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REPORTAGEM
Os primeiros amplificadores de guitarra surgiram na déca-da de trinta com o desenvolvimento de partes elétricaseconomicamente viáveis. Esses primeiros amplificadores
foram construídos para serem usados com guitarras acústicas,mas rapidamente fizeram sucesso junto aos músicos de guitarrahavaiana, mesmo saturando facilmente, sem uma boa respostade freqüência e com partes de baixa confiabilidade. Em muitopouco tempo os guitarristas começaram a ver essa saturaçãocom bons olhos e a juventude começou a procurar mais e maispor equipamentos que tivessem essa característica.Leo Fenderdesenvolveu seu primeiro amplificador em 1945; em 1958 a Voxlançou o AC15, e em 1962 Jim Marshall já estava construindoseus primeiros jtm45, fechando a trinca de alguns dos mais im-portantes amplificadores dahistória da guitarra elétrica.
Entretanto, o mundo nãoparou e a tecnologia conti-nuou a crescer e se desenvol-ver. Os problemas criadospela tecnologia da época nãoeram exclusivos dos equipa-mentos musicais e, quandoos transistores foram criados eem todas as áreas, exceto ade amplificação de áudio, asválvulas se tornaram obsole-tas. Existem diversas opiniõesa respeito de quais as melho-
Rogério Leão
Os amplificadores valvulados são a paixão dos músicos profissionais e osonho dos amadores, mas são sensíveis e inconstantes, têm problemascom variações elétricas e com transporte. Saiba melhor como garantiruma vida útil mais longa para seu aparelho
Amplificadores
res escolhas entre amplificadores valvulados, transistorizados esuas possíveis combinações. A escolha a ser feita cabe exclusiva-mente ao próprio usuário, que deve analisar bem os pontos posi-tivos e negativos de cada uma das possibilidades. Uma das gran-des diferenças entre os dois é a fragilidade dos amplificadoresvalvulados se comparados às versões transistorizadas. Há umasérie de cuidados especiais que devem ser levados em contaquando você decide usar qualquer equipamento à válvula.
Como comprar?A primeira coisa a fazer é decidir se você vai comprar um am-
plificador novo, um amplificador usado ou se você vai optar porum amplificador feito sob encomenda, já que cada um deles tem
suas vantagens e suas desvan-tagens. Alguns músicos esco-lheram amplificadores usadosque se tornaram pechinchasou relíquias com o passar dosanos. Outros compraram am-plificadores novos por opçãoou pela dificuldade de seremencontrados usados enquantooutros decidiram investir emequipamentos feitos mais espe-cificamente segundo suas pró-prias preferências e escolheramos amplificadores sob encomen-da, ou “Handmades”.
valvuladoscomo comprar e como manter
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Independente da sua escolha em re-lação à potência ou ao timbre, deve-sesempre atentar para as condições de fun-cionamento do aparelho. Nas válvulas,observe se é visível uma poeira negra,que se parece com uma fuligem fina ouuma tonalidade avermelhada, quandoligadas. Se for possível abrir o chassi, veri-fique o estado dos capacitores, pois, seeles apresentarem bolhas, precisarão sertrocados. Observe também o estado dastomadas das válvulas atrás de deforma-ções ou rachaduras.
É bom verificar com muito cuidado atemperatura dos transformadores depoisde quinze minutos de funcionamento doaparelho. Um amplificador funcionandoadequadamente terá um transformadorlevemente aquecido. Se ele estiver supe-raquecido é porque alguma coisa está
errada, ou o design do aparelho não estácorreto, ou o transformador foi substituídopor um que não se adequava ao projeto ouentão o amplificador não está reagindo
Abaixo, algumas dicas para uma
longa vida do seu amplificador:
1. NUNCA ligue seu amplificador
sem que o mesmo esteja conectado a
um alto-falante. Se você o fizer, suas
economias podem acabar regre-
dindo rapidamente em algumas cen-
tenas de reais com uma queima de
válvulas ou do transformador.
2. Certifique-se de que os alto-fa-
lantes ligados sejam da impedância
correta. O ideal é que a impedância
da caixa seja exatamente igual à de
saída do amplificador, mas se isso for
impossível, você pode ligar alto-falan-
tes de impedância maior do que a
impedância de saída. Se você conec-
tar uma caixa de 8 ohms em um ampli-
ficador com 8 ohms de saída você vai
ter a configuração ideal. Se você
conectar a mesma caixa a um amplifi-
cador de 4 ohms, isso vai acarretar
uma perda de 50% na potência, mas
vai funcionar sem riscos. Todavia, se
você ligar essa caixa de 8 ohms em
um amplificador com saída de 16
ohms, você provavelmente vai quei-
mar o seu amplificador.
3. Use o botão de stand by. Ele
permite que o seu amplificador se
adeque melhor antes de efetivamen-
te começar ou parar de receber
grandes cargas de energia, ao ligar
e desligar, respectivamente. Espere
entre dez e quinze minutos sempre
que ligar ou desligar o amplificador e
você terá uma vida útil muito maior
para as válvulas.
4. Lembre-se de que você não
deve esperar as válvulas morrerem
para trocá-las e sempre que a troca
for feita por válvulas de marca dife-
rente, você deve mandar regular o
Bias do amplificador, se o seu ampli-
ficador tiver esse controle.
“Não se esqueça de que, se for
comprar as válvulas com alguém
que não o próprio técnico, você tem
que adquirir as válvulas ao mesmo
tempo como pares casados. Pares
não casados não vão funcionar di-
Dicas Importantes
reito.”, observa Rodrigo Cotia, que
conserta amplificadores em sua ofi-
cina no estúdio Hanói, no Rio de Ja-
neiro.
5. Preste atenção à ventilação.
Amplificadores valvulados tendem a
aquecer muito e sem uma ventilação
adequada você pode vir a ter proble-
mas no circuito. Entretanto, isso não
será um problema se você não usar o
aparelho coberto por panos ou ou-
tros materiais e se as passagens de
ar não forem bloqueadas, encostan-
do o amplificador ligado à parede ou
a outros objetos.
Alguns músicos utilizam pequenos
ventiladores para evitar superaqueci-
mento e isso não deveria ser necessá-
rio, mas em algumas situações pode
ser muito eficiente desde que o vento
não esteja direcionado diretamente
às válvulas.
6. Cuidados especiais devem ser
tomados para o transporte porque é
aí que a maior parte dos problemas
surge. NUNCA transporte o aparelho
ainda quente porque as partes, prin-
cipalmente as válvulas, ficam mais
frágeis e podem facilmente se que-
brar. Se você pode carregar o seu
transistorizado batendo com ele de
um lado para o outro, você não pode
agir da mesma forma com nenhum
amplificador que tenha válvulas. Re-
serve para ele um lugar especial,
como o banco traseiro do carro, de
forma que ele não se mova dentro do
automóvel. Cinto de segurança e
uma toalha também são importantes
para prevenir problemas em buraco
ou quebra-molas.
7. Se você tiver condições, com-
pre um case de boa qualidade. Em
pouco tempo ele vai compensar o
gasto protegendo o aparelho quan-
do for transportado e no dia-a-dia,
preservando o aparelho da poeira.
Enquanto não tiver um case, procu-
re manter o amplificador guardado,
protegido por uma capa ou um teci-
do qualquer. Não cubra o aparelho
quando ainda estiver quente.
Independente da suaescolha em relação à
potência ou ao timbre,deve-se sempreatentar para ascondições de
funcionamento doaparelho
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bem à rede elétrica local. Isso é comumcom aparelhos importados feitos com me-didas elétricas muito justas. Relembro queas válvulas estarão quentes o suficientepara gerar queimaduras sérias.
A pesquisa na Internet pode ajudar mui-to na compra de equipamentos usados. Aadequação de um produto importado àrede brasileira é fácil, basta a aquisição deum regulador de voltagem, já que a redeelétrica norte-americana tem a voltagem de110 ohms ao invés das 127 ohms da brasilei-ra. Um transformador inadequado pode ser
substituído, mas amplificadores com proje-tos mal desenvolvidos não seriam uma boaescolha. Se você já comprou o seu amplifica-dor valvulado, já tomou uma decisão. Tal-vez tenham sido necessárias horas ou dias detentativas e erros até que você chegasse àconclusãode qual am-plificador
seria mais adequado à sua necessidade, tal-vez não. Muitos músicos brasileiros são força-dos, todo ano, a escolher suas aquisições ba-seadas em artistas famosos porque não têm àsua disposição uma rede de vendas que ospossibilitem testar suas possíveis aquisiçõesde forma a dificultar muito a comercia-lização em maior escala de amplificadoresfeitos sob encomenda, sem contar ainda oproblema da revenda.
“Os handmades ainda não são uma op-ção tão difundida por causa do valor derevenda e eu concordo que é realmentemuito mais fácil vender um amplificador,seja ele valvulado ou transistorizado deuma marca como a Marshall ou a Fender.”– diz Augusto Pedrone, Luthier eletrônico
Se estiver superaquecido é porque alguma coisa estáerrada, ou o design do aparelho não está correto, ou o
transformador foi substituído por um que não seadequava ao projeto ou então o amplificador não está
reagindo bem à rede elétrica local
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Para saber mais
por trás dos amplificadores Pedrone e dasreedições lançadas pela Giannini dosTremendões T-3. “Manter um amplifica-dor Handmade como uma moeda não éútil, mas em compensação eles são mais ba-ratos, com uma ótima qualidade e se vocêfor um músico mais experiente pode deci-dir fazer alterações que vão te ajudar a terexatamente aquele som que você quer”.
Leve em conta também que, por maisque os amplificadores conjugados, os cha-mados “combos” sejam mais vendidos,
economicamente mais acessíveis e fáceisde transportar, existe uma série de moti-vos pelos quais amplificadores em formade cabeçote sejam mais resistentes. Emum combo, toda a vibração dos alto-fa-lantes é diretamente transmitida para amadeira, para todos os circuitos e paratodas as outras partes do aparelho. Essavibração pode soltar parafusos, gerar vi-brações e/ou até reverberações internas,chamadas de microfonias internas. Essasmicrofonias não podem ser confundidascom as microfonias normais, já que elasacontecem mesmo quando a guitarra
está desligada do amplificador. Além dis-so, quando operante, uma válvula chegaa atingir internamente uma temperaturade mais de 500 graus e assim, a vibraçãodos alto-falantes pode ser muito perigosapara a fina camada de vidro.
Por mais que se fale muita coisa a respeitoda grande sensibilidade dos amplificadoresvalvulados deve-se atentar para o fato deque muitos deles mesmo tendo sido criadoshá cerca de quarenta anos, ainda estão sen-do usados diariamente e funcionam corre-tamente. Isso acontece porque se for dadaatenção a alguns detalhes, a perspectiva defuncionamento de um amplificador dessesé muito longa, inclusive se comparada a deum amplificador transistorizado.