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TERRITÓRIO, VIOLÊNCIA E CRIMINALIDADE: UMA ANÁLISE
GEOGRÁFICA SOBRE OS ÍNDICES DE HOMICÍDIOS NO BAIRRO
DO PAAR EM ANANINDEUA-PA.
Rafael Henrique Maia Borges1
rafaelmaiageo@gmail.com
Robson Patrick Brito do Nascimento2
robson-nasciment@hotmail.com
Denise Carla Melo Vieira3
denisecarla2000@hotmail.com
Lucas da Costa Moreira Andrade4
andrade.lucas.al@gmail.com
1. INTRODUÇÃO
O olhar geográfico é primordial para se compreender as muitas realidades
sociais existentes nos espaços urbanos, sobretudo as que são marcadas por
desigualdades socioespaciais. Para o melhor entendimento de determinados fenômenos
sociais, como o da violência e o da criminalidade, o uso de conceitos como o espaço e o
território, mostram-se fundamentais. Além é claro, do uso de ferramentas cartográficas,
que nos permitem uma melhor visualização de sua espacialização.
O cenário urbano é marcado por elevadas taxas de violência e criminalidade, o
que era exclusividade de algumas cidades, tornou-se a realidade vivida por inúmeros
centros urbanos. Dentre os crimes que assolam a sociedade brasileira, destaca-se uma de
suas principais e extremas tipificações: o homicídio. Compreender o processo, as ações
1 Graduando em Geografia pela Universidade do Estado do Pará 2 Graduando em Geografia pela Universidade do Estado do Pará 3 Graduanda em Geografia pela Universidade Federal do Pará 4 Graduando em Geografia pela Universidade do Estado do Pará
e os agentes envolvidos em suas causas é fundamental para o entendimento dessa
tipologia de crime, que tem aumentado acentuadamente nos últimos anos no Brasil.
Dessa forma, o presente artigo, busca entender como se dá a produção do
espaço e a questão do poder no bairro do Paar, em Ananindeua-Pará e principalmente,
como se estabelecem os territórios da violência e da criminalidade. Além disso,
objetiva-se analisar os índices de homicidios ocorridos no ano de 2015 e como estes se
apresentam sob o espaço.
Quanto a metodologia, utilizou-se principalmente, de levantamentos
bibliográficos que abordassem a temática da violência urbana, da criminalidade, da
produção do espaço urbano e do território. Para o desenvolvimento deste artigo,
realizou-se, ainda, trabalhos de campo, em que entrevistas se apresentam como um
recurso fundamental. Além disso se fez o uso de ferramentas cartográficas e de dados
junto a órgãos oficiais como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) e a
Secretaria Adjunto de Inteligência e Análise Criminal – SIAC/SEGUP.
Desse modo, a presente pesquisa, se divide em três momentos. No primeiro se
discutirá a produção espacial urbana e mais especificamente a do bairro do Paar, em
Ananindeua- Pará. Em um segundo momento se analisará o conceito do território e sua
relação com a violência e a criminalidade. Por fim, se apresentará e analisará os índices
de homicídios do bairro, no ano de 2015 e sua relação com a problemática da produção
espacial e territorial, bem como estes se espacializa e territorializam.
2. TERRITÓRIO
A cidade, enquanto resultado da produção espacial, apresenta-se como palco de
dinâmicas complexas e múltiplas. Sob este, estabelecem-se diversas relações sociais,
como as do poder, que sustentam o surgimento de territórios, dentre eles, os que são
marcados pelo uso da violência e pela existência da criminalidade
De maneira inicial é necessário entender, a relação entre o território e a
violência. No bairro do Paar, a ineficiência de políticas públicas, contribuem para a
territorialização de agentes ligados ao crime, pois conforme Raffestin (1993) não existe
vazio de poder. Desse modo, onde o Estado se faz insuficiente, outros agentes passam a
se territorializar, estabelecendo relações de poder para controlar a população e realizar
suas atividades ilícitas. É nesse sentido que a categoria território se faz fundamental,
pois nos permite compreender as diversas territorialidades de poder.
Na concepção de Raffestin (1993) O território se forma a partir do espaço, é o
resultado de uma ação conduzida por um ator sintagmático (ator que realiza um
programa). Para o autor o espaço é entendido como matéria-prima, o espaço seria
então, a realidade material que preexiste há qualquer ação, ou seja, destituído de
intencionalidades e de qualquer relação que implique em domínio. Segundo Raffestin
(1993), qualquer representação no espaço já é uma apropriação, que revela a imagem
desejada/planejada de um território. O espaço é sempre anterior e maior que o território.
O espaço é a matéria, o território seria mais metafísico.
No entanto, compreender como o território se faz presente de forma diferente
requer a compreensão das relações que ali se estendem, requer então, a verificação dos
atores envolvidos bem como dos seus interesses, nesse sentido Haesbaert (2014) afirma
que, essa distinção, dar-se a partir dos distintos sujeitos que estão envolvidos na
questão. Haesbaert (2014) propõe a distinção da concepção de território a partir dos
sujeitos.
Propomos, assim, iniciar nossa discussão conceitual a partir da
distinção, necessária, mas raramente explicitada, entre território como
categoria de analise, como categoria da prática e como categoria
normativa- distinção esta que se dá, sobretudo, a partir dos distintos
sujeitos que estão envolvidos na questão.
A distinção apresentada por Haesbaert (2014), mostra que o território como
categoria normativa, responde a comandos de agentes com interesses político-
econômico, desinteressando-se pelo território em si, a concepção de território que
responde a categoria normativa dita o que o território deve ser, isso irá confrontar com o
território como categoria da prática, pois, aqui o território possui conotação simbólica
muito mais ligado ao valor do vivido.
Verifica-se na leitura de Haesbaert (2014) um esforço em mostrar a importância
de se entender o território como ele realmente é, aquilo que o autor denomina categoria
da prática, nessa perspectiva o território permite-se a diversidade, aproxima-se do real,
onde a vida acontece em suas múltiplas relações sociais, econômicas, culturais,
simbólicas etc. A partir do exposto, nota-se as complexidades concernentes ao território,
quando visto como uma categoria da prática.
O conceito de território sempre esteve atrelado à outra noção que lhe confere
característica própria, o poder, desde suas primeiras formulações advindas da geografia
política com Ratzel, (SOUZA, 2008) até análises mais atuais. Vale ressalta que as
primeiras abordagens de território tinham como agente fundamental de detenção do
poder do estado, sendo este o responsável pela conquista de novos territórios (expansão
física), pois a terra representa o seu valor e consequentemente o poder.
A partir do exposto, verifica-se a importância da categoria território, para esse
estudo, tendo em vista que este é imprescindível para a compreensão da criminalidade
no bairro do Paar, em virtude da profunda relação entre território e a criminalidade, pois
os vazios de poder deixado pelo Estado contribui diretamente para a territorialidade da
violência e da criminalidade. Por conta da facilidade que os agentes encontram para
controlar o território.
A população que reside em bairros periféricos como o Paar, encontram-se bem
mais vulneráveis á violência, devido à ineficiência da atuação do Estado, tal situação
aproxima essa população das diversas formas que violência contém, esses aprendem a
lidar com a violência como parte da realidade. Nas palavras de (ODALIA, 1983).
Ela é uma realidade com a qual se convive, uma realidade cuja
proximidade e intimidade auxiliam esquecê-la. Ela é enfrentada como
tantas outras calamidades que se enfrentam no cotidiano. Sobreviver
aí é sofrer e produzir violência[...]. A única arma contra a violência é
permitir que a promiscuidade e o hábito teçam uma rede de
conformismo que, aqui ou ali rompida, não deixam de funcionar como
falsa proteção”.
Nesse sentido a relação entre a violência e o território que estamos tratando não
se restringe ao roubo, homicídios, furtos etc. Ela está diluída no dia a dia, passando
despercebida, a brutalidade é a violência dos fracos, é que a violência dos poderosos é
calma, fria, segura de si mesma, suas técnicas de opressão são discretas, refinadas, e
enfim, terrivelmente eficazes (MORAIS, 1981).
3. TERRITÓRIOS DA VIOLÊNCIA: UMA ANÁLISE DOS ÍNDICES DE
HOMICíDIOS NO BAIRRO DO PAAR, NO ANO DE 2015.
A cidade, neste sentido, é condição, meio e resultado dos conflitos sociais que se
estabelecem ao longo do tempo, onde a violência urbana não deve ser entendida
isoladamente, a partir de uma anáise setorial e que desconsidere a história, pois não é
um fenômeno em si, mas resultado de um contexto social, historico e territorial (
CARLOS, 2007, PEDRAZZINI, 2012)
O bairro do Paar, localiza-se na cidade de Ananindeua, região metropolitana de
Belém no estado do Pará e se apresenta como uma das áreas que possuem os mais
elevados índices de criminalidade, como o mais violento a vida humana – o homicidio.
O processo de produção do espaço urbano de Ananindeua muito se confunde com o de
Belém, tendo em vista que suas terras pertenciam a circuscrinção do antigo território da
cidade, além de constiuir a região metropolita belemense.
A cidada do fazer parte da região metropolitiana de Belém, passou a receber
muitos investimentos, sobretudo os de cunho industriail, sustentados pelo governo
federal. Assim, conjuntos habitacionais foram criados, atraindo um grande contigente
populacional, porém, tais conjuntos não eram suficientes a toda população. Desse modo
aos arredores dos conjuntos habitacionais, formaram-se assentamentos espontaneos,
considerados por muitos como “invasões” dotados de precariedades infraestruturais,
como o saneamento, drenagem e iluminação (MELO, 2012). O bairro Paar constitui
uma das primeiras “invasões” e foi considerado por muito tempo uma das maiores do
país e da America Latina.
Sob esses espaços de desigualdades sócioespaciais, que se fazem presentes no
bairro em questão, formam-se territórios que produzem novas formas de violência e
reproduzem as existentes. A escassez do papel desempenhado pelo Estado e a existência
da pobreza, são entendidas nesta pesquisa, como “violências iniciais”, que se encontram
espacializadas e criam peculiaridades as novas formações territoriais.
O território, enquanto elemento dinâmico, não é apenas palco da ação humana,
mas agente atuante sob espaço, sobretudo utilizando-se de suas caracteriticas. Neste
sentido, a vulnerabilidade social, a precária infraestrutura urbana e a insuficiência do
Estado, criam um cenário propicío ao estabelecimento de grupos criminosos e
consequentemente das praticas criminais. Tais agentes, em especial os envolvidos com
o tráfico de drogas, utilizam-se das bases da base material e se territorializam. Sob este,
desenvolvem suas atividades ilicitas, como o da vendas de drogas, que interferem
diretamente o cotidiano da população local, principalmente por gerar a sensação de
medo e de insegurança.
Haesbaert (2014), admite que em um território, o caráter simbólico e o funcional
não se excluem, mas coexistem. Desse modo, territórios que são constituídos pela
violência e pela criminalidade, são marcados por questões indentitárias, bem como as
atreladas ao funcional. A fragilidade social existente no Paar, faz com que inúmeras
pessoas, dentre eles os jovens, busquem na criminalidade, a resposta mais rápida as
mazelas que enfrentam, criam, asssim, o sentimento de pertencimento ao espaço e ao
território.
. Além disso, é claro, a funcionalidade, fundamenta-se como uma das
prioridades dos agentes que se territorializam no bairro, a partir do instante que se
apropriam do espaço, necessitam do mesmo para produzir e se reprodzir, buscando
ainda a partir dele, sua lucratividade e fortalecimento de seu domínio.
Chagas (2014) ressalta que as áreas de desigualdades sócioespaciais são locais
propícios para o estabelecimento do território do crime, onde características como a
ilegalidade, a insuficiência da segurança pública e de bens necessários a vida, são
fatores determinantes para o estabelecimento de zonas de tensões.
A partir das pesquisas de campo e das entrevistas realizadas, percebeu-se que
um dos principais grupos envolvidos com a criminalidade no Paar, é o formado por
jovens. De acordo com os moradores, muitas pessoas entram precocemente no mundo
da criminalidade, principalmente ao se relacionar com o tráfico de drogas. De acordo
com as respostas adquiridas, muitos dos homcídios ocorridos no bairro, tinham como
vítimas, os jovens, sem trabalho ou emprego formal e que possuíam dívidas com
agentes territoriais vinculados a comercialização de drogas.
“A maioria dos casos que a gente percebe aqui no bairro, é que a
maioria das vítimas são jovens de aproximadamente, a partir de 15
anos, negros e muitas das vezes não tem acesso a estudo, a trabalho e
na maioria das vezes, na família mesmo, tem pais que é usuário de
drogas e tudo. Têm vários problemas familiares. Estão envolvidos
com assaltos, com roubos. Acho que o principal motivo dentre vários
que têm é as dívidas com os traficantes, os usuários compram as
drogas, não pagam e o traficante vai “lá” pra cobrar a divida e acaba
acontecendo isso. Também tem a rixa entre os traficantes, um
querendo tomar o lugar do outro, às vezes entre a policia e o
traficante”. [Eduardo Padilha- Morador do bairro do Paar].
A realidade apontada pelo entrevistado anterior, torna-se mais evidente, ao se
analisar os dados cedidos pela Secretaria Adjunto de Inteligência e Análise Criminal –
SIAC/SEGUP, como observamos a seguir:
Gráfico 1: Faixa etária das vítimas de homicídios no ano de 2015 no bairro do Paar.
Fonte: SIAC/SEGUP, dados referentes ao ano de 2015. Org. BORGES. R. H. M
O bairro do Paar, segundo dados da Secretaria Adjunto de Inteligência e Análise
Criminal – SIAC/SEGUP, apresentou 17 homicídios no ano de 2015. A partir da análise
das informações concedidas, tornou-se possível estabelecer um perfil que, comumente,
se apresenta entre as vítimas de tal crime, como a faixa etária, o sexo e o instrumento
que se utilizou no ato do crime.
Beato (2012) ressalta que “um dos grupos mais vulneráveis à violência, seja
como agressor, seja como vítima, são os jovens”. Desse modo, o crescimento de
homicídios, se relaciona com o envolvimento deste grupo com atividades criminosas.
As estatísticas 5 de homicídios no bairro do Paar mostram que existe o
predomínio dos índices sobre a camada mais jovem da sociedade, percebe-se, que
ocorre o envolvimento precoce com esse tipo de crime, adolescentes, jovens entre 18 e
24 anos. Em 2015, dos homicídios registrados, 24% tinham como vítimas, jovens entre
18 a 24 anos, sendo, portanto, uma das faixas etárias mais atingida. Além disso,
5Dados cedidos pela Secretaria Adjunto de Inteligência e Análise Criminal – SIAC/SEGUP.
24%
6%
17%35%
18%
18 a 24 Anos 25 a 29 Anos 30 a 34 Anos
35 a 64 Anos Não Identificado
percebe-se o predomínio do sexo masculino, representando aproximadamente 94% dos
envolvidos nos homicídios.
Ainda para Beato (2012), o retrato do crescimento dos homicídios está muito
relacionado ao fácil acesso as armas de fogo e que os estados com os mais altos índices
de homicídios, também possuem os mais elevados coeficientes de mortalidade por
armas de fogo. Dessa forma, nota-se que os índices de homicídios no bairro do Paar,
reforçam essa realidade, pois dos crimes ocorridos, 77% teve como instrumento
utilizado, armas de fogo.
Gráfico 2: Instrumentos utilizados nos homicídios no bairro do Paar -2015
Fonte: SIAC/SEGUP, dados referentes ao ano de2015. Org. BORGES. R. H. M.
77%
17%
6%
Armas de Fogo Armas Cortantes Outros Meios
Para melhor se compreender, como se dá a dinâmica de homicídios no bairro em
questão, manuseamos os dados obtidos junto às instituições já citadas, no software
QGIS (Quantum Gis). Tendo como um dos objetivos principais, a criação dos mapas de
calor, ferramentas que permitem a visualização de dados a partir da densidade de
pontos, para entender o comportamento espacial desse crime.
De maneira inicial, percebe-se que os crimes ocorridos no ano de 2015 não se
espacializam de maneira homogênea. O comportamento ou mais especificamente, a
densidade dos pontos se apresentam de formasdiferentes. Contudo, partir da análise
cartográfica é possível identificar três comportamentos principais.
No primeiro, nota-se que uma significativa parcela dos homicídios ocorridos,
localiza-se nas ruas mais afastadas das principais vias, em que se encontram os
estabelecimentos comerciais, ou seja, ocorreram nos espaços em que a precária
infraestrutura se apresenta de maneira mais intensa, o que dificulta o papel das
instituições responsáveis pela segurança pública, em especial a polícia, que é entendido
Fonte: Dados obtidos a partir das informações de Homicídios pela SIAC/SEGUP (2015).
Mapa 1: Mancha de Homicídios no Bairro do Paar – 2015
como um dos elementos responsáveis pelo crescimento dessa tipologia criminal. Assim,
tais áreas propiciam o estabelecimento de atividades ligadas à criminalidade.
O segundo comportamento apresentado, manifesta-se nas principais ruas do
bairro, que possuem os centros comerciais e as casas noturnas, que movimentam o
consumo de álcool e drogas, entendido como vetores do crime de homicídio.
No terceiro comportamento identificado, nota-se que os espaços de
proximidades a outros bairros, como o Curuçambá, Maguari e Icuí- Guajará apresentam
uma significativa parcela dos homicídios ocorridos em 2015, no Paar. Tais bairros
também apresentam elevadas taxas de criminalidade. Entende-se aqui, que tais
localidades se mostram como propícios a fuga após o cometimento do crime, o que
dificulta o trabalho policial e facilita tais praticas criminais. Além disso, os bairros
vizinhos também possuem elevadas taxas de homicídios.
Esta tipologia criminal, entendida como a mais violenta, que ameaça a vida
humana, fundamenta-se aos diversos agentes territoriais, que estabelecem os territórios
da violência e da criminalidade, como um instrumento de controle e fortalecimento do
“respeito”. Os que ameaçam os territórios e principalmente a sua funcionalidade, pagam
com a vida. Mostra-se, a partir disso, que existe uma “lei” e que deve ser respeitada
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A análise geográfica acerca da violência urbana e da criminalidade é
fundamental, pois a partir do estudo do espaço urbano, da produção das cidades e do
território, alcança-se um entendimento mais aprofundado da presente temática. O que é
necessário, diante do crescimento de tais fenômenos sociais, que geram inúmeras
mazelas sociais, dentre elas, inúmeras mortes e assolam uma grande parcela da
sociedade.
Contudo, é necessário evitar equívocos e preconceitos, como a criminalização da
pobreza e dos diversos grupos sociais que habitam os espaços de desigualdades
sócioespaciais, em que o papel desempenhado pelo estado se faz insuficiente. Não é um
objetivo dizer que tal parcela da sociedade é mais violenta do que as que residem os
espaços “nobres” da cidade. Pelo contrário, entende-se que estão mais expostas as
“violências iniciais”, como a pobreza e a miséria.
Sob as áreas de precariedades existentes no bairro do Paar, diversos agentes
sociais se territorializam, apropriando-se do espaço, criando identidades e fortalecendo
sua funcionalidade e consequentemente seu poder. Dentre eles, os grupos criminosos,
que criam verdadeiros “Territórios da violência e “Territórios da Criminalidade”, onde
possuem entre seus participantes, principalmente, a camada mais jovem do bairro, que
encontram na ilegalidade a resposta mais rápida aos problemas sociais e espaciais.
Discutir acerca dessa problemática é importante, existem diversas lacunas a
serem preenchidas e assim, a geografia é importante, além, é claro da cartografia, que
auxilia no entendimento espacial do crime de homicídio, bem como o comportamento
dos territórios em que a violência e a criminalidade se fazem presente. Para além da
acadêmica científica, o olhar geográfico e cartográfico a cerca dessa temática é
primordial ao planejamento urbano e das instituições responsáveis pela segurança
pública.
REFERÊNCIAS
BEATO F. C. C. Crimes e Cidade. Belo Horizonte. Editora UFMG, 2012.
CARLOS, A. F. A. O Espaço Urbano: Novos Escritos sobre a Cidade. São Paulo:
Labur edições, 2007
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HAESBAERT, R. Viver no limite: território e mult/ transterritorialidade em
tempos de in-segurança e contenção. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2014.
MELO A.C. Violência Urbana na Região Metropolitana de Belém-PA: no período
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SOUZA, Marcelo Lopes de. Fobópole : o medo generalizado e a militarização da
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