responsabilidade civil por dano ambiental
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8/12/2019 Responsabilidade Civil Por Dano Ambiental
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Instituto de Ciências Jurídico-Políticas
Associação Portuguesa para o Direito do Ambiente
Instituto Lusíada para o Direito do Ambiente
ACTAS DO COLÓQUIOA responsabilidade civil por dano ambiental
Faculdade de Direito de LisboaDias 1! 1" e #$ de %o&embro de #$$"
'rgani(ação de Carla Amado )omes e *iago AntunesCom o patrocínio da Fundação Luso-Americana para o Desen&ol&imento
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+dição,
Instituto de Ciências Jurídico-Políticas
www.ic!.!t
aio de $%%
Faculdade de Direito de Lisboa
Alameda da .niversidade/0#-%0 Lisboa
"-#ail$ ic!%&d.ul.!t
ISBN: 978-989-97410-0-3ISBN: 978-989-97410-0-3
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'OTA D" AP("S"'TA)*O
' DL 012$%%!" de $# de Jun3o veio regular o regime de prevenção ereparação do dano ecol4gico no ordenamento 5urídico português6
Cientes da novidade e comple7idade deste novo diploma" decidimos abrir are8le7ão 9 comunidade acad:mica" promovendo três dias de col4;uio sobreo tema6
' encontro teve lugar da Faculdade de Direito de Lisboa" nos dias !" # e $%de &ovembro de $%%#" sob a :gide de três entidades, o Instituto de CiênciasJurídico-Políticas" a Associação portuguesa para o Direito do Ambiente e o
Instituto Lusíada de Direito do Ambiente6 ' patrocínio da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento 8oi decisivo para tornar o ;ue parecia umson3o numa realidade6 A;ui se dei7a uma palavra de agradecimento muitoespecial ao Dr6 <ui ac3ete" pelo empen3o e carin3o ;ue dedicou 9iniciativa6
' apoio da Fundação Luso Americana 8oi 8undamental sobretudo no plano do8inanciamento da vinda de v=rios especialistas estrangeiros" cu5as intervenç>espermitiram conte7tuali(ar o debate num cen=rio mais vasto6 Pela suadisponibilidade para se deslocarem a Lisboa" tamb:m aos Pro8essores Lud?ig
@rmer" Jesus Jordano Fraga" )illes artin" +cB3ard <e3binder" +dit3 ro?neiss e <ubens orato Leite dei7amos uma nota de gratidão6
Pela ;ualidade das intervenç>es e pelo entusiasmo ;ue elas provocaram naaudiência" mais um agradecimento : devido a todos os oradores6 's seuscontributos 8icam agora reunidos nesta publicação digital" ;ue se pretendeten3a a mais ampla di8usão pela comunidade de utili(adores6
Ao pEblico ;ue durante três dias constantemente alimentou o debate dei7a-se um agradecimento 8inal e o compromisso de continuarmos a pensar"
con5untamente" o Direito do Ambiente6
Lisboa" Abril de $%%
's organi(adores"
Carla Amado Gomes
Tiago Antunes
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+'DIC"
As!ectos ,ticos da res!onsailidade aientalaria da )l4ria Dias )arcia
A res!onsailidade ci/il !or danos causados ao aiente
Luís ene(es Leitão
T0e Directi/e 1223456 on en/ironental liailit7 8 use&ul9
Lud?ig @rmer
O dano oral aiental di&uso$ conceitua:;o< classi&ica:;o e uris!rudênciarasileira
Jos: <ubens orato Leite
O !rincí!io do !oluidor !a=ador coo !rincí!io nuclear da res!onsailidadeaiental no direito euro!eu
aria Ale7andra Aragão
Da nature>a urídica da res!onsailidade aiental
*iago Antunes
De ?ue &alaos ?uando &alaos de dano aiental9 Direito< entiras e crítica
Carla Amado )omes
A !ro/a do ne@o de causalidade na lei da res!onsailidade aiental
Ana Perestrelo de 'liveira
As edidas de re!ara:;o de danos aientais no ito do re=ie urídico
da res!onsailidade !or danos aientais 8 u estudo da co!onente!rocediental
<ui Lanceiro
A restaura:;o natural no no/o (e=ie Jurídico de (es!onsailidade Ci/il !orDanos Aientais
eloisa 'liveira
As!ectos contenciosos da e&ecti/a:;o da res!onsailidade aiental 8 A?uest;o da le=itiidade< e es!ecial
Jos: +duardo Figueiredo Dias
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P("SSUPOSTOS BTICOS DA ("SPO'SAILIDAD" A#I"'TAL
I. &o anEncio da c:lebre marca de rel4gios PateB P3ilippe" por muitosconsiderada o <olls-<oGce dos rel4gios" pode ler-se,
H&ingu:m : verdadeiramente propriet=rio de um PateB P3ilippe6 Limita-se aconserv=-lo para a geração seguinte' marBeting acentua a e7celência do medidor do tempo 8a(endo apelo 9
eternidade do bem ;ue o 5usti8ica tempoK e con8erindo um novo conteEdo
ao título de propriedade de ;uem" em cada momento" o det:m6 ale por
di(er ;ue : tal a ;ualidade do rel4gio ;ue este se con8unde com o tempo ;ue
visa medir" ad;uirindo as ;ualidades deste" concretamente a eternidade" e"ao ad;uiri-la" e7ige do propriet=rio particulares cautelas" a 8im de a
salvaguardar6
' tradicional acervo de poderes ;ue integra o direito de propriedade" nos
;uais se inclui" no limite" o pr4prio poder de destruição do bem M os romanos
8alavam em direito de usar" 8ruir e abusar ius utendi" 8ruendi et abutendiK M" :
menospre(ado e" em sua substituição" aparece um con5unto de
poderes2deveres ;ue descaracteri(am o direito de propriedade6 *udo em
ra(ão da e7celência do rel4gio6 Nuem o possui tem de cumprir um dever" um
dever estreitamente ligado a um valor geracional" ;ue" por isso de ser
geracional" ultrapassa o tempo de vida de ;uem o cumpre" en;uanto aspira a
;ue o rel4gio se5a eterno6 +sse dever : o dever de cuidado" o dever de
conservar o PateB P3ilippe com o ob5ectivo de o transmitir" com a e7celência
;ue o caracteri(a" ao novo possuidor da geração ;ue se segue6
Façamos agora o e7ercício de substituir" no anEncio mencionado" PateBP3ilippe por *erra" 5= ;ue" supon3o" estamos todos de acordo ;uanto a este
ponto de partida, a *erra : um bem ;ue" pelas suas ;ualidades intrínsecas" de
suporte de vida" urge salvaguardar6 *eremos" então" o seguinte,
H&ingu:m : verdadeiramente propriet=rio da *erra6 Limita-se a conserv=-lapara a geração seguinte6
' ;ue 8i(emos não tradu( uma pura troca de palavras6 O muito mais do ;ue
isso6 Por;uê Pois por v=rias ra(>es6 +m primeiro lugar" por;ue ao substituirPateB P3ilippe por *erra" 9 alteração terminol4gica acresce uma
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comple7idade imensa ;ue resulta" al:m do mais" de o rel4gio ser um
instrumento t:cnico preciso" 8ruto do 3omem e do seu engen3o" ao passo ;ue
a *erra e7iste como sustent=culo de vida do omem" não sendo produto do
seu labor6 J= e7istia antes dele e" apesar de o omem ter desenvolvido ao
longo dos tempos os seus con3ecimentos sobre ela e ter aguçado a sua
inteligência para mel3or a entender" escapa-l3e ainda muito do seu
8uncionamento6 +m segundo lugar" por;ue a re8erida alteração na 8rase do
anEncio encerra um comple7o problema de compreensão"
conse;uentemente um problema de nature(a cultural6 +sse problema di(
respeito 9 relação do omem M de todos e cada um de n4s M" com a cultura
de ;ue cada um : possuidor" com a;uele bem ;ue : o seu suporte de vida6
At: 3= pouco tempo" essa relação era entendida como uma relação de
domínio" de base utilitarista, a *erra ao serviço do omem" de cada 3omem"
no uso da sua liberdade" e" no limite" uma relação ;ue divide e 8ragmenta6
as não : esse o sentido sub5acente 9 8rase do anEncio ;ue adulter=mos6 '
;ue nela est= em causa : uma mudança ;ualitativa" estruturante" da
compreensão da relação do omem com o local onde 3abita6 *rata-se agora
de uma relação ;ue tende a unir os 3omens" todos e cada um" pela8inalidade da acção ;ue passa a ser Enica, conservar a *erra para as
geraç>es vindouras6 O assim uma relação nova" 8eita do e7ercício de poderes
e do cumprimento de deveres" 8uncionali(ados todos pelo 8im ;ue l3es preside"
mas desdobrados" perante o pr4prio ;ue age" perante os outros" presentes e
8uturos" e perante a pr4pria *erra" poderes e deveres entendidos e
materiali(ados culturalmente6 *rata-se de um problema di8ícil" a demandar
es8orço e a e7igir re8le7ão6
Assim a capacidade de o compreender não nos 8alte e o tempo desta
intervenção o permita6
II. As mEltiplas inovaç>es tecnol4gicas ;ue 3o5e pertencem ao ;uotidiano
trans8ormam" modi8icam" alteram o espaço geogr=8ico" em todas as escalas M
local" nacional" global6 PA.L I<ILI'" 8il4so8o 8rancês ;ue ao tema temdedicado o mel3or da sua atenção" a8irma ;ue os motores a vapor" primeiro"
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os motores de e7plosão" depois" os motores el:ctricos" de seguida" o 8oguete e
conse;uente sateli(ação" mais tarde" e" recentemente" o motor da
in8orm=tica" se" de um lado" são a e7pressão de um crescimento civili(acional
;ue tende para o in8inito" de outro criaram a;uilo ;ue designou por
Htecnici(ação do territ4rio6
A Htecnici(ação do territ4rio pretende tradu(ir a realidade ;ue actualmente
se vive" concretamente a realidade de um espaço territorial cada ve( mais
mecani(ado" no ;ual 8oram introdu(idas pro8undas alteraç>es no modo de
produ(ir" bem como nas 8ormas de circulação e de consumo do espaço6 Com
a agravante de se ter acelerado a velocidade das alteraç>es" sem ;ue o
controlo das conse;uências dessas alteraç>es as ten3a acompan3ado" com
idêntica velocidade6
Com e8eito" se temos a t:cnica capa( de construir o instrumento ;ue mede e
controla a relação do omem com o tempo" na sua progressão 8utura"
materiali(ada no rel4gio" não temos ainda a t:cnica capa( de controlar a
relação do omem com o espaço ;ue 3abita e : seu suporte de vida" atrav:s
de um instrumento ;ue meça" em permanência" a capacidade de vida na
*erra" ;ual;uer ;ue se5a o ecossistema a ;ue se diri5a6 'ra" sem esse
instrumento" o omem não tem indicadores ;ue l3e permitam a8erir a
ade;uação dos seus comportamentos 9 re8erida capacidade de vida" tal
como" atrav:s do rel4gio" o omem ade;ua os seus comportamentos 9s
8inalidades ;ue se prop>e atingir" em ra(ão do tempo ;ue cada
comportamento e7ige6
&ão est= em causa medir a distQncia geogr=8ica nem identi8icar os elementos
;ue comp>em os diversos bens ambientais" nem con3ecer a e7istência de
di8erenças nos mEltiplos condicionantes dos suportes de vida6 ' ;ue est= em
causa :" tão-somente" avaliar a inter8erência comportamental do omem M
todos e cada um M na capacidade de vida na *erra6 +" para 8a(er essa
avaliação" não temos ;ual;uer instrumento6
' dram=tico" por:m" : ;ue 3= a percepção e" mesmo" o con3ecimento
cientí8ico" de ;ue as mEltiplas inovaç>es tecnol4gicas" em especial" osdi8erentes motores descobertos ao longo da ist4ria" alteraram e continuam a
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alterar" para al:m de outros 8actores ;ue nos transcendem" o espaço
geogr=8ico e a sua envolvente" e o estão a consumir lentamente6
Perante o Hcrescimento in8inito com ;ue a cultura ocidental moldou" at: 3=poucos anos" a sua 8orma de viver" uma 8orma de viver ;ue tende a
comprometer o 8uturo de todos" sabemos somente ;ue : necess=rio agir6 +
agir rapidamente" com urgência" o ;ue signi8ica ;ue a acção se trans8ormou
na prossecução de um interesse pEblico e de um interesse pEblico
8undamental6 as 8alta-nos o meio de identi8icar" com segurança" a
oportunidade de cada acção" o seu e7acto conteEdo" a sua intensidade e o
tempo de duração de cada acção capa( de alcançar" caso a caso" as
8inalidades pr:-determinadas6 +" não 3avendo essa segurança" os poderes e
deveres de ;uem 3abita" em cada momento" a *erra e nessa medida dela se
apropria" consumindo-a" têm di8iculdade em se con8igurar ou em 8i7ar os seus
contornos6
Com o ;ue 8ica identi8icado o problema 5urídico do nosso relacionamento
com a *erra en;uanto suporte de vida6 &ão 3avendo con3ecimento cientí8ico
e t:cnico sobre as e7actas conse;uências de cada comportamento 3umano"
torna-se di8ícil de8inir" com rigor" poderes e deveres" impor comportamentos"
toler=-los ou proibi-los6
Acresce ;ue 9 incerte(a resultante da ausência do instrumento capa( de
medir a capacidade de vida na *erra se 5unta a incerte(a decorrente da
tradicional multiplicação de títulos 5urídicos" bem como a 8alta de
uni8ormidade dos respectivos conteEdos" em regra 8uncionali(ados a
ob5ectivos individualistas" títulos ;ue recaem sobre recursos naturais e" em
geral" sobre o espaço geogr=8ico e os bens capa(es de nele inter8erirem6 'ra
;ual;uer destas realidades potencia o dese;uilíbrio da relação entre o tempo"
onde os seres gan3am vida e a usu8ruem" e o espaço em ;ue esse tempo se
espraia en;uanto se dilui6 'u" porventura mais do ;ue isso" estas incerte(as
estão a gerar o receio de ;ue a relação do omem com a *erra se e7tinga" a
pra(o6
O neste cen=rio de Htecnici(ação do territ4rio de ;ue 8ala PA.L I<ILI'"proporcionado pela sucessiva intervenção de sempre renovados motores e
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t:cnicas" mas de ausência da;uela ;ue permite avaliar e medir a
capacidade de vida na *erra" ;ue se situa esta re8le7ão6 ' ob5ectivo reside
agora em saber" 8a(endo apelo 9 capacidade de con3ecer e de inovar do
omem" como de8inir os comportamentos ;ue conservem a *erra para as
geraç>es 8uturas6 Por;ue parece 3o5e evidente ;ue Hningu:m :
verdadeiramente propriet=rio da *erra6 Limita-se a conserv=-la para as
geraç>es 8uturas6 Por outras palavras" parece claro" no plano sociol4gico" ;ue
precisamos mais de eternidade do ;ue de crescimento in8inito6
III. Depois deste primeiro passo de compreensão do problema ;ue a;ui noscongrega" prossigamos para um segundo6 +ste novo passo obriga-nos a
retomar a a8irmação da bi4loga marítima <AC+L CA<LR'&, Htudo est= ligado
a tudo everGt3ing is connected ?it3 everGt3ingK6
&os 5= longín;uos anos sessenta do s:culo passado" a a8irmação de <AC+L
CA<LR'& 8oi" simultaneamente" uma surpresa e o recon3ecimento de uma
verdade simples" compreendida por todos sem grandes e7plicaç>es
adicionais6 as" tal como no conto de ans C<IR*IA& A&D+<R+&" H' 8atonovo do rei" em ;ue a a8irmação de uma verdade dita por uma criança M Ho
rei vai nu M criou pasmo e admiração mas determinou a revolução" assim
tamb:m a a8irmação da bi4loga marítima" na sua simplicidade" implicou um
volte-8ace" um ;uebrar de rotinas" um remar contra interesses instalados6 +n8im"
deu início a uma revolução social de Qmbito global" centrada na 8orma como
o omem se relaciona com o ambiente ;ue o cerca" com a *erra onde 3abita
e : 8onte de vida6
Desta a8irmação retiraram-se inEmeras conse;uências6 Ralientaremos a;ui
somente três" importantes para a compreensão da mat:ria de ;ue tratamos6
+m primeiro lugar" se tudo est= ligado a tudo" resulta não poder mais o omem
a8irmar" com 9 vontade" ser sen3or dos seus actos6 *udo por;ue estes" nas
repercuss>es ;ue determinam sobre a nature(a em geral e sobre os bens com
;ue se con8rontam" em particular" são geradores de conse;uências ;ue não
podem prever" conse;uências susceptíveis de inter8erirem na cadeia de vida6
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A decisão de agir" ;ue sub5a( a cada comportamento" ao dar origem 9
acção" desencadeia um con5unto de 8en4menos e cone7>es ;ue ;uem
decide não domina6 H*udo est= dependente de tudo tem o sentido de
apontar para um 8ei7e de comple7idades determinadas pela acção
individual" comple7idades ;ue impedem se continue a 8alar" sem mais" em
Hpoder de domínio6 Ao omem escapa" porventura" o essencial da acção
para ;ue esta impli;ue Hpoder ou domínio6
Isto signi8ica" sob outra perspectiva" ;ue retoma a ideia apresentada antes"
;ue a decisão de agir est= envolta num manto de ignorQncia6 Nuando
decidimos actuar" descon3ecemos com precisão ou com ra(o=vel grau de
precisão" a plenitude das conse;uências desse actuar6 +" como vimos
tamb:m" o dram=tico desta ignorQncia reside no 8acto de ela conter o
decisivo sobre o ;ue gostaríamos de saber" concretamente em ;ue medida
esses actos inter8erem ou trans8ormam a cadeia de vida6 's romanos di(iam" e
n4s repetíamos at: 3= bem pouco tempo" H8aça-se 5ustiça mesmo ;ue o
mundo pereçaS 8iat 5ustitia" pereat mundusK" tudo para acentuar" atrav:s do
simbolismo" a importQncia da acção 5usta" sabendo" no entanto" ;ue o mundo
não era mais do ;ue um espaço renov=vel numa totalidade imperecível6 o5e"por:m" a a8irmação perdeu o sentido simb4lico" e nem como ret4rica se pode
continuar a repetir" uma ve( ;ue se sabe ;ue o mundo pode mesmo e7tinguir-
se com a acção 3umana" 5usta ou in5usta A&R J'&ARK6
Acresce ;ue" se tudo depende de tudo" então a incerte(a convive com a
nossa capacidade de decidir6 Aprender a lidar com a incerte(a" a conviver
com ela" : a conse;uência" 5= ;ue" na mEtua interligação dos bens e nas
sinergias ;ue l3es estão associadas" vai um sentido de novidade ;ue o
con3ecimento 3umano não abarca6 'ra a incerte(a : um re8erente
particularmente di8ícil de incorporar no direito" 5= ;ue este se assume
precisamente como realidade cultural portadora de segurança e pa(6
as mais6 +m segundo lugar" se tudo depende de tudo" então os
comportamentos individuais ad;uirem uma dimensão colectiva6 T solidão da
decisão segue-se a dimensão colectiva das suas conse;uências" ;ue passam
a andar 9 solta entre os 3omens e pela *erra" tal como os dons guardados na
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cai7a de Pandora6 A<IR*U*+L+R" com a sabedoria ;ue o caracteri(a" lembrou
;ue o omem 8oi 8eito para viver em sociedade e ;ue" so(in3o" ou : um deus
ou um bruto6 as 8oram precisos vinte e cinco s:culos para recon3ecer a
comple7a teia de ligaç>es ;ue naturalmente une os 3omens" de modo
indissolEvel" pelas conse;uências dos comportamentos e" porventura mais do
;ue isso" a nature(a 3olística desse relacionamento6 Longe vai a polis
aristot:lica" lugar privilegiado do 3omem ;ue ;uer ser 8eli( e trabal3a para o
bem comum6 +m seu lugar" surge a aldeia global" ;ual *orre de abel" na ;ual
o omem" Ho mesmo em toda a parte" se pro5ecta de modo di8erente" 5= ;ue
Hs4 vem ao ser de si pr4prio pela compreensão ;ue de si culturalmente
constitui Ant4nio Castan3eira &evesK6 ' ;ue tudo condu( a umentrecru(amento de comportamentos culturalmente en8ormados"
complementares uns" paralelos outros" antag4nicos outros ainda"
potenciando-se" en8ra;uecendo-se" eliminando-se mutuamente" nas
di8erenças ;ue os caracteri(am6
Finalmente" em terceiro lugar" tudo depende de tudo : uma a8irmação com
conse;uências políticas pro8undas" 5= ;ue 8a( cair 8ronteiras políticas e muros
sociais6 Com o ;ue o apelo 9 casa comum ;ue : a *erra implica a diluição dasoberania nacional ;ue" desde J+A& 'DI& e a construção do +stado
moderno ap4s o *ratado de este8=lia /0!K" 8oi o re8erente primeiro não s4
do poder dos +stados e7ercido internamente" como o poder dos +stados se
interrelacionarem autonomamente e de modo independente6
Perda de domínio sobre os bens" em ra(ão da ignorQncia sobre as
conse;uências dos comportamentos" geradora de incerte(a ;uanto ao 8uturo"
de um lado" a;uisição de dimensão colectiva por parte da acção individual"
de outro" e esboroamento da soberania estadual" de outro ainda" estas as
conse;uências revolucion=rias da veri8icação dessa verdade simples" tão
vel3a ;uanto a pr4pria *erra" ;ue <AC+L CA<LR'& enunciou, HeverGt3ing is
connected ?it3 everGt3ing6
I. Focando a atenção no esboroamento da soberania estadual" não 8altamAutores ;ue se interrogam sobre se não ser= necess=rio abandonar o conceito
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e a ideia de +stado +I@' FA+<K" os ;ue a8irmam ;ue o +stado oderno 5=
não e7iste 'LF)A&) <+I&'LDK" os ;ue perguntam Hpara ;uê 8alar ainda
de +stado P+*+< RALADI&K" ou ainda os ;ue a8irmam 3aver uma
incompatibilidade entre globali(ação e +stados soberanos *'AR +R*I&)K6
+ 3= mesmo os ;ue asseveram ;ue o +stado nacional 5= não garante 3o5e a
pa(" a liberdade" a segurança" a de8esa dos direitos 3umanos" a protecção
ambiental J.LIA&&+ @'@'**K6 .ma coisa parece" no entanto" certa, se ao
omem se não recon3ece o domínio sobre os seus actos" e este tem
di8iculdade em corresponder ao apelo de conservar a *erra para as geraç>es
8uturas" ao +stado ou aos +stados" isoladamente considerados" tão-pouco se
l3es recon3ece a capacidade de assumirem a tare8a de conservação da*erra para as pr47imas geraç>es6 +nvolve-os a mesma incerte(a, a de
ignorarem as conse;uências da acção6 A&R J'&AR" o 8il4so8o da
responsabilidade pelo 8uturo" leva mais longe o raciocínio para concluir ;ue o
problema" 3o5e" não : tanto o de estreitar a ignorQncia" mas muito mais o de
aprender a lidar com a ignorQncia e com a incerte(a ;ue gera" 5= ;ue" a partir
de agora" não vai dei7ar de nos acompan3ar6
&ão admira" por isso" ;ue os +stados se5am 8orçados a alterar o modo dee7ercer o poder" abandonando 8ormas impositivas" ligadas 9 soberania
tradicional M impor a de8inição legal estrita de comportamentos pode condu(ir
a resultados não dese5ados M" e passando a 8ormas mais 8le7íveis so8tK" de
acordo com princípios gerais" ligadas a um poder novo" distinto do poder
legislativo" e7ecutivo ou 5udicial" o poder de governance" a ;ue costumo
c3amar poder de governança6 *rata-se de um poder assente na liberdade
dos cidadãos" na sua capacidade de inovar" e tradu( a capacidade deestimular ou incentivar os cidadãos a agir +stado IncentivadorK" de orientar as
suas mEltiplas acç>es" introdu(indo nelas coerência +stado 'rientadorK ou
mesmo" de as promover +stado Activo ou +stado PropulsorK" e7ercendo uma
acção de pilotagem em ra(ão dos standards ou indicadores ;ue a
comunidade ou as comunidades" cientí8icas e políticas" a nível global" agindo
em redeK l3e vão" em cada momento" transmitindo6 +stou a pensar nas
campan3as estaduais de sensibili(ação para a necessidade de 8a(er selecção
de li7os ou para utili(ar os transportes pEblicos" no apelo ao mecenato
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Actas do Colóquio – A responsabilidade Civil por dano ambiental
ambiental e 9 criação de bene8ícios 8iscais 9s empresas ;ue usem tecnologias
limpas" nas campan3as ;ue incentivam o uso de energias alternativas ou ;ue
alertam para o gasto e7cessivo de energia" e tantas outras mais6
Rub5acente a esta mudança no e7ercício do poder est= o recon3ecimento da
impossibilidade de" so(in3os" os +stados empreenderem a gigantesca tare8a
de conservar a *erra para as geraç>es vindouras" o recon3ecimento da
comple7idade e7trema da realidade" das mEltiplas cone7>es a ;ue estão
su5eitos tais problemas" mas" sobretudo" o recon3ecimento de ;ue" sendo
incerta a de8inição da mel3or 8orma de agir" essa de8inição tem de se ir
construindo na realidade" de modo coerente e concertado6 Incentivar os
cidadãos a usar a sua liberdade" prover o acesso 8=cil de todos 9 in8ormação"
estimular a investigação cientí8ica" premiar a inovação" contribuir para a
con8ormação de standards ou indicadores da acção tradu( uma mudança
;ualitativa essencial do +stado ;ue ;uer corresponder aos desa8ios do s:culo6
as" se assim :" este novo paradigma de +stado envolve" então" uma
renovação da democracia" atrav:s do apro8undamento da democracia
participativa para ;ue" desde logo" o artigo $V da Constituição da <epEblica
Portuguesa aponta6 ' ;ue não : de estran3ar" 5= ;ue" tendo n4s veri8icado
;ue a ;uestão ecol4gica ou a ;uestão ;ue envolve o relacionamento do
omem com a *erra" a nossa casa comum e nosso suporte de vida" : tamb:m
uma ;uestão de ignorQncia ou descon3ecimento sobre a acção" a
democracia representativa" tal como tem vindo a ser e7ercida at: agora" tem
decerto s:rias di8iculdades em se 8irmar6 O ;ue os regimes democr=ticos se
baseiam na transparência de procedimentos" na correcta percepção de
propostas" na evidência das soluç>es6 'ra" se concluímos ;ue 3= ignorQncia"
se o nosso destino" como a8irmou A&R J'&AR" : a incerte(a sobre o modo de
agir" teremos de concluir ;ue os programas partid=rios construídos neste
;uadro" e presentes ao eleitorado" não serão mais do ;ue 84rmulas va(ias" e o
voto nas eleiç>es um c3e;ue em branco capa( de receber ;ual;uer
conteEdo6
A resposta aos angustiantes e prementes problemas ;ue o nosso
relacionamento com a *erra envolve" neste dealbar do s:culo WWI" gan3a
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consistência e operacionalidade se o seu en8o;ue mantiver a dimensão em
;ue tais problemas se geraram6 ale por di(er ;ue a vivência comunit=ria ;ue
se imp>e construir" em densa 8iligrana" se enri;uece com a interligação de
saberes das di8erentes ciências e de saberes de pro7imidade ao lugar" nas
di8erenças e especi8icidades ;ue mutuamente se completam" 5= ;ue" como
@A<L P'PP+< a8irmou no emblem=tico te7to HA sociedade aberta" H666o
camin3o da 3umanidade666 implica um salto no descon3ecido" na incerte(a"
na insegurança" implica recorrer 9 ra(ão como meio de planear" o mel3or ;ue
soubermos" a nossa segurança e a nossa liberdade6 O este Hsalto no
descon3ecido" na insegurança" de ;ue 8ala @A<L P'PP+<" ;ue se imp>e dar"
recorrendo" como ele invoca" 9 ra(ão" como 8orma de mel3or nos garantirmosem liberdade" 8a(endo apelo não tanto a um direito ;ue est= dito mas a um
direito ;ue se vai culturalmente di(endo" com o contributo de todos" nas suas
irremedi=veis di8erenças +A&.+L L+I&ARK6
+m suma" o +stado ;ue ;uiser continuar a ser de Direito" tem de volver-se em
+stado Incentivador" +stado Propulsor" +stado Activo" +stado 'rientador"
reinventando o seu relacionamento com os cidadãos" mais in8ormados e mais
participativos" no sentido de uma democracia ;ue alia a representatividade 9nature(a participativa6 ' ;ue não signi8ica ;ue" nessa reinvenção" se
abandone a 8unção de garantia do +stado6 Pelo contr=rio6 +la deve" mesmo"
ser re8orçada" desde logo en;uanto garantia contra perigos" contra a
a8ectação de direitos 8undamentais" contra os ;ue pon3am a vida em risco M
daí tamb:m a necessidade de acentuar a 8aceta garantística do +stado
+stado )arantidorK6
Con8ormado pela ist4ria e pela cultura ;ue esta transporta" : costume di(er-
se ;ue o direito não se compreende sem ist4ria" tal como o omem" o
mesmo em todo o lado" s4 na sua compreensão cultural se constitui" nela
assumindo a sua di8erença perante o outro6 R4 ;ue o relacionamento do
omem com a *erra" como relacionamento de perigo" ;ue inegavelmente :"
s4 8oi como tal recon3ecido nos nossos dias6 Por isso o direito ;ue rege esta
relação : Hdireito nascido connosco" um direito sem 3ist4ria" a construir
culturalmente" por sobre as mEltiplas culturas ;ue nos en8ormam6 ' passado :"para este direito" um lugar estran3o" um lugar onde não pode ser col3ida
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Actas do Colóquio – A responsabilidade Civil por dano ambiental
e7periência6 at:rias impens=veis para o direito tradicionalmente
compreendido são agora naturais para ;ue o mundo e7ista para as geraç>es
8uturas6
. &este 3ori(onte temporal alargado" em ;ue o perigo espreita e tanto a
acção 3umana como a estadual se imp>em" retomamos a ideia inicial
sugerida pelo anEncio do rel4gio PateB P3ilippe, H&ão somos verdadeiramente
propriet=rios da *erra6 Limitamo-nos a conserv=-la para as geraç>es seguintes6
+ a pergunta eleva-se" pertinente, HNue comportamento ou comportamentos
5urídicos devemos" então" adoptar para conservar a *erra para as geraç>es
8uturas" 5= ;ue não estamos mais perante uma relação de direito de
propriedade HComo agir 5uridicamente na incerte(a" uma incerte(a ;ue
para o omem se vem tornando uma ;uestão de destino Nual a nossa
responsabilidade relativamente 9s conse;uências ambientais dos nossos
actos
&a ausência de respostas claras" como ;uem tacteia no escuro" diria ser
necess=rio avançar" re8lectindo" em especial sobre três temas6
' primeiro : o dos poderes2deveres de cuidado" decisivos no relacionamento
do omem com a *erra6 Rendo impossível controlar a totalidade das
conse;uências da acção" o direito não pode continuar a centrar-se no
cl=ssico bin4mio de8inição legal de comportamentos e repressão em caso de
incumprimento6 Nuanto 9 de8inição" por;ue pode ser contraproducente6
Nuanto 9 repressão" por;ue c3ega tarde demais6 Por isso se deve en8ati(ar a
prevenção" onde os poderes2deveres de cuidado encontram a sua sede e o
direito recupera o sentido condutor6 &a impossibilidade de precisar" por
antecipação" os deveres de cuidado" na multiplicidade in8inita ;ue os
caracteri(a" a oportunidade de os e7ercer" a sua medida" intensidade e
tempo de duração serão resultado de um di=logo interdisciplinar subordinado
a princípios gerais de direito" di=logo onde se 8ormam indicadores ou
standards a5ustados ao con3ecimento disponível no momento6 *udo no
;uadro de um procedimento aberto" interdisciplinar" transparente" no ;ual
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tamb:m se avaliam os graus de tolerabilidade da acção" e" de acordo com o
princípio da precaução" ;uem age deve ter o 4nus de provar ;ue cumpriu os
deveres de cuidado e : capa( de controlar o risco ;ue a acção produ(6
' segundo tema a merecer particular atenção respeita ao novo modo de o
+stado se mani8estar" atrav:s do poder e" concretamente" do poder de
governança6 +ste reinventa" em ra(ão da identi8icada ignorQncia sobre as
conse;uências da acção" a relação da liberdade dos cidadãos com o
e7ercício do poder estadual6 Com o ;ue a intervenção do +stado evolui no
sentido de incentivar" orientar" in8ormar os cidadãos" no Qmbito da sua
liberdade" apelando 9 respectiva criatividade" bem como no sentido de
estimular a segurança no e7ercício dos direitos 8undamentais" entre os ;uais o
direito ao ambiente" densi8icando princípios 5urídicos 8undamentais" na sua
abertura 9 evolução" como o princípio da sustentabilidade ambiental do
desenvolvimento econ4mico e social" ambos com assento constitucional" e
ampliando posiç>es procedimentais em ;ue todos têm oportunidade de
participar na de8esa dos seus interesses" em procedimentos 5ustos e em
liberdade6
' terceiro tema a e7igir particular atenção respeita ao relacionamento :tico
do omem com a *erra" suporte da vida ;ue a;uele transporta6
Com e8eito" esta relação corresponde a uma relação do 3omem perante o
outro 3omem M o ;ue : presente e o ;ue ser= 8uturo M" atrav:s da *erra6 &asce
como relação do 3omem perante si pr4prio" mas" pelas conse;uências da
acção" na sua potencial negatividade" torna-se relacional6 &ão admira ;ue
se5a geradora de empen3amento e envolva um apelo ao 3omem em
situação" para ;ue actue" ad;uirindo" por isso" o sentido de uma missão6 &ão
:" assim" uma :tica caracteri(=vel como individual6 Antes uma :tica com cari(
comunit=rio6 +" por;ue tem esse cari(" torna-se base 8undante do direito e do
+stado" em curso de reinvenção6
I. <esistindo" com F<A&X'IR 'R*" ao dese5o da palavra de 8ec3o ;ue
tran;uili(a en;uanto encerra o pensamento desenvolvido" dei7o-vos com uma
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Actas do Colóquio – A responsabilidade Civil por dano ambiental
pe;uena 3ist4ria ;ue li em tempos numa obra de +conomia" de um Autor
americano6
.ma noite" um 3omem 8oi a uma 8esta de amigos" onde bebeu um poucomais do ;ue o 3abitual6 &o regresso a casa" ;uando ;uer abrir a porta" veri8ica
;ue perdeu as c3aves no tra5ecto para casa6 olta" então" para tr=s" a 8im de
as encontrar6 + : de 5oel3os" 5unto a um candeeiro" ;ue um vi(in3o o encontra
e o interroga sobre o ;ue est= a 8a(er6 <esponde-l3e ;ue procura as c3aves
;ue perdeu no regresso a casa vindo de uma 8esta6 Ao ;ue o vi(in3o riposta, +
tem a certe(a ;ue 8oi a;ui" 5unto ao candeeiro" ;ue as perdeu A resposta
não se 8e( esperar, Certe(a não ten3o6 as s4 a;ui" 5unto ao candeeiro" ten3o
lu( para as procurarS
Rerve a 3ist4ria para lembrar ;ue as respostas para muitas das ;uest>es ;ue o
nosso relacionamento com a *erra coloca" nas suas mEltiplas incerte(as" estão
no escuro" como as c3aves do 3omem desta 3ist4ria6 Procur=-las no 5=
pensado e re8lectido" no 5= e7perienciado e vivido" corresponde" as mais das
ve(es" a tare8a vã" como a do 3omem da 3ist4ria ;ue procura as c3aves 5unto
do candeeiro" como s4 ali" 5unto 9 lu(" as pudesse ter perdido6
&ão ten3amos receio de pensar no escuro6 Como A&&A A<+&D* tão bem
soube sinteti(ar" Hnesta 8enda entre o passado e o 8uturo" encontramos o nosso
lugar no tempo ;uando pensamos6
Maria da Glória F.P.D.Garcia
Pro8essora Catedr=tica da Faculdade de Direito da .niversidade Cat4lica Portuguesa
oltar ao Yndice
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A ("SPO'SAILIDAD" CIIL PO( DA'OS CAUSADOS AO A#I"'T"A ("SPO'SAILIDAD" CIIL PO( DA'OS CAUSADOS AO A#I"'T" Z
E. Os danos ao aiente
De acordo com as concepç>es cl=ssicas do Direito Civil" 8alar em
responsabilidade civil por danos causados ao ambiente" envolveria uma
contradição entre termos6 +8ectivamente" os elementos componentes do meio
ambiente como o ar" as =guas" a 8auna" a 8lora" a lu( e a temperatura
atmos8:rica inserem-se no ;ue a doutrina civilística denomina de res
communes omnium6 as coisas ;ue são por nature(a insusceptíveis de
apropriação individual6 <elativamente a estas" o art6 $%$V" nV$ do C4digo Civil"re8ere ;ue se encontram 8ora do com:rcio" ou se5a" não podem ser ob5ecto de
direitos privados6 'ra" como a responsabilidade civil e7ige" nos termos do art6
0![V a violação de direitos ou de normas de protecçãoK" a tutela do
ambiente en;uanto tal não poderia passar pela responsabilidade civil6
+sta concepção 5urídica parte" por:m" de um dado econ4mico" ;ue
modernamente se veri8icou ser 8also, o de ;ue os bens naturais teriam car=cter
ilimitado e constantemente renov=vel6 +8ectivamente" tem-se vindo a
demonstrar ;ue o ambiente tem um car=cter tão 8inito como os outros bens
escassos e ;ue tender= a ser rapidamente destruído se não 8or disciplinada a
sua utili(ação ou" mais especi8icamente" se os agentes econ4micos não
suportarem ;ual;uer encargo em virtude do seu consumo6 +sta descoberta
do car=cter 8inito dos bens ambientais leva ao recon3ecimento da
necessidade da sua protecção pelo Direito" ;ue a nossa Constituição veio
pioneiramente desde #1/ consagrar no art6 //V" atrav:s do recon3ecimento
de um direito gen:rico a um ambiente sadio e ecologicamente e;uilibrado6
' recon3ecimento de ;ual;uer direito sub5ectivo implica a a8ectação de
um bem 9s necessidades de pessoas individualmente considerados6 Rurge
assim o recon3ecimento de ;ue o ambiente constitui um bem 5urídico$6 A partir
* ' presente trabal3o corresponde ao te7to escrito da con8erência por n4sreali(ada no Instituto de Ciências Jurídico-Políticas em ! de &ovembro de $%%# e :dedicado aos Estudos em Homenagem ao Professor Doutor Carvalho Fernandes.
1 C8r6 A&*U&I' R'.RA F<A&C'" \Ambiente e Desenvolvimento ] +n;uadramento eFundamentos do Direito do Ambiente\ em C+&*<' D+ +R*.D'R J.DICI^<I'R" Textos" I]
Ambiente e Consumo" Lisboa" s6e6" ##/" pp6 #-$_ $$K62 C8r6 L.CI' F<A&CA<I'" Danni Ambientali e Tutela Civile" s6l6" Jovene" ##%" pp6 !0e ss6 e" entre n4s" L.YR FILIP+ C'LAX' A&*.&+R" O rocedimento administrativo de
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Actas do Colóquio – A responsabilidade Civil por dano ambiental
desse pressuposto est= naturalmente aberto o camin3o para o
recon3ecimento da ilicitude da lesão ambiental e" simultaneamente" para a
con8iguração como dano da 8rustração de ;uais;uer utilidades
proporcionadas pelo ambiente, abre-se assim a porta para o recon3ecimento
de um novo tipo de dano, o dano ;ue resulta de uma o8ensa ecol4gica ou
lesão da &ature(a" destruindo o direito previsto na nossa Constituição ao go(o
de um ambiente sadio e ecologicamente e;uilibrado6
Perante este en;uadramento normativo est= naturalmente aberta a porta
para a tutela do ambiente atrav:s da responsabilidade civil" tutela essa ;ue
tem vindo paulatinamente a a8irmar-se cada ve( mais" uma ve( ;ue a lesão
do ambiente tem-se vindo a apresentar" não como uma lesão de um bem 5urídico e7terior ao omem" mas antes como uma lesão da pr4pria
personalidade 3umana6 +8ectivamente" as grandes cat=stro8es ecol4gicas
8oram simultaneamente les>es da vida e da saEde de pessoas determinadas ["
e sabe-se ;ue a contínua degradação do meio-ambiente :" a longo pra(o"
susceptível de p`r em risco a sobrevivência da pr4pria esp:cie 3umana6
Pense-se no 8en4meno das c3uvas =cidas" das deserti8icaç>es e alteraç>es
clim=ticas associadas ao a;uecimento global resultante do aumento do
di47ido de carbono na atmos8era" na progressiva diminuição da
concentração de o(ono na estratos8era" com o surgimento de buracos em
avalia!"o de imacto ambiental" Coimbra" Almedina" ##!" pp6 [# e ss6! +ntre as grandes cat=stro8es ecol4gicas" com lesão de vidas 3umanas" poderemos
salientar as seguintes,
inamata JapãoK-#_[- doença provocada por derrame de mercErio na=gua" ;ue envenena os pei7es" causando envenamento por mercErio nos seres3umanos
Reveso- %212#1/- Avaria no disco de uma 8=brica" ;ue e7pulsa para aatmos8era dois ;uilos de tricloro8enol" obrigando 9 evacuação de du(entas pessoascom tratamento 3ospitalar e ao abate de todos os animais de uma aldeia
3opal YndíaK - [2$2#!0 - .m acidente ocorrido numa 8=brica com emissãode poluição ;uímica leva 9 total destruição de uma aldeia indiana6
C3ernobGl .crQniaK ] $/202#!/ ] A avaria de um reactor nuclear leva 9emissão de radiaç>es para toda a atmos8era" ;ue se propagaram por todo ocontinente europeu" gerando nessa (ona uma cat=stro8e ambiental de grandes
proporç>es" com repercuss>es ;ue ainda 3o5e se veri8icam na saEde dos seus3abitantes" designadamente nascimentos de crianças de8icientes e les>escancerígenas em adultos6
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diversas =reas do planeta" e na progressiva destruição dos mares e do ar
atmos8:rico06
1. A (es!onsailidade Ci/il
1.E. Os !roleas colocados !ela utili>a:;o da res!onsailidade ci/il< no
ito dos seus ?uadros clFssicos.
.m dos instrumentos de direito privado ;ue tem vindo a ser usado com
8unç>es de protecção ambiental tem sido a responsabilidade civil" gerando
assim o ;ue se denomina de \responsabilidade civil ambiental\6 A utili(ação da
responsabilidade civil como reacção 9s o8ensas ambientais" recorrendo aos
seus ;uadros cl=ssicos" coloca v=rios problemas" ;uer a nível da determinação
dos seus pressupostos" ;uer a nível da e8ic=cia da imposição da obrigação da
indemni(ação6
A nível da determinação dos seus pressupostos" poderemos apontar os
seguintes problemas,
K Como estabelecer o ne7o de causalidade entre um acto ;ue pre5udica oambiente como" por e7emplo" a poluição do ar e da =guaK" em relação a
danos surgidos a centenas de ;uil4metros de distQncia" e ;ue ocorrem muito
tempo depois e7, aparecimento de cancros e desaparecimento de esp:cies
vivasK
$K Como resolver o problema da pluralidade de respons=veis pelo dano
vide os arts6 0#%V e 0#1V" nV" ;ue delimitam a responsabilidade com base na
medida das respectivas culpasK" ;uando e7istem v=rios poluidores" e os e8eitosda poluição aparecem potenciados pela concorrência de 8en4menos
naturais e7, metereologiaK ou pela interacção entre os diversos poluentes
[K Como avaliar em termos de indemni(ação o pre5uí(o resultantes de meras
les>es ecol4gicas e76" desaparecimento de esp:cies vivas" degradação da
paisagem" lesão da ;ualidade de vidaK6
4 C8r6 L.CI' F<A&CA<I'" Danni Ambientali e Tutela Civile" s6l6" Jovene" ##%" p6 [!6
!
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Actas do Colóquio – A responsabilidade Civil por dano ambiental
0K Como determinar os titulares do direito da indemni(ação" atentas as
restritíssimas regras de legitimidade do nosso C4digo Civil6 Por e7emplo" uma
lesão ecol4gica como uma mar: negra no mar poder= atribuir direito de
indemni(ação aos pescadores por não poderem pescar + aos 3oteis na orla
marítima por perderem clientes +" aos propriet=rios nessa =rea pela
diminuição do valor de mercado das 3abitaç>es comerciali(adas + aos
turistas" pela 8rustração do pretendido nas suas viagens_
_K Como resolver o problema da prescrição da responsabilidade civil"
;uando" nos termos do art6 0#!V" nV" o pra(o se inicia a partir do momento em
;ue o lesado tem con3ecimento do direito ;ue l3e compete" mesmo ;ue
com descon3ecimento da pessoa do respons=vel e da e7tensão integral dos
danos &o Qmbito das les>es ambientais os danos são" por ve(es" causados a
grande distQncia dos sítios onde têm lugar as les>es /" impossibilitando assim o
lesado de tomar con3ecimento da pessoa do respons=vel6
/K Atendendo a ;ue os principais lesados por les>es ambientais são as
geraç>es 8uturas" como atender a danos 8uturos" para al:m dos estreitos limites
do art6 _/0V" nV$ do C4digo Civil
J= a nível da e8ic=cia da imposição da obrigação de indemni(ação"
coloca-se o problema de a responsabilidade civil apenas assegurar o
ressarcimento dos danos arts6 _/$V e ss6 do C4digo CivilK e de nem se;uer
impedir a continuação da actividade danosa" en;uanto a nível das les>es
ambientais" a sua tutela passa sobretudo pela prevenção ou" pelo menos"
pela cessação da actividade danosa6 Por outro lado" a imposição de uma
obrigação de indemni(ação pode ser meramente plat4nica para os lesantes
ambientais" ;ue se limitarão a 8a(er inserir essa verba entre os custos de 8abrico
do produto" ;ue ser= 8acilmente repercutida nos consumidores" atrav:s do
respectivo preço16
5 C8r6 AL+WA&D<+ @IRR" \Direito Internacional do Ambiente\ trad6K em AA" Direitodo Ambiente" Lisboa" I&A" ##0" pp6 01-1[ _[-_0K6
6 C8r6 F<AR*' DA RILA" \A Poluição Ambiental6 Nuest>es de Ciência e Nuest>esde Direito\ em AA" Direito do Ambiente" Lisboa" I&A" ##0" pp6 ![-/ %/K" ;ue
re8ere ;ue os e8eitos das c3uvas =cidas tendem a veri8icar-se" não nos locais maispoluídos" mas em (onas a8astadas e menos poluídas67 C8r6 RALA*'<+ PA**I" #a tutela civile dell$ambiente" Padova" Cedam" #1#" p6 116
"
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A Constituição da <epEblica Portuguesa assume" no entanto" uma
orientação clara no sentido de serem indemni(=veis os danos causados ao
ambiente" em virtude de o seu art6 _$V" nV[" prever a possibilidade de os
particulares" atrav:s do direito de acção popular" reclamarem para o lesado
ou lesados" a competente indemni(ação" em virtude de ser a8ectada a
preservação do ambiente6 *rata-se de uma orientação clara no sentido
indemni(at4rio dos danos ambientais" su5eita 9 aplicabilidade directa" nos
termos do art6 !V da Constituição" embora necessite de ser concreti(ada pela
legislação ordin=ria6
&as p=ginas seguintes" ir-se-= veri8icar por ;ue 8orma a legislação ordin=ria
e8ectuou a concreti(ação desta directri( constitucional" analisando para o
e8eito as respostas dads pelos diversos diplomas ;ue estabelecem casos de
responsabilidade civil por les>es ambientais" analisando no entanto em
primeiro lugar a viabilidade de uma resposta atrav:s do regime geral da
responsabilidade civil6
1.1. A !ossiilidade de a!lica:;o do re=ie =eral da res!onsailidade ci/il
.ma primeira resposta possível" relativamente 9 aplicação da
responsabilidade civil por danos ambientais consiste no recurso ao sistema
geral da responsabilidade civil" previsto nos arts6 0![V e ss6 do C4digo6
Con8orme se sabe" desta norma" ;ue estabelece um princípio gen:rico de
responsabilidade sub5ectiva" resulta ;ue para constituir algu:m na obrigação
de reparar os danos causados por uma actuação sua" são necess=rios os
seguintes pressupostos,
aK A e7istência de um 8acto volunt=rio
bK A ilicitude" entendida como violação de direitos sub5ectivos ou de normasde protecção destinadas a proteger interesses al3eios
cK A culpabilidade" entendida como a censurabilidade da conduta doagente
dK ' danoeK ' ne7o de causalidade entre o 8acto e o dano
Desde ;ue este5am preenc3idos num caso concreto todos estes
pressupostos : possível responsabili(ar o agente pelos danos resultantes de
#
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Actas do Colóquio – A responsabilidade Civil por dano ambiental
uma lesão ambiental" tare8a ;ue tem vindo a ser 8acilitada em virtude dos
desenvolvimentos dogm=ticos surgidos a prop4sito dos pressupostos da
responsabilidade civil" ;ue 8acilitam a admissibilidade de uma
responsabilidade civil ambiental6 Assim" ;uanto 9 ilicitude" mais do ;ue a lesão
de direitos sub5ectivos al3eios" estar= essencialmente em causa a violação de
normas de protecção" destinadas a proteger interesses al3eios6 A robatio
diabolica da culpa relativamente aos casos de lesão ambiental" parece-nos
poder ser dispensada atrav:s do recurso 9 presunção do art6 0#[V" nV$ do
C4digo Civil" ;ue considera ;ue ;uem e7erce uma actividade perigosa se
presume respons=vel pelos danos veri8icados" e7cepto se demonstrar ;ue
tomou todas as providências e7igidas pelas circunstQncias com o 8im de osprevenir6
's grandes problemas colocam-se em relação aos pressupostos do dano e
do ne7o de causalidade entre o 8acto e o dano" onde a dogm=tica
tradicional tem muita di8iculdade em trabal3ar6
<elativamente ao dano" a doutrina distingue tradicionalmente entre danos
ambientais e danos ecol4gicos" re8erindo ;ue os primeiros são a;ueles em ;ue
se veri8ica lesão de bens 5urídicos concretos" atrav:s de emiss>es particularesou de um con5unto de emiss>es emanadas de um con5unto de 8ontes
emissoras e ;ue os segundos são les>es intensas causadas ao sistema
ecol4gico natural" sem ;ue ten3am sido violados direitos individuais6
&os danos ecol4gicos" por ou serem danos sem lesado individual" ou serem
danos produ(idos por 8ontes longín;uas" ou serem danos sem causador
individual determinado não seria possível recorrer aos mecanismos da
responsabilidade individual" uma ve( ;ue estando em causa o interesse global
de8esa do ambiente" s4 o direito pEblico poderia intervir !6 &estes casos" para
evitar a solução tradicional da não atribuição de indemni(ação" 3averia ;ue
aplicar soluç>es baseadas no princípio do poluidor pagador" como a criação
8 C8r6 )'+R CA&'*IL'" %esonsabilidade Civil or Danos Ecol&gicos' Da%eara!"o do Dano atrav(s da %estaura!"o )atural" Coimbra" Coimbra +ditora" ##!"p6 0%[6 Con8orme escreve CA<LA AAD' )'+R" A resonsabilidade civil or danoecol&gico. %eflex*es reliminares sobre o novo regime institu+do elo D# ,-/01123 de
04 de 5ulho" Lisboa" AAFDL" $%%#" p6 $#" o autêntico dano ecol4gico : sempre &rf"o, asua prevenção e reparação s4 por representantes da colectividade pode ser levadaa cabo" 5unto dos tribunais especiali(ados em ;uest>es 5urídico-pEblicas6
$
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de ta7as ou impostos ecol4gicos" ou numa ideia de repartição comunit=ria
dos danos" como na criação de 8undos colectivos de indemni(ação#6
Iremos ver ;ue" mesmo no Qmbito dos danos ecol4gicos" ainda : possívelrecorrer aos es;uemas da responsabilidade civil" e a tal não obsta a
con8iguração dogm=tica do conceito de dano6 +8ectivamente" as modernas
concepç>es dogm=ticas ;uali8icam o dano como um conceito
simultaneamente 8=ctico-normativo" ou se5a" como a 8rustração de uma
utilidade ;ue era ob5ecto de tutela 5urídica6 'ra" a partir do momento" em ;ue
o ambiente aparece como tutela de normas 5uris-ambientais en;uanto bem
5urídico protegido" as utilidades ;ue ele proporciona tornam-se ob5ecto da
tutela 5urídica" pelo ;ue ;ual;uer lesão do ambiente satis8a( os re;uisitos para
a con8iguração do conceito de dano6 ' problema reside na não e7istência de
lesados individuais" mas ele pode ser ultrapassado pela atribuição da
titularidade da indemni(ação a colectividades ou a entes pEblicos" ou pela
criação de um 8undo com esse 8im%6
J= o dano ambiental" por se veri8icarem les>es de situaç>es 5urídicas
individuais" coloca e7clusivamente o problema da determinação do 6uantum
indemni(at4rio6 +8ectivamente não sendo admissível no nosso direito uma ideia
de unitive damages" a solução ser= a da elaboração de crit:rios para
avaliação do dano ambiental6 J= vimos ;ue o art6 _/$V do C4digo Civil atribui
prima(ia 9 reconstituição natural" o ;ue : um crit:rio e7tremamente relevante
em sede ambiental6 Deve salientar-se" por outro lado" ;ue a impossibilidade
de ;uanti8icar em termos e7actos os pre5uí(os causados pela lesão ambiental"
não impede os tribunais de atribuir indemni(ação pecuni=ria por danos
ambientais" uma ve( ;ue o art6 _//V" nV[ do C4digo Civil admite claramente
;ue" ;uando não puder ser 8i7ado o montante e7acto dos danos" o *ribunal
5ulgue e;uitativamente dentro dos limites ;ue tiver por provados6 J= ;uanto
aos danos 8uturos" por 8orça do art6 _/0V" nV$" o *ribunal poder= tom=-los em
9 C8r6 C.&AL R+&DI" o. cit." p6 _#" nota %%K610 Assim" in8orma-nos RALA*'<+ PA**I" o. cit." p6 !0" ;ue nalgumas decis>es dos
*ribunais Americanos" a impossibilidade de determinar lesados individuais levou o*ribunal a determinar a criação de um 8undo com a 8unção de indemni(ar os pre5uí(osveri8icados6
11 <e8ira-se como e7emplo a sentença do Jui( de Coruc3e de $[2$2##%" em ;ue"perante a destruição de =rvores onde nidi8icavam cegon3as" ordenou a elaboraçãode construç>es ;ue permitissem essa nidi8icação6
%
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Actas do Colóquio – A responsabilidade Civil por dano ambiental
consideração" mas apenas se 8orem previsíveis" o ;ue permite a indemni(ação
de danos 8uturos" e7igindo-se no entanto" pelo menos" um alto grau de
probabilidade da sua veri8icação" 5= ;ue os danos meramente individuais não
serão indemni(=veis no Qmbito desta disposição$6
As situaç>es tornam-se mais comple7as em relação ao ne7o de
causalidade6 A doutrina mais moderna sobre o ne7o de causalidade
abandonou a solução legal da causalidade ade;uada e adopta a doutrina
do escopo da norma violada" imputando ao agente por interm:dio da
conditio sine 6ua non os danos correspondentes 9s posiç>es ;ue são
garantidas pelas normas violadas6 R4 ;ue mesmo este desenvolvimento não :
su8iciente em sede ambiental" sendo ;ue a pr4pria demonstração da conditio
sine 6ua non raramente : susceptível de ocorrer em sede ambiental" 5= ;ue a
prova da causalidade : normalmente limitada a 3ip4teses puramente
estatísticas" ocorrendo ainda situaç>es de causalidade alternativa" em ;ue
apenas se sabe ;ue os autores da lesão estarão entre v=rios agentes" mas não
se sabendo em concreto ;ual deles causou o dano6 +&++R C'<D+I<'
prop>e" para esses casos" 3ip4teses de 8acilitação da causalidade"
designadamente aceitando a relevQncia da causalidade estatística ouresponsabili(ando todos os participantes no caso de causalidade alternativa [6
Nuanto 9 relevQncia da causalidade estatística" parece-nos ;ue actualmente
a prova da causalidade por essa via 5= : possível atrav:s da utili(ação das
presunç>es 5udiciais art6 [_V do C4digo CivilK6 J= relativamente 9 aceitação
de causalidades alternativas" tal 5= não ser= possível de iure condito6 De iure
condendo uma solução possível seria a aplicação das teorias anglo-sa74nicas
da mar7et8share liabilit9 responsabilidade segundo a ;uota de mercadoK ouda ollution8share liabilit9 responsabilidade segundo o nível das emiss>es
poluentesK06 &a primeira concepção" a responsabilidade : repartida segundo
a presença de cada empresa no mercado" en;uanto ;ue na segunda a
12 Robre a ressarcibilidade dos danos 8uturos" ve5a-se RALA*'<+ PA**I" o. cit." pp6!0 e ss6
13 C8r6 A&*U&I' +&++R C'<D+I<'" \*utela do Ambiente e Direito Civil\ em AA"Direito do Ambiente" Lisboa" I&A" ##0" pp6 [11-[#/ [#%K6
14 C8r6 A&A P+<+R*<+L' D+ 'LI+I<A" Causalidade e :muta!"o na
%esonsabilidade Civil Ambiental" Coimbra" Almedina" $%%#" pp6 [% e ss6" e A&*U&I'A<<+*' A<C+<" Direito do Ambiente e %esonsabilidade Civil" Coimbra" Almedina"$%%#" p6 /[6
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repartição da responsabilidade d=-se de acordo com o nível das emiss>es
poluentes" sem necessidade de demonstrar ;ual 8oi a concreta emissão ;ue
condu(iu ao dano6
1.5. A Lei de ases do Aiente GLei nH EE4< de de ArilK
A Lei de ases do Ambiente Lei nV 2!1" de 1 de AbrilK veio procurar
resolver alguns destes problemas instituindo" no art6 0V um sistema de
responsabilidade ob5ectiva ou pelo risco" determinando ;ue e7iste obrigação
de indemni(ar" independentemente de culpa" sempre ;ue o agente ten3a
causado danos signi8icativos ao ambiente" em virtude de uma acção
especialmente perigosa" muito embora com respeito do normativo aplic=vel
nVK" determinando" no entanto" ;ue o ;uantitativo de indemni(ação a 8i7ar
por danos causados ao ambiente ser= estabelecido em legislação
complementar nV$K6
+m primeiro lugar" 3aver= ;ue averiguar o ;ue são \danos signi8icativos ao
ambiente\" para e8eitos de aplicação desta lei6 A nosso ver" o \dano
signi8icativo ao ambiente\ pode ser de8inido a partir do conceito geral de
dano" ;ue a doutrina tem vindo a ;uali8icar como um conceito
simultaneamente 8=ctico-normativo" como a 8rustração de uma utilidade ;ue
era ob5ecto de tutela 5urídica6 &este caso concreto" estaremos então perante
a 8rustração das utilidades proporcionadas por um bem ambiental ;ue :
ob5ecto de tutela 5urídica6 'ra" de acordo com o art6 /V da Lei de ases do
Ambiente Lei nV 2!1" de 1 de AbrilK os bens ambientais ;ue são ob5ecto de
tutela 5urídica são o ar" a lu(" a =gua" o solo vivo e o subsolo" a 8lora e a 8auna6
Pode assim considerar-se ;ue ;ual;uer a8ectação das vantagensproporcionadas por estes bens ambientais constitui um dano causado ao
ambiente6 &o entanto" a lei e7ige ;ue o dano se5a signi8icativo" o ;ue aponta
para uma certa gravidade da lesão ecol4gica6 +sse re;uisito :-nos" no
entanto" concreti(ado nos arts6 !V e ss6 da LA" atrav:s da tipi8icação de uma
s:rie de les>es ecol4gicas6 Reguindo F<+I*AR D' AA<AL" poderemos
considerar os seguintes tipos de o8ensas ecol4gicas_,
15 C8r6 F<+I*AR D' AA<AL" \Lei de ases do Ambiente e Lei das Associaç>es deDe8esa do Ambiente\ em AA" Direito do Ambiente" Lisboa" I&A" ##0" pp6 [/1-[1/[/#-[1%K6
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K A poluição atmos8:rica" ;ue o art6 !V da LA de8ine como o lançamento
para a atmos8era de ;uais;uer substQncias" se5a ;ual 8or o seu estado 8ísico"
susceptíveis de a8ectarem de 8orma nociva a ;ualidade do ar e o e;uilíbrio
ecol4gico ou ;ue impli;uem risco" dano ou inc4modo grave para as pessoas
e bens
$K A perturbação do nível de luminosidade" ;ue a partir do art6 #V da LA se
pode de8inir a redução ou a8ectação do nível de luminosidade conveniente 9
saEde" bem-estar e con8orto do ser 3umano nVK e ao e;uilíbrio dos
ecossistemas trans8ormados" de ;ue depende a sua ;ualidade de vida nV$K
[K A poluição 3ídrica" ;ue a partir do art6 V" nV$ da LA poder= vir a ser
de8inida como o lançamento nas =guas de ;uais;uer produtos ou esp:cies;ue alterem as suas características ou as tornem impr4prias para as suas
diversas utili(aç>es
0K A dani8icação do solo ou subsolo" ;ue pode ser de8inida" a partir do art6
[V" nV$ da LA" como ;ual;uer 8acto ;ue provo;ue erosão e degradação do
solo" o desprendimento de terras" enc3arcamento" inundaç>es" e7cesso de
salinidade e outros e8eitos perniciosos
_K A dani8icação da 8lora" ;ue o art6 _V" nV$ da LA de8ine como todo e
;ual;uer 8acto ;ue impeça o desenvolvimento normal ou a recuperação da
8lora e da vegetação espontQnea" ou ;ue pre5udi;ue a 8ertilidade do espaço
rural e do e;uilíbrio biol4gico das paisagens e a diversidade dos recursos
gen:ticos
/K A dani8icação da 8auna" de8inida a partir do art6 /V da LA" como todo e
;ual;uer 8acto ;ue pre5udi;ue a conservação e a e7ploração das esp:cies"
designadamente atrav:s da a8ectação do seu potencial gen:tico ou dos
habitats indispens=veis 9 sua sobrevivência
1K A o8ensa da paisagem" ;ue podemos de8inir a partir do art6 !V da LA"
como todo e ;ual;uer 8acto ;ue pre5udi;ue a paisagem como unidade
est:tica e visual" designadamente a reali(ação de construç>es ;ue
provo;uem um impacto violento na paisagem pree7istente" a acumulação de
resíduos e materiais usados ou o corte maciço de arvoredo
!0
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!K A poluição sonora" entendida a partir do art6 $$V da LA" como a
produção de ruído em nível susceptível de pre5udicar a saEde e o bem-estar
das populaç>es
Rerão estas" assim" as situaç>es especí8icas ;ue poderão ser consideradas
danos signi8icativos ao ambiente" para e8eitos da responsabilidade civil
instituída no art6 0V da LA6 Con8orme se pode veri8icar" consistem estes em
danos sem lesado individual concreto6 A grande inovação causada por esta
lei reside assim precisamente no recon3ecimento do dano ecol4gico"
admitindo-se a ressarcibilidade de danos de nature(a social ou colectiva" o
;ue representa um grande avanço em relação ao sistema do C4digo Civil"
cu5os arts6 0![V e ss6 pressup>em a e7istência de lesados individuais6
*rata-se" no entanto" de uma disposição a ;ue podem ser apontadas
algumas críticas, +m primeiro lugar" : de criticar a disposição do art6 0V" nV$"
;ue parece ;uerer 8uncionar como um travão 9 concessão de indemni(ação
com base em crit:rios 5udiciais de avaliação do dano ecol4gico" e ;ue
impossibilita na pr=tica a aplicação do artigo6 *al constitui uma solução
estran3a" uma ve( ;ue o art6 _//V" nV[ do C4digo Civil prevê ;ue" ;uando não
puder ser 8i7ado o montante e7acto dos danos" o *ribunal 5ulgue
e;uitativamente dentro dos limites ;ue tiver por provados" admitindo assim
claramente a 8i7ação da indemni(ação segundo crit:rios 5udiciais" dentro de
limites alargados6 &ão se vê por ;ue ra(ão esta possibilidade deva ser
a8astada em caso de les>es ambientais" pelo ;ue propomos o recurso a esta
disposição geral para colmatar a lacuna resultante da omissão da legislação
regulamentadora do art6 0V" nV$ da LA6
+m segundo lugar" parece-nos de8iciente a articulação desta norma" com
o 5= re8erido art6 0#[V" nV$ do C4digo Civil" ;ue 5= institui uma presunção de
culpa para os danos causados no Qmbito de actividades perigosas" ;ue o
agente s4 pode elidir se demonstrar ;ue empregou todos os procedimentos
e7igidos pelas circunstQncias com o 8im de os prevenir6 &este caso" o art6 0V"
nV" da Lei nV 2!1" de 1 de Abril" estabelece um caso de responsabilidade
pelo risco" mas e7ige a pr=tica de \uma acção especialmente perigosa\" o
;ue limita essa responsabilidade pelo risco a casos e7cepcionais6 ' ;ue 8ica
!1
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Actas do Colóquio – A responsabilidade Civil por dano ambiental
da articulação das duas disposiç>es : assim a de ;ue em caso de actividades
perigosas o agente responde" e7cepto se mostrar ;ue empregou todos os
meios e7igidos pelas circunstQncias" com o 8im de prevenir os danos6 Caso"
por:m" praticar \uma acção especialmente perigosa\" 8ica-l3e vedada essa
demonstração6 Con8orme re8ere +&++R C'<D+I<'" trata-se assim de uma
previsão do risco como uma cominação indirecta" uma ve( ;ue ;uem integre
esta previsão se colocar= numa situação de ilicitude \imper8eita\ ou
\amortecida\" uma ve( ;ue a previsão se apro7ima da responsabilidade
sub5ectiva" dado ;ue visa assegurar ;ue se5am tomadas todas as providências
para evitar a veri8icação do dano/6
A Lei não de8ine" por:m" o ;ue se5a \uma acção especialmente perigosa\"
dei7ando-nos assim perante um conceito vago e indeterminado ;ue cabe ao
int:rprete preenc3er6 =" no entanto" um nEcleo conceitual preciso" ;ue nos
parece resultar das disposiç>es sobre poluição ;uímica e radioactiva" a ;ue se
re8erem os arts6 $[V a $/V da LA6 Assim" ;uanto 9 poluição ;uímica" o
legislador estabelece" no art6 $0V" nV0" ;ue os resíduos e e8luentes devem ser
recol3idos" arma(enados" transportados" eliminados ou reutili(ados de tal
8orma a ;ue não constituam perigo imediato ou potencial para a saEde3umana nem causem pre5uí(o ao ambiente" esclarecendo o art6 $0V" nV[ ;ue
\a responsabilidade do destino dos diversos tipos de resíduos e e8luentes : de
;uem os produ(\6 Da;ui resulta ;ue o produtor não se pode al3ear do destino
dos seus resíduos e e8luentes" ad;uirindo um especí8ico dever de prevenção
do perigo em relação a esse destino 8inal" cu5a violação : susceptível de o
responsabili(ar ob5ectivamente nos termos do art6 $0V" nV[ e 0V da LA6 da
mesma 8orma" no art6 $/V da LA prevê-se uma proibição especí8ica de\lançar" depositar ou" por ;ual;uer 8orma" introdu(ir nas =guas" no solo" no
subsolo ou na atmos8era e8luentes" resíduos radioactivos e outros e produtos
;ue conten3am substQncias ou microorganismos ;ue possam alterar as
características ou tornar impr4prios para as suas aplicaç>es a;ueles
componentes ambientais ou ;ue contribuam para a degradação do
ambiente\6 = a;ui tamb:m um especí8ico dever de prevenção do perigo"
relativamente a substQncias potencialmente nocivas para o ambiente" cu5a
16 C8r6 +&++R C'<D+I<'" o. cit." p6 [!#6
!
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violação dever= ser considerada uma acção especialmente perigosa para
e8eitos do art6 0V da LA6
<esta-nos" por:m" a norma do art6 0%V" nV0" da mesma lei ;ue garante orecurso aos meios gerais de direito para os cidadãos directamente lesados
obterem a cessação das causas de violação e a respectiva indemni(ação6
Con8orme a doutrina tem vindo a de8ender" esta norma não se destina a
con8erir a cada cidadão" individualmente considerado" a titularidade de um
direito ao ambiente" ;ue l3e permitisse obter indemni(ação por les>es
ambientais gen:ricas6 *rata-se" antes" de uma situação em ;ue a lesão
ambiental provoca danos em su5eitos individuais" os ;uais são naturalmente
tutelados atrav:s do instituto da responsabilidade civil16 A protecção do
ambiente atrav:s do regime geral da responsabilidade civil 8ica" assim"
e7pressamente salvaguardada6 aver=" portanto" ;ue 8a(er 8uncionar o
es;uema de pressupostos do art6 0![V" re8erindo o 8acto volunt=rio do agente"
a ilicitude" a culpa" o dano e o ne7o de causalidade entre o 8acto e o dano"
com as di8iculdades atr=s re8eridas6
' nV_ do art6 0%V da LA re8ere ainda ;ue" sem pre5uí(o deste recurso aos
meios gerais de direito" : recon3ecido 9s autar;uias e aos cidadãos ;ue
se5am a8ectados pelo e7ercício de actividades susceptíveis de pre5udicarem
os recursos do ambiente o direito 9s compensaç>es por parte das entidades
respons=veis pelos pre5uí(os causados6 *rata-se de uma norma ;ue tem
suscitado 5usti8icadas perple7idades na doutrina" uma ve( ;ue da con5ugação
do nV0 com este nV_ do art6 0%V da LA resulta ;ue este \direito 9s
compensaç>es por parte das entidades respons=veis pelos pre5uí(os causados\
atribuído 9s autar;uias locais e aos cidadãos" : algo ;ue acresce ao recurso
aos meios gerais da responsabilidade civil6 Assim" J'f' P+<+I<A <+IR"
salientando ;ue esta norma levanta as maiores di8iculdades de interpretação"
vem sustentar" embora cautelosamente" ;ue a;ui estaria consagrada uma
\indemni(ação suplementar\" ;ue e7travasaria dos danos e8ectivamente
veri8icados" 9 ;ual o legislador c3amou compensação6 Pretender-se-ia desta
8orma ;ue as entidades respons=veis pela degradação do ambiente 8ossem
17 C8r6 ^<I' J'RO D+ A<AJ' *'<<+R" \Acesso 9 Justiça em at:ria de Ambientee de Consumo ] Legitimidade processual\ em C+&*<' D+ +R*.D'R J.DICI^<I'R"Textos" I] Ambiente e Consumo" Lisboa" s6e6" ##/" pp6 /_-!_ !K6
!!
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obrigadas a compensar terceiros por essa sua actuação" independentemente
da ocorrência de danos concretos6 as o autor considera ;ue esta obrigação
não ser= e7e;uível en;uanto a mat:ria não estiver devidamente
regulamentada!6 Pelo contr=rio" J'RO A)ALf+R considera ;ue este \direito
9s compensaç>es\ entra em c3o;ue com a e7igência dos pressupostos gerais
da responsabilidade civil" constantes dos arts6 0![V a _%V do C4digo Civil" 5=
;ue \aK- as compensaç>es serão devidas em caso de mera perturbação da
normal utili(ação dos recursos naturais" con8igurando-se" pois" uma especial
noção de dano" ainda ;ue se5a di8icílimo 8i7ar a medida da compensação bK-
não : e7igível ;ue se trate de uma actividade especialmente perigosa cK- a
situação con8igurada pelo legislador não surge ol3ada do ponto de vista domal ob5ectivo causado ao ambiente" antes se captando as conse;uências o
impactoK de uma actividade pre5udicial 9 normal utili(ação dos recursos
naturais por dada autar;uia ou cidadão" embora a delimitação sub5ectiva
não se5a 8=cil, dK- pode a perturbação decorrer de um 8acto lícito e eK pode
at: não a8ectar o titular do direito\#6 Para o autor trata-se" por outro lado" de
um caso especí8ico de obrigação de indemni(ar" ;ue derroga o princípio da
restauração natural" previsto ;uer no art6 _/$V do C4digo Civil" ;uer no art6 0!V
da LA6 J= ^<I' A<AJ' *'<<+R" considerando serem tantas as di8iculdades
interpretativas do artigo e tão 4bvia a necessidade de uma regulamentação
para o tornar e7e;uível" vem propor uma esp:cie de interpretação ab-
rogante desta norma" pelo menos en;uanto a sua regulamentação não 8or
8eita$%6
A nosso ver" nesta norma 5= não est= propriamente consagrada uma
situação de responsabilidade civil pela lesão do ambiente" mas antes aaplicação da segunda variante do princípio do poluidor pagador $" segundo a
18 C8r6 J'f' P+<+I<A <+IR" #ei de ;ases do Ambiente" Coimbra" Almedina" ##$" p6!/6
19 J'RO A)ALf+R" \Ambiente de Perdição" Acç>es de salvação, A AcçãoPopular +coç4gica e o Direito 9s Compensaç>es por Pre5uí(o Ambiental no ori(ontePortuguês de ##\" na %evista de Direito P<blico" ano I" nV! de Jul3o2De(embro de##%" p=gs6 #-0 aud A<AJ' *'<<+R" loc. cit.K6
20 C8r6 A<AJ' *'<<+R" loc. cit.21 J6 J6 )'+R CA&'*IL'" \A <esponsabilidade por Danos Ambientais,
Apro7imação Juspublicística\ em AA" Direito do Ambiente" Lisboa" I&A" ##0" pp6
[#1-0%1 0%%K6 ' autor atribui três variantes a este princípio" sendo ;ue a primeira sebaseia no simples dever de evitar os danos ambientais e na indemni(ação pela suacausação ilícita a segunda envolve uma compensação 8inanceira 9 colectividade
!"
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;ual" independentemente do cumprimento dos deveres de prevenção dos
danos ambientais ou da licitude da lesão ambiental" : sempre devida uma
compensação 8inanceira 9 colectividade" por 8orma a assegurar ;ue os
encargos ambientais se5am suportados pelo pr4prio respons=vel desses
encargos" proibindo-se assim em termos econ4micos a e7istência de
subvenç>es de terceiros ;ue impeçam a internali(ação dos custos ambientais
pelo seu autor $$6 &ão nos parece" assim" correcto sustentar a impossibilidade
imediata de e7ecução desta norma6 Com e8eito" nada impede" por e7emplo"
;ue uma autar;uia" ;ue se ve5a obrigada a custear um sistema de tratamento
de e8luentes" em conse;uência da instalação de uma 8=brica" cu5a laboração
8oi autori(ada" ven3a a re;uerer dessa mesma entidade a compensação8inanceira por esse encargo" na l4gica do princípio de ;ue cabe ao autor
compensar 8inanceiramente a colectividade pelos custos ambientais ;ue l3e
provoca6
Importante : igualmente a norma do art6 0!V da LA" onde se prevê o dever
de os autores de crimes e contra-ordenaç>es ambientais serem obrigados 9
remoção das causas da in8racção e 9 reposição da situação anterior ou
e;uivalente6 +sta norma converge com o princípio geral da responsabilidadecivil" consagrado no art6 0![V do C4digo Civil" e com a prima(ia da
reconstituição natural em relação 9 obrigação de indemni(ação" consagrado
no art6 _/$V do mesmo C4digo6 O de salientar" por:m" ;ue no Qmbito da
protecção do ambiente" o legislador atribui uma prima(ia absoluta 9
restauração natural" apenas admitindo 8i7ação da indemni(ação em din3eiro"
no caso de ser impossível essa restauração natural" 3avendo em ;ual;uer
caso obrigação de reali(ar obras para minimi(ar as conse;uências da lesãoart6 0!V" nV[ LAK6 Ralvo nos casos de impossibilidade de reconstituição natural"
8ica" assim" vedada a possibilidade de a indemni(ação ser 8i7ada em din3eiro"
mesmo ;ue a reconstituição natural se5a e7cessivamente onerosa para o
devedor art6 _//V" nV do C6C6K" ou ;ue o lesado dê o seu acordo $[6 eri8ica-
pelas cargas ambientais lícitas e a terceira implica a 8i7ação de um preço por
;ual;uer utili(ação de bens ambientais622 C8r6 )'+R CA&'*IL'" o. cit.." p6 0%623 C8r6 C.&AL R+&DI" o. cit." p6 $%6
!#
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se" assim ;ue o legislador atribui uma prima(ia absoluta 9 reconstituição
natural" ao consagrar a sua imperatividade no art6 0!V da LA6
1.3. A Lei da Ac:;o Po!ular GLei 546< de 5E de A=ostoK
Ap4s a Lei de ases do Ambiente" : igualmente importante em relação 9
tutela do ambiente atrav:s da responsabilidade civil a Lei nV ![2#_" de [ de
Agosto Lei da Acção PopularK6 +sta Lei procura assegurar a tutela 5urisdicional
dos c3amados interesses di8usos" os ;uais correspondem 9;ueles interesses
comuns a todos os membros de uma comunidade e categoria" ;ue não são
todavia susceptíveis de apropriação individual por cada um dos seus
membros" individualmente considerado" sendo por isso interesses
sub5ectivamente indeterminados$06 +ntre eles" o art6 V" nV$ da LAP inclui a
saEde pEblica" o ambiente" a ;ualidade de vida" a protecção do consumo de
bens e serviços" o patrim4nio cultural e o domínio pEblico6
' recon3ecimento destes interesses di8usos p>e em causa a tradicional
distinção romana entre o interesse pEblico e o interesse privado" e7pressa por
.LPIA&.R em D6666$, =Publicum ius est 6uod ad statum rei romanae sectat3
rivatum3 6uod ad singulorum utilitatem6 +8ectivamente" esses interesses não
são pEblicos" uma ve( ;ue o seu titular não : o +stado" mas tamb:m não
podem considerar-se privados" pois não visam a satis8ação de necessidades
e7clusivas de indivíduos determinados6 *ratam-se antes de interesses supra-
individuais" comuns a todos os membros de uma colectividade" e cu5a tutela
5urisdicional pode" por isso" ser desencadeada não apenas pelo inist:rio
PEblico" mas tamb:m por outras entidades ou cidadãos ;ue participem
desses mesmos interesses6 Daí o recon3ecimento na Lei ![2#_" de [ deAgosto" do direito de acção popular" ;ue se destina precisamente a assegurar
;ue ;uais;uer entidades singulares ou colectivas" genericamente interessadas
na protecção dos interesses di8usos" ten3am legitimidade para e7ercer a sua
tutela 5urisdicional$_6
24 C8r6 I).+L *+IW+I<A D+ R'.RA" \A Protecção Jurisdicional dos Interesses Di8usos,
Alguns aspectos processuais\ em C+&*<' D+ +R*.D'R J.DICI^<I'R" Textos" I] Ambiente e Consumo" Lisboa" s6e6" ##/" pp6 $[-$0_ $[$K625 C8r6 I).+L *+IW+I<A D+ R'.RA" o. cit." pp6 $[$-$[[6
!$
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+8ectivamente" con8orme se re8ere no art $V dessa Lei" este direito de acção
popular pode ser e7ercido" ;uer por autar;uias locais para de8esa dos
interesses dos seus residentes" ;uer por associaç>es e 8undaç>es de8ensoras
destes interesses" legitimidade ;ue 5= l3es 8ora con8erida pela Lei %2!1" de 1
de AbrilK" ;uer ainda por cidadãos no go(o dos seus direitos civis e políticos"
independentemente de terem ou não interesse directo na demanda6 +stão
assim simultaneamente a;ui consagradas as soluç>es da reresenta!"o" em
;ue a autar;uia local actua em nome dos seus residentes para de8esa dos
seus interesses pr4prios" e da substitui!"o" em ;ue a associação ou ;ual;uer
cidadão se substitui ao ente colectivo para tutela destes interesses$/6
<elativamente 9 substitui!"o" vemos ;ue a lei prevê" ;uer a denominadaac!"o associativa" em ;ue a tutela dos interesses di8usos : assegurada por
uma associação privada representativa desses interesses" ;uer ainda a
c3amada class action" situação típica dos sistemas da common la>" ;ue
consiste na propositura de uma acção ;ue di( respeito a todos os membros de
uma certa comunidade e categoria" apenas por algum ou alguns membros
dessa colectividade" sendo" por:m" os e8eitos da decisão e7tensivos a todos os
membros da classe ou categoria c8r6 arts6 0V a #V da Lei ![2#_" de [ de
AgostoK$16
' recon3ecimento do direito de acção popular" na Lei ![2#_" de [ de
Agosto" tem importantes conse;uências no Qmbito da responsabilidade civil
ambiental" uma ve( ;ue esta Lei incluiu entre os interesses ;ue e7empli8ica
poderem ser de8endidos atrav:s da acção popular o ambiente e a ;ualidade
de vida art6 V" nV$K" estabelecendo" nos seus arts6 $$V e $[V regras especí8icas
de responsabilidade civil" aplic=veis a ;ual;uer situação em ;ue se veri8i;ueuma lesão ou o8ensa a estes interesses6
26 C8r6 I).+L *+IW+I<A D+ R'.RA" \Legitimidade processual e acção popular noDireito do Ambiente\ em AA" Direito do Ambiente" Lisboa" I&A" ##0" pp6 0%#-0$#0!-0#K
27 C8r6 *+IW+I<A D+ R'.RA" \A protecçãoh\ cit6K" p6 $[06 Robre a class action" ve5a-se"desenvolvidamente" RALA*'<+ PA**I" o. cit." pp6 #! e ss6 e A&*&I' +<A& 6+&JAI&" \A Insurreição da Aldeia )lobal contra o Processo Civil Cl=ssico6
Apontamentos sobre a opressão e a libertação 5udiciais do ambiente e doconsumidor\ em C+&*<' D+ +R*.D'R J.DICI^<I'R" Textos" I] Ambiente e Consumo"Lisboa" s6e6" ##/" pp6 $11-[_ [$$ e ss6K
!%
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Actas do Colóquio – A responsabilidade Civil por dano ambiental
+m primeiro lugar" no art6 $$V : prevista uma situação de responsabilidade
civil sub5ectiva" correspondente 9 violação de disposiç>es destinadas a
proteger interesses al3eios" mas admite-se indemni(ar titulares não
individualmente 8i7ados atrav:s de uma indemni(ação global nV$K" 8i7ando
um pra(o de prescrição a contar do trQnsito em 5ulgado da sentença ;ue
recon3eceu o direito nV0K6 Por outro lado" o art6 $[V passou a ir mais longe ;ue
o pr4prio art6 0#[V" nV$" do C4digo Civil" trans8ormando a presunção de culpa
re8erida neste artigo num caso de responsabilidade pelo risco" a ;ual pode
precisamente passar pela imposição de um seguro de responsabilidade civil
art6 $0VK6 *emos a;ui" portanto" um desenvolvimento promissor para e8eitos de
tutela do ambiente atrav:s da responsabilidade civil6
1.6. O re=ie da res!onsailidade !or danos aientais constante do
Decreto-Lei E34122< de 1 de Jul0o.
' grande avanço em relação 9 responsabilidade civil ambiental :" no
entanto" dado pelo Decreto-Lei 012$%%!" de $# de Jul3o" ;ue transp>e a
Directiva $%%02[_2C+" do Parlamento +uropeu e do Consel3o" de $ de Abril de
$%%0" ;ue aprovou o regime relativo 9 responsabilidade civil por danosambientais" com a alteração ;ue l3e 8oi introdu(ida pela Directiva $%%/2$2C+"
do Parlamento +uropeu e do Consel3o" relativa 9 gestão de resíduos da
indEstria e7tractiva$!6 +mbora grande parte do seu regime 5= se pudesse retirar
da Lei de ases do Ambiente e da Lei de Participação Procedimental e Acção
Popular" não 3= dEvida de ;ue a sua introdução representou uma mel3oria
signi8icativa" pois as di8iculdades interpretativas ;ue suscitavam os outros
preceitos di8icultavam a sua aplicação pr=tica6
' novo regime da responsabilidade civil ambiental institui tanto previs>es de
responsabilidade sub5ectiva art6 !VK" como de responsabilidade ob5ectiva
pelos danos ambientais art6 1VK" estabelecendo igualmente nos seus arts6 V e
ss6" uma responsabilidade administrativa pela prevenção e reparação de
danos ambientais6 A nossa e7posição limitar-se-=" no entanto" 9
responsabilidade civil" pelo ;ue iremos e7aminar em seguida os preceitos e ela
respeitante6 &ão dei7amos de salientar" no entanto" a proibição da dupla
28 C8r6" sobre este diploma" A&*U&I' A<<+*' A<C+<" o. cit." pp6 [$ e ss6
!8
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reparação" dado ;ue o art6 %V" nV" estabelece ;ue os lesados re8eridos no
capítulo II do decreto-lei não podem e7igir reparação nem indemni(ação
pelos danos ;ue invo;uem na medida em ;ue esses danos se5am reparados
nos termos do capítulo III6 Da;ui parece resultar a consagração da
subsidiariedade da responsabilidade civil em relação 9 responsabilidade
administrativa" o ;ue nos parece altamente critic=vel" na medida em ;ue
pode 8uncionar como um e8ectivo travão aos pedidos de indemni(ação pelos
danos causados ao ambiente por parte dos cidadãos6 ' art6 %V" nV$"
acrescenta ainda ;ue as reclamaç>es dos lesados em ;uais;uer processos
ou procedimentos não e7oneram o operador respons=vel da adopção plena
e e8ectiva das medidas de prevenção ou de reparação ;ue resultem daaplicação do presente decreto-lei nem impede a actuação das autoridades
administrativas para esse e8eito6
A responsabilidade sub5ectiva aparece-nos prevista no art6 !V onde" numa
8ormulação semel3ante ao art6 0![V CC se estabelece ;ue ;uem" com dolo
ou mera culpa" o8ender direitos ou interesses al3eios por via da lesão de um
componente ambiental 8ica obrigado a reparar os danos resultantes dessa
o8ensa6
J= em relação 9 responsabilidade ob5ectiva" a mesma encontra-se prevista
no art6 1V" onde se prevê ;ue ;uem" em virtude do e7ercício de uma
actividade econ4mica enumerada no Ane7o III ao presente decreto-lei" ;ue
dele 8a( parte integrante" o8ender direitos ou interesses al3eios por via da lesão
de um ;ual;uer componente ambiental : obrigado a reparar os danos
resultantes dessa o8ensa" independentemente da e7istência de culpa ou
dolo6
+m ambos os casos : assim necess=rio a prova do ne7o de causalidade
;ue" con8orme se re8eriu" constitui o elemento de demonstração mais di8ícil no
Qmbito da responsabilidade por danos ambientais6 'ra" nesses casos" o art6 _V
do D6L6 012$%%! estabelece ;ue a apreciação da prova do ne7o de
causalidade assenta num crit:rio de verosimil3ança e de probabilidade de o
8acto danoso ser apto a produ(ir a lesão veri8icada" tendo em conta as
circunstQncias do caso concreto e considerando" em especial" o grau de risco
!9
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Actas do Colóquio – A responsabilidade Civil por dano ambiental
e de perigo e a normalidade da acção lesiva" a possibilidade de prova
cientí8ica do processo causal e o cumprimento" ou não" de deveres de
protecção6 J= 8oi criticado o 8acto de esta norma não estabelecer uma
presunção legal de causalidade$#" mas não dei7amos de considerar ;ue os
termos em ;ue est= redigida são su8icientemente amplos para permitir ao
5ulgador o estabelecimento de presunç>es 5udiciais de causalidade6
A pluralidade de respons=veis pelo dano aparece regulada no art6 0V ;ue
estabelece o regime geral da solidariedade entre os respons=veis" sem pre5uí(o
do correspondente direito de regresso" presumindo-se a repartição da
responsabilidade em partes iguais" bem como a igualdade das culpas dos
respons=veis a título sub5ectivo6 A lei estabelece ainda no art6 [V" nV" ;ue
;uando a actividade lesiva se5a imput=vel a uma pessoa colectiva" as
obrigaç>es previstas no re8erido decreto-lei incidem solidariamente sobre os
respectivos directores" gerentes ou administradores6 ' art6 [V" nV$" acrescenta
;ue no caso de o operador ser uma sociedade comercial ;ue este5a em
relação de grupo ou de domínio" a responsabilidade ambiental estende-se 9
sociedade-mãe ou 9 sociedade dominante ;uando e7ista utili(ação abusiva
da personalidade 5urídica ou 8raude 9 lei6
' art6 /V estabelece" por:m" um regime especial no caso de poluição de
car=cter di8uso considerando aplic=vel as obrigaç>es dos artigos anteriores
;uando se5a possível estabelecer um ne7o de causalidade entre os danos e as
actividades lesivas6 .ma ve( ;ue se e7ige a demonstração de um ne7o de
causalidade entre os danos e as actividades lesivas não parece possível" com
base nesta disposição" responsabili(ar todos os intervenientes em caso de
causalidade alternativa em relação a esta poluição[%6 +m relação a este
aspecto a lei limita-se a estabelecer no art6 0V" nV$" ;ue ;uando não se5a
possível individuali(ar o grau de participação de cada um dos respons=veis"
presume-se a sua responsabilidade em partes iguais" o ;ue pressup>e o
pr:vio estabelecimento da responsabilidade individual de cada um6 Ali=s" esta
29 Assim" CA<LA AAD' )'+R" o. cit." p6 0" considera ;ue esta norma assentana teoria da causalidade ade;uada" al:m de apontar para a prova cientí8ica do
processo causal" o ;ue redu( grandemente a margem de construção de situaç>es deimputação menos 8irmes630 &este sentido" tamb:m CA<LA AAD' )'+R" o. cit." p6 06
"0
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presunção parece-nos bastante in5usta" 8a(endo muito mais sentido repartir a
responsabilidade com base na ;uota de mercado6
Rob a denominação de proibição da dupla reparação" o ;ue ningu:mcontesta" o art6 %V" nV" vem estabelecer ;ue os lesados re8eridos nos artigos
anteriores não podem e7igir reparação nem indemni(ação pelos danos ;ue
invo;uem na medida em ;ue esses danos se5am reparados nos termos do
capítulo seguinte6 +sta norma parece-nos altamente ;uestion=vel na medida
em ;ue pode ser interpretada no sentido de e7cluir uma responsabilidade civil
sempre ;ue as situaç>es se5am abrangidas pela responsabilidade
administrativa6 'ra" parece mani8esto ;ue as medidas de reparação
determinadas pelas autoridades administrativas não poderão e7cluir o direito
9 indemni(ação em relação aos titulares de direitos privados6
uito critic=vel me parece ser a disposição do art6 [[V ;ue vem estabelecer
;ue se consideram prescritos os danos causados por ;uais;uer emiss>es"
acontecimentos ou incidentes ;ue 3a5am decorrido 3= mais de [% anos sobre
a e8ectivação do mesmo6
5. Conclus;o.
Apesar das di8iculdades ;ue o 8uncionamento cl=ssico da responsabilidade
civil coloca 9 reparação dos danos ambientais" o Direito Português tem vindo
a consagrar sucessivos regimes de responsabilidade civil ambiental6 +spera-se
;ue a sua aplicação pr=tica se torne e8ectiva e ;ue sur5a uma e8ectiva
responsabili(ação nesta =rea6
Luís Manuel Teles de Menezes LeitãoLuís Manuel Teles de Menezes Leitão
Pro8essor catedr=tico daPro8essor catedr=tico da
Faculdade de Direito da .niversidade de LisboaFaculdade de Direito da .niversidade de Lisboa
oltar ao Yndice
"1
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Actas do Colóquio – A responsabilidade Civil por dano ambiental
TM" DI("CTI" 1223456 O' "'I(O'#"'TAL LIAILITN 8 US"UL9
Directive $%%02[_ on environmental liabilitG ?it3 regard to t3e prevention andremedGing o8 environmental damage 3ad to be transposed into national la?
o8 t3e $1 +. member Rtates bG April $%%16 *3is Directive constitutes t3e
provisional end o8 some t3irtG Gears o8 discussions on liabilitG discussions at +.
level6 *3e present contribution ?ill not retrace all details o8 t3is discussion" as
muc3 o8 it is 5ust passed 3istorG6 <at3er" it ?ill looB into some 8eatures ?3ic3
seem to me o8 relevance" in order to understand t3e present approac3 c3osen
bG t3e +. and o8 interest 8or t3e discussions ?3ic3 ?ill inevitablG come up during
t3e ne7t Gears6 *3ere8ore" t3e evolution o8 t3e Directivejs public la? approac3
?ill be discussed IK" 8ollo?ed bG some considerations on t3e polluter-paGs
principle ?3ic3 is so stronglG put into emp3asis IIK6*3e t3ird section ?ill deal ?it3
some considerations on damage caused bG geneticallG modi8ied products IIIK6
FinallG" t3ere ?ill be some re8lections on t3e e88ect o8 t3e DirectiveIK6
I. T0e !ulic law a!!roac0
Directive $%%02[_ 3as t3e ?ord environmental liabilitG in its title6 o?ever" a
rig3t o8 compensation o8 private parties is e7presslG e7cluded$6 *3us" t3e ?ords
environmental liabilitG could ?ell 3ave been e7cluded 8rom t3e Directivejs
title and it is no secret t3at t3eG ?ere onlG re-inserted t3ere 8or publicitG reasons,
a legislation on environmental liabilitG ?as t3oug3t to be muc3 more interesting
to t3e public t3an legislation on prevention and remedGing o8 environmental
damage6
+. la? 3as to be interpreted out o8 itsel8" ?it3out anG recourse to national la?
notions6 For t3is reason" it mig3t be acceptable t3at t3e Directivejs sGstem is
called liabilitG sGstem6 *raditional continental +uropean legal sGstems" t3oug3"
used to di88erentiate bet?een on t3e one 3and" liabilitG sc3emes" ?3ere
damage ?as caused bG a ?rong-doer to a person or to an attributed item o8
propertG and t3e victim looBed 8or compensation" and" on t3e ot3er 3and"
ot3er sGstems o8 damage caused bG t3e Rtate or bG ot3er inter8ering persons
1 Directive $%%02[_" 'J $%%0 L 0[ p6_/62 Ree Directive $%%02[_" Article [!K and recitals and 06
"
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and to ot3er non-attributed items o8 propertG6 3ile t3e 8irst group o8
impairments ?as 3andled under civil la? M o8ten completed bG speci8ic tGpes
o8 legislation M" t3e second group did not 8ollo? t3e rules o8 civil la?" civil codes
or ot3er victim-?rongdoer relations, e7propriations bG public aut3orities or
inter8erences bG t3e police ?3ic3 caused damage to persons or private
propertG ?ere not discussed under civil la?" but under public la?
considerations" and speci8ic provisions ?ere establis3ed 8or suc3 cases M o8ten
enoug3" it is true" to privilege public aut3orities6 *3is continental +uropean
di88erentiation ?as and is largelG unBno?n in t3e anglo-sa7on common la?6
*3e Commissionjs proposals on t3e liabilitG 8or damage caused bG ?aste"
dating 8rom #1/ till ##" verG largelG 8ollo?ed t3e civil la? approac3 and
suggested to introduce compensation 8or damage caused bG t3e ?aste[6
o?ever" ?3en t3e Commission 8ollo?ed t3e Counciljs re;uest and submitted"
in #!#" a proposal 8or an independent directive on damage caused bG ?aste"
it addressed" 8or t3e 8irst time" t3e issue t3at it ?as not su88icient to deal ?it3
p3Gsical in5urG and economic loss" but t3at also t3e damage to t3e
environment 3ad to be addressed6 *3ere8ore" t3e proposal distinguis3ed
bet?een damage and environmental impairment ?3ic3 ?as de8ined asanG signi8icant p3Gsical" c3emical or biological deterioration o8 t3e
environment06 *3e proposal attributed t3e liabilitG 8or damage and 8or
environmental impairment to t3e generator or t3e 3older o8 t3e ?aste6 Again"
t3is proposal ?as not adopted6
.nder t3e in8luence o8 t3e Rando( accident in asel #!/K ?3ic3 caused a
considerable pollution o8 t3e <3ine <iver" t3e Council asBed t3e Commission 8or
t3e 8irst time to e7amine t3e opportunitG o8 adopting general legislation on
environmental liabilitG_6 )enerallG" 3o?ever" t3e re;uest 8or legislation on
3 Ree proposal 8or a directive on to7ic and 3a(ardous ?aste" 'J #1/ C #0" p6$"Article # proposal 8or a regulation on t3e transboundarG s3ipment o8 3a(ardous ?aste"'J #![ C !/" p6[ proposal 8or a directive on land8ills" 'J ## C #% p6" Article 06 Allt3ese proposals ?ere not adopted bG t3e Council6
4 Commission" proposal 8or a directive on liabilitG 8or damage caused bG ?aste" 'J#!# C $_ p6[" Article $KdK amended proposal 'J ## C #$ p6#
5 Council <esolution o8 $0 &ovember #!/" not publis3ed see re8erence to it in
Commission" ulletin o8 t3e +uropean Communities no62#!/" paragrap3 $660/6 Reealso <esolution o8 t3e +uropean Parliament o8 December #!/ on t3e Rando(accident6
"!
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environmental damage ?as not verG strong" as t3e opinion prevailed" t3at
preventive measures M ?3ic3 meant accident prevention sc3emes 8or industrial
installations" strict environmental standards and t3e control o8 t3eir application"
restrictions on t3e use" emission and disc3arge o8 substances etc6 M ?ere seen
to be more e88ective t3an a sGstem on paGment 8or damage to t3e
environment6
*3e Commissionjs )reen Paper on environmental damage/" publis3ed in ##[
a8ter 3aving been stripped bG internal bargaining to almost being not
understandable" 8urt3er built on t3is di88erentiation6 It discussed t3e liabilitG 8or
p3Gsical in5urG and economic loss and raised t3e de8inition o8 environmental
damage" ?it3out going into anG dept36 Instead" it raised t3e problem o8
orp3an damage" i6e6 damage" ?3ere a liable person could not be identi8ied"
?3ere t3e causal linB bet?een t3e operation and t3e damage could not be
proven and ?3ere t3e liable person ?as not able to paG6 For suc3 cases" t3e
)reen Paper considered to renounce on civil liabilitG sGstems and to set up
collective compensation sc3emes6
*3oug3 t3e +uropean Parliament re;uested t3e elaboration o8 a directive on
environmental liabilitG" t3e Commission delaGed a reaction" because t3e
Council o8 +urope 3ad" in t3e meantime" elaborated t3e dra8t o8 a +uropean
Convention16 *3is dra8t Convention 3eld t3e operator liable 8or p3Gsical in5urG
and economic loss" 8urt3ermore 8or environmental impairment" and 8or
damage-mitigating measures! and 8or reasonable reinstatement or restoration
measures6 It did not provide 8or anG activitG or obligation o8 public aut3orities6
Contracting parties )ermanG" France" .nited @ingdomK considered t3e dra8t
Convention to be too rigid and t3us decided not to ad3ere to it6
6 Commission" )reen Paper on remedGing environmental damage" C'#[ 01 o80 aG ##[6
7 Council o8 +urope" Lugano Convention o8 $ June ##[ on civil liabilitG 8or damageresulting 8rom activities dangerous to t3e environment6 *3e Convention 3as not enteredinto 8orce6
8 *3ese damage-mitigation measures M e7presslG named as measures a8ter anincident 3as occurred M ?ere called preventive measures" ?3ic3 appearsmisleading" t3oug3 Directive $%%02[_ commits a similar mis-spelling" bG mentioning as
preventive measures onlG t3ose t3at intend to 3ave an imminent t3reat o8 damageprevented Article _K6 In continental +uropean la?" t3is situation is not normallG seen aspreventive action" but as an action to eliminate an e7istingK impairment6
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*3e Commissionjs 3ite Paper repeated t3e concept t3at t3e polluter s3ould
paG 8or traditional damage" but also 8or environmental restoration#6 Protected
natural resources s3ould be restored" even ?3en a liabilitG regime could not
be applied" 8or e7ample" ?3ere t3e polluter could not be identi8ied6 *3e 3ite
Paper discussed restoration issues under t3e notion o8 damage %" t3oug3 it
?ent ?ell a?aG 8rom t3e general notion o8 damage, aK it considered t3at t3e
principal aim o8 an +. sc3eme s3ould be to avoid disproportionate costs o8
restoration" not t3e compensation o8 damage and bK ?3ere restoration ?as
not possible" it discussed t3e taBing o8 alternative measures ?3ic3 led to
e;uivalent solutions" but again ?anted due consideration to be given to t3e
costs o8 suc3 measures
$6
*3e Commissionjs proposal 8or a directive[ t3en openlG ?ent a?aG 8rom civil
la? sGstem" bG e7presslG not dealing ?it3 p3Gsical in5urG and economic loss and
giving environmental organisations some rig3ts o8 action against public
aut3orities" but not against t3e operator ?3o ?as responsible 8or t3e
environmental impairment6 erG little 5usti8ication ?as given 8or t3is c3ange ?it3
regard to t3e 3ite Paper6 *3e departure 8rom t3e concept o8 damage
compensation 8or t3e impaired environment clearlG appears in t3e criteria 8ort3e c3oice o8 restorative options" ?3ere t3e costs to carrG out t3e option are a
verG prominent 8actor 06
From t3is approac3" t3e adopted version o8 Directive $%%02[_ onlG slig3tlG
deviated, t3e obligation placed on t3e operator to taBe remedial action ?as
limited to practicable steps_ ?3ic3 contains t3e notion o8 being limited to
8inanciallG reasonable steps 8urt3ermore" t3e operator ?as entitled to discuss
9 Commission" 3ite Paper on environmental liabilitG" C'$%%%K // o8 # FebruarG$%%%" c3apters [ and 06
1% Commission note # aboveK" section 06_61 Ree ibidem" p6#, ki8 restoration o8 damage is 8easible" t3ere also 3ave to be
valuation criteria 8ort t3e damaged natural resources" in order to avoiddisroortionate costs of restoration?emp3asis addedK6
1$ Ibidem" p6$%, k<eplication o8 t3e ;ualitG and ;uantitG o8 t3e natural resources?ill mostlG not be possible" or onlG at e7treme costs6 *3ere8ore" t3e aim s3ould rat3er beto bring t3e damaged resources bacB to comparable condition" considering also8actors suc3 as t3e 8unction and t3e 8uture use o8 t3e damaged environment6
1[ Commission proposal" 'J $%%$ C _+ p6[$ e7planatorG memorandum
C'$%%$K 1 o8 $[ JanuarG $%%$610 Commission proposal note [ aboveK" Anne7 II" nos [6$6 and [6$6$61_ Directive $%%02[_ note aboveK" Article /KaK6
"#
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Actas do Colóquio – A responsabilidade Civil por dano ambiental
?it3 t3e administration on t3e remedial measures to be taBen Article 1$KK and
t3e administrative aut3orities ?ere advised not to provide 8or remedial
measures ?3ere t3eG considered t3e costs to be disproportionate/6
'verall" t3e discussion o8 environmental liabilitG at +C level s3o?s more t3an 5ust
a linguistic c3ange 8rom t3e compensation o8 t3e damage caused to t3e
responsibilitG o8 t3e polluter6 It also demonstrates a progressive departure
8rom t3e concept t3at an individual person s3ould be compensated 8or t3e
impaired environment to?ards a concept t3at t3ere s3ould be restoration o8
t3e impaired environment" provided t3is could be ac3ieved at reasonable
costs6 *3is accentuation o8 environmental restoration increased t3e role o8
public administration ?3ic3 3as to determine" i8 and ?3at 3as to be restored
and at ?3at cost6 At t3e same time" polluters 3ave ?on a muc3 more decisive
in8luence on t3e process, in classical civil liabilitG legislation" t3e ?rongdoer 3as
to compensate 8or t3e damage t3at ?as caused 3is 8inancial capacitG is
not3ing ?3ic3 taBes a?aG t3is obligation, At t3e end o8 t3e daG" t3e t3eorG o8
civil la? is t3at t3e responsible person ?3o is unable to paG" goes out o8
business6
it3 t3e intervention o8 t3e public aut3orities" t3is concept 3as completelG
c3anged" as it is no longer t3e damage su88ered ?3ic3 is determining" but t3e
reasonableness o8 restoration6 *3is means t3at t3ere is muc3 more o8 a
bargaining process bet?een t3e polluter and t3e aut3orities o8 ?3at Bind o8
restoration is reasonable and 8easible and once more" t3e environment" an
interest ?it3out a group" is not reallG represented in t3is bargaining process6 It
can onlG be 3oped t3at t3e pro7imitG o8 economic operators to t3e ?3ole
process and t3e past inclination o8 t3e administration to looB 8or arrangements
?it3 economic operators at t3e e7pense o8 environmental protection" ?ill not
maBe t3e process t3at 3as been introduced bG Directive $%%02[_" meaningless
in practice6 'n t3at" t3e big accidents o8 t3e tGpe o8 Rando( #!/K" A(nalc4llar
##!K" Prestige $%%[K or Reveso #1/K ?ill run less o8 suc3 a risB" because in
suc3 cases" public attention and concern ?ill ensure t3at remedGing measures
are being taBen bG public aut3orities" ?3o t3en ?ill address t3e polluter 8or t3e
1/ Directive $%%02[_ note aboveK" Anne7 II" no66[6[bK6
"$
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costs6 *3e danger 8or t3e environment rat3er lies in smaller cases o8
environmental impairment ?3ic3 onlG 8ind local or regional attention6
*3is s3i8ting o8 emp3asis also 3as a democratic aspect6 An individual personcan no longer pursue a polluter in court and trG to 8ind compensation ?3ic3 3e
or s3e su88ered6 <at3er" t3e ?3ole procedure to ensure e88ectiveness o8 t3e
legislation 3as been put into t3e 3ands o8 t3e administration6 *3is is a clear
di88erence to t3e .nited Rtates sGstem o8 liabilitG" ?3ic3 also gives strong po?ers
to public administration in order to clean up t3e impaired environment" but
?3ic3 does not e7clude" at t3e same time" private en8orcement actions
against polluters" ?3ere private items M 3ealt3 and sa8etG" individual propertG M
?ere a88ected bG t3e environmental impairment6 *3e provisions o8 t3e directive
?3ic3 allo? environmental organisations to pus3 administrations to 8ullG applG
and en8orce t3e provisions o8 directive $%%02[_" are onlG conceived to 3elp t3e
better restoration o8 t3e impaired environment" but not to compensate private
victims or re?ard individuals ?3o success8ullG sued environmental polluters6
It remains t3us" t3at citi(ens do not 3ave muc3 to contribute to t3e restoration
o8 t3e impaired environment6 *3e protection o8 t3e environment M including its
non-protection M is in t3e 3ands o8 t3e administration 6 t3e directive does not
give anG indication on t3e ;uestion" ?3o protects t3e environment against t3e
passivitG o8 administration16
II. T0e !olluter-!a7s !rinci!le
*3e polluter-paGs principle" mentioned in Article as ?ell as in recitals $ and !
o8 Directive $%%02[_" obviouslG is t3e core principle on ?3ic3 t3e Directive is
based6 *3e polluter-paGs principle is mentioned in Article 10 +C *reatG" t3oug3
?it3 a verG di88erent ?ording! and opinions diverge" ?3at e7actlG it means #6
*3ere seems to be consensus" t3oug3" t3at t3is principle intends to ensure t3at
11 It is interesting to note t3at R3aBespeare asBed" some 0%% Gear ago in 3isamlet" ?3at could be done against t3e insolence o8 o88ice6
1! Article 10 $K +C *reatG, kcauser principle erursac3erprin(ip" )ermanKkpolluter paGer principle Frenc3K kt3e polluter s3ould paG+nglis3K k3e ?3o pollutespaGs ItalianK kt3e polluter paGs Dutc3K kt3e polluter paGs Danis3K polluter-paGerprinciple PortugueseKetc6
1# Ree recentlG &icolas de Radeleer" +nvironmental principles6 '78ord, '.P $%%$"p6/% <ic3ard acrorG +d6K, Principles o8 +uropean environmental la?6 )roningen,+uropa La? Publis3ing $%%06
"%
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Actas do Colóquio – A responsabilidade Civil por dano ambiental
t3e costs o8 repairing environmental impairment s3all be borne bG t3e polluter
and not bG t3e ta7paGer in general6
It is remarBable t3at t3e Commissionjs 3ite Paper on environmental liabilitG$%
"t3e Commission proposal 8or directive $%%02[_$ and Directive $%%02[_ all invoBe
t3e polluter-paGs principle as t3e leading and guiding principle6 In 8act"
3o?ever" t3e t3ree di88erent te7ts c3ose considerablG di88erent approac3es to
t3e problem o8 remedGing environmental impairment" as t3e 8ollo?ing table
demonstrates,
Issue 0ite Pa !erCoission
!ro!osalDirecti/e 1223456
6 *raditionaldamage
included not included not included
$6 iotec3nologGdamage
included not included not included
[6 ater damage not included included included
06 Permit de8ence le8t open included le8t to ember Rtates
_6 alleviating
proo8 burden
included not included included
/6 ember Rtatesto restore
included included not included
16 'il pollutionnuclear
le8t open not included not included
!6 CompulsorGinsurance
not included not included le8t to ember Rtates
#6 &)' actionagainst Rtates
included included 3ardlG included
%6in5unction rig3ts8or &)'s
included not included not included
I8 all t3ese di88erent and sometimes even opposite legal solutions maG be
subsumed under t3e polluter-paGs principle" it seems di88icult to consider t3at
2% Commission note # aboveK2 Commission proposal note [ aboveK
"8
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t3e polluter-paGs principle contains anG meaning8ul legal re;uirement at all6 In
particular t3e solution c3osen bG t3e Directive on orp3an damage Article /[K
o8 Directive $%%02[_K t3at M ?3ere t3e polluter cannot be identi8ied" cannot paG
or 3as a valid de8ence - t3e public aut3orities ma9 restore t3e environment" but
3ave no obligation to do so" means t3at t3e polluter-paGs principle ?as
perceived" bG t3e legislator" as void o8 content6 Indeed" it must not be 8orgotten
t3at in all our ember Rtates it is t3e administration ?3ic3 3as been given t3e
tasB M and t3us also t3e responsibilitG M to protect t3e environment it is t3e
administration ?3ic3 issues t3e permit 8or an installation" 8i7es t3e conditions t3at
are linBed to t3e permit and 3as t3e obligation to ensure t3at t3e permit
conditions are complied ?it36 ad t3e Directive adopted t3e Commissionproposal to oblige t3e administration to taBe remedial measures" be it in some
cases onlG" t3e administration mig3t ?ell 3ave 8elt an increased responsibilitG to
issue strict permit conditions and to control potential polluters more care8ullG6
I8 ?e talB o8 5ustice in our societG M ?3ere is 5ustice 8or t3e impaired environment
ranged
In a number o8 5udgments" t3e Court o8 Justice tried to interpret t3e Polluter-
paGs principle in a sense t3at is 8avourable to victims $$6 It is submitted" t3oug3"
t3at t3ese 5udgments 3ave 3ardlG a bearing under Directive $%%02[_6 *3eG
mainlG concern ?aste la?" ?3ere t3e polluter-paGs principle ?as made
compulsorG" via secondarG +. legislation" on t3e national la? o8 ember Rtates6
3ere +. la? itsel8 limits t3e application o8 t3is principle" bG not maBing t3e
polluter liable in numerous cases" and bG not providing 8or a subsidiarG
responsibilitG o8 public administration" t3ere is little perspective 8or e7tending t3e
liabilitG sc3eme o8 t3e Directive6
III. Daa=e caused 7 =eneticall7 odi&ied !roducts
*3e issue o8 geneticallG modi8ied products progressivelG appeared in t3e
discussion on environmental liabilitG" a8ter t3e adoption o8 t3e 8irst +. directives
on )'s in ##%$[6 *3e Commission )reenbooB did not Get discuss speci8ic
2$ Court o8 Justice" case C-2%[ vdalle" +C< $%%0" p6I-1/[ case C-!!2%1"
es;uer" +C< $%%!" p6I-0_% case C-$_02%! Futura" 5udgment o8 / JulG $%%#62[ Directives #%2$# on t3e contained use o8 geneticallG modi8ied micro-organisms" 'J ##% L 1 p6 #%2$$% on t3e deliberate release o8 geneticallG modi8ied
"9
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Actas do Colóquio – A responsabilidade Civil por dano ambiental
issues o8 liabilitG 8or )'s6 *3e dra8t Lugano Convention$0 considered t3e
production" 3andling" storage" use or disc3arge o8 geneticallG modi8ied
organisms ?3ic3 pose a signi8icant risB 8or man" t3e environment or propertG to
be a dangerous activitG ?3ere suc3 products caused damage" t3e operator
s3ould be 3eld strictlG liable6
In t3is conte7t" t3oug3" Article $_ o8 t3e dra8t Convention stated t3at +.
ember Rtates" in t3eir mutual relations" 3ad to applG +. la? instead o8 t3e
provisions o8 t3e dra8t Convention6 *3is meant in practice t3at 8or +. ember
Rtates" t3e provisions o8 Directive !_2[10 on product liabilitG applied$_" and t3is
Directive limited strict liabilitG to cases" ?3ere t3ere ?as a de8ect o8 a product
8urt3ermore" economic damage ?as limited to non-commercial damage6
*3ese issues ?ill 8urt3er discussed belo?6
*3e Commissionjs 3ite Paper considered t3e elaboration o8 a speci8ic
directive on damage caused bG )'s" but re5ected t3is option in 8avour o8 a
3ori(ontal directive on environmental liabilitG$/ t3is ?as not particularlG
detrimental" because t3e 3ite Paper" as mentioned above" started 8rom t3e
assumption t3at an +. sGstem o8 environmental liabilitG ?ould also include
compensation o8 p3Gsical in5urG and economic loss6
As t3e introduction o8 t3e biotec3nologG tec3nologG came into a crisis in t3e
late ##%s" t3e Commission accepted" in $%%" to submit a sGstem o8
environmental liabilitG 8or damage ?3ic3 ?as caused bG )'s$16 *3e
Commissionjs proposal 8or directive $%%02[_" 3o?ever" e7cluded traditional
damage altoget3er and provided 8or restoration o8 biodiversitG damage and
soil damage onlG6 And t3is concept ?as not signi8icantlG c3anged bG t3e 8inal
version o8 Directive $%%02[_6
organisms" 'J ##% L 1 p6_620 Lugano Convention note 1 aboveK" Article $62_ Directive !_2[10 concerning liabilitG 8or de8ective products" 'J #!_ L $% p6$#62/ Commission note # aboveK" section _6_" p6$/621 Directive $%%2! on t3e deliberate release o8 geneticallG modi8ied organisms"
'J $%% L %/ p" recital /, *3e provisions o8 t3is Directive s3ould be ?it3out pre5udiceto national legislation in t3e 8ield o8 environmental liabilitG" ?3ile CommunitG legislationin t3is 8ield needs to be complemented bG rules covering liabilitG 8or di88erent tGpes o8
environmental damage in all areas o8 t3e +uropean .nion6 *o t3is end" t3e Commission3as undertaBen to bring 8or?ard a legislative proposal on environmental liabilitG be8oret3e end o8 $%%" ?3ic3 ?ill also cover damage 8rom )'s6
#0
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*3e present state o8 +. la? ?it3 regard to liabilitG 8or damage caused bG
geneticallG modi8ied products is t3us as 8ollo?s, Directive $%%02[_ provides 8or
remedial measures" ?3ere )'s cause anG damage t3at is covered bG
Directive $%%02[_6
Furt3ermore" Directive !_2[10 3as set up a strict liabilitG regime 8or p3Gsical in5urG
and non-commercial economic loss ?3ic3 is caused bG a de8ective )' or a
de8ective product containing )'s6 *3is Directive" maBes t3e producer or t3e
+. importer liable" e7cludes t3e liabilitG o8 ot3er persons suc3 as traders and
does not 8oresee o8 a collective liabilitG sGstem o8 a speci8ic pro8essional group6
Furt3ermore" it needs to be clari8ied t3at )'s or )' products ?3ic3 causea damage M 8or e7ample bG contaminating organic 8arming products M are not
necessarilG de8ective6 Indeed" under Directive !_2[10" a product is de8ective
?3en it does not o88er t3e sa8etG ?3ic3 a person is entitled to e7pect6 *3is
de8inition means t3at not everG dangerous product is automaticallG de8ective,
a p3armaceutical product maG be dangerous but ?3en properlG tested
be8ore marBeting" it is not de8ective6 In t3e same ?aG a )' ?3ic3 undergoes
e7tensive tests prior to its aut3orisation" cannot normallG be considered to be
de8ective" t3oug3 it mig3t" o8 course be dangerous6
Directive !_2[10 is based on t3e actual Article 0 F+. *reatG and t3e Court o8
Justice decided on several occasions t3at t3e Directive constituted a total
3armonisation M ?3ic3 means in substance t3at ember Rtates are not entitled
to adopt legislation at national level ?3ic3 deviates 8rom t3e provisions o8
Directive !_2[106 In ot3er terms, a national legislation ?3ic3 introduces a liabilitG
sGstem 8or )' products t3at are not de8ective" ?3ic3 provides 8or t3e
responsibilitG o8 ot3er persons t3an t3e individual producer o8 t3e de8ective
)' product or ?3ic3 provides 8or compensation o8 ot3er damage t3an non-
commercial damage is not compatible ?it3 e7isting +. la?6
It is liBelG t3at controversies bet?een t3is +. sGstem on liabilitG and e7isting or
ne? national legislation on liabilitG 8or damage caused bG )' products ?ill
3ave to be resolved bG t3e Court o8 Justice" eit3er on t3e initiative o8 t3e
Commission ?3ic3 taBes a ember Rtate to t3e Court Article $_! *F+.K" or on
#1
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Actas do Colóquio – A responsabilidade Civil por dano ambiental
t3e initiative o8 a national court ?3ic3 tries to obtain a preliminarG ruling 8rom
t3e Court o8 Justice under Article $/1 F+. *reatG6
I. T0e &irst 7ears o& e@!erience wit0 Directi/e 1223456
3at is not surprising ?it3 t3e 8irst Gears o8 e7perience ?it3 t3e ne? Directive
and its transposition into national la? is t3e 8act t3ere are 3ardlG anG cases
?3ere t3e ne? provisions applG6 *3is situation is not ne?6 Rome Gears ago"
)ermanG 3ad adopted legislation on environmental liabilitG" and until no?"
t3ere are e7tremelG 8e? cases ?3ere t3is act ?as applied in practice$!6
*3is raises t3e ;uestion" ?3et3er t3e approac3 o8 t3e Directive is not" in itsel8"t3e ?rong one6 Indeed" t3e provisions o8 t3e Directive maG applG in t3e case o8
an environmental accident, an un8oreseen and sudden event ?3ic3 damages
t3e environment and ?3ic3 re;uires restoration6 I ?ould not e7clude t3at in
suc3 cases" t3e Directive mig3t 3ave some application in practice t3is is
possible" t3oug3 t3e t?o most relevant tGpes o8 accident in modern societG are
e7plicitlG e7cluded, nuclear accidents and tanBer accidents ?it3 subse;uent
marine and coastal pollution6 *3e restoration o8 t3e environment in ot3er cases
is severelG 3ampered bG t3e 8act t3at article !0KaK and bK allo? ember
Rtates to declare t3at t3e polluter s3ould not bear t3e cost 8or t3e restoration" i8
3e acted in compliance ?it3 a permit or i8 t3ere ?as a so-called development
risB6 Furt3ermore" t3e Directive onlG applies to occupational activities ot3er t3an
t3ose listed in Anne7 III" ?3en t3e polluter ?as at 8ault or acted negligentlG
Article [ K bK6 In cases" ?3ere a permit 3as been granted 8or e7ercising t3e
occupational activitG" it ?ill normallG be most di88icult to prove 8ault or
negligence 8rom t3e side o8 t3e polluter6
*3e main reason" t3oug3" ?3G t3e Directive ?ill not 3ave a great application is
t3at t3e environment is not in particular damaged because o8 accidents" but
because it is sicB $#6 *3e long and progressive degradation o8 t3e environment is
t3e principal source o8 impairment6 *3inB o8 t3e car emissions ?3ic3 lead to air
2! '8 course" t3is remarB re8ers to cases ?3ic3 ?ere decided bG courts6 It cannotbe e7cluded t3at a certain number o8 cases ?ere regulated bG insurers or ot3er?ise"
be8ore court litigation started6 *3e liBeli3ood o8 t3is is" 3o?ever" limited2# *3e di88erence bet?een accident insurance and sicBness insurance plaGs aconsiderable role in social la? 8or ?orBers6
#
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pollution, almost all cars complG ?it3 t3e e7isting emission limit values 8or air
pollution Get" t3e overall result o8 t3e emissions is t3e air contamination ?3ic3
causes so muc3 damage to t3e environment and to 3uman 3ealt36 Agricultural
activitG" suc3 as t3e use o8 8ertili(ers" pesticides and ot3er c3emicals" intensive
livestocB 8arming and ot3er practices" are normallG legal aut3orised" not
pro3ibitedK Get" t3eG contribute to ground?ater and ?ater pollution" to soil
contamination" t3e development o8 monocultures" t3e loss o8 biodiversitG etc6
*3e green3ouse gas emissions ?3ic3 contribute to climate c3ange" stem
mainlG" as 8ar as ant3ropogenic sources are concerned" 8rom activities ?3ic3
are permitted or" at least" not pro3ibited6 ost o8 t3e c3emicals in t3e
environment come 8rom per8ectlG legal activities etc6
Directive $%%02[_ does not o88er muc3 3elp in suc3 cases6 ultiple causation bG
several sources" t3e linB o8 causation bet?een an activitG and damage to t3e
environment" t3e reversal o8 t3e burden o8 proo8 M t3e Directive leaves suc3
;uestions almost entirelG undecided6 In t3e begin o8 t3e legislative ?orB at
+uropean level" t3is omission ?as 5usti8ied bG t3e 8act t3at t3e Directive did not
intend to intervene to stronglG in t3e traditional structures o8 civil liabilitG
legislation ?3ic3 3ad evolved in ember Rtates during manG decades6o?ever" ?3en t3e orientation o8 t3e Directive became" ?it3 t3e last
Commission proposal" an e7clusivelG public la? orientation" t3e aut3ors 8ailed to
reconsider t3e structure o8 t3e Directive and its integration into t3e e7isting
mec3anisms at ember Rtate level6
+uropean legislation 3as not Get developed anG instruments to address t3is
sicBness aspect o8 t3e environment6 It is clear t3at prevention is t3e best cure
also against sicBness" and t3ere are several pieces o8 legislation ?3ic3 trG to
identi8G preventive measures ?3ic3 are to be taBen against environmental
impairment e7amples include Directive !_2[[1 on t3e environmental impact
assessment o8 private or public pro5ects" be8ore consent is granted Directive
#/2!$ an ma5or accident prevention 8or industrial installations t3e double-3ull
e;uipment o8 petrol tanBers in +. ?aters Directive $%%20$ on environmental
impact assessment o8 certain plans and programmes etc6 o?ever" t3ese and
ot3er measures do not lose a ?ord on t3e cumulative e88ect o8 pollutants and"normallG" not eit3er on t3e operation o8 an installation ?3ic3 generates t3e
#!
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principal ;uantities o8 pollutants and t3us t3e biggest environmental
impairment6
Is t3ere a model 8or addressing t3e sicBness o8 t3e environment At least t3isaut3or does not Bno? o8 anG suc3 model in industrialised countries6 ProbablG"
t3e onlG ?aG to address suc3 issues is to develop a ?3ole set o8 measures"
among t3em
- sGstematicallG reducing t3e ;uantitG o8 pollutants ?3ic3 enter t3e
environment t3is ?ould include t3e emission 8rom cars" airplanes"
- applGing t3e substitution principle" according to ?3ic3 a dangerous
substance s3all sGstematicallG be replaced bG anot3er" less dangeroussubstance" ?3ere t3is is tec3nicallG 8easible
- setting up eco-ta7es 8or pollutant-emitting substances t3ese amounts
could be collected and used 8or environmental restoration
- developing criteria 8or assessing damage to t3e environment
- developing criteria" ?3en t3e impaired environment needs to be
restored" ?it3out t3e polluter 3aving a co-decision 8unction in t3is as
under Directive $%%02[_K
- establis3ing sanctions 8or environmental impairment ?3ic3 are serious
and more t3an a mere mocBerG
- realising t3at t3ere is but one environment and orient t3e polluting
activities according to t3e ob5ective o8 protecting" preserving and
improving t3e ;ualitG o8 t3is environment at present" t3is basic
re;uirement" laid do?n in Article # *F+." is blatantlG ignored" also bG
Directive $%%02[_ itsel86
*3ere is one ot3er aspect on ?3ic3 attention s3ould be dra?n6 .nder classical
liabilitG rules" it
Is t3e victim ?3ic3 sues t3e ?rongdoer and tries to get compensation6 Directive
$%%02[_" opting 8or a public-la? sGstem" 3as laid t3e tasB to asB 8or restoration o8
t3e environment into t3e 3ands o8 t3e public administration6 *3e verG limited
?atc3dog role ?3ic3 Articles $ and [ o8 t3e Directive grant to individuals and
environmental organisations" maG be le8t aside in t3is consideration, indeed"
Articles $ and [ do not give anG re?ard to persons acting under t3ese
#"
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provisions t3eG asB private persons or bodies to collect documentation and
material and transmit it to t3e responsible aut3oritG provided" t3is aut3oritG is
Bno?nK6 *3ese sGstemic di88iculties maBe it unliBelG t3at Articles $ and [ ?ill
ever gain a signi8icant importance in t3e +. societG6
*3ere is a similar problem ?it3 t3e administration being in c3arge o8 maBing t3e
Directivejs provisions operational, o88icials 3ave no or little incentive to activelG
pursue t3e implementation o8 Directive $%%02[_" earning t3e same amount o8
moneG" ?3en t3eG are active and ?3en t3eG are passive6 From social securitG
la?" t3e reluctance o8 t3e administration to taBe action against responsible
persons is ?ell Bno?n6 It is not verG liBelG t3at t3e administration" in
environmental issues" ?ill be more prepared to activelG and sGstematicallG taBe
action to restore t3e impaired environment M e7cept probablG verG clear and
obvious cases" ?3ere responsibilities are establis3ed almost be8ore3and6
*3ese and ot3er considerations lead to t3e conclusion t3at t3e e88ect o8
Directive$%%02[_ on t3e protection" preservation and improvement o8 t3e
;ualitG o8 t3e environment ?ill most liBelG be verG modest6 It is a green sea7
directive ?3ic3 pretends to solving problems" ?3ile giving an alibi to aut3orities"
governments and polluters to continue ?it3 t3e promotion o8 environmental
sicBness6
Pro&. Dr. Ludwi= rRer
oltar ao Yndice
##
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Actas do Colóquio – A responsabilidade Civil por dano ambiental
O DA'O #O(AL A#I"'TAL DIUSO$ CO'C"ITUA)*O< CLASSIICA)*O "
JU(ISP(UD'CIA (ASIL"I(A
E. Introdu:;o
' presente artigo ob5etiva analisar o dano moral ambiental di8uso na doutrina
e 5urisprudência brasileira" levando-se em consideração a comple7idade do
dano em e7ame e as di8iculdades ;ue o sistema 5urídico brasileiro en8renta
para e8etivar a reparação dessa lesão ;ue se d= atrav:s do instituto da
responsabilidade civil6
Assim" partindo-se do pressuposto de ;ue a lesão ao meio ambiente tem
conse;ências irreversíveis do ponto de vista ecol4gico" o ob5etivo da
discussão do dano moral emerge como possibilidade de uma reparação ;ue"
se não leva ao status 6uo anterior" ao menos possibilita uma maior
integralidade da reparação das les>es ocasionadas a um bem ;ue pertence
não apenas as presentes geraç>es" mas" nos termos da pr4pria Constituição
da <epEblica Federativa do rasil" tamb:m as 8uturas geraç>es6 Dessa 8orma"
a reparação do dano moral ambiental di8uso caracteri(a-se como uma
maneira de compensação pelos danos ;ue lesam um bem 5urídico de
8undamental importQncia para a sadia ;ualidade de vida da coletividade6
&esse sentido" a 8im de possibilitar uma reparação o mais integral possível" o
ordenamento 5urídico brasileiro" atrav:s da lei da ação civil pEblica" possibilita
a responsabili(ação civil por danos morais ambientais6 &o presente artigo"
ob5etivou-se especi8icamente veri8icar em ;ue medida a 5urisprudência
brasileira tem interpretado os pressupostos legais e doutrin=rios relativos 9
responsabilidade civil por danos morais ambientais di8usos6
* A redacção desta versão actuali(ada da con8erência teve a colaboração de#aria Leonor Paes Ca/alcanti erreira Doutoranda em Direito pela .niversidadeFederal de Ranta Catarina6 olsista do C&PN6 embro do grupo de estudos \DireitoAmbiental e +cologia Política na Rociedade de <isco\ certi8icado pela Instituição ecadastrado no C&PNK e de (odri=o Au=usto #atwiow ro>in ac3arel em Direito
pela .niversidade Federal de Ranta Catarina e consultor 5urídico do Departamento deInovação *ecnol4gica da .FRC6
#$
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Assim" parte-se da seguinte 3ip4tese, ' Poder Judici=rio brasileiro aceita a
8ormulação te4rica e normativa relativa aos danos morais ambientais di8usos
Para responder a essa ;uestão" estruturou-se o artigo da seguinte maneira6
Inicialmente" 8oram estudados os conceitos de meio ambiente e de dano
moral ambiental di8uso" bem como a maneira pela ;ual se comprova essa
modalidade de dano" para em seguida analisar o posicionamento dos
tribunais brasileiros" atrav:s da seleção de algumas decis>es emblem=ticas
sobre o tema" a 8im de se veri8icar como o di=logo entre a teoria e a pr=tica"
esta reali(ada pelo +stado-5ui(" vem sendo concreti(ada6
1.O conceito de eio aiente e a e@istência do dano aiental oral di&uso
A conceituação do meio ambiente pode ser reali(ada atrav:s de duas
abordagens, de 8orma ampla ou restrita6 A primeira categoria considerar= o
con5unto das relaç>es estabelecidas entre o 3omem e o meio ambiente" não
apenas em 8unção da ação trans8ormadora das características 8ísicas naturais
do bem ambiental" mas" tamb:m" devido 9s relaç>es culturais ;ue são
estabelecidas pelo 3omem em 8unção das possibilidades de desenvolvimento
social determinadas pelo meio ambiente6 &esse sentido" : necess=rioesclarecer ;ue a de8inição de meio ambiente contempla não somente os
elementos naturais" mas tamb:m os arti8iciais e culturais" os ;uais não
poderiam ser e7cluídos da de8inição" considerando-se a necessidade de
interação e7istente entre eles6
J= o conceito estrito atribuído ao meio ambiente restringir= as citadas
relaç>es de interação presentes na amplitude do conceito anteriormente
estabelecido e" com isso" considerar= meio ambiente o atrim@nio natural eas rela!*es com e entre os seres vivos?,. *al noção" : evidente" nos di(eres de
ilar:" desreBa tudo a6uilo 6ue n"o diga reseito aos recursos naturais6$
Importa ressaltar ;ue o ordenamento 5urídico brasileiro adotou o conceito
amplo" ao de8inir o conteEdo do meio ambiente no inciso I" do art6 [" da Lei
/6#[!2!" nos seguintes termos,
1 ILA<O" Odis6 Direito do aiente$ doutrina< uris!rudência< =lossFrio. Rão Paulo,
+ditora <evista dos *ribunais" $%%06 p6 1!6 I<<A6 ^lvaro Lui( alerG6 I<<A" ^lvaro Lui( alerG6 A:;o ci/il !Vlica ere!ara:;o do eio aiente. Rão Paulo, +ditora Juare( de 'liveira" $%%$6 p6 1!6
#%
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Actas do Colóquio – A responsabilidade Civil por dano ambiental
Art. . Para os fins recisos nesta #ei3 entende8se or'
: eio ambiente3 o conunto de condi!*es3 leis3influncias e intera!*es de ordem f+sica3 6u+mica e
biol&gica3 6ue ermite3 abriga e rege a vida em todas as suas formas.
*al posicionamento erigido pelo ordenamento 5urídico p=trio incorporou a
concepção integral presente na relação entre o ser 3umano e o meio
ambiente" sendo" portanto" concreti(ação legislativa 8undamentada no ideal
de desenvolvimento pleno do ser" não unicamente em 8unção da
racionali(ação de suas necessidades materiais" mas primordialmente
considerando-se as necessidades imateriais" ;ue" obviamente" di(em respeito9s relaç>es culturais e sociais estabelecidas em 8unção ou 5unto ao meio
ambiente6 &esse sentido" a legislação brasileira" atrav:s do conceito 5urídico
de meio ambiente" procurou resguardar o meio ambiente considerando a
amplitude de seu alcance6
Deve-se registrar tamb:m ;ue na doutrina nacional prevalece o
entendimento amplo ;uanto ao conceito ;ue ora : buscado e cabe
destacar" neste sentido" a de8inição elaborada por Rilva ;ue corrobora o
posicionamento em ;uestão,
O ambiente integra8se3 realmente3 de um conunto deelementos naturais e culturais3 cua intera!"o constitui econdiciona o meio em 6ue se vive ...I O conceito demeio ambiente hJ de ser3 ois3 globaliBante3 abrangentede toda a )atureBa original e artificial3 bem como osbens culturais correlatos3 comreendendo3 ortanto3 o solo3 a Jgua3 o ar3 a flora3 as beleBas naturais3 o
atrim@nio hist&rico3 art+stico3 tur+stico3 aisag+stico ear6ueol&gico.
O meio ambiente (3 assim3 a intera!"o do conunto deelementos naturais3 artificiais e culturais 6ue roiciem odesenvolvimento e6uilibrado da vida em todas as suasformas. A integra!"o busca assumir uma conce!"ounitJria do ambiente3 comreensiva dos recursos naturaise culturais[6
3 RILA" Jos: A8onso da6 Direito aiental constitucional. Rão Paulo, al3eiros" $%%$6p6 $%6
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Cumpre destacar ;ue a determinação do sentido 5urídico a ser
atribuída ao meio ambiente passa pela pormenori(ação de seus atributos" os
;uais denotarão a concreti(ação de seu signi8icado perante o mundo
normativo6 *ais atributos cumprem por de8inir o bem em ;uestão como de uso
e importQncia comum a todos" ;uanto 9 sua 8uncionalidade sub5etiva" e
ainda" ;uanto 9 sua nature(a constitutiva" como bem incorp4reo e imaterial6
+ssas duas Eltimas características são como diretri(es 8undamentais a
5usti8icarem a reparação e7trapatrimonial ;uando e7istir o dano ao meio
ambiente6 Cabe ainda de8iní-lo em ra(ão de integração e7istente entre suas
partes constitutivas" a prosseguir no conceito amplo anteriormente tratado eentendê-lo como macro-bem ambiental" composto por micro entidades
ambientais protegidas pela legislação especí8ica6
Rendo assim" o meio ambiente" considerado em sua totalidade como
macro-bem" : conceito 5urídico relevante englobado pela legislação a
corroborar a intenção de trat=-lo como o con5unto relacional estabelecido
entre os micro-bens ;ue o comp>em6 Desse modo" a lei n6 /6#[!2!" ;ue
instituiu a Política &acional do eio Ambiente" tratou de de8inir o meioambiente" em seu art6 [" inciso I" a partir das relaç>es e interaç>es
estabelecidas entre a sociedade e o meio ambiente como condicionantes da
vida em suas diversas 8ormas6
Deve-se registrar ;ue essa noção de meio ambiente como macro-bem
permite a construção de uma concepção bastante abrangente para a
e7pressão dano ambiental6 &esse sentido" a an=lise da e7tensão dos danos
ambientais permite a identi8icação de les>es de nature(a patrimonial ee7trapatrimonial a primeira decorre de pre5uí(os a bens materiais e a segunda
de perdas de ordem imaterial6 &esse sentido" Cust4dio alerta para o 8ato de
;ue
=o dano moral3 fundamentado em leg+timo interessemoral3 assume3 nos dias de hoe3 articular imortKncia3notadamente diante das 6uest*es de ordem ambientale cultural?3 tendo em vista 6ue os not&rios fen@menos
da olui!"o ambiental ocasionam a degrada!"o da6ualidade de vida no meio ambiente3 com reflexos direta
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Actas do Colóquio – A responsabilidade Civil por dano ambiental
e indiretamente reudiciais L vida3 L sa<de3 L seguran!a3 ao trabalho3 ao sossego e ao bem8estar daessoa humana individual3 social ou coletivamenteconsiderada 06
&o ;ue toca ao dano moral ou e7trapatrimonial" : possível observ=-lo sob
dois aspectos, o sub5etivo e o ob5etivo6 Constatar-se-= um dano ambiental
e7trapatrimonial sub5etivo sempre ;ue o interesse ambiental a8ligido relaciona-
se a um interesse individual" ou se5a" ;uando a lesão ao meio ambiente re8letir
negativamente em bens individuais de nature(a imaterial" provocando
so8rimento psí;uico" de a8eição ou 8ísico 9 vítima6 = ;ue se esclarecer ;ue
diante da e7istência de lesão a interesse individual" associada 9 degradação
ambiental" tem-se" no caso concreto" o ;ue se denomina de dano ambiental
e7trapatrimonial de car=ter individual_6
Deve-se destacar ;ue" ;uando o interesse ambiental atingido : o di8uso"
8ala-se em dano e7trapatrimonial ambiental ob5etivo6 +ste" por sua ve("
caracteri(a-se pela lesão a valor imaterial coletivo"/ pelo pre5uí(o
proporcionado a patrim`nio ideal da coletividade" relacionado 9
manutenção do e;uilíbrio ambiental e da ;ualidade de vida6 1 &este conte7to"
Rteigleder" em e7celente trabal3o sobre o dano ambiental no direito brasileiro"
identi8ica três di8erentes 8ormas de e7pressão da dimensão e7trapatrimonial do
dano ambiental aut̀ nomo" a saber, aK dano moral ambiental coletivo"
caracteri(ado pela diminuição da ;ualidade de vida e do bem-estar da
coletividade bK dano social" identi8icado pela privação imposta 9
coletividade de go(o e 8ruição o e;uilíbrio ambiental proporcionado pelos
microbens ambientais degradados e cK dano ao valor intrínseco do meio
ambiente" vinculado ao recon3ecimento de um valor ao meio ambiente em si
considerado M e" portanto" dissociado de sua utilidade ou valor econ`mico" 5=
" C.R*UDI'" elita arreira6 Avaliação de custos ambientais em aç>es 5urídicas delesão ao meio ambiente6 :n, (e/ista dos Triunais6 6 /_$, 0 M $!6 Rão Paulo, <evista dos*ribunais" ##%" p6 #6
# F<+I*AR" ladimir Passos de6 A Constitui:;o ederal e a e&eti/idade de suas norasaientais6 $ ed6 rev6 Rão Paulo, <evista dos *ribunais" $%%$" p6 # e #$6
$ L'<+&+**I" <icardo Luis6 La nueva leG ambiental argentina6 :n' (e/ista de DireitoAiental6 &6 $#, !1 M [%/6 Rão Paulo, <evista dos *ribunais" $%%[" p6 $#6
% L'<+&+**I" <icardo Luis6 O. cit6 p6 [%_
$0
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;ue decorre da irreversibilidade do dano ambiental" no sentido de ;ue a
&ature(a 5amais se repete!6
Com e8eito" sabe-se ;ue o bem meio ambiente est= ligado a um direito8undamental de todos e se reporta 9 ;ualidade de vida ;ue se con8igura
como valor imaterial da coletividade6 A lesão a ele imposta importa" al:m de
danos materiais M reparados por meio da recomposição dos microbens
ambientais dani8icados ou destruídos M" danos e7trapatrimoniais" os ;uais são
caracteri(ados pela violação a direito cu5a integridade : de interesse comum
e indispens=vel ao respeito 9 dignidade 3umana6
Assim" não : di8ícil constatar ;ue o meio ambiente e;uilibrado" por seressencial 9 sadia ;ualidade de vida" con8igura-se como um dos bens e valores
indispens=veis ao pleno desenvolvimento da personalidade 3umana6 '
ambiente" tal como ob5eto 5urídico a ser protegido pelo ordenamento" : bem
de interesse pEblico" sendo" portanto" de titularidade coletiva6 *rata-se de
direito 8undamental do ser 3umano" uma ve( ;ue indispens=vel ao direito 9
vida de cada cidadão6 +mbora não este5a previsto no rol dos direitos
8undamentais da Constituição Federal" o pr4prio par=gra8o $" do art6 _" da
Constituição Federal de #!! determina ;ue os direitos e garantias e7pressos
nesta Constituição não e7cluem outros decorrentes do regime e dos princípios
por ela adotados" ou dos tratados internacionais em ;ue a <epEblica
Federativa do rasil se5a parte6 Assim" a partir da leitura do art6 $$_" ;ue tra(
como titular do direito ao meio ambiente o su5eito todos" da
indispensabilidade de se garantir um meio ambiente 3ígido a 8im de possibilitar
;ue a dignidade da pessoa 3umana M direito 8undamental por e7celência -
se5a devidamente preservada e do disposto do art6 _" $V" da Constituição
Federal" tem-se ;ue o direito ao meio ambiente ecologicamente e;uilibrado
constitui-se em direito 8undamental do ser 3umano6
+sta constatação parte da id:ia de ;ue" no rasil" não 3= numerus clausus
;ue estabeleça uma identi8icação 8ec3ada e ta7ativa dos direitos da
personalidade" permitindo uma ampla conceituação destes direitos" ;ue são
recon3ecidos a partir do princípio constitucional da dignidade" de uma
8 R*+I)L+D+<" Annelise onteiro6 (es!onsailidade ci/il aiental$ as diensWes dodano aiental no Direito rasileiro. Porto Alegre, Livraria do Advogado" $%%0" p6 106
$1
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cl=usula geral de tutela da pessoa 3umana#6 Rão" por conseguinte" as
situaç>es e7istenciais" compreendidas no Qmbito do amplo con5unto de
direitos ligados 9 dignidade 3umana M direito geral da personalidade" comum
a todos os indivíduos M" ;ue condu(irão a construção e identi8icação dos
direitos especí8icos da personalidade6
Lembre-se" mais uma ve(" ;ue a perda de ordem imaterial" suportada pela
coletividade em ra(ão da degradação ambiental" : de nature(a ob5etiva e"
portanto" integra a ampla conceituação ;ue 5= se con8ere aos danos
e7trapatrimoniais em geral"[# caracteri(ados pela lesão a ;ual;uer bem
5urídico dessa nature(a" assim como a relevQncia cultural e o pr4prio interesse
ecol4gico6%
Rendo assim" como o sentimento negativo suportado pela coletividade
decorrente da degradação ambiental : de car=ter ob5etivo" e não re8erente
a interesse sub5etivo particular" 8ala-se em o8ensa a um direito da
personalidade de dimensão coletiva" 5= ;ue os atributos ;ue dão cor 9
dignidade do ser são estendidos a todos os indivíduos" e" assim" considera-se
mais ade;uada a e7pressão dano e7trapatrimonial ambiental" em detrimento
do termo dano moral ambiental6
+sta argumentação tem sido acatada pela inistra +liana Calmon" do
Ruperior *ribunal de Justiça" ;ue" em bril3ante entendimento do conteEdo do
dano moral e7trapatrimonial" destacou" em ac4rdão publicado em $/ de
8evereiro de $%%" ;ue,
' dano moral e7trapatrimonial dever ser averiguado de
acordo com as características pr4prias aos interessesdi8usos e coletivos distanciando-se quanto aos caracteres
próprios das pessoas físicas que compõem determinada
9 '<A+R" aria Celina odin de6 Danos X !essoa 0uana$ ua leitura ci/il-constitucional dos danos orais. <io de Janeiro, <enovar" $%%[6 p6 !6
1% F<A&XA" <ubens Limongi6 <eparação do dano moral6 :n (e/ista dos Triunais66 /[, $# M [16 Rão Paulo, <evista dos *ribunais" #!!" p6 [6
1 <ARIL6 Ruperior *ribunal de Justiça6 (ecurso "s!ecial nH E.26.13- (SG12242E233-EK6 inist:rio PEblico do +stado do <io )rande do Rul versus +mpresa
ento )onçalves de *ransportes Ltda6 <elatora inistra +liana Calmon6 Disponível em,q3ttps,22??$6st565us6br2?ebsecst52revistaeletronica2ita6asp6 Acesso em, 0 de mar6 de$%%6
$
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coletiidade ou !rupo determinado ou indeterminado de
pessoas" sem olvidar ;ue : a con8luência dos valoresindividuais ;ue dão singularidade ao valor coletivo6 'dano moral e7trapatrimonial atinge direitos de personalidade do !rupo ou coletiidade en;uantorealidade massi8icada" ;ue a cada dia mais reclamasoluç>es 5urídicas para sua proteção6 O evidente ;ue umacoletividade de índios pode so8rer o8ensa 9 3onra" 9 suadignidade" 9 sua boa reputação" 9 sua 3ist4ria" costumese tradiç>es6 "sso não importa e#i!ir que a coletiidade
sinta a dor " a repulsa" a indignação tal ;ual 8osse umindividuo isolado6 +stas decorrem do sentimento coletio
de participar de determinado !rupo ou coletiidade$
relacionando a própria indiidualidade % id&ia docoletio'(6
Avançou da mesma 8orma o *ribunal de Justiça de inas )erais" aceitando
o dano e7trapatrimonial ambiental e acatando ;ue a lesão e7trapatrimonial
di( respeito a valores ;ue a8etam negativamente a coletividade e não a dor
individual" con8orme consta dos autos n 6%[$6%_6%%$1-%" relatado pelo Des6
Carreira ac3ado" cu5o ac4rdão 8oi publicado em $$ de outubro de $%%! [6 A
ementa do ac4rdão recebeu a seguinte redação,
AXf' CIIL PLICA - <+C'P'RIXf' D+ ^<+AD+RA*ADA - DA&'R '<AIR AI+&*AIR - AP+LAXf'6 -O dano e@tra!atrionial n;o sur=e a!enas econse?Yência da dor< e seu sentido oral de F=oa<as ta, do desres!eito a /alores ?ue a&etane=ati/aente a coleti/idade6 A dor" em sua acepçãocoletiva" : ligada a um valor e;uiparado ao sentimentomoral individual e a um bem ambiental indivisível" de
interesse comum" solid=rio" e relativo a um direito1$ <ARIL6 Ruperior *ribunal de Justiça6 (ecurso "s!ecial nH E.26.13- (S
G12242E233-EK6 inist:rio PEblico do +stado do <io )rande do Rul versus +mpresaento )onçalves de *ransporte Ltda6 <elatora inistra +liana Calmon6 Disponível em,q3ttps,22??$6st565us6br2?ebsecst52revistaeletronica2ita6asp6 Acesso em, 0 de mar6 de$%%6
1[ <ARIL6 *ribunal de Justiça de inas )erais6 A!ela:;o Cí/el nHE.2E51.26.221EE-2422E 6 inist:rio PEblico de inas )erais versus Itamar Faria de PaivaFil3o6 Disponível em, q3ttp,22???6t5mg65us6br25uridico25t25urisresultado65spnumeroC&JdvC&JanoC&JorigemC&Jtipo*ribunalcomrCodigoanot7tprocessodvcomplementoacordao+mentaacordaopalavrasConsultada
nomoralambientaltipoFiltroandorderGData%relatordataInicialdataFinal$0w$F%[w$F$%%resultPagina%dataAcordaoInicialdataAcordaoFinalpes;uisarPes;uisar6 Acesso em, $0 de mar6 $%%6
$!
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Actas do Colóquio – A responsabilidade Civil por dano ambiental
8undamental da coletividade6 - Con8igurado o danoe7trapatrimonial moralK" eis ;ue 3ouve um danopropriamente dito" con8igurado no pre5uí(o materialtra(ido pela degradação ambiental" e 3ouve ne7o
causal entre o ato do autuado e este dano0 gri8o nossoK6
Con8orme se veri8ica" tal entendimento corrobora para ;ue o dano
ocasionado se5a integralmente reparado6 &os casos ora tra(idos" 3ouve uma
compreensão ;ue vai al:m da dor e sua concepção individual" aceitando-se"
portanto" ;ue pode 3aver um dano e7trapatrimonial coletivo em situaç>es em
;ue são atingidos direitos de personalidade do grupo ou da coletividade6
O de se ressaltar ;ue" na es8era coletiva" a o8ensa a bem imaterial distancia-se" portanto" da rígida noção de dor" sentimento este cu5a con8iguração :
necess=ria ;uando se trata do dano imaterial individual6 Nuando" no entanto"
se considera a coletividade como titular de um mesmo direito : necess=rio
;ue se5a imposta uma 8le7ibili(ação relacionada com o conceito de dor" 3a5a
vista nem todos os indivíduos de um grupo sentirem com a mesma intensidade
a agressão a eles imposta6 ' ;ue deve ser en8ati(ado : ;ue" a despeito dessa
vari=vel intensidade ;ue ser= imposta aos envolvidos com graus de
reprovabilidade di8erenciados" e7istir=" sem dEvida alguma" uma o8ensa a um
direito imaterial comum a todos" e ;ue" por essa ra(ão" deve ser garantido da
8orma mais segura possível6
' dano ambiental" ao ser tratado como o8ensa a um direito de titularidade
coletiva" deve ser" de modo pragm=tico" associado 9 garantia da dignidade
da pessoa 3umana6 &esse sentido" consideraMse ;ue a tutela da boa gestão
ambiental deve considerar a e7istência de um substrato comum ;ue integra a
percepção dos su5eitos ;ue 8a(em parte da sociedade ou de determinado
grupo locali(ado geogra8icamente6 A e7istência desse substrato comum : a
percepção incutida na consciência de cada indivíduo" tal como a
10 <ARIL6 *ribunal de Justiça de inas )erais6 A!ela:;o Cí/el nHE.2E51.26.221EE-2422E 6 inist:rio PEblico de inas )erais versus Itamar Faria de PaivaFil3o6 Disponível em ,q3ttp,22???6t5mg65us6br25uridico25t2inteiroteor65sptipo*ribunalcomrCodigo[$ano_t7tprocesso$1complementose;uencial%palavrasConsultaAwC1wC['w$%CIILw$%PwDALICAw$%w$%<+C'P'RI
wC1wC['w$%D+w$%wC<+Aw$%D+RA*ADAw$%w$%DA&'Rw$%'<AIRw$%A*AIRw$%-w$%AP+LAwC1wC['6todase7pressao;ual;uersemradical6 Acessoem, %_ de mar6 de $%%6
$"
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percepção do ;ue l3e a8eta ou do ;ue l3e in8luencia o desenvolvimento ou a
limitação de suas plenas 8aculdades 3umanas bem como de seu bem-estar
8ísico e de sua plena integração cultural desenvolvida em ra(ão das relaç>es
;ue estabelece com o meio natural6
5. Co!ro/a:;o da ocorrência do dano e@tra!atrionial aiental di&uso
&ão 3= dEvidas ;uanto 9s di8iculdades inerentes 9 comprovação e
valoração de ;ual;uer dano e7trapatrimonial" contudo" essas di8iculdades
não podem impedir ;ue 3a5a a reparabilidade dessa classe de danos" uma
ve( ;ue o ordenamento 5urídico brasileiro possibilita a reparação do dano
moral ambiental atrav:s da ação civil pEblica6
*ratando-se especi8icamente de danos morais ambientais" 3= ;ue se
considerar como su8iciente para a comprovação do dano e7trapatrimonial a
caracteri(ação do 8ato lesivo e intoler=vel ao meio ambiente6 Assim" diante
das pr4prias evidências 8=ticas da degradação ambiental intoler=vel" deve-se
presumir a violação ao ideal coletivo relacionado 9 proteção ambiental e"
logo" o desrespeito ao direito 3umano 8undamental ao meio ambiente
ecologicamente e;uilibrado6
Cumpre destacar ;ue" no ;ue tange ao dano e7trapatrimonial suportado
por pessoa 5urídica M ;ue apresenta" da mesma 8orma ;ue o dano
e7trapatrimonial ambiental di8uso" car=ter ob5etivo M pode-se di(er ;ue a
5urisprudência do Ruperior *ribunal de Justiça 5= se encontra sedimentada" no
sentido de admitir sua ocorrência e consider=-lo decorrente do simples 8ato
danoso" não sendo necess=ria" portanto" a produção de prova de sua
mani8estação6 Dentre os precedentes citados com 8re;ência nos 5ulgados
sobre o assunto" vale mencionar o seguinte,
I&D+&IAXf'6 DA&' '<AL6 P+RR'A J.<YDICA6P'RRIILIDAD+6 +<+*+ &6 $$1" R.LA2R*J6 A pessoa 5urídica pode so8rer dano moral verbete $$1"REmula2R*JK6 'a conce!:;o oderna da re!ara:;o dodano oral !re/alece a orienta:;o de ?ue ares!onsaili>a:;o do a=ente se o!era !or &or:a dosi!les &ato da /iola:;o< de odo a tornar-se
$#
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Actas do Colóquio – A responsabilidade Civil por dano ambiental
desnecessFria a !ro/a do !reuí>o e concreto 6 <ecursoespecial con3ecido e provido6_ )ri8ou-seK6
Rendo assim" da mesma 8orma ;ue para os demais danos de nature(a
e7trapatrimonial" não : necess=ria a prova t:cnica de con8iguração do dano
ambiental e7trapatrimonial trata-se de um dano in re isa6 = ;ue se atentar
para os elementos ;ue caracteri(am o caso concreto e" diante deles" concluir
se e8etivamente 8oi lesado o aspecto da personalidade 3umana relacionado
ao e;uilíbrio ambiental6/
Para este 8im" ser= necess=rio avaliar se a inter8erência 3umana no meio
ambiente provocou e8etivamente alteração adversa das suas
características6 Fala-se" a;ui" em an=lise do limite de tolerabilidade M e se este
8oi ou não ultrapassado M" 5= ;ue ao se de8ender o meio ambiente
ecologicamente e;uilibrado" a intenção não : impedir ;ual;uer alteração
das condiç>es primitivas do ambiente natural" mas sim evitar ;ue essas
alteraç>es provo;uem dese;uilíbrios e" conse;entemente" pre5udi;uem a
sadia ;ualidade de vida6 +" para ;ue 3a5a a ade;uada identi8icação deste
limiar de tolerabilidade" não basta ;ue se5a veri8icado se 3ouve
descumprimento de padr>es de ;ualidade ambiental estabelecidos emregulamentos" sendo indispens=vel levar em consideração as peculiaridades
do dano ambiental produ(ido pela sociedade de risco" dentre as ;uais se
destacam, a 8alta de certe(a ;uanto 9 prova e dimensão do dano e sua
mani8estação 8utura e dissociada de interesses pessoais a dispersão do ne7o
causal" considerada tanto a distQncia temporal entre o 8ato danoso e a
mani8estação do dano" como as aç>es mEltiplas" cumulativas e sin:rgicas ;ue
o ocasionam6
1_ <ARIL6 Ruperior *ribunal de Justiça6 (ecurso "s!ecial nH 55E.6E. Cristal+ngen3aria e +mpreendimentos Ltda6 versus Associação das +mpresas deIncorporação de )oi=s - AD+I6 <elator in6 Cesar As8or <oc3a6 Disponível em, q3ttps,22??$6st565us6br2revistaeletronica2ita6aspregistro$%%%%!%1//%dtpublicacao$_2%[2$%%$6 Acesso em, %$ abril $%%6
1/ RO<)I' CAALI+<I FIL' assevera ;ue o dano moral e7iste in re isa derivaine7oravelmente do pr4prio 8ato o8ensivo" de tal modo ;ue" provada a o8ensa" isofacto est= demonstrado o dano moral 9 guisa de uma presunção natural" uma
presunção hominis ou facti" ;ue decorre das regras da e7periência comum6CAALI+<I FIL'" R:rgio6 Pro=raa de (es!onsailidade Ci/il6 _ ed6 rev6" aum6 e atual6Rão Paulo, al3eiros" $%%0" p6 %6
$$
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Para a ade;uada a8erição da ocorrência de dano ambiental moral" :
preciso" sempre" avaliar" no caso concreto" se os impactos negativos nas
características essenciais dos sistemas ecol4gicos são intoler=veis" mesmo se"
eventualmente" 8orem reputados como produtos inevit=veis da sociedade de
risco61
+lucida irra ;ue os padr>es t:cnicos e cientí8icos utili(ados para a8erir
o dano imposto ao meio 8ísico não são absolutos e" portanto" devem ser
tomados como parQmetros de indicação" tal como re8erências de ;ue a
presença ;uantitativa de determinadas concentraç>es anteriormente 8i7adas
de uma dada substQncia no meio ambiente não causarão male8ícios 9 saEde
do ser 3umano ou ao e;uilíbrio do sistema ecol4gico6 Contudo" prossegue o
autor" em certas ocasi>es" mesmo ;ue a interação de determinada
substQncia este5a de acordo com os padr>es estabelecidos ela poder= causar
pre5uí(os ao e;uilíbrio ecol4gico! e" por conseguinte" gerar dano moral
ambiental6
Assim" nota-se ;ue mesmo ;ue a atividade potencialmente poluidora
desenvolvida este5a dentro dos limites estabelecidos pela ciência" tais
elementos t:cnicos não devem vincular o 5uí(o de ponderação do 5ulgador
para a8erir o grau de reprovabilidade contida na conduta do poluidor6 ' ;ue
11 A&&+LIR+ '&*+I<' R*+I)L+D+< adverte ;ue as e7ternalidades negativas sãomuitas ve(es consideradas riscos socialmente toler=veis 5ustamente em virtude de orisco ser o padrão da sociedade moderna" o ;ue pode condu(ir para ;uedeterminados níveis de poluição se5am reputados socialmente suport=veis e" portanto"não suscetíveis 9 con8iguração de dano ao ambiente6 R*+I)L+D+<" Annelise onteiro6O. cit." $%%0" p6 !%6 Logo" a 8al=cia dos padr>es de emissão deve ser desnudada"percebendo-se ;ue a reparação dos danos ambientais aut`nomos e7ige ;ue seouça mais a +cologia" ;uando da an=lise das circunstQncias concretas para a
constatação da degradação6 :bid6" p6 $16
1! I<<A6 Tlvaro Lui( alerG6 O. cit. p6 %[6
$%
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Actas do Colóquio – A responsabilidade Civil por dano ambiental
deve preponderar : um 5uí(o pr=tico do 5ulgador" voltado para a an=lise do
caso concreto ;ue ob5etive apurar se" mesmo com a observQncia dos
padr>es t:cnicos pr:-estabelecidos" o e;uilíbrio do meio ambiente 8oi
respeitado ou se as agress>es a ele impostas e7trapolaram a 8rie(a dos dados
cientí8icos#6
Deste modo" con8orme 5= salientado" a ;uestão ;ue se coloca : saber
;uando o 3omem dei7a de usar racionalmente o bem ambiental e abusa
deste" causando lesão" devendo-se registrar ;ue a anti5uridicidade" neste
caso" não seria apenas a conduta contra legem" mas tamb:m as condutas
anti-sociais ;ue lesam ou limitam o pleno desenvolvimento da personalidade
social e individual e da capacidade do ecossistema6
3. O Dano "@tra!atrionial Aiental e a Juris!rudência rasileira.
3.E "/olu:;o uris!rudencial
' debate na 5urisprudência brasileira sobre o dano e7trapatrimonial ambiental
M em especial o ob5etivo" de nature(a di8usa M : recente e ainda carece de
consolidação6 Contudo" 5= : possível identi8icar alguns 5ulgados ;ue
recon3ecem esta dimensão do dano ambiental e a necessidade de garantir
sua compensação6
Interessante mencionar" inicialmente" um caso 5ulgado pelo *ribunal de
Justiça do +stado de Ranta Catarina no ano de ###6 *rata-se de ação civil
pEblica" a5ui(ada pela Fundação unicipal do eio Ambiente de
Florian4polis" em virtude de a e7ploração de saibro reali(ada em determinada
=rea da;uela municipalidade" apesar de devidamente licenciada" ter-se
dado de 8orma desmesurada" sem ;ue tivesse 3avido" ainda" a necess=ria
recuperação da =rea degradada6 *al 8ato" como narrado na peça inicial" $%
teria causado inconteste dano moral coletivo" uma ve( ;ue a conduta ilícita
1# I<<A6 ^lvaro Lui( alerG6 O. cit. p6 %06% A petição inicial 8oi elaborada pelo Dr6 arcelo u(aglio Dantas" tendo sido
publicada na <evista de Direito Ambiental6 nV /" p6 $%/ M $/6 Rão Paulo, <evista dos*ribunais" ##16 p6 $%/-$/6
$8
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e lesiva dos re;ueridos acarretou uma s:ria o8ensa ao patrim`nio ambiental
da coletividade" em especial dos 3abitantes do local" tra(endo repercuss>es
em v=rias es8eras da vida social6$
&este caso" o Jui( olneG Ivo Carlin pro8eriu sentença" de8erindo o pedido
de dano moral ambiental e estabelecendo ;ue o 6uantum devido 8osse
revertido para o Fundo para <ecuperação dos ens Lesados6 'brigou ainda o
degradador a recompor os danos materiais ocasionados pelo
descumprimento do termo de a5ustamento de conduta6$$
+ste talve( ten3a sido o primeiro 5ulgado em ;ue se admitiu a e7istência de
dano e7trapatrimonial ambiental" em seu aspecto ob5etivo6 Contudo" asentença 8oi re8ormada pelo *ribunal de Justiça do +stado de Ranta Catarina"
;ue" apesar de recon3ecer a possibilidade de ocorrência de danos morais
ambientais" não o considerou caracteri(ado no caso em e7ame" eis ;ue
entendeu ine7istente a violação de sentimento coletivo" 5= ;ue o ;ue 3ouve
8oi a e7tração de saibro" devidamente autori(ada pelo Poder PEblico" num
terreno particular" ;ue" segundo o testemun3o de uma moradora das
pro7imidades" 5= apresentava sinais de degradação antes mesmo do início
das atividades da empresa co-r:6$[
+special desta;ue deve ser concedido 9;uela ;ue pode ser considerada"
at: o momento" a mais signi8icativa decisão 5udicial recon3ecendo a
e7istência do dano e7trapatrimonial ambiental6 *rata-se de ac4rdão
pro8eridopelo *ribunal de Justiça do +stado do <io de Janeiro $0 em %1 de
(e/ista de Direito Aiental6 n6 /, $%/ M $/6 Rão Paulo, <evista dos *ribunais"
##1" p6 $_62$ *rata-se do processo 5urisdicional re8erente aos autos n6 $[#1$__[#0-!" no ;ual
8igurou como parte autora a Fundação unicipal do eio Ambiente FloramK e8iguraram como r:us aria Aparecida oreira + e outro" da ara dos Feitos daFa(enda PEblica6 O Estado de Florian&olis de %6%6###" p6 % e D5/MC %6[_" de%!6%6###6
2[ <ARIL6 *ribunal de Justiça de Ranta Catarina6 A!ela:;o Ci/il 1222.2165ZZ-.Arabutan <abelo Avila versus Fundação unicipal do eio Ambiente de Florian4polis- FL'<A <elator Desembargador &e?ton JanBe6 Disponível emq3ttp,22t5sc/6t56sc6gov6br2cposg2pcpo<esultadoConsProcesso$)rau65spCDP%%%%%JF1%%%%6 Acesso em, $# de março de $%%6
0 <ARIL6 *ribunal de Justiça do <io de Janeiro6 A!ela:;o Ci/il nH 122E.22E.E36Z.unicípio do <io de Janeiro versus Artur da <oc3a endes &eto6 <elatoraDesembargadora aria <aimunda *6 De A(evedo6 Disponível em q
$9
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Actas do Colóquio – A responsabilidade Civil por dano ambiental
agosto de $%%$" nos autos do processo re8erente 9 Apelação Cível n
$%%6%%60_!/6
&esse caso" o unicípio do <io de Janeiro prop`s ação civil pEblicaob5etivando a reparação de danos ambientais materiais e e7trapatrimoniais"
decorrentes do corte de =rvores" supressão de sub-bos;ue e início de
construção não licenciada em terreno pr47imo ao Par;ue +stadual da Pedra
ranca6 Pelo 5uí(o singular 8oram acol3idos os pedidos de condenação na
obrigação de des8a(er as obras irregularmente e7ecutadas e de plantar $6!%%
mudas de =rvores de esp:cies nativas" com o ob5etivo de promover a
recuperação da =rea degradada" ou se5a" reparar os danos ambientais
materiais6
Com vistas a garantir a compensação pelos danos e7trapatrimoniais
suportados pela coletividade" o unicípio do <io de Janeiro apelou" tendo a
$ CQmara Cível do *ribunal de Justiça do <io de Janeiro re8ormado a
sentença para admitir a ocorrência de danos morais coletivos decorrentes da
ação danosa perpetrada contra o meio ambiente e condenando o apelado
ao pagamento do e;uivalente a $%% sal=rios mínimos6 Do ac4rdão em
comento" col3e-se trec3o digno de nota,
a condenação imposta com o ob5etivo de restituir o meioambiente ao estado anterior não impede orecon3ecimento de reparação do dano oralaiental6 666K
.ma coisa : o dano material consistente na poda de=rvores e na retirada de sub-bos;ue cu5a reparação 8oi
determinada com o plantio de $6!%% =rvores6Outra , o dano oral consistente na !erda de /aloresaientais !ela coleti/idade. ' dano moral ambientaltem por característica a impossibilidade de mensurar e aimpossibilidade de restituição do bem ao estado anterior6
&a 3ip4tese" : possível estimar a indeni(ação" pois areposição das condiç>es ambientais anteriores" ainda
3ttp,22???6t5r565us6br2scripts2?eblinB6mg?6 Acesso em, %_ de abril de $%%6
%0
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;ue determinado o plantio de =rvores" a restauraçãoecol4gica s4 se dar=" no mínimo dentro de % a _ anos6
Con8orme atestam os laudos 8ls6 2$ e 12!K nesse
interre=no a de=rada:;o aiental se !rolon=a co osdanos e/identes X coleti/idade< !ela !erda de ?ualidadede /ida nesse !eríodo$_6 )ri8ou-seK6
Com e8eito" trata-se de relevante marco 5urisprudencial" ;ue deve
impulsionar a consolidação do recon3ecimento do dano ambiental
e7trapatrimonial di8uso pela 5urisprudência nacional e" conse;entemente"
promover a reparação integral dos danos ambientais6
3.1 O !osicionaento do Su!erior Triunal de Justi:a$ a/an:o ou retrocesso9
+m recente decisão" 5ulgada em maio de $%%/" o Ruperior *ribunal de
Justiça teve a oportunidade de se mani8estar pela primeira ve( sobre a
possibilidade de ocorrência de dano e7trapatrimonial ambiental6 *endo em
vista a an=lise sura delineada acerca da caracteri(ação e respaldo legal dos
danos e7trapatrimoniais ambientais" sua in;uestion=vel importQncia para a
reparabilidade integral dos danos ambientais" bem como a evolução
5urisprudencial brasileira sobre o tema" esperava-se da;uele tribunal
posicionamento ;ue contribuísse para a consolidação desta modalidade de
dano e" conse;entemente" para a ade;uada proteção do direito ao meio
ambiente ecologicamente e;uilibrado6 Ledo engano6
A aceitação da e7istência do dano e7trapatrimonial coletivo ad;uire
importQncia alargada" por;ue" em nosso ordenamento" a devida proteção do
meio ambiente 8oi elevada 9 categoria de direito 8undamental garantidoconstitucionalmente6 *rata-se de um direito cu5a essência remete a outro
direito 8undamental" o direito 9 vida saud=vel" al:m de ser um direito de
titularidade coletiva" ;ue" inclusive" deve ser protegido não apenas para as
presentes" mas tamb:m para as 8uturas geraç>es6 +ssa titularidade coletiva
_ <ARIL6 *ribunal de Justiça do <io de Janeiro6 A!ela:;o Ci/il nH 122E.22E.E36Z.unicípio do <io de Janeiro versus Artur da <oc3a endes &eto6 <elatoraDesembargadora aria <aimunda *6 De A(evedo6 Disponível em q3ttp,22???6t5r565us6br2scripts2?eblinB6mg?6 Acesso em, %_ de abril de $%%6
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Actas do Colóquio – A responsabilidade Civil por dano ambiental
importa ser considerada" por;ue : o 8undamento do c3amado dano moral
coletivo" categoria na ;ual se en;uadra o dano ambiental em ;uestão6
' ac4rdão prolatado pelo Ruperior *ribunal de Justiça anteriormente
mencionado re8ere-se ao 5ulgamento do <ecurso +special nV _#!6$!2)"
proposto pelo inist:rio PEblico do +stado de inas )erais em 8ace de
ac4rdão pro8erido pelo *ribunal de Justiça de inas )erais ;ue" muito embora
ten3a recon3ecido a responsabilidade dos recorridos unicípio de
.berlQndia e +mpreendimentos Imobili=rios Canaã LtdaK pelos danos
ambientais materiais veri8icados na ocorrência de processo erosivo nos
loteamentos do airro Jardim Canaã I e II" no unicípio de .berlQndia" não
admitiu a e7istência de danos morais ambientais decorrentes de lesão 9 =rea
de preservação ambiental6 ' relator do ac4rdão do *ribunal de Justiça de
inas )erais" Desembargador Ant`nio :lio Rilva" concluiu ;ue,
'ra" nota-se claramente ;ue" tanto o unicípio ;uantoa segunda apelante 8oram omissos no dever ;ue l3escompetia de preservar o meio ambiente" ao permitirem;ue a =rea natural so8resse danos6 A uma" pela ausênciade 8iscali(ação por parte do unicípio da =rea de
preservação permanente ocupada pelos invasores" o;ue l3e competia 8a(er" como tamb:m por não teradotado medidas e8ica(es para a contenção doprocesso erosivo ;ue 5= 3avia se instalado no local6 Aduas" pela não e7ecução do pro5eto de saneamentob=sico de 8orma a viabili(ar o escoamento das =guaspluviais" obras de responsabilidade da segundaapelante" con8orme determinado no antepro5eto deaprovação do loteamento 8ls6 $[!K" rati8icado pela
perícia o8icial 8ls6 $#$" item II-$K6x666y
Assim sendo" procedente : o pedido 8ormulado emação civil pEblica" uma ve( comprovado nos autos ;ue3ouve pre5uí(o ao meio ambiente" sendo de seresponsabili(ar os agentes ;ue por ação ou omissãoten3am lesado o meio ambiente" os ;uais devemreparar o dano6
A condena:;o dos a!elantes e danos orais ,inde/ida" posto ;ue dano oral , todo o so&riento
%
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causado ao indi/íduo em decorrência de ;ual;ueragressão aos atributos da personalidade ou aos seusvalores pessoais" portando de carFter indi/idual<ine@istindo ?ual?uer !re/is;o de ?ue a coleti/idade
!ossa ser sueito !assi/o do dano oral6 )ri8ou-seK6
' inist:rio PEblico do +stado de inas )erais" recorrendo ao Ruperior
*ribunal de Justiça" atrav:s da interposição de recurso especial" sustentou ;ue
o ac4rdão 3ostili(ado violou o previsto no artigo V" da Lei 16[012!_ $/ e no artigo
0" par=gra8o V" da Lei /6#[!2! $1" ;ue" como 5= visto" consubstanciam o
aparato legislativo para a admissibilidade de ocorrência de danos morais
ambientais e para a responsabili(ação do poluidor" independentemente de
culpa" pela reparação dos danos causados ao meio ambiente e a terceiros6
's recorridos pugnam pela manutenção do ac4rdão" alegando ;ue, aK s4
e7iste dano moral de car=ter individual e bK a reparação do dano teria sido
atendida pela condenação em obrigação de 8a(er" consistente na
recomposição dos bens ambientais lesados6
A ementa do ac4rdão do Ruperior *ribunal de Justiça" cu5o relator 8oi o
inistro *eori Albino avasBi asseverou ;ue,
P<'C+RR.AL CIIL6 AXf' CIIL PLICA6 DA&'AI+&*AL6 DA&' '<AL C'L+*I'6 &+C+RR^<IAI&C.LAXf' D' DA&' '<AL T &'Xf' D+ D'<" D+R'F<I+&*' PRYN.IC'" D+ CA<^*+< I&DIID.AL6I&C'PA*IILIDAD+ C' A &'Xf' D+*<A&RI&DIID.ALIDAD+ I&D+*+<I&AILIDAD+ D'R.J+I*' PARRI' + I&DIIRIILIDAD+ DA 'F+&RA + DA<+PA<AXf'K6 <+C.<R' +RP+CIAL IP<'ID'6$!
2/ ' art6 V" da Lei 16[012!_" estabelece ;ue, <egem-se pelas disposiç>es destaLei" sem pre5uí(o da ação popular" as aç>es de responsabilidade por danos morais epatrimoniais causados, l - ao meio-ambiente6
21 ' par=gra8o Enico" do art6 0" da Lei /6#[!2!" assim disp>e, Rem obstar aaplicação das penalidades previstas neste artigo" : o poluidor obrigado"independentemente da e7istência de culpa" a indeni(ar ou reparar os danoscausados ao meio ambiente e a terceiros" a8etados por sua atividade6 ' inist:rioPEblico da .nião e dos +stados ter= legitimidade para propor ação deresponsabilidade civil e criminal" por danos causados ao meio ambiente6
2! <ARIL6 Ruperior *ribunal de Justiça6 (ecurso "s!ecial n [6.1E6 inist:rioPEblico do +stado de inas )erais versus unicípio de .berlQndia e +mpreendimentos
Imobili=rios Canaã Ltda6 <elator Des6 Lui( Fu76 Disponível em,q3ttps,22??$6st565us6br2revistaeletronica2ita6aspregistro$%%[%1!/$##dtpublicacao%2%/2$%%/6 Acesso em, [ mai6 %#6
%!
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&o caso em e7ame" o inistro Lui( Fu7" acompan3ado pelo inistro Jos:
Delgado" votou pelo provimento do recurso e" portanto" pelo recon3ecimento
do dano ambiental e7trapatrimonial di8uso" caracteri(ado pela diminuição da
;ualidade de vida da população" em ra(ão do dese;uilíbrio ecol4gico
veri8icado no caso,
x666y $6 ' eio aiente ostenta na modernidade /alorinestiF/el para a 3umanidade" tendo por issoalcançado a eminência de garantia constitucional6
[6 ' advento do novel ordenaento constitucional M no
;ue concerne 9 proteção ao dano moral M possibilitou
ultra!assar a arreira do indi/íduo !ara aran=er o danoe@tra!atrionial X !essoa urídica e X coleti/idade6
06 &o ;ue pertine a possibilidade de reparação por danomoral a interesses di8usos como s4i ser o meio ambienteamparam-na o art6 V da Lei da Ação Civil PEblica e oart6 /V" I" do CDC6
_6 Com e8eito" o eio aiente integra inegavelmente acategoria de interesse di8uso" posto inapropri=vel uti singuli6 Consectariamente" a sua lesão" caracteri(ada
pela diinui:;o da ?ualidade de /ida da !o!ula:;o<!elo dese?uilírio ecol\=ico< !ela les;o a udeterinado es!a:o !rote=ido< acarreta inc]odos&ísicos ou lesWes X saVde da coleti/idade" revelando
atuar ilícito contra o patrim`nio ambiental"constitucionalmente protegido6
x666y 16 ' dano oral aiental caracteri(ar-se ;uando"al:m dessa repercussão 8ísica no patrim`nio ambiental"sucede o&ensa ao sentiento di&uso ou coleti/o - v6g6, o
dano causado a uma paisagem causa impacto nosentimento da comunidade de determinada região";uer como v6g a supressão de certas =rvores na (onaurbana ou locali(adas na mata pr47ima ao perímetrourbano6
!6 Consectariamente" o recon3ecimento do dano oralaiental não est= umbilicalmente ligado 9 repercussão
8ísica no meio ambiente" mas" ao rev:s" relacionado 9trans=ress;o do sentiento coleti/o" consubstanciado
%"
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no so8rimento da comunidade" ou do grupo social"diante de determinada lesão ambiental6
#6 Destarte" não se pode olvidar ;ue o meio ambiente
pertence a todos" por;uanto a Carta agna de #!!universali(ou este direito" erigindo-o como um bem deuso comum do povo6 Desta sorte" e se tratando de!rote:;o ao eio aiente< !ode co-e@istir o dano!atrionial e o dano oral" inter!reta:;o ?ue !resti=ia areal e@e=ese da Constitui:;o e &a/or de u aientesadio e e?uilirado.
x666y $6 <ecurso especial provido para condenar osrecorridos ao pagamento de dano moral" decorrente da
ilicitude perpetrada contra o meio ambiente" nos termosem ;ue 8i7ado na sentença6$#
Discordando do voto do inistro Lui( Fu7" o inistro *eori Albino avascBi"
acompan3ado pelo inistro Francisco Falcão" negou provimento ao recurso
por entender ;ue a vítima do dano moral :" necessariamente" uma pessoa
individual6 ' dano moral seria" portanto" incompatível com a id:ia da
transindividualidade" ;ue caracteri(a o direito ao meio ambiente e;uilibrado6
+ntendeu o inistro *eori Albino avasBi ;ue,
Ao contr=rio" portanto" do ;ue a8irma o recorrente ]segundo o ;ual o recon3ecimento da ocorrência dedano ambiental implicaria necessariamente orecon3ecimento do dano moral 8l6 0#0K ]" :per8eitamente vi=vel a tutela do bem 5urídicosalvaguardado pelo art6 $$_ da Constituição meioambiente ecologicamente e;uilibradoK" tal comoreali(ada nesta ação civil pEblica" mediante a
determinação de providências ;ue assegurem arestauração do ecossistema degradado" sem ;ual;uerre8erência a um dano moral[%6
2# <ARIL6 Ruperior *ribunal de Justiça6 (ecurso "s!ecial n [6.1E6 inist:rioPEblico do +stado de inas )erais versus unicípio de .berlQndia e +mpreendimentosImobili=rios Canaã Ltda6 <elator Des6 Lui( Fu76 Disponível em,q3ttps,22??$6st565us6br2revistaeletronica2ita6aspregistro$%%[%1!/$##dtpublicacao%2%/2$%%/6 Acesso em, [ mai6 %#6 p6 _-/6
3% <ARIL6 Ruperior *ribunal de Justiça6 (ecurso "s!ecial n [6.1E. inist:rioPEblico do +stado de inas )erais versus unicípio de .berlQndia e +mpreendimentos
Imobili=rios Canaã Ltda6 <elator Des6 Lui( Fu76 Disponível em,q3ttps,22??$6st565us6br2revistaeletronica2ita6aspregistro$%%[%1!/$##dtpublicacao%2%/2$%%/6 Acesso em, [ mai6 %#6 p6 [[6
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Para o inistro avasBi" a e7istência do dano moral depende de lesão
psí;uica ocasionada ao indivíduo" devendo esta a8etar as diversas es8eras
imateriais ;ue integram a dignidade do ser 3umano" tais como a intimidade" a
vida privada" a 3onra e a imagem das pessoas6 Assim" a lesão ;ue ense5a o
dano moral deve atingir os valores 8undamentais inerentes 9 sua
personalidade ou valores ;ue se5am recon3ecidos pela comunidade na ;ual
est= inserido6 Para e7empli8icar seu entendimento" o inistro a8irmou ;ue, '
dano ambiental ou ecol4gico pode" em tese" acarretar tamb:m dano moral M
como por e7emplo" na 3ip4tese de destruição de =rvore plantada por
antepassado de determinado indivíduo" para ;uem a planta teria" por essa
ra(ão" grande valor a8etivo[
.
' posicionamento do inistro segue a lin3a argumentativa desenvolvida
por <ui Rtoco" o ;ual" por sua ve(" entende ;ue,
's danos morais di(em respeito ao 8oro íntimo do lesado"pois os bens morais são inerentes 9 pessoa" incapa(es"por isso" de subsistir so(in3os6 Reu patrim`nio ideal :marcadamente individual" e seu campo de incidência" omundo interior de cada um de n4s" de modo ;uedesaparece com o pr4prio indivíduo6 &o plano 5urídico"
os demais bens da nature(a" por;ue não dotados depersonalidade" não são suscetíveis de o8ensa moral[$6
Ao entender ;ue o dano moral se d= unicamente ;uando atingida a es8era
individual do su5eito" o inistro relator do ac4rdão em an=lise utili(ou-se das
liç>es do doutrinador acima mencionado para determinar ;ue pleitear o
dano moral coletivo e;uiparar-se-ia a um pedido de indeni(ação em 8avor do
pr4prio meio ambiente6 ' inistro" assim como o doutrinador <ui Rtoco" argiu
;ue uma 3ipot:tica condenação suportada com 8undamento no dano moralcoletivo estaria impondo a e7istência de o8ensa moral aos mares" aos rios ou 9
ata AtlQntica6
3 <ARIL6 Ruperior *ribunal de Justiça6 (ecurso "s!ecial n [6.1E6 inist:rioPEblico do +stado de inas )erais versus unicípio de .berlQndia e +mpreendimentosImobili=rios Canaã Ltda6 <elator Des6 Lui( Fu76 Disponível em,q3ttps,22??$6st565us6br2revistaeletronica2ita6aspregistro$%%[%1!/$##dtpublicacao%2%/2$%%/6 Acesso
em, [ mai6 %#6 p6 [63$ R*'C'" <ui" (es!onsailidade ci/il e sua inter!reta:;o uris!rudencial$ doutrinae uris!rudência6 16 ed6 Rão Paulo, <evista dos *ribunais" ### p6 !#/6
%$
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Ademais" vale ressaltar ;ue" para Rtoco" a proteção do bem ambiental
deve ter como meta o resguardo e a preservação do bem ambiental atrav:s
da reparação e da compensação a ser e8etuada ;uando e7istir o dano" com
o intuito de buscar o retorno das características naturais ao estado anterior ao
da lesão6 Por essa ra(ão" a indeni(ação ou a compensação pecuni=ria não
condiria com a mel3or 8orma de tutela do bem ambiental" pois estaria
relegando ao segundo plano a e8etiva restauração da nature(a alterada pela
ocorrência do evento causador do dano ambiental[[6
Destaca-se ;ue o inistro *eori Albino avascBi delimita ;ue a o8ensa moral
sempre se dirige 9 pessoa en;uanto portadora de individualidade pr4pria6
&esse sentido" ;uali8ica o dano moral como ersonal+ssimo e somente visuali(a
a pessoa en;uanto detentora de características e atributos pr4prios e
inviol=veis6 +sse entendimento" contudo" não deve prevalecer" pois con8unde
o su5eito do direito com o ob5eto 5urídico tutelado6
A inistra Denise Arruda" por sua ve(" a8irmou ;ue no caso em an=lise não
restou comprovado o dano moral ambiental6 +m seu voto-vista" recon3eceu a
possibilidade de responsabili(ação do poluidor pelos pre5uí(os ambientais de
nature(a material e moral suportados pela coletividade" tendo" todavia"
considerado como elemento indispens=vel a comprovação de ;ue 3ouve
violação do sentimento coletivo da comunidade local6 Do voto da inistra"
e7trai-se trec3o ;ue bem demonstra seu posicionamento,
+7aminando os autos" e ainda ;ue admitindo apossibilidade de ocorrência de dano moral em 3ip4tesede veri8icação de dano ambiental" creio ;ue o caso dosautos" em sua particularidade" não comportacondenação pelo alegado dano moral ambiental6
x666y
&a 3ip4tese dos autos" as di8iculdades acima indicadasmostram-se claramente" visto ;ue" co!ro/ado o danoaiental" buscou-se a reparação pela recomposiçãodecorrente da obrigação de 8a(er6 &o entanto" noas!ecto e@tra!atrionial< n;o se !rocurou e/idenciar ae&eti/a e@istência do dano coleti/o e di&uso" restando a
3[ R*'C'" <ui" (es!onsailidade ci/il e sua inter!reta:;o uris!rudencial$ doutrinae uris!rudência6 16 ed6 Rão Paulo, <evista dos *ribunais" ### . p6 !#/
%%
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Actas do Colóquio – A responsabilidade Civil por dano ambiental
;uestão inde8inida pelas instQncias ordin=rias" pois a r6sentença não identi8icou ob5etivamente tal tipo de danocoletivo e di8usoK" responsabili(ando os r:us pelodescaso e ilicitude das condutas o ;ue implicaria em
dupla condenação" pois tais aspectos autori(aram acondenação por danos materiaisK" en;uanto o c6*ribunal de origem a8astou a sua e7istência" sob o8undamento de ser descabida a interpretação de ;uetodas as 3ip4teses legais incisos I a I do art6 V da LACPKautori(ariam a indeni(ação por danos morais[06 )ri8ou-seK6
Ao 8inal do 5ulgamento" 8oi negado provimento ao recurso do inist:rio
PEblico" por maioria" nos termos da ementa transcrita acima6 Foramcomputados dois votos 8avor=veis inistros Lui( Fu7 e Jos: DelgadoK ao
recon3ecimento da ocorrência de dano ambiental e7trapatrimonial di8uso" e
três votos" embora por 8undamentos di8erentes" pelo não provimento do
recurso, em ra(ão da impossibilidade de ocorrência de danos ambientais
e7trapatrimoniais inistro *eori avascBi e Francisco FalcãoK e da ausência de
evidências ;ue comprovem o re8erido pre5uí(o no caso em comento inistra
Denise ArrudaK6
Ap4s a minuciosa an=lise do emblem=tico 5ulgado do Ruperior *ribunal
de Justiça pergunta-se, o ;ue 3= para se comemorar diante desse
posicionamento Certamente" o 8ato de ;ue a discussão sobre o dano
ambiental e7trapatrimonial di8uso 5= 8oi e7aminada pelo Ruperior *ribunal de
Justiça e suscitou discuss>es in:ditas demonstra a importQncia ;ue o Direito
Ambiental vem gan3ando no rasil6 Ademais" a decisão" apesar de discrepar
das tendências de evolução do Direito Ambiental e da pr4pria teoria dos
danos" não 8oi unQnime e" por isso" revela a novidade e o dinamismo
característicos das ;uest>es 5urídico-ambientais6
Contudo" não se pode dei7ar de observar os retrocessos evidenciados nos
votos vencedores" ;uais se5am, K A vinculação do dano moral 9 es8era
30 <ARIL6 Ruperior *ribunal de Justiça6 (ecurso "s!ecial n [6.1E6 inist:rioPEblico do +stado de inas )erais versus unicípio de .berlQndia e +mpreendimentos
Imobili=rios Canaã Ltda6 <elator Des6 Lui( Fu76 Disponível em,q3ttps,22??$6st565us6br2revistaeletronica2ita6aspregistro$%%[%1!/$##dtpublicacao%2%/2$%%/6 Acesso em, [ mai6 %#6 p6 [!-[#6
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individual e de car=ter unicamente sub5etivo representa um retorno 9s origens
do recon3ecimento da e7istência e reparabilidade dos danos morais6 &ão
admitir os danos morais coletivos signi8ica ignorar todo processo de ampliação
na caracteri(ação do dano e7trapatrimonial" ;ue permitiu o recon3ecimento
do seu car=ter ob5etivo M desvinculando-o de sub5etivismos íntimos e individuais
ligados 9 id:ia de dor" ve7ame" triste(a e 3umil3ação M e 8undamentou a
construção da id:ia de ;ue tamb:m a pessoa 5urídica[_" assim como a
coletividade" pode ser su5eito passivo de dano e7trapatrimonial6 $K Da mesma
8orma" parece não 8a(er mais sentido insistir na necessidade de comprovação
de um dano ;ue" em ra(ão de suas pr4prias peculiaridades" deve ser
presumido a partir da an=lise do caso concreto e" portanto" da veri8icação do8ato danoso e sua capacidade de provocar a lesão a bens de nature(a
e7trapatrimonial6 &o caso em ;uestão" dedu(-se" da gravidade e
intolerabilidade da degradação ambiental ocorrida" a diminuição da
;ualidade de vida da coletividade e" logo" a con8iguração do dano
ambiental e7trapatrimonial6
Ademais" neste 5ulgado" veri8icou-se ;ue a teoria do dano e7trapatrimonial
ambiental 8oi aceita pelos 5ulgadores em maioria" por [ trêsK inistros Fu7"Jos: Delgado e Denise ArrudaK votos a $ doisK inistros *eori avascBi e
Francisco FalcãoK" mas não 8oi aplicada devido 9s circunstQncias do caso
concreto" con8orme visto acima6
O curioso notar ;ue" ainda ;ue ten3am sido estes os 8undamentos para a
inadmissibilidade do dano e7trapatrimonial ambiental" o posicionamento do
pr4prio Ruperior *ribunal de Justiça 5= se encontra sedimentado no ;ue toca 9
admissibilidade do dano moral da pessoa 5urídica REmula $$1K e da
desnecessidade de demonstração do pre5uí(o em concreto" por entender se
tratar de dano in re isa6
!_ A esse respeito" aria Celina odin de oraes adverte a incongruência da 5urisprudência nacional" seguida pela doutrina ma5orit=ria" no sentido" de um lado" deinsistir ;ue o dano moral deve ser de8inido como dor" ve7ame" triste(a e 3umil3ação e"de outro lado" de de8ender a id:ia de ;ue as pessoas 5urídicas são passíveis de sofrerdano moral6 Das duas uma, ou bem não mais se sustenta a;uela de8inição M e outra"mais ampla" 8a(-se necess=ria M" ou bem a pessoa 5urídica" pela sua pr4pria nature(anão tem legitimidade para tal tipo de compensação6 '<A+R" aria Celina odinde oraes6 O. cit. p6 #$6
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Actas do Colóquio – A responsabilidade Civil por dano ambiental
Por 8im" para demonstrar a dinQmica da evolução pela ;ual passa o Poder
Judici=rio" 8a(-se necess=rio analisar recente ac4rdão da mesma turma ;ue
5ulgou o <ecurso +special nV _#!6$!2)6 *rata-se de posicionamento adotado
pelo Ruperior *ribunal de Justiça no sentido de manter a decisão pro8erida
pelo *ribunal de Justiça do <io )rande do Rul" ;ue imp`s condenação
pecuni=ria por danos morais coletivos 9 empresa de distribuição de boti5>es
de g=s A)IP em decorrência da utili(ação de z5inglej nos camin3>es de
distribuição de modo inapropriado" 8ato ;ue 8oi con8igurado como a causa da
poluição sonora di8usa suportada pela coletividade6
Deve-se destacar ;ue" nesse caso" 8oi por unanimidade ;ue o Ruperior
*ribunal de Justiça" ao 5ulgar o <ecurso +special nV 1#6/_[2<R" em 8evereiro de
$%%1" manteve o ac4rdão pro8erido pelo *J2<R6 ' relator para o ac4rdão 8oi o
inistro Jos: Delgado6 A ementa do ac4rdão recorrido recebeu a seguinte
redação,
AXf' CIIL PLICA6 P'L.IXf' R'&'<A6 '<I)AXf'D+ FA+<6 P+<DA D+ 'J+*'6 DA&'R '<AIR6'C'<<{&CIA6*rata-se de ação civil pEblica a8orada pelo
inist:rio PEblico ob5etivando ;ue a r: se absten3a deutili(ar o 5ingle de anEncio de seu produto" o ;ual seriagerador de poluição sonora no meio ambiente" o ;ueense5aria danos morais di8usos 9 coletividade6 Comrelação 9 obrigação de 8a(er" a ação perdeu seu ob5etopor 8ato superveniente" decorrente de criação de leinova regulando a ;uestão6 &o entanto"e rela:;o aosdanos orais< !ros!era a !retens;o do #inist,rio PVlico<!ois restou a!laente co!ro/ado ?ue< durante o!eríodo e ?ue a le=isla:;o anterior esta/a e /i=or< a
re?uerida a descu!ria< causando !olui:;o sonora e<!or conse=uinte< danos orais di&usos X coleti/idade.AP+L' P<'ID'[/gri8o nossoK6
' 8undamento da decisão do *ribunal de Justiça do <io )rande do Rul"
mantido pelo Ruperior *ribunal de Justiça" 8oi a amplitude e a gravidade do
incomodo contidos na estrat:gia comercial utili(ada pela empresa A)IP ;ue
3/ <ARIL6 Ruperior *ribunal de Justiça6 (ecurso "s!ecial nH E.Z656 A)IP versus
inist:rio PEblico do <io )rande do Rul6 <elator in6 Jos: Delgado Disponível em,q3ttps,22??$6st565us6br2revistaeletronica2ita6aspregistro$%%_%1##[_dtpublicacao_2%$2$%%16 Acesso em, %$ de março de $%%6
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resultou em desagrado 9 coletividade" dada a elevada intensidade com ;ue
o z5inglej 8oi reprodu(ido para ;ue a empresa conseguisse c3amar a atenção6
' resultado do 5ulgamento 8oi a imposição da obrigação de reparar os danos
morais ambientais di8usos ocasionados 9 coletividade6 +sta indeni(ação serve"
sem dEvida" para ;ue a reparação dos danos se5a a mais integral possível e
para ;ue se5a colocada em 7e;ue a lin3a argumentativa ;ue protesta pela
necess=ria vinculação do dano moral 9 lesão sub5etiva6 Regue" abai7o" a
síntese da 8undamentação elaborada pelo *ribunal de Justiça do <io )rande
do Rul,
'ra" evidente ;ue o descumprimento dos limites legais
estabelecidos gera a c3amada poluição sonoraambiental" da ;ual resultam os danos morais postulados"presumidos do pr4prio ilícito praticado6&o ;ue di(respeito ao ;uantum indeni(at4rio" deve-se considerar;ue o ato praticado pela demandada não se revestiu demaior gravidade" pois e7cedeu pouco o limite legalestabelecido c3egou a níveis de /"# decib:is - 8l6 _ -;uando o m=7imo permitido era __ decib:isK6Ademais"ainda ;ue o 5ingle causasse algum inc`modo" deve-serecon3ecer ;ue tin3a uma certa utilidade pEblica" poisera a 8orma de aviso 9s donas de casa e empregadasdom:sticas ainda assim" evidente ;ue 3avia abuso porparte da empresa na sua utili(açãoK6Por tais motivos"arbitro os danos morais em <| 16%%%"%%" ;ue devem sercorrigidos pelo I)P a partir desta data" e acrescidos de 5uros legais desde a citação6 A re;uerida dever= arcar"ainda" com as custas processuais6Por todo o e7posto"mani8esto-me pelo P<'I+&*' do apelo" nos termosacima consignados[16
A decisão em ;uestão 8oi emblem=tica e demonstra a perspectiva
positiva ;ue o *ribunal de Justiça do <io )rande do Rul e o Ruperior *ribunal de
Justiça adotaram ao considerarem possível ;ue a coletividade se5a o su5eito
passivo de uma o8ensa imposta de modo di8uso" ;ue atingiu todos os
residentes da;uela =rea onde se deu a poluição sonora6
31 <ARIL6 *ribunal de Justiça do <io )rande do Rul6 A!ela:;o Cí/el n H
22226532Z. inist:rio PEblico do <io grande do Rul versus A)IPLIN.I)AR R6A6Disponível em , q 3ttp,22???6t5rs65us6br2busca2tb5uris6 Acesso em $[ de março de$%%6 p6 06
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Actas do Colóquio – A responsabilidade Civil por dano ambiental
Assim" na resolução desse con8lito" 3ouve" sem dEvida alguma" um
avanço no tratamento da ;uestão" por;ue a discussão 8icou centrali(ada em
torno da con8iguração do dano ambiental moral di8uso" ao contr=rio do ;ue
ocorreu no 5ulgamento do <ecurso +special nV _#!6$!2)" no ;ual o debate
da ;uestão 8oi centrali(ado na vinculação do dano moral aos sentimentos de
dor e de descon8orto individuais" tendo sido a8astada a possibilidade de a
coletividade titulari(ar a indeni(ação pecuni=ria por dano moral ambiental
coletivo6
Assim" cabe ressaltar ;ue o Ruperior *ribunal de Justiça" ao aceitar o dano
moral ambiental coletivo" vem captando as necessidades inerentes 9
comple7idade do dano ambiental" ;ue" por suas características" atinge nãoapenas a nature(a" mas" tamb:m" o 3omem" se5a individual ou coletivamente6
&esse sentido e constatando-se" portanto" a necessidade de o direito
apresentar respostas aos con8litos diversos da sociedade contemporQnea e de
risco" 3= ;ue se comemorar" ao menos em parte" pelos avanços veri8icados na
5urisprudência brasileira sobre o tema6
3.5 A caracteri>a:;o do dano oral aiental
Con8orme se asseverou anteriormente" a ;uestão relativa 9 reparabilidade dos
danos e7trapatrimoniais" se5am eles individuais ou coletivos" 5amais 8oi pací8ica"
;uer na doutrina" ;uer na 5urisprudência6 &este conte7to" mesmo para a;ueles
;ue de8endem a possibilidade de reparação" a di8iculdade de se apurar o
6uantum debeatur re8erente 9 lesão moral sempre se a8igurou como
obst=culo dos mais comple7os6 Para os de8ensores da tese negativista" a
di8iculdade de se ;uanti8icar um pre5uí(o ;ue não atin5a diretamente o
patrim`nio sempre se constituiu em argumento a mais a re8orçar seu
entendimento6 *rata-se" en8im" de tema sobre o ;ual doutrina e 5urisprudência
5amais assentiram6
Com e8eito" se o dano e7trapatrimonial individual se constitui na dor" na
3umil3ação" en8im" na o8ensa moral a bens de nature(a essencialmente
sub5etiva" : indiscutível a pro8unda di8iculdade e7istente para se avaliar o
pre5uí(o decorrente de les>es desta nature(a6 Como se pode determinar" por
e7emplo" o valor de um dano 9 3onra ou aos bons costumesS Re a noção
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destes interesses 5= : sabidamente sub5etiva" mais ainda ser= uma eventual
;uanti8icação do pre5uí(o a eles causado6
Destaca-se ;ue maior di8iculdade ainda se vislumbra no tocante 9
reparação de danos e7trapatrimoniais coletivos6 Isto por;ue no ;ue se re8ere 9
mat:ria mesmo os princípios de ordem essencialmente patrimonial 5= são de
di8ícil reparação" como : o caso das les>es ao meio ambiente6 Deveras" como
se avaliar o dano e7trapatrimonial causado a uma população ;ue vive em
uma =rea atingida por um desmatamento desmedidoS 'u por um rio
inteiramente poluídoS
+ntretanto" a di8iculdade em se avaliar os danos e7trapatrimoniais" ;uer
individuais" ;uer coletivos" não pode ser ra(ão para não se indeni(ar" comodurante muito tempo ;uiseram 8a(er crer os adeptos da tese negativa da
reparação6 Ao rev:s" se assim 8osse" poderia ocorrer um enri;uecimento ilícito
do causador do dano" o ;ue : vedado pelo direito6 Deste modo" con8igurado
o dano e7trapatrimonial" este 3= ;ue ser reparado" não obstante as
di8iculdades e7istentes para sua valoração6 Ante a ine7istência" no
ordenamento 5urídico brasileiro" de normas legais ;ue versem sobre as 8ormas
especí8icas de reparação do dano e7trapatrimonial individual ou coletivo"
8ornecendo crit:rios ;ue possibilitem uma mel3or apuração do valor a ser
indeni(ado 9;uele título" alternativas tiveram de ser buscadas" tanto pela
doutrina ;uanto pela 5urisprudência6
De 8ato" para ;ue não se dei7asse o dano moral sem reparação"
especialmente ap4s o advento da Constituição da <epEblica Federativa do
rasil" em ;ue o mesmo 8oi erigido 9 ;ualidade de garantia individual e
coletiva de todos os cidadãos" a doutrina privatista encontrou" dentro do
pr4prio ordenamento 5urídico vigente" uma solução para o impasse6 *rata-se
de normas contidas no artigos #00" #0_" #0/ e seguintes do C4digo Civil de
$%%$6 <essalte-se ;ue o art6 #0/ tra( regra de 8undamental importQncia para a
reparação do dano moral ambiental di8uso ao estabelecer ;ue se a
obrigação 8or indeterminada" e não 3ouver na lei ou no contrato disposição
8i7ando a indeni(ação devida pelo inadimplente" apurar-se-= o valor das
perdas e danos na 8orma ;ue a lei processual determinar6 Dessa 8orma" no
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Actas do Colóquio – A responsabilidade Civil por dano ambiental
caso de obrigação indeterminada apurar-se-= o valor das perdas e danos por
arbitramento6[!
'ra" não 3avendo crit:rios legais seguros para se a8erir o 6uantum
indeni(at4rio do dano e7trapatrimonial" deve o 5ulgador" observadas as
circunstQncias do caso concreto" utili(ar-se do arbitramento para 8i7ar o valor
da condenação6[#
Diante dessa perspectiva" deve prevalecer a compreensão de ;ue os
danos e7trapatrimoniais individuais e coletivos são passíveis de reparação"
sendo ;ue a ;uanti8icação deve ser 8eita por arbitramento6 +ntretanto" o
6uantum debeatur ser= sempre vari=vel" con8orme as circunstQncias do caso
concreto6 Isso por;ue as les>es de ordem moral" ao contr=rio da;uelas de
nature(a patrimonial" possuem uma abrangência deveras ampla" podendo
lesar interesses estritamente sub5etivos e da coletividade6 Assim" a indeni(ação
moral decorrente da perda de um ente ;uerido" por e7emplo dano moral
individualK" ser= diversa da;uela surgida em virtude do corte de uma =rvore
dano moral coletivoK6 Do mesmo modo" o agente causador do dano poder=
ser uma empresa de grande porte ou um indivíduo ;ual;uer" isoladamente
considerado6 *amb:m a gravidade da lesão 3= ;ue ser levada em conta"
al:m de outros aspectos6
&este sentido" avança os art6 #00" do C4digo Civil brasileiro" estabelecendo
ser a indeni(ação medida pela e7tensão do dano e se 3ouver e7cessiva
desproporção entre a gravidade da culpa e o dano" poder= o 5ui( redu(i-la"
e;itativamente" a indeni(ação6 ' art6 #0_" por seu turno" leva em
consideração a necessidade da observação da gravidade da culpa do autor
na 8i7ação da indeni(ação63! +sta norma" embora proveniente do direito privado" :" a nosso ver"
plenamente aplic=vel 9s condenaç>es ocorridas em virtude de danos moraiscoletivos" diante da lacuna e7istente na legislação no tocante ao tema6 ' ideal" noentanto" seria a e7istência de e7pressa previsão legal concernente 9 mat:ria noQmbito da Lei da Ação Civil PEblica ou do C4digo de De8esa do Consumidor" ouainda M e o ;ue seria mais recomend=vel M atrav:s da edição de um diploma legalespecí8ico para este 8im6 *rata-se de proposta de lege ferenda3 ;ue nos permitimosmodestamente 8ormular6
3# A doutrina privatista" de um modo geral" pronuncia-se de acordo com esteentendimento6 Para Jos: de Aguiar Dias, &ão : ra(ão su8iciente para não indeni(ar" e
assim bene8iciar o respons=vel" o 8ato de não ser possível estabelecer e;uivalentee7ato" por;ue" em mat:ria de dano moral" o arbitr=rio : at: da essência das coisas6DIAR" Jos: de Aguiar6 Da res!onsailidade ci/il6 v6 6 <io de Janeiro, Forense" ##_6
8"
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A prop4sito do assunto" muito se tem discutido6 Destarte" a doutrina e a
5urisprudência têm 8ornecido inEmeros subsídios consistentes na 8ormulação de
crit:rios para a a8erição do dano e7trapatrimonial6 &a doutrina" o desta;ue
deve ser dado para a bril3ante lição da Pro8essora Dini(" ;ue assim se
pronuncia,
O de competência 5urisdicional o estabelecimento domodo como o lesante deve reparar o dano moral"baseado em crit:rios sub5etivos posição social ou políticado o8endido" intensidade do Qnimo de o8ender, culpa oudoloK ou ob5etivos situação econ`mica do o8ensor" riscocriado" gravidade e repercussão da o8ensaK6 &aavaliação do dano moral" o 4rgão 5udicante dever=estabelecer uma reparação e;itativa" baseada naculpa do agente" na e7tensão do pre5uí(o causado e nacapacidade econ`mica do respons=vel0%6
A 5urisprudência" a seu turno" tamb:m tem dado guarida a certos
crit:rios ob5etivos ou sub5etivos60
' entendimento doutrin=rio assinalado" embora não se re8ira a danos
coletivos" aplica-se indubitavelmente a estes6 O 4bvio ;ue" uma ve( a8etado
um bem sub5etivo ou da coletividade" se5a ele de ;ue nature(a 8or" o dano
causado dever= ser reparado" podendo-se utili(ar" para tanto" os subsídios ora
invocados6 Assim" o aterramento de um rio" por e7emplo" ;ue cause pre5uí(os
incomensur=veis 9 população da região" deve ser indeni(ado tanto sob o
aspecto patrimonial ;uanto e7trapatrimonial" levando-se em conta" em
relação a este Eltimo" todas as circunstQncias do caso concreto6
Compete" pois" ao Poder Judici=rio a importante tare8a de transplantar
para a pr=tica o disposto na Constituição Federal e na legislação ordin=ria
acerca do dano e7trapatrimonial ambiental6 Romente com a reiteração dospronunciamentos dos *ribunais no tocante 9 responsabili(ação civil dos
4% DI&I" aria elena6 Curso de direito ci/il rasileiro6 Rão Paulo, Raraiva" ##_6 v616 p6 1#6 <esponsabilidade CivilK6
4 &este sentido" 5= decidiu o egr:gio *ribunal de Justiça de Ranta Catarina ;ue"como não : possível encontrar-se um crit:rio ob5etivo e uni8orme para a avaliaçãodos interesses morais a8etados" a medida da prestação do ressarcimento deve ser8i7ada ao arbítrio do Jui(" levando em conta as circunstQncias do caso" a situaçãoecon`mica das partes e a gravidade da o8ensa DiJrio Oficial de 5usti!a de MantaCatarina" de [% abr6 ##" p6 [K do mesmo modo" a mesma Corte assim se
pronunciou, &a avaliação do dano moral se deve levar em conta a posição social ecultural do o8ensor e do o8endido" a maior ou menor culpa para a produção doevento DiJrio da 5usti!a de Manta Catarina" [ maio ##" p6 #K6
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Actas do Colóquio – A responsabilidade Civil por dano ambiental
causadores de danos ao meio ambiente" : ;ue se atingir= e8etivamente o
ideali(ado pelo legislador6 + somente assim : ;ue se poder= ameni(ar os
e8etivos pre5uí(os a valores e;uiparados 9 dor causados 9 coletividade" por
o8ensa 9 ;ualidade de vida" ao mesmo tempo em ;ue se imp>e ao causador
da lesão uma sanção pelo mal praticado" al:m de servir para desestimul=-lo a
repetir a lesão ambiental6
6. Considera:Wes &inais
ive-se" atualmente" um conte7to no ;ual os riscos inerentes 9s atividades
produtivas imp>em situaç>es ;ue produ(em ameaças signi8icativas a serem
suportadas pelo meio ambiente e" conse;entemente" pelo 3omem" na
medida em ;ue repercutem na diminuição do bem-estar da coletividade6
+ssa con5untura imp>e ;ue o meio ambiente se5a devidamente tutelado de
modo preventivo e precaucional" por meio da criação de 8erramentas e
pr=ticas e7istentes em nível s4cio-político ou" ainda" de modo coercitivo"
;uando" ap4s a e7istência do dano" se5a determinado ao poluidor ;ue repare
a lesão produ(ida" privilegiando-se" sempre" a reparação integral dos danos
causados6
uscou-se" no presente trabal3o" discutir como os tribunais brasileiros e" em
especial" o Ruperior *ribunal de Justiça" têm se posicionado diante da ;uestão
relativa 9 reparação dos danos ocasionados ao meio ambiente" partindo-se
do pressuposto de ;ue tais danos" se5am eles materiais e2ou morais" devem ser
integralmente reparados" con8orme estabelece o ordenamento 5urídico
brasileiro e a doutrina pertinente sobre a mat:ria6
eri8icou-se ;ue os c3amados danos morais ambientais re8erem-se aos
so8rimentos da coletividade decorrentes das les>es ambientais intoler=veis6
*rata-se" portanto" de danos ;ue ocasionam perda ou diminuição de
;ualidade de vida" ;ue se re8ere ao con5unto de prerrogativas propiciadas por
um meio ambiente saud=vel e ;ue contribuem para o desenvolvimento sadio
da ;ualidade da personalidade da pessoa 3umana6
Con8orme 8oi analisado" o dano moral ou e7trapatrimonial ambiental
poder= ser sub5etivo ou ob5etivo6 Fala-se em sub5etivo sempre ;ue o interesse
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Instituto de Ciências Jurídico Políticas
ambiental a8ligido relaciona-se a um interesse individual" ou se5a" ;uando a
lesão ao meio ambiente re8letir negativamente em bens individuais de
nature(a imaterial" provocando so8rimento psí;uico" de a8eição" ou 8ísico 9
vítima6 Assim" diante da e7istência de lesão a interesse individual" associada 9
degradação ambiental" tem-se o ;ue se denomina de dano ambiental
e7trapatrimonial de car=ter individual6 *em-se por" sua ve(" dano moral
ambiental ob5etivo ou di8uso ;uando a lesão veri8icada atinge valor imaterial
coletivo" pelo pre5uí(o proporcionado a patrim`nio ideal da coletividade"
relacionado 9 manutenção do e;uilíbrio ambiental e da ;ualidade de vida
Con8orme 8oi constatado" a 5urisprudência brasileira 5= admite a
possibilidade de e7istir o dano moral ambiental di8uso" em consonQncia com o
aparato legislativo em vigor art6 $$_ da Constituição da <epEblica" artigo 0
par=gra8o V da Lei /6#[!2! e artigo V" inciso I" da Lei 16[012!_K e com os
avanços da construção doutrin=ria relacionada ao assunto6
Comemora-se o 8ato de o tema ter sido levado ao Ruperior *ribunal de
Justiça6 eri8icou-se ;ue nesse tribunal 3= dois 5ulgados sobre a mat:ria6 &o
primeiro" re8erente ao <ecurso +special nV _#!6$!2)" o debate 8icou
centrali(ado na vinculação do dano moral aos sentimentos de dor e de
descon8orto individuais" tendo sido a8astada a possibilidade de a coletividade
titulari(ar a indeni(ação pecuni=ria por dano moral ambiental coletivo6 Ao 8inal
do 5ulgamento" 8oram computados dois votos 8avor=veis inistros Lui( Fu7 e
Jos: DelgadoK ao recon3ecimento da ocorrência de dano ambiental
e7trapatrimonial di8uso e três votos" embora por 8undamentos di8erentes" pelo
não provimento do recurso" em ra(ão da impossibilidade de ocorrência de
danos ambientais e7trapatrimoniais inistro *eori avascBi e Francisco FalcãoKe da ausência de evidências ;ue comprovem o re8erido pre5uí(o no caso em
comento inistra Denise ArrudaK6
&o segundo caso 5ulgado pelo Ruperior *ribunal de Justiça" re8erente ao
<ecurso +special nV 1#6/_[2<R" relativo aos danos morais oriundos de poluição
sonora" a discussão a respeito da vinculação do dano moral 9 dor individual
restou superada" demonstrando uma evolução na 5urisprudência acerca da
mat:ria6 &esse caso" o R*J entendeu ser possível ;ue a coletividade se5a o
8%
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su5eito passivo de uma o8ensa imposta de modo di8uso" ;ue atingiu todos os
residentes da;uela =rea onde se deu a poluição sonora6
A eleição das 5urisprudências analisadas serviu como 8erramenta para
demonstrar ;ue a responsabilidade civil em mat:ria ambiental tem servido
não apenas para reparar danos materiais" mas tamb:m danos morais" e" com
isso" buscou-se evidenciar ;ue o Ruperior *ribunal de Justiça alargou seu
entendimento e superou algumas di8iculdades ;ue antes eram impostas 9
reparação integral do dano ambiental coletivo6 Desta 8eita" a 5= citada
vinculação do dano moral ao sentimento de dor ou descon8orto individual 8oi
superada e não mais deve ser considerada como um entrave para a
aceitação do dano moral ambiental di8uso nos tribunais brasileiros6
+spera-se ;ue o avanço veri8icado na 5urisprudência do Ruperior *ribunal
de Justiça sirva como precedente para o Poder Judici=rio brasileiro a 8im de
ameni(ar os e8etivos pre5uí(os causados 9 coletividade" por o8ensa 9
;ualidade de vida" impondo-se ao causador da lesão uma sanção pelo mal
praticado e desestimulando condutas ;ue causem danos ao direito
8undamental de toda a coletividade, o meio ambiente ecologicamente
e;uilibrado6
Z. (e&erências ilio=rF&icas
DOUT(I'A$
CAALI+<I FIL'" R:rgio6 Pro=raa de (es!onsailidade Ci/il6 _ ed6 revista"aumentada e atuali(ada6 Rão Paulo, al3eiros" $%%06
C.R*UDI'" elita arreira6 A/alia:;o de custos aientais e a:Wes urídicasde les;o ao eio aiente. :n, <evista dos *ribunais6 ol6 /_$6 P6 0 M $!6 RãoPaulo, <evista dos *ribunais" ##%6
DIAR" Jos: de Aguiar6 Da res!onsailidade ci/il6 v6 6 <io de Janeiro, Forense"##_6
DI&I" aria elena6 Curso de direito ci/il rasileiro, (es!onsailidade Ci/il. ol.. Rão Paulo, Raraiva" ##_6
F<A&XA" <ubens Limongi6 (e!ara:;o do dano oral6 :n <evista dos *ribunais6ol6 /[6 P6 $# M [16 Rão Paulo, <evista dos *ribunais" #!!6
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Instituto de Ciências Jurídico Políticas
F<+I*AR" ladimir Passos de6 A Constitui:;o ederal e a e&eti/idade de suasnoras aientais6 $ edição revista6 Rão Paulo, <evista dos *ribunais" $%%$6
L'<+&+**I" <icardo Luis6 La nue/a le7 aiental ar=entina6 :n' <evista de
Direito Ambiental6 ol6 $#6 P6 !1 M [%/6 Rão Paulo, <evista dos *ribunais" $%%[
ILA<O" Odis6 Direito do aiente$ doutrina" 5urisprudência" gloss=rio6 [6 ed6 Rão
Paulo, <evista dos *ribunais" $%%06
I<<A" ^lvaro Lui( alerG6 A:;o ci/il !Vlica e re!ara:;o do eio aiente.Rão Paulo, +ditora Juare( de 'liveira" $%%$6
'<A+R" aria Celina odin de6 Danos X !essoa 0uana$ ua leitura ci/il-constitucional dos danos orais. <io de Janeiro, <enovar" $%%[6
RILA" Jos: A8onso da6 Curso de direito constitucional !ositi/o. [6 ed6 RãoPaulo, al3eiros +ditores" $%%!6
R*+I)L+D+<" Annelise onteiro6 (es!onsailidade ci/il aiental$ as diensWesdo dano aiental no Direito rasileiro. Porto Alegre, Livraria do Advogado"$%%06
R*'C'" <ui" (es!onsailidade ci/il e sua inter!reta:;o uris!rudencial$ doutrinae uris!rudência6 16 ed6 Rão Paulo, <evista dos *ribunais" ###6
JU(ISP(UD'CIA$
<ARIL6 Ruperior *ribunal de Justiça6 (ecurso "s!ecial nH 55E.6E4^O. Cristal+ngen3aria e +mpreendimentos Ltda6 versus Associação das +mpresas deIncorporação de )oi=s - AD+I6 <elator in6 Cesar As8or <oc3a6 Disponível em,q 3ttps,22??$6st565us6br2revistaeletronica2ita6aspregistro$%%%%!%1//%dtpublicacao$_2%[2$%%$6 Acesso em, %$ abril $%%6
<ARIL6 Ruperior *ribunal de Justiça6 (ecurso "s!ecial n [6.1E4#^6 inist:rioPEblico do +stado de inas )erais versus unicípio de .berlQndia e+mpreendimentos Imobili=rios Canaã Ltda6 <elator Des6 Lui( Fu76 Disponível em,q3ttps,22??$6st565us6br2revistaeletronica2ita6aspregistro$%%[%1!/$##dtpublicacao%2%/2$%%/6 Acesso em, [ mai6 $%%#6
<ARIL6 Ruperior *ribunal de Justiça6 (ecurso "s!ecial nH E.Z656 A)IP versusinist:rio PEblico do <io )rande do Rul6 <elator in6 Jos: Delgado Disponívelem, q 3ttps,22??$6st565us6br2revistaeletronica2ita6aspregistro$%%_%1##[_dtpublicacao_2%$2$%%16 Acesso em, %$ de março
de $%%6
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Actas do Colóquio – A responsabilidade Civil por dano ambiental
<ARIL6 Ruperior *ribunal de Justiça6 (ecurso "s!ecial nH E.26.134(S6 inist:rioPEblico do +stado do <io )rande do Rul versus +mpresa ento )onçalves de*ransportes Ltda6 <elatora inistra +liana Calmon6 Disponível em,q3ttps,22??$6st565us6br2?ebsecst52revistaeletronica2ita6asp6 Acesso em, 0 de
mar6 de $%%6
<ARIL6 *ribunal de Justiça de inas )erais6 A!ela:;o Cí/el nHE.2E51.26.221EE-2422E6 inist:rio PEblico de inas )erais versus Itamar Fariade Paiva Fil3o6 Disponível em,
q3ttp,22???6t5mg65us6br25uridico25t25urisresultado65spnumeroC&JdvC&JanoC&JorigemC&Jtipo*ribunalcomrCodigoanot7tprocessodvcomplementoacordao+mentaacordaopalavrasConsultadanomoralambientaltipoFiltroandorderGData%relator
dataInicialdataFinal$0w$F%[w$F$%%resultPagina%dataAcordaoInicialdataAcordaoFinalpes;uisarPes;uisar6 Acesso em, $0 de mar6 $%%6
<ARIL6 *ribunal de Justiça do <io de Janeiro6 A!ela:;o Ci/il nH 122E.22E.E36Z.unicípio do rio de Janeiro versus Artur da <oc3a endes &eto6 <elatoraDesembargadora aria <aimunda *6 De A(evedo6 Disponível em q3ttp,22???6t5r565us6br2scripts2?eblinB6mg?6 Acesso em, %_ de abril de $%%6
<ARIL6 *ribunal de Justiça do <io )rande do Rul6 A!ela:;o Cí/el n H22226532Z. inist:rio PEblico do <io grande do Rul versus A)IPLIN.I)AR R6A6
Disponível em , q 3ttp,22???6t5rs65us6br2busca2tb5uris6 Acesso em $[ demarço de $%%6
<ARIL6 *ribunal de Justiça de Ranta Catarina6 A!ela:;o Ci/il 1222.2165ZZ-.Arabutan <abelo Avila versus Fundação unicipal do eio Ambiente deFlorian4polis - FL'<A <elator Desembargador &e?ton JanBe6 Disponível emq3ttp,22t5sc/6t56sc6gov6br2cposg2pcpo<esultadoConsProcesso$)rau65spCDP%%%%%JF1%%%%6 Acesso em, $# de março de $%%6
)os& *u+ens Morato Leite
estre pela .niversitG College London" Doutor em Direito Ambiental pela .niversidadeFederal de Ranta Catarina" P4s-Doutor em Direito Ambiental pelo Centre o8+nvironmental La?" ac;uarie .niversitG" RGdneG" Austr=lia6 Pro8essor dos cursos degraduação e p4s-graduação da .FRC6 Consultor e olsista de Produtividade do C&P;6Coordenador do )rupo de Pes;uisa Direito Ambiental e Ecologia Pol+tica naMociedade de %isco" do C&P;6
oltar ao Yndice
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Instituto de Ciências Jurídico Políticas
O P(I'C+PIO DO POLUIDO( PA^ADO( CO#O P(I'C+PIO 'UCL"A( DA
("SPO'SAILIDAD" A#I"'TAL 'O DI("ITO "U(OP"U
Princí!ios suacentes X res!onsailidade aiental
amos proceder 9 an=lise do sistema de responsabilidade ambiental" tal
como est= estabelecido na .nião +uropeia desde $%%0 pela Directiva
$%%02[_" de $ de Abril de $%%0 e" entre n4s" desde $%%! pelo Decreto-Lei
n6V 012$%%! de $# de Jul3o na perspectiva de encontrar os princípios
estruturantes 8undamentais6
A especial importQncia dos princípios no direito ambiental$" resulta da
necessidade de dar coerência e racionalidade a um vastíssimo con5unto de
normas ambientais de garantir a estailidade a um sistema ;ue não p=ra de
evoluir e de se e7pandir a velocidades vertiginosas de &le@iili>ar e tornar
uridicaente inteli=í/el um direito algo rígido" composto por normas
ambientais caracteri(adas pelo seu pendor 8ortemente t:cnico" por ve(es de
di8ícil apreensão pelos menos 3abituados a encontrar uma taman3adensidade cientí8ica e t:cnica nas leis6
Rão v=rios os princípios ambientais[ ;ue in8ormam o presente regime da
responsabilidade por danos ambientais, o princípio do poluidor pagador" o
1 +ncontramos um tratamento mais desenvolvido do tema das 8unç>es dosprincípios de Direito do Ambiente nas obras de &icolas de Radeleer, Le principe dupollueur-paGeur, ideal r:gulateur ou r}gle de droit positi8" in, Am(nagement8Environnement" num:ro sp:cial" ##_ #es rincies du ollueur8a9eur3 de r(vention
et de r(caution" .niversit:s Francop3ones" ruGllant2A.F" ru7elas" ###" p6 $01 e ss6+nvironmental principles" modern and post-modern la?" in, Princiles of EuroeanEnvironmental la>" <ic3ard acrorG ed6K" +uropa La? Publis3ing" $%%0" p6 $$_ e ss66
2 )erd inter trata da nature(a 5urídica dos princípios ambientais" distinguindo entreprincípios políticos e princípios 5urídicos La natura giuridica dei principi ambientali neldiritto interna(ionale" nellj.nione +uropea ed in alcuni ordinamenti na(ionali" in, #aForBa )ormativa dei Princii" Domenico Amirante org6K" C+DA" $%%/" p6 !# e ss6
3 &uma perspectiva substancialmente di8erente" Carla Amado )omes procuraredu(ir os princípios do Direito do Ambiente 9 e7pressão mais simples" desvalori(ando8alsos princípios" princípios não e7clusivos do Direito do Ambiente e princípiossobrepostos6 ' princípio do poluidor pagador : precisamente um dos e7emplos deum princípio sobreposto com outro" não especi8icamente ambiental" ;ue : o
princípio da igualdade na repartição de encargos pEblicos Direito Administrativo doAmbiente" in, Tratado de Direito Administrativo Esecial" olume I" Almedina" $%%#" p6!! e ss6K6
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Actas do Colóquio – A responsabilidade Civil por dano ambiental
princípio do desenvolvimento sustent=vel" o princípio da prevenção" o
princípio da correcção na 8onte e o princípio da integração de8inem as
grandes lin3as orientadoras do regime europeu e" conse;uentemente" do
regime nacional06
Destes" apenas o princípio do poluidor pagador e o princípio do
desenvolvimento sustent=vel são e7pressamente considerados como
rinc+ios" na Directiva europeia6 &o entanto" não 3= dEvidas de ;ue tamb:m
as ideias de reven!"o e correc!"o na fonte perpassam todo o regime"
a8lorando especialmente nos artigos _V sobre acç>es de prevençãoK e !V
sobre custos de reparação e prevençãoK6 ' princípio da integra!"o_ 3 por sua
ve(" 8undamenta o surgimento do pr4prio regime de responsabilidade
ambiental e e7plica ;ue as preocupaç>es ambientais ten3am conse;uências
directas sobre as condiç>es de desenvolvimento das actividades econ4micas6
Al:m destes princípios" no direito português" encontramos ainda
mencionado o rinc+io da resonsabiliBa!"oN" atrav:s de uma remissão para
a Lei de ases do Ambiente6 &a Lei de ases" a responsabili(ação surge
de8inida como o princípio ;ue aponta para a assunção pelos agentes das
conse;uências" para terceiros" da sua acção" directa ou indirecta" sobre os
4 ' princípio da precaução não encontra re8le7o nas regras de responsabilidadeambiental" 5= ;ue os deveres do operador se redu(em 9 evitação de ameaçaseminentes de danos6 A ameaça eminente de danos mencionada vinte e ;uatrove(es ao longo do te7to e preQmbulo da DirectivaK : entendida como probabilidadesu8iciente da ocorrência de um dano ambiental num 8uturo pr47imo artigo $V" n6V#K" o;ue est= longe da mera probabilidade s:ria de danos 8uturos e longín;uos" com ;uese basta o princípio da precaução6 Ali=s" em v=rias ocasi>es a lei parece 8a(erre8erência a e7igências de certe(a cientí8ica ;ue se situam nos antípodas do princípioda precaução6 Por e7emplo, os danos são alteraç>es mensur=veis artigo $V" n6V$K"
o período de tempo relevante para a8erir o estado de conservação das esp:cies :um 8uturo previsível artigo $V" n6V0 bKK a poluição de car=cter di8uso s4 dar= origema responsabilidade se 8or possível estabelecer um ne7o de causalidade entre osdanos e as actividades de operadores individuais artigo 0V" n6V_K nos crit:rios designi8icatividade" s4 relevam os danos com e8eitos comprovados para a saEde3umana ane7o IK6
# +ncontramos a 8ormulação europeia do princípio no actual artigo 6V anteriorartigo /6V do *ratado ;ue instituía a Comunidade +uropeia - *C+K do *ratado sobre o8uncionamento da .nião, As e7igências em mat:ria de protecção do ambientedevem ser integradas na de8inição e e7ecução das políticas e acç>es da .nião" emespecial com o ob5ectivo de promover um desenvolvimento sustent=vel6
6 Robre a relação entre o PPP e o princípio da responsabilidade no Direito +uropeu"
ver +rsiliagra(ia Rpata8ora" Aspetti +conomici e )iuridici del Principio Hc3i in;uinapaga nella Politica Ambientale dellj.nione +uropea" in, Aollinaris" LWIII" ##_" p6 //!e ss66
9
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Instituto de Ciências Jurídico Políticas
recursos naturais artigo [V 3KK6 'u se5a" nesta acepção" o princípio da
responsabili(ação legitima apenas actuaç>es a osteriori" depois de os danos
ambientais terem ocorridoK e não actuaç>es preventivas antes de se
veri8icarem ;uais;uer conse;uênciasK" ;ue são a;uelas principalmente
visadas pelo novo sistema de responsabilidade ambiental6 *rata-se" por isso" de
uma 8ormulação mais pr47ima do cl=ssico regime de responsabilidade civil" do
;ue do princípio do poluidor pagador 16
Por outro lado" a de8inição legal do princípio da responsabili(ação peca por
ser e7cessivamente antropocêntrica" abrangendo apenas os danos causados
ao omem atrav:s do ambiente e não os danos causados ao ambiente em si
mesmo6 A Enica 8orma de contornar esta crítica seria alargar o conceito de
terceiros" a ponto de abranger tamb:m esp:cies animais e vegetais 8auna e
8loraK" o ;ue talve( se5a algo e7cessivo6
'ra" a inserção do princípio da responsabili(ação no diploma nacional de
transposição da Directiva europeia s4 não : critic=vel" por;ue o legislador
nacional resolveu incluir" no mesmo diploma legal" regras relativas 9
responsabilidade civil ambiental" ob5ectiva e sub5ectivaK no capítulo II" ao
lado da c3amada responsabilidade administrativa" no capítulo III6 Assim" o
capítulo II artigos 1V a %VK trata de responsabilidade civil" sendo 8undado no
princípio da responsabili(ação ao passo ;ue os capítulos III" I e artigos V
a [1VK" ;ue consistem na transposição da Directiva de $%%0" seriam
especialmente 8undados nos princípios do poluidor pagador" do
desenvolvimento sustent=vel" da prevenção" da correcção na 8onte e da
integração6
7 .m estudo apro8undado ;ue procura apro7imar geneticamente o PPP e o institutoda responsabilidade civil 8oi desenvolvido por Ant4nio Amaro Leitão em $%%0 *al Pai*al Fil3o, os Camin3os Cru(ados do Princípio do Poluidor Pagador e da<esponsabilidade Ambiental" in, %evista 5ur+dica do rbanismo e do Ambiente"n6V$[2$0" $%%_" p6 #-%!K6 +m sentido diverso" )omes Canotil3o distingue claramente oinstituto da responsabilidade do princípio do poluidor pagador em ;ual;uer das suastrês variantes A <esponsabilidade por Danos Ambientais6 ~Apro7imaçãoJuspublicística in, Direito do Ambiente" Instituto &acional da Administração" ##0" p60%%-0%K6 &um conte7to di8erente" e a prop4sito do estudo dos impostos ambientais"Carlos aptista Lobo de8ende igualmente uma separação entre os dois, o PPP não
poder= ser a8erido como legitimador das pretens>es indemni(at4rias do instituto daresponsabilidade civil Imposto Ambiental6 An=lise Jurídico-Financeira" in, %evista 5ur+dica do rbanismo e do Ambiente" n6V$" ##0" p6 [%-[K 6
9!
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O !rincí!io do !oluidor !a=ador
as" de todos os princípios ambientais ;ue" como vimos anteriormente" têm
ligação directa ou indirecta 9 responsabilidade ambiental" : o princípio do
poluidor pagador PPPK ;ue : considerado como o princípio 8undamental
inspirador deste regime6
Para ic3el )6 Faure e Julien aG" a responsabilidade ambiental europeia
d= cumprimento ao PPP" tal como est= inscrito no *ratado" pois o ob5ectivo
não : tanto compensar as o8ensas ao ambiente" mas incitar os operadores de
actividades perigosas a minimi(ar os riscos de danos ambientais6
*amb:m Anna @aramat de8ende ;ue o regime da responsabilidade
ambiental estabelecido pela Directiva se distingue dos regimes de
responsabilidade tradicionais" 5= ;ue a directiva não identi8ica nem as v+timas
a indemni(ar"$ nem um *ribunal pelo menos num primeiro momentoK e não
cobre os danos tradicionais danos 9s pessoas" aos bens e perdas
econ4micasK6 Daí 8alar-se em responsabilidade administrativa[6
' desta;ue ;ue recebe o PPP" 8a( dele o ei7o central" em torno do ;ual
gira toda a responsabilidade ambiental6 &o preQmbulo da Directiva" esta
asserção 8igura de 8orma clara, o princípio 8undamental da presente directiva
deve portanto ser o da responsabili(ação 8inanceira do operador" cu5a
actividade ten3a causado danos ambientais ou a ameaça iminente de tais
danos" a 8im de indu(ir os operadores a tomarem medidas e a desenvolverem
pr=ticas por 8orma a redu(ir os riscos de danos ambientais6 *rata-se"
evidentemente" de uma alusão ao PPP6 &a realidade" não dei7a de ser curioso
1 AnalGse Oconomi;ue de la <esponsabilit: +nvironnementale6 Perspectives*3:ori;ues et +mpiri;ues" in, #a resonsabilit( environnementale3 r(vention3imutation3 r(aration" Dallo(" $%%#" p6 !_6
2 &a lei portuguesa" o direito das vítimas a serem compensadas est= previsto nocapítulo II artigos 1 a %" sobre responsabilidade civilK6 Robre o tratamento 5urídico dasvítimas de acordo com os 8ins preventivos do PPP ver os estudos pioneiros de Rerge-C3ristop3e @olm" \Les Pollueurs Doivent ils {tre les PaGeurs\ *3e Canadian Journal o8+conomics" vol I $- #1 e ~\Les Pollu:s Doivent-ils PaGer\ @GBlos vol WWI #1[K6
3 HLa directive $%%02[_2C+ sur la responsabilit: environnementale, d:8is principau7de la transposition et de la mise en •uvre" in, #a resonsabilit( environnementale3r(vention3 imutation3 r(aration" Dallo(" $%%#" p6 $%16
9"
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Instituto de Ciências Jurídico Políticas
;ue esta Directiva se5a apresentada pelas pr4prias Instituiç>es europeias como
o primeiro acto de direito comunit=rio ;ue conta entre os seus ob5ectivos
principais a aplicação do princípio do poluidor pagador06
&o direito português da responsabilidade ambiental" a atitude perante o
PPP : algo contradit4ria, por um lado" este : o Enico princípio ;ue surge
citado simultaneamente no preQmbulo e no te7to legal" dei7ando antever
uma especial importQncia na con8ormação do regime da responsabilidade
mas por outro lado" o princípio parece não ser assumido com a mesma
convicção com ;ue surge ao nível europeu" na medida em ;ue s4 :
mencionado atrav:s de remissão para a Directiva _6 +m ;ual;uer caso" o PPP
não dei7a de ser a Eltima ratio ;ue motiva o regime legal de responsabilidade
ambiental mesmo em Portugal6 A prova disto são as consideraç>es
preambulares do Decreto-lei n6V 012$%%!" de inspiração puramente
economicista" recorrendo a um linguaar típico da economia ambiental" na
de8esa da aplicação de instrumentos econ4micos 9 protecção ambiental"
com o ob5ectivo de obter uma alocação economicamente mais racional dos
recursos e por crer ;ue este sistema gerar= necessariamente menores custos
administrativos para o +stado e para o particular6
J= nos tribunais europeus" o PPP 8oi recentemente considerado" pela
advogada geral alemã 5unto do *ribunal de Justiça" Juliane @oBott" como um
princípio director da directiva relativa 9 responsabilidade ambiental/6
Para saber se : realmente assim" 8açamos a 3ist4ria do nascimento e
evolução do princípio na +uropa6
4 O assim ;ue surge descrita a Directiva $%%02[_ nas sínteses de legislaçãoconstantes do portal o8icial da .nião +uropeia" a prop4sito das Interacç>es da políticaempresarial com outras políticas6
# Artigo V, ' presente decreto -lei estabelece o regime 5urídico daresponsabilidade por danos ambientais e transp>e para a ordem 5urídica nacional aDirectiva n6V $%%02[_2C+" do Parlamento +uropeu e do Consel3o" de $ de Abril de$%%0" ;ue aprovou" com base no princípio do poluidor -pagador" o regime relativo 9responsabilidade ambiental aplic=vel 9 prevenção e reparação dos danos ambientaishK6
6 Processos apensos C-[1!2%!" C-[1#2%! e C-[!%2%!" reenvios pre5udiciais no Qmbito
de processos instaurados por empresas ligadas 9 indEstria ;uímica" de pl=sticos"re8inarias e embalagens" contestando medidas de contenção de danos impostaspelas autoridades competentes italianas6
9#
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Actas do Colóquio – A responsabilidade Civil por dano ambiental
O sabido ;ue o PPP nasceu" para o Direito Comunit=rio1" com o primeiro
programa comunit=rio de acção em mat:ria de ambiente!" em #1[ em #1_"
atrav:s da <ecomendação do Consel3o n6V1_20[/" de [ de arço" relativa 9
imputação dos custos e 9 intervenção dos poderes pEblicos em mat:ria de
ambiente" o PPP gan3ou novo 8`lego e re8orço da sua densidade normativa
com a clari8icação das condiç>es da sua aplicação a situaç>es mais
comple7as" como a olui!"o cumulativa e as cadeias de oluidoresK em
#!#" con;uistou dignidade constitucional# pelo Acto nico +uropeu" ;ue
instituiu a política comunit=ria do ambiente e de8iniu" ao nível do *ratado da
Comunidade +con4mica +uropeia" os ob5ectivos e princípios 8undamentais da
nova política6
&esta altura o princípio ad;uiriu 8orça legi8erante" a ;ual se tradu(iu na sua
consagração em regulamentos e directivas sectoriais6 Desde a Directiva sobre
a avaliação de impacte ambiental" 9 Directiva ;ue estabelece o
licenciamento ambiental desde a Directiva-;uadro da ^gua 9 Directiva-
;uadro dos <esíduos" o princípio do poluidor pagador : um elemento
omnipresente e uma re8erência na legislação europeiah e"
conse;uentemente" nas legislaç>es nacionais de transposição de vinte e seteordenamentos 5urídicos europeus di8erentes6
Paralelamente continuou" por 8orça do 5= mencionado princípio da
integração" a servir de crit:rio de a8erição da validade de todas as disposiç>es
de direito comunit=rio" adoptadas dentro e 8ora da política ambiental6 A nível
5udicial" a sua aparição nos 5ulgamentos dos *ribunais +uropeus : 8re;uente"
7 &o Direito Internacional o PPP teve a sua origem num acto não vinculativo da
'CD+ a <ecomendação C1$K$! de $/ de aio de #1$" intitulada \)uidingPrinciples Concerning International +conomic Aspects o8 +nvironmental Policies\K" ;uecontin3a uma de8inição sint:tica do princípio, \este princípio signi8ica ;ue o poluidordeve suportar os custos de desenvolver as medidas de controlo da poluição decididaspelas autoridades pEblicas para garantir ;ue o ambiente este5a num estadoaceit=vel6 &as palavras de Ran8ord )aines" a 'CD+ 8oi a rogenitora e tem sido aguardi" do princípio *3e Polluter-PaGs Principle, From +conomic +;uitG to+nvironmental +t3os" in, Texas :nternational #a> 5ournal" vol $/" nV" ##K6
8 Aprovado pela Declaração de $$ de &ovembro de #1[ do Consel3o dasComunidades +uropeias e dos <epresentantes dos )overnos dos +stados-membros"reunidos no Consel3o6
9 Robre o debate em torno da constitucionali(ação dos princípios ambientais em
França" atrav:s da inclusão da Carta do Ambiente na Constituição" 8oi publicado" em$%%[" um nEmero especial da %evue 5uridi6ue de lEnvironnement" intitulado LaC3arte Constitutionnelle en D:bat6
9$
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sobretudo para controlar a con8ormidade de certas ta7as% ou impostos
nacionais com car=cter e7tra-8iscal com a política ambiental europeia6
O conteVdo do PPP
Nuase vinte anos mais tarde" ainda continuamos a concordar com enri
Rmets" ;uando a8irma ;ue \ao longo dos Eltimos vinte anos" o PPP evoluiu
muito" a ponto de se tornar um princípio 5urídico universalmente recon3ecido\ 6
as não podemos dei7ar de constatar ;ue o consenso gerado em torno do
princípio :" muitas ve(es" mais 8ormal do ;ue substancial e as grandes dEvidas
sobre o seu conteEdo normativo$ acentuam-se ;uando : utili(ado em
conte7tos muito variados[" di8icultando signi8icativamente a apreensão do seu
n<cleo duro6
Apesar de ser um princípio estruturante do Direito europeu do ambiente" o
PPP surge nos te7tos legais" em regra" sem uma defini!"o legal6 &o *ratado0"
10 Robre a aplicação do PPP atrav:s de instrumentos 8iscais sobretudo ta7as sobrea eliminação de resíduos em aterro ver <am4n artin ateo" Tratado de Derecho
Ambiental" *omo I actuali(açãoK" adrid" $%%[" p6 ## e ss611 e5am-se os recentes Ac4rdãos do *ribunal de Justiça, de de Retembro de
$%%[" sobre o sistema de ecopontos para veículos pesados de mercadorias em trQnsitopela ^ustria processo C-00_2%%K de 1 de &ovembro de $%%#" sobre legislaçãoregional da Rarden3a" ;ue cria um imposto sobre as escalas turísticas das aeronavesdestinadas ao transporte privado de pessoas" bem como das embarcaç>es derecreio" e ;ue onera unicamente os operadores com domicílio 8iscal 8ora desseterrit4rio regional processo C-/#2%!K e o de $$ de De(embro de $%%!" relativo a umimposto ambiental sobre os granulados no <eino .nido processo C-0!12%/K6
1 \Le Principe Pollueur PaGeur" un Principe Oconomi;ue +rig: en Principe de Droit del+nvironnement\ %evue de Droit :nternational Public" Avril-5uin" nV$" ##[K6
2 asco Pereira da Rilva de8ende uma interpretação mais restritiva do princípio
en;uanto corol=rio necess=rio da norma do artigo //V" n6V$ 3K da Constituição" ;ueimp>e ao +stado a tare8a da Hassegurar ;ue a política 8iscal compatibili(edesenvolvimento com ambiente e ;ualidade de vida6 Por isso analisaessencialmente a e7ecução do princípio atrav:s de instrumentos 8inanceiros comoimpostos directos ou indirectosK" ta7as" políticas de preços e bene8ícios 8iscais QerdeCor de Direito" Almedina" Coimbra" $%%[" p610 e 10K6
3 ' PPP tem sido invocado 5udicialmente para contestar a validade de ta7as" parainterditar actividades perigosas ou para 8undamentar di8erentes tipos deresponsabilidade desde a civil" 9 contra-ordenacional" 9 penal e" agora" 9administrativaK.
" Artigo #V do *ratado sobre o 8uncionamento da .nião, $6 A política da .nião nodomínio do ambiente ter= por ob5ectivo atingir um nível de protecção elevado" tendo
em conta a diversidade das situaç>es e7istentes nas di8erentes regi>es da .nião6asear-se-= nos princípios da precaução e da acção preventiva" da correcção"prioritariamente na 8onte" dos danos causados ao ambiente e do poluidor-pagador6
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nos Programas de Acção_" nas Directivas" apesar do desta;ue ;ue sempre
merece" : consagrado sem enunciação ou e7plicação6
.ma e7cepção :" a nível nacional" a lei da =gua/6
A nível internacional e7istem v=rias e7cepç>es,
- a Declaração do <io" atrav:s do princípio / da Declaração sobre
ambiente e desenvolvimento adoptada na Con8erência das &aç>es .nidas
para o eio Ambiente e Desenvolvimento" em Jun3o de ##$, As autoridades
nacionais deverão es8orçar-se por promover a internali(ação dos custos
ambientais e a utili(ação de instrumentos econ4micos" tendo em conta o
princípio de ;ue o poluidor dever=" em princípio" suportar o custo da poluição"com o devido respeito pelo interesse pEblico e sem distorcer o com:rcio e
investimento
- a Convenção sobre a Protecção e a utili(ação dos cursos de =gua
trans8ronteiriços e dos lagos internacionais no artigo $V" n6V_ bK, o princípio do
poluidor-pagador" em virtude do ;ual os custos das medidas de prevenção"
controlo e redução devem ser suportados pelo poluidor
- a Convenção para a protecção do meio marin3o do AtlQntico &ordeste 1" artigo $V" n6V$ bK ' princípio do poluidor pagador segundo o ;ual as
despesas resultantes das medidas de prevenção" de redução da poluição e
de combate a esta devem ser suportados pelo poluidorK
5 &o se7to programa comunit=rio de acção em mat:ria de Ambiente Decisão n6/%%2$%%$ do Parlamento +uropeu e do Consel3o" de $$ de Jul3o de $%%$ K" ;uevigorar= no período de Jul3o de $%%$ a Jul3o $%$" o PPP : sustentado como um dostrês princípios 8undamentais6 e5a-se" por e7emplo" o Artigo $6V" sobre princípios e
8inalidades gerais, 6 ' programa constituir= um en;uadramento para a políticaambiental da Comunidade durante o período abrangido" por 8orma a assegurar umelevado nível de protecção" tendo em conta o princípio da subsidiariedade e adiversidade de situaç>es nas v=rias regi>es da Comunidade" e a alcançar umadissociação entre as press>es ambientais e o crescimento econ4mico6 asear-se-= emespecial no princípio do poluidor-pagador" no princípio da precaução e da acçãopreventiva e no princípio da correcção da poluição na 8onte6
$ ' artigo [V" n6V cK" da Lei n6V _!2$%%_ de $# de De(embro" sobre os princípios dodireito da =gua" 8ala-nos do Princípio do valor econ4mico da =gua" por 8orça do ;ualse consagra o recon3ecimento da escasse( actual ou potencial deste recurso e anecessidade de garantir a sua utili(ação economicamente e8iciente" com arecuperação dos custos dos serviços de =guas" mesmo em termos ambientais e de
recursos" e tendo por base os princípios do poluidor-pagador e do utili(ador-pagadorK67 Aprovada pelo Decreto n6V _#2#1" de [ de 'utubro6
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- o *ratado da Carta da +nergia e Protocolo da Carta da +nergia <elativo 9
+8iciência +nerg:tica e aos Aspectos Ambientais Associados !" atrav:s do artigo
#6V" n6V sobre aspectos ambientais, tendo por ob5ectivo um desenvolvimento
duradouro e tomando em consideração as suas obrigaç>es nos termos dos
acordos internacionais em mat:ria de ambiente nos ;uais se5a parte" cada
Parte Contratante es8orçar-se-= por minimi(ar" de uma 8orma
economicamente e8iciente" os impactes ambientais pre5udiciais ;ue ocorram
no ou 8ora do seu territ4rio" decorrentes de todas as operaç>es do ciclo da
energia no seu territ4rio" prestando a devida atenção aos aspectos relativos 9
segurança6 Para o e8eito" cada Parte Contratante actuar= da 8orma mais
e8ica( possível6 &as suas políticas e acç>es" cada Parte Contratante es8orçar-se-= por tomar medidas cautelares ;ue evitem ou minimi(em a degradação
do ambiente6 As Partes Contratantes acordam em ;ue o poluidor nos territ4rios
das Partes Contratantes deve" em princípio" suportar os custos da poluição"
incluindo a poluição trans8ronteiriça" com o devido respeito pelo interesse
pEblico e sem distorção do investimento no ciclo da energia ou no com:rcio
internacional6
as o ;ue aconteceu com a Directiva sobre a responsabilidade ambiental8oi a inclusão do princípio sem de8inição6 Por:m" neste caso : mais 8=cil
identi8icar" ol3ando para o edi8ício normativo" as principais lin3as estruturantes
;ue decorrem do PPP6
Antes de mais" a;uilo ;ue veri8icamos da an=lise do regime da
responsabilidade ambiental" : ;ue o PPP :" pela primeira ve(" o verdadeiro
leitmotiv do regime instituído6 abituados a vê-lo essencialmente como crit:rio
de a8erição da validade de actos 5urídicos ;ue têm outros prop4sitosprimordiais como a moderni(ação empresarial" ou a promoção da
mobilidade sustent=vel" por e76K" ou como 8onte inspiradora de soluç>es
pontuais para problemas ambientais sectoriais como a gestão das =guas ou a
prevenção de resíduosK" vamos agora encontrar um sistema completo cu5o
ob5ectivo : 8a(er os poluidores pagar" em con8ormidade com regras de 5ustiça
e e8ic=cia e evitando distorç>es de mercado6
8 Assinados em Lisboa" em 1 de De(embro de ##0 e aprovados pela <esoluçãoda Assembleia da <epEblica nV [/2#/ de _22##/6
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Actas do Colóquio – A responsabilidade Civil por dano ambiental
Com e8eito" se o ob5ectivo do regime legal 8osse apenas prevenir a
ocorrência de danos ambientais" minimi(=-los e repar=-los ;uando não
pudessem ser evitados" as medidas preventivas ou reparat4rias poderiam ser
desenvolvidas pelo +stado ou por ;uem tivesse capacidade t:cnica e
cientí8ica para tomar medidas para evitar ou minimi(ar os danos" mas a cargo
do +stadoK e não" 8orçosamente" pelo poluidor6 as não 8oi essa a opção da
Directiva6 Deliberadamente puseram-se as medidas de prevenção e de
reparação prioritariamente a cargo do poluidor" apesar das eventuais
di8iculdades em identi8icar o operador-poluidor em tempo Etil e apesar do
risco de o operador-poluidor não ter intenção ou competência para levar a
cabo as medidas necess=rias#
6
Por isso estamos de acordo com &icolas de Radeleer ;ue" em abstracto"
imputa ao PPP ;uatro 8unç>es as ;uais" em concreto" se podem revelar
complementares ou mutuamente e7clusivasK, 8unção de integração
econ4mica" 8unção redistributiva" 8unção preventiva e 8unção curativa%6
*anto a Directiva como a lei nacional são claras a este prop4sito, a
autoridade competente deve e7igir ;ue as medidas de reparação se5am
tomadas pelo operador6 Re o operador não cumprir as obrigaç>es previstas
hK" não puder ser identi8icado ou não 8or obrigado a suportar os custos ao
abrigo da presente directiva" pode ser a pr4pria autoridade competente a
tomar essas medidas" coo Vltio recurso6
+m suma, independentemente de saber ;ual a intervenção mais e7pedita
ou mais e8ica(" 3= uma pre8erência" ;ue se pode e7plicar por ra(>es de
9 ' artigo _V n6V0 estabelece ;ue a autoridade competente deve e7igir ;ue asmedidas de prevenção se5am tomadas pelo operador6 Re o operador não cumprir asobrigaç>es previstas no n6V ou nas alíneas bK ou cK do n6V [" não puder seridenti8icado ou não 8or obrigado a suportar os custos ao abrigo da presente directiva"pode ser a pr4pria autoridade competente a tomar essas medidas6
10 #es rincies du ollueur8a9eur3 de r(vention et de r(caution " .niversit:sFrancop3ones" ruGllant2A.F" ru7elas" ###" p6 /_ e ss6
11 Artigo /V" n6V[ da Directiva6 ' sublin3ado : nosso6 +;uivale ao artigo 1V da leinacional, a autoridade competente pode em Eltimo recurso e7ecutar ela pr4pria asmedidas de prevenção e reparação previstas no presente decreto -lei" ;uando,
aK ' operador incumpra as obrigaç>es resultantes do n6V e das alíneas cK" dKe eK do n6V [ do artigo _6V
bK &ão se5a possível identi8icar o operador respons=velcK ' operador não se5a obrigado a suportar os custos" nos termos do presentedecretoMlei6
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e;uidade" por 8a(er o poluidor suportar directamente as medidas preventivas
ou reparat4rias6 O a 8iloso8ia típica do PPP" uma 8iloso8ia de internaliBa!"o,0 de
custos, ;ue acaba por corresponder ao regime mais 5usto e tamb:m" a maior
parte das ve(es" ao regime mais e8ica( do ponto de vista ambiental06
Acresce ;ue o dever de prevenção e de reparação do poluidor são
deveres aut4nomos" ;ue resultam directamente do PPP e da lei e não
dependem de ;ual;uer ordem administrativa pr:via6 Por isso se di( ;ue"
;uando se veri8icar uma ameaça iminente de danos ambientais o operador
respons=vel nos termos dos artigos $6V e [6V do presente decreto -lei adopta"
imediata e independentemente de noti8icação" re;uerimento ou acto
administrativo pr:vio" as medidas de prevenção necess=rias e ade;uadas_6
amos ver em seguida ;uais as ;uest>es/" relativas 9 imputação da
responsabilidade ambiental" 9s ;uais respondem os regimes nacional e
europeu6 As ;uest>es são essencialmente três,
- Nuem : o poluidor [66K
- ' ;ue paga o poluidor [6$6K
- Como paga o poluidor [6[6K
12 Robre a 3ist4ria do conceito econ4mico de e7ternalidade ver *ania )arcíaL4pe(" Perspectiva Jurídica del Principio Ruien Contamina Paga" in, Dereito" vol6 %"n6V" $%%" p6 _ e ss6
13 A prop4sito de uma dimensão especial do PPP" o princípio do utili(ador pagadorP.PK" enri Rmets considera ;ue ele e;uivale ao princípio econ4mico da verdadedos preços ou da recuperação integral dos custos Le príncipe utilisateur-paGeur et
son application dans la gestion de ljeau" in, #us+ada" n6V e $" $%%%" p6 0/_K614 Alguns dos de8ensores mais ortodo7os do PPP" particularmente Jean P3ilippe
arde e +mílio )erelli na obra Sconomie et Politi6ue de l$Environnement" Presses.niversitaires de France" L+conomiste" #1_K" de8endiam ;ue eram ilegítimos ;uais;uer
5uí(os :ticos de valor sobre as conse;uências pr=ticas da aplicação do PPP" pois elenão visava a reali(ação da 5ustiça" mas apenas a protecção economicamente e8ica(do ambiente6 &egavam ;ue ele 8osse um princípio de e;uidade" a8irmando-o apenascomo princípio de e8ic=cia econ4mica6 +m devido tempo de8endemos posiçãodi8erente desta e pensamos ;ue o reconceito dos 5uristas" relativamente a umprincípio ;ue nasceu num conte7to econ4mico" est= 3o5e ultrapassado6
15 Artigo 0V do Decreto-lei n6V012$%%!616 <etomamos a;ui a sistemati(ação ;ue 5= tín3amos adoptado em ##1" na
abordagem do mesmo princípio" na obra O Princ+io do Poluidor Pagador3 Pedra Angular da Pol+tica ComunitJria do Ambiente" Rtudia Iuridica" nV$[" Coimbra +ditora"p=g6 [ a !06
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,uem & o poluidor que dee pa!ar/
&a <ecomendação do Consel3o n6V1_20[/" de [ de arço" relativa 9
imputação dos custos e 9 intervenção dos poderes pEblicos em mat:ria deambiente" 9 ;ual 5= aludimos anteriormente" o oluidor : a;uele ;ue
degrada directa ou indirectamente o ambiente ou cria condiç>es ;ue levam
9 sua degradação6
'ra" na Directiva e na lei nacional" o oluidor : apenas identi8icado com o
operador de uma actividade ocupacional6 ais concretamente" o
operador : \;ual;uer pessoa singular ou colectiva" pEblica ou privada" ;ue
e7ecute ou controle a actividade pro8issional ou" ;uando a legislaçãonacional assim o preve5a" a ;uem ten3a sido delegado um poder econ4mico
decisivo sobre o 8uncionamento t:cnico dessa actividade" incluindo o
detentor de uma licença ou autori(ação para o e8eito ou a pessoa ;ue registe
ou noti8i;ue essa actividade16
*rata-se de um sistema ;ue dispensa uma averiguação" caso a caso" do
respons=vel pelo dano potencial ou e8ectivo" atrav:s da canali(ação da
responsabilidade para o operador-poluidor !
6Nuanto 9 actividade ocupacional ela recondu(-se a ;ual;uer
actividade desenvolvida no Qmbito de uma actividade econ4mica" de um
neg4cio ou de uma empresa" independentemente do seu car=cter privado
ou pEblico" lucrativo ou não#6
*rata-se de um conceito relativamente abrangente" ;ue parece estar de
acordo tanto com a de8inição europeia" como com o conceito doutrinal de
poluidor, o oluidor86ue8deve8agar 01 : ;uem tiver uma posição de controlo
17 Artigo $V" nV/ da Directiva" correspondente ao artigo V" n6V lK da lei portuguesa618 +m algumas =reas do Direito do Ambiente a 8alta de coincidência entre o
respons=vel 8inanceiro e o respons=vel civil : ainda mais clara6 Por e7emplo" no Direitodos <esíduos" a responsabilidade : canali(ada para o detentor dos resíduos";uando" em muitos casos" nem se;uer 8oi ele o !rodutor dos resíduos6
19 Artigo $V" nV1 da Directiva" correspondente ao artigo $V nV do Decreto-lei6
20 Desenvolvemos mais apro8undadamente este conceito na obra 5= citada OPrinc+io do Poluidor Pagador3 Pedra Angular da Pol+tica ComunitJria do Ambiente " K"nas p=g6 [/ a 0_6
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da poluição6 Daí ser legítimo 8alar na fun!"o incitativa da responsabilidade
ambiental$6
as o Qmbito de aplicação" aparentemente lato" da Directiva e da Lei :
aparentemente limitado pela enumeração ta7ativa no ane7o III da Lei e da
DirectivaK das actividades ocupacionais abrangidas6 A listagem em causa
tem" como e8eito" obrigar os +stados e criar para os operadores-poluidores o
dever de prevenir e remediar danos ambientais" nos termos previstos6 +ssas
actividades são" simpli8icadamente" as seguintes,
- e7ploração de instalaç>es su5eitas a licença ambiental
- operaç>es de gestão de resíduos incluindo trans8erência de resíduos egestão de resíduos de e7tracção
- descargas ou in5ecç>es de poluentes para as =guas interiores de super8ície
ou subterrQneas captação e represamento de =gua 8abrico" utili(ação"
arma(enamento" processamento" enc3imento" libertação para o ambiente e
transporte de substQncias ou preparaç>es perigosas" produtos
8ito8armacêuticos ou biocidas
- transporte rodovi=rio" 8errovi=rio" marítimo" a:reo ou por vias naveg=veisinteriores de mercadorias perigosas ou poluentes
- e7ploração de instalaç>es industriais emissoras de poluentes atmos8:ricos
e"
- ;uais;uer utili(aç>es con8inadas" incluindo transporte e colocação no
mercado" de microrganismos geneticamente modi8icados6
Nuanto aos operadores-poluidores de outras actividades ocupacionais
di8erentes das mencionadas no ane7o III" eles estão abrangidos por um dever
agir com (elo e diligência na medida em ;ue tal se5a necess=rio para evitar
danos aos habitats e 9s esp:cies da 8auna e da 8lora selvagens$$6
21 Fa(endo uma an=lise econ4mica da responsabilidade ambiental muito baseadano PPP" ic3el )6 Faure e Julien aG" realçam o poder incitativo da responsabilidadeambiental AnalGse Oconomi;ue de la <esponsabilit: +nvironnementale6 Perspectives*3:ori;ues et +mpiri;ues" in, #a resonsabilit( environnementale3 r(vention3
imutation3 r(aration" Dallo(" $%%#" p6 %$K622 +stamos neste caso perante uma responsabilidade sub5ectiva" como veremos noponto [6$6 deste trabal3o6
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&o entanto" o elenco das actividades ;ue constam do ane7o III da
Directiva : vasto" mas não 8ec3ado e não impede os +stado de irem mais
longe" se assim" o entenderem" nos termos do artigo /V da Directiva, 6 A
presente directiva não impede os +stados-embros de manterem ou
adoptarem disposiç>es mais estritas em relação 9 prevenção e 9 reparação
de danos ambientais" incluindo a identi8icação de outras actividades a su5eitar
aos re;uisitos de prevenção e reparação da presente directiva e a
identi8icação de outros respons=veis$[6 Foi isso ;ue o +stado português 8e(" ao
adicionar ao regime europeu de resonsabilidade administrativa ambiental"
regras sobre responsabilidade civil ambiental ob5ectiva e sub5ectiva6
.ma das ;uest>es mais comple7as" 9s ;uais respondia a <ecomendação
de #1_" era a da responsabilidade plural6 Nuando não se trate apenas de um
poluidor singular mas antes de v=rios poluidores ou" na terminologia adoptada"
v=rios oeradores potencialmente respons=veis" importa encontrar crit:rios"
5ustos e e8ica(es" de imputação de custos6
Para as duas situaç>es 5= previstas em #1_" a <ecomendação dei7ava na
mão do legislador nacional a escol3a dos meios" sobretudo de acordo com
crit:rios de e8ic=cia ambiental e econ4mica, se a determinação do poluidor
se revelar impossível ou muito di8ícil e por conseguinte" arbitr=ria" e no caso da
poluição do ambiente ser o resultado" ;uer da con5ugação simultQnea de
v=rias causas ] !olui:;o cuulati/a13 - ;uer da sucessão de v=rias dessas
causas ] cadeias de !oluidores - os custos da luta antipoluição devem ser
imputados aos pontos ] por e7emplo da cadeia de poluidores ou da
poluição cumulativa - e por meios legislativos ou administrativos ;ue o8ereçam
a mel3or solução nos planos administrativo e econ4mico" e ;ue contribuamda maneira mais e8ica(" para a mel3oria do ambiente6
! +ste artigo reprodu( o artigo #[V e7-artigo 1/6V *C+K do *ratado sobre o8uncionamento da .nião, As medidas de protecção adoptadas por 8orça do artigo#$6V não obstam a ;ue cada +stado-embro manten3a ou introdu(a medidas deprotecção re8orçadas6 +ssas medidas devem ser compatíveis com os *ratados e serãonoti8icadas 9 Comissão6
24 &os processos apensos C-[1!2%!" C-[1#2%! e C-[!%2%!" a Advogada geral" tratada ;uestão da poluição cumulativa a prop4sito da determinação do momento daaplicabilidade inicial da Directiva6
10"
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Por sua ve( no Decreto-Lei n6V 012$%%!" as situaç>es de responsabilidade
plural previstas são, a responsabilidade de pessoas colectivas artigo [V" n6V $_K"
a responsabilidade de grupos sociais artigo [V" n6V$$/K a responsabilidade de
v=rias pessoas singulares artigo 0V $1K e a responsabilidade de terceiros artigo
$%V" n6V$$!K6
A lei nacional" concreti(ando as indicaç>es da <ecomendação de #1_"
optou por uma solução" ;ue : a e7pressão per8eita do PPP" en;uanto regra de
sociali(ação dos danos, a responsabilidade solid=ria" com eventual direito de
regresso6 +sta parece ser a solução mais ade;uada" por ser simultaneamente
a mais 5usta e a mais e8ica(6
Para at3ilde outonnet" a t:cnica da responsabilidade solid=ria est=
relacionada com a internali(ação de custos" na medida em ;ue d= direito ao
poluidor" ;ue paga por todos" o direito de reaver deles parte do pagamento"
ou se5a" de repartir os custos entre os poluidores $#6
as a sociali(ação dos danos : prosseguida igualmente atrav:s da
obrigação de criar garantias 8inanceiras" nomeadamente pela celebração de
ap4lices de seguro" ;ue cubram as actividades abrangidas[%6 ' dever de
# Nuando a actividade lesiva se5a imput=vel a uma pessoa colectiva" asobrigaç>es previstas no presente decreto-lei" incidem solidariamente sobre osrespectivos directores" gerentes ou administradores6
$ &o caso de o operador ser uma sociedade comercial ;ue este5a em relação degrupo ou de domínio" a responsabilidade ambiental estende-se 9 sociedade-mãe ou9 sociedade dominante ;uando e7ista utili(ação abusiva da personalidade 5urídica ou8raude 9 lei6
% -Re a responsabilidade recair sobre v=rias pessoas" todas respondemsolidariamente pelos danos" mesmo ;ue 3a5a culpa de alguma ou algumas" sempre5uí(o do correlativo direito de regresso ;ue possam e7ercer reciprocamente6
$-Nuando não se5a possível individuali(ar o grau de participação de cada umdos respons=veis" presume -se a sua responsabilidade em partes iguais6
[-Nuando a responsabilidade recaia sobre v=rias pessoas respons=veis a títulosub5ectivo ao abrigo do presente decreto -lei" o direito de regresso entre si : e7ercidona medida das respectivas culpas e das conse;uências ;ue delas advieram"presumindo-se iguais as culpas dos respons=veis6
8 Rem pre5uí(o do disposto no nEmero anterior" o operador 8ica obrigado aadoptar e e7ecutar as medidas de prevenção e reparação dos danos ambientais nostermos do presente decreto -lei" go(ando de direito de regresso" con8orme o caso"sobre o terceiro respons=vel ou sobre a entidade administrativa ;ue ten3a dado aordem ou instrução6
29 Ljaccueil des principes environnementau7 en droit de la responsabilit: civile" in,
La responsabilit: environnementale" pr:vention" imputation" r:paration" Dallo(" $%%#"p611630 Artigo $$V" n6V$ da Lei nacional e 0V" nV$ da Directiva6
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prestar garantias 8inanceiras : importante não s4 por ra(>es de 5ustiça" para
evitar ;ue os danos ambientais 8i;uem por reparar" mas por;ue a pr4pria
insolvência potencial do poluidor tem e8eitos negativos sobre a incitação 9
adopção de medidas preventivas[6 Pelo contr=rio" as garantias 8inanceiras
obrigat4rias são uma 8orma de manter a pressão sobre o poluidor" incitando-o
a tomar medidas preventivas[$6
0 que dee pa!ar o poluidor/
'utra ;uestão 9 ;ual a <ecomendação 5= respondia" 3= mais de [% anos" era
o que deia pa!ar o poluidor, hKcom este 8im" tanto as Comunidades
+uropeias a nível comunit=rio" como os +stados-membros nas suas legislaç>es
nacionais" em mat:ria de protecção do ambiente devem aplicar o princípio
do Hpoluidor-pagador" de acordo com o ;ual as pessoas singulares ou
colectivas" de direito privado ou pEblico" respons=veis por uma poluição"
de/e !a=ar as des!esas das edidas necessFrias !ara e/itar essa !olui:;o
ou !ara a redu>ir< a &i de res!eitar as noras e as edidas e?ui/alentes"
permitindo atingir os ob5ectivos de ;ualidade ou" ;uando tais ob5ectivos não
e7istam" a 8im de respeitar as normas e as medidas e;uivalentes 8i7adas pelos
poderes pEblicos [[6
31 ic3el )6 Faure e Julien aG" AnalGse Oconomi;ue de la <esponsabilit:+nvironnementale6 Perspectives *3:ori;ues et +mpiri;ues" in, #a resonsabilit(environnementale3 r(vention3 imutation3 r(aration" Dallo(" $%%#" p6 ##6
32 Robre seguros obrigat4rios" 8undos de compensação e" em geral" sobre a
mutuali(ação das conse;uências da poluição ver PatricB *3ie88rG" Lj'pportunit:djune responsabilit: Communautaire du Pollueur les Distrosions entre Otats-embres etles +nseignements de lj+7p:rience Am:ricaine" in, %evue :nternationale de DroitComar(" ano 0/" n6V" ##0" p6 $-$[6
33 enri Rmets" aborda o tema dos custos a suportar pelo poluidor" numa se;uênciacronol4gica correspondendo 9s sucessivas \e7tens>es\ de conteEdo do PPP,
' conteEdo original" os custos de prevenção e luta contra a poluição- a e7tensão" os custos das medidas administrativas- a $ e7tensão" os custos dos danos residuais- a [ e7tensão" as poluiç>es acidentais- a 0 e7tensão" as poluiç>es ilícitas- a _ e7tensão as poluiç>es trans8ronteiriças
- a / e7tensão" a internali(ação generali(ada dos custos da poluição6\Le Principe Pollueur PaGeur" un Principe Oconomi;ue +rig: en Principe de Droitde l+nvironnement\" %evue de Droit :nternational Public" Avril-Juin" nV$ ##[K6
10$
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A esta mesma ;uestão responde actualmente a Directiva" di(endo ;ue o
operador deve pagar os custos de prevenção e de reparação dos danos [0
mas a8irmando ainda ;ue tamb:m se 5usti8ica ;ue os operadores custeiem a
avaliação dos danos ambientais ou" consoante o caso" da avaliação da sua
ameaça iminente[_6 *rata-se de instituir uma esp:cie de responsabilidade do
8uturo" nas palavras de Cat3erine *3ibierge[/" ou de evitar um enri6uecimento
sem causa do oluidor " se pre8erirmos citar Jean Duren[16
&as palavras de @arl-einric3 ansmeGer" o ;ue o poluidor deve pagar por
8orça do PPP : o custo da prevenção avoidance costK e não o custo do dano
damage costK [!6 ' custo da prevenção" por sua ve(" : o custo da acção de
prevenção avoidance actionK mais ade;uada[#6
Indo mais longe" veri8icamos ;ue as medidas de prevenção são de8inidas
como ;uais;uer medidas adoptadas em resposta a um acontecimento" acto
ou omissão ;ue ten3a causado uma ameaça iminente de danos ambientais"
destinadas a prevenir ou minimi(ar ao m=7imo esses danos0% e as medidas de
reparação como ;ual;uer acção" ou con5unto de acç>es" incluindo
medidas de car=cter provis4rio" com o ob5ectivo de reparar" reabilitar ou
substituir os recursos naturais e os serviços dani8icados ou 8ornecer uma
!" Artigo !6V" custos de prevenção e de reparação, 6 ' operador suporta os custosdas acç>es de prevenção e de reparação e7ecutadas por 8orça da presentedirectiva6 $6 Rob reserva do disposto nos n6os [ e 0" a autoridade competente devee7igir" ao operador ;ue causou o dano ou a ameaça iminente de dano"nomeadamente atrav:s de garantias sobre bens im4veis ou de outras garantiasade;uadas" o pagamento dos custos ;ue tiver suportado com as acç>es deprevenção ou de reparação e7ecutadas por 8orça da presente directiva6 [6 *odavia"a autoridade competente pode decidir não recuperar integralmente os custos";uando a despesa necess=ria para o e8eito 8or mais elevada do ;ue o montante arecuperar" ou ;uando o operador não puder ser identi8icado6
35 Par=gra8o ! do PreQmbulo" in fine6!$ Citada por François )uG *r:bulle" HLes 8onctions de la responsabilit:
environnementale , r:parer" pr:venir" punir in, #a resonsabilit( environnementale3r(vention3 imutation3 r(aration" Dallo(" $%%#" p6[6
37 HLe pollueur - pa1eur $ Lapplication et lavenir du principe< in$ (e/ue du #arc0,Coun< #!1" p6 006
38 &a obra HPolluter PaGs v6 HPublic <esponsabilitG\" in, Environmental Polic9 and#a>" /" #!%6
39 +m sentido divergente" Ant4nio arreto Arc3er" não vê no PPP ;ual;uer dimensãopreventiva, o princípio do poluidor-pagador" ;ue 8a( recair sobre o poluidor aobrigação de corrigir ou recuperar o ambiente" suportando os encargos daíresultantes e os custos da cessação da acção poluente Direito do Ambiente e
%esonsabilidade Civil" Almedina" $%%#" p6 /K640 Artigo V" nV mK da lei portuguesa" correspondente ao artigo $V" nV % daDirectiva6
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Actas do Colóquio – A responsabilidade Civil por dano ambiental
alternativa e;uivalente a esses recursos ou serviços" tal como previsto no
ane7o ao presente decreto-lei" do ;ual 8a( parte integrante 0
&a relação entre prevenção e reparação vigora" naturalmente" a regra da
subsidiariedade, primeiro devem ser adoptadas medidas de prevenção0$ e s4
depois" se não 8or possível ou su8iciente" as de reparação0[6
as" mesmo a nível da prevenção" temos dois di8erentes graus, a
prevenção prim=ria e a prevenção secund=ria6 A primeira consiste na
adopção de medidas destinadas a evitar a ocorrência do dano a segunda"
41 Artigo V" nV nK da lei portuguesa" correspondente ao artigo $V" nV daDirectiva6
" Artigo _6V Acç>es de prevenção, 6 Nuando ainda não se tiverem veri8icadodanos ambientais" mas 3ouver uma ameaça iminente desses danos" o operadortomar= sem demora as medidas de prevenção necess=rias6 $6 's +stados-embrosdevem prever ;ue" ;uando ade;uado e" em todo o caso" sempre ;ue a ameaçaiminente de danos ambientais não desaparecer apesar das medidas de prevençãotomadas pelo operador" os operadores devam in8ormar o mais rapidamente possível aautoridade competente de todos os aspectos relevantes da situação6 [6 A autoridadecompetente pode" em ;ual;uer momento,
aK +7igir ;ue o operador 8orneça in8ormaç>es sobre ;ual;uer ameaça iminentede danos ambientais ou suspeita dessa ameaça iminente
bK +7igir ;ue o operador tome as medidas de prevenção necess=riascK Dar instruç>es ao operador ;uanto 9s medidas de prevenção necess=rias a
tomar oudK *omar ela pr4pria as medidas de prevenção necess=rias606 A autoridade competente deve e7igir ;ue as medidas de prevenção se5am
tomadas pelo operador6 Re o operador não cumprir as obrigaç>es previstas no n6V ounas alíneas bK ou cK do n6V [" não puder ser identi8icado ou não 8or obrigado a suportaros custos ao abrigo da presente directiva" pode ser a pr4pria autoridade competentea tomar essas medidas6
"! Artigo /6V Acç>es de reparação, 6 Nuando se tiverem veri8icado danosambientais" o operador in8ormar=" sem demora" a autoridade competente de todosos aspectos relevantes da situação e tomar=,
aK *odas as diligências vi=veis para imediatamente controlar" conter" eliminarou" de outra 8orma" gerir os elementos contaminantes pertinentes e2ou ;uais;uer
outros 8actores danosos" a 8im de limitar ou prevenir novos danos ambientais e e8eitosadversos para a saEde 3umana ou uma deterioração adicional dos serviços e
bK As medidas de reparação necess=rias" de acordo com o artigo 16V6$6 A autoridade competente pode" em ;ual;uer momento,aK +7igir ;ue o operador 8orneça in8ormaç>es suplementares sobre ;uais;uer
danos ocorridosbK *omar" e7igir ao operador ;ue tome ou dar instruç>es ao operador
relativamente a todas as medidas vi=veis para imediatamente controlar" conter"eliminar ou de outra 8orma gerir os elementos contaminantes pertinentes e2ou;uais;uer outros 8actores danosos" a 8im de limitar ou prevenir novos danos ambientaise e8eitos adversos para a saEde 3umana ou uma deterioração adicional dos serviços6
cK +7igir ;ue o operador tome as medidas de reparação necess=rias
dK Dar instruç>es ao operador ;uanto 9s medidas de reparação necess=rias atomar oueK *omar ela pr4pria as medidas de reparação necess=rias6
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voltada para a adopção de medidas destinadas a não agravar mais um dano
entretanto veri8icado6 As medidas de prevenção prim=ria surgem na
se;uência de uma ameaça iminente de danos e destinam-se a evitar todo
o dano as medidas de prevenção secund=ria são 3abitualmente
denominadas medidas de minimi(ação" seguem-se 9 ocorrência de um
dano e destinam-se a evitar o agravamento dos danos entretanto ocorridos6
+sta distinção est= claramente presente no artigo 0V da Lei nacional,
] Nuando se veri8icar uma ameaça iminente de danos ambientais o
operador respons=vel nos termos dos artigos $6V e [6V do presente decreto-lei
adopta" imediata e independentemente de noti8icação" re;uerimento ou
acto administrativo pr:vio" as medidas de prevenção necess=rias e
ade;uadas6
$ ] Nuando ocorra um dano ambiental causado pelo e7ercício de
;ual;uer actividade ocupacional" o operador adopta as medidas ;ue
previnam a ocorrência de novos danos" independentemente de estar ou não
obrigado a adoptar medidas de reparação nos termos do presente decretoM
lei6
[6 A autoridade competente deve e7igir ;ue as medidas de reparação se5amtomadas pelo operador6 Re o operador não cumprir as obrigaç>es previstas no n6V ou
nas alíneas bK" cK ou dK do n6V $" não puder ser identi8icado ou não 8or obrigado asuportar os custos ao abrigo da presente directiva" pode ser a pr4pria autoridadecompetente a tomar essas medidas" como Eltimo recurso6
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Actas do Colóquio – A responsabilidade Civil por dano ambiental
&o ;ue respeita 9 reparação00 encontramos na lei uma distinção similar"
entre reparação prim=ria0_" complementar 0/ e compensat4ria01 e7istindo entre
elas uma relação 3ier=r;uica" atendendo 9 prioridade relativa6
' 8acto de este aspecto do regime comportar uma dimensão de
intervenção a osteriori não signi8ica ;ue o PPP se5a uma comra do direito a
oluir 6 ' ;ue se pretende : ;ue o pagamento imposto ao poluidor ten3a
e8eitos dissuasores6 ' poluidor paga para ;ue a poluição não aconteça ou"
pelo menosh não aconteça novamente6 Por isso se e7cluem do Qmbito da
responsabilidade os danos resultantes de acção de terceiros" as actuaç>es
legais e as actuaç>es consideradas como seguras0!6 +m relação a ;uais;uer
destes danos não 3= prevenção nem e8eito dissuasor possível6
Por outro lado" ainda respondendo 9 ;uestão colocada sobre o ;ue paga
o poluidor" avançaremos ainda ;ue o operador-poluidor não paga os custos
necess=rios para evitar ou reparar todos os danos causados ao ambiente" mas
apenas a;ueles danos eleitos pelo legislador como relevantes para serem
abrangidos pelo regime em causa6
44 Robre as di8iculdades da reparação natural ver Jos: de Rousa Cun3al Rendim"
%esonsabilidade civil or danos ecol&gicos da reara!"o do dano atrav(s de restaura!"o natural" Coimbra +ditora" ##!6
"# <eparação prim=ria : ;ual;uer medida de reparação ;ue restitui os recursosnaturais e2ou serviços dani8icados ao estado inicial" ou os apro7ima desse estadoAne7o " nV aK da Lei n6V012$%%!K6 ' ob5ectivo da reparação prim=ria : restituir osrecursos naturais e2ou serviços dani8icados ao estado inicial" ou apro7im=-los desseestado Ane7o " 666 da mesma LeiK6
"$ <eparação complementar : ;ual;uer medida de reparação tomada emrelação aos recursos naturais e ou serviços para compensar pelo 8acto de areparação prim=ria não resultar no pleno restabelecimento dos recursos naturais e ouserviços dani8icados Ane7o " nV bKK Nuanto ao ob5ectivo da reparaçãocomplementar : proporcionar um nível de recursos naturais e ou serviços" incluindo"
;uando apropriado" num sítio alternativo" similar ao ;ue teria sido proporcionado se osítio dani8icado tivesse regressado ao seu estado inicial6 Rempre ;ue se5a possível eade;uado" o sítio alternativo deve estar geogra8icamente relacionado com o sítiodani8icado" tendo em conta os interesses da população a8ectada Ane7o " 66$6K6
"% <eparação compensat4ria : ;ual;uer acção destinada a compensar perdastransit4rias de recursos naturais e ou de serviços veri8icadas a partir da data deocorrência dos danos at: a reparação prim=ria ter atingido plenamente os seuse8eitos Ane7o " nV cKK6 Devem ser reali(adas acç>es de reparação compensat4riapara compensar a perda provis4ria de recursos naturais e serviços en;uanto seaguarda a recuperação6 +ssa compensação consiste em mel3orias suplementares doshabitats naturais e esp:cies protegidos ou da =gua" ;uer no sítio dani8icado ;uer numsítio alternativo6 &ão consiste numa compensação 8inanceira para os membros do
pEblico Ane7o " 66[6K648 <amon artin ateo de8ende a mesma opinião no seu Tratado de Derecho Ambiental" tomo I actuali(açãoK adrid" $%%[" p=g6 ## e ss6
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+ estes danos são" basicamente" de três categorias, danos 9s esp:cies e
habitats naturais protegidos" danos 9 =gua e danos ao solo 0#6 De 8ora 8icam os
danos ao ar" ao clima" ao subsolo" 9 paisagem" 9 biodiversidade" ;uando as
esp:cies não se5am protegidas" etc66
Regundo o legislador europeu" se" na origem desses danos estiverem
actividades consideradas como mais insidiosas" ;ue são as listadas no ane7o III
da Directiva" a responsabilidade do poluidor : ob5ectiva6 Para al:m do ne7o
de causalidade entre a actividade e o dano potencial ou e8ectivo" dispensa-
se a prova da culpa ou da negligência6
Apresentamos" em seguida" um gra8icamente ;ue pretende e7plicitar
mel3or as situaç>es abrangidas pela responsabilidade ambiental ob5ectiva"
segundo o direito europeu6
<esponsabilidade
ambiental ob5ectiva
"9 ' artigo V eK de8ine-os da seguinte 8orma, os danos causados 9s esp:cies e
habitats naturais protegidos são iK ;uais;uer danos com e8eitos signi8icativosadversos para a consecução ou a manutenção do estado de conservação 8avor=veldesses habitats ou esp:cies" cu5a avaliação tem ;ue ter por base o estado inicial" nostermos dos crit:rios constantes no ane7o I ao presente decreto-lei" do ;ual 8a( parteintegrante" com e7cepção dos e8eitos adversos previamente identi8icados ;ueresultem de um acto de um operador e7pressamente autori(ado pelas autoridadescompetentes" nos termos da legislação aplic=vel iiK Danos causados 9 =gua" os;uais" por sua ve(" são ;uais;uer danos ;ue a8ectem adversa e signi8icativamente"nos termos da legislação aplic=vel" o estado ecol4gico" ou o potencial ecol4gico" e oestado ;uímico e ;uantitativo das massas de =gua super8icial ou subterrQnea"designadamente o potencial ecol4gico das massas de =gua arti8icial e muitomodi8icada hK iiiK Danos causados ao solo ;ual;uer contaminação do solo ;ue
crie um risco signi8icativo para a saEde 3umana devido 9 introdução" directa ouindirecta" no solo ou 9 sua super8ície" de substQncias" preparaç>es" organismos oumicrorganismos6
Danos ambientais a…
Ar Água Clima SoloSubsolo Habitats etc. Espécies
Danos resultantes de actividades ocupacionais
ANEXO III OUTRAS
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Actas do Colóquio – A responsabilidade Civil por dano ambiental
as 8oi igualmente opção do legislador europeu responsabili(ar" embora
apenas a título sub5ectivo mediante prova da actuação culposa ou
negligenteK" todos os operadores-poluidores ;ue desenvolvam outras
actividades econ4micas" di8erentes das descritas no ane7o III" se os danos
eminentes ou e8ectivos 8orem susceptíveis de a8ectar os habitats ou as
esp:cies selvagens da 8auna ou da 8lora6
Da;ui se depreende a especial importQncia europeia atribuída 9
conservação da nature(a e da biodiversidade" considerada como um
verdadeiro patrim4nio comum europeu_%" e ;ue 5usti8ica a responsabili(ação
dos operadores-poluidores de ?uais?uer actividades ocupacionais" mesmo
a;uelas aparentemente mais in4cuas" desde ;ue o operador-poluidor ten3a
agido com culpa ou" pelo menos" negligência6
+is uma apresentação gr=8ica desta situação,
<esponsabilidade
ambiental sub5ectiva
&ão es;ueçamos ;ue actividade ocupacional : ;ual;uer actividade
desenvolvida no Qmbito de uma actividade econ4mica" de um neg4cio ou
de uma empresa" independentemente do seu car=cter privado ou pEblico"
50 +7pressão recorrentemente citada pelo *ribunal de Justiça" em processos relativos9 <ede &atura $%%% e 9 directiva aves selvagens6 Apenas a título de e7emplo ve5a-se oAc4rdão de [ de De(embro de $%%1" pro8erido no processo C-0!2%0" o Ac4rdão de$_ de 'utubro de $%%1" pro8erido no processo C-[[02%0" o Ac4rdão de [ de Jul3o de
$%%/" no processo C-#2%_ contra PortugalK" o Ac4rdão de [ de 'utubro de #!1"no processo $[/2!_" o Ac4rdão de $ de Jul3o de $%%1" no processo C-_%12%0" oAc4rdão de $! de Jun3o de $%%1" no processo C-$[_2%0" etc66
Danos ambientais a,,,
Ar Água Clima SoloSubsolo Habitats etc. Espécies
Danos resultantes de quaisquer actividades ocupacionais
11
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lucrativo ou não artigo $V" n6V1 da DirectivaK6 Podemos imaginar ;ue estão
a;ui abrangidas actividades como o turismo de nature(a _" certos desportos
radicais organi(ados" acç>es de educação ambiental" e e7perimentação
cientí8ica" desde ;ue se5am desenvolvidos a título pro8issional e numa (ona
ade;uada 9 conservação da nature(a" e protegida por lei6 As classi8icaç>es
relevantes para este e8eito são todas as ;ue se en;uadram no Qmbito da
<ede Fundamental de Conservação da &ature(a _$6 Assim" danos causados em
(onas classi8icadas montan3osas" 8lorestais" costeiras" grutas" dunas" rios" lagos"
reserva agrícola ou reserva ecol4gica" etc6 estão abrangidos pelo regime legal
de prevenção e reparação6
O precisamente neste ponto ;ue encontramos alguma divergência entre a
Lei nacional e a Directiva6 *al como 5= vimos ;ue : permitido pelo artigo /V da
Directiva" o legislador português optou por ir mais longe na protecção
ambiental não dando uma especial pre8erência aos danos 9 nature(a
51 ' Programa &acional de *urismo de &ature(a" de ##! <esolução do Consel3ode inistros n6V $2#!" de $_ de AgostoK estabelece o en;uadramento destasactividades6 ' Decreto-Lei nV [#2$%%!" de 1 de arço" ;ue regula o regime 5urídico dainstalação" e7ploração e 8uncionamento dos empreendimentos turísticos" de8ineempreendimentos de turismo de nature(a como estabelecimentos ;ue se destinem a
prestar serviços de alo5amento a turistas" em =reas classi8icadas ou noutras =reas comvalores naturais" dispondo para o seu 8uncionamento de um ade;uado con5unto deinstalaç>es" estruturas" e;uipamentos e serviços complementares relacionados com aanimação ambiental" a visitação de =reas naturais" o desporto de nature(a e ainterpretação ambiental artigo $%V" n6VK6 as muitas actividades turístico-ambientaispraticamente dispensam a e7istência de in8ra-estruturas6 O o caso dos" passeiospedestres" e7pediç>es 8otogr=8icas" percursos interpretativos e actividades deobservação de 8auna e 8lora" actividades de orientação" montan3ismo" escalada"espeleologia" aintball" tiro com arco" besta" (arabatana" balonismo" asa delta semmotor" parapente" passeios de bicicleta" passeios e;uestres" etc66 Actualmente estas eoutras actividades estão reguladas pelo Decreto-lei nV%!2$%%#" de _ de aio" ;ueestabelece as condiç>es de e7ercício da actividade das empresas de animação
turística e dos operadores marítimo-turísticos6# Prevista no Decreto-lei n6V 0$2$%%!" de $0 de Jul3o" : integrada actualmente,
aK Pelo Ristema &acional de ^reas Classi8icadas" ;ue integra as seguintes=reas nucleares de conservação da nature(a e da biodiversidade,
iK ^reas protegidas integradas na <ede &acional de ^reas ProtegidasiiK Rítios da lista nacional de sítios e (onas de protecção especial integrados na
<ede &atura $%%%iiiK As demais =reas classi8icadas ao abrigo de compromissos internacionais
assumidos pelo +stado PortuguêsbK Pelas =reas de continuidade a seguir identi8icadas" nos termos do nEmero
seguinte e com salvaguarda dosrespectivos regimes 5urídicos,
iK A <eserva +col4gica &acional <+&KiiK A <eserva Agrícola &acional <A&KiiiK ' domínio pEblico 3ídrico DPK : descrita no artigo _VK6
11!
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Actas do Colóquio – A responsabilidade Civil por dano ambiental
relativamente aos restantes danos ambientais" mas tratando todos com igual
e7igência6 Por isso" em Portugal" os operadores de ;uais;uer actividades
ocupacionais são sub5ectivamente respons=veis por danos 9 nature(a" mas
tamb:m por danos 9 =gua ou ao solo_[6
.m gr=8ico e7plicativo torna mais claras as situaç>es abrangidas pela
responsabilidade ambiental sub5ectiva,
<esponsabilidade
ambiental sub5ectiva
+m ;ual;uer caso" com ou sem culpa ou negligência" tanto a Directiva
como a Lei nacional s4 abrangem os danos causados ao ambiente em si
mesmo e não ao omem" atrav:s do ambiente6 A lei engloba" portanto"
apenas os danos ;ue denomina Hdanos ambientais mas ;ue n4s" tal como
alguma doutrina" pre8erimos denominar danos ecol&gicos_0" reservando a
designação de danos ambientais apenas para os danos sociais resultantes da
#! Artigo [V, ] ' operador ;ue" com dolo ou negligência" causar um danoambiental em virtude do e7ercício de ;ual;uer actividade ocupacional distinta dasenumeradas no ane7o III ao presente decreto -lei ou uma ameaça iminente da;uelesdanos em resultado dessas actividades" : respons=vel pela adopção de medidas deprevenção e reparação dos danos ou ameaças causados" nos termos dos artigosseguintes6
54 )omes Canotil3o" A <esponsabilidade por Danos Ambientais6 ~Apro7imaçãoJuspublicística in, Direito do Ambiente" Instituto &acional da Administração" ##0" p60%$-0%[" e ainda Actos autori(ativos 5urídico-pEblicos e responsabilidade por danos
ambientais" oletim da Faculdade de Direito" vol6/#" ##[ Jos: de Rousa Cun3alRendim" %esonsabilidade civil or danos ecol&gicos da reara!"o do dano atrav(sde restaura!"o natural" Coimbra +ditora" ##!" p6 /1 e ss66
Danos ambientais a…
Ar Água Clima SoloSubsolo Habitats etc. Espécies
Danos resultantes de quaisquer actividades ocupacionais
11"
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poluição e degradação ambiental como a e7istência de desalo5ados
ambientais" ou re8ugiados do clima ou patologias 3umanas causadas por
e7posição a substQncias perigosas ou contaminantesK6
De realçar : o 8acto de o regime legal instituído abranger apenas os danos
causados aos recursos naturais" mas ter tamb:m em consideração certos
danos 3umanos" pelo menos en;uanto crit:rio de relevQncia dos danos
ecol4gicos6 <e8erimo-nos aos danos aos recursos naturais ;ue possam vir a
a8ectar a saEde 3umana" os ;uais são considerados obrigatoriamente como
muito signi8icativos" de acordo com os crit:rios legais 8i7ados Ane7o I da
DirectivaK6
2omo pa!a o poluidor/
oltando a recorrer 9 inspiradora <ecomendação n6V 1_20[/" veri8icamos ;ue
o poluidor pode pagar de v=rias maneiras, na aplicação do princípio do
Hpoluidor-pagador" os principais instrumentos 9 disposição dos poderes
pEblicos para evitar a poluição são as normas e as ta7as6 As ta7as são mesmo
os instrumentos 5urídicos escol3idos para e7empli8icar a aplicação do PPP" na
pr4pria <ecomendação, A ta7a tem por ob5ectivo incitar o poluidor a tomar
por si pr4prio" pelo menor custo" as medidas necess=rias para redu(ir a
poluição de ;ue : autor 8unção de incentivoK e2ou 8a(er com ;ue suporte a
sua ;uota-parte das despesas das medidas colectivas" como por e7emplo" as
despesas de depuração 8unção de redistribuiçãoK6 A ta7a deve ser imposta
segundo o grau de poluição emitido" com base num procedimento
administrativo ade;uado6
ecanismos de comando e controlo e mecanismos baseados no mercado __
são instrumentos de Direito ambiental 8ormalmente opostos" mas ;ue em
comum têm a 8inalidade preventiva e" muitas ve(es" actuam em con5unto6 J=
em #1[ Rerge-C3ristop3e @olm_/ e7plicava ;ue a limitação do nível de uma
actividade poluente" atrav:s de uma lei ou regulamento" tem os mesmos
e8eitos sobre os preços ;ue a aplicação de uma ta7a 9 actividade poluente"
55 Claudia Roares desenvolve uma an=lise detal3ada da aplicação do PPP atrav:s
de impostos ambientais, O :mosto Ambiental. Direito Fiscal do Ambiente" CadernosC+D'.A" Almedina" $%%$" especialmente p6 [/ e ss656\.ne Oconomie Ocologi;ue\" %evue Politi6ue et Parlamentaire" " #1[K6
11#
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Actas do Colóquio – A responsabilidade Civil por dano ambiental
com a Enica di8erença de ;ue a renda da raridade" no primeiro caso" :
embolsada pelos poluidores e" no segundo caso" reverte para o +stado" como
imposto6
&o actual regime de responsabilidade ambiental 8oram recebidas ;uatro
di8erentes 8ormas de pagamento a imputar ao operador,
1& Primeiro" suportando os custos directos das medidas ;ue adopte para
evitar ou reparar os danos6 Rocorrendo-nos do preQmbulo da Directiva vemos
;ue segundo o princípio do Hpoluidor-pagador" o operador-poluidor ;ue
cause danos ambientais ou crie a ameaça iminente desses danos deve" em
princípio" custear as medidas de prevenção ou reparação necess=rias_16
& Regundo" indirectamente" suportando os custos das medidas
adoptadas pelo +stado ou por terceiros6 *rata-se de montantes ;ue são
custeados" numa 8ase inicial" pelo Fundo de Intervenção Ambiental _! e" numa
segunda 8ase" recuperados do operador-poluidor _#6 Assim" ;uando se5am as
autoridades competentes a dar o primeiro passo e a tomar as medidas
necess=rias" mesmo assim" o poluidor não poder= dei7ar de suportar
integralmente os custos essas medidas6 O tamb:m isto ;ue prescreve o artigo
06V nV_ dK da Lei nacional, e7ecutar" subsidiariamente e a e7pensas do
operador respons=vel" as medidas de prevenção necess=rias"
designadamente ;uando" não obstante as medidas ;ue o operador ten3a
adoptado" a ameaça iminente de dano ambiental não ten3a desaparecido
ou" ainda" ;uando a gravidade e as conse;uências dos eventuais danos assim
o 5usti8i;uem6 &este caso" a autoridade competente 8i7a os montantes dos
custos das medidas adoptadas e identi8ica o respons=vel pelo seu
pagamento" podendo recuper=-los em regresso artigo 1V da Lei portuguesa
de responsabilidadeK6
57 Par=gra8o ! do PreQmbulo" ab initio658 Decreto-lei n6V 012$%%!" artigo $[V, 6 's custos da intervenção pEblica de
prevenção e reparação dos danos ambientais prevista no presente decreto -lei sãosuportados pelo Fundo de Intervenção Ambiental" criado pela Lei n6V _%2$%%/" de $#de Agosto" abreviadamente designado por FIA" nos termos do respectivo estatuto6 Oo Decreto-lei n6V _%2$%%!" de [% de Jul3o" ;ue aprova o <egulamento do FIA6
59 Par=gra8o ! in fine do PreQmbulo da Directiva, se a autoridade competenteactuar" por si pr4pria ou por interm:dio de terceiros" em lugar do operador" deveassegurar ;ue o custo e causa sea corado ao o!erador6
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6 *erceiro" suportanto as garantias 8inanceiras constituídas para re8orço
da responsabilidade ambiental" as ;uais devem ser pr4prias e aut4nomas"
alternativas ou complementares entre si artigo $$" n6V do Decreto-lei n6V
012$%%!K6 +m con8ormidade com o Direito europeu" ;ue 8ala apenas em
garantias sobre bens im4veis ou de outras garantias ade;uadas artigo !V"
n6V$K" em Portugal as garantias podem ser prestadas por diversas 8ormas,
subscrição de ap4lices de seguro" obtenção de garantias banc=rias"
participação em 8undos ambientais ou constituição de 8undos pr4prios
reservados para o e8eito6
1& Nuarto" pagando uma ta7a no valor de w sobre todas as garantias
8inanceiras constituídas para re8orço da responsabilidade ambiental /%6 ' valor
assim arrecadado reverte" como receita" para o Fundo de Intervenção
Ambiental/
A regra de recuperação dos custos das intervenç>es pEblicas de
protecção ambiental se5a atrav:s de medidas de prevenção" se5a atrav:s de
60 Decreto-lei n6V 012$%%!" artigo $[V, $6 Robre as garantias 8inanceiras" obrigat4riasou não" constituídas para assumir a responsabilidade ambiental inerente a uma
actividade ocupacional incide uma ta7a" no montante m=7imo de w do respectivovalor" destinada a 8inanciar a compensação dos custos da intervenção pEblica deprevenção e reparação dos danos ambientais previstos no presente decreto-lei" ali;uidar pelas entidades seguradoras" banc=rias e 8inanceiras ;ue nelas interven3am6[6 ' montante concreto da ta7a re8erida no nEmero anterior" bem como as suasregras de li;uidação e pagamento" são 8i7ados por portaria a aprovar pelos membrosdo )overno respons=veis pelas =reas das 8inanças" do ambiente e da economia6 0 ]' produto da cobrança da ta7a re8erida no n6V $ constitui receita integral e e7clusivado FIA6
$1 ' <egulamento do FIA Decreto-lei n6V _%2$%%!" de [% de Jul3oK prevê ;ue oFundo se5a alimentado pelas seguintes 8ontes de receita,
aK As dotaç>es ;ue l3e se5am atribuídas pelo 'rçamento do +stado
bK ' produto das ta7as" contribuiç>es ou impostos ;ue l3e se5am a8ectoscK A parcela do produto das coimas ;ue l3e se5a a8ecta nos termos da leidK ' montante das indemni(aç>es e compensaç>es ;ue l3e se5am devidas em
virtude do 8inanciamento de medidas ou acç>es de prevenção ou reparação dedanos ou de perigos de danos ambientais" bem como as multas ;ue l3e se5ama8ectas
eK ' reembolso dos montantes e despesas avançados" por interm:dio domecanismo da sub -rogação ou do direito de regresso
f K 's rendimentos provenientes da aplicação 8inanceira dos seus capitaisgK 's rendimentos provenientes da alienação" oneração ou cedência
tempor=ria do seu patrim4niohK ' produto das 3eranças" legados" doaç>es ou contribuiç>es mecen=ticas
;ue l3e se5am destinadasiK Nuais;uer outras receitas ;ue l3e ven3am a ser atribuídas ou consignadaspor lei ou por neg4cio 5urídico6
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Actas do Colóquio – A responsabilidade Civil por dano ambiental
medidas de reparaçãoK comporta v=rias e7cepç>es6 As e7cepç>es
recondu(em-se aos casos de danos directa ou indirectamente causados por
terceiros" e aos danos resultantes de actividades legais e aparentementeK
seguras" desde ;ue o operador-poluidor ten3a actuado diligentemente e de
boa 8:6 Analisemos brevemente cada caso6
aK Danos directamente causados por terceiros6
O a 3ip4tese prevista no artigo !V" n6V[ aK da Directiva/$" em ;ue o
poluidor2operador não : obrigado a suportar os danos ;ue ocorram" apesar
das medidas de segurança ade;uadas ;ue e8ectivamente adoptou" desde
;ue os re8eridos danos ten3am resultado directamente de uma acção ou
omissão de terceiros ;ue ele não tivesse obrigação nem possibilidade de
prever e prevenir6
bK Danos indirectamente causados por uma entidade pEblica6
&a segunda 3ip4tese" prevista no artigo !V" n6V[ bK da Directiva/[K o
operador não suporta os danos ;ue ten3am resultado de ordens ou instruç>es
erradas" emanadas por uma autoridade pEblica" e ;ue redundem num dano
ambiental evit=vel6 Re não era previsível ;ue as ordens ou instruç>es viessem aocasionar danos ambientais" : compreensível ;ue o poluidor2operador de
boa 8: não se5a responsabili(ado 8inanceiramente6
cK Danos resultantes de actividades legais6
&esta 3ip4tese" prevista no artigo !V" n6V0 aK da Directiva/0" o operador não :
respons=vel pelo pagamento dos danos ;ue resultem de uma actividade
poluente constante do ane7o III" desde ;ue ela tivesse sido e7pressamente
autori(ada e ten3a sido desenvolvida com cuidado e diligência" respeitandoas condiç>es da autori(ação6 Compreende-se tamb:m ;ue neste caso o PPP
não pudesse produ(ir o dese5ado e8eito dissuasor 5= ;ue" rigorosamente" a
responsabilidade : do +stado e não do poluidor6
d' Danos resultantes de actividades comrovadamente seguras6
62 Artigo $%V" nV aK do Decreto-lei663 +;uivalente ao artigo $%V" nV bK do Decreto-lei664 Artigo $%V" nV[ iK do Decreto-lei6
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Actas do Colóquio – A responsabilidade Civil por dano ambiental
mesmo possível cumprir algumas das obrigaç>es legais/!6 A descrença na
capacidade do sistema legal instituído para controlar situaç>es comple7as
como a poluição di8usa" a pluricausalidade ou os riscos de desenvolvimento"
pode levar a um indese5=velK rela7amento das preocupaç>es preventivas
;ue o PPP" atrav:s da lei" pretende incitar e" portanto" a mais poluição6
Cabe 9 doutrina o importante papel de prestar os esclarecimentos
necess=rios a evitar a ocorrência de poluição normativa em virtude das
dEvidas interpretativas suscitadas pelas novas regras de responsabilidade
ambiental6
3le#andra 3ra!ão
Pro8essora Au7iliar da Faculdade de Direitoda .niversidade de Coimbra
oltar ao Yndice
6! O o caso do dever de celebrar seguro de poluição" ;uando os operadores-poluidores se vêem con8rontados com a di8iculdade pr=tica de as compan3iasseguradoras não estarem todas preparadas para celebrar esse tipo de seguros6
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DA 'ATU("_A JU(+DICA DA ("SPO'SAILIDAD" A#I"'TAL
2. Oecto
' Decreto-Lei n6V 012$%%!" de $# de Jul3o" veio renovar e sistemati(ar o regime
5urídico da responsabilidade civil ecol4gica6 *rata-se de um diploma ;ue era
3= muito aguardado6 Antes de mais" por;ue desde $%%0 ;ue a .nião +uropeia
M no culminar de um longo e di8ícil processo" marcado por sucessivos avanços
e recuos e diversas tentativas 8al3adas ao longo de v=rias d:cadas M se 3avia
dotado de um instrumento 5urídico relativo 9 responsabilidade ambiental $" o
;ual carecia de ser transposto para o ordenamento 5urídico dos +stados-
embros[6 Depois" por;ue em Portugal não 3avia propriamente um sistema
estruturado e uni8orme de responsabili(ação por danos causados ao
ambiente" sendo esta mat:ria regulada por um con5unto de normas dispersas"
mal articuladas e lacunares" cu5a revisão era amplamente reclamada6
+stas duas ra(>es tornavam inevit=vel uma re8orma do direito português da
responsabilidade por danos ambientais M o ;ue veio a acontecer com
Decreto-Lei n6V 012$%%!6 ' aparecimento deste diploma 8oi" pois" saudado
com entusiasmo pela doutrina mas 5= o mesmo não se pode di(er ;uanto ao
seu conteEdo" ;ue" embora em muitos aspectos merit4rio" tem suscitado
diversas dEvidas interpretativas e sido ob5ecto de algumas críticas bastante
contundentes06 Críticas ;ue se prendem" essencialmente" com a 8alta de
clare(a e at: ambiguidade do diploma em ;uestão6
1 Para uma descrição sucinta das diversas tentativas de regulação daresponsabilidade ambiental pelo Direito Comunit=rio" c8r6 L.CAR +<)@AP" *3e Proposed+nvironmental LiabilitG Directive" in Euroean Environmental #a> %evie>" &ovember$%%$" olume " number " pp6 $#0 e $#_6
2 <e8erimo-nos 9 Directiva n6V $%%02[_2C+" do Parlamento +uropeu e do Consel3o"de $ de Abril de $%%0" publicada no Jornal '8icial da .nião +uropeia L 0[" de[%6%06$%%06
3 A transposição era devida" o mais tardar" at: [% de Abril de $%%1 M pra(o ;ue o
legislador português não cumpriu64 +m tom particularmente crítico" c8r6" nestas mesmas Actas" CA<LA AAD' )'+R" De;ue 8alamos ;uando 8alamos de dano ambiental Direito" mentiras e crítica" assim6
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Actas do Colóquio – A responsabilidade Civil por dano ambiental
Com e8eito" na Qnsia de agradar a gregos e a troianos" o legislador criou
um regime ;ue con5uga realidades distintas e aponta em diversas direcç>es6
' resultado : um diploma algo ecl:tico" ;ue se presta a di8erentes leituras6
'ra" esta polissemia normativa tem servido como combustível para o debate
doutrin=rio6 Cada Autor pretende ver no Decreto-Lei n6V 012$%%! uma
demonstração do seu ponto de vista ou da sua concepção_ ;uanto 9s
relaç>es 5urídicas ambientais6 + a verdade : ;ue" para cada corrente de
pensamento ou Qngulo de observação" o re8erido diploma parece 8ornecer
uma prova" um 8undamento ou" pelo menos" um indício6
A nossa tare8a consiste" então" em tentar lançar alguma lu( sobre um
regime ;ue :" no mínimo" comple7o e multi8acetado6 &a impossibilidade de
apreciar todas as ;uest>es controversas e de desbravar todos os meandros do
instituto sub udice" cuidaremos em particular de descobrir a sua nature(a
5urídica" mat:ria ;ue M como veremos M : tudo menos linear6 +is" portanto" o
nosso desígnio, tentar captar a nature(a 5urídica da responsabilidade
ambiental" tal como esta se encontra regulada no Decreto-Lei n6V 012$%%!6
E. 'ature>a urídica dV!lice
' regime anterior ao Decreto-Lei n6V 012$%%! era" como dissemos"
mani8estamente imper8eito/6 uito sucintamente" caracteri(ava-se, pela
con8luência de uma multiplicidade de 8ontes" com v=rias normas sobrepostas
e de articulação de8iciente1 pela vigência de previs>es legais ;ue" no
entanto" se encontravam por regulamentar e ;ue" conse;uentemente" era
discutível se podiam ou não ser aplicadas! pela veri8icação de uma
5 ais 5us-publicista ou mais 5us-privatista mais ecocêntrica ou maisantropocêntrica etc6
6 Para uma breve descrição" c8r6" por todos" ARC' P+<+I<A DA R ILA" <esponsabilidadeAdministrativa em at:ria de Ambiente" in Qerdes s"o tamb(m os Direitos do Homem/ %esonsabilidade Administrativa em at(ria de Ambiente " Cascais" $%%%" pp6 [% e ss66
7 A saber, os artigos 06V" 0[6V e 0!6V da Lei de ases do Ambiente LAK o Decreto-Lei n6V 0!6%_" de $ de &ovembro de #/1 entretanto revogado pela Lei n6V /12$%%1"de [ de De(embroK os artigos 0![6V e ss6 do C4digo Civil e os artigos $$6V e $[6V da Leida Acção Popular LAPK6
8 +ncontravam-se nesta situação os artigos 06V" n6V $ e 0[6V da LA" sobre o;uantitativo da indemni(ação em casos de responsabilidade ob5ectiva e sobre aobrigatoriedade de subscrição de um seguro de responsabilidade civil"
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dualidade de 5urisdiç>es" com base em crit:rios nem sempre muito claros #
pela con8usão entre tutela de interesses individuais" interesses grupais ou
individuais 3omog:neosK e di8usos% pela inde8inição ;uanto ao conceito e
amplitude do dano ambiental6
&ão vale a pena" por:m" alongarmo-nos sobre o conte7to normativo em
;ue anteriormente se processava a responsabilidade ambiental uma ve( ;ue"
8eli(mente" dispomos 3o5e de um ;uadro legal renovado nesta mat:ria $6 '
Decreto-Lei n6V 012$%%! aprovou o regime 5urídico da responsabilidade por
danos ambientais <J<DAK" procurando resolver muitos dos problemas atr=s
identi8icados e adaptando-se ao novo panorama europeu resultante da
Directiva n6V $%%02[_2C+ doravante" re8erida apenas como DirectivaK6
A;ui surge" no entanto" o primeiro problema6 O ;ue" lendo a Directiva"
8icamos com uma determinada ideia do ;ue : a responsabilidade ambiental
respectivamente69 Rituação ;ue" apesar de tudo" mel3orou bastante com alteração e8ectuada pelo
artigo /6V da Lei n6V [2$%%$" de # de Fevereiro ;ue aprovou o +*AFK ao artigo 0_6V daLA6
10 Nue : visível" de 8orma particularmente grosseira" no artigo $$6V da LAP611 Robre este conceito" c8r6 J'RO D+ R'.RA C.&AL R+&DI" %esonsabilidade Civil or
Danos Ecol&gicos da reara!"o do dano atrav(s da restaura!"o natural " Coimbra"##!" pp6 /_ e ss66
12 &ão signi8ica isto" contudo" ;ue as normas ao abrigo das ;uais era e8ectivada aresponsabilidade por danos ambientais 5= não se encontrem em vigor6 A verdade :;ue essas normas não 8oram e7pressamente revogadas6 + tão pouco o 8oramtacitamente" como iremos comprovar6
Nuanto 9s normas da LA" trata-se de disposiç>es gen:ricas" pr4prias de umalei de bases" ;ue não 8oram contrariadas ou postas em causa pelo articulado do<J<DA" antes passaram a ter o seu desenvolvimento e concreti(ação no <J<DA6Nuanto aos regimes de responsabilidade civil constantes do C4digo Civil e"actualmente" da Lei n6V /12$%%1" bem como 9s disposiç>es pertinentes da LAP" trata-se
de um con5unto de normas ;ue não di(em respeito especi8icamente 9responsabilidade ambiental" tendo um Qmbito de aplicação bastante mais vasto" pelo;ue nunca poderiam ter sido revogadas pelo <J<DA6
' ;ue sucedeu 8oi ;ue" passando a 3aver um regime pr4prio e aut4nomo;uanto 9 responsabilidade civil por danos ambientais" a;uelas normas dei7aram de seaplicar a este tipo de responsabilidade" continuando todavia a regular aresponsabilidade civil em geral6 +stamos a;ui" tão s4" perante uma demonstração doprincípio da especialidade" de acordo com o ;ual lex secialis derogat generali6
Assim" e em conclusão" as normas ;ue antigamente eram mobili(adas pararesponsabili(ar algu:m pela produção de danos ambientais não dei7aram de estarem vigor6 &o entanto" dei7aram de ser elas a reger a responsabilidade ambiental"dada a superveniente aprovação de um regime especial sobre a mat:ria, o <J<DA6
Pelo ;ue apenas perante a constatação de alguma lacuna no <J<DA 8ar= sentidovoltar a recorrer 9s re8eridas normas6 <egressaremos a este ponto" com mais pormenor"no capítulo $6 infra6
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e de ;ual a sua nature(a 5urídica6 Contudo" ao lermos o diploma de
transposição M maxime" o respectivo preQmbulo M 8icamos com uma impressão
;ue não : inteiramente coincidente6
De 8acto" compulsando a Directiva e o <J<DA encontramos algumas
di8erenças signi8icativas6 =" naturalmente" muitos elementos concordantes6
as 3= outros ;ue destoam6 +m parte" isto poder= ter a ver com o 8acto de
estarmos perante uma Directiva de mínimos" isto :" uma Directiva ;ue
8unciona como mínimo denominador comum da responsabilidade ambiental
no espaço comunit=rio[6 &o entanto" cremos ;ue esta e7plicação peca por
de8eito6
A verdade : ;ue o legislador comunit=rio e o legislador nacional
mani8estaram preocupaç>es di8erenciadas6 +n;uanto ;ue o primeiro se
ocupou apenas dos c3amados danos ecol4gicos puros" isto :" dos danos
causados 9 nature(a em si mesma" o segundo pretendeu abranger todo o tipo
de danos ;uer ecol4gicos" ;uer pessoais ou patrimoniaisK so8ridos por via da
lesão de um ;ual;uer componente ambiental6 +n;uanto ;ue o primeiro visou
prevenir a ocorrência de danos ou" não sendo tal possível" repar=-los in natura"
o segundo admitiu di8erentes 8ormas de compensação dos su5eitos lesados
incluindo" na 8alta de outras alternativas" o pagamento de uma
indemni(açãoK6 +n;uanto ;ue o primeiro con8iou importantes tare8as 9s
autoridades administrativas competentes" o segundo partiu do princípio de
;ue H: pre8erível xdotar os particularesy de direitos indemni(at4rios" investindo
13 De 8acto" o ;ue a Directiva n6V $%%02[_2C+ pretendeu 8oi consagrar um patamarcomum em termos europeus" a partir do ;ual cada +stado-embro poder= M se assimo entender M ir mais al:m6 Rão mEltiplos os aspectos em ;ue tal se veri8ica6 Apenas atítulo de e7emplo" podemos re8erir o artigo /6V" n6V " segundo o ;ual Ha presentedirectiva não impede os +stados-embros de manterem ou adoptarem disposiç>esmais estritas em relação 9 prevenção e 9 reparação de danos ambientais" incluindo aidenti8icação de outras actividades a su5eitar aos re;uisitos xhy da presente directiva ea identi8icação de outros respons=veis os artigos /6V" n6V $ e [6V" n6V [" ;ue M embora oarticulado da Directiva não contemple a reparação de danos individuais M admitem;ue" ao abrigo da legislação nacional de cada +stado-embro" os particularesten3am direito a ser ressarcidos caso o seu patrim4nio se5a a8ectado na se;uência de
les>es ambientais e o artigo $6V" n6V [" alínea cK" ;ue autori(a os +stados-embros aalargar o conceito de dano ambiental a ;uais;uer habitats ou esp:cies" para al:mda;ueles ;ue se encontram protegidos pelo regime comunit=rio da <ede &atura $%%%6
1"
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assim o cidadão na ;ualidade de verdadeiro (elador do ambiente 06 'ra"
como e7plicar esta di8erença de abordagem
A nosso ver" a resposta : bastante simples6 A Directiva consagra um modelode responsabilidade ambiental ;ue se a8asta signi8icativamente do modelo
cl=ssico ou civilista da responsabilidade civil6 +m ve( de uma relação de tipo
ressarcit4rio" entre lesante e lesado" temos um regime assente na prevenção
a par da reparaçãoK de danos 9 nature(a" no ;ual as entidades pEblicas
desempen3am um papel de relevo6 ' <J<DA consagra" naturalmente" este
modelo de responsabilidade" mas acrescenta-l3e um outro, o modelo
tradicional" assente na indemni(ação de danos individuais6
Rigni8ica isto ;ue o legislador nacional contemplou" não um" mas dois tipos
distintos de responsabilidade ambiental6 *eve de se con8ormar com o modelo
de inspiração 5urídico-pEblica de8inido a nível europeu" mas não ;uis abdicar
do 8igurino civilista cl=ssico_6
+mbora nem toda a doutrina convir5a neste entendimento /" parece-nos ;ue
ele resulta muito claramente do <J<DA6 asta atentar no respectivo
preQmbulo" nomeadamente ;uando aí se a8irma, Hestabelece-se" por umlado" um regime de responsabilidade civil sub5ectiva e ob5ectiva nos termos do
;ual os operadores-poluidores 8icam obrigados a indemni(ar os indivíduos
14 C8r6 o preQmbulo do Decreto-Lei n6V 012$%%!615 +sta abordagem tem" desde logo" um grande m:rito6 Ao contr=rio do ;ue se vem
tornando 3=bito" neste caso o legislador nacional não se limitou a reprodu(iracriticamente o articulado da Directiva6 Pelo contr=rio" re8lectiu sobre o tema"ponderou di8erentes opç>es ;uanto 9 sua regulamentação 5urídica e M a prete7to datransposição da Directiva M concebeu" nos termos ;ue entendeu mel3or" um novoregime de responsabilidade ambiental6
16 De 8acto" 3= ;uem se recuse a recon3ecer idêntica dignidade a estes dois pilaresdo <J<DA" procurando M de acordo com as suas pr4prias pr:-compreens>es ;uanto 9responsabilidade ambiental M subalterni(ar ou at: e7cluir o ressarcimento de danosindividuais" em bene8ício da restituição dos bens ambientais naturais ao seu estadoinicial c8r6 CA<LA AAD' )'+R" A <esponsabilidade Civil por Dano +col4gico M<e8le7>es preliminares sobre o novo regime instituído pelo DL 012$%%!" de $# de Jul3o"in CA<LA AAD' )'+R 2 *IA)' A&*.&+R org6K" O 6ue hJ de novo no Direito do Ambiente
Actas das 5ornadas de Direito do Ambiente Faculdade de Direito da niversidadede #isboa ,U de Outubro de 0112I" Lisboa" $%%#" maxime pp6 $/! e ss6 e" da mesmaAutora" De ;ue 8alamos ;uando 8alamos de dano ambiental Direito" mentiras ecrítica" publicado nestas ActasK ou" inversamente" privilegiar o accionamento 5udicialdo2s lesante2s pelo2s lesado2s" em detrimento da prevenção e reparação dos danos
ao ambiente por ordem ou mesmo por acção das autoridades administrativascompetentes 8oi esta" grosso modo" a posição de8endida por <A&CA A<*I&R DA C<. durante o col4;uio a ;ue as presentes Actas di(em respeitoK6
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lesados pelos danos so8ridos por via de um componente ambiental6 Por outro"
8i7a-se um regime de responsabilidade administrativa1 destinada a xprevenir ey
reparar os danos causados ao ambiente perante toda a colectividade"
transpondo desta 8orma para o ordenamento 5urídico nacional a Directiva n6V
$%%02[_2C+!6
<epare-se como" num caso" est= em causa a indemni(ação de les>es
so8ridas por determinados indivíduos em concreto e" noutro caso" est= em
causa a reparação de danos provocados ao meio-ambiente" ;ue apenas
re8le7amente ou de 8orma di8usa acabam por a8ectar a colectividade como
um todo6 Rão estes dois tipos de danos ;ue o <J<DA visa acautelar6 +" para o
e8eito" consagra duas vias paralelas de actuação #6
De 8acto" nisto discordamos de algumas an=lises ;ue têm sido 8eitas na
doutrina elogiando a uni8ormidade do <J<DA$%6 Pelo contr=rio" entendemos
;ue a uni8ormidade : meramente 8ormal todo o instituto est= regulado num
mesmo instrumento 5urídicoK6 +m termos substanciais" contudo" o <J<DA
introdu(iu um sistema dualista ou bipolar de responsabilidade ambiental6
ais concretamente" o actual regime português de responsabilidadeambiental est= construído sobre dois ei7os distintos, um deles consta do
Capítulo II do <J<DA" ;ue regula" nos moldes cl=ssicos" de ;ue 8orma deve2m
o2s poluidor2es responder perante a2s vítima2s directa2s da sua acção
17 ' conceito de responsabilidade administrativa a;ui utili(ado :" como teremosoportunidade de e7plicar" bastante e;uívoco e enganador6 &a verdade" não dei7ade estar em causa uma modalidade de responsabilidade civil" ainda ;ue comcaracterísticas bem distintas do instituto regulado nos artigos 0![6V e ss6 do C4digo Civil6Para mais pormenores" c8r6 o capítulo 6[6 infra6
18 Rublin3ados nossos619 Para não subverter o conteEdo da Directiva" nem criar descon8ormidades
regulat4rias no interior do espaço 5urídico comunit=rio" o legislador nacional entendeupor bem não misturar o tratamento destes dois tipos de danos" abstendo-se assim de8ormular uma disciplina 5urídica una ou comum e optando antes por consagrar doismecanismos aut4nomos de responsabili(ação por o8ensas ambientais6 Assim" parae8eitos de cumprimento da Directiva" instituiu um sistema de prevenção e reparaçãode danos ecol4gicos puros6 as" ao seu lado" colocou um regime de imputação daresponsabilidade por danos cometidos por via de um ;ual;uer componenteambientalK a pessoas ou bens6
20 C8r6" por e7emplo" ARC' P+<+I<A DA RILA" entos de udança no Direito doAmbiente M A responsabilidade civil ambiental" in CA<LA AAD' )'+R 2 *IA)' A&*.&+R
org6K" O 6ue hJ de novo no Direito do Ambiente Actas das 5ornadas de Direito do Ambiente Faculdade de Direito da niversidade de #isboa ,U de Outubro de 0112I "Lisboa" $%%#" p6 !6
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poluente e o outro consta do Capítulo III do <J<DA" ;ue M em transposição da
Directiva n6V $%%02[_2C+$ M de8ine um con5unto de obrigaç>es de prevenção e
reparação de danos 9 nature(a" obrigaç>es essas ;ue impendem sobre o
causador da ameaça mas cu5o cumprimento deve ser assegurado pelo
+stado6
Donde" estamos em presença de um regime bic:8alo6 'u" por outras
palavras" o instituto da responsabilidade civil por danos ambientais tem" em
Portugal" uma nature(a 5urídica dEplice$$6 De resto" esta duplicidade pode
ser observada sob diversos prismas6 Para o comprovar" iremos
seguidamente apreciar o <J<DA sob ;uatro Qngulos distintos M e" em todos
eles" poderemos constatar ;ue a responsabilidade ambiental aí prevista
comporta duas modalidades distintas6
E.E. 'ature>a ecocêntrica 4 antro!ocêntrica
Nuanto ao tipo de danos ambientais abrangidos" a responsabilidade civil
pode ter uma nature(a mais ecocêntrica ou mais antropocêntrica6 &o primeirocaso" trata-se de reparar os danos 9 nature(a em si mesma M tamb:m
con3ecidos por danos ecol4gicos ou danos ecol4gicos puros6 &o segundo
caso" trata-se de ressarcir os danos ;ue" embora cometidos por via de uma
o8ensa ambiental" se pro5ectam sobre a personalidade ou o patrim4nio de
determinados indivíduos M era para estes danos ;ue" antigamente" estava
reservada a e7pressão danos ambientais$[6
21 R4 o Capítulo III : ;ue procede 9 transposição da Directiva n6V $%%02[_2C+" como: perceptível" ali=s" pela sistem=tica algo atípica e at:" em certa medida"surpreendente do <J<DA, o elenco de de8iniç>es" 3abitualmente presente no iníciodos diplomas" consta apenas do artigo 6V" o ;ue s4 se 5usti8ica por;ue" na verdade" :aí ;ue começa a transposição da Directiva6
22 Daí a importQncia e o interesse do tema ;ue nos ocupa6 + daí tamb:m o 8actode" como dissemos sura" o <J<DA se prestar a di8erentes leituras6 Percebemos agora;ue isso resulta" não tanto de uma e;uivocidade estrutural do diploma" mas sim dasua bipolaridade6
23 Robre a contraposição entre os conceitos de dano ecol4gico e danoambiental" 9 lu( do regime anterior ao <J<DA" c8r6 a síntese de J'RO D+ R'.RA C.&AL R+&DI em %esonsabilidade Civil or Danos Ecol&gicos" Cadernos C+D'.A" Coimbra"
$%%$" p6 [1K, HA compreensão do dano ao ambiente como erturba!"o de um bem ur+dico aut&nomo e unitJrio permite" desde logo" traçar M com base na ordenaçãoa7iol4gica do ob5ecto da lesão M a distinção entre os danos rovocados ao ambiente"
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Actas do Colóquio – A responsabilidade Civil por dano ambiental
'ra" a Directiva n6V $%%02[_2C+ di( respeito Enica e e7clusivamente aos
danos ecol4gicos puros6 ' considerando 0 :" a este respeito" absolutamente
claro, Ha presente directiva não : aplic=vel aos casos de danos pessoais" de
danos 9 propriedade privada ou de pre5uí(o econ4mico6 +" no mesmo
sentido" o artigo [6V" n6V [K disp>e ;ue Ha presente directiva não con8ere aos
particulares o direito a compensação na se;uência de danos ambientais ou
de ameaça iminente desses danos6 ' ;ue" nas palavras de L.DI) @<€+<"
Hdemonstrates a rogressive dearture from the concet that an individual
erson should be comensated for the imaired environment to>ards a
concet that there should be restoration of the imaired environment3
rovided this could be achieved at reasonable costs$0
6
Assim" embora a Directiva não impeça os +stados-embros de instituírem
mecanismos de responsabili(ação por outro tipo de danos M maxime danos a
pessoas ou bens provocados por via de uma o8ensa ambiental $_ M" o ;ue :
certo : ;ue o legislador comunit=rio apenas cuidou das les>es aos bens
ambientais naturais$/6 ais especi8icamente" o conceito de dano ambiental
en;uanto bem 5urídico xdanos ecol4gicosy e os danos provocados 9s pessoas e aos
bens pelas perturbaç>es ambientais danos ambientais" m>eltschVden" ilieuschVdenK6
HR4 no primeiro tipo o ambiente : M en;uanto bem 5urídico M o ob5ecto dodano6 Pelo contr=rio" nos danos ambientais o ambiente :" essencialmente o ercursocausal do dano6 *rata-se pois de danos indirectos causados por uma acção sobre oambiente6
24 C8r6 L.DI) @<€+<" *3e Directive $%%02[_ on environmental liabilitG M use8ul"publicado nestas Actas6
25 ' considerando 0 e o artigo [6V" n6V [" sura citados" ressalvam e7pressamenteesta possibilidade6 Para al:m disso" o considerando $# e o artigo /6V" n6V $ tamb:mpartem do mesmo pressuposto" ao re8erirem-se a Hsituaç>es de eventual duplacobrança de custos em resultado de acç>es concorrentes por parte da autoridade
competente ao abrigo da presente directiva e de pessoas cu5o patrim4nio se5aa8ectado por danos ambientais6
26 +mbora no #ivro ;ranco sobre %esonsabilidade Ambiental a Comissão +uropeiaalertasse ;ue Hpara uma abordagem coerente : importante abranger tamb:m osdanos tradicionais" como os danos a pessoas e bens" caso ten3am sido causados poruma actividade perigosa abrangida pelo Qmbito de aplicação do regime" uma ve(;ue" em muitos casos" os danos tradicionais e os danos ambientais resultam de ummesmo acontecimento6 Cobrir apenas os danos ambientais com o regime comunit=rioe dei7ar a responsabilidade pelos danos tradicionais inteiramente aos +stados-embros poderia originar resultados in5ustos c8r6 #ivro ;ranco sobre %esonsabilidade
Ambiental" C'$%%%K // 8inal" de # de Fevereiro de $%%%" disponível em3ttp,22ec6europa6eu2environment2legal2liabilitG2pd82el8ullpt6pd8" pp6 1-!K6 &o
entanto" a solução 8inal a ;ue o legislador comunit=rio acabou por c3egar 8oi outra"restringindo o Qmbito de aplicação da Directiva aos danos ecol4gicos sem pre5uí(o"naturalmente" de os +stados-embros poderem incluir a regulação dos danos
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utili(ado na Directiva integra três modalidades, os danos causados 9s esp:cies
e habitats naturais protegidos ou danos 9 biodiversidadeK os danos causados
9 =gua e os danos causados ao solo6
+ste conceito de dano ambiental" decorrente do artigo $6V" n6V da
Directiva" suscita-nos alguns coment=rios6 +m primeiro lugar" con8irma-se ;ue
não estão abrangidos ;uais;uer danos pessoais ou patrimoniais6 ' ;ue
signi8ica" portanto" ;ue o dano ambiental 5= não : o ;ue era6 +7plicando
mel3or" o sentido com ;ue a e7pressão dano ambiental costumava ser
empregue pela doutrina M ;uerendo signi8icar a lesão da es8era 5urídica de um
ou mais indivíduos por via da perturbação de um componente ambiental M
não corresponde ao entendimento ;ue resulta actualmente da Directiva e"
por decorrência" do <J<DAK6 &a verdade" 3o5e-em-dia o conceito de dano
ambiental integra apenas danos ecol4gicos puros6
&o entanto" os danos 9 biodiversidade" 9 =gua e ao solo s4 se ;uali8icam
como danos ambientais se tiverem um alcance Hsigni8icativo6 Nual;uer uma
das alíneas do artigo $6V" n6V da Directiva integra" como elemento da
de8inição" a e7igência de ;ue os danos em causa assumam um determinado
patamar de relevQncia6 + se" ;uanto aos danos 9 biodiversidade" o Ane7o I
8ornece os crit:rios ao abrigo dos ;uais deve ser a8erido o seu car=cter
signi8icativo" 5= ;uanto aos demais danos não e7istem ;uais;uer indicadores
;ue permitam medir o respectivo impacto6 ' ;ue introdu( uma grande dose
de incerte(a ou uma ampla margem de discricionariedade M ;ue" a nosso ver"
se pode revelar bastante contraproducente M na determinação de ;uais os
danos ;ue 5= são signi8icativos e" conse;uentemente" se podem ;uali8icar
como danos ambientais para e8eitos do regime em apreço6
.m aspecto ;ue nos dei7a particularmente intrigados prende-se com a
omissão dos danos ao ar ou 9 atmos8era6 A este respeito" o considerando 0 da
Directiva limita-se a a8irmar ;ue Hos danos ambientais incluem igualmente os
danos causados pela poluição atmos8:rica" na medida em ;ue causem
danos 9 =gua" ao solo" 9s esp:cies ou aos habitats naturais protegidos6 'u
se5a" a poluição da atmos8era não tem a;ui uma relevQncia aut4noma a se"
tradicionais nos seus ordenamentos 5urídicos internosK6
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Actas do Colóquio – A responsabilidade Civil por dano ambiental
apenas interessando re8le7amente caso se pro5ecte sobre algum dos
elementos naturais ;ue a Directiva visou proteger6 'ra" não se compreende
bem por ;ue ra(ão a ;ualidade do ar 8oi votada a este despre(o" sobretudo
;uando a sua tutela : ob5ecto de diversos diplomas e institutos 5urídicos" ;uer
ao nível do Direito Comunit=rio" ;uer no ordenamento 5urídico interno$16
Por 8im" 5usti8ica-se ainda re8erir ;ue os danos ao solo apenas estão
abrangidos na medida em ;ue impli;uem um risco para a saEde 3umana $!6
'u se5a" embora a Directiva verse e7clusivamente sobre danos 9 nature(a em
si mesma M o ;ue" 9 partida" remete para uma concepção ecocêntrica da
responsabilidade ambiental M" a verdade : ;ue" no caso especí8ico dos danos
ao solo" eles s4 ad;uirem relevQncia e s4 devem ser reparados se a8ectarem o
ser 3umano M o ;ue tem sub5acente uma clara visão antropocêntrica$#6
Agora ;ue 5= con3ecemos ;uais os danos abrangidos pela Directiva n6V
$%%02[_2C+" importa veri8icar se as coisas se passam da mesma 8orma no
Qmbito do <J<DA6 + aí a resposta varia6 <elativamente ao Capítulo III" os danos
ambientais contemplados são e7actamente os mesmos ;ue estão previstos na
27 Ali=s" no nosso ordenamento esta 8alta de previsão da responsabilidade pordeterioração da ;ualidade do ar poder= eventualmente con8igurar-se como umaviolação da Lei de ases do Ambiente Lei n6V 2!1" de 1 de AbrilK" ;ue integra
e7pressamente o ar entre os componentes ambientais naturais ;ue carecem deprotecção vd6 o artigo /6V" alínea aKK6 &este sentido" c8r6 CA<LA AAD' )'+R" A<esponsabilidade Civil por Dano +col4gico M <e8le7>es preliminares sobre o novoregime instituído pelo DL 012$%%!" de $# de Jul3o" cit6" pp6 $_% e $_6
28 C8r6 o considerando 1 e o artigo $6V" n6V " alínea cK e n6V _ da Directiva no<J<DA" vd6 o artigo 6V" n6V " alínea eK" subalínea iiiK e alínea pKK6
29 De resto" a a8ectação da saEde 3umana não : mencionada apenas a prop4sitodos danos ao solo" mas tamb:m a prop4sito do car=cter signi8icativo dos danos 9biodiversidade c8r6 Ane7o I da DirectivaK e ainda a diversos outros títulos, vd6 oconsiderando !" os artigos /6V" n6V " alínea aK" /6V" n6V $" alínea bK e 16V" n6V [" segundopar=gra8o" bem como os pontos 6" 6[6" 6[6[6 e $6 do Ane7o II da Directiva no <J<DA"vd6 os artigos 06V" n6V /" _6V" n6V " alínea bK" _6V" n6V [" alínea cK" /6V" n6V [" !6V" n6V / e
$06V" n6V " bem como os pontos 6" 6[6" 6[6[6 e $6 do Ane7o K6 ' ;ue d= umacoloração antropocêntrica a um regime ;ue se apresenta" rima facie" ecocêntrico"isto :" virado para a tutela dos bens ambientais er se6
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Directiva[%6 <elativamente ao Capítulo II" por:m" os danos abrangidos são
outros" bem distintos6
Com e8eito" no Capítulo II do <J<DA o ;ue est= em causa : aressarcibilidade de danos individuais ou sub5ectivos" isto :" de danos ;ue"
consistindo numa deterioração do ambiente" se pro5ectam directamente
sobre a es8era 5urídica de determinado2s su5eito2s" a8ectando a sua pessoa ou
o seu patrim4nio6 J= não se trata a;ui" portanto" de restituir os bens ambientais
naturais M esp:cies" habitats" =gua" solo M ao seu estado primitivo" mas tão-s4
de compensar as les>es ;ue certos indivíduos so8reram em resultado da
perturbação do ambiente6 +sta conclusão est= sustentada em diversas
passagens do <J<DA6
Primo" o pr4prio preQmbulo re8ere-se 9 instituição de Hum regime de
responsabilidade civil xhy nos termos do ;ual os operadores-poluidores 8icam
obrigados a indemni(ar os indivíduos lesados pelos danos so8ridos por via de
um componente ambiental[6
Mecundo" a letra dos artigos 16V e !6V : absolutamente clara ao estatuir ;ue
: respons=vel H;uem xhy o8ender direitos ou interesses al3eios por via da lesãode um ;ual;uer componente ambiental[$ 8ormulação te7tual muito di8erente
da utili(ada no Capítulo III" em ;ue os artigos $6V e [6V determinam ;ue :
respons=vel Ho operador ;ue xhy causar um dano ambientalK6
Tertio" o 8acto de a culpa do lesado M aspecto típico de ;ual;uer regime
cl=ssico de responsabilidade civil M apenas se encontrar prevista no Qmbito do
Capítulo II vd6 artigo #6VK6 ' ;ue" bem vistas as coisas" 8a( todo o sentido" uma
ve( ;ue no Capítulo III não 3= propriamente su5eitos lesados" o ;ue : lesado :30 Com a Enica ressalva de ;ue os danos 9 biodiversidade são de8inidos de 8orma
mais abrangente pelo <J<DA6 +n;uanto a Directiva apenas cuida dos danos 9sesp:cies e aos habitats naturais protegidos ao abrigo do regime comunit=rio da <ede&atura $%%% vd6 artigo $6V" n6V [" alíneas aK e bKK" o <J<DA aplica-se aos danos 9sesp:cies e aos habitats naturais protegidos nos termos da lei vd6 artigo 6V" n6V "alínea gKK" isto :" protegidos ;uer ao abrigo do regime 5urídico da <ede &atura $%%%";uer ainda de outros regimes 5urídicos nacionais de conservação da nature(a comoos regimes da <ede &acional de ^reas Protegidas" da <+&" etc6K6 Robre o assunto" c8r6CA<LA AAD' )'+R" A <esponsabilidade Civil por Dano +col4gico M <e8le7>espreliminares sobre o novo regime instituído pelo DL 012$%%!" de $# de Jul3o" cit6" pp6
$0# e $_%631 Rublin3ado nosso632 Rublin3ado nosso6
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Actas do Colóquio – A responsabilidade Civil por dano ambiental
o meio-ambiente6 &o Capítulo II" sim" estão em causa interesses de indivíduos
;ue 8oram lesados" na sua pessoa ou no seu patrim4nio" e cu5a pr4pria
conduta poder= eventualmente ter contribuído para a produção ou
agravamento do dano" devendo" nesse caso" tal conduta ser ponderada para
e8eitos do c`mputo da indemni(ação6
*odos estes indícios nos dão conta de ;ue" a par da reparação dos danos
ecol4gicos puros M de ;ue trata a Directiva e o Capítulo III do <J<DA M" o
direito português da responsabilidade ambiental regula tamb:m a reparação
dos danos in8ligidos a pessoas ou bens M mat:ria de ;ue trata o Capítulo II do
<J<DA6 Assim" e em síntese" o <J<DA : composto por dois mecanismos distintos
de responsabilidade, um ;ue se dirige e7clusivamente 9 tutela da nature(a e
outro ;ue visa compensar as les>es sub5ectivas provocadas pela poluição[[6
E.1. 'ature>a !re/enti/a 4 re!aradora
Nuanto ao tipo de obrigaç>es ;ue gera" a responsabilidade ambiental pode
ter uma nature(a preventiva ou reparadora e" dentro desta Eltima" pode aindaassumir contornos de tipo restaurativo ou de tipo ressarcit4rio6 Como se nota"
são diversas as 8eiç>es ;ue a responsabilidade ambiental pode assumir6 ARC'
P+<+I<A DA RILA re8ere-se mesmo 9 Hrespectiva nature(a multi8uncional"
implicando a consideração simultQnea" entre outras" das dimens>es
preventiva" repressiva" compensat4ria e reconstitutiva[06 e5amos" pois" ;ual
ou ;uais destas dimens>es estão presentes no regime 5urídico em apreço6
33 &em toda a doutrina" por:m" su8raga este entendimento6 ARC' P+<+I<A DA RILA" pore7emplo" considera ;ue o <J<DA consagrou Huma noção ampla de dano ambiental"abrangendo tanto os danos sub5ectivos como os ob5ectivos" o ;ue Hp>e em causa adistinção doutrin=ria entre dano ambiental e dano ecol4gico" alargando oprimeiro de modo a abarcar tamb:m o segundo c8r6 entos de udança no Direitodo Ambiente M A responsabilidade civil ambiental" cit6" pp6 $ e 1" respectivamenteK6Com um entendimento diametralmente oposto" mas igualmente distinto da posição;ue de8endemos no te7to" CA<LA AAD' )'+R sustenta ;ue o <J<DA : Haplic=vel emsede de prevenção e reparação de dano ecol&gico e s& deste c8r6 A<esponsabilidade Civil por Dano +col4gico M <e8le7>es preliminares sobre o novo
regime instituído pelo DL 012$%%!" de $# de Jul3o" cit6" pp6 $0!-$0#K634 ARC' P+<+I<A DA RILA" entos de udança no Direito do Ambiente M Aresponsabilidade civil ambiental" cit6" p6 06
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Começando por ol3ar para a Directiva" esta tem como epígra8e
Hresponsabilidade ambiental em termos de prevenção e reparação de danos
ambientais[_6 ' ;ue signi8ica" desde logo" ;ue o legislador comunit=rio" ao
inv:s de optar por um Enico escopo" pretendeu instituir um regime
simultaneamente preventivo e reparador6 +" se atentarmos no articulado da
Directiva" todo ele assenta tamb:m nestas duas ideias, prevenção" por um
lado e reparação" por outro6
'ra" s4 por a;ui M pelo car=cter ambivalente da responsabilidade
ambiental e" maxime" pelo relevo dado 9 prevenção M se percebe logo ;ue o
regime da Directiva est= muito distante do modelo típico da responsabilidade
civil6 O ;ue tradicionalmente considera-se ;ue" sendo possível prevenir os
danos" não 3= lugar a responsabilidade6 +sta s4 : accionada ;uanto a danos
e8ectivamente ocorridos e visa repar=-los ou ressarci-los6 A l4gica preventiva
não :" pois" característica do mecanismo da responsabilidade civil" o ;ual s4
costuma ser despoletado depois de os danos se terem consumado6
O certo ;ue o instituto da responsabilidade M se5a ela civil" penal" disciplinar"
contra-ordenacional" etc6 M tem sempre uma 8unção preventiva6 Re algu:m 8or
passível de ser responsabili(ado por uma determinada conduta" tender= M em
princípio M a evit=-la6 as esta l4gica preventiva apenas tem um e8eito
tendencial ou simb4lico e di( respeito a danos 3ipot:ticos6 &ão pretende
evitar danos reais e concretos" ;ue este5am na iminência de ocorrerem6 +"
sobretudo" dela não decorrem obrigaç>es concretas e imediatas de
prevenção de danos" mas apenas um desincentivo gen:rico 9 pr=tica de
actos danosos6
)eralmente" ;uando o ;ue est= em causa : a atribuição legal" a
determinados su5eitos" de deveres especí8icos de prevenção de danos"
entende-se ;ue isso resulta de normas de direito pEblico" e não tanto de uma
relação obrigacional de responsabilidade civil6 Por outras palavras" o princípio
da prevenção est= na base de grande parte dos regimes 5urídico-ambientais"
mas não costuma ser associado ao instituto da responsabilidade6 At: por;ue
este de8ine ;uem deve responder pelos danos causados e não ;uais as
35 Rublin3ados nossos6
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Actas do Colóquio – A responsabilidade Civil por dano ambiental
medidas ;ue devem ser levadas a cabo para evitar a produção ou o
agravamento de possíveis danos6 Portanto" as acç>es de prevenção
consagradas no artigo _6V da Directiva são algo de estran3o ou pouco 8amiliar
a um regime civilista de responsabilidade[/6
Assim" podemos concluir ;ue" ao integrar e7pressamente uma dimensão
preventiva e ao 8a(ê-lo por re8erência ou no ;uadro de um es;uema de
responsabilidade ambiental" a Directiva 8or5ou um regime 5urídico bastante
inovador e 3eterodo7o6 as a Directiva não se circunscreve 9 dimensão de
prevenção6 <e8ere-se tamb:m 9 reparação6 e5amos" então" esta outra
dimensão6
+m teoria" ;uando se 8ala de reparação podem estar em causa di8erentes
8unç>es, reconstitutiva" compensat4ria" ressarcit4ria" punitiva" etc66 Importa"
pois" perceber e7actamente o ;ue : ;ue o legislador comunit=rio teve em
mente6 Para o e8eito" devemos começar por analisar o artigo $6V" n6V da
Directiva" ;ue de8ine em ;ue consistem as medidas de reparação, H;ual;uer
acção ou combinação de acç>es" incluindo medidas atenuantes ou
intercalares com o ob5ectivo de reparar" reabilitar ou substituir os recursos
naturais dani8icados e2ou os serviços dani8icados ou 8ornecer uma alternativa
e;uivalente a esses recursos ou serviços" tal como previsto no Ane7o II[16
Como se pode constatar" esta de8inição 8a( uso de di8erentes verbos" o ;ue
não 8acilita a nossa tare8a6 as não nos enredemos em in8rutí8eros 5ogos de
palavras o ;ue : reparar restaurar reabilitar etc6K6 ' ;ue realmente nos
interessa : perceber em ;ue consiste" materialmente" a dimensão reparadora
36 +mbora 3a5a ;ue recon3ecer ;ue" nos termos do artigo _6V da Directiva e doartigo 06V do <J<DAK" as medidas de prevenção apenas são devidas ;uando 5= 3a5auma ameaça iminente de danos ambientais" o ;ue permite ;uestionar severdadeiramente têm ou não uma nature(a preventiva6 Regundo L.DI) @<€+<"HDirective 011-/U commits a W...X mis8selling3 b9 mentioning as reventive measuresonl9 those that intend to have an imminent threat? of damage revented Article UI.:n continental Euroean la>3 this situation is not normall9 seen as reventive action3 but
as an action to eliminate an existingI imairment 6 C8r6 *3e Directive $%%02[_ onenvironmental liabilitG M use8ul" publicado nestas Actas637 Rublin3ados nossos6
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do regime de responsabilidade ambiental em apreço[!6 +" com esse 8ito"
devemos recorrer ao Ane7o II da Directiva[#6
+ste Ane7o começa" desde logo" por distinguir entre a 8orma de reparaçãodos danos 9 =gua e 9 biodiversidade e a 8orma de reparação dos danos ao
solo6 as não : este aspecto ;ue" para 5=" mais nos preocupa6 Concentremos"
então" a nossa atenção nas di8erentes modalidades de reparação dos danos
9 =gua e 9 biodiversidade" ;ue são três, prim=ria" complementar e
compensat4ria6
Por reparação prim=ria entende-se H;ual;uer medida de reparação ;ue
restitui os recursos naturais e2ou os serviços dani8icados ao estado inicial" ou osapro7ima desse estado6 Por reparação complementar entende-se H;ual;uer
medida de reparação tomada em relação aos recursos naturais e2ou serviços
para compensar pelo 8acto de a reparação prim=ria não resultar no pleno
restabelecimento dos recursos naturais e2ou serviços dani8icados6 Por
reparação compensat4ria entende-se H;ual;uer acção destinada a
compensar perdas transit4rias de recursos naturais e2ou de serviços veri8icadas
a partir da data de ocorrência dos danos at: a reparação prim=ria ter
atingido plenamente os seus e8eitos6
' primeiro coment=rio ;ue temos a 8a(er ;uanto a estes conceitos : de
índole essencialmente terminol4gica6 O ;ue a c3amada reparação
complementar tem" não obstante esse nome" uma nature(a compensat4ria6
Donde" embora s4 uma assuma 8ormalmente a designação" temos na
verdade duas modalidades de reparação compensat4ria6 Nue não se
con8undem" pois visam compensar coisas di8erentes6
.ma M a reparação complementar M visa compensar a parcela do dano
;ue não se consegue recuperar" isto :" os recursos e2ou serviços ;ue não 8or
possível restituir" a título de8initivo" ao seu estado inicial são contrabalançados
38 Robre o conteEdo da reparação" nos termos previstos pela Directiva" c8r6 J+RR J'<DA&' F<A)A" La responsabilidad por daos ambientales en el derec3o de la .ni4n+uropeia, an=lisis de la Directiva $%%02[_2C+" de $ de Abril" sobre responsabilidadmedioambiental" in %evista AranBadi de Derecho Ambiental3 )<mero 3 Estudios sobre
la Directiva 011-/U/CE de %esonsabilidad or DaYos Ambientales 9 su :ncidencia enel Ordenamiento EsaYol" &avarra" $%%_" pp6 0 e ss6639 'u ao correspondente Ane7o do <J<DA6
1!#
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Actas do Colóquio – A responsabilidade Civil por dano ambiental
mediante alternativas substancialmente e;uivalentes6 'utra M a reparação
compensat4ria propriamente dita M visa compensar os danos intercalares ou
transit4rios" colmatando a perda provis4ria de recursos e2ou serviços en;uanto
se aguarda a sua recuperação isto :" en;uanto as medidas de reparação
prim=ria ou complementar não tiverem produ(ido e8eitoK6
Re5a como 8or" o ;ue ;ueremos p`r em evidência : ;ue" em ;ual;uer uma
das três modalidades de reparação previstas no Ane7o II" est= em causa uma
reparação in natura e não por e;uivalente pecuni=rioK0%6 &o caso da
reparação compensat4ria" ali=s" isso : dito e7pressamente06 &os demais casos"
embora não 3a5a menção e7pressa0$" percebe-se" pelo tipo de medidas em
causa" ;ue tamb:m assim :6
De 8acto" lendo com atenção o re8erido Ane7o II torna-se claro ;ue o
ob5ectivo da reparação ambiental consiste na reposição do estado ecol4gico
anterior ao dano ou" subsidiariamente" na obtenção de um estado ecol4gico
de nível pelo menos e;uivalente6 Do ;ue se trata : de recuperar os
ecossistemas perdidos" regenerando-os ou substituindo-os por outros
semel3antes6 esmo ;uando no ponto 6$6[6 se prevê a valoração monet=ria
do dano" não : para e8eitos de c=lculo de uma indemni(ação" mas apenas
como m:todo de comparação para Hdeterminar a e7tensão das medidas de
reparação complementares e compensat4rias necess=rias6 &ão 3=" portanto"
lugar ao pagamento de indemni(aç>es" mas antes 9 restauração natural dos
componentes ambientais a8ectados0[ M isto :" uma reconstituição do status
40 Como" de resto" se prevê M embora como regra e não de 8orma e7clusiva M noartigo 0!6V da LA e mesmo no artigo _//6V" n6V do C4digo Civil6
41 C8r6 ponto 66[6 do Ane7o II da Directiva e do correspondente Ane7o do
<J<DAK642 &ão se compreendendo muito bem por ;ue : ;ue s4 em relação 9 reparação
compensat4ria : ;ue a Directiva teve a preocupação de a8astar e7pressamente opagamento de montantes pecuni=rios e não 8e( o mesmo ;uanto 9s restantesmodalidades de reparação6 *alve( por;ue se ten3a considerado ;ue os danosintercalares ou transit4rios são" em teoria" mais propícios a uma compensação8inanceira6 as isso não signi8ica ;ue" em relação a danos de8initivos ou irreversíveis"não 3a5a tamb:m esse risco6 Pelo ;ue" pretendendo o legislador comunit=rio ;ue osdanos ambientais se5am sempre ob5ecto de uma restauração natural" teria sidopre8erível M em termos de clare(a e certe(a 5urídica M ;ue o tivesse dito de 8ormae7plícita em relação 9s três modalidades de reparação instituídas pelo Ane7o II6
43 Robre a restauração natural" c8r6" 9 lu( do regime anterior ao <J<DA" J'RO D+ R'.RA
C.&AL R+&DI" %esonsabilidade Civil or Danos Ecol&gicos da reara!"o do danoatrav(s da restaura!"o natural" cit6" pp6 _[ e ss6 e" 9 lu( do <J<DA" +L'YRA 'LI+I<A" Arestauração natural no novo <egime Jurídico de <esponsabilidade Civil por Danos
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6uo ante ou" ;uando 2 en;uanto tal não 8or possível" uma compensação in
natura6
+sta conclusão não resulta apenas do Ane7o II" mas tamb:m dosconsiderandos e 0 e do artigo [6V" n6V [ da Directiva, Ha presente directiva
não con8ere aos particulares o direito a compensação na se;uência de danos
ambientais ou de ameaça iminente desses danos6 Pelo ;ue" de8initivamente"
no modelo de responsabilidade ambiental gi(ado pela Directiva n6V
$%%02[_2C+ a reparação dos danos não passa pela atribuição de
indemni(aç>es006
' ;ue" de resto" se prende tamb:m com o tipo de danos ;ue estão emcausa, tratando-se de danos ecol4gicos puros e não de danos individuais" não
8a( sentido a e7istência de indemni(aç>es M ;ue" ali=s" a e7istirem" colocariam
depois graves problemas ;uanto 9 sua repartição ou utili(ação0_6
C3egados a este ponto" todavia" somos con8rontados com um dilema6 '
en8o;ue na prevenção" por um lado" e o a8astamento de pretens>es
indemni(at4rias" por outro" levam-nos ;uestionar se ainda estamos perante um
sistema de responsabilidade rorio sensu ou se não estaremos antes peranteum regime 5urídico ob5ectivo de combate aos danos ambientais6 &as palavras
de L.DI) @<€+<" HDirective 011-/U has the >ord environmental liabilit9? in its
title. Ho>ever3 a right of comensation of rivate arties is exressl9 excluded.
Thus3 the >ords environmental liabilit9? could >ell have been excluded from
the Directives title and it is no secret that the9 >ere onl9 re8inserted there for
ublicit9 reasons' a legislation on environmental liabilit9 >as thought to be
much more interesting to the ublic than legislation on revention and
remed9ing of environmental damage0/6
A posição mais acertada" a nosso ver" : a de considerar ;ue a Directiva
instituiu um sistema de responsabilidade ambiental sui generis" cu5a pedra de
Ambientais" publicado nestas Actas644 A Directiva e7clui a atribuição de indemni(aç>es aos particulares a8ectados pelo
dano ambiental" mas nada di( ;uanto ao eventual pagamento de pr:mios ourecompensas a ;uem denuncie uma situação de calamidade ecol4gica6
45 Problemas semel3antes aos ;ue resultam do artigo $$6V da LAP646 L.DI) @<€+<" *3e Directive $%%02[_ on environmental liabilitG M use8ul"publicado nestas Actas6
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Actas do Colóquio – A responsabilidade Civil por dano ambiental
to;ue não est= na compensação de algu:m ;ue 8oi lesado" mas sim no 8acto
de os operadores de instalaç>es poluentes estarem obrigados por lei a
adoptar medidas positivas de prevenção e2ou reparação de danos ao
ambiente6 aver= ;uem diga ;ue não se trata de verdadeira e pr4pria
responsabilidade6 +" seguramente" ao abrigo dos cQnones tradicionais da
responsabilidade civil não o ser=6 as : ainda uma 8orma de
responsabili(ação pelo estado do ambiente6
&o entanto" ser= ;ue as coisas se passam da mesma 8orma no Qmbito do
<J<DA <elativamente ao Capítulo III" a resposta : a8irmativa6 ' regime aí
previsto assenta" 5ustamente" na imposição de um con5unto de medidas de
prevenção01 e de reparação0!" visando estas Eltimas a reconstituição natural
dos componentes ambientais lesados6 J= ;uanto ao Capítulo II" a realidade :
bem di8erente6 Aí" não s4 não 3= ;ual;uer re8erência 9 prevenção de danos"
como se admite e7pressamente ;ue o seu ressarcimento possa assumir a
8orma de uma indemni(ação6
De 8acto" o artigo %6V" n6V do <J<DA re8ere-se" em p: de igualdade" 9
reparação ou indemni(ação dos danos6 +" de 8orma mais e7pressiva" o
preQmbulo a8irma ;ue Hos operadores-poluidores 8icam obrigados a
indemni(ar os indivíduos lesados" tendo estes Hdireitos indemni(at4rios6
O certo ;ue uma indemni(ação não e;uivale necessariamente a um
pagamento em din3eiro6 Indemni(ar ou 8icar indemne signi8ica p`r cobro a um
pre5uí(o ;ue se causou" 8icando assim satis8eito ou cumprido o dever ;ue se
tem para com o lesado6 + isso pode ser 8eito de mEltiplas 8ormas" de ;ue
apenas uma consiste na entrega de certa ;uantia monet=ria6 De todo o
modo" ao utili(ar a e7pressão indemni(ação" sem 8a(er ;ual;uer ressalva" o
<J<DA est= implicitamente a admitir ;ue" entre outras alternativas" a
reparação do dano possa ser e8ectuada por e;uivalente pecuni=rio6
erdadeiramente decisivo : o 8acto de o Ane7o do <J<DA" ;ue de8ine as
medidas de reparação" não produ(ir e8eitos ;uanto ao Capítulo II6 Logo" os
condicionamentos ;ue resultam desse Ane7o M designadamente ;uanto 9
47 d6 artigo 06V do <J<DA648 d6 artigos _6V e /6V do <J<DA6
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proibição de compensaç>es 8inanceiras M não têm a;ui aplicação6 ' ;ue"
5untamente com os trec3os sura citados ;ue se re8erem a uma relação
indemni(at4riaK e com o 8acto de estarem em causa danos pessoais ou
patrimoniais" permite concluir ;ue todas as 8ormas de ressarcimento estão" em
princípio" disponíveis6 Assim" embora o artigo 0!6V da Lei de ases do Ambiente
mani8este uma pre8erência pela restauração natural" não 8icam e7cluídas
outras modalidades de reparação" maxime o pagamento de uma
indemni(ação compensat4ria6 Pelo ;ue" não sendo possível a reconstituição
in natura" não sendo esta do interesse do2s lesado2s ou revelando-se a mesma
e7cessivamente onerosa" 8ica o poluidor obrigado a desembolsar uma ;uantia
de valor e;uivalente ao dano por si causado6
+m conclusão" tamb:m ;uanto aos e8eitos da responsabilidade ambiental
o <J<DA consagrou dois modelos paralelos6 Por um lado" temos um modelo de
responsabilidade com uma e8ic=cia essencialmente preventiva e" ;uando tal
não resulte" reconstitutiva do meio-ambiente lesado6 Por outro lado" temos um
modelo de responsabilidade com uma e8ic=cia ressarcit4ria eventualmente
em termos 8inanceiros" se 8or esse o casoK do2s su5eito2s a8ectados2s pela
poluição6
E.5. 'ature>a urídico-!Vlica 4 urídico-!ri/ada
Como se não bastasse a dualidade ;uanto ao tipo de danos abrangidos ou
;uanto ao tipo de obrigaç>es geradas" podemos ainda detectar no regime
5urídico em apreço uma outra 8onte de dualidade, ;uanto 9 ambiência de
direito pEblico ou de direito privado ;ue caracteri(a cada um dos modelos de
responsabilidade ambiental em presença6 De 8acto" na Directiva e no Capítulo
III do <J<DA encontramos um regime com características 5urídico-pEblicas0#6 &o
Capítulo II do <J<DA" pelo contr=rio" encontramos um regime tipicamente
49 &este sentido" ;uanto 9 Directiva" c8r6 L.CAR +<)@AP" *3e Proposed +nvironmentalLiabilitG Directive" in Euroean Environmental #a> %evie>" December $%%$" olume "number $" pp6 [$# e ss66
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Actas do Colóquio – A responsabilidade Civil por dano ambiental
privatista_%6 +sta di8erença pode ser ilustrada" muito sucintamente" atrav:s de
três e7emplos6
' primeiro e7emplo est= relacionado com o papel das autoridadesadministrativas ou" mel3or di(endo" com o relevo ;ue : dado pela Directiva e
pelo Capítulo III do <J<DA 9 actuação das entidades pEblicas M ;ue não :
pr4prio dos regimes civilistas de responsabilidade civil" nos ;uais se estabelece
uma relação entre lesante e lesado tout court6
Com e8eito" ao longo do Capítulo III do <J<DA encontramos diversas menç>es
9 actuação da Agência Portuguesa para o Ambiente APAK_6 &os termos do
artigo 06V" n6V _" compete 9 APA e7igir ao operador ;ue 8orneça todas asin8ormaç>es relevantes e ;ue adopte as medidas de prevenção ade;uadas"
bem como" se necess=rio 8or" e7ecutar subsidiariamente e a e7pensas do
operador as medidas de prevenção necess=rias6 &os termos do artigo _V" n6V
[" compete-l3e e7igir ou recol3er directamente in8ormaç>es suplementares"
p`r em marc3a todas as medidas vi=veis para imediatamente controlar"
conter" eliminar ou de outra 8orma gerir os elementos contaminantes
pertinentes" e7igir ao operador ;ue adopte as medidas de reparação
ade;uadas" bem como" se necess=rio 8or" e7ecutar subsidiariamente e a
e7pensas do operador as medidas de reparação necess=rias _$6 Por 8im" no
50 &ão no sentido de di(er respeito apenas a entidades privadas ou de apenasabranger a responsabilidade por actos de gestão privada" pois" como bem nota ARC' P+<+I<A DA RILA c8r6 entos de udança no Direito do Ambiente M A responsabilidadecivil ambiental" cit6" p6 !K" o <J<DA Hapresenta" entre outras" a vantagem da perdade relevQncia da distinção entre actos ditos de gestão pEblica e de gestão privadaneste domínio xhy" em ra(ão do tratamento uni8orme da responsabilidade civilambiental" independentemente da nature(a pEblica ou privadaK do autor do dano6
Assim" ;uando nos re8erimos a um regime tipicamente privatista" a ideia ;ue
;ueremos transmitir : ;ue se trata de um regime ;ue não envolve o e7ercício decompetências de ordem pEblica e em ;ue não se vislumbra o e7ercício de ;uais;uerprerrogativas especiais ou poderes de autoridade" nem tão pouco se mani8estam;uais;uer e7igências ou restriç>es de interesse pEblico6 Acresce ainda ;ue" nassituaç>es em apreço" o bem 5urídico lesado M cu5a ressarcibilidade se pretendeassegurar M não : um bem pEblico a 8ruição colectiva do meio-ambienteK" mas antesum bem privado certos direitos de personalidade e2ou a propriedade privadaK6 Por8im" as soluç>es 5urídicas constantes do Capítulo II do <J<DA têm como matri( e"embora com especi8icidades" são claramente inspiradas no regime dos artigos 0![6V ess6 do C4digo Civil6 O neste sentido ;ue a8irmamos M como" de resto" se ir= demonstrarno te7to M ;ue estamos perante um regime tipicamente privatista6
51 Nue :" nos termos do artigo $#6V do <J<DA" a autoridade competente para
e8eitos da aplicação deste diploma652 Robre a determinação administrativa da adopção de medidas de reparação"c8r6" com bastante desenvolvimento" <.I *AA<+R LA&C+I<'" As medidas de reparação de
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artigo 16V prevêem-se algumas 3ip4teses de actuação directa da APA para
os casos em ;ue o operador incumpra as obrigaç>es a ;ue est= vinculado"
em ;ue não se5a possível identi8icar o operador respons=vel ou em ;ue o
operador não se5a obrigado a suportar os custos da prevenção e2ou
reparação dos danos ambientais_[6
Logo" o ;ue est= em causa não : apenas e s4 uma ;uestão de
responsabilidade do poluidor6 ais do ;ue isso" o Capítulo III do <J<DA visa
concreti(ar e operacionali(ar a obrigação constitucional ;ue o +stado tem de
proteger o ambiente6
&o Capítulo II do <J<DA" por:m" não se prevê a intervenção de ;ual;uer
entidade administrativa_06 's artigos 16V a %6V re8erem-se e7clusivamente a uma
relação obrigacional entre o autor do dano e a respectiva vítima" nos termos
da ;ual H;uem xhy o8ender direitos ou interesses al3eios por via da lesão de
um ;ual;uer componente ambiental 8ica obrigado a reparar os danos
resultantes dessa o8ensa6 A APA não pode" neste domínio" determinar ;uais as
medidas de reparação a adoptar" impor o cumprimento de certas e7igências
ou M menos ainda M substituir-se ao agente na remoção do dano6 At: por;ue
os interesses a8ectados são pessoais e encontram-se na disponibilidade dosrespectivos titulares" pelo ;ue s4 aos pr4prios cabe decidir se e em ;ue termos
os pretendem de8ender6
' segundo e7emplo depreende-se dos n6Vs e [ do artigo $%6V do <J<DA6
+stas normas re8erem-se a um con5unto de situaç>es em ;ue" embora a
actividade do operador ten3a originado um dano ambiental" esse dano não
l3e deve ser imputado por;ue" ou 8oi causado por terceiros" ou resultou do
cumprimento de uma ordem ou instrução emanadas de uma autoridade
pEblica" ou surgiu por e8eito de emiss>es devidamente legitimadas ao abrigo
danos ambientais no Qmbito do regime 5urídico da responsabilidade por danosambientais M um estudo da componente procedimental" publicado nestas Actas6
53 Robre esta Eltima 3ip4tese" vd6 o ;ue diremos infra" na nota _#654 A menos M claro est= M ;ue o pr4prio poluidor ou o su5eito a8ectado pela poluição
se5am uma entidade administrativa6 as nesse caso tal entidade intervir=" não na sua;ualidade de autoridade pEblica" mas en;uanto su5eito activo ou passivoK de umdever de reparação do dano6 Por outras palavras" mesmo nos casos em ;ue o dano :causado ou so8rido por um organismo pEblico" este 8ica su5eito e7actamente 9s
mesmas regras ;ue os particulares entre si" considerando-se" para todos os e8eitos" ;ueactuou sem ius imerii ou" como tamb:m se usa di(er" despido das suas vestes deautoridade6
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Actas do Colóquio – A responsabilidade Civil por dano ambiental
de um acto autori(ativo" ou decorreu de uma pr=tica ;ue" 9 lu( dos
con3ecimentos t:cnico-cientí8icos e7istentes 9 data da sua reali(ação" não
era considerada susceptível de causar danos ambientais trata-se" neste Eltimo
caso" dos c3amados riscos de desenvolvimentoK6 'ra" em todas estas
situaç>es M independentemente da sua bondade e das mEltiplas ;uest>es
5urídicas ;ue a seu prop4sito se levantam__ M o operador deve levar a cabo as
medidas de prevenção e2ou reparação ;ue se revelem necess=rias_/" embora
não ten3a ;ue assumir os respectivos custos6
eri8ica-se" pois" uma desagregação entre a obrigação de e7ecutar as
medidas de prevenção e2ou reparação e a obrigação de arcar com os
respectivos encargos_16 ' ;ue permite concluir ;ue essas obrigaç>es de
55 ' artigo $%6V :" porventura" o artigo dogmaticamente mais rico e maisproblem=tico de todo o <J<DA6 A sua an=lise detal3ada não cabe no presente artigo"cu5a ambição : bastante mais modesta6 as não temos ;uais;uer dEvidas de ;ue"pelo menos" ;uest>es como a da não responsabili(ação pelos riscos dedesenvolvimento e a do e8eito legali(ador ou preclusivo dos actos autori(ativos sobreeste Eltimo tema" c8r6 as estimulantes re8le7>es de )'+R CA&'*IL' em Actosautori(ativos 5urídico-pEblicos e responsabilidade por danos ambientais" in ;oletim daFaculdade de Direito da niversidade de Coimbra " ##[" pp6 e ss6K contêm umenorme potencial como campos de investigação e apro8undamento 5us-cientí8ico6
56 Nuanto ao artigo $%6V" n6V " : claramente assim" por 8orça do n6V $ do mesmo
preceito ;uanto ao artigo $%6V" n6V [" estran3amente" nada se di(" mas deve entender-se ;ue tamb:m assim :6
57 A alínea cK do n6V do artigo 16V do <J<DA" contudo" parece indicar em sentidocontr=rio6 Prevê-se aí ;ue a APA pode" em Eltimo recurso" e7ecutar ela pr4pria asmedidas de prevenção e reparação ;uando o operador não se5a obrigado a suportaros respectivos custos como acontece nas situaç>es do artigo $%6VK6 ' ;ue d= aentender ;ue" não 3avendo o dever de pagar as medidas de prevenção e2oureparação" tamb:m não 3= o dever de as e7ecutar" 8icando essa tare8a a cargo daAPA6
&o entanto" cremos ;ue não : assim6 Antes de mais" por;ue o artigo 16Vre8ere-se a uma actuação da APA Hem Eltimo recurso" isto :" a título subsidi=rio"dei7ando subentendido ;ue a responsabilidade primeira pela e7ecução das medidas
de prevenção e reparação compete aos operadores6 Depois" por;ue o artigo $%6V" n6V$ disp>e muito claramente ;ue nas situaç>es em apreço" mesmo veri8icando-se umae7clusão da obrigação de pagamento" Ho operador 8ica obrigado a adoptar ee7ecutar as medidas de prevenção e reparação dos danos ambientais6 Para al:mdisso" a pr4pria Directiva prevê" no Eltimo par=gra8o do seu artigo !6V" n6V [" ;ue Hos+stados-embros devem tomar as medidas ade;uadas para permitir ao operadorrecuperar os custos incorridos" o ;ue signi8ica ;ue deve ser e8ectivamente o operadora concreti(ar as necess=rias medidas de prevenção e2ou reparação" ainda ;uedepois ven3a a ser ressarcido dos gastos ;ue assumiu6 Por 8im" deve ter-se presente;ue o legislador nacional não 8oi particularmente 8eli( na redacção do artigo 16V" o;ual padece de de8iciências v=rias como acontece" por e7emplo" ;uanto ao seu n6V[" onde se prevê ;ue a APA recupere em regresso o custo das medidas de prevenção
e2ou reparação por si adoptadas" o ;ue" relativamente 9s alíneas bK e cK do n6V " não8a( ;ual;uer sentido" uma ve( ;ue se trata de casos em ;ue" ou não : possívelidenti8icar o operador respons=vel" ou o operador não : obrigado a suportar os
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prevenção e reparação não resultam directa ou e7clusivamente de um
vínculo de responsabilidade civil" 5= ;ue podem incidir sobre ;uem" a8inal de
contas" não deve responder pelo dano ocorrido6
'ra" num regime estritamente civilista M como a;uele ;ue consta do
Capítulo II do <J<DA M s4 est= obrigado a reparar o dano ;uem se5a
respons=vel sub5ectiva ou ob5ectivamenteK pelo mesmo6 Apenas num
conte7to de direito pEblico M como a;uele ;ue caracteri(a o Capítulo III do
<J<DA M : ;ue 8a( sentido e se consegue compreender ;ue algu:m ;ue não :
responsabili(=vel por um dano possa" ainda assim" estar obrigado a preveni-lo
ou a repar=-lo6
Por 8im" o terceiro e7emplo prende-se com a relevQncia contra-
ordenacional do incumprimento das obrigaç>es decorrentes do Capítulo III6 Re
um determinado operador não adoptar as medidas de prevenção e2ou
reparação ;ue l3e ten3am sido e7igidas pela APA" se não in8ormar
imediatamente a APA da e7istência de um dano ambiental ou se incorrer em
;ual;uer uma das outras 8altas ;uali8icadas pelo artigo $/6V do <J<DA como
contra-ordenaç>es leves" graves e muito gravesK" esse operador su5eita-se ao
pagamento de uma coima e ainda" dependendo dos casos" 9 aplicação de
uma sanção acess4ria nos termos previstos na Lei-Nuadro das Contra-
'rdenaç>es Ambientais_!6
'ra" o mero 8acto de e7istir no <J<DA um regime contra-ordenacional
constitui um e7celente indício de ;ue estamos perante um regime de direito
pEblico ;ue 8a( impender certas obrigaç>es sobre os particulares" os ;uais as
têm de acatar" sob pena de sanç>es administrativasK" e não meramente
perante um regime privatista de responsabilidade civil em ;ue a tutela
contra-ordenacional não 8a( ;ual;uer sentidoK6
Raliente-se" por:m" ;ue os ilícitos contra-ordenacionais previstos no <J<DA
estão todos relacionados com o incumprimento de obrigaç>es decorrentes do
Capítulo III" sendo completamente al3eios ao es;uema de responsabilidade
civil regulado no Capítulo II6 ' ;ue" mais uma ve(" vem demonstrar ;ue no
custosK" devendo" portanto" sempre ;ue necess=rio" ser ob5ecto de uma interpretaçãocon8orme 9 Directiva e ao espírito global do <J<DA658 Lei n6V _%2$%%/" de $# de Agosto6
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diploma em apreço e7istem dois sistemas aut4nomos de responsabilidade
ambiental" os ;uais se pautam por regras bem distintas6
+stamos assim em condiç>es de concluir ;ue" no caso da Directiva e doCapítulo III do <J<DA" o ;ue est= em causa : um regime de responsabilidade
de nature(a 5urídico-pEblica M ;ue imp>e aos operadores" sob pena de
contra-ordenaç>es" um con5unto de deveres de prevenção e reparação de
danos ambientais ;ue vincula os operadores a prevenirem e repararem os
danos ambientais independentemente de estarem ou não obrigados a
suportar os respectivos encargos e ;ue atribui 9s autoridades pEblicas um
e7tenso le;ue de poderes para a determinação das medidas de prevenção
e2ou reparação ;ue" em cada caso" devem ser levadas a cabo e at:"
eventualmente" para a sua e7ecução a título subsidi=rioK6 J= no caso do
Capítulo II do <J<DA" o ;ue est= em causa : tão-somente uma relação civilista
entre um lesante e um lesado" nos termos da ;ual o primeiro 8ica obrigado a
ressarcir o segundo pela lesão ;ue l3e in8ligiu6
Foi esta di8erença 8undamental ;ue o legislador procurou sinteti(ar atrav:s
das epígra8es Hresponsabilidade civil Capítulo IIK e Hresponsabilidade
administrativa Capítulo IIIK" ainda ;ue de 8orma não totalmente 8eli(_#6
Desde logo" a mera contraposição entre as duas epígra8es : enganadora"
dando a entender ;ue no Capítulo III do <J<DA não est= em causa uma
8orma de responsabilidade civil" o ;ue : 8also6 ' conceito de responsabilidade
civil tem a ver" não com o ramo de direito ;ue de8ine a sua disciplina 5urídica /%"
mas com o tipo de conse;uências ;ue gera6 Assim" responsabilidade civil
op>e-se 9 responsabilidade penal" 9 responsabilidade disciplinar" etc66 'ra"
não obstante as muitas di8erenças ;ue 5= encontr=mos entre os Capítulos II e III
do <J<DA" : indiscutível ;ue ambos consagram modalidades distintasK de
responsabilidade civil6
59 O por isso ;ue" ao longo do presente te7to" temos vindo a evitar a utili(ação dasre8eridas epígra8es" antes pre8erindo identi8icar os dois capítulos do <J<DA emcon8ronto M e" conse;uentemente" os dois modelos de responsabilidade ambiental aíprevistos M pela sua e7pressão num:rica6
60 *anto assim : ;ue o instituto da responsabilidade civil e7tra-contratual do +stado
e demais entidades pEblicas tem o seu regime traçado num diploma de DireitoAdministrativo M a Lei n6V /12$%%1" de [ de De(embro M e nem por isso dei7a de ser ume7emplo de responsabilidade civil6
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Para al:m disso" a re8erência a uma Hresponsabilidade administrativa :" em si
mesma" e;uívoca/ e pode indu(ir o int:rprete em erro6 Poder= 5ulgar-se ;ue o
Capítulo III apenas di( respeito 9 responsabilidade ambiental das entidades
administrativas" ;uando mani8estamente assim não :6 'u poder= entender-se
;ue o Capítulo III visa regular a responsabilidade por danos ambientais
derivados da prossecução do interesse pEblico" cometidos no e7ercício da
8unção administrativa" provocados por actuaç>es de gestão pEblica ou
gerados no seio de relaç>es 5urídico-administrativas" sendo ;ue nen3uma
destas 3ip4teses corresponde 9 verdade6
+m suma" o Capítulo II do <J<DA consagra um mecanismo de
responsabilidade civil por danos ambientais ;ue se inspira no modelo dos
artigos 0![6V e ss6 do C4digo Civil e o Capítulo III do <J<DA consagra um
mecanismo de responsabilidade civil e não administrativaK por danos
ambientais" ;ue : M isso sim M regulado por normas de Direito Administrativo6
E.3. 'ature>a suecti/a 4 oecti/a
Nuanto 9 des2necessidade de culpa" a responsabilidade ambiental pode ter
uma nature(a sub5ectiva ou ob5ectiva6 &o primeiro caso" o agente apenas
responde pelos danos a ;ue deu origem se tiver actuado com dolo ou
negligência6 &o segundo caso" o agente responde pelos danos a ;ue deu
origem" ainda ;ue ten3a actuado rigorosamente de acordo com o nível de
(elo e de diligência ;ue l3e era e7igível/$6
'ra" ;uer a Directiva" ;uer o <J<DA consagram estas duas modalidades deresponsabilidade ambiental6 Pelo ;ue" tamb:m sob este prisma" nos
encontramos perante um regime biunívoco ou dicot4mico" ;ue não de8ine um
61 &este sentido" CA<LA AAD' )'+R" A <esponsabilidade Civil por Dano +col4gico M<e8le7>es preliminares sobre o novo regime instituído pelo DL 012$%%!" de $# de Jul3o"cit6" pp6 $/! e ss66
62 &este caso" o dano : imputado ao agente" não por;ue este ten3a tido ;ual;uerculpa na sua produção ou agravamento" mas por;ue a actividade por eledesempen3ada : particularmente perigosa e" como tal" entende-se ;ue ;uem tirapartido dessa actividade deve tamb:m assumir as respectivas conse;uências
responsabilidade pelo riscoK ou por;ue a actividade por ele desempen3ada" emboralícita" sacri8ica de modo especial e anormal determinados su5eitos" os ;uais" portanto"merecem uma compensação responsabilidade pelo sacri8ícioK6
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Actas do Colóquio – A responsabilidade Civil por dano ambiental
modelo uni8orme de responsabilidade" antes admite duas vias distintas de
imputação das o8ensas ambientais, uma imputação sub5ectiva" ;ue obriga
;uem ten3a culposamente provocado um dano a repar=-lo e uma
imputação ob5ectiva" ;ue obriga certos operadores" independentemente de
terem ou não terem tido culpa na ocorrência do dano" a repar=-lo6
De todo o modo" não nos iremos alongar demasiado na apreciação de
mais esta 8onte de dualidade" visto ;ue" não s4 ela se encontra assumida de
8orma muito clara e not4ria nos te7tos legais em e7ame" não suscitando
particulares dEvidas interpretativas ou divergências 3ermenêuticas" como a
dualidade em ;uestão não obedece aos mesmos crit:rios ;ue norteiam as
divis>es sura analisadas6
De 8acto" o ;ue est= em causa na distinção entre responsabilidade
sub5ectiva e ob5ectiva não : o con8ronto entre um modelo 5us-publicista de
prevenção e reparação de danos ecol4gicos e um modelo 5us-privatista de
ressarcimento de danos pessoais ou patrimoniais ocorridos por via da
contaminação do ambienteK6 ' ei7o de di8erenciação a;ui : outro" ;ue nada
tem a ver com a;uele ;ue sub5a( 9 separação entre o Capítulo II e o Capítulo
III do <J<DA/[6 At: por;ue" como iremos veri8icar" em ambos os capítulos se
prevê a e7istência de responsabilidade tanto ob5ectiva" como sub5ectiva/06
A responsabilidade ob5ectiva isto :" ;ue dispensa o re;uisito da culpaK est=
prevista" ;uanto ao Capítulo II" no artigo 16V e" ;uanto ao Capítulo III" no artigo
$6V6 +stes dois preceitos remetem para o Ane7o III do <J<DA /_" onde est=
listado um con5unto de actividades ;ue se presumem perigosas //6 Rendo ;ue
;uem se dedicar a essas actividades deve responder pelos respectivos danos"
Hindependentemente da e7istência de dolo ou culpa6 A responsabilidade
ob5ectiva aplica-se" portanto" a todos os operadores de actividades listadas no
re8erido Ane7o III" os ;uais estão obrigados a prevenir eK reparar os danos
63 +mbora os dois se cru(em ou sobrepon3am" como resulta da an=lise con5ugadados artigos 16V" !6V" $6V e [6V do <J<DA6
64 ' ;ue 8unciona como mais um indício de ;ue o Capítulo II e o Capítulo IIIconsagram dois modelos per8eitamente aut4nomos de responsabilidade ambiental6Re assim não 8osse" não 3averia necessidade de repetir" em ambos" a previsão de
responsabilidade sub5ectiva e de responsabilidade ob5ectiva665 Nue" por sua ve(" transp>e o Ane7o III da Directiva666 +stamos" pois" perante um e7emplo de responsabilidade pelo risco6
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decorrentes dessas actividades" mesmo ;ue não ten3am tido ;ual;uer
comportamento censur=vel ou menos cuidadoso/16
A responsabilidade sub5ectiva isto :" ;ue e7ige o re;uisito da culpaK est=prevista" ;uanto ao Capítulo II" no artigo !6V e" ;uanto ao Capítulo III" no artigo
[6V6 +ste tipo de responsabilidade aplica-se a todos a;ueles ;ue se dedi;uem
a actividades não previstas no Ane7o III" os ;uais 8icam obrigados a prevenir
eK reparar os danos para os ;uais ten3am contribuído dolosa ou
negligentemente6 'u se5a" relativamente 9s actividades ;ue não constam do
Ane7o III leia-se, ;ue não são estruturalmente perigosasK" os respectivos
operadores s4 respondem pelos danos ocorridos desde ;ue esses danos
ten3am resultado de um comportamento censur=vel ou menos cuidadoso da
sua parte6
Ainda assim" este regime constitui um alargamento 8ace ao ;ue consta da
Directiva" 5= ;ue esta apenas prevê a responsabilidade sub5ectiva para os
danos 9 biodiversidade6 ' legislador nacional" contudo" não e8ectuou tal
restrição de Qmbito" pelo ;ue" no ordenamento 5urídico interno" a
responsabilidade sub5ectiva abrange tamb:m os danos 9 =gua e ao solo /!6 'u
se5a" em territ4rio português" ;ual;uer operador de uma actividade não
listada no Ane7o III/#K ;ue culposamente dani8i;ue a nature(a M entenda-se, as
esp:cies e os habitats naturais protegidos" a =gua ou o solo M est= obrigado a
reconstituir os bens ambientais por si lesados6
67 &ão est= previsto ;ual;uer tecto ou l imite m=7imo para os encargos ;ue" nesteQmbito" os operadores poderão vir a ter ;ue assumir6 De 8acto" ao contr=rio do ;ue :
tradicional em mat:ria de responsabilidade ob5ectiva e do ;ue est= previsto" pore7emplo" nos artigos _%!6V e _%6V do C4digo Civil" o legislador do <J<DA não de8iniuat: onde M rectius" at: ;uanto M : ;ue os operadores terão de responder por danosde ;ue não tiveram culpa6 'ra" esta omissão parece-nos critic=vel" 5= ;ue" para al:mda enorme incerte(a ;ue cria e do risco desmedido ;ue 8a( impender sobre osoperadores das actividades listadas no Ane7o III podendo at: constituir umdesincentivo ao e7ercício dessas actividades" dada a magnitude dos danosambientais com ;ue os respectivos operadores poderão vir a ter ;ue arcarK" di8iculta odesenvolvimento de um mercado s4lido e robusto de seguros de responsabilidadeambiental6
68 Ralientando este 8acto" c8r6 CA<LA AAD' )'+R" A <esponsabilidade Civil por Dano+col4gico M <e8le7>es preliminares sobre o novo regime instituído pelo DL 012$%%!" de
$# de Jul3o" cit6" p6 $_%669 J= ;ue os operadores de actividades listadas no Ane7o III responderiam sempre"ao abrigo da sua responsabilidade ob5ectiva6
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Actas do Colóquio – A responsabilidade Civil por dano ambiental
1. A!recia:;o crítica
A;ui c3egados" imp>e-se perguntar, ser= a solução descrita uma boasolução
Pela nossa parte" cremos ;ue sim6 +m ve( de optar por um modelo M mais
tradicional" civilista" relativo a danos pessoais e2ou patrimoniais M ou por outro M
mais moderno" publicista" relativo a danos ecol4gicos puros M" o legislador
consagrou ambos6 ' ;ue" mais do ;ue problem=tico" pode revelar-se virtuoso6
A verdade : ;ue uma lesão ambiental pode gerar di8erentes tipos de
danos" com características bem distintas entre si6 &ão : s4 a contaminação doambiente" são tamb:m os re8le7os ;ue essa contaminação tem sobre o bem-
estar e o patrim4nio de alguns indivíduos directamente atingidos6 +" se assim :"
8a( sentido ;ue a lei consagre di8erentes modalidades de responsabilidade
ambiental" adaptadas 9s especi8icidades de cada tipo de dano com a
vantagem de estarem ambas reguladas no mesmo instrumento 5urídico1%K6 +ssas
di8erentes modalidades são" a nosso ver" mutuamente complementares e
enri;uecem o ordenamento 5urídico-ambiental p=trio6
&esta medida" portanto" 5ulgamos ;ue a bipolaridade do <J<DA : Etil6 R4
assim poderemos alme5ar uma tutela completa e e7austiva do ambiente" em
todas as suas dimens>es na dimensão ob5ectiva" de salvaguarda dos bens
ambientais naturais e da sua 8ruição di8usa por toda a colectividade e na
dimensão sub5ectiva" de protecção das benesses ;ue cada um de n4s retira
directa e individualmente da nature(aK6 &o entanto" estamos bem conscientes
de ;ue nem toda a doutrina nos acompan3a neste veredicto1
6
' Enico problema ;ue pode derivar da previsão con5unta de dois modelos
de responsabilidade ambiental prende-se com alguma eventual
70 +vitando-se" assim" repetir a situação anterior ao <J<DA" em ;ue mEltiplosdiplomas" com distintos pontos de partida e Qngulos de abordagem muitodi8erenciados" se sobrepun3am sem um 8io condutor e sem ;ue" se;uer" aarrumação entre eles 8osse 8acilmente perceptível6
71 CA<LA AAD' )'+R" por e7emplo" considera ;ue o maior pecado do <J<DAconsiste na;uilo ;ue apelida de H8alsa bipolaridade da responsabilidade por dano
ambiental" c3egando mesmo a sugerir ;ue se ten3a por não escrito todo o Capítulo II6C8r6 De ;ue 8alamos ;uando 8alamos de dano ambiental Direito" mentiras e crítica"publicado nestas Actas6
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desarticulação entre os mesmos1$6 De 8acto" 3avendo dois regimes
di8erenciados" eles poderão con8lituar ou sobrepor-se6 +" neste particular"
temos de recon3ecer ;ue o legislador deveria ter posto mais cuidado na
con5ugação entre o Capítulo II e o Capítulo III do <J<DA6 Ao consagrar duas
vias distintas e aut4nomas de reparação de danos causados ao2por via do
ambiente" era-l3e e7igível ;ue de8inisse se são cumulativas ou não e" não o
sendo" ;ue clari8icasse em ;ue situaç>es deve ser mobili(ada uma ou outra6
'ra" neste domínio" o Enico dado normativo concreto de ;ue podemos
partir consiste na proibição legal da dupla cobrança de custos6 +sta : uma
ideia ;ue resulta" antes de mais" da pr4pria Directiva" encontrando-se
espel3ada no considerando $# e no artigo /6V" n6V $6 De acordo com este
Eltimo preceito" os +stados-embros podem proibir a dupla cobrança de
custos Hem resultado de acç>es concorrentes movidas pela entidade
competente nos termos da presente directiva e por uma pessoa cu5o
patrim4nio se5a a8ectado por danos ambientais6 'u se5a" na 3ip4tese de"
ocorrendo um dano ambiental" a autoridade nacional competente e7igir a
adopção de determinadas medidas de reparação da nature(a e"
simultaneamente" um ou mais indivíduos e7igirem ser ressarcidos pelos pre5uí(os;ue so8reram no seu patrim4nio" os +stados-embros deverão evitar ;ue o
lesante ten3a de responder duas ve(es pelo mesmo 8acto lesivo6
&o <J<DA" esta mat:ria encontra-se regulada no artigo %6V" n6V " segundo
o ;ual os lesados Hnão podem e7igir reparação nem indemni(ação pelos
danos ;ue invo;uem na medida em ;ue esses danos se5am reparados nos
termos do capítulo seguinte6 Isto :" sendo o dano ambiental ob5ecto de uma
reparação in natura" 5= não 3aver= lugar ao ressarcimento de eventuais danos
pessoais ou patrimoniais6 Da;ui parece resultar" aparentemente" uma
pre8erência pela via do Capítulo III6 ' ;ue 8aria com ;ue o Capítulo II 8osse"
então" meramente subsidi=rio6
72 +ste :" todavia" um problema ;ue sempre e7istiria6 Isto :" mesmo ;ue o <J<DA selimitasse M tal como 8a( a Directiva M a regular a responsabilidade pelos danos
ecol4gicos puros" subsistiria sempre o regime-regra da responsabilidade civil" ;uepoderia ser mobili(ado ;uanto aos danos pessoais ou patrimoniais e cu5a articulaçãocom o diploma de transposição da Directiva seria inevitavelmente problem=tica6
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Actas do Colóquio – A responsabilidade Civil por dano ambiental
&o entanto" ser= e7actamente assim O ;ue" por outro lado" os artigos $6V"
n6V $ e [6V" n6V $ do <J<DA estipulam ;ue a reparação do dano ambiental ao
abrigo do Capítulo III não pre5udica a responsabilidade a ;ue 3a5a lugar nos
termos do Capítulo II6 Para al:m disso" imp>e-se perguntar se estão em causa
danos verdadeiramente di8erentes ou apenas di8erentes Qngulos de um
mesmo dano6 Isto por;ue" se se tratar de danos completamente separados e
aut4nomos" então a pr4pria ideia de proibir a dupla reparação não parece
8a(er muito sentido6
+7postas as dEvidas" importa buscar a resposta6 + a resposta" a nosso ver"
passa por recon3ecer ;ue os dois tipos de danos ecol4gicos e pessoais ou
patrimoniaisK podem aparecer isoladamente1[ ou em con5unto6 Re aparecerem
isoladamente" não se colocam ;uais;uer problemas, cada um ser= tutelado
atrav:s do respectivo mecanismo de responsabilidade6 Re" todavia" os dois
tipos de danos surgirem de 8orma con5ugada" isto :" se ambos resultarem da
mesma conduta M como muitas ve(es suceder= M 5ulgamos ;ue o <J<DA
manda aplicar primacialmente as medidas de prevenção e2ou reparação do
Capítulo III6 + depois" consoante os casos" duas conse;uências se podem
veri8icar6
Re as medidas de prevenção e2ou reparação adoptadas permitirem
atal3ar simultaneamente" ;uer o dano ecol4gico" ;uer o dano individual" 5=
não 3aver= lugar a ;ual;uer ressarcimento por via do Capítulo II M : o ;ue
disp>e o artigo %6V" n6V do <J<DA6 Ao inv:s" se as medidas de prevenção
e2ou reparação adoptadas não permitirem p`r cobro" total ou parcialmente"
aos danos individuais" então actuar= a responsabilidade civil cl=ssica nos
termos do Capítulo II6
+ste : ;ue :" segundo cremos" o es;uema correcto de articulação entre os
dois modelos de responsabilidade ambiental em con8ronto no <J<DA6 +m bom
rigor" portanto" não se trata de uma subsidiariedade do Capítulo II 8ace ao
Capítulo III" mas antes de saber se os danos individuais 8icam ou não
totalmente acautelados por via das medidas de prevenção e2ou reparação
73 Pelo menos" parece claro ;ue os bens ambientais podem ser lesados sem ;ue
daí decorra" 8orçosamente" a ocorrência de danos individuais6 J= o inverso M lesão apessoas ou bens por e8eito de uma o8ensa ambiental sem ;ue o meio-ambienteresulte dani8icado M : mais duvidoso6
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decorrentes do Capítulo III6 Re 8icarem" não 3= ;ue recorrer ao mecanismo de
responsabilidade civil regulado no Capítulo II sob pena de duplicação da
cobrança de custos" ;ue tanto a Directiva como o <J<DA pretendem evitarK
se não 8icarem" então sim" pode o su5eito lesado lançar mão dos artigos 16V ou
!6V para ser ressarcido dos danos ;ue so8reu na sua pessoa ou bens6
&ão obstante" 8icam ainda por resolver" pelo menos" dois problemas6 .m
deles di( respeito aos danos ecol4gicosK não abrangidos pelo Capítulo III do
<J<DA" como : o caso dos danos 9 atmos8era6 ' outro consiste na 3ip4tese
de" ao contr=rio do cen=rio ;ue acima 8ormul=mos" a reparação dos danos
sub5ectivos por via do Capítulo II ser accionada antes da adopção das
medidas de reparação ao abrigo do Capítulo III6
&o primeiro caso" cremos ;ue a solução ter= de passar pelo recurso 9s
normas ;ue" antes do <J<DA" se aplicavam 9 responsabilidade ambiental 106
&ão obstante a imper8eição de muitas dessas normas" ;ual;uer outra resposta
condu(iria a um va(io legal" ;ue dei7aria a poluição atmos8:rica isenta de
responsabilidade M o ;ue não parece ser um resultado aceit=vel 9 lu( das
grandes coordenadas do nosso ordenamento 5us-ambiental6
&o segundo caso" temos ainda ;ue abrir duas sub-3ip4teses6 Re a
reparação dos danos sub5ectivos 8or alcançada atrav:s de uma
reconstituição natural do ecossistema perturbado" então os ob5ectivos do
Capítulo III 8icarão automaticamente satis8eitos6 as se assim não 8or" a APA
poder= sempre e7igir a adopção de medidas de reparação dos bens
ambientais a8ectados M não podendo o operador invocar a proibição de
dupla cobrança de custos para se 8urtar a e7ecutar as re8eridas medidas de
reparação6 'u se5a" a regra do artigo %6V" n6V do <J<DA não poder= nunca
servir para 5usti8icar ;ue o ambiente dei7e de ser restituído ao seu estado
inicial6 .ma tal interpretação seria mani8estamente contr=ria ao espírito do
<J<DA e gravemente atentat4ria do regime plasmado na Directiva6
+stas são" no entanto" apenas algumas pistas ;ue dei7amos para uma
re8le7ão 8utura6 A e7egese do <J<DA : uma tare8a ;ue est= longe de
74 Admitindo a invocação" ainda ;ue a título meramente subsidi=rio" do regimeregra da responsabilidade civil" c8r6 ARC' P+<+I<A DA RILA" entos de udança no Direitodo Ambiente M A responsabilidade civil ambiental" cit6" p6 !6
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Actas do Colóquio – A responsabilidade Civil por dano ambiental
terminada e ;ue" bem pelo contr=rio" tem a;ui somente o seu início6 Julgamos
ter contribuído para uma mais clara percepção da dupla nature(a 5urídica da
responsabilidade ambiental" 8actor ;ue dever= ser ponderado em ;ual;uer
avaliação do regime 5urídico instituído pelo Decreto-Lei n6V 012$%%!6 as não
temos" neste momento" a pretensão de ir mais longe ;ue isso6
T "3G0 34T5467
Assistente Convidado daFaculdade de Direito da .niversidade de Lisboa
oltar ao Yndice
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Instituto de Ciências Jurídico Políticas
D" QU" ALA#OS QUA'DO ALA#OS D" DA'O A#I"'TAL9
Direito< entiras e crítica
2. Consideraç>es iniciais
' DL 012$%%!" de $# de Jul3o" inscreveu no ordenamento 5urídico português o
regime de prevenção e reparação de danos ambientais6 Fê-lo na se;uência
da directiva [_2$%%02C+" do Parlamento +uropeu e do Consel3o" de $ de
Abril" ;ue vem 3armoni(ar as legislaç>es dos $1 +stados-membros em tema de
prevenção e reparação de dano ecol&gico6 As re8le7>es ;ue se seguem na
se;uência de uma primeira leitura ;ue 8i(emos" no conte7to das 5ornadas de
Direito do Ambiente, O 6ue hJ de novo no Direito do Ambiente promovidas
pelo ICJP da FDL" em 'utubro de $%%! $ evoluem desde uma crítica de
8undo" estrutural" ;ue se prende precisamente com o esartilhamento do
regime estabelecido no DL 012$%%! <P<D+K" para interrogaç>es mais
locali(adas" con5unturais" ;ue o diploma vai semeando6 A nossa intenção :
iluminar e neutrali(arK a perigosa bipolaridade do novo regime em I.K e
aproveitar o ense5o da escrita para retomar e apro8undar indagaç>es
anteriores" nomeadamente no ;ue tange ao Qmbito de aplicação do
diploma" nas dimens>es sub5ectiva" ob5ectiva e temporal em II.K6
I. ' maior pecado do <P<D+, a 8alsaK bipolaridade da responsabilidade por
dano ambiental
Como começou por apontar-se" o <P<D+ encontra a sua mais pr47ima 8iliação
na directiva comunit=ria de $%%06 +sta" por seu turno" inscreve-se na lin3a de
continuidade da Convenção de Lugano ##$K" ;ue nunca c3egou a entrar
em vigor por não ter merecido uma Enica rati8icação6 &esse instrumento
1 Com a alteração introdu(ida pelo DL $0_2$%%#" de $$ de Retembro" ;ue deu novaredacção 9 subalínea iiK da alínea eK do nV do artigo V e revogou o artigo #_V daLei _!2$%%_" de $# de De(embro" para o ;ual anteriormente se remetiaK6
2 Carla AAD' )'+R" A res!onsailidade ci/il !or dano ecol\=ico$ re&le@Wes!reliinares sore o no/o re=ie instituído !elo DL E34122< de 1 de Jul0o" in O 6ue
hJ de novo no Direito do Ambiente" Actas das Jornadas de Direito do Ambiente"Faculdade de Direito da .niversidade de Lisboa" _ de 'utubro de $%%!" org6 de CarlaAmado )omes e *iago Antunes" Lisboa" $%%#" pp6 $[_ segs6
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prevê-se claramente a autonomi(ação do dano ecol4gico" da lesão de bens
ambientais de er se3 destacando-se da lesão pessoal xc8r6 o artigo $21" cK[y6
*amb:m : essa" de resto" a tendência no Direito Internacional geral, ve5a-se
o Pro5ecto da Comissão de Direito Internacional da '&. sobre
%esonsabilidade internacional do Estado em caso de dano rovocado or
olui!"o transfronteiri!a decorrente de actividades erigosas $%%/K" cu5o
artigo $2aK" de8ine dano ambiental como, dano pessoal dano patrimonial e
dano a componentes ambientais6 + o Proecto sobre resonsabilidade
internacional dos Estados da mesma Comissão" na sua primeira versão" de
##/" contin3a uma norma sobre crimes internacionais ;ue integrava os crimes
contra o ambiente xartigo #2[2dK na verdade" a norma re8eria-se a \3umanenvironment\y" destrinçando-os dos crimes contra as pessoas por violaç>es
dos direitos 3umanosK6
' legislador nacional" ao dedicar a arte de le"o do <P<D+ ao dano
ecol4gico ve5a-se o Capítulo III" sob a in8eli( epígra8e %esonsabilidade
AdministrativaZ0K" 8oi coerente com os ob5ectivos da directiva6 Por:m" ao
inserir um Capítulo II dedicado 9 %esonsabilidade Civil" introdu(iu um
elemento de dEvida e7istencial no regime pois" não s4 8e( crer ;ue no Capítulo
III se não trata" a8inal" de utili(ar o instituto da responsabilidade civil ou" noutra
perspectiva" se aplicaria este mas apenas a entidades pEblicas" o ;ue geraria
um outro p4lo problem=tico" derivado da necessidade de articulação com o
regime da Lei /12$%%1" de [ de De(embrohK" como trou7e para o diploma
3 C8r6 o nV 1 do artigo $ it=lico nossoK,\HDommage signi8ie,aK le d:c}s ou des l:sions corporellesbK toute perte de ou tout dommage caus: 9 des biens autres ;ue linstallation
elle-même ou ;ue les biens se trouvant sur le site de lactivit: dangereuse et plac:ssous le contr`le de le7ploitant
cI toute erte ou dommage r(sultant de l$alt(ration de l$environnement3 dansla mesure o[ ils ne sont as consid(r(s comme constituant un dommage au sens desalin(as aI ou bI ci8dessus3 ourvu 6ue la r(aration au titre de l$alt(ration del$environnement3 autre 6ue our le man6ue L gagner d\ L cette alt(ration3 soit limit(eau co\t des mesures de remise en (tat 6ui ont (t( effectivement rises ou 6ui le
seront=.4ernard D..IRR'& e C3ristop3e *I+A.* La res!onsailit, en/ironneentale.
"ntre res!onsailit, ci/ile et esures de !olice adinistrati/e" in #a resonsabilit(environnementale. Transosition de la directive 011-/U et imlications en droit interne"coord6 de Delp3ine isonne e en`it Jadot" Louvaine-la-&euve" $%%#" pp6 [1 segs"
[!-_/K ;uestionam-se sobre a 8iliação da directiva numa l4gica de responsabilidadecivil" inclinando-se para a ;uali8icar como um ;uadro de competências de políciaadministrativa6 O disso" com e8eito" ;ue trata o Cap6 II do <P<D+6
1#"
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todo um con5unto de situaç>es claramente e7cluídas do seu Qmbito de
aplicação" por desnecessidade e di8erença6
Por desnecessidade" uma ve( ;ue as 3ip4teses de dano pessoal e
patrimonial estão cobertas pelas normas do C4digo Civil" nos artigos 0![V e
segs_ por di8erença" por;ue s4 o dano ecol4gico stricto sensu recomenda um
regime especial de reparação ou compensação de les>es" em virtude da
especi8icidade dos bens6 Por outras palavras" a 8actualidade ;ue reclamava a
e7istência de um regime como o do <P<D+ era a di8iculdade de integrar o
dano ecol4gico nos estreitos parQmetros do C4digo Civil e da Lei ![2#_" de [
de Agosto Lei da participação procedimental e da acção popularK /6 +sta
Eltima" se bem ;ue aponte para a de8esa de interesses di8usos" entre os ;uais oambiente artigo $V2K" por autores desinteressados" não estabelece crit:rios
de reparação das les>es de bens de 8ruição colectiva" nem esclarece para
;uem revertem as indemni(aç>es pecuni=rias reclamadas pelos autores
populares em caso de lesão ecol4gica insusceptível de reparação" total ou
parcial" no sentido da reconstituição do statu 6uo ante para ;ue aponta o
artigo 0!V2 da Lei da ases do Ambiente" Lei 2!1" de 1 de Abril LAK6
Com o Ane7o do <P<D+" tais dEvidas 8icam resolvidas sendo certo ;ue
tal ane7o s4 a bi4logos se revela plenamente inteligível" uma ve( ;ue
tendencialmente s4 eles detêm o con3ecimento cientí8ico ;ue permite
integrar o conceito de dano ecol4gico alteração signi8icativa mensur=vel
do estado ou utilidades de um bem ambiental naturalK6 ' Ane7o ilumina o
lote de medidas necess=rias 9 reconstituição da situação actual 3ipot:tica"
de pre8erência atrav:s de medidas de reparação natural in situ6 +sclarecidas
#
Rendo certo ;ue" como assinala Jos: +duardo FI).+I<+D' DIAR" o 8en4meno defree8riding pode tra(er vantagens para a protecção do ambiente e tal :e7plicitamente assumido pelo legislador" no PreQmbulo do diplomaK" na medida em;ue o cidadão" ao reclamar tutela para a sua concreta situação de lesão" alme5are8le7amente um resultado ben:8ico para o ambiente" em geral As!ectoscontenciosos da e&ecti/a:;o da res!onsailidade aiental 8 a ?uest;o dale=itiidade< e es!ecial< ponto $6$6" te7to correspondente 9 intervenção noCol4;uio" gentilmente disponibili(ado pelo autorK6
6 Robre o conceito de dano ecol4gico e sua articulação possível com oordenamento legislativo anterior ao <P<D+" Jos: C.&AL R+&DI" (es!onsailidadeci/il !or danos ecol\=icos" Coimbra" ##!" assim" e ranca A<*I&R DA C<." De la
r,!aration du doa=e ,colo=i?ue !ur 8 Btude X la lui`re du Droit !ortu=ais" tesein:dita em Portugal" citada a partir de ar;uivo electr4nico gentilmente cedido pelaautora Parte IIK6
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es;uema competencial e regulat4rio ;ue 5= resulta dos modelos
autori(ativo# e sancionat4rio para a articulação com este Eltimo" vide o
artigo [%V do <P<D+6 &o ;ue concerne 9 reparação do dano" a
alternatividade tamb:m e7iste" mas relativamente a um es;uema de
reconstituição tutelado pelos tribunais%6 A circunscrição da
responsabili(ação a medidas de tutela reconstitutiva e a nature(a
paracontratual do procedimento descrito no artigo /V ;uer se5a de
iniciativa o8iciosa" ;uer parta do operador lesanteK são 8actores
neutrali(adores do 3ipot:tico atrito entre competências administrativas e
5urisdicionais" sendo certo" todavia" ;ue tanto a determinação das
medidas nos termos do artigo /V2$ e [" como a imposição de deveres dereparação2minimi(ação urgente no ;uadro do artigo _V2[2cK
con8iguram actos administrativos" 5urisdicionalmente sindic=veis 5unto dos
tribunais administrativos e passíveis de suspensão de e8ic=cia6
+8ectivamente" a 8alsa bipolaridade indu(ida pela epígra8e do Capítulo III
e pela mera presença do Capítulo II cria e;uívocos de v=rias ordens, por um
lado" 8a( crer ;ue a responsabilidade pela prevenção eK reparação do dano
ecol4gico : primariamente da Administração" ;uando na verdade : do
9 &o tocante 9 articulação com o regime autori(ativo" ela poder= não se revelarproblem=tica sempre ;ue estivermos perante actividades su5eitas a licença ambiental"cu5a competência de concessão cabe 9 APA c8r6 o artigo #V2 do DL 1[2$%%!" de $/de Agosto mas c8r6 tamb:m o artigo [V deste DL" ;ue de8ere 9 I)A'*" 9s CCD<s e9s Administraç>es de <egião idrogr=8ica competências de 8iscali(ação documprimento dos deveres ínsitos na licença ambientalhK6 &o entanto" nem o Qmbitoda responsabilidade por 8acto ilícito se esgota nas actividades do Ane7o III" nem aintervenção da APA preclude a participação de entidades com competênciainspectiva no procedimento autori(ativo global" o ;ue potencia con8litos decompetência e gera" para o operador" a necessidade de acautelar o cumprimentode todos os normativos aplic=veis" desmultiplicando-se em noti8icaç>es c8r6 o artigo
0V do <P<D+K61% ernard D..IRR'& e C3ristop3e *I+A.* La res!onsailit,< cit6" p6 _% v6tamb:m as observaç>es a p=g6 _1K c3amam identicamente a atenção para esteponto" assinalando ;ue" en;uanto no modelo cl=ssico de responsabilidade civil"encaramos uma relação triangular autor2vítima25ui(K" na responsabilidade ecol4gicaesta relação se estabelece entre Administração e operador2autor, \La relation retenuetient" sans conteste" 9 la sp:ci8icit: du dommage environnemental6 La rapidit:dintervention ;uil re;uiert se prête incontestablement mieu7 9 une intervention duneautorit: administrative sp:cialis:e ;u9 lintervention dun 5uge\6
1 Pelos lesantes e pelos propriet=rios de terrenos a8ectados pela reali(ação deoperaç>es de reparação" ;ue podem ver-se obrigados a suportar as operaç>es dereconstituição da situação" mesmo ;ue o não ;ueiram se a recuperação resultar de
um dano indivisívelK6 + tanto a título de validade v.g." violação do princípio daproporcionalidadeK" como de responsabili(ação da Administração por agravamentodos danos ecol4gicos6
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Actas do Colóquio – A responsabilidade Civil por dano ambiental
operador por outro lado" incute a impressão de ;ue reparar um dano
ecol4gico não passa pela utili(ação do instituto da responsabilidade civil"
denotando uma visão claramente privatista" a ;ual es;uece a nature(a de
\patrim4nio comum do Direito\ ;ue a responsabilidade civil reveste e ainda
;ue o <P<D+ distenda claramente a noção de responsabilidade" nela
incluindo a prevenção do danoK e en8im" como começou por realçar-se"
indicia a criação de um direito alternativo da resonsabilidade das entidades
<blicas" al3eio 9 Lei /12$%%1" de [ de De(embro6
Cumpre sublin3ar" contudo" ;ue esta falsa biolaridade ur+dica tem um
contraponto numa autntica dualidade de natureBa fJctica" tradu(ida na
dupla 8aceta de praticamente todos os bens ambientais salvo o arK" corp4reae ecol4gica6 &a verdade" uma lesão num bem ambiental natural c8r6 os
artigos /V e segs da LAK pode revelar-se andr&gina" na medida em ;ue"
;uando o bem 8or corp4reo" aos ol3os do seu propriet=rio caso não se5a ele
pr4prio o lesanteK emergir= um reu+Bo atrimonial3 mas aos ol3os de uma
'&)A" de um autor popular ou da Administração" 5= relevar= a título de dano
ecol&gico6 Assim se compreende a re8erência do artigo %V2 do <P<D+ 9
proibição de dupla reparação a ;ual" na realidade" era dispens=vel" por se
tratar de um princípio geral de DireitoK" uma ve( ;ue a reparação do dano
ecol4gico ;ue : priorit=ria pode satis8a(er plenamente o interesse
indemni(at4rio do lesado$6
's casos variarão muito6 Por e7emplo" se o problema 8or de
contaminação 3ídrica" 3avendo limpe(a do lago ou do braço de rio
a8ectado con5ugada com a reposição de esp:cies" a restauração
natural cobrir= o dano emergente do propriet=rio ainda ;ue
eventualmente não o lucro cessante imagine-se o caso de um turismo
de 3abitação servido pelo lago contaminado cu5a ta7a de ocupação
decresceu durante o período de contaminaçãoK6 J= se o dano se tradu(
1$ A norma levanta dEvidas a Luís +&++R L+I*f' A res!onsailidade ci/il !ordanos causados ao aiente" te7to destinado a integrar os Estudos em homenagemao Prof. Doutor Carvalho Fernandes" disponibili(ado pelo Autor" ponto _6$6K" na medidaem ;ue possa ser interpretada no sentido de e7cluir a responsabilidade civil perante a\administrativa\6 Ralvo o devido respeito" não cremos ;ue este problema ven3a a surgir
nestes precisos termos" uma ve( ;ue a \responsabilidade administrativa\" na vertentereparat4ria" : ainda e sempre responsabilidade civil" tradu(ida nos crit:rios do Ane7o do <P<D+6
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na destruição" por 8ogo posto" de uma plantação de sobreiros" a
restauração natural por replantio" constituindo embora a reparação
natural pre8erencial" não elimina todo o dano emergente do propriet=rio
nem do pr4prio ambiente" a admitir a utili(ação da noção tamb:m
neste plano " dado o tempo ;ue um sobreiro leva a atingir a idade
adulta cerca de $% anosK[6
&ote-se ;ue" neste segundo caso" 9 obrigação de replantio poderão
5untar-se obrigaç>es de pagamento de ;uantias v=rias ao propriet=rio"
;uer a título de dano emergente o pre5uí(o imediatamente so8ridoK" ;uer
a título de lucro cessante ;uebra de obrigaç>es contratuais assumidas
relativamente 9 venda de cortiçaK" bem assim como obrigaç>es de
adopção de medidas compensat4rias" in situ ou ex situ c8r6 o ponto 66[6
do Ane7o do <P<D+K06
1[ C8r6" sobre as modalidades de reparação do dano ecol4gico descritas noAne7o do <P<D+" eloísa 'LI+I<A" A restaura:;o natural no no/o re=ie urídico deres!onsailidade ci/il !or danos aientais" te7to correspondente = intervenção daautora no Col4;uio" gentilmente disponibili(ado6
10 Assinale-se ;ue as medidas compensat4rias a ;ue se reporta o <P<D+ têm
uma nature(a reparat4ria" ao contr=rio das medidas de compensação ecol4gica a;ue alude o regime da <ede &atura $%%% DL 0%2##" de $0 de Abril" alterado erepublicado pelo DL 0#2$%%_" de $0 de Fevereiro" artigo %V2$K" e o regime daconservação da &ature(a DL 0$2$%%!" de $0 de Jul3o" artigo [/VK" ;ue revestemnature(a antecipat4ria" de danos possíveis mas 3ipot:ticos Jos: =rio F+<<+I<A D+AL+IDA O /el0o< o no/o e o reciclado no Direito da conser/a:;o da nature>a" in O6ue hJ de novo no Direito do Ambiente3 Actas das Jornadas de Direito do Ambiente"Faculdade de Direito de Lisboa" _ e 'utubro de $%%!" Lisboa" $%%#" pp6 0 segs" __K"todavia" entende ;ue as medidas a ;ue se reporta o artigo [/V citado visamconcreti(ar o princípio da responsabili(ação enunciado no artigo [V23K da LA6
Reria importante" como nota art3e L.CAR La co!ensationen/ironneentale< u ,canise ine&&icace a a,liorer" in %5E" $%%#2" pp6 _# segs"
/_K" transpor os crit:rios gi(ados pela Comissão +uropeia para promover acompensação ecol4gica no seio do regime da rede &atura $%%% para o regime deprevenção e reparação do dano ecol4gico" uma ve( ;ue : sempre de assegurar a\coerência global\ do sistema natural ;ue se cuidar= c8r6 os crit:rios mencionados em3ttp,22ec6europa6eu2environment2nature2natura$%%%2management2docs2art/2guidanceart/08r6pd8 - 6_6K6 Isto sem embargo de se poder ;uestionar a solução dacompensação ecol4gica" a ;ual" segundo alguns" constitui uma autênticaautori(ação de destruição de elementos naturais c8r6 arie-Pierre CAP<'.W-D.FF<‚&+" La cr,ation dbun arc0, dbunit,s de iodi/ersit, est-elle !ossile9" in %5E"$%%#2" pp6 /# segs" 10 a prop4sito da criação de um mercado de unidades debiodiversidade similar ao es;uema de títulos de emissão de gases com e8eito de estu8acomo 8orma de incremento do mecanismo de compensação ecol4gica no Qmbito do
regime da protecção da &ature(aK e" segundo outros" operacionali(a a l4gica de 5ustadistribuição dos encargos pEblicos versão tradicional do princípio do poluidor-pagadorK" onerando ;uem desgasta e aliviando a comunidade da suportação da
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Actas do Colóquio – A responsabilidade Civil por dano ambiental
'u se5a" em bom rigor" o regime de reparação do dano ecol4gico tem" na
maior parte das ve(es" de se articular com a reparação do dano patrimonial
do propriet=rio do bem6 as essa : uma bipolaridade autêntica" ;ue a
estrutura dos bens ambientais reclama e não um arti8ício inEtil gerado pelo
legislador e em nada suportado pela directiva6 Donde" e como 5=
anteriormente 8ris=mos" o Capítulo II deve ter-se por não escrito e o Capítulo
IIIK deveria intitular-se Deveres de reven!"o e reara!"o do dano ecol&gico
por e7emploK6
Detecta-se ainda no <P<D+ uma outra biolaridade" identicamente
dispens=vel_6 <esulta esta da inde8inição do <P<D+ ;uanto ao diloma/senhor
6ue serve6 O ;ue" constituindo embora transposição da directiva [_2$%%02C+" o<P<D+ deve curvar-se" antes de mais" perante a LA cu5os artigos 0V e 0!V" de
resto" invoca no PreQmbulo/K" pois dela opera desenvolvimento6 'ra" a
circunscrição dos danos ecol4gicos aos danos 9 =gua" esp:cies protegidas e
solo1" con8orme enunciados no artigo V22eK do <P<D+" es;uece ;ue" nos
termos da LA" devem tamb:m considerar-se" para estes e8eitos" o ar e o
subsolo" sob pena de criação de bases 9 distinção entre bens ambientais
naturais de e de $6 Imp>e-se uma interpretação con8orme 9 LA para p`r
cobro a esta dualidade pre5udicial para a coerência do Direito do Ambiente e
da noção de dano ecol4gico de resto não vedada" antes incentivada pela
directiva c8r6 o artigo /2 destaK6
despesa de compensação do meio6
1_ = ainda uma terceira bipolaridade ;ue resulta" 5= não do <P<D+" mas antesdo artigo 0V22lK do +*AF6 *rata-se da distinção entre danos ecol4gicos pEblicos eprivados" consoante provocados directamente por entidades pEblicas e privadasagindo ao abrigo de um regime de Direito AdministrativoK ou privadas ainda ;ue aoabrigo de autori(aç>es administrativasK6 A adopção do crit:rio da nature(a do su5eitoe não do crit:rio da nature(a do bem 8a( com ;ue a competência dos tribunais para
5ulgamento de litígios emergentes da eclosão de danos ecol4gicos se divida entre 5urisdição administrativa e comum" situação ;ue : critic=vel pois ;ue" na ausência detribunais especiais" os tribunais administrativos deveriam ser e7clusivamentecompetentes por se tratar de controv:rsias ;ue envolvem bens de nature(a colectiva6
1/ A circunscrição dos normativos de e7tensão a estes dois preceitos levantadEvidas" uma ve( ;ue o <P<D+ desenvolve mais dispositivos da LA v.g6" no campo da
responsabilidade ob5ectiva" do seguroK611 Nue o <P<D+ perspectiva do ponto de vista 3umano c8r6 o artigo V22eK" iiiK"re8erindo-se a um \risco signi8icativo para a saEde 3umana\6
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II. Algumas dEvidas geradas pelo <P<D+
aK Nuanto ao Qmbito sub5ectivo
&uma primeira leitura" conclui-se ;ue o <P<D+ alargou duplamente o Qmbito
sub5ectivo de aplicação do regime contido na directiva no ;ue toca 9
responsabilidade a;uiliana6 Com e8eito" en;uanto desta apenas decorre a
obrigação mínima de imputação a agentes econ4micos agindo com culpa
ou dolo por danos causados 9s esp:cies integrantes de (onas de <ede &atura
$%%% xartigo [22bK da directivay" do <P<D+ resulta a imputação ao \operador\
de ;uais;uer danos provocados 9s esp:cies de (onas protegidas por
legislação nacional e internacional al:m das da <ede &atura $%%%K" e ainda 9=gua e ao solo artigo [VK6 'u se5a" o alargamento do universo de danos
possíveis distende correlativamente o universo de operadores potencialmente
respons=veis6
+sta impressão : perturbada" no entanto" ;uando cru(amos a noção de
operador inscrita no artigo [V com a de8inição decorrente do artigo V2lK do
<P<D+" ;ue remete para a lista de actividades descritas no Ane7o III
determinantes para a a8erição de responsabilidade ob5ectiva" mas não
sub5ectiva6 ' elemento decisivo de interpretação reside na e7pressão
\actividade ocupacional\" ;ue não se encontra no lote de de8iniç>es do artigo
V" mas antes no nV do artigo $V do <P<D+, \actividade econ4mica"
independentemente do seu car=cter pEblico ou privado" lucrativo ou não\6 '
;ue signi8ica ;ue a circularidade e7cludente do artigo [V : apenas aparente"
não se restringindo a responsabili(ação por 8acto ilícito apenas aos operadores
das actividades listadas no Ane7o III6
DEvidas podem surgir" no tocante 9 noção operativa de operador
passe o pleonasmoK" em caso de coe7istência de mEltiplos operadores
envolvidos numa mesma actividade ;ue origine dano ou ameaça deste"
designadamente para e8eitos de interlocução com a Agência
Portuguesa do Ambiente APAK" entidade respons=vel pela aplicação
do <P<D+6 Pegando num e7emplo concreto sugerido por uma
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Actas do Colóquio – A responsabilidade Civil por dano ambiental
participante no Col4;uio!, paira uma ameaça de dano ecol4gico
resultante das emiss>es produ(idas num par;ue de arma(enagem de
preparaç>es perigosas em ;ue o reservat4rio : propriedade de A" a
licença e a e7ploração estão cedidas a " ;ue arma(ena os produtos de
C" e contrata D para 8a(er as inspecç>es e certi8icaç>es da ;ualidade
dos reservat4rios6 Rendo certo ;ue" 9 lu( da alínea lK do nV do artigo V
do <P<D+" todos podem ser considerados operadores" sobre ;ualaisK
deles recaem os deveres de prevenção constantes do artigo 0V2 e 0 do
<P<D+ + caso o dano não possa ser evitado" ;ualaisK deles deve
reparar
Julgamos" salvo mel3or re8le7ão" ;ue a adopção de medidas deevitação" minimi(ação e reparação do dano deve ser levada a cabo
pela entidade ;ue \e7erce poderes decisivos sobre o 8uncionamento
t:cnico e econ4mico\ da actividade xc8r6 a alínea lK citada" bem assim
como a de8inição de operador constante da directiva, \;ual;uer pessoa
singular ou colectiva" pEblica ou privada" ;ue e7ecute ou controle a
actividade pro8issional\ artigo $2/y" isto :" C6 R4 ;uem tem o domínio
dos processos de 8uncionamento da actividade tem ou deve terK
correlativamente o con3ecimento necess=rio para seleccionar as
medidas mais ade;uadas6 + : tamb:m ;uem directamente lucra com a
actividade ;ue 3=-de ser onerado com o dever de reparação#6
Isto não signi8ica" todavia" nem ;ue se5a sempre o operador directo a
tomar as medidas vide os artigos 0V2_2dK" _V2[28K e 1V22aK do <P<D+
" nem ;ue os custos recaiam e7clusivamente sobre si" uma ve(
veri8icada a necessidade de repartição internaK de responsabilidade no
e7emplo sura" C poderia rebater a sua responsabilidade" total ou
parcialmente" em D" invocando omissão de deveres de vigilQnciaK$%6
1! +sta dEvida entre outrasK 8oi-nos colocada" verbalmente e por escrito" pela DrInês Figueira" a ;uem reiteramos o agradecimento pela sua colocação6 A tentativa deresposta ;ue a;ui se empreende situa-se na l4gica de re8le7ão permanente e abertaao e7terior ;ue se pretende ter desencadeado" contribuindo assim para a progressivamaior inteligibilidade do <P<D+ aos utili(adores6
1# Parece ser identicamente este o entendimento de ernard D..IRR'& eC3ristop3e *I+A.*" La res!onsailit,< cit6" p6 /16
2% ernard D..IRR'& e C3ristop3e *I+A.* La res!onsailit,< cit6" p6 /1K
assinalam ;ue" apesar de a directiva apontar para a responsabili(ação e7terna deapenas um su5eito ou se5a" ine7istência de solidariedade nas relaç>es e7ternasK" odireito de regresso : admissível6
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.ma outra dEvida remanesce" contudo6 Prevalecendo a noção de
\actividade ocupacional\ como conceito de Qmbito mais vasto" o regime do
<P<D+ 8ica circunscrito a agentes ;ue desenvolvam" de 8orma sistem=tica"
uma actividade econ4mica o ;ue se compreende" em 8ace dos deveres
;ue l3e poderão ser impostos nos termos dos artigos 0V e _V do <P<D+"
associados a uma estrutura empresarial ou e;uiparada6 as" se assim :" onde
8icam" neste ;uadro" os particulares ;ue causam danos a componentes
ambientais naturais 8ora do Qmbito de \actividades ocupacionais\ por
e7emplo" caça recreativa" desportos amadores em meio natural" reunião de
amigos num par;ue nacional ;ue origina incêndio de grandes proporç>es
A ;uestão não : saber se o Capítulo III poderia en;uadrar estas situaç>es claramente" não " mas antes a de e6uacionar a ossibilidade de utiliBar os
crit(rios de identifica!"o do dano ecol&gico e de reara!"o deste descritos
no Anexo Q na oera!"o de reconstitui!"o. Julgamos ser de toda a
conveniência proceder a esta e7tensão" dado ;ue o restante Direito
ambiental português não permite" nem delimitar claramente o dano
ecol4gico do dano ambiental" nem descortinar ;uais;uer lin3as de
operacionali(ação da in5unção decorrente do artigo 0!V da LA6 Por outras
palavras" obstaculi(ar a esta interpretação e7tensiva signi8ica perpetuar" para
um con5unto não negligenci=vel de 3ip4teses" a grave lacuna detect=vel no
panorama legislativo anterior ao início de vigência do <P<D+6
K Nuanto ao Qmbito ob5ectivo
' universo de situaç>es cobertas pelo <P<D+ encontra-se por e7clusão
artigos $V2 e $" V2eK" [[V e [_V e por inclusão artigos $V2 e V2eK do<P<D+" e /V segs da LA6 A sobreposição parcial deve-se a ;ue as duas Eltimas
normas do <P<D+ citadas sediam o princípio de responsabili(ação dos
operadores econ4micos por danos ambientais" sendo ;ue estes se podem
tradu(ir em danos 9s esp:cies protegidas" 9 =gua" e ao solo ;uando tal se
re8licta negativamente na saEde 3umanaK" e ainda" por dever de
interpretação con8orme 9 LA" ao ar e solo e subsolo de er se e
independentemente de danos 9 saEde 3umana6
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A ;uestão ;ue cumpre colocar" na se;uência da interrogação com ;ue
8ec3amos o ponto anterior mas mais directamente relacionada com as
normas inclusivas e e7cludentes" : a de saber se" para al:m do <P<D+
subsistem regimes especiais" não 5= delineados em 8unção dos su5eitos mas dos
bens ambientais em particular6 Por outras palavras" o ;ue pensar da
subsistência da solução do artigo 1[V do DL $[/2#!" de de Agosto" sobre
responsabilidade por danos 9 ;ualidade da =gua" em 8ace da não
revogação e7pressa do diploma pela Lei _!2$%%_ c8r6 o artigo #!V desta LeiK
Rublin3e-se ;ue o legislador" na primeira versão do DL 012$%%!" remetia
uma parte do regime da responsabilidade por dano 9 =gua para o artigo #_V
da Lei _!2$%%_" 3o5e e7pressamente revogado pelo DL $0_2$%%#6 +sta remissão8oi recentemente suprimida" mas o problema e;uacionado mant:m-se" dado
;ue o DL $[/2#! abrange mais tipos de =guas do ;ue os inscritos na nova
subalínea iiiK da alínea eK do nV do artigo V do <P<D+ v.g." =guas para
consumo 3umano" =guas do litoral" =guas balneares c8r6 o artigo $V da;uele
DLK e" subse;uentemente" contempla um universo maior do ;ue o \dano 9
=gua\ visado pelo <P<D+ c8r6" ali=s" o conceito de =guas delimitado na alínea
aK do nV do artigo V" circunscrito 9 Lei _!2$%%_K6
Como o artigo / da directiva $%%02[_2C+ não veda a subsistência de
regimes especiais" desde ;ue mais 8avor=veis" cumpre a8erir se o artigo 1[V
tradu( um ;uadro mais 8avor=vel do ;ue o <P<D+6 Re entendermos ;ue s4
pelo 8acto de o DL $[/2#! ter um alcance ob5ectivo ;ue o <P<D+ não tem 5=
se pode considerar mais 8avor=vel" então a sua subsistência deve ser
sustentada6 as a isto acresce ;ue este diploma permite claramente
responsabili(ar 6ual6uer essoa" e não apenas os operadores econ4micos c8r6
o nV K6 + pode aditar-se ainda ;ue" nos termos do nV [" mesmo sem 3aver
possibilidade de determinação precisa" o dano deve ser reparado" por recurso
a crit:rios de e;uidade 3ip4tese ;ue a e7igência de \mensurabilidade\
decorrente da de8inição de dano inscrita na alínea dK do nV do artigo V do
<P<D+ parece e7cluir6
Assim" e apesar de entendermos ;ue deve ser o Fundo de Intervenção
Ambiental e não o +stado c8r6 o nV do artigo 1[VK a bene8iciar de ;uais;uer
;uantias ;ue resultem do pedido indemni(at4rio caso não se5a possível ousu8iciente a restauração naturalK" e de discordarmos da reserva de 5urisdição
1$"
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destes pedidos aos tribunais comuns nos termos do nV _ do artigo 1[V" o ;ual
deve ser alvo de uma leitura corrigida" não s4 9 lu( do artigo $$V2[ da C<P"
como do artigo 0V22lK do +*AF$ " pronunciamo-nos" salvo mel3or re8le7ão" no
sentido da subsistência do artigo 1[V do DL $[/2#!" por promover regime mais
8avor=vel do ;ue o do <P<D+$$6
Para al:m deste regime especial" 3= ;ue contar ainda com os ;uadros
regulat4rios decorrentes de convenç>es internacionais a ;ue Portugal este5a
vinculado" nos termos do artigo $V2$2bK e Ane7o I" e $V2cK" Ane7o II" do <P<D+
pelo menos sempre ;ue deles decorra uma normatividade especi8icamente
orientada para o en;uadramento do dano ecol&gico
$[
6
cK Nuanto ao signi8icado da e7pressão A reparação do dano ecol4gicoK\&ão consiste numa compensação 8inanceira para os membros do pEblico\
A pre8erência pela restauração natural tornaria despicienda esta re8erência6
&o entanto" sabemos ;ue reconstituir o estado do bem tal como ele se
encontraria caso não tivesse ocorrido a lesão pode revelar-se impossível do
ponto de vista 8=ctico" ou econ4mico ou a reconstituição pode protelar-se no
tempo" devendo e7istir disponibilidade de meios 8inanceiros para a ir
reali(ando6 Daí ;ue 3a5a casos em ;ue pode colocar-se a ;uestão da
indemni(ação pecuni=ria" nomeadamente no plano da compensação de
perdas transit4rias c8r6 os pontos 66[6 e 6$6[6 do Ane7o do <P<D+K6
as o inciso citado ;uerer= impedir irrestritamente a ;uanti8icação
pecuni=ria de ;ual;uer outro dano ;ue não o estritamente ecol4gico ou
2 Donde" pedidos de indemni(ação dedu(idos contra entidades pEblicasdevem ser apresentados perante os tribunais administrativos" por acção ou omissãolesiva6
2$ Parecendo entender ;ue o artigo 1[V citado subsiste" Ant4nio A<<+*'A<C+<" Direito do Aiente e res!onsailidade ci/il< Coimbra $%%#" p6 $1 emborasem esboçar ;ual;uer articulação com o <P<D+ e louvando a solução da atribuiçãodo de todo oK contencioso da responsabilidade por dano ecol4gico aos tribunaiscomuns6
2[ C8r6 a advertência de Carole +<'& La r,!aration du doa=e,colo=i?ue. Les !ers!ecti/es ou/ertes !ar la directi/e du 1E a/ril 1223" in A5DA"$%%02[[" pp6 1#$ segs" 1#!K" alertando para ;ue a grande maioria das convenç>esnão contempla a reparação do dano ecol4gico 6ua tale6 Apesar de considerarem
ser esta interpretação a ;ue mel3or serve os interesses da directiva e do <P<D+"ernard D..IRR'& e C3ristop3e *I+A.* La res!onsailit,< cit6" p6 /_K a8irmam;ue a letra da lei não admite esta redução teleol4gica6
1$#
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Actas do Colóquio – A responsabilidade Civil por dano ambiental
apenas sublin3ar a e7igência de a8ectação de ;uais;uer ;uantias ao Fundo
de Intervenção Ambiental e não a su5eitos isolados" mesmo ;ue constituídos
com a 8inalidade e7clusiva de de8esa do ambiente
+ste segmento especulativo reclama um desdobramento" dadas as
\rami8icaç>es\ possíveis$06 Passemos então a analisar parceladamente,
i6K o problema do dano moral ambiental
ii.) o problema do c`mputo dos interesses das geraç>es 8uturas no
6uantum indemni(at4rio" sempre ;ue" por impossibilidade material
ou não plenitude dos ob5ectivos reparat4rios" ao lesante se5a
imposto o pagamento de uma indemni(ação pecuni=ria6
i6K Constituindo o ambiente uma grande(a de 8ruição colectiva mas de
apropriação individual impossível" a noção de dano moral ambiental revela-se
ambígua$_6 Pensemos no e7emplo da 8loresta ;ue alberga esp:cies
protegidas de 8auna e 8lora destruída por um incêndio decorrente de uma
acção 3umana6 +sta 8loresta era palco de reuni>es comunit=rias" acç>es de
pedagogia ambiental" (ona de e7curs>es de escuteiros" alvo de visitas
turísticas em ra(ão da sua bele(a e estado de conservação6 Poder=
conceber-se ;ue" para al:m da restauração natural M ;ue demorar= v=rios
anos e poder= nunca alcançar o estado anterior 9 lesão" por e7tinção de
esp:cies -" 3a5a pagamento de ;uantias 9 comunidade por perda de 8ruição
de um bem colectivo
A resposta parece-nos dever ser a8irmativa" mas o regime desta
responsabili(ação não se encontra no <P<D+" pois este circunscreve-se ao
dano ecol4gico" ou se5a" 9 altera!"o adversa mensurJvel do estado de um
determinado componente ambiental natural6 *rata-se a;ui de ressarcir danos
20 <ami8icaç>es essas ;ue acrescem ao pre5uí(o patrimonial do propriet=rio dobem6 Frisando a susceptibilidade de cumulação2alternQncia de três realidadesdiversas nesta sede dano material" moral e ecol4gico " Pierre-Antoine D++*J+&" Latradution uridi?ue dbun doa=e ,colo=i?ue$ le !r,udice ,colo=i?ue< in %5E" $%%#2"pp6 [# segs" 0$-006
2_ Robre esta noção" ve5am-se Jos: <ubens '<A*' L+I*+" Dano aiental$ doindi/idual ao colecti/o e@tra!atrionial" $ ed6" R6 Paulo" $%%[" esp6 pp6 $/_ segs eJoão Carlos de CA<AL' <'CA" (es!onsailidade ci/il !or dano ao eio
aiente" in Pol+tica )acional do eio Ambiente3 0U anos da #ei n] N.42/,42,3 coord6João Carlos de Carval3o <oc3a" *arcísio 6 P6 enri;ues Fil3o e .biratan Ca(etta" eloori(onte" $%%1" pp6 $1 segs" $[/ segs
1$$
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morais de categorias de indivíduos cu5o traço identi8icativo se prende com a
especial intensidade de 8ruição de um dado recurso6 Reriam como ;ue" e
passe o pleonasmo 5urídico" interesses difusos homog(neos, interesses na
8ruição de um bem colectivo cu5o desaparecimento ou amputação de
;ualidades provoca um sentimento de perda de idêntica nature(a num
determinado universo de \usu=rios\6
Por outras palavras" a admitir esta categoria de dano" ela : assimil=vel ao
dano moral tradicional" a ;ue alude o artigo 0#/V do CC6 &o entanto" a
compensação do dano moral ambiental não poder= reverter para osK
su5eitosK ;ue denunciamK a perda para a colectividade" mas antes para o
Fundo de Intervenção Ambiental pois apesar de este tipo de so8rimento serindividual" ele reporta-se a uma perda ;ue o não :" antes se pro5ecta na
comunidade como um todo6
ii6K &o ;ue tange ao segundo aspecto" denota-se uma total ausência de
posicionamento do legislador6 &os crit:rios do Ane7o nada consta a respeito
da consideração de interesses de geraç>es 8uturas M e acab=mos de veri8icar
;ue nem das presentes deve constarh *odavia" 8acto : ;ue" a aceitar a 8igura
do dano moral ambiental dos viventes não repugnaria incluir no c`mputo
indemni(at4rio um dano 8uturo" pelo menos nos casos em ;ue a perda se
revele irreversível6 <etomando o e7emplo do ponto anterior" comple7a mas
ainda assim ;uiç= possívelK se a8iguraria a tare8a do c=lculo desta perda" por
3aver ;ue considerar, mudanças dos 3=bitos das geraç>es 8uturas alteraç>es
clim=ticas ;ue" independentemente do incêndio" poderiam tol3er o uso e
mesmo e7istênciaK da 8loresta nos tempos vindouros di8iculdades matem=ticas
de c=lculo de perdas morais colectivash
Certo" estes 8actos não constituíram impeditivo a ;ue o Mureme Court das
Filipinas aceitasse uma demanda proposta por um grupo de menores ;ue
agia em de8esa das 8lorestas do país" por si e em representação das geraç>es
8uturas$/6 + talve( não obste a ;ue o *ribunal Internacional de Justiça aprecie o
pedido do +;uador" de ressarcimento de danos patrimoniais e ecol4gicos 9s
2/ <e8erimo-nos ao caso inors Oosa v. Mecretar9 of the Deartment of
Environment and )atural %esources" 5ulgado pelo Mureme Court das Filipinas em ##[comentado por A6 <+R*" I!leentin= t0e !rinci!les o& inter=enerational e?uit7 andres!onsiilit7" in EP#" ##02/" pp6 [0 segs" max6 [! segsK6
1$%
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Actas do Colóquio – A responsabilidade Civil por dano ambiental
geraç>es presentes e 8uturas e;uatorianas" por danos provocados por
pulveri(aç>es t47icas nas plantaç>es 8ronteiriças com a Col`mbia no Qmbito
da luta do )overno deste +stado pela erradicação dos campos de plantio de
estupe8acientesK6 &ão se revelar= nunca" por:m" tare8a 8=cil6
A indemni(ação por perdas provocadas 9s geraç>es 8uturas dever= ser
sempre" salvo mel3or re8le7ão" puramente simb4lica6 as mais do ;ue isso" na
8alta de um su5eito actual de imputação ;ue sugira um valor indicativo das
perdas comunit=rias" a imposição ao lesante de uma obrigação de
ressarcimento de um dano moral hiot(tico ;uer ;uanto ao dano" ;uer
;uanto aos su5eitosK futuro ter= laivos de sanção punitiva e di8icilmente ser=
oponível sem um assento legal especí8ico" sob pena de violação arbitr=ria dodireito de propriedade6 ' conceito do artigo _/0V2$ do CC : curto para estas
situaç>es$1" pelo ;ue a operacionalidade da noção de \dano ambiental 9s
geraç>es 8uturas\ parece estar" por ora" condenada6
dK Nuanto ao Qmbito de aplicação temporal
&a lin3a da directiva" o <P<D+ desconsidera os danos di8usos" sempre ;ue não
se5a possível estabelecer um ne7o de causalidade entre uma actividade e a
sua ocorrência artigo _VK" bem como descarta a aplicação do novo regime a
danos provocados por actividades concluídas antes de e7pirar o pra(o de
transposição da directiva artigo [_VK6 Al:m disso" consagra uma norma
especial sobre prescrição" 8i7ando em [% anos e não os $% anos ;ue
decorreriam do pra(o ordin=rio do artigo [%#V do CCK o pra(o de prescrição
para e8ectivação de acção de responsabilidade civil por dano ecol4gico M
artigo [[V6
&ão cabe neste \raid\ problemati(ante e7plorar as dEvidas ;ue cada uma
destas normas convoca$! M a algumas delas 5= nos report=mos" de resto" em
21 Rublin3e-se ;ue o artigo _/0V não s4 menciona o \lesado\ e os proveitos ;ueele dei7ou de obter" como aponta para danos \previsíveis\6 Ambos os elementosrodeiam o conceito de dano 8uturo de um nível de densidade ;ue o \dano 9sgeraç>es 8uturas\ não revesteh
2! +specialmente sobre o sentido do artigo _V" ve5a-se Ana P+<+R*<+L' D+
'LI+I<A" A !ro/a do ne@o de causalidade na lei da res!onsailidade aiental" te7tocorrespondente 9 intervenção da autora no Col4;uio" gentilmente cedido M maxime"ponto $6/66
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te7to anterior $#6 Limitar-nos-íamos" neste momento" a dei7ar notícia de algumas
;uest>es levantadas num incidente de reenvio pre5udicial apresentado ao
*ribunal de Justiça da .nião +uropeia pelo Tribunale Amministrativo regionale
della Micilia" 5= ob5ecto de Conclus>es pela Advogada )eral Juliane @oBott"
apresentadas em $$ de 'utubro de $%%# proc6 C-[1!2%!K6 +ste pedido
prende-se" 8undamentalmente" com a aplicação no tempo do regime da
directiva, est= em causa saber se pode ser imposta" por parte da
Administração ambiental italiana" a obrigação de saneamento dos 8undos
marin3os da +nseada de Augusta" causticados por d:cadas de descargas" 9s
empresas ;ue actualmente ali laboram" sem distinção entre poluição passada
supostamente e7istente desde a II )uerraK e presente6Rendo certo ;ue regimes nacionais mais estritos podem prevalecer sobre o
regime da directiva" ;uando esses regimes ine7istem ou" e7istindo" são menos
e7igentesK" a regulação do instrumento comunit=rio imp>e-se6 ' Direito
italiano não consagrava ;ual;uer ;uadro normativo relativo 9 reparação do
dano ecol4gico daí ;ue a reparação" a operar" situar-se-= na moldura da
directiva e do diploma nacional ;ue a transp`s6
'ra" a directiva so8re um condicionamento na sua aplicação temporal" ;uepassa pela interpretação do seu artigo 1" nomeadamente do ;ue : um dano
\ocorrido antes da data\ limite de transposição da directiva6 &o caso sub
udice" a Advogada )eral alerta para a situação de dano cumulativo e
distingue duas situaç>es _1 segsK,
- por um lado" o dano ;ue se vem acumulando desde antes da data de
transposição da directiva e se vê sucessivamente agravado pela continuação
da actividade" ainda ;ue por diversos e sucessivos operadores, nesta 3ip4tese"
desde ;ue a actividade poluente continue" o Eltimo operador deve ser
responsabili(ado pelas medidas de reparação de todo o dano" em
3omenagem ao princípio do poluidor-pagador se desenvolve uma
actividade especialmente desgastante do meio natural" deve suportar o custo
das medidas de restauração" mesmo ;ue não ten3a contribuído para a
totalidade do danoK
- por outro lado" o dano ocorrido numa primeira 8aseK antes da data de
transposição da directiva mas gerador numa segunda 8aseK de novos efeitos2# Carla AAD' )'+R" A res!onsailidade ci/il< cit6" p6 $106
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Actas do Colóquio – A responsabilidade Civil por dano ambiental
lesivos ap4s esta data a;uilo ;ue na Aleman3a se designa por ^eiterfressen
propagaçãoK, nesta 3ip4tese" tendo-se descontinuado a actividade poluente
e decorrendo os novos e8eitos de 8actores aleat4rios libertação de
substQncias nocivas de aterros erosão das margens de rio onde 8icaram
depositadas partículas t47icasK" a directiva não poder= aplicar-se" sob pena
de violação da proibição de retroactividade ínsita no artigo 16
+m contrapartida" no caso de a actividade ser retomada" ainda ;ue por
outro operador" este ver= recair sobre si obrigaç>es de prevenção de novos
danos a partir de 8ontes de risco antigas e novas neutrali(ando-se" em nome
do princípio do poluidor-pagador" a di8iculdade de destrinça do ;ue :
responsabilidade antiga e novaK M c8r6 o 1_ das Conclus>es6+stas Conclus>es tra(em" ao ;ue 5ulgamos" soluç>es ;ue permitem
contornar o princípio da irretroactividade" acabando por onerar novos
operadores com a responsabilidade de saneamento e restauração de bens
lesados por actividade al3eia6 *al ideia pode c3ocar" mas cumpre sublin3ar"
por um lado" ;ue o 8aseamento da actividade lesiva não se tradu( na
divisibilidade do dano o estado do bem não :" em regra" recuper=vel em
parte" nem ;uantitativa nem ;ualitativamente6 Por outro lado" como realça a
Advogada )eral" aceitar a blindagem L resonsabiliBa!"o de operadores
;ue continuam a poluir invocando a impossibilidade de c`mputo
individuali(ado da responsabilidade redundar=" ou na perpetuação da
situação de degradação do recurso" ou na suportação do custo da
reconstituição pela comunidade ambos os resultados contr=rios ao princípio
do poluidor-pagador6
+stas e outras consideraç>es e7pendidas por Julianne @oBott atestam bem o
intenso estado de su5eição actual dos operadores sobretudo industriaisK a um
numerus aertus de deveres e 4nus ecol4gicos[%" ;ue devem passar a encarar
como riscos do neg4cio6 Apesar de con8igurar uma solução algo pesada para
!% 'utro problema identicamente estimulante e7plorado nas Conclus>es citadasreside em saber se um propriet=rio ;ue desenvolve no seu terreno contaminado porum anterior possuidor uma actividade in4cua pode ver-se coagido a suportarobrigaç>es de reparação6 <esultando da operação de saneamento uma valori(açãodo terreno" considera-se ;ue não a suportar constituiria um enri;uecimento sem causa9 custa da comunidade ;ue" residualmente" pagaria o custo da reparação " salvo"
diríamos n4s" se a este princípio se opuser a prescrição ou se5a" ter tido a nova posseinício 3= mais de [% anos e s4 agora se ter dado pela contaminação do terrenoK6
1%0
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Instituto de Ciências Jurídico Políticas
os novos operadores" ;ue se diria estarem a ser retroactivamente sancionados
por uma conduta ;ue l3es não : se;uer materialmente imput=vel" não dei7a
de ser verdade" em contrapartida" ;ue" ao assumirem a continuidade da
e7ploração" os operadores aproveitam o acervo econ4mico construído pelos
seus antecessores" nomeadamente a sua implantação no mercado e o
proveito ;ue desse precedente adv:m[6 Re a esse activo de mercado
corresponde um passivo ambiental" parece ser de e;uacionar ;ue o novo
operador o suporte" pelo menos parcialmente" não l3e sendo v=lido escudar-
se na inocuidade da poluição produ(ida durante o seu concreto período de
actividade6 Imputar 9 colectividade a um FundoK" por inteiro" o custo de
reparação de danos" neste conte7to" parece ser de re5eitar
2arla 3mado Gomes
Pro8essora Au7iliar da Faculdade de Direito da .niversidade de LisboaPro8essora Convidada da Faculdade de Direito da .niversidade &ova de
Lisboa
oltar ao Yndice
3 Contra" RGlviane L+P<I&C+ e Pierre 'ƒ<„&C@" B/aluation et r,!aration desdoa=es en/ironneentau@< oli=ations de lbe@!loitant et issions de lbautorit,co!,tente" in #a resonsabilit( environnementale. Transosition de la directive
011-/U et imlications en droit interne" coord6 de Delp3ine isonne e en`it Jadot"Louvaine-la-&euve" $%%#" pp6 !1 segs" %[ sustentando ;ue nada impede a
autoridade competente de recuperar para al:m do estado de degradaçãoveri8icado 9 data da intervenção lesiva" mas a e7pensas do 8undo pEblico e não dooperadorK6
1%1
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Actas do Colóquio – A responsabilidade Civil por dano ambiental
A P(OA DO '"O D" CAUSALIDAD" 'A L"I DA ("SPO'SAILIDAD" A#I"'TAL
I. A!recia:;o =eral do arti=o 6.H do Decreto-Lei n.H E34122< de 1 de Jul0o
As di8iculdades colocadas pela determinação do ne7o causal na
responsabilidade civil ambiental são" 3= muito" con3ecidas, ;uer se trate de
responsabilidade civil sub5ectiva ou ob5ectiva" por danos ambientais lato sensu
ou por danos ecol4gicos" a imputação ob5ectiva con8ronta-se sempre com as
di8iculdades colocadas pela 8isionomia típica do dano ambiental e do
respectivo processo causal, o modo pr4prio de actuação dos poluentes" a
in8luência con5ugada de 8actores mEltiplos" as situaç>es de Hmulticausalidade
ou concurso de causas" o 8re;uente prolongamento no espaço e no tempo
do processo poluente" são alguns dos 8actores ;ue tornam ut4pica a
demanda de clare(a cientí8ico-natural nessa =rea e ;ue e7emplarmente
evidenciam as di8iculdades do 5uí(o de imputação" por ve(es tradu(idas"
inclusive3 em situaç>es de obectividade da d<vida$2[6 'ra" se o legislador
português" 8le7ibili(ando as e7igências da responsabilidade civil" 8oi capa( deprescindir" em casos determinados" do car=cter ilícito e culposo do
comportamento" enveredando por 8ormas de responsabilidade ob5ectiva" 5=
não p`de" naturalmente" abdicar do
pressuposto do ne7o causal" ;ue 5usti8ica" em Eltima an=lise" a trans8erência do
dano para es8era 5urídica distinta da;uela em ;ue se produ(iu6
' Decreto-lei n6V 012$%%!" de $# de Jul3o procurou" pois" resolver os
1 'riginando os c3amados Hdanos-9-distQncia DistanBschVdenK e Hdanos tardiosMVtschVdenK6
2 Por uma Distribui!"o fundamentada do &nus da rova3 Lisboa" $%%%" [63 avendo ;ue distinguir as situaç>es de dEvida susceptível de correcção 5urídica
das situaç>es em ;ue não e7iste 5= ne7o de causalidade nem" conse;uentemente"responsabilidadeK6 Como sublin3a a Directiva comunit=ria relativa 9 responsabilidadeambiental" de Abril de $%%0" no seu considerando [ 3 Hnem todas as 8ormas de danosambientais podem ser corrigidas pelo mecanismo da responsabilidade6 Para ;ue estese5a e8ica(" tem de 3aver um ou mais poluidores identi8ic=veis" o dano tem ;ue serconcreto e tem de ser estabelecido um ne7o de causalidade entre o dano e o ou ospoluidores identi8icados6 hK A responsabilidade não : um instrumento ade;uado
para tratar a poluição de car=cter disseminado e di8uso" em ;ue : impossívelrelacionar os e8eitos ambientais negativos com actos ou omiss>es de determinadosagentes individuais6
1%
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problemas do ne7o de causalidade no domínio ambiental" estabelecendo" no
artigo _6V" a regra v=lida para ambas as modalidades de responsabilidade
civilK segundo a ;ual Ha apreciação da prova do ne7o de causalidade
assenta num crit:rio de verosimil3ança e de probabilidade de o 8acto danoso
ser apto a produ(ir a lesão veri8icada 666K06 Independentemente do conteEdo
concreto da solução" a preocupação do legislador português com o tema do
ne7o de causalidade merece ser assinalada6
Ainda assim" deve lembrar-se ;ue os problemas de prova não esgotam
as di8iculdades e7istentes neste campo6 +stas surgem" na realidade" a
montante" logo no plano substantivo da imputação, as teorias cl=ssicas sobre
o ne7o de causalidade" desde a conditio sine 6ua non3 9 causalidadeade;uada e 9 teoria do 8im da norma" assentam" todas elas" na causalidade
naturalística" cu5a aplicação : impossível no domínio ambiental6 Por isso"
de8endemos ;ue a imputação ob5ectiva deve assentar" antes" na ideia de
cone7ão do risco, o 8acto : ob5ectivamente imput=vel ao agente ;uando
este tiver criado2aumentado o risco da veri8icação do resultado lesivo e esse
risco se tiver materiali(ado no resultado_6 Re : certo ;ue a lei da
responsabilidade ambiental não resolve M por;ue não tin3a de resolver M o
problema substantivo da imputação" não deve es;uecer-se ;ue esta :
sempre ;uestão pr:via a tratar" s4 depois devendo ser resolvido o problema
da prova, trata-se" a8inal" de descobrir o 6uid da prova para s4 depois se
apurar o respectivo modus6
A lei optou por abordar o problema probat4rio atenuando o Hgrau de
prova do ne7o de causalidade6 'pção diversa M a 8avor da ;ual nos
3avíamos pronunciado M implicaria estabelecer uma presunção de
causalidade6 eremos" por:m" ;ue o legislador não dei7ou tamb:m de
consagrar uma presunção" ainda ;ue de 8orma tão-s4 implícita e restrita ao
segundo passo do 5uí(o de imputação" i.e.3 9 materiali(ação do risco, no ;ue
toca 9 criação ou aumento do risco" e7ige-se do lesado a prova da respectiva
probabilidade" presumindo-se" a partir daí" a materiali(ação no resultado
lesivo6
&ote-se ;ue a robabilidade surge" aparentemente" na Lei da
4 C8r6" sobre o tema" A&A P+<+R*<+L' D+ 'LI+I<A" Causalidade e imuta!"o na resonsabilidade civil ambiental3 Coimbra" $%%165 C8r6 A&A P+<+R*<+L' D+ 'LI+I<A" Causalidade cit6" // ss6
1%!
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Actas do Colóquio – A responsabilidade Civil por dano ambiental
<esponsabilidade Ambiental" ao nível da arecia!"o da rova x_A
arecia!"o da rova do nexo de causalidade assenta ...I`y6 <esulta" por:m"
do preceito ;ue o problema não :" em rigor" de arecia!"o da rova ao
contr=rio do ;ue o elemento literal sugereK" mas antes de medida ou de grau
de rova6 :.e." não est= em causa a valoração da prova mas antes a medida
da convicção do 5ui( necess=ria para este considerar o 8acto o ne7o de
causalidadeK como provado6 +sta c3amada de atenção : relevante" uma ve(
;ue" no Direito da prova" a probabilidade pode" em abstracto" relevar em três
níveis di8erentes/,
(i) )a valora!"o ou arecia!"o da rova, independentemente de;ual;uer previsão legal especí8ica" o 5ulgador 8unda tipicamente
a sua convicção sobre a veracidade do 8acto em diversos
elementos" incluindo a probabilidade da respectiva ocorrência6
Com e8eito" as regras de probabilidade intervêm sempre na
8ormação da convicção do 5ui(" ainda ;ue nos ;uadros da prova
stricto sensu, se este grau de prova e7ige a convicção sobre a
realidade e não sobre a robabilidade do 8acto" o ;ue :
certo : ;ue tal não signi8ica ;ue essa convicção não possa
8undamentar-se na probabilidade da realidade do 8acto6 HCom
e8eito" a a8irmação de ;ue um 8acto est= provado com
8undamento numa regra de probabilidade não signi8ica ;ue esse
8acto : prov=vel" mas ;ue ele se considera demonstrado com
base nessa mesma regra6 hK Portanto" a probabilidade
8undamenta a apreciação do 8acto como provado" mas não :
transposta para o pr4prio resultado" isto :" para o 8acto dado
como provado6 .m 8acto considerado provado : um 8acto
verdadeiro e não um 8acto provavelmente verdadeiro16
(ii) )o grau de rova' a prova stricto sensu pode" em casos pontuais
previstos na lei" ceder em bene8ício de uma prova baseada na
Hmera 5usti8icação" sendo su8iciente a convicção do 5ui( acerca
6 Para al:m de estar materialmente em causa na ideia de criação2aumento dorisco e" portanto" no pr4prio 5uí(o substantivo de imputação67 *+IW+I<A D+ R'.RA" As Partes3 o obecto e a rova3 Lisboa" ##_" $%6
1%"
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Instituto de Ciências Jurídico Políticas
da robabilidade do 8acto6
(iii) )a distribui!"o do &nus da rova &ão obstante a regra do art6
[0$6V do C4digo Civil!
" a doutrina tem procurado encontrarcrit:rios alternativos de distribuição do 4nus da prova" capa(es
de ultrapassar as di8iculdades colocadas por diversos casos
problem=ticos dos ;uais : e7emplo paradigm=tico o da
responsabilidade ambientalK6 +ntre outras" aventou-se a 3ip4tese
de o 4nus da prova ser distribuído" não de acordo com a
estrutura da norma" mas atendendo a crit:rios de probabilidade
estatísticaK, o 4nus da prova incumbiria 9 parte ;ue invocasse o
8acto menos prov=vel#" de tal 8orma ;ue" em caso de non li6uet3
o 8acto mais prov=vel seria aceite e o risco de erro 5udici=rio seria
menor %6 *rata-se de concepção ;ue tem sido criticada" por
bons motivos, para al:m de l3e 8altar suporte legal e 8undamento
material e8ectivo" a probabilidade de o 8acto se veri8icar :"
evidentemente" um motivo para o 8uncionamento das regras
legais mas ;ue não pode pretender prevalência sobre outros
8undamentos possíveis6 Por outro lado" o 5ui( teria de determinar
se : mais ou menos prov=vel a veri8icação do 8acto do ;ue a sua
não veri8icação" o ;ue constitui" por ve(es" 5uí(o sobremaneira
comple7o6 Acresce ainda ;ue a probabilidade 5= 8oi tomada em
conta na apreciação da prova" pelo ;ue a sua intervenção ao
nível da repartição do 4nus da prova signi8icaria uma inaceit=vel
Hdupla consideração6 Por estes motivos" resta concluir ;ue a
probabilidade pode relevar apenasK ao nível da apreciação da
prova ou do grau de prova" mas não na pr4pria repartição do
8 &os termos desta norma" H9;uele ;ue invocar um direito cabe 8a(er a prova dos8actos constitutivos do direito alegado6
9 Re : menos prov=vel o 8acto veri8icar-se do ;ue não se veri8icar" a parte ;ue oinvoca teria de o provar se" pelo contr=rio" : mais prov=vel a sua veri8icação do ;uea não veri8icação" 8icaria dispensada da prova6
1% )+<A<D <+I&+C@+" Die ;e>eislastverteilung im ;rgerlichen %echt und im Arbeitsrecht als rechtsolitische %egelungsaufgabe3 erlin 3 #1/" [0 ss6
1 Assim" P<.**I&)" em A.)A<*+L2LA.+&2P<…**I&) orgs6K" Handbuch der ;e>eislast.Grundlagen3 Carl eGmanns" $%%#" _" 01 R*+FA& A<&'LD" u den GrenBen der)ormentheorie3 AcP $%# $%%#K" $!_-[%! $#!K6
1%#
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Actas do Colóquio – A responsabilidade Civil por dano ambiental
4nus da prova6
&o caso concreto" o art6 _6V determina" literalmente" ;ue a arecia!"o da
rova assenta num crit:rio de probabilidade6 &o entanto" assim interpretada"a regra perderia toda a sua utilidade" visto ;ue" independentemente de
;ual;uer previsão legal" a probabilidade sempre relevaria para a 8ormação
da convicção do 5ui( sobre a veri8icação do ne7o causal" tal como relevam"
por e7emplo" as presunç>es naturais ou 5udiciais raesumtiones hominisK ou a
prova rima facie ou de primeira aparência assente em regras ou m=7imas
de e7periênciaK6 A lei pretendeu" antes" ir mais longe e" em con8ormidade com
a e7periência comparada" aligeirar o pr4prio grau de prova" inserindo" assim" o
ordenamento português no grupo da;ueles sistemas 5urídicos ;ue abdicam da
e7igência de certe(a sobre o ne7o causal e pre8erem resolver os problemas
surgidos no Direito do ambiente atrav:s da 8i7ação de um crit:rio de
probabilidade6 Fê-lo" no entanto" de 8orma original" con5ugando a redução do
grau de prova M ;uanto 9 criação ou aumento do risco pelo agente M com
uma implícita inversão do 4nus da prova" decorrente da presunção"
3ermeneuticamente descoberta" de materiali(ação do risco no resultado
lesivo" como veremos6
Para 5=" assente-se ;ue o artigo _6V vem" pois" redu(ir a medida geral de
prova" ;ue dei7a ser a prova stricto sensu para passar a ser a Hmera
5usti8icação" i.e.3 a convicção do 5ui( acerca" não da verdade" mas da
probabilidade do 8acto6 ' car=cter e7cepcional da norma no nosso
ordenamento 5urídico s4 encontra praticamente paralelo em mat:ria de
providências cautelares" aí por estar em causa um 5uí(o de prognose sobre um
acontecimento 8uturo a probabilidade s:ria do recon3ecimento da e7istênciade um direitoK e" sobretudo" devido 9 celeridade e7igida e ao car=cter
provis4rio da tutela con8erida$6 A redução da medida da prova" no caso da
responsabilidade civil ambiental" 3avia sido reclamada" entre n4s" por Autores
como C.&AL R+&DI[ ou C'LAX' A&*.&+R
0, o primeiro" apelando para crit:rios de
1$ Robre este e outros e7emplos em ;ue : su8iciente a Hmera 5usti8icação" c8r6*+IW+I<A D+ R'.RA" As artes cit6" $%$ e $%[6
1[ %esonsabilidade civil or danos ecol&gicos. da reara!"o do dano atrav(s
de restaura!"o natural3 Coimbra" ##!" $$[610 C'LAX' A&*.&+R" Polui!"o industrial e dano ambiental. As novas afinidadeselectivas da resonsabilidade civil3 FD.C LWII" ##" -$! $_K6
1%$
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Instituto de Ciências Jurídico Políticas
verosimilhan!a ou de probabilidade 3 tendo em conta as circunstQncias do
caso concreto o segundo" re8erindo a su8iciência de uma Hprova signi8icativa6
A alteração do princípio geral vigente no Direito português ;uanto 9 medida
da convicção do 5ui( necess=ria para o 8acto ser tido como provado" embora
não se5a a Enica nem talve( a mel3orK via de solução do problema da
di8iculdade de prova no Qmbito ambiental_" tem" ao menos" a virtude de
e8ectivamente 8acilitar a prova do ne7o causal" permitindo ;ue a
responsabilidade civil permaneça como instrumento Etil e operativo de tutela
do Ambiente6 Para tanto imp>e-se" todavia" uma ponderada interpretação do
artigo _6V do Decreto-Lei n6V 012$%%!,
_A arecia!"o da rova do nexo de causalidade
assenta num crit(rio de verosimilhan!a e de
robabilidade de o facto danoso ser ato a roduBir a
les"o verificada3 tendo em conta as circunstKncias do
caso concreto e considerando3 em esecial3 o grau de
risco e de erigo e a normalidade da ac!"o lesiva3 a
ossibilidade de rova cient+fica do ercurso causal e
o cumrimento3 ou n"o3 de deveres de rotec!"o`.
II. Inter!reta:;o do arti=o 6.H
1. O sentido =eral do art. 6.H$ i!uta:;o co ase na !roailidade de
cria8ão de um risco concreto9 a !resun:;o i!lícita de materializa8ão
do risco
De acordo com as regras gerais do ordenamento 5urídico português" o lesado
teria de provar" para al:m dos demais pressupostos da responsabilidade civil"
iK a criação2aumento do risco pelo agente2instalação e iiK a materiali(ação
no resultado lesivo6 A norma do artigo _6V do Decreto-Lei n6V 012$%%! altera"
1_ Criticamente" c8r6 CA<LA AAD' )'+R" A resonsabilidade civil or danoecol&gico. %eflex*es reliminares sobre o novo regime institu+do elo Decreto8lei n.],-/01123 de 04 de 5ulho3 em CA<LA AAD' )'+R2*IA)' A&*.&+R orgs6K" O 6ue hJ de novono Direito do Ambiente Actas das 5ornadas de Direito do Ambiente3 Lisboa" $%%#" $[1-$1_ $1$ e $1[K6
1%%
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Actas do Colóquio – A responsabilidade Civil por dano ambiental
por:m" as regras gerais e 9 vítima apenas e7ige ;ue prove Ha verosimil3ança e
a probabilidade de o 8acto ser apto a causar a lesão" tendo em conta as
circunstQncias do caso concreto6
A re8erência" lado a lado" 9 Hverosimil3ança e 9 Hprobabilidade constitui
primeiro elemento de surpresa na interpretação da norma6 O certo ;ue essa
re8erência não dei7a de ser corrente na doutrina6 *+IW+I<A D+ R'.RA/" por e7emplo"
escreve ;ue Ha mera 5usti8icação basta-se com a demonstração de ;ue o
8acto ( veros+mil ou laus+vel 666K A mera 5usti8icação re;uer somente um
convencimento baseado num 5uí(o de verosimil3ança ou de plausibilidade6 O
6ue ( veros+mil ou laus+vel ( rovJvel com uma certa margem de incerteBa
ou de d<vida 666K6 *amb:m C.&AL R+&DI" por seu lado" reclamava" no
especí8ico campo ambiental" ;ue a prova do ne7o causal atendesse a
Hcrit:rios de verosimilhan!a ou de robabilidade" como dissemos6
Cabe perguntar pelo signi8icado dos dois termos e como se distingue a;uilo
;ue : veros+mil da;uilo ;ue : rovJvel. Literalmente" apesar de alguma
3esitação dos dicion=rios da língua portuguesa" Hverosímil ou e;uivale a
Hprov=vel ou : menos ;ue prov=vel6
_,I 6ue arece verdadeiro ...I 0I 6ue ( oss+vel ou
rovJvel or n"o contrariar a verdade3 laus+vel` Dicion=rio
ouaiss da Língua PortuguesaK
_A 6ualidade da6uilo 6ue arece ser verdadeiro3 6ue n"o
reugna a acreditar3 6ue ( rovJvel3 laus+vel3 cr+vel` Dicion=rio
da Porto +ditoraK.
_6ue arece ou tem robabilidade de ser verdadeiro3 6ue
se ode acreditar3 laus+vel ...I` Dicion=rio da Academia666K
Considerando ;ue o conte7to normativo não modi8ica" pelo menos 9
partida" o sentido literal dos termos Hverosimil3ança e Hprobabilidade"
podemos assentar ;ue : partindo desse sentido literal ;ue o int:rprete deve
trabal3ar6 'ra" se verosimilhan!a signi8icar o mesmo ;ue robabilidade3 a
utili(ação legal dos dois conceitos : desnecess=ria" complica a redacção da
lei" di8iculta a sua interpretação e concentra erradamente a atenção do
1/ As artes cit6" p6 $%$6 It=lico acrescentado6
1%8
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5urista6 Deve" por isso mesmo" a re8erência legal ser ob5ecto de interpretação
ab-rogante l4gica6 Re" pelo contr=rio" verosimilhan!a implicar um grau de
convicção do 5ui( in8erior 9 probabilidade" i.e.3 se a lei aceitar uma imputação
do dano ao agente por;ue" pura e simplesmente" não repugna acreditar ;ue
o 8acto2instalação : apto a causar o dano" então este segmento do artigo _6V
deve ser tido por inconstitucional" por violar as garantias constitucionais ao
nível da imputação de danos" maxime o princípio da propriedade privada
artigo /$6V da ConstituiçãoK6
Perante o princípio geral casum sentit dominus3 a imputação dos danos
so8ridos numa es8era 5urídica a es8era distinta pode e deveK" seguramente" ser
ob5ecto de 8le7ibili(aç>es ditadas por Hdi8iculdades de prova ob5ectivamenteveri8icadas" mas tem sempre de encontrar título bastante" o ;ue não sucede
;uando se considera su8iciente a mera possibilidade de o 8acto ser ato a
causar o dano6 <epare-se ;ue não se trata da probabilidade de o agente ter
causado o dano mas sim da probabilidade de ser ato a caus=-lo" o ;ue 5=
por si : bem menos6 Acresce ;ue a regra do artigo _6V : aplic=vel tanto 9
responsabilidade sub5ectiva como 9 responsabilidade pelo risco, neste Eltimo
caso" agrava-se naturalmente a situação" imputando-se o dano ao agente
independentemente de ilicitude e de culpa e com base numa prova de tal
modo lassa do ne7o causal ;ue di8icilmente poder= considerar-se legítima6 +m
suma" ou verosimil3ança signi8ica o mesmo ;ue probabilidade e deve ser
ob5ecto de interpretação ab-rogante" ou implica um grau de convicção
in8erior 9 probabilidade e então o preceito seria" nessa parte" inconstitucional"
por violar as garantias do +stado de Direito6 =-de e7igir-se sempre" portanto"
uma probabilidade s:ria" ra(o=vel ou predominante" 9 semel3ança da
e7igência 8ormulada nos ordenamentos anglo-sa74nicos6 ' grau de
probabilidade e7igido variar=" no entanto" con8orme o caso e" em especial"
consoante Ha possibilidade de prova cientí8ica do percurso causal6 *al o
sentido Etil da re8erência contida na segunda parte do artigo _6V6 &o limite" se
o ne7o causal puder ser provado em termos de certe(a prova stricto sensuK"
naturalmente ;ue se e7igir= ;ue o 5ui( 8i;ue Hcerto da e7istência do ne7o
causal" não sendo su8iciente a convicção acerca da probabilidade do
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Actas do Colóquio – A responsabilidade Civil por dano ambiental
mesmo16
+stamos agora em condiç>es de avançar, o artigo _6V reclama" portanto" a
Hprobabilidade de o 8acto lesivo ser ato a causar a lesão veri8icada" o ;ue :
algo de signi8icativamente diverso M e menos e7igente M de se re;uerer a
Hprobabilidade de o 8acto lesivo ter causado a lesão veri8icada6 *rata-se de
originalidade do legislador português" sem paralelo nos ordenamentos 5urídicos
estrangeiros ;ue optam pelo aligeiramento da medida da prova, sempre ;ue
se e7ige a probabilidade : a probabilidade de o 8acto ter causado o dano6 J=
;uando se recorre 9 8i7ação de presunç>es" : normal o legislador e7igir" para
a presunção actuar" a prova da aptidão da instalação para causar o dano6
*al o caso do / I da m>elthaftungsgesetB alemã6 A lei portuguesa" apesar
de optar pela via da su8iciência da mera 5usti8icação como medida de prova"
8oi mais longe e não e7igiu se;uer a probabilidade de o 8acto ser a causa do
dano mas apenas a probabilidade de oder ser a causa6 Adiante veremos as
implicaç>es da 8ormulação adoptada pelo artigo _6V6
*udo o ;ue o lesado tem de provar :" em suma" a probabilidade de a
instalação ser apta a causar o dano6 A aptidão para causar o dano não :
mais" a8inal" do ;ue a ;ualidade da;uilo ;ue comporta um risco6 ' risco :" naverdade" a Heventualidade danosa potencial!" ou a susceptibilidade de
ocorrência de um dano" de tal maneira ;ue o conceito de risco coincide com
o conceito legal de Haptidão para produ(ir a lesão6 'u se5a" o lesado tem"
11 +7ige-se a Hcerte(a ou" segundo as regras de sentido social" umaHprobabilidade muito pr47ima da certe(a6 A Hcerte(a deve a;ui ser entendidasegundo o Hpadrão da vida pr=tica ou" mel3or" de acordo com o respectivosigni8icado social6 +sta c3amada de atenção remete-nos para o problema de saber se
a convicção 5udicial deve ser encarada de acordo com um crit:rio sub5ectivo ou se"pelo contr=rio" : necess=ria uma medida de prova ob5ectivamente determin=vel6Robre o problema" especi8icamente a respeito da imputação dos danos ambientais"c8r6 L„*<AR" ivilrechtliche Haftung fr m>eltschVden" erlim" ##_" [0[ ss6 A teoriasub5ectiva da medida da prova sublin3a a convicção do 5ui( como um acto interno, acerte(a sub5ectiva sobre a verdade de um 8acto6 Como 8orma de evitar o Hcapric3o
5urisprudencial a ;ue a sua versão e7trema condu(iria" apela-se para a necessidadede ter em conta a He7periência de vida de todos os dias6 Pelo contr=rio" osrepresentantes das teorias ob5ectivas sobre a medida da prova partem da premissa de;ue 3= um grau de prova ob5ectivamente mensur=vel ;ue deve ser tomado comobase da 8ormação da convicção 5udicial6 ' 5ui( deve 8ormar a sua convicção deacordo com valores ob5ectivos e racionais de probabilidade e decidir livre de
apreciaç>es sub5ectivas-emocionais61! +&++R C'<D+I<'" Direito das obriga!*es" vol6 II" Lisboa" #!%" [/$ 3 a prop4sito daresponsabilidade pelo risco6
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resumidamente" de demonstrar a robabilidade da cria!"o do risco elo
agente3 Htendo em conta as circunstQncias do caso concreto risco concreto
e não abstractoK6
Da;ui se retira ;ue a regra de probabilidade do artigo _6V se reporta apenas
ao primeiro passo do 5uí(o de imputação tal como atr=s 8ormulado, abrange a
cria!"o ou aumento do risco mas não 5= a materialiBa!"o do risco no
resultado lesivo3 ;ue em parte alguma da norma : mencionado6 Ruid uris3
então" ;uanto 9 materiali(ação do risco <esulta claro da lei ;ue não se
pretende e7igir do lesado a prova" sob pena de destruição do sentido Etil do
artigo _6V6 Re basta ao lesado provar ;ue : prov=vel a criação2aumento do
risco e se tanto : su8iciente para se a8irmar o ne7o causal" então : por;ue Mapesar de a lei não o assumir e7pressamente M se presume a materiali(ação no
resultado6
Poderia duvidar-se da legitimidade da presunção" uma ve( ;ue a sua base
: a mera probabilidade de criação do risco e não em rigor a criação do risco6
as semel3ante 3esitação não teria ra(ão de ser6 <ecorde-se ;ue" antes da
aprovação da lei da responsabilidade ambiental" de8endemos ;ue a
materiali(ação do risco se presumiria ;uando 3ouvesse sido provada a
criação ou aumento do risco em abstracto6 +screvemos" com e8eito" ;ue" em
princípio" deveria e7igir-se a demonstração de ;ue a;uela instalação"
8uncionando na;ueles moldes" utili(ando a;ueles materiais e a;uele processo
de 8abrico" libertando a;uelas emiss>es" na;uelas condiç>es atmos8:ricas
concretas" etc6 h criou ou aumentou o risco não permitido ou previsto na
norma legal6 'u se5a" tal como no Direito penal" lugar de origem da 84rmula da
cone7ão de risco" a a8irmação do 5uí(o de imputação sup>e"
indiscutivelmente" uma apreciação do risco em concreto" tamb:m a;ui
deveria valer regra idêntica" ;ue : a;uela ;ue mel3or assegura ;ue a
responsabilidade civil não se alarga em e7cesso e ;ue o ne7o de causalidade
desse modo continua a cumprir a respectiva 8inalidade garantística" de8inindo
claramente as 8ronteiras do instituto em estudo6 Por isso" de ure condendo" 8oi
essa a solução ;ue de8endemos6 Rimplesmente" tal e7igência s4 poderia ser
imposta 9 vítima se esta tivesse ao seu dispor meios ;ue l3e 8acultassem 8a(er a
prova da re8erida criação ou aumento do risco em concreto" o ;ue de urecondito" est= longe ainda 3o5eK de suceder no nosso ordenamento6 Por esse
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Actas do Colóquio – A responsabilidade Civil por dano ambiental
motivo" dissemos ;ue o 5ui( deveria e7igir apenas ;ue a vítima provasse a
aptidão abstracta da instalação para causar o dano" actuando então a
presunção de imputação risco abstractoK6 &ote-se" em todo o caso" ;ue
;uando 8al=vamos em demonstrar a criação do risco Hem abstracto não
pretendíamos" de modo algum" abdicar da e7igência de prova" pela vítima"
por e7emplo" da cone7ão temporal e espacial com a libertação de
determinados poluentes o ;ue : e7igência bem menor ;ue a contida" por
e7emplo" na .m?elt) alemãK" para al:m naturalmente da abstracta
susceptibilidade de essas emiss>es causarem o dano#6 Foi" em rigor"
preocupação idêntica ;ue a lei veio acautelar ao considerar su8iciente a
prova de ;ue a criação do risco concreto : prov=vel' de nada serviria
presumir a materiali(ação do risco no resultado lesivo se" para a presunção
actuar" se e7igisse a certe(a do 5ui( acerca da criação do risco concreto6
avia" pois" duas vias" perante a ausência de pretens>es de in8ormação, ou se
entendia ;ue o lesado tin3a de provar o risco abstracto opção ;ue
de8endemosK ou se mantin3a a e7igência de prova do risco concreto mas em
termos de mera probabilidade opção da leiK6 As duas opç>es não são" na sua
essência" signi8icativamente diversas6 A presunção implícita no artigo _6V :"portanto" legítima" não obstante assentar" na sua base" num 5uí(o de
probabilidade" acautelando a situação de dificuldade ou necessidade de
prova ;e>eisnotK em ;ue se encontra o lesado6
*emos" assim" em 5eito de balanço" ;ue ao lesado cabe provar ;ue :
prov=vel a criação ou aumento do risco pela instalação6 Feita essa prova"
presume-se ;ue o risco se materiali(ou no resultado6 ' agente" por seu lado"
pode contraprovar a probabilidade do risco carreando para o processo os
elementos ;ue permitam destruir a convicção do 5ui( acerca dessa
probabilidadeK mas pode tamb:m" naturalmente" 8a(er a prova negativa da
materiali(ação do risco no resultado lesivo6 :.e.3 pode demonstrar ;ue" apesar
de a criação do risco ser prov=vel" não 8oi esse risco ;ue se materiali(ou no
dano ocorrido6
1# C8r6 A&A P+<+R*<+L' D+ 'LI+I<A" Causalidade cit6" #/ ss6
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1. actores a considerar na a!recia:;o da !ro/a
1.E. As circunstncia do caso concreto
&o ;ue toca aos 8actores a considerar na avaliação da probabilidade de o
8acto ser apto a causar a lesão" a lei reclama ;ue se atenda 9s circunstQncias
do caso concreto" dei7ando claro ;ue o ;ue est= em causa : a atid"o
concreta da instalação para causar o dano e" portanto" o risco em concreto e
não em abstracto6 ' ;ue a lei portuguesa não 8a( M e devia ter 8eito M : indicar
;uais são as HcircunstQncias do caso concreto relevantes6 .ma 8ormulação
similar 9 do / I da .m?elt3a8tungsgeset( alemã seria dese5=vel, _se3 de
acordo com as circunstKncias do caso concreto3 uma instala!"o for ata a
causar o dano em causa3 resume8se 6ue o dano foi causado or esta
instala!"o. A atid"o ara causar o dano num caso concreto determina8se
tendo em conta a situa!"o da emresa3 o seu modo de funcionamento3 a
natureBa e a concentra!"o dos materiais utiliBados e libertados3 as condi!*es
meteorol&gicas3 o temo e o lugar em 6ue o dano ocorreu3 a natureBa do
dano3 bem como outras condi!*es eseciais3 6ue aontem ara ou contra a
causa!"o do dano6 Apesar de o legislador o não determinar" sãonaturalmente 8actores como os descritos ;ue o 5ui( deve ter em conta na
an=lise do caso concreto, estão em 5ogo elementos internos 9 pr4pria
instalação o modo de 8uncionamento" a situação da empresa" a nature(a e
concentração dos materiais utili(ados e libertados I3 elementos exteriores 9
mesma condiç>es meteorol4gicas" tempo e lugar em ;ue o dano ocorreu"
nature(a do danoK e ainda outras circunstKncias ;ue apontem para ou contra
a causação do dano pela instalação por e7emplo" particularidades t:cnicas
da instalação M obsoleta ou moderna" 8al3as t:cnicas" peculiaridades do
processo de 8abrico" a observQncia ou não de standards ambientais pEblicos
ou privados" inter aliaK$%6
+m 8ace do artigo _6V permanece" sobretudo" a dEvida de saber como
consegue o lesado 8a(er prova das circunstQncias do caso concreto" mesmo
;ue apenas em termos de sustentar a simples probabilidade de o 8acto ser
2% C8r6 L„*<AR" ivilrechtliche cit6" ##_" p6 01 I++C@+" m>elthaftung undm>elthaftungsrecht3 iesbaden" ##%" [1 e [!6
18!
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se5am respons=veis pela 8iscali(ação da instalação ou ainda pela recol3a de
dados sobre impacto ambiental$6
.ma pretensão similar perante o operador da instalação deveria" em suma"ter sido prevista na lei da responsabilidade ambiental6 T lu( do regime vigente"
não s4 um direito 9 in8ormação não est= e7pressamente consagrado" como
nada 8unda a pretensão pr:-processualK da vítima de obter in8ormaç>es
potencialmente HincriminadorasK acerca do processo causal 5unto do
operador da instalação$$6 &em se invo;ue o princípio da cooperação
consagrado no C4digo de Processo Civil artigo $//6VK, independentemente
do alcance ;ue se atribua a este princípio
$[
" este" sobretudo" s4 vale 5= no2 +sta atribuição legal de um direito 9 in8ormação pr:-processualK 9 vítima :
tanto mais importante ;uanto a 5urisprudência tem re5eitado um dever geralprocessual de esclarecimento a cargo das partes allgemeine roBessuale
Auf7lVrungsflicht der ParteienK e s4 admite um direito material 9 in8ormação aoabrigo do $0$ ) Ho devedor est= obrigado a e8ectuar a prestação de acordocom os re;uisitos da 8idelidade e boa 8:" tendo em consideração os usos do tr=8icoK;uando o pedido em causa : certo e apenas est= em aberto o conteEdo do mesmo6C8r6 L„*<AR" ivilrechtliche cit6" 0!!" e 5urisprudência aí citada c8r6 tamb:m P'RPIC"Haftung fr m>eltschVden" erlim" ##_" 106 &o entanto" a e8ectividade do direitoatribuído no ! ser=" em muitas situaç>es" diminuta" uma ve( ;ue" para o mesmo sere7ercido" se e7ige ;ue a vítima possua dados ;ue l3e permitam 5= assumir ;ue 8oi uma
dada instalação ;ue causou o dano6 'ra" pode 5ustamente ocorrer ;ue a vítimacareça das in8ormaç>es em causa para ser capa( de identi8icar o potencial lesante6*al suceder= com ra(o=vel plausibilidade no caso" 8re;uente" de causalidade mEltipla6+m suma" deveria este direito 9 in8ormação ser mais amplamente consagrado6 &aproposta de lei da responsabilidade ambiental alemã do partido ecologista" o direito9 in8ormação surgia" de resto" previsto em termos mais abrangentes" correspondendo9 tendência de maior protecção do ambiente e da vítima de danos ambientais c8r6I++C@+" m>elthaftung cit6" [!K6 +m termos bem diversos" autores 3= ;ue consideram;ue uma pretensão de in8ormação tornaria desnecess=rio ;ual;uer outra protecçãoda vítima6 &este sentido" P'RPIC" Haftung cit6" 1/ ss6
2$ C3amava" entre n4s" a atenção para este ponto" antes da nova lei" C .&AL R+&DI" %esonsabilidade cit6" 0/6" ;ue a8irmava, Ha recol3a exedita de in8ormação
sobre as circunstQncias em ;ue ocorreu o dano como" por e7emplo" a reali(ação dean=lise a descargas de e8luentes e a veri8icação de condiç>es de 8uncionamento depotenciais lesantesK : muitas ve(es essencial para possibilitar a 8undamentação depretens>es indemni(at4rias6 +ste :" contudo" um outro ponto em ;ue o legisladorportuguês não considerou a especi8icidade da responsabilidade por danos aoambiente6 Rão assim aplic=veis as regras gerais previstas no c4digo de procedimentoadministrativo e no contencioso administrativo" caso o potencial lesante se5a umaentidade pEblica6 + no c4digo de processo civil" caso se5a um particular6 <egras estas
M acrescentamos n4s M ;ue assumem car=cter claramente insu8iciente62[ Robre este" c8r6 *+IW+I<A D+ R'.RA" Estudos sobre o novo rocesso civil3 Lisboa" ##1"
e ainda :ntrodu!"o ao rocesso civil3 Lisboa" $%%%" _/ ss6 C8r6 tamb:m L+<+ D+ F<+I*AR":ntrodu!"o ao rocesso civil. Conceito e rinc+ios gerais L luB do c&digo revistoI3
Coimbra" ##/" _% ss6 Como re8ere o primeiro A6 citado" :ntrodu!"o3 cit6" _/" Hsegundoo princípio da cooperação" as partes e o tribunal devem colaborar entre si naresolução do con8lito de interesses sub5acente 9 acção6 'ra" Ho dever de
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Actas do Colóquio – A responsabilidade Civil por dano ambiental
Qmbito do processo" o ;ue pressup>e ;ue a vítima ten3a proposto a acção
com base em determinados 8actos contra determinado agente, ora" :
precisamente isso ;ue" sem a;uela in8ormação" ela não est= em condiç>es
de 8a(er6 Assim" a di8iculdade de acesso 9 in8ormação deve ser tomada em
consideração pelo 5ui(" no processo de apreciação da prova disponível e no
grau da probabilidade e7igida6
1.1. O =rau de risco e de !eri=o9
Para al:m das circunstQncias do caso concreto" o artigo _6V reclama ;ue se5a
considerado" em esecial3 o grau de risco e de erigo. A 8ormulação legal
levanta problema evidente, o tribunal aprecia a probabilidade da criação do
risco tendo em conta M di( a lei M o Hgrau de risco e de perigo6 A 3ip4tese :"
no mínimo" estran3a, para provar a probabilidade do risco recorre-se666 ao
grau de risco6 *rata-se" na realidade" de mero 5ogo linguístico" incapa( de
8ornecer ;ual;uer contributo Etil para o problema da prova do ne7o causal na
responsabilidade ambiental6 Assim sendo" resta concluir" tamb:m a;ui" pela
interpretação ab-rogante deste segmento da lei6
1.5. A noralidade da ac:;o lesi/a
De seguida" a lei e7ige ;ue se atenda 9 Hnormalidade da acção lesiva6
Literalmente" parece ;ue nos depararíamos com o especí8ico problema"
especialmente estudado no domínio penal" das acç>es lesivas
correspondentes a comportamentos Hnormais" Hneutros ou do H;uotidiano6
&ão obstante" a interpretação do preceito revela ;ue se trata" mais
simplesmente" de saber se : normal ou não a;uele tipo de instalação causar
a;uele tipo de dano" no sentido de ser ou não 3abitual ou 8re;uente caus=-lo"
tendo em conta" designadamente" dados estatísticos6 as se : assim"
cooperação assenta" ;uanto 9s partes" no dever de litigQncia de boa 8: c8r6 art6 $//6V-AK6 hK ' dever de cooperação estende-se igualmente 9 importante =rea da prova6' art6 _#6V" n6V " estabelece hK ;ue todas as pessoas" se5am ou não partes na causa"têm o dever de prestar a sua colaboração para a descoberta da verdade"respondendo ao ;ue l3es 8or perguntado" submetendo-se 9s inspecç>es necess=rias"8acultando o ;ue 8or re;uisitado e praticando os actos ;ue 8orem determinados6
Nuanto 9s partes" este dever de colaboração : independente da repartição do 4nusda prova hK" isto :" vincula mesmo a parte ;ue não est= onerada com a prova do8acto controvertido p6 _1K6
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pre8erível seria ;ue a lei apelasse directamente para esses crit:rios estatísticos"
essenciais na 8ormação da convicção do 5ui( sobre a probabilidade do ne7o
causal6
' papel dos crit:rios estatísticos na apreciação da prova não se con8unde"
naturalmente" com a intervenção da estatística en;uanto crit:rio de
imputação6 A Hcausalidade estatística$0 não pode ser tida em conta a este
Eltimo nível, sem pre5uí(o da re8erida relevQncia das regras estatísticas para a
8ormação da convicção do 5ulgador $_" não pode aceitar-se ;ue estes sirvam
de crit:rio imediato ou aut4nomo de averiguação do ne7o causal6 Pense-se
na ilegítima a8irmação" em ;ue esse crit:rio se tradu(iria" segundo a ;ual" por
e7emplo" Ha instalação A causou o dano @ por;ue estatisticamente asinstalaç>es do tipo A causam danos do tipo @6 Reria patente a brec3a"
in8undada" ;ue se introdu(iria no nosso sistema 5urídico" desde logo por;ue a
estatística : 8alaciosa" 8al3ando 8re;uentemente em 8ace do caso concreto
com o ;ual temos ;ue trabal3ar" pois ;ue H;uestionada : sempre a causa do
concreto evento$/2$16 Portanto" a relevQncia ;ue se deve atribuir aos crit:rios
estatísticos não : directa ou aut4noma mas apenas indirecta e con5ugada
com os demais 8actores em 5ogo$!6 Por outras palavras" : apenas um dos
8actores a serem considerados pelo 5ui( tendo em vista a 8ormação da
convicção sobre a probabilidade da veri8icação do ne7o causal6
1.3. A !ossiilidade de !ro/a cientí&ica do !ercurso causal
' artigo _6V determina" depois" ;ue se atenda 9 H ossibilidade de rova
20 A causalidade estatística" como escreve +&++R C'<D+I<'" Tutela do ambiente edireito civil" em Direito do Ambiente3 I&A" 'eiras" ##0" [#%" : a;uela ;ue Hsaltando porcima da pr4pria conditio sine 6ua non se torna aparente" a8inal" num con5untoalargado de 8actos incolores" ;uando isoladamente tomados6 HPor e7emplo, seemiss>es radioactivas 8a(em aumentar o nEmero de cancros em certa região" oagente : respons=vel ainda ;ue não possa" concretamente" di(er ;ue um certocancro não surgiria" se não 8osse a radiação p6 [#_" nota [[K6
2_ Inclusivamente atrav:s da prova rima facie ou prova de primeira aparência62/ L„*<AR" ivilrechtliche cit6" $[[621 +DIC.R" ivilrecht und m>eltschutB" J 12#!/" 11!-1!_ 1!K" considera ;ue
uma responsabilidade 8undada estatisticamente se 5usti8ica mais 8acilmente" do pontode vista pr=tico e dogm=tico" se se tratar de um largo nEmero de vítimas" cu5as
di8erenças individuais no con5unto são canceladas62! ' ;ue não signi8ica ;ue a estatística não ten3a um papel acrescido nodomínio 5us-ambiental" como bem se compreende6
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cient+fica do ercurso causal`6 *rata-se de um dos aspectos em ;ue a lei
portuguesa 8oi mais marcadamente in8eli(6 T lu( da norma em causa" dir-se-ia
;ue" para se considerar provada a robabilidade de a instalação ser apta a
causar o resultado" se deveria atender 9 possibilidade de rova cient+fica do
percurso causal6 &ão descortinamos o sentido Etil desta re8erência6
Re : possível a prova cientí8ica" e7ige-se" pura e simplesmente" do lesado
essa prova e a regra da probabilidade do artigo _6V não interv:m se;uer . &ão
se compreenderia" na realidade" ;ue a prova da robabilidade atendesse 9
possibilidade de prova do percurso causal6
Re a prova cientí8ica não pode ter lugar M 3ip4tese típica e a Enica em ;ue
: su8iciente a probabilidade do ne7o causal M" não se compreende tamb:m amenção 9 nãoK possibilidade de prova no artigo _6V6
+m suma" a possibilidade de prova cientí8ica não : 8actor a ;ue se deva
atender ;uando se trata de determinar a probabilidade de a instalação ser
apta a causar o dano6 Di8erentemente" a impossibilidade da prova constitui
antes a ratio da atenuação do grau de prova levada a cabo pelo legislador
português6 Assim" mais uma ve( não vemos alternativa senão interpretar ab-
rogantemente tamb:m deste segmento do artigo _6V6
1.6. O cu!riento< ou n;o< de de/eres de !rotec:;o
' Eltimo 8actor a tomar em consideração na apreciação da prova da
causalidade : o Hcumprimento" ou não" de deveres de protecção6 ' termo
Hdeveres de protecção não :" evidentemente" utili(ado com rigor t:cnico" no
sentido de deveres acess4rios decorrentes da boa 8: e ;ue acompan3am e
por ve(es antecedemK a relação contratual6 &o presente conte7to" trata-se"mais simplesmente" dos deveres susceptíveis de evitar danos para terceiros em
conse;uência do operar da instalação e" concretamente" deveres de
8uncionamento impostos pelas autori(aç>es administrativas e pelas entidades
reguladoras" na medida em ;ue o seu ob5ectivo se5a evitar os e8eitos
ambientais em causa6
A re8erência a este elemento :" aparentemente" ra(o=vel, no caso de
incumprimento dos deveres" : mais prov=vel ;ue a instalação ten3a causado
o dano no caso de cumprimento" : menos prov=vel o ne7o causal6 &o
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entanto" : necess=rio con5ugar esta veri8icação com as di8erentes
modalidades de responsabilidade a ;ue o artigo _6V se aplica6
&o ;ue toca 9 responsabilidade sub5ectiva" esta pressup>e" por de8inição"
ilicitude e culpa6 Rigni8ica isto ;ue" nesta modalidade de responsabilidade" se
re;uer" sempre" o incumprimento dos deveres de 8uncionamento da
instalação6 Da;ui resulta ;ue o incumprimento dos deveres estaria"
aparentemente" a ser duplamente valorado, ao nível da ilicitude e ao nível do
ne7o de causalidade6 ais concretamente" dir-se-ia ;ue da ilicitude
decorreria" iso ure3 a maior probabilidade do ne7o causal6 Por outras
palavras" se a violação de deveres de 8uncionamento e7iste necessariamente"
não : possível 8a(er variar o grau de probabilidade da imputação ob5ectivaconsoante 3a5a cumprimento ou preterição dos deveres em 5ogo6 A re8erência
legal não vale" pois" para a responsabilidade sub5ectiva6
Di8erentemente sucede no caso da responsabilidade ob5ectiva6 A;ui
prescinde-se da ilicitude e da culpa" mas não 8ica e7cluída a possibilidade de
o lesante ter violado determinados deveres de 8uncionamento" ainda ;ue tal
não se5a essencial 9 sua responsabili(ação6 Assim sendo" na 3ip4tese de
incumprimento de tais deveres" poderíamos concluir ;ue : mais prov=vel
veri8icar-se o ne7o causal do ;ue na 3ip4tese inversa6 &o entanto" mais Etil :"
no 5uí(o sobre o grau de probabilidade" atender-se 9 observQncia" ou não" das
*DR" por ve(es e7igidas nas pr4prias licenças administrativas" sendo pouco
prov=vel ;ue a instalação ten3a causado o dano no caso de terem sido
empregues essas t:cnicas6 *rata-se" de resto" de solução ;ue 8avorece e
incentiva a constante actuali(ação tecnol4gica ro ambiente" para al:m de
ter utilidade para o pr4prio Qmbito da responsabilidade civil sub5ectiva$#6
1.Z. alan:o e reordena:;o$ o sentido Vtil do arti=o 6.H
A;ui c3egados" podemos assentar no conteEdo e8ectivamente Etil do artigo
2# *odavia" sempre se recon3ece" com P'RPIC" Die Haftung cit6" 1%" ;ue essa8inalidade nunca pode ser completamente alcançada" pois ;ue" do ponto de vistaecon4mico" pode ser mais compensador para o operador da instalação não adoptara mel3or tecnologia disponível ;ue envolve elevados custosK e optar por pagar
pr:mios de seguro mais elevados os ;uais variam" no seguro de responsabilidade civilambiental" em 8unção do risco poluente criado pela instalação" ;ue depende datecnologia utili(adaK6
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_6V da lei da responsabilidade ambiental" 8a(endo um balanço da actual
situação do ne7o de causalidade na responsabilidade ambiental,
6V Do ponto de vista material" o dano : ob5ectivamente imput=vel aoagente ;uando este criou2aumentou o risco de veri8icação dodano e esse risco se materiali(ou no resultado lesivo6
2.º De acordo com as regras gerais vigentes" o lesado teria de 8a(er a
prova" nos termos de uma prova stricto sensu" do ne7o causal" i.e." o 5ui( teria de 8icar certo da criação2aumento do risco e damateriali(ação do risco no resultado lesivo6
[6V A probabilidade sempre relevaria" mas apenas indirectamente"contribuindo para a 8ormação da convicção do 5ui( sobre a
realidade no ne7o causal64.º T lu( do artigo _6V basta" por:m" ;ue o 5ui( 8i;ue convicto da
robabilidade de se veri8icar o ne7o causal" rectius de a instalaçãoser apta a causar o dano6
5.º Assim" redu(-se o grau de prova" ;ue dei7a de ser a certe(a" para
passar a ser a mera probabilidade6 A re8erência legal 9verosimilhan!a3 ;ue aparentemente constituiria alternativa 9e7igência de probabilidade" deve ser ob5ecto de interpretação ab-rogante6
/6V ' lesado s4 tem de provar ;ue : prov=vel a instalação ter criadoou aumentado o risco de veri8icação do dano a avaliar emconcreto" de acordo com as circunstQncias do casoK" presumindo-se a materiali(ação desse risco no resultado6
16V Para isso" demonstra M em termos de probabilidade M ;ue umainstalação da;uele tipo : abstractamente id4nea ou apta aprodu(ir a;uele tipo de dano risco abstractoK6
!6V + ainda ;ue as circunstQncias do caso M o modo de 8uncionamento"a situação" a nature(a e a concentração dos materiais libertados"
as condiç>es meteorol4gicas" o local e o tempo do dano M tornama instalação concretamente apta a produ(ir o evento lesivo riscoconcretoK6
#6V &o 5uí(o sobre a probabilidade" atende-se não s4 9s circunstQnciasdo caso" mas tamb:m a crit:rios estatísticos" bem como aocumprimento dos deveres de 8uncionamento e" sobretudo" 9utili(ação das *DR6 As re8erências legais ao Hgrau de risco e deperigo e 9 Hpossibilidade de prova do percurso causal têm de serinterpretadas ab-rogantemente6
%6V ' r:u pode demonstrar ;ue não : prov=vel ter criado o risco" mas
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tamb:m pode provar ;ue" apesar de ser prov=vel" não 8oi a;uelerisco ;ue se materiali(ou no evento lesivo6 'u se5a" tanto :admissível a contraprova da criação do risco como a provanegativa da materiali(ação do risco6
&ão obstante a atenuação do grau de prova não ser a Enica solução para
os problemas da imputação ob5ectiva na responsabilidade ambiental" como
8ris=mos" e apesar da not=vel 8alta de rigor t:cnico ;ue o artigo _6V apresenta"
esta regra permite manter a responsabilidade civil como instrumento
e8ectivamente Etil de tutela do ambiente" particularmente por;ue o es8orço
de Hdepuração dogm=tica do preceito permite descobrir ;ue nele se
con5uga a redução do grau de prova ;uanto 9 criação2aumento do riscoK
com uma presunção de causalidade ;uanto 9 materiali(ação do risco no
resultado lesivoK6 Acresce ;ue 5= se tem apontado ;ue a responsabilidade
assente na probabilidade : e8iciente do ponto de vista econ4mico" uma ve(
;ue o lesante : responsabili(ado pelos danos ;ue" de antemão" teria de
recon3ecer como conse;uências possíveis da sua actuação6 Por esse motivo"
os partid=rios de uma an=lise econ4mica da responsabilidade civil de8endem
uma responsabilidade geral de acordo com crit:rios de probabilidade para os
casos em ;ue não 3= clare(a acerca da causa[%6 &ão obstante" como
escreveu <†C@<A*[" Hos modernos desa8ios colocados ao Direito da
responsabilidade 666K não obrigam a abandonar o princípio da causalidade
com ligeire(a a 8avor de uma responsabilidade geral com base na
probabilidade6 ' princípio da causalidade : :tica e economicamente bem
8undamentado e s4 admite e7cepç>es estreitas6 ' caso da responsabilidade
ambiental :" por:m" um deles6
III. Concurso de causas ou ulticausalidade
' legislador português não aproveitou a oportunidade da emissão do
Decreto-Lei n6V 012$%%! para regular um dos mais importantes problemas do
ne7o de causalidade na responsabilidade ambiental, o do concurso de
3% <†C@<A*" ausalitVt3 ^ahrscheinlich7eit und Haftung. %echtliche und7onomische Anal9se3 nc3en" $%%0" $0$63 ausalitVt cit6" $0/6
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causas6 ' artigo 06V limita-se a resolver a ;uestão da repartição da
responsabilidade entre os su5eitos cu5a responsabilidade se5a previamente
apurada6 Ficou" por:m" por determinar ;uais os su5eitos solidariamenteK
respons=veis nos casos típicos de multicausalidade causalidade cumulativa"
potenciada ou sinerg:tica e alternativaK6 Permitimo-nos" por isso" remeter para
o ;ue escrevemos noutro lugar [$" recordando" muito brevemente" ;ue, iK no
caso da causalidade cumulativa" se se provar ;ue todos os agentes
provavelmente criaram ou aumentaram o risco do dano" todos são
respons=veis" iiK o mesmo sucedendo no caso de causalidade potenciada ou
sinerg:tica iiiK e ainda na 3ip4tese de causalidade alternativa" pois nesta :
prov=vel" por de8inição" ;ue cada um dos agentes ten3a criado ou
aumentado o risco do dano" pelo ;ue a responsabilidade recair= sobre todos"
salvo contraprova da probabilidade da criação2aumento do risco ou prova
negativa da sua materiali(ação no resultado lesivo6
avendo pluralidade de respons=veis" o artigo 06V2 estabeleceu a regra da
solidariedade" Enica capa( de tutelar e8ica(mente o ambiente6 <egra distinta
trans8eriria os problemas da prova do ne7o causal para os termos concretos da
repartição da responsabilidade entre os lesantes6 As di8iculdades colocadaspela regra da solidariedade não são decisivas6 &o ;ue toca" em especial" aos
Hpe;uenos emitentes leinemittentenK M ;ue poderiam ser c3amados a
responder pela totalidade do dano apesar de o seu contributo para o mesmo
poder ser ín8imo M" importa lembrar" em especial" ;ue, iK sempre se tender= a
veri8icar o 8en4meno do dee8oc7et3 ;ue atenua a relevQncia do problema
iiK 8re;uentemente não c3ega a e7istir um risco 5uridicamente desaprovado"
mantendo-se os pe;uenos emitentes dentro da margem do risco permitido iiiK
o instituto do abuso do direito artigo [[06V do C4digo CivilK pode sempre ser
c3amado a travar uma responsabilidade desproporcionada do agente
princípio da boa 8:" na vertente da prima(ia da materialidade sub5acenteK6
A solução do artigo 06V2 :" pois" a Enica compatível com as e7igências de
tutela do ambiente6 *amb:m o problema interno do direito de regresso :
correctamente resolvido pela lei no artigo 06V2$ e [" determinando o n6V $ ;ue
H;uando não se5a possível individuali(ar o grau de participação de cada um
dos respons=veis" presume-se a sua responsabilidade em partes iguais e o n6V3$ Causalidade cit6" ## ss6
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[ ;ue H;uando a responsabilidade recaia sobre v=rias pessoas respons=veis a
título sub5ectivo ao abrigo do presente decreto-lei" o direito de regresso entre si
: e7ercido na medida das respectivas culpas e das conse;uências ;ue delas
advieram" presumindo-se iguais as culpas dos respons=veis6
3na Perestrelo de 0lieira
Assistente-estagi=ria e doutoranda da
Faculdade de Direito da .niversidade de Lisboa
oltar ao Yndice
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Actas do Colóquio – A responsabilidade Civil por dano ambiental
AS #"DIDAS D" ("PA(A)*O D" DA'OS A#I"'TAIS 'O f#ITO DO ("^I#" JU(+DICO DA ("SPO'SAILIDAD" PO( DA'OS A#I"'TAIS 8 U# "STUDO
DA CO#PO'"'T" P(OC"DI#"'TAL
I. C'&RID+<AX‡+R I&ICIAIR
' novo regime 5urídico da responsabilidade por danos ambientais 8oi
aprovado pelo Decreto-Lei n6V 012$%%!" de $# de Jul3o-$6 ' diploma teve
como ob5ectivo primordial a transposição da Directiva n6V $%%02[_2C+" do
Parlamento +uropeu e do Consel3o" de $ de Abril de $%%0" relativa 9
responsabilidade ambiental em termos de prevenção e reparação de danos
ambientais[ c8r6 artigo 6V do Decreto-Lei n6V 012$%%!" de $# de Jul3o0-_6
1Z ' presente te7to corresponde 9 intervenção reali(ada no Col4;uio HAresponsabilidade civil por dano ambiental" na Faculdade de Direito da .niversidade
de Lisboa" no dia $% de &ovembro de $%%#" sob o tema H edidas de reara!"o e restaura!"o natural6
' Decreto-Lei n6V 012$%%!" de $# de Jul3o" 8oi 5= alterado pelo Decreto-Lei n6V $0_2$%%#" de $$ de Retembro" ;ue alterou a de8inição de Hdanos causados 9=gua e" no sentido de evitar con8litos de competência na sua aplicação" determinoucomo entidade competente para actuar no Qmbito de danos 9s =guas unicamente aAgência Portuguesa do Ambiente APAK6
2 Robre o regime de responsabilidade civil em mat:ria ambiental antes doDecreto-Lei n6V 012$%%!" de $# de Jul3o" c8r6 6 P+<+I<A DA RILA" Qerde Cor de Direito #i!*es de Direito do Ambiente" Coimbra" Almedina" $%%$" pp6 $/0 ss6 D6 F<+I*AR D' AA<AL"Lei de ases do Ambiente e Lei das Associaç>es de De8esa do Ambiente" in Direitodo Ambiente" Lisboa" I&A" ##0" pp6 [1-[1$6
3 Com a alteração ;ue l3e 8oi introdu(ida pela Directiva n6V $%%/2$2C+" doParlamento +uropeu e do Consel3o" relativa 9 gestão de resíduos da indEstriae7tractiva6 A Directiva n6V $%%02[_2C+" do Parlamento +uropeu e do Consel3o" de $de Abril de $%%0" 8oi recentemente alterada pela Directiva n6V $%%#2[2C+" doParlamento +uropeu e do Consel3o" de $[ de Abril de $%%#" relativa aoarma(enamento geol4gico de di47ido de carbono" ;ue tem de ser transposta at: $_de Jun3o de $%6 A alteração incide sobre o ane7o III da Directiva" no sentido deaditar a operação de locais de arma(enamento geol4gico de di47ido de carbonoentre as actividades abrangidas pelo Qmbito da responsabilidade ambiental6
4 As re8erências a preceitos legais sem a indicação do diploma legal a ;uedi(em respeito ou a Decreto-Lei devem entender-se como sendo relativos ao Decreto-Lei n6V 012$%%!" de $# de Jul3o6
5 Robre as raí(es desta Directiva" c8r6 C6 AAD' )'+R" De ;ue 8alamos ;uando8alamos de dano ambiental Direito" mentiras e crítica" disponível em .<L,3ttp,22ic5p6pt2estudos consultado pela Eltima ve( em [ de arço de $%%K" pp6 ss6
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' regime 5urídico tamb:m deve ser en;uadrado pela Lei de ases do
Ambiente" aprovada pela Lei n6V 2!1 de 1 de Abril/" mais especi8icamente
pelos seus artigos 06V e 0!6V M o primeiro preceito trata da responsabilidade
ob5ectiva" o segundo da Hobrigatoriedade de remo!"o das causas da
infrac!"o e da reconstitui!"o da situa!"o anterior 6 &o entanto" a re8erência
9 Lei de ases do Ambiente encontra-se apenas no 8ormul=rio de aprovação
do diploma6
+7iste" portanto" uma di8erença de tratamento entre o Direito da .nião
+uropeia" com a re8erência ao ob5ectivo de transposição no artigo 6V" e o
Direito e7clusivamente nacional" apenas re8erido no 8ormul=rio6 A di8erença
poder= ser e7plicada pela tradição legística portuguesa M de 8a(er re8erência9 lei de bases ;ue se desenvolve na 84rmula de aprovação e ao prop4sito de
transposição de Directivas no corpo do diploma legislativo6 &o entanto" este
8acto parece calar mais 8undo do ;ue isso6
+8ectivamente" o Decreto-Lei n6V 012$%%!" de $# de Jul3o" não demonstra
ocupar-se do desenvolvimento da Lei de ases do Ambiente6 Por e7emplo"
não utili(a nem densi8ica os termos utili(ados pelo artigo 06V da Lei de ases do
Ambiente" nem estabelece o H6uantitativo de indemniBa!"o a fixar or danos
causados no ambiente" ;ue" de acordo com o n6V $ do mesmo preceito"
deveria ser regulado por legislação posterior6 Por outro lado" não se 8a(
re8erência ao artigo 0[6V da Lei de ases do Ambiente" ;ue estabelece a
obrigatoriedade de Ha6ueles 6ue exer!am actividades 6ue envolvam alto
grau de risco ara o ambiente e como tal venham a ser classificados
segurarem a sua responsabilidade civil" apesar de o Decreto-Lei n6V 012$%%!"
de $# de Jul3o" estabelecer a obrigatoriedade de constituição de garantias
8inanceiras para os operadores abrangidos pelo Qmbito de aplicação do
capítulo III6
' legislador nacional" desta 8orma" utili(a a Lei de ases do Ambiente como
norma 3abilitante" mas não a desenvolve em sentido pr4prio" pre8erindo partir
da Directiva para estabelecer um regime de responsabilidade ex nuovo6 &o
entanto" o legislador parece ater-se dentro dos limites 8ornecidos pela Lei de
6 A Lei de ases do Ambiente 8oi alterada pela Lei n6V [2$%%$" de # deFevereiro6
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ases M caso tal não acontecesse" o Decreto-Lei n6V 012$%%!" de $# de Jul3o"
seria ilegal por violação da Lei de ases do Ambiente6
E. &o entanto" resulta claro o prop4sito do legislador de criar um regime
nacional de responsabilidade ambiental ;ue" englobando a transposição do
Direito da .nião +uropeia aplic=vel" concentrada" grosso modo" no terceiro
capítulo do Decreto-Lei" ;ue abrange o regime de prevenção e reparação de
o ;ue : designado de dano ambiental1" o complementa com regras gerais
relativas 9 responsabilidade civil por lesão de componente ambiental c8r6
artigos !6V e #6VK6
1. A presente e7posição aborda a mat:ria da adopção de medidas de
reparação de danos ambientais" ;ue se encontra no Qmbito da designada
H resonsabilidade administrativa ela reven!"o e reara!"o de danos
ambientais a ;ue corresponde o capítulo III do Decreto-LeiK" numa
perspectiva da regulação procedimental da actuação da administração na
determinação dessas medidas6
Assim" estudaremos a;ui a mat:ria relativa ao procedimento
administrativo relativo 9 não nos debruçando sobre a an=lise dos crit:rios a
serem seguidos para a determinação" em concreto" das medidas de
reparação a adoptar" nos termos do ane7o " ;ue ser= abordado por uma
outra e7posição!6
7 C8r6 artigo 6V" n6V " alínea eI6 Adoptaremos esta designação" uma ve( ;ue : autili(ada pelo Decreto-Lei6 A doutrina distingue tradicionalmente entre dano ambientale dano ecol4gico6 Robre a distinção c8r6" v.g." P6 RILA L'P+R" Dano ambiental,
responsabilidade civil e reparação sem respons=vel" in %5A" n6V !" ##1" pp6 [ ss6 e _%ss6 J6 R6 C.&AL R+&DI" %esonsabilidade civil or danos ecol&gicos. Da reara!"o dodano atrav(s de restaura!"o natural" Coimbra" Coimbra +ditora" ##!" pp6 /_ ss6 e [%ss6 J6 J6 )'+R CA&'*IL'" %esonsabilidade Civil or Danos Ecol&gicos' Da %eara!"odo Dano atrav(s da %estaura!"o )atural" Coimbra" Coimbra +ditora" ##!" pp6 0%% ss6C6 AAD' )'+R" A responsabilidade civil por dano ecol4gico6 <e8le7>es preliminaressobre o novo regime instituído pelo DL 012$%%!" de $# de Jul3o" in O 6ue hJ de novono Direito do Ambiente3 Actas das Jornadas de Direito do Ambiente" Carla Amado)omes e *iago Antunes org6K" Lisboa" AAFDL" $%%#" pp6 $0% ss6 Robre a alteraçãointrodu(ida pelo novo regime de responsabilidade" c8r6 6 P+<+I<A DA RILA" entos demudança no Direito do Ambiente" in O 6ue hJ de novo no Direito do Ambiente3Actas das Jornadas de Direito do Ambiente" Carla Amado )omes e *iago Antunes
org6K" Lisboa" AAFDL" $%%#" p6 $ C6 AAD' )'+R" A responsabilidade civil por danoecol4gico" pp6 $0% ss6 ID+" De ;ue 8alamos ;uando 8alamos de dano ambientalDireito" mentiras e crítica" pp6 [ ss6
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II. AR +DIDAR D+ <+PA<AXf' D+ DA&'R AI+&*AIR &' <+)I+ D+ <+RP'&RAILIDAD+ P'< DA&'R AI+&*AIR
aI Considera!*es gerais
5. ' novo regime 5urídico da responsabilidade por danos ambientais"
como 5= 8oi re8erido" trata de dois Qmbitos distintos de responsabilidade" a
responsabilidade civil e a H resonsabilidade administrativa ela reven!"o e
reara!"o de danos ambientais#6 O no Qmbito desta Eltima se en;uadra o
ob5ecto do nosso estudo, as medidas de reparação de danos ambientais
3. &ão nos parece ;ue a e7pressão H resonsabilidade administrativa ela
reven!"o e reara!"o de danos ambientais" constante da epígra8e do
capítulo III do Decreto-Lei se5a a mais correcta%6
Desde logo" re8ira-se" por não corresponder 9 verdade6 ' termo
H resonsabilidade administrativa não pode ser interpretado literalmente sob
pena de não corresponder e7actamente 9 mat:ria em causa6 De 8acto" pode
ser interpretado como tratando da responsabilidade de actuação por parte
da administração" adoptando medidas de reparação ou de prevenção6
&uma outra perspectiva" poderia ser interpretado como abrangendo a
mat:ria da responsabilidade civil da administração ou" em sentido lato" a
responsabilidade civil no Qmbito da actividade administrativa6 &en3uma
destas interpretaç>es seria correcta6
&a verdade" como veremos" o ;ue o capítulo III do Decreto-Lei trata : da
responsabilidade do operador pela restauração ou reparação natural dos
danos ambientais produ(idos ou pela prevenção desses danos" sendo ;ue"
apenas em Eltima an=lise se poder= 8alar de responsabilidade do +stado6
&este sentido talve( 8osse mais indicado ter-se 8alado a;ui em
8 C8r6 6 'LI+I<A" A restauração natural no novo <egime Jurídico de<esponsabilidade Civil por Danos Ambientais" infra nesta publicação6
9 Para uma visão geral do regime" c8r6 A6 A<<+*' A<C+<" Direito do Ambiente e resonsabilidade civil" Coimbra" Almedina" pp6 [# ss6
10 &o mesmo sentido" c8r6 C6 AAD' )'+R" A responsabilidade civil por danoecol4gico" pp6 $/! ss6 ID+" De ;ue 8alamos ;uando 8alamos de dano ambientalDireito" mentiras e crítica" p6 $6
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Actas do Colóquio – A responsabilidade Civil por dano ambiental
responsabilidade ambiental restaurativa ou reparadora" por um lado" ou
responsabilidade ambiental preventiva" por outro6
<e8ira-se" ali=s" ;ue se se tratasse de 8acto de verdadeira responsabilidade
da administração" então o Decreto-Lei n6V 012$%%!" de $# de Jul3o" estaria
in;uinado de inconstitucionalidade orgQnica" por violação da reserva relativa
da Assembleia da <epEblica6 De 8acto" a responsabilidade civil da
administração : uma das mat:rias incluídas pelo artigo /_6V" n6V " alínea sI"
da Constituição na reserva relativa de competência legislativa6
.ma e7plicação possível para a adopção desta e7pressão ser= o 8acto de
se pretender distinguir esta responsabilidade da responsabilidade civil" prevista
no capítulo II6
6. &o Qmbito da presente e7posição começaremos por e7plorar o
conceito de medida de reparação" 8a(endo a distinção entre esta 8igura e
outras 8iguras ;ue l3e estão pr47imas6
bI Conceito de medida de reara!"o
Z. As medidas de reparação são de8inidas no artigo 6V" n6V " alínea nI"
como H6ual6uer ac!"o3 ou conunto de ac!*es3 incluindo medidas de
carJcter rovis&rio3 com o obectivo de rearar3 reabilitar ou substituir os
recursos naturais e os servi!os danificados ou fornecer uma alternativa
e6uivalente a esses recursos ou servi!os3 tal como revisto no anexo Q 6
As medidas de reparação são" assim" de8inidas tendo como re8erência o
8acto ;ue as origina e o ob5ectivo com ;ue são tomadas e não o seu tipo ou o
seu conteEdo especí8ico6 &esse sentido" ;ual;uer acção ou con5unto deacç>esK pode ser considerada uma medida de reparação desde ;ue se5a
tomada ap4s a ocorrência de um dano ambiental" tal como de8inido no
decreto-lei" e ;ue ten3a um dos ob5ectivos descritos6 Assim" e7istem ;uatro
tipos de medidas de reparação" tendo em conta os recursos naturais e os
serviços dani8icados, iI as medidas ;ue têm como ob5ectivo a sua reparação M
neste caso pretende-se recuperar os recursos naturais e os serviços
dani8icados iiI as medidas ;ue têm como ob5ectivo a sua reabilitação M neste
caso pretende-se criar as condiç>es para a reabilitação ambiental dos
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recursos naturais e os serviços dani8icados iiiI as medidas ;ue têm como
ob5ectivo a sua substituição M neste caso os recursos naturais e os serviços
dani8icados são substituídos por outros iguais ivI as medidas ;ue têm como
ob5ectivo 8ornecer uma alternativa e;uivalente a esses recursos ou serviços M
neste caso os recursos naturais e os serviços dani8icados são substituídos por
outros e;uivalentes6 Constatamos" assim" ;ue as medidas de reparação em
sentido lato abrangem mais do ;ue as medidas de reparação em sentido
estrito as re8eridas no ponto iIK" abrangendo tamb:m outras realidades ;ue
têm como ob5ectivo reagir 9 ocorrência do dano6 &esse sentido" uma
designação alternativa destas medidas seria medidas reactivas ou de
reac!"oK" medidas correctivas ou de correcçãoK ou medidas de sana!"o dodano6
. Podemos tamb:m distinguir" a partir da de8inição legal" entre medidas
de reparação de car=cter de8initivo e medidas de correcção de car=cter
provis4rio6 +sta terminologia não corresponde 9 utili(ada pela Directiva$" onde
se recorre 9 e7pressão Hmedidas atenuantes ou intercalares c8r6 artigo $6V" n6V
" da DirectivaK6 A di8erença est= relacionada com o 8acto de não se 8a(er
re8erência 9s medidas atenuantes M partindo do princípio ;ue as medidas de
car=cter provis4rio correspondem 9s medidas intercalares" o ;ue poder= ser
contestado6
+7iste" assim" uma di8erença entre a de8inição constante da Directiva e a
de8inição constante do acto nacional de transposição M na medida em ;ue
uma medida atenuante poder= não ter um car=cter provis4rio" pelo ;ue a
de8inição se encontra incompleta6 Assim" dever= ser 8eita uma interpretação
11 De 8acto" a versão inglesa da Directiva opta pela e7pressão H remedial mesurese a versão alemã por HManierungsmanahmen" en;uanto ;ue" de uma 8orma maispr47ima da versão portuguesa" a versão 8rancesa utili(a Hmesures de r(aration e aversão espan3ola Hmedida rearadora6
12 As re8erências ao longo do te7to a Directiva devem entender-se como 8eitas 9
Directiva n6V $%%02[_2C+" do Parlamento +uropeu e do Consel3o" de $ de Abril de$%%0" relativa 9 responsabilidade ambiental em termos de prevenção e reparação dedanos ambientais6
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Actas do Colóquio – A responsabilidade Civil por dano ambiental
deste preceito con8orme[ com o artigo $6V" n6V " da Directiva de 8orma a
abranger tamb:m estas situaç>es6
&esse sentido então" podemos distinguir medidas de reparação ou
reactivasK permanentes ou provis4rias M dependendo do seu e8eito temporal
ser ou não limitado M" mas tamb:m medidas atenuantes M no sentido de
limitarem os e8eitos do dano M e medidas intercalares M no sentido de
corresponderem a uma etapa na reparação do recurso natural ou do serviço
dani8icados6
. <epare-se" a este nível" ;ue estamos a utili(ar conceitos introdu(idos
pela Directiva no conte7to do Direito da .nião +uropeia M ;ue devem ser
interpretados como tal e ;ue podem ter signi8icados distintos da;ueles ;ue
têm no Direito nacional6 &esse sentido" o acto de transposição parece ter
8al3ado" pelo menos em parte" em 8a(er esta conversão de conceitos para o
Direito nacional6
cI Distin!"o de figuras r&ximas
. As medidas de reparação são" pois" 8undamentalmente di8erentes das
medidas de reven!"o previstas no artigo 06V6 +stas são de8inidas pelo artigo
6V" n6V " alínea mI" como H6uais6uer medidas adotadas em resosta a um
acontecimento3 acto ou omiss"o 6ue tenha causado uma amea!a iminente
de danos ambientais3 destinadas a revenir ou minimiBar ao mJximo esses
danos6
13 Robre a ;uestão da interpretação con8orme com o Direito da .nião +uropeia"c8r6 v. g." FA.R*' D+ N.AD<'R" Direito da ni"o Euroeia" Coimbra" Almedina" $%%0" pp6 0!!ss6 6 L.YRA D.A<*+" ' *ratado da .nião +uropeia e a garantia da Constituição , notasde uma re8le7ão crítica" in Estudos em mem&ria do Professor Doutor 5o"o de Castro
endes" Lisboa" Le7" xs6 d6y" pp6 /1$ ss6 6 J6 PALA" ;reves notas sobre a invoca!"o dasnormas das Directivas comunitJrias erante os tribunais nacionais " Lisboa" AAFDL" $%%%"pp6 1 ss6
Ao nível da 5urisprudência dos tribunais da .nião" c8r6 por e7emplo" Proc6 n6V0!21!" %atti" x#1#y Col6 /$# Proc6 n6V 02![" von Colson" x#!0y Col6 !# Proc6 n6V_12!/" urh9" x#!!y Col6 /1[ Proc6 n6V C-%#2!#" arleasing" x##%y Col6 I-0[_ Proc6n6V C-#2#$" Faccini Dori" x##0y Col6 I-[[$_ Proc6 n6V C-$/$2#1" Engelbrecht" x$%%%y Col6 I-
1[$ Proc6 n6V C-$0%2#!" Oceano Gruo" x$%%%y Col6 I-0#0 Proc6 n6V C-0/$2##" Connect ustria" x$%%[y Col6 I-_#1" considerando [! Proc6 n6V C-/%2%" au" x$%%[y Col6 I-01#"considerandos [_-[/ Proc6 n6V C-[#12%" Pfeiffer " x$%%0y Col6 I-!![_" considerando [6
00
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A di8erença primordial entre as medidas de reparação e as medidas de
prevenção :" assim" por um lado" o 8acto ;ue as origina e" por outro lado" o
seu ob5ectivo6 As medidas de prevenção ocorrem ap4s um 8acto ;ue origina
uma ameaça iminente de um dano ambiental sendo esse 8acto um
acontecimento" um acto ou uma omissãoK" en;uanto ;ue as medidas de
reparação respondem 9 ocorrência de um dano ambiental propriamente
dito6 ' elemento 8ulcral" no caso das medidas preventivas :" assim" a ameaça
iminente de danos ambientais" ;ue : descrita como a Hrobabilidade
suficiente da ocorrncia de um dano ambiental3 num futuro r&ximo c8r6
artigo 6V" n6V " alínea bIK6
E2. A distinção pode tornar-se mais comple7a ;uando o 8acto ;ue d=
origem 9 ameaça iminente de danos ambientais : um dano ambiental
propriamente dito6 O uma das situaç>es ;ue estar= em causa no Qmbito do
artigo 06V" n6V $" ;ue estabelece a necessidade de adopção pelo operador
de Hmedidas 6ue revinam a ocorrncia de novos danos ;uando ocorra um
dano ambiental causado pelo e7ercício de ;ual;uer actividade ocupacional6
Rempre ;ue ocorra um dano ambiental" o operador deve tomar medidas ;ue
previnam a ocorrência de novos danos M com as mesmas causas" ou não"
causados pelo dano original" ou não6 *rata-se de um sub-tipo distinto de
medidas preventivas" como se pode retirar da redacção do artigo 06V" n6V [
;ue se re8ere a Hmedidas de reven!"o de danos ou de reven!"o de novos
danos e : uma inovação do legislador nacional 8ace ao legislador
comunit=rio6
<epare-se ;ue se trata de um caso de responsabilidade ob5ectiva de
todos os operadores" ou se5a" mesmo ;ue as actividades ;ue prosseguem não
este5am inscritas no ane7o III" de adopção destas medidas preventivas6 A
conclusão de ;ue se trata de uma responsabilidade ob5ectiva adv:m de uma
leitura sistem=tica comparativa deste preceito 8ace aos artigos 06V" n6V e
_6V" n6V " onde sempre se 8a( re8erência ao Hoerador resonsJvel nos termos
dos artigos ,0.] e ,.]" en;uanto ;ue no artigo 06V" n6V $" não se 8a( tal
re8erência6 De 8acto" da sua redacção resulta ;ue a obrigação de adopção
de medidas preventivas" neste caso" resulta automaticamente da ocorrênciade um dano ambiental6 Para esta ideia tamb:m contribui o 8acto de esta
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Actas do Colóquio – A responsabilidade Civil por dano ambiental
obrigação e7istir Hindeendentemente de estar ou n"o obrigado a adotar
medidas de reara!"o6 <e8orça-se" assim" a autonomia da 8igura das
medidas preventivas 8ace 9s medidas de reparação6
&este caso" as medidas preventivas apro7imam-se das medidas de
reparação por tamb:m serem aplicadas ap4s a e7istência de dano
ambiental6 &o entanto" continuam distintas" tendo como elemento
di8erenciador o seu ob5ectivo, a prevenção de novos danos ambientais ap4s a
ocorrência de um dano ambiental origin=rio e não a reparação desse dano6
Dispensa-se" de 8orma igualmente original 8ace 9 Directiva" a veri8icação de
uma situação de ameaça iminente de dano M o legislador parece presumir
;ue sempre ;ue ocorre um dano e7iste uma ameaça de novos danos apesarde tal ameaça poder não ser iminenteK ;ue 5usti8ica a adopção de medidas
preventivas6
EE. Nuanto aos ob5ectivos prosseguidos" as medidas preventivas visam
Hrevenir e minimiBar ao mJximo esses danos ou se5a" prevenir a ocorrência
dos danos ambientais e minimi(ar a ameaça da sua ocorrência" bem como as
conse;uências da sua eventual veri8icação6 ' ob5ectivo :" portanto" garantir
a não ocorrência de dano ambiental e" por outro lado" limitar as suas
conse;uências" caso ocorram6 Por seu lado" as medidas de reparação têm
como ob5ectivo a correcção e a sanação dos danos causados aos recursos e
aos serviços6 O" portanto" esta a distinção 8undamental6
E1. ' regime aplic=vel 9s medidas preventivas0" previstas no artigo 06V"
n6V e n6V $" tamb:m : distinto do previsto para as medidas de reparação"
senão ve5amos,
a) &o caso das medidas preventivas previstas no artigo 06V" n6V " perante
a veri8icação de ameaça iminente de dano" o operador Hadota3
imediata e indeendentemente de notifica!"o3 re6uerimento ou acto
administrativo r(vio3 as medidas de reven!"o necessJrias e
ade6uadas6 Assim" a necessidade de adopção das medidas resulta
imediatamente para o operador independentemente da actuação da
administração6 &ão e7iste um procedimento de determinação das14 C8r6 C6 AAD' )'+R" A responsabilidade civil por dano ecol4gico" pp6 $_0 ss6
0
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medidas a adoptar e;uivalente ao das medidas de reparação6 O claro
;ue isto não impede ;ue a administração determine a adopção de tais
medidas" como veremos infra
b) &o caso das medidas preventivas previstas no artigo 06V" n6V $" perante
a veri8icação do dano" o operador Hadota as medidas 6ue revinam
a ocorrncia de novos danos6 &este caso nada se di( sobre a
dependência de determinação administrativa para a actuação do
operador6 &o entanto" deve-se concluir ;ue se trata tamb:m a;ui de
um dever imediato do operador independente da necessidade da
intervenção por parte da administração6 O de a8astar uma leitura a
contrario deste preceito 8ace ao nEmero anterior do artigo 06V" na
medida em ;ue esta não re8lecte o espírito da norma M o
estabelecimento do dever de actuação do operador resulta da mera
veri8icação do 8acto6 Como re8erimos na alínea anterior" tamb:m a;ui
a administração pode continuar a poder intervir" como veremos infra
c) +m ambos os casos" o operador 8ica su5eito a um dever especí8ico de
in8ormação 9 Agência Portuguesa para o Ambiente APAK_6 +ste dever
abrange a necessidade de in8ormar a APA sobre c8r6 artigo 06V" n6V 0K,
iI *odos os aspectos relacionados com as situaç>es de ameaça
iminente
iiI As medidas de prevenção adoptadas
iiiI 's resultados da tomada de medidas na prevenção do dano6
+7iste tamb:m um dever implícito de actuali(ação da in8ormação" ou
se5a" o operador deve transmitir 9 APA todas as alteraç>es 9sin8ormaç>es transmitidas6
' dever de in8ormação não tem um pra(o especí8ico M a letra do
preceito re8ere-se 9 necessidade de transmissão Himediata da
in8ormação6 Por outro lado" o dever de in8ormação e de actuali(ação
dessa in8ormação mant:m-se en;uanto se mantiver a situação de
ameaça iminente de dano ambiental
15 A Agência Portuguesa para o Ambiente APAK : a autoridade competentepara a aplicação do Decreto-Lei c8r6 artigo $#6VK6
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Actas do Colóquio – A responsabilidade Civil por dano ambiental
d) Face ao dever de in8ormação do operador" e7iste uma correlativa
competência da APA de Hexigir 6ue o oerador forne!a informa!*es
sobre a amea!a iminente de danos ambientais3 ou suseita dessa
amea!a c8r6 artigo 06V" n6V _" alínea aIK6 A competência da
administração abrange" assim" não apenas os casos em ;ue e7iste uma
ameaça" mas tamb:m os casos em ;ue e7iste apenas a suspeita da
ameaça6 ' dever de colaboração com a administração começa"
assim" com a suspeita da e7istência de uma ameaça M ;ue deve ser
8undamentada e 5usti8icada6
' poder de pedir in8ormaç>es dever= abranger igualmente" parece-
nos" a eventual adopção de medidas preventivas e os resultados dessasmedidas M na medida em ;ue o dever de in8ormação do operador
tamb:m abrange essas mat:rias M prolongando-se ao longo do período
de tempo em ;ue e7istir o dever do operador de prestar in8ormaç>es6
e) Para al:m disso" e7iste tamb:m a possibilidade de e7istir um pedido de
intervenção por parte de um interessado" denunciando a situação de
ameaça iminente de dano ambiental 9 APA" nos termos do artigo !6V6
&esse caso" e7istem especi8icidades ;uanto ao procedimento dedeterminação das medidas preventivas a adoptar6 +studaremos o
regime" no ;ue di( respeito 9s medidas de reparação" infra M o regime
das medidas de prevenção ser= o mesmo" mutatis mutandis6
fI &o caso de se veri8icar a necessidade de adopção de medidas
preventivas" nos termos do artigo 06V" n6Vs ou $" a APA tamb:m tem
competências nesse Qmbito c8r6 artigo 06V" n6V _K6 A APA pode" assim,
iI Determinar a adopção de medidas preventivas pelooperador
iiI +stabelecer o conteEdo dessas medidas" o seu nEmero" o
momento em ;ue devem ser tomadas e a sua duração
iiiI Dar ao operador as instruç>es ;ue considere necess=rias
sobre as medidas
0"
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ivI Determinar o 8im das medidas preventivas" bem como
revogar as decis>es ;ue se5am por si tomadas nos termos das
alíneas anteriores
v) Por 8im" ela pr4pria pode Hexecutar3 subsidiariamente e a
exensas do oerador resonsJvel3 as medidas de
reven!"o necessJrias6 Cabe" assim" 9 administração" em
Eltima an=lise" tomar a e7ecução das medidas preventivas
nas suas mãos" se assim o e7igir o interesse pEblico6 De acordo
com o e7emplo dado pelo legislador" isso poder= acontecer
H6uando3 n"o obstante as medidas 6ue o oerador tenha
adotado3 a amea!a iminente de dano ambiental n"o
tenha desaarecido ou3 ainda3 6uando a gravidade e as
conse6uncias dos eventuais danos assim o ustifi6uem6
A intervenção da administração atrav:s da e7ecução directa
de medidas de prevenção pode ocorrer 9 partida" ;uando
se considere ;ue o operador não tem capacidade para
obviar 9 ameaça ou ;uando os danos previsíveis são de tal
8orma" ;ue a administração considera não poder correr orisco de dei7ar as medidas de prevenção nas mãos do
operador6 A administração tamb:m pode intervir ;uando as
medidas ;ue estão a ser tomadas pelo operador não estão a
ser su8icientes para eliminar a ameaça6
g) avendo lugar 9 necessidade de adopção de medidas preventivas"
por via do artigo 06V" n6V ou n6V $" o operador ou a APA" na
determinação das medidas a adoptar" devem seguir os crit:riosconstantes das alíneas aI a fI do n6V 6[6 do ane7o c8r6 artigo 06V" n6V
[K6
hI As medidas preventivas devem manter-se at: ;ue desapareça a
ameaça iminente de danos ambientais" no caso do artigo 06V" n6V " ou
en;uanto e7istir a possibilidade de ocorrerem novos danos ambientais
ap4s o dano inicial" no caso do artigo 06V" n6V $6 Assim ;ue se veri8icar
este 8acto" o operador pode terminar a aplicação das medidaspreventivas6 *rata-se da decorrência da e7istência do dever origin=rio
0#
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Actas do Colóquio – A responsabilidade Civil por dano ambiental
de actuação, na medida em ;ue de dei7arem de veri8icar os
pressupostos para a e7istência de dever de adopção de medidas
preventivas" tamb:m dei7a de e7istir esse dever6 ais uma ve(" tal 8acto
não impede ;ue se5a a administração a noti8icar o operador de ;ue
pode dei7ar de aplicar as medidas preventivas6
E5. As medidas de reparação tamb:m podem ser distinguidas das
medidas de conten!"o de danos ambientais6 *ratam-se das medidas previstas
no artigo _6V" n6V " alínea bI" e no n6V [" alínea cI6 Ambos os preceitos se
re8erem 9 necessidade de serem tomadas Hmedidas viJveis ara
imediatamente controlar3 conter3 eliminar ou gerir os elementos
contaminantes ertinentes e 6uais6uer outros factores danosos3 de forma a
limitar ou revenir novos danos ambientais3 efeitos adversos ara a sa<de
humana ou novos danos aos servi!os6
Prevê-se" assim" a e7istência de um tipo especí8ico de medidas ;ue devem
ser tomadas perante a e7istência de um dano ambiental6 +ssas medidas
incidem sobre os 8actores ;ue estão a causar o dano por e7emplo" os
elementos contaminantesK" pretendendo controlar" conter" eliminar ou gerir
esses elementos com o ob5ectivo de Hlimitar ou revenir novos danos
ambientais3 efeitos adversos ara a sa<de humana ou novos danos aos
servi!os ou Huma deteriora!"o adicional dos servi!os" como se estabelece
no artigo /6V" n6V " alínea aI" da Directiva" parcela não transposta para o
Direito nacional/K6 O por terem este prop4sito de limitar os e8eitos do dano
ambiental ocorrido ;ue opt=mos por designar esta 8igura de medidas de
contenção6
<epare-se ;ue e7iste a;ui uma clara sobreposição com as medidaspreventivas estabelecidas pelo legislador nacional no artigo 06V" n6V $" na
medida em ;ue ambos os preceitos prevêem a adopção de medidas ap4s
um dano ambiental com o ob5ectivo de prevenir novos danos ambientais6
Apesar dessa sobreposição podem estabelecer-se distinç>es entre as duas
8iguras em relação" por e7emplo" ao Qmbito de aplicação o artigo 06V" n6V $"
16 Apesar de essa parcela do preceito da Directiva não ter sido alvo de
transposição" devemos entender ;ue as medidas de contenção tamb:m deverão tereste ob5ectivo M por 8orça do car=cter não ta7ativo do preceito nacional ;ue permiteuma interpretação con8orme 9 Directiva6 C8r6 nota [6
0$
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aplica-se a todas as actividades" estabelecendo uma responsabilidade
ob5ectiva" en;uanto ;ue as medidas de contenção implicam a
responsabili(ação do operador nos termos dos artigos $6V e [6VK em relação
aos pr4prios ob5ectivos o artigo 06V" n6V $" aplica-se apenas 9 prevenção de
novos danos ambientais" en;uanto ;ue as medidas de prevenção pretendem
limitar os e8eitos nocivos dos pr4prios danos ambientais em causaK em relação
ao crit:rio a ser adoptado e 9s actividades em causa no caso do artigo 06V"
n6V $" aplicam-se os crit:rios constantes das alíneas aI a fI do n6V 6[6 do ane7o
K e" claro" ao regime aplic=vel6 Apesar do es8orço de distinção" e7iste um
campo de sobreposição entre as duas 8iguras criado pelo legislador português
;uando" inovatoriamente" estabeleceu o regime das medidas preventivas doartigo 06V" n6V $6
E3. &em o Decreto-Lei n6V 012$%%!" de $# de Jul3o" nem a Directiva
autonomi(am a 8igura das medidas de contenção" parecendo recondu(i-la 9s
medidas de reparação" na medida em ;ue a sua previsão se locali(a
sistematicamente no preceito ;ue se re8ere 9s medidas de reparação 1 e
tamb:m por não conterem de8iniç>es aut4nomas de um terceiro tipo de
medidas6 &o entanto" não podemos ignorar estar perante uma realidade
distinta das medidas de reparação tal como estas 8oram de8inidas6
Por um lado" a pr4pria sistem=tica dos diplomas parece indiciar esse
car=cter aut4nomo6 Assim" apesar da sua inserção no preceito relativo 9s
medidas de reparação" e7iste uma clara distinção entre alíneas ;ue se
re8erem 9s medidas de contenção artigo _6V" n6V " alínea bI" e no n6V ["
alínea cIK e as alíneas ;ue se re8erem 9s medidas de reparação artigo _6V" n6V
" alínea cI" e no n6V [" alínea dI a fIK!
M desta distinção resultam regimesaut4nomos6 De 8acto" en;uanto ;ue o dever de adoptar as medidas de
contenção vi=veis recai sobre o operador H imediatamente e sem necessidade
17 &o caso da Directiva" o preceito em causa : o artigo /6V" ;ue tem comoepígra8e Hacç>es de reparação6 Com base neste 8acto" poderia de8ender-se ;ue aDirectiva distingue" dentro de uma categoria geral as acç>es de reparaçãoK entre asmedidas de reparação e as medidas de contenção6
18 +sta distinção decorre logo do te7to da Directiva" senão note-se na di8erençaentre o artigo /6V" n6V " alínea aI" e n6V $" alínea bI" e o artigo /6V" n6V " alínea bI" e n6V $"alínea cI a eI" da Directiva6
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Actas do Colóquio – A responsabilidade Civil por dano ambiental
de notifica!"o ou acto administrativo r(vio#" o dever de adopção de
medidas de reparação encontra-se su5eito a uma intervenção necess=ria da
administração e a uma procedimentali(ação c8r6 artigo _6V" n6V " alíneas bI e
cIK6 Para al:m disso" prevê-se a possibilidade de a APA tamb:m intervir neste
caso" e7igindo ao operador ;ue actue" dando instruç>es sobre as medidas a
adoptar e actuando ela pr4pria6 'ra" no caso das medidas de contenção"
não decorre do artigo _6V" n6V [" alínea cI" ;ue essa actuação directa da
administração ten3a um car=cter subsidi=rio 8ace 9 actuação do operador6
Por outro lado" os ob5ectivos das medidas de contenção são di8erentes dos
ob5ectivos das medidas de reparação6 De 8acto" as medidas de contenção
estão relacionadas com a gestão dos 8actores danosos de 8orma a limitar osseus e8eitos" en;uanto ;ue as medidas de reparação têm o Hobectivo de
rearar3 reabilitar ou substituir os recursos naturais e os servi!os danificados ou
fornecer uma alternativa e6uivalente a esses recursos ou servi!os c8r6 artigo
6V" n6V " alínea nIK6 &um caso 8alamos na limitação dos e8eitos danosos" no
outro na sua superação6
E6. ' 8acto de considerarmos as medidas de contenção como uma
realidade distinta das medidas de reparação pode colocar-nos a dEvida
sobre se partes do regime especi8icamente dirigidas a estas Eltimas tamb:m
serão aplic=veis 9s primeiras6 &a verdade" como vimos" apesar de as medidas
de contenção serem aut4nomas das medidas de reparação" o legislador
inseriu-as sistematicamente no preceito relativo 9s medidas de reparação6
&essa medida" ;uando ao longo do Decreto-Lei n6V 012$%%!" encontramos a
e7pressão Hmedidas de contenção devemos presumir ;ue o legislador se
re8ere 9s medidas previstas no artigo _6V" ou se5a" a medidas de contenção emedidas de reparação" salvo se comprove ;ue a aplicação da regra em
causa não 8a( sentido" tendo em conta a sua nature(a especí8ica e os seus
ob5ectivos distintos6
III. ' <+)I+ L+)AL DAR +DIDAR D+ <+PA<AXf'
dI Considera!*es gerais
19 Independentemente da possibilidade de intervenção da administração nostermos do artigo _6V" no n6V [" alínea cI6
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EZ. A aplicação do regime de responsabilidade previsto no capítulo III e"
em concreto" de medidas de reparação" pressup>e a ocorrência de Hdanos
ambientais6 A de8inição de Hdanos ambientais a ;ue devemos recorrer para
esse e8eito :-nos 8ornecida pelo pr4prio Decreto-Lei n6V 012$%%!" de $# de
Jul3o" no seu artigo 6V" n6V " al6 eI" abrangendo os danos causados 9s
esp:cies e habitats naturais protegidos" 9 =gua e ao solo$%6 &o entanto" o
capítulo III não se aplica aos danos" nem 9s ameaças iminentes desses danos
re8eridos no artigo $6V" n6V $" na decorrência do previsto no artigo 06V da
Directiva6
E. &o caso de actividades ocupacionais enumeradas no ane7o III do
decreto-lei" a ocorrência de danos ambientais ou a ameaça iminente desses
danos despoleta a necessidade de adopção das medidas de reparação c8r6
artigo $6V" n6V K6 *rata-se de um dever do operador respons=vel por essa
actividade" independentemente de dolo ou culpa6 ' *ribunal de Justiça da
.nião +uropeia *J.+K 5= se pronunciou" ali=s" sobre o regime de
responsabilidade ob5ectiva assim previsto6 &esse Qmbito" re8eriu ;ue HHJ 6ue
interretar3 ortanto3 os artigos .3 n. ,3 -.3 n. U3 e ,,.3 n. 03 da Directiva
011-/U no sentido de 6ue3 6uando nela se rev a alica!"o de medidas de
reara!"o aos concessionJrios cuas actividades est"o revistas no seu
anexo :::3 a autoridade cometente n"o estJ obrigada a demonstrar a
existncia de dolo3 de negligncia ou de uma inten!"o de rovocar um dano
or arte dos concessionJrios cuas actividades seam consideradas
causadoras dos danos ambientais. Em contraartida3 essa autoridade estJ
obrigada3 or um lado3 a investigar reviamente a origem da olui!"oconstatada3 disondo ara o efeito de uma margem de discricionariedade
6uanto aos rocedimentos3 aos meios a utiliBar e L dura!"o da investiga!"o.
Por outro lado3 essa autoridade estJ obrigada a demonstrar3 de acordo com
as normas nacionais sobre rova3 um nexo de causalidade entre as
20 Robre a ;uestão de não se encontrarem e7pressamente abrangidos os danosao ar e ao subsolo" c8r6 C6 AAD' )'+R" A responsabilidade civil por dano ecol4gico"pp6 $_% ss6
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Actas do Colóquio – A responsabilidade Civil por dano ambiental
actividades dos concessionJrios obecto das medidas de reara!"o e a
olui!"o$6
Por outro lado" ;uando os danos ambientais resultam de actividades não
previstas no ane7o III o dever de adopção de medidas de reparação
depende do dolo ou negligência do operador c8r6 artigo [6V" n6V K6
E. A veri8icação dos pressupostos para a e8ectivação da
responsabilidade ambiental prevista no capítulo III implica o surgimento de
uma s:rie de deveres para os operadores e de competências para a
administração6
&o caso de ocorrência de danos ambientais" o artigo _6V" n6V "
estabelece ;ue o operador respons=vel nos termos do artigo $6V e [6V 8ica
su5eito aos seguintes deveres,
aI Dever de in8ormação 9 administração
bI Dever de adopção de medidas de contenção
cI Dever de adopção de medidas de reparação6
E. Nuanto ao dever de in8ormação 9 administração" este implica ;ue ooperador deve" no pra(o m=7imo de vinte e ;uatro 3oras" in8ormar a APA de
todos os 8actos relevantes dessa ocorrência c8r6 artigo _6V" n6V " alínea aIK6
' pra(o m=7imo estabelecido dever= ser contado a partir da ocorrência
do dano ou do con3ecimento pelo operador dessa ocorrência M na medida
em ;ue não se pode e7igir ao operador ;ue in8orme a administração de algo
de ;ue não tem con3ecimento6
&ão : possível determinar 9 partida ;uais os elementos ;ue deverão
constar" em concreto" dessa in8ormação" na medida em ;ue dependerão do
caso concreto6 &o entanto" necessariamente dever= incluir-se in8ormação
sobre os 8actores danosos em causa" nomeadamente a nature(a dos
elementos contaminantes" a locali(ação desses 8actores e dos conse;uentes
danos" as medidas entretanto tomadas de prevenção ou de contençãoK e os
danos ambientais 5= veri8icados6 &um primeiro momento" tratando-se de uma
21 C8r6 Proc6 C-[1!2$%%!" %affinerie editerranee E%GI e o." não publicadodisponível em .<L, 3ttp,22eur-le76europa6euK" considerando /_6
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situação de urgência" : de admitir uma comunicação sum=ria"
complementada posteriormente com os dados ;ue 8altarem6
' dever de in8ormação tamb:m abrange o dever de actuali(ação da
in8ormação" ou se5a" de manter a administração in8ormada de todas as
alteraç>es 9s in8ormaç>es inicialmente 8ornecidas ou 9 situação inicial ;ue
motivou a in8ormação6
12. ' operador 8ica tamb:m obrigado 9 adopção de medidas de
contenção" nos termos do artigo _6V" n6V " alínea bI" ;ue" como 5= 8oi re8erido"
são distintas das medidas de reparação6 J= 8i(emos re8erência ao regime
aplic=vel sura
1E. Por 8im" o operador respons=vel pelo dano ambiental tamb:m 8ica
su5eito 9 obrigação de adoptar medidas de recuperação" nos termos do
artigo /6V" ou se5a" de acordo com o procedimento aí previsto c8r6 artigo _6V"
n6V " alínea cIK6 +ste procedimento ser= analisado infra6
' dever de adopção de medidas de reparação não : pre5udicado pelo
incumprimento do dever de adopção de medidas preventivas ou de
contençãoK" nos termos do artigo _6V" n6V $6 'u se5a" o operador não podeusar como de8esa contra a e7igência de adopção de medidas de reparação
o 8acto de ter incumprido os seus deveres at: aí por ;ual;uer motivo" incluindo
por não se considerar respons=vel ou por a administração não l3e ter
determinado essa necessidade6
11. A ocorrência de um dano ambiental não tem apenas conse;uências
na es8era do operador respons=vel6 +sse 8acto determina a competência da
APA no Qmbito de,
aI 'btenção de in8ormaç>es
bI edidas de contenção
cI edidas de reparação6
15. A APA tem competências ;ue l3e garantem ;ue possui a in8ormação
;ue necessita M ;uer em termos de ;uantidade" ;uer em termos de ;ualidade
M ;ue l3e permita 8a(er um diagn4stico correcto do ;ue se passou e de ;ual a
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Actas do Colóquio – A responsabilidade Civil por dano ambiental
situação no terreno de 8orma a actuar de 8orma correcta" tendo em conta o
dano ambiental em causa6
As suas competências incluem" desde logo" o poder de pedir in8ormaç>es
ao operador sobre danos ambientais ocorridos" o ;ue corresponde ao dever
do operador de prestar in8ormaç>es6 +sse poder abrange tamb:m o de pedir
in8ormaç>es adicionais ou actuali(aç>es ;uando o operador 5= 8orneceu
in8ormaç>es inicialmente6 De 8acto" apesar de apenas este caso estar previsto
no artigo _6V mais precisamente no artigo _6V" n6V [" alínea aIK" não
poderemos de8ender ;ue a APA apenas tem competência para o pedido de
in8ormaç>es adicionais6 Por um lado" por;ue como re8erimos" trata-se de um
dever do operador M pelo ;ue sempre a administração o poderia noti8icarpara cumprir esse dever6 Por outro lado" por;ue não 8aria sentido de8ender
;ue a APA pode pedir in8ormaç>es complementares ou adicionais mas 5= não
poderia pedir pela primeira ve( in8ormação sobre determinado dano
ambiental M na medida em ;ue ;uem pode o mais" pode o menos6
's pedidos de in8ormação da APA devem incidir sobre as mat:rias em
;ue e7iste o dever do operador de prestar in8ormaç>es6
A APA" no Qmbito de a;uisição de in8ormação" para al:m de poder pedir
in8ormaç>es ao operador" tamb:m tem competências para ad;uirir
in8ormaç>es por meios pr4prios" tal como est= previsto no artigo _6V" n6V ["
alínea bI6 +ste preceito prevê ;ue a APA" com o ob5ectivo de obter os dados
necess=rios para uma HanJlise comleta do acidente ao n+vel t(cnico3
organiBativo e de gest"o" pode recorrer a in;u:ritos" inspecç>es ou ;ual;uer
outro meio pr4prio ade;uado de actuação6
' mesmo preceito estabelece ;ue essa actividade deve ser prosseguida
Hcom a colabora!"o de outras entidades <blicas com atribui!*es no
dom+nio do ambiente3 semre 6ue necessJrio6 *emos a;ui o estabelecimento
de uma vinculação de actuação da APA em colaboração com essas
entidades" mas tamb:m o dever de essas outras entidades colaborarem com
a APA6 ' preceito re8ere-se unicamente 9s entidades pEblicas com atribuiç>es
no Qmbito do ambiente6 &o entanto" considera-se ;ue esta obrigação de
colaboração deve ser entendida de 8orma abrangente" 8a(endo uma
interpretação e7tensiva de Hentidades <blicas com atribui!*es no Kmbito doambiente" de 8orma a abranger tamb:m as entidades com atribuiç>es ;ue
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apenas indirectamente este5am relacionadas com o ambiente6 ' ob5ectivo :
garantir uma actuação in8ormada da APA e o m=7imo aproveitamento da
in8ormação disponível pela administração6 *rata-se" no 8undo" de uma
concreti(ação de um princípio geral de colaboração entre entidades
administrativas" tendo em conta a prossecução do interesse pEblico6
' ob5ectivo destas actividades de recol3a de in8ormação : alcançar uma
HanJlise comleta do acidente ao n+vel t(cnico3 organiBativo e de gest"o6
*rata-se" desde logo" de obter uma an=lise completa do acidente ao nível
t:cnico M as substQncias em causa" as conse;uências do acidente" etc6 &o
entanto" não se compreende muito bem o ;ue se ;uer di(er com uma
HanJlise comleta do acidente ao n+vel xhy organiBativo e de gest"o M o ;ueser= o nível organi(ativo ou de gestão do acidente Nuanto a este Eltimo
aspecto" sup>e-se ;ue se pretende a;ui re8erir os 8actos no Qmbito da
prossecução da actividade em causa ;ue deram origem ao acidente" bem
como as medidas de gestão dos danos entretanto tomadas a;uilo a ;ue
designamos as medidas de contençãoK6 Nuanto ao primeiro aspecto" o nível
organi(ativo" vamos interpret=-lo como di(endo respeito ao en;uadramento
institucional em ;ue o acidente ocorreu e em ;ue as medidas poderão ser
tomadas6
13. Independentemente do dever de o operador adoptar as medidas de
contenção necess=rias" prevê-se a possibilidade de a APA intervir e7igindo ao
operador actue" tomando determinada medida" dando instruç>es sobre as
medidas a adoptar ou a 8orma como devem ser tomadas e actuando ela
pr4pria" tomando as medidas ;ue considere ade;uadas6 J= 8oram tecidas
consideraç>es relativas ao regime aplic=vel 9s medidas de contenção sura6
16. Por 8im" a APA tamb:m tem competências relativas 9s medidas de
reparação6 +ssas competências passam por,
aI Determinar a adopção de medidas de reparação pelo operador
bI Dar instruç>es relativas a essas medidas
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Actas do Colóquio – A responsabilidade Civil por dano ambiental
cI +7ecutar subsidiariamente" a e7pensas do su5eito respons=vel" as
medidas de reparação necess=rias ;uando a gravidade e as
conse;uências dos danos assim o e7i5am6
A 8orma como a APA desempen3a as suas competências previstas nos
termos previstos no Decreto-Lei n6V 012$%%!" de $# de Jul3o" e no restante
en;uadramento legal da actividade administrativa" nomeadamente o C4digo
do Processo Administrativo6
O esse regime ;ue ser= analisado nos pr47imos pontos do nosso trabal3o6
eI A determina!"o das medidas de reara!"o a serem adotadas
1Z. ' regime legal para a determinação de adopção de medidas de
reparação : despoletado pela ocorrência de um dano ambiental$$6
' procedimento inicia-se ;uando a APA toma con3ecimento do dano
ambiental em causa6 Isso pode acontecer por uma de três vias,
aI '8iciosamente
bI Atrav:s do cumprimento do dever de in8ormação por parte do
operador
cI Atrav:s de um pedido de intervenção por parte de um interessado6
1. +m primeiro lugar" a APA pode tomar con3ecimento da ocorrência do
dano ambiental o8iciosamente M ;uer atrav:s do e7ercício das suas 8unç>es"
;uer ;uando este se tornou um 8acto not4rio" de con3ecimento geral6 A APA
pode tamb:m tomar con3ecimento da ocorrência atrav:s da comunicação
por parte de outras entidades pEblicas6
Ap4s ter tomado con3ecimento de determinada ocorrência ;ue pode
constituir um dano ambiental" a APA deve começar por a8erir M e averiguar" se
8or o caso M se est=" de 8acto" perante um dano ambiental6
*endo ad;uirido con3ecimento de ;ue o dano ocorreu" a APA deve obter
todas as in8ormaç>es necess=rias para poder avaliar a situação e o seu
en;uadramento 8=ctico" tendo como ob5ectivo" desde logo" apurar ;ual : o
operador ou operadores ;ue devem ser considerados respons=veis pelo dano
22 Robre o regime das medidas de reparação" c8r6 C6 AAD' )'+R" Aresponsabilidade civil por dano ecol4gico" pp6 $_1 ss6
1"
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nos termos dos artigos $6V e [6V" e tamb:m ;uais as medidas mais indicadas
para conter e reparar esses danos6 &o Qmbito desta actividade de obtenção
de in8ormação" a APA pode socorrer-se dos seus pr4prios meios de
levantamento de in8ormação" como a inspecção" o in;u:rito" a auditoria ou
outros" ou pode intimar o operador considerado respons=vel a prestar as
devidas in8ormaç>es6 A APA go(a" assim" de Huma margem de
discricionariedade 6uanto aos rocedimentos3 aos meios a utiliBar e L
dura!"o da investiga!"o$[.
A partir do momento em ;ue conclua pela e7istência de um dano
ambiental da responsabilidade de um determinado operador" o regime a
seguir : o do artigo /6V6 &o entanto" tendo em conta a especi8icidade dasituação" se concluir pela necessidade de adopção de medidas de
reparação" a APA dever= in8ormar o operador de ;ue considera e7istir um
dano ambiental e intim=-lo a submeter uma proposta de medidas de
reparação ou então estabelecer as medidas de reparação ;ue devem ser
tomadas" nos termos desse preceito6
1. ' dano ambiental tamb:m pode ser levado ao con3ecimento da
APA atrav:s da in8ormação prestada pelo pr4prio operador6 *endo em conta
;ue o dano ambiental ocorrer= no Qmbito da prossecução de uma ;ual;uer
actividade 3umana" das duas uma,
aI 'u se trata de uma das actividades listadas no ane7o III" caso em ;ue o
operador responde ob5ectivamente por esses danos" estando su5eito ao
dever de in8ormação
bI 'u se não se trata de uma das actividades listadas no ane7o III" caso
em ;ue o operador apenas estar= su5eito ao dever de in8ormação se
8or respons=vel" nos termos do artigo [6V6
&ão nos parece" no entanto" ;ue se possa de8ender ;ue a comunicação
de um dano ambiental 9 APA por parte de um operador ;ue desenvolva uma
actividade não prevista no ane7o III corresponda a uma admissão da sua
responsabilidade pelo sucedido6 Pode de8ender-se ;ue" nesse caso" estamos
23 C8r6 Proc6 C-[1!2$%%!" %affinerie editerranee E%GI e o." não publicadodisponível em .<L, 3ttp,22eur-le76europa6euK" considerando /_6
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Actas do Colóquio – A responsabilidade Civil por dano ambiental
perante a comunicação de um 8acto 9 APA" o ;ue pode ocorrer de 8orma
in8ormal" ou 8ora dos casos de dever de in8ormação" previsto no artigo _6V" ou
pedido de intervenção" previsto no artigo !6V6 Assim" caber= 9 APA" perante a
situação do caso concreto" determinar se o operador dever= responder ou
não pelo dano ambiental em causa" nos termos dos artigos $6V e [6V"
independentemente de este ter ou não comunicado o dano6
Por outro lado" tendo em conta a redacção do artigo _6V" n6V " não se vê
como de8ender a e7istência de um dever de in8ormação por parte do
operador ;ue desenvolva uma actividade não prevista no ane7o III ;uando
este não deva responder pelo dano" nos termos do artigo [6V6 *eria sido
mel3or se o legislador tivesse previsto o dever de in8ormação" em termosgerais" tamb:m nesses casos" para evitar esta comple7idade6
1. &o caso da transmissão da ocorrência do dano ambiental atrav:s de
um pedido de intervenção por parte de um interessado" o Decreto-Lei n6V
012$%%!" de $# de Jul3o" prevê a e7istência de um regime especial de
determinação das medidas de reparação a adoptar" no seu artigo !6V6 +sse
regime ser= analisado infra6
52. Ap4s o momento de a;uisição de in8ormação" a APA deve proceder
9 an=lise da situação de 8orma a determinar a mel3or 8orma de actuação6
Apresentam-se v=rias 3ip4teses 9 APA M esta pode,
aI +7ercer as suas competências ao nível de medidas de prevenção
derivadas da ocorrência de um dano ambiental" nos termos do artigo
06V" n6V $ e n6V _" alíneas bI a dI" onde se inclui" como vimos" determinar
a adopção de medidas por parte do operador" dar instruç>es sobre asmedidas ou tomar ela pr4pria" subsidiariamente e a e7pensas do
operador" as medidas
bI +7ercer as suas competências ao nível de medidas de contenção" nos
termos do artigo _6V" n6V [" alínea cI" onde se inclui" como vimos"
determinar a adopção de medidas por parte do operador" dar
instruç>es sobre as medidas ou tomar ela pr4pria as medidas
1$
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Instituto de Ciências Jurídico Políticas
cI Determinar a adopção de medidas de reparação por parte do
operador" 8i7ando ;uais as medidas e2ou dando instruç>es sobre as
medidas a adoptar" nos termos do artigo _6V" n6V [" alínea dI e eI
dI +7ecutar as medidas de reparação" subsidiariamente" a e7pensas do
operador respons=vel" nos termos do artigo _6V" n6V [" alínea fI
eI Aguardar pela proposta do operador" caso em pode optar" ao abrigo
do princípio da transparência" por noti8icar o operador de ;ue aguarda
a sua proposta e do pra(o para essa apresentação6
As diversas possibilidades ;ue descrevemos podem ser cumulativas" ou
se5a a APA pode recorrer ao e7ercício das diversas possibilidades descritas"tendo em conta a situação em causa6 Rão tamb:m alternativas" no sentido
em ;ue a APA apenas dever= recorrer 9s 3ip4teses ;ue ten3am mais
vantagens" tendo em conta o caso concreto6
Apro8undaremos de seguida" tendo em conta o tema da nossa
intervenção" o regime relativo 9s medidas de reparação6
5E. Assim" tendo em conta o en;uadramento 8actual do dano ambiental
em causa" a APA pode" desde logo determinar a adopção por parte do
operador de medidas de reparação ou adoptar" ela pr4pria" essas medidas6
&esse caso" cremos ;ue o 8acto de a administração ter optado por não
aguardar pela proposta do operador deve ser-l3e comunicado logo ;ue
possível" 9 lu( do princípio da transparência e da cooperação $0" de 8orma a
evitar ;ue este este5a a preparar uma proposta de medidas de reparação em
vão6 &este caso" a proposta de decisão a elaborar pela APA deve obedecer
aos crit:rios estabelecidos no ane7o c8r6 artigo /6V" n6V $K6
51. Caso a APA não determine as medidas de reparação a adoptar"
cabe ao operador" no pra(o de % dias a contar da data da ocorrência do
dano" submeter 9 APA uma proposta de medidas" de acordo com os crit:rios
estabelecidos no ane7o c8r6 artigo /6V" n6V K$_6
24 Robre o princípio da cooperação" c8r6 6 )LU<IA )A<CIA" O #ugar do Direito narotec!"o do ambiente" Coimbra" Almedina" $%%1" pp6 00_ ss6" 01!6
25 ' diploma legal" por lapso" re8ere-se no artigo /6V" n6V " ao ane7o II" ;uandomani8estamente se pretende 8a(er re8erência ao ane7o 6 De 8acto" o lapso pode serdetectado atrav:s da comparação entre o artigo /6V" n6V e n6V $" e" por outro lado"
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Actas do Colóquio – A responsabilidade Civil por dano ambiental
&os casos em ;ue o con3ecimento do dano por parte do operador :
posterior 9 sua ocorrência por motivos e7ternos 9 sua vontade e ;ue não l3e
se5am atribuíveis a título de dolo ou mera culpa" cremos ;ue o pra(o de % dias
deve ser contado do con3ecimento do 8acto6 Por um lado" por;ue os danos
ambientais" pela sua nature(a" podem revelar-se apenas ap4s períodos de
tempo mais ou menos longos" caso em ;ue não 8ar= sentido ter como ponto
de re8erência para a contagem do pra(o a data de ocorrência do dano6 '
mesmo se poder= di(er de situaç>es em ;ue o dano se revelou de imediato
mas e7istiu incerte(a sobre o operador respons=vel pelo dano" por motivos ;ue
não l3e se5am atribuíveis a título de dolo ou mera culpa M nesse caso o pra(o
dever= contar-se a partir do con3ecimento pelo operador de ;ue a APA oconsidera respons=vel6 Por outro lado" por;ue a ratio do preceito vai nesse
sentido M de 8orma a permitir a apresentação de uma proposta de medidas
por parte do operador ;ue : respons=vel pela sua implementação" sendo
;ue" de ;ual;uer 8orma" a APA pode sempre actuar independentemente da
apresentação da proposta6 De 8acto" a necessidade de promover a
cooperação com o operador" ;uando 8or necess=rio" decorre da pr4pria
Directiva" mais concretamente do seu artigo 16V" n6V $" e do artigo 6V" n6V $"
parte 8inal" ;ue estabelece ;ue a Hautoridade cometente tem o direito de
exigir 6ue o oerador em causa efectue a sua r&ria avalia!"o e forne!a os
dados e informa!*es necessJrios6
Com os mesmos 8undamentos" tamb:m nos parece ;ue o pra(o poder=
ser prorrogado a pedido do operador M sendo certo ;ue" em Eltima instQncia"
cabe sempre 9 APA intervir de8inindo as medidas a serem adoptadas6
55. &os casos em ;ue se veri8i;uem diversos danos ambientais" não sendopossível assegurar ;ue as medidas de reparação necess=rias em relação a
esses danos se5am tomadas simultaneamente" cabe 9 APA determinar a
ordem em ;ue as medidas devem ser tomadas6 A este nível" : atribuída
competência 9 APA" num conte7to de discricionariedade administrativa" para
avaliar se est= perante esta situação e para determinar a ordem das medidas6
pelo 8acto de ser o ane7o ;ue estabelece Hum 6uadro comum a seguir na escolhadas medidas mais ade6uadas 6ue assegurem a reara!"o de danos ambientais "
en;uanto ;ue o ane7o II elenca as actividades su5eitas a responsabilidade ob5ectiva"nos termos do artigo $6V6 A origem do lapso estar=" possivelmente" no 8acto de oane7o da Directiva e;uivalente ao ane7o do Decreto-Lei ser o ane7o II6
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&essa determinação" a administração deve atender" nomeadamente" HL
natureBa3 L extens"o e L gravidade de cada dano ambiental3 bem como Ls
ossibilidades de regenera!"o natural3 sendo em 6ual6uer caso3 rioritJria a
alica!"o das medidas destinadas L elimina!"o de riscos ara a sa<de
humana c8r6 artigo /6V" n6V [K6 A atribuição de prioridade neste Eltimo caso :
uma inovação do legislador nacional 8ace 9 Directiva6
53. Ap4s a an=lise do en;uadramento de 8acto do dano ambiental e da
proposta do operador" caso esta e7ista" a APA 8ormula um pro5ecto de
decisão relativo 9s medidas de recuperação ;ue devem ser adoptadas$/6
+m ambos os casos descritos M a determinação das medidas a adoptar
pela APA ou a proposta do operador M" os crit:rios ;ue devem ser seguidos no
estabelecimento pela APA das medidas ;ue" de 8acto" devem ser adoptadas
são os estabelecidos no ane7o c8r6 artigo /6V" n6V $K6 &este Qmbito" a
autoridade administrativa disp>e de poderes discricion=rios ade;uados para
avaliar a importQncia dos danos" os elementos de 8acto e determinar as
medidas de reparação a tomar $1" com os limites decorrentes do ane7o $!6 De
acordo com o *J.+ Hno exerc+cio desse oder de arecia!"o3 a institui!"o
cometente tem o dever de3 nessas circunstKncias3 examinar3 com cuidado e
imarcialidade3 todos os elementos ertinentes do caso em are!o$#6 Por
outro lado" ainda no Qmbito da actuação da APA" H6uando se coloca a
6uest"o da escolha entre diferentes o!*es de reara!"o xhy cabe8lhe3 nos
termos do artigo .3 n. 03 da Directiva 011-/U3 lido em conuga!"o com o
onto ,.., do seu anexo ::3 avaliar as referidas o!*es com base nos crit(rios
enumerados no dito onto[%6 ' desrespeito destes crit:rios poderia condu(ir
26 Robre o problema da construção da decisão" c8r6 6 )LU<IA )A<CIA" O #ugar doDireito na rotec!"o do ambiente" pp6 0!! ss6
27 Robre o procedimento de tomada de decisão em cen=rios de incerte(a" c8r6 C6AAD' )'+R" %isco e odifica!"o do Acto AutoriBativo ConcretiBador de Deveres deProtec!"o do Ambiente" Coimbra" Coimbra +ditora" $%%1" pp6 01_ ss6
28 C8r6 Proc6 n6V C-[1#2%! e C-[!%2%!" %affinerie editerranee E%GI e o. ::" nãopublicado disponível em .<L, 3ttp,22eur-le76europa6euK" considerando _#6
29 C8r6 Proc6 n6V C-[1#2%! e C-[!%2%!" %affinerie editerranee E%GI e o. ::" nãopublicado disponível em .<L, 3ttp,22eur-le76europa6euK" considerando /6 ' *ribunalcita" a este prop4sito os ac4rdãos emitidos no Qmbito dos Proc6 n6V C-$/#2#%"Technische niversitVt nchen" x##y Colect6 p6 I-_0/#" considerando 0" e Proc6 n6V
C-0%_2%1 P" Pa+ses ;aixos/Comiss"o" x$%%!y" Colect6" p6 I-![%" considerando _/630 C8r6 Proc6 n6V C-[1#2%! e C-[!%2%!" %affinerie editerranee E%GI e o. ::" nãopublicado disponível em .<L, 3ttp,22eur-le76europa6euK" considerando /$6
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Actas do Colóquio – A responsabilidade Civil por dano ambiental
Ha uma avalia!"o inade6uada dos danos e/ou das medidas de reara!"o a
tomar [6
&o Qmbito da determinação das medidas de reparação a adoptar" a APA
pode solicitar a colaboração de Houtras entidades <blicas com atribui!*es
na Jrea do ambiente ou em outras Jreas relevantes em fun!"o do sector de
actividade e do tio de danos c8r6 artigo /6V" n6V 0K6 As outras entidades
devem Hrestar obrigatoriamente o aux+lio solicitado com a maior brevidade
oss+vel6
56. +m 8ace desse pro5ecto de decisão" a APA deve proceder 9
audiência pr:via do operador e das H restantes artes interessadas3 incluindo
os rorietJrios dos terrenos onde se devam alicar as medidas de
reara!"o6 A audição pressup>e a comunicação aos interessados do
pro5ecto de decisão em causa e a ponderação dos seus coment=rios6
Assim" deve ser promovida a audição pr:via dos operadores" para ;ue
estes possam apresentar as suas observaç>es sobre o pro5ecto de decisão c8r6
artigo %%6V" n6V " do C4digo do Processo AdministrativoK6 Para al:m dos
operadores" a audiência pr:via tamb:m deve abranger os restantesinteressados incluindo as pessoas cu5os terrenos são ob5ecto das medidas6 '
princípio da audição dos interessados" para al:m de decorrer do artigo %%6V
CPA" decorre igualmente do Direito da .nião +uropeia[$6
Coloca-se" no entanto" a ;uestão de saber ;uem serão os interessados
para estes e8eitos6 ' e7emplo dado pela letra da lei : o caso dos propriet=rios
dos terrenos onde as medidas se devem aplicar6 Para al:m destes" devemos
considerar ;ue o conceito de interessados previsto no artigo !6V" n6V $"
tamb:m : aplic=vel neste caso M i.e." ;uem tem legitimidade ao abrigo desse
preceito" tamb:m ter= no Qmbito da audiência pr:via prevista no artigo /6V"
n6V $ M por duas ordens de motivos, iI por interpretação sistem=tica do diploma
31 C8r6 Proc6 n6V C-[1#2%! e C-[!%2%!" %affinerie editerranee E%GI e o. ::" nãopublicado disponível em .<L, 3ttp,22eur-le76europa6euK" considerando //6
32 C8r6 Proc6 n6V C-[1#2%! e C-[!%2%!" %affinerie editerranee E%GI e o. ::" nãopublicado disponível em .<L, 3ttp,22eur-le76europa6euK" considerandos _0 e //6 Aí o*ribunal re8ere ;ue Ho rinc+io do contradit&rio3 cua observKncia ( assegurada eloTribunal de 5usti!a3 im*e L autoridade <blica 6ue ou!a os interessados antes de
tomar uma decis"o 6ue lhes diga reseito" citando os ac4rdãos dos Proc6 n6VC-0[#2%_ P e C-0_02%_ P" #and Obersterreich e ustria/Comiss"o" x$%%1y Colect6"p6 I-10" considerando [_6
0
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legal e iiI por;ue essa solução resulta de uma interpretação do diploma
nacional con8orme 9 Directiva[[6 De 8acto" a legitimidade dos interessados
re8eridos no artigo !6V" n6V $" resulta da transposição do artigo 16V" n6V 0" da
Directiva" ;ue prevê ;ue a Hautoridade cometente deve convidar as
essoas referidas no n.] , do artigo ,0.] a apresentar observaç>es neste caso6
'ra" o artigo $6V" n6V " da Directiva 8oi transposto para o artigo !6V" n6V " do
Decreto-Lei6 Parece-nos ;ue" de ;ual;uer 8orma" sempre se poderia recorrer
ao artigo _[6Vdo C4digo do Procedimento Administrativo CPAK" sendo
especialmente importante o recurso aos seus n6Vs $ e [" por estarmos perante
um interesse di8uso M o ambiente6 A situação pode tornar-se mais comple7a
em casos de poluição de car=cter di8uso6<epare-se ;ue este procedimento ser= o mesmo independentemente de
se determinar ;ue as medidas devem ser adoptadas pela administração ou
pelo operador6
5Z. Ap4s a audiência pr:via e tendo em conta as pronEncias das
entidades em causa" a APA determina a adopção das medidas de
reparação" de acordo com os crit:rios previstos no ane7o 6
A administração decide não s4 a medida em causa mas a entidade ;ue
ser= respons=vel pela sua adopção M o operador" ela pr4pria ou ambos M"
podendo igualmente emitir instruç>es sobre as medidas6 <epare-se ;ue" de
8acto" : possível a APA optar por uma distribuição da responsabilidade pela
implementação das medidas de 8orma a ;ue algumas se5am atribuídas ao
operador e outras 9 administração6 &esse caso" e7istir= uma implementação
con5unta das medidas M o ;ue e7igir= uma coordenação e cooperação entre
ambas as entidades6A decisão de adopção das medidas deve ser noti8icada ao operador em
causa" devendo as opç>es tomadas estar 8undamentadas M devem estar
indicados os motivos em ;ue essa decisão se baseou c8r6 artigo 6V" n6V [" da
DirectivaK6 +ssa decisão deve conter a indicação das possibilidades de
reacção" por parte do operador" 9 decisão tomada" ;uer contenciosos" ;uer
graciosos" e os respectivos pra(os c8r6 artigo 6V" n6V [" da DirectivaK6
33 Robre interpretação con8orme com o Direito da .nião +uropeia" c8r6 nota [6
1
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Actas do Colóquio – A responsabilidade Civil por dano ambiental
5. Deve ser notado ;ue a Directiva prevê ;ue Hos Estados8embros
devem assegurar 6ue a autoridade cometente ossa delegar ou solicitar a
terceiros a execu!"o das medidas de reven!"o ou de reara!"o
necessJrias6 &esse sentido" devia estar prevista a possibilidade de a APA
poder delegar em outras entidades administrativas a e7ecução das medidas
em causa6 *er= de se admitir ;ue tamb:m deveria estar prevista a
possibilidade de recurso a entidades privadas6 &esse sentido" ;uando a
implementação das medidas caiba 9 administração" devemos entender ;ue
esta pode recorrer a terceiros na sua tare8a6
Independentemente deste aspecto" o *J.+ 5= admitiu ;ue" em
circunstQncias e7cepcionais" a HDirectiva 011-/U deve ser interretada no sentido de 6ue ermite 6ue a autoridade cometente exia aos
concessionJrios dos terrenos adacentes a toda a orla costeira obecto das
medidas de reara!"o 6ue executem essas medidas mesmo ;uando
ten3am procedido espontaneamente aos trabal3os de reabilitação dos
terrenos ou ;uando não se5am respons=veis pela poluição em causa[06 +ssa
medida deve ser 5usti8icada pelo ob5ectivo de impedir o agravamento da
situação ambiental nos locais onde as mencionadas medidas são e7ecutadas
ou" em aplicação do princípio da precaução [_" pelo ob5ectivo de prevenir o
surgimento ou a recorrência de outros danos ambientais nos re8eridos terrenos
dos concession=rios" ;ue são ad5acentes a toda a orla costeira ob5ecto das
ditas medidas de reparação[/6
5. +7iste um regime especí8ico para o caso dos danos ambientais
trans8ronteiriços" previsto no artigo $06V6
&o caso de danos ambientais originados em territ4rio nacional ;ue se5amsusceptíveis de a8ectar o territ4rio de outros +stados embros" estabelecem-se
deveres de in8ormação e de articulação da resposta com as administraç>es
do outro +stado embro envolvido c8r6 artigo $06V" n6Vs e $K6 &estes casos" a
34 C8r6 Proc6 n6V C-[1#2%! e C-[!%2%!" %affinerie editerranee E%GI e o. ::" nãopublicado disponível em .<L, 3ttp,22eur-le76europa6euK" considerandos 1! e /#6
35 Robre o princípio da precaução" v. g." 6 P+<+I<A DA RILA" Qerde Cor de Direito #i!*es de Direito do Ambiente" pp6 /_ ss6 C6 AAD' )'+R" %isco e odifica!"o do Acto
AutoriBativo ConcretiBador de Deveres de Protec!"o do Ambiente" pp6 $_$ ss636 C8r6 Proc6 n6V C-[1#2%! e C-[!%2%!" %affinerie editerranee E%GI e o. ::" nãopublicado disponível em .<L, 3ttp,22eur-le76europa6euK" considerando #$6
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APA poder= receber propostas de medidas por parte das administraç>es dos
outros +stados embros ;ue dever= tomar em conta6 +stas administraç>es
tamb:m deverão ser incluídas no rol de interessados para e8eitos de audição
pr:via6
&o caso de danos ambientais detectados em territ4rio nacional ;ue
ten3am sido originados 8ora dele" estabelecem-se igualmente deveres de
in8ormação e de articulação da resposta" com a possibilidade de 8ormulação
de propostas de medidas por parte da administração nacional" bem como de
desencadeamento do procedimento de recuperação dos custos das
medidas tomadas c8r6 artigo $06V" n6V [K6
<epare-se ;ue o artigo $06V" n6V [" se menciona unicamente a danos ;ueten3am sido originados em outros +stados embros" mas a Directiva" no seu
artigo _6V" n6V [" : mais abrangente" re8erindo-se a danos não causados
dentro do territ4rio do +stado embro em causa6 ' regime disposto na
Directiva : mais lato do ;ue a transposição ;ue 8oi 8eita" uma ve( ;ue este se
aplica aos danos originados 8ora do territ4rio do +stado embro" se5a no
territ4rio de outro +stado embro" se5a em territ4rio de terceiros +stados6 Assim"
deve ser 8eita uma interpretação con8orme do preceito com a Directiva[1"
aplicando-se igualmente nos casos de danos originados em +stados terceiros6
&os termos da letra do Decreto-Lei bem como da Directiva" c8r6 artigo
_6VK o regime previsto apenas se aplica aos casos em ;ue 5= se veri8icou a
e7istência de dano ambiental" na medida em ;ue não se re8ere ao caso de
ameaças iminentes de danos6 Pode então suscitar-se a dEvida sobre o
procedimento ;ue deve ser seguido nesse caso6 O de entender ;ue" apesar
da letra" o regime tamb:m se aplicar= nestes casos" ;uer por motivos de
interpretação teleol4gica M essa : a solução ;ue mel3or corresponde 9 ratio
do regime de cooperação leal entre +stados embros M" ;uer por motivos de
coerência interna do regime M não 8aria sentido soluç>es di8erentes M" ;uer por
interpretação sistem=tica do regime6 De 8acto" o regime re8ere e7pressamente
;uer no Decreto-Lei ;uer na DirectivaK a possibilidade de adopção de
medidas preventivas o ;ue naturalmente englobar= o caso de resposta a
ameaças iminentes de dano6
37 Robre interpretação con8orme com o Direito da .nião +uropeia" c8r6 nota [6
!
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Actas do Colóquio – A responsabilidade Civil por dano ambiental
fI O regime dos edidos de interven!"o
5. Como 5= re8erimos" ;uando o procedimento de determinação das
medidas de reparação : iniciado por um pedido de intervenção do pEblico"
e7istem algumas especi8icidades no procedimento de determinação da
medida a adoptar6 Rão essas especi8icidades ;ue vamos analisar6
32. ' regime dos pedidos de intervenção por parte do pEblico em caso
de dano ambiental est= previsto no artigo !6V6 Aí se estabelece ;ue H Todos os
interessados odem aresentar L autoridade cometente observa!*es
relativas a situa!*es de danos ambientais3 ou de amea!a iminente desses
danos3 de 6ue tenham tido conhecimento e tm o direito de edir a suainterven!"o nos termos do resente decreto8lei3 aresentando com esse
edido os dados e informa!*es relevantes de 6ue disonham6
3E. ' procedimento inicia-se" assim" com a interacção entre algu:m ;ue
: considerado interessado e a administração6 Assume" assim" importQncia
8ulcral" a an=lise do conceito de interessado para este e8eito" na medida em
;ue dele depende a legitimidade procedimental activa[!6
&os termos do artigo !6V" n6V $" devem ser considerados como interessados
H6ual6uer essoa singular ou colectiva 6ue'
aI Mea afectada ou ossa vir a ser afectada or danos ambientais ou
bI Tenha um interesse suficiente no rocesso de decis"o ambiental
relativo ao dano ambiental ou amea!a iminente do dano em
causa ou
cK :nvo6ue a viola!"o de um direito ou de um interesse leg+timorotegido nos termos da lei.
A redacção" ;ue resulta em grande medida da Directiva" so8re de alguma
imprecisão e tem alguns problemas6 Desde logo" est= polvil3ada de cl=usulas
gerais e de conceitos indeterminados6 Parte dos problemas do preceito
advêm do 8acto de não se ter cumprido o e7igido pela Directiva6
+8ectivamente" o artigo $6V" n6V " $6V par=gra8o" da Directiva" estabelece ;ue
38 Robre o conceito de interessado" c8r6 C6 AAD' )'+R" A responsabilidade civilpor dano ecol4gico" pp6 $_# ss6
"
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os +stados embros devem determinar o ;ue constitui Hinteresse suficiente e
Hviola!"o de direito - sendo ;ue o diploma nacional de transposição não o
8a(6 Fica" portanto" por de8inir o ;ue deve ser considerado" em especial"
Hinteresse suficiente para este e8eito" aguardando-se ;ue a 5urisprudência
ven3a a o8erecer pistas sobre a 8orma de interpretar o preceito6 De ;ual;uer
8orma" em relação a este aspecto" encontramo-nos em incumprimento do
Direito da .nião6
Independentemente desta conclusão" o artigo $6V" n6V " [6V par=gra8o" da
Directiva" estabelece ;ue se deve considerar ;ue as HorganiBa!*es n"o
governamentais activas na rotec!"o do ambiente ;ue Hcumram os
re6uisitos revistos na legisla!"o nacional têm Hinteresse suficiente e têmHdireitos ass+veis de viola!"o" para e8eitos de recon3ecimento de
legitimidade activa6 Assim" apesar de este aspecto tamb:m não constar do
diploma de transposição temos ;ue considerar" por interpretação con8orme 9
Directiva[#" ;ue as organi(aç>es não governamentais de ambiente
recon3ecidas como tais terão sempre legitimidade activa para iniciar este
procedimento6
31. As entidades com legitimidade procedimental activa podem" assim"
dirigir-se 9 APA e,
aI Apresentar observaç>es sobre situaç>es de danos ou de ameaça
iminente de danos e2ou
bI +laborar um pedido de intervenção por parte da APA" para ;ue esta
e7erça ;ual;uer das competências previstas no regime6
&ote-se ;ue o interessado pode optar por apenas apresentar a situação 9administração" esperando ;ue esta a analise" independentemente de poder
tamb:m solicitar determinada actuação por parte da APA6 Assim" apesar de o
artigo ter como epígra8e Hpedido de intervenção" a verdade : ;ue este
regime ser= aplic=vel a ambos os casos6 &o caso de o interessado apenas
apresentar observaç>es" caber= 9 APA decidir sobre as medidas ;ue devem
ser implementadas6
39 Robre interpretação con8orme com o Direito da .nião +uropeia" c8r6 nota [6
#
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pedido são vi=veis" a APA deve de8erir o pedido de intervenção e Hnotifica o
oerador em causa ara 6ue se ronuncie3 no raBo de ,1 dias3 sobre o
edido de interven!"o e as observa!*es 6ue o acomanham c8r6 artigo
!6V" n6V _K6 Ap4s essa audição" Ha autoridade cometente decide as medidas
a adotar nos termos do resente decreto8lei c8r6 artigo !6V" n6V /K6
Caso o operador não ten3a 8ormulado uma proposta de medidas" deve a
administração 8a(ê-lo ou solicitar ao operador ;ue propon3a as medidas em
causa6 &esse caso" deve o interessado ;ue 8ormulou a comunicação ser
ouvido sobre o pro5ecto de medida a adoptar6
36. &ão se estabelece o regime aplic=vel 9 determinação" por parte da
APA" das medidas de reparação ou outrasK ;ue devem ser adoptadas6
Cremos ;ue se aplicar= o regime geral ;ue descrevemos6 &o caso das
medidas de reparação" isso ;uer di(er ;ue se aplicar= o artigo /6V" com as
devidas adaptaç>es6 De 8acto" não se 5usti8icar= a espera pela proposta inicial
de medidas de reparação por parte do operador" mas o restante regime ser=
aplic=vel6
Deve-se atender ao 8acto de a APA não 8icar vinculada 9s medidas
propostas M estas devem ser analisadas 8ace ao en;uadramento do caso
concreto e aos crit:rios do ane7o 6 O ap4s esta an=lise ;ue a APA preparar=
um pro5ecto de decisão" seguindo-se a audiência pr:via dos interessados6
De 8acto" 5usti8ica-se ;ue se assegure tamb:m a;ui a audiência pr:via dos
interessados M em especial dos propriet=rios do terreno onde serão
implementadas as medidas6 <epare-se ;ue esta audiência tem uma nature(a
algo di8erente da consulta inicial ao operador" na medida em ;ue este
inicialmente se poder= pronunciar sobre a pr4pria e7istência do danoambiental6 &o caso de as medidas a ser adoptadas correspondam 9s
propostas" sobre as ;uais 5= se pronunciou" : de ponderar a necessidade de
proceder a nova audição do operador" sobre a mesma realidade M podendo
concluir-se pela sua desnecessidade por motivos de celeridade e de
ponderação dos interesses em presença6 &o caso de estar em causa a saEde
pEblica" e7iste o dever de audição da autoridade de saEde territorialmente
competente6
%
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Actas do Colóquio – A responsabilidade Civil por dano ambiental
De ;ual;uer 8orma" a decisão de de8erimento ou inde8erimento das
medidas propostas inicialmente deve ser 8undamentada e noti8icada ao
re;uerente nos termos do artigo [6V" n6V 0" da Directiva e do CPA6
3Z. A APA poder= sempre determinar as medidas ;ue considere
ade;uadas" mesmo ;uando o interessado se limita a emitir observaç>es" sem
8ormulação de pedido de intervenção" ;uando se considere ;ue o re;uerente
não tem legitimidade ou ;uando as medidas por si propostas não são
consideradas vi=veis6 eri8icada a ocorrência de dano ambiental ou a sua
ameaça iminenteK" : dever da APA actuar" independentemente da 8orma
como ad;uiriu con3ecimento desse 8acto6 ' ;ue pode variar : o regime
procedimental aplic=vel6
3. ' mecanismo descrito re8lecte um novo tipo de relacionamento ;ue
se estabelece entre cidadãos e a administração num Qmbito de relaç>es
multipolares6 O curioso ;ue estamos perante um mecanismo ;ue permite ;ue
um particular solicite 9 administração ;ue" por e7emplo" intime um outro
particular a agir de determinada maneira6
gI O regime das instru!*es
3. Analis=mos at: a;ui o regime aplic=vel ao procedimento
administrativo conducente 9 determinação de medidas de reparação6 <esta-
nos dirigir algumas palavras relativamente 9 aprovação das instruç>es neste
Qmbito6
3. De 8acto" o regime prevê a competência da APA não s4 para
determinar a adopção de determinadas medidas mas tamb:m para emitir
instruç>es obrigat4rias para o operador relativamente 9s medidas a adoptar
c8r6 artigo _6V" n6V [" alínea eIK6
De 8acto" a aprovação de instruç>es tem uma nature(a di8erente da
determinação da adopção de determinada medida em concreto6 A
de8inição de medidas de reparação tem como conteEdo a determinação da
adopção de certa acção ou actuação com determinado ob5ectivo6 Por seu
lado" as instruç>es têm como pressuposto a determinação de adopção pelo
8
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operador de uma medida e têm como prop4sito o estabelecimento de
metodologias" t:cnicas ou operaç>es ;ue devem ser empreendidas nesse
Qmbito" para implementar essas medidas M ou se5a" a 8orma de e7ecução das
medidas6 As instruç>es têm" assim" uma nature(a instrumental relativamente 9s
medidas concretas ;ue se5am determinadas6 &essa medida" pressup>em a
e7istência de uma medida6
62. &ão e7istem re8erências no regime ;uanto ao procedimento de
determinação de instruç>es6 &esses termos" o regime desse procedimento ser=
o descrito para a determinação das medidas de reparação" mutatis mutandis"
com a di8erença de" neste caso" não se prever a possibilidade de iniciativa por
parte do operador nem de pedido de intervenção por parte do pEblico6 O
claro ;ue este Eltimo 8acto não impede ;ue o operador" na proposta de
medidas a adoptar" inclua igualmente propostas de instruç>es" no caso de
necessitar de esclarecimentos ou con8irmação sobre alguma metodologia a
adoptar" bem como se necessitar de ;ue a administração estabeleça" em
concreto" como deve actuar6 &ão impede" igualmente" ;ue o interessado" no
pedido de intervenção" 8ormule uma proposta de instrução a ser emitida pela
administração6
Por 8im" ;uanto ao momento" : de re8erir ;ue a APA pode optar por
determinar determinada medida" complementando a sua decisão com
instruç>es sobre medidas a adoptar ou pode emitir instruç>es posteriormente"
5= depois de o operador ter iniciado a sua implementação6 &ão parece ser
possível : a emissão de instruç>es antes da medida em causa6
hI A execu!"o das medidas de reara!"o elo oerador
6E. ' Decreto-Lei n6V 012$%%! estabelece o princípio geral de
responsabilidade pela e7ecução das medidas de prevenção e reparação ou
de contenção0%K cabe ao operador ;ue por elas : respons=vel" nos termos dos
40 Como 5= re8erimos" apesar de as medidas de contenção serem aut4nomas dasmedidas de reparação" o legislador inseriu-as sistematicamente no preceito relativo 9smedidas de reparação6 &essa medida" 5= de8endemos ;ue ;uando ao longo doDecreto-Lei n6V 012$%%!" encontramos a e7pressão Hmedidas de contenção devemos
presumir ;ue o legislador se re8ere 9s medidas previstas no artigo _6V" ou se5a" amedidas de contenção e medidas de reparação" salvo se comprove ;ue a aplicaçãoda regra em causa não 8a( sentido6
9
8/12/2019 Responsabilidade Civil Por Dano Ambiental
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Actas do Colóquio – A responsabilidade Civil por dano ambiental
artigos $6V e [6V6 *rata-se de uma decorrência do princípio geral do Hpoluidor-
pagador06
61. Assim" decorre do regime a obrigatoriedade dessa e7ecução c8r6artigo 06V" n6V e $" e artigo _6V" n6V " alínea bI e cIK6 Assim" a não e7ecução
das medidas em causa pode dar origem 9 aplicação do regime sancionat4rio
contra-ordenacional artigo $/6V" n6V " alíneas aI a dI" e n6V $" alíneas aI a hIK6
Podem tamb:m ser aplicadas sanç>es acess4rias" nos termos do artigo $16V0$6
65. A esse prop4sito" o *J.+ 5= estabeleceu ;ue os operadores devem
e7ecutar as medidas e ;ue a autoridade deve ter o poder de a tanto os
obrigar 0[6
Para al:m disso" esclareceu ;ue a Directiva não precisa as modalidades
segundo as ;uais a autoridade competente pode coagir os operadores a
tomar as medidas de reparação por ela de8inidas M trata-se" pois" de uma
competência dos +stados embros6 &o entanto" estabelece os seguintes
limites para essas modalidades de coação, Hor um lado3 devem rosseguir
a realiBa!"o do obectivo desta directiva definido no seu artigo ,.3 ou sea3
revenir e rearar os danos ambientais3 e3 or outro3 reseitar o direito dani"o3 designadamente os seus rinc+ios gerais00 - onde se inscrevem" como
: sabido" os direitos 8undamentais6 Assim" por um lado" temos como limite os
ob5ectivos do regime tendo em conta o princípio da precaução0_6 Por outro
lado" temos a aplicação" em especial" do princípio da proporcionalidade"
re8erindo o *J.+ ;ue Htais medidas3 ermitidas ela regulamenta!"o nacional3
n"o excedem os limites do 6ue ( ade6uado e necessJrio ara a realiBa!"o
dos obectivos legitimamente rosseguidos ela legisla!"o em causa3
41 C8r6 sobre este princípio" v. g." J6 J6 )'+R CA&'*IL'" A <esponsabilidade porDanos Ambientais, Apro7imação Juspublicística" in Direito do Ambiente" Lisboa" I&A"##0" pp6 [#1-0%1 6 P+<+I<A DA RILA" Qerde Cor de Direito #i!*es de Direito do
Ambiente" pp6 10 ss6 C6 AAD' )'+R" %isco e odifica!"o do Acto AutoriBativoConcretiBador de Deveres de Protec!"o do Ambiente" pp6 0$ ss6
42 C8r6 C6 AAD' )'+R" A responsabilidade civil por dano ecol4gico" pp6 $_[-$_0"$_!-$_#6
43 C8r6 Proc6 n6V C-[1#2%! e C-[!%2%!" %affinerie editerranee E%GI e o. ::" nãopublicado disponível em .<L, 3ttp,22eur-le76europa6euK" considerando !16
44 C8r6 Proc6 n6V C-[1#2%! e C-[!%2%!" %affinerie editerranee E%GI e o. ::" não
publicado disponível em .<L, 3ttp,22eur-le76europa6euK" considerando 1#645 C8r6 Proc6 n6V C-[1#2%! e C-[!%2%!" %affinerie editerranee E%GI e o. ::" nãopublicado disponível em .<L, 3ttp,22eur-le76europa6euK" considerando !_6
!0
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Instituto de Ciências Jurídico Políticas
sabendo8se 6ue 6uando existe uma o!"o entre vJrias medidas ade6uados
se deve usar a menos restritiva e 6ue os inconvenientes gerados n"o devem
ser desroorcionados relativamente aos obectivos 6ue se retende
alcan!ar 0/6
A esse nível" no ac4rdão em causa" o *J.+ aceitou como admissível
H subordinar a utiliBa!"o dos terrenos dos concessionJrios em causa L
condi!"o de estes executarem medidas de reara!"o relativas aos locais
circundantes desses terrenos" tendo em conta a necessidade de impedir o
agravamento da situação ambiental nos locais onde as mencionadas
medidas são e7ecutadas ou" em aplicação do princípio da precaução" pelo
ob5ectivo de prevenir o surgimento ou a recorrência de outros danosambientais em terrenos circundantes" mesmo ;ue esses terrenos não se5am
ob5ecto dessas medidas pelo 8acto de 5= terem sido ob5ecto de medidas
anteriores de Hbene8iciação ou de nunca terem sido poluídos 016
iI A actua!"o directa da administra!"o no Kmbito das medidasde reara!"o
63. Apesar de a adopção das medidas de reparação ser uma obrigação
do operador respons=vel" e7istem casos em ;ue o regime legal estabelece a
possibilidade ou a necessidade de intervenção da APA6
66. De uma 8orma gen:rica" pode-se re8erir ;ue a APA deve adoptar as
medidas de reparação0!,
a) HMubsidiariamente3 a exensas do resonsJvel3 6uando a gravidade e
as conse6uncias dos danos assim o exiam" nos termos do artigo _6V"
n6V [" alínea fI
bK +m Eltimo recurso" ;uando c8r6 artigo 16V" n6V K,
iI ' operador incumpra algumas obrigaç>es legais
46 C8r6 Proc6 n6V C-[1#2%! e C-[!%2%!" %affinerie editerranee E%GI e o. ::" nãopublicado disponível em .<L, 3ttp,22eur-le76europa6euK" considerando !/6 ' *J.+re8ere" a este prop4sito" os ac4rdãos emitidos no Qmbito do Proc6 n6V C-_[02%/":ndustria #avoraBione Carni Ovine" x$%%!y Colect6" p6 I-0$#" considerando $_" e Proc6 n6VC-1%2%!" )iemeisland" não publicado" considerando 06
47 C8r6 Proc6 n6V C-[1#2%! e C-[!%2%!" %affinerie editerranee E%GI e o. ::" nãopublicado disponível em .<L, 3ttp,22eur-le76europa6euK" considerandos !0 e #$648 C8r6 C6 AAD' )'+R" A responsabilidade civil por dano ecol4gico" pp6 $1% ss6
!1
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Actas do Colóquio – A responsabilidade Civil por dano ambiental
iiI &ão se5a possível identi8icar o operador
iiiI ' operador não se5a obrigado a suportar os custos6
c) HEm casos de situa!*es extremas ara essoas e bens" nos termos doartigo 1" n6V$6
Analisemos estes casos6
6Z. Assim" a APA" nos termos do artigo _6V" n6V [" alínea fI" deve adoptar
as medidas de reparação necess=rias ;uando a mera intervenção do
operador não se revele su8iciente" por ;ual;uer motivo" para obviar ao dano
ambiental em causa" tendo em conta a sua gravidade e as suas
conse;uências6
' car=cter subsidi=rio da actuação da APA e7ige uma avaliação pr:via
;ue permita concluir pela insu8iciência da actuação do operador6 O tamb:m
necess=rio ;ue se comprove ;ue a actuação da administração : a ;ue
mel3or permite a reparação dos danos ambientais ocorridos6 *rata-se da
aplicação do princípio da subsidiariedade6
+ste 5uí(o 8a(-se tendo em conta Ha gravidade e as conse6uncias dos
danos ambientais em causa6 Assim" o 5uí(o de balanceamento entre a
possibilidade de tomada de medidas do operador respons=vel M ;ue rima
facie : o ;ue deve adoptar as medidas M e a possibilidade de actuação
directa da administração M ;ue apenas subsidiariamente deve actuar M tem
como re8erenciais" por um lado a gravidade dos danos M pressupondo-se ;ue"
;uanto mais gravosos" mais se 5usti8ica a intervenção da administração M e" por
outro" as suas conse;uências" de acordo com o princípio da subsidiariedade
da actuação da administração" 5= re8erida6*ratam-se" assim" de situaç>es em ;ue" apesar de operador poder
implementar as medidas" a administração concluir ;ue a sua capacidade de
implementação" por algum motivo" não l3e permite atingir um grau ade;uado
de reparação" prevenção ou contenção6 Cremos ;ue" nos casos em ;ue o
operador não actua tamb:m serão abrangidos pelo artigo 16V" n6V 6
O claro ;ue no caso de medidas preventivas" todo este 5uí(o se 8ar= 8ace
aos danos ambientais ;ue são ob5ecto de ameaça iminente" envolvendo
!
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Instituto de Ciências Jurídico Políticas
assim uma avaliação comple7a do ;ue 3ipoteticamente aconteceria caso o
dano ocorresse6
6. &os termos do artigo 16V" n6V " a APA pode actuar Hem <ltimo recursodirectamente atrav:s da implementação de medidas de reparação" de
prevenção ou de contenção" nas seguintes situaç>es,
aI Nuando o operador incumpra as seguintes obrigaç>es,
i) De in8ormação 9s autoridades da ocorrência do dano
ambiental" prevista no artigo _6V" n6V " alínea aI
ii) De adopção de medidas de contenção" ;uer
autonomamente" prevista no artigo _6V" n6V " alínea bI" ;uer
por indicação da APA" nos termos do artigo _6V" n6V [" alínea
cI" bem como de respeitar as instruç>es ;ue a APA der em
relação a essas medidas" nos termos do mesmo preceito
iii) De adopção de medidas de reparação" nos termos do
artigo _6V" n6V " alínea cI" e n6V [" alínea dI" de acordo com o
artigo /6V" bem como de respeitar as instruç>es ;ue a APA
der em relação a essas medidas" nos termos do artigo _6V" n6V
[" alínea eI
iv) De adopção de medidas de prevenção" ;uer
autonomamente" prevista no artigo 06V" n6V " ;uer por
indicação da APA" nos termos do artigo 06V" n6V _" alínea bI"
bem como de respeitar as instruç>es ;ue a APA der em
relação a essas medidas" nos termos do artigo 06V" n6V _"
alínea cI6
+ste Eltimo caso não se encontra previsto no artigo 16V do
Decreto-Lei n6V 012$%%!" de $# de Jul3o" no entanto
encontra-se previsto no artigo _6V" n6V 0" da Directiva6 &esse
sentido" a não previsão da actuação directa da
administração neste caso representa uma 8al3a na
transposição da Directiva ;ue deve ser corrigida atrav:s do
!!
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Actas do Colóquio – A responsabilidade Civil por dano ambiental
e8eito directo0# do artigo _6V" n6V 0" da Directiva" estando assim
a APA obrigada a actuar tamb:m neste caso6 De ;ual;uer
8orma" en;uanto se mantiver a situação de não transposição"
o +stado português encontra-se em incumprimento do Direito
da .nião +uropeia" podendo vir a ser penali(ado por isso6
O curioso ;ue" neste caso" o artigo _6V" n6V 0" da Directiva não
obriga a ;ue a intervenção da administração opere Hcomo
<ltimo recurso" ao contr=rio do ;ue acontece com o artigo
/6V" n6V [" relativamente 9s medidas de reparação6 Assim"
neste caso" parece não ser e7igível 9 APA ;ue necessite
comprovar a impossibilidade de ser o operador a adoptar asmedidas" ou a sua incapacidade M bastando demonstrar o
incumprimento das medidas em causa6 ' motivo da
di8erença dever= radicar na necessidade de assegurar uma
actuação preventiva r=pida e e8ica(" de 8orma a mel3or
combater as ameaças iminentes de danos ambientais6
bI &ão se5a possível identi8icar o operador respons=vel
cI ' operador não se5a obrigado a suportar os custos6
6. &ão se ignora ;ue o artigo 16V" n6V " apenas se re8ere 9 possibilidade
de adopção de medidas de reparação e de prevenção" e não 9s medidas
de contenção6 &o entanto" tal 8acto deve-se ao car=cter ambíguo como o
49 Robre a ;uestão do e8eito directo de actos de Direito da .nião +uropeia" c8r6 v.g." FA.R*' D+ N.AD<'R" Direito da ni"o Euroeia" Coimbra" Almedina" $%%0" pp6 0$/ ss6 6L.YRA D.A<*+" ' *ratado da .nião +uropeia e a garantia da Constituição, notas de uma
re8le7ão crítica" in Estudos em mem&ria do Professor Doutor 5o"o de Castro endes "Lisboa" Le7" xs6 d6y" pp6 /1$ ss6 6 J'RO <A&)+L +RN.I*A" Efeitos dos Ac&rd"os do Tribunal de
5usti!a das Comunidades Euroeias Proferidas no jmbito de uma Ac!"o or:ncumrimento" 6 J'RO <A&)+L +RN.I*A" Efeitos dos Ac&rd"os do Tribunal de 5usti!a dasComunidades Euroeias Proferidas no jmbito de uma Ac!"o or :ncumrimento"Coimbra Almedina" ##/" pp6 %[ ss6 6 J'f' PALA" ;reves notas sobre a invoca!"odas normas das Directivas comunitJrias erante os tribunais nacionais" Lisboa" AAFDL"$%%%" pp6 # ss6
Ao nível da 5urisprudência dos tribunais da .nião" c8r6 por e7emplo" Proc6 n6V$/2/$" Qan Gend en #oos" x#/[y Col6 I Proc6 n6V #21%" FranB Grad" x#1%y Col6 !$_ Proc6n6V 0210" Qan Du9n" x#10y Col6 [[1 Proc6 n6V 0[21_" Defrenne" x#1/y Col6 0__ Proc6 n6V0!21!" %atti" x#1#y Col6 /$# Proc6 n6V C-!2!" krsula ;ec7er " x#!$y Col6 $[% Proc6 n6V
02![" von Colson" x#!0y Col6 !# Proc6 n6V _$2!0" arshall" x#!/y Col6 1$[ Proc6 n6V$2!/" Demirel" x#!1y Col6 [1# Proc6 n6V C-_/2#" Hansa Fleisch" x##$y Col6 I-%__/1Proc6 n6V C-$[2%[" #$(tang de ;erre" x$%%0y Col6 I-1[_16
!"
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diploma trata as medidas de contenção" parecendo englob=-las nas medidas
de reparação6
Como 5= re8erimos" as medidas de reparação devem ser distinguidas das
medidas de contenção" embora ambas devam ser consideradas tipos de
acç>es de reparação" 9 lu( da Directiva c8r6 artigo /6V" n6V " da DirectivaK6
Assim" apesar da omissão de re8erência do artigo 16V" n6V " devemos
considerar ;ue a;ui se engloba a possibilidade de a APA adoptar medidas de
contenção por um lado" e7actamente por;ue o diploma parece englob=-las
nas medidas de reparação c8r6 artigo _6VK" mas tamb:m por;ue o pr4prio
artigo 16V" n6V " alínea aI" enumera os deveres do operador de adopção de
medidas de contenção entre os deveres do operador ;ue" sendo violados"legitimam a actuação da administração6
6. Como re8erimos" na medida em ;ue o operador não respeitar os
deveres enunciados" : dada 9 APA a possibilidade de actuar directamente"
implementando as medidas ;ue considerar ade;uadas6
+ste regime pode parecer um pouco estran3o" na medida em ;ue se
aparenta estar a privilegiar o operador ;ue não cumpre os seus deveres" ;ue
8icaria desonerado de tomar as medidas de reparação6 A ra(ão do regime
prende-se com a necessidade suprema de assegurar ;ue as medidas
ade;uadas se5am tomadas 8ace a um dano ambiental ou ameaça iminente
de dano6 ' artigo 16V" n6V " permite" assim" a consagração" por um lado" do
princípio da responsabilidade prim=ria do operador pela tomada das medidas
e" por outro" da atribuição de competência 9 APA para actuar em casos em
;ue o operador não o 8a(6 De ;ual;uer 8orma" o operador continua obrigado
a suportar os custos das medidas em causa6
Z2. A APA tamb:m dever= actuar ;uando não 8or possível identi8icar o
operador respons=vel pelo dano ambiental ou ameaça de dano em causa6
+7iste" no entanto" um primeiro dever de detecção do operador respons=vel M
assim" a administração deve 8a(er tudo ao seu alcance para" no Qmbito da
sua actividade de recolecção de in8ormaç>es relativamente a um dado
incidente" a8erir sobre ;ual o operador ;ue deve ser considerado respons=vel6
!#
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Actas do Colóquio – A responsabilidade Civil por dano ambiental
+specialmente relevantes" neste Qmbito serão os casos em ;ue : di8ícil
comprovar ou mesmo estabelecer ;ual o operador respons=vel" devido 9
nature(a do dano" do tipo de poluição" como os casos de poluição di8usa" ou
da di8iculdade no estabelecimento de ne7o causal entre o dano e a
actividade do operador6 Independentemente da di8iculdade na
determinação do operador respons=vel" : a obrigação da administração
envidar todos os es8orços necess=rios para essa detecção6
&o entanto" podem ocorrer casos em ;ue não : encontrado o operador
respons=vel M por ser impossível determinar a responsabilidade ou por ser
demasiado di8ícil6 &esses casos" deve ser a administração a assumir a
implementação das medidas de reparação6 +ncontra-se" assim" consagrado oprincípio de ;ue" em Eltima an=lise" o respons=vel pela tomada de medidas
no Qmbito da responsabilidade ambiental : a administração6 *rata-se" no
8undo" de mais um instrumento de encora5amento 9 administração de
encontrar o operador respons=vel6
Re" no entanto" a evolução tecnol4gica ou das mel3ores t:cnicas
disponíveis permitir determinar o operador respons=vel em momento posterior"
deve a administração e7ercer o seu direito de regresso" antes do decurso do
pra(o de prescrição de cinco anos c8r6 artigo #6V" n6V [K6
ZE. Por 8im" a APA tamb:m poder= adoptar as medidas de reparação
;uando" mesmo ap4s ter determinado ;ual o operador respons=vel pelo
dano" se comprove ;ue este não deve ser obrigado a suportar os custos das
medidas" nos termos do Decreto-Lei n6V 012$%%!6 +sses casos serão
desenvolvidos infra6
Z1. *odos estes casos ;ue temos vindo a e7plorar relativamente ao artigo
16V" n6V " têm um pressuposto, a actuação directa da administração" no ;ue
di( respeito 9 tomada de medidas de reparação" ocorre Hem <ltimo recurso6
Como 5= re8erimos" a tomada de medidas preventivas não cont:m esta
ressalva6 Da mesma 8orma" para e8eitos das medidas de contenção" tamb:m
se dever= dispensar a necessidade de preenc3imento deste re;uisito_%6 +7iste"
50 &o caso das medidas de contenção" como 5= re8erimos" o artigo _6V" n6V ["
alínea cI" permite a actuação directa da administração sem esta limitação6 Damesma 8orma" tamb:m o artigo /6V" n6V $" alínea bI" da Directiva não cont:m essae7igência6 Assim" neste caso" a APA apenas ter= de demonstrar a pertinência das
!$
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Instituto de Ciências Jurídico Políticas
pois" para e8eitos do regime das medidas de reparação a ;uestão de como
interpretar a e7pressão Hem <ltimo recurso" no Qmbito da norma 3abilitante
da actuação directa da administração6
+m relação 9 alínea aI do artigo 16V" n6V " a e7pressão Hem <ltimo
recurso pode colocar-se a ;uestão sobre se esta e;uivale 9 necessidade de
aplicação do princípio da subsidiariedade da actuação da APA prevista no
artigo _6V" n6V [" alínea fI6 Re tomarmos em lin3a de conta a redacção do
artigo _6V" n6V 0" e artigo /6V" n6V [" da Directiva" parece ser de a8astar a
aplicação do princípio da subsidiariedade nesses termos_6 De 8acto" estes
preceitos re8erem e7pressamente a ausência de actuação do operador6
Assim" o determinante para a actuação pEblica" neste caso" : a necessidade
de implementação de medidas e o 8acto de o operador não o 8a(er6 Para
esta interpretação tamb:m contribui o argumento literal de não se 8a(er a;ui
re8erência a esse princípio6
Por seu lado" em relação 9s alíneas bI e cI do artigo 16V" n6V " esta
e7pressão dever= signi8icar ;ue" nestes casos" por não e7istirem operadores
;ue devam suportar os custos das medidas de reparação M por;ue não
e7istem" por;ue não 8oram encontrados" por;ue não : possível determinar asua responsabilidade" ou por;ue" pura e simplesmente" não são obrigado a
suportar os custos das medidas M : a administração ;ue assume esses custos_$6
&esse sentido" a e7pressão" em relação a estas alíneas" : e;uívoca" na
medida em ;ue ter= sempre de ser a administração a adoptar as medidas"
por não e7istir outra entidade ;ue o deva 8a(er" na medida em ;ue a
administração : a respons=vel Eltima pela aplicação do regime6
Z5. Rurge-nos uma di8iculdade, o artigo 16V" n6V " devido 9 sua redacção"
aparenta pretender regular todas as situaç>es em ;ue a APA actua
directamente6 as então como interpretar o artigo _6V" n6V [" alínea fI" ;ue
medidas adoptadas Hara limitar ou revenir novos danos ambientais e efeitosadversos ara a sa<de humana ou novos danos aos servi!os6 *amb:m neste caso" a
5usti8icação para a di8erença de regimes dever= radicar na necessidade de asseguraruma actuação r=pida e e8ica( na contenção dos e8eitos danosos do acontecimentoem causa" de 8orma limitar os danos ambientais daí advenientes6
51 C8r6 em sentido contr=rio" C6 AAD' )'+R" A responsabilidade civil por danoecol4gico" p6 $1%652 C8r6 C6 AAD' )'+R" A responsabilidade civil por dano ecol4gico" p6 $16
!%
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Actas do Colóquio – A responsabilidade Civil por dano ambiental
cont:m uma norma 3abilitante aparentemente distinta Rer= ;ue o artigo _6V"
n6V [" alínea fI" deve ser interpretado como uma mera norma geral" prevendo
a possibilidade de actuação directa" posteriormente concreti(ada pelo artigo
16V" ;ue estabeleceria os casos em ;ue" de 8acto" e7istia essa competência
da administração Para essa interpretação tamb:m contribuiria o 8acto de
não e7istir uma norma e;uivalente 9 do artigo _6V" n6V [" alínea fI" na Directiva6
+ssa não parece ser a correcta interpretação sistem=tica integrada do
artigo _6V" n6V [" alínea fI" e do artigo 16V6 De 8acto" uma an=lise cuidada do
preceito permite-nos constatar ;ue a norma 3abilitante aí prevista : distinta
do artigo 16V6 &o caso do primeiro preceito" a actuação directa da APA
encontra-se 5usti8icada ;uando Ha gravidade e as conse6uncias dos danos
assim o exiam6 'u se5a" esta actuação não pressup>e o preenc3imento de
nen3uma das situaç>es enumeradas no artigo 16V" n6V 6 Para al:m disso"
como vimos" a actuação da administração" neste caso" est= dependente de
um 5uí(o de subsidiariedade 8ace 9 actuação do operador6 Pelo contr=rio" no
caso do artigo 16V" n6V " esse 5uí(o não : aplic=vel6
' 8acto de a Directiva não dispor de um preceito e;uivalente ao do artigo
_6V" n6V [" alínea fI" tamb:m não : o su8iciente para sustentar esta 3ip4tese6 De8acto" a Directiva permite a actuação da administração em ve( do operador"
desde ;ue se ressalve o princípio do Hpoluidor-pagador6
Podemos" assim" concluir" ;ue o legislador português alargou os casos em
;ue a administração pode actuar directamente6
Z3. Por 8im" a APA deve adoptar as medidas de reparação Hem casos de
situa!*es extremas ara essoas e bens6 Nuando se veri8i;ue esta situação" a
APA pode agir directamente" sem necessidade de respeitar os restantes
procedimentos previstos no Decreto-Lei n6V 012$%%!6 +ste regime ser=
e7plorado no pr47imo ponto6
I Estado de exce!"o ambiental
Z6. ' artigo 16V" n6V $" prevê ;ue Hem casos de situa!*es extremas ara
essoas e bens3 a autoridade cometente ode actuar sem necessidade de
!8
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Instituto de Ciências Jurídico Políticas
ado!"o dos rocedimentos revistos no decreto8lei ara fixar as medidas de
reven!"o ou reara!"o necessJrias ou ara exigir a sua ado!"o6
*rata-se da previsão de uma esp:cie de estado de necessidade
ambiental" previsto na lin3a do estabelecido no artigo [6V" n6V $" do CPA" para
o estado de necessidade administrativa6
ZZ. &estes termos" a administração ambiental pode 8i7ar as medidas de
prevenção ou de reparação ou de contenção_[K" podendo não respeitar
algumas das 8ormalidades previstas no regime6 As medidas assim
determinadas podem ser impostas ao operador" como e7pressamente
previsto" ou adoptadas directamente pela administração" situação não
e7pressamente prevista" mas igualmente de admitir" pela l4gica do regime6
A actuação ao abrigo deste preceito deve ser" no entanto"
correctamente en;uadrada6 ' artigo 16V" n6V $" apenas legitima a actuação
;ue ten3a como ob5ectivo ra(o=vel resultados não pudessem ter sido
alcançados de outro modo" nomeadamente atrav:s do cumprimento das
regras do Decreto-Lei n6V 012$%%!6 *rata-se da aplicação de um princípio
idêntico ao previsto no artigo [6V" n6V $" do CPA6 Deve" assim" e7istir umacorrelação entre o ob5ectivo prosseguido e as medidas a adoptar" por um
lado" e os procedimentos não cumpridos" por outro6
Z. as ;ual a actuação ;ue pode ser adoptada pela administração ao
abrigo deste preceito
*endo em conta ;ue a administração sempre dever= ad;uirir
con3ecimento da ocorrência do dano ou da ameaça iminente do dano na
medida em ;ue apenas pode decidir 8i7ar medidas depois de tomar
con3ecimento de ;ue e7istem motivos para issoK e de avaliar" ainda ;ue
sumariamente" a situação para determinar as medidas ;ue devem ser
tomadas na medida em ;ue necessita de determinar ;ue medidas devem
ser adoptadasK são os restantes procedimentos M de a;uisição de in8ormaç>es
suplementares" de an=lise apro8undada da situação e dano ou de dano
iminente" de an=lise da proposta de medidas por parte do operador e de
53 *emos de considerar a;ui englobadas as medidas de contenção" nos termosda e7tensão do regime a ;ue 5= 8i(emos re8erência sura na nota _%6
!9
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Actas do Colóquio – A responsabilidade Civil por dano ambiental
audição pr:via dos interessados M ;ue podem ser a8astados" nos termos deste
preceito6
' não cumprimento destes procedimentos ou 8ases procedimentais est="
no entanto" necessariamente su5eita ao princípio da proporcionalidade6 &essa
medida" a legitimidade de actuação 9 margem dos procedimentos
estabelecidos no Decreto-Lei n6V 012$%%!" ao abrigo do artigo 16V" n6V $"
dever= ser analisada em relação a cada 8ase do procedimento ou acto
procedimental6 Assim" em princípio s4 deverão ser a8astadas as e7igências
procedimentais ;ue se considere ;ue" ao serem adoptados" não permitiriam
dar resposta" em tempo" 9s situaç>es e7tremas6
Z. ' preceito em causa tamb:m deve ser relacionado com o artigo [06V
da Lei de ases do Ambiente" ;ue estabelece um regime especí8ico para a
declaração de H Bonas cr+ticas e de H situa!"o de emergncia_06 De 8acto" 5=
a Lei de ases do Ambiente contin3a regras relativas 9 actuação e7cepcional
da administração em casos de situaç>es de emergência6
A situação prevista no artigo 16V" n6V $" estar= mais pr47ima desta Eltima
8igura" na medida em ;ue esta prevê a tomada de Hactua!*es esec+ficas3
administrativas ou t(cnicas xhy or arte da administra!"o central e local3
acomanhadas do esclarecimento da oula!"o afectada ;uando Hos
+ndices de olui!"o3 em determinada Jrea3 ultraassarem os valores admitidos
ela legisla!"o xhy ou3 or 6ual6uer forma3 userem em erigo a 6ualidade
do ambiente c8r6 artigo [06V" n6V $" da Lei de ases do AmbienteK__6
&esse sentido" em determinada medida" o artigo 16V" n6V $" do Decreto-Lei
n6V 012$%%! veio concreti(ar a Lei de ases do Ambiente e deve ser
interpretado nessa medida6 Assim" podemos recorrer 9 previsão contida noartigo [06V" n6V $" da Lei de ases do Ambiente para elencar situaç>es em ;ue
pode 3aver o recurso ao mecanismo previsto no artigo 16V" n6V $" do Decreto-
Lei n6V 012$%%!6
54 Robre esta mat:ria" c8r6 P6 P'<*.)AL )ARPA<" O estado de emergncia ambiental"Coimbra" Almedina" pp6 0_ ss6
55 *amb:m nesse nível" o artigo [06V" n6V [" da Lei de ases do Ambiente prevê ;ueH serJ feito o laneamento das medidas imediatas necessJrias ara ocorrer a casos de
acidente semre 6ue estes rovo6uem aumentos bruscos e significativos dos +ndicesde olui!"o ermitidos ou 6ue3 ela sua natureBa3 fa!am rever a ossibilidade destaocorrncia6
"0
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' artigo [06V" n6V $" da Lei de ases do Ambiente tamb:m : importante na
medida em ;ue estabelece um dever de in8ormação da população
a8ectada" ;ue tamb:m ser= de aplicar" com as devidas adaptaç>es" no caso
de aplicação do artigo 16V" n6V $" do Decreto-Lei n6V 012$%%!6
7I Custos das medidas de reara!"o
Z. ' princípio geral estabelecido no Decreto-Lei n6V 012$%%! : o de ;ue
os custos das medidas de prevenção e reparação ou de contenção_/K
adoptadas em sua virtude são suportados pelo operador c8r6 artigo #6V" n6V K6
*rata-se de uma decorrência do princípio geral do Hpoluidor-pagador_16
A responsabilidade do operador pode operar de duas maneiras, ou iI : ooperador ;uem assume a implementação das medidas em concreto"
respondendo directamente" dessa 8orma" ou iiI : a administração ;uem
assume essa concreti(ação das medidas" devendo o operador suportar os
gastos da administração" no Qmbito dessa actividade6
2. Assim" ;uando a APA assume" em determinada medida" a
concreti(ação das medidas M em parte ou na totalidade M deve e7igir ao
operador ;ue causou o dano o pagamento dos custos ;ue tiver suportado"
Hnomeadamente atrav(s de garantias sobre bens im&veis ou de outras
garantias ade6uadas c8r6 artigo #6V" n6V $K6 A esse respeito : importante 8a(er
re8erência ao artigo $$6V" ;ue estabelece o regime de garantias 8inanceiras
obrigat4rias6
' artigo #6V" n6V [" estabelece" no entanto" um pra(o m=7imo de cinco
anos para ;ue a entidade administrativa recupere os custos" 8indo o ;ual o
direito de regresso prescreve6 ' pra(o em causa deve ser contado a partir H dadata da conclus"o das medidas adotadas3 exceto se a identifica!"o dos
oeradores ou dos terceiros resonsJveis ocorrer osteriormente3 caso em 6ue
a contagem do raBo se inicia a artir dessa data6 Ruscita algumas dEvidas
interpretativas a re8erência 9 possibilidade de a identi8icação dos respons=veis
poder ocorrer Hosteriormente - em relação a ;ue 8acto : ;ue se poder=
8a(er este 5uí(o de posterioridade Com o au7ílio interpretativo do artigo %6V
56 *emos de considerar a;ui englobadas as medidas de contenção" nos termosda e7tensão do regime a ;ue 5= 8i(emos re8erência sura na nota _%657 C8r6 considerando ! do preQmbulo da Directiva6
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Actas do Colóquio – A responsabilidade Civil por dano ambiental
da Directiva percebemos ;ue o ponto de re8erência ser= a data da
conclusão das medidas adoptadas M se a identi8icação ocorrer
posteriormente" o pra(o de cinco anos dever= ser contado a partir dessa data6
E. +m relação a este regime conv:m 8a(er re8erência tamb:m ao artigo
16V" n6V [" ;ue estabelece ;ue" nos casos de actuação directa da
administração previstos nesse preceito" deve a APA 8i7ar os Hmontantes dos
custos das medidas adotadas e identi8icar Ho resonsJvel elo seu
agamento3 odendo recuerJ8los em regresso_!6
' regime assim estabelecido parece sobrepor-se ao estabelecido no
artigo #6V" 5= ;ue ambos disp>em sobre a necessidade de o operador
responder pelos custos das medidas tomadas6 +ste 8acto tem a agravante de
;ue o artigo 16V" n6V [" dei7a de 8ora os casos de actuação directa ao abrigo
do artigo _6V" n6V [" alínea fI" M ;ue serão casos aut4nomos" como vimos6
Dispondo os dois sobre a mesma mat:ria podemos interrogarmo-nos sobre a
utilidade dessa duplicação6 Re se concluir ;ue os regimes são di8erentes"
sendo o artigo 16V um regime especial" então não se percebe o por;uê de
e7istirem dois regimes6 Re se concluir ;ue os regimes são iguais" a duplicação :
inEtil6 Parece-nos ocorrer este Eltimo caso" por;ue não vemos distinção
material entre os regimes em causa6
1. ' princípio geral de responsabilidade do operador con3ece algumas
e7cepç>es_#6 De 8acto" o artigo $%6V" n6V " estabelece ;ue o operador não est=
obrigado ao pagamento das medidas ;uando demonstre ;ue o dano ou a
ameaça iminente de dano,
aI *en3a sido causado por terceiros e ocorrido apesar de terem sidoadoptadas as medidas de segurança ade;uadas ou
bI <esulte do cumprimento de uma ordem ou instrução emanadas de
uma autoridade pEblica ;ue não se5a uma ordem ou instrução
58 A regra estabelecida no artigo 16V" n6V [" parece ter uma aplicação apenasparcelar6 De 8acto" na medida em ;ue se re8ere aos custos das medidas adoptadascom base no artigo 16V" esta regra apenas 8ar= sentido para o artigo 16V" n6V " alíneaaI" e n6V $ M na medida em ;ue não se poder= e7ercer o direito de regresso na medida
em ;ue não se5a possível identi8icar o operador respons=vel ou ;ue este não devaresponder659 C8r6 C6 AAD' )'+R" A responsabilidade civil por dano ecol4gico" pp6 $/[ ss6
"
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resultante de uma emissão ou incidente causado pela actividade do
operador6
Assim" um dos pressupostos : ;ue o dano ou a ameaça iminente de dano
ten3a como origem" directa ou indirecta" algu:m ;ue não o operador M num
dos casos" um terceiro" no outro dos casos" a pr4pria administração6 &o
primeiro caso" : necess=rio ;ue" apesar de o dano ou a ameaça iminente de
dano ter sido causado por terceiro" o operador demonstre ;ue 8oram tomadas
todas as medidas de segurança ade;uadas6 &o segundo caso" tal não :
necess=rio6 &a medida em ;ue se trata de uma ordem ou instrução da
administração" o legislador parece presumir ;ue o operador não teria tido
possibilidade de tomar medidas de segurança ade;uadas ou ;ue não l3e :
e7igível ;ue o 8aça" tendo em conta ;ue se encontra vinculado ao seu
cumprimento6
&o entanto" no segundo caso a responsabilidade não : a8astada se"
apesar de se tratar do resultado de uma ordem ou instrução da
administração" esta tiver sido emitida na se;uência de uma emissão ou
incidente causado pela actividade do operador M ou se5a" ;ue o respons=vel
pela necessidade de a administração ter dado essa ordem ou instrução ser"em Eltima an=lise" o pr4prio operador6 <epare-se ;ue" apesar de s4 se re8erir a
situação em ;ue a ordem ou instrução 8oi motivada por emissão ou incidente
causado pela actividade do operador" entende-se ;ue o mesmo regime se
deve aplicar no caso em ;ue o motivo da actuação da administração 8or a
ameaça eminente de uma emissão ou incidente causado pela actividade do
operador M de 8orma a cobrir" por e7emplo" as medidas preventivas6
A 5usti8icação" para o *J.+" prende-se com o 8acto de o princípio do
poluidor-pagador não implicar ;ue os operadores Hdevam assumir os
encargos inerentes L reara!"o de olui!"o ara a 6ual n"o contribu+ram/%6
+m ambos os casos" o 8acto de o operador não estar obrigado ao
pagamento das medidas não a8asta o dever de adopção e de e7ecução das
medidas de prevenção e de reparação e de contençãoK dos danos
ambientais6 &essa medida" toda a parte do regime relativa 9s obrigaç>es de
60 C8r6 Proc6 n6V C-[1!2$%%!" %affinerie editerranee E%GI e o." não publicado
disponível em .<L, 3ttp,22eur-le76europa6euK" considerando /16 ' *ribunal recorre" poranalogia" ao ac4rdão emitido no Proc6 n6V C-$#[2#1" Mtandle9 e o." x###y Colect6"p6 I-$/%[" considerando _6
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in8ormação" colaboração com a administração e apresentação de proposta
de medidas tamb:m se l3e aplica6 &o entanto" neste caso" o operador go(a
de direito de regresso" con8orme o caso" sobre o terceiro respons=vel ou sobre
a entidade administrativa ;ue ten3a dado a ordem ou instrução6
<epare-se ;ue este regime pressup>e a sua aplicação aos casos do artigo
$6V e do artigo [6V" ou se5a" : indi8erente estarmos perante um caso de
responsabilidade ob5ectiva ou sub5ectiva do operador6 Re bem ;ue" no caso
do artigo $%6V" n6V " alínea aI" em bom rigor" estamos num caso em ;ue a
responsabilidade pelo dano ou a ameaça iminente de dano cabe a um
terceiro ;ue não o operador6 Assim" esta situação apenas a8astar= a
responsabilidade ob5ectiva do operador no Qmbito do artigo $6V6Caso di8erente : o previsto no artigo $%6V" n6V " alínea bI" na medida em
;ue o a8astamento de responsabilidade" pelo menos 9 primeira vista" ocorre
independentemente de o operador ter actuado com dolo ou negligência6
5. +7iste um outro caso de a8astamento do princípio de ;ue deve ser o
operador a suportar os custos das medidas c8r6 artigo $%6V" n6V [K" para ;ue
necessita de demonstrar" cumulativamente" ;ue,
aI &ão 3ouve dolo ou negligência da sua parte
bI ' dano ambiental 8oi causado por,
iI .ma emissão ou um 8acto e7pressamente permitido ao
abrigo de um dos actos autori(adores identi8icados no ane7o III
e ;ue respeitou as condiç>es estabelecidas para o e8eito nesse
acto autori(ador e no regime 5urídico aplic=vel no momento da
emissão ou 8acto causador do dano ao abrigo do ;ual o actoadministrativo : emitido ou con8erido ou
iiI .ma emissão" actividade ou ;ual;uer 8orma de utili(ação
de um produto no decurso de uma actividade ;ue não se5am
consideradas susceptíveis de causar danos ambientais de
acordo com o estado do con3ecimento cientí8ico e t:cnico no
momento em ;ue se produ(iu a emissão ou se reali(ou a
actividade6
""
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*rata-se" neste caso" de uma situação de e7clusão da responsabilidade
;ue s4 se aplicar= no Qmbito da responsabilidade ob5ectiva" uma ve( ;ue :
necess=ria a ausência de dolo ou negligência6 Assim" este motivo de
a8astamento da responsabilidade apenas se aplicar= no Qmbito do artigo $6V6
Assim" nesse Qmbito" para al:m da prova da ausência de culpa ou
negligência" o operador ter= ainda de provar" no caso da alínea aI" ;ue a
causa do dano ou da ameaça iminente do dano teve origem no
desenvolvimento de uma actividade devidamente autori(ada identi8icada no
ane7o IIIK e ;ue" no momento da emissão o operador respeitava todas as
condiç>es previstas no acto autori(ador e no regime 5urídico do e7ercício da
actividade em causa6&o caso da alínea bI" o operador dever= demonstrar ;ue a actividade
;ue estava a desenvolver não era considerada susceptível de causar danos
ambientais de acordo com o estado do con3ecimento cientí8ico e t:cnico do
momento em causa6
Isto signi8ica ;ue o regime de responsabilidade ob5ectiva previsto no artigo
$6V : um regime bastante limitado" na medida em ;ue a responsabilidade do
operador pode ser a8astada no caso de actuaç>es licenciadas dentro dos
limites legais e de conse;uências de actuaç>es mesmo ;ue ilegaisK ;ue" no
momento em ;ue 8oram praticadas" não eram consideradas susceptíveis de
causar danos ambientais Hde acordo com o estado do conhecimento
cient+fico e t(cnico6
' regime parece" por isso" em certa medida" redundar numa inversão do
4nus da prova6 Desde ;ue o operador consiga provar os 8actos re8eridos M o
;ue poder= não ser 8=cil" a sua responsabilidade ob5ectiva : a8astada6 &esse
caso" ;uem suportar= os custos das medidas ser= o +stado M a comunidade6
Assim" nestes casos e7iste uma comunitari(ação do risco e dos custos
decorrentes" ;ue não são internali(ados pelo operador6 <epare-se ;ue aí se
incluem os riscos derivados da incerte(a cientí8ica pelas conse;uências da
actuação do operador6
3. Para al:m das situaç>es citadas de e7cepção do princípio da
responsabilidade do operador pelos custos das medidas" prevê-se ainda ;ue a
APA possa optar por não responsabili(ar o operador6 De 8acto" regime permite
"#
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ode ser levada a concluir3 na rJtica3 ela necessidade de uma ac!"o
comlementar da J decidida ou mesmo chegar L conclus"o de 6ue as
medidas inicialmente tomadas se revelaram ineficaBes e 6ue s"o necessJrias
outras medidas ara remediar determinada olui!"o do ambiente/$6
As alteraç>es 9s medidas propostas podem derivar de 8actos ;ue
c3egaram ao con3ecimento da APA atrav:s da sua pr4pria actividade ou da
de outras entidades pEblicas o dever de cooperação mant:m-seK ou da
comunicação de interessados6 *amb:m o pr4prio operador poder= propor
alteraç>es6
O claro ;ue o processo aplic=vel 9 aprovação de novas medidas para a
substituição das anteriores dever= ser e;uivalente mutatis mutandis aoprocesso relativo 9 aprovação das medidas ex nuovo6 &esses termos" o *J.+ 5=
se pronunciou sobre este aspecto" admitindo as alteraç>es" na medida em
;ue seriam e;uivalentes 9 escol3a entre as diversas medidas possíveis no
momento da tomada de decisão inicial/[6 Nuanto ao regime" o *ribunal
esclarece ;ue H6uando a autoridade cometente retenda alterar
substancialmente medidas de reara!"o dos danos ambientais decididas no
final de um rocesso contradit&rio desenvolvido em cooera!"o com os
concessionJrios em causa e 6ue J tenham sido executadas ou esteam em
in+cio de execu!"o3 ou sea3 em caso de mudan!a de o!"o de reara!"o3
essa autoridade estJ3 em rinc+io3 obrigada a ter em conta os crit(rios
indicados no onto ,.., do anexo :: da Directiva 011-/U e3 al(m disso3 nos
termos do seu artigo ,,.3 n. -3 deve indicar3 na decis"o 6ue venha a tomar
nesta mat(ria3 as raB*es exactas 6ue fundamentaram a sua escolha ou3
eventualmente3 as raB*es 6ue ustificaram 6ue n"o tivesse de faBer8 se ou n"o
udesse ser feita uma anJlise detalhada com base nos referidos crit(rios3 or
exemlo3 devido L urgncia da situa!"o ambiental/06
62 C8r6 Proc6 n6V C-[1#2%! e C-[!%2%!" %affinerie editerranee E%GI e o. ::" nãopublicado disponível em .<L, 3ttp,22eur-le76europa6euK" considerando _6
63 ' *J.+ re8ere ;ue H6uando se coloca a 6uest"o da escolha entre diferenteso!*es de reara!"o3 o 6ue ( o caso 6uando a autoridade cometente retendealterar as medidas de reara!"o 6ue J havia anteriormente tomado3 cabe8lhe3 nostermos do artigo .3 n. 03 da Directiva 011-/U3 lido em conuga!"o com o onto ,..,do seu anexo ::3 avaliar as referidas o!*es com base nos crit(rios enumerados no ditoonto6 C8r6 Proc6 n6V C-[1#2%! e C-[!%2%!" %affinerie editerranee E%GI e o. ::" não
publicado disponível em .<L, 3ttp,22eur-le76europa6euK" considerando /$664 C8r6 Proc6 n6V C-[1#2%! e C-[!%2%!" %affinerie editerranee E%GI e o. ::" nãopublicado disponível em .<L, 3ttp,22eur-le76europa6euK" considerando /[6
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A APA deve assegurar" no processo de tomada de decisão" ;ue Ha o!"o
escolhida ermita efectivamente atingir os melhores resultados do onto de
vista ambiental3 sem exor os concessionJrios em causa a custos
manifestamente desroorcionados relativamente aos 6ue deveriam ter
suortado com a rimeira o!"o escolhida or essa autoridade/_6 R4 assim
não seria ;uando a autoridade puder demonstrar ;ue a opção inicial se
revelava inade;uada para restaurar" reabilitar ou substituir os recursos naturais
dani8icados ou os serviços deteriorados6
. &esse sentido" a administração poder= noti8icar o operador"
8undamentando a necessidade de alteração das medidas" para ;ue este
propon3a as alteraç>es ;ue entender convenientes" nos termos do artigo /6V"
n6V 6 A administração tamb:m poder= decretar as alteraç>es
independentemente da proposta do operador //6 Re tiver sido um interessado a
propor as alteraç>es" dever-se-= aplicar o regime do artigo !6V com as
devidas alteraç>es6
+ssencial ser= sempre o direito de audição pr:via do operador respons=vel
pela e7ecução das medidas" bem como em relação aos restantes
interessados" ;ue decorre do princípio do contradit4rio" apesar de não se
encontrar e7pressamente previsto/16 De 8acto o *J.+ 5= re8eriu ;ue Hara alterar
substancialmente as medidas de reara!"o ambiental 6ue J tenha
arovado altera!*es a 6ue ode roceder nos termos da Directiva 011-/U
3 o artigo .3 n. 03 da mesma directiva im*e L autoridade cometente 6ue
oi!a os oeradores destinatJrios das medidas3 exceto 6uando a urgncia da
situa!"o ambiental imonha uma actua!"o imediata or arte da6uela
autoridade. Por outro lado3 nos termos do n. - do mesmo artigo .3 aautoridade cometente serJ obrigada a convidar3 concretamente3 as
essoas em cuos terrenos devem ser alicadas as medidas de reara!"o a
aresentarem as suas observa!*es3 devendo t8las em conta/!6
65 C8r6 Proc6 n6V C-[1#2%! e C-[!%2%!" %affinerie editerranee E%GI e o. ::" nãopublicado disponível em .<L, 3ttp,22eur-le76europa6euK" considerando /06
66 C8r6 Proc6 n6V C-[1#2%! e C-[!%2%!" %affinerie editerranee E%GI e o. ::" nãopublicado disponível em .<L, 3ttp,22eur-le76europa6euK" considerando _6
67 C8r6 Proc6 n6V C-[1#2%! e C-[!%2%!" %affinerie editerranee E%GI e o. ::" não
publicado disponível em .<L, 3ttp,22eur-le76europa6euK" considerandos _0-_/668 C8r6 Proc6 n6V C-[1#2%! e C-[!%2%!" %affinerie editerranee E%GI e o. ::" nãopublicado disponível em .<L, 3ttp,22eur-le76europa6euK" considerando _/6
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. Nuanto 9 cessação da vigência das medidas" podemos começar por
re8erir ;ue estas podem ser revogadas ou caducar6
De 8acto" como começamos por ver as medidas podem ser alteradas a
todo o tempo6 &os mesmos termos em ;ue podem ser alteradas" as medidas
podem ser revogadas" a todo o tempo pela administração" na medida em
;ue concluir ;ue estas não estão a contribuir para a real reparação dos danos
ambientais M por;ue não são e8ica(es total ou parcialmenteK ou por;ue estão
a contribuir para o agravamento desses danos6 A administração tamb:m
poder= optar por revogar as medidas ;uando considerar ;ue e7istem outras
medidas mais ade;uadas para prosseguir o ob5ectivo em causa6
2. Por outro lado" as medidas devem considerar-se caducas no
momento em ;ue se veri8i;ue ;ue os seus ob5ectivos 8oram alcançados" ou
se5a" ;ue se conseguiu H rearar3 reabilitar ou substituir os recursos naturais e os
servi!os danificados ou fornecer uma alternativa e6uivalente a esses recursos
ou servi!os c8r6 artigo 6" n6V " alínea nIK6 &estes termos" as medidas de
reparação são" por nature(a" actos administrativos colocados sob uma
condição resolutiva6
De 8acto" a obrigação de adopção e manutençãoK das medidas de
reparação apenas se poder= considerar= e7tinta ;uando 8orem alcançados
os ob5ectivos de reparação" reabilitação ou substituição dos recursos naturais
e dos serviços dani8icados ou de 8ornecimento de uma alternativa e;uivalente
a esses recursos ou serviços" nos termos previstos no ane7o do Decreto-Lei n6V
012$%%!6 *rata-se da decorrência da e7istência do dever origin=rio de
actuação, na medida em ;ue de dei7arem de veri8icar os pressupostos para a
e7istência de dever de adopção de medidas preventivas" tamb:m dei7a dee7istir esse dever6
E. as o ;ue acontece ;uando se c3ega 9 conclusão ;ue essas
medidas não são su8icientes ou ;ue" por algum motivo" nunca serão
susceptíveis de alcançar o cumprimento dos ob5ectivos re8eridos Rer= ;ue
nesse caso tamb:m se poder= considerar ;ue as medidas caducaram &ão"
na medida em ;ue esse g:nero de 5uí(os : reservado pelo regime legal 9
administração6 &esse caso" o ;ue o operador ou um interessado deve 8a(er :
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comunicar 9 administração essa sua conclusão" pedido 9 administração ;ue
actue6 +m caso de não actuação indevida da administração" sempre
poderão estes actores recorrer aos mecanismos do contencioso administrativo
de reacção ao silêncio ou não actuação indevidos da administração6
Da mesma 8orma" ;uando e7istirem dEvidas sobre o cumprimento dos
ob5ectivos das medidas dever= a administração ser c3amada a pronunciar-se
sobre a veri8icação das condiç>es de caducidade6 &esse caso não se tratar=
de uma revogação da medida mas da declaração de caducidade das
medidas por parte da administração" tendo em conta ;ue os seus ob5ectivos
8oram alcançados6
1. Faremos de seguida uma breve re8erência ao regime das instruç>es6
' seu regime seguir= de perto o regime das medidas" uma ve( ;ue" como
5= re8erimos as instruç>es têm uma nature(a instrumental 8ace 9s medidas6
Assim" o ;ue re8erimos em relação 9 possibilidade de alteração e de
revogação das medidas tamb:m se dever= considerar aplic=vel 9s instruç>es"
com as devidas adaptaç>es/#6
&o entanto" podem encontrar-se especialidades no regime das instruç>es"
;ue decorrem" precisamente" da sua nature(a instrumental6 De 8acto" deve-se
considerar ;ue as instruç>es caducam ;uando as medidas com as ;uais se
relacionam dei7am de vigorar por serem revogadas ou ;uando tamb:m estas
caducaram6 Para al:m disso" tamb:m se deve entender ;ue as instruç>es
caducaram na medida em ;ue as medidas em causa são alteradas em
sentido contr=rio ao nelas disposto6
*5" T 3:3*67 L 3426"*0
Assistente convidado e doutorando daFaculdade de Direito da .niversidade de Lisboa6
oltar ao Yndice
69 O curioso ;ue o artigo 06V" n6V _" alínea cI" preve5a e7pressamente apossibilidade de revogação das medidas preventivas en;uanto ;ue o artigo _6V" n6V ["alínea lI" não o 8aça6 &ão cremos ;ue essa discrepQncia se5a signi8icativa6 De 8acto"não se vê motivo para daí se retirar uma di8erença de regime entre as instruç>es
relativas a medidas preventivas ou de reparação M ;ue não parece 8a(er sentido 9partida6 A distinção tamb:m não e7iste no te7to da Directiva c8r6 artigo _6V" n6V ["alínea cI" e artigo /6V" n6V $" alínea dI" da DirectivaK6
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Actas do Colóquio – A responsabilidade Civil por dano ambiental
A ("STAU(A)*O 'ATU(AL 'O 'OO ("^I#" JU(+DICO D" ("SPO'SAILIDAD" CIIL PO(
DA'OS A#I"'TAIS
I. Considera:Wes !reliinares. Deliita:;o. Conceitos ase.
E. ' Decreto-Lei n6V 012$%%!" de $# de Jul3o" transp`s para a ordem 5urídica
nacional a Directiva n6V $%%02[_2C+" do Parlamento +uropeu e do Consel3o" de
$ de Abril de $%%0" na redacção ;ue l3e 8oi dada pela Directiva n6V
$%%/2$2C+" do Parlamento +uropeu e do Consel3o doravante Directi/aK6
Assim se concreti(ou o antigo prop4sito de criação de um regime transversal M
e não sectorial M de responsabilidade por danos ambientais na .nião
+uropeia$6
ariadíssimas ;uest>es podem devemK ser estudadas e apro8undadas a
prop4sito do Decreto-Lei n6V 012$%%!" de $# de Jul3o" ;ue aprovou o novo
<egime Jurídico da <esponsabilidade Civil por Danos Ambientais doravante
(J(CDAK6 ' tema ;ue iremos tratar não se re8ere 9 imputação da
responsabilidade a um determinado su5eito pressupostosK" mas sim a um
momento posterior ou" at: mesmo" a um momento aut4nomo" uma ve( ;ue o
;ue se dir= pode ser aplicado mesmo ;uando a reparação : assumida pelo
+stadoK, a reparação do dano6
1. Inevitavelmente" temos de e7plicitar a ;ue tipo de danos nos re8erimos" uma
ve( ;ue dano ambiental pode corresponder 9;uilo ;ue tradicionalmente a
doutrina tem vindo a distinguir como dano ambiental ou como danoecol4gico[6 +ste estudo limita-se ao c3amado dano ecol4gico" ;ue
1 +ntretanto 5= alterado pelo Decreto-Lei n6V $0_2$%%#" de $$ de Retembro6 Robre os antecedentes 3ist4ricos da criação de um regime comunit=rio de
responsabilidade por danos ambientais" ve5a-se +DA<D 6 P6 <A&R" #iabilit9 for damageto ublic natural resources" aia, @lu?er La? International" $%%" pp6 !% e seguintes6
3 &ão adoptando a terminologia mais comum" o #ivro branco sobre resonsabilidade ambiental re8ere-se a danos tradicionais en;uanto danos a pessoase bens por 8orça de danos a recursos naturais M c8r6 C' $%%%K // 8inal" de # de
Fevereiro de $%%%" pp6 1 e !6 <emetemos a conceptuali(ação desta distinção paraoutras obras" cu5o escopo permite esse desenvolvimento6 Robre esta ;uestão" ve5a-seJ'RO D+ R'.RA C.&AL R+&DI" %esonsabilidade civil or danos ecol&gicos. Da reara!"o
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poderíamos de8inir como a lesão causada a um recurso natural" susceptível de
causar uma a8ectação signi8icativa do e;uilíbrio do bem 5urídico ambiente
8unção do recurso naturalK" isto :" do patrim4nio natural" en;uanto con5unto
dos recursos bi4ticos e abi4ticos" e a sua interacção6 &ão : demais sublin3ar
esta limitação, tudo o ;ue vai ser dito : aplic=vel apenas 9 reparação do
dano ecol4gico" tal como de8inido" e não aos danos a pessoas e bens6
5. Diga-se ;ue o ;ue 9 primeira vista pode parecer uma ;uestão 3= muito
tratada pelo direito privado da responsabilidade civil" :" em rigor" uma
problem=tica materialmente diversa, não s4 os princípios ;ue con8ormam e
en8ormamK o regime" como tamb:m a nature(a dos bens protegidos e os
su5eitos envolvidos são outros" o ;ue não pode dei7ar de ter repercussão no
regime da reparação do dano" publici(ando-o6
Apesar de s4 agora e7istir um regime comunit=rio e nacionalK de
responsabilidade civil por dano ambiental" 3= muito ;ue a doutrina europeia
se vin3a debruçando sobre este tema em especial" a reparação do dano
ecol4gico deu origem a diversas obras dedicadas ao assunto" com propostas
;uanto 9 8orma de determinação das medidas de reparação6 +stes
antecedentes doutrin=rios são Eteis para compreender o novo regime legal"
;ue certamente os considerou6
3. Assim" a reparação ou indemni(ação" em sentido amploK pode revestir
duas modalidades, a reparação in natura e a indemni(ação em din3eiro06 A
reparação in natura concreti(a-se atrav:s da reconstituição 8=ctica da
situação actual 3ipot:tica6 = ;ue introdu(ir desde 5= a;ui uma precisão, di(-
se situação actual hiot(tica para intencionalmente a8astar a ideia desituação anterior L rJtica do facto lesivo6 +m termos estritamente
do dano atrav(s de restaura!"o natural " Coimbra, Coimbra +ditora" ##!" pp6 /_ eseguintes" em especial [% e seguintes6 ais sucintamente e 5= 9 lu( do <J<CDA" ve5a-se CA<LA AAD' )'+R" A responsabilidade civil por dano ecol4gico6 <e8le7>espreliminares sobre o novo regime instituído pelo DL 012$%%!" de $# de Jul3o in O 6uehJ de novo no Direito do Ambiente3 Actas das Jornadas de Direito do Ambiente"Faculdade de Direito da .niversidade de Lisboa" _ de 'utubro de $%%! org6 CarlaAmado )omes e *iago Antunes"K Lisboa, AAFDL" $%%#" pp6 $0% e seguintes6
4 +m termos terminol4gicos" e at: este ponto" esta distinção não di8ere da ;ue :
classicamente 8eita na teoria geral da responsabilidade civil6 e5a-se" a títulomeramente e7empli8icativo" L.YR +&++R L+I*f'" Direito das Obriga!*es" I" /6 ed6"Coimbra, Almedina" $%%1" pp6 [## e seguintes6
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dogm=ticos" o lesante tem obrigação de reposição da situação como se não
tivesse 3avido lesão" e não de reposição da situação anterior 9 pr=tica do
8acto lesivo" o ;ue pode no caso concreto" em termos de custos" ser
signi8icativamente di8erente_ contudo" nem sempre esta ser= a solução mais
ambientalmente 8avor=vel e" desde ;ue com respeito pelo princípio da
proporcionalidade" não se a8asta liminarmente a 3ip4tese de o legislador"
diversamente do ;ue : classicamente entendido" determinar ;ue o lesante
tem obrigação de reposição da situação anterior L rJtica do facto lesivo"
tendo em conta" em especial" a comple7idade e imprevisibilidade da
evolução do estado dos recursos naturais6 eremos infra ;ual a solução ;ue
vigora no <J<CDA6
&o caso do dano ecol4gico" a reparação in natura identi8ica-se com a
restauração ou reabilitação do elemento natural a8ectado e2ou das suas
8unç>es ecol4gicas tamb:m c3amada de 8uncionalidade ou serviço do
recurso natural" conceitos ;ue nos remetem para a interacção e
interdependência dos ecossistemasK6 A distinção entre o elemento natural em
concreto a8ectado e a sua 8unção ecol4gica permite uma distinção das duas
8ormas de reparação in natura, a restauração ecol4gica e a compensaçãoecol4gica6
&a restauração ecol4gica e7iste recuperação do elemento natural ;ue em
concreto 8oi a8ectado6 J= as medidas de compensação ecol4gica visam criar"
e7pandir ou de alguma 8orma aumentar a capacidade 8uncional de outros
elementos naturais" apro7imando-se assim de uma ideia de substituição por
e;uivalente 8uncional6/
5 Imagine-se o caso de um dano a uma esp:cie vegetal protegida" em elevado eprogressivo estado de degradação" em ;ue o 8acto lesivo ocorreu em $%%# e areparação apenas : 8eita em $%6 A reposição da situação actual hiot(ticaimplicaria a reconstituição da situação em ;ue a esp:cie estaria em $% caso nãotivesse ocorrido o 8acto lesivo" considerando a degradação a ;ue" por 8actorese7teriores" a esp:cie estava su5eita6 Caso a reparação in natura correspondesse 9reposição da situação anterior L rJtica do facto lesivo" o lesante estaria obrigado areconstituir a situação de $%%# o ;ue" no caso concreto" seria ambientalmente mais8avor=vel6
6 &ão poderemos desenvolver a;ui este t4pico6 Contudo" diga-se ;ue a integraçãoda compensação ecol4gica na reparação in natura parte de determinados
pressupostos no ;ue toca ao bem protegido pela responsabilidade civil e" em Eltimaan=lise" pelo Direito do Ambiente em geralK6 *rata-se de um alargamento conceptualda reparação in natura ;ue resulta da densi8icação do conceito de dano ecol4gico6
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Finalmente" como medida estritamente subsidi=ria" a compensação
pecuni=ria : ainda um modo de reparação do dano ecol4gico6 A
compensação pecuni=ria não cabe na economia deste trabal3o" ;ue se
dedica 9 reparação in natura6 as são evidentes as principais ;uest>es ;ue se
colocam ;uanto a esta modalidade de reparação ;uando 8alamos de dano
ecol4gico, a admissibilidade da compensação pecuni=ria 9 lu( dos princípios
de Direito do AmbienteK" m:todos de avaliação pecuni=ria do recurso lesado
;ue não tem nature(a patrimonial e o destino dos montantes eventualmente
pagos6
6. Antes de passarmos 9 an=lise do regime legal" 3= ;ue sublin3ar a
centralidade do princípio da proporcionalidade na determinação da medida
de reparação aplic=vel6 ' princípio da proporcionalidade M nas suas três
vertentes, ade;uação" necessidade e proporcionalidade em sentido estrito M"
princípio geral da actividade administrativa" pode" no limite" obstar 9
aplicação de ;ual;uer medida de reparação in natura e impor a
compensação pecuni=ria6 &o nosso entendimento" a proporcionalidade em
sentido estrito não : um crit:rio para determinação da medida de reparação
a aplicar" mas antes um limite 9 aplicação de uma medida16
&este mesmo sentido 8oi a Comissão +uropeia" ;ue concluiu ;ue mesmo
6ue a reara!"o dos danos sea exe6u+vel3 tamb(m tm de existir crit(rios de
avalia!"o ara o recurso natural danificado3 a fim de evitar 6ue os custos da
sua restaura!"o seam desroorcionados. TerJ de ser realiBada uma anJlise
de custo8benef+cio ou uma anJlise de raBoabilidade3 caso a caso2. Contudo"
se tudo isto parece evidente e pací8ico" o mesmo 5= não se pode di(er da
concreti(ação desta operação de an=lise de custo-bene8ício6
' problema não se coloca ;uando 8alamos de casos em ;ue o custo das
medidas de restaura!"o for claramente desroorcionado e exorbitante4 ou
nos casos em ;ue o custo das medidas de reparação 8or bai7o6 O" como
7 &este sentido" vide L.CYA )'IR CA*AL^" %esonsabilidad or daYos al medioambiente" Pamplona, Aran(adi +ditorial" ##!" pp6 $/% e seguintes e ainda J+R.R C'&D+ A&*+N.+<A" El deber ur+dico de restauraci&n ambiental3 )ranada, +ditorial Comares"
$%%0" pp6 #1 e seguintes68 C8r6 C' $%%%K // 8inal" de # de Fevereiro de $%%%" p6 $69 C8r6 C' $%%%K // 8inal" de # de Fevereiro de $%%%" p6 _[6
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sempre" nos casos duvidosos ;ue a problem=tica surge com toda a acuidade
e capacidade para blo;uear um procedimento tendente 9 reparação do
dano6 +m caso de litigQncia" 3= ;ue saber como 8a(er o teste de
ra(oabilidade reasonableness testI6 &em o #ivro branco sobre
resonsabilidade ambiental da Comissão responde M ou começa a responde M
9 ;uestão" nem a Directiva a concreti(ou6
Rem entrar em pro8undidade na ;uestão" a an=lise do custo-bene8ício da
adopção de determinada medida de reparação passa" em primeiro lugar e
pre8erencialmente" pela atribuição de um custo 9s medidas de reparação in
natura a adoptar custos de restaura!"o,1K6 Para calcular o bene8ício da
adopção de determinada medida" coloca-se o problema constante de
atribuição de um valor monet=rio aos bene8ícios de um determinado recurso
natural6 Alguns modelos especí8icos de avaliação da relevQncia de
determinados danos ou intervenç>es poderão servir de base para a
construção de um modelo ade;uado M re8erimo-nos aos modelos da
Andalu(ia e de essen" para os ;uais a pr4pria Comissão remete no #ivro
branco sobre resonsabilidade ambiental6 Contudo" ressalve-se desde 5="
podendo dar um contributo para esta discussão" estes modelos não são
susceptíveis de aplicação geral aos casos a ;ue nos re8erimos" nem de l3es
dar uma resposta conclusiva ou satis8at4ria6
Z. *endo por base estas consideraç>es preliminares e conceitos base ;ue são
pressuposto da an=lise do regime legal" passemos então 9 an=lise do <J<CDA6
A sua estrutura dual : evidente, um Capítulo II dedicado 9 responsabilidade
civil do dano ambiental danos tradicionais 9s pessoas e bens" por via da lesãode um componente ambientalK e um Capítulo III dedicado 9 responsabilidade
civil por dano ecol4gico na letra da lei" impropriamente c3amada de
administrativa$K6 Rublin3e-se ;ue" por 8orça da 5= re8erida publici(ação deste
1% C8r6 C' $%%%K // 8inal" de # de Fevereiro de $%%%" p6 $6 Analisando aComunicação da Comissão" vide RA<A P'LI" R3aping t3e +C regime on liabilitG 8orenvironmental damage, progress or disillusionment in Euroean Environmental #a>%evie>" &ovembro ###" pp6 [%_ e seguintes6
1 .ma breve e7plicitação do 8uncionamento destes modelos pode ser
encontrada em +DA<D 6 P6 <A&R" #iabilit9 for damageZ" pp6 $%/ e seguintes61$ Robre esta in8eli( designação" pouco 3aver= a acrescentar ao ;ue 8icou ditopor CA<LA AAD' )'+R em A responsabilidade civil por danoh" pp6 $/! e seguintes6
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regime" o Capítulo III e7travasa o conteEdo típico de normas relativas 9
reparação" criando tamb:m obrigaç>es especí8icas ;uanto 9 prevenção de
danos ecol4gicos6
'ra" por 8orça da nature(a especí8ica dos recursos naturais" rompe-se a;ui
claramente com o paradigma assente no acordo ou litígio 5udicial entre o
lesante e o lesado para e8ectivação6 Pelo contr=rio" a reparação do dano
concreti(a-se" em primeiro lugar" num procedimento administrativo6 Foi esta a
via escol3ida pelo legislador comunit=rio" e ;ue 8oi transposta no <J<CDA" a
partir do artigo 6V6
Determina o artigo 6V" n6V " alínea nK" do <J<CDA ;ue são medidas dereparação 6ual6uer ac!"o3 ou conunto de ac!*es3 incluindo medidas de
carJcter rovis&rio3 com o obectivo de rearar3 reabilitar ou substituir os
recursos naturais e os servi!os danificados ou fornecer uma alternativa
e6uivalente a esses recursos ou servi!os3 tal como revisto no anexo Q 6 amos
então centrar a nossa an=lise no ane7o do <J<CDA doravante ane@o K
;ue trata do ;ue a;ui nos importa, a determinação das medidas de
reparação dos danos ecol4gicos[
6
' ane7o divide-se em duas partes, o ponto " dedicado 9 reparação de
danos causados 9s =guas" 9s esp:cies e habitats naturais protegidos e o ponto
$" relativo 9 reparação de danos causados ao solo6 amos seguir a
sistemati(ação da lei na nossa an=lise6 Diga-se desde 5= ;ue o ane7o
reprodu( isis verbis o ane7o II da Directiva" pelo ;ue o ;ue 8icar dito a
prop4sito de um : aplic=vel ao outro6
II& A re!ara:;o de danos causados X F=ua< Xs es!,cies e ;a+itats
naturais !rote=idos
. ' ponto do ane7o divide-se materialmenteK em duas partes, começa
por distinguir três modalidades de reparação" atrav:s da sua de8inição e
1[ Rendo certo ;ue os crit:rios constantes das alíneas aK a 8K do ponto 6[6 doane7o são aplic=veis 9 determinação das medidas de reparação" nos termos doartigo 06V" n6V [" do <J<CDA6
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especi8icação dos seus ob5ectivos" terminando com os crit:rios para a escol3a
das opç>es de reparação6
. Con8orme 8icou dito sura" doutrinariamente a reparação do danoecol4gico era identi8icada como correspondendo 9 reparação in natura
restauração ecol4gica e compensação ecol4gicaK e 9 compensação
pecuni=ria6 e5amos de ;ue 8orma o legislador classi8icou as modalidades de
reparação6 Ficaram previstos três tipos de reparação,
GiK (e!ara:;o !riFria, ser= uma medida de reparação prim=ria a;uela
;ue restitui os recursos naturais e2ou serviços dani8icados ao estado inicial" ou
os apro7ima desse estado vide ponto aK e 66 do ane7o K6
Robre esta de8inição" cumpre di(er ;ue a lei indirectamente adoptou" pelo
menos neste ponto" a noção de dano ecol4gico en;uanto lesão do recurso e
da sua 8unção serviçosK6 Assim sendo" importa considerar não apenas o e8eito
directo ;ue a lesão teve no recurso natural no caso" =guas" esp:cies ou
habitats protegidosK" mas tamb:m o e8eito indirecto ;ue tal lesão tem ao
impedir o desempen3o normal da 8unção ecol4gica do recurso a8ectado6 Isto
por;ue o legislador determina ;ue a restauração tem por ob5ecto não s4 o
recurso dani8icado" como tamb:m o serviço ;ue este presta06
Por outro lado" 3= ;ue sublin3ar ;ue" em ve( de se re8erir 9 tradicional
84rmula da situa!"o actual hiot(tica" determina ;ue a reparação prim=ria se
destina 9 restituição do recurso e2ou 8unção ao estado inicial6 'ptou o
legislador por criar a;ui um conceito novo6 Para compreendermos o
signi8icado de estado inicial devemos recorrer ao artigo 6V" n6V " alínea 5K" do
<J<CDA" ;ue o identi8ica com a situa!"o no momento da ocorrncia do
dano aos recursos naturais e aos servi!os3 6ue se verificaria se o dano causado
ao ambiente n"o tivesse ocorrido3 avaliada com base na melhor informa!"o
dison+vel. ' legislador optou assim por e7igir a reconstituição da situa!"o
10 Por e7emplo" a contaminação de =guas" pela a8ectação da sua 8unçãoecol4gica" : susceptível de causar danos 9 8auna e 9 8lora" assim como o abate de=rvores perturba o serviço ;ue estas prestam en;uanto 3abitats de esp:cies animais6
+sta problem=tica est= relacionada directamente com a interdependência naturaldos ecossistemas e" por ve(es" ser= possível" por esta via indirecta" reparar" pelo menosparcialmente" danos ;ue estão 8ora do Qmbito do <J<CDA6
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anterior L rJtica do facto lesivo" 5= e7plicada6 &ote-se ;ue" em bene8ício do
ambiente" podemos aceitar o crit:rio da situa!"o anterior " em ve( do crit:rio
da situa!"o actual hiot(tica. Contudo" esta imputação não :" da nossa
perspectiva" isenta de problemas6 &ão se descortina a legitimidade desta
imputação" ;uando importa custos muito superiores para o lesante6 A
responsabilidade civil visa reparar danos6 A reconstituição da situa!"o anterior
pode ser mais do ;ue reparar um dano M poder= consubstanciar numa
reparação de um dano e um lus" de ;ue descon8iamos6 Por outro lado" se o
ob5ectivo desta opção era garantir uma situação ambientalmente mais
8avor=vel" 3= ;ue considerar ;ue nem sempre a situa!"o anterior : a mais
8avor=vel_6 <ecusamos" portanto" a a8irmação de ;ue" ;uanto mais recuado
no tempo" mel3or a situação ambiental6 'ra se assim :" ou se5a" se não
podemos a8irmar em abstracto com certe(a ;ual das situa!*es : a mel3or de
um ponto de vista ambiental" mel3or teria sido dei7ar ambas as 3ip4teses em
aberto" para apreciação casuística6
Para a5udar nesta densi8icação" o ponto 6$6 esclarece ;ue opç>es podem
ser consideradas a título de reparação prim=ria, a6uelas 6ue consistem em
ac!*es destinadas a restituir directamente ao estado inicial os recursos e/ou
servi!os3 num raBo acelerado3 ou atrav(s de regenera!"o natural6 Para al:m
de re8orçar o ;ue 8icou dito ;uanto 9 re8erência ao estado inicial" cumpre
ainda 8a(er duas ordens de observaç>es6
+m primeiro lugar" o legislador sentiu a;ui necessidade de clari8icar M 8ace 9s
medidas de reparação complementar" de ;ue 8alaremos mais tarde M ;ue se
trata de uma restituição directa6 Com isto" parece-nos ;ue o legislador
pretendeu limitar a reparação prim=ria 9 restauração ecol4gica" ou se5a" 9
reparação do recurso natural ;ue em concreto 8oi a8ectado e" por essa via"
da sua 8unção ecol4gica ou serviço esta conclusão s4 : con8irmada pela
identi8icação" no ane7o " das medidas de reparação complementar" de ;ue
8alaremos mais tarde6
1_ Imagine-se o caso de uma =rea recentemente su5eita a medidas deconservação" ao abrigo da <ede &atura $%%%6 Re 8osse previsível uma evolução
positiva do estado de conservação dos 3abitats e esp:cies em causa" seria mais8avor=vel 9 protecção do ambiente ;ue 3ouvesse reconstituição da situa!"o actualhiot(tica" uma ve( ;ue seria mel3or ;ue a situa!"o anterior L rJtica do facto lesivo6
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Para al:m desta observação" : ainda de notar ;ue o legislador introdu(
a;ui um directamente" outro indirectamenteK dois conceitos ;ue não são
estran3os 9 doutrina da reparação do dano ecol4gico, a auto-regeneração
natural e a restauração com recurso a manipulação dos elementos naturais6 A
pr4pria terminologia : auto-e7plicativa, no primeiro caso" opta-se por não
adoptar nen3uma medida com impacto signi8icativo apenas medidas de
monitori(ação e controloK" na e7pectativa de ;ue os pr4prios ciclos naturais
recuperem o recurso e a sua 8unção no segundo caso" 3= uma intervenção
directa do omem nos ciclos naturais6
Analisando agora a 8ormulação utili(ada pelo legislador" se : certo ;ue a
restauração num pra(o acelerado implica uma intervenção do omem com a
correspondente manipulação dos elementos naturais M e ;ue a isso se
contrap>e" por comparação" a lentidão da auto-regeneração natural M não
nos parece ;ue esta se5a a 8ormulação mais 8eli( para identi8icar estes dois
tipos de medidas de reparação6 Para al:m disso" tanto se pode aplicar a
medidas de reparação prim=ria como a medidas de compensação
ecol4gica" pelo ;ue esta distinção mel3or 8icaria inserida no ponto do ane7o
6 <esta-nos ainda e7plicitar ;ue" tendencialmente" e de acordo com oprincípio da prevenção" a auto-regeneração ecol4gica prevalece sobre as
medidas ;ue e7igem manipulação dos elementos naturais pelo omem /"
uma ve( ;ue esta Eltima :" por nature(a" mais invasiva e com potenciais
e8eitos colaterais imprevisíveis6
GiiK (e!ara:;o co!leentar, ser= uma medida de reparação
complementar a;uela ;ue : tomada em relação aos recursos naturais e2ou
serviços para compensar pelo 8acto de a reparação prim=ria não resultar no
pleno restabelecimento dos recursos naturais ou serviços dani8icados vide
1/ C.&AL R+&DI pronuncia-se no mesmo sentido em %esonsabilidade civil ordanos ecol&gicosh" p6 $0 e seguintes6 Para 8undamentar esta posição" C.&AL R+&DI invoca ainda um rinc+io da homeostasia i.e.3 WaX caacidade de os sistemasecol&gicos se auto8regenerarem indeendentemente da interven!"o humana? 6 &onosso entendimento" parece tratar-se de um rinc+io de ciências naturais e não daciência 5urídica" sendo uma constatação pr4pria da biologia mas ;ue não cont:m;ual;uer valoração e" logo" : insusceptível de" por si s4" 8undamentar ;ual;uer
solução 5urídica6 Por isso entendemos ;ue" considerando o princípio da 3omeostasia" e;ue o omem ainda não compreende totalmente os processos de 8uncionamentodos ecossistemas" : o princípio da prevenção ;ue 5usti8ica esta pre8erência6
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ponto bK do ane7o K6 Desta 8ormulação retira-se desde 5= o
estabelecimento de um princípio de subsidiariedade da reparação prim=ria
8ace 9 reparação complementar ;ue :" desde logo" evidenciada pela
pr4pria designaçãoK6 *rata-se de uma graduação necess=ria por 8orça do
ob5ectivo do regime em causa, a restauração de uma situação" seguindo a
índole preventiva e conservat4ria do Direito do Ambiente6 +" pela sua
nature(a" a reparação prim=ria ser= mais pr47ima dessa reparação ideal ;ue
a reparação complementar6
ais 9 8rente" o ane7o" desnecessariamente" volta por duas ve(es a repetir a
mesma ideia de subsidiariedade" ;uase nos mesmos termos, WXrocede8se L
reara!"o comlementar3 semre 6ue a reara!"o rimJria n"o resulte na
restitui!"o do ambiente ao seu estado inicial e" no ponto 66$ semre 6ue os
recursos naturais e/ou servi!os danificados n"o tiverem sido restitu+dos ao
estado inicial3 s"o tomadas ac!*es de reara!"o comlementar. *rata-se de
uma repetição ;ue torna con8usa a interpretação de um ane7o ;ue não : de
8=cil leitura e ;ue" servindo de base para actuação das Administraç>es
nacionais" se pretendia simples e es;uem=tico6 *odas estas partes do ane7o
podem recondu(ir-se 9 mesma ideia de subsidiariedade6
Cabe analisar criticamente esta a8irmação ;uase in8le7ível da
subsidiariedade16 Contudo" primeiro 3= ;ue concreti(ar em ;ue consistem as
medidas de reparação complementar" uma ve( ;ue da de8inição legal bK
se retira muito pouco6 Atentemos 9 continuação do ponto 66$ do ane7o "
;ue determina ;ue o obectivo da reara!"o comlementar ( roorcionar
um n+vel de recursos naturais e/ou servi!os3 incluindo3 6uando aroriado3
num s+tio alternativo3 similar ao 6ue teria sido roorcionado se o s+tio
danificado tivesse regressado ao seu estado inicial,2. J= sabemos ;ue a
11 Nue" ali=s" : logo de seguida contrariada" no pr4prio ane7o " no ponto 6[6$";ue a8irma ;ue a decisão de aplicação de uma medida de reparação prim=riaparcial pode ser tomada se os recursos naturais e/ou servi!os de 6ue se rescindiu no
s+tio rimJrio foram comensadas intensificando as ac!*es comlementares oucomensat&rias ara roorcionar um n+vel de recursos naturais e/ou de servi!os
similar ao da6ueles de 6ue se rescindiu61! At: uma leitura desatenta detecta uma 8al3a de sinta7e" uma ve( ;ue a
norma parece re8erir-se" simplesmente" a roorcionar um n+vel6 +sta redacção :idêntica 9 da Directiva" na sua versão portuguesa mas uma consulta da Directivanoutras línguas da .nião +uropeia permite concluir ;ue se tratou de um erro de
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reparação complementar visa proporcionar um nível de recursos e de serviços
igual 9;uele ;ue resultaria da reparação prim=ria6 O ainda 8ornecido um
e7emplo do ;ue poder= ser uma reparação complementar, um sítio
alternativo" ;uando apropriado#6 ' legislador densi8icou" de 8orma
especialmente desenvolvida" de ;ue 8orma são identi8icadas as ade;uadas
medidas de reparação complementar6 Assim" : eleita como pre8erencial a
abordagem recurso-a-recurso ou serviço-a-serviço6
+sta abordagem tradu(-se numa tentativa de introdu(ir uma e;uivalência
mais rígida entre o recurso e serviço dani8icado e o recurso e serviço criado ou
potenciado nega" portanto" ;ue se adopte" in5usti8icadamente" uma visão
global da lesão e uma medida de reparação global" e7igindo uma operação
analítica um e7ame da situação em cada uma das suas partes
autonomi(=veis6 Para uma mel3or compreensão desta abordagem" o ane7o
especi8ica ;ue devem considerar8se em rimeiro lugar as ac!*es 6ue
roorcionem recursos naturais e/ou servi!os do mesmo tio3 6ualidade e
6uantidade 6ue os danificados. R4 ;uando tal não 8or possível uma ve( mais
uma l4gica de subsidiariedade" com o mesmo 8undamentoK serão admitidos
recursos naturais e serviços alternativos ou de substituição6
tradução6 A versão inglesa determina ;ue WtXhe urose of comlementar9 remediation is to rovide a similar level of natural resources and/or services services3including3 as aroriate3 at an alternative site3 as >ould have been rovided if thedamaged site had been returned to its baseline condition. sublin3ado nossoK e aversão 8rancesa" ainda mais e7plícita" determina ;ue xlX$obectif de la r(arationcoml(mentaire est de fournir un niveau de ressources naturelles ou de services
comarable L celui 6ui aurait (t( fourni si l$(tat initial du site endommag( avait (t( r(tabli6 *rata-se de uma in8eli( tradução" uma ve( ;ue a e7pressão similar ao 6ue teria sido roorcionadoZ parece re8erir-se ao sítio alternativo" e não ao nível e onde aDirectiva errou por traduçãoK" tamb:m o legislador nacional entendeu ;ue deviaerrar" ao 8a(er corresponder o ane7o " isis verbis" ao ane7o II da Directiva6
1# Com ob5ectivos ;ue agora são irrelevantes para o ob5ecto em estudo" olegislador especi8ica ;ue" ;uando possível" o sítio alternativo deve estargeogra8icamente relacionado com o sítio dani8icado" tendo em conta os interesses dapopulação a8ectada6 *rata-se de uma preocupação de nature(a social" ;ue nãocabe na an=lise ;ue pretendemos 8a(er6 Rublin3amos" contudo" a pro7imidade
geogr=8ica nestes casos : tamb:m dese5=vel do ponto de vista ambiental" uma ve(;ue" previsivelmente" tal consubstanciar= uma reparação mais pr47ima da reparaçãototal6
$
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A reparação complementar com recursos e serviços alternativos pode
ainda colocar problemas acrescidos" con8orme resulta do ponto 6$6[ do
ane7o " em termos de valoração6 O ;ue ;uando não se recorre 9 reparação
prim=ria" nem 9 reparação complementar seguindo a abordagem recurso-a-
recurso ou serviço-a-serviço ;ue permite uma apro7imação muito signi8icativa
da reparação prim=riaK" 3= ;ue 8a(er uma valoração dos recursos e2ou
serviços lesados para comparar com o valor dos recursos e serviços de
substituição6 *endencialmente" essa valoração ser= monet=ria" con8orme
prevê o ane7o 6 +sta valoração : necess=ria para legitimar a e7igência de
reparação da parte do operador ;ue" caso contr=rio" 8icaria su5eito a suportar
a implementação de uma medida de reparação complementar ;ue poucotem a ver com o recurso a8ectado e cu5os custos podem ser signi8icativamente
diversos6
+sta operação de valoração não : muito di8erente do teste de
ra(oabilidade a ;ue 5= nos re8erimos e o seu 8undamento parece ser o
princípio da proporcionalidade6 *emos assim ;ue o ponto 6$6[ consubstancia
uma mani8estação do sub-princípio da proporcionalidade em sentido estrito"
colocando os mesmos problemas ;ue re8erimos sucintamente sura aprop4sito da an=lise custo-bene8ício6 *amb:m eles igualmente não
respondidos M nem se;uer a8lorados M no <J<CDA6
<esta-nos ainda 8a(er uma an=lise crítica de duas ;uest>es 5= re8eridas
anteriormente, a apro7imação destas duas criaç>es do legislador 9s
modalidades de reparação de origem doutrin=ria e a aparente in8le7ibilidade
do princípio da subsidiariedade na relação reparação
prim=ria2complementar6
&ão : 8=cil aplicar as modalidades de reparação avançadas pela doutrina
9 classi8icação 8eita pelo legislador6 As classi8icaç>es seguem crit:rios diversos,
a primeira tem por base a 8orma e ob5ecto da reparação" en;uanto a
segunda re8ere-se essencialmente ao ob5ectivo e 8unção desempen3ados
pela medida de reparação6 Contudo" a con5ugação de diversas normas
constantes do ane7o " o con8ronto entre a reparação prim=ria e a reparação
complementar e uma apro7imação ao seu conteEdo material" permite-nos
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identi8icar" tendencialmente" a reparação prim=ria 9 restauração ecol4gica e
a reparação complementar 9 compensação ecol4gica6 Fa(emos este
en;uadramento por;ue nos parece ;ue a classi8icação doutrin=ria : mais rica
e operativa6 Ap4s o estudo destas 8iguras" 3= ainda ;ue relevar ;ue a
designação reara!"o comlementar não parece ser ade;uada 9s medidas
;ue" em concreto" podem ser ou não de complemento6 +m rigor" tanto
podemos estar a 8alar de uma medida complementar nos casos em ;ue a
reparação prim=ria 8oi apenas parcialK como podemos estar a 8alar de uma
medida de total substituição nos casos em ;ue não 8oi possível ;ual;uer
reparação prim=riaK6 Assim" não s4 a designação : menos operativa ;ue as
propostas 3= muito pela doutrina" como pode não se veri8icar a Enicavantagem ;ue tin3a M a clare(a auto-e7plicativa M por ser enganadora6
Contudo" 3= ;ue di(ê-lo" o <J<CDA parece impor sempre a adopção de uma
;ual;uer medida de reparação prim=ria" uma ve( ;ue do ponto 6[6$ resulta
;ue odem ser escolhidas medidas de reara!"o rimJria 6ue n"o restituam
totalmente ao estado inicial as Jguas e as es(cies e habitats naturais
rotegidos danificados ou 6ue os restituam mais lentamente. 'u se5a" o
legislador apenas admite uma reparação prim=ria parcial" mas não admite
;ue 3a5a casos em ;ue não possa 3aver ;ual;uer reparação prim=ria6 'ra :
certo ;ue o ponto aK identi8ica com reparação prim=ria 6ual6uer medida
de reara!"o 6ue restitui os recursos naturais e/ou servi!os danificados
sublin3ado nossoK mas tamb:m não : menos verdade ;ue o ponto 6$6
limita as medidas de reparação prim=ria 9s ;ue restituem directamente ao
estado natural6 + poder= 3aver casos em ;ue não 3a5a ;ual;uer medida
directa susceptível de recuperar o recurso e2ou a sua 8unção6
O ainda devida uma menção ao princípio da subsidiariedade ou" sob outra
designação" 9 3ierar;uia entre as modalidades de reparação6 O 8=cil a8irmar
;ue e7iste um s4lido princípio de prima(ia da restauração natural do dano
ecol4gico &o nosso entendimento" este recon3ecimento resulta da evidência
de ;ue o dano ecol4gico s4 pode ser e8ectiva e totalmente reparado atrav:s
da reparação in natura" apro7imando-se a indemni(ação em din3eiro do
regime pr4prio da compensação em sentido pr4prioK por danos morais6 A
prima(ia da restauração natural sobre a compensação ecol4gica resulta da
$"
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8uncionali(ação da responsabilidade civil para a conservação e manutenção
dos bens ambientais" pois ;ue a primeira :" em princípio" mais pr47ima e 8iel da
situa!"o anterior L rJtica do facto lesivo$%6
i iiK (e!ara:;o co!ensat\ria, ser= uma ;ual;uer acção destinada a
compensar perdas transit4rias de recursos naturais e2ou serviços" desde a data
da lesão at: 9 reparação integral$ vide ponto cK do ane7o K6 + por perdas
transit4rias devemos entender a;uelas ;ue resultam do facto de os recursos
naturais e servi!os danificados n"o oderem realiBar as suas fun!*es
ecol&gicas ou restar servi!os ZI en6uanto as medidas rimJrias ou
comlementares n"o tiverem roduBido efeitos vide ponto dK do ane7o K.+stamos assim a 8alar de um tipo de reparação complementar diverso" ;ue
não est= em concorrência com a reparação prim=ria ou complementar ;ue
têm" a8inal" a mesma 8unção ou muito semel3anteK por ter uma 8unção
especí8ica" essencial ;uando 8alamos de reparação de dano ecol4gico" e
ainda mais se a medida 8or de auto-regeneração ecol4gica" assim se
prolongando no tempo$$6
Para concreti(ar o conteEdo da reparação compensat4ria" 3= ;ue articular
o ;ue 8icou dito com o ponto 66[ do ane7o " ;ue especi8ica ;ue a
compensação consiste em mel3orias suplementares dos habitats naturais e
esp:cies protegidas ou da =gua" ;uer no sítio dani8icado ;uer num sítio
alternativo6 Assim" ;uase sempre 3aver= medidas de reparação
compensat4ria para as perdas transit4rias" paralelas 9s medidas de reparação
prim=ria e2ou complementar para a e8ectiva reparação do recurso e2ou
serviços a8ectados6 O ainda de sublin3ar ;ue parte do ;ue 8icou dito atr=s
2% O por isso ;ue restitutio in integrum : por ve(es utili(ado como sin4nimo dereparação ecol4gica6 Apesar de estar em causa" com centralidade" a recuperaçãoda capacidade 8uncional do elemento natural" a reparação M reconstituição dasituação anterior 9 pr=tica do 8acto lesivo2situação actual 3ipot:tica M s4 ser= integralse 3ouver tamb:m recuperação do elemento natural concretamente a8ectado6
2 *amb:m neste ponto" o ane7o re8ere at( a reara!"o rimeira ter atingidolenamente os seus efeitos" uma ve( mais partindo do pressuposto de ;ue 3aver=
sempre reparação prim=ria62$ .ma ve( mais" na t4nica repetitiva do diploma" : re8erido logo de seguida ;uea reara!"o comensat&ria ( utiliBada ara comensar erdas transit&rias6
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;uanto 9 reparação complementar : plenamente aplic=vel 9 reparação
compensat4ria no ;ue se re8ere aos pontos 6$6$ e 6$6[ do ane7o K6
Antes de passarmos para a segunda parte deste ponto crit:rios para aescol3a das opç>es de reparaçãoK" e apesar de tal não ser ob5ecto deste
estudo" gostaríamos de c3amar a atenção para o 8acto de ser apenas no ;ue
toca 9 reparação compensat4ria ;ue o legislador esclarece ;ue a reparação
do dano ecol4gico n"o consiste numa comensa!"o financeira ara
membros do <blico6 +sta norma" enigm=tica na sua 8ormulação" na sua
solidão e na sua inserção sistem=tica" : susceptível de diversas interpretaç>es6
Pretende o legislador di(er ;ue s4 na reparação compensat4ria não pode
3aver compensação 8inanceira para membros do pEblico" sendo isso de
admitir na reparação prim=ria ou complementar Nue não pode 3aver
;ual;uer compensação 8inanceira na reparação do dano ecol4gico 'u"
pelo contr=rio" ;ue s4 na reparação compensat4ria pode 3aver at: de um
ponto de vista conceptualK compensação 8inanceira" mas ;ue não poder= ser
para membros do pEblico Ficam somente colocadas as ;uest>es" por;uanto
não temos pretensão de a;ui l3es responder6
. *endo sido analisadas e densi8icadas as di8erentes modalidades de
reparação de danos 9 =gua" 9s esp:cies e habitats naturais protegidos ponto
a 6$6[ do ane7o K" 3= ;ue analisar o regime legal no ;ue toca 9 escol3a
das opç>es de reparação" de entre as v=rias potencialmente aplic=veis ao
caso concreto6 +m primeiro lugar" : esclarecido imediatamente ;ue apenas
são avaliadas e ponderadas para aplicação as opç>es de reparação
ra(o=veis6 Com certe(a ;ue não pretende o legislador com isto di(er ;ue se
esgota a;ui a an=lise do cumprimento do princípio da proporcionalidade
mas" em nome da e8iciência do processo" devem ser desconsideradas desde
logo a;uelas opç>es ;ue são mani8estamente irra(o=veis6
De seguida" o legislador aponta" aparentemente de 8orma ta7ativa" os crit:rios
para escol3a da medida de reparação a aplicar6 + nesta lista" constante do
ponto 6[6" encontramos crit:rios,
iK +stritamente ambientais medida em ;ue cada opção previne danos8uturos e evita danos colaterais resultantes da sua e7ecução" medida
$$
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em ;ue cada opção bene8icia cada componente do recurso natural
e2ou serviçoK
iiK +8ic=cia e e8iciência ;ue tanto se re8erem a e8ic=cia e e8iciência
ambiental" como de diversa nature(a" como a probabilidade de ê7ito
de cada opção ou o período necess=rio para ;ue o dano ambiental
se5a e8ectivamente reparadoK
iiiK R4cio-econ4micos e8eitos de cada opção na saEde pEblica e na
segurança" medida em ;ue cada opção tem em consideração
preocupaç>es de ordem social" econ4mica e cultural e outros 8actores
relevantes especí8icos da localidade e relação geogr=8ica com o sítio
dani8icado M considerando a parte 8inal do ponto 66$K e
(iv' +conomicistas custos de e7ecução da opçãoK6
' elenco dos crit:rios parece ter sido elaborado aleatoriamente6 O natural
;ue ao rigor conceptual M ;ue imporia ;ue s4 8actores de nature(a ambiental
8ossem tidos em conta M se sobrepon3am as preocupaç>es de nature(a social
e econ4mica$[6 as tal não 5usti8ica nem pressup>e um enunciado de crit:rios
aparentemente sem ;ual;uer preocupação de ordenação por ratio ouvaloração6
*al como resulta do ponto 6[6$" 8alar de escol3a de uma medida de
reparação : uma simpli8icação" uma ve( ;ue podem ser con5ugadas v=rias
medidas di8erentes e modalidades di8erentes de medidas6 Assim" pode ser
necess=rio aplicar medidas de reparação prim=ria e complementar" não s4
por impossibilidade de reparação prim=ria total" como por aplicação dos
crit:rios constantes do ponto 6[6" mas tamb:m por 8orça do ponto 6[6[ o
;ue : essencial : ;ue 3a5a ac!*es comlementares ou comensat&rias ara
2[ Ali=s" isso mesmo se re8lecte tamb:m no par=gra8o ;ue antecede o ponto 6do ane7o " do ;ual resulta ;ue WaX reara!"o dos danos ambientais ...I imlicatamb(m a elimina!"o de 6ual6uer risco significativo ara a sa<de humana.Ignoramos a relevQncia aut4noma desta norma6 A reparação de um dano ecol4gico"restituindo os elementos naturais a uma condição ambientalmente 3armoniosa" ouperto disso" implicar= e8eitos positivos para a saEde 3umana6 A Enica 8unção destanorma seria assim c3amar a atenção para uma realidade ;ue 3= muito est= assente e:" at:" apontado como 8undamento 8ilos48ico do Direito do Ambiente, a saEde"
e;uilíbrio e bem-estar do omem6 'u então" para servir en;uanto crit:rio M mas nessecaso" :" uma ve( mais" uma repetição" por;uanto tal 5= 8icou e7presso no ponto 6[6do ane7o 6
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roorcionar um n+vel de recursos naturais e/ou de servi!os similar ao da6ueles
de 6ue se rescindiu6
Analisemos então o Eltimo ponto dedicado 9 reparação de danoscausados 9 =gua e 9s esp:cies e habitats protegidos6 Disp>e o ponto 6[6[
;ue não obstante as demais normas 5= re8eridas" a autoridade competente
pode determinar não tomar outras medidas de reara!"o6 = ;ue e7plicitar e
precisar o signi8icado desta e7pressão6 <e8ere-se aos casos em ;ue o lesante
adoptou medidas de prevenção ou de reparação urgentes antes do
procedimento de determinação das medidas de reparação" nos termos do
artigo _6V do <J<CDA6 Pode acontecer ;ue" por 8orça da adopção dessas
medidas a ;ue est= obrigado" nos termos da re8erida normaK" o lesante ten3a
5= praticado relevantes actos de reparação6 &esse caso" a autoridade
competente pode decidir não tomar outras medidas de reparação se iK as
medidas adoptadas assegurarem a ine7istência de riscos signi8icativos de
e8eitos adversos para a saEde 3umana" a =gua ou as esp:cies e habitats
protegidos e iiK o custo das medidas de reparação a adoptar para atingir o
estado inicial ou similar 8or desproporcionado em relação aos bene8ícios
ambientais a obter6 +ncontramos assim mais uma mani8estação do princípioda proporcionalidade" em sentido estrito6
Rublin3e-se ;ue" considerando os re;uisitos constantes do ponto 6[6[" não
pode ser este o regime a aplicar no caso M improv=vel M de o lesante ter 5=
adoptado todas as medidas de reparação prim=ria" complementar e
compensat4ria6 as o legislador tamb:m não resolveu esses casos6
Deve ainda ser a;ui introdu(ida uma ligeira precisão, onde o legislador
re8ere a autoridade cometente ode decidir n"o tomar outras medidas de
reara!"o deve entender-se" mais amplamente" ;ue a autoridade
competente pode decidir não tomar outras medidas de reparação" nem 8i7ar
outras medidas a aplicar pelo lesante" em consonQncia com o artigo /6V" n6V
$" do <J<CDA6
III. A re!ara:;o de danos causados ao solo
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E2. ' regime da reparação de danos causados ao solo : tratado
autonomamente" no ponto $ do ane7o 6 as esta di8erença não sobressai
apenas no regime da reparação6 ' tratamento di8erenciado começa desde
logo na pr4pria de8inição de dano ambiental" no artigo 6V" n6V " alínea eK" do
<J<CDA6 A de8inição de dano causado 9s esp:cies e habitats naturais
protegidos$0 e de danos causados 9 =gua$_" centrada na lesão signi8icativa
ou relevante de um recurso natural" contrastam com a de8inição
marcadamente antropocêntrica da de8inição de danos causados aos solos$/6
&os termos do <J<CDA" a determinação da e7istência de um dano
causado ao solo depende da e7istência de um risco signi8icativo para a saEde3umana M o ;ue determina uma alteração signi8icativa no bem 5urídico ;ue se
pretende proteger6 &ão dei7a de ser surpreendente esta noção de dano ao
solo" cu5o Enico crit:rio : a a8ectação da saEde 3umana" sendo" portanto"
irrelevantes as contaminaç>es de solos ;ue não se5am susceptíveis de a8ectar
a saEde 3umana de 8orma signi8icativa6 Con8orme 8icou dito anteriormente"
não : de estran3ar ;ue preocupaç>es de nature(a social perturbem a pure(a
dos modelos estritamente te4ricos6 Contudo" 5= : de estran3ar ;ue num
diploma de responsabilidade ambiental" cu5a g:nese assenta na protecção
do ambiente" com e7clusão de danos pessoais" não 3a5a uma noção de dano
ao solo mais ampla" com o correspondente dever de reparação6
0 &os termos do artigo 6V" n6V " alínea eK" iK" do <J<CDA" são consideradosen;uanto danos causados 9s esp:cies e habitats naturais protegidos 6uais6uer danoscom efeitos significativos adversos ara a consecu!"o ou a manuten!"o do estadode conserva!"o favorJvel desses habitats ou es(cies3 cua avalia!"o tem 6ue teror base o estado inicial3 nos termos dos crit(rios constantes no anexo :Q ao resente
decreto8lei3 do 6ual faB arte integrante3 com exce!"o dos efeitos adversosreviamente identificados 6ue resultem de um acto de um oerador exressamenteautoriBado elas autoridades cometentes3 nos termos da legisla!"o alicJvel 6
2_ &os termos do artigo 6V" n6V " alínea eK" iiK" do <J<CDA são consideradosdanos causados 9 =gua 6uais6uer danos 6ue afectem adversa e significativamente3nos termos da legisla!"o alicJvel3 o estado ecol&gico ou o estado 6u+mico dasJguas de suerf+cie3 o otencial ecol&gico ou o estado 6u+mico das massas de Jguaartificiais ou fortemente modificadas3 ou o estado 6uantitativo ou o estado 6u+micodas Jguas subterrKneas redacção dada pelo Decreto-Lei n6V $0_2$%%#" de $$ deRetembro6
2/ &os termos do artigo 6V" n6V " alínea eK" iiiK do <J<CDA : considerada como
dano causado ao solo 6ual6uer contamina!"o do solo 6ue crie um risco significativoara a sa<de humana devido L introdu!"o3 directa ou indirecta3 no solo ou L sua suerf+cie3 de substKncias3 reara!*es3 organismos ou microrganismos6
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*udo isto resultava 5= da Directiva ;ue" apesar de a8irmar no Considerando
[ o seu pendor ecocêntrico" se limita a di(er" no Considerando 1 ;ue ara
efeitos de avalia!"o dos danos ao solo ZI ( conveniente a utiliBa!"o de
rocessos de avalia!"o dos riscos ara determinar em 6ue medida oderJ a
sa<de humana vir a ser negativamente afectada.
EE. Como não poderia dei7ar de ser" esta concepção teve repercuss>es
4bvias no regime da reparação6 ' regime constante do ponto $ do ane7o
não se subsume 9s modalidades de reparação a ;ue nos re8erimos no ponto I
sura. Assim" as medidas de reparação estão determinadas e carecem
apenas de concreti(ação em cada caso, em caso de dano ecol4gico num
solo" 3= ;ue assegurar ;ue os contaminantes em causa se5am eliminados"
controlados" contidos ou redu(idos" para ;ue o solo dei7e de comportar riscos
para a saEde 3umana6 A lei determina ;ue a determinação do nível de risco e
das medidas de descontaminação : 8eita num rocesso de avalia!"o de
riscos6
Para al:m destas especi8icidades" e considerando a nature(a im4vel do
recurso natural em causa" o processo de avaliação de riscos não pode dei7ar
de ter em conta o uso ;ue em concreto : 8eito do solo e o planeamento de
uso 8uturo do mesmo6 A lei concreti(a ;uais os elementos a ter conta nesta
avaliação, as caracter+sticas e fun!*es do solo3 o tio e a concentra!"o das
substKncias3 reara!*es3 organismos ou microrganismos erigosos3 os seus
riscos e a ossibilidade de disers"o6
Concluindo a an=lise da regulamentação do ane7o ;uanto a
reparação de danos causados ao solo" resta apenas re8erir ;ue o legisladorteve a;ui o cuidado de re8erir e7pressamente a 3ip4tese de auto-
regeneração natural6
E1. A primeira ausência a sublin3ar : a do princípio da proporcionalidade6 +sta
ausência : compreensível" se atendermos ao 8acto de ;ue s4 : dano
ecol4gico ao solo a contaminação ;ue crie um risco signi8icativo para a
saEde 3umana6 ' princípio da proporcionalidade desaparece do te7to legal
contudo" tal não signi8ica ;ue ele não se5a aplic=vel en;uanto princípio geralda actividade administrativa e salvaguarda da imposição de medidas aos
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particulares6 +m Eltima an=lise" parece-nos ;ue os crit:rios e o processo de
avaliação de riscos são de aplicar sempre" nem ;ue se5a" em Eltima an=lise" a
e7pensas do +stado6
As modalidades de reparação do dano a ;ue 8i(emos alusão" e ;ue
tivemos por re8erência ao longo deste estudo" não têm lugar no ane7o 6 +" a
nosso ver" correctamente, o ane7o limita-se a ser coerente com a noção de
dano adoptado6 + : aí" a montante" ;ue se centram as nossas críticas" a ;ue
5= nos re8erimos6 = ;ue concluir ;ue" em rigor" o regime de reparação de
danos ao solo constante do ane7o tem maiores semel3anças a um regime
de protecção de saEde pEblica ;ue a uma lei ambiental6
I. 'ota &inal sore a articula:;o entre a re!ara:;o do dano ecol\=ico
e a re!ara:;o do dano aiental
E5. Por;ue 8alamos de reparação de dano ecol4gico" não podemos dei7ar de
8a(er uma breve re8erência 9 problem=tica da articulação entre a reparação
do dano ecol4gico e a reparação do dano ambiental danos tradicionais ou
danos a pessoas e bens por 8orça da lesão de um recurso naturalK" uma ve(
;ue" com 8re;uência estaremos perante situaç>es em ;ue ambos se
veri8icam" ;uanto ao mesmo recurso" por 8orça de um mesmo 8acto lesivo6
14. Por um lado" : possível ;ue a reparação do dano ambiental se5a
consumida pela reparação do dano ecol4gico" ou vice-versa" dependendo
da precedência cronol4gica6 Por outro lado" do regime pr4prio da reparação
do dano ambiental M ;ue : o tradicional regime num processo de partes
lesante2lesadoK e" logo" substancialmente diverso do regime geral da
reparação de danos - resultam necessariamente conse;uências ao nível da
reparação do dano ambiental6
E6. Rublin3e-se ;ue o actual regime : completamente omisso ;uanto a esta
articulação6 Passemos então a e7empli8icar alguns dos problemas ;ue podem
surgir em resultado da di8erença de regimes,
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Actas do Colóquio – A responsabilidade Civil por dano ambiental
iK Re a reparação do dano ecol4gico ocorrer em primeiro lugar, a
reparação do dano ecol4gico : concreti(ada pre8erencialmente atrav:s de
restauração in natura6 &estes casos" parte signi8icativa do dano ambiental
8icar= simultaneamente reparada com a reparação do dano ecol4gico" uma
ve( ;ue" materialmente" ambos se mani8estam na mesma coisa" no mesmo
recurso natural6 Contudo" a reparação do dano ecol4gico nem sempre
esgotar= a reparação do dano ambiental e 3= casos em ;ue a reparação do
dano ecol4gico dei7a a totalidade do dano ambiental por reparar $16 O de
recon3ecer ao lesado o direito de e7igir o pleno ressarcimento do dano
so8rido$!6 &esse sentido" não : de aceitar uma a8irmação de ;ue a reparação
in natura do dano ecol4gico esgota ;ual;uer pretensão do ;ue so8reu um
dano ambiental" com 8undamento na proibição da dupla reparação pelo
mesmo dano6
iiK Por 8orça da nature(a 5urídico-pEblica do regime de reparação do dano
ecol4gico" ;ue visa a protecção do interesse pEblico ambiental" a autonomia
das partes lesado2lesanteK na determinação da reparação do dano
ambiental pode 8icar muito limitada6 Por e7emplo" não pode o titular do bem
recusar a reparação ecol4gica" e7igindo uma compensação pecuni=ria$#6
*amb:m não poder= renunciar ao direito 9 reparação" tendo em vista obstar
9 reparação ecol4gica6
21 Por e7emplo" ;uando a reparação : 8eita por compensação ecol4gica" umave( ;ue não 3aver= reparação do elemento natural concretamente a8ectado mas
tão-somente a criação ou recuperação de bem com capacidade 8uncionale;uivalente6 A menos ;ue esse outro bem se5a tamb:m propriedade do lesado" acompensação ecol4gica não ter= ;ual;uer impacto positivo ou vantagem naposição patrimonial do lesado6 ' mesmo pode ser dito relativamente 9 compensaçãopecuni=ria ;ue : atribuída a um 8undo6
2! &o nosso entendimento" o artigo %6V do <J<CDA" sob a epígra8e Duplareparação" não impedia ;ue o lesado pedisse novo ressarcimento" na medida em;ue não se estava a re8erir aos mesmos danos" ainda ;ue derivados do mesmo 8actolesivo6
2# Imaginemos o caso do sobreiro" ;ue precisa de cerca de $_ anos para ;uepossa pela primeira ve( ser descortiçado6 Contudo" : ainda mais alargado o períodonecess=rio para ;ue o mesmo se torne economicamente rent=vel6 Caso um con5unto
de sobreiros se5a abatido" : pouco prov=vel ;ue o seu propriet=rio pretenda areparação in natura pelo contr=rio" ir= tentar acordar com o devedor acompensação pecuni=ria6
%
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Instituto de Ciências Jurídico Políticas
iiiK Re a identi8icação e reparação do dano ecol4gico ocorrer depois da
reparação do dano ambiental e entretanto 5= tiver 3avido reparação do
dano ambiental atrav:s de uma indemni(ação em din3eiro, não se pense ;ue
o dano ecol4gico : al3eio a esta circunstQncia e ;ue a reparação do dano
ecol4gico pode prosseguir como se nada ainda tivesse ocorrido6 O ;ue tal
como ningu:m pode ser ressarcido duas ve(es" ningu:m : obrigado a reparar
duas ve(es o mesmo dano6 Poder-se-ia argumentar ;ue não estamos a 8alar
do mesmo dano6 De 8acto" não estamos" em rigor" a 8alar do mesmo dano6
Contudo" não podemos ignorar ;ue a restauração" se 8eita atrav:s de
reparação in natura3 produ( na es8era 5urídica do propriet=rio o e8eito do
duplo ressarcimento6 &estes casos" não podemos dei7ar de novamente a8irmara superioridade do interesse pEblico da protecção do ambiente" com a
necess=ria revisão da reparação do dano ambiental[%6
ivK Re a identi8icação e reparação do dano ecol4gico ocorrer depois da
reparação do dano ambiental e entretanto 5= tiver 3avido reparação do
dano ambiental atrav:s de reparação in natura, apesar de esta ser M
potencialmente M uma situação menos con8lituante" não podemos a8astar a
possibilidade de as medidas ;ue em concreto tiverem sido e7ecutadas não
serem as mais indicadas ambientalmente" ainda ;ue reparem cabalmente o
dano ambiental6
Por tudo isto" entendemos ser necess=ria uma regulação da relação entre a
reparação do dano ecol4gico e do dano ambiental ;ue vise principalmente
evitar estes problemas de articulação6 Com uma breve an=lise destes
problemas" torna-se evidente ;ue" apesar de se re8erirem a bens 5urídicos
diversos" a reparação do dano ambiental e a reparação do dano ecol4gico
devem ser 8eitas em con5unto ou" pelo menos" de 8orma articulada6
<eloísa 0lieira
onitora da Faculdade de Direito da .niversidade de Lisboa
oltar ao Yndice
3% +sta solução : na pr=tica e7tremamente comple7a" considerando ;ue a
responsabilidade civil : maioritariamente e8ectuada ap4s decisão 5udicial6 Caso adecisão 5udicial 5= ten3a transitado em 5ulgado" a8iguram-se-nos graves problemas deconciliação com a 8orça do caso 5ulgado6
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Actas do Colóquio – A responsabilidade Civil por dano ambiental
ASP"CTOS CO'T"'CIOSOS DA ""CTIA)*O DA ("SPO'SAILIDAD"A#I"'TAL 8 A QU"ST*O DA L"^ITI#IDAD"< "# "SP"CIAL
E. Ponto de orde
A comunicação a ;ue o presente escrito se re8ere incidiu sobre alguns
aspectos contenciosos da e8ectivação da responsabilidade ambiental"
8ocando em particular o pressuposto processual da legitimidade" mais
concretamente ainda a legitimidade activa para a propositura de acç>es
;ue e8ectivem a responsabilidade decorrente da pr=tica de ilícitos ambientais"
para 5= entendidos como os resultantes do incumprimento de normas mediata
ou imediatamente destinadas 9 tutela de bens ambientais6
Apesar de o Col4;uio onde esta comunicação 8oi apresentada ter tido
como seu ob5ecto central o estudo de ;uest>es relativas 9 interpretação"
aplicação e teleologia especí8ica do recente Decreto-Lei n6V 012$%%!" de $#
de Jul3o M o ;ual estabelece o regime 5urídico da responsabilidade por danos
ambientais" transpondo para o direito interno a Directiva n6V $%%02[_2C+" do
Parlamento +uropeu e do Consel3o" de $ de 'utubro" a ;ual" por sua ve("
aprovou o regime relativo 9 responsabilidade ambiental aplic=vel 9
prevenção e reparação dos danos ambientais" reportando-se a transposição
9 versão da Directiva citada alterada pela Directiva n6V $%%/2$2C+" do
Parlamento +uropeu e do Consel3o" relativa 9 gestão de resíduos da indEstria
1 Nue teve lugar no Col4;uio A <esponsabilidade Civil por Dano Ambiental"organi(ado sob a :gide do Instituto de Ciências Jurídico-Políticas da Faculdade de
Direito da .niversidade de Lisboa" da Associação Portuguesa para o Direito doAmbiente e do Instituto Lusíada para o Direito do Ambiente" devendo-se aresponsabilidade directa da organi(ação 9 Pro86 Doutora Carla Amado )omes e aoDr6 *iago Antunes" a ;uem agradecemos o convite para a nossa participação6 &aCon8erência em causa tivemos a 3onra de partil3ar a esa" distintamente presididapelo Pro86 Doutor Jos: Luís oni8=cio <amos" com o Pro86 Doutor =rio Aroso deAlmeida6
'pt=mos por manter" no essencial" o registo da e7posição oral" limitando a ummínimo as re8erências doutrinais e inserindo notas de p: de p=gina apenas emrelação a alguns aspectos ;ue carecem de maior pormenori(ação oudesenvolvimento6
Algumas das ;uest>es a;ui tratadas 8oram 5= por n4s apresentadas noutra
publicação, c8r6 o nosso <esponsabilidade pela lesão de bens ambientais e culturais"%eflex*es %evista Cient+fica da niversidade #us&fona do Porto " n6V $" $6V semestre$%%1" p6 _[-1_6
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Instituto de Ciências Jurídico Políticas
e7tractiva M a verdade : ;ue" no momento em ;ue prepar=mos a nossa
intervenção" ainda praticamente não e7istiam re8erências 5urisprudenciais a
este diploma legal" pelo menos ao nível dos tribunais supremos das ordens
5urisdicionais comum e administrativa6
Por esta ra(ão" o presente escrito reporta-se" em larga medida" ao direito
anterior 9 entrada em vigor do Decreto-Lei n6V 012$%%!" pelo menos no ;ue se
re8ere aos arestos 5urisprudenciais ;ue vão ser tratados" não 8ugindo" em todo
o caso" a a8lorar uma s:rie de aspectos ;ue" apesar de serem neste momento
de cari( te4rico ou dogm=tico" se irão pro5ectar sobre a aplicação pr=tica do
novo regime" nomeadamente no ;ue 9 sua e8ectivação 5urisprudencial se
re8ere6
.ma Eltima consideração introdut4ria se imp>e para 8a(er o ponto de
ordem do nosso escrito, os aspectos contenciosos ;ue vamos a;ui abordar
re8erem-se" na maioria dos casos" 9 sua pro5ecção ao nível da usti!a
administrativa M isto :" ao con5unto institucional ordenado normativamente 9
resolução de 6uest*es de direito administrativo" nascidas de rela!*es ur+dico8
administrativas" atribuídas por lei 9 ordem udicial administrativa" para serem
5ulgadas segundo um rocesso administrativo especí8ico$ M o ;ue não deve
surpreender" não tanto por ser esse o domínio em ;ue nos sentimos mais
3abilitados para poder apresentar algumas re8le7>es mas sobretudo em
virtude do protagonismo ;ue a 5urisdição administrativa vai necessariamente
assumir na aplicação do Decreto-Lei n6V 012$%%!" de $# de Jul3o6 +m todo o
caso" a an=lise vai e7travasar do domínio do contencioso administrativo"
designadamente ;uando recorrermos a pronEncias 5udiciais lavradas pelos
tribunais comuns e reportadas ao direito anterior 9 entrada em vigor da;uele
diploma legal6
1. "n?uadraento da res!onsailidade ci/il aiental
1.E. O re=ie dualista consa=rado no Decreto-Lei n.H E34122 ou a di/ersanature>a dos danos re=ulados
2 O esta a de8inição de usti!a administrativa proposta por I+I<A D+ A&D<AD+, c8r6 A 5usti!a Administrativa #i!*esI" Almedina" Coimbra" %6 ed6" $%%#" p6 #6
%#
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Actas do Colóquio – A responsabilidade Civil por dano ambiental
Como avanç=mos 5=" apesar de as pronEncias 5udiciais concretas ;ue vamos
estudar di(erem respeito ao direito anterior 9 entrada em vigor do Decreto-Lei
n6V 012$%%!" de $# de Jul3o" não podemos dei7ar de avançar algumas notas
sobre este relevantíssimo diploma legal" nomeadamente no ;ue ao
en;uadramento da ;uestão se re8ere6
'ra" resulta da leitura do novo te7to normativo M e das opç>es" porventura
discutíveis" ;ue o legislador tomou na sua elaboração" com a pretensão de
estabelecer um regime ;ue cobrisse as diversas variantes e dimens>es em ;ue
se desdobra o regime da responsabilidade por danos ambientais" por ora
entendida em sentido amplo ou não t:cnico M ;ue o regime nele consagrado
se assume" a v=rios títulos" como um regime dualista ou mesmo mEltiplo, em
particular no ;ue se re8ere 9 nature(a dos danos tratados" mas tamb:m
;uanto 9s dimens>es da responsabilidade ;ue engloba e 9 nature(a pEblica
ou privada da disciplina ;ue pressup>e para a sua regulação" o regime
5urídico consagrado no diploma legal sob o nosso escrutínio est= nos antípodas
da linearidade ou da unicidade" o ;ue obriga o int:rprete e o aplicador a
pesados es8orços de clari8icação e de distinção6
Deve entender-se" desta 8orma" ;ue as diversas dimens>es da
responsabilidade civil ambiental estão a;ui presentes, desde logo" a
tradicional dimensão comensat&ria ou ressarcit&ria ;ue o instituto da
responsabilidade civil acol3e M ao pretender tornar o lesado por uma conduta
ilícita indemne" isto :" sem dano" colocando a vítima na situação em ;ue
estaria sem a ocorrência do 8acto danoso[6 as tamb:m o recurso ao instituto
da responsabilidade civil para a reali(ação de outras 8unç>es M na lin3a das
propostas ;ue a doutrina e a 5urisprudência 8oram apresentando ao longo dos
anos M : a;ui evidente, : isso ;ue acontece" de 8orma particularmente
incisiva" no ;ue 9 fun!"o reventiva se re8ere não s4 na medida em ;ue a
ameaça da e8ectivação da responsabilidade ambiental implica ;ue o agente
3 Regundo '*A PI&*' a responsabilidade civil veri8ica-se Nuando a lei imp>e aoautor de certos 8actos ou ao bene8ici=rio de certa actividade a obrigação de repararos danos causados a outrem" por esses 8actos ou por essa actividade" actuandoatrav:s do surgimento da obriga!"o de indemniBa!"o" a ;ual tem em vista tornarindemne M sem dano M o lesado" ou se5a" colocar a vítima na situação em ;ue estaria
sem a ocorrência do 8acto danoso, c8r6 CA<L'R AL+<*' DA '*A PI&*' " Teoria Geral doDireito Civil" 06 ed6 por A&*U&I' P I&*' '&*+I<' e PA.L' '*A PI&*'K" Coimbra +ditora" $%%_"p6 $!6
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Instituto de Ciências Jurídico Políticas
in8ractor pense duas ve(es antes de cometer um ilícito ambiental" mas
sobretudo devido ao relevo ;ue a aplicação de medidas de prevenção
reveste" no Decreto-Lei" sempre ;ue se veri8i;ue uma ameaça iminente de
danos ambientaisK" mas tamb:m no ;ue toca 9s 8unç>es reressiva" unitiva e
mesmo edag&gica do instituto da responsabilidade civil6
&o ;ue di( respeito 9 tradicional oposição entre danos ambientais e danos
ecol&gicos propriamente ditos" tamb:m o Decreto-Lei n6V 012$%%!" de $# de
Jul3o" parece acol3er ambos os tipos, os primeiros" costumadamente de8inidos
como os pre5uí(os causados 9s essoas e 9s coisas pelo meio ambiente em
;ue vivem e ;ue durante muito tempo 8oram a Enica 8orma de 8a(er 8ace aos
atentados ambientais" em 8ace da ine7istência de protecção 5urídica
especí8ica dos bens naturais e a noção de danos ecol&gicos" ;ue tradu( um
alargamento da indemni(ação das les>es ambientais uma ve( ;ue estes se
veri8icam indeendentemente dos reu+Bos causados Ls essoas ou L
roriedade" tradu(indo uma tutela directa ou imediata dos componentes
ambientais naturais6
Re virmos esta dualidade em termos um pouco di8erenciados" a conclusão
ser= idêntica" no sentido de o diploma legal escrutinado abranger tanto a
dimens"o subectiva do dano ambiental como a sua dimens"o obectiva ou
<blica, reporta-se a primeira 9 responsabilidade civil tradicional ou 9
vertente corp4rea e individual do dano" a ;ual merece a atenção do
legislador no Capítulo II do Decreto-Lei n6V 012$%%! constituído pelos artigos
16V a %6V" com a compreensiva epígra8e de responsabilidade ambientalK 5=
a segunda : relativa 9 vertente imaterial e incorp4rea do dano" dela se
ocupando o Capítulo III artigos 6V a $06V" os ;uais constituem" sem dEvida" a
parte nobre do diploma em ;uestão" ordenados sob a muito discutível
epígra8e de <esponsabilidade administrativa pela prevenção e reparação de
danos ambientaisK6
Nual;uer ;ue se5a a nomenclatura ;ue se utili(e para distinguir os diversos
danos em ;uestão0" a verdade : ;ue o Decreto-Lei n6V 012$%%!" de $# de
4 A contraposição entre os dois tipos de danos : logo assumida no PreQmbulo do
diploma, por um lado" est= em causa a reparação dos danos subse6uentes Lserturba!*es ambientais M ou se5a" dos danos so8ridos por determinada pessoa nosseus bens ur+dicos da ersonalidade ou nos seus bens atrimoniais como
%%
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Actas do Colóquio – A responsabilidade Civil por dano ambiental
Jul3o" pretende dar resposta a todos" o ;ue pode não ser imediatamente
perceptível em 8ace de algumas con8us>es e imprecis>es do legislador" com
desta;ue para a errada utili(ação do conceito de responsabilidade
administrativa e da sua distinção em 8ace da responsabilidade civil
sub5ectiva e ob5ectiva a responsabilidade civil propriamente dita ou
tradicionalK6 De 8acto" esta di8erença vem a coincidir com a distinção entre
o dano ambiental e o dano ecol4gico, de acordo com o preQmbulo" ao
passo ;ue na resonsabilidade civil subectiva e obectiva os operadores-
poluidores 8icam obrigados a indemni(ar os indivíduos lesados pelos danos
so8ridos por via de um componente ambiental" a disciplina da
resonsabilidade administrativa : destinada a reparar os danos causados aoambiente perante toda a colectividade" sendo a Administração ;ue assume
hK a tare8a de garantir a tutela dos bens ambientais a8ectados M sendo este
regime o destinado a transpor a Directiva n6V $%%02[_2C+6
+m con8ormidade" no articulado do diploma temos o Ca+tulo ::
<esponsabilidade civilK relativo 9 indemniBa!"o do dano ambiental stricto
sensu_" uma ve( ;ue se re8ere 9 o8ensa de direitos ou interesses al3eios or via
da lesão de um ;ual;uer componente ambiental c8r6 arts6 16V e !6V" ;ue usama mesma e7pressão it=lico nossoK/ 5= o Capítulo III" pelo seu lado" e apesar da
conse;uência da contaminação do ambiente it=licos nossosK por outro" salienta-sea autonomi(ação de um novo conceito de danos causados L natureBa em si" aoatrim&nio natural e aos fundamentos naturais da vida6 hK6 Assim" e7iste danoecol&gico ;uando um bem ur+dico ecol&gico ( erturbado" ou ;uando umdeterminado estado8dever de um comonente do ambiente ( alteradonegativamente\ it=licos nossosK6
5 ' ;ue 5usti8ica as críticas ;ue precocemente CA<LA AAD' )'+R com argEciadirigiu ao te7to normativo em ;uestão" de8endendo ;ue o Decreto-Lei n6V 012$%%!
deveria constituir o diploma aplic=vel em sede de prevenção e reparação de danoecol&gico e s& deste" esclarecendo ainda ;ue a inclusão do Capítulo II dese;uilibrao diploma" uma ve( ;ue" não s4 duplica disposiç>es do C4digo Civilin;uestionavelmente aplic=veis em sede de danos pessoais e patrimoniaisHambientaisK" como desvirtua a vocação de regulação da reparação de danosecol4gicos" raison d$tre do <P<D+, c8r6 CA<LA AAD' )'+R " A responsabilidade civil pordano ecol4gico6 <e8le7>es preliminares sobre o novo regime instituído pelo Decreto-Lein6V 012$%%!" de $# de Jul3o" O Direito" ano 06V $%%#K" vol6 I" p6 $1-/ p6 [1 e n6[_K6
6 De ;ual;uer 8orma" e nos termos do art6 %6V" a indemni(ação reparaçãoK doslesados não pode ser e7igida na medida em ;ue os danos se5am reparados nostermos do Capítulo III M isto :, não pode 3aver cumulação de pedidos de
comensa!"o financeira por perda da ;ualidade de um bem natural com pedidosde reara!"o rimJria" comlementar ou comensat&ria do estado ecol4gico dosmesmos bens" apresentados anteriormente6
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sua errada epígra8e <esponsabilidade administrativaK deve considerar-se
re8erido ao dano ecol4gico propriamente dito6 Daí ;ue se5a neste Capítulo
;ue aparece sistematicamente incluída a defini!"o de dano ambiental, de
acordo com a al6 dI do art6 6V deve entender-se por tal dano a alteração
adversa mensur=vel de um recurso natural ou a deterioração mensur=vel do
serviço de um recurso natural concreti(ando-se" na al6 eI" ;ue estão em
causa os danos causados 9s esp:cies e habitats naturais protegidos" os
danos causados 9 =gua e os danos causados ao solo embora nestes se
ve5a ;ue s4 relevam os ;ue criem um risco signi8icativo para a saEde
3umana" não sendo assim verdadeiros danos ecol4gicosK6
1.1. A i!ortncia da con/oca:;o dos direitos e interesses le=ítios doscidad;os nesta sede
' 8acto de num diploma antes de mais dirigido para a regulação do dano
ambiental propriamente dito M ou" usando uma terminologia porventura mais
correcta" do ponto de vista t:cnico-5urídico" para a regulamentação do dano
ecol4gico ou" ainda" para a dimens"o obectiva ou <blica do dano
ambiental em sentido amplo M continuar a regular-se o dano ambiental na sua
perspectiva sub5ectiva ou pessoal" isto :" en;uanto o dano causado 9spessoas e 9s coisas de ;ue estas são propriet=rias" não surpreende se tivermos
por base a concepção de acordo com a ;ual a mel3or 8orma de de8ender o
ambiente passa pela tomada de consciência" por parte dos cidadãos" dos
direitos de ;ue são titulares neste Qmbito6 &a verdade" um sector relevante da
doutrina tem de8endido" pelo menos antes da entrada em vigor do Decreto-
Lei n6V 012$%%!" ;ue a via mais ade;uada para protecção da nature(a : a
;ue decorre da l4gica da protecção 5urídica individual" no sentido de
integrar a preservação do ambiente no Qmbito da protecção 5urídica
sub5ectiva" mediante o recurso aos direitos 8undamentais16
De notar" em todo o caso" ;ue o pr4prio legislador não ignora esta
realidade" re8erindo de 8orma e7pressa" no preQmbulo do Decreto-Lei n6V
012$%%!" ;ue em certas circunstQncias" um regime de responsabili(ação
atributivo de direitos aos articulares constitui um mecanismo
7 C8r6 ARC' P+<+I<A DA RILA" Qerde Cor de Direito #i!*es de Direito do Ambiente"Almedina" $%%$" p6 $1 e segs6
%9
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economicamente mais eficiente e ambientalmente mais eficaB do ;ue a
tradicional abordagem de mera regulação ambiental" comummente
designada de comando e controlo it=licos nossosK" considerando pre8erível
dotar o cidad"o de direitos indemniBat&rios" investindo-o na ;ualidade de
verdadeiro (elador do ambiente6
+sta realidade M em alguma medida e7plicada" no direito anglo-sa74nico"
pela e7pressão 8ree-riding" tradu(indo a tutela reflexa dos bens ecol&gicos
por via da rotec!"o de bens ambientais em sentido estrito M não :
descon3ecida no nosso direito" encontrando-se com 8acilidade decis>es
5udiciais nas ;uais a protecção do ambiente aparece apenas como 8orma de
sustentar" do ponto de vista material ou ob5ectivo" acç>es de responsabilidade
;ue" na verdade" se destinam a ressarcir danos ;ue não são danos ambientais
mas sim les>es puramente patrimoniais ou relativas a outros direitos ou bens
5urídicos ;ue não os directamente relacionados com a tutela ambiental6 A
título e7empli8icativo" poderemos citar o caso do Ac4rdão do R*A $6
Rubsecção do CAK" de $!66$%%1 Processo n6V %!%!2%1K no ;ual a empresa
gestora de um estabelecimento 3oteleiro intentou uma acção de
responsabilidade contra a <egião Aut4noma da adeira, apesar de todo odireito material violado pela entidade administrativa r: se reportar a preceitos
5urídico-ambientais" em particular os relativos 9 não reali(ação do
procedimento de avalia!"o de imacte ambiental AIAK ;ue seria" no caso"
obrigat4rio" veri8icou o douto tribunal de recurso contrariando a decisão
pro8erida em primeira instQnciaK ;ue as les>es ou o dano so8rido pela autora
da acção consubstanciados nos pre5uí(os econ4micos decorrentes das bai7as
8ortíssimas de ocupação dos ;uartos do 3otel em ;uestão não estavam noKmbito de rotec!"o das normas 5urídicas violadas M os preceitos ambientais
;ue impun3am a obrigatoriedade de reali(ação de uma AIA6 Ainda ;ue sem
8a(er alusão directa 9 con3ecida construção da MchutBnormtheorie
desenvolvida no direito alemão" no 8undo era isso ;ue estava em casa"
nomeadamente ;uando se lê no ac4rdão ;ue a an=lise do Kmbito de
rotec!"o das normas alegadamente violadas it=lico nossoK leva 9
conclusão de ;ue os pre5uí(os invocados não se incluem no mesmo" uma ve(
;ue elas visam evitar a produção de danos ambientais e não pre5uí(os de
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nature(a econ4mica e empresarial tais como os ;ue 8oram invocados pela
<ecorrida6
Ao levar este pensamento at: ao 8im" concluiu o *ribunal superior da 5urisdição administrativa, A violação de normas ou de princípios
procedimentais não d= origem 9 responsabilidade civil se os preceitos
procedimentais violados não tiverem ;ual;uer re8erência 9 posição 5urídica
material do interessado" isto :" se o bem 5urídico lesado" em ;ue se tradu( o
dano" não estiver compreendido no Qmbito de protecção das normas
violadas!6
8 +stava especi8icamente em causa" na situação 5ulgada em sede de recurso
5urisdicional pelo R*A" a construção da via r=pida Func3al2Aeroporto por parte da<egião Aut4noma da adeira" por interm:dio da Recretaria <egional do+;uipamento Rocial e Ambiente do respectivo governo6 +sta obra compreendeu umviaduto ;ue passava muito pr47imo de um otel" tendo a empresa gestora do mesmoproposto a acção" invocando e provando bai7as 8ortíssimas na ta7a de ocupação dosseus ;uartos apesar dos descontos" 3ouve alturas em ;ue esteve completamenteva(ioK" alegadamente em virtude dos barul3os e da poeira provocados 5unto do otel"bem como da deterioração do seu ambiente c:nico ou visual6 's pre5uí(osdecorrentes da;uele abai7amento" bem como a 8orte diminuição do valor de vendado edi8ício do 3otel levaram o *ribunal Administrativo de Círculo do Func3al a
condenar a <egião Aut4noma da adeira ao pagamento 9 autora de uma ;uantiade ˆ #0060#"_$" acrescida de 5uros de mora6*odavia" no 5ulgamento do recurso" salientou o Rupremo ;ue o 8undamento da
pretensão ressarcit4ria da autora contra a <egião Aut4noma da adeira assentavaem preceitos 5urídico-ambientais" em concreto na não reali(ação de uma AIA" emviolação do Decreto-Lei n6V !/2#%" de / de Jun3o o diploma então vigente sobre AIAK"sendo com base neste 8acto ;ue o *ribunal de primeira instQncia deu como provadasa ilicitude e ilegalidade da r:6 'ra" concluiu o *ribunal de recurso ;ue os reu+Bosinvocados ela autora n"o se inclu+am no Kmbito de rotec!"o das normasalegadamente violadas" uma ve( ;ue hK as normas em causa visam evitar aprodução de danos ambientais e não pre5uí(os de nature(a econ4mica e empresarial
tais como os ;ue 8oram invocados pela <ecorrida6 Lin3a argumentativa ;ue mereceua concordQncia do Procurador-)eral ad5unto no R*A" segundo o ;ual h o dever deindemni(ar s4 e7iste no círculo de interesses abrangidos pela norma de protecçãoviolada" para tanto não bastando ;ue consubstancie um erro re8le7o da protecçãodos interesses colectivos ;ue a norma pretende tutelar" impendendo sobre o autor o4nus de demonstrar ;ue" acaso a administração tivesse observado o procedimentodeterminado na lei" o seu interesse 8inal ou substantivo invocado teria sido satis8eitohK6 'ra" na situação sub 5udicio a8igura-se-nos mani8esto ;ue os pre5uí(os invocadospela autora são de nature(a estritamente sub5ectiva" como são os de car=cterecon4mico e empresarial" e7orbitando desse modo do Qmbito da tutela dos valoresvisados pelo legislador ao consagrar a obrigatoriedade do procedimento deavaliação de impacte ambiental" os ;uais se prendem com valores ambientais"de8endendo" em consonQncia" ;ue o recurso 5urisdicional interposto pela <egião
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Actas do Colóquio – A responsabilidade Civil por dano ambiental
5. A le=itiidade !rocessual 8 al=uas notas
Apro7imando-nos um pouco mais das ;uest>es ;ue ;ueremos
especi8icamente tratar M a legitimidade activa para a propositura de acç>es
de responsabilidade para ressarcimento de danos ambientais" por ora
entendidos em sentido amplo M cumpre agora avançar algumas breves notas
sobre o pressuposto processual da legitimidade o ;ual" tanto em termos
dogm=ticos como pr=ticos" sempre levantou di8iculdades e controv:rsias
nada negligenci=veis6
&a verdade" a ProBefhrungsbefugnis de ;ue 8alam os autores alemães M
isto :" o oder de condu!"o do rocesso" e7pressão com um signi8icado
imediato mais rico do ;ue o de legitimidade rocessual M pode ser vista" num
certo sentido" como consubstanciando o mais relevante pressuposto
processual" pelo menos na medida em ;ue muitas acç>es são perdidas por
ilegitimidade do autor6 Para al:m das controvertidas ;uest>es ;ue na pr=tica
Aut4noma da adeira deveria obter provimento6Foi isso o ;ue veio a acontecer, depois de invocar a 5urisprudência do R*A no
sentido de se e7igir uma conex"o entre a ilegalidade e o dano" por 8orma a ;ue o
dano se inclua no Kmbito de rotec!"o da norma violada" o *ribunal de recursoconcluiu ;ue s4 se as leis violadas pelos actos ;ue culminaram com a construção doviaduto tivessem como 8inalidade proteger o interesse econ4mico na e7ploração dootel da autora : ;ue o tribunal poderia concluir pela e7istência da ilicitude"sublin3ando as di8erenças" para este e8eito" entre os conceitos de ilegalidade e deilicitude6
+m suma, 8altou 9 autora demonstrar ;ue" no caso" as normas violadastamb:m tin3am como 8inalidade proteger os lucros de e7ploração do seu otel6 AEnica ilegalidade 8oi a não reali(ação da AIA" sendo perante esta ;ue se tin3a dee;uacionar se os bens 5urídicos ;ue a autora viu lesados desvalori(ação do 3otelKestavam ou não no Qmbito de protecção das normas violadas6
.ma ve( ;ue as 8inalidades do Decreto-Lei n6V !/2#% eram todas cone7as coma tutela ambiental e sanit=ria diversidade das esp:cies" conservação deecossistemas" protecção da saEde e promoção da ;ualidade de vidaK e ;ue +mnen3uma destas 8inalidades se inclui" como : particularmente evidente" a ;uebra dereceitas na e7ploração de um 3otel" pois o estudo de impacte ambiental pretendeevitar danos ambientais" não podendo ser visto como instrumento de regulamentaçãodas actividades econ4micas" rematou o *ribunal ;ue nen3um dos danos dadoscomo provados podia ser ;uali8icado como dano ambiental e" portanto" nen3umdeles se incluía no Qmbito de protecção das normas violadas relativas aoprocedimento sobre a avaliação do impacto ambiental6
Daí a conclusão segundo a ;ual o 8acto imputado 9 r: não era" na;uele caso"gerador de responsabilidade civil e7tracontratual" o ;ue teve como conse;uência aabsolvição da r: do pedido6
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suscita" tamb:m o estudo te4rico e a an=lise dogm=tica da legitimidade
processual têm sido tudo menos neutros" podendo a;ui invocar-se a 3ist4rica
disputa entre A<'RA D+ A)ALf+R e AL+<*' D'R <+IR sobre a configura!"o da
rela!"o material controvertida ;ue serve de base 9 legitimidade das partes"
nos termos da;uilo ;ue 3o5e se prescreve no artigo $/V" nV [" do C4digo de
Processo Civil CPCK, ao passo ;ue AL+<*' D'R <+IR" pretendendo dar um certo
conte<do material a esta noção" a8irmava ser necess=rio averiguar da
efectiva titularidade dessa relação" suondo 6ue ela exista de8endendo a
a8erição da legitimidade pela osi!"o real das partes da relação em litígioK" 5=
A<'RA D+ A)ALf+R colocava o acento t4nico na noção rocessual de legitimi-
dade" considerando ;ue seria ir longe de mais e7igir-se a prova da titularidadee8ectiva duma relação ;ue era ainda meramente hiot(tica" tendo assim o
m:rito de permitir a distinção do pressuposto processual da legitimidade em
relação ao 8undo da ;uestão#6
&a revisão do CPC de ##_ o legislador tomou posição e7pressa sobre a
;uestão" estabelecendo a titularidade da relação controvertida" tal como :
con8igurada pelo autor" numa posição muito pr47ima da de8endida por
A<'RA D+ A)ALf+R , nos termos do citado nV [ do artigo $/6V do CPC, \&a 8alta deindicação da lei em contr=rio" são considerados titulares do interesse relevante
para o e8eito da legitimidade os su5eitos da relação controvertida tal como :
con8igurada pelo autor\%6
Ao nível do contencioso administrativo recorre-se 3o5e a uma 84rmula muito
semel3ante 9 do processo civil na de8inição geral do pressuposto processual
da legitimidade activa, de acordo com o n6V do art6 #6V do C4digo de
9 A tese de A<'RA D+ A)ALf+R 8oi e7posta pelo Autor no escrito \Legitimidade dasPartes\" GaBeta da %ela!"o de #isboa" ano [$6V ##K" nV !" p6 $10 ss6 &as suaspalavras c8r6 p6 $1_K" \em caso algum" o 5ulgador pode" ou deve con3ecer dae7istência da relação 5urídica controvertida" para 5ulgar legítima" ou ilegítimas aspartes\6
A concepção de AL+<*' D'R <+IR pode ser vista no trabal3o \Legitimidade dasPartes\" ;oletim da Faculdade de Direito da niversidade de Coimbra " ano III #$[-#$_K" nVs 1-!%" p6 /0-!! ano IW #$_-#$/K" nVs !-#%" p6 %$ e segs6
1% Podendo ainda ler-se no preQmbulo do Decreto-Lei n6V [$#-A2#_" de $ deDe(embro, \Partiu-se hK de uma 8ormulação da legitimidade hK assente na
titularidade da relação material controvertida" tal como a con8igura o autor" pr47imada posição imputada a arbosa de agal3ães na controv:rsia ;ue 3istoricamente oop`s a Alberto dos <eis\6
8!
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Actas do Colóquio – A responsabilidade Civil por dano ambiental
Processo nos *ribunais Administrativos CP*AK" hK o autor : considerado parte
legítima ;uando alegue ser parte na relação material controvertida M
ressalvando" na sua primeira parte" as disposiç>es especiais sobre a mat:ria"
nomeadamente a previsão da acção popular e as regras especí8icas
consagradas ao nível da acção administrativa especial na ;ual" como :
sabido" e7iste uma grande abertura mas ;ue" em princípio" não nos interessam
no estudo do nosso temaK6
Assim" no ;ue respeita 9 propositura de acç>es de responsabilidade
tradicionais no contencioso administrativo" ter= legitimidade para o e8eito
6uem se arrogue de um reu+Bo efectivo causado ela actividade ou omiss"o
<blica" uma ve( ;ue ser= tal vítima ;ue alegar= ser parte na relação
material controvertida6
&ão : de 8orma alguma ociosa a re8erência ao regime da legitimidade no
CP*A uma ve( ;ue na disciplina instituída pelo Decreto-Lei n6V 012$%%!" de $# de
Jul3o" o contencioso administrativo assumir=" inevitavelmente" um enorme
protagonismo, o seu Capítulo III M ;ue" como 8oi 5= re8erido" constitui a parte
8undamental do novo diploma" onde verdadeiramente se opera a
transposição da Directiva n6V $%%02[_2C+ M consagrou um regime de tarefa
<blica em relação 9 e8ectivação da responsabilidade decorrente da
veri8icação de danos ambientais" instituindo aí a responsabilidade prim=ria
das autoridades pEblicas6 Como tal" parece ;ue na concreti(ação das regras
do Decreto-Lei a 5urisdição comum s4 ser= competente nos casos de
responsabilidade puramente privada" ou se5a" na;ueles em ;ue não 3a5a
;ual;uer possibilidade de intervenção das entidades pEblicas no ;ue se re8ere
tanto 9 imposição de medidas de prevenção como de medidas de
reparação6 Ali=s" a prioridade ;ue o novo regime d= 9s estrat:gias e 9s
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medidas de reven!"o re8orça o protagonismo ;ue no seu seio assumem as
autoridades pEblicas6
Deve ainda sublin3ar-se ;ue o pressuposto processual assumeespeci8icidades não negligenci=veis ao nível do contencioso ambiental ;ue
se tradu(em sobretudo na consagração do direito de ac!"o oular para a
sua tutela, a acrescer 9 grande abertura" constitucional e legal" do acesso 9
5ustiça em sede ambiental M nomeadamente se tivermos em conta a
articulação do direito L tutela urisdicional efectiva" amplamente acol3ido na
Constituição da <epEblica e no CP*A" com a 8orça e o peso com ;ue o direito
do ambiente : consagrado na ordem 5urídica portuguesa" em particular coma previsão de um direito sub5ectivo 8undamental ao ambiente M" o ambiente :
um dos bens 5urídicos e interesses pEblicos para cu5a tutela a Constituição e
diversas leis processuais prevêem a possibilidade de recurso ao instituto da
acção popular6 Instituto este ;ue" como : sabido" não se tradu( em ;ual;uer
8orma particular de acção mas antes no recon3ecimento de uma
legitimidade simplesmente decorrente do estatuto da cidadania e" como tal"
1 CA<LA AAD' )'+R sublin3ou" desde a primeira 3ora" este protagonismo dasentidades pEblicas no regime do Decreto-Lei n6V 012$%%! e" em consonQncia" opapel-c3ave da tutela contenciosa administrativa6 Regundo a Autora c8r6 Aresponsabilidade civil por dano ecol4gicoh" cit6" p6 0! os it=licos serão nossosK" anatureBa <blica do dano ecol&gico M por;ue incidente sobre um bem ;ue" na suavertente imaterial indivisível e inapropri=velK" : pEblico, o ambiente M determina apropositura" ;uer de ac!*es administrativas comuns de condenação na abstençãode comportamentos lesivos do ambiente por parte do operador hK nos termos doartigo [16V2$" fI do CP*A hK ;uer de ac!*es administrativas comuns de efectiva!"o da
resonsabilidade contra o oerador em eventual solidariedade com a AdministraçãoomissivaK M por esta ter omitido as medidas necess=rias para 8a(er 8ace 9 situação
potencial ou 5= e8ectivamente danosa M" de acordo com al6 fI do n6V $ do mesmo art6[16V do CP*A6 Como : bom de ver" ;ual;uer uma destas acç>es corre os seus termosnos tribunais administrativos M indeendentemente da natureBa ur+dica" pEblica ouprivada" do operador M sendo regulada pelas leis processuais administrativas"nomeadamente o CP*A e o +statuto dos *ribunais Administrativos e Fiscais6
&o ;ue especi8icamente se re8ere ao autntico dano ecol&gico" assinala aindaCA<LA AAD' )'+R ob. cit." loc. ult. cit.K ;ue ele : sempre &rf"o" 5= ;ue a suaprevenção e reparação s4 pode ser levada a cabo por representantes dacolectividade" 5unto dos tribunais especiali(ados em dirimir os con8litos 5urídico-pEblicos"isto :" os tribunais administrativos6 ' mesmo não se passar=" segundo a Autora";uando as alegaç>es disserem respeito a danos pessoais ou patrimoniais do autor daacção e a o8ensa tiver sido perpetrada por uma entidade privada, a;ui" se o autor da
acção visar o ressarcimento por um dano ;ue" pelo menos para ele" ser= antes demais um dano patrimonial" os tribunais competentes para con3ecerem a acção serãoos tribunais 5udiciais" desde ;ue a actuação lesiva não revista nature(a pEblica6
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Actas do Colóquio – A responsabilidade Civil por dano ambiental
independente se;uer da invocação de um interesse directo ou pessoal na
situação litigiosa6
A 8orça do instituto decorre da sua previsão ao nível constitucional" patamardo ;ual 8oi depois transposto para a legislação ordin=ria6 &a verdade" disp>e
3o5e a al6 aI do art6 _$6V" n6V " da C<P ;ue O con8erido a todos" pessoalmente
ou atrav:s de associaç>es de de8esa dos interesses em causa" o direito de
acção popular nos casos e termos previstos na lei" incluindo o direito de
re;uerer para o lesado ou lesados a correspondente indemni(ação"
nomeadamente para hK Promover a prevenção" a cessação ou a
perseguição 5udicial das in8racç>es contra a saEde pEblica" os direitos dos
consumidores" a ;ualidade de vida" a preservação do ambiente e do
patrim4nio cultural6 A partir da;ui deu-se o recon3ecimento e
desenvolvimento do direito ao nível da legislação ordin=ria" tanto por uma lei
especi8icamente destinada a regulament=-lo a Lei n6V ![2#_" de [ de Agosto"
consagradora do Direito de participação procedimental e de acção
popularK como" mais tarde" nos principais diplomas processuais, no C4digo de
Processo Civil art6 $/6V-A" com a epígra8e Acç>es para a tutela de interesses
di8usosK e no n6V $ do art6 #6V do CP*A6 Assinale-se" em ;ual;uer dos casosre8eridos" a e7pressa re8erência ao ambiente como um dos valores ou bens
constitucionais ao serviço dos ;uais a via da acção popular pode ser utili(ada"
bem como a consagração do direito tanto em termos individuais como
associativos$6
Deve ainda assinalar-se ;ue a importQncia da acção popular e o eventual
recurso a este e7pediente para 8undar a legitimidade para a propositura de
uma acção de responsabilidade em sede ambiental acaba por re8orçar o
protagonismo da 5urisdição administrativa neste Qmbito, apesar de" como nota
CA<LA AAD' )'+R[" a al6 lI do n6V do art6 06V do +*AF M de acordo com a ;ual
Compete aos tribunais da 5urisdição administrativa e 8iscal a apreciação de
litígios ;ue ten3am nomeadamente por ob5ecto hK Promover a prevenção"
1$ eri8icando-se ainda a atribuição do direito de acção popular 9s autar;uiaslocais e" no CPC e no CP*A" ao inist:rio PEblico" numa opção ;ue ;uanto a n4s abre o
espaço a críticas 5usti8icadas M as ;uais" todavia" não cabem na economia dopresente escrito61[ C8r6 A responsabilidade civil por dano ecol4gicoh" cit6" p6 0!6
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Actas do Colóquio – A responsabilidade Civil por dano ambiental
Por esta ra(ão" a 5urisprudência a ;ue tivemos acesso re8ere-se toda a um
período em ;ue ainda não se 8a(ia a distinção entre o dano ambiental e o
dano ecol4gico e na ;ual" nestes termos" o segundo aparecia dissolvido no
primeiro" veri8icando-se 8acilmente o citado e8eito de free8riding" isto :" a
propositura de acç>es de responsabilidade e a eventualidade de atribuição
de indemni(aç>es onde estivesse em causa um dano ambiental apropriado
pelos autores da acção M ainda ;ue" eventualmente" as verdadeiras
pretens>es destes passassem pela obtenção de indemni(aç>es pecuni=rias a
coberto da alegada aspiração de proteger o ambiente6 +m todo o caso" pelo
menos na situação dos impetrantes serem interessados directos" deveria estar
e8ectivamente em causa o dano ambiental ou" pelo menos" o dano directono direito ao ambiente dosK impetrantesK6
*odavia" : importante ;ue se compreenda M e ;ue a nossa 5urisprudência
assuma M ;ue o desiderato do novo diploma legal não passa por tirar nada
ao ;uadro ;ue 5= e7istia sobre responsabilidade civil ambiental" tradu(indo-se"
outrossim" no acr:scimo de novas dimens>es a esta realidade6
Desta 8orma" passa a revelar-se mais importante a correcta destrinça entre
as situaç>es em ;ue a propositura de uma acção de responsabilidade
ambiental visa a tutela de danos ambientais individuais M subsumíveis na
tradicional categoria do dano ambiental em sentido estrito M e a;ueles outros
em ;ue a acção est= orientada para a tutela do dano ecol&gico supra
individual M na destrinça tradicional" o dano ecol&gico propriamente dito" o
dano ob5ectivo ou pEblico concreti(ado nos pre5uí(os causados a toda a
comunidade6 &estes termos" procederemos ao estudo aut4nomo de cada
uma das situaç>es6
3.1. Pro!ositura de ac:Wes de res!onsailidade !ara tutela de danosaientais indi/iduais
3.1.E. Os interessados directos 8 e es!ecial< os lesados no direito &undaentalao aiente
Apesar das vo(es discordantes ;uanto 9 real materialidade do direito
fundamental ao ambiente_" a verdade : ;ue a nossa C<P o consagra" no seu
1_ C8r6" em particular e com grande desenvolvimento" CA<LA AAD' )'+R" %isco e odifica!"o do Acto AutoriBativo ConcretiBador de Deveres de Protec!"o do
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art6 //6V" sendo 3abitualmente assinalado como principal nota do relevo
pr=tico de tal acol3imento a possibilidade de acesso ao direito e aos tribunais
para a sua tutela6
' direito ao ambiente" na sua vertente negativa a ;ual se concreti(a no
direito 9 abstenção" por parte de terceiros" incluindo entidades pEblicas" de
atentados e agress>es ambientaisK" : um dos direitos 8undamentais de
nature(a an=loga aos direitos" liberdades e garantias" como tem assinalado
parte da doutrina/6
&estes termos" o titular de um direito ao ambiente lesado pela actividade
de terceiro" isto :" o cidadão 6ualificada e diferenciadamente lesado nessa
sua posição 5urídica por um acto ilícito e culposo de um outro particular ou da
Administração PEblica ;ue se5a a causa do dano ambiental so8rido tem
legitimidade para propor a competente acção de responsabilidade para
tutela de tal posição 5urídica6
*anto na 5urisprudência comum como na administrativa encontram-se com
8acilidade casos em ;ue est= esta situação em 5ogo M alguns dos ;uais são
bem ilustradores da gravidade e dimensão das in8racç>es ambientais ;ue vão
sendo cometidas" um pouco por todo o lado6
+m termos meramente e7empli8icativos" podemos indicar o Ac4rdão do
Rupremo *ribunal de Justiça R*JK de $/ de Abril de ##_ Processo n6V !/6#!K no
;ual dois cidadãos casados propuseram uma acção contra uma Rociedade
de Con8ecç>es1 ;ue instalou uma 8=brica de con8ecç>es 5unto 9 sua
residência" pre5udicando-os com ruídos e emiss>es de 8uligem" calor" vapor ede gases corrosivos e diversas deterioraç>es da sua casa de 3abitação6
Apesar de a acção ter sido logo 5ulgada parcialmente procedente em
primeira instQncia procedência essa con8irmada pelo *ribunal da <elação de
Coimbra" ;ue manteve a sentença de primeira instQncia" tendo a r: recorrido"
Ambiente" Coimbra +ditora" $%%1" p6 $_-0# especialmente p6 -[K61/ C8r6" por todos" )'+R CA&'*IL'2I*AL '<+I<A" Constitui!"o da %e<blica
Portuguesa Anotada" ol6 I artigos 6V a %16VK" Coimbra +ditora" 06 ed6" $%%1" p6 !0_6
11 A acção 8oi proposta no *ribunal de Círculo de Castelo ranco contra aempresa Rico8ato M Rociedade de Con8ecç>es" Ld" propriet=ria e operadora da8=brica de con8ecç>es em ;uestão6
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de revista" para o R*JK" com 8undamento na o8ensa dos direitos ao repouso" 9
saEde" 9 integridade 8ísica e ao ambiente sadio dos autores da acção M e
com a condena!"o da r( em v=rias prestaç>es de non facere como o não
lançamento de gases corrosivos e a não utili(ação de uma c3amin:" uma
caldeira e um tubo" bem como 9 indemniBa!"o dos autores pelos danos
patrimoniais e não patrimoniais por estes so8ridos M a verdade : ;ue os recursos
da r: se 8oram sucedendo" tendo um dos autores 8alecido durante a
pendência dos mesmos6 Da 8actualidade dada como provada pela <elação
de Coimbra" bem como da leitura das alegaç>es das partes" destacam-se
nomeadamente os 8actos de o con8lito girar em torno de uma casa arrendada
pelos autores em #1" 5unto 9 ;ual a r: montou uma pe;uena 8=brica decon8ecção" em #1[" 8=brica ;ue veio a ser ampliada em #!% de a r: estar
devidamente licenciada a enorme pro7imidade entre a 8=brica e a casa de
residência dos autores separação de "/% metros e de ["[% metros"
respectivamente" da parte lateral direita e da parte de tr=s da 3abitação"
circundando-a de todos os lados" com e7cepção do da 8renteK o lançamento
de ondas de calor e de vapor" a e7istência de uma c3amin: de onde saía
8uligem ;ue deteriorava as roupas dos autores ;uando estes dei7avam as
5anelas abertas ou ;uando a roupa era estendida 8ora" a penetração de
8uligem na casa dos autores atrav:s da c3amin: da co(in3a o ;ue obrigou o
autor a tapar a mesmaK" a saída de centenas de baratas da instalação da r:"
entre outros 8actos pouco edi8icantes6 Foram ainda dadas como provadas
diversas reclamaç>es e e7posiç>es e8ectuadas por um dos autores ao longo
dos anos" a necessidade de substituição" pelo autor e a e7pensas suas" de
todas as 5anelas da casa de 3abitação bem como uma s:rie de outras
modi8icaç>es e adaptaç>esK" a dani8icação do autom4vel do autor ;ue
estava estacionado na rua" sendo ainda mencionado o internamento da
autora no Centro de RaEde ental de Castelo ranco" embora sem ;ue o
douto *ribunal mencione um ne7o de causalidade entre este 8acto e a
conduta da r:6
Apesar de ser mencionado o incumprimento pela r: de algumas das
condiç>es impostas por organismos pEblicos" : tamb:m destacada M um
pouco contraditoriamente M a colaboração da Administração em todos
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estes 8actos" colaboração essa ;ue passou designadamente pela autori(ação
das obras de ampliação da 8=brica" pela emissão do alvar= de ocupação"
pela vistoria pela Rubdelegação de RaEde competente e" sobretudo" pela
outorga de licença de laboração a título de8initivo6 Daí a conclusão
interlocut4ria" na sentença de recurso do *ribunal da <elação de Coimbra"
segundo a ;ual A r: sempre esteve" e est=" legali(ada e licenciada ;uanto a
todos os seus componentes6
&a sentença pro8erida" o R*J negou provimento 9 revista ;ue a r: pretendia"
invocando ;ue nada 5usti8icava a alteração da decisão recorrida em sentido
mais 8avor=vel 9 recorrente" pelo ;ue con8irmou a condenação desta6
avendo diversos aspectos da 8undamentação da sentença a saudar, desde
logo" a invocação do direito L vida bem como dos direitos L sa<de e ao bem8
estar " 9 6ualidade de vida e a tutela geral da ersonalidade a ;ual tem
tantas ve(es 8uncionado" na 5urisdição comum" como porta-estandarte da
protecção do direito ao ambienteK e" sobretudo" a articulação destes direitos
e posiç>es 5urídicas com a consagra!"o constitucional do direito ao ambiente
e 6ualidade de vida" bem como a invocação de diversas leis ordin=rias
concreti(adoras deste direito6 Destacando" de 8orma em nosso entender muitomerit4ria" a circunstQncia de não estar em causa no processo a relação
5urídica entre a r: e as entidades supervisoras ao nível t:cnico e administrativo"
mas antes a relação provada de con8lito de valores e de interesses entre uma
instalação 8abril hK e hK o direito subectivo a um ambiente de vida humano"
sadio e ecologicamente e;uilibrado6 Concluindo ;ue neste Qmbito a
actividade da recorrente 8al3ou rotundamente" laborando de 8orma a
pre5udicar" gravemente" a (ona de 3abitação" a Hsede de vida dos autores"com os ruídos" os vapores" os calores" as 8uligens" c3egando ao ponto de não
evitar a saída de centenas de baratas das instalaç>es da r:" com a 3abitação
dos autores 5unto delasS6 O tamb:m muito louv=vel a 3ierar;uia estabelecida
entre os valores em 5ogo" destacando o Rupremo *ribunal ;ue o grande
problema desta causa não era de teor administrativo ou relativo ao
licenciamento" mas sim um conflito de valores subectivos" tendo de ser dada
prima(ia ao mais signi8icativo deles" o da 6ualidade de vida e ;ue a
indemni(ação ou compensação por danos o montante indemni(at4rioK não
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Actas do Colóquio – A responsabilidade Civil por dano ambiental
era a verdadeira ;uestão" mas sim o dano propriamente dito" lamentando
mesmo não poder alterar a sentença num sentido mais 8avor=vel ao autor da
primitiva acção" por ter 3avido apenas recurso da r:6
Foi nosso ob5ectivo" com a descrição M porventura e7cessiva M deste caso"
ilustrar as situaç>es em ;ue" estando em causa uma violação directa e
imediata do direito sub5ectivo ao ambiente de um cidadão ou de um grupo
de cidadãosK ;uali8icada ou di8erenciadamente lesado nessa sua posição
5urídica sub5ectiva" a legitimidade para a propositura da respectiva acção de
responsabilidade não pode levantar dEvidas6 Independentemente de outras
re8racç>es processuais deste tipo de situaç>es M em particular as possíveis
interacç>es com o acto ou os actos administrativos ;ue ten3am sido
praticados no seu Qmbito! M estar= em causa a o8ensa ou violação dos
direitos de pessoas determinadas" as ;uais estarão em condiç>es de propor a
acção tendente ao ressarcimento dos danos ambientais so8ridos" não
suscitando dEvidas a sua legitimidade rocessual para o e8eito6 &aturalmente
;ue" com a entrada em vigor do Decreto-Lei n6V 012$%%!" este tipo de
pretens>es cair= no Qmbito do respectivo Capítulo II" sendo em especial de ter
em conta a roibi!"o de dula reara!"o 8i7ada no art6 %6V" de acordo com
a ;ual os lesados não poderão e7igir reparação ou indemni(ação na medida
em ;ue os danos ;ue invo;uem se5am reparados nos termos do Capítulo III M
isto :" pela adopção de medidas de prevenção ou reparação
voluntariamente tomadas pelo operador ou impostas pela autoridade
administrativa competente ao seu abrigo6
3.1.1. Os direitos indi/iduais 0oo=,neos
.ma situação ;ue" em termos do t+tulo legitimador ;ue tem por detr=s de si
não merece ;ual;uer distinção em relação 9;uela ;ue acab=mos de tratar"
1! Passou a ser relevante nesta sede" com a entrada em vigor da Lei n6V /12$%%1"de [ de De(embro regime da responsabilidade civil e7tracontratual do +stado edemais entidades pEblicasK" a norma contida no respectivo art6 06V Culpa dolesadoK" a ;ual determina, Nuando o comportamento culposo do lesado ten3aconcorrido para a produção ou agravamento dos danos causados" designadamentepor não ter utili(ado a via processual ade;uada 9 eliminação do acto 5urídico lesivo"
cabe ao tribunal determinar" com base na gravidade das culpas de ambas as partese nas conse;uências ;ue delas ten3am resultado" se a indemni(ação deve sertotalmente concedida" redu(ida ou mesmo e7cluída6
292
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: a ;ue se re8ere aos titulares de direitos sub5ectivos ao ambiente di8erenciada
ou ;uali8icadamente lesados nessa sua posição 5urídica mas ;ue este5am em
situação idêntica 9 de outros indivíduos" tamb:m diferenciada ou
6ualificadamente lesados M isto :" aos casos em ;ue este5amos perante a
lesão de direitos individuais homog(neos6
+sta categoria M particularmente desenvolvida na doutrina e na
5urisprudência brasileiras M assume um sentido particular em relação 9s les*es
de massas ;ue tantas ve(es se veri8icam no domínio ambiental e nas ;uais" em
virtude do maior alcance espacial" pessoal e porventura temporal do 8acto
lesivo" os su5eitos diferenciadamente lesados não são apenas um mas v=rios"
sendo essa a Enica nota particular em relação 9 situação tratada no ponto
anterior6
+m 8ace da unicidade da causa de pedir e da similitude dos pedidos
decorrentes da coincidência do 8acto ilícito lesivo M salienta-se" em particular"
a origem comum do dano M e7iste a possibilidade de os lesados se agruparem
num litiscons&rcio voluntJrio activo" propondo uma <nica ac!"o para a tutela
dos v=rios direitos sub5ectivos lesados6 A pluralidade dos su5eitos
di8erenciadamente lesados M na medida em ;ue a sua posição 5urídica :
protegida pela norma ou normas 5urídicasK violadasK em termos especí8icos"
por comparação com a eventual lesão gen:rica da colectividade e dos
interesses singulares dos seus membros por 8a(erem parte de tal comunidade #
M não implica ;ue a tutela ;ue merecem deva ser des;uali8icada" pois
continuamos a estar perante cidadãos ;ue so8rem uma o8ensa no seu direito
sub5ectivo ao ambiente6
Pelo menos em via de regra a nossa 5urisprudência não recorre" de modo
e7presso" 9 8igura dos direitos individuais 3omog:neos" sendo
e7traordinariamente redu(idas as re8erências a tal categoria6 ' ;ue não ;uer
di(er" em todo o caso" ;ue não 3a5a muitas situaç>es em ;ue" não obstante
tal menção não ser 8eita" estamos perante les>es de tal tipo6
1# <eportamo-nos a;ui 9 8igura dos interesses difusos" sendo relevante notar ;ueo 8acto de 3aver interesses di8usos lesados não implica a degradação das posiç>es 5urídicas substantivas di8erenciada ou ;uali8icadamente lesadas6
9!
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Actas do Colóquio – A responsabilidade Civil por dano ambiental
A título mais uma ve( meramente e7empli8icativo poderemos citar o
Ac4rdão do R*J de $#2%_2$%%1 Processo n6V %1A[0%K no ;ual diversos autores M
todos pertencentes ao mesmo aglomerado vicinal M propuseram uma acção
contra o unicípio de Palmela$%" em virtude de este ter procedido ao desvio
de uma lin3a de =guas pluviais" destruindo um camin3o pEblico e nele
rasgando uma vala a c:u aberto" 5unto das casas de 3abituação dos autores"
procedimentos reali(ados sem ;ual;uer estudo" parecer ou autori(ação das
autoridades competentes" nomeadamente da Direcção <egional de
idr=ulica do *e5o6
Apesar de a acção ter sido 5ulgada improcedente em sede de recurso M
depois de ter sido sentenciada como parcialmente procedente em primeira
instQncia M pois tanto o *ribunal da <elação de Lisboa como o R*J deram por
veri8icada a exce!"o de rescri!"o" a ;ual cobria todo o pedido 8ormulado
pelos recorrentes e de ser a ;uestão da prescrição a 8undamentalmente
discutida no ac4rdão$" a sua leitura não dei7a de ser signi8icativa para nos
apercebermos das les>es provocadas a diversos autores" cu5os direitos
sub5ectivos individuais e 3omog:neos pois" apesar de titulados por diversos
cidadãos" tin3am uma origem comum e a sua violação resultou dos mesmos
factos il+citos culososK$$ 8oram intoleravelmente lesados pela actuação dos
4rgãos pertencentes ao unicípio de Palmela" com a colaboração de outros
intervenientes6
2% +stran3amente" não se encontra no Ac4rdão ;ual;uer re8erência 9 eventualincompetência absolutaK da 5urisdição comum para 5ulgar o caso o ;ual" em 8acedos dados ;ue constam do aresto lavrado pelo R*J" parece ser da competência dostribunais administrativos6 &ão obstante" a ;uestão acaba por ser irrelevante" em 8ace
do motivo ;ue se tornou decisivo para o sentido dado 9 sentença62 A prescrição resultou de os 8actos se terem veri8icado no ano de #!! e de s4em ##[ ter sido a acção intentada M ainda ;ue os recorrentes ten3am alegado aviolação contínua e duradoura do seu direito ao ambiente" argumentação ;uetodavia não 8oi acol3ida nos arestos em ;uestão6 ' Rupremo considerou" ;uanto aeste ponto" ;ue ' 8acto gerador da responsabilidade e7tracontratual conducenteao pedido de indemni(ação esgotou-se na data em ;ue ocorreu" sendo aocorrência do 8acto e não a permanência ou esgotamento das suas conse;uências;ue releva para e8eito da prescrição" ainda ;ue recon3ecendo ;ue asconse;uências desse 8acto perduram no tempo6 + para ;ue não restassem dEvidas"remata di(endo ;ue ;uer a indemni(ação se5a em din3eiro ;uer se reporte 9restituição natural a prescrição do direito ambas engloba6
2$ &ão apenas o direito ao ambiente" mas tamb:m o direito 9 saEde" 9;ualidade de vida e 9 pr4pria dignidade da pessoa 3umana" em nosso entenderviolentamente ultra5ada no caso em apreço6
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&a verdade" a 8actualidade dada como provada pelo *ribunal da <elação
assemel3a-se a uma verdadeira 3ist4ria de terror no ;ue toca 9 e7tensão e
pro8undidade das les>es causadas aos direitos dos diversos autores"
nomeadamente aos seus direitos sub5ectivos ao ambiente" como resultado
imediato ou mediato das mencionadas obras reali(adas pelo unicípio de
Palmela ou sob as suas ordensK de desvio das =guas pluviais" de destruição do
camin3o pEblico e de abertura de uma vala a c:u aberto $[6 Rituaç>es estas
;ue se veri8icaram apesar de tamb:m se ter provado ;ue alguns dos
moradores protestaram desde o primeiro dia 5unto da CQmara unicipal de
Palmela M invocando e7pressamente a viola!"o do direito a um ambiente de
vida humano3 sadio e ecologicamente e6uilibrado M o ;ue levou inclusive a
Administração <egional de RaEde de RetEbal a e7igir a adopção imediata
das disposiç>es materiais ade;uadas a 8im de repor as condiç>es de
salubridade do local o ;ue" em todo o caso" não levou a ;ue a r: tomasse
alguma providência para 8a(er 8ace 9 situação6
3.5. Pro!ositura de ac:Wes de res!onsailidade !ara tutela de danosecol\=icos su!ra-indi/iduais
Apesar das di8iculdades em estabelecer distinç>es estan;ues entre o dano
ambiental em sentido estrito e o autêntico dano ecol&gico ou entre os danos
subectivos ao ambiente e o dano obectivo de um componente ambiental ou
do ambiente no seu tudo ou" ainda" entre a perspectiva individual da de8esa
2[ De acordo com os dados ;ue podem ser compulsados no citado Ac4rdão doR*J de $#2%_2$%%1" veri8icou-se ;ue passaram a correr e8luentes" de5ectos e e7crementosprovenientes de outros pr:dios nas palavras utili(adas na sentença" aí correm todasas esp:cies de imundíciesK a <: veio a construir" mais tarde" lagoas a c:u abertopara tratamento dos e8luentes" de5ectos e e7crementos a uns [%% metros das moradias
dos autores" estação essa ;ue não : regularmente vigiada e e7travasa combastante 8re;uência" Correndo a partir dela" abundantemente" um Hmostonauseabundo" de cor verde acastan3ada" de c3eiro pestilento" pela Hlin3a de =guaaberta ;ue se espraia na vala" na ;ual" com relativa 8acilidade e a todo omomento" se pode veri8icar" 8lutuando" e7crementos 3umanos e de outros animais"restos" li7os e at: um porco morto e putre8acto 5= por l= andou a ban3os A valatransborda muitas ve(es e : um 8oco de maus c3eiros" de aparecimento de ratos"rata(anas" moscas" melgas e mos;uitos a [" _ e ! metros das moradias dos autores esuas 8amílias ' ale do Alecrim 8oi antes lugar saud=vel" are5ado" onde s4 o c3eiro aterra lavrada pairava no ar os autores mandaram analisar as =guas dos seus poçosantes a mel3or =gua da regiãoK e 8oram todas consideradas impr4prias para beber6+ste ;uadro 5= de si devastador 8oi ainda agravado mais tarde" a partir do momento
em ;ue se começou a veri8icar o lançamento clandestino nessa vala de e8luentes desuinicultura" matadouros e outras indEstrias" o ;ue causa poluição e degradaçãoambiental signi8icativa6
9#
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Actas do Colóquio – A responsabilidade Civil por dano ambiental
do ambiente e a sua dimensão pEblica" em ;ue estão em causa os danos
causados a colectividades globalmente consideradas" tal distinção ter= de
passar a ser 8eita em 8ace da sistem=tica do Decreto-Lei n6V 012$%%!" o ;ual"
como vimos 5=" dedica o seu Capítulo III 9s segundas categorias6 *odavia" na
medida em ;ue continuamos a analisar 5urisprudência anterior 9 entrada em
vigor de tal diploma legal M ou ;ue" pelo menos" ainda não tomou em conta o
seu regime M tal distinção :" em 8ace das normas então vigentes" mais
aparente do ;ue real6 &a verdade" estarão em 5ogo situaç>es em ;ue" at:
$%%!" se admitia a propositura de acç>es de responsabilidade para tutela do
dano ambiental mas ;ue devem agora ser perspectivadas de 8orma di8erente
uma ve( ;ue" 9 lu( do novo direito" passa a estar a;ui em causa a tutela dodano ecol&gico uro6
Com esta ressalva" ve5amos então os di8erentes grupos de casos em ;ue 5=
se admitia a legitimidade do impetrante para propor uma acção de
responsabilidade ambiental" apesar de o nosso direito ainda não 8acultar os
instrumentos necess=rios para ;ue se ol3asse apenas 9 nature(a una" indivisível
e imaterial do bem 5urídico ambiental violado e" em conse;uência" 9 nature(a
inapropri=vel da respectiva indemni(ação6
3.5.E. As entidades !Vlicas
As situaç>es em ;ue uma entidade pEblica : a autora da acção de
responsabilidade podem" em certos termos" ser considerados casos de
c3arneira" na medida em ;ue podemos admitir a possibilidade de estarmos
perante a tutela de um dano ambiental M na medida em ;ue tamb:m podem
estar em causa les>es de bens ;ue 8a(em parte do patrim4nio de uma
pessoa colectiva pEblica" lesado pela actuação de um particular ou de uma
outra entidade pEblica$06 .s=mos a palavra tamb:m na medida em ;ue"
em nossa opinião" uma acção de responsabilidade proposta por uma
entidade pEblica dever= em regra visar a tutela de um verdadeiro dano
20 Imagine-se" por e7emplo" o caso em ;ue a actuação dos 4rgãos de ummunicípio causa lesão num bem do dom+nio articular ou numa parcela do dom+nio<blico municial de outro município e em ;ue o município lesado pretende o
ressarcimento do seu bem lesado" numa perspectiva similar 9;uela em ;ue umparticular pretende o ressarcimento de um dano causado a um bem da suapropriedade6
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ecol&gico" articulando-se o princípio-c3ave disciplinador da actividade
administrativa o princípio da prossecução do interesse pEblicoK com a
situação em causa" no sentido em ;ue o ente pEblico impetrante visa não
apenas ou não tanto a tutela do seu ambiente mas sobretudo a de8esa dos
interesses e direitos de todos os cidadãos ou 3abitantes" ou residentes" ou
pessoas ;ue ten3am relaç>es estreitas com o espaço em ;uestão no plano
da e7istência 8ísico-espiritual$_K ;ue constituem o substrato pessoal da pessoa
colectiva em ;uestão6
Apro7imando-nos um pouco mais dos casos ;ue temos em mente"
poderemos di(er ;ue no Qmbito estrito das acç>es de responsabilidade para
tutela dos danos ambientais são pens=veis situaç>es em ;ue uma entidade
pEblica o +stado ou um ente pEblico da administração aut4noma territorial"
se5a regional M uma região aut4noma M ou local M um município ou uma
8reguesiaK prop>e uma acção de responsabilidade contra uma outra
entidade pEblica6 &ecessariamente no Qmbito do contencioso administrativo"
3o5e por 8orça de disposição e7pressa c8r6 al6 I do art6 [16V2$ do CP*AK6 O isso o
;ue suceder= nos litígios entre o +stado e a administração aut4noma acção
de um município contra o +stado ou vice-versaK ou entre dois entes da
administração aut4noma entre dois municípiosK6
Apesar da possibilidade" 5= por n4s a8lorada" de a acção visar a tutela do
dano ambiental no seu sentido cl=ssico M sendo de notar" neste Qmbito" a
e7istência de uma disposição legislativa sempre considerada enigm=tica"
;ue : o n6V _ do art6 0%6V da Lei de ases do Ambiente" nos termos da ;ual as
autar6uias e os cidadãosK go(am de um \direito 9s compensaç>es ;uando
se5am a8ectadas pelo e7ercício de actividades susceptíveis de pre5udicarem a
utili(ação dos recursos do ambiente" a cargo das entidades respons=veis
pelos pre5uí(os causados M em princípio" ;uando uma entidade pEblica
2_ Fa(emos o paralelo com a e7pressão utili(ada por )'+R CA&'*IL' a umprop4sito um pouco di8erente" concretamente na densi8icação do conceito de vi(in3opara e8eitos da propositura de acç>es 5urídico-pEblicas ambientais6 C8r6 )'+R CA&'*IL'" \Anotação\ ao Ac4rdão do R*A de $! de Retembro de #!#K" %evista de#egisla!"o e de 5urisrudncia" ano $0 ##$K" n [![ Abril de ##$K" p6 [/[ e seg6 A
5urisprudência e a doutrina alemãs aludem a;ui a um etro88ensein ;uali8icado" a
prop4sito da protecção 5urídica de terceiros perante decis>es ambientalmenterelevantes, por todos" c8r6 ICA+L @L'+PF+<" m>eltrecht" erlag C6 6 ecB" [6 Au8lage"uni;ue" $%%0" p6 [0$ e seg66
9%
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Actas do Colóquio – A responsabilidade Civil por dano ambiental
propon3a uma acção de responsabilidade" estar= em causa a tutela do dano
ecol&gico" com vista ao ressarcimento do dano ambiental na sua dimensão
obectiva3 imaterial e <blica" valorando-se os pre5uí(os causados a toda a
comunidade6
Para e7empli8icar este tipo de situação M sempre com recurso a
5urisprudência anterior 9 entrada em vigor do Decreto-Lei n6V 012$%%! M vamos
recorrer a um ac4rdão no ;ual se 5ulga uma acção de responsabilidade civil
e7tra contratual ;ue não 8oi proposta por uma entidade pEblica" mas sim por
um cidadão en;uanto membro do oulus" isto :" ao abrigo do direito de
ac!"o oular 6 *odavia" a acção destinava-se 9 defesa de uma freguesia
;ue poderia ou deveriahK ter" ela pr4pria" proposto a acção uma ve( ;ue" in
casu" era ela a titular da rela!"o material controvertida6
<e8erimo-nos ao Ac4rdão do R*J de %!6%_6$%%1 Processo n6V %1A%%0K em
;ue o Dr6 AA intentou no *ribunal Judicial da Covil3ã uma acção popular
contra a Freguesia de $/" representada pela respectiva Junta" resultando
logo da causa de pedir esta ;uase ;ue sub-rogação do autor nos direitos
da 8reguesia6 &a verdade" e como se lê no ac4rdão" o autor pretendee8ectivar a responsabilidade e7tra contratual da Freguesia de por danos
causados ao meio ambiente destruição de uma lin3a de =gua" uma levada
ou barroca" desviando =guas pluviais" e outras" para o rio ê(ere construção
de ramais de esgotos a derivarem directamente para o rio ê(ere" sem
;ual;uer tratamentoK6 A mesma 8reguesia : acusada pelo autor de
provocar inundaç>es do rio por implantação de obras em terreno de aluvião
contrariar pareceres da <eserva Agrícola &acional" da Direcção <egional do
Ambiente e do 'rdenamento do *errit4rio e da C da Covil3ã violação do
Plano Director unicipal da Covil3ã e o <egulamento unicipal das
+di8icaç>es .rbanas e de as suas acç>es a8ectarem tamb:m o trQnsito" com
a construção de um muro e eliminação de um passeio pondo em risco a
circulação autom4vel na +& _%/ A6
2/ ' autor e o r:u são identi8icados da 8orma citada como Dr6 AA e Freguesiade K no Ac4rdão em apreço M o mesmo sucedendo ;uanto 9 8reguesia lesada" aFreguesia de CC6
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&estas vestes" e sempre assumindo como sua a de8esa dos direitos e
interesses da Freguesia de CC M o ;ue" no 8undo" : a;uilo ;ue
verdadeiramente cumpre 8a(er ao autor popular M" o autor pede a
condena!"o da freguesia in8ractora numa s:rie de prestaç>es de facere
destinadas" no 8undo" a remover as causas da in8racção e a repor a situação
anterior 9 mesma ou e;uivalente" nas palavras do n6V do art6 0!6V da Lei de
ases do Ambiente$1" bem como ao pagamento 9 8reguesia de CC de uma
indemni(ação não in8erior a _%6%%%"%% euros" para ressarcimento dos danos
causados ao ambiente e aos utili(adores da +& _%/-A6 Nuanto 9s prestaç>es
de facere" tradu(em-se elas na remoção do muro e do passeio edi8icados
5unto 9 +strada &acional _%/ A" com respeito das distQncias de segurança
contadas a partir do ei7o da via" como estatui o <egime unicipal das
+di8icaç>es .rbanas e no tratamento dos esgotos vindos do par;ue e do
restaurante" não os derivando directamente para o rio ê(ere6
*amb:m a;ui a acção 8oi perdida e novamente sem ;ue o *ribunal ten3a
entrado na apreciação do 8undo da ;uestão, a acção 8oi" ao ;ue tudo indica
erradamente" proposta nos tribunais comuns e logo na primeira instQncia 8oi
5ulgada procedente a e7cepção de incometncia absoluta do tribunal"
concluindo o R*J de 8orma similar" por a competência pertencer 9 5urisdição
administrativa$!6
Daí a decisão deste Rupremo *ribunal" segundo a ;ual no caso em apreço"
tratando-se de ter de e8ectivar a responsabilidade a;uiliana de uma
21 &a terminologia e na l4gica do novo diploma regulador da responsabilidade
por danos ambientais M o pro8usas ve(es citado Decreto-Lei n6V 012$%%!" de $# deJul3o M estariam em causa as medidas de reara!"o dos danos ambientais causadosc8r6 artigos /6V e 16VK6 Como veremos c8r6 infra" _66K" tais medidas de reparaçãodeverão passar prioritariamente por uma reara!"o rimJria" subsidiariamente poruma reara!"o comlementar e s4 em Eltima instQncia por uma reara!"ocomensat&ria a ;ual" no entanto" não consiste numa compensação 8inanceira paraos membros do pEblico6
2! ' ;ue se a8igura" em princípio" como uma decisão tecnicamente correcta"tanto se tomarmos em conta a competência geral dos tribunais administrativos e8iscaisK" tal como : de8inida no n6V [ do art6 $$6V da C<P" como se compulsarmos o+statuto dos *ribunais Administrativos e Fiscais" segundo o ;ual Compete aos tribunaisda 5urisdição administrativa e 8iscal a apreciação de litígios ;ue ten3am
nomeadamente por ob5ecto hK Nuest>es em ;ue" nos termos da lei" 3a5a lugar aresponsabilidade civil e7tracontratual das pessoas colectivas de direito pEblico hKc8r6 al6 gI do n6V do art6 06VK6
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autar;uia" e ainda estando em causa a aplicação de normas de direito
administrativo" tal como ressalta da mat:ria articulada na petição" são
competentes os tribunais administrativos6
3.5.1. As Or=ani>a:Wes n;o =o/ernaentais de aiente GO'^AK
As pessoas colectivas privadas" em geral" tamb:m disp>em de legitimidade
processual activa para propositura de acç>es de responsabilidade6 Ao nível
ambiental" 8alamos especi8icamente das '&)A organi(aç>es não
governamentais de ambienteK, a lei ;ue as disciplina Lei n6V [_2#!" de ! de
Jul3oK :" a este respeito" ine;uívoca" ao prever na al6 bI do seu art6 %6V, As
'&)A" indeendentemente de terem ou n"o interesse directo na demanda"têm legitimidade para hK intentar" nos termos da lei" ac!*es udiciais ara
efectiva!"o da resonsabilidade civil relativa aos actos e omiss>es re8eridos
na alínea anterior actos ou omiss>es de entidades pEblicas ou privadas ;ue
constituam ou possam constituir 8actor de degradação do ambiente it=licos
nossosK6
.ma ve( ;ue as '&)A" para al:m da de8esa do ambiente en;uanto sua
atribuição estatut=ria" visam a tutela do ambiente como um bem colectivo"
;ue a todos respeita o ;ue sai re8orçado pela circunstQncia de este direito
l3es ser atribuído independentemente de terem ou não interesse directo na
demanda" situação ;ue e7plica igualmente a atribuição a estas
organi(aç>es" nos preceitos pertinentes" do direito de ac!"o oular K" a tutela
tem a;ui um sentido obectivo" sendo a dimens"o incor&rea ou imaterial do
bem ambiental ;ue est= em 5ogo6 Assim" com a introdução" no nosso direito"
do regime sobre resonsabilidade civil or danos ecol&gicos" : em relação 9tutela destes danos ;ue a legitimidade das '&)A passa a 8a(er sentido" na
medida em ;ue elas nunca visam a tutela de um dano ;ue ten3am so8rido na
sua es8era 5urídica" mas sim nos interesses ;ue estão ob5ectiva e
estatutariamente incumbidas de prosseguir6
*odavia" no cote5o da 5urisprudência nacional ;ue e8ectu=mos para a
preparação destas notas" não encontr=mos ;ual;uer acção de
responsabilidade ambiental proposta por uma '&)A, tal veri8icou-se tanto aonível da 5urisprudência do tribunal superior da 5urisdição comum R*JK" como em
300
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relação 9s sentenças dos tribunais administrativos situados nos patamares
superior e interm:dio da respectiva ordem 5urisdicional isto :" a 5urisprudência
disponível do R*A" do *CA Rul e do *CA &orteK6
3.5.5. Os titulares do direito de ac:;o !o!ular
' direito de acção popular" tanto na sua consagração constitucional no
respectivo art6 _$6V$#K como legal na Lei n6V ![2#_[%K não abrange apenas a
possibilidade de impugnar actos e outras decis>es administrativas ;ue lesem o
ambiente" mas go(a igualmente de uma dimensão conducente 9
possibilidade de propositura de acç>es tendentes a e8ectivar a
responsabilidade civil do in8ractor M situação ;ue" segundo o pensamento de
alguns autores" : geradora de grande perple7idade" 8alando mesmo na
mistura e7plosiva ;ue resulta da associação da legitimidade popular 9s
acç>es de responsabilidade[6
De ;ual;uer 8orma" os eventuais ou alegados e;uívocos desta associação
são em grande parte ultrapassados com o novo regime do Decreto-Lei n6V
012$%%!" na medida em ;ue a possibilidade de se utili(ar o camin3o da
acção popular como título legitimador para a propositura de acç>es de
responsabilidade passar= a estar necessariamente ligada 9 tutela do dano
ecol&gico propriamente dito e não ao ressarcimento do dano ao ambiente
em sentido estrito6
Como resulta logo do te7to constitucional" o direito de acção popular :
atribuído não s4 a todos os cidadãos" individualmente considerados" mas
tamb:m 9s associaç>es de de8esa dos interesses em causa M isto :" o direito
tem uma relevantíssima dimensão associativa ou colectiva" ;ue 8oi acol3ida
2# 'nde se menciona ;ue o direito de acção popular inclui o direito de re6uerer ara o lesado ou lesados a corresondente indemniBa!"o6
3% A ;ual" ao disciplinar o direito de participação procedimental e de acçãopopular dedica todo o seu Capítulo I 9 responsabilidade civil e penal regulando"em relação 9 primeira" tanto a responsabilidade civil sub5ectiva art6 $$6VK" como aresponsabilidade civil ob5ectiva art6 $[6VK M para al:m da e7igência de seguro deresponsabilidade civil para os operadores ;ue e7erçam actividades envolvendo risco
anormal para os interesses protegidos pela presente lei art6 $06VK" entre os ;uais sedestaca" como : sabido" o interesse na tutela ambiental63 <e8erimo-nos a ARC' P+<+I<A DA RILA, c8r6 Qerde Cor de Direito" cit6" p6 $1%6
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pelos diversos preceitos ;ue o desenvolveram ao nível processual civil c8r6 art6
$/6V-A do CPC" onde se re8erem as associaç>es e 8undaç>es de8ensoras dos
interesses em causaK" no Qmbito processual administrativo o n6V $ do art6 #6V
do CP*A usa e7actamente a mesma 84rmulaK e na lei regulamentadora do
direito a Lei n6V ![2#_" de [ de Agosto" ;ue alude no n6V do seu art6 $6V 9s
associaç>es e 8undaç>es de8ensoras dos interesses previstosK6 *odavia" a
legislação ordin=ria 8oi mais longe do ;ue a norma constitucional M porventura
longe de maish M sendo o direito alargado 9s autar6uias locais tanto nas
normas citadas do CPC como do CP*A e tamb:m na lei de acção popular n6V $
do art6 $6VK e" numa opção ;ue nos parece particularmente duvidosa" 9
pr4pria magistratura do inist:rio PEblico" nas normas mencionadas dos doisc4digos processuais re8eridos6
&ão sendo este o momento nem o local para desenvolver as opç>es
legislativas em sede de acção popular" pretendemos apenas e7empli8icar a
utili(ação do instituto ao nível das acç>es de responsabilidade" desiderato
para o ;ual recorreremos ao Ac4rdão do R*A de %#6$6$%%! Processo n6V
%12%!K" relativo 9 propositura de uma acção em processo ordin=rio ao abrigo
do direito de acção popular, em Celorico de asto" A e " casados"demandaram C pedindo ;ue este" en;uanto r:u" 8osse condenado a
recon3ecer um determinado camin3o como 8a(endo parte do domínio
pEblico e" nessa medida" obrigado a abster-se de perturbar o domínio pEblico"
a retirar uma ramada com arames" 8erros e videiras aí colocada ocupando o
espaço a:reo do camin3o pEblicoK e a renunciar 9 pr=tica de ;uais;uer
actos ;ue constituam 8orma de perturbação do domínio pEblico6
Apesar de" tamb:m a;ui" o pedido ter decaído por ra(>es 8ormais ;ue não
permitiram ao tribunal entrar na apreciação do 8undo da ;uestão" pelo menos
no Qmbito dos trQmites processuais 5= cumpridos[$" não dei7am de ser tecidas
consideraç>es relevantes sobre a legitimidade processual activa, na verdade"
3$ +m concreto" o *ribunal Judicial de Celorico de asto declarou-seincompetente por estar em causa uma rela!"o ur+dica administrativa" absolvendo or:u da instQncia todavia" o *ribunal Administrativo e Fiscal de raga considerou-seigualmente incompetente" pelo ;ue a ;uestão ;ue o Rupremo 8oi c3amado a dirimir
nada teve a ver com a pretensão substancial dedu(ida nem" por isso" com a eventualresponsabilidade ambiental do r:u" circunscrevendo-se a determinar se paraapreciação da acção : competente a 5urisdição comum ou a administrativa6
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pode ler-se no douto ac4rdão ;ue os autores" ao utili(arem a via da ac!"o
oular " actuaram a título individual visando a salvaguarda de um bem ;ue
consideram pEblico" no caso um camin3o ;ue" abusivamente" est= sendo
ocupado pelos <<6 ;ue impedem a comunidade de 8ruir esse bem"
argumentando ainda ;ue o ob5ecto da acção popular :" antes de mais" a
defesa de interesses difusos6
&ão obstante" e mau grado o recon3ecimento da cone7ão da mat:ria
litigiosa com o interesse pEblico e a de8esa de interesses di8usos ;ue a acção
postula" o R*A não considerou ;ue estivesse em causa uma relação de
nature(a administrativa M nem ;uanto aos su5eitos" nem ;uanto ao ob5ecto6
Pelo contr=rio" lê-se no ac4rdão ;ue A pretensão do Autor : e7ercida contra
um particular" visando a de8esa do ;ue considera um bem do domínio pEblico
aut=r;uico" mas esse 8acto não permite ;ue se ;uali8i;ue a relação 5urídica
como administrativa" o ;ue e7clui" desde logo" a competência da 5urisdição
administrativa" pelo ;ue" e em con8ormidade" 8oi considerada competente
para o con3ecimento da acção" em ra(ão da mat:ria" a 5urisdição comum6
De todo o modo" e em relação ao ;ue nos interessa" n"o foi levantada
6ual6uer reserva em rela!"o L legitimidade dos autores nem" portanto" 9
legitimidade popular como título 8undamentador do acesso ao direito e aos
tribunais para este e8eito" a;ui no plano das relaç>es entre particulares6
6. re/e a!ontaento sore al=uns re&le@os do re=ie do Decreto-Lei n.HE34122< de 1 de Jul0o< no tea tratado
6.E. "ntendiento es!ecí&ico da no:;o de res!onsailidade e sua articula:;oco o !ressu!osto !rocessual da le=itiidade
' cote5o ainda ;ue sum=rio do Decreto-Lei n6V 012$%%! M em particular do seu
art6 06V M revela-nos ;ue estamos perante um diploma legal ;ue vai muito
para al:m da mat:ria da responsabilidade se entendermos ;ue a noção de
prevenção" 9 ;ual o te7to normativo atribui um enorme protagonismo" não
cabe no Qmbito da responsabilidade civilK ou" em alternativa" ;ue temos de
entender a noção de responsabilidade em sentido amplo" abrangendo a
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prevenção de danos ambientais ou" ainda" ;ue est= em causa uma
responsabilidade independente da veri8icação de um dano[[6
Rem nos ;uerermos debruçar sobre o en;uadramento conceptual esistem=tico do diploma" : indubit=vel ;ue se consagrou nele M em
con8ormidade com o regime contido na Directiva M uma no!"o aml+ssima de
resonsabilidade civil" em 8unção da multi-dimensionalidade da
responsabilidade civil ambiental" a ;ue aludimos no início do presente escrito6
O evidente ;ue o diploma prevê medidas de reara!"o a tomar em caso de
ocorrência de danos ambientais M as ;uais" de acordo com o art6 _6V" incidem
sobre o operador respons=vel" ;ue deve in8ormar" adoptar de imediatomedidas para controlar" conter" eliminar ou gerir os elementos contaminantes
e adoptar as medidas de reara!"o necess=rias6 edidas de reparação ;ue
podem at: ser impostas pela Agência Portuguesa do Ambiente APAK" nos
termos das als6 cI e dI do n6V [ deste art6 _6V e do n6V $ do art6 /6V ou por ela
subsidiariamente e7ecutadas al6 fI do mesmo art6 _6V" n6V [ e art6 16VK6
+m todo o caso" o acento t4nico : colocado nas medidas de reven!"o
art6 06VK e na auto-responsabilidade do operador" ;ue tem deespontaneamente adoptar estas medidas preventivas n6Vs e $ do art6 06VK
as ;uais" se tal não acontecer" podem ainda ser impostas pela APA n6V _K6
Para al:m do protagonismo da reven!"o na nova disciplina da
responsabilidade por danos ambientais" o art6 #6V :" em nosso entender" uma
disposição bastante relevante para se entender o ;ue exactamente se
entende or resonsabiliBa!"o neste regime, : semre o oerador ;uem
suporta os custos das medidas de prevenção e reparação ;ue ten3am de sertomadas na se;uência da veri8icação de ameaças iminentes de danos
ambientais ou da e8ectiva ocorrência de tais danos6 Re5a atrav:s da autoria
da pr=tica das medidas de prevenção e de reparação e7igidas n6V K" por
interm:dio da recuperação" por parte da autoridade competente" do
pagamento dos custos ;ue ten3a suportado com tais medidas atrav:s de
3[ Parece ser esse o entendimento de CA<LA AAD' )'+R" Autora ;ue re8ere" aeste prop4sito, &a lin3a da directiva" o %%PDE assenta numa comreens"o alargada
de resonsabilidade" isto :" indeendente da verifica!"o de um dano it=licosnossosK o ;ue se 5usti8ica em nome do rinc+io da reven!"o, c8r6 A responsabilidadecivil por dano ecol4gicoh" cit6" p6 0%6
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garantias sobre bens im4veis ou de outras ;ue se revelem ade;uadas" tudo
nos termos do n6V $K" se5a ainda pelo 8inanciamento atrav:s da garantia
8inanceira seguros" garantias banc=rias" participação em 8undos ambientais
ou constituição de 8undos pr4prios reservados para o e8eitoK ;ue os
operadores ;ue e7erçam actividades ocupacionais elencadas no ane7o III
obrigatoriamente constituem n6V _ do mesmo art6 #6V e art6 $$6VK" dever= ser
sempre o patrim4nio do operador a ser onerado com a pr=tica das medidas
de prevenção e reparação6
&o ;ue 9 articulação destas especi8icidades do novo regime com o
pressuposto da legitimidade se re8ere" deve assinalar-se ;ue as pessoas ou
entidades legitimadas M nomeadamente os actores populares M est=-lo-ão
a;ui num sentido di8erente" de assumirem a responsabilidade por
desencadear a tutela 5urisdicional" sempre ;ue esta se revele necess=ria" para
tutela do dano pEblico ecol4gico" mas com a consciência de ;ue o seu
ressarcimento passar= pela adopção de medidas preventivas e"
subsidiariamente" de reparação6 +st= sempre em causa a reintegração ou
ressarcimento do dano ecol4gico" dei7ando de 8a(er sentido a propositura da
acção com vista 9 obtenção de uma indemni(ação pecuni=ria6
&as situaç>es em ;ue 3a5a necessidade de arbitramento de uma
indemni(ação" por impossibilidade de reintegração do dano por interm:dio
das medidas de prevenção e de reparação" o destino dessa indemni(ação
ter= sempre de ser o Fundo de Intervenção Ambiental, nomeadamente no
caso de os autores se verem 8orçados a pedir a e7ecução por terceiro ou a
e7ecução para pagamento de ;uantia certa" essa ;uantia reverter= para o
Fundo de Intervenção Ambiental" con8orme disp>e o artigo /V" n6V " al6 dI" do
Decreto-Lei n6V _%2$%%!" de [% de Jul3o[06
Para re8orçar esta compreensão : 8undamental notar ;ue as medidas de
reara!"o a tomar em caso de veri8icação de um dano ecol4gico se devem
tradu(ir" em primeiro lugar" numa reara!"o rimJria ou" não sendo esta
30 Como nota CA<LA AAD' )'+R" tamb:m a Directiva c8r6 o artigo [V" n6V [" e o
Ane7o II6" pontos 6dK e 66[6K e7clui do seu Qmbito a reparação de danos pessoais epatrimoniais" vedando pura e simplesmente a entrega de ;uantias pecuni=rias aparticulares, c8r6 A responsabilidade civil por dano ecol4gicoh" cit6" p6 [/6
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possível" numa reara!"o comlementar [_" s4 se recorrendo 9 reara!"o
comensat&ria em Eltima instQncia6 + mesmo esta Eltima não consiste numa
indemni(ação em din3eiro mas antes em ;ual;uer acção destinada a
compensar perdas transit4rias de recursos naturais e ou de serviços veri8icadas
a partir da data de ocorrência dos danos at: a reparação prim=ria ter
atingido plenamente os seus e8eitos al6 cI do ponto do Ane7o K M sendo o
legislador claro ;uando di(" no mesmo ane7o ponto 66[6K" a prop4sito dos
ob5ectivos da reparação compensat4ria" ;ue ela &ão consiste numa
compensação 8inanceira para os membros do pEblico" podendo recorrer-se
ao m:todo da valoração monet=ria apenasK para determinar a e7tensão
das medidas de reparação complementares e compensat4rias necess=rias"podendo a autoridade competente escol3er medidas de reparação cu5o
custo se5a e;uivalente ao valor monet=rio estimado dos recursos naturais e ou
serviços prestados tudo no ponto 6$6[6 do mesmo Ane7oK6
6.1. A le=itiidade !ara a a!resenta:;o de !edidos de inter/en:;o
Apesar de termos tido sempre por pano de 8undo a legitimidade rocessual
para a propositura de acç>es de responsabilidade" a verdade : ;ue" aoabrigo do novo regime da responsabilidade ambiental" o ;ue 9 partida estar=
em 5ogo não ser= esta legitimidade M no sentido cl=ssico de titularidade do
direito de acção 5udicial para a propositura de acç>es ;ue" sendo de
responsabilidade" e7igiriam em princípio a titularidade da relação material
controvertida M mas sim a legitimidade para a denEncia de ameaças ou de
ocorrências de danos ambientais" ou se5a" a legitimidade para a colaboração
do cidadão com a Administração no sentido de au7iliar esta na sua tare8a deprossecução da 8inalidade colectiva e pEblica de tutela ambiental6
A este respeito" : particularmente pertinente a norma contida no art6 !6V
do Decreto-Lei n6V 012$%%!, de acordo com o n6V " todos os interessados
3_ De acordo com as alíneas aI e bI do ponto 6 do Ane7o " respectivamente" a reara!"o rimJria consiste em ;ual;uer medida de reparação ;ue restitui osrecursos naturais e ou serviços dani8icados ao estado inicial" ou os apro7ima desseestado e a reara!"o comlementar em ;ual;uer medida de reparação tomada
em relação aos recursos naturais e ou serviços para compensar pelo 8acto de areparação prim=ria não resultar no pleno restabelecimento dos recursos naturais e ouserviços dani8icados6
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podem apresentar 9 autoridade competente observaç>es relativas a
situaç>es de danos ambientais" ou de ameaça iminente desses danos hK e
tm o direito de edir a sua interven!"o hK it=licos nossosK" de8inindo-se no
n6V $ a no!"o de interessado" isto :" das pessoas legitimadas para 8ormularem
pedidos de intervenção, ;ual;uer pessoa singular ou colectiva ;ue se5a ou
possa vir a ser a8ectada por danos ambientais al6 aIK" ;ue ten3a um interesse
su8iciente no processo de decisão ambiental relativo ao dano ambiental ou 9
sua ameaça iminente al6 bIK ou ;ue invo;ue a violação de um direito ou de
um interesse legítimo protegido al6 cIK6 A este elenco deve ainda aditar-se
;ual;uer cidadão ou '&)A M e" de acordo com os dados do direito positivo a
este prop4sito 5= abordados no presente trabal3o" tamb:m as autar;uiaslocais e o inist:rio PEblico M no e7ercício do direito de acção popular6
&o 8undo" toda a sociedade civil deve colaborar com os 4rgãos pEblicos
incumbidos da tutela ambiental no sentido de estes desempen3arem as suas
tare8as neste domínio e imporem ao operador-poluidor a adopção das
medidas preventivas e de reparação ;ue se mostrem necess=rias" ade;uadas
e pertinentes" no caso das medidas reparadoras sempre com pre8erência pela
reparação prim=ria" nos termos 5= vistos6 ' n6V / do mesmo art6 !6V :" a esteprop4sito" claro" estipulando ;ue a autoridade competente depois de ouvir o
operador em causa e a autoridade de saEde territorialmente competente"
;uando este5a em causa a saEde pEblicaK decide as medidas a adoptar nos
termos do Decreto-Lei em ;uestão6
)os& 6duardo Fi!ueiredo Dias
estre em Direito
Assistente da Faculdade de Direitoda .niversidade de Coimbra
oltar ao Yndice
!0%
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Organiza!o de "arla Amado #omes e $iago Antunes
"om o patroc%nio da Funda!o Luso&Americana para o Desenvolvimento
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