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Resenha sobre a evoluo histrica do Direito do Trabalho
Bibliografia: Curso de direito do Trabalho, Delgado, Mauricio Godinho, 11 Edio, So Paulo
LTr,2002.
O Direito do Trabalho constitui um complexo coerente de institutos, como qualqueroutro do ramo jurdico, com princpios e normas jurdicas, que resulta de um determinado
contexto histrico especfico. Para cada ramo necessita uma representao, uma categoria
central para tal ramo, o que se chama de relao empregatcia. Em que o trabalho livre um
pressuposto do trabalho subordinado (no se poderia falar em trabalho livre na Histria do
Direito do Trabalho sem antes haver a noo de trabalho subordinado e at trabalho escravo
como nos primrdios da histria revelam para ns).
Seu pressuposto histrico-material (trabalho livre) do elemento nuclear da relao
empregatcia (trabalho subordinado) somente surge, na Histria Ocidental, como elemento
relevante, a contar da Idade Moderna. De fato, apenas a partir de fins da Idade Mdia ealvorecer da Idade Moderna, verificaram-se processos crescentes de expulso do servo da
gleba, rompendo-se as formas servis de utilizao da fora de trabalho. Esse quadro lanaria
ao meio social do trabalhador juridicamente livre dos meios de produo e do proprietrio
desses meios.
O elemento nuclear da relao empregatcia (trabalho subordinado) somente surgiria,
entretanto, sculos aps a crescente destruio das relaes servis. Entretanto ao meu ver, as
relaes servis j eram um exemplo claro desse trabalho servil da forma mais primordial e
anterior que se possa pensar, o trabalho escravo, apesar de no ser regulado, havia regras,
deveres, apesar de no existir uma relao de direitos a tais subordinados, mas a partir destemomento que se veem apenas deveres e no de direitos, sendo neste ponto que a sociedade
comea a buscar tais direitos.
No perodo da Revoluo Industrial que esse trabalhador seria reconectado, de
modo permanente, ao sistema produtivo, atravs de uma relao de produo inovadora,
hbil a combinar liberdade (ou melhor, separao dos meios de produo e seu titular) e
subordinao. Essa separao vista quando no se v mais somente o trabalhador como um
maquinrio, surgindo tambm conceitos como renda, lucro, que fazem tanto o empregador
como o empregado saberem de tal forma cada funo e diviso de seu trabalho. O trabalhador
separado dos meios de produo (portanto juridicamente livre), mas subordinado no mbitoda relao empregatcia ao proprietrio (ou possuidor, a qualquer ttulo) desses mesmos
meios produtivos eis a nova equao jurdica do sistema produtivo dos ltimos sculos.
Entretanto deve-se analisar de forma fria que mesmo tendo essa ideia de subordinao
superada, o trabalhador ainda subordinado de diversas formas, seja por meio de leis que
determinam sua jornada de trabalho, as condies impostas pelo mercado ou at mesmo pelo
capitalismo que transforma a autonomia de tais trabalhadores e at mesmo de proprietrios
em uma falcia.
Nos primrdios a relao empregatcia, como categoria socioeconmica e jurdica, tem
seus pressupostos despontados com o processo de ruptura do sistema produtivo feudal, aolongo do desenrolar da Idade Moderna. Contudo, apenas mais frente, no desenrolar do
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processo da Revoluo Industrial, que ir efetivamente se estruturar como categoria
especifica, passando a responder pelo modelo principal de vinculao do trabalhador livre ao
sistema produtivo emergente. Somente a partir desse ultimo momento, que a relao
empregatcia comear seu roteiro de construo de hegemonia no conjunto das relaes de
produo fundamentais da sociedade industrial contempornea. Esse instante de hegemonia
de generalizao e massificao da relao de emprego no universo societrio somente se
afirma com a generalizao do sistema industrial na Europa e Estados Unidos da Amrica, ao
longo do sculo XIX.
Mas deve ficar atento que essa hegemonia se deu de forma to superficial que o
Capitalismo e a onda de lucros maantes e globalizao fizeram o empregador mais uma vez se
autoafirmar perante o trabalhador, como o dono da relao de trabalho, tratando assim o
trabalhador como uma mquina operante, somente com a mudana de que ele gerado no
mais pela obrigatoriedade de realizar tal trabalho como na Idade Mdia, mas sim
influenciado e gerado pela sociedade consumista e corporativista do homem, trabalhador, que
utiliza sua fora de trabalho para em troca realizar consumos gerados pelo prprio
empregador, muitas vezes, consumos suprfluos e influenciados pela mdia e pela prpria
sociedade a teoria do trabalho para consumir cada vez mais, no estando satisfeito com
sua posio econmica nem social.
O processo de formao e consolidao do Direito do Trabalho nos ltimos dois
sculos conheceu algumas fases que tem caractersticas distintas entre si. Os principais autores
dividem a formao do Direito do Trabalho em fases.
Sendo a fase da formao, que estende de 1802 a 1848, tendo seu momento inicial no
Peels Act, na Inglaterra, que trata basicamente de normas protetivas, que qualifica-se pela
existncia de leis dirigidas to somente a reduzir a violncia brutal da superexplorao
empresarial sobre mulheres e menores, com leis de carter humanitrio, mas sem a presena
de uma dinmica de construo de normas com forte induo operria, j que inexistia na
poca uma unio operria com significativa capacidade de presso e eficaz capacidade de
atuao, que ao meu ver ainda reduzida, j que no h uma unidade entre tais trabalhadores
e suas classes e usualmente se v que tais organizaes como sindicatos, visam um ganho
lucrativo em prol de tais trabalhadores.
A segunda fase (da intensificao) situa-se entre 1848 a 1890, tendo como marcos
iniciais, o Manifesto Comunista, de Marx e Engels, de 1848 e na Frana, com os resultados da
revoluo de 1848, como a instaurao da liberdade de associao e a criao do Ministrio do
Trabalho, com nfase na qualidade dos trabalhadores como sujeito coletivo tpico alm das
revindicaes dos trabalhadores urbanos, alm de na Frana haver o reconhecimento do
direito de associao e greve e a fixao da jornada de 10 horas em 1849, aps o movimento
cartista de massas verificado no ano anterior.
A terceira fase, da consolidao, estende-se de 1890 a 1919. Seus marcos iniciais so,
a Conferncia de Berlim (1890), que reconheceu uma srie de direitos trabalhistas, e a
Encclica Catlica Rerum Novarum (1891), que tambm faz uma referncia necessidade de
uma nova postura das classes dirigentes perante a chamada questo social, com a
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necessidade de com a unio dos Estados de se regular o mercado de trabalho, com a edio de
normas trabalhistas diversificadas na realidade de cada pas.
A quarta e ultima fase, da autonomia do Direito Do trabalho, tem inicio em 1919,
estendendo-se s dcadas posteriores do sculo XX. Suas fronteiras iniciais estariam no que
reside no processo da Primeira Guerra Mundial e seus desdobramentos, como a criao da OIT(1919) e pelas Constituies do Mxico (1917) e da Alemanha (1919), pioneiras nas inseres
em texto constitucional de normas nitidamente trabalhistas ou, pelo menos, no processo
jurdico fundamental de constitucionalizao do Direito do Trabalho. Esta fase tem o foco da
institucionalizao ou oficializao do Direito do Trabalho, produzindo a constitucionalizao
do Direito do Trabalho;
Finalmente a legislao autnoma ou heternoma trabalhista ganha larga conscincia
e autonomia no universo jurdico do sculo XX, incorporando a matriz das ordens jurdicas dos
pases desenvolvidos democrticos, em que de um lado a dinmica de atuao coletiva por
parte dos trabalhadores, que permitiu aos trabalhadores a negociao coletiva, a produo
autnoma de normas jurdicas e de outro lado, a estratgia de atuao oriunda do Estado,
conducente produo heternoma de normas jurdicas.
E finalmente, nas dcadas seguintes Segunda Guerra Mundial, com o
aprofundamento do processo de constitucionalizao do Direito do trabalho e hegemonia do
chamado Estado de Bem-Estar Social, em que as Constituies de alguns pases como Frana,
Itlia, Alemanha e depois Portugal e Espanha, no s incorporariam normas justrabalhistas,
principalmente diretrizes gerais de valorizao do trabalho e do ser humano que labora
empregaticiamente para outrem, alm de incorporarem princpios, constitucionalizando-os,
fixando princpios gerais de clara influencia na rea laborativa (como os da dignidade humana
e da justia social). Mas deve-se ficar atento ao contexto histrico, que a necessidade de
reestruturao dos pases envolvidos na Segunda Guerra Mundial, e a devida compensao
pelas perdas de diversos pases, como forma de incentivo para tais trabalhadores a se
reestruturarem para auxiliar na reforma de tais pases, bem como a necessidade de consumo
de tais trabalhadores que para tal necessitam estar empregados e aceitarem tal condio, j
que se estava em uma poca de rebelies e at de nimos exaltados devido guerra, logo
como forma tambm de incentivar os grandes empregadores a construo de novas empresas
para expandir mercado e arrecadar tributos e impostos para o Estado.
O Direito do Trabalho no apenas serviu ao sistema econmico deflagrado com a
Revoluo Industrial, no Sculo XVIII, na Inglaterra; na verdade, ele fixou controles para esse
sistema, conferiu-lhe certa medida de civilidade, inclusive buscando eliminar as formas mais
perversas de utilizao da fora de trabalho pela economia.
J no Brasil, o primeiro perodo significativo, estende-se de 1888 a 1930, identificando-
se sob a fase de manifestaes incipientes ou esparsas, em que a relao empregatcia se
apresenta, de modo relevante, apenas no seguimento agrcola cafeeiro e a emergente
industrializao experimentada na capital Paulista e no Distrito Federal (na poca Rio de
Janeiro), com um movimento operrio sem profunda e constante capacidade de organizao e
presso, tambm inexistindo uma dinmica legislativa intensa e contnua por parte do Estado
em face da chamada questo Social. Neste perodo tambm se destaca pelo surgimento ainda
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assistemtico e disperso de alguns diplomas ou normas justrabalhistas, associados a outros
diplomas que tocam na questo social.
O segundo perodo no Brasil ser a fase de institucionalizao ou oficializao, tendo
como marco inicial 1930, firmando a estrutura jurdica e institucional de um novo modelo
trabalhista at o final da ditadura getulista (1945). Tal fase se estende a tal situao da questosocial, com um conjunto de aes diversificadas, nitidamente combinadas, de um lado atravs
de rigorosa represso sobre quaisquer manifestaes autonomistas do movimento operrio;
de outro, atravs da minuciosa legislao instaurando um novo e abrangente modelo de
organizao do sistema justrabalhista estreitamente controlado pelo Estado, j que baseado
na ditadura e na represso de toda uma sociedade.
Essa evoluo sofreu pequeno e pouco consistente interregno de menos de dois anos,
advindos com o texto Constitucional de 1934, onde voltou a florescer maior liberdade e
autonomia sindicais (a prpria pluralidade sindical foi acolhida por esta constituio).
Entretanto logo imediatamente o governo federal retomou seu controle pleno sobre as aes
trabalhistas, atravs do estado de stio de 1935, dirigido preferencialmente s lideranas
polticas e operrias adversrias da gesto oficial, mais ainda pois o governo federal pode
eliminar qualquer foco de resistncia sua estratgia poltico-jurdica, firmando solidamente a
larga estrutura do modelo justrabalhista, cujas bases iniciara logo aps o movimento de
outubro de 1930. Em que o sindicato se tornou objeto de normatizao do Estado, em que
inviabilizou a pratica de um sindicato com o dito sindicato oficial (regido pelo Estado).
Outra rea de desenvolvimento da poltica trabalhista em que criou-se um sistema de
soluo judicial de conflitos trabalhistas, inicialmente, mediante a criao das Comisses
mistas de conciliao e julgamento, em que s poderiam demandar os empregados
integrantes do sindicalismo oficial, que novamente uma forma de o Estado comandar e
direcionar parcela da classe trabalhista. Com a Constituio de 1937 (no aplicada) referindo-
se a uma justia do trabalho, induziria alguns anos aps, ao aperfeioamento do sistema,
medida que elevava seu patamar institucional, e por fim regulada em 1939, por meio de
decreto lei.
O sistema previdencirio, tambm de formao corporativa, vinculado s respectivas
reas profissionais e aos correspondentes sindicatos oficiais, comeou a ser estruturado aps
1930, do mesmo modo que as demais instituies trabalhistas. A estruturao se deu a partir
da ampliao e reformulao das antigas caixas de aposentadoria e penses, e em 1931 pelo
decreto lei, o novo governo promoveu a primeira reforma ampliativa do anterior sistema
previdencirio, firmando, contudo, a categoria profissional como parmetro, que abrangeu
novas categorias especificas e tendo mbito nacional. Tambm com a ampliao da legislao
profissional e protetiva, com alguns diplomas justrabalhistas, como a regulao do trabalho
feminino, jornada de 8 horas para comercirios, que depois seriam entendidos como
industririos, criao das carteiras profissionais, estabelecimento de frias para os bancrios,
entre outros.
E por ultimo a poltica oficial tendente a implantar um modelo trabalhista
corporativista e autocrtico da poca, como as aes na Lei de Nacionalizao do Trabalho,
reduzindo a participao de imigrantes no segmento obreiro do pais, incentivos ao
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sindicalismo oficial, que seriam transformados logo aps em expresso monoplio jurdico de
organizao, atuao e representao sindical. E por quase todo perodo getulista, uma
continua e perseverante represso estatal sobre as lideranas e organizaes autonomistas ou
adversas obreiras. Este modelo estruturado, anos aps se tornou um nico diploma normativo,
a Consolidao das Leis do Trabalho (1943), que apesar da nomeao de consolidao,
tambm alterou e ampliou a legislao trabalhista existente, assumindo natureza prpria a um
cdigo do trabalho.
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