pizza hurt

Post on 13-Feb-2016

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em fósforos molhados

não posso buscar

combustão

dali pulei o muro do prédio que por dias vigiava,

e avancei pelos andares até a janela do quarto de dormir.

sabia ser uma obsessão, mas eu era obsessivo.

parei de pensar e joguei a mão pelo

parapeito de meu alvo.

eu só comia pizza fria

leite gelado

ligava e escrevia

nunca a encontrava

nunca

ao telefone

facebook

instagram

foursquare

sequer para baixar

telegramas fonados

de diversas madrugadas

doente.

cansado.

o vento às costas

vibrava no ouvido.

o betume então

me tragou,

e segundos escorreram

até que me fizesse eu-piche,

contra a lua nova

que a tudo

emplastrava.

com as mãos

lanhadas,

forcei o ferrolho

e a janela se abriu.

meus olhos logo localizaram

a fresta iluminada da porta do banheiro.

doente.

ouvia entao a água correndo

e ouvia muitas coisas,

água sobre água,

banho há dias que não tomava.

ela nunca atendia o telefone

e eu sabia

haver um deles no banheiro,

ao lado da banheira

tantos banhos.

juntos.

sozinho.

cansado.

ela estava, eu já sabia,

vigiava a casa ha vários dias,

todo aquele corpo sob a minha língua

meu nariz meus olhos meus ouvidos,

eu sabia tantas e tantas

outras de depois de horas

eu no telhado do prédio a espreitar

meus olhos dia e noite

o entregador de pizza e você,

pelas ruas, nunca ao telefone,

eram vermelhos os telefones públicos,

e agora ela do outro lado da porta

pela fresta eu sei.

a luz amarela refletia

nos azulejos e por todo lado

mas era o vermelho

que transbordava.

os cabelos flutuavam

e escondiam seu rosto.

doente.

chutei o telefone e comprimidos até o ralo.

ela estava lá, morta

e então eu morria também.

pizza fria,

telhado do meu prédio,

vento às minhas costas

e eu morria também.

je t’aimaisje t’aime

je t’aimerai

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