saussure vida e obra

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LINGUISTICS

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AS DICOTOMIAS SAUSSUREANASPROF. DR. SILVIO REINOD COSTA

CENTRO UNIVERSITÁRIO “BARÃO DE MAUÁ” Ribeirão Preto – São Paulo

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SAUSSURE – BREVE BIOGRAFIA

♦ Ferdinand de Saussure (*Genebra (Suíça), 26 de novembro de 1857 – † Morges (Suíça), 22 de fevereiro de 1913).

♦ Foi um linguista e filósofo suíço, cujas elaborações teóricas propiciaram o desenvolvimento da Linguística enquanto ciência autônoma.

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♦ O pensamento de Saussure exerceu grande influência sobre o campo da Teoria da Literatura e dos Estudos Culturais.

♦ Entendia a Linguística como um ramo da ciência mais geral dos signos, que ele propôs fosse chamada de SEMIOLOGIA.

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♦ Graças aos seus estudos e ao trabalho de Leonard Bloomfield, a Linguística adquiriu autonomia, objeto e métodos próprios. Seus conceitos serviram de base para o desenvolvimento do Estruturalis-mo no século XX.

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♦ Filho de um eminente naturalista, foi introduzido aos estudos linguísticos pelo filólogo e amigo da família, Adolphe Pictet. Estudou Física e Química, mas continuou fazendo cursos de gramática grega e latina.

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♦ Por fim, Saussure convenceu-se de que sua carreira estava nos estudos da linguagem e ingressou na Sociedade Linguística de Paris.

♦ Estudou língua europeias em Leipzig e aos vinte anos publicou uma dissertação sobre o sistema primitivo nas vogais nas língua indoeuropeias, a qual foi muito bem aceita.

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♦ 1879: “Mémoire sur le primitif système des voyelles dans les langues indo-européenes”.

♦ Apesar da orientação atomística própria da corrente neogramática, Saussure inova em sua Mémoire situando o problema da reconstituição fonética do indoeuropeu sob uma perspectiva sistemática.

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♦ 1880: Tese de Doutoramento de Saussure:“De l´empoi du génitif absolu en sanskrit”.

♦ Saussure defendeu sua Tese de Doutoramento em Berlim e retornou a Paris, onde passou a ensinar Sânscrito, Gótico e Alto Alemão e depois Filologia Indoeuropeia.

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DE L´EMPLOI DU GÉNITIF ABSOLU EN SANSKRIT, publicado em Genebra, em 1881

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♦ Retornou a Genebra, onde lecionou sânscrito e linguística histórica em geral.

♦ Além de artigos de Gramática Comparada, infelizmente nada mais nos legou em vida o genial mestre genebrino.

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♦ Entre 1907 e 1910, Saussure ministrou três cursos sobre linguística na Universidade de Genebra. Em 1916, três anos após sua morte, dois de seus alunos, Charles Bally e Albert Sechehaye, com a colaboração de A. Ridlinger, compilaram as anotações de alunos que compareceram a estes cursos e editaram o Curso de Linguística Geral, livro seminal da ciência linguística.

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♦ Paralelamente ao trabalho teórico reunido no Curso, Saussure também realizou, entre 1906 e 1909, outro estudo que é comumente chamado de Os anagramas de Saussure. Nesse trabalho, o mestre genebrino perscrutou um corpus de poemas clássicos para tentar provar a existência de um mecanismo de composição poética baseado na análise fônica das palavras; mecanismo este formado pelo anagrama e pelo hipograma. O hipograma (palavra-tema) é o nome de um deus ou de um herói diluído foneticamente no poema. O anagrama, por sua vez, é o processo que propicia a diluição do hipograma nos versos.

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FERDINAND DE SAUSSURE

(* 1857 - † 1913)

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FERDINAND DE SAUSSURE

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A NATUREZA DO SIGNO LINGUÍSTICO

♦ Para Saussure, o signo é a “a união do sentido e da imagem acústica”.

♦ O que Saussure chama de “sentido” é a mesma coisa que conceito ou ideia, isto é, a representação mental de um objeto ou realidade social em que nos situamos, representação essa condicionada, plasmada pela formação sociocultural que nos cerca desde o berço.

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♦ Em outras palavras, para Saussure, conceito é sinônimo de significado, algo como a parte espiritual da palavra, sua contraparte inteligível, em oposição ao significante, que é sua parte sensível [= material].

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O SIGNO LINGUÍSTICO

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1º. PRINCÍPIO – A ARBITRARIEDADE DO SIGNO

 O laço que une o significante ao significado é arbitrário ou então, visto que entendemos por signo o total resultante da associação de um significante com um significado, podemos dizer mais simplesmente: o signo linguístico é arbitrário.

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Assim, a ideia de "mar" não está ligada por relação alguma interior à sequência de sons m-a-r que lhe serve de significante: poderia ser representada igualmente bem por outra sequência, não importa qual; como prova, temos as diferenças entre as línguas e a própria existência de línguas diferentes: o significado da palavra francesa boeuf ("boi") tem por significante b-ö-f de um lado da fronteira franco-germânica, e o-k-s (Ochs) do outro.

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  O significante, sendo de natureza auditiva, desenvolve-se no tempo, unicamente, e tem as características que toma do tempo: a) representa uma extensão, e b) essa extensão é mensurável numa só dimensão: é uma linha.

2º. PRINCÍPIO – O CARÁTER LINEAR DO SIGNIFICANTE

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 Este princípio é evidente, mas parece que sempre se negligenciou enunciá-lo, sem dúvida porque foi considerado demasiadamente simples; todavia, ele é fundamental e suas consequências são incalculáveis; sua importância é igual à da primeira lei. Todo o mecanismo da língua depende dele.

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Por oposição aos significantes visuais (sinais marítimos etc.), que podem oferecer complicações simultâneas em várias dimensões, os significantes acústicos dispõem apenas da linha do tempo; seus elementos se apresentam um após outro; formam uma cadeia. Esse caráter aparece imediatamente quando os representamos pela escrita e substituímos a sucessão do tempo pela linha espacial dos signos gráficos.

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 Em certos casos, isso não aparece com destaque. Se, por exemplo, acentuo uma sílaba, parece que acumulo num só ponto elementos significativos diferentes. Mas trata-se de uma ilusão: a sílaba e seu acento constituem apenas um ato fonatório; não existe dualidade no interior desse ato, mas somente oposições diferentes com o que se acha a seu lado.

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♦ A doutrina de Saussure baseia-se numa série de pares de distinções, atribuídas por George Mounin (1973:54) à sua “mania dicotômica”.

♦ “A linguagem é redutível a cinco ou seis dualidades ou pares de coisas”. (Saussure)

AS DICOTOMIAS SAUSSUREANAS

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♦ “(...) o fenômeno linguístico apresenta perpetuamente duas faces, que se corresponde e das quais uma não vale senão pela outra.” (Saussure, CLG, 15)

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I. LÍNGUA X FALA

♦ Esta é sua dicotomia básica e, juntamente com o par sincronia/diacronia, constitui uma das mais fecundas.

♦ Fundamentada na oposição social/individual, revelou-se com o tempo extremamente profícua.

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♦ O que é fato da língua (langue) está no campo social; o que é fato da fala ou discurso (parole) está no campo individual. Repousando sua dicotomia na Sociologia, ciência nascente e já de grande prestígio então, Saussure (p. 16) afirma e adverte ao mesmo tempo: “a linguagem tem um lado individual e um lado social, sendo impossível conceber um sem o outro”.

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A DEPREENSÃO DE LÍNGUA NO CLG A língua como acervo linguístico:

A língua é uma realidade psíquica formada de significados e imagens acústicas; “constitui-se num sistema de signos, onde, de essencial, só existe a união do sentido e da imagem acústica, onde as duas partes do signo são igualmente psíquicas” (p.23); é “um tesouro depositado pela prática da fala em todos os indivíduos pertencentes à mesma comunidade, um sistema

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gramatical que existe virtualmente em cada cérebro ou, mais exatamente, nos cérebros dum conjunto de indivíduos” (p. 21); a línguaé “uma soma de sinais depositados em cada cérebro, mais ou menos como um dicionário cujos exemplares, todos idênticos, fossem repartidos entre os indivíduos” (p. 27)

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A língua, como acervo linguístico, é “o conjunto de hábitos linguísticos que permitem a uma pessoa compreender e fazer-se compreender” (p. 92) e “as associações ratificadas pelo consentimen-to coletivo, e cujo conjunto constitui a língua, são realidades que têm sua sede no cérebro” (p. 23)

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A língua como instituição social:

Saussure considera que a língua “não está completa em nenhum indivíduo, e só na massa ela existe de modo completo” (p. 21), por isso, ela é, ao mesmo tempo, realidade psíquica e instituição social.

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Para Saussure, a língua “é, ao mesmo tempo, um produto social da faculdade da linguagem e um conjunto de convenções necessárias, adotadas pelo corpo social para permitir o exercício dessa faculdade nos indivíduos” (p. 17); “é a parte social da linguagem, exterior ao indivíduo, que, por si só, não pode nem criá-la nem modificá-la; ela não existe senão em virtude de uma espécie de contrato social estabelecido entre os membros da comunidade” (p. 22)

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A língua como realidade sistemática e funcional – conteúdo mais importante do conceito saussureano sobre língua:

A língua é, antes de tudo, “um sistema de signos distintos correspondentes a ideias distintas” (p. 18); é um código, um sistema onde, “de essencial, só existe a união do sentido e da imagem acústica” (p. 23).

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Saussure vê a língua como um objeto de “natureza homogênea” (p. 23) e que, portanto, se enquadra perfeitamente na sua definição basilar: “a língua é um sistema de signos que exprimem ideias” (p. 24)

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A FALA NO CLG

A fala, ao contrário da língua, por se constituir de atos individuais, torna-se múltipla, imprevisível, irredutível a uma pausa sistemática. Os atos linguísticos individuais são ilimitados, não formam um sistema. Os atos linguísticos sociais, bem diferentemente, formam um sistema, pela própria natureza homogênea.

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Ora, a Linguística como ciência só pode estudar aquilo que é recorrente, constante, sistemático. Os elementos da língua podem ser, quando muito, variáveis, mas jamais apresentam a inconstância, a irreverência, a heterogeneidade característica da fala, a qual, por isso mesmo, não se presta a um estudo sistemático.

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LÍNGUA X FALA:

. social . individual

. homogênea . heterogênea

. sistemática . assistemática

. abstrata . concreta

. constante . variável

. duradoura . momentânea

. conservadora . Inovadora

. virtual . real

DICOTOMIA LÍNGUA X FALA:

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LÍNGUA X FALA:

. permanente . ocasional

. supraindividual . Individual

. essencial . acidental

. psíquica . psicofísica

. instituição . práxis (ação)

. essência . existência

. potencialidade . realidade

. fato social . ato individual

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LÍNGUA X FALA:

. unidade . diversidade

. forma . substância

. produto . Produção

. indivíduo subordinado . indivíduo “senhor”

. instrumento e produto . língua em ação

da fala. sistema .

realização

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LÍNGUA X FALA:

. adotada pela comunidade . surge no indivíduo

. potencialidade ativa . faz evoluir a língua

de produzir a fala. necessária para a inteligi- . necessária

para que abilidade e execução da fala língua se

estabeleça. 1 + 1´+ 1´´...= I . 1 + 1

´+ 1´´+... . competência .

desempenho

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II. SINCRONIA X DIACRONIA

Segunda dicotomia saussureana, acolhida amplamente pela Linguística moderna, principalmente pelos norte-americanos, preocupados em não introduzir considerações históricas na descrição de um estado de língua.

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Para Saussure, é indispensável, em Linguística, como em todas as demais ciências, se distingam os fenômenos de duas maneiras: 1º.) do ponto de vista de sua configuração sobre o eixo AB das simultaneidades (“relações entre coisas coexistentes”), excluindo-se qualquer consideração de tempo; 2º.) de acordo com a posição do fenômeno sobre o eixo CD das

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sucessividades, no qual cada coisa deve ser considerada por si mesma, sem esquecer, contudo, que todos os fatos do primeiro eixo aí se situam com suas respectivas transformações. A figura que segue aparece à página 95 do CLG:

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A B

C

D

AB = sincroniaCD = diacronia

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Para Saussure, sincronia, está para um “estado de língua”, assim como diacronia para uma “fase de evolução” (CLG, p. 96). Optando pela primeira, e rejeitando igualmente a síntese pancrônica, invoca que “a multiplicidade dos signos da língua nos impede absolutamente de estudar- -lhe, ao mesmo tempo, as relações no tempo e no sistema” (CLG, p. 96).

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DICOTOMIA SINCRONIA X DIACRONIA:

SINCRONIA X DIACRONIA:

. estática . evolutiva

. descritiva . prospectiva e retrospectiva

. Gramática Geral . Gramática Histórica

. interessa-se pelo . interessa-se pelas evolu-

sistema ções e suas causas

. faz descrições . apoia-se em descrições

sincrônicas sincrônicas

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SINCRONIA X DIACRONIA:

. descreve estados de . descreve fenômenos evo-

língua e suas relações lutivos individuais

. abstrai o tempo . leva em conta o tempo

. trata de fatos simul- . trata de fatos sucessivos

tâneos. estuda fatos que formam . estuda fatos

que nãosistema entre si formam

sistema entre si

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SINCRONIA X DIACRONIA:

. estuda o modo como . estuda o processo de evo-a língua funciona lução da língua. preocupa-se com . preocupa-se com

evoluçãofuncionamento. syn (simultaneidade) + . diá (movimento através khrónos (tempo) de) + khrónos (tempo) . descreve um determinado . Confronta estados dife-estado de uma mesma rentes de uma

mesma língua língua

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SINCRONIA X DIACRONIA:

. estruturalismo . atomismo

. parte . todo

. relação . fato

. descrição . explicação

. funcionamento . evolução

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III. SINTAGMA X PARADIGMA

♦ Para Saussure, tudo na sincronia se prende a dois eixos: o eixo associativo (= paradigmático) e o sintagmático.

♦ As relações sintagmáticas baseiam-se no caráter linear do signo linguístico, “que exclui a possibilidade de [se] pronunciar dois elementos ao mesmo tempo” (CLG, 142)

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♦ A língua é formada de elementos que se sucedem um após o outro lineramente, isto é, “na cadeia da fala” (CLG, 142). À relação entre esses elementos Saussure (p. 142) chama de sintagma:

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♦ O sintagma se compõe sempre de duas ou mais unidades consecutivas: re-ler, contra todos, a vida humana, Deus é bom, se fizer bom tempo, sairemos etc.

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♦ O sintagma, segundo Saussure (p. 114):

a noção de sintagma se aplica não só às palavras, mas aos grupos de palavras, às unidades complexas de toda dimensão e de toda espécie (palavras compostas, derivadas, membros de frases, frases inteiras).

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É o princípio da linearidade do significante que possibilita a realização do sintagma, a partir da combinação de elementos que contrastam entre si na cadeia da fala. Esse contraste ocorre entre unidades do mesmo nível, isto é, um fonema contrasta com outros fonemas, um morfema contrasta com outros morfemas, e um termo da oração, com outro termo da oração, formando, desse modo, o chamado contexto linguístico.

RELAÇÕES SINTAGMÁTICAS NA LÍNGUA PORTUGUESA

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SINTAGMÁTICAS X PARADIGMÁTICAS:

. base: sintagma . base: paradigma

. na frase . no sistema

. realidade . potencialidade

. contraste . oposição

. oposição contrastiva . oposição distintiva

. in praesentia . in absentia

. valor por contraste . valor por oposição a ter-

com os termos presentes mos ausentes

RELAÇÕES SINTAGMÁTICAS X PARADIGMÁTICAS

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SINTAGMÁTICAS X PARADIGMÁTICAS:

. baseiam-se na linearida- . situam-se na memória

de do significante do falante . combinação . seleção. metonímia . metáfora

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Oposição Distintiva e Oposição Contrastiva

Podemos esquematizar figurativamente os dois eixos, paradigmático e sintagmático, assim:

oposição contrastiva

op

osiç

ão

dis

tin

tiva

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RELAÇÕES PARADIGMÁTICAS

Relações

Paradigmáticas

plano da expressão (ste) oposições fonológicas

plano da expressão (sdo)

gramaticais

lexicais nomes e verbos cam-pos semânticos

declinações conjugaçõesafixosdesinênciasartigospreposiçõespronomesadvérbiosconjunções

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REFERÊNCIAS

CARVALHO, Castelar de. Para compreender Saussure: fundamentos e visão crítica. 11. ed. corrigida. Rio de Janeiro: Vozes, 1997.

http://lacan.orgfree.com/textosvariados/saussurenaturezadosigno.htm Acessado em 20/10/2011 - 21h:08min

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