mais ou menos estado? um estudo na perspectiva do ... · assim, nos países de rendimento e...
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Susana Campos Martins
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Universidade do Minho
Escola de Economia e Gesto
Mais ou Menos Estado?Um Estudo na Perspectiva do Desenvolvimento Economico
-
Dissertacao de MestradoMestrado em Economia
Trabalho realizado sob a orientao do
Professor Doutor Francisco Jos Veiga
Susana Campos Martins
Outubro de 2011
Universidade do Minho
Escola de Economia e Gesto
Mais ou Menos Estado?Um Estudo na Perspectiva do Desenvolvimento Economico
-
ii
DECLARAO
Nome: Susana Campos Martins
Endereo electrnico: susanacamposmartins@gmail.com
Ttulo da Dissertao:
Mais ou Menos Estado? Um Estudo na Perspectiva do Desenvolvimento Econmico
Orientador:
Professor Francisco Jos Veiga
Ano de Concluso: 2011
Designao do Mestrado: Mestrado em Economia
AUTORIZADA A REPRODUO INTEGRAL DESTA TESE/TRABALHO APENAS PARA EFEITOS DE
INVESTIGAO, MEDIANTE DECLARAO ESCRITA DO INTERESSADO, QUE A TAL SE COMPROMETE.
Universidade do Minho, 28/10/2011
Assinatura:
-
iii
AGRADECIMENTOS
Comeo por fazer um especial agradecimento ao Professor Francisco Veiga pela
orientao dedicada, pelo encorajamento incessante e pelo apoio e ateno prestados desde
a escolha do tema composio final da dissertao.
Aos meus colegas de mestrado/doutoramento pela discusso dos assuntos ou
problemas associados ao trabalho/tese de cada um, que ao mesmo tempo nos faz aprender
e crescer tal como a todos os professores que nos acompanharam ao longo destes dois
anos.
Ao Professor Miguel Portela, como sempre disponvel e atencioso, pelas dvidas
esclarecidas.
Por ltimo, mas de todo no menos importante, agradeo aos meus pais, aos meus
irmos, minha famlia e a todos os meus amigos pela preocupao e carinho de sempre!
-
iv
MAIS OU MENOS ESTADO? UM ESTUDO NA PERSPECTIVA DO
DESENVOLVIMENTO ECONMICO
RESUMO
O que pode tornar um pas economicamente mais desenvolvido? Ser que aumentar
simplesmente o Peso do Estado num pas uma soluo para que se obtenha
desenvolvimento econmico? Obviamente no assim to simples!
Atravs de um painel dinmico com 169 pases com uma componente temporal entre
1980 e 2010, o modelo proposto para o impacto do peso do Estado no Desenvolvimento
Humano estimado atravs do mtodo Sistema GMM. (i) O Peso do Estado tem um efeito
quadrtico no ndice de Desenvolvimento Humano: para aumentos moderados da despesa
pblica o efeito positivo, contudo o efeito pode ser negativo se o aumento for grande. (ii)
Alm de ser quadrtico no o mesmo para diferentes nveis de rendimento e
desenvolvimento. O efeito positivo mais acentuado para nveis mais baixos. (iii) Por ltimo,
quando do Peso do Estado num pas relativamente baixo, o aumento da despesa pblica
causa um efeito maior na taxa de crescimento do IDH que comparativamente a pases com
Peso do Estado mais elevado.
Assim, nos pases de rendimento e desenvolvimento baixos, os quais esto ainda
muito dependentes do Estado, aumentar a despesa pblica por si s seria uma soluo para
aumentar o desenvolvimento humano. Contudo, e para qualquer pas, tem de haver um
planeamento e um estudo da estrutura do pas que permita focar os aspectos a serem
melhorados, ou seja, o aumento da despesa pblica tem de ser eficiente e eficaz.
-
v
MORE OR LESS GOVERNMENT? A STUDY IN THE PERSPECTIVE OF THE
ECONOMIC DEVELOPMENT
ABSTRACT
What can turn a country economically more developed? Can a simple increase of the
Government Size in a country be a way in order to obtain more economic development?
Obviously its not that straightforward!
Through a dynamic panel data with 169 countries between 1980 e 2010, the
proposed model for the impact of the Government Size on the Human Development is
estimated with GMM System. (i) The Government Size has a quadratic effect in the Human
Development Index: moderate increases in public expenditure have a positive effect, however
that effect can be negative if the increases are too large. (ii) In addition for being quadratic,
is not the same for different levels of income and development. The positive effect is more
pronounced for lower levels. (iii) Finally, when the Government Size in a country is relatively
low, an increase in government expenditure causes a larger effect on the growth rate of HDI
compared to countries with higher Government Size.
Thus, in low income and developing countries, which are still very dependent on the
Government, increasing public expenditure would be a way to increase human development.
However, and for any country, there must be a plan and a study of its structure that allows to
focus on aspects that can still be improved. In other words, the increase in public
expenditure must be efficient and effective.
-
vi
NDICE
DECLARAO ..................................................................................................................................... i
AGRADECIMENTOS .......................................................................................................................... iii
RESUMO ........................................................................................................................................... iv
ABSTRACT ......................................................................................................................................... v
NDICE .............................................................................................................................................. vi
NDICE DE ILUSTRAES .............................................................................................................. vii
NDICE DE TABELAS ...................................................................................................................... vii
INTRODUO ................................................................................................................................... 1
1. O PESO DO ESTADO ................................................................................................................... 3
1.1 Definio e Medio ............................................................................................................ 3
1.2 Evoluo e Influncia do papel do Estado ........................................................................ 5
1.3 Teorias sobre o peso e crescimento do Estado ................................................................ 9
1.3.1 Bens Pblicos .......................................................................................................... 10
1.3.2 Externalidades ......................................................................................................... 12
1.3.3 Redistribuio de rendimento e riqueza ................................................................ 13
1.3.4 Grupos de interesse ................................................................................................ 14
1.3.5 Teorias da Burocracia e Iluso Fiscal .................................................................... 15
2. O DESENVOLVIMENTO ECONMICO ...................................................................................... 16
2.1 Definio e Medio .......................................................................................................... 16
2.2 Indicadores de Desenvolvimento Econmico .................................................................. 18
2.3 Evoluo ............................................................................................................................. 21
3. O PESO DO ESTADO E O DESEMPENHO ECONMICO ......................................................... 22
3.1 Efeitos no Crescimento Econmico ................................................................................. 22
3.2 Efeitos no Desenvolvimento Econmico .......................................................................... 24
4. ESTIMAO DO MODELO ........................................................................................................ 27
4.2 Os Dados ............................................................................................................................ 28
4.3 O Mtodo de Estimao .................................................................................................... 29
4.4 Testes de razes unitrias ................................................................................................. 37
4.5 Variveis Explicadas .......................................................................................................... 38
4.6 Variveis Explicativas ........................................................................................................ 38
-
vii
4.7 Anlise dos Dados ............................................................................................................. 40
4.8 Resultados ......................................................................................................................... 45
5. CONCLUSES ........................................................................................................................... 56
6. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ............................................................................................. 58
ANEXOS .......................................................................................................................................... 62
NDICE DE ILUSTRAES
Ilustrao 1: Evoluo do Peso do Estado ...................................................................................... 8
Ilustrao 2: Evoluo das Componentes de Despesa Pblica ..................................................... 9
Ilustrao 3: Composio do IDH .................................................................................................. 20
Ilustrao 4: Evoluo do ndice Desenvolvimento Humano e componentes............................. 21
Ilustrao 5: Evoluo do IDH em diferentes nveis de desenvolvimento ................................... 22
Ilustrao 6: Evoluo do PIB em diferentes nveis ..................................................................... 42
Ilustrao 7: Evoluo do IDH em diferentes nveis ..................................................................... 42
Ilustrao 8: Relao Quadrtica do Peso do Estado com o PIB ................................................ 43
Ilustrao 9: Relao Quadrtica do Peso do Estado com o IDH ................................................ 43
Ilustrao 10: Relao Quadrtica do Peso do Estado com o IDH em diferentes nveis ........... 44
NDICE DE TABELAS
Tabela 1: Indicadores de Desenvolvimento Econmico (2010) .................................................. 18
Tabela 2: Estatsticas Descritivas .................................................................................................. 41
Tabela 3: Resultados do IDH_TC, PESO_TC e PESO_TC2 ......................................................... 46
Tabela 4: Resultados do IDH_TC, PESO_TC e PESO_TC2 e outras variveis explicativas ...... 50
Tabela 5: Resultados do IDH_TC e PESO_TC em diferentes nveis .......................................... 51
Tabela 6: Resultados do IDH_TC e PESO_TC em diferentes nveis do Peso do Estado ......... 52
Tabela 7: Resultados do PIB_TC e PESO_TC em diferentes nveis do Peso do Estado............ 55
-
1
INTRODUO
Why are some countries less developed ant what can be done to change the situation?
Richard Pomfret, 1997
O que pode tornar um pas economicamente mais desenvolvido? O simples facto de
ter nascido no hemisfrio norte j uma resposta aceitvel. Porque razo em 2010, sculo
XXI, um habitante do Liechtenstein vive com cerca de 222$ 1 por dia enquanto um do
Zimbabu vive com apenas cerca de $482? Ou porque razo a esperana de vida nascena
para um japons de 83 anos mas para um afego de apenas 45 anos? Alm das
acentuadas diferenas entre os pases desenvolvidos e em vias de desenvolvimento
verificam-se ainda dissemelhanas dentro de cada grupo de pases. Mas porque se verificam
ento estas desigualdades? Ao certo, ningum sabe! Mas, tendo o sector pblico como
objectivos a igualdade entre os cidados, a redistribuio de riqueza dos mais ricos para os
mais pobres, criar meios para que todos tenham acesso a educao e sade, o peso que o
Estado representa nas economias pode ser uma ajuda para explicar essas diferenas de
desenvolvimento.
Economistas, investigadores, governantes e todo o mundo rodam em busca de
desenvolvimento econmico como diminuio da pobreza, aumento da qualidade de vida e
bem-estar social. Contudo, pela prpria natureza, este um tpico da economia to
excitante e interessante como complexo e difcil de definir e quantificar com exactido.
Estudar e identificar o que influencia positiva ou negativamente o desenvolvimento
econmico um meio plausvel e menos complicado para o alcanar.
Apesar de o Estado ter crescido incrvel e por vezes dramaticamente na generalidade
dos pases, o crescimento do Peso do Estado no um fenmeno recente nem simples.
Devendo o Estado tambm promover o desenvolvimento social e o crescimento econmico,
pretende-se assim testar se um aumento da interveno pblica pelo aumento da despesa
pblica tem impacto no desempenho econmico. Face imensa literatura que relaciona o
1 Valores do Rendimento Nacional Bruto per capita disponibilizados pelo Relatrio do Desenvolvimento Humano (2010) do Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). 2 Pouco mais de um tero em relao linha de pobreza de 1$25 por dia do Banco Mundial.
-
2
peso do sector pblico com o crescimento econmico atravs do Produto Interno Bruto (PIB),
este estudo pretende adicionar o desenvolvimento social (longevidade e educao) para
testar o impacto do crescimento do Estado no desempenho econmico uma vez que, por
apenas focar no PIB, o crescimento econmico acaba por ser uma dimenso restrita.
Para um pas se desenvolver economicamente necessrio crescer economicamente
porm, no suficiente. Distribuio do rendimento e estrutura econmica num pas so
tambm determinantes do seu nvel de desenvolvimento, da que estudar apenas o impacto
no crescimento seja um estudo menos completo e multifacetado. Assim, o objectivo da
presente dissertao verificar qual o efeito do Peso do Estado no desenvolvimento
econmico. Tendo em conta os resultados obtidos, estudos como este podem ter
importncia ao avaliar as polticas adoptadas pelos diferentes Governos ou levar
reformulao das mesmas e pode tambm ajudar a explicar os diferentes nveis de
desenvolvimento entre os pases.
Tendo em conta o objectivo proposto, este estudo divide-se em cinco captulos: no
primeiro importa esclarecer porque existe o Estado, como funciona, como evoluiu ao longo
do tempo e, principalmente, como o medir; o segundo orienta-se para o desenvolvimento
econmico, onde ser definido e analisado quanto sua evoluo e medio atravs dos
seus indicadores; o terceiro compreende a reviso da literatura que relaciona Peso do
Estado com desempenho econmico, crescimento e desenvolvimento; o quarto est
orientado para a anlise emprica onde comea por ser descrito o modelo e mtodo de
estimao, depois as variveis a utilizar, uma anlise preliminar dos dados e, por fim, a
demonstrao dos resultados; no ltimo captulo resumem-se as principais concluses do
estudo.
-
3
1. O PESO DO ESTADO
Apesar de o Estado ter crescido quase sempre nos ltimos 50 anos, este no um
fenmeno recente nem simples. Como definir e medir? Como tem vindo a evoluir? Quais os
fundamentos para a sua evoluo? Estas so algumas das perguntas s quais se pretende
dar resposta neste captulo 1.
1.1 DEFINIO E MEDIO
O Estado, em maior ou menor escala e clareza, e de forma centralizada ou no, est
presente em quase todas as actividades dirias. Mas ser plausvel afirmar que o Governo
existe ou intervm excessivamente? Na realidade no se pode. possvel comparar no tempo
e entre pases o peso relativo dos sectores pblicos ou at mesmo a eficincia de
determinadas actividades do Governo em reas especficas, contudo no plausvel afirmar
em termos absolutos que existe ou no excessiva interveno do Estado. Na literatura
econmica existem vrias maneiras de medir o Peso do Estado, acabando por ser contra-
produtivo pois ao mesmo tempo cria dificuldades no processo de avaliao dos efeitos
econmicos. Os dois principais determinantes econmicos e mais utilizados como medidas
para o Peso do Estado numa economia so as despesas e as receitas pblicas, como
percentagem do seu Produto Interno Bruto (PIB).
Cada uma das medidas possveis para quantificar o Peso do Estado, como outros
indicadores econmicos, tem as suas vantagens e desvantagens de utilizao. Utilizar, por
exemplo, o dlar americano como unidade de medida para uma avaliao ao longo do tempo
no uma boa opo j que um dlar hoje no tm o mesmo valor econmico que h 50
anos atrs nem o mesmo que h 5 anos, devendo por isso os valores ser corrigidos pela taxa
de inflao (para o estudo da evoluo intertemporal num pas) ou ainda pelas taxas de
cmbio (para avaliaes intertemporais entre pases). Outro erro de medida relaciona-se com
a populao, uma vez que crescimento populacional provoca um aumento quantitativo e no
necessariamente qualitativo do peso do sector pblico, porque simplesmente requer mais
gastos pblicos para fornecer os mesmos bens e servios e, consequentemente, maior base
tributria como financiamento. Uma comparao ao longo do tempo que no incorpore
mudanas demogrficas enganosa. Ao utilizar dados para a despesa pblica em termos
-
4
per capita obtm-se resultados mais significativos e, portanto, mais plausveis que
recorrendo a dados totais para a mesma despesa. Em comparaes entre pases acontece
algo similar j que maiores gastos e receitas pblicos esto correlacionados com maiores
populaes. Contudo, para estudos de longo prazo, utilizar uma medida per capita para o
Peso do Estado no ainda a forma mais correcta para o avaliar. Durante perodos longos,
pelo poder de manipulao, qualquer valor de despesa pblica tender a parecer
insignificante a menos que esteja apresentado em percentagem do PIB, o qual inclui
correces inflacionrias e demogrficas. Neste sentido, para estudos de curto prazo, esta
medida subavalia a despesa do Estado, principalmente em perodos com elevado
crescimento econmico, sendo portanto mais indicada para perodos mais longos (Labonte,
2009). Comparar observaes requer muitos cuidados, especialmente comparaes ao longo
do tempo, pois devem ser ajustadas pela inflao atravs do ndice de Preos do
Consumidor (IPC) ou pelo deflator do PIB, permitindo comparar o mesmo nvel de valores
reais em anos diferentes, e pelo crescimento da populao j que est correlacionado com o
PIB (e portanto crescimento econmico) atravs do uso de valores em percentagem do PIB
(Ulbrich, 2003). No presente estudo, como se pretende uma avaliao a longo prazo entre
pases, foi dada preferncia a dados expressos como percentagem do PIB para avaliar o
Peso relativo do Estado entre os pases.
Na literatura econmica h uma certa unanimidade quanto utilizao das medidas do
Peso do sector Estado como uma percentagem do PIB, como poder ver-se de seguida. Mas
qual a medida mais apropriada para quantificar o peso do sector pblico numa economia
como parte do seu PIB? Receitas ou despesas?
Como em muitos outros temas da literatura econmica tambm para o Peso do Estado
no existe a medida correcta mas sim uma medida que seja mais aceite e plausvel entre os
economistas ou decisores de poltica. Numa primeira abordagem parece ser indiferente
escolher entre receitas ou despesas quando estas duas grandezas esto prximas. Porm,
na realidade, no bem assim. Um exemplo simples o dos dfices oramentais que levam
a resultados inconclusivos j que avaliando pelas despesas pode considerar-se um peso
relativo do Estado elevado mas pelas receitas j no, ou vice-versa. Labonte (2009) cita dois
argumentos para ser prefervel escolher as despesas pblicas em vez das receitas para
medir o peso do sector pblico: (1) As receitas apresentam maior volatilidade, pois esto
mais sensveis s condies econmicas e apenas podem ser controladas indirectamente,
-
5
podendo ainda apresentar valores elevados, uma vez que resultam no s das polticas
fiscais implementadas pelos governantes mas tambm da interaco destas com o
crescimento econmico, conduzindo assim a resultados enganadores. (2) Na tentativa de
voltar ao equilbrio em perodos de dfice oramental, um corte nos impostos sem o
correspondente corte nos gastos d impresso de um sector pblico menor do que na
realidade pelo uso das receitas como medida. No seu relatrio e numa perspectiva de longo
prazo o autor opta pela despesa pblica para avaliar o Peso do Estado.
Berry e Lowery (1984), na tentativa de explicar o rpido crescimento do Estado, testam
vrios modelos utilizando dados das despesas pblicas nos Estados Unidos da Amrica, em
percentagem do PIB. Flster e Henrekson (2001), num modelo economtrico de dados em
painel para uma amostra de pases ricos, utilizam duas medidas do peso do sector Pblico:
total de impostos sobre o PIB e total de despesas sobre o PIB. Em geral, os seus resultados
para testar os efeitos no crescimento econmico foram mais robustos e estatisticamente
significativos para as despesas pblicas como indicador do Peso do Estado. Gwartney,
Lawson e Holcombe (1998) examinaram no seu estudo a expanso do Peso do Estado e o
seu impacto no crescimento. Acrescentaram ainda que uma medida para quantificar o sector
pblico deve ser a despesa total do Estado em percentagem do PIB, que no inclua apenas o
consumo do Governo ou despesas do Governo Central mas que englobe tambm
transferncias, subsdios e bens de capital.
A despesa pblica considerada entre os economistas o indicador mais apropriado para
o tamanho do sector pblico, em termos do tamanho de toda a economia, isto , em
percentagem do PIB o qual considerado medida padro para todos os bens e servios
produzidos por uma economia num dado ano (Stiglitz, 2000).
1.2 EVOLUO E INFLUNCIA DO PAPEL DO ESTADO
Peso e papel do Estado esto desde sempre intimamente ligados. Como o Estado
nem sempre foi como o vemos hoje, tem vindo a sofrer alteraes ao longo do tempo, tanto
ao nvel do seu envolvimento na economia como ao nvel das funes que desempenha.
Mudanas no crescimento do Estado estiveram relacionadas com alteraes do seu papel na
economia ao longo dos ltimos dois sculos, suscitando interesse no s entre economistas
mas tambm entre polticos, decisores de poltica e socilogos.
-
6
Desde finais do sculo XIX que os gastos pblicos tm vindo a aumentar
consideravelmente, em termos mdios3, porm mais rapidamente no perodo antes de 1980
(ver Ilustrao 1) e verificando-se depois um crescimento mais lento (Tanzi & Schuknecht,
2000). Resume-se de seguida, em termos histricos, os impulsionadores para a evoluo
das funes e despesa do Estado.
Inicialmente, como resposta ao efeito de distoro de um Governo excessivamente
regulador, caracterstico do sculo XVIII, Adam Smith veio modernizar a economia com a sua
teoria liberalista de que o Governo deve ser pouco ou nada interventivo na produo e nos
mercados, nomeadamente quanto tributao e circulao das mercadorias, estimulando
assim o que chamava de riqueza das naes (crescimento econmico). No sculo XIX
permanecia ainda a poltica de laissez-faire (deixar fazer ou andar) onde os mercados
deveriam funcionar livremente e sem interferncia e o Governo tinha poderes mnimos e
limitados desempenhando mnimas funes. Contudo, ainda em finais desse mesmo sculo,
procurando uma maior redistribuio do rendimento e da riqueza dos mais ricos para os
mais pobres ento admitida a funo redistributiva do Estado.
com a primeira Grande Guerra (de 1914 a 1918) que comea a verificar-se uma
maior interveno do Estado na economia pelo aumento dos gastos pblicos, nomeadamente
as despesas militares que consequentemente levaram a um maior financiamento via receitas
(impostos). Apesar da expanso da interveno do Estado na economia, os sistemas de
segurana e de promoo do bem-estar sociais estavam muito aqum de serem eficientes,
at que, em 1929, as falhas de mercado e da poltica de laissez-faire foram encaradas como
uma das principais causas da Grande Depresso. Como consequncia, registou-se uma
mudana de poltica para um Governo mais interventivo ao nvel do bem-estar e da
redistribuio de rendimento. Neste sentido, uma reformulao de poltica de mercado livre
para uma poltica de bem-estar onde o Estado assume um papel fundamental parecia
inevitvel. O socialismo ganhou ainda maior relevncia com a necessidade e implementao
de garantia de segurana social que caracteriza o que veio a designar-se de Keynesianismo4,
em oposio ao liberalismo, defendendo que o Estado deve desempenhar funes que a
economia por si s no consegue como o fornecimento de bens e servios pblicos e
3 Em termos mdios ao considerar-se haver assimetria no crescimento do Estado por se verificar, por exemplo, um desenvolvimento mais rpido da
despesa pblica em pases menos restritos institucionalmente. 4 John Maynard Keynes enfatizou a necessidade do aumento de despesa pblica e do Peso do Estado.
-
7
eliminao de externalidades (na seco 3 do captulo 1 sero analisadas novamente estas
funes). Este era um Estado protector e de bem-estar.
Nas dcadas de 1960 e 1970, perodo livre de grandes guerras e depresses,
caracterizado pelo incio da exploso demogrfica, verificou-se o mais rpido e histrico
crescimento da despesa pblica. Tanzi e Schuknecht (2000) caracterizam este perodo como
a idade de ouro para a interveno do sector pblico, chegando mesmo a concluir que este
era analisado e avaliado em termos normativos, isto , como seria um Governo ideal com as
suas funes e obrigaes e no em termos reais, isto , como actuava efectivamente na
economia. Tambm neste perodo se verificaram avanos na teoria das finanas pblicas
abordando temas como o problema dos bens pblicos e a teoria das externalidades
providenciando maior base para o papel alocativo do Estado.
Partindo de uma anlise positiva em contrapartida a uma anlise normativa, alguns
autores comearam a caracterizar o Estado como imperfeito, baseando-se numa viso
negativa da natureza humana em que os cidados tanto em mbito privado como pblico
defendem essencialmente os seus interesses. O extremo desse Estado imperfeito surge
como o Estado Leviat5: o sector pblico ao ter poderes acrescidos tender a ter cada vez
mais poderes e a crescer incessantemente (Pereira et al, 2007). ento, a partir de 1980
que se verifica o ponto de viragem na tendncia de crescimento rpido verificada
anteriormente, permanecendo ainda assim um aumento da despesa pblica, mas mais lento
(ver Ilustrao 1). Esta mudana explicada em grande parte pelo interesse e iluso
decrescentes por Governos activistas. Um crescente cepticismo quanto interveno do
Estado na economia, verdadeira funo que desempenha em muitas das suas actividades,
o aumento do interesse acadmico em avaliar o sector pblico como excessivo e
dispendioso enquanto estado de bem-estar que cria desincentivos com altos impostos e no
concretiza a eficincia na alocao de recursos e na redistribuio do rendimento esperados,
constituem as explicaes para tal abrandamento. Porm, apesar do crescente apelo para
um menor Peso do Estado, parece no haver um igual acompanhamento nas aces para
efectivamente o reduzir: a evoluo das percepes sobre qual o papel do Estado tiveram
um enorme impacto no crescimento do Peso do Estado mas aparentemente no tiveram
tanta influncia para mudar essa tendncia (Drazen, 2002).
5 O nome Leviat foi referido na Bblia como um monstro marinho e foi adoptado pelo filsofo poltico Thomas Hobbes para se referir ao Estado.
-
8
Tal como referido anteriormente, a despesa pblica acompanha e reflecte a evoluo
do papel do Estado e as diferentes percepes sobre o que deve fazer pela economia e pelo
bem-estar social ao longo das geraes. Com as componentes de despesa pblica acontece
algo semelhante como pode ver-se na Ilustrao 2.
Ilustrao 1: Evoluo do Peso do Estado
Fonte: obtido para dados do Peso do Estado (valores mdios em percentagem do PIB). Os valores da Despesa Total
do Estado e Receita Total do Estado esto disponveis no World Economic Outlook do FMI para 183 pases entre
1980 e 2010; os valores do Consumo Final do Estado esto disponveis no Banco Mundial para 180 pases entre
1960 e 2009 e, por fim, Consumo do Estado est disponvel nas PWT 7.0 entre 1950 e 2009 para 189 pases.
Apesar de no terem sofrido grandes alteraes nas ltimas duas dcadas em termos
qualitativos, no se pode afirmar o mesmo quanto proporo relativa de cada uma das
suas componentes. Enquanto inicialmente incidia maioritariamente em defesa (em perodos
de guerra em gastos militares) hoje a despesa pblica caracterizada maioritariamente por
segurana social e pela proviso de bens e servios como a sade e educao.
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Ilustrao 2: Evoluo das Componentes de Despesa Pblica
Fonte: obtido com recurso a dados das componentes de despesa pblica disponibilizados
pela OCDE para 29 pases (valores mdios em logaritmo).
1.3 TEORIAS SOBRE O PESO E CRESCIMENTO DO ESTADO
Parece ser unnime que o papel e mbito de interveno do sector pblico sejam
determinantes para o peso e crescimento do Estado na economia mas, quais os
fundamentos que justificam o incrvel e por vezes dramtico peso e crescimento do Estado?
medida que uma economia cresce, cresce tambm a necessidade de maior interveno
governamental para corrigir falhas nos mercados privados. Porm, o Estado deve intervir
para assegurar o eficiente funcionamento dos mercados privados e no para substituir os
seus mecanismos (Garrett & Rhine, 2006).
Na literatura econmica, as teorias que relacionam peso e crescimento do Estado
resumem-se essencialmente em duas categorias. A teoria cidado-governo designa as teorias
que relacionam Peso do Estado e o seu crescimento, isto , os cidados procuram bens,
servios e programas pblicos que sero fornecidos pelo Governo em resposta vontade do
povo. Por outro lado, quando o Peso do Estado est independente da procura dos cidados e
cresce com as ineficincias prprias das actividades do sector pblico e com os incentivos
para os burocratas do Governo, a categoria designa-se pelas teorias de crescimento do
Estado do tipo governo-cidado (Garrett & Rhine, 2006).
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1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005 2010Ano
Servios Pblicos DefesaRecreao, Cultura e Religio SadeEducao Segurana Social
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Assim, na primeira categoria inserem-se as seguintes teorias pelas quais se justifica
a existncia e crescimento do sector Estado: proviso de bens e servios pblicos e
eliminao (ou diminuio) de externalidades; redistribuio do rendimento e riqueza e
teoria dos grupos de interesse. Por sua vez, a segunda categoria aborda as teorias da
burocracia e iluso fiscal.
1.3.1 Bens Pblicos
Fornecer bens e servios pblicos6 constitui a mais clssica das funes pelas quais
o Estado intervm na economia.
Nos mercados competitivos, no caso de bens no rivais como os canais de televiso
por cabo, a excluso atravs da aplicao de um preo no desejvel pois levaria a uma
diminuio do consumo (excesso de oferta) todavia, se no houver possibilidade de excluso
h o problema da diminuio de oferta (excesso de procura). A possibilidade de excluso, no
caso dos bens pblicos, tem tambm uma implicao importante em termos de eficincia
tornando-a no desejvel economicamente para os mercados privados: como o bem pblico
no rival, o custo marginal de ter mais um indivduo a consumir o bem zero logo,
qualquer forma de excluso ineficiente provocando uma diminuio de consumo sem
benefcios adicionais (Pereira et. al., 2007). Apesar de no ser desejvel, a excluso
possvel e pode mesmo verificar-se atravs da aplicao de taxas de utilizao ou taxas
moderadoras: baseando-se no preo ou racionamento, qualquer uma destas formas de
excluso ineficiente. Estas falhas de mercado7 so a base para se considerarem os bens
pblicos como justificao para a interveno governamental.
Outro problema associado necessidade da proviso de bens pblicos pelo Estado
o que os economistas designam de comportamento borlista: sempre que um agente usufrui
de um bem sem que tenha contribudo para a sua obteno, por haver uma certa relutncia
em contribuir voluntariamente para suportar esses bens pblicos (Stiglitz, 2000). Dado que
os bens pblicos so no rivais, o indivduo borlista sabe que se no contribuir para a
6 Os bens e servios pblicos, em oposio aos bens privados, so geralmente definidos em torno de duas caractersticas: so no rivais no consumo, isto
, o consumo de um bem por um agente no impede ou diminui o consumo desse bem por outro agente e so no exclusivos, o que significa que no
possvel excluir um indivduo dos benefcios dos bens pblicos. 7 Falha de mercado existe quando um bem ou servio afecta o bem-estar de um indivduo (funo utilidade) ou os custos de uma empresa (funo
produo) para os quais existem agentes que estariam dispostos a comprar ou vender no mercado a um certo preo mas no existe mercado para esse
bem (Pereira et al, 2007).
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11
proviso do bem mas outros indivduos contriburem ento ir beneficiar tambm do bem.
Uma proporo significativa de indivduos agindo desta forma faz com que a proviso
voluntria deste tipo de bens seja ineficiente. Deste modo, a proviso pblica revela-se mais
eficiente por ser financiada pelo Estado (a nvel central ou local) permitindo que os
beneficirios do bem no paguem pela sua utilizao mas contribuam indirectamente atravs
dos impostos.
Como pode ver-se, os bens pblicos so por si s uma justificao para a existncia
do Estado. Mas de que forma podem explicar o seu crescimento?
Um modelo mais avanado para explicar a relao entre bens pblicos e Peso do
Estado o do eleitor mediano8. Os eleitores, pela regra de maioria, decidem qual a despesa
que o Estado deve ter em bens pblicos, podendo assim escrever-se a despesa pblica como
uma funo das caractersticas do eleitor mediano. Assumindo que X um composto que
representa os bens privados e P os respectivos preos, G representa os bens pblicos e P os respectivos preos, Y o rendimento do eleitor mediano e Z um vector de outras variveis, Mueller (2003) desenvolveu a seguinte equao de despesa do Estado para o
eleitor mediano:
ln G = a + ln P + ln Y + ln Z + O crescimento do Estado pode ento ser explicado atravs da equao anterior se as
seguintes condies so conhecidas:
A procura por bens pblicos inelstica (1 < < 0) e P aumenta relativamente a P. A procura por bens pblicos elstica (1 > ) e P diminui relativamente a P. Porque Y aumenta ao longo do tempo, se alteraes no Y explicam o crescimento de G em relao a X, ento > 1. Segundo o autor, apesar de no haver muitos estudos que comprovem a significncia
das ltimas condies, o mesmo no acontece com a primeira: grande parte das estimativas
para sugerem que este coeficiente maior que 1. Logo, o crescimento do Estado explicado pelo aumento relativo dos preos P.
8 Ver Congleton (2002) para aplicaes e implicaes do modelo do eleitor mediano.
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12
Berry e Lowery (1984) sugerem tambm vrios modelos para explicar o crescimento
do Peso do Estado, comeando simplesmente por afirmar que o Estado pode crescer por
duas razes: porque o Governo pode ampliar a quantidade e tipo de bens e servios que
fornece ou porque o custo de provisionar um volume constante de bens e servios pode
aumentar relativamente aos preos dos bens e servios no sector privado.
1.3.2 Externalidades
As externalidades so tambm reconhecidas entre os economistas como uma falha
de mercado representando por isso a segunda justificao primria, isto , o Estado deve
minimizar ou se possvel eliminar externalidades. Uma externalidade existe sempre que um
indivduo ou empresa atravs de uma aco (consumo ou produo) provoque um efeito no
intencional em outro indivduo ou empresa (atravs da funo utilidade ou produo). As
externalidades podem ser positivas se causam benefcio a terceiros, ou negativas se por sua
vez implicam um custo. Se os mercados so afectados por este tipo de falhas ento
consequentemente resultam em alocaes ineficientes de recursos. Veja-se atravs do
exemplo mais comum de externalidade negativa, a poluio. Mesmo que uma empresa
(privada) consiga diminuir a poluio produzida e apesar do benefcio social que da
decorreria, no tem incentivo em ter esse custo adicional.
Existem solues privadas para as externalidades sem que seja necessria a
interveno do Estado, contudo sob determinadas circunstncias. A primeira e mais simples
das solues est condicionada a organizaes econmicas suficientemente grandes que
permitam internalizar a externalidade e portanto qualquer aco por parte da organizao
tem consequncias dentro da mesma. A segunda est relacionada com o teorema de Coase:
as partes de uma determinada actividade econmica (por exemplo, vrios exploradores de
um mesmo jazigo de petrleo) podem juntar-se como um todo e internalizar a externalidade
e restabelecer a eficincia atravs de um tratado de direitos de propriedade. A terceira
soluo e mais extrema a que incorpora o sistema legal para forar os responsveis pelas
externalidades a compensarem as vtimas da decorrentes (Stiglitz, 2000).
Alm das solues privadas h tambm fortes razes para a interveno do sector
pblico. Muitas das externalidades envolvem a proviso de bens pblicos como, por
exemplo, a proviso de gua prpria para consumo cujo custo de excluir algum indivduo de
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13
usufruir deste bem seria muito elevado. Outra limitao surge com os custos de transaco
decorrentes das circunstncias necessrias para internalizar as externalidades, isto , na
formao das organizaes. Estes custos so significativos no caso dos bens pblicos e
constituem por si s uma razo para a interveno do Estado, verificando-se mesmo a
proviso pblica desses servios organizacionais como os custos administrativos associados.
Ento como pode o sector pblico minimizar ou eliminar as externalidades? O Estado
intervm nos mercados que apresentem este tipo de falhas atravs de solues baseadas
nesses mercados ou atravs de regulao directa. As solues baseadas nos mecanismos
dos mercados podem ser de trs tipos: multas ou impostos no caso de externalidades
negativas como os impostos de Pigou9, subsdios para as externalidades positivas e licenas
que podem ser transaccionveis como o nvel de poluio que uma empresa pode emitir.
1.3.3 Redistribuio de rendimento e riqueza
Redistribuir rendimento e riqueza a razo pela qual existe Estado, desta feita por
questes de justia social. Muitos autores chegam mesmo a afirmar que todas as despesas
pblicas tm por base a redistribuio dos mais ricos para os mais pobres, dos mais
afortunados para os que tm maiores necessidades.
Peltzman (1980) pretendeu explicar o crescimento do Estado pela sua funo
redistributiva e explicou o aumento dessa redistribuio como uma forma de os governantes
competirem pelos votos ao prometerem transferncias para certos grupos de cidados
obtendo assim os seus votos. Peltzman fundamentou tambm que quanto mais prximo est
o rendimento dos potenciais apoiantes, quanto mais prximas as diferentes classes sociais
dos eleitores, maiores os nveis de redistribuio que os governantes tm de oferecer para
ganharem o seu apoio. Assim a tendncia para uma crescente igualdade de rendimentos
entre os cidados, uma maior distribuio de rendimento (explicada pelo aumento da
educao) foi um factor decisivo para o crescimento do Estado.
Em oposio, um importante modelo que permite relacionar Peso do Estado e
redistribuio o de Meltzer e Richard (1981) que justificam o crescimento do sector
pblico no pela proximidade entre as classes mas sim pela desigualdade entre diferentes
9 O imposto de Pigou igual ao custo marginal externo provocado pela externalidade, suportado pelo agente que gera a externalidade levando ao preo e
quantidade ptimos de mercado: a internalizao da falha de mercado permite que custo social seja igual ao custo privado.
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14
grupos de rendimento. Tendo por base que toda a actividade do Estado consiste em
redistribuio (e tributao), a percentagem de rendimento redistribuda determinada pelo
eleitor de rendimento mediano que pretende maximizar o seu bem-estar escolhendo entre
trabalho (rendimento) e lazer (subsistir pela redistribuio pblica) e votando nos
governantes cujas polticas lhe sero mais favorveis. Do seu modelo de equilbrio geral
resulta o seguinte: o indivduo representativo procura por redistribuio, mais concretamente
o montante de impostos que maximiza o seu bem-estar. Enquanto indivduos com baixos
rendimentos (abaixo do rendimento mediano) apoiam polticas com elevados impostos e
mais redistribuio, indivduos com maiores rendimentos apoiam polticas opostas. O seu
modelo constitui uma explicao para o crescimento do Estado uma vez que, ao longo do
tempo, os novos eleitores so caracterizados como os trabalhadores de baixos rendimentos
que se haviam propagado nos sculos XIX e XX e que levaram a um aumento deste tipo de
eleitores. Os autores concluem ainda que a percentagem de eleitores que recebem apoio da
segurana social aumentou, favorecendo assim altos impostos e maior redistribuio
financeira, por outras palavras, o aumento do Peso do Estado.
Por sua vez e num estudo mais recente, Kristov, Lindert e McClelland (1992)
concluram que o nvel de redistribuio afecto ao Estado resulta do que designam de
afinidade social entre diferentes grupos na distribuio de rendimento: quanto mais prximas
esto as classes mdia e baixa ou quanto mais lento for o crescimento do rendimento, maior
ser o nvel de redistribuio. Estes autores relacionaram a configurao da distribuio do
rendimento e a sua redistribuio com o crescimento do Estado.
1.3.4 Grupos de interesse
A concluso geral da literatura sobre os grupos de interesse no mbito do Peso do
Estado que grupos de cidados podem exercer presso sobre o Estado mais eficazmente
que cidados a nvel individual podendo por isso ter influncia no Peso do Estado.
Um grupo de interesse pode ser entendido como uma organizao de eleitores
individuais que partilhem a mesma preferncia por determinada poltica. Pela regra de
maioria nas eleies possvel que os grupos de interesse consigam que as polticas que
desejam sejam as vencedoras, gerando assim benefcios directos para o grupo mas custos
para os muitos outros contribuintes (Garrett & Rhine, 2006).
-
15
Se a anlise do Peso do Estado se prender entre despesas e impostos, alguns grupos
de interesse preferem polticas que favoream despesas elevadas (como motoristas que
querem melhores estradas) e outros grupos preferem menos despesas (como ambientalistas
que querem menos construes). Qualquer pessoa quer receber mais subsdios e pagar
menos impostos e, segundo Mueller (2003), alguns grupos de interesse conseguem
efectivamente as duas opes. Segundo o autor, a relao entre grupos de interesse e Peso
do Estado contraditria, dependendo do tipo de polticas que os grupos desejam a relao
pode ser positiva ou negativa, e s pode ser analisada empiricamente.
1.3.5 Teorias da Burocracia e Iluso Fiscal
Uma viso mais simplificada sobre a teoria da burocracia a que caracteriza
burocracia como uma maneira de conduzir o negcio do Estado levando a um aumento do
sector pblico alm de criar uma ineficincia.
Um dos autores que desenvolveram esta teoria Niskanen (1971). De forma simples,
no seu modelo os burocratas agem como monopolistas10 fazendo as suas escolhas de poltica
de acordo com as suas prprias preferncias. Tendo em conta que os burocratas preferem
mais salrio e poder, este comportamento distorce o normal funcionamento do sector
pblico na medida em que o seu oramento ser maior que o necessrio para satisfazer as
necessidades dos cidados. Adicionalmente para o aumento do peso do sector Estado, o
facto de o salrio dos burocratas no reflectir os ganhos de eficincia e no existirem
ameaas de novas entradas contribuem para a viso ineficiente do Estado. De notar que esta
teoria no nega as anteriores de procura de Estado pelos cidados, apenas sugere que os
burocratas tm incentivo em gerar oramentos excessivos em relao aos que os cidados
procuram.
No obstante os resultados encontrados por Niskanen, Mueller (2003) questiona os
pressupostos do seu modelo alegando que para prevalecerem tm de ser muito fortes
colocando assim em causa essa capacidade dos burocratas manipularem preos e servios
do Estado.
10 Alguns economistas defendem que o Estado age como monopolista cujo nico objectivo maximizar as suas receitas no permitindo que os cidados
detenham controlo sobre si. Apenas restries a nvel constitucional (quanto ao seu poder de tributao, por exemplo) poderiam travar a propagao deste
Estado Leviat.
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16
Outra teoria que pretende explicar as despesas e o Peso do Estado a teoria da
iluso fiscal. Para Drazen (2002), iluso fiscal pode ser entendida como a possibilidade de
levar os cidados, os eleitores, a subestimarem o Peso do Estado e das despesas pblicas (e
portanto das receitas) e aceitar um sector pblico maior que o que gostariam se tivessem
uma percepo correcta do seu peso efectivo. De entre os estudos sobre a teoria da iluso
fiscal, destacou-se o de Oates (1988) ao analisar cinco formas distintas de iluso fiscal
resultando as seguintes concluses: quanto mais complexa a estrutura fiscal, mais difcil se
torna a percepo da carga dos impostos; mais difcil a percepo da carga fiscal implcita
na emisso de dvida que a carga fiscal associada aos impostos correntes; aumentos
automticos de impostos derivados da progressividade fiscal11 so mais difceis de detectar
que os aumentos devidamente legislados; os impostos sobre propriedades so mais claros
sob o ponto de vista dos proprietrios que dos inquilinos e, por fim, que as transferncias
intergovernamentais do tipo lump-sum so usadas de maneiras muito diferentes quando
gastas pelas unidades governamentais para onde so emitidas ou por indivduos nessas
jurisdies. De salientar, porm, que o autor no encontrou suporte emprico que
comprovasse estas hipteses.
2. O DESENVOLVIMENTO ECONMICO
Depois do enquadramento terico sobre o Peso do Estado, para relacionar este com
desenvolvimento econmico, igualmente importante fazer uma anlise sobre a definio,
medio e evoluo dos pases quanto ao nvel de desenvolvimento.
2.1 DEFINIO E MEDIO
Por estarem relacionados, muitas vezes desenvolvimento econmico confunde-se com
crescimento econmico. Na verdade so dimenses muito diferentes. Neste sentido, para
definir desenvolvimento econmico essencial em primeiro lugar distinguir desenvolvimento
econmico de crescimento econmico. Desenvolvimento econmico pode ser definido como
uma variao e reestruturao qualitativas na economia de um pas reflectindo alm do
progresso tecnolgico tambm o progresso social. Por sua vez, crescimento econmico pode
11 No contexto da iluso fiscal, progressividade fiscal existe quando a carga fiscal aumenta para um indivduo decorrente do aumento do seu rendimento.
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17
ser definido como uma variao quantitativa na economia de um pas medida atravs do
aumento do PIB durante um ano. O crescimento econmico pode registar-se sob duas
formas: extensivamente se houve aumento do uso de recursos como capital fsico, humano e
natural ou intensivamente se o uso dos mesmos recursos foi produtivamente mais eficiente:
crescimento econmico e melhoramento do padro de vida da populao podem ser
atingidos pelo aumento dos recursos e da eficincia produtiva. O PIB ou o crescimento
econmico constituem os principais indicadores de desenvolvimento econmico.
Assim, para haver desenvolvimento econmico necessrio crescimento econmico
porm, no suficiente: distribuio do rendimento e estrutura econmica so tambm
exemplos de indicadores indispensveis para o desenvolvimento econmico (Nafziger, 2006).
Parece no ser correcto afirmar que um pas se desenvolveu economicamente porque o seu
PIB per capita aumentou se grande parte da populao vive ainda em condies precrias.
Esta viso sobre desenvolvimento econmico foi desenvolvida muito antes por Seers (1969).
Para o autor, o nvel de rendimento representa apenas o potencial para o desenvolvimento
econmico. Para se registar desenvolvimento econmico necessrio verificar-se tambm
diminuio da pobreza, do desemprego e da desigualdade num pas.
importante ter em conta que os pases com maior rendimento no so
necessariamente os de maior desenvolvimento. No caso dos pases exportadores de
petrleo, so os de mais elevado rendimento per capita mas com relativo menor nvel de
desenvolvimento econmico. Um pas pode ser rico mas no necessariamente desenvolvido.
Vejam-se alguns exemplos na Tabela 1.
Definir e medir desenvolvimento econmico ainda um problema que gera grande
controvrsia pois tal como com o Peso do Estado no existe a medida correcta mas sim uma
que seja mais plausvel e aceite. De seguida so abordados detalhadamente os principais
indicadores de desenvolvimento econmico.
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18
Tabela 1: Indicadores de Desenvolvimento Econmico (2010)
Pas RNB per capita
(2008 PPC US$)
Posio no
ndice RNB IDH Posio no IDH
Qatar 79 426 2/188 0,803 38/169
Emirados rabes
Unidos 58 006 4/188 0,815 32/169
Kuwait 55 719 5/188 0,771 47/169
Brunei 49 915 7/188 0,805 37/169
Arbia Saudita 27 726 36/188 0,752 55/169
Fonte: Relatrio de Desenvolvimento Humano (2010) do PNUD.
2.2 INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO ECONMICO
A medida mais comum e conveniente para medir o desenvolvimento dos pases o
rendimento per capita (Pomfret, 1997). Contudo, como pde ver-se no ponto 1 deste
captulo, este indicador fraco e incompleto na medida em que no d indicao sobre
outros aspectos sociais como desemprego ou desigualdade ou sobre a qualidade de vida da
populao de um pas, os quais em conjunto com o crescimento econmico caracterizam um
pas quanto ao seu nvel desenvolvimento econmico. Face a este problema de medio,
foram ento desenvolvidas alternativas para medir o bem-estar de uma populao que
combinam vrios indicadores de desenvolvimento econmico. Destacam-se o ndice de
Qualidade de Vida Fsica (IQVF) e o ndice de Desenvolvimento Humano (IDH).
O IQVF um ndice que resulta da combinao de trs indicadores: taxa de
mortalidade infantil, esperana de vida e taxa de literacia nos adultos. Os dois primeiros
representam os efeitos de nutrio, sade pblica, rendimento e condies ambientais.
Mortalidade infantil d ainda indicao do acesso a gua potvel, da qualidade e condies
do lar e da sade da me. Literacia, por sua vez, d indicao do nvel de bem-estar assim
como imprescindvel ao desenvolvimento econmico num pas. Todavia, segundo Nafziger
(2006) este ndice tem algumas limitaes como correlao entre estes trs indicadores, o
ndice compsito e o PNB per capita; para pases com um nvel superior ao rendimento
mdio limitado quanto diferenciao entre nveis de desenvolvimento e ainda o problema
-
19
de escalar os dados entre determinados valores (0-1), tratando-se de um processo arbitrrio
que no claro quanto ao peso a atribuir a cada indicador.
Por outro lado, o IDH comeou a ser desenvolvido pelo Programa das Naes Unidas
para o Desenvolvimento (PNUD) em 1990, fundamentando que as diferenas entre os pases
desenvolvidos e em vias de desenvolvimento eram menores quando avaliadas pelo
desenvolvimento humano que pela simples comparao atravs do rendimento per capita.
Segundo o Relatrio do Desenvolvimento Humano (2010) do PNUD, este um ndice
sumrio que resulta da mdia geomtrica 12 de trs dimenses bsicas de desenvolvimento
humano: (1) vida longa e saudvel; (2) acesso a conhecimento e educao e (3) nvel de vida
digno e estvel (ver Ilustrao 3).
A cada um dos ndices includos no IDH so atribudos o valor mximo observado e
mnimo13 que pode ou no ser observado, resultando o valor do ndice para cada pas i no
ano t do seguinte clculo, segundo a publicao de 2010 do PNUD:
ndice Rendimento+,-IRNB1 = ln-RNB+,1 ln-mn. observado RNB1ln-mx. observado RNB1 ln-mn. observado RNB1= ln -RNB+,1 ln-1631ln-108 2111 ln-1631
ndice Esperana Vida+,-IEV1 = Esperana Vida+, 2083.2 20 ndice Mdia Anos Escolaridade+,-IMAE1 = MAE+, 013.2 0
ndice Expectativa Anos Escolaridade+,-IEAE1 = EAE+, 020.6 0 ndice Educao+,-IE1 == AIMAE+, IEAE+, 0 0.951 0
IDH+, = AIEV+, IE+, IRNB+,E
12Os autores argumentam a substituio da mdia aritmtica (utilizada em relatrios anteriores) pela mdia geomtrica pois assim obtm-se valores mais
baixos para os ndices ocorrendo apenas mudanas mais significativas para os pases onde h maior desigualdade entre as dimenses de
desenvolvimento. 13 Como estes valores mximos e mnimos variam ao longo do tempo, todos os anos so recalculados todos os ndices para todos os pases. Da que para
obter consistncia temporal no se deva fazer comparaes com diferentes publicaes do PNUD para o IDH.
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20
Ilustrao 3: Composio do IDH
Fonte: baseado no Relatrio do Desenvolvimento Humano (2010) do PNUD.
Notas: Vida longa e saudvel est baseada totalmente no indicador da esperana de vida nascena prevalecendo para cada ano
da sua vida a taxa de mortalidade registada, representa o nmero de anos que um recm-nascido espera viver. Conhecimento
baseia-se no ndice de educao, atravs de dois indicadores: mdia de anos de escolaridade nmero mdio de anos de educao
recebidos pelas pessoas com mais de 25 anos e expectativa de anos de escolaridade. Padro de vida digno est baseado no RNB
per capita Rendimento Nacional Bruto de um pas em termos de paridade de poder de compra, em dlares dos EUA.
Tal como IQVF, o IDH apresenta tambm algumas limitaes nomeadamente quanto
ao escalar os valores do ndice entre 0 e 1, quanto ao peso atribudo a cada uma das
dimenses bsicas, ou ainda dificuldades encontradas ao comparar entre pases outros
factores relacionados com o ndice de matrculas como qualidade das escolas ou taxas de
abandono escolar, que variam substancialmente de ano para ano. Seguindo Wallace (2004),
Nafziger (2006) considera tambm que IDH melhor, mais completo e multifacetado que
qualquer outro indicador ou ndice, sendo til pelos aspectos qualitativos de
desenvolvimento, podendo influenciar pases com baixos nveis de desenvolvimento a
reverem as suas polticas de nutrio, sade e educao. Neste sentido, no presente estudo
o IDH ser o indicador utilizado para comparar pases quanto ao seu nvel de
desenvolvimento.
Outros ndices foram ainda desenvolvidos pelo PNUD como o ndice de
Desenvolvimento Humano Ajustado Desigualdade, isto , ajustado desigualdade na
distribuio de cada dimenso pela populao, o ndice de Desenvolvimento e Gnero,
equiparado ao IDH mas que incorpora a desigualdade de gnero nos pases e o ndice de
Dimenso Vida longa e saudvel Conhecimento Padro de vida
Indicador Esperana de vida
nascena Mdia de anos de
escolaridade Anos de escolaridade
esperados RNB per capita
(PPC USD)
ndices
ndice de Esperana de Vida
ndice de Educao
ndice do RNB
ndice de Desenvolvimento Humano (IDH)
-
21
Pobreza Multidimensional identificando as diversas privaes que as famlias enfrentam
quanto a educao, sade e padro de vida.
2.3 EVOLUO
A anlise da evoluo do desenvolvimento econmico atravs do IDH pode fazer-se de
duas formas: analisar o IDH e as suas componentes e o IDH para diferentes nveis de
desenvolvimento. Na Ilustrao 4 verifica-se que todos os ndices evoluram ao longo do
tempo.
Ilustrao 4: Evoluo do ndice Desenvolvimento Humano e componentes
Fonte: obtido a partir de dados do IDH (valore mdios) disponibilizados no PNUD (2010).
De notar tambm, em termos absolutos, que o ndice para a educao foi o que
registou o crescimento mais acentuado enquanto o ndice rendimento foi o que evoluiu
menos (devido ao perodo entre 1980 e 1995, j que a partir desta data regista-se um
grande perodo de expanso econmica).
Por sua vez, para a evoluo do IDH entre diferentes nveis de desenvolvimento (ver
Ilustrao 5) conclui-se o seguinte: todos os diferentes nveis evoluram ao longo do tempo
.5.5
5.6
.65
IDH
1980 1985 1990 1995 2000 2005 2010
Ano
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2.5
4.5
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8
IRN
B
1980 1985 1990 1995 2000 2005 2010
Ano
.4.4
5.5
.55
.6IE
DU
1980 1990 2000 2010
Ano
.65
.7.7
5.8
IEV
IDA
1980 1985 1990 1995 2000 2005 2010
Ano
-
22
sendo que os que registaram um maior crescimento, em termos absolutos, foram os de
desenvolvimento mais elevado, contudo em termos relativos foram os de baixo
desenvolvimento.
Ilustrao 5: Evoluo do IDH em diferentes nveis de desenvolvimento
Fonte: obtidos a partir de dados do IDH (valores mdios) disponibilizados no PNUD (2010).
3. O PESO DO ESTADO E O DESEMPENHO ECONMICO
Quando se fala em desenvolvimento econmico inevitvel falar em crescimento
econmico uma vez que, segundo muitos autores, se trata do seu principal indicador. Por
esta razo, antes de relacionar Peso do Estado com desenvolvimento econmico essencial
verificar qual o seu impacto no crescimento econmico.
3.1 EFEITOS NO CRESCIMENTO ECONMICO
A Literatura sobre o Peso do Estado e os seus efeitos no crescimento econmico
vasta quanto aos autores que a ela se dedicam e quanto aos resultados encontrados. Assim,
sero apresentados alguns resultados e respectivos fundamentos desses trabalhos.
.7.7
5.8
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Des
envo
lvim
ento
Mui
to E
leva
do
1980 1985 1990 1995 2000 2005 2010Ano
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Des
envo
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ento
Ele
vado
1980 1985 1990 1995 2000 2005 2010
Ano
.45
.5.5
5.6
Des
envo
lvim
ento
Md
io
1980 1985 1990 1995 2000 2005 2010Ano
.28
.3.3
2.3
4.3
6.3
8
Des
envo
lvim
ento
Bai
xo
1980 1985 1990 1995 2000 2005 2010Ano
-
23
Um trabalho importante nesta rea foi o de Barro (1990). Ao implementar
empiricamente o seu modelo de crescimento endgeno, o autor salientou, alm das
dificuldades em medir os servios pblicos e as taxas de crescimento, a complexidade e
implicaes resultantes de endogeneizar o Peso do Estado. Considerando exgenas as
aces do Estado concluiu que, para um nvel relativamente baixo de despesas pblicas
produtivas 14 , o Peso do Estado influencia positivamente o crescimento econmico (mais
concretamente taxas de crescimento e poupana) mas a partir de um certo nvel (ptimo), o
aumento do Peso do Estado tem um impacto negativo no desempenho econmico. Concluiu
tambm que para um dado valor do Peso do Estado, um aumento das despesas no
produtivas leva a uma diminuio das taxas de crescimento e poupana pois apesar de no
terem um impacto directo na produtividade do sector privado, o aumento da tributao no
rendimento leva a um desincentivo no investimento 15 . Tambm Gwartney, Lawson e
Holcombe (1998) obtiveram resultados semelhantes. Segundo os autores, se as despesas do
Estado tm em considerao a sua produtividade, inicialmente as despesas pblicas podem
promover crescimento econmico, mas medida que vo aumentando o efeito contrrio. A
proviso pblica de infra-estruturas e um nmero limitado de bens pblicos como a
educao podem impulsionar o crescimento econmico. medida que o sector pblico
aumenta, a passagem da alocao de recursos efectuada pelo livre funcionamento dos
mercados privados para o sector pblico resulta em elevados impostos que criam
desincentivos para os trabalhadores e investimento, em ineficincia e baixos retornos ao
actuar em sectores privados e falta de dinmica e inovao no processo poltico quando
comparado com o processo de mercado. Estes efeitos podem mesmo dominar e a despesa
pblica marginal gerar um impacto negativo no crescimento. De notar ainda que os autores
afirmam que no h razo alguma para esperar, quanto a certos bens, uma proviso e
alocao mais eficientes por parte do sector pblico que do sector privado16.
Labonte (2009) realou ainda a utilidade de diferenciar as flutuaes de crescimento
de curto prazo decorrentes dos ciclos econmicos das taxas de crescimento sustentveis de
14 Corsetti e Roubini (1996), no seu estudo sobre os efeitos de despesa do Estado endgena e produtiva em modelos de crescimento endgeno, asseguram
que muitas formas de despesa pblica so directa ou indirectamente produtivas afectando a produtividade da economia sob diferentes formas. 15 King e Rebelo (1990) testam a hiptese de influncia das polticas pblicas nacionais nos incentivos para acumular capital fsico e humano como
explicao para as diferenas nas taxas de crescimento de longo prazo entre os pases. Simulando um aumento de 20 para 30% no imposto sobre o
rendimento concluram que tem um efeito negativo forte no crescimento econmico dos EUA. 16 Ver tambm Hauner e Kyobe (2010) e Afonso, Schuknecht e Tanzi (2005) que analisam empiricamente a eficincia e o desempenho do sector pblico
encontrando evidncia para uma relao negativa entre estes indicadores e o peso do Estado ou, ainda, Afonso, Ebert, Schuknecht, & Thne (2005) para
os argumentos e evidncia sobre a qualidade e suporte do crescimento das polticas fiscais.
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longo prazo. Para o autor as quatro formas de actuao do sector pblico (despesa,
transferncias, impostos e regulao) constituem potencial para influenciar as causas do
crescimento de longo prazo: oferta de trabalho, capital fsico e produtividade17.
Recentemente, Afonso e Furceri (2010) analisam o efeito do Peso do Estado e da
volatilidade fiscal no crescimento econmico dos pases da OCDE (Organizao para a
Cooperao e Desenvolvimento Econmico) e da UE (Unio Europeia) entre 1970 e 2004.
Nos seus modelos utilizam para captar o Peso do Estado um conjunto de variveis que
incluem despesa e receita totais em percentagem do PIB. Os resultados obtidos para a
relao do Peso do Estado com o crescimento econmico (medido atravs da taxa de
crescimento do PIB real per capita) foram negativos, substanciais e estatisticamente
significativos: o aumento de um ponto percentual nas receitas diminuiria o crescimento em
0.12 pontos percentuais na OCDE e na UE e o aumento de um ponto percentual nas
despesas diminuiria o crescimento na OCDE (UE) em 0.13 (0.09) pontos percentuais. A sua
anlise abrange ainda as componentes de despesa e receitas pblicas encontrando tambm
influncia negativa no crescimento econmico, contudo nem todos esses resultados so
estatisticamente significativos. Barro e Sala-i-Martin (1995), Bassanini, Scarpetta e
Hemmings (2001), Flster e Henrekson (1999) e Heitger (2001) encontraram tambm
evidncia emprica para um efeito negativo e estatisticamente significativo no crescimento
econmico de aumentos nos gastos gerais pblicos. De igual modo, De Gregorio (1996) e
Lee (1995) encontraram uma relao negativa contudo, no estatisticamente significativa.
Para finalizar, relembra-se o ponto 1 do primeiro captulo onde havia sido abordado o estudo
de Flster e Henrekson (2001): numa anlise para pases ricos (OCDE) utilizaram duas
medidas para o Peso do Estado obtendo resultados fortes, robustos e estatisticamente
significativos para as despesas totais do Estado que indicavam um efeito negativo no
crescimento econmico e resultados negativos mas no estatisticamente significativos para o
efeito dos impostos.
3.2 EFEITOS NO DESENVOLVIMENTO ECONMICO
Como se viu anteriormente, apesar do desenvolvimento econmico estar intimamente
relacionado com o crescimento econmico, as variveis que influenciam, positiva ou
17 Tanzi e Zee (1997) haviam tambm concludo atravs de instrumentos financeiros pblicos que a poltica fiscal pode representar um papel fundamental
no desempenho e crescimento de longo prazo dos pases.
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negativamente, o crescimento podem no afectar (ou afectar de forma diferente) o
desenvolvimento. Adicionalmente, se com o crescimento econmico parecia claro o efeito
negativo de variaes positivas no Peso do Estado, com o desenvolvimento, por se tratar de
uma variao qualitativa, a relao no assim to evidente nem to simples.
Para valores baixos, variaes positivas no Peso do Estado esto associadas a
variaes positivas no crescimento do PIB pelo alargamento das suas funes tais como
proteco dos direitos de propriedade, proviso de bens e servios ou justia, onde
claramente o sector pblico mais eficiente que o sector privado. Porm, medida que o
Peso do Estado aumenta acaba por tomar funes que seriam melhor desempenhadas nos
mercados privados levando assim a uma relao negativa entre Peso do Estado e
crescimento econmico. Apesar de o efeito no desenvolvimento poder registar-se de forma
anloga, esperado um impacto diferente no IDH em comparao ao esperado no
crescimento do PIB em resposta a variaes no Peso do Estado. Argumenta-se o facto de o
IDH depender tambm da longevidade e da educao, medidas directas e no
correlacionadas em comparao com o PIB.
Um importante e recente estudo que relaciona Peso do Estado com desenvolvimento
econmico o de Davies (2009). Na tentativa de encontrar o tamanho ptimo do Estado
(despesas em consumo do Estado e despesas em investimento do Estado, ambos em
percentagem do PIB) concluiu que o valor ptimo para o Peso do Estado ser maior pela
medida do desenvolvimento (utilizando para isso o IDH do PNUD incluindo 154 pases entre
1975 e 2002) que pela medida do crescimento (usualmente atravs do PIB). Os seus
resultados indicaram (1) para a totalidade dos pases e para valores relativamente baixos do
Peso do Estado uma relao positiva entre as despesas em consumo e investimento e
variaes no IDH. A partir do tamanho do Estado considerado ptimo a relao seria
negativa; (2) de forma anloga com valores baixos do Peso do Estado mas com resultados
simtricos, para um conjunto de pases com rendimento relativamente elevado a relao
seria negativa. Ultrapassando o ponto ptimo (neste caso ponto mnimo) a relao seria
ento positiva. As funes que representam (1) e (2) tm, respectivamente, concavidade
voltada para baixo e concavidade voltada para cima.
Anteriormente, Yavas (1998) j havia chegado a um resultado semelhante. O autor
mostrou que aumentos no Peso do Estado aumentam o produto se este baixo, mas
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diminuem o produto se o mesmo elevado. Esta relao deve-se forte necessidade de
proviso de infra-estruturas e servios pblicos nos pases com baixo desenvolvimento, da
que beneficiem mais de uma expanso nas despesas pblicas que os pases mais
desenvolvidos. De acordo com estes autores e face a variaes no Peso do Estado ento
de esperar efeitos diferentes entre pases com um IDH baixo e elevado.
Outros autores estudaram tambm a possvel ligao entre polticas fiscais e
desenvolvimento econmico. Mourmouras e Rangazas (2008) desenvolveram um modelo de
geraes sobrepostas com dois sectores de produo (tradicional e moderno), dois tipos de
famlias (trabalhadores e senhorios) e Estado que adopta as polticas fiscais ponderando
entre as suas preferncias por consumo ou bem-estar das famlias. Da prevem que pases
onde o Estado menos democrtico ou mais elitista, beneficiando os senhorios que so
mais ricos, enfrentaro consequentemente taxas de imposto mais elevadas e crescimento
mais lento. Comprovaram a sua hiptese atravs de uma anlise quantitativa onde
concluram que para estdios de desenvolvimento mais baixos onde predomina o sector
tradicional, os elevados impostos e consumo do Estado podem abrandar o desenvolvimento
e crescimento econmicos por no existir transformao estrutural que permita a
modernizao dos mtodos de produo. No negam contudo uma associao positiva entre
elevados impostos e crescimento se se verificar simultaneamente um elevado investimento
pblico e sugeriram tambm que medida que um pas se desenvolve ao longo do tempo a
tendncia natural ser para o aumento do Peso do Estado. Por sua vez, Mehrotra e Peltonen
(2005) introduziram o seu prprio ndice de desenvolvimento socioeconmico (IDSE) que
inclua diversas variveis entre as quais econmicas, sociais e ambientais para investigar a
sua relao com diversas variveis fiscais utilizando os pases de coeso (Portugal, Espanha,
Grcia e Irlanda) entre 1980 e 1999 e para verificar o papel da poltica fiscal e ajuste
necessrio de novos membros para o nvel de desenvolvimento socioeconmico dos 15
pases da formao da UE (pases de coeso mais os restantes 11 pases membros).
Concluram ento que diminuies nos gastos pblicos ou impostos esto associadas a
aumentos no IDSE sugerindo que o desenvolvimento socioeconmico pode beneficiar da
minimizao do sector pblico para os pases de coeso, porm a relao seria positiva
quando analisada para os restantes 11 membros da UE. Argumentam que pode indicar um
uso mais eficiente dos gastos pblicos por parte destes pases em comparao com os
pases de coeso. Para finalizar, os autores sugeriram que em linha com a literatura, a
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mdio prazo, uma reduo fiscal pela diminuio da dvida pblica e melhoria quanto aos
emprstimos so benficos para o desenvolvimento socioeconmico.
4. ESTIMAO DO MODELO
No presente estudo utiliza-se uma base de dados em painel, com uma componente
seccional (at 189 pases) e uma componente temporal (entre 1980 e 2010) para um vasto
conjunto de variveis.
A disponibilidade de observaes repetidas (vrios anos) para as mesmas unidades
(pases) numa base de dados em painel, permite especificar e estimar modelos mais
complexos e mais realistas do que uma base de dados com apenas uma componente
seccional ou temporal. Porm, tm tambm mais desvantagens em termos prticos: como se
observa repetidamente as mesmas unidades, no mais apropriado assumir que as
diferentes observaes so independentes, podendo mesmo dificultar a anlise, em
particular para modelos no lineares e dinmicos (Verbeek, 2008). Tratando-se o caso de
um modelo dinmico, alguns cuidados sero tidos em conta, posteriormente, para a
estimao do modelo.
4.1 O MODELO
Para a construo do modelo economtrico so tidos em conta alguns pressupostos:
segundo Davies (2009) esperado que o IDH presente para um dado pas seja similar ao
verificado anteriormente, sendo por isso apresentado nas regresses o valor desfasado desta
varivel. Assume-se tratar-se de um modelo dinmico que admitindo a possibilidade de um
impacto quadrtico do Peso do Estado, traduz-se no seguinte:
FGH_JKL,N = OL + PFGHL,NQR + SRTUVW_JK_L,N + SXTUVW_JKL,NX + YZ[ + SN + \L,N
i = 1,2,3, 169 pases t = 1,2, 3, ,7 perodos no sobrepostos de 5 anos: 1976-80, 81-85,86-90, 91-95, 96-00, 01-05 e 06-10.
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+: efeito individual a ser estimado para cada pas i _X: matriz de k variveis explicativas ,: efeito fixo do perodo t, ser adicionada uma varivel binria para cada um dos sete perodos
u+,,: termo de erro para o pas i no perodo t Tratando-se de um modelo dinmico pela presena de uma varivel dependente
enviesada, com uma base de dados em painel, com uma extensa componente seccional
comparativamente componente temporal (169 pases e apenas 7 perodos), segundo Bond
(2002) o mtodo economtrico mais apropriado a utilizar ser o Sistema GMM permitindo
assim obter estimativas consistentes para os parmetros.
4.2 OS DADOS
Ao utilizar bases de dados em painel, deve ter-se cuidado com os perodos de
observao utilizados, isto , a seco temporal requer cuidados adicionais. Muitas
vantagens so tidas em conta na escolha por perodos de observao mais pequenos,
especialmente em estudos como o presente que incluem variveis fiscais ou outras variveis
de poltica. Contrariamente, segundo Flster & Henrekson (2001), pelo uso de perodos mais
longos (30 ou 40 anos), captar os efeitos de crescimento torna-se menos eficaz (ao
considerar endgenas as polticas fiscais), aumenta a dificuldade em eliminar o efeito dos
ciclos econmicos ou a influncia demogrfica no Peso do Estado ou crescimento do PIB
(pelo aumento de idosos e a eliminao da informao sobre variaes dentro de cada pas
em termos de produo). Afonso e Furceri (2010) acrescentam ainda que usando perodos
longos perde-se a informao sobre a variao do crescimento ou Peso do Estado num pas,
pelo que devem ser usadas dummies para cada perodo ou pas pela sua capacidade em
captar esses efeitos especficos de cada perodo ou pas. Adicionalmente, pelo facto de o
IDH ser construdo e disponibilizado para perodos de 5 anos18, no presente estudo a seco
temporal ser constituda por 7 perodos no sobrepostos entre 1976 e 2010.
Como pde ver-se nas investigaes de Davies (2009) ou Yavas (1998), os autores
haviam concludo que os resultados para o impacto do Peso do Estado no desenvolvimento
18 O IDH disponibilizado para perodos de 5 anos entre 1980 e 2000. Apenas a partir de 2000 (inclusive) e at 2010 disponibilizado anualmente.
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econmico no eram os mesmos entre pases desenvolvidos e em vias de desenvolvimento.
Deste modo, divide-se a anlise dos pases entre dois nveis de desenvolvimento tendo como
base a diviso efectuada pelo PNUD: (1) pases de desenvolvimento muito elevado e elevado
constituem a amostra para os pases de alto desenvolvimento e (2) pases cujo
desenvolvimento mdio e baixo constituem o grupo de pases de baixo desenvolvimento.
Adicionalmente, tambm Flster e Henrekson (2001) admitiram que a composio da
despesa pblica (aqui utilizada para medir o Peso do Estado) difere entre pases ricos e
pobres e teria por isso um impacto diferente no crescimento econmico. A diviso
efectuada para dois grupos de acordo com o Banco Mundial: (1) alto rendimento
constituindo os pases de rendimento elevado dentro e fora OCDE e de rendimento mdio
alto e (2) pases de baixo rendimento que compreende os pases de rendimento baixo e
rendimento mdio baixo.
Quanto s variveis, de uma forma generalizada, estas dividem-se em duas
categorias principais: explicadas ou dependentes e explicativas ou independentes (entre
outras que explicam o desenvolvimento econmico compreendem as que representam o
Peso do Estado). A sua descrio ser feita na subseco 4.6.
4.3 O MTODO DE ESTIMAO
Uma particularidade dos dados em painel, uma vez que cada pas observado
repetidamente, prende-se com a dependncia das observaes, ou seja, necessrio
assumir que existe um determinado efeito especfico para cada indivduo, o qual no
observado. Este efeito especfico tem impacto ao nvel da estimao dos modelos,
dificultando mesmo a anlise como no caso dos modelos dinmicos.
De uma forma generalista e simplificada, considere-se o modelo linear dinmico com
uma varivel dependente desfasada y+,,Qc, sem variveis exgenas e com um termo de erro composto: (a) pelo efeito especfico invarivel no tempo + para cada pas e (b) pelo erro idiossincrtico (por enquanto assumida homocedasticidade dos erros u+,).
y+, = y+,,Qc + +, +, = + + u+,
u+,~ i. i. d. -0, gh1
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|| < 1 i = 1, , N t = 2, , T
Dois problemas esto associados a este modelo dinmico e que devem ser tidos em
conta: autocorrelao devido existncia de uma varivel dependente desfasada e a
presena de um efeito especfico para cada pas. Dado que y+, uma funo de +, tambm y+,,Qcser uma funo de +. Deste modo, y+,,Qc est correlacionada com o termo de erro +,: Eky+,,Qc, +,l = Eky+,,Qc, +l 0
Atentos a estes dois problemas, perceber qual o mtodo mais apropriado, consistente
e eficiente para estimar , tambm explicar porque razo outros mtodos no o so. Estimar o modelo acima descrito pelo Mtodo dos Mnimos Quadrados Ordinrios
(OLS) levar a uma estimativa enviesada e inconsistente. Isto acontece porque uma das
condies de Gauss Markov violada: a da obrigatoriedade da varivel explicativa, neste
caso a varivel desfasada, ser exgena, ou seja, no correlacionada com o termo de erro.
Como a varivel desfasada y+,,Qc est correlacionada com o efeito especfico + ento, y+,,Qc e +, no so independentes, estando na verdade correlacionadas positivamente. O enviesamento seria ento positivo (o verdadeiro coeficiente seria sobrestimado). De modo semelhante, assumir que + um efeito aleatrio e que, portanto, est independente do regressor y+,,Qc no verdadeiro pelo que o estimador de efeitos aleatrios tambm levaria a uma estimativa enviesada e inconsistente de .
Outra forma de resolver este problema seria adicionar uma varivel binria para cada
pas regresso. Contudo, no uma alternativa numericamente atractiva uma vez que
tendo 169 pases seriam adicionados 169 regressores ao modelo. Uma soluo mais
simples seria eliminar o efeito especfico + da regresso. Uma soluo possvel atravs da transformao do modelo para desvios das
variveis em relao sua mdia individual (mdia da varivel para cada indivduo ou pas),
ou seja, subtraindo a mdia individual a cada varivel:
y+, yn+ = oy+,,Qc yn+,Qcp + -u+, un+1
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yn+,Qc = -T 11Qc q y+,,Qcr,sh Como a mdia de + para cada pas seria exactamente +, porque este fixo, o efeito
seria eliminado. O estimador OLS para no modelo transformado conhecido como o estimador de efeitos fixos (FE). Com N e T fixo, este estimador seria enviesado e inconsistente dado que oy+,,Qc yn+,Qcp est ainda correlacionado com -u+, un+1 mesmo que u+, no apresente autocorrelao. A inconsistncia agora resulta da correlao entre y+,,Qc e un+19. Outra soluo possvel para eliminar o efeito especfico + , resulta da vantagem das primeiras diferenas das quais resulta o seguinte modelo transformado:
y+, y+,,Qc = oy+,,Qc y+,,Qhp + ou+, u+,,Qcp t = 3, , T
Apesar de no existir o efeito especfico + no modelo, a estimativa para atravs do estimador OLS no consistente, mais uma vez, porque y+,,Qc est correlacionado com u+,,Qc (no se verifica a exogeneidade da varivel y+,,Qc). Isto sugere a aplicao do mtodo das variveis instrumentais (IV) ao modelo anterior. Dado que y+,,Qc est correlacionado com u+,,Qc, o estimador IV utiliza um instrumento para a varivel y+,,Qc que esteja correlacionado com y+,,Qc mas no com u+,,Qc. Um instrumento vlido para oy+,,Qc y+,,Qhp seria y+,,Qh dado que est correlacionado com oy+,,Qc y+,,Qhp mas no comou+, u+,,Qcp, assumindo que no existe autocorrelao nos erros. Anderson and Hsiao (1981) sugeriram o uso de y+,,Qh ou mesmo y+,,Qh = oy+,,Qh y+,,Qup como instrumentos para oy+,,Qc y+,,Qhp na estimao de pelo mtodo IV. Apesar da consistncia do estimador IV ser garantida pelo pressuposto de
ausncia de autocorrelao de u+,, este pode no ser o mais eficiente uma vez que apenas usa instrumentos baseados em primeiras diferenas, no faz uso de todas as condies dos
momentos disponveis (oportunamente sero explorados instrumentos adicionais em
diferenas e em nveis) e no tem em conta a estrutura de diferenas dos erros u+,, (ver Baltagi, 2008 e Verbeek, 2008).
19 Dado que wnx depende de wx,yQc e este est correlacionado com zx,yQc e wxy est correlacionado com znx.Qcuma vez que este depende de zxy (ver Baltagi, 2008).
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Cada um dos instrumentos acima referidos, para que se verifique a validade da
exogeneidade dos instrumentos e, portanto, a consistncia das estimativas pode ser
expresso como um conjunto de condies dos momentos:
E{ou+, u+,,Qcpy+,,Qh| = 0 E{ou+, u+,,Qcpoy+,,Qh y+,,Qup| = 0
Esta abordagem das condies dos momentos para a estimao de um modelo
conhecida como o Mtodo dos Momentos Generalizado (GMM). Parte-se do princpio de que
a imposio de mais condies dos momentos (imposio de condies dos momentos
adicionais neste caso em relao aos associados ao estimador IV) aumenta a eficincia dos
estimadores 20 . Neste sentido, ser ento dada preferncia ao estimador GMM que, sendo
consistente (e no enviesado) tambm mais eficiente.
Arellano e Bond (1991) sugerem, assim, que sejam exploradas condies dos
momentos adicionais, variando o seu nmero com t. Fixando T, por exemplo T = 4 , a condio do momento para t = 3 dada por:
E{ou+u u+,hpy+,c| = 0 e y+,c um instrumento vlido uma vez que est correlacionado com oy+,h y+,cp mas no com -u+u u+,h1 . Apesar de y+,c estar correlacionado com u+,c , assumindo ausncia de autocorrelao nos erros, o instrumento continua vlido na medida em que continua
independente de -u+u u+,h1. Para t = 4 j so duas as condies dos momentos sendo y+,c um instrumento igualmente vlido em primeiras diferenas para oy+,u y+,hp:
E{ou+} u+,upy+,c| = 0 Mas agora tambm y+,h pode ser usado como instrumento dado que igualmente se
verifica: E{ou+} u+,upy+,h| = 0
Aplicando o estimador GMM amostra T = 7 do presente estudo, o vector dos termos de erro transformados (atravs das primeiras diferenas para eliminar +) definido como:
20 Este ganho de eficincia depende da validade das condies dos momentos.
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+ = u+ = ~ u+u u+,hu+ u+, = y+u y+,h y+ y+,
e a matriz dos instrumentos como:
Z+ =
y+c 0 0 y+c, y+h
0 0 00 0 0 0 0 0 0 0 0 y+c, y+h, y+u 0 00 y+c, y+h, y+u, y+} 00 0 y+c, y+h, y+u, y+}, y+
Cada linha na matriz contm os instrumentos vlidos para cada perodo de t = 221 a t = 7. Cada coluna da matriz representa um momento e respectivo instrumento disponvel22. O conjunto de todas as -rQc1-,Qh1h condies dos momentos vlidas resume-se a:
EZ+u+ = 0 Ou, para derivar o estimador GMM pode ser expresso como:
E{Z+-y+ y+,Qc| = 0 Estas condies so usadas para estimar os coeficientes de um modelo pelo mtodo
GMM, de forma consistente e eficiente.
Para que este estimador seja consistente, contudo, necessrio garantir que no
existe autocorrelao nos erros. Para isso so realizados testes para os resduos em
primeiras diferenas, devendo observar-se correlao de primeira ordem mas no de
segunda ordem. As respectivas hipteses nulas (ausncia de autocorrelao) so:
H: E -u+,u+,,Qc1 = 0 H: E -u+,u+,,Qh1 = 0
Pelo que a primeira deve ser rejeitada mas no a segunda. Adicionalmente deve
assumir-se que no existe correlao nos resduos entre indivduos. Quando N grande,
variveis binrias, uma para cada perodo, devem ser includas para evitar este problema.
As estimativas dos parmetros podem ento ser obtidas pela minimizao da
seguinte expresso quadrtica:
21 Em = 2 no existem condies dos momentos ou instrumentos vlidos. 22 A primeira linha e coluna no apresentam instrumentos vlidos uma vez que para t=2 no possvel obter primeiras diferenas.
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