país precisa de técnicos precisa... · 2020-05-27 · país precisa de técnicos por josé...
Post on 17-Jul-2020
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Artigo
País precisa de técnicos
Por José Pastore*
Um empresário que está construindo uma refinaria de petróleo no nordeste ficou desesperado ao constatar que
a empresa contratante lhe "roubou" 50% dos seus melhores funcionários, desde mecânicos e eletricistas até mestres de obras e engenheiros.
A pilhagem está em toda parte. Até mesmo as redes de hotéis só conseguem pessoal qualificado quando tiram de outras - um alerta aos organizadores dos eventos esportivos de 2014 e 2016. Nas montadoras de veículos, os aposentados estão de volta ao trabalho. Não há jovens suficientemente treinados.
A falta de mão de obra qualificada é um fato inquestionável. Segundo pesquisa da CNI, dois terços dos empresários brasileiros estão com dificuldades para preencher os cargos disponíveis . Os salários não param de subir. Observa-se um
' ' Nunca as empresas patrocinaram tantos cursos como nos dias atuais ''
descasamento entre aumentos salariais e ganhos de produtividade, o que é grave para o desempenho das empresas, dos investimentos e dos empregos do futuro.
Muitas firmas já buscam candidatos nos bancos das universidades ou das escolas técnicas. Mesmo assim, a maioria os coloca em treinamento após a contratação. Nunca as empresas patrocinaram tantos cursos como nos dias atuais. As
22 DEZEMBRO 2011 Revista FATOR
universidades corporativas se proliferam e mantém treinamentos no Brasil e no exterior. O país investiu pouco e mal na formação profissional.
A falta de mão de obra já atinge os não qualificados. Nas lavouras de café, falta gente para a colheita. Na construção civil, está difícil conseguir serventes. Até empregadas domésticas estão diminuindo. Enfim, o Brasil deixou de ser um país de mão de obra abundante e· barata. Não fora o alto grau de informalidade que ainda reina no país, estaríamos na situação de pleno emprego.
O que será do futuro? Podemos sustentar uma alta taxa de crescimento nessas condições?
Sim e não. Pela natureza da nossa economia - fortemente baseada em agricultura, commodities e construção civil - continuarão numerosos os grupos dos pouco qualificados. Mas isso está mudando. As exigências de qualificação nesses setores aumentam a cada dia. O avanço tecnológico no agronegócio, mineração, energia, portos, estradas, comunicação e logística demanda novos conhecimentos. Nos dias de hoje, um cuidador de aviário ou um armador de concreto têm de dominar técnicas que eram desconhecidas há dez anos. Isso vale para inúmeras profissões. Em 2025, uma grande parte dos nossos trabalhadores lidará com técnicas que ainda nem foram criadas.
Os setores de ponta demandam talentos raros, muitos inexistentes. Pouco interessa saber que o Brasil possui 600 mil engenheiros registrados. É preciso saber quantos dominam as modernas tecnologias nos setores indicados. Os diretores de escolas de engenharia dizem que isso ocorre apenas com 20% dos que se formam, sendo difícil converter para as novas exigências os engenheiros que, no tempo das vacas magras, enveredaram para os campos do mercado financeiro, da administração
outras empresas amargar. É o caso da Miro Construtora, do engenheiro André Roemer que desde 2008 tenta driblar o entra-e-sai de operários e mestre de obras para a construção de uma sinagoga na Av. 9 de Julho, em São Paulo.
E complementa: "Os estaleiros prometem, mas em sete anos não entregaram nenhum navio de carregamento de petróleo e a produção ancorada vai se perder. O país não se preparou e quer dar o pulo do gato. O canto nacionalista cai bem mas nem em trinta anos vamos nos igualar à Noruega".
O boom da construção civil drenou a mão de obra e Roemer foi obrigado a enxugar a empresa, que tinha 600 empregados.
Hoje são dois engenheiros e um mestre de obras e sempre que pode substitui o operariado pela estrutura metálica ou pré-fabricada. "Penso duas vezes antes de pegar uma obra. Não posso crescer. Tercerizo operários e a obra que não controlo pode sair caro" diz Roemer.
"Os erros em construção são grosseiros, os peritos nunca ganharam tanto dinheiro com fachadas que caem, paredes que vazam". Roemer já pensou em acabar com tudo, partir para o Canadá. "O Brasil tem sindicato canadense e mão de obra de Uganda, ninguém aguenta as leis trabalhistas e a falta de eficiência que aumenta enquanto os salários sobem".
Para Roemer, técnica nem é o mais importante. "Com treino, o profissional pega, difícil é a qualidade cognitiva, entender uma ordem, preciso traduzir do português para o português".
O Petróleo É Nosso - apregoava já em 1954 a chanchada de Watson Macedo - mas um empresário de peso da área de petróleo, que prefere não se identificar, conta as agruras das descobertas de reservas do pré-sal e da dificuldade de formar equipe sabendo que será "roubada". A empresa dele tem 1.100 funcionários e ele não sabe onde buscar 400 a mais em 2012. O Brasil pode mudar de patamar, mas o atropelo para tirar casquinha das oportunidades causa estragos.
Engenheiro
André Roemer,
da Miro
Construtora
Revista FATOR DEZEMBRO 2011 21
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