walker travels magazine | 09 | tadjiquistão

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O Tadjiquistão é mais um daqueles lugares do mundo que é sinônimo de aventura. Aqui não tem moleza, mas tem muita beleza em troca do seu desconforto. Sempre achei essa uma troca justa, e não deixou de ser, nesse país ainda tão desconhecido por nós.

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REVISTA DE VIAGENS PRODUZIDA POREDSON WALKER

TADJIQUISTÃO

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edson.walker@gmail.com

edição, diagramaçãofotos e textos

edson walkerrevisão ortográfica

tânia ottonioutubro 2013

O Tadjiquistão é mais um daqueles lugares do mundo que é sinônimo de aventura. Aqui não tem moleza, mas tem muita beleza em troca do seu desconforto. Sempre achei essa uma troca justa, e não deixou de ser, nesse país ainda tão desconhecido por nós.

O povo tadjique é descendente dos persas e sua língua ainda é muito parecida com a falada no Irã. Eles já foram, muito tempo atrás, seguidores de Zoroastro e do islã, que chegou mais tarde e acabou misturando-se com elementos animistas da sua cultura original.

Aqui você vai se encantar com a natureza e o estilo de vida dos moradores das vilas instaladas há milênios nos vales e encostas das magníficas montanhas sempre presentes em todas as pai-sagens do país. Tem lagos de águas cristalinas, geleiras, picos nevados, gêiseres, águas termais, latrinas e estradas esburacadas. Boa leitura e boa viagem.

guardião da fronteira

pamirs tadjiquistão

sol em película

pamirs tadjiquistão

montanhas através da janela

pamirs tadjiquistão

amigos de estrada

Por que será que todo mundo me pergunta se eu já assisti ao filme “Na Natureza Selva-gem”? Claro que sim, não é? Não tem como não se identificar com ele, pois todos nós temos algo do personagem principal inco-modando em nossos corações. Quando o filme foi lançado, eu havia até lido o livro, que achei meio que abandonado numa feira do livro de Santa Maria. Ontem, um ciclista espanhol me perguntou o que eu achava da frase no final: “A felicidade só é verdadeira quando compartilhada.” Não sei ainda bem como explicar, mas de certa forma, não consigo concordar com isso. A felicidade verdadeira é, por si mesma, completa. Não precisa ser compar-tilhada. Ela é compartilhada naturalmente e não precisa que postemos um comentário no Facebook dizendo o quanto estamos felizes. Quando compartilhada, ela se torna, muitas vezes, apenas uma representação. A verdadeira felicidade para mim é quando fechamos os olhos e respiramos fundo. Mas, toda semana tento compartilhar com meus leitores um pouco dessa felicidade que sinto ao conhecer coisas novas, afinal, esse é o meu trabalho. O conhecimento é também fonte de felicidade e viajar é um constante aprendizado. Para quem sentiu falta da coluna na semana passada e já está esperando histórias de cadeias e policiais corruptos, lamento decepcioná-los, pois o motivo do meu desaparecimento desta vez é muito melhor.

A história começa na segunda-feira da semana passada, ainda no Quirguistão, quando deixei a cidade de Osh em direção à fronteira do Tadjiquistão. Foi a última vez em que vi internet, além de algumas vãs pro-messas escritas em placas de estabeleci-

pamirs tadjiquistão

mentos nas vilas da famosa estrada “Pamir Highway” que atravessa as montanhas do Tadjiquistão. Essa é uma das regiões mais belas, mas também, mais remotas do mundo. Por aqui até tem estrada mas não tem muita gente que as usa além de turistas que passam em bicicletas, motos ou carros alugados. Tem também, é claro, as histórias dos trafican-tes que a usam para transportar as dro-gas produzidas no Afeganistão. Não existe nenhuma opção de transporte público. As estradas são abandonadas e o terreno é extremamente difícil por causa das altas montanhas, dos rios e desertos.

Meu visto do Quirguistão iria vencer naquele 11 de setembro e eu estava a 25 km da fronteira. Na minha frente, um vale plano com uma imperiosa cadeia de montanhas cobertas por neve que marca a fronteira do Quirguistão com o Tadjiquistão. Na pousada onde fiquei no dia anterior, conheci dois americanos que, pelo gosto por aventura, aceitaram o desafio de ir caminhando junto comigo até a fronteira. Iríamos conversando e pedindo carona para os raros carros que passavam por aquela estrada. O dia amanheceu ensolarado e as mon-tanhas à nossa frente serviam como estí-mulo para a aventura. Depois de ter andado uns 15 km, nossas mochilas começaram a pesar. Aliado à falta de oxigênio na alti

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entardecer na vila de karakol

tude de 3.000 m acima do mar, já dávamos alguns sinais de cansaço, quando parou finalmente um carro para nós. De dentro dele saiu uma simpática suíça que estava indo para a fronteira buscar seu marido e um cliente que havia passado mal nas altas montanhas do Tadjiquistão, por onde anda-vam de moto. Cruzamos assim sem maiores problemas a fronteira, mas logo estávamos novamente a pé. Os poucos carros que passavam esta-vam completamente cheios e decidimos continuar caminhando até o posto de fron-teira do Tadjiquistão, que fica a cerca de 20 km de onde estávamos. Começamos assim a entrar por um vale imenso sem qualquer habitante, já que essa é uma região que não pertence a nenhum país. “No man’s land” ou, terra de ninguém.

A estrada começava a subir mais ainda, o ar começava a ficar cada vez mais rarefeito, e as nossas paradas cada vez mais demoradas. Mas ainda havia esperança em nossos cora-ções e as paisagens ao nosso redor faziam valer todo o esforço. Depois de mais 10 km, finalmente nossa sorte mudou novamente, quando um carro parou e dentro dele havia ainda três lugares. Negociamos o preço com o motorista e com o italiano Sandro, além do americano Max, que haviam contratado

o carro para fazer o transporte até a cidade de Murghab, distante cerca de 100 km dali. O carro era confortável e as novas compa-nhias muito simpáticas. Depois de cruzar o posto da fronteira, constituído de alguns pequenos edifícios e contêineres de carga usados como escritórios, seguimos por uma região totalmente desértica.

karakol pamirs tadjiquistão

No lado esquerdo, uma imensa cerca de arame farpado marcando a fronteira com a China. A altitude aumentava e já estávamos a 4000 metros de altitude quando chega-mos à vila de Karakol, às margens de um imenso e belíssimo lago. Ficamos naquela noite numa hospedaria e quase ninguém conseguiu dormir direito por causa da falta de oxigênio no ar. Eu acordava várias vezes com a sensação de que não havia oxigênio suficiente para respirar.

A viagem seguiu por mais cinco dias depois que chegamos a Murghab. Alugamos ali outro carro com motorista e passamos a viajar por essa região tão remota da Ásia Central. Dormíamos em hospedarias que serviam janta e café da manhã. Banheiros, em apenas raras exceções, eram as tradi-cionais latrinas malcheirosas que me faziam sempre lembrar a Mongólia. Banho apenas em fontes de águas termais que encontrá-vamos no caminho. Nas estradas víamos pastores com seus rebanhos de ovelhas. Nos vales onde é possível cultivar, mora-dores colhiam trigo e aveia que estocavam no telhado de suas casas, já se preparando para o inverno. Passamos também pelo longo vale de Wakan, que faz fronteira com o Afeganis-tão. Região belíssima também, com várias

vilas nas margens do rio. Em algumas regi-ões o rio estreitava-se e era possível até atirar pedras que alcançavam facilmente o famoso país vizinho.

fronteira chinesa

karakol pamirs tadjiquistão

fronteira com a china

karakol pamirs tadjiquistão

museu a 4000m de altura

karakol pamirs tadjiquistão

lago karakol: 4000m acima do nível do mar

lago karakol: 4000m acima do nível do mar karakol pamirs tadjiquistão

abandonado na beira do lago

abandonado na beira do lago karakol pamirs tadjiquistãoabandonado na beira do lago karakol pamirs tadjiquistão

paradas obrigatórias para fotografia

paradas obrigatórias para fotografia pamirs tadjiquistão

pastores da região

pastores da região pamirs tadjiquistão

a vida em outro ritmo

a vida em outro ritmo pamirs tadjiquistão

histórias refletidas

histórias refletidas pamirs tadjiquistão

paisagens disformes

paisagens disformes pamirs tadjiquistão

“tira uma foto tio?”

“tira uma foto tio?” murghab pamirs tadjiquistão

onde o oriente mistura-se com a pérsia

onde o oriente mistura-se com a pérsia murghab pamirs tadjiquistão

loja de roupas em mercado público

loja de roupas em mercado público murghab pamirs tadjiquistão

loja em mercado público

loja em mercado público murghab pamirs tadjiquistão

casas de murghab

casas de murghab murghab pamirs tadjiquistão

dança das sombras ao entardecer

dança das sombras ao entardecer murghab pamirs tadjiquistão

portões perto do céu

portões perto do céu murghab pamirs tadjiquistão

portões perto do céu

portões perto do céu murghab pamirs tadjiquistão

a pose tadjique

a pose tadjique murghab pamirs tadjiquistão

mesquita

mesquita murghab pamirs tadjiquistão

heranças persas

heranças persas pamirs tadjiquistão

estas montanhas como o horizonte do mundo

estas montanhas como o horizonte do mundo murghab pamirs tadjiquistão

e a vida passa devagar

e a vida passa devagar murghab pamirs tadjiquistão

e a vida passa devagar

e a vida passa devagarmurghab pamirs tadjiquistão

murghab pamirs tadjiquistão

nosso motorista meio mafioso

nosso motorista meio mafioso pamirs tadjiquistão

vale de murghab

vale de murghab murghab pamirs tadjiquistão

pinturas naturais

pinturas naturais pamirs tadjiquistão

lagos cristalinos

lagos cristalinos pamirs tadjiquistão

a palheta de cores tadjique

a palheta de cores tadjique pamirs tadjiquistão

gêiser ativo

gêiser ativo pamirs tadjiquistão

e se pudéssemos escolher as cores?

e se pudéssemos escolher as cores? bulunkul pamirs tadjiquistão

paisagens de solidão

paisagens de solidão bulunkul pamirs tadjiquistão

o último raio de sol

o último raio de sol bulunkul pamirs tadjiquistão

solidão em longa exposição

solidão em longa exposição bulunkul pamirs tadjiquistão

vontade de mudar a forma das nuvens

vontade de mudar a forma das nuvens bulunkul pamirs tadjiquistão

espelhos

espelhos bulunkul pamirs tadjiquistão

montanhas do afeganistão

montanhas do afeganistão vale wakan tadjiquistão

Nenhuma semana é igual à outra e cada via-gem é sempre cheia de novos desafios. As primeiras duas semanas aqui no Tadjiquis-tão foram das mais completas e intensas. Daquelas com que todo viajante sonha, mas que cansam o corpo e a mente. Tanta coisa nova! Tanto tema para fotografia! Tantas his-tórias, sorrisos, “hellos” e “goodbyes”! Cheguei de viagem com meus amigos à capital Dushanbe na madrugada da última sexta-feira. O caminho foi longo, sinuoso e empoeirado. O carro quebrou no caminho, no final da tarde. Enquanto um mecânico visivelmente embriagado tentava estancar o vazamento de óleo do motor, aproveitamos para jogar “frisbee” com as crianças tími-das do local. Em troca da nossa parceria, recebemos caquis maduros colhidos direta-mente das árvores ao redor. Não reclamo mais quando acontece algum imprevisto desses, pois são sempre momen-tos assim que guardam muitas histórias para ficar sempre na memória. “Eu fico feliz quando as coisas terminam bem”, diz meu colega de viagem americano. Realmente, como tudo na vida, uma hora ou outra vol-tamos a experimentar o conforto. Enquanto um dos nossos colegas se irritava com a possibilidade de termos que passar

A estrada só piorava e era quase impossível tirar um cochilo encostando a cabeça em qualquer lugar. Às 3 da madrugada, chega-mos, mas não conseguimos encontrar um hotel aberto no centro da cidade e resolve-mos ficar mesmo no “Hotel Jardins”, afinal os parques das cidades estão sempre com suas portas abertas para viajantes que che-gam em má hora. Dormimos no gramado por algumas horas e quando o dia ama-nheceu procuramos refúgio num café que estava abrindo naquele momento. Depois de recuperar as energias com um péssimo café solúvel, pegamos um táxi até o aparentemente único albergue da cidade. O taxista, meio perdido pelas pequenas ruas daquela região, pediu informação ao passageiro de um carro que parou ao nosso lado e nos mandou estacionar. De dentro dele saíram quatro oficiais da polícia de imigração vestidos à paisana e cheirando a perfume barato. Foram logo mostrando suas credenciais e pedindo nossos passa-portes. A situação tinha tudo para acabar em encrenca, mas aparentemente só esta-vam averiguando se estávamos com os vis-tos em dia. Nos liberaram logo em seguida e fomos finalmente para o albergue onde tiraríamos a poeira do corpo e descansarí-amos em confortáveis camas pelo resto da manhã.

a noite naquela oficina à beira da estrada, aproveitávamos o espetáculo da lua cheia saindo por trás da cadeia de montanhas. Uma das luas mais lindas que já vi. Para passar o tempo, improvisamos uma mesa de jogos e o carteado nos distraiu e divertiu até que mecânico, ainda bêbado, nos veio avisar feliz que o carro estava pronto para os 250 km restantes até a capital.

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Dushanbe é uma capital muito bonita, nos moldes da maioria das cidades da antiga União Soviética. Passei os últimos dias des-cansando e planejando os próximos passos dessa viagem. Um terrível cansaço abateu-se sobre mim, e me vi sem energias para continuar com o complicado processo para aquisição do visto para o Uzbequistão. Foi um daqueles cansaços emocionais que já senti em outras viagens, afinal estou há quase sete meses na estrada. Uma espécie de depressão que, pela minha experiência, só se cura com algumas semanas de rotina. Algo difícil de conseguir por aqui, pois já estou cansado da Ásia Central. Tudo muito legal, mas com o tempo acaba cansando e lá se vai todo o interesse. Por esse motivo resolvi pular uma parte do roteiro original e ir direto para a Geórgia e organizar o restante da viagem depois de alguns dias de descanso. Aquele país já é de certa forma a minha segunda casa. Cada vez que volto para lá me sinto mais à vontade e faço novos amigos. Meu voo sai daqui na sexta-feira da semana que vem. É sempre difícil abandonar nossos planos, mas para mim o mais importante ao viajar é sentir-me bem pelos lugares que visito. Não faz sentido viajar apenas para finalizar um roteiro pré-determinado.

lua cheia inesperada

Na semana passada visitei lugares lindíssi-mos nas montanhas do país. Conhecemos fortes construídos há mais de dois mil anos por seguidores de Zoroastro e também tum-bas de missionários muçulmanos xiitas vin-dos do Irã. Suas tumbas são decoradas com bizarros chifres de carneiros; uma amostra de como as novas religiões que avançaram pela Ásia acabaram, sempre, por se misci-genar com os antigos cultos xamânicos ou animistas das populações que viviam nes-sas áreas. Sem dúvida, a história da Ásia Central é muito interessante. Visitamos também algumas fontes de águas termais, bastante apreciadas pelos habitan-tes locais. Quando já estávamos confortá-veis dentro da água quente de uma dessas piscinas naturais, percebemos com certo desconforto que vários dos outros homens ao nosso redor estavam lá para tratar proble-mas de pele. Manchas vermelhas tomavam conta de grande parte de seus corpos e eu olhava com espanto para os meus amigos. Felizmente não era nada infeccioso, já que até agora nada de estranho apareceu na minha pele. O lugar era muito bonito, mas realmente acabou não sendo muito con-fortável a sensação de estar boiando numa água que podia estar infectada com bacté-rias capazes de deixar nossa pele parecida com um morango.

lua cheia inesperada vale wakan tadjiquistão

posição de espera asiática

posição de espera asiática vale wakan tadjiquistão

estrelas do deserto

estrelas do deserto vale wakan tadjiquistão

desequilíbrio

desequilíbrio vale wakan tadjiquistão

montanhas do afeganistão ao fundo

montanhas do afeganistão ao fundo vale wakan tadjiquistão

pequeno pastor

pequeno pastor vale wakan tadjiquistão

entrada do museu de antigo astrólogo

entrada do museu de antigo astrólogo vale wakan tadjiquistão

mausoléu de antigo missionário iraniano

mausoléu de antigo missionário iraniano vale wakan tadjiquistão

cidadelas do tempo de zoroastro

cidadelas do tempo de zoroastro vale wakan tadjiquistão

época da colheita

época da colheita vale wakan tadjiquistão

as curiosas estampas tadjiques

as curiosas estampas tadjiques iskeshim vale wakan tadjiquistão

escola com elegância

escola com elegância iskeshim vale wakan tadjiquistão

uma tarde de bordado

uma tarde de bordado kul-i-lal tadjiquistão

esculturas naturais

esculturas naturais garm-chashma tadjiquistão

retrato em pousada

retrato em pousada garm-chashma tadjiquistão

outras viagens

Semana tranquila aqui na capital do Tadji-quistão, Dushanbe. Tempo para conhecer novos viajantes, descobrir a agenda cultural da cidade e refletir sobre esses cinco anos de viagens pelo mundo. Rotina é muito bom de vez em quando, mas estou quase pronto para continuar a viagem. No albergue, observo os novos viajantes que entram e saem todos os dias. Uns também cansados e outros ainda animados com os desafios em seus roteiros. Algumas de suas atitudes me fazem pensar novamente numa das lições que aprendi viajando: alguns pro-blemas, nós resolvemos mudando apenas a nossa posição, sem precisar mudar a dos outros. É mais rápido, fácil e, para quem acredita em carma, purifica-o. Talvez uma história acontecida na Índia sirva como exemplo. Cheguei cedo à sala onde aconteceria um “satsang”, ou seja, uma palestra com um guru hindu. Pessoas chegavam, em silêncio. Alguns músicos afi-navam seus instrumentos. O clima era de paz e amizade. Sobre o carpete colorido, pessoas sentavam em cima de almofadas e relaxavam esperando o guru chegar. À minha frente, senta-se uma senhora oci-dental com todos seus apetrechos de yoga e vestida segundo a moda indiana. Alguns minutos depois, à sua frente, senta-se um jovem de ombros largos que cobrem toda a visão da senhora que havia se posicio-

nado para poder enxergar o guru na cadeira destinada a ele. Sinto logo o seu descon-forto. Ela não resiste. Provavelmente pensa que não é justo, pois chegou antes que o jovem. Cutuca seu ombro e pede a ele que se sente mais ao lado. Ele, meio incomo-

outras viagens dushanbe tadjiquistão

dado já que, claro, não tinha a intenção de atrapalhar ninguém, muda sua almofada de lugar. E ela pôde, assim, relaxar novamente. Conseguiu defender sua individualidade. O ego prevalece. Eu via a cena de uma posição mais ampla. Ao lado da senhora havia espaços disponí-veis. Se ela mudasse sua almofada para a direita ou esquerda poderia continuar vendo o guru sem problemas. Se assim fizesse, não causaria qualquer mal-estar ao jovem e teria resolvido o seu problema. E eu teria assistido e me sentiria bem por ter presen-ciado uma cena de generosidade e de com-paixão com o próximo. Mas o que a cena causou em mim foi algo diferente: uma sen-sação de desânimo diante de um comporta-mento tão primitivo do ser humano. Quando passamos a prestar mais atenção em como resolvemos pequenos problemas no nosso dia a dia, começamos a melhorar. Evitamos reagir instintivamente atiçados pelo nosso ego. Muitas vezes é possível resolver essas situações com generosidade e carinho. É difícil agir assim no começo, mas, aos pou-cos, aprendemos a deixar nossos interes-ses pessoais de lado pelo bem estar dos que estão à nossa volta. Ações movidas por amor causam reações de amor que melho-ram o dia de tudo ao redor. Já sabemos disso há muito tempo, basta apenas apren-der a controlar aquele primeiro impulso de agressão e agir com o coração.

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Na tarde de sábado, resolvi conhecer melhor a cena cultural da cidade. Era dia de balé no belíssimo teatro Ayni Ópera e Balé. Que espécie de teatro encontrar em um país como o Tadjiquistão? Confesso que fiquei surpreso ao entrar num dos melhores tea-tros da minha vida. Depois de várias fotos da decoração, dos lustres e altos-relevos, sentei na primeira fila, perto da orquestra que já afinava seus instrumentos. A música começa afinadíssima. Clássica com influência árabe. Abre-se a cortina e começa o espetáculo. Um senhor de barba longa e hirsuta caminha lentamente em direção a uma sepultura tocando “dombra” (instrumento de duas cordas típico da Ásia Central). Ele canta uma música triste e as luzes se apagam. Na cena seguinte, aos poucos, o espectador começa a entender a história daquele triste personagem do iní-cio. No palco, agora, um sultão sentado em seu trono e diversos membros de sua corte prestando-lhe homenagens.

Aparece um príncipe malvado, uma prin-cesa e, claro, um rival elegante que rouba o coração da princesa. Possuído por ciúmes, o príncipe malvado desembainha sua adaga e trava uma luta mortal, em passos de balé, com seu rival. A princesa, tentando proteger seu amado, abraça-o e recebe o traiçoeiro golpe em suas costas. Morre lentamente

em seus braços, enquanto as cortinas se fecham. Na cena final, volta o cenário da sepultura e a música de lamento do homem que passou sua vida inteira atormentando-se por causa de seu triste destino.

balé na capital

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balé na capital dushanbe tadjiquistão

A agenda cultural do final de semana estava agitada, na cidade. Domingo era dia de show de música típica tadjique. No cartaz à entrada do cinema onde iria acontecer o evento, um simpático senhor de barbas longas e uns 80 anos de idade segura a dombra sentado num gramado. A sala do cinema estava lotada. O palco ricamente enfeitado. Câmeras da TV local já estavam posicionadas. No palco, entra o apresen-tador, provavelmente descendente de rus-sos. Daquele tipo que se acha engraçado e simpático. Faz piadas em tadjique, mas algumas delas recebem em troca apenas silêncio da plateia. O público começa a se animar. Batem palmas e finalmente entra “Bobô”, o simpático senhor que, pela agi-

concerto de música tadjique

tação do público, já é famoso na cidade. Entram também os outros quatro compo-nentes da banda, com seus instrumentos de percussão. O apresentador tenta tomar conta do show e fica fazendo piadas com o dono do espetáculo. O público se diverte e aplaude constantemente. Quando começa a cantar, olho apenas para meus amigos ao lado, todos com aquela cara de: “Hummm...vai ser um show difícil de aguentar até o final”. A voz do senhor já não afina mais. Depois da primeira música, o apresentador aparece novamente no palco com um bule de chá e oferece uma xícara a Bobô. Mais alguns minutos de conversa e piadas que não entendemos, e o espetáculo segue. Parece que está tocando a mesma música. As seguintes são também todas iguais para nós. Difícil manter-se acordado. Olho para meus amigos e eles me dizem: “Estamos saindo”. Falta de educação nossa, mas não conseguimos aguentar por mais tempo. Saímos e sentimos lá fora aquele alívio dos ruídos da cidade. Fomos para o bar, afinal era domingo. No caminho encontramos, na vitrine de uma companhia de celulares, um cartaz de publicidade. “Olhem, é o Bobô ali na foto!!!” Mal podia acreditar. Era ele mesmo ali esbanjando alegria e simpatia segurando um celular em sua mão direita.

concerto de música tadjique dushanbe tadjiquistão

garoto na plateia

garoto na plateia dushanbe tadjiquistão

orquestra do balé

orquestra do balé dushanbe tadjiquistão

lustre do teatro

lustre do teatro dushanbe tadjiquistão

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