morfologia indo- europeia ii - blog profissional de márcio renato ... · um estágio (talvez...
Post on 07-Nov-2018
215 Views
Preview:
TRANSCRIPT
-
Morfologia Indo-
europeia II:
os verbosHL353 - LINGUSTICA INDO-EUROPEIA II
Mrcio R. Guimares
14.09.16
-
Conjugaes
O PIE-III tinha dois padres de conjugao, a temtica e a atemtica:
atemtica temtica
1sg. *-mi *-o-h22.sg. *-si *-e-si
3.sg. *-ti *-e-ti
1.pl. *-me *-o-me
2.pl. *-t(h2)e *-e-te
3.pl. *-(e)nti *-o-nti
1.du. *-we
2.du. *-t(h2)e
3.du. *-to
-
Conjugaes
A conjugao atemtica era mais antiga do que a temtica, havendo um estgio (talvez PIE-II ou antes) em que s existia a conjugao atemtica. De maneira geral, a conjugao atemtica apresentava carter vestigial nas lnguas histricas, tendendo a desaparecer.
As conjugaes produtivas na formao de novos verbos a partir de razes no verbais eram as temticas.
O latim, por exemplo, apresentava pouqussimos vestgios da conjugao atemtica:
*s-m > sum sou
O verbo re temtico na primeira pessoa (e-), mas atemtico nas demais: -s, -t.
-
Razes verbais
Algumas razes apareciam primariamente nos verbos:
*leikw- deixar
*wekw- falar, dizer
*weid- ver, saber
*lewbh- gostar, amar
*dh3- dar
*es- ou *h1es- existir
-
Derivativos verbais
Existiam alguns sufixos derivativos verbais em PIE-III:
*-io primariamente sufixo causativo: *sed-/*sod- sentar => *sd estou
sentado *sod-i fao sentar
s vezes formava frequentativos, cf. gt. wagja (*wogh-ei) vou de l
pra c vs. gawiga movo
*-io- formava verbos denominativos: a.i. rjas p rajas-y-mi me
fao p; gr. carpinteiro construo (< -) lat.
planta planta planta-io > plant, plantas planto
*-sko- erradamente chamado inceptivo
-
Derivativos verbais
Alguns sufixos derivativos so bastante antigos (e o latim preserva alguns
deles):
*-- (< *-eh2-) raiz *ter- cruzar, atravessar a.i. trati coloca em outro
lugar => in-tr--re entrar (cf. a.i. tr-sva, tr-yte formas de um
verbo guardar < conduzir atravs)
*-- ( encher
-
Os tempos
O PIE-III teria uma distino entre trs tempos bsicos:
Presente: mais propriamente um imperfectivo, representando a ao
inacabada; forma bsica da raiz *CeV-/*CoV-
Aoristo: mais propriamente um perfectivo, representando a ao
acabada; forma bsica da raiz; forma bsica da raiz *CVe-/*Cvo-: *leikw-deixar gr. , . Possua forma com uma desinncia s- (aoristo sigmtico), como *deik- mostrar gr. -- a.in. -dik--am
Perfectivo: estado resultante da ao; num primeiro momento no possua
tempo ou voz, depois surgiram formas perfectivas no pretrito e no futuro;
a forma da raiz do perfeito envolvia o redobro e um vocalismo especial
(o- ou vogal longa): *le-loikw-a > gr.
-
Presente
Alm dos presentes formados diretamente da raiz com as desinncias temticas ou atemticas, ainda havia trs tipos de presente:
Presente com reduplicao, tanto temticos como atemticos:
*dhe- pr a.in. d-dh-mi, gr. --
*gen- gerar gr. -- lat. gi-gn-
*steh2- estar lit. si-st-i-t ele est
O presente apresentava um infixo *nh2-; *-neu- ou n-:
a.in. mr-n-mi eu luto gr. -- eu luto lat. sper-no (cf. aspern-tur)
lat. mi-nu-; tb. rump, linqu, tango, fing
Presentes com um sufixo inceptivo *-sko-: . --, lat. posc, nosc (< gnosc).
-
Aoristo
Para entender a diferena entre o aoristo e o perfectivo, compare esses
dois exemplos em blgaro:
ontem eu li[aor.] um livro [mas no necessariamente terminei de ler]
ontem eu li [perf.] um livro[terminei de ler, li at o fim]
Na verdade, o blgaro, como outras lnguas eslavas, possui verbos perfectivos
e imperfectivos, de maneira que um mesmo verbo portugus corresponde a
dois [s vezes trs] verbos em blgaro.
-
Aoristo
O aoristo foi preservado no eslavnico antigo, que apresentava tanto a
forma simples quando a sigmtica, e tambm uma forma nova (em -OX):
vesti liderar (< *uedh-): ved, vs, vedox. O blgaro (e o macednio)
preservou a ltima forma. Para alm disso, o srvio e o croata utilizaram
a forma ainda na norma culta escrita at algum tempo atrs.
O latim apresenta poucos vestgios do aoristo. Algumas formas com um
sufixo es, -os, -s so ligadas a um antigo aoristo por Lindsay ( :461): aug-us-
tus, fun-s-tus, rb-us-tus.
Latim e germnico em geral mantiveram o perfeito, com o redobro
deixando vestgios: de-d, pe-per, fhe-fhaked > fcit, gt. haitan, perf.
hahait; s vezes o redobro deixava como vestgio a metafonia na vogal
da raz: capi, cp (ce-cap > ce-cep); gt. niman, perf. nam.
-
Perfeito e Pretrito
O latim reconstruiu um sistema verbal com uma oposio entre um
imperfectivo (infectum) e um perfectivo (perfectum). Os tempos do
segundo so derivados das formas do perfeito, com ampla reduo do
redobro e a utilizao de vrios tipos de formao:
Formas de um antigo aoristo: dc perf. dx
Um u- para verbos com raiz voclica: am-u- re-pl-u-
aud-u- mon(u)-u-
Para alm dos perfeitos com vestgio do redobro, o germnico
apresentava um sufixo da, que formava o pretrito dos chamados verbos fracos, na qual se pode ver a raiz *dhe- : haban habaida, salbon salboda.
-
Imperfeito
Os antigos imperfectivos so apenas mantidos em antigo ndio e grego (tambm em frgio e armnio).
A forma do imperfeito se caracteriza pelo aumento *e- sobre as formas verbais, que tomavam desinncias secundrias: raiz *bher- carregar *e-bher-e-t.
Esse trao um de uma coleo de traos de um grupo meridional (que engloba o grego, o armnio, o traco-frgio e as lnguas indo-iranianas) e, em geral, entendido como uma forma mais recente (ou seja, os outros grupos se ramificaram antes de seu surgimento).
A formao do imperfeito nos outros grupos envolve outros caminhos: lat. fer-bam a.bulg. vid-ach eu via, envolvendo auxiliares *bhe- e *es- (*es-jom); enquanto as lnguas germnicas no mostram o menor vestgio de ter tido um imperfeito.
-
Futuro
O futuro do PIE-III se formou com o auxlio de um sufixo *-sjo- ou *-asjo-, que aparece no a.in. d-sy-mi lit. do-siu darei; esse futuro preservado no dialeto drico --; o futuro no dialeto tico [p.ex. ] parece ser um cruzamento do antigo futuro em *-sjo- com subjuntivos do aoristo sigmtico.
O latim preserva algumas formas que apresentam o sufixo *-sjo-, mas que em geral se lexicalizaram como outros verbos:
uide > vejo uis > viso
quaeso > quaero > quero
De maneira geral, o latim perdeu esse futuro (preservado em er (< es)) substituindo-o por formas com um auxiliar *-bho- : amabo ou *-ia-: faciam
O germnico perdeu o futuro do PIE-III muito cedo (se que no divergiu antes de sua formao) construindo-o com auxiliares skulan (shall), haban(haben) ou duginnan (beginnen).
-
Vozes
Alm do tempo, o PIE-III apresentava marcas de VOZ e MODO.
O modo bsico (sem marcas especiais)era o assim chamado
INDICATIVO, enquanto a VOZ bsica, sem marcas, era a chamada VOZ
ATIVA. O PIE-III apresenta sinais de uma voz ativa e uma voz mdia, mas
no de voz passiva.
A voz Ativa serve para indicar uma propriedade ou estado do sujeito,
que partindo desse, se irradia para fora (Krahe, 1953: 141).
A voz Mdia expressa que a correspondente atividade (ou estado)
termina em certa medida na esfera de ao do sujeito, ou ento que
o sujeito est interessado na ao de uma maneira muito particular
(media reflexiva, mdia de interesse e mdia dinmica)idem.
-
Vozes
A voz Passiva significa uma atividade exercida desde fora sobre o
sujeito.
As lnguas histricas utilizavam uma srie de recursos para representar
a voz passiva, mas em parte utilizavam as mesmas formas da mdia
para passiva.
Aparentemente, j em PIE construes mdias poderiam figurar com
o paciente em posio de sujeito, o que teria possibilitado essas
formas para a voz passiva.
-
Voz Mdia
PIE Hitita Latim (passiva e depoentes)
1.sg. *-h2er -h(ri) -or
2.sg. *th2er -ta(ri) -aris
3.sg. *-(t)or -a(ri) -tur
-ta(ri)
3.pl. *-ntor -anta -ntur
No existe sinal de distino entre terminaes temticas e atemticas
entre as vozes. Em grego e em snscrito, onde havia vestgios da
declinao atemtica, as formas mdio-passivas costumavam ser
construdas com as razes atemticas.
-
Voz Mdia
PIE Grego Vdico
1.sg. *-h2er -mais -e
2.sg. *th2er -(s)oi (arc.chipr.) -se
3.sg. *-(t)or -toi -te
-re
3.pl. *-ntor -ntoi (arc.chipr.) -ate
As marcas em grego e no indo-iraniano mostram que as suas marcas para
a voz mdio-passiva constituem uma inovao com relao ao sistema
mais antigo, preservado no talo-cltico e no hitita.
-
Voz Mdia
A voz mdia tambm no apresentava diferentes razes para cada forma temporal, como a ativa. As formas temporais especficas (aoristo, perfeito, imperfeito, futuro) so derivadas das formas ativas no grego e no snscrito.
No grego (e em parte no snscrito) as vozes mdia e passiva coincidem em todos os tempos, exceto no futuro e no aoristo.
Em latim, o futuro e o imperfeito passivos so derivados das formas ativas:
1.sg. (imp) ama-ba-m ama-ba-r (fut) ama-bo ama-bo-r
O fato de as terminaes mdias (e passivas) no marcarem distino entre conjugaes temticas e atemticas, nem distino de tempo, sugere que a voz mdia anterior ao surgimento dessas noes.
Esses fatos, mais o de a voz mdia existir em hitita, com terminaes que lembram as terminaes da voz passiva (e dos verbos depoentes) do latim, sugere que ela j existia em PIE-II.
-
Voz Mdia
Exemplos de significado da Voz Mdia.
Em alguns casos, a voz mdia corresponde aos verbos reflexivos em
portugus, em que o agente e o paciente so os mesmos:
: lavar-se
Em outros casos, a voz mdia simplesmente indica que a ao do sujeito se
d a algum objeto de sua posse ou sob seu controle:
o : lit. bati na cabea, bati na (minha) cabea
: subjugo o territrio
-
Modos
O modo da ao, aparentemente o nico na lngua primitiva, o assim
chamado indicativo.
O imperativo representado por desinncias prprias, que aparecem em
vrias lnguas histricas.
O subjuntivo parece ter tido, na maior parte das vezes, formao mais
recente e independente, onde chegou a se formar. O optativo exclusivo
do grego e das lnguas indo-iranianas, pelo que se deduz que ele surgiu no
dialeto do sudeste, em poca bastante recente.
-
Modo Subjuntivo
Em grego, o subjuntivo caracterizado por uma vogal temtica e/-o,
que adicionada vogal temtica do indicativo, resultando num
alargamento:
Indicativo Subjuntivo
1.sg. - -
2.sg. - -
3.sg. - -
2.e3. du. -- --
1.pl. -- --
2.pl. -- --
3.pl. -- --
-
Modo Subjuntivo
Em antigo indiano, a vogal *-e introduzida na conjugao atemtica:
*es-ti > s-ti , subj. *es-e-ti > s-a-ti; na conjugao temtica, a
formao a mesma do grego: indicativo bar-a-tha (gr. --) subj.
bhar--tha (gr. --).
Em latim, esse tipo de formao passou para o futuro: p.ex. lat. 2.pl. fer--
tis; por analogia, o passou para outras formas: fer--mus, fer--nt.
Na zona do talo-cltico (mais o tocariano), se formou um subjuntivo
caracterizado por : lat. fer-am, fer--s, fer--t, fer--mus, fer--tis, fer-a-nt. A zona lingustica do subjuntivo com coincide parcialmente com a que
possui a mdia com r, exceto por que o hitita no possua subjuntivo.
-
Optativo
Imperativo
O optativo aparece preservado em vrias das lnguas histricas, tambm
a princpio sem marca de tempo. Caracteriza-se pelo sufixo ie, que ocorre como no grau reduzido: a.in. s-y-m, s-y-; gr. , , lat. s-ie-m, s-i-s, ant.al. s, ss.
A segunda pessoa do singular do imperativo se caracterizava pelo tema
verbal puro: *bhere leva a.in. bhra, gr. , lat. fer (por fere). Para os verbos atemticos, ocorre uma desinncia *-dhi: *i-dhi vai a.i. i-h, gr. -.
H tambm uma forma *-td, que poderia fazer o papel de 2 ou 3
pessoa de todos os nmeros: *bhere-td a.in. bhr-a-tt gr. lat. fer-t e tambm o gt. bar-a-dau.
-
Formas Nominais
Infinitivo
Ocorrem uma grande quantidade de infinitivos verbais, em geral formas
fossilizadas de substantivos verbais com flexo de caso.
Em a.in. Ocorre um infinitivo tum : kar-tum fazer, que uma forma
acusativa de um substantivo abstrato em tu, que ocorre tambm nos
supinos latinos: (ad) del-tum para ser destrudo del-t de se destruir
(tipo rs facilis deletu coisa fcil de destruir).
Aos abstratos em ti (p.ex. *mr-t-s > lat. mors, mortis) correspondem os infinitivos do balto-eslavo, lit. doti a.bulg. dati dar. Krahe (1953: 163)
acredita que possam ser antigos locativos das formas em *-ti ou *-tu, como
ocorre nos infinitivos do a.i. ptay (< *pi-tei-ei) ou dtav (< *d-teu-ei).
Temas em *-men e *-uen aparecem nos infinitivos a.in. dma-n = gr. e dvn = > .
-
Formas Nominais
Infinitivo
Temas em *-s tambm provm de substantivos abstratos deverbais (cf. gr.
-, -), e aparecem em *gweiues-ai (dativo) > a.in. Jvs
*gweiues-i (locativo) > lat. uuere.
Razes verbais nominalizadas formaram, por exemplo a.in. j lat. ag.
Os infinitivos germnicos em na se originam do acusativo de temas em *-
o: gt. itan < *ed-o-no-m (compare com a.in. danam). O mesmo tema ocorre no mbrio erom e no osco ezum.
-
Formas Nominais
Particpios
Os particpios tm natureza de adjetivos, por isso os sufixos formadores
aparecem em alguns adjetivos (ao mesmo tempo, alguns adjetivos
derivam de antigos particpios, cf. amante e coitado).
O sufixo *-nt forma particpios presentes, futuros e aoristos:
* bher-o-nt- > a.ind. bhrant- (nom. bhran ac. bhrantam). gr. -(nom. , ac. . ); lat. ferent- (ferens, ferentem cf. referente)
remonta ao grau e ou grau zero do sufixo.
part. futuro: gr. -- o que dar a.in. vakynt- o que h de falar
part. aoristo: gr. - (nom. gen. )
-
Formas Nominais
Particpios
Uma terminao *-meno serviu para formar vrios particpios presentes: gr. -, a.ind. bhra-mna. Em latim, se conservam vestgios dessas formaes, em alumnus (de al) e fmina (de *dh- mamar).
O particpio perfeito apresenta uma terminao em *-to, que aparece em
toda parte: a.in. kr-t- , gr. , lat. sta-tu-s germ. Em todos os verbos fracos, p. ex. gt. salbos ungido) lit. drb-ta-s de drbu eu trabalho) a.bulg. vitde vj .
top related