ser-consigo e tecnologias do eu - foucault e educação

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O SER-CONSIGOA ÉTICA EM FOUCAULT

Karla Saraiva

DA POLÍTICA PARA A ÉTICA

• História da sexualidade: pesquisas• Novas experiências de si na Califórnia• Não deixa os saberes e os poderes: complexifica a trama.• Curso de 1980: O governo dos outros• Mudanças:

– Material (Modernidade Antiguidade)– Ferramentas teóricas– Novo conjunto de conceitos– Uma nova fase não elimina as anteriores

• HS 2 e 3: O uso dos prazeres e O cuidado de si• Cursos 1981 (Subjetividade e verdade), 1982

Hermenêutica do Sujeito), 1983 (O governo de si e dos outros) e 1984 (Coragem da verdade)

Mas o que é filosofar hoje em dia – quero dizer, a atividade filosófica – se não o trabalho crítico do pensamento sobre o próprio pensamento? Se não

consistir em tentar saber de que maneira e até onde seria possível

legitimar o que já se sabe?

TRAJETO

• O governo dos vivos: Sófocles (Édipo-rei) e textos cristãos – atos de verdade (procedimentos que ligam sujeito com a verdade)

• Surgimento de práticas de confissão; obrigação de dizer a verdade sobre si

• Governo cristão: obediência e atos de verdade• Questão: outras formas de ligar-se com a verdade• Estudos dos gregos

Estoicismo (III AC – V)

Sêneca (4 AC – 65)

Clássico (VI a IV AC) Helênico (IV a I AC) Greco-romano (I AC - V)

Platão(428 -

348 AC)

Epicurismo (IV AC– I AC)

Neoplatonismo (III – IV)

CristianismoPitágoras

(571 – 497 AC)

Agostinho (354 – 430)

Epicuro (341 -

271 AC)

Cassiano (360 – 435)

Sófocles (496 –

406 AC)

Cinismo (IV AC – III)

Platonismo ( V AC – IV AC)

Tecnologias de si

• Relações do ser-consigo; relação com a verdade – sexualidade

• 4 tecnologias: produção; signos; dominação; de si• Tecnologias de si:

"permitem aos indivíduos efetuar, com seus próprios meios ou com a ajuda de outros, um certo número de operações em seus próprios

corpos, almas, pensamentos, conduta e modo de ser, de modo a transformá-los com o objetivo de alcançar um certo estado de felicidade, pureza, sabedoria, perfeição ou imortalidade" (p. 323).

Tecnologias de dominação

Tecnologias de si

Governamenta-lidade

Tecnologias de si

Epimeleisthai sautou: cuidado de si

Gnothi sauton: conhece-te a ti mesmo

• Sobrevalorização do segundo;

• Cuidado de si: assumiu um contorno imoral (transformações da moralidade – conhecer a si mesmo como renúncia de si)

Alcebíades e o cuidado de si

Para que?

Por que?

• Preparação para ingresso na vida política;• Alcebíades submete-se a Sócrates

• Sócrates mostra a insuficiência de sua educação;

Si?

• Alma;• Conhecer a si como condição para cuidar de si (exame da

alma.

Epimeleisthai sautou: cuidado de si

Época clássica (Alcebíades) Helenismo/greco-romano

Juventude Toda vida

Modelo pedagógico Médico de si

Preparação para política (vida adulta)

Realização da vida plena (ápice: velhice)

Diálogo para descobrir verdade da alma (conhecer a si; contemplar a si)

Outras estratégias: escuta do mestre (Pitágoras); escrita de si (cartas, hipomenatas); exame de consciência

Contemplativo, conhecimento Ativo, exercícios

Cuidar da alma – prática social (philia)Agir como convém

Cristianismo IV – V

• Transição da cultura pagã para cristã (emergência de uma moralidade até hoje plasmada em nós)

• Religião salvacionista• Não basta fé em Deus: transformações em si• Confessional: obrigação de dizer a verdade sobre si.

"a obediência incondicional, o exame ininterrupto e a confissão exaustiva formam,

portanto, um conjunto".

Exame de consciência

Estóicos/epicuristas Cristianismo (IV – V)

Modelo administrativo Modelo jurídico

Ajuste entre o que foi feito e o que queria realizar (escolhas)

Julgamento (obrigações)

Atos Pensamentos

Corrigir as faltas Punir as faltas (purificar)

Lembrar a verdade Buscar a verdade em si

Ascese: domínio de si (serenidade em qualquer circunstância); autonomia

Ascese: renúncia de si (salvação da alma: acesso a outra realidade)

Relação instrumental e finita com mestre

Relação de obediência e infindável com o mestre

Ênfase na subjetivação Ênfase na sujeição

Mesma prática, diferentes fins

Implicações filosóficas

• Outras possibilidades da relação do ser consigo– Antiguidade: cuidado de si– Modernidade: conhecimento de si

• Sujeito e verdade: de princípio ético para princípio científico:– Acesso à verdade pela transformação de si (sujeito da

ação reta)– Por conhecer a verdade, o sujeito se transforma (sujeito

do conhecimento verdadeiro)• Perda de espaço da ética• Constituição de si por meio de técnicas datadas

Identidade e constituição de si

• "É na imanência da história que as identidades se constituem. É também ali que elas se desfazem" (p.638)

• Estóicos: cuidado de si transforma identidades em papéis (marca a contingência das posições de sujeito)

• Foucault: quanto mais identidade, menos possibilidade de criação de si.

Implicações éticas

• Ética enquanto forma a ser dada à vida e às condutas• Ética da imanência• Individuação diferente do individualismo: singularidade

aberta para a alteridade• Privilégio da subjetivação: estética da existência• Códigos morais e relações consigo: obrigações e

escolhas• Nó:

– Ética como escolha (clássica): elitista e arrogante– Ética como obrigação (final estoicismo/cristianismo):

normalizadora e coercitiva• Moral laica plasmada pela moral cristã• Foucault: ética do escândalo (cínicos)

Implicações políticas

• Estudar a ética não significa abandonar a política• Cultura de si impõe o primado da relação consigo sobre

as outras relações• Desprendimento: ação política não como identidade , mas

como missão• Não estabelecer o que se é por meio de obrigações, mas

interrogar-se acerca do que se é para saber o que convém

• Instaura a "distância ética" na atividade política: a independência da função é o que permite o exercício adequado

• Ao priorizar a relação consigo e realizar um trabalho que permite viver aceitando o que a vida oferece, sem abalar-se com as mudanças, permite servir melhor a política.

Implicações políticas

• Implicações atuais: pensar em resistências• Foucault: três formas de luta – contra as dominações

(políticas); contra as explorações (econômicas); contra as sujeições (éticas)

• Destaque para as últimas.

"o principal objetivo destas lutas está em atacar não tanto uma ou outra instituição de poder, grupo, classe, elite, quanto uma

técnica em particular, uma forma de poder. Esta forma de poder se exerce sobre a vida cotidiana imediata, que classifica os

indivíduos em categorias, designa-os por sua individualidade própria, prende-os à sua identidade, impõe-lhes uma lei de verdade que é preciso nele se reconhecer. É essa forma de

poder que transforma os indivíduos em sujeitos"

Implicações políticas

• Poder individualizante e microfísico é mais insidioso que o macropoder de um Estado opressivo

• Ênfase no poder pastoral• Indivíduo e comunidade se opõem e se completam• Resistir às exigências comunitárias e aos direitos

individuais por meio de "escolhas da existência", "estilos de vida"

• Direitos são um modo de normalizar indivíduos• Ex: amizade como forma de vida (comunidade gay) –

além da igualdade jurídica (novas formas de vida)

Implicações políticas

"Lutar pelo reconhecimento de uma identidade verdadeira [...], manter-se na reivindicação de direitos igualitários, tudo isso lhe parece uma

maneira de cair na grande malha da instituição. Para ele, a verdadeira resistência está em outro

lugar: na invenção de uma nova ascese, uma nova ética, um novo modo [...]. Pois as práticas de si não são individuais nem comunitárias: são

relacionais e transversais"

Tecnologias do Eu e Educação Jorge Larrosa

Práticas pedagógicas como condições para produção tanto

da subjetividade, quanto da experiência de si.

Contingência das noções do que seja uma pessoa, do modo como deve se comportar e das formas

de experiência de si.

Análise da experiência de si como análise das relações do ser-consigo e das práticas

onde essas ocorrem

Tecnologias do eu: fazem os sujeitos falarem e refletirem para produzirem verdades sobre si mesmos com a finalidade do auto-governo.

Experiência de si constituída por problematizações, ou seja, pela atenção

dada a um determinado domínio material.

Dimensões da experiência de si

Ver-se Expressar-se Narrar-se Julgar-se Dominar-se

Operações para produzir e capturar um duplo de si

Entender o óbvio como contingente é compreender sua força e sua

fragilidade

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