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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
O TEATRO COMO FERRAMENTA PARA ARTETERAPIA NA EDUCAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE ALUNOS ADOLESCENTES
EM REGIME DE INTERNATO
Por: Mariana Machado Laplace
Orientador
Profa. Mary Sue
Rio de Janeiro
2009
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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
O TEATRO COMO FERRAMENTA PARA ARTETERAPIA NA EDUCAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE ALUNOS ADOLESCENTES
EM REGIME DE INTERNATO
Apresentação de monografia à Universidade Candido Mendes como requisito parcial para obtenção do grau de especialista em Arteterapia na Educação e Saúde.
Por: Mariana Machado Laplace
3
AGRADECIMENTOS
Aos amigos que acompanharam a
elaboração desse projeto e contri-
buíram com suas opiniões.
4
DEDICATÓRIA
Dedico aos mestres que nos
ensinam e nos permitem passar o
conhecimento adiante.
5
RESUMO
O presente projeto tem por escopo divulgar a Arteterapia, recurso terapêutico,
educacional e artístico, ainda não muito conhecido pelo público em geral, e ressaltar a
importância de uma de suas várias ferramentas de trabalho, que é o Teatro Pedagógico.
Além disso, ressaltar também os benefícios gerados através da aplicação de projetos
desenvolvidos a partir de conhecimentos acerca desses dois assuntos, dentro de
instituições educacionais, mais especificamente nas que funcionam sob regime de
internato, pela necessidade destas de mais atividades extra-curriculares que as
instituições padrão, para ocupar o tempo livre de seus alunos.
Com esse trabalho pretende-se gerar o interesse por parte do meio acadêmico de
implementar projetos dessa área de atuação, que no caso do meu intitula-se: “O teatro
como ferramenta para a Arteterapia na educação e desenvolvimento de alunos
adolescentes em regime de internato” e que baseia-se em realizar um trabalho voltado a
este tema através de um plano de aula para um ano letivo, que poderá ser ministrado
em quaisquer turmas do ensino médio.
Em suma, o intuito é proporcionar ao educador ferramentas pedagógicas e
terapêuticas para cuidar da educação e do bem-estar de seus alunos, que estão
afastados da família e têm a instituição educacional como maior influência em seu
desenvolvimento nesta fase da vida.
6
METODOLOGIA
Este é um trabalho arteterapêutico e pedagógico que baseia-se,
respectivamente, na psicologia junguiana, que utiliza a produção artística livre em
forma de atividade criativa e integradora da personalidade, e também na teoria
construtivista de aprendizagem, a qual acredita que quem realmente constrói o
conhecimento é o aluno, enquanto o professor é apenas um guia.
Segue, principalmente, os princípios de Jean Piaget e Howard Gardner. O
primeiro, mesmo não sendo pedagogo, foi pioneiro na pesquisa científica sobre a
construção do conhecimento do ser humano em todas as faixas etárias. Para
Piaget, os indivíduos se desenvolvem intelectualmente na relação com as
experiências que o meio oferece. Quanto mais experiências e desafios, maior é o
estímulo. Gardner, que também não é pedagogo, mas sim psicólogo, acredita que
todos têm potencial e que só precisam de estímulos para desenvolver suas
inteligências, que são múltiplas.
Já para esses estímulos, foi proposto um plano de aula elaborado com
técnicas de Arteterapia voltada para a educação, visto que ela resgata o potencial
criativo do homem, buscando a psique saudável e estimulando a autonomia e
transformação interna, o que traz vários benefícios para qualquer pessoa, inclusive
para adolescentes, público alvo desta monografia, que nesta etapa da vida são
sucetíveis a mais desordens emocionais.
O campo da Arteterapia escolhida foi o da Educação, através do Teatro
Pedagógico e com base nele foi elaborado diversas atividades. Os planos de aula
foram todos desenvolvidos com o objetivo de inserir a Arteterapia em todo o
processo, não só na confecção de cenário e encenação da peça no segundo
semestre letivo, mas sim em atividades desenvolvidas desde o primeiro semestre.
Com isso, o projeto demonstrará todas as etapas para se finalizar um ano letivo
trabalhando por completo com tudo o que o Teatro Pedagógico pode oferecer aos
alunos, não somente se restringindo a encenação da peça, mas englobando
também as atividades anteriores que incluem os Jogos Teatrais, desenvolvendo a
socialização e desinibição dos alunos; a escrita de histórias, treinando, por exemplo,
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a criatividade dos alunos, além de dar um apoio a disciplina de Português e também
a confecção dos bonecos, figurino e cenários, que permitirá aos alunos um contato
com várias técnicas que serão trabalhadas sempre com o apoio de outras
provenientes da Arteterapia.
Abaixo segue o resumo do plano de aula de um ano letivo, cujas atividades serão
desenvolvidas, melhores descritas e embasadas durante o decorrer desse projeto.
• Primeiro semestre: começará com atividades de Jogos Teatrais, pois estes
desenvolvem e treinam habilidades comportamentais e podem quebrar vários tipos de
barreiras em uma sala de aula, pois facilitam a verbalização, a comunicação e trazem
prazer. Servirão, então, como ferramenta para os alunos irem se conhecendo melhor (e
o próprio educador também conhecê-los para melhor direcionar as atividades) e para
acabar aos poucos com a inibição que alguns podem ter.
Como será do professor a função de elaborar o roteiro da peça de teatro para que
este possua a função pedagógica, será trabalhado com os alunos, então, a leitura de
contos ou a criação de outros, sempre baseando-se em técnicas da Arteterapia, para
estimulá-los a escrita e desenvolvimento de histórias e ao mesmo tempo ajudar a
resolver problemas de cunho psicológico que, por ventura, possam existir.
Por fim, baseado num conto ou até mesmo num roteiro rápido feito por eles,
será feita uma curta apresentação de teatro de bonecos, onde será trabalhado, em
atividade de grupo, a história, confecção dos bonecos e o cenário apropriado.
• Segundo semestre: logo de início será apresentado aos alunos o roteiro. Se
escolherá quem ficará com os papéis, quem participará só da confecção do cenário,
se verificará a possibilidade de inserção de novos personagens e figurantes na
peça, dependendo do número de alunos que queiram participar (tudo sob a
coordenação e decisão final do professor).
Para finalizar, ensaios e confecção de cenário serão organizados então através
do plano de aula desse segundo semestre letivo, que será finalizado com a
apresentação da peça, no próprio colégio.
8
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 9
CAPÍTULO I
Arteterapia: origem e definição 11
CAPÍTULO II
Adolescentes: características e necessidades 18
CAPÍTULO III
O teatro e suas ferramentas como recurso para a Arteterapia
e instrumento pedagógico 26
CONCLUSÃO 37
ANEXOS 39
BIBLIOGRAFIA 73
ATIVIDADES CULTURAIS 75
ÍNDICE 76
FOLHA DE AVALIAÇÃO 78
9
INTRODUÇÃO
A Arteterapia é, em suma, um processo terapêutico que ocorre através da
utilização de diversas modalidades artísticas. Dentre seus vários ramos, como
Música, Dança, Artes Plásticas e etc, o Teatro Pedagógico é uma rica forma de
proporcionar diversos benefícios aos alunos.
Apesar de poder ser utilizada como terapia em todas as faixas etárias, o
público-alvo escolhido para este projeto são os adolescentes, mais especificamente
alunos de nível médio de instituição de ensino sob regime de internato. Essa escolha foi
feita devido a complexidade que é a encenação de uma peça teatral que, no caso, faz
parte do plano de aula elaborado e será apresentada no final do ano letivo, e também
devido a necessidade de projetos que cuidem do bem-estar desses alunos que estão
afastados de sua família e precisam ocupar seu tempo livre de uma maneira saudável,
um objetivo ao qual a Arteterapia se propõe a alcançar.
O foco desse projeto é, portanto, o Teatro Pedagógico, que também é
chamado de Teatro na Educação ou Teatro Educativo, e que consiste basicamente
em trazer para a sala de aula as técnicas do teatro e aplicá-las no desenvolvimento
e educação dos alunos. Ele é um recurso opcional importante para a formação
comportamental, o que é um dos objetivos tanto da Arteterapia quanto da
Pedagogia.
Segue abaixo alguns benefícios do Teatro Pedagógico:
• Estimula a desinibição através da encenação da peça;
• treina a escrita e criatividade através de elaboração de textos;
• promove a afirmação da personalidade;
• ensina a lidar com o ciúme, na hora da escolha de quem fica com o papel
principal;
• ajuda na aprendizagem se o tema for acadêmico, ou na formação do caráter se o
tema tiver uma lição de moral;
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• é uma terapia ocupacional, com a qual o aluno pode preencher o seu tempo com
um embasamento pedagógico e terapêutico, transmitido pelo educador;
• estimula o trabalho em equipe e a quebra de posições dominantes na turma.
Em instituições educacionais sob regime de internato, essa é uma atividade de
grande importância como terapia ocupacional, pois ajuda os alunos a lidar com a
distância dos amigos e familiares, dentre outros problemas de cunho psicológico,
que os adolescentes, cujas características principais serão descritas mais adiante,
são mais suscetíveis a ter.
Para esses tipos de instituições, as quais precisam de inúmeras atividades
extracurriculares a serem desenvolvidas com seus alunos, portanto, o Teatro
Pedagógico, e por conseguinte a Arteterapia, é uma ferramenta excelente para
atingir suas metas, não só as de cunho acadêmico, mas também aquelas que visam
a construção do ser, ou seja, o desenvolvimento desses alunos como cidadãos. E
isto é, sem dúvida, de grande importância dentro de uma sociedade, que necessita
da educação e do cuidado das crianças desde cedo para se tornar desenvolvida.
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CAPÍTULO I
ARTETERAPIA: ORIGEM E DEFINIÇÃO
Segundo a AATA – American Association of Art Therapy, a Arteterapia baseia-
se na crença de que o processo criativo envolvido na atividade artística é terapêutico
e enriquecedor da qualidade de vida das pessoas. Ela é o uso terapêutico dessa
atividade artística no contexto de uma relação profissional por pessoas que
vivenciam doenças, traumas ou dificuldades na vida, assim como também por
pessoas que buscam desenvolvimento pessoal. Por meio do criar em arte e do
refletir sobre os processos e trabalhos artísticos resultantes, as pessoas podem
ampliar o conhecimento de si e dos outros, aumentar sua auto-estima, lidar melhor
com sintomas como o estresse e experiências traumáticas, desenvolver recursos
físicos, cognitivos e emocionais e desfrutar do prazer vitalizador do fazer artístico.
A palavra terapia vem do grego therapéuein que significa cuidar. A Arteterapia
está, portanto, pelo seu potencial de cura, inserida nos mais de 400 modelos do
mundo das terapias, particularizando-se pelo uso da arte do modo mais amplo como
pode ser concebida, sem julgamentos estéticos ou necessidade de conhecimentos
acadêmicos, para se atingir a cura almejada ou simplesmente servir como
prevenção de desordens psicológicas.
Antes de aprofundar o discurso deste tema, é preciso relatar um pouco sobre a
evolução das terapias na história da humanidade, de modo a conhecer os
benefícios trazidos por elas aos homens, além de entender o papel curador da arte
dentro desse processo.
Segundo a matéria “A cura pela palavra”, da Revista Superinteressante,foi
Sigmund Freud que, a mais de 100 anos, com a criação do tratamento pela fala,
junto com o médico Josef Breuer, revolucionou a Psiquiatria, que anteriormente
tratava as doenças mentais com procedimentos físicos, como eletrochoques e
lobotomia, dando origem a chamada Psicanálise. Esta, por sua vez, se multiplicou
em diferentes teorias e abordagens, resultando em uma área mais abrangente, a
Psicologia.
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Do nascimento da Psicanálise até hoje, início do século XXI, várias idéias de
Freud foram descartadas e a medida que isso acontecia, novos tratamentos
começaram a surgir. A maioria dessas novas técnicas surgiu a partir de 1960, época
da revolução sexual, onde passou a ser dada mais importância ao bem-estar do
corpo e da mente.
A hegemonia da Psicanálise foi, portanto, dando lugar a modelos mais breves
e dinâmicos, chamados de Psicoterapias, sendo que uma das correntes mais fortes
dessa área da Psicologia é a terapia cognitivo-comportamental, que, ao contrário do
tratamento de Freud, não trata o paciente com foco em seu passado ou desejos
reprimidos, e sim tenta reconhecer e alterar os padrões atuais de pensamento do
indivíduo para ensiná-lo a vigiar idéias automáticas e corrigi-las.
Essa restrição aos conflitos interiores dos indivíduos foi um dos fatores que fez
com que a Psicanálise perdesse terreno, pois dava pouca importância às influências
sociais nos sentimentos das pessoas e o que se sabe atualmente é que o
sofrimento psíquico varia de acordo com o contexto sócio cultural.
A ansiedade, estresse e depressão são muitas das vezes resultado da nossa
sociedade pós-moderna ocidental, que é altamente competitiva, individualista, pouco
solidária e onde posições no mercado de trabalho a serem alcançadas são incertas.
Logo, se a raiz desses problemas está no estilo de vida de uma sociedade, eles não
podem ser tratados apenas pelas técnicas de Freud, mesmo que já esteja provado,
através de pesquisas com neuro imagem funcional (método que fotografa o fluxo
sanguíneo no cérebro), que sua terapia baseada na fala causa sim efeitos permanentes
no nosso sistema de aprendizagem, na memória e no processamento de emoções.
Foi Carl Jung, discípulo de Freud, que criou a Psicoterapia Analítica,
introduzindo o conceito de “inconsciente coletivo” – aquele em que há imagens e
experiências comuns a todos os seres humanos – e, portanto, foi o primeiro a levar
em conta, além das questões individuais do paciente, as influências externas e
coletivas que podem atormentá-lo. Em 1957, Jung inaugurou uma exposição de
pinturas no Museu de Imagens do Inconsciente, no II Congresso Internacional de
Psiquiatria, em Zurique. Segundo Lou de Olivier, ele pode ser considerado um dos
precursores da Arteterapia, que teve início com vários focos e linhas, em vários
13
pontos do planeta. No Brasil a precursora dessa prática terapêutica foi a psiquiatra
Nise da Silveira, discípula de Jung. Foi ela quem fundou, em 1952, o Museu da
Imagem do Inconsciente do Rio de Janeiro, com trabalhos feitos por seus pacientes
esquizofrênicos, sendo de suma importância no desenvolvimento dessa área, tanto
o foi, que o próprio Jung expões um dos trabalhos de um dos pacientes de Nise no
Congresso supracitado.
Vale aqui ressaltar, todavia, que não é privilégio das terapias alterar as redes
neurais. Mesmo que ocorra em menor grau, experiências diárias como ouvir música,
ou fazer uma caminhada, provocam mudanças na atividade neural, mostrando que
a própria pessoa tem a capacidade de se auto-tratar. E é aí que inserimos o
potencial curador da arte, pelo simples prazer que ela proporciona ao ser executada.
A arte tem, em sua manifestação, fatores psicológicos e é o fio condutor que permite a apresentação das intenções e das emoções que provêm do mais íntimo estado individual do sujeito.
Estudos mostram que o homem, muito antes de falar, já usava a arte como linguagem para se comunicar; ... A riqueza e a dimensão dessa linguagem –artística, quer seja do homem primitivo ou do homem moderno, vêm do substrato do inconsciente coletivo, onde repousam ou se manifestam os arquétipos...
Por meio das técnicas expressivas, o ser humano exercita o instinto básico e inato da criatividade que é instintiva e possibilita abrir o canal para a transformação do ser. É a capacidade de dar forma, tornar visível o invisível e de representar a realidade subjetiva.
O ato de criar traz à tona o mundo interno e o transforma. Por meio da representação, criam-se condições para transformação, o simples ato de criar é, em si, terapêutico. (SANTOS, Sandra Regina – p. 144 e 146)
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1.1 – Arteterapia na Educação
A Arteterapia pode ser aplicada em mais de um setor, como, por exemplo, na
área de Saúde, na Empresarial e na de Educação, a que será abordada neste
projeto. Mas, em primeiro lugar é importante que fique clara a definição de
arteterapeuta.
Segundo Lou de Olivier, este é um profissional da área de saúde, com
conhecimentos de psicologia, que tem também o conhecimento de Arte e a utiliza
como tratamento, não se preocupando apenas com a produção, mas com o
caminho percorrido por seus pacientes durante a utilização de técnicas expressivas.
Numa sala de aula, o profissional que ensina somente as técnicas de produção
de desenho, pintura, teatro, música e etc, é denominado arte-educador, que se vale
da arte como terapia, e não da Arteterapia como temos definido até agora, pois não
se preocupa com o percurso das produções, mas sim somente com a própria
produção.
A diferença entre os dois é que o arteterapeuta será capaz de detectar
corretamente problemas psicológicos ou distúrbios comportamentais e direcionar
atividades específicas para o indivíduo ou grupo, já o arte-educador não. Portanto,
se uma instituição quiser o respaldo da Arteterapia em sua grade acadêmica deverá
contratar um profissional de saúde ou no mínimo um professor com especialização
em Arteterapia, pois este, apesar de não poder executar sessões terapêuticas, tem
o conhecimento necessário para elaborar atividades específicas para a deficiência
que a instituição pretende sanar em seus alunos e, no caso de algum distúrbio grave
em algum indivíduo, este profissional será capaz de identificar o problema e
encaminhá-lo ao psicólogo, profissional também de grande valor dentro do quadro
de funcionários da escola.
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O anexo 1 deste projeto contém um plano de aula que pode ser seguido por
arteterapeutas ou arte-educadores que queiram se utilizar das técnicas da
Arteterapia em seu método de ensino. Nele estão descritas técnicas com foco no
Teatro Pedagógico, que será definido mais adiante, para um ano letivo de alunos do
Ensino Médio, ou seja, entre 15 e 18 anos, em sua maioria.
A Arteterapia na Educação não tem como foco o tratamento terapêutico, pois
parte do princípio que os alunos não têm nenhum problema psicológico, e sim
pretende despertar o potencial criativo desses alunos e com isso gerar diversos
benefícios durante seu desenvolvimento enquanto pessoa, mas ao mesmo tempo
também previne, ou pode tratar, qualquer distúrbio que a criança ou adolescente
possa vir a manifestar devido ao meio que estão inseridos.
A criatividade é importantíssima na vida – ela nos oferece a diversidade. Sendo criativos, tentamos diferentes maneiras de fazer as coisas; e, naturalmente, cometemos mais erros. No entanto, se tivermos a coragem de persistir, apesar desses erros, obteremos a resposta. (GOLEMAN, D.;KAUFMAN,P. e RAY, M. pág. 29)
Ainda segundo esses autores, criatividade não significa ter somente novas
idéias, mas sim também ter um tipo de percepção geral que nos leva a tomar mais
gosto pelo trabalho e pelas pessoas que nos cercam, ou seja, criar um espírito
capaz de estreitar a colaboração e a comunicação com os semelhantes. O
desenvolvimento da criatividade nas crianças e jovens é, portanto, de grande
importância para seu desenvolvimento enquanto indivíduo integrante de uma
sociedade e a Arteterapia é capaz de propor técnicas para liberar e estimular essa
criatividade contida em cada pessoa.
1.2 – Arteterapia em instituições educacionais em regime de internato
Colégios internos, ou internatos como também são chamados, são tipos de
instituições de longa data que perduram até hoje, início do século XXI. Não deixam
de ter aspectos em comum com prisões, hospitais psiquiátricos e conventos, por
exemplo. Todos eles são uma espécie de cárcere e, em instituições educacionais
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sob esse regime, os alunos podem sentir o ambiente desta forma, carcerário e
restritivo, ao qual foram entregues por seus pais. Nesses locais há normas criadas
pelos gestores que devem ser seguidas pelos internos de modo a se alcançar uma
estrutura organizada e sem conflitos. Há autoridade e controle institucional. Por isso,
os administradores, que também são membros residentes, e, no caso dos colégios,
os professores também, são em grande parte os responsáveis pelo bem-estar de
todos. Eles devem saber dosar o seu poder, ministrar atividades que visam o
desenvolvimento dos alunos, além de zelar pela saúde física e mental destes.
Claro que não há somente aspecto negativo nessas instituições, e não cabe
aqui nenhum tipo de crítica. Um colégio interno, se bem administrado, é a fonte de
desenvolvimento e amadurecimento de crianças e jovens. Uma grande oportunidade
para eles atingirem sua independência de forma mais rápida e serem adultos
seguros de si.
No paralelo que podemos estabelecer entre os fins educativos do internato escolar e os objetivos terapêutico-correcionais do hospital psiquiátrico e da prisão, existe mais do que uma simples analogia. As três organizações procuram, de modos que variam tanto entre si quanto dentro de cada uma, promover o desenvolvimento pessoal e os conhecimentos sobre o caráter, o conceito sobre si mesmo, a competência e os recursos psicossociais que significarão uma diferença na vida dos membros residentes depois da sua graduação. (BENELLI, S. pág.27)
Porém, é no aspecto negativo, do qual nenhum local de grande estrutura como
estes está livre, que devemos nos focar para achar soluções que minimizem ou
exterminem qualquer tipo de problema, garantindo o objetivo, que deve ser o
principal, de zelar pelo bem-estar de todos.
A participação na vida colegial do internado pode ser não apenas uma oportunidade, mas também motivada pela pressão dos pais, professores, pares e outros. Os aspectos coercitivos da vida no internato escolar, ainda que menos explícitos e brutais do que os do hospital psiquiátrico, também podem ser mais massificantes e difíceis de se enfrentar. Existem as possibilidades vergonhosas do fracasso acadêmico, da
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incapacidade intelectual, de mudar muito ou pouco antes da formatura.
Podemos dizer que o processo educativo deve promover uma liberação sublimada dos impulsos, uma iluminação da consciência e uma maior diferenciação e integração da personalidade do indivíduo. Para alcançar esses objetivos, as instituições educativas devem proporcionar as condições psicossociais sob as quais os estudantes possam tratar essas questões de modo positivo e construtivo. Um conceito adequado para pensarmos o estudante é considerá-lo como um ser em transição, como uma pessoa em processo de desenvolvimento. (BENELLI, S. pág.28)
Com o que foi relatado sobre a Arteterapia até aqui, pode-se perceber que
suas atividades podem ser inseridas nos projetos pedagógicos de instituições
educacionais desse gênero. Alguns exemplos podem ser vistos no anexo 1 (plano
de aula). Esses exercícios, propostos para serem desenvolvidos por professores de
arte ou arteterapeutas, preenchem o tempo livre e ocioso dos alunos, tanto como
terapia ocupacional quanto de forma pedagógica, sendo de grande importância,
para seu desenvolvimento de forma saudável e enriquecedora.
É, portanto, necessário haver sempre a consciência, por parte dos diretores e
professores, das pressões vividas pelos alunos residentes, que ainda são agravadas
devido ao fato do afastamento de seus familiares, para que eles elaborem
atividades não só para gerar conhecimento acadêmico, mas também para cuidar da
psique desses alunos. É importante que eles saibam que a Arteterapia existe e é
uma ferramenta que pode ser aplicada para esse propósito, devido ao seu potencial
de cura e prevenção.
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CAPÍTULO II
ADOLESCENTES: CARACTERÍSTICAS E NECESSIDADES
A adolescência se inicia, fisiologicamente falando, com a maturidade sexual
(puberdade) que, no geral, começa ao redor dos 11 ou 12 anos, mas atinge seu
equilíbrio por volta dos 14 ou 15 anos (CAPLAN e LEBOVICI. APUD PIAGET, J.
p.23). Porém, somente quando a maturidade biológica está acompanhada pela
maturidade afetiva e intelectual é que este indivíduo passará a fazer parte do mundo
adulto (ABERASTURY, A. e KNOBEL, M. p.18).
A maior característica, e um dos pontos positivos, dessa fase do
desenvolvimento humano, segundo o epistemólogo e psicólogo, dentre outras
profissões, Jean Piaget, que estudou a evolução do pensamento humano desde a
infância até a adolescência (Escola Parque - Informe Especial – set/2008), é a
capacidade de manipular idéias no lugar de se limitar em apenas manipular objetos.
Ou seja, a adolescência é a fase da abstração, em que os adolescentes passam a
ser indivíduos capazes de elaborar ou compreender teorias e idéias abstratas. Isto
já é uma característica que os igualam aos adultos, pois a criança não é capaz de
construir teorias e nem de raciocinar sob base de hipóteses, o que só passa a
ocorrer a partir dos 12 anos (SERGELEBOVICI, G. APUD PIAGET, J. p.23 e 24).
Aberrastury e Knobel chamam de “síndrome normal da adolescência” os
desequilíbrios e instabilidades extremas (constantes variações de humor e estado
de ânimo) próprias dessa fase e que são um de seus pontos negativos. Em virtude
das crises existenciais, os adolescentes estão mais aptos a sofrer os impactos de
uma realidade frustrante. Sendo assim, eles apresentam uma vulnerabilidade para
assimilar os impactos projetados por seus pais, irmãos, amigos e toda a sociedade.
Outra característica importante, ainda segundo esses dois autores, é a
exigência dos jovens, de ambos os sexos, pela sua liberdade (a liberdade de saída
e horários, a de defender uma ideologia e a de ter um amor e um trabalho).
Para Jung, a adolescência, justamente devido ao início desse desligamento
dos pais, é a fase do despertar da consciência, cujo centro é denominado “ego”. O
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rompimento com a fase matriarcal (ligação com a mãe) e com a posterior fase
patriarcal (ligação com o pai), torna o indivíduo autônomo e diferenciado, na
chamada fase da alteridade, na qual reconhece o outro também em sua autonomia
e diferenciação (SAIANI, C. p. 19 e 20). Na fase da alteridade é onde se iniciam os
relacionamentos e a vida profissional, ou seja, vai desde o final da adolescência até
a vida adulta. No início da adolescência o jovem ainda está na fase patriarcal, onde
precisa de limites.
São nesses pontos principais que os familiares, pedagogos, arteterapeutas e
psicólogos devem se focar, para entender melhor os problemas característicos da
idade e ajudá-los a transpô-los da melhor e mais rápida maneira possível, assim
como compreender suas necessidades, tanto físicas como intelectuais.
2.1 – Pedagogia para adolescentes
Até aqui foram descritas apenas algumas das diversas características e
necessidades dos adolescentes. O assunto é muito extenso, mas com essa base já
se pode responder a algumas perguntas, de cunho pedagógico, como: Por que
cálculos matemáticos mais complexos são ensinados apenas a partir do Ensino
Fundamental? Isto acontece, pois o indivíduo ingressa nesse segmento do nosso
ensino brasileiro normalmente a partir dos 12 anos de idade, ou seja, quando está
entrando na adolescência, na fase da abstração; logo, está apto a entender a
Matemática mais avançada do que a tabuada ou qualquer outra disciplina com
conteúdos abstratos.
Outra característica dos adolescentes, não citada no início deste capítulo, mas
não menos importante, é a tendência grupal. Os adolescentes formam grupos de
iguais, na maioria das vezes com um elo mais forte do que o familiar, por isso não é
de se estranhar sua fase rebeldia, de busca pela independência. Grande parte da
dependência que mantinham anteriormente com a estrutura familiar (com os pais
em especial) é transferida para o grupo. Esse fenômeno grupal não é algo negativo,
pelo contrário, facilita a conduta psicológica normal do adolescente (ABERASTURY,
A. e KNOBEL, M. p.59 a 61).
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Os profissionais de educação podem ter essa característica em mente na hora
de propor exercícios. Atividades em grupos podem ser propostas para melhor
assimilação do tema, já que será mais prazeroso para os jovens estar atuando junto
a seus amigos. E aqui é onde podemos inserir o Teatro Pedagógico, que também é
uma atividade grupal, mas que será descrito no próximo capítulo deste projeto (veja
também o anexo 4, que é um roteiro de peça teatral para ser encenada por
adolescentes).
Jean Piaget não pode deixar de ser citado aqui, devido a sua grande
contribuição à Pedagogia. Baseado na teoria construtivista, acreditava que o ser
humano já nasce inteligente, sendo, portanto, capaz de aprender. Para ele, é
preciso oferecer desde muito cedo, às crianças e jovens, um ambiente rico em
experiências instigantes que permitam o desenvolvimento das potencialidades de
cada um. Para os jovens, no caso, isso é de suma importância, pois eles estão
trilhando seu caminho rumo ao seu futuro profissional. Atividades pedagógicas bem
aplicadas trazem como resultado o sucesso profissional almejado.
Ainda segundo o construtivismo, quem constrói o conhecimento é o aluno e o
professor é apenas um guia. Segue abaixo, segundo o Informe Especial da Escola
Parque (colégio do Rio de Janeiro, que é construtivista), os cinco princípios da teoria
de Piaget que podem ser aplicados na educação de crianças e jovens:
• A inteligência é um mecanismo de adaptação do organismo ao meio exterior,
como toda adaptação biológica.
• Os indivíduos se desenvolvem intelectualmente na relação com as
experiências que o meio oferece. Quanto mais experiências e desafios, maior
é o estímulo.
• O indivíduo só recebe um determinado conhecimento se estiver preparado
para recebê-lo, isto é, se tiver esquemas prévios que permitam a
compreensão.
• O comportamento dos seres vivos não é inato, nem resultado de
condicionamentos. É construído numa interação entre o meio e o indivíduo.
• A construção da inteligência dá-se em etapas sucessivas de estruturação do
pensamento, com complexidades crescentes, encadeadas umas às outras.
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Howard Gardner também acredita que a inteligência se desenvolve por toda a
vida e por todos, através de estímulos. Ele é o pai da Teoria das Inteligências
Múltiplas, que ao contrario de Piaget, não foca numa única inteligência e sim em 8
que descobriu até agora, que são:
1) Lógico - matemática ( a mais estudada por Piaget), que corresponde a
sensibilidade a símbolos, relações e padrões, além do raciocínio lógico e
dedutivo.
2) Lingüística, que corresponde ao uso objetivo da linguagem, a escrita e a
fala.
3) Interpessoal, que é a compreensão das pessoas e bons relacionamentos
4) Intrapessoal, que é o autoconhecimento, o uso preciso de idéias, habilidades
e desejos, além do gerenciamento de emoções e sentimentos
5) Corporal - cinestésica, que corresponde ao autocontrole corporal e a
coordenação motora.
6) Musical, que é a capacidade da percepção dos tons, timbres e ritmos, a
reprodução e produção musical.
7) Espacial, que é a percepção das formas espaciais e visualização em 3D
8) Naturalista, que é a sensibilidade ao meio-ambiente.
Há uma outra inteligência que ele ainda considera em fase de estudos que é a
Existencialista, a capacidade de considerar questões mais profundas da nossa
existência, de fazer reflexões sobre quem somos, de onde viemos e para onde
iremos após a morte.
A Teoria das Inteligências Múltiplas, entretanto, não tem uma pedagogia
aplicada a ela, pois não é um estudo pedagógico e sim um estudo dos mecanismos
cerebrais, mas, mesmo assim, ela não deixa de ser importante para a Educação. Os
profissionais de educação podem aplicá-la como educação personalizada, que
corresponde olhar a todos e a cada aluno ao mesmo tempo, ou seja, ter a
22
consciência que cada indivíduo é diferente e aprende diferente. Com isso o
potencial de cada aluno conseguirá ser estimulado. Uma boa escola é, portanto,
aquela em que esses profissionais trabalham com foco nas diferenças e consideram
o conhecimento como um bem, ensinando o aluno a pensar, resolver problemas e
criar projetos. (Coleção Grandes Educadores – Howard Gardner).
No Brasil, apesar de existirem excelentes instituições e a Educação ter o
respaldo da lei, esta ainda não recebe o valor devido, e isso é comprovado pelo
nosso quadro de subdesenvolvimento. Para finalizar, portanto, este item, foram
selecionados alguns artigos do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), com o
objetivo de ressaltar a importância da Educação dentro de uma sociedade.
Art.53 – A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho (...).
Art.55 – Os pais ou responsáveis têm a obrigação de matricular seus filhos ou pupilos na rede regular de ensino.
Art.58 - No processo educacional respeitar-se-ão os valores culturais, artísticos e históricos próprios do contexto social da criança e do adolescente, garantindo-se a estes a liberdade de criação e o acesso às fontes de cultura.
(ECA, p.37)
2.2 – Arteterapia para adolescentes
Tudo o que for relatado neste item serve como complementação do anterior, já
que o foco desse projeto é a Arteterapia na Educação, valendo ressaltar que a
Arteterapia ajuda na Educação tanto coletiva quanto individual, como é
recomendada não só por Gardner, mas também por Jung (SAIANI, C. p. 13).
Potencializar as inteligências dos jovens, olhando-os não só em grupo, mas
também individualmente, é ajudá-los a descobrirem a profissão que vão querer
seguir após o desligamento da escola.
23
O anexo 1 (plano de aula) contém várias atividades de Arteterapia voltada para
a Educação de adolescentes, incluindo práticas com jogos teatrais, contos, teatro de
bonecos, confecção de cenário, figurino e a preparação para a encenação da peça
teatral. Essas atividades, na maioria feitas em grupo, são importantes para
estimular, nesse público jovem, as inteligências interpessoal e intrapessoal,
principalmente, pois, como já dito, a Arteterapia ajuda na compreensão de si e do
outro. Porém, de uma maneira geral, qualquer atividade que estimule a criatividade
é boa de ser aplicada, não só para os jovens, mas também para as crianças.
Os jovens, normalmente, necessitam de mais estímulo para criar algo novo.
Tanto eles quanto os adultos são mais acomodados que as crianças, por isso não é
de se estranhar que voltem a desenhar figuras humanas somente com traços
simples (palitinhos). O medo de errar e das críticas negativas é muito maior, por isso
se acomodam. Logo, atividades interessantes para eles, por exemplo, são as de
reciclagem de materiais, pois estimulam a criação.
No âmbito da saúde, a Arteterapia tem técnicas elaboradas para cada
problema específico apresentado pelo jovem, porém, como na área da Educação
estamos partindo do pressuposto que se esteja trabalhando com adolescentes
saudáveis, técnicas mais abrangentes podem ser utilizadas, como por exemplo:
atividades com materiais rígidos, como o arame, que trabalha força; mosaico, que
trabalha limite ou recorte; que trabalha escolhas. Os adolescentes estão na fase que
precisam tanto extravasar a energia como de limites, além de estar numa fase de
escolhas também, por isso essas atividades são ideais para eles.
Cabe ao profissional da área saber aplicar essas técnicas de forma estimulante
e criativa, proporcionando o prazer aos jovens que muitas das atividades das
disciplinas acadêmicas tradicionais não conseguem gerar, justamente por não ter a
criatividade como recurso motivador.
24
2.3 – Adolescentes residentes em colégios e a importância dos
professores em suas vidas
Para finalizar este capítulo, vale ressaltar, que a maior diferença entre os
estudantes jovens de internatos e os de externato é o afastamento dos familiares,
principalmente dos pais. A instabilidade normal da adolescência pode ser agravada
devido a este fator, pois eles podem se sentir inseguros e desprotegidos, apesar de
que, este afastamento não deixa de representar a busca da independência, que
também é característica dessa fase da vida e importante para a formação de
cidadãos atuantes na sociedade.
O principal papel da escola é o de colaborar na independência do aluno em relação à influência familiar, tendo o professor um papel fundamental nesse processo. (SAIANI, C. p. 150)
Assim, quando Jung fala de desligar o aluno da família, está se referindo a algo comparável a um segundo nascimento, a um rompimento de um cordão umbilical simbólico, sem o qual não seria possível a produção de cultura. ( Idem. p. 19)
O anexo 2 (conto “João e Maria”) é um rito de passagem, em que as crianças,
abandonadas pelos pais, precisam ser fortes e encarar os problemas sozinhas,
resultando no seu amadurecendo. É, portanto, um conto ideal para ser trabalhado
como atividade arteterápica com jovens de colégios internos, já que estes também
estão afastados dos pais e tendo que encarar o mundo sem a proteção familiar. A
Arteterapia é uma rica ferramenta a ser utilizada com estes jovens, que precisam de
mais estímulos do que normalmente precisariam se estivessem estudando em
colégios externos.
Outro ponto importante de focarmos é, segundo Jung, que nas escolas ocorre
a chamada “projeção”, ou seja, os alunos podem ver as professoras como suas
mães e os professores como seus pais, devido a existência de um arquétipo, que
seria, numa de suas definições, a forma que os instintos assumem ( SAIANI, C. p. 54
e 150).
25
É natural, portanto, que os alunos busquem nos professores, ainda mais nos
de colégios internos devido a esse afastamento dos familiares, a proteção, o carinho
(arquétipo materno) e os limites (arquétipo paterno) que esperam dos pais. Daí se
percebe a grande importância desses mestres em suas vidas e cabe a eles ter
ciência dessa responsabilidade de estarem, de certa forma, substituindo as funções
dos pais. Devem, portanto, olhar esses alunos como pessoas e entender - apesar
de não serem terapeutas - o seu momento de extremas mudanças que está sendo
vivido nessa fase da adolescência, ainda mais num internato, para ajudá-los a
chegarem ao mundo dos adultos pelo caminho mais saudável possível.
O professor que quiser ser algo além de mero repassador de informações (...) deve aparecer perante seus alunos, antes de mais nada, como um ser humano íntegro. (...) faz parte de sua tarefa promover seu desenvolvimento. Pelo menos, é isso que entendemos por “educar para a cidadania” ( SAIANI, C. p. 149).
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CAPÍTULO III
O TEATRO E SUAS FERRAMENTAS COMO RECURSO
PARA A ARTETERAPIA E INSTRUMENTO PEDAGÓGICO
Como visto anteriormente, a Arteterapia incrementa e enriquece o processo
terapêutico tradicional, através do uso da arte, conseguindo assim agilizar o tempo
do tratamento. O Teatro, como uma das diversas formas de arte que podem servir
de ferramenta para ela, agiliza ainda mais este processo. Isto porque ele engloba
em si vários itens de potencial terapêutico que nas outras artes não estão tão
reunidas quanto estão nele. A saber: a expressão corporal; o trabalho em equipe; a
interação social; a experimentação de vários personagens, o que ajuda no encontro
a si mesmo; a criatividade, que não se limita a encenação, mas sim pode vir desde a
elaboração do roteiro, do figurino e até a montagem de todo o cenário. Pode,
portanto, englobar outras artes, como a Pintura e Desenho,durante a confecção do
cenário ou a Dança e Música, dependendo do que se tratar a peça.
Por esse estímulo à criatividade, à desinibição, à pró-atividade, à interação
social, etc, é que o Teatro é também um instrumento pedagógico, além de
terapêutico, pois dando estímulos aos alunos, como já visto, esses conseguem
aprender melhor. Quando essa arte é utilizada com este propósito de educar, é
chamada de Teatro Pedagógico, possuindo as linhas gerais do Teatro como se é
conhecido, mas sem a figura do dramaturgo profissional (o professor é quem
executa esse papel) e tendo algumas particularidades, como visar a formação
comportamental e educação dos alunos, que não irão encenar para o grande
público e sim, somente entre eles ou no máximo um grupo de familiares,
professores e outros colegas de classe. Mais adiante, no tópico específico, será
transcrito mais informações a respeito.
27
3.1- A Arte, o Teatro, o Teatro Espontâneo e o Psicodrama
Antes de nos aprofundarmos no Teatro Pedagógico, que é o propósito desse
projeto, e nas atividades que podem ser propostas através dele para os alunos, é preciso
entender a importância do Teatro para os homens, o porquê de ele ser considerado Arte e
como pode ser utilizado de modo terapêutico. Só assim será possível entender seu uso
através da Arteterapia e como ele pode ser aplicado na Educação.
Primeiramente, a respeito da Arte, sua definição não é algo absoluto, pois ela é
fruto de um processo sócio-cultural, sendo assim, varia de acordo com o momento
histórico da humanidade. Todavia, de modo mais amplo, podemos defini-la como
sendo a atividade humana ligada a manifestações de ordem estética (beleza,
equilíbrio, harmonia, revolta) por parte do ser humano, feita com a intenção de
estimular os sentidos, bem como transmitir emoções e/ou idéias. A Pintura, a
Música, a Dança, o Teatro e etc estão inseridos nesse contexto.
O que podemos afirmar, sem dúvidas, é que a Arte acompanha o homem
desde seus primórdios. Como exemplo disso, temos as pinturas rupestres nas
paredes das cavernas do homem primitivo e as encenações em rituais sagrados de
povos da antigüidade - podemos considerar estas como o início do Teatro como
hoje é conhecido, mas foi somente na Grécia antiga, com as representações de
comédia e tragédia, que ele começou a realmente ter destaque dentro da cultura
humana. Isso demonstra, portanto, claramente a importância da atividade artística
para o homem durante sua evolução, seja como forma de comunicação, de
expressão de sentimentos ou como terapia.
Para Jung, a Arte é a expressão mais pura que há para a demonstração do
inconsciente de cada um. É a liberdade de expressão, é sensibilidade, criatividade,
é vida. Pode-se dizer, então, que a arte como terapia, na visão junguiana, volta-se,
fundamentalmente, ao indivíduo, dando-lhe a possibilidade de encontrar o acesso
às fontes mais profundas da vida (SANTOS, S. p.144). Já para Vygotsky, as Artes
representam o centro de todos os processos biológicos e sociais do indivíduo na
sociedade e que se constituem no meio para se estabelecer o equilíbrio entre o ser
humano e o mundo nos momentos mais críticos e importantes da vida (JAPIASSU).
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Vê-se, portanto, que o Teatro, insere-se no mundo das artes pelo simples fato
de ser criativo, nos estimular os sentidos e provocar-nos reações emocionais e, por
fazer parte desse campo artístico, pode ser utilizado como ferramenta para a
Arteterapia, não só na área de saúde, mas também na da educação.
O Teatro utilizado de forma terapêutica teve origem com o Teatro Espontâneo
e o Psicodrama de Jacob Levy Moreno. Diferentemente do teatro tradicional, o
terapêutico engloba mecanismos que possibilitam analisar problemas dos indivíduos
e resolvê-los de forma definitiva.
Moreno acreditava que a espontaneidade, a criatividade e a sensibilidade são
recursos inatos do homem. Desde o início ele traz consigo fatores favoráveis ao seu
desenvolvimento, porém estes podem ser perturbados por ambientes ou sistemas
sociais opressores.
Para que tenhamos o prazer de nos sentirmos vivos, ainda segundo Moreno, é
preciso que nos reconheçamos como agentes de nosso próprio destino. A
espontaneidade é a capacidade de agir de modo “adequado” diante de situações
novas, procurando transformar seus aspectos insatisfatórios. E para promover essas
mudanças no ambiente, pensamos e agimos em função de relações afetivas,
mesmo que não o façamos conscientemente. A possibilidade de modificar uma dada
situação implica em criar, e a criatividade é indissociável da espontaneidade (esta
permite que o potencial criativo se atualize e se manifeste).
Moreno pretendia, portanto, em sua forma de fazer teatro, que a ação dramática
terapêutica levasse a algo mais do que a mera repetição de papéis tais como são
desempenhados no quotidiano. A ação dramática permite percepções profundas por
parte do protagonista e do grupo, a respeito do significado dos papéis assumidos.
Segundo Moisés Aguiar, o Teatro Espontâneo introduz no pensamento
psicológico uma forma nova de encarar o comportamento humano, porque se propõe
a investigá-lo por meio da criação artística. A representação da vida no palco, atuada
pelos próprios autores do relato, permite revelar os aspectos mais importantes do
“aqui e agora” real de pessoas concretas. A singularidade dos ângulos pelos quais a
vida é observada é um dos elementos mais valiosos que compõem a abordagem
29
artística. O Teatro Espontâneo é, portanto, uma modalidade de teatro interativo, cuja
característica básica é a improvisação. O mais comum é que tanto o texto como a
representação sejam criados no momento da própria apresentação, com base em
contribuições da platéia. No entanto, essa não é regra absoluta.
Já o Psicodrama é o Teatro Espontâneo aplicado a situações em que cada
participante procura para si mesmo, enquanto indivíduo, algum tipo de crescimento.
Não importa aí, sob que rótulo o trabalho é feito: de grupo de alcoólatras, de
gestantes, de pais, de familiares de pacientes hospitalizados, etc. O que conta é o
fato de que o resultado pretendido é uma transformação ao nível de cada
participante em particular, seja o trabalho feito individual ou grupalmente.
O que se propõe é que as pessoas se unam com o objetivo de criarem, em
conjunto, algo novo, que é o espetáculo. Esse é, portanto, o método. Criar é dar
existência, tirar do nada, dar origem, gerar, formar, dar forma. Toda vez que se faz
Teatro Espontâneo ou o Psicodrama, os objetivos implícitos são ao mesmo tempo
terapêuticos e educacionais. A pessoa entra em contato com seus problemas na
forma de representação e através das encenações encontra uma maneira de
solucioná-los, aprendendo novas formas de conduzir sua própria vida.
Por gerar lições de vida e aprendizado, melhorar o conhecimento de si e do
outro, é que podemos fazer um paralelo dessa formas de teatro terapêutico com o
Teatro Pedagógico, como será visto a seguir.
3.2- Teatro Pedagógico
O foco deste projeto é o Teatro na Educação, ou Teatro Educativo, ou ainda
Teatro Pedagógico, que tem também suas particularidades, mas que consiste,
segundo Rubem Cobra, basicamente em trazer para a sala de aula as técnicas do
teatro e aplicá-las na comunicação do conhecimento. Ele é um recurso opcional
importante para a formação comportamental, o que é uma atividade pedagógica.
Esteja o aluno como espectador ou como figurante, o Teatro é um poderoso meio para gravar na sua memória um determinado tema, ou para
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levá-lo, através de um impacto emocional, a refletir sobre determinada questão moral. Esta é, portanto, uma questão assente, ponto do qual podemos partir para examinar os aspectos práticos de sua utilização pelo pedagogo. (Cobra, R.)
É importante ressaltar que grande parte dos estudos a respeito do teatro e seu
papel no desenvolvimento cognitivo, psicopedagogicamente falando, segundo
Japiassu, tem como referência a abordagem cognitiva de Piaget e a psicodramática
de Moreno, além do paradigma histórico-cultural do desenvolvimento, que é outra
abordagem do funcionamento mental humano, proposto por Lev S. Vygotsky,
teatrólogo, professor e psicólogo russo.
A estrutura e o desenvolvimento dos processos psicológicos humanos emergem através da atividade prática, mediada simbólico-culturalmente, pelas linguagens conforme o desenvolvimento histórico das condições materiais de produção de determinada sociedade. Esta perspectiva de análise e compreensão psicológica do desenvolvimento cognitivo humano denomina-se abordagem histórico-cultural do desenvolvimento. (JAPIASSU, R.)
Segundo Cobra, como ocorre no Psicodrama, no Teatro Pedagógico a Arte é
também instrumental. Para ele é conveniente ressaltar que, enquanto para o
Psicodrama a livre expressão dos participantes é útil à terapia e é um princípio
básico do método, no caso do Teatro Pedagógico ela será um contra-senso. Não é
possível a livre expressão, ou o aspecto pedagógico ficará perdido. Para que o
objetivo pedagógico possa ser alcançado, a representação deve ser fiel a um script
esquematizado em discussão prévia com os alunos. Ou seja, não pode haver total
liberdade de expressão, mas também o método não deve ser imposto de maneira
absoluta, senão se perde o prazer que é gerado pela arte. Os alunos devem ter total
liberdade para argumentar as atividades propostas.
No caso do Teatro Pedagógico, não existe a figura do dramaturgo profissional. A peça será escrita, montada e dirigida pelo professor e seu trabalho não será destinado ao grande público, nem terá objetivo profissionalizante, mas visa apenas a educação dos alunos que estão sob sua
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responsabilidade educacional. Ao professor, portanto, incube a função de direção, acrescida da concepção da história – ou do trabalho da adaptação da peça literária à linguagem teatral – que seria o trabalho do dramaturgo. (Cobra, R.)
Apesar das restrições de atuação do Teatro Pedagógico, a liberdade que é
dada aos alunos (como pode ser exemplificada nas participações que eles terão no
roteiro presente no anexo 4) é imprescindível para uma atividade arteterapêutica.
Ninguém deve se sentir forçado a realizar as tarefas, pois estas devem gerar prazer.
Cabe, portanto, ao professor, mostrar alternativas de atividades que podem ser
realizadas dentro da temática teatral, para que os alunos se sintam atuantes no
processo e não meros seguidores de imposições.
Embora o Teatro Pedagógico possua restrições técnicas, atores amadores e
muitas vezes falta de materiais e espaço pro cenário e palco ideais, não deixa de
ser uma rica fonte de desenvolvimento para os alunos enquanto cidadãos e também
de aprendizado, não somente no sentido acadêmico, mas no de convívio social, pois
decisões em grupo deverão ser tomadas e com isso os alunos terão que aprender
que muitas vezes as escolhas não serão as deles, mas se entenderem que fazem
parte de um grupo, o trabalho em equipe gerará um resultado final que agradará a
todos. O maior ganho que eles têm com essa atividade é a satisfação e o prazer
gerado com o resultado final obtido graças ao trabalho em conjunto de todos,
superando qualquer obstáculo que é comum de surgir ao decorrer das atividades do
ano letivo. E trabalhar com um grupo também dá segurança (SPOLIN, V. p. 9).
Por fim, outra característica do Teatro Pedagógico, muito importante para a
instituição de ensino como um todo, é a sua possibilidade de prática interdisciplinar.
Com o trabalho interdisciplinar, as diferentes matérias escolares interagem-se, em
um processo unitário, contribuindo de forma decisiva para a aprendizagem e o
desenvolvimento intelectual do aluno. (dos Santos, Francisca – Revista de Ciência
da Educação – p.469)
A disciplina de Português é a que está mais intimamente relacionada com as
práticas de teatro, devido às aulas de contos, elaborações de textos e a própria fala
durante a encenação da peça, mas outras disciplinas também podem ser ajudadas
através do teatro, se ele for usado como fixação das matérias que estão sendo
32
ensinadas, o que é feito de uma maneira original e criativa, elaborada pelos alunos
com a ajuda do professor, que irá analisar se o conteúdo estará sendo transmitido
de forma correta.
Dentro de instituições sob regime de internato, a interdisciplinaridade é ainda
de mais valia, pois ajuda a integrar ainda mais todo o corpo docente e discente que,
por serem residentes, tornam-se uma grande família e tudo que os unir e promover
integração é válido e saudável.
3.3- Jogos Teatrais
Jogos Teatrais são jogos de caráter mais psicológico que desenvolvem ou
treinam habilidades comportamentais (psicológicas), como comunicação,
persuasão, técnicas de relacionamento, flexibilidade, adaptabilidade, criatividade,
inovação e etc. Os Jogos podem quebrar toda a sorte de barreiras em uma sala de
aula (ou terapêutica) com crianças, adolescentes ou adultos, pois facilitam a
verbalização, a comunicação e trazem prazer e ludicidade. (Exemplos podem ser
vistos no anexo 1)
O jogo é uma forma natural de grupo que propicia o envolvimento e a liberdade pessoal necessários para a experiência. Os jogos desenvolvem as técnicas e habilidades pessoais necessárias para o jogo em si, através do próprio ato de jogar. As habilidades são desenvolvidas no próprio momento em que a pessoa está jogando, divertindo-se ao máximo e recebendo toda a estimulação que o jogo tem para oferecer – é este o exato momento em que ela está verdadeira-mente aberta para recebê-las. (SPOLIN, V. p.4)
Segundo Japiassu, foi Viola Spolin quem elaborou, primeiramente, a
sistematização de uma proposta para o ensino de Teatro, em contextos formais e
não formais de educação, através de jogos teatrais. O princípio do jogo teatral é o
mesmo da improvisação teatral e do teatro improvisacional e sua finalidade é o
desenvolvimento cultural e o crescimento pessoal dos jogadores através do domínio
e uso interativo da linguagem teatral.
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Os Jogos Teatrais – pensados especificamente no ambiente de sala de aula-
não são meros “passatempos do currículo”. Por meio deles é possível abordar
conteúdos específicos de diversas disciplinas (CARDOSO, M.). Segundo Spolin,
existem jogos sensoriais e jogos dramáticos, jogos intelectuais e muitas outras
categorias. O professor-diretor deverá esforçar-se para escolher o jogo pertinente ao
problema do momento e evitar o jogo fortuito, que não tem outro objetivo senão
fazer rir às custas de alguém.
Portanto, conhecer as necessidades da turma é fundamental para propor as
atividades certas e um trabalho eficiente, chegando-se aos objetivos dos jogos, que
são, por exemplo, segundo Cardoso, se desenvolver a atitude, liberdade,
criatividade, inventividade, comunicação e necessidade de compartilhar.
3.4- Contos
Os contos podem subdividir-se em contos autorais, que são os que possuem
um autor específico, ou nos contos de fada, de origem popular e que, portanto,
sofrem alterações no decorrer do tempo. E, a título de curiosidade, a palavra fada,
que vem do latim fatum, neste contexto significa destino, fatalidade.
Podemos comparar os contos de fada aos mitos das diversas culturas existentes. Eles falam de uma realidade coletiva e, muitas vezes, individual que faz parte de nossa vida cotidiana, mas com a diferença ingênua de sentimentos contraditórios de amor e ódio, ciúme e indiferença, que às vezes, são baseados em uma moral. (MEDEIROS, A. e BRANCO, S. p. 29)
Por serem lúdicos, os contos podem ser um dos vários recursos para a
disciplina de teatro, ajudando a dar base aos alunos para prepararem roteiros
futuros, além de dar apoio a disciplina de Português. O professor, dentre várias
técnicas, pode trabalhar com a confecção ou reescrita de contos para trabalhar a
criatividade de seus alunos.
Do ponto de vista arteterapêutico, deve-se escolher contos específicos para a
problemática dos alunos, pois isto os ajuda a lidar melhor com o momento vivido.
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Segundo Medeiros e Branco, estar só na floresta, enfrentando os medos oriundos
da imaginação povoada de seres bizarros e míticos, é defrontar-se com o
inconsciente e todo o temor que nos aflige com as possibilidades de descobertas a
respeito de nós mesmos, como em João e Maria (conto aqui escolhido para
trabalhar com os alunos de internatos).
A utilização de contos de fada como técnica expressiva é adotada por muitas linhas terapêuticas conhecidas hoje em dia, mas, para muitos povos, já era uma prática utilizada – inconscientemente – com a finalidade de “curar” a alma ou introduzir novos ciclos na vida dos indivíduos, atuando como ritos de passagem entre etapas de amadurecimento em suas vidas. (MEDEIROS, A. e BRANCO, S. p. 33)
Contos são muito complexos para serem trabalhados com crianças, pois,
apesar de as encantarem, são de difícil assimilação para elas. O ideal para se
trabalhar com os pequenos são as fábulas, pois estas são narrativas curtas. Porém,
como o público-alvo desse projeto são os adolescentes, utilizou-se os contos, que
são os ideais para eles.
É importante ressaltar aqui que deve haver um relaxamento antes de sessões
de leitura em Arteterapia. Relaxados, os alunos conseguem assimilar melhor a
mensagem que estará sendo transmitida pelos textos. No caso de João e Maria,
especificamente, que será trabalhado no plano de aula oferecido aqui no anexo do
plano de aula, a mensagem seria, principalmente, o amadurecimento e a união dos
irmão devido a falta dos pais (ideal então para alunos que estudam sob regime de
internato) e o aprendizado que existem perigos no mundo (representado pela casa
feita de doces) e que não podemos nos iludir. Como é um conto em que há um rito
de passagem, devido ao amadurecimento desses 2 personagens, é ideal também
para ser trabalhado com o público-alvo adolescente.
Para Jung, são nos contos de fada que encontramos o melhor lugar para estudar a anatomia comparada da psique. São nesses contos, mitos ou lendas onde obtemos as estruturas básicas da psique humana, que é representada por fadas, bruxas, príncipes, lobos etc., e estes se dividem transitando entre o bem e o mal. (MEDEIROS, A. e BRANCO, S. p. 34)
35
Ainda segundo essas autoras, quando se conta uma história, não só os
ouvidos estão atentos; o inconsciente se alerta e se coloca de prontidão para que
nos reconheçamos em uma situação, ou nos identifiquemos com um arquétipo
oculto em seus personagens.
Por isso, após a leitura do conto, é importante abrir um espaço para
comentários sobre o que cada um sentiu. Isso ajudará a trazer a tona o inconsciente
e o professor deve ter consciência da importância e dos perigos desse momento e
saber administrar as emoções de seus alunos. Para isso, normalmente se trabalha
com atividades plásticas após o conto, como complementação da aula.
Outra forma de se trabalhar com contos em sala de aula, é pedindo para os
alunos criarem um, pois a criatividade age como um adubo necessário para o
crescimento pessoal. Através de seus próprios contos os alunos estarão
representando, mesmo que inconscientemente, seus desejos, paixões ou temores.
O anexo 3 é um exemplo de conto autoral, que assim como os dos alunos, contém
toda uma carga emocional. O professor pode trabalhar com esse material pedindo
somente para os alunos lerem seus contos ou perguntando se eles mudariam algo e
o motivo ou, por exemplo, no conto “Olhos de Mel e a flauta encantada”, que possui
uma visão romântica da vida, se poderia propor outro final, em que a personagem
principal não esperasse seu amor retornar. O que teria acontecido então? Como ela
teria seguido sua vida? Teria se apaixonado novamente? E assim, o aluno
aprenderá a pensar em novas possibilidades, novos caminhos para sua própria
história de vida, ajudando-o a amadurecer.
Por fim, há um conto que exemplifica a importância dos contos em nossas
vidas de uma maneira bem simples, que é o conto das “Mil e uma Noites”. Ele é a
história de um rei que, revoltado com a traição de sua esposa, a mata e passa a
matar também todas as próximas esposas após sua primeira noite juntos, até que
conhece Sherazad. Ela, para não morrer, passa a contar-lhe histórias todas as
noites (somando mil e uma), deixando o desfecho sempre para a noite seguinte, o
que impedia sua morte, pois o rei, curioso, esperava sempre para saber o final.
Após todo esse tempo de histórias, o rei já estava apaixonado por ela e já havia
superado seu instinto assassino.
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A imaginação não só pode vencer a morte (ou pelo menos conquistar um adiamento da pena), mas também nos cura, nos sana, nos torna melhores e mais felizes. ( MONTEIRO, R. p.45)
3.5- Teatro de Bonecos
Há, pra finalizar, outra atividade que este projeto recomenda ser desenvolvida
com os alunos durante o ano letivo, além dos jogos teatrais, contos e da encenação
do roteiro em anexo, que é o Teatro de Bonecos.
Surgido como derivação do teatro tradicional e desenvolvido paralelamente a
este, o Teatro de Bonecos (ou Teatro de Títere) dá vida aos objetos inanimados.
Quem conta as histórias são os bonecos controlados com as mãos das pessoas,
dando uma magia a mais ao espetáculo, já que os movimentos conseguem
ultrapassar os limites humanos (MEDEIROS, A. e BRANCO, S. p. 89 e 90).
Segundo ainda estas autoras, os bonecos podem ser confeccionados de
diversas formas: por fio, varas, luvas, condução direta, dentre outras. As marionetes
são os bonecos manipulados por fios, os fantoches são vestidos nos dedos, enquanto
os marotes são os de luvas vestidas nas mãos inteiras, etc.
Com isso tem-se uma vasta gama de possibilidades para desenvolver
atividades teatrais com os alunos. Através do Teatro de Bonecos, eles estarão criando
os personagens de histórias já existentes, ou criadas por eles. Podem ter a liberdade
de escolher a técnica, trabalhar o cenário também e, por fim, realizar o espetáculo.
Assim como o uso de máscaras, o Teatro de Boneco dá certa “proteção” aos
mais tímidos, pelos ajudando-os a trabalhar a inibição. Serve, portanto, como um
treino para a encenação da peça teatral tradicional, para a qual os alunos estarão
sendo preparados durante todo o ano.
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CONCLUSÃO
Arteterapia é um processo terapêutico que se serve do recurso expressivo a fim
de conectar os mundos internos e externos do indivíduo, através de sua simbologia.
Ela distingue-se como método de tratamento psicológico, pois integra no contexto
psicoterapêutico recursos artísticos, e estes enriquecem e incrementam o processo,
agilizando-o.
Partindo do princípio de que muitas vezes não se consegue falar a respeito de
conflitos pessoais, a Arteterapia propõe recursos artísticos para que sejam
projetados e analisados todos esses processos, obtendo-se uma melhor
compreensão de si mesmo e podendo ser trabalhados no intuito de uma libertação
emocional.
A Arteterapia, portanto, resgata o potencial criativo do homem, buscando a
mente saudável e estimulando a autonomia e transformação interna para
reestruturação do ser. A busca da terapia da arte é uma maneira simples e criativa
para resolução de conflitos internos, melhora a comunicação consigo mesmo e com
o outro, favorece a busca da harmonia e do equilíbrio da vida e ainda aumenta a
espontaneidade e a criatividade. Isso tudo através dos mais diversos recursos da
Arte, seja a Música, a Dança, o Desenho, a Pintura, o Teatro, etc.
Vale ressaltar também, como percebido ao decorrer desse projeto, que a
Arteterapia não tem só a área de saúde como campo de atuação, como se pode
achar num primeiro momento. No âmbito da educação ela também é extremamente
benéfica, ajudandando na fase de alfabetização, na formação da personalidade, no
convívio social, etc.
Aliando-a com a disciplina tradicional de Artes dos colégios, o que pode ser feito
com a contratação de profissionais de arte com especialização nessa área, os
alunos também poderão desfrutar de todos esses benefícios acima citados, e muitos
outros, com a vantagem de que estarão sendo acompanhandos por mestres que
terão a capacidade de detectar problemas emocionais, podendo encaminhá-los, em
casos graves, para um psicólogo, além de paralelamente também poderem elaborar
atividades em grupo específicas para as necessidades de cada faixa etária,
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ajudando as crianças ou adolescentes a superar, ou se prevenir contra, os
problemas emocionais característicos de cada etapa da vida.
O teatro é uma atividade artística que pode ser utilizada de modo pedagógio e é
uma das ferramentas que a Arteterapia pode dispor. O professor faz o papel do
dramaturgo, estimulando a criatividade de seus alunos e elaborando, ou
estimulando a elaboração, de encenações que podem servir tanto para fixar
determinadas matérias em suas mentes, quanto para trabalhar o emocional deles,
através dos personagens que estarão representando. Essas representações podem
servir também para transmitir lições de moral importantes para o desenvolvimento
desses estudantes, sejam crianças ou jovens, enquanto cidadãos.
Enfim, esse jogo dramático, que nos acompanha ao longo da história, nos
oferece meios para a libertação e a possibilidade de exercitar novos papéis;
favorece à afirmação da própria personalidade; atende ao desejo de participação
em geral, de criar uma grande quantidade de símbolos e também de atingir a
plenitude da criatividade.
O Teatro Pedagógico ao ser utilizado em colégios internos é de grande valia
como atividade extra-curricular, para ocupar o tempo livre dos alunos de forma
saudável e educativa. E uma terapia ocupacional, que os ajuda, por exemplo, a lidar
com a distância da família. Trabalhado com adolescentes, ajuda na afirmação da
personalidade, interação social, alivia as tensões e ansiedades características da
idade.
Por fim, o que esse projeto visa, de uma maneira mais ampla, é que familiares,
profissionais de saúde e da educação realmente entendam que é cuidando da
educação, saúde e bem-estar das cianças e adolescentes, que se forma uma
sociedade, não utopicamente perfeita, mas simplesmente boa de se viver. E a
Arteterapia, e por conseguinte o Teatro Pedagógico, é apenas um dos vários
mecanismos que temos para alcançar isso. Merecem, portanto, a devida
importância que, por esse presente estudo, espera-se que tenha conseguido ser
transmitida.
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ANEXOS
Índice de anexos
Anexo 1 >> Pano de aula, da disciplina de artes ou teatro, de um ano letivo, para
alunos de ensino médio;
Anexo 2 >> Conto “João e Maria”;
Anexo 3 >> Conto “Olhos de Mel e a flauta encantada”;
Anexo 4 >> Roteiro de peça teatral.
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ANEXO 1
Plano de aula
• Público - alvo: adolescentes.
OBS: O foco não é em crianças devido ao tipo de roteiro que será encenado e
também devido a complexidade da montagem de um cenário que será feita pelos
próprios alunos, sob a coordenação do professor.
• Número de alunos: mínimo de seis (para este roteiro) e máximo de 15.
OBS: Seis é o número mínimo porque é a quantidade de personagens que
encenam ao mesmo tempo. É também o ideal para a formação da turma, para que
eles consigam, além de ensaiar a peça, montar o cenário dentro do tempo
estipulado. É também uma quantidade ideal para atividades de Arteterapia, pois o
professor conseguirá acompanhar os alunos individualmente, o que não ocorreria se
o grupo fosse muito grande.
Caso haja interesse de mais alunos, o roteiro permite inserção de figurantes e
até adaptações para que se tenham mais personagens, pois já que retrata uma
família, poderá entrar mais parentes na história, a critério dos alunos. Porém, deve-
se fechar uma turma com no máximo 15 alunos, muito mais do que isso eles não
vão conseguir usufruir de forma igualitária das atividades e nem o professor
conseguirá avaliar suas necessidades individuais.
Se a instituição tiver muitos alunos, infelizmente não se recomenda trabalhar
com todos, a não ser que se formasse mais de uma turma. O ideal é que, neste
caso, o diretor escolhesse para participar da seleção os alunos da turma que ele
ache que mais necessita dessa atividade, como por exemplo: escolher a(s) turma(s)
do 3º ano, em que os alunos podem estar tensos por causa de vestibular, ou a(s)
turma(s) do 1º ano, já que muitos podem ser novos no colégio e ainda estarem
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inseguros com essa nova etapa da vida, a turma mais agitada, ou a com o menor
rendimento nas notas, etc.
• Freqüência das aulas: 1 ou 2 vezes por semana.
• Duração das aulas: de 2 a 3 horas, se for uma vez por semana ou 1 hora,
caso seja mais de uma vez por semana. (Isso tudo a estipular de acordo com a
disponibilidade da instituição)
Foi considerado aqui 1 aula por semana, a título de exemplo, e a seguir foi
desenvolvido um resumo para as aulas do primeiro e do segundo semestre do ano
letivo.
PRIMEIRO SEMESTRE
Aula 1 – Apresentação
Esta primeira aula será apenas para a apresentação do professor, para que ele
possa conhecer os alunos e fazer a proposta de encenação da peça. E, ao final
dessa aula inaugural eles decidirão se querem participar ou não. Eles devem aceitar
por interesse próprio e não se sentirem obrigados, senão o trabalho perde o
propósito. Conseguindo então o mínimo de seis interessados, dar-se-á início ao
projeto. Porém, nada impede que novos interessados entrem no meio do caminho.
O ideal é que a instituição, se for possível, elabore uma excurção a um teatro
para os alunos assistirem a uma peça, de preferência de comédia, como o roteiro
que vão encenar, para que se sintam estimulados. Isto deve ser feito,
preferencialmente, antes dessa aula inaugural. Mas caso não seja possível, foi
elaborado um Jogo Teatral para este primeiro dia com o objetivo de despertar o
interesse dos alunos.
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Após a apresentação pessoal do professor e a proposta da aula, será então
proposto o seguinte jogo: através da brincadeira da “Dança das Cadeiras”, os alunos
seguirão as ordens do professor, enquanto as rodeiam, antes de se sentarem
quando ele desligar a música que estará tocando. Exemplo: pedir para eles
começarem a andar de costas ou, ao invés de andar, irem saltitando; mãos pra
cima, num pé só, etc... Aí, os que forem saindo, ou seja, os que não conseguirem
sentar, irão se apresentar e sentarão em outro lugar até a brincadeira acabar. O
vencedor ganhará um brinde qualquer que deve ser levado pelo professor para
entregar no final da brincadeira.
Caso a turma tenha muito mais que 10 alunos, que é o comum, para não ficar
muito demorada a brincadeira e também porque nem terá espaço para tantos assim
brincarem, serão separadas apenas 9 cadeiras, sendo assim só 10 participam (o
que também é o ideal, pois assim participa quem quer, podendo ser até menos que
esse número se nem todos quiserem). Explicar-se-á então a brincadeira, que todos
já devem conhecer, e serão chamadas as pessoas que queiram participar. Os que
não participarem, se apresentam após o término da brincadeira.
Acabando a brincadeira e com todos sentados em seus lugares e já
apresentados, se dará início a uma segunda parte, que consiste em entregar dois
pedaços de papel para cada aluno. Em um o professor pedirá para que eles
escrevam o que mais gostam no colégio, seja uma matéria específica, um professor,
enfim... ( o que vai servir depois para o diretor da instituição analisar, se for de seu
interesse). No outro será pedido para que escrevam sobre o que mais sentem
saudade na vida (é por isso que o público ideal é o de regime de internato, porque
aqui eles já estarão provavelmente exprimindo a saudade de casa ou de amigos
distantes).
Quando eles terminarem será mostrado um bauzinho, o qual poderá ser
apelidado de “Báu da Felicidade”, e então o professor irá pedir para que eles
coloquem no baú o papel que possui o que eles mais gostam no colégio, dizendo
que assim ficará bem guardadinho pra nunca deixar de ser uma coisa boa (este
papel ficará com a instituição então). O segundo papel, o que contém a saudade,
será para que eles guardem dentro de um coração de papel duplo que deve ser
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confeccionado e entregue pelo professor, um para cada, como forma de recipiente,
para que cada um deles guarde a sua saudade dentro do seu coração e leve
consigo bem guardado (este papel então fica com cada aluno, ninguém pode ler). O
ideal é que no recipiente de papel em forma de coração venha colada uma
mensagem com uma visão otimista do sentimento saudade, a escolha do professor.
Com isso termina o Jogo e se retoma novamente o motivo da aula inaugural,
que é o de formar uma turma para encenar uma peça e só então será perguntado
quem deseja participar, ressaltando a importância do compromisso e assiduidade
nas aulas, para que se obtenha um bom resultado final.
Aulas 2, 3 e 4 – Jogos Teatrais
Conseguido o número mínimo de 6 alunos, dá-se início as aulas. Nestas
primeiras ainda é interessante que se pratique mais Jogos Teatrais, para que os
alunos se desinibam, se ainda estiverem retraídos, e também para que o professor
possa conhecê-los melhor, para facilitar na escolha dos personagens (eles podem
decidir entre si, se preferirem, mas caso haja um mesmo interesse por mais de um
aluno, é o professor quem terá que desempatar).
Portanto estas aulas serão trabalhadas com um (ou mais de um) Jogo Teatral,
que poderá ser elaborado pelo professor quando se souber a quantidade de alunos
que irão participar e se perceber melhor quais são as necessidades da turma.
Como as aulas serão de teatro, toda a atividade que trabalhar com expressão
corporal, voz ou pequenas representações é válida. Um exemplo de jogo que pode
ser trabalhado é o de dividir a turma em pares e deixar, por um certo tempo, um
aluno olhando o outro. A princípio podem rir, se sentirem tensos ou desconfortáveis,
mas é uma boa técnica pra eles depois conseguirem encarar uma platéia sem
timidez. Durante a observação o professor pode pedir para os alunos atentarem
para as características dos colegas, como cor dos olhos, tipo de cabelo, se usam
brincos ou cordões, pois assim eles vão relaxar mais rápido. Depois da prática
perguntar-lhes o que acharam da experiência.
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Aulas 5, 6 e 7 – Contos
Na primeira aula de contos, será lido, por algum aluno da turma (para já ir
treinando a entonação de voz), a história de João e Maria (anexo 2).
A turma deve estar relaxada durante o leitura, o que pode ser obtido com uma
musica de fundo e todos sentados confortavelmente e em silêncio. Após o conto
então será trabalhado com os alunos alguma atividade plástica, que pode ser corte
e colagem numa cartolina, com papéis coloridos ou imagens já existentes, formando
a cena que mais chamou atenção dos alunos.
A cena que mais chama a atenção é a que deve ser trabalhada, pois é a que
está representando o subconsciente. Então, ao final da colagem, é interessante
pedir para que cada um comente a cena que fez, o porquê de ter escolhido essa
parte e o que sentiu ao ouvir a história e ao confeccionar o trabalho. Sendo que é
sempre importante levantar questões para toda a turma, para que o trabalho não
fique muito individual, evitando-se gerar uma sessão de psicoterapia, que não cabe
aqui. Um exemplo: quando um dos alunos disser a parte que gostou e se mudaria
algo, perguntar também a opinião da turma, levantando debates.
Como dever de casa, pedir aos alunos para que pesquisem um conto que mais
lhes agrade e desenvolvam, por escrito, o que acham a respeito, quais paralelos
podem traçar com a sociedade atual, o porquê de terem escolhido esse conto, se
tem algo a ver com o momento vividos deles, etc. Esse trabalho deve ser entregue
na próxima aula.
Depois da entrega do trabalho, nesta segunda aula, após eles já terem tido
mais contatos com contos devido a pesquisa, o professor deve pedir para seus
alunos começarem, ainda em aula, a escrever seu próprio conto, ou seja, um conto
autoral. O trabalho deve ser finalizado extraclasse e levado para o próximo
encontro.
Na última aula a respeito de contos, então, o profesor pedirá para que cada
aluno leia o conto criado por eles (que deve ter em média 3 laudas). Ao final, deve
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pedir para todos comentarem sobre o que mais gostaram, o porquê, o que sentiram
ao fazerem o trabalho, se gostaram, etc.
Aulas 8, 9 e 10– Ateliês
Nessas três aulas o professor deve repassar aos alunos técnicas básicas das
artes plásticas. Pode dar aulas de pinturas, modelagem, reciclagem, etc. Tudo o que
ele achar que será útil para os alunos, para que estes fiquem mais capacitados a
confeccionar o cenário do roteiro que será desenvolvido no segundo semestre.
Pode também estipular um tempo no fim das aulas para técnicas livres, sendo
assim, os alunos trabalharão com os materiais que mais lhe agradam.
OBS: Se a instituição não fornecer o material, o profesor deve pedir para que
os alunos levem.
Aulas 11, 12, 13, 14 e 15 – Teatro e Teatro de Bonecos
Nas duas primeiras aulas sobre esses tópicos, o professor deve fazer uma
apresentação teórica sobre o tema: o teatro tradicional (que deve ser o abordado de
início) e sua ramificação, que é o Teatro de Bonecos. Mas tudo mais a título de
curiosidade, não é necessário muito aprofundamento no assunto, é apenas
conhecimento geral. Pode pedir como dever de casa, mais pesquisas a respeito
desses temas.
Ele pode mostrar imagens em slides, as diferenças dos bonecos,
apresentações de peças curtas com bonecos em vídeo, se conseguir, além de levar
alguns modelos ao vivo também. Caso não tenha havido a excursão a um teatro no
início do ano, aqui é também um bom momento para isso.
Já durante as últimas 3 aulas os alunos irão preparar uma encenação de peça
de teatro de bonecos. Deverão se dividir em 3 ou quatro grupos, decidir se vão
adaptar uma história já existente ou se vão criar uma nova, dividir as tarefas, criar os
bonecos e cenários, dividir os personagens, enfim, tudo o que for necessário para
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se fazer uma apresentação na última aula. Esta encenação será um treino para a do
roteiro de fim de ano.
O professor, durante as aulas de confecção de cenário e bonecos, poderá
levar exemplos e ensinar algumas técnicas ( exemplo: bonecos feito com suporte de
palitos de picolé, ou seja, os estáticos, são bem fáceis de serem confeccionados,
pois é só colar no palido uma imagem) e não pode esquecer de pedir aos alunos
para que levem os materiais mais indicados para este trabalho, caso a instituição
não forneça.
SEGUNDO SEMESTRE
Aula 1 e 2 – Escolha dos personagens e divisão de tarefas
Na primeira aula, o professor deve distribuir o roteiro para todos os alunos,
deixá-los ler e depois separar um tempo para os comentários e sugestões.
Neste dia já se pode escolher quem vai representar cada um dos personagens,
quem será figurante, quem só irá participar da montagem do cenário, etc. Qualquer
conflito o professor deverá resolver ou poderá deixar mais uma aula para a escolha
dos personagens, até que os alunos entrem num acordo.
Na segunda aula, os alunos devem escolher o título da peça e inventar as
partes em branco que faltam no roteiro, como título e nome dos personagens. Isso
fará com que os alunos interajam mais com o projeto e se sintam mais estimulados.
Cada um deve sair ao final da aula com as suas funções definidas e sabendo
da importância do comprometimento com o grupo.
Aula 3 – Primeiro ensaio
Nesta aula só haverá ensaio. Se fará a marcação de cena, controle do tempo,
se dará as personalidades de cada personagem e etc. Sendo assim, no final já se
terá uma idéia das dificuldades que podem surgir.
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Se as aulas não puderem ser todas no local onde se dará a apresentação final,
ao menios esta deverá ser, para se ter uma idéia do que se precisará para a
apresentação final.
Como tarefa de casa, após esse primeiro contato maior com a peça, deverá
ser pedido aos alunos que eles tragam idéias na próxima aula para a montagem do
cenário 1 (a rua). Isso inclui trazer esboços, materiais, sucatas, enfim, o que eles
acharem necessário. Obviamente o professor também deve levar o que achar
necessário para ajudá-los. (Será preciso um local na instituição para guardar o que
for sendo produzindo)
Cada cenário (são 2) deve ser trabalhado e finalizado em no máximo 4 aulas.
O que o tempo não permitir que os alunos façam, o professor pode complementar
ou estipular tarefas a serem realizadas em casa.
Aula 4 e 5 – Ensaio e confecção do primeiro cenário
As próximas aulas serão divididas da seguinte forma, se todos estiverem
representando na peça: primeiro se ensaia e depois trabalha-se no cenário. A não
ser que tenha um grupo específico só para o cenário, sendo assim, este grupo pode
ficar desenvolvendo suas atividades específicas desde o início da aula, pois não são
obrigados a assistir a todos os ensaios. Aí depois os outros que atuam podem se
juntar para ajudá-los, assim como esses outros também podem dar palpites na
encenação.
Aulas 6 e 7
Repete-se a rotina da aula anterior, sendo que na aula 7 será pedido para que
se leve idéias para o cenário 2 (a sala da família).
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Aula 8 –Finalização do primeiro cenário
Nesta deve-se finalizar o primeiro cenário e iniciar o segundo, portanto não
haverá ensaios. Reciclar material, trabalhar com pintura, corte e colagem, são
excelentes técnicas que poderão ser usadas neste momento e o profesor poderá
fazer demosntrações. Ex: a árvore de Natal pode ser feita com garrafas Pet, os
fundos dos cenários podem ser panos pintados, etc.
Porém, em último caso, o professor deve se encarregar de conseguir os
móveis ou objetos que não dêem pra ser representados de outra maneira e caso os
alunos não tenham como conseguir.
Aulas 9 e 10 – Ensaio e confecção do cenário 2
Repete-se a rotina da aula cinco, só que dessa vez ensaiando e elaborando o
cenário 2, sendo que na aula 10 será pedido para que tragam idéias para o figurino
na próxima aula.
Aula 11 – Finalização do cenário e definição dos figurinos
Neste dia deve-se termonar o cenário 2 e, o que faltar, deve-se prever se dará
tempo de fazer depois, se não der, o professor se responsabiliza pelo término em
prol do resultado final.
Quanto aos figurinos, cada ator já ficará, desde o início, responsável por sua
caracterização, ouvindo a opinião e recebendo a ajuda de todos, se necessário.
Neste dia se fará testes do que pode ser usado, do que é viável ou não, já que terá
mudança de roupa durante a peça.. Enfim, cada um já sairá daqui com a idéia do
que precisa conseguir para seu figurino e os que acharem que não vão conseguir, o
professor deve ajudar.
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Aula 12 - Ensaio com figurinho e cenário
Esta aula é muito importante, pois é aqui que será definido o que permanece, o
que sai, o que falta, o que tem que ser ajustado e melhorado, enfim, toada a
apresentação final será baseada neste momento.
Será preciso elaborar a forma como será mudado o cenário, como serão
acesas as luzes da sala da família a noite, ou seja, os detalhes técnicos que vão ter
as restrições do local onde se realizará a apresentação. Esta aula, portanto, já deve
ser feita no mesmo local onde será feita a apresentação final.
Ao final da aula, o professor deve pedir para os alunos trazerem idéias
(desenhos, recortes de imagens, esboços de texto) na próxima aula, onde será
elaborado o cartaz e/ou convites individuais para a peça.
Aula 13 – Elaboração do cartaz de divulgação da peça
Neste dia não haverá ensaios, só se elaborará o cartaz da peça e/ou convites
individuais, como os alunos preferirem. O professor deve levar materiais específicos
para otimizar o tempo e, caso consiga, deve levar também exemplos de cartazes e
convites.
A instituição deve ficar responsável pela reprodução do material e pelos locais
do colégio onde os alunos podem fixar os cartazes e por autorizaer quem os alunos
poderão convidar, assim como a definição da data e horário da apresentação final,
que deverá ser passada para o professor de preferência até este dia. Caso não dê,
depois será inserida no cartaz a data e horário, ou sua alteração, se for o caso.
Aula 14 – Ensaio e últimos ajustes
Aqui é hora de fazer todos os ajustes que forem necessários.
Se o professor perceber que os alunos não estão conseguindo superar
eventuais problemas com a encenação, deve propor atividades de relaxamento e
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discontração, para que eles se livrem um pouco da tensão ou ansiedade que podem
estar sentindo e cabe ao professor também sempre lembrá-los que eles não são
profissionais, que devem levar tudo como uma grande brincadeira, pois o objetivo
não é formar atores e sim proporcionar prazer.
Mas claro que se o professor for mesmo um profissional de teatro, ele pode
aplicar as técnicas que achar necessárias para preparar seus alunos para uma
encenação.
Aula 15 - Ensaio final e divulgação da peça
Último ensaio, tudo já deve estar ajustado. O professor, se souber ou
pesquisar, pode repassar técnicas de relaxamento da Yoga se achar que os alunos
ainda estão ansiosos.
Os cartazes e convites já estarão reproduzidos nas quantidades adequadas e
os alunos ficarão responsáveis pela divulgação durante essa última semana antes
do espetáculo.
Aula 16 – Dia da peça
Todos devem chegar com antecedência para a montagem do cenário e uma
última passagem do texto.
Se necessário for, o professor ficará nos bastidores ajudando os alunos com o
que precisarem, se não, poderá ficar na platéia.
Ao fim, o que se espera dessa experiência é que ela seja gratificante não só
para os alunos, mas para a instituição, o professor e os que forem presenciar o
espetáculo.
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ANEXO 2
Conto: “João e Maria”
Às margens de uma floresta existia, há muito tempo, uma cabana pobre feita
de troncos de árvores, onde moravam um lenhador, sua segunda esposa e seus
dois filhinhos, nascidos do primeiro casamento. O garoto chamava-se João e a
menina, Maria.
Na casa do lenhador, a vida sempre fora difícil, mas, naquela época, as coisas
pioraram: não havia pão para todos.
— Mulher, o que será de nós? Acabaremos morrendo de fome. E as crianças
serão as primeiras.
— Há uma solução... – disse a madrasta, que era muito malvada – amanhã
daremos a João e Maria um pedaço de pão, depois os levaremos à mata e lá os
abandonaremos.
O lenhador não queria nem ouvir um plano tão cruel, mas a mulher, esperta e
insistente, conseguiu convencê-lo.
No aposento ao lado, as duas crianças tinham escutado tudo, e Maria desatou
a chorar.
— E agora, João? Sozinhos na mata vamos nos perder e morrer.
— Não chore — tranqüilizou o irmão. — Tenho uma idéia.
Esperou que os pais estivessem dormindo, saiu da cabana, catou um punhado
de pedrinhas brancas que brilhavam ao clarão da Lua e as escondeu no bolso.
Depois voltou para a cama. No dia seguinte, ao amanhecer, a madrasta acordou as
crianças.
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— Vamos cortar lenha na mata. Este pão é para vocês.
Partiram os quatro. O lenhador e a mulher na frente, as crianças atrás. A cada
dez passos, João deixava cair no chão uma pedrinha branca, sem que ninguém
percebesse. Quando chegaram bem no meio da mata, a madrasta disse:
— João e Maria, descansem enquanto nós vamos rachar lenha para a lareira.
Mais tarde passaremos para pegar vocês. Os dois irmãos, após longa espera,
comeram o pão e, cansados e fracos, adormeceram. Acordaram à noite, e nem sinal
dos pais.
— Estamos perdidos! Nunca mais encontraremos o caminho de casa! —
soluçou Maria.
— Quando a Lua aparecer no céu acharemos o caminho de casa — consolou-
a o irmão.
Quando a Lua apareceu, as pedrinhas que João tinha deixado cair pelo atalho
começaram a brilhar, e, seguindo-as, os irmãos conseguiram voltar à cabana. Ao
vê-los, os pais ficaram espantados. O lenhador, em seu íntimo, estava contente,
mas a mulher não. Assim que foram deitar, disse que precisavam tentar novamente,
com o mesmo plano. João, que tudo escutara, quis sair à procura de outras
pedrinhas, mas não pôde, pois a madrasta trancara a porta. Maria estava
desesperada.
— Como poderemos nos salvar desta vez?
— Daremos um jeito, você vai ver.
Na madrugada do dia seguinte, a madrasta acordou as crianças e foram
novamente para a mata. Enquanto caminhavam, Joãozinho esfarelou todo o seu
pão e o da irmã, fazendo uma trilha. Desta vez afastaram-se ainda mais de casa e,
chegando a uma clareira, os pais deixaram as crianças com a desculpa de cortar
lenha, abandonando-as.
João e Maria adormeceram famintos e cansados. Quando acordaram, estava
muito escuro, e Maria desatou a chorar. Mas desta vez não conseguiram encontrar
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o caminho: os pássaros haviam comido todas as migalhas. Andaram a noite toda e
o dia seguinte inteirinho, sem conseguir sair daquela floresta, e estavam com muita
fome. De repente, viram uma casinha muito mimosa. Aproximaram-se, curiosos, e
viram, encantados, que o telhado era feito de chocolate, as paredes de bolo e as
janelas de jujuba.
— Viva!— gritou João.
E correu para morder uma parte do telhado, enquanto Mariazinha enchia a
boca de bolo, rindo. Ouviu-se então uma voz aguda, gritando no interior da casinha:
— Quem está o teto mordiscando e as paredes roendo?
As crianças, com medo, responderam:
— Miau, miau – Imitando o som de um gato.
Subitamente, abriu-se a porta da casinha e saiu uma velha muito feia,
mancando, apoiada em uma muleta. João e Maria se assustaram, mas a velha
sorriu, mostrando a boca desdentada.
— Não tenham medo, crianças. Vejo que têm fome, a ponto de quase destruir
a casa. Entrem, vou preparar uma jantinha.
O jantar foi delicioso, e a velha senhora ajeitou gostosas caminhas macias
para João e Maria, que adormeceram felizes. Não sabiam, os coitadinhos, que a
velha era uma bruxa que comia crianças e, para atraí-las, tinha construído uma
casinha de doces. Agora ela esfregava as mãos, satisfeita.
— Estão em meu poder, não podem me escapar. Porém estão um pouco
magros. É preciso fazer alguma coisa.
Na manhã seguinte, enquanto ainda estavam dormindo, a bruxa agarrou João
e o prendeu em um porão escuro, depois, com uma sacudida, acordou Maria.
— De pé, preguiçosa! Vá tirar água do poço, acenda o fogo e apronte uma boa
refeição para seu irmão. Ele está fechado no porão e tem de engordar bastante.
Quando chegar ao ponto vou comê-lo.
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Mariazinha chorou e se desesperou, mas foi obrigada a obedecer. Cada dia
cozinhava para o irmão os melhores quitutes. E também, a cada manhã, a bruxa ia
ao porão e, por ter vista fraca e não enxergar bem, mandava:
— João, dê-me seu dedo, quero sentir se já engordou!
Mas o esperto João, em vez de um dedo, estendia-lhe um ossinho de frango. A
bruxa zangava-se, pois apesar do que comia, o moleque estava cada vez mais
magro! Um dia perdeu a paciência.
— Maria, amanhã acenda o fogo logo cedo e coloque água para ferver. Magro
ou gordo, pretendo comer seu irmão. Venho esperando isso há muito tempo!
A menina chorou, suplicou, implorou, em vão. A bruxa se aborrecera de tanto
esperar. Na manhã seguinte, Maria tratou de colocar no fogo o caldeirão cheio de
água, enquanto a bruxa estava ocupada em acender o forno para assar o pão. Na
verdade ela queria assar a pobre Mariazinha, e do João faria cozido. Quando o
forno estava bem quente, a bruxa disse à menina:
— Entre ali e veja se a temperatura está boa para assar pão. Mas Maria, que
desconfiava sempre da bruxa, não caiu na armadilha.
— Como se entra no forno? — perguntou ingenuamente.
— Você é mesmo uma boba! Olhe para mim! — e enfiou a cabeça dentro do
forno.
Maria empurrou a bruxa para dentro do forno e fechou a portinhola com a
corrente. A malvada queimou até o último osso. A menina correu para o porão e
libertou o irmão. Abraçaram-se, chorando lágrimas de alegria; depois, nada mais
tendo a temer, exploraram a casa da bruxa. E quantas coisas acharam! Cofres e
mais cofres cheios de pedras preciosas, de pérolas... Encheram os bolsos de
pérolas. Maria fez uma trouxinha com seu aventalzinho, e a encheu com diamantes,
rubis e esmeraldas. Deixaram a casa da feiticeira e avançaram pela mata.
Andaram muito. Depois de algum tempo, chegaram a uma clareira, e
perceberam que conheciam aquele lugar. Certa vez tinham apanhado lenha ali, de
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outra vez tinham ido colher mel naquelas árvores... Finalmente, avistaram a cabana
de seu pai. Começaram a correr naquela direção, escancararam a porta e caíram
nos braços do lenhador que, assustado, não sabia se ria ou chorava. Quantos
remorsos o tinham atormentado desde que abandonara os filhos na mata! Quantos
sonhos horríveis tinham perturbado suas noites! Cada porção de pão que comia
ficava atravessada na garganta. Única sorte, a madrasta ruim, que o obrigara a
livrar-se dos filhos, já tinha morrido. João esvaziou os bolsos, retirando as pérolas
que havia guardado; Maria desamarrou o aventalzinho e deixou cair ao chão a
chuva de pedras preciosas. Agora, já não precisariam temer nem miséria nem
carestia. E assim, desde aquele dia o lenhador e seus filhos viveram na fartura, sem
mais nenhuma preocupação.
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ANEXO 3
Conto: “Olhos de Mel e a flauta encantada”
Era uma vez um reino que fora assolado por uma destruição terrível através
das mãos de bárbaros que queriam tomar posse dessas terras e aumentar suas
riquezas.
No reino havia um belo e harmonioso castelo, cujas fortalezas não
conseguiram ser suficientemente fortes para conter a fúria dos vilões. Eram muitos e
o invadiram durante a noite pegando todos de surpresa.
O rei, já viúvo, só teve tempo de ordenar aos seus criados que levassem suas
três belas filhas para bem longe dali, para algum lugar seguro, onde a morte não as
alcançasse. Deu a elas o ouro que tinha em seus aposentos e as ordenou que
descessem pelas partes secretas do castelo e saíssem de lá pela parte de traz,
numa carruagem guiada por um criado e escoltada por dois cavaleiros.
O rei continuou no castelo para defender seu reino junto com seus guerreiros,
mas a morte foi inevitável, porém honrosa. A notícia chegou até as donzelas ainda
durante sua fuga pelos camponeses que também fugiam de lá para salvar suas
vidas. As jovens estavam aos prantos, nas mãos do destino e desamparadas.
A mais velha, Rose, tentava consolar suas duas irmãs caçulas, mesmo em
meio de tanta dor que estava sentindo. Haviam perdido tudo. Seguiam para um
reino distante, cujo primo de sua finada mãe também era rei e poderia vir a acolhê-
las. Mas para isso deveriam passar por vários outros reinos e caminhos
desconhecidos até chegarem.
- Não vamos chorar – dizia Rose às outras- papai não gostaria de nos ver
assim. Devemos ser fortes como ele. Tudo vai dar certo.
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As outras irmãs, Olhos de Mel e Jade, se acalmaram com essas palavras.
Jade era a caçula, tinha apenas 14 anos e era muito ligada ao pai. As outras tinham
seus 16 e 18 anos. Todas ainda muito jovens e tendo que se deparar tão cedo com
a dura realidade da vida...
Chegaram no dia seguinte num pequeno povoado onde se instalaram e tiraram
a noite para descansar. Estavam todos muito exaustos, até os cavalos precisavam
parar um pouco a trajetória senão correriam o risco de morrer e elas perderiam seu
único meio de chegar até seu tio.
E assim foi por alguns meses, as princesas seguiam, parando de povoado em
povoado, percorrendo trilhas perigosas e desconhecidas, rumo ao seu destino.
Chegaram então num dos últimos locais que teriam que fazer parada e neste
acabaram por ficar mais tempo, pois a carruagem necessitava de consertos antes
que prosseguissem.
Na primeira noite nesta aldeia, havia uma festa, era a comemoração do
noivado da filha do mais poderoso comerciante de lá. Todos estavam dançando e
bebendo ao som de um grupo de jovens contratados para alegrar o ambiente.
Rose e Jade não se animaram para sair da estalagem e ver o que estava
acontecendo. Estavam exaustas. Olhos de Mel, com toda a curiosidade que
carregava com a idade, e cansada daquela rotina dos trajetos percorridos, decidiu ir
até a praça de onde vinham os sons.
Chegando lá, sem querer, chamou a atenção de todos por sua beleza e
doçura, inclusive a do flautista que tocavas naquela noite quente e estrelada. Seus
olhares se cruzaram. Ele era um rapaz encantador, com uma beleza singular. Olhos
de Mel ficou ruborizada. Seu coração batia mais forte como nunca antes e o flautista
estava fascinado com aquela beleza diante de seus olhos. Apaixonaram-se a
primeira vista.
A princesa não podia demorar muito ali. Sua irmã mais velha, que desde a
morte da mãe havia assumido seu papel, a pediu para voltar cedo, pois seria
perigoso uma jovem como ela ficar andando sozinha por lugares desconhecidos. Ela
então ouviu mais duas músicas do seu amado e foi-se, sem conseguirem trocar
58
nenhuma palavra, pois ele não podia sair do palco improvisado em que exercia o
seu ofício naquela hora.
Os dois foram dormir naquela noite com a imagem um do outro na mente e um
sorriso no rosto. As irmãs notaram algo diferente no olhar de Olhos de Mel, a
indagaram como foi a festa, mas ela não entrou em detalhes, quis logo deitar-se,
estava com a mente nas nuvens, como ficam os jovens apaixonados.
No dia seguinte convenceu as irmãs a darem um passeio pela aldeia para se
distraírem, mas seu intuito na verdade era reencontrar o seu flautista, descobrir mais
sobre ele. Não precisou ir muito longe para conseguir algumas informações. Na
primeira vendinha de flores que entraram, Olhos de Mel ouviu comentários de um
grupo de moças que estavam por perto. Não foi só a ela que o flautista encantou,
mas sim todas elas e os comentários eram sobre ele.
- Ele é um músico andarilho - dizia uma – dizem que não tem morada em
nenhum reino, vive de paradas em cada lugar. Consigo só carrega sua pequena
mala de pertences e sua flauta que é o instrumento de seu sustento.
- Parece ser um príncipe de tão belo que é! – Dizia outra mais eufórica.
Mas Olhos de Mel não conseguiu descobrir onde ele se encontrava
hospedado. Resolveu voltar a fazer um passeio a noite, pois era ao nascer das
estrelas que os artistas de lá gostavam de expor a sua arte. Tinha esperança de
reencontrá-lo.
As irmãs não queriam sair a noite, não entendiam o motivo do súbito interesse
de Olhos de Mel em conhecer tanto aquele povoado que elas iriam deixar de estar
no dia seguinte, quando a carruagem estivesse pronta.
- Olhos de Mel, precisamos dormir bem essa noite. Amanhã iremos reiniciar
nossa jornada, precisamos estar descansadas – disse Rose.
- Ela está muito estranha desde ontem, Rose – disse Jade – algo aconteceu
ontem no festejo que ela não quer nos contar.
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E Olhos de Mel viu que não deveria ter segredos com suas irmãs que tanto lhe
queriam bem. Elas eram sua única família e suas únicas amigas.
- Eu me apaixonei, por um músico, só queria poder saber mais sobre ele, saber
se vou conseguir voltar a vê-lo. Não queria ter que deixá-lo... Fiquei tão feliz perto
dele como nunca tinha estado em toda minha vida! – disse Olhos de Mel, com um
semblante de melancolia.
Rose, que já havia experimentado esse sentimento e a dor causada pela
separação de dois corpos que se amam, pois havia perdido um grande amor
durante a destruição do seu reino, falou para sua irmã mais nova:
- Minha querida irmã, compreendo e me compadeço da sua angústia, mas não
podemos nos separar agora, você tem que vir conosco para sua própria segurança
e é meu dever protegê-la. Você não sabe nada a respeito desse rapaz. Se ele tiver
os mesmos sentimentos por você, ele irá a sua procura. Acredite, é o melhor que
você tem a fazer. Vamos dormir que amanhã partiremos cedo e dentro de dez dias
chegaremos a nosso destino.
E Olhos de Mel, não vendo alternativa, seguiu os conselhos da irmã, como
sempre fizera, mas ao contrário da noite anterior, nesta foi dormir com lágrimas nos
olhos.
No dia seguinte prepararam a carruagem, juntaram os pertences comprados
durante o trajeto e começaram a atravessar a aldeia, ainda guiadas pelos seus
serviçais. Olhos de Mel, angustiada, olhava para todos os lados na esperança de
ainda rever seu amor.
O músico a tinha procurado também desde a noite anterior, descobrira sua
história, a trágica saída de seu reino, mas, como ela, também não achou o local
onde estava hospedada. Neste dia também havia acordado cedo com o intuito de
achá-la, pois sabia que ela partiria em breve, só não sabia o quão breve seria.
Atravessou uma das ruas para pegar informação com uns feirantes do outro
lado e para sua surpresa viu a carruagem da amada se aproximando, com todos os
indícios que estavam de partida. Seu coração se desesperou. Correu até ela, foi
60
impedido de chegar perto pelos seus protetores, mas ela ao ver seu amor,
rapidamente pediu para pararem a carruagem.
- Parem! Deixei-o se aproximar! Eu o conheço!
E as irmãs logo perceberam de quem se tratava.
- Você já está de partida? – Perguntou ele, com sua voz melodiosa. Para onde
vai?
- Sim, temos que ir. Vamos para o reino de meu tio, o Rei Danton. Venha
conosco! – disse ela numa tentativa desesperada de ter seu amado por perto.
- Não posso me ausentar daqui neste momento, tenho dívidas a pagar aqui e
além do mais, perdi meu cavalo recentemente – disse ele honestamente – onde fica
o reino desse seu tio?
- Não sabemos ao certo onde é, daremos sorte se chegarmos lá vivas, os
caminhos são perigosos, passamos por muitas provações até chegar nessa aldeia,
só sabemos que temos que seguir sempre para o norte, o sol e as outras estrelas
são nossos únicos guias – disse ela com tristeza estampada no rosto com medo de
nunca mais conseguir ver seu amor.
As irmãs não queriam mais esperar, estavam preocupadas porque foram
avisadas que o próximo caminho seria o mais perigoso e queriam atravessá-lo ainda
com a luz do sol. Os cavalos também estavam impacientes para começar a andar.
Percebendo que a despedida teria que ser mais breve do que imaginava que
fosse, o jovem músico pegou sua flauta da maleta e a entregou a sua amada.
- Minha flor, leve esta flauta contigo que enquanto estiver com ela eu
conseguirei encontrá-la aonde quer que você esteja. É só tocá-la todos os dias que
eu seguirei o seu som. É uma flauta encantada, acredite, ainda iremos nos
reencontrar.
- Mas esse é o instrumento de seu sustento, o que vai fazer sem ele? – a
indaga com os olhos cheios de lágrimas.
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- Tenho outra. Agora vá e tomem cuidado!
E a carruagem partiu. Olhos de Mel ficou a olhá-lo até sua imagem
desaparecer na paisagem. Apertou a flauta contra o peito e foi consolada pelas
irmãs. Aquele pequeno atraso, porém, fez com que a noite surgisse numa parte
ainda muito perigosa do trajeto. Sem iluminação suficiente a carruagem ao passar
em um buraco virou. Por sorte ninguém se feriu gravemente, mas a flauta
encantada havia quebrado...
Olhos de Mel se desesperou, quis voltar, mas suas irmãs não permitiram,
tinham que ir em frente. Por sorte a carruagem também não havia sido danificada e
elas conseguiram seguir a viagem, chegando dez dias depois, como previsto, no
reino de seu tio.
Enquanto isso, o flautista estava desolado e triste, havia sido separado de sua
amada prematuramente e o pior: estava sem o seu sustento. Sim, não tinha mais
sua flauta, não podia mais ganhar seu dinheiro, pois essa era seu único sustento.
Ele, num ato desesperado de amor, para consolar sua amada, mentiu. Não havia
duas flautas, só esta.
Passou então por momentos difíceis. Chegou a passar fome e como não tinha
mais como trabalhar para saldar suas dívidas, foi obrigado a fazer trabalhos
forçados nessa aldeia por muito tempo. Sabia que se tentasse fugir iria acabar
morrendo, ou de fome ou assassinado, pois naquele reino, não se tolerava
devedores. As dívidas que ele assumira foram todas para tentar curar seu cavalo,
mas este acabou morrendo e ele também não tinha mais seu meio de transporte.
Era impossível se deslocar de povoado para povoado a pé. As distâncias eram
muito grandes.
Anos se passaram, as irmãs de Olhos de Mel haviam se casado, a vida estava
melhor para todas elas, mas a princesa mais bela nunca mais conseguiu entregar
seu coração a outro, e não lhe faltava pretendentes. A tristeza tomava conta de seu
coração desde que a flauta encantada havia se partido e com ela carregado todas
as esperanças de reencontrar seu amor.
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- Como ele irá me encontrar agora, sem o som da flauta encantada? Ele nunca
conseguirá chegar aqui sozinho. – Refletia todas as noites.
Foi então que certo dia, da janela de seu quarto no castelo, ela avistou de
longe um forasteiro que chegava a seu cavalo branco. Demorou a reconhecê-lo,
mas o reconheceu. Era o seu amado! E desceu às pressas com o coração
acelerado ao seu encontro.
- Você me encontrou, meu amor! Oh! Quanta tristeza senti esses anos todos!
- Temia te encontrar casada, me desculpe, não consegui vir antes, demorei
muito tempo para juntar dinheiro, comprar um novo cavalo e chegar até aqui. Esse é
um reino muito desconhecido pelos arredores.
- Mas como você conseguiu? A flauta encantada quebrou, nunca cheguei a
tocá-la...
- Segui o som das batidas do seu coração - disse ele.
E os dois se beijaram e viveram felizes para sempre.
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ANEXO 4
Roteiro
Título (deixar os alunos escolherem)
OBS1: Os alunos também escolherão os nomes dos personagens e algumas partes
das falas, como também podem fazer as alterações que acharem necessárias no
texto, acrescentar mais personagens etc.
OBS2: Os cenários e suas mudanças serão adaptados de acordo com o local
disponível para a apresentação, caso não haja uma sala de teatro ou auditório.
Cenário 1:
Calçada com barraquinhas de feira e uma banca de jornal. Ao redor dela um grupo
de pessoas agitadas comentando a manchete do jornal.
Personagem 1 > Mulher (falando com o marido enquanto caminham na calçada
com as compras da feira): - O que é que te deu hoje, hein, fulano (nome do marido)?
Pra me acompanhar assim sem reclamar até a feira?
Personagem 2 > Marido: - Querida, esqueceu que sua mãe agora mora com a
gente e que quando eu estou de folga ela acha que eu sou eletricista, encanador,
pedreiro, pintor, marceneiro... Definitivamente dá muito menos trabalho vir a feira
com você...
Mulher: - Ahhhhh...está explicado... Esmola demais... (pára de falar ao ver a
agitação perto da banca de jornal)
- Ih, fulano, vai lá comprar o jornal pra ver que notícia é essa que estão comentando.
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(e cumprimenta o jornaleiro de longe que a retribui com um aceno)
- Oi, Seu (nome do jornaleiro)!!!
(marido vai... e volta boquiaberto olhando para a manchete)
Mulher: - Que foi, fulano? Que houve??
Marido (desolado): - Papai Noel... (silêncio)
Mulher: - O que é que tem? O Natal é hoje, normal ter notícia do velho...
Marido: - Morreu... Papai Noel morreeeeeuuuu!!!!! (silêncio novamente)
- E agora?? O que vamos fazer?? Como vou comprar a bicicleta do fulaninho (nome
do filho) que ele pediu de presente pro homem???
Mulher: - Fulano!!! O coitado morre e você preocupado em gastar com uma
bicicleta??!! Nem é tão cara assim!
Marido: - Como não??!! Você sabe por um acaso quanto custa uma bicicleta do
homem-aranha com 50 marchas, retrovisor, buzina com 15 toques diferentes, mais
airbag??? Um parafuso a mais e passava do limite orçamentário até do Papai Noel!!
Mulher:- E essa bicicleta existe mesmo?? Não é imaginação do fulaninho??
Marido: - Querida, se Papai Noel, o ... (citar mais umas 2 outras personalidades, ex:
políticos) e o... Existem, você acha que a bicicleta não iria existir? Ouch...
Mulher: - E do que ele morreu afinal?
Marido (voltando a olhar o jornal): - A notícia aqui diz que: após uma semana de
internação, ocultada pelos familiares para não desesperar os admiradores do bom
velhinho tão perto da noite de Natal, morreu na madrugada de hoje (inventar um pré
nome) Noel, aos (inventar idade) anos de idade, de (inventar um nome engraçado
de doença).
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Mulher: - Credo!!! Mas... Como vamos contar pro fulaninho?? Não vai ser bom uma
criança descobrir que seu ídolo e símbolo do Natal morreu justamente hoje! Pode
ser um trauma incurável!! Não quero meu filho no D.A. tão cedo assim...
Marido: - D.A.???
Mulher: - Depressivos Anônimos, não tá sabendo?? É a última moda... Depressão:
o mal do século! Me admira você não saber, com a mãe que tem... Ai, mas ainda
bem que ela está tirando férias com seu pai lá no Maranhão e vai esquecer por um
bom tempo do que a deprime! Se é que algum dia ela soube...
Enfim, mas voltando ao assunto: precisamos de um plano!! Ele não pode descobrir
essa notícia hoje! Seria muito triste pro nosso menininho...
Marido: - Que plano, mulher?? Faltam só algumas horas pra meia-noite... o menino
vai ficar sem presente, porque já está tudo fechado e vai perceber que algo
aconteceu... Não tem como enrolar a peça, até parece que você não conhece seu
filho...
Mulher: - Você poderia se fantasiar de Papai Noel, que aí o distrairia... Ele nunca o
viu ao vivo mesmo, o velho manda tudo por Fedex, só aparece mesmo nas casas de
Hollywood... Aí você entrega uma outra lembrancinha qualquer que ele nem vai
perceber porque vai estar empolgado com sua presença!
Marido: - Você como estrategista explodiria o próprio exército! Como você acha que
vou ficar parecido com o velho?? Pra minha barriga ficar daquele tamanho falta
muito chope ainda... E você acha que uma lembrancinha vai fazer o moleque se
esquecer da bicicleta do homem-aranha com 50 rodas, 15 marchas, direção
hidráulica....
Mulher: - Ok, ok... Não adianta a gente perder tempo aqui... Vamos logo pra casa
senão a ceia não fica pronta hoje (e começa a andar com ele pra sair de cena). Até
a noite eu penso numa solução ou, com sorte, a bicicleta chegou a ser enviada
pelos correios antes de ele adoecer e ainda vai chegar... Mas se bem que eu ainda
acho que essa sua barriguinha de peixinho de vala já dá pra enganar...
66
Marido: - Mulher, mulher...
Cenário 2:
Enquanto saem de cena as luzes vão se apagando... O cenário muda para a sala da
casa deles. Tem uma mesa de jantar, cadeiras, um sofá, TV, quadros, relógio antigo
que badala nas horas, uma arvore de natal e uma mesinha com o computador.
(O casal entra em casa. O filho está sentado na frente do computador e a sogra vem
correndo ao encontro do casal assim que os vê)
Personagem 3 > Sogra (mãe da mulher): - Vocês já sabem?? (falando baixo pro
menino não ouvir) Que o... Morreu??? Eu ouvi no rádio enquanto estava na cozinha
preparando o peru e consegui desligar a TV antes que o tan tan tan tan tan tan tan
tan tan tan tan tan tan tan tan taaaaaaaaaaaaaannnnn (faz som do Plantão)dissesse
algo. Não quis que o fulaninho ouvisse. O que vamos fazer? Como vamos contar
pra ele? Logo hoje... Ele vai ficar muito sentido. Papai Noel é como se fosse um pai
divorciado que faz visita uma vez ao ano, com a vantagem de não ser pão duro (e
olha p o genro, que sai de perto e vai se sentar no sofá para ver TV).
Mulher: - Calma, mãe. Já estamos sabendo e eu estou pensando em como vou
contar pra ele. Vamos pra cozinha terminar logo de fazer a comida. (a mãe dela vai
na frente, mas ela pára quando percebe que o filho está no computador)
- Fulaninho, sai desse computador, já disse que você tem seus horários, não te
quero viciado nisso!
Personagem 4 > filho: - Tá bom, mãe... Eu só estou enviando rapidinho um e-mail
pro Papai Noel. Mudei meu pedido de última hora.
(o pai comemora do sofá)
67
Mulher: - E-mail?? E Papai Noel tem e-mail??
Filho: - Tem sim, mãe. É ... @... (inventar um)
Mulher: - E quem te disse isso?
Filho: - A amiga do papai...
(o pai fica prestando atenção de longe meio preocupado)
Mulher: - Que amiga???? (e vai se aproximando do computador)
Filho: - Ah, essa aqui do msn que estava chamando por ele... A com essa foto
estranha aqui ó! (mostra a tela do computador pra mãe)
Mulher (assustada e furiosa, tapando o olho do filho): - Fulaninho, vai pro banho,
vai... Pra você começar a se arrumar, vai, vai.... (menino sai de cena e ela olha
furiosa para o marido, que estava acompanhando o diálogo todo do sofá)
- Fulano de tal (inventar um nome completo engraçado), quem é essa mulher???
(e ele vem pro lado dela tentando demonstrar naturalidade)
Marido: - Ah, meu amor, minha vida, meu tudo, essa aí? É só uma amiga virtual...
Mulher: - Amiga virtual??? Com uma foto com close na.. na.. na.. (e não consegue
falar) e ainda com um lacinho vermelho enfeitando??? (e se desespera)
- Meu Deus!! E meu filho viu isso! E se se assustou?? Pode ficar traumatizado!! Ó
meu Deus!! Aí não vou ter meus netos!!
Marido: - Traumatizou nada... Não tem como se traumatizar com.. com.. com... a
natureza! E o lacinho é pra simbolizar os presentes de Natal... Ela é uma artista,
coitada...
Mulher (ainda furiosa): - Artista... Artista... Sei... Sei... Não pense que eu vou
esquecer isso hein, (e repete o nome completo dele)! (e vai seguindo com raiva pra
cozinha)
68
O marido está quase sentando na frente do computado, quando ela, já na cozinha,
grita:
- E nem pense em fazer o que você está pensando!!!
(ele faz um gesto concordando com a cabeça que ela está certa, desliga o
computador e volta pro sofá pra tentar se redimir)
Sogra (volta da cozinha e vai arrumar a mesa para a ceia): - Fulano, essa mesa
está meio bamba, você pode consertá-la agora??
Marido (aproveitando que o filho voltou): - Ih, Dona Fulana, fulaninho já saiu do
banho, eu tenho que ir me arrumar... (e sai de fininho)
Filho: - Você quer alguma ajuda, vó?
(neste momento a mãe também volta pra sala com coisas para pôr na mesa)
Sogra: - Ah, que gracinha! Como você me lembra seu avô... Tão bondoso, tão
prestativo... Mas não precisa não, querido, pode ir pro seu quarto brincar e esperar o
Papai... (finge que se engasgou) cof cof... Esperar o seu pai sair do banho... Vai,
vai...
Mulher: - Ah, mamãe... Mais um que lembra papai?? Se a senhora vai na rua, o
jornaleiro te lembra papai. Todo dia na hora do Jornal nacional, o Willian Bonner te
lembra papai também.. (se aproxima e a abraça)
- Você tem que superar a morte do papai, mamãe!
Sogra: - Ô, minha filha.. Eu sei, eu sei... O jornaleiro também sabe. Quer dizer... Eu
sei... Eu to bem... (e sai felizinha pra cozinha)
Mulher: - Jornaleiro?? Que história é essa? Me explica isso, mamãe! (e vai também
pra cozinha, saindo todos de cena)
69
(As luzes se apagam. Passa o tempo, o cenário agora ficará com as luzes acesas
das lâmpadas e da árvore de Natal, pois já está de noite. Quando as luzes do teatro
se acendem de novo a mesa já está pronta e todos estão arrumados na sala, menos
a mulher)
Marido: - Fulana?? Sai logo desse banho!! Daqui a pouco meu irmão e sua irmã
vão chegar e você ainda nem está pronta!!
Mulher (só a voz dela): - Fácil falar, né, fulano?? Não foi você que ficou até agora
na cozinha! Mas eu já estou indo! Só estou terminando a chapinha!!
Marido (falando pra ele mesmo): - Ai, essas mulheres... Agem como se os homens
fossem reparar primeiro nos cabelos... (e ri)
(toca a campainha)
Sogra: - Fulano, abre você, deve ser seu irmão... Porque fulaninha ( a outra filha
dela) demora mais do que sua mulher pra se arrumar, se bobear chega aqui só
depois da meia noite...
(marido levanta do sofá, passa pelo filho que está brincando no chão e abre a porta)
Personagem 5 > Irmão (Jovem, todo despachado e entra na casa): - Faaaaaaala,
mano!!! E aíiii!! Cara, sinistro, né? Logo hoje... Papai Noel mo... (e o irmão dele tapa
a boca dele)
Marido: - Xiiiiiiii!! Ainda não contamos pro fulaninho!
Irmão: - Ué? E vão contar quando?? Meia-noite?? Quando o moleque estiver
esperando receber o presente?? Eu ia ficar muito revoltado se ainda tivesse dentro
da idade limite pra receber presente do velho e ele morresse antes de me entregar!
Ah, ia...
(e vai cumprimentar o sobrinho e a sogra do irmão)
(mãe entra na sala já arrumada quando a campainha toca novamente)
70
Mulher: - Deixa que eu mesma atendo! (é a irmã dela quem está na porta)
Personagem 6 > Irmã (também mais nova, toda dondoquinha e de rosa): - Oiiiiiiiiiii!!!
(dá um abraço na irmã)
Mulher: - Ai, cuidado, não encosta muito no cabelo senão vai enrolar tudo de novo...
Irmã: - Ah, é, né, querida... Esqueci que você não foi favorecida geneticamente e
que seu cabelo não voa ao vento... (e larga a irmã pra traz com cara de quem não
gostou do comentário e vai falar com os outros, andando e balançando os cabelos,
sendo que com o irmão do cunhado fala por último)
- Oi, fulano. (pro irmão do cunhado) Quanto tempo!
Irmão: É... Pois é... (e a olha de cima a baixo). Você está tão, tão, tão saudável!
(ela só sorri e todos se sentam próximos, o menino continua brincando)
Irmã: - Ah... Uma pena essa notícia trágica, não é? Vai deixar os próximos Natais,
incluindo este, sem um encanto a mais... Sem magia...
Filho: - Que notícia, tia?
Irmã: - A de que o Papai... (e a mãe dela dá um salto e enfia uma maçã na sua boca
antes que ela terminasse a frase)
Sogra: - A de que o papai dela, seu avô, meu filho, não estará mais neste Natal
aqui conosco.
Marido (olhando pra cunhada e rindo): - Você com essa maçã na boca e essa roupa
rosa, se deitar na bandeja vai ficar igual a um leitão assado!
Irmã (tacando a maçã longe): - Você está me chamando de gorda?? Pois fique
sabendo que os meus 500 abdominais e 1 hora de esteira diária, mais minhas aulas
de step, hidroginástica e yoga não deixaram nesse corpinho aqui nem 1% de
gordura, ouviu?
Irmão (ainda todo bobo olhando pra ela): - É... É... Você está muito, muito...
Saudável mesmo...
71
Mulher: - E encalhada! (e as duas se olham com cara de ódio)
Sogra: - Meninas, venham cá. ( e as leva para longe do garoto)
- Fulana (falando com a filha mais nova que chegou), ainda não contamos
pro fulaninho que Papai Noel morreu.. Estamos preocupadas com a reação que ele
vai ter...
Irmã: - Mas faltam 5 minutos pra meia-noite! O que vamos fazer??
Mulher: - Tudo bem, gente, vamos nos sentar a mesa, eu vou contar logo pra ele...
(e pede para que todos se sentem o redor da mesa de jantar)
- Filho, mamãe tem que te contar uma coisa meio triste, mas é algo que faz parte da
vida e temos sempre que estar preparados e aceitar isso, pois não é uma coisa
ruim... (silêncio)
Filho: Mãe, eu já sei..
Todos: - Já sabe???
Filho: - Sim, eu já sei que o papai Noel morreu...
Marido: - Mas como, filho??
Filho: - Foi aquela sua amiga da foto engraçada que me contou, pai.. (marido fica
sem graça e não pergunta mais nada)
Mulher: Ham.. A amiga de seu pai, né? Mas e o e-mail? Você não disse que estava
enviando porque mudou de pedido?
Filho: - Foi, mãe... É que eu sabia que o papai Noel não poderia mais me dar minha
bicicleta do homem-aranha com 15 toques de buzina, 50 marchas, step, luz de
freio..
Mãe: Sim, sim, já sei, mais o airbag..
Filho: Isso! Então, eu sabia que não poderia mais ganhar minha bicicleta, mas sei
também que ele lá do céu, que eu acredito que deve ter alguma lan house pra ele
72
poder ver ainda os e-mails dele, está olhando por nós, assim como o vovô, então eu
só pedi para que tivéssemos unidos e felizes na noite de hoje, que é o que importa,
né, mãe?
Todos (emocionados): Oooooooohhhhhhhhhhhhhhhh!!
(e o relógio badala 12 vezes, já é meia-noite e todos se abraçam)
Pai: - Bom, já que está tudo resolvido vamos comer logo então que estou faminto!
(as irmãs nessa hora estão trocando seus presentes e se abraçando e a sogra está
abraçando o irmão do genro)
Filho: - Mas no meu aniversário mês que vem, aí eu quero minha bicicleta porque
em aniversário o que importa é ganhar presente, né, pai? (que arregala os olhos)
(as luzes vão se apagando enquanto o menino vai falando)
- Na verdade, pai, eu acho que vou querer uma do super-homem que tem ainda um
kit de primeiros socorros, já vem com o capacete...
FIM
73
BIBLIOGRAFIA
• ABERASTURY, A. y KNOBEL, M. La adolescencia normal. Buenos Aires.
Editorial Paidos.
• AGUIAR, Moisés. Teatro espontâneo e psicodrama. Editora Ágora Ltda.
• BENELLI, Sílvio José. O internato escolar como instituição total: violencia e
subjetividade. Psicologia em Estudo, Maringá, vol.7, nº2, p. 19-23. Jul/Dez 2002.
• CAPLAN, Gerald y LEBOVICI, Serge. Psicologia social de la adolescencia.
Buenos Aires. Editorial Paidos. p.23.
• CARDOSO, Maria Abadia. Jogos teatrais na sala de aula: um manual para o
profesor. www.revistafenix.pro.br.
• CARNEIRO, Luiz Orlando e CAVALCANTI, Ines carneiro. O ABC do Estatuto da
Criança e do Adolescente. Grafica JB
• COBRA, Rubem Q. O teatro educativo. www.cobra.pages.nom.br, internet,
Brasília, 2006.
• GOLEMAN, Daniel, KAUFMAN, Paul e RAY, Michael. O espírito criativo. São
Paulo. Ed. Cultrix Ltda.
• GONÇALVEZ, Francisca dos Santos. Interdisciplinidade e construção coletiva do
conhecimento: concepção pedagógica desafiadora. Revista da Ciência da
educação, ano XV, nº49, dez/1994, p. 468. Ed. Papirus.
• JAPIASSU, Ricardo Ottoni Vaz. Jogos teatrais na escola pública. Revista da
Faculdade de Educação. Vol. 24, nº2. São Paulo. Jul/Dez.1998.
• MEDEIROS, Adriana e BRANCO, Sonia. Contos de fada: vivências e técnicas em
Arteterapia. Rio de Janeiro. Wak Editora. 2008.
• MORENO, J. L. O Teatro da Espontaneidade. São Paulo: Summus, 1984.
74
• NOVELLY, Maria C. Jogos teatrais: exercícios para grupos e sala de aula.
Campinas, SP. Papirus Editora. 2003.
• OLIVIER, Lou de. Psicopedagogia e arteterapia, teoria e prática na aplicação em
clínicas e escolas. Rio de Janeiro. Wak Editora. 2008.
• PHILIPPINI, Angela. Cartografias da coragem. Pomar. 2001.
• SAIANI, Cláudio. Jung e a Educação: uma análise da relação professor/aluno.
São Paulo. Escrituras. 2003.
• SMOLE, Kátia Cristina Stocco. Vídeo Coleção Grandes Educadores – Howard
Gardner. ATTA. 2006
• SANTOS, Sandra Regina. Jung: um caminhar pela psicología analítica. Rio de
Janeiro. Wak editora. 2008.
• SPOLIN, Viola. Improvisação para o teatro. São Paulo. Ed. Perspectiva.
• Revista Superinteressante. A cura pela palavra. Edição 254, jul/2008. Ed. Abril, p.
60-69.
• http://pt.wikipedia.org/wiki/Arte_terapia
• http://www.arttherapy.org/aboutart.htm
• http://www.escolaparque.g12.br/portal/conteudo/informe/informe_especial_0908.pdf
75
ATIVIDADES CULTURAIS
76
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATÓRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 6
SUMÁRIO 8
INTRODUÇÃO 9
CAPÍTULO I
Arteterapia: origem e definições 11
1.1 – Arteterapia na educação 14
1.2- Arteterapia em instituições educacionais
em regime de internato 15
CAPÍTULO II
Adolescentes: características e necessidades 18
2.1 – Pedagogia para adolescentes 19
2.2- Arteterapia para adolescentes 22
2.3 – Adolescentes residentes em colégios e a importância
dos professores em suas vidas 24
77
CAPÍTULO III
O Teatro e suas ferramentas como recurso para a Arteterapia
e instrumento pedagógico 26
3.1- A Arte, o Teatro, o Teatro Espontâneo e o Psicodrama 27
3.2- Teatro Pedagógico 29
3.3- Jogos Teatrais 32
3.4 – Contos 33
3.5- Teatro de Bonecos 36
CONCLUSÃO 37
ANEXOS 39
Anexo 1- Pano de aula, da disciplina de artes ou teatro,
de um ano letivo, para alunos de ensino médio 40
Anexo 2- Conto “João e Maria” 51
Anexo 3 - Conto “Olhos de Mel e a flauta encantada” 56
Anexo 4: Roteiro de peça teatral 63
BIBLIOGRAFIA 73
78
FOLHA DE AVALIAÇÃO
Nome da Instituição:
Título da Monografia:
Autor:
Data da entrega:
Avaliado por: Conceito:
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