os desafios da escola pÚblica paranaense na … · É no âmbito escolar que ocorrerá essa...
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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
A REPORTAGEM NA SALA DE AULA: UMA CONTRIBUIÇÃO AO TEXTO
ESCRITO NO AMBIENTE ESCOLAR
Autora: 1Dulcinéa Maria Silveira Sobrinho Bono
Orientador: 2Me. Carlos da Silva
RESUMO
Este artigo é resultante de experiências e resultados obtidos na realização do Projeto de Intervenção
Pedagógica do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE), da Secretaria de Estado da Educação
do Paraná, implementado no Colégio Agrícola Estadual do Noroeste, com os alunos do 1º Ano do Ensino
Médio Profissionalizante. O objetivo geral do projeto foi desenvolver nos alunos habilidades para
a leitura, a partir do gênero textual Reportagem. Com esse propósito, os alunos foram postos
em diferentes situações de comunicação, a fim de que pudessem apreender os diversos
sentidos permitidos pelos textos lidos. Consubstanciado pelas transformações da sociedade,
através da apropriação da escrita, o ensino da Língua Portuguesa também se transformou, ao
adotar os gêneros textuais como proposta de ensino da língua materna, em atenção à Lei Nº
9.394/95 e à implantação das Diretrizes Curriculares para a Educação Básica, no Estado do
Paraná, e seus apontamentos relativos aos diversos gêneros que circulam nos meios de
comunicação. Considerando as interações dos alunos com a Internet, e contrapondo-se com a
resistência que eles têm para com o ato de ler no ambiente escolar, alguns temas foram
buscados em jornais e revistas, auxiliando, dessa forma, as estratégias de leitura que tinham
na estrutura da Reportagem a finalidade de propiciar aos alunos a leitura crítica dos textos e da
realidade que os envolve, permitindo-lhes, ainda, a produção de reportagens individuais, cuja
temática estavam direcionadas para situações vivenciadas no ambiente da escola e da
comunidade escolar como um todo. A contribuição teórica fundamentou-se em SOLÉ (1998);
LOPES-ROSSI (2008); COLOMER (2002); DOLZ; NOVERRAZ; SCHNEUWLY (2004); FARIA
(1994), dentre outros.
Palavras-chave: Gênero textual; Reportagem; Leitura.
_________________________ 1. Graduada em Letras pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Presidente Venceslau e
especialista em Língua Portuguesa Pela Faculdade Estadual de Educação Ciências e Letras de Paranavaí.
Professora de Língua Portuguesa do Colégio Agrícola Estadual do Noroeste, em Diamante do Norte –
PR.
2. Mestre em Teoria da Literatura e Literatura Comparada pela UNESP. Professor Adjunto do Colegiado
de Letras da UNESPAR – Campus de Paranavaí.
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1. INTRODUÇÃO
Este artigo é o resultado de algumas observações sobre a necessidade de
introduzir-se no cotidiano escolar o trabalho com os gêneros textuais – caso específico
da Reportagem – que estivessem mais próximos da realidade dos alunos .
Dessa forma, o trabalho com alunos do 1º Ano do Colégio Agrícola Estadual do
Noroeste possibilitou aos alunos o contato imediato com a Reportagem, gênero ainda
pouco estudado e explorado nos livros didáticos.
Preocupados com a formação dos alunos quanto à leitura eficiente e a produção
de diferentes tipos de textos, os professores de Língua Portuguesa precisam buscar
alternativas que permitam a seus alunos a expressão adequada em diferentes situações
de comunicação, como o contato com os gêneros textuais que circulam nas esferas
sociais, como forma de integração dos jovens no contexto da sociedade contemporânea.
Elaborada especialmente para os alunos do 1º Ano, a sequência didática sobre o
gênero Reportagem se apresenta como possibilidade para minimizar as deficiências
apresentadas nos livros didáticos, quando se trata de estudar os variados gêneros
textuais.
Associado a esta situação, os professores enfrentam, ainda, grandes dificuldades
para que seus alunos compreendam os textos que leem e, mais ainda, que discutam, em
nível de reflexão, as matérias jornalísticas e mesmo obras de cunho literário. Sobre isso,
“o ensino-aprendizagem de Língua Portuguesa visa aprimorar o conhecimento dos
alunos, para que eles possam compreender os discursos que o cercam e terem condições
de interagir com esses discursos”. (PARANÁ, 2008, p. 50).
Nesse universo do ensino da Língua Portuguesa, a responsabilidade do professor
torna-se cada vez maior, obrigando-o a buscar recursos nos gêneros textuais vigentes na
sociedade, nos meios de comunicação de maior circulação, a fim de conseguir realizar
sua tarefa diária de ensinar.
É uma das mais árduas tarefas do professor a criação de condições reais nos
alunos para a apropriação de características discursivas proporcionadas pelos gêneros
textuais difundidos pelos veículos de comunicação.
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Sendo assim, o projeto pretende criar oportunidade de leitura a partir do tema
presente em diferentes veículos de comunicação impressa para que os alunos
desenvolvam autonomia e se apropriem dos aspectos do gênero em questão. Um mesmo
tema permitiu aos alunos confrontarem formas diferentes de abordagem, por
profissionais distintos, integrantes de jornais ou revistas de grande circulação no país,
permitindo, assim, o confronto de ideologias e de diferentes maneiras de redigir,
conforme o posicionamento assumido pelo jornal ou revista. A partir disso, foi possível
mostrar aos alunos que a concepção do gênero vai ao encontro de sua função social e de
seus propósitos comunicativos. Confrontando ideologias, formas e maneiras de redigir
de determinados jornalistas ou empresa que representam. A partir disso, oferecer aos
alunos a percepção de que a concepção do gênero vai ao encontro de sua função social e
seus propósitos comunicativos.
Além disso, outra possibilidade do uso do gênero em estudo será a produção de
reportagens com temas vivenciados por eles num espaço que conhecem bem: o
ambiente escolar.
Acredita-se que o trabalho trará contribuições relevantes para os alunos que farão
parte do projeto e mais ainda para os que se propuserem utilizar este recurso didático
para diferenciar as aulas de Língua Portuguesa. Para isso, a Sequência Didática
apresenta duas reportagens de autores distintos que abordam temáticas sociais
pertinentes.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
O ensino de Língua Portuguesa evoluiu muito ao longo dos anos, levando em
conta mudanças nos contextos sociais e políticos, deixando para trás as sociedades
anteriores à comunicação escrita. A primeira Lei De diretrizes e Bases da Educação
(LDB) a Lei 4.024/61, que privilegiava o estudo da gramática, mesmo que essa fosse
descontextualizada, em detrimento às práticas de redação foi um marco para a Língua
Portuguesa. Mesmo após a implantação da Lei 5.692/71 a gramática era tratada de
modo a exprimir conceitos e definições. Continuava a gramática pela gramática. Já na
década de 80, isso começou a mudar e professores foram em busca de um novo
direcionamento para sua prática pedagógica. Com a implantação da Lei 9.394/95,
contemplada nos PCNs, que datam de 1997, mostram que professores buscam ensinar a
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gramática vinculada ao ensino de vocabulário, da leitura e produção de texto. (ZANINI,
2009).
Porém, havia dificuldade por parte dos professores de conduzir esse
ensinamento. Era necessário unir forças em prol de um objetivo comum: o aprendizado
da língua materna. Então, o Paraná, em um esforço coletivo em busca de elucidar
questões como essa, criou diretrizes para cada disciplina, e o ensino da Língua
Portuguesa também se fundamenta nessas Diretrizes.
Para tanto, o ensino da língua materna não pode ficar transitando na
superficialidade: “É devolvendo o direito à palavra – e na nossa sociedade isto inclui o
direito à palavra escrita – que talvez possamos um dia ler a história contida, e não
contada, da grande maioria que hoje ocupa os bancos das escolas públicas” (GERALDI,
1990, p.124).
As mesmas Diretrizes indicam ao professor o trabalho com a leitura e a
produção de textos, considerando a existência dos Gêneros textuais, atrelados à vida
cultural e como fenômenos históricos. Para Marcuschi, eles:
“Surgem emparelhados a necessidades e atividades socioculturais, bem como
a relação com inovações tecnológicas, o que é facilmente perceptível ao se
considerar a quantidade de gêneros textuais hoje existentes em relação à
sociedades anteriores à comunicação escrita.” (MARCUSCHI, 2010, p.19).
Nas revisões de literatura sobre o assunto, toma-se por base Bakhtin quando
afirma que “Os gêneros do discurso, tipos relativamente estáveis de enunciados, estão
ligados a determinados campos de utilização da língua.” (BAKHTIN, 2003, p.262).
Na sociedade contemporânea, presencia-se uma explosão de novos gêneros e
formas de comunicação, tanto na oralidade, como na escrita, devido à fase da cultura
eletrônica, especialmente com a Internet. Contudo, há que se definir o que abrange tipos
textuais e gêneros textuais. Os primeiros, são divididos em: narração, argumentação,
exposição, descrição e injunção. Já os seguintes, são inúmeros. Para exemplificar tem-
se: telefonema, sermão, cartas, romance, bilhete, e-mail, reportagem jornalística, aula
expositiva, reunião de condomínio, notícia jornalística, horóscopo, receita culinária,
bula de remédio, lista de compras, cardápio de restaurante, instruções de uso, outdoor,
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inquérito policial, resenha, edital de concurso, piada, conversação espontânea,
conferência, carta eletrônica, bate-papo, aulas virtuais e uma infinidade de outros que
surgem e desaparecem de acordo com o uso cotidiano e as necessidades de
comunicação interpessoal.
As DCEs preconizam que se aperfeiçõe a escrita pela produção de diferentes
gêneros. O gênero reportagem, objeto deste artigo, exige leitura de textos extraídos na
mídia escrita. Quanto ao ato de ler, as DCE afirmam, que ao ler, o indivíduo busca suas
experiências, os seus conhecimentos prévios, a sua formação familiar, religiosa,
cultural, enfim, as várias vozes que o constituem. (PARANÁ, 2008)
É no âmbito escolar que ocorrerá essa sistematização de conhecimento, a partir
das informações presentes nas esferas sociais.
Alguns fatores são determinantes para uma boa leitura, pois ela via de regra “
[...] depende de fatores linguísticos e não-linguísticos: o texto é uma potencialidade
significativa, mas necessita da mobilização do universo de conhecimento do outro – o
leitor – para ser atualizado” (PERFEITO, 2005, p.54-55).
Vale ressaltar que Bakhtin (2003) concorda com essas reflexões, afirmando que
o momento de interação é o que se constrói a partir do texto, considerando-se as pistas
que o autor fornece, os conhecimentos do leitor, que durante o processo de leitura deve
posicionar-se, concordando ou não com as mesmas, completando-as ou adaptando-as.
Assim, a leitura é, sem sombra de dúvida, o ponto de partida para a compreensão
da reportagem podendo produzir diferentes sentidos e, até mesmo, contrariar a ideia do
autor, como relata Bakhtin (2003) que um diálogo entre ideologias diferentes pressupõe
a fala do autor e a do destinatário.
Quanto a esse aspecto, observe o que mencionam os PCN:
Leitura é o processo no qual o leitor realiza um trabalho ativo de
compreensão e interpretação do texto, a partir de seus objetivos, de seu
conhecimento sobre o assunto, sobre o autor, de tudo o que se sabe sobre a
linguagem etc. Não se trata de extrair informação, decodificando letra por
letra, palavra por palavra. Trata-se de uma atividade que implica estratégias
de seleção, antecipação, inferência e verificação, sem as quais não é possível
proficiência. É o uso desses procedimentos que possibilita controlar o que vai
ser lido, permitindo tomar decisões diante de dificuldades de compreensão,
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avançar na busca de esclarecimentos, validar no texto suposições feitas.
(BRASIL, 1998, p. 69-70).
Dessas acepções ressalta-se o que diz Paulo Freire sobre a importância do ato de
ler, tão preconizado por professores da língua materna em práticas pedagógicas:
Escrevendo esse texto que agora leio, processo que envolvia uma
compreensão crítica do ato de ler, que não se esgota na decodificação pura da
palavra escrita ou da linguagem escrita, mas que se antecipa e se alonga na
inteligência do mundo. A leitura do mundo precede a leitura da palavra, daí
que a posterior leitura desta não possa prescindir da continuidade da leitura
daquele. Linguagem e realidade se prendem dinamicamente. (FREIRE, 1992,
p.11).
Na interpretação de Lopes-Rossi (2008), há vários tipos de reportagem e para
ficar apenas com um, delimitou-se o projeto à reportagem sobre fatos, que se debruça
em uma cobertura de acontecimentos recentes e de grande repercussão.
A mesma autora, em outro momento, confere características importantes à
reportagem escrita a serem observadas como a diagramação, as cores, as fotos, os
infográficos, o tamanho das letras, os elementos gráficos, que são partes constitutivas
de seus gêneros discursivos.
Dessas acepções, pode-se ressaltar a importância do discurso e seus emunciados
segundo Koch e Travaglia:
Toda atividade comunicativa de um leitor, numa situação de comunicação
determinada, englobando não só o conjunto de enunciados por ele produzidos
em tal situação – ou os seus e os de seu interlocutor, no caso do diálogo –
como também o evento de sua enunciação. (KOCH, 2008, p.8)
Uma característica da reportagem que deve ser ressaltada é que mesmo que o
autor queira, é difícil manter a imparcialidade ou neutralidade desejável no momento da
escrita, pois até a ordem das informações pode evidenciar a posição dele diante dos
fatos.
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Certamente, os alunos se lembrarão de reportagens esportivas que ilustram isso.
No futebol é fácil encontrar jornalistas deixando transparecer seu juízo de valor ou
opinião de torcedor. Então, os alunos saberão que o gênero em questão não será
aprendido do nada, depararam com ele a todo momento na televisão e em outros meios
de comunicação.
Como o projeto necessitava cativar os alunos para conseguir êxito, os temas de
tais reportagens precisam ser de interesse dos adolescentes e, particularmente quando
integrados aos meios eletrônicos.
Conhecendo o gênero reportagem, na concepção de Sarmento e Tufano (2010)
observe-se:
A reportagem é um conteúdo jornalístico, escrito ou falado, baseado no
testemunho direto dos fatos e situações explicadas em palavras e, numa
perspectiva atual, em histórias vividas por pessoas, relacionadas com seu
contexto.
Na reportagem é concedido ao autor a possibilidade do mesmo expressar sua
opinião, diferente do texto editorial. Uma reportagem é uma notícia mais aprofundada,
que pode conter opiniões de terceiros. A linguagem empregada nesse gênero textual é
formal, objetiva e direta. (SARMEMTO; TUFANO, 2010, p. 462)
Essa concepção permeou todo o projeto de implementação e, por vezes, deverá
ser evidenciada para que o foco principal seja resguardado.
Avançando no processo, após a conscientização da importância da leitura e
características da reportagem a produção de texto também foi contemplada no projeto.
Geraldi (1997, p. 135), diz que “Considero a produção de textos (orais e
escritos) como ponto de partida (e ponto de chegada) de todo o processo de
ensino/aprendizagem da língua.” Esclareça-se, entretanto, que há reportagens orais e
essas são mais comumente vistas pelos alunos. Mas mesmo para elas, um texto precisa
ser elaborado anteriormente para que se siga um roteiro.
De qualquer forma, tratando-se de aprendizagem, práticas significativas são
preponderantes para uma produção de texto satisfatória.
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Como preveem os PCNEM, no decorrer do Ensino Médio, o estudante deve:
a) conviver, de forma não só crítica mas também lúdica, com situações
de produção e leitura de textos, atualizados em diferentes suportes e sistemas
de linguagem – escrito, oral, imagético, digital, etc. -, de modo que conheça –
use e compreenda – a multiplicidade de linguagens que ambientem as
práticas de letramento multissemiótico em emergência em nossa sociedade,
geradas nas (e pelas) diferentes esferas das atividades sociais – literária,
científica, publicitária, religiosa, jurídica, burocrática, cultural, política,
econômica, midiática, esportiva, etc;
b) no contexto das práticas de aprendizagem de língua(gem), conviver
com situações de produção escrita, oral e imagética, de leitura e de escuta,
que lhe propiciem uma inserção em práticas de linguagem em que são
colocados em funcionamento textos que exigem da parte do aluno
conhecimentos distintos daqueles usados em situações de interação
informais, sejam elas face a face ou não;
c) construir habilidades e conhecimentos que capacitem a refletir sobre
os usos da lingua(gem) nos textos e sobre fatores que concorrem para sua
variação e variabilidade, seja lingüística, seja textual, seja pragmática.
(BRASIL, 2006, p.32)
Isso posto, há que se salientar a escrita e suas peculiaridades. Cabe agora
ressaltar que Antunes (2003) menciona que o professor desenvolva uma prática de
escrita escolar que considere o leitor, uma escrita que tenha um destinatário e
finalidades, para então se decidir sobre o que será escrito, tendo em vista que “a escrita,
na diversidade de seus usos, cumpre funções comunicativas socialmente específicas e
relevantes” (ANTUNES, 2003 apud PARANÁ, 2008, p. 56).
O texto será compreendido por unidade linguística concreta percebido pelos
sentidos visão e audição, que é apresentado aos usuários da língua, ou seja: falante,
escritor, ouvinte, leitor em situação de interação comunicativa, reconhecível e
reconhecida, seja de que tamanho for. Como explica Koch (2008).
Na sequência, a autora escreve sobre a coerência que julga ser a “boa formação
do texto”, e faz com que o mesmo tenha sentido para os usuários, devendo ser entendida
como um princípio de interpretabilidade do texto.
Ainda se faz necessário lembrar das inferências e sua contribuição para
inteligibilidade, para o sentido do texto. Para tanto, as palavras de Paulo Freire encerram
este tópico ao afirmar que “Linguagem e realidade se prendem dinamicamente. A
compreensão do texto a ser alcançada por sua leitura crítica implica a percepção das
relações entre o texto e o contexto. “ (FREIRE, 1992, p. 11)
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Batista, Val, Marinho (2006, p. 32) relatam as competências de um texto
jornalístico, sendo este o intuito de promover nos alunos a capacidade para reconhecer
os diferentes elementos que compõem os meios de comunicação:
Reconhecer a configuração de um jornal. Identificar as diferentes partes do
jornal. Identificar diferentes funções dos textos. Relacionar textos a seus
leitores. Identificar diferentes tipos de textos. Localizar e retirar informações.
Fazer inferências com base nas pistas textuais. Realizar compreensão global
de um texto. Sintetizar informações. Identificar causas e consequências de
fatos. Distinguir fato de suposição. Identificar intenções nos diferentes textos
e operar com índices e saliências textuais. (BATISTA, VAL, MARINHO,
2006, P. 32)
3. A REPORTAGEM ESCRITA
A reportagem, na modalidade escrita necessita de um suporte para divulgação.
Segundo o dicionário Houaiss, Rubrica: documentação, suporte é base física (de
qualquer material, como papel, plástico, madeira, tecido, filme, fita magnética etc.) na
qual se registram informações impressas, manuscritas, fotografadas, gravadas etc. Já
Marcuschi, define suporte como sendo:
(...) um lócus físico ou virtual com formato específico que serve de base ou
ambiente de fixação do gênero materializado como texto. Pode-se dizer
também que suporte de um gênero é uma superfície física em formato
específico que suporta, fixa e mostra um texto (MARCUSCHI, 2009, p. 174).
É notório que pouco se fala em suporte em livros didáticos e até mesmo em
cursos de capacitação, apesar de sua importância, mas Marcuschi esclarece que “ele é
imprescindível para que o gênero circule na sociedade e deve ter alguma influência na
natureza do gênero suportado” (MARCUSCHI, 2009, P. 174).
O jornal e a revista são os suportes comumente utilizados para o Gênero
Reportagem na forma escrita. Eles podem facilmente ser levados para a sala de aula, até
mesmo virtualmente pelo uso do Portal Dia-a-dia Educação. Ainda que os professores,
em sua maioria, prefiram o contato com o papel.
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Esses suportes, divulgam outros gêneros dispostos em cadernos ou sessões. O
manuseio permite entrar em contato com essa organização e percebê-la. Quando se
trabalha com jornal ressalta Lima:
Cabe ensinar que, na produção e na leitura de textos jornalísticos, tem que ser levado
em consideração o lugar no qual ele aparece, as outras formas de linguagem que o
acompanham, o veículo no qual ele se apresenta e o que ficou induzido no que ele
noticiou. (LIMA, 2003, p. 35)
Por outro lado, no trabalho do jornalista se evidencia os trâmites investigativos,
reunião dos fatos, construção de um texto angariando citações dos envolvidos, fatos
comprobatórios que validam a reportagem, além de criatividade do profissional.
Para Faria e Zanquetta Jr. (2002, p. 48), a reportagem busca recuperar as
informações do cotidiano e aprofundá-las, vai além de informar a respeito de um fato,
vai desde o início ao desenrolar do assunto. Transpor esse gênero para uso escolar é
instigador, dependendo do modo que for apresentado pode fazer com que alguns alunos
se sobressaiam nele.
Quanto ao aspecto da reportagem comentam Lopes-Rossi:
(…) o propósito comunicativo da reportagem é trazer informações atualizadas e
detalhadas sobre os fatos (acontecimentos), tema ou pessoa de interesse do público
alvo da revista ou do jornal. Ela ainda pode ter caráter investigativo e, resultar em
denúncias. Pode também causar indignação, (...) (LOPES-ROSSI, 2006 apud
Baumgartner e Costa-Hubes, 2007, p. 184).
3. METODOLOGIA
Foi elaborada a sequência didática que embasou a implementação, dela fazem
parte: questionamentos, pesquisas, reportagens. Há momentos de leitura, pesquisa,
trabalho em grupo e trabalho individual.
Ao programar uma estratégia de ação utilizando-se do gênero discursivo
reportagem, é preciso levar em consideração alguns aspectos:
a) Apresentação do projeto aos alunos (grupo restrito de 10 a 15 em
contraturno) e comentários sobre o por que de desenvolver um projeto dessa natureza;
b) Apresentar aos alunos alguns exemplares de revistas e jornais mais
conhecidos, a fim de que conheçam diferentes reportagens, incluindo a Internet;
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c) Definir para os alunos a estrutura e as características da
reportagem;
d) Leitura crítica de algumas reportagens, procurando surpreender os
sentidos implícitos do texto;
e) Incentivar os alunos a produzirem as próprias reportagens,
utilizando-se dos elementos vivenciados no ambiente escolar, como jogos escolares,
situação dos egressos no mercado de trabalho; produção agrícola do período, situação
da pecuária na Unidade Didático - Produtiva, atividades extra-classe, dentre outras;
As reportagens selecionadas foram:
a) “A nova família brasileira” de autoria de Pollyane Lima e Siva e
Cecília Ritto, publicada na revista Veja;
b) “Mais adolescentes têm filhos antes do 15 anos no PR”, da Folha
web de autoria de Carolina Avansini e Silvana Leão. E ainda:
c) “Mesmo informadas, adolescentes cometem os mesmo erros há
vinte anos”, da Folha Uol de Mário Tonocchi.
Considerando reportagens de diferentes autores e variados suportes, levou-se em
consideração a composição da linguagem e o desenvolvimento da capacidade de leitura.
Portanto, fez-se uso de outras reportagens ao longo do período.
3.1 Desenvolvimento do Projeto
O projeto de Intervenção Pedagógica produzido no PDE (Programa de
Desenvolvimento Educacional) foi implementado no Colégio Estadual Agrícola do
Noroeste – EMP, com alunos do 1º Ano.
Para a implementação, no primeiro semestre de 2014, foi produzido um material
didático-pedagógico em forma de Sequência Didática, possibilitando alternativas para o
trabalho com Língua Portuguesa, no conteúdo gênero textual, especificamente
reportagem escrita, visando a proporcionar ao aluno uma aprendizagem significativa,
bem como fornecer um material de apoio aos professores que atuam em sala de aula.
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Para dar início à implementação do Projeto de Intervenção no Colégio, houve
apresentação do mesmo ao Conselho Escolar e Equipe Pedagógica, para que tomassem
conhecimento das atividades relacionadas ao PDE desenvolvidas na instituição.
O Projeto foi desenvolvido em contraturno, no período noturno, tornando o
trabalho mais fácil, já que não haveria interrupção dos trabalhos com término das aulas
ordinárias.
Em um segundo momento, na reunião dos pais ou responsáveis, foi esclarecido
sobre o projeto e sua abrangência. O apoio deles foi preponderante para que não
houvesse desistência e faltas.
No primeiro dia de trabalho com os alunos, houve um momento de investigação
sobre a Reportagem, com perguntas que eles deveriam responder:
1- Vocês sabem o que é reportagem? Já leram algumas? Quais?
2- Sabem diferenciar notícia de reportagem?
3- Qual é a sua importância em nossa sociedade? E na sua vida?
4- Para quem o texto reportagem é destinado?
5- Qual a finalidade da reportagem?
6- Quais são os profissionais que trabalham diretamente e
indiretamente com reportagem?
7- Vocês conhecem algum jornalista? Qual? Quais?
8- Onde se pode encontrar esse tipo de textos?
( ) rádios
( ) televisão
( ) jornal
( ) panfletos
( ) internet
( ) revistas
A partir dessa sondagem foram trabalhadas questões orais quase sempre com
respostas curtas, simples e similares.
Essas respostas direcionaram os trabalhos e mostraram as inúmeras
possibilidades de exploração. Como propõe Dolz, Noverraz e Schneuwly:
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É possível ensinar a escrever textos e a exprimir-se oralmente em situações
públicas escolares e extra-escolares. [...] Criar contextos de produção
precisos, efetuar atividades ou exercícios múltiplos e variados, é isso que
permitirá aos alunos apropriarem-se das noções, das técnicas e dos
instrumentos necessários ao desenvolvimento de suas capacidades de
expressão oral e escrita, em situações de comunicação diversas. (Dolz,
Noverraz e Schneuwly, 2004, p. 96).
A Professora PDE, com o propósito de informar, esclareceu sobre as fontes do
repórter, fazendo uso de informações do Wikipédia. Em seguida, os alunos realizaram
uma pequena pesquisa sobre alguns termos empregados no meio jornalístico como:
imprensa, jornalismo e pauta, que foram registrados pelos alunos.
Dando sequência, todos assistiram a um vídeo com o intuito de compreender a
essência da reportagem, disponível on-line em: http:/ /
www.youtube.com/watch?v=CHUuHOIegiU.
Concluída essa etapa, foi possível conhecer um pouco da história, a origem e
principais características do gênero. Então, em dupla, algumas questões pertinentes
foram trabalhadas para buscar novas reflexões e análises.
A partir disso, foi disponibilizado um texto sobre a história do jornal, incluindo a
prensa de Gutemberg e o telégrafo foi disponibilizado. O objetivo dessa leitura foi
retratar a importância da evolução ao acesso às informações. Esse texto está disponível
em http://jornalonline.net/história-jornal-no-mundo.
Outras leituras aconteceram em revistas semanais e jornais de maneira lúdica, a
fim de oportunizar que cada um se inteirasse de assuntos de sua preferência redigidos
em forma de reportagem. Isso levou a apontamentos de local onde circula o texto,
destinatário e objetivo do mesmo. Além disso, o repórter especializado na categoria
escolhida foi identificado.
Avançando um pouco pelas capacidades discursivas o foco adentrou a estrutura
do gênero, o que gerou a necessidade de explicar sobre o gênero notícia que causa
confusão com o nosso objeto de estudo.
A turma era composta de 18 alunos que em sua maioria teve predileção pela
notícia, o que gerou desafio maior ao projeto, exigindo uma dedicação mais detalhada
sobre a linguagem e outros aspectos estruturais, como título, linha fina, introdução,
depoimentos, desdobramento e epílogo.
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Sendo assim, o momento ficou propício para a primeira produção do aluno. Uma
pauta foi escolhida e o tema foi o calor no verão de 2014. A intenção foi registrar a
estrutura lexical e composicional adquiridas até então pelo aluno.
Nas próximas aulas foi trabalhado o texto mencionado anteriormente: “A nova
família brasileira” de autoria de Pollyane Lima e Siva e Cecília Ritto, publicado na
revista Veja, disponível em: http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/a-nova-familia-
brasileira-ibge. O texto tem vocabulário fluente e tema de fácil compreensão. O
entendimento do texto facilitou o reconhecimento de sua estrutura. Vários
questionamentos sobre introdução – o corpo da Reportagem - foram discutidos, o
modo como o gênero é escrito, evidenciando quem, o que, onde, como e porque e como
tudo isso ajuda a nortear o leitor. Até aqui o trabalho foi feito em dupla. Fez-se então
uma atividade individual em que cada um elaborou sua reportagem seguindo a estrutura:
Título; Linha fina; Introdução; Depoimentos; Desdobramento e Epílogo destacados em
um quadro. Após o término, as produções foram trocadas com um colega, que leu e fez
apontamentos que julgou necessários baseado nos conhecimentos adquiridos trocando
palavras repetidas, verificando se a linguagem estava muito informal, inserindo dados
importantes, excluindo trechos de duplo sentido, tudo isso levando em conta o público
alvo a que se destina: os demais alunos do colégio. A partir disso, cada um reescreveu
seu texto com mais clareza.
A fim de desenvolver a capacidade linguístico-discursiva foi passado um vídeo
do Globo Repórter sobre Gravidez Precoce. Disponível on-line em:
http://www.youtube.com/watch?v=PdyrbUJucwc.
Abordou-se o discurso direto e discurso indireto, mas o texto possibilita outras
atividades de exploração linguística.
Na segunda reportagem dirigida “Mais adolescentes têm filhos antes do 15 anos
no PR”, da Folha web de autoria de Carolina Avansini e Silvana Leão. Disponível em:
http://tribunadeamoreira.blogspot.com.br/2013/09/gravidez-precoce-mais-adolescentes-
tem.html. Feita a leitura e observada a estrutura do gênero, houve debate sobre o tema.
Foram feitas atividades que tratam da análise composicional e função social. Também
explorou-se análise linguística e interpretação de texto.
Houve, ainda uma terceira reportagem seguindo os mesmos moldes da anterior,
no que tange às atividades desenvolvidas. Percebeu-se, então que houve evolução e os
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alunos estavam mais seguros com relação ao tema. Isso possibilitou propor o
fechamento do projeto com uma reportagem completa feita por eles. O tema escolhido
foi “bullying” e saíram a campo para pesquisar e entrevistar as pessoas que de uma
forma ou de outra enfrentaram o problema ou ajudam a quem passa por ele, como é o
caso da equipe pedagógica. A produção da reportagem foi o momento da avaliação.
Felizmente, os alunos demonstraram comprometimento e uma postura que refletiram até
mesmo no comportamento em sala de aula, visto que o bullying estava muito presente e
diminuiu consideravelmente. Quando os outros alunos tomaram conhecimento do texto
produzido pelos participantes do projeto sentiram vontade de se inteirarem. Isso foi uma
surpresa para todos devido a resistência que apresentam em assistir aulas em contra-
turno. Para esse alunos foi compartilhado o texto e indicado que o Grêmio Estudantil
passasse um filme, juntamente comigo para encerramento do projeto com todos juntos.
7. CONCLUSÃO
Após a implementação da Sequência didática em uma turma do 1º Ano do
Ensino Médio Profissionalizante, podemos afirmar, com base na análise do ensino e
aprendizagem, que o estudo do gênero reportagem foi propício para os alunos lerem e
escreverem. Os próprios alunos fizeram essa constatação ao longo das atividades. Isso
talvez se deva ao interesse pelos temas que remetem ao centro de interesse deles por
fazer parte da realidade de cada um. Foram enfocados oralidade e linguagem formal e
ainda linguística.
A leitura da reportagem, portanto, foi entendida como muito prazerosa.
Prolongar a história com minúcias ou detalhes fazem o sucesso do texto. Isso garante a
fidelidade do leitor que busca a veracidade dos fatos.
Como as leituras foram estimulantes, quando houve momento de escrita e
reescrita. Foi visível que os alunos tiveram um avanço na produção textual. Quando se
iniciou o trabalho da produção escrita, estavam inibidos e receosos. O projeto era algo
importante para eles, pois entenderam que era muito significativo para professores PDE.
O emprenho ajudou desenvolver habilidades de uso da norma culta. O diferencial do
projeto com a sala de aula, foi o comprometimento dos participantes. Aceitando o
compromisso de produzirem sua própria reportagem, com o tema Bullying, eles
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evoluíram um com a ajuda do outro. Sugestões simples foram mencionadas durante a
socialização que surtiram bom efeito.
Sendo assim, o saldo do trabalho pode ser considerado positivo. Alguns
percalços que ocorreram não podem ser levados em conta devido ao resultado
diferenciado que alcançamos. A nossa trilha pedagógica, seguindo todas as etapas do
Programa de Desenvolvimento Educacional, propiciou conhecimento e autonomia aos
alunos, e ainda, a percepção que se tratando de gêneros discursivos, o assunto é amplo,
mas pode ser interessante.
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