tribunal obriga fundo de garantia salarial a pagar dívidas de empresa em recuperação - pÚblico
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PCP
Pedro Mota Soares
Código do Trabalho
Desemprego
Sindicatos
Empresas
Segurança
Social recusa
pagamento a
Tribunal obriga Fundo de GarantiaSalarial a pagar dívidas de empresaem recuperaçãoRAQUEL MARTINS 19/07/2014 - 07:45
Interpretação das regras do Fundo de Garantia Salarial está a ser dirimida
nos tribunais. Administradores de insolvência receiam que recusas levem
trabalhadores a rejeitar recuperação de empresas.
O Tribunal Administrativo e Fiscal (TAF) de Almada deu
razão a um trabalhador da Novopca, empresa declarada
insolvente e que iniciou um plano de recuperação,
obrigando o Fundo de Garantia Salarial (FGS) a
pagar-lhe os créditos laborais em falta. Na sentença, a
primeira dos vários casos que chegaram à justiça, o
tribunal entende que o importante é a “insolvência ser
reconhecida pelos tribunais, quer implique liquidação ou
recuperação”.
A sentença surge numa altura em que os sindicatos têm
vindo a denunciar que a gestão do FGS se recusa a pagar
salários e outros créditos a trabalhadores de empresas
que têm planos de recuperação a correr nos tribunais –
seja ao abrigo dos processos de insolvência ou do
Processo Especial de Revitalização (PER), criado em
O gabinete de Mota Soares entende que, quando há planos de insolvência, o fundo não devedar prioridade aos pedidos. ENRIC VIVES-RUBIO
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trabalhadores de
empresas em
dificuldades
Perguntas e
respostas sobre o
Fundo de Garantia
Salarial
Os artigos da
discórdia
2012 como alternativa às falências judiciais. Os
administradores de insolvências, que acompanham estes
processos, temem que estes indeferimentos levem os
trabalhadores a votar contra a recuperação das empresas
e aumentem as falências.
Na sentença a que o PÚBLICO teve acesso, o tribunal vai
mais longe e alertar que a interpretação dos serviços
torna “potencialmente inútil” o objectivo do fundo,
criado para pagar as dívidas aos funcionários quando as
empresas estão em dificuldades financeiras ou encerram
portas. Os argumentos do TAF de Almada não foram
contestados pelo Instituto de Gestão Financeira da
Segurança Social, responsável pela gestão do fundo, que
optou por não recorrer da decisão.
Em causa, está um trabalhador da construtora Novopca,
declarada insolvente em Maio de 2011 e que
posteriormente foi alvo de um plano de recuperação
homologado em Janeiro de 2012. O trabalhador
apresentou, em Julho de 2011, um requerimento ao FGS
para receber salários em atraso e a indemnização por
despedimento. A resposta chegou em Dezembro desse
ano: o pedido era indeferido porque “os créditos
requeridos ao FGS serão extintos por força da
homologação do plano de recuperação da empresa”.
O TAF de Almada lembra que a protecção dos créditos
dos trabalhadores em caso de insolvência é uma
obrigação do Estado por via de uma directiva europeia
de 2008. E alerta que o recurso ao FGS “não poderá ficar
refém das decisões dos credores das sociedades
insolventes”.
E alerta que, no caso em análise, a empresa ainda não
pagou aos trabalhadores e que, mesmo que isso tivesse
acontecido, o FGS ter-se-ia limitado a adiantar parte dos
créditos, tornando-se credor da empresa. Se o
entendimento do gestor do fundo, o Instituto de Gestão
Financeira da Segurança Social, fosse adoptado,
acrescenta “os trabalhadores poderiam ficar
irremediavelmente penalizados e desprotegidos”, pois se
o FGS “se afastasse perante a mera promessa de
pagamento, consubstanciado num qualquer plano de
insolvência, tal tornaria inútil o regime instituído”.
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A situação financeira da Novopca veio a confirmar, aliás,
que o facto de haver um plano de pagamentos aprovado
não significa que a situação dos trabalhadores fique
salvaguardada. O plano não foi cumprido e os credores
requereram um PER para a empresa, que o tribunal
decidiu recentemente não homologar.
O TAF entende que depois de declarada judicialmente a
insolvência de uma empresa, o FGS “deverá decidir em
30 dias após o requerimento do trabalhador,
independentemente de em momento ulterior vir a ser
aprovado qualquer plano de insolvência”. Esta decisão
dá algum alento aos restantes dez trabalhadores da
empresa que também entraram com acções contra o
fundo e poderá vir a ajudar a esclarecer o entendimento
que os serviços e o próprio Ministério do Emprego têm
destas situações.
Jorge Estima, advogado que tem alguns desses processos
em mãos, lembra que o FGS” nunca distinguiu entre os
processos com plano de insolvência e os que declararam
falência”, acrescentando que, nos processos mediados
pelo Iapmei, o FGS também paga os créditos aos
trabalhadores. Trata-se de um paradoxo, visto que nestes
últimos processos também é acordado um plano de
pagamentos com os credores, embora por via
extrajudicial.
A cerâmica Valadares, declarada insolvente em 2012, é
outro caso que está a dividir os trabalhadores e o FGS. O
atraso nas respostas do fundo aos 318 requerimentos foi
o tema de uma pergunta formal enviada pelo PCP ao
Ministério do Emprego em Abril de 2014. A resposta
chegou no início de Julho. O chefe de gabinete do
ministro Pedro Mota Soares comprometia-se a exigir
mais celeridade aos serviços. Contudo, justificava os
atrasos com um argumento muito semelhante aos que o
fundo usou para a Novopca. Como no âmbito do plano
de insolvência homologado “se perspectiva” o
pagamento de todos os créditos, tal “determinaria a
improcedência dos pedidos”. Por isso, lê-se no ofício,
“entendeu-se não priorizar a análise dos requerimentos”.
Por outras palavras, como a empresa tem um plano de
recuperação, o FGS não pagaria os créditos e por isso os
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serviços não deram prioridade à análise dos
requerimentos destes trabalhadores. O gabinete de Mota
Soares não toma uma decisão taxativa, mas entende que
quando há planos de insolvência, o FGS não deve dar
prioridade aos pedidos. Contactado pelo PÚBLICO, o
administrador de insolvência da Valadares desconhece
estes problemas.
Vazio legal incentiva falências
Os casos não ficam por aqui. O FGS tem também
recusado pedidos de trabalhadores de empresa em
dificuldades, que ainda não declaram insolvência e
recorreram ao PER. No processo de um ex-trabalhador
de uma construtura de Braga, a J. Gomes SA, a que o
PÚBLICO teve acesso, os serviços decidiram que não
poderia accionar o fundo.
No despacho com data de 27 de Junho, a recusa tem
como fundamento não ter sido declarada a insolvência
da empresa, despacho de acção de recuperação ou
declaração de falência. E acrescenta-se que “o actual
regime jurídico do FGS não abrange situações em que as
empresas se encontram em PER”, pelo que os créditos
não podem ser assegurados “por falta de enquadramento
legal”.
Emanuel Carvalho, advogado que está a acompanhar
alguns destes trabalhadores, entende que, embora o
regulamento do FGS nada diga sobre os PER, há formas
de contornar o “vazio legal”. O Código do Trabalho,
alerta, “diz que o fundo destina-se a empresas em
insolvência ou situação económica difícil. Uma empresa
em PER está em situação económica difícil”, resume.
A mesma situação aconteceu na Cinclus, uma empresa
de engenharia de Vila Nova de Gaia, que requereu um
PER no ano passado. Luís Gomes, administrador de
insolvência que acompanhou este processo, referiu ao
PÚBLICO que alguns trabalhadores também viram o
pedido de acesso ao FGS indeferido quando o plano de
recuperação foi aprovado pelos credores.
O presidente da Associação Portuguesa dos
Administradores Judiciais (APAJ), Inácio Peres, receia
que este vazio e a interpretação da legislação tenham um
“efeito perverso” e incentive a falência das empresas. “Os
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trabalhadores podem sentir-se pressionados a votar
contra a recuperação”, alerta, garantindo que estão
disponíveis para sugerir eventuais alterações legislativas.
Na semana passada, o secretário de Estado da Segurança
Social, Agostinho Branquinho, disponibilizou-se, junto
dos parceiros sociais, a analisar o assunto. Com Raquel
Almeida Correia
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