ou jurídica, com exclusão absoluta dos outros usuários em potencial;

o uso da água não pode significar a poluição ou a agressão desse bem;

o uso da água não pode esgotar o próprio bem utilizado; e

a concessão ou a autorização do uso da água deve ser motivada ou fundamentada pelo gestor público.

A água é um dos elementos do meio ambiente, portanto, a ela também se aplica o enunciado do

caput do art. 225 da Constituição Federal de 1988: “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.”

Bom, a água é um bem de domínio público, mas como se dá essa “dominialidade”?

Segundo a nossa Constituição Federal, são bens da União “os lagos, rios e quaisquer correntes de

água em terrenos de seu domínio, ou que banhem mais de um Estado, sirvam de limites com outros

países, ou se estendam a território estrangeiro ou dele provenham, bem como os terrenos marginais e as

praias fluviais.” Os corpos d’água não identificados como de domínio da União, isto é, inseridos

exclusivamente no território administrativo de um único estado ou do distrito federal são considerados rios

de domínio estadual, assim como as águas subterrâneas. Veja bem que, com a Constituição de 1988,

quaisquer águas subterrâneas passaram a ser de domínio estadual, cabendo ao mesmo o gerenciamento

desse recurso.

Dessa forma, podemos observar que somente a União e os Estados possuem dominialidade sobre

a água, o que não ocorre com os Municípios!

Observe a Figura que ilustra rios de domínio da União e do estado na Bacia Hidrográfica do Rio

Verde Grande (destaque para os rios de domínio da União que estão na cor vermelha e os de domínio

estadual estão na cor azul):

Page 10: ANA - Lei Das Águas

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1.2.2 O segundo fundamento: a água é um recurso natural limitado, dotado de valor econômico.

Este fundamento estabelece uma visão diferente daquela vigente no passado, de que a água era

um recurso ilimitado ou infinito.

Parece ser um paradoxo, pois vivemos em um planeta que tem água em abundância, ocupando

cerca de 70% da superfície terrestre. Entretanto, desse montante, 97,5% são de águas salgadas,

localizadas nos mares e oceanos, não sendo utilizáveis para a agricultura, a indústria ou o consumo

humano. A água doce remanescente, que representa 2,5% do total, também não está totalmente

disponível: 1,7% está na forma de geleiras e calotas polares, 0,75% encontra-se como água subterrânea

e menos de 0,01% é de água superficial.

Dominialidade dos Rios na Bacia Hidrográfica do Rio Verde Grande

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Quer dizer que a água doce disponível é menos de 0,01% de toda a água em nosso planeta?

Sim! E todos os dias ouvimos notícias alarmantes sobre o risco de escassez de água doce no

planeta!

Apesar de essas notícias darem a impressão de que a água está acabando, a quantidade de água

do planeta é praticamente a mesma há 2 bilhões de anos.

Na verdade, o que está diminuindo é a quantidade de água em qualidade apropriada para o

consumo. É claro que existem regiões em nosso planeta que são mais secas ou mais úmidas, com maior

ou menor volume de água em rios e lagos. Entretanto, os usos da água pelo ser humano são dia a dia

mais diversos e, além de estarmos consumindo mais, estamos poluindo nossas águas superficiais e

subterrâneas. Como consequência, a disponibilidade de água de boa qualidade vem diminuindo e

causando problemas em diversas regiões do nosso planeta.

Vejamos como está a qualidade da água em vários pontos dos rios do nosso país. Para essa análise, usaremos como referência o Índice de Qualidade da Água - IQA, que mostra principalmente o impacto da contaminação da água pelo lançamento de esgotos que, apesar de não ser a única fonte de poluição dos rios é a principal causadora de problemas de qualidade da água no Brasil.

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Fonte: Conjuntura, 2012

IQA no ano de 2010

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12

Assim, a água no planeta tem um ciclo, que é fechado, mas sua deterioração leva a

impossibilidades de usos, que a torna um recurso limitado.

Vamos entender melhor o ciclo da água?

A água em nosso planeta participa de um movimento ininterrupto: o ciclo da água ou ciclo

hidrológico.

O calor do sol promove o aquecimento das águas dos rios, lagos e oceanos e essas, juntamente

com a transpiração de plantas e animais, evaporam, passando do estado líquido ao gasoso. Esse vapor

quente, mais leve que o ar, vai subindo às camadas mais altas da atmosfera. Como nas camadas

superiores da atmosfera a temperatura é mais baixa do que nas camadas inferiores, o vapor d’água, ao

encontrar uma temperatura menor, esfria e se torna líquido novamente (condensação), formando as

nuvens. Quando as nuvens estão “cheias” de gotículas de água, ocorre a precipitação.

A precipitação não ocorre apenas sob a forma de chuva. Em regiões muito frias, a água pode se

precipitar como neve ou granizo. Nem toda água precipitada, entretanto, chega ao solo. Parte dela

evapora no caminho, voltando à atmosfera para reiniciar o ciclo.

Quando chega ao solo, a água precipitada se infiltra, preenchendo os espaços porosos que

existem entre as partículas que o compõem. A água infiltrada pode ficar retida em camadas do solo mais

próximas à superfície ou percolar a níveis mais profundos e abastecer os aquíferos e lençóis freáticos. A

água que infiltra no solo pode voltar à superfície, formando as nascentes dos rios.

As águas precipitadas que não se infiltram nos solos escoam pelas superfícies até as partes mais

baixas dos terrenos, formando os rios e lagos.

Verifique na imagem, a seguir, como ocorre o ciclo da água ou hidrológico.

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13

Imagem

Além de tratar a água como um recurso natural limitado, a Lei nº 9.433/97 atribuiu também à água

valor econômico. Assim, o uso da água tem um valor que pode ser mensurado a partir dos preceitos da

economia.

Quanto mais escasso um recurso, maior valor econômico ele tem. Bens como a terra e o ouro

foram adquirindo maior valor econômico à medida que se tornaram mais escassos, já que o valor destes

bens é definido pela relação entre oferta e procura quando da sua negociação no mercado.

A água no Brasil, entretanto, é um bem de domínio público e não pode ser negociada no mercado.

Logo, o seu valor não pode ser definido pela relação entre oferta e procura. Não obstante esse fato, a

ciência econômica oferece algumas metodologias para valorar a água.

A Lei das Águas estabeleceu entre os instrumentos da PNRH a cobrança pelo uso dos recursos

hídricos, que veremos em detalhe no Módulo 2. A cobrança objetiva justamente propiciar à sociedade a

noção de que a água é um recurso limitado e que deve ser valorizada como tal.

Assim, o reconhecimento do valor econômico da água contribui para diminuir o desperdício, é

estratégico na regulação da oferta e demanda pelo uso da água e gera recursos financeiros para investir

em projetos que visam melhorar a qualidade e disponibilidade de água num determinado território.

1.2.3. O terceiro fundamento: Em situações de escassez, o uso prioritário dos recursos hídricos é

o consumo humano e a dessedentação de animais

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O consumo humano compreende o uso para as necessidades mínimas de cada pessoa, isto é,

água para beber, para comer e para a higiene. Não está incluído o uso para o lazer, como piscinas e nem

para jardinagem. A preocupação maior e prioritária em caso de escassez é o ser humano.

Além de privilegiar o consumo humano, a Lei das Águas prioriza a dessedentação de animais, isto

é, assegura saciar a sede dos animais. Dessa forma, coloca a vida em primeiro plano, e define um

compromisso social em que a vida humana e dos animais prevalece aos interesses econômicos.

1.2.4 O quarto fundamento: A gestão dos recursos hídricos deve sempre proporcionar o uso

múltiplo das águas

Page 16: ANA - Lei Das Águas

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Fonte: Governo Local e Gestão Integrada de Recursos Hídricos (GIRH). Parte I; Colhendo os Benefícios – Como

os Governos Locais Beneficiam com a GIRH (Cox, D. et. al., 2008). Desenho: Purple Boa Creations

Dentre os vários usos da água, a Lei nº 9.433/1997 menciona:

o consumo humano;

a dessedentação animal;

o abastecimento público;

a diluição, o transporte ou a disposição final de efluentes;

o aproveitamento de potenciais hidrelétricos;

o transporte aquaviário.

Há ainda muitos outros usos que não foram citados na Lei das Águas, o que não significa que não

sejam importantes ou não sejam abrangidos pela gestão integrada dos recursos hídricos, tais como o uso

na indústria para a fabricação de inúmeros produtos e na irrigação para a produção de alimentos.

Dependendo do uso a ser dado, a água requer um determinado padrão de qualidade. Por exemplo,

uma água para abastecimento humano precisa de uma qualidade superior à da água utilizada para o

transporte aquaviário. Você verá mais detalhes sobre a relação entre usos e qualidade da água no

módulo 3.

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16

Os interesses sobre os usos da água são bastante distintos e condicionam um olhar particular do

interessado. Pode-se imaginá-lo sob várias perspectivas.

Do ponto de vista do ecologista, a maior preocupação é com a qualidade e a quantidade das

águas que garanta a conservação do ecossistema aquático.

Sob a ótica do setor energético, a atenção se volta, sobretudo, para a quantidade de água

necessária para mover as turbinas das usinas e garantir a produção de energia.

A visão dos irrigantes, por sua vez, se fixa na garantia de água, em quantidade e qualidade,

para o desenvolvimento de suas culturas.

Para pessoas que desempenham atividades ligadas ao lazer e ao turismo, o importante é que o

ambiente aquático corresponda aos anseios de seus visitantes, seja para prática de esportes,

banho ou contemplação.

Já para a empresa de saneamento, o interesse volta-se tanto à qualidade quanto à quantidade

de água para distribuição à população.

O foco da atenção das empresas responsáveis pela navegação são as condições da via

navegável: nível de água e condições da calha do rio.

Já para os pescadores, importa se o rio tem possibilidade de manter as espécies de peixes e

em quantidade adequada para pesca.

Compatibilizar todas essas visões e interesses não é tarefa fácil! A água disponível em uma bacia

hidrográfica tem que atender a demandas muitas vezes concorrentes:

Qual a quantidade de água necessária para a manutenção do ecossistema aquático? E em que

condições?

São as mesmas para a geração de energia?

E para a irrigação?

O uso para irrigação está concorrendo com as necessidades das hidrelétricas?

O lançamento de esgoto doméstico condiz com a qualidade necessária da água para o

abastecimento humano?

E a indústria?

Quanto necessita de água para diluir seus efluentes sem causar problemas para o

abastecimento humano?

Vejamos um caso real...

Na bacia hidrográfica do rio São Francisco existem 504 municípios, em sete Unidades da

Federação – Alagoas, Bahia, Distrito Federal, Goiás, Minas Gerais, Pernambuco e Sergipe. Segundo

dados do Plano de Recursos Hídricos da Bacia de 2004, vivem ali cerca de 16 milhões de pessoas.

A bacia hidrográfica do rio São Francisco é considerada estratégica para o país tanto pela sua

extensão e disponibilidade de água quanto pelas múltiplas atividades produtivas nela desenvolvidas

(Figura XXX).

Page 18: ANA - Lei Das Águas

17

Figura XX – Múltiplos usos da água na bacia hidrográfica do rio São Francisco.

O maior parque industrial da bacia está situado em sua parte alta, mais próxima da nascente, no

Estado de Minas Gerais. Nos trechos médio e baixo da bacia a água é mais utilizada para a agricultura

irrigada. São cerca de 340 mil hectares irrigados em toda a bacia.

A navegação é realizada principalmente em seu trecho médio. O uso da água para o

abastecimento humano e para a diluição de efluentes, também, se estende por toda a bacia. A pesca

artesanal, apesar de seu declínio, ainda representa a fonte de sobrevivência de muitas famílias.

Em relação ao potencial hidráulico para geração de energia, existe uma capacidade instalada que

corresponde a cerca de 14% de todo o potencial energético do país.

Há não só a concorrência entre usos e usuários internos, mas também com usos externos à bacia:

o Projeto de Integração do Rio São Francisco com as Bacias Hidrográficas do Nordeste Setentrional

(Projeto de Transposição) é um exemplo de demanda para usar fora da bacia uma parte de suas águas.

Nem sempre a quantidade ou a qualidade da água presentes são adequadas ou suficientes para

atender às demandas dos diferentes usos. Nessas oportunidades, o conjunto complexo de usos e

usuários pode gerar embates entre os interessados defendendo, cada qual, distintos pontos de vista

sobre o uso da água.

Page 19: ANA - Lei Das Águas

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A seguir, são apresentados exemplos de depoimentos que ilustram os diferentes pontos de vista de

agentes diretamente envolvidos com a gestão das águas:

Geração de Energia: “A água do São Francisco é a matéria prima principal da Companhia

Hidroelétrica do São Francisco – CHESF. Ela tem ciência de que essa matéria prima é fundamental

para a vida e para todos os setores da sociedade que a utilizam. A CHESF utiliza essa água

obedecendo a diretrizes, regras e restrições e na palavra restrição está implícito o respeito a todos

os outros usos. Essas restrições são estabelecidas visando atender os outros usos da água –

navegação, irrigação, pesca, turismo, lazer entre outros.” (Sonali Cavalcante, Gerente da Divisão de

Gestão de Recursos Hídricos da CHESF, 2008).

Representante dos povos indígenas: “A gente tem a certeza, hoje, que as barragens estão para

servir ao capital e não a necessidade do povo que vive em suas margens. O que foi citado pelas

apresentações, na reunião do Comitê, a água está para a geração de energia, para não ter apagão

e manter a chama acesa da barragem.” (Maria José Gomes Marinheiro, Povo Tumbalalá, 2008).

Saneamento: “A água é elemento fundamental para a vida, portanto, os cursos de água devem ser

protegidos. Um dos maiores problemas do saneamento é o despejo de esgotos sanitários e

industriais, sem tratamento adequado, nestes cursos de água. A recuperação dos cursos de água

deve sempre ser conduzida por bacias hidrográficas visando otimizar os recursos financeiros, que

no Brasil, são escassos.” (Valter Vilela, representante da Companhia de Saneamento de Minas

Gerais (COPASA/MG) e vice-presidente do CBH do Rio das Velhas, 2009).

Indústria: “O setor industrial sofre as interferências dos outros usos na maioria das bacias

hidrográficas hoje, especialmente aquelas que drenam áreas urbanas. O setor paga caro por um

pré-tratamento da água antes de ser utilizada nos seus processos, pois quase sempre capta esgoto

doméstico. O setor paga caro também na mídia, quando investe milhões em estações de tratamento

de efluentes, mas os resultados são imperceptíveis por lançar em verdadeiros esgotos a céu aberto.

Sem falar em usos clandestinos e sem planejamento, a gerar conflitos, mesmo em bacias com

potencial hídrico, e colocar em risco o investimento e tornar improvável qualquer ampliação futura.”

(Patrícia Boson, representante da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais – FIEMG no

CBH Doce, 2009).

Irrigação: “Devido às peculiaridades de nossa bacia, com clima semi-árido, a irrigação se torna, em

muitos casos, a única possibilidade de produção de alimentos, além de apresentar necessidades

hídricas superiores a de outras regiões do país. (...) O setor de irrigação sofre interferência

principalmente intrasetorial, ou seja, de outros irrigantes. Pela natureza de nosso uso, que utiliza um

grande volume em um ponto de captação e o distribui sobre uma grande extensão de terra,

acabamos funcionando como depuradores da poluição a montante, inclusive despejos sanitários. A

maior parte da água consumida, que é por evapotranspiração, é imediatamente purificada. A que

permanece no solo sofre a ação de microorganismos que decompõem os agentes poluentes em

Page 20: ANA - Lei Das Águas

19

elementos não poluentes.” (João Gustavo de Paula, representante da Farpal Agropastoril e

Participações Ltda., membro do CBH Verde Grande, 2009).

Esses depoimentos mostram nítidos conflitos de interesse pelo uso da água na bacia hidrográfica do

Rio São Francisco. A PNRH, ao estabelecer que a gestão deve sempre proporcionar o uso múltiplo das

águas, indica a necessidade de compatibilização desses interesses, entre os diversos setores usuários.

A Lei nº 9.433/1997 admitiu todas as demandas pela água como sendo legítimas e com igualdade de

condições para reivindicação do uso. Não há, a priori, um uso privilegiado, como ocorreu muitas vezes no

passado, quando se atribuiu ao setor hidrelétrico a prioridade do uso da água na busca do crescimento

econômico.

Vejamos também alguns exemplos de como a falta de planejamento e gestão tem colocado em risco os usos múltiplos da água no Brasil:

O rio Salitre, no Estado da Bahia, afluente do rio São Francisco, devido à intensificação da captação de água para o atendimento a projetos de irrigação, em determinados períodos do ano tem toda sua vazão comprometida, exigindo uma derivação das águas do rio São Francisco para atender outras demandas.

Outro exemplo é o rio Tietê, em São Paulo. A partir da década de 1940, com a industrialização crescente da capital paulista e seu entorno, acompanhada pelo aumento populacional, o rio sofreu um processo de degradação ambiental resultante do lançamento de efluentes domésticos e industriais. Isso gera uma situação na qual, apesar do rio Tietê cruzar a cidade de São Paulo, suas águas não podem ser utilizadas para abastecimento de seus habitantes.

Já no Sul do Brasil, há o exemplo da bacia do rio Itajaí, região propensa a problemas de enchentes. Com a extinção do antigo Departamento Nacional de Obras de Saneamento – DNOS, em 1990, a manutenção das estruturas de contenção de cheias foi gradativamente abandonada pelo Poder Público, fato que gerou a mobilização da sociedade local para a resolução do problema.

Diversos outros exemplos poderiam reforçar a necessidade de criação de arranjos institucionais

que promovam o acordo entre os setores usuários com as políticas públicas e com as múltiplas visões da sociedade civil para a adequada tomada de decisão sobre o destino das águas.

A negociação entre os usuários que convivem em uma mesma bacia hidrográfica e, portanto,

dispõem de uma determinada quantidade de água assume fundamental importância no processo de

gestão dos recursos hídricos. Vamos conhecer melhor sobre esse processo de negociação no Módulo 3,

quando tratarmos dos comitês de bacia hidrográfica.

Page 21: ANA - Lei Das Águas

20

1.2.5 O quinto fundamento: A bacia hidrográfica é a unidade territorial para implementação da

Política Nacional de Recursos Hídricos e atuação do Sistema Nacional de Gerenciamento de

Recursos Hídricos

A Lei das Águas delimitou uma unidade territorial para atuação e implementação da PNRH onde

deve se dar o gerenciamento dos recursos hídricos. A bacia hidrográfica é esta unidade territorial cuja

região é compreendida por uma área e por diversos cursos d’água. É definida como uma unidade porque

toda a água da chuva que cair em sua área e não evaporar irá escoar para um ponto comum de saída.

Necessariamente a bacia é contornada por um divisor de águas que são os pontos de máxima

cota entre bacias. É o divisor de águas que separa as precipitações que caem em bacias vizinhas. A

chuva que cai no interior da bacia parte escoa pela superfície e parte infiltra no solo. A água superficial

escoa até um curso d’água (rio principal) ou um sistema conectado de cursos d’água afluentes; essas

águas, normalmente, são descarregadas através de uma única foz (ou exutório) localizada no ponto mais

baixo da região.

Da parte infiltrada, uma parcela escoa para os leitos dos rios, outra parcela é evaporada através

da transpiração da vegetação e outra é armazenada no subsolo compondo os aquíferos subterrâneos.

A adoção da bacia hidrográfica como unidade territorial para a gestão dos recursos hídricos

permite o planejamento do uso das águas e favorece a integração das questões ambientais com a gestão

das águas uma vez que as atividades desenvolvidas nas áreas a montante do rio trazem implicações a

jusante dos corpos d’água .

Além disso, as diferentes unidades político-administrativas inseridas numa bacia hidrográfica se

“obrigam” a ações mais coordenadas e integradas, para defenderem os interesses que passam a ser

reconhecidos como sendo comuns, e não mais isolados. Afinal, a bacia hidrográfica pode abranger vários

municípios ou mesmo estados. Veja o exemplo da bacia do rio São Francisco, que abrange o Distrito

Federal e vários municípios dos estados de Alagoas, Bahia, Goiás, Minas Gerais, Pernambuco e Sergipe.

Page 22: ANA - Lei Das Águas

21

E você sabe qual a diferença entre bacia hidrográfica e sub-bacia?

As grandes bacias são compostas por várias sub-bacias, estas por outras tantas sub-bacias, e

assim sucessivamente, até chegar às microbacias. Na realidade, todas são bacias hidrográficas,

conforme definição apresentada no início deste item.

Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco

Page 23: ANA - Lei Das Águas

22

O que vai classificá-las como sub-bacias é o fato de estarem ou não inseridas em outra bacia com

maior área de drenagem, ou ainda, se seu curso d’água principal for afluente (tributário) do rio principal da

bacia maior.

Na Figura seguinte podem-se observar as relações entre bacias e sub-bacias em diferentes

escalas: a bacia do rio Araguari (5) é uma sub-bacia da bacia do rio Paranaíba (4), que é uma sub-bacia

da bacia do rio Paraná (3), que é uma sub-bacia da bacia do rio da Prata (2) – essa última composta por

territórios da Argentina, Bolívia, Brasil, Paraguai e Uruguai. Em (1) temos a localização da bacia do Prata

na América do Sul.

No exemplo acima a bacia de rio de 1ª ordem é a bacia do Paraná (3); a de 2ª ordem a do rio

Paranaíba (4); e a de 3ª ordem a do rio Araguari (5). Não se considera o Rio da Prata como de 1ª ordem

pois é um rio transfronteiriço.

É na unidade territorial bacia hidrográfica que se formam os comitês de bacias hidrográficas e,

segundo a Lei das Águas, os comitês terão como área de atuação: a totalidade de uma bacia; sub-bacia

hidrográfica de tributário do curso de água principal da bacia, ou de tributário desse tributário; ou grupo de

bacias ou sub-bacias contíguas. No módulo 2 aprenderemos mais sobre os comitês.

Bacia do rio Araguari e sua inserção nas demais bacias

Page 24: ANA - Lei Das Águas

23

1ª, 2ª e 3ª ordem? Mas o que é isso?

Segundo Villela e Mattos (1975), a ordem dos rios é uma classificação que reflete o grau de

ramificação ou bifurcação dentro de uma bacia. Utilizando um mapa da bacia bem detalhado no qual

fosse incluído todos os canais – quer sejam perenes, intermitentes ou efêmeros – os rios são

classificados da forma como é apresentada na Figura a seguir.

Fonte: /www.ufscar.br

São consideradas de primeira ordem as correntes formadoras, ou seja, os pequenos canais que

não tenham tributários; quando dois canais de primeira ordem se unem é formado um segmento de 2ª

ordem; a junção de dois rios de segunda ordem dá lugar à formação de um rio de terceira ordem e,

assim, sucessivamente: dois rios de ordem n dão lugar a um rio de ordem n + 1.

1.2.6 Sobre o sexto fundamento: A gestão dos recursos hídricos deve ser descentralizada e

contar com a participação do Poder Público, dos usuários e das comunidades

A gestão descentralizada e participativa privilegia as decisões locais.

Nas últimas décadas, a formulação e a implementação de políticas públicas têm agregado novos

paradigmas a esses processos: a gestão descentralizada e participativa tem se mostrado como uma

tendência internacional. Essa mudança tem sido justificada, principalmente, pela contribuição ao processo

de democratização das relações políticas e para aumentar a legitimidade das decisões tomadas e

contribuir para maior eficácia das políticas públicas implementadas.

Page 25: ANA - Lei Das Águas

24

A participação da sociedade na elaboração de orçamentos municipais, a criação de conselhos de

saúde, de trânsito, de segurança, de educação e, também, para debater questões relativas ao meio

ambiente são exemplos das novas formas institucionais criadas nas últimas décadas para estimular a

participação direta nos assuntos públicos.

Nesse contexto, a instituição da Política Nacional de Recursos Hídricos, definida pela Lei das

Águas, refletiu o esforço dos movimentos sociais e técnicos, que foram determinantes na criação de

arranjos institucionais e possibilitaram uma maior participação de setores da sociedade envolvidos na

gestão de recursos hídricos.

O Comitê de Bacia Hidrográfica é, assim, a instância-base, nessa nova forma de fazer política,

descentralizando várias decisões por bacia hidrográfica e contando com a participação dos poderes

públicos, dos usuários e das organizações da sociedade civil.

A gestão é descentralizada uma vez que as decisões serão tomadas em cada bacia hidrográfica

através dos seus comitês de bacias. É participativa porque a composição dos comitês de bacias

hidrográficas conta com o envolvimento do poder público, dos usuários e das comunidades, com

membros escolhidos por processo eletivo, no caso dos dois últimos.

Como você pode ver, os fundamentos que sustentam a PNRH inovam, em diversos aspectos, a forma de

legislar sobre os recursos hídricos:

Desmistifica a ideia de que a água é bem infinito e ilimitado,

Fornece voz a todos os usuários de água, indicando a necessidade de negociação e conciliação de

demandas conflitantes,

Dá vez a participação direta e decisória da sociedade sobre os recursos hídricos locais,

Traça um espaço geográfico delimitado como local de planejamento e ação,

Imprime o valor econômico à água e

Dá primazia a vida humana e dessedentação de animais na falta desse recurso.

Isso tudo, além de reconhecer o seu valor cultural, social e ambiental!

Agora é hora de fixar alguns conceitos!

Page 26: ANA - Lei Das Águas

25

EXERCÍCIO DE FIXAÇÃO Marque com V de verdadeiro ou F de falso:

1. ( ) A água é um bem de domínio público.

2. ( ) O gerenciamento dos recursos hídricos preconizado na Lei das Águas prioriza o setor agrícola para uso exclusivo dos recursos hídricos.

3. ( ) A bacia hidrográfica é a unidade territorial para o gerenciamento dos recursos hídricos, de acordo com a Lei nº 9.433/1997.

4. ( ) Em situação de escassez o uso prioritário dos recursos hídricos é o consumo humano e a dessedentação de animais.

5. ( ) Os comitês de bacias são considerados os parlamentos das águas, onde se discutem os destinos e interesses dos recursos hídricos locais.

6. ( ) A gestão dos recursos hídricos tem por base atualmente a centralização das decisões no poder público.

7. ( ) A gestão dos recursos hídricos deve sempre proporcionar o uso múltiplo das águas como irrigação, turismo, saneamento, aquicultura e geração de energia, entre outros.

8. ( ) A água tem valor econômico e é um bem de domínio público considerado limitado.

GABARITO COMENTADO:

1.V

2.F A gestão dos recursos hídricos deve sempre proporcionar o uso múltiplo das águas

3.V

4.V

5.V

6.F A gestão dos recursos hídricos tem por base atualmente a descentralização das decisões.

7.V

8. V

Page 27: ANA - Lei Das Águas

26

2. Os Objetivos da Lei das Águas

Os Objetivos referem-se ao que se almeja com a implementação da Política Nacional de Recursos

Hídricos.

Então, onde se quer chegar com o gerenciamento dos recursos hídricos?

O artigo 2º da Lei nº 9.433/1997 responde a essa pergunta que iremos detalhar mais adiante. São

objetivos da Lei:

2.1 O primeiro objetivo: Assegurar à atual e às futuras gerações a necessária disponibilidade de

água, em padrões de qualidade adequados aos respectivos usos

O primeiro objetivo está em sintonia com os princípios do desenvolvimento sustentável,

preocupando-se com a igualdade de acesso aos recursos naturais entre as diferentes gerações no

tempo, e esclarecendo nossa responsabilidade face ao futuro do planeta e dos nossos descendentes.

A legislação também define que disponibilidade de água se dará de acordo com padrões de

qualidade do uso pretendido.

I. Assegurar à atual e às futuras gerações a necessária disponibilidade de água, em padrões de qualidade adequados aos respectivos usos;

II. A utilização racional e integrada dos recursos hídricos, incluindo o transporte aquaviário, com vistas ao desenvolvimento sustentável

III. A prevenção e a defesa contra eventos hidrológicos críticos de origem natural ou decorrentes de uso inadequado dos recursos naturais

Page 28: ANA - Lei Das Águas

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Como já dissemos, os múltiplos usos da água possuem diferentes exigências em termos de

qualidade. Por exemplo, para se manter as comunidades aquáticas é necessário que a água esteja com

certo nível de oxigênio dissolvido, temperatura, PH, nutrientes, entre outros. Em contraste, para a

navegação, os requisitos de qualidade de água são bem menores, devendo estar ausentes os materiais

flutuantes e os materiais sedimentáveis que causam assoreamento.

Os padrões de qualidade a que se refere a Lei das Águas estão definidas e ligadas a Resolução nº 357 do CONAMA de 17 de março de 2005. Essa resolução dispõe sobre a classificação dos corpos de água e diretrizes ambientais para o seu enquadramento, bem como estabelece as condições e padrões de lançamento de efluentes, e dá outras providências. Esse assunto será visto com mais detalhes no Módulo 3.

2.2 O segundo objetivo: A utilização racional e integrada dos recursos hídricos, incluindo o

transporte aquaviário, com vistas ao desenvolvimento sustentável

Neste objetivo, fica explicitado o papel dos recursos hídricos no desenvolvimento nacional e de

modo sustentável, não apenas pelo uso deste recurso para as diversas atividades econômicas, mas

também pela possibilidade de integração do território. A utilização racional enfatiza o conceito de

sustentabilidade preconizado no objetivo anterior e é complementado neste objetivo.

Mas, qual é o histórico que permeia o gerenciamento dos recursos hídricos e o conceito de

desenvolvimento sustentável?

Os dois primeiros objetivos da Política Nacional de Recursos Hídricos estão intimamente ligados e repercutem uma demanda histórica de abrangência internacional, na qual o Brasil participou ativamente. Nesse contexto, a partir da década de 1970, observou-se no Brasil uma crescente preocupação com as questões relacionadas ao meio ambiente.

Em 1983, foi criada uma comissão da Organização das Nações Unidas – ONU para levantar os

principais problemas ambientais do planeta e sugerir estratégias para a preservação do meio ambiente.

Como resultado, foi elaborado o Relatório Brundtland que apontou para um desenvolvimento

econômico que não se dê em detrimento da justiça social e da preservação do planeta e que seja capaz

de suprir as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade de atendimento às gerações

futuras. Essa forma de desenvolvimento desejada deve ser sustentável.

Já em 1992 foi realizada a Conferência das Nações Unidas para o Ambiente e Desenvolvimento, conhecida como Rio – 92 ou Eco – 92. Nesse evento, representantes de 170 nações estiveram reunidos

Page 29: ANA - Lei Das Águas

28

e aprovaram, entre outros, uma agenda mínima de preservação e recuperação do meio ambiente – a Agenda 21, que orienta a visão de sustentabilidade da vida humana no planeta.

Em 1997, a criação da Lei das Águas refletiu essas tendências e preocupações e, incorporando

tendências mundiais, legitimou em seus dois primeiros objetivos o uso dos recursos hídricos inserido num contexto de desenvolvimento sustentável e colocou o Brasil dentre os países de legislação mais avançada do mundo no setor de recursos hídricos.

Mais recentemente, o tema escolhido para o 6° Fórum Mundial das Águas, realizado na França, foi “Tempo para Soluções”, com o objetivo de aumentar a importância da água na agenda política dos governos, aprofundar as discussões e trocas sobre as soluções para os atuais desafios e formular propostas concretas, chamando a atenção mundial para o uso racional e sustentável deste recurso. O Brasil teve uma participação ativa e o assunto desenvolvimento sustentável, como pode ser visto, continua em pauta!

Para saber mais: Visite: http://www.rio20.gov.br/ http://www.worldwaterforum6.org/en/

2.3 O terceiro objetivo: A prevenção e a defesa contra eventos hidrológicos críticos de origem

natural ou decorrentes de uso inadequado dos recursos naturais

No Brasil, por suas características de geologia e de clima, aparecem como desastres naturais mais

comuns as inundações, as secas e os deslizamentos de encostas, que estão fortemente relacionados à ocorrência de fenômenos climáticos, em especial os denominados 'eventos extremos'.

As ocorrências de inundações ou de secas têm chamado cada vez mais a atenção da opinião

pública, uma vez que causam impactos econômicos e sociais importantes. Em muitos casos, a exaustiva divulgação dos efeitos das mudanças do clima tem levado, precipitadamente, à conclusão de que a origem e intensificação desses eventos estão unicamente relacionadas às ditas mudanças.

Cabe lembrar que, além do impacto provocado pelas mudanças climáticas, os recursos hídricos se veem afetados por outros fatores de pressão, tais como: o aumento das demandas urbana, agrícola e hidrelétrica; a intensificação de certos processos de deterioração da qualidade da água; e o incremento da intervenção humana no meio ambiente.

O terceiro objetivo 3 da Política Nacional de Recursos Hídricos, ao declarar a prevenção e a defesa

de eventos críticos decorrentes de uso inadequado dos recursos naturais, reconhece a responsabilidade

humana em muitos dos eventos que ocorrem, como enchentes ou inundações e estiagens.

Reconhece também a capacidade humana de prevenir ou evitá-los por meio da ciência e da

tecnologia, em benefício da coletividade, principalmente por ações de prevenção e pela atuação na

eliminação ou diminuição dos fatores causadores dos eventos. Essas causas, entre outras, estão

Page 30: ANA - Lei Das Águas

29

intimamente ligadas ao uso inadequado do solo e a relevantes questões ambientais pouco consideradas

como a ausência de vegetação protetora das margens dos cursos d´água, ocupação inadequada de

encostas e o assoreamento dos leitos dos rios.

Esse objetivo se relaciona também ao princípio da precaução, importante na gestão de recursos

naturais e também ao fato de que ações antrópicas locais ou regionais podem ter impactos muito mais

amplos, como tem sido apontado em estudos sobre as mudanças climáticas.

Para saber mais: http://www.mct.gov.br/index.php/content/view/17685.html

2.4 Ainda sobre os Objetivos

É evidente que os princípios do desenvolvimento sustentável combinado com o princípio da

prevenção permeiam os objetivos da Política Nacional de Recursos Hídricos.

Tais princípios encontram-se em outras bases legais brasileiras como na Política Nacional de Meio

Ambiente (Lei nº 6.931/1981) e foram debatidos em diversos fóruns internacionais como na ECO-92 e

incorporados a legislação brasileira.

Os objetivos da Política Nacional de Recursos Hídricos são claros na indução do uso da água de

modo racional e equilibrado, sempre confluindo os interesses do dia de hoje sem esquecer o dia de

amanhã.

Vamos fixar nosso aprendizado?

EXERCÍCIO DE FIXAÇÃO Preencha com V de verdadeiro ou F de falso

1. ( ) Os objetivos da Política Nacional visam gerenciar os recursos hídricos valorizando as demandas atuais e desconsiderando as demandas futuras sobre os recursos hídricos.

2. ( ) Eventos críticos relacionados às águas não são reconhecidos na Lei das Águas, pois estão relacionados apenas com as mudanças climáticas.

Page 31: ANA - Lei Das Águas

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3. ( ) O gerenciamento das águas brasileiras deverá ser tal, que no futuro haverá disponibilidade de água com qualidade adequada. Esse gerenciamento é pautado pelo uso racional e integrado dos recursos hídricos.

4. ( ) A utilização racional e integrada dos recursos hídricos, incluindo o transporte aquaviário, objetiva a promoção de um desenvolvimento sustentável.

5. ( ) Independente do uso que será dado a água é necessário ter padrões de qualidade quanto ao oxigênio dissolvido e o pH.

GABARITO COMENTADO

1.F Os objetivos da Política Nacional visam gerenciar os recursos hídricos valorizando os demandas atuais e considerando as demandas futuras sobre os recursos hídricos.

2.F Eventos críticos relacionados às águas são reconhecidos na Lei das Águas, sobretudo quando trata do objetivo “A prevenção e a defesa contra eventos hidrológicos críticos de origem natural ou decorrentes de uso inadequado dos recursos naturais”

3.V

4.V

5. F Os múltiplos usos da água possuem diferentes exigências em termos de qualidade. Por exemplo, para se manter as comunidades aquáticas é necessário que a água esteja com certo nível de oxigênio dissolvido, temperatura, PH, nutrientes, entre outros. Em contraste, para a navegação, os requisitos de qualidade de água são bem menores, devendo estar ausentes os materiais flutuantes e os materiais sedimentáveis que causam assoreamento

3. As Diretrizes da Lei das Águas

As diretrizes são referências para alcançar os objetivos dentro das bases propostas nos

fundamentos da Lei nº 9.433/1997.

Que referências são essas?

O artigo 3º da lei nº 9.433/1997 responde a essa pergunta com cinco diretrizes gerais, cujo

conjunto iremos detalhar a seguir:

Page 32: ANA - Lei Das Águas

31

3.1 A primeira Diretriz: A gestão sistemática dos recursos hídricos, sem dissociação dos

aspectos de quantidade e de qualidade

Por gestão sistemática, entende-se que os recursos hídricos devem ser cuidados de maneira

contínua e organizada, mobilizando-se instituições e os recursos humanos e financeiros necessários, por

meio de planejamento, monitoramento e avaliação regular dos resultados. Além disso, o gerenciamento

das águas deve contemplar as questões relacionadas à sua quantidade e qualidade.

A qualidade da água é tão importante quanto a quantidade, especialmente quando se trata de

atender às necessidades básicas dos seres humanos e do meio ambiente. Entretanto, apesar de as duas

questões estarem intimamente interligadas, nem sempre tiveram a mesma atenção devida em termos de

estudos, investimentos e gestão.

A combinação de informações sobre a quantidade e qualidade de água é essencial à vida humana

e do meio ambiente. Não adianta ter água em abundância, se a mesma se encontra contaminada, ou não

adianta ter água de boa qualidade se não houver a preocupação em garantir a sua disponibilidade, por

isso tais aspectos são considerados indissociáveis.

3.2 A segunda Diretriz: A adequação da gestão de recursos hídricos às diversidades físicas,

bióticas, demográficas, econômicas, sociais e culturais das diversas regiões do país.

Page 33: ANA - Lei Das Águas

32

Um país como o Brasil, que apresenta grande diversidade de recursos geológicos, biológicos e

paisagísticos, bem como uma diversidade de influências culturais, além de apresentar grandes diferenças

demográficas, econômicas e sociais, não pode ser tratado de forma única no tocante a gestão dos

recursos hídricos.

Nesse cenário, a segunda diretriz da Lei nº 9.433/97 considera que a gestão dos recursos hídricos

deve levar em conta as diferenças físicas, bióticas, demográficas, econômicas, sociais e culturais

existentes nas diversas regiões do País.

Então a gestão dos recursos hídricos também observará as diferenças entre as várias bacias

hidrográficas, que são as unidades territoriais básicas, e não somente as regiões e os Estados.

Mas, como assim?

Não é difícil perceber a impossibilidade ou a dificuldade de aplicar as mesmas regras, as mesmas

experiências para a gestão das águas da Amazônia – que conta com uma grande disponibilidade e pouca

demanda de água – em comparação com a região do Semiárido, onde ocorre justamente o contrário –

pouca disponibilidade hídrica e demanda incompatível com essa disponibilidade.

Devem-se levar em conta as grandes diferenças regionais existentes no país, diferenças essas que

não são apenas do ponto de vista físico, mas principalmente do ponto de vista socioeconômico e cultural.

Portanto, para práticas que visam uma gestão de sucesso com resolução de conflitos por uso da água, a

gestão dos recursos hídricos deverá considerar as particularidades e costumes das pessoas das

diferentes bacias hidrográficas.

Amazônia Semiárido

Page 34: ANA - Lei Das Águas

33

3.3 A terceira Diretriz: A integração da gestão de recursos hídricos com a gestão ambiental

Os recursos hídricos não podem ser gerenciados de forma isolada em relação ao meio ambiente.

As ações de preservação ou uso intensivo dos recursos naturais afetam a disponibilidade dos recursos

hídricos e, por essa razão, é importante que haja a integração da gestão de ambos os aspectos.

A gestão ambiental referente às florestas, fauna (aquática e terrestre), o uso do solo e de

agrotóxicos, a instalação ou continuação de funcionamento de indústrias, e o zoneamento ambiental são

algumas matérias que devem ser levadas em conta na gestão das águas. Essa integração será possível

por meio das ações de diversos órgãos gestores que controlam a qualidade do meio ambiente que deverá

ser afinada e sintonizada com as ações dos órgãos que cuidam da disponibilidade das águas.

Uma situação em que a própria Lei nº 9.433/97 já prevê expressamente essa integração é o

enquadramento dos corpos d’água, onde as referidas classes são estabelecidas pela legislação ambiental

e, portanto, sua implementação exige a articulação entre a gestão dos recursos hídricos e a gestão

ambiental. O enquadramento é um dos instrumentos da Política Nacional de Recursos Hídricos e será

visto mais detalhadamente no Módulo 3.

3.4 A quarta Diretriz: A articulação do planejamento de recursos hídricos com a dos setores

usuários e com os planejamentos regional, estadual e nacional

Além da integração da gestão dos recursos hídricos com a gestão de meio ambiente, faz-se

necessária a articulação da política hídrica com a política agrícola, industrial, de turismo e outras, bem

como integrá-la com os planos nacional, regionais, estaduais.

Por exemplo, os planos de expansão agrícola, os projetos de implantação de polos industriais ou

de usinas hidrelétricas, além das políticas de fomento a diversas atividades econômicas que usam a água

afetam diretamente a qualidade e a quantidade dos recursos hídricos de uma bacia hidrográfica. Corre-se

sério risco quando se planeja os usos dos recursos hídricos sem levar em consideração as demandas

originárias das demais políticas setoriais.

Ressalta-se que além de ser um bem vital, a água se constitui em um insumo necessário aos

processos produtivos. Desse modo, não há sentido o planejamento isolado de outros setores, pois não se

sabe como ela afetará ou será afetada pelas outras políticas públicas.

3.5 A quinta Diretriz: A articulação da gestão de recursos hídricos com a do uso do solo;

O uso e a ocupação do solo promovem mudanças na superfície terrestre que podem provocar

consequências para a qualidade e a quantidade dos recursos hídricos.

Page 35: ANA - Lei Das Águas

34

Deste modo, ao regulamentar o uso do solo, que é uma política primordialmente municipal, deverá

esta articular-se com a gestão dos recursos hídricos para a preservação dos mananciais e dos cursos

d´água.

O Poder Público Municipal, que a priori administra o uso dos solos e deseja recursos hídricos

saudáveis, precisa de uma participação atuante, clara e objetiva nos colegiados que gerenciam os

recursos hídricos no Brasil.

A articulação da gestão de recursos hídricos com a do uso do solo necessariamente induz e

valoriza a articulação entre municípios, pois o uso e a ocupação do solo de forma inadequada em um

município afetará as águas que margeiam outro município podendo dificultar seu uso e desenvolvimento

devido as águas degradadas recebidas.

3.6 A sexta Diretriz: A integração da gestão das bacias hidrográficas com a dos sistemas

estuarinos e zonas costeiras

A gestão das bacias hidrográficas deve sempre articular-se e integrar-se as ações realizadas nos

sistemas estuarinos e zonas costeiras.

As zonas costeiras são, historicamente, as regiões mais densamente povoadas, devido aos

processos sociais de ocupação e uso do território. Também, em grande parte, privilegiam-se de grande

beleza natural e, por essa razão, são bastante propícias a atividades turísticas. De forma geral, essas

regiões também apresentam elevado potencial pesqueiro, atividade importante para a oferta de alimentos

e que é muito dependente de um meio ambiente equilibrado.

Quando nos lembramos de que a foz dos rios localiza-se nos sistemas estuarinos e zonas

costeiras, percebemos que não foi em vão que o legislador dedicou uma diretriz especialmente para

essas regiões. Sua importância e influência para os recursos hídricos bem como para as atividades

realizadas na região, como o turismo e a pesca, levam à necessidade da integração de sua gestão com a

de bacias hidrográficas. Além disso, a conexão dos rios interiores aos ecossistemas costeiros é

importante na manutenção da biodiversidade, pois são locais de reprodução, desova e também de

alimentação de uma boa parte da fauna aquática.

3.7 Ainda sobre as Diretrizes

Page 36: ANA - Lei Das Águas

35

As diretrizes da Política Nacional de Recursos Hídricos definem a necessidade de articulação e

integração de políticas setoriais, a adequação às diversas realidades de bacias, estados e do país como

um todo e dão relevância a gestão sistêmica.

A Lei das Águas define como imprescindível o diálogo, a conversa a negociação e a integração

entre todos os diferentes setores envolvidos com um elemento básico: a água.

Vamos aos exercícios de fixação do conteúdo?

EXERCÍCIO DE FIXAÇÃO

Preencha com V de verdadeiro ou F de falso

1. ( ) Segundo as diretrizes da Política Nacional de Recursos Hídricos a qualidade e a quantidade da água são parâmetros que necessariamente deverão ser vistos separadamente.

2. ( ) A articulação da política de uso dos solos e dos planos setoriais, regionais e nacionais é importante para o gerenciamento integrado e estão previstos nas diretrizes da Lei das Águas.

3. ( ) A Lei das Águas, por meio de suas diretrizes, não considera as particularidades físicas, biológicas, culturais, sócio econômico existentes entre bacias, estados e regiões.

4. ( ) Os aspectos de quantidade e qualidade dos recursos hídricos são indissociáveis. 5. ( ) A integração da gestão ambiental e da gestão dos sistemas estuarino e zonas costeiras não

são relevantes na gestão dos recursos hídricos. GABARITO COMENTADO

1. F Segundo as diretrizes da Política Nacional dos Recursos Hídricos a gestão sistemática dos recursos hídricos deve ser feita sem dissociação dos aspectos de quantidade e de qualidade

2. V

3. F A Lei das Águas, por meio de suas diretrizes, considera as particularidades físicas, biológicas, culturais, sócio econômico existentes entre bacias, estados e regiões.

4.V

5. F A integração da gestão ambiental e da gestão dos sistemas estuarino e zonas costeiras são relevantes na gestão dos recursos hídricos.

Page 37: ANA - Lei Das Águas

36

Agora chegou o momento da primeira avaliação. Serão 10 questões V ou F que versam

sobre o módulo 1. Antes de iniciá-lo você poderá retornar ao conteúdo para revisão. Você terá

duas chances para responder as questões. Boa Sorte!

EXERCÍCIOS DE AVALIAÇÃO

1. ( ) A água tem valor econômico e é um bem de domínio privado considerado limitado. 2. ( ) A gestão dos recursos hídricos não necessariamente precisa ser adequada às diversidades

físicas, bióticas, demográficas, econômicas, sociais e culturais das diversas regiões do país. 3. ( ) A União e os Estados têm dominialidade sobre os rios. Os rios que banhem mais de um

Estado, sirvam de limites com outros países, ou se estendam a território estrangeiro ou dele provenham, bem como os terrenos marginais e as praias fluviais são da União. Os demais rios e as águas subterrâneas são de domínio estadual.

4. ( ) O fundamento que afirma que a água é um recurso natural limitado, dotado de valor econômico implica em possíveis cobranças pela propriedade da água.

5. ( ) O fato de a unidade territorial ser a bacia hidrográfica impede que os municípios participem da gestão dos recursos hídricos.

6. ( ) O uso e ocupação do solo de forma inadequada em um município afetarão as águas que margeiam outros municípios a jusante.

7. ( ) Os recursos hídricos não podem ser gerenciados de forma isolada em relação ao meio ambiente. Assim, o planejamento ambiental concernente às florestas, fauna (aquática e terrestre), o uso do solo e de agrotóxicos, a instalação de indústrias, a renovação das antigas indústrias e o zoneamento ambiental são algumas matérias que devem ser levadas em conta na gestão das águas.

8. ( ) Entre outros aspectos, a gestão dos recursos hídricos é estratégica para que o

desenvolvimento nacional seja de modo sustentável, não apenas pelo uso deste recurso para as

diversas atividades econômicas, mas também pela possibilidade de integração do território.

9. ( ) As formas de aferição dos aspectos de qualidade e da quantidade de água são distintos, mas a

gestão dos recursos hídricos não pode ser dissociada.

10. ( ) A Política Nacional de Recursos Hídricos já prevê a participação de diferentes atores nos

comitês de bacias e conselhos de recursos hídricos, o que já justifica a articulação com as demais

políticas setoriais, não se justificando outros esforços de articulação com demais áreas.

GABARITO COMENTADO

1. F A água tem valor econômico e é um bem de domínio público considerado limitado.

2. F A Lei das Águas prevê a seguinte diretriz: A adequação da gestão de recursos hídricos às

diversidades físicas, bióticas, demográficas, econômicas, sociais e culturais das diversas

Page 38: ANA - Lei Das Águas

37

regiões do país.

3. V

4. F O fundamento que afirma que a água é um recurso natural limitado, dotado de valor econômico implica em possíveis cobranças pelo uso da água. Lembrando que a água é um bem público, portanto não se fala em propriedade.

5. F O fato de a unidade territorial ser a bacia hidrográfica não impede que os municípios

participem da gestão dos recursos hídricos. Eles não só podem como devem atuar,

sobretudo, nos comitês de bacia.

6. V

7. V

8. V

9. V

10. F A Política Nacional de Recursos Hídricos prevê a participação de diferentes atores nos

comitês de bacias e conselhos de recursos hídricos, entretanto é fundamental que hajam

esforços constantes de articulação com as demais políticas setoriais, para que a gestão

das águas alcance os objetivos da PNRH.

Bibliografia:

AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS. A Evolução da Gestão dos Recursos Hídricos no Brasil. Brasília, 2002.

AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS. Comitê de Bacia Hidrográfica: O que é e o que faz? – Cadernos de Capacitação em recursos hídricos – Vol.1, Brasília, 2011 AGÊNCIA NACIONAL DAS ÁGUAS. Conjuntura dos Recursos Hídricos no Brasil - Informe 2011. Agência Nacional das Águas - Brasília: ANA. 2011.112p.

Agência Nacional de Águas – ANA. 2011 (Brasil). Cuidando das águas: soluções para melhorar a qualidade dos recursos hídricos. Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente. -- Brasília: ANA, 2011. 154 p AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS. Disponibilidade e demandas de recursos hídricos no Brasil - Caderno de Recursos Hídricos 2, Brasília, ANA, 2007. AGÊNCIA NACIONAL DAS ÁGUAS. Implementação do Enquadramento em

Page 39: ANA - Lei Das Águas

38

Bacias Hidrográficas do Brasil - Caderno de Recursos Hídricos 6. Brasília: ANA. 2009. 149p.

LANNA, A.E.L & BRAGA, B. Hidroeconomia In: REBOUÇAS, A. C.; BRAGA, B. & TUNDISI, J.G., Águas Doces no Brasil Águas Doces no Brasil: Capital Ecológico, Uso e Conservação, 3ª Edição revisada e ampliada, São Paulo, Ed. Escrituras, 607-637p, 2006. MACHADO, P.A. L. Direito Ambiental Brasileiro. 18a Ed. São Paulo. Malheiros Editores, 2010 MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Cadernos de Formação, Vol. 3: Planejando a intervenção Ambiental no Município, Brasília, 2006 MOREIRA, M.M.A.M & MENDONÇA, C. X. de. Curso II Disciplina 4 Gestão de Recursos Hídricos no

Brasil,Disciplina: O Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos (SINGREH).

Brasília, apostila digitada, 2011.

SAITO, C.H. A política nacional de recursos hídricos e o sistema nacional de gerenciamento de recursos hídricos. Educação Ambiental – curso básico à distância: Gestão de recursos hídricos em bacias hidrográficas sob a ótica da educação ambiental. MMA, 2001, v. 5, 2ª edição ampliada.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS E UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA. Curso de Aperfeiçoamento em Gestão de Recursos Hídricos – Políticas e Legislação Ambiental. Sem data.

VILLELA, S.M. & MATTOS, A. Hidrologia aplicada. São Paulo, McGraw-Hill, 1975. 245p.

Glossário

Afluente (ou tributário): Curso d'água que desemboca num curso maior ou num lago.

Água bruta: Água não tratada, pode ser a água de um rio, fonte, poço, barragem, etc.

Águas subterrâneas : Água do subsolo ocupando a zona saturada. Águas superficiais: Água que se escoa ou se acumula na superfície do solo. Aquífero: Formação geológica, formada por cascalho ou rocha porosa, capaz de armazenar e fornecer quantidades significativas de água. Bacia Hidrográfica: Conjunto de terras drenadas por um rio principal e seus afluentes. A noção de

bacias hidrográfica inclui naturalmente a existência de cabeceiras ou nascentes, divisores d'água, cursos

d'água principais, afluentes, subafluentes, etc. Área geográfica que drena suas águas para um mesmo

local, geralmente um rio.

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Comitês de bacia hidrográfica: Órgão colegiado que conta com a participação dos usuários, da sociedade civil organizada, de representantes de governos municipais, estaduais e federal. Os comitês têm como atribuição legal deliberar sobre a gestão da água. Conselhos de recursos hídricos: Órgãos consultivos e deliberativos sobre questões pertinentes aos

recursos hídricos, composto pelo Poder público, representantes dos usuários da água e sociedade civil.

Corpos d’água Qualquer coleção de águas interiores. Denominação mais utilizada para águas doces,

abrangendo rios, igarapés, lagos, Iagoas, represas, açudes, etc .

Cota: Número que exprime, em metros ou noutra unidade de comprimento, a distância vertical de um

ponto a uma superfície horizontal de referência (altura, altitude, diferença de nível, etc.).

Dessedentação: Matar a sede.

Desenvolvimento sustentável: é aquele capaz de suprir as necessidades da geração atual, sem

comprometer a capacidade de atender às gerações futuras.

Economia: É a ciência social que estuda a produção, distribuição e consumo de bens e serviços. Ela estuda as formas de comportamento humano que se dá da relação entre as necessidades dos homens e os recursos disponíveis para satisfazê-las. Efluente: É o rejeito industrial, doméstico ou agrícola, em forma líquida ou gasosa, lançado no ambiente. Resíduo ou rejeito de atividade industrial, esgotos sanitários etc., lançado no meio ambiente. Enquadramento: É o estabelecimento do nível de qualidade (classe) a ser alcançado ou mantido em segmento do corpo d’água ao longo do tempo. É um dos instrumentos da Política Nacional de Recursos Hídricos. Evapotranspiração: O fenômeno combinado de evaporação da água do solo e das superfícies líquidas, e de transpiração dos vegetais. Índice de Qualidade da Água – IQA: O IQA foi desenvolvido para avaliar a qualidade da água bruta visando seu uso para o abastecimento público, após tratamento. Os parâmetros utilizados no cálculo do IQA são em sua maioria indicadores de contaminação causada pelo lançamento de esgotos domésticos. Leito de rio: Parte mais baixa do vale de um rio, modelada pelo escoamento da água, ao longo da qual se deslocam, em períodos normais, a água e os sedimentos. O IQA é particularmente sensível à contaminação pelo lançamento de esgotos, sendo um índice de referência normalmente associado à qualidade da água bruta captada para o abastecimento público após tratamento Portanto, os resultados de IQA são relativos e devem ser interpretados levando em consideração o uso da água analisada. Lençol freático: Água da chuva que penetrou a superfície do solo e se acumulou nele ou em rochas subterrâneas. Jusante: Na direção da corrente, rio abaixo. Montante: Direção oposta à corrente. Princípio da precaução: Princípio do Direito Ambiental Brasileiro introduzido pela Lei nº 6.938/81 em que

se tornou incontestável a obrigação de prevenir ou evitar o dano ambiental quando o mesmo pudesse ser

detectado antecipadamente.

Regiões hidrográficas: A região hidrográfica é uma divisão administrativa, constituindo-se como a unidade de planeamento e gestão das águas, tendo por base a bacia hidrográfica. São elas: Amazônica, Tocantins/Araguaia, Paraná, Atlântico Sul, Uruguai, Atlântico Sudeste, São Francisco, Atlântico Nordeste Ocidental, Paraguai, Atlântico Leste, Atlântico Nordeste Oriental, e Parnaíba. Rios perenes: Rio cujo escoamento não é interrompido, nem no espaço nem no tempo.

Rios intermitentes: Curso de água cujo escoamento é uma resposta direta e imediata à precipitação ou ao abastecimento por uma fonte intermitente.

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Rios efêmeros: Ocorrem, em geral, grandes vazões durante as estações chuvosas, e o escoamento fluvial cessa nas estações secas. Transposição: Ato ou efeito de transpor. No caso da transposição de bacia, trata-se da transferência de

água entre bacias hidrográficas.

Zoneamento ambiental: Um dos instrumentos definido na Política Nacional de Meio Ambiente , Lei nº 6.938/1981, visa a organização do território, estabelece medidas e padrões de proteção ambiental destinados a assegurar a qualidade ambiental, dos recursos hídricos e do solo e a conservação da biodiversidade, garantindo o desenvolvimento sustentável e a melhoria das condições de vida da população.

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1

Módulo 2: O Sistema Nacional de Gerenciamento de

Recursos Hídricos

Neste módulo você conhecerá o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, seus integrantes e respectivas responsabilidades, além de sua importância na gestão dos recursos hídricos.

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Sumário

2.1. ............................................................................................................................................. Introdução .............................................................................................................................................................. 4

2.2.O Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos .............................................................................................................................................................. 4

2.3.Os entes do Sistema Nacional de Gerenciamento dos Recursos Hídricos .............................................................................................................................................................. 6

2.3.1. O Conselho Nacional de Recursos Hídricos – CNRH ..................................................... 7

2.3.2. Os Conselhos de Recursos Hídricos dos Estados e do Distrito Federal ...................... 9

2.3.3. Órgãos dos poderes públicos federal, estaduais, do Distrito Federal e municipais cujas competências se relacionem com a gestão de recursos hídricos ............................. 10

2.3.4. Agência Nacional de Águas ............................................................................................... 11

2.3.5. Comitês de Bacias Hidrográficas ...................................................................................... 11

2.3.6Agências de Água ou Agências de Bacia

........................................................................................................................................................ 15

2.4 Vamos aos exercícios de fixação do conteúdo? ............................................................................................................................................................ 17

2.5 Os Objetivos do SINGREH ........................................................................................................ 17

2.5.1. O primeiro objetivo: Coordenar a gestão integrada das águas. .............................................. 18

2.5.2. O segundo objetivo: Arbitrar administrativamente os conflitos relacionados com os recursos hídricos. ......................................................................................................................................... 18

2.5.3. O terceiro objetivo: Implementar a Política Nacional de Recursos Hídricos. ............................ 20

2.5.4. O quarto objetivo: Planejar, regular e controlar o uso, a preservação e recuperação dos

recursos hídricos ............................................................................................................................. 20

2.5.5O quinto objetivo: Promover a cobrança pelo uso dos recursos hídricos

........................................................................................................................................................ 20

2.6 Vamos aos exercícios de fixação do conteúdo? ............................................................................. 21

2.7 Reflexões finais sobre o SINGREH. ............................................................................................. 21

2.8 Exercícios de avaliação do módulo ................................................................................................ 22

Bibliografia ........................................................................................................................................... 23

Glossário ................................................................................................................................................... 24

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1.1. Introdução

No primeiro módulo estudamos parte importante da Política Nacional de Recursos Hídricos que nos remete ao alicerce, a estrutura do gerenciamento das águas brasileiras. Isto é, foram apresentados e discutidos os fundamentos que são as bases que rege a legislação; os objetivos, onde queremos chegar ao adotar essa legislação; e as diretrizes, os caminhos a serem trilhados.

Mas quem são os responsáveis para colocar em prática a Política Nacional de Recursos Hídricos?

Vamos ver?

1.2. O Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos

O caminho tomado pelos legisladores brasileiros foi resultado dos avanços históricos ocorridos no Brasil e no mundo na discussão sobre a modernização da gestão dos recursos hídricos.

O Brasil inovou ao indicar que as decisões a respeito da gestão dos recursos hídricos não seriam tomadas por um único órgão centralizador, mas por um novo desenho institucional e gerencial composto de diversas instituições de governo e do setor privado, caracterizado por um sistema.

A opção pela gestão das águas brasileiras por meio de um sistema deu-se em 1988, a partir da promulgação da Constituição Federal. Neste momento, estabeleceu-se que a União criaria o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos – SINGREH, e tornou-se claro que a gestão não se daria por uma única instituição pública, mas por meio deste sistema.

A Lei Nº 9.433/1997, que regulamentou o artigo 21 da Constituição Federal, criou o Sistema Nacional de Gerenciamento dos Recursos Hídricos - SINGREH, apresentou seus componentes e definiu os seus objetivos que veremos em breve.

Para entender melhor esse sistema:

Existe um princípio ecológico que ilustra muito bem o conceito de sistema: a teoria dos sistemas vivos. Segundo essa teoria, sistema é um todo composto de partes que dependem umas das outras e que, atuando juntas, servem para cumprir determinada função. A natureza possui milhares de exemplos de sistemas. Cada indivíduo, animal, planta, microorganismo é um todo integrado, um sistema vivo. Da mesma forma, as sociedades humanas e o meio ambiente construído reproduzem esse modelo: a família, a comunidade, as cidades, a malha viária, as redes de telefonia e de distribuição de alimentos constituem exemplos de sistemas. O SINGREH foi idealizado para realizar a gestão dos recursos hídricos de forma descentralizada, integrada e participativa. Estrutura-se como uma rede capaz de abarcar toda a complexidade da questão hídrica, por meio de ações compartilhadas entre os usuários de água, sociedade civil e governos das esferas

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federal, estadual e municipal que se encontram inseridos nos componentes do SINGREH.

O bom funcionamento de um sistema pode se comparar a uma orquestra ou uma banda de música. Para a execução de uma música é importante que cada grupo de instrumentos (os violinos, as flautas, as percussões...) toque muito bem, no mesmo ritmo, andamento e de forma harmoniosa. Ao juntar todos os grupos, garantindo-se a mesma qualidade de som de cada grupo, tem-se o efeito sistêmico, da grandiosidade da música. O desentrosamento de um grupo é o desequilíbrio da obra como um todo. E mais, a soma dos grupos separados não tem o mesmo resultado do grupo como um todo. As sinergias ocorridas entre os grupos de uma orquestra elevam o grau de beleza do resultado com o todo.

A Constituição Federal de 1988 ao tornar claro que a gestão dos recursos hídricos não se daria por uma única instituição pública, mas por meio de um sistema previu que diversas instituições com diferentes atribuições se entrelaçariam com um objetivo único: a gestão das águas.

Ao fazermos uma analogia do exemplo da orquestra com o Sistema de Gerenciamento dos Recursos Hídricos podemos observar que quando se opta por criar um sistema para gerenciar os recursos hídricos, se estabelece que os diversos componentes, que são partes desse sistema, terão que trabalhar compartilhadamente, coordenadamente e integrados.

Então, quais são as partes desse sistema preconizado na Política Nacional de Recursos Hídricos - PNRH, que precisam trabalhar de forma compartilhada, coordenada e integrada?

Vamos lá?

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6

1.3. Os entes do Sistema Nacional de Gerenciamento dos Recursos Hídricos

Integram o SINGREH:

1. Conselho Nacional de Recursos Hídricos; 2. Agência Nacional de Águas; 3. Conselhos de Recursos Hídricos dos Estados e do Distrito Federal; 4. Comitês de Bacia Hidrográfica; 5. Os órgãos dos poderes públicos federal, estaduais, do Distrito Federal e municipais cujas competências se relacionem com a gestão de recursos hídricos; e 6. Agências de Água.

Esses entes do SINGREH podem ser distribuídos em uma matriz institucional de acordo com as respectivas competências e segundo a esfera de atuação: nacional, estadual ou no nível de bacia hidrográfica. Observe a figura:

Na horizontal estão os entes que funcionam no âmbito nacional, estadual e local (bacia).

Na vertical, é possível identificar a estrutura do SINGREH quanto a instâncias de deliberação de políticas relacionadas à gestão dos recursos hídricos (conselhos e comitês), as instituições de formulação de políticas públicas (ministérios,

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7

secretarias de estado, órgãos gestores de recursos hídricos), os entes de apoio ao funcionamento dos conselhos e comitês e os de implementação dos instrumentos de gestão, de regulação e de apoio administrativo e técnico às instâncias de gestão descentralizada e participativa – os comitês de bacias hidrográficas.

Vamos estudar os entes do SINGREH?

.

2.3.1. O Conselho Nacional de Recursos Hídricos – CNRH

O Conselho Nacional de Recursos Hídricos – CNRH, instância mais alta na hierarquia do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, é o colegiado que estabelece as estratégias e diretrizes maiores para a implementação da política de recursos hídricos no país. Também é considerado como o colegiado superior do sistema, a quem compete decidir sobre as grandes questões envolvendo o setor hídrico e dirimir conflitos, nos casos em que estes não possam ser resolvidos em âmbito regional. Por articular a integração das políticas públicas no Brasil é reconhecido pela sociedade como orientador para um diálogo transparente no processo de decisões no campo da legislação de recursos hídricos.

O CNRH foi instituído pela Lei Nº 9.433/1997 e desenvolve atividades desde junho de 1998, tendo sido regulamentado pelo Decreto nº 4.613 de 11 de março de 2003 que define competências, funcionamento e a seguinte composição:

representantes dos Ministérios e da Secretaria da Presidência da República com atuação no gerenciamento ou no uso dos recursos hídricos;

representantes indicados pelos Conselhos Estaduais de Recursos Hídricos;

Conselho Nacional de Recursos Hídricos - CNRH

Conselhos de Recursos Hídricos dos Estados e do

Distrito Federal

Órgãos dos poderes públicos federal, estaduais, do Distrito

Federal e municipais cujas competências se relacionem

com a gestão de recursos hídricos

Agência Nacional de Águas Comitês de Bacias

Hidrográficas Agências de Água

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representantes dos usuários de Recursos Hídricos e

representantes das organizações civis de recursos hídricos.

O número de representantes do Poder Executivo Federal não poderá exceder à metade mais um do total dos membros do Conselho Nacional de Recursos Hídricos.

As unidades federadas, isto é os Estados, não estão representados individualmente no Conselho, mas terão representantes indicados pelos Conselhos Estaduais de Recursos Hídricos – CERH, e não obrigatoriamente integrado por todos os Conselhos Estaduais.

Veja aqui a atual composição do Conselho Nacional de Recursos Hídricos.

O Conselho é presidido pelo Ministro de Estado do Meio Ambiente – MMA e suas ações são de caráter deliberativo, normativo, consultivo, com amplo papel e contribuição na execução da Política Nacional de Recursos Hídricos.

Conheça algumas das competências do CNRH:

Promover a articulação do planejamento de recursos hídricos com os planejamentos nacional, regional, estaduais e dos setores usuários;

Arbitrar, em última instância administrativa, os conflitos existentes entre Conselhos Estaduais de Recursos Hídricos;

Analisar propostas de alteração da legislação pertinente a recursos hídricos e à Política Nacional de Recursos Hídricos;

29; 51%

10; 18%

12; 21%

6; 10%

Número de membros do CNRH e respectivo percentual

Poder Público Federal CERH Usuários Sociedade Civil

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Estabelecer diretrizes complementares para implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos, aplicação de seus instrumentos e atuação do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos;

Aprovar propostas de instituição dos Comitês de Bacia Hidrográfica e estabelecer critérios gerais para a elaboração de seus regimentos;

Estabelecer critérios gerais para a outorga de direitos de uso de recursos hídricos e para a cobrança por seu uso.

Você pode acessar na íntegra o artigo 35 da Lei das Águas e ler todas as competências do CNRH.

Além dessas competências previstas na Lei nº 9.433/1997, o Decreto nº 4.613 de 11 de março de 2003 que regulamenta as ações do CNRH atribuiu a ele, no seu artigo 1º, outras competências, como por exemplo:

Aprovar o enquadramento dos corpos d´água;

Definir valores a serem cobrados pelo uso da água;

Autorizar a criação de Agências de Água;

Deliberar sobre o conceito de pouca expressão, para efeito de isenção de outorga. É bom lembrar que as ações aqui previstas dizem sempre respeito aos rios de domínio da União.

Para conhecer mais detalhes sobre o CNRH, acesse o site. Lá está disponível todo o conjunto de normas legais federais de recursos hídricos, bem como a agenda das reuniões, participantes, deliberações, etc.

2.3.2. Os Conselhos de Recursos Hídricos dos Estados e do Distrito Federal As funções dos conselhos estaduais são semelhantes às do Conselho Nacional de Recursos Hídricos, guardados a proporção e o respectivo domínio sobre as águas dos estados. Os Conselhos Estaduais de Recursos Hídricos - CERH estão instalados na maioria dos estados brasileiros e exercem funções de caráter normativo e deliberativo, sendo assim as instâncias máximas dos Sistemas Estaduais de Gerenciamento de Recursos Hídricos na esfera estadual.

Portanto, os conselhos estaduais/distrital são colegiados com competência para decidir questões referentes a esta esfera governamental. Além disso, soluciona conflitos, nos casos em que estes não possam ser resolvidos em âmbito local. A composição de cada conselho é variável, respeitando-se as especificidades de cada Estado, sendo seus conselheiros:

Representantes de Secretarias de Estado;

Representantes de municípios;

Representantes de usuários de águas; e

Representantes de organizações civis de recursos hídricos.

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Entretanto, em alguns estados, o conselho é estruturado no âmbito da temática ambiental.

Os conselhos estaduais são disciplinados por legislação específica de cada Estado, que leva em conta os preceitos estabelecidos na Constituição Federal e Estaduais, sempre com os pressupostos filosóficos norteadores do SINGREH, definidos na Lei nº 9.433/97.

Os Estados também poderão suplementar as regras da Lei das Águas, desde que não as descumpram.

Para saber mais: http://www.conselhos.mg.gov.br/cerh/pagina/home# http://www.recursoshidricos.pr.gov.br/ http://www.srh.ce.gov.br/index.php/conerh

2.3.3. Órgãos dos poderes públicos federal, estaduais, do Distrito Federal e municipais cujas competências se relacionem com a gestão de recursos hídricos

Quaisquer órgãos dos poderes públicos de todos os entes que possuam competências relacionadas à gestão de recursos hídricos fazem parte do Sistema Nacional de Gerenciamento dos Recursos Hídricos. Na esfera estadual, por exemplo, há uma diversidade na gestão dos recursos hídricos que se reflete nas instituições responsáveis por essa política.

Alguns estados brasileiros criaram as agências executivas estaduais como órgãos implementadores de sua política estadual de recursos hídricos, à semelhança da Agência Nacional de Águas. É o caso da Agência Pernambucana de Águas e Clima – APAC, que vem fortalecendo o planejamento e a regulação dos usos múltiplos dos recursos hídricos, além de complementar o Sistema Integrado de Gerenciamento de Recursos Hídricos do Estado de Pernambuco.

Outros Estados mantiveram suas Secretarias de Estado com funções acumuladas, isto é, mantiveram as funções formuladoras e adquiriram a condição de órgão executor. Nesse caso, outorgam os direitos de uso das águas de domínio estadual e aplicam as penalidades administrativas dentre outras atribuições que lhe foram delegadas por legislação estadual específica.

O Distrito Federal possui uma agência reguladora e fiscalizadora do uso dos recursos hídricos, a Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico do Distrito Federal – ADASA. Como o Distrito Federal tem atribuições de Estado e de Município, a ADASA é a única agência reguladora do Brasil que atua na regulação simultânea da água (atribuição do Estado) e dos serviços de saneamento básico (atribuição do município).

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11

2.3.4. Agência Nacional de Águas

Criada após a Lei das Águas, a Lei nº 9.984/00 instituiu a Agência Nacional de Águas – ANA e integrou-a ao Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos.

A ANA tem autonomia administrativa e financeira e é vinculada ao Ministério do Meio Ambiente. Enquanto o Conselho Nacional de Recursos Hídricos promove a articulação do planejamento de recursos hídricos, como já vimos, a Agência Nacional de Águas tem o papel de órgão executor da Política Nacional de Recursos Hídricos.

Dentre suas competências, encontram-se:

Supervisionar, controlar e avaliar as ações e atividades que dizem respeito aos recursos hídricos;

Disciplinar, em caráter normativo, a implementação, a operacionalização, o controle e a avaliação dos instrumentos da Política Nacional de Recursos Hídricos;

Outorgar o direito de uso de recursos hídricos e fiscalizar os usos em corpos de água de domínio da União;

Subsidiar o Conselho Nacional de Recursos Hídricos sobre os valores a serem cobrados pelo uso de recursos hídricos de domínio da União, com base nos mecanismos e quantitativos sugeridos pelos Comitês de Bacia Hidrográfica;

Implementar, em articulação com os Comitês de Bacia Hidrográfica, a cobrança pelo uso de recursos hídricos de domínio da União;

Estimular a pesquisa e a capacitação de recursos humanos para a gestão de recursos hídricos.

Aqui foram abordadas algumas das competências da Agência Nacional de Águas. Para conhecer todas e aprofundar seus conhecimentos, o artigo X da Lei nº 9.984/00 enumera diversas outras competências. Podemos ver que a missão da ANA é complexa e a lista de atividades é extensa.

A proporção dos desafios que temos é do tamanho continental do nosso país, portanto as estratégias para enfrentá-los requerem soluções criativas e constante disposição para parceria e negociação com os diversos atores envolvidos com os recursos hídricos.

2.3.5. Comitês de Bacias Hidrográficas

Comitês de bacias hidrográficas são fóruns de decisão política no âmbito de cada bacia hidrográfica, considerados como os parlamentos das águas. Contam com a participação de todos os atores sociais relevantes na gestão das águas, como prefeituras, governos estaduais, diversos usuários de recursos hídricos e entidades da sociedade civil organizada.

Vamos entender melhor o que é o comitê de bacia hidrográfica?

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Figura 1 – Ilustração representativa de um comitê de bacia

hidrográfica.

Fonte: UNESCO.

Os comitês de Bacia Hidrográfica podem ter como abrangência geográfica:

A totalidade de uma bacia hidrográfica;

A sub-bacia hidrográfica de tributário do curso de água principal da bacia, ou de tributário desse tributário;

Um grupo de bacias ou sub-bacias contíguas. Os Comitês de Bacia Hidrográfica representam a instância-chave para o sucesso da Política Nacional de Recursos Hídricos. Isto porque se retornarmos aos fundamentos da PNRH, vistos no módulo 1, temos que:

Artigo 1º

...

V - a bacia hidrográfica é a unidade territorial para implementação da PNRH e atuação do SINGREH.

VI - a gestão dos recursos hídricos deve ser descentralizada e contar com a participação do Poder Público, dos usuários e das comunidades.

Nesse contexto, a figura do Comitê de Bacia Hidrográfica expressa uma concepção política de gestão participativa e visa a promoção de um espaço para “negociação social” a respeito da utilização dos recursos hídricos inseridos na bacia hidrográfica em questão.

Percebe-se que a representatividade se dá por grupos de diferentes interesses de uso da água. Portanto, reconhece-se que o gerenciamento das águas é complexo e envolve diversos interesses conflitantes, de forma que o poder público deva coordenar e articular as ações num modelo descentralizado, mediado pela interveniência dos representantes dos diversos segmentos interessados.

As competências e a composição de um comitê de bacias, órgãos deliberativos, consultivos e propositivos, se encontram disciplinados e na íntegra no artigos 38 e 39, respectivamente, da Lei Nº 9.433/97.

E quais são as atribuições dos Comitês e Bacias de aspecto deliberativo?

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Arbitrar em primeira instância administrativa os conflitos pelo uso da água

Estabelecer os mecanismos de cobrança pelo uso de recursos hídricos.

Estabelecer critérios e promover o rateio de custo das obras de uso múltiplo, de interesse comum ou coletivo.

Aprovar o plano de recursos hídricos da bacia hidrográfica.

Quais são as atribuições dos Comitês de Bacias de aspecto propositivo?

Acompanhar a execução do plano de recursos hídricos da bacia e sugerir as providências necessárias ao cumprimento de suas metas

Indicar a Agência de Água para aprovação do conselho de recursos hídricos competente

Propor os usos não outorgáveis ou de pouca expressão ao Conselho de Recursos Hídricos competente

Escolher a alternativa para o enquadramento dos corpos d’água e encaminhá-la aos conselhos de recursos hídricos competentes

Sugerir os valores a serem cobrados pelo uso da água.

Propor aos conselhos de recursos hídricos a criação de áreas de restrição de uso, com vistas à proteção dos recursos hídricos.

Propor aos conselhos de recursos hídricos as prioridades para aplicação de recursos oriundos da cobrança pelo uso dos recursos hídricos do setor elétrico na bacia.

E qual a atribuição dos Comitês e Bacias de aspecto consultivo?

Promover o debate das questões relacionadas a recursos hídricos e articular a atuação das entidades intervenientes Afinal, quem participa dos Comitês de Bacia Hidrográfica?

A composição de um comitê de bacia deverá refletir os múltiplos interesses com relação às águas da bacia. De forma geral, são três os interesses que se expressam nas bacias:

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os usuários diretos de recursos hídricos, sujeitos ou não à outorga de direito de uso;

os poderes públicos constituídos (municípios, estados e União) na implementação das diferentes políticas públicas;

e das organizações civis, na defesa dos interesses coletivos e com o olhar dos interesses difusos. Soma-se a essa diversidade o fato de que cada setor citado, por sua vez, tem entre si outros múltiplos interesses.

No caso de bacias de rios fronteiriços deverá ser incluído um representante do Ministério das Relações Exteriores, como é o caso da Bacia Hidrográfica do Rio Amazonas. Nas bacias cujos territórios abranjam terras indígenas, os comitês devem incluir representantes da Fundação Nacional do Índio – FUNAI, e das comunidades indígenas ali residentes ou com interesses na bacia.

Com esse arranjo discuti-se a proporcionalidade e a Lei das Águas limita a metade de seus membros a representação dos poderes executivos dos poderes públicos. O Regime Interno de cada Comitê regula o seu funcionamento, refina sua composição e o número de representantes de cada setor, de acordo com as realidades locais.

Ao se estruturar o SINGREH tal como é, os Comitês de Bacias Hidrográficas são a extremidade maior desta estrutura, é a materialização da tríade que orienta a Política Nacional de Recursos Hídricos: a descentralização, a integração e a participação. (Salles)

É por meio dos comitês de bacias que o Estado Brasileiro se aproxima dos usuários e é como os cidadãos se aproximam do Estado numa relação de negociação para melhor gerenciar e dirimir os conflitos sobre os recursos hídricos locais.

Portanto, é neste espaço que se discute os anseios e desejos locais sobre os usos dos recursos hídricos. É muito desejável que a maior parte do processo de gestão ocorra nos Comitês de Bacias Hidrográficas. É aqui que as definições políticas devem ser articuladas, discutidas, integradas, negociadas, resolvidas entre os diversos segmentos da sociedade para que as instituições públicas possam realizar suas atividades.

Para saber mais:

Comitê de bacias 1 – caderno Ana http://www.ana.gov.br/bibliotecavirtual/arquivos/20120809150432_Volume_1.pdf Comitê de bacias 2 – caderno Ana http://www.ana.gov.br/bibliotecavirtual/arquivos/20120809151849_Volume_2.pdf

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2.3.6 Agências de Água ou Agências de Bacia

A Agência de Água ou Agência de Bacia é a entidade que presta o apoio técnico, administrativo e financeiro necessário ao bom funcionamento dos Comitês de Bacia Hidrográfica. É a Agência de Água que viabiliza a implementação das políticas traçadas pelos Comitês, sendo o órgão executivo vinculado a eles. As Agências de Água também integram o SINGREH e como os comitês de bacias é uma instância descentralizada de gestão de recursos hídricos A atuação das Agências de Água coincide com a área de atuação de um ou mais comitês de bacia, conforme autorizado pelo CNRH. Essas duas instâncias – Agência e Comitê – devem se articular para que suas ações sejam complementares, vinculadas e regidas por objetivos comuns. Para a criação de Agências de Águas, a implementação da cobrança pelo uso da água, instrumento que garantirá a auto sustentação financeira, é uma condição básica. A vinculação do apoio técnico ao Comitê de Bacia é um dos pontos relevantes para a efetiva implementação do SINGREH. Garante-se, com isto, a gestão descentralizada e a definição de prioridades nas bacias, com a efetiva participação do Comitê.

Você percebeu as diferenças entre as Agências Executivas e Agência de Água?

Agências Executivas x Agências de Água (ou Agência de Bacia)

A ANA é o ente do SINGREH responsável pela implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos e pela gestão e regulação do uso da água – por exemplo, outorgar e fiscalizar – em corpos d’água de domínio da União. Assim, cumpre atribuições técnicas e de regulação.

Agências Executivas Estaduais são entes do SINGREH e são responsáveis pela implementação da Política Estadual de Recursos Hídricos e pela gestão e regulação do uso da água – por exemplo, outorgar e fiscalizar – em corpos d’água de domínio do Estado. Assim, cumpre atribuições técnicas e de regulação

As Agências de Água são entes do SINGREH e cumprem, entre outras, a função de secretaria executiva dos respectivos comitês, ou seja, suas competências são de cunho técnico e administrativo para efetivação da gestão da água na bacia. As Agências de Água não têm o papel de regulação.

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As atribuições das Agências de Água no âmbito de sua área de atuação, definidas no artigo 44 da Lei das Águas, podem ser agrupadas em técnicas e administrativo-financeiras. Das atribuições previstas na Lei das Águas, algumas ainda não são exercidas, somente as seguintes atribuições são exercidas por entidades existentes no Brasil que desempenham funções de Agência:

analisar e emitir pareceres sobre projetos e obras,

acompanhar a administração financeira dos recursos da cobrança,

celebrar convênios e contratar serviços,

elaborar sua proposta orçamentária,

promover estudos,

elaborar o Plano de Recursos Hídricos da Bacia e o

Plano de Aplicação dos recursos da cobrança. Destacam-se ainda as funções operacionais das Agências, que incluem o suporte administrativo para a realização das reuniões do plenário e das demais instâncias do comitê de bacia, as comunicações aos membros do comitê, a elaboração de atas e outras ações de cunho administrativo necessárias ao funcionamento operacional do comitê, a disponibilização de informações à sociedade, o apoio aos processos eletivos, entre outras. Considerando que a gestão de recursos hídricos por bacia hidrográfica é uma inovação proposta na Lei das Águas, a atuação da Agência pressupõe criatividade e efetivação de resultados, a ser traduzida em práticas modernas que consideram as questões ambientais, sociais e econômicas, bem como a articulação institucional com outros órgãos e entidades com atribuições afins. As Agências de Água, preconizadas na Lei nº 9.433/97, não tiveram estabelecido um modelo jurídico específico. Quando do início da arrecadação dos recursos da cobrança, algumas dificuldades se apresentaram, já que alternativas institucionais para as Agências, ora em estudo, apresentavam personalidade privada, sendo impossibilitadas de arrecadar tais recursos, pois somente um ente público é competente para arrecadar recursos de natureza pública. Para solucionar tais entraves, foi estabelecida a Lei nº 10.881/2004. Esta lei regulamentou a figura da entidade delegatária para exercer o papel de agência de água, superando a indefinição da sua figura jurídica na Lei nº 9.433/97. Por esta lei, entidades sem fins lucrativos podem exercer o papel de Agência, firmando para isso um Contrato de Gestão com a ANA, nas bacias de rios de domínio da União. Em nível Estadual, em alguns casos, deu-se o mesmo processo sendo considerados as particularidades e interesses de cada estado em relação a entidade delegatária.

Page 58: ANA - Lei Das Águas

17

2.4 Vamos aos exercícios de fixação do conteúdo?

1. ( ) O SINGREH é um conjunto de instituições, órgãos e colegiados que visam implementar a Política Nacional de Resíduos Sólidos.

2. ( ) Cabe ao SINGREH coordenar a gestão integrada dos recursos hídricos.

3. ( ) Os comitês de bacias, o Conselho Estadual de Recursos Hídricos, o Conselho Nacional de Recursos Hídricos são órgãos colegiados onde se concretiza a descentralização e participação preconizada na PNRH.

4. ( ) o SINGREH tem um papel estratégico importante de planejar, regular e controlar não só o uso, mas também a recuperar e a preservar os recursos hídricos

5. ( ) Os comitês de bacias hidrográficas são órgãos colegiados considerados como instâncias superiores no SINGREH para dirimir conflitos pelo uso da água.

GABARITO COMENTADO:

1. F O SINGREH é um conjunto de instituições, órgãos e colegiados que visam implementar a Política Nacional de Recursos Hídricos

2. V

3. V

4. V

5. F O Conselho Nacional de Recursos Hídricos é o órgão colegiado considerado como a instância superior no SINGREH para dirimir conflitos pelo uso da água.

Uma vez visto as particularidade de cada componente do SINGREH, e considerando que para o exercício de suas competências individuais é importante a clareza dos objetivos do SINGREH, vamos a partir de agora estudar e conhecer quais objetivos são esses.

Vamos lá?

2.5 Os Objetivos do SINGREH

O artigo 32 da Lei das Águas apresenta os objetivos do Sistema Nacional de Gerenciamento dos Recursos Hídricos.

Page 59: ANA - Lei Das Águas

18

São os objetivos do Sistema:

.

2.5.1. O primeiro objetivo: Coordenar a gestão integrada das águas.

A gestão integrada das águas é uma estratégia de desenvolvimento sustentável para o nosso país que requer o comprometimento de várias esferas da sociedade. Para organizar e orientar esse processo, a Lei nº 9.433/97 atribuiu ao próprio SINGREH a competência para coordená-la. Neste caso, é bom recordar que a União, os Estados, Distrito Federal e Municípios são entes autônomos e deverão integrar-se entre si e com a sociedade para a gestão dos recursos hídricos. Nessa gestão considera-se, ainda, a integração das políticas setoriais, e com os diferentes setores de usuários de águas e a sociedade civil.

2.5.2. O segundo objetivo: Arbitrar administrativamente os conflitos relacionados com os recursos hídricos.

As negociações sobre o uso das águas são constantes numa bacia hidrográfica. Fazer gestão das águas é fazer gestão de conflitos e cabe ao próprio SINGREH arbitrar sobre os conflitos existentes. Isso não significa que o Poder Judiciário não possa ser acionado, mas é posta a alternativa de resolução dos conflitos no âmbito da bacia hidrográfica local e se necessário em nível nacional.

Os conflitos pelo uso da água já existem no Brasil e tendem a aumentar considerando o crescimento econômico tal qual vem ocorrendo. Vejamos um exemplo que já saiu nos jornais:

Coordenar a gestão integrada das águas

Arbitrar administrativamente os conflitos relacionados

com os recursos hídricos

Implementar a Política Nacional de Recursos

Hídricos

Planejar, regular e controlar o uso, a preservação e a recuperação dos recursos hídricos

Promover a cobrança pelo uso de recursos

hídricos

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19

Enviado por Agostinho Vieira -

09.12.2010 13h00m

Rio e SP brigam pela água do Paraíba do Sul

Deu no Globo - Coluna Eco Verde:

Houve um tempo em que a população do Rio era abastecida pelas águas do rio Carioca,

aquele que passa pelo Cosme Velho. Mas ou menos na mesma época em que ainda era

possível tomar banho no Tietê. Depois vieram as grandes obras como as represas

Billings e Guarapiranga, em São Paulo, e a adutora do Guandu, no Rio, que foi

inaugurada por Carlos Lacerda com a promessa de que levaria “a água para o ano

2000”. Chegamos em 2010 à beira de um conflito entre as duas maiores cidades do

país. O motivo: água.

Um estudo feito recentemente pelo governo de São Paulo chegou à conclusão de que a

única forma de garantir um abastecimento seguro para a cidade nos próximos anos,

considerando o crescimento econômico do país, será usar a água do Rio Paraíba do

Sul. O mesmo que abastece várias áreas do interior paulista, do Estado do Rio e a

capital fluminense. Os protestos já começaram em todas essas cidades, que temem não

haver rio e nem água suficientes para todo mundo.

O coordenador de hidrologia da Coppe, professor Paulo Canedo, diz que as duas

cidades vivem um estresse hídrico e que essa briga só terá perdedores. Segundo ele, é

preciso primeiro trabalhar para evitar o desperdício, que é muito grande. De cada cem

litros de água que saem da empresa de abastecimento, cerca de 47 são perdidos antes

de chegar na casa do consumidor.

Com o Guandu completamente poluído, o Rio não se sustenta sem as águas do Paraíba.

De uma vazão média de 240 m3/s, cerca de 160 m3/s são transpostas diariamente para

o Guandu. E esse é parte do problema. Como reclamar que São Paulo planeja tirar 20

m3/s do Paraíba se o Rio usa oito vezes mais? Nessa história antiga de descaso e

Page 61: ANA - Lei Das Águas

20

poluição sobra o frágil argumento de ter chegado primeiro.

É no SINGREH, nas instâncias participativas dos colegiados, como os Comitês de Bacias, Conselhos Estaduais e Conselho Nacional de Recursos Hídricos, já vistos, que temas como esses devem ser debatidos e negociados.

2.5.3. O terceiro objetivo: Implementar a Política Nacional de Recursos Hídricos.

Não está a cargo de uma única instituição a responsabilidade na implementação da Política, se lembra? Cada componente do sistema como os colegiados, os órgãos e instituições que compõem este sistema, como um todo, implementam a PNRH.

Cada um dos componentes do SINGREH tem responsabilidades específicas que são pautadas pela PNRH. Então, os assuntos trabalhados em cada um dos módulos vistos e ainda a serem vistos deverão ser institucionalizados e implementados pelo SINGREH.

2.5.4. O quarto objetivo: Planejar, regular e controlar o uso, a preservação e recuperação dos recursos hídricos

Esse objetivo demonstra o papel estratégico do sistema na gestão dos recursos hídricos. É o sistema que delineia o retrato atual dos recursos hídricos e com ações buscará obter ou manter a quantidade e qualidade dos recursos hídricos de interesse para todos os usuários. Sempre atendendo aos interesses culturais, sociais, ambientais e econômicos sobre os recursos hídricos.

Questões técnicas são sugeridas neste objetivo que geram ações concretas. Caberá ao SINGREH, a cada um dos seus componentes, conforme suas responsabilidades, se estruturarem para trabalhar cada um dos itens referenciados neste objetivo.

2.5.5 O quinto objetivo: Promover a cobrança pelo uso dos recursos hídricos

A promoção da cobrança pelo uso não se dá pela figura do Estado, mas pelo SINGREH. É o próprio sistema que deverá estimular a cobrança com as finalidades de racionalizar o uso, indicar valor econômico a esse bem e financiar planos, programas e projetos inseridos na bacia de arrecadação.

É possível perceber que os objetivos traçados para o Sistema Nacional de Recursos Hídricos não são poucos, nem simples; porém é no funcionamento

Page 62: ANA - Lei Das Águas

21

adequado desse sistema que se dá o desafio da gestão dos recursos hídricos do Brasil.

2.6 Vamos aos exercícios de fixação do conteúdo?

1. ( ) São objetivos do SINGREH: Planejar, regular e controlar o uso, a preservação e recuperação dos recursos hídricos; Implementar a Política Nacional de Recursos Hídricos; e Coordenar a gestão integrada das águas.

2. ( ) Cabe a ANA arbitrar administrativamente os conflitos relacionados com os recursos hídricos.

3. ( ) Os objetivos do SINGREH norteiam as ações dos entes componentes desse sistema.

4.( ) São em número de quatro os objetivos do SINGREH

5. ( ) Planejar, regular e controlar o uso, a preservação e recuperação dos recursos hídricos não faz parte dos objetivos do SINGREH.

Gabarito Comentado

V São objetivos do SINGREH: Planejar, regular e controlar o uso, a preservação e recuperação dos recursos hídricos; Implementar a Política Nacional de Recursos Hídricos; e Coordenar a gestão integrada das águas.

F Cabe ao SINGREH arbitrar administrativamente os conflitos relacionados com os recursos hídricos;

V Os objetivos do SINGREH norteiam as ações dos entes componentes desse sistema.

F São em número de cinco os objetivos do SIN

F Planejar, regular e controlar o uso, a preservação e recuperação dos recursos hídricos não faz parte dos objetivos do SINGREH.

2.7 Reflexões finais sobre o SINGREH.

Neste módulo aprendemos sobre o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos criado pela Lei nº 9.433/97, quando também foi instituída a Política Nacional de Recursos Hídricos. Passamos por cada ente do Sistema e foi possível perceber o quanto cada um é importante, interdependente e complementar.

Page 63: ANA - Lei Das Águas

22

A implementação do SINGREH que contempla a descentralização, a integração e a participação num país federativo, como o Brasil, tem diversos desafios na gestão dos recursos hídricos a serem enfrentados, como por exemplo, a autonomia de estados e municípios e o domínio sobre as águas dos rios e demais corpos d’água.

Enfim, o SINGREH contempla espaços de diálogo adequados à resolução de conflitos, à superação de problemas e de lacunas existentes nos instrumentos jurídicos legais. O sucesso da gestão dos recursos hídricos brasileiros está em implementar esse sistema de modo que haja efetiva participação, descentralização e integração, tal como a lei preconiza.

Bom, no próximo e último módulo, após o exercício de avaliação, veremos quais os instrumentos disponíveis para que a política possa ser implementada pelo SINGREH. Agora vamos aos exercícios?

2.8 Exercícios de avaliação do módulo

Agora chegou o momento da avaliação. Serão 5 questões de correlacionar colunas e 5 questões V ou F que versam sobre o módulo 2. Antes de iniciá-lo você poderá retornar ao conteúdo para revisão. Você terá duas chances para responder as questões. Boa Sorte!

Relacione a coluna inferior com a coluna superior:

(1) Conselho Nacional de Recursos Hídricos (2) Agência Nacional de Águas (3) Agência de Águas ou Agência de Bacia (4) Comitê de Bacia (5) Conselho Estadual de Recursos Hídricos

( ) Colegiado constituído pelo poder público, usuários e sociedade civil, com competências para aprovar o plano de bacia, acompanhar a sua execução, estabelecer os mecanismos de cobrança e sugerir ao CNRH aos valores a serem cobrados.

( ) Braço executivo dos Comitês de Bacia, responsável por prestar apoio técnico, administrativo e financeiro aos Comitês de Bacias e instalada somente após a implementação da cobrança.

( ) Reguladora do uso de recursos hídricos em rios de domínio da União.

( ) Órgão máximo do SINGREH, responsável por dirimir conflitos de uso em última instância e subsidiar a formulação da Política Nacional de Recursos Hídricos.

( ) Órgão máximo estadual, responsável por dirimir conflitos de uso no âmbito do Estado e subsidiar a formulação da política estadual de recursos hídricos.

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23

Gabarito: (4)(3)(6)(2)(1)(5)

Marque com V ou F:

1.( ) Cabe a Agência Nacional de Águas promover a cobrança pelo uso da água.

2.( ) O SINGREH é o conjunto de instituições, órgãos e colegiados que visa implementar a Política Nacional de Recursos Hìdricos.

3.( ) Participam dos comitês de bacias os usuários diretos de recursos hídricos, os poderes públicos como municípios, estados e União e organizações da sociedade civil ligadas a questões hídricas.

4.( ) O SINGREH tem um papel estratégico importante de planejar, regular e controlar, não só o uso, mas também a recuperação e a preservação dos recursos hídricos.

5( ) O SINGREH tem cinco objetivos, entre eles o de promover conflitos relacionados aos recursos hídricos.

Gabarito Comentado

1. F Cabe SINGREH promover a cobrança pelo uso da água.

2.V

3;V

4.V

5. F O SINGREH tem cinco objetivos, entre eles o de arbitrar conflitos relacionados aos recursos hídricos

Bibliografia

AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS. A Evolução da Gestão dos Recursos Hídricos no Brasil. Brasília, 2002.

AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS. Comitê de Bacia Hidrográfica: O que é e o que faz? – Cadernos de Capacitação em recursos hídricos – Vol.1, Brasília, 2011.

AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS. Panorama do enquadramento dos corpos d’água do Brasil, e, Panorama da qualidade das águas subterrâneas no Brasil. Brasília : ANA, 2007. 124 p. : il. (Caderno de Recursos Hídricos, 5)

Page 65: ANA - Lei Das Águas

24

Apostila: Gestão dos Recursos Hídricos do Curso de Capacitação e Difusão Tecnológica. Edital MCT/ CNPq/ CT-Hidro/ ANA no 48/2008, Coordenação: Prof. Dr. Paulo Sérgio Bretas de Almeida Salles (UnB) Elaboração: Maria Manuela M A Moreira, Celina Xavier de Mendonça.

BRASIL, LEI Nº 8.078, DE 11 DE SETEMBRO DE 1990. Dispõe sobre a proteção do consumidor e dá outras providências.

MACHADO, P. A. L. Direito Ambiental Brasileiro. 18a Ed. São Paulo. Malheiros Editores, 2010,

MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Cadernos de Formação, Vol 3: Planejando a intervenção Ambiental no Município, Brasília, 2006.

SAITO, C.H. A política nacional de recursos hídricos e o sistema nacional de gerenciamento de recursos hídricos. Educação Ambiental – curso básico à distância: Gestão de recursos hídricos em bacias hidrográficas sob a ótica da educação ambiental. MMA, 2001, v. 5, 2ª edição ampliada.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS E UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA. Curso de Aperfeiçoamento em Gestão de Recursos Hídricos – Políticas e Legislação Ambiental. Sem data

Glossário Caráter deliberativo: Que decide após exame ou discussão. Caráter normativo: Que enuncia ou constitui uma norma. Caráter consultivo: Que se refere a conselho ou consulta. Cobrança pelo uso dos recursos hídricos: A cobrança pelo uso de recursos hídricos é um dos seis instrumentos da Política Nacional de Recursos Hídricos, estabelecidos no inciso IV, do art. 5º da Lei Federal nº 9.433, de 08 de janeiro de 1997. Esse instrumento tem como objetivos: reconhecer a água como bem econômico e dar ao usuário uma indicação de seu real valor; incentivar a racionalização do uso da água; obter recursos financeiros para o financiamento dos programas e intervenções contemplados nos planos de recursos hídricos, e assegurar o controle quantitativo e qualitativo dos usos da água e o efetivo exercício dos direitos de acesso aos recursos hídricos. Colegiados: órgãos em que há representações diversas e as decisões são tomadas em conjunto, com o aproveitamento de experiências diferenciadas. Comitês de bacias hidrográficas: Órgão colegiado que conta com a participação dos usuários, da sociedade civil organizada, de representantes de governos municipais, estaduais e federal. Os comitês têm como atribuição legal deliberar sobre a gestão da água. Instrumentos da Política Nacional de Recursos Hídricos: os Planos de Recursos Hídricos; o enquadramento dos corpos de água em classes, segundo os usos preponderantes da água; a outorga dos direitos de uso de recursos hídricos; a cobrança pelo uso de recursos hídricos; a compensação a municípios; o Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos.

Page 66: ANA - Lei Das Águas

25

Interesses coletivos: São direitos indivisíveis, cujos titulares são determinados ou determináveis e ligados entre si por uma relação jurídica base. Interesses difusos: São direitos de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato. Outorga: A outorga de direito de uso de recursos hídricos é um dos seis instrumentos da Política Nacional de Recursos Hídricos, estabelecidos no inciso III, do art. 5º da Lei Federal nº 9.433, de 08 de janeiro de 1997. Esse instrumento tem como objetivo assegurar o controle quantitativo e qualitativo dos usos da água e o efetivo exercício dos direitos de acesso aos recursos hídricos. Outorgar: Ato de dar outorga. Rios de domínio da União: os lagos, rios e quaisquer correntes de água em terrenos de seu domínio, ou que banhem mais de um Estado, sirvam de limites com outros países, ou se estendam a território estrangeiro ou dele provenham, bem como os terrenos marginais e as praias fluviais. Sistemas Estaduais de Gerenciamento de Recursos Hídricos: Instituídos por legislações estaduais à semelhança do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, geralmente, possuem funções de: coordenar a gestão integrada das águas; arbitrar administrativamente os conflitos relacionados com os recursos hídricos; implementar a Política Estadual de Recursos Hídricos; planejar, regular e controlar o uso, a preservação e a recuperação dos recursos hídricos estaduais; e promover a cobrança pelo uso de recursos hídricos. Interesses coletivos: São direitos indivisíveis, cujos titulares são determinados ou determináveis e ligados entre si por uma relação jurídica base. Interesses difusos: São direitos de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato.

Lista de Siglas

SINGREH - Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos

PNRH - Política Nacional de Recursos Hídricos

PRHs - Planos de Recursos Hídricos

SRHU/MMA - Secretaria de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano – Ministério do Meio Ambiente

ANA – Agência Nacional de Águas

CNRH – Conselho Nacional de Recursos Hídricos

CERH – Conselho Estadual de Recursos Hídricos

PNRH – Plano Nacional de Recursos Hídricos

Page 67: ANA - Lei Das Águas

1

Módulo 3: Política Nacional de Recursos Hídricos:

Instrumentos

Neste módulo, você irá conhecer cada um dos instrumentos introduzidos pela Lei

das Águas e utilizados na gestão dos recursos hídricos. Aprenderá também quais

são os seus objetivos e quem são os responsáveis pela sua implementação.

Page 68: ANA - Lei Das Águas

2

Conteúdo 3.1 Introdução ............................................................................................................................. 3

3.2 Os Instrumentos da Política Nacional de Recursos Hídricos .................................. 3

3.2.1 Plano de Recursos Hídricos .............................................................................................. 4

3.2.2 O enquadramento dos corpos de água em classes, segundo os usos

preponderantes da água ......................................................................................................... 12

3.2.3 Outorga de direito de uso dos recursos hídricos ....................................................... 17

Passos para obtenção da outorga ........................................................................................... 20

3.2.4 Cobrança pelo uso da água .................................................................................... 21

A cobrança em rios de domínio da União somente se inicia após a aprovação, pelo Conselho

Nacional de Recursos Hídricos, dos mecanismos e valores de cobrança propostos pelo

Comitê de Bacia. ...................................................................................................................... 23

3.2.5 Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos .................................................. 27

Reflexões finais sobre os Instrumentos .................................................................................. 29

3.4 Exercício de fixação ..................................................................................................... 31

3.5 Exercício de avaliação ................................................................................................. 32

Glossário .................................................................................................................................... 33

Referências Bibliográficas ....................................................................................................... 34

Page 69: ANA - Lei Das Águas

3

3.1 Introdução

Os fundamentos, objetivos e diretrizes da Lei das Águas, isso é, da Política

Nacional de Recursos Hídricos - PNRH são a base e orientam as ações a serem

desencadeadas pelo Estado e sociedade em se tratando dos recursos hídricos em

solos brasileiros. Já vimos também que o Sistema Nacional de Gerenciamento de

Recursos Hídricos – SINGREH é quem coordena a gestão integrada, arbitra

conflitos, implementa a PNRH, estimula a preservação e recuperação dos recursos

hídricos e propõe a cobrança pelo uso da água aos usuários.

Agora, é hora de conhecermos quais os instrumentos ditos na Lei das Águas,

isto é, as ferramentas disponíveis ao SINGREH para que esse alcance os seus

objetivos.

Mas... e na prática? Como é que se faz a gestão dos recursos hídricos? Você já

pensou nisso?

3.2 Os Instrumentos da Política Nacional de Recursos Hídricos

A Lei das Águas indicou os instrumentos que viabilizam a gestão dos recursos

hídricos.

Os cinco instrumentos elencados na Política Nacional de Recursos Hídricos

são interdependentes e deverão ser empregados em integração com os

instrumentos preconizados em outras políticas para uma bem sucedida gestão das

águas, como por exemplo a Política Nacional de Meio Ambiente.

Vamos lá?

Os instrumentos de gestão elencados na Política Nacional de Recursos Hídricos são:

Page 70: ANA - Lei Das Águas

4

3.2.1 Plano de Recursos Hídricos

Os Planos de Recursos Hídricos – PRH são instrumentos de

planejamento que servem para orientar a atuação dos gestores no que diz respeito

ao uso, recuperação, proteção, conservação e desenvolvimento dos recursos

hídricos.

Segundo a Lei das Águas, os Planos de Recursos Hídricos são planos

diretores que visam fundamentar e orientar a implementação da Política Nacional de

Recursos Hídricos e a gestão das águas.

Devem ser formulados com uma visão de longo prazo, em geral, com

horizontes entre dez e vinte anos, acompanhados de revisões periódicas. Dessa

forma, constitui um ciclo virtuoso do planejamento-ação-indução-controle-

aperfeiçoamento, como visto na imagem a seguir.

Page 71: ANA - Lei Das Águas

5

Tal estratégia é fundamental para se identificar as necessárias correções de

rumos e instituir um acompanhamento voltado para obtenção de resultados em

termos de melhoria da gestão das águas.

Além disso, devem ser negociados e pactuados nos comitês de bacia e

nos conselhos de recursos hídricos caracterizando seu caráter participativo de

planejamento.

Quais são os objetivos dos Planos?

Entre os objetivos dos Planos de Recursos Hídricos, podem ser

destacados os seguintes:

Definir uma agenda de recursos hídricos, identificando ações de gestão, programas, projetos, obras e investimentos prioritários, dentro de um contexto que inclua os órgãos governamentais, a sociedade civil, os usuários de água e as diferentes instituições que participam do gerenciamento dos recursos hídricos;

Adequar uso, controle e proteção dos recursos hídricos às aspirações sociais;

Atender demandas de água com foco no desenvolvimento sustentável (econômico, social e ambiental);

Equilibrar oferta e demanda de água, de modo a assegurar as disponibilidades hídricas em quantidade, qualidade e confiabilidade adequadas aos diferentes usos;

Planejamen-to

Ação

Indução Controle

Aperfeiçoa-mento

Ciclo virtuoso desejado para um bom planejamento

Page 72: ANA - Lei Das Águas

6

Orientar o uso dos recursos hídricos, considerando variações do ciclo hidrológico e dos cenários de desenvolvimento.

Diretrizes para a elaboração dos Planos

Os planos são elaborados tendo em vista a construção de cenários que

levam em conta as perspectivas de desenvolvimento da região. Dessa forma,

acabam por envolver assuntos que ultrapassam os limites da política de

recursos hídricos.

Além disso, pressupõem a existência de um conjunto de ações não

diretamente de responsabilidade do sistema de recursos hídricos, mas que tem

implicações sobre quantidade e qualidade das águas, tais como: tratamento de

esgotos, reflorestamento, proteção de nascentes, controle de erosão e

poluição, preservação de áreas de recarga de aquíferos, obras de

infraestrutura hídrica, etc.

Para efetivar uma gestão integrada das águas é preciso estabelecer

uma interdependência entre os PRHs e demais políticas setoriais. Pressupõe a

articulação e integração com outras áreas e adequação às diversidades físicas,

bióticas, demográficas, sociais e culturais das diversas regiões. Em nenhuma

hipótese deve dissociar os aspectos de quantidade e qualidade das águas.

Na figura a seguir esquematizamos a gestão integrada de recursos

hídricos e possíveis interações.

E qual a escala e as competências na elaboração dos planos?

Page 73: ANA - Lei Das Águas

7

Os PRHs devem ser elaborados por bacia hidrográfica, por estado e

para todo o país. O PRH de cada um desses territórios envolve diferentes

conteúdos e instituições responsáveis pela elaboração e aprovação.

Agora vamos ver para cada um desses territórios os respectivos

conteúdos:

I. Plano Nacional de Recursos Hídricos Abrange todo o território nacional e deve ter cunho eminentemente

estratégico. Deve conter metas, diretrizes e programas gerais.

II. Plano Estadual (Distrital) de Recursos Hídricos Plano estratégico de abrangência estadual e geral, ou do Distrito

Federal, com ênfase nos sistemas estaduais/distrital de gerenciamento

de recursos hídricos.

III. Plano de Bacia Hidrográfica Também denominado de plano diretor de recursos hídricos, é o

documento programático para a bacia, contendo as diretrizes de usos

dos recursos hídricos e as medidas correlatas. Em outras palavras é a

agenda de recursos hídricos da bacia e se caracteriza por incluir ações

de natureza executiva e operacional, em vista de sua perspectiva

regional (ou local).

Embora cada esfera ocupe um papel específico na gestão de recursos

hídricos, há uma inter-relação entre os planos nacional, estaduais e de bacias.

A articulação e a integração entre os PRHs e suas diferentes escalas deverão ser efetuadas pelo diálogo entre as entidades do SINGREH: conselhos, comitês de bacia, órgãos gestores e agências.

Já a elaboração e aprovação dos PRHs envolvem diferentes instâncias

do SINGREH. No quadro a seguir veremos as escalas, os conteúdos

Nacional

Estadual/ Distrital

Bacia

Page 74: ANA - Lei Das Águas

8

respectivos como já vistos e informações sobre quem elabora e quem aprova.

Vamos checar?

Resumo dos conteúdos dos planos, atribuições e responsáveis pelos

Planos de Recursos Hídricos.

ESCALA Conteúdo Elaboração Aprovação

Nacional

Plano Nacional -

diretrizes e/ou

propostas de ações

estratégicas

SRHU/MMA (coordena)

ANA (apoia) CNRH

Estadual

Plano Estadual -

diretrizes e/ou

propostas de ações

estratégicas

Órgãos Gestores de

Recursos Hídricos CERH

Bacia

Interestadual Agenda de recursos

hídricos da bacia,

contendo ações de

natureza executiva e

operacional

Agência de Bacia ou

Órgão Gestor

correspondente

Comitês de Bacia

Bacia Estadual

Vamos ver um exemplo hipotético para ilustrar a complexidade do

assunto na esfera das bacias hidrográficas?

Imagine uma bacia interestadual que ocupa parte do território de dois

estados: A e B. No Estado A, essa bacia está subdividida em cinco bacias

estaduais, todas elas com comitê de bacia instalado.

O Estado B tem três bacias estaduais, das quais apenas uma instalou

o comitê. Há, ainda, um comitê da bacia interestadual com representantes da

União, dos Estados, além dos usuários de água e organizações civis. Portanto,

têm-se oito bacias estaduais, uma bacia interestadual e sete comitês.

Nesse contexto, quantos planos de recursos hídricos seriam possíveis

de serem construídos nessa bacia?

( ) um único Plano

( ) oito Planos

( ) nove Planos

A visão tradicional poderia indicar nove planos: oito planos de bacia

estaduais e um plano de bacia interestadual. Mas esse é o desenho mais

inteligente de se estabelecer o planejamento desse território? Nesse caso, qual

o limite para um Plano de Bacia Interestadual ou Estadual?

Page 75: ANA - Lei Das Águas

9

A resposta não é simples, mas uma experiência inovadora demonstrou

como é possível articular as diferentes escalas no processo de elaboração dos

Planos de Bacia, independente do domínio do curso de água. É o caso da

Bacia do Rio Doce, vamos conhecê-lo?

Para a Bacia do Rio Doce foi elaborado um Plano Integrado de

Recursos Hídricos – PIRH para a bacia como um todo e, em conjunto e no

âmbito do PIRH, também foram desenvolvidos Planos de Ações Estratégicas

para as nove sub-bacias afluentes à bacia do Rio Doce.

Saiba mais:

http://www2.ana.gov.br/Paginas/servicos/planejamento/planoderecursos/PlanosdeRecursos.

aspx

http://www.riodoce.cbh.gov.br/Plano_Bacia.asp.

Entendendo os Planos de Bacia

Você deve estar lembrado que a bacia hidrográfica é a unidade

territorial para implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos e

atuação do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos -

SINGREH, conforme estabelecido nos fundamentos da Lei nº 9.433/1997.

É na escala da bacia hidrográfica que se torna possível colocar em

prática a gestão descentralizada e participativa de recursos hídricos. E esse

processo se dá fundamentalmente por meio da atuação do comitê de bacia

hidrográfica. É neste fórum de discussão que se dá a descentralização das

decisões, que envolve usuários da água, a sociedade civil organizada e o

poder público atuante nessas bacias.

Os Planos de Bacia servem de elementos motivadores e indutores da

gestão descentralizada e participativa. Indicam metas e soluções de curto,

médio e longo prazo para os problemas da bacia relacionados à água.

Como as metas e as soluções são negociadas entre os atores que

atuam na bacia hidrográfica, representados pelos membros do respectivo

Comitê, esses devem acompanhar a execução das ações propostas para o

alcance de tais metas.

A Lei das Águas descreve um conteúdo mínimo para constar dos

Planos de Recursos Hídricos, a saber:

Diagnóstico da situação atual dos recursos hídricos;

Page 76: ANA - Lei Das Águas

10

Análise de alternativas de crescimento demográfico, de evolução de atividades produtivas e de modificações dos padrões de ocupação do solo;

Balanço de disponibilidades e demandas futuras dos recursos hídricos, em quantidade e qualidade, com identificação de conflitos potenciais;

Metas de racionalização de uso, aumento da quantidade e melhoria da qualidade dos recursos hídricos disponíveis;

Além desses, temos:

Medidas a serem tomadas, programas a serem desenvolvidos e projetos a serem implantados para atendimento das metas previstas;

Prioridades para outorga de direitos de uso de recursos hídricos;

Diretrizes e critérios para a cobrança pelo uso de recursos hídricos;

Propostas para a criação de áreas sujeitas a restrições de uso, com vistas à proteção dos recursos hídricos.

Embora a lei aponte conteúdos como uma referência mínima, na prática

nem todos os planos conseguem prever, de forma satisfatória, esse conteúdo

mínimo, por vezes em função da dificuldade de estabelecer a negociação e o

consenso sobre determinados assuntos.

Contudo, mais importante do que ter um plano que contemple todos os

itens, é fundamental que o plano seja fruto do pacto construído entre os atores

envolvidos. E o aprimoramento do plano é uma necessidade que pode ser

construída nas etapas de revisão periódica desse instrumento.

Etapas de elaboração do Plano

“O rio/bacia que temos”

“O rio/bacia que queremos”

“O rio/bacia que podemos

ter”

Page 77: ANA - Lei Das Águas

11

Em todas as etapas é fundamental que haja a participação dos atores

para que (re) conheçam a realidade dos recursos hídricos e se comprometam

com a gestão das águas.

A elaboração do Plano de Recursos Hídricos de forma participativa

requer negociação e disposição para abrir mão de alguns pressupostos e

alcançar um objetivo comum.

Superadas a etapa de elaboração de um Plano de Recursos Hídricos de

forma participativa, não se esgotam os desafios. Na verdade, o maior desafio é

colocar o PRH em execução, fazer com que as ações pactuadas se tornem

realidade. Para isso, é fundamental a articulação continuada com os setores,

bem como é preciso que haja um adequado funcionamento das instituições do

SINGREH: conselhos, comitês, agências de água, entidades públicas gestoras

de recursos hídricos, entre outras.

Plano de Bacia e a relação com o território

O Plano de Bacia é um instrumento que possui uma característica que

se diferencia dos demais instrumentos de planejamento setoriais. A partir do

território, ou seja, da bacia hidrográfica agrega-se em um único instrumento os

anseios das diferentes políticas setoriais.

Por isso, caracteriza-se como um instrumento privilegiado para orientar o

desenvolvimento do território. Entretanto, para ser implementado depende do

apoio político e da articulação dos atores envolvidos.

Assim, entre os Planos de Recursos Hídricos existentes é o Plano de

Bacia que tem maior correlação com os municípios. Um Plano de Bacia deve

atender às particularidades desse território, de ordem social, cultural, ambiental

e econômica, o que indica a necessidade de uma “leitura” própria desse

instrumento para a região em questão.

Por exemplo, os desafios postos para o planejamento e gestão nas

bacias localizadas na região do semiárido são muito diferentes daqueles

enfrentados por bacias em regiões do sudeste altamente povoadas e com alto

grau de desenvolvimento.

Você conhece os principais desafios em termos de gestão das águas na

região onde você atua?

Essa figura mostra de modo geral os principais desafios em âmbito nacional.

Page 78: ANA - Lei Das Águas

12

Por fim, as informações que constam do plano orientarão a

implementação dos demais instrumentos, isto é, a partir de diretrizes traçadas

nos planos e dados gerados na sua elaboração será possível subsidiar as

tomadas de decisão seja para outorgar, enquadrar, cobrar ou alimentar o

sistema de informações, que são os próximos instrumentos a serem estudados,

vamos lá?

3.2.2 O enquadramento dos corpos de água em classes, segundo os

usos preponderantes da água

O enquadramento dos corpos de água, da mesma forma que o Plano

de Recursos Hídricos, é um instrumento previsto na Lei das Águas e que se

caracteriza pelo seu caráter de planejamento.

O enquadramento dos corpos de água representa o estabelecimento da

meta de qualidade da água a ser alcançada, ou mantida, em um segmento de

corpo d´água, de acordo com os usos pretendidos.

Expansão da Geração

Hidrelétrica

Expansão

da Fronteira Agrícola

Poluição

Hídrica

Déficit Hídric

o

Déficit Hídric

o

Page 79: ANA - Lei Das Águas

13

Saiba Mais:

Resolução do CONAMA nº 357/2005: dispõe sobre a classificação dos corpos de água, fornece as diretrizes ambientais para o seu enquadramento, bem como estabelece as condições e padrões de lançamento de efluentes.

Quais são os objetivos do enquadramento?

O enquadramento visa:

assegurar às águas qualidade compatível com os usos mais

exigentes a que forem destinadas;

diminuir os custos de combate à poluição das águas, mediante

ações preventivas permanentes.

Considerando ser um instrumento de planejamento, é preciso avaliar a

condição atual do rio para estabelecer uma meta de qualidade da água futura,

ou seja:

“o rio que temos” – discutir, com a população da bacia, a condição de

qualidade em que se encontra aquele rio,

“o rio que queremos” – discutir, com a população da bacia, a condição

de qualidade desejada para determinado corpo hídrico,

“o rio que podemos ter” – discutir e pactuar com os diferentes atores da

bacia hidrográfica, levando em conta as limitações técnicas e

econômicas para o alcance de metas de qualidade para determinado

corpo hídrico, em um horizonte de tempo estabelecido.

Vale lembrar que o enquadramento se aplica a qualquer corpo d´água,

não somente aos rios.

Em alguns casos, é possível que a qualidade da água atual do rio seja

boa e os representantes da bacia já tenham o rio desejado. Nesse caso, é

preciso discutir e planejar quais são as ações necessárias para manter a

O rio que temos O rio que queremos

O rio que podemos ter

Page 80: ANA - Lei Das Águas

14

qualidade da água desejada e que permitam promover a gestão dos usos

múltiplos futuros.

Estabelecer uma meta de qualidade para um corpo d´água é uma

tarefa que requer a análise de quais serão os usos preponderantes naquela

região.

Cada tipo de uso pressupõe uma qualidade da água mais ou menos

exigente. A qualidade da água necessária para a preservação das

comunidades aquáticas e para o abastecimento humano é maior do que a

qualidade da água para o uso, por exemplo, da navegação.

Por isso, foram criadas, por meio da Resolução nº 357 CONAMA de 17

de março de 2005, classes da qualidade de água para usos mais exigentes

(preservação) ou menos exigentes (navegação, por exemplo). Para as águas

doces, foram criadas 5 categorias, a classe especial e as classes de 1 a 4, em

uma ordem decrescente de qualidade, ou seja, a classe especial é a que tem

melhor qualidade da água e a classe 4 é a de pior qualidade.

R i o M o s q u i t o – Á g u a s V e r m e l h a s - M G

Page 81: ANA - Lei Das Águas

15

Já para as águas salobras e salinas foram criadas 4 categorias, a classe

especial e as de número 1 a 3.

A elaboração da proposta de enquadramento é uma atribuição de

caráter técnico, portanto, deve ser efetuada pelas agências de água, e na sua

ausência, pelo órgão gestor de recursos hídricos, em articulação com o órgão

de meio ambiente. Essa proposta deve ser discutida e pactuada no Comitê de

Bacia, que por sua vez, deverá submetê-la à aprovação do respectivo

Conselho de Recursos Hídricos.

As etapas do processo de formulação e implementação do

enquadramento são:

Diagnóstico da bacia;

Prognóstico (cenários futuros);

Elaboração do enquadramento;

Análise e deliberação do Comitê e do Conselho de Recursos Hídricos; e

Implementação do programa de efetivação.

.

USOS

MENOS EXIGENTES

QUALIDADE DA ÁGUA

EXCELENTE

USOS

MAIS EXIGENTES

QUALIDADE DA ÁGUA

RUIM

Classe 4

Classe especial

Classe 1

Classe 2

Classe 3

Page 82: ANA - Lei Das Águas

16

Como já dissemos o enquadramento dos corpos de água representa o estabelecimento da META de qualidade da água a ser alcançada, ou mantida, em um segmento de corpo de água, de acordo com os usos pretendidos. Para que esse instrumento seja implementado é fundamental que as metas estabelecidas sejam realistas, considerando a relação custo-benefício, a definição inicial de um número limitado de parâmetros relacionados aos principais problemas da bacia, a vocação da bacia, as realidades regionais e a progressividade das ações previstas para a unidade territorial em questão.

Page 83: ANA - Lei Das Águas

17

Os instrumentos de planejamento plano e enquadramento fazem parte da PNRH. Adicionados a esses a mesma lei preconizou instrumentos de controle, que em conjunto resultarão na melhoria e manutenção da qualidade e quantidade de água, bem como na disponibilidade de recursos hídricos para todos os usos. Vejamos os demais instrumentos.

3.2.3 Outorga de direito de uso dos recursos hídricos

Segundo a Constituição Federal de 1988, a água é um bem de domínio

ou da União ou dos Estados. A Lei das Águas estabelece em seu artigo 1º,

inciso I, que a água é um bem de domínio público (módulo 1). Portanto

ninguém é dono da água, mas como um bem público o seu uso precisa ser

assegurado a todos de forma organizada.

É aí que entra o poder público (União e Estados) para regular o uso da

água e uma das principais formas de fazer isso é emitindo outorgas para o uso

da água. Em outras palavras, trata-se de uma licença cedida pelo poder público

para o uso da água, mas esse bem continua sendo público.

Isto significa dizer que se um empreendedor necessita, por exemplo,

utilizar a água em um processo produtivo, tem que solicitar a outorga ao poder

público, seja ele federal ou estadual.

A outorga é o ato administrativo mediante o qual o poder público

outorgante (União, Estado ou Distrito Federal) faculta ao outorgado

(requerente) o direito de uso de recursos hídricos, por prazo determinado, nos

termos e nas condições expressas no respectivo ato. O ato administrativo é

publicado no Diário Oficial da União (no caso da ANA), ou nos Diários Oficiais

dos Estados ou do Distrito Federal.

A outorga de direito de uso de recursos hídricos é o instrumento da

política de recursos hídricos que tem os objetivos de assegurar:

o controle quantitativo e qualitativo dos usos da água; e

o efetivo exercício dos direitos de acesso à água.

A outorga deve ser requerida para diversos usos das águas que interfiram, direta ou potencialmente, na qualidade e quantidade de água disponível em determinado corpo hídrico. Que usos são esses que exigem outorga da água? Estarão sujeitos às outorgas do direito de uso de água:

Page 84: ANA - Lei Das Águas

18

a derivação ou captação de água para consumo final inclusive abastecimento público ou para processo produtivo;

extração de água de aquíferos subterrâneos;

lançamento em corpo d’água de esgotos, tratados ou não;

aproveitamentos de potenciais hidrelétricos e

outros usos possíveis.

Estrutura para captação a fio d‘água em curso de água superficial.

Equipamento para perfuração de poço.

Efluente lançado em um curso de água.

Usina Hidrelétrica.

Porém, independem de outorga:

Page 85: ANA - Lei Das Águas

19

o uso de recursos hídricos para a satisfação das necessidades de pequenos núcleos populacionais, distribuídos no meio rural;

as derivações, captações e lançamentos considerados de pouca expressão (em relação a quantidade captada e o volume existente no local);

as acumulações de volumes de água consideradas de pouca expressão.

Neste último caso volume de água considerado de pouca expressão

varia em cada bacia hidrográfica por conta das diferentes disponibilidades hídricas. A outorga é um ato renovável, podendo ser suspensa, parcial ou totalmente, nas seguintes situações:

se os termos da outorga não forem cumpridos;

se não houver uso por três anos consecutivos;

em casos de calamidade, necessidade de prevenção ou reversão de degradação ambiental;

atendimento aos usos prioritários de interesse coletivo; e

para navegabilidade. Afinal, quem outorga?

Cabe à União, por meio da Agência Nacional de Águas – ANA

outorgar o uso de recursos hídricos:

em rios cujas águas banham mais de um Estado,

em rios que fazem fronteira entre Estados,

em reservatórios oriundos de obras da União e de águas em áreas de sua propriedade, e

em rios compartilhados com outros países vizinhos.

As demais águas, inclusive as subterrâneas, estão sob o domínio dos

Estados e Distrito Federal, ficando os mesmos responsáveis pela outorga dos

recursos hídricos sob sua jurisdição.

É bom lembrar que, como o município não tem jurisdição sobre recursos

hídricos de nenhuma espécie, e, portanto, não tem competência para outorgar

seu uso.

Critérios para análise de outorgas:

Page 86: ANA - Lei Das Águas

20

A legislação de recursos hídricos apresenta critérios importantes que

devem ser considerados em todas as análises de outorgas realizadas, tais

como:

as prioridades de uso estabelecidas nos Planos de Recursos Hídricos (obrigatoriedade prevista na Lei nº 9.433/97);

o respeito à classe em que o corpo de água estiver enquadrado;

a manutenção de condições adequadas ao transporte aquaviário, quando for o caso;

a relevância da preservação do uso múltiplo dos recursos hídricos. Isso significa que não deve ser comprometida a disponibilidade hídrica de uma bacia com apenas um usuário ou um setor usuário, em situações em que haja diversos setores com interesses de uso.

Passos para obtenção da outorga

Para solicitar a outorga na ANA, o interessado deverá cadastrar o seu

empreendimento no Cadastro Nacional de Usuários de Recursos Hídricos –

CNARH, imprimir a Declaração de Uso e enviar juntamente com os formulários

e estudos específicos de cada finalidade de uso para a Superintendência de

Regulação – SRE. A documentação pode ser entregue diretamente no

Protocolo Geral da ANA ou enviada pelos Correios.

Na página da ANA podem ser acessados os formulários necessários

para dar entrada com os pedidos de outorga e a lista dos documentos e

estudos específicos.

Cada Estado dispõe de procedimentos e formulários próprios. O

interessado deve entrar em contato com o respectivo órgão para mais

informações. Pelo site da ANA é possível localizar os links para os órgãos

estaduais responsáveis pelas outorgas.

A efetividade da outorga depende de uma atividade finalística que é a

fiscalização. Nos rios de domínio da união a fiscalização é feita pela Agência

Nacional de Águas, que visa promover a regularização e o uso múltiplo das

águas, um dos fundamentos da Política Nacional de Recursos Hídricos.

O objetivo primordial da fiscalização é a orientação do usuário para

regularização, dentre outras da outorga, e deste modo prevenir condutas

ilícitas, mas também apresenta caráter repressivo, com a adoção de sanções

previstas na legislação.

Saiba Mais:

http://www2.ana.gov.br/Paginas/institucional/SobreaAna/uorgs/sof/geout.aspx

http://www.ana.gov.br/bibliotecavirtual/arquivos/20120809153859_Volume_6.pdf

Page 87: ANA - Lei Das Águas

21

Após conhecermos o plano, o enquadramento e a outorga, o novo

instrumento que veremos a seguir é classificado como um instrumento

econômico. Vejamos a cobrança pelo uso da água.

3.2.4 Cobrança pelo uso da água

Entre os fundamentos descritos na Política Nacional de Recursos Hídricos tem-se que a água é um recurso natural limitado, dotado de valor econômico. A partir desse fundamento originou-se a cobrança pelo uso dos recursos hídricos.

Quais os objetivos da cobrança?

A cobrança tem por objetivos:

reconhecer a água como bem econômico e indicar para o usuário o seu valor real;

incentivar a racionalização do uso da água; e

obter recursos financeiros para custear programas e intervenções mencionados nos planos de recursos hídricos.

A cobrança pelo uso de recursos hídricos é um instrumento econômico que complementa instrumentos reguladores ou de controle, como a outorga e o licenciamento ambiental, e que materializa o princípio poluidor-pagador, e do usuário-pagador, consagrado na legislação ambiental e inserido na Política Nacional de Recursos Hídricos.

Entendendo melhor os objetivos da cobrança

Reconhecer a água como bem econômico e dar ao usuário uma indicação de seu real valor

Quando um bem se torna escasso, passa a ter valor econômico. Bens

como a terra e o ouro foram adquirindo maior valor econômico à

medida que se tornaram mais escassos.

O valor destes bens é definido pela relação entre oferta e procura

quando da sua negociação no mercado. A água no Brasil, entretanto,

é um bem público e não pode ser negociada no mercado. Logo, o seu

valor não pode ser definido pela relação entre oferta e procura.

Com este objetivo, a cobrança tem a característica pedagógica de

propiciar à sociedade a noção de que a água é um bem escasso e

que deve ser valorizada como tal.

Page 88: ANA - Lei Das Águas

22

Incentivar a racionalização do uso da água

A cobrança com objetivo da racionalização do uso da água baseia-se

no pressuposto de que, quanto mais um indivíduo tiver de pagar por

um bem, mais racional será o seu uso.

Além da racionalização do uso de cada indivíduo, há também a

racionalização do uso na bacia que se traduz na alocação ótima da

água entre os usuários. A otimização da alocação pode se dar em

termos hidrológicos, econômicos, políticos ou sociais.

Obter recursos financeiros para o financiamento dos programas e intervenções contemplados nos planos de recursos hídricos

A determinação do valor da cobrança para atingir este objetivo é a

mais simples entre os três objetivos. Basta tomar a totalidade ou parte

do montante necessário para realizar as intervenções e dividi-lo entre

os usuários, como no rateio de custos entre os moradores de um

condomínio. A dificuldade reside no critério de rateio a ser utilizado.

Os objetivos da Cobrança previstos na Lei não são excludentes entre si.

Por exemplo, mesmo que os valores de cobrança sejam definidos apenas pelo

rateio de custos, os usuários serão incentivados a racionalizar o seu uso e

terão uma indicação de que a água é um bem econômico e tem valor.

Vale ressaltar que a implementação da cobrança é realizada a partir de

um pacto estabelecido no âmbito dos Comitês de Bacia, com participação dos

usuários de água, da sociedade civil e do poder público, sendo encarada como

um instrumento de incentivo ao uso sustentável da água, ao invés de um

instrumento meramente arrecadador.

A cobrança é um imposto? Não, a cobrança não é um imposto, trata-se de um preço público, fixado a partir de um pacto entre os usuários de água, sociedade civil e poder público em discussões realizadas no comitê de bacia do rio em que se implementará a cobrança. Também não deve ser confundida com a cobrança pela prestação de serviços, como por exemplo, o abastecimento público. Além disso, os recursos arrecadados não vão para o governo e sim para investimentos em estudos, projetos e obras previstos no plano da bacia, daquela bacia hidrográfica em que a cobrança foi implementada. Só para reforçar: a cobrança não é imposto, não é taxa, não é tributo, não é tarifa, não é contribuição, não é compensação. A cobrança é constituída na figura jurídica de um preço público, que visa a remunerar o uso de um bem público – a água – por um particular. Quem deverá pagar?

Page 89: ANA - Lei Das Águas

23

Só pagam os usuários outorgáveis, ou seja, aqueles que utilizam quantidades expressivas de água dos rios, barragens ou lençóis subterrâneos. Como é feita a cobrança?

A implantação da cobrança pelo uso da água é uma iniciativa dos

comitês em atuação na bacia hidrográfica. Os valores a serem cobrados pelo uso da água são sugeridos pelos comitês e aprovados pelo respectivo conselho de recurso hídrico, que devem levar em conta os programas existentes e a capacidade de pagamento dos usuários.

A cobrança em rios de domínio da União somente se inicia após a aprovação, pelo Conselho Nacional de Recursos Hídricos, dos mecanismos e valores de cobrança propostos pelo Comitê de Bacia.

Passos para a Implementação da Cobrança

Page 90: ANA - Lei Das Águas

24

Para a cobrança ser viabilizada com sucesso é necessário um ambiente organizado, com poder de diálogo e abertura para pactos entre representantes dos diferentes setores no comitê de bacia hidrográfica. Somente o uso de instrumentos normativos, que obrigue a cobrança, pouco pode contribuir na efetiva implementação desse instrumento, nos moldes que a Política Nacional de Recursos Hídricos preconiza.

Para Saber mais: http://www2.ana.gov.br/Paginas/servicos/cobrancaearrecadacao/cobrancaearrecadacao.aspx http://arquivos.ana.gov.br/institucional/sag/CobrancaUso/BaciaDoce/20110818_CartilhadeCobrancaRioDoce.pdf

E quem faz, o que?

Isto é, em relação a cobrança, quais são as responsabilidades dos entes do SINGREH?

Page 91: ANA - Lei Das Águas

25

Entes do SINGREH e suas Competências Relacionadas à Cobrança

Entes do SINGREH Competências Relacionadas à Cobrança

Agências de Água

Propor ao Comitê de Bacia Hidrográfica: i) os valores a serem Cobrados e ii) o plano de aplicação dos recursos arrecadados com a Cobrança.

Analisar e emitir pareceres sobre os projetos e obras a serem financiados com recursos gerados pela Cobrança e encaminhá-los à instituição financeira responsável pela administração desses recursos;

Acompanhar a administração financeira dos recursos arrecadados com a Cobrança em sua área de atuação;

Elaborar o Plano de Recursos Hídricos para apreciação do Comitê de Bacia Hidrográfica;

Dependendo da agência, arrecadar os recursos da cobrança.

Comitês de Bacias Hidrográficas

Aprovar o plano de recursos hídricos da bacia;

Propor ao respectivo Conselho de Recursos Hídricos os usos de pouca expressão, para efeito de isenção da Outorga, e consequentemente, da Cobrança;

Estabelecer os mecanismos de cobrança e sugerir os valores a serem cobrados.

Conselhos de Recursos Hídricos (Conselho Nacional

de Recursos Hídricos / Conselhos Estaduais de Recursos Hídricos)

Deliberar sobre as questões que lhe tenham sido encaminhadas pelos Comitês de Bacia Hidrográfica;

Estabelecer critérios gerais para a Cobrança;

Definir os valores a serem cobrados pelo uso de recursos hídricos, com base nos mecanismos e quantitativos sugeridos pelos Comitês de Bacia Hidrográfica.

ANA e Órgãos Estaduais Correlatos

Implementar a Cobrança em articulação com os Comitês de Bacias Hidrográficas;

Efetuar a Cobrança, podendo delegá-la às Agências de Água;

Elaborar estudos técnicos para subsidiar o respectivo Conselho de Recursos Hídricos na definição dos valores a serem cobrados.

Como serão utilizados os recursos arrecadados? Os valores arrecadados com a cobrança devem ser aplicados

prioritariamente na bacia em que foram gerados, segundo a Lei das Águas. No caso dos rios das bacias interestaduais os valores arrecadados pela União são repassados integralmente para aplicação na bacia em que foram arrecadados.

O plano de recursos hídricos é que deve nortear a aplicação dos

recursos arrecadados pela cobrança. Esses recursos arrecadados podem ser aplicados a fundo perdido em projetos e obras que alterem, de modo

Page 92: ANA - Lei Das Águas

26

considerado benéfico à coletividade, a qualidade, a quantidade e o regime de vazão de um corpo de água.

A Lei das Águas prevê que parte dos recursos arrecadados com a

cobrança pelo uso da água sejam aplicados no custeio administrativo dos

órgãos e entidades integrantes do Sistema Nacional de Gerenciamento de

Recursos Hídricos, entretanto, essas despesas ficam limitadas a 7,5% do

total arrecadado.

Para se ter uma ideia do volume de recursos com a cobrança, vejamos

alguns exemplos, com valores aproximados, referentes a 2011:

Bacia Valor Cobrado Valor Arrecadado

Paraíba do Sul R$19,5 milhões R$34,7 milhões*

PCJ R$33,6 milhões R$ 33,4 milhões

São Francisco R$32 milhões R$28 milhões

Paranaíba R$ 4,5 milhões R$ 3,3 milhões

Lagos São João R$1,3 milhão R$1,2 milhão

Sorocaba e Médio

Tietê R$ 7,1 milhões R$ 6,7 milhões

* A diferença ente o valor cobrado e o arrecadado é decorrente de um valor depositado em

juízo pela Companhia Siderúrgica Nacional.

Exemplos de usos aplicados com o valor arrecadado com a cobrança pelo uso

da água:

Page 93: ANA - Lei Das Águas

27

Ampliação da ETE do Município de Cabreúva-SP, localizada no distrito de

Jacaré (Rios PCJ) – situação antes e depois.

Melhorias na ETE Pinheirinho, no município de Vinhedo-SP (Rios PCJ)

ETE Parque das Garças, Município de Volta Redonda-RJ (Bacia do Paraíba do

Sul)

3.2.5 Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos

O Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos – SIRH constitui-se num sistema de coleta, tratamento, armazenamento e recuperação de informações sobre recursos hídricos. Esse sistema articula informações para que não fiquem dispersas e isoladas.

Qual o objetivo do Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos?

reunir, dar consistência e divulgar dados e informações qualitativas e quantitativas dos recursos hídricos do Brasil;

Page 94: ANA - Lei Das Águas

28

atualizar sobre disponibilidade e demanda de recursos hídricos em todo território nacional; e

fornecer subsídios para a elaboração de Planos de Recursos Hídricos.

Esse instrumento apoia os demais instrumentos, pois sem a

sistematização da informação, sem uma contabilidade hídrica adequada, não há como se falar em planos, outorga, cobrança e enquadramento dos cursos d’água.

O funcionamento do sistema tem princípios básicos como:

a descentralização da obtenção e produção de dados e informações;

a coordenação unificada do sistema; e

acesso aos dados e informações à toda a sociedade.

O Poder Executivo Federal, representado pela ANA, de acordo com sua lei de criação, deverá implantar e gerir o sistema de informações em âmbito nacional, conhecido por Sistema Nacional de Informações sobre Recursos Hídricos – SNIRH. Da mesma forma, os Poderes Executivos Estaduais e do Distrito Federal deverão implementar seus sistemas de informações em âmbito estadual/distrital, bem como as Agências de Água deverão fazê-lo na sua área de atuação.

Além disso, a ANA disponibiliza e promove o intercâmbio de dados e informações, por intermédio de Tecnologias da Informação (TI), com os estados e as entidades relacionadas à gestão de recursos hídricos. Isso ocorre, porque um dos princípios básicos do SNIRH é a descentralização da obtenção e produção de dados e informações pelos órgãos integrantes do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos.

Para que serve o SIRH?

Os dados e informações que integram os Sistemas de Informações

sobre Recursos Hídricos, nacional, estaduais e das bacias hidrográficas

permitem identificar as variações sazonais, regionais e interanuais das

disponibilidades hídricas no Brasil.

Entre as informações coletadas encontram-se dados sobre cotas,

vazões, chuvas, evaporação, perfil do rio, qualidade da água e sedimentos.

Trata-se de uma importante ferramenta para a sociedade, pois os dados

coletados pelas estações de monitoramento são utilizados para produzir

estudos, definir políticas públicas e avaliar a disponibilidade hídrica. Por meio

dessas informações, a ANA monitora eventos considerados críticos, como

cheias e estiagens, disponibiliza informações para a execução de projetos,

identifica o potencial energético, de navegação ou de lazer em um determinado

ponto ou ao longo da calha do manancial, levanta as condições dos corpos

Page 95: ANA - Lei Das Águas

29

d’água para atender a projetos de irrigação ou de abastecimento público, entre

outros.

Outro aspecto importante é o Sistema Balanço Hídrico do Brasil. Com ele o País se torna um dos poucos do mundo a saber diariamente o volume de água que entra pelas suas fronteiras na Amazônia e o volume que sai para outros países pelas principais bacias do território nacional, além do total que deságua no Oceano Atlântico.

Além disso, o Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos deve

armazenar todos os dados relevantes à análise dos pedidos de outorga, bem

como as informações de demandas autorizadas nas bacias hidrográficas do

país, por meio das outorgas emitidas pelas entidades gestoras de recursos

hídricos.

O cadastramento dos usuários, que é parte integrante do Sistema de

Informações sobre Recursos Hídricos, fornece informações para os planos

diretores e para os estudos de enquadramento de corpos de água em

classes, uma vez que o conhecimento da situação de usos da água na bacia

subsidiam a definição de cenários futuros.

Já a outorga e a cobrança devem ser orientadas pelos planos e pelo

enquadramento e, por outro lado, a sistemática da outorga constitui um módulo

específico do Sistema de Informações.

Essas são algumas das possíveis funcionalidades do Sistema Nacional

de Informações sobre Recursos Hídricos. Uma das premissas fundamentais

para boa tomada de decisão é o acesso e a disponibilização de informações

confiáveis, por isso o SNIRH é um instrumento que integra, sendo de

fundamental importância para a PNRH.

Para Saber mais: http://portalsnirh.ana.gov.br/

Reflexões finais sobre os Instrumentos

Os cinco instrumentos estudados encontram-se em diferentes fases de implementação nas bacias hidrográficas de nosso país. Estamos num processo de aprendizagem e enfrentamento contínuo de desafios. As diversidades entre e intrabacias invoca ações criativas para atender as demandas da Política Nacional de Recursos Hídricos.

Além disso, a correlação entre instrumentos é estreita. A implementação de um instrumento depende do outro e a melhoria de um instrumento depende

Page 96: ANA - Lei Das Águas

30

do refinamento e da transparência na obtenção de informações relativas aos recursos hídricos.

A implementação dos instrumentos de gestão são fortemente interdependentes e complementares, demanda capacidades técnicas, políticas e institucionais fortalecidas.

Podemos montar uma correlação entre instrumentos e entes componentes do SINGREH, para fins didáticos. Porém, a integração e articulação entre entes são conceitos essenciais para uma gestão dos recursos hídricos de sucesso.

Plano de

Recursos

Hídricos

Enquadra

mento

Outorga/Fiscaliza

ção Cobrança

Sistema

de

Informa

ções União Estado

CNRH Aprovar e

acompanhar a

execução

Aprovar

Estabelec

er

critérios

gerais

-

Estabelecer critérios

gerais e definir

valores

-

CERHs Aprovar e

acompanhar a

execução

Aprovar -

Estabelec

er

critérios

gerais

Estabelecer critérios

gerais e definir

valores

-

Comitês Aprovar e

acompanhar a

execução

Selecionar

alternativa

Estabelec

er

priorida

des

Variável

nos

Estados

Estabelecer diretrizes

e critérios, aprovar

mecanismos e sugerir

valores

-

SRHU/

MMA Coordenar - - - -

ANA -

Monitorar,

controlar e

fiscalizar

Outorgar

e

fiscalizar

-

Arrecadar,

implementar (c/

CBHs) e acompanhar

a administração dos

recursos. Elaborar

estudos para

subsidiar o CNRH

Implantar

e gerir

Page 97: ANA - Lei Das Águas

31

OGRHs - Monitorar,

controlar e

fiscalizar

-

Outorgar

e

fiscalizar

Variável nos Estados,

sendo que alguns

têm a atribuição de

arrecadar

Implantar

e gerir

SECEX/

Agência

de Água

Coordenar,

elaborar e

executar

Propor

alternativas

e efetivar

Receber

pedidos,

analisar

e emitir

parecer*

-

Propor valores ao

CBH, arrecadar*,

aplicar e administrar

os recursos

Implantar

e gerir

A articulação, a integração dos entes na implementação dos instrumentos bem como o envolvimento e comprometimento dos atores estão entre os principais desafios da gestão de recursos hídricos. A construção de pactos referendados pelos setores envolvidos na gestão dos recursos hídricos (usuários, sociedade civil e poder público) consonantes com a PNRH fortalecerão o SINGREH e consequentemente a gestão dos recursos hídricos em território brasileiro.

Exercício de fixação

Responda V para verdadeiro e F para falso:

1. A Lei das águas prevê quatro instrumentos para a implementação da PNRH.

2. Os planos de recursos hídricos e a outorga são dois instrumentos voltados ao planejamento.

3. A cobrança pelo uso da água deve garantir a total implementação dos planos de recursos hídricos.

4. As classes da qualidade da água pressupõem níveis diferenciados de qualidade conforme usos mais ou menos exigentes.

5. A cobrança pelo uso da água é um imposto necessário para custear as ações previstas nos Planos de Bacia

6. Os Planos de Bacia hidrográfica devem atender às peculiaridades do território.

7. O principal instrumento que permite regular o uso da água é a outorga. 8. O sistema de informações sobre recursos hídricos destina-se apenas

ao cadastro de usuários que deverão pagar pelo uso da água. 9. Nas bacias interestaduais todos os instrumentos previstos na PNRH já

estão implementados. 10. É na escala da bacia hidrográfica que se torna possível colocar em

prática a gestão descentralizada e participativa de recursos hídricos.

Page 98: ANA - Lei Das Águas

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Gabarito Comentário

1. F São cinco os instrumentos da PNRH: Planos de Recursos Hídricos, Enquadramento dos Corpos d´água, Cobrança pelo uso da água, Outorga, Sistema de Informações

2. F Os planos de recursos hídricos e o enquadramento são dois instrumentos voltados ao planejamento

3. F Os planos devem prever outras fontes de recursos para a sua implementação.

4. V

5. F A cobrança pelo uso da água não é imposto.

6. V A implementação de todos os instrumentos é um desafio a ser buscado em todas as bacias hidrográficas

7. V

8. F O Sistema de informações constitui-se num sistema de coleta, tratamento, armazenamento e recuperação de informações sobre recursos hídricos.

9. F

10. V

3.5 Exercício de avaliação

Relacione uma coluna com a outra:

Instrumentos:

1. Enquadramento 2. Sistema de informações 3. Cobrança 4. Plano de recursos hídricos 5. Outorga

Conceitos:

( ) incentiva a racionalização de uso e é meio de obtenção de recursos para investimento na bacia hidrográfica de origem.

( ) previne quanto a custos futuros no combate a poluição e assegura qualidade compatível com o uso a que se destina.

( ) sistema de coleta, tratamento, armazenamento e recuperação de informações a respeito de recursos hídricos.

( ) autoriza o uso da água e assegura o controle quantitativo e qualitativo dos recursos hídricos.

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( ) fundamenta e orienta a implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos e o gerenciamento dos recursos hídricos.

Glossário

Agência de Água: A Agência de Água ou Agência de Bacia é a entidade que presta o apoio técnico, administrativo e financeiro necessário ao bom funcionamento dos Comitês de Bacia Hidrográfica. Áreas de recarga de aquíferos: Área em que ocorre o processo natural ou artificial pelo qual se adiciona água à zona de saturação de um aquífero. Bacia hidrográfica: Conjunto de terras drenadas por um rio principal e seus afluentes. A noção de bacias hidrográfica inclui naturalmente a existência de cabeceiras ou nascentes, divisores d'água, cursos d'água principais, afluentes, subafluentes, etc. Área geográfica que drena suas águas para um mesmo local, geralmente um rio. Bacias interestaduais: Bacias hidrográficas que abrangem mais de um estado. Ciclo hidrológico: Sucessão de fases percorridas pela água ao passar da atmosfera à terra e vice-versa: evaporação do solo, do mar e das águas continentais; condensação para formar as nuvens; precipitação; acumulação no solo ou nas massas de água, escoamento direto ou retardado para o mar e reevaporação. Cobrança pelo uso dos recursos hídricos: A cobrança pelo uso de recursos hídricos é um dos seis instrumentos da Política Nacional de Recursos Hídricos, estabelecidos no inciso IV, do art. 5º da Lei Federal nº 9.433, de 08 de janeiro de 1997. Esse instrumento tem como objetivos: reconhecer a água como bem econômico e dar ao usuário uma indicação de seu real valor; incentivar a racionalização do uso da água; obter recursos financeiros para o financiamento dos programas e intervenções contemplados nos planos de recursos hídricos, e assegurar o controle quantitativo e qualitativo dos usos da água e o efetivo exercício dos direitos de acesso aos recursos hídricos. Comitês de bacia hidrográfica: Órgão colegiado que conta com a participação dos usuários, da sociedade civil organizada, de representantes de governos municipais, estaduais e federal. Os comitês têm como atribuição legal deliberar sobre a gestão da água. Conselhos de Recursos Hídricos: Instâncias do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos do Brasil, sendo responsáveis pela implementação da gestão dos recursos hídricos brasileiros. Há o Conselho Nacional de Recursos Hídricos e os Conselhos Estaduais de Recursos Hídricos. Corpos d’água Qualquer coleção de águas interiores. Denominação mais utilizada para águas doces, abrangendo rios, igarapés, lagos, Iagoas, represas, açudes, etc .

Desenvolvimento sustentável: é aquele capaz de suprir as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade de atender às gerações futuras. Enquadramento: É o estabelecimento do nível de qualidade (classe) a ser alcançado ou mantido em segmento do corpo d’água ao longo do tempo. É um dos instrumentos da Política Nacional de Recursos Hídricos

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licenciamento ambiental: é uma obrigação legal prévia à instalação de qualquer empreendimento ou atividade potencialmente poluidora ou degradadora do meio ambiente. Meta: Objetivo Outorga: A outorga é o ato administrativo mediante o qual o poder público outorgante (União, Estado ou Distrito Federal) faculta ao outorgado (requerente) o direito de uso de recursos hídricos, por prazo determinado, nos termos e nas condições expressas no respectivo ato. Plano diretor: É o instrumento dos governos municipais voltado à definição do padrão de desenvolvimento da ocupação urbana do seu território. Princípio poluidor-pagador: Aquele que obriga o poluidor a pagar a poluição que pode ser causada ou que já foi causada. princípio usuário-pagador: O utilizador do recurso deve suportar o conjunto dos custos destinados a tornar possível a utilização do recurso e os custos advindos de sua própria utilização. Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos: criado pela Lei nº 9.433/1997 com os seguintes objetivos: coordenar a gestão integrada das águas; arbitrar administrativamente os conflitos relacionados com os recursos hídricos; implementar a Política Nacional de Recursos Hídricos; planejar, regular e controlar o uso, a preservação e a recuperação dos recursos hídricos; promover a cobrança pelo uso de recursos hídricos. Usuários de água: qualquer pessoa física ou jurídica que capta água, lança efluentes ou realiza usos não consuntivos diretamente em corpos hídricos (rio ou curso d’água, reservatório, açude, barragem, poço, nascente, etc).

Lista de Siglas

SINGREH - Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos

PNRH - Política Nacional de Recursos Hídricos

PRHs - Planos de Recursos Hídricos

SRHU/MMA - Secretaria de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano – Ministério

do Meio Ambiente

ANA – Agência Nacional de Águas

CNRH – Conselho Nacional de Recursos Hídricos

CERH – Conselho Estadual de Recursos Hídricos

PNRH – Plano Nacional de Recursos Hídricos

Referências Bibliográficas

Page 101: ANA - Lei Das Águas

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MACHADO, P.A. L. Direito Ambiental Brasileiro. 18a Ed. São Paulo.

Malheiros Editores,2010

MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Cadernos de Formação, Vol3:

Planejando a intervenção Ambiental no Município, Brasília, 2006

UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS E UNIVERSIDADE FEDERAL DE

SANTA CATARINA. Curso de Aperfeiçoamento em Gestão de Recursos

Hídricos – Políticas e Legislação Ambiental. Sem data