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REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL Fernando Henrique Cardoso
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E DO DESPORTO Paulo Renato Souza
SECRETARIA-EXECUTIVA DO MEC Luciano Oliva Patrício
INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS Maria Helena Guimarães de Castro
Escragnolle Dória
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO
1837 - 1937
Brasília Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
1997
COLÉGIO PEDRO II Wilson Choeri Diretor-Geral
COMISSÃO DE ATUALIZAÇÃO DA MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO PEDRO II Roberto Bandeira Accioli
Presidente Afonso Bensabat Pinto Vieira, Aloysio Jorge do Rio Barbosa
António Nunes Malveira, Demóstheres Vieira Machado Gastão Nogueira Gorrese, Marílio Pires Domingues
Noemi Pacheco Dias Gonçalves
EDIÇÃO ORIGINAL: 1937
FOTOGRAFIA E REPRODUÇÕES Alexandre Souza Lima
NORMALIZAÇÃO BIBLIOGRÁFICA Regina Helena Azevedo de Mello, Rejane Dias Ferreira Ribeiro
PROJETO GRÁFICO Danilo Barbosa, Marisa Maass, Matheus Gorovitz
REVISÃO José Adelmo Guimarães
PUBLICAÇÃO REALIZADA DENTRO DO ACORDO MEC - UNESCO
TIRAGEM: 2.000 exemplares
INEP - SGAS, Quadra 607, Lote 50, 70200-670 Brasília - DF Fone: (061) 244-2612 - Fax: (061) 244-4712
Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP) Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
Dória, Escragnolle. Memória histórica do Colégio de Pedro Segundo / Escragnolle Dória;
Comissão de Atualização da Memória Histórica do Colégio Pedro II, Roberto Bandeira Acciol i . . . et ai. - Brasília: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais, 1997.
XXVIII, 302 p.; il. ; color. ; retrs.
ISBN 85-86260-70-X
1. Ensino secundário - Colégio de Pedro Segundo - Brasil. I. Accioli, Roberto Bandeira. I I . Ins t i tu to Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais. III. Projeto de Atualização da Memória Histórica do Colégio Pedro II. III. Título.
CDU 37.057
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
Sumário
Prefácio
Apresentação
Projeto de Atualização da Memória Histórica do Colégio Pedro II
Luiz Gastão D'Escragnolle Dória: Apontamentos Biobibliográficos
Bibliografia de Escragnolle Dória
Texto da publicação original de 1937
índice onomástico
vii
ix
xi
XV
xxiii
1
285
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
Prefácio
Em 1990, o professor António José Chediak, então diretor-geral, nomeou uma Comissão, sob a presidência do professor emérito Roberto Bandeira Accioli, para atualizar a Memória Histórica do Colégio Pedro II, reeditando a Memória Histórica do Colégio de Pedro Segundo - 1837-1937, de Luis Gastão d'Escragnolle Dória, de longa data esgotada. Houve por bem a Comissão assim proceder, para, numa segunda etapa, dar continuidade ao período que decorre de 1938 até a época presente.
Ao assumirmos a Direção-Geral, tornou-se. também, nosso empenho a realização desse empreedimerito.
Conhecedor dos nossos propósitos, e do papel que o Colégio Pedro II vem desempenhando no desenvolvimento educacional, pedagógico e cultural do Brasil, o Intituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP), pelo zelo de sua presidente, professora Maria Helena Guimarães de Castro, acolheu nossa proposta, como uma das edições comemorativas dos 60 anos dessa consagrada instituição.
Wilson Choeri Diretor-Geral
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Igreja de São Joaquim (1758) posteriormente demolida para o prolongamento da atual Avenida Marechal Floriano,
ao lado da qual existiu o Seminário de São Joaquim, transformado em Colégio Pedro II.
Apresentação
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837- 1937
A atualização da memória histórica do Colégio Pedro II tem sentido bastante significativo.
A republicação de edição comemorativa do Centenário, acrescida do texto referente ao transcurso, daquela data em diante, traduz a experiência vivida, evocando quadro da nossa evolução politica e cultural.
Nos mais variados setores da vida nacional, qualitativa e quantitativamente, a contribuição do Colégio Pedro II se fez valer de modo expressivo.
A condição democrática que o anima alicerça sua atividade, desde seus primórdios, a impor um proceder que se vê consagrado por mais de século e meio e festejado por parte de todo o Brasil que pensa e ama as belas realidades.
Assinalado no Colégio o ano letivo de 1881 pela conversão do Conselho Colegialem Congregação, constitui norma o provimento das cátedras por via de concurso de títulos e provas.
A relação dos professores recai em personalidades das mais representativas, no que diz respeito às funções docentes.
À frente da administração do Colégio se acharam figuras das mais dedicadas e eficientes, cujo procedimento se torna apreciável.
A participação nas reformas de ensino se objetiva
com o intuito de oferecer a solidariedade de propósitos
para aperfeiçoamento dos princípios basilares, quais
cânones a serem devidamente assegurados em benéfico
rendimento ao progredir da coletividade.
O diploma de Bacharel em Letras ao aluno que tiver
completado todo o curso é galardão conferido a ostentar
não importa a profissão escolhida, em que geralmente seu
portador se destaca.
Comparti lhando dos grandes momentos da
nacionalidade, o Colégio Pedro II, através de seus mestres,
discípulos e servidores, prega a Liberdade e o amor à
Pátria, sem qualquer restrição, o que constitui apanágio
habitual.
O pessimismo inoperante e o ot imismo
inconsequente cedem lugar ao equilíbrio. Nota-se, ainda,
o esvanecimento da velha querela entre antigos e
modernos, reunindo os mais e menos idosos nos menores
empreendimentos, e, assim mantendo o adquirido,
harmonizado com a inspiração inovadora.
Fim precípuo da civilização que ora se elabora é
conciliar em uma cultura e uma educação reais os
conhecimentos que afluem, numerosos e indispensáveis,
ESCRAGNOLLE DÓRIA
para definir os valores fundamentais e justificar os dias que correm e os vindouros.
Na cultura geral, a pesquisa do essencial faz-se imprescindível.
Na cultura especializada ao indivíduo cumpre preservar o saber, não só acolhendo-o como simples herdeiro, mas fiel depositário de um património a ser ampliado. Incumbe partir do passado para colocar as vinculações que conduzem ao presente e permitam definir sua originalidade. É a esse preço que se libera. Fazendo bom uso do passado, alimenta-se o êxito.
Distante do derrotismo peninsular de outrora não há por que deixarmos de considerar a validade dos dias atuais
e contribuir para um futuro promissor a ser obtido em bom
prazo...
Eis o grande ensinamento do Colégio Pedro II.
Já foi dito "não se compreende o elogio da árvore
sem o apreço pela raiz".
Viver exclusivamente do passado seria truncar a
existência, que é considerada como renovação contínua
de que participam simultaneamente , além do passado, o
presente, o futuro.
Roberto Bandeira Accioli
Professor Emérito do Colégio Pedro II
Presidente da Comissão de Atualização da Memória
Histórica.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 -1937
Projeto de Atualização da Memória Histórica do Colégio Pedro II
I - Justificativa
0 Colégio Pedro II é um marco educacional brasileiro que atravessou, com a mesma excelência de trabalho, dois momentos maiores da vida do país: o tempo do Império e o surgimento da República.
Em 1739, foi fundado o Colégio dos Órfãos de São Pedro, origem do Seminário de São Joaquim que, por decreto de 1837 levado para assinatura do Regente Pedro de Araújo Lima pelo eminente Ministro Bernardo Pereira de Vasconcellos, veio a transformar-se no Colégio Pedro II. Homem de sólida formação humanística de irradiação francesa, Bernardo Pereira de Vasconcellos tinha como objetivo criar no Brasil um estabelecimento nacional de ensino que recordasse a grandeza do Colégio de França, considerado o maior monumento cultural da Europa.
Não se veja aqui nenhum traço de cópia servil a modelos estrangeiros, mas a vontade de dar passos em caminhos já trilhados, na certeza de um resultado positivo quanto à educação de um povo.
Os mais de cento e cinquenta anos de existência do Colégio Pedro II respondem afirmativamente aos anseios de seu idealizador. Durante esse período ele tem sido a centelha viva a iluminar o aparecimento de novas
instituições. Seus professores irão participar da criação do Instituto de Educação, do Colégio Militar e vieram a influenciar outros estabelecimentos académicos, como a Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
Em seus bancos escolares se educaram personalidades ilustres em diversas áreas da cultura brasileira. Do mundo das letras ao universo da política brilham nomes como Álvares de Azevedo, Joaquim Nabuco, Barão do Rio Branco, Visconde de Taunay, Antenor Nascentes, Manuel Bandeira, Souza da Silveira, Afonso Arinos de Melo Franco, dentre muitos outros. Contam-se também os três presidentes da República: Rodrigues Alves, Hermes da Fonseca e Washington Luís.
Se os alunos atestam o alto padrão da qualidade de ensino do Colégio Pedro II, ele se justifica por um quadro docente memorável, onde se destacam Joaquim Manuel de Macedo, Araújo Porto Alegre, Gonçalves Dias, Gonçalves de Magalhães, Barão de Planitz, Barão Tautphoeus, Barão Homem de Melo, Barão do Rio Branco, Capistrano de Abreu, Euclides da Cunha, Fausto Barreto, Carlos de Laet, Sylvio Romero, João Ribeiro, Manuel Said Ali, José Veríssimo, Antenor Nascentes, Manuel Bandeira, Celso Cunha em lista numerosa e exaustiva.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Nascentes e Bandeira foram alunos que voltaram
ao Colégio como professores, somando dois casos em
lista não menos numerosa e exaustiva. Esse contínuo ir-
e-vir, essa dinâmica amorosa que só uma grande
instituição pode ostentar, é a marca do Colégio Pedro II.
Não esmoreceu no tempo. Hauriu forças sempre
novas de sua comunidade, atenta às mudanças e pronta
a mudar. Tantas vezes emprestou seus talentos a reformas
educacionais, quantas vezes o Brasil necessitou de sua
presença estelar. Contribuir para o desenvolvimento da
Educação nacional foi, é e será o compromisso maior do
Colégio Pedro II, entendendo tal meta como a disposição
perseverante na preparação de um futuro melhor para o
país. Educar não é informar, mas formar verdadeiros
cidadãos do mundo a experimentar a vida ao compasso
de um coração brasileiro em que repousem indeléveis os
valores de nosso povo.
Estamos a postos, trabalhando, como fizemos nas
Reformas Rocha Vaz e Francisco Campos, através da
presença, entre outros, dos Professores Catedráticos
Floriano de Brito e Delgado de Carvalho.
O Colégio Pedro II representa a tradição gloriosa de
uma instituição que cresceu, multiplicando espaço físico,
corpo docente, administrativo e discente, a partir do
"Casarão"da Rua Larga de São Joaquim (hoje Av. Marechal
Floriano), onde se encontra a Unidade Escolar Centro. Em
nossos dias, compreende um grande complexo
educacional desdobrado em nove casas de ensino que se
estendem por diferentes bairros da cidade do Rio de Janeiro:
quatro Unidades Escolares atendem a crianças da Classe
de Alfabetização até a 4a série do Ensino Fundamental e
as cinco restantes a adolescentes no prosseguimento dos
estudos até a 3a série do Ensino Médio, totalizando 15.000
(quinze mil) alunos com índice de aprovação e permanência
escolar que fazem inveja até a estatísticas de países no
mundo desenvolvido.
O Colégio Pedro II, reverente a seu património histórico cujos fios se entrelaçam a tecer a vida cultural brasileira, como atestam a obra literária de Pedro Nava e a dramaturgia tão moderna de Dias Gomes e de Gilberto Braga, deve permanecer como exemplo de uma instituição escolar que cultua a liberdade e o conhecimento alicerçado em valores a firmar raízes em sua tradição sesquicentenária.
II - Proposta
A história dessa singular instituição federal de ensino não pode ser perdida, com o risco de se perder também a memória nacional.
É urgente que se alinhem no tempo os fatos importantes que tiveram lugar no Colégio Pedro II. Escragnolle Dória registrou, em páginas lapidares, a trajetória do Colégio desde sua fundação até 1937. A Memória histórica é parada obrigatória para qualquer estudioso que pretenda penetrar no universo cultural brasileiro quer na política, quer nas artes, quer na ciência, quer na Educação. De tudo participou, emprestando sua experiência e seu engenho.
Em branco está sua história pós-centenária a pedir prelo que a imortalize na alma do leitor brasileiro, desenhando o perfil de uma gente assinalada pela fé no processo da Educação como o caminho transformador da sociedade.
Eis por que se reedita, com ortografia atualizada, a obra de Dória e a ela se dará continuidade, traçando a linha histórica que liga o Colégio Pedro II de 1937 aos dias atuais.
III - Objetivos
III.I Geral
Manter viva a memória do Colégio Pedro II, através da organização de documentos existentes nos arquivos das diversas Unidades Escolares e Administrativas.
III.II Específicos
Atualizar a ortografia da Memória histórica de Escragnolle Dória, tanto quanto for possível, corrigir gralhas e erros óbvios, reconhecíveis ou identificáveis.
Escrever a continuação dessa obra.
IV - Estratégias
Nessa busca pelo desenho de uma fisionomia completa do Colégio Pedro II, desde suas origens até o presente momento, foi criada uma comissão, presidida pelo Catedrático Emérito e Decano Professor Roberto Bandeira Accioli, que vem colhendo material, já tendo formado um acervo de pesquisas de grande importância para a confecção da obra pretendida.
Nomeada em 1990, pelo Professor António José Chediak, então Diretor-Geral, mantida pela administração da Professora Maria Amélia Amaral Palladino, a Comissão de Atualização da Memória Histórica do Colégio Pedro II, presidida pelo Professor Roberto Bandeira Accioli, é formada pelos Professores Aloysio Jorge do Rio Barbosa, António Nunes Malveira Demósthenes Vieira Machado, Gastão Nogueira Gorrese, Marílio Pires Domingues, Noemi Pacheco Dias Gonçalves e o Museólogo Alfonso Bensabat Pinto Vieira.
Com os originais prontos, a Comissão passou a tratar da segunda fase do projeto: a elaboração de uma obra a dar continuidade à Memória histórica que deverá conter a evolução do Colégio Pedro II compreendida entre 2 de dezembro de 1937 e os dias atuais. Focalizando eventos importantes e suas imediatas repercussões, a linha narrativa obedecerá a duas partes gerais:
1a parte: A evolução estrutural 2a parte: A evolução didático-pedagógica.
Na Primeira Parte, haverá uma abordagem sobre a estrutura física, os bens patrimoniais que foram acrescidos à Casa, a ampliação de suas instalações, expandindo a área de atuação do Externato, no Centro da cidade, e do Internato, no bairro de São Cristóvão, nas proximidades do Palácio Imperial, para outros distritos administrativos, como Humaitá e Engenho Novo, em 1952, e Tijuca, em 1957. Destaque-se ainda a reconstrução do complexo arquitetônico de São Cristóvão, a partir dos anos 60, por força de um incêndio que o destruiu.
Na Segunda Parte, o foco da obra centrar-se-á no desdobramento didático-pedagógico, relacionando planos e programas de ensino, o paulatino aumento de matrículas e o crescimento dos corpos docente, paradocente e técnico-administrativo.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837-1937
Luiz Gastão DEscragnolle Dória Apontamentos Biobibliográficos
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837-1937
"Relativamente velho em um país tão novo, o Colégio de Pedro II pode justamente se ufanar de sua existência e pode dizer às gerações futuras que as passadas souberam cumprir nobremente o seu dever".
Escragnolle Dória (Memória, 1937, p. 228)
Luiz Gastão DEscragnolle Dória
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
Na cidade do Rio de Janeiro, em 1869, no número 25 da Rua Visconde de Itaúna, hoje desaparecida para
a abertura da Avenida Presidente Vargas, nascia o nosso historiador e literato arqueólogo. Em 1948, na mesma cidade faleceu.
Filho de Luiz Manoel das Chagas Dória, General de Divisão reformado, Bacharel em Ciências Físicas e Matemáticas, professor da Escola Superior de Guerra, e autor celebrado da obra Estradas de ferro em tempo de guerra (Rio, 1883), que mereceu ser traduzida para o alemão e o francês por oficiais daqueles exércitos; escreveu, também, uma conceituada memória sobre a estabilidade das abóbadas circulares.
Dona Adelaide d'Escragnolle Taunay Dória, sua mãe, como se evidencia por seu sobrenome, era uma Escragnolle Taunay. Eram tios do menino o Barão de Itaipu e o Visconde de Taunay, ilustre ex-aluno do imperial colégio.
Pela Portaria de dois de abril de 1934, por decisão da Colenda Congregação, Escragnolle Dória foi incumbido de elaborar a história dos cem primeiros anos do Colégio fundado por Bernardo Pereira de Vasconcelos em 1837.
No tempo aprazado, em 1937, terminou ele a Memória Histórica do Colégio de Pedro II, obra que se recomenda àqueles que estudam a evolução da Instrução
Pública, da Pedagogia, da Educação e da Cultura no Brasil - fonte bibliográfica inestimável, raríssima e hoje muito procurada - razão da presente reedição. Em justa apreciação desse trabalho escreveu Noronha Santos: "Obra de inestimável valor histórico, minuciosa e excelentemente documentada, com testemunhos fidedignos sobre a história daquele notável estabelecimento de educação secundária, acompanhando o progresso e desenvolvimento conquistados numa centúria em prol da instrução pública no Brasil. Trabalho de raro mérito que exemplifica a capacidade produtiva de Escragnolle Dória, o seu esforço beneditino na consulta de documentos arquivais, e, sobretudo na probidade, por todos reconhecido como homem de bem a toda prova". (Revista da Semana, 10jan. 1948.).
Escragnolle Dória, efetivamente engajado, bem cumpriu a tarefa que lhe fora atribuída - missão arduamente beneditina de compulsar nas tradições do passado as presenças infindas das forças de continuidade do futuro. Com desvelo da sua operosidade, competência e obstinação, foi coadjuvado pela ajuda reverente de dois auxiliares, dois contínuos, Domingos e Leite, escribas copistas e contritos, e que também passavam a conhecer e eram parte da memória que ajudavam a recuperar.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Entregue a sua preciosa Memória, jubilou-se, por imperativo legal, do magistério do Colégio. A Congregação Colenda, com sabedoria, justiça e alto espírito de reconhecimento de seus serviços e proficiência, prestância pedagógica e educacional singular, foi buscá-lo para, por unanimidade, conferir-lhe solenemente o título de Professor Emérito. O Professor Jônatas Serrano, educador excepcional, saudou-o em nome de seus pares daquela Congregação a qual o agraciado pertencia desde 1906.
Não era só o Colégio Pedro II que se rejubilava com a outorga da emerência concedida. José Piragibe, citado por Serrano, em comentário no Jornal do Brasil, naquela oportunidade, assim se manifestou: "Só como professor do Colégio Pedro II é que Escragnolle Dória está aposentado. No sentido figurado da palavra emérito a Congregação do Ginásio Nacional apenas confirmou a opinião de quantos, mesmo sem o conhecerem, aprenderam e continuarão a aprender com ele muito da nossa História, muitas minúcias, grandes coisas aos olhos dele, pelo mundo de maravilhas que encerram e que ele nos desvenda, e que nos educam, tomando-nos melhores".
Jônatas Serrano, no seu discurso, glosando texto do próprio Dória, sobre o papel do mestre como informador e educador, visto não serem educação e instrução "coisas nem sempre gémeas", acentuou: "E a segunda sem a primeira - que pobreza moral e que perigo! Oxalá jamais o olvidem os reformadores do ensino. Programas, currículos, métodos renovados facilitam a tarefa. O essencial no prodígio da formação de uma personalidade, só o realiza o verdadeiro mestre, pelo que sabe, e, sobretudo, pelo que é. Esta solenidade vos exalça pelo que sabeis e pelo que sois".
Coroava-se, naquela sessão magna de 26 de agosto de 1937, no Salão Nobre que ele tanto admirava e exaltara em artigo especial, a carreira de um professor autêntico e predestinado. Vocação que cedo se delineara.
Vejamos a formação de Escragnolle Dória.
Passou parte da sua infância no Alto da Boa Vista, bem pertinho da Cascatinha da Tijuca, desfrutando da beleza e da quietude daquele sítio privilegiado.
Terminados os estudos primários, Luiz Gastão foi estudar no Colégio Aquino e no Colégio Amorim. O Pedro II era passagem obrigatória, e, assim o confirma Jônatas Serrano: "Desta Casa já éreis desde os tempos de aluno e ainda o quero redizer, a ela tornastes como bom filho...".
Ainda com onze anos já demonstrava a sua precocidade literária ao traduzir do francês uma novela jocosa de Méry, O sábio e o crocodilo, que foi publicada na Revista da Escola Militar, em 1880.
Em 1886 matriculou-se na Faculdade de Direito de São Paulo, onde se diplomou em Ciências Jurídicas e Sociais, em 1890. Foram seus condiscípulos Wenceslau Braz e Delfim Moreira. Dois futuros presidentes da República.
Durante algum tempo, exerceu brilhantemente a advocacia, mas foi, sobretudo, no magistério e nas letras que desenvolveria com maior proficiência, produtividade e empenho as suas atividades, sem esquecer a sua importante contribuição para a arquivística brasileira.
Desde 1887, talvez antes, já escrevia contos, mais tarde, em 1902, enfeixados em volume com o título Dor, nome do primeiro, e louvados pela crítica da época.
No magistério cedo ingressara como professor a partir de 1890. Entre 1896 e 1898 foi Redator de Debates do velho Senado Federal, que funcionava onde hoje está a Faculdade Nacional de Direito, no Rio de Janeiro.
De 1902 a 1909 ministrou aulas no Ginásio Nacional, regendo interinamente as cadeiras de Francês, Inglês, Lógica e Geografia. Entre os anos de 1908 e 1909, suas atividades docentes se distr ibuíram, ainda, pelo Pedagogium Municipal, Colégio Paula Freitas, Ginásio Fluminense, Escola Normal, Ginásio Pio Americano, Instituto Comercial, bem como outras instituições de ensino.
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
Em 1906, em concurso ao qual concorreram José Veríssimo, Felisbelo Freire, Joaquim Osório Duque Estrada, Armando Dias e Pedro Coutto, obtém, com brilhantismo, em primeiro lugar, a cátedra de História Universal e especialmente da América e do Brasil do Colégio Pedro II, então denominado Ginásio Nacional. Nomeado pelo presidente Rodrigues Alves, bacharel do Colégio, Escragnolle Dória tomou posse em sete de novembro daquele ano, sendo saudado pelo professor Dr. Fortunato Duarte, decano da Congregação.
Em 1909/1910, justo um ano. encontra-se na Europa a serviço do Governo Brasileiro, o que irá ocorrer, novamente, nos anos de 1911 e 1912, quando, por ordem do Barão do Rio Branco, ficou à disposição do Ministério das Relações Exteriores, para pesquisar e recolher nos arquivos europeus documentos que pudessem interessar à História do Brasil. E note-se, somente com os vencimentos de professor do Colégio!...
O pai de Herbert Moses, sabendo em que condições seria a sua estada na Europa, fez questão de entregar-lhe uma carta de crédito de vinte mil francos, jamais utilizada pelo professor, mas cujo gesto, de todo o coração, também, jamais foi esquecido por Escragnolle Dória (cf. AGRA.Alexandrino, O Globo de 2 fev. 1948.).
Max Fleiuss, em 1911, encabeça proposta que o torna, em 1912, sócio do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.
Nomeado para a direção do Arquivo Nacional, sua gestão profícua desenvolveu-se de 1917 a 1922. Foi um dos mais dignos e operosos diretores, cuja administração caracterizou-se, principalmente, por grande atividade arquivológica, à qual se juntava um acentuado culto às mais genuínas tradições brasileiras, de que foi prova o desenvolvimento dado ao Museu Histórico do Arquivo, primitivo núcleo do outro que o sucedeu, ampliou-se, e que hoje tanto se recomenda. Escragnolle Dória sabia que só a preservação consciente desses valores, como
comportamento ético e social, cultural e cívico é que se mantém viva a memória nacional. E isto ele o viu bem. Era-lhe um sentimento inato.
As suas atividades de labor incansável, intelectual e artístico, não o impediam de colaborar com outras que eram pauta de seu espírito humanitário da verdadeira caridade. Como Irmão da Santa Casa de Misericórdia , foi procurador da então Casa dos Expostos, depois Fundação Romão de Matos Duarte, sobre a qual, registre-se, deu à publicidade um opúsculo histórico que revela, dentro da isenção do historiador, a sensibilidade de um coração generoso. Depois de observar que "pouquíssimo se sabe da vida de Matos Duarte", que viveu no Rio de Janeiro no século XVIII, lembra que "a biografia deste continuará tão árida quão fecundo foi o seu coração, reduzido sacrário humano das infinitas bênçãos de Deus". Uma instituição surgiu do mesmo espírito que fez nascer, em 1739, um seminário para órfãos, que, mais tarde, reformado e renovado, encontraria o seu historiador naquele procurador da Misericórdia.
Não abandonou a liça. Como procurador, militara de 1912 até 1920. Novas atribuições o esperam de 1920 a 1921. É investido como Quinto Mordomo dos Prédios, e passa a gerir o património do Hospital Geral. Como não poderia deixar de ser, escreveu a História da quinta mordomia, onde, num passo, exprimiu um pensamento lapidar, principalmente, para as instituições: "Inútil tentar entender, ainda menos explicar presente ou prever futuro, sem recurso do passado. A ordem intelectual ou moral é cadeia, tem elos, forçosamente".
Foi um missionário mi l i tante. E assim o encontraremos nos registros das Irmandades da Glória do Outeiro, na Cruz dos Militares ou da Lapa dos Mercadores.
Pertenceu a muitas instituições científicas, dentre outras, ao Instituto histórico e Geográfico Brasileiro, Instituto de Bacharéis em Letras, ao Instituto Genealógico de São Paulo, e sócio correspondente da Sociedade de Geografia de Lisboa.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
A campanha da Assistência Dentária Infantil encontrou nele um grande incentivador participante e só atingiu os seus objetivos porque foi apoiada por Escragnolle Dória, Irineu Marinho, Eurides de Matos, Costa Rego e Elmano Gomes Cardim.
Eo mestre! Ele mesmo, antologicamente, se gizou no prefácio
do Epítome de história universal (1917), de Jônatas Serrano: "Ser mestre não é dar aula mecanicamente, a
namorar o relógio, mastigando noções e deglutindo enfados, chamando quatro ideias para manter palavra durante sessenta minutos.
Ser mestre é um pouco mais, é espreitar com alvoroço o progresso do aluno, afagando-o no impulso do esforço, corrigindo-o no tatear do erro.
O aluno aproveitável, brioso de futuro, não se desampara com o prazer à porta da escola, perdendo-o de vista, para sempre, no reboliço da turba humana.
Cultivando-o para bem da comunidade, o mestre continua a segui-lo pelo enleio sinuoso da vida, desviando-o do perigo pelo conselho, pelo apoio material se for preciso, fixando-o no bem e no trabalho pelo aplauso, sóbrio, mas cordial."
O depoimento de Heitor Beltrão, seu ex-aluno, atesta que o mestre espelhara-se em si mesmo: "Se os discípulos aproveitáveis precisavam, depois da aula, do seu concurso, de seu conselho, e mesmo de seu auxílio material, ressurgia-lhes Escragnolle Dória, como nume benfazejo do Colégio, emissário espiritual das aulas idas, projetando-se, amparador e discreto, até as lides ásperas cá de fora..." (Jornal do Brasil, 18/11/1937).
Não fora outra a razão da homenagem que lhe prestaram, em 24 de dezembro de 1933, seus alunos da Quinta série - Turma B, que o tiveram como professor de Francês, História do Brasil e História Universal, no Externato, de 1929 a 1933. A sua efígie modelada em bronze exorna a Sala 18, denominada, daí então, Sala Escragnolle Dória.
Espírito polimórfico de invulgar sensibilidade, desde cedo empolgou-se pela literatura, artes, teatro, ópera e
bel-canto. Apaixonado pela psicologia das emoções, retrata nos seus contos as causas da dor ou da alegria, os estados da alma e os desencontros, e as situações confl i t ivas da vida na sua variada e cambiante complexidade.
Biografias e perfis, como os do Visconde de Souza Franco, de Salles Torres Homem ou do Conde de Porto Alegre, pontilham luminosamente os seus artigos, quer pela reversão de momentos vividos quer pela análise dos documentos. Das suas lembranças da ópera e do Bel-Canto bem as evoca na série de artistas de outros tempos, numa galeria que inclui, dentre outros, Juliana Bejeau, Rosina Laborde, Gottschalk, SigismundoThalberg, Rosina Stoltz, Enrico Caruso, Eleanora Duse e Adelaide Ristori.
Conhecedor de várias línguas, e, principalmente da francesa, de que é exemplo precoce a tradução da novela de Méry e, em especial, a que fez, mais tarde, do célebre soneto de D'Arvers. Traduziu também O corvo, de Edgar Allan Poe.
Parece ter sido o único brasileiro a ser mencionado, com aplauso, no Journal des Goncourts. Correspondia-se com François Coppée, Edmond de Goncourt, Júlio Verne, Pierre Loti, Mistral, Massenet, Mallarmé, Maeterlinck, Edmond Rostand, Saint-Saens, Émile Zola, dentre outros grandes vultos consagrados da literatura e das artes da França. Nomes representativos de uma "Belle Époque".
Professor e publicista, exerceu, com êxito, o conto, a poesia, a crítica artística e literária. Outra atividade querida, simultaneamente, o acompanhou em todo o curso de sua vida - o jornalismo.
Iniciou-se no jornalismo em São Paulo. De julho de 1891 a 18 de fevereiro de 1893 colaborou na Folha da Tarde, de Santos. Participou da segunda fase de A Semana de Valentim Magalhães e Max Fleiuss, de 1892 a 1895. Passou pelas redações do Jornal do Commercio (1891 -1922); Rua do Ouvidor (1896), Gazeta de Notícias (1908), Capital Paulista (1900), Anais (1905) etc. Colaborou nas revistas Eu Sei Tudo, Renascença, Kosmos, A Semana, Arquivo
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
Público Mineiro, Século XX e Sul América. Longa é a lista. Cumpre ressaltar que foi, sobretudo, na Revista da Semana, onde, desde 1921 até 1948, escreveu cerca de 1320 artigos, tendo sido o último postumamente publicado: "Três Cartas de Euclides da Cunha". Labutou ali durante vinte e seis anos, com pequenas interrupções redigindo artigos que fizeram época. Eram de ampla aceitação pelo seu teor verdadeiramente documental e iconográfico. Trabalhos honestos, pautados exclusivamente na verdade histórica. O seu primeiro artigo na revista (01/01/1921) intitulava-se Exposição de arte e história dos três reinados, 1808-1889.
Escreveu libretos para óperas e poemas sinfónicos para: Jupira, Marabá e Insónia de Francisco Braga; Navio Negreiro de Assis Nepomuceno; Anchieta de Newton Pádua; Independência de Elza Cármen; e como não poderia deixar de ser para a composição de Villa Lobos, A Guerra.
De 1913 a 1931 comentou os programas da Sociedade de Concertos Sinfónicos.
Usou vários pseudónimos: Vegex, D. Demetrius, Branca de Miramar, Ulisses de Aguiar, Mac Nemo, Nemo, José Belém, Dornelas, Um Abelhudo, Álvaro Guedes, Jacy Belém e E.D.
Nos artigos que escrevia na Revista da Semana predominavam estudos sobre temas da História da Civilização e, notadamente, assuntos brasileiros. Foram crónicas de micro-história , mas necessárias, de memorialista sublime, em estilo cativante, talvez, barroco para nossa atualidade, onde o passado era visualizado pela oportunidade da revalorização das instituições, dos homens, dos monumentos e acontecimentos, com a preciosidade do realce correspondente à sua fama redimensionada.
O seu arquivo arqueológico de recuperação do passado era excepcional em todos os sentidos, tanto dos recursos documentais de que dispunha, quanto da sua extraordinária memória. Entretanto, nada disto valeria se não tivesse uma sensibilidade criadora - pedra de toque
da empatia que tornava o leitor presa das suas intenções éticas, cívicas, artísticas e educacionais. Pela linguagem dos periodistas e como um sacerdócio, escrevia um mestre das nossas antiqualhas, da sua cidade e do Brasil.
Vinha Escragnolle Dória juntar-se a outros nomes inesquecíveis do Colégio Pedro II: Joaquim Manoel de Macedo (seu primeiro historiador) e Moreira de Azevedo, professores, e Vieira Fazenda, ex-aluno, todos mestres de antiqualhas.
Merece citada o elogio fúnebre que dele fez Pedro Calmon, Professor Catedrático do Colégio no 110° Aniversário da fundação do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro a 21 de outubro de 1948:
"Biógrafo, ensaísta, historiador admiravelmente instruído acerca dos grandes e dos miúdos acontecimentos, manteve até o final de laboriosa existência a preocupação do patriotismo. O que de panegírico houvesse na sua literatura, o que nela vibrasse de tradicionalismo polémico, até o seu recorte vetusto de evocação repassado de contrastes com a medíocre atualidade, correspondiam à energia um tanto intratável desse patriotismo intransigente. Dava aos moços que o viam de longe no isolamento austero, de seus assuntos e de sua idade, a impressão de um desterrado - não na sua terra, senão no seu tempo, pois conservava intacta a alma dos vinte anos e, o que era mais, a recordação e a sensibilidade de sua literatura espoliada de acessórios verbais que dispensava, para dar à frase uma suposta elegância, torcendo-a a seu jei to. Que suprimia sistematicamente os artigos e abusava do jogo de palavras... mas não se negava a sua arte de recompor as imagens, a engenhosa invocação dos cenários, a galanteria e o virtuosismo das descrições de que ressaltava o perfil vigoroso do seu personagem.
Possuía o segredo desse género literário e a seu serviço punha o insondável acervo de sua erudição, espécie de gaveta de feiticeiro donde, infalivelmente, o mago solitário retirava, sem esforço o chiste, a raridade, a figura
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Ou o esplendor dos episódios que contava. Contava-os com o veio de ensinar. E ensinou honradamente até o fim, artífice modesto agarrado a vida toda às ferramentas do ofício e que só as deixou quando enregelado pela morte já não podia suster a máo laboriosa."
Sua cidade soube homenageá-lo, dando o seu nome a uma Rua de Santa Tereza, e a uma escola na Estrada do Acaraí, em Costa Barros. Em maio de 1957, seu busto foi erigido na Rua Conde de Bonfim, na Praça Pinheiro Guimarães, defronte do Hospital da Penitência, na Tijuca.
O Colégio Pedro II jamais o esqueceu.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837-1937
I - Obras publicadas em livros ou opúsculos: DÓRIA, Escragnolle. As Semivirgens. Tradução do
romance de Mareei Presvot. Com prefácio do tradutor. Rio de Janeiro: [S.I.], 1896. Dor: contos variados. [S.l.l: Liv. Garnier.1904. Coisas do passado. Rio de Janeiro, 1909. Separata do Tomo LXXI, 2" parte da Revista do Inst i tuto Histórico e Geográfico Brasileiro. Obs. Trabalho assim dividido: Artistas de outros tempos: Rosina Stoltz, Sigismundo Thalberg, Henrique Tamberlick, Julianne Dejean, Rosina Laborde, Emilio Wrobleski, Gottshalk, Adelaide Ristori, Carlota Patti, Ritter Sarasate, Julião Gayarre, Domingos Santinelli e Eleanora Duse. O Teatro na exposição; - O noviço; As doutoras. Deus e natureza. Os Irmãos das almas. As Asas de um anjo; História de uma moça rica. Notas de história financeira.
Biografias do Visconde de Souza Franco e de Sales Torres Homem (Inhomirim). Figuras do passado: Conde de Porto-Alegre. Ubique Patriae Memor. Rio de Janeiro, 1913. Separata do Tomo LXXVI da Revista do Insti tuto Histórico e Geográfico Brasileiro. Três conferências Europeias sobre o Brasil. Da conveniência de um Acordo Luso-Brasileiro (Lisboa, 1909). A significação da obra de Anchieta na História do Brasil (Roma, 1910); Un coup d'oeil sur 1'Histoire du fírés/1 (Roma. 1910) Romão de Matos Duarte, o benfeitor da Casa dos Expostos. Rio de Janeiro: [S.I.], 1916. Publicações do Arquivo Nacional. Rio de Janeiro, 1917. v. 17. D. Pedro II, infância e educação. Notas biográficas da família imperial. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 1917. v. 17.
Bibliografia de Escragnolle Dória
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Publicações do Arquivo Nacional.
Rio de Janeiro. 1922. v. 20. Edição
comemorat iva do Centenário da
Independência.
Terra Fluminense. Descr ição de
todos os municípios do Estado do
Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: [S.I.],
1929.
Memória histórica do Colégio de
Pedro II. Publ icação of ic ia l do
Ministério de Educação e Saúde,
c o m e m o r a t i v a do Pr ime i ro
Centenário (2 de dezembro de 1837
- 2 de dezembro de 1937). Rio de
Janeiro: MEC, 1937.
II - Tí tulos de temas ou assuntos publicados em
revistas ou periódicos que fazem referência ao Colégio
Pedro I I , d i re ta ou i n d i r e t a m e n t e , l e v a n t a d o s ,
principalmente, a partir do Códice que registra a produção
intelectual de Escragnolle Dória, incorporado ao arquivo
desse professor, e que se encontra sob a guarda da Seção
de Arquivos Particulares da Divisão de Documentação
Escrita do Arquivo Nacional, no qual se podem contar quase
três mil títulos, talvez mais.
III - Artigos de Periódicos
DÓRIA, Escragnolle. Um alunno histórico do Collegio Pedro
II. Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, 21 nov. 1916.
Sobre Carlos Vieira Ferreira, que socorreu o Barão do
Ladário, ferido no dia 15 de novembro do 1889.
. Um alunno do Pedro II. Boletim Oficial da Casa do
Estudante, v. 1, n. 10, maio 1937. Transcrito também
na Revista Ciências e Letras, dos alunos do Colégio
Pedro II.
. Álvares de Azevedo, bacharel em Letras. Revista da
Semana, Rio de Janeiro, v. 32, n. 30, ju l . 1931 .
Bacharel em Letras pelo Colégio Pedro II, na turma de
1847.
. Álvares de Azevedo no Colégio Pedro II. Jornal do
Commercio, Rio de Janeiro, 2 abr. 1914. Miscelânea.
Aspectos da vida colegial do poeta.
. Antigos colégios cariocas: Pedro II, Marinho, Vitorio,
Abílio, S. Pedro de Alcântara, Menezes Vieira, Aquino.
Revista da Semana, Rio de Janeiro, v. 39, n. 40, set.
1938.
. Ao pé da letra: uma anedota atribuída ao 1o Marquez
de Paranaguá. Sciencias e Letras, Rio de Janeiro, v.
1, n. 2, ago. 1926.
. O Barão de Tautphoeus (Jacob José Hermann).
Revista da Semana, Rio de Janeiro, v. 23, n. 10, mar.
1922.
. Bernardo de Vasconcellos. Jornal do Commercio, Rio
de Janeiro, 1 maio 1914. Vultos históricos. Estadista,
ministro, fundador do Colégio Pedro II.
. . Revista da Semana, Rio de Janeiro, v. 39, n. 1,
dez. 1937. A propósito do 1o centenário da fundação
do Colégio Pedro II.
. Bertholdo Goldschmidt. Revista da Semana, Rio de
Janeiro, v. 34, n. 33, jul. 1933. Professor do Colégio
Pedro II.
. O Bispo de Areópolis. Revista da Semana. Rio de
Janeiro, v. 47, n. 42, out. 1946. D. João de Seixas
Fonseca e Borges, beneditino.
. Bom Retiro, professor. Revista da Semana, Rio de
Janeiro, v. 34, n. 42, nov. 1933. Luiz Pedreira do Couto
Ferraz, Visconde do Bom Retiro.
. A cadeira de história do Collegio Pedro II. Revista da
Semana, Rio de Janeiro, v. 35, n. 20, abr. 1934.
Histórico da cátedra no Colégio e seus principais
ocupantes.
. Carlos de Laet. Revista da Semana, Rio de Janeiro,
v. 4 1 , n. 4, jan. 1940. Professor e diretor do Colégio
Pedro II.
. Carlos de Laet: notícia b iográf ica. Bibliotheca
Internacional de Obras Célebres, n. 11, p. 6330-1,119?].
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
Transcrito também em Bii (Boletim Oficial da Casa do Estudante do Brasil). . Centenário de Carlos de Laet. Revista da Semana, Rio de Janeiro, v. 48, n. 40, out. 1947. Professor e jornalista, 1847-1947. . O centenário de Tautphoeus. Escola Primária, Rio de Janeiro, v 2, n. 5, fev. 1918. O 100° aniversário natalício de Tautphoeus. . O centenário de Vieira Fazenda. Revista da Semana, Rio de Janeiro, v. 48, n. 18, maio 1947. Bacharel em Letras pelo Colégio Pedro II, médico pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, bibliotecário do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, 1847-1947. . O Chácara do Mata. Revista da Semana, Rio de Janeiro, v. 36, n. 19, abr. 1935. Edifício do antigo Internato do Colégio Pedro II, ora Colégio da Companhia Tereza de Jesus, na rua S. Francisco Xavier. . O Collegio Pedro II. Revista da Semana, Rio de Janeiro, v. 38, n. 52, dez. 1937. A propósito do 1o
centenário da fundação do Colégio. . O Collegio de Pedro II em Riachuelo. Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, 11 jun. 1917. Vultos históricos. A participação do Colégio na batalha, através da presença de seu antigo aluno Aurélio Garcindo Fernandes de Sá. . Dantes (D. Duarte da Costa, 2o governador geral do Brasil). Sciencias e Letras, Rio de Janeiro, v. 2, n. 6, jun. 1927. . De Simoni: o médico, o professor, o literato. Revista da Semana, Rio de Janeiro, v. 30, n. 25, jun. 1929. . A dívida do estudante. Sciencias e Letras, Rio de Janeiro, v. 1, n. 3, set. 1926. Sobre a resistência dos estudantes na invasão de Duclerc. . Em demanda do Preste Johan. Pantheon, Rio de Janeiro, v. 1, n. 3, set. 1916. Transcrição. . O Escudo de Minerva. Revista da Semana, Rio de Janeiro, v. 23, n. 11, mar. 1922. Jornal manuscrito e desenhado por alunos do Colégio Pedro II, entre eles
Jerónimo José Teixeira Júnior e António Ferreira Vianna, depois figuras políticas eminentes do Segundo Reinado. . A exposição de História do Brasil, em 2 de dezembro de 1881, na Biblioteca Nacional, diretor Ramiz Galvão. Revista da Semana, Rio de Janeiro, v. 44, n. 51, dez. 1943. . Farias Brito. Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, 22 jan. 1917. Poetas e prosadores. Raymundo Farias Brito, filósofo brasileiro. . Fausto Barreto. Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, 5 set. 1915. Professor do Colégio Pedro II. . Ferreira Vianna, estudante. Revista da Semana, v. 33, n. 22, maio 1932. António Ferreira Vianna, notável jurisconsulto. . Frei Camilo de Monserrate. Revista da Semana, Rio de Janeiro, v. 44, n. 5, jan. 1943. Professor do Colégio Pedro e o bibliotecário da Biblioteca Nacional da Corte. . Garcindo. Sciencias e Letras, Rio de Janeiro, v. 1, n. 5, nov. 1926. Aurélio Garcindo Fernandes de Sá, antigo aluno do Colégio Pedro II e herói de Riachuelo. . . Pronome, Rio de Janeiro, v. 1, n. 25, jun. 1933. . Gonçalves Dias. Pronome, Rio de Janeiro, v. 5, n. 26, jul. 1933. António Gonçalves Dias, poeta. . Gymnasio Nacional. Rua do Ouvidor, v. 1, n. 31, dez. 1898. Sem assinatura. . A história e a anedota: relação entre ambas. O NacionaL Rio de Janeiro, v.1, n. 2-3, out. 1924. Revista do Colégio Pedro II. . Homem de Mello. Revista da Semana, Rio de Janeiro, v. 46, n. 26, jun. 1945. Barão Francisco Inácio Marcondes, professor de história do Colégio Pedro II e do Colégio Militar, 1837-1918. . Homem de Mello: o erudito, o político, o professor. Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, 13 jan. 1918. . Joaquim Caetano. Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, 28 fev. 1913. Poetas e prosadores. Joaquim Caetano da Silva, o sábio. . Joaquim, médico. Revista da Semana, Rio de Janeiro, v. 42, n. 42, out. 1941. Joaquim Caetano da Silva,
ESCRAGNOLLE DÓRIA
recordações de sua vida, sobretudo do seu curso
médico na Faculdade de Montpellier.
. Jonathas Serrano. Revista da Semana, Rio de Janeiro,
v. 45, n. 45, nov. 1944. Professor de história do Colégio
Pedro II e do Instituto de Educação.
. Justiniano da Rocha. Revista da Semana, Rio de
Janeiro, v. 42, n. 4, jan. 1941. Justiniano José da Rocha,
jornalista e professor.
. Magistério. Revista d. Semana, Rio de Janeiro, v.
42, n. 5, fev. 1 9 4 1 . A p ropós i to da m o r t e dos
professores José Piragibe e Caetano de Azeredo
Coutinho.
. Manuel Artur Ferreira. Revista da Semana, Rio de
Janeiro, v. 42, n. 43, jun. 1941. Pintor e professor do
Colégio Pedro II.
. Marabá. Pantheon: Revista dos alunos do Colégio
Pedro I I . , Rio de Janei ro, v. 1, n. 2, ju l . 1916.
Transcrição.
. Um mas: a propósito de palavras curtas. Sciencias e
Letras, Rio de Janeiro, v. 1, n. 1, jul. 1926.
. Um ministro e um decreto: o cónego Januário da
Cunha Barbosa e o ministro Manoel António Galvão.
Sciencias e Letras, Rio de Janeiro, v. 2, n. 8, nov. 1927.
. Na véspera do exílio: o últ imo dia do Imperador no
Colégio Pedro II. Ateneu: Revista dos alunos do Colégio
Pedro II. Rio de Janeiro, v. 1, n. 2, nov. 1933.
. Palavras da nossa história: "L iber tas quae será
t a m e m " . Sciencias e Letras, Rio de Janeiro, v. 1, n. 4,
out. 1926.
. Posta restante: correspondência entre Joaquim
Caetano da Silva com Porto Alegre e Eusébio de
Queiroz. Revista da Semana, Rio de Janeiro, v. 48, n.
1, maio 1947.
. O presente de dois de dezembro: a fundação do
Colégio Pedro II. Ateneu, Rio de Janeiro, v. 1, n. 3,
dez. 1933.
. A primeira Igreja de S. Joaquim. Revista da Semana,
Rio de Janeiro, v. 36, n. 45, out. 1935. Igreja contígua
ao Externato do Colégio Pedro II, na rua Larga de S.
Joaquim, hoje Marechal Floriano, demolida por ordem
do prefeito Passos, na presidência Rodrigues Alves.
. O pr imeiro livro de Raul Pompeia: "Tragédia no
Amazonas", livro escrito quando o autor ainda era aluno
do Colégio Pedro II. Jornal do Commercio, Rio de
Janeiro, 21 abr. 1915.
. O 1o reitor do Collegio de Pedro II: frei António de
Arrábida, Bispo de Anemuria. Jornal do Commercio,
Rio de Janeiro, 31 out. 1915. Vultos históricos.
. Ramiz Galvão. Revista da Semana, Rio de Janeiro,
v. 47, n. 29, jul. 1946. Bacharel em Letras pelo Colégio
Pedro II; médico e professor de Botânica, por concurso,
da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro; diretor
da Biblioteca Nacional: preceptor dos príncipes; diretor
da Instrução Pública Municipal.
. Rio Branco: a sua 1a função pública: professor do
Colégio Pedro II. Revista Americana, Rio de Janeiro,
v. 2, n. 1. abr. 1913.
. Rio Branco no Collegio Pedro II. Jornal do Commercio,
Rio de Janeiro, 20 abr. 1909. Artigo publicado no dia
de grande manifestação popular por seu natalício.
. A rua Larga. Revista da Semana, Rio de Janeiro, v.
28, n. 17, abr. 1927. A rua Larga de S. Joaquim, ora
Marechal Floriano.
. Salão de Pedro II: a sala nobre do Externato do Collegio
de Pedro II. Revista da Semana. Rio de Janeiro, v. 26,
n. 49, nov. 1925. Edição do centenário.
. Salas magnas: a da Alfândega, a do Senado do Império
e a do Colégio Pedro II. Revista da Semana, Rio de
Janeiro, v. 47, n. 12. mar. 1946.
. Saldanha da Gama. Jornal do Commercio, Rio de
Janeiro, 24 jun. 1914. Vultos históricos. O almirante
Luiz Felippe Saldanha da Gama.
. Saldanha no Pedro II. Revista da Semana, Rio de
Janeiro, v. 27, n. 27, jun. 1926. Luiz Felippe Saldanha
da Gama.
. Salvador de Mendonça, professor. Revista da Semana:
Rio de Janeiro, v. 42, n. 32, ago. 1941. Salvador Furtado
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
de Mendonça e Menezes, escritor, diplomata e professor interino do Colégio Pedro II. . Seminário de Bispos: recordação dos sacerdotes em exercício no Colégio de Pedro II e depois bispos. Revista da Semana, Rio de Janeiro, v. 42, n. 14, abr. 1941. . O Serão: jornal dos alunos do Colégio Pedro II. O Serão, Rio de Janeiro, v. 1, n. 21, ago. 1934. . Um 7 de setembro no Pedro II: recordações de uma festa no Collegio em 1857. Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, 7 set. 1916. . Sinos e história. Sciencias e Letras, Rio de Janeiro, v. 2, n. 7, jul. 1927. Transcrição da palestra sobre a Batalha do Riachuelo, pela Radio Club do Brasil. . A supressão do Gymnasio Nacional. Rua do Ouvidor,
v. 1, n. 30, dez. 1898. Sem assinatura. . Tautphoeus educador. Revista da Semana, Rio de Janeiro, v. 40, n. 54, dez. 1939. O magistério do Barão de Tautphoeus e a fundação do seu colégio no Rio de Janeiro. . Tomaz Alves Nogueira: histórico da vida desse professor do Colégio Pedro II. Revista da Semana, Rio de Janeiro, v. 41, n. 13, mar. 1940. . Último concurso. Revista da Semana, Rio de Janeiro, v. 41, n. 32, ago. 1940. O último concurso no Colégio Pedro II no Império, em novembro de 1889. . Vésperas de centenário. Revista da Semana, Rio de Janeiro, v. 35, n. 1, dez. 1933. A propósito do 1o
centenário de fundação do Colégio Pedro II.
IV - Discursos
DÓRIA, Escragnolle. Discurso de saudação ao Dr. Fortunato Duarte, no Internato do Gymnasio Nacional, em 26 de outubro de 1907. S.n.t.
. Discurso, no Externato do Gymnasio Nacional, pelo 70° aniversário da fundação do Colégio Pedro II, em 2 de dezembro de 1907. S.n.t.
. Discurso de paraninfo, no Externato do Gymnasio Nacional, na colação de grau de Bacharéis em Letras,
em 2 de fevereiro de 1908. S.n.t. . Discurso, no Gymnasio Nacional, pelo 71° aniversário
da fundação do Colégio Pedro II, em 2 de dezembro
de 1908. S.n.t. . Discurso de paraninfo, no Externato do Gymnasio
Nacional, na colação de grau de Bacharéis em Letras,
em 28 de fevereiro de 1909. S.n.t. . Discurso em nome da Congregação do Gymnasio
Nacional, no cemitério de S. João Batista, à beira do
túmulo do Dr. Alfredo Coelho Barreto, em 20 de março
de 1909. S.n.t. . Discurso de posse no Instituto de Bacharéis em Letras,
em 28 de julho de 1909. S.n.t. . Palavras ditas junto ao túmulo de Euclydes da Cunha,
no cemitério de S. João Batista, em 15 de agosto de
1916. S.n.t. . Discurso, no Externato do Colégio Pedro II, em nome
da Congregação, na sessão solene comemorativa do centenário natalício de D. Pedro II, em 2 de dezembro
de 1925. S.n.t. . Discurso de paraninfo, no Externato do Colégio Pedro
II, na colação de grau dos Bacharéis em Letras, em
2 de dezembro de 1928. S.n.t. . Discurso de paraninfo dos 5°anistas do Colégio Pedro
II. em 29 de dezembro de 1928. S.n.t. . Discurso de paraninfo dos 5°anistas do Colégio Pedro
II, em 8 de setembro de 1929. S.n.t. . Discurso de agradecimento no ato da inauguração,
em 24 de dezembro de 1933, de um medalhão numa
sala do Colégio Pedro II, designada com seu nome.
S.n.t. . Discurso de agradecimento na sessão solene da
Congregação do Colégio Pedro II, em 25 de agosto de 1937, ao lhe ser entregue o título de Professor
Emérito do mesmo Colégio. S.n.t.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
. Discurso de agradecimento na sessão realizada no
Colégio Pedro II, em 7 de novembro de 1937, por
iniciativa de antigos alunos e amigos, por motivo de
sua jubilação. S.n.t.
.Discurso, no Colégio Pedro II, na sessão comemorativa
do centenário natalício de Salvador de Mendonça, em
1 de agosto de 1941. Sn.t.
V - Diversos
DÓRIA, Escragnol le . Alocução radiofónica, em
agradecimento, na sessão lítero-musical promovida
por alunos do Colégio Pedro II, por motivo de sua
jubilação, realizada na Rádio do Ministério da
Educação, em 3 de dezembro de 1937. S.n.t.
. Conferência sobre um episódio da Inconfidência
Mineira. Promovida pela Academia de História do
Colégio, realizada no salão nobre do Externato do
Colégio Pedro II, em 20 de abril de 1934. S.n.t.
. Prefácio. In: SERRANO, Jonathas. Epítome de história
universal. Rio de Janeiro: F. Alves, 1917. p. 16
. . In: CHEDIAK, António José. Carlos de Laet, o
polemista. São Paulo: Anchieta, 1942, v. 1
. O systema métrico decimal. In: THIRÉ, Cecil, SOUZA,
Mello e. Mathematica, Ioanno. 4.ed. Rio de Janeiro:
F.Alves, 1933. p. 2 3 1 .
VI - Bibliografia sobre Escragnolle Dória
Boletim Mensal da Seção Guanabarina da Biblioteca
Municipal do Rio de Janeiro, v. 1, n. 22, fev. 1959.
ESCRAGNOLLE Dória, "In Memoriam". Rio de Janeiro:
Liv. F. Bastos, 1959.
FROTA, Guilherme de Andréa. O Rio de Janeiro na imprensa
periódica. Registros de número 1175 a 1682. Rio de
Janeiro: [S.n.], 1966.
Escragnolle Dória
MEMORIA HISTÓRICA DO
COLLEGIO DE PEDRO SEGUNDO
1837-1937
Rio de Janeiro * Reprodução da capa da edição original
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Colégio Pedro II. Vista atual do Externato, na Avenida Marechal Floria no (antiga Rua Larga de São Joaquim), esquina com a Rua
Camerino (antiga Rua do Valongo, depois Rua da Imperatriz).
Escragnolle Dória Professor Emérito do Colégio de Pedro Segundo
Memória Histórica Comemorativa do 1o Centenário do
Colégio de Pedro Segundo (2 de dezembro de 1837 - 2 de dezembro de 1937)
Publicação oficial sob os auspícios do Ministério da Educação
Rio de Janeiro
Presidente da República Sua Excelência o Senhor Doutor
Getúlio Domelles Vargas
Ministro de Estado da Educação e Saúde
Sua Excelência o Senhor Doutor Gustavo Capanema
Presidente da Congregação Professor Doutor
Fernando António Raja Gabaglia
Secretário Dr. Octacilio Álvares Pereira
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
Corpo docente do Imperial Colégio de Pedro Segundo na Época de sua Fundação e Organização
1837-1838
Dr. Joaquim Caetano da Silva Gramática Portuguesa e Língua Grega
José da Silva Pinheiro Freire
Gramática Nacional e Latina
Jorge Furtado de Mendonça
Gabriel de Medeiros Gomes
João de Castro e Silva Latim
Dr. Justiniano José da Rocha Geografia, História Antiga e Romana
Dr. Emílio Joaquim da Silva Maia Aritmética e Ciências Naturais
Dr. Domingos José Gonçalves de Magalhães Manoel de Araújo Porto Alegre
Desenho
Januário da Silva Arvellos Música
Padre Joaquim de Oliveira Durão Padre Leandro Rebello Peixoto e Castro
Religião
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837-1937
Corpo Docente do Colégio de Pedro Segundo -1937
Congregação
1 - Francisco Pinheiro Guimarães
2 - Joaquim Ignácio de Almeida Lisboa
3 - José Cavalcante de Barros e Accioli
4 - Henrique César de Oliveira Costa
5 - Agliberto Xavier
6 - José Philadelpho de Barros Azevedo
7 - Augusto Xavier Oliveira de Menezes
8 - Fernando António Raja Gabáglia
9 - Lafayette Rodrigues Pereira
10 - Honório de Souza Silvestre
11 - Euclides de Medeiros Guimarães Roxo
12 -Antenor Nascentes
13 - Guilherme Augusto de Moura
14 - Cecil Thiré
15-Pedro do Couto
16 -José Rodrigues Leite e Oiticica
17 - Waldemiro Alves Potsch
18 - Othello de Sousa Reis
19 - Henrique de Toledo Dodsworth Filho
20 - Carlos Miguel Delgado de Carvalho
21 - Hahnemann Guimarães
22-Qu in t ino do Valle
23 - João Baptista de Mello e Souza
24 - Jonathas Archanjo de Silveira Serrano
25-George Sumner
26 - Benedicto Raimundo da Silva
27 - Enoch da Rocha Lima
28 - José de Sá Roriz
29 - Haroldo Lisboa da Cunha
30 - Ciro Romano Farina
31 - Nelson Roméro
32 - Clóvis do Rêgo Monteiro
Professores Catedráticos Jubilados
Adrien Delpech
Luiz Gastão de Escragnolle Dória
Manoel Said Ali Ida
Rodolpho Paula Lopes
Professor de Desenho Jubilado
Manoel Arthur Ferreira
Professores Catedráticos Interinos
Gildásio Amado
Luiz Pinheiro Guimarães
Professor de Ginástica Jubilado
Guilherme Herculano de Abreu
Professor de Ginástica
Mário Belleti
Professores Assistentes
Aldimir S. Paulo
Arlindo Fróes
Ernesto de Paiva Marreca
Henrique Feio Galvão
João Capistrano Raja Gabáglia
João De Lamare S. Paulo
José Curvello de Mendonça
Luiz do Nascimento Gurgel
Walter Gomes Cardim
Docentes Livres
Francisco Figueira de Almeida Francisco Venâncio Filho Jacques Raimundo da Silva Jayme Coelho Jurandir Paes Leme Mozart do Rêgo Monteiro Mecenas Pereira Dourado Milton Barboza Murilo Araújo Oscar Przewodowski Paulo Ferreira
Professores
Israel França Octávio de Castro Oswaldo Ferreira Mendonça
Professores Dirigentes de Línguas Vivas
António Carneiro Leão
Augusto Rocha Vianna Júlio Nogueira Nuno Lopo Smith de Vasconcelos Osvaldo Serpa
Tristão da Cunha
ESCRAGNOLLE DÓRIA
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837-1937
Intróito 13
Cap. 1 15 A instrução secundária anterior à fundação do Colégio de Pedro Segundo - Os seminários de São Pedro e São Joaquim - A fundação do Colégio - D. Pedro II no dia da fundação - Adaptação do Seminário São Joaquim - O zelo de Bernardo de Vasconcellos pela recente fundação
Cap. II 29
O Colégio até 1839 - Primeiro reitor - Primeiros funcionários
- Primeiros professores efetivos e interinos - Primeiro livro de matrícula - Primeiros alunos - Ainda os órfãos de São Joaquim - Ação conjunta do Governo e da Reitoria do Colégio - Retirada de Bernardo de Vasconcellos do Governo
- Seus sucessores - Novo reitor, novo vice-reitor - O Colégio até 1839 - A sessão do Senado do Império em 1839
Cap. Ill 49 O Colégio de 1840 a 1843 - Novos Ministros do Império -Alteração dos estatutos - Modificação no corpo docente -O decreto Silva Maya e a colação de grau de Bacharel em letras - A primeira colação de grau em 1843
Cap. IV 57 O Colégio de 1844 a 1851 - Solicitude de D. Pedro II para com o Colégio - Vigilância do Governo - Pequenos sucessos e curiosas providências - Joaquim Caetano e Frei Rodrigo de São José - Retirada de Joaquim Caetano
Cap. V 75 O Colégio de 1851 a 1855 - Terceira reitoria do Colégio -Relatório do Dr. Justiniano José da Rocha - Administração Souza Corrêa - Reforma Pedreira - Retirada de Souza Corrêa
Cap. VI 83 O Colégio de 1855 a 1858- Início da reitoria Pacheco da Silva - Reforma Pedreira - Património do Colégio -Gonçalves da Silva e Joaquim Manoel de Macedo - Divisão do Colégio em Externato e Internato - Instalação deste -Seu primeiro reitor - Paula Menezes - Sete de setembro de 1857 - Novos professores - Imprensa colegial - Colação de grau de 1858 - Incidentes colegiais
Cap. VII 97 O Colégio de 1859 a 1865 - O Colégio de 1859 a 1860 -Confraternização do Externato e Internato - Ensino de ginástica - Professores e repetidores em 1859 - Bacharéis
índice
ESCRAGNOLLE DÓRIA
de 1859 - Ministros do Império de 1859 - Aulas suplementares - Aula de dança - Finanças do Colégio -Ano letivo de 1860 - Novos professores - Morte do Bacharel Gonçalves - O Colégio de 1861 a 1865
Cap. VIII 111 O Colégio de 1866 a 1875- Nova reitoria do Internato - O Colégio e a guerra do Paraguai - Novos professores -Introdução do sistema métrico decimal - Nova reitoria do Externato - Professoras de ensino - O bacharelando Teixeira Mendes - Reitoria interina do Internato - Matrícula do príncipe D. Pedro Augusto - Nova Reitoria interina do Internato - Bethencourt da Silva e o Salão Nobre do Externato - A colação de grau de 1875
Cap. IX 125 O Colégio de 1876 a 1881 - Adiamento das aulas em 1876 - Desocupação da Igreja de São Joaquim - Caso Schieffler/ Thomaz Alves - Novos professores de Filosofia - Reforma Leôncio de Carvalho - O ensino livre - Novos reitores - O Conselho Colegial, suas sessões em 1880-1881 - A conversão do Conselho Colegial em Congregação - A primeira sessão da Congregação - A turma de bacharéis de 1881
Cap. X 149 O Colégio de 1882 a 1889- Morte de Joaquim Manoel de Macedo - Reforma Rodolpho Dantas - Parecer Ruy Barbosa - Primeiras alunas no Colégio - Introdução do telefone -Providências administrativas - Novo reitor do Internato -Extinção de meio-pensionistas colegiais - Retiradas das alunas do Colégio - Supressão de periódicos colegiais -Fiscalização do Colégio - Dádivas ao mesmo -Transferência do Internato - Novos reitores do Internato e do Externato - Fim da Monarquia e do Imperial Colégio -No dia da Proclamação da República
Cap. XI 171 O Colégio de 1890 a 1917 - os primeiros atos da República
em relação ao Colégio - Mudanças de nomes do mesmo -Reformas Benjamin Constant e João Barbalho - O Código de Ensino de 1892 - Fusão do Externato e Internato - O restabelecimento de ambos - Reforma do Código de Ensino de 1892 - A primeira equiparação do Ginásio Nacional -Regulamento Amaro Cavalcanti - Reforma Epitácio Pessoa - Novos diretores e novos lentes - Código de Ensino de 1901 - Concursos - Reforma Tavares Lyra - O património do Colégio - Relatório Esmeraldino Bandeira - Novos lentes - Reforma Rivadavia Corrêa - Eleições para diretor e representante do Colégio, já de novo de Pedro Segundo, junto ao Conselho Superior de Ensino - Extinção do bacharelado pela reforma Rivadavia - O Anuário do Colégio - Reforma Carlos Maximiliano - Nomeação de diretores pelo Governo - Restabelecimento do bacharelado e do concurso de provas
Cap. XII 199
O Colégio de 1917a 1925- Diretoria interina e efetiva Laet - Batalhão escolar - A cadeira de Espanhol - Ampliação do curso do Colégio - Arquivo e Biblioteca do Colégio - Obras no Externato - Exames parcelados - Óbitos - Concursos para substitutos - Novos óbitos - A gripe de 1918 e suas consequências para o ensino - Reformas de gabinetes -Restabelecimento da cadeira de Italiano - Novos lentes -Óbitos - Concursos - O prémio Nerval de Gouvêa -Platonismo da restauração do bacharelado em letras -Serviços dos exames parcelados e suas dificuldades -Trasladação dos restos mortais de Porto Alegre - O Colégio nas comemorações do Centenário da Independência e na volta dos restos mortais de D. Pedro II e D. Thereza Christina - Óbitos e moções de pesar - Diversas ocorrências
- Projeto de reforma do ensino - O Colégio como Faculdade de Letras - Novos lentes - Disponibilidade de professores -Retirada do Diretor Laet
Cap. XIII 223 O Colégio de 1925 a 1931 - Reforma Rocha Vaz - Extinção
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837-1937
da cadeira de Espanhol - Diretor ia Eucl ides Roxo -
Disponibilidade de professores - Desmembramento das
cadeiras de Física e Química, Latim e Português - Novos
professores - Ressurgimento da cadeira de História do
Brasil -Turmas suplementarei Instruçào Militar e Esporte
- Sobrecarga da secretaria do Externato - Centenário
Natalício de D. Pedro II - Nomeação efetiva do diretor e do
vice-diretor do Externato - 1926, ano dos concursos - Novos
piofessores - Óbitos - Modif icações no Corpo Docente -
Solenidades escolares - Diretoria Pedro do Cout to -
I n t r o d u ç ã o dos t e s t e s no e n s i n o do Co lég io -
Melhoramentos materiais no Externato e no Internato -
Exames parcelados - Transferência da cadeira de Instrução
Moral e Cívica - Proposta de supressão da livre docência
Inauguração do retrato de D. Pedro II - Sessão solene em
memória de Carlos de Laet - Vacância de cadeiras e
modificações no Corpo Docente - Melhoramentos materiais
no Externato em 1929 - Medidas de disciplina propostas
em Congregação - Óbitos
Cap. XIV 245
O Colégio de 1932 a 1937 - Gastão Ruch, professor
emérito - Dn etoria Dodswoi 1 h - Homenagem ao professor
Nascentes - Projeto de Instituto Brasileiro de Filologia -
Reforma Francisco Campos - Extinção da cadeira de
Instrução Mora l e Cívica - Ensino de l ínguas vivas
estrangeiras - Auxiliares de ensino e provas parciais -
Imprensa e clubes colegiais - Intercâmbio pedagógico -
Embaixadas intelectuais ao estrangeiro - Curso livre de
Italiano - Movimento da secretaria, da tesouraria e da
biblioteca do Externato - Obras no Colégio - A galeria dos
reitores e diretores - O gabinete de Educação - Serviço de
refeições - Disciplina colegial - O Clube pela Paz - A
celebração do centenário do Colégio - Homenagem ao
professor Frontin - Criação do curso noturno - O professor
Garric - Curso livre de Grego - Cursos de aperfeiçoamento
de História Natural e Química - Cursos livres de Canto
Orfeònico - Concertos musicais educativos - Concursos e
cursos estranhos ao Colégio - Óbitos - Inauguração do busto
de Augusto Comte - Obras, reformas e novas instalações
- Diretoria Raja Gabaglia - Homenagem ao professor
Escragnolle Dória - A Emenda n.° 1.845 - Projeto de
Associação Brasileira de Cultura - Jubilação de antigos
professores - Aumento das disciplinas da 61 série - Cursos
c o m p l e m e n t a r e s - Novos p r o f e s s o r e s - Ó b i t o s -
Homenagens - Propostas - Restauração das cadeiras de
Historia do Brasil, Instrução Moral e Cívica e Direito Usual
- Concurso - Novos Óbitos - Centenário Coqueiro - O
Conselho Nacional de Educação e seu plano pedagógico -
Admissão de professores contratados no Colégio e a
maneira de regulá-la - A Circular 1.200 de 1o de junho de
1937 - Escragnolle Dória, professor eméri to - Óbito do
professor Badaró - O professor Dodsworth Interventor no
Distrito Federal - A celebração do I" Centenário do Colégio
Cap. XV 271
O Instituto dos Bacharéis em Letras - Sua fundação - Seu
reconhecimento oficial - Sua vida e seus trabalhos - A
solenidade de 2 de dezembro de 1902 - A equiparação ao
Colégio e o Instituto - Seu eclipse.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Bernardo Pereira de Vasconcelos, Ministro do Império. Idealizador e fundador do Colégio (1837).
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
Festejou-se, condignamente, a 2 de dezembro de 1937, primeiro centenário de fundação do Colégio de Pedro Segundo. Associou-se às comemorações a pátria inteira, avaliando-lhe alcance no render preito ao passado, a esforços e sacrifícios de maiores.
Comemorações, mesmo ruidosas e brilhantes, acabam indo a meio ou completo olvido ao correr do tempo roaz, na substituição de sucessos, no transformar de gerações.
Para ciência e juízo dos pósteros convém apresentar-lhes testemunhos fidedignos da vida das instituições. Tal em brevidade o intuito das memórias históricas, de prefácio e subsídio a obras de tomo, tal o propósito da presente Memória, resumo do essencial na história da primeira centúria do Colégio de Pedro Segundo.
História completa e documentada dele dentro de século — 1837-1937 — é em diuturnidade matéria para não poucos volumes, resultantes de pesquisas exaustivas, algumas infrutíferas, acompanhando o desenvolvimento da instrução pública nacional. sobretudo secundária. Sem estudar o Colégio de Pedro Segundo não se compreende aquela.
Memória histórica não é quadro acabado, sim esboço em leve tinta. No futuro, de tantos mistérios quantas surpresas, talvez do próprio Colégio surja autor do quadro acabado: Avalie ao menos ele, no desconto de naturais e humanas imperfeições, às quais se não forrará, todo o amor com o qual foi traçado o atual esboço por quem ao executá-lo sempre se lembrou do avisado conselho de Terêncio:
Quoniam non potest id fieri quod vis, id velis quod potuit.
2 de dezembro de 1937
E.D.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Imperador D. Pedro II, na data da fundação do Colégio (1837). Verdadeira raridade, essa pintura a óleo encontra-se
exposta no Salão Nobre.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
I
A Instrução Secundária Anterior à Fundação do Colégio de Pedro Segundo •
Os Seminários de São Pedro e São Joaquim • A Fundação do Colégio • D. Pedro II
no Dia da Fundação • Adaptação do Seminário de São Joaquim • O Zelo de
Bernardo de Vasconcellos pela Recente Fundação.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Na a história da pedagogia brasileira escreveram os jesuítas capítulo notável. Inútil suprimi-lo. Lançou-
nos a Companhia de Jesus sementes de religião e cultura. Outros semeadores, donatários, governadores-gerais, lançar-nos-iam germens de organização administrativa.
Brasil afora os Colégios jesuíticos abriram e alhanaram caminho a ensino secundário, preocupação da Companhia no decorrer do tempo. Viveiro de capacidades, confiava a Sociedade de Jesus seus Colégios a professores escolhidos. Gente capaz de formar gente.
Ninguém versado em História ignora quanto à perseguição adere, benditamente, porque alenta e apura ao flanco da Companhia. Século a século acossam-na inimigos para os quais fins de destruição justificam meios de barbaridade. Absurdos monstruosos, fábulas irrisórias com sobreteima são empregados para aniquilamento da Companhia atirada à sepultura, rediviva porém.
Parece a Ordem de Jesus participar das amarguras do Divino Pastor, da flagelação à cruz. No Brasil recebeu vinditas em paga de serviços. Pombal não apagou Anchieta. Perseguida pelo Ministro de D. José I, o onipotente e depois o omnisubjugado, a Companhia suspendeu esforços na catequese. Resposta silenciosa à injustiça, tanto mais expressiva quanto até hoje secular.
Atacou a Sociedade quem lhe fora adstrito e por ela socorrido: Pombal. Dias de claros benefícios iluminam quase sempre vésperas de negra ingratidão.
Segundo Moreira de Azevedo, estudando instrução pública em nossos tempos coloniais, mantiveram os jesuítas aulas únicas no antanho do Brasil.
"Nas capitanias onde situavam Colégios ensinavam g ra tu i tamen te gramática latina, f i losofia, teologia dogmát ica e moral, primeiras letras e matemática elementar. Tais disciplinas eram exercidas por professores de verdadeiro merecimento. Conferiam os colégios graus científicos, literários e teológicos entre outros o de mestres em artes — título então mais estimado do que é hoje o de doutor por qualquer academia" (Moreira de Azevedo escreveu isto em 1892). No Colégio da Bahia, além das citadas aulas, criaram os jesuítas aula de retórica; meio de bem ordenar pensamentos e palavras.
No Colégio de Piratininga, depois de S. Paulo, ostentou Anchieta zelo inteiro sobre dedicação evangélica. Encarregado de ensino dos neófitos, escrevia, na falta de livros, nos cadernos de cada aluno. Aprendiam jovens catecúmenos e filhos de colonos princípios das línguas portuguesa, espanhola e brasileira ou tupi, indispensável esta no trato com indígenas. Para ensinarem tupi os jesuítas
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837-1937
abriam escolas por eles frequentadas chamando graciosamente, lá entre si, a língua indígena de grega. Informa Varnhagen.
Constituiram-se os jesuítas mestres de distintos brasileiros, cujos trabalhos formam literatura nossa nos séculos XVII e XVIII. Entre outros, se assinalam Eusébio e Gregório de Mattos, Manoel Botelho, Rocha Pitta, Basílio da Gama, Santa Rita Durão, Cláudio Manoel da Costa, Silva Alvarenga e Alvarenga Peixoto.
Expulsos os jesuítas, dentre nós, ficaram os estudos confiados a escolas regidas por três ordens religiosas, a beneditina, a carmelita e a franciscana.
Ainda segundo Moreira de Azevedo "Se a supressão do instituto dos jesuítas não causou tanto abalo na capitania do Rio de Janeiro como em outras foi isto devido ao Bispo D. José Joaquim Justiniano". Trata-se de D. José Joaquim Justiniano Mascarenhas Castello Branco, sétimo Bispo do Rio de Janeiro, carioca de berço, por nascido na freguesia da Candelária, prelado no Rio de 1774 a 1805. Por muito tempo houve na cidade o Largo da Mãe do Bispo. Era praça existente nas vizinhanças da Rua da Ajuda, via pública quase desaparecida com a construção da Avenida Central, hoje Rio Branco, e da Rua Evaristo da Veiga, esta nas proximidades da Igreja anglicana. Teve o Largo da Mãe do Bispo tal nome por morar nele a progenitora legítima de D. José Joaquim Justiniano.
Cassando aos jesuítas o direito de ensinar no Brasil, Pombal, pelo Alvará de 28 de junho de 1759, declarou abolida a memória das classes-escolas regidas pelos padres, "como se nunca houvessem existido no Reino e nas colónias, onde haviam causado tantos prejuízos e escândalos". Abolida a memória jesuítica, Pombal esquecera a História vigilante, fossem quais fossem as maldições de alvo à Companhia. A história registra, julga e avisa. Pertencem-lhe passado, presente e futuro.
Que as acusações de Pombal eram levantadas só para ferir fundo a Companhia parece prová-lo de sobra o Alvará de 11 de junho de 1776. Aprova este estatuto para
estudos criados pelos franciscanos no Rio de Janeiro. Obedeciam ao espírito dos estatutos pombalinos e coimbrões, figurando nas aulas franciscanas o ensino da retórica, do grego, da filosofia e da história eclesiástica.
Secularizado quanto possível o ensino, faltava dar-Ihe recursos pecuniários. Criou-se para tanto o subsídio literário, imposto cobrado sobre vinhos e outras bebidas alcoólicas.
Coube aos vice-reis no Rio de Janeiro a arrecadação do subsídio. Nem aos governos do Marquês do Lavradio, de Luiz de Vasconcellos, do conde de Rezende foi alheia a preocupação do ensino embora decadente.
Reconheceu-o Carta Régia de 9 de setembro de 1799 impondo aos governadores e capitáes-gerais a obrigação de informar a coroa acerca do aumento do subsidio literário. Caberia àquelas autoridades a inspeção das escolas, de acordo com o Bispo quanto à nomeação de professores no caso de dúvida, enviada a proposta à metrópole para decisão final.
Pouco antes de expedir a Carta Régia de 9 de setembro de 1799, a coroa lusa ordenara o restabelecimento no Rio de Janeiro das cadeiras de grego, latim, retórica, filosofia e matemática.
Com o tempo, as aulas destas três disciplinas foram estabelecidas em outros pontos do país. Em Pernambuco. por exemplo, uma carta régia instituiu aulas de aritmética, geometria e trigonometria. No Rio de Janeiro, outra carta régia, a de 20 de novembro de 1800, estabeleceu aula de desenho. Deu-lhe titular brasileiro. Foi Manoel Dias de Oliveira, com direito a ordenado equiparado ao dos professores de filosofia. Manoel Dias, por alcunha o "Romano", devido a estudos em Roma, abriu aula de desenho em casa, em frente à Igreja do Hospício, na atual Rua Buenos Aires.
Na era colonial conheceria o Rio de Janeiro duradoura instituição de ensino. Foi chamada o Colégio dos Órfãos de São Pedro. Fundou-a a Provisão de 8 de junho de 1739, do quarto Bispo do Rio de Janeiro desde 1725, D. Frei
ESCRAGNOLLE DÓRIA
António de Guadalupe, português de Amarante, professo na ordem franciscana.
Duas criações assinalaram o múnus pastoral de D. Frei António na futurosa cidade carioca, o estabelecimento do Seminário de São José e do Colégio de São Pedro, para meninos órfãos de pais pobres. Foi posto Colégio. seminário chamava-o a voz popular, nas costas da igreja do Príncipe dos Apóstolos.
Anos após a criação do Colégio dos Órfãos de São Pedro, retírou-se o Bispo Guadalupe para Portugal, transferido para mitra de Viseu, falecendo pouco depois em Lisboa.
De inicio tomara o Colégio ou Seminário de São Pedro feição de convento. Funcionava em sobradinho da rua de São Pedro, sujeito a reitores responsáveis pela educação de meninos fadados a perdição. Pela experiência da cidade e seus contornos, afirmara o prelado fundador.
Com o tempo e a boa administração de reitorias, o Colégio de São Pedro obteve património para sustento e educação de órfãos. Desses, o número em aumento tornava sobremaneira insuficiente o sobrado-asilo. Era de três andares, o térreo com portão, o segundo e o terceiro com duas janelas, a imagem de São Pedro em nicho entre as janelas do último pavimento.
A estreiteza das acomodações, de inconvenientes para a disciplina e a higiene de coletividade, ajuntava-se, conforme Monsenhor Pizarro, "o tumulto do centro da cidade impedindo todo o sossego a qualquer estudo". Tumulto carioca de 1758 provoca sorrir de hoje.
Alguém remediaria o mal; um "homem bom" da cidade, Manoel de Campos Dias, pessoa de recursos sobejantes. No Rio de Janeiro pequeno de então, embora nele todas as distâncias dobradas por vencidas pedestremente, a propriedade territorial constituía a riqueza maior. Afluíam para ela as economias de quantos amealhavam cruzados no chamado pé de meia. Preferiam outros ocultá-los em soalhos e vãos de portas, não raro para lucro de futuros e imprevistos herdeiros, os demolidores de casas velhas.
Em terras empregou sobras, senão haveres ou legado, Manoel de Campos Dias. Possuía terrenos no Valongo, região da cidade na atual Rua Camerino, lados da Saúde.
Por impulso filantrópico, mais digno supô-lo, ou talvez pela convicção filosófica de ninguém levar nada do mundo, preferível julgou Campos Dias aplicar bem a legar a terceiros para mau ou péssimo destino de cabedais. Campos Dias resolveu doar. Senhor de terras no Valongo presenteou com elas os seminaristas de São Pedro. A dádiva abrangia capela, terrenos adjacentes, tudo logo aproveitado pelos reitores, o padre Jacintho Pereira da Costa, antecedido pelo padre Sebastião de Motta Leitão. o Cónego Manoel Pereira e o padre Pedro Luiz de Carvalho.
Resolveu o padre Costa erigir no sítio um Colégio mais proveitoso aos seminaristas, pela localidade, silêncio mui necessário às aplicações estudiosas e pelos cómodos precisos, não só aos indivíduos da sociedade como às oficinas de casa e seus arranjamentos.
Ao findar reitorado o padre Costa deixava edifício semi-erguido. Devia rematá-lo sucessor o Cónego António Lopes Xavier, com prática de mandar construir. Deve-lhe o Rio de Janeiro uma igreja, a de N.S. da Conceição, na Rua General Câmara, posta ao alto a expensas do Cónego Xavier.
Coube a este, quando reitor, transferir os seminaristas de São Pedro para a nova casa, em dezembro de 1766, aproveitando a doação Campos Dias. Ao fundar o Bispo Guadalupe o Colégio onde os órfãos não tivessem infância pervertida, "com o leite dos maus costumes relaxada, inepta, adversa aos séquitos das virtudes" — expressões do Bispo — reinava em Portugal e dai sobre o Brasil D. João V. Exercia por ele autoridade suprema na América Portuguesa, de sede na Bahia, André de Mello e Castro, Conde das Gaiveas.
Ao transportar o Cónego Xavier os colégios de São Pedro para o Valongo, D. João V ausentara-se da vida presente, após quarenta e quatro anos de reinado em
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837-1937
sessenta e um de existência. D. João V, Magnífico até
em prole, de onze filhos, tivera pompa de cadáver no
mosteiro de S. Vicente de Fora.
Obedeceria o Brasil de 1766 ao filho e sucessor de
D. João V, D. José I. O dia 31 de julho de 1750 fizera-o
perder pai ganhando coroa, os herdeiros presuntivos quase
sempre entrando na majestade do poder após a da morte.
A doação de Campos Dias aos órfãos de São Pedro
abrangia capela sob o orago de São Joaquim. Instalados
aque les ó r fãos no sí t io foi o povo s u b s t i t u i n d o a
denominação de órfãos de São Pedro pela de órfãos e
depois seminaristas de São Joaquim.
Ficou a cidade com dois seminários, o de São
Joaquim e o de São José, fundado este, como o Colégio
dos Órfãos de São Pedro, pelo mesmo Bispo, D. Frei
António de Guadalupe, pois de filantrópica lembrança.
Conforme declarou o prelado em provisão, ao criar
o Seminário de São José, " logo que principiara a servir o
bispado trouxera ele sempre no coração um ardente desejo
de que na cidade houvesse seminário para formação de
clero idóneo para a direção das almas."
Segundo Balthazar Lisboa, os seminaristas de São
Joaquim eram preferidos nas contínuas festas religiosas
cariocas para mestres de cerimónias, coristas e cantores
remunerados. Acompanhavam enterros de categoria, neles
participando de tudo quanto exigiam pompas fúnebres.
Em 1771, desaparecia a lembrança material da casa
de São Pedro onde deu raiz a inst i tu ição do Bispo
Guadalupe. O reitor do Seminário de São Joaquim, padre
Alexandre Ferreira da Rocha, antes vice-reitor, com licença
do ordinário, vendia o Colégio Velho, de tal nome por nele
terem assistidos os órfãos antes da transferência para o
de São Joaquim. Justificando venda, o padre reitor alegou
"a nenhuma u t i l i d a d e " que o co lég io receb ia da
propriedade. Dava até prejuízo "pela obrigação de mandar
dizer capela de missas anuais por alma da instituidora D.
Bernarda Castello Branco". Para satisfação do encargo a
propriedade rendera apenas dez patacas por mês (a pataca
valia 320 réis), em três meses de aluguel, a mesma
propriedade devoluta na data da petição para venda.
Ponderava o reitor Rocha a conveniência de vender
a casa dos órfãos de São Pedro com o mesmo ónus da
capela de missas. Era útil à Irmandade de São Pedro
comprar o imóvel com o dito ónus por estar a propriedade
encostada às paredes de sua igreja. A s s i m quanto
pertencesse ao Príncipe dos Apóstolos a ele tornaria.
Realizou-se a venda, bat idos por ela cinco mil
cruzados (20:000$000), dando mil cruzados de lucro sobre
o custo primit ivo.
Por muito que se tenham esforçado os reitores do
Seminário de São Joaquim poucos excederam, em zelo e
util idade, o padre Plácido Mendes Carneiro. Ficou-lhe
devendo a casa obras de importância e o templo de São
Joaquim a conclusão de torres.
Com maior ou menor regularidade, dest ino de
qualquer inst i tu ição, fo i vivendo o Seminário de São
Joaquim no seu canto do Valongo. Nas três grandes
solenidades de São Joaquim, N. S. das Dores e São José
afluía o povo devoto de sempre do seminário. Ao púlpito
aí subiam os seminaristas pelo reitor julgados mais de
habilitações para honrar na tribuna sagrada a palavra do
Evangelho.
Em 1807, porém, ia mudar por completo a vida do
seminário. Transmigrou para o Brasil a Família Real
Portuguesa pondo-se a salvo da invasão napoleônica, esta
por terras de Portugal até alcançar Lisboa.
A presença do Príncipe Regente e da Corte lusitana
assinalando progresso para a colónia, a ponto de adiantar-
Ihe independência, foi entretanto motivo do abater rápido
do Seminário de São Joaquim. Não deixa tal de causar
espanto, dada a religiosidade de D. João e consequente
amparo a instituição da ordem do seminário.
Tudo dependeu da substituição de ót imo reitor,
sucedido por outro sem sorte, sendo inepto. Servia a
c o n t e n t o gera l o padre M e n d e s Carne i ro . Bons
administradores a muitos molestam e não raro por simples
ESCRAGNOLLE DÓRIA
ações de presença. Infelizmente, Deus sabe levado por que diabólicas sugestões, o Príncipe Regente entendeu dispensar da reitoria o padre Carneiro. Ainda mais, infelizmente lhe deu sucessor desastrado, José dos Santos Salgueiro, Abade de Alverca, um da leva transmigratória.
O padre Mendes Carneiro saiu do cargo aspergido. Recebeu o que os franceses chamam "eau bénite de cour". São fingidos protestos de amizade ou recompensas de consolação. A água benta da corte, para o padre Mendes Carneiro, foi a promoção a Cónego da Capela Real.
Começava a decadência do Seminário de São Joaquim, posto sob o orago do Pai da Virgem, este na casa substituindo o patrocínio de Simão, pela palavra de Jesus, na cena de Cesaréia, tornado Pedro para pedra angular da Igreja.
Caíra, entretanto, o Seminário de São Joaquim nas simpatias da cidade. Dádivas sucessivas acresceram-lhe património. O "vil metal", a indicar tantos vilões, serve não só de nervo à guerra, assim o proclamava Frederico o Grande, como na paz prospera muito obra útil.
Populares, de longa data, eram os seminaristas de São Pedro, depois de São Joaquim. Alcunhavam-nos de "carneiros", pelo uso público de túnica marrom e barrete de baetilha branca. Algumas vezes não escapavam os seminaristas à perseguição da garotada, balindo, a puxar-Ihes túnicas com ressalva de fuga. De onde a alcunha? Na opinião de Raja Gabaglia Sénior referia-se ao tempo de instalação do seminário na Rua de São Pedro, antes da construção da igreja da mesma invocação, contemporâneo da Casa dos Órfãos de São Pedro. Durante algum tempo a rua de São Pedro se chamou do Carneiro, em homenagem à distinta senhora residente na rua.
Segundo Noronha Santos a denominação de rua do Carneiro substituiu a de António Viçoso, a partir de 1602, tradicionalmente carioca pois a referida via pública.
Para mal de seminário, antes bem andado, por ordem do Príncipe Regente ficou fingindo dirigir o de São Joaquim o padre Salgueiro, nome de árvore aliás tumular,
até enterrá-lo. Nem teve o Abade de Alverca apoio eclesiástico sequer. Melindrara-se o Bispo diocesano com o ato do Príncipe Regente. Entendia, e bem, D. José Caetano da Silva Coutinho ter sido menoscabada a autoridade prelatícia. Competia-lhe a direção dos seminários, logo lhe pertencia a nomeação dos por eles principais responsáveis.
Em fins de 1817 era o Bispo o primeiro a pugnar pela extinção do seminário entregue ao Abade de Alverca. Circunstância e ocasião veio favorecer o desaparecimento desejado, a chegada de tropas portuguesas.
Desta vez ouvindo o Bispo, o Príncipe Regente, a bem de militança, extinguiu o seminário, a 5 de janeiro de 1818.
Dizia o Príncipe Regente no decreto de extinção: "Fazendo-se necessário determinar o local em que deve estabelecer o conveniente aquartelamento, assim para um dos batalhões de divisão de tropas, que mandei ir ultimamente do exército de Portugal, como para o corpo de artífices, engenheiros ,que acompanhou a mesma divisão e reconhecendo-se que o edifício do seminário de São Joaquim reúne as mais adequadas proporções para aquele fim, ao mesmo tempo que sem inconveniente se podem acomodar, com aproveitamento e maior vantagem, tanto pública como particular , os atuais seminaristas deste colégio, ou seja, no Seminário de São José aqueles que, pelo seu adiantamento nos estudos e vocação, se julguem prósperos para o estado eclesiástico, ficando adidos ao sobredito corpo de artífices de ofícios mecânicos nelas estabelecidos aqueles que não estiverem no mesmo caso e circunstâncias. Hei por bem ordenar o seguinte: Que o referido edifício do Seminário de São Joaquim e suas dependências, passando a ser incorporado nos próprios da coroa, seja destinado para aquartelamento da tropa e artífices supra mencionados".
A tropa tomou conta do Seminário, o templo adjacente servindo-lhe de casa de oração. As rendas do estabelecimento desaparecido, para diversos fins, ficaram
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
incorporadas às do Seminário de São José, acudindo, dizia o Príncipe Regente, "não só a manutenção e tratamento dos alunos do extinto seminário de São Joaquim, escolhidos pelo Bispo capeláo-mor por mais próprios e aptos para a vida eclesiástica". Tais alunos seriam admitidos e tratado no seminário de São José, "onde para o futuro se admirariam e tratariam do mesmo modo, rapazes órfãos e pobres, que pudessem com aproveitamento destinar-se à vida eclesiástica, sendo empregados utilmente, com vantagem do serviço de Deus e da coroa".
Não ficou esquecido — diz Raja Gabaglia Sénior — "o ex-reitor Abade de Alverca pelos desserviços feitos", continuando a receber regularmente ordenado anual de 200$000 como aposentação.
Fechado o Seminário, disperso o seu mui minguado património, lá se foi o arquivo da casa. Mais tarde, por incumbência ministerial do Conde dos Arcos, Silva Lisboa, ainda não Visconde de Cayru, conseguiu reunir alguns documentos do arquivo quase todo posto fora. Mas a coleção deles necessária ao estudo da origem e do progresso da instituição ficou perdida para sempre, salvo alguma ressurreição de documentos, pouco provável.
Católica, a antiga população do Rio de Janeiro atribuía a castigos divinos os males de certas instituições causados por atos desacertados de governos.
Ao tempo do Seminário de São Joaquim o estado sanitário da casa fora sempre bom, gozando saúde os seminaristas. Transformando o São Joaquim em quartel por ele entraram enfermidades, de casos fatais, algumas de caráter epidêmico como a zamperini, enfermidade a lembrar o nome de afamada cantora do tempo.
Castigo! — murmurava o povo, como havia de murmurar — quando pedras de inconstruída sé catedral, no Largo de São Francisco de Paula, foram dar alicerce ao hoje desaparecido Teatro São Pedro de Alcântara, presa de sucessivos incêndios.
Não desaparecia porém o Seminário de São Joaquim sem se recomendar à estima da gente culta da cidade, por vários títulos, um deles o seguinte, assinalado por José Silvestre Ribeiro.
" No dia 20 de abril do ano de 1813 foi aberto na sala do Real Colégio de São Joaquim, no Rio de Janeiro, um curso de preleções filosóficas, que tinham por objeto:
1o) A teoria do Discurso e da Linguagem; devendo ser expostos os princípios da lógica da gramática geral e da retórica;
2o) O tratado das paixões; pr imeiramente consideradas como simples sensações, e versando sobre matérias de gosto, donde se viam deduzidas as regras da estética, ou a teoria da eloquência da poesia e das belas artes, depois considerando-as como artes morais, compreendidas nas ideias de virtude, ou de vício, desenvolvidas as máximas ou Diceósyna que abrange a ética e o direito natural;
3o) O sistema do mundo: em que, depois de se tratar das propriedades gerais dos entes, ou da ontologia e da nomenclatura das ciências físicas e matemáticas, seriam expendidas as noções elementares da cosmologia, e destas seriam deduzidas as relações dos entes criados com o Criador, nos princípios da teologia natural.
Afora a exposição da teoria, era do plano do curso ler e analisar, em cada uma das preleções, alguma obra escolhida dos principais filósofos, oradores e poetas, assim antigos como modernos, sagrados e profanos".
Anunciavam por esta forma o curso de filosofia do Real Colégio de São Joaquim, tanto o Investigador Portuguezem Inglaterra, de agosto de 1813, como a Gazeta do Rio de Janeiro em seu número de 30 do mesmo ano. ambas as publicações hoje raridades bibliográficas.
As preleções filosóficas do Seminário de São Joaquim, tachado de Real Colégio, não foram confiadas a qualquer. Tomou-as a cargo Silvestre Pinheiro Ferreira, espírito tão culto quanto caráter íntegro, aliança pouco frequente. Estadista, filósofo, mereceu Silvestre Pinheiro,
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este louvor: "mui to seria necessário para elogiá-lo, visto
a dificuldade de pintar gigantes em pequenas tábuas, como
tão imaginosamente diz frei Luiz de Souza".
Quando em Paris, por volta de 1839, Si lvestre
Ferreira realizou quanto prometera na introdução das
Prelecções no Real Colégio de São Joaquim, publicadas
no Rio de Janeiro, isto é, o projeto de compor compêndio
de f i losof ia . Estampou-o com o t í tu lo de Noções
Elementares de Philoscphia, Geral e Applicada às Sciencias
Moraes e Politicas, Antologia, Psycologia e Ideologia.
Mais tarde, Spix e Martius, os ilustres cientistas
vindos ao Brasil a mando de Maximil iano José I, rei da
Baviera, em viagem realizada e descrita de 1817 a 1820,
de relação publicada em Munich em 1823, referiram-se à
instrução secundária no Rio de Janeiro, nos seguintes
termos:
"A educação da juventude é cuidada na capital por
vários colégios privilegiados. Os abastados confiam a
professores particulares o preparo de seus filhos, a f im de
frequentarem a Universidade de Coimbra. Isso é muito
custoso por falta de professores competentes. A maioria
deles pertence ao clero, atualmente de influência muito
menor, no que diz respeito à educação popular, do que
outrora e principalmente no tempo dos jesuítas.
No Seminário de São Joaquim são ensinados os
rudimentos de estudo e cantochão. O melhor colégio,
porém, é o Liceu do Seminário São José, onde, a par do
Latim, do Grego, do Francês, do Inglês, da Retórica, da
Geografia e da Matemática também se ensinam Filosofia
e Teologia".
Obra de piedade sobre beneficência não podia
perecer de vez o Real Colégio. Estava escrito, ressurgiria
o Seminário de São Joaquim metamorfoseado, dando
ensejo à criação de colégio novo, o de Pedro Segundo.
Questão de tempo dentro do qual o destino tantas surpresas
guarda.
O Príncipe Regente de 1807, D. João VI, em 1821
saiu do Brasil soberano, a antiga colónia subida a reino,
deste então regente o Príncipe D. Pedro. A requerimento
de vários moradores do Rio de Janeiro, o novo Príncipe
Regente restabeleceu o Seminário de São Joaquim tal
como este se encontrava no momento da extinção em
1818. Reverteu de novo tudo à instituição, imóveis,
cabedais, templo. Até o antigo reitor Cónego Carneiro foi
reconduz ido a ca rgo "pe las provas de in te l igênc ia ,
prudência e vir tudes exigidas pelo importante emprego" .
Nada como um dia depo is do outro, devia pensar sob a
batina o Cónego Plácido Mendes Carneiro, dispensado de
obrigações na Capela Real e mandado morar quanto antes
na casa do m e s m o seminár io .
Apesar de toda a boa vontade do Cónego Carneiro e
seu digno sucessor, f re i Pedro Nolasco da Sacra Família,
não pôde reerguer-se o seminário. Certos homens são
funestos para sempre . Tal o padre Salgueiro.
Nem valeu, para mascarar ruína, o título de Imperial
concedido ao Seminár io após a Independência. Todos os
agitados sucessos do férv ido Primeiro Reinado, desde o
r e c o n h e c i m e n t o do I m p é r i o , não davam margem à
regu la r idade de q u a l q u e r organização pedagóg ica .
Estudava quem queria, não quem devia ou podia.
Da Abdicação passou o Brasil à Regência, república
de fato sob forma imper ia l de direito. No tempo regencial
encontrou reformador o periclitante Seminário de São
Joaquim. Foi José Lino Coutinho, Ministro do Império de
julho de 1831 a janeiro de 1832.
Para execução de reforma obteve o seminário do
Ministro novos esta tu tos, regendo curso de seis anos. De
minudência se mos t ravam os estatutos. Assim na lista
das culpas e dos cast igos de discentes figuravam dois
pecados mortais. Punia-se a gula diminuindo al imento; a
preguiça com trabalho braçal em serviço útil ao seminário.
Decadente es te , adotou a Regência medida mui to
vulgar, no horror da responsabil idade, descartou-se do
seminário, entregando-o à Câmara Municipal.
Confiou esta a direção leiga ao vereador Felippe
Ribeiro da Cunha . Adm in i s t r ado r e não pedagogo,
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
aumentou património, melhorando materialmente o seminário e igreja anexa. Mas a instrução ia de mal a pior, na casa de ensino cada vez mais doutrinando ignorância. Chegou a fechar oficinas, diz Joaquim Manoel de Macedo, ignoradas as provas de asserção. Inútil, sofria o Seminário de São Joaquim derradeira transformação em 1837.
Renasceria das próprias cinzas, tendo em áureos tempos dado instrução a futuras glórias nacionais. No Seminário de São Joaquim, entre outros, aprendeu Joaquim José Ignacio, o vindouro almirante Visconde de Inhaúma, cuja carreira de mar nossas últimas vitórias na Guerra do Paraguai se encerraram em tanta glória para ele e para nós, glória própria e nacional.
Lembrado da mitologia, apesar do caráter religioso do Seminário de São Joaquim, alguns amigos das letras clássicas talvez lhe atribuam a recordação da fénix fabulosa. Após cinco séculos de existência a ave ainda achava forças para formar ninho de plantas aromáticas nele se deixando consumir por ardentes raios solares para nova vida tirada de si mesma.
Politicamente, de excepcional importância para o Brasil foi o ano de 1837. Não o seria menos para o Seminário de São Joaquim. Pela renúncia do Regente Feijó entrou a exercer, constitucional e interinamente, a regência do Império o Senador Pedro de Araújo Lima.
No dia imediato da renúncia de Feijó, chamava Araújo Lima o governo novo ministério, o de 19 de setembro de 1837. Compunham-no Maciel Monteiro, Calmon, Rodrigues Torres e Bernardo de Vasconcellos, este Ministro da Justiça e interino do Império, pasta acabada de deixar por Araújo Lima. Dava este a Bernardo o que recebera de Feijó.
Regente e Ministro, Araújo Lima e Bernardo, ambos por coincidência interinos, voltaram vistas para o Seminário de São Joaquim. Avaliaram-lhe decadência, deliberando encampá-lo. Chamaram-no ao Estado, absorveram-lhe o património de origem colonial, transformaram o seminário
em estabelecimento modelo de letras secundárias. No requiescat in pace da velha Instituição eclesiástica, feliz a espaços, havia o renascer à fénix de nova instituição.
Não quiseram contudo Regente e Ministro escolher para data da fundação do colégio dia insignificativo. Elegeram um natalício, o do menino mais de vista no Império: D. Pedro II.
Completava ele doze anos a 2 de dezembro de 1837. Tinha aniversário de berço entre pompas e tristezas, aquelas conferidas por uma nação ao seu Imperador, estas impostas pelo destino a órfão de mãe com um ano de idade, de pai aos nove.
Vejamos como transcorreu para D. Pedro II a data da fundação do Colégio de seu nome. Di-lo oficio inédito do encarregado de negócios da França no Rio de Janeiro dirigido a 3 de dezembro de 1837 — no calor portanto do grande natalício da véspera — ao Ministério dos Estrangeiros de sua nação regida na época por Luiz Felippe, rei dos franceses, não de todos porque alguns tentavam assassiná-lo.
Às quatro e meia da tarde de 2 de dezembro de 1837, dia da fundação do colégio, chegava o jovem Imperador de doze anos ao paço da cidade. Sem anúncio prévio havia sido modificado o itinerário do cortejo imperial de São Cristóvão para o largo do Paço. Em vez de tomar, como de hábito, pela rua do Ouvidor, passou o cortejo pelas ruas de São Pedro e Direita. Não faltou quem quisesse ver na mudança do itinerário, aliás explicável de modo muito simples, espécie de tendência para favorecer e lisonjear o amor próprio dos portugueses domiciliados no quarteirão distinguido. Para reforço de suposição vieram à baila nomeações recentes recaindo em alguns lusitanos.
Recebeu o Imperador naquela parte da cidade — Ruas de São Pedro e Direita — uma ovação no meio de fervoroso acolhimento. Na passagem de D. Pedro II crianças vestidas de anjo espalharam profusão de rosas e poesias análogas ao dia. Sem levar em linha de conta qualquer tendência lusitana, a mudança de itinerário fora
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provavelmente devida a simples sugestão de Paulo Barbosa, mordomo da casa Imperial, cioso de fazer admirar novas e magníficas carruagens de obra inglesa. Pela primeira vez saíram à rua, desejo de Paulo Barbosa pô-las a rodar em vias públicas assaz largas e menos mal calçadas da cidade. Assim mais a gosto poderia o povo contemplar os veículos do que se estes descessem pela angusta rua do Ouvidor.
Embora atrapalhasse um pouco a Paulo Barbosa o pagamento imediato dos carros, a 2 de dezembro de 1837, ignorava ainda o público que os veículos tinham custado 200.000 francos. Só os arreios valiam 80.000, arreios tão pesados que, gracejando, dizia D. Pedro II ao mordomo não poderem encontrar cavalos capazes de suportá-los.
Após o Te Deum na Capela Imperial, D. Pedro II, loiramente ameninado, chegava à janela do palácio dando para a praça. Mandou então o general comandante das armas desfilar, do melhor modo possível, infantaria e cavalaria da guarda nacional.
Finda a revista, entrou o corpo diplomático na sala do trono. Cercado pelo Regente Araújo Lima, pelo tutor, Marquês de Itanhaem, pelos Ministros de Estado e pela chusma de pessoas da corte, muito mais numerosa do que no anterior, recebeu o imperador os cumprimentos congratulatórios pela data natalícia. D. Pedro II ostentava vistosa farda, trazida com graça e desembaraço. A todos acolhia de pé, tendo à esquerda a irmã mais nova, a Princesa D. Francisca, notável pela compostura como pelos atrativos de rosto. Quantos concorreram ao cortejo reparavam no ar de saúde e viço da fisionomia do jovem Imperador.
Mas como nem tudo quanto brilha ouro é, a cidade estava cheia de boatos. Rumorejava-se que a solenidade e as cerimónias do dia seriam perturbadas por motins e gritos de viva a República e viva o Imperador emancipado. Nada porém deslustrou o 2 de dezembro de 1837. Aliás o comandante do Corpo de Permanentes, homem de coragem e decisão, tomou precauções. As armas dos
soldados estavam carregadas, as patronas cheias de cartuchos. Espalhou-se o boato que o comandante dos Permanentes resolvera mandar atirar sobre a plateia do teatro no espetáculo de gala à menor manifestação hostil ao governo.
Nada porém justificou surpresas. Pôde o soberano regressar a São Cristóvão sem o menor incidente desagradável a assinalar o seu primeiro dia de protetor do Colégio de Pedro Segundo.
O decreto de fundação do estabelecimento era conciso, abrangia treze artigos. Copioso, porém, seria o decreto de 31 de janeiro de 1838 aprovando estatutos colegiais, discriminando em duzentos e tantos e dois as regras atinentes à formação e desenvolvimento da Casa.
Apenas expedido o decreto de criação do Colégio, ocupou-se Bernardo de Vasconcellos em conceder-lhe instalação material. Procurou melhorar a do antigo Seminário de São Joaquim, dando a muitas das velhas dependências, espaço, ar e luz.
Valeu-se para tanto da competência do arquiteto consagrado na Europa, Grandjean de Montigny, um dos componentes da Missão Francesa atraída ao Rio de Janeiro sob os auspícios de D. João VI pelo conde da Barca para fundação da Escola das Belas Artes.
Arranjou Grandjean, no como pôde das pressas e das adaptações, o antigo Seminário. Animava-o a presença constante do Ministro, Bernardo de Vasconcellos, encorajador tanto mais de louvar quanto por paralisia de membros inferiores, não tinha movimento próprio, obrigado a mover-se à triste sujeição do préstimo alheio.
Trabalharam, de acordo e rápido, Bernardo de Vasconcellos e Grandjean de Montigny. Fora este ordenador dos monumentos de Cassei, capital do reino de Westphalia ao tempo de Jeronymo Bonaparte, soberano de uma das realezas efémeras criadas através da Europa pelo génio e pela espada de Napoleão. No Brasil de 1837, por voltas do destino, Grandjean de Montigny, bem longe de Cassei aprontava para inauguração o Colégio de Pedro
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Segundo, em rua aberta nos terrenos da antiga chácara do Carneiro ou do Julião. A pedido do Ministro da Justiça, o próprio Bernardo de Vasconcellos mandava o Ministro interino do Império, ainda o mesmo Bernardo, recolher ao Colégio "porção de prata da Igreja dos extintos Jesuítas, sob a guarda do capelão do Colégio, visto não oferecer a necessária segurança a Igreja do dito Colégio dos Jesuítas". Tudo conforme aviso de 21 de março de 1838, quatro dias antes da abertura oficial do Colégio de Pedro Segundo.
Fixaram-lhe data de abertura relacionada com a história pátria, 25 de março de 1838. Memorava o aniversário do juramento da Constituição do Império que custara vida à Constituinte de 1823, a morte da qual nem faltou, à humana noite da de Agonia, a da véspera da dissolução da Assembleia pela força armada contrariando o cedant arma togaeciceroniano.
Na época, o dia 25 de março tinha suma importância para a Igreja e o Estado, unia-se aquela a este na famosa aliança histórica de trono e altar, nem sempre através dos séculos isenta de lutas e contrariedades, inclusive no Brasil onde vara e báculo contenderam desde Duarte da Costa.
A 25 de março celebrava a Igreja a Anunciação de N. Senhora em Nazareth e o Estado, por meio de dia de grande gala, assinalava o aniversário do juramento da Constituição.
Dois dias antes da dupla celebração e da abertura do Colégio de Pedro Segundo, seu primeiro reitor, figura primacial na diocese do Rio de Janeiro, frei António de Arrábida, Bispo titular de Anemúria, recebia Aviso do Ministro Bernardo de Vasconcellos.
Aviso de alta prudência sobre subida cortesia, o seguinte: "Bernardo Pereira de Vasconcellos envia ao Exmo. E Rvmo. Sr. Bispo de Anemúria cópia do Discurso que tem de recitar na ocasião da abertura do Colégio de Pedro Segundo, no dia 25 do corrente, a fim de que S. Exa. Revma. tenha dele prévio conhecimento".
Quarenta e oito horas depois estava o reitor preparado para receber a augusta visita de D. Pedro II na inauguração do Colégio de seu nome, a 25 de março de 1838.
Não veio só o Imperador, acompanhavam-no duas irmãs, as Princesas D. Januária e D. Francisca, a segunda já tendo tido ensejo de conhecer futuro esposo, o Príncipe de Joinville, filho de Luiz Felippe, de passagem pela capital do Império em 1838.
Na abertura do Colégio, dizia o "Jornal do Commercio": "Quase todo o Rio de Janeiro intelectual se achava, para ouvir da boca do Exmo. Sr. Vasconcellos, o discurso que ele dirigia, em nome do Regente, ao Exmo. Reitor (o Bispo de Anemúria)".
Não se moveu em vão o Rio de Janeiro intelectual. Aplaudiu discurso lapidar, mais do que isso profético.
Relida a oração, verifica-se não ter o tempo lhe feito perder valor. Constitui ainda programa. Afirmava Bernardo de Vasconcellos: "O Colégio é o Reitor, nele principiando e acabando a beleza e a utilidade do estabelecimento, respeitando a mor parte das disposições do regulamento do Colégio mais aos professores e inspetores de que aos alunos, a severidade da disciplina devendo passar mais sobre tais empregados do que sobre os discentes, fáceis de conduzir quando a vigilância e o respeito lhes assinala a estrada".
Quando errassem deveriam os alunos conhecer os castigos desvanecendo-se o Governo que as penas impostas "arraigassem desde cedo na mocidade o horror ao crime, a aversão à indolência, o cuidado dessem deveres, o necessário hábito de mandar sem despotismo e obedecer sem servilismo".
Ao concluir sucinto e imortal discurso, declarava Bernardo de Vasconcelos ser mister repetir ao Bispo de Anemúria "que o intento do Regente interino ao criar o Colégio era oferecer um exemplo ou norma aos que já se achavam instituídos nesta Capital por alguns particulares,
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convencido como estava que a educação colegial era preferível à educação privada.
"Nenhum cálculo de interesse pecuniário, frisava o Ministro, nenhum motivo menos nobre, e menos patriótico que o desejo de ver a boa educação da mocidade, e o estabelecimento de proveitosos estudos influíra na deliberação do Governo. Relevava pois, ser fiel a este princípio, manter e unicamente adotar os bons métodos, resistir a inovação que não tivesse a sanção do tempo e o abono de felizes resultados, prescrever e fazer abortar todas as espertezas de especuladores astutos, ilaqueavam a credulidade dos pais de família com promessas de fáceis e rápidos resultados na educação dos filhos, repelir os charlatães que aspiravam à celebridade inculcando princípios e métodos que a razão desconhecia e muitas vezes assustada reprovava."
"Pouco importava — adiantava Bernardo de Vasconcellos — que a severidade da disciplina do Colégio, que a prudência e a salutar tendência no proceder a reformas afastassem do Colégio muitos alunos. O tempo, sempre o condutor da verdade, e o destrutor da impostura faria conhecer o seu erro. O Governo só fitava a perfeita educação da mocidade, deixando (não sem pequeno pesar) as novidades e a celebridade aos especuladores, que faziam do ensino da mocidade um tráfico mercantil, nada lhes interessando a moral e felicidade dos alunos. Ao Governo só cabia sanear para colher os frutos".
A Bernardo Vasconcellos respondeu o Bispo-reitor, oferecendo ao Governo a sua colaboração, sem que, infelizmente, se encontre registrado o seu discurso, a contrapor ao do diligente Ministro. É grande pena.
Finda a inauguração, o Imperador e as irmãs, seguidos pela Corte, percorreram o plano superior do Colégio. Abertas portas, logo escadas, corredores e salas encheram-se de povo em burburinhos.
A 27 de março de 1838, o "Jornal do Commercio", noticiando a inauguração, observava estar "o Colégio em embrião, necessitando de auxílios para prosperar,
aprouvesse a Deus não lhe dar a sorte de todas a: instituições fundadas com muito calor no Brasil, oxalá nã( fosse o Colégio presa da guerra de individualidades, de sistema desmoronador de ministro para o outro".
Cessadas as festas, começava labor. Um séculc ainda não o interrompeu. Inaugurado o Colégio, no di< seguinte da abertura, recebia o Bispo-reitor Aviso de Ministro Bernardo Vasconcellos.
Comunicava "haver sido indicado ao Marquês tuto do Imperador (o Marquês de Itanhaem) poder ser realizad. a entrega ao tesoureiro interino do Colégio da quantia d( 400S000 como princípio da subscrição de 2:000$000 dádiva do Imperador ao Colégio".
Em seguida, autorizado por Aviso de 30 de marçc de 1838, o Bispo-reitor recebia "mandada recolher a< Colégio, a prata pertencente ao Colégio dos extinto: Jesuítas por cuidados do Juiz de Paz da Freguezia d< Jacarepaguá, dita prata encontrada entre o espólio do padn José de Amor Divino".
Aberto o Colégio, Bernardo de Vasconcellos não ( pós à margem de preocupações de governo e atormentad( como o da Regência. Dedicou à Casa cuidados < providências de toda ordem visando futuro.
Em constante relação com o Bispo-reitor, ora lh< comunicava a oferta de 50 exemplares do compêndio d< Aritmética do bacharel Francisco de Paula Leal, ora lh< participava o pedido ao Ministério da Guerra, do qua Ministro Sebastião do Rego Barros, para que o Arsenal d< Guerra aprontasse tábuas para as demonstrações d< cálculo nas aulas do Colégio.
Preocupava-se Bernardo de Vasconcellos com < fornecimento de água para a nova inst i tuição determinando, por Aviso de 11 de junho de 1838, que < dito fornecimento, feito pela administração das obras di Casa de Correção, fosse substituído pelo fornecimentt pelas carroças empregadas em vender água na cidade.
Velava Bernardo de Vasconcellos pela higiene < saúde da coletividade proibindo admissão de aluno: internos portadores de doenças contagiosas.
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Comunicava o Ministro ao reitor "ter o Governo resolvido que das máquinas, instrumentos e dos produtos dos três reinos naturais existentes no Museu Nacional da Corte se emprestassem ao Colégio aqueles que não fizessem falta alguma ao mesmo Museu, fazendo aprontar a casa, as estantes e armários convenientes onde devessem ser conservados os referidos produtos" Dirigia o Museu o sábio frei Custódio Alves Serrão.
Multiplicava avisos Bernardo de Vasconcellos completando a fundação do Colégio. Num dia ampliava o enxoval dos alunos internos, noutro autorizava a reitoria a gratificar com 20S000 os professores que lecionassem durante férias. Mereciam-lhe cuidados a adoção de compêndios, aprovado para o ensino de História Universal a tradução do compêndio de Poisson e Cayx para História Antiga e o compêndio de De Rozoir e Dumont para História Romana.
No ensino de Física era mandado adotar pelo zeloso Ministro o compêndio de Barruel, reduzido a quadros pelo Cónego Francisco Vieira Goulart, sendo adotado o compêndio de Lacroix para estudo de Geometria.
Caberia ainda a Bernardo Vasconcellos expedir aviso revogando o artigo 46 dos Estatutos do Colégio na parte em que facultava precedendo licença especial do Governo, admissão de alunos menores de 12 anos.
Apreciando a fundação do novo Colégio, assim se exprimia o "Jornal do Commercio": "Qual será o coração entusiasta pela prosperidade do Brasil que não sentirá palpitações movidas por um interesse tão grande qual o da fundação do Colégio de Pedro II, de um estabelecimento que tende a preparar a nova geração que há de se reger os futuros destinos do país de uma maneira mais ampla já nos princípios adquiridos em prática, um dos dogmas da religião, já pelo certames científicos que aí colherá em sucessão de estudos clássicos e progressísticos.
Faltava ao Brasil um semelhante estabelecimento, uma escola progressiva de educação à mocidade, como
disse o Ministro do Império, que servisse de tipo as outras
que se acham em atividade no país.
O pai de família folgará de receber em sua casa um
novo filho, modesto, laborioso, instruído e apto para penetrar
no santuário de qualquer missão civil que seus
compatriotas lhe encarreguem, um homem que tudo
apreciará porque ali ele aprenderá a tudo respeitar, enfim
um filho que respeitará o saber, a idade e não levará a
imprudência e o escárnio até o altar de Deus".
O Governo imperial querendo realizar esta grande
ideia lançou mão dos homens que lhe pareceram mais
hábeis para o desempenho de tão árdua tarefa e a escolha
do arquiteto, do reitor e dos professores, é de certo lisonjeira
para o Brasil.
Mr. Grandjean é um artista de cunho, um homem
de arte que sabe o que faz, reunindo ao útil o agradável, e
a grande atividade que ele empregou na restauração do
Seminário antigo, assim como o bem acabado da obra,
prova em seu abono as qualidades que deve possuir um
arquiteto.
O Exmo. Sr. Bispo de Anemúria é um homem moral,
de caráter firme, instruído e que já suportou sobre seus
ombros um peso maior que o do Colégio, o da educação
de dois príncipes (D. Pedro e D. Miguel): o seu nome sem
nódoa é a maior garantia para os pais de família e para a
prosperidade do Colégio de Pedro II. Dos professores
nomeados tais como os Srs. Magalhães, Silva, Maia, etc,
etc. são muito conhecidos por seus talentos e todos
laboriosos, o que não deixa a duvidar ser um belo
complemento à formação do corpo de ensino do Colégio".
Não foram vãos os esforços de Bernardo de
Vasconcellos na fundação do Colégio, granjeando aplauso
geral. Incansável o grande paralítico, deu exemplo a tantos
validos. Tolhido de passos, pôs entretanto o Colégio a
andar célere em caminho glorioso.
II O Colégio até 1839
Primeiro Reitor • Primeiros Funcionários • Primeiros Professores Efetivos e
Interinos • Primeiro Livro de Matrícula • Primeiros Alunos • Ainda os Órfãos de São
Joaquim • Ação Conjunta do Governo e da Reitoria do Colégio • Retirada de
Bernardo de Vasconcellos do Governo • Seus Sucessores • Novo Reitor, Novo
Vice-Reitor • O Colégio até 1839 • A Sessão do Senado do Império em 1839.
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Descrita seja, a largos traços, a vida nacional do ano de 1838, primeiro do funcionamento regular do
Colégio de Pedro Segundo. Cessaria a interinidade regencial do Senador Araújo
Lima, Regente efetivo por eleição para o cargo procedida em todo o Império, alcançando nela o regente interino 4.308 votos.
Acudindo embora à debelação de guerras civis, quais a Sabinada baiana, a Balaiada maranhense, a luta dos Farrapos sul-riograndense, a Regência Araújo Lima, em 1838, procurava administrar, criava serviços de vulto, reformava outros, favorecia instituições úteis, estimulava iniciativas individuais, tentava conduzir o país à paz, favorecido no intuito já pelo abrandamento de paixões e linguagem da imprensa partidária, já pelo apreço público votado a obras da inteligência em vários departamentos do saber humano.
Assim, em 1838 formavam-se nove primeiros doutorandos saídos da nossa Escola de Medicina instituída pela lei de 3 de outubro de 1832, três cirurgiões pela antiga Escola Médica Cirúrgica reformada pela mesma lei.
Dos nove doutorandos de 1838 mais se assinalaria, na vida nacional, Martinho Álvares da Silva Campos, deputado-geral, Senador do Império, presidente de
província, Presidente do Conselho de Ministros, Conselheiro do Estado na monarquia, sobre tipo original de inveterado oposicionista parlamentar.
Começava o Brasil a preocupar-se em ter comunicações rápidas com o mundo por meio da navegação a vapor. Pretendia a organização de companha nacional, começada a estudar a possibilidade da abertura do istmo de Panamá, quando no Rio de Janeiro se estudava outra possibilidade, a do desmonte do Morro do Castelo.
Não se preocupava somente Bernardo de Vasconcellos, Ministro da Justiça e interino do Império, com a transformação e bom estabelecimento do Colégio de Pedro Segundo. Merecera-lhe cuidados, por exemplo. o Jardim Botânico da Lagoa de Rodrigo de Freitas, dera-Ihe regulamento, "de maneira que as pessoas que o visitassem pudessem utilizar-se do que ele oferecia ao recreio, à curiosidade e às investigações científicas, sem contudo lhe causarem prejuízo, nem ofenderem a decência que se deve guardar em um lugar de pública concorrência".
A 21 de outubro de 1838, surgia no Rio de Janeiro, no seio da Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional, o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Com esta agremiação o protetor do Colégio de Pedro Segundo repartiria desvelos vida inteira.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837-1937
Começava a presidir a nova sociedade, do passado
vinda e agora no primeiro centenário, o Visconde de Sâo
Leopoldo, auxil iado pelo Cónego Januário da Cunha
Barbosa e pelo Dr. Emílio Joaquim da Silva Maia, professor
do Colégio de Pedro Segundo.
Em 1838, outro professor do Colégio, Gonçalves de
Magalhães, atraía atenção pública no Rio de Janeiro,
oferecia-lhe famosa primeira representação, a de António
José ou o Poeta e a Inquisição, peça escrita em Bruxelas,
levada à cena no Theatro Constitucional Fluminense, depois
São Pedro de Alcântara, hoje João Caetano, e interpretada
pelo até hoje tido como primeiro ator nacional e proclamado
pelo próprio Gonçalves de Magalhães, "sempre mestre e
discípulo de si mesmo" .
A necrologia de 1838 registrava os nomes de vários
prestantes cidadãos brasileiros, entre eles, até na morte
primus inter pares, José Bonifácio de Andrada e Silva,
falecido às três horas da tarde de 5 de abril de 1838 em
São Domingos de Niterói e sepultado no Rio de Janeiro na
Igreja dos Terceiros do Carmo na atual Rua 1o de Março.
Mal desceram os restos mortais de José Bonifácio
à catacumba do Carmo levantava-se na capital do Império
a ideia de consagrar monumento em memória dele e outro
à do soberano ao qual José Bonifácio tanto servira, D.
Pedro I do Brasil e IV de Portugal.
Eis fugidiamente descrito o maior fato do ambiente
social de 1838, primeiro ano do viver pedagógico do Colégio
de Pedro Segundo.
O decreto de criação do Colégio chamava Reitor a
autoridade maior do estabelecimento. Corria a palavra na
época, de tradição coimbrã. Ainda não caíra em desuso,
aplicada a quantos em cargo ou negócios de certas
corporações, mais particularmente escolares ou religiosas.
Designando o chefe do Colégio, mesmo quando dividido
este, a palavra seria por longo tempo mantida no trato
oficial.
No discurso de inauguração do Colégio, da lavra de
Bernardo de Vasconcellos, bem patente estava o desejo
do Governo imperial de escolher reitor à altura da criação.
"O Colégio é o reitor", declarava o Ministro inaugurante.
Na transição do Seminário de São Joaquim para
Colégio de Pedro Segundo, Bernardo de Vasconcellos
convidou um bispo para primeiro reitor do novo Instituto.
Escolheu o franciscano frei António de Arrábida, Bispo in
partibus de Anemúria. Trazia no nome religioso bastante
pátria: António lembrava o santo que Pádua reclamou;
Arrábida, o convento luso da serra transtagana onde fez
pouso São Pedro de Alcântara.
Frei António de Arrábida transmigrara com o Príncipe
Regente tendo na pátria ocupado cargos na sua Ordem.
Escapara de vir ao Brasil antes da Corte lusitana. Em 1807,
o Príncipe Regente quase mandara ao Rio de Janeiro o
filho D. Pedro, duplamente infante, na idade, e na hierarquia
dinástica com o título de condestável. Acompanhá-lo-ia
um aio: Frei António. Em vez de o franciscano viajar só,
ou com o príncipe da Beira, chegou ao Brasil de roldão
com a corte portuguesa e milhares de compatriotas.
Frei António, no Rio de Janeiro, alusitanado do dia
para a noite, foi preceptor de D. Pedro e D. Miguel, para
muitos preceptor in partibus, dada a índole rebelde dos
dois irmãos príncipes.
Começando a operar a Independência, em 1823, foi
frei António despachado 1o bibliotecário da Biblioteca
Pública do Rio de Janeiro. Exerceu o cargo até a Regência
Provisória Trina, afinal esta o pondo na rua, lugar pouco
grato a empregados.
Ficou em penúria frei António, a observar pobreza
além do voto franciscano. Amigos o remediaram com
subscr i ção , acud indo mais tarde D. Pedro I I com
mensalidade servida ao pensionista até a morte para
manter decoro de bispo.
Ao assumir a reitoria do Colégio de Pedro Segundo,
era frei António de Arrábida quase septuagenário. A última
Regência de Araújo Lima reparava nos últimos dias de frei
António a demissão imposta pela Regência Provisória Trina,
ESCRAGNOLLE DÓRIA
talvez ao calor de paixões políticas e jacobinas, quiçá pela necessidade de colocar apaniguados, coisa comum na inversão de partidos.
Além do reitor, compunham o corpo administrativo do Colégio um síndico, um vice-reitor e um tesoureiro; no corpo subalterno, o número de serventes necessários.
Ajuntou-se-lhes mais tarde um secretário interino, José Tavares de Mello. Eram reitor e funcionários destinados a assegurar o regime do estabelecimento.
Mantendo-lhe instrução e vigilância, achou-se congregado corpo de professores e inspetores; entre os primeiros o professor de Religião tendo também a seu cargo a Capelania do Colégio. Para cuidar da saúde física dos alunos foram designados um médico e um cirurgião de partido. Tanto o médico como o cirurgião tinham estipêndio certo por serviço determinado. Condecorava ambos o expressivo título de Professores de Saúde.
Sucinto fora o decreto de criação do Colégio. Extenso, porém, veio a ser o decreto de 31 de janeiro de 1838, aprovando os Estatutos do Colégio, opondo 232 artigos aos 13 do decreto de criação. Segundo a cópia dos art igos, da ação harmónica do corpo docente e administrativo resultaria a prosperidade do Colégio, bem justa em toda a parte a divisa das armas belgas: a União faz a Força.
Aos professores primeiros do Pedro Segundo lembrava o poder público, para exemplo de sucessores, a necessidade de ensinar aos alunos letras e ciências, sem contudo descurar imprescindíveis deveres para com Deus, Pais, Pátria e Governo.
Eis os primeiros professores do Colégio nomeados a 29 de abril de 1838 pelo ministro Bernardo de Vasconcellos:
Coube a Joaquim Caetano da Silva a cadeira de Retórica, ele interinamente encarregado de lecionar Gramática Portuguesa e Grego. Rio-grandense-do-sul, de Jaguarão, o jovem professor de 28 anos, precocemente se graduara em Medicina na Faculdade francesa de
Montpellier, vemacularmente Monpilhér. Desde estudante se anunciara mestre para ser depois mentor da mocidade brasileira.
Justiniano José da Rocha foi designado professor de Geografia, História Antiga e Romana, não muito perceptível a exclusividade pedagógica da última disciplina. Era outro professor moço e já notório. Carioca, de educação literária em Paris, no célebre Colégio Henrique IV, contava 26 anos. Formado em Direito em S. Paulo, tornar-se-ia figura política notável e mestre completo do jornalismo político, representando a nação na Câmara dos Deputados.
A facilidade de composição de Justiniano era quase miraculosa, atestou-a alguém que passou pelo magistério do Colégio, embora por breve tempo: Salvador de Mendonça. Disse-nos: "Justiniano escrevia em todo e qualquer lugar, a toda e qualquer hora do dia ou da noite, em casa, na Câmara dos Deputados, no teatro, sobre as costas de uma cadeira, sobre a perna, em um peitoril de janela, no silêncio do gabinete, na sua varanda, no meio do chilrear dos pássaros e das correrias e barulho das crianças".
Dizia Octaviano que Justiniano, ao acordar de manhã, a primeira coisa que fazia era ver onde havia deixado a pena na véspera e não garantia que não escrevesse quando dormia.
Logrou nomeação de professor de Ciências Naturais e interino de Aritmética Emílio Joaquim da Silva Maia. Brasileiro dos mais ilustrados, natural da Bahia, como Joaquim Caetano e Justiniano o recebera cultura europeia. Graduou-se em Filosofia em Coimbra, em Medicina em Paris. Na época do nascer do Colégio figurava entre os membros fundadores do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e da Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional. Contava trinta anos de idade em 1838 o jovem professor Dr. Silva Maia, cuja vida seria das mais profícuas à ciência e à pátria.
A Domingos José Gonçalves de Magalhães foi entregue, em 1838, a aula de Desenho. Outro jovem
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837-1937
professor de 27 anos, carioca de 1811 e poeta já anunciador do Romantismo nos Suspiros Poéticos e Saudades, obra publicada pouco antes da nomeação do autor para o Colégio.
Ao grupo dos primeiros nomeados para lecionar no estabelecimento pertenceu por último Januário da Silva Arvellos, professor de Música e como tal conhecido na época. Ainda hoje, vez e outra, surge composição sua em festividades religiosas.
Que Arvellos, no seu tempo, teve notoriedade não padece dúvida, à vista dos versos de Porto Alegre exaltando o Brasil e colocando Arvellos na linha de compositores de arte, a principiar por José Maurício. Augurando ao Brasil só brilhante futuro, Porto Alegre apostrofava:
Em teus templos se animam, se engrandecem Os cânticos sublimes que um Garcia, Um Rosa, um Portugal, e um Arvellos Anotaram co'a dextra sapiente.
Às primeiras nomeações efetivas seguiram-se outras, a título interino, para o ensino de várias disciplinas. Dos nomeados, mais notório era quem substituiu no ensino do Desenho o professor Gonçalves de Magalhães. Chamava-se Manoel de Araújo Porto Alegre, a grafar com minúscula o último apelido, para lembrar terra natal sul-rio-grandense, ele de berço em Rio Pardo.
Em 1838, o futuro barão de Santo Ângelo já cursava a Academia das Belas Artes, onde foi discípulo de Debret, vindo depois a percorrer a Europa em aperfeiçoamento de estudos artísticos.
À designação dos primeiros professores devia corresponder matrícula dos primeiros alunos.
Cumpria, porém, selecioná-los e depois, com o maior escrúpulo, realizavam-se os exames de admissão ao 1o
ano do 1 ° ano letivo do Colégio, o de 1838.
Disto faz fé o ofício da mesa examinadora em ofício redigido por Joaquim Caetano, ofício dirigido ao Exmo. e Revmo. Sr. Bispo-reitor, peça na qual se insere o seguinte tópico:
"Quando nós procedemos a exames de que até agora temos sido encarregados, bem sabe V. Exa. Revdma. o melindroso escrúpulo com que nos louvamos: idade, mérito adquirido, mérito ingênito, tudo isto averiguamos em cada menino, e nisso foi que fundamos cada uma das notas. Facilmente poderíamos então expender por miúdo os motivos da significação por nós estabelecida unanimemente. Hoje, porém, no-lo veda o decurso do tempo e o grande número de examinados que a esta mesa se tem apresentado. Só podemos, portanto, remeter agora essa mesma classificação rogando a V.Exa. Revdma. se sirva lembrar-se de ponderação com que assentarmos a organização da adjunta tabela, resultado do nome consciencioso dos examinados que nela se contém".
Do ofício resulta a prova de o nascente Colégio selecionar quanto possível, tomando por lema pedagógico o lema pauca sed bona, observado nas matrículas dos futuros discentes da nova instituição.
No começo de longa existência, certo não lhe faltariam livros de matrículas, o primeiro digno de especial menção. Conserva-se no arquivo do Colégio o curioso livro, solidamente encadernado em escuro, com 354 páginas de excelente papel. Tinta de primeira ordem, com nitides apresenta assentamentos. Representando tradição venerável, o 1o livro de matrícula do Pedro Segundo também retrata época aos olhos do observador arguto e de comércio com a História.
Escriturado o livro minudentemente, dele na primeira folha se lê:
Livro Primeiro de Matrfcula-Geral dos Alunos deste Imperial Colégio de Pedro Segundo, no qual se nota para os Internos o dia em que entraram para o Colégio, e, para os Externos, aquele em que principiaram a cursaras aulas.
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Mais abaixo:
Vão marcadas com umas entrelinhas os alunos que saíram do Colégio sem ultimarem os seus estudos e com duas, os Bacharéis.
A 27 de abril de 1838, único no dia, matriculou-se o aluno de 16 anos, Pedro de Alcântara Lisboa, filho do Conselheiro António Lisboa, nascido nesta Corte em 1822.
Interno. Tinha sido aprovado para a quinta classe, mas, por falta de companheiros matriculou-se na sexta. Passou para externo no 1o de agosto do mesmo ano. Em dezembro foi aprovado unanimemente para a sétima classe e obteve o primeiro prémio em Geografia, o segundo prémio em Latim, Aritmética, História e Grego, e Menção Honrosa em Francês e Desenho. Retirado do Colégio em 31 de março de 1839.
Iniciada a matrícula em abril de 1838, ficou em aberto o ano inteiro, a 20 de novembro, sob n.° 91, ainda se matriculando último aluno, João da Silva Mondeiro.
O primeiro matriculado do Colégio, Pedro de Alcântara Lisboa, seguiria estudos de engenharia em Paris. Aí serviu à pátria adido de 1a classe à legação imperial brasileira, e depois longamente professando matemática. cuidando de agricultura e finanças.
Alguns dos primeiros alunos do Colégio distinguir-se-iam na vida pública do Império. Assim, João José de Andrade Pinto seria Ministro do Supremo Tribunal de Justiça; Luiz Affonso de Escragnolle morreria em flor da idade, 30 anos, capitão do exército e lente da Escola Central, emulando em concurso com os seus amigos Joaquim Gomes de Souza, o Souzinha, de tanta celebridade matemática, e Ignacio da Cunha Galvão, a cabo de carreira diretorda Escola Politécnica.
Outros dos primeiros alunos do Colégio: António Pedro de Carvalho Borges, Barão de
Carvalho Borges, Ministro Plenipotenciário, representando o Brasil na Áustria, na Holanda e em Portugal.
António Marianno de Azevedo, que, alcançando renome na armada nacional, atingiu o posto de capitão de mar-e-guerra, devendo-lhe especiais serviços a Biblioteca da Marinha.
Segundo se depreende de ofício do Bispo-reitor a Bernardo de Vasconcellos, a 8 de março de 1838, tentativas houve logo no início do Colégio de perturbar-lhe a seriação, afinal mantida. Pedindo a Deus que guardasse o Ministro por muitos anos, consoante fecho de redação oficial da época, dizia o Bispo-reitor:
"Tendo afluído inumeráveis pretendentes a matricular-se táo-somente em diversas e singulares aulas cujos requerimentos alguns no princípio foram admitidos, como porém duvide qual seja o pensar de V. Exa. a este respeito, rogo a V.Exa. mui particularmente uma declaração que me sirva de regra geral para tais pretensões, consideradas tão-somente as aulas em atual exercício ou a qualquer outras que se abrirem, o bem do serviço me obriga a rogar isto".
Opôs-se Bernardo de Vasconcellos à pretensão dos alunos sem regra, providenciando também sobre outra pretensão, a de quatro alunos do antigo Seminário de São Joaquim, até então sob os cuidados do professor primário Silva Moraes. Pretendiam os antigos órfãos do Seminário matrícula no incipiente Colégio de Pedro Segundo; ordenava porém o Ministro que se os mandassem examinar a ver, se em condições de admissão a seguir Letras ou se, por falta de talento e aplicação, conviria antes preferível destiná-los para as Artes. Nada de pesos mortos no corpo discente, frequentasse o Colégio quem merecesse e aproveitasse. Ministro enérgico, Bernardo de Vasconcellos cortou abusos, os quais, segundo máxima do Marquês de Maricá, como os dentes, nunca se arrancam sem dores.
Sabendo do interesse de Bernardo de Vasconcellos pelo Colégio, em ofício de 27 de maio de 1838, o Bispo-reitor prestava-lhe informações sobre o andamento do^ serviço público no incipiente Colégio sub báculo.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
Atestava o Bispo-reitor: "Dando conta hoje a V.Exa. do estado do Colégio de
Pedro Segundo para ser presente ao Regente interino em nome do Imperador, devo declarar que julguei necessário esse espaço de tempo para que não fossem simples participações de alguns dias e dias de primeiros arranjos e nem os dos passos dados no andamento da vida colegial".
São dignas de menção as informações do Bispo-reitor fora "dos dias de primeiros arranjos".
Dizia o Bispo de Anemúria em 1838, para ciência de vindouros, que, a 27 de abril de 1838, tinham começado a entrar no Colégio os primeiros alunos internos, faltando só 6 dos 30 aceitos, no número dos 30 incluídos 7 pobres. "Só admitia o edifício 65 alunos internos", declarado que o espaço de leito a leito era menos do que aquele designado nos estatutos.
Avisava também o reitor ao ministro que nos primeiros dias de aula haviam ocorrido algumas irregularidades, sobretudo na aula de Ginástica, e na de Latim, nesta por falta do compêndio. Quanto à salubridade do Colégio, afora incómodos de saúde de certos alunos, 4 graciosamente curados pelo Dr. Silva Maia, o estado sanitário não oferecia perigo algum.
"O andamento económico — informava o Bispo-reitor — enquanto a alimentos está frugalmente estabelecido, e marcha variado e bem feito. Não tem este sido assim, nem é quanto ao serviço de 2 únicos serventes para uma casa de tão grande família e de tantos ministérios e que tais bem eles têm sido. Hoje resta um só deles, o qual havia procurado para me servir interna e externamente em coisas do Colégio. Hoje acaba de entrar um terceiro apesar de não saber o que havia de prometer. Este objeto é vital para o estabelecimento. O estudo em que tem estado é violento e irregular, eu não sei o que sucederia se esses zelosos empregados, inclusive os inspetores de alunos, e o Capelão não se dedicassem com toda boa vontade e com grande zelo a todo serviço, até braçal e grosseiro.
O estado do edifício é o de incompleto para o seu destino. Não há aposento para o vice-reitor nem para o Capelão. Esta obra é urgente. Não há onde se recolham os serventes, nem mesmo os pretos."
"Na quadra do pátio há três casas inúteis porque ficaram por acabar", dizia o Bispo-reitor ao ministro, pugnando por diversos melhoramentos.
Com espírito cristão sobre-sacerdotal, o Bispo-reitor chamava a atenção do ministro Bernardo de Vasconcellos para a falta de conforto dos quatro negros incumbidos de serviços grosseiros.
"Para conhecer o peso do trabalho na limpeza e asseio basta lembrar a grandeza do Edifício, de que ele não tem esgoto algum e do número de gente que o habita".
Com franqueza expunha o Bispo-reitor "o estado deste tão excelente quão útil Estabelecimento, que reunindo em um ponto as Ciências secundárias para encher a lacuna que havia entre as grandes Escolas da Ciência e as destacadas aulas de princípios. O Estabelecimento a todas as respostas é digno do Século e da época em que acaba de ser instituído, e para cujo aperfeiçoamento nenhuns esforços serão excessivos".
Honrando-se em dirigir "um estabelecimento a todos os respeitos digno do século", cientificava o Bispo-reitor ao ministro "ter convocado professores para saber os que se dispunham a aceitar a regência interina de várias disciplinas, pronunciando-se pela aceitação os professores Silva Maia, Justiniano José da Rocha, Joaquim Caetano da Silva e Jorge Furtado de Mendonça. Abrira exceção o professor de Filosofia, Magalhães, que declarava não se achar em circunstâncias de encarregar-se da cadeira de Desenho e que havendo de encarregar-se de alguma outra diversa da sua (a de Filosofia) seria a dos primeiros anos de História".
Segundo o Bispo-reitor "pela urgência das circunstâncias se haviam aberto aulas sem designação de compêndios e mais objetos necessários ao andamento da instrução". Mas o reitor "solicitara dos professores as
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novas ideias a respeito de compêndios e mais coisas necessárias e sobre as instruções deles formaria lista oferecida à designação de S. Exa.".
Louvando os esforços do Bispo-reitor, Bernardo de Vasconcellos obtemperava: "É do concurso de todas as vontades, do sacrifício de muitos cómodos, do zelo e atividade da parte do reitor e de todos os demais empregados que pode resultar o progressivo aperfeiçoamento da classe. Em tal coadjuvação contava o governo, como até então, achar em todos, especialmente no reitor".
Para maiores ou menores providências entrava sempre o Ministro em contacto com o reitor. Tendo este lhe representado que a capacidade de dois dormitórios apenas permitia admissão de 65 alunos, retorquia Bernardo de Vasconcellos, dizendo "que o regente Araújo Lima se persuadia que a capacidade dos dormitórios podia ser aumentada. Cumpria mudar a posição das camas colocando-as em quatro linhas ao comprido. Entre a cabeceira de um leito e os pés do imediato ficaria apenas espaço para a passagem de um homem. No momento, fazer qualquer mudança nos dormitór ios seria desnecessária, visto o diminuto número de alunos".
De olhos abertos sobre abusos, Bernardo de Vasconcellos advertia o próprio reitor. Recomendava-lhe providências para que uns professores não estivessem lecionando matéria estranha à sua aula quando o professor gozando da substituição nenhum impedimento tinha que o privasse de dar as lições de sua obrigação".
Nem à reitoria, para exato cumprimento de Estatutos, faltavam avisos deste teor: "Fique a reitoria na inteligência de que o Regente só quer a execução de ordens quando não possam prejudicar os interesses do Colégio ou quando a direção dele não tenha concebido outro plano e sistema julgado preferível". Neste caso, daria parte do plano e sistema com o necessário desenvolvimento, a fim de ser resolvido o mais conveniente. Ficasse certa a reitoria "que o Regente ouvia sempre com satisfação as reflexões
inspiradas pelos louváveis desejos de aperfeiçoamento social, ainda quando não se lhe desse assenso".
Levava também o Ministro Bernardo de Vasconcellos a solicitude a ponto de amparar docentes como sabia adverti-los. Punha presente à reitoria do Colégio a existência da "presumpção infundada", de ser certo professor "homem debochado para que talvez contribuísse o seu modo de andar". Informado, entretanto, Bernardo de Vasconcellos "de suas boas qualidades, sobriedade e bastante inteligência na sua arte, julgava conveniente que o reitor procurasse desvanecer quanto fosse possível tão desfavorável quão imerecida opinião a seu respeito".
Aliás, tanto Ministro como reitoria procuraram melhorar retribuição pecuniária do corpo docente, por um decreto, fixados provisoriamente parcos ordenados anuais a professores e empregados do Colégio. Venceria o Capelão 700$000. Os professores de Latim, Grego, Aritmética e Geografia teriam 500S000, os de Desenho e Música 400$000. Enquanto desse lição única semanal o professor de Francês receberia 200$000, tanto quanto os inspetores e caso estes pelo seu preparo servissem de substituto se lhes abonaria mais 100S000.
Em continuação dos serviços de estreia do Colégio ordenava o Regente que, em livro à parte, com o título de Anais do Colégio de Pedro Segundo, se lançassem os principais acontecimentos ocorridos ano por ano. Ter-se-ia especial cuidado pelos assuntos de interesse para a instrução pública. Principiaria o 1o ano dos Anais a 2 de dezembro de 1837 e acabaria a 31 de dezembro de 1838.
Incumbia também ao reitor apresentação do relatório dos alunos internos conforme o disposto nos Estatutos, Título e Capítulo 1o, Artigo 4o. Pelo mesmo relatório muitas informações seriam ministradas sobre os alunos, sobre a filiação, a residência, o aproveitamento e a conduta deles.
Até meados de outubro de 1838 esteve o Bispo-reitor em exercício ativo de cargo, assaz pesado para o seu avanço de idade e saúde precária. No meio de um Brasil conturbado por lutas civis e dificuldades já políticas, já
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financeiras, o Regente e o Ministro tinham auxiliado o Bispo-reitor na organização do Colégio-modelo, cujo augusto patrono crescia em anos para lhes dedicar vida inteira.
Na inatividade do Bispo-reitor passou a dirigir o Colégio o vice-reitor, padre Leandro Rabello Peixoto e Castro, de 13 de outubro de 1838 em diante a entender-se com Bernardo de Vasconcellos, o Ministro minudente.
Tudo do Ministro merecia atenção, reclamações do reitor, número e divisão de aulas, saúde dos alunos à inspeção do Dr. Silva Maia, andamento económico da Casa. Cumpria nesta atender, dizia Bernardo de Vasconcellos, à necessária economia, à abundância e salubridade tão recomendadas nos Estatutos.
O serviço diário e interno da Casa ficava a cargo de dois serventes, para a limpeza, de três empregados especiais para a cozinha, quatro africanos incumbidos das tarefas mais grosseiras. Até neste particular atendia o Governo à reitoria, autorizando-a humanitariamente a melhorar a condição dos africanos.
Representando a reitoria sobre a conveniência de obras no Colégio, respondia o Governo que só obras novas autorizaria quando estivesse "tudo em andamento e se soubesse por meio de contas quais os recursos do Colégio".
Estavam as contas de remessas atrasadas, mas declarava Bernardo de Vasconcellos a reitoria pela omissão, o Governo não a incriminava, nem aos empregados. Reconhecia o Governo que nos primeiros tempos ou fundação de Estabelecimento da ordem do Colégio, "tudo eram embaraços e tropeços". Não era igualmente o governo alheio às dificuldades com as quais "lutava o reitor e com quantos haveria de lutar".
Sabendo que Bernardo de Vasconcellos fiscalizava pessoalmente, meio único de bem dirigir, a reitoria do Colégio tudo lhe relatava. Dizia-lhe, por exemplo, atendendo a pedido ministerial de informações sobre o requerimento do aluno Luiz de Almeida Brandão:
"Tenho a honra de informar a V. Exa. para fazer subir ao conhecimento do Exmo. Regente que este pretendente já pelo Governo foi atendido para frequentar as aulas do Colégio na qualidade de aluno externo gratuito; o seu comportamento tem sido louvável, e tem mostrado sempre aplicação e aproveitamento, ele mora na rua da Alfândega n.° 215 em companhia de sua avó, Catharina Margarida Salinas, mas como esta se muda para fora da terra, a procurar uma subsistência mais cómoda a suas circunstâncias por isso é que o pretendente procura este asilo, para poder desenvolver os talentos de que parece a Providência o dotara. Por outra parte, o Colégio sustenta sete alunos gratuitos, e mais dois que pagam a terça parte e sustenta além desses mais quatro que no principio deste Colégio foram daqui removidos para um Colégio particular no Largo de Santa Rita. À vista do que pode V. Exa. tomar a resolução que melhor convenha às circunstâncias expostas".
Em outubro de 1838 também a reitoria informava ao Ministro no tocante à marcha dos serviços de instrução no Colégio: "Em observação do título e Capítulo 1o, Artigo 4o dos Estatutos deste Imperial Colégio, remeto a V.Exa. os inclusos Relatórios, nos quais se vê o grau de aproveitamento de cada um dos alunos. Afirmando a V.Exa. que o estado quer físico, quer moral do Colégio tem com pouca atenção sido satisfatório e lisonjeiro."
Para tanto, concorria o zelo do professor de Saúde Dr. Emilio Joaquim da Silva Maia, assistindo aos enfermos com aquela atitude que o caracteriza, pelo que o Bispo-reitor pedia-lhe fosse concedida justa gratificação.
Que os desvelos profissionais do Dr. Silva Maia eram os de verdadeiro "professor de Saúde" ficou prova em favor dele, da caridade do Bispo e reitor, da atenção do Ministro a quanto se passava no Colégio. A 3 de dezembro de 1838 dirigia o Bispo e reitor o seguinte ofício a Bernardo de Vasconcellos, peça característica de época e de seus homens até da linguagem deles:
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"Levo ao conhecimento de V.Exa. que o aluno Manoel Moreira de Figueiredo Mascarenhas, apresentando há três dias uma pontada em um dos lados, acaba de desenvolver um furioso pleuriz que tem merecido a mim e ao professor de Saúde o maior cuidado e atenção. Dei logo parte deste incidente ao Dr. António Ildefonso que é seu parente, o qual aqui o veio visitar e juntamente com o professor de Saúde do Colégio dirigiram o curativo que as circunstâncias exigiam. Tenho a satisfação de poder informar a V. Exa. que o enfermo tem apresentado hoje notáveis melhoras, cedendo visivelmente a enfermidade às sangrias que ontem se lhe aplicaram".
0 médico, ao qual se referia o reitor a propósito da enfermidade do aluno Figueiredo Mascarenhas, era o Dr. António Ildefonso Gomes. Gozava na época fama de ótimo clinico, homem de notável cultura, muito dedicado aos estudos de ciências naturais, incansável perlustrador de terras brasileiras. Em medicina era o Dr. António Ildefonso Gomes partidário da hidroterapia, antecessor, em 1848, dos métodos curativos em momento tão em voga pela propaganda de Monsenhor Kneipp. Com o Dr. Gomes, as teorias tinham prática, pois andava quase sempre de pés no chão, antecipando-se a conselhos kneippistas.
Não se limitava o Dr. António Ildefonso Gomes a estudos nos livros, tinha-os em lição constante em vastíssima chácara de sua propriedade, em Catumbi onde vicejavam as mais variadas espécies, tanto nossas como alienígenas.
Mostrava-se o Dr. António Ildefonso Gomes dedicado ao Colégio onde, além do parente ao qual acudira, para aliviá-lo de "furioso pleuriz", contava um neto António Ildefonso Nascentes Burnier, bacharel em letras, falecido em esperançosa adolescência.
A nomeação de inspetores para o Colégio merecia também vigilante cuidado da reitoria. Tendo esta, exercida pelo vice-reitor por exoneração do Bispo-reitor, de informar ao Ministro acerca do requerimento de José Ferraz de Oliveira Dourado pedindo o lugar de inspetor de alunos, no
dito requerimento exarava a reitoria na seguinte declaração: "Tenho a informar a V.Exa. que eu nomeei o dito
Dourado interinamente, em virtude do Artigo 1o dos Estatutos, para poder firmar o meu juízo sobre suas qualidades pessoais. Parece-me um moço de juízo, bem instruído em Gramática Latina. Teve estudos completos no Colégio de Jacuecanga na Ilha Grande, por isso, Aritmética, a Álgebra e a Geometria, a Língua Francesa, e a Filosofia não lhe são desconhecidas, ainda que confessa estar nestas últimas faculdades algum tanto esquecido por ter sido por seu pai aplicado por alguns tempos na administração de sua roça. Pelo que me parece nas circunstâncias de poder ser aproveitado". (Ofício de 3 de novembro de 1838).
Por todos os meios procurava a direção do Colégio ministrar a instrução dos alunos, buscando também formar-Ihes o caráter, ensinando-lhes gratidão.
A 2 de dezembro de 1838 completava D. Pedro II treze anos de idade. Longo ofício do padre Leandro Rebello Peixoto de Castro, vice-reitor do Colégio. Do natalício do soberano conservou-se a memória na manifestação de reconhecimento da instituição incipiente ao memorado dia do imperador menor.
Associou-se o Colégio à data de berço celebrada em todo o Império com o monarquismo então característico no Brasil. Génio frio e melancólico, a frieza provinda da raça germânica, a melancolia de orfandade completa, da infância a verdes anos, D. Pedro II receberia talvez com mais carinho, entre homenagens palacianas e oficiais, o preito do seu Imperial Colégio.
Na benemerência dos papéis velhos, no remoçar passado, ofício do vice-reitor do Colégio, padre Leandro Rebello Peixoto de Castro, felizmente permite saber, e por miúdo, quanto para o Colégio ocorreu a 2 de dezembro de 1838, informado Bernardo de Vasconcellos dos sucessos do dia.
Não convém resumi-los, sim transcrever na íntegra o ofício do vice-reitor de há século:
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837-1937
"limo. Exmo. Sr. — Tenho a honra e a satisfação de levar ao conhecimento de V.Exa. a maneira satisfatória com que os alunos deste Colégio de Pedro 2o celebraram o dia natalício de S.M. seu Augusto Protetor. Na manha deste dia dirigiu-se todo o Coletivo à Imperial Quinta da Boa Vista onde chegou às oito horas da manhã, depois de ter feito felizmente a viagem por mar desde o Saco do Alferes até o porto de São Cristóvão. Às 8 e meia horas depois que ali se chegou foi o Colégio introduzido à presença de S.M. pelo Exmo. Tutor (na época o Marquês de Itanhaem) e S. Majestade recebeu com especial benevolência a todos e a cada um em particular mostrando-se agradecido às felicitações que eu por me achar à frente do Colégio tive a honra de lhe dirigir por esta forma:
"Senhor As felizes recordações que o dia de hoje nos inspira
são as que trazem diante de V. M. os alunos do Imperial Colégio de Pedro 2o para terem a distinta honra de tributar a seu Augusto e Imperial Patrono a homenagem do respeito e do reconhecimento. Nós todos fazemos votos pela saúde e prosperidade de V. M. I. e das Augustas Princesas com que o Brasil tanto se enobrece, mas com impaciência esperamos a hora em que V. M. I. assumindo as rédeas de um governo, que por tantos títulos lhe é devido, possamos então contar com a firmeza e a estabilidade deste grande Império, sobre que a Providência tem velado de um modo tão maravilhoso".
S. M. que com muita atenção ouviu o breve discurso houve por bem responder que — Agradecia e se lisonjeava com as felicitações que o Colégio acabava de lhe desejar.
Em seguida o Colégio se retirou fazendo a S. M. e aos assistentes as vénias de costume.
Cumpre-me manifestar a V. Exa. que Sua Majestade nos recebeu em o seu Gabinete particular e somente rodeado do Exmo. Tutor e outros, creio que os professores dos estudos a que S. M. se aplica, acolhimento este que foi franco, singelo e sem as etiquetas da Corte, mais e
mais nos penhorou e nos fez ver a ternura de um coração que nos ama e estima mesmo sem reservas nem cerimónias.
Na volta de São Cristóvão nos dirigimos ao Palácio da Câmara Municipal cujo Presidente nos tinha com antecipação franqueado as janelas de dois salões para que os alunos dali observassem o cortejo que trazia S. M. I. e o desfilamento das bravas e asseadas tropas que, no Campo de Santana, estavam postadas em respeito.
Pela volta do meio-dia, chegaram os alunos do Colégio e em seguida nos foi servido o jantar, que as circunstâncias do dia exigiram que excedesse alguma coisa os termos do ordinário. Em atenção às mesmas circunstâncias, permiti aos alunos que tivessem mais liberdade (estando eu sempre presente) e, por isso, que tiveram lugar as saúdes ao S. M. I., ao Exmo. Regente, ao seu Governo, ao ilustre Ministro que imediatamente vela sobre os destinos do Colégio etc, etc. Foi este ato celebrado com a maior alegria e satisfação e me lisonjeio que com a mais atenta e circunspecta civilidade.
À noite se iluminou o Colégio de modo que pôde ser, no entretanto permita-me V. Exa. descer a notar a minuciosidade que para cima de seiscentas luzes brilharam nas torres e frontispício da Igreja e frente do Colégio, o que junto com frequentes repiques de sinos da Igreja tornavam esta festividade bastantemente airosa para os alunos que se honraram de habitar o Colégio de Pedro 2o e de serem por S. M. I. tão benignamente acolhidos e honrados".
O curioso sobre o precioso ofício do vice-reitor, reitor interino, padre Leandro, merece alguns comentários. Nele encontramos boleios de frases características da época e também prova dos costumes desta. Assinala a predileção e o interesse de D. Pedro II pelo Colégio, recebendo os alunos dele em gabinete particular, sem etiqueta, rodeado pelos professores aos quais incumbia instruir o jovem monarca. Sem alongar comentários ponhamos reparo ao
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 -1937
de prover com urgência os calçados deles, bem como o corte dos cabelos que acham bastante crescidos, podendo mesmo V. S. tratar algum cabeleireiro que se incumba deste último objeto. B. R de Vasconcellos".
As férias do primeiro ano letivo do Colégio, o de 1838, foram bem aproveitadas pelo vice-reitor, padre Leandro, para melhorar materialmente o Colégio. Posta a vestiaria, hoje se diz rouparia, na sala inferior detrás da Igreja foi mandada pintar a óleo, pela posição oferecendo a mesma vestiaria a vantagem de ser melhor guardada à disposição dos Estatutos que proibia a entrada de alunos na repartição, onde custosa de executar quando a vestiaria se achava encravada no dormitório. Além de melhoria da vestiaria, procurou o vice-reitor dotar o Colégio com outras reformas de utilidade das quais sempre dava conta a Bernardo de Vasconcellos, cujo zelo pela instituição que ajudara a criar, os padecimentos físicos não conseguiram diminuir, admirável resistência, não de estranhar no Bernardo de Vasconcellos, chefe do governo de Minas em 1833. Segundo o Conde de Castelnau, o grande explorador científico do Brasil, ao reger Bernardo de Vasconcellos a província natal, em 1833, fora alvo de motim popular quando em palácio estudava papéis. Chegando-lhe a ouvidos o clamor público, Bernardo de Vasconcellos determinou que o seu ajudante-de-ordens fosse saber do que se tratava. De volta o oficial declarou: "O povo pede a cabeça de V. Exa.". "Só isto?" obtemperou o desdenhoso ameaçado e antes de recomeçar exame de papéis, ajuntou irónico: "Volte e indague se em vez de minha cabeça querem a sua".
A ministro de ordem tal devia corresponder zelo de vice-reitor como o padre Leandro. Consultando-o Bernardo de Vasconcellos acerca de remuneração que conviria a conceder ao tesoureiro do Colégio, o padre Leandro assim se externou sobre a pretensão:
"Tenho a honra de fazer subir ao conhecimento de V. Exa. que em atenção ao artigo 155 e seguintes dos Estatutos que marcaram as obrigações do tesoureiro, e
dele exigem uma fiança eu lhe marcaria oitocentos mil réis anuais, o que lhe daria neste ano por considerar que, nas obras precedentes à abertura do Colégio, ele empregaria mais cuidados, mas como depois daquela época ele vem aqui apenas de passagem e se demora uma hora e mais, quando muito, e somente se emprega em cobrar as rendas do Colégio, eu não lhe daria mais que quatrocentos mil réis por ano, se ele assim houver de continuar.
No entretanto, permita-me V. Exa. a observação de que me persuado que o tesoureiro deve estar neste Colégio desde pela manhã até a noite, pelo assim exigir as contínuas ocorrências que pelo dia adiante se oferecem; são necessárias compras e tirar dinheiro do cofre, como também recolher a ele as quantias que se recebem".
Considerando o tesoureiro, conforme os Estatutos, "o braço direito do reitor no que tocava à administração temporal", o vice-reitor, padre Leandro, concluía longo ofício de 31 de dezembro de 1838 dizendo ao ministro:
"Pelo que repito que a continuar o Tesoureiro neste modo de procurar os negócios do Colégio me persuado que com 400S000 ficaria pago e bem pago: e a morar aqui todo o dia, como convém, então venceria com justiça 800S000 anuais. V. Exa. porém determinará o que melhor convier".
Assim se exprimia, no resguardo dos dinheiros públicos, o vice-reitor do Colégio, onde, segundo ele no mencionado ofício, o tesoureiro fazia "visitas de médico", obrigando o padre Leandro a fazer-lhe às vezes para que não periclitasse o serviço e os interesses das partes, "pelos muitos afazeres do Tesoureiro de que se achava incumbido na Carioca e no comando dos Guardas Nacionais".
O tesoureiro acumulador pagava um amanuense para lhe fazer o serviço, mas como dizia o padre Leandro a Bernardo de Vasconcellos "o amanuense se pode dizer que só está enquanto o Tesoureiro aqui se conserva e saindo um, o outro sai também".
Não só às voltas com o tesoureiro se amofinava o vice-reitor, também tinha de acudir à vadiação de
ESCRAGNOLLE DÓRIA
discurso do vice-reitor saudando D. Pedro II, oração fiel ao esto brevis et placebis tão pouco obedecido por oradores espraiados.
No momento do discurso, a ideia da antecipação da Maioridade já andava nos espíritos e dela um sacerdote, José Martiniano de Alencar, se tornara arauto fora do púlpito, trocando-o pela tribuna parlamentar.
Em 1838 não eram poucos os sacerdotes políticos ou politicantes. Ignoramos s i ao grupo pertencia o padre vice-reitor do Pedro Segundo, que saudando D. Pedro II, de treze anos, declarava: "com impaciência esperamos o dia em que V. M. I., assumindo as rédeas de um governo que por tantos títulos lhe é devido, possamos então contar com a firmeza e a estabilidade deste grande Império sobre que a Providência tem velado de um modo tão maravilhoso".
A ler nas entrelinhas do discurso transcrito no ofício dirigido a Bernardo de Vasconcellos, justamente o ministro cabeça da reação anti-maiorista de 1840, parece possível acreditar que o vice-reitor do Colégio de longe, senão de perto, acompanhava os maioristas abatinados.
Sem julgar intenções, impossíveis de apreciar tanto no presente quanto no passado, "a impaciência" manifestada pelo vice-reitor do Colégio, o anelo de poder "contar com a firmeza e a estabilidade deste grande Império sobre que a Providência tem velado de um modo tão maravilhoso", pode parecer hoje alusão aos governos regenciais tão trabalhados pelas guerras civis.
No fim do ano letivo de 1838, o vice-reitor padre Leandro, reitor em exercício, pugnava junto a Bernardo de Vasconcellos pelo aumento do edifício do Colégio. Levava ao conhecimento do Ministro a avaliação de três prédios paralelos ao Colégio da parte do Morro da Conceição, n.° 58, 60 e 62, de numeração correspondente a várias partes, contíguos os prédios pela Rua do Aljube (mais tarde da Prainha) oferecendo em globo quase 13 braças de frente e 28 de fundo e quintal maior que o quadrado interno do Colégio.
"A benefício de um passadiço, alvitrava o vice-reitor, se poderia arranjar um quintal para recreio dos alunos, o qual se poderia aumentar pelo tempo adiante com outras propriedades anexas, onde se poderia formar jardim botânico que servisse para esclarecimento da História Natural".
A avaliação do prédio mencionado pelo vice-reitor subia a 12:400$000, não parecendo ao padre Leandro "fora de razão".
Logo depois de oficiar no sentido do aumento do Colégio, no mesmo dia, 13 de dezembro de 1838, o vice-reitor pedia a Bernardo de Vasconcellos deliberação conveniente a respeito de quatro antigos seminaristas de São Joaquim, matriculados no colégio particular de Felizardo Joaquim da Silva Moraes, no Largo de Santa Rita.
Pagava por aqueles seminaristas o Colégio e por 12$000 cada um os recebia o professor Moraes. "Mas como houvessem no ato de remoção manifestado desejo de seguir a profissão de alguma arte", entendia o vice-reitor do Colégio necessárias providências, pois é certo, dizia o padre Leandro, "que estão absorvendo o que poderia sustentar três ou dois gratuitos neste Colégio de Pedro I I " . Insurgia-se o vice-reitor contra aluno peso morto, eterna praga colegial.
Afinal resolveu o Governo que os órfãos aprendessem a arte de fundir tipos, exigindo-se-lhes presença diária na oficina da Tipografia Nacional onde se ensinava a arte, provendo-os a reitoria do Colégio, como melhor lhe parecesse, ao sustento e vestuário.
Caso proposto pela reitoria a Bernardo de Vasconcellos, caso resolvido. Não consultado o ministro, providenciava por conta própria.
Para prova o seguinte aviso: "limo. Sr. Padre Leandro de Castro Rabello. Tendo-se finalizado os exames que nesse colégio
tiveram lugar, convirá que V. S. mande quanto antes passar as camas dos meninos para a sala competente. Por esta ocasião não posso deixar de mostrar a V. S. a necessidade
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837-1937
de prover com urgência os calçados deles, bem como o
corte dos cabelos que acham bastante crescidos, podendo
mesmo V. S. tratar algum cabeleireiro que se incumba
deste últ imo objeto. B. P. de Vasconcellos".
As férias do primeiro ano letivo do Colégio, o de
1838, foram bem aproveitadas pelo vice-reitor, padre
Leandro, para melhorar materialmente o Colégio. Posta a
vestiaria, hoje se diz rouparia, na sala inferior detrás da
Igreja foi mandada pintar a óleo. pela posição oferecendo
a mesma vestiaria a vantagem de ser melhor guardada à
disposição dos Estatutos que proibia a entrada de alunos
na repartição, onde custosa de executar quando a vestiaria
se achava encravada no dormitório. Além de melhoria da
vestiaria, procurou o vice-reitor dotar o Colégio com outras
reformas de utilidade das quais sempre dava conta a
Bernardo de Vasconcellos, cujo zelo pela instituição que
ajudara a criar, os padecimentos físicos não conseguiram
diminuir, admirável resistência, não de estranhar no
Bernardo de Vasconcellos, chefe do governo de Minas em
1833. Segundo o Conde de Castelnau, o grande explorador
científico do Brasil, ao reger Bernardo de Vasconcellos a
província natal, em 1833, fora alvo de mot im popular
quando em palácio estudava papéis. Chegando-lhe a
ouvidos o clamor públ ico, Bernardo de Vasconcellos
determinou que o seu ajudante-de-ordens fosse saber do
que se tratava. De volta o oficial declarou: "O povo pede
a cabeça de V. E x a . " . "Só i s t o ? " o b t e m p e r o u o
desdenhoso ameaçado e antes de recomeçar exame de
papéis, ajuntou irónico: "Volte e indague se em vez de
minha cabeça querem a sua" .
A ministro de ordem tal devia corresponder zelo de
vice-reitor como o padre Leandro. Consultando-o Bernardo
de Vasconcellos acerca de remuneração que conviria a
conceder ao tesoureiro do Colégio, o padre Leandro assim
se externou sobre a pretensão:
"Tenho a honra de fazer subir ao conhecimento de
V. Exa. que em atenção ao artigo 155 e seguintes dos
Estatutos que marcaram as obrigações do tesoureiro, e
dele exigem uma fiança eu lhe marcaria oitocentos mil
réis anuais, o que lhe daria neste ano por considerar que,
nas obras p receden tes à aber tura do Colég io , ele
empregaria mais cuidados, mas como depois daquela
época ele vem aqui apenas de passagem e se demora
uma hora e mais, quando muito, e somente se emprega
em cobrar as rendas do Colégio, eu não lhe daria mais
que quatrocentos mil réis por ano, se ele assim houver de
continuar.
No entretanto, permita-me V. Exa. a observação de
que me persuado que o tesoureiro deve estar neste Colégio
desde pela manhã até a noite, pelo assim exigir as
contínuas ocorrências que pelo dia adiante se oferecem;
são necessárias compras e tirar dinheiro do cofre, como
também recolher a ele as quantias que se recebem".
Considerando o tesoureiro, conforme os Estatutos,
"o braço direito do reitor no que tocava à administração
tempora l " , o vice-reitor, padre Leandro, concluía longo
ofício de 31 de dezembro de 1838 dizendo ao ministro:
"Pelo que repito que a continuar o Tesoureiro neste
modo de procurar os negócios do Colégio me persuado
que com 400$000 ficaria pago e bem pago: e a morar aqui
todo o dia, como convém, então venceria com justiça
800$000 anuais. V. Exa. porém determinará o que melhor
convier".
Ass im se exprimia, no resguardo dos dinheiros
públicos, o vice-reitor do Colégio, onde, segundo ele no
mencionado ofício, o tesoureiro fazia "visitas de médico",
obrigando o padre Leandro a fazer-lhe às vezes para que
não periclitasse o serviço e os interesses das partes, "pelos
muitos afazeres do Tesoureiro de que se achava incumbido
na Carioca e no comando dos Guardas Nacionais".
O tesoureiro acumulador pagava um amanuense para
lhe fazer o serviço, mas como dizia o padre Leandro a
Bernardo de Vasconcellos "o amanuense se pode dizer
que só está enquanto o Tesoureiro aqui se conserva e
saindo um, o outro sai t ambém" .
Não só às voltas com o tesoureiro se amofinava o
v ice-re i tor , t a m b é m t inha de acudir à vadiação de
ESCRAGNOLLE DÓRIA
escolares. Remetia-lhe Bernardo de Vasconcellos o requerimento do pai de aluno externo pedindo passagem do filho para interno, desejando, para decidir, que o padre Leandro o esclarecesse sobre a pretensão.
Assim o fez o vice-reitor nestes curiosos termos: "Tenho a honra de levar ao conhecimento de V. Exa.
que, segundo as informações a que procedi, achei que o dito aluno externo era notavelmente remisso na frequência das aulas: e apesar de parecer de conduta sossegada ele pouco desenvolvimento apresentou nos exames gerais; e por isto ficou esperando para fevereiro; e esta é a causa que move o pai do dito aluno para solicitar o ingresso de seu filho para ver se o obrigava a estudar, ainda que seja à custa de meios coercitivos; no entretanto posso afiançar a V. Exa. que se o mandar entrar para o Colégio, o mesmo há de estudar e dar o que tem".
Com estes propósitos contra a vadiação abria o vice-reitor segundo ano letivo do Colégio, o de 1839, a 4 de janeiro deste ano. Mas também buscando amparar a quem trabalhava, em ofício de 31 de janeiro de 1839, o vice-reitor propunha ao ministro o pagamento de gratificação a professores pelo trabalho extraordinário de lecionarem no tempo de férias, gratificação aquela hoje a parecer por demais módica se não atentarmos nas condições de vida da época e no valor aquisitivo da moeda. Propunha o vice-reitor pelo serviço extraordinário a gratificação de vinte mil réis a todos, "apesar de se contarem a uns mais lições que a outros".
No exercício da reitoria o vice-reitor de vez em quando, antecipando Congregação, reunia professores para ouvi-los sobre interesses do ensino no Colégio; de tais reuniões dando conta a Bernardo de Vasconcellos. Dizia-Ihe, por exemplo, a 14 de fevereiro de 1839, que os professores do Colégio desejavam ver em andamento as aulas de Filosofia e Retórica. "Reflexionavam que seria muito honroso ao Colégio que ao número das aulas se ajuntasse de fato a de Filosofia, que no resto da cidade eram pouco frequentadas e a de Retórica, de que na cidade nenhuma aula havia".
Os professores do Colégio lembravam "que se devia ter todo o cuidado em conservar o professor Magalhães, (o futuro Visconde de Araguaia) o Génio da Filosofia, que não sendo ocupado, em 1839, podia ser que se desviasse da ocupação para que tinha sido nomeado".
Observavam os professores do Colégio que, na Corte, se conhecia e era bem patente o desejo das duas mencionadas aulas.
Entretanto, o vice-reitor julgava dever ponderar ao ministro que "dentro do Colégio ainda não havia alunos prontos a cursar tais aulas de 2a classe, somente por externos avulsos podendo ser frequentadas, necessário, porém, dispensar a portaria ministerial proibindo a frequência de externos avulsos. Acrescia igualmente para o bom andamento das aulas a criar a carência absoluta de compêndios das disciplinas nelas lecionáveis.
Fazia igualmente o vice-reitor chegar ao conhecimento do Governo a necessidade de quanto antes serem fixados os ordenados dos professores e dos principais empregados do Colégio.
Com instância pugnava o padre Leandro por aquelas fixações, dirigindo-se a superior:
"Permita-me V. Exa. a observação de que se exige fixarem-se quanto antes os ordenados dos professores e dos principais empregados do Colégio porque se até julho eles não tiverem sido fixados o Colégio vem a perder um de seus mais acreditados professores — o Dr. Joaquim Caetano da Silva, o qual é convidado para ir no Colégio de Jacuecanga na Ilha Grande ocupar duas cadeiras, vencendo por uma 800SOOO, e por outra 400$000, com jubilação passados 20 anos de ensino".
A 16 de abril de 1839, no início do segundo ano letivo do Colégio, deixava Bernardo Pereira de Vasconcellos o exercício cumulativo de duas pastas, a da Justiça e a do Império, no 1o Gabinete da Regência Araújo Lima, ode 19 de setembro de 1837. Tinham sido bem empregados os 574 dias dos ministérios de Bernardo de Vasconcellos, tão úteis ao Colégio, onde deixava nome imortal.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
O ano letivo de 1839 seria assinalado pela exoneração do reitor-Bispo, exoneração concedida, à vista de representação do prelado, pelo governo "muito louvado o distinto zelo com que desempenhara funções".
Reitor afastado, reitor posto. Saía do corpo docente a nova cabeça da Casa. Recebeu a designação e a honra o Dr. Joaquim Caetano da Silva, reitor de 29 anos de idade, no qual verdor de idade não tolhia mérito, nem fama.
Doutor em medicina pela Faculdade de Montpellier, Joaquim Caetano aí foi estudante hors ligne, já que se trata de França, prenunciando quem, no decurso de 1861, escreveria UOyapoc et 1'Amazone. questions brésilienne et française. Obra magna, para D. Pedro II valendo 200.000 baionetas na fronteira, obra de tal importância que dela se utilizaria Rio Branco 2o para base e defesa de nossos direitos territoriais e alcançar do laudo de Berna, a confirmá-los na chamada questão do Amapá.
Vinha Joaquim Caetano reitor encontrar o Colégio sob a direção do vice-reitor, padre Leandro. Havia pouco haviam sido "despedidos", palavra mais amena que expulsados, dois alunos "pelo fato de brigarem à saída das aulas", providência logo aplaudida pelo governo, por entender que sem prémio e castigo não se anima nem contém mocidade, pronta sempre a aproveitar abusos e falhas de superiores
Entregava o vice-reitor a reitoria a Joaquim Caetano, pela conservação do qual no corpo docente, o padre Leandro pugnara. A um Príncipe da Igreja o governo regencial dava por substituto no Colégio também um Príncipe no saber, este de futuro alicerce na defesa de direitos nossos levantados contra a França, ã qual entretanto Joaquim Caetano devia cultura e até esposa. Tornou-se, porém, o esplêndido prefaciador da obra de reivindicação pátria que teria por último capítulo o laudo de Berna, dando-nos na justiça o que por tantos anos outros, de boa fé ou de má-fé, a França retivera como bem próprio.
Porto Alegre, nas Brasilianas, à pintor esfumou retrato de Joaquim Caetano, aludindo ao seu saber, ao seu trato da História, e sobretudo ao de Grego. Disse-nos de um professor do Colégio outro professor deste:
Meu nobre Silva, meu patrício caro, Que a passos graves triunfante marchas Por entre legiões de augustas larvas!... Silva que eu amo, e a quem meu canto oferto, Deixa os sepulcros dos helenios astros, E o reino da morte a lousa fecha, Os doutos solilóquios suspendendo Teus ouvidos afeitos a magia Da voz de Homero, dos antigos vates.
Pouco depois de nomeado Joaquim Caetano, deixava governo quem o nomeara, o Senador Almeida e Albuquerque, magistrado, substituído por outro magistrado na Pasta do Império no Gabinete de 1o de setembro de 1839 organizado por Alves Branco.
Conheceria o Colégio novo Ministro, na pessoa do Conselheiro Manoel António Galvão. Podia dar valor a quem ensinava ou a quem estudava. Nascido na Cidade do Salvador, fora Galvão caixeiro em Lisboa e Londres, conseguindo, esforço a esforço, graduar-se em leis em Coimbra, de bom exemplo, pois, a jovens estudantes.
Figurara na Constituinte de 1823, representando a nativa Bahia e o Brasil, na Corte de Saint James, nessa mesma Londres onde labutara no balcão.
Era o Conselheiro Galvão apto para compreender o valor de Joaquim Caetano, nomeado por decreto que o apontava para reitoria "em atenção às luzes e mais partes que lhe concorrerem na pessoa".
De acordo com o reitor nomeou o Ministro Galvão, em outubro de 1839, comissão encarregada de examinar os Estatutos do Colégio "tendo em vista os inconvenientes demonstrados pela experiência na sua execução, propondo as alterações convenientes".
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Compuseram a comissão dois Bispos, o de Anemúria, com a experiência de reitor, e o Bispo eleito do Rio de Janeiro D. Manoel do Monte Rodrigues de Araújo, pouco depois confirmado por bula de Gregório XVI. Aos dois bispos ajuntou o ministro Galvão, como membro da comissão revisora de estatutos, o Senador José Saturnino da Costa Pereira.
O Bispo Monte, pernambucano como o Regente Araújo Lima, não era estranho ao magistério, professara no Seminário de Olinda. O Senador Costa Pereira também conhecia ensino. Nascido na Colónia do Sacramento, como o irmão Hypolyto, o memorado redator do Correio Braziliense, lecionava Matemática, ciência na qual o graduara Coimbra, lente na Academia Militar do Rio de Janeiro.
Nenhum, pois, dos membros da comissão revisora dos Estatutos do Colégio de Pedro Segundo andaria às cegas no assunto, deliberando com ciência e causa.
Pouco depois da vice-reitoria do Colégio, se retirava o padre Leandro Rabello Peixoto de Castro, no exercício do cargo e na reitoria interina, tendo prestado reconhecidos serviços de excelência.
Como se ao Colégio houvesse deixado signo de cruz o Seminário de São Joaquim, ao padre Rabello sucederia em breve um frade. Era beneditino frei Rodrigo de São José, cuja presença no Colégio em nada deslustraria o antecessor, propondo-se a seguir-lhe, quanto à disciplina, o lema do suaviter in modo fortiter in re.
Abrindo arquivos do Vaticano a pesquisas de eruditos, declarou Leão XIII fazê-lo desassombrado, a Igreja, não receando a verdade. No exemplo, o Colégio não foge daquela, ocultando. Daí consignar aqui ter sofrido, em segundo ano de existência, impugnações parlamentares, defensores ou acusadores entre prós e contras, sorte de tudo quanto acompanha obra humana, mesmo a que se tenha por duradoura, nenhuma impecável.
No fim da sessão parlamentar de 1839, discutiu o Senado o orçamento do Ministério do Império para 1840.
Governava a Regência exercida por Araújo Lima, presidia o Senado Regente de havia pouco, Feijó.
Na sessão do Senado de 8 de outubro de 1839, entrou em 1a e 2a discussão o orçamento do Ministério do Império.
Rompeu debate na assembleia o Marquês de Barbacena. Declarava ter visitado o Colégio de Pedro Segundo, o qual lhe pareceu "um monumento de glória do seu fundador". Entretanto, afirmava não estar o estabelecimento nas condições desejáveis de disciplina e moralidade. Reconhecia o Ministro do Império, Conselheiro Manoel António Galvão, a procedência das censuras de Barbacena, embora em consequência de desacatos, alunos mais insubordinados houvessem sido expulsos. A seu ver, contribuía para afrouxar da disciplina admissão de alunos maiores de 15 anos.
Não foi Barbacena o único a observar. Acompanhou-o o Marquês de Paranaguá quanto à ineficiência de certos compêndios adaptados no Colégio. Entendia depois o Senador padre Ferreira de Mello ter o governo violado a Constituição, transformando o Seminário de São Joaquim em Colégio de Pedro Segundo, desviado aquele do fim almejado por seus instituidores, fins justos e filantrópicos. Ignorava Ferreira de Mello porque, sem autorização legislativa, havia julgado o Governo ter autoridade para fazer tal mudança.
Acudia ao debate Bernardo de Vasconcellos, declarando, mostrar depois, achar-se o Ministro do Império mal informado sobre sucessos do Colégio.
Ponderava o Marquês de Barbacena não haver no orçamento artigo expresso para o Colégio de Pedro II, pedindo informações sobre ele por considerá-lo debaixo da rubrica Obras Públicas. Esperava ocasião mais própria para tratar dele, dizendo a sua opinião sobre o Colégio, no seu sentir "o estabelecimento mais importante e mais útil fundado pelo Gabinete de 19 de setembro".
Na sessão do Senado de 9 de outubro de 1839, na discussão do orçamento do Império, tomou a palavra Feijó, para combater a criação do Colégio, taxando de escândalo
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
que um Ministro desviasse, arbitrariamente, o Seminário
do destino dado por particulares apoiados na lei, criando o
Governo, além disso, empregos e ordenados para depois
vir ao Senado ped i r d i n h e i r o para c r iação toda
governamental.
Rogava, pois, Feijó ao Ministro do Império que, por
honra do Senado e dever seu, não consentisse no progresso
do i l ega lmen te cr iado, res t i t u indo ao Seminár io o
verdadeiro destino. Não bastava a Feijó acusar ao Ministro
que, segundo ele arbitrariamente desmanchara obras
feitas, dando nova forma ao edifício, aplicando-o a f im
diverso do próprio. Ainda no dizer de Feijó, passava o
Senado pela vergonha de aprovar despesas de criação
a rb i t rá r ia , Fe i jó a c r e s c e n t a v a : — " Q u e m c r iou o
estabelec imento que o dote e faça as despesas. A
assembleia não teve parte nisso".
Roborou conceitos de Feijó o Senador Ferreira de
Mello. Declarou afinal mandar à mesa emenda suprimindo
despesas com o Colégio de Pedro Segundo, "porque
palavras sem ser acompanhadas com exemplos não
valem nada".
Na sessão de 9 de outubro de 1839 o Marquês de
Paranaguá (Villela Barbosa) discut iu os Estatutos do
Colégio, por implicarem revogação de leis, referindo-se
aos artigos 234 e 235 dos mesmos estatutos. O primeiro
conferia o diploma de bacharel em letras ao aluno aprovado
em todas as matérias ensinadas no curso; o segundo artigo
conferia o direito de entrar nas academias do Império
mediante a apresentação daquele diploma.
Declarava Galvão, Ministro do Império, não julgar
conveniente submeter logo os Estatutos do Colégio ao
Corpo Legislador. Nomeara comissão para exame
daqueles estatutos, exame que concluído permitiria ao
Min is t ro dar dest ino ao resul tado dos t rabalhos da
comissão.
Lida, apoiada, entrou em discussão a seguinte
emenda do Senador Ferreira de Mello. "Suprima-se a
quantia de 18:000$000 com o colégio de Pedro II, que na
sua fundação era Colégio de São Joaqu im. Salva a
redação".
O Ministro combateu a emenda; julgando que só
por terem sido notadas no Colégio coisas defeituosas,
emendáveis, não parecia bem suprimir o estabelecimento.
Declarava o Min is t ro dever o Colégio 7:200$000 de
mater ia is c o m p r a d o s para obras , a r ru inadas caso
suspensas. Declarava ainda o Ministro que os ordenados
dos p ro fesso res não eram pagos pela nação, s im
gratificados com o produto de matrículas.
Barbacena veio à t r ibuna d izendo requerer o
adiamento da discussão para que nela interviesse Bernardo
de Vasconcellos, que então se havia retirado. "E não
admira que o fizesse — observava Barbacena — porque
ele sofre muito em sua saúde".
Desejava Barbacena requerer o adiamento do debate
para a sessão seguinte, pelo motivo exposto. Entretanto
tais haviam sido as razões expostas pelo Ministro do
Império que Barbacena acreditava não deixar Senador
algum de aprovar a consignação de 18:000$000 para o
Colégio Pedro II até o ano de 1840. Referindo-se ao Pedro
II disse Barbacena: — "Eu sentirei mu i to que esta
instituição pereça".
Voltou à carga o Senador Ferreira de Mello. Padre,
não concordava com a transformação do antigo Seminário.
Acusava de erro o Governo de tê-la operado para
"acomodar afi lhados", censurando até o título do Colégio,
"aparatoso, para fascinar a população" , refer indo-se
também à demissão do reitor-Bispo de Anemúria. Ouvira
Ferreira de Mello dizer que o Bispo se demitira por não
concordar com a reversão ao Colégio de aluno dele
despedido.
Na sessão de 10 de outubro de 1839, continuando
no Senado a d iscussão do o r çamen to do Impér io ,
pronunciou-se Vergueiro contra a t ransformação do
Seminário de São Joaquim em Colégio de Pedro II.
Votava pela emenda Ferreira de Mello, fazendo-a
sua. Sem desap rova r a i n s t i t u i ç ã o do Co lég io ,
ESCRAGNOLLE DÓRIA
manifestava, como em outras ocasiões, a dor que lhe causava ver que para se procurar um bem se destruía um bem maior, alterando-se instituição estabelecida pela caridade dos fiéis para fim diverso qual o do Colégio de Pedro II.
Conveio o Senado na retirada da emenda Ferreira de Mel lo, renovando-a Vergueiro, insistindo nas ponderações do discurso anterior.
Pediu então a palavra Bernardo de Vasconcellos, para defender o Colégio.
Não duvidava votar pela emenda supressiva da consignação de 18:000$000. Para a sua manutenção e despesas ordinárias, o Colégio dispensava graças orçamentárias. Feito minudente histórico do Colégio e de seus rendimentos, passou Bernardo de Vasconcellos a referir-se aos estatutos do estabelecimento. Organizador deles em não pequena parte, consultara os estatutos do Colégio da Prússia, Alemanha e Holanda e o sistema de educação adotado por Napoleão I e de todos aproveitara o que lhe parecera mais adaptável às circunstâncias nacionais. Não desanimava com desordens havidas e por haver no Colégio. "Os mais bem administrados Colégios e que vivem há séculos sofrem estes choques, a coisa está em saber atalhar o progresso dos males". Lembrou Vasconcellos caso idêntico no Seminário de Coimbra, não se tendo por isto argumentado contra ele, nem se entender que morria por sofrer desar. Durante o seu ministério não tinha havido desordens, nem Vasconcellos usava de severidade para conter meninos.
Longa e viva foi a defesa de Vasconcellos em prol do Colégio de sua criação. Sucederam-lhe na tribuna Galvão, Ministro do Império, Barbacena e Paranaguá, este criticando compêndio do Colégio, apontando-lhe erros de Geometria e Geografia. Replicava-lhes Vasconcellos, sucedendo-lhe o Senador maranhense Costa Ferreira, voltando à tribuna Galvão e Vergueiro não raro repisando argumentos.
Concluída a discussão do orçamento do Império, não passou a emenda supressora Vergueiro. Entretanto,
na sessão de 17 de outubro de 1839, o Senador Ferreira de Mello requeria que se perguntasse ao Governo quantos estudantes pobres havia no Colégio, qual o seu tempo de entrada, acompanhadas as informações pela relação nominal dos alunos e dos nomes dos pais dos meninos.
A discussão senatorial de 1839 acerca do Colégio mostra zelo por ele e pela causa pública. Não é impossível, porém, que a tudo isso se misturasse também um tanto de oposição política. Feijó, renunciante da Regência em, 1835, cedera-a a Araújo Lima, seu adversário. Presidindo Senado em 1839, a propósito da subvenção ao Colégio de Pedro Segundo, descia da cadeira presidencial e vinha ao recinto, à tribuna combater o Governo, formando ao lado de impugnadores entre os quais o padre Ferreira de Mello tão impressionado com a transformação do Seminário de São Joaquim.
Os senadores empenhados na discussão do orçamento do Ministério do Império são grandes figuras na história pátria. Avivemos, porém, a figura do padre José Bento Leite Ferreira de Mello, nascido em 1875 na hoje cidade mineira de Campanha. Cónego honorário da Sé de São Paulo, vigário colado de Pouso Alegre, membro de governo provisório em Minas, deputado-geral, Senador do Império em 1834. Atirado à politica seria um dos ardentes pugnadores da Maioridade como parte menos ardente na revolta de Minas em 1842. Declarou-o Xavier da Veiga "homem de vontade forte, inteligente, ativíssimo, partidista extremado, não fugia à responsabilidade de sua posição leal e franca em quaisquer circunstâncias". Teria fim trágico. Na tarde de 8 de fevereiro de 1844, ao regressar a sua fazenda, próxima de Pouso Alegre, morria assassinado, por questões de terras, autores do crime antigos protegidos da vítima, um deles dela afilhado.
Defendendo o Colégio, no Senado, em 1839, Bernardo de Vasconcellos merece mais um grande título de gratidão do estabelecimento. Desconte-se no discurso de defesa a parte do amor-próprio de criador, sobre ainda assim motivo de reconhecimento do Colégio para com Bernardo Pereira de Vasconcellos.
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
Uma coisa é trabalhar em condições de validez, outra em estado de enfermidade persistente e imobil izadora. Assim acontecia a Bernardo de Vasconcellos. hemiplégico e achacado. Não exagerava Barbacena quando declarava que Bernardo "sofria muito em sua saúde".
A tal ponto ia sofrer que, na sessão do Senado, em 1839, Bernardo se dirigira à assembleia dizendo: "Peço
licença ao Senado para falar sentado, não só agora como sempre, porque o meu estado de saúde não permite fazê-lo de outro modo". Ouviu-se então Feijó declarar no alto da cadeira da presidência: — "O Sr. Senador pode falar sentado".
Em tais condições de saúde, a defesa do Colégio por Bernardo de Vasconcellos sobe de ponto. Honra ao vencedor de males e dores a bem do Pedro Segundo.
Vista Parcial do Colégio, em meados do século XIX. Foto em exposição no Museu do Colégio.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Ill O Colégio de 1840 a 1843
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837-1937
Novos Ministros do Império • Alteração dos Estatutos • Modificação do Corpo
Docente • O Decreto Silva Maya e a Colação de Grau de Bacharel em Letras •
A Primeira Colação de Grau em 1843.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
A ssinalaria o terceiro ano letivo do Colégio um sucesso magno: a Maioridade. Trabalhado o Brasil
por lutas civis e por sedições militares na constância da Regência, havia em 1840 no país inteiro ânsia de paz, embora na míngua de completa harmonia nunca dos nuncas atingida pela humanidade, desde obscuros tempos da pré-história, a mostrar minuto a minuto quanto é o homem lobo para o semelhante, consoante lição de Plauto na Asinaria.
Mal começou D. Pedro II a adolescer, partidários políticos de sua maioridade prematura entraram a surgir e congregar-se, sobretudo, parlamentarmente. Frustraram-se a princípio desígnios dos maioristas, afinal triunfantes, a 23 de julho de 1840, vencida a Regência, exaltado ao trono D. Pedro II aos quinze anos de idade incompletos, quando o devia ser aos dezoito inteiros. Soubera o Partido Liberal, hostilizando o Conservador, conjugar política partidária e vontade popular, esta a exprimir-se na conhecida quadrinha em 1840 tão de boca em boca.
Queremos Pedro Segundo Embora não tenha idade; A nação dispensa a lei, E viva a maioridade!
Alvorecida esta, naturalmente o primeiro ministério do incipiente reinado no Brasil de terceiro Bragança, maternalmente Habsburgo, seria composto de maioristas, adeptos do sucesso de 23 de julho tão de vulto quanto o 7 de abril de nove anos transatos. Fora a Abdicação obra do ímpeto próprio de D. Pedro I, almejando coroar filho de Portugal. Cedeu o pai à vontade do Exército e de fração de povo no Rio de Janeiro, esta cidade, então, como depois, arrogando-se poderes de procuradora do país.
Resultara a Maioridade, ainda na mesma procuração, do movimento de um partido servindo-se do povo cansado de discórdias. A abdicação tirara cetro ao pai, encostado o cetro na Regência, a Maioridade colocou-o nas mãos do filho "para bem de todos e felicidade geral da nação", assim diziam muitos na época, parodiando o "Fico".
No dia seguinte da Maioridade, o jovem soberano chamava a Governo o primeiro dos 36 gabinetes do seu reinado, que também findaria em exílio como o primeiro. No Ministério de 24 de julho de 1840 coube a Pasta do Império, da qual na Monarquia sempre dependeu o Colégio de Pedro Segundo, ao deputado de voz mais eloquente, sobreardorosa no movimento liberal da Maioridade;. — António Carlos Ribeiro de Andrada Machado e Silva.
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
Era o Ministro mais vistoso e mais facundo do
Gabinete. Tonitroava parlamentarmente desde as Cortes
de Lisboa, sustentando tradição de tribuno. Apostrofava
com fac i l idade e f requênc ia , como orador t inha a
veemência, senão o coração nos lábios.
Tornara-se An tón io Carlos f igura pr ime i ra da
Maioridade desde quando na Câmara dos Deputados fora
lido decreto regencial adiando de julho para novembro de
1840 a Assembléia-Geral. Subscrevera o ato o benfeitor
do Colégio de Pedro Segundo, Bernardo de Vasconcellos,
na Pasta do Império por nove horas, as mais honrosas de
sua vida pública, conforme confissão de interessado em
célebre "Exposição" recolhida pela História.
Ao maiorismo, aos maioristas serviu então António
Carlos, levantando-se no meio do tumulto provocado pela
leitura do decreto regencial. Soube exclamar: — "Quem
for brasileiro siga-me para o Senado". A História é tecida
por aproximações e repetições. Em dezembro de I868,
Caxias na ponte de Itororó, atirando-se à peleja, diria a
batalhões seus retrocedentes — "Sigam-me os que forem
brasileiros".
Não teria longa duração o Gabinete da Maioridade,
também um pouco o dos parentes, Ministros António
Carlos e Mart im Francisco, ao lado de dois fraternos
Cavalcantis de Albuquerque, um futuro Visconde de
Albuquerque, e outro de Suassuna.
Antón io Carlos, na Câmara dos Deputados, já
Ministro, dissera "ter cabelos até então embranquecidos
nos caminhos da verdade". Com experiência e cãs voltar-
se-ia para o Colégio de Pedro Segundo, reitorado por
Joaquim Caetano da Silva com auxílio do vice-reitor frei
Rodrigo de São José, subst i tu to do esforçado padre
Leandro Rebello e Castro.
Em dezembro de 1840, dirigindo-se ao reitor Joaquim
Caetano, António Carlos declarava-lhe "ter o Imperador
em particular consideração o adiantamento da mocidade
educada no Colégio", palavras jamais desmentidas pelo
tempo e pelo patrono.
Segundo o Ministro, cumpria a cada professor da
Casa expor inconvenientes e defeitos demonstrados pela
experiência na parte do ensino a seu cargo. Alvitraria o
expositor providências para removê-los acrescentadas à
exposição de cada professor as reflexões do reitor sobre
o assunto. Remeter-se-ia tudo à Secretaria do Império a
f im de ser possível providenciar "com clareza e perfeito
conhecimento sobre tão importante objeto", dizia António
Carlos.
Certo, as exposições do reitor e do corpo docente
não foram estranhas à primeira reforma dos estatutos do
Colégio. Obteve-a pelo regulamento de 1o de fevereiro de
1841 da responsabilidade de António Carlos, auxiliado por
Joaquim Caetano em o novo plano de ensino.
Elevou o regulamento de 6 para 7 anos o curso de
bacharelado, julgado necessário mais um ano de estudos
para perfeição de curso secundário, exigidos antes a alunos
de anos mais baixos da série escolar conhecimentos para
cuja aquisição lhes faltava ainda memória e raciocínio.
Modif icou o Regulamento António Carlos o número
de lições semanais — 25 até o 5o ano, 30 no 6o e 7o —
f ixada uma hora para cada aula. Ao p ro fessor de
Matemática incumbiria o ensino da disciplina e mais o de
Geografia e Cronologia.
O Regulamento António Carlos, a ser executado no
Colégio, vinha encontrar o corpo docente e administrativo
um tanto modificado desde 1840.
Recebera o Colégio novo secretário, o Dr. Fernando
Francisco Lessa, substi tuto do secretário interino José
Tavares de Mello
A maior novidade na corporação docente era o
aparecimento da cadeira de Alemão, primeira da língua no
Brasil, tendo por titular Carlos Roberto, Barão de Planitz.
Inaugurava no Colégio o que se poderia chamar nele a
série germânica continuada porTautphoeus, Goldschimidt,
Gade, Schieffler, Meschick e Hans Heilborn.
Teria o Colégio outras séries de magistér io, a
nacional representada pela maioria dos professores do
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Colégio em extenso rol, a série francesa de Piquet , Halbout, Gastão Ruch, a série inglesa de Maze, de Cumberworth, de Alfredo Alexander, a série italiana de De Simoni, Lipparoni e Gervais, além da unidade grega de Calógeras.
Em 1840, começou a lecionar no Colégio, a título interino o professor de Aritmética, o Dr. Emilio Joaquim da Silva Maia, a prestar à Casa importantes serviços médicos e de magistério.
Além de Planitz, era em 1849 nomeado Tiburcio António Craveiro, professor de Latinidade, Retórica e Poética, com o vencimento anual de um conto de réis, para aumento da série de professores acrescidos aos primeiros de 1838.
Ao assumir a Pasta do Império, António Carlos encontrou estabelecido no Colégio o regime das matrículas gratuitas de internos e externos. Fixadas pela primeira vez pelo Ministro interino do Império, efetivo da Justiça, Conselheiro Assis Coelho, numa interinidade proveitosa a desvalidos, suposta bem aplicada a mercê em distribuição de justiça.
Um dos primeiros a solicitar o favor da gratuidade foi Mathias José Fernandes de Sá, procurador de causas litigiosas, subadvocacia exercida pelos solicitadores.
Dirigiu-se Sá ao reitor Joaquim Caetano para obtenção da graça em benefício do filho, Aurélio Garcindo Fernandes de Sá, informada favoravelmente por Joaquim Caetano a petição paterna.
Atendeu o Governo à súplica, em nome de sua Majestade o Imperador, mandando admitir como aluno externo gratuito Aurélio Garcindo Fernandes de Sá.
Roda o tempo, o menino é homem, e de guerra, oficial da armada. Em 1865, vamos encontrá-lo de pé na história pátria, em dia de morte e glória sobre águas, o dia de Riachuelo, Garcindo secundando Barroso no arrebatar vitória no imortal tombadilho da Amazonas, Garcindo a comandar a Parahyba, com o denodo celebrado no poema épico Riachuelo, de Pereira da Silva, dizendo o poeta:
"... e nâo prescindo Que o nome a todos chegue de Garcindo". Retribuía assim em 1865 o aluno sergipano do
Colégio a gratuidade de seus estudos. António Carlos, sem saber, não só concedia
gratuidades proveitosas, mais tarde como a de Garcindo pagas na glória. Procurava, também, aperfeiçoar o ensino do Colégio pela nomeação de bons professores, recomendáveis pelo saber, tanto quanto pela compostura, indispensável a quem se propõe a dirigir, sobretudo moços, sempre a lançar descréditos e ridículos sobre mestres nominais.
Referendava António Carlos a nomeação do Dr. Marcell ino José da Ribeira Silva Bueno, Cónego penitenciário da Capela Imperial. Seria professor de História Geral, Pátria, Geografia e Cronologia, "em consideração aos importantes serviços prestados no magistério e em outros lugares de Letras". Assim o disse, expressa e expressivamente, o Decreto de 23 de setembro de 1840.
O novo professor era sacerdote secular, antes frade franciscano, gozava, na Ordem do "poverello" de Assis, fama de bom pregador. Pouco lecionaria, falecido a 21 de janeiro de 1842.
A António Carlos, Ministro do Império, deveria o Colégio a primeira nomeação de Comissário do Governo para inspecionar o estabelecimento e sobretudo interferir nos exames.
Recaiu o cargo no Dr. Joaquim Cândido Soares de Meirelles, médico diplomado no Rio de Janeiro e em Paris, um dos fundadores da Academia Imperial de Medicina, amigo de Evaristo da Veiga, muito ligado aos sucessos políticos da Independência, do Primeiro Reinado e da Regência, cirurgião militar de vulto na armada e no exército.
Vinte e cinco anos após o comissariado pedagógico no Pedro Segundo, em 1840, ainda assistiria à Rendição de Uruguaiana.
À nomeação de Soares de Meirelles, na gestão ministerial de António Carlos, recebeu o Colégio novo
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
tesoureiro, Manoel Raymundo Galvão, por exoneração de José Teixeira de Abreu Silveira.
Sobretudo para a época, eram de vulto os bens patrimoniais do Colégio, inventariados em 1838 e constantes de dois prédios, uma morada de casas de sobrado na Rua das Violas, ora Theophilo Ottoni, uma morada de casas térreas, na Rua da Alfândega, uma morada de casas de sobrado na Rua Estreita de São Joaquim, desaparecida na República e na Prefeitura Passos. No património do Colégio figuravam 163 apólices de conto de réis, além de duas no valor de 400S000.
Em março de 1841, o Partido Conservador vencia o Liberal da Maioridade, apeado de governo o ministério por ele constituído e do qual era ministro António Carlos. Organizando o Marquês de Paranaguá o Gabinete de 23 de março de 1841, chamou o sucessor de fogo Andrada um calmo, Cândido José de Araújo Viana, futuro Visconde e Marquês de Sapucaí, já Senador do Império.
Ministro, pela última vez em 1841, Araújo Viana — assim grafava segundo nome patronímico — interveio em pequeno sucesso característico da época. Devia o património do Colégio aumento a récitas promovidas em seu benefício pela Sociedade Dramática do Teatro de São Januário, bandas da rua D. Manoel. Dirigiu-se o diretor da referida Sociedade ao reitor Joaquim Caetano. Propôs para a 5o representação em benefício do Colégio levar à cena intitulada O Ambicioso ou O Ministro Demitido.
Declarava o diretor ao reitor ser esta a única peça com brevidade capaz de subir à cena ou então qualquer de sete peças já vistas cuja relação acompanhava o ofício do diretor da Sociedade Dramática.
Intervindo o governo, atendendo a consulta do reitor, respondeu-lhe Araújo Viana. Mandava Sua Majestade o Imperador declarar-lhe que "a não ser possível representar-se peça nova, visto a indicada não convir, havia por bem permitir, por esta vez, a representação da intitulada Abade de UEpée.
Conteria O Ambicioso ou O Ministro Demitido alusões a António Carlos exonerado? "Visto a indicação
não convir", diz o oficio de Araújo Viana a Joaquim Caetano, a 3 de junho de 1841.
Provavelmente a peça Abade de VEpée exaltaria serviço à humanidade prestado pelo sacerdote francês fundador em Paris da escola dos surdos-mudos, a estes permitindo, por sinais de convenção, comunicarem-se com os semelhantes.
Em todo o caso se O Ambicioso ou O Ministro Demitido falava demais, o Abade de 1'Épée, guia de surdos-mudos, seria mais discreto.
Maior incómodo do que a censura teatral daria ao Ministro Araújo Viana e ao reitor Joaquim Caetano, novo tesoureiro do Colégio, suspenso de funções mal as começava a desempenhar, substituído interinamente pelo Dr. Silva Maia.
Intimado o funcionário a prestar imediatas contas de gestão, Araújo Viana mandava pagar contas ao professor de História, Justiniano José da Rocha, metade das despesas pela tradução e impressão de compêndios.
Pouco antes havia o Ministro António Carlos autorizado a adoção no Colégio de "Resumo de História do Brasil" de Niemeyer Bellegarde e dos "Elementos de Cronologia" do Senador José Saturnino da Costa Pereira.
Não bastava cultivar a inteligência do aluno, cumpria robustecer-lhe o corpo. Daí a nomeação de Guilherme Augusto de Taube para primeiro mestre de Ginástica do Colégio. Por quatrocentos mil réis anuais robusteceria, corrigindo falhas de calipedia.
Além de Taube, nomearia Araújo Viana novo comissário do Governo para o Colégio, substituindo Soares de Meirelles, chamado a outras funções. Em outubro de 1841 investia-se no cargo o Desembargador Rodrigo de Souza da Silva Pontes, homem de luzes, caráter e probidade jamais desmentidos em vida inteira. Magistrado, parlamentar, presidente de três províncias , quando colhido pela morte, em 1855, seria representante nosso diplomático em Buenos Aires.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
A 7 de dezembro de 1842, presidia Araújo Viana à
solene distribuição de prémios aos alunos do Colégio. Dele
se ausentava o professor de Filosofia, Domingos José
Gonçalves de Magalhães. Autorizava ausência da cadeira,
partida para o Rio Grande do Sul em companhia do
Presidente da Província de São Pedro. Era este o Barão
de Caxias a opor-se à luta farroupilha, guerra civil pelo
Segundo Reinado da Regência t r is temente herdada.
Gonçalves de Magalhães já servira de secretário de Caxias
na repressão da Balaiada.
Prestava o Governo a maior atenção à disciplina da
Casa. Demonstrava-o o Decreto de 7 de novembro de
1842, referendado por Araújo Viana, revogando o artigo 135
dos Estatutos vigentes. Tais Estatutos, pelo citado artigo,
permitiam com a presença do Ministro, do Comissário do
Governo ou do reitor, reunião em banquete, dos alunos
contemplados com recompensas, livros, coroas de ramos
de café ou de flores. A distribuição de prémios, seguir-se-
ia o banquete aos alunos distinguidos. Entre os jovens
uniformizados, de casaca e calça verde e chapéu alto de
pelo, houve quem se excedesse por atos e palavras, talvez
procurando demais conhecer a exatidão do " in vino
veri tas".
Não concordou o Governo com a pesquisa, suprimiu
o banquete "por não ser acompanhado de vantagem
alguma, mas antes de graves inconvenientes", declarava
o ministro Araújo Viana ao reitor Joaquim Caetano.
O Colégio não podia, entendia-se no alto, viver sem
austeridade. Não costuma esta presidir banquetes nos
quais não raro inteligências se anuviam e línguas por
demais se soltam.
Estabelecimento de tradição honrosa, o Colégio
participava do empenho do Governo em moralizar-lhe os
exames. Assim, para presidi-los especialmente convidava
pessoa das mais notórias do Império, Fernandes Pinheiro,
Visconde de São Leopoldo. Era personagem já tanto em
história pátria quanto nos fastos da instrução pública
nacional, referendador do Decreto de 1827 instituindo
Cursos Jurídicos em São Paulo e Olinda.
Em 1847, novo Ministro do Império, substi tuto de
Araújo Viana, superintendeu o Colégio oficialmente, que o
seu superintendente de coração se chamava D. Pedro II.
Para o Colégio os ministros passavam, o soberano, amigo
e patrono, permanecia, e ficou até o seu exílio.
Veio à Pasta do Império o Conselheiro de Estado
Silva Maia, no Gabinete de 20 de janeiro de 1843, Gabinete
de São Sebastião, organizado no dia do padroeiro carioca,
por Honório Hermeto Carneiro Leão, vindouro Marquês de
Paraná.
Na gestão ministerial de Silva Maia, em 1843,
ocorreriam modificações no corpo docente do Colégio. Em
março o Barão de Planitz era designado para a cadeira de
Geografia Descritiva e História; em julho frei Rodrigo de
São José, vice-reitor, nomeado professor de Religião, em
agosto o Cónego honorário Sebastião Pinto do Rego, futuro
Bispo de São Paulo, provido no cargo de Capelão do
Colégio. Deste se despedia o mestre de ginástica Guilherme
LuizdeTaube.
Continuava Joaquim Caetano na reitoria, a esta
anexada então, o que o Aviso de 3 de abril de 1843
chamava c o n c e s s ã o do s u s t e n t o . Res id indo e
alimentando-se no Colégio, Joaquim Caetano, em agosto
de 1843, foi chamado a providenciar para a realização de
festa extra-escolar na Casa sob sua digna direção.
A 9 de setembro de 1843, à Sala Nobre — dizia-se
então grande — do Colégio acolhia seleto auditório para
sessão instaladora do Instituto dos Advogados do Rio de
Janeiro.
Nem os alunos ficaram sem festa em 1843. O
Ministro Silva Maia autorizou o reitor a conceder-lhes férias
extraordinárias, tanto mais gostosas quanto inesperadas.
Férias no decurso do ano letivo? A razão era grata
sobre nupcial: — o casamento de D. Pedro II e D. Thereza
Christina.
Não se acharam os alunos do Pedro Segundo
privados de participar do regozijo público pelo fausto
sucesso conjugalmente assegurador de dinastia.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
A terceira Imperatriz do Brasil chegou de Nápoles a 3 de setembro de 1843, desembarcando no Valongo, zona carioca entre Gamboa e Saúde, assim conhecida do período colonial ao início do Segundo Reinado, nome ainda hoje lembrado por uma ladeira em morro na citada zona.
Para entrar no Rio de Janeiro passou a nova Imperatriz, nascida no ano de nossa independência, pela Rua do Valongo, depois da Imperatriz em honra da soberana e hoje Camerino. Os alunos do Colégio podiam ver pois de casa a primeira festa, a do desembarque.
Seguiram-se para eles e para todos, outras manifestações de regozijo, entre elas numerosos bailes já oficiais, já familiares.
Cessados os festejos, outra vez vieram os alunos do Pedro Segundo a aulas e sabatinas precedendo exames sob a inspeção do Ministro do Império de havia pouco, Araújo Viana, nomeado Comissário de Governo a 6 de novembro.
No exercício do cargo teria ensejo de aplicar Araújo Viana providência sua quando governo.
Todo e qualquer aluno chamado a exame deveria prestá-lo no dia marcado. Para evitar repetição de recusa, Araújo Viana, então Ministro, declarara ao reitor haver o Imperador determinado que se algum aluno se abstivesse de provas em dia para elas fixado "fosse considerado com o ano perdido, como se tivesse sido reprovado". Salvo se alegasse e provasse "que para tal procedimento houvesse causa convincentemente just i f icada". Dada a circunstância poderia ser admitido, por ordem do governo, a exame na abertura das aulas do ano letivo seguinte.
Findos os exames em 1843, o Colégio preparou-se para a solenidade habitual da distribuição de prémios, desta vez realçada com a primeira colação de grau de bacharel em letras. Na véspera do ato Silva Maia expediu decreto a ele relativo.
Ouvido o Conselho de Estado, o Ministro referendou o Decreto de 20 de dezembro de 1843, dizendo respeito à colação do grau de bacharel em letras e respectiva
expedição de diplomas. Pela carta de lei de 30 de agosto de 1843, já bastava apresentação de diploma do Colégio para matricula imediata nas academias do Império.
Segundo o Decreto Silva Maia o bacharel em letras prestaria juramento sobre os Santos Evangelhos, ligados a Igreja e Estado, nem sempre em paz, o espiritual incomodado pelo temporal e vice-versa.
Devia o bacharel, por juramento, respeitar e defender constantemente instituições pátrias, concorrendo, quanto possível para a prosperidade do Império, satisfazendo com lealdade as obrigações a ele incumbidas.
Após o juramento, o Ministro do Império ou o Comissário do Governo imporia ao bacharel barrete branco franjado, proferindo solenemente estas palavras: — "Dou-vos o grau de bacharel em letras, que espero honreis sempre tanto como o haveis sabido merecer".
Em ato solene ou não recebia diploma o novo bacharel, diploma em pergaminho, subscrito pelo Ministro do Império, pelo reitor e pelo vice-reitor.
Na segunda-feira 21 de dezembro de 1843, o Colégio de Pedro Segundo engalanou-se para a cerimónia, o da estreia da colação de grau à primeira turma de bacharéis, cerimónia honrada com a presença do Imperador.
De acordo com os estatutos, deu princípio à solenidade, obtida vénia imperial, o professor de Retórica, Dr. Santiago Nunes Ribeiro, lendo discurso de cunho filosófico, desejando demonstrar a necessidade de unir religião à mocidade para esta produzir bons frutos.
Ao discurso de Santiago Ribeiro seguiu-se a distribuição de prémios. Aos primeiros premiados dignou-se D. Pedro II entregar recompensas, os demais atendidos pelo reitor, com expressões de benignidade. A Sala Grande da Casa, senão a maior do Brasil, estava repleta de público. Dele boa parte, por má colocação de cadeiras, ficou privada de presenciar o ato da colação e o cortejo dos alunos premiados.
Ao cortejo seguiu-se a colação de grau conferido aos seguintes alunos: — Agostinho Marques Perdigão
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Malheiro, de Minas Gerais, António Manoel Loureiro, da província do Rio de Janeiro, Carlos Arthur Busch Varella, do Município Neutro; Francisco de Salles Rosa, Joaquim Fernandes da Silva, José Carlos de Almeida Arêas, também da citada província, José Alexandrino Dias de Moura, de Matto Grosso, Paulino de Souza Brito, de Moçambique.
Finda a colação de grau o bacharel Busch Varella leu discurso de agradecimento e despedida, a produzir no auditório grata impressão.
"Este pequeno trabalho que foi ouvido com muita atenção, causou no auditório bastante abalo, tanto pelo garbo e entusiasmo com que foi recitado, como pelas flores de retórica de que se achava adornado".
Disse-o Joaquim Manoel de Macedo, nas páginas da Minerva Brasiliense, acrescentando: — "A criação e existência do Colégio de Pedro Segundo é um dos acontecimentos que mais honram aos nossos contemporâneos; é o feito que mais deve concorrer para o progresso e orgulho das letras Brasileiras".
Alguns dos novos bacharéis haviam participado da primeira distribuição de prémios no Colégio a 13 de
dezembro de 1838. Pela primeira vez assistira também o Rio de Janeiro a solenidade do género em estabelecimento nacional, "esplêndida e aparatosa cerimónia quanto podia ser", registrou-a imprensa da época , em sala ricamente adornada, dossel e estrados preparados para o Jovem D. Pedro e o Regente Araújo Lima, tendo aos lados os Ministros e grande número de pessoas gradas. A solenidade da primeira distribuição de prémios do Colégio tivera novidade e importância alvoroçando alunos premiados, incitando colegas a merecerem recompensas idênticas entre alegrias de família. A solenidade da primeira colação de grau de bacharéis em letras também novidade, subia de importância. Dignificava jovens que, uns mais, outros menos, teriam elevação social, destacados, sobretudo. Perdigão Malheiro, o jurisconsulto, Busch Varella, o grande orador forense, Arêas o diplomata, quarenta e seis anos depois do seu bacharelado em letras Visconde de Ourém. A Busch Varella reservava o destino a dita de celebrar, em discurso e ato solene, o jubileu do Colégio, substituída pelas cãs a alvura passageira do barrete imposto ao jovem bacharel de 1843.
IV O Colégio de 1844 a 1851
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 -1937
Solicitude de D. Pedro II para com o Colégio • Vigilância do Governo • Pequenos
Sucessos e Curiosas Providências • Joaquim Caetano e Frei Rodrigo de São José •
Retirada de Joaquim Caetano.
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Em 1844, entrava o Colégio em sétimo ano de labor. Dezenove anos de idade contava o dele augusto
patrono. Começava já a mostrar Bernardo de Vasconcellos profético no discurso de inauguração do Colégio. "O culto das letras e das ciências seria um dos principais títulos de glória de seu reinado" afirmara o estadista. Em 1844, principiava D. Pedro II a ter por sacrário de tal culto o Colégio sob sua proteção e seu nome.
A solicitude do amigo do Colégio só cresceria com o tempo que tanto diminui ou suprime cuidados. Obrigava-se o Ministro do Império, fosse qual fosse, a zelar pelo Colégio, mesmo quando pessoalmente lhe não merecesse especial atenção.
Assim reinando no Rio de Janeiro a escarlatina, deliberara o facultativo do Colégio aplicar a alunos internos a tintura de beladona, como preservativo. Logo veio ofício do Ministro ao reitor Joaquim Caetano, aliás médico, advertindo-o de não fazer uso da tintura, "convindo que fosse mais geralmente experimentado e aprovado o indicado preservativo, para que com prudência e segurança fosse admitido no Colégio".
Não era de rosas o cargo de reitor, mesmo exercido por homem qual Joaquim Caetano. Representando certa vez o administrador da Tipographia Nacional contra o
costume de algumas Repartições Públicas mandarem imprimir papéis de expediente em tipografia particular, com grave prejuízo da Fazenda Nacional, houve então por bem Sua Majestade o Imperador que o reitor do Colégio fizesse imprimir naquela Tipographia tudo quanto pertencesse ao expediente do estabelecimento a seu cargo.
Quando o Ministro do Império autorizava despesas recomendava logo ao reitor parcimônia nos gastos. "Haja a maior economia", dizia o Secretário do Estado a propósito da iluminação do Colégio em noites de festa oficial.
Nem sempre corriam amenas as relações entre ministro e reitor, não hesitando aquele em censurar este. Havendo Joaquim Caetano despedido um servidor modesto do Colégio, o despenseiro Manoel Pereira, em funções desde 1838, foi ele queixar-se ao ministro. "Não me havendo V. Mce. — dizia o ministro ao reitor — participado este seu ato com razões que o compeliram a praticá-lo; ocorrendo além disto o parecer tal ato contraditório, e infundado, pois que na mesma ocasião em que V. Mce. despede aquele empregado dessa casa lhe passa uma Atestação em que afirma ter ele servido sempre muito bem a todos os respeitos: manda Sua Majestade o Imperador que V. Mce. informe circunstanciadamente sobre este objeto, para se resolver como for conveniente".
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837- 1937
Tendo informado o reitor, mandou-lhe declarar o Governo, sempre falando em o nome imperial, que embora usasse o reitor da faculdade de demitir serventes contratados do Colégio devia ficar em inteligência que uma vez contratados tais serventes entravam no número dos empregados da Casa e pois só podiam ser demitidos por faltas ou transgressões cometidas.
"Estando, acrescentava o ministro, o Colégio debaixo da imediata Inspeção do Ministro e Secretário de Estado dos Negócios do Império, e devendo-lhe por isso ser presente tudo quanto é relativo à disciplina, estudo, e estado moral do mesmo Colégio, como à sua administração em geral, preciso que o Reitor lhe participasse o que ocorresse a respeito de tais objetos".
A respeito do atestado passado ao despenseiro demitido o ministro censurava o reitor, em termos energicamente corteses que não deviam ter doído pouco ao subordinado ilustre.
A vigilância do governo, tanto a censurar o forte como a ouvir o fraco, não escapava à equidade. O Ministro do Império, Almeida Torres, organizador do Gabinete Liberal de 2 de fevereiro de 1844 e sucessor do Ministro Silva Maia, mandara oficialmente de modo especial, fossem fornecidos alimentos ao vice-reitor, frei Rodrigo de São José. "Por suas enfermidades e em razão das ocupações dos seus lugares, não podia e não convinha que o vice-reitor tomasse os seus alimentos no refeitório. Deviam estes ser mandados ao seu cubículo não em géneros, mas preparados da mesma maneira por que iam para o refeitório na quantidade razoavelmente conveniente para a frugal sustentação de uma pessoa".
Frei Rodrigo, monge beneditino, não devia estranhar nem "cubículo, nem frugal sustentação", tudo na observância do regime de sua ordem.
Mais ainda, sempre em atenção ao grande e ao pequeno, ordenava o Ministro Almeida Torres que "se continuasse o alimento como até então ao aluno José Teixeira de Souza".
Ao reitor prestava o ministro contas do favor que dispensava àquele jovem "atentas as circunstâncias da longitude em que morava sua família, e da pobreza dele, além das circunstâncias do bom comportamento e da aplicação do aluno". Favor justo é exemplo sobre estímulo.
Nem deixava o Ministro Almeida Torres de atender ao requerimento de Joaquim Peixoto, índio da Aldeia de São Pedro, pedindo admissão do filho de nome Joaquim como aluno interno gratuito do Colégio.
A petição do índio fluminense, das cercanias de Cabo Frio, apresenta-se sugestiva. Longe já havia chegado o renome do Colégio.
Em 1844, também recebia o reitor, para informar, o requerimento do major Manoel Mendes da Fonseca pedindo fossem admitidos no Colégio, como alunos gratuitos externos, quatro dos seus filhos. O major Fonseca era pai de Deodoro, este em 1844 aluno da Escola Militar. Os filhos para os quais o major Fonseca pedia gratuidade de matrícula eram Pedro Paulino, na República governador de Alagoas e Senador federal por esse Estado; Hypólito Mendes da Fonseca, capitão do exército; Eduardo Emiliano da Fonseca, major do exército, mortos ambos na guerra do Paraguai e João Severiano da Fonseca, médico, futuro chefe do Corpo de Saúde do Exército.
Às vezes, em nome do ministro dirigia-se ao reitor o oficial-maior da Secretaria do Império então na Rua da Guarda Velha, hoje 13 de Maio, António José de Paiva Guedes de Andrade, poeta elegante, tradutor fiel de clássicos latinos c de não terminada versão da Jerusalém de Tasso.
Por ofício, solicitava Guedes Andrade a Joaquim Caetano informação sobre a maneira de contar faltas aos professores do Colégio. Convinha não mais fosse enviado à Secretaria simples extrato, um mapa circunstanciado das faltas, "de forma que se conhecesse se o Professor faltava logo à primeira das lições ou a qual delas".
Grande era a preocupação do Governo quanto às faltas dos professores. Assim o Ministro Almeida Torres
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se julgava na obrigação de justificar ao reitor, o motivo de certas faltas de seus administrados.
Dizia-lhe por exemplo, no Aviso de 11 de abril de 1844 que "tendo sido designados os professores do Colégio Carlos Roberto, Barão de Planitz e Francisco Maria Piquet para servirem de examinadores da língua francesa no concurso dos opositores à Cadeira da língua no dia 18 do corrente, e não podendo por isso comparecerem nesse dia para dar aulas aos seus alunos, fazia isto chegar ao conhecimento do reitor".
Incessantes e de minudente ordem eram as providências do governo com relação ao Colégio. Delas a variedade testemunha quanto os poderes públicos se interessavam pela sorte e boa marcha do estabelecimento, procurando acertar, deferindo ou indeferindo pretensões.
Mandava o Ministro do Império, à vista de representação do interessado e de informação do reitor, restituir ao recém-bacharel Reginaldo Netto Caldeira a quantia de 25S000 por ele pagos ao Tesouro Público do selo da respectiva carta. As despesas com os diplomas dos bacharéis em letras alunos gratuitos do Colégio — acrescentava o ministro — deviam ser feitas por conta dos cofres do estabelecimento.
Por outro lado tendo conhecimento da nomeação, embora a título interino, de um inspetor dos internos do Colégio, o Governo cientificara ao reitor não confirmar tal nomeação. E por quê? Fora o Ministro Almeida Torres informado de haver sido o mesmo inspetor despedido do noviciado do Convento do Carmo da Corte, por irregularidade de comportamento. Declarava o Governo ao reitor que "não podendo ser confirmada a nomeação, fazia-se por isso desnecessário continuar o inspetor a servir cargo interino para se conhecer da sua capacidade e morigeração".
Mais significativo ainda é o ofício do Ministro Almeida Torres, oficio registrado no Colégio sob n.° 788 e expedido a 11 de setembro de 1845. Declara o ministro ao reitor que "ficava Sua Majestade o Imperador inteirado
pela leitura do ofício do reitor, de haver sido entregue a correspondente na corte, em presença do desembargador Chefe de Polícia, um ex-aluno do Colégio, afim de embarcar na escuna Ligeira com destino ao Rio Grande".
Nem se podiam queixar alunos de objeto único de advertências em punições. Presentes ao Imperador, por intermédio do Ministro do Império, os mapas das faltas dos professores no trimestre de fevereiro a abril de 1845, ordenava Sua Majestade que o reitor estranhasse àqueles professores a falta de cumprimento de deveres.
Deixando Almeida Torres a Pasta do Império foi nela substituído pelo deputado Joaquim Marcelino de Brito, membro do Gabinete Liberal de 2 de maio de 1846, organizado pelo senador Hollanda Cavalcanti.
Entre as punições infligidas aos alunos do Colégio figurava a pena de reclusão em quarto preparado para tal f im. Conheciam-no os alunos pelo nome de cafua. Declarava o Ministro Marcelino de Brito ao reitor constar na Augusta Presença de Sua Majestade o Imperador que o quarto para reclusão dos alunos do colégio, por faltas merecedoras de tal castigo, era inteiramente impróprio para semelhante uso, tanto pela insuficiência da capacidade dele como pela falta de luz e de circulação do ar e pela prejudicial proximidade do lugar dos despejos do Colégio. Assim mandava o Imperador, em nome de quem falavam sempre os ministros do Império, que, com urgência, se preparasse outro local sem as inconveniências apontadas.
Certo não seria a cafua, mesmo melhorada, do agrado dos alunos punidos. Mas quanto a todos, gratos pareceria o aviso ministerial aprovando a prática de serem feriados no Colégio, além dos dias marcados nos Estatutos, a 2a e a 3a feira do Entrudo. Do Entrudo e não do Carnaval, o segundo nascido bastante depois no Rio de Janeiro, em 1854.
Ao Entrudo deviam os alunos do Colégio férias extraordinárias a serem aproveitadas estúrdia e c
hidroterapicamente, com dano às vezes para saúde.
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Segundo os Estatutos, férias grandes eram as de 2 de dezembro a 1o de fevereiro, data esta de início do ano letivo, aquela do seu encerramento. Era permitido a interinos passar férias no Colégio. Mas aí teriam 2 horas de aula e 4 de estudo, aulas às quais podiam comparecer externos, remunerados os professores com gratificação especial. Além de aulas e horas de estudo, os alunos de férias no Colégio dariam passeios longos e instrutivos, sobretudo úteis ao ensino da História Natural.
Além das férias grandes e do Entrudo lá vez ou outra surgiam imprevistos feriados. Gozaram os alunos do Colégio três dias de sueto por ocasião do batizado do Príncipe imperial D. Afonso, nascido na Corte a 23 de fevereiro de 1845, primogénito de D. Pedro II, e D.Thereza Christina. A botão de flor mal despontada fenecida, passava o príncipe pela vida, desaparecido infante, em junho de 1847, com mágoa natural sobre dinástica dos pais ao entregarem à morte filho e sucessor, esperança de lar e de nação.
De 1844 a 1845 conheceu o Colégio duas figuras novas, no corpo docente e no administrativo. Em 1844 o professor de Inglês, Diogo Maze, declarava ao Governo não lhe convir mais lecionar por quinhentos mil réis anuais.
Aceitou-lhe o Governo a demissão e designou-lhe substituto, interino, José Luiz Alves, já professor público de língua inglesa, efetivado no princípio de 1844. Na época recebia a cadeira de Francês professor substituto, o Dr. Fernando Francisco Lessa, já secretário do Colégio, ao qual se proporcionava novo tesoureiro, Firmino José Soares da Nóbrega.
Diogo Maze deixara o Colégio por insuficiência de remuneração, na tabela de estudos, fixada desde 1841, figurando o ensino de Inglês, do 2o ao 7o ano, e Francês ensinado do 1o ao 7o ano.
Módicas as retribuições dos professores, em época de moeda valorizada e vida fácil, não eram também elevadas as contribuições dos alunos. Pagavam os externos 24S000 trimestrais, só recebendo instrução; os
internos contribuíam com 100$000 trimestrais a troco do ensino, alimentação e asseio, enxoval à custa dos pais ou representantes. Caso da manutenção do enxoval, pela lavagem e costura, se incumbissem os pais ou responsáveis dos internos só deviam satisfazer o pagamento anual de 300$000.
A admissão no Colégio era precedida de exame do candidato por professor designado pelo reitor. Joaquim Caetano costumava lançar despacho nos requerimentos pedindo admissão, incumbindo o dito professor não só de examinar como de classificar o pretendente, subscrevendo o despacho com um bem conhecido Dr. Sa. R. (Doutor Silva Reitor).
O professor designado aprovava ou não o candidato, no primeiro caso designando-lhe ano de estudos conforme capacidade revelada no exame vestibular.
Prestigiando sempre examinadores, mandava o reitor fosse o candidato matriculado no ano designado pelo juiz da admissão. Levava escrúpulo o reitor a ponto de lançar no requerimento de admissão notas como esta em relação a matriculados:
"Entrou como interno com o ónus do vestuário em 1o de junho de 1845, às 5 da tarde. Dr. Sa. R.".
Reitor e vice-reitor, Joaquim Caetano e frei Rodrigo de São José, dividiam encargos da direção do Colégio. Joaquim Caetano, sempre metido entre livros, ocupava-se mais das relações administrativas da casa com o Governo, relações nem sempre amenas, afora obrigações de lente de Grego.
Frei Rodrigo de São José, o vice-reitor, zelava a disciplina. Frade, só Deus e ele sabiam quão difícil é manter ordem em casa de moços e meninos, assegurando-a entre severidade e jeito, conforme ocorrências.
Os alunos viam mais frei Rodrigo que Joaquim Caetano. A cultura clássica do vice-reitor porém não destoava junto a do doutíssimo reitor. Frei Rodrigo, baiano do arraial de São Pedro de Muritiba, município de Cachoeira, era por sua vez um erudito. Amigo dos livros ainda mais
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se lhes afeiçoara depois de muitos desgostos como abade de S. Bento, no mosteiro da Corte.
Poliglota, filósofo, dedicou-se à musa e manejava a latina com amor, abeberado de lição humanística, adjecto a outras muitas lições de variados conhecimentos humanos.
Dele disse professor do Colégio, Paula Menezes: " Entusiasta da poesia latina, lia Horácio por gosto, e quase por costume, e no seu género escreveu ele inúmeras odes da mais acabada perfeição. Excelente poeta, feliz em tudo quanto escrevia, cultivou a sátira, e o espírito fino e os delicados conceitos da maior parte de suas poesias deixam sentir o fundo de moralidade do coração de quem as traçou. Inflamado do Espírito de David, imitou psalmos e neste estilo nos deixou bem feitas traduções.
Frei Rodrigo foi um homem póstumo, pode-se assim dizer: e condenado pela timidez de seu caráter a fugir da sociedade, sepultava no fundo de uma gaveta todos os seus preciosos trabalhos, que dificilmente mostrava aos mais íntimos dos seus amigos".
A timidez de caráter de frei Rodrigo, assinalada por Paula Menezes, deve ser interpretada simplesmente em relação à sociedade. Nesta o monge não se comprazia, sem dúvida conhecendo o fundo falso de tantos caracteres humanos de sedutoras aparências.
Na vice-reitoria do Colégio a ação de frei Rodrigo mostrava-se enérgica e severa. O próprio Paula Menezes encarregou-se de prová-la. Disse do frei: "Alma cândida, coração sincero, vontade de ferro, juntava a este montão de qualidades superiores, uma modéstia que, degenerando em timidez, punha em conflito quotidianamente sua reputação com este desejo inqualificável de fugir a toda publicidade".
Joaquim Caetano e frei Rodrigo, completando-se na ilustração, estavam nas condições de tomar parte na fiscalização do ensino do Colégio cujo proveito os exames evidenciavam.
Assim os setimanistas de 1844, na seção de línguas vivas e mortas, podiam ter das mesmas suficiente
conhecimento. Piquet, o professor de Francês, exigia a bacharelandos a tradução dos melhores passos do teatro clássico do século XVII já na "Athalia" de furores no verso de Racine, já no "Misanthropo", de rir amargo em Molière.
Qualquer dos componentes da segunda e reduzida turma de bacharéis em letras, a de 1844, formada apenas por 5 sétimoanistas, devia mostrar-se habilitado no último ano do curso. Passaria a vernáculo alguns 400 primeiros versos do canto 1o do "Paraíso Perdido", enquanto Medeiros Gomes, o professor de Latim, lhes exigia interpretação sem silabadas das odes e sátiras de Horácio, o amigo de Augusto, o protegido de Mecenas, o poeta a dar glória a ambos junto a renovados vindouros.
Joaquim Caetano pedia ao setimoanista de 1844 a tradução do Canto 1 ° da "Miada" onde Homero, por conta própria ou resumindo dados, situou vingança grega contra Tróia.
Desembaraçados de exames, aos setimanistas de 1844 — entre eles José Teixeira de Souza - o aluno beneficiado quanto ao sustento por aviso de 22 de março de 1844, restava esperar a distribuição de prémios e a colação de grau.
No momento de imposição do barrete branco, ante numerosa e seleta assistência, o olhar de cada bacharel nela buscava de preferência os seus, jubilosos com ele. Primeira figura do auditório havia de ser o imperador, já esposo em verdes anos, já primeiro magistrado de Império imenso, já encarregado da tríplice responsabilidade perante a consciência junto ao presente da nação, ante o futuro da História.
Não sem humana pontinha de inveja, nas solenidades de grau, acompanhariam condiscípulos a partida dos novos bacharéis em letras, consolados os 6o
anistas pela proximidade da ventura. Nas escolas, de grau em grau do ensino, os alunos contam os dias que os avizinham de diplomas, ansiando pela vida prática, de tantos meses de labuta e anos nas decepções, na virilidade ou na velhice tornados saudosos os dias da adolescência.
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Sempre sob a direção reitoral e vice-reitoral de
Joaquim Caetano e frei Rodrigo abriu-se no Colégio o ano
letivo de 1845. Inauguração de ano letivo trazia à casa
mais juventudes, mormente para o 1 ° ano do curso. Alguns
jovens, por exceção, mediante exame, matriculavam-se
logo em anos ad iantados. A ousadia e o sucesso
impressionavam pela raridade.
Em 1845 es tudavam e br i lhavam nas aulas e
recreios do Colégio adolescentes que, não muitos anos
depois, ocupariam no Império altas posições em várias
carreiras. Contraíam nos bancos escolares amizades
duradouras vida inteira pela lembrança de felizes dias na
alegria e na despreocupação.
Teixeira Júnior, Eduardo de Andrade Pinto, Castrioto,
Costa Pereira Júnior, não adivinhavam ainda, sob fardetas
colegiais, a farda bordada de Ministros de Estado. Eduardo
Callado não pressentia carreira de diplomata e de ministro
p len ipotenc iár io , nem o i rmão Dário a sina do seu
desaparecimento misterioso, inesperado, como chefe de
polícia da Corte. Anastácio do Bonsuccesso não cogitava
em tomar-se um dos nossos raros fabulistas.
Na época o estro já alvorecia em rapazola que
entrado no Colégio como veterano, escapou ao calourado,
quase sempre de ingratas recordações morais quando não
físicas pelo sarcasmo ou brutalidade dos mais adiantados.
Chamava-se o rapazola Manoel António Álvares de
Azevedo. Nascido em São Paulo, a 12 de setembro de
1831, matriculava-se como aluno interno a 2 de junho de
1845, com 14 anos por fazer. Prestadas provas de
habilitação entrou logo Álvares de Azevedo para o 5o ano
do curso de bacharelado.
Outro matriculado, Honório Hermeto Carneiro Leão
Filho, imitou-o, classificado porém no 4o ano.
Ingressaram ambos no Colégio com a obrigação de
estudar mais que os outros colegas, pois começaram a
frequentar aulas em junho em ano letivo começado em
fevereiro.
A 5a série do curso de bacharelado em letras não
era, como se dizia na gíria escolar, "brincadeira". Pedia
aplicação em onze aulas, em disciplinas variadas, da
s intaxe latina exigida por Fal lett i aos sus ten idos e
bequadros de mestre Luz Pinto, do dizer história de Planitz
ao explicar ciências naturais do Dr. Silva Maia.
Em 1917, no Anuário do Colégio, foi minuciosamente
recordada, por professor da casa, a vida escolar de Álvares
de Azevedo.
Já por certa altivez, já pelo pendor para a caricatura,
Álvares de Azevedo sofreu bastante. Provou a cafua
colegial. Os chefes da disciplina reconhecendo que não
quebravam génio, nem lápis, por f im o deixaram em paz.
A saúde sempre débi l de Álvares de Azevedo não
consentia, sem maldade, castigos rigorosos.
Naturalmente o alvo principal das caricaturas de
Álvares de Azevedo foram os inspetores. Em todos os
colégios do mundo inspetores e alunos nem sempre se
entrestimam.
Em França, a gíria colegial atribui a inspetores de
alunos a alcunha de pion. Quando, porém, o tempo já
envelheceu os antigos alunos outrora lourinhos, voltam-
se eles para as reminiscências de antanho e estas nas
sombras d iv isam pro fessores e inspetores já sem
exigências ou impertinências.
Todo glória, Edmond Rostand, lembrando colégio,
recordou antigos inspetores , consagrou versos àquele que
a irreverência juvenil alcunhava de Pif Luisant — Vieux
pion qu'on railluit, ô si doux philosophe.
Pif Luisant escrevia versos. Também os fazia
Rostand, ambos às escondidas, cada qual na sua idade e
posição.
Revelaram-se mutuamente, o inspetor encontrando
versos na carteira do inspecionado.
Célebre do dia para a noite, pelo Cyrano de Bergerac,
Rostand pensava no antigo inspetor do colégio de província.
Dedicou-lhe longa poesia, Le Vieux Pion, dizendo:
Pif Luisant je t'aimais. Quelque fois je suis triste
En repensant à toi. Qu'es tu donc devenu?
Cest toi qui m 'as prédit que je será is artiste
E c'est toi le premier rimeur que j'ai connu.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Célebre, Rostand indagava de si próprio porque cargas de sorte o inspetor poeta fora ter ao colégio de província. E na longa poesia, "Le Vieux Pion", disse ao desaparecido toda sua saudade.
Não encontrou Álvares de Azevedo um rimador entre os inspetores do Colégio em 1845. Três tinham os internos, um os externos, aqueles distribuídos por divisões, de maiores, médios e menores.
Os inspetores, à parte relações e quizílias com certos alunos, eram pessoas estimáveis, aturando muito. Alguns inspetores até se recomendavam por instrução superior ao cargo. José da Silva Pinheiro Freire, a princípio inspetor, fora professor substituto interino de Português e Latim na reitoria do Bispo de Anemúria.
Desde tal reitoria, rapidamente firmara opinião pública honroso conceito do Colégio, de estreia prestigiada pelo Imperador e pelo Governo avantajava-se por isto a quantos estabelecimentos de instrução secundária contava a Corte. Não eram poucos na época, tanto para instrução do sexo masculino como do feminino, sem nenhuma tentativa de coeducação.
Acreditado o Colégio via-se alvo de doações, em moeda, ou de outras espécies. No último trimestre de 1845, de transporte para o ano seguinte, donativos no valor de 3:320$000 tinham sido entregues ao tesoureiro Firmo José da Nóbrega para aumento do património.
No mesmo trimestre foi a receita de 24:844$822, a despesa de 10:373$256, com saldo de 14:471$556.
Permitia a folga orçamentária certas larguezas de administração qual a proposta de criação do cargo de preparador de Química, largueza de 200S000 anuais de ordenado.
Animava-se então o coronel Frederico Hoppe, súdito espanhol, entretanto de nome a indicar ascendência germânica, a pedir nomeação para mestre de Ginástica com o vencimento anual de 800S000.
Informava o reitor ao Governo sobre tal proposta que dizia "de sumo proveito por se encontrar o Colégio havia
quatro anos sem possibilidade de achar mestre daquela arte". Anuiu o Governo e Hoppe começou funções de setembro de 1846 em diante, preenchendo longa vacância, substituindo Guilherme Augusto de Taube.
Não eram raras então as doações para o Colégio. O Dr. Joaquim Vicente Torres Homem, pai do grande clínico de igual nome, enriquecia a biblioteca do Colégio com a oferta de 34 volumes de Walter Scott, as obras do romancista escocês traduzidas em alemão.
Entre as ofertas ao Colégio era de assinalar a do professor Barão de Planitz oferecendo amostra lavrada de mármores branco de Carrara em que se esculpiria estátua de D. Pedro I.
Qualquer estabelecimento de ensino obedece sempre ao mesmo ritmo de vida. Abre-se o ano letivo, chegam à casa alunos antigos e novos, começam as aulas, encerram-se, realizam-se exames, graduam-se os terminantes de curso, premiam-se quantos mais se distinguiram, estimulando-os para maiores esforços a bem do cultivo espiritual.
Cabeça do ensino secundário, o Colégio de Pedro Segundo não podia fugir à regra geral, antes a pondo mais de exemplo.
No fim do ano letivo de 1845, anunciava o Colégio terceira colação de grau, bacharelando onze setimanistas, um, João António Gonçalves da Silva, fadado a professor da Casa. Começava o Colégio a encontrar para a regência de cadeiras os próprios filhos espirituais, ufanos de o serem.
A cerimónia de 1845, no salão grande da Casa, trouxe a esta o imperador, a imperatriz e por conseguinte após ambos o Rio de Janeiro de escol.
Era o dia da alegria no Colégio. Juncavam-no de flores e folhas odoríferas fornecidas pelo Jardim Botânico à requisição do reitor.
Vinham logo depois as férias, de transcorrer aproveitado para limpeza geral e reparos mais urgentes na Casa. Não podia ficar esta a mercê de incêndio,
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segurando-a o Governo como bem nacional, para a operação escolhida a Companhia Argos Fluminense. Assumia esta a responsabilidade de indenização de sinistro pelo prémio anual de 411 $745, prémio a prazo, renovável pelas partes.
Entrou em 1846 o Colégio em novo ano letivo sempre debaixo das vistas do imperador, e superintendido naquele ano pelo Ministro do Império, Conselheiro Marcelino de Britto.
Atos oficiais presentes ao corpo legislativo ajudam-nos a acompanhar progressos nas modificações do Colégio.
Assim em 1846 o Ministro do Império, Conselheiro Marcelino de Britto, dava contas administrativas aos Augustos e Digníssimos Senhores Representantes da Nação e em relatório os informava quanto ao Colégio de Pedro Segundo nos seguintes termos:
"No Colégio de Pedro Segundo tem continuado os estudos com a costumada regularidade; cumpre-me nesta ocasião chamar a vossa atenção para o pedido, que se fez no antecedente relatório, de um legislativo que absolva o Colégio da dívida em que está para com a Fazenda Pública, proveniente da décima de prédios do mesmo Colégio, e o isente para o futuro do lançamento do imposto indicado.
Este Colégio foi ultimamente provido de uma boa coleção de clássicos gregos, e de alguns produtos de história natural; um chafariz ali construído lhe fornece a água necessária para seu uso; havendo ele obtido em prémios que tirou na décima sexta loteria do Teatro de São Pedro de Alcântara a quantia de Rs. 18:440$000, foi esta convertida em apólices da dívida pública, em cujo produto se tornará menos sensível o decrescimento e cessação de alguma de suas rendas. O reitor tem proposto a conversão dos prédios que o Colégio possui em apólices daquela dívida; mas o governo ainda não resolveu sobre este objeto. O conserto da igreja é a obra de mais urgência necessidade, e para ela conta o governo com o auxílio
que de vós solicitou no antecedente relatório. O ordenado do tesoureiro foi elevado a 800S000, por decreto de 8 de setembro do ano passado".
Bacharelaram-se, no fim do curso letivo de 1846, cinco bacharéis, dois dos quais mais notáveis, um José Carlos Pereira de Almeida Torres, fadado a professor do Colégio, e José Pedro Werneck Ribeiro de Aguilar, da alta representação nossa diplomática no estrangeiro.
Curiosa seria lista dos bacharéis em letras pelo Colégio de serviços distribuídos de diversas classes sociais nossas e diversos interesses pátrios.
Enquanto graduava jovens, continuava o Colégio a firmar conceito na opinião pública, cujo favor e cujos aplausos se evidenciavam já no crescer de matrículas, já no ambicionar por parte de professores o ter assento no corpo docente da instituição.
Eis a prova. Em 1847, cinco candidatos, por concurso de títulos, pediam a cadeira de História e Geografia Descritiva. Eram Francisco José Borges, o padre Patrício Muniz, Luiz Joaquim de Almeida e Arnizaut, Ludgero da Rocha Ferreira Lapa e João Baptista Calogeras.
Até então o ingresso no corpo docente fora feito mediante livre nomeação do governo. O concurso de 1847 tornou-se no Colégio o primeiro indício de concurso, embora de títulos, o governo imperial acostumado ao ad libitum das designações desde 1838.
Qualquer dos candidatos de 1847 não era desconhecido ou professor improvisado.
Francisco José Borges dirigia estabelecimentos de educação, ensinava língua vernácula, História e Geografia e gozava de conceito público.
O padre Patrício Muniz, ilhéu da Madeira, chegara ao Brasil com oito anos de idade. Formara-se em letras em Paris, em teologia em Roma, ali se ordenando presbítero secular. Bom pregador, lia História Sagrada no Seminário de São José.
Luiz Joaquim de Almeida e Arnizaut era médico, baiano, com tirocínio de professor. Também médico,
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Ludgero da Rocha Ferreira Lapa, exercia o cargo de bibliotecário da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro.
Joáo Baptista Calogeras, grego de Corfu, tinha grande trato de coisas de cátedra e ensino.
Dirigiram-se os cinco candidatos à cadeira de História e Geografia do Colégio ao Ministro do Império de 1847, o Senador Alves Branco. Encaminhou este os requerimentos ao reitor Joaquim Caetano pedindo-lhe informações sobre o mérito dos requerentes.
Sempre foi e será de suma delicadeza pronunciar-se em qualquer espécie de concurso da inteligência ou da própria beleza. Haja vista a sentença de Paris no Monte Ida, simples maçã aniquilando um povo.
Os escolhidos principiam indiferentes ao eleitor, os excluídos a ele logo infensos. Não saberemos jamais o que sucedeu a Joaquim Caetano. Sabemos certo ter informado as petições dos candidatos à cadeira de História e Geografia Descritiva.
Parece valer a pena, ao menos pelo inédito, transcrição das informações do eminente reitor de 1847.
1o) Francisco José Borges — Sabe Francês. Não tem estudos de História.
2o) Padre Patricio Muniz. É doutor em Teologia pela Universidade de Roma e bacharel em letras pela Faculdade de Paris; sabe Latim, Francês e Italiano. Esteve quatro anos em Paris e dois em Roma. Não tem estudos especiais de História.
3o) Luiz Joaquim de Almeida e Arnizaut é formado em medicina pela Faculdade desta Corte; sabe Latim e Francês, não tem estudos de História.
4o) Ludgero da Rocha Ferreira Lapa — É formado em medicina pela Faculdade desta Corte; sabe Latim e Francês; tem muito talento, mas não me consta que o tenha empregado no estudo de História.
5o) João Baptista Calogeras — Possui bem as línguas e as literaturas Grega, Latina, Francesa. Italiana e Inglesa; é dotado de raro talento, de uma cabeça filosófica e grande facilidade de elocução e tem se aplicado com muito mérito
e proveito ao estudo da História. Pelo que o considero capaz de reger a cadeira com indisputável superioridade. Esteve dois anos em Bolonha e nove em Paris.
O governo concordou com a preferência de Joaquim Caetano pela cabeça filosófica. Foi Calogeras provido na cadeira de História e Geografia Descritiva. Mas uma vez se verificara que o Evangelho tinha razão, último tornado primeiro. No 5o lugar da lista dos candidatos, Calogeras saía vencedor.
Em 1847, como sempre, a vencidos em qualquer prélio caberia exalar ou remoer queixas, por espaço de quarenta e oito horas, alguns vida inteira.
Professor novo, Calogeras participava da cerimónia da colação de grau de bacharel em letras em 1847. Mal tivera tempo de lecionar à turma do 7o ano, sem dúvida com a facilidade de elocução, reconhecida por Joaquim Caetano.
Compunha-se a turma de 1847 de sete alunos, todos destinados a futuro. A estrela da turma fulgia em Manoel António Álvares de Azevedo. Deste o génio seria luz breve, tanto quanto haviam de ser imortais seus versos, sua posição nas letras patrícias.
Pela preeminência em literatura nacional merece transcrição o seguinte documento inédito relativo à admissão de Álvares de Azevedo ao Colégio. Não só lhe atesta invulgar capacidade prematura como revela bastante usos do estabelecimento na época, não se esquecendo sequer o reitor, Dr. Joaquim Caetano da Silva, de notar a hora de entrada do aluno admitido.
"limo. Sr. Reitor do Imperial Colégio de Pedro 2o. Diz Ignacio Manoel Álvares DAzevedo residente na
cidade de Niterói na rua da Cadeia n.° 23, onde tem o seu escritório de advocacia que desejando admitir no Colégio o seu filho Manoel António Álvares dAzevedo, nascido na cidade de São Paulo no dia 12 de agosto de 1831, do que não pode agora apresentar a respectiva certidão, mas se obriga a apresentar em um termo razoável, pretende que V. S.a se digne mandar admiti-lo a exame a fim de que
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sendo aprovado possa entrar no Colégio como aluno interno, obrigando-se porém o suplicante a fornecer-lhe a roupa necessária para seu vestuário por tanto.
R a V.S. seja servido deferir-lhe na forma requerida. RR. Mcê. Ignacio Manoel Álvares d'Azevedo
Despachos: Peço ao Sr. Barão de Planitz queira examiná-lo e
classificá-lo. — Dr. Sa. R. Aprovado para o quinto ano de estudos. — Rio de
Janeiro, 15 de maio de 1845.
Matricule-se no quinto ano — 15 de maio 45 — Dr. Sa. R.
Tem boas cicatrizes de vacina e nenhum sinal de doença contagiosa. Rio de Janeiro 1 de junho de 1845.
Dr. Maia Entrou para o Colégio como interno com o ónus do
vestuário do quinto ano, em 2 de junho de 1845, ao meio-dia.
Dr. Sa. R." A colação de grau de 1847 daria ensejo a pedido de
providências ao Governo por parte da reitoria do Colégio, no momento às ordens do vice-reitor frei Rodrigo de São José.
Solicitava este ao Ministro do Império, Alves Branco, medidas "que obstassem a continuação do escandaloso abuso introduzido no Colégio de não comparecerem os alunos com prémios ou menções honrosas ao ato solene da distribuição de recompensas sem darem justificação da falta".
Respondia Alves Branco ao vice-reitor, logo após o ato solene de 1847. Explicou, em nome de Sua Majestade o Imperador, que os Estatutos do Colégio exigiam a presença dos premiados. Não ficava portanto dependente do mero arbítrio o cumprimento da exigência. Mister se fazia, pois, de futuro tornar público, com antecedência, que na conformidade dos Estatutos os alunos quer
premiados, quer distinguidos com menção honrosa, eram irremissivelmente obrigados a comparecer ao ato de distribuição, a fim de serem proclamados e receberem os prémios. O comparecimento pessoal constituía condição essencial para a efetiva e real aquisição dos mesmos prémios e honras, salvo provado impedimento legitimo e reconhecido pelo Reitor do Colégio.
No fim do ano letivo de 1847 perdia o corpo docente do Colégio o professor de Inglês, José Luiz Alves, falecido na véspera do Natal daquele ano. Enfermara gravemente outro professor, o de Retórica, Santiago Nunes Ribeiro, substituído no impedimento pelo médico Dr. Francisco de Paula Menezes.
O ano letivo de 1848 abriu-se com a falta de Santiago Nunes Ribeiro, falecido a 21 de janeiro de 1848. Pertencia Santiago ao grupo dos professores estrangeiros da Casa, grupo renovado no decurso do tempo.
Santiago, chileno de origem, emigrara para o Rio de Janeiro, com um tio frade. Morrendo este ficou o sobrinho desvalido. A princípio caixeiro, depois taquígrafo, tornou-se em seguida professor ilustrado, como Macedo disse ser Santiago, excessivamente modesto, triste de rosto, de voz muito débil, de timidez depressiva, mas de mérito real e incontestável. Morreu ainda muito moço, "quem passara na vida inteira, esperando, sofrendo e por isto sempre infeliz". Era poeta, fundador e último redator da celebrada revista literária do tempo, a "Minerva Brasileira".
O Ministro do Império Almeida Torres, Visconde de Macaé, nomeou, para a vaga de Santiago Ribeiro, o Dr. Paula Menezes, professor público de Retórica desde 1844, portanto nada hóspede na cadeira lecionada a disciplina já por ele, bem como Filosofia, professada no Colégio, a título interino.
O princípio do ano letivo de 1848 foi quadra de nomeações. Além de Paula Menezes entravam para o corpo docente do Colégio, José Manoel Garcia Ximenes e para o ensino da língua inglesa, Guilherme Fairfax Norris, nomeado na mesma data de Paula Menezes, 17 de março
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de 1848 e o Dr. Joaquim Pinto Brasil, designado para reger interinamente a cadeira de Filosofia a 15 de maio de 1848.
O Governo imperial nomeava e fiscalizava. A um mestre do Colégio, à vista de representação do reitor acusando-o de "ter constantemente faltado aos seus deveres", o Ministro Visconde de Macaé repreendia a 14 de abril de 1848. Comunicava ao reitor que ao mestre incriminado deveria ser "estranhado o irregular procedimento, suspendendo-se-lhe pagamento do ordenado, fazendo-lhe saber que seria demitido do Emprego, no caso de reincidência".
No dia seguinte da reprimenda, o mesmo Ministro Macaé aprovava a expulsão, sumária, ordenada pelo reitor, de aluno externo do 4o ano, "visto ter ele obstinadamente se recusado ao castigo de que não devia ser relevado".
A justiça do Governo não queria nem devia ter dois pesos e duas medidas, recairia sobre grandes e pequenos ou não seria justiça.
Quase trimestre esteve o mestre culposo fora do cargo, nele reintegrado com a obrigação de dar aulas dobradas. O perdão levava castigo. Nem era para admirar a determinação. A minudência fiscalizadora do governo baixava a conceder ao reitor permissão, à vista de razão justa, para que aluno externo do 2o ano do Colégio nele passasse o dia e jantasse. As concessões não iam a granel, o alto queria saber como e a quem eram dadas.
Em 1908, desejoso de estudar a história do Colégio, o professor Escragnolle Dória pedia informações ao antigo Conselheiro de Estado, ex-Ministro da Marinha e da Justiça, Manoel Duarte de Azevedo, irmão do professor do Pedro Segundo Dr. Manuel Duarte Moreira de Azevedo.
Cursara o Conselheiro Duarte de Azevedo o Colégio de 1848 a 1851, do 4o ao 7o ano, tendo tido, dizia ele, "a felicidade de merecer o 1o prémio em todos os anos de estudo", o que com ufania relembrava apesar "da carga de 77 anos de idade".
"Nesse tempo — em 1848 — era o reitor o Dr. Joaquim Caetano da Silva e vice-reitor o Revmo. frei
Rodrigo de São José, por sua energia e severidade o verdadeiro diretor do Colégio"
E, reportando-se à meninice da ancianidade, acrescentou epistolarmente o Conselheiro Duarte de Azevedo menção de sucesso que lhe dizendo respeito não é displicente para a história do Colégio.
"Releve-me uma nota de falta de modéstia que lançará em conta das saudosas recordações de minha vida de colégio, no 6o ano retardaram-me o exame, para que, fosse feito em presença do Imperador, e fui dispensado de fazer exame em várias matérias, porque os professores declararam-se satisfeitos com o do ano, com exceção da aula de Desenho, em que tinha o segundo lugar, havia obtido o primeiro nos concursos mensais de todas as aulas. Perdoe-me esta recordação".
Pouco mais de vinte anos depois, o sextanista de 1848, cujo exame fora retardado para ser realizado em presença de Sua Majestade, encontrava-se com ele nos despachos ministeriais de São Cristóvão, Ministro do Gabinete Rio Branco, o 7 de março tão assinalado pela Lei do Ventre Livre.
Releva notar que os exames de 1848 tinham a presença efetiva do Comissário do Governo, o Visconde de Abrantes, já dos mais altos personagens do Império.
Antes de iniciar o ano letivo de 1849 pedia demissão Bernardo José Falleti de professor de Latim. Para lecionar Geografia e História Antiga era nomeado, a 3 de abril de 1849, com o ordenado anual de 800$000 um homem de letras, já bem destacado, o Dr. Joaquim Manoel de Macedo, tão beletrista que a sua tese inaugural médica versara "A Nostalgia", tese cheia de fundo científico e forma literária.
Não era Macedo o único professor ilustre novo no Colégio, nem o único de fora para dentro a trazer láurea. De poeta insigne a conquistara o professor de Latim do 2o
e 3o ano: António Gonçalves Dias, de latinista a trazia outro professor de latinidade, o Dr. António de Castro Lopes,„ lecionando o 4o ao 7o ano.
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Para substituir o professor de Filosofia Pinto Brasil era designado douto monge beneditino frei José de Santa Maria Amaral, ornamento de corpo docente. Nele já figurava, com foros de sábio, pela universalidade da cultura, o Barão de Tautphoeus ensinando alemão depois de Planitz.
Além de novos professores, de vencimento taxado em um conto de réis anual, o Colégio no ano letivo de 1849 recebia alterações nos Estatutos, alterações mandadas executar na conformidade do Decreto de 25 de março de 1849, referendado pelo Ministro do Império, Visconde de Monte Alegre (este grafava MonfAlegre).
O decreto era justificado pela "urgente necessidade de providenciar sobre o julgamento dos exames do Colégio de Pedro Segundo, a fim de que houvesse em aquele ato a maior garantia de imparcialidade e retidão, bem como necessidade de distribuir melhor as matérias de ensino de algumas Cadeiras então oneradas de excessivo número de lições".
Atendia também o decreto Monte Alegre "à precisão de melhorar a sorte dos professores, fazendo desaparecer a desigualdade e mesquinhez no vencimento de alguns, bem assim à conveniência de regular a hora de entrada dos professores, de modo a fiscalizar e punir qualquer impontualidade da parte deles".
O decreto Monte Alegre bipartiu a cadeira de Geografia e História, lecionadas na 1a cadeira Geografia, História Média e Moderna e do Brasil, posta a cargo da 2a
cadeira a História Antiga. Subdividiu o decreto a 2a cadeira de Latim, suprimiu a prática do quarto de hora de tolerância para entrada de professores em aula, havidos por faltosos aqueles que "ao toque preciso na hora não se achasse à porta da aula, descontando-se no vencimento a parte equivalente à hora perdida".
Na parte relativa a exames o Decreto Monte Alegre introduziu modificações sensíveis nos Estatutos de 1838.
O tribunal de exame continuaria a compor-se na forma do artigo 132 do regulamento de 1838. Segundo
tribunal, o de julgamento, seria constituído pelo Comissário do Governo, pelo reitor, pelo vice-reitor e por dois professores, um da classe de ciências e outro da de letras, designados pelo Ministro do Império no dia da abertura dos exames.
A unanimidade de votos aprovava plenamente; a minoria a favor aprovava simplesmente, a maioria contrária reprovava.
O julgamento se realizaria no fim de cada exame. O reitor proclamaria logo o resultado do escrutínio ante alunos e assistência.
No dia da abertura dos exames, para uso particular do Comissário do Governo, o Colégio fornecer-lhe-ia o apanhamento das notas dos bancos de honra obtidos pelos alunos no transcorrer do ano letivo.
O Decreto Monte Alegre, de 25 de março de 1849, dividia a cadeira de História e Geografia. A 3 de abril o Ministro Monte Alegre comunicou à reitoria do Colégio ter Sua Majestade o Imperador havido a bem da 1a cadeira de História e Geografia, desligar o ensino da História do Brasil. Ficava provisoriamente o ensino da disciplina a cargo do professor da 2a cadeira de Latim, Dr. António Gonçalves Dias, devendo este em vez de dez lições dar doze semanais, as duas últimas destinadas ao ensino da História Pátria.
Venceria pelo acréscimo de trabalho a gratificação anual de 200S000 contada do dia da entrada em exercício.
Distribuído o ensino de História e Geografia no Colégio, lecionaria Calogeras a 1a cadeira, Macedo a segunda, a História Pátria a cargo de Gonçalves Dias, escol de docentes pois.
A título de atividade, e também de prova de meticulosidade da época, aqui se consigne Aviso do Ministro Monte Alegre à reitoria do Colégio:
"Rio de Janeiro — Ministério dos Negócios do Império em 27 de abril de 1849.
Participando o Ajudante de Bibliotecário da Biblioteca Pública desta Corte que existe em poder do Professor da
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1a cadeira de História e Geografia desse Colégio, João Baptista Calogeras, a História de Southey que o Professor da 2a cadeira de Latim do mesmo Colégio, o Bacharel António Gonçalves Dias, deseja consultar para o desempenho de trabalhos que tem a seu cargo: Há Sua Majestade o Imperador por bem que a referida História de Southey seja entregue ao dito bacharel Gonçalves Dias, debaixo de sua responsabilidade. O que comunica a V. Mcê. Para seu conhecimento e execução.
Deus Guarde a V. Mcê. Visconde de Mont'Alegre". Prosseguia o Colégio em missão educativa retriz
quando, em 1850, veio perturbá-lo sucesso de maior gravidade para o Rio de Janeiro em peso, a irrupção de violenta epidemia de febre amarela, uma das mais dizimadoras da população da capital do Império. Havia de trazer consequência, a supressão de enterramentos nas catacumbas das igrejas, datando daí a criação das grandes necrópoles cariocas.
Em fevereiro de 1850, à vista de ponderações do reitor do Colégio, no resguardo da saúde dos alunos, o Ministro Monte Alegre recomendava ao reitor que os internos porventura afetados de moléstias contagiosas ou epidemias graves não fossem tratados no estabelecimento, mas imediatamente entregues a pais ou correspondentes.
A 13 de março de 1850, por Aviso ao reitor a este comunicava o ministro "fizesse parar as aulas do Colégio até depois da Páscoa, mandando os alunos para a casa de seus pais ou correspondentes, a fim de prevenir que aí se desenvolva a epidemia que está grassando".
A 31 de março de 1850, o Ministro Monte Alegre, à vista de novas ponderações do reitor, participando-lhe haverem sido atacados de febre amarela quase todos os criados do Colégio, autorizava a continuação do fechamento das aulas até segunda ordem.
A 6 de maio de 1850, o mesmo Ministro, atendendo a ofício do reitor, sobre o estado sanitário do Colégio,
ordenava fossem abertas "quanto antes" as aulas do estabelecimento. Restabelecida a normalidade, e para coibir abusos, o Ministro Monte Alegre tomava providências.
Para obstar impontualidades no desempenho de cargos propôs o reitor ao governo a necessidade de dirigir aos professores menos pontuais, uma circular participando-Ihes que a falta de um professor à sua aula seria justificada, não excedendo a falta a mais de três dias, e caso o faltoso com antecedência dirigisse parte oficial ao reitor declarando-se enfermo. Excedesse a falta três dias, por enfermidade, deveria ainda o faltoso dirigir ao reitor certidão de médico, selada e com firma reconhecida. Todos estes alvitres do reitor, participava-lhe o Ministro Visconde de Monte Alegre, haviam merecido aprovação imperial.
Pouco depois, a 1 ° de junho de 1850, comunicava o mesmo Ministro ao reitor não poder ser chamado a lecionar o Dr. Joaquim Manoel de Macedo por se achar com assento na Assembleia Provincial Fluminense, não podendo ele enquanto impedido receber vencimento algum pelo Colégio, vencimento aplicado a substituto interino.
Também comunicava o ministro ao reitor, para conhecimento e execução, referindo-se ao professor Calogeras, não ser lícito a professor algum residir fora da cidade sem permissão para tanto, mesmo enfermo, salvo se no gozo de licença enfermasse ao findar esta. Neste caso, justificada a enfermidade, devia ser impetrada prorrogação de licença.
Antes do início do ano letivo de 1851, perdia o Colégio professor eminente. A 18 de janeiro era concedida demissão de emprego de professor de Alemão a Hermann de Tautphoeus, à vista de representação dele atendida pelo imperador.
Cargos oficiais são sempre objeto de esperança ou cobiça. Não adiantemos que suba esta a ponto de haver quem deseje a morte ou o afastamento do ocupante, tornando-se a saúde ou os revezes da sorte dele objeto de
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preocupação de noite e dia de candidatos à vaga, preocupação que o otimismo manda crer carinhosa.
Vaga a cadeira de Alemão, pelo pedido de demissão de Tautphoeus, logo se apresentaram dois candidatos, Luiz de Azevedo Júnior e Bertholdo Goldschmidt, sobre cuja idoneidade para o emprego o governo desejava informação do reitor.
Nenhum dos dois candidatos alcançaria nomeação. Por decreto de 3 de fevereiro de 1851 era nomeado professor de Alemão o Dr. Jorge Gade, brasileiro naturalizado. Sacramento Blake adianta ter ele sido professor de línguas modernas na escola prussiana de Eiderferd.
Do início até hoje inscreveu sempre o Colégio no rol de professores personalidades estrangeiras ou descendentes de alienígenas.
Calogeras, o grego, tendo solicitado demissão de professor da 1a cadeira de História foi nesta provido o Dr. Joaquim Manoel de Macedo. Logrou nomeação para a 2a
o monge beneditino frei Camillo de Montserrate, expedindo-se aviso ao abade do mosteiro do Rio de Janeiro, para frei Camillo poder exercer o magistério no Colégio.
Frei Camillo, no século Camillo Cléon, trazia nome dos pais adotivos. Na verdade era Bourbon, filho natural do Duque de Berry, gênito do conde de Artois, depois rei de França, dinasticamente Carlos X.
Ano antes da nomeação para o Colégio professara Camillo Cléon na Ordem Beneditina no Rio de Janeiro. Tinha 32 anos, nascido em Paris a 14 de novembro de 1818. Humanista, erudito, helenista e latinista por amor e ofício, o jovem monge professor vinha honrar no mais alto grau o magistério do Colégio a cuja frente encontrava outro helenista, Joaquim Caetano, cujos anos de saber já se iam contando dobrados no estudo.
Embora frei Rodrigo de São José, outro beneditino, como vice-reitor do Colégio fosse o fiscal supremo da disciplina dos discentes, por estes muito se interessava Joaquim Caetano.
De tudo ficou prova na solicitude com que procedeu na ocasião da epidemia de febre amarela de 1850, arrebatadora de tantas vidas, entre as quais a de Bernardo de Vasconcellos, o ministro fundador de 1837.
Dentre os alunos do Colégio alcançados pela epidemia, dois teriam futuro mais notório, José Fernandes da Costa Pereira Júnior, transportado para a casa de correspondentes, e Henrique Francisco dÁvila, não levado a casa por ser tempo chuvoso quando adoeceu.
Restabeleceram-se ambos, bacharelaram-se em letras, e em direito, entraram na política. Costa Pereira no Partido Conservador. Ávila no Liberal, aquele deputado geral pelo Espírito Santo, presidente de cinco províncias, Ceará, Pernambuco, Espírito Santo, São Paulo e Rio Grande do Sul, Ministro da Agricultura no Ministério Rio Branco de 1871 e do Império no Gabinete João Alfredo de 1888.
O aluno de 1850, Henrique Francisco d'Ávila, como o condiscípulo Costa Pereira, teria feliz carreira politica. Presidiria o Ceará e a província natal, o Rio Grande do Sul. Seria ministro da Agricultura no Ministério Paranaguá de 1882, deputado geral pelo Rio Grande e finalmente por este Senador do Império, com a honra de preencher a vaga do Duque de Caxias.
Dois afastamentos importantes assinalariam o ano letivo de 1851, o primeiro no princípio dela, o segundo no seu termo.
Em março de 1851, ausentava-se do Colégio o professor Gonçalves Dias. Encarregava-o o Governo de correr quase todas as províncias do Norte em busca de documentos para enriquecimento do Arquivo Público do Império, na época dirigido pelo seu primeiro diretor Cyro Cândido Martins de Brito.
Verificaria também Gonçalves Dias, na constância da comissão arquivista itinerante, o estado da instrução pública no Norte, recebendo durante a dita comissão vencimentos integrais de professor do Colégio.
Macedo substituiu Gonçalves Dias em regência da cadeira de História do Brasil, o douto poeta sucedido na
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cadeira de Latim do 2o e 3o ano por Jorge Furtado de Mendonça.
Estendia-se o escrúpulo nas nomeações até o corpo de inspetores, buscando o Governo não fossem somente manequins para manutenção de disciplinas, sim homens de certa ou boa capacidade mental e até pedagógica.
No corpo de inspetores do Colégio figurava Felippe Hypollito Ache, futuro e competentíssimo lente da Escola de Marinha, após brilhante curso.
Em 1851, como sempre, o governo imperial nomeou comissário para os exames do Colégio. Como sempre também recaiu nomeação em pessoa de notoriedade social, em 1851, o Conselheiro de Estado Visconde de Abrantes.
A 27 de novembro de 1851 encerrava-se o ano letivo com a costumeira solenidade da colação de grau de bacharel em letras, solenidade invariável.
Por cuidados da Diretoria do Jardim Botânico da Lagoa de Rodrigo de Freitas, as salas do Colégio ficavam juncadas de folhas de cravo e canela em dias festivos.
Joaquim Caetano e frei Rodrigo de São José aformoseavam-nas, dando últimas ordens a alunos e empregados. À porta do estabelecimento formava guarda de honra.
Súbito rodar de carruagem, quadrupedar de cavalaria, vozes do capitão comandante da guarda, apresentar armas, som de Hino Nacional.
Chegava o Imperador, recebido à porta pelo reitor, vice-reitor e lentes, conduzido ao Salão Nobre, Sua Majestade cumprimentado e cumprimentando.
Tomava assento no trono, ao lado da Imperatriz, e o ato principiava pelos coros de alunos entoando o Hino da Independência.
Procedia-se à chamada dos premiados, do primeiro ao sétimo ano. Iam buscar recompensas nas mãos do Imperador e da Imperatriz, a ambos apresentados os prémios em salvas de prata trabalhada.
O principal atrativo escolar da solenidade consistia na colação de grau, termo em geral de septênio de estudos, permitido, entretanto, mediante sérias provas de habilitação, matricular-se diretamente até o 5o ano do curso.
Cabia imposição do barrete branco ao Ministro do Império, em 1851 o ex-regente Visconde de Monte Alegre, Presidente do Conselho.
A turma de bacharéis de 1850 havia contado em seu grémio estudantes dos mais distintos aos quais, o futuro e posições elevadas no país dariam ensejo de confirmar créditos iniciados na juventude.
Da turma de vinte bacharéis de 1850 mais notáveis no porvir seriam Paulino de Souza, Henrique d'Ávila, Ministros e Senadores do Império, Ferreira Viana, Ministro e deputado-geral, António Carlos 2o, lente de Direito em São Paulo, João Ribeiro de Almeida, Barão de seu nome e chefe do Corpo de Saúde da Armada, Caetano José de Andrade Pinto, magistrado na Relação da Corte, Felisberto Pereira da Silva, deputado-geral e presidente da terra natal, o Rio Grande do Sul, em 1879.
Luzida era também a turma de bacharéis de 1851, cuja imposição de grau se realizava na augusta presença de S.S.M.M. Imperiais, como se dizia no tempo. Compunham a turma vinte bacharéis, nela os rostos juvenis de três futuros ministros de Estado de outro ministro de Estado a receberem o barrete branco. Eram aqueles bacharelandos de 1851, Manoel António Duarte de Azevedo, Carlos Frederico Castrioto e José Fernandes da Costa Pereira, os quais da Câmara dos Deputados passariam aos Conselhos da Coroa.
As solenidades de grau eram rematadas pelo discurso de professor de Retórica, não sem propriedade portanto. Em 1851 lecionava a disciplina um médico, o Dr. Francisco de Paula Menezes, amigo de letras e de pendor para a tribuna académica, na qual tão a gosto se sentia outro professor do Colégio, Joaquim Manoel de Macedo.
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Não eram as solenidades de grau no Pedro Segundo assinaladas apenas pela presença dos soberanos e de membros da família imperial, pela satisfação de lentes ao verem premiados discípulos diletos, pela alegria ainda não contaminada de mundo dos alunos recompensados.
Participavam das festas de grau quantos de coração, por parentesco ou estima, se achavam ligados a bacharelandos ou a premiados, sobrelevando-se a todos alegria de progenitores.
Pouco depois de graduar a turma de 1851,a 14 de dezembro deste ano, o Dr. Joaquim Caetano da Silva deixava o exercício cumulativo de reitor e professor de Grego do Colégio.
Dirigira Joaquim Caetano o Colégio por espaço de doze anos, cinco meses e dias. Deixava a casa em boas condições administrativas e financeiras e nem sempre lhe fora fácil atender aos interesses do ensino. Os interesses financeiros do Colégio, na reitoria Joaquim Caetano, foram até auxiliados pela sorte, premiado com 20:000$000 o bilhete n.° 3859 da 23a loteria do teatro São Pedro de Alcântara contempladas na época com bilhetes lotéricos instituições de ensino ou caridade.
Não alheio às ciências físicas e naturais, Joaquim Caetano nos últimos tempos de reitoria, bastante se esforçara para melhorar o estudo daquelas ciências, propondo a criação do cargo de preparador de Química. Venceria 200S000 anuais, indicado para o cargo o boticário José Caetano da Silva Costa, estabelecido na rua Larga de São Joaquim 116. Inassíduo, não poderia invocar distância do Colégio.
Desamparando esta, o reitor Joaquim Caetano mudava de carreira, trocava o magistério e a administração pública pela carreira diplomática, nomeado nosso Encarregado de Negócios em Haia. Aliás havia dez anos,
estávamos sem representante junto à Holanda, último encarregado nosso no país, em 1841, Felisberto Caldeira Brant de Oliveira e Horta, 2o Visconde de Barbacena, fadado a morrer centenário.
Afastado Joaquim Caetano da Silva da longa reitoria do Pedro Segundo, o Governo Imperial honrava o douto e a Casa. Retirava-se Joaquim Caetano para estabelecer na Holanda negociações com o fito de solver a questão de limites entre o Brasil e a Guiana Holandesa. A questão só seria resolvida a 5 de março de 1906 pelo tratado Rio Branco, subscrito em nome da Holanda pelo seu Ministro residente no Rio de Janeiro, Frederico Palm.
Não parou nas negociações de Haia a glória, ainda não devidamente recompensada pela altura dos serviços patrióticos do ex-reitor do Pedro Segundo, Joaquim Caetano. Seria ainda o paladino de direitos nossos nos monumentais volumes do "L'Oyapoc et TAmazone" escritos em francês pelo antigo estudante de Montpellier, defendendo direitos do Brasil sobre as fronteiras do Oyapoc e da serra de Tumucumaque contra pretensões francesas, levando a Guiana Francesa até o Araguari e o Rio Branco.
Terminada a questão, a 1 ° de dezembro de 1900, na presidência Campos Salles, pelo laudo de Berna, a favor do Brasil. Amparando-lhe causa, nosso representante em missão especial, o Barão do Rio Branco, sobremaneira se valeu da obra de Joaquim Caetano. Tornou-se indispensável para redação da primeira e segunda memória nossa apresentadas ao árbitro, o presidente da Confederação Helvética, junto à qual, para adversário, a França deputara o embaixador Pierre Bihourd.
Na defesa de nossos direitos territoriais assinalaram-se, pois, dois professores do Colégio: Joaquim Caetano e Rio Branco.
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Uniformes de gala em 1855. O desenho original pertence ao acervo do Museu do Colégio.
V O Colégio de 1851 a 1855
Terceira Reitoria do Colégio • Relatório do Dr. Justiniano José da Rocha •
Administração Souza Corrêa • Reforma Pedreira • Retirada Souza Corrêa.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837-1937
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Deixando Joaquim Caetano a reitoria do Pedro Segundo, a 14 de dezembro de 1851, mister foi
escolher-lhe condigno substituto. Escolha e substituição a cargo do Ministro do Império, o Visconde de Monte Alegre, não demoraram. Recaíram sobre o Capitão-de-mar-e-guerra José de Souza Corrêa, do qual foi traçada biografia no 2o volume do Anuário do Colégio em 1915.
O primeiro reitor fora um frade, o segundo um sábio, o terceiro seria um homem do mar. Contraste frisante. Do burel e da cruz ao livro, do livro e da pena à espada e à âncora.
Quem era o capitão-de-mar-e-guerra designado para comandar o Colégio?
Quantos tratam do Pedro Segundo mencionam apenas o nome e o cargo de Souza Corrêa, as datas de sua nomeação e demissão. Documentos do Arquivo e da Biblioteca de Marinha auxiliam, porém, a mostrar a figura de Souza Corrêa com traço firme e real.
O terceiro reitor do Pedro Segundo era português como o primeiro. Nascera em Santarém, onde na igreja do convento da Graça foi sepultado Cabral, nosso descobridor.
Aos 17 anos Souza Corrêa assentava praça na Brigada Real de Marinha, vindo ao Brasil com o Príncipe Regente. Em 1820 nomearam-no lente substituto da
Academia de Marinha, em 1844, lente proprietário, hoje se diria catedrático, da mesma Academia. Ano antes fora reformado, galões de capitão-de-mar-e-guerra aos punhos.
Após sete anos de reforma e vida privada via-se Souza Corrêa terceiro reitor do Colégio de Pedro Segundo. Encontrava a Casa organizada, em pleno funcionar, com movimento pedagógico adquirido. Lente jubilado de ensino superior, não era, pois, estranho ao magistério, ao lado dos professores do Colégio não um intruso, sim um par.
É tradição, porém, ter Souza Corrêa conservado na reitoria do Pedro Segundo, locuções de velho marujo. Chamava, talvez por graça, às salas de aulas "beliches", à portaria "portaló". "tombadilho " era a sala da diretoria.
A reitoria Souza Corrêa assinalar-se-ia por movimento notável de reforma do ensino secundário e primário. Tal movimento fora determinado pela inspeção de professor do Colégio aos institutos de ensino da Corte por incumbência do Governo.
A 5 de abril de 1851, o Dr. Justiniano José da Rocha apresentava relatório ao Governo. Fez época, pelo desassombro. Nenhum mal do ensino deixou de ser apontado pelo professor do Pedro Segundo. Multiplicação de colégios sem necessárias garantias, improvisação de educadores da mocidade, açodamento de pais em formar
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filhos a trouxe-mouxe de saber, diretores de colégios pouco escrupulosos no desejo de náo perder clientela, tudo Justiniano pôs a nu.
Como providência de reação lembrava ao Governo o professor do Pedro Segundo a criação de inspetoria de aulas públicas e particulares, instituição de colégio de externos com um reitor e um censor de estudos, com professores nomeados por concurso, a este concorrendo os professores de estabelecimentos particulares, "recompensando e prometendo futuro aos que se dedicavam ao triste lidar do magistério".
Extenso o estudo do Dr. Justiniano, publicado em anexo no Relatório do Ministério do Império de 1851. Da longa exposição convém reter algumas providências propostas ao governo imperial.
Uma: — quando estrangeiro o diretor de qualquer estabelecimento de educação ser-lhe-ia exigido que pelo menos metade do corpo docente fosse brasileiro, e sendo brasileiro o diretor pelo menos um terço.
Outra providência: — no fim de cada ano letivo todos os alunos dados por prontos em quaisquer estabelecimentos de instrução secundária nas matérias de ensino do externato (inclusive os do Pedro Segundo) apresentar-se-iam em concurso geral. Constaria o concurso de tantas provas escritas, feitas em dias sucessivos, quantas fossem as matérias do externato. Amparariam os concursos todas as seguranças contra a injustiça e o patronato, coisa facílima, admitida a prática dos colégios franceses.
Propunha o Dr. Justiniano que os cinco melhores alunos dist inguidos pelo concurso geral fossem matriculados gratuitamente nas Academias, recebendo coleção de compêndios adotados nas que quisessem frequentar.
Ainda mais, se todos os cinco premiados fossem alunos do mesmo estabelecimento, o diretor deste seria condecorado, igualmente agraciado o diretor que em três anos consecutivos apresentasse alunos premiados, não premiado o aluno maior de 18 anos.
As provas do concurso geral conferiria aos aprovados o diploma de bacharel em letras.
O Dr. Justiniano José da Rocha estudara humanidades em França, no Liceu Henrique IV. Imbuíra, pois, o seu Relatório de 1851 muita pedagogia francesa, assim a do concours general seguido em ponto menor pelo palmarés ou lista de prémios concedidos em uma escola a cabo de ano letivo.
Profundamente nacionalista, o Dr. Justiniano da Rocha chamava a atenção do Governo para a nacionalidade de estrangeiros, muitos diretores de colégios tidos por brasileiros.
"Parece-me isto de suma gravidade, dizia um dos cardeais objetos da educação da mocidade deve ser infundir o culto da pátria, o conhecimento de suas glórias, o amor às suas tradições, o respeito aos seus monumentos artísticos e literários, nobre aspiração torná-la mais bela e mais gloriosa. Esse sentimento de religiosa piedade para com a nossa mãe comum não se ensina com preleçôes catedráticas, comunica-se, porém, nas mil ocasiões em que se apresentam no correr da vida e das lições colegiais, mas para comunicá-lo é necessário tê-lo".
Enquanto o Governo e Justiniano José da Rocha se entendiam a respeito de reformas de ensino, o reitor Souza Corrêa buscava administrar economizando.
Ao assumir cargo inventariara o estabelecimento. Parecera-lhe excessivo ter encontrado na vestiaria 828 lençóis e 711, tudo de bom linho. Propôs ao governo fossem uns reservados à enfermaria, vendendo-se o excesso de roupa. Aplicar-se-ia o produto da operação na compra de camas de ferro para dormitórios. Opinava igualmente Souza Corrêa pelo aluguel das lojas da casa da reitoria, visto não oferecerem cómodos para família.
Comunicava Souza Corrêa ao Ministro do Império, Visconde de Monte Alegre, ter achado excessiva a lavagem de roupas da casa por 90, 100 e 130S000, providenciando nesta e noutras despesas no sentido da economia. Nas pequenas despesas do Colégio figuravam remunerações
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a subalternos cuja menção não deixa de ser curiosa por evidenciar o custo da vida naquela época, os criados do Colégio vencendo 14$000 mensais, o despenseiro e o cozinheiro 30S000.
Contra algumas medidas do reitor representou o tesoureiro do Colégio, por ver nelas invasão de suas atribuições. Sem apurar o caso, era o eterno conflito entre subordinado, não raro no hábito de abusos, contra o superior desejoso de modificar corrigindo, a bem da causa pública.
Apoiou, porém, o Governo, in totum, o reitor, autorizando-o a tomar todas as providências necessárias à economia e regularização de despesas.
Não se estendeu só ao administrar o zelo de Souza Corrêa. No impedimento do professor de Matemática Lino António Rabello lecionou a cadeira aos alunos do 5o e 6o
ano, louvado por isto pelo governo imperial.
Na reitoria Souza Corrêa em 1852, em março, entravam a lecionar Grego o Dr. Jorge Gade, transferido da cadeira de Alemão e Tautphoeus renomeado para ela.
Enquanto estudava o relatório de Justiniano José da Rocha, nomeava o Governo o Barão de Kulner para substituto interino da cadeira de Inglês, exonerado a pedido o tesoureiro Firmo José Soares da Nóbrega, entregando ele cargo a sucessor, Graciano Leopoldino dos Santos Pereira.
Souza Corrêa continuava administrando e providenciando. Assim mandava pintar a capela do Colégio, à própria custa. Homem de mar estava acostumado a respeitar Deus no infinito do oceano.
Mandou pintar a capela do Colégio e o corredor que a ela conduzia "pelo estado de indecência em que se achavam", pedindo que o governo aceitasse como pequena oferta ao Colégio a quantia de 3245000, em que importara a respectiva despesa.
Por Aviso de 29 de abril de 1852, o ministro Monte Alegre agradeceu as despesas da pintura satisfeitas com
o ordenado do reitor, agradecendo a oferta, em nome de Sua Majestade o Imperador.
Acrescentava, porém, o ministro: — "Louvo o zelo que manifesta pela prosperidade do Estabelecimento confiado à sua direção sem que porém anua ao sacrifício que quer fazer da ténue retribuição que lhe dá o Colégio para aplicá-la àquela despesa, que aliás deverá ser paga pelos fundos do Colégio".
Em maio de 1852 cumpria a Souza Corrêa prestar atenção ao provimento interino da cadeira de Grego. Jorge Gade, professor para ela nomeado em março, partia para a Europa no gozo de licença de um ano, sem vencimento algum.
Mal saía do Rio de Janeiro, requeria Alexandre Audret a regência interina da cadeira. O Governo decidiu ouvir o reitor sobre a pretensão e o pretendente. Opinava Souza Corrêa pela nomeação interina de Tautphoeus, substituído este na cadeira de Alemão.
Pouco depois deixava Pasta do Império o Visconde de Mon fA leg re , sempre assim se assinava nobiliarquicamente José da Costa Carvalho, antigo Regente do Império.
Substituiu-o na Pasta Gonçalves Martins, futuro Visconde de São Lourenço, um dos vultos mais notáveis e operosos da terra natal, a Bahia, sobre prestimoso servidor do Brasil.
Recomendava o novo ministro a maior atenção quanto à assiduidade dos professores, providenciando o reitor em relação aos faltosos, tornando-se "indispensável prover-lhes a substituição, por não ser do interesse da instrução que as lições deixassem de ser dadas aos respectivos alunos".
Completava Gonçalves Martins a instante recomendação concedendo trimestre de licença ao professor de Latim, Castro Lopes, devendo este indicar e pagar à sua custa substituto idóneo.
Quinzena de licença era também concedida a Gonçalves Dias, este sem prejuízo de vencimentos, para escrever sumário da instrução pública nas províncias do, Norte.
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Só em julho de 1852 uma portaria de Gonçalves Martins preenchia interinamente a cadeira de Alemão, Tautphoeus além da de Grego. Entrava para o corpo docente do colégio, Bertholdo Goldschmidt. enquanto daquele desaparecia o professor de Inglês, Guilherme Fairfax Norris, falecido a 23 de julho de 1852.
Outro professor também se retirava do Colégio, exonerado a pedido, a 5 de agosto de 1852, Gonçalves Dias, o proprietário da 2a Cadeira de Latim. Oferecia-se, porém, o demissionário para lecionar, gratuitamente, a cadeira de História do Brasil até o fim do ano letivo. Recebia então o Colégio Ernesto Ferreira França Júnior para a regência interina da cadeira de Inglês, vaga pelo óbito de Norris.
Pouco depois, em setembro de 1852, perdia o reitor prestimoso auxiliar, no Colégio figura venerável e útil, o vice-reitor frei Rodrigo de São José.
Nascera a 9 de agosto de 1789, na Bahia, filho do intendente do Ouro, Dr. Marcellino da Silva Pereira. Monge beneditino aos 18 anos, viera ao Rio de Janeiro, em 1820. Aí mais tarde exerceria dignidade abacial no mosteiro de sua Ordem, dignidade amargurada por desgostos não poucos. Desaparecia frei Rodrigo em 1852,aos 63 anos de idade, dos quais os últimos consagrados ao Pedro Segundo, não tendo a idade conseguido vencer-lhe férrea vontade.
Outro monge, outro beneditino, substituiria frei Rodrigo, frei Luiz da Conceição Saraiva, irmão do político do Império, o Conselheiro Saraiva, e futuro Bispo do Maranhão.
Com estes principais sucessos findava o ano letivo de 1852, marcados nele os exames para 8 de novembro de 1852, com a presença e fiscalização do Comissário do Governo, o Visconde de Abrantes.
Findos os exames, sempre com a presença do Imperador, bacharelava-se a turma dos setimanistas de 1852. Figuravam entre eles dois que muito amor demonstrariam sempre ao Colégio, Manoel Duarte Moreira,
só mais tarde Moreira de Azevedo, futuro professor da Casa; Anastácio Luiz do Bonsuccesso, de tantos serviços à vindoura instituição, ao Instituto dos Bacharéis em Letras.
No período de férias do Colégio continuava Gonçalves Martins a ocupar-se incessantemente com o estabelecimento, no zelo pelo interesso público. Inspirava este determinação do ministro de mandar o Colégio executar obras de encadernação nas oficinas da Casa de Correção, preferindo-as a qualquer outra para a feitura de livros em branco. O Estado protegia o Estado.
Também antes de iniciar-se o ano letivo de 1853, na reitoria Souza Corrêa, iluminava-se a gás o Colégio. Beneficiava de pronto pelo melhoramento havia pouco introduzido no Rio de Janeiro, cujas ruas mais centrais conheceram clarear de gás a 25 de março de 1852, solenizada em progresso mais uma data do juramento da Constituição do Império, o Brasil sempre na vanguarda da aplicação das grandes ou pequenas conquistas da civilização.
O ano letivo de 1853 principiava com o Colégio todo iluminado a gás e pintado de novo, por 870S000, informação para quantos estudam o custo da antiga vida nacional.
De fevereiro a março de 1853, o corpo docente do Colégio sofria alteração.
Gonçalves Dias deixava de reger grátis a cadeira de História do Brasil, transferido provisoriamente para ela Joaquim Manoel de Macedo, professor de Geografia e História Moderna.
Castro Lopes saía da cadeira de Latim do 4o ao 7o
ano , exonerado por pouca assiduidade. Vinha ocupar, cátedra, a título interino, outro médico, o Dr. António José de Souza.
Novo elemento para o corpo docente era, proposto pelo reitor Souza Corrêa, o Dr. Valdez y Palácios, substituindo interinamente na cadeira de Inglês o professor, também interino, Ernesto Ferreira França Júnior.
No meio do ano letivo retirara-se de vez do Colégio o professor de Grego, Jorge Gade, substituído por
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Tautphoeus, vigilante sempre o Governo quanto à assiduidade dos professores. Pelo Aviso de 6 de junho de 1853, o Ministro Gonçalves Martins pedia ao reitor que "ouvisse Joaquim Manoel de Macedo se havia probabilidade de continuar enfermidade sua para providenciar-se sobre imediata substituição".
Só uma vez ministro, e do Império, foi, entretanto, Gonçalves Martins dos mais operosos e diligentes ocupantes daquela pasta dos negócios públicos, pasta política na monarquia brasileira.
No ministério único de Gonçalves Martins, gestão de 483 dias, teriam início muitos melhoramentos no Brasil e sobretudo no Rio de Janeiro, melhoramentos aqueles à testa dos quais se encontrou sempre Mauá, ainda somente na época Irineu Evangelista de Souza.
Seria, porém, coisa mais rara do que se pensa, o operoso Gonçalves Martins substituído por outro operoso, tanto ou mais do que o antecessor.
Em setembro de 1853, nas vésperas de memória da Independência, organizava o Visconde, depois Marquês de Paraná, famoso Ministério entre os numerosos Gabinetes Monárquicos, dez no Primeiro Reinado, doze na Regência e onze no Segundo Reinado até a ascensão de Paraná.
Presidente do Conselho de Ministros de fato em 1843, e de direito em 1853, — a Presidência do Conselho de Ministros criada a 20 de julho de 1847, pela conveniência de dar a ministérios organização mais adaptada às condições do sistema representativo, — seria Paraná o 6o Presidente do Conselho após a criação do cargo no Ministério Alves Branco.
Ficaria o Gabinete Paraná marcado para a História com o nome da ideia principal de sua formação. Paraná chamou a governo membros dos dois partidos políticos, o Conservador, ao qual ele pertencia, e o Liberal, abrigando-Ihes representantes no Ministério conhecido por isto pelo da Conciliação.
Apreciar os intuitos e os serviços do organizador e bem assim os do gabinete por ele composto não cabe
neste ensaio da vida do Pedro Segundo. Com os latinistas dele diremos non erat his locus.
Do Ministério Paraná cumpre, porém, apartar o Ministro do Império, não só por ele ser administrativamente o superintendente supremo do Colégio como de envolta com os interesses daquele ser também um grande remodelador da instrução pública brasileira.
Conhecia-a bem, lente subst i tuto e depois catedrático da Faculdade de Direito de São Paulo. Remodelara-a, presidente de província, no Espírito Santo em 1846, do Rio de Janeiro em 1848.
Está nomeado Conselheiro Luiz Pedreira do Couto Ferraz duplicando ele o " t " em o nome de família. Futuro Barão e Visconde de Bom Retiro, o Conselheiro Pedreira gozava de excepcional estima de D. Pedro II, deste amigo de infância, respeitosa e discretamente fiel até o túmulo. Também o imperador, ao visitá-lo no leito de morte, havia de declará-lo "a consciência mais pura que conhecera". Não era dizer pouco. Valia muito tal conceito de soberano que, em reinado semi-secular, avaliara tantos homens da mais variada espécie na zoologia social e política.
Nascido no Rio de Janeiro, em 1818, o Ministro do Império, Pedreira, em 1853 contava 35 anos. No vigor da idade, no continuar brilhante carreira política a afastá-lo do magistério superior, pretendia fazer muito, e muito fez na gestão da Pasta para a qual o designara a clarividência de Paraná.
Em 1851, o Poder Legislativo entregara ao Governo autorização para reforma do ensino primário e secundário do Município da Corte ou Neutro. Lançando mão da medida legislativa, Pedreira realizou a projetada e adiada reforma por um Regulamento aprovado pelo decreto de 17 de fevereiro de 1854.
De tal regulamento disse justiça alheia, assim se exprimindo:
"Este regulamento se não foi obra completa, encerrava todos os gérmens preciosos sobre a educação . de que tanto se ufanam hoje as nações civilizadas, sendo
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para lamentar que disposições importantes nunca fossem postas em prática, e outras só mui tardiamente e sob vistas diversas. Estão nesse caso as que se referem ao ensino obrigatório, ao estabelecimento das conferências pedagógicas e ao das escolas do 2o grau".
Na Reforma Pedreira, de 1854, foram incluídas algumas medidas propostas pelo professor do Colégio de Pedro Segundo, Justiniano José da Rocha, no referente ao ensino particular primário e secundário.
Estatuía a reforma estímulo para este. Anualmente, em novembro, os alunos de colégio particulares seriam admitidos a exames escritos de todas as matérias exigidas como preparatórios para entrada no ensino superior.
Os alunos distintos em tais provas gozariam de isenção de matrícula para receber grau de bacharel em letras no Pedro Segundo, gozariam da mesma isenção no ensino superior e finalmente no Colégio teriam preferência na nomeação para repetidores.
"Estabelecendo este regime de concursos — foi por outrem ponderado — não quis o reformador, divergindo nesse ponto da proposta do Dr. Justiniano da Rocha, estendê-lo ao bacharelado em letras. Contentou-se em declarar que de futuro poder-se-iam ampliar os concursos a todas as matérias constitutivas do curso do Colégio de Pedro Segundo".
Ajudado pelo Inspetor-Geral do Ensino Primário e Secundário, figura notável, a do Visconde de Itaboraí, o Ministro Pedreira em 1855, por meio de instruções expedidas a 5 de janeiro, completava a reforma de 1854.
De acordo com esta e com as instruções anexas ficou o Colégio de Pedro Segundo dividido em duas classes de estudos. Consideravam-se estudos de 1a classe os do 1o ao 4o do curso, de 2a classe os do 5o ao 7o ano. No ensino de línguas vivas da 1a classe estava compreendida a conversação nas mesmas línguas entre professor e discípulos.
A dança e a ginástica preencheriam horas de recreio, as aulas de Música e Desenho dadas às quintas-feiras.
Os exames do Colégio deveriam ser prestados sobre pontos tirados à sorte dentre os formulados pelo Conselho Diretor de Instrução Primária e Secundária. Tais pontos abrangeriam para os exames do 4o ano as matérias dos cursos de estudos da 1" classe, para os exames do 7o ano as matérias do curso de estudos da 2a classe e para os outros anos apenas as matérias ensinadas em cada um deles.
A Reforma Pedreira teve início de cumprimento na reitoria Souza Corrêa, o capitão-de-mar-e-guerra não alheio às causas do ensino por ele ministrado aos alunos da Academia de Marinha, como já foi dito.
Em breve, porém cessaria a sua ação no Colégio de Pedro Segundo de onde, a 24 de outubro de 1854, já desaparecia, por falecimento, o professor de Inglês Dr. José Manoel Valdez y Palácios.
Peruano de nascimento, advogado, teve de deixar a pátria por motivo de perseguições políticas. Para salvar a vida e a de um filho atravessou os Andes, foi ter ao Pará, daí se transferindo para o Rio de Janeiro, mal refeito de penosa viagem de Cuzco a Belém, varando rios, avaliados os transes da vida do Dr. Valdez na fuga repentina, na passagem de abismos e desertos, com um menino que mal movia os passos. Viagem de contemplações e horrores, de termo em Cocabambilla, onde Valdez se veria a salvo de inimigos. Mas até certeza de vida, quantos obstáculos ante pai e filho: atravessar de rochedos, sotoposição de montes debaixo dos pés, frio insuportável, vento furioso, abrigo em cavernas, passagem por um vulcão, num espaço de 10 ou 12 milhas de circunferência a dois mil pés aproximadamente de profundidade, contendo em tal superfície mais de sessenta crateras cónicas já apagadas, em aspecto ondeante de superfície inconsistente. Tudo dito pelo Dr. Valdez, em livro publicado no Rio de Janeiro em 1844.
Segundo Porto Alegre, "no meio destes magníficos episódios do grande livro da terra, no meio do ansiar aflitivo do leitor, Valdez fazia alguma vez rir quando se pintava
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ironicamente, e se considerava com o seu escudeiro (o filho) como dignos da musa humorística de Cervantes".
Após provações sobre provações, o Dr. Valdez, embora sempre pobre, devia ter o Rio de Janeiro pelo paraíso terrestre. Naturalizou-se, lecionando no Colégio de Pedro Segundo e no Liceu de Niterói, um dos redatores de Minerva Brasiliense, colaborando no Correio Mercantil e fundando A Nova Minerva, periódico científico, moral, artístico e literário. Lutou sempre tanto com a sorte o Dr. Valdez y Palácios que, ao ser sepultado, um orador resumiu adeus dizendo: — "Vai começar tua primeira hora de felicidade".
Em junho de 1855, retirou-se do Colégio o capitão-de-mar-e-guerra José de Souza Corrêa, nomeado em 1851, em substituição ao segundo reitor Dr. Joaquim Caetano da Silva.
Não tinha Souza Corrêa o mérito intelectual, nem a erudição do antecessor. Contudo, soube sempre conduzir-se de modo digno no exercício do cargo, em boas relações com os ministros do Império dos quais dependia.
Deram-lhe apoio e robusteceram força moral, condições indispensáveis a quem dirigindo se vê dependente de aprovação e auxílio superior.
Deixando a reitoria do Pedro Segundo, exercida por três anos e meses, Souza Corrêa passou cargo ao vice-reitor interino Jorge Furtado de Mendonça, professor de Latim desde a fundação do Colégio.
Retirava-se com honra o terceiro reitor, afastando-se do posto com sossego de consciência. Tal o confere dentro de si próprio o bem intencionado, à espera da justiça divina, tantas vezes suprindo a humana, falível ou ratinhada pela inveja.
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
VI O Colégio de 1855 a 1858
Início da Reitoria Pacheco da Silva • Reforma Pedreira • Património do Colégio •
Gonçalves da Silva e Joaquim Manoel de Macedo • Divisão do Colégio em
Externato e Internato • Instalação Deste • Seu Primeiro Reitor • Paula Menezes •
Sete de Setembro de 1857 • Novos Professores • Imprensa Colegial •
Colação de Grau de 1858 • Incidentes Colegiais.
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Exonerado Souza Corrêa de reitor do Colégio em junho de 1855, teve o Governo imperial de prover
substituição.
Empenhou-se, sobretudo, no intento o principal responsável ante o Imperador, pelo acerto da escolha, nas questões relativas ao Colégio indispensável ouvir o Imperador.
Era aquele responsável o Ministro do Império, Conselheiro Pedreira. Nem deixaria Pedreira de consultar o soberano seu amigo, nem tão pouco ao Presidente do Conselho, Paraná, Visconde elevado a Marquês a 2 de dezembro de 1854, natalício de D. Pedro II.
Recaiu afinal a escolha para quarto reitor do Colégio no Dr. Manoel Pacheco da Silva, em exercício a 10 de setembro de 1855. Encontrava a Casa não mais dirigida pelo vice-reitor interino Jorge Furtado de Mendonça, substituído pelo monge beneditino José da Purificação Franco.
Nascera Pacheco da Silva, o novo reitor, no Rio de Janeiro, em 1812, do consórcio de pai baiano e mãe andaluza. Doutorara-se em Medicina no Rio de Janeiro em 1839.
Caber-lhe-ia continuar aplicação da Reforma Pedreira no Colégio a cuja reitoria fora chamado não sem haver já mostrado interesse por questões pedagógicas.
No início da administração Pacheco, existiam no Colégio quatro classes de alunos: — pensionistas de 1a
classe, com direito a repetidores em horas de estudo, médico, botica, não se dizia ainda farmácia, refeitório, banhos, roupa lavada e engomadas; pensionistas de 2a
classe com as mesmas vantagens, salvo lavagem e engomado de roupa; meio-pensionistas e externos. A matrícula anual para todos custava 12S000, a pensão trimestral, de acordo com as classes, 100S000, 75S000, 37S000 e 24S000. A aula de Italiano, criada em 1855, e regida pelo Dr. Luiz Vicente De Simoni, também professor de Latim, era considerada avulsa, com pagamento à parte.
Qualquer sociedade humana baseia manutenção no prémio e no castigo, ideias derivadas de princípios eternos, o bem e o mal. Para premiar dispunha o reitor de meios, de outros para castigar. Tinham estes a seguinte ordem: — repreensão, trabalhos nas horas de recreio, prisão com trabalho na cafua, comunicação aos pais para elevação de punições, expulsão do Colégio, com vénia do Inspetor-Geral da Instrução Pública.
Para auxílio de estudos, mormente dos pensionistas de 1a e 2a classes, haviam sido criados seis lugares de' repetidores. Um para Grego e Alemão; um para Francês e
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837-1937
Inglês; um para Matemática; um para Filosofia e Retórica; um para Latim; um para Ciências Naturais com encargos de preparador e conservador.
Morariam os repetidores no Colégio, com direito a sustento. Venceriam 4005000 por ano; o repetidor de Ciências Naturais, por acumular funções, teria 600$000, ordenado dos demais repetidores, enquanto não residissem no Colégio. Deveriam obter nomeação mediante concurso e no decorrer de aulas serviriam como inspetores de alunos. A fiscalização do ensino no Colégio cabia ao Inspetor-Geral da Instrução Pública, reservada ao reitor a inspeção direta das aulas e a direção económica da casa.
Assumindo reitoria, em meados de 1855, o Dr. Pacheco presidiria ao bacharelado da turma de 7o ano composta de oito jovens um dos quais se distinguiria no professorado do Colégio, Evaristo Nunes Pires.
Em 1855, prestando diretamente exames par o 5o
ano, matriculava-se na casa, menino de doze anos chamado Alfredo Maria Adriano d' Escragnolle Taunay, futuro Senador do Império e autor de duas obras imortais, na literatura pátria e fora dela, a primeira pelo número de traduções, Inocência e A Retirada da Laguna.
Deixar-nos-ia, em 1890, notas sobre pregressa vida escolar e nelas muitas impressões de várias espécies, sobre o Colégio e seu funcionamento.
Declarava Taunay não ter sido nos anais do Colégio dos mais felizes o ano letivo de 1856, desavindos o reitor e quase todo o corpo docente. Por quê? Não nos foi dito.
O professor de subida força moral na época era João António Gonçalves da Silva, mais conhecido por Bacharel Gonçalves, graduado em letras pelo Colégio em 1845. Em 1855, substituía frei Camillo de Montserrate nomeado diretor da Biblioteca Nacional. O bacharel Gonçalves, dispondo de muita audácia e pretensão, tinha reais aptidões para o professorado. Conhecia de pronto os bons estudantes, sabia estimulá-los e encaminhá-los, à maneira dos espartanos em relação aos ilotas, aproveitando vadios e madraços, para exemplo e contraste.
A desunião entre reitor e corpo docente não podia deixar de trazer consequência, indisciplina colegial resultante da falta de harmonia dos encarregados de mantê-la nas aulas sem apoio da primeira autoridade da casa. Releva-se em jovens a turbulência, a insolência não.
Traquinadas dos alunos, algumas sem atenção a professores ilustres quais frei Camillo e Tautphoeus, não encontravam imediato corretivo, e não lhes teria faltado no tempo do vice-reitor frei Rodrigo de São José. Compreende-se, pois, que jovens se atrevessem a alcunhar professores, o de Física e Química tido pelo Besouro, "por causa do modo monótono e igual de expor lição".
Ao iniciar-se o ano letivo de 1856, aviso do Ministro do Império, o reformador Pedreira, aprovou provisoriamente os primeiros programas de ensino do Colégio, organizados pelo Conselho Diretor da Instrução Pública.
Conforme fonte oficial "foram um progresso para a instrução secundária, não só porque estabeleciam a orientação dos estudos de um modo analítico, mas também porque traziam as indicações dos livros didáticos".
Desde 1851 conhecia o Imperial Colégio programa impresso para exames. Nele se mencionavam o tribunal de exame, por ordem de antiguidade dos professores, o tribunal de julgamento, o nome dos alunos ano a ano, por ordem de antiguidade, e a lista dos pontos para exame, disciplina por disciplina.
Em 1856 terminaria a independência económica do Colégio, oficializado apenas pedagógica e administrativamente desde Bernardo de Vasconcellos.
Pela lei orçamentária do exercício financeiro de 1852-1853, fora concedido ao governo a faculdade de levar à hasta pública os prédios do património do Colégio, outrora constituído por legados e doações com fins expressos, convertendo em apólices inalienáveis o produto da venda dos imóveis.
Daí serem leiloados oito dos prédios do Colégio, três não encontrando adquirentes. Eram imóveis bem situados, na parte central e comercial da cidade. O último dos três
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prédios inalienados em 1856 foi o da Rua Estreita de São Joaquim, n.° 66 à ilharga do Colégio, utilizado para serviços deste. Arrematou-o na República a Prefeitura Passos, por 34:000$000, quando do alargamento da Rua Larga de São Joaquim, hoje Avenida Marechal Floriano.
O ano de 1856, malaventurado na disciplina, encerrou-se com sombrios vaticínios para os alunos. Tinham culpas e não se lembravam do destino das cordas até nos patíbulos arrebentando pelo lado mais fraco. O lente de Latim, Dr. António José de Souza, anunciou a catástrofe com solenes palavras na aula de despedida. "Meus amiguinhos, breve chegará para vocês, odies illa, dies irae." Veio o dies irae em novembro de 1856; com os exames, presente o Imperador, os alunos todos encasacados. Houve rigores e injustiças, quando reprovação doía ao reprovado, a ponto de levar ele tempos e tempos sem sair à rua por vexame, certos pais mandando fechar janelas dando para a rua em sinal de pesar.
Deu bom resultado o dies irae de 1856, embora alguns justos pagassem por chusma de pecadores. Trouxe calma e regularidade ao ano letivo de 1857, honradas as aulas do Colégio, vez ou outra com a presença de personagens. Um: Eusébio de Queiroz.
"Que homem tão simpático este! Anotou Taunay. Ainda me lembro da atração que sentia ao vê-lo, admirando-lhe os olhos tão grandes, tão serenos e de azul puro!". A impressão da meninice persistia viva na memória de Taunay, afinal Senador do Império como o fora Eusébio.
Foi 1857 ano típico para o Colégio, até então conjuntamente internato, semi-internato e externato. A 3 de maio de 1857 deixava o governo o Ministério da Conciliação. Falecera a 3 de setembro de 1856 o seu organizador, o Marquês de Paraná, fora o gabinete continuado, por algum tempo, na Presidência do Conselho pelo Ministro da Guerra, o Marquês de Caxias, já de tanta luz como general e pacificador.
A 4 de maio de 1857, pela segunda vez Presidente do Conselho, antigo Regente do Império, o Marquês de Olinda organizava ministério. Reservou-se nele a Pasta do Império na qual acabavam de revelar tanta operosidade próximos antecessores. Gonçalves Martins e Pedreira.
Por inspiração de Olinda foi baixado o Decreto de 24 de outubro de 1857 cujo Regulamento secionou a fundação de 1837, em dois estabelecimentos distintos — Externato e Internado do Imperial Colégio de Pedro Segundo.
Não se limitou o Regulamento à separação, reformou, substituindo a divisão de estudos do Colégio, da Reforma Pedreira, em 1a e 2a classes. Estabeleceu curso geral de sete anos, a cabo do qual o aluno seria bacharel em letras.
Formou curso especial de cinco anos, ao termo deste entregue ao aluno apenas um certificado de estudos. No dito curso eram dispensados os estudos de Desenho, Música, Dança, Ginástica e Italiano, exigidos para o bacharelado em letras. O curso especial representava mais ou menos o curso do bacharelado até o 5o ano.
A Reforma Olinda, segundo explicação do relatório do Ministério do Império em 1858, "tinha unicamente por fim organizar o plano dos estudos do Colégio de Pedro Segundo de modo que se restringisse algumas matérias cujo excessivo desenvolvimento prejudicava o ensino de outras disciplinas mais indispensáveis e tornar assim possível melhor distribuição das matérias pelos diversos anos do curso, com maior aproveitamento do tempo".
Na reitoria Pacheco, em julho de 1857, dava-se execução à divisão do Colégio prescrita pela Reforma Olinda. Descongestionando o Externato, pretendia contribuir para melhorar a disciplina da Casa. Até as tormentas aumentam pelo tamanho das naus.
Distinto ia ficar o novo Internato do antigo Externato, instalado, aquele por aluguel, em casarão do Engenho Velho na chamada chácara do Matta, nome do proprietário, o Dr. Nascimento Matta.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837-1937
Ir da cidade ao Largo da Segunda-Feira, com o qual fazia esquina a chácara do Internato, coisa penosa em 1858. Não dispunha o Rio de Janeiro de fáceis meios de transportes públicos. Recentemente, Noronha Santos compendiou-os em dois ótimos sobre alentados volumes, "Meios de transporte no Rio de Janeiro", ricos de seguras informações.
Em 1858, localizado o Internado do Pedro Segundo na chácara do Matta, no bairro do Engenho Velho, cabiam seis viagens diárias de ônibus até o Largo da Segunda-Feira. Daí regressavam os veículos à Praça da Constituição, hoje Tiradentes, ponto inicial dos ônibus, até 1859 transferido depois para o Largo de São Francisco.
A criação do Internato ocasionou muitas modificações na vida do Colégio. Passou o reitor do Externato a ter por substituto um vice-reitor, nomeado por decreto, e tirado do corpo docente, não acontecendo o mesmo ao vice-reitor do Internato, de simples escolha do governo.
Viram-se melhorados materialmente os repetidores. Houve autorização para criação reitoral de turmas suplementares conforme o número de alunos em cada aula. A divisão das turmas, a nomeação de professores, dependeriam porém da aprovação governamental.
Além do vencimento, o professor do Internato teria gratif icação para transporte, arbitrada segundo necessidade de presença no Colégio. Os vencimentos dos funcionários do Internato sobrelevariam um pouco os do Externato. Perceberia o reitor do Internato 4:000$000 anuais, o colega de Externato receberia 3:000$000.
Descendo na escala administrativa, o capelão do Internato venceria 800S000, o do Externato 400$000, estabelecida proporção para todos os cargos de uma e outra seção do Colégio.
Instalado o Internato, informava ao Governo o reitor, Dr. Pacheco. "Os professores do Externato, dizia ele, exceto os docentes de Grego e de Latim do 5o ano, que propunham condições, estavam prontos a servir em
qualquer das duas. Para o do Internato seguiriam os inspetores de alunos mais antigos, fornecido para a instalação da nova casa material pedagógico do Externato".
Teve em 1858 o Internato, por primeiro reitor, o Dr. Joaquim Marcos de Almeida Rego, médico carioca, clínico dos mais abalizados, irmão do Dr. José Pereira Rego, Barão do Lavradio.
Presidente do Ceará em 1851, o Dr. Almeida Rego fora benemérito na província pelo procedimento como homem de bem e de ciência. Quis a província, por gratidão, elegê-lo deputado geral, declinando ele da oferta.
Instalando o Internato, logrou Almeida Rego um bom auxiliar, transferido do cargo de vice-reitor do Externato, frei José da Purificação Franco. Contrabalançava no Externato a bondade do reitor. Era disciplinador, atestou-o em 1914, antigo bacharel do Internato, Vieira Fazenda, dizendo-nos pitorescamente na habitual bonomia de grande sabedor da história do berço carioca.
"Trazia-nos de canto chorado o tal vice-reitor, o beneditino Frei José da Purificação Franco. Não deixava passar camarão por malha. Parecia até sogra ranzinza". Assim em 1865, com maioria de razão, mais moço em 1857, devia ser disciplinador às direitas. Nem sempre se achava coadjuvado frei José da Purificação. Muitos inspetores não tinham precisa força moral, daí abusos dos alunos, contidos os meio-pensionistas por inspetor de real prestígio, o Viegas, muito afeiçoado ao professor Gonçalves.
Com o Viegas as brincadeiras saíam bem caras, daí evitadas. Aliás os meio-pensionistas, sob a guarda do Viegas, vinham de casa almoçados, a entrada no Colégio, quando ainda não dividido, marcada para as oito e quarenta e cinco da manhã. Jantavam no estabelecimento e dele saíam às quatro e meia ou cinco da tarde.
No ano letivo de 1857, tão assinalado na criação do Internato, morria professor bastante querido dos alunos o Dr. Francisco de Paula Menezes, dono da cadeira de
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Retórica e Poética, "falador a valer e figura indispensável ao Instituto Histórico, bom coração e cheio de meiguices", diz Taunay.
Acrescenta este: — "Reuniram-se, quando ao Colégio chegou a notícia do seu falecimento, os alunos que ele lecionara e tratou-se, por meio de uma discussão, que tomou logo feição de sessão, do modo de melhor manifestarmos nossos sentimentos". Valeram-se para isto de associação colegial a "Sociedade Recreativa".
Nela costumavam os alunos, como hoje nos grémios congéneres, discutir, absolver ou condenar personagens em júris históricos. Em associações tais o essencial é falar, sem nenhum abalo do mundo universo, nem o menor desarranjo das biografias dos personagens históricos louvados ou incriminados.
A turma de 1857 seria a última das quinze turmas que, desde 1843, graduara o Colégio indiviso. Contava cinco bacharéis em letras.
Na vida pública se distinguiriam Manoel de Queiroz Mattoso Ribeiro, filho de Eusébio de Queiroz, formado em Direto em São Paulo, em 1863, deputado provincial na monarquia, Senador federal na República pelo Estado do Rio de Janeiro e vice-presidente do Senado; José António de Azevedo Castro, formado em Direito em São Paulo, em 1862, alto funcionário do Tesouro agraciado com o título de Conselheiro e por longos anos até a morte, em 1911, delegado do Tesouro em Londres, aí gozando da maior confiança e apreço, presidente do Rio Grande do Sul em 1875; António Rodrigues Monteiro de Azevedo, formado em Direito em São Paulo, em 1862, chefe de polícia na província do Rio de Janeiro e magistrado na Corte; Gervásio Mancebo, promotor público na Corte e finalmente Manoel Thomaz Alves Nogueira, formado em Filosofia na Alemanha, país do qual foi sempre admirador e longo tempo habitante.
Doutíssimo, regeria Thomaz Alves a cadeira de Grego do Colégio, autor de obras substanciosas. Para glória
do sábio escritor e do estabelecimento onde se instruiu e lecionou mereciam ser bem mais conhecidas do que são.
Após alegrias da distribuição de prémios e da colação de grau de bacharel, seriam as férias de 1857 assinaladas tristemente pelo desaparecimento do estimado professor Bacharel Gonçalves. Seguia para o túmulo acompanhado pela fidelidade de afeição do inspetor Viegas.
Segundo Taunay, 6o anista em 1857, era grande o entusiasmo entre alunos, despertado pelo bacharel Gonçalves.
Nas aulas, admiração lhes inspiravam os menores ditos e gestos do mestre, tal ideia formavam os discípulos das habilitações do lente, da sua elevada posição, da influência exercida ou por exercer na sociedade brasileira, que o falecimento de Gonçalves sinceramente pareceu aos escolares verdadeira calamidade pública.
Diziam o bacharel Gonçalves versado em grego. Atesta também Taunay ter o seu professor muito jeito para o teatro, aquele cómico por natureza. Em representação particular no Ginásio Dramático desempenhara o principal papel no António José ou O Poeta e a Inquisição, a celebrada peça de Gonçalves de Magalhães. Saiu-se Gonçalves da Silva da empresa com muito talento, recebendo calorosos aplausos.
O Bacharel Gonçalves aproximara-se dos alunos auxiliando-os na celebração patriótica do dia 6 de setembro de 1857.
Mercê das lembranças de escolar coeva, Rego César, o nonagenário em 1935, no 3o volume do Annuario do Colégio foi pelo professor Escragnolle Dória descrita a festa de 7 de setembro de 1857.
Nessa noite, em palco improvisado, representavam-se a comédia Brancas o Distraído, o drama O Judeu e a farsa Aviso à Gazeta.
Na comédia defenderam papéis os alunos Manoel de Queiroz, Gervásio Mancebo, Monteiro de Azevedo e Azevedo Castro, todos setimanistas, Jorge João Dodsworth, Rego César e Gomensoro, quintanistas.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
No drama O Judeu apresentaram-se duas damas
sob cujas saias se ocultavam os alunos Gomensoro e Luiz
da Cunha Feijó, o futuro lente de medicina.
O Aviso à Gazeta pedia no palco a presença de duas,
Andreza, o aluno Gomensoro, e Ludovina, o calourinho
Possolo.
Findo o espetáculo, bem depois da meia-noite, após
a saída do Imperador e da Imperatriz, o Colégio continuou
em festa.
Em pleno 7 de setembro, foi servida ceia, primeiro
às senhoras, a ele conduzidas pelo braço de jovens alunos,
na preocupação própria da idade a de parecerem homens
fortes.
Em seguida, a meninada tomou conta da mesa,
erguendo brindes ao ex-Ministro do Império Pedreira, ao
Marquês de Olinda, Ministro da Pasta e Regente do Império
na criação do Colégio, a Eusébio de Queiroz, inspetor da
Instrução Pública, à Independência.
"Houve — disse depois o Diário do Rio de Janeiro
— em todo esse festejo um entusiasmo cheio de inocência
que o homem não pode sentir em qualquer outra idade da
vida". Na festa o mais velho dos alunos contava dezesseis
anos.
Da importância do Colégio na época fornece notícia
obra de Kidder e Fletcher, Braziland the Brazilians, editada
em Nova York, justo em 1857.
Dizem aqueles autores "que a instituição pedagógica
a despertar mais interesse do que congéneres na capital
do Brasil fora organizada em fins de 1837 com o nome de
Colégio de D. Pedro I I " .
A c r e s c e n t a m Kidder e F le t che r : — " e m
desenvolvimento e proteção primava o Colégio em relação
aos liceus provinciais".
O ano letivo de 1858 foi , principalmente no 7o ano,
de estudos severos sobre aperto de disciplina.
Assinalou-o também a entrada de vários professores
efetivos, um deles Bacharel do Colégio, Joaquim Mendes
Malheiros, graduado em letras em 1847, colega de turma
de Álvares de Azevedo, o poeta impedido pela morte de
pagar à vida todas as promessas de talento genial pela
precocidade.
Malheiros substituía Gonçalves da Silva, substituição
difícil, não só pela distinção com a qual o antecessor regera
a cadeira de História Geral como pela simpatia por ele
desfrutada entre alunos.
Tinha, porém, Malheiros prática de magistério, e isto
mui to vale a docente novo em qualquer estabelecimento
de ensino. Conhece os segredos do ofício, as manhas
dos alunos de audácia ou de fingida ingenuidade se
servindo para experimentara força do professor. Não era
Malheiros pedagogo fácil de ludibriar. Conhecia a Casa e
a sua presença nela poderia aplicar, mudada a quarta
palavra, o:
"Nourri dans le sérail j 'en connais les détours" .
Enérgico e mordaz, sabia Malheiros impor todo
respeito a adolescentes propensos à familiaridade, geradora
da confiança, no mau sentido.
Havia adquirido Malheiros, no Colégio, boa cultura
de humanidades, a ponto de novel bacharel em letras e
académico na Faculdade de Direito de São Paulo ser
convidado, conforme Almeida Nogueira, pelo diretor da
Faculdade para, em substi tuição, lecionar e examinar
Geografia e História no Curso Anexo.
Nada neófito no magistério. Malheiros assumia,
com garbo e segurança, a cadeira de História no Colégio,
cadeira honrada por ilustres antecessores.
Outro professor efetivo de 1858 foi o de Geografia,
Pedro José de Abreu, a reger cadeira por longos anos até
fins do Império. Era baiano, de estudos na província natal.
Mais tarde, em 1867, seria autor de compênd io da
disciplina com edições sucessivas, em muita voga nos
colégios da época imperial.
Com Malheiros e Abreu entrara para o Colégio quem
nele deveria permanecer anos e anos, morrendo no cargo:
— José Francisco Halbout.
De p r o g é n i e f r a n c e s a , pe lo a t a v i s m o b e m
familiarizado com a língua a ensinar, aos poucos foi-se
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tornando Halbout temido pela severidade, pela minúcia com a qual ensinava ou exigia a partir, sobretudo, da publicação de sua gramática teórica e prática da língua francesa, em dois volumes.
Português de origem, José Ventura Boscoli transferiu-se em 1858 de cargo na Biblioteca Nacional para a cadeira de Matemática do Colégio.
Não era estranho a este o professor efetivo de Filosofia Frei José de Santa Maria Amaral, tendo lecionado a matéria como substituto. Monge beneditino, professo na Bahia, terra nativa, era Santa Maria Amaral considerado por saber e virtudes, sobre douradas por modéstia, levando-oa recusar a mitra de Diamantina.
Para completar série de professores efetivos de 1858, seja mencionado o lente de Grego, Guilherme Henrique Theodoro Schieffler, hanoveriano, formado em Direito em Goettingen, servindo cargos de magistratura na pátria.
Chegara ao Brasil em 1853, dedicando-se ao magistério particular lecionando línguas vivas e mortas. Naturalizando-se, concorreu à cadeira de Grego, obtendo também por concurso cadeira de Alemão no Instituto Comercial.
Halbout e Schieffler tinham lecionado no Colégio a título interino no próprio ano letivo de 1858.
Por ocasião da abertura deste o reitor Pacheco comunicara à Inspetoria do Ensino Primário e Secundário do Município da Corte, tornar-se necessária substituição de alguns professores por não pretenderem exercer funções nas duas casas do Colégio.
Na leva dos interinos de 1858 haviam figurado Halbout, Schieffler, colegas de alguém que não prosseguiria no magistério, para se notabilizar na cultura nacional: Baptista Caetano de Almeida Nogueira, o insigne cultor da língua tupi. Dele, em relação a esta, foi dito: — Nenhum brasileiro em tal estudo se lhe avantajou, ele excedeu a todos.
Então pelo professorado, seleto tanto quanto possível, se distinguia o Colégio, vanguardeiro na
pedagogia nacional. Também os alunos procuravam apurar cultivo intelectual. Ensaiavam-no em associações e jornaizinhos destinados a primícias de inteligência e mostras de pendores literários.
Antes de 1858 já se conheciam no Colégio o que alunos com a enfatuação própria dos estreantes, chamavam pomposamente "órgãos de imprensa".
Dez anos antes de surgir O Tamoyo, no qual pela primeira vez viu impresso composição sua, o futuro Visconde de Taunay, e o relembraria com emoção no declínio da idade, aparecia no Colégio o Escudo de Minerva, órgão da associação do mesmo nome.
Compunham-na, em 1848, um presidente, dois secretários e vinte e um sócios, entre eles Teixeira Júnior, Ferreira Vianna, André Fleury e Duarte de Azevedo, futuros ministros de Estado.
O Escudo de Minerva era manuscrito. Cada sócio concorria com quarenta réis mensais para compra de papel, capas, lápis para desenhos e fitas. O jornalzinho feito com muita ordem e limpeza, com ortografia e caligrafia, proporcionava também aos leitores alguns desenhos a lápis ou a bico de pena. Apresentava, por exemplo, um dos números do Escudo de Minerva, a célebre Madona na Cadeira de Rafael, jóia do florentino Palácio Pitti. Muito bem desenhada figurava a obra-prima de Sanzio nas páginas do colegial Escudo de Minerva, que num de seus números, a bico de pena, trazia a vista de São Paulo.
Não é despiciendo conservar aqui uma ou outra amostra dos escritos dos juvenis colaboradores do Escudo de Minerva, dada, sobretudo, a notoriedade adquirida pelos mesmos.
Assim em escorço intitulado Do Brazil— Ferreira Vianna, o futuro panfletário da Conferência dos Divinos, referia-se a D. Pedro I nos seguintes termos: —
"Revolvei, desfolhai com toda a atenção as páginas de uma história, que talvez achareis quem o iguale, mas quem o exceda não.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837- 1937
D. Pedro sustentava duas coroas, abdicou-as,
chamando a si unicamente o título de Duque de Bragança,
e nas duas campanhas contra seus próprios súditos; ele
com a destra empunhava a espada e com a sinistra
enxugava os prantos, corria com seus soldados, partilhador
de suas desgraças, enfim seu fiel companheiro.
O Brasil é uma planta ainda nascente, mas que
brotará galhos em cuja sombra acolherá todas as nações.
Finalmente o Amazonas, o Xingu, o Tocantins e o
Prata não foram criados pela mão do Onipotente para serem
habitados por um povo bárbaro, mas sim por um povo que
tenha um monarca que do alto de seu trono radiante,
conferencia com as nações e até, traça-lhes a rota dos
seus dest inos".
Outro colaborador do Escudo de Minerva, Jeronymo
José Teixeira Júnior, o vindouro Senador do Império,
ministro, Conselheiro do Estado e Visconde de Cruzeiro,
na Oração Fúnebre do Barão de Planitz, professor do
Colégio, revelava em uma produção tristeza e educação
clássica.
"Quão frágil é a vida humana!. Um só dia... um só
instante, mais rápido que o pensamento, bastou para
roubar-lhe todos os encantos da vida/ Omnia admitum
dies infesta sibi proemiae vitae".
Teixeira Júnior conservaria até a morte, com carinho,
quase com religião, cinco números do manuscrito Escudo
de Minerva.
Ofereceu-os, ao Arquivo Nacional, quando o dirigia
o professor Escragnolle Dória, o Dr. Henrique Carneiro Leão
Teixeira, digno filho do Visconde do Cruzeiro. Na primeira
página do Escudo de Minerva, circundando efígie da deusa
sapiente a divisa: — Vita sine Litteris Mors Est.
Em 1858, O Tamoyo, indigenamente procurou imitar
o Escudo de Minerva, com vantagem de impressão. Do
O Tamoyo dá-nos lembrança um dos colaboradores, o
futuro Visconde de Taunay, como a respeito do Escudo de
Minerva nos informa o vindouro Visconde do Cruzeiro.
Apesar das preocupações jornalísticas o ano letivo
de 1858 correu com regularidade. Atestou-o, mais tarde,
o setimanista de então Alfredo dEscragnol le Taunay,
dizendo: — "estudávamos seriamente esse 7o ano e não
faltaram provas do nosso aprovei tamento".
Também, em ofício a Eusébio de Queiroz, Inspetor
da Instrução Pública, Pacheco da Silva, então mais
sof ridamente aproximado do corpo docente do que no início
da reitoria, afirmava "severidade na disciplina e polícia da
casa" .
Mas como nos m inúscu los jornais de a lunos
houvesse abuso de liberdade de imprensa, apressava-se
o reitor em pedir à Inspetoria de Instrução licença para
censura prévia de publicações colegiais.
Zelava Pacheco da Silva o renome da Casa.
Publicação no Jornal do Commercio levantara acusação
ao porteiro do Colégio, a de maltratar alunos.
Dava-se pressa o reitor, homem de ponto, em
sindicar providência. Dirigiu-se pessoalmente à redação
do Jornal, comunicou-lhe o resultado do inquérito, o porteiro
chamando à responsabilidade aquele órgão de imprensa.
Pacheco informa-se do número exato de aulas
dadas. Apresentava-se nas mesmas. Quando nalgumas
notava atraso de alunos oficiava à Inspetoria de Instrução,
externando com franqueza seu modo de pensar: —
A bem do ensino consultava o reitor Pacheco a
Inspetoria a cargo do Barão de São Félix, o professor de
medicina Dr. António Félix Martins. Dizia-lhe:
"Deve um professor ocupar-se unicamente dos que
podem dar boas lições deixando entregues a si sós os
outros que por sua idade ou compreensão menos feliz o
não podem fazer contentando-se em chamá-los à lição de
quando em quando, expl icando as l ições em forma
académica sem se importar que todos entendam ou não?
Nunca pensarei assim. O Governo colocou-me à
testa deste estabelecimento para velar pela execução das
leis que o regulam, eu faltaria a deveres se carecesse de
zelo e atividade no desempenho do honroso cargo que me
foi conferido".
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Mais um ano de reitoria venceu Pacheco em 1858. Chegou a época dos exames, prestados os do 7o ano, por processo diferente do até então adotado.
Houve dia marcado para as provas escritas e orais de cada disciplina. A votação seria final, matéria por matéria, em geral os exames presenciados pelo Imperador, das 11 da manhã às 5 da tarde e além, já escuro.
Findas as provas, aprovados uns, reprovados outros, raiava suspirado dia, o da distribuição de prémios e colação de grau a 24 de dezembro de 1858, dia bem próprio, pelo Natal, para santas alegrias.
A Sala Nobre do Colégio, muito comprida, tinha numa das extremidades uns quartinhos onde se alojava a música. Na ponta oposta erguia-se o trono, com duas cadeiras douradas, para o Imperador e a Imperatriz. Não longe dos sólios, alçados sobre estrados, havia extensa mesa coberta com pano verde. Sentavam-se à mesa o Ministro do Império, os reitores do Externato e do Internato e os professores.
Dois trechos musicais soavam, infalíveis na cerimónia: — O Hino da Independência e um trecho da "Stabat Mater" rossiniano.
Acolhia o Imperador e a Imperatriz o Hino Nacional executado à porta do Colégio pela banda de música da guarda de honra.
Começava a distribuição de prémios, estes, livros ricos, apropriados à idade do recompensado. Conduziam os prémios dois alunos menores até o Imperador e a imperatriz que para entregá-los, tomavam-nos de bandejas de prata, bandejas com pé. Muitos dos bacharelandos viam-se premiados, com obras de latinidade ou de filosofia.
A entrega dos prémios era feita pelo Imperador e pela Imperatriz, bondosos para com todos os laureados, mormente para aqueles cujas famílias mantinham conhecimento mais próximo com o par imperial.
Assim, premiado em 1858, disse o futuro Visconde de Taunay: — "Ao chegar diante dos Imperantes, deles recebi um olhar tão bom, tão meigo, tão enternecedor, de
verdadeiros pais a partilharem a alegria de um filho, que medi, desde então, a verdadeira afeição que me dedicavam como primogénito de quem lhes era bom e leal amigo: — Félix Emílio Taunay".
Fora este, mestre de Grego, História Universal e das Artes, de Desenho, do Imperador e o discípulo o recompensou dizendo ao primogénito, o bacharel de 1858: — "Por mais distante que eu olhe para meu passado, sempre me recordo de haver visto o seu bom Pai e com ele estado a conversar".
Mais tarde, no exílio, em Cannes, conversando com Ferreira Viana, sobre os guias de sua educação, dir-lhe-ia D. Pedro II, referindo-se no momento a seu preceptor frei Pedro de Santa Mariana, Bispo do Crisópolis: — "Era matemático, mas a quem tudo devo é ao velho Taunay. Espírito vasto, versado em quase todos os ramos dos conhecimentos humanos, este, sim, foi meu verdadeiro mestre".
A presença, constante do Imperador e da sua família, de Ministros de Estado, das pessoas mais gradas do Rio de Janeiro, imprimiam à colação de grau dos bacharéis em letras pelo Pedro Segundo a maior importância e solenidade ao ato anual.
Não duvidemos: alguns a ele sem dúvida só compareciam para que o Imperador os visse.
Aos bacharelandos a cerimónia impunha gastos para os quais muitos se preparavam com antecedência, quando favorecidos de pecúnia.
O alfaiate da moda era o Raunier, ao qual se dirigiam os bacharelandos mais endinheirados, para uma casaca, um colete e uma calça desejados a primor.
Segundo a praxe, o bacharelando devia ir de casa ao Pedro Segundo de coupé. puxado por parelha de cavalos brancos e cujo aluguel por horas custava muito caro, pelo menos cem mil réis, despesa fabulosa no tempo. Daí alguns bacharelandos repartirem gastos, dois no mesma carro.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837-1937
Aquelas despesas nào se limitavam ao graduado, abrangiam a família dele. em todo o tempo senhoras se apresentando de ponto em branco, faceirando-se jovens.
Dez bacharéis contou a turma de 1858, da qual mais notório se tornou o Visconde de Taunay, tendo por êmulos Agostinho José de Souza Lima, lente de Medicina, autoridade em Medicina Legal, e José Viriato de Freitas, lente de Direito e mestre também na matéria.
Aos dez bacharelandos do Externato ajuntaram-se dois do Internato. Deste se tinham transferido para o Externato, quando dividido administrativamente o Colégio e reformado seu plano de estudos.
Foram aqueles bacharéis, os primeiros do Internato, Cândido José Rodrigues Torres e João José de Moura Magalhães. Torres, parente do Visconde de Itaboraí seria deputado geral, depois Ministro do Brasil em Haia, em 1873, agraciado pelo governo português com o título de Visconde de Torres, nosso último ministro-residente em Haia, onde não tivemos representante diplomático de 1878 a 1893.
Possuía Cândido Torres veleidades literárias, extraindo do Sul, Olinda e Recife, os gloriosos cursos jurídicos do Norte. Cândido Torres, em 1868, teria a coragem de combater Itaboraí, Presidente do Conselho e tio do oposicionista, exigindo dele nada mais nada menos do que proposta de paz a Solano Lopes.
Tinha Cândido Torres veleidades literárias, extraindo de D. Quixote um drama, aproveitando na obra de Cervantes, entre imaginação e sátira, o episódio de Cardênio.
Em 1858, um dos primeiros bacharelandos do Internato, longe estava Cândido Torres, ainda de brilhar na vida. Entre os bacharelandos de 24 de dezembro de 1858, completa a distribuição de prémios, viera Cândido Torres prestar juramento aos Santos Evangelhos para receber o barrete branco.
Refere um dos bacharéis do dia, Taunay, ter ocorrido curioso incidente na solenidade. Por enfermo não pôde acudir a esta António Ildefonso Nascentes Burnier.
Constituiu representante para tomar grau por ele. O procurador "sui generis" foi bacharel do ano anterior, Costa Ferraz, depois bem conhecido médico, e espírito sempre
original. Dando dela prova precoce, intentou Costa Ferraz,
dizendo-se já bacharel, ficar com o gorro branco à cabeça durante o ato e na presença do Imperador.
Proibido de tal, Costa Ferraz, representando Burnier, que faleceria pouco depois, não se eximiu de beijar como os demais colegas, a mão de D. Pedro Segundo e de D. Thereza Christina, bondosa a ponto de merecer o cognome de Mãe dos Brasileiros.
Nas colações de grau, como de estilo, discursava o professor de Retórica, lendo peça cheia de considerações históricas ou literárias de conselhos e advertências aos bacharelandos.
Em 1858 orou o lente de Retórica, Cónego Fernandes Pinheiro, desfavorecido de voz, mas muito querido de alunos.
O discurso do professor, como se dizia então, de Poética e Eloquência nacional rematava colação de grau.
Despediam-se o Imperador e a Imperatriz, ao som do Hino Nacional, invariavelmente seguidos até à porta da rua, atapetada de folhagens, pelo reitor e pelos professores incorporados.
Os novos bacharéis dirigiam-se para casa, no famoso coupé de cavalos brancos, não sem se demorar alguns na entrada do Colégio para serem melhor contemplados.
O Imperador e a Imperatriz rumo de São Cristóvão, afastava-se a guarda de honra ao som de dobrado de sua banda de música.
Voltava a Rua Larga de São Joaquim ao sossego, da cerimónia restando na via pública folhas de mangueira e canela e requisitadas com antecedência, e fornecidas pelo Horto Botânico da Lagoa Rodrigo de Freitas.
Cada qual no seu bairro, eram os bacharéis esperados pela vizinhança, aglomerada às portas e janelas para observar a chegada do recente triunfador.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Vinham visitas cumprimentá-lo, enchia-se a casa de amigos e parentes, e não raro opíparo jantar ou animado baile acabavam dia inolvidável.
Os próprios professores, os mais folgazões, não se dedignavam de presidir jantares oferecidos por colegas a colegas.
Robora afirmação testemunho de Taunay, bacharel de 1858:
— "Disse-nos: Desfrutava eu o começo das férias quando em casa
apareceu comissão de bacharéis, três dos meus colegas e mais o Dr. Souza (Dr. António José de Souza, professor de Latim no Colégio), a fim de pedir a meus pais consentissem fosse eu assistir ao jantar que um rapaz de nossa turma nos dava. O primeiro movimento de meu pai foi recusa...
— Vai ser um bródio formidável e Alfredo é capaz de perder-se! Mas enfim, ponderava minha mãe, vendo o desejo louco que eu tinha de ir, já não é mais um fedelho, precisamos conceder-lhe alguma liberdade".
Aí usaram meus pais ardilzinho, que prometi confirmar pela minha atitude durante aquele banquete e com efeito confirmei por escrúpulo de consciência. "Alfredo irá, concordou meu pai, mas como está bastante adoentado, não comerá nada que lhe possa fazer mal, e torno o Dr. Souza responsável de qualquer transgressão na meia-dieta em que se acha".
Todos prometeram vigiar-me e lá partimos de carro. De fato o jantar foi opíparo; mas mantive boa a palavra dada a meu pai, e voltei bem cedo para casa, enquanto os outros convivas faziam mil diabruras".
Tudo a demonstrar época, costumes e de envolto com estes sentimentos de família. Eram levados a ponto de mandar esta fechar a casa quando algum dos seus jovens habitantes sofria reprovação.
Privava-se, espontaneamente, o desditoso de sair à rua dias e dias, evitando qualquer pergunta indiscreta ou amarga.
Acendrados, declaravam-se igualmente, sent imentos de solidariedade entre colegas e condiscípulos. Colega da turma de 1858, revivendo aqueles sentimentos, conservou-nos memória, no fim da vida, o Visconde de Taunay.
Salvou um pouco do olvido aquele Burnier, representado na colação de grau pelo excêntrico Costa Ferraz, fazendo tanta questão do barrete à cabeça, diante do Imperador.
Nascentes Burnier, faleceria em 1860, dois anos após o bacharelado por procuração, morrendo em Juiz de Fora, minado pela tuberculose assassina de tantas juventudes, antes dos 18 anos de idade, e cursando estudos jurídicos.
Versejava Burnier, com extrema elegância e adorável naturalidade desde os 12 anos — atesta-nos o condiscípulo Taunay — e reunia poesias, repassadas de melancolia e profunda tristeza, num livrinho intitulado Cantos dos Quinze Annos, tomando por epígrafe, dolorosa previdência, significativo e bem adequado verso — Poete, il n'a vécu que la saison des roses.
Além de ter deixado no Colégio fama de espírito superior sobre excelente estudante, irmanou-se um tanto na precocidade poética com Álvares de Azevedo, também da Casa Ilustre. São aproximáveis os Cantos dos Quinze Annos da Lyra dos Vinte Annos, falecidos Álvares de Azevedo e Nascentes Burnier, quando cursavam estudos jurídicos, aquele no 5o ano em São Paulo, e este no 1 ° em Recife.
Tudo mostra tendência para o cultivo das letras nos estudantes do Colégio, também propensos a pilhérias, nem sempre de bom gosto, mas reprimidas por quem de direito.
Certa vez, no Jornal do Commercio, apareceu anúncio em aviso de feriado na véspera de São Pedro. Deu-se pressa o reitor Pacheco em contravisar professores e alunos, muitos dos quais entretanto compareceram no Externato no dia anunciado de féria. Reclamando o, autógrafo da publicação na tipografia, teve razões o reitor
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837-1937
Pacheco em atribuí-la a aluno do Internato. Disto deu logo ciência ao reitor do Internato, para devida sindicância e Dunicão do culpado se descoberto.
Não há notícia de o haver sido. Riu-se à socapa na ocasião para mais tarde talvez sentir peso de consciência.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Alunos em aula de ginástica sueca, no Internato - 1908. Foto em exposição no Museu do Colégio
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 -1937
O Colégio de 1859 a 1860 • Confraternização do Externato e Internato • Ensino de
Ginástica • Professores e Repetidores em 1859 • Bacharéis de 1859 • Ministros do
Império de 1859 • Aulas Suplementares • Aula de Dança • Finanças do Colégio
Ano Letivo de 1860 • Novos Professores • Morte do Bacharel Gonçalves •
O Colégio de 1861 a 1865.
VII O Colégio de 1859 a 1865
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Em 1859 entrava o Colégio em 21° ano letivo, à frente
ainda do Externato o Dr. Pacheco da Silva, em 3o
ano de reitorado. Regia o Internato o Dr. Joaquim Marcos
de Almeida Rego, duas vezes colega de Pacheco, no cargo
administrativo e na profissão médica.
Confundiam-se a vida de Externato e Internato,
embora separados por distância, na época considerável,
Rua Larga de São Joaquim de um lado, chácara do Matta
na Rua de S. Francisco Xavier, do outro e oposto.
Reitores e vice-reitores do Colégio, professores e
funcionários das duas seções do estabelecimento viviam
em constante comunicação. Carecedor de qualquer auxílio
material, o Internato recorria logo ao Externato. Tal fora no
momento da instalação do primeiro, assim depois, uma
seção procurando rivalizar com a outra.
Assim, inaugurada aula de Ginástica, construído
pórtico no Internato para a disciplina e seus exercícios,
em breve o Dr. Pacheco pedia ao governo levantamento
de pórtico de madeira para o mesmo f im no Externato.
No ano letivo de 1859 seria alvitrada e posta em
execução medida vedando aos professores do Colégio
ensinar em colégios e casas particulares as matérias das
quais pudessem ser examinadores, no Internato ou
Externato.
A regra geral conheceu exceção, a bem do professor
de Italiano, o Dr. De Simoni, de aula facultativa pouco
frequentada.
Beleza suprema da justiça é tocar a todos. Abriam-
se, p o r é m , exceções em favor de a lunos quando
c i rcunstânc ias especiais jus t i f i cavam um pouco de
transgressão ao regime do Internato. Ainda assim só o
Ministro do Império podia ser juiz da exceção.
Em 1859, o Ministro Sérgio de Macedo autorizava
uma. O reitor do Internato permitia que aluno de 11 anos,
filho do Barão de Muritiba, o Senador Manoel Vieira Tosta,
"em atenção ao seu estado de saúde pudesse ir todos os
domingos à casa paterna". Mas acrescentava o ministro
"menos que não deva ser retido por castigo ou que não
haja outro motivo inconveniente à sua saúde". Favor não
invalida disciplina.
Guarda o arquivo do Internato, na correspondência
do Ministério do Império com a respectiva reitoria, curioso
documento favorável a pai de família chamado Marquês
de Caxias.
"Sua Majestade o Imperador, atendendo ao que
representou o Marquês de Caxias, há por bem permitir
que Luiz Alves de Lima, filho do suplicante, e aluno desse
Internato, possa depois do toque de recolher, sair desse
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837-1937
Estabelecimento para ir dormir na casa paterna, enquanto
est iver doente. O que comunico a V.Mce. para seu
conhecimento e execução.
Deus Guarde a V.Mce.
Marquês de Olinda".
O favor não era gracioso. Há disso prova terrível, a
da morte. O segundo Luiz Alves de Lima, varão único na
descendência de Caxias, desaparecia adolescente e quem
sabe quantos sonhos alimentava para o fi lho, sempre
lembrado, o glor ioso pai, so l ic i tante de 1859. Não
continuara Caxias, alt ivamente, a carreira magna do pai,
o brigadeiro Lima e Silva, o Regente do Império?
Quem concedia graças também as retirava. O
ministro Ferraz mandava declarar ao reitor do Internato
importar a reprovação do aluno gratuito em duas matérias
perda imediata da gratuidade.
Em 1859 começaram os dirigentes do Externato e
do Internato a cogitar das desvantagens dos repetidores
em exercício acumularem cargos nas duas casas do
Colégio, fiéis os reitores ao preceito de ninguém poder
bem servir a dois senhores.
Sem maiores tropeços decorreu o ano letivo de 1859,
ao f im do qual se graduaram somente seis bacharéis do
Externato, três dos quais mais notórios em subsequente
vida pública: — Francisco Belfort Duarte, deputado geral
pelo Maranhão e orador parlamentar apreciado; João
Joaquim Pizarro, facundo lente de Botânica da Faculdade
de Medicina do Rio de Janeiro, e o Dr. João Pinto do Rego
César, médico de muita reputação no Rio de Janeiro,
tornando-se nele figura da cidade, decano dos bacharéis
em letras até 1 de janeiro de 1935, data do seu falecimento,
nascido Rego César em Porto Alegre a 14 de dezembro de
1839. Era homem de bem na maior extensão da palavra,
digno de saudade do Colégio.
Dependia este de duas entidades administrativas, o
Ministério do Império e a Inspetoria-Geral de Instrução
Pública Primária e Secundária do Município da Corte.
Em 1859 as reitorias do Externato e do Internato
t iveram de subordinar-se a três Ministros do Império, ao
deputado Sérgio Teixeira de Macedo, ao Senador Ferraz,
interinamente, e ao deputado João de Almeida Pereira Filho.
Em fevereiro de 1860 abriam-se as aulas do Colégio,
presentes às nove horas da manhã, no Externato, 148
alunos, 11 gratuitos meio pensionistas e 34 externos, num
total de 45 gratuitos para 103 alunos contribuintes. No
Internato a abertura das aulas sempre sofria um pouco
mais demora para espera de colegiais, muitos regressando
de lares longínquos.
Propôs então ao governo, o reitor do Internato,
aumento anual de 20S000 nas pensões dos alunos e
extinção dos pensionistas de 2a classe. Ouvida a seçào
do Império do Conselho de Estado, respondeu o Ministro
Almeida Pereira ao reitor, não poder ser aceita a proposta
"nas circunstâncias da vida de então, não convindo
dificultar os meios de instrução".
Insistiam muito os reitores na conveniência de
possuir cada seção do Colégio repetidores privativos,
assim como na vantagem da criação de aulas, cadeiras
dizia-se na época, suplementares para desafogo das lições
de professores efetivos. Chegaram os reitores a alvitrar
também a criação de professores substitutos, transitório
o caráter dos suplementares.
Autorizada cadeira suplementar de Matemát ica
entraram a requerê-la Benjamin Constant Botelho de
Magalhães, José Arthur de Murinelly, Jorge Eugênio de
Lossio, e Seiblitz e Joaquim Inácio do Couto.
A presença de 100 alunos no 1o ano determinava a
criação de cadeiras suplementares qual a de Matemática.
Foi a cadeira suplementar de Português confiada ao
repetidor Dr. João da Cruz Santos, a de Francês ao repetidor
Simeão Pereira de Moraes, a de Geografia ao professor
e f e t i v o Gonça l ves da Si lva, a de M a t e m á t i c a ,
interinamente, a Benjamin Constant, a de Doutrina Cristã
a José Manoel Garcia.
Seria este, mais tarde, secretário e professor efetivo
do Colégio, autorizado por Eusébio de Queiroz, Inspetor
da Instrução Pública, a lecionar Doutrina Cristã, por clérigo
ESCRAGNOLLE DÓRIA
"in minoribus". A tanto ninguém podia ascender sem aprovação do respectivo diocesano nas matérias teológicas exigidas pelos cânones. Tais matérias tinham sido estudadas por José Manoel Garcia no Seminário Episcopal de Santo António, em São Luís do Maranhão, terra natal de Garcia, mestre em artes pela Universidade norte-americana da Pensilvânia.
O ano letivo de 1860 assinalar-se-ia no Colégio pela criação da aula de Dança ante o desejo manifestado por muitos pais de alunos de iniciarem os filhos nos passos e meneios da coreografia comedida da época, arte de recreio e salão sem apelo à voluptuosidade disfarçada em diversão, no respeito mútuo de dois sexos instruídos pelo lar.
Dirigida por Júlio Toussaint, inaugurava-se no Externato a aula de Dança, na tarde de 29 de setembro de 1860. Servia de complemento à instrução fornecida pelo Colégio, compreendendo a aula conhecimento das regras de civilidade social então apurada.
Em fins de 1860 um decreto estatuía novo regime de matrículas, declarando o Governo a renda do Colégio arrecadável pela Recebedoria do Município Neutro, com escrituração especial. Em consequência foram recolhidas ao erário público as apólices patrimoniais do Colégio. Satisfaria o Tesouro os compromissos pecuniários do estabelecimento, suprimido o cargo de tesoureiro, transferidas atribuições dele aos escrivães do Externato e do Internato.
Não cuidava, porém, só o Ministro do Império dos dinheiros públicos, também da presteza no serviço ainda público, expedindo-o as atribuições dele aos escrivães do Externato e do Internato.
"Havendo muitas vezes demora nas informações que se exigem das Autoridades, Repartições e Empregados sujeitos a este ministério, do que resulta inconvenientes para o serviço público: — cumpre que V.S., quando lhe for exigida alguma informação, dê toda pressa em satisfazê-la.
O que lhe hei por muito recomendado".
Ambas as seções da Casa graduaram bacharéis em
1860, o Externato 6, o Internato 4; formando estes a
segunda turma de bacharelandos do Internato. A do
Externato forneceria à Faculdade de Medicina dois lentes:
— Domingos José Freire e António Caetano de Almeida.
Desde a criação em 1837, a vida do Colégio ia a par
da vida nacional, expressa sobretudo no Rio de Janeiro,
passado para este, em 1763, o vice-reinado do Brasil antes
na Bahia. A influência do centro sobre a periferia cada
vez mais se acentuaria.
Dos sucessos sociais também participava o Colégio.
Viera da quarta Regência, presenciara a Maioridade, o
encerrar em 1848 do ciclo fratricida das lutas civis do
Império. Conheceu Segundo Reinado para receber de quem
o representava, D. Pedro Segundo, a mais decidida e
desvelada proteção desdobrada em amor e vigilância. Era
o Colégio a menina dos olhos azuis do Imperador, desde a
inauguração presente às solenidades do estabelecimento,
depois às suas aulas nas quais, inspetor escolar coroado,
observava professores estimulando alunos.
Sempre sob tais auspícios, pregressos e presentes,
inaugurou-se no todo do Colégio, Externato e Internato, o
ano letivo de 1861.
Nele, recebia o Colégio, a título efetivo, professores
já nele conhecidos. Designado para reger a cadeira de
Ciências Naturais, honrada no mais alto grau pelo Dr. Emílio
Joaquim da Silva Maia, um dos novos catedráticos, Sá e
Benevides, era filho da Casa, por ela bacharelado em
numerosa turma de setimanista, os de 1853. De tal turma
haviam participado Henrique Pereira de Lucena e José
Ladislau Terra, uruguaio. Lucena desempenharia papel
político notório no Império e na República, presidente de
Pernambuco no momento da Questão Religiosa movida
pelo Bispo D. Vital, partícipe na República do golpe de
Estado de 3 de novembro de 1891 dissolvendo o Congresso,
Nacional. José Ladislau Terra atuaria na política do Uruguai,
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 -1937
aí senador, e mais tarde o filho, em visita oficial ao Brasil, relembraria o bacharelando paterno no Colégio de Pedro Segundo.
Oito anos depois de bacharelado o colega de Lucena e Terra, António Maria Corrêa de Sá e Benevides, a lecionar então Matemática no Colégio, passava nele a proprietário da cadeira de Ciências Naturais, também por ele professada no Seminário de São José.
Benevides era campista, nascido fluminense em 1836. Moço, de trinta e cinco anos, tinha amor à Casa onde se instruíra e procurava honrá-la. Entrava para o corpo docente com o Cónego Félix Maria de Freitas Albuquerque e o Dr. Felipe da Mota Azevedo Correia, nomeados professores efetivos de Religião e Inglês.
O Cónego, depois Monsenhor, Félix Maria de Freitas Albuquerque, era português, de Coimbra, beneditino professo no mosteiro da Bahia. Secularizado exerceria no ofício eclesiástico cargos importantes, 8o pároco colado da freguesia de N. S. da Apresentação de Irajá, inspetor da Capela Imperial, confessor de D. Pedro Segundo e D. Thereza Christina, finalmente vigário capitular por morte do bispo Monte, de 1863 a 1866, vigário geral até morte, em 1883.
Fortalecido o corpo docente com a nomeação de bons professores efetivos, para maior regularidade do ensino, os reitores Pacheco e Almeida Rego, responsáveis pelas duas casas do Colégio, continuaram atentos aos interesses pedagógicos das respectivas seções. Em geral as providências tomadas para uma seção logo na outra se refletiam.
No Externato, naturalmente de frequência superior à do Internato, a reitoria Pacheco, em junho de 1861, pugnava pela divisão das aulas em três turmas, e na verdade em turmas numerosas só há ensino em bolo.
Consentia a Inspetoria de Instrução na divisão proposta, reduzindo as turmas de três a duas. Em longo sobre expressivo ofício respondia Pacheco ao Inspetor Félix Martins, dizendo com independência: — "Sou obrigado,
Exmo. Sr., a entrar em minuciosas referências para esclarecer V. Ex.a de tudo que há a esse respeito, para que nem a V. Ex.a, em coisas que são importantes, nem a mim, caiba a pecha do — não cuidar — nem a maldição dos pais. Quanto a falta de dinheiro nada posso dizer a não ser onde não há el-rei o perde"..
Como em 1861 recebia o Colégio novos professores, a 18 de junho de 1861,perdia um dos seus bons sobre estimados docentes, o bacharel em letras João António Gonçalves da Silva, cuja perda acentuava a reitoria.
Não só a reitoria também o corpo discente manifestou consternação grande pela morte do esforçado professor.
Outro afastamento, com causa bem diversa, ocorreria em 1861, o de um professor do Externato, sob ação criminal por injúrias. Convidou o reitor Pacheco um bacharel em letras dos mais distintos da classe, Manoel Thomaz Alves Nogueira, para substituição do professor afastado de funções. Recusou-se Thomaz Alves alegando necessidades de ultimar "trabalhos académicos".
Empregando frase feita, a chave de ouro de todos os anos letivos do Colégio era a solenidade da distribuição de prémios e da colação de grau.
Diminuta foi a turma de bacharelandos do Externato em 1861, formada apenas por cinco bacharéis, menor ainda a do Internato de sextanista único. Entre os setimanistas do Externato, figurava Benjamin Franklin Ramiz Galvão, cuja individualidade se iria afirmando no decurso do tempo e na cultura do país, sobretudo na pedagogia, no magistério superior de medicina, na direção do ensino, sem lhe esquecer serviços prestantíssimos como diretor da Biblioteca Nacional.
A 3 de fevereiro de 1862, abriam-se as aulas do Colégio, afluindo 215 alunos no Externato. Dois dias antes, referendado pelo Ministro do Império, José Ildefonso de Souza Ramos, membro do Ministério Caxias de 1861, um decreto alterava o ensino no Colégio. Reduzia-lhe disciplinas, tornando facultativo o estudo do Alemão, do
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Italiano e das Artes. Tornar facultativo é meio fácil de suprimir estudos. Acabava o Decreto Souza Ramos com o curso especial de 5 anos, os exames de T ano prestados somente quanto às matérias do ano. Para cada matéria de exame final haveria duas provas, a escrita e a oral, para as matérias de promoção unicamente se exigiriam provas orais.
Antes de inaugurar-se o ano letivo de 1862, o Ministro do Império, ainda Souza Ramos, tratava do aumento do edifício do Internato, ouvindo previamente dois professores da Academia Imperial das Belas Artes.
Sem incidentes de monta, decorreu o ano letivo de 1862. Nele passaria a secretário do Externato, o professor José Manoel Garcia, e começaria a lecionar História Universal o Dr. Francisco Inácio Marcondes Homem de Mello, em 1877 Barão Homem de Mello.
Entrava a lecionar, após concurso, disputando cátedra a valente contendor, o Dr. Cortines Laxe. Era Homem de Mello aquisição de proveito para o Colégio, privado do professor Malheiros.
Assim Martim Francisco 3o definiu Homem de Mello: — "foi, era e ainda depois de morto continuava a ser: o homem que sabia História".
E sabia mesmo. Por baixo da farda do Conselheiro da coroa (Ministro do Império, Homem de Mello, em 1881) sentia-se a beca do professor; tal foi por concurso que teve data nos fastos intelectuais do país, sobejando para isso a circunstância de ter como contendor o talento brilhante de Cortines Laxe, foi professor ainda aos oitenta anos, trôpego, cego.
No Pedro Segundo de 1862, como antes, o ensinamento literário ia a par do religioso. Nas duas seções do Colégio celebrava-se missa aos domingos, com homilia para compreensão do Evangelho do dia, prática suspensa por algum tempo no Externato, não autorizado o reitor a despesas com a capela.
Domingo a domingo, com ou sem missa, chegou a termo o ano letivo de 1862, assinalando, a 2 de dezembro,
25° aniversário da fundação do Colégio. Ainda vivia o Marquês de Olinda, dela criador como Regente do Império, morto o seu insigne colaborador, Bernardo de Vasconcellos, arrebatado pela febre amarela em 1850.
A turma de bacharelandos do Externato, em 1862, compunha-se de oito alunos, a do Internato de seis. Salientou-se na primeira José Pereira Rego Filho, que, médico, prestou muitos serviços ao país, notadamente à Academia Imperial de Medicina, da qual anos e anos, foi alma como secretário geral. Daí merecer, por ocasião do jubileu como membro da associação, o colocar de seu busto em bronze, obra do emérito escultor Pinto do Couto, na sala das sessões da Academia.
Na turma do Internato, em 1862, figuraram João José de São Paulo e Galdino Fernandes Pinheiro, o qual dedicado à vida agrícola, continuou trato de letras. Com o pseudónimo de Galpi, tirado do próprio nome, escreveu Narrativas Brasileiras e romance de costumes nacionais, O Flor.
Decorreu em calma o ano letivo de 1863. O Externato era dirigido por Pacheco da Silva, o Internato por Almeida Rego, sempre fiscalizado o ensino pela imperial instância superior, a ponto de exigir esta lhe fosse presente, em separado, a relação dos professores menos assíduos, pois o Imperador desejava conhecê-los. No momento da celebração no Colégio do centenário natalício do patrono, em 1925, o orador oficial do Colégio proclamou sem exagero, D. Pedro II o maior inspetor escolar do Segundo Reinado.
Vigiados pelo soberano, os Ministros do Império faziam igualmente muita questão, senão real. aparente, da assiduidade dos professores do Colégio. Tendo, em 1863, o professor de Latim do Internato, Gabriel de Medeiros Gomes, requerido continuação no magistério, com aumento de 5a parte de ordenado, o Ministro. Marquês de Olinda, pedia ao reitor do Internato informação do "número de faltas dadas pelo professor, desde início do , exercício no Colégio".
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 -1937
Na turma de bacharelandos de 1863, no Externato.
teriam subsequente relevo intelectual, científico e social
os médicos Santos Titara, Rocha Lima e na turma do
Internato, os médicos Furquim Werneck, prefeito do Distrito
Federal na República, e Pedro Afonso de Carvalho Franco,
lente de medicina e operador de nota.
Seria o ano letivo de 1864 assinalado por nomeação,
de certo, grata ao Colégio, designado o antigo segundo
reitor, Dr. Joaquim Caetano da Silva, Inspetor da Instrução
Pública.
Na turma de bacharéis de 1864, contavam-se, por
parte do Externato, Alfredo Piragibe, futuro diretor do
Internato, e por parte deste, João Baptista de Lacerda,
médico como Piragibe, diretor do Museu Nacional e
p r e s i d e n t e da A c a d e m i a Imper ia l de M e d i c i n a ,
recomendando-se por trabalhos de ordem científica, assim
a aplicação do permanganato como antídoto ofídico.
Da severidade e minúcia com os quais o Governo
Imperial part icipava da vida do Colégio, não fa l tam
exemplos, mesmo porque, o Ministro do Império, nos
despachos semanais, presididos pelo Imperador, em São
Cristóvão ou no Paço da Cidade, era obrigado a estar ao
corrente de quanto sucedia no Colégio, para de pronto
responder por ele ante D. Pedro II.
Em 1864,perdeu o Colégio bom professor, Homem
de Mello, pouco antes provido na cátedra de História, após
provas de concurso. Nomeado Presidente da Província
natal, São Paulo, para aceitar nomeação teve de renunciar
a cátedra. Era Ministro do Império José Bonifácio, o Moço,
lente de Direito. Obtemperou a D. Pedro II não existir
incompatibi l idade entre o cargo de professor e o de
presidente de província, de natureza transitória este,
dependendo de conf iança de governos por sua vez
substituíveis.
O Imperador discordou do ministro, observando: "Eu
só governo duas coisas no Brasil: a minha Casa e o Colégio
de Pedro Segundo". Homem de Mello, exonerado de
professor, foi presidir São Paulo, nomeado a 8 de março
de 1864, para desempenhar cargo que deixaria em outubro
do mesmo ano.
Em setembro de 1864, já não era também mais
Ministro do Império José Bonifácio, substituído por outro
lente de Direito, José Liberato Barroso.
A 9 de novembro de 1864, falecia Jorge Furtado de
Mendonça, lente de Latim no Colégio desde a fundação,
em 1864 a lecionar a disciplina no Internato. O reitor deste,
Dr. Almeida Rego, tomou a deliberação de suspender as
aulas do dia, em sinal de pesar; comunicando-o ao
ministro, pela Inspetoria de Instrução. Em aviso entendeu
o superior respondendo a consulta sobre o procedimento
a adotar em caso de óbito de professores, que só o reitor
podia julgar da conveniência do seu ato, não reconhecido
pelo governo como disposição genérica.
Nos anais do Colégio, o ano de 1864, f icar ia
assinalado pela aprovação dos Estatutos do Instituto dos
Bacharéis em Letras, por Decreto de 16 de maio de 1864.
Ato governamental reconhecia instituição pela qual jovens
bacharéis em letras continuavam a recomendar por ensaios
literários a instrução ministrada pelo Colégio.
Em seu nome a Associação dos Amigos do Pedro
Segundo, que no valor da própria individualidade reconhecia
os serviços do estabelecimento a bem da cultura nacional.
Daí merecer a inst i tu ição referência particular nesta
memória, por viver muitos anos, celebrando regularmente
sessões, até magnas, animando vocações literárias, em
viva tradição do Colégio, onde sempre funcionaria o
Instituto dos Bacharéis em Letras. Muitos destes, mal
graduados, p le i teavam logo admissão no Inst i tu to ,
continuando assim a frequentar a casa de ensino de onde
haviam saído laureados.
Foi 1864 tempo de guerra para o Brasil, empenhado
em luta contra o Uruguai. Ano seguinte, o de 1865, não
seria de paz. À campanha do Uruguai, seguiu-se a do
Paraguai, movida por três nações sulamericanas, Brasil,
Argentina e Uruguai, contra o governo tirânico de Francisco
Solano Lopez e não contra o Paraguai, segundo declaração
oficial constante.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
No sobressalto geral da naçáo, ajuntado ao dos lares, direta ou indiretamente atingidos pela guerra, transcorreria para o Colégio o ano letivo de 1865.
Dela, no início, entravam em exercício na regência da cadeira de História e Corografia do Brasil, no impedimento de Joaquim Manoel de Macedo, conterrâneo deste, itaboraíense como ele, Salvador Furtado de Mendonça e Menezes Drumond.
Crescer-lhe-ia fama nas letras na vida pública em carreira consular e diplomática, com bastante luzimento e labor, já na América, nos Estados Unidos, já na Europa, em Portugal. Cegando nos últimos anos de vida, até derradeiros momentos manteve na inteligência e na memória a luz que nos olhos lhe faltava.
Cursava, em 1865, o Internato, o setimanista José Vieira Fazenda. Muito e muito conheceria a história da terra carioca, concorrendo despretensiosamente para divulgação de usos, costumes e sítios do torrão natal, deste benemérito cronista.
O setimanista de 1865, muitos anos depois, em 1915, em Anuário do Colégio, daria testemunho da vida daquele no período de 1860 a 1865.
Por Vieira Fazenda, possível é conhecer a existência colegial do tempo, no Internato, abrigado no Engenho Velho, na chácara do Matta. Vamos evocá-la acrescentando talvez.
Os internos despertavam às cinco e meia da manhã. No verão o sono é encurtável sem dificuldade; no inverno, embora doce a estação no Rio de Janeiro, sair cedo da cama representa não pequeno sacrifício do sonolento do/ce farniente.
Mas às cinco e meia da manhã, sol em raios ou neblina a cobrir a serra da Tijuca, o porteiro do Internato agarrava-se à corda da sineta, enchendo o casarão do Matta de um nunca acabar de badaladas.
No princípio do ano o despertar dos calouros era desagradável. Judiavam com eles os veteranos, os do 2o
ano sobretudo, sequiosos de vingança nas recordações
de vexame de pouco antes. Transformavam calças e mangas das jaquetas dos calouros em verdadeiras roscas, obrigando o 1o anista, com os dentes, a desatar nós da roupa.
Às seis da manhã, os alunos do Internato entravam na capela. Sobre o altar, diz Vieira Fazenda, havia velho livro de orações, impresso em Lisboa, no qual se pedia pela saúde do Rei, do Vigário e do povo da paróquia. Caso o estudante menos prevenido não substituísse tais palavras pelas do Imperador, Reitor e Colégio, era alvo de risota. Acontecia tal quando o aluno, à míngua de prática ou por descuido, lia automaticamente.
Da capela iam os internos para o silêncio, leia-se para o estudo, até oito horas. Às oito e meia, a meninada conhecia o refeitório, seguindo-se recreio até às nove. Principiavam então as aulas até uma da tarde.
Meia hora depois nova ida ao refeitório, para o jantar, "farto e bem feito", atesta Vieira Fazenda: — O menu não trazia surpresas, mas em 1915 provocava ainda "saudades" no setimanista de 1865.
Tudo comida bem brasileira, às quintas-feiras, feijoada completa, às sextas, peixe frito, aos sábados, picadinho com batatas e azeitonas, "cozido suculento", nos domingos sem saída.
Recreios das duas às três, das cinco às seis, das oito e meia às nove da noite, silêncio ou sala de estudos das três às cinco, das seis às oito; e assim decorria a vida dos internos de 1865.
Tinham, pois, quatro aulas diárias, quatro recreios, três horas de sala de estudo.
"Estudávamos a valer", declara Vieira Fazenda. Havia rigor na disciplina, força moral no reitor Almeida Rego, "distinto médico provou-o quando caridoso prestou serviços ao Ceará, por ele presidido em 1851, numa epidemia amarílica, profundo latinista e ót imo administrador".
Em 1915, Vieira Fazenda, ao dizê-lo, ainda se lembrava de Almeida Rego, inspecionando o Internato,
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
precedido por um cachorrinho de estimação. "Podia-se
ouvir voar uma mosca" . Nas aulas quando as moscas
voam o ensino e a disciplina andam.
Dia de sabatina, dia de pavor, sobretudo, na aula de
Grego, mais temidas as de verbos irregulares helénicos.
"Davam cól icas". E acrescenta Vieira Fazenda:
"Schief f ler não concedia quartel , três notas más, só
conquistando um sofrível no t r imest re" . Três notas más
em tr imestre equivaliam, no máximo, a s implesmente
pelo amor de Deus ou, mais certo, a bomba.
Não só o professor de Grego obrigava alunos a
aoristos bem sabidos. Na lista dos exigentes, Vieira
Fazenda colocou os professores de Francês, Lat im,
Geografia, História Natural, Matemática, Inglês, Física e
Química, a saber, Halbout, Jorge Furtado de Mendonça,
Abreu, Benevides, Bôscoli, Mota e Silva Lisboa.
No rol dos benévolos figuravam os professores de
Retórica, História e Corografia do Brasil, Latim, nomeados
Fernandes Pinheiro, Macedo e Lucindo dos Passos.
Ao rigor da disciplina do reitor Almeida Rego, com
propriedade dizia amen o monge beneditino frei José da
Pur i f i cação Franco, v i ce - re i to r , levando à r isca a
manutenção da ordem. Os colegiais comparavam o vice-
reitor à "sogra" .
Fumar constituía crime passível de prisão simples,
privação de recreio por três dias, na reincidência recolhidos
os delinquentes à cafua, sob uma escada. Aí o estudante
de História Natural podia solitariamente recordar a matéria,
à passagens rápida de rato ou ao voejar de baratas,
sobretudo em tarde calmosa, quando se assanham.
Isto era, contudo, tristeza evitável. Nem faltavam
alegrias no Internato, sobretudo na festa de São Joaquim,
padroeiro do Colégio todo. Celebrava-se missa festiva nas
duas seções, a da chácara do Matta e a da rua Larga.
Em 1865, a festa de São Joaquim teve, no Internato,
brilho especial, divino e profano. Na capela executou-se
missa de Santos Pinto, professor de Música da Casa. No
edifício do Colégio realizou-se baile mais concorrido que o
de anos anteriores, baile de convites disputados por
famílias da cidade e das redondezas. Danças até duas da
madrugada, no tempo sucesso quase orgíaco. Subscrição
entre alunos aprovisionaram o buffet de doces, sorvetes e
refrescos. Orquestra alemã, a quarenta mil réis por noite,
pôs a girar os pares.
Mostra-nos tudo isto não só vida transata do Colégio
como época, vida recordada por Vieira Fazenda, às vezes
em linguagem bem pitoresca. Em que dia o memorava o
grande cronista carioca? A 8 de dezembro de 1914. Havia,
então ele, quarenta e nove anos antes, recebido o grau de
bacharel em letras, em ato solene, presidido pelo Marquês
de Olinda, presentes o Imperador e a Imperatriz, no salão
de honra do Colégio.
Ao subi r das reco rdações con fessava Vieira
Fazenda, em nome da juventude desvanecida: "Quem não
terá saudades desses tempos que jamais voltarão? Dessa
vida de mocidade na qual tudo é visto pelo prisma da
esperança, embora esta muitas vezes se transforme em
enganadora miragem".
Lembrava-se também Fazenda da grata notícia da
rendição de Uruguaiana, recebida no Rio de Janeiro, nos
primeiros dias de outubro de 1865, desafrontado o solo
brasileiro e sul-riograndense, da invasão paraguaia no
período da guerra ofensiva de Lopez contra a Tríplice
Aliança.
Aos alunos do Internato acarretou a nova da rendição
ordem de saída geral. Em liberdade ensaiaram arengas
patrióticas, deram vivas a D. Pedro II, ao duque de Saxe,
ao Conde d'Eu, aos Voluntários da Pátria. Acrescentaram
ao júbilo algumas amabilidades dirigidas a Solano Lopez,
tirano do seu povo no ensanguentar América do Sul.
Efémero, porém, o feriado de Uruguaiana. Cumpria,
depois dele, aos internos regresso à Chácara do Matta, a
cujo portão estava, tomando nota dos retardatários, o
porteiro Cordovil, outrora soldado, no cumprir ordens
continuando antigo ofício. De pena em punho, não tinha
misericórdia para lançar nomes na lista dos atrasados.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Quem não estivesse à hora marcada, podia contar com a mais desagradável das penalidades: — quinzena de privação de saída. Nenhum empenho livrava do castigo. Cordovil sabia os superiores inflexíveis. Depois de Cordovil, de soldado a porteiro, passou a receber alunos, no Internato, o inspetor José Romualdo de Noronha, ex-ator. Participara da companhia de João Caetano, dele amigo e frequentador da Petalógica, centro de reunião de literatos na loja de Paula Brito, no Rocio, ora praça Tlradentes.
De bela cabeça, um tanto calvo, sorriso a mostrar lindeza de dentes, cara sempre escanhoada, o inspetor Romualdo, compadre de Paula Brito, tinha maneiras à fidalga. Abrandar-lhe rigores era citá-lo como ator que figurara no palco do São Pedro, ao lado de João Caetano. Tal o meio único de torná-lo menos perseguidor de fumantes. Entretanto, como o homem, desde pequeno, é eterno fraudador de leis e disciplina, os fumantes procuravam burlar a severidade do Romualdo, usando fósforos especiais em tirazinhas de couro.
Houve expansões patrióticas da meninada do Colégio, por motivo do feriado extraordinário pela rendição de Uruguaiana, presenciada por D. Pedro II, a declarar-se o primeiro Voluntário da Pátria.
Não se olvidem porém, expansões cívicas de outro género dos alunos do Colégio, anos antes requisitados para participar da inauguração da estátua de D. Pedro I.
Haviam sido, então, os discentes do Colégio, incluídos orfeonicamente no Te Deum entoado por ocasião da estreia do monumento. Principiaram ensaios colegiais na chácara do Internato. Seguiram-se ensaios gerais, no Quartel General da então Praça da Aclamação, atualmente da República. Francisco Manoel dirigia os ensaios gerais, substituindo a batuta por uma bengala, atento aos coros juvenis.
Presenciou o Colégio a inauguração da estátua de D. Pedro I, no Rio de Janeiro, um dos mais belos monumentos do mundo universo. Concebido pelo artista nacional João Maximiano Mafra, fora modificado e prefeito
pelo escultor francês Luiz Rochet. A cidade ficou devendo o monumento à iniciativa da sua Ilustríssima Câmara Municipal, na sessão extraordinária de 7 de setembro de 1854, por proposta do vereador Haddock Lobo. O Senado da Câmara, de onde proviera a Ilustríssima em 1825, já havia aventado a ideia de erigir estátua ao fundador do Império, posto o monumento na Praça da Aclamação ou Rocio, apresentando Granjean de Montigny dois planos para levantamento da estátua, um plano para cada praça.
Não foi adiante o projeto, renovado em 1838, em 1844, em 1852, neste ano, na Câmara Municipal, por proposta do vereador, Dr. Domingos de Azevedo Coutinho Duque Estrada, em 1854, na Câmara dos Deputados e outra vez na edilidade.
Finalmente, a 30 de março de 1862, inaugurava-se a estátua, em presença do Imperador, da Imperatriz, das Princesas, da Corte, do Ministério presidido pelo Marquês de Caxias, da Câmara Municipal e com o concurso da população carioca apinhada no Rocio e no Morro de Santo António.
Após a bênção da estátua, seguiu-se, ao ar livre, a execução do Te Deum, de Segismundo Neukom, presente no Rio de Janeiro, no governo de D. João VI. Neukom recebera lições de Haydn, por seu turno mestre de contraponto de D. Pedro I e de Francisco Manoel.
Dirigiu este o Te Deum executado por orquestra de 242 músicos e 653 cantores, entre eles os alunos do Colégio, bem ensaiados, do Engenho Velho ao quartel do Campo.
Alguns de tais alunos, um deles Vieira Fazenda, chegados à virilidade ou à velhice se jactavam de saber de cor a sua parte no Te Deum de Neukom.
Não muito longe da inauguração da estátua de D. Pedro I, a turma de bacharelandos de 1865, recebia grau. Coisa invulgar, foi a turma do Internato bem mais numerosa que a do Externato, 17 bacharéis do Internato, 7 do Externato. A esta pertencia António Mendes Limoeiro, futuro professor do Colégio, depois de médico. Na turma
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
do Internato figuravam vindouro professor substituto da Casa, o Dr. Afonso Carlos Moreira, e futuro catedrático, o Dr. Custódio Américo dos Santos. Tiveram para colegas, entre outros, José Vieira Fazenda, o cronista carioca, e o foi em ponto pequeno do Colégio, e Joaquim Aurélio Barreto Nabuco de Araújo, a subir na vida nacional.
Em 1865, porém, cursava no Internato último ano de estudos secundários, um paulistazinho de Pindamonhangaba, discípulo conceituado por aplicação e procedimento. Chamava-se Francisco de Paula Rodrigues Alves. O Ministro do Império que, em fins de 1865, lhe impôs o barrete branco do bacharelado, o Marquês de Olinda, certo nem por sombras poderia suspeitar tudo quanto o destino reservava ao jovem bacharel do Internato.
Dados a D. Pedro II e ao antigo Regente do Império dons divinatórios, serviriam a ambos para desvendar até onde chegaria o bacharelando de 8 de dezembro de 1865.
Trinta e sete anos depois, Francisco de Paula Rodrigues Alves, a 15 de Novembro de 1902, Presidente da República, ocuparia o lugar de D. Pedro II, como primeiro magistrado da nação, nomeador de ministros quem das mãos do Marquês de Olinda recebera o barrete branco.
Em 1865 viagem de cientista célebre se assinalaria não só na vida intelectual do Rio de Janeiro, como mais particularmente na existência do Colégio.
Veio ao Brasil, em 1865, Luiz Agassiz, afamado paleontogista e geólogo suíço. Nascido em 1807, no cantão de Friburgo, ainda estudante fora encarregado, por Martius, da descrição de peixes recolhidos no Brasil por Spix e Martius. Transferindo-se para os Estados Unidos, aí fundou Agassiz grande museu zoológico em Cambridge. Atraído ao Brasil, antecipadamente aí contando com a viva simpatia pessoal de D. Pedro II, este levando a mesma simpatia a todos os empreendimentos científicos, no dizer do próprio Agassiz. O célebre geólogo chegou ao Rio de Janeiro em fins de abril de 1865, acompanhado pela esposa, sua colaboradora, e por vários companheiros de excursão, alguns dos quais sócios de diferentes préstimos
na empresa científica de Agassiz. Eram um desenhista, um conchiologista, um ornitologista, um preparador e dois geólogos, estes Frederico Carlos Hartt e Orestes Saint John. Canadense de berço, Hartt consagraria existência ao Brasil onde falecera, no Rio de Janeiro, em 1878, vítima da febre amarela. Morrendo, como desaparecem todos os homens de trabalho e da ciência, pobre e desanimado deixava ao desamparo esposa dedicada, e na orfandade dois inocentes filhinhos, as mais doces esperanças de sua vida, vivida para o labor, para o estudo e para a ciência. Assim disse o Dr. Carlos Alberto de Menezes, traçando biografia de Hartt.
Com Agassiz, em 1865, conheceu-o o Colégio de Pedro Segundo, justa pois, homenagem à sua memória.
Demorando-se no Rio de Janeiro e a ele tornando após viagem ao Amazonas, ao Pará e ao Ceará, Agassiz, amparado pela proteçáo do Imperador e pela estima do reitor Dr. Pacheco da Silva, realizou duas séries de conferências no salão nobre do Externato. De tais conferências, da novidade delas, vai dizer o mesmo Agassiz, na alentada obra ilustrada de sua lavra Viagem ao Brazil, de mais de 500 páginas, com 54 gravuras e 5 mapas, obra traduzida do inglês para o francês por Félix Vogeli, recebendo também a obra colaboração da senhora Agassiz.
Referindo-se às conferências no Colégio, a obra de Agassiz consigna o seguinte trecho a transcrever na íntegra.
Representa atestado não só de cultura, como de importância do Colégio no qual o Imperador, sempre por ele desvelado, fez questão fossem ouvidas lições de honra para a Casa, quais as de um sábio.
Disse Agassiz: — "Estas conferências , a dar crédito aos próprios brasileiros, foram para eles novidade desconhecida e até certo ponto revolução de hábitos. Trabalho científico ou literário é apresentado ao público do Rio em condições especiais e diante de seleto auditório, na presença do Imperador, ante o qual o autor procede
ESCRAGNOLLE DÓRIA
solenemente à leitura do seu trabalho. O ensino popular, consistindo em admitir livremente, todos quantos querem ouvir e aprender, foi causa até aqui desconhecida. A ideia partiu do Dr. Pacheco, diretor do Colégio D. Pedro II, homem de cultura, de espírito verdadeiramente liberal e de grande inteligência ao qual a instrução pública no Rio deve mais de um progresso. A ideia encontrou acolhimento junto ao Imperador, sempre bem disposto quando se trata de estimular o gosto pelo estudo no seu povo. A pedido do Imperador, o Sr. Agassiz deu, em francês, uma série de lições familiares sobre diversos assuntos científicos. Julgou-se muito feliz por poder assim introduzir neste país, um meio de educação popular cuja influência o Sr. Agassiz julgou das mais salutares. A princípio a presença das senhoras foi tida por impossível como inovação demasiado grande nos costumes nacionais; mas o preconceito em breve foi vencido e as portas ficaram abertas para todos, à verdadeira moda da Nova Inglaterra. Se a atenção a mais seguida é da parte de auditório prova de inteligência, manda dizer a verdade que nenhum orador pode almejar auditório mais inteligente ou melhor dotado do que aquele ao qual o Sr. Agassiz teve o prazer de dirigir-se no Rio de Janeiro. Foi, aliás, para ele, gozo, após ensino de mais de vinte anos por meio da língua inglesa, libertar-se dos entraves de idioma estrangeiro e de exprimir-se de novo em francês. Seja como for, salvo raras exceções, a língua materna de um homem torna-se sempre para ele o idioma preferível como o ar ao pássaro, a água ao peixe, o elemento no qual se move à vontade. O Imperador e a família imperial assistiram a estas reuniões e coisa digna de nota, a testemunhar bem a simplicidade dos hábitos imperiais, em vez de ocupar o estrado erguido para ele, a Imperatriz e as Princesas, D. Pedro fez colocar as poltronas destinadas a ele e aos seus, no mesmo plano das demais, como se tivesse querido mostrar que ao menos ante a ciência todas as hierarquias se apagam".
Tornado de viagem ao Norte, Agassiz voltou a conferenciar no Colégio. Do êxito das mesmas disse a obra do professor Agassiz com mostras de conhecimento.
"O Sr. Agassiz terminou esta semana outra série de conferências no Colégio D. Pedro II, sobre a formação do vale amazônico e suas produções. A presença de senhoras nestas tardes científicas não provoca mais comentários, havia-as em muito maior número no auditório do que nas primeiras conferências, nas quais a presença feminina constituía novidade. Nada há mais simpático de que um auditório brasileiro e, isto porque o público do Brasil se assemelha mais ao da Europa do que o norte-americano sempre frio e impassível. Há ligeiro movimento, espécie de comunicação entre orador e ouvintes e se alguma coisa lhes apraz manifestam, não raro palavra de elogio ou de crítica".
Bem antes de Agassiz, dois viajantes, os reverendos pastores Kidder e Fletcher em volumosa e mínudente obra, O Brasil e os Brasileiros, publicada nos Estados Unidos em 1857, haviam se referido em termos lisonjeiros ao Colégio, termos completados pelas expressões de Agassiz.
Segundo Kidder e Fletcher: "Na cidade do Rio a instrução podia ser dividida nas seguintes classes: — a primária, a secundária, e a dos colégios. O Colégio de Pedro Segundo, a academia Militar e a de Marinha, o Colégio Médico, e o Seminário Teológico de São José estão sob a direção do Estado. Nos colégios particulares há aproximadamente 500 alunos.
Nesses estabelecimentos de ensino a mocidade brasileira ascende à montanha do saber. Uma instituição a despertar maior interesse do que qualquer outra na capital do Brasil, foi organizada no fim de 1837, com o nome de Colégio de Pedro Segundo. É destinada a dar educação escolar completa e corresponde, em plano geral, aos liceus estabelecidos em muitas províncias, embora em progresso e proteção, o Colégio de Pedro Segundo se avantaje a qualquer outra instituição da mesma espécie.
A afluência de alunos foi considerável, desde a' primeira organização das aulas do Colégio. Ponto de grande
interesse, relativo à instituição, é a circunstância de expressamente determinarem os estatutos do Colégio a leitura e o estudo das Escrituras Sagradas em língua vernácula. Por algum tempo antes da criação do Colégio, exemplares das Escrituras se achavam em uso em outras escolas e seminários da cidade, nos quais começaram a
ser apreciadas depois do exemplo do Colégio do Imperador".
Não se contentava D. Pedro II em prezar o Colégio, queria-o benquisto no conceito público, eliminando quanto possível o que naquele o prejudicasse. Amar é sobretudo resguardar.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Salão Nobre, após a reforma de Bethencourt da Silva, em 1875. Local de reunião da Congregação e das solenidades magnas.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
VIM O Colégio de 1866 a 1875
Nova Reitoria do Internato • O Colégio e a Guerra do Paraguai • Novos Professores •
Introdução do Sistema Métrico Decimal • Nova Reitoria do Externato •
Professoras de Ensino • O Bacharelando Teixeira Mendes • Reitoria Interina do
Internato • Matrícula do Príncipe D. Pedro Augusto • Nova Reitoria Interina do
Internato • Bethencourt da Silva e o Salão Nobre do Externato •
A Colação de Grau de 1875.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
A no letivo de 1866 transcorreria no Colégio dentro em
mais um ano da luta externa na qual o Brasil ,
aliado à Argentina e ao Uruguai, se empenhava contra o
governo de Solano Lopez. Entretanto, a este o pai,
antecessor na presidência da República do Paraguai, Carlos
António Lopez, instantemente recomendara não combater
o Brasil com a espada, sim com a pena.
Os colegiais do Externato e do Internato, pelo lar,
pelas ag i tações púb l icas ao anunc iar de v i t ó r i as ,
forçosamente participariam da guerra, por muito que a
adolescência seja versátil. Um tudo nada de curiosidade
sempre lhe fica.
Viam escolares um professor, o al feres Pedro
Gui lherme Meyer, iniciador dos alunos nas vol tas e
destrezas da Ginástica, de partida para o Paraguai, a
combater no Exército já em plena campanha.
Coisa não belicosa era a exoneração do mestre de
dança, Júlio Toussaint, valente auxiliar coreográfico das
companhias de João Caetano. Voltava às dançarinas
deixando para subst i tu to de r i tmos e mesuras José
Lourenço de Paiva.
Nem ao in te rnato t a m b é m fa l tavam r i tmos e
mesuras. O Ministro Marquês de Olinda autorizava ao
Internato o pagamento de 2405000 "ao rabequista auxiliar
do professor de dança", concedendo 360S000 anuais à
verba para o den t i s t a e para cabe le i r e i r o do
estabelecimento.
Concorriam os alunos com gosto às aulas de Dança,
naturalmente por facultativas menos frequentadas as de
A lemão e I ta l iano, sempre de d i m i n u t o aud i tó r io .
Goldschmidt lecionava um aluno, De Simoni, onze.
Dia houve, porém, de ficar o Colégio deserto e
danificado por memorada chuva de pedras, da qual muito
tempo se falou no Rio de Janeiro, bombardeado pelo céu.
Só no Colégio a chuva partiu 317 vidros, cuja reparação
nos caixilhos, determinando suspensão de aulas, custou
bem mais de 600S000, atingida a Sala do Retrato, assim
chamada por figurar nela retrato em ponto grande de D.
Pedro II.
Para o Externato isto, para o Internato o ano de 1866
seria assinalado pela retirada do primeiro reitor, o Dr.
Almeida Rego.
Substituiu-o frei José de Santa Maria Amaral, nome
e pessoa das mais distintas do Colégio, nomeado vice-
reitor o padre Sá e Benevides, professor da Casa. Ao Dr.
Almeida Rego, médico, sucedia Santa Maria Amaral, frade,
a religião também medicina de alma.
Ao novo re i tor p res ta r iam obed iênc ia dez'
setimanistas de 1866, em breve bacharéis, entre eles
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837-1937
futuro lente de medicina, Chaves Faria. Nove eram os bacharelandos do Externato, dois vindouros lentes de medicina, Augusto Ferreira dos Santos e Kossuth de Vinelli, acrescidos de futuro jurisconsulto, Carlos de Carvalho.
Sem dúvida a colação de grau de 1866 passaria com sombras de tristeza, como as demais até encerrar a Guerra do Paraguai. Muita gente morria, muita sofria, ao longe ou de perto. Tudo dor no coração do Rio de Janeiro.
Nas mesmas disposições de ânimo público, a refletirem-se nos lares, entrou no Colégio o ano de 1867. Recebeu novo mestre de Ginástica, Valeriano Ramos da Fonseca, substituto de Meyer, no Paraguai.
Da turma de bacharéis de 1867, no Externato, incontestavelmente, o nome de mais brilho seria o de Carlos de Laet, aliás, sempre ufano, vida inteira, do título de bacharel em letras. À turma do Internato pertencia Guilherme Afonso de Carvalho, depois professor do Colégio, aumentando a lista dos docentes filhos da Casa.
No relatório do Ministério do Império, em 1867, pelo Ministro da Pasta, Senador José Joaquim Fernandes Torres, foi apresentada à Assembleia Geral, Senado e Câmara, estatística referente ao Colégio, à vista de informação da Inspetoria de Instrução Pública, a cargo de antigo reitor e professor do Colégio, o Dr. Joaquim Caetano da Silva.
Em 1867 haviam se matriculado no Externato 65 alunos contribuintes, totalmente externos e 14 meio pensionistas, 67 alunos gratuitos, totalmente externos e 13 meio pensionistas, total 159.
No Internato tinham permanecido 95 alunos contribuintes e 20 gratuitos, total 115. Trezentos e quatro alunos contava o Colégio, para que deles prestassem exames 81 , 74 aprovados com diversos graus e 7 reprovados. 10 concluindo curso e recebendo o diploma de bacharéis em letras. Achavam-se matriculados 2.000 alunos em diversos estabelecimentos de ensino particular, alguns dos quais de maior fama, como os colégios Marinho e Victorio, São Pedro de Alcântara, para o sexo masculino, assinalados entre colégios para o sexo feminino os de
Imaculada Conceição, Leuzinger e Taulois. Em alguns
desses estabelecimentos de instrução lecionavam
professores do Colégio, antigos ou futuros, como por
exemplo, no Colégio Pinheiro, os Drs. Joaquim Mendes
Malheiros e Luiz Pedro Drago.
Em 1868, o Colégio seria atingido, por providência
do governo imperial, visando a recompensar bravura extinta
na vida eterna da caridade. Decreto de 1o de fevereiro de
1868, referendado pelo Ministro do Império, Senador
Fernandes Torres, provisoriamente elevava o número de
pensionistas gratuitos. Tal o meio de admitir no Internato,
alguns filhos dos militares falecidos no Paraguai ou
invalidados na campanha.
Premiava também o Governo a longa reitoria de
Pacheco da Silva, outorgando-lhe o título de Conselheiro.
Com ele, de 22 de abril de 1868 em diante, começou a
subscrever correspondência oficial.
Avultando em guerra o ano de 1868, o Colégio, deu
poucos bacharéis, três no Externato, quatro no Internato.
Destacar-se-ia da turma do Externato, José Pedro da Silva
Maia, filho do Dr. Silva Maia, lente do Colégio, o bacharel
de 1868, não só vindouro funcionário da Secretaria da
Guerra como distinto ocupante interino da cadeira de
Literatura do Colégio.
Os bacharéis do Externato, na ausência do
catedrático de História e Corografia do Brasil, Joaquim
Manoel de Macedo, não raro no Parlamento, ouviram lições
de substituto interino. Chamava-se José Maria da Silva
Paranhos, seria o Barão do Rio Branco.
Não só no Brasil o Colégio de Pedro II gozava fama
crescente, a notícia do seu progresso despertava interesse
em patrícios nossos no estrangeiro, prova-o fato seguinte.
Em 26 de outubro de 1869, a Legação Imperial em
Bruxelas, a cargo do Ministro Thomaz Fortunato de Brito,
depois Barão de Arinos, avisava ao reitor Pacheco da Silva,
da partida de Antuérpia com destino ao Colégio de oferta
ESCRAGNOLLE DÓRIA
do referido ministro qual a de coleção de modelos de figuras geométricas em arame, de invenção do professor Stressner.
"As vantagens que para o ensino oferece o novo sistema — dizia o ofertante — me parecem exuberantemente provadas, não só pelo fato de ter sido ele adotado por considerável número de estabelecimentos de instrução pública deste país, como também pelas razões que V.S. encontrará exaradas em parecer incluso".
Aberto o ano letivo de 1869, por licença de três meses, concedidos a Schieffler, lente de Grego, era interinamente chamado a lecionar a cadeira o Dr. Benjamin Franklin Ramiz Galvão, do qual a nomeada o tempo só iria acrescentando.
Entram uns, saem outros, tal a lei da vida, bem de extremidades em berço e túmulo. Da existência saía o mestre de Dança do Colégio, Paiva, entrava no cargo Francisco de Paula Paiva, daquele filho.
Ficava também em cátedra da Casa, por concurso, o professor de História Média e Moderna, o Dr. Domingos Ramos Mello. Não só então se dedicaria à cadeira como estimaria a disciplina publicando, já jubilado, em 1923, Lições de História Universal. Antiguidade, Vinte e Um anos de Magistério no Tempo do Imperador. Obra na qual o autor revela um erudito, a par de todos os adiantamentos da História, e por vezes apreciável pensador. Pena foi a morte não deixar Ramos Mello concluir obra valiosa.
Bastantes anos de magistério lograria Ramos Mello, a jubilação pelo Império concedida aos professores de qualquer grau por cinco lustros de exercício. Em 1869, estava no caso o mestre de Desenho do Colégio, Faria Pardal, a pedir conservação no magistério, também permitida a juízo do governo, mostrando Pardal "necessária atividade e robustez para desempenho de cargo".
A turma de bacharéis de 1869 daria mais tarde ao ensino superior e secundário, quatro lentes: Domingos Jacy Monteiro Júnior, lente de Medicina; Viriato Belfort Duarte, lente da Politécnica, ambos do Externato; Francisco van
Erven, lente da Escola de Minas, e João Henrique Braune, lente do Colégio, os dois graduados no Internato.
Seria 1870 ano de júbilo e desafogo para o Brasil. Terminou nele, a guerra do Paraguai, expiando Solano Lopez, com coragem, de espada em punho, vida sanguinosa, bem característica de tirano divinamente elevado a El Supremo.
No ano letivo de 1870, passado o reitor do Internato, frei Santa Maria Amaral a Inspetor Interino da Instrução Pública, voltaria a lecionar Retórica, no impedimento do catedrático, Fernandes Pinheiro, o havia pouco substituto interino de Grego, Ramiz Galvão.
Embora a título interino, substituindo o catedrático Silva Lisboa, teria ingresso no corpo docente do Colégio, para lecionar Física, o bacharel Agostinho José de Souza Lima, futuro lente de Medicina.
Matéria lecionada no Colégio, sofreria modificação no programa de estudos com a introdução do Sistema Métrico Decimal no Império.
A Lei n.° 1157, de 26 de junho de 1862, referendada por Sinimbu, Ministro da Agricultura do 3o Gabinete Olinda, substituiu, em todo Brasil, o sistema de pesos e medidas vigente e complicado pelo Sistema Métrico Francês.
Nada fácil a mudança e até motivou, no Norte, a revolta dos Quebra Quilos. No Colégio também se operou lenta a introdução do ensino do Sistema Métrico Decimal. No programa pedagógico da Casa, em 1865, ainda se mencionava, logo após o estudo das operações relativas às frações ordinárias, o dos números complexos e operações sobre eles, tudo pela Aritmética de Ottoni.
Desde 1868, o professor de Matemática, João Bernardo de Azevedo Coimbra, pedira ao reitor Pacheco, cessão de sala para ensinar o novo sistema, opusera-se o reitor à concessão, a bem da disciplina, a seu ver já prejudicada pela presença de preparatorianos em exames no Colégio.
Mas pouco a pouco, sem embargo de resistência^ da Inglaterra ao sistema métrico francês, Albion, fiel às
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jardas, o Brasil e nele o Colégio, foi aceitando a morte dos complexos, sepultados o alqueire, a vara, o arrátel.
Substituir o antigo sistema de pesos e medidas pelo novo sistema, não foi única preocupação da reitoria Pacheco. Felizmente o Colégio nunca onerado com dívidas, sem credor de espaço, desejava aumentar-se no Externato, o Internato à folga no Engenho Velho. Para alargar-se e alojar-se, cumpria ao Externato desalojar dois hóspedes, a irmandade de N. S. da Batalha e o Liceu de Artes e Ofícios. Funcionava aquela na igreja de São Joaquim, anexa ao Colégio, este desde a inauguração, a 1o de fevereiro de 1859, também ocupava cada vez mais o templo, não cessando o reitor Pacheco de pugnar por desalojamento.
Pacheco e o próprio governo sofriam obstáculos nas pretensões. Quem dirige pode aborrecer muitos, mas se aborrece muito. Estejam certos disso, os mais incrédulos ou os mais desejosos de proventos e se persistirem na dúvida tentem experiência.
Experiência , de outro género, porém, houve no Colégio, em setembro de 1868, pelo Chefe de Polícia, Francisco Augusto Xavier de Brito, solicitada ao reitor Pacheco devida permissão para no Externato ser feita colocação provisória de telégrafo elétrico, no lugar indicado pela reitoria.
Desde 1868, era Ministro do Império o Conselheiro Paulino de Souza, bacharel em letras. Tendo sugerido ao Parlamento, em 1869, medidas úteis à elevação e fiscalização do ensino, em agosto de 1870 formulou projeto pedagógico.
Projeto de ampl i tude. Criava universidade abrangendo Faculdades de Direito, Medicina, Ciências Naturais e Matemáticas e Teologia. Suprimia Cursos Anexos nas Faculdades de São Paulo e Recife. Dando o Colégio de Pedro Segundo por Padrão ao ensino secundário, Paulino de Souza desejava abrir externatos em São Paulo, Recife e Salvador. Transferia o internato do Colégio para cidade do interior, da província do Rio de Janeiro ou de
Minas. Reorganizando cursos primário e secundário do município da Corte ou Neutro, criava o Ministro uma Escola
Normal. O projeto Paulino de Souza, discutido no Senado,
encontrou contradições. Partiram de dois membros conspícuos daquela
Câmara, versados em assuntos de instrução pública, os Senadores Zacarias de Góes e Vasconcellos e o padre Thomaz Pompeu de Souza Brazil.
Retirando-se Paulino de Souza do governo, com a queda do Gabinete 16 de julho de 1868 e formação do Ministério de 29 de setembro de 1870, o projeto morreu no nascedouro.
Contudo Paulino de Souza teve ensejo, pelo Decreto de 1o de fevereiro de 1870, de alterar regulamentos do Colégio pelo qual se graduara em letras vinte anos antes. As alterações visavam apenas à distribuição de disciplinas, passando a obrigatórias aulas facultativas: Desenho, Música e Ginástica. Nos exames de admissão os candidatos deveriam mostrar-se habilitados em doutrina cristã, leitura e escrita, em noções elementares de gramática portuguesa, nas quatro operações aritméticas fundamentais e no Sistema Métrico Decimal.
Os exames seriam de suficiência ou finais, estes realizados no Externato, a aprovação nos exames finais conferindo os direitos dos exames prestados na Instrução Pública ou de preparatórios. Desapareciam do Colégio a cadeira de Italiano e o ensino de Dança.
O Decreto Paulino de Souza mandava continuar facultativa a aula de Alemão, designava duas classes de professores, a dos comuns ao Externato e ao Internato, assim, por exemplo, o de Francês e Retórica, a dos professores privativos de cada seçáo, verbi gratia o de Ciências Naturais. Para o ensino de Música e Ginástica os reitores contratariam mestres.
Escapando, por setimanistas, às modificações do Decreto Paulino de Souza, seis foram, em 1870, os bacharéis do externato, em igual número os do Internato.
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Da turma do externato, mais destacados se tornariam, no transcurso do tempo, António Felizardo Cupertino do Amaral, alto funcionário da Secretaria do Império e do Interior, na República, e Domingos Sérgio de Sabóia e Silva, engenheiro de boa nota e deputado federal pelo Ceará, dele berço.
É corrente a imagem do "pâo do espír i to" significando cultura intelectual. A par deste pão, defeso a padeiros, os alunos do Internato, incluídos no número destes os bacharéis de 1870, recebiam outro, o fabricado por aqueles, na masseira e no forno, onde cumprindo à risca preceito bíblico, os amassadores ganham a vida com o suor do rosto, acrescentando-lhes outras transpirações, para que quantos obtêm o pão nosso de cada dia o achem alvo e saboroso.
Também o Externato em 1870 fornecia dois pães a alunos meio pensionistas, o pão da mesa a par do "pão do espírito" este devorado ou rejeitado nas aulas. Para fornecimento do primeiro dos dois pães abria-se concorrência de padeiros, minúcias não despiciendas na pintura de épocas. Em 1870, havia padeiro para propor "ao Imperial Externato de Pedro Segundo, durante semestre, fornecer pão ao preço de 29 réis cada pão de 4 onças". Logo acudia outro fornecedor de carnes verdes para propor abastecer o mesmo Externato, por seis meses, de carnes a 160 réis a libra.
Além das funções de regedor supremo da direção do ensino do Colégio, da disciplina, das relações com o governo, cabia ao reitor o fiscalizar da alimentação, de cuidados maiores no Internato pelas naturezas do estabelecimento. Cumpria estar atento, pois a solicitude do Imperador pela Casa se estendia à fiscalização da boa qualidade dos géneros fornecidos às duas seções do Colégio, mormente o Internato.
Não tratava o Colégio apenas do sustento material de alunos, preocupava-o sobremaneira o alimento espiritual dos mesmos.
No fim de ano letivo costumavam professores apresentar aos reitores súmula dos trabalhos de aula no
decurso do tempo que lhes fora dado lecionar, não raro perturbado o ano letivo por efeito de reformas pedagógicas.
O zelo do Imperador pelo Colégio era de todas as horas. Mudassem os ministros, o grande inspetor escolar lá estava em São Cristóvão. Nada se passava no Colégio sem ciência dele e certo não lhe seria estranha a proposta que, em 1871, fazia o reitor Pacheco do aumento de remuneração do pessoal administrativo do Colégio, elevados, por exemplo, os do secretário a 1:800$000 anuais. Favorecia-se, assim, o ocupante do cargo, José Manoel Garcia, não só clérigo de ordens menores como mestre em artes pelo Trinity College, estabelecimento de instrução norte-americano com privilégio universitário.
A proposta de aumento monetário descia aos cargos mais modestos da casa. Beneficiava Inspetores com 1:000$000 anuais, o porteiro com 600S000 anuais. Na proposta o aumento dos reitores expressivamente ficava em branco.
Procurava-se também associar a mocidade a demonstrações patrióticas. Assim ao reitor do Internato enviava o Ministro do Império o programa organizado pelo Ministério da Guerra para recepção dos contingentes do nosso exército de regresso da campanha do Paraguai, "a fim de ter o programa a devida execução na parte que competia ao Internato".
Sem maiores tropeços escoou-se o ano letivo de 1871, assinalado pela entrada do novo catedrático de Matemática, Dr. Luiz Pedro Drago, de tão famosa rispidez para com discentes.
Foi de doze a turma de bacharéis de 1871 do Colégio, sete no Externato, cinco no Internato. Entre os sete bacharéis do Externato, dois engenheiros civis se destacariam em profissão, Luiz Goffredo d' Escragnolle Taunay e Ezequiel Corrêa dos Santos, enquanto bacharel do Internato, Martinho Álvares da Silva Campos, ocuparia posições políticas elevadas.
A vida do Colégio tinha ritmo habitual, rarg modificado. Os anos letivos seguiam curso marcado por
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sucessos de data fixa, abertura de aulas, lições, sabatinas, exames, encerramento de aulas, distribuição de prémios, colação de grau. Só perturbavam o curso dos anos letivos, reformas de ensino e substituições de reitores, vice-reitores e professores. Menos sensíveis para alunos eram substituições no corpo administrativo com o qual só por acidente lidavam; zelados de perto os interesses dos alunos por pais ou responsáveis. Estudante de então só tinha uma coisa a fazer: estudar, apontados os estudantes honorários.
Duas modificações sofreria o Colégio em 1872, a retirada do reitor do Externato e uma reforma do ensino.
Cerca de dezesseis anos desempenhava a reitoria do Externato o Dr. Manoel Pacheco da Silva, em 1855 substituto do Capitão-de-mar-e-guerra Souza Corrêa.
Datando último ofício de reitoria a 6 de agosto de 1872, o Dr. Pacheco deixava superintendência do Colégio, para ocupar outro cargo atinente à instrução. Fora escolhido preceptor dos príncipes D. Pedro Augusto e D. Augusto Leopoldo, netos de D. Pedro Segundo, filhos da princesa D. Leopoldina e do Duque de Saxe. Morrera-lhes a mãe em Viena d' Áustria e o avô materno, D. Pedro II, trouxera-os ao Brasil para educá-los sob suas vistas. Passara o Dr. Pacheco a acompanhar-lhes a vida diária e nela as lições que fossem recebendo, de contínuo fiscalizados pelo Imperador, chegado havia pouco de primeira viagem à Europa, ausente do Império desde 24 de maio de 1871. Ao regresso imperial associou-se o Colégio. Em abril de 1872 apresentava-se ao soberano e protetor para felicitá-lo por volta à pátria. Precedido pela banda de música do 1o Batalhão de Artilharia a pé, aquartelado no largo do Moura, no bairro da Misericórdia, dirigiu-se o Colégio, incorporado, à presença do Imperador e da Imperatriz, por ambos afavelmente acolhido, timbrando sempre D. Pedro II em dar ao Colégio mostras de pública consideração.
A obrigação da reitoria era dirigir, observando e ponderando. Antes de passar reitoria, dirigida a Inspetoria
de Instrução em 1872 pelo Conselheiro José Bento da Cunha e Figueiredo, ponderava o reitor Pacheco. Ponderava que em consequência da alteração de horário vigente desde 1870 para execução do Decreto 4468, de 1o de fevereiro daquele ano, precisava a reitoria do Colégio de algum tempo para acompanhar a marcha do ensino antes de emitir juízo seguro. Daí demora em atender a ordens superiores. Frutos e reformas carecem de sazão. Não deixaria o reitor Pacheco de expor ao Inspetor José Bento, em longo ofício, os resultados de sua observação.
Verificada a demissão de Pacheco, nomeou o governo reitor do Externado um sacerdote, sucedendo a um bispo, a um marinheiro, a um médico, tais os três primeiros reitores do Colégio.
O novo reitor, o Cónego da Capela Imperial, José Joaquim da Fonseca Lima, tomava posse da reitoria a 26 de agosto de 1872.
Fonseca Lima, natural da Bahia, pertencia ao cabido da Catedral, desde 1864, protonotário ad/'r>sfar, governador interino do Bispado do Rio de Janeiro. Gozava fama de bom pregador, chamado a missão em atos oficiais solenes.
Logo ao entrar no Colégio, apresentava o novo reitor pormenorizado ofício sobre o estado da Casa, ele, no Externato, executor de ordens do Ministro do Império, o Conselheiro João Alfredo Corrêa de Oliveira Andrade, o qual, em 1872, já suprimira último nome, acabando por ser depois geral e mais tarde historicamente conhecido por João Alfredo.
Com este ocorrera fato raríssimo no Brasil, de até então e de futuro, no regime monárquico nosso Ministro do Império no Gabinete São Vicente de 29 de setembro de 1870 continuou, João Alfredo a ocupar o mesmo cargo no Gabinete subsequente, o de 7 de março de 1871, organizado pelo Visconde do Rio Branco e fadado a decretar, para os anais da Nação, e tábuas de ouro da História, a lei Argêntea. Áurea a de 13 de maio, Argêntea seria a lei de 28 de setembro de 1871, libertando os nascituros da escrava.
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Expediu o Ministro João Alfredo o Decreto de 24 de outubro de 1872, tornando obrigatória a residência do vice-reitor no Internato. Atendia também o Decreto ao aumento de inspetores da Casa. Cada uma das duas seções teria cinco inspetores, vencendo anualmente 1:000$000, conforme proposta do ex-reitor Pacheco.
Venceriam os reitores 4:800$000 ou 4005000 mensais, os vice-reitores 300S000 mensais, os secretários 100S000, os escrivães, substitutos dos antigos tesoureiros, 2:000$000 por ano, os bedéis 9005000, os porteiros 700S000, os repetidores 1:200$000, o médico do Internato 8005000. Era este o Dr. Carlos Luiz de Saules, cultor das letras, autor do drama original brasileiro em cinco atos, Manoel Beckman representado por João Caetano.
A decretação da residência efetiva do vice-reitor do Internato já encontrava morando no estabelecimento o reitor frei Santa Maria Amaral e o vice-reitor padre-mestre, bacharel em letras, Corrêa de Sá e Benevides. Nos fundos do Externato morava também o respectivo reitor Cónego Fonseca Lima.
Para eles e para os funcionários do Colégio, grato seria o ano letivo de 1872, pelo aumento de vencimentos, e na época nosso câmbio oscilava entre 24 e 25 14.
Funcionário bem remunerado e digno redobra esforços em bem da causa pública. Aumentados de vencimentos, os funcionários do Colégio, em 1872, certo apurariam zelo pela disciplina, sempre mais fácil de manter no Externato pela não permanência de discentes.
A vida disciplinar do Internato, em 1872, pode ser avaliada por curioso documento recolhido à seção de manuscritos da Biblioteca Nacional. Em livro bem encadernado acham-se lançados os nomes de todos os internos de 1872 e considerados os seus procedimentos no ano letivo.
Encontram-se no referido livro notas favoráveis e desfavoráveis a discentes de há mais de meio século; mostrando a irrepreensibilidade do proceder de uns, o propósito de emenda de outros, ou a vontade de persistir
no mal, praticando sem conhecer o vídeo meliora proboque deteriora sequor das palavras de Medeia no verso ovidiano.
Justo é ainda hoje mencionar o ótimo proceder de alguns alunos de 1872, louvados então; calando os nomes daqueles que na idade de turbulências insopitáveis, incidiam em falta e castigo, aquela de vária ordem, este de vários graus.
Algumas notas do livro: Raymundo Teixeira Mendes— Irrepreensível. Luiz Cândido Paranhos de Macedo— Irrepreensível. José Thomaz da Porciúncula— Irrepreensível. Qualquer destes discentes não desmentiu na vida o
proceder da juventude. Teixeira Mendes foi o apóstolo do Positivismo no Brasil, ao lado de Miguel Lemos. É possível discordar das ideias filosóficas de Teixeira Mendes, do seu caráter ninguém duvidou. Paranhos de Macedo dirigiu o Internato e professou no Colégio, distinguindo-se como administrador pela energia sob aparências de bonomia, pelo espírito de disciplina, que empreendera como aluno e, portanto, em perfeita paz de consciência podia exigir de discípulos. O terceiro "irrepreensível", José Thomaz da Porciúncula, seria na República, governador do Estado do Rio de Janeiro, Senador, Ministro do Brasil no Uruguai.
Alguns discentes de 1872 mereciam quanto o procedimento a nota — sofrivelmente — Um aluno recebia " 1 o castigo por conversar no silêncio, segundo informava o inspetor Vaz Pinto". O mesmo aluno foi Ministro do Brasil em cortes europeias e na carreira diplomática, na qual não raro nas negociações a habilidade consiste em "conversar no silêncio", vingou-se o diplomata da parte do inspetor de 1872. Mostrado o céu e o purgatório da disciplina, baixa o livro do Internato de 1872 a indicar o inferno com o seu círculo de incorrigidos. Um era posto no índex colegial com a menção "castigado várias vezes, mau no último semestre", outro aluno acompanhado por menção pior: "no último semestre tem procedido mal e deixa graves suspeitas por escritos que lhe atribuem e sem assinatura".
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A menção é tanto mais curiosa quanto o aluno, uma vez homem, se caracterizou como polemista temido de adversários, violento, satírico em prosa e verso, escrevendo com elegância reveladora de cultura clássica.
Não só pelo lado psicológico, tão considerado hoje pela ciência moderna, como atestado do zelo pela disciplina, e bastante curioso o livro guardado na Biblioteca Nacional, expressiva minima pars na história do Colégio.
Fique também registrada na história do Colégio, em 1872, a distinção dispensada ao Internato, pelo governo Imperial, comissionando pelo Ministério da Agricultura, o secretário João Barbosa Rodrigues para explorações botânicas no vale amazônico, sem vencimento algum pelo Colégio.
A primeira solenidade de distribuição de prémios e colação de grau das quais o novo reitor, Fonseca Lima, participaria, seriam as do ano de 1872, graduando-se cinco bacharéis no Externato, três no Internato.
Em obras a Sala Nobre do Colégio, a cerimónia da colação de grau à turma conjunta de 1872 não se pôde realizar na Casa, sim na pinacoteca da Academia Imperial das Belas Artes, esta então nos fundos da atual rua Barbara de Alvarenga, antiga Leopoldina.
No dia de Ano Bom de 1873, passava a morar no Colégio novo vice-reitor, o padre João Pires de Amorim, nomeado a 28 de dezembro de 1872, Cónego em 1877, Monsenhor em 1875, por motivos de consciência recusando, em 1893, recém-criada diocese de Curitiba.
De cátedra ou emprego no Colégio, gente sacerdotal tornou-se um tanto o estabelecimento viveiro de prelados. Bispo fora o primeiro reitor, frei António de Arrábida, Bispo de São Paulo tinha sido de 1861 a 1868 Monsenhor Sebastião Pinto do Rego, antigo capelão do Externato, Bispos ainda de Mariana e do Maranhão foram o padre Benevides e frei Luiz da Conceição Saraiva, aquele bacharel em letras e professor da Casa, este também ai tendo lecionado. Mais tarde, reitor do Colégio, Monsenhor Brito, seria Bispo de Olinda.
O ano letivo de 1873 assinalar-se-ia por duas providências governamentais, relativas ao Colégio, o Aviso de 18 de março e o Decreto de 6 de agosto de 1873. O citado Aviso isentava o aluno aprovado em exame final de qualquer disciplina, do estudo da mesma, embora reprovado noutras matérias do respectivo ano. O Decreto de 6 e agosto, inspirado pelos reitores do Externato e do Internato, ambos sacerdotes, mandava fazer no Colégio, dominicalmente, o comentário do Evangelho do dia. Além disto, o Decreto, a pedido dos reitores do Externato e do Internato, tornava obrigatório o estudo do Alemão e ordenava distribuição de aulas por todos os dias úteis da semana, cessando a prática do ensino de religião e de artes em dia único da semana.
No ano letivo de 1873 tomava posse, após concurso, do cargo de professor de Português, Geografia e Aritmética do primeiro ano do Internato, quem no Colégio deveria percorrer longa e notável carreira, bacharel em Letras, bacharel em Ciências Físicas e Matemática pela Escola Central, mais tarde Politécnica. Chamava-se o novo professor de 1873, Carlos Maximiliano Pimenta de Laet, cuja causticidade famosa um de seus sobrenomes já exprimia.
Findo o ano letivo de 1873, tomaram grau três bacharéis do Externato, um deles futuro professor do Colégio, Carlos Ferreira França, e três bacharéis do Internato. Um bacharelando deixou de receber grau, Raymundo Teixeira Mendes, recusando-se ao juramento do estilo, de manter a religião do Estado, obedecer e respeitar ao Imperador e às instituições vigentes, concorrendo quanto possível para a prosperidade do Império e satisfazendo com lealdade as obrigações que lhe fossem impostas.
Raymundo Teixeira Mendes estudara no Internato, desde o 2o ano, aluno gratuito, como faz fé o seguinte termo extraído do livro competente do Internato:"Matrícula 385. Aos trinta e um dias de janeiro de mil oitocentos e sessenta e oito, matricula-se no 2o ano do Internato de
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Pedro Segundo, como aluno gratuito por aviso de 20 de setembro de 1867, o senhor Raymundo Teixeira Mendes, filho do Dr. Raymundo Teixeira Mendes, natural do Maranhão, nascido em 5 de janeiro de 1856. Para constar lavrei o presente termo que assino como Secretário. João Barbosa Rodrigues.
Frei José de Santa Maria Amaral". Antes da abertura das aulas de 1874, o Ministro João
Alfredo dividiu em duas cadeiras, comuns ao Externato e ao Internato, o ensino das Ciências Naturais. Por seu lado antes da abertura das aulas de 1874, por ofício de 5 de janeiro, pedia o reitor Fonseca Lima a nomeação de mais dois inspetores de alunos. No Externato só havia 5, contendo 258 escolares, lidando o dia inteiro, sem um momento de folga. Qual o resultado? Respondia o reitor: "Falta de paciência para resistir à tendência tão natural da mocidade de ir ao encontro às leis disciplinares, e daí a prepotência e um rigor de inspeção ditado pela cólera e pela vingança do que pelo amor do bem no regime escolar".
Logo depois, em fevereiro de 1874, o Ministro João Alfredo firmava doutrina quanto a gratificações adicionais resolvendo o caso do professor jubilado do Colégio, Gabriel de Medeiros Gomes. Declarava o ministro que ao dito professor, nomeado para a cadeira de Português, em 1838, competiam não só o ordenado e a gratificação do cargo, como a gratificação extraordinária correspondente à quinta parte do vencimento. Eram 960S000 concedidos em recompensa de serviços distintos no magistério.
Já bem antes do caso Medeiros Gomes, em novembro de 1854, fora declarado ser a gratificação adicional prémio de serviços e não pro-labore permanente e cabendo a todos os professores jubilados.
O ano letivo de 1874 findava por nova providência governamental em relação à Casa. Determinava o poder público o provimento de cadeiras por concurso, dispondo sobre a composição das mesas de exame e sobre o tribunal de julgamento de tais certames, tribunal composto de examinadores, do reitor do Externato ou do Internato,
conforme a seção, cuja cadeira fosse provida a concurso, do inspetor de Instrução e de um membro do Conselho Diretor desta. Caso a cadeira a concurso abrangesse mais de uma disciplina, os candidatos sorteariam ponto para cada disciplina. Constaria o concurso de duas provas, a de preleção e a complementar para confirmar o juízo do examinador, defeso debate entre este e o candidato.
Em 1874 deixava a reitoria do Internato frei José de Santa Maria Amaral, Monsenhor Félix Maria de Freitas e Albuquerque nomeado substituto Interino.
A turma de bacharéis do Externato de 1874, oito, forneceria mais tarde, ao Colégio, um professor, António Henrique de Noronha, e ao jornalismo carioca Fernando Mendes de Almeida. Dos quatro bacharéis do Internato, em 1874, um lecionaria na Escola Normal, já na República, Ugolino Ayres de Freitas e Albuquerque.
Aos setimanistas, de 1874, estaria, porém, reservado grata distinção a coroar-lhe esforços. Com a turma de bacharéis de 1874, começou a entrega do anel simbólico do bacharelado em letras, anel ostentando opala cercada de brilhantes. Aplaudia Fonseca Lima a inovação da entrega da jóia no ato da colação de grau. Entendia o reitor do Externato ser aquela entrega, naquele ato, "incentivo para maior concorrência ao grau de bacharel em letras".
Opinava também, oficialmente, Fonseca Lima, no sentido de usarem os professores do Colégio, anel igual ao dos bacharéis, bem como de outra insígnia no ato da distribuição dos prémios e nas solenidades em que tivessem de aparecer em corporação, convindo cercar a classe dos professores de todas as considerações possíveis e, para isso, não pouco concorriam distintivos oficiais, tanto mais quanto outras corporações do país os possuíam.
Em 1874, declarava à Assembleia Geral o Ministro do Império, Conselheiro João Alfredo Corrêa de Oliveira, reconhecer "os serviços do Imperial Colégio de Pedro II èu instrução pública em consequência de sua regular
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organização e pelos hábeis e zelosos reitores e professores que tinha". Anteriormente, em 1872, o mesmo ministro aventava a conveniência de algumas modificações no regulamento do Colégio, no intuito de melhor ordenar o ensino de certas matérias, desenvolvendo o de outras, instituindo-se a classe dos substitutos, de falta sensível, ao menos para algumas aulas, aumentando-se o número de explicadores e dos inspetores de alunos. De acordo com tais ideias anunciava o ministro João Alfredo estar preparando projeto sujeito à ilustrada consideração do Corpo Legislativo.
Abria-se o ano letivo de 1875 por distinção especial do augusto patrono do Colégio. D. Pedro II mandava estudar nele um neto, o príncipe D. Pedro Augusto, filho dos duques de Saxe, órfão de mãe, a princesa D. Leopoldina, o pai de residência na Europa.
Confiada a primeira educação do príncipe ao antigo reitor do colégio, Dr. Manoel Pacheco da Silva, era D. Pedro Augusto, em 1875, levado a estudos secundários regulares no primeiro estabelecimento de instrução secundária do país.
Para a matrícula do príncipe expediu o reitor do Externato, Cónego Fonseca Lima, a seguinte ordem:
"O Senhor secretário matricule como aluno externo deste Externato no primeiro ano, depois de feitos os competentes exames de habilitação e independente de qualquer outro documento a S. Alteza o Senhor D. Pedro de Alcântara. Externato do Imperial Colégio de Pedro II, 1o de fevereiro de 1875. O Cónego José Joaquim da Fonseca Lima — Reitor."
Obedeceu o secretário, ao tempo José Manoel Garcia, e nas matrículas de 1875 figurou esta:
"N." 181 — S. A. o Príncipe D. Pedro de Alcântara. Ano do curso— 1. Naturalidade — Rio de Janeiro. Anos de idade — 9. Classe — Externo contribuinte. Moradia — Imperial Quinta da Boa Vista. Filiação — S. A . o Duque de Saxe."
Conserve-se aqui, a titulo de curiosidade, a prova escrita de ditado e aritmética do exame de admissão do imperial externo contribuinte de 1875, de residência na Quinta da Boa Vista.
" Externato do Imperial Colégio de Pedro 2o — 1 ° de fevereiro de 1875.
Ditado — As primeiras criaturas que com suas vozes nos injuriam e envergonham entre aquelas que o mesmo Senhor criou, mas não remiu são as aves. A sociedade nos trabalhos aligeira o peso deles como a singularidade os agrava.
368105
48
2944840
1472420
17669040
D. Pedro.
Prova escrita e oral muito boas. M. O. R. Costa. Prova de Doutrina ótima. Monsenhor Félix d'Albuquerque." O ano letivo de 1875 assinalou-se, pois, no
Externato, pela matrícula do príncipe D. Pedro. Seguia o avô, D. Pedro II, exemplo do rei Luiz
Felippe, este matriculando os filhos em colégios afamados em Paris. Assinalar-se-ia também o ano letivo de 1875, no Internato pela nomeação interina de novo reitor, o Dr. César Augusto Marques, ao qual Monsenhor Félix entregaria cargo.
César Marques, nascido em 1826, ia completar cinquenta anos. Nascido no Maranhão, matriculado na Universidade de Coimbra, a estudos matemáticos, viu-se privado de continuá-los pela revolução conhecida na história lusitana pela da Maria da Fonte.
Veio, então, César Marques, f i lho de pai farmacêutico, estudar medicina na Bahia, aí graduando
ESCRAGNOLLE DOR
em 1846, depois médico militar, servindo vários cargos administrativos no Amazonas, no Piauí e no Maranhão.
Era um estudioso, mormente de coisas pátrias, avultando entre escritos seus até a entrada para a reitoria do Internato, o "Almanaque Histórico de Lembranças Brasileiras", em 3 volumes, as traduções das obras de Cláudio d' Abeville e Ives d' Evreux, relativas ao norte do Brasil, e o "Dicionário Histórico Geográfico do Maranhão", obra publicada em 1870, cabendo ao autor várias ordens honoríficas, entre elas, o Oficialato da Rosa, e a admissão em diversas associações científicas.
Começadas as aulas do ano letivo de 1875, a 11 de fevereiro, a 27 de fevereiro o Colégio abria as portas para a colação de grau à turma de bacharéis de 1874, no amplo Salão Nobre da Casa, inaugurado com júbilo da instituição.
Havia de exprimi-lo o reitor Fonseca Lima ao Inspetor José Bento, dizendo: — "Seja-me licito felicitar o Governo Imperial pela glória de realizar obra tão suntuosa, que é neste género a primeira do Império e um monumento de gosto e primor de arte que honra o País e com razão tem merecido os louvores de Nacionais e Estrangeiros".
"Seja-me ainda permitido agradecer ao mesmo Governo por parte deste Estabelecimento, imerecidamente confiado aos meus cuidados, mais este assinalado benefício, com que ele, na sua solicitude pela Instrução o enriqueceu, tomando-o com esta majestosa obra, mais digno do fim a que é destinado e do Augusto nome que tem".
Devia o Colégio "a obra tão suntuosa, à fecundidade de iniciativas do Ministro do Império, João Alfredo. Ainda incompleto o Externato do Colégio, encarregou o ministro a Bethencourt da Silva o acabamento do edifício e a reforma da parte construída. Entendeu o arquiteto, discípulo de Granjean de Montigny, este o adaptador do Seminário de São Joaquim, transformado em Colégio, convir na empreitada um plano geral de reedificação.
Professor do Colégio, bacharel em letras, o Dr. Moreira de Azevedo, no 2o volume de importante obra O
Rio de Janeiro, reeditada em 1877 e dedicada a colega do corpo docente, o Dr. Joaquim Manoel de Macedo, legou-nos enumeração dos serviços prestados ao Colégio pelo talento artístico de Francisco Joaquim Bethencourt da Silva, filho de portugueses e nascido em alto mar, a bordo do Novo Commerciante, a 8 de maio de 1831.
Após carreira artística notável, Bethencourt da Silva, a 27 de fevereiro de 1875, na arte ainda uma vez se afirmava com a inauguração do Salão do Grau do Externato, dando o maior realce à distribuição de prémios e à colação de grau aos bacharéis cujo curso findara em 1874.
Recebeu a obra de Bethencourt da Silva apoio constante do Ministro João Alfredo, mas sobretudo, quase escusa dizê-lo, a de D. Pedro II. Reproduzia-se sem cessar a profecia de Bernardo de Vasconcellos em 1838, ao inaugurar o Colégio, asseverando que ele animava "sobretudo a certeza da poderosa proteção do Príncipe, cujo nome honrava a instituição, e cuja generosidade para com ela e aplicação, afiançavam que o culto das letras e das ciências seria um dos principais títulos de glória de seu reinado".
O Segundo Reinado, em 1875, já ia em quarenta e quatro anos, a datar da Abdicação e em parte alguma mais do que no Colégio com tanto amor se assinalaria.
O Imperador e todos os participantes ou espectadores da inauguração do Salão do Bacharelado do Externato puderam, a 27 de fevereiro de 1875, com satisfação, admirar quanto a proficiência de Bethencourt da Silva havia se esmerado na grandiosa Sala Nobre do Externato.
Tivera Bethencourt da Silva de dar forma ao teto e ao soalho de molde a disfarçar defeitos de construção, corrigindo excesso de comprimento em desacordo com a largura. Mereceu-lhe especiais cuidados o soalho, substituído o antigo e comum por novo e precioso. Formava este mosaico obtido pela combinação das nossas mais escolhidas madeiras. Segundo Moreira de
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 -1937
Azevedo, "constituindo florões e festões de cores vivas e variadas e delicados arabescos, era o soalho um lindo mosaico de preciosas madeiras do país, constituindo florões de cores vivas e variadas, e delicados arabescos; soalho lindo e rico espécimen da opulenta flora brasileira".
O teto do salão não destoava do conjunto. Cinco painéis o enchiam, cheios de enfeites de folhas de carvalho e louro, de flores e folhas, ali rosas, aqui acantos, nos ângulos do painel central, relevos simbólicos, lembrando letras, artes, ciências físicas e matemáticas.
Tal, em traços gerais, o Salão Nobre do Externato onde, a 27 de fevereiro de 1875, recebia grau a turma de bacharéis de 1874, salão principiado a modificar em março de 1873.
Acabada a festa recomeçou o ano letivo de 1875, numa casa em parte nova, devido ao esforço e à inteligência de Bethencourt da Silva. Nas partes reconstruídas o arquiteto levantara o madeiramento mais de metro, arejara e iluminara salas, melhorando, substituindo, ornando.
Uma das partes principais do edifício era o pátio central, onde dispostos aparelhos ginásticos. Sombreavam-no amendoeiras, nas quais ao abrasar do verão se ouvia o si-si alistridente das cigarras. Outrora, vindo sem dúvida do tempo do seminário de São Joaquim, no centro do pátio, erguia-se um poço mandado tapar pelo reitor Souza Corrêa.
No correr do ano letivo de 1875, o Ministro do Império e os reitores do Externato e do Internato zelavam interesses do Colégio, sabendo quanto por ele se desvelara o Imperador.
Opunha-se, por exemplo, o reitor do Externato, Cónego Fonseca Lima, que para matrícula no Colégio fosse dispensado de repetir provas o estudante aprovado em qualquer disciplina, nos exames prestados na Instrução Pública.
Mostrava-se o reitor infenso à isenção, abrindo precedente do qual se pretendia valer "Jean Gustave de Frontin" matricular, no 5o ano do Colégio, seu filho André Gustavo Paulo de Frontin.
Cuidado pelos reitores correu o ano letivo para o Colégio e para os alunos, sempre em maior número no Externato, 212 em 1875, entre eles, como dizia o reitor Fonseca Lima ao Inspetor da Instrução, "S. A. o Príncipe D. Pedro, honra com que S. M. o Imperador dignou-se de distinguir o estabelecimento".
Ano letivo concluído, exames feitos, distribuição de prémios, colação de grau, de novo reaberto para ela o Salão Nobre, em dia de recompensar e despedir.
Em 1875, novo público vinha admirar o Salão Nobre do Externato, na solenidade da colação de grau aos bacharéis em letras. À espera do Imperador, sempre tão pontual, tendo talvez meditado a advertência de ser a pontualidade a suprema cortesia dos reis, muita gente passava olhos e admirações na obra recente de Bethencourt da Silva.
Contemplavam os espectadores as paredes do salão, revestidas de estuque-lustre, formando apainelados coroados de rosas e louros com filetes dourados. Apresentava o saláo do século XIX, alguma coisa graciosa, do faceiro estilo Pompadour.
Enquanto aguardavam a chegada do soberano, mais, do amigo indefectivel da Casa, os bacharéis de 1875 podiam relancear vistas nas sobreportas do salão, nada menos de vinte três, nelas, entre adornos esculturais, gravados nomes que para os bacharéis constituíam verdadeiro ementário das matérias do curso de bacharelado em letras.
Em cada sobreporta um vulto gravado: Euler simbolizando a matemática, Demóstenes, a retórica, Horácio, a poesia, Lucena, a literatura portuguesa, Basílio da Gama, a brasileira, Xenofonte, a língua grega, César, a latina, Bossuet a francesa, Goethe, a alemã, Milton, a inglesa, Rossini a música, Rafael o desenho, Clias, a ginástica, Anchieta, a doutrina cristã, Calmet a história sagrada, Temístocles, a antiga, Gibbon, a média, Guizot, a moderna, Gândavo, a do Brasil, Platão, a filosofia, Cuvier, as ciências naturais, Kepler, a cosmografia, Estrabão, a geografia.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Interromperam, contudo, os bacharéis de 1875, o exame das sobreporias, cujos símbolos diziam aos haviam pouco setimanistas, todo o curso do bacharelado. Ouvíu-se o Hino Nacional. Subiram da rua vozes de comando à guarda de honra. Reitores, corpo docente desceram a escada, chegavam o Imperador e a Imperatriz. Não tardavam muito a entrar no salão.
Cumprimentando à direita e à esquerda, correspondidos com inclinações de cortesia por parte da assistência, dirigiram-se o Imperador e a Imperatriz ao trono, enquanto, na tribuna da música, alunos do 1o e 2o
anos do Colégio entoavam o Hino da Independência.
Ao fundo do salão erguiam-se duas enormes cariátides , ornato arquitetônico a ressaltar de superfície quase sempre vertical, para sustentação de figura ou objeto.
Tinham as cariátides do salão do Colégio significação especial, simbolizavam a capital do Império, cingidas de coroas douradas sustentavam cimalha, esta com escudos das armas imperiais e as setas de São Sebastião, padroeiro da cidade carioca.
Ao fundo do salão assim ornamentado erguia-se todos os anos, no dia de grau, o trono imperial , entre
cortinas de veludo verde, dragões ao lado, o dragão símbolo da Casa de Bragança.
O Imperador e a Imperatriz ocupavam lugar privilegiado. Sentava toda a assistência , de pé desde a entrada dos imperantes, começava a cerimónia.
Distribuídos os prémios, ouvia-se o discurso do professor de retórica, uma vez conferido grau a treze bacharéis, 6 do Externato e 7 do Internato. Três teriam vida de magistério no Colégio: Alfredo Augusto Gomes, professor interino da Casa; Samuel Castrioto de Oliveira Coutinho, substituto no Colégio; Luiz Cândido Paranhos de Macedo, vice-reitor da Casa, e nela catedrático em 1911.
Alguém, num prefácio à obra didática do professor da Casa, Jonathas Serrano, pôde expender os seguintes conceitos: —
"Mercê de Deus, nunca houve míngua no Colégio de Pedro II, de professores distintos e de alunos distinguidos".
Do Colégio têm saído as mais belas flores para as exposições de nossa cultura intelectual".
Daí o famoso estabelecimento, em tão boa hora fundado pela Regência, possuir, pelo menos, um representante conspícuo em cada província de saber no reino do engenho humano.
IX O Colégio de 1876 a 1881
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837- 1937
Adiamento das Aulas em 1876 • Desocupação da Igreja de São Joaquim •
Caso Schieffler/Thomaz Alves • Novos Professores de Filosofia • Reforma Leôncio
de Carvalho • O Ensino Livre • Novos Reitores • O Conselho Colegial, suas
Sessões em 1880-1881 • A Conversão do Conselho Colegial em Congregação •
A Primeira Sessão da Congregação • A Turma de Bacharéis de 1881.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Ao iniciar-se o ano letivo de 1876, propunha o reitor do Externato, Fonseca Lima, o adiamento da
abertura das aulas para 15 de fevereiro, de acordo com César Marques, reitor interino do internato. O Externato achava-se em obras, entendendo o Cónego Fonseca Lima, necessário aquele adiamento, e justificava-o "por náo ser higiénico respirarem os alunos, em quadra de excessivo calor, a exalação de substâncias mais ou menos tóxicas de que se compõem as tintas".
Anuiu o Governo, pelo Ministro do Império, José Bento da Cunha e Figueiredo, abrindo-se as aulas do Colégio a 15 e não 1o de fevereiro.
Logo após, em abril, era o Colégio distinguido , com a nomeação de um de seus professores, o Dr. Azevedo Corrêa, para Comissário do Ministério do Império, na Exposição de Filosofia, comemorativa do 1o Centenário da Independência Norte-americana, na qual Washington alcançara imortalidade, modelo humano na História.
Outro professor do Colégio, o Dr. Joaquim Manoel de Macedo funcionava como Secretário-Geral da Exposição Nacional, dispensado de aulas no estabelecimento. Tudo distinções a refletirem sobre o Colégio.
No meio do ano letivo, pedia o reitor do Externato restituição ao culto religioso da Igreja de São Joaquim,
anexa ao Colégio. Segundo o Cónego Fonseca Lima "dar-se-ia a Deus o que pertencia a Deus", evangelicamente de acordo com a decisão de Jesus no dever do tributo a César. Achava-se também a igreja ocupada pelo Liceu de Artes e Ofícios, mal acomodado, no perigo constante de incêndio no templo pelo número excessivo de luzes acesas nos diversos andares de madeira, levantados no recinto sagrado. Tudo ponderado pelo reitor do Externato. Dentro em breve era satisfeito o desejo do Cónego Fonseca Lima.
Restituiu o Ministro José Bento, ao Colégio, a igreja e as acomodações das quais tivera privado havia anos.
A 22 de dezembro de 1876, graduava-se a turma de bacharelandos do ano, importando a solenidade da colação de grau e distribuição de prémios na despesa de 1:267$000, metade da despesa por conta do Internato.
Bacharelavam-se, em 1876, nove jovens no Externato, entre eles futuro lente da Escola Politécnica, Francisco Manoel das Chagas Dória, e sete jovens no Internato, um deles Manoel Edwiges de Queiroz Vieira, futuro chefe de polícia e Ministro da Agricultura em a República.
No correr do ano letivo de 1877, avultaria no Colégio, uma dessas questões não raras nas casas de ensino^ provocando atrito entre docentes.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837-1937
No Externato lecionava Grego o professor Schieffler, no Internato o professor Manoel Thomaz Alves Nogueira, bacharel em letras de 1857. Constando a Schieffler que alunos do Internato estavam a traduzir a Ilíada, reclamou o professor do Externato, junto ao reitor Fonseca Lima, pedindo providências. Cumpria fazer cessar "a imensa disparidade resultante do atraso para os alunos do Externato aos quais fora categoricamente proibida a tradução da Ilíada, reservado o poema homérico para os exames".
Urgido por Schieffler, o reitor Fonseca Lima pedia explicações ao reitor do Internato, César Marques. Agradeceu este a Fonseca Lima "a prova de intimidade e bom coleguismo, enviando-lhe a reclamação" de Schieffler. Ponderou, porém, que não havendo subordinação entre as duas seções do Colégio, alvitrava o encaminhamento do protesto à Inspetoria de Instrução. Tudo por "desejar corresponder à atenção que lhe merecia a pessoa de Fonseca Lima", afiançava César Marques. Ele "reputava nulo e impertinente" o protesto do professor do Externato. Entretanto, submetia-o à consideração do incriminado Thomaz Alves.
Expendendo defesa surgia o professor do Internato: "Prescrevo aos alunos do T ano leituras de Homero, porque ignoro haver artigo ao Regulamento vigente que proíba aos alunos exercitarem-se nas formas poéticas e de metrificação que consti tuem matéria de exame". Acrescentava a Schieffler: "A respeito da disparidade de circunstâncias que deste fato possa resultar para os que não são alunos deste Internato, não é da minha atribuição cogitar".
Não nos informam documentos do Colégio como terminou o caso Schieffler-Thomaz Alves e logo a propósito da belicosa Ilíada. No poema homérico às vezes intervinham nas pelejas deusas ocultas em nuvens, em 1877, a mitologia já sem poder de auxílio.
Em meados de 1877, jubilava-se o professor de Filosofia do Externato, frei José de Santa Maria Amaral.
Passou a reger a cadeira o substituto, Dr. Joaquim Jerônymo Fernandes da Cunha Filho. Transferido logo após para o Internato ocupou a cadeira do Externato, Frei Saturnino de Santa Clara Antunes de Abreu. Monge beneditino como o antecessor, Santa Maria Amaral, era o substituto deste dele continuador na cátedra.
Ensinaria pelo compêndio de Barbe, professando Lógica e Metafísica no 6o ano, Ética e História da Filosofia, detida esta em Descartes, Malebranche, Spinoza e Leibniz, no 7o ano.
O professor de Filosofia do Internato era moço lido em filosofia mais moderna. Chamava-se Joaquim Jerônymo Fernandes da Cunha Filho, formado em Direito pela Faculdade de São Paulo, ledor infatigável, dotado de ótimas humanidades, possuía palavra fluente, presença agradável, físico desgracioso, jamais favorecendo professor. Manifestaria depois o professor do Colégio dotes oratórios na Câmara dos Deputados, dotes por assim dizer de família, Fernandes da Cunha Pai um dos maiores oradores que têm honrado a tribuna parlamentar pátria, cognominado o "Cícero Brasileiro".
É de assinalar na reitoria do Cónego Fonseca Lima ofício de 31 de outubro de 1877, ofício de maior extensão. Nele o reitor expunha ao Ministro do Império, Costa Pinto e Silva, as necessidades do estabelecimento posto à guarda do nome Imperial. É documento completo e digno de leitura por parte de quantos amam o passado do Colégio.
Findo o ano letivo de 1877 ocorria, a 23 de dezembro, distribuição de prémios e colação de grau. Para a solenidade, à porta do Externato, achavam-se a guarda de honra habitual no ato, pela primeira vez, porém, a Guarda dos Arqueiros. Só acompanhava esta o Imperador nas sessões de abertura ou encerramento da Assembleia Geral no Paço do Senado.
Na lista dos premiados em 1877, entre outros nomes, liam-se o do 1o anista Argemiro Gabriel de Figueiredo Coimbra, futuro comediógrafo, o do 3o anista Príncipe D. Pedro Augusto, o de Pardal Mallet, o de José
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Cândido de Albuquerque, depois de Albuquerque, Mello Mattos, vindouro diretor do Colégio, e do setimanista António Jansen do Paço, futuramente funcionário ilustrado da Biblioteca Nacional e do Ministério das Relações Exteriores.
Quando sextoanista, em 1876, tivera Jansen do Paço necessidade de recorrer a concessão especial do Ministro do Império, o Conselheiro José Bento da Cunha Figueiredo. Autorizara este ao reitor do Internato a deixar sair da Casa, por horas, a Jansen do Paço, a fim de presenciar casamento em sua família. O sucesso e dos menores, dele, porém, é possível tirar conclusão maior, a do rigor e exemplo nas saídas extraordinárias.
Com mais dezesseis colegas do Externato, e do Internato, recebia Jansen do Paço o grau de bacharel em letras, toda a turma jurando aos Santos Evangelhos, honrar o grau conferido, pelo Ministro do Império, Conselheiro António da Costa Pinto e Silva, ministro desde 15 de fevereiro de 1877.
No ano letivo de 1878, o Colégio sofreria perturbação. A institutos de instrução sempre as acarretam reformas de ensino. Logo no Ano Bom de 1878, ascendeu ao Governo, o Partido Liberal em ostracismo havia quase decénio. Organizado o primeiro gabinete da nova situação, o de 5 de janeiro de 1878, nele coube a Pasta do Império a professor da Faculdade de Direito de São Paulo, o Dr. Carlos Leôncio de Carvalho, recusada a pasta pelo Senador José Bonifácio.
Leôncio de Carvalho, imbuído de ideias pedagógicas norte-americanas de liberdade do ensino, sem pesar bem o perigo das adaptações, tanto a desajeitar sociedades como roupas, entrou para o ministério disposto a reformar o ensino superior do Império e o secundário e primário da Corte.
Começou pelo Colégio de Pedro Segundo, alterando-Ihe, ou antes, golpeando-lhe o regulamento, pelo Decreto de 20 de abril de 1878. A simples enumeração das providências nada previdentes do Decreto mostra quanto o velho Colégio de chofre virava pelo avesso.
Antes de tudo tornou-se livre a frequência no Externato. O bedel passou a figura nula. Ficou o ensino religioso sem caráter obrigatório, modificando o juramento para concessão do grau de bacharel em letras. Restabeleceu a reforma as aulas avulsas, permitindo a qualquer, fosse qual fosse a idade, frequência nas aulas do Externato. Reduziu o número dos substitutos, designando-os, bem como os professores do Colégio, para examinadores gratuitos de preparatórios, melhorados os seus vencimentos de magistério. A Reforma Leôncio de Carvalho restabeleceu a cadeira de Italiano, conservou o septenato de curso.
Malgrado inconvenientes, tornou, porém, mais aligeirado o ensino por melhor distribuição de disciplinas.
No Internato, uma vez por semana, funcionaria aula de Latim para turma grande composta dos alunos do 4o, 5o, 6o e 7o anos, uma aula de Inglês conjunta para os 5o, 6o
e setimanistas, uma vez por semana. Nestas aulas especiais seriam lidas, vertidas, obras clássicas latinas e inglesas, acompanhadas de temas e análises.
Em outubro de 1878, Leôncio de Carvalho ainda aprovaria instruções para provimento dos cargos de professor catedrático e substituto do Colégio, neste as reformas do ministro inovador, nem por todos bem aceitas.
A reforma do regulamento do Colégio fora primeiro passo do reformador. Passo maior seria em breve o do Decreto de 19 de abril de 1878, reformando o ensino superior em todo o Brasil, o ensino primário e secundário no Município Neutro, declarado tal ensino inteiramente livre.
No momento de 1878, a Reforma Leôncio de Carvalho não podia deixar de perturbar o curso do ano letivo do Colégio, em menor grau para os setimanistas a saírem da casa em número de cinco, três no Externato e dois no Internato.
Propugnador do ensino livre, entretanto, o Ministro Leôncio de Carvalho, a João Severiano da Fonseca, Hermes, bacharel pelo Internato, em 1878, e a Hemeterio
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837- 1937
José dos Santos, negava permissão "para, por convite de alguns pais, explicarem a alunos as matérias que tinham de estudar no Internato".
De modo diferente, a quem estudava ou não, os professores do Colégio prestavam atenção, louvando ou reclamando, premiando estudiosos, incriminando desidiosos.
A 25 de outubro de 1878, o professor Goldschmidt pedia providências ao reitor Fonseca Lima contra a falta de aplicação de dois alunos do 5o ano, cujos nomes declinava, "alunos estes que nunca estudam a lição, confiados nos seus colegas dos quais procuram obter cola". Desejava o professor fossem punidos, rogando a S. Ex.a o reitor que o ajudasse não só para o progresso dos alunos, mas ainda para a moralidade do Colégio".
Zeloso pelo cargo, no ano letivo de 1878, o professor de Ginástica, Paulo Vidal, representava ao reitor Fonseca Lima acerca da frequência dos discentes, à hora da aula, muitos pais alegando motivos para o não comparecimento dos filhos às aulas da tarde.
"Mudada a hora — dizia Paulo Vidal — esses inconvenientes todos haviam de desaparecer. Teríamos aula proveitosa para todos. Teríamos o desenvolvimento físico considerado como elemento especial na educação e como auxiliar indispensável na vida intelectual, ou se fosse possível, os exercícios físicos entremeados com as aulas fanam uma feliz diversão à posição forçada, à imobilidade e quietação das aulas, servindo também, de descanso ao espírito.
Dispondo dum lugar livre das intempéries do tempo, não haveria inconveniente que fosse adotada qualquer hora, conquanto fosse respeitada a digestão.
Apresento a V. Ex.a o risco de um pavilhão, podendo ser levantado no centro do pátio, pavilhão cuja capacidade permite exercitar os alunos por turmas e que em nada prejudicam as condições higiénicas do estabelecimento.
Das escolas do Governo e do Imperial Colégio de Pedro Segundo devia partir a iniciativa em tudo que diz respeito à educação.
Não se lhe dando a devida atenção nos ditos colégios, com dificuldade a educação física se propagaria ao Brasil, apesar dos esforços que cidadãos beneméritos têm feito procurando em vários escritos e várias conferências demonstrar a sua utilidade.
Poderia transcrever um número considerável de pareceres de homens competentes, apóstolos benévolos de tudo o que o progresso ordena a favor da mocidade, futuro do país, cujo fraco trabalho apresento a V. Ex.a
esperando merecer a vossa sábia e justa aprovação." O ofício de Paulo Vidal é prova de atenção por saúde
e desenvolvimento físico de discentes. Foram atendidas as ponderações do professor de
Ginástica, construído em centro de pátio, como alvitrava Paulo Vidal, um pavilhão onde em dias chuvosos se não interrompiam exercícios de educação física, hoje, tão preconizada a ponto de não raro entre alunos a mens sana ser prejudicada pelo corpore sano; o pavilhão de ginástica do Externato subsistindo até reconstrução do edifício.
Ao abrir-se o ano letivo de 1879, verificou-se não haver nenhum aluno matriculado no 7o ano do Externato.
No Internato, vigoravam novidades, a dispensa da aula de Religião para os alunos acatólicos, reformado até o juramento de grau de modo a poder ser proferido por bacharelandos acatólicos, a elevação de exigências para o exame de admissão só podendo ser realizada matrícula de maiores de onze anos e menores de quinze.
A 20 de março de 1879, declarava o Ministro Leôncio de Carvalho às reitorias do Colégio as condições para concessão de gratuidades escolares.
Caberiam a órfãos reconhecidamente pobres, a filhos de militares falecidos na Guerra do Paraguai, a filhos de professores com dez anos de bons serviços no magistério, a alunos pobres que se houvessem distinguido no ensino primário.
A 19 de abril de 1879, referendava Leôncio de Carvalho, o Decreto chamado do Ensino Livre, livre em todos os graus de instrução.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
O Decreto tornava extensíveis as prerrogativas do Colégio de Pedro Segundo aos colégios que pelo programa de estudos dele se moldassem, funcionando com regularidade por espaço de sete anos, apresentando no mínimo 60 alunos ao grau de bacharel em letras.
O Decreto de 19 de abril, entre protestos e aplausos, coisa humana, acabou influindo para a demissão de Leôncio de Carvalho, substituído pelo Conselheiro Francisco Maria Sodré Pereira, executor da Reforma Leôncio.
No ano por esta assinalado, 1879, pela primeira vez, não se graduou ninguém no Externato, cabendo ao Internato a colação de grau inteiro, à qual compareceram quatro bacharéis.
Em 1879, o Externato não apresentava pesarosamente setimanista algum para receber grau. No meado do ano, lamentava a perda do vice-reitor interino — Cónego Pedro da Silva Corrêa —, substituído pelo padre Álvaro Soares de Andréa, admitido como inspetor de alunos quem mais tarde dirigiria o Internato: Luiz Cândido Paranhos de Macedo.
Não teve o Ministro Sodré Pereira tempo de ocupar-se com o Colégio, poucos meses à testa da Pasta do Império.
Apenas alterou o regime dos exames de preparatórios na Corte, determinando fossem prestados perante mesas presididas pelo reitor do Externato. Comporiam as mesas três membros indicados pelo reitor e tirados dos corpos docentes do Colégio e da Escola Normal. Só pelo Decreto de 4 de setembro de 1877 haviam tido validade, em qualquer tempo, os exames de preparatórios, anteriormente de validade limitada a prazo certo.
Encerrava-se o ano letivo de 1879 com um concurso de Filosofia, para preenchimento do cargo de substituto da cadeira.
Tal concurso merece especial menção, não só por ter sido muito disputado, como por ter aberto ensejo a curioso incidente.
Apresentavam-se em concurso oito candidatos: — Monsenhor Gregório Lipparoni, o Cónego José Gomes de Azambuja Meirelles, os Drs. Sylvio Romero, Rozendo Muniz Barreto, António Luiz de Mello Vieira, Joaquim Jerônymo Fernandes da Cunha Filho e os Srs. Boaventura Plácido Loureiro de Andrade e Franklin da Silva Lima e André Gustavo Paulo de Frontin.
Para julgá-los constituiu-se comissão examinadora composta do Conselheiro José Bento da Cunha Figueiredo, Inspetor da Instrução Pública, dos reitores do Externato e do Internato, Cónego Fonseca Lima e Dr. César Marques e do professor do Colégio, Pedro José de Abreu. Serviriam de examinadores os Drs. Nuno de Andrade e Joaquim José do Carmo.
Logo no início do concurso ocorreram dois casos. O candidato Silva Lima, alegando enfermidade, pediu adiamento por um mês, tendo o mesmo candidato participado de concurso anterior da matéria, aliás anulado. Resolveu a comissão examinadora não espaçar o certame. Logo após, o candidato Paulo de Frontin, ainda menor, requereu à comissão julgadora lhe fosse facultado tirar ponto para tese, ao menos condicionalmente.
Respondeu-lhe a comissão julgadora ter consultado o Ministro do Império "o Conselheiro Sodré Pereira" expondo a dúvida de admitir o candidato à concurso, por não ter a idade legal de 21 anos.
Sem solução da consulta, entendia a comissão não lhe ser lícito dar ponto ao candidato Frontin, nem condicionalmente, podendo ele ter ciência do ponto sorteado, dissertando sobre o mesmo por sua conta e risco até resolução do Governo.
Comunicada esta resolução ao candidato Frontin, procedeu-se ao sorteio do ponto para tese, tirando Monsenhor Lipparoni da urna o ponto n.° 8: Da interpretação filosófica na evolução dos fatos históricos.
Frontin recusou-se a copiar o ponto sorteado, protestando em grau de recurso para o Conselho de Estada se o Ministro do Império o desatendesse.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837-1937
Nas férias de 1879. prosseguiria o concurso de
Filosofia.
A 12 de janeiro de 1880, realizava-se. na presença
de D. Pedro II, a defesa de teses de cinco candidatos dos
o i to da inscr ição: Sylv io Romero , Rozendo Mun iz ,
Fernandes da Cunha Fi lho. Me l lo Vieira e Cónego
Azambuja, submetidos todos à prova escrita a 16 de
janeiro, versando a prova sobre o ponto número 3. — Da
ideia de um Ente Supremo.
Lidas as provas escritas dos candidatos, a 17 de
janeiro, procedeu-se à classificação daqueles, dado o
primeiro lugar a Sylvio Romero, com as seguintes notas
da comissão examinadora (Nuno de Andrade e Carmo —
Tese oficial — Provas escrita e oral, ótimas).
Rozendo Muniz e Mello Vieira foram classificados
ex aequo em 2o lugar, cabendo o 3o ao Cónego Azambuja
e o 4o a Fernandes da Cunha Filho.
Sy lv io Romero , o se rg ipano , v inha do Nor te
precedido pela fama não só do mérito próprio como pelo
incidente de famoso concurso na Faculdade de Direito de
Recife, em março de 1875.
No curso da arguição de Sylvio, pelo lente Coelho
Rodrigues, tendo este declarado que a lógica não excluía
a metafísica, replicou Sylvio Romero, dizendo esta é morta.
"Foi O senhor que a matou?.. ." perguntou Coelho
Rodrigues. "Foi o progresso, foi a civil ização", retorquiu
o cand idato , re t i rando-se da sala com expressões
indignadas.
Exposto o incidente ao Governo pela Congregação
da Faculdade deu em nada.
No concurso do Pedro Segundo, em 1879, veio Sylvio
Romero encontrar, entre contendores, o Dr. Mello Vieira,
que com ele concorrera, em 1876, por provimento da
cadeira de Filosofia do Curso de Preparatórios anexo à
Faculdade de Direito de Recife.
Concorrendo pela segunda vez — da primeira em
concurso anulado fora Sylvio classificado em primeiro lugar
— à cadeira do Curso Anexo se viu Sylvio colocado em
segundo lugar, cabendo o pr ime i ro a Me l lo Vieira,
particularmente recomendado ao Governo pelo diretor da
Faculdade, Paula Baptista, em ofício reservado, segundo
Clóvis Bevilacqua.
Sylvio — diz o mesmo Clóvis — não se conformou
com esta classificação, que, realmente não era de justiça
abso lu ta , dados os seus mér i t os excepc iona is de
inteligência e preparo, além do julgamento do concurso de
1875, anterior à defesa de teses.
Mas devemos reconhecer que se não afastou muito
da justiça como costumam praticá-la os homens. Nem
sempre tem ela olhos vendados.
No ano anterior, dera-se o escândalo, da defesa de
teses do futuro grande brasileiro e já escritor notável.
A Congregação fora injuriada, a mágoa era muito
recente, e os julgadores não tiveram a isenção de ânimo
preciso para esquecer o desrespeito e ver o mérito em
sua límpida afirmação.
Ao Ministério Sinimbu de 1878 sucedia em 1880 o
Primeiro Gabinete Saraiva. Nele ocuparia a Pasta do
Império antigo professor do Colégio, o Barão Homem de
Mello, nomeado Ministro, em março de 1880, quando o
Colégio em 42° ano letivo.
Francisco Ignácio Marcondes Homem de Mel lo,
Barão Homem de Mello, regressava indiretamente ao
Colégio, onde, por concurso, lecionara a cadeira de História
Universal, dela se demit indo para exercer a Presidência
de São Paulo, em 1864.
Alguns lustros depois, Ministro do Império, entrava
a superintender o Colégio e logo para lhe reformar estudos
no ano seguinte da nomeação ministerial.
Ao ministro novo, sucedia reitor novo no Externato.
Deixava a reitoria deste, exercida desde 1872, o Cónego
Fonseca Lima, o baiano da ilha de Itaparica, cheio de cargos
e encargos na vida, entre aqueles o de Coronel-chefe do
Corpo Eclesiástico do Exército e seu organizador.
Na tribuna sagrada tivera sempre preferência para
grandes solenidades, famosa na Bahia, a oração fúnebre
ESCRAGNOLLE DÓRIA
de Fonseca Lima nas exéquias de Labatut, de ossos trasladados para a matriz de Pirajá, onde combatera pela Independência, tão doente o pregador que o tinham levado do leito ao púlpito. Na Bahia ainda orara nas exéquias por D. Maria II, em 1854, por D. Pedro I, em 1859 e 1860, chamando-o então o repentista Muniz Barreto de "sagrado poeta do Evangelho".
Vindo ao Rio de Janeiro, Fonseca Lima ainda continuara carreira feliz de pregador apreciado, produzindo orações fúnebres quais as dos Bispos Conde de Irajá e de Crysopolis, quais a da Imperatriz D. Amélia e da Princesa D. Leopoldina, qual a oração fúnebre nas exéquias da Capela Imperial pelos mortos na Guerra do Paraguai, oração que lhe valeu elogio do Ministério da Guerra.
Na fecundidade das obras impressas do Cónego Fonseca Lima destacava-se, para o Colégio, a "Consolidação de todas as disposições relativas ao Externato do Imperial Colégio de Pedro Segundo", trabalho publicado em 1874.
Com a exoneração do Cónego Fonseca Lima, homem público ilustre, respeitável e respeitado, assumiu reitoria do Externato, o Dr. José Joaquim do Carmo, natural do Rio de Janeiro, bacharelado em direito pela Faculdade de São Paulo.
Sobre versado em matéria de instrução pública, antigo diretor de colégio particular, tinha o Dr. Carmo prática de administração. Antes de reitor do Externato presidira três províncias do Império, a do Paraná, em 1861, a do Espírito Santo, em 1865, a do Pará, em 1878. Tomou posse da reitoria do Externato a 26 de julho de 1880. Quando o Externato recebia novo reitor, Carmo em substituição a Fonseca Lima, dispensava o Governo o reitor do Internato, César Marques, dando-lhe por sucessor, a 25 de julho de 1880, o Dr. António Henriques Leal, maranhense como o antecessor.
Médico pela Faculdade do Rio de Janeiro, clinicara Leal em S. Luís até 1868, quando de insulto cerebral lhe resultou hemiplegia do lado esquerdo. Passando a Lisboa
aí residiu muitos anos, tornado ao Rio de Janeiro para dirigir, interinamente, o Diário Oficial, deixando o cargo para exercer a reitoria do Internato.
Era António Henriques Leal, homem de muitas boas letras, espírito de trabalhador servido por sólida cultura, vencendo no bem o mal físico resultante do insulto de 1868. Polígrafo, dedicava amor à terra natal e ao assumir a reitoria do Internato já havia publicado, em Lisboa, em 4 volumes, o Pantheon Maranhense, tentando ensaios biográficos de falecidos maranhenses ilustres.
É trabalho ainda hoje lido e consultado assim como a Notícia acerca da vida e das obras de João Francisco Lisboa, da estimada lavra do mesmo António Henriques Leal.
Entrou este em exercício no Internato, justo, quando José Joaquim do Carmo tomava posse da reitoria do Externato, onde, a exemplo de antecessores, deu oficialmente balanço no estabelecimento, cuja direçáo lhe haviam confiado.
Logo de princípio opôs-se o novo reitor ao provimento da vaga de preparador de Física, por um requerente reprovado em concurso, em maio de 1880.
Novo reitor no Externato, recebeu este novo vice-reitor, muito de Casa. Era José Manoel Garcia o "Canário", assim o tratavam os alunos, em ausência, bem se vê, ele muito louro. Chegava à vice-reitoria quase no fim do ano, nomeado a 9 de novembro de 1880, de posse a 12, substituto do padre Álvaro Soares de Andréa.
Encerrava-se o ano letivo de 1880 com a colação de grau à turma de bacharéis. Compunha-se de oito 7o
anistas, quatro do Externato e quatro do Internato. Entre os bacharelandos do Externato figuravam António Fernandes Figueira, depois médico pediatra notável e cultor de letras sob o pseudónimo de Alcides Flávio, e Raul de Ávila Pompeia, o futuro romancista do Atheneu, já se ensaiando no Colégio com a publicação da novela Uma Tragédia no Amazonas, célebre na Casa o seu dissídio entre Pompeia e Schieffler, o professor de Grego.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
No primeiro ano da reitoria Carmo, o de 1880,
reviveria aquela disposição caída em desuso, embora
consignada no regulamento primitivo do Colégio, o de 31
de janeiro de 1838. Por tal disposição o reitor deveria ser
assistido pela reunião de professores da Casa, formando
Conselho Colegial.
A 2 de agosto de 1880, o reitor Carmo presidia
primeira sessão do Conselho Colegial, presentes o vice-
reitor do Externato e os seguintes professores catedráticos:
— Goldschmidt , Monsenhor Félix, Pedro José de Abreu,
Halbout, Schieffler, Silva Lisboa, Lucindo, Ramos Mello,
Drago, Pacheco da Silva Júnior, Araújo Góes, João José
Moreira, e Rozendo Muniz Barreto.
Achavam-se t ambém presentes à reunião, t rês
professores substitutos regendo cadeiras interinamente,
Berquó, Carlos França e João Rodrigues de Macedo, bem
como os mest res de Mús ica , Desenho e Ginástica,
Mathias Teixeira, Poluceno Manoel e Paulo Vidal.
Abrindo sessão inaugural do Conselho Colegial, o
reitor Carmo mostrou rapidamente a conveniência da sua
nova reunião, revivida assim a prática do artigo 2o do
Regulamento de 31 de janeiro de 1838, "em desuso de
tempo imemor ia l " . Em seguida o reitor convidou os
presentes a expenderem parecer sobre pontos para os
quais previamente lhes chamara atenção.
Coube a Goldschmidt, professor de Alemão, em
nome de colegas e no próprio, agradecer a prova de
atenção e apreço do reitor, procurando ouvir, o que nunca
acontecera, o corpo docente do Colégio.
Discut iu o Conselho, logo em primeira sessão,
numerosos assuntos relativos ao ensino e indicados aos
professores e mestres pelo reitor Carmo em ofício de 27
de julho de 1880. Começada às cinco horas da tarde
prolongou-se a sessão até às oito da noite, lavrando-se
dela minuciosa ata.
Apresentara o reitor Carmo ao Conselho Colegial as
seguintes perguntas: — 1o — Quais as causas da baixa
de matrícula do Colégio em 1880? — 2o — Que convém
fazer para remediar esse estado de coisas? — 3o — Que
medidas adotar quanto à conveniência dos estudos do
estabelecimento?
Longamente , vár ios p ro fessores d iscu t i ram o
assunto da consulta reitoral, cada um não só do ponto de
vista geral como visando interesses da sua cadeira.
Tornou a reunir-se o Conselho Colegial a 6 de
setembro, de cinco da tarde às oito da noite, sem nenhum
prejuízo de aulas. Na sessão, o professor Lucindo dos
Passos, condenava o ensino do Latim pela Artinha do padre
Pereira, preconizando tal ensino pelo método de Clintock.
Assim justif icava opinião: — "Chegando a esta
Corte, tive a ventura de ter às minhas ordens a boa livraria
latina do meu pranteado amigo Dr. Almeida Rego, então
estimadíssimo reitor do Internato, cujo nome olvidado pelo
Governo, terá sempre gratas recordações nos seus
discípulos, amigos, colegas e cl ientes.
Foi nessa biblioteca despertada minha curiosidade
para as pesquisas do Latim, e foi por essa curiosidade
que ao ler um anúncio de se achar esgotada em 10 anos a
8a edição da gramática de Clintock, eu a mandei buscar.
O que fiz com ela, máxime no Internato é mais que sabido,
e para minha glória basta dizer que o Barão de Tautphoeus
assim que ela apareceu a admitiu no seu Colégio, e o
mesmo fez o Sr. Dr. Abilio (Dr. Abílio César Borges, depois
Barão de Macaúbas): — haverá alguém mais competente
que estes dois Senhores?
Muitos outros a tem admitido principalmente nas
províncias.
Esgotada a 2a edição e a necessidade próxima de
3a, provam que muito acertei acomodando também para o
Brasil essa excelente obra, que só tem um grande defeito:
— dá muito trabalho ao professor".
A 4 de outubro de 1880, nova reunião do Conselho
Coíegial, iniciada pela proposta para a concessão de
bancos de honra aos alunos do Colégio, por proposta dos
respectivos professores, notando-se entre os distinguidos
no 5o ano João da Costa Lima Drumond, bancos de honra
ESCRAGNOLLE DÓRIA
em História, Física e Cosmografia, no 6o ano o príncipe D. Pedro Augusto e João Carlos Pardal de Medeiros Mallet, bancos de honra em Retórica, no 7o ano e Raul de Ávila Pompeia, bancos de honra em Italiano, História e Corografia do Brasil.
Em seguimento ocupou-se o Conselho Colegial de responder a quesitos formulados pelo reitor Carmo, tratando de estabelecer bases para a distribuição de notas, da conveniência de monitores nas aulas e da presença nestas do inspetor da turma.
Na marcha da discussão colhiam-se opiniões diversas, não fosse o Conselho assembleia humana, sempre propensa à multiplicidade de sentenças pela das cabeças.
Declarava o professor Schieffler "achar impossível outras bases para as notas que não os sentimentos de justiça e equidade do professor", esposada a opinião do professor pelos demais docentes.
Mais agitada foi a discussão quanto à necessidade de monitores nas aulas.
Schieffler declarou-os "nocivos ao ensino, nada do que foi estudado ficando senão o obtido pelos próprios esforços do estudante".
Halbout entendia convenientes os monitores em aulas numerosas, na opinião acompanhado pelo professor Ramos Mello.
Drago declarava "abominável à inst i tuição, mormente quando se poderia lançar mão de professores suplementares, cada aula no máximo com 40 alunos".
O substituto Berquó não aceitava os monitores, segundo ele "nesse cargo os alunos se tornam servis".
Tinha a propor, em relação à presença de inspetores nas aulas, "medida que poderia parecer estranha, mas nem por isto menos profícua".
Reconhecia o bom desempenho dado a deveres pelos inspetores do Colégio, mas desejaria que nele houvesse um inspetor "manejando bem francês, outro inglês, outro alemão, a fim de se dirigirem sempre aos
alunos a seu cargo naquelas línguas representando o papel de professores meramente práticos".
Apoiou a ideia o Dr. Moreira, professor de Italiano, achando-a excelente, desejando-a estendida ao Italiano.
O professor de Inglês, João Rodrigues Macedo, defendia os monitores, "não podendo tolerar se dissesse o monitor um delator, quando o seu papel era de confiança, habilitando alunos à prática da justiça".
Quanto à polícia das aulas entendia o professor Macedo "absolutamente desnecessária a presença de quem quer que fosse além do professor para manter a ordem. Tal coisa, a seu ver, "redundaria em menoscabo do professor que conscienciosamente cumpria dever". Acentuava Macedo a "que por mais numerosa que fosse a classe, quem não sabia manter disciplina, não merecia o nome de professor ipso facto desmoralizado". "O aluno — dizia Macedo — tateia o pulso do professor e de achá-lo forte ou fraco torna-se bom ou mau".
"A manutenção da ordem em uma classe está tão-somente no critério do professor e nenhum há que o não tendo, possa, jamais por meio de inspetores, conseguir a ordem e o respeito que lhe são devidos".
A 8 de novembro de 1880, o reitor Carmo, sempre às horas do costume, das cinco da tarde às oito da noite, reunia o Conselho Colegial, com a presença de quatorze professores.
Tratou-se na sessão de concessão dos bancos de honra e de notas em aulas, até nas de Halbout. Até hoje há muito quem represente o professor Halbout como distribuidor feroz de notas más, reprovador-mór, sem atenção a quaisquer méritos. Tal apreciação do seu procedimento proveio de alunos jamais esquecidos da severidade justa do docente.
Na sessão do Conselho Colegial de 8 de novembro de 1880, propunha, entretanto, Halbout, medida destoante da sua proclamada ferocidade. Achava "que as notas de aula deviam ter toda a importância nos exames, garantindo-. lhes os resultados. Prestasse o aluno mau exame, desde
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
que fossem boas as suas contas de ano, deveria ser
aprovado, embora com grau inferior".
Tais as ideias do impiedoso Halbout.
Roborou-as L u c i n d o , o p r o f e s s o r de L a t i m ,
lembrando o caso de dois alunos seus, de notas más em
aplicação, contudo prestando bons exames.
Ramos Mello, o professor de História, entendia
"deverem ser tidas em muita consideração nos exames
as contas do ano e os bancos de honra. No sentir de
Ramos Mello, quando o exame fosse bom, embora más
as notas de aulas, o aluno devia ser aprovado.
O professor Drago, outro feroz, opinava haver três
elementos a atender no julgamento de exames finais: —
prova escrita, prova oral e conta de ano, aprovado o aluno
quando reunisse ao menos dois desses elementos.
Na sessão do Conselho Colegial de 8 de novembro
de 1880, o Dr. João José Moreira, professor de Italiano,
entrou "em largas considerações sobre a necessidade de
ter a corporação docente do Colégio a autonomia de
Congregação para decidir de tudo quanto dissesse respeito
ao ensino e até ao provimento dos lugares de magistério,
mediante concurso".
Isto encartado na discussão do valor de notas e
bancos de honra em relação a exames f inais e de
suficiência, empenhados naquela discussão muitos dos
professores presentes.
Cabe, pois, ao Dr. João José Moreira a ideia da
t ransformação do Conselho Colegial do Colégio em
Congregação.
O p i n a v a m t a m b é m os p r o f e s s o r e s de A r t e
consultados pelo reitor sobre assuntos pedagógicos,
funcionando qualquer estabelecimento de instrução por
engrenagem, na harmonia de vistas entre professores de
todas as disciplinas lecionadas, sem distinção pueril de
cadeiras maiores e menores tendentes no conjunto a bem
instruir os que se supõem vir à escola educados.
Consultado sobre o s istema de recompensa e
punições a alunos, respondia o professor de Música Mathias
José Teixeira, a 8 de novembro de 1880, — "Penso que
os alunos merecedores durante o ano letivo de 9 notas
boas de aplicação e de exemplar procedimento, poderão
ter distinção; os que obtiverem 6 notas boas de aplicação,
tendo bom procedimento — plenamente — os que tiverem
3 no tas boas de ap l i cação , bem p r o c e d e n d o —
simplesmente.
Quanto a punições por ser o reitor "chefe e versado
em dirigir estabelecimento de instrução, era o competente
para decretar castigo com o maior cr i tér io".
Só deveria ser concedido, no sentir de Mathias
Teixeira, banco de honra ao aluno apresentando 3 notas
boas no tr imestre, além de exemplar procedimento.
"Notas de aplicação, bancos de honra pesariam a
favor do aluno nos exames de suf iciência ou f inais,
e l e v a n d o - o s de um grau se as p rovas f o s s e m
desfavoráveis ao aluno".
De grande importância são prémio e castigo, num
estabelecimento de instrução, sobretudo secundária,
frequentado por adolescentes encalorados pela puberdade,
na inexperiência de mui tos ou na audácia de alguns,
julgando permitido ou tolerado justamente o defeso.
P rémio e p u n i ç ã o , c o m o d i spensá - l os na
manutenção da sociedade humana, se até o céu reclama
paraíso, purgatório, inferno. Viver às claras, sim, às soltas,
não.
Pedida a opinião do professor de Desenho, Poluceno
Pereira da Silva Manoel, acerca de prémios e punições,
propunha ela o s istema de graus para os alunos de
progresso, graus de 1 a 10, conferido graus 10 ao aluno de
constantes notas boas. Os graus de 9 a 6 caberiam ao
aluno de notas entremeadas boas e sofríveis; os graus de
5 a 1 seriam conferidos ao aluno só de notas sofríveis.
Quanto a punições, Poluceno entendia não ter que
opinar.
A respeito de bancos de honra, julgava não ser
conveniente tal recompensa na aula de Desenho: — "O
ESCRAGNOLLE DÓRIA
aluno mudando de banco para ser prejudicado quanto ao bom lugar", dizia o professor, interessado na justiça de julgamento.
Em vez de banco de honra na sua aula, seria preferível a escolha dos melhores desenhos. Figurariam em quadro, num quadro os nomes dos autores dos desenhos.
A 6 de dezembro de 1880, nova sessão do Conselho Colegial muito concorrida, la o Conselho tratar do ensino de Línguas e da conveniência da adoção do método de Clintock para o estudo do Latim.
Segundo o professor Schieffler, no ensino das Línguas Vivas a prática devia ser associada à teoria, esta precedendo aquela, vicioso o processo contrário, dele provindo a incapacidade de reduzir, estendendo a todos os alunos.
Contrariava Goldschmidt a opinião de Schieffler, entendendo dever a parte prática preceder a teórica, em cursos distintos ambas, por corresponder o método e ensino das Línguas Vivas ao modo como o menino aprende a língua materna, só servindo a acumulação de prática e teoria para sobrecarregar o estudante e distrair-lhe a atenção.
A discussão sobre a gramática de Clintock, tão preconizado pelo professor Lucindo, levou Schieffler a discordar.
Goldschmidt acreditava o livro de Clintock útil apenas nas aulas dos primeiros anos de Latim.
Declarava Halbout não conhecer o método de Clintock, sabendo-o, porém, inspirado no de Jacotot. já condenado pela prática.
Com tal método o aluno progredia nos primeiros dias ou meses, estacionava depois.
Lucindo não podia deixar Clintock indefeso. Declarou-lhe o sistema meia modificação do de
Ollendorf. Preferia o livro de Clintock depois de ter lido e relido vinte e seis gramáticas.
Praticamente com o método clintockiano colhera grandes resultados, não só no Colégio, como no Colégio de Santa Cândida, os alunos do Externato, dando quinaus nos do Internato.
Dezoito edições contava a gramática de Clintock nos Estados Unidos, "só podendo ser repelida por aqueles que não a conheciam bem".
O professor Rozendo Muniz Barreto, concordava com Halbout.
No ensino das Línguas Vivas a teoria devia preceder à prática sob pena de tomarem-se os alunos "papagaios".
Informava ter conhecido e conhecer na Bahia eminentes professores de Latim alheios, na sua formação e no seu ensino, ao método Clintock.
Lastimava o professor Ferreira França, a ausência do colega Pacheco da Silva Júnior, "que reunia conhecimento para tratar proficientemente dos assuntos sujeitos à discussão", combatendo, França, como o colega Rodrigues de Macedo, o método Clintock. Às quatro da tarde findava a agitada sessão do Conselho Colegial, iniciada às duas horas.
Afora as sessões do Conselho Colegial, manifestavam-se os professores sobre a orientação pedagógica do Colégio.
Assim dirigia o professor Goldschmidt ofício ao reitor Carmo, a 11 de novembro de 1880, dizendo-lhe: —
" Permita V.Ex.a que aqui apresente por escrito uma ideia que expus na última Conferência Colegial, e, segundo me parece, passou desapercebida, isto é, que na reforma que se tem de fazer, se acabe com os exames de suficiência, servindo o último concurso trimestral, que pode ser assistido ou mesmo presidido por V. Ex.a, como prova do exame, e aos alunos que nele passarem, serem aprovados conforme os seus merecimentos.
Deste modo o exame tornar-se-á de certo modo mais rigoroso e ao mesmo tempo mais agradável aos alunos e aos professores, mais rigoroso por constar de uma prova escrita, mais agradável aos alunos, porque não terão de
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fazer exames de prova ostentação e mais agradável aos
professores porque poderão empregar o tempo gasto por
eles em exames em pura perda, porque já conhecem o
merecimento de cada um de seus discípulos.
Se V. Ex.a achar esta minha ideia plausível, digne-
se de aceitá-la, se não, desculpe o haver eu ocupado o
p r e c i o s o t e m p o de V.Ex.a com o b j e t o tão pouco
importante".
O ofício de Goldschmidt em 1880 é curioso por
despertar reflexões. A proposta dele precede de muito o
regime atual das aprovações por média, tanto o novo é
quase sempre muito velho.
À espera do início do ano letivo de 1881, por ofício
de 16 de fevereiro, declarava o reitor Carmo a superiores
hierárquicos, o Min is t ro do Império e o Inspetor de
Instrução Pública, "que o Imperial Colégio de Pedro
Segundo não preparava alunos para os cursos superiores
tais quais se achavam constituídos entre nós, preparava-
os para conhecimento mais amplo das matérias que
c o n s t i t u e m o seu p r o g r a m a , f o r n e c e n d o - l h e s os
i nd i spensáve is e l e m e n t o s para esse resu l tado , e
preparava-os para as condições de cidadãos nas múltiplas
e complexas relações da sociedade em que t inham que
viver, fossem ou não os alunos do Colégio bacharéis em
Direito, doutores em Medicina ou Matemát ica".
Em abril de 1881, declararia o reitor Carmo "que
Externato e Internato não eram dois estabelecimentos de
instrução distintos e separados senão duas seções de um
só e s t a b e l e c i m e n t o " , f r i sando ass im a imper iosa
necessidade da indefect ivel harmonia entre as duas
seções de Casa única.
Ponderava Carmo a vantagem da harmonia entre
as reitorias do Externato e do Internato. "Ponho, dizia,
todo o empenho em conservar tal harmonia, bem certo de
que da rivalidade e da luta entre essas duas seções só
poderiam resultar prejuízos para ambas".
Observava o reitor Carmo que tomando posse do
cargo cogitara em restabelecer a disposição do artigo 2
do Regulamento n.° 8, de 31 de janeiro, reunindo o Conselho
Colegial nos dias ai determinados.
Afigurava-se a Carmo que para certo declínio do
Colégio contribuiu o isolamento em que se haviam mantido
largo tempo os membros do corpo docente, cada um deles
concentrado na esfera relativamente estrita de sua aula,
fato sem dúvida a dificultar senão impedir direção técnica,
geral e harmoniosa de ensino.
Em fevereiro de 1881, novo encargo vinha pesar
sobre a reitoria do Externato, transferidos da Inspetoria da
Instrução Pública para aquela reitoria superintendência dos
exames gerais de preparatórios.
Entendia, porém, o reitor Carmo conveniente a
extinção das delegacias e das mesas de exames de
preparatórios em algumas províncias.
"— Sei — dizia Carmo — de que ordem são as
objeções que se opõem a este desideratum; mas não
recuo diante da ideia que sugiro (ao Ministro Homem de
Mello), porque estou certo que nenhuma objeçào assenta
em considerações de interesse público.
Não basta por diante a palavra descentralização para
ocultar os inconvenientes que derivam da conservação das
escolas a que aludo, que não cumprem, que não podem
cumprir, a missão que lhes é confiada."
Carmo procurava cumpr i r a promessa, não há
dúvida, no grande e no pequeno. Assim tendo os alunos
do 7o ano pedido feriado nos dias 25, 27 e 28 de junho, por
serem dias intercalados entre os feriados de São João e
São Pedro, ponderava Carmo ao Ministro Homem de Mello,
que os feriados legais não constituíam razão para converter
em feriados dias úteis a estes próximos. Além disso o
ano letivo de 1881 iniciara-se a 2 de abril e não a 16 de
março, diferença de 16 dias nos trabalhos letivos.
Trabalhando com afinco na direção do Externato, em
janeiro de 1881, havia o reitor Carmo remetido ao Ministro
Homem de Mello projeto de reforma do Imperial Colégio,
ponderando a conveniência de qualquer modificação ao
plano de estudos da Casa era útil antes de iniciar o ano
letivo.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Querendo expedir reforma do ensino no Colégio, o Ministro Homem de Mello desejou que fossem ouvidos os professores da Casa sobre o projeto de reforma em elaboração.
O reitor Carmo reuniu o Conselho Colegial às cinco horas da tarde de 8 de fevereiro e abrindo sessão, declarou "que os Srs. Professores estavam habilitadíssimos para dar, de momento, seus pareceres sobre a reforma, não só pela sua experiência no magistério, como porque já sobre o assunto também detida atenção, ao responderem aos quesitos formulados na primeira reunião do Conselho Colegial (a 2 de agosto de 1880).
Então o secretário interino do Externato, João Alves Mendes da Sylva, sem interrupção procederia à leitura de todo o projeto de reforma e seu plano geral. Seguir-se-ia leitura espaçada de cada artigo, de modo a permitir observações por parte de professores.
Das cinco da tarde às dez da noite, o Conselho Colegial discutiu a matéria, oferecida à sua consideração pela do Ministro; conforme atas do Conselho Colegial.
A 24 de março de 1881, um Decreto referendado pelo ex-professor do Colégio, o Ministro Homem de Mello, modificava bastante os regulamentos da instituição.
A reforma não alterava a duração do curso de bacharelado, continuava a ser septenato. Dezoito professores leriam no Externato, outros tantos no Internato. Treze substitutos, comuns às duas seções do Colégio, auxiliariam os catedráticos no curso de bacharelado. O estudo da língua vernácula prosseguiria até o 5o ano.
Prosseguiria também no 6o ano o estudo da Retórica, da Poesia e da Literatura Nacional. No 7o ano far-se-ia o estudo comparativo do Português e das Línguas Românicas, dos principais períodos literários da Língua Portuguesa, analisadas as diversas fases da Literatura de Portugal.
Pela reforma de 1881 seriam assim estudadas as disciplinas no Colégio: —
Latim —No 2o, 3o, 4o e 5o ano. Grego —No 6o e 7o ano.
Inglês — No 4o e 5o ano. Francês — No 1 o , 2o e 3o ano. Alemão —No 6o e 7o ano. Português — No 1 o , 2o. 3o, 4o e 5o ano. Italiano — No 7o ano. História Geral — No 5o e 6o ano. Corografia do Brasil — No 7o ano. Geografia Geral — No 1 o , 3o e 4o ano. Matemática — No 1 o , 2o, 3o e 4o ano. Filosofia —No 6o e 7o ano. História Natural — No 6o ano. Dispensava a Reforma Homem de Mello para a
obtenção de grau de bacharel em letras, aprovações em Desenho, e Música e Ginástica, sem dispensa contudo das respectivas aulas. Não seria obrigado o acatólico à frequência ou exame da aula de Religião.
Fixava a reforma horária das aulas. Iniciadas às 9 da manhã, nos dias úteis, findariam às 3 da tarde. Programas de ensino, adoção de livros, horários ficariam a cargo de reitores, consultados professores e mestres, submetendo o Inspetor Geral da Instrução ao Ministro do Império as providências das reitorias. Mantinha a reforma a classe dos meio-pensionistas e no Externato frequência de aulas avulsas, habilitado o candidato a elas a seguir-Ihes o ensino, prestados exames vagos de qualquer ou de todas as matérias do curso. Visando acatólicos, a reforma substituía verbo no juramento do grau. Deveria o acatólico jurar respeitar e não manterá religião do Estado.
Anualmente, no Diário Oficial, seria publicada, por indicação dos competentes mestres, a lista dos alunos mais destacados nas aulas de Música, Desenho e Ginástica.
Em vigor no Colégio a Reforma Homem de Mello, o reitor Carmo convocava o Conselho Colegial a 2 de maio de 1881.
Aberta a sessão, às cinco e meia da tarde, o reitor pôs em discussão vários pontos já submetidos em circular ao exame dos professores, a circular expedida a 23 de abril.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837-1937
Os pontos sujeitos à consideração do Conselho eram os seguintes: —
1o — relação entre o ensino e os exames. Meios práticos de evitar prejudicial antagonismo entre a preocupação destes e o fim daquele, atendendo-se, não só ao que respeitava os exames do Colégio como o que entendia com os exames gerais de preparatórios.
2o — Condições que deviam reunir os professores e se suficientes as até então exigidas para admissão ao professorado do Imperial Colégio de Pedro Segundo.
3o — Possibilidade de converter-se, desde logo, o Conselho Colegial em Congregação, em que condições, consideradas as duas seções — Externato e Internato.
Abriu discussão o professor Goldschmidt dizendo que por mais que procurasse não achara possível o antagonismo enunciado no primeiro quesito da circular.
Quanto ao segundo, entendia suficientes, senão excessivas, as condições em vigor para admissão ao professorado do Colégio.
Nunca compreendera a vantagem da divisão do Colégio em duas seções, parecendo-lhe que deveria a Casa ser dirigida por um só reitor, dois vice-reitores servindo-Ihe de auxiliares.
Opinava ainda Goldschmidt pela conveniência da conversão do Conselho Colegial em Congregação, mantendo-se a reitoria em esfera elevada, concedida ao corpo docente mais direta e eficiente influência na direção do ensino.
Schieffler e Halbout declaravam-se de inteiro acordo com Goldschmidt, cujas, ideias também Monsenhor Félix aceitava. Mas este não confiava muito nos corpos coletivos parecendo-lhe necessária alteração dos regulamentos em vigor para conversão do Conselho Colegial em Congregação real e não nominal.
O professor Silva Lisboa reputava insuficientes as provas de concurso da época, mau o sistema de teses, podendo elas ser escritas por terceiros, preparando-se o candidato para prova de efeito, simuladora de habilitação,
pondo em jogo recursos intelectuais próprios. Condenando a prova oral, o professor Lisboa encarecia, em parte, o valor da escrita. Recuava o mesmo professor ante a ideia da conversão do Conselho Colegial em Congregação. Não podia combinar os interesses dos professores com a utilidade e proveito do Colégio, deixando a competentes a solução do problema.
O professor Olímpio da Costa declarava não compreender bem o que fosse antagonismo entre ensino e exames, parecendo-lhe que se antagonismo havia entre o Colégio e o que fora dele se passava, evitá-lo-ia uniformização dos programas.
Referindo-se aos concursos, dizia o professor Olímpio da Costa "não acompanhar os que queriam quebrar os andaimes por onde haviam subido" ao professorado do Colégio.
Parecia-lhe preferível arguição recíproca entre candidatos, julgando necessária a conversão do Conselho Colegial em Congregação útil, caso realizada sobre a base da distinção entre administração e economia.
Declarava o professor estar de acordo quanto ao 1o
quesito com o professor Goldschmidt, quanto ao 2o com o professor Lisboa, quanto ao 3o com Monsenhor Félix.
Parecia-lhe, entretanto, que o candidato à cadeira de uma ciência deveria mostrar-se habilitado em todas as ciências lecionadas no Colégio, o mesmo se dando com o aspirante a cadeira de qualquer língua. Não parecesse o seu juízo exigência rigorosa, pois pelas disposições em vigor ao bacharel pelo Colégio cabia preferência na nomeação para professor.
O professor Rozendo Muniz Barreto entendia dever o programa de exames estar de acordo com o do ensino, o mesmo programa vigorando para os exames do Imperial Colégio e os de preparatórios. Aludindo aos "andaimes" citados pelo professor Olímpio, asseverava o professor Rozendo "não se arrecear de quebrar a escada por onde subira, ainda que fácil a ascensão, o que para ele não se dera".
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Focalizando a questão apenas no interesse público, julgava Rozendo o pergaminho, presunção da habilitação, suficientes as provas de concurso, confirmadoras da presunção derivada do pergaminho, "colocando o candidato em condições de não ser equiparado a qualquer aventureiro".
Dava toda importância à apresentação de tese, insuficiente, porém, o prazo de quinzena para sua apresentação. Era pela arguição mútua dos candidatos, substituída a da mesa examinadora, mormente o Conselho Colegial convertido em Congregação apreciadora das provas. Quanto à conversão cumpria distinguir entre matérias permanentes, administrativas e outras de natureza pedagógica ou de natureza mista. Caberiam exclusivamente as primeiras à reitoria, as segundas ao professor, as terceiras à Congregação presidida pelo reitor com voto de qualidade, conveniente reitoria única para as duas seções do Colégio.
Manifestou-se o professor Rodrigues de Macedo, em substância, de acordo com o professor Goldschmidt, julgando possível "o compadresco na arguição pelos examinadores", embora o mal encontrasse corretivo na suprema inspeção do Governo.
O professor Arthur de Oliveira pediu vénia para abster-se no momento de participar da discussão, visto ser "homem novo na casa".
Lamentava o mestre de Ginástica, Paulo Vidal, não se achar a sua classe em pé de igualdade com a dos professores. Para as aulas de Ginástica não se exigiam habil i tações, todavia indispensáveis provas do conhecimento do corpo humano, de osteologia, da miologia, da diferenciação dos grandes centros nervosos.
O mais longo dos pareceres foi o de José Manoel Garcia, professor de Português do 2o e 5o ano do Externato e dele vice-reitor.
Disse que estabelecer programas de pontos para exames gerais, de molde a conhecer se o examinando sabia a matéria inteira era "descarregar golpe de morte na
especulação que preparava por pontos ad hoc os jovens preparatorianos".
Quanto a concursos entendia Garcia que dos candidatos se deveria exigir, além do perfeito conhecimento da matéria, provas de habilitação e metodologia, especialmente da matéria a ensinar. Não era inovação em face das instruções de 5 de janeiro de 1855, considerando Garcia insuficiente a prova oral estabelecida pelas instruções de 24 de outubro de 1878.
Nenhuma importância ligava à prova de tese, pois esta podia ser feita por terceiro, dando-se o caso de ser o candidato ensaiado para brilhante defesa. Não via inconveniente na arguição mútua de candidatos, autorizado o presidente do ato excluir dele quem não se portasse com devida urbanidade e circunspeção.
Tratando da transformação do Conselho Colegial em Congregação, opinava Garcia haver duas espécies de Congregação: — as autónomas e as dependentes de quem as custeia. A primeira espécie não lhe parecia aplicável ao Imperial Colégio, porquanto o "self government" só pertencia às corporações de ensino livre administradoras do próprio património.
Supunha a segunda espécie, a da Congregação dependente, o mesmo pé de igualdade de seus membros quanto à ilustração, consideração e importância pessoal. De outro modo, dizia Garcia a seus pares, o interesse individual, a inveja inconfessável, os ódios reencontrados, as pretensões contrariadas acharão meios de formar maiorias caprichosas, para levar de vencida os adversários, e daí o prejuízo do ensino, o declínio da instrução, sem ser possível descobrir o verdadeiro responsável.
Com estas e outras muitas considerações severas opunha-se Garcia à transformação do Conselho Colegial.
Como lhe lembrassem existência de Congregação na Escola Normal da Corte, "filha de Garcia" diziam lembradores, o impugnador retorquia ser a Escola Normal ainda muito jovem, mal se podendo prever o que produziria
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837-1937
no futuro. Nâo lhe cabia responsabilidade na criação da Congregação da Normal. Já existia quando para ela entrara.
Caso ao Governo aprouvesse transformar em Congregação o Conselho Colegial, julgava Garcia que, dos males preferido o menor, mais consentâneo seria a índole da Instituição, estabelecer-se reitor único para as duas seções do Colégio, uma só Congregação formada pelos professores das duas seções da Casa dirigida por aquele reitor. Teria a Congregação esfera de ação determinada, sujeitos os seus atos à aprovação do Governo.
Assim, às 7Vè da noite de 2 de maio de 1881 terminava mais uma sessão de Conselho Colegial. Às 5 M? da tarde de 6 de junho de 1881 nova sessão para discutir quesitos propostos pela reitoria do Externato aos professores por circular de 19 de maio.
Desejou consultá-los a reitoria para saber se os compêndios e manuais de ensino usados no Colégio satisfaziam necessidades da instituição e dado que não satisfizessem quais os susceptíveis de revisão, correção ou organização.
Desejava mais a reitoria dissesse o Conselho que obras literárias, pedagógicas ou científicas conviria adquirir para engrandecimento da Biblioteca do Externato, como ordenava o plano de estudos do Colégio.
Pronunciar-se-ia, também, o Conselho Colegial sobre a utilidade de preleções ou conferências públicas e periódicas feitas pelos professores do Externato, apontando o Conselho, no caso afirmativo, quem se achava em condições de realizar aquelas conferências.
O professor Schieffler julgava-as, com franqueza rude, "inconvenientes, porquanto em geral só se animava a tomar nelas a palavra quem não entendia da matéria".
Acompanhou-o na franqueza germânica a franqueza de Halbout, no bom sangue francês polvilhando-a de ironia.
"Parece-me, disse, que o Colégio deve resistir ao prurido de falar, moléstia crónica ou enfermidade da moda,
manifestada nas conferências, onde não raro apareciam pigmeus, como nas da Glória a que a gargalhada pública fazia justiça".
Monsenhor Félix acrescentava que preleções e conferências figuravam entre causas da queda do Império Romano. Silva Lisboa pendia para a utilidade das conferências, "uma vez não feitas a esmo, embora onerassem professores". Lucindo aplaudia as conferências, mas constituindo cursos. Era Carlos França favorável à ideia das conferências.
"Produziriam excelentes resultados para os ouvintes e dariam medida da importância do Colégio".
Conferências públicas, inscrições voluntárias e pontos de discussão escolhidos pelos professores nos limites da matéria do programa do ensino, seriam de incontestável utilidade. E França terminava oração, com uma seta do parta. "Talvez me exprimo assim porque não falto". Difícil, se não impossível, saber hoje quem recebeu a seta.
O professor Rodrigues de Macedo, a propósito do melhoramento da Biblioteca do Externato, dizia saber "que as obras pedagógicas eram úteis, embora já tivesse passado o tempo em que cada erro, cada bolo. Ao professor que não soubesse tocar a corda sensível do estudante pouco poderiam aproveitar tais obras".
Era adverso às conferências porque o público ficaria formando mau conceito do professor que não pudesse falar por acanhamento e, demais, não podendo as preleções versar sobre matéria inteiramente nova ninguém lhes prestaria atenção e qualquer aranha distrairia o público.
O professor de Ginástica, Paulo Vidal, lembrando conveniência de organização de compêndio de educação física nacional, entendia úteis as preleções se consistissem na exposição de métodos de ensino.
O mestre de Desenho Poluceno Manoel achava as preleções úteis relativamente à arte de sua aula.
Terminou a sessão do Conselho Colegial às 7 % da noite por longa exposição do professor José Manoel Garcia.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Entre muitas considerações disse pugnar "para que o público ficasse conhecendo que no Imperial Colégio de Pedro Segundo havia professores que mereciam tal nome, dissipando a má impressão causada pela acusação de plágio e o ridículo que em publicações a pedido nos jornais da Corte se tinham lançado sobre algumas teses de concurso."
Entendia, mais uma vez, o professor Garcia que o concurso provava apenas habilitação em tal ou tal disciplina e não que o professor escolhido tivesse variada ilustração e tino pedagógico.
Amiudava o reitor Carmo as sessões do Conselho Colegial, a eles chamados os professores e mestres do Externato e do Internato.
A 4 de julho de 1881 reunia o Conselho, sujeitando-Ihe à apreciação três quesitos mandados a estudo prévio a 27 de julho.
Desejava o reitor que o Conselho lhe dissesse:
1o — Atento o fim da instituição, cuja resolução depende do trabalho harmonioso de todos os senhores professores, em que condições e dentro de que limites podia cada um opinar e influir sobre a direção das aulas dos outros.
2o — Em que bases convinha assentar com as noções de gramática geral recomendadas pelas instruções em vigor para uso de todas as aulas de línguas no estabelecimento.
3o — Qual o melhor método para o ensino de Línguas Vivas.
Rompeu discussão o professor Halbout. Julgou competir à administração e não professores a inspeção das aulas, tendo como certo não ser possível tal inspeção por destacadas as matérias do ensino.
Não via necessidade de gramática geral, "cuja consequência seria modificarem-se compêndios de colegas que, no seu entender, continham ideias extravagantes. Quanto ao melhor método do ensino de
Línguas Vivas eram a regra, o exemplo, a aplicação, mais profícuas do que guias de conversação e repetidas composições."
Pensava o professor Lisboa haver utilidade no preparo de gramática geral, achando ao mesmo tempo difícil "harmonizar tantas cabeças divergentes".
Declarou-se o professor Lucindo de acordo com os preopinantes, seguindo-se o professor Olímpio da Costa, entre várias considerações, declarando insuficiente o tempo para que os alunos pudessem bem falar uma língua estrangeira. Com a franqueza e independência reveladas nas discussões do Conselho, o professor Olímpio da Costa opinava "que o Governo não tinha meios de satisfazer o luxo de fazer o aluno, dada a premência do tempo, expressar-se bem no idioma alienígena para ingressar na sociedade, ele Governo não tendo podido cumprir as suas promessas relativamente ao ensino primário".
Com a mesma franqueza do professor Olímpio da Costa, perguntava o professor Carlos França "porque os Srs. Ministros que para resoluções procuravam auxílio de simples empregados de secretarias não consentiam ao professor habilitado opinar sobre o ensino das diversas aulas".
Desejava França nomeação de comissão que assentasse as bases das noções de gramática geral, convocados os professores de línguas para juízo do plano, resolvida finalmente em assembleia geral.
No ensino de Línguas Vivas entendia indispensável prática, muita prática, ao lado da teoria. Deviam, no seu entender, ser feitas traduções e versões em alta escala, vertendo e compondo os alunos frases de uso quotidiano, ao arbítrio do professor, quais as encontradas nas contas, artigos de jornais, até em rótulos de garrafas.
Sugeria a ideia da criação de três censores falando bem francês, inglês e alemão, com eles praticando os alunos. Nos colégios das irmãs de caridade as meninas não falavam francês?
A necessidade de exprimir-se em línguas estrangeiras parecia ao professor França incontestável,
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
"até porque tínhamos corpo diplomático ao qual convinha
m o s t r a r - s e hab i l i t ado a e x p r i m i r - s e em l ínguas
estrangeiras."
Segundo o professor Macedo qualquer professor
podia influir e opinar sobre aulas alheias, mas só por meio
de colóquios e conversações particulares. Podia "parecer
carranca", mas entendia que no ensino de Línguas Vivas
a teoria ia a par da prática, faci lmente o aluno chegando a
esta uma vez senhor do mecanismo da língua. "Ainda
assim o aluno devia dar graças a Deus se conseguisse
verter da língua estranha para a nacional e vice-versa,
condição essencial o conhecimento da língua vernácula,
bastão e arr imo".
O professor José Manoel Garcia discutiu longamente
os quesi tos propostos pela rei tor ia, considerando o
Conselho Colegial, conselho de famíl ia, necessárias
providências para atingir o ensino o grau de perfeição
desejável em Colégio modelo qual o de Pedro Segundo;
evitando-se que os professores de certas aulas pudessem
queixar-se do mau progresso de alunos em outras aulas.
Acudia Lucindo declarando que não duvidaria
ensinar português (Garcia era professor da língua), aos
alunos de Latim que mal o soubessem. Respondia-lhe
Garcia que "pagando o Governo professor para certa
disciplina não era justo encarregar outrem do trabalho que
não lhe compet ia" .
No curso secundário, Garcia conforme no ensino de
Línguas Vivas era "preferível o método universitário, isto
é, regra, exemplo e prática, e não aquele dando ao
professor o papel de ama de le i te" .
As sessões do Conselho Colegial, correspondentes
à futura novidade dos Conselhos Técnicos, demonstravam
interesse pelo "grau de perfeição" desejado pelo professor
Garcia para o colégio modelo, depois padrão. Modelo ou
padrão o essencial é o ser.
A 27 de julho de 1881 propunha o reitor Carmo ao
corpo docente os seguintes quesitos:
1o — Qual o melhor sistema para formação dos
professores de ensino secundário.
2 o — Nos Externatos de instituição oficial a ação do
Estado deve limitar-se à instrução, isto é, ao fornecimento
de certa ordem de conhecimentos ou estender-se a direção
moral, à educação propriamente dita.
Ao primeiro quesito — Qual o melhor sistema para
formação dos professores de ensino secundário — assim
responderam vários docentes na sessão do Conselho
Colegial de 2 de agosto de 1881:
Monsenhor Félix: — Mos t ra r - se o p ro fessor
habilitado na matéria que leciona e capaz de ensiná-la.
Abreu: — Possuir a índole e o génio do professorado,
escolhido quem revelasse mais prática de ensino.
Schieffler. — Mandar estudar na Europa desde oito
anos de idade quantos se dest inassem à carreira do
magistério, evitando-se assim professores curiosos ou
amadores e o preenchimento de cadeiras por bacharéis
apenas três meses após bacharelado.
Silva Lisboa: — Exigir do professorado conhecimento
especial da matéria a lecionar e das disciplinas mais
i n t i m a m e n t e re lac ionadas com aque la , a l ém de
conhecimentos de pedagogia.
Lucindo: — De inteiro acordo com Monsenhor Félix.
Ramos Mello: — De acordo com o professor Abreu,
não parecendo indispensável ir à Europa para aprender
alguma coisa, bastando como aperfeiçoamento pedagógico
prémio de viagem "ad instar" do praticado com alunos da
Academia das Belas Artes.
Rozendo Muniz: — Adqu i r i r an tes de t u d o ,
indispensavelmente, a arte comunicativa de transmitir os
fatos do pensamento, a educação literária do professor,
devendo favorecer o estilo na eloquência didática, não
sendo menos útil penetrar as origens e os verdadeiros
elementos da vida nacional, nem sendo para desdenhar
os exercícios corpóreos por aspirante a professores, sendo
até bom que possuíssem o que se denominava academia
da antiga nobreza, por formar o ensino médio a nata social,
a aristocracia intelectual do país.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Olímpio da Costa: — Fundar estabelecimento normal secundário ou, atentas circunstâncias do país, dividir os estudos do Imperial Colégio em seções, com uma seção pedagógica para formação de professorado.
Carlos França: — Impedir o sistema proposto pelo professor Schieffler de preparar para o magistério estudantes desde oito anos de idade, idade de propensões e tendências não bem definidas, impossível verificar então vocações para o professorado.
Rodrigues de Macedo: — Estabelecer-se liceu ou academia para verificação de aptidões para o magistério, contratados professores hábeis em pedagogia.
Garcia: — Criar seminários pedagógicos para preparação de professorado.
Ao segundo quesito formulado pelo reitor Carmo — Nos Externatos de instituição oficial a ação do Estado deve limitar-se à instrução, isto é, fornecimento de certa ordem de conhecimentos ou estender-se à direção moral da educação propriamente dita — assim se manifestaram vários membros do Conselho Colegial.
Monsenhor Félix: — Instrução sem educação, principalmente religiosa, nada vale.
Abreu: — Cumpre aproveitar todo o ensejo para inocular no ânimo dos alunos princípios de boa educação.
Schieffler: — Ensino sem educação é quadro sem moldura.
Lucindo: — De acordo com Monsenhor Félix. Ramos Mello: — A educação pertence à sociedade,
a família é a verdadeira escola para formação do coração e do caráter.
Rozendo Muniz: — Não é possível ser homem e cidadão sem princípios de moralidade. Assim sendo, não há pretexto para que o Estado se possa subtrair à missão de exercer, pelo professor e pelo ensino, influxo moral nos alunos. Opinião antecedida por muitas e eruditas considerações.
Olímpio da Costa: — A instrução não pode absolutamente ser separada da educação moral, como
também esta se não pode separar da educação religiosa, inconveniente em Externato oficial, firmar o princípio da educação religiosa, essencialmente católica ou não. No primeiro caso por ir de encontro à liberdade de cultos, no segundo por afrontar o pensamento da maioria consagrado na religião do Estado, não inspecionável a educação dada pela família, podendo afrontar a oficialmente dita e em prejuízo desta.
Rodrigues de Macedo : — A felicidade do homem está no cumprimento do dever.
Paulo Vidal: — Instrução sem educação é instrumento de ruína.
Indagava o reitor Carmo do Conselho Colegial qual o melhor regime disciplinar aplicável ao Colégio.
Assim vários professores respondiam: Monsenhor Félix: — No regulamento vigente está
exarado o melhor regime. Abreu: — De modo absoluto não se pode determinar
qual o melhor regime, variável conforme o caráter do professor e as circunstâncias do país e só pelos resultados, avaliável o mentor de regime disciplinar qualquer.
Schieffler. — O regime depende da índole, do caráter e de outras circunstâncias.
Lucindo: — De acordo com o Monsenhor Félix. Ramos Mello : — Nada acrescentaria ao juízo dos
colegas. Rozendo Muniz : — Sem impugnar o regime
disciplinar vigente no Colégio, só lhe restava dizer não haver regime disciplinar capaz de manter a ordem, despertar a emulação e corrigir delinquentes ; por falta de ensinamentos ou por vícios e firmeza de inteligência próprios da índole, quando o professor, personificação da lei que prefere impedir a falta a castigá-la improficuamente, deixa de ser vivo transunto da mansuetude, da paciência eda equidade.
Olímpio da Costa: — A verdadeira moral consiste na aplicação das regras da disciplina, em estabelecimento, disciplinado, cada professor na sua aula incumbido de
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
manter disciplina de apoio na força moral dada pelos administradores.
José Manoel Garcia: — Posto em prática com o devido critério o regime disciplinar vigente no Colégio nada deixa a desejar.
Tal a última das sessões do Conselho Colegial, objeto do artigo 2o do Regulamento de 31 de janeiro de 1838, e ressuscitado pela reitoria Carmo.
Pelo Decreto de 24 de agosto de 1881, atendendo às representações dos professores e substitutos do Imperial Colégio, o Ministro Homem de Mello convertia em Congregação o Conselho Colegial, cuja breve existência ficou assinalada por discussões minudentes e interessantes, entendendo de perto com a vida da instituição, discussões nas quais se observou a maior liberdade de juízos, alguns repassados de expressões felizes e até de ironias.
O Decreto instituidor da Congregação traçava-lhes direitos e deveres. Os substitutos só tomariam parte no corpo congregado, quando ocorresse matéria de concurso, os mestres nele presentes se ocorressem assuntos relativos às suas aulas.
Organização anual de programas de ensino, de horários, de adoção de obras e compêndios, mediante aprovação do Ministro do Império, formação dos pontos dos exames finais e de suficiência, isto é, de promoção, julgamento de expulsão de alunos com efeitos devolutivos para o Governo, eleição de mesas examinadoras de concursos, julgamento destes, apresentação ao Governo de lista de candidatos classificados por ordem de merecimento, além de regimento especial de provas e processos dos concursos e programas dos pontos a serem utilizados nestes, eleição de professor para elaborar a memória histórica do ano letivo findo, tudo o Decreto Homem de Mello entregava à Congregação do Colégio, providenciando também sobre formação das mesas de exames finais e de suficiência, sempre presididas pelo reitor.
Havia o Conselho Colegial durado justo um ano, de 2 de agosto de 1880 a 2 de agosto de 1881, no espaço de ano de vida, celebrando dez sessões prolongadas, estendendo-se da tarde à noite, cinco sessões em 1880 e outras tantas em 1881.
As atas do Conselho Colegial são dignas de leitura e demonstram o interesse do corpo docente por questões pedagógicas, esclarecidas com conhecimento de causa.
O Decreto n.° 8227 de 24 de agosto de 1881 convertera em Congregação o Conselho Colegial do Imperial Colégio de Pedro Segundo.
Quase mês depois celebrava a nova assembleia primeira sessão numa das salas do Externato, sob presidência do Inspetor Geral de Instrução Primária e Secundária, Conselheiro José Bento da Cunha e Figueiredo, presentes os reitores do Externato e Internato, Carmo e Leal, vinte e nove catedráticos, e treze substitutos, faltando apenas três membros da Congregação.
Às cinco e meia da tarde de 24 de setembro de 1881, o Conselheiro José Bento, abrindo sessão primeira da Congregação explicava o fim da reunião. Tratava-se de dar execução ao Decreto criador da Congregação, convindo desde logo que ela cogitasse de regimento interno.
Após algum debate resolveu a Congregação em definitivo e por votação nominal, que ela se limitasse a nomear comissão para redigir projeto de regimento sujeito a ulterior discussão.
Assentou votação nominal que a comissão fosse composta de cinco membros.
Saíram eleitos os professores Carlos de Laet, por 37 votos, Caminhoá por 35, Frontin por 33, Goldschmidt por 21, Abreu por 19, encerrando-se em seguida a sessão por nada mais caber na ordem do dia, conforme ata redigida e subscrita pelo secretário do Externato — João Alves Mendes da Sylva, o qual fazia aliás muita questão do y em vez do /no apelido último.
A 3 de novembro de 1881 reunia-se de novo a Congregação para eleger duas comissões, uma incumbida
ESCRAGNOLLE DÓRIA
de alunos e do regimento do Colégio, outra de elaborar regimento especial de provas e processos de concurso.
Procedeu-se a eleição por listas de dez nomes cada uma, presentes 35 votantes.
Para a primeira comissão foram eleitos, por ordem de votação, Goldschmidt, Frontin, Tautphoeus, Drago e Garcia, para a segunda comissão mais votados Tautphoeus, Drago, Caminhoá, Thomaz Alves e Ramos Mello.
Instituindo a Congregação do Imperial Colégio, o Governo procurava prestigiá-lo. Assim, na sessão de 31 de dezembro de 1881, o Inspetor da Instrução Pública, presidente da assembleia, declarava-lhe, de ordem do Ministro do Império, então interinamente na Pasta o Senador Dantas, poder a Congregação do Colégio dar parecer sobre projeto de Universidade nas vistas do Governo, parecer sobre todo projeto e não só sobre instrução primária e secundária.
Assinalado no Colégio o ano letivo de 1881 pela conversão do Conselho Colegial em Congregação também o termo do referido ano letivo assinalaria turma de bacharéis.
Compunha-se de doze setimanistas, seis do Externato, seis do Internato. Na turma, pela posição social, primava o príncipe D. Pedro, neto do Imperador pelo lado materno, colega no Externato de João Carlos Pardal de Medeiros Mallet, que mosqueteiro, desde moço, deveria destacar-se nas letras, e de Alexandre Soares de Mello, mais tarde secretário do Externato, por fim, diretor geral de uma seçâo do Ministério da Justiça e Negócios Interiores. Na turma do Internato figurava Aureliano Vieira Werneck Machado, conhecido depois como dermatologista.
Distinguia-se D. Pedro II, pela presença nas solenidades de grau do Colégio e só ausência motivada delas o privava.
À satisfação habitual de presidir colações de grau no Colégio, juntou-se em 1881, o grande prazer de saber e
ver laureado neto pelo qual se desvelava. No ato o chefe de família sobrelevava-se ao soberano, o coração à coroa.
Encerrando o histórico do ano letivo do Colégio em 1881, cumpre frisar uma das principais preocupações de Carmo, como reitor do Externato, a fiscalização dos exames gerais de preparatórios, realizados, por força do Decreto de 5 de fevereiro de 1881, perante mesas presididas pelo reitor do Externato e formadas por três examinadores designados pelo reitor e tirados do corpo docente do Colégio ou da Escola Normal.
Não só o reitor Carmo influíra para as disposições do referido Decreto, referendado pelo Ministro Sodré Pereira, como tomava parte ativa nos exames de preparatórios presente, ora em uma mesa, ora em outra, correndo todas. Os professores do Colégio haviam coadjuvado o reitor no impedir que alunos do Pedro Segundo prestassem exames entre preparatorianos.
Em 1880, o professor substituto João Rodrigues de Macedo, "fazendo as vezes de catedrático", como se dizia na época, ou catedrático interino, como hoje se diz, protestava junto à reitoria contra aquele fato.
Referindo-se às aprovações de alunos do Colégio na Instrução Pública, declarava Rodrigues de Macedo, ao reitor Carmo, que tais aprovações "desmoralizavam o aluno aprovado aos olhos de alguns colegas que, sensatos, lhes conheciam a força; ao mesmo tempo que espantavam outros que, ignorantes, não sabiam a quem dar crédito — se ao professor da cadeira que lhes assegurava que não sabia e que lhes cumpria estudar muito se à mesa examinadora que os aprovava acoroçoando-lhes a estulta crença de que conheciam a matéria trazendo, como consequência, o desamparo dos livros, da aplicação, a indolência enfim".
Vários professores do Colégio, em 1881, reclamavam contra o abuso da prestação de exames de preparatórios por alunos da Casa obtendo boas notas, quando não se mostravam habilitados nas disciplinas nas quais haviam sido aprovados.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837-1937
O professor de Filosofia, Rozendo Muniz Barreto,
dizia o reitor Carmo, entre considerações, que "se por um
lado era honroso para o Colégio, que os seus piores alunos
ombreassem com os melhores dos colégios particulares,
por outro lado não se fariam esperar funestas
consequências de tantas disparidades".
Halbout, professor de Francês, reclamava também
contra prestação de exames de alunos do Colégio na
Instrução Pública, citando casos ocorridos em suas aulas,
concluindo por dizer ao reitor Carmo:
"Aproveito a oportunidade que se me oferece,
chamando a ilustrada atenção de V.Ex.a , para tão
clamoroso abuso que reclama providências muito
enérgicas, a fim de impedir que se reproduza como
efetivamente se tem repetido de alguns anos a esta parte,
com grave prejuízo da disciplina do Externato."
Assim, no ano de 1880, em Latim, exame
considerado mais difícil, se haviam inscrito nos exames
gerais de preparatórios 278 candidatos, aprovados 229, nenhum com a nota de distinção, reprovados 49.
Em 1880, apareceram 1.329 candidatos ao exame de Aritmética, 992 aprovados, 337 reprovados. Em 1881, os inscritos eram 1.118, 670 aprovados, 448 reprovados.
Incumbido de fiscalizar exames de preparatórios não foi pequeno, em 1881, o trabalho do reitor Carmo, nele incluído a regência do Colégio para o qual, a 30 de maio de 1881, entrava em exercício, coadjuvante contratado de Desenho, quem depois seria professor efetivo da arte, Manoel Arthur Ferreira, de assinalados serviços à instituição pela perícia no ensino, formador de muitas vocações pelo rigor de disciplina em aula modelar no silêncio e no respeito.
Tinha então o provecto Manoel Arthur Ferreira como colega, Quintino José de Faria, coadjuvante também contratado, outro nome benquisto na arte nacional, constante a preocupação de Colégio em escolher para docentes os melhores elementos do magistério nacional.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Francisco de Paula Rodrigues Alves, Presidente da República (1902 - 1906). Ex-aluno, bacharelando de 8 de dezembro de 1865.
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 -1937
Morte de Joaquim Manoel de Macedo • Reforma Rodolpho Dantas • Parecer Ruy
Barbosa • Primeiras Alunas no Colégio • Introdução do Telefone • Providências
Administrativas • Novo Reitor do Internato • Extinção de Meio-Pensionistas •
Retiradas das Alunas do Colégio • Supressão de Periódicos Colegiais • Fiscalização
do Colégio • Dádivas ao Mesmo • Transferência do Internato • Novos Reitores do
Internato e do Externato • Fim da Monarquia e do Imperial Colégio •
No Dia da Proclamação da República.
X O Colégio de 1882 a 1889
ESCRAGNOLLE DÓRIA
A 1 ° de março de 1882 abriam-se as aulas do 44° ano letivo do Colégio, pouco antes, a 18 de dezembro
de 1881, a lamentar a perda do professor de Italiano, Dr. João José Moreira.
Logo ao iniciar-se o ano letivo o reitor Carmo dirigiu-se a autoridade superior para saber se devia continuar no Externato a prática de alunos avulsos deixarem de comparecer às aulas subsequentes às outras nas quais matriculados, aulas que funcionavam em primeiro lugar em cada dia útil, com a justificativa apresentada pelos alunos avulsos de receberem lições em outros estabelecimentos de ensino.
Consultando, a quem de direito, Carmo obtemperava que "a experiência demonstrava prejuízo da medida quanto à boa ordem e disciplina do Colégio".
Logo após a consulta Carmo, recebia o Colégio lutuosíssima notícia, a da perda de um dos luminares do corpo docente, o Dr. Joaquim Manoel de Macedo, falecido a 12 de abril de 1882, na terra natal, tão recordada em suas obras São João de Itaboraí.
Fecunda fora a vida de Macedo. Dela boa parte se escoara em cátedra do Colégio.
Neste, por lições e livros, ensinava discípulos a amar o Brasil, a recordar-lhe feitos de maiores em glorioso passado nacional.
Por ocasião da morte de Macedo pôde dizer dele Franklin Távora, sem receio de contestação: — "O romance nacional perdeu seu fundador, o drama um dos seus mais devotados cultores, a poesia, uma de suas inspirações, a história pátria uma de suas autoridades, a política, um nome puro, a família, um esposo exemplar e um irmão capaz de sacrifício".
À voz de Franklin Távora, orador do Instituto Histórico, ajuntou a pena de alguém do Colégio, Carlos de Laet, sentenciando: "Macedo exerceu o magistério no Colégio de Pedro II e para seus alunos escreveu tratado de corografia e história do Brasil, muito criticados, mas geralmente copiados pelos que o censuram".
Outro homem de letras, Rozendo Muniz, ao ser proposto voto de pesar na Congregação do Colégio pelo falecimento de Macedo, professor da Casa desde 1849, assim se expressou: — "O vulto humano de tão ilustre colega atravessou esta vida em honra do magistério, da família e da pátria.
A síntese de sua gloriosa carreira pode-se exprimir nestas três palavras: — talento, trabalho e probidade".
"Homem de bem"— Macedo —, declarava um antigo discípulo dele, Alfredo d' Escragnolle Taunay, ao dedicar-lhe romance de estreia "A Mocidade deTrajano".
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837-1937
Prova a dedicatória quanto o professor vivia na memória de alunos agradecidos, grupo à parte na massa dos estudantes.
Provido na cátedra de Macedo, de História e Corografia do Brasil, o professor substituto Joáo Maria da Gama Berquó, a vida no Colégio retomou imperiosos direitos.
Nele o Decreto de 24 de agosto de 1881, referendado por Homem de Mello, antigo professor da Casa, convertera o Conselho Colegial em Congregação: "Aspiração dos professores", dizia o reitor Carmo ao Ministro do Império Rodolpho Dantas.
Observava porém o reitor ter sido dada a presidência da Congregação à Inspetoria de Instrução, colocados à margem, à maneira de simples membros da corporação, os reitores aos quais incumbia a direção do Colégio.
Ao Ministro Rodolpho Dantas, deveu o Colégio, o Decreto de 23 de junho de 1882 mandando observar o regimento especial das provas e processos de concurso para provimento dos lugares de catedráticos e substitutos.
Segundo o regimento e o Decreto os concursos seriam realizados no Externato.
Constaria de defesa de tese, de provas escrita e oral e de provas práticas, estas nos concursos de Física, Química e História Natural.
A tese seria apresentada dentro de 40 dias contados do sorteio do ponto. O Inspetor Geral de Instrução presidiria a mesa examinadora composta pelo reitor do Externato ou do Internato, conforme ocorresse a vaga nesta ou naquela seção, de um juiz e de dois examinadores eleitos pela Congregação; cada examinador arguindo o candidato por espaço de meia hora.
A prova escrita, comum a todos os candidatos, realizar-se-ia no prazo de quatro horas sobre ponto tirado à sorte.
A prova oral duraria uma hora, sorteado para preleção um ponto, com vinte e quatro horas, de antecedência. A prova prática efetuar-se-ia três dias após a oral.
As notas atribuídas pela comissão julgadora seriam: ótima, boa, sofrível e má. Julgar-se-ia inabilitado o candidato que não alcançasse para habilitação maioria de votos. Logo depois a comissão passaria a classificar os habilitados por ordem de merecimento. A Congregação apreciaria o parecer da Comissão e apresentaria ao Governo o candidato que julgasse digno de preencher a vaga.
Não se contentou o Ministro do Império, Rodolpho Dantas, com o Decreto de 23 de junho de 1882. Sujeitou à apreciação da Câmara dos Deputados, projeto remodelador da instrução pública.
Partidário das universidades, quanto ao ensino superior, em relação ao primário pugnava Rodolpho Dantas pela urgência de criação dos jardins de infância e acreditando preponderante o papel feminino no ensino primário defendia a ideia da instituição de Internatos normais para formação de professoras.
Dominado por teorias norte-americanas acerca de instrução, entendia o Ministro Dantas, indispensável a supressão dos exames de preparatórios descidos a muita desmoralização nas províncias.
No ensino secundário prevaleceria o bacharelado em ciências e letras, não concedido a estabelecimentos particulares independente de fiscalização.
O projeto Dantas foi distribuído na Câmara dos Deputados à comissão respectiva, relator do projeto o Deputado Ruy Barbosa.
Apresentou este extenso parecer cujos pontos principais eram: — a criação de um Ministério de Instrução Pública, a liberdade do ensino, a laicidade e a frequência da escola pública, a divisão do ensino, a divisão do ensino primário no Município Neutro, em quatro categorias (jardins de infância, escolas primárias elementares, médias e superiores), além de escolas mistas, dirigidas somente por professoras, escolas normais uma de arte aplicada, com museu anexo, tipo Inglês, constituição de fundo escolar.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Isto quanto ao ensino pr imário, em relação ao
secundário, o Externato do Colégio de Pedro Segundo,
recebendo o nome de Liceu, manteria os seguintes cursos:
— ciências e letras, finanças, comércio, agrimensura e
direção de obras agrícolas, maquin is tas , indust r ia l ,
relojoaria e instrumentos de precisão.
O curso de ciências e letras compreenderia seis
anos, conferindo o diploma de bacharel. A criação dos
outros cursos do futuro Liceu era justificada pelo autor do
parecer. Entendia este, por exemplo, "de manifestar
conveniência o curso de relojoaria e instrumentos de
precisão".
A classe dos relojoeiros era entre nós numerosa em
toda a parte, balda da instrução indispensável para que
dela fosse possível surgirem artistas capazes de alargar e
fecundar tal indústria.
A classe de fabricantes de instrumentos de precisão,
limitada em toda parte, tendia a assumir importância
c rescen temen te avultada pela d i fusão dos es tudos
m a t e m á t i c o s , dos t r aba lhos de al ta c i ênc ia , das
investigações experimentais.
O país lucraria consideravelmente em abrir ensino
a esta espécie de vocações, a cujos produtos nunca
faltariam procura e copiosa retribuição.
No curso de ciências e letras do Imperial Liceu de
Pedro Segundo o parecer de Ruy Barbosa incluía disciplinas
novas, Estenograf ia, Agr icu l tura, Economia Polí t ica,
Sociologia e Direito Constitucional em noções elementares,
a estenografia em exercício.
Dando suma importância ao ensino de Línguas Vivas
no Imperial Liceu, baseada no princípio capital de não saber
Línguas Vivas sem as saber falar, o parecer Ruy Barbosa
aconselhava que no Imperial Liceu o A lemão fosse
estudado durante quatro anos, o Francês e o Inglês durante
três, o Italiano durante dois, condenado como improdutivo
o ensino por temas e versões.
Em relação ao ensino da Filosofia no programa do
bacharelado, entendia Ruy Barbosa que "o programa oficial
da disciplina comportaria a história da evolução filosófica
das ideias, escolas e s i s temas de f i losof ia com a
aprec iação cr í t ica da in f luênc ia de cada esco la , o
conhecimento da apologia das bases de cada sistema, a
separação entre a parte dessas ideias confirmadas pela
verificação experimental e a parte pertencente ao domínio
extra-científico da metafísica e dos sentimentos pessoais
do sistemático ou crente" .
Just i f icando opinião, adiantava Ruy Barbosa: —
"Ensina-se hoje a provar como de certeza absoluta, como
de exatidão verificada, certas e determinadas maneiras
de ver, a respeito da natureza da alma, da or igem do
mundo, das coisas finais da ordem do universo. Mas
acerca de cada um desses imensos problemas quantas
opiniões diversas, contrárias, opostas, não têm existido e
disputado a palma da verdade?"
Dizia Ruy Barbosa: "Porventura o Estado há de
escolher, t e m o d i re i to de escolher, nessa luta de
af i rmações e negações profundas, bandear-se a um
sistema, militar numa escola, impor aos que frequentam
os seus institutos docentes o ensino do credo, de uma
filosofia especial ou de uma seita religiosa? Com que
direito ordenais ao examinando, ao aspirante ao currículo
das Faculdades: — Provai-me a imaterialidade da alma
ou as portas do ensino superior não se vos abrirão? Não,
este não é o papel do Estado; entre as filosofias, entre as
re l ig iões , não é a ele que i n c u m b e eleger, mas a
consciência individual".
Aparatoso o Projeto de Reforma da Instrução Ruy
Barbosa, f icou onde repousam tantos projetos, no papel
impresso.
Findo o ano let ivo de 1882, graduaram-se no
Externato 8 bacharéis e igual número no Internato,
sobrelevando-se na turma João da Costa Lima Drummond,
futuro e notável juiz, e Roberto Nunes Lindsay, engenheiro
civil e professor da Escola Normal.
A abertura do ano letivo de 1883 no Externato seria #
assinalado por novidade. O Dr. Cândido Barata Ribeiro,
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
lente de medicina, requerera matrícula no 1 ° ano para suas filhas Cândida e Leonor Borges Ribeiro.
Ocupava a Pasta do Império, no Gabinete Paranaguá, o Senador Pedro Leão Velloso, o qual por aviso de 22 de fevereiro de 1883 autorizou o reitor Carmo a admitir no Externato alunos do sexo feminino, por não existir disposição legal proibitiva.
Aproveitaram-se da concessão Cândida e Leonor Borges Ribeiro, Maria Júlia Picanço da Costa, depois professora municipal, Maria Olympia e Zulmira de Moraes Kohn, também depois professoras municipais.
Ainda Leão Velloso na Pasta do Império veio lecionar interinamente Latim, no Externato, o Dr. Amaro Cavalcanti, futuramente de altos postos na República, inclusive os de Prefeito do Distrito Federal e Ministro da Justiça.
Zelando pelo Internato, o ministro Leão Velloso designava ali o bedel António Alves Carneiro para substituto do secretário no impedimento deste.
Talvez cortando algum abuso, o Ministro recomendava ao reitor vigilância quanto à distribuição de passes gratuitos das companhias de carris, destinados segundo o Ministro "para auxiliar o serviço do Estado e não em benefício de funcionários ou pessoas de suas famílias".
Em maio de 1883 era o Senador Leão Velloso substituído na Pasta do Império pelo deputado sul-riograndense Francisco Antunes Maciel, membro do Ministério Lafayete.
Caber-lhe-ia autorizar, em novembro de 1883, o assentamento de linhas telefónicas no Colégio pela Empresa Telefónica do Brasil, sabido quanto a presença e a animação do D. Pedro II na Exposição de Filadélfia em 1876 contribuiu para chamar atenção para Graham Bell e o seu invento.
Encerrou o ano letivo de 1883 a respectiva colação degrau.
Para realce desta o reitor Carmo pedia a guarda de honra do estilo, "por isso que, frisava no pedido, SS. MM. II, têm de assistir, como sempre, à solenidade.
Ao ato concorreu, para bacharelado, reduzida turma, de 4 bacharelandos, 2 do Externato, 2 do Internato, um daqueles Tito Lívio de Castro, futuro médico cuja perda as letras e a ciência lamentaram prematuramente.
Dois bacharéis em 1883, num Externato frequentado por 236 alunos, atestava que não se ia facilmente ao 7o
ano do curso. Seria este assinalado, em 1883, pelo meio jubileu
de magistério de dois assíduos professores, o Dr. José da Silva Lisboa e Monsenhor Félix de Freitas Albuquerque, como também em 1884 completaria o professor Schieffler vinte e cinco anos de cátedra.
Em junho de 1884 passou a Ministro do Império, no Gabinete Dantas, Felippe Franco de Sá, homem de grande cultura e sabedor do vernáculo conforme hábito da terra natal, o Maranhão, cognominada Atenas Brasileira.
Qual antecessores, Franco de Sá velava pelo Colégio, querendo saber o que nele se passava, a exemplo do "Homem de São Cristóvão". Assim, na intimidade, os políticos do Império, temendo-o soíam tratar o Imperador.
Abrindo exemplo, pela presença e pela fiscalização, o "Homem" queria que os ministros olhassem para o Colégio, fossem quais fossem suas ocupações.
À menor acusação pública contra a instituição era mister imediata resposta do Governo, para confundir ou punir. Um exemplo: — Em 1884, apareceu artiguete nas colunas, assaz oposicionistas e com tinta republicana, da Gazeta da Tarde, acusando o Externato de manter portas abertas, alta noite.
Apressou-se o reitor daquele em informar logo ao ministro e publicamente declarar ao jornal que o articulista só se podia referir ao Instituto Farmacêutico cujo edifício contíguo ao Externato fora entregue ao mesmo Instituto sob cuja guarda se achava.
Viviam os reitores do Externato e do Internato em constante correspondência, já com o Ministro do Império, já com o Inspetor da Instrução Pública, cargo para o qual se escolhiam pessoas notórias e quanto possível versadas
ESCRAGNOLLE DÓRIA
em assuntos pedagógicos. Ao Ministro do Império subiam
com frequência consultas e pedidos das reitorias do
Colégio.
Em 1884, o Ministro Franco de Sá tanto tinha de
receber o pedido dos alunos do Internato, representados
pelo reitor, para ser feriado a véspera de São João, como
consulta do mesmo reitor do Internato acrescida de
pretensão do vice-reitor do Internato e do subst i tu to
Almeida Torres à regência de turmas suplementares.
Decidia o ministro determinando que idênt icos
pedidos fossem acompanhados de informação do reitor
sobre a idoneidade moral e pedagógica dos pretendentes.
As turmas suplementares eram quase sempre
destinadas a subdividir o ensino no 1o ano, turmas únicas
e reduzidas, as dos anos superiores do Colégio.
Em 1884 o 7o ano graduava 2 bacharéis, e o
Internato 1.
Assinalava-se lutuosamente o ano letivo de 1885,
pelo falecimento do professor, e antigo secretário do
Externato, José Manoel Garcia, desaparecido a 14 de julho
de 1885. Deixando família em condições de pobreza, as
dos servidores do Império, o Governo procurou suavizá-la.
Adquiriu a biblioteca de Garcia, assaz numerosa e dividiu
livros entre o Colégio e a Biblioteca Nacional, no tempo
dirigida pelo Dr. João Saldanha da Gama.
Deixara a Pasta o Senador Franco de Sá, pela
retirada do Gabinete Dantas, substituído pelo Senador Meira
de Vasconcellos, membro do Segundo Gabinete Saraiva.
Ministro novo, o Senador Meira de Vasconcellos,
recebeu ofício do reitor do Externato, comunicando-lhe a
existência no estabelecimento de 15 alunas matriculadas
e 5 ouvintes.
Pedia ao mesmo tempo a nomeação de inspetora,
ponderando contudo a conveniência de serem as alunas
do Externato encaminhadas para a Escola Normal ou para
o Liceu de Artes e Ofícios.
Das alunas do Externato no ano letivo de 1885 uma
contava 22 anos de idade, outra 16, a idade das demais
variando entre 14 e 10 anos. Só 1 aluna frequentava o 3o
ano, as outras matriculadas no 2o e 1o ano.
Na gestão da Pasta do Império, o Senador Meira de
Vasconcellos continuou exemplo de antecessores zelando
pelo bom nome do Colégio, para mantê-lo, não hesitando,
embora reservadamente, em advertir.
Assim tendo o vice-reitor do Internato publicado na
imprensa o f íc io do re i tor sobre caso ocor r ido no
estabelecimento com um aluno do mesmo, ofício dirigido
à Inspetoria de Instrução Pública, o Ministro declarava ao
reitor "que, sem permissão do Governo, não podia nenhum
funcionário dar à publicidade, ofício dirigido às autoridades
superiores".
A 20 de agosto de 1885, saia Meira de Vasconcellos
da Pasta do Império, pouco antes da perda do reitor do
Internato, Dr. António Henrique Leal, falecido a 29 de
setembro de 1885; substituído interinamente pelo vice-
reitor, o bacharel em letras Luiz Cândido Paranhos de
Macedo.
As mutações de Governo para o Colégio, eram
sens íve i s na Pasta do Impé r i o , da qual e le tão
estreitamente dependia.
Fora do poder o Gabinete Saraiva, organizado o
Gabinete Cotegipe. de 20 de agosto de 1885, teria dele a
Pasta do Império o Senador Ambrósio Leitão da Cunha,
Barão de Mamoré.
Caber-lhe-ia referendar o Decreto de nomeação de
novo reitor do Internato, o professor do Colégio Aureliano
Corrêa Pereira Pimentel, entrado em exercício em outubro
de 1885.
Merece referência especial o ingresso de Aureliano
Pimentel no corpo docente do Colégio. Nascido no mineiro
São João d'EI Rey a 26 de novembro de 1830, distinguiu-
se Aureliano Pimentel na cidade natal como escritor e
jornalista, cultor da prosa e do verso, por obra volumosa
cuja parte inédita dava para publicação de alguns volumes.
Sabedor eméri to da língua vernácula e de Latim, vivia
Aureliano Pimentel na sombra provinciana, à luz apenas
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
dos estudos de gabinete. D. Pedro II visitou, porém, Minas, e teve ensejo de conversar com o modesto douto, induzindo-o logo à cadeira do Colégio. Transferiu-se Aureliano Pimentel para o Rio de Janeiro, obtendo por concurso, e notável, a cadeira de Português cuja posse lhe vaticinara o soberano. Certo não foi alheia a benevolência deste na elevação de Aureliano Pimentel à reitoria do Internato.
Pouco antes da designação de Aureliano Pimentel, o Ministro Barão de Mamoré, pelo Aviso de 26 de setembro de 1885, extinguia o meio-pensionato no Colégio.
Dava este ensejo ao reitor Carmo de pedir aumento de vencimentos dos funcionários do Externato à vista da cessação de alimentos aos mesmos.
Aproveitando ocasião, propugnava pelos interesses dos serventes, dizendo ao ministro fazê-lo "embora não tendo podido requererem eles pelo seu direito".
Finalizava o ano letivo de 1885, com a providência do Ministro Mamoré no sentido de não mais serem admitidas alunas no Externato.
"O orçamento vigente não facultava verba para inspetora de alunas, sendo o Colégio destinado somente ao ensino de pessoas do sexo masculino. Mas como seria injusto deixar as alunas do Externato ao desamparo de instrução convinha encaminhá-las para a Escola Normal, para o Liceu de Artes e Ofícios ou mesmo para o curso noturno secundário da fundação do professor José Manoel Garcia".
A 30 de dezembro de 1885 recebia grau a mais que reduzida turma dos 7°anistas do ano, 1 do Externato, 1 do Internato. Pouco antes de iniciar-se o ano letivo de 1886 o Governo deu ciência aos reitores que só com autorização dele Governo, seria lícito prorrogar trabalhos de qualquer aula dos estabelecimentos.
Não tardou também providência equitativa , a do aumento de vencimentos de funcionários do Externato prejudicados pela falta de alimentação, suprimido o meio-pensionato dos alunos, aumento pecuniário de 50S000, 30$000 e 20S000 segundo categorias.
Extinto o meio-pensionato, a reitoria do Externato deu destino à sobra dos géneros alimentícios da despensa do estabelecimento, remeteu-os ao Asilo de Meninos Desvalidos, ora Instituto Profissional João Alfredo, procedendo-se à venda dos fogões e da bateria de cozinha.
O reitor, em mão de distribuir e remover, removeu vários objetos da igreja do Externato para a Capela Imperial.
Procurava o reitor Carmo manter a casa em ordem e asseio, este mais aliviado com a extinção do meio-pensionato.
Visitado o Colégio pelo presidente da Junta de Higiene Pública, o Barão de Ibituruna, e mais dois membros da Junta, autorizou aquele ao reitor a participar ao ministro as boas condições higiénicas em que as autoridades sanitárias tinham encontrado o Colégio.
Quando necessário cedia este, mediante autorização superior, o Salão Nobre para solenidades, assim em 1886 o cedeu para instalação da Associação Geral de Auxílios Mútuos da Estrada de Ferro D. Pedro Segundo.
Na época, o Ministro Mamoré ordenou que das gratificações adicionais concedidas por merecimento aos professores do Colégio se não deviam descontar faltas justificadas ou licenças com vencimentos.
De fiscalização ao Internato, por Aviso de 9 de junho de 1886, o Ministro Mamoré pedia ao reitor Aureliano Pimentel informações sobre a publicação de jornal colegial intitulado A Discussão.
Desejava que, ao informá-lo, o reitor considerasse não só as ideias expendidas no periódico, mas também o prejuízo que pudesse advir para os estudos dos trabalhos a que se dedicassem alunos para levar a efeito a publicação. Informou o reitor "que os trabalhos de redação do periódico A Discussão concorriam para que os alunos desamassem estudos". Logo após declarava o Ministro ao reitor "não convir a continuação do periódico".
No fim do ano letivo de 1886 verificou-se ausência absoluta de bacharéis em letras a graduar.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Não se limitava o Ministro do Império a fiscalizar o Colégio por dentro, queria-o defendido fora. Um caso.
O órgão conservador e do partido do Ministro — O Rio de Janeiro — no seu número de 15 de abril de 1887, inseriu local, sob a epígrafe Colégio de Pedro II— acusando o professor de Religião do Externato de considerar acatólicos 7 ou 8 alunos ouvintes, obrigados pelo professor a se retirarem da aula.
"Para queé pago o professor?" perguntava o jornal. No mesmo dia da acusação, 15 de abril de 1887, o
Ministro do Império, Barão de Mamoré, pedia informações ao reitor do Externato, Dr. José Joaquim do Carmo, encarregando este da respectiva sindicância o vice-reitor Dr. Urbano Burlamaqui Castello Branco.
Informou o segundo sem demora: "O fato narrado no referido jornal é o seguinte: O Sr.
Fr. Saturnino, professor de Religião da 1a seção, disse em aula que, geralmente, os alunos ouvintes eram oriundos dos reprovados no exame de admissão, portanto sem o necessário preparo para serem estudantes deste Colégio, que o professor tendo de empregar toda a sua atenção com os matriculados, e não sendo pelo regulamento obrigado a chamar os ouvintes à lição os mesmos se aproveitavam dessa circunstância para descurarem de seus deveres escolares. Não fez intimação aos ouvintes para se retirarem de sua aula, mas os aconselhou a aproveitarem melhor o tempo".
O jornal deu-se por satisfeito. No ano letivo de 1887, sempre fiscalizando, o
Ministro Mamoré expedia aviso indeferindo pedido do escrivão do Internato quanto à alimentação, fundado em dispositivo legal e em tabelas orçamentárias.
Declarou mais o Ministro que, de acordo com prescrição regulamentar, o escrivão poderia participar de refeição, no Internato, pagando, professores e empregados sem direito à alimentação.
A fiscalização não era só governamental, exerciam-na também, professores, reclamando à reitoria do Externato
contra insuficiência de tempo para bem julgar alunos em exame, considerado este, dizia o professor de Latim, Dr. Lucindo Pereira dos Passos, "pesado encargo para os que não examinassem com os olhos no chapéu".
Vivia o Colégio em círculo de fiscalizações, a do Imperador, a do Ministro, a do reitor, a de professores. Não era de estranhar, pois, que Mamoré expedisse aviso ao reitor do Internato pedindo informações sobre os motivos da saída de alunos em desacordo com as prescrições do regulamento n.° 8 de 31 de janeiro de 1838.
Mandava este limitar a saída de internos, duas vezes por mês, os colegiais acompanhados pelos progenitores ou por pessoas expressamente autorizadas.
Não recebia, porém, só o Internato pedido de informações, também dádivas.
Em junho de 1887, o professor Dr. Manoel Thomaz Alves Nogueira oferecia ao Internato quadros e livros de valor.
Pedia a colocação daqueles na sala de aula de História do Brasil. Entre as telas oferecidas havia uma pequena de Kiesser, obra de 1618, representando São Sebastião e também uma vista do Rio de Janeiro.
Entre as dádivas de Thomaz Alves à biblioteca do Internato figurava a obra de Villegaignon sobre a expedição de Carlos V a Alger em 1541, tradução de Menrad no fim do livro de Schomburgle.
"Obra raríssima, declarava o doador, com o merecimento de ser de Villegaignon e apreciada como o melhor livro que se conhece sobre aquela expedição imperial".
Em 21 de julho de 1887 deixava a Pasta do Império o Barão de Mamoré, substituído pelo Conselheiro Manoel do Nascimento Machado Portella, lente da Faculdade de Direito de Recife.
Com a saída de Mamoré do Ministério Cotegipe, coincidia o pedido de demissão do reitor Aureliano Pimentel,-substituído pelo vice-reitor Paranhos de Macedo.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837-1937
Pouco se demorou o Conselheiro Machado Portella na Pasta do Império, não reeleito deputado pelo 1o distrito eleitoral de Pernambuco, de sede principal no Recife.
Chamou a si a Pasta o Presidente do Conselho e Ministro da Fazenda, Barão de Cotegipe.
Apesar de interino, até demissão do Gabinete de 20 de agosto de 1885, caber-lhe-ia na qualidade de Ministro do Império impor o barrete branco aos bacharelandos de 1887, em número de doze, sete do Externato e cinco do Internato.
Em 9 de março de 1888 alterava o Barão de Cotegipe várias disposições do regulamento do Colégio, mandando abrir-lhe as aulas a 15 de março e fechá-las a 30 de novembro.
Fixava o número de alunos no Internato à vista da tabela orçamentária e no Externato atendendo aos recursos do pessoal docente e de inspeção.
O Internato admitiria 25 alunos gratuitos, e o Externato 100, aqueles favorecidos com enxoval e livros.
Deviam obter matrícula gratuita menores de atestada pobreza, preferidos em igualdade de méritos os órfãos, os filhos de professores públicos com dez anos de bons serviços, os filhos de oficiais subalternos da armada e do exército e os filhos de empregados públicos com mais de dez anos de função.
Caberia também ao Barão de Cotegipe providência de maior relevância quanto ao Colégio, a de transferência do Internato.
Desde 1858, funcionava este na chácara do Matta, na rua de São Francisco Xavier, a dois passos do largo da Segunda-Feira. Deliberou mudá-lo o Governo, mandando para bairro bem diferente, o de São Cristóvão. Para tanto, a 24 de novembro de 1888, compareciam na Diretoria-Geral do Contencioso do Tesouro Nacional como outorgante vendedora a Irmandade do Santíssimo Sacramento da Candelária, e como outorgada compradora a Fazenda Nacional.
Representavam a Irmandade o vice-provedor Dr. António Ferreira Viana, aliás bacharel em letras, e outros irmãos de mesa, em figura da Fazenda Nacional o procurador fiscal Dr. Carlos de Menezes.
Vendia a Irmandade ao Governo o prédio da praça D. Pedro I, mais conhecida por Campo de São Cristóvão. Fora o prédio construído em terreno onde haviam existido dois imóveis, n.° 9 e 11; comprados ao Banco do Brasil. Receberia a Irmandade 200:000$000, dependente o pagamento da concessão de crédito pelo poder legislativo.
Entretanto, a chave do prédio fora entregue ao Governo desde fevereiro de 1888, pagando ele 10:000$000 de aluguel anual até poder dispor do crédito.
Caso não fosse este concedido para pagamento total, o prédio seria ocupado por arrendamento, durante 9 anos, vencendo 10:000$000 de aluguel por ano.
O poder legislativo votou o crédito e o prédio ficou definitivamente em poder do Património Nacional para nova instalação do Internato.
Ao prazer da mudança, vinha ensombrar o suicídio de um aluno gratuito, participando-o o reitor do Internato, ao Ministro José Fernandes da Costa Pereira Júnior, bacharel em letras.
Substituía o Conselheiro Costa Pereira o Barão de Cotegipe, na Pasta do Império, no Ministério João Alfredo.
Recomendava então Costa Pereira ao reitor "o emprego de todos os esforços para que fossem os alunos convenientemente doutrinados no sentido de fortificar-se a sua instrução moral e religiosa", à vista do lamentável sucesso ocorrido fora da Casa.
Desde fevereiro de 1888 assumira a reitoria do Internato o Conselheiro João Capistrano Bandeira de Mello Filho, recebendo a administração do vice-reitor Paranhos de Macedo.
Bandeira de Mello antigo professor como o pai, da Faculdade de Direito de Recife, presidira províncias do Império, cinco, enquanto o pai regera três.
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O novo reitor de 1888 achara-se à testa do Rio Grande do Norte em 1873, de Santa Catarina em 1875, do Pará, do Maranhão em 1885 e da Bahia em 1866.
Não só o Internato recebeu novo reitor, sucesso idêntico ocorreu no Externato aí substituído em março de 1888, o reitor Dr. José Joaquim do Carmo por Monsenhor Luiz Raymundo da Silva Brito, voltando-se assim à tradição de sacerdotes à frente de destinos do Imperial Colégio.
Nascido em 1840, na vila maranhense de São Bento, monsenhor Brito na província natal paroquiara freguesias, exerceu a reitoria do seminário, nele regendo cadeiras.
Transferindo-se para a capital do Império fora vigário em Niterói, vigário geral do bispado do Rio de Janeiro, professor de Religião da Escola Normal.
Orador sagrado dos mais solicitados e ouvidos, Monsenhor Brito, de futuro, encerraria como Bispo de Olinda a lista dos bispos de vida no Colégio de Pedro Segundo, aí tendo por antecessores de mitra, Arrábida, Saraiva, Pinto do Rego e Benevides.
Apenas assumia a reitoria do Externato. Monsenhor Brito pedia ao Governo desocupação do prédio contíguo ao estabelecimento onde funcionava o Inst i tuto Farmacêutico.
Protestava também o novo reitor contra a utilização da igreja de São Joaquim anexa ao Colégio.
Dizia ser "profanação dolorosa a continuar um templo antigo, objeto de veneração de maiores, transformado em laboratório farmacêutico, como se a cidade não possuísse lugar mais próprio para ser despojada do que a Casa de Deus e não igreja interdita, que nunca o fora, e sim aberta à profanação".
Dirigindo-se ao Ministro do Império alegava ainda o reitor Brito: — "a restituição da parte ocupada pelo Instituto Farmacêutico trazia a vantagem de alargar e regularizar as propriedades dos serviços internos do Colégio, reabrindo um templo à piedade cristã".
Reforçando opinião, observava ainda o reitor Brito ao Ministro do Império: — "V. Ex.a resolverá como melhor
entender e como espero de seu amor por este estabelecimento que se orgulha de o contar entre seus filhos (era Ministro o Conselheiro Costa Pereira, bacharel em letras de 1851) e pelo respeito que lhe inspiravam pelo templo os seus sentimentos religiosos".
Conseguido afinal o templo foi nele reorganizada a irmandade de São Joaquim, realizado afinal o desejo do antigo reitor do Colégio, Monsenhor Fonseca Lima, o da restauração do culto na vetusta igreja.
Nomearam para ela um cura, restabelecidas as solenidades religiosas, sempre ameaçado porém o templo pelo projeto de alargamento da Rua Larga de São Joaquim.
Assim os bacharéis de 1888 puderam ouvir a missa do Espírito Santo na velha igreja, daqueles bacharéis, 6 saídos do Externato e 5 do Internato.
A colação de grau dos bacharéis em letras da turma de 1888 tem hoje significação especial, derradeira solenidade do Colégio no regime monárquico.
Foi solenidade na qual, pela última vez, no Salão Nobre se ouviu a voz de quem conferia o grau repetir a cada bacharel em letras a bela fórmula, subsequente ao juramento: — "a lei vos declara bacharel em letras cujo grau espero honreis tanto quanto o haveis sabido merecer".
Pela última vez encheu-se de povo a Rua Larga de São Joaquim para assistir à chegada de quantos acudiam à festa do Colégio.
Mais curiosidade despertava a vinda das pessoas imperiais e a estas a guarda de honra prestava continências ao som do Hino Nacional.
Até simples visitas do Imperador ao Externato despertavam atenção popular, o modesto carro do soberano, tão avaro consigo mesmo quão pródigo na caridade, precedido por bulhentos cadetes batedores e seguido por piquete do 1o Regimento de Cavalaria estacionado em São Cristóvão.
O ano letivo de 1889 seria o último do Imperial Colégio, tendo este à sua testa no Externato Monsenhor, Brito e no Internato o Conselheiro Bandeira de Mello.
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
Apesar de envelhecido e enfermiço, gasto no serviço da pátria, escapo à morte em 1888 quando em Milão, o Imperador não cessava visitas ao Colégio, a cujos concursos jamais negou presença.
Era regra para admissão no corpo docente catedrático da Casa em 1886, como assegurava o reitor do Externato, prestando informação num requerimento sujeito à sua apreciação: — "Não consta até esta data que se tenham efetuado nomeações de professor catedrático independente de concurso, exceto da cadeira de Religião em que este nunca foi exigido".
E como aqui se versam aspectos intelectuais e morais da vida do Colégio no seu último ano letivo transcorrido, na Monarquia, em 1889, não vem fora de molde ajuntar, àqueles aspectos, outras feições até materiais da Casa no referido ano quando tudo ia mudar na instituição e mormente no Brasil.
Nunca os aspectos da vida do Colégio foram recordados com tanta significação como no centenário do nascimento de D. Pedro II, celebrado pelo Colégio em presença do neto do Imperador, o príncipe D. Pedro.
Recordou muitos daqueles aspectos, como orador oficial, o professor Escragnolle Dória.
Relembrou-os o professor de medicina Dr. José António de Abreu Fialho, bacharel em letras, em nome de antigos alunos do Colégio.
A formosa oração justiceira do Dr. Abreu Fialho presta-nos de preferência subsídios para caracterizar as visitas, a assistência moral indefectível do Imperador ao Colégio do seu mecenato.
Eis aqui o depoimento de Abreu Fialho e muitos bacharéis do Colégio do tempo do Império poderiam prestar depoimentos idênticos.
"O Imperador, (e este é já lugar comum) visitava amiúde o Colégio, não por formalidade ou cortesia, como turista, mas como visita interessada, de dever e de amizade e de estudo, de quem quer se inteirar por si próprio das coisas, vê-las e examiná-las com o coração.
Aquela sineta que despertava com reticência sonora o silêncio da hora de aula, que soava álacre, acelerava igualmente o ritmo cardíaco dos Colegiais. Aí vinha o Imperador! A que aula vai chegar? E se aqui vier, a esta de Latim, quem apresentará como decurião o nosso Mestre? Isso perguntávamos nós, os da classe de Lucindo em certo dia do ano de 1888.
Eu me considerava um dos papáveis, por ter assento em banco de honra, mas desejava que o destino me poupasse o sobressalto, o enleio, a confusão de chamada imperial. De nada, porém, me valeram os votos íntimos. Lucindo segredou ao Imperador o meu nome. O Imperador chamou-me à lição. Traduzia-se naquele tempo a Vita Agricolae de Tácito.
D. Pedro II abriu o livro, que lhe passou Lucindo, convidou-me a ler e traduzir certa extensão daquele trecho que assim começa: — Nunc demum redit animus; sed quamquam, primo statim...
Entalado em naturais apertos, li paulatinamente o texto corrido, como quem mede alturas, fiz segunda leitura na ordem direta. O Imperador acompanhava solícito a leitura, com o seu pencenê de tartaruga a meio do nariz.
Eu arriscava de instante a instante uns furtivos olhares, como se quisesse avaliar os efeitos dos meus recursos no ânimo do Imperador, que se mantinha indiferente à minha proeza, mas sempre atento ao livro. Já agora mais quietado o meu ânimo daquela responsabilidade de que me sentia salteado, e com meio caminho andado, iniciei a tradução, que os meneios da cabeça do Imperador anunciavam aprovar. Sobre duas outras palavras latinas deu-me um correspondente português, a seu ver mais preciso que a minha tradução. A respeito de certo vocábulo apontou como as edições divergiam.
E na sua galanteria de homem culto e polido e sua bondade e candidez de Imperante, premiou-me a lição com alguns amáveis e lisonjeiros conceitos.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Depois trocou com Lucindo impressões sobre aquela obra de Tácito — a biografia de Júlio Agrícola — escrita em estilo enxuto, sentencioso, elegante, embora austero, à altura de seu valor de filósofo e de moralista.
A propósito da passagem traduzida, ora fitando Lucindo, ora olhando-me por sobre o pencenê, falou com admiração viva do amor de Tácito à liberdade, liberdade que os tiranos tornam ainda mais apetecida e cobiçada.
Pôs Tácito entre as duas épocas, a de Domiciano e a de Nerva e Trajano.
Eu ouvia maravilhado aquelas coisas, aqueles comentários, aquelas erudições atraentes, raros pratos que não costumavam figurar na tradução trivial de cada dia.
Depois de breve pausa perscrutadora, e voltando-se para mim com certa curiosidade, o Imperador indagou de qualquer parentesco meu com os Fialho do Rio Grande do Sul, eu, nada versado ainda naquela idade em genealogias, não pude satisfazer à pergunta de D. Pedro. Limitei-me a dizer, com certo entono orgulhoso, que descendia de tronco genuinamente nortista, e era eu próprio do Norte.
Com isto levantou-se o Imperador, não sem me recomendar que quando sobrassem folgas lesse empenhadamente toda a obra de Tácito, talvez que nesta ordem, Vida de Júlio Agrícola, Costumes dos Germanos, História, Anais."
Depois de narrar com tanta singeleza, na qual se obriga a elegância no dizer, conta-nos Abreu Fialho à chegada ao lar onde se deu pressa em contar ao pai todo o sucedido no Pedro Segundo, junto ao progenitor, "monarquista fiel, e político do partido liberal, capitão da velha guarda nacional, Conselheiro da Ordem da Rosa".
Não pôde o pai ocultar ao filho a satisfação do seu ânimo.
Ao filho sempre falava o pai "da vantagem que tinha todo homem em escrever e possuir o seu Diário, no curso da vida, presenteando com vistoso livro àquele fim destinado".
Julgava Abreu Fialho Sénior, de bom conselho fazer com que o descendente honrasse a primeira página do Diário com a narrativa já para ele história aula de latinidade, "grande , porém, foi a decepção paterna quando viu no limiar do livro, e precedido de algumas palavras políticas e colegialmente ingénuas, um excerto de gazeta republicana da época, com uma tirada demagógica contra o trono, que, dizia o jornal, "amordaçava a opinião e sufocava a liberdade".
Abreu Fialho Pai, "depois de alguns instantes, teve o sorriso satisfeito de quem dialoga com os próprios pensamentos, e deles tem assentimento íntimo, concluiu que nunca tão de molde viria ali aquela narrativa que lhe havia feito o filho, e onde o acaso tinha posto a defesa filial do Imperador e de sua política liberal".
Aplicava o método filosófico do confronto, de comparar para julgar.
Iluminado o espírito pela experiência, já mais amadurecido e emancipado nas ideias, Abreu Fialho escreveria comentários à margem do livro doado pela bondade paterna. E dizia, entre outras coisas, "Honrar com entusiasmo a Tácito nos seus ódios à tirania é louvar uma alma republicana e livre. Falar em amor à Liberdade é mostrar-se liberal. Que diferença haverá entre um Imperador democrata e liberal, fazendo provança de suas virtudes, e um verdadeiro estadista republicano".
O contato moral com D. Pedro II, "com quem tratara frente a frente, que o interrogara em lições e, camarada e familiarmente, conversara com um rapazinho de 14 anos, começou a esmaecer os fumos de republicanozinho, que lia gazetas republicanas e decorava tiradas demagógicas contra o trono".
Em 1925, pôde o antigo colegial consagrar a D. Pedro II seu examinador adhoc, a aula em que o examinara fora a de Latim, as seguintes palavras: — "Pela primeira vez depois de fitar o semblante sereno do Imperador, e pelos tempos afora muitas vezes e a outros propósitos, repito e'
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 -1937
tenho repetido a justeza deste princípio: — "Quantos murmuram de nossas coisas, sem que nos conheçam de rosto!"
Não só a D. Pedro II prestou justiça Abreu Fialho, também ao Imperial Colégio, denominando-o escola de civismo, "ensinando pais e mestres a respeitar a lei como o melhor exemplo de educação cívica".
Formava o Colégio pequenino Estado, com a sua lei, os seus chefes supremos e os auxiliares destes, mestres ou não, desenvolvendo tudo quanto requer a vida coletiva: —a cidadania, a união, a solidariedade, o espírito de disciplina social, o hábito de convivência em comunidade, a consciência dos deveres e dos direitos.
Conforme Abreu Fialho, sabia o aluno que implicitamente na lei do Colégio a obrigação era estudar, estudando para saber, voltando o escolar a repetir ano se não bem saldadas e rigorosas as contas de aproveitamento, julgado cada um segundo obras e méritos.
Para contas bem saldadas em fim de ano o aluno do Colégio levava, informa Fialho, ordenadas para o dia seguinte, as obrigações, os exercícios, os temas, as lições, tudo fiscalizado pelas chamadas de presenças, pelas chamadas à lição, pela verificação dos "deveres", pelas notas, pelas médias de trimestre, pelos exames. Ninguém se dizia escravo! E escravo do dever "era titulo de honra sublinhando ainda mais o de bacharel".
A perda do ano por faltas convidava à assiduidade. As notas em público, em face dos examinadores,
dos colegas, e do auditório, valiam por aplicação prática da justiça.
Completava-a, durante o ano e na ocasião dos atos, o Imperador, "chamando, interrogando, explicando, animando paternalmente os estudantes, fossem aplicados ou obstinados, contumazes na vadiação, presidindo a chamadas, banca de exames e aos atos solenes do bacharelando, o Imperador trazia a todos enleados em doce e confortante atmosfera, e ensinava civismo, unia os interesses do Estado aos da instrução pública, porque
avaliava a influência moral que dá a presença do Chefe da Nação no exato funcionamento da complexa máquina governamental".
Além da oração do Dr. Abreu Fialho, várias foram as homenagens prestadas no Colégio ao ínclito protetor de outrora por ocasião do seu primeiro centenário natalício.
Entre aquelas homenagens, mostrando ainda o Colégio até 1889, roborando o testemunho de Abreu Fialho, outro depoimento prestou em discurso o Dr. Luiz Cantanhede de Carvalho e Almeida, o professor da Escola Politécnica e bacharel em letras do Externato na turma de 1893.
Mostrou o professor Cantanhede "no Colégio um grupo a cuja frente, vagaroso caminhava um velho, cercado pelas atenções de pequeno séquito. O velho era o Imperador, acompanhado de grande servidor do Brasil velhinho de passo ainda firme e cabeça branca, aureolada de glória, que foi o orgulho do Brasil e se chamava Tamandaré; aos dois grandes velhos acompanhavam o Reitor e o vice-Reitor, Monsenhor Brito e o Dr. Epiphanio José dos Reis".
Entrou o Imperador na aula de Francês regida por Halbout.
Estava um estudante a terminar lição, pouco antes do fim da aula. "Ajudado o estudante que traduzia, pela atenção maior que Halbout dava ao Imperador, não percebendo ou desculpando algumas faltas que em dias normais seriam notáveis a sineta anunciou fim de aula. De pé a turma, o Imperador e comitiva se retiraram; mas antes de descer os três degraus que ligavam a sala ao corredor o velho Imperador faz voltar Tamandaré, para dar ao aluno que acabara de receber uma nota boa, as felicitações do Imperador, felicitações de um grande avô que o Herói transmitia ao estudante, quando este e os colegas comentavam os riscos da aventura bem sucedida".
Grandemente apoiados por Cantanhede Almeida, bacharel de 1893, e pelas recordações do bacharel Raul Paranhos Pederneiras, da turma de 1892, e do bacharel
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Júlio Adolpho da Fontoura Guedes, da turma de 1901, além das recordações próprias, busquemos fixar ainda mais um pouco o aspecto do Colégio quando a mudança de regime ia afastar para sempre o patrono da Casa.
Assim os atuais alunos e os vindouros poderão evocar antecessores e deles os modos de vida, assaz diferentes, pela natureza das duas seções do Colégio, no Externato e no Internato.
Comecemos pelo primeiro, o decano e a princípio também Internato.
De manhã cedo chegavam os alunos ao Colégio, os calouros canhestros, com medo dos veteranos, os segundo anistas todos anchos pela perda do calourado, dando-se ares de veteranos ante os primeiro anistas. Mostravam-se os demais alunos, do 3o ao 5o ano familiarizados com a Casa , os do 6o ano procurando imitar os setimanistas compenetrados de posição especial, a dar-lhes próximo ingresso em cursos superiores, embora aí de novo baixassem à calouros.
Livros em bolsa ou empacotados e presos por pegador, merenda no bolso depois da extinção do meio-pensionato, lá se apresentavam no Colégio os alunos de farda verde com botões dourados onde em relevo RH.
Chegavam alguns mais cedo, sem dúvida moradores de arrabalde ou longínquo subúrbio, aqueles trazidos ao centro da cidade pelas linhas ferro-carris, estes pelas composições da Estrada de Ferro D. Pedro II, ou Central do Brasil. Desembarcavam na Estação Central ou popularmente do Campo, estação terminal de via férrea com perto de mais de 700 quilómetros em tráfego e de penetração em três províncias, Rio de Janeiro, São Paulo e Minas, estendida a linha suburbana da Corte ao Realengo.
Os alunos de chegada mais cedo costumavam ficar pelas imediações do Colégio, pelas Rua da Imperatriz, hoje Camerino, pela Rua Estreita de São Joaquim, ao flanco da igreja da mesma invocação.
Permaneciam alguns na porta sempre fechada do templo, que o povo dizia interdita por ter sido nela morto um padre! Tudo imaginação, fértil sempre a do vulgo.
Em qualquer colégio há sempre um funcionário conhecido de todos os alunos, o porteiro.
Conhecê-lo é sabê-lo preposto à sineta, outrora a do Externato confiada ao velho Babo, à memória do qual Joaquim Manoel de Macedo não desdenhou consagrar referências ao passear em livro pela cidade do Rio de Janeiro.
Nos fins do Império portaria e sineta do Externato estavam a cargo de Carlos Gonçalves Mattos, primeiro fiscal de quem entrava ou saía.
Eram então familiares as figura dos seis inspetores da época de Alexandre Mondaini, Manoel Silveira, Domingos Lima, o segundo capitão, o terceiro tenente da Guarda Nacional, de Joaquim Alves, depois escrivão do Externato, de Pedro Baptista, depois bedel, finalmente do Pereira Santos, madrugando para vir ao Colégio, por morar na Pavuna.
Todos terríveis inspetores, "que ameaçavam sempre", disse Cantanhede. No fundo excelentes criaturas.
Quando por efeito da repreensão ou castigo se lhes queria mal era por pouco tempo. Sabiam os alunos, os inspetores prestigiados pelas reitorias, vez por outra a corrigir-lhes demasias, mas em surdina, longe de discentes, de modo a nem abater autoridade de subalternos nem proporcionar reincidências a discentes animados nelas por fraquejar de disciplina, tocando a todos. Um exemplo.
Durante o seu curso de bacharelado foi sempre o príncipe D. Pedro Augusto de bom procedimento. "Uma dama", dizia dele o seu inspetor Pereira dos Santos. Mostrando lhaneza e gravidade natural era D. Pedro muito estimado pelos inspetores. Quando andava de "coupé" debruçava-se à portinhola do veículo para saudá-los fosse onde fosse.
Entretanto, um dia, ao correr no pátio do Externato, em ocasião indevida, excedeu-se o príncipe aluno, privadç do recreio pelo inspetor Santos.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
Nisto chega ao Colégio, em visita, o Imperador. Detendo-se na sala do vice-reitor, perguntou D. Pedro II: "Onde está o Pedrinho?". "De castigo", foi-lhe respondido. "Muito bem, muito bem, redarguiu o Imperador, nada de exceções, é aluno como outro qualquer".
Anos muitos depois, decaído o Império, comprazia-se o inspetor Santos em narrar o incidente a quantos se interessavam pela vida do Colégio e não se esqueciam de ir registrando particularmente o que no passado lhe dizia respeito.
Retomado fio de narração, diga-se que estabelecida forma, às badaladas da sineta da portaria, cada turma seguia corredores afora, em marcha cadenciada, em busca das salas de aula sobre cujas mesas dos professores o inspetor respectivo estendia a lista caligrafada pelo bedel, José Pinto da Silva Leal, baixo, barbado, superintendendo, à cérbero amável no cumprimento do dever, as presenças e faltas de professores e alunos.
Depois da chamada à aula, nesta recebido de pé os lentes, alguns bem recordados por Cantanhede. Inolvidável era Halbout, de sobrecasaca negra, mento e lábios raspados entre "suíças" bastas; usando rapé sem um só salpico, ao invés dos tabaqueadores descuidados procurando esconder desmazelos nasais em grandes lenços policrômicos de Alcobaça.
Em contrário ao depoimento de muito vadio, jamais esquecido das notas más ou das reprovações ou "raposas" de Halbout, Cantanhede diz-nos este tipo íntegro de juiz, igual nas exigências da repetição das páginas de sua gramática. E que pontualidade a de José Francisco Halbout! "Velho mestre cuja falta à aula nunca foi prevista, porque nunca acontecera e aconteceria, dele a falta escapava ao cálculo das probabilidades; a presença de Halbout era certeza. Faltou dois dias no Colégio para morrer no terceiro dia".
Na aula de Matemática "aparecia a velhice esguia de Drago, magro, alto, secarrão, nervoso, um tanto agitado, gritando sempre, metendo muito medo aos calouros".
"Os veteranos já lhe conheciam as manhas e sabiam que dentro daquele velho brigador e rabugento, havia uma criatura bonachona e mansa que era preciso saber levar com jeito, dentro das páginas do livro de Ottoni onde se achavam todas as chaves que abriam as portas do curso de matemática elementar".
O livro de Ottoni, leia-se os compêndios do então Senador Christiano Benedicto Ottoni, outrora lente da Academia de Marinha.
Autor de compêndio qual Halbout, era Pedro José de Abreu, professor de Geografia, "sempre bem apurado no traje, de fino trato, tipo de avô tolerante", muito preconizador das excelências da sua habilitação no morro das Dores, na estação de Todos os Santos e aí tido por espécie de patriarca.
Tão calmo era Abreu quão impaciente o professor Lucindo Pereira dos Passos, enraivecido e impacientado se não conseguia incutir a alunos gosto pela latinidade, para ele só aprendível pelo método de Clintock.
Corpulento, não era qualquer cadeira que lhe servia e devia estar bem limpa para não lhe macular as habituais calças brancas. Sabia Latim e queria que o soubessem, olhos a fuzilarem atrás dos óculos de ouro se o aluno dava silabadas, ou gaguejava quando César mostrava como vencera Vercingetorix ou Horácio em ode indicava quão fugidia é a vida humana, quão preciso aproveitá-la ao ritmo da ampulheta que a todos mede existência.
Dois sacerdotes ensinavam Religião, regular um, secular o outro. Do mosteiro de São Bento descia frei Saturnino Santa Clara Antunes de Abreu, pregador imperial, teólogo da Nunciatura Apostólica, ao tempo no convento do Carmo no largo da Lapa, e vinha explicar História Sagrada aos meninos do Externato, com a gravidade dum abade titular de São João Gualberto. "Alma de erudito — declara Cantanhede — em cujo olhar se percebia uma faísca de convicção do próprio valor, que a humildade da sotaina não conseguira apagar de todo, contrapondo-se à figura simples do velho sacerdote, Monsenhor Amorim, seu substituto".
ESCRAGNOLLE DÓRIA
À galeria dos professores do Externato dos quais
nos deu até agora muitos traços Cantanhede de Almeida,
a juntemos outros t ipos: — Ramos Mel lo , professor
estimado, culto, cuja modéstia bem mostrava quanto sabia
que o tudo do saber humano é afinal nada; Rozendo Muniz,
poeta emaranhado no ensino de Filosofia; Nerval de
Gouvêa, baixinho, rotundo, calvo, organização intelectual
de primeira ordem que tornava a Física e a Química quase
so r r i den tes por l ições en t re saber e amab i l i dade ;
Goldschmidt, maciçamente germânico e como tal não
desdenhando cachimbo, de fumaças no intervalo das
aulas, numa pausa entre Schiller e Goethe. O mais esquivo
dos lentes era o de Retórica, Poética e Literatura, Franklin
Dória, já Barão de Loreto, ora Ministro, ora deputado geral.
Cada um desses e cada um dos mais lentes do
Colégio que longos estudos de personalidades merecem,
cada qual com seu jeito de ensinar, com seus cacoetes,
com seus tiques observados pelos alunos, inspetores
mudos ou traquinas dos mestres no decurso das aulas,
entre bater de sineta para entrar ou sair delas.
Em artigo — com o título O Velho Colégio e subtítulo
Um Pouco de Saudade — Raul Pederneiras e Fontoura
Guedes concorreram para lembrar sob diversos aspectos
professores do Colégio no f im de Império.
Apresentam-se-nos em 1889: — Halbout "para os
vadios e re lapsos " t e m e r o s o , usando de ameaças
cumpridas para chamá-los ao cumprimento do dever, de
estribilho no f im do ano há de contar com minha bolinha
preta; Alexander que ensinando Inglês "pouco faltava para
ser Berlitz, desenhando quadros explicativos da aplicação
das palavras invariáveis por meio de pássaros em torno
de uma gaiola", quando não arrastava alunos, e até o reitor
Monsenhor Brito à Quinta da Boa Vista, toda silêncio,
despovoada e vegetações, para exercícios de cultura física,
nisto Alexander bem Inglês.
Ramos Mello ensinava História Universal servido por
invejável memór ia , Pedro José de Abreu expl icava
Geografia personi f icando a bondade, atr ibuindo aos
distraídos e vadios "memória de abóbora", coisa que na
cucurbitácea jamais a botânica descobriu.
Aureliano Pimentel dirigia a aula de Português, língua
ainda não diferenciada da brasileira, do 2o ao 5o ano. A
calourada ficava a cargo de Manoel Olympio Rodrigues
da Costa, esforçado no entregar bons discípulos a
Aureliano Pimentel. Este "erudi to abalizado, seguro,
f requentemente consultado pelos paredros do idioma,
primava pelas lições de redação e de estilo, possuindo
caderno onde averbava as cincadas e os cochilos dos
professores e letrados da época". Muito havia aproveitado
no recolhimento de longos anos em Minas, no nativo São
João d'El Rey de onde o havia retirado D. Pedro II ao passar
pela cidade.
Diz-nos Fontoura Guedes dos pro fessores do
Colégio, ainda do tempo do Império, cujas lições recebeu
no Externato de 1895 a 1901: — "Cada professor possuía
uma psicologia própria, um modo particular, especial na
forma de lecionar; bondosos ou rigorosos eram todos
acatados, respeitados por seus discípulos, incapazes de
manifestações host is" .
Nem escaparam aos cronistas da saudade do
Colégio os tipos dos inspetores, os dois Lima, o Leal Pai,
o Baptista Pai. o Santos, o Perrayon, bondoso como a
bondade, chamando o estudante desobediente "de quinta
roda de carro". Quando a aula estava quieta o inspetor
ficava a ler clássicos franceses.
Do aspecto in te lec tua l e moral passemos ao
mater ia l do Externato no f im do Impér io , aspecto
conservado até bem adiante na República.
Recorda-o Raul Pederneiras descrevendo o Externato
"no amplo edifício do antigo seminário, de arquitetura
monástica, com enormes arcarias circundando o vasto
pátio central, transformado em campo de recreio e da
g i nás t i ca , salas amp las , a re jadas , che ias de luz,
destinavam-se às aulas, em dois pavimentos".
A entrada das aulas era ao lado da Igreja de São
Joaquim, aquela de feitio severo, entre colunas de granito
e capitéis de bronze.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 -1937
Notável pela extensão a sala de estudo onde em torno das paredes corriam os cabides numerados para guarda de chapéus.
Havia dois lugares reservados na Casa. Um era a secretaria onde no fim do Império trabalhavam o Secretário, António Joaquim Rodrigues Júnior, substituído nos impedimentos pelo inspetor Carneiro Vidal, e o escrivão João Bernardo de Brito. O aluno conhecia a secretaria por tradição, e mesmo no princípio da República, atesta Raul Pederneiras, "nenhum aluno subiu as escadas rumo da Secretaria". Quem falava aí por ele e pelos seus interesses eram pais ou responsáveis.
O segundo lugar reservado do Colégio, onde o aluno só entrava uma vez por ano, era o Salão Nobre. Mas para o dia de contemplá-lo haviam primeiro de chegar os dias dos exames finais.
"Solenes, realizados no salão de estudo, enormíssimo e repleto, à mesa os reitores, os vice-reitores, os professores da matéria, do Externato e do Internato, muita vez sob a presidência do Imperador", segundo Raul Pederneiras.
Para os setimanistas, o termo dos exames finais era anúncio da colação de grau. Patenteava-se então a solenidade a entrada nobre do edifício no ângulo da Rua da Imperatriz, ora Camerino, da Imperatriz em lembrança da chegada de D. Thereza Christina ao Rio de Janeiro em 1843, desembarcada no antigo Valongo.
Na entrada nobre da Casa pompeava "imponente escadaria artística de madeira lavrada, ostentando no limiar admiráveis esculturas de grifos, símbolos alados da previdência, obra de arte substituída (depois do Império) por escada angulosa, inestética, de ferro batido e mármore vulgar".
No dia da colação de grau os setimanistas e os premiados em vários anos do curso esqueciam por momentos os sustos de fim de ano, os terríveis exames, no verão já bem de rigor, anunciado pelas cigarras nas amendoeiras do pátio central.
O dia era de ouro na colação de grau e na distribuição de prémios. Quão melodiosos aos ouvidos dos recompensados soavam as vozes de colegas orfeonizados pelos ensaios e esforços do Mathias Teixeira e do seu coadjuvante Balduíno Rodrigues de Carvalho, morador em Niterói, no largo da Memória, a gravar na dos alunos os exercícios de solfejo de Garandé.
O dia da colação de grau assinalava o do descanso temporário para o Mathias, zangado se o tratavam por doutor, lisonjeado se o chamavam de maestro, e para o Balduíno, a declarar aos recalcitrantes de solfejo que "os desafinados afinam-se", enquanto eles se vingavam alcunhando o zeloso professor de "suplemento musical", aludindo ao cargo de coadjuvante do Mathias.
Certo não faltava malícia aos alunos do Externato, como ao dizerem ser possível acertar relógios pelos espirros infalíveis do professor Goldschmidt ao soar do meio-dia, anunciado à cidade pela badalada de numerosos sinos. O anedotário do Colégio é vasto, abrange no decurso do tempo muito e muitos, para ele contribuindo uns mais, outros menos na Casa onde o estudo era vigiado por todos os lados, do Imperador e dos ministros, aos reitores e vice-reitores, aos inspetores.
Assim pôde Raul Pederneiras asseverar, "que o vadio, o amigo de 'gazetas' não escapava; os pais recebiam, no dia seguinte ao 'fato', um bilhete participando que o estudante não comparecera às aulas".
O ajuste de contas era feito em casa, da admoestação ao puxão de orelhas, e às vezes de consequências piores para o reincidente, sem nenhuma atenuante, nem mesmo o da privação de sentidos inadmissível na vadiação sobretudo crónica, coisa na época assaz rara, o aluno de passos da casa para o Colégio e vice-versa, os menores acompanhados pelos pais ou por pagens.
No ano de 1889, último do Império de 1822, último do Segundo Reinado, o Internato do Imperial Colégio de Pedro Segundo deixara havia pouco a chácara do Matta, no Engenho Velho, onde funcionava desde instalação.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Passava-se para bairro bem oposto, o de Sâo Cristóvão.
Desamparava solar, boscarejamente entre árvores, leões de gesso ao portào, para abrigar-se em ponto elevado, dominador de paisagem, sobranceiro a vasta praça, o Campo de São Cristóvão, então praça Pedro I, sem nenhum ajardinamento, teatro de frequentes revistas de tropa pela amplitude do logradouro sobremaneira favorecidas.
A mudança do Internato, posto em prédio destinado a asilo, constituía, pois, novidade para os alunos do estabelecimento. A quem podem ser mais gratas as novidades senão à juventude no deslumbramento de viver.
Quem em 1889, dia e noite, velava pelo Internato? O vice-reitor Luiz Cândido Paranhos de Macedo, residente na Casa, como a maioria dos inspetores. Tinha-os, pois, Paranhos de Macedo, à mão para manter a ordem no respeito.
O reitor, Conselheiro Bandeira de Mello, salvo caso excepcional, vinha só ao expediente diário. Secundava porém o auxiliar mantendo-lhe as determinações sobretudo no tocante à disciplina, nem sempre fácil de assegurar, pelas diferenças de idades e índoles em alunos, uns nascidos e criados para compreendê-la, outros para contrariá-la por interioridades de temperamento ou de meio social.
Como o reitor, só vinham também a São Cristóvão e ao Internato para desempenho de funções os professores do Colégio, catedráticos ou substitutos. Traziam-nos os bondes da Companhia de São Cristóvão, de lenta quando não acidentada tração animal, bondes aqueles, à subida ou à descida, passando pela Praça D. Pedro I de onde irradiavam nada menos de sete vias públicas. Serviam-se os professores do Internato das linhas ferro-carris do Pedregulho, São Januário, Ponta do Caju e Alegria, uma os deixando mais perto, outras mais longe.
Em a nova casa do Internato lecionavam Tautphoeus, regendo as cadeiras de Alemão e Grego, de Schiller se transportando a Homero; Oliveira Fernandes,
antigo oficial do exército, ensinando Francês sem os extremos de rigor de Halbout; Fortunato Duarte, lendo Latim, explicando com a maior vida a língua morta.
Desvendava o Idioma Vernáculo ao 1 ° ano quem do idioma se servia a primor, Carlos de Laet, cuja ironia enfrentara impávida o sarcasmo de Camillo. Do 2o ao 5o
ano a Língua Portuguesa era explicada por Fausto Barreto, que abandonando o curso médico se tornara exclusivamente professor e dos melhores.
A cadeira de Italiano, qual a de Grego, vagara. Preenchia-a o substituto, Monsenhor João Onofre de Souza Breves, sacerdote de físico imponente, douto e viajado.
O Inglês, tão oposto ao Italiano, ensinava-o o Dr. Custódio Américo dos Santos, médico e bacharel em letras; o Dr. Joaquim Gonçalves Guillon dirigia alunos na Matemática; Oliveira de Menezes Pai, na Física e na Química; Caminhoá na História Natural; António Limoeiro, bacharel em letras e médico na História Literária. Sylvio Romero na Filosofia, examinando de acordo com a cadeira, filosoficamente, disposto a perdoar as inteligências negativas.
Entusiasta no ensino da Retórica, Poética e Literatura Nacional era o professor da cadeira, o médico Dr. José Maria Velho da Silva, loquaz como convinha a professor de Retórica, arroubado como quem cultivava poesia, literato, como quem às letras pátrias entregara Gabriella, romance histórico a competir com as Memórias de um Sargento de Milícias de Manoel António de Almeida, outro médico como Velho da Silva.
Os alunos, sobretudo, os menos aplicados, esperavam sempre que nos exames, ao interrogá-los, Velho da Silva, tomasse a palavra, permitindo-lhes delicioso silêncio. Passava não raro o examinador a prestar o exame, enquanto a areia ia passando da superior para a inferior da ampulheta...
Frei Bento da Trindade Cortez, monge da abadia carioca de N. S. de Montserrat, vinha do Mosteiro de São Bento doutrinar Instrução Religiosa e dizer missa, Capelão, da Casa.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837-1937
Além dos catedráticos no Internato, aí funcionavam mestres de Música, Desenho, Ginástica e Esgrima.
Também serviam ao ensino os substitutos comuns ao Externato e ao Internato, Carlos Jansen lecionando Alemão, João Henrique Braune, Grego; Vicente de Souza, Latim, Magalhães Couto, Francês, Almeida Torres, Inglês, Frontin, Filosofia, Carlos França, Retórica, Raja Gabaglia, Matemática, Gama Berquó, Geografia e Cosmografia.
Em 1889, regia Berquó a cadeira de História do Brasil no Externato por impedimento do titular, ou do proprietário como se dizia outrora, da cadeira, João Capistrano de Abreu.
Ficara no Internato a cátedra de Geografia a cargo exclusivo do professor efetivo, o Dr. Francisco José Xavier, médico e diretor do Hospício de Nossa Senhora das Dores, em Cascadura, estabelecimento da Santa Casa da Misericórdia, então dirigido pelo Barão de Cotegipe.
Geografia e História irmanam-se. No Internato, em 1889, História Universal chegava a alunos por intermédio do Dr. Moreira de Azevedo, pela bondade para os alunos o Vovô, médico e bacharel em letras, ao qual a crónica do Rio de Janeiro ficou devendo grandes serviços.
Professava História e Corografia do Brasil outro médico, o Dr. Mattoso Maia, de préstimos da profissão na Guerra do Paraguai.
Dele disse Raul Pederneiras mostrando-o "jovial, comunicativo, amigo até o sabugo da alma, condimentando a aridez dos assuntos com episódios anedóticos".
Sempre de preto, de longas barbas brancas em contraste, pausado no andar e rápido da palavra, Mattoso Maia era dos mais estimados professores do Colégio.
Continuando a tradição de muitos colegas, quais por exemplo Justiniano da Rocha, Calógeras, Gonçalves da Silva, Tautphoeus, Macedo, Ramos Mello, Thomaz Alves Nogueira, Moreira de Azevedo, autores de compêndios de História, Mattoso Maia também os escreveu versando história universal e pátria.
Era frequente reduzirem os professores do Pedro Segundo lições a compêndios, declarando-os para uso dos alunos do Imperial Colégio. Não impedia isso de serem aqueles compêndios adotados em outros estabelecimentos de instrução secundária. Consideravam o Pedro Segundo Colégio tipo, sabiam-no sujeito à fiscalização suprema do Imperador, jamais nela esmorecido. O exemplo sempre desce do alto. Modela-se fatalmente o subalterno pelo superior. Tal um, tal outro.
Antigo aluno do Internato, o Dr. Everardo Vallim Pereira de Souza, a honrar na vida pública o nome paterno do Conselheiro Pedro Luiz, forneceu ao professor Escragnolle Dória subsídios para dizer algo da vida do Internato, "intra muros", no fim do Império.
Atestou a impressionante frequência das visitas do Imperador ao Internato. "Chegava sempre de surpresa, sem avisos prévios, com o mesmo traje preto, não dispensando cartola. De preferência entrava pela cozinha, dizia qualquer coisa ao chefe da mesma. Passava à despensa, examinando géneros e ao despenseiro solicitava informações. Na copa observava o estado de limpeza do respectivo material. Percorrendo o refeitório fazia observações sobre quaisquer irregularidades.
Sucedia o mesmo quanto aos dormitórios. Na enfermaria, se nela havia doentes, inquiria do estado de cada um, desejando sempre melhoras a todos. Quando na rouparia não raro fazia descer roupas dos gavetões, a fim de verificar-lhes o asseio. As dependências sanitárias não ficavam esquecidas e triste do chefe da faxina se qualquer coisa deixasse a desejar!
Ao entrar em diferentes aulas, assistia às lições e comumente interrogava os alunos. Quando na Biblioteca lá confabulava com alguns lentes, nunca deixando de dizer duas palavras ao velho Barão de Tautphoeus, quase sempre em alemão.
Ao despedir-se do reitor, D. Pedro II manifestava as impressões da visita. Em todas as festas solenes pontualmente comparecia. Ao passar pelos recreios, não
ESCRAGNOLLE DÓRIA
raro mandava chamar alguns alunos, filhos de pessoas suas conhecidas, e com eles ligeiramente confabulava".
A missa dominical era obrigatória para quantos não saíam aos sábados e, às vezes, havia confissões e comunhões gerais.
Tais práticas eram com ânsia disputadas e sempre que possível repetidas, porquanto os que caíam em graça ganhavam goiabada ao jantar, servidas bananas aos infiéis.
A alimentação dos alunos era da melhor qualidade, muito farta e bem feita...
Estado sanitário ótimo. Do zelo de D. Pedro II, diga-nos, apoiado no
testemunho do apoio paterno, o Dr. João Marques, filho do antigo reitor do Internato, Dr. César Augusto Marques.
"O Imperador dando aos Ministros plena liberdade de ação no Governo, fazia exceção para o Colégio de Pedro II, Internato e Externato. O Colégio, todos o sabiam, vivia sob a direção imediata e pessoal do Imperador. Havia exageros na acusação de poder pessoal tão falado pelos políticos da época... quando o seu partido deixava o Governo.
Ah! Não... Quanto ao Colégio, o poder pessoal do Imperador era verdade incontestável e cuja existência não se podia negar.
Acompanhava os concursos, exame por exame, passo por passo, tomando notas, conversando com os examinadores e com os concorrentes, e no fim verificava-se não lhe ter escapado qualquer minuciosidade e qualquer circunstância.
Quase todas as semanas aparecia inopinadamente, com tal insistência que sempre se contava com a visita do Imperador. Não se limitava a assistir às aulas, percorria a chácara, os dormitórios, a biblioteca, a cozinha e mais de uma vez sentava-se à mesa e provava a comida.
Constantemente, o Imperador mandava recados ao reitor, relativos ao Colégio, numa tira de papel, a lápis azul, sem endereço, com rabisco já conhecido como assinatura imperial".
Prova-o de sobejo a dedicação ininterrupta de D. Pedro II pelo Colégio de seu nome, dedicação à qual o destino apôs fundo selo.
O último dia do Imperador seria vivido no Externato, onde se processava concurso para preenchimento da cadeira de Inglês.
Uma das provas do certame foi realizada a 14 de novembro de 1889, e Abreu Fialho fixou a lembrança do involuntário adeus de D. Pedro II ao Colégio, que se honrava tendo-o D. Pedro II por protetor.
"Parecia — refere Abreu Fialho — que do alto de seu trono tinha a visão sinóptica das necessidades do Estado, e a elas acudia com amor, e, no particular do ensino, nunca se afastou no curso do seu patriótico mister, antes persistiu nesta louvável porfia, porque ainda nas vésperas da revolução que lhe derribou a potestade, às 5 horas, mais ou menos, da tarde de 14 de novembro de 1889, na porta do Externato, acabava de assistir à prova do concurso de Inglês, e ao tomar o carro que o levaria à Estrada de Ferro para Petrópolis, virou-se para Tautphoeus, o divino Tautphoeus, como o chama o nosso Sylvio Romero, lembrando-lhe jocoso, que trouxesse bem estudada a lição de grego do dia seguinte, cadeira de que era detentor aquele inolvidável sábio e mestre".
Cinco da tarde, mais ou menos, de 14 de novembro de 1889. Poucas horas depois graves sucessos terminados pela Proclamação da República.
Depoimento de bacharel do Colégio, em 1889 a cursar o 1o ano do Externato, vai dizer de 15 de Novembro de 1889. Disse-nos:
"Desci a Ladeira do Senado, atravessei a rua do Riachuelo, a do Senado, a travessa do Senado , o Campo de Santa Ana, saindo pelo portão do parque fronteiro ao Quartel General em direção à Rua Larga.
Movimento de tropas em frente ao grande quartel. Virei-me para o colega que me acompanhava e observei: — Hoje não há aula. Vamos ver a parada. E ficamos vendo a parada. E fomos ficando. Não me lembro bem
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
do que vi, nem do que fiz. Atravessei a tropa e subo, lado da rua Larga. Chego ao Pedro II. O Imperador estava demorando e cansamos de esperá-lo.
Lá dentro grande vozeria, para as bandas do 6o ano. Tomei o corredor à esquerda e dirigi-me à sala do 1o ano onde o inspetor naquele dia era impotente para manter ordem. O vice-reitor entrou e soltou um berro:
— Todos de pé e de braços cruzados. Mas a voz tremeu. O homem estava fulo. Sentou-
se na cadeira do professor. Mão no queixo e pôs-se a meditar.
Assim ficamos por algum tempo, depois tivemos ordem de sentar e a de saída, ao meio-dia, quando nos retirávamos de ordinário à hora e meia.
Dirigi-me para a cidade, em companhia de colega. Quando íamos dobrar uma esquina, surge papai, muito pálido. Aparece também o aio do colega. Papai vinha de tílburi. Entrei neste.
— Por que não voltou para casa? Perguntou meu pai, em caminho.
Indaguei o que havia de novo. — Proclamaram a República. O ditador é o Deodoro. Ignorava o que vinha a ser república, nunca ouvira
pronunciar o nome de Deodoro, não sabia o que era ser ditador. Para admissão no Pedro II bastava saber ler, escrever, cantar e doutrina Cristã.
E, no tílburi, perguntei a papai se Deodoro ficava então sendo Imperador.
Meu pai não teve tempo de entrar em explicações, já estávamos em casa, onde, no portão, mamãe me esperava toda chorosa".
Assim, descrita por um calourozinho de 10 anos, hoje glória do magistério nacional, transcorreu no Externato a manhã de 15 de Novembro de 1889. É de crer que no Internato, pela proximidade de quartéis de cavalaria e artilharia, chegassem logo notícias do movimento militar encabeçado pelo Marechal Deodoro.
Não nos ficou, porém, depoimento algum de aluno, mesmo calouro, do Internato.
Na deposição do D. Pedro II aprouve ao destino dar papel histórico a aluno do Colégio.
Na noite de 14 para 15 de Novembro de 1889, inteirado do movimento militar, reuniu-se o ministério presidido pelo Visconde de Ouro Preto na Chefatura de Polícia, na Rua do Lavradio, no Arsenal de Guerra e no de Marinha onde o Governo viu clarear o dia, acabando o Ministério por se congregar no Quartel General do Exército, exceto o Ministro da Marinha, o chefe de esquadra José da Costa Azevedo, Barão do Ladário.
Ao dirigir-se de carro para o Campo, ajuntando-se a colegas, ao descer de "coupê", intimado por um tenente, teve ordem de prisão. Sem palavra, com o silêncio que nas ocasiões supremas fala tão alto, Ladário alvejou o tenente intimador. O tenente atirou e Deodoro acudiu ao estampido. Ladário alvejou-o também, sem atingi-lo, a bala passou pela cabeça de Deodoro. Já se retirava Ladário, quando o piquete de Deodoro, desfechando tiros, atingiu o Ministro com quatro ferimentos.
Ladário apressou o passo e caiu na calçada, junto ao armazém de secos e molhados da Rua Larga de São Joaquim, com uma porta para a Rua de São Lourenço, hoje Visconde da Gávea. O armazém fechou-se, às pressas. Ladário ficou estendido sobre o lajedo.
Acercou-se então do ferido um moço. Chamava-se Carlos Vieira Ferreira, aluno sextanista do Externato do Colégio de Pedro II. Com certeza aí tinha se fartado, como o calouro cujo depoimento citamos, de esperar o Imperador, de visita anunciada.
Acercou-se Vieira Ferreira de Ladário. Então alguns homens do povo acabaram se aproximando, curiosos, humildes.
A mocidade generosa pediu-lhes auxílio para socorro do ferido. Não podia ficar assim no meio da rua, talvez morrer, sem alívio, ou pelo menos sem piedade.
O apelo foi correspondido. O grupinho dos populares, aquecido pela chama de caridade de Vieira Ferreira, levantou Ladário.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Acrescidos de um comissário da armada, os enfermeiros improvisados do momento trágico conduziram Ladário ao saguão do Palácio Itamarati. No edifício achava-se o Dr. João Pinto do Rego César, bacharel em letras, à cabeceira de enfermo, um genro da Marquesa de Itamarati, o Comendador Monteiro. Segundo depoimento inédito do Dr. Rego César, mandou este pedir à família Itamarati um lençol de linho para fazer ataduras. Pensado de urgência Ladário, o Dr. Rego César pediu a presença de outro médico, indicando o Dr. João Câncio Nunes de Mattos, cirurgião militar, que julgava dever encontrar-se na farmácia São Joaquim, na Rua Larga, próximo à do Costa.
Realmente, o Dr. Câncio de Mattos permanecia na farmácia, ponto de encontro de vários facultativos conhecidos e empório de diversos preparados de muita vulgarização no mercado de droga da época, procurada sobretudo por gente da roça em busca de anti-sezônicos.
O Dr. João Câncio seguiu Vieira Ferreira, o aluno do Imperial Colégio, e o fulgor do ato do escolar iluminava em chefe o Colégio inteiro. Provou-o para a posteridade, à bíblica, o bom samaritanozinho compassivo do Pedro II
amparando homem idoso, tinto de sangue a jorrar de ferimentos em honra de causa vencida.
Justifica-se, pois, o apontar de alguns dados biográficos de Carlos Vieira Ferreira, dado o seu papel, honrando-se e honrando o Colégio, no dia 15 de Novembro de 1889.
Carlos Vieira Ferreira pertenceu à turma dos bacharéis em letras do Externato em 1890. Descendia do Dr. Miguel Vieira Ferreira, maranhense ilustrado, amigo e colega di leto de Benjamin Constant. Homem desinteressado, de variadas aptidões, no fim da vida fundou, no Rio de Janeiro, igreja protestante.
Formado em Direito, Carlos Vieira Ferreira iniciou vida pública por magistério no Colégio Militar. Mais tarde entrando para a carreira diplomática, serviu o cargo de 2o
secretário (1898). Por efeito de medidas de economia governamental, retirou-se do corpo diplomático. Muito jovem, faleceu a 3 de junho de 1900, deixando viúva D. Albertina Gusmão Vieira.
Honra à memória de Carlos Vieira Ferreira. Bem merece no Colégio homenagem especial.
Os Primeiros Atos da República em Relação ao Colégio • Mudanças de Nomes do
Mesmo • Reformas Benjamin Constant e João Barbalho • O Código de Ensino de
1892 • Fusão do Externato e Internato • O Restabelecimento de Ambos •
Reforma do Código do Ensino de 1892 • A Primeira Equiparação do Ginásio
Nacional • Regulamento Amaro Cavalcanti • Reforma Epitácio Pessoa •
Novos Diretores e Novos Lentes • Código de Ensino de 1901 • Concursos •
Reforma Tavares Lyra • O Património do Colégio • Relatório Esmeraldino Bandeira •
Novos Lentes • Reforma Rivadávia Corrêa • Eleições para Diretor e Representante
do Colégio, já de Novo de Pedro Segundo, junto ao Conselho Superior do Ensino •
Extinção do Bacharelado pela Reforma Rivadávia • O Anuário do Colégio •
Reforma Carlos Maximiliano • Nomeção de Diretores pelo Governo •
Restabelecimento do Bacharelado e do Concurso de Provas.
XI O Colégio de 1890 a 1917
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
ESCRAGNOLLE DORIA
Proclamada a República, instituído nela primeiro Governo Provisório, presidido por Deodoro da Fonseca, foi o Ministério do Império, a cuja jurisdição pertencia o Colégio de Pedro Segundo, transformado em Ministério do Interior.
Nele serviu como primeiro ministro o Dr. Aristides da Silveira Lobo, antigo político da monarquia.
Quanto à instrução a breve passagem daquele Ministro, pela Pasta, apenas se assinalava por um Aviso, determinando que continuassem a regular-se pelas disposições vigentes os institutos de ensino superior ou secundário criados ou dirigidos por leis de caráter geral.
No Governo Provisório o sucessor de Aristides Lobo, Cesário Alvim, nomeado em fevereiro de 1890, presenciaria a separação dos negócios relativos à instrução pública dos negócios políticos da Pasta do Interior.
Solvendo crise violenta no Governo Provisório, surgiu nova Pasta, a da Instrução Pública, Correios e Telégrafos para ela transferido Benjamin Constant, Ministro da Guerra.
Lente da Escola Militar e pouco antes da República. da Escola Superior de Guerra, Benjamim Constant, assumindo nova Pasta, encontrou como ato único da administração Alvim, um Aviso riscando dos programas de ensino a instrução religiosa..
Ministro da Instrução, na Pasta criada a 19 de abril de 1890, Benjamin Constant, em julho do mesmo ano, modificava o processo de concurso do antigo Imperial Colégio de Pedro Segundo.
Havia este passado a Instituto Nacional de Instrução Secundária quando Ministro Aristides Lobo.
Por Decreto de 14 de julho de 1890, dos concursos do Instituto desaparecia a defesa de tese, arguidos os candidatos por dois examinadores sobre provas escritas e orais.
A arguição das primeiras seria feita no dia seguinte ao da leitura pública das provas, a arguição das provas orais, logo após a sua realização.
Julgariam o concurso a comissão examinadora e a Congregação, logo depois da arguição do último candidato.
Não tardaria Benjamin Constant a reformar a instrução pública primária e secundária do antigo Município Neutro ou da Corte, rotulado pelo novo regime como — Distrito Federal.
No regulamento anexo ao Decreto de 8 de novembro de 1890 enfeixou Benjamin Constant a reforma do ensino de inspiração e lavra própria.
Principiou mudando o nome de Instituto Nacional. de Instrução Secundária, substituto do Imperial Colégio
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837-1937
de Pedro Segundo, para Ginásio Nacional, mantendo-lhe
provisoriamente a velha divisão em Internato e Externato.
Antigo professor das duas seções da Casa, a título
suplementar, Benjamin Constant conservou no Ginásio o
curso septenal.
Tornava, p o r é m , i n d e p e n d e n t e s por i n te i ro ,
administrativamente, Externato e Internato. Reger-se-iam
pela mesma lei, com identidade de programas, sujeitos à
Inspetoria Geral do Ensino e a Conselho Diretor desta.
Todas as matérias do curso seriam obrigatórias,
facultado porém ao aluno escolher a aula de Inglês ou a
de Alemão.
Doze anos de idade, pelo menos, seriam exigidos
para admissão ao 1o ano, a lém da apresentação do
atestado de vacina e de diploma de exame final primário
ou certificado do grau primário, mediante exame procedido
no Ginásio.
Os e x a m e s de s u f i c i ê n c i a ou de p r o m o ç ã o
constariam de provas orais, os finais de provas escritas,
orais e práticas, os exames de madureza prestados no
f im do curso para verificação da cultura individual.
Aos exames de madureza só concorreriam os alunos
do Ginásio aprovados em todos os exames finais.
Aos aprovados em tal exame, pelo menos com 2/3
de notas plenas seria atribuído o título de bacharel em
ciências e letras.
Poderiam ser admit idos a exame de madureza
candidatos estranhos, munidos de atestados fornecidos
pe los d i re to res de co lég ios ou pelos p ro fesso res
particulares que os houvessem habilitado, informando dos
precedentes intelectuais e morais dos discípulos.
Pela Reforma Benjamin Constant, o corpo docente
do Ginásio procedia de concurso, dirigida a Congregação
da Casa pelos reitores, por alternativa de presidência. A
Congregação elaboraria os programas de ensino, confiando-
Ihes a elaboração a comissão por ela eleita.
Apresentados os programas sofreriam exame do
Conselho Diretor de Instrução acompanhado de parecer
da Congregação e do Reitor Presidente.
No Conselho Diretor da Instrução figuraria um lente
do Ginásio.
No Internato e no Externato haveria em sala de honra
um Panteão.
Destinava-se aos retratos de alunos distintos pelo
talento, amor ao trabalho, procedimento exemplar e mais
virtudes, a recompensa do Panteão dependendo do juízo
da Congregação.
Extinguia a Reforma Benjamin Constant a classe
dos substitutos, o reformador tendo pertencido a esta
classe, com o titulo de repetidor, na antiga Escola Militar
da Praia Vermelha, aí lente interino por longos anos, provido
a f ina l em cá tedra na Escola Super io r de Guer ra ,
estabelecimento de ensino militar criado no fim do Império.
Pela Reforma Benjamin Constant, o corpo docente
do Ginásio Nacional compor-se-ia de 12 lentes privativos
de cada estabelecimento, Externato e Internato e de 6
lentes comuns a ambas as seções, cada uma servida por
professores de Ginástica, Evoluções Militares e Esgrima.
A 22 de novembro de 1890, Benjamin Constant
completava a reforma expedindo regulamento especial
para o Ginásio Nacional. Abrangia plano de estudo e sua
distribuição por curso de 7 anos, condições de admissão
de alunos no Internato e Externato, organização do corpo
docente, aulas e exames, processo de concursos, jogos
escolares, distribuição de prémios, não se descuidando o
regulamento do pessoal administrativo e docente.
Teria o reitor 6:000$000 de vencimento anual, e cada
lente 5:400$000, o secretário 3:000$000. Em novembro
de 1890, estendia-se aos funcionários de nomeação efetiva
e aposentáveis do Ministério do Instrução, o montepio
obrigatório criado em 31 de outubro de 1890.
Não abrangia o benefício o amparo das famílias, do
pessoal subalterno do Ministério do Instrução e do Colégio,
bem necessitadas de tal amparo.
Os porteiros do Colégio venceriam 850S000 anuais,
os serventes 720S000.
No momento em que a Reforma Benjamin Constant
assinalava no Colégio a primeira reforma de ensino do
ESCRAGNOLLE DÓRIA
regime republicano, perdia o estabelecimento, por morte,
um dos seus mais antigos e conceituados professores:
Halbout, — filho de pais franceses, tido por muitos por
francês, nasceu José Francisco Halbout, no Rio de Janeiro.
Educou-se em meio pedagógico, a mãe, M m e . Luiza
Halbout mantendo acreditado Colégio de meninas no centro
da cidade, na Rua do Hospício, ora Buenos Aires, esquina
da Rua São Jorge, ora Gonçalves Ledo.
Adolescente, dedicou-se Halbout à profissão de
relojoeiro, desamparada pelo magistério.
Começou a lecionar bem jovem, aos 22 anos,
iniciando carreira para a vida inteira.
Após concurso, Halbout ocupou no magistér io
secundário oficial posição digna de seus méritos.
Por Decreto de 5 de junho de 1858, referendado pelo
Marquês de Olinda, foi Halbout nomeado professor de
Francês do Internato e Externato do Imperial Colégio de
Pedro Segundo , pe rcebendo o o rdenado anual de
1:600$000.
Autorizado o diretor do Instituto Comercial, o reitor
do Colégio de Pedro Segundo, o Dr. Pacheco, por Aviso
ministerial, a convidar os professores do Imperial Colégio
que qu isessem lecionar no Inst i tu to, neste Halbout
ocupando a cadeira de Francês por Decreto de 7 de outubro
de 1863, com o vencimento anual de 1:200$000.
Na folha de serviços de Halbout ao magistér io
nacional ainda se registrariam os de lições de Francês, na
Escola Normal da Corte.
Antes, porém de ter nela ingresso, Halbout passou
no Colégio a reger unicamente a cadeira de Francês do
Externato, por opção feita nos te rmos do art. 56 do
regulamento anexo do Decreto 61.30, de 1o de março de
1876, expedido na 2a Regência Imperial de D. Isabel.
Por Decreto de 2 de outubro de 1885, era Halbout
nomeado professor da Escola Normal da Corte, a funcionar
provisoriamente oito anos na Escola Politécnica, já tendo
Halbout na Escola Normal regido para ela a cadeira de
Francês em 1880.
Cinco anos depois recebia designação efet iva,
assumindo interinamente a diretoria da Escola Normal, no
impedimento do diretor Dr. João Pedro de Aquino, por
portaria de 23 de dezembro de 1887, expedida pelo Ministro
do Império, Barão de Cotegipe.
Além das funções docentes, Halbout exercia outras,
sem sair do magistério, quais os encargos de examinador
de concursos no Colégio e no Instituto Comercial.
Pôs a pena a serviço de traduções de monografias,
destinadas a exposições universais das quais o Brasil
participava.
Assim traduziu Halbout para francês as Noções de
Corographia do Brasil, do colega Joaquim Manoel de
Macedo.
Para se avaliar a monta da tradução basta dizer que
constou de livro de 504 páginas, com vários mapas, livro
impresso em 1873 pela tipografia Brockhaus de Leipzig.
Ficou a cargo dos p ro fessores Thomaz Alves
Nogueira e Guilherme Schieffler a tradução da mesma obra
para o Alemão.
Após decénio de magistério na Escola Normal da
Corte, dela se retirava Halbout, jubilado por Decreto de 4
de março de 1889, percebendo pela jubilação 1:600$000
anuais.
Cont inuou, porém, a lecionar no Externato do
Imperial Colégio, até pouco depois da República.
Nos últimos tempos de magistério, escusava-se de
examinar, o que fizera longos anos, a seu ver o programa
de estudos vigente só favorecendo reprovações.
Lembrado para diretor da Escola Normal, já na
República, Halbout não aceitou o cargo.
Noticiando o óbito de Halbout, dizia a Gazeta de
Notícias, então um dos maiores órgãos da imprensa
carioca:
"O vulto que acaba de desaparecer há de ser sempre
lembrado como t ipo da mais alta honest idade e do
cumprimento mais rigoroso do dever.
Seus muitos discípulos podem ter se queixado,
alguma vez, da severidade de seus juízos, mas é difícil
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
que os tenham acoimado de injustiças, porque de fato ele
pôs o mais meticuloso cuidado em não cometê-las."
Para acréscimo do ligeiro esboço da personalidade
de Halbout f iquem destacadas as seguintes linhas de
Evaristo Nunes Pires, professor no Colégio, inscritos na
Revista Didáctica de 1o de janeiro de 1906.
"Quando Halbout completou 25 anos de carreira
pública, tratou de justificar faltas, então se apurando que
só 5 vezes deixara de dar aula.
Também de Halbout foi dito que, primando sempre
pela execução de deveres , n i nguém o excedia no
desempenho das funções do magistério, assim também
na banca de examinador, n inguém se mostrava mais
honestamente rígido e altaneiro às importunações do
empenho.
Não só na sociedade brasileira, vinda de berço, era
Halbout tido em subida conta como no seio da colónia
francesa à qual o ligava o atavismo que honrava por
costumes puros de excelente chefe de família, como
professor considerando o ensino "o mais santo dos
deveres".
Tanto era a estima da colónia francesa do Rio de
Janeiro por Halbout que pessoas inf luentes dela se
interessavam junto ao Ministro da França no Brasil, Conde
Amelot de Chaillot, para ser concedido a Halbout o grau
de cavaleiro da Legião de Honra, em curso o pedido quando
a morte de Halbout veio t r istemente cancelá-lo.
A Benjamin Constant sucedeu na Pasta da Instrução
Pública o Dr. João Barbalho Uchôa Cavalcanti
Aluno assinalado do Ginásio Pernambucano, aí
recebendo primeiro prémio em 1859 e prémio entregue por
D. Pedro II, em viagem pelo Norte, Barbalho por espaço
de 17 anos dirigira a instrução pública em Pernambuco.
Sempre a par do movimento pedagógico universal,
procurando adaptá-lo na província de berço, Barbalho, futuro
e douto comentador da Constituição de 1891, dera a lume
várias obras versando pedagogia. Não era, pois. um
deslocado na Pasta da Instrução.
Dela Ministro, a 22 de janeiro de 1891, membro do
segundo Gabinete do Governo Provisório, o do Barão de
Lucena, Barbalho, logo em fevereiro de 1891 mandou
entrarem em vigor, provisoriamente, os regulamentos
anteriores ao regulamento expedido pelo antecessor
Benjamin Constant. Isto a 6 de fevereiro de 1891 e no dia
seguinte um Decreto golpeava a Reforma Benjamin
permi t indo, sem concurso, pr imeira nomeação para
cadeiras vagas ou recém-criadas.
Em março de 1891, o Inspetor da Instrução Pública,
Dr. Ramiz Galvão, bacharel em letras, propunha ao ministro
Barbalho várias medidas em relação ao Colégio.
Entre elas a de vigorar o antigo plano de estudos
com algumas modificações de pequena monta, atendendo
a próxima apresentação de projeto reformador do plano do
Ginásio Nacional.
Promulgada a primeira Constituição da República, a
24 de fevereiro de 1891, entrou a nação em regime regular,
eleito Presidente da República, pelo Congresso Nacional,
o marechal Deodoro da Fonseca para o primeiro quadriénio
legal, de 25 de fevereiro a 15 de novembro de 1894.
Nomeou Deodoro Ministério do qual continuou chefe
o Barão de Lucena, passando João Barbalho da Pasta da
Instrução Pública para a da Justiça, substituído naquela
pelo Desembargador António Luiz Affonso de Carvalho.
Tomaria este alguma providência de ordem secundária
quanto ao ensino público.
Em d e z e m b r o de 1 8 9 1 , em v i r t ude da
consti tucional ização do regime, surgia a primeira lei
o rçamentár ia da Repúbl ica a t r i bu indo do tação de
175:530$000 ao Externato, igual soma destinada ao
Internato.
Autorizado pela referida lei orçamentária, o Governo
equipararia as vantagens dos lentes e professores do
Ginásio Nacional às dos lentes e professores de ensino
superior.
No ano letivo de 1891 receberiam grau 19 bacharéis
da turma de futuros cargos no Colégio, Francisco Pinheiro
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Guimarães, lente de Português e Literatura, e Sylvio Alfredo Bevilacqua, secretário do Internato.
Com a proclamação da República, havia coincidido a entrada de novos lentes para o Colégio, os seguintes: — Alonso Garcia Adjunto, lente de Grego, Manoel Said Ali Ida e Augusto Guilherme Meschick, lentes de Alemão, Rodolpho de Paula Lopes e João Ribeiro, lentes de História Natural e de História Universal, Guilherme Affonso de Carvalho, de Inglês, Alfredo Coelho Barreto e Agostinho Luiz da Gama, lentes de Matemática, e João Gonçalves Coelho Lisboa, lente de Geografia.
O ano letivo de 1892 seria inaugurado com reformas para o Colégio.
De posse de autorização competente, qual a da primeira lei orçamentária da República, o Governo ia mais uma vez modificar o Ginásio Nacional.
Renunciante da Presidência da República, a 23 de novembro de 1891, o Marechal Deodoro da Fonseca entregou governo ao Vice-presidente, Marechal Floriano Peixoto; o qual confiou o Ministério do Instrução Pública ao Dr. José Hygino Duarte Pereira.
Professor de humanidades na juventude, lente de Direito no Recife, como João Barbalho, seu conterrâneo, José Hygino não era também um deslocado na Pasta da Instrução.
A exemplo do antecessor e comprovinciano numa época de transição, a da Monarquia para a República, José Hygino pouco podia fazer pelo ensino.
Apôs, entretanto, referendo ao Decreto de 2 de fevereiro de 1892 a alterar profundamente a estrutura do antigo Colégio de Pedro Segundo de 1837. O citado Decreto extinguiu o Internato, substituindo-o por 2o Externato, sujeito às disposições do 1o e funcionando no edifício do extinto Internato sem modificação de pessoal docente ou administrativo.
Extinto por sua vez o Ministério da Instrução Pública, Correios e Telégrafos, os assuntos e interesses do ensino ficaram subordinados a novo Ministério, denominado da
Justiça e Negócios Interiores, para o qual foi nomeado, na Presidência Floriano Peixoto, o Dr. Fernando Lobo Leite Pereira.
A passagem do Dr. Fernando Lobo pela Pasta da Justiça e Negócios Interiores assinalou-se pela elaboração e aplicação de um Código de Ensino precedido de autorização legislativa.
Encerrou o Código disposições tendentes a garantir e premiar corpos docentes e discentes.
Determinou que a Congregação de cada instituto de ensino superior bienalmente indicasse catedrático ou substituto para em viagem ao estrangeiro estudar métodos de ensino ou proceder a investigações científicas.
Ao aluno anualmente classificado primeiro de cada estabelecimento de curso superior teria direito a prémio de viagem na Europa ou na própria América.
O Código de 1892 permitia que os estabelecimentos de ensino formassem património, recebendo doações, legados e subscrições, livre ao Governo a concessão do título de Faculdades ou Escolas, equiparando-as às federais, as Faculdades ou Escolas de fundação particular, mediante condições.
O ano de 1892 foi de reformas no ensino. Transformado em Distrito Federal o antigo município
Neutro ou da Corte, pela Lei Orgânica do mesmo Distrito, de 20 de setembro de 1892, a instrução primária do Distrito ficou a cargo da Prefeitura Municipal, à expensas da União a instrução secundária.
Em novembro de 1892, Ministro ainda o Dr. Fernando Lobo, a lei orçamentária do citado ano autorizou o Governo a fundir o 1o Externato, o do centro da cidade, e o 2o
Externato do Ginásio Nacional, o antigo Internato do Campo de São Cristóvão.
Desaparecida a divisão, em dezembro de 1892, o Ministro Fernando Lobo aprovava novo regulamento para o Ginásio.
Tal regulamento extinguia as denominações de reitor e vice-reitor no alto do corpo administrativo, substituía-os'
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 -1937
pelas de diretor e vice-diretor, delegados de confiança governamental, fixados em 6:000$000 anuais os vencimentos dos lentes, pelo Regulamento Fernando Lobo.
A Proclamação da República encontrara dois reitores, um no Externato do Imperial Colégio, Monsenhor Luiz Raymundo da Silva Brito, outro no Internato, o Conselheiro Joáo Capistrano Bandeira de Mello, substituído o primeiro em janeiro de 1892, por José Veríssimo Dias de Mattos, até dezembro com o título de Reitor, e o segundo em 1890 e 1891 por Paranhos de Macedo, este em 1891 substituído o primeiro em janeiro de 1892, por José Veríssimo Dias de Mattos, até dezembro com o título de reitor, e o segundo em 1890 e 1891 por Paranhos de Macedo, este em 1891 substituído pelo Dr. Alfredo Piragibe, médico e bacharel em letras da turma de 1864, o segundo bacharel da Casa a exercer-lhe reitoria, sendo o primeiro Paranhos de Macedo.
No ano de 1892, de tantas modificações para o Ginásio Nacional, por ele se graduavam em ciências e letras duas turmas de setimanistas, a do Externato composta de 13 jovens e a do Internato de 9. Haviam estudado no Externato diversos bacharéis votados ao ensino superior ou secundário.
No ensino superior figurariam Raul Paranhos Pederneiras, professor de Direito e da Escola Nacional das Belas Artes, e João Marinho de Azevedo, professor de Medicina. Da turma do Externato em 1892 passaria para o corpo docente do Ginásio Nacional, Gastão Mathias Ruch Sturzenecker, pela competência e assiduidade um dos ornamentos da Congregação e do ensino público.
Professor interino, seria ainda o bacharel Carlos Leopoldo Jorge Sallaberry, da turma do Externato, pertencendo à do Internato José Bernardino Paranhos da Silva, servidor da instrução pública em vários cargos, inclusive o de Diretor do Internato.
No ano letivo de 1892 foi aventada a ideia da fundação de associação de socorros mútuos destinada a auxiliar funcionários do Ginásio Nacional, por várias formas beneficentes.
A 14 de junho de 1892, para tal fim, acharam-se reunidos na sala da Biblioteca do então 1o Externato do Ginásio, a convite do capitão Domingos da Silva Lima, os Srs. António Joaquim Rodrigues Júnior, António Manoel Pereira dos Santos, Carlos Galdino Leal, Domingos da Silva Lima, Joaquim José de Oliveira Alves, João Francisco de Góes, Marcellino Sampaio Castello Branco, Pedro Pinto Baptista e Pedro Felippe Perrayon.
Pelo capitão Silva Lima foram expostas as bases da fundação da Caixa Beneficente de Socorros Mútuos do Ginásio Nacional, eleita comissão para redação de estatutos, escolhidos os Srs. Oliveira Alves, Rodrigues Júnior e João de Góes.
Com vária sorte progrediu a Caixa, que ainda há pouco se tratou de reformar.
O ano de 1893 transcorreria entre perturbação da vida nacional, agitada pela revolta da armada, de início a 6 de setembro de 1893, e chefiada pelo Contra-almirante Custódio José de Mello.
Pouco antes de explodir a revolta na baía do Rio de Janeiro, para mais tarde conjugar-se com a Revolta Federalista estendendo-se ao sul do país, o vice-presidente do Senado o Dr. Prudente José de Moraes e Barros promulgava Decreto, a 5 de julho de 1893.
Criava em Minas Gerais, na cidade de Campanha, um Externato ou Ginásio Nacional, servindo nele o pessoal docente ou administrativo que a isto se dispusesse, dirigido para o estabelecimento a criar o material das duas seções do Ginásio Nacional, material inaproveitado na fusão.
Conforme Raja Gabaglia, tal Decreto ficou letra morta, a legislação também necrópole.
Lei orçamentária para o exercício financeiro de 1894, em breve restabeleceria o Internato, convertido até então em 2o Externato com o pessoal docente e administrativo correspondente.
Findo o ano letivo de 1893, através de sucessos de ordem pública, quais os oriundos das revoltas naval e federalista e das mudanças no regime do Colégio,
ESCRAGNOLLE DÓRIA
bacharelaram-se no Externato dez setimanistas e no Internato quatro. Dos bacharéis do Externato dois se encaminhariam para o ensino superior, Fernando Augusto Ribeiro de Magalhães, professando na Faculdade de Medicina e Luiz Cantanhede de Carvalho e Almeida na Escola Politécnica.
Em dezembro de 1893. deixava a Pasta da Justiça e Negócios Interiores o Dr. Fernando Lobo, republicano histórico, desde a formatura jurídica em São Paulo em 1876. Homem sempre respeitado pela integridade de caráter.
Levá-lo-ia este a renunciar mandato de senador por Minas por ter sido apresentado pelo Partido Republicano Federal, para a Vice-Presidência da República.
Vencido nas eleições, pobre e desprendido, entendeu renunciar ao mandato legislativo, nunca mais tornando à política. Um homem e um exemplo.
Foi o Dr. Fernando Lobo substituído pelo Dr. Alexandre Cassiano do Nascimento, riograndense do sul.
Na Presidência, Floriano Peixoto acumularia o exercício de várias Pastas, Ministro efetivo do Exterior e interino da Justiça e da Fazenda.
Longa seria a interinidade de Cassiano do Nascimento na Pasta da Justiça, de 8 de dezembro de 1893 a 15 de novembro de 1894, termo da Presidência de Floriano Peixoto.
Ministro interino da Justiça, Cassiano do Nascimento apôs referenda ao Decreto de 15 de janeiro de 1894, aprovando regulamento para o revivido Internato.
Pelo citado Decreto, militarizados, os alunos do Internato formariam batalhão escolar, de quatro companhias, a instrução militar ministrada por oficiais subalternos do exército.
O batalhão escolar do Internato, no qual os alunos tinham graduações militares, teria ensejo de exibir-se publicamente e com garbo, comandante do batalhão o aluno considerado mais distinto do estabelecimento.
A 15 de novembro de 1894, tomava posse da Presidência da República o Dr. Prudente de Moraes, nomeando Ministro da Justiça o Dr. António Gonçalves
Ferreira, pernambucano de longa prática na magistratura e na administração da sua província, deputado geral por ela, presidente de Minas, na monarquia, lente de Direito no Recife.
Coube-lhe referendar, mal na Pasta da Justiça, o Decreto de 7 de dezembro de 1894, aprovando, para modificá-lo ou acrescentá-lo, o Código de Ensino de 1892.
Modificou-o o novo Decreto sobretudo na parte financeira, aumentando ou diminuindo ordenados e gratificações, gratificando porém o pessoal do Ginásio a serviço de exames de preparatórios.
Findou o ano letivo de 1894, ainda de bastante agitações políticas, quais as posteriores à transição da Presidência Floriano Peixoto para a de Prudente de Moraes. Tais agitações, perduraram por bastante tempo culminando na tentativa de assassínio de Prudente de Moraes no antigo Arsenal de Guerra, pelo anspeçada do exército do 10° Batalhão de Infantaria, Marcellino Bispo dos Santos.
No fim do ano letivo de 1894 haviam de bacharelar-se dez alunos do Externato e três do Internato.
Assinalou também o referido ano letivo a admissão no corpo docente de lentes novos, o Dr. Francisco Pinheiro Guimarães, provido na cadeira de Português do Internato, o Dr. Augusto Daniel de Araújo Lima na de Geografia, o Dr. José Dias Delgado de Carvalho na de Francês do Externato e Timotheo Pereira na de Matemática, o último, exemplo da força de vontade, pois se elevara de humilde empregado no comércio a professor acatado e bem autodidata.
Em 1895, ainda na Pasta da Justiça, o Dr. Gonçalves Ferreira referendava o Decreto de 22 de abril de 1895 concedendo ao Instituto Kopke, equiparação ao Ginásio Nacional.
A concessão alargar-se-ia, não raro com grave dano para a regularidade e moralidade do ensino.
No sentir de Raja Gabaglia, o Decreto de 22 de abril de 1895 "foi a fonte de onde emanou a desmoralização e o declínio da instrução secundária". Outras fontes viriam e de abundante jorro.
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
No ano letivo de 1895, o Externato do Ginásio
Nacional graduou seis bacharéis no Externato, cinco no
Internato.
Dos bacharéis do Externato dois consagrar-se-iam
ao ensino: — Henrique César de Oliveira Costa, lente do
Ginásio e da Escola Politécnica, e Heitor Lyra da Silva,
lente da Escola das Belas Artes.
Em 1896, por lei orçamentária, foram transferidos
para os diretores de es tabe lec imentos de instrução
a t r i b u i ç õ e s das C o n g r e g a ç õ e s , não r e f e r e n t e
e x c l u s i v a m e n t e ao ens ino , a d isc ip l ina escolar, a
programas, a exames, a prémios ou concursos.
Graduaram-se no ano letivo de 1896 sete bacharéis
no Externato e onze no Internato. Da turma do Externato
menos numerosa que a do Internato, coisa não muito
comum, serviria o ensino Everardo Adolpho Backeurser,
lente distinto da Escola Politécnica. Da turma do Internato
se destacaria para o ensino José Ferreira da Costa Piragibe,
lente interino do Colégio, diretor do Instituto Ferreira Vianna
e do Instituto Profissional João Alfredo, figura de relevo
no magistério secundário.
O ano le t i vo de 1897, no Ginásio Nac iona l ,
transcorreria como o de 1886, no antigo Imperial Colégio
de Pedro Segundo. Nenhuma das seções da casa
tradicional graduaria bacharéis.
Lutuoso sucesso assinalaria o f im do ano letivo de
1897.
Três dias após o aniversário da fundação do Colégio
de Pedro Segundo, falecia no Rio de Janeiro, a 5 de
dezembro, o Dr. Alonso Garcia Adjunto, lente de Grego no
Ginásio Nacional e de Inglês no Liceu de Humanidades de
Niterói.
Nascera em Paracatu, Minas, em 1863. Iniciando
estudos na cidade natal completou-os no Seminário de
Diamantina.
Prestados exames preparatórios, de uma só vez,
em Ouro Pre to , ve io A d j u n t o ao Rio de Jane i r o ,
frequentando um ano a Escola Politécnica e quatro anos a
Faculdade de Medicina.
Deixou estudos académicos no 4o ano da Faculdade
para dedicar-se ao cultivo de línguas, cultivo para o qual
sentia irresistível pendor, dedicando-se também à Filosofia.
A cópia de estudos linguísticos e fi losóficos não
privou Garcia Adjunto de bacharelar-se em direito e com
brilho.
Concorrendo à cadeira de Grego do Internato do
Ginás io Nac iona l , ob teve -a reve lando i nvu lga res
conhec imen tos l inguíst icos, t a m b é m por concurso
conquistando a cadeira de Inglês no Liceu de Humanidades
de Niterói.
A propós i to dos concursos de Garcia Ad jun to
consigna conterrâneo dele, o professor Olympio Gonzaga,
dois sucessos assinalados.
Diz o professor Gonzaga:
"Descobrindo no Morro de Santo António, no Rio de
Janeiro, um professor de Grego, em Alemão aprendeu essa
língua, tão bem que em 3 meses derrotou o seu professor
em concurso para ocupar cadeira de Grego no Ginásio
Nacional, onde lecionava com proficiência.
Segundo estamos informados, a nomeação do
saudoso conterrâneo para a cadeira de Inglês do Liceu de
Niterói, foi feita após concurso admirável, "sendo preciso
que se criasse nota acima de distinção para qualificação
de provas".
Tal foi o Dr. Alonso Garcia Adjunto, tal o professor
que a Congregação do Ginásio Nacional viu desaparecer
em 1897.
Tinha 34 nos de idade o mes t re que, c o m o
adivinhando morte prematura, tanto na vida se anteciparia.
Ficou o Gove rno em 1897, a rmado de lei
orçamentária. Permitia-lhe reforma, na sua parte relativa
ao ensino secundário, do regulamento baixado com o
Decreto de 4 de novembro de 1890, isto é, o da Reforma
Benjamin Constant.
Tratava logo o Governo de valer-se da autorização,
sendo Ministro da Justiça o Dr. Amaro Bezerra Cavalcanti,
inspetor da Instrução Pública e diretor do Liceu do Ceará
ESCRAGNOLLE DÓRIA
de 1881 a 1883, tendo exercido interinamente o cargo de professor de Latim no Imperial Colégio.
Referendou o antigo docente, quando Ministro, o Decreto de 30 de março de 1898, com o qual se abriu o ano letivo de 1898, aprovando novo regulamento, não só a vigorar no Ginásio Nacional como no ensino secundário a cargo dos Estados.
Foi mantida a divisão do Ginásio Nacional em Externato e Internato, regidos pela mesma lei, independentes quanto a administração, unidos os seus professores em congregação única, presidida um ano pelo diretor do Externato, no seguinte pelo do Internato.
Abrangeria o ensino dois cursos simultâneos, um propedêutico ou realista, de seis anos, outro humanista ou clássico, de sete anos.
As disciplinas de ambos os cursos seriam as mesmas, não estudando porém Latim e Grego os alunos chamados propedêuticos, permitido a todos os alunos a escolha de aulas de Inglês ou Alemão. Constituiria sétimo ano curso de revisão acrescido do estudo de Literatura Geral e Nacional, bem como do estudo da História da Filosofia. Os exames seriam substituídos por promoções de ano. No fim do curso propedêutico receberia o aluno certificado de conclusão de curso secundário, dando-lhe o direito de requerer exame de madureza mediante condições.
Tal exame realizar-se-ia ante a Congregação, formando prova geral de habilitação, exame aquele também facultado ao candidato inscrito nas matérias dos dois cursos.
A habilitação nos exames de madureza conferiria ao aprovado o grau de bacharel em ciências e letras.
O Decreto de 30 de março de 1898 minudentemente tratou dos exames de madureza, dos de admissão, dos concursos para lentes, do pessoal administrativo, da colação de grau.
Duas seriam as causas principais da oposição à Reforma Amaro Cavalcanti, dificultando-lhe aplicação.
Primeira a constituição do exame de madureza, depois o aproveitamento de professores dos extintos Cursos Anexos às Faculdades Jurídicas de São Paulo e Recife, para preenchimento no Ginásio Nacional de segundas cadeiras de Línguas Vivas e Matemática.
Para apressar nulificação da Reforma Amaro Cavalcanti breve viria, em lei orçamentária, autorização ao Governo para reformar de novo.
Em meio, porém, de tanta incerteza de vistas e propósitos, como em 1897, em 1898 nem o Externato, nem o Internato graduariam bacharéis em letras, sucesso único nos cinquenta e dois anos de existência do Pedro Segundo no Império, sucesso duas vezes ocorrido nos seus nove anos de vida na República.
O ano letivo de 1899 iniciar-se-ia no Ginásio Nacional com aplicação de reforma, a do Decreto de 8 de abril de 1899, referendado pelo Ministro da Justiça da presidência Campos Salles, Dr. Epitácio Lindolpho da Silva Pessoa.
Pelo citado Decreto, o curso do Ginásio abrangeria seis anos, os exames seriam de promoções sucessivas e de madureza, mantido o curso propedêutico, a nomeação dos diretores recaindo sobre lentes do Ginásio ou cidadãos brasileiros de notória competência.
Tais as disposições de maior relevo num texto de lei de 166 artigos.
Além de regulamento novo recebeu o Ginásio Nacional em 1899 novo lente, o de História Natural do Internato, o Dr. Wenceslau Leite Alves de Oliveira Bello, provido mediante concurso.
Findo o aludido ano letivo graduaram-se no Externato quatro bacharéis, não dando o Internato bacharel algum, dois setimanistas da seção transferidos para o Externato em meio do curso.
No ano letivo de 1900, em setembro, achou-se o Externato privado de vice-diretor, extinto o cargo.
Dirigia então o Externato o Dr. Francisco Carlos da Silva Cabrita, nomeado a 15 de setembro de 1898, em substituição de José Veríssimo Dias de Mattos, exonerado a pedido.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
Desde 1897 o Internato estava sob a direçáo do Dr. José de Souza da Silveira, substituto do Dr. Alfredo Piragibe, falecido no cargo.
O Dr. Cabrita havia muito militava no magistério, já na Escola Normal, já na Politécnica servindo a causa do ensino popular gratuito no liceu de Artes e Ofícios, além de autor de compêndios de matemática.
Tanto Cabrita como o diretor do Internato, D. José da Silveira, que não dispensava o uso e o tratamento de dom, tornaram-se bastante conhecidos pelo espírito disciplinador, procurando ambos trazerem os seus estabelecimentos como um brinco, conforme expressão familiar ao povo.
Vaga a cadeira de Francês, pela renúncia do Dr. José Dias Delgado de Carvalho, foi em 1900 provida por concurso, pouco depois dele aberta segunda vaga, por falecimento do lente de Francês do Internato, Dr. Manoel de Magalhães Couto, antigo diretor do Instituto dos Surdos-Mudos, principiado o ensino destes no Rio de Janeiro, em 1856 pelo surdo-mudo francês Huet, no Colégio Vassimon, na Rua Municipal n.° 8.
Iniciara-se com dois alunos, um menino e uma menina, mediante a pensão anual de 500S000 para cada um, pensão paga por D. Pedro II.
O Governo imperial mandou o Dr. Magalhães Couto à Europa para habilitar-se no Instituto dos Surdos-Mudos de Paris, regressando ele em 1862, para dirigir o Instituto do Rio de Janeiro até 1868.
Falecido o Dr. Magalhães Couto, a 23 de março de 1900, a 10 de abril eram nomeados para as cadeiras vagas do Externato e do Internato o Dr. Henrique Monat, médico, e Gastão Mathias Ruch Sturnezecker, bacharel em letras.
Ambos em breve escreveriam um método para o ensino da língua francesa, rivais classificados no mesmo concurso, Monat em 1o lugar, Ruch em 2o.
Não passou o ano letivo de 1900, também assinalado pela nomeação de Hans Heilborn, por concurso, para a cadeira de Grego, sem alteração na vida do Ginásio Nacional.
Por autorização legislativa e orçamentária ficou o Governo autorizado a rever o Código de Ensino baixado com o Decreto de 2 de dezembro de 1892 ao tempo do ministro Fernando Lobo.
Findo o ano letivo de 1900, haviam se habilitado ao grau de bacharel em letras, oito setimanistas, só no Internato, o Externato sem bacharelandos.
Havia também o Internato mudado de diretor, nomeado para o cargo o Dr. Alexandre Camillo, por motivo de óbito repentino do Dr. D. José de Souza da Silveira.
A 1o de janeiro de 1901 o Governo da República, presidido por Campos Salles, utilizava autorização legislativa expedindo o Decreto aprovando o Código dos Institutos Oficiais de Ensino Superior e Secundário, dependentes do Ministério da Justiça.
Não terminara janeiro de 1901 e já em Decreto referendado pelo Ministro da Justiça, Epitácio Pessoa, aprovava regulamento para o Ginásio Nacional.
Dele disse Raja Gabaglia: — "Pouco diferia do anterior, mas teve uma originalidade, extinguiu a cadeira de História do Brasil quando se comemorava o 4o
Centenário do Descobrimento". Desaparecia em 1901 a cadeira inaugurada em 1849
por Joaquim Manoel de Macedo e ocupada na época por Capistrano de Abreu no Externato e Mattoso Maia no Internato.
Ficou o Ginásio Nacional com a cadeira de História Universal especialmente do Brasil, pelo Decreto de 26 de janeiro de 1901, o qual por disposição transitória, enquanto não vigorasse o exame de madureza, mandava conferir aos sextanistas, de curso completo o grau de bacharel em letras. Conferido em 1901 a turma de 16 alunos do Externato e 11 do Internato.
O Dr. Alexandre Camillo deixando a diretoria foi substituído pelo Dr. João António Coqueiro. Desprovido de cabedais, rico porém, de força de vontade, o Dr. Coqueiro estudara em Paris, dedicando-se aí a altos estudos de ciências físicas e matemáticas, graduando-se
ESCRAGNOLLE DÓRIA
nelas, praticando astronomia no Observatório de Bruxelas, doutorando-se na Universidade da capital belga.
Aos 18 anos, ainda estudante em Paris, publicou tratado de Aritmética, alvo de elogios de cientistas eminentes. Numerosas e sempre bem aceitas foram as obras do Dr. Coqueiro no domínio da Matemática, professada por ele em diversos cargos do magistério no Maranhão, contribuindo com estudos e planos para a transformação no Rio de Janeiro da Escola Central em Politécnica. Na província natal o Dr. Coqueiro prestou serviços relevantes à indústria de açúcar. Transferindo-se para o Rio de Janeiro, aí exerceu o Dr. Coqueiro vários cargos, na Repartição de Telégrafos e na Prefeitura Municipal, até ser diretor do Internato do Ginásio Nacional.
Sucesso eclesiástico para honra do Colégio e motivo de sua satisfação, ocorreu em Roma, no consistório público de 18 de abril de 1901, nomeado Bispo de Olinda o último reitor do Externato no regime monárquico, Monsenhor Luiz Raymundo da Silva Brito.
Com assistência do Colégio, seria sagrado, a 5 de maio de 1901, na Catedral do Rio de Janeiro, sagrantes D. Joaquim Arcoverde, Arcebispo da Diocese, D. Silvério Gomes Pimenta, Bispo de Mariana e D. João Braga, Bispo de Petrópolis.
Ao sair o novo Bispo da Catedral, o povo desatrelou os animais do carro de Monsenhor Brito e à mão conduziu o veículo aos altos do Palácio do Morro da Conceição.
Após o prazer ou à elevação a dor e a queda, tal a vida em qualquer de seus múltiplos setores.
No ano letivo de 1901, a 11 de maio, falecia no Rio de Janeiro, onde nascera a 5 de janeiro de 1827, o Dr. António de Castro Lopes, latinista eminente e antigo professor de latinidade no Colégio.
Pouco depois, a 25 de junho de 1901, desaparecia no Rio de Janeiro, nascido em 1828, o Dr. José da Silva Lisboa, médico como Castro Lopes, por muitos anos professor de Física e Química no Imperial Colégio. Era filho do Visconde de Cayru.
No Colégio também, de 1878 a 1890, professara literatura outro médico, o Dr. José Maria Velho da Silva, nascido em 1831, e falecido a 1o de junho de 1901.
Cultor assíduo das letras, vangloriava-se de havê-las bem tratado no romance histórico Gabriella, memorativo de tempos coloniais.
Em 5 de novembro de 1901 perdia o Ginásio Nacional o professor Thimoteo Pereira, nele e na Escola Naval, lente de Matemática, de nascimento e principio de vida humilde, elevado socialmente pelo próprio esforço, sem auxílio da sorte, tantas vezes se negando a prestá-la ao mérito.
Em 1902 apenas alguns avisos do Ministro da Justiça, José Joaquim Seabra, lente de direito no Recife, cuja Faculdade dirigira, atingiram o Ginásio Nacional, para o corpo docente do qual entrava, após concurso, o Dr. Joaquim Ignacio de Almeida Lisboa, nomeado a 21 de junho de 1902.
Numerosa seria a turma de bacharéis do Externato em 1902, de dezenove setimanistas, a turma do Internato apresentando três bacharelandos.
Na turma do Externato figurava quem deveria honrar altamente o magistério no Colégio. Antenor Nascentes. Dois alunos da turma dedicar-se-iam ao ensino normal e particular, Aloysio Ferdinando de Souza da Silveira e Washington Garcia.
O ano letivo de 1903 abrir-se-ia para o Externato com a nomeação de diretor, substituto de Cabrita, o Dr. José Gil Castello Branco, nomeado a 23 de março de 1903.
Na diretoria Castelo Branco, o Ministro da Justiça, Seabra, referendava o Decreto legislativo de 24 de agosto de 1903, tornando privativas duas cadeiras até então comuns ao Externato e ao Internato, as de Lógica e Literatura.
Por Decreto de 31 de agosto de 1903 foi o lente de Português do Internato, Dr. Francisco Pinheiro Guimarães transferido para a cadeira de Literatura do mesmo Internato, substituindo-o interinamente na cadeira de Português, o Dr. José Júlio da Silva Ramos.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837-1937
Lecionava este disciplina no estabelecimento, cinco
anos a titulo suplementar, professor e diretor no Estado do
Rio do Ginásio Fluminense.
Para a cadeira de Lógica do Externato foi transferido
o lente de Latim, Dr. Vicente de Souza, a cadeira de
latinidade provida interinamente pelo Dr. José Cavalcanti
de Barros Accioli.
Assinalado o ano letivo de 1903 pela nomeação para
diretor do Externato do Dr. José Gil Castello Branco,
assinalado também ficaria pela revogação de quatro artigos
do Código de Ensino de 1901.
Referiam-se à impressão e prémios de trabalhos
elaborados por professores e bem assim ao prémio de
v i a g e m c o n c e d i d o , de do is em dois anos , a
estabelecimento de ensino para investigações cientificas
no estrangeiro.
Dezesseis bacharéis graduaram-se no Externato em
1903, dois no Internato. Daqueles, dois se dedicariam ao
ensino superior na Escola Politécnica, Carlos Américo
Barbosa de Oliveira e Cipriano Amoroso Costa.
No corpo docente do Ginásio Nacional, em 1903,
tomou assento antigo e ót imo professor suplementar de
Português, Francês e Matemática, Floriano Corrêa de Britto,
de sólida cultura de humanidades.
Obteve em segundo concurso a cadeira de Francês
e nomeação para catedrático a 4 de agosto de 1903.
Tomou posse da cadeira do Internato, transferido
para o Externato o professor Gastão Ruch, a 23 de março
de 1903.
Ficavam assim ambas as cadeiras de Francês da
Casa ocupadas por bacharéis em letras.
Breve seria a administração do Dr. José Gil Castello
Branco, no Externato, falecido a 14 de fevereiro de 1905.
A pedido, foi o Dr. Coqueiro transferido da diretoria
do Internato para a do Externato a 29 de maio de 1905,
nomeado para dirigir o Internato o Dr. Leôncio Correia.
Também funebremente assinalaria o ano letivo de
1905 o falecimento, a 18 de outubro, do Conselheiro João
Capistrano Bandeira de Mello, últ imo reitor do Imperial
Colégio de Pedro Segundo, a exercer o cargo quando
proclamada a República.
Graduar-se-iam em 1905, onze bacharéis em letras,
um dos quais, João Baptista de Mello e Souza fadado a
professor da Casa e Carlos Leoni Werneck fadado ao
magistério e à diretoria da Escola Normal.
No ano letivo de 1906, obtinham os professores
catedráticos elevação de vencimentos, promovida pelo Dr.
Victorino de Paula Ramos, deputado federal por Santa
Catarina, beneficiado também na elevação o magistério
superior.
Dois concursos preencheriam as vagas no corpo
docente de 1906, as da cadeira de Histór ia Geral ,
especialmente do Brasil e da América, no Externato, vaga
pelo transferência para o Internato do respectivo lente, João
Ribeiro, e a cadeira de Latim, ainda do Externato, vaga
pela remoção do Dr. Vicente de Souza para a cadeira de
Lógica do Externato.
Após concurso empossavam-se como catedráticos
de História Geral e de Latim, Luiz Gastão d'Escragnolle
Dória, nomeado a 5 de novembro de 1906, no momento
professor suplementar de Inglês no Internato, e José
Cavalcanti de Barros Aciolli, nomeado a 27 de novembro
de 1906 e interino desde 1903.
Do exercício interino da cadeira de História Geral do
Externato, retirava-se o bacharel em letras Joaquim Osório
Duque Estrada.
Em 1907, Decreto referendado na presidência de
Affonso Penna pelo Dr. Tavares de Lyra, Ministro da Justiça,
elevava a gratificação dos diretores do ensino superior e
também a dos diretores do Ginásio Nacional.
No ano letivo de 1907, deixava a direção do Internato
o Dr. Leôncio Correia para assumi-lo o Dr. José Bernardino
Paranhos da Silva, bacharel em letras.
No mesmo ano, outro bacharel em letras, após
concurso, entrava para o corpo docente da Casa, o Dr.
Henrique César de Oliveira Costa, nomeado para a cadeira
ESCRAGNOLLE DÓRIA
de Matemática do Internato a 20 de junho de 1907, dois anos preparador do gabinete de Física e Química do Externato, tendo regido interinamente as cadeiras de Matemática do Externato e Internato. Mas tarde ocuparia cátedra de Geometria Descritiva da Escola Politécnica, por onde o fizeram engenheiro civil.
No ano letivo de 1907, o professor de História Universal, da América e do Brasil, Escragnolle Dória, lecionando História Pátria no 6o ano do curso ginasial, inaugurou a prática de visitas a sítios ou instituições, lições com caráter objetivo, assim, por exemplo, a visita pela turma de sextanistas de 1907 ao morro do Castelo, para explicação dos primórdios do Rio de Janeiro.
No curso de visitas foram professor e alunos recebidos nas seções de manuscritos e medalhas da Biblioteca Nacional, nas diversas seções, histórica, administrativa e judiciária, do Arquivo Nacional.
No Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, acharam-se os visitantes amavelmente acolhidos pelo bacharel em letras Dr. Vieira Fazenda, bibliotecário do Instituto solícito em patentear a futuros colegas livros e manuscritos referentes aos estudos de História Pátria.
Findo o ano letivo de 1907, achavam-se prontos para recebimento de grau oito bacharéis em letras, sete do Externato e um do Internato.
Não quiseram os bacharelandos de 1907 deixar para sempre o Colégio sem honrá-lo de modo especial.
Coadjuvados pelo professor Escragnolle Dória, celebraram os bacharelandos do Ginásio Nacional o septuagésimo aniversário da fundação do antigo Colégio de Pedro Segundo.
Na noite de 2 de dezembro de 1907, iluminou-se o Ginásio para sessão solene presidida pelo professor e diretor interino Nerval de Gouvêa.
Proferiu discurso oficial o professor Escragnolle Dória, recitando poesias o Sr. Adriano Delpech, seguindo-se palestra do sextanista propedêutico Jacques Raymundo Ferreira da Silva sobre Álvares de Azevedo, o glorioso
bacharel em letras de 1847. Recitou duas poesias de Álvares de Azevedo o mesmo sextanista Jacques Raymundo.
À parte literária seguiu-se variada parte musical desempenhada pelas pianistas senhoritas Guiomar de Nóbrega Beltrão, Cármen Casado Lima, pelos professores Amaro Barreto e Eurico Costa, pelo violinista Orlando Frederico, e pelo Sr. Quirino de Oliveira.
Com o Ginásio Nacional ainda em férias escolares, recebiam grau os bacharelandos da turma de 1907.
Designado para a festiva solenidade do costume o dia 2 de fevereiro de 1908, por circunstância imprevista perdeu todo caráter festivo.
A 1o de fevereiro de 1908, chegaram ao Rio de Janeiro notícias de regicídio em Lisboa, vítimas de atentado el-rei D. Carlos e seu filho, herdeiro presuntivo da coroa, D. Luiz Felippe, ferido o infante D. Manoel.
Na impossibilidade de ser transferida a solenidade do Ginásio, a 2 de fevereiro, uma comissão de bacharelandos dirigiu-se à legação de Portugal para apresentar pêsames ao Encarregado de Negócios, explicando-lhe a impossibilidade de adiar a colação de grau.
Abrindo a sessão no Ginásio, o diretor do Internato, Dr. Paranhos da Silva, presidente da Congregação, declarou ao auditório ter infelizmente a cerimónia perdido toda alegria ante o atentado de Lisboa.
Procedeu-se apenas à distribuição de prémios e à colação de grau, suprimidas as bandas de música e as danças subsequentes à festa.
Feita a chamada dos alunos premiados — Euclides de Medeiros Guimarães Roxo, João Baptista Guimarães Roxo e Jairo Maciel de Aquino Penteado — entregues aos recompensados, livros de rica encadernação, o Dr. Paranhos da Silva conferiu o grau aos bacharelandos da turma de 1907, tendo estes por paraninfo o professor Escragnolle Dória e por orador o bacharelando Heitor da Nóbrega Beltrão.
A turma de bacharéis de 1907, privada das festas, de colação de grau, foi distinguida com um almoço de
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
honra, oferecido no Internato pelo respectivo diretor Dr. Paranhos da Silva. Do almoço participaram em confraternização, lentes do Externato e do Internato e os bacharéis do Externato em geral e neste vários 6o anistas antigos alunos do curso do Internato.
Delegaram os bacharéis do Externato ao professor Escragnolle Dória a incumbência de agradecer a homenagem, pedindo o Dr. Paranhos da Silva que trabalhassem os novos graduados continuamente pelo progresso do Ginásio. Fora o Dr. Paranhos da Silva o presidente da colação de grau da turma de 1907.
Enquanto o Ginásio esperava abertura do ano letivo, no Externato se realizavam exames de preparatórios com mesas examinadoras constituídas de conformidade com as instruções anexas ao Decreto 4.247 de 23 de novembro de 1901, aproveitados os serviços de muitos professores do Ginásio nas referidas mesas examinadoras.
Assinalar-se-ia lutuosamente o ano de 1908 pela morte do professor da cadeira de Lógica do Externato Dr. Vicente de Souza, falecido a 18 de setembro de 1908.
Durante muitos anos, como substituto e depois catedrático, regera no Externato a cadeira de Latim, tendo aí concorrido a vaga de lente de Filosofia.
Encerrado, porém, o ano letivo de 1908, o corpo discente do Ginásio Nacional celebrou de modo condigno o septuagésimo primeiro aniversário de fundação, encontrando para tanto o professor Escragnolle Dória o mais decidido apoio, na turma de bacharéis de 1908, apoio ao qual se ajuntou o dos colegas de outros anos tomando a peito continuar tradição, festejando a data insigne da instituição, por meio de subscrição entre os próprios discentes. Nem a celebração de 2 de dezembro, já em 1907, já em 1908 custou um real aos cofres do Ginásio.
Começou a solenidade de 2 de dezembro de 1908, realizada à noite no Salão Nobre da Casa, por parte literária com discursos do professor Escragnolle Dória e do bacharelando Olympio dos Reis Netto.
No discurso da festa teve o professor Escragnolle Dória o grato ensejo de caracterizar a festividade como a da tradição.
"Sem respeito pela tradição — disse — nada subsiste, no progresso dos povos, nas instituições e baixando o vôo nos institutos de ensino".
Pela tradição, os alunos do Ginásio em 1908 entram em íntima correspondência com os colegas de 1838, os primeiros alunos do Colégio Pedro Segundo, de ninguém foram calouros.
No discurso de 1908 referiu-se o orador ao Decreto do Governo de Minas Gerais, em data de 26 de novembro de 1908, subscrito pelo então Secretário do Interior da presidência João Pinheiro, Dr. Estevão Leite de Magalhães Pinto.
Fora o Decreto precedido de várias considerações de alto valor moral, educativo e patriótico, entre aquelas considerações as seguintes demonstrativas da solicitude de Pedro Segundo pela instrução pública nacional.
"Considerando que D. Pedro Segundo sempre revelou acendrado amor e dedicação à causa da instrução pública no Brasil e que essa virtude se traduziu por múltiplos atos positivos e dentre eles pela aquisição de prédio em Ouro Preto para escolas públicas primárias.
Considerando que este prédio adotado para nele funcionar o grupo escolar dessa cidade, resolve o Governo de Minas dar o nome do grupo escolar D. Pedro II ao estabelecimento recentemente criado em Ouro Preto."
Ao discurso do professor Escragnolle Dona seguiu-se oração do bacharelando Ignácio dos Reis Netto, dizendo este, em nome dos discentes:
"Queremos instituir tradição que entre futuro a dentro, conservando a memória do dia 2 de dezembro de 1837, viva e perene como o fogo sagrado que ardia nas aras do tempo.
A tradição é a história viva do passado. É corrente mas cujo último elo temos na mão. É tão venerável como o tempo, porque do tempo é irmã."
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Finda a parte literária da solenidade de 1908 deu-se início a parte concertante.
Dela participaram a consagrada violinista Paulina D'Ambrásio. o Dr. António Carlos de Arruda Beltrão, aplaudido cultor do canto.
Secundaram-nos a professora Maria dos Santos Mello, laureada pelo Instituto Nacional de Música, o Dr. Roberto Gomes e o Sr. Ernani Braga acompanhando estes últimos executantes.
A terceira parte do programa da festa de dois de dezembro de 1908 apresentou nota de originalidade, por constar da representação da comédia em um ato "Os Viúvos", subida à cena em palco improvisado no fundo do Salão Nobre.
Era a comédia da lavra do segundanista Horácio Mendes Campos, intérpretes da peça os segundanistas Vicente Trotte, Nelson Alves de Oliveira, Olindo Pinto Coelho, Sebastião Pereira Brazil e António Coelho Bittencourt.
Todos os jovens atores desempenhavam papéis com naturalidade e graça, provocando gostosas gargalhadas, no fim da comédia muito aplaudidos autor e atores.
Na peça figurava apenas um papel feminino, o da criada Miquelina, confiada ao aluno António Coelho Bittencourt, cujo desempenho do papel e cujo perfeito travesti foram muito apreciados.
Infelizmente trágica seria a sorte de António Coelho Bittencourt, falecido na flor da idade, académico de medicina na Faculdade do Rio de Janeiro da qual era lente o pai o Dr. Nascimento Bittencourt inconsolável pela perda do esperançoso filho, vítima de desastre em via férrea.
Remataram a festa de 1908 danças animadas, para satisfação de muitas e muitos dos numerosos convidados.
Em 1908, graduaram-se no Internato cinco bacharéis, um dos quais Cecílio de Carvalho, futuro bibliotecário do Ginásio e Leonidas Ribeiro de Rezende, vindouro lente de Direito da Universidade do Rio de Janeiro.
Quatorze foram os bacharéis de 1908. Figuravam na turma, Quintino do Valle, João Baptista Ferreira Pedreira e Mário Paulo de Britto.
O primeiro consagraria vida à Casa, nela chefe de disciplina do Internato em 1915, de 1909 a 1915 tendo lecionado, já no Internato já no Externato várias disciplinas, Português, Francês e Latim, afinal e por concurso lente catedrático do Colégio.
Dois bacharéis da turma do Externato em 1908 se dedicaram ao magistério e ao ensino, Mário Paulo de Britto, lente da Escola Politécnica, acatado diretor de ensino municipal e federal, e João Baptista Ferreira Pedreira, íntegro magistrado, no ensino secundário se especializando no cultivo e na propaganda da língua latina.
Dirigida a República pelo Presidente Affonso Penna, antigo deputado geral e ministro três vezes na monarquia, o Governo usando de autorização orçamentária, no último dia do ano de 1908, mandava observar o regulamento subscrito pelo Dr. Tavares de Lyra.
Providenciava a respeito da administração dos patrimónios dos vários estabelecimentos subordinados ao Ministério da Justiça, entre eles o Ginásio Nacional.
Superintendidos pelo Ministro, confiados à direção de Conselho Administrativo, de caráter gratuito, ficariam os patrimónios dos ditos estabelecimentos.
No Conselho Administrativo, de dez membros, figurariam os diretores dos institutos cujos bens patrimoniais convinha zelar, possivelmente acrescidos por doações, legados, dotações, subvenções e quotas lotéricas.
A verba orçamentária fixada para o Ginásio Nacional era então de quantia superior a 700 contos, suspensa a admissão de matrículas gratuitas por excesso de alunos extraordinários.
No ano letivo de 1908, fora o Ginásio Nacional alvo da atenção do Ministro da Justiça, Dr. Tavares de Lyra, o qual pretendeu reformar o Ginásio mediante autorização legislativa.
Expôs o Ministro oficialmente as suas ideias esperando reduzi-las a lei. Segundo o plano Tavares de Lyra o ensino secundário seria reformado nas seguintes
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
bases: — a) — divisão do ensino em dois ciclos, o primeiro propedêutico e simplificado, o segundo, o do bacharelado em letras de conhecimentos mais aprofundados; — b) — exigência de provas escritas e orais só para exames finais, os de promoção dependentes de notas e provas parciais no curso do ano letivo; — c) — organização de programas de noções essenciais; — d) — desdobramento de cadeiras para evitar turmas numerosas confiadas a professor único; — e) — fundação de escolas normais superiores ou admissão no professorado por concurso de títulos, o tirocínio no magistério condição preponderante para escolha do candidato; — f) — extinção da vitaliciedade imediata de professores, concedida aquela após estágio e no caso de recondução; — g) — verificação de provas de capacidade, assiduidade, gosto e dedicação no magistério para assegurar a professores proporcionalidade de vantagens; — h) — concessão de disponibilidade aos professores em limite máximo de idade ou de tempo de serviço; — i) — extinção definitiva dos exames de preparatórios e restrições de equiparações ao Ginásio Nacional.
O plano Tavares de Lyra ficou para as calendas mais famosas, as gregas, embora encerrasse medidas postas depois em prática e outras inexecutadas, mas dignas de atenção.
Coube contudo ao Dr. Tavares de Lyra ensejo de mandar apurar pelo Ministério a seu cargo o património do Ginásio Nacional, Externato e Internato, este em 1908 tendo passado por grande remodelação material na diretoria Paranhos da Silva, remodelação da qual ficou lembrança em opúsculo ilustrado.
Incumbiu o Ministro o Sr. Pedro Guedes de Carvalho e o Dr. Luiz Augusto Drumond Alves de estabelecer positivamente o valor do património da Casa, não administrado desde 1860, quando extinto o cargo de tesoureiro do Colégio, então as apólices e os imóveis dele passadas à guarda da Recebedoria do Tesouro Nacional e posteriormente à Diretoria de Rendas Públicas do mesmo Tesouro.
Dispondo embora de escassas informações, a comissão do Ministério da Justiça apurou de princípio ser o património do ex-seminário de São Joaquim, ex-Colégio de Pedro Segundo, então Ginásio Nacional, composto de 163 apólices da dívida pública de 1:000$000, juros de 6% e de 2 apólices de 400S000, do edifício do Externato, da igreja de São Joaquim, e de 30 prédios, cabendo ao património em 10 deles só a quarta parte.
Verificou a comissão a venda da maior parte dos imóveis, transformando o produto da venda em apólices e na conservação dos prédios restantes.
Tais prédios eram situados na zona mais central da cidade, Rua 1o de Março, Candelária, Mercado, e na Travessa do Comércio.
Apurou-se que, em 1908, na Presidência Campos Salles, Ministro da Fazenda o Dr. Joaquim Murtinho, fora lavrado na Diretoria do Contencioso do Tesouro Federal uma escritura de sub-rogação da quarta parte dos prédios do Ginásio à Ordem Terceira de S. Francisco da Penitência. Na transação não se ouvira o Ministério da Justiça, não cientificado da transação uma vez realizada.
À Ordem da Penitência, a troca da sub-rogação entregou ao Tesouro 260 apólices de 1:000$000, das quais os juros, por inadvertência de inscrição na Caixa de Amortização, passaram a recebimento pelo Tesouro. Este, até 1905, recebeu não só tais juros como os de todas as apólices do património do Ginásio.
Enfim, em 1908, a comissão do Ministério da Justiça, designada pelo Ministro Tavares de Lyra, pôde fixar o total do património do Ginásio. Computou-o em 4.496:457$427, excluindo do cálculo o edifício do Externato, avaliado na época em 580:000$000 e o do Internato em 200:000$000.
O ano letivo de 1909 seria assinalado já pela entrada de novos professores, já pelo falecimento do Dr. Affonso Penna, Presidente da República. Dois concursos memorariam o citado ano letivo, rumoroso o de provas para obtenção da cadeira de Lógica do Externato, vaga
ESCRAGNOLLE DÓRIA
pelo falecimento do Dr. Vicente de Souza e interinamente regida pelo professor Escragnolle Dória.
Apresentaria novidade, o da reprodução pela taquigrafia, para publicação na imprensa, da prova oral do candidato Euclydes da Cunha.
Este, embora classificado em 2o lugar, o 1o cabendo ao Dr. Farias Brito, logrou nomeação, facultada então a nomeação do primeiro ou do segundo candidato classificado em concurso.
A 21 de julho de 1909, dava Euclydes da Cunha primeira aula no Ginásio e pouco depois última, a 15 de agosto, tragicamente arrebatado à vida.
Vaga a cadeira de Latim do Internato, pelo falecimento do Dr. Fortunato da Fonseca Duarte, abriu-se concurso para o provimento da cátedra, nela afinal empossado o Dr. Eduardo Gê Badaró, classificado em 2o
lugar. Coubera o 1o a Joaquim Luiz Mendes de Aguiar,
graduado em humanidades, filosofia, teologia, e direito canónico pelo seminário arquiepiscopal de São Salvador da Bahia.
Mendes de Aguiar, emérito latinista, tinha longo tirocínio no magistério ao qual também pertencia seu competidor, o Dr. Badaró, onze anos catedrático de Latim no Ginásio de Campinas, no Estado de São Paulo.
A 14 de junho de 1909, falecia no Palácio do Catete, o Dr. Affonso Penna, Presidente da República, ocasionando o triste sucesso reviravolta política de sucessão.
Coube esta, na forma constitucional, por não haver o Presidente Penna exercido dois anos de mandato, ao Vice-Presidente da República, Dr. Nilo Peçanha.
Tal ascensão à suprema magistratura determinou logo modificação ministerial.
Do Ministério da Presidência Affonso Penna, formado a 15 de novembro de 1906, dois Ministros entenderam servir a Presidência Nilo Peçanha, o Barão do Rio Branco na Pasta das Relações Exteriores e o Contra-almirante Alexandrino Faria de Alencar na da Marinha.
Exonerado a pedido o Ministro da Justiça, Dr. Tavares de Lyra, teve por substituto na Pasta o Dr. Esmeraldino Olympio Torres Bandeira, formado em Direito no Recife, no ano da Proclamação da República, pertencendo portanto à última turma de bacharéis do Império na Faculdade Pernambucana.
Mais tarde Esmeraldino Bandeira participaria do ensino, lente de Direito Penal em Faculdade jurídica do Rio de Janeiro, membro do Conselho Superior de Ensino.
Ao assumir Pasta encontrou Esmeraldino Bandeira o Senado Federal a discutir reforma do ensino superior e secundário de alçada da União.
Teve ensejo o novo Ministro de apresentar relatório no qual expendeu juízo sobre a aludida reforma, pugnando pelo preparo pedagógico de professores, pela cultura generalizada e não especializada em relação a alunos, pela simplificação de programas acarretando a inutilização da sobrecarga dos mesmos, por boa forma de exames, criticando a existente c terminando por condenar a colocação do Externato em edifício sem as condições mais comuns de higiene pedagógica.
A 14 de julho de 1909, um Decreto dava duplo nome ao antigo e unificado Imperial Colégio de Pedro Segundo, nas duas seções, Externato e Internato.
O Externato do Ginásio Nacional passou a Colégio de Pedro Segundo e o Internato a Colégio Bernardo de Vasconcellos.
Medida pouco feliz. Não só golpeava a fundo a tradição como a bacharéis em letras formados pelo mesmo instituto de ensino concedia diplomas parecendo expedidas por estabelecimentos diferentes.
Nem é talvez demasia pensar que à memória do próprio Bernardo de Vasconcellos não parecia consentânea a homenagem, dela excluído o Regente do Império, Araújo Lima, com Bernardo de Vasconcellos, em nome do imperador menor, criador do Colégio de Pedro Segundo em 1837.
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
No relatório do Ministério da Justiça, subscrito por Esmeraldino Bandeira, a par das ideias deste relativas à reforma do ensino superior e secundário, encontram-se resumidamente informações sobre a reforma do Colégio Bernardo de Vasconcellos, destacado do de Pedro Segundo, informações prestadas pelo diretor do primeiro estabelecimento, Paranhos da Silva.
Simplificação de programas, criação do antigo cargo de substitutos, modificações no processo de concursos, distribuição de disciplinas por seções, vitaliciedade de professores após um lustro de exercício, instituição de jubilação compulsória para os professores com mais de três décadas de exercício, elevação de matrículas gratuitas, aumento do quadro de funcionários cujos vencimentos eram os mesmos havia vinte anos, exceto quanto a diretores, tais as bases apresentadas pelo Diretor do Colégio Bernardo de Vasconcellos, ex-lnternato do Ginásio Nacional, para reforma do estabelecimento.
No antigo Internato, em 1909, bacharelavam-se dois alunos, um deles Euclides de Medeiros Guimarães Roxo, laureado com o prémio Panteão, futuro diretor e professor da Casa.
No antigo Externato bacharelavam-se nove alunos, dois dos quais se consagrariam a magistério, Maurício Joppert da Silva, vindouro professor da Escola Politécnica, e Pandiá Hermann de Tautphoeus Castello Branco, professor da Escola de Comércio.
A vida é tecido de escassos fios no prazer, de espessos na dor. Assim, à alegria dos bacharelandos de 1909 se opunha o necrológio do Colégio no mesmo ano.
A 9 de março de 1909 falecia José Barbosa Rodrigues, diretor do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, antigo secretário do Internato e nele professor de Desenho.
Para recomendá-lo, como naturalista, basta a sua "Iconografia das Orquídeas do Brasil", em 17 grandes volumes com 1.000 estampas.
A 15 de agosto de 1909, era o Colégio surpreendido pela morte brutal e imprevista do recém-professor de
Lógica, Euclydes da Cunha, assassinado na estação da Piedade, quando havia imenso a esperar do talento de quem estreara nas letras com a publicação de "Os Sertões".
A 9 de dezembro de 1909 perdia o Colégio antigo professor de Física e Química, o Conselheiro Saturnino Soares de Meirelles, também lente da Escola de Marinha e fervoroso propagandista das doutrinas homeopáticas.
Eleito Presidente da República, para o quadriénio de 1910a 1914, o Marechal Hermes da Fonseca, dois antigos alunos do Colégio, os Drs. José Moreira Pacheco e João Maria Portugal tomavam a iniciativa de reunir os condiscípulos do novo chefe da nação em almoço íntimo.
Foi escolhida para tanto a casa de um deles, na praia de Botafogo n.° 290.
Reuniram-se aí 35 antigos colegas do Marechal Hermes participantes de refeição durante a qual uns e outros relembravam episódios de vida colegial comum.
Na sala do almoço, em delicada homenagem, achavam-se dois retratos bem significativos para os convivas, um representando o Conselheiro Manoel Pacheco da Silva e outro o professor José Manoel Garcia, o primeiro reitor e o segundo secretário a tempo de estudos dos convivas (1868-1869).
0 próprio "menu" do almoço recordava aquele tempo.
Ei-lo como alegre lembrança do Colégio: "Menu do almoço oferecido a Hermes da Fonseca
pelos jovens condiscípulos de 1868-1869 no Imperial Colégio de Pedro Segundo. Em 6 de janeiro de 1910
CARDÁPIO 1 — Uma porção de coisas esquisitas para abrir o
apetite. 2 — Mistura de coisas do mar, com produtos de
terra, vegetais e animais, como gostava o nosso velho Reitor, Conselheiro Pacheco.
3 — Arranjos de galinha, pelo sistema do secretário Garcia, amante de canários do reino.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
4 — Badejo com molho, cuja receita o velho latinista Souza aceitaria.
5 — Língua com gelatina, mais quente que a do inspetor Aguiar, que não tinha papas na mesma.
6 — Neve artificial, com o respectivo álcool, para ficar a gente gelada, tal como quando o Halbout exigia as regras de cor.
7 — Peru, um pouco mais gordo de que era o Bóscoli, mesmo com a flecha em roletes. Isto vai com presunto, conforme o costume, e o "visto" do Brito escrivão, meticuloso o Francisco Bernardo de Brito, como bom custódio da Fazenda Nacional.
Para adoçar a boca, uma fruta daqui e dalém mar, conforme a geografia do Abreu.
Para sobremesa uma série de complicações, piores que os exames com aquele pessoal todo.
Apesar de jovens, há vinhos velhos e águas moças, licores e preciosa rubiácea, para que vejam que somos todos brasileiros".
Tal cardápio, evocativo sobre espirituoso, relembrava muito aos convivas do almoço de 1910, condiscípulos de 1868-1869. Era resumo gastronómico de vida colegial, nela destacando figuras magnas ou modestas, do corpo docente ou do administrativo.
Avultava na evocação o reitor, Conselheiro Pacheco, seguindo-se-lhe o secretário José Manoel Garcia, por alcunha o canário do reino, visto ser muito louro, ao Marquês de Abrantes, por orador dulçuroso dada também a alcunha de canário do Senado.
O badejo com molho trazia à lembrança o professor de Latim, Dr. António José de Souza, ao que diziam gastrônomo na pausa dos gerúndios.
A língua com gelatina, "mais quente que a do inspetor Aguiar", aludia a veemências de voz ou palavras de Carlos Augusto da Costa Aguiar, zelando disciplina.
A neve artificial era de lembrete, ao treme-treme das sabatinas gramaticais de Halbout, com o peru recordava
as arguições de José Ventura Bóscoli, professor de Matemática, seguindo com a flecha em roletes demonstrações na pedra, já nas extrações de raiz cúbica, já no desenvolvimento do problema dos correios, já no teorema do quadrado da hipotenusa.
As frutas daqui e dalém mar, para adoçamento de boca, resumiam pomiferamente as lições de geografia do bondoso Pedro José de Abreu, em antonimia com Halbout, ríspido e justo.
O fecho do cardápio dos convivas do almoço de 6 de janeiro de 1910, com vinhos velhos e alguns moços era chistoso resumo de horas sobressaltadas.
Daí constar a sobremesa "de uma série de complicações, piores que os exames com aquele pessoal todo".
Estas quatro últimas palavras punham em reminiscência o fim dos anos letivos, o fechar de contas de aplicação prestadas a examinadores, contas de relativa tranquilidade para estudiosos, de susto e remorso para quem preferira nas aulas e em casa livro fechado a aberto.
Num almoço entre antigos condiscípulos, reunidos para saudades, a oratória aparece, mas sem ênfase, entre fraternidade e risos, cada qual conhecendo de longa data os vizinhos de mesa.
No repasto íntimo de 6 de janeiro de 1910 houve discursos fora da retórica, um pouco baralhados talvez exórdio, narração, confirmação e peroração.
Oraram, de acordo com o caráter da festa diversos convivas.
Mendes de Almeida, bacharel da turma do Externato em 1874, respondeu agradecendo sem demora ao Marechal Hermes, sem dúvida com a "imperatoria brevitas" marcial.
Em seguida, o Dr. Alfredo Gomes, bacharel do Externato em 1875 saudou o antigo condiscípulo como homem de coração, secundado pelo coronel Augusto Goldschmidt, acentuando quanto a festa alegrava os presentes elevando-lhes as almas.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 -1937
De novo orava o Dr. Fernando Mendes de Almeida, secundado pelo Dr. Fonseca Hermes, bacharel do Internato em 1877.
Correspondidos todos os brindes com entusiasmo, mais o foi o brinde de honra erguido pelo Dr. Fernandes Mendes: à Amizade.
Em 1910, o ano letivo no Pedro Segundo assinalava luto, o da perda do diretor do Externato, Dr. João António Coqueiro, que em 1908 apresentara ao Governo minucioso projeto de reforma do ensino secundário, mandado publicar na íntegra no Diário Oficial.
Passou a dirigir o Externato o Dr. José Cândido de Albuquerque Mello Mattos, ex-aluno do Colégio, antigo promotor público de renome no foro do Rio de Janeiro, ex-deputado do Congresso Nacional pelo Distrito Federal.
Além do diretor Mello Mat tos, dois novos professores recebia o Colégio, o Dr. Arthur Thiré e o Dr. Agliberto Xavier, nomeados para as cadeiras de Matemática e Filosofia. O Dr. Thiré, nascido em Caen, antiga capital da Baixa Normandia, continuava no Pedro Segundo a tradição dos professores dele de berço ou de origem francesa, Piquet, Halbout, Ruch, Escragnollle Dória.
Aluno da Escola de Minas de Paris, por ela formado, fora o Dr. Thiré convidado por D. Pedro II, constante selecionador de competências, para secundar o professor Gorceix na organização e início da escola de Minas de Ouro Preto.
Aí lente de várias cadeiras e diretor interino da Escola até 1885, Dr. Thiré dirigiu a mineração de ouro em Sabará, para mais tarde ocupar cargos de administração nos Estados de Minas e do Rio de Janeiro para afinal, a 14 de abril de 1910, ser professor efetivo de Matemática no Internato do Pedro Segundo, então Colégio Bernardo de Vasconcellos. Não se limitou o Dr. Thiré a professar, a literatura didática ficou-lhe devendo compêndios úteis e despretensiosos, no molde do caráter e da vida de Arthur Thiré.
Outro professor de 1910 era o Dr. Agliberto Xavier, nomeado lente de Lógica do Colégio Bernardo de Vasconcellos, ou melhor do Internato, à vista do parecer da Congregação e nos termos do parágrafo único do artigo 52 do Código de Ensino de 1901. Em maio de 1909 fora o Dr. Agliberto Xavier unanimemente habilitado no concurso para provimento da cadeira de Lógica.
Dedicado ao ensino, professor na Escola de Estado Maior do Exército, docente na Escola Normal do Distrito Federal, ora Instituto de Educação, preparador de Química Orgânica na Escola Politécnica, o Dr. Agliberto Xavier vinha ser ornamento do magistério no Pedro Segundo.
Aí, em 1910, graduavam-se em ciências e letras quinze alunos do Externato e dois do Internato. Da turma de 1910 destinar-se-iam a futuro magistério Arnaldo de Moraes, professor de medicina, Ciro Romano Farina, professor do Colégio, Guilherme José Jorge, professor da Escola Wenceslau Braz e José Philadelpho de Barros Azevedo, professor do Colégio, um dos alunos mais distintos do Internato, merecedor do prémio denominado Panteão conferindo colocação de retrato em sala nobre.
A 15 de novembro de 1910 assumira a Presidência da República o Marechal Hermes da Fonseca, antigo aluno do Internato, chamando à Pasta da Justiça o Dr. Rivadávia da Cunha Corrêa.
A 5 de abril de 1911, o Dr. Rivadávia Corrêa, utilizando autorização legislativa, referendava Decreto modificando completamente a orientação pedagógica do ensino. Estabelecia a medida governamental a Lei Orgânica do Ensino Superior e do Fundamental na República.
Compreendia a Lei Orgânica 137 artigos. Logo no primeiro declarava não gozarem de privilégio de qualquer espécie a instrução superior e a fundamental difundidas pelos institutos criados pela União.
A Lei Orgânica, entre disposições mais importantes declarava corporações autónomas, didática e administrativamente, os institutos até então subordinados
ESCRAGNOLLE DÓRIA
ao Ministério da Justiça; dando-se-lhes personalidade jurídica. Criava ainda a Lei Orgânica o Conselho Superior do Ensino para substituir a funçào fiscal do Estado.
Estabeleceria o Conselho as necessárias e imprescindíveis ligações no regime de transição, partindo da oficialização completa do ensino, vigente na época, para total independência futura, entre a União e os estabelecimentos educativos.
Cabendo a estes, em virtude de inteira autonomia didática, a organização dos programas de seus cursos, revestir-se-iam os do Colégio de Pedro Segundo de caráter prático, libertando-se da condição subalterna de mero curso preparatório para as Academias.
Mandou a Lei Orgânica, no artigo 11, que o Conselho Superior de Ensino tivesse sede na capital da República, funcionando num dos institutos aos quais se referia a Lei Orgânica, escolhido para sede do Conselho parte do edifício do Externato.
Providenciara a Lei Orgânica sobre a composição do Conselho. Nele deveriam figurar o diretor do Colégio de Pedro Segundo e um docente deste, eleito pela sua Congregação para mandato bienal; duas vezes por ano, em fevereiro e agosto, convocado o Conselho.
Cada instituto de ensino, prescrevia a Lei Orgânica de 1911, seria dirigido por diretor eleitor pela respectiva Congregação, por dois anos; o diretor substituído nos impedimentos pelo vice-diretor, este sempre o diretor do período anterior.
A Lei Orgânica , aplicando tais disposições ao Colégio de Pedro Segundo nele incumbiu ao vice-diretor simples dever, o de substituir o diretor em exercício nos impedimentos. Para manutenção da ordem interna do Colégio, antes a cargo do vice-diretor, a Lei Orgânica criou lugares de chefe de disciplina, uma para o Externato e outro para o Internato, funcionários de livre escolha e nomeação do diretor.
Só os professores ordinários, antes catedráticos, poderiam ser eleitos diretores, inelegível o diretor saído de funções.
Eleito em dezembro, o novo diretor tomaria posse no primeiro dia útil de janeiro.
Cada instituto de ensino teria corpo docente formado por professores ordinários, extraordinários efetivos ou honorários, mestres e livres-docentes, o corpo docente do Colégio de Pedro Segundo composto apenas por professores ordinários e mestres.
Inspirando-se nos processos de ensino alemães, a Lei Orgânica suprimiu o concurso de provas para o provimento de cátedras.
Estabeleceu o de títulos e obras, exigido estágio no magistério superior, proibindo admissão em cátedra, a qualquer, sem o exercício de auxiliar de ensino.
Os professores extraordinários efetivos seriam nomeados pelo Governo em lista tríplice apresentada pela Congregação em votação uninominal, mediante concursos de títulos e obras. A Congregação , em casos especiais, indicaria nome único, tal nome devendo ser indicado por unanimidade de votos.
No Colégio de Pedro Segundo a nomeação de professor ordinário seria feita pelo Governo. Escolheria este um nome tirado da lista tríplice apresentada pela Congregação e formada por eleição nos termos de regulamento especial.
Um dos pontos capitais da Lei Orgânica era a criação da livre-docência; estabelecidas as condições da sua obtenção e de seu exercício, "da instituição da livre-docência esperando o legislador os melhores resultados, confiando-lhe a correção dos abusos e transformando-a no viveiro ou estágio dos futuros professores". Com tal intuito a Reforma Rivadávia Corrêa estabelecia minudentes normas para a habilitação à livre-docência, assegurando-Ihe elementos para o seu magistério.
Tratava também a Reforma Rivadávia das Congregações, traçando-lhes composição, marcando-lhes fins, atribuições e normas gerais para as sessões.
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Concedia apenas aos mestres dos institutos de ensino
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
superior e do Pedro Segundo o direito de participar das
reuniões quando se tratasse de assunto referente aos seus
cursos.
O artigo 60 da Reforma, fixando atribuições das
Congregações foi declarado "o fu lcro da re fo rma" ,
acrescentado que "a autonomia didática, a independência
administrativa, a representação no Conselho Superior e
tudo mais que decorria desses grandes princípios estava
respeitado no artigo e em suas letras".
Achou-se o regime escolar superior e secundário
profundamente modificado pela Reforma de 1911. Dividia
o ano le t ivoem dois períodos, de 1o de abril a 31 de julho,
de 15 de agosto a 31 de dezembro, fechadas as aulas a
30 de novembro.
Entre aqueles dois períodos escolares mediaria
quinzena de férias. Proceder-se-ia a exames em todo o
mês de dezembro, seguindo-se janeiro, fevereiro e março
para gozo de férias dos docentes e discentes.
Para a matrícula de internos no Pedro Segundo a
Reforma exigia no máximo14 anos, para a matrícula de
externos 12 no mínimo.
Destacada da Reforma a parte relativa aos exames
no Pedro Segundo proibia aquela, exames f inais, ou
promoção, ao estudante que em cada período letivo
houvesse dado 20 faltas.
As médias bimensais de aproveitamento e as notas
de conduta garantiriam promoção e nos exames finais
influiriam no julgamento.
Posteriormente, um Regulamento do Colégio de
Pedro Segundo auxiliaria o espírito da reforma. Segundo
aquele regulamento a promoção seria feita em reunião do
diretor e dos professores de cada série, aprovada ou não
a promoção por votação, à vista do confronto das notas
obtidas pelo aluno nos períodos escolares.
Declarava a Refo rma, no ar t igo 82, a polícia
académica destinada a manter, no seio da corporação
académica, a ordem e a moral.
No caso de in f rações cominar -se - iam penas
disciplinares a docentes e discentes, mais leve a pena de
advertência particular feita pelo diretor, mais pesada a de
exclusão de estudos em todas as Faculdades nacionais,
sem e m b a r g o das penas do Cód igo Penal para
delinquentes.
No Pedro Segundo, dirigidos pelo Chefe de disciplina,
seriam os inspetores de alunos encarregados de manter a
ordem interna.
O artigo 124 da Reforma Rivadávia Corrêa suprimia,
de acordo com o seu artigo 1o , a concessão de títulos
académicos. Determinou o artigo 124 que, ao terminar o
aluno provas escolares, mediante pagamento da taxa
respec t i va , f o s s e exped ido o ce r t i f i cado que lhe
competisse, de acordo com os regulamentos especiais.
Na defesa e na explicação da Reforma Rivadávia
Corrêa salientou-se na imprensa o professor do Colégio,
Dr. Francisco Pinheiro Guimarães, nas colunas do Jornal
do Commercio e em editoriais da Gazeta de Notícias.
recolhidos os seus artigos em opúsculos para retirá-los
da publicidade efémera do jornalismo.
Assinalado pela Reforma Rivadávia Corrêa, o ano
letivo de 1911, para todo o Colégio, também se assinalou
na seção do Internato pela utilização de vasto terreno
contíguo ao estabelecimento e adquirido em 1910 por
50:000$000 por indicação do diretor do Internato, Dr.
Paranhos da Silva e resolução do Conselho Administrativo
dos Patrimónios do Ministério da Justiça e Negócios
Interiores.
De acordo com a Lei Orgânica do Ensino, em 1911,
o Colégio passou a obedecer a direção única das suas
duas seções, deixando a reitoria do Internato o Dr.
Paranhos da Silva, visto determinar a Lei Orgânica, no seu
artigo 2 1 , que cada instituto de ensino fosse dirigido por
um diretor eleito pela Congregação para período bienal.
Não sendo o Dr. Paranhos da Silva membro do corpo
docente, não podia continuar a dirigir o Internato por força
de lei.
Obedecendo a esta, a Congregação do Pedro
Segundo, em sessão de 20 de abril de 1911, elegeu diretor
ESCRAGNOLLE DÓRIA
do Externato e do Internato o Dr. José Cândido de Albuquerque Mello Mattos, diretor do Externato desde 1910, na vaga por falecimento do Dr. João António Coqueiro, de saudosa memória.
Em 22 de abril de 1911 elegia a Congregação, ainda em obediência à Lei Orgânica, o seu representante no Conselho Superior do Ensino, escolhendo o Dr. Augusto Daniel de Araújo Lima.
O diretor eleito, Mello Mattos, havia sido aluno do Externato do Imperial Colégio de Pedro Segundo e em 1911, independente de concurso, à vista de disposição da Lei Orgânica, artigo 136, fora nomeado professor ordinário de Instrução Cívica e Noções Gerais de Direito.
O primeiro representante do Colégio no Conselho Superior de Ensino foi o Dr. Araújo Lima, também professor do Colégio Militar, e professor ordinário de Geografia no Internato.
A Lei Orgânica de 1911, em todo o seu texto, sempre se referia ao Colégio de Pedro Segundo, desaparecendo, pois o nome de Colégio Bernardo de Vasconcellos atribuído ao Internato em 1909, regressando-se pois à tradição do Colégio, a de conservar o nome do imperial patrono.
Interpretando a Lei Orgânica endereçou o Ministro da Justiça ao da Fazenda um Aviso declarando-lhe que os vencimentos dos estranhos ao antigo quadro do pessoal do Colégio, isto é, os novos nomeados, deveriam ser pagos na tesouraria do respectivo instituto, continuando os demais a receber vencimentos no Tesouro Nacional.
Mais tarde, em 1911. outro Aviso do Ministro da Justiça declararia que os professores, auxiliares e novos empregados dos institutos de ensino superior ou secundário não eram considerados funcionários públicos federais.
Em 1911, ano de tantas modificações no ensino, não houve bacharéis no Pedro Segundo, Lei Orgânica havendo extinto o bacharelado em letras, iniciado em 1843.
Pouco depois, o património do Colégio era destacado de direção alheia e confiado ao diretor Dr. Mello Mattos e
ao tesoureiro Dr. Mário Bevilacqua, nomeado para o cargo a 24 de abril de 1912 e antes subsecretário. Ao diretor e ao tesoureiro foram entregues os imóveis pertencentes ao Colégio e 479 apólices gerais nominativas.
Coadjuvou o Ministro Rivadávia Corrêa o reerguimento do património do Colégio e bem assim auxiliou a remodelação material do Externato, de tanto monta que o obrigou a pedir asilo a instituição de ensino.
Com a maior boa vontade, foi-lhe concedido pela Sociedade Propagadora das Belas Artes, benemérito nela o nome de Bittencourt da Silva, lembrada a sociedade do abrigo que durante tantos anos tiveram no Externato do Pedro Segundo as aulas noturnas do Liceu de Artes e Ofícios.
Em fins de 1912 expirava o mandato do diretor Mello Mattos, eleito para o cargo, pelo voto da Congregação, o Dr. Eugênio de Barros Raja Gabaglia, a 21 de novembro de 1912. Professor antigo do Colégio, nele professor substituto e em 1890 catedrático de Matemática, além de professor da Escola Politécnica e da Escola Naval, dispunha Raja Gabaglia de vasta cultura demonstrada em várias provas públicas.
Do seu amor ao Colégio, ficou indestrutível prova na criação do Anuário da instituição. Dizia da obra o fundador no prefácio do 1o volume do Anuário:
"Na qualidade de Diretor do Colégio de Pedro Segundo resolvi publicar um Anuário, onde, além das informações úteis para os que necessitam manter relações com o mesmo Colégio, se conserve a tradição dos que nele trabalharam em prol do florescimento de nossa Pátria.
Relativamente velho em um país tão novo, o Colégio de Pedro II, pode justamente se ufanar de sua existência e pode dizer às gerações futuras que as passadas souberam cumprir nobremente o seu dever.
A princípio pobre Seminário de Órfãos, criado pela clarividência e pela caridade de um elevado e santo prelado, o Colégio, depois de quase um século (Gabaglia escrevia isto em 1913) de glorioso trabalho, lutando dia a dia, foi
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
radicalmente transformado pelo profundo saber de um
grande estadista, que o colocou sob a proteçâo do ilustre
brasileiro que, por Gladstone, mereceu ser julgado "o
modelo dos soberanos".
"O Bispo D. António de Guadalupe, o Ministro
Bernardo de Vasconcellos e o Imperador Pedro II são as
figuras eminentes que dominam a evolução histórica do
Colégio até o advento da República."
Não se contentou Raja Gabaglia em criar oAnnuário
do Colégio, logo no 1o volume deste se encontrava
substanciosa memória de sua lavra, fruto de aturada
pesquisa, memória de 130 páginas aclarando o passado
da instituição, dos primórdios de 1739, data da criação do
Seminário dos Órfãos de São Pedro depois de São Joaquim,
até 1812. Não se cifrou o autor em historiar, retificou pontos
controversos, restabelecendo a verdade.
Na vigência da diretoria Raja Gabaglia, a
Congregação, a 26 de abril de 1913, elegeria segundo
representante no Conselho Superior do Ensino, recaindo a
escolha no professor de Geografia do Externato, João
Gonçalves Coelho Lisboa.
Terminado o prazo da diretoria Raja Gabaglia, na
constância da qual entrara o Colégio novo professor de
Inglês, no Externato, Carlos Américo dos Santos, foi eleito
diretor por escolha da Congregação o Dr. Augusto Daniel
de Araújo Lima, professor de Geografia do Internato,
escolhido por seus pares, a 21 de dezembro de 1914, para
nortear as duas seções da Casa.
Pouco antes sucedera ao Marechal Hermes da
Fonseca na Presidência da República o Dr. Wenceslau Braz
Pereira Gomes, o qual nomeou Ministro da Justiça o Dr.
Carlos Maximiano Pereira dos Santos, antigo deputado
federal pelo Rio Grande do Sul, jurista e constitucionalista
reputado.
Pouco depois de Ministro da Justiça o Dr. Carlos
Maximiliano referendava o Decreto n.° 11.538 de 18 de
março de 1915, reformando o ensino a cargo da União, ouvidas pelo Ministro autoridades pedagógicas de várias espécies.
No Decreto 11.530 larga parte foi reservada ao Colégio de Pedro Segundo. Considerando-o de alto, em relação ao Colégio, encontram-se no Decreto 11.530 as seguintes disposições principais:
a) — fixação do período letivo, de 1 ° de abril a 15 de novembro (artigo 73 do Decreto), compreendendo o ano escolar 80 lições, suprimidas férias de meio de ano;
b) — modificação dos exames de admissão no sentido de simplificá-los;
c) — modificação do processo de exames; d) — instituição de exames parciais, precedência
do exame de certas disciplinas, assim o de Português antecedendo o de qualquer outra língua, o de Geografia antes do de História;
e) — nomeação dos diretores dos institutos de ensino, e portanto do Pedro Segundo, por nomeação do Presidente da República, considerados aqueles diretores demissíveis ad nutum, escolhidos porém dentre os professores catedráticos ou jubilados de cada instituto de ensino, vice-diretor o decano dos catedráticos;
f) — restabelecimento do concurso de provas, eliminando dele a prova escrita, limitando o concurso ao provimento das vagas de substituto, dispensado do concurso, pelo voto de 2/3 da Congregação e voto confirmativo do Conselho Superior do Ensino o autor de obra verdadeiramente notável sobre o assunto de qualquer das cadeiras de uma seção. No concurso de provas seria nomeado o candidato classificado pela Congregação em primeiro lugar, não recaindo nomeação em candidato classificado nos dois primeiros lugares como anteriormente;
g) — fortificação da constituição, do funcionamento das atribuições das Congregações;
h) — restabelecimento integral das solenidades de colação de grau, de distribuição de prémios e da entrega
ESCRAGNOLLE DÓRIA
dos certificados de conclusão de curso, na solenidade do Colégio de Pedro Segundo, inaugurado o retrato ou os retratos, na sala chamada de Panteão, dos alunos que terminando curso nele se houvessem distinguido por inteligência, excepcional aproveitamento e exemplar procedimento.
Contariam os laureados pelo menos dois terços de distinções sem nenhuma aprovação simples.
A colação de grau nos institutos de ensino, antes tão festiva e solene, descera no Colégio de Pedro Segundo a ponto de ser presidida por um representante de ministro apenas preparatoriano.
O Decreto 11.530 fora precedido de parecer sobre a reforma de ensino apresentado ao Governo da República pelo Conselho Superior do Ensino, parecer da lavra de professor do Colégio de Pedro Segundo, o Dr. André Gustavo Paulo de Frontin, em sessão de 23 de fevereiro de 1915; existindo no parecer Frontin muitas referências ao Colégio no qual Frontin se iniciara no magistério como substituto de Filosofia no tempo do Império, nomeado por concurso a 10 de agosto de 1886.
Expressamente declarou a Reforma Carlos Maximiliano o Colégio de Pedro Segundo "difusor do ensino das ciências e letras (artigo 30), nas duas antigas seções, Externato e Internato, feito em ambas as seções um curso ginasial de cinco anos com caráter literário e científico suficiente para ministrar a estudantes sólida instrução fundamental de modo a prepará-los para o exame vestibular exigido para ingresso em qualquer academia.
Os alunos que se destinassem aos cursos de odontologia, farmácia ou obstetrícia seriam dispensados do estudo de Inglês, de Alemão, de Latim, de Álgebra, Geometria e Trigonometria retilínea e de História Universal e Pátria.
O aluno escolheria o estudo do Alemão ou do Inglês, podendo frequentar o curso facultativo de Psicologia, Lógica e História da Filosofia funcionando no Externato e no Internato.
Só os alunos das quatro primeiras séries receberiam lições de Ginástica e Desenho, cada aula teórica de cinquenta minutos, tanto quanto possível prático o ensino das Línguas Vivas, não podendo receber mais de quatro aulas diárias os alunos de cada ano.
Ao diretor do Colégio, Araújo Lima, caberia começar a aplicação da Reforma Carlos Maximiliano no instituto à sua guarda, assinalando Araújo Lima "a excelência do Decreto reformador".
Ao diretor do Colégio parecia "o ensino secundário passar por uma fase de verdadeiro renascimento".
Logo em início de administração , o diretor Araújo Lima introduziu no Colégio a prática do canto de hinos patrióticos, composto e musicado especialmente para o estabelecimento a Canção da Marcha, útil sobretudo à instrução militar obrigatória administrada nas duas seções do Colégio após o regulamento anexo ao Decreto de 8 de maio de 1908; criando batalhões escolares no Externato e no Internato, concorrendo ambos a solenidades cívicas. Em campeonato promovido pela Confederação do Tiro Brasileiro 3o anista do Colégio, Astor Ramos Quitito, alcançou primeiro lugar nas provas de fuzil Mauser.
Na vigência da diretoria Araújo Lima, por efeito da Reforma Carlos Maximiliano. passou a ser restabelecida no Internato a cadeira de Física e Química, suprimida pela Lei Orgânica Rivadávia.
Fora então transferido para a cadeira de Física e Química do Externato o catedrático das disciplinas no Internato, Dr. Francisco Xavier Oliveira de Menezes, substituindo o Dr. Oscar Nerval de Gouvêa, falecido. Restabelecida a cadeira no Internato serviram-na o próprio diretor Araújo Lima, professor de Física e Química no Colégio Militar, e o substituto Dr. Augusto Xavier Oliveira de Menezes.
Desejou porém e obteve o catedrático Oliveira de Menezes volta à cadeira do Internato, passando para a do Externato o substituto Dr. Augusto Xavier Oliveira de Menezes.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 -1937
Na administração Araújo Lima, perdia o corpo
docente do Colégio membro distinto, o Dr. Hans Heilborn,
catedrático de Grego do Internato, falecido a 21 de dezembro
de 1916.
Continuava o Colégio a ser preterido para instrução
de alunas e a apresentar boa situação financeira, conforme
as disposições da Reforma Carlos Maximiliano, cabendo
à Congregação elaborar, por me io de comissão , o
orçamento da receita e despesa do Colégio sujeito à
aprovação do Conselho Superior do Ensino e homologado
pelo ministro. Somente 7 turmas suplementares no
Externato, 1 no Internato, cuja despesa ficava fora de
previsão orçamentária, exigiam abertura de crédito.
Para melhoria dos gabinetes de Física e Química,
nas duas seções do Colégio, incluía a Congregação elevada
verba orçamentária, a deficiência daqueles gabinetes
representando a maior lacuna do Colégio modelo, lacuna
que a Conflagração impediria de tornar desaparecida com
prontidão, perturbando ela a vida dos povos europeus e o
intercâmbio comercial no mundo universo.
Na remodelação dos gabinetes de Física e Química,
coadjuvando os respectivos lentes das disciplinas e a
Congregação do Colégio, empenhava-se o Ministro Carlos
Maximil iano, o qual mandava excluir dentre os alunos
gratuitos do Internato os filhos de homens conhecidos
como abastados, dando preferência aos órfãos pobres no
preenchimento das vagas anuais dos dispensados do
pagamento de mensalidades.
Com a reversão rigorosa ao património do Colégio
das taxas exigidas dos alunos, pôde o Ministro Carlos
Maximiliano ultimar obras no edifício do Externato.
Em meados de 1917, cessava a administração
Araújo Lima. Deixando cargo, o diretor comunicava em
carta oficial a sua demissão, a pedido, ao decano da
Congregação, Dr. Carlos de Laet, convidando-o a substitui-
lo no governo da Casa, na forma das disposições vigentes.
Entendeu-se Laet com o Ministro, a confirmar a
comunicação Araújo L ima, sem maior formal idade
assumindo a diretoria do Colégio o decano da Congregação,
decanato conferido por longos anos de prática e utilidade
no magistério, reconhecido Laet decano do Corpo Docente
por decisão do Conselho Superior do Ensino a 14 de
fevereiro de 1917.
Sete meses após tal decisão, assumiria Laet a
direçào efetiva do Colégio ao qual serviria no relevo de
inconfundível personalidade.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Marechal Hermes Rodrigues da Fonseca, Presidente da República (1910- 1914). Ex-aluno.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
XIII O Colégio de 1925 a 1931
Reforma Rocha Vaz • Extinção da Cadeira de Espanhol • Diretoria Euclides Roxo •
Disponibilidade de Professores • Desmembramento das Cadeiras de Física e
Química, Latim e Português • Novos Professores • Ressurgimento da Cadeira de
História do Brasil • Turmas Suplementares • Instrução Militar e Esporte •
Sobrecarga da Secretaria do Externato • Centenário Natalício de D. Pedro II •
Nomeação Efetiva do Diretor e do Vice-Diretor do Externato • 1926, Ano dos
Concursos • Novos Professores • Óbitos • Modificações no Corpo Docente •
Solenidades Escolares • Diretoria Pedro do Coutto • Introdução dos Testes no
Ensino do Colégio • Melhoramentos Materiais no Externato e no Internato •
Exames Parcelados • Transferência da Cadeira de Instrução Moral e Cívica •
Proposta de Supressão da Livre Docência • Inauguração do Retrato de D. Pedro II •
Sessão Solene em Memória de Carlos de Laet • Vacância de Cadeiras e
Modificações no Corpo Docente • Melhoramentos Materiais no Externato em
1929 • Medidas de Disciplina Propostas em Congregação • Óbitos.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Em 1925, o Colégio de Pedro Segundo conheceria mais uma reforma de ensino. Estabeleceu-a o
Decreto 16.782-A , de 13 de janeiro do citado ano. Expedido na Presidência Arthur Bernardes, Ministro
da Justiça o Dr. João Luiz Alves, o Decreto 16.782-A, conhecido vulgarmente como Reforma Rocha Vaz, estabelecia o concurso da União no sentido de difundir o ensino primário, organizava Departamento de Ensino, reformava este no grau superior e secundário.
Criava o Decreto um Departamento Nacional do Ensino, subordinando-o diretamente ao Ministério da Justiça e Negócios Interiores.
Teria o novo Departamento a seu cargo assuntos referentes ao ensino, bem como o estudo e a aplicação dos meios tendentes à difusão e ao progresso das ciências, letras e artes no país.
Sena o Departamento presidido por um Diretor-Geral. também Presidente do Conselho Nacional do Ensino, criado em substituição do Conselho Superior do Ensino.
O Conselho Nacional discutiria, proporia e opinaria sobre questões do ensino público submetidas à sua deliberação pelo Governo, pelo Presidente do Conselho ou por qualquer dos membros deste.
Comporiam o Conselho três seções: — a do Ensino Superior e Secundário, a do Ensino Artístico, a do Ensino Primário e Profissional.
Na primeira seção figurariam os diretores do Pedro Segundo, um catedrático deste instituto, anualmente eleito pela Congregação, bem como um docente-l ivre, anualmente designado pelo Ministro da Justiça.
Fixou o Decreto 16.782-A a competência do Conselho de Ensino Superior e Secundário, mantendo-o oficialmente no Externato e no Internato de Pedro Segundo.
Destinava-se o ensino secundário, prolongamento do primário, a fornecer a cultura média geral do país. Compreenderia seis anos de estudos, providenciou o Decreto sobre o número de disciplinas do curso, programas dele, exames de promoção e finais, conferindo o bacharelado ao sextanista aprovado em todas as matérias da última série.
A idade mínima para matrícula no Pedro Segundo seria a de dez anos. Livres-docentes, e na falta deles pessoa idónea, substituiriam catedráticos, autorizados estes, em caso de desdobramento de turmas, a regerem duas turmas suplementares além das efetivas próprias.
Providenciava o Decreto 16.782-A sobre constituição, , direitos e deveres do corpo docente do ensino superior e
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837-1937
secundário, constituído no Pedro Segundo por catedráticos,
docentes-livres, professores honorários e professores de
Desenho e Ginástica. Os catedráticos seriam escolhidos
por concurso, nomeados por Decreto e vitalícios desde a
data da posse. Para a inscrição em concurso no Colégio,
cumpr i r i a ao cand ida to provar curso comp le to de
humanidades ou diploma de escola superior.
As provas do c o n c u r s o para ca ted rá t i cos
compreender iam a defesa de duas teses perante a
Congregação, uma prova oral de caráter didático por
espaço de 50 minutos, sobre ponto sorteado com 24 horas
de antecedência entre dez pontos constantes de lista
aprovada pela Congregação.
Das duas teses, uma versaria assunto escolhido pelo
candidato, a outro assunto sorteado entre os dez pontos
aprovados pela Congregação. Discorreriam assim todos
os candidatos sobre ponto comum, anunciado na abertura
da inscrição para o concurso.
Constaria este também de prova prática, quando o
caso, sobre assunto sorteado de momento. A inscrição
para concu rsos estar ia aber ta du ran te s e m e s t r e .
Determinou o Decreto 16.782-A o modo de proceder às
provas, atribuindo-lhes notas por grau de 0 a 10, públicas
todas as provas.
Achar-se-ia unicamente habilitado para o provimento
do cargo de catedrático o candidato que alcançasse média
final superior a 7, nomeado livre-docente o candidato
merecedor de média superior a 5.
Terminado o concurso, o diretor do Colégio, por
intermédio do Conselho Nacional do Ensino, comunicaria
ao Governo o nome do candidato de maior média a f im de
nomeação. No caso de empate de médias, a Congregação
enviaria ao Governo os nomes dos candidatos em igualdade
de média, para escolha do Governo. Na hipótese do
empate de média, a preferência para nomeação caberia
ao bacharel diplomado pelo Colégio.
A docência-livre poderia ser obtida na segunda
quinzena de outubro, sujeito o concurso para docentes e o
respectivo julgamento, no que fosse aplicável às regras
estabelecidas para o concursos de catedráticos. Constaria
o concurso da docência-livre da defesa de tese de livre
escolha, de prova oral de 50 minutos, com 24 horas de
antecedência, versando sobre ponto sorteado entre os
pontos de lista aprovada pela Congregação, e de prova
prática segundo a natureza da disciplina. Ao candidato à
docência-livre que houvesse obtido média final inferior a 7
não seria conferido o título , só admitindo a novo concurso
passado biénio, durante este defeso ao candidato recusado
inscrição para catedrático.
Condições para nomeação de professores honorários
e privativos, para obtenção de disponibilidade, composição
e competência de congregações, foram reguladas pelo
Decreto 16.782-A. Na presidência da Congregação do
Pedro Segundo revezar-se-ia, em anos alternados, os
diretores do Externato e do Internato, auxiliados por três
comissões eleitas pela Congregação, a saber, a de Ensino,
a de Docência e a de Redação de Publicações.
No Colégio, segundo o citado Decreto, o Externato
e o Internato teriam cada um o seu diretor, o seu vice-
diretor e o seu secretário. Dois seriam os períodos do ano
escolar, de 1 ° de abril a 15 de julho, de Io de agosto a 15
de novembro, considerados de férias escolares os períodos
de 15 a 31 de julho, e de 1o de janeiro a 1o de março.
Matr ículas, exames, reg ime escolar eram objeto de
providências no Decreto 16.782-A. No Pedro Segundo as
transferências de alunos ou de remoção de funcionários
do Externato para o Internato e vice-versa ficariam a cargo
do Diretor-Geral do Departamento Nacional do Ensino, de
cuja aprovação dependeria o horário das aulas do Colégio.
Concedia o Decreto 16.782-A equiparação ao Pedro
Segundo, mediante condições, aos estabelecimentos de
ensino secundário oficialmente mantidos pelos Estados.
O Decreto cassava a equiparação aos institutos de ensino,
por qualquer forma equiparados aos oficiais, se no prazo
de ano, salvo quanto a pat r imónio , o do t e m p o da
equiparação, não se houvessem revigorizado na forma do
Decreto 16.782-A.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
A estabelecimentos de ensino particular, de qualquer sede, poderia ser concedida a faculdade da obtenção de juntas examinadoras para os diferentes anos do curso secundário. Entre as condições para a concessão se enumerava a de provar o estabelecimento manter corpo docente idóneo, observando nos seus cursos programa igual ao do Pedro Segundo.
Os exames de cada aluno se cingiriam às matérias de cada ano do curso, rigorosamente observada a seriação do Pedro Segundo.
Determinava o Decreto 16.782-A que o professor da cadeira de Espanhol poderia ser, como foi, transferido para a 2a cadeira de Português, extinta a cadeira de Espanhol, continuando facultativo no 4o ano o ensino de Italiano.
A Reforma Rocha Vaz, a do Decreto 17.782-A, de 13 de janeiro de 1925, aboliu no Colégio a unidade de direção das duas seções.
Voltava-se à divisão de diretorias, uma para o Externato, outra para o Internato, este desde maio de 1925 exercida pelo bacharel em letras Quintino do Valle.
Convidado o professor Escragnolle Dória para diretor do Externato, agradecendo declinou o convite, nomeado então interinamente para dirigir o Externato o professor Euclides Roxo, bacharel em letras como o antecessor Laet, por Decreto de 19 de agosto de 1925, saudado o novo diretor em nome da Congregação pelo professor Gastão Ruch e também pelo ex-diretor Laet.
De 1925 em diante começaram de novo Externato e Internato vida administrativa independente, continuando vida pedagógica entrelaçada.
No Externato, a reforma do Decreto 16.782-A trouxe modificações sensíveis ao corpo docente. Em virtude do citado Decreto, obtiveram disponibilidade, de golpe, quatro professores: — Said Ali, Paula Lopes, Manoel Arthur Ferreira e Arthur Higgins, professores de Alemão, História Natural, Desenho e Ginástica.
Desmembrada em duas cadeiras, uma de Física, a outra de Química a antiga cátedra de Física e Química, foi
na cadeira de Física provido o respectivo substituto Dr. Henrique de Toledo Dodsworth e professor de Química ficou sendo o antigo catedrático de Física e Química Dr. Augusto Xavier Oliveira de Menezes.
Empossou-se na cadeira de História Natural o substituto Dr. Waldemiro Alves Potsch, assumindo a cadeira nova de Cosmografia o substituto de Geografia, Dr. Othelo de Souza Reis.
Desdobradas as cadeiras de Latim e de Português do Externato e do Internato foram providos na nova cadeira de Latim o professor substituto da disciplina, Joaquim Luiz Mendes de Aguiar, e na cadeira nova de Português o substituto Dr. José Oiticica.
Ressurgida a cadeira especial de História do Brasil, foi nela provido o professor Escragnolle Dória, desde 1906 catedrático por concurso de História Universal, da América e do Brasil, ocupada a cadeira vaga de História Universal por provecto professor catedrático interino, o Dr. Marcos Baptista dos Santos, nomeado catedrático de História do Brasil no Internato o Doutor Pedro do Coutto.
Preencheram também interinamente as cadeiras de Instrução Moral e Cívica, Alemão e Literatura o Cónego Francisco Mac Dowell e os Drs. Tristão da Cunha e Júlio Nogueira.
O professor Adriano Delpech, único dos substitutos do Colégio a não ter acesso a catedrático, passou a reger a cadeira de Sociologia, interinamente, criada a cadeira por disposição do Decreto 16.782-A, de 13 de janeiro de 1925.
Novos lugares de professores de Desenho ficaram sendo exercidos, interinamente, pelos professores José Paula Ferreira e Araripe Macedo.
Assegurada pelo Decreto 16.782-A a unidade didática do Colégio e a indivisão do seu corpo docente, portanto a da sua Congregação, decorreu o ano letivo no Externato, em 1925, sem incidentes de maior monta, na constância da direção interina do professor Euclides Roxo.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
O maior inconveniente para o ensino em 1925, como em anos anteriores, provinha da grande quantidade de alunos em cada turma. Muitas compreendiam 55 discentes quando além de 20, no máximo 25, não pode haver ensino completo, embora a pouca frequência de alguns alunos faça baixar um tanto nas turmas o número diário de presentes.
Pugnava o diretor Roxo, sem possibilidade de aumentar turmas suplementares, dada a míngua pecuniária, pela homogeneidade na composição das turmas, reunidos os repetentes em turmas para o ensino das quais os professores lançariam mão dos recursos pedagógicos próprios para os menos aplicados ou retardados de natureza.
Apontava também o diretor Roxo, em 1925, diversas causas geradoras da pouca eficiência do ensino em geral e em particular no Colégio. Entre elas, mencionava a insuficiência de preparo dos candidatos ao exame de admissão, a falta de disciplina moral, de amor ao estudo, de entusiasmo pela nobre curiosidade de saber, pela falta de impulso inicial dado pelo lar e pela insuficiência de curso primário.
Continuou a ser ministrada, no ano letivo de 1925, a instrução militar no Externato, com a frequência média de 80 a 100 alunos e encerrado o período de instrução a 15 de novembro, de acordo com os regulamentos dos Tiros de Guerra. Nos exames para obtenção da Carteira de Reservista de 2a classe foram aprovados 66 candidatos, quantos se apresentaram; deles provada resistência em duas marchas de 12 quilómetros e uma de 24.
Participou também o Externato do campeonato de atletismo instituído pelo Colégio Militar do Rio de Janeiro e do campeonato de basquetebol organizado pelo Clube de Regatas Flamengo.
Continuou a Secretaria do Externato, em 1925, a carecer do auxílio de inspetores pelo aumento anual de serviços. Declarava o diretor Roxo poder afirmar com
segurança não haver em todo o país nenhuma repartição que conseguisse tanto com o triplo de empregados.
Só pelo protocolo da Secretaria passaram, em 1925, 21.899 papéis de diversas classificações.
Sobrecarga de trabalho sobre responsabilidade para a Secretaria continuou a ser em 1925 o serviço dos exames seriados de candidatos estranhos, ajuntado ao serviço dos exames de preparatórios.
Procurou o diretor Roxo, por várias medidas, aligeirar o trabalho e a responsabilidade da Secretaria, de modo a não se prolongar o expediente até alta madrugada, não raro até o clarear da manhã, chegando funcionários a se alimentarem às pressas ou a mal dormirem no Externato.
A 2 de dezembro de 1925, transcorreu o primeiro centenário natalício de D. Pedro II. Não podia o Colégio do qual era patrono desde origem, desde 1837, conservar-se alheio à celebração de semelhante data. Não via mais a instituição o soberano de cetro de quase meio século na pátria, sim o desvelado amigo e protetor do Colégio, deste lembrado a toda a hora, chegando a adiantar haver para ele no Brasil só duas posições invejáveis, a de senador do Império e a de professor do Colégio que lhe consagrava o nome.
Coube ao diretor Roxo dispor a celebração do centenário natalício de D. Pedro II. Associou-se o Colégio às manifestações tributadas à memória e aos serviços do antigo imperador, manifestações do Amazonas ao Prata, para utilizar expressão de D. Pedro I em proclamação célebre.
A 2 de dezembro de 1925, no Salão Nobre do Colégio, onde tantas vezes comparecera D. Pedro II para a solenidade da colação de grau de bacharel em letras e para distribuição de prémios, realizava-se sessão magna. Presidiu-a Ministro da Justiça, Dr. Affonso Penna Júnior, filho de quem no Império, fora Ministro de Estado dos Negócios da Guerra, na Justiça e da Agricultura, o Dr. Affonso Augusto Moreira Penna, ex-Presidente da República.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Na mesa da solenidade figurava neto materno de D. Pedro II, ex-aluno do Colégio, o Príncipe D. Pedro de Orleans e Bragança, e sua esposa, a Princesa Elisabeth, Condessa Dobrenzenky de Dobrzenicz, na Bohemia.
Em bancada especial, na extremidade do salão, onde outrora erguido trono imperial armado para as solenidades de colação de grau, tomaram assento a Congregação do Colégio, o secretário do Externato e o decano dos bacharéis em letras, Dr. José António de Magalhães Castro, graduado na turma de 1856.
Em face da mesa de honra ficaram, em lugares reservados, numerosos bacharéis em letras, alguns destes figurando na Congregação os bacharéis Laet, Ruch, Nascentes, Philadelpho Azevedo, José Piragibe, Quintino do Valle e João Baptista de Mello e Souza.
Abriu a sessão o diretor Roxo, mostrando que "o próprio nome do Instituto justificava sobejamente a atitude de seus diretores, lentes e alunos ao promoverem a solenidade, a que em boa hora se tinham associado os bacharéis e discípulos em formoso e espontâneo gesto que revelava nobilitantes sentimentos de solidariedade e gratidão".
Oraram na solenidade o professor Escragnolle Dória, em nome da Congregação, logo após o diretor Roxo, o professor Abreu Fialho, catedrático da Faculdade de Medicina, em nome de antigos alunos do Colégio.
Em nome dos bacharéis em letras discursou o professor Cantanhede e Almeida, catedrático da Escola Politécnica, recitando o professor Adriano Delpech poesia de sua lavra "São Vicente de Fora", alusiva ao túmulo de D. Pedro II em Lisboa.
Além da senhorita Zita Coelho Netto, filha do professor do Colégio Henrique Coelho Netto, e da senhorita Edla da Costa Lima, participaram da parte literária da solenidade os seguintes alunos do Externato — Mário de Oliveira e Silva, do 5o ano, Fahim Pedro e Nelson Rodarte Machado, ambos do 3o ano, recitando sonetos de D. Pedro II.
Findou a solenidade com a execução do Hino Nacional, cantado por alunos. Em seguida, no pavimento térreo do Colégio, logo no saguão de entrada, foi inaugurada placa de bronze com a efígie de D. Pedro II, singela, mas expressiva homenagem promovida e realizada por um grupo de 86 bacharéis em letras. Ao ser inaugurada a placa, o professor Mendes de Aguiar recitou poesia em latim, de sua lavra, em honra a D. Pedro II.
Na placa a este memorou inscrição de antigos alunos:
A Pedro II Patrono deste Collegio Os que aqui estudaram 1825-2-XII — 1837-XII-2-1925
Antes de inaugurar-se o ano letivo de 1926, eram nomeados, por Decreto de 3 de março, diretor efetivo o interino, Professor Roxo e vice-diretor, o professor Othelo Reis.
Em consequência da Lei 16.782-A, 1926 seria o ano dos concursos. Iniciou-o o de Latim, para provimento de vaga proveniente do desdobramento de cadeira no Internato.
Concorreu à vaga em maio de 1926, candidato único, antigo aluno do Externato, o Dr. Hahnemann Guimarães . Foi o 1o candidato a concurso no Colégio a submeter-se às quatro provas exigidas pelas disposições vigentes do Decreto 16.782-A, isto é, defesa de tese sobre ponto sorteado, defesa de tese de livre escolha, prova prática e prova oral.
Habilitado unanimemente pela comissão examinadora e pelos votos da Congregação na 1a, 2a e 4a
das mencionadas provas e com grau 8 na 3a, foi o Dr. Hahnemann Guimarães nomeado catedrático de Latim do Internato por Decreto de 4 de junho de 1926.
Ao concurso de Latim, para cadeira do Internato,. seguiu-se o de Português para a mesma seção do Colégio,
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
em virtude do desdobramento de cadeira por efeito do
D e c r e t o 16 .782-A . S u s c i t a r a m - s e , por par te da
Congregação, dúvidas sobre a interpretação do artigo 164
do Decreto 16.782-A, dúvidas resolvidas pelo Diretor-Geral
do Departamento do Ensino, autorizada a Congregação a
convidar pessoas estranhas ao corpo docente do Colégio
para membros das comissões examinadoras de concurso,
podendo nelas ser admitida a presença de professores
interinos, de outras cadeiras, não sujeita a concurso.
Processou-se o concurso de Português de 10 de
junho a 9 de julho de 1926, classificados respectivamente
os candidatos Quintino do Valle, bacharel em letras de
curso no Internato e no Externato, Jacques Raymundo
Ferreira da Silva, antigo aluno do Externato onde concluíra
curso propedêutico, e Clóvis do Rego Monteiro, acatado
professor de língua vernácula.
Por Decreto de 4 de agosto de 1926, foi nomeado
catedrático o bacharel Quintino do Valle, não tendo obtido
provimento um recurso contra o resultado do concurso.
Por ato do Diretor-Geral do Departamento do Ensino, na
forma das disposições vigentes, foram nomeados livres-
docentes da cadeira de Português, por dez anos, os Drs.
Jacques Raymundo Ferreira da Silva e Clóvis do Rego
Monteiro.
Em princípio de agosto de 1926, ocupava-se a
Congregação do Colégio com o provimento de três lugares
de professor de Desenho, um vago pela disponibilidade do
professor Arthur Ferreira e dois novamente criados.
Processado o concurso, a Congregação indicou ao
Governo os nomes dos candidatos classificados nos três
primeiros lugares, os Drs. Enoch da Rocha Lima, José de
Sá Roriz e Alcino José Chavantes, o primeiro para a seção
do Internato, os dois outros para a do Externato.
À vista das médias obtidas, a Congregação indicou
para a livre-docência de Desenho os Srs. Jurandyr dos
Reis Paes Leme, diplomado pela Escola Nacional de Belas
Artes, José Paulo Ferreira, bacharel em letras e Murillo
Araújo, também bacharel em direito.
Interposto recurso, por um dos candidatos, contra o
ju lgamento do concurso não logrou p rov imen to a
reclamação.
Tratando-se ainda no ano le t i vo de 1926 do
provimento da cadeira de Química do Internato, após vários
incidentes, processado o concurso em setembro de 1926,
à vista do resultado geral do certame e de acordo com a
d ispos ição do ar t igo 170 do Dec re to 16.782-A, a
Congregação, a 29 de outubro, indicou ao Governo o nome
do professor Correggio de Castro para catedrático e os
nomes dos professores Arlindo Fróes, Luiz Pedreira de
Castro Pinheiro Guimarães, Rubens Descartes e Júlio
Hauher para livres-docentes por tempo de dez anos. Foi,
porém, nulo o concurso por decisão do Dr. Affonso Penna
Júnior, Ministro da Justiça, apreciando razões de recurso
de um dos candidatos.
Em setembro de 1926, logo após o concurso anulado
de Química, procedia-se no Colégio ao concurso para
provimento de cadeira de História Universal no Externato
e outra no Internato, a primeira vaga pela transferência do
professor Escragnolle Dória para a cadeira de História do
Brasil no Internato, pelo professor Pedro do Coutto,
nomeado para a cadeira de História do Brasil na seção do
Internato.
Após quatro provas de concurso, tendo antes, este
sofr ido prorrogação de prazo, acabou a Congregação
indicando, a 30 de outubro de 1926, os Drs. Jonathas
Archanjo da Silveira Serrano e João Baptista de Mello e
Souza, classificados em 1o e 2o lugares para catedráticos,
r e s p e c t i v a m e n t e do Ex te rna to e do In te rna to . A
Congregação habi l i tou para a l ivre-docência os Drs.
Francisco Mozart do Rego Monteiro, bacharel em direito e
docente da Escola Normal, Jayme Coelho, Mecenas
Pereira Dourado, bacharel em direito, Mário Guedes Naylor,
bacharel em letras, António Figueira de Almeida, bacharel
em direito e Milton Pires Barbosa, bacharel em direito e
Oscar Przewodowski, bacharel em direito e candidato
classificado em anterior concurso no Colégio, o de Inglês,
ESCRAGNOLLE DÓRIA
um candidato, deixando de ser proposto para a livre-
docência, visto não haver obtido média superior à exigida
pelas disposições do Decreto 16.782-A.
Não logrou provimento recurso interposto contra o
julgamento do concurso de História Universal por um dos
candidatos classificado como livre-docente, nomeados
catedrático do Externato o classificado em 1o lugar Dr.
Jonathas Archanjo da Silveira Serrano, antigo aluno do
Externato, e catedrático do Internato o classificado em 2o
lugar — Dr. João Baptista de Mello e Souza, bacharel em
letras, nomeados por Decretos de 10 e 12 de novembro
de 1926.
A posse dos novos professores do Colégio, os Drs.
José de Sá Roriz, Enoch da Rocha Lima, Alcino José
Chavantes, Jonathas Archanjo da Silveira Serrano e João
Baptista de Mello e Souza, deu ensejo a sessão solene, a
18 de novembro de 1926, como belo fecho do ano letivo.
De improviso, o professor Raja Gabaglia saudou os
novos colegas, reconhecendo nos três professores de
Desenho, Roriz, Rocha Lima e Chavantes qualidades para
impr im i r ao ens ino do Desenho toda a e f i c i ênc ia
obedecendo à pedagogia moderna.
Referindo-se às cadeiras de História Universal,
declarou o professor Gabaglia que cadeiras havia no Colégio
tão cheias de tradições gloriosas como as que vinham
ocupar os Drs. Serrano e Mello e Souza, professores de
nomeada no magistério público e particular.
Às saudações do p ro fesso r Raja Gabagl ia
responderam os novos professores Sá Roriz e Jonathas
Serrano.
Salientou o professor Roriz que ao candidatar-se ao
concurso de Desenho, desconhecido e completamente
estranho ao meio, apresentara-se confiante na justiça dos
homens, cônscio, porém, do pouco valimento de forças
próprias. Aquela justiça, afirmou o novo professor, surgiu,
pois imparciais e retos t inham sido os juizes, esquecendo
antigas amizades, compromissos e simpatias, e direitos
em parte adquiridos por outros já na cátedra interinamente.
A Congregação escolhera s implesmente quantos lhe
pareceram merecer valioso prémio de esforços.
Sa l ientou i gua lmen te o p ro fessor Sá Roriz a
cordialidade existente entre os candidatos do concurso de
Desenho na constância das provas do mesmo certame.
Ninguém, afirmou o concorrente primeiro classificado, "ao
vê-los juntos trabalhando diria que jogavam reciprocamente
futuro. Pena que, para concorrentes legais e cavalheiros,
não e x i s t i s s e m ou t ros t a n t o s lugares para gera l
aproveitamento".
Agradecendo, por sua vez, a saudação do professor
Raja Gabaglia, um dos examinadores do concurso de
História, o novo catedrático, Dr. Jonathas Serrano, recordou
ter s ido aluno no Colégio, depois preparator iano e
académico ao tempo em que a Faculdade de Ciências
Sociais e Jurídicas funcionava no edifício do Externato, à
tarde, findas aulas do Colégio. Na Faculdade, o novo
professor recebera grau jurídico acrescido de prémio
especial por distinção de curso, o Prémio Manoel Portella.
Acabando de prestar no Colégio renhido concurso,
julgava o professor Serrano ser o concurso, "apesar das
múltiplas objeções e dos reais inconvenientes deparados
na prática, capaz de dar bons frutos e corresponder
cabalmente ao que dele se espera quando cercadas as
provas de todas as indispensáveis garantias".
Refer indo-se o professor Serrano às glor iosas
tradições do Colégio, às qualidades necessárias aos
mestres de História, não arma de partido, privilégio de
escola, pseudo-demonstraçào de teses, sim a mais alta,
a mais educat iva , a mais genu inamen te cr istã das
homenagens porventura prestadas à Verdade.
E, afirmado credo católico, lembrava o professor
Serrano o gesto de Leão XIII, abrindo arquivos do Vaticano
a pesquisadores de qualquer doutrina, roborando o pontífice
o gesto pela declaração de não ter a Igreja medo da
Verdade.
Nem deixou o professor Serrano, na alegria do
triunfo, de recordar antigos mestres cujas lições recebera
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
no Colégio, Fausto Barreto a iniciá-lo nas belezas e sutilezas do vernáculo, Alexandre Monat a mostrar-lhe toda a disciplina e brilho do Francês, Alfredo Alexander, senhor e transmissor dos tesouros do Inglês, finalmente Raja Gabaglia Sénior, consagrado cultor da ciência matemática.
Não só a posse de cinco distintos professores encerraria jubilosamente o ano letivo de 1926, e tanto mais jubilosamente quanto aquela posse derivava apenas da criação dos desmembramentos de cadeiras e não de sucessões por falecimentos.
Também em relação ao corpo discente seria encerrado com prazer o ano letivo de 1926.
Restabelecido o curso de bacharelado frequentou 6°ano aluno único, Mário de Oliveira e Silva. Aprovado em exames de primeira época, recebeu diploma de bacharel em ciências e letras. Coube-lhe ser o primeiro aluno do Externato laureado em Ciências e Letras, restabelecido prémio de curso completo, abolido havia quinze anos.
A Mário de Oliveira e Silva, dos mais esperançosos alunos da fase moderna do Colégio, parecia fadado brilhante futuro. Decidiu a sorte o contrário. Destinando-se à carreira militar, nela dedicado à aviação, foi Oliveira e Silva vítima de desastre aviatório, perecendo instantaneamente a 8 de maio de 1931.
Não raro começam os anos letivos por lutos no corpo docente ou administrativo, até no corpo discente. Antes da abertura das aulas, falecia, a 26 de fevereiro de 1927, o catedrático de Latim, provecto e bom, Joaquim Mendes de Aguiar, classificado em 1o lugar num concurso para a cadeira em 1909, nomeado porém o 2o classificado, como permitia a legislação vigente Professor suplementar no Colégio, já de Latim, já de Português, Mendes de Aguiar, por voto da Congregação, foi escolhido para substituto de Latim, cargo exercido de 1915 a 1925, enfim catedrático pelo desdobramento da cadeira em virtude da Reforma Rocha Vaz.
Mendes de Aguiar falava e escrevia em Latim. Familiarizado no idioma nele poetava com elegância e facilidade, buscando introduzir o metro poético moderno da língua morta.
Professor assíduo até últimos dias, resistindo a morte prematura com resignação de católico convicto, Mendes de Aguiar deixou memória de colega sem refolhos.
Não só o nigro notando lapillo do óbito de Mendes de Aguiar assinalaria o ano letivo de 1927 no Colégio. A 13 de agosto de 1927, desaparecia no Rio de Janeiro, João Capistrano de Abreu, professor em disponibilidade de Corografia e História do Brasil, afastado do ensino desde 1899 por absurda extinção de cadeira.
Na necrologia de Capistrano de Abreu feita no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro pelo orador da associação, Dr. Ramiz Galvão, bacharel em letras, declarou este, ter Capistrano "regido com amor a sua cadeira, até o ano em que uma reforma infeliz a suprimiu no programa de estudos do grande instituto oficial de ensino secundário "reduzida a obra grandiosa de História Pátria a simples capítulo da História Universal".
Passou Capistrano a dedicar-se com mais afinco a estudos históricos e linguísticos, figurando entre suas obras notáveis "A Língua dos Caxinauás", tribo indígena dos confins de Mato Grosso, produto de três anos de trabalho e resultado da convivência de Capistrano e de dois jovens selvagens caxinauás.
Também estudou Capistrano, pelo mesmo processo de convivência, a língua de outra tribo indígena, a dos Bacaeris.
Os trabalhos de Capistrano em matéria de história pátria têm peso e autoridade, fruto de pacientes pesquisas.
Posto em disponibilidade em 1899, por efeito de reforma, ao vagar no Externato em 1909 a cadeira de História Universal, da América e do Brasil, pela transferência do professor João Ribeiro para a cadeira da disciplina no Internato, escusou-se Capistrano de reger a cadeira vaga.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Participou, entretanto, da comissão examinadora do concurso para o preenchimento da vaga da cadeira de História Universal, da América e do Brasil do Externato, concurso terminado pela nomeação, a 5 de novembro de 1906, do professor Escragnolle Dória, classificado em primeiro lugar.
Abria-se o ano letivo de 1927, com dois lutos, deveria encerrar-se com outros.
Um seria a perda do catedrático de Francês do Internato, o bacharel em letras Floriano Corrêa de Britto, falecido a 27 de outubro de 1927, outro luto o da perda do catedrático de Português do Externato e deste ex-diretor, Carlos de Laet, bacharel em letras.
Floriano de Britto sempre tivera em mira obter cátedra no Colégio, por onde se graduara, e para tanto se empenhara em dois concursos de Francês, em ambos bem classificado, da segunda vez em 1o lugar, nomeado catedrático a 4 de agosto de 1903. De então, até a morte, salvo interrupções pelo exercício do mandato de deputado federal em duas legislaturas, de 1912 a 1917, representando o Distrito Federal, consagrou-se Floriano de Britto ao ensino de humanidades e, sobretudo, ao da língua francesa, autor de gramática deste idioma. Na Câmara dos Deputados apresentou Floriano de Britto parecer sobre reforma de instrução pública. Militou na imprensa e em serviços técnicos da Prefeitura Municipal. Dotado de grande cultura humanística, salientava-se em qualquer discussão pelo ardor de convicções, pela veemência das afirmações, fiel a compromisso, dedicado ao extremo às causas que abraçava, prometia para cumprir.
De Floriano de Britto, bacharel em letras, disse com razão o diretor Roxo: — "Era um dos atestados mais brilhantes da eficiência do ensino clássico do Colégio, de que fora aluno dos mais distintos e onde formara a sua profunda cultura humanística".
Atestou ainda o diretor Roxo a assiduidade modelar do extinto em largos anos de magistério.
Regesse aulas de turmas efetivas de obrigação, suplementares, foi sempre Floriano de Britto um desses professores tão assíduos que a menor de suas faltas de presença constitui acontecimento para o estabelecimento onde lecionava. Onde havia 82 aulas a dar 82, eram dadas por Floriano de Britto.
A atividade dele no Colégio foi sempre exercida no Internato. Por ocasião do seu falecimento, tanto a diretoria do Internato, exercida pelo Dr. Pedro do Coutto, como a do Externato, pelo Dr. Euclides Roxo, timbraram em prestar-lhe homenagens, inclusive a de armar câmara mortuária no Salão Nobre do Internato, de onde partiu o enterro de quem tanto nele estudara, vivera e labutara.
Foi em relação a lutos particularmente doloroso ao Colégio o ano de 1927. Mal a terra pátria em necrópoles do Rio de Janeiro havia coberto os despojos mortais de Mendes Aguiar e de Floriano de Britto, a mesma terra se abria para leito último dos restos terrenos de outro notável professor e dirigente da Casa, Carlos de Laet, falecido a 7 de dezembro de 1927.
Historiar a vida intelectual de Laet nas letras nacionais, no magistério, no jornalismo, na administração pública, com escala breve pela política, na tribuna académica, é matéria para obra ainda não composta. Cumpre ser escrita, tanto melhor se emanar de professor ou ex-aluno do Colégio, bacharel em letras ou não.
No Colégio professou Laet por mais de meio século. Teve jubileu de ouro no magistério, consagrado por sessão especial e solene, dando ensejo para lhe serem tributadas grandes homenagens. Diretor do Colégio, de 1917 a 1926, Carlos de Laet mereceu do sucessor Euclides Roxo este juízo: — "Como diretor, manteve sempre linha impecável de administrador honesto, justiceiro e zeloso de suas atribuições, tendo durante a sua administração aumentado muito o prestígio do Colégio, graças à austeridade, ao brilho intelectual e à integridade moral de sua pessoa. Era incontestável a grande ascendência que tinha sobre os colegas, resultante não só das suas qualidades pessoais,
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
como da sua aureolada anciania, que lhe permitia, quando necessário, tratar a alguns como filhos ou mesmo como netos".
Assim disse o diretor do Externato. No Internato, de 1873 a 1890, lecionara Laet, professor por concurso de Português, Geografia e Aritmética do 1o ano. Voltou a lecionar no Colégio, mas no Externato, de 1915 a 1927. Exonerado por ato ditatorial em 1890, por haver protestado em Congregação, contra a mudança de nome do Colégio, privado de ser de Pedro Segundo, jubilado e posto em disponibilidade, só assim se afastou Laet do Colégio de 1890 a 1915.
Exerceu, porém, neste lapso de tempo o magistério particular, notadamente no Ginásio São Bento e no Seminário Arquiepiscopal de São José, tendo ao tempo do Império lecionado na Escola Normal da Corte.
Demitido do cargo vitalício de professor do Colégio, recebeu Laet, por parte de conspícuos cidadãos e alunos do Internato, manifestação de apreço promovida em reunião nos salões de Derby Club, a 5 de maio de 1890, e levada a efeito na própria residência de Laet.
À frente da comissão estavam os Drs. Rodrigo Lobato, Amarílio de Vasconcellos e Domingos José da Silva Cunha.
Representavam o Internato os Srs. Bandeira de Mello, Pinheiro Guimarães, Cantão, Jayme de Miranda, Arthur Cunha, Francisco Passos, Torquato Vieira de Mesquita, João Roberto d'Escragnolle e Amarílio Hermes de Vasconcellos.
Entregou a comissão a Laet mimo de alto valor, custoso relógio e corrente em cuja medalha, na qual, entre cintilar de brilhantes e azular de safiras, havia sido gravada divisa horaciana: "Impavidum ferient ruinae".
Por parte dos admiradores de Laet, orou o Dr. Rodrigo Lobato, destacando-se no discurso expressivo trecho, o seguinte:
"Na minha província (o então Estado de São Paulo), os melhores cidadãos apressaram-se a alistar-se entre
os subscritores desta manifestação, sem embargo de não partilharem todos inteiramente às vossas opiniões políticas. É que lá, no seio daquele povo altivo, ainda os que sentem diversamente de vosso modo de sentir vos respeitam e admiram."
Em seguida ao Dr. Rodrigo Lobato, orou o aluno do Internato, Amarilio Hermes de Vasconcellos, para declarar: — "Nós que fazemos parte da mocidade, nós que representamos o futuro, viemos em nome da mocidade brasileira, que não é ingrata, em nome do futuro, que nos não intimida, comissionados pelo corpo de alunos do Internato do Instituto Nacional de Instrução Secundária, trazer ao nosso querido ex-professor Dr. Laet a homenagem de nossa saudade".
Respondendo aos manifestantes, de coragem e coração, disse Laet, "considerar-se viajante perdido em meio de gelos polares, quase sem esperança de atingir desejada meta, por toda a parte, rodeado pela escuridão e pelo frio. Banidos muitos de seus melhores amigos, dissolvido ao sopro da revolução o partido a que pertencia (o liberal) bem sabia trancado para a sua pessoa todo o futuro político na pátria. Acontece, porém, que nas gélidas regiões do pólo basta um raio de sol para fazer um prisma de cada fragmento de neve e iriar a paisagem com surpreendentes e mágicos reflexos."
Este raio de sol traziam-nos os amigos ao orador e de coração ele o agradecia".
Associados à manifestação a esposa e os filhos de Laet, foi-lhe entregue a representação dirigida ao Chefe do Governo Provisório, Marechal Deodoro da Fonseca, reclamando contra o Decreto de demissão de Laet, professor vitalício do Colégio, "dizendo-se e parecendo que determinou o ato do Governo a proposta daquele professa na respectiva Congregação, indicando que se pedisse ao Governo para aquela instituição de ensino se restabelecesse a anterior denominação de Colégio de Pedro Segundo".
Ponderava a representação ao chefe do Governo Provisório:
ESCRAGNOLLE DORIA
"Não há na proposta, Sr. General, nada de ofensivo ao Governo, como nada há de inconvenientes à ordem social, em seus termos e nas razões que lhe serviram de fundamento e foram publicados pela imprensa. O proponente relembrou os serviços prestados pelo Sr. D. Pedro II ao instituto e disse que se devia conservar para este o nome de seu fundador.
Começai, Sr. General, vossa obra de patriotismo, restituindo ao magistério da República o digno e talentoso professor. Esse ato honrará o vosso Governo e nós vô-lo pedimos no interesse da educação superior e em nome dos nossos concidadãos."
Só, porém, em 1915, o poder executivo do pais anuiu ao voto de 1890, tendo o poder judiciário reparado outro ato do Governo ditatorial Deodoro, demitindo professor vitalício do Colégio, o Barão de Loreto, companheiro de exílio de D. Pedro II, reintegrado Loreto em funções docentes, não mais exercidas. Bem mais tarde, a justiça dos homens na voz da História, restituiria ao Colégio primitiva denominação. O episódio da vida de Laet também é testemunho de coragem cívica de discentes na existência do Colégio.
Por ocasião do falecimento de Laet e interpretando particularmente pensamento do Internato, o diretor do mesmo, o Dr. Pedro do Coutto, entre louvores, declarava que, "professor por mais de meio século no Colégio de Pedro Segundo, Laet formara gerações que o admiraram e que lhe aclamavam o nome, do Colégio irradiado brilhantemente para o país inteiro, através de colaboração assídua nos jornais, onde em estilo pessoal, elegante e correto lhe dava relevo em meio às nossas letras.
Professor de várias matérias do curso secundário, nelas se revelou sempre mestre culto, mas especialmente Laet se destacava pelo vigor, pelo brilho e pela argúcia da inteligência, pronta e impressionante. Um talento fulgurante forrado de cultura bem cuidado."
Memorados os mortos de 1927 pelo Colégio, apresentou este no ano letivo a vida operosa de sempre
nas seções do Externato e do Internato. Presidia a Congregação o diretor do Internato, na forma das disposições vigentes, alternando-se direção do Corpo Congregado cada um dos diretores da Casa.
No decurso do ano letivo de 1927 seria preenchida a vaga de professor de Física do Internato, mediante concurso, processado de 18 de agosto a 10 de setembro, afinal indicado para catedrático o engenheiro civil Dr. George Sumner e para livre docente o engenheiro civil Dr. Francisco Venâncio Filho. O Dr. Sumner, desde junho de 1926, exercia no Internato funções de repetidor interino de Ciências Físicas. Tomou posse da cadeira de Física a 5 de outubro de 1927, proferindo discurso, correspondido em nome da Congregação pelo professor Accioli. Em oração inaugural, o novo catedrático evocou grandes mestres de sua juventude na terra natal, o Pará, e fora da mesma. Agradeceu ao lar e a amigos, "obreiros do coração e do afeto, a dedicação do seu carinho, o apoio da sua afeição desinteressada". Evocou dois ilustres antecessores na cadeira de Física e Química — Nerval de Gouvêa e Oliveira de Menezes. Declarou não deslustrar a memória desses grandes mestres associando à sua evocação a lembrança da passagem pelo Internato de professor ilustre, que o glorioso instituto se honrava de contar entre os seus catedráticos. Referia-se ao Dr. José Ferreira da Costa Piragibe, filho de antigo diretor do Internato, ele próprio bacharel em letras por esta seção do Colégio. Frisou o novo catedrático ter-se imposto o professor José Piragibe entre os que militavam na espinhosa carreira do magistério, "como educador de escol, mestre inexcedível, cujo lugar ao professorado era indicado pelo consenso unânime de sucessivas gerações de discípulos".
Além do provimento da cadeira de Física do Internato, no ano letivo de 1927, sofreu o corpo docente catedrático do Colégio algumas modificações de relevância.
A 21 de novembro de 1927, o Dr. Carlos Delgado de Carvalho, ocupante da cadeira de Inglês do Externato, era'
Ml MÓRIAHISTÓRH ADOCOI I GlO DF PEDRO SEGUNDO 1837 1937
t r a n s f e r i d o para a cade i ra de Soc io log ia , reg ida
interinamente pelo substituto Adriano Delpech.
A 5 de dezembro de 1927, via-se o referido substituto
promovido a catedrático de Francês no Internato, na vaga
aberta pela morte do professor Floriano de Britto.
Saudado em nome da Congregação pelo mais novo
dos professores desta, o Dr. Sumner, respondeu o
p ro fessor De lpech exa l tando a memór ia e a obra
pedagógica do antecessor. "Unicamente com as lições
recebidas no Colégio de Pedro Segundo, completados pelo
próprio esforço, Floriano de Britto tornara-se senhor da
filologia francesa."
Logo após, porém, era Delpech, catedrático de
Francês do Internato, transferido para a cadeira de Literatura
Brasileira e de Línguas Latinas até então interinamente
ocupada pelo Dr. Júlio Nogueira, por sua vez nomeado
catedrático interino de Francês do Internato.
No ano letivo de 1927, o ensino em ambas as seções
do Colégio correu com regularidade, aplicadas disposições
de novo Regimento Interno. Dividindo turmas de alunos
respeitava a classificação de discentes obtida pela média
das notas de exames do ano anterior, alguns professores
embora, discordassem da medida apresentando objeções.
Na cadeira de História Natural do Externato, bem
como nas cadeiras de Física, Química e Instrução Moral
e Cívica, o ensino revestiu muito feição prática por parte
dos respectivos professores. O professor suplementar Dr.
Octacílio Álvares Pereira, acompanhou alunos de turma a
seu cargo nas diversas visitas feitas a estabelecimentos
públicos ou particulares.
Dava assim execução a programa da cadeira, tendo
em vista concretizar os ensinamentos da mesma. Visitou
a 3 a t u r m a s u p l e m e n t a r do 1 o ano, en t re o u t r o s
estabelecimentos, o Arquivo Nacional, o Instituto Histórico
e Geográfico Brasileiro, o Tribunal do Júri, o "Jornal do
Brasi l".
A 27 de maio de 1927, na sala da Congregação,
presidida pelo Ministro da Justiça, Dr. Vianna do Castello,
realizou-se a solenidade da entrega de certificados de
conclusão de curso a alunos de 1925 e 1926. Foi conferido
o Prémio Nerval de Gouvêa, instituído em 1921, para
recompensar os estudantes mais distintos no estudo da
Física e da Química. Coube o prémio de 1925 a aluno do
Externato, Eurico António da Costa, obtendo-o também
alunos do Internato, Albino Silva e Henrique Vaz Corrêa, o
primeiro em 1925, o segundo em 1926.
Uma das constantes preocupações das diretorias
do Colégio era atender às sugestões dos professores de
discipl inas exigindo ensino prát ico a par do teór ico,
obedecendo à moderna orientação pedagógica. Crédito
de 150 contos votado pelo Congresso para os gabinetes
de ciências físicas e naturais, permit iu em 1927, no
Externato, aparelhar os gabinetes de Física e Química.
Sensivelmente alargado o primeiro ficou possuidor do que
requer o ensino moderno da Física, podendo, segundo o
d i re to r Roxo, so f re r c o n f r o n t o c o m qua lquer
estabelecimento congénere nacional ou estrangeiro. Ao
professor Henrique Dodsworth, aos seus esforços, f icou
devendo a cadeira de Física do Externato importantes
melhoramentos materiais, uma das salas do gabinete tendo
recebido o nome daquele professor.
Melhorados consideravelmente ficaram, em 1927,
os gab inetes de Histór ia Natura l , bem como o de
Geografia, também sala de aula da disciplina, dotado com
aparelho, máquina de projeção f ixa, servida por 300
diapositivos, de preferência apresentando vistas e coisas
nacionais.
Mostruários com amostras de produtos nossos,
quadros representat ivos de vários t ipos de cor tes
geológicos, desenhados no próprio estabelecimento, sob
a d i reção do Dr. Delgado de Carvalho, exce len tes
fotograf ias, ornaram com provei to a sala de aula de
Corografia do Brasil.
Sob a direção dos professores Serrano e Delgado
de Carvalho preparou-se em 1927 sala destinada às aulas
de História Universal, cujas paredes receberam, a fresco,
ESCRAGNOLLE DÓRIA
seis grandes mapas de diversos épocas históricas, sob
as quais figuravam retratos de grandes vultos americanos.
A estabelecimento como o Externato do Colégio de
Pedro Segundo, frequentado por numerosíssimos alunos,
de vária formação educativa e sentimentos nem sempre
cul t ivados até primor, a discipl ina é condição v i ta l ,
disciplina eficaz quando temperada pela justiça e pela
equidade. No ano letivo de 1927, a disciplina no Externato,
à parte algumas punições a tempo, por faltas leves, não
sofreu alteração, em porte, mercê de inspetores nem
sempre isentos de contrariedades no exercício de funções
para as quais não está habilitado qualquer. Demandam
não só cult ivo intelectual como, sobretudo, formação
mora l , a míngua de um e mormen te da outra logo
pe rceb idas pe lo a luno , p r i n c i p a l m e n t e , pe lo mal
intencionado ou desrespeitador por natureza.
Desde 17 de março de 1926, achava-se o Internato
sob a direção interina do Dr. Pedro do Coutto, passando
este em 1927, a dirigi-lo efet ivamente. Exerceu o cargo
de vice-diretor o bacharel em letras Quintino do Valle,
catedrático de Português, o Dr. Coutto catedrático de
História do Brasil na seção do Internato. Coube ao Dr.
Pedro do Coutto, em 1927, a presidência da Congregação,
a qual escolheu o catedrát ico Doutor Philadelpho de
Azevedo para representante no Conselho Superior do
Ensino.
Cresceu, sobremaneira, a matrícula no Internato no
ano letivo de 1927, ampliado o quadro da Secretaria,
exercido o cargo de secretário do estabelecimento pelo
Sr. João Baptista Torres. Prestava bons serviços no
Internato desde 1906, inspetor de alunos, amanuense
desde 1917, conhecendo bem o mecanismo administrativo
no instituto de ensino ao qual se dedicara e onde, degrau
a degrau, conqu is tou pos to de secretár io , nele se
assinalando.
A disciplina em Internatos é muito di ferente da
exigida nos Externatos nos quais a vigilância se exerce
por algumas horas e não dia e noite como num Internato.
Em 1927, foi chamado a exercer o cargo de chefe
de disciplina, no qual já se notabilizara Quintino do Valle,
o Dr. José Lourenço dos Santos, docente da Escola Normal,
incumbido de zelar pela ordem na Casa, auxiliado por 28
inspetores para 400 alunos. Não havendo substituto para
o chefe de disciplina, mister foi criar cargo de subchefe.
Em 1927 o foi o Dr. Octávio Severo Castão, antigo inspetor
de alunos, podendo assim o chefe de disciplina revezar
um pouco nas funções incessantes.
Empenhou-se a diretoria do Internato na regularidade
da instrução militar, participando os alunos de várias
solenidades e campeonatos de jogos desportivos.
Zelou também a diretoria do Internato pela eficiência
do serviço médico, a cargo do Dr. Rodolpho Chapot Prevost,
e do dentário, a cargo do Dr. Francisco de Paula Severino
da Silva. É sabido hoje a importância ligada pela medicina
à odontologia para descoberta, cura ou lenitivo de várias
afecções das muitas que ameaçam, minam ou extinguem
vida humana.
Em 1927, propunha o Dr. Chapot Prevost várias
medidas tendentes a melhorar as condições higiénicas do
estabelecimento: — pavilhões separados para dormitório
de limitado número de colegiais, acréscimo de banheiras,
aquisição de instrumentos, adoção de lâmpadas elétricas
com vidros foscos para resguardo da vista dos alunos nas
salas de estudo. Na série de medidas proposta pelo
médico do Internato, achavam-se incluídas algumas
relativas à higiene intelectual de modo a não prejudicar a
corpórea, lembrando o Dr. Chapot Prevost, que dada a
idade dos colegiais e o nosso clima, a fadiga cerebral é
dez vezes mais funesta de que a dos outros sistemas de
economia.
As solenidades do costume encerraram o ano letivo
de 1927 no Colégio, ano letivo no curso do qual vários
professores experimentaram nas aulas o uso de testes,
facultado pelo regimento. Dois professores, Antenor
Nascen tes e De lgado de Carva lho, a d o t a r a m
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
def ini t ivamente tal processo de avaliações de aproveitamento nas sabatinas e concursos bimestrais de suas aulas.
Bastante melhorado materialmente ficou o Internato em 1927, construído mais um andar e nele localizados três vastos dormitórios e uma rouparia. Reconhecia, porém, o diretor Coutto, que a despeito da boa vontade e esforço do corpo docente e administrativo, o Internato "ainda estava bem longe do que devia ser estabelecimento de seu género".
Igualmente, o diretor Roxo, quanto ao Externato, reconhecia o edifício impróprio para os seus fins. Apresentava as razões do seu sentir, sugerindo a localização do Externato nos Morros de Santo António ou da Conceição, tornado fácil o acesso aos mesmos. A única vantagem da presença do Externato na Rua Marechal Floriano era o de ser esta ponto central, sem maior dificuldade atingido pelos alunos dos bairros pobres ou dos subúrbios, isto é, pela maioria dos alunos do Colégio.
Sendo impossível despender avultada quantia para a construção de novo e modelar Externato, dizendo-se precisos para tanto 20.000 contos, propunha o diretor Roxo várias alterações, no edifício, alterações orçadas em 500 contos, para melhoria de condições higiénicas e pedagógicas do instituto a seu cargo. Entre as medidas propostas pelo diretor Roxo avultava a construção de casa para o porteiro em terreno de propriedade do Colégio, com oito metros de frente para a Rua da Prainha. Isso permitiria a construção de três boas salas de aula na parte então tomada pela residência do porteiro, construção de 3o andar na ala do edifício, dando para a Rua da Prainha, ajardinamento dos pátios internos e outras medidas tendentes a tornar quanto possível o Externato edifício capaz de preencher ainda por alguns anos sua natureza e seus fins.
Aos poucos iria o diretor Roxo atendendo às necessidades mais urgentes do Externato, uma delas a remodelação do Arquivo, finalmente senhor de excelentes
armações metálicas adquiridas pelo diretor Laet. Removidos os documentos do arquivo das estantes de madeira para as de aço, ficou a importante seção do Colégio, confiada ao inexcedível zelo do arquivista Augusto Pedro da Silva Maia, localizada na parte do edifício de face para a Rua Marechal Floriano, parte imprópria para o serviço das aulas, visto o contínuo e numerosíssimo trânsito público pela citada rua, uma das mais pulverulentas.
Estabeleceu o diretor Roxo confortável sala para professores, um gabinete contíguo à sala da Congregação, ampliada para o duplo da antiga área e formada interiormente.
Muitos outros melhoramentos materiais nas diversas dependências do Colégio foram devidos à administração Roxo, zelando por uma casa que lhe preparara o espírito e abrira carreira.
Entre aqueles melhoramentos de utilidade para o bom funcionamento das aulas, cumpre mencionar a instalação de relógio central elétrico colocado no gabinete da diretoria, acionando outros relógios postos em diversos pontos do edifício.
Automaticamente, o relógio central punha a soar as campainhas elétricas, dando anúncio do início ou fim das aulas, fim tão grato aos menos aplicados.
Encerradas as aulas em 1927, teve mais uma vez o Colégio de incumbir-se de serviço exaustivo, o dos exames parcelados e seriados, prestados uns pelo Decreto 5.309-A, outros pelo Decreto 11.530, outros ainda obedecendo a Lei 16.782-A.
Compreende-se facilmente o aperto de serviço e o redobrar da possível fiscalização na realização simultânea de exames processados de acordo com três Decretos diferentes, os de números 5.309-A e 11.530, referindo-se a exames de preparatórios e o de número 16.782-A a exames de curso seriado realizados por candidatos estranhos ao Colégio.
Para ser bem avalizada a monta do serviço extraordinário do Colégio, basta dizer que outrora, no
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Império, tal serviço incumbia a uma repartição especial, a Inspetoria de Instrução Pública Primária e Secundária do Município da Corte.
Os anos letivos do Colégio começavam sempre por convocações de Congregação. A 2 de março de 1928, precedendo a abertura de aulas, reunia-se a Congregação, presidida pelo diretor do Externato, Dr. Roxo. Comunicava ele oficialmente ao Corpo Congregado o falecimento do professor Laet, não sem lhe ter consagrado expressões de respeito e saudade, propondo a realização de sessão solene em memória do desaparecido. À proposta do presidente da Congregação foram acrescentadas propostas dos professores Lafayette Pereira e Henrique Dodsworth. Requereu o primeiro inserção em ata de voto de profundo pesar pela morte de Laet, propondo o segundo que, de acordo com antiga sugestão sua, fosse dado o nome de Carlos de Laet a uma das salas do Externato. Todas as propostas receberam sanção unânime.
No ano letivo de 1928, o ensino no Colégio sofreria alteração, apresentada em sessão da Congregação, proposta subscrita por numerosos professores, proposta motivada tendente a modificar a seriação do curso do Colégio.
A proposta sugeria a conveniência da transferência da cadeira de Instrução Moral e Cívica do 1 ° para o 5o ano, a ideia combatida pelos professores Gabaglia e Delpech, chegando o primeiro a propor a extinção da cadeira. Discutida a proposta Gabaglia, com emenda deste professor mantendo a Cadeira no 1o ano, foi mandada a proposta à Comissão de Ensino, visto insistir o professor Gabaglia no propósito de serem ouvidas as respectivas comissões sobre assuntos ventilados em Congregação.
Voltando esta a discutir o plano de nova seriação de matérias do curso secundário aprovou o Corpo Congregado o parecer da Comissão de Ensino relativo ao assunto. Manteve, por 17 votos contra 12, a denominação da cadeira de Português em vez da de Idioma Nacional. Por 18 votos
contra 7, confirmou a denominação da cadeira de Instrução Moral e Cívica em vez Instrução Cívica e Noções de Direito Usual.
Entendeu também a Congregação nomear comissão para estudo dos pontos alteráveis do Regimento Interno do Colégio. Ficou a comissão constituída pelos vice-diretores do Externato e do Internato, Othello Reis e Quintino do Valle e pelos professores Antenor Nascentes e Escragnolle Dória.
Para representante do Colégio no Conselho Superior do Ensino em 1929, elegeu a Congregação, por 18 votos, o professor Philadelpho Azevedo. Representava os docentes-livres na Congregação, em 1927, o docente Jayme Coelho, substituído em 1928 pelo docente Dr. António Figueira de Almeida.
Aliás, o Conselho Superior do Ensino, por voto unânime, solicitara ao Governo a supressão da docência-livre no Pedro Segundo, opinião secundada pelo juízo do diretor Roxo por não se justificar no Colégio a docência-livre, instituição universitária e própria de ensino superior. Caracterizava a docência-livre a faculdade pela escolha de professores por parte do aluno — dizia o diretor do Externato — tal escolha, evidentemente, não podia partir de meninos ou adolescentes. Acrescia a esta ponderação a impossibilidade de adaptar-se a livre-docência à organização de turmas em colégio de instrução secundária, organização sujeita a critérios pedagógicos, qual por exemplo a limitação do número de alunos, devendo haver nas referidas turmas necessária homogeneidade.
Em relação ao ensino, foi apresentada à Congregação proposta do professor George Sumner. Por intermédio do Ministro da Justiça, sugeria ao Congresso Nacional a conveniência de serem considerados catedráticos os professores de Desenho do Colégio.
Aceita pela comissão de Docência, foi a proposta de Sumner unanimemente aprovada pela Congregação.
Todos os serviços do Externato, em 1928, correram com a devida regularidade, humanamente embora sujeitos
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
a senões, o diretor Roxo procurando corrigi-los por meios suasórios, ou discretos se de maior monta.
Tratava também de corrigir, no alcance de sua autoridade e das possibilidades financeiras do Colégio, os senões da localização do Externato. Insistia pelo ajardinamento dos pátios da Casa, "não só para tornarem-se aprazível local de estudos, como permitindo o jardinamento a constituição de pequeno horto com certo número de espécies botânicas para estudos de História Natural".
Desejoso de levantar o inventário do Externato, designava o diretor Roxo Comissões para auxílio seu na realização do intento. Incumbia aos professores Escragnolle Dória e José Oiticica e ao bibliotecário do Externato, Dr. Fernandes Veiga, a avaliação dos 15.000 volumes da biblioteca do estabelecimento.
Duas solenidades encerraram o ano letivo de 1928. A 2 de dezembro, data natalícia de D. Pedro II e, portanto, sempre memorável no Colégio, presidida pelo Ministro da Justiça, realizava-se sessão solene comemorativa do 91° aniversário da fundação da Casa. À cerimónia ajuntou-se a inauguração do retrato de D. Pedro II, retratado o antigo soberano de corpo inteiro, trazendo numa das mãos o Decreto de fundação do Colégio, quadro aquele obra do pintor patrício Carlos Osvald.
Seguiu-se à inauguração da tela a colação de grau dos bacharéis em Ciências e Letras de curso concluído em 1927: — António Gabriel de Paula Fonseca, Carlos Rocha Mafra de Laet, neto de Carlos de Laet, José Cândido Sampaio de Lacerda e Luiz Torres Barbosa, alunos do Externato.
Doze alunos receberam prémios de aplicação e sete, de procedimento exemplar, cabendo o Prémio Nerval de Gouvêa a aluno do Internato, Plínio Gomes de Mattos Filho.
Constou a festa também de parte literária e musical, preenchida aquela pela recitação de poesias por alunos e alunas, estas por execuções de trechos clássicos de Beethoven e Schumann por alunos, encerrada a solenidade
com o Hino Nacional cantado pelo Orfeão do Colégio. A 29 de dezembro, realizou a Congregação sessão
solene dividida em três partes, a primeira dedicada a Carlos de Laet, a segunda, à entrega de certificados aos alunos de 5o ano de curso concluído em 1927, a terceira, à sessão literária.
Apreciando a personalidade inconfundível de Laet oram o professor Jonathas Serrano, em nome da Congregação e o quintanista Gentil Coelho de Castro, em nome de colegas de turma.
Analisou o professor Serrano a individualidade de Carlos de Laet sob os variados aspectos por ela apresentados na existência, "professor quase até o dia da morte". O professor Serrano, em minudente estudo, disse muito sobre aquele a quem elogiava e "cuja obra, na imprensa, daria, reduzida a volumes, uma biblioteca", desejoso o orador "por ver a obra de Laet reduzida a livros, apelo feito da tribuna do Colégio que o escritor amou, dirigiu e dignificou, sem se acomodar, emudecer ou infletir na defesa de ideais", declaração tanto mais insuspeita porquanto oriunda de antigo adversário do polemista na imprensa, o que não impedira Laet de prestar justiça ao seu contendor ao concorrer este a cátedra no Colégio.
Estudando, longamente, a vida de Carlos de Laet, o professor Serrano concluiu, lembrando-lhe feição conhecida de poucos, a da sua capacidade poética, citando-lhe um soneto: — "Rosa", bem digno de figurar em antologia.
la Rosa vestir-se e do vestido Uma voz se desprende e assim murmura: "Muitas morremos de uma morte escura Porque te envolva sérico tecido".
la toucar-se e escuta-se um gemido Do marfim que as madeixas lhe segura: "Por dar-te o afeite desta minha alvura Jaz na selva meu corpo sucumbido".
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Põe um colar e a pérola mais fina:
"Para pescar-me quantos párias, quantos
Padeceram no mar lúgubres sor tes" .
E Rosa chora: Oh! desditosa sina!
Todo sorriso é feito de mil prantos
Toda vida se tece de mil mor tes ! "
Não pareça fora de propósito a transcrição e a
memória deste soneto porque, recitado em sessão solene,
o professor Serrano pôde acrescentar perorando, "quem
metr i f icou e r imou tais estrofes não era apenas uma
intel igência robusta, era ainda um coração capaz de
emoção e ternura, uma alma que vibrava aos grandes
mistérios da dor" .
O ano letivo de 1929 abriu-se com certo número de
cadeiras vagas, quais no Externato as de Alemão, vaga
desde junho de 1925, por efeito da disponibilidade do
professor Said Ali, a de Latim, vaga desde fevereiro de
1927, pelo falecimento do professor Mendes de Aguiar, a
de Química, vaga desde setembro de 1929, em virtude da
disponibilidade do professor Oliveira de Menezes, a de
Instrução Moral e Cívica, criada pela Reforma Rocha Vaz,
a tais cadeiras achava-se interinamente e respectivamente
ocupadas pelos professores Drs. Tristão da Cunha, Nelson
Romero, Luiz Pinheiro Guimarães e Cónego Dr. Francisco
da Gama Mac Dowell .
Havia, porém, anteriormente, o Governo resolvido
sustar inscrições para concurso no Colégio.
Todas as cadeiras acima enumeradas pertenciam
ao Externato, no Internato t a m b é m vagas a lgumas
cadeiras, assim a de Francês, vaga, pelo óbito do professor
Floriano de Britto e transferência do professor Delpech,
regendo-a interinamente o professor Júlio Nogueira, antes
lecionando no Externato a cadeira de Literatura Brasileira
e de Língua Latina.
No Internato, também preenchia interinamente o Dr.
Nuno Lopes Smith de Vasconcellos a cadeira de Inglês,
vaga pela transferência para a cadeira congénere do
Externato do professor Álvaro Espinheira.
Frequentemente, havia cadeiras vagas no Colégio,
já por f a l e c i m e n t o s , d i ve rsos i m p e d i m e n t o s , não
permitindo preencher definitivamente vagas resultantes de
óbitos ou disponibilidades.
Assim, transferido o professor Nascentes da cadeira
de Português do Internato para a do Externato, vaga
proveniente do falecimento do professor Laet, passara reger
interinamente a cadeira respectiva no Externato o Dr.
Jacques Raymundo Ferreira da Silva, docente-livre.
Serviram também interinamente, no impedimento
dos professores Almeida Lisboa, Henrique Dodsworth e
Oliveira de Menezes, os dois últ imos no exercício de
funções eletivas, os Drs. Irineu Leite de Freitas, Francisco
Venâncio Filho e Corregio de Castro nas cadeiras de
Matemática. Física e Química.
Considerável era o número de matr iculados no
Colégio.
Daí necessidade de criar turmas suplementares, 14
no Externato, onde sempre mais numerosas estas turmas,
menos três turmas em 1929 do que em 1927 e em 1928.
Difícil era sempre organizar horário de aulas no Colégio,
sobretudo no Externato, cujo edifício cada vez mais, pelo
crescer de matriculados, se ressentia da impropriedade
para preencher fins educativos, a falta de espaço sensível
a cada momento em prédio de faces voltadas para vias
públicas de intenso trânsito e ruído, quais a Avenida Passos
e as ruas Marechal Floriano e Camerino.
Pelos fundos ficava o edifício, voltado para a rua da
Prainha, ora Leandro Mar t ins , onde se local izavam
estabelecimentos industriais de rumor e perigo, serrarias
e fundições. As primeiras acompanhavam não raro as
aulas com a música das serras, as segundas enfumaçando
e enfagulhando salas.
Nos edifícios do Externato e do Internato tudo
acabava se reduzindo a obras de simples adaptação ou
remodelações.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
Em abril de 1929, a diretoria Roxo pôde concluir a reconstrução começada em 1928, das alas do edifício do Externato dando para a Rua da Prainha e de esquina com a rua Camerino, abrangendo cerca de 300 metros em cada um dos pavimentos.
Com a reconstrução pôde o imóvel conter bem maior número de dependências no pavimento térreo e no superior.
Neste, o Salão Nobre foi inteiramente restaurado. Durante algum tempo esteve a obra de Bettencourt da Silva ameaçada de completa destruição, ideia contra a qual sempre se manifestaram sobretudo os professores Carlos de Laet e Escragnolle Dória.
Felizmente, não medrou ideia tão contrária à tradição e beleza do estabelecimento. Achou-se o soalho, mudado por inteiro, trazido ao nível do resto do pavimento, foram mudadas as esquadrias, restaurados, pintados e redoirados os painéis de estuque do teto e das paredes. Para obter mais duas salas de aula houve mister sacrificar parte do salão, aquele em que figurava tribuna de música. Mais tarde, ficou reconhecido que mais valia ter conservado o Salão Nobre do Externato qual o havia legado o Império. Muito se perdeu.
Outras adaptações foram feitas no edifício do Externato em 1929, recebendo o Salão Nobre mobiliário de imbuia, trabalho nacional de fábrica de Santa Catarina, reformado aos poucos o mobiliário escolar, estabelecidos filtros para uso dos alunos, aproveitada antiga sala dos inspetores, num vestíbulo, para instalação de pequeno refeitório para uso de professores, no intervalo de aulas, e para venda de merendas a alunos.
Substituía a modesta instalação outra do mesmo género e modestíssima, localizada na parte do edifício do lado da Rua da Prainha, instalação pitorescamente denominada Café Fumaça e dirigida por serventes, ai obtendo parcas vantagens acrescidas a minguados vencimentos, daqueles serventes o mais popular entre docentes e discentes o de nome Romeu.
Num estabelecimento com a frequência diária de 700 alunos, como o Externato em 1929, houve apenas a lamentar um caso de indisciplina, de aluno do 1o ano contra o seu inspetor, punido o aluno, após inquérito regular feito por professores, com a pena de suspensão de exames em 13 e 2a época.
Outro caso de indisciplina, por parte de um preparatoriano, por ocasião de exames parcelados, também foi objeto de inquérito, proposta ao Diretor-Geral do Departamento de Ensino a exclusão do preparatoriano dos estudos, por tempo a arbitrar, de quaisquer estabelecimentos oficiais ou equiparados.
Procurava, assim, a diretoria Roxo resguardar o princípio indispensável da disciplina, sem o qual não vale a pena abrir portas de estabelecimento de instrução.
Nem se estendia a vigilância da diretoria só a discentes e preparatorianos, também a subordinados, advertindo inspetor, convidando-o usar com alunos, de linguagem que não desse motivo a reclamações.
Advertia a diretoria do Externato, mas reconhecia oficialmente que "no desempenho de funções exercidas com zelo e dignidade os inspetores faziam jus a preito de reconhecimento por parte da administração do Colégio".
Daí, lamentar este o falecimento inesperado, com suspeitas infelizmente não apuradas de crime, por traição, em sua própria residência, do inspetor de alunos Octávio Freire de Andrade, desaparecido do número dos vivos a 19 de outubro de 1929. Admitido como inspetor no Internato em 1912, no mesmo ano transferido para o Externato, aí no decurso de 16 anos de exercício distinguiu-se por espírito disciplinador. Conseguia, com pouco vulgar serenidade, manter ordem e respeito nas turmas das quais era encarregado, sem altear voz sem punir, por simples força moral, equiparando-se destarte a outros colegas dotados das mesmas qualidades.
Coadjuvava os diretores do Externato e do Internato a Congregação do Colégio, a eleger em 1929 representante dos docentes-livres junto ao Corpo Congregado — Dr. Mário
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Guedes Naylor. Procurava o Corpo Congregado não só manter a disciplina como pugnar por quanto interessasse a causa do ensino, mormente em relação ao Colégio.
Em 1929, a Congregação discutia longamente, à vista de parecer de comissão especial, indicação apresentada ao Conselho de Ensino pelo professor Figueira de Mello sobre reforma do ensino secundário.
Sem maior alteração e sob a direção Roxo correu em 1930 o ano letivo no Externato, funcionando na Congregação, como representante dos docentes-livres o Dr. Oscar Przewodowski, eleito para servir em 1930. Escolheu igualmente a Congregação para representá-la no Conselho Nacional do Ensino o professor Quintino do Valle, sucedendo ao professor Gastão Ruch.
Por proposta do professor Lafayette Pereira, votava louvores a Congregação com o professor Oiticica, então na Alemanha, pelo brilhantismo das lições do mencionado lente de Português do Externato, naquele país de tanta cultura e apreciado saber.
Ainda por proposta do professor Lafayette Pereira, votava louvores a Congregação aos docentes-livres Jayme Coelho e Clóvis do Rego Monteiro, por motivo de seus concursos na Escola Normal e subsequentes nomeações para as cadeiras de História da Civilização e Literatura da referida Escola.
Ao encerrar-se o ano letivo de 1930, por proposta do professor Quintino do Valle, secundada pelo diretor Roxo, a Congregação votava moção de pesar, lamentando a morte do Doutor José Júlio da Silva Ramos, falecido a 15 de dezembro de 1930.
Formado em Direito pela Universidade de Coimbra, após concurso, fora nomeado lente de Português do Internato a 6 de junho de 1907, aí lecionando até obter disponibilidade. Servira de professor suplementar de Português do Externato em 1884, 1895, 1896 e 1897, três anos inspetor escolar no Distrito Federal, diretor e professor durante dois anos do Ginásio Fluminense instalado em Petrópolis. Era, pois, Silva Ramos um radicado no ensino.
Lamentou-lhe a morte a Congregação do Colégio, a qual foi presente proposta do professor Lafayette Pereira, para ser dado o nome de Silva Ramos à sala de História Natural do Internato.
No Externato, por oferta do professor Escragnolle Dória, foi inaugurado, na sala dos inspetores, o retrato de meio corpo do finado inspetor de alunos Octávio Freire de Andrade, retrato aquele obra fotográfica ampliada de outro inspetor, Carlos Pederneiras.
A 18 de outubro de 1930, realizou-se a inauguração do retrato do inspetor Andrade. O diretor Roxo pôs empenho na realização do ato como exemplo ao corpo de inspetores e a discentes.
Reunidos aqueles e presente toda a turma do 5o ano B, a última inspecionada pelo inspetor Andrade, no 2° ano daquela turma em 1929, foram descerradas as cortinas de sobre o retrato.
Oraram o professor Escragnolle Dória e o diretor Roxo, ambos concitando os inspetores em face de alunos, a nunca desampararem trabalho e dever conforme fizera o colega desaparecido.
Em nome do Colégio, orou agradecendo um inspetor, realizando-se a modesta, mas expressiva solenidade, na véspera do 1o aniversário da morte do inspetor Andrade, por ser o dia de tal aniversário um domingo.
No ano letivo de 1930, entendeu o diretor Roxo promover no Externato algumas conferências de caráter educativo ou instrutivo, conferências concorridíssimas por parte de alunos e seguidas com interesse por parte de docentes.
Também no ano letivo, para entretenimento de alunos, realizavam-se no Salão Nobre, com o auxílio de profissionais, curiosas sessões de prestidigitação e transmissão de pensamento.
O fim do ano letivo de 1930 contaria, em outubro, alguns dias de sobressalto geral, a refletir-se no Colégio, em virtude de sucessos políticos findos em mudança radical nas instituições vigentes, afastado do Governo o
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
Presidente Dr. Washington Luiz Pereira de Souza, aluno do Internato no Império, instituído afinal um Governo Provisório, tendo por chefe o Dr. Getúlio Dornelles Vargas, empossado a 3 de novembro, com poderes discricionários.
A 7 de novembro era expedido um dos primeiros Decretos do novo Governo adiando os exames do Colégio.
Encerrava-se o ano letivo para o Colégio com mudanças na direção das suas duas seções. Deixava a direção do Internato o professor Pedro do Coutto, nomeado para substituí-lo o diretor do Externato, o professor Roxo, nomeado diretor do Externato o professor Delgado de Carvalho, tudo por Decretos de 9 de dezembro de 1930.
Continuava na vice-diretoria do Internato o professor Quintino do Valle. Era nomeado para o cargo de vice-diretor do Externato, exercido pelo professor Othelo Reis, o professor Escragnolle Dória, que não aceitou tal nomeação como declinara a de diretor em 1925.
Ressentira-se o Colégio de efeitos da revolução de abalo ao país em 1930, depondo o Presidente da República, Doutor Washington Luiz Pereira de Souza, a 24 de outubro de 1930, quando poucos dias faltavam para terminação de mandato e consequente entrega de Governo a sucessor eleito e reconhecido, Dr. Júlio de Albuquerque Prestes. A 31 de outubro de 1930, chegava ao Rio de Janeiro, vindo do Rio Grande do Sul, terra natal, o Dr. Getúlio Dornelles Vargas, para chefiar Governo Provisório.
Adiados, a 6 de novembro, os exames do Colégio, a 11 do mesmo mês, parte do edifício do Externato era transformado em quartel provisório de batalhão do exército trazido ao Rio de Janeiro pelo movimento revolucionário, a inaugurar novo período político chamado República Nova.
Aquartelou-se em parte considerável do edifício do Externato o 8o Batalhão de Caçadores, repetindo-se assim mais uma vez a História, pois o seminário de São Joaquim, ao tempo do Príncipe Regente, dera guarida a tropas portuguesas.
Ao iniciar-se o ano letivo de 1931, a Congregação entendeu designar comissão de membros seus para acompanhamento dos trabalhos de comissão nomeada por
parte do novo Ministério da Educação e Saúde Pública com o fim de adotar o regimento interno do Colégio de Pedro Segundo a nova reforma do ensino. Por proposta aprovada do presidente da Congregação, o diretor Roxo, ficou a referida comissão a cargo dos professores Nascentes, Philadelphoe Coutto.
A 4 de fevereiro de 1931, falecia o catedrático de Inglês, Álvaro Espinheira, antigo e probo substituto da cadeira por escolha da Congregação, em 1915, e catedrático em 1920, designado para o Internato, tendo servido como chefe de disciplina no Externato de 1911 a 1915.
A 25 de março de 1931, em sessão de Congregação, o professor George Sumner propunha voto de pesar pelo trespasse de Espinheira, declarando-o "sempre cumpridor de deveres por modo distinto". Como sucede a professores ríspidos, nem a todos agradava Álvaro Espinheira, mas no tocante a assiduidade, a cumprimento exato de deveres, de palavra, a devotamento, a obrigações de cidadão e de chefe de família, só merecia louvores. Sabia mais o "fortiter in re" do que o " suaviter in modo", no exercício de funções de magistério, exercendo-as, porém, com escrúpulo, alheio a empenhos de torcer justiça.
A 20 de setembro de 1931, sob a presidência do Ministro interino da Educação e Saúde Pública, Dr. Belisário Augusto de Oliveira Penna, no edifício do Externato realizava-se a colação de grau à turma de bacharéis de curso concluído em 1930. Na mesma ocasião, foram distribuídos prémios a alunos que melhores teses haviam apresentado na aula de Geografia do professor Raja Gabaglia.
O Colégio festejava os seus, sabendo honrar alheios. Assim, recebeu em 1931 os delegados do 2o Congresso Feminino, dedicando-lhes sessão especial no Salão Nobre do Externato, chamando à mesa da solenidade as delegadas Dras. Bertha Lutz e Cármen Portinho.
No decurso do ano letivo de 1931, realizaram-se na aula de História Natural do Externato interessantes
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preleções da disciplina por alunos, preleções às quais, a convite do professor Potsch, davam presença vários professores do Colégio. Tais exercícios, antes inaugurados nas aulas de História do professor Escragnolle Dória, serviam de estímulo a alunos, sobrelevando-se entre outras as preleções da aula de História Natural as das alunas Oridéa Fernandes, Cybelle Gourlart, Rosa Vianna e dos alunos Daniel Penna Aarão Reis e Alberto Raja Gabaglia. Mostravam-se assim os alunos do Colégio não só empenhados em dar largas de inteligência como a patentear sentimentos de coração.
Demonstrou estes a turma do 3o ano B do Externato ao falecer colega dos melhores, Newton Costa de Azevedo Osório, um dos mais apreciados alunos do Colégio; de morte geralmente pranteada, o que convém mencionar, para abono do coração e caráter dos discentes do Colégio, que também prestaram idêntica homenagem por ocasião do falecimento do distinto quintanista Linneu Bittencourt Quadros.
Luto também foi para o Colégio em 1931, a 9 de setembro, o desaparecimento prematuro do professor
Mário Barreto, professor do Colégio Militar, tendo também lecionado no Internato do Colégio. Continuando nesta tradição paterna, a de Fausto Barreto, Mário Barreto era respeitado como filólogo, sempre na estacada para estudar e defender o lídimo da língua vernácula. Levou-oa morte quando a vida ainda bastante lhe prometia para lustre de nome e proveito de estudiosos. Por ocasião do seu falecimento foram suspensas as aulas do Colégio, além de outras homenagens ao professor bom e modesto.
A 28 de novembro, deixava a diretoria do Externato, passando a vice-diretor, o Dr. Delgado de Carvalho, empossado como diretor o Dr. Henrique de Toledo Dodsworth, a assumir direção no período rumoroso do Colégio, o dos exames, prolongado até nova abertura de aulas pelos exames parcelados e de candidatos estranhos sujeitos a provas perante professores do Colégio. O labor sempre o caracterizou, nele de reflexo a atividade do seu Augusto Patrono, nas funções de semi-secular desempenho no cargo de primeiro magistrado da Nação fiel ao "nulla dies sine labor".
Gastão Ruch, Professor Emérito • Diretoria Dodsworth • Homenagem ao
Professor Nascentes • Projeto de Instituto Brasileiro de Filologia • Reforma
Francisco Campos • Extinção da Cadeira de Instrução Moral e Cívica • Ensino de
Línguas Vivas Estrangeiras • Auxiliares de Ensino e Provas Parciais • Imprensa e
Clubes Colegiais • Intercâmbio Pedagógico • Embaixadas Intelectuais ao
Estrangeiro • Curso Livre de Italiano • Movimento da Secretaria, da Tesouraria, da
Biblioteca do Externato • Obras no Colégio • A Galeria dos Reitores e Diretores •
O Gabinete de Educação • Serviço de Refeições • Disciplina colegial • O Clube pela
Paz • A Celebração do Centenário do Colégio • Homenagem ao Professor Frontin •
Criação do Curso Noturno • O Professor Garric • Curso Livre de Grego • Cursos de
Aperfeiçoamento de História Natural e Química • Cursos Livres de Canto Orfeônico •
Concertos Musicais Educativos • Concursos e Cursos Estranhos ao Colégio •
Óbitos • Inauguração do Busto de Augusto Comte • Obras, Reformas e Novas
Instalações • Diretoria Raja Gabaglia • Homenagem ao Professor Escragnolle Dória •
A Emenda n.° 1.845 • Projeto de Associação Brasileira de Cultura •
Jubilação de Antigos Professores • Aumento das Disciplinas da 6a Série •
Cursos Complementares • Novos Professores • Óbitos • Homenagens • Propostas •
XIV O Colégio de 1932 a 1937
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837-1937
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Restauração das Cadeiras de História do Brasil, Instrução Moral e Cívica e Direito
Usual • Concurso • Novos Óbitos • Centenário Coqueiro • O Conselho Nacional de
Educação e seu Plano Pedagógico • Admissão de Professores Contratados no
Colégio e a Maneira de Regulá-la • A Circular 1.200 de 1o de Junho de 1937 •
Escragnolle Dória Professor Emérito • Óbito do Professor Badaró •
O Professor Dodsworth Interventor no Distrito Federal •
A Celebração do 1o Centenário do Colégio.
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
Wf em antes da abertura do ano letivo de 1932, a 16 de ILJ janeiro, reunia-se a Congregação do Colégio, em
sessão solene, a da colação de grau aos bacharéis em Ciências e Letras de curso findo, em 1931, curso enlutado pela perda do probo professor Álvaro Espinheira, falecido a 4 de fevereiro de 1931.
A 30 de janeiro, realizava a Congregação nova sessão.
Dedicou-a ao professor Gastão Mathias Ruch Sturzenecker, havia pouco jubilado, a 5 de janeiro, catedrático de Francês do Externato.
Oraram o professor Delpech, salientando a nobreza da vida de magistério do homenageado; o professor Nascentes, afirmando o amor de Ruch pelo ensino; o professor Accioli interpretando sentimentos próprios e dos funcionários administrativos do Colégio, bem como os dos professores de Línguas Vivas Estrangeiras; o professor Raja Gabaglia, traduzindo a emoção dos professores ex-alunos de Gastão Ruch; o professor Sumner, louvando em nome do corpo discente, por últ imo, o professor Przewodowski, prestando homenagem pelos livres-docentes.
Em seguida, a Congregação, por unanimidade, aprovava moção subscrita por 23 professores.
Conferia ao colega jubilado o título de Professor
Emérito, atendendo a serviços relevantes prestados ao
Ensino Secundário durante mais de 30 anos com a maior
assiduidade e sobretudo interesse.
Na mesma sessão de homenagem a Ruch, o
professor Roxo fundamentou duas propostas, uma relativa
ao professor Delgado de Carvalho, pela sua atuação na
diretoria do Externato, outra de congratulação com o
Governo Provisório pela escolha do professor Dodsworth
para diretor do Externato, assinalando o esforço do
nomeado em favor do Colégio, na qualidade de deputado
federal.
Nova homenagem, esta porém no fim do ano letivo
de 1932, prestaria a Congregação.
Distinguiu um de seus membros, o professor
Nascentes, por motivo da publicação de notável e útil
Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, por mestres
apreciada a obra no Brasil e no estrangeiro.
Na sessão de homenagem ao professor Nascentes,
a 22 de dezembro de 1932, orou o professor Oiticica.
Defendeu então a ideia de conseguir o Colégio dos
poderes públicos a criação do Instituto Brasileiro de
Filologia.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Independente ou agregado ao Museu Nacional, teria por diretor o professor Nascentes, digno da honra por títulos de honestidade, esforço e competência.
Agradecendo a homenagem da Congregação, frisou o professor Nascentes que "a publicação do dicionário de sua lavra interessava não tanto à pessoa do autor como à corporação docente do Colégio".
"Apagado o nome do autor, cumpria elevar o do Pedro Segundo, prestando-lhe assim o mais meritório dos serviços."
No decurso do ano letivo de 1932, elevar-se-ia, sobremaneira, o número de alunos do Externato, perto de 500.
Foram divididos em turmas, no 1 ° ano obedecendo-se ao critério da média dos graus nos exames de admissão e nas demais séries, observada quanto possível a classificação de ano anterior.
Assinalar-se-ia o ano letivo de 1932 no Colégio e no Ensino Secundário brasileiro pelo começo de execução de reforma daquele ensino.
Triunfante a revolução de 1930, o Chefe do Governo Provisório, o 2o da República, Dr. Getúlio Vargas, expediu o Decreto 21.241, de 4 de abril de 1932.
Referendou-o o Ministro da Educação e da Saúde Pública, Dr. Francisco Luiz da Silva Campos, expedido aquele Decreto para consolidação das disposições sobre o Ensino Secundário entre outras providências.
Pelo citado Decreto, o Ensino Secundário, oficialmente reconhecido, seria ministrado no Colégio de Pedro Segundo e em estabelecimentos sob regime de inspeção oficial.
Compreendiam dois cursos seriados: — um fundamental, de 5 anos, e outro complementar de 2, o segundo curso obrigatório para os candidatos à matrícula em determinados inst i tutos de ensino superior, discriminadas as disciplinas necessárias aos candidatos à matrícula em cada instituto de ensino.
Poderia o curso complementar ser organizado no Colégio de Pedro Segundo.
Os catedráticos do Pedro Segundo deveriam ser nomeados por Decreto, mediante concursos de provas e de títulos, escolhidos entre diplomados pela Faculdade de Educação, Ciências e Letras.
Enquanto não houvesse tais diplomas, o cargo de professor do Pedro Segundo seria provido por concurso, nas condições estabelecidas para a escolha dos catedráticos de ensino superior.
Indicaria o Conselho Nacional de Educação três membros da comissão examinadora do concurso, porém, estranhos à Congregação do Colégio.
O professor seria nomeado por 10 anos. Findo o decénio, caso fosse o professor candidato a recondução no cargo, sujeitar-se-ia a novo concurso, ao qual concorreria conjuntamente com professores do estabelecimento de Ensino Secundário nomeados por concurso.
Não sendo o professor nomeado por 10 anos candidato à recondução, o concurso seria de títulos e provas.
Para o ensino de Línguas Vivas no Colégio haveria professores contratados, auxiliados por professores nacionais ou estrangeiros admitidos anualmente por portaria de contrato, tendo a seu cargo pequenas turmas, no máximo de 20 alunos.
Contratar-se-iam serviços de professores de Música e Educação Física.
O candidato a exame de admissão no Pedro Segundo deveria provar, por certidão de registro civil, ter a idade de 11 anos ou completado até 30 de junho do ano em que requeresse inscrição.
Seriam nulos os exames de admissão prestados na mesma época em mais de um estabelecimento de Ensino Secundário, válido o exame de admissão feito no Pedro Segundo para a matrícula no 1o ano em qualquer outro estabelecimento de citado grau.
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No Pedro Segundo, a banca examinadora de admissão constaria de três professores do Colégio designados pelo diretor de cada seção.
Processada a matrícula no curso secundário na primeira quinzena de março, o ano letivo começaria a 15 de março para terminar a 30 de novembro, salvo caso de força maior, mediante autorização do Ministro da Educação.
Haveria férias escolares nos meses de janeiro, fevereiro até a primeira quinzena de março inclusive, tido por período de férias a segunda quinzena de junho.
Cada aula duraria 50 minutos, obrigatória a frequência às aulas, não podendo prestar exame, em primeira época, o aluno de frequência inferior a ZA da totalidade das aulas obrigatórias da respectiva série.
Constariam os trabalhos escolares no ano letivo de arguições, trabalhos práticos, provas escritas parciais, quatro, para cada disciplina. A tais provas deveriam ser atribuídas notas, graduadas de cinco em cinco pontos, em maio, junho, setembro e novembro.
Entrando em minudentes providências sobre as provas parciais, isentas de segunda chamada, o Decreto 21.241 estabelecia que ao aluno faltoso a uma prova parcial se atribuísse a nota zero, quaisquer que fossem os motivos da ausência.
Determinou o Decreto 21.241 as condições para ser o aluno secundário aprovado na última série do curso ou promoção em qualquer das duas séries.
Extinguiu o Decreto 21.241 a Cadeira de Instrução Moral e Cívica de lições a princípio ministradas no 1o ano e depois no 5o ano do curso ginasial.
Nomeado para reger interinamente aquela Cadeira, o Cónego, depois Monsenhor, Dr. Francisco da Gama Mac Dowell, por Decreto de 9 de julho de 1925, desempenhou ele funções até ser exonerado, por extinção da Cadeira, pelo Decreto de 27 de julho de 1932.
Tal ocorria, quando o ensino de Línguas Vivas Estrangeiras, instituído no Colégio pelo Método Direto, com caráter exclusivamente prático, carecia de instruções.
Formularam-nas os professores Antenor Nascentes, Adriano Delpech, Delgado de Carvalho e o dirigente do ensino de Francês, Dr. António Carneiro Leão, aprovadas as mencionadas instruções pelo Ministro da Educação e Saúde Pública.
Determinaram as instruções a finalidade do ensino direto do Francês, do Inglês e do Alemão no Colégio. Tal ensino seria ministrado em turmas de 15 alunos, fixados o horário das aulas, estabelecido o processo dos exames finais de Línguas Vivas por meio de provas escritas e orais.
Foi o ensino pelo Método Direto iniciado no ano letivo de 1932 somente no 1o e 2o ano, não podendo principiar o curso de Alemão, visto os alunos da 3a e 4a séries estudantes daquela língua estarem sujeitos a regime anterior.
A fins de estímulo, resolveu o diretor Dodsworth aproveitar como auxiliares de ensino ex-alunos do Colégio.
Escolheu os mais distintos por aplicação e conduta, favorecendo assim estreia de magistério a elementos de boa recomendação para o Colégio.
Em 1932, o regime das provas parciais entrou a ser aplicado a todas as séries do curso, no termo do ano letivo processada a promoção dos alunos do Colégio de acordo com os dos institutos de ensino superior, secundário, comercial e técnico profissional.
Feita nos termos do Decreto 22.167 de 5 de dezembro de 1932, a promoção era obtida por média aritmética superior ou igual a 40 pontos no cômputo das disciplinas das séries nas quais se achassem os alunos regularmente matriculados.
No ano letivo de 1932, procurou a diretoria do Externato animar o gosto de alunos por questões intelectuais. Fundou o corpo discente vários periódicos, nascidas quatro associações colegiais: Academia de História, Academia de Sciencias, Lettras e Artes, o Grémio Scientifico e Litterario e o Club de Química, achando-se em projeto a Academia dos Dez.
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O Clube de Química reunia-se na sala de preleções do gabinete da disciplina, sala por voto unânime da Congregação denominada Oliveira de Menezes em lembrança do primeiro professor da Cadeira, separada da de Física, Dr. Augusto Xavier Oliveira de Menezes.
Grande atividade desenvolveu a Academia de História, fundada por iniciativa do professor Serrano. Recebeu estatutos elaborados pelos 5o anistas Ascanio Pedro de Farias, António Jorge Ananias, Jorge Américo de Araújo. Octávio Christo Miscow, Pedro Américo de Araújo, Renée Nogueira e René Pereira Alves.
A par da atividade das associações colegiais de cultura surgiam vários periódicos redigidos por alunos. Traziam variados nomes: Pronome, O Atalaia, O Arauto, Sciencias e Lettras, Atheneu e Noticias, este último subvencionado pela administração do Colégio, no intuito de trazer o corpo discente bem informado das medidas referentes ao ensino.
Assim, os alunos, sem dispêndio, tomavam conhecimento fidedigno dos sucessos da vida escolar.
Nas modestas lides jornalísticas do Colégio adestravam-se muitos alunos, entre outros Júlio Salek, Sérgio Frazão, Ary da Matta, Alziro Zarur, Carmindo Carneiro da Rocha, Eremildo Vianna, Sylvio e Hamilton Elia, Daniel Aarão Reis, Annibal Barcellos, Carlos Brazil de Araújo, Hugo Kammseter.
Era redator chefe do Noticiário, órgão semi-oficial do Colégio, aluno dos melhores, pela aplicação, procedimento e cultura: Alziro Zarur.
Por sua parte, o Decreto 21.241 de 4 de abril de 1932 procurava apegar ao Colégio os alunos e os pais responsáveis por eles, e também nos estabelecimentos de Ensino Secundário sob inspeção. Haveria reuniões de pais de alunos ou responsáveis por eles, no intuito de desenvolver em colaboração harmónica a ação educativa da escola.
Por seu lado, a diretoria do Externato buscava facilitar o intercâmbio de correspondência entre estudantes nacionais e estrangeiros, recebendo destes mensagens
destinadas àqueles. Assim acontecia com a dos alunos do Liceu José Henrique Rodo, em Montevideu, do Liceu Normal Pedro Nunes, de Lisboa, do Liceu João de Deus, do Porto, e de outras instituições.
Aos exercícios intelectuais praticados por uns, juntavam-se os esportivos do agrado, força e destreza de outros, para tanto construída no pátio interno do Externato uma quadra destinada a jogos de basquetebol, realizando-se ali vários páreos entre alunos do Colégio, e discentes de vários estabelecimentos de Ensino Secundário, sobrelevado o Colégio Militar.
Bacharéis ou alunos do Colégio participavam de manifestações de vida intelectual, como a do concurso de oratória, estabelecido pelo Diretório Central Académico, e favorecido pela Reitoria da Universidade do Rio de Janeiro, para escolha da embaixada académica, retribuindo em Portugal a visita de estudantes lusitanos ao Rio de Janeiro.
Triunfou no concurso o académico de Direito, bacharel do Externato, José Guilherme de Araújo Jorge, para dar cabal desempenho ao mandato, muito apreciada em Portugal a eloquência do jovem bacharel.
Procurando conhecer o país natal, uma embaixada de 19 alunos quinto e quartanistas do Externato, visitaram em excursão educativa, sob a inspeção do secretario Dr. Octacílio Álvares Pereira, as cidades de Juiz de Fora e Ouro Preto. Sabia-se a primeira digna de nota pelo desenvolvimento industrial, merecendo ser chamada a Manchester brasileira, a segunda cidade cheia de recordações históricas e coloniais constituindo verdadeiro museu a céu aberto, de lições patrióticas.
Nada disso impedia no Colégio zelo pela regularidade do ensino.
No Externato, evitava a diretoria a coincidência de duas aulas de Línguas Vivas no mesmo dia, estabelecia também a necessária alternância entre as demais aulas, acomodadas em 1932 nada menos de 28 turmas no limite do horário.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
No Externato, funcionou, com a devida autorização ministerial, um curso livre de literatura italiana, sobretudo medieval, ministrado por meio de conferências pelo professor Guido Vitalleti.
O curso, inteiramente gratuito, era útil a estudantes e à classe intelectual, sendo patrocinado pelo Governo Italiano, difundindo e ampliando relações de cultura ítalo-brasileira.
Realizadas no decurso do ano letivo de 1932, duas vezes por semana, as conferências Vitalleti atraíram cerca de 80 alunos e angariaram seletos auditórios de pessoas gradas.
Sempre onerada de serviços, a última organização deles datando de 1927, a Secretaria do Externato, em 1932, sofreu reorganização dividida em seções: de Ensino, de Contabilidade, de Protocolo, Informações e Arquivos e de Expediente.
Nas disposições gerais da remodelação da Secretaria, remodelação realizada à vista de exposição de motivos do Secretário, a diretoria do Externato buscava facilitar o serviço, presidido pelo Secretário, com a obrigação de atender este diariamente, das 11 às 15 horas, as pessoas que o procurassem em objeto de serviço, encarregados vários amanuenses da chefia das seções cujo expediente seria despachado com o secretário, o despacho deste com o diretor em hora fixada pelo último.
Para simplificação do serviço da Secretaria, o diretor Dodsworth mandava organizar um fichário, para assentamentos relativos a alunos, destinados a fichas, ano inteiro, a permitir de pronto conhecer a vida escolar de cada estudante.
Outro órgão da maior importância no Colégio foi sempre a Tesouraria. De 1925 a 1931, funcionou no Departamento do Ensino, a cargo do funcionário exemplar, o Dr. Mário Bevilacqua.
Transferida a Tesouraria para o Colégio, aí recebeu instruções permit indo a eficiência de serviços, apresentando em 1932, receita superior a 800:000$000 e saldo aproximado de 160:000$000.
Balanceada a Tesouraria em 1932, como de hábito, nela tudo foi encontrado na mais perfeita ordem.
Quanto ao movimento, apresentou igualmente a Biblioteca do Externato, em 1932, frequência crescente, a de perto de 6.000 leitores consultando 5.849 obras em várias línguas.
A Biblioteca do Externato, como as demais dependências do edifício, ressentia-se da insuficiência do prédio, este longe de apresentar requisitos necessários ao cabal preenchimento de sua natureza e de seus fins. De ano a ano, apesar de por muito combatido, o Colégio via crescer matrícula de discentes, prova de favor público, malgrado defeitos atribuídos à instituição.
Aumenta aqui, diminui ali, adapta além, continuou o Colégio, nas suas duas seções, a abrigar elevado número de alunos, impossível satisfazer a inclusão de muitos e muitos aprovados nos exames de admissão com graus menos elevados.
Para acudir a necessidades, julgadas prementes, os edifícios do Externato e do Internato viviam por assim dizer em obras.
Assim, em 1932, a diretoria do Externato tratou de dotar duas salas ao ensino eficiente do Desenho, não só lhes melhorando condições de luz, como permitindo melhor colocação de alunos, facilitando trabalho aos professores.
Aperfeiçoados os gabinetes de diversas disciplinas, serviram a alunos de outros estabelecimentos secundários. Foram franqueados, por exemplo, os gabinetes de Física e Química, mediante solicitação, às alunas do último ano do Externato Nossa Senhora de Sião, sob a fiscalização de professora do respectivo Colégio.
Entre melhoramentos materiais do Externato, um avultou, em significação moral elevada, a criação de galeria, instalada no gabinete do Diretor, apresentando os retratos dos antigos reitores e diretores do Externato.
Em colocação de honra passaram a figura na galeria as efígies de D. Pedro II, o inexcedível patrono do Colégio, e o de Bernardo de Vasconcellos, o zeloso Ministro do Império de tantos serviços na fundação da ilustre Casa.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Impossível foi obter na ocasião os retratos dos três primeiros reitores do Colégio, a saber frei António de Arrábida, Bispo de Anemuria (1838-1839), Dr. Joaquim Caetano da Silva (1839-1851) e Capitâo-de-Mar-e-Guerra José de Souza Corrêa (1851-1855).
Ficaram no momento da inauguração na Galeria de Honra do Externato os retratos de cinco dos reitores:
Dr. Manoel Pacheco da Silva (Barão de Pacheco) — 1857-1872 Dr. Monsenhor José Joaquim da Fonseca Lima — 1872-1880 Dr. José Joaquim do Carmo — 1880-1888 Monsenhor Luiz Raymundo da Silva Brito — 1888-1892 José Veríssimo Dias de Mattos — 1892-1898
Ainda na estreia da Galeria de Honra do Externato figuravam os retratos dos seguintes diretores:
Dr. Francisco Carlos da Silva Cabrita — 1898-1903 Dr. José Gil Castello Branco — 1903-1905 Dr. João António Coqueiro — 1905-1910 Dr. José Cândido de Albuquerque Mello Mattos — 1910-1912 Dr. Eugénio de Barros Raja Gabaglia — 1912-1914 Dr. Augusto Daniel de Araújo Lima — 1914-1917 Dr. Carlos Maximiliano Pimenta de Laet — 1917-1925 Dr. Euclides de Medeiros Guimarães Roxo — 1925-1930 Dr. Carlos Delgado de Carvalho — 1930-1931
Instituído no Externato um Gabinete de Educação, foi ele, por aviso de 13 de maio de 1932, incumbido de serviços de várias ordens: — inspeção do regime alimentar de discentes, organização de gráfico fornecendo à primeira vista o aspecto morfofisiológico de aluno por aluno.
Realizaram-se no Gabinete de Educação palestras semanais sobre questões de higiene, palestras por espaço de quarenta minutos, com projeções luminosas quanto possível, tudo sem perturbar funcionamento de aulas. No Gabinete de Educação, dirigido pelo vice-diretor do Externato, das referidas palestras ficou encarregado o diretor do serviço médico do Gabinete, Dr. Savino Gasparini, subinspetor sanitário rural, zeloso funcionário, auxiliado pelo inspetor de alunos, de excelente nota, António da Rocha Nogueira, em comissão no Gabinete.
Instituindo palestras sobre questões de higiene, de acordo com um programa de 30 lições, o Dr. Gasparini com elas prestava serviços ao desenvolvimento da cultura no Colégio, modelo dos estabelecimentos de Ensino Secundário. Frisava o Dr. Gasparini a ação geral das grandes endemias nacionais, a enfraquecerem a raça.
Consti tuíam-se, pois, aqueles alunos, bem instruídos, ótimos propagandistas da higiene no meio da população, sobretudo nas classes menos favorecidas de pecúnia.
Assistiriam às lições do Gabinete de Educação apenas alunos do 4o, 5o e 6o anos, já em idade de recebê-las com proveito. Sobre cada ponto de higiene individual seriam formulados testes.
Em 1932, anexo ao Gabinete de Educação, funcionou serviço de refeições, especialmente destinado ao pessoal docente e administrativo do Externato, depois ampliado este serviço em proveito de discentes, por D. Leopoldina de Maya Monteiro, inspetora de alunas, com todos os requisitos para o delicado cargo, do nascimento às qualidades pessoais.
Do corpo disciplinar do Externato desaparecia, a 6 de julho de 1932, o inspetor de alunos Jurandyr Veiga,
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falecido em Lavras, Minas, aos 29 anos, quando havia
ainda muito a esperar de sua vida.
Tanto valia o desaparecido que a Diretoria do
Externato o declarou "um dos bons elementos do corpo
disciplinar, gozando gerais simpatias de seus superiores,
colegas e inspecionados".
Apontava a Diretoria do Externato o inspetor Veiga
como um dos bons elementos da disciplina, mas tratava
t a m b é m de el iminar d iscentes incompatíveis com a
regularidade da vida colegial. Para tanto, a Congregação
elegia os pro fessores Gabaglia, Roxo e Nascentes,
incumbindo-os de procederem ao devido exame da
situação dos indesejáveis, inclusive os envolvidos em
inquéritos e com responsabilidade comprovada.
O cuidado da disciplina, por parte da Diretoria do
Externato, era contínuo, pois ao encerramento do ano letivo
no Colégio, sempre se seguiam exames parcelados ou de
candidatos estranhos, determinando afluência de pessoas
ao edifício do Externato e ao seu estreito âmbito.
No Colégio, a disciplina era coadjuvada, nas suas
duas seções, pela instrução militar.
Conduz esta a hábitos de obediência e subordinação,
existente aquela instrução obrigatória desde maio de 1908.
No Externato não pôde, dada a insuficiência de local
apropriado, ser ministrada no próprio edifício. Solicitou o
1 ° sargento instrutor Arlindo Gonçalves Raposo permissão
a quem de direito para instruir alunos no pátio do Quartel-
General, no Campo de Instrução da Vila Militar e no Estande
de Tiro na mesma Vila.
Em 1932, por ordem superior, não havendo exames
para encerramento de instrução militar foram os alunos
do Colégio, em virtude de Aviso Ministerial, considerados
reservistas de segunda categoria.
Ao lado da preparação para a guerra e seus
imper iosos f lagelos, a preparação para a paz e seus
fecundos benefícios.
Um grupo de professores e alunos do Colégio, a cuja
testa se colocou o secretário do Externato, Dr. Octacílio
Álvares Pereira, promoveu a fundação de um "Clube pela
Paz", sob a égide de Alexandre de Gusmão, o santista de
tantas colaborações no reinado de D. João V, colocado o
clube sob os auspícios da Fundação Carnegie, pela Paz
Internacional.
Encerrava o ano letivo de 1932, sucesso lutuoso qual
o do falecimento de antigo vice-diretor do Internato, Nestor
Victor dos Santos, à memória do qual a Congregação
consagrou voto de pesar.
O ano le t ivo de 1933, em período de fér ias,
assinalou-se pela colação de grau à turma de bacharéis
em ciências e letras de 1932, colação realizada em sessão
solene da Congregação a 4 de fevereiro.
Ainda em período de férias, a 25 de março, abriram-
se inscrições no Colégio para os concursos às cadeiras
vagas de Português, Latim, Matemática e Química.
Nas primeiras sessões da Congregação, em 1933,
c o m e ç o u a esboça r - se o dese jo de c o m e m o r a r
condignamente o centenário da fundação do Colégio, a 2
de dezembro de 1937. Na sessão de 18 de julho cogitou o
Corpo Docente de medidas tendentes à realização daquele
f im.
O presidente da Congregação e diretor do Internato,
o professor Roxo, aventou a ideia de ser solicitado ao
G o v e r n o a c o n s t r u ç ã o de novos ed i f í c i os para
funcionamento do Externato e do Internato, realizando-se
igualmente na data centenária um Congresso Internacional
de Ensino Secundário.
Propôs o professor Serrano a nomeação de comissão
de p r o f e s s o r e s para e laborar p ro je to de f e s t a s
comemorativas.
Autor izou a Congregação ao seu pres idente a
designá-la, nomeando então o professor Roxo, comissão
composta pelos professores Antenor Nascentes, Jonathas
Serrano, Henrique Dodsworth, Raja Gabaglia, Cecil Thiré,
João Baptista de Mello e Souza e Escragnolle Dória.
A 10 de agosto de 1933, reunia-se a Congregação
em sessão solene, la prestar homenagem a f igura
ESCRAGNOLLE DÓRIA
expressiva do corpo docente, o professor André Gustavo Paulo de Frontin, falecido a 15 de fevereiro de 1933. Entrara para o Colégio em 1880, provido por concurso no cargo de substituto de Filosofia, cargo exercido até 1890, então nomeado lente catedrático de Mecânica e Astronomia do Externato até disponibilidade em 1911. por extinção da Cadeira.
Lamentando a perda do professor Frontin, a Congregação realizou, em honra de sua memória, sessão solene. Oraram nela os professores Roxo, Accioli, Nascentes, este como discípulo de Frontin, Gabaglia e Przedowoski, este por parte dos docentes-livres.
Falecendo, a 2 de outubro de 1933, o chefe da disciplina do Internato, Octávio Severo Castão, a 23 de outubro de 1933 via-se ainda o Internato privado dos serviços de seu prestimoso ecónomo João Guilherme de Seixas.
A 25 de novembro de 1933 reunia-se a Congregação em caráter ainda solene, desta vez festivo. Tratava-se da posse de novo diretor do Externato, o Dr. Fernando António Raja Gabaglia, em substituição ao Dr. Henrique de Toledo Dodsworth, exonerado a pedido, tendo a 16 de novembro transmitido a direção do Externato ao vice-diretor Delgado de Carvalho.
Neto de antigo reitor e filho de antigo professor e diretor do Colégio, ao tomar posse, propôs-se o Dr. Raja Gabaglia a continuar lembradas carreiras de avô e pai na direção e professorado da Casa Ilustre.
Revestiu-se a posse do novo diretor de grande e jubilosa solenidade, felicitando o recém-nomeado administrador o professor Delgado de Carvalho em nome da Diretoria, o professor Jonathas Serrano pela Congregação, o Dr. Octacílio Pereira, por delegação do corpo administrativo, e o bacharel Carlos Brasil de Araújo, por parte de discentes.
Em sessão de 18 de dezembro de 1933, a Congregação tomava conhecimento de requerimento firmado por 36 alunos representantes da turma B do 5o
ano. Pediam vénia para homenagear o professor Escragnolle Dória, o qual por espaço de lustro lecionara a turma B na mesma sala 18. Segundo o desejo da turma, tal homenagem consistiria na colocação na referida sala de medalhão comemorativo, conferido à sala o nome do professor Escragnolle Dória.
Dando conhecimento ao corpo Congregado, da petição a ele dirigida, o professor Roxo, presidente da Congregação, sugeriu a ideia de associar-se a mesma às homenagens solicitadas; proposta aprovada sob aclamação, segundo ata da Congregação.
Julgando interpretar sentimento de pares, o professor Roxo designou os professores Coutto, Serrano e Mello e Souza para no dia da homenagem orarem, o primeiro em nome da Congregação, o segundo em nome do Externato e o terceiro em nome do Internato. Generosamente, o professor Mello e Souza manifestou satisfação em associar-se à homenagem projetada e o professor Serrano agradeceu à Congregação a honra de sua designação.
A 24 de dezembro de 1933, realizava-se, na sala 18, a homenagem ao professor Escragnolle Dória, já na sala figurando o nome dele, bem como medalhão com o seu retrato, obra artística do laureado escultor Benevenuto Berna, por vezes professor suplementar de Desenho no Externato, o dito medalhão materialmente adquirido por subscrição entre alunos.
Por ocasião da solenidade, oraram os professores Roxo, Gabaglia, Serrano e Mello e Souza, em nome do Colégio, o Dr. Octacílio Pereira, em nome do corpo administrativo, e os alunos Dagmar Barbosa Pereira Filho, Ary da Matta e Júlio Salek, em nome do corpo discente, com a maior boa vontade associado à manifestação o diretor do Externato, Dr. Raja Gabaglia.
Ao Externato, pela sua natureza afluíam cada vez mais candidatos à matrícula. Superlotados os cursos matutino e vespertino do Externato foi nele criado, em 1933, terceiro curso, e noturno. Para matrícula em tal turno só houve uma dificuldade, a de atender à cópia das
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
pretensões, para tanto em parte contr ibuindo a circunstância de ser o Colégio o estabelecimento de Ensino Secundário cobrando menores taxas.
Já em 1932, por iniciativa de professor do Internato, Doutor Honório Sylvestre, fora proposta a criação do referido curso, instituído não sem estudos preliminares, sobretudo pelo lado f inanceiro, de modo a não sobrecarregar os cofres públicos. Submetido, porém, em 1933, como de costume, o orçamento interno do Colégio à aprovação do Ministro da Educação e Saúde Pública, foi a este presente o projeto da criação do curso noturno. Aprovou-a, o Ministro por despacho de 3 de junho de 1933, atento o perfeito equilíbrio entre receita e despesa, assegurando vida própria ao dito curso.
A principio foi pensamento da diretoria do Externato iniciar o curso noturno somente pela 1a série. Seriam nele matriculados quantos candidatos tivessem logrado aprovação nos exames de admissão do Colégio, sem possibilidade de matricula nos cursos matutino e vespertino por falta de vagas. Classificados entre os graus 67 e 50 nos referidos exames, havia nada menos de 300 candidatos à espera de ensino.
A requerimento, porém, de estudantes impedidos de frequentar o Colégio no correr do dia, por empregos públicos ou obrigações particulares, ficou criado um curso destinado a candidatos à habilitação na 3a, 4a e 5a séries, na conformidade do artigo 100 do Decreto 21.241, de 4 de abril de 1932, seus números e parágrafos.
Nos três turnos, matutino, vespertino e noturno do Externato, achou-se ministrado ensino, em 1933, a perto de 2.000 alunos distribuídos por 37 turmas.
Auxiliando o ensino, pelo alargar de cultura, funcionavam no Externato cursos livres. Assim o de Italiano a cargo do professor José Citanna, da Real Universidade de Milão, coincidindo com a abertura do curso, a 10 de junho de 1933, inauguração de bronze artíst ico, oferta do Governo Italiano ao Colégio, comparecendo à solenidade o Embaixador da Itália, Roberto Cantaluppo.
Funcionou igualmente no Externato, em 1933, um curso livre de Literatura Francesa, por meio de conferências feitas pelo professor Roberto Garric, da Sorbonne, curso inaugurado com a presença do ilustre Embaixador da França, Luiz Hermitte.
Interessou-se o professor Garric pelo ensino de Línguas Vivas no Colégio, assistindo às aulas de Francês ministradas pelo Método Direto.
Devido ao professor José Oiticica foi instituído, em 1933, um curso livre de Grego, de caráter inteiramente gratuito e regido por aquele professor. Logo se inscreveram no curso 126 pessoas, entre professores, funcionários e alunos da Casa, além de académicos de diversos cursos superiores.
Continuaram em funcionamento cursos de aperfeiçoamento de História Natural e Química, destinados a alunos da 4a e da 5a séries, cursos promovidos e mantidos por iniciativa e presença dos professores Waldemiro Potsch e Luiz Pinheiro Guimarães.
Funcionaram igualmente no Externato, em 1933, cursos livres de Música e Canto Orfeônico, instituído o ensino de Música, nas três primeiras séries do curso ginasial.
Voltara-se assim, por disposição de decreto, à tradição do Colégio, onde o ensino de Música começou a vigorar desde fundação em 1837.
No começo do ano letivo de 1933, independente de remuneração, a diretoria do Externato aceitou o oferecimento de duas professoras de Música, D. Maria Elisa Leite de Freitas Lima e Francisca Miranda Freitas. Pediram e obtiveram autorização para funcionamento de cursos livres de Música e Canto Orfeônico do Externato, onde o professor José Oiticica já iniciara algumas aulas daquele Canto, compondo até hino para o Colégio.
Em breve o pequeno, mas afinado, Coro Orfeônico Pedro II, com 40 vozes, 25 femininas e 15 masculinas, classificadas de acordo com o timbre, a afinação e a extensão, pôde participar de solenidades da Casa, dirigido o Coro pela professora Maria Elisa Leite de Freitas Lima.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
O ensino da Música no Colégio, em 1933, foi completado por concertos educativos organizados pelo professor José Oiticica e a cargo de duas distintas artistas de piano e de canto, a senhorita Dora Bevilacqua e D. Rosetta da Costa Pinto.
No correr dos concertos, o professor Oiticica incumbia-se de explicar ao auditório, sempre numeroso, os números dos programas, comentando ligeiramente a vida e a obra dos músicos naqueles apresentados.
Realizavam-se os concertos educativos no Salão Nobre do Externato. Aí também se reunia ainda o Club pela Paz Alexandre de Gusmão, presidido pelo secretário do Externato, Doutor Octacílio Álvares Pereira.
Por iniciativa de bacharéis e bacharelandos do Colégio, aqueles da turma de 1929, estes da turma de 1933, foi inaugurado numa das salas do Externato, previamente designada pela Diretoria, o busto de Augusto Comte, presidido o ato pelo Dr. Octacílio Pereira, ouvidos vários oradores.
Sem mais alteração, continuaram os serviços de ordem diversa do Colégio. No Externato, anexo ao Gabinete de Educação e por sua vez anexo ao serviço de refeições, começou a funcionar, em 1933, serviço da natureza do primeiro. Destinava-se a fornecer ligeiras refeições aos alunos, entregue o serviço à exploração de concessionário de serviços idênticos na Escola Politécnica e no Instituto de Educação, antiga Escola Normal.
Insuficiente mostrava-se o Externato para os próprios interesses do Colégio. Ainda assim, além de dar sede a exames estranhos à Casa, nunca recusou auxiliar com a maior boa vontade, o bem público que serve no Ensino Secundário. Cedeu o Externato várias salas para realização de cursos e concursos alheios ao Colégio. Foram cedidas, por exemplo, em 1932, por um trimestre, 3 salas para funcionamento de Cursos de Emergência criados pelo Departamento de Correios e Telégrafos, então a cargo de antigo aluno do Pedro Segundo, o Dr. Trajano Furtado Reis.
Orientados tais cursos pelo Dr. João Pinto Pessoa, no fim de missão, dirigiu este agradecimento à Diretoria do Externato, louvando funcionários do Colégio que, para regularidade dos Cursos de Emergência, haviam trabalhado fora de horas de expediente.
Devendo, em fins de 1933, realizar-se na Faculdade de Direito da Universidade do Rio de Janeiro um concurso para professor catedrático foi o mesmo certame processado no Salão Nobre do Externato, para tanto oferecido, por não dispor a Faculdade de Direito de local amplo onde se realizassem a série de provas destinadas a prover-lhe cátedra. Materialmente, zelando pelo bom nome do Colégio, já na limpeza do edifício durante o ano letivo, já em ocasiões extraordinárias, como as dos cursos e concursos aos quais foi feito referência, os serventes do Externato na modéstia de funções procuravam coadjuvar, deixando honrada memória quando colhidos pela morte.
Por isto, a diretoria, o corpo docente e o administrat ivo manifestaram especial pesar ao desaparecer do corpo de serventes do Externato um dos mais antigos servidores da classe, Manoel José da Silva. Mias de trinta anos de serviços, assiduidade, dedicação, respeito a superiores e a ordens, popularidade no corpo discente, dão-lhe direito a menção de estímulo e homenagem à classe, tanto a justificar o conceito da fábula de La Fontaine:
On a souvent besoin D un plus petit que soi
Inibido, em razão de enfermidade, de prestar serviços como servente, desde 1927, Manoel José da Silva desempenhou o cargo de ajudante de porteiro, sempre demonstrando o mesmo zelo e dedicação até o último alento.
Nos estabelecimentos e qualquer ordem, pequenos e pequenas coisas têm grande importância.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837- I937
Em 1933, sofreu reforma de vul to o mobil iário
escolar. Instalavam-se nas salas de aulas 100 carteiras
de imbuia compensada, de tipo pedagógico e higiénico
moderno, adquiridas mesas e poltronas de fabricação
nacional destinadas a professores.
Do mobiliário antigo foram cedidos ao Internato
carteiras, mesas e armários melhor conservados, as
demais peças sujeitas a concorrência pública de bom
resultado pecuniário.
Acudiram à licitação numerosos pretendentes, entre
os quais diretores de escolas, professores particulares e
representantes de prefeituras de Estados vizinhos do
Distrito Federal.
No plano de reforma do mobiliário, ficou abrangida
a Secretaria do Externato, os seus móveis pedindo
substituição.
Foram melhoradas as condições mater ia is da
mesma Secretaria pela ampliação de salas, instalada
convenientemente a movimentada seção do Protocolo,
sempre cheia de interesses e de interessados na solução
daqueles, e por não pouco tempo, a seção confiada ao
dedicado servente António Leite, habilitando-se a estudos
no Colégio no esforço de louváveis aspirações.
Mobi l iá r io re fo rmado e não i ncessan temen te
cuidado, mobiliário em breve estragado, mormente em
casa de ensino, onde nem todos os discentes zelam
propriedade comum.
Compreendendo-o, a diretoria do Externato mandara
construir um galpão nos fundos do edifício, ai instalando a
of icina de carpintaria anter iormente mal acomodada,
embora a título provisório, na garagem do Externato.
Ficou dotada a útil seção do estabelecimento, para
continuidade de incessantes trabalhos, de área de 60
metros quadrados em concreto e cimento. Recebeu o
galpão da carpintaria telhado de uma só água a f im de não
ser prejudicada iluminação de salas vizinhas.
As obras das novas instalações do Externato foram
fiscalizadas por professor do Colégio, o Dr. Enoch da Rocha
Lima, abalizado engenheiro construtor e arquiteto.
A nova instalação da carpintaria produziu logo bons
f ru tos , reconhecendo- lhe of ic ia lmente a diretoria do
Externato, os inúmeros trabalhos, os valiosos serviços,
com apreciável economia para os cofres do Colégio.
Concretando, reparando, pintando e fabricando,
colocando, a oficina de carpintaria, de serviços executados
por serventes do Externato, robora quanto da modesta,
mas profícua classe já foi dito.
À reforma do mobiliário, seguiu-se, por parte da
diretoria do Externato, reforma das instalações elétricas
do edifício, consultada a Inspetoria-Geral de Iluminação,
julgando defeituosa a instalação elétrica existente, por
não distribuir boa luz, em edifício onde funcionava curso
noturno frequentado por jovens estudantes, sujeitos por
deficiência de luz a perturbações visuais e até nervosas.
Aconselhava a Inspetoria-Geral de Iluminação o uso
de aparelhos de luz indireta, diminuindo as manchas de
sombra, permit indo iluminação em qualquer ponto de
salas, antes de ser determinado o tipo de aparelho mais
próprio, bem estudados a cor, a natureza do teto e a das
paredes dos aposentos, tudo de suma importância técnica.
Coube ao d i retor Raja Gabaglia, inaugurar no
Externato, o ano letivo de 1934, presidindo a Congregação.
A esta, em sessão especial de 19 de maio, dava o
diretor conhecimento de estar-se cuidando na Assembleia
Nacional Constituinte da passagem automática do Colégio
para a Prefeitura Municipal.
Emenda de n.° 1.845, apresentada à Assembleia
e laboradora de Cons t i t u i ção dava aos Estados e
Municipalidades a faculdade de coordenação de ensino
em todos os seus graus, observando o diretor Gabaglia à
Congregação quão perniciosa era a Emenda tal qual estava
redigida.
Declarou o mesmo diretor ter-se entendido com a
Com issão Coo rdenado ra da A s s e m b l e i a Nac iona l
Constituinte.
Junto a esta se manifestava em favor do Colégio, o
seu corpo discente, bem recebido pelo presidente da
Constituinte, Dr. António Carlos Ribeiro de Andrada.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Em seguida às ponderações do diretor Gabaglia, o professor Mello e Souza leu moção de protesto contra a projetada medida.
Deliberou a Congregação mandar imprimir o protesto, para maior e pronta divulgação do mesmo.
Na ocasião, declarou o professor Philadelpho de Azevedo votar pela conclusão do projeto relativo ao Colégio.
Novamente reunida a Congregação, em sessão extraordinária a 30 de maio de 1934, o presidente do Corpo Congregado, o professor Gabaglia, propôs expedição de telegrama de congratulações à Assembleia Nacional Constituinte, na pessoa do presidente desta, Dr. António Carlos, bem como aos deputados, Henrique Dodsworth e Euvaldo Lodi, aquele representante do Distrito Federal, e este Deputado Classista, por seus esforços em prol do Colégio.
A Assembleia, por grande maioria, aprovou o regime do ensino preconizado pelo Colégio.
Era o estabelecimento apoiado pela imprensa e a esta também entendeu a Congregação endereçar telegramas de felicitações e agradecimentos.
Na mesma sessão extraordinária de 30 de maio de 1934 propôs à Congregação o professor Accioli a realização por parte da Congregação de sessão solene em homenagem a quantos haviam secundado os esforços do Colégio na rejeição legislativa da Emenda 1.845.
Propôs também o professor Lafayette Pereira da formação de associação de professores, sob a denominação de Associação Brasileira de Cultura, com o fim de trabalhar pela difusão do ensino e pela propaganda dos processos de ensino educativo.
A 3 de novembro de 1934, por proposta do diretor Gabaglia, a Congregação formulou votos de homenagem e saudade a quatro professores havia pouco jubilados: Said Ali, Paula Lopes, Badaró e Arthur Ferreira, por muitos anos lecionando no Colégio nas cátedras de Alemão, História Natural, Latim e Desenho.
À proposta, unanimemente aprovada, ajuntou o professor Sumner a ideia, logo aprovada, da realização
solene de preitos aos professores por força de tempo e lei afastados do exercício de funções.
Na mesma sessão de 3 de novembro de 1934, encareceu o professor Gabaglia a necessidade de aumento de disciplinas na 6a série, visto funcionar esta para concessão de bacharelados, propondo aquele diretor, desde logo, a criação do curso de História da América no anoletivode 1936.
Mostrou também o professor Gabaglia a conveniência de dirigir-se a Congregação ao Poder Legislativo no sentido de não serem reduzidos para 30 ou 40 os coeficientes exigidos para promoção no curso seriado.
Provinha a sugestão do diretor da notícia de haver em andamento, na Câmara dos Deputados, projetos no sentido de redução dos citados coeficientes.
Encerrou a Congregação seus trabalhos em 1934 com a sessão solene de colação de grau à turma de bacharéis do Colégio em 1934.
Realizou-se a cerimónia, a 2 de dezembro, data de saudade e reverência para as duas seções da Casa, visto ser a data natalícia de D. Pedro II, tão desvelado pelo Colégio, em meio às ocupações e preocupações de meio século de reinado.
Bem precisava o Colégio de nota final de alegria em 1934. Para ele o ano decorrera entre lutos de perda de professores. Retirava a morte do corpo docente quatro professores: José Cândido de Albuquerque Mello Mattos, ex-diretor, falecido a 2 de janeiro de 1934, desaparecidos, João Ribeiro a 13 de fevereiro, Gastão Ruch a 25 de outubro e Henrique Coelho Netto a 28 de novembro de 1934. A todos esses professores prestou o Colégio homenagens fúnebres, tradutoras de reconhecimento e saudade.
Começou o Colégio, desde 1935, a tratar com mais afinco da celebração do 1o Centenário de sua fundação, mesmo entre labores do ano letivo. Assinalou-se este pelo processo do concurso para provimento da cadeira de Matemática do Internato, concurso terminado pela
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
indicação e nomeação do candidato classificado em 1o
lugar, Dr. Haroldo Lisboa da Cunha, processado também, mas interrompido o concurso para provimento das cadeiras de Química do Externato e do Internato.
Nomeado por Decreto de 24 de junho de 1935, o Dr. Haroldo Lisboa da Cunha tomou posse do cargo de professor catedrático de uma das cadeiras de Matemática do Internato, em sessão solene da Congregação, realizada a 2 de julho. Saudado pelo presidente da Congregação, Dr. Raja Gabaglia, e em nome daquela pelo professor Lafayette Pereira, o novo professor respondeu agradecendo as demonstrações de acolhida.
A 18 de novembro de 1935, reunia-se de novo solenemente a Congregação para dar posse, após concurso, ao professor Nelson Romero, nomeado catedrático de Latim por Decreto de 11 de novembro de 1935.
Concorrendo e obtendo a cadeira por concurso, bem classificado em concurso de Italiano processado no Colégio, Nelson Romero conseguia satisfazer alta aspiração de saber mesclada ao nobre desejo de figurar em corporação docente na qual tivera assento e relevo o inconfundível Sylvio Romero.
Ao novo professor de Latim, saudou o presidente da Congregação, Raja Gabaglia, dando-lhe boas vindas em nome de colegas o professor Sumner, a todos agradecendo Nelson Romero.
A 2 de dezembro de 1935, com o aparato e o programa do costume, conferia o Colégio o grau de bacharel em ciências e letras aos alunos de 6a série concluída num ano letivo de termo socialmente perturbado pelos sucessos de levante no 3o Regimento de Infantaria e na Escola de Aviação, triunfando a ordem.
No decurso do ano letivo de 1935, o rol fúnebre do Colégio seria acrescido pelo falecimento, a 14 de janeiro, do decano nonagerário dos bacharéis em letras, Dr. João Pinto do Rego César, figura da cidade na de um homem de bem, na extensão da palavra.
Inscrever-se-iam no citado rol fúnebre de 1935 os nomes: de antigo professor suplementar do Colégio, Aprigio Carlos de Macedo, falecido a 29 de maio no Asilo São Luiz, de Carlos Galdino Leal, inspetor de alunos no Externato de 1895 a 1921 e dele chefe de disciplina de 1921 até a morte. Faleceria, a 24 de novembro, antigo médico do Internato, o Dr. Luiz de Castro.
A 23 de dezembro, a Congregação votava moção de pesar pelo óbito do chefe de disciplina Carlos Galdino Leal.
É de estímulo dar sempre o Colégio homenagem à memória de alunos seus distintos, aberto exemplo, pelo Internato, ornando-se com o retrato de falecido aluno, Simão. A 11 de dezembro de 1935, sucumbia, em Friburgo, o bacharel e oficial da reserva do Exército José Ângelo Cavalli, exemplo de gratidão e respeito a mestres por ele lembrados e agradecidos comovedoramente em leito de morte. A discentes tais devem ser consagrados preitos de retribuição a nobres sentimentos.
A 9 de junho de 1936, deliberava a Congregação nomear representantes com o fim de associar-se o Colégio às homenagens prestadas pelo Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro ao orador perpétuo da associação, fundada ano após o Colégio e, como este, sempre de especial desvelo por parte de D. Pedro II. Após o falecimento do Dr. Rego César, nonagenário como ele, o Dr. Ramiz Galvão se tornara o decano dos bacharéis em letras, diplomado em turma do Externato em 1861.
No mesmo momento de participação das homenagens do Instituto Histórico, recebia a Congregação ofício do Embaixador Argentino, Dr. Ramon Carcano, comunicando a criação no seu país de curso quadrienal de Língua Portuguesa e Literatura Brasileira.
No decurso do ano letivo de 1936, a 4 de agosto foi submetido ao juízo e ao voto da Congregação, proposta subscrita pelos professores Coutto, Sumner e Thiré, pedindo a restauração das cadeiras de História do Brasil, Instrução Moral e Cívica e Direito Usual.
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Entendeu a Congregação sujeitar a proposta a exame de comissão, para ela designados os professores Coutto, Oliveira de Menezes e Alcino Chavantes, relator o primeiro dos eleitos.
Apresentou parecer o professor Coutto, opinando pelo restabelecimento das mencionadas cadeiras.
Votou a Congregação pelo ressurgir da cadeira de História do Brasil, estabelecendo-se divergência de opiniões quanto ao restabelecimento da cadeira de Instrução Moral e Cívica. Pelo restabelecimento votaram 8 professores, 8 outros o condenando.
Chamado a pronunciar-se por último, o presidente da Congregação, professor Raja Gabaglia, pelo voto de qualidade decidiu contra o restabelecimento.
No intuito de celebrar o 1o Centenário de fundação do Colégio, em sessão de 1o de dezembro de 1936, a Congregação encaminhou à Câmara dos Deputados indicação tendente a ser auxiliada oficialmente aquela celebração, apresentada a indicação pelo deputado Henrique Dodsworth, professor do Colégio, além de ex-diretordo Externato.
Por proposta do professor Sumner. congratulou-se a Congregação, a 10 de agosto, com o professor Accioli pelo seu 33° ano de magistério no Colégio.
Em 1936, procederia a Congregação a concurso para uma das cadeiras de Português, deixada vaga pelo falecimento de Carlos de Laet e longamente preenchida em interinidade pelo docente Jacques Raymundo Ferreira da Silva. Processado o concurso, nele foi classificado em 1o lugar o Dr. Clóvis do Rego Monteiro, já distinto no magistério do Colégio.
Não poupou a morte o Colégio no decurso do ano letivode1936.
Arrebatou-lhe um dos seus estimados professores, o de Desenho, Dr. Alcino José Chavantes, que por concurso obtivera o cargo.
Operoso, prezado pelos colegas e pelos discentes, competente, lhano de trato, honrava posição no Colégio do qual fora aluno.
Por ocasião do falecimento do Dr. Chavantes, deu o Colégio à sua memória devidos preitos, ocorrido tão lamentável e prematuro sucesso a 24 de novembro de 1936.
Ajuntou-se a Congregação às homenagens administrativas do Colégio ao honrado professor não só votando moção de pesar, como aprovando proposta do professor Lafayette Pereira para ser dado o nome de Alcino Chavantes à sala de aula de desenho no Externato.
Após o óbito do catedrático Chavantes, ocorreu o do docente Dr. Mário Guedes Naylor, falecido a 20 de junho de 1936, ele bacharel em letras.
Haja igualmente lembrança do desaparecimento de dois modestos servidores do Colégio no Externato, o do servente José Romeu, falecido a 3 de novembro, e o do auxiliar Aleixo Pinheiro, falecido a 12 de novembro.
Tornara-se o primeiro muito popular entre docentes e discentes, o segundo encarregado da vigilância noturna do Externato e a zelava intransigentemente.
Por ocasião do falecimento de ambos, administrativa e particularmente, foram atendidas não só despesas de funeral como as de primeiros socorros à família do servente Romeu, caída em desvalimento pela perda do chefe, fulminado pela morte por "angina pectoris" no exercício de funções.
Felizmente, abriu-se o ano letivo de 1937 com a sessão solene de 22 de janeiro, convocada para dar posse da cadeira de Português, no Internato, ao Dr. Clóvis do Rego Monteiro, para ela nomeado por Decreto de 14 de janeiro.
Prestado o compromisso de bem preencher funções, recebeu o novo lente saudações por parte do presidente da Congregação, Raja Gabaglia, felicitado em nome da Congregação pelo Professor Hanehmann Guimarães, agradecendo a todos os professor Clóvis Monteiro.
Por Decreto de 5 de abril de 1937, a pedido e nos termos constitucionais, foi concedida jubilação ao professor Escragnolle Dória, catedrático de História do
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Externato e neste de posse de cadeira a 7 de novembro de 1906, em virtude da nomeação por concurso a 5 de novembro.
A 30 de abril de 1937, entendeu o Colégio associar-se à celebração do centenário do nascimento de antigo diretor do Internato e depois do Externato, o Dr. João António Coqueiro, centenário que mereceu expressivas comemorações em vários setores da cultura nacional em reverência àquele educador.
Na direção do Colégio, em suas duas seções, continuou o Dr. Coqueiro a lembrança de comprovincianos maranhenses que regeram a instituição, assim os Dr. António Henrique Leal, Monsenhor Raymundo da Silva Brito e D. José de Souza da Silveira.
Memorou o centenário natalício do Dr. Coqueiro no Colégio, sessão solene no Salão Nobre do Externato, sessão presidida pelo diretor deste, Dr. Raja Gabaglia.
Pelo mesmo diretor especialmente convidados oraram na solenidade o Almirante Graça Aranha nos louvores à vida científica e pedagógica de Coqueiro, pelo diretor Raja Gabaglia declarando que, sem grave injustiça, seria impossível ao Colégio de Pedro Segundo deixar em olvido a memória do seu antigo diretor. Participou também das homenagens um representante do corpo discente.
Na sessão do dia 30 de abril do Conselho Nacional de Educação, rendeu preito ao Dr. Coqueiro, membro do referido Conselho, o Dr. Alceu de Amoroso Lima, bacharel em letras da turma de 1908, graduado no Externato, então dirigido pelo Dr. Coqueiro.
Recordou o aluno de outrora a figura do seu diretor, assinalando-lhe austeridade impecável, zelo pela disciplina, indefectível espírito de justiça, qualidade de tanta auréola a quem dirige seja o que for, a obediência devendo vir tanto mais exata de baixo quanto o exemplo mais exato de cima.
Aliás, o centenário Coqueiro mereceu grande homenagens, não só na capital da República, como em
outros pontos do país, notadamente no Maranhão, onde o preito de muitos pôs em relevo a memória do conterrâneo ilustre.
Logo após a celebração do centenário natalício de quem com proficiência e austeridade dirigira o Internato e o Externato do Colégio, o Conselho Nacional de Educação entregou ao Ministro de Educação e Saúde Pública, plano de educação elaborado dentro de prazo fixado, achando-se no dito Conselho representado o Colégio pelo professor Jonathas Serrano, partícipe de tudo quanto especialmente respeitava o Ensino Secundário.
Trabalhando incessante, o Conselho realizou 65 sessões com a maior diligência de seus membros e de seus auxiliares, os funcionários da Secretaria do Conselho e os da Reitoria da Universidade.
No plano apresentado pelo Conselho certas disposições mais de perto entendiam com o Colégio.
Segundo o plano, um representante do Ensino Secundário deveria figurar entre os representantes do ensino em seus diferentes ramos e graus e os da cultura nacional, os primeiros em número de 13, os segundos sendo 6, nomeados todos pelo Presidente da República e escolhidos em lista tríplice organizada pelo próprio Conselho, aberta exceção para o representante da Imprensa como representante da cultura nacional.
O ensino religioso deveria ser ministrado de acordo com os princípios da confissão religiosa do aluno, manifestada por pais ou responsáveis no ato da matrícula, facultativa a frequência nas respectivas aulas.
Nos cursos secundários a educação moral e cívica seria ministrada pelo professor de História do Brasil, naqueles cursos obrigatória a Educação Física.
O plano elaborado pelo Conselho Nacional de Educação declarou o Ensino Secundário destinado à educação do adolescente, visando ao desenvolvimento harmónico da personalidade física, intelectual e moral por meio de cultura geral autónoma.
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Deveria o Ensino Secundário abranger dois ciclos, um fundamental de 5 anos, outro complementar de 2. Neste curso, o estudo do Grego, Italiano e Espanhol seria somente obrigatório em casos previstos em lei. O aluno que concluísse o curso secundário, obteria o diploma de bacharel em letras, se aprovado em exame final de conjunto e no de Grego.
Toda a matéria relativa ao Ensino Secundário, quando discutida no Conselho Nacional de Educação, recebeu a participação assídua e orientadora do professor Jonathas Serrano.
No seu título VI o plano pedagógico elaborado pelo Conselho Nacional de Educação dispunha sobre assistência escolar, já conhecida no ensino primário, mantida sobretudo pelo corpo docente do magistério primário com muitos esforços e dedicação, tanto mais meritórios quanto obscuros.
Para estender assistência escolar, tratou o Conselho Nacional de Educação de providenciar quanto à assistência a alunos necessitados por meio de Caixas Escolares, bolsas de estudos e colónias de férias .
As Caixas Escolares seriam administradas pelo diretor de cada estabelecimento de ensino primário ou secundário, auxiliado por um representante do corpo discente ou dos pais dos alunos, coadjuvada a Caixa Escolar pelos poderes públicos, por meio de quota aplicada aos fins de assistência. Para atender aos gastos com a assistência escolar, seria reservada anualmente quota mínima de 10% dos fundos especiais de educação.
A bolsa de estudos, de que tratava o plano de educação, deveria equivaler à soma que permitisse ao estudante pobre manter-se, pagar taxas e contribuições escolares, seguir cursos especiais, adquirir livros e material indispensável ao aperfeiçoamento dos estudos.
Perderia direito à bolsa: — a) o aluno reprovado em qualquer disciplina; b) o que não obtivesse notas plenas ou distintas em mais de duas provas parciais ou finais; c) o que deixasse de preencher as condições necessárias à
promoção para a série imediata sem motivo justificado; d) o que não tivesse bom comportamento escolar ou social.
Conforme o plano pedagógico do Conselho Nacional de Educação, os poderes públicos deveriam assegurar aos alunos necessitados o repouso dos trabalhos escolares em instituições destinadas a este fim ou em locais convenientes, instituídas também pelos poderes públicos colónias de férias para os alunos dos cursos primário, secundário e profissional.
Seriam admitidos em tais colónias os alunos dos referidos cursos mediante as seguintes condições: — a) idade mínima de 13 anos; b) não poderem por motivos económicos iniciar estudos ou neles prosseguir, preferidos os filhos de famílias numerosas: c) estar em condições de matricular-se em estabelecimento de Ensino Secundário, profissional ou superior; d) ter obtido somente notas plenas ou distintas nas provas parciais ou finais das séries ou cursos anteriores.
Tais as disposições principais relativas ao Ensino Secundário do plano elaborado pelo Conselho Nacional de Educação, plano constante de 501 artigos, muitos completados por parágrafos. Outras disposições do mesmo plano entendiam com o Ensino Secundário de modo geral, lembrado que só poderiam ser oficialmente reconhecidos pelos poderes públicos os estabelecimentos particulares de ensino que reservassem anualmente 5% de matrículas gratuitas para alunos necessitados.
Pelo plano do Conselho Nacional de Educação era vedada a dispensa de concurso de títulos e provas no provimento dos cargos de magistério oficial, entendendo-se tal o que dependesse de nomeação dos poderes públicos, federais ou municipais.
A 7 de abril de 1937, o Decreto n.° 1.555 regulou, entre outras providências, a admissão de professores contratados no Colégio de Pedro Segundo.
Pelo citado Decreto, organizadas em cada ano letivo, as turmas do curso fundamental e complementar, os diretores do Externato e do Internato, deveria ser oferecida
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aos catedráticos a escolha da Regência direta das turmas das disciplinas em que se mostrarem habilitados. As turmas excedentes, na disciplina respectiva, seriam distribuídas a docentes-livres e preparadores. No caso de turmas sem Regência, ao diretor de cada seção do Colégio, por edital, competiria abrir inscrição para contrato ânuo de professores, mediante condições especificadas na referida inscrição, entre elas a da prova de idade maior de 21 anos, cert i f icado de professor expedido pelo Departamento Nacional de Educação, prova de exercício de magistério com indicação de tempo de serviço e títulos diversos de cultura.
Para regulamento dos títulos apresentados e classificação de candidatos seria organizada comissão da qual participantes os diretores das duas seções do Colégio, como membros permanentes, e os professores catedráticos das várias disciplinas, membros variáveis na comissão.
A classificação obedeceria ao número de pontos atribuído a cada candidato, pontos de 0 a 100, pontos de cada membro da comissão julgadora, a nota de classificação constituída pela média aritmética dos pontos obtidos pelo candidato.
Caberiam as designações de professores ao Ministro da Educação e Saúde Pública, segundo as necessidades do ensino e na ordem de classificação, disciplina por disciplina.
Salvo os professores contratados para o ensino de Línguas Vivas, os demais se obrigariam a 12 horas semanais de ensino, no mínimo.
O professor catedrático de cada disciplina nas seções do Colégio orientaria e fiscalizaria os trabalhos dos professores contratados. No caso de haver mais de um catedrático para a mesma disciplina o encargo da orientação e fiscalização entre catedráticos sofreria distribuição equitativa.
Tratou ainda o Decreto 1.555 de 7 de abril de 1937 da gratificação devida a docentes livres e professores
contratados no curso fundamental, 22S000 por hora, gratificados os professores do curso complementar com 50S000 por hora de trabalho na Regência de turma até 3 horas semanais e com 22S000 por hora excedente.
Na Regência de turmas ou na orientação e fiscalização do ensino, as gratificações a professores catedráticos, contratados ou preparadores deveriam ser pagas segundo instruções baixadas pelo Ministro da Educação e Saúde Pública. Professor algum, de qualquer categoria, prestaria mais de cinco horas de trabalho diário.
A 1o de junho de 1937, o Diretor-Geral do Departamento Nacional de Educação, Dr. Lourenço Filho, baixava a Circular n.° 1.200 dando instruções às escolas superiores em 1938, encontrando-se na citada circular referências a exames prestados no Pedro Segundo.
A 12 de junho de 1937 reunia-se a Congregação do Colégio e por unanimidade de votos, à vista de motivada moção, proclamava Professor Emérito o professor Escragnolle Dória, que, após mais de 30 anos de serviço, requerera jubilaçáo, concedida por Decreto de 5 de abril de 1937. Ao honroso voto da Congregação ajuntaram-se demonstrações oficiais de apreço por parte do Diretor-Geral do Departamento Nacional de Ensino, Dr. Lourenço Filho, e do Diretor do Ensino Secundário, Doutor Mário Paulo de Brito, bacharel em letras do Colégio.
Como a vida é oscilar entre alegria e tristeza, a 24 de junho de 1937, finava-se, em Guaratinguetá, Estado de São Paulo, onde residia, o professor jubilado de Latim do Internato e depois do Externato Dr. Eduardo Gê Badaró, sem muito tempo para gozar jubilaçáo.
Admitido no Colégio após dois concursos, um em 1906 e outro em 1909, o professor Badaró deixou entre colegas lembranças de moderação e competência, entre discípulos exemplo de benevolência e assiduidade no cumprimento do dever.
Para justificação do conceito de ser a vida oscilar perpétuo entre dor e alegria, rejubilou-se o Colégio, a 3 de julho de 1937, com a posse do Dr. Henrique de Toledo
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Dodsworth, professor catedrático de Física do Externato e seu antigo diretor, no cargo de Interventor no Distrito Federal de onde é natural.
Em novembro de 1937, organizado programa oficial para comemorar o 1o Centenário de fundação do Colégio de Pedro Segundo, foram iniciadas comemorações de vária ordem, tendentes todas a alvo único, o de fixar bem na memória pública a gloriosa data secular de 2 de dezembro de 1837.
Conferências na Escola Nacional de Música, missa em sufrágio de reitores, diretores, professores e funcionários falecidos no decurso do centenário de existência do Colégio, missa campal na praça de São Cristóvão, colação de grau à turma dos bacharéis em ciências e letras da turma de 1937, denominada do Centenário, lançamento de pedra fundamental de novo edifício para o Colégio na Praia Vermelha, sessões solenes no Externato e no Internato para entrega de certificados a alunos de curso fundamental concluído, bailes escolares nas duas seções do Colégio, baile de gala no Automóvel Clube, espetáculo do Teatro Escolar no Teatro João Caetano, com papéis confiados a alunos do Externato e Internato, entrega da Bandeira Nacional e de estandartes do Colégio à Diretoria do Externato; bandeiras e estandartes adquiridos pelos corpos docente, administrativo e discente, nada seria poupado para lustro das solenidades memorativas da fundação do Colégio, no sétimo ano de reinado em minoridade de D. Pedro Segundo.
Novembro de 1937 constituiu como que um mês de preparação espiritual para as festas do Centenário. Na Escola Nacional de Música, em sessões presididas pelo Ministro da Educação, os professores Francisco Venâncio Filho, Jonathas Serrano e Raja Gabaglia discorreram, sucessiva e respectivamente, sobre as personalidades de Euclydes da Cunha, Farias Brito e Capistrano de Abreu, ocupantes de cátedras no Colégio e por concursos memoráveis.
Nas comemorações do Centenário nem foi só lembrada a vida presente, não olvidados o fundo e o cunho religioso da instituição secular.
Mandou esta celebrar missa em sufrágio de reitores, professores e funcionários falecidos no decurso da centúria. No Salão Nobre o Externato realizou a Congregação sessão solene de culto à memória de catedráticos falecidos em 1936, os Drs. Eduardo Gê Badaró e Alcino José Chavantes Júnior, do primeiro dizendo o professor Nelson Romero e do segundo o professor Enoch da Rocha Lima.
Demonstrações de natureza diferente assinalaram o memorar do primeiro centenário de fundação do Colégio.
No extenso sobre variado rol das comemorações, cumpre sobrelevar algumas solenidades de alta ou piedosa expressão, umas de incitamento à vida, outras de reverência à morte.
No número das últimas incluem-se romarias em memória de D. Pedro Segundo, do Marquês de Olinda e de Bernardo de Vasconcellos.
Realizou o Colégio, matutinamente, a 1 ° de dezembro de 1937, romaria a Petrópolis, onde jazem os restos mortais de D. Pedro Segundo e da consorte, a Imperatriz D. Theresa Christina.
Umas 600 pessoas participaram da ida do Colégio à Cidade de Pedro, de nascedouro em 1834. Foi a romaria ali recebida pelo secretário da Prefeitura, Dr. Cardoso de Miranda, por autoridades locais e por delegações dos colégios São Vicente de Paulo, Pinto Ferreira, Plínio Leite e do Ginásio Petropolitano, estabelecimentos de Ensino Secundário associados à homenagem.
Reunido o Colégio na Matriz, em torno do local onde se achavam os despojos terrenos dos imperantes, depois de ter sido depositada coroa de bronze junto ao ataúde de D. Pedro Segundo, orou em nome da Congregação do Colégio o diretor e professor Raja Gabaglia, traduzindo sentimentos de respeito e gratidão ao protetor do Colégio, que lhe consagrara larga parte de vida. Presenciaram a cerimónia o neto e o bisneto de D. Pedro Segundo, os
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Príncipes D. Pedro de Orleans e Bragança e D. Pedro Gastão, associando-se assim o antigo lar do finado Imperador à renovada família do Colégio.
Na Catedral, ao ser benzida a coroa de bronze ofertada ao Imperador pelo Colégio, disse da significação do ato, Monsenhor Mac Dowell, professor do Pedro Segundo. Ao túmulo imperial, ainda de caráter provisório, o Ginásio Pinto Ferreira entregou coroa de flores naturais. Na cerimónia, o Centro Carioca achou-se representado pelo Dr. Ernani de Figueiredo Cardoso, ex-aluno do Colégio e conhecido educador.
Nem deixou o Colégio, congregado em Petrópolis, de passar pela estátua de D. Pedro Segundo, num dos locais de maior evidência da cidade serrana. Admiraram todos a estátua que representa D. Pedro Segundo à paisana, sem nenhum atributo imperial, na atitude do pensamento, tão própria do soberano que, à filósofo meditativo, tanto reinou sobre os homens quanto sobre os livros.
Ante a estátua de D. Pedro II, tomaram a palavra o professor Raja Gabaglia, pela Congregação do Colégio, o professor Murillo Araújo, em nome de antigos alunos, orando em nome dos alunos atuais um 5o anista do Externato, os intérpretes do Colégio dizendo em nome deste todo o reconhecimento da instituição centenária ao ínclito Imperador.
Oferecido, no Palace Hotel, um almoço à romaria pelo prefeito Dr. Yeddo Fiúza, o Dr. Miranda Cardoso, secretário da Prefeitura, explicou a homenagem, dizendo-a não só preito à comemoração cívica, como de sinal de simpatia ao Colégio de Pedro Segundo, na dedicação à memória do seu patrono, também o de Petrópolis.
Agradeceu o professor Dr. Lafayette Pereira, Diretor do Internato, retribuindo o acolhimento hospitaleiro do povo petropolitano, acolhimento que, logo ao chegar ao Rio de Janeiro, o professor Raja Gabaglia pôs em relevo num expressivo telegrama de novo agradecimento.
Iniciaram-se as comemorações do mês da fundação do Colégio em 1837, a 2 de dezembro de 1937, no
nemoroso parque da Quinta da Boa Vista. No Palácio nascera D. Pedro II e passara vida até exílio. Realizou-se missa campal em sítio, pois lembrado do bairro de São Cristóvão, onde ainda funciona o Internato.
Por desejo e iniciativa da Comissão do Centenário, foi o santo sacrifício da missa celebrado, em altar adrede preparado próximo à estátua de D. Pedro Segundo, convidado para celebrante D. Benedito Alves de Souza, Bispo resignatário do Espírito Santo e titular de Oriza.
Finda a missa, orou o professor Jonathas Serrano, professor de História da Civilização, disciplina do exame na justiça, estudando D. Pedro Segundo e relembrando o maior de seus amigos, também amigo do Colégio e seu reformador, o Visconde de Bom Retiro.
Estavam representados na solenidade a Presidência da República, vários Ministros de Estado, comandos de forças militares.
Numerosas delegações dos mais opostos centros de cultura deram presença ao ato, sobrelevando-se naquelas delegações, a da colónia norte-americana no Rio de Janeiro na pessoa do Sr. e da Sra. Danfort.
No pedestal da estátua, os professores Raja Gabaglia, Philadelpho de Azevedo e Benevenuto Berna, este presidente do Centro Carioca, depuseram palma florida ofertada por aquele Centro em nome da Cidade do Rio de Janeiro. Alunos do Colégio atiraram então flores à estátua do Grande Amigo da Instituição, e isso ao som do Hino Nacional, tão grato aos ouvidos de D. Pedro Segundo no decurso do seu reinado.
Completou o preito do Centro Carioca um discurso de representante do mesmo, Dr. Luiz Paula Freitas, diretor do Instituto Brasileiro de Ensino, trazendo à mente e à memória dos presentes a imagem e o afeto de D. Pedro Segundo pelo Colégio a ele dedicado pela Regência Araújo Lima.
A 29 de novembro, mandada celebrar missa pelos bacharéis de 1937, em ação de graças por feliz conclusão de curso, pelo meio-dia de 2 de dezembro, no Salão Nobre
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do Externato, realizou-se a colação de grau de bacharel em ciências e letras à turma de 1937, em presença do Ministro da Educação, para os amigos do passado a solenidade de evocação à primeira em 1843.
O fim da tarde de 2 de dezembro de 1937 foi consagrado ao lançamento de pedra angular de novo edifício do Colégio, na Praia Vermelha, em terrenos do Hospício Nacional de Alienados, antigo Hospício de D. Pedro Segundo, erguido pela Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro, na benemerência do seu provedor José Clemente Pereira.
Participou do lançamento da pedra básica o Presidente da República, primeiro a lançar-lhe pá de revestidor cimento, discursando no ato o Ministro da Educação e o professor Raja Gabaglia. Acentuou o Ministro que em o novo edifício, surgiria novo ciclo de grandeza da prestimosa instituição. Agradeceu o diretor do Externato o apoio do Presidente da República às comemorações do Centenário, concluindo por afirmar "que o Colégio seria, como fora e era, o Seminário da Nacionalidade".
Às 9 horas da noite de 2 de dezembro, grandiosa festa encerrou o magno dia evocador da fundação do Colégio, celebrando sessão solene no Teatro Municipal.
Abriu sessão o Ministro da Educação, proferindo longo discurso de natureza cívica e pedagógica, no correr do qual declarou o Colégio de Pedro Segundo "um dos mais preciosos monumentos do património nacional, havendo pois, justo motivo de alegria pública a celebração do seu primeiro centenário", numa época que o orador declarou "dura e trágica".
Em seguida, discursaram o professor Raja Gabaglia, em nome do Colégio, o professor Fernando de Magalhães, bacharel em letras da turma de 1891, em nome de antigos alunos, o Dr. Ramiz Galvão, outrora professor interino do Colégio por onde se graduara em 1861, declarando-se o decano dos bacharéis em letras ao qual a Divina Providência ainda dilatara vida para presença na solenidade.
O professor Ignácio de Azevedo Amaral, pela Universidade do Rio de Janeiro, o Dr. Leon Renault, ex-diretor do Instituto de Minas, João Pinheiro, pelo ensino profissional, e o Dr. Costa Senna, diretor do Departamento da Educação na Prefeitura, relembraram a glória e os serviços do Colégio.
Em nome do corpo discente orou o 5o anista do Internato, Octávio Costa, que se revelando orador empolgou a atenção do auditório, do qual mereceu entusiásticas ovações pela elevação, fluência e patriotismo do seu discurso de filho espiritual do Colégio.
Para remate da brilhante sobre inolvidável sessão, orou o Dr. Getúlio Vargas, declarando logo ao romper oração que "entre as numerosas solenidades que presidira, nenhuma lhe parecera mais edificante e sugestiva, porque o centenário do Colégio de Pedro Segundo evocava todo o quadro da evolução política e cultural do Brasil".
Assinalou também o orador: "quão difícil fora estabelecer os fundamentos de tal obra, quão grande o devotamento de seus organizadores.
Na missão árdua a que se devotaram, orientando o problema da aculturação brasileira, os nossos primeiros educadores chegaram a resultados os mais extraordinários. Só o espírito evangelizador e as virtudes da fé podem explicar o milagre de termos conseguido amálgamas na sociedade colonial os fatores díspares e primários de nossa formação — indígenas da idade da pedra, escravos africanos em diversos estados culturais e imigrantes peninsulares — integrados todos na civilização cristã" — Tais palavras do Presidente da República em louvor do Colégio.
À sessão solene do Teatro Municipal, promovida pelo Ministério da Educação, deram presença o Presidente da República, o Corpo Diplomático, Ministros de Estado, o Prefeito do Distrito Federal, professor do Colégio, muitas autoridades e pessoas gradas, convidados os antigos e novos alunos do Colégio, comparecendo a Congregação para remate da homenagem. Nem da festa, para exemplo
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sobre união, foram excluídos os demais estabelecimentos
de Ensino Secundário do Rio de Janeiro, representados
por docentes e discentes.
Dera início à sessão magna comemorativa o erguer
de vozes dos orfeões do Externato e do Internato dirigidos
pelas professoras D. Maria Elisa de Freitas e Lucilia Villa-
Lobos. De pé, a assistência ouviu os sons do Hino Nacional
consagrador da Pátria na memória de seu autor, Francisco
Manoel da Silva. Após o hino pátrio, o do Colégio.
A sessão solene de 2 de dezembro de 1937 foi
realizada em recinto fechado e acessível só a convidados.
Outra homenagem do Colégio à sua primeira centúria seria
patenteada ao público, a 4 de dezembro. Tal o desfile pela
Avenida Rio Branco de préstito formado por professores.
antigos e novos alunos e funcionários do Colégio. Do
desfile participaram com o maior garbo e luzimento não
só o Colégio como o Colégio Militar e estabelecimentos
de grau secundário, da Prefeitura Municipal e de ensino
particular.
Desfile comovedor o de 4 de dezembro de 1937,
apesar do desfavorecimento da tarde salpicada de chuva,
afrontando o cortejo, a intempérie como se realizada a
marcha em dia entre azul e sol.
Professores, bacharéis, funcionários encanecidos,
não se deixaram vencer no entusiasmo pelo vigor das
mocidades de corpo no desfile, os mais velhos ritmando
passo com os mais jovens. Não houve quem comentando
não aplaudisse , a principiar pelo Presidente da República.
A 1o de dezembro, o Colégio, reunido em Petrópolis,
rendera preito a D. Pedro Segundo, organizada para tanto
romaria cívica, tributando justiça ao protetor do Colégio,
título a resistir a qualquer negação de outros títulos ao
antigo monarca.
Nova romaria conduziu o Colégio, a 5 de dezembro
de 1937, à necrópole da Venerável Ordem Terceira dos
Mínimos de S. Francisco de Paula. Aí se encontram os
túmulos de Bernardo de Vasconcellos, falecido em 1850,
vítima ilustre de uma das mais devastadoras epidemias
de febre amarela no Rio de Janeiro, e de Pedro de Araújo
Lima, Marquês de Olinda, falecido em 1870, vinte anos
após o eficacíssimo colaborador na obra ingente e futurosa
da fundação do Colégio de Pedro Segundo.
Em homenagem a Bernardo de Vasconcellos, junto
a seu túmulo, aos ecos da necrópole, orou em nome da
Congregação o professor Nelson Romero. Delegado da
mesma congregação, o professor Pedro do Cout to
discursou junto ao túmulo do Marquês de Olinda, ambos
evocando em síntese a vida e os serviços do Regente do
Império e do Ministro de 1837.
No mesmo dia 5 de dezembro, no Internato, realizou-
se sessão solene para entrega de certificados de conclusão
do curso fundamental aos quintanistas do estabelecimento.
turma paraninfada pelo professor Lafayette Pereira e tendo
como orador o aluno Octávio Costa, que da sua eloquência
dera tão bri lhante cópia na sessão solene do Teatro
Municipal . A 6 de dezembro, o Externato entregava
certificados de conclusão de curso fundamental aos alunos
5o anistas da seção, com os festejos do costume.
Em continuação aos festejos do Centenário, o Teatro
Escolar, de sede no Externato, realizou espetáculo original
no Teatro João Caetano, antigo São Pedro de Alcântara,
exibição pública bem curiosa, visto nela só representar
gente do Colégio.
Renovava-se destarte tradição no estabelecimento.
Neste, em espaçados tempos, no Externato e no Internato,
alunos de ambas as seções haviam representado quase
sempre em datas magnas da Pátria ou do Colégio, assim
a 7 de setembro, assim a de 2 de dezembro, datas
presentes a todas as memórias pelo alto significado.
A exibição pública do Teatro Escolar do Colégio, no
âmbito do Teatro João Caetano, a 23 de dezembro de 1937
e à noite, obedecia à direçáo dos professores Delgado de
Carvalho, Raul Penido Filho e Gilberto Chrokatt de Sá.
O programa do espetáculo merece ser conservado.
Com o tempo perde a lembrança de muito e de muitos
ESCRAGNOLLE DÓRIA
fins da presente Memória resguardar passado para apresentá-lo a futuro.
Compreendeu o espetáculo comemorativo de 23 de dezembro de 1937 duas partes no seu programa, uma parte musical e outra teatral.
A execução do Hino do Colégio, música de Francisco Braga e letra do aluno Hamilton Elia, deu princípio à festa, seguindo-se apresentação ao público do Teatro Escolar pelo professor Raul Penido Filho.
Minueto, música de Barroso Netto, letra de Marinha Braga — Sonho de Amor, adaptação da Serenata de Schubertpor Lozano, letra de Máximo de Moura Santos — Luar do Sertão, música de J. F. Guimarães, poesia de Catullo Cearense — tais foram as composições executadas pelo Orfeão do Colégio, dirigido pela professora Maria Elisa de Freitas. A execução de Mocidade, marcha, música e letra do professor Sá Roriz, seria ainda confiada às vozes do mesmo Orfeão. Complementaria a parte musical o aluno Jayme Cluck interpretando a Symphonia Hespanhola de F. Sala.
Na parte teatral da festividade apreciou o público, seleto e numeroso, os esquetes Duas Cartas, de Chrokatt de Sá, e Crepúsculo de Satanás, do mesmo autor, professor do Colégio, bem como Primos Por Selecção, farsa em 1 ato do professor Delgado de Carvalho.
No desempenho das três peças de caráter ligeiro, foi notado o desembaraço dos intérpretes Dinorah Santos, Edilia da Rocha Coelho e Néa Rosenbaum, alunas do Colégio, secundadas pelos seus colegas efetivos de estudo e momentâneos de palco, Décio Guimarães Abreu, Hilgard Sternberg e Mário Camarinha, sem esquecer Dirceu e Tasso.
Menção especial fique reservada à aluna Lygia Walker nos papéis a ela confiados em Duas Cartas e Primos Por Selecção.
Reserve-se também menção particular para a representação de Casamento A Pulso, título dado à comédia de Molière — Le Mariage Force— pelo seu adaptador em vernáculo, o Dr. Pires de Almeida.
Molière é autor de obra diante da qual se inclina a posteridade, obrigando à curvatura a Academia Francesa em peso, ao declarar que nada faltava à glória do comediógrafo se a glória de acolhê-lo no seu grémio faltara à Academia, de tantos imortais de vidas logo perecedouras e ocas de méritos, até para coevos.
Rien ne manque à sa gloire, il manquait à la nôtre. Tal a inscrição do busto de Molière na Academia
Francesa. É mister, no programa do Teatro Escolar, acentuar
fundo o Casamento A Pulso. Mesmo de título mudado, representa Molière na sua admirável galeria de tipos humanos, na originalidade das suas pinturas de costumes e de caracteres, dos seus processos cómicos e dramáticos.
Que o génio francês luz em Molière não padece dúvida, justificada a resposta de Boileau a Luiz XIV, padrinho da filha do ator-autor, ao perguntar-lhe o "Rei Sol" que escritor mais lhe honrara o reinado. "Molière, Senhor", responde Boileau, que a confrades não poupava sátiras.
Le Mariage Force, representado em França de 7 a 13 de maio de 1664, seria exibido no Rio de Janeiro a 21 de abril de 1792, data da execução capital de Tiradentes. Afirmou-o Pires de Almeida na 3a parte da desordenada, mas útil coletânea Brazil-Theatro, na qual é preciso achar o fio dos assuntos para proveito da pesquisa.
Segundo Pires de Almeida, a comédia de Molière foi representada "em terreno baldio e fronteiro ao adro da capelinha da Lapa dos Mascates", que constituía então os fundos da igreja da atual Igreja da Cruz dos Militares e a parte alargada pelo mar, na qual se construiu mais tarde, e definitivamente, a atual Igreja da Lapa dos Mercadores (no fim da Rua do Ouvidor, próxima ao mar).
Não são despiciendas tais informações. Dão cunho literário e histórico à comédia molieresca de 1664, interpretada em 1937 por alunas e alunos do Colégio, ensaiados por Celestino Silva, de papéis bem sabidos para folga do ponto Paschoal Américo e movendo-se num cenário devido a Gustavo Dória.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
Oito personagens deram vida à comédia de Molière
na qual em torno de figura feminina única, gira a ação da
peça, a figura de Dorimena, encarnada na graciosa aluna
Cilka da Silva Leite, em discreto papel de Pagem a aluna
Walkyria Almeida.
Dos papéis de Sganarello, Jeronymo, Alcantor,
Alcides encarregaram-se com dist inção e aplauso os
alunos Decio Guimarães Abreu, Augusto Cláudio Ferreira,
Nilo Andrade e Hilgard Sternberg.
Na comédia de Molière a prosa deste fustiga em
Pancrácio, f i lósofo pirrônico e em Marfório. f i lósofo
aristotélico, todas as contendas e rusgas da filosofia no
século XVII.
Marfório, o fi lósofo pirrônico encontrou no aluno
Waldomiro Rothberg um bom intérprete. Mas, a revelação
da noite na obra de Molière foi a do aluno Octacilio da
Silva Chaves, encarnando Pancrácio, f i lósofo aristotélico.
Dicção, gesticulação, a gosto em cena, tudo no jovem
in té rp re te impress ionou o aud i tó r io . Dir-se-ia ele
acostumado ao palco tal a naturalidade e vivacidade com
as quais representou, aplaudíssimo.
O curioso e bem-sucedido espetáculo do Teatro
Escolar do Colégio, na noite de 23 de dezembro de 1937,
terminou ao som do Hino Nacional, pelo Orfeão do Colégio,
hino aquele mais do que simples música, a voz da própria
Pátria.
Alunos das duas seções do Colégio acresceram
realizações do programa oficial comemorativo. Realizou
o corpo d iscente celebração de missa na matriz do
Engenho Velho, celebrante vigário da paróquia, Monsenhor
Mac Dowell, professor do Colégio. Realizaram também
os alunos da 5a série do Externato e do Internato sessões
lítero-musicais nas duas casas do Colégio, no Internato
sessão solene em o Grémio Litterario Mello e Souza, no
Internato também oferecido e promovido pelos quintanistas
da casa um almoço em homenagem a professores e ex-
alunos daquela seção do Colégio. Discentes do Externato
e do Internato dedicaram irradiações radiofónicas, emitidas
pela estação do Ministério da Educação, em honra das
duas casas do Colégio e dos professores Raja Gabaglia,
Pedro do Coutto, José Accioli, Henrique Dodsworth e
Escragnolle Dória.
Para a segunda quinzena de março de 1938, ficou
reservada, ainda na lembrança do Centenário do Colégio,
sessão solene, no Salão Nobre do Externato, sessão
presidida pelo Ministro da Educação e consagrada à lição
inaugural do ano de 1938, proferida pelo professor Dr.
Francisco Pinheiro Guimarães, e a inauguração na Sala da
Congregação dos bustos de D. Pedro Segundo, do Marquês
de Olinda e de Bernardo de Vasconcel los. Seria a
so len idade cond igno fecho das comemorações do
Centenário.
No programa das fest ividades da centúria, bem
assinalado ficou o empenho de associar a elas, o mais
possíve l , a c lasse inteira dos bacharéis em let ras,
graduados, ex-alunos e discentes próximos de graduação.
Grande o júbilo a 2 de dezembro de 1937, ao abrir-
se o Colégio, menor não foi o prazer do mesmo em 1937,
ao acentuar bem fundo o seu traço indelével na cultura
nacional.
Muito deveu o Colégio a D. Pedro Segundo, como
ao Colégio, em cem anos, f icou devendo o Brasil. Ao
considerar-lhe existência, serviços, esforços, lustre, pôde
a Pátria dizer, em 1937, Casa Benemérita, em lembrança
humanística e dantesca:
Onorate I'Altíssima Progénie.
Quadro de formatura, no Museu do Colégio, dos Bacharéis em Ciências e Letras, turma de 1902, do Ginásio Nacional, nome do Colégio na época, e onde se encontram, entre outros, Antenor
Nascentes, Manuel Bandeira e Souza da Silveira.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
XV
O Instituto dos Bacharéis em Letras • Sua Fundação • Seu Reconhecimento Oficial •
Sua Vida e Seus Trabalhos • A Solenidade de 2 de Dezembro de 1902 •
A Equiparação ao Colégio e o Instituto • Seu Eclipse.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Merece referência especial, na vida centenária do
Colégio de Pedro Segundo, insti tuição singular
florescida nele anos seguidos. Constituiu associação de
antigos alunos da Casa a preceder de muito associações
do género, tão apreciadas na Europa e ora tentadas de
novo no Brasil. Na espécie cabe prioridade ao Instituto
dos Bacharéis em Letras.
Em 1863, a 2 de ju lho, congregavam-se sete
bacharéis do Pedro Segundo para dar corpo à ideia do
grémio.
Àqueles, a coevos, a vindouros recordariam a vida
do Colégio, nele as lições, o proveito do seu ensino, a sua
tradição enf im.
Sete foram os fundadores do grémio. De inteira
justiça é memorar-lhes os nomes, mencionando o ano do
seu bacharelado.
Benjamim Franklin Ramiz Galvão — Externato (1861)
Eduardo César de Almeida Rego — Internato (1862)
Ernesto Frederico da Cunha — Internato (1862)
Francisco José Xavier — Internato (1862)
João Carlos Mayrink — Internato (1862)
José Pereira Rego Filho — Externato (1862)
Pantaleão José Pinto — Externato (1861)
Em reunião de 2 de ju lho de 1863, — data
festejadíssima na Bahia por último selo de Independência
— propôs o bacharel Pereira Rego se denominasse o
grémio a criar — Instituto Brazileiro de Sciencias e Letras.
A 25 de junho de 1863, realizava-se segunda sessão,
presentes os bacharéis fundadores e mais 21 bacharéis,
a convi te dos fundadores para reunião de todos os
bacharéis residentes na Corte. Sejam eles mencionados
com o ano de graduação, pelas duas seções do Colégio,
realizada a divisão do Colégio em 1857.
Américo Romão de Figueiredo Mussuranga — (1853)
(Bacharel pelo Liceu da Bahia)
Augusto José de Castro e Silva — (1852)
António Dias Pinto Aleixo — (1853)
Anastácio Luiz do Bomsuccesso — (1852)
Alfredo d'Escragnolle Taunay — (1858)
António José de Souza Rego —(1849)
António Maria Corrêa de Sá e Benevides — (1862)
Carlos José Xavier —(1849)
Domiciano Fortes de Bustamante e Sá — (1849)
Domingos José Freire —(1860)
Evaristo Nunes Pires —(1855)
José António de Araújo Filgueiras — (1856)
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
João José de S. Paulo —(1862) João de Saldanha da Gama — (1853) João Pinto do Rego César —(1859) José Carlos de Almeida Áreas — (1843) José Vicente de Azeredo Coutinho — (1849) José Manoel da Silva — (1862) Luiz José de Carvalho Mello Mattos — (1855) Manoel Francisco Corrêa —(1855) Theophilo das Neves Ledo —(1850) (Bacharel em Letras pelo Liceu da Bahia)
Do grupo dos fundadores e dos primeiros adeptos, do novel Instituto, muitos das primeiras turmas do Colégio, haviam de notabilizar-se mais na vida nacional: Sá e Benevides, Bispo de Mariana, Domingos Freire, lente de Medicina, Alfredo d'Escragnolle Taunay e Manoel Francisco Corrêa, Senadores do Império, o último também Ministro de Estado, dos Negócios Estrangeiros.
Progrediu rapidamente o Instituto, a ponto de encontrar amparo e consagração oficial, dada pelo Decreto de 16 de maio de 1864, concedendo ao Instituto dos Bacharéis em Letras autorização para exercer funções e aprovando-lhe os respectivos Estatutos.
Era a consagração pelo poder público da sociedade fundada na Corte com o título de Instituto dos Bacharéis em Letras.
Fora o título proposto pelo bacharel Evaristo Nunes Pires e aceito no correr da discussão de estatutos, preferido ao de Instituto Brazileiro de Sciencias e Letras, proposto pelo bacharel Pereira Rego, a 2 de julho de 1863.
O Decreto n.° 3.270 de 16 de maio de 1864, ano quadragésimo terceiro da Independência e do Império, deu prestígio ao Instituto.
Pelo Decreto, declarava Sua Majestade o Imperador, com a referenda do Ministro do Império, José Bonifácio de Andrada e Silva, que, atendendo à representação do presidente do Instituto (o futuro Bispo de Mariana — Sá e Benevides) e à resolução tomada sobre o parecer da seçáo dos Negócios do Império do Conselho de Estado, exarado
em consulta de 16 de abril de 1864, ficava o Instituto autorizado a funcionar.
O Decreto de 16 de maio de 1864, porém, estatuía explicitamente que as resoluções constantes do artigo 44 dos estatutos do Instituto não podiam contrariar disposições do Decreto.
Careciam de aprovação do Governo Imperial os princípios que se pretendiam servir de arestas e as reformas a que se referia o artigo 45.
Diziam os estatutos: Artigo 44 — Qualquer caso não previsto pelos
presentes Estatutos será provisoriamente resolvido pela Diretoria, cuja resolução, para formar aresto, fica dependendo de aprovação da assembleia geral.
Artigo 45 — Os sócios em número superior à metade dos efetivos, poderão, quando julgarem necessário, requerer uma assembleia geral, para reforma dos Estatutos, o que, sendo aprovado, se incumbirá tal reforma a uma comissão especial composta de cinco membros.
Os estatutos submetidos ao "placet" do Governo Imperial haviam sido subscritos na sala das sessões do Instituto pelos bacharéis Costa Ferraz, Freitas Mussuranga e José Pereira Rego Filho.
Constavam os estatutos de 12 capítulos e 45 artigos. Destes, os dois primeiros davam como juiz ao
candidato a reunião dos bacharéis em letras do Império, para, pelos melhores meios possíveis, combinar e promover o progresso intelectual de associados.
A fim de alcançar tal escopo, o Instituto realizaria reuniões, e também aulas públicas, fundando caixas de beneficência, quando possível.
Compor-se-ia o Instituto de cinco classes de sócios: — efetivos, honorários, beneméritos, benfeitores e correspondentes.
Fundadores seriam quantos houvessem comparecido à sessão inicial, a 2 de julho de 1863.
Desejando pertencer ao Instituto devia o candidato, bacharel em letras, apresentar memória sobre qualquer parte dos estudos do Imperial Colégio de Pedro II.
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Os sócios efetivos contribuiriam com a quota mensal de 2$000, remidos e benfeitores se oferecessem a quantia de 50$000.
Todas as outras categorias de sócios do Instituto ficavam isentas de contribuição pecuniária.
Cuidavam os estatutos da administração do Instituto Incumbia-se o orador de produzir na sessão
aniversaria o elogio histórico dos sócios falecidos durante o ano social, também caber-lhe-ia orações à beira túmulo.
As sessões ordinárias do Instituto não se realizariam em novembro e dezembro, bimestre considerado de férias. A abertura das sessões ordinárias dependeria da presença mínima de 6 sócios.
Para apreciação de trabalhos dos sócios manteria o Instituto 11 comissões, de 3 membros cada uma, relator o membro mais votado. Uma de tais comissões seria a de línguas vivas, especialmente a nacional, atendendo também à indígena.
A 2 de julho de 1864, no Externato do Imperial Colégio de Pedro Segundo, o Instituto celebrava sessão inaugural contando no quadro social 52 bacharéis em letras.
À imitação de qualquer sociedade do género, verificou, porém, o Instituto durante muito tempo presença e esforços de infatigável grupo de sócios.
Em 1867, o Instituo conseguia publicar revista. Intitulava-se — Bibliotheca do Instituto dos Bacharéis
em Letras. Trazia 298 páginas abrangendo, entre outros trabalhos literários, o discurso proferido na sessão solene de instalação do Instituto pelo respectivo presidente bacharel — Sá e Benevides, O Púlpito no Brasil, da lavra do bacharel Ramiz Galvão, e Quatro Vultos, ensaio crítico-biográf ico de Álvares de Azevedo, Junqueira Freire, Laurindo Rabello e Gonçalves Dias pelo bacharel Anastácio Luiz do Bomsucesso.
Tal número da Biblioteca foi único, é hoje raridade bibliográfica. Infelizmente, nisto ficou a publicação, não à míngua de trabalhos literários, sim por falta de recursos pecuniários de qualquer género.
Portaria do Ministério do Império, de 15 de fevereiro de 1865, concedeu ao Instituto dos Bacharéis uma sala no Externato para celebração de sessões e organização da biblioteca.
Cumprindo a portaria, e dando maior desafogo ao Instituto, muito se interessou por ele o secretário do Externato e nele professor — José Manoel Garcia, daí o Instituto conferir-lhe o título de sócio honorário.
Os bibliotecários do Instituto, de 1865 em diante, deles primeiro o bacharel Francisco José Xavier, esforçaram-se por desenvolver a seção a seu cargo.
Contou a Biblioteca do Instituto, depois desamparada e dispersa, obras de valor e coleção de manuscritos dignos de apreço como fossem:
a) — A Estolaida, poema herói-còmico do Cónego João Pereira da Silva, oferecido ao Instituto pelo bacharel Rego César.
Do poema publicado em 1878, só se conheciam algumas estrofes e estas mesmo adulteradas.
Pereira da Silva era carioca, Cónego da Capela Real em 1803, pregador régio, humanista de vida vária, tendo-a iniciado como soldado. Escreveu A Estolaida. Do poema extraiu e publicou o Cónego Januário da Cunha Barbosa, no seu Parnaso, algumas oitavas do canto 2o, descrevendo o Pão de Açúcar e a baía de Botafogo.
b) — Poesias humorísticas e satíricas do monge beneditino frei Rodrigo de São José, vice-reitor do Externato e neste alma de disciplina para honra do Colégio.
c) — O Orphão, trabalho de Joaquim Gonçalves Ledo, o prócer da Independência, oferecido ao Instituto pelo bacharel Carlos Alberto de Menezes, ajuntando este à dádiva breve memória explicativa da sua autenticidade.
Era, aliás, a Biblioteca do Instituto alvo de dádivas importantes. Assim a do bacharel Fernando Mendes de Almeida, doador de 300 obras, pertencentes à biblioteca paterna, a do laborioso sobreerudito Senador Cândido Mendes de Almeida.
Em 1874, o Instituto dos Bacharéis em Letras recebia graça especial do poder público. Concedia-o o . Decreto de 22 de julho de 1874, permitindo aos sócios do
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
Instituto, em atos públicos e solenes, uso de medalha de ouro pendente de colar também de ouro. Numa das faces da medalha via-se gravada a cabeça de Minerva, deusa da sabedoria, laureada com a inscrição Pefro Duce et Auspice Petro, eras ingens iterabimus aequor. Na outra face da medalha, na parte central, a data do Decreto de sua instituição — 22 de julho de 1874 — em derredor — Instituto dos Bacharéis em Letras.
O distintivo foi estreado por vários sócios em sessão solene do Instituto, honrada com a presença de D. Pedro II e da Família Imperial.
Até 1884, muitos trabalhos foram lidos nas sessões regulares do Instituto. Entre eles figuravam, como mais importantes, não só pelo interesse dos assuntos como pela notoriedade dos autores, as seguintes produções:
Humanidade e Progresso — (estudo das diversas escolas filosóficas até a cartesiana), pelo bacharel Corrêa de Sá e Benevides.
Geração Espontânea — pelo mesmo , futuro Bispo de Mariana.
O Púlpito no Brasil— pelo bacharel Ramiz Galvão. Quatro Vultos (Álvares de Azevedo, Junqueira Freire.
Laurindo Rabello e Gonçalves Dias) — pelo bacharel Bomsuccesso.
Historia da Poesia no Brazil— pelo bacharel Oscar Adolpho de Bulhões Ribeiro, futuro lente de medicina e reputado cirurgião.
Historia do Theatro Grego — pelo bacharel João Baptista de Lacerda, futuro diretor do Museu Nacional.
A Glória de Colombo aos olhos da Historia — pelo bacharel Ramiz Galvão.
O Génesis e a Geologia — pelo bacharel Pedro Affonso de Carvalho, futuro lente de medicina e Barão de Pedro Affonso.
Analyse das causas da decadência da litteratura portugueza nos séculos XVI, XVII e XVIII, sua restauração em Portugal — pelo bacharel Alfredo Piragibe, futuro diretor do Internato do Colégio.
Estudos sobre a provinda do Pará— pelo bacharel Custodio Américo dos Santos, futuro médico e professor de Inglês do Colégio.
A Epopeia no Brasil — pelo bacharel Carlos Maximiano Pimenta de Laet, futuro professor e diretor do Colégio.
Historia e Geographia da Provinda do Espirito Santo — pelo mesmo.
Etymologia, prosódia e ortographia das palavras portuguezas derivadas do grego — pelo bacharel Ramiz Galvão.
Historia da cidade do Rio de Janeiro— pelo bacharel Vieira Fazenda, futuro cronista emérito da Cidade.
Apontamentos para a historia civil e ecclesiástica do Rio de Janeiro— pelo mesmo.
Diccionario etymologico e prosodico da lingua portugueza (princípio da letra A) — pelo bacharel Ramiz Galvão.
Historia e Geographia da provinda de Goyaz— pelo bacharel Carlos Artur Moncorvo de Figueiredo,futuro e acatado pediatra.
Catálogo dos manuscriptos que possam interessar à historia e geographia do Brazil— pelo mesmo.
Macbeth — pelo bacharel Augusto Ferreira dos Santos, futuro lente de Medicina do Rio de Janeiro.
Viagem à America por João de Léry— tradução do bacharel Moncorvo.
Estudo sobre o theatro nacional — pelo bacharel Manoel Veloso Paranhos Pederneiras, futuro decano do jornalismo carioca.
Considerações sobre a obra de Draper — Conflito de Ciência e da Religião — pelo bacharel João Pinto do Rego César, futuro médico, clínico por longos e notórios anos no Rio de Janeiro.
A Alma e o Cérebro— pelo bacharel Rego César. Considerações sobre a obra Fim da Criação ou a
natureza interpretada pelo senso commum— pelo bacharel
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Rego César (A obra não traz nome do autor, é porém da autoria de José de Araújo Ribeiro, Visconde do Rio Grande e Senador do Império).
A educação da Mulher — pelo bacharel Alfredo Moreira Pinto, o futuro geógrafo.
Hermann e Dorothéa, tradução do original de Goethe — pelo bacharel João Henrique Braune, futuro lente de Grego do Colégio.
O Sonho, o Elogio da Mosca, e Tragapo dagra (tradução do original grego de Luciano) — pelo bacharel Tomaz Ramos da Fonseca, futuro lente de Grego no Colégio.
Além dos mencionados trabalhos literários, outros muitos foram lidos nas sessões do Instituto dos Bacharéis em Letras, assim as produções dos seguintes bacharéis:
— Pantaleão José Pinto (Estudos das Línguas Vivas), Manoel Gomes Belfort Duarte (História da Literatura Antiga), António Teixeira de Souza Alves (Principais Classificações Mineralógicas), João Marinho de Azevedo (Agentes Plutônicos), Ernesto Frederico da Cunha (História dos Primeiros Séculos do Cristianismo), Joaquim da Cunha Barbosa (Consciência e Crime, Poesia, e História da Literatura Sagrada e Profana), José Pereira Leitão Júnior (Concerto dos Séculos), Balthazar Bernardino Baptista Pereira (Memória Histórica do Município de Itaboraí e Memória sobre os Governadores do Brasil), João Luiz dos Santos Titara (Considerações sobre o Governo do Paraguai), João Diogo Esteves da Silva (A Filosofia e a Humanidade e Estudos sobre a Educação Brasileira), José Tito de Araújo (Lendas Bíblicas Históricas e Imaginativas), Eduardo de Lima Barros (Estudos Bibliográficos dos Poetas Nascidos no Brasil), e traduções em verso da Piedade Suprema hugoana, de To Be or Not To Be (o monólogo Shakespeareano), Evaristo Nunes Pires (A Pasmaceira, poema satírico), Carlos Alberto de Menezes (Calabar Perante a História), Childerico Paranhos Pederneiras (História das Artes no Brasil, Os Meninos das Ruas de Nova âorú, tradução), Duarte José de Mello Pitada (Apontamentos Curiosos e Históricos), António Mendes Limoeiro (O Passado e o Futuro, poesia. Vida e Progresso,
sátira. Páginas Literárias, 93 e Vitor Hugo), Anastácio Luiz do Bomsuccesso (Análise do Colombo, de Porto Alegre, em 6 cartas dirigidas ao bacharel Nunes Pires, A Fábula, sua Cultura em todos os Tempos e em todos os Lugares, Alegrias da Pátria, Análise de três romances de Alencar: Iracema, O Garatuja e O Ermitão da Glória), José Basileu Neves Gonzaga (Memória sobre o Dilúvio Universal).
Copiosa, pois, a lista de trabalhos apresentados ao Instituto dos Bacharéis em Letras e nele discutidos.
Celebrava o Instituto, em 1884, à solene, o aniversário de instalação (1863-1884).
Memorava a data em sessão honrada, pela segunda vez, com a presença de D. Pedro II e da Família Imperial, em 2 de julho de 1884.
Dizia então o secretário do Instituto, o doutor em medicina e bacharel em letras Diogo Garcez Palha, referindo-se às augustas presenças imperiais: — "Praza aos Céus que tal ventura sirva de estímulo ao Instituto para continuar no trabalho e aplicação e fazendo pela minha parte votos pela sua prosperidade , peço aos meus colegas que não desanimem, certos de que no estudo das ciências só poderão encontrar um hino majestoso entoado ao Criador e ao ordenador dos mundos e que só com muita aplicação poderão descobrir armas para as contrariedades que têm sofrido e que não são mais que a revelação da imperfeição e contingências humanas, e lhes peço que se dediquem ao trabalho tendo sempre em vista que o homem nascido para a verdade jamais a poderá encontrar na terra que habita e nas ciências que possui, por maior que seja a sua soma, se as deixar de aceitar, aprender e conservar cuidadoso na revelação do Supremo Criador do Universo.
Avante, pois, senhores do Inst i tuto, não desanimemos após vinte anos de trabalhos e, ainda, quando pareçam superiores às vossas forças os obstáculos a vencer, prossegui, trabalhai, lutai porque a luta é a vida".
A enumeração dos principais trabalhos dos sócios do Instituto no decurso de mais de dois lustros, os decorridos de 1863 a 1884, sugere reflexões.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
Cumpre considerar primeiro o esforço de sucessivas
diretorias, buscando manter a continuidade e o prestígio
do Instituto.
Assinale-se o interesse manifestado por muitos
sócios pelos t rabalhos do Ins t i tu to . Observe-se a
orientação do espírito de alguns bacharéis em letras,
orientação partida do Instituto e seguida vida inteira.
Assim Ramiz Galvão a preocupar-se com estudos
linguísticos, muitos hauridos do grego, Vieira Fazenda a
tratar no Instituto do passado do Rio de Janeiro. Nem
pareça descurioso notar a orientação inversa dos espíritos
de outros sócios do Instituto, tais os de Oscar Bulhões e
Pedro Afonso, de Moncorvo de Figueiredo, de Moreira Pinto,
os três primeiros dedicados à ciência médica, o último,
cultor da História e Geografia de tão boa sociedade.
Às diretorias do Instituto coube grande parte do
merecimento de conservação dele. A primeira diretoria,
eleita para o biénio 1863-1864, assim se compôs:
Presidente — Bacharel António Maria Corrêa de Sá
e Benevides, ao depois Bispo de Mariana. — Vice-
Presidente — Manoel Francisco Corrêa, depois deputado
geral, Senador do Império e Ministro de Estado.
1o Secretário — Bacharel Ernesto Romão de Freitas
Mussurunga.
2o Secretário — Bacharel Benjamin Franklin Ramiz
Galvão, sócio fundador, lente de medicina, diretor da
Biblioteca Nacional, preceptor dos Príncipes D. Pedro e D.
Luiz de Orleans e Bragança.
Tesoureiro — Bacharel José Pereira Rego Filho,
sócio fundador, médico, secretário-geral da Imperial
Academia de Medicina.
Orador — Bacharel Luiz José de Carvalho Mello
Mattos, advogado, Presidente da Assembleia Provincial
Fluminense.
1o Suplente — Bacharel João Carlos Mayr ink,
médico, sócio fundador.
2o Suplente — Bacharel Ernesto Frederico da Cunha,
médico.
De 1863 a 1867 ocupou a presidência do Instituto o
bacharel Sá e Benevides, subst i tuído em 1867 pelo
dedicadíssimo bacharel Anastácio Luiz do Bomsuccesso,
anteriormente 1o secretário e vice-presidente.
Foi o cargo de orador do Instituto desempenhado de
1864 a 1871, pelo bacharel Ramiz Galvão. Sucederam-
Ihe o bacharel Neves Gonzaga, orador de 1871 a 1875, o
bacharel Mendes Limoeiro de 1875 a 1877, e de 1880 a
1881, o bacharel Manoel Velloso Paranhos Pederneiras de
1877 a 1878, o bacharel Rego César de 1878 a 1879, o
bacharel Fernandes Figueira de 1880 a 1881.
Solenidade das maiores e da mais alta expressão
promoveu o Instituto dos Bacharéis em Letras, presidido
em 1902 pelo bacharel José Bernardino Paranhos da Silva.
Foi aquela solenidade a sessão comemorativa do
65° aniversário da fundação do Colégio de Pedro 2o, então
"Gymnásio Nacional", nome no qual as paixões partidárias
de momento obliteravam gratidão perene.
Pouco antes da solenidade de 2 de Dezembro de
1902, o Instituto dos Bacharéis em Letras incumbira uma
comissão de elaborar o programa do ato festivo.
C o m p u n h a - s e a de legação dos bacha ré i s :
Conselheiro Manoel Francisco Correia, da turma de 1849,
Alfredo Russell, da turma de 1891, Paranhos da Silva, da
turma de 1892, Raul Pederneiras, da mesma turma,
Theodoro Magalhães, da turma de 1893.
A 2 de dezembro de 1902, às 11 horas da manhã,
Monsenhor João Pires de Amorim, ex-vice-reitor e antigo
professor de Religião do Colégio, celebrou missa em ação
de graças acolitado por antigo aluno do Colégio, Cónego
Manoel Marques de Gouvêa.
Rezou-se a missa na igreja de São Joaquim, contígua
ao Colégio, nela celebrada outra missa, a 3 de dezembro,
por alma dos bacharéis em letras desaparecidos no
decurso de mais de meio século de vida do Instituto.
Na manhã de 2 de dezembro de 1902, comissão de
bacharéis, representando o Instituo, na necrópole de
Catumbi, visitou os túmulos do marquês de Olinda e de
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Bernardo de Vasconcellos, o Regente e o Ministro fundadores do Colégio, sem ser possível prestar igual homenagem aos restos mortais do primeiro reitor, o Bispo D. Frei António de Arrábida.
Junto aos túmulos de Olinda e Bernardo de Vasconcellos, quedaram-se respeitosos os bacharéis Conselheiro Manoel Francisco Correia, da turma de 1849, Theodoro Magalhães, Alfredo Russell, Werneck Machado, da turma de 1881, Amarílio de Vasconcellos e Hermínio Lyra da Silva, da turma de 1893.
Reuniram-se depois ao tradicional toque da sineta, no pátio do Externato do Ginásio Nacional, numerosos bacharéis em letras.
Muitos representavam outros colegas. Formaram todos, por ordem de turmas, à testa
destes o bacharel decano de 1849, Carlos Arthur Busch Varella. Caminharam os bacharéis para o Salão Nobre do Ginásio.
Aí os aguardava luzido auditório no qual, entre pessoas gradas, figuravam o Dr. José Joaquim Seabra, Ministro da Justiça, os Drs. Francisco Cabrita e Coqueiro, diretores do Externato e Internato, assistidos pela Congregação do Ginásio composta de lentes em exercício e jubilados.
Fora reservado aos bacharéis lugar distinto na solenidade.
Sentaram-se por ordem de turmas. No meio de colegas da turma de 1865, divisava-se o então Presidente da República, Rodrigues Alves, perto dos bacharéis José Américo dos Santos, Edmundo Mendes Limoeiro, Luiz Betim Paes Leme e Valeriano da Fonseca.
Na mesa de honra da sessão alvejavam dois barretes. Um havia imposto grau aos bacharéis de 1849, da primeira turma saída do Colégio, o outro pousara sobre a cabeça dos bacharéis de 1901, última turma graduada em ciências e letras.
Convidou o presidente do Instituto dos Bacharéis, Paranhos da Silva, o bacharel mais antigo, Busch Varella, para presidir a sessão.
Ficavam-lhe ao lado os bacharéis Theodoro Magalhães e Lima Drummond, 1o secretário e orador do Instituto.
Como de direito orou primeiro o bacharel Busch Varella, cheio de triunfos oratórios na tribuna forense. O discurso do bacharel decano de 1843 foi expressivo transunto de passado e saudade.
Com aquele rememorou a vida oficial do Colégio, com esta a vida íntima dele.
Bacharel em letras em 1843, era Busch Varella advogado da mais célebre nota. Em 1902, remontando ao antanho, dizia de antigos professores do Colégio, Gonçalves de Magalhães, Joaquim Caetano, Santiago Nunes Ribeiro, Silva Maia, Porto Alegre.
Do patrono da casa, D. Pedro II, afirmava Busch Varella, referindo-se aos primórdios do Colégio Imperial: — "Poucos eram então os alunos; o jovem Imperador, moço da mesma idade que eles, visitava com frequência as aulas, acompanhado quase sempre do seu venerando amigo, o Visconde de Sapucaí, de saudosa memória; tomava vivo interesse pelo adiantamento dos alunos, assistia às suas lições e para todos tinha boas palavras de animação. Foi assim que ele radicou nos corações de todos aqueles moços uma respeitosa simpatia que o acompanhava nos seus dias de glória e nos transes de sua acidentada existência".
Tratando das reformas de modificação, à primitiva regulamentação do Colégio, observava ainda Busch Varella: —
" Dessas reformas, a mais importante foi a de 1854, elaborada pelo benemérito Visconde de Bom Retiro, que com tanto zelo, atividade e inexcedível patriotismo geria os negócios do Ministério do Império, onde deixou traços luminosos de sua passagem.
Não me acoimeis de indiscrição se vos disser que o Ministro Visconde, declinando dos louvores que alguém tributava ao seu magnífico trabalho, respondeu que todo o merecimento dessa reforma cabia ao Imperador, que tinha
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
estudado acirradamente todo o movimento pedagógico nos modernos sistemas e métodos de ensino na Europa, especialmente em França".
Prosseguindo na oração, o bacharel Busch Varella, em nome da Pátria, pugnou pela repatriação dos restos mortais de D. Pedro II e de D. Theresa Christina postos no panteão mortuário bragantino do mosteiro de São Vicente de Fora, em Lisboa.
"A iniciativa da ideia não é minha, antes de mim manifestou-a na imprensa um ilustre brasileiro que não pode ser averbado de suspeito; onze anos foi ele Cônsul e Ministro do Brasil nos Estados Unidos da América do Norte e a sua adesão às formas republicanas é bem conhecida: — foi ele quem em 1893 aconselhou à República que para dar ao mundo documento de sua estabilidade mandasse trasladar para a terra da Pátria os restos mortais do Brasileiro e de sua santa esposa, que nos deram a todos o modelo da família e o exemplo dos bons costumes e dos sentimentos pios, o republicano que assim se exprime é o Sr. Salvador de Mendonça."
Vinte anos passaram. Só em 1922, celebrado o 1o
Centenário da Independência, realizaram-se os votos de Salvador de Mendonça, em 1893, e de Busch Varella em 1902, a 2 de dezembro de justo em data natalícia do Imperador, "dia outrora festivo e de gala", como disse Busch Varella, comparando D. Pedro II "a filho que chorava com saudade, mas não se queixava da mãe que o lançara de si" .
A Busch Varella sucedeu na tribuna o 1o Secretário do Instituto dos Bacharéis em Letras, o bacharel Theodoro Augusto Ribeiro de Magalhães inventariando, às rápidas, os principais sucessos da vida do Colégio, da fundação a 1902.
Prestando homenagens aos vultos da Casa, exaltando-lhes préstimos sem lhes calar culpas obedientes à franqueza humana, "como republicano intransigente e cronista imparcial ", Theodoro Magalhães salientava sobretudo a valia do estabelecimento
"sancionada pelo correr dos decénios e testificada pela lista dos 704 bacharéis por ele diplomados, não contando os estudantes que abandonaram o curso no 5o e 6o ano de estudos para, com aproveitamento, frequentarem as academias".
Ao bacharel Theodoro de Magalhães seguiu-se com a palavra o bacharel João da Costa Lima Drummond, desde os bancos colegiais tido por orador, na solenidade de 2 de dezembro de 1902, o sendo por mandato e conta do Instituto dos Bacharéis em Letras.
O discurso de Lima Drummond focalizou sobretudo a figura de Bernardo Pereira de Vasconcellos, o Ministro interino da Regência Olinda a desvelar-se tanto na fundação como na posterior defesa do Colégio.
Pôs Lima Drummond também em relevo a figura de morto querido do Instituto, o Dr. Anastácio Luiz do Bomsuccesso — "o médico caridoso e exímio fabulista, que durante muitos anos do género fora muitas vezes a única personificação genuína e viva, desdenhando sempre, por inúteis e fugaces, as seduções da força e do poder, na íntima convivência com os pobres e os humildes, porque confiava nestes dois poderosos elementos de formação do caráter, o trabalho e a honra, transunto fiel da sua vida".
Principiada ao meio-dia, findava quase às quatro horas da tarde a solenidade promovida pelo Instituto dos Bacharéis, a 2 de Dezembro de 1902.
Tornara realidade ideia havia muito no pensamento de alguns bacharéis em letras, entre eles Teixeira Júnior, Visconde do Cruzeiro, e Busch Varella.
A 5 de agosto de 1902, em reunião de 40 bacharéis, fora resolvido levar avante a ideia da comemoração do 65° aniversário da fundação do Colégio.
Realizou-se o ato, qual o narramos, com toda a solenidade e júbilo geral da classe dos bacharéis em letras do Pedro Segundo.
A estes associaram-se vultos da maior representação pátria e até estrangeira, presente à festa o Dr. Susviela Guarch, Ministro do Uruguai no Brasil, também entre convidados o Arcebispo do Rio de Janeiro, D. Joaquim
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Arcoverde de Albuquerque Cavalcanti e representantes de oito associações científicas, bem como significativamente irmãos da Irmandade de São Joaquim, funcionando no templo contíguo ao Externato do então Gymnásio Nacional.
Por ocasião da solenidade de 2 de Dezembro de 1902, reeditou e distribuiu o Instituto de Bacharéis em Letras o discurso lapidar de Bernardo de Vasconcellos, na abertura do Colégio, a 25 de março de 1838, dia de grande gala pelo aniversário do juramento da Constituição do Império.
Nunca se mostrou o Instituto de Bacharéis indiferente às questões de ensino, sobretudo se diziam respeito ao Colégio.
Sobretudo aos bacharéis em letras sempre parecer provisório o título de Ginásio Nacional.
A divina justiça imanente, superando a dos homens, dia mais, dia menos, restituiria à gloriosa Casa o nome daquele cujos auspícios fora fundada em 1837.
Do interesse do Instituto dos Bacharéis por questões pedagógicas, mormente relativas ao Colégio, há frisante exemplo.
No uso de Direito Constitucional, o de petição, aos membros do Congresso Nacional representou o Instituto dos Bacharéis em Letras.
Verberou o ato do poder executivo federal contido no Decreto equiparando em 1895 ao Gymnásio Nacional, aos seus 58 anos de existência, o Instituto Kopke com sede no Rio de Janeiro, dirigido aliás por pessoa digna e de cultura.
O Instituto dos Bacharéis nomeou comissão para redigir representação ao Congresso Nacional.
Compuseram-na os bacharéis Luiz Carlos Fróes da Cruz, presidente, José Bernardino Paranhos da Silva, relator, Carlos José Sallaberry, Alfredo de Almeida Russell e Ildefonso Castilho Lisboa.
A extensa e bem elaborada representação do Instituto foi distribuída em avulso. Analisava os artigos dos Decretos aos quais se referia o ato do poder executivo, bem como os avisos e as deliberações do mesmo poder referentes ao assunto, entrando por último o relator da
representação a estudar, com minudência e segurança, o Decreto favorecendo o Instituto Kopke.
Ao próprio Congresso Nacional, o Instituto Kopke pleiteara a equiparação ao Ginásio Nacional, pelo Poder Legislativo rejeitada a pretensão.
A representação do Instituto, pelo relator desta, Paranhos da Silva, mostrava a ilegalidade da concessão do Poder Executivo ao Instituto Kopke.
O Instituto dos Bacharéis firmou, pois, protesto contra o regime das equiparações cuja história, cujas consequências não serão aqui narradas, examinando quais os seus efeitos em relação ao ensino.
Nem foi o Instituto dos Bacharéis indiferente à postergação do nome de D. Pedro II como o do verdadeiro nome do Colégio. Em sessão ordinária, por unanimidade de votos e sob a presidência do bacharel Paranhos da Silva, aprovou o Instituto representação dirigida ao Presidente da República e da lavra do sócio honorário professor Escragnolle Dória ao qual o Instituto conferira aquele título pelo seu devotamento à instituição, na qual tomara posse proferindo discurso de exaltação ao Colégio, aos seus serviços, à sua tradição
No recuperar antiga denominação de Colégio de Pedro Segundo, podem encontrar-se o esforço e os votos do Instituto de Bacharéis em Letras.
Eis, como em nome dele, se expressava o professor Escragnolle Dória, dirigindo apelo aos altos poderes do país no sentido de reparar injustiça oriunda de instantes agitados de transição do regime monárquico para o republicano, quando por efeito de paixões momentâneas até direitos adquiridos de professores do Colégio foram violados para ulteriores reparações judiciárias e administrativas.
A Mudança de Nome do Ginásio Nacional
Eis a representação do Instituto pedindo a restituição ao Colégio do nome de D. Pedro II:
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837-1937
"Sr. Presidente da República — O Inst i tuto de
Bacharéis em Letras, associação exclusivamente fundada
por Bacharéis do Colégio de Pedro Segundo e por eles
também exclusivamente mantida 46 anos (1863-1909), não
pode conservar-se indiferente à mudança de nome ora
sofrida pelo Gymnasio Nacional.
Considerando-se, com justo orgulho, ante mural do
Gymnasio, tendo sido por várias vezes pelo Governo
julgado objeto de favores especiais, o que equivale à
declaração implícita de utilidade pública o Instituto acredita
ter pleno direito de intervir no assunto com a força de sua
tradição e o vigor de suas convicções.
Fundado em 1837, o Colégio de Pedro Segundo
começou a funcionar em 1838 como internato, semi-
internato e externato. Corridos dois decénios, o Decreto
de 24 de outubro de 1857 desmembrou o estabelecimento
em duas seções: — Externato e Internato do Colégio de
Pedro Segundo. A divisão não alterou o nome principal do
Colégio.
Sobrevêm a República. Apaga-se o título do Colégio.
Extingue-se o internato. Transformam-se as antigas duas
seções em 1o e 2o Institutos de Instrução Secundária,
ambos em caráter de externato. Mais tarde, adota-se,
enfim, novo nome, Gymnasio Nacional — seccionando em
Externato e Internato do Gymnasio Nacional, seguimento
do Externato e Internato Imperial Colégio de Pedro
Segundo.
Agora desaparece o Gymnasio. Surgem em lugar
dele o Externato Nacional de Pedro Segundo e o Internato
Nacional Bernardo de Vasconcel los, subs t i tu indo o
Externato e o Internato do Gymnasio Nacional.
Com a devida l icença, parece ao Ins t i tu to de
Bacharéis em Letras lhe ser lícito pleitear para o ex-
Gymnasio Nacional a restituição in-integrum do antigo título
Externato e Internato de Colégio de Pedro Segundo, pelas
razões seguintes:
1o — Cinquenta e dois anos de tradição sagraram
para o Colégio o nome de Pedro Segundo.
Trinta e dois anos de tradição lhe assinalaram as
denominações de Externato e Internato do Colégio de Pedro
Segundo. Tradição inteiriça, coesão perfeita.
2o — No período republicano, o Gymnasio Nacional
se viu dividido em Externato e Internato do Gymnasio
Nacional e não recebeu duas denominações opostas.
3o — O voto da Congregação, o desejo dos órgãos
da opinião nacional, a voz dos oradores nas festas de grau
da Casa sempre pediram a mesma coisa: — a volta do
nome de Pedro Segundo para todo o estabelecimento. Só,
pura e simplesmente.
4o — Quaisquer que tenham sido os serviços de
Bernardo Pereira de Vasconcellos ao Colégio, no momento
histórico de sua fundação — e ninguém os nega como
ninguém esquece também os préstimos do Regente, a
primeira figura do Governo — tais serviços se limitaram à
época da fundação. Entretanto, a vida do Monarca
identi f icou-se com o Colégio de Pedro Segundo, e o
soberano muito se esforçou nas funções de protetor da
Casa, proporcionando-lhe o maior esplendor, impondo-a
de tal modo, que de 1889 par diante todos reivindicaram a
restituição ao Gymnasio Nacional do título de Colégio de
Pedro Segundo.
Ninguém falou em Bernardo Pereira de Vasconcellos.
5o — O nome de Bernardo Pereira de Vasconcellos,
na tradição do Colégio de Pedro Segundo, representa corpo
estranho, quando pode merecer completo aplauso e
unânime simpatia a concessão do glorioso nome a nova
fundação pedagógica. Chamado Bernardo Pereira de
Vasconcellos o Internato, é forçoso chamar o Externato —
Marquês de Olinda — pois, na época da fundação do
Colégio, Olinda dirigia o país em nome do Imperador menor,
nada se podendo fazer sem anuência dele.
Tradições equivalem a grandes brilhantes, não se
partem. Que valor tem a Estrela do Sulou o Kohinoorem
pedaços?
6o — Argumentando por absurdo, como muitos
argumentam no caso, o nome de Pedro Segundo representa
apenas adulação antiga de 1837, com a qual se conformou
ESCRAGNOLLE DÓRIA
Bernardo Pereira de Vasconcellos. Que nos ensinam, porém, lições do mundo civilizado?
Os nomes de monarcas podem estar ligados a insti tutos de ensino, corroborando a posteridade homenagem oficial do momento. Na cultíssima França — espelho secular da civilização e dela perene exemplo — nos plenos dias da democrática Terceira República ninguém ainda se insurgiu em Paris contra o Lycée Henry IV'ou contra o Lycée Louis le Grand.
Não consta a presença de Henrique IV ou de Luiz XIV na história da pedagogia.
Ninguém se lembrou de arrancar o nome de Henrique IV e de substituí-lo pelo de Sully, entretanto Ministro de assinaladíssimos serviços ao rei e à Pátria.
7o — Denominar o ex-Gymnasio Nacional — externato de Pedro Segundo e Internato Bernardo de Vasconcellos — equivale a produzir confusões em muita ordem de assuntos:
a) — dividindo a Congregação em dois grupos anualmente presidido pelo diretor de estabelecimento de nome diferente; dois corpos visíveis animados por suposta alma.
b) — provocando a coexistência de títulos como o de bacharel em ciências e letras pelo Externato de Pedro Segundo e bacharel em ciências e letras pelo Internato Bernardo de Vasconcellos — quando, entretanto, tais títulos emanam da fonte e contudo nada de comum representam;
c) — disassociando completamente em futuro muito próximo a tradição histórica e a vida em comum de dois estabelecimentos ligados há mais de meio século;
d) — dif icul tando distribuição das rubricas orçamentárias e de todos os serviços delas decorrentes.
8o — A presença de dois títulos — Colégio de Pedro Segundo e Colégio Bernardo de Vasconcellos — acarretará para o Governo numerosas dúvidas para as equiparações de que infelizmente tanto se usa.
Qualquer colégio a equiparar-se a qual será equiparado — ao Externato de Pedro Segundo ou ao Internato Bernardo de Vasconcellos?
Talvez se responda: — os externatos ao Externato tipo — o Pedro Segundo — os internatos ao Internato tipo — o Bernardo de Vasconcellos.
Mas os colégios "ad-equiparandum" são de regime misto na maior parte. A solução não resolve, pois, a dificuldade.
O argumento é apresentado pelo Instituto apenas como lisura e inteireza na argumentação, porquanto o Instituto não dá quartel ao regime das equiparações, que combateu e combaterá tenaz e inflexivelmente.
Volvendo-se à denominação — Colégio de Pedro Segundo — Externato e Internato — tudo ficará sanado.
A restituição será perfeita, a tradição se tornará inteira, as complicações de ordem administrativa desaparecerão.
Não há desar para governo algum reconsiderar seus atos.
A fórmula — sem efeito — que os governos empregam quotidianamente em relação a pessoas e coisas jamais os desdoura, quando derivados de motivos justos ou recuo de boa fé.
Nem o Estado é oráculo, nem os estadistas são granito. Insensatez é teimar sem razão. O futuro, aliás, governa mais do que o presente. Leis e medidas bem feitas perduram. Na hipótese contrária espera-as o porvir para suprimi-las ou modificá-las.
Ousaria o Governo de 1890 transformar o Instituto Nacional de Instrução Secundária em Colégio de Pedro Segundo?
Entretanto, em 1909, dentro da mesma geração, foi o ato perfeitamente possível e aplaudido.
Os signatários de célebre manifesto republicano de 1870 foram tachados de visionários. Que se disse deles em 1889?
Não é demais insistir no amor ao nome antigo do colégio. Nome ilustre constitui na pátria, em qualquer ordem social, na própria família, património inestimável, defendido
à custa dos maiores sacrifícios, honrado a poder dos maiores esforços.
Protestando, pois, o seu súbito apreço ao Governo constituído, o Instituto dos Bacharéis em Letras, escudado na razão, nas tradições, no desejo unânime da classe, vem respeitosamente solicitar-lhe a restituição inteira do nome de Pedro Segundo para o Externato e o Internato do ex-Gymnasio Nacional".
Infelizmente, após longos anos de vitalidade, na constância de esforço pela cultura, o Instituto dos Bacharéis em Letras entrou em eclipse do qual não saiu até hoje. Merece ressurreição pois, e sempre teve vida nobre. Que ressurja.
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
AARÃO REIS, Daniel Penna 244, 250 ABRANTES, Marquês de ver ALMEIDA, Miguel Calmon
du Pin e ABREU, Decio Guimarães 268-269 ABREU, Joào Capistrano de 167, 181,222, 231, 264 ABREU, Pedro José de 89, 105, 130, 133, 143-145, 163-
164, 190 ABREU, Saturnino Santa Clara Antunes de, Frei 127,
163 ACADEMIA DE CIÊNCIAS, LETRAS E ARTES 249 ACADEMIA DE HISTÓRIA 249 ACADEMIA DE MARINHA 76, 108, 163 ACADEMIA DOS DEZ 249 ACADEMIA FRANCESA 268 ACADEMIA IMPERIAL DAS BELAS ARTES 102, 119,
143 ACADEMIA IMPERIAL DE MEDICINA 102-103 ACADEMIA MILITAR DO RIO DE JANEIRO 44, 108 ACCIOLI, José Cavalcanti de Barros 183, 234, 254,
258, 260, 269 ACHE, Felippe Hypolito 72 ADJUNTO, Alonso Garcia 176, 179 AFFONSO PENNA JÚNIOR 221, 229 AFFONSO PENNA, Presidente (1906-1909) 183, 186-
188,227
AGASSIZ, Luiz 107-108 AGRÍCOLA, Júlio 159 AGUIAR, Carlos Augusto da Costa 190 AGUIAR, Joaquim Luiz Mendes de 188, 226, 228, 231-
232, 240 AGUILAR, José Pedro Werneck Ribeiro de 65 AITA, Nella 210 ALBUQUERQUE, Almeida e 43 ALBUQUERQUE, António Francisco de Paula e Holanda
Cavalcanti de 51 ALBUQUERQUE, Félix Maria de Freitas e 101,120-121,
153 ALBUQUERQUE, Francisco de Paula Cavalcanti de 51 ALBUQUERQUE, José Cândido de 128 ALBUQUERQUE, Ugolino Ayres de Freitas e 120 ALBUQUERQUE. Visconde de ver ALBUQUERQUE.
António Francisco de Paula e Holanda Cavalcanti de ALEIXO, António Dias Pinto 272 ALENCAR, Alexandrino Faria de 188 ALENCAR, José Martiniano de 40 ALEXANDER, Alfredo 52, 164, 231 ALFREDO, João ver OLIVEIRA, João Alfredo Correia de
71, 117-118, 120, 122 ALMEIDA LISBOA, Joaquim Ignacio de 182, 240 ALMEIDA, António Caetano de 100
* Elaborado pela Comissão de Atualização. As entradas para nomes institucionais aparecem em itálico e para os títulos de publicações, em negrito. (N. do E.)
índice Onomást ico*
ESCRAGNOLLE DÓRIA
ALMEIDA, António Figueira 229.238
ALMEIDA, Cândido Mendes de 274
ALMEIDA, Fernando Mendes de 120, 191, 274
ALMEIDA, Joào Mendes de 190,213
ALMEIDA, João Ribeiro de 72
ALMEIDA, Luiz Castanhede de Carvalho e 161-164,
178,213,228
ALMEIDA, Manoel António de 166
ALMEIDA, Miguel Calmon du Pin e 23, 68, 72, 79
ALMEIDA, Pires de 268
ALMEIDA, Vital de 212 ,218
ALMEIDA, Walkyria 269
ALVARENGA, Silva 17
ALVARES DE AZEVEDO, Manoel António 63-64, 66, 89,
94, 184
ALVERCA, Abade de ver SALGUEIRO, José dos Santos
ALVES, António Teixeira de Souza 276
ALVES, João Luiz 214, 216, 221, 224
ALVES, Joaquim José de Oliveira 162, 177
ALVES, José Luiz 61 ,67
ALVES, Luiz Augusto Drumond 187
ALVES, René Pereira 250
ALVIM, Cesário 172
AMARAL, António Felizardo Cupertino do 116
AMARAL, Ignacio de Azevedo 266
AMARAL, José de Santa Maria 69, 90, 112, 114, 118,
120,127
AMÉRICO, Paschoal 268
AMOR DIVINO, José de 26
AMORIM, João Pires de 119, 163, 277
ANANIAS, António Jorge 250
ANCHIETA 16,123
ANDRADA, António Carlos Ribeiro de 50-51, 53, 72,
257-258
ANDRADE, António José de Paiva Guedes de 59
ANDRADE, Boaventura Plácido Loureiro de 130
ANDRADE, Nilo 242
ANDRADE, Nuno de 130-131
ANDRADE, Octávio Freire de 241
ANDRÉA, Álvaro Soares de 130. 132
ANEMÚRIA, Bispo dever ARRÁBIDA, António de, Frei
ANUÁRIO 63, 76
AQUINO, João Pedro de 174
ARAGUAIA, Visconde de ver MAGALHÃES, Domingos
José Gonçalves de
ARANHA, Graça, Almirante 261
ARAÚJO, Carlos Brasil de 250, 254
ARAÚJO, Joaquim Aurélio Barreto Nabuco de 107
ARAÚJO, Jorge Américo de 250
ARAÚJO, José Tto Nabuco de 276
ARAÚJO, Manoel de Monte Rodrigues de 44
ARAÚJO, Muril lo 229, 265
ARAÚJO. Pedro Américo de 250
ARAÚJO, Urbano dos Santos da Costa 214
ARAUTO, O 250
ARCOS, Conde dos 21
ARCOVERDE, Joaquim 182,280
ARÊAS, José Carlos de Almeida 56 ,273
ARINOS, Barão dever BRITO, Thomás Fortunato de
ARNIZAUT, Luiz Joaquim de Almeida e 65-66
ARQUIVO NACIONAL 184, 235
ARRÁBIDA, António de, Frei 25, 27, 31,35, 45, 64, 119,
158,252,278
ARTOIS, Conte de 71
ARVELLOS, Januário da Silva 33
ATALAIA, O 250
ATHENEU E NOTÍCIAS 250
AUDRET, Alexandre 78
AUGUSTO, Pedro, Dom, Príncipe 121
AZAMBUJA, Cónego 131
AZEVEDO JÚNIOR. Luiz de 71
AZEVEDO, António Mariano de 34
AZEVEDO, António Rodrigues Monteiro de 88
AZEVEDO, Duarte Moreira de 68, 122, 167
AZEVEDO, Ignacio Manoel Alvares de 66-67, 274
AZEVEDO, João Marinho de 177,276
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
AZEVEDO, José da Costa 169
AZEVEDO, José Philadelpho de Barros 191, 204, 214,
216, 222, 228, 236, 238, 243, 258, 265
AZEVEDO, Manoel António Duarte de 72, 90
AZEVEDO, Moreira 16-17, 68
BABO 162
BACKEUSER, Everardo Adolpho 179, 212
BACKEUSER, João Carlos Restier 213
BADARÓ, Eduardo Gê 188, 258, 263-264
BANDEIRA, Esmeraldino Olympio Torres 188-189
BAPTISTA PAI 164
BAPTISTA, Paula 131
BAPTISTA, Pedro Pinto 162, 177, 200-201, 203
BARBACENA, Marquês de ver PONTES, Fel isberto
Caldeira Brant
BARBOSA, Francisco Vilela 44-46
BARBOSA, Isaltino 202
BARBOSA, Januário da Cunha 3 1 , 274
BARBOSA, Joaquim da Cunha 276
BARBOSA, Luiz Torres 239
BARBOSA, Milton Pires 229
BARBOSA, Paulo 24
BARBOSA, Ruy 151-152
BARCA, Conde da 24
BARCELLOS, Annibal 250
BARRETO, Alfredo Coelho 176
BARRETO, Amado Menna 201
BARRETO, Amaro 184
BARRETO, Fausto 166, 231, 244
BARRETO, Mário 244
BARRETO, Rozendo Muniz 130-131, 133. 136, 139,
143, 147, 150, 164
BARROS, Eduardo de Lima 276
BARROS, Prudente José de Moraes e 177-178
BARROS, Sebastião do Rego 26
BARROSO NETTO 268
BARROSO, Almirante 52
BARROSO, José Liberato 103
BARRUEL 27
BEETHOVEN 239
BELL, Graham 153
BELLEGARDE, Niemeyer 53
BELLO, Wenceslau Leite Alves de Oliveira 180
BELTRÃO, António Carlos de Arruda 186
BELTRÃO, Guiomar de Nóbrega 184
BELTRÃO, Heitor da Nóbrega 184
BENEVIDES, António Maria Corrêa de Sá e 100-101,
105, 112, 118-119, 158,272-275,277
BENTO, José 122
BERGERAC, Cyranode 63
BERNA, Benevenuto 254, 265
BERNARDES, Arthur 214, 218, 221, 224
BERQUÓ, João Maria da Gama 133-134, 151, 167
BERRY, Duque de 71
BEVILÁQUA, Clóvis 131
BEVILÁQUA, Dora 256
BEVILÁQUA, Mário 194, 201, 203, 251
BEVILÁQUA, Sylvio Alfredo 176
BIBLIOTECA NACIONAL 90, 101. 118-119, 184
BIBLIOTECA PÚBLICA DO RIO DE JANEIRO 31
BIHOURD, Pierre 73
BITTENCOURT, António Coelho 186
BITTENCOURT, Nascimento 186
BLAKE, Sacramento 71
BOM RETIRO, Barão de ver FERRAZ, Luiz Pedreira do
Couto
BOMSUCESSO, Anastácio Luiz do 63, 79, 272, 274-277,
279
BONAPARTE, Jeronymo 24
BORGES, Abílio César 133
BORGES, António Pedro de Carvalho 34
BORGES, Francisco José 65-66
BOSCOLI, José Ventura 80, 90, 105, 190
BOSSUET 123
BOTELHO, Manoel 17
BRAGA, Ernani 186
ESCRAGNOLLE DÓRIA
BRAGA, Francisco 268
BRAGA, João 182
BRANCO, Alves 66-67
BRANDÃO, Luiz de Almeida 37
BRANNER, John Casper 214
BRASIL, Joaquim Pinto 69
BRAUNE, João Henrique 114 ,167 ,276
BRAZIL, Thomaz Pompeu de Souza 115
BRAZIL, Sebastião Pereira 186
BREVES, João Onofre de Souza 166 ,208 ,210 , 212
BRITO, Cyro Cândido Martins de 71
BRITO, Floriano Corrêa de 209, 215, 232, 235
BRITO, Francisco Augusto Xavier 115
BRITO, Francisco Bernardo 190
BRITO, João Bernardo de 165
BRITO, Joaquim Marcelino de 60
BRITO, Luiz Raymundo da Silva 119, 158, 161, 164,
177, 182,252
BRITO, Marcelino de 65
BRITO, Mário Paula 106, 186, 263
BRITO, Paulino de Souza 56
BRITO, Raymundo Farias 188, 203, 264
BRITO, Thomaz Fortunato de 113
BUENO, Marcelino José da Ribeira Silva 52
BULHÕES, Oscar 277
BURNIER, António Ildefonso Nascentes 38, 93-94
CABRITA, Francisco Carlos da Silva 180-182, 252, 278
CAETANO, João 106,112
CALDEIRA, Reginaldo Netto 60
CALMET 123
CALOGERAS, João Baptista 52, 65-66, 69-71, 167
CAMARINHA, Mário 268
CAMILLO, Alexandre 181
CAMINHOÁ 145-146,166
CAMÕES 202
CAMPOS SALLES, Manoel Ferraz de, Presidente (1898)
73, 180-181, 187
CAMPOS. Francisco Luiz da Silva 248
CAMPOS, Horácio Mendes 186
CAMPOS, Martinho Alvares da Silva 30, 116
CANTALUPPO, Roberto 255
CANTÃO 233
CARCANO, Ramon 259
CARDOSO. Ernani de Figueiredo 265
CARDOSO, Miranda 265
CARLOS V 156
CARMO, José Joaquim do 130, 132, 134, 136-138, 142-
144, 146-147, 150-151, 153, 155-156, 158, 252
CARMO, Nuno de Andrade 131
CARNEIRO LEÃO, António 249
CARNEIRO, António Alves 153
CARNEIRO, Plácido Mendes 19-20,22
CARVALHO BORGES, Barão de ver BORGES, António
Pedro de Carvalho
CARVALHO, António Luiz Affonso de 175
CARVALHO, Balduíno Rodrigues de 165
CARVALHO, Carlos de 113
CARVALHO, Carlos Delgado de 210-211, 220, 234-236,
243-244, 247, 249, 252, 254, 267-268
CARVALHO, Carlos Leôncio de 128-130
CARVALHO, Cecílio de 186, 203, 205, 211 , 217-218,
221
CARVALHO, Guilherme Affonso de 113, 176, 209
CARVALHO, João da Costa 69-70, 72, 76-78
CARVALHO, José Dias Delgado de 178, 181
CARVALHO, Pedro Affonso de 275
CARVALHO, Pedro Guedes de 187
CARVALHO, Pedro Luiz de 18
CASTÃO, Octávio Severo 236, 254
CASTELLO BRANCO, Bernarda 19
CASTELLO BRANCO, José Gil 182-183, 252
CASTELLO B R A N C O , José J o a q u i m J u s t i n i a n o
Mascarenhas 17
CASTELLO BRANCO, Marcelino Sampaio 177
CASTELLO BRANCO, Pandiá Hermann de Tautphoeus
189
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837-1937
CASTELLO BRANCO, Urbano Burlamaqui 156
CASTELLO, Vianna do 235
CASTELNAU, Conde de 41
CASTRIOTO, Carlos Frederico 63, 72
CASTRO, Correggio de 229, 240
CASTRO, Gentil Coelho de 239
CASTRO, José António de Azevedo 88
CASTRO, José António de Magalhães 228
CASTRO, Leandro Rebelo Peixoto e 37-38, 40-41, 44,
51
CASTRO, Luiz de 259
CASTRO, Tito Lívio de 153
CAVALCANTE, Amaro Bezerra 153, 179, 180
CAVALCANTI, Holanda 60
CAVALLI, José Angelo 259
CAXIAS, Duque de ver SILVA, Luiz Alves de Lima e
CAYRU, Visconde de ver LISBOA, José Maria da Silva
CAYX 27
CEARENSE, Catulo da Paixão 268
CENTRO CARIOCA 265
CERVANTES 82, 93
CÉSAR, João Pinto do Rego 88, 99, 170. 259, 273, 275,
277
CHAILLOT, Amelot de, Conde 175
CHAPOT PREVOST, Rodolpho 236
CHAVANTES, Alcino José 229-230, 260, 264
CHAVES, Octacilio da Silva 269
CHRISTINA, Thereza 61
CHROKATT DE SÁ, Gilberto 267-268
CITANNA, José 255
CLÉON, Camillo 71
CLIAS 123
CLINTOCK 133 ,136 ,163
CLUCK, Jayme 268
COELHO NETTO, Henrique 258
COELHO NETTO, Zita 228
COELHO, Assis 52
COELHO, Edilia da Rocha 268
COELHO, Jayme Jansen 229 ,238 ,242
COELHO, Manuel Inácio Souto Maior Pinto 24, 26
COELHO, Olindo Pinto 186
COIMBRA, Argemiro Gabriel de Figueiredo 127
COIMBRA, João Bernardo de Azevedo 114
COLÉGIO AQUINO 200
COLÉGIO DA BAHIA 16
COLÉGIO DE JACUECANGA 38, 42
COLÉGIO DE PIRATINGA 16
COLÉGIO DE PIRATININGA 16
COLÉGIO DE SANTA CÂNDIDA 136
COLÉGIO DOS JESUÍTAS 16-17
COLÉGIO HENRIQUE IV 282
COLÉGIO IMMACULADA DA CONCEIÇÃO 113
COLÉGIO LEUZINGER: 113
COLÉGIO MARINHO 113
COLÉGIO MILITAR 250
COLÉGIO PAULA FREITAS 218
COLÉGIO PINHEIRO 113
COLÉGIO PINTO FERREIRA 264
COLÉGIO PLÍNIO LEITE 264
COLÉGIO SÃO PEDRO DE ALCÂNTARA 113
COLÉGIO SÃO VICENTE DE PAULO 264
COLÉGIO VASSIMON 181
COLÉGIO VICTORIO 113
COMPANHIA DE JESUS 16
COMTE, Augusto 256
CONSTANT, Benjamim 99, 170, 172-173, 179
COQUEIRO, João António 181-182, 191, 194 ,252 ,261 ,
278
CORDOVIL 105-106
CORRÊA, Azevedo 126
CORRÊA, Henrique Vaz 235
CORRÊA, José de Souza 76-79, 81-82, 84, 117, 123,
252
CORRÊA, Manoel Francisco 273, 277
CORRÊA, Pedro da Silva 130
CORRÊA, Rivadavia da Cunha 191-194
ESCRAGNOLLE DÓRIA
CORREIA, Felipe da Motta Azevedo 101
CORREIA, Leôncio 183
CORTEZ, Bento da Trindade 166
COSTA, Cláudio Manoel da 17
COSTA, Cypriano Amoroso 183
COSTA, Eurico António da 235
COSTA, Henrique César de Oliveira 179, 183
COSTA, Jacintho Pereira da 18
COSTA, José Caetano da Silva 73
COSTA, Manoel Olympio Rodrigues da 139, 142, 144,
164
COSTA, Maria Júlia Picanço da 153
COSTA, Octávio Corrêa 266-267
COTEGIPE, Barão de ver WANDERLEY, João Maurício
COUTINHO, José Caetano da Silva 20
COUTINHO, José Lino 22
COUTINHO, José Vicente de Azeredo 273
COUTINHO, Samuel Castrioto de Oliveira 124
COUTO, Joaquim Ignacio do 99
COUTO, Manoel de Magalhães 167,181
COUTO, Pinto do 102
COUTTO, Pedro do 215-216, 226, 229, 232, 234-235,
237, 243, 254, 259, 260, 267, 269
CRAVEIRO, António Tibúrcio 52
CRISOPÓLIS. Bispo dever SANTA MARIANNA, Pedro de
CRUZ, Luiz Carlos Fróes da 280
CRUZEIRO, Visconde de ver TEIXEIRA JÚNIOR, Jerónimo
José
CUMBERWORTH 52
CUNHA FILHO, Joaquim Jeronymo Fernandes da 127,
130-131
CUNHA, Ambrósio Leitão da 154-155
CUNHA, Arthur 233
CUNHA, Domingos José da Silva 233
CUNHA, Ernesto Frederico da 272, 276-277
CUNHA, Euclides da 188-189, 203, 264
CUNHA, Felippe Ribeiro da 22
CUNHA, Haroldo Lisboa da 259
CUNHA, Joaquim Jeronymo Fernandes da 127
CUNHA, Tristão da 226,240
CUVIER 123
DABEVILLE, Cláudio 122
D'AMBRÁSIO, Paulina 186
D7WILA, Henrique 72
D'ESCRAGNOLLE, João Roberto 233
DANFORT 265
DANTAS, Rodolpho 151
DE ROZOIR 27
DELPECH, Adriano 184, 226, 228, 235, 238, 240, 247,
249
DEMOSTHENES 123
DIAS, António Gonçalves 68-71, 78-79, 202, 274
DIAS, Manoel de Campos 18-19
DIRCEU 268
DOBRENZENKY. Condessa de 227
DODSWORTH, Henrique de Toledo 209, 214, 226, 235,
238, 240, 244, 247, 249, 253-254, 258, 263, 269
DODSWORTH, Jorge João 88
DÓRIA, Francisco Manoel das Chagas 126
DÓRIA, Franklin 164,234
DÓRIA, Gustavo 268
DÓRIA, Luiz Gastão d'Escragnolle 68, 167, 183-185,
188. 191, 213, 216. 226, 228, 232, 238-239, 241-243,
253-254, 263, 269, 280
DOURADO, José Ferraz de Oliveira 38
DOURADO, Mescenas Pereira 229
DRAGO, Luiz Pedro 113, 116, 132, 135, 146, 163
DRUMOND, João da Costa Lima 133, 152, 278-279
DUARTE, Fortunato da Fonseca 166, 188
DUARTE, Francisco de Paula Belfort 99
DUARTE, Manoel Gomes Belfort 276
DUARTE, Viriato Belfort 114
DUMONT 27
DUQUE ESTRADA, Domingos de Azevedo Coutinho 106
DUQUE ESTRADA, Joaquim Osório 183
DURÃO, Rita, Santa 17
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837-1937
ELIA, Hamilton 250, 268
ELIA, Sylvio 250
ERVEN, Francisco van 114
ESCOLA DAS BELLAS ARTES 24
ESCOLA DE ESTADO MAIOR DO EXÉRCITO 191
ESCOLA DE MEDICINA 30
ESCOLA DE MINAS DE OURO PRETO 191
ESCOLA DE MINAS DE PARIZ 191
ESCOLA DE SOLDADOS DO COLLEGIO 217
ESCOLA NORMAL DO DISTRITO FEDERAL 130, 140,
146, 152, 154-155, 158, 174, 183, 191, 256
ESCOLA POLYTECHNICA 114, 119, 126, 161, 174, 191,
256
ESCOLA WENCESLAU BRAZ 191
ESCUDO DE MINERVA 90
ESPINHEIRA, Álvaro 240 ,243 ,247
ESTATUTOS DO INSTITUTO DOS BACHARÉIS EM
LETRAS 103
ESTRABÁO 123
EU, Conde d' 105,214
EULER 123
EVREUX, I v e s d ' 122
FACULDADE DE DIREITO DE RECIFE 131, 157
FACULDADE DE DIREITO DE SÃO PAULO 80, 89, 127
FALLER, Annibal 207,218
FALLETI, Bernardo José 68
FARIA, Chaves 113
FARIA, Eutropio Pereira de 203
FARIA, Quintino José de 147
FARIAS, Ascanio Pedro de 250
FARINA, Ciro Romano 191,212
FAZENDA, José Vieira 104-107, 275, 277
FEIJÓ, Luiz da Cunha 89
FEIJÓ, Regente 23, 44-47
FÉLIX, Monsenhor 133, 139-140, 143-144, 153
FERNANDES, Oliveira 166
FERNANDES, Oridéa 244
FERRAZ, Costa 93, 273
FERRAZ, Jorge Belmiro de Araújo 219
FERRAZ, Luiz Pedreira do Couto 80-81, 86, 265, 278
FERREIRA, António Gonçalves 178
FERREIRA, Augusto Cláudio 269
FERREIRA, Carlos Vieira 169-170
FERREIRA, José Paula 226,229
FERREIRA, Luiz Nunes 212
FERREIRA, Manoel Arthur 147, 214, 226, 229, 258
FERREIRA, Miguel Vieira 170
FERREIRA, Silvestre Pinheiro 21-22
FIALHO SÉNIOR, Abreu 160
FIALHO, José António de Abreu 159, 161, 168, 228
FIGUEIRA, António Fernandes 132, 277
FIGUEIREDO, Afonso Celso de Assis 169
FIGUEIREDO, Carlos Arthur Moncorvo de 275, 277
FIGUEIREDO, José Bento da Cunha e 117, 126, 128,
130, 145
FIGUEIREDO, Moncorvo de 277
FIGUEIREDO, Sebastião Ferreira de 217, 218
FILGUEIRAS, José António de Araújo 272
FIÚZA, Yeddo 265
FLETCHER 89 ,108
FLEURY, André 90
FONSECA, António Gabriel de Paula 239
FONSECA, Eduardo Emiliano da 59
FONSECA, Hypolito Mendes da 59
FONSECA, João Severiano da 59
FONSECA, Manoel Deodoro da 169, 172, 176, 233-234
FONSECA, Manoel Mendes da 59
FONSECA, Marechal Deodoro da 59
FONSECA, Marechal Hermes da 189-191
FONSECA, Mariano José Pereira da 210
FONSECA, Thomaz Ramos da 276
FONSECA, Valeriano Ramos da 113, 278
FRAENKEL, Cláudio Alfredo de Magalhães 215
FRANÇA JÚNIOR, Ernesto Ferreira 79
FRANÇA, Carlos Ferreira 119, 133, 136, 141-142, 144,
167
FRANCISCA, Princesa 24-25
ESCRAGNOLLE DÓRIA
FRANCISCO, Mart im 51
FRANCO, José da Purificação 84, 87, 105
FRANCO, Pedro Affonso de Carvalho 103
FRAZÃO, Sérgio 250
FREDERICO, Orlando 184
FREIRE, Domingos José 100,272-273
FREIRE, José da Silva Pinheiro 64
FREIRE, Junqueira 274
FREITAS, Francisca Miranda de 255
FREITAS, Irineu Leite de 240
FREITAS, José Viriato de 93
FREITAS, Luiz Paula 265
FREITAS, Maria Elisa Leite de Lima 255, 267-268
FRÓES, Arlindo 229
FRONTIN, André Gustavo Paulo de 123, 130, 146-147,
196,208,254
FRONTIN, Jean Gustave de 123
GABAGLIA SÉNIOR, Eugênio Raja 20-21, 167, 177-178,
181, 194-195, 200, 208-209, 231
GABAGLIA, Alberto Raja 244
GABAGLIA, Fernando António Raja 203, 214-216, 218-
219, 230, 238, 243, 247, 253-254. 257-259, 260-261,
264-266, 269
GADE, Jorge 5 1 , 71 , 78-79
GALVÃO, Ignacio da Cunha 34
GALVÃO, Manoel António 43-46
GALVÃO, Manoel Raymundo 53
GALVEAS, Conde das 18
GAMA, Agostinho Luiz da 176,215
GAMA, Basil ioda 17, 123
GAMA, João Saldanha da 154, 273
GÂNDAVO 123
GARCEZ PALHA, Diogo 276
GARCIA, José Manoel 99-100, 102, 116, 121, 132,140-
142, 144-146, 154-155, 189, 274
GARCIA, Roberto 255
GARCIA, Washington 182
GASPARINI, Savino 252
GASTÃO, Pedro 265
GAZETA DA TARDE 1 53
GAZETA DE NOTÍCIAS 174, 193
GAZETA DO RIO DE JANEIRO 21
GERVAIS, Desnelle de 52, 208
GIBBON 123
GINÁSIO NACIONAL 173, 186-188
GINÁSIO PETROPOLITANO 264
GÓES, Araújo 133
GÓES, João Francisco de 177, 203
GOETHE 123,164
GOLDESCHMIDTBertholdo 51 ,71 ,79 , 129, 133, 136-
137, 139-140, 145-146
GOLDSCHMITDT, Augusto 51 , 190
GOMENSORO 88
GOMES, Alfredo Augusto 124. 190
GOMES, António Ildefonso 38
GOMES, Gabriel de Medeiros 62, 102, 120
GOMES, Roberto 186
GOMES, Wenceslau Braz Pereira 195
GONÇALVES, Bacharelvex SILVA. João António Gonçalves
da
GONÇALVES, Salathiel Firmino 205. 209
GONZAGA, José Basileu Neves 276-277
GONZAGA, Olympio 179
GORCEIX, Henrique 191,220
GOULART, Cybelle 244
GOULART, Francisco Vieira 27
GOUVÊA, Manoel Marques de 277
GUADALUPE, António de, Bispo 18-19, 195
GUARCH, Susviela 279
GUEDES FILHO, Manoel Joaquim 217-218
GUEDES, Júlio Adolpho da Fontoura 162, 164
GUILLON, Joaquim Gonçalves 166
GUIMARÃES, Francisco Pinheiro 176, 178, 182, 193,
269
GUIMARÃES, Hanehmann 228,260
GUIMARÃES, J. F. 268
GUIMARÃES, Luiz Pedreira de Castro Pinheiro 229,
233, 240, 255
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
GUIZOT 123
HALBOUT, José Francisco 52, 89-90, 105, 133-136,
139, 147, 161, 163-164, 166, 174-175, 190-191
HARRT, Frederico Carlos 107
HAUHER, Júlio 229
HEILBORN, Hans 51 , 181, 197
HERMES, João Severiano da Fonseca 128, 191
HERMITTE, Luiz 255
HIGGINS, Arthur 213,226
HOMEM DE MELLO, Barãover HOMEM DE MELLO,
Francisco Ignácio Marcondes
HOMEM DE MELLO, Francisco Ignácio Marcondes 102-
103, 131, 137-138, 145, 151, 204
HOMEM, Joaquim Vicente Torres 64
HOMERO 62 ,166
HOPE, Frederico 64
HORÁCIO 62, 123, 163
HUET 181
IBITURUNA. Barão de 155
IDA, Manoel Said Ali 176, 222, 226, 240, 258
ILLIADA 62 ,127
INÁCIO, Joaquim José 23
INHAÚMA, Visconde dever INÁCIO, Joaquim José
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO ver ESCOLA NORMAL DO
DISTRITO FEDERAL
INSTITUTO DOS ADVOGADOS DO RIO DE JANEIRO 54
INSTITUTO DOS BACHARÉIS EM LETRAS 272, 283
INSTITUTO DOS SURDOS MUDOS 181
INSTITUTO FERREIRA VIANNA 179
INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRAPHICO BRAZILEIRO
30, 184,235,259
INSTITUTO KOPKE 178, 280
INSTITUTO NACIONAL DE MÚSICA 186
INSTITUTO PHARMACEUTICO 158
INSTITUTO PROFISSIONAL JOÃO ALFREDO 155,179
INVESTIGADOR PORTUGUEZ 21
IRAJÁ, Conde de, Bispo 132
ITABORAHY, Visconde de ver TORRES, Joaquim José
Rodrigues
ITANHAEM, Marquês dever COELHO, Manuel Inácio Souto
Maior Pinto
JACOTOT 136
JANSEN, Carlos 167
JANUARIA, Princesa 25
JOÃO V, Dom 18-19
JOÃO VI, Dom 19 -22 ,24 ,31 ,106
JOINVILLE. Príncipe 25
JORGE, Guilherme José 191
JORGE, José Guilherme de Araújo 250
JORNAL DO BRASIL 235
JORNAL DO COMMÉRCIO 25-27, 193
JOSÉ I, Dom, Ministro 16, 19
KAMMSETER, Hugo 250
KEPLER 123
KIDDER 89 ,108
KIESSER 156
KNEPP, Monsenhor 38
KOHN, Zulmira de Moraes 153
KULNER, Barão de 78
L O I A P O Q U E ET L A M A Z O N E , Q U E S T I O N S
BRESILIENNE ET FRANÇAISE 43, 73
LABATUT 132
LACERDA, João Baptista de 103, 205
LACERDA, José Cândido Sampaio de 239
LACROIX 27
LADÁRIO, Barão de ver AZEVEDO, José da Costa
LAET, Carlos Maximiliano Pimenta de 113, 119, 145,
150, 166, 197, 200-210, 212-214, 216-222, 226, 228,
232-234, 239, 241, 252, 260. 275
LAET, Carlos Rocha Mafra de 239
LAPA, Ludgero da Rocha Ferreira 65-66
LAVRADIO, Barão dover REGO, José Pere\ra
LAXE, Cortines 102
LEAL PAI 164
LEAL, António Henrique 132, 154, 261
LEAL, Carlos Galdino 177 ,212 ,259
LEAL, Francisco de Paula 26
ESCRAGNOLLE DÓRIA
LEAL, José Pinto da Silva 163
LEAL, Pedro Galdino 209, 212
LEÁO FILHO, Honório Hemeto Carneiro 63
LEÃO XIII 230
LEÃO, Francisca de Azevedo 221
LEÃO, Honório Hermeto Carneiro 54, 80, 86
LEÃO, José Eugénio de Azevedo 221
LEDO, Theophilo das Neves 273
LEIBNITZ 127
LEITÃO JÚNIOR, José Pereira 276
LEITÃO, Sebastião da Motta 18
LEITE. António 257
LEITE. António Pires Ferreira 204-205
LEME, Jurandyr dos Reis Paes 229
LEME, Luiz Betim Paes 278
LEMOS, Miguel 118
LESSA, Fernando Francisco 5 1 , 61
LICEU DE ARTES E OFÍCIOS 115, 126, 154-155
LIMA, Agostinho José de Souza 93 ,114
LIMA, Alceu de Amoroso 261
LIMA, Augusto Daniel de Araújo 178, 194-197, 202,
205.211,252
LIMA, Carmem Casado 184
LIMA, Domingos da Silva 162.177
LIMA, Edla da Costa 228
LIMA, Enock Rocha 103, 229-230. 257, 264
LIMA. Franklin da Silva 130
LIMA, José Joaquim da Fonseca 117-118, 120-123,
126-132, 158,252
LIMA, Luiz Alves de 98-99
LIMA, Pedro de Araújo 86, 99, 102, 105, 107, 112, 174,
188, 264-265, 267, 269, 278-279, 281
LIMOEIRO, António Mendes 106, 166, 276-277
LIMOEIRO, Edmundo Mendes 278
LINDSAY, Roberto Nunes 152
LIPPARONI, Gregório 52, 130, 208
LISBOA, Balthazar 19
LISBOA, Ildefonso Castilho 280
LISBOA, João Francisco: 132
LISBOA, João Gonçalves Coelho 176
LISBOA, José da Silva 105, 133, 139, 141-143, 153,
182
LISBOA, José Maria da Silva 21
LISBOA, Pedro de Alcântara 34
LOBATO, Rodrigo 233
LOBO, Aristides da Silveira 172
LOBO, Fernando 178
LODI, Euvaldo 258
LOPES, António de Castro 68, 78, 182
LOPES, Moacyr Araújo 216
LOPES, Rodolpho de Paula 176. 206-207, 221-222, 226.
258
LOPEZ, Carlos António 112
LOPEZ. Francisco Solano 103. 105, 112, 114
LORETO, Barão de ver DÓRIA, Franklin
LOUREIRO, António Manoel 56
LOURENÇO FILHO 263
LUCENA 123
LUCENA, Barão de ver LUCENA, Henrique Pereira de
LUCENA, Henrique Pereira de 100,175
LUCIANO 276
LUISANT, Pif 63
LUTZ, Bertha 243
LYCÉE HENRY IV 77, 282
LYRA, Tavares 183, 186-188
MAC DOWELL, Francisco, Cónego 226, 240, 249, 264,
269
MACAÉ, Visconde de ver TORRES, José Carlos Pereira
de Almeida
MACAHUBAS, Barão de ver BORGES, Abílio César
MACEDO, Aprigio Carlos de 259
MACEDO, Araripe 226
MACEDO, João Rodrigues de 133-134, 136, 140-142,
144, 146
MACEDO, Joaquim Manoel de 67-72, 79-80, 105,113,
122, 126, 147, 150-151. 162, 167, 174, 181
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
MACEDO, Luiz Cândido Paranhos de 118, 124, 154,
156-157, 166,204-205
MACEDO, Sérgio Teixeira de 98-99
MACHADO, Aureliano Vieira Werneck 146
MACHADO, Brasido 200
MACHADO, Leão Vieira do Nascimento 207
MACHADO, Nelson Rodarte 228
MACIEL, Francisco Antunes 153
MACIEL, Maximiniano 218
MAFRA, João Maximiniano 106
MAGALHÃES, Domingos José Gonçalves de 31-33, 35.
42 ,202 ,278
MAGALHÃES, Fernando Augusto Ribeiro de 178, 266
MAGALHÃES, João José de Moura 93
MAGALHÃES, Theodoro Augusto Ribeiro de 212, 214,
277-279
MAGNUS, Gustavo 203
MAIA, Augusto Pedro da Silva 237, 278
MAIA, Emilio Joaquim da Silva 31-32, 35, 37, 52, 54-
55,63, 100
MAIA, José Pedro da Silva 59 ,113
MAIA, Mattoso 167, 181
MALEBRANCHE 127
MALHEIRO, Agostinho Marques Perdigão 55
MALHEIROS, Joaquim Mendes 89 ,113
MALLET, João Carlos Pardal de Medeiros 127, 134, 146
MAMORÉ, Barão de ver CUNHA, Ambrósio Leitão da
MAMORÉ, Ministro 156
MANCEBO. Gervásio 88
MANOEL. Francisco 106
MANOEL, Poluceno Pereira da Silva 133, 135
MARANHÃO, Bispo de ver SARAIVA, Luiz da Conceição
MARIANNA, Bispo dever PIMENTA, Silvério Gomes
MARICÁ, Marquês dever FONSECA, Mariano José Pereira
da
MARQUES, César Augusto 121, 126-127, 130, 132, 168
MARQUES, João 168
MARTINS 22,107
MARTINS, António Félix 91
MARTINS, Francisco Gonçalves 78-80, 86
MASCARENHAS, Manoel Moreira de Figueiredo 38
MASSINI .José 212
MATTA, A ryda 150,254
MATTA, Nascimento 86
MATTOS FILHO, Plinio Gomes de 239
MATTOS, Carlos Gonçalves 162
MATTOS, Eusébio de 17
MATTOS, Gregório de 17
MATTOS, João Cancio Nunes de 170
MATTOS. José Cândido de Albuquerque Mello 191,
194,252, 258
MATTOS. José Veríssimo Dias de 177, 180, 252
MATTOS, Luiz José de Carvalho Mello 128, 217, 273,
277
MAXIMILIANO, Carlos 201
MAYRINK, João Carlos 272,277
MAZE, Diogo 52, 61
MEIRELLES, Joaquim Cândido Soares de 52
MEIRELLES, José Gomes de Azambuja 130
MEIRELLES, Saturnino Soares de 189
MELLO E SOUZA, João Baptista de 183, 228-230, 253-
254, 258
MELLO FILHO, João Capistrano Bandeira de 157
MELLO, Alexandre Soares de 146
MELLO, Custódio José de 177
MELLO, Domingos Ramos 114, 133-135, 143-144, 146,
164. 167. 212
MELLO, Figueira de 242
MELLO, João Capistrano Bandeira de 157-158,166, 177,
183
MELLO, José Bento Leite Ferreira de 44-46
MELLO, José Tavares de 32 ,51
MELLO, Maria dos Santos 186
MENDES, Fernandes 191
MENDES, Raymundo Teixeira 118-120
MENDONÇA, Jorge Furtado de 35, 72, 82, 84, 103, 105
ESCRAGNOLLE DÓRIA
MENDONÇA, Salvador Furtado de 32, 104, 279
MENEZES, Augusto Xavier de Oliveira de 196, 204, 215,
226, 234, 240, 250
MENEZES, Carlos Alberto de 107, 274, 276
MENEZES, Francisco de Paula 62, 67, 72, 87
MENEZES, Francisco Xavier Oliveira de 166, 196, 207,
209-210,260
MESCHICK, Augusto Guilherme 5 1 , 176 ,211 .215
MESQUITA, Torquato Vieira de 233
MEYER, Pedro Guilherme 112-113
MIGUEL, Dom 27
MILTON 62, 123
MINERVA BRASILIENSE 82
MIRANDA, Cardoso de 264
MIRANDA, Jayme de 233
MISCOW, Octávio Christo 250
MOLIÈRE 62 ,268
MONAT, Alexandre 231
MONAT, Henrique 181
MONDAINI. Alexandre 162
MONTE ALEGRE, Marquês de ver CARVALHO, João da
Costa
MONTEIRO JÚNIOR, Domingos Jacy 114
MONTEIRO, Clóvis do Rego 229, 242, 260
MONTEIRO, Francisco Mozart do Rego 229
MONTEIRO, Leopoldina de Maya 252
MONTEIRO, Maciel 23
MONTIGNY, Granjean de 24, 27, 106, 122
MONTSERRATE, Camillo de 7 1 , 85
MORAES, Arnaldo de 191
MORAES, Felizardo Joaquim da Silva 34, 40
MORAES, Simeão Pereira de 99
MOREIRA, Affonso Carlos 107
MOREIRA, João José 133-135, 150, 208
MOREIRA, Manoel Duarte 79
MOTTA 105
MOURA, Guilherme Augusto de 56, 205. 209
MUNIZ, Patrício 65-66
MUNIZ, Rozendo 131,143-144
MURINELLY, José Arthur de 99
MURITIBA, Barão de ver TOSTA, Manoel Vieira
MURTINHO, Joaquim 187
MUSEU NACIONAL 103, 248
MUSSURANGA, Américo Romão de Figueiredo 272
MUSSURANGA, Ernesto Romão de Freitas 273, 277
NAPOLEÃO I 24
NASCENTES, Antenor 182. 209, 212-213, 228, 236,
238, 240, 243, 247-249, 253-254
NASCIMENTO, Alexandre Cassiano do 178
NAYLOR, Mário Guedes 229, 242
NERVA 160
NEUKON, Segismundo 106
NÓBREGA, Firmino José Soares da 6 1 , 78
NOGUEIRA, Baptista Caetano de Almeida 89-90
NOGUEIRA, Júlio 226 ,235 ,240
NOGUEIRA, Manoel Thomaz Alves 88, 101, 127, 146,
156, 167, 174
NOGUEIRA, Renée 250
NORONHA, António Henrique de 120, 215
NORONHA, José Romualdo de 106
NORRIS, Guilherme Fairfax 67 ,79
NOTICIÁRIO 250
NOTÍCIAS 250
NOVA MINERVA 82
OITICICA, José Rodrigues Leite e 203, 226, 239. 242,
247, 255-256
OLINDA, Bispo dever BRITO, Luiz Raymundo da Silva
OLINDA, Marquês de ver LIMA, Pedro de Araújo
OLIVEIRA, Arthur Baptista de 140, 213, 216-217
OLIVEIRA, Carlos Américo Barbosa de 183
OLIVEIRA, Manoel Dias de 17
OLIVEIRA, Nelson Alves 186
OLIVEIRA, Quirino de 184
OLLENDORF 136
OLYMPIA, Maria 153
OSÓRIO, Newton Costa de Azevedo 244
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837-1937
OTTONI, Christiano Benedicto 163
OTTONI.Theophilo 114
OURO PRETO. Visconde de ver FIGUEIREDO. Afonso
Celso de Assis
PACHECO, Barão de ver SILVA, Manoel Pacheco da
PACHECO, José Moreira 189
PAÇO, António Jansen do 128
PAIVA, Francisco de Paula 114
PAIVA, José Lourenço de 112
PALM. Frederico 73
PARANÁ, Marquês de ver LEÃO, Honório Hermeto
Carneiro
PARANAGUÁ, Marquês de ver BARBOSA, Francisco Vilela
PARANHOS JÚNIOR, José Maria da Silva 73, 113, 188
PARANHOS, José Maria da Silva 71 ,117
PARDAL, Faria 114
PASSOS, Francisco 233
PASSOS, Lucindo Pereira dos 105. 133, 135-136, 141-
144, 156. 159, 163
PAULINO, Pedro 59
PEÇANHA, Nilo 188
PEDERNEIRAS, Carlos 242
PEDERNEIRAS, Childerico Paranhos 276
PEDERNEIRAS, Manoel Velloso Paranhos 275, 277
PEDERNEIRAS, Raul Paranhos 161, 164-165, 167, 177
PEDREIRA, João Baptista Ferreira 186
PEDRO I, Dom 31
PEDRO, Fahim 228
PEIXOTO, Alvarenga 17
PEIXOTO, Floriano 176,178
PEIXOTO, Joaquim 59
PENIDO FILHO, Raul 267-268
PENNA, Belisario Augusto de Oliveira 243
PENTEADO, Jairo Maciel de Aquino 184
PEREIRA DE SOUZA, Washington Luiz, Presidente(1926-
1930) 243
PEREIRA FILHO, Dagmar Barbosa 254
PEREIRA FILHO. João de Almeida 99
PEREIRA JÚNIOR, Castrioto Costa 63
PEREIRA JÚNIOR, José Fernandes da Costa 63, 71-72,
157-158
PEREIRA. Baltazar Bernardino Baptista 276
PEREIRA, Fernando Lobo Leite 176
PEREIRA, Francisco Maria Sodré 130
PEREIRA, Graciano Leopoldino dos Santos 78
PEREIRA. Hypolyto José da Costa 44
PEREIRA, José Clemente 266
PEREIRA. José Hygino Duarte 1 76
PEREIRA, José Saturnino da Costa 44, 53
PEREIRA, Lafayette Rodrigues 204-205. 207. 219, 238,
242, 258. 260. 265, 267
PEREIRA, Manoel 18,58
PEREIRA, Marcelino da Silva 79
PEREIRA, Octacilio Alvares 201, 203, 211. 235, 250,
253-254, 256
PEREIRA, Timotheo 178,182
PERRAYON, Pedro Felippe 164, 177
PESSOA, Epitacio Lindolpho da Silva 180-181
PESSOA, João Pinto 256
PETALOGICA 106
PIMENTA, Silvério Gomes 182
PIMENTEL, Aureliano Corrêa Pereira 154-156, 164
PINHEIRO, Aleixo 260
PINHEIRO, Fernandes, Cónego 93, 105
PINHEIRO, Galdino Fernandes 102, 114
PINHEIRO, João 185
PINHEIRO, José Feliciano Fernandes 3 1 , 54
PINTO, Alfredo Moreira 212, 276-277
PINTO, António da Costa 128
PINTO. Caetano José de Andrade 72
PINTO, Eduardo de Andrade 63
PINTO, Estevão Leite de Magalhães 185
PINTO, João José de Andrade 34
PINTO, Luz 63
PINTO, Pantaleão José 272, 276
PINTO, Rosetta da Costa 256
ESCRAGNOLLE DÓRIA
PINTO, Santos 105
PINTO, Vaz 108
PIQUET, Francisco Maria 52, 60, 191
PIRAGIBE, Alfredo 103 ,177 ,181 ,275
PIRAGIBE, José Ferreira da Costa 179, 228, 234
PIRES, Evaristo Nunes 85, 175, 272-273, 276
PITA. Rocha 17
PITADA, Duarte José de Mello 276
PIZARRO, João Joaquim 99
PIZARRO, Monsenhor 18
PLANITZ, Barão de ver PLANITZ. Carlos Roberto
PLANITZ, Carlos Roberto 51 , 54, 60, 63-64, 67
PLATÃO 123
POISSON 27
POMBAL, Marquês de 16-17
POMPEIA, Raul de Ávila 132, 134
PONTES, Felisberto Caldeira Brant 44-46, 73
PONTES, Rodrigo de Souza e Silva 53
PORTELLA, Manoel do Nascimento Machado 156
PORTINHO, Cármen 243
PORTO ALEGRE, Manoel de Araújo 33, 8 1 , 202, 214,
278
PORTUGAL, João Maria 189
POTSCH, Waldemiro 226, 244, 255
PRESTES, Júlio de Albuquerque 243
PREVOST, Rodolpho Chapot 236
PRONOME 250
PRZEWODOWSKI, Oscar 229, 242, 247, 254
PULUCENO, Manoel 141
QUADROS, Linneu Bittencourt 244
QUEIROZ, Euzébio de 86 ,99
QUEIROZ, Manoel de 88
QUITITO, Astor Ramos 196
RABELLO, Laurindo 41
RABELLO, Leandro de Castro 37, 40-41, 44
RABELLO, Lino António 37. 40
RAJA GABAGLIA ver GABAGLIA
RAMIZ GALVÃO, Barão dever RAMIZ GALVÃO, Benjamin
Franklin de
RAMIZ GALVÃO, Benjamin Franklin de 101, 114, 175,
216, 231, 259. 266. 272. 274-275, 277
RAMOS, Álvaro Porfírio de Andrade 212
RAMOS, José Ildefonso de Souza 101-102
RAMOS, José Júlio da Silva 182, 222, 242
RAMOS, Lameira 203
RAMOS, Victorino de Paula 183
RAPHAEL, Sanzio 123
RAPOSO, Arlindo Gonçalves 253
REGO FILHO, José Pereira 102, 272-273, 277
REGO, António José de Souza 272
REGO, Eduardo César de Almeida 101-105, 112, 272
REGO, Joaquim Marcos de Almeida 87, 98, 133
REGO, José Pereira 87
REGO, Sebastião Pinto 54 ,119 ,158
REIS NETTO. Ignacio dos 185
REIS NETTO, Olympio dos 185
REIS, Epiphanio José dos 161
REIS, Ernani 214
REIS, José 214
REIS, Manoel Pereira 215
REIS, Othello de Souza 208, 226, 228, 238, 243
REIS, Trajano Furtado 256
RENAULT, Leon 256
REZENDE, Conde dever VASCONCELOS, Luiz de
REZENDE, Leonidas Ribeiro de 186
RIBEIRO, Cândida Borges 153
RIBEIRO, Cândido Barata 152
RIBEIRO, Delphim Moreira da Costa 208
RIBEIRO, João 1 7 6 , 1 8 3 , 2 2 2 , 2 3 1 , 2 5 8
RIBEIRO, José de Araújo 276
RIBEIRO, José Silvestre 21
RIBEIRO, Leonor Borges 153
RIBEIRO, Manoel de Queiroz Mattoso 88
RIBEIRO, Oscar Adolpho de Bulhões 275
RIBEIRO, Santiago Nunes 55, 67, 278
RICCI, Gian Pietro 212
MEMÓRIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
RIO BRANCO, Barão do ver PARANHOS JÚNIOR, José
Maria da Silva
RIO BRANCO, Visconde d e v e r PARANHOS, José Maria
da Silva
RIO DE JANEIRO, O 156
ROCHA VAZ, Juvenil 221-222, 224, 226. 231 , 240
ROCHA, Alexandre Ferreira de 19
ROCHA, Carmindo Carneiro da 250
ROCHA, Justiniano José da 32, 35, 53, 76-78, 167
ROCHET, Luiz 106
RODO, José Henrique 250
RODRIGUES ALVES, Francisco de Paula, Presidente (1902-
1906) 107,278
RODRIGUES JÚNIOR, António Joaquim 177
RODRIGUES, António Joaquim 165
RODRIGUES, Coelho 131
RODRIGUES, Joào Barbosa 119-120
RODRIGUES, José Barbosa 189
ROMERO, Nelson 240, 259, 264, 267
ROMERO. Sylvio 130-131. 166, 168, 259
ROMEU, José 260
ROMITTI. Mário 212
RORIZ, José de Sá 229-230, 268
ROSA, Francisco de Salles 56
ROSENBAUM, Néa 268
ROSSINI 123
ROSTAND, Edmond 63-64
ROTHBERG.Waldomiro 269
ROXO, Euclides de Medeiros Guimarães 184, 189, 209,
221 , 226-228, 232, 235, 237-238, 242-243. 247, 252-
254
ROXO, João Baptista Guimarães 184
RUSSEL, Alfredo de Almeida 211-212, 277, 280
SÁ, Aurélio Garcindo Fernandes de 52
SÁ, Domiciano Fortes de Bustamante e 272
SÁ, Felippe Franco de 153-154
SÁ, Mathias José Fernandes de 52
SACRA FAMÍLIA, Pedro Nolasco da, Frei
SAINTJOHN, Orestes 107
SAKKA, F. 268
SALÃO NOBRE 122-124
SALEK, Júlio 250, 254
SALGUEIRO, José dos Santos 20
SALINAS, Catharina Margarida 37
SALLABERY, Carlos José 280
SALLABERY, Carlos Leopoldo Jorge 177
SANTA MARIANNA, Pedro de 92
SANTO ANGELO, Barão de ver PORTO ALEGRE, Manoel
de Araújo
SANTOS, António Manoel Pereira dos 177
SANTOS, Augusto Ferreira dos 113, 275
SANTOS, Carlos Américo dos 195, 220-221
SANTOS, Carlos Maximiliano Pereira dos 195-197, 201,
203
SANTOS, Custodio Américo dos 107, 166, 275
SANTOS, Dinorah 268
SANTOS, Ezequiel Corrêa dos 116
SANTOS, Hemeterio José dos 129
SANTOS, Inspetor 162-164
SANTOS, João da Cruz 99
SANTOS, José Américo dos 278
SANTOS, José Lourenço dos 236
SANTOS, Marcellino Bispo dos 178
SANTOS, Marcos Baptista dos 226
SANTOS, Máximo de Moura 268
SANTOS, Nestor Victor dos 253
SANTOS, Noronha 87
SANTOS, Pereira 162
SANTOS, Urbano 208,210
SÂO FÉLIX, Barão dever MARTINS, António Félix
SÂO JOSÉ, Rodrigo, Frei 44, 51 , 54, 59, 61-63, 68, 7 1 -
7 2 , 7 9 , 8 5 , 2 7 4
SÂO LEOPOLDO, Visconde de ver PINHEIRO, José
Feliciano Fernandes
SÂO LOURENÇO, Visconde de ver MARTINS, Francisco
Gonçalves
SÂO PAULO, Bispo dever REGO, Sebastião Pinto
ESCRAGNOLLE DÓRIA
SÁO PAULO, João José de 102,273
SAPUCAÍ, Marquês dever VIANA, Cândido José de Araújo
SARAIVA, Conselheiro 131
SARAIVA, Luiz da Conceição 79, 119, 158
SATURNINO, Frei ver ABREU, Saturino Santa Clara
Antunes de, Frei
SAULES, Calos Luiz de 118
SCHIEFFLER, Guilherme Henrique Theodoro 51, 90,105,
114, 126, 132-134, 136, 139-140, 143-144, 174
SCHILLER 164,166
SCHOMBURGLE 156
SCHUMAN 239
SCOTT, Walter 64
SEABRA, José Joaquim 182, 278
SEIBLITZ, Jorge Eugénio de Lossio e 99, 218
SEMINÁRIO DE SÃO JOAQUIM 19 ,21 ,122
SEMINÁRIO DE SÁO JOSÉ 18-19, 108
SENNA, Costa 207, 266
SERÃO, Custodio Alves 27
SERRANO, Jonathas Archanjo da Silveira 124, 229-230,
235, 239, 253-254, 261, 264-265
SILVA JÚNIOR, Pacheco da 133, 136
SILVA, Albino 235
SILVA, António Carlos Ribeiro de Andrada Machado e 50-
51
SILVA, António da Costa Pinto e 127
SILVA, Augusto José de Castro e 272
SILVA, Benecdito Raymundo da 214
SILVA, Celestino da 268
SILVA, Domingos Sérgio de Sabóia e 116
SILVA, Felisberto Pereira da 72
SILVA, Francisco de Paula Severino da 236
SILVA, Francisco Joaquim Bethencourtda 122-123, 202,
241
SILVA, Francisco Manoel da 267
SILVA, Heitor Lyra da 179,212
SILVA, Jacques Raymundo Ferreira da 184, 229, 240
SILVA, João Alves Mendes da 138,145
SILVA, João António Gonçalves da 64, 85, 88, 99, 101,
168
SILVA, João Diogo Esteves da 276
SILVA. João Pereira da 274
SILVA, Joaquim Caetano da 32, 35, 42-43, 51-52, 58-59,
61-63, 66, 68, 72-73, 76, 103, 113, 252, 278
SILVA, Joaquim Fernandes da 56
SILVA, José Bernardino Paranhos da 177, 183-185, 189,
193 ,277 ,278 ,280
SILVA, José Bonifácio de Andrade e 3 1 , 273
SILVA, José Manoel da 256, 273
SILVA, José Maria Velho da 166, 182
SILVA, Luiz Alves de Lima e 54, 71 ,86 , 98, 106
SILVA, Manoel Pacheco da 84-87, 91-92, 94, 98, 101-
102, 107-108, 113-117,1 74, 189-190, 252
SILVA, Mário de Oliveira e 228, 231
SILVA, Maurício Joppert da 189
SILVEIRA, Aloysio Ferdinando de Souza da 182
SILVEIRA, José de Souza da 181, 261
SILVEIRA, José Teixeira de Abreu 53
SILVEIRA, Manoel 162
SILVESTRE, Honório de Souza 205, 211, 255
SIMONI, Luiz Vicente de 52, 84, 98, 112
SINIMBU 114,131
SOCIEDADE AUXILIADORA DA INDÚSTRIA NACIONAL
30
SOUTHEY 70
SOUTO, Luiz Honório Vieira 215
SOUZA, António José de 7 9 , 8 6 , 9 4 , 1 9 0
SOUZA, Benedicto Alves de 265
SOUZA, Carlos Henrique Pereira de 201
SOUZA, Everardo Vallim Pereira de 167
SOUZA, Irineu Evangelista de 80
SOUZA, Joaquim Gomes de 34
SOUZA, José Teixeira de 59, 62
SOUZA, Luiz de, Frei 22
SOUZA, Octávio Augusto Inglez de 212
SOUZA, Paulino de 72 ,115
MEMORIA HISTÓRICA DO COLÉGIO DE PEDRO SEGUNDO 1837 - 1937
SOUZA, Pedro Luiz Pereira de 167
SOUZA, Vicente de 167,183, 188, 203
SOUZINHA, O ver SOUZA, Joaquim Gomes de
SPINOSA 127
SPIX 22, 107
STENBERG. Hilgard 268, 269
STRESSNER 114
STURZENECKER, Gastão Mathias Ruch 52, 177, 181,
183, 191, 216, 219, 226, 228, 242, 247, 258
SUASSUNA, Visconde de ver ALBUQUERQUE, Francisco
de Paula Cavalcanti de
SUMNER, George 234-235, 238, 243, 247, 258-260
TÁCITO 159-160
TAMANDARÉ, Marquês de 161
TASSO 268
TAUBE, Guilherme Augusto de 53-54, 64
TAUNAY, Alfredo Maria Adriano d'Escragnolle 85-86,
88,90-95, 150,272-273
TAUNAY, LuizGoffredod'Escragnol le 116
TAUNAY, Visconde cie ver TAUNAY, Alfredo Maria Adriano
d'Escragnolle
TAUTPHOEUS, Barão deverTAUTPHOEUS, Hermann de
TAUTPHOEUS, Hermann de 5 1 , 69-70, 78, 80, 85, 133,
146, 166-168
TAVARES, Carlos Augusto 206
TÁVORA, Franklin 150
TEATRO JOÃO CAETANO 267
TEATRO MUNICIPAL 266
TEIXEIRA JÚNIOR, Jerónimo José 63, 90-91, 279
TEIXEIRA, Mathias José 133, 135, 165
TERRA, José Ladislau 100
THEMISTOCLES 123
THIRÉ, Arthur 191,220-221
THIRÉ, Cecil 220, 253, 259
THOMAZNETTO, João 218
TIPOGRAFIA NACIONAL 58
TITARA, João Luiz dos Santos 103, 276
TORRES, Almeida 167
TORRES, Cândido José Rodrigues 23, 93
TORRES, João Baptista 201,217, 236
TORRES, Joaquim José Rodrigues 81
TORRES, José Carlos Pereira de Almeida 59-60, 65, 67-
68, 154
TORRES, José Joaquim Fernandes 113
TOSTA, Manoel Vieira 98
TOUSSAINT, Júlio 100,112
TRAJANO 160
TRINDADE, Elpidio Maria da Silva 202, 206 ,211 , 217
TRINITYCOLLEGE 116
TROTTE, Vicente 186
UCHÔA CAVALCANTI, João Barbalho 175
UNIVERSIDADE DE COIMBRA 22
VALDEZ Y PALÁCIOS, José Manoel 79, 81-82
VALLE, Quintino do 186, 205, 222, 226, 228-229, 236,
238, 242-243
VALLONGO 18
VARELLA, Carlos Arthur Busch 56, 278-279
VARGAS, Getulio Domelles 242, 248, 266
VASCONCELLOS, Amarilio Hermes de 233
VASCONCELLOS, Bernardo Pereira de 23-27, 30-32, 34,
36-38. 40-42, 46-47, 51 , 58. 7 1 , 85, 102, 188, 195, 251,
264, 267, 269, 278-279, 281-282
VASCONCELLOS, Meira de 154
VASCONCELLOS, Nuno Lopes Smith de 240
VASCONCELLOS, Zaccarias de Góes e 115
VASCONCELOS, Luiz de 17
VEIGA, Evaristo da 52
VEIGA, João José Fernandes 218 ,239
VEIGA, Jurandir 252
VEIGA, Xavier da 46
VELLOSO, Pedro Leão 153
VENÂNCIO FILHO, Francisco 234, 240, 264
VERGUEIRO, Senador 45-46
VERNEY, Luiz António 213
VIANA, Cândido José de Araújo 53-55
VIANNA, António Ferreira 90, 92, 157
VOCABULÁRIO DE BLUTEAU 202
VOGELI, Feliz 107
WALKER. Lygia 268
WANDERLEY, João Maurício 156-157
WERNECK. Carlos Leoni 183
WERNECK, Furquim 103
XAVIER, Agliberto 191, 206. 208
XAVIER, António Lopes, Cónego 18
XAVIER, Carlos José 272
XAVIER, Francisco José 167, 272, 274
XENOFONTE 123
XIMENES, José Manoel Garcia 67
ZARUR, Alziro 250
VIANNA, Eremildo 250
VIANNA, Rosa 144
VIDAL, Carneiro 165
VIDAL. Paulo 129,133,140-141.144
VIEGAS 87-88
VIEIRA, Albertina Gusmão 170
VIEIRA, António Luiz de Mello 130-131
VIEIRA, Manoel Edwiges de Queiroz 126
VILLA-LOBOS, Lucília 267
VILLEGAIGNON 156
VILLELA. Dantas 217
VINELLI, Kossuthde 113
VITAL, Dom 100
VITALLETI, Guido 251
ESCRAGNOLLE DÓRIA
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