um corpo que se escreve pedra

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Marcos Ramos

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UM CORPO QUE SE ESCREVE PEDRA

UM CORPO QUE SE ESCREVE PEDRA

MARCOS RAMOS

AVES DE ÁGUA

coleção

Área Clara

Projeto Editorial

www.avesdeagua.com.br

para

Roberta Portela, Nara, Marcos e Alexandre Moraes

Luis Maffei e Ruth Silviano Brandão

Aprender a ser terra

e, mais que terra, pedra

nuclear diamante

cristalizando a palavra.

A palavra definitiva.

A palavra áspera e não plástica.

ORIDES FONTELA

Estou tentando escrever-te com o

corpo todo, enviando uma seta que

se finca no ponto tenro e nevrálgico

da palavra [...]. Ouve-me então com

o teu corpo inteiro.

CLARICE LISPECTOR

Um corpo que se escreve Pedra POEMA

[17]

Essa

peça exige um novo olho:

o olho disponível para o horror

da imagem

quase lenta;

o sucesso

do poema

também exige

um outro corpo

que não seja habitual

e insípido

[18]

respirações

possíveis

de uma inflatura

improvável:

a experiência da travessia,

atravessar

o

sentido

entre

dúvidas de abismos. Dou uma narrativa,

em seguida,

retiro o chão que vigora o pensamento:

tudo deve ser lido com o corpo inaugural.

[19]

A ansiedade que permanece

até mesmo ao mirar o céu

(ou o chão)

amortece uma queda

prescrita: Olhar o chão como chão

céu como céu

e tudo além de si mesmo

sem a velocidade

que obnubila

a ponta dos dedos.

[20]

Primeiro:

ao ler a palavra

Pedra

não preencha

a voz

que

permanece

distante

da experimentação infantil.

Caso o corpo seja tomado de pressa, há o risco de não

sobrar ar que vigore os olhos com claridade.

Nesta língua não se chega:

[21]

Desconfio de um projeto

sustentado

pela

assertiva que garante

certa

certeza

certos

momentos

uma

equivalência

que encerre

a dúvida.

[22]

É preciso posicionar

a pré-palavra

(mesmo insegura)

entre a língua

e

os dentes,

pressionar:

extrair o sumo da linguagem,

transformar

o incômodo

do atrito

em

fala.

[23]

Imagino

o processo

que se impõe

o

fazedor

quando

do atrito na boca

constrói

a densidade da palavra

Pedra,

OU

a solidez

da palavra

Lâmina.

[24]

Cada família começará

e

dará fim

ao conjunto de nomes

escarrados

durante

um jantar;

as palavras

que

por ventura

são reinventadas

na ocasião

suportarão

a acidez dos olhos postos

sobre

os

pratos

rasos

[25]

mas

os

corpos fartos

de

tédio

— mortos

por antecipação —

se destacarão por serem servidos

crus.

[26]

Vejo

a

deficiência

provocada

pela

poesia

quando não toco dúvidas no seu olho que lê;

e quem lê,

se não a própria sucessão de perguntas

que se dobra sobre si?

Como suportar a dissonância da metáfora

sem

construir espaços de vertigens?

[27]

É preciso

(se) inscrever

no branco

do papel

para construir uma memória

escarlate,

escrever com o corpo-pedra

antes que seque

a tinta sanguínea.

[28]

Em dias piores

acordo por escrever

o colchão:

a dor

aponta

na madrugada

como prenúncio

do inevitável.

Dessa vez

senti a última parte da canela

aberta.

[29]

A mancha voluntariamente

criada

no colchão

sugeria — por certo olhar —

um rosto feminino

deformado

e

febril.

Poderia

ser

a minha mãe

a

reclamar

uma suposta

falta

de visitas.

[30]

Depois de acordar

procuraremos

alguma leveza

para erguermos

nos ombros. Nos ombros

ou

na pélvis.

Mas poderia ser um sonho: o desenho

da mãe sobre a cama

— deixando de existir na canela —

se inscrevendo

no lençol branco: como a toalha branca

e o rosto sanguíneo.

[31]

Tudo poderia ser salvo

da existência

em perigo

com a prescrição

da

supressão

(pelo menos

certo

ocultamento)

da palavra

REAL

Ou

SOLIDEZ.

[32]

Examinemos as falas

encontremos os falos,

apontemos

os falsos

movimentos

pela profunda

reflexão: o pensamento

que se dobra sobre si

– volto a dizer.

É preciso

se despir

da vertigem

(suposta liberdade)

para tatear

a não-fluidez

do afeto.

[33]

Escrever

por exemplo

é

(se) policiar

na construção

de uma

posição

ereta.

Também podemos

— como exercício —

[34]

suportar a

desagradável

surpresa

do descontentamento

sem deletar

um

corpo

próximo

ao

ato

de reparação.

[35]

A proposição

poética

é

possibilidade

de certo

construir.

O que fazer depois de jogar a água fora

se

não percebemos

a

criança

morta

entre as lâminas

do ralo?

[36]

Envelhecemos na palavra Desconstrução.

Envelhecemos

também

com ausência de Estilo.

Por não experimentar

uma existência

espiritual

na singularidade

da linguagem que fala,

vez ou outra,

nos afogamos

sem corpo.

[37]

Um afogado.

O menino de lá não tem nome ou identificação, olha

quando se sente pronto para se ausentar da sombra do

que há fora da língua. Mas não há margem, a palavra, só

insurge o instante da metáfora,

dela emerge um afogado.

Sempre fora alertado para que de modo algum perdesse

sua sensibilidade,

mas já não sobrevoava qualquer certeza, pois talvez

signifique o afogado a impossibilidade diante do prosse-

guir.

Nesses dias

que prefiro chamar de inseguros

ou fingi-se as coisas sutis

ou transforma-se no que há de mais grotesco:

interrompe-se a sequência,

prima-se pelo silêncio dos movimentos.

[38]

Entretanto,

há o risco de desaparecer da palavra,

desconhecer a casa,

perder o corpo.

Tento como posso puxá-lo com todas as minhas forças e

evitar que o afogado que me habita possa persuadi-lo da

doença.

Elas, indolores, falham.

Ele não me sente em nada. Mal vê a si mesmo

e

se vê

não assiste mais do que um corpo calado.

[39]

Se só há travessia, há casa? Pois nunca foi tão difícil

acordar.

Mesmo assim

desde que estamos aqui

só não faz que não quiser.

Inventa-se tudo para continuar altivo,

atônito.

Se só há travessia, como interromper a sequência?

Nunca foi tão difícil parar. Mesmo assim,

desde que estamos aqui,

só não faz quem não quiser.

[40]

AFOGADO,

queria poder lembrar como foi nosso primeiro contato.

Talvez eu tenha ido ao teatro

reconhecido você imediatamente

(com o teatro ainda escuro,

um filete de luz iluminando seu rosto).

Não escrevi sobre este encontro porque o primeiro pro-

pósito foi esquecê-lo para não enlouquecer.

[41]

No fundo do tablado,

uma parede humana,

uma execução plástica,

bailarinos imóveis.

A iluminação rasteira impede que se vislumbre a real

composição da parede.

Você sentado no centro do palco

com as pernas abraçadas,

em posição

quase fetal.

A orquestra fragmentada está posicionada nos camarotes:

[42]

Violinos de um lado,

violas de outro,

piano,

sopro,

percussão.

Um coro separado,

guardado como surpresa.

[43]

Depois de algum tempo,

se escrevo,

os outros o lerão como literatura.

Antes que você erga a cabeça,

começa a música

— o que tristesse e impele os seus primeiros gestos.

São os dias

que

conferem

espessura

ao gesto:

[44]

as memórias

da pele

são

densidades do corpo.

Mergulho

sôfrego

na construção de uma personagem|escrita

sintaxe|gesto

de vísceras

corroídas

por uma dor

impessoal:

[45]

a Grande-dor

— a poesia —

é Política

— também perversa.

Explico: é preciso perceber

que quando digo eu

não me refiro a um me.

Há um me-

do

insistente

em sustentar

a palavra

Pedra:

Seu peso,

sua densidade,

sua impermeabilidade.

[46]

A leveza

não-superficialidade

se confunde

com

o mergulho

horizontal:

Uma dispersão exata

disfarçada

em

sofisticados corpos múltiplos.

Os olhos agudos

percebem

que

no gozo

da

despretensão

o prazer é póstumo.

[47]

Em que se difere

o gesto

do movimento?

O gesto

pode

também

ser

silêncio.

Construo motivos

de permanência

quando me movo

para o projeto

do próprio movimento:

[48]

quando posso

parar

para

pensar

o ante-passo

— o que muitas vezes

é potência —

permito

uma

dança.

MAS

quando penso

em uma Obra

meço

certa

disciplina.

[49]

Arrisco

perceber

o olho-mundo

observar

a

dispersão

dos meus amigos

tão órfãos quanto eu,

eles,

sem

sequer

uma

camisa

que

cubra

o peito imaturo.

[50]

Construo

uma canção ingênua:

Um projeto de vida,

Este traço incerto,

Que o ponteiro marcou.

Um tropeço de cisma,

Qualquer passo coberto,

Que a felicidade cobrou.

Certa dor quase precisa.

Que nem o tempo do firmamento,

Do desfeito ou do lamento deixou.

[51]

Construo toda

possibilidade

de

construção

de

um amigo

febril

e

percebo toda precisão

insólida.

[52]

Lembro, salvo no refúgio das memórias de noites não

dormidas, que

fui levado

cedo

para um hospital.

A dor de cabeça que me acometia há pelo menos dois

dias tinha se intensificado.

Lembro de reclamar a minha dor de cabeça,

essa não era a minha.

A costumeira enxaqueca sempre instalada no fundo do

olho direito tinha se alastrado por toda extensão da ca-

beça,

[53]

ou essa não era realmente a minha. Entorpecido,

eu sonhava com uma protuberância que crescia na

minha cabeça doente

eu calado

impossibilitado

de exalar

qualquer grito mínimo

permanecia catatônico.

[54]

O tumor aumentava como se quisesse sair de mim.

Era um feto que me negava. Da minha cabeça era pos-

sível ver o braço primeiro, um ombro que saía de mim e

constituía nitidamente outro corpo colado ao meu.

Sabia,

até perder a lucidez,

que estava sonhando,

em seguida, me perguntava se existe sonho na lucidez

ou qual a lucidez da vigília.

O corpo que saía do meu corpo não nascia naquele

momento.

Aquele corpo antigo amanhecia ao lado do meu corpo,

eu podia observar os dois corpos de fora. Mas já não me

identificava com nenhum deles.

Não me identificava com um corpo contemporâneo.

[55]

Mas que caminho procuro ao estetizar uma dor?

Podemos estetizar a dor?

Estetizar a falta é um caminho para o poético,

mas é também pensar o próprio poema.

Para iniciar

a pausa que precede

a afirmação do espírito

— não a catatonia silente ou lúgubre,

mas a respiração —,

[56]

não posso separar

o poema do mundo.

Procuro

o

poema

no corpo que permanece

ou

antes

o poema me sobra

como um precipitado loquaz.

[57]

O corpo de um poema

é o meu próprio corpo doente.

As partes

— linhas —,

os pedaços depreendidos

transformados em outro corpo:

Um corpo contemporâneo.

A escrita depreende

do corpo-primeiro

uma parte habitual.

[58]

(Ninguém duvide que todo poema chamei eu

mas nunca será

eu

ao fim do verso)

O que me identifica,

o pequeno fragmento:

um corpo mínimo.

É esse corpo que torna possível o reconhecimento do

meu corpo.

Há um desequilíbrio no poema

habitando

não um estado de saúde

mas o desejo de manter

os olhos em paisagens

longes

de qualquer desespero. Des

ocupar a dúvida do permanecer que toca a partida

(como regra, só haverá partida)

A saúde evitará o demônio,

nos permanecerá

incólumes.

[59]

Apesar do poema

preciso

evitar

até agora

o sufoco

da imagem

para

tentar

tatear

com mínimo pudor

a medula do REAL.

A máxima redução

da matéria poema

à língua

dificilmente manejada

fora da representação

não oferece mais do que

preparação para

o

precipício.

[60]

A queda provocada pela convocação (cha-

mamento à palavra)

se distingue

da matéria-metáfora

— projeção imagética do corpo sustenido —

(pensar a matéria palavra

antes da razão

inconsciente

do signo).

O fulcro permanece

até o fim:

investir nitidez

para desterritorializar

o poema que tece um tema.

A universalidade

é o particular

da palavra.

[61]

Não precisamos de uma fala

mas um Estilo.

A parte que luta

para iludir

a palavra

se vangloriar de um nome inventado

investir no peso de um papel

branco

incide no corpo:

Procurarei adoecer da língua.

[62]

Ou antes:

Depois do zero,

O INÍCIO,

recomeçar

a pensar

uma possibilidade de morte:

Reescrevo o zero. Penso em um lugar para guardar o

meu piano que nunca

ousei

ouvir

outro

sem jamais perceber o quanto de mim mesmo confiro a

qualquer som.

[63]

Os dedos

ensaiam o projeto de um álbum

(ou um livro)

que organize

suavemente

a

cama

— ou a calma.

[64]

Quem sabe

a

calma

aturdida

pela

repetição

imoderada

que me afasta

das teclas

— também do poema.

Tento retirar da palavra

qualquer

resquício de subserviência,

até restar o traço duro

que não possa imaginar

ou simbolizar:

[65]

o poeta é, pois,

uma luta

esquálida. O poeta,

tal como Sísifo,

desejou a morte e foi castigado

a viver,

em movimentos,

de aparência,

infrutíferos,

do gesto insistente e insidioso:

Depois do movimento exaustivamente repetido, não há

possibilidade de cessar, mas já não se separa

terra, pedra, diamante, palavra, poeta.

[66]

Depois do movimento

nunca mais evitado

é possível encontrar uma infância

(fragmentos de infância,

de memórias,

de pais, de tios, primos,

cães, copos

e

toalhas de mesa,

roupas

de frio,

objetos,

nomes)

no rosto

desfocado

de uma história.

Sim, mas apenas até a morte. Até um desaviso pobre de

ruídos.

[67]

A pele,

de onde extraio,

um por um,

os sintagmas,

é forjada na memória de Passárgada (nossa fazenda) —

ao som dos tambores que

ninguém

tampouco

os prostrados no sentido concreto

tateariam.

A lembrança dos cavalos e dos preto-velhos, os cachim-

bos que hoje figuram minhas estantes junto às fotos e

certos discos

o cheiro dos cachimbos prenunciavam um medo

dos conselhos embolados na língua de meu avô

ou

meu tio

as mãos encobertas pelo líquido que escorria das

velas,

[68]

(corria,

descia até o pé de aroeira,

entrava no terreiro esverdeado – me alertavam sobre os

chinelos)

me tornava imortal e tão próximo dos mais próximos de

um deus

inventado dentro de minha casa.

[69]

Depois de me agarrar às primas, roubava os agrados

oferecidos

aos santos parados. Cobertos pelas palhas

que

por magia

sustentavam

o chão sob as estátuas — pensavam, deuses de pedra —,

também as paredes por trás dos quadros,

os

copos

cabiam

dúzias do cheiro da arruda, o barro batido coberto por

uma pedra gelada (dos desenhos geométricos, tridentes

e estrelas)

comportava velas

e guias. Quando criança,

me ocupava de experimentar como a coisa olha

— eu me fingia

de objeto.

Investigava um ponto de vista. Observava atento

o silêncio.

[70]

Também à procura do silêncio

me ocupava de ser nuvem,

tijolo,

chinelo sem uso que vê.

A curiosidade virulenta pelos sentidos era o pé se

arrastando na terra,

eu descobria o desejo. Em seguida,

descobriria os corpos.

Junto aos corpos, um peso ancestral.

Despertava acarinhado pelo hálito

que escorria na nuca.

Não era a luz que entrava pala janela aberta, mas a

claridade

de uma mãe que me acordava.

[71]

O poema não

permite

outra coisa mesmo

senão o mundo

(não relativismos),

a verdade que é cárnea e indelével. A

palavra que, como a música, não enga-

na porque apesar de infinitiva não acon-

selha o manejo

do

olho.

Ou dos sentidos.

É preciso perseguir a música e jamais o poema.

(O poema que precisa de uma dobra

sobre si,

quem sabe

um nome

para satisfação)

[72]

Como

usar a palavra

matéria de poema

para se despir

até a poesia

matéria

que não se confunde

com

o

pesar

(talvez

o

pensar)

que habita

a escrita?

[73]

(Inventaremos

ensaios-poemas

que pensem vigor

sem agora

perseguir

o lócus

reflexivo — apenas —

mas um afeto

projetado

a partir

de um fêmur

ou de um câncer).

[74]

Talvez seja preciso experimentar a morte

(não a dor)

sem

jamais

promover

lições

que interpelem

outro viver

novamente

mas a urgência

pelo menos

da compreensão — mesmo diminuta —

da precariedade do corpo

e da sobriedade da palavra;

[75]

tentar tocar

com máxima

dignidade

a espessura

da agulha

que não espera

a dilatação

da pele

para

depositar

o que é preferível sentir como provocação:

esqueceremos,

não sem um esforço que justifique

a

potência,

uma forma de postergar o desconforto.

[76]

O corpo velho que nascia do meu corpo

sempre esteve

pronto

para

cada cusparada de se livrar de um amargo que nos salva-

ria. O novo e o velho percebiam outros

novos e velhos

sentados

reclinados

abertos

fechados

reabertos

costurados

de

uma ameaça

que, apesar de combativa, o corpo fino e intratável via

frágil e débil.

[77]

Ouvimos, cada um a seu modo,

nas salas,

os partos,

os fetos

a solidificação

dos corpos,

as pedras que se multiplicavam

em cada

tentativa

de contenção.

As teclas dos pianos

deixariam

nota

a

nota

de soar

um

lar.

[78]

Outros se armavam de uma felicidade combatente que

parecia restringir um desprazer;

a maioria velhos,

a minoria vivos.

(Nenhum deles foi inventado)

Depois de petrificados, se tornariam deuses.

Não seria possível desacreditar qualquer um.

Imaginavam,

os

familiares,

o

esforço

de permanecer

sustentando

o desejo. E se já não havia o desejo,

não o desejo de viver, mas o Desejo,

havia uma morte justificada.

[79]

Nenhum de nós

nunca

se livraria

de uma dor

de cabeça,

de um afogado boiando

na pouca

lágrima que umedecia

o olho quase totalmente ressecado,

depois de tocar com as mãos

quentes de uma febre

intratável

um balde — ao lado — de

sustentar

o excesso amargo-doce: um líquido mal compreendido.

Não há outras palavras:

o nojo do moribundo

ameaça toda forma

de pulsar.

[80]

Também não há outra forma de expansão:

é o inchaço

que permite

uma frágil

possibilidade

de respirar.

Na sala coletiva,

serviam-nos

litros e litros

de

pouca

chance.

Tudo mais atrapalhava o ritmo do poema.

[81]

Há todo ruído

e houve

depois do sussurro

um silêncio na dispersão.

O movimento

quase cíclico

(por diferente que seja o retorno)

cicatriza

— ou cristaliza —

a Pedra.

A peça.

Marcos Ramos nasceu em 1988.

Um corpo que se escreve Pedra é seu primeiro livro.

[contato@avesdeagua.com.br]

UM CORPO QUE SE ESCREVE PEDRA

Marcos Ramos

ISBN |978-85-65998-17-8|

AVES DE ÁGUA

Coleção Área Clara

Vitória | 2012 |

editores

Alexandre Moraes

Antonio Carlos Amador Gil

Casé Lontra Marques

Rafaela Scardino

colaboração

Danilo Barcelos Corrêa

Marcos Ramos

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