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Entrevista

“O piloto foi responsávelpelo desaparecimento

do MH370”

O neozelandês foi piloto comercial durante 28 anos e aos 48 lança um livrosobre o avião da Malaysia Airlines que desapareceu em Março com 239 pessoas.

Não houve acidente, foi tudo premeditado, garante. Por Ana Catarina André

EWAN WILSON

Tinham passado três ouquatro dias sobre o de-saparecimento do vooMH370, que a 8 de Mar-

ço saiu de Kuala Lumpur, na Ma-lásia, com destino a Pequim, naChina, quando Ewan Wilson co-meçou a investigar o caso. “Namaioria dos acidentes aéreos hádestroços, sabe-se onde o aviãocaiu e quais foram as causas pro-váveis da queda. Esta era umahistória diferente. Um mistério”,disse à SÁBADO o ex-piloto neo-zelandês, que se juntou ao jorna-lista Geoff Taylor para tentar per-ceber o destino do avião quetransportava 227 passageiros e 12tripulantes. O resultado dessa in-vestigação deu origem a GoodNight Malaysia 370: The TruthBehind the Loss of Flight 370 (boanoite Malásia 370: a verdade portrás do desaparecimento do voo370), a lançar como e-book pelaAmazon no dia 30 de Julho.

Defende que o desaparecimentodo avião não foi acidente, massim algo deliberado e calculado. Acreditamos que o avião foi deli-beradamente controlado pelo capi-tão Zaharie Ahmad Shah e levadopela península da Malásia até aooceano Índico. Na nossa opinião, o

sas ocasiões os controladores aé-reos tornam-se os melhores ami-gos dos pilotos.

Diz que também não houve falhas nos motores. Sim. Até o ACARS [sistema de co-municação entre as aeronaves ecentros de controlo] ter sido desli-gado, os motores estavam a fun-cionar devidamente. Sabemoscom base na pesquisa da Inmarsat[empresa britânica] que o aviãovoou durante várias horas, o quenão é consistente com um proble-ma mecânico. Acabámos por ficarcom três cenários que podem ter acontecido. O primeiro, quenão podemos afastar totalmente,tem a ver com um assalto que cor-reu terrivelmente mal. O segundoseria uma despressurização lenta– normalmente nestas situações oavião segue a rota pré-programa-da no computador de bordo, o queimplica que tivesse seguido na di-recção de Pequim. Isso não acon-teceu. Sabemos que mudou derota pelo menos sete vezes. O terceiro cenário está relacionadocom a hipótese de assassinato ousuicídio. Na nossa opinião foi issoque sucedeu e explicamo-lo no livro. Claro que não há 100%de garantias.

piloto é responsável pelo desapa-recimento do MH370.

Como chegou a essa conclusão? Pusemos em cima da mesa todosos cenários possíveis, entre osquais falhas na estrutura do apare-lho, um incêndio a bordo, proble-mas técnicos nos instrumentos devoo ou nos motores, e aquilo a quechamamos cenário-fantasma – si-tuação em que há uma despressu-rização do avião e os passageiros ea tripulação sofrem de hipoxia, ouseja, falta de oxigénio, que leva àperda de consciência de todos.

Como sabe que não foi isso queaconteceu? Houve suspeitas de que o aviãopudesse ter voltado para trás porcausa de um incêndio. Da análiseque fizemos de outros casos emque isso aconteceu de facto, per-cebemos que normalmente decor-rem 20 minutos entre o momentoem que se descobre o fogo e a al-tura em que o avião deixa de voar.E nós sabemos que o MH370 vooupelo menos durante seis horas de-pois de ter desaparecido dos rada-res. Além disso, em caso de fogo,há normalmente uma série de co-municações entre a aeronave e osolo, o que não se verificou. Nes-

“Pusemos emcima da mesa

todos oscenáriospossíveis,

entre os quaisproblemas

técnicos e umincêndio”

As entrevistas foram fundamen-tais para chegar a essa conclu-são? Tivemos acesso a várias pessoasque conheciam o piloto e o co-pi-loto. Percebemos que Zaharie, o pi-loto, estava a passar por várias cri-ses. Tinha problemas no casamen-to, quezílias com a amante, um re-lacionamento complicado com osfilhos e estava desiludido com apolítica. Muitas pessoas que tentá-mos entrevistar procuraram des-credibilizar a ideia de que ele esta-va menos bem. O cunhado chegoumesmo a dizer que a voz do “Boanoite, Malásia” não era dele, maseu sei que estava errado.

Porquê? Ouvi uma série de gravações com avoz dele. Depois, falei com a viúva,que confirmou que o filho mais ve-lho tinha dito às autoridades queaquela era a voz do pai. Acredita-mos que quando o piloto Zahariedisse “Boa noite Malasia 370”, oco-piloto Fariq não estava nocockpit. A rota mudou depois disso.À 1h21 da manhã, hora local, otransmissor-receptor foi desligadoe o avião desapareceu dos radares.Terá subido, sobrevoado a Penín-sula de Malaca, virado para no-roeste para fugir aos radares indo-nésios e acabado no Índico.

Então o piloto fez tudo sozinho? Correcto.

O que descobriu sobre Fariq Ha-mid, o co-piloto? Tinha muitas razões para viver. Erapróximo da mãe, estava empenha-do em comprar uma casa nova, eramuito apaixonado pela noiva. Nodomingo em que regressaria deviagem ia assinar os papéis paracomprar um carro novo.

Não teme que a sua tese seja alvode críticas e desmentidos? O nosso objectivo é chegar à ver-dade. Esta é a nossa opinião basea-da nos factos. Outros podem teroutra perspectiva. E não fico sur-preendido se algumas pessoas dis-serem que o objectivo do livro émeramente comercial. Não é as-

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“Zaharie tinhaproblemas no

casamento,quezílias com aamante e um

relacionamentocomplicado

com os filhos”

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“Não ficosurpreendido

se algumaspessoas

disserem que o objectivo do livro é

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jPara perceber oque aconteceu aoavião da Malásia,Ewan Wilson fezvárias entrevistas

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Entrevista

sim. Na realidade, queremos daruma resposta às famílias e ao pú-blico. Todos os dias há um milhãode passageiros no ar em simultâ-neo e essas pessoas têm o direitode saber o que aconteceu.

Quer fazer do livro um alerta? Espero que suscite debate e quefaça os reguladores e as compa-nhias áreas olharem seriamentepara a saúde mental da tripulação.Nos últimos 30 anos, a droga e oálcool contribuíram para 1,5% dosacidentes na aviação comercial.Por causa disso, as autoridades e osgovernos fazem análises para ga-rantir que as tripulações não via-jam sob influência destas substân-cias. A questão dos suicídios tem deser vista da mesma maneira. Os re-guladores e as companhias aéreastêm de se preparar para lidar compilotos com problemas de saúdemental. Há 40 anos os acidentes deavião estavam relacionados comproblemas de engenharia. Hoje sãoem menor número – 80% são cau-sados por factores humanos.

O avião viajou mais de seis horasdepois de ter desaparecido dosradares. Que distância pode terpercorrido? Desde a descolagem até ao mo-mento em que se despenhou na re-gião sul do oceano Índico terãopassado cerca de sete horas e 40minutos. Eu e Geoff achamos que aInmarsat estava correcta nos cál-culos. A aeronave estará no 7º arco[entre as latitudes de 20° e 39° asul, na costa ocidental da Austrá-lia]. Esta tragédia mostrou que épreciso fazer mudanças na formade funcionamento da aviação. Te-mos de implementar políticas quenão permitam que a tripulaçãodesligue instrumentos vitais de voo,como o transmissor-receptor.

A zona das buscas foi alterada eestá agora concentrada numazona mais a sul. Concorda? Sim. Sei que várias pessoas fizeramuma revisão dos dados da Inmar-sat, pessoas qualificadas que traba-lham para organizações de topo,entre as quais o London College. A

que divulgaram e provavelmentecontinuam a saber mais do que nós.

Pode explicar? Acho que ficaram constrangidospor terem tido uma aeronave noseu território que viajava no senti-do contrário à rota traçada. Esseaparelho foi monitorizado pelosmilitares e não se sabia. Julgo quese tornou público graças à influên-cia da empresa britânica Inmarsate da Casa Branca. As autoridadessabiam que o avião tinha voltadopara trás, passado pela Penínsulade Malaca e, ainda assim, permiti-ram que vários países procurassemno Sul do mar da China. Tiveramtambém oportunidade de intercep-tar o MH370 numa fase inicial enão o fizeram.

O que poderá ainda restar doavião da Malásia? Acho que não serão encontradosdestroços e descobrir a caixa negraserá difícil. Também não acreditoque os corpos sejam encontrados.Esta zona do oceano não foi aindamapeada e acho admirável que osaustralianos estejam a gastar umaenorme quantia de dinheiro a fazê--lo, sobretudo tendo em conta quenão sabemos se há capacidade hu-mana para chegar a essa profundi-dade. Depois, mesmo que a caixanegra seja encontrada, há a hipóte-se de não estar intacta. W

Inmarsat diz desde o início que osétimo arco é a localização maisprovável do avião. Eu concordo.

Esta investigação teve várias fa-ses. Por onde começou? A primeira coisa que eu e o Geofffizemos foi tentar reunir todas asprovas conhecidas. Há alguns da-dos que procurámos imediatamen-te. Qual era a rota do avião? Quaissão os registos da manutenção?Que carga transportava? Houve re-gistos de comunicações entre a ae-ronave e o solo? Em pouco tempoconseguimos recolher esta infor-mação. Obtivemos uma cópia doregisto de voz do cockpit, conse-guimos aceder a alguns detalhessobre a carga e os passageiros ereunimos os artigos que saíram so-bre o tema. Depois, para tentar cla-rificar alguns dados, recorremos aentrevistas.

A viagem com Geoff para a Malá-sia foi importante. Sim. Queríamos entrevistar aquelesque conheciam o piloto e o co--piloto do avião para saber maissobre eles. Ao mesmo tempo, pro-curámos conhecer melhor a Malá-sia para perceber as razões que ex-plicam que parte da informaçãonão tenha sido divulgada. Numafase inicial da investigação fizerambuscas numa zona errada. As auto-ridades da Malásia sabiam mais do

gAs buscas do aviãoestão agora con-centradas mais asul, na costa oci-dental da Austrália

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