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    MEMORIAL DE FORMAO quando as memrias narram a histria da formao...

    Guilherme do Val Toledo Prado

    Rosaura Soligo

    Estou a tentar explicar o que consiste escrever, ter um determinadoestilo. preciso que isso nos divirta. E para nos divertir torna-senecessrio que a nossa narrao ao leitor, atravs das significaes

    puras e simples que lhe apresentamos, nos desvende os sentidosocultos, que nos chegam atravs da nossa histria, permitindo-nos

    jogar com eles, ou seja, servir-nos deles no para os apropriarmos,mas pelo contrrio, para que o leitor os aproprie. O leitor , assim,como que um analista, a quem o todo destinado.

    Jean Paul Sartre

    A Histria feita com o tempo, com a experincia do homem, com suas histrias, com suas memrias.

    Bem sabemos que a profissionalizao do Magistrio, pela qual tanto lutamos, no acontecer de umahora para outra, sem investimento na melhoria das condies de trabalho e da formao profissional doseducadores1 e sem um processo de transformao da cultura predominante, de velhas idias, de prticascristalizadas.

    Mas sabemos tambm que, diante do muito ainda a fazer, toda conquista tem seu valor e ser semprebem-vinda.

    Para a nossa merecida alegria, cada vez mais, os profissionais da educao so reconhecidos como

    protagonistas das mudanas das quais depende a construo de um novo tempo para o Magistrio. Aperspectiva da formao de profissionais reflexivos, que vem se consolidando como uma tendncia nacomunidade educacional, ao mesmo tempo reflete esse reconhecimento social e contribui consolid-lo.

    nesse contexto que a valorizao da escrita dos educadores ganhou lugar. Afinal, se necessria areflexo sobre a prtica profissional e se escrever favorece o pensamento reflexivo, a concluso acaba por serinevitvel: a produo de textos escritos uma ferramenta valiosa na formao de todos.

    Entretanto, para alm dos ganhos individuais que a escrita reflexiva favorece, h um aspecto poltico deigual ou maior relevncia: a publicao dos textos produzidos pelos que fazem a educao deste pas narrando suas experincias, revelando suas idias, refletindo sobre o que fazem na verdade uma conquistade toda a categoria profissional.

    Quando os educadores tornam pblicos os seus textos, todos ganhamos.

    At bem pouco tempo, os textos produzidos por professores, coordenadores pedaggicos, diretores eformadores geralmente eram resposta a exigncias de natureza institucional e tinham uma publicao bastanterestrita: circulavam nas prprias escolas de origem e em alguns ambientes acadmicos quando esse tipo deescrita tomado como objeto de pesquisa, o que, muitas vezes, implica, inclusive, a omisso da autoria dostextos, sejam orais ou escritos.

    Ou seja, na prtica, a escrita dos educadores no era de fato valorizada como uma produo legtima,que veicula os saberes produzidos no exerccio da profisso e que, por isso, merece ser publicada, divulgada,tomada como subsdio por outros profissionais.

    Lentamente muito lentamente ainda, mas de forma animadora uma nova situao se anuncia. Porum lado, em alguns crculos acadmicos, j se questiona a omisso da autoria das falas e dos textos escritos

    1 Neste artigo, utilizamos o termo educadores como sinnimo de profissionais da educao.

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    pelos educadores em certos tipos de pesquisa. Por outro, o que se v so secretarias de educao organizandopublicaes contendo textos da autoria de seus profissionais.

    Tendo em conta o processo de desvalorizao profissional que marcou a histria da educao no Brasil,essas mudanas, ainda que paulatinas, indicam um tipo de processo inevitavelmente sem volta. Ainda bem.

    O propsito deste artigo reunir algumas contribuies que permitam compreender melhor o memorialde formao como um gnero textual privilegiado para que os educadores enfrentando o desafio de assumir a

    palavra e tornar pblicas as suas opinies, as suas inquietaes, as suas experincias e as suas memrias escrevam sobre o processo de formao e a prtica profissional.

    Para chegar a uma caracterizao, ainda que provisria, desse gnero, consideramos necessriopercorrer uma trilha argumentativa, que passa primeiro pela discusso da importncia das narrativas, depois dasmemrias e por fim do que vem a ser um memorial de formao.

    A bem da verdade, necessrio afirmar de princpio que escrever um texto sobre a prpria experinciano depende do conhecimento da maior parte das questes tratadas neste artigo. Basta apenas acreditar que oque se tem a dizer vale a pena e enfrentar o desafio de faz-lo por escrito.

    As questes aqui abordadas contribuem, isso sim, para ampliar a compreenso de um gnero textualque vem se constituindo nos ltimos anos e, tanto quanto possvel, podem enriquecer a escrita de memoriais de

    formao.Afinal,

    Vivemos em um mar de histrias, e como os peixes que (de acordo com o provrbio) so os ltimos aenxergar a gua, temos nossas prprias dificuldades em compreender o que significa nadar emhistrias. No que no tenhamos competncia em criar nossos relatos narrativos da realidade longedisso, somos, isso sim, demasiadamente versados. Nosso problema, ao contrrio, tomar conscinciado que fazemos facilmente de forma automtica. (Bruner, 2001:140)

    A perspectiva a de explicitar alguns conceitos e algumas proposies que possam convencer oseducadores que aquilo que fazem oralmente de forma automtica a todo instante pode ser o mote de textosescritos da maior importncia. Ou seja, convenc-los que podem converter as conversas cotidianas sobre o

    que pensam e sentem em relao ao que vivem, aprendem e fazem em contedo de um tipo de textoprivilegiado para essa finalidade: o memorial de formao.

    Nessa trilha, achamos por bem abusar das citaes, que so a forma mais honesta de dar o devido valoraos que disseram o que gostaramos de ter dito de um modo melhor do que poderamos no momento.

    Mas, ainda que no citados diretamente no texto e porque seus trabalhos nos serviram de referncia queremos nomear tambm alguns autores que vm tematizando o registro reflexivo e a escrita de narrativasautobiogrficas por profissionais da educao dirios, cartas, memrias, portflio, novela de formao,memorial de formao...

    Vrios pesquisadores portugueses tm se dedicado a essa questo, mas, por ora, mencionaremos apenasaqueles cujos trabalhos foram consultados: Antnio Nvoa, Isabel Alarco, Idlia S-Chaves, Maria AntniaRamos e Rosa Edite Gonalves.

    Tambm foram contribuies importantes as dos espanhis Jorge Larrosa, quando trata da novela deformao e do seu papel no processo de autoconscincia, e as de Miguel Angel Zabalza, quando trata dosdirios de classe e dos dilemas prticos dos professores.

    Por fim, antes de dar incio trilha que resolvemos seguir, preciso uma nota a mais: o memorial deformao como instrumento a servio da formao de professores, vem sendo utilizado por algumasinstituies de ensino superior do nordeste e h dois trabalhos de pesquisadoras da Universidade Federal doRio Grande do Norte, Maria da Conceio Passeggi e Maria de Ftima Carrilho, que merecem ser citados:Memorial de formao: processos de autoria e de (re)construo identitria e Diretrizes para o memorialde formao.

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    A narrativa: registro e partilha de histrias

    Falo um pouco dos relatos e das narrativas de forma generalizada. Pois muito provvel que a forma mais natural e mais imediata de organizar nossasexperincias e nossos conhecimentos seja a forma narrativa.

    Jerome BrunerA palavra narrar vem do verbo latino narrare, que significa expor, contar, relatar. E se aproxima do

    que os gregos antigos clamavam de pikos poema longo que conta uma histria e serve para ser recitado.Narrar tem, portanto, essa caracterstica intrnseca: pressupe o outro. Ser contada ou ser lida: esse o destinode toda histria. E se as coisas esto prenhes da palavra, como preferia Bakhtin, ao narrar falamos de coisasordinrias e extraordinrias... e at repletas de mistrios que vo sendo reveladas ou remodeladas no ato daescuta ou na suposta solido da leitura.

    A narrativa supe uma seqncia de acontecimentos, um tipo de discurso que nos presenteia com apossibilidade de dar luz o nosso desejo de os revelar. Podemos dizer que a narrativa comporta dois aspectosessenciais: uma seqncia de acontecimentos e uma valorizao implcita dos acontecimentos relatados. E oque particularmente interessante so as muitas direes que comunicam as suas partes com o todo. Osacontecimentos narrados de uma histria tomam do todo os seus significados. Porm, o todo narrado algo quese constri a partir das partes escolhidas. Essa relao entre a narrativa e o que nela se revela faz com quesuscite interpretaes e no explicaes no o que explica que conta, mas o que a partir dela se podeinterpretar.

    Jerome Bruner nos traz uma importante contribuio para a compreenso das narrativas literriasquando defende que elas pressupem: uma estrutura de tempo, particularidades genricas, razes por trs dasaes, composio hermenutica, canonicidade implcita, ambigidade de referncia, centralidade daproblemtica, negociabilidade inerente e elasticidade histrica.

    Tudo isso?

    Veremos que sim. Vejamos por que.

    Uma estrutura do tempo - Uma narrativa no segue o tempo do relgio mecnico, mas o desenrolardos acontecimentos tidos como importantes para o narrador. Dessa perspectiva, viola a seqnciacronolgica, se organizando segundo o que pensamento do narrador expe/impe enquanto tempo danarrativa.

    Particularidades genricas - As narrativas tratam de casos particulares, porm, a particularidadeaparece como veculo de atualizao. E essa atualizao decorre da generalizao dos acontecimentosa partir do que o narrador supe ser o repertrio de conhecimentos do ouvinte/leitor. Podemos dizerque as histrias narradas se assemelham s verses de algo que mais geral por mais particulares quesejam, inevitavelmente, nos reportam a acontecimentos e pessoas que nos so familiares de algumaforma, nossos iguais.

    As aes tm razes - No produzimos as narrativas como casualidades, nem por causa e efeito. Elasso motivadas por crenas, desejos, teorias, valores ou outras razes intencionais. As aes narradastrazem com elas as intenes do narrador que, muitas vezes, se podem supor ou alcanar apenas porinferncia.

    Composio hermenutica2 - Nenhuma histria tem interpretao nica, seus significados somltiplos no existe um procedimento racional para determinar se uma interpretao a nicapossvel. O objetivo de uma anlise de natureza hermenutica apontar uma interpretao convincentedos possveis sentidos de um texto, uma leitura que considere os detalhes particulares de suaconstituio. As construes narrativas da realidade nos levam a buscar sempre uma voz que diz otexto.

    Canonicidade implcita - Para que uma narrativa valha de fato a pena, deve transgredir em alguma

    medida as expectativas, romper o modelo, um certa tradio j estabelecida e irrevogavelmente aceita,

    2 Hermenutica: corrente filosfica que trata da interpretao dos fatos e acontecimentos da nossa existncia.

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    e, por assim dizer, desviar-se do esperado, legitimando-se pelo encadeamento proposto pelo narrador eno pelo que conhecido do ouvinte/leitor. Em conseqncia, o narrador que consegue inovar seconverte em uma figura cultural poderosa sempre que os relatos partem de modelos narrativosconvencionais e levam a algo inusitado, surpreendente.

    Ambigidade da referncia - Uma narrativa est sempre aberta ao questionamento, por mais quecomprovemos seus efeitos. O realismo narrativo, quer seja no fato verdico ou fictcio, uma questo

    de arranjos literrios. A narrativa cria e constitui, como sua referncia, a realidade narrada, de talmaneira que pode se fazer ambgua.

    A centralidade da problemtica A narrativa se apia em normas provisrias, isto , osacontecimentos que se sucedem, pela escolha do narrador, que colocam a problemtica no centro darealidade narrativa. As histrias que valem a pena ser contadas so as que nascem de umaproblemtica. O modo como o narrador constri essa problemtica no esttico, do ponto de vistahistrico e cultural expressa um determinado tempo histrico, uma determinada circunstnciacultural, de forma que os mesmos tempos e circunstncias dos acontecimentos narrados fazemreferncia a outros tempos, a outras circunstncias.

    Negociabilidade inerente - Quando lemos uma narrativa, suspendemos a incredibilidade no que serefere fico acabamos, de certa forma, por transferi-la para a vida real. Isso faz com que esse

    gnero seja favorvel s negociaes culturais. fcil tomar as verses alternativas de um relato comuma atitude de expectativa, muito mais do que nos casos de argumentos e comparaes: Tu tens a tuaverso, eu tenho a minha. Dificilmente precisaremos de legitimidade para solucionar essas diferenas.Pode ser que essa capacidade para considerar mltiplas construes narrativas que garanta aflexibilidade necessria para a coerncia da vida cultural.

    A elasticidade histrica. A vida no feita de uma histria auto-suficiente aps a outra, cada qualinstalada narrativamente por sua conta, de forma independente. Os argumentos, os personagens e ocontexto tendem a se expandir e a se relacionar com outras histrias. 3

    Embora esses conceitos sejam complexos, consideramos importante abord-los porque favorecem umamaior compreenso no s da importncia das narrativas, mas principalmente das suas caractersticas maispeculiares.

    O que mais relevante que saibamos a esse respeito?

    Que o critrio de seleo e sequenciao dos acontecimentos sempre uma prerrogativa do narrador;que as histrias que lemos e ouvimos nos remetem sempre s nossas prprias histrias e s nossas experinciaspessoais; que o narrado tem intenes nem sempre explcitas; que as narrativas so polissmicas ou seja, tmmltiplas possibilidades de interpretao; que embora sejam cannicas, modelares, a arte de narrar pressupemalguma transgresso que contrarie as expectativas de quem ouve ou de quem l; que elas criam realidades;que so as escolhas do narrador que do o contorno da problemtica de que o texto trata; que relacionamos dealguma forma as histrias que ouvimos e lemos com a nossa prpria vida; que as histrias dialogam umas comas outras, se inter-relacionam.

    E para seguir fazendo jus aos que trataram do assunto melhor do que poderamos fazer, nos alinhamos

    agora com Walter Benjamim, para endossar sua defesa de que somos todos historiadores, quando produzimoshistrias, quando relatamos os fatos, quando registramos nossas memrias; que o ato de contar uma histria fazcom que ela seja preservada do esquecimento, criando-se a possibilidade de ser contada novamente e de outrasmaneiras; que o sentido das histrias s se constri no olhar do outro, na relao com outras histrias.

    Benjamim, num movimento semelhante, de se alinhar com quem j disse o que diria, reafirma queaquela antiga coordenao de alma, olhos e mos, que aflora nas palavras de Paul Valry, artesanal, eencontramo-la onde quer que esteja a arte de narrar. Sim, podemos mesmo ir mais longe e perguntar se aligao que o narrador tem com sua matria a vida humana no , ela prpria, uma relao artesanal. Se asua tarefa no consiste, precisamente, em trabalhar a matria-prima das experincias as dos outros e as suasprprias de uma maneira slida, til e nica. Trata-se de uma transformao4.

    Para ele, a memria uma tessitura feita a partir do presente, o presente que nos empurra em relao

    3 Trechos adaptados dos captulos 6 e 7 de A cultura da educao. Jerome Bruner. Porto Alegre. Artmed Editora, 2001.4 Benjamim, 1992:56.

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    ao passado, uma viagem imperdvel, uma viagem necessria, uma viagem fundamental, para que a gente possatrazer tona os encadeamentos da nossa histria, da nossa vida, ou da vida do outro.5

    Ao narrar, visitamos o passado, na tentativa de buscar o presente, onde as histrias se manifestam,trazendo tona fios, feixes que ficaram esquecidos no tempo. O que buscamos, nesse momento, no somente trazer informaes sobre nossa histria, mas sim estimular em todos que delas se sentem parteintegrante, personagens, o despertar de outras histrias, para que se produzam outros sentidos, outras relaes,

    outros nexos.

    Memria: onde nasce a possibilidade de narrar

    Memria, do latim, memoria.1. faculdade de reter as idias, impresses e conhecimentoadquiridos anteriormente2. lembrana, reminiscncia, recordao3. celebridade, fama, nome4. monumento comemorativo

    5. relao, relato, narrao6. memento7. vestgio, sinal9. nota diplomtica10. dissertao acerca de assuntos diversos11. dispositivo do computador12. poder criador, imaginao, talento.

    Para discorrer sobre a questo da memria, tomaremos da epgrafe o seguinte: faculdade de reter idias,impresses, conhecimentos adquiridos anteriormente / lembrana, recordao, imaginao. Tomaremostambm, face complexidade do tema e a sua natureza, a modesta definio apresentada por um dicionrio defilosofia para abordar brevemente o assunto.6

    A memria, segundo o dicionrio de filosofia7, apresenta-se como a possibilidade de se dispor dasidias, impresses e conhecimentos passados que, de algum modo, esto disponveis para ser evocados. Amemria parece ser constituda, por duas condies ou momentos distintos: 1 o - conservao ou persistncia deconhecimentos passados que, por serem passados, no esto mais vista memria retentiva; 2o - possibilidadede evocar, quando necessrio, o conhecimento passado e torn-lo atual ou presente a recordao (p.657).

    Dessa perspectiva, temos ento, dois tipos de memria: o primeiro, a que chamaremos memria-conservao e o segundo, a que chamaremos memria-recordao.

    Por memria-conservao podemos compreender a possibilidade de preservar todas as coisas quequeremos guardar e que de algum modo porque guardadas na memria, retidas em algum lugar de nossamente, de nossa alma podemos recuperar. como se armazenssemos nossos conhecimentos, idias e

    impresses em um determinado receptculo a que pudssemos recorrer quando necessrio.J a memria-recordao a possibilidade de acionar os guardados da memria-conservao, que

    acabam por se atualizar, por evocao, no ato de recordar. Assim, recordar pode ser compreendido comovitalizar, oxigenar, reavivar as memrias guardadas. a arte de pr em movimento as idias, impresses econhecimentos disponveis. E esse movimento o que torna possvel ao homem expor suas memrias, narrarsuas histrias. Ns nos recordamos pela construo de narrativas que trazem luz eventos passados,atualizados no presente e lanados s memrias futuras.

    Mas a memria no passa somente por uma perspectiva individual e voluntria est evidentementevinculada a escolhas individuais, porm sempre dentro de um determinado contexto sociocultural, de umadeterminada circunstncia coletiva. Pressupe tambm, por oposio, o esquecimento. E relaciona-se com os

    5 Galzerani, 1999:8.6Para um primeiro contato instigante sobre o tema, consultar o texto de Smolka, A memria em questo: uma perspectiva histricocultural in Educao e Sociedade, ano XXI, no 71, julho de 2000, pgs. 166-193.7Dicionrio de Filosofia, Nicola Abbagnano, So Paulo, Editora Martins Fontes, 2000.

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    diversos suportes que esto a seu servio: das imagens na pedra, passando pelos ns de fios amarrados nosdedos, at as memrias fsicas dos computadores...

    Memorial: a narrativa da prpria histria

    Qual! no posso interromper o memorial; aqui metenho outra vez com a pena na mo. Em verdade, dcerto gosto deitar ao papel coisas que querem sair dacabea, por via da memria ou da reflexo.

    Machado de Assis

    As memrias, enquanto dissertaes acerca de assuntos diversos, so narraes escritas portestemunhas presenciais ou por algum que conta sobre sua vida. A escrita de memrias

    pressupe sempre dois tempos: o presente em que se narra e o passado em que ocorrem oseventos narrados... A busca do passado, porm, nunca o reencontra de modo inteirio, porquetodo ato de recordar transfigura as coisas vividas. Na pica, como na memria, o passado sereconstri de maneira alinear com idas e voltas repentinas, com superposio de planostemporais, com digresses e anlise. Naturalmente o que retorna no o passado propriamentedito, mas suas imagens gravadas na memria e ativadas por ela num determinado presente.(Aguiar, 1998: 25).

    O memorial (do latim memoriale) a escrita de memrias e significa memento ou escrito que relataacontecimentos memorveis. O memento que quer dizer lembra-te de modo geral pode ser compreendidocomo uma marca que serve para lembrar qualquer coisa (por exemplo, quando amarramos um lao no dedopara no esquecer algo), como uma caderneta onde se anota o que deve ser lembrado ou como um livrinhoonde se acham resumidas as partes essenciais de uma questo. Em nosso caso, so esses dois ltimos sentidosque tomaremos para tratar do memorial.

    No ato de anotar as coisas lembradas ou de registrar partes essenciais de uma questo, usamos a escrita,a linguagem escrita. Ao narrar as coisas lembradas, os acontecimentos passados assumem vrios matizes e nosdobramos sobre a prpria vida. Ao recordar, passamos a refletir sobre como compreendemos nossa prpriahistria e a dos que nos cercam. Vamos nos inscrevendo numa histria que no est mais distante e, sim,impregnada das memrias que nos tomam e da qual muitos outros fazem parte.

    Como toda narrativa autobiogrfica, o memorial um texto em que o autor 'faz um relato de suaprpria vida, procurando apresentar acontecimentos a que confere o status de mais importantes, ouinteressantes, no mbito de sua existncia. Possivelmente, ele levantar o vu apenas da parte que, de siprprio, pretende que se saiba e que se venha a ser lembrada8. Diferentemente da biografia/autobiografia, noh compromisso em historiar toda a vida. Pode ser uma obra literria ou cientfica, na qual o autor, ou um dospersonagens, evoca fatos a que tenha assistido ou de que tenha tomado parte. um texto que relata fatosmemorveis, importantes para aquele que o produz, tendo em conta suas memrias. uma marca, um sinal, umregistro do que o autor considera essencial para si mesmo e que supe ser essencial tambm para os seusouvintes/leitores.

    Para produzir um memorial, relevante saber das condies em que esto circunscritas as lembranas,assim como os acontecimentos e personagens que predominaram segundo as escolhas feitas. Nesse sentido, omemorial no somente uma crtica que forosamente avalia as aes, idias, impresses e conhecimentos dosujeito narrador; tambm autocrtico da ao daquele que narra, seja como autor do texto ou como sujeito dalembrana. Portanto, tem muito a ver com as condies, situaes e contingncias que envolveram a ao donarrador, protagonista das memrias. Alm de ser crtico e autocrtico, tambm um pouco confessional,apresentando paixes, emoes, sentimentos inscritos na memria.

    8As narrativas autobiogrficas do professor como estratgia de desenvolvimento e prtica da superviso, Maria Antnia Ramos e RosaEdite Gonalves.In Formao reflexiva de professores estratgias de superviso. Org. Isabel Alarco. Editora Porto. 1996.

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    O memorial de formao: histria da experincia e outras histrias

    experincia aquilo que nos passa, ou que nos toca, ou que nos acontece, eao passar-nos nos forma e nos transforma... esse o saber da experincia: oque se adquire no modo como algum vai respondendo ao que vai lhe

    acontecendo ao largo da vida e no modo como vamos dando sentido aoacontecer do que nos acontece. No saber da experincia no se trata daverdade do que so as coisas, mas do sentido ou do sem-sentido do que nosacontece... por isso ningum pode aprender da experincia de outro a menosque essa experincia seja de algum modo revivida e tornada prpria.

    Jorge Larrosa

    Um memorial de formao acima de tudo uma forma de narrar nossa histria por escrito parapreserv-la do esquecimento. o lugar de contar uma histria nunca contada at ento a da experinciavivida por cada um de ns.

    Esse gnero textual o memorial de formao um gnero que vem sendo gestado, muito em virtudedo lugar, assumido cada vez mais pelos educadores, de protagonistas em relao a sua prpria atuao e ao seuprocesso de formao. Dessa perspectiva, a valorizao do registro escrito das experincias e reflexes apenas uma das bem-vindas conseqncias, tanto como um exerccio necessrio de produo de textos quantopara difundir esses textos entre outros educadores.

    At bem pouco tempo, quando se relatavam as experincias, as histrias, as reflexes dos educadores,isso geralmente no era feito de prprio punho, mas, sim, por outros atores pesquisadores, em sua maioria.Esse movimento vem se revertendo atualmente e a proposta de elaborar memoriais de formao contribuibastante nesse sentido.

    A narrativa um excelente veculo para tornar pblico o que fazemos assim podemos ter as nossashistrias contadas. Isso fundamental, porque a memria dos profissionais pouco valorizada em nossa

    cultura. E h muitas histrias por contar... Ao narrar nossa experincia, podemos produzir no outro acompreenso daquilo que estamos fazendo e do que pensamos sobre o que fazemos.

    Alguns profissionais sentem uma certa dificuldade em relao a como comear a escrever e a comoencaminhar o texto. Nesse caso, ter um tema central, pr-determinado, s vezes pode facilitar cada um ter deencontrar a melhor forma de dizer o que considera que vale a pena ser dito.

    O melhor fator de desequilbrio a exigncia, principalmente interna isso pode ser um verdadeirodesafio, porque ter uma motivao, um sentimento que mobiliza, tende a facilitar a tarefa da escrita.

    Num curso universitrio de formao de profissionais que esto em exerccio e em programas extensosde formao continuada, fica potencializada a proposta de narrar por escrito as experincias e as reflexes, poisesses so contextos privilegiados de articulao teoria-prtica e de produo de conhecimento pedaggico.

    Que gnero esse, afinal?Um memorial, como vimos, o registro de um processo, de uma travessia, uma lembrana refletida de

    acontecimentos dos quais que somos protagonistas.

    Um memorial de formao um gnero textual predominantemente narrativo, circunstanciado eanaltico, que trata do processo de formao num determinado perodo combina elementos de textosnarrativos com elementos de textos expositivos (os que apresentam conceitos e idias, a que geralmentechamamos textos tericos). Se tomarmos em conta a definio mais clssica dos tipos de discurso narrativo,descritivo e argumentativo , poderamos dizer ento que o memorial de formao um gnero que comportatodos eles, embora evidentemente predomine o discurso narrativo. Em se tratando do estilo, tambm h lugarpara diferentes possibilidades: a opo pode ser por um tratamento mais literrio, ou mais reflexivo, ou pelacombinao de ambos.

    Num memorial de formao, o autor ao mesmo tempo escritor/narrador/personagem da sua histria.De modo geral, podemos dizer que trata-se de um texto em que os acontecimentos so narrados geralmente na

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    primeira pessoa do singular, numa seqncia definida a partir das memrias e das escolhas do autor, pararegistrar a prpria experincia e, como todo texto escrito, para produzir certos efeitos nos possveis leitores.

    O texto encadeia acontecimentos relacionados experincia de formao, prtica profissional etambm vida nesse caso, nos aspectos que de alguma forma explicam, justificam ou ilustram o que estsendo contado. O tempo a que se reporta pode estar ou no circunscrito: formao do perodo de um curso ouprograma, formao do tempo de profisso ou formao humana geral. De qualquer modo, a escrita de um

    memorial de formao sempre a partir do campo da educao. importante destacar que, embora uma narrativa seja sempre uma seqncia de acontecimentos, no

    necessariamente essa seqncia cronolgica e linear: pode-se narrar os fatos ocorridos numa perspectivalinear; pode-se eleger um fato mais recente e, a partir dele, abordar os demais fatos que a ele se relacionam;pode-se eleger um tema e contar o que tem a ver com ele, sem uma ordem temporal de apresentao dos fatos.Em qualquer caso, as escolhas so sempre necessrias. o modo como se narra que d o tom: a seqncia damemria, no exatamente dos acontecimentos.

    Do ponto de vista da organizao geral do texto, vale dizer ainda que, a depender do estilo do autor, possvel lanar mo de subttulos e outros recursos que possam orientar o leitor em relao ao contedoabordado ao longo do memorial.

    Do que se trata?Sendo o memorial de formao, j se tem a, ao mesmo tempo uma explicitao e um fator limitante: ocontedo, de modo geral, nossa formao, mais nossas experincias e partes da histria de vida que serelacionam com essas duas dimenses. Mesmo que se opte por um texto mais livre, ainda assim estarreferenciado no fato de que trata-se de um memorial que de formao.

    Dessa perspectiva, pode-se trazer elementos da formao humana que entram na formaoprofissional: as reflexes que tiveram lugar a partir do curso do qual se participa/participou e as mudanasdecorrentes representam os pontos mais significativos a serem abordados. importante explicitar a relaoentre formao humana e profissional e, estando j na profisso, o que contribuiu para as transformaes queforam acontecendo.

    Quando os autores so profissionais j em exerccio, a questo principal tratar articuladamente daformao e da prtica profissional, porque, nesse caso, quem est escrevendo o texto um sujeito que aomesmo tempo trabalha e est em processo de formao. Isso possibilita a emergncia de um conjunto deconhecimentos advindo da ao, a emergncia de um conjunto de conhecimentos advindo da formao e ainter-relao de ambos. Qualquer que seja o formato (mais livre, ou mais circunscrito), o essencial relatar oque, do trabalho de formao, interferiu de alguma maneira na atuao profissional e o que, da experinciaprofissional, colocou elementos ou interferiu no trabalho de formao. Assim, trata-se de um texto reflexivo decrtica e autocrtica.

    Nesse caso, para escrever o memorial de formao, a referncia principal sempre o lugar profissionalque ocupamos (de professor, de coordenador, de diretor, de formador...) e ento, quando necessrio, lanamosmo de memrias relacionadas a outras experincias de filho, neto, amigo etc que foram relevantes paranosso processo formativo. importante relatar aspectos positivos e aspectos negativos, dificuldades,

    problemas, preocupaes, inquietaes e tudo o que se considerar pertinente.Quando os autores so apenas estudantes, o que se coloca como referncia principal a condio de

    estudante e a reflexo sobre a prtica inevitavelmente de outra natureza, uma vez que ainda no ingressaramna profisso.

    O que acontece?

    O fato que quando escrevemos reflexivamente, preciso combinar em nosso mundo interior aspercepes que recolhemos do mundo exterior, dando forma s nossas idias e pensamentos. Ento, pensarpode ser isso: uma auto-reflexo sobre o todo do mundo tal qual se apresenta para ns, um jeito de cont-lo ans mesmo.

    Mergulhando numa perspectiva individual, de cada um consigo mesmo, poderamos dizer que essa aquesto:

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    Pensar nos porqus das minhas atitudes diante das situaes que vivo e nas capacidades quedesenvolvo para certas coisas e no para outras... Assim, estou sempre atribuindo um juzo de valor, vendo nosacontecimentos que se sucedem ao meu redor, e do qual eu participo como ator ou mero expectador, serepresentam ou no algo de valor para mim.

    S que esse juzo de valor nem sempre condicionado minha escolha consciente. Mesmo que eu noperceba, atribuo um juzo valorativo a toda interao com o mundo exterior, que acontece a todo instante: nas

    inmeras situaes com as quais me deparo no decorrer do dia ou em minha tentativa de organizar as idiasenquanto penso comigo mesmo, no estou sozinho o outro se apresenta a todo instante.

    Precisamente no modo que tenciono modelar as minhas atitudes, escolher as minhas coisas ouespecificar as minhas capacidades, estou fazendo-o para o outro, em funo de um outro que a minhaconscincia avalia e recorta.

    No posso, em nenhum momento ser um Eu para Mim, na percepo do mundo no qual eu me situo.Estou Eu para um Outro, ou seja, s me componho Eu na interao com o Outro, portanto no sou Eu SouMuitos, na relao com outros e na relao comigo mesmo.

    E nessa relao estou agora buscando, como disse o flsofo Husserl, aprender o que o mundo paramim, e tambm de que modo que o mundo para mim.

    Acontece que...Como vimos, o memorial de formao uma forma de registro de vivncias, experincias, memrias e

    reflexes que vem se mostrando imprescindvel, no s para tornar pblico o que pensam e sentem osprofissionais e futuros profissionais, mas tambm para difundir o conhecimento produzido em seu cotidiano.

    Assim, possvel que os textos produzidos pelos que fazem a educao deste pas ganhemprogressivamente a legitimidade que merecem na comunidade educacional e passem a figurar entre os textos desubsdio dos cursos de formao.

    Para finalizar essa reflexo sempre em aberto, emprestamos as palavras da escritora Clarice Lispector,que disse uma vez: na hora de escrever que muitas vezes fico consciente de coisas, das quais, sendoinconsciente, eu antes no sabia que sabia.

    Ela tinha razo.

    tambm por isso que ns, educadores, precisamos escrever. Para tomar conscincia do quantosabemos e nem sabemos que sabemos. E do quanto ainda no sabemos, mas podemos com certeza aprender.

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