um estudo lexical do primeiro manuscrito da culinária

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UM ESTUDO LEXICAL DO PRIMEIRO MANUSCRITO DA CULINÁRIA PORTUGUESA MEDIEVAL

O livro de Cozinha da Infanta D. Maria

Celina Maria de Souza Abbade

SUMÁRIOPrefácio

1. O livro de cozinha e a alimentação medieval1.1. Um pouco sobre a história da alimentação medieval portuguesa

2. Estruturação dos campos lexicais: o estudo funcional do léxico

3. Os campos lexicais do vocabulário de cozinha3.1. Macrocampo dos manjares3.2. Macrocampo dos processos e métodos3.3. Macrocampo dos utensílios3.4. Macrocampo dos ingredientes3.5. Macrocampo das unidades de peso e medida3.6. Macrocampo dos qualificadores

4. Relações de sentido nos campos lexicais do livro de cozinha dainfanta D. Maria

Considerações finais

O LIVRO DE COZINHA DA INFANTA D. MARIA

• Também conhecido como Tratado de cozinha portuguesa.

• Pertenceu à infanta D. Maria de Portugal, filha de D. Duarte, neta do rei Manoel, sobrinha de D. João III e esposa de Alexandre Farnésio.

• Códice I-E-33 da Biblioteca Nacional de Nápoles.

• Escrito por várias mãos.

EDIÇÕES CONHECIDAS

• 1956 – Edição crítica feita por Maria José daGama lobo Salema, publicada em Lisboa;

• 1963 – Edição diplomática feita por AntonioGomes Filho, publicada no Rio de Janeiro;

• 1964 – Edição crítica feita por ElizabethThompson Newman, em sua tese dedoutorado não publicada.

• 1967 – Edição crítica feita por GiacintoManupella e Salvador Arnaut.

CARACTERÍSTICAS DO LIVRO

• Códice cartáceo, de origem farnesiana;

• Escrito em uma só coluna;

• Manuscrito com letra gótica cursiva;

• Escrito a sete mãos (6 gótica cursiva e 1 cursiva);

• Datado do século XV, XVI e XVII.

Fonte: http://tipografos.net/tipos/civilite.html

• 73 fólios numerados (16 – 29 linhas);

• 61 receitas;

• 4 cadernos:

Caderno dos magares de carne (26),

Caderno dos mamgares de ovoos (4),

Caderno dos mamgares de leyte (7),

Caderno das cousas de comseruas (24).

• 6 receitas avulsas (3 antes e 3 depois);

CARACTERÍSTICAS DO LIVRO

CADERNO DOS MANJARES DE CARNE• Pasteis de carne;• Tigellada de perdiz;• Galynha mouysqua;• Galynha albardada;• Pasteais de tutano;• Alfatete;• Rta das morcelas;• Receita de morcela;• Como se fazẽ os framgaos pera os

etjguos;• Reçeita dos tutanos;• Reçeita da tortura;• Reçeita de pastell de fígado de

cabrito;• Receyta dos canudos dos ovos

meixidos;

• Reçeita de lamprea;• Receita da uaqua picada ẽ sequo;• Receita do desfeito da galinha;• Rreceita dos pastês dos pombinhos;• Reçeyta dos pastes lepardados;• Receyta de galinha alardada;• Esta eh a rreceyta da galynha cozida

e ẽsopada;• Reçeyta do coelho;• Reçeyta da galynha mourisqua;• Esta eh a rreceyta dos laparos;• Esta he a rrecejta das boldroegas• Receyta do coelho ẽ tygela.

CADERNO DOS MANJARES DE OVOS

•Rreceyta da tijellada de perdiz;•Pera ffazer ovos mexidos;•Canudos;•Oovos de llaços;•Pasteis de marmellos.

CADERNO DOS MANJARES DE LEITE

•Mamjar branquo;•Pasteis de leite;•Leite cozido;•Tigelada de leite;•Beilhos darroz;•Tigelladas de leyte de dona ysabell de vilhana;

•Almogauanas de dona ysabell de vilhana.

CADERNO DAS COUSAS DE CONSERVA

• Pera fazer diacidrao;• Casquynhas;• Rta pera fazer pesegos;• Pera fazer limões;• Peras e codornos;• Perynhas dormydeiras;• Rta dabobora;• Talos dalfaçe;• Pera cobrjr diacidrão;• Flol de laramja;• Marmelada de Cria. Ximenes;• Pera bocados;• Pera clerefiquar acuquar;• Pera quoartos de marmelo;

• Perada;• Marmelada de dona Joana;• Pera fazer alfeloas;• Pera cõfeitos;• Farteẽs;• Biscoutos;• Pera fazer macapaaees;• Paães de llo;• Pesegada;• Pera fazer alminuar de marmelos.

UM POUCO SOBRE A HISTÓRIA DA ALIMENTAÇÃO MEDIEVAL

• Culinária portuguesa farta.

• Diversidade de tipos de alimentos.

• Presença marcante da caça na mesa portuguesamedieval.

• Comiam-se basicamente cereais, carne, peixe e vinho.

• A caça, a pesca e a criação selvagem eram grandesfontes de alimentação.

• Os vegetais desempenhavam papel secundário daalimentação medieval.

• Ressaltava-se a quantidade e não a qualidade.

UM POUCO SOBRE A HISTÓRIA DA ALIMENTAÇÃO MEDIEVAL

• Alimentação voltada para sobrevivência.

• O consumo dos tipos de carne estava relacionado comas classes sociais (carne boas para classes elevadas ecarnes ruins para classes desfavorecidas).

• A carne era a base da alimentação da nobreza, o que sereflete na quantidade de receitas de manjares de carnedo livro.

• O peixe era a base da alimentação das classe inferiores.

• As especiarias e condimentos utilizados na era medievalcontinuam sendo utilizados atualmente. Eram muitoutilizados pela nobreza, em virtude do alto preço.

“[...] A importância do livro em questão é justamente saber que no

século XVI aquelas receitas existiam, ainda que não se saiba

desde quando.” (ABBADE, 2009, p. 21)

CAMPOS LEXICAIS E O ESTRUTURALISMO

Trier pensou o repertório léxico da língua, deacordo com os fundamentos estruturalistasde Saussure. A língua é um todoarticulado, organizado como um sistema queestabelece relaçõessintagmática, compartilhando a mesmarealidade linguística, ou seja, o mesmocampo.

ESTRUTURAÇÃO DOS CAMPOS LEXICAIS: O ESTUDO FUNCIONAL DO LÉXICO

“A teoria do campo linguístico estudas as palavras visandoao setor conceitual do entendimento, mostrando que elasconstituem um conjunto estruturado onde uma está sob adependência das outras. Assim, as palavras se unem comonuma cadeia, onde a mudança em um conceito acarretamodificação nos conceitos vizinhos e, assim, por diante.Nesse sentido, as palavras formam um campo linguísticoatravés de um campo conceitual e exprimem uma visão domundo de acordo com a reconstituição que elaspossibilitam.” (GECKELER, 1976 apud ABBADE, 2009, p.38)

CAMPOS LEXICAIS

“Já o campo léxico representa uma estrutura, umtodo articulado, onde há uma relação decoordenação e hierarquia articuladas entre aspalavras que são organizadas à maneira de ummosaico: o campo léxico.” (ABBADE, 2009, p. 38)

TEORIA DOS CAMPOS LEXICAIS

• As palavras só tem sentido como parte de um todo.

• As palavras tem seu sentido inseridas em uma realidade linguística.

• A palavra não tem sentido se lhe faltam outras semelhantes ou opostas, pois necessitam sempre de um campo conceitual.

CONTEÚDO LINGUÍSTICO

• Significação:

Conteúdo linguístico de determinada língua.

• Designação:

A relação com a realidade extralinguística.

• Sentido:

É o conteúdo especial de um texto ou de uma unidade de texto

TIPOS DE SIGNIFICAÇÃO

1. Lexical: diz respeito ao sentido da palavra;

2. Categorial: refere-se a categoria das palavras;

3. Instrumental: refere-se ao sentidos dosinstrumentos gramaticais;

4. Sintática ou estrutural: ligado ao sentido dasconstruções gramaticais.

5. Ôntica: ocorre no plano das orações, pois é ovalor existencial na intuição significativa ao‘estado de coisas’ apresentado em umaoração.

TEORIA DOS CAMPOS LEXICAIS DE EUGENIO COSERIU

• Estudo diacrônico e estrutural do léxico;

• Investigação funcional da língua;

• Parte da significa estrutural para adesignação, ou seja, a língua é descrita comouma estruturação de conteúdo;

• Relaciona o estudo funcional do vocabulário àLexicografia e à Semântica tradicional, frente àGramática Gerativa, o que garante aautonomia do plano das línguas.

SETE DISTINÇÕES OBSERVADAS POR COSERIU PARA IDENTIFICAÇÃO DOS CAMPOS LEXICAIS

Realidade extralinguística X Linguagem

Linguagem primária X Matelinguagem

Sincronia X Diacrônia

Técnica do discurso X Discurso repetido

Língua histórica X Língua funcinal

Tipo X Sistema X Norma X Fala

Significação X Designação

HIERARQUIA DOS CAMPOS LEXICAIS

• MACROCAMPOS

Campo superior com totalidade maior de lexias, que farão parte de campos inferiores.

• MICROCAMPOS

Agrupamento menores de lexias que podem ser inseridos em um macrocampo.

MODELO DE HIERARQUIA DOS CAMPOS LEXICAIS

CAMPO LEXICAL

MACROCAMPO

MICROCAMPO

SUBCAMPO

SUB-SUBCAMPOS

OS CAMPOS LEXICAIS DO VOCABULÁRIO DE COZINHA

CAMPO LEXICAL MACROCAMPOS MICROCAMPOS SUBCAMPOS

LÉXICO DA COZINHA

MANJARES

Genéricos: manjar, cousa, comer, fatia.

Carnes: tigelada de perdiz, galinha esbarada.

Pastas: bolo, Pão de llo.

Conservas: cemrada, diacidrão.

PROCESSOS E MÉTODOS

Generalidades: comer, por, andar.

Método: Cozer, frito

Movimento: Mexer, bater

Mudança de estado: ferver, esfriar

UTENSÍLIOS

Instrumento de trabalho: fogo, mesa

Para colocar alimentos: vasilha, escumadeira

Que vão ao fogo: panela, tacho

Para cortar: machadinha, rrapadoura

INGREDIENTES

Aves : Perdiz, galinha

Carnes: coelho, carneiro

Frutas: abobora, pera

UNIDADES DE PESO E MEDIDA

Grandezas de valor absolutoSólido: Dúzia

Líquido: tacho

Grandezas de valor relativoSólido: peça

Líquido: gotas

QUALIFICADORESSabor: Doce, rançoso

Temperatura: quente, morno, frio

OBRIGADA

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